jean carlos fernandes - os princípios enformadores dos títulos de crédito na contemporaneidade

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CAPÍTULO 2 Os PRINCÍPIOS ENFORMADORES 1 DOS TÍTULOS DE CRÉDITO NA CONTEMPORANEIDADE 1. Princípios cambiários na teoria clássica dos títulos de crédito No campo do direito cambiário, a doutrina não se mostra consente, designando indistintamente a cartularidade, a literalidade ea autonomia Aderimos aqui à utilização do verbo 'enformar' e não 'informar', cuja distinção restou esclarecida por Newton de Lucca: "Volvo a repetir, ad nauseam, o emprego do verbo enformar e não informar, como é absolutamente recorrente na literatura jurídica nacional, pelas razões já apresentadas em oportunidades anteriores, a seguir aduzidas: 'Embora o verbo informar, no sentido da filosofia escolástica, seja o de dar forma a uma determinada matéria - matiz que corresponde exatamente aos que sempre pretendemos utilizar em nossos trabalhos jurídicos - não é esse o sentido coloquial da palavra, denotativa de dar ciência de algo ou instruir. Permito-me, as- sim, continuar insistindo no emprego do verbo enformar, com 'e' inicial, no lugar de informar, com 'i', como é claramente preferido pela literatura jurídica nacional. [...] Quando me utilizo da expressão, no entanto, o faço com a letra 'e', pois entendo que os princípios - concebidos, sem embargo dos diferentes matizes existentes, em seu sentido filosófico, como 'proposições diretoras de uma ciência às quais todo o desenvolvimento posterior dessa ciência deve estar subordinado' - não dão' infor- mação' de algo, mas dantes dão forma (ó), isto é, enformam no sentido de moldarem ou mesmo de construírem uma forma (ô) preparada para a produção de algo.''' (LUCCA, Newton de. Da ética geral à ética empresarial. São Paulo: Quartier

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  • CAPTULO 2Os PRINCPIOS ENFORMADORES1 DOS

    TTULOS DE CRDITO NA CONTEMPORANEIDADE

    1. Princpios cambirios na teoria clssica dos ttulos de crdito

    No campo do direito cambirio, a doutrina no se mostra consente,designando indistintamente a cartularidade, a literalidade e a autonomia

    Aderimos aqui utilizao do verbo 'enformar' e no 'informar', cuja distinorestou esclarecida por Newton de Lucca: "Volvo a repetir, ad nauseam, o empregodo verbo enformar e no informar, como absolutamente recorrente na literaturajurdica nacional, pelas razes j apresentadas em oportunidades anteriores, a seguiraduzidas: 'Embora o verbo informar, no sentido da filosofia escolstica, seja o dedar forma a uma determinada matria - matiz que corresponde exatamente aos quesempre pretendemos utilizar em nossos trabalhos jurdicos - no esse o sentidocoloquial da palavra, denotativa de dar cincia de algo ou instruir. Permito-me, as-sim, continuar insistindo no emprego do verbo enformar, com 'e' inicial, no lugarde informar, com 'i', como claramente preferido pela literatura jurdica nacional.[...] Quando me utilizo da expresso, no entanto, o fao com a letra 'e', pois entendoque os princpios - concebidos, sem embargo dos diferentes matizes existentes, emseu sentido filosfico, como 'proposies diretoras de uma cincia s quais todo odesenvolvimento posterior dessa cincia deve estar subordinado' - no do' infor-mao' de algo, mas dantes do forma (), isto , enformam no sentido de moldaremou mesmo de construrem uma forma () preparada para a produo de algo.'''(LUCCA, Newton de. Da tica geral tica empresarial. So Paulo: Quartier

  • -!-:/ .

    . it0 ph~~pr~tipi~sZ, caractersticas3, elementos essen-'ib:It: ",~qt;j~it6s essenciais", predicados ou dogmas".

    ,crqp;ihb.se da palavra caracterstica, Rizzardo 8 menciona que se',erei llteralidade, autonomia, abstrao e cartularidade, mas adverte que

    . to importantes essas qualidades que mais se constituem em princpios,reconhecidos universalmente.

    Segundo Newton de Lucca", o Direito apresenta-se como um orde-namento, ou seja, como um sistema complexo de normas que estejamem coerncia umas com as outras, parecendo "razovel concluir-se, assim,que a teoria geral dos ttulos de crdito refere-se ao sistema de princpiosprprios aplicveis a tais instrumentos."

    Na abordagem dos princpios cambirios, coube a Cesare Vivante omrito da construo de uma teoria unitria para os ttulos de crdito,definindo o ttulo de crdito como o "documento necessrio para o exer-ccio do direito literal e autnomo nele mencionado."?

    Explica Vivante que

    o direito contido no ttulo um direito literal,porque seucontedo e os seuslimites so determinadosnos precisostermos do ttulo; um direito autno-mo, porque todo o possuidor o pode exercercomo se fosseum direito origi-nrio, nascido nelepela primeira vez,porque sobre essedireito no recaemasexcees,que diminuiriam o seuvalornasmos dos possuidoresprecedentes."

    , 5

    MARTINS,Fran. Ttulos de crdito. v. 1, 13. ed. Rio deJaneiro: Forense, 1998, p. 7;COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de direito comercial. 6. ed. So Paulo:Saraiva,2002,p. 371; ROSAJNIOR, LuizEmygdioF. da. Ttulos de crdito. 2. ed.Rio deJaneiro:Renovar,2002, p. 59.REQUIO, Rubens. Curso de direito comercial. 23. ed. So Paulo: Saraiva, 2003,v. 2, p. 359.LUCCA,Newton de.Aspectos da teoria geral dos ttulos de crdito. SoPaulo: Livra-ria Pioneira, 1979, p. 45.BORGES,Joo Eunpio. Ttulos de crdito. Rio de Janeiro: Forense, 1976, p. 12;COSTA,Wille Duarte. Ttulos de crdito. BeloHorizonte: Dei Rey,2003, p. 70.BULGARELLI,Waldrio. Ttulos de crdito. 16. ed. So Paulo:Atlas,2000, p. 62.LOBO,Jorge.As dez regras de ouro dos ttulos cambiais. SoPaulo: Revistados Tri-bunais n. 777, p. 159-168.RIZZARDO,Amaldo. Ttulos de crdito. Rio deJaneiro: Forense,2006, p. 13.LUCCA,Newton de.Aspectos da teoria geral dos ttulos de crdito. SoPaulo: Livra-ria Pioneira, 1979, p. 4.VIVANTE,Cesare.Trattato di diritto commerciale. v. 3, 5. ed. Milo:Vallardi,.1934,p. 63 e 164.VIVANTE,Cesare. Instituies de direito comercial. Traduo e notas de RicardoRodrizues Gama. Camoinas: LZN. 2003 o. 152.

    , 7

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    10

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    Nos dizeres de Borges o "ttulo de crdito , antes de tudo, um docu-mento. O documento, no qual se materializa, se incorpora a promessa daprestao futura a ser realizada pelo devedor, em pagamento da prestaoatual realizada pelo credor"12 .

    Vivante no poupou crticas aos que afirmaram estar o direito incor-porado no ttulo de crdito, preferindo, de acordo com a sua definio,a expresso estar o "direito mencionado no documento." Para o autoritaliano a perda do ttulo no ocasiona o desaparecimento do direito, eletorna-se suspenso at que o ttulo seja substitudo por outro equivalente.

    Newton de Lucca esclarece que

    o direito, embora guardando profunda conexo com o documento e da re-sultando o fenmeno da cartularidade, no tem a sua existnciaestritamentecondicionada crtula.O direito algo imaterial e, como tal, no desaparececom o documento, como afirmou VIVANTE, porque sua conexo- mesmontima com o documento - no pode destruir sua imaterialidadeque extra-pola os limites da crtula."

    Alis, a Lei das Duplicatas, n. 5.474/68, em seu artigo 23, nos d mos-tra de que a destruio do ttulo no faz, necessariamente, desaparecer odireito cambirio, em virtude da possibilidade de obteno de uma tripli-cata. Assim, conforme preleciona Ascarelli, "sob esses aspectos se descobreo que h de exagero na imagem da incorporao'l",

    Ademais, o Cdigo Civil de 2002, em seu artigo 888, demonstra tersido este o entendimento adotado pelo legislador brasileiro, ao estabelecerque "a omisso de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua vali-dade como ttulo de crdito, no implica a invalidade do negcio jurdicoque lhe deu origem." O direito, pois, no se extingue com o desapareci-mento do ttulo de crdito.

