jornal cbhsf ediçâo n°19

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JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO | JUNHO 2014 | Nº 19 EDICÃO ESPECIAL A campanha lançada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco explode nas mídias e consagra uma forma inusitada de defender o Velho Chico: virando carranca. Anônimos e famosos aderem à ideia e mostram toda a sua indignação pela falta de uma política consequente de revitalização do rio São Francisco e seus afluentes em diferentes regiões do país. Como fruto da campanha (criada a partir do mote Eu Viro Carranca pra Defender o Velho Chico), um abaixo assinado com cerca de 3.200 assinaturas será encaminhado para o Governo exigindo políticas práticas de reabilitação ambiental do São Francisco.

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Jornal do CBHSF.

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JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO | JUNHO 2014 | Nº 19 EDICÃO ESPECIAL

A campanha lançada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco explode nas mídias e consagra uma forma inusitada de defender o Velho Chico: virando carranca. Anônimos e famosos aderem à ideia e mostram toda a sua indignação pela falta de uma política consequente de revitalização do rio São Francisco

e seus afluentes em diferentes regiões do país. Como fruto da campanha (criada a partir do mote Eu Viro Carranca pra Defender o Velho Chico), um abaixo assinado com cerca de 3.200 assinaturas será encaminhado para o Governo exigindo políticas práticas de reabilitação ambiental do São Francisco.

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O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, a convite da Agência Nacional de Águas – ANA, integrou, no dia 21 de maio, em Salvador (BA),

a reunião de trabalhos com a equipe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, entidade que, em parceria com a ANA, realiza a missão de estudos do acordo “Diálogo Po-lítico OCDE/Brasil sobre Governança da Água”. O objetivo do acordo é reunir as diversas experiências nacionais sobre o tema, com foco na atuação dos co-mitês de bacias, entre outros atores governamentais e da sociedade civil.

Neste encontro do mês de maio – um primeiro acon-teceu no mês de março, em Brasília (DF) –, o foco do debate foram os estudos de casos apontados pela ANA para cada um dos pilares temáticos definidos na última reunião, que são: governança multinível (voltado à articu-lação entre as esferas federal e estadual) e alocação de água (voltado a áreas com usos dos recursos hídricos conflitan-tes e necessidade de alocação negociada da água).Representando o comitê, estiveram presentes o vice--presidente do CBHSF, Wagner Soares Costa, a pro-fessora da Universidade Federal da Bahia, Ivonildes Medeiros, além de Edison Ribeiro, membro suplente do CBSHF.

Comitê participa de encontro internacional em Salvador

Coordenação geral: Malu FolladorProjeto gráfico e diagramação: CDLJ PublicidadeEdição: Antonio MorenoTextos: Antônio Moreno, Ricardo Coelho, Delane Barros, André Santana e Wilton Mercês.Fotos: Daniel Duarte, Diddo Santos, Ispedito Nunes, Hugo Cordeiro, Regina Lima, Ricardo Coelho e Wilton Mercês.

Este jornal é um produto do Programa de Comunicação do CBHSF Contrato nº 07/2012 — Contrato de Gestão nº 014/ANA/2010— Ato Convocatório nº 043/2011. Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

Carrancasem luta!

As carrancas, definitivamente, saltaram das proas das em-barcações do Velho Chico para as trincheiras do mo-

vimento pela revitalização do rio e seus afluentes. A campanha lançada nacio-nalmente pelo Comitê da Bacia Hidro-gráfica do Rio São Francisco, que teve o seu ponto central no dia 3 de junho (Dia Nacional em Defesa do Velho Chico), foi mais do que um sucesso de mídia. Conseguiu engajar pessoas de todas as regiões da bacia - anônimos e famosos; ativistas e autoridades públicas; jovens e velhos; empresários e comunidades tra-dicionais – em prol de ações de mobili-zação e alerta com foco na necessidade urgente de medidas que possam salvar as águas são-franciscanas.Na mídia social, o hotsite criado espe-cialmente para dar visibilidade ã cam-panha foi coroado por um número re-corde de acessos e declarações a favor da recuperação do rio. Além disso, a cam-panha explodiu também na chamada mídia tradicional, coalhando os jornais e emissoras de rádio e tevê de matérias esclarecedoras e editoriais defendendo a causa do São Francisco.Nesta sua edição especial, o Notícias do São Francisco dá espaço a essa re-percussão e mostra o sucesso da inicia-tiva do CBHSF também em termos de mobilização regional. Evidencia, assim, o grande poder de influência de uma campanha que veio para ficar!

Editorial

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF

[email protected]

O encontro reuniu representantes do CBHSF

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NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 3

Problemas do São Francisco em debate na Câmara FederalA Câmara dos Deputados deverá criar uma subcomissão especial específica para se debruçar sobre as temáticas relacionadas ao rio São Francisco. Essa é uma das propostas definidas durante audiência pública conjunta, realizada na Casa, pelas Comissões de Meio Ambiente e a de Desenvolvimento Regional, último dia 27 de maio, em Brasília, com o objetivo de debater os efeitos da redução da vazão do Velho Chico. Os parlamentares federais também devem promover mesas redondas, tanto na Câmara quanto em estados banhados pelo rio.

