Índice organizações internacionais: principais características e

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Índice Organizações internacionais: principais características e alguns pressupostos 1 1. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico 1 2. UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura 3 A Educação Artística 4 Conferência Mundial da Educação Artística 5 O Estatuto do Artista 9 3. International Society for Music Education - ISME 12 4. União Europeia 14 Artes, cultura e educação artística e artístico-musical 18 Música 22 5. O Parlamento Europeu 26 6. Conselho da Europa 27 7. European League of Institutes of the Arts -ELIA 34 8. Conselho Internacional da Música 36 9. Federação Internacional dos músicos 38 10. Associação Europeia de Festivais 39 11. International Society for Contemporary Music (ISCM) 39 12. International Network for Contemporary Performing Arts (IETM) 40 13. Associação Europeia dos Conservatórios, Academias de Música e Musickhochschulen 40 14. European Music School Union (EMU) 43 15. RESEO - European Network for Opera and Dance Education. 44 16. International association of music information centres (IAMIC) 46 17. World Alliance for Arts Education WAAE 46 18. Jeunesses Musicales International (JMI) 48

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Índice

Organizações internacionais: principais características e alguns pressupostos 1

1. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico 1

2. UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura 3

A Educação Artística 4

Conferência Mundial da Educação Artística 5

O Estatuto do Artista 9

3. International Society for Music Education - ISME 12

4. União Europeia 14

Artes, cultura e educação artística e artístico-musical 18

Música 22

5. O Parlamento Europeu 26

6. Conselho da Europa 27

7. European League of Institutes of the Arts -ELIA 34

8. Conselho Internacional da Música 36

9. Federação Internacional dos músicos 38

10. Associação Europeia de Festivais 39

11. International Society for Contemporary Music (ISCM) 39

12. International Network for Contemporary Performing Arts (IETM) 40

13. Associação Europeia dos Conservatórios, Academias de Música e Musickhochschulen 40

14. European Music School Union (EMU) 43

15. RESEO - European Network for Opera and Dance Education. 44

16. International association of music information centres (IAMIC) 46

17. World Alliance for Arts Education – WAAE 46

18. Jeunesses Musicales International (JMI) 48

1

Organizações internacionais: principais características e alguns pressupostos

Ao longo do período em estudo foram identificados diferentes tipos de organizações

que de modos diversos e de forma directa e indirecta contribuem para a construção

política da educação artístico-musical e que são oriundas de geografias diferenciadas e

com pressupostos e acções políticas também diversificadas. Não esgotando todas as

organizações que têm intervenção neste domínio, estes diferentes tipos de

organizações podem ser agrupados em torno de duas grandes categorias: organizações

mundiais, isto é, organizações que desenvolvem a sua acção no contexto da

formulação de enquadramentos políticos globais; organizações europeias que

desenvolvem predominantemente a sua acção no contexto da união europeia. Dentro

desta categorização geral, estas organizações podem ser divididas em quatro grandes

dimensões de acordo com a sua natureza. A primeira, organizações “políticas” que

desenvolvem estratégias transcontinentais ou de carácter transnacional ao nível do

continente europeu; a segunda, organizações socioprofissionais relacionadas com o

exercício e o desempenho da actividade de músico, nas suas várias vertentes; a

terceira, organizações musicais, relacionadas com o desenvolvimento de actividades

artístico-musicais; a quarta, organizações formativas, que englobam redes de escolas

de formação

1. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) criada pela

convenção de 1961 “reúne os governos dos países comprometidos com a democracia e

a economia de mercado” de modo a (a) apoiar um crescimento económico duradouro;

(b) desenvolver o emprego; (c) elevar o nível de vida; (d) manter a estabilidade

financeira; (e) ajudar os outros países a desenvolverem as suas economias; (f)

contribuir para o crescimento do comércio mundial. A OCDE “proporciona um

ambiente onde os governos podem comparar experiências de políticas, procurar

respostas para problemas comuns, identificar boas práticas e coordenar as políticas

nacionais e internacionais”. Envolvendo 33 países esta organização considera-se como

“uma das maiores editoras do mundo nos campos da economia e da política pública”

sendo que estas publicações “são um veículo privilegiado para a disseminação da

produção intelectual da Organização” (http://www.oecd.org).

