jornal cbhsf - nº 37

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JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO DEZEMBRO 2015 | Nº 37 Simpósio debate problemática do Velho Chico Páginas 4 e 5 Concluída a segunda etapa das consultas públicas Página 6 A situação critica do rio São Francisco e a atualização do Plano de Bacia fazem parte da pauta do colegiado do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que se reúne nos dias 9 e 10 de dezembro, em Salvador (BA). PLENÁRIA DISCUTE CONTRATO DE GESTÃO

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Page 1: Jornal CBHSF - nº 37

JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO

DEZEMBRO 2015 | Nº 37

Simpósio debate problemática do Velho Chico

Páginas 4 e 5

Concluída a segunda etapa das consultas públicas

Página 6

A situação critica do rio São Francisco e a atualização do Plano de Bacia fazem parte da pauta do colegiado do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que se reúne nos dias 9 e 10 de dezembro, em Salvador (BA).

PLENÁRIA DISCUTE CONTRATO DE GESTÃO

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O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Fran-cisco marcou presença no I Encontro Nacional sobre Rios Intermitentes, realizado na Univer-sidade Federal Rural de Pernambuco, em Re-

cife, em meados de novembro. O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, discorreu sobre a experiência da ges-tão participativa em reservatórios e rios intermitentes, apresentando um diagnóstico da situação dos comitês de bacia no Brasil e suas dificuldades para manutenção.

Miranda observou que o tratamento oferecido aos rios perenes não difere muito daquele que é dado aos de ca-ráter intermitente. “A maioria não conta com os comitês de bacia, e mesmo onde eles estão presentes não há o apoio do poder público para sua consolidação”, justificou perante uma plateia formada por alunos de graduação, pós-graduação, professores da universidade e também alguns agricultores.

Segundo o presidente do CBHSF, os estados de Ceará e Pernambuco são exceções na medida em que possuem conselhos de usuários de açudes, reservatórios e rios in-termitentes onde predomina a gestão participativa. No fi-nal de sua participação, Miranda defendeu uma legislação que obrigue os poderes públicos a oferecerem condições logísticas para os comitês de bacia dos rios intermitentes, já que estes, por motivos óbvios, não têm condições de implantar a cobrança pelo uso da água bruta.

O evento é uma promoção da Associação Águas do Nor-deste. O objetivo é compartilhar conhecimentos técnicos e ex-periências sobre os rios e riachos intermitentes do Semiárido nordestino, com ênfase nos usos e na conservação da água, vi-sando à governança hídrica. Também participaram da apresen-tação do CBHSF a professora da Universidade Federal da Bahia Yvonilde Dantas Pinto Medeiros e a gerente de Outorgas da Agência Pernambucana de Águas e Clima, Crystianne Rosal.

CBHSF DISCUTE LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PARA RIOS INTERMITENTES

Coordenação geral: Malu FolladorProjeto gráfico e diagramação: Yayá Comunicação IntegradaEdição: Antônio MorenoTextos: Ricardo Follador, André Santana, Delane Barros, Antônio Moreno e Wilton MercêsRevisão: Rita Canário

Este jornal é um produto do Programa de Comunicação do CBHSF Contrato nº 07/2012 — Contrato de Gestão nº 014/ANA/2010— Ato Convocatório nº 043/2011. Direitos Reservados. Permitido o uso das informações, desde que citada a fonte.

MOMENTO DA PLENÁRIA

A última edição de 2015 do informativo Noticias do São Francisco elege como tema central o Simpósio Brasilei-

ro de Recursos Hídricos, realizado em Brasília, no mês de novembro, e que contou com a presença do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Fran-cisco. No espaço criado pelo Comitê, especialmente para o evento (Painel do São Francisco), o presidente da entidade, Anivaldo Miranda, colocou no centro do debate o Plano de Bacia do Rio São Francisco, que vem sendo atualizado pela consultora Nemus e cuja conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2016.

Na ocasião, o diretor da Nemus, Pedro Bettencourt, apresentou ao público o cenário mais preocupan-te até 2035, com relação à retira-da de água na bacia. “Os próximos anos serão de grandes mudanças nos balanços hídricos do São Fran-cisco”, disse ele ao apontar a pos-sibilidade de a vazão de captação chegar a 1.073 m3/s. Bettencourt informou ainda que a transposição representaria 8% desse valor.