    Tal discusso, conquanto de rigor cientfico, na prtica no tem tantarelevncia, pois falar-se que o direito est "mencionado", ou "incorpora-do" ou "contido" no documento, tem os mesmos efeitos jurdicos, prin-cipalmente pelo fato de que a lei que erige determinado documento

    12 BORGES,Joo Eunpio. Ttulos de crdito. Rio deJaneiro: Forense, 1976, p. 8.LUCCA,Newton de.Aspectos da teoria geral dos ttulos de crdito. SoPaulo:Livra-ria Pioneira, 1979, p. 13.ASCARELLI,Tullio. Teoriageral dos ttulos de crdito. SoPaulo:RED Livros,1999,n ?f.f.

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  • categoria de ttulo' d~'~:~dto, 'e;;~bei~cendi~'~s r~~~isii:~s indi~p~h~~ds"c',':sua validade". .

    A clareza com que Vivante definiu o ttulo de crdito traz o confortopara poder elencar como sendo seus os princpios da cartularidade, daliteral idade e da autonomia, no enfoque da teoria clssica.

    Para se constituir o ttulo de crdito deve a declarao obrigacionalestar exteriorizada em um documento escrito, corpreo, em geral umacoisa mvel". Tal documento necessrio ao exerccio dos direitos nelemencionados. Trata-se do princpio da cartularidade.

    Nos dizeres de Newton De Lucca:

    o fenmeno da cartularidade decorre da literalidade e da autonomia; emrazo de ser o direito mencionado no ttulo literal e autnomo que a apre-sentao da crtula torna-se necessria para o exerccio desse direito. Cartu-laridade , para ns, portanto, a necessidade de apresentao do documentopara o exerccio do direito."

    A cartularidade, portanto, est intimamente ligada ao documentopara que possa ser considerado um ttulo de crdito, sendo essencial suaexistncia, como expresso na definio de Vivante.

    A literalidade ou completude, por sua vez, reside no fato de que svale o que se encontra escrito no ttulo, ou seja, somente pode ser exigidoo contedo da crtula; o direito nele mencionado. O que no est expres-samente consignado no ttulo de crdito no produz consequncia nasrelaes jurdico-cambiais".

    Mas por que decisivo, em relao ao direito nele mencionado, oteor do ttulo? A resposta encontra-se nas palavras do festejado mestreitaliano Tullio Ascarelli, para quem a

    explicao da literalidade, que a doutrina eleva a caracterstica essencial dottulo de crdito, est na autonomia da declarao mencionada no mesmottulo (declarao cartular) e na funo constitutiva que, a respeito da decla-

    15 LUCCA, Newton de. Aspectos da teoria geral dos ttulos de crdito. So Paulo: Livra-ria Pioneira, 1979, p. 15-16.

    16 MARTINS, Fran. Ttulos de crdito. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p, 5.17 LUCCA, Newton de. Aspectos da teoria geral dos ttulos de crdito. So Paulo: Livra-

    ria Pioneira, 1979, p. 57.'R COE;LI-iO, ~bioylh~~; Manual de direito ~omercial. 20. ed. So Paulo: Saraiva,

    ra o cartular e le~'q~aiq~er'ds:J~~modalid~d~~,' e:erce a redao do ttulo;ssadeclanlo est, pois', submetida exclusivamente disciplina que decorredas clusulas do prprio ttulo. Se a nossa explicao no fosse exata, se o do-cumento tivesse apenas uma eficcia probatria da declarao documentada,o portador do ttulo - ao contrrio do que antes lembramos - poderia gozarde direitos diversos dos decorrentes do ttulo, mesmo sem recorrer a qualquerconveno extra-cartular."

    No se deve, porm, confundir literal idade com formalismo.

    o formalismo estabelecido pela lei define o 'teor especfico' do documentoe pertinente existncia da declarao cartular 'como tal'. J a literalidadevisa subordinao dos direitos cartulares unicamente ao 'teor da escritura',atribuindo relevncia jurdica somente aos elementos expressos na crtula."

    Por ltimo, a autonomia do ttulo de crdito determina que cadapessoa que a ele se vincula assume obrigao autnoma relativa ao ttulo,no se vinculando uma outra, de tal forma que uma obrigao nula noafeta as demais obrigaes vlidas no ttulo, a teor dos artigos 7 do De-creto 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra - LUG) e 13 da Lei de Cheque(Lei 7.357/85), respectivamente:

    Art. 7. Se a letra contm assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarempor letras, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictcias, ou assinaturasque por qualquer outra razo no poderiam obrigar as pessoas que assinarama letra, ou em nome das quais ela foi assinada, as obrigaes dos outros sig-natrios nem por isso deixam de ser vlidas. .

    Art. 13. As obrigaes contradas do cheque so autnomas e independentes.Pargrafo nico. A assinatura de pessoa capaz cria obrigaes para o signa-trio, mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de seobrigar por cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictcias,ou assinaturas que, por qualquer outra razo, no poderiam obrigar as pes-soas que assinaram o cheque, ou em nome das quais ele foi assinado.

    tambm em razo da autonomia do ttulo de crdito que o possui-dor de boa-f no tem o seu direito restringido em decorrncia de negcio

    19 ASCARELLI,Tullio. Teoria geral dos ttulos de crdito. Campinas: Mizuno, 2003,p.68.LU~CA, Newton de. Aspectos da teoria geral dos ttulos de crdito. So Paulo: Livra-20

  • i~-:.

    sbJ~"ceJ:1tentre os primitivos possuidores e o devedor. Surge aqui o prin-~f.piJ>;d," inoponibilidade das excees pessoais, consagrado pelos artigos

    . i I,? da Lei Uniforme de Genebra (Dec. 57.663/66), 25 da Lei de Cheque:Lei n. 7.357/85) e 916 do Cdigo Civil de 2002, respectivamente:

    Art. 17. As pes:oas acionadas em virtude de uma letra no podem opor aoportador exceoes fundadas sobre as relaes pessoais delas com o sacadorou com os p~rtadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letratenha procedido conscienternenre em detrimento do devedor.

    Art. 25. Quem for dem~ndado por obrigao resultante de cheque no podeopor ao portador exceoes fundadas em relaes pessoais com o emitente oucom os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientementeem detrimento do devedor.

    Art. 916. As excees, fundadas em relao do devedor com os portadoresprece.d~ntes" some~te podero ser por ele opostas ao portador, se este, aoadquirir o titulo, tiver agido de m-f.

    Destaca-se que as inoponibilidades" que tratam de vcios na constitui-o do direito cartular e vcios formais do ttulo so oponveis ao terceiro

    . e boa-f; ao contrrio, as inoponibilidades relacionadas s convenesICtra~a~tulares,que dizem respeito ao negcio subjacente, e as referentes

    : aqursio a non domino do ttulo, no podem ser opostas ao terceiro deoa-f, em conformidade com os artigos 16 do Dec. 57.663/66, 24 da Lei

    i 357/85 e 905, pargrafo nico do Cdigo Civil, respectivamente:

    Art. 16.0. detentor de uma letra considerado portador legtimo se justificao seu direito por uma srie ininterrupta de endossos, mesmo se o ltimo forem branco [...]

    Se uma pessoa foi p~r ~ualquer maneira desapossada de uma letra, o porta-dor dela, desde que Justifique o seu direito pela maneira indicada na alneaprece.d~nte, no obrigada a restitu-Ia, salvo se a adquiriu de m-f ou se,adquirindo-a, cometeu uma falta grave.

    Art. 24 Desapossa~~ algum de um cheque, em virtude de qualquer evento,novo portador legitirnado no est obrigado a restitui-lo se no o ad ..d ' L' ' quinue rna-re.

    Para um estudo mais aprofundado sobre a disciplina das inoponibilidades, consulte--.:.e~ o~~a de. ~.wton de. :-~:ca, 1:!e::os da teoria geral dos ttulos de crdito, So

    Pargrafo nico - Sem prejuzo do disposto neste artigo, sero observadas,nos casos de perda, extravio, furto, roubo ou apropriao indbita do cheque,as disposies legais relativas anulao e substituio de ttulos ao portador,no que for aplicvel.