Com o objectivo de promover e harmonizar as políticas económicas e sociais, no

contexto do desenvolvimento de "capital humano" dos países membros, a OCDE

considera, sob o ponto de vista da educação que quer os indivíduos quer os países são

beneficiados com o seu desenvolvimento. No primeiro caso, “os benefícios potenciais

encontram-se na qualidade de vida geral e no retorno económico do emprego” e no

segundo, “os benefícios potenciais encontram-se no crescimento económico e no

2

desenvolvimento de valores que sustentam a coesão social”. Os diferentes países que

constituem a organização fazem “investimentos substanciais” quer através de recursos

públicos e/ou privados na educação tanto formal como informal assim como no

mercado de trabalho sendo por isso “importante assegurar que os programas de

educação que eles suportam são eficazes e eficientes e que os benefícios são

distribuídos de forma equitativa”. Assim, o trabalho da OCDE no âmbito da educação

“pretende desenvolver e rever as políticas que potenciem aumentar a eficiência e a

eficácia do ensino e da equidade com que seus benefícios são partilhados. As

estratégias incluem revisões temáticas em domínios específicos, e recolha de

informação estatística detalhada sobre os sistemas educativos, incluindo medidas de

níveis de competência a nível dos indivíduos. As políticas desenvolvidas incluem as

implementadas nos países para benefício nacional e as envolvidas na prestação por

parte dos países da OCDE, de ajuda ao desenvolvimento para capacitação e para

disseminar os benefícios da educação e da formação noutros países”

(http://www.oecd.org/about/0,3347,en_2649_37455_1_1_1_1_37455,00.html).

Neste contexto, e constituindo-se a OCDE como um organização com uma produção

estatística comparada no domínio da educação, de que o publicação “Education at

Glance” e o programa PISA (Programme for International Student Assessment) se

afiguram como instrumentos privilegiados no desenvolvimento da sua acção político-

investigativa. Neste último caso, “o Programa Internacional de Avaliação de Alunos

(PISA) é uma avaliação padronizada a nível internacional que foi desenvolvida

conjuntamente pelos países participantes e aplicada a estudantes de15 anos de idade”.

Este programa “avalia de que modos os estudantes, perto do final da educação

obrigatória, adquiriram alguns dos conhecimentos e habilidades que são essenciais

para a sua plena participação na sociedade. Em todos os ciclos, os domínios de leitura,

e da literacia matemática e das ciências são cobertos não apenas em termos de

domínio do currículo escolar, mas em termos de conhecimentos e habilidades

necessárias à vida adulta1” (http://www.oecd.org/department/ 0,3355,en_2649_

35845621_1_1_1_1_1,00.html).

As avaliações do PISA nestas áreas são baseadas num conjunto de competência schave

criadas com os contributos do designado DeSeCoProject (Detection and Selection of

Core Competencies) que as classifica em três domínios interligado: utilizar as

ferramentas de forma interactiva, interagir em grupos heterogéneos e agir

1 “Os inquéritos PISA são realizadas a cada três anos num grande número de países, que juntos compõem cerca de 90% da economia mundial. O primeiro estudo PISA foi realizada em 2000 em 43 países, o segundo em 2003 em 41 países e mais recentemente a pesquisa foi realizada em 2006 em 57 países. As próximas avaliações terão lugar em 2009, 2012 e 2015. O objectivo principal é a monitorização dos resultados dos sistemas educativos em termos de desempenho do aluno para fornecer informações empiricamente sustentadas, que enformem as decisões políticas. O PISA é dirigida por representantes dos países participantes através do Conselho de Administração do PISA. A Direcção de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), administra o PISA e baseia-se no conhecimento de uma vasta rede de especialistas internacionais” (OCDE, 2009)

3

autonomamente (http://www.oecd.org/dataoecd/47/61/35070367.pdf). De acordo

com Wimmer (2009) “o principal interesse da maioria dos envolvidos no PISA reside na

adequação das actividades de educação artística para cumprir os seus objectivos. O

estado significativo da arte pode ser experienciado na apresentação de um

representante da OCDE na Conferência Mundial da UNESCO sobre Educação Artística,

em Lisboa 2006, quando Bernard Huggonier tentou demonstrar uma relação entre o

número de livros de letras de canções existentes nos lares e o desempenho dos

estudantes oriundos dessas famílias em matemática” (p.49).

2. UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

A UNESCO (United Nations Educational, Scientific, and Cultural Organization,

www.unesco.org) é uma organização criada depois da segunda grande guerra e em

que “o seu principal objectivo é o de contribuir para a paz, desenvolvimento humano e

segurança no mundo, promovendo o pluralismo, reconhecendo e conservando a

diversidade, promovendo a autonomia e a participação na sociedade do

conhecimento” (http://www.unesco.pt/cgi-bin/unesco/unesco.php). Sob o ponto de

vista dos seus objectivos estratégicos no âmbito da educação centram-se no (a)

“promover a educação como direito fundamental, estabelecido na Declaração

Universal dos Direitos Humanos”; (b) “melhorar a qualidade da educação através da

diversificação dos seus conteúdos, métodos e a promoção dos valores partilhados

universalmente” e (c) “promover a experimentação, a inovação a difusão e utilização

partilhada da informação e melhores práticas, assim como o diálogo sobre políticas em

matéria de educação”. No plano da cultura propõe-se (a) “promover a elaboração e a

aplicação de instrumentos normativos de âmbito cultural”; (b) “salvaguardar a

diversidade cultural e promover o diálogo entre culturas e civilizações” e (c) “fortalecer

os vínculos entre ciência e desenvolvimento, através do desenvolvimento das

capacidades e o aproveitamento partilhado do conhecimento” (Idem).