Esta edição também destaca a XVIII Plenária Ordinária do CBHSF, a ser realizada nos dias 9 e 10 de dezembro, em Salvador (BA). A programação, que tem como tema “Compromissos Renovados”, vai enfocar a renovação do contrato com a agência delegatária do cole-giado, a AGB Peixe Vivo. O evento inclui debates sobre a difícil situa-ção hídrica vivida pelas populações ribeirinhas e outros assuntos de interesse da bacia.

A entrevista do mês traz o es-pecialista em Recursos Hídricos Pedro Molinas, que faz considera-ções sobre a prática de vazões re-duzidas e como isso vem compro-metendo o nível dos reservatórios no São Francisco, especialmente o de Sobradinho, na Bahia.

EDITORIAL

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF

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A problemática em torno dos rios intermitentes é uma das preocupações do Comitê

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O Comitê da Bacia Hidrográ-fica do Rio São Francisco reúne seus membros nos dias 9 e 10 de dezembro,

em Salvador (BA), para a XXVIII Ple-nária Ordinária e a XVI Plenária Ex-traordinária. A programação acon-tece no Hotel Catussaba, no bairro Stella Maris. O tema do encontro é “Compromissos Renovados”, pelo fato de um dos principais pontos da pauta de discussões ser a renovação do contrato com a agência delegatá-ria do colegiado, a AGB Peixe Vivo.

A plenária extraordinária aconte-ce na manhã do dia 9 e analisará a minuta de deliberação que promove alterações no Regimento Interno do colegiado. As mudanças no documen-to que norteia o trabalho do CBHSF foram discutidas em momentos varia-dos, inclusive com a Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) e o Grupo de Acompanhamento do Contrato de Gestão (GACG). Uma das alterações se refere à reeleição de membros

para compor o Comitê.No período da tarde do mes-

mo dia 9 está prevista a análise da minuta de deliberação que aprova o quarto termo aditivo ao contrato de gestão entre a AGB Peixe Vivo e o Comitê, com o aval da Agên-cia Nacional de Águas (ANA) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Em seguida, será analisada a minuta de deliberação que aprova o Plano de Aplicação Plurianual (PAP) para o período 2016/2018, além do calendário de atividades para o próximo ano.

ESCASSEZ HÍDRICAAinda no dia 9, uma mesa-redon-

da irá debater a situação hidrológica no âmbito da bacia do São Francis-co. Foram convidados a participar da discussão mediada pelo CBHSF re-presentantes de órgãos como o Ope-rador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Agência Na-

cional de Águas (ANA), a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e consultores do Comitê.

No dia seguinte, as discussões começam com a deliberação sobre o conflito de uso 01/2014, acolhido pelo CBHSF e discutido pela CTIL. O processo já contou com audiên-cias de conciliação e versa sobre o projeto a ser desenvolvido pelo governo baiano no sudoeste do es-tado, conhecido como Barragem Zabumbão.

A Nemus Consultoria fará uma apresentação sobre o trabalho de atualização do Plano de Recursos Hídricos do São Francisco, uma vez que a empresa foi contratada, por li-citação, para executar o trabalho. Na sequência, caberá aos membros da AGB Peixe Vivo apresentar a situação atual em relação aos projetos execu-tados com recursos provenientes do uso da água bruta do rio.

No dia 10, no período vespertino, acontecem as apresentações das

quatro Câmaras Consultivas Re-gionais (CCR) que representam as regiões fisiográficas do Velho Chico. Em seguida, haverá espaço para os membros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) fazerem uma apresentação sobre o Plano de Ação Nacional para conservação das espécies da fauna aquática da bacia do rio São Francis-co ameaçadas de extinção.

Também haverá encaminha-mentos, moções e a decisão sobre o local da próxima plenária. O encon-tro acontece semestralmente e re-úne os 62 membros titulares, assim como os suplentes, para o caso de impedimento dos primeiros.

O presidente do CBHSF, Anival-do Miranda, ressalta a importância das reuniões plenárias por ser o momento máximo do colegiado. “É quando discutimos os mais diversos temas relacionados ao andamen-to deste que é o parlamento das águas”, resume ele.