    Art. 905. O possuidor de ttulo ao portador tem direito prestao nele indi-cada, mediante a sua simples apresentao ao devedor.Pargrafo nico. A prestao devida ainda que o ttulo tenha entrado emcirculao contra a vontade do emitente.

    Sobre o tema, a seguinte deciso do Tribunal de Justia do Estadode Minas Gerais, no julgamento da Apelao Cvel n. 1.0024.07.425641-3/001, de relatoria da Desembargadora Mrcia de Paoli Balbino:

    EMENTA: CML - APELAO - AO DECLARATRIA DE INEXI-GIBILIDADE DE TTULO CAMBIAL - SUSTAO DE PROTESTO- CHEQUE - ENDOSSO - TERCEIRO DE BOA-F - EXCEO PES-SOAL - PRESTAO DE SERVIO A DESCONTENTO - ART. 25 DALEI 7.357/85 - INOPONIBILIDADE - RECURSO NO PROVIDO. Aoterceiro de boa-f, portador de cheque regularmente emitido, no podero seropostas as excees pessoais relacionadas ao negcio subjacente, consoante odisposto no artigo 25 da Lei 7.357/85. cedio que a transferncia do che-que, por endosso, legitima o endossatrio para a cobrana do ttulo, inclusivepara protesto, como legtimo credor, ficando imune s excees pessoais liga-das ao negcio jurdico subjacente. No tendo sido comprovada a m-f doendossatrio, vedado ao emitente de cheque buscar em sua defesa exceopessoal que teria contra o endossante. Recurso no provido.

    De outro lado, quando se trata de vcio de constituio do direitocambirio, tais como, incapacidade, falsidade ou homonmia de firma efalsificao do contedo do ttulo, pouco importa a boa-f do terceiro, oque poder, inclusive, conduzir nulidade do ttulo caso no existam ou-tros signatrios coobrigados". Nesse sentido, o seguinte acrdo, tambmdo tribunal mineiro:

    EMENTA: EMBARGOS DEVEDOR - CHEQUE ROUBADO - OCOR-RNCIA POLICIAL - RECEBIMENTO POR TERCEIROS - PROVA PE-

    22 Confira-se, a respeito, o artigo 915 do Cdigo Civil: "O devedor, alm das exceesfundadas nas relaes pessoais que tiver com o portador, s poder opor a estes asexcees relativas forma do ttulo e ao seu contedo literal, falsidade c!aprp\,ia>; ':

  • . , Af/2.:\.\.5SNATURA FALSIFICADA - AUSNCIA DE REQUISITO./ESSENCIAL - DESCARACTERIZAO DO TTULO EXECUTNO.

    Como toda execuo tem por base ttulo executivo judicial e extrajudicial,no se presta para embas-Ia o cheque que se comprovou ser falsa a assinaturado seu emitente, sendo descaracterizado como cambial por ocorrer condioextintiva ou modificativa do direito nele contido, que lhe retira a executabi-lidade, por faltar-lhe pressuposto de validade.

    Se o exame grafotcnico e as demais provas so conclusivos na constataoda falsidade da assinatura aposta em cheque, deve-se acolher os embargos edeclarar a nulidade do suposto ttulo de crdito.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel nQ 305.104-9, daComarca de UBERLNDIA, sendo Apelante (s): HOSPITAL E MATERNI-DADE SANTA CLARA LTDA. e Apelado (a) (os) (as): ISALTINA DAS DO-RES DE ALMEIDA,

    ACORDA, em Turma, a Terceira Cmara Civil do Tribunal de Alada doEstado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO.

    Presidiu o julgamento o Juiz DORNAL GUIMARES PEREIRA e dele par-ticiparam os Juzes DUARTE DE PAULA (Relatar), KILDARE CARVALHO(Revisor) e EDILSON FERNANDES (Vogal).

    O voto proferido pelo Juiz Relatar foi acompanhado na ntegra pelos demaiscomponentes da Turma Julgadora.

    Belo Horizonte, 21 de junho de 2000.

    JUIZ DUARTE DE PAULA

    Relatar

    VOTO

    O SR. JUIZ DUARTE DE PAULA:

    Irresignado com a r. sentena que julgou procedentes os embargos execuoopostos por ISALTINA DAS DORES DE ALMEIDA contra HOSPITAL EMATERNIDADE SANTA CLARA LTDA., recorreu o embargado, preten-dendo obter a reforma do decisum, diante dos fundamentos esposados nasrazes de fl. 52/55-TA.

    Conheo do recurso, por presentes os pressupostos de admissibilidade .Alega o apelante que a percia confirmou que o cheque no foi emitido peladona do cheque, no entanto, a apelada, quando preenchido o termo de ocor-rncia, no declarou que seus cheques foram extraviados e nem onde e como,tambm no comunicou ao SPC o ocorrido, o que evitaria que o ttulo fosserecebido por terceiros de boa-f, motivo porque deve ser atendido o estabe-lecido no art. 159 do Cdigo Civil pois, quando uma pessoa toma posse deseu talonrio de cheques, torna-se responsvel pela sua guarda, no podendopelo simples extravio, eximir a pessoa da responsabilidade do pagamento,com exceo de caso fortuito e de fora maior, o que no o caso em tela.Afirma que, sendo a guarda do talonrio idntica guarda de um veculo,h de ser reformada a r. sentena, condenando a apelada ao pagamento dottulo executivo.

    Sabe-se que cada ttulo de crdito especificamente regulado par legislaoprpria, que dispe sobre os seus requisitos extrnsecos e intrnsecos e, apesarde se beneficiar das normas cambirias, no o cheque da modalidade pr-pria dos demais ttulos, posto que o fator crdito nele inexiste abstratamente,consistindo em uma ordem de pagamento vista dada contra um banco sa-cado ou instituio financeira, por algum que tenha fundos disponveis, emfavor do sacado r ou de terceiro, com que o sacado devolve importncia quelhe foi confiada, em atendimento determinao do emitente.

    No caso em questo, argiu a devedora embargante exceo de falsidade dottulo, fato este impeditivo e extintivo do direito do credor, por ter sidoextraviado de seus pertences em 12.08.96, o cheque exeqendo, conforme sev no Termo de Ocorrncia Policial de fl. ll-TA, lavrado na poca, tendorequerido a embargante sacadora o seu no pagamento com a sustao dottulo no banco sacado.

    Ora, sabe-se que o ttulo executivo, alm de documento sempre revestido daforma escrita, obrigatoriamente deve ser lquido, certo e exigvel, no bastan-do a sua exibio para que tenha forma de ttulo executivo, pois indispens-vel o preenchimento de todos os seus requisitos.

    No caso, restou demonstrado pela prova pericial de fl. 32/45-TA que o che-que exeqendo no fora emitido pela emitente embargante, como exige o art.lQ, letra 'f, da Lei do Cheque, o que descaracteriza a sua condio de ttuloexecutivo, no podendo produzir efeito por faltar-lhe requisito essencial, qualseja a certeza do crdito, haja vista a controvrsia sobre sua existncia, confor-me deflui de pacfico entendimento jurisprudencial:

    'Cheque - Assinatura falsa - nus da prova quanto autenticidade da assi-natura - Argida, via embargos de devedor, a falsidade da assinatura apostant"\ ,..h""'r1np- """111:> f-or~ ...~H ...."" ....f-..,. .................... P;t""I rlp 1~pntl~~rlp c;:;,.{n pytr::,vl:1-

  • ';?:'::... '.''ddr~ que veio residir em juzo com a execuo,

    h~a utentidade. Inteligncia dos arts, 388, I e 389, II.'Autenticidde no comprovada. Apelao provida, por maioria,

    'pata a proclamao da procedncia dos embargos execuo' (TARS - Ap.1967855 - j. 20.03.97 - 6~c.c. - ReLJuiz Marcelo Bandeira Pereira - Ori-gem: Caxias do Sul).

    'Cheque - Assinatura falsa - Nulidade - Execuo - Embargos - Se o examegrafotcnico e as demais provas so conclusivos na constatao da falsidadeda assinatura aposta em cheque, deve-se acolher os embargos e declarar a nu-lidade do suposto ttulo de crdito'. (TJDF - Ap. Civ, 3984696 - AC 99385- 2! Turma Cvel - j. 15.09.97 - ReI. Getlio Moraes Oliveira - pubI. Dirioda Justia do DF 12.11.97, pg. 27.557).