Para que sejam concretiza-das, as medidas precisam de aprovação pelo plenário da Câmara. A proposta foi

apresentada pelo presidente da Comis-são de Meio Ambiente da Casa, deputa-do Arnaldo Jordy (PPS/PA), e endossa-da pelos deputados Alfredo Sirkis (PV/RJ) e Assis Carvalho (PT/PI), membros do colegiado.As propostas foram apresentadas após a exposição na audiência pública feita pelo presidente do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda. Ele aler-tou para os efeitos negativos provo-cados pela defluência de 1.100m³ por segundo, atualmente praticada por autorização da Agência Nacional de Águas (ANA), em atendimento ao pleito apresentado pelo setor elétrico. “Trata-se da defluência como questão emergencial, mas um emergencial que se prolonga e prolonga a agonia de um rio que está no limite de sua capacida-de de doação hídrica para a geração de

Representantes do CBHSF e indígenas marcaram presença na audiência.

energia elétrica”, afirmou Miranda.O presidente do CBHSF lembrou que a medida vai de encontro à legislação que rege a gestão das águas. De acordo com Anivaldo Miranda, a Lei 9.433/97, que trata da questão, prioriza o abas-tecimento humano e não a geração de energia elétrica. Miranda apontou para a urgente necessidade de definição de regras claras com vistas à regulação do nível do rio e cobrou que o setor elé-trico assuma a responsabilidade pelos danos causados ao São Francisco.

Ausência do LegislativoO gerente-executivo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Saulo Nascimento Cisneiros, também participou da audiência pública e ga-rantiu que o órgão busca fazer as com-pensações entre as bacias hidrográficas. Também presente à reunião, o supe-rintendente da Agência Nacional de

Águas (ANA), Joaquim Guedes Gon-dim, disse que a instituição tem o papel de regular os níveis dos reservatórios.Cacique indígena e coordenador da Câ-mara Consultiva Regional (CCR) do Sub-médio do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Uilton Tuxá tentou sensibilizar os parlamentares para a realidade atualmente vivenciada pelas comunidades instaladas no entorno da bacia, de mais de 2.700 km que banha cinco estados, o Distrito Federal e 504 municípios brasileiros. Já o presidente do Museu do São Francisco, Jackson Borges Lima, lamentou que os temas ligados ao rio São Francisco tenham sido aban-donados pelo Legislativo federal. Para ele, desde 1987, quando aconteceram três grandes conferências nacionais e todas se posicionaram contra as obras de transposição das águas do rio, os de-putados federais não levantaram a voz para defender a causa.

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População ocupa ruas de PenedoA região do Baixo São Francisco re-alizou uma programação simbólica para demonstrar a agonia que atinge o rio no município alagoano de Pe-nedo e boa parte da região. A popu-lação e autoridades se reuniram no ginásio da Escola Nossa Senhora de Fátima para um rápido debate. Es-tudantes, professores, comunidades tradicionais, pescadores e o poder público expuseram seus pontos de vista acerca dos problemas atuais do rio e a busca de soluções.Diante de promotores, professores das universidades federais de Alago-as (Ufal) e de Sergipe (UFS), o pes-cador Antônio Gomes dos Santos, o “Seu” Toinho, apresentou uma músi-ca de sua autoria, feita especialmen-te para lembrar a data, 03 de junho, e sensibilizar os governantes para

a problemática do rio. “O rio está morrendo e pede socorro. Será que ninguém vê?”, questionou, diante de uma plateia atenta.Após a mesa redonda, a comunidade saiu em caminhada pelas ruas histó-ricas de Penedo, liderada pelos índios da tribo Tingui-Botó, do município de Feira Grande, também em Alago-as. No trajeto, os índios pintados de vermelho, simbolizando a prepara-ção para o confronto na defesa pelo rio. Nas margens do Velho Chico, a comunidade doou água limpa para o rio, utilizando moringas de barro.Em parceria com a Companhia de De-senvolvimento dos Vales do São Fran-cisco e Parnaíba (Codevasf), foram lançados cem mil alevinos, das espé-cies xira e piau, típicas do rio.

A lição dos mais jovens“Não jogue lixo no rio; Preserve nossas águas; o Velho Chico é mui-to importante para nós”. Essas foram algumas das mensagens estampadas nos inúmeros banners que os alunos do ensino fundamental da Escola Olímpio Gonçalves de Melo, sedia-da no município de São Gonçalo do Abaeté, no noroeste de Minas Gerais, confeccionaram para fortalecer o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico. “Esses jovens educam os mais velhos e são exemplos para o futuro. O rio São Francisco precisa disso”, disse Ivani Fonseca Melo, diretora da instituição.Na cidade mineira de Três Marias (MG), na região central do Estado, uma “barqueata” de cerca de 18 bar-cos pesqueiros realizou a limpeza do trecho que banha o lago de Três Marias e onde está localizada a usina hidrelétrica que leva o mesmo nome.  “É um ato simbólico para retratar a atual situação do nosso rio, que vem passando por maus bocados”, disse um dos integrantes da barqueata, o pescador Valdir Alves dos Santos.A secretaria da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Alto São Francis-co do CBHSF, Sílvia Freedman, re-forçou o ato. “Estamos aqui para sen-sibilizar a todos, uma vez que nosso querido Velho Chico está morren-