COMITÊ REALIZA PLENÁRIA EM SALVADORTEMAS COMO ESCASSEZ HÍDRICA E RENOVAÇÃO DO CONTRATO COM A AGÊNCIA DELEGATÁRIA ESTÃO NA PROGRAMAÇÃO DA XXVIII PLENÁRIA ORDINÁRIA DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO, QUE ACONTECERÁ NOS DIAS 9 E 10 DE DEZEMBRO, EM SALVADOR (BA).

A capital baiana será palco de importantes discussões sobre o Velho Chico

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O XXI Simpósio Brasileiro de Re-cursos Hídricos, realizado no final de novembro, em Brasí-lia, foi de grande importância

para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. A entidade teve enorme destaque na programação do evento, inte-grando mesas de debates e painéis para a difusão da causa ambiental em prol deste que é o maior rio genuinamente brasileiro.

O Plano de Recursos Hídricos da Bacia do São Francisco ganhou noto-riedade durante o Simpósio. No Painel do São Francisco, espaço criado pelo CBHSF, o estudo foi alvo de discussão com especialistas de todo o Brasil, sempre prevendo melhorias. O Plano de Bacia vem sendo executado desde o início deste ano e tem previsão de ser fi-nalizado no primeiro semestre de 2016.

Na ocasião, o diretor da Nemus Consultoria, empresa responsável pela execução dos trabalhos, Pedro Bettencourt, apresentou ao público

o cenário mais preocupante até 2035 para a retirada da água na bacia. “Os próximos anos serão de grandes mu-danças nos balanços hídricos do São Francisco”, disse, ao apontar a possi-bilidade da vazão de captação chegar a 1.073 m3/s. “A transposição representa-ria 8% desse valor”, acrescentou.

Para tanto, sugeriu que após a con-clusão do documento sejam aplicadas medidas para conter problemas que têm deteriorado a qualidade da água em várias partes do rio, especialmente por conta dos esgotos e do uso intensivo da indústria e agricultura. “É essencial au-mentar o conhecimento técnico sobre a bacia, assim como melhorar a governan-ça entre os órgãos da bacia e desenvolver trabalhos de educação ambiental”, frisou.

MELHORIA DO SISTEMAO presidente do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco, Ani-valdo Miranda, voltou a cobrar, durante

o evento, uma melhor gestão das águas do País. Para ele, a eficácia na gestão dos recursos hídricos vai desde o for-talecimento dos comitês de bacias até a mudança na operação das usinas hi-drelétricas instaladas ao longo do terri-tório do rio São Francisco.

“Hoje, o que vemos é uma falên-cia no sistema de recursos hídricos do Brasil. Será preciso repensar o modelo de operação desses reser-vatórios. As empresas de geração de energia não podem ser o usuário he-gemônico. São os usos múltiplos que necessitam se adaptar à bacia como unidade de planejamento, e não o contrário”, lembrou.

Miranda contou que essas recor-rentes restrições têm alertado para o aparecimento de um novo problema. “O fantasma da qualidade da água do rio. Os prejuízos causados por uma mancha de algas entre Alagoas e Sergipe, no Baixo São Francisco,

inviabilizando a captação de água na região, foi um dos exemplos. Preci-samos ter uma agenda estratégica a médio e longo prazo, a fim de que o São Francisco se prepare para o fu-turo. Não podemos viver apenas a lógica da demanda, onde todos re-tiram água, muitas vezes de forma ilegal. Temos que pensar na lógica da oferta”, disse.

Em sua fala, Miranda recordou ainda que os trabalhos de atualização do Plano de Recursos Hídricos deve-rão agregar todas as sugestões dos atores da bacia, caso contrário, “a orquestra continuará desafinada”, numa referência ao desconheci-mento de muitos órgãos sobre o trabalho, que teve investimentos de aproximadamente R$7 milhões. “Trata-se de um estudo da bacia, não do Comitê”, ressaltou.

O presidente do CBHSF também afirmou que será necessário inves-tir principalmente no conhecimento técnico-científico dos comitês. “Co-nhecimento é poder. E o CBHSF tem a obrigação de deter esses conheci-mentos. São eles que determinarão as escolhas políticas de crises hídricas que ainda estão por vir”, pontuou. Por fim, reiterou a necessidade da assina-tura do decreto de criação do Conselho Gestor de Revitalização da Bacia do São Francisco, de posse da Casa Civil da Presidência da República.