    Ademais, caberia ao hospital apelante comprovar, na condio de embarga-do, O negcio que deu ensejo emisso da crtula, e, no cumprindo com talnus, tem-se que a prova do furto e da assinatura falsa do emitente do ttulo induvidosa, que ressai da presuno de veracidade da declarao contida dedocumento pblico, a que se contrape aquela que poderia militar em favordo ttulo cambial, aqui inquinado de falso e comprovadamente demonstra-do. Entendo desinfluente O fato da embargante no ter comunicado tal fatoao SPC poca, se, a medida mais importante fora tomada, a lavratura deocorrncia policial e a sustao do cheque no banco para no pagamento,documentos estes suficientes para retirar a fora executiva do ttulo, que jun-tamente, com a produo de prova pericial, acabaram por descaracteriz-lo,no havendo como compelir a apelada a honrar cheque que no emitiu.

    Portanto, como toda execuo tem por base ttulo executivo judicial ou ex-trajudicial, no se presta para ernbas-la o cheque que se comprovou ser falsaa assinatura do emitente, sendo descaracterizado como tal por ocorrer con-dio extintiva ou modificativa do direito nele contido, que lhe retirou aexecutabilidade, faltando ao ttulo pressupostos de validade.

    Por tais razes de decidir, nego provimento ao recurso para manter a r. sen-tena hostilizada, que bem analisou a questo, em seus prprios e jurdicosfundamentos. Custas recursais, pelo apelante.

    Alis, no se pode falar de autonomia dos ttulos de crdito sem quese faa, ainda que rapidamente, uma abordagem sobre a abstrao, outroprincpio caracterstico de tais documentos.

    A autonomia dos ttulos de crdito compreende dois aspectos: auto-. nomia do ttulo (abstrao) e autonomia das obrigaes nele assumidas

    Pela abstrao temos que os direitos decorrentes dos ttulos so abs-tratos, independentes do negcio que deu lugar ao seu surgimento'". Aabstrao no se confunde com a autonomia das obrigaes cambirias(princpio da independncia das obrigaes cambirias). Aquela traz aregra de que, uma vez emitido o ttulo, este se libera de sua causa; estadisciplina que as obrigaes assumidas no ttulo so independentes umasdas outras.

    Segundo Fran Martins,

    a abstrao do direito emergente do ttulo significa que esse direito, ao serformalizado o ttulo, se desprende de sua causa, dela ficando inteiramenteseparado. Se o ttulo um documento, portanto, concreto, real, o direito queele encerra considerado abstrato, tendo validade, assim, independentementede sua causa."

    Todavia, a jurisprudncia tem limitado a aplicao do princpio daabstrao quando inexistente a circulao do ttulo, admitindo, assim, adiscusso da causa debendi entre as partes do negcio subjacente. A esserespeito, novamente o Tribunal de Justia mineiro se posicionou, no jul-gamento da Apelao Cvel n. 1.0000.00.161055-9/000:

    EMENTA: Falncia. Impontualidade. Ttulo executivo extrajudicial. Ausnciade liquidez. Princpio da abstrao. Falta de circulao. Limitao. Relaojurdica originria. 'Causa debendi.' Discusso. Possibilidade. I - O princpioda abstrao dos ttulos de crdito sofre limitao quando ele no entra emcirculao, permanecendo nas mos do beneficirio da relao jurdica base.Nessa hiptese, o ttulo no se desvincula da relao que o originou, possibi-litando ao emitente discutir a 'causa debendi.' II - O pedido de falncia, quetem como base a impontualidade do comerciante, exige liquidez do ttulopara legitimar a execuo coletiva, que fica desnaturada quando a prtica deusura se evidencia.

    APELAO CVEL N 000.161.055-9/00 - COMARCA DE BELO HORI-ZONTE - APELANTE(S): EMCOB EMPRESA MINEIRA COBRANALTDA - APELADO(S): GERAIS IND ALIMENTOS LTDA - RELATOR:EXMO. SR. DES. REYNALDO XIMENES CARNEIRO

    ACRDO

    23 MARTINS, Fran. Ttulos de crdito. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 199~, r- ~.

  • Belo Horizonte, 09 de dezembro de 1999.

    DES. REYNALDO XIMENES CARNEIRO - Relator

    NOTAS TAQUIGRFICAS

    O SR. DES. REYNALDO XIMENES CARNEIRO (CONVOCADO):

    VOTO

    EMCOB - EMPRESA MINEIRA DE COBRANA LTDA inconformadacom r. sentena proferida em Pedido de Falncia formulado em face de GE-RAIS INDSTRIA DE ALIMENTOS LTDA, que julgou improcedente opedido contido na inicial, com fundamento resumido de que as notas pro-missrias so nulas de pleno direito por estarem vinculadas a contrato cominfrao ao Decreto n 22.626/33, que o torna nulo por imposio do dis-posto no seu artigo 11 (fls. 162/164 - TJ), interpe recurso de apelao, sus-tentando, em sntese, a inadmissibilidade da alegao de nulidade das NotasPromissrias emitidas pela apelada, por se revestirem das formalidades legaise estarem vinculadas a contrato de novao, assim como argir coao e usu-ra na celebrao do referido negcio jurdico em sede de pedido de falncia ato de desafronta ao princpio do pacta sunt servanda, cabendo a parte quealega o vcio fazer prova robusta de sua ocorrncia; outrossim, que as notaspromissrias so ttulos abstratos e literais, inexistindo prova robusta e con-clusiva de sua inexistncia e iliquidez (fls. 165/179 - TJ).

    Contra-razes (fls. 183/192 - TJ) pela manuteno da sentena. O MinistrioPblico da Comarca (fls. 194/199 -1J) declina de se manifestar na fase recur-sal por entender imprpria, tendo a d. Procuradoria de Justia oficiado pelodesprovimento (fls. 206/208- TJ).

    Presentes os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade, conheodo recurso.

    O apelante fundamentou o pedido de falncia da apelada com base no art. 1,caput, da Lei de Falncias, que dispe: .

    'Art. 1. Considera-se falido o comerciante que, sem relevante razo de di-reito, no paga no vencimento obrigao lquida,. constante de ttulo que

    fir;b~u qGe ~~~d~radaapelad;c~ importncia de R$ 14.000,00 (quatorz.emil reais), representada em quatro notas promissrias (fl. 09/10 - TJ) ve~cl-das e no pagas, mas devidamente protestada nos termos do art. 10 da Lei deFalncias, somente uma (fls. 09 c/c 13 - TJ), datada de 15 de janeiro no valorde R$ 3.500,00 (trs mil e quinhentos reais), pois, os demais protestos (fls. 11,14 e 16 - T]) informam que o tipo de documento urna duplicata mercantil,e no as anunciadas notas promissrias, o que os tornam incuos para o fimque se deseja, nos termos do art. 11 da Lei de Falncias, com ressalva daqueladevidamente protestada.

    Certo que a nota promissria devidamente protestada constitui ttulo exe-cutivo extrajudicial (art. 585 do CPC) com presumida liquidez e certeza quelegitima a ao executiva, assim como, em se tratando de ttulo de crdito,detm como uma das suas caractersticas a abstrao, ou seja, a desvinculaodo ttulo da causa que originou, no sendo possvel ao devedor querer discu-tir a origem ou alegar excees de carter pessoal para se isentar do crditocontido na crtula. No entanto, no caso, o ttulo de crdito no se desvin-culou da causa, por no ter entrado em circulao, permanecendo nas mosdo beneficirio ou tomador, motivo pelo qual falece acerto ao apelante combase na abstrao alegar no ser possvel ao emitente discutir a causa debendi,pois, nesses casos, a caracterstica ou princpio da abstrao sofre limitao.

    Nesse sentido, importante aresto:

    'PROCESSO CML. EXECUO DE TTULO EXTRA]UDICIAL. TTU-LO DE CRDITO QUE NO ENTROU EM CIRCULAO. AFASTA-MENTO DO PRINCPIO DA ABSTRAO. POSSIBILIDADE DE DIS-CUTIR A CAUSA DEBENDI.

