infornativo 7ª edição

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ANO 1 / SETEMBRO 2012 / NÚMERO GRATUITO por: Erick Silva | Direção de Arte: Osvaldo Morais N os últimos anos, vem crescendo a nú- mero de pessoas dispostas a votar nulo. As justificativas são muitas, desde o des- crédito total à classe política, até o fato de não querer tomar um partido específico numa eleição. Mas, será que é uma atitude que surte efeito, sendo uma boa forma de protesto? Para Francisco de Assis, gestor em tecnologia da infor- mação, não. “São casos isolados, comuns numa democracia”, diz. “O problema é que o marketing das campanhas continua o mesmo, e não conse- guiu convencer grande parte do eleitorado”. Na história, o voto nulo já foi bandeira ideológi- ca. Ele era uma das ideias básicas do Anarquismo, movimento que nasceu no século 19 e que fez sucesso no começo do século 20. Para os anar- quistas, votar nulo era a condição para manter a própria liberdade, recusando-se a entregá-la nas mãos de um líder. Anarquistas como o filósofo francês Pierre-Josef Proudhon não viam grande diferença entre reis tiranos que oprimiam seus sú- ditos e presidentes eleitos pela maioria. Mas, hoje, o que move alguém a votar nulo? Para Cibely Tais, gerente administrativa, é pelo medo de errar. “Quem anula seu voto, simplesmente não quer contribuir em colocar gestores incapa- zes na política”, afirma. Francisco de Assis tam- bém expressa opinião parecida: “Hoje, a política é mais encenação do que trabalho concreto. O povo percebe isso, e fica desacreditado”. Já foi mais do que provado que o voto nulo configura-se como um ato de protesto median- te a atual situação política em que vivemos. No entanto, ele tem alguma praticidade? Matheus Barreto Campello Bione responde: “O Tribunal Superior Eleitoral já firmou o entendimento de que ele tem o mesmo valor do voto em branco, ou seja, nenhum”, conclui. “Eles simplesmente não são computados no total dos votos válidos. Numa eleição majoritária, ganha quem tiver a maioria dos votos válidos (excluídos os brancos e os nulos). Ainda que os votos de mais de 50% dos eleitores fossem nulos, aqueles com a maioria dos votos válidos sairiam vencedores do pleito.” O problema é que o voto nulo não tem, por en- quanto, como virar pressão política por conta de ainda ser pouco expressivo nas eleições (cerca de 10 a 15%, em média). Isso faz com que o políti- co brasileiro pouco se importe com a opinião do eleitor. “O voto de protesto chegou a fazer sen- tido na ditadura. Hoje, não”, disse Cláudio We- ber Abramo, diretor-executivo da organização Transparência Brasil, em entrevista à revista Su- perInteressante. Tentar fazer um voto de protes- to também pode ser arriscado, como ocorreu com a eleição de Enéas Carneiro para deputado federal em 2002, onde, por causa de sua expressiva vota- ção (mais de 1,6 milhão de votos) ele levou mais cinco candidatos de seu partido para o Congresso, devido ao critério de representação proporcional. Muitos dizem que o voto nulo favorece os cor- ruptos, pois deixa nas mãos de eleitores mal in- formados a missão de escolher os representantes políticos. Outros dizem que é melhor votar nulo do que em alguém que não se conhece muito bem. Certo mesmo é que o eleitor, acima de tudo, precisa ter conhecimento a respeito dos candidatos, e tomar a melhor escolha. VOTO NULO RESOLVE? OBSERNAÇÃO

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Jornal do Bairro de San Martin, Recife-PE

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Page 1: Infornativo 7ª Edição

ANO 1 / SETEMBRO 2012 / NÚMERO GRATUITO

por: Erick Silva | Direção de Arte: Osvaldo Morais

Nos últimos anos, vem crescendo a nú-mero de pessoas dispostas a votar nulo. As justificativas são muitas, desde o des-crédito total à classe política, até o fato

de não querer tomar um partido específico numa eleição. Mas, será que é uma atitude que surte efeito, sendo uma boa forma de protesto? Para Francisco de Assis, gestor em tecnologia da infor-mação, não. “São casos isolados, comuns numa democracia”, diz. “O problema é que o marketing das campanhas continua o mesmo, e não conse-guiu convencer grande parte do eleitorado”.Na história, o voto nulo já foi bandeira ideológi-ca. Ele era uma das ideias básicas do Anarquismo, movimento que nasceu no século 19 e que fez sucesso no começo do século 20. Para os anar-quistas, votar nulo era a condição para manter a própria liberdade, recusando-se a entregá-la nas mãos de um líder. Anarquistas como o filósofo francês Pierre-Josef Proudhon não viam grande diferença entre reis tiranos que oprimiam seus sú-ditos e presidentes eleitos pela maioria.Mas, hoje, o que move alguém a votar nulo? Para Cibely Tais, gerente administrativa, é pelo medo de errar. “Quem anula seu voto, simplesmente não quer contribuir em colocar gestores incapa-zes na política”, afirma. Francisco de Assis tam-bém expressa opinião parecida: “Hoje, a política é mais encenação do que trabalho concreto. O povo percebe isso, e fica desacreditado”.Já foi mais do que provado que o voto nulo configura-se como um ato de protesto median-te a atual situação política em que vivemos. No entanto, ele tem alguma praticidade? Matheus