PLANO DE BACIA GANHA DESTAQUE NO SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOSO PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO FOI ALVO DE DEBATE DURANTE O XXI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, REALIZADO NO FINAL DE NOVEMBRO, EM BRASÍLIA. O COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO MARCOU PRESENÇA, ESPECIALMENTE NO PAINEL DO SÃO FRANCISCO, ESPAÇO CRIADO PELA ENTIDADE PARA PROPICIAR DISCUSSÕES E MOTIVAR CONTRIBUIÇÕES AO PLANO DE BACIA, QUE VEM SENDO EXECUTADO DESDE O INÍCIO DESTE ANO E TEM PREVISÃO DE SER FINALIZADO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2016.

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Anivaldo Miranda (à direita) falou sobre os aprendizados da crise hídrica

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APRESENTAÇÃO DO MÉDIOO coordenador da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, Cláudio Pereira, participou no dia 18 de novembro, na cidade de Parami-rim (BA), da reunião ordinária do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Santo Onofre e Paramirim (CBH Paso), que atua no sudoeste baiano. Na oportunidade, Pereira falou das ações em prol do rio São Francisco, especialmente sobre os projetos de recuperação hidroambiental, atu-almente em execução em todo o território da bacia. “Com recursos da cobrança pelo uso da água, o CBHSF vem investindo permanentemente na melhoria da qualidade e quantidade das águas do Velho Chico”, disse.

QUILOMBOLAS DO VELHO CHICOEm data a ser definida, está sendo preparado pelo Comitê da Bacia Hi-drográfica do Rio São Francisco a segunda edição do Seminário das Co-munidades Quilombolas da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. A previsão é de que cerca de 150 pessoas participem do evento e debatam temas como certificação e titulação de territórios quilombolas, impactos dos grandes empreendimentos e pacto pelas águas. Ainda na programa-ção do encontro, haverá debate sobre políticas públicas em relação ao segmento e outros temas relacionados com a comunidade quilombola da bacia. Além disso, comunidades de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Goiás e Sergipe terão a oportunidade de participar de grupos de trabalho e socializar suas experiências.

INNOVATEO projeto Innovate, financiado pelo governo alemão, promoveu um dia de troca de experiências e discussões com pesquisadores baianos sobre os resultados parciais da gestão das águas do rio São Francisco. O encontro ocorreu no dia 19 de novembro, na Escola Politécnica da Universidade Fe-deral da Bahia, e contou com representantes da UFBA e da Universidade Federal do Recôncavo, além de consultores da Nemus (empresa respon-sável pela atualização do Plano de Bacia do São Francisco) e pesquisado-res das áreas de Biologia, Química e Engenharia. Um dos temas discuti-dos foi a adoção de uma gestão ecológica e os impactos desta gestão na disponibilidade hídrica para setores como irrigação e geração de energia. ATO EM DEFESA DO SÃO FRANCISCOAs cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), banhadas pelo rio São Francisco, foram palcos de manifestações em prol da revitalização do Velho Chico no mês de novembro. Cerca de 20 mil pessoas estiveram mobilizadas em torno do ato  público “Semiárido Vivo, nenhum direito a menos!”, realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro e  por ou-tras organizações e movimentos sociais. O ato teve inicio na Concha Acústica de Petrolina, de onde os participantes seguiram para a cidade vizinha de Juazeiro, atravessando a ponte Presidente Dutra.

CURTAS

PESQUISADORES PREPARAM SIMPÓSIO Durante a programação do XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos

aconteceu a III Reunião do Fórum Permanente de Pesquisadores da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Na oportunidade, os docentes discuti-ram os detalhes do I Simpósio da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (SBHSF), previsto para acontecer em Petrolina (PE), às margens do Velho Chico, em junho de 2016.

A intenção é reunir pesquisadores e acadêmicos de todo o Brasil para apre-sentação de estudos que contemplem a maior bacia genuinamente brasilei-ra, hoje debilitada pela marcante degradação ambiental. Atualmente, oito universidades federais, todas com atuação na bacia, integram o Fórum, pro-posto inicialmente pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. “Nosso objetivo é que outras instituições possam se juntar a nós, não sendo elas obrigatoriamente estabelecimentos de ensino superior”, disse Melchior Carlos do Nascimento, representante do CBHSF no Fórum.