De acordo com Wimmer (2006) as funções da Unesco apresentam-se como um

“laboratório de ideias e uma agência de normalização e padronização para formar

acordos universais num conjunto de assuntos éticos emergentes” (p. 18) servindo

também para a divulgação e partilha de informação e de conhecimento e promovendo

a cooperação internacional entre os seus 193 Estados membros e sete associados nas

áreas da educação, ciência, cultura e comunicação.

Sob o ponto de vista do desenvolvimento do seu trabalho, em termos de “apelos” e de

recomendações as profissões artísticas, as artes e a educação bem como a promoção

da diversidade e do património material e imaterial apresentam-se como algumas das

áreas de intervenção com significado em termos internacionais

4

A Educação Artística

Em 1999, a UNESCO lançou, através do Director Geral Federico Mayor o "Apelo

Internacional para a Promoção da Educação Artística e Criatividade na Escola como

contributo para a construção de uma Cultura de Paz2” em que se salienta que existe

“uma falta da mediação e da criatividade em todos os lugares, especialmente nas

escolas. As artes faltam nas nossas vidas e nós estamos dando lugar à violência. "Isto é

o que o famoso violinista e maestro Lord Yehudi Menuhin viu à sua volta no fim deste

século, depois de ter dedicado sua vida à música e na procura de um mundo melhor.

Hoje estamos de uma forma clara e fortemente conscientes da importante influência

do espírito criativo na formação da personalidade humana, trazendo à tona todo o

potencial das crianças e adolescentes e manutenção de seu equilíbrio emocional -

todos os factores que estimulam um comportamento harmonioso”. Assim, defende-se

um maior equilíbrio na educação em que as áreas a par de áreas om carácter

científico, técnico e disciplinas desportivas, as ciências humanas e educação artística

sejam colocadas “em pé de igualdade nas diferentes etapas da escolaridade”. Neste

contexto convidam-se vários tipos de actores (professores das áreas disciplinares,

artistas e instituições culturais, produtores de material, os media, assim como os pais e

membros da comunidade internacional e organizações não governamentais a

desenvolverem trabalho no sentido da promoção das educação artística.

Este apelo, conduziu à criação da LEA (Links para Educação e Arte) uma rede

internacional de especialistas e profissionais que tem como objectivos alargar os

contactos entre especialistas de educação artística, a fim de alcançar o intercâmbio e a

divulgação de melhores práticas, métodos pedagógicos e materiais de cada disciplina.

Um foco especial é de LEA reforço das competências dos professores de disciplinas de

arte e cultura, não tanto na Europa, mas principalmente no desenvolvimento de partes

do mundo3

Por outro lado, para a UNESCO (2006), partindo desta diferenciação, existente desde a

década de 60, preconiza que “existem dois métodos principais de Educação Artística

(que podem ser aplicados ao mesmo tempo, não se excluindo mutuamente)”: o

primeiro é o de que as artes “podem ser ensinadas como matérias de estudo

individuais, através do ensino das várias disciplinas artísticas, desenvolvendo assim nos

estudantes as aptidões artísticas, a sensibilidade e o apreço pela arte”; o segundo

método, as artes podem ser “encaradas como método de ensino e aprendizagem em

que as dimensões cultural e artística são incluídas em todas as disciplinas”. Acrescenta

que, no que se refere ao segundo método, “o método da Arte na Educação *AiE – Art in

2 Este “apelo” do Director-Geral Federico Mayor encontra-se em: http://portal.unesco.org/culture/en/ev.php-RL_ID=9747&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html 3 Ver http://portal.unesco.org/culture/en/ev.php-URL_ID=2916&URL_DO= DO_TOPIC&URL_SECTION=-

473.html)

5

Education] utiliza as formas de arte (e as correspondentes práticas e tradições

culturais) como meio para ensinar disciplinas de natureza geral e como instrumento

para o aprofundamento da compreensão dessas disciplinas” e, para “produzir efeitos,

esta abordagem interdisciplinar exige mudanças nos métodos de ensino e na formação

dos professores (p. 10).

Conferência Mundial da Educação Artística

Para a UNESCO este tipo de argumentação está presente no discurso inaugural da

Conferência Mundial de Educação Artística4, Koïchiro Matsuura lembrou aos

participantes que “num mundo confrontado com novos problemas à escala planetária,

*…+ a criatividade, a imaginação e a capacidade de adaptação, competências que se

desenvolvem através da Educação Artística, são tão importantes como as

competências tecnológicas e científicas necessárias para a resolução desses

problemas”.