do. Precisamos mobilizar os atores do rio para que ele não se acabe. O abastecimento de água a municípios do Estado já está comprometido. É um grito de socorro pelo rio!”, disse ela, em referência às recentes redu-ções das vazões na represa de Três Marias, que vêm implicando em per-das ambientais, sociais e econômicas em cidades ribeirinhas como Manga e Pirapora, no norte do Estado. Ainda na programação foi realizada uma palestra no Centro de Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicul-tura de Três Marias, sobre o proje-to idealizado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) vi-sando à reprodução das espécies na-tivas de peixes do rio São Francisco, promovendo ações como peixamen-to – repovoamento de surubim, dou-rado, curimatã pacu, matrinxã, entre outras espécies. Além disso, foram distribuídas 250 mudas das espécies frutíferas de pitanga e uvaia, e da es-pécie de flor ipê. O lançamento do Centro de Referência Social, Hídrico e Ambiental do Alto São Francisco, bem como de um barco-escola eco-lógico completaram as atividades na região. Ao todo, 200 pessoas partici-param das ações.

No dia 03 de junho, diversas municípios que integram a Bacia do Rio São Francisco estiveram mobilizadas em torno do Dia Nacional em Defesa do Velho Chico. Foi um dia histórico de ações em locais estratégicos, alertando a sociedade para a necessidade de revitalização do São Francisco. Municípios como Penedo (AL), Bom Jesus da Lapa, Juazeiro, São Desiderio, Irecê, Serra do Ramalho e Ibotirama (BA), Três Marias, Pirapora, São Leopoldo e Itaúna (MG) e Petrolina (PE), entre outros, foram palco de debates, caminhadas, barqueatas, peixamentos e devolução simbólica de água limpa ao rio São Francisco. As atividades envolveram a diversidade dos povos da Bacia, como pescadores, comunidades indígenas, quilombolas, ambientalistas, estudantes e gestores públicos.

Mobilização em toda a bacia do São FranciscoAlto São Francisco

Baixo São Francisco

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NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 5

Mobilização em Juazeiro e PetrolinaMais de 1.500 pessoas, entre as quais dezenas de jovens estudantes de es-colas municipais, caminharam pela orla fluvial de Juazeiro, no Submédio São Francisco, em defesa do rio que é parte fundamental da história, cul-tura e desenvolvimento das comu-nidades que vivem em seu entorno. Revelando a diversidade dos povos da bacia, o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico reuniu, além dos estudan-tes, comunidades indígenas, barquei-ros, pescadores, catadores de material reciclado, ambientalistas e diversas or-ganizações da sociedade civil. Grupos como os índios Tubalalá, localizados entre os municípios de Abaré e Curaçá, demonstraram sua preocupação com a situação atual do rio São Francisco. “Já estamos sentindo o impacto da crise do rio. O peixe praticamente não é mais en-contrado. Nossos pequenos barcos

ficam encalhados nos bancos de areia. É muito importante uma atividade desta, nas ruas, para despertar toda a sociedade. Para que cada um pense: o que eu posso fazer para ajudar o Velho Chico?”, destacou a índia Maria do Socorro. A juventude, que recentemen-te tomou as ruas de todo país por melhorias e maior parti-cipação popular nas decisões, demonstrou que a defesa do rio é uma das pautas prioritárias. “A Copa, a Copa, a Copa eu abro mão. Eu viro carranca é para defender o Franciscão” foi uma das canções improvisadas pelos jovens, em meio ao jingle oficial da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”. Uma das mais animadas era Emile Soares, de 14 anos, estudante do Cetep/Sertão do São Francisco,

que junto com a equipe Hashtag Co-nectada, demonstrava seu amor pelo rio. “Todos unidos para defender o São Francisco. É preciso união para que haja conscientização”, defendeu.E a carranca foi mesmo símbolo da atividade. Seja em faixas e cartazes ou no próprio corpo, a imagem que representa a defesa do rio contra os maus agouros, esteve presente. Na

ponte Presidente Dutra, a caminhada encontrou com outro grupo de ativis-tas que partiu da orla de Petrolina, na margem pernambucana do rio e, jun-tos, ocuparam a Ilha do Fogo, onde, entre palavras de ordem, realizaram um ato simbólico de derramamento de água limpa no rio e o peixamento com 30 mil alevinos, representando o retorno da vida ao Velho Chico.

Peixamento, palestras, recitais“A gente quer que toda a socieda-de abra os olhos e veja que o Velho Chico está morrendo”, alertou o co-ordenador da Câmara Regional do Médio São Francisco e organizador do Dia Nacional em Defesa do Ve-lho Chico em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, Cláudio Pereira. A data foi

marcada por adesivagem de carros, panfletagem em sinaleiras, caminha-da, palestras, shows, recitais de poe-sias e cordelistas e atos simbólicos, como a devolução de água ao rio, em diversas cidades do Médio São Francisco.O grito de guerra dos participantes, “Eu viro carranca pra defender o Ve-lho Chico”, soava alto e clamava por

melhorias na qualidade e na quanti-dade das águas do rio. Em Bom Jesus da Lapa a concentração foi no centro da cidade, onde alunos e professores do Centro Educacional Agenor Ma-galhães marcaram presença. “Trou-xemos os alunos para essa caminha-da porque entendemos que o planeta necessita de cuidados. É Fundamen-tal que as pessoas adquiram a cons-ciência da importância da água para todos nós”, disse a educadora Lud-mila Duarte Sá.Na chegada ao cais, os participantes devolveram, simbolicamente, uma porção de água ao rio. Depois houve travessia de barco até a comunidade de Barrinha, onde, com o apoio da Com-panhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba – Code-vasf, ocorreram ações de peixamento.