Até o momento, já está confirmada a participação de representantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Universidade Federal do Oeste Baiano (UFOB), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Universidade Federal de Sergipe (UFS). Anteriormente, os docentes já haviam se reunido em Maceió (AL) e Salvador (BA).

AGB PEIXE VIVO APRESENTA ESTUDO O assessor técnico da AGB Peixe Vivo, agência delegatária do Comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Thiago Campos, apresentou também durante o Simpósio um estudo para a seleção de projetos que visam a melhoria de área de recarga hídrica, especialmente no rio das Velhas, em Minas Gerais, um dos maiores contribuintes de água para a bacia do São Francisco.

Um dos objetivos, segundo ele, é definir a aplicação correta dos recursos da cobrança pelo uso da água. “Onde teremos resultados de maior retorno hí-drico”, explicou durante a sessão. Vale lembrar que desde 2012 o CBHSF vem investindo recursos em projetos que priorizam o aumento da qualidade e quan-tidade da água de pequenos cursos d’água dos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Ao todo, 38 obras hidroambientais já foram executadas pela entidade.

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Nos meses de outubro e novembro de 2015, o CBHSF e a consultora Nemus realizaram a se-

gunda etapa das consultas públicas do processo de atualização do Plano Decenal de Recursos Hídricos da Ba-cia do Rio São Francisco (2016/2025). Os encontros reuniram um público de mais de 600 pessoas e ocorreram nas quatro Câmaras Consultivas Re-gionais: Baixo, no município de Pão de Açúcar, em Alagoas (15/10); Alto, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais (29/10), Médio, em Barra, na Bahia (05/11); e Submédio, em Rode-las, também na Bahia (11/11).

Durante os encontros, a Nemus apresentou ao público presente, for-mado por ribeirinhos, gestores, ativis-tas e pesquisadores, os “Cenários de Desenvolvimento e Prognósticos da Bacia”, elaborados na primeira etapa do projeto, iniciado no final de 2014. Entre os dados atualizados encontra--se a diminuição da vazão. De acor-do com a empresa, a vazão média da bacia do rio São Francisco passou de cerca de 2.850 m³/s para 2.768,7 m³/s (em 2015), revelando queda na dispo-nibilidade hídrica, o que contrasta com o aumento da demanda, considerando o acentuado crescimento populacional em toda a bacia: se no ano 2000 eram

cerca 12 milhões de habitantes, agora são mais de 14 milhões. O Médio foi a região que mais ampliou o consumo de água desde o último estudo. O consu-mo, que era de cerca de 55m3/s, hoje é de mais de 150m3/s. Entre as causas, tem-se a expansão de perímetros ir-rigados na região, atualmente um dos polos de produção de grãos no Brasil.

A Nemus também atualizou in-formações sobre o nível de degra-dação do rio, a desertificação, as espécies ameaçadas e a supressão de mata ciliar, além de debater situ-ações que preocupam os usuários, como a polêmica transposição das águas do Velho Chico, o uso intensivo

do solo, a “ineficiência” do sistema de cadastro de outorgas e os conflitos pelo uso das águas. “Os conflitos que ocorrem na bacia precisam ficar mais evidentes no Plano, que deve destacar a garantia do direito ao território para os povos tradicionais da bacia”, cobrou a promotora de Justiça do Ministério Público da Bahia, Luciana Khoury, pre-sente à consulta em Rodelas.

IMPORTÂNCIAO secretário executivo do CBHSF,

Maciel Oliveira, ressaltou a impor-tância da participação popular e o ca-ráter democrático que marca todas as ações do CBHSF. “Diante desse quadro dramático do rio, que agoni-za, os recursos do Comitê estão sen-do investidos em sua recuperação, na elaboração dos planos municipais de saneamento básico e na atualização do nosso Plano de Recursos Hídricos. Este não é um documento para ser engavetado. Por isso, é importante a participação de todos os segmentos da sociedade”, considerou.