Barreto Campello Bione responde: “O Tribunal Superior Eleitoral já firmou o entendimento de que ele tem o mesmo valor do voto em branco, ou seja, nenhum”, conclui. “Eles simplesmente não são computados no total dos votos válidos. Numa eleição majoritária, ganha quem tiver a maioria dos votos válidos (excluídos os brancos e os nulos). Ainda que os votos de mais de 50% dos eleitores fossem nulos, aqueles com a maioria dos votos válidos sairiam vencedores do pleito.”O problema é que o voto nulo não tem, por en-quanto, como virar pressão política por conta de ainda ser pouco expressivo nas eleições (cerca de 10 a 15%, em média). Isso faz com que o políti-co brasileiro pouco se importe com a opinião do eleitor. “O voto de protesto chegou a fazer sen-tido na ditadura. Hoje, não”, disse Cláudio We-ber Abramo, diretor-executivo da organização Transparência Brasil, em entrevista à revista Su-perInteressante. Tentar fazer um voto de protes-to também pode ser arriscado, como ocorreu com a eleição de Enéas Carneiro para deputado federal em 2002, onde, por causa de sua expressiva vota-ção (mais de 1,6 milhão de votos) ele levou mais cinco candidatos de seu partido para o Congresso, devido ao critério de representação proporcional.Muitos dizem que o voto nulo favorece os cor-ruptos, pois deixa nas mãos de eleitores mal in-formados a missão de escolher os representantes políticos. Outros dizem que é melhor votar nulo do que em alguém que não se conhece muito bem. Certo mesmo é que o eleitor, acima de tudo, precisa ter conhecimento a respeito dos candidatos, e tomar a melhor escolha.

VOTO NULO RESOLVE?

OBSERNAÇÃO

Page 2: Infornativo 7ª Edição

Em 16 de fevereiro desse ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a lei da Ficha Limpa já valeria para as eleições

municipais de 2012. Foram cerca de dois anos de batalhas judiciais para que essa lei pudesse entrar em vigor no país. Porém, você sabe do que trata a Ficha Limpa, e como usá-la para denunciar qualquer desvio de conduta dos políticos?Primeiro, comecemos pelo que é a lei. A Ficha Limpa, na realidade, tornou mais rigorosos os critérios que impedem políticos condenados pela justiça de se candidatarem. “A inovação trouxe no-vas causas de inelegibilidade e aumentou prazos de duração de inelegibilidades que já existiam”, afirma Matheus Barreto Campello Bione, assessor do procurador regional eleitoral de Pernambuco. “De uma forma geral, restringiu a possibilida-de de pessoas enquadráveis em determi-nadas situações negativas, expressamente previstas na norma, serem candidatos.”É bom lembrar que grande parte das leis são elaboradas pelos congressistas. A Fi-cha Limpa, ao contrário, surgiu de uma ação popular. Foram mais de 1,6 milhão de assinaturas para o projeto, e foi a pres-são popular que fez com que ele fosse votado e aprovado pela Câmara dos De-putados e no Senado Federal. “Essa lei foi de suma importância para o processo eleitoral”, expõe João Francisco, aposen-tado. “Nos outros setores da sociedade, não se exige um histórico da pessoa que vai ocupar um cargo? Por que não isso acontecer na classe política”? A lei da Ficha Limpa, tecnicamen-te chamada de Lei Complementar nº

# Zona Eleitoral: 2Local de Votação: ESCOLA ANTONIO FARIAS FILHOEndereço: RUA 21 DE ABRIL, S/NSeções: 189, 190, 191, 192, 193, 233, 234, 237, 239, 240, 242, 248, 265, 269

# Zona Eleitoral: 2Local de Votação: ESCOLA POTYGAR MATOSEndereço: RUA VINTE E UM DE ABRIL S/NSeções: 273, 279, 280, 281, 321, 323, 328

# Zona Eleitoral: 150Local de Votação: ESCOLA DOM BOSCO DE ARTES E OFICIOSEndereço: AV SAN MARTIN 1449Seções: 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165

# Zona Eleitoral: 150Local de Votação: ESCOLA GENERAL SAN MARTINEndereço: AV. GAL. SAN MARTIN, 864Seções: 188, 189, 190, 191, 211, 213, 218

# Zona Eleitoral: 150Local de Votação: INSTITUTO EDUCACIONAL SÃO SE-BASTIÃOEndereço: RUA MANOEL VIEIRA, 53Seções: 227, 242, 249, 253, 261

135/2010, impede a candidatura por oito anos de políticos condenados por um órgão colegiado (com mais de um juiz, como o Tribunal de Justiça, por exemplo), que tiveram o mandato cassa-do ou que tiveram que renunciar ao car-go para evitar a cassação. Exemplo disso foi o atual prefeito do município de João Alfredo (a 110 km de Recife), Severino Cavalcanti, que desistiu de tentar a ree-leição porque foi barrado pelo TRE-PE com base na Lei da Ficha Limpa. Em 2005, ele renunciou ao mandato de de-putado federal para escapar da cassação, devido à acusação de receber propina de um empresário para estender a concessão do restaurante da Câmara, em um escân-dalo que ficou conhecido como “men-salinho”.No entanto, esse impedimento de oito anos seria o suficiente? Para o aposenta-do João Francisco, não. “Além do impe-dimento da candidatura, a Ficha Limpa poderia ser ampliada para barrar também os parentes dos ‘fichas sujas’, evitando que uma família se perpetue no poder”, explica. “Seria preciso, ainda, que os par-tidos que abrigaram políticos barrados pela lei sofressem punições também, afi-nal, eles têm responsabilidade de quem eles abrigam em suas legendas”.Porém, não basta existir a lei; é preci-so aplicá-la. Portanto, qualquer pessoa pode, mediante provas, denunciar desvio de conduta de um político ao qual co-nheça. Basta se dirigir ao Ministério Pú-blico de Pernambuco, situado na Av. Vis-conde de Suassuna, 90, no bairro de Santo Amaro. O telefone de lá é 3182-7400, e seu endereço eletrônico: www.mp.pe.gov.br

FICHA LIMPA: UMA LEI MORALIZANTE

por: Erick Silva

INICIATIVA