    Na execuo de ttulo extrajudicial vencido e levado a protesto, se a crtulano entrou em circulao, permanecendo em mos do beneficirio original e,portanto, a mesma relao jurdica subjacente, possvel discutir a causa de-bendi. O princpio da abstrao informa que o ttulo de crdito se desvinculada relao jurdica que lhe deu causa, no sendo oponvel ao devedor alegarexcees de carter pessoal para se eximir do seu pagamento. Entretanto, talprincpio visa proteger o terceiro de boa-f, portador do ttulo, a quem o di-reito confere os direitos a ele inerentes. Entretanto, se a crtula no circulou,permanece a mesma relao jurdica original entre beneficirio e devedor.No existe direito de terceiros a ser protegido. Por essa razo, possvel discu-tir a causa que lhe deu origem.' (TJDFT, ACJ 54998 - DF, ReI. Juiz AmoldoCamanho de Assis, deciso de 26.03.99, V.u., DJ do DF de 11.08.99, pg. 38)

    Destarte, lcito apelada que alegue na defesa matria relevante (art. 11, 3 e 42, do Decreto-Lei n 7.661/45), no caso, que desnature a Iiquid~z do

  • \, ' >'"

    . :lsgund clusula da" ";~'o\(fls~38i4:07 TJ), que somadas s

    dciq:nds, .representarn um montante de R$ 65.015,00.' ",' ~ 0j. !11I'equinze reais) para pagamento da dvida constante da. .~.primeira' clusula, representada pelo valor de R$ 35.217,00 (trinta e cinco

    mil e duzentos e dezessete reais) constantes de ttulos cambiais e ordens depagamento de seu endosso.

    Com acerto o juzo singular assinalou a disparidade existente entre a dvidainicial e a posterior constante da 'Confisso', chegando ao absurdo de cercade 84% de diferena, a ser paga entre fevereiro de 1997 e maio de 1998 ouseja, para um perodo de um pouco mais de um ano (15 meses), em que, senao ocorreu deflao, certamente teve apurada uma inflao mensal na casado zero,

    Sobre os juros cobrados, trago colao importante aresto:

    'DIREITO CML. EXECUO DE TRIPLICATAS. JUROS. DISCIPLINALEGAL. JUROS LEGAIS. JUROS MORATRIOS. LIMITE. DOBRO DATAXA LEGAL. CC, ARTS. 1062 E 1262. LEI DE USURA. FLUNCIA DOSJUROS A PARTIR DO VENCIMENTO. RECURSO PROVIDO.

    -? .limit~ l.egal pr~visto no art. 1 do Decreto n 22.626/33, c/c 1.062 doCdigo CIvIl, perrmte a pactuao de juros moratrios em 12% ao ano ou1% ~o ms, em ttulos cambiariformes, sendo a sua cobrana devida desde ove?C1m,en~oat ~ efe.tivo pagamento.' (STJ4 Turma, RESp 172790/PR, ReI.Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, deciso de 15.06.99, DJU de 16.08.99 pg.00074) ,

    Mutatis mutandis, foroso reconhecer que o procedimento adotado pelaapelante viola frontalmente o Decreto n 22.626/33, ao cobrar juros exorbi-tantes e ilegais, tornando nulo o Contrato de Confisso de Dvida e Termode Nov~o qu.e deu ~ri~em ao crdito e, prejudicada, em conseqncia, ap~e.sunao relativa de liquidez e certeza que norteia o ttulo executivo extraju-dicial representativo do crdito alegado, vinculado que est a causa debendisendo despicienda a te~tativa de lhe dar validade amparado no princpiopacta sunt serv~~da, po~s, os p.a~tos tero que ser cumpridos desde que nofirmados contranos a lei, permitindo o locupletamento indevido de uma daspartes em .detrimento da outra, alm de tal princpio no dar a liquidez deque necessita o ttulo para caracterizar a falncia sustentada.

    Destarte, no sendo ttulo hbil para demonstrar a impontualidade da ape-lada, por falta de liquidez e certeza para instruir o pedido de falncia, combase no art. lQ do Decreto-Lei 117661/45, com acerto decidiu a demanda o I

    "",-, ," '': ~', \ .:' : ,,' - >

    Ante o~xpo~t;'NEGO PROVIMENTO ao recurso para confirmar a senten-a por seus prprios fundamentos.

    Custas pela apelante .

    O SR. DES. CARREIRA MACHADO:

    VOTO

    De acordo.

    O SR. DES. ALMEIDA MELO:

    VOTO

    Conclu que existem dezesseis Notas Promissrias vinculadas ao contrato def. 38 a 40-TJ e no apenas uma.

    Essas Notas Promissrias tm ligao com as de f. 09 e lO-TJ,por seus valorese pela srie de dezesseis exemplares.

    Entretanto, a prova de protesto falha, pois os instrumentos referem-se aduplicatas (f. 11, 14 e 16-1J).

    Falta, pois, o elemento exigvel pela Lei de Falncias: ttulo com protestoespecial.

    Bastam estas razes de fato e de direito para negar provimento apelao, oque fao. .

    SMULA: NEGARAM PROVIMENTO.

    o Superior Tribunal de Justia, examinando caso envolvendo exe-cuo de duplicata sem aceite contra sacador-endossante e seus avalistas,assentou o entendimento de no ser lcito aos coobrigados invocarem aausncia de protesto ou do comprovante de entrega da mercadoria parase eximirem da obrigao de pagamento do ttulo de crdito, a teor doartigo 15, pargrafo 12, da Lei n. 5.474/6825 Trata-se de tpico exercciojurisprudencial do princpio da abstrao cambiria.

    25 BRASIL, Lei n. 5.474/68. Art. 15. A cobrana judicial de duplicata ou triplicata serefetuada de conformidade com oprocessoaplicvel aos ttulos executivos extrajudi-_:.,:_;: .J~:"_~>_~,;""~~~"",,,.~'-T;~-.."'~-TT..J r'.!.. ..-r; ........:.-.J ... -D..................:.~....n;.:._.:l. _.. __ ._.J __ ._ ..-.....

  • ,~", . :::PLICATP".. ~.Al:JSNCIA DE ACEITE E DE PROVA DAOPERAAoCOMRCIAL - EXECUO CONTRA ENDOSSANTE El\VALISTAS - POSSIBILIDADE, - A duplicata, mesmo sem aceite e despro-vida de prova da entrega da mercadoria ou da prestao do servio, podeser executada contra o sacador-endossante e seus garantes. que o endossoapaga o vnculo causal da duplicata entre endossatrio, endossante e avalistasgarantindo a aceitao e o pagamento do ttulo (LUG, Art. 15 c/c Arts. 15, lQ, e 25 da Lei 5.474/68).

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indica-das, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal deJu~tia na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, Prosse-gUlil~O~o julgamento, aps o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler, porunanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termosdo voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, CarlosAlberto Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr.Ministro Relator.

    Braslia (DF), 17 de outubro de 2006 (Data do Julgamento)

    RELATRIO

    MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Banco do Brasil S/A ma-nejou ~xecuo (fIs. 14/16) contra DOMINGOS DE MORAES e sua esposaIRAN~ DA SILVAMORAES, em razo de fiana prestada a SERRA NEGRACOMERCIO E REPRESENTAES DE PRODUTOS VETERINRIOSLTD~., que no pagou duplicatas, sem aceite e sem prova da entrega da mer-cadona, endossadas ao Banco-exeqente.

    Os executados opuseram embargos execuo (fIs. 23/55), declarando impro-cedentes, em primeira instncia (fIs. 94/102).

    A apelao foi provida pelo TJGO. Eis a ementa do julgado:

    'EXECUO. EMBARGOS. CARTA DE FIANA PARA GARANTIA DEDESCONTO DE TTULOS DE CRDITO. INTERPRETAO RESTRITA.

    duplicata ou triplicata aceita, protestada ou no; II - de duplicata ou triplicata noaceita, contanto que, cumulativamente: a) haja sido protestada; b) esteja acompanha-da de documento hbil comprobatrio da entrega e recebimento da mercadoria; e c)o sacado no tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condiese pelos motivos previstos nos arts. 72 e 82 desta Lei. 12 - Contra o sacador, os en-dossantes e respectivos avalistas caber o processo de execuo referido neste artigo,

    DUPLICATA SEM ACEITE E SEM PROVA DE ENTREGA DE MERCA-DORIA. TTULO INEXISTENTE. BANCO QUE DESCONTA DUPLICA-TA SEM ACEITE E SEM PROVA DE ENTREGA DA MERCADORIA. 1_ A fiana como todo contrato benfico no admite interpretao extensiva(Cdigo Civil, arts. 1.090 e 1.483), de sorte que, garantindo o fiador crditodecorrente do desconto de ttulos de crdito, essa garantia, no alcana o cr-dito decorrente do desconto de duplicata sem aceite e sem prova de entrega damercadoria (duplicata simulada), que no ttulo de crdito. 2 - O banco quedesconta duplicatas em tais condies assume sozinho os riscos da operao.APELO CONHECIDO E PROVIDO.' (fI. 137).