O Plano de Bacia do decênio 2016/2025 traçará as diretrizes e os subsídios para uma gestão racional e integrada em vários aspectos rela-cionados com a sustentabilidade do rio. A terceira etapa do projeto, que se estenderá até o primeiro semestre de 2016, será a efetiva construção do Plano, com medidas e recomenda-ções ao CBHSF, além de cenários e metas de curto, médio e longo prazo.

CONSULTAS PÚBLICAS DÃO ANDAMENTO AO PLANO DE BACIA DO SÃO FRANCISCO

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A cidade baiana de Rodelas também foi sede das consultas públicas

Dom Luís Cappio (à esquerda) esteve presente à consulta em Barra (BA)

A SEGUNDA ETAPA DAS CONSULTAS PÚBLICAS QUE INTEGRAM O PROCESSO DE ATUALIZAÇÃO DO PLANO DECENAL DE RECURSOS HÍDRICOS DO RIO SÃO FRANCISCO FOI CONCLUÍDA COM ÊXITO PELO CBHSF E A CONSULTORA NEMUS. OS ENCONTROS ACONTECERAM NAS QUATRO REGIÕES FISIOGRÁFICAS DA BACIA E REUNIRAM MAIS DE 600 PESSOAS, REVELANDO A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESSO. O SECRETÁRIO EXECUTIVO DO CBHSF, MACIEL OLIVEIRA, RESSALTOU O CARÁTER DEMOCRÁTICO QUE MARCA AS AÇÕES DO CBHSF.

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NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 7

O Comitê da Bacia Hidro-gráfica do Rio São Fran-cisco foi um dos principais apoiadores do V Festival

de Cinema Universitário de Alago-as, realizado na primeira semana de novembro, em Penedo (AL), cidade banhada pelo Velho Chico. O even-to aconteceu entre os dias 3 e 7 de novembro e contou com exibição de curta-metragens e documentários, além de oficinas e debates. No dia 5, o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, participou da Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental.

Após a exibição do documen-tário Mico Leão Voador em Ação no Velho Chico, o realizador Ernesto Galiotto Miranda debateu com es-tudantes do Ensino Médio de esco-las locais o momento difícil do rio São Francisco. “Esta é uma inicia-tiva de grande importância porque envolve os jovens na problemática ambiental. Todos nós estamos ven-do a crise hídrica que atinge o Bra-sil, e essa garotada é fundamental no trabalho de conscientização”, destacou Anivaldo Miranda.

O cineasta Ernesto Galiotto também chamou a atenção para a importância da participação es-tudantil nas discussões ambien-tais. “A gente percebe o interesse dos mais jovens em conhecer os problemas do rio. Isso é essencial para os futuros debates e o enfren-

tamento das dificuldades, a fim de manter o nosso Velho Chico”, con-siderou o cineasta.

Para compor a produção, Ga-liotto fez imagens aéreas do rio São Francisco, desde a sua nas-cente, na Serra da Canastra (MG), até a foz, em Piaçabuçu (AL), e buscou privilegiar belas imagens da bacia, sem esquecer os trechos assoreados e as represas. Outras 54 produções, vindas das cinco regiões do País, participaram do festival. Alguns cineastas partici-param com mais de um filme ou documentário. Vale lembrar que o foco principal do evento foram as questões ambientais e de susten-tabilidade do rio São Francisco.

O festival prestou uma home-nagem ao ator Jofre Soares (1918-1996). Natural de Palmeira dos Índios (AL), o ator trabalhou em mais de 100 produções no cinema e no teatro brasileiro. Todas as ati-vidades realizadas no evento foram gratuitas e a pretensão de Pedro Onofre, um dos organizadores do festival, é promover o encontro em nível nacional. “Há muitos anos esse festival deixou de ser realiza-do, mas agora, que conseguimos retomar, pretendemos ampliar sua abrangência, como já chegou a acontecer, e queremos contar sem-pre com o apoio do Comitê da Bacia do São Francisco”, concluiu.