Foram aproximadamente 10 mil alevi-nos de curimatã despejados nas águas. Logo após, apresentações e shows culturais, como a da banda Morão di Privintina, marcaram o encerramento das manifestações. À noite, houve espaço ainda para uma palestra do coordenador Cláudio Pe-reira na Universidade do Estado da Bahia – Uneb, em Bom Jesus da Lapa. Pereira manifestou-se contra a degra-dação do São Francisco e ressaltou a necessidade de envolvimento da aca-demia na revitalização, nas pesquisas e nos debates que envolvem o Velho Chico. Além de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, as ações em prol do Dia Nacional em Defesa do Velho Chico tomaram conta de cidades como São Desidério, Irecê, Serra do Ramalho e Ibotirama.

Mobilização em toda a bacia do São FranciscoSubmédio São Francisco

Médio São Francisco

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A campanha Eu viro carranca pra defender o Velho Chico, criada pelo Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco –

CBHSF, resultou num verdadeiro sucesso em todas as mídias. Foram dezenas de entrevistas

e reportagens em jornais impressos,

emissoras de rádio e de tevê dos estados da bacia, além de veículos

de alcance nacional, como os jornais Folha de São Paulo, Correio

Brasiliense e a TV Globo, entre outros.

A campanha também ga-nhou grande destaque no ambiente da internet. Os números de visualizações,

compartilhamentos e seguidores do conteúdo digital superaram todas as expectativas. Mais de dois mil pessoas “viraram carranca” nas mídias sociais, colocando sua foto ao lado do símbo-lo da campanha e compartilhando em suas redes de relacionamentos.O hotsite virecarranca.com.br chegou a mais de 14 mil acessos, até o dia 06 de junho. Específico da campanha, o sítio virtual disponibilizou todo o ma-terial, como peças gráficas, vts, spots e textos alusivos à temática, tornando possível o engajamento de todos os in-teressados em participar da campanha. Outros números que surpreendem são o do crescimento de 165% de fãs da fanpage do CBHSF, chegando a 20 mil pessoas. Um alcance diário de 500 mil usuários do Facebook.

O vídeo de divulgação da campa-nha, com o jingle oficial e a presen-ça de artistas como Adelmo Casé, Carla Visi, Targino Godim e povos da bacia, contabilizou cerca de 10 mil views em menos de 15 dias. Já o abaixo-assinado em defesa do rio São Francisco reuniu derca de 3.200 assi-naturas (até o dia 06/06). O abaixo--assinado, da plataforma Azzaz.org, pede a revitalização imediata do rio São Francisco e a inclusão do CBHSF no Conselho Gestor do Programa de Revitalização do rio São Francisco.

Coletiva dispara a campanhaReunidos em Brasília por iniciativa do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, jornalistas dos estados que compõem a bacia hidro-gráfica do rio São Francisco (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), mais o Distrito Federal,

participaram, no dia 28 de maio, da coletiva de imprensa para lançamen-to da campanha Eu Viro Carranca Pra Defender o Velho Chico.Na coletiva, que aconteceu no Hotel Mercure, o CBHSF informou sobre as manifestações conjuntas a serem rea-lizadas no dia 03 de junho nos mu-nicípios da bacia, bem como expôs a atual realidade e problemas enfrenta-dos nas quatro regiões fisiográficas da bacia (Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco).Além de ajudarem a propagar a cam-panha em todo o país, os jornalistas convidados, por sugestão própria, se colocaram à disposição do CBHSF para ajudarem na divulgação de ações que possam promover a melhoria do rio São Francisco. Alguns deles se pro-puseram a criar e participar de uma rede de informações para melhor fazer circularem as informações sobre o rio e a bacia.

Carrancas viram destaques na mídia em todo o país

Confira os números da campanha do CBHSF nas redes sociais.

• 165% – crescimento no número de fãs no Facebook • 500 mil – alcance diário de pessoas no Facebook• 20 mil 'curtidas' no Facebook • 10 mil views – vídeo da campanha em menos de 15 dias• 14 mil acessos ao hotsite• 3.200 assinaturas no abaixo-assinado em defesa do rio São Francisco

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NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 7

Abaixo-assinado para o GovernoEm meio à campanha pelo Dia Nacional em Defe-sa do Velho Chico, um abaixo-assinado, aprovado pela diretoria do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, foi veiculado através das mídias sociais para reivindicar que o Conselho Gestor do Programa da Revitalização do Rio São Francisco, instituído desde 2004 pelo Ministério do Meio

Ambiente (MMA), torne-se mais participativo e inclua em sua composição representantes do CBHSF e das municipalidades, além dos povos tradicionais da bacia. O objetivo é que o Comitê do São Francisco integre as discussões destinadas a reverter o quadro de degradação ambiental na bacia do Velho Chico.

