infornativo 8ª edição

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ANO 1 / OUTUBRO 2012 / NÚMERO GRATUITO por: Erick Silva | Ilustração: Beto França | Direção de Arte: Osvaldo Morais O que é necessário para o básico de uma comunidade? Saneamento? Seguran- ça? Saúde? Lazer? Ou tudo isso? Para as comunidades do Vietnã e da Horta no bairro de San Martin essas necessidades estão longe de serem atendidas. E, como essa realidade não é mostrada, deixa os moradores do local com a sensação de eterno abandono. Edna Bernardino dos Santos que há três anos mora no Vietnã, conta que a situ- ação do local sempre foi essa. “Aqui é visível que os principais problemas são saneamento e calçamento das ruas”, con- ta. “Quando chove, tudo alaga. Ficamos muito preocupados com nossas crianças, também, que peguem uma doença grave, por exemplo”. Patrícia Conrado Viana, também moradora do Vietnã há cinco anos desabafa: “Na comunidade, o prin- cipal problema é de moradia. Ninguém da prefeitura vem aqui. Desde que eu moro nesse lugar, só tivemos a visita da Secretaria da Saúde uma única vez, para o combate à dengue”. É unânime entre os moradores a ausência do poder público por lá. Sílvia Regina da Silva, moradora da comunidade da Hor- ta há um ano, explica: “Pra se ter uma ideia, o SAMU não entra aqui por medo. Quando existe uma ocorrência, e ligamos pra lá, pedem que levemos quem precisa de socorro de táxi pra alguma UPA”. Pa- trícia Conrado mostra mais um exemplo: “Quando alguém daqui precisou ir a um posto de saúde de San Martin, disseram que não podiam atender; somente no pos- to localizado em Torrões”. Outra reinvindicação urgente é a de mais segurança. Os moradores contam que a polícia não passa nas comunidades do Vietnã e da Horta, nem mesmo as novíssi- ma s patrulhas dos bairros implanta- das recentemente pelo governo do estado. “Estamos nos sentindo aban- donados. O poder público só aparece aqui em época de eleição, e, às vezes, nem isso”, desabafa Sílvia Regina. “Na reunião do orçamento participativo que ocorreu no início desse ano, disseram que estamos mo- rando numa bomba relógio”, completa Pa- trícia Conrado. A situação é tão grave nessas comunida- des quanto a ilustração dessa matéria, fei- ta a partir de fotos tiradas na comunidade da Horta: crianças no meio de esgotos a céu aberto com ratos nas mãos. Segundo elas, os roedores, que elas próprias caçam, servem de alimentação para algumas pes- soas de lá. Isso mesmo: alguns moradores estão se alimentando de ratos no bairro de San Martin. Elas negam, porém, se tratar de ratos, num misto de vergonha e até falta de conhecimento. Falam que são preás. Esse é, sem dúvida, o dado mais chocante da gritante negligência do po- der público nessas comunidades. VIETNÃ E HORTA: COMUNIDADES ONDE O PODER PÚBLICO NÃO ENTRA SANATIVO

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Jornal do Bairro de San Martin, Recife-PE

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Page 1: Infornativo 8ª Edição

ANO 1 / OUTUBRO 2012 / NÚMERO GRATUITO

por: Erick Silva | Ilustração: Beto França | Direção de Arte: Osvaldo Morais

O que é necessário para o básico de uma comunidade? Saneamento? Seguran-

ça? Saúde? Lazer? Ou tudo isso? Para as comunidades do Vietnã e da Horta no bairro de San Martin essas necessidades estão longe de serem atendidas. E, como essa realidade não é mostrada, deixa os moradores do local com a sensação de eterno abandono.Edna Bernardino dos Santos que há três anos mora no Vietnã, conta que a situ-ação do local sempre foi essa. “Aqui é visível que os principais problemas são saneamento e calçamento das ruas”, con-ta. “Quando chove, tudo alaga. Ficamos muito preocupados com nossas crianças, também, que peguem uma doença grave, por exemplo”. Patrícia Conrado Viana, também moradora do Vietnã há cinco anos desabafa: “Na comunidade, o prin-cipal problema é de moradia. Ninguém da prefeitura vem aqui. Desde que eu moro nesse lugar, só tivemos a visita da Secretaria da Saúde uma única vez, para o combate à dengue”.É unânime entre os moradores a ausência do poder público por lá. Sílvia Regina da Silva, moradora da comunidade da Hor-ta há um ano, explica: “Pra se ter uma ideia, o SAMU não entra aqui por medo. Quando existe uma ocorrência, e ligamos pra lá, pedem que levemos quem precisa de socorro de táxi pra alguma UPA”. Pa-trícia Conrado mostra mais um exemplo:

“Quando alguém daqui precisou ir a um posto de saúde de San Martin, disseram que não podiam atender; somente no pos-to localizado em Torrões”.Outra reinvindicação urgente é a de mais segurança. Os moradores contam que a polícia não passa nas comunidades do Vietnã e da Horta, nem mesmo as novíssi-mas patrulhas dos bairros implanta-das recentemente pelo governo do estado. “Estamos nos sentindo aban-donados. O poder público só aparece aqui em época de eleição, e, às vezes, nem isso”, desabafa Sílvia Regina. “Na reunião do orçamento participativo que ocorreu no início desse ano, disseram que estamos mo-rando numa bomba relógio”, completa Pa-trícia Conrado.