CBHSF APOIA O CINEMA BRASILEIRO

FLUVIAIS

PIRACEMAPrevista em resolução do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis (Ibama), a piracema vigora até o final de fevereiro de 2016, período de acasalamento e reprodução dos peixe, quando a pesca é proibida. Varias restrições estão previstas, como captura, transporte e arma-zenamento de espécies nativas das bacias hidrográficas. O descumprimento das normas ambientais pode gerar multas e até prisão. Em todo o Brasil e no rio São Francisco, principalmente nas áreas onde a pesca é praticada in-tensamente, como nos municípios sergipanos de Canindé do São Francisco, Propriá e Brejo Grande, o Ibama intensifica as fiscalizações, na tentativa de evitar o descumprimento das normas ambientais.

NOVO PARQUE NO SÃO FRANCISCO A cidade de Januária, localizada ao norte de Minas Gerais, receberá no final de 2017 um parque fluvial urbano. Serão investidos cerca de R$ 3,4 milhões para a construção do novo parque em um terreno de 30 hectares, dividido em três áreas, com o objetivo de preservar e recompor a mata ciliar às margens do Velho Chico. O espaço receberá também infraestrutura que incluirá pas-sarelas, quiosques, arena de eventos e equipamentos esportivos. O benefício é fruto de contrato para financiamento de obras com recursos do Fundo So-cioambiental Caixa, da Caixa Econômica Federal, firmado com a Prefeitura de Januária em novembro deste ano.

MAMULENGOS NO VELHO CHICOTemas como meio ambiente, cultura e sincretismo estão presentes no espe-táculo Memórias do Velho Chico, apresentado por bonecos mamulengos. As apresentações, que têm o rio São Francisco como protagonista, são gratuitas para estudantes da rede pública de ensino e acontecem até meados de de-zembro, em cidades do Distrito Federal como Gama, Ceilândia, Paranoá, Es-trutural, Itapoã e Sobradinho. A produção é do o grupo Mamulengo Alegria, que trabalhou o ano inteiro na montagem do espetáculo, com a participação de vários profissionais da área, a exemplo de Marco Augusto (Cia Voar) e Jor-ge Crespo (famoso por criar bonecos para programas televisivos).

EXPEDIÇÃO DA CIDADANIACom o propósito de assistir comunidades ribeirinhas que têm dificuldade de acesso a serviços prestados pelo Estado, como emissão de documentos, atendimentos de saúde, cobertura previdenciária e acesso à justiça, a “Ex-pedição da Cidadania” atendeu até novembro deste ano, pelo menos, oito cidades pernambucanas (Martelo, Brejinho, Icó, Canela, Itacuruba, Roque, Pedra e Belém do São Francisco). A segunda etapa está prevista para março de 2016, quando uma equipe retornará às comunidades para entregar do-cumentos e continuar o atendimento das ações judiciais e de saúde. O pro-grama é promovido pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e conta com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre outras instituições.

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Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental integrou a programação do festival

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O setor elétrico já formalizou o pe-dido e a ANA analisa autorização para a prática da vazão reduzida a 800 m³/s, a partir de Sobradinho. O que isso significa? Quais efeitos se-rão sentidos com essa medida?A vazão liberada de 800 m3/s é co-erente com a política praticada pelo Operador Nacional do Sis-tema Elétrico (ONS) nos últimos dois anos. Hoje, essa política se justifica pelo fato de Sobradinho ter praticamente atingido seu vo-lume intangível ou não turbinável, que ascende a quase seis bilhões de metros cúbicos.

E nada pode ser feito?Em termos de política operacio-nal de curto prazo, poucos são os graus de liberdade disponíveis e a decisão é praticamente a única possível. Em termos estratégicos, persistem grandes dúvidas quanto às bases técnicas da operação da cascata de reservatórios da bacia do São Francisco, que nos levou tão rapidamente a esta situação de emergência.

Em abril, foi identificada uma man-cha na região dos cânions do São Francisco, no Sertão de Alagoas, quando a vazão praticada, à época, era de 1.100 m³/s. No nível de 800 m3/s há favorecimento para a proli-feração de microalgas?A ocorrência de uma floração de al-gas do gênero Ceratium no reser-vatório de Xingó (AL) obedeceu a condições de temperatura, vazões e nutrientes muito particulares, mas, lamentavelmente, susceptí-veis de acontecer novamente nes-se próximo verão. A quase total ausência de chuvas na região do reservatório de Xingó, nos me-ses de dezembro de 2014, janeiro e fevereiro de 2015, provocou um aquecimento incomum das águas desse reservatório, com valores de

temperatura da água superiores a 30 graus Celsius na superfície.