Até o momento, mais de 3.400 pessoas assinaram a petição, que segue online. Quem tiver interesse em aderir a causa, basta acessar o link http://bit.ly/abaixoassinadovelhochico. Em seguida, o docu-mento, contendo todas as assinaturas, será entre-gue à Presidência da República e às Comissões de Meio Ambiente da Câmara e do Senado Federal.

A campanha Eu viro carranca para defender o Velho Chico mobilizou anônimos e famosos, entre artistas, comunicadores, gestores públicos, lideranças comunitárias e representantes dos povos da Bacia do Rio

São Francisco. Cada um, ao seu modo, expressou sua preocupação com o rio e o desejo de vê-lo revitalizado. O engajamento se deu especialmente por meio das redes sociais. Veja algumas delas:

Eles viraram carrancas!

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A comunicadora, respeita-da em toda a região pela sua dedicação ao rádio, celebrou os seus 81 anos de

vida em um café da manhã com amigos e familiares, justamente no dia 03 de junho, data que, a partir de agora, será também dedicada ao rio São Francisco. Duran-te a cerimônia, ela fez questão de usar o adesivo e a camisa da campanha e aler-tar a todos os presentes, muitos também jornalistas e locutores, sobre o papel da imprensa na defesa do rio da integra-ção nacional. “Precisamos voltar nosso olhar e a nossa consciência para a im-portância desse rio. A comunicação é fundamental para convocarmos todos a evitar a degradação do Velho Chico, essa água bendita, bênção de Deus”, dis-se, ao receber o material da campanha das mãos da locutora e blogueira Josélia Maria e do membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Al-macks Luiz Silva. “Precisamos educar as crianças para cuidar da água, para que as próxi-mas gerações tenham uma relação

de respeito e preservação do rio”, aconselhou a radialista, considerada a “Dama da Comunicação” do Vale São Francisco. Inah Torres nasceu em 31 de maio de 1933, em Caruaru – PE, e já vive em Petrolina há mais de 40 anos. Es-treou no rádio ainda em 1956, leva-da pelo irmão, Luiz Torres, radialista da Rádio Difusora de Caruaru, onde participou de programas de auditório, até assumir os microfones como apre-sentadora. Já em Petrolina, por mais de três décadas, ela conduziu o programa diário de entrevistas “Em Comunida-de”, na Grande Rio AM, além de escre-ver uma coluna social no jornal Gazze-ta do São Francisco, da mesma cidade. “O que eu gosto é dar voz às comunida-des e integrar as pessoas pelo rádio. Isso me faz feliz”, resume. Há dez anos, Inah Torres reduziu sua rotina a três programas semanais por conta de um câncer de garganta que a levou a submeter-se a sessões de radioterapia. “Não posso parar, se Deus me deu esse dom, eu preciso

continuar, até quando ele permitir”. Quando soube da campanha Eu viro carranca para defender o Velho Chi-co, ela logo quis se engajar. Comen-tou na programação do rádio, postou nas redes sociais e utilizou um avatar com a carranca em seu perfil pessoal no Facebook, gerando compartilha-mentos, curtidas e comentários de seus seguidores. “Esses anos todos eu sempre abordei a situação do rio São Francisco em entrevistas e debates, porque, apesar de ser chamado Velho Chico, ele pode ser sempre novo, só depende do nosso olhar permanente e cuidadoso para ele”. Sobre a continuidade da campanha nos próximos anos, Dona Inah já de-monstrou disposição e interesse: “Es-tarei sempre com as portas do coração abertas e os olhos atentos para o rio. É minha forma de agradecer a essa dádi-va divina, a tudo que o São Francisco nos tem dado”. Pela vibração demons-trada aos 81 anos, Dona Inah Torres ainda vai virar carranca muitas vezes em defesa do Velho Chico.

Aos 81 anos, locutora vira carranca pelo Velho Chico

A campanha Eu viro carranca para defender o Velho Chico recebeu

um importante apoio na região do Submédio

São Francisco. Entre os diversos veículos

de rádio, tevê e jornais impressos que repercutiram as ações

do Dia Nacional em Defesa do Velho Chico,

destaca-se a locutora da rádio Grande Rio

AM de Petrolina, Inah Torres, decana do

radiojornalismo de uma das principais cidades

banhadas pela bacia hidrográfica do rio

São Francisco, que se engajou na campanha

logo no início.

Perfil/ Inah Torres

Petrolina é a cidade onde a comunicadora reside há mais de 40 anos.

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NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 9

Contando com a presença de representantes dos es-tados da bacia (Minas Ge-rais, Bahia, Pernambuco,

Alagoas e Sergipe), o encontro teve a participação do presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, que ressaltou a importância da reunião para a bacia. “Estamos aqui para fortalecer a nossa grande bandeira de luta. Em tempos de grandes adversidades, do ponto de vis-ta hidrológico, temos que montar uma agenda objetiva, buscando uma visão acerca dessa crise que estamos vivendo ”, observou.

No encontro, foram expostos proble-mas que vêm sendo enfrentados pelas populações ribeirinhas nos afluentes do São Francisco. A integrante do CBH Sobradinho, da Bahia, Cíce-ra Silvana, clamou por ajuda ao rio. “Queremos tirar nosso Velho Chico da UTI. Despejos de resíduos, asso-reamento, falta de esgotamento sani-tário, consumo de água de maneira desorganizada e desmatamentos são alguns dos problemas que precisam ser sanados urgentemente. Essa reu-nião serve com norteador para a bus-ca de soluções ”, disse ela.