No relatório elaborado por Lupwishi Mbuysmba (UNESCO, 2007) acrescenta-se que

“em sociedades onde têm de coexistir uma multiplicidade de culturas diferentes e em

que há necessidade de desenvolver ou adaptar políticas de expressão e diálogo

culturais, as artes têm vindo a assumir uma especial importância, “na medida em que

exprimem cultura ao mesmo tempo que contêm em si a promessa de diálogos

4 Na introdução ao programa Koïchiro Matsuura, Director-Geral da Unesco, pretende que a Conferência “consiga concentrar a atenção internacional sobre duas prioridades: a necessidade de alargar a definição da educação artística para além do conceito tradicional do domínio de uma especialidade artística ou instrumento específicos; e a importância de manter uma educação artística de qualidade”. Para Matsuura “hoje em dia os especialistas reconhecem que a educação artística abrange esferas da aprendizagem cognitiva e emocional e tem um papel a desempenhar em áreas tão diversas como o desenvolvimento infantil, as novas tecnologias e métodos de ensino, o desenvolvimento social e económico, o desenvolvimento sustentável, a capacidade de resolução de conflitos e a educação para a paz, bem como a diversidade cultural”. Por outro lado, “muitas sociedades contemporâneas estão a ter seriamente em consideração um dos maiores desafios do nosso tempo: como preparar a mudança paradigmática de uma economia industrial para uma economia criativa” (UNESCO, 2007:2). Desta conferência, intitulada “Desenvolver capacidades criativas para o século XXI”, realizada em 2006, em Lisboa, destacam-se quatro tópicos principais que estiveram na agenda: (a) defesa da educação artística, salientando a importância da diversidade e da “criatividade cultural e artística numa economia pós-industrial”; (b) impacto da educação artística com apresentação de investigações e boas práticas “como elementos preponderantes de coesão social e de respeito pela diversidade cultural, não-violência, apreço pelo património cultural, aperfeiçoamento dos resultados da aprendizagem, resolução de conflitos, trabalho em grupo, pensamento criativo e criatividade artística” (p. 6); (c) estratégias para promover políticas de educação artística de modo a tentar “encontrar um mecanismo que possa reduzir a distância entre as políticas planeadas e e as práticas na Educação Artística” e em que “o objectivo maior será o definir o papel da educação artística como instrumento que prepara as crianças para encontrarem o seu lugar num sistema globalizado, sem perderem a sua identidade, e ainda conjugando os esforços para uma educação artística com o programa da UNESCO “Educação para Todos””; (d) políticas para a formação de professores em que procurava “reforçar a necessidade de competências básicas para o ensino da educação artística” e ainda “definir e ter em consideração o papel dos artistas no processo educativo” (p. 6). Por outro lado procurava-se dar “especial atenção à cooperação regional e internacional para criar uma sinergia internacional relativamente à importância das artes na edução global das crianças” (Idem).

6

inesperados”. Assim se promove o respeito inter-cultural e uma fonte inesgotável de

descobertas. Por isso a UNESCO reconhece que “a Educação Artística pode

frequentemente ser um estimulante instrumento para enriquecer os processos de

ensino e aprendizagem e tornar essa aprendizagem mais acessível e mais eficaz”, como

algumas experiências no campo da educação preventiva, em particular na educação

sobre o VIH/SIDA, já demonstraram” (p. 3).

Desta conferência, intitulada “Desenvolver capacidades criativas para o século XXI”,

realizada entre 6 e 9 de Março de 2006 em Lisboa, destacam-se quatro tópicos

principais que estiveram na agenda: (a) defesa da educação artística, salientando a

importância da diversidade e da “criatividade cultural e artística numa economia pós-

industrial”; (b) impacto da educação artística com apresentação de investigações e

boas práticas “como elementos preponderantes de coesão social e de respeito pela

diversidade cultural, não-violência, apreço pelo património cultural, aperfeiçoamento

dos resultados da aprendizagem, resolução de conflitos, trabalho em grupo,

pensamento criativo e criatividade artística” (p. 6); (c) estratégias para promover

políticas de educação artística de modo a tentar “encontrar um mecanismo que possa

reduzir a distância entre as políticas planeadas e e as práticas na Educação Artística” e

em que “o objectivo maior será o definir o papel da educação artística como

instrumento que prepara as crianças para encontrarem o seu lugar num sistema

globalizado, sem perderem a sua identidade, e ainda conjugando os esforços para uma

educação artística com o programa da UNESCO “Educação para Todos””; (d) políticas

para a formação de professores em que procurava “reforçar a necessidade de

competências básicas para o ensino da educação artística” e ainda “definir e ter em

consideração o papel dos artistas no processo educativo” (p. 6). Por outro lado

procurava-se dar “especial atenção à cooperação regional e internacional para criar

uma sinergia internacional relativamente à importância das artes na edução global das

crianças” (Idem).