A situação é tão grave nessas comunida-des quanto a ilustração dessa matéria, fei-ta a partir de fotos tiradas na comunidade da Horta: crianças no meio de esgotos a céu aberto com ratos nas mãos. Segundo elas, os roedores, que elas próprias caçam, servem de alimentação para algumas pes-soas de lá. Isso mesmo: alguns moradores estão se alimentando de ratos no bairro de San Martin. Elas negam, porém, se tratar de ratos, num misto de vergonha e até falta de conhecimento. Falam que são preás. Esse é, sem dúvida, o dado mais chocante da gritante negligência do po-der público nessas comunidades.

VIETNÃ E HORTA: COMUNIDADES ONDE O PODER PÚBLICO NÃO ENTRA

SANATIVO

Page 2: Infornativo 8ª Edição

FEIRA DA SULANCA: TRADIÇÃO DE COMPRAS

FEIRA DE TROCA DE BRINQUEDOS: ALTERNATIVA AO CONSUMISMO

Um programa, que se repete to-das as terças-feiras, é a Feira da Sulanca, na Praça de Eventos

de San Martin. As barracas são monta-das cedo (por volta das nove horas da manhã) para receber clientes do local, e de outros bairros, e seu horário de funcionamento vai até umas dez da noite. Dona Marinalva, que está ven-dendo suas peças na feira há cerca de um ano e meio, comenta: “A praça tem boa localização, o que atrai muita gen-te”, diz. “No entanto, a feira precisa de mais iluminação, e banheiros pra quem a frequenta”.

Dona Maria Augusta, que está na feira há cerca de dezesseis anos, também tem suas ressalvas a respeito da feira da su-lanca: “A Praça de Eventos é grande, a feira poderia expandir um pouco mais”, salienta. “Além disso, muitas barracas, como a minha, ficam fora da calçada, bem na avenida, oferecendo risco aos vendedores e aos clientes, por conta de acidentes com veículos”.

Muitos ainda apontam outros proble-mas como a redução de movimento na feira nos últimos anos. Dona Maria Au-gusta aponta uma das prováveis causas: “Cresceu muito o número de lojas que vendem, principalmente roupas, no bairro. Essa concorrência, com certeza prejudica um pouco que comercializa

esses mesmo produtos na sulanca”.Mesmo assim, existem clientes fiéis da feira que não deixam de comparecer to-das as terças no local. É o caso da Dona Maria Margarida, que já frequenta a sulanca há mais de cinco anos. “Gosto daqui por conta da variedade de pro-dutos; não tem somente roupas, mas, bolsas, brinquedos e DVD’s”, explica. “No entanto, quando tem parque de diversões montado, não venho, pois fica muito tumultuado”. Weiny Ribeiro Cabral, organizador da feira em vários bairros, também tem a mesma opinião: “Nossa maior dificuldade são os par-ques montados de vez em quando, pois o deslocamento das barracas atrapalha até os clientes de se locomoverem entre elas. Porém, tirando isso, San Martin é um dos lugares mais tranquilos para se montar a feira da sulanca”.

Mesmo com problemas e ajustes a fa-zer, a Feira da Sulanca já faz parte da dinâmica do bairro e merece atenção do poder público. Ajuda muito àqueles que desejam comprar algum produto mais em conta sem sair do bairro ou que querem apenas aproveitar um bom passeio na Praça de Eventos de San Martin. A feira tem tradição e poten-cial, basta que a organizem de forma melhor, inclusive em termos de divul-gação, para melhor atender a todos.

CULTURATIVA

No dia seis de Outubro ocorreu um evento chamado Feira de Troca de Brinquedos”, na praça da Av. do Forte. Ele foi organizado pelo coletivo Infância Livre de Consumis-mo, e tem por objetivo promover um momento de reflexão sobre o consumo para as

crianças, trocar diversos tipos de objetos e saberes e estimular o senso de comunidade.

Esse é um evento nacional, e, por aqui, foi muito bem aceito, como disse a jornalista e educadora popular Rosely Arantes: “O evento teve tanto sucesso que os pais sugeriram outros iguais, inclusive com trocas de livros, CD’s e DVD’s”, explica. “É bom lembrar que as trocas foram feitas pelas próprias crianças, que não se importavm com o valor mo-netário dos brinquedos, mas com o prazer de brincar”.

A Feira ainda teve outras atividades como oficinas e palestras, e começou das nove da manhã e se extendeu até o meio dia.

INICIATIVA

por: Erick Silva | Foto: Osvaldo Morais

por: Erick Silva