AtençãoO presidente do Consu/Poço da Cruz, de Pernambuco, Francisco Manoel da Silva, pediu mais atenção tanto do CBHSF quanto da Agência Nacional de Águas – ANA. “Queremos uma maior aproximação dessas instâncias federais na nossa bacia do Moxotó, principal-mente com relação a criação de uma nova legislação aos rios intermitentes – que não têm o fluxo de água contínuo - da bacia do Velho Chico. Todos têm interesses no rio Moxotó em época de cheia, mas quando ele está seco não apa-rece ninguém para ajudar”, lamentou. No estado de Minas Gerais, conhecido por ser a “caixa d á̀gua” do País, a realidade quanto à escassez hídrica já é um fato pre-sente. A secretária da Câmara Consultiva Regional (CCR) do Alto São Francisco do CBHSF e presidente do CBH Três Marias, Sílvia Freedman, alertou para os problemas decorrentes das recentes reduções das va-zões na Usina Hidrelétrica de Três Marias. “O abastecimento de água a cidade de Pi-rapora está completamente comprometi-do por causa dessa medida. O rio está seco nesta região e clamamos por uma ajuda do CBHSF para intermediar esta discus-são”, disse. O que antes era abundante para Minas Gerais hoje é motivo de preocupa-ção. “O discurso agora é outro. Carecemos mesmo de água”, finalizou.

A presidente do CBH Pará, também no Estado, Regina Greco, sugeriu uma ação conjunta em prol da bacia. “O Alto São Francisco tem um papel fundamental para as águas do rio são Francisco. De-vemos fazer um pacto entre os estados que compõem o Velho Chico e realizar o compartilhamento de ações ambien-tais ao longo dele”, propôs. O evento teve início com uma apresen-tação sobre os dados coletados por meio das medidores pluviométricos espalha-dos nas inúmeras estações meteoroló-gicas de Minas Gerais. Ela foi exposta pelo engenheiro da Companhia de Sa-neamento de Minas Gerais – Copasa, Ronaldo de Luca.Participaram também do debate o CBH Pajeú (PE); Consu Garças (PE); Consu Chapéu (PE); Consu Nilo Co-elho (PE); Consu Ingazeira (PE); CBH Verde e Jacaré (BA); CBH Salitre (BA); CBH Grande (BA); CBH Paramirim (BA); CBH Corrente (BA); CBH Alto São Francisco (MG); CBH Paraopeba (MG); CBH Velhas (MG); CBH Jequi-taí – Pacuí (MG); CBH Paracatu (MG); CBH Urucuia (MG); e CBH Afluentes Mineiro do Médio SF (MG). O II En-contro dos Comitês Afluentes do Rio São Francisco antecedeu a programação da XXV Plenária Ordinária do CBHSF, que aconteceu também no mês de maio na capital mineira.

Comitês de afluentes discutem problemas tendo a crise do São Francisco como ponto comum“É neste encontro que está a alma do rio São Francisco. É aqui que mudaremos a realidade dele”, disse Antônio Jackson, representante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piauí, de Alagoas. Em sintonia com o discurso dele, outros 16 comitês de bacia participaram no último mês de maio, em Belo Horizonte (MG), do II Encontro dos Comitês Afluentes do Rio São Francisco, evento promovido pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) no intuito de fortalecer a relação entre a entidade e os comitês de rios tributários – cursos d’águas menores que deságuam em rios principais – buscando soluções para os graves problemas de degradação ambiental e escassez hídrica vividos pelo São Francisco.

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Além disso, a plenária tratou dos desafios para implantação do Plano Nacional de Saneamen-

to Básico (Plansab) com palestra do engenheiro civil e sanitarista Gilson Queiroz, que explicou que, nesta área, estão previstos investimentos de aproximadamente R$ 500 bi-lhões, estabelecendo diretrizes, me-tas e ações de saneamento básico para o país nos próximos 20 anos, no período de 2014 a 2033. A XXV Plenária Ordinária do CBHSF, que aconteceu nos dias 22 e 23 de maio em Belo Horizonte (MG), reuniu declarações de alerta e preocupação sobre o futuro do rio São Francisco. “A situação está muito crítica. Pode-mos dizer que essa crise hídrica está atingindo, indiscriminadamente, todos os 504 munícipios da bacia, inclusive os de Minas Gerais, que antes não eram afetados. E continu-amos a querer extrair do rio muito além do que ele pode dar”, protes-

tou o presidente do CBHSF, Anival-do Miranda.A plenária teve como tema central a campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico, e começou dedicando bastante atenção às ativi-dades de mobilização durante o Dia Nacional em Defesa do Velho Chico, marcada para 3 de junho em todas as regiões da bacia. Na mesa, convida-

dos como o secretário de Meio Am-biente de Minas Gerais, Alceu Tor-res, e o presidente da Comissão das Águas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Almir Paraca, foram unânimes em elogiar a iniciativa do Comitê.“Só a presença de vocês aqui de-monstra que tem muita gente engaja-da pensando de maneira mais ampla

O rio no centro dos debatesOs preparativos para a campanha pelo Dia

Nacional de Defesa do Velho Chico

deram o tom da XXV Plenária do Comitê

da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

(CBHSF), realizada entre os dias 22 e 23 de

maio, no auditório do Conselho Regional de

Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), em

Belo Horizonte (MG).