Baseado nos debates realizados no decurso e após a Conferência Mundial sobre

Educação Artística, aprovou-se o “Roteiro para a Educação Artística5” em que se

propõe “explorar o papel da Educação Artística na satisfação da necessidade de 5 Uma nova conferência Mundial sobre a Educação Artística foi realizada em Seul entre 25 e 28 de Maio de 2010. Desta conferência resultou um documento designado “ Seoul Agenda: Goals for the Development of Arts Education” (http://portal.unesco.org/culture/en/ev.php-URL_ID=41117&URL_ DO= DO_ TOPIC&URL_ SECTION=201.html) em que se procura operacionalizar o roteiro aprovado em 2006: “o roteiro oferecia um importante quadro teórico e prático que serviu de orientação para o avanço do desenvolvimento e crescimento qualitativo da educação artística. Um objectivo central da Conferência de Seul foi reavaliar e incentivar a continuação da implementação do Roteiro. A Agenda de Seul vai servir como um plano concreto de acção que integra o conteúdo do roteiro, dentro de uma estrutura de três grandes objectivos, cada um acompanhado por uma série de estratégias práticas e acções específicas”. O primeiro objectivo propõe “assegurar que a educação artística é acessível como um componente fundamental e sustentável de uma renovação de qualidade da educação”; o segundo “assegurar que as actividades de educação artística e programas são de alta qualidade na sua concepção e realização”; o terceiro, “aplicar os princípios e práticas da educação artística de modo a contribuir para resolver os desafios sociais e culturais com que o mundo de hoje se defronta”

7

criatividade e de consciência cultural no século XXI, incidindo especialmente sobre as

estratégias necessárias à introdução ou promoção da Educação Artística no contexto

de aprendizagem” (Comissão Nacional da UNESCO, 2006). Neste “Roteiro” apontam-se

quatro grandes objectivos da Educação Artística: (1) defender o direito humano à

educação e à participação cultura; (2) desenvolver as capacidades individuais; (3)

melhorar a qualidade da educação e (4) promover a expressão da diversidade cultural.

No primeiro objectivo, atendendo às “declarações e convenções internacionais têm por

objectivo assegurar para todos, crianças e adultos” decorre “o direito à educação e a

oportunidades que lhes garantam um desenvolvimento completo e harmonioso e uma

participação na vida cultural e artística”. Isto porque, “a cultura e a arte são

componentes essenciais de uma educação completa que conduza ao pleno

desenvolvimento do indivíduo. Por isso a Educação Artística é um direito humano

universal, para todos os aprendentes, incluindo aqueles que muitas vezes são excluídos

da educação, como os imigrantes, grupos culturais minoritários e pessoas portadoras

de deficiência” (p. 5).

No que se refere ao “desenvolver as capacidades individuais” argumenta-se que

“todos os seres humanos têm potencial criativo” e que “a arte proporciona uma

envolvente e uma prática incomparáveis, em que o educando participa activamente em

experiências, processos e desenvolvimentos criativos”. Daí que, “para que as crianças e

adultos possam participar plenamente na vida cultural e artística, precisam de

progressivamente compreender, apreciar e experimentar expressões artísticas através

das quais outros seres humanos – normalmente designados por artistas – exploram e

partilham vários aspectos da existência e coexistência”.

No contexto da igualdade de oportunidades no âmbito das actividades culturais e “é

necessário que a educação artística constitua uma parte obrigatória dos programas de

educação para todos. A educação artística deverá igualmente ser sistemática e ser

facultada durante vários anos, uma vez que se trata de um processo a longo prazo (p.

6). Por outro lado, “a Educação Artística contribui para uma educação que integra as

faculdades físicas, intelectuais e criativas e possibilita relações mais dinâmicas e

frutíferas entre educação, cultura e arte” capacidades estas que “são particularmente

importantes para enfrentar os desafios que se levantam à sociedade do século XXI”

quer no que diz respeito (a) às transformações sociais “que afectam as estruturas

familiares” no que diz respeito ao acompanhamento das novas gerações quer na

dificuldade de “transmissão de tradições culturais e práticas artísticas no ambiente

familiar, em especial nas áreas urbanas (p. 6-7); (b) à necessidade das sociedades

contemporâneas de possuírem “um cada vez maior número de trabalhadores criativos,

flexíveis, adaptáveis e inovadores, e os sistemas educativos têm de evoluir de acordo

com as novas necessidades” (p. 7).

8

Em relação à melhoria da qualidade da educação, e entendendo esta como “uma

educação que propicia a todos os jovens e outros educandos as capacidades relevantes

de que necessitam em termos locais para actuar com sucesso na sua sociedade; é

adequada relativamente às vidas, aspirações e interesses dos estudantes, das suas

famílias e das sociedades; e é inclusiva e baseada em direitos” (p. 8), a “aprendizagem

na arte e pela arte” pode reforçar alguns destes factores.