    Opostos embargos declaratrios, foram rejeitados.

    Da o recurso especial, onde o recorrente alega contrariedade ao Art. 15, lQ,da Lei 5.474/68. Aponta, tambm, divergncia jurisprudencial com acrdodesta Corte (REsp 250.568/PDUA e REsp 168.288/EDUARDO).

    Em resumo, o banco-recorrente sustenta a executividade de duplicata semaceite e sem prova da entrega da mercadoria contra o sacador/endossante eseus garantes.

    Contra-razes s fIs. 191/203.

    O Tribunal de Justia goiano negou seguimento ao recurso (fIs. 204/206).Veio o Ag 476.770/GO, que converti neste recurso especial.

    VOTO

    MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): No h ofensaao Art. 535 do CPC se, embora rejeitando os embargos de declarao, o acr-do recorrido examinou todas as questes pertinentes.

    A divergncia est suficientemente demonstrada.

    Efetivamente, nossos precedentes ditam que a duplicata, mesmo sem aceitee desprovida de prova da entrega da mercadoria ou da prestao ,do servio,pode ser executada contra o sacador-endossante e seus gar~~tes. E que o en-dosso apaga o vnculo causal da duplicata entre en~ossatano, endossante eavalistas, garantindo a aceitao e o pagamento do titulo .(LUG, ~t. 15 c/cArts. 15, F, e 25 da Lei 5.474/68). Confiram-se os paradigmas CItados:

    'D I' - it Circulao Endossada a duplicata, aplicam-se as nor-up reata nao acel a -. .I d d I - s de natureza cambial, podendo o endossatnomas regu a oras as re aoe .d direi gentes do ttulo contra quem se houver vincu-exercer to os os ireitos emer __. _:.~, .

  • VOTO-VISTA

    EXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER:

    O presente c_asose diferencia de tantos outros que aqui foram julgados pelofato ~e a aao de execuo ter sido ajuizada pelo Banco do Brasil Sj A .co.nd1o de endossatrio, contra os fiadores da sacadorajendossante das' d:~plicatas sem causa, e no contra o sacado.

    Por isso, a soluo jurdica distinta.

    ~n casu, a ju~isp,ru~~ncia do Superior Tribunal de Justia firmou-se no senti-o de ~~e ~ao ,e ~1CltOao emitentejendossante de duplicata simulada, e por

    consequencia lgica aos seus garantes, invocar a ausncia de protesto ou docomprovante de entrega da mercadoria para se eximir da obrigao de paga-mento do ttulo de crdito.

    Di~so_se extrai. que para esse efeito, ao contrrio do que ficou decidido noaco~dao recor~1d.o,as duplicatas, mesmo sem causa, no perdem a naturezade titulo de crdito, estando aptas a embasar a execuo da carta de fiana.

    Acompanho, por isso, o Relator.

    2. Os princpios dos ttulos de crdito na contemporaneidade

    .A ,teoria contemp?rnea dos ttulos de crdito se prope a fazer refe-Ia a dO,;u~e~t~btl,!dade (cartular ou eletrnica), literalidade e autono-co~o pnncipios ,levando-se em considerao que se constituem emadeu?s ~omandos normativos, servindo como alicerce e enformando) o Direito Cambirio.

    2.1. o contedo normativo dos princpios

    ,.... . )W ~ositivismojUi'f,IGq. 'ai~ s

  • . No sistema jurdico, portanto, os princpios, ao lado das regras, cons-tituem-se em normas juridicas-",. ~os A.fonso da Silva diz serem os princpios, "ordenaes que seirradiam e imantam os sistemas de normas, so (como observam GomesCanotilho e Vital Moreira) 'ncleos de condensaes' nos quais confluemvalores e bens constitucionais"30.

    Juarez Freitas esclarece que por

    princpio ou objetivo fundamental, entende-se o critrio ou a diretriz basilarde u~ sistema jurdico, que se traduz numa disposio hierarquicamentesupenor, do po.nto de vista axiolgico, em relao s normas e aos prpriosvalores, sendo linhas mestras de acordo com as quais se dever guiar o intr-prete quando se defrontar com antinomias jurdicas."

    Celso Antnio Bandeira de Mello define o princpio jurdico comosendo o

    mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposio fun-damental que se irradia sobre diferentes normas compondo-Ihes o esprito e

    28

    OL~I~, Fb!o. Por uma teoria dos princpios - princpio constitucional darazoabI:Idade. RIO de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 43.~ respeito, consultar GALUPPO, Marcelo Campos. Igualdade e diferena. Belo Ho-nzonte: ~anda~entos, 2002, p. 170-198. Para o referido autor, a doutrina divergequando VIsa explicar o que so os princpios. Del Vecchio e Bobbio identificam osprincpios com normas gerais ou generalssimas de um sistema. Robert Alexy defen-de ~ue o~princpios no se aplicam integral ou plenamente a qualquer situao, sen-do IdentIficados como mandados de otimizao, com contedo valorativo. Por fima teor~a discursiva do direito identifica os princpios com normas cujas condiesde aplicao no so predeterminadas e no se confundem com valores tendo comoadeptos mais expressivos Josef Esser, Ronald Dworkin, Jrgen Habermas e KlausGnther, guardando-se as diferenas de pensamentos entre eles.Ver tambm: VILAHumberto. Teoria dos princpios: da definio aplicao dos princpios jurdicos:8. ed. So Paulo: Malheiros, 2008; CRUZ, lvaro Ricardo de Souza. Hermenuticajurdica e(m) debate: o constitucionalismo brasileiro entre a teoria do discurso e aontologia existencial. Belo Horizonte: Frum, 2007.SILVA,Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 12. ed. So Paulo'Malheiros, 1996, p. 94. . ', .l'lU'l U:"'J,.J ua rez. A iriterpretado sistelnt.iCii',i0ti;rei/~:cSol)a.lb:~,Ia1l1eii()s.

    29

    I

    30

    Observa-se, contudo, em todos esses conceitos de princpios defeitoscapitais: a omisso de sua normatividade e a sua anlise no plano axio-lgico. No podemos, de fato, confundir princpios com valores, co~osugere a teoria alexyana". Princpios so normas, inseridos no mbitodeontolgico, no podendo ser hierarquizados.

    Observa Frederico Barbosa'? que no obstante posio doutrinriaque adota a metodologia da ponderao de valores para soluo de con-flitos entre princpios, estes no se confundem com valores. Conformeanota Habermas,

    normas e valores distinguem-se, em primeiro lugar, atravs de suas respecti-vas referncias ao agir obrigatrio ou teleolgico; em segundo lugar, atravsda codificao binria ou gradual de sua pretenso de validade; em terceirolugar, atravs de sua obrigatoriedade absoluta ou relativa e, em quarto lugar,atravs dos critrios aos quais o conjunto de sistemas de normas ou de valoresdeve satisfazer. Por se distinguirem segundo essas qualidades lgicas, eles nopodem ser aplicados da mesma maneira."

    Bonavides" descreve as trs fases distintas pelas quais passa a juridi-cidade dos princpios: a jusnaturalista, a juspositivista e a ps-positivista.

    Para a jusnaturalista os princpios so concebidos como axiomas jur-dicos, de carter universal, constitutivos de um Direito ideal.

    Na fase juspositivista os princpios so erigidos categoria de fontenorrnativa subsidiria.

    J na fase ps-positivista os princpios passam a ser tratados comodireito, tendo como destacado precursor Ronald Dworkin", para quem

    32 MELLO, Celso Antnio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. So Paulo:Malheiros Editores, 1998, p. 450451.