XXV Plenária do CBHSF

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NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 11

Ao final da XXV Plenária do CBHSF ficou definido que a próxima reunião plenária do colegiado será realizada em Maceió, no mês de novembro de 2014, mesmo período em que deverá acontecer o Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Encob). A escolha foi consenso entre os participantes, devido ao evento nacional.

Próxima plenária será em Maceió

em defender o Velho Chico”, disse Paraca, que elogiou a escolha da car-ranca como símbolo da campanha: “Para sensibilizar o conjunto da po-pulação é preciso usar elementos da cultura popular, como vocês estão usando. Muitas vezes os argumentos técnicos não conseguem alcançar as pessoas de maneira efetiva”.Por sua vez, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais, Jobson Andrade, ma-nifestou o interesse de sua instituição pelo tema, lembrando que a inserção social faz parte das atividades do Crea: “Estamos presentes em 12 comitês de bacias, sempre com o objetivo de con-tribuir com as causas sociais dentro da nossa visão técnica”.

Relato sobre viagemDurante a programação da plenária, o presidente do Comitê, Anivaldo Mi-randa, fez um breve relato ao colegiado sobre a “exitosa” experiência do cole-giado durante a II Conferência Inter-nacional sobre Cooperação pela Água, Energia e Segurança Alimentar em Bacias Transfronteiriças, evento reali-zado no último mês de abril na cidade de Ho Chi Minh (antiga Saigon), no Vietnã. “A repercussão da presença do CBHSF foi um sucesso. Estivemos

lá a convite do governo vietnamita e mostramos a realidade e importância da bacia do Velho Chico. Trouxemos impressões que poderão ser usadas no âmbito do comitê”, disse Miranda.

Sobre a transposiçãoAinda na plenária, o representante do Ministério da Integração, José Luiz de Souza, apresentou um relatório sobre o andamento das obras referentes à transposição das águas do São Francisco. Ele apontou a existência de 23 açudes, dos quais 21 são de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Con-tra a Seca (Dnocs), para a recuperação e revitalização, com a finalidade de refor-çar a capacidade hídrica da transposição. Souza explicou que houve uma fase de renegociação de contratos, período no qual houve críticas a respeito do anda-mento das obras. Depois da renegocia-ção contratual, segundo ele, o número de trabalhadores aumentou de 9 mil para 10.400. Segundo ele, é normal que as obras da transposição transcorram em estágios diferentes. “Em alguns casos, há trechos que ainda estão começando”, declarou. A respeito do chamado eixo sul da obra, que fica no Estado da Bahia, justificou que há estudos quanto à via-bilidade técnica, o que não representa abandono do trabalho.

Comitês são exemplos de união“Nosso desafio é estruturar os muni-cípios. Articular o esforço coletivo. Os comitês de bacias são um exemplo de união de sucesso”, disse o engenheiro civil e sanitarista Gilson Queiroz em sua palestra sobre os Desafios para a implantação do Plano Nacional de Sa-neamento – Plansab, ocorrida durante a programação da XXV Plenária Ordi-nária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.De acordo com o especialista, a inicia-tiva – aprovada no final de 2013 – terá investimentos de aproximadamente R$ 500 bilhões, estabelecendo diretri-zes, metas e ações de saneamento bá-sico para o país nos próximos 20 anos (2014–2033). “Nós temos as ferramen-tas necessárias para caminhar e evoluir na politica de saneamento das cidades brasileiras. Para que isso dê certo, pre-cisamos tratar as políticas de recursos hídricos de forma integrada, justamen-te por isso dei como exemplo exitoso os comitês de bacias hidrográficas”, disse. Os recursos serão aportados pe-los governos municipais, estaduais e federal, bem como de organismos in-ternacionais e da inciativa privada.A palestra do professor entra em sinto-

nia com o atual momento do CBHSF, que destinou cerca de R$ 7 milhões, originários da cobrança pelo uso da água, para a elaboração de 25 planos de saneamento básico (PMSBs) em municípios de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Ao todo, 19 já se encontram em fase inicial dos trabalhos. “O convite fei-to pelo CBHSF para apresentar aqui as minhas experiências servem para alavancar o esforço dos municípios na execução desses PMSBs. Infeliz-mente ainda existem poucos inves-timentos técnicos nessas cidades, principalmente com relação a equi-pes de trabalho. A grande estrela do Plansab é a gestão. Só assim ele terá sucesso”, comentou.A lei federal nº 11.445/2007 tornou obrigatório ao município possuir um PMSB para a solicitação de verbas federais. Os recursos destinados pelo CBHSF servirão como base para a criação do plano, que terá a sua exe-cução a cargo das prefeituras – ou por concessões privada ou públicas. A seleção e escolha dos municípios baseou-se em alguns critérios defini-dos pelo CBHSF, fundamentando-se no baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e na pouca disponi-bilidade hídrica dos municípios.