Relacionado com o objectivo de “promover a expressão da diversidade cultural”

sustenta-se que “a arte é simultaneamente manifestação de cultura e meio de

comunicação do conhecimento cultural” e que “cada cultura possui as suas expressões

artísticas e as suas práticas culturais específicas” e que ”as culturas, na sua

diversidade, e os seus produtos criativos e artísticos, representam formas

contemporâneas e tradicionais de criatividade humana que contribuem de forma

incomparável para a nobreza, o património, a beleza e a integridade das civilizações

humanas”. Deste modo, “a consciência e o conhecimento das práticas culturais e das

formas de arte fortalecem as identidades e valores pessoais e colectivos, e contribuem

para salvaguardar e promover a diversidade cultural” e neste contexto, “a Educação

Artística reforça a consciência cultural e promove as práticas culturais, constituindo o

meio pelo qual o conhecimento e a apreciação da arte e da cultura são transmitidos de

geração em geração (Idem).

Neste contexto, os diferentes representantes, incluindo os governamentais,

adoptaram este roteiro para actuação futura no âmbito da educação artística sintetiza

bem o “estado da arte” em relação aos objectivos e às recomendações que existem de

modo a demonstrar a pertinência da educação artística. Este “Roteiro” é uma longa

lista de recomendações dirigidas aos professores, pais, artistas, directores de escolas e

instituições de formação, poderes políticos e decisores políticos, e outras organizações

intergovernamentais e não governamentais. Todas as recomendações têm em comum:

a noção que o desenvolvimento de um sentido estético, da criatividade e das

faculdades de pensamento crítico e de reflexão é um direito de todas as

crianças e jovens e que o acesso a todos os bens, serviços e práticas culturais

devem fazer parte do sistema educativo e cultural;

o reconhecimento do papel da Educação Artística na sensibilização dos

auditórios e dos diferentes públicos para a apreciação das manifestações

artísticas;

a compreensão dos problemas colocados pela diversidade cultural nas

sociedades contemporâneas, pelos processos de globalização, pelas complexas

transformações sociais, culturais e económicas e ambientais, que interpelam a

necessidade crescente da imaginação, criatividade e cooperação de modo a

9

promover e valorizar a diversidade cultural assim como o património (tangível

e intangível);

a constatação de que a arte foi tradicionalmente, e em muitos casos continua

a ser, uma componente integrante nos quotidianos dos indivíduos e das

sociedades;

o reconhecimento do papel das artes nos processo de ensino-aprendizagem no

que se refere aos desenvolvimentos das capacidades cognitivas e sociais, no

contributo à melhorai das aprendizagens atendendo à importância de

estruturas flexíveis e à cooperação entre os sistemas e recursos de

aprendizagem formal e não formal;

o considerar que a educação artística, como forma de construção política e

cívica, constitui uma ferramenta de base para a coesão social podendo

contribuir para a resolução de alguns problemas de natureza social

nomeadamente o crime e a violência, o analfabetismo persistente, as

desigualdades de género (incluindo o insucesso masculino), os maus-tratos de

crianças e a negligência, a corrupção política e o desemprego (pp. 18-21)

O Estatuto do Artista

Nas recomendações relativas à condição de artista da UNESCO aprovadas em 1980

procura-se reconhecer que os artistas6, nos seus diferentes modos de intervenção,

constituem-se como uma profissão atípica mas uma profissão e que incumbia ao poder

legislativo dos diferentes estados membros adaptarem a legislação do trabalho e da

segurança social às particularidades deste tipo de profissionais e não o contrário. A

recomendação propõe aos Estados de darem aos artistas os meios para que eles

possam defender os seus direitos, de ter em conta a liberdade de expressão e de ter

em consideração a intermitência do emprego e as diferentes variações existentes nos

seus recursos financeiros. O texto faz um conjunto alargado de sugestões desde a

criação de bolsas e de lugares nos estabelecimentos de ensino e de instituições

culturais à adaptação das leis fiscais e de condições de reforma. Um outro tipo de

recomendações relaciona-se com os direitos de autor e as novas condições de

distribuição e de difusão nomeadamente nas designadas indústrias culturais.

Sob o ponto de vista da “vocação e da formação do artista” esta recomendação

salienta a necessidade dos Estados Membros “devem incentivar, na escola e desde

6 O conceito de artista é um conceito que apresenta algumas ambiguidades no que se refere à sua definição. A UNESCO (1980) define-o como “qualquer individuo que crie ou dê expressão criativa a, ou recrie obras de arte, que considere a sua criação artística como parte essencial da sua vida, que contribui desta forma para o desenvolvimento da arte e cultura e que é ou pede para ser reconhecido como artista, quer esteja ou não ligado por qualquer tipo de laços laborais ou associativos” (p. 149).