    33 ALEXY, Robert. Teoria da argumentao jurdica. 2. ed. So Paulo: Landy Editora,2005.

    34 GOMES, Frederico Barbosa. Argio de descumprimento de preceito fundamental:uma viso crtica. Belo Horizonte: Frum, 2008, p. 135.

    35 HABERMAS, Jrgen. Direito e democracia: entre a facticidade e validade. Traduode Flvio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003, p. 317.

    36 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. So Paulo: Malheiros,2006, p. 253-266.

  • a-,regra. , mente e;tab~leld~';26iri~c constelao deJrirtdpios podem impor obrigao legal.

    Buscando luzes questo, recorre-se obra O Imprio do Direito, detutoria de Ronald Dworkin, o qual bastante elucidativo para se com-ireender uma (re)leitura sobre os princpios".

    Em 1977, Dworkin comea a sistematizar sua ideia de Direito, lan-:ando o livro Levando osDireitos a Srio (Taking Rights Seriously), publi-:ado no Brasil em 2002. Inicialmente, Dworkin insurge-se contra a ideia[eHart" sobre o fato de que, em algumas situaes, o juiz possuiria umanargem de liberdade para escolher a melhor deciso, pois o direito nopresentaria uma soluo para o caso.. Das palavras de Hart extrai-se a sua principal divergncia tese dwor-iana:

    Ronald Dworkin ainda nos oferece uma (re)leitura dos conceitos de interpretao.Interpre~ao da conversao: interpreta-se os sons ou sinais que determinada pes-~oa faz; Interpretao cientfica: o cientista comea por coletar dados, para depoisInterpret-Ios; Interpretao artstica: os crticos interpretam poemas, peas e pintu-ras a fim de justificar ponto de vista acerca de seu significado; interpretao de umaprtica social: assemelha-se interpretao artstica - interpreta-se algo criado pelaspessoas como uma entidade distintas delas (formas de interpretao criativa); inter-pretao intencional: analisa a inteno do orador ao dizer o que disse; interpretaocausal: pretende explicar, por exemplo, os sons que urna pessoa emite. A interpre-ta? da ~onversao intencional, pois atribui significados a partir de supostosmotIVOS,Intenes e preocupaes do orador, e apresentam suas concluses comoafirmaes sobre a "inteno" deste ao dizer o que disse. A soluo doworkiana deq.uea interpretao criativa no conversacional, mas construtiva. Preocupa-se essen-cialmente com os propsitos (propsitos do intrprete e no do autor) e no com acaus~. A interpretao criativa um caso de interao entre propsito (do intrprete)e objeto, observada sob o pondo de vista construtivo. A interpretao , por natu-reza, ? re~ato de .um propsito; ela prope uma forma de ver o que interpretado.Um Cl~ntl.staSOCIaldeve participar de uma prtica social se pretende compreende-Ia,o que e diferente de compreender seus adeptos. (O Imprio do direito. So Paulo:Martins Fontes, 2003, p. 55-108).Trata-se do jusfilsofo ingls Herbert L. A. Hart, para quem os juzes devem usara discricionariedade para escolher a interpretao que consideram a mais apropria-da. Para Hart, quando a regra aplicada imprecisa, o juiz no tem outra sada ano ser escolher, prudentemente, a opo que considerar mais adequada. Nestascircunstncias excepcionais, o juiz no est aplicando o direito, eis que as regrasno lhe indicam urna ou outra direo, seno criando o direito para caso concreto.(FERNANDES, Jean Carlos. Direito empresarial aplicado. Belo Horizonte: Dei Rey,')()f\'7\

    o conflito dire~to mais agudo entre a teo~ia jurdica' deste livr"ae a teoria deDworkin suscitado pela minha afirmao de que, em qualquer sistema jurdi-co, haver sempre certos casos juridicamente regulados em que, relativamentea determinado ponto, nenhuma deciso em qualquer dos sentidos ditadapelo direito e, nessa conformidade, o direito apresenta-se como parcialmenteindeterminado ou incompleto. Se, em tais casos, o juiz tiver de proferir umadeciso, em vez de, corno Bentham chegou a advogar em tempos, se declararprivado de jurisdio, ou remeter os pontos no regulados pelo direito exis-tente para a deciso do rgo legislativo, ento deve exercer o seu poder dis-cricionrio e criar direito para o caso, em vez de aplicar meramente o direitoestabelecido preexistente. Assim, em tais casos juridicamente no previstos ouno regulados, o juiz cria direito novo e aplica o direito estabelecido que nos confere, mas tambm restringe, os seus poderes de criao do-direito."

    Para Dworkin, o juiz no possui discricionariedade judicial exata-mente porque o ordenamento jurdico no formado apenas por regrasjurdicas, como acreditava Hart, mas tambm por princpios.

    A tese dworkiana parte da premissa da existncia de uma nica res-posta correta para os chamados casos controversos, sendo, pois, atac~~opor defender a tese da nica deciso correta e por lanar mo de um JUIZHrcules para resolver todos os problemas jurdicos, de maneira isolada.

    Respondendo tais crticas, Dworkin formula a ideia de integridadeno Direito, propondo a insero dos princpios, ao lado das regras, comofonte do Direito, pressupondo, ainda, uma espcie de personificao deuma determinada comunidade. Cada deciso deve ser integrada em umsistema coerente que atente para a legislao e para os precedentes juri.s-prudenciais sobre o tema, procurando discernir um princpio que os hajanorteado.

    Nesse contexto, a anlise da estrutura das normas jurdicas revelaque estas so de duas espcies: princpios e regras jurdicas. ~eportando-seainda obra O Imprio do Direito, Heloisa Helena Nascimento Rochaafirma que o Direito no concebido como um sistema fechado de re-gras, como no positivismo preconizado por Hart, ao contrrio, regras eprincpios

    so diferentes, mas ambos so normas de carter vinculante e deontolgico.Contudo existem diferenas que precisam ser esclarecidas. Regras apresen-tam em sua estrutura uma hiptese e uma conseqncia determinadas, ou

    40 HART. Herbert L. A. O conceito de Direito. 4. ed. Lisboa: Fundao Galouste Gul-

  • seja, de~crevem situaes e imputam resultados especficos. Ora, se duas re-gras colidem, ~ soluo de tal conflito s poder ser a eliminao de uma delasou o estabelecimento de uma clusula de exceo. Regras funcionam na basedo tudo ou nada. Os princpios tratam de questes de justia e apresentamum carter aberto por no pretenderem estabelecer sua condio de aplica-o. Ademais, princpios po~suem uma dimenso de importncia ou peso,de.m~d.o que em caso de coliso no h perda de validade, mas aplicao dopnncipro adequa~o ao caso. No entanto, o Direito no deve ser compreendi-do como um conjunto de princpios e regras fixos. Dworkin deixa claro queregras e princpios no so facilmente distinguveis. Muitas vezes se tornadifIcil esta?el~c~r, a priori, se uma norma um princpio ou uma regra. Istoporque pnncipios podem desempenhar em um caso especfico o papel deuma regra e vice-versa."

    . Segun~o ~alsamiglia, O esquema utilizado por Dworkin par explicarese dos direitos est centrado na anlise das controvrsias judiciais po-

    I ido ser sintetizado do seguinte modo: '

    A) Em todo processo judicial existe um juiz que tem a funo de decidir oconflito; .

    B) Existe um direito a vencer no conflito e o juiz deve indagar a quem cabevencer;

    C) Este direito a vencer existe sempre, ainda que no exista norma exatamen-te aplicvel;

    D).N~s.casos difceis o juiz deve conceder vitria a uma parte baseando-se empnncipros que lhe garantem o direito;

    E) Os objetivos sociais esto subordinados aos direitos e aos princpios queo fundamentam;

    F) O juiz - ao fundamentar sua deciso em um princpio preexistente - noInventa um direito nem aplica legislao retroativa: se limita a garanti-lo."