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Qual é o panorama do saneamento básico no Brasil e, em particular, na bacia do rio São Francisco?Temos um déficit importante no sa-neamento básico e é preocupante a situação se pensarmos que estamos no século XXI, na era tecnológica. Infelizmente tivemos um cenário adverso na politica publica, no pas-sado, que levou ao quadro que vive-mos hoje. E a maior parte bacia do São Francisco está inserida em uma área que é a mais carente do país, que é a do semiárido. Então, logica-mente, haverá situações mais graves do que o panorama de outras regi-ões do país. Por isso também pode-mos dizer que a bacia deverá mere-cer maior volume de investimento para resolver seus problemas.

Como se explica o déficit no que se refere ao saneamento básico no país?Se explica pela falta de investimento. Tivemos um plano nacional de sanea-mento na década de 1960/70, que fez uma inclusão de 56 milhões de pes-soas no abastecimento de água. Isso melhorou muito a situação, mas ainda aquém do que nós precisamos, que é universalizar. Mas vamos avançar nes-ses próximos 20 anos para ter maio-res conquistas. Todo cidadão merece água potável e saneamento básico de qualidade.

Instituído pela lei 11.445/2007, o Plano Nacional de Saneamento Bá-sico – Plansab prevê a aplicação de cerca de R$ 508,5 bilhões a serem executados entre 2013 e 2033. Como estão sendo aplicados esses recur-sos? Algum dos estados banhados pelo rio São Francisco já foram con-templados pelo Plano?O plano nacional foi aprovado agora, no final do ano, e ele depende dos planos municipais e estaduais para uma boa efetivação. Observo também que a ca-pacidade de aplicação dos investimen-tos do país, apesar de o governo federal ter disponibilizado mais do que isso, é de R$ 8 bilhões ao ano. Nós precisamos ampliar essa capacidade, nos primeiros anos, para, no mínimo, R$ 16 bilhões. É importante a gente ter em mente que os critérios principais que regem a dis-tribuição dos recursos, atualmente, são a população em extrema pobreza, o dé-ficit de água e de esgoto e a população total, além do critério do bom projeto. Esses pontos ranqueiam os municípios e isso tem deslocado recursos para o se-miárido brasileiro. Sem dúvida, os esta-dos da bacia do São Francisco estão sen-do contemplados nesse planejamento, obedecendo sempre ao critério popula-cional e o planejamento dos municípios.

Uma das metas do plano é a uni-versalização da água, bem tão es-

sencial à vida humana. Com tantas adversidades climáticas e com os baixos níveis dos reservatórios, principalmente nas regiões Sudes-te e Nordeste, essa meta fica com-prometida? De que maneira?

Acredito que vamos ter, ao longo do plano, a politica de recursos hídricos e de recuperação, manutenção e pereni-zação de mananciais. Então, concomi-tantemente com a execução de projetos do plano, vamos ter também execução de ações para salvar os nossos rios.

Quais são os estados que mais se destacam em qualidade de sanea-mento básico no Brasil? Eu diria que temos estados com maior capacidade de investimen-to, como, por exemplo, os estados mais ricos da união, como São Pau-lo e Minas Gerais. Ainda assim, na minha opinião, temos que olhar o mapa do déficit para saber os que mais têm avançado no saneamento básico.

O São Francisco é o “rio da integra-ção nacional”, ainda assim é poluído diariamente com esgotos e lixo do-mésticos e industriais, por exemplo. Qual é a melhor forma de os municí-pios que integram a bacia colabora-rem para mudar esta realidade?

Investindo em recursos humanos. A gente consegue realizar as políticas e projetos através de pessoas. Os muni-cípios necessitam de pessoal qualifica-do e da contratação de novo quadro, porque a questão do investimento é o seguinte: o governo federal vai liberar recursos através de projetos e propos-tas de uma equipe qualificada.

Com o objetivo de contribuir para melhores condições de saneamen-to básico e, principalmente, vi-sando o aumento da quantidade e da qualidade das águas do rio, o CBHSF vem desenvolvendo algu-mas ações ao longo de sua existên-cia. Somente esse ano o Comitê já licitou a criação de 19 planos de sa-neamento básico para municípios que fazem parte da bacia. Como o senhor avalia essa iniciativa?É uma iniciativa fundamental. Hoje a maior fonte de poluição dos cursos d’água são as cidades, através do es-gotamento sanitário, do lançamento de resíduos sólidos. A iniciativa do Comitê é um exemplo interessante de articulação das politicas setoriais, que é uma das grandes dificuldades que o Brasil tem. Os comitês de bacia têm uma visão de pluralidade e, efe-tivamente, vão dar uma contribuição muito positiva, também, na direção de melhoria do saneamento básico.

Saneamento básico é questão fundamental para a saúde dos rios

Entrevista | Gilson Queiroz

“A maior fonte de poluição dos nossos rios são os esgotos”, afirma o engenheiro civil e sanitarista Gilson Queiroz. Nessa entrevista exclusiva, Queiroz, que é formado pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e já presidiu instituições importantes no Brasil, como a Fundação Nacional de Saúde – Funasa e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais, fala sobre o Plano Nacional de Saneamento Básico e elogia o Comitê do São Francisco por sua contribuição com o apoio à elaboração de planos municipais de saneamento básico na bacia do Velho Chico.