10

uma idade precoce, todas as medidas que contribuam para reforçar o respeito pela

criação artística e da descoberta e desenvolvimento de vocações artísticas, devendo-se

ter em consideração que, para ser eficaz, o estimulo da criatividade artística necessita

de uma necessária formação profissional de modo a que se possam produzir obras de

qualidade” (p. 150). Neste contexto, apela-se que se tomem medidas que permitam,

entre outras, (a) desenvolver “uma educação destinada a estimular o talento e a

vocação artística; (b) se garanta, em colaboração com os artistas, que a

“que a educação dá a devida importância para o desenvolvimento da sensibilidade

artística e contribui para a formação de um público receptivo à expressão de arte em

todas as suas formas” (c)“ instituir ou desenvolver o ensino de disciplinas artísticas

específicas; (d) incentivar através de “concessão de bolsas de estudo ou licença

remunerada para estudos, para assegurar que os artistas têm a oportunidade de trazer

os seus conhecimentos actualizados nas suas próprias disciplinas ou especialidades

afins e campos, para melhorar suas habilidades técnicas , para estabelecer contactos

que vai estimular a criatividade, e se submeter a reciclagem, a fim de ter acesso ao

trabalho e em outros ramos da arte, para estes fins” (e) adoptar e desenvolver

políticas coordenadas de formação e de programas de “tendo em conta a situação

específica de emprego dos artistas e permitindo-lhes participar de outros sectores de

actividade, se necessário”; (f) “reconhecer a importância das artes e do artesanato, as

formas tradicionais de transmissão de conhecimentos e, em particular das práticas de

iniciação de diversas comunidades, e tomar todas as medidas apropriadas para

proteger e incentivá-los; (g) “reconhecer que a educação artística não deve ser

separada da prática de viver a arte, e ver que o ensino seja reformulado de modo a que

os estabelecimentos culturais, teatros, estúdios de arte, as organizações de

radiodifusão e televisão, etc, desempenham um importante participar neste tipo de

formação e de aprendizagem”; (h) “reconhecer que a vida artística e a prática das artes

têm uma dimensão internacional” devendo-se, por isso, promover actividades e meios

que facilitem esta dimensão (Idem).

Em 1997, aquando do “Congresso Mundial sobre a aplicação da recomendação relativa

à condição do Artista” a Directora da Divisão de criatividade, das indústrias culturais e

dos direitos de autor da UNESCO refere que “o papel do Estado reduz-se num contexto

de uma economia liberal, quer seja através da descentralização do poder

administrativo, quer seja simplesmente porque a sociedade civil começa a tomar conta

de um conjunto de funções que anteriormente pertenciam à esfera do Estado, como a

promoção das artes” (Otchet, 1997:7). As temáticas do congresso incluíram as novas

parcerias relativas ao financiamento público e privado, a educação artística e as novas

tecnologias. Nesta abordagem quatro possibilidades são privilegiadas: “o apoio

indirecto do governo, através de legislações que obriguem a que um promotor de um

edifício público consagre 1% do financiamento a instalações artísticas”, as “fundações

privadas que oferecem bolsas aos artistas, mas que ajudam mais frequentemente as

organizações artísticas e os museus”, o mecenato empresarial “em busca de

11

publicidade” e as “indústrias culturais que asseguram a promoção das obras com

objectivos lucrativos” (idem:7-8).

Na Declaração Final, chama-se a atenção para que “a diminuição dos recursos públicos

consagrados à criação artística” e que “a tendência para a uniformização dos modos

de pensar e das produções culturais” sujeitas “a considerações de rentabilidade

máxima e imediata constitui um perigo para a diversidade da criação” e a importância

de neste contexto “da manutenção do financiamento público das artes” e que, no

âmbito da educação artística ela “deve ser introduzida e desenvolvida em todos os

níveis da educação formal e não formal” onde os artistas poderão desempenhar um

papel indispensável num quadro de definição de uma estratégia comum. Das

diferentes propostas que pretendem reforçar a Recomendação de 1980 em diferentes

domínios: financiamento das artes; apoio à criação; educação e formação artísticas; a

arte e as novas tecnologias; os direitos de autor e os direitos dos artistas intérpretes;

as condições de trabalho, fiscalidade e saúde dos artistas e a promoção da

recomendação de 1980.