    ~OCHA, Helosa Helena Nascimento. Elementos para uma compreenso constitu-clO~almente adequada dos direito fundamentais. OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cat-tO?l ~e (Coord.). Jurisdio e hermenutica constitucional no Estado Democrtico deDireito, Belo Horizonte, Mandamentos, 2004, p. 248-249. .::::ALSAMIGLIA,Albert. Prefcio edio espanhola da obra de Ronald DworkinDerechos en Serio. Trad.uo de Patrcia Sampaio, Barcelona: Ariel, 1984. Disponveiem: . Aces-:1"'\ prno ?Q ...,..." ')(\(\7

    TEOiUA CONTEMPORNM DosTITULOS DE CR~f)ITD: H~l'ER.ATJVOS I'R1NCIPIOLG1COS SOI;l A DTICA DAS... ::r:l

    2.2. A readequao dos princpios cambirios nova realidade dosttulos de crdito

    Nos tempos atuais, a releitura da teoria clssica dos ttulos de crditonos exige duas reflexes:

    Primeira: A definio de ttulos de crdito criada por Vivante e repro-duzida pelo artigo 887 do Cdigo Civil de 2002 atende atual realidadedos ttulos de crdito (cartulares e no cartulares)?

    Segunda: A cartularidade, literalidade e autonomia como princpiosdos ttulos de crdito subsistem diante da desmaterializao da crtula jocorrida totalmente em nosso direito com a criao da Letra Financeira?

    Para a primeira reflexo, a teoria contempornea dos ttulos de crdi-to se prope a adotar a seguinte definio para to importante instituto:Ttulo de crdito o documento, cartular ou eletrnico, indispensvel parao exerccio e a transforncia do direito cambial literal e autnomo nelemencionado ou registrado em sistema de custdia, transforncia e liqui-dao legalmente autorizado, bem como para a captao de recursos nosmercados financeiros ou de capitais, dotado de executividade por si ou porcertido de seu inteiro teor emitida pela instituio registradora.

    A segunda reflexo impe a readequao dos princpios cambirios,a fim de aplic-los indistintamente aos ttulos de crdito cartulares e nocartulares (escriturais). Explica Fbio Ulhoa Coelho que:

    Aqueles que tratam o direito cambial como se o ttulo de crdito fosse aindaum documento cartular falam, hoje, de casos marginais na economia - neg-cios entre amigos ou familiares, agiotagem, contratos ~ivis de menor valor,coisas assim. A grande massa dos crditos, hoje em dia, constituda, circulae liquidada mediante registros eletrnicos. necessrio revermos todo estecaptulo do direito comercial, a comear pelo prprio conceito de ttulo decrdito, que Vivante enunciou h quase um sculo e que se encontra, atual-mente, ultrapassado. Ttulo de crdito no mais o 'documento necessriopara o exerccio do direito literal e autnomo nele contido'; mas, sim, o 'do-cumento, cartular ou eletrnico, que contempla clusula cambial, pela qualos co-obrigados expressam a concordncia com a circulao do crdito nelecontido de modo independente e autnomo'."

    Pois bem. O princpio da documentabilidade, extensivo a todos osttulos, melhor se aperfeioa aos ttulos de crdito escriturais, em nadaprejudicando os ttulos cartulares.

    43 Entrevista concedida ao Jornal Carta Forense. Disponvel em:

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  • ;, o' .

    Este princpio o da 'equivalncia funcional', tambm chamado de 'princ-pio da no discriminao'. Que diz este princpio? Diz que no se pode negarvalidade, eficcia ou executividade a nenhum documento s pela circunstn-cia de ter por suporte o meio eletrnico. Vale dizer, se um contrato vlidoem papel, ele tambm ser vlido em meio eletrnico; se eficaz em papel,tambm o ser no eletrnico; se pode ser executado em papel, tambm podeser executado em meio eletrnico.

    [...]

    A transmutao de suporte importa que O crdito nele documentado passa,desde o registro, a circular exclusivamente por meio eletrnico. Quer dizer,o ttulo de crdito deixa de ter o suporte papel e passa para o eletrnico. Opedao de papel que, antes, materializava o ttulo deixa de cumprir esta fun-o. Nele no se pode lanar mais nenhum ato cambirio enquanto estiverativo o registro deste ttulo no mercado de balco organizado. Se, na data dovencimento, o ttulo for regularmente liquidado, ele no reassume o suporteanterior. Mas se no houver o pagamento e for necessria a cobrana judicial,deve ocorrer nova transmutao de suporte. Quer dizer, aquele papel que fi-cou custodiado no banco e que, at o vencimento do ttulo, no tinha mais afuno de documentar aquele crdito, volta a ser o suporte do ttulo. Isto porenquanto. No futuro prximo, quando os processos judiciais forem todoseletrnicos, no ser mais necessria a transmutao de suporte, podendo ottulo ser criado, circular e, no pago, ser cobrado exclusivamente no meioeletrnico. A lei j disciplina a transmutao de suporte nos ttulos do agro-negcio, por exemplo. Mas a mesma disciplina aplicvel a qualquer ttulode crdito, em razo do princpio da equivalncia funcional."

    o princpio da literalidade ou completude, determinativo de que so-mente exercem-se os direitos mencionados no ttulo, sofre uma pequena

    I adequao no tocante aos ttulos escriturais, em que a literalidade do di-reito cambirio demonstra-se por meio dos registros eletrnicos ou porcertido de inteiro teor dos dados informados pela instituio registradora,responsvel pela manuteno do registro da cadeia de negcios ocorridosno perodo em que os ttulos estiverem registrados em sistema de registro ede liquidao financeira de ativos autorizado pelo Banco Central do Brasil.

    Igualmente, o princpio da autonomia, do qual decorrem os prin-, cpios da abstrao, independncia das obrigaes cambirias e inoponi-bilidade de exceespessoais, mantm a sua higidez e importncia para acirculao dos ttulos de crdito, mesmo nos ttulos escriturais. '

    46 Entrevista concedida ao Jornal Carta Forense. Disponvel em:

  • ~iz. :em por objetivo viabilizar a emisso de certificados digitais para iden-tificao de pessoas, quando negociam no meio virtual, como a Internet."

    . Co~clui-se, pois, que ~ documentabilidade (cartular ou eletrnica),Iiteralidade e a ~utonomIa no podem ser tratadas meramente comoementos de q~alIficao d~s Ytulos de crdito (caracterstica, atributos,ementos, predicados ~ :e.qU1,~ItoS),mas, sim, como fundamento de julga-~ent~ do du.eIt? ~am~Iano, com o que se enrijece o seu sistema e se lheerrrnte ser disciplina Inconfundivelmente separada das outras'"?

    Carlos G. Yomha aborda o tema dos ttulos escriturais sob o ~eguintepecto:

    n.eces~r~on~til en eI estado actual de Ia ciencia jurdica crear una nueva espe-cie teon~a SI? el necesario fundamento legal positivo. Creemos que Ias accioneso Ias o~hgaclOneSescriturales son, desde el punto de vista jurdico, ttulos-valo-res, regl?o.s por Ias normas que Ia doutrina ha constituido, pero con peculiarescaractensncas que no son otra cosa que Ia sublimacin de sus propiedades.

    [...]

    posible y ne:esario extrapolar Ias soluciones de los ttulos-valores a los ttulos--vaI.ores ~s.c,nturales. Em estos ltimos Ia necessariedad para Ia constituciny disposicin del derecho est directamente referida a Ia inscrictin registral~ue repre~entaal documento. La literalidad est indicada por eI registro yeste. ree~Vla a los. documentos que disciplinan Ia emission. En el caso de IasobhgaclOnes esc~ltur.ale~,se trata de Ias condiciones de emisin y Ias actas deasemblea de obI~gaCl.olllstas,as como en Ias acciones ser el estatuto y losdocumentos societanos ..La .autonoma en La adquisicin y transmisin dei~~recho surg.e como derivacin de ls principios de Ia adquisicin y transmi-sion d~ los ?le~eS muebles y de Ia posesin vale ttulo, en este caso subsumidaem Ia inscripcin registral."

    So os princpios que norteiam os ttulos de crdito os responsveisa.certeza e a segurana esperada por aqueles que depositam no ttulo dedito a confiana para a consecuo de seus negcios jurdicos. Tais prin-

    C~T~B, AIexan?r.e Bueno. Declaraes cambiais em ttulos de crdito eletrnicos.ln. Titulos de crdito - homenagem ao professor Wille Duarte Costa. FERNANDES,Jean Carlos (Coord.). Belo Horizonte: Dei Rey, 2011, p. 14-15.MlRANDA, Pontes de. Tratado de direito cambirio. 2. ed. Campinas' Bookseller2001, p. 179. . ,

    YOMHA, Carlos G. Tratado de Ias oblieeciones neoociahle Rllpn()c Airpc' n",",oL

    'TE