Diante dessa vazão, a captação pe-las empresas de abastecimento de Sergipe (Deso) e de Alagoas (Casal) pode ser prejudicada?A captação pela Deso se mostrou mais robusta, não tendo sido neces-sária sua interrupção durante a cri-se. Já a captação de Delmiro Gouveia (AL) e outras ao longo de Xingó (AL) sofreram interdição. Eventos simi-lares, eventualmente, podem atingir ambas as empresas e inclusive ou-tras captações da Compesa (PE) e Embasa (BA)

Essa medida dos 800 m³/s pode ser o sinal de alerta para que o go-verno federal suspenda as obras da transposição?A redução de vazões para 800 m3/s deveria ter sido acompanhada com uma ampla revisão das outorgas de toda a bacia. Tanto as outorgas das águas de domínio estadual, como as de domínio federal. Infelizmen-te, isso não ocorreu e a ANA, apa-

rentemente, não pretende intervir na alocação de águas na bacia, no curto prazo.

Qual seria a medida ideal a ser ado-tada?Uma situação de escassez hídrica como a atual deveria hierarquizar os usos e, após um balanço realista das disponibilidades e demandas, defi-nir quais permanecem irrestritos e quais devem cessar ou diminuir as vazões até a saída da crise.Nesse contexto, os detentores da outorga da transposição de águas do rio São Francisco para bacias do Nordeste Setentrional (Ceará, Para-íba e Rio Grande do Norte) deveriam explicitar qual a parcela outorgada para consumo humano, e se eventu-almente as obras forem concluídas, restringir a captação exclusivamente a esse uso, até o fim da crise na ba-cia do São Francisco.

Quais consequências esta medida tra-ria para a gestão das águas da bacia?No curto e médio prazo, devemos contar com retiradas de água para abastecimento humano nas duas captações da transposição, sendo o Eixo Leste o que requer maior aten-ção, pois é o que apresenta as obras mais atrasadas e a pior situação hí-drica na região beneficiada.

Em uma das reuniões na ANA, em Brasília, foram questionados os motivos pelos quais a Chesf não uti-liza o volume morto de Sobradinho para geração de energia. Isso é pos-sível? Seria uma saída, pelo menos, temporária?Desconheço que exista alguma razão para não turbinar águas do volume morto de Sobradinho nas usinas de jusante. Eventualmente, podem ocor-rer dificuldades para “calibrar” vazões reduzidas com as comportas da des-carga de fundo.Não é uma operação usual, mas é viável.

O RESERVATÓRIO DE SOBRADINHO, ENTRE

OS MUNICÍPIOS DE SOBRADINHO E CASA NOVA

(BA), SOFRE RESTRIÇÕES DE VAZÃO DESDE 2013, COM IMPACTO DIRETO

EM XINGÓ (AL). A VAZÃO VEM SENDO REDUZIDA

PAULATINAMENTE E HÁ DOIS ANOS SAIU DE 1.300 M³/S PARA OS ATUAIS 900 M³/S. O SETOR ELÉTRICO

JÁ SOLICITOU RESTRIÇÃO AINDA MAIOR: 800 M³/S

A PARTIR DE DEZEMBRO. APESAR DOS FORTES

IMPACTOS AMBIENTAIS DA MEDIDA NA PESCA,

NAVEGAÇÃO E NO TURISMO, O ENGENHEIRO EM RECURSOS HÍDRICOS

E CONSULTOR PEDRO ANTÔNIO MOLINAS

CONSIDERA POUCO A SER FEITO PARA UMA DECISÃO CONTRÁRIA.

SOBRE O ABASTECIMENTO HUMANO, MOLINAS NÃO

DESCARTA QUE ALGUMAS EMPRESAS POSSAM SER

PREJUDICADAS.

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A REDUÇÃO DE VAZÕES PARA 800 M3/S

DEVERIA TER SIDO ACOMPANHADA DE

UMA AMPLA REVISÃO DAS OUTORGAS DE

TODA A BACIA.

NÍVEL BAIXO EM SOBRADINHO É MOTIVO DE GRANDE PREOCUPAÇÃO

PEDRO MOLINAS