No âmbito do presente trabalho interessa-me sobretudo dois domínios: o

financiamento da cultura e as condições de trabalho. No que se refere ao

financiamento propõe-se que “em cada país, pelo menos 1% do montante global dos

recursos públicos seja consagrada às actividades de criação, de expressão e de difusão

artística” e “os novos meios de financiamento privado, da grande fundação à pequena

empresa, devem ser encorajados com fontes complementares, nomeadamente para

apoiar a criação, a expressão e a difusão das obras contemporâneas”. Sob o ponto de

vista da educação e da formação considera-se “o papel preponderante da arte, da

criação e da experiência artística no desenvolvimento intelectual, físico, emocional e

sensitivo das crianças e dos adolescente” e que “a iniciação às diferentes disciplinas e a

sua aprendizagem devem situar-se, no âmbito dos sistemas educativos, no mesmo

plano que as outras matérias”. Dividindo a educação artistas entre a sua utilização

como aprendizagem própria ou como meio de ensinar outro tipo de matérias afirma-

se que “a educação artística deve ser multicultural, tendo em conta a cultura na sua

diversidade, e proscrever toda a tentativa de hierarquização entre as expressões

artísticas de diferentes culturas” e deve ser acessível ao longo da vida e “tendo em

conta a emergência de novas necessidades, os desenvolvimentos regulares e as

reformas da educação artística são e continuarão a ser necessárias”. Solicitam à

UNESCO que crie “uma rede internacional para difundir, discutir e actualizar os dados

sobre as “experiências positivas” no domínio da educação e da formação de artistas

profissionais”.

No que se refere às condições de trabalho escreve que “tendo em conta a tendência

crescente, na maior parte dos sectores artísticos, da precariedade do emprego e da

insegurança das condições de trabalho dos artistas intérpretes” reafirma-se “que

12

nenhum artista deverá ser descriminado em termos de fiscalidade, segurança social e

liberdade de associação”. Por outro lado, recomenda-se “uma melhor coordenação

entre as instâncias governamentais competentes a nível nacional” como um elemento

indispensável “para assegurar aos artistas das condições de vida tendo em conta a

duração limitada” de algumas das carreiras” assim como “ as discussões entre as

instâncias governamentais e intergovernamentais competentes devem ter lugar com

vista a promoção de condições justas em matéria de fiscalidade, segurança social e

condições de emprego em todos os países tendo em conta o incremento da mobilidade

internacional relativa ao emprego dos artistas” propondo por isso que a UNESCO faça

um inventário dos diferentes regimes fiscais dos diferentes países e que haja reuniões

de modo a promover a harmonização dos diferentes regimes “adaptadas às

especificidades das actividades artísticas”.

3. International Society for Music Education - ISME

A International Society for Music Education (ISME) foi fundada em 1953 em Bruxelas

sob os auspícios da UNESCO através do International Music Council7, e é membro do

Conselho Internacional da Música (http://www.isme.org). “Inicialmente descrita por

Charles Seeger na sua proposta original como um “grupo de interesses8”, a ISME

desenvolveu-se de um modo firme ao longo dos anos numa organização que

representa e serve os seus membros em mais de 70 países do mundo. [A ISME]

transcende a variedade e as diferentes ideologias políticas dos seus membros no

sentido de alcançar a harmonia em relação ao papel e ao valor da música e do seu

ensino. [ O sucesso da ISME] centra-se nos princípios que enformam a sua visão, que é

para servir os ‘educadores musicais’ do mundo, e a sua missão, que está centrada na

construção e manutenção de uma comunidade mundial de ‘educadores musicais’

caracterizada pela entreajuda e respeito mútuo, promovendo o entendimento

internacional e intercultural, a cooperação e alimentado, advogando e promovendo a

educação musical e a educação através da música em todas as partes do mundo” ”

(Oliva, 2003: 13-14).

7 A ISME foi fundada durante a conferência internacional sobre o papel e a lugar da música na educação dos jovens e adultos realizada em Bruxelas. De acordo com McCarty (2003) esta conferência representou o culminar de diferentes tipos de planos para o estabelecimento de um fórum internacional para a educação musical. Escreve a autora que as influências fundamentais para a constituição desta organização situaram-se na UNESCO, no IMC e na organização norte americana Music Educators National Conference (p. 29). 8 Escreve Seeger, no documento “A Proposal to Found an International Society of Music Education”: “temos muito que aprender uns com os outros: como é que uma criança africana adquire a habilidade para aprender a tocar num ritual de percussão; como é que o tocador de sitar cria e recria uma raga; como é que se pode lidar da melhor forma com as crianças do pré-escolar; como se pode assegurar a continuidade de uma boa educação musical desde o nível secundário até á idade adulta de um trabalhador médio, homem ou mulher” (citado por McCarty, 2003, p. 33)

13

A visão da organização assenta na ideia de “servir os ‘educadores musicais’ em todo o

mundo e tem como missão: (a) “construir e manter uma comunidade global de

‘educadores musicais’ caracterizada pela entreajuda e o respeito mútuo”; (b)

“promover a cooperação e a compreensão intercultural internacional, fornecendo

oportunidades acessíveis aos indivíduos, aos grupos nacionais e internacionais para

partilharem conhecimento, experiências e expertise sobre educação musical”; (c)

“estimular, defender e promover a educação musical e a educação através da música

em todas as partes do mundo” (www.isme.org).

A ISME que tem membros associados em mais de 70 países e que publica revistas,

como por exemplo o “International Journal of Music Education”, desde Maio de 1983,

e outro tipo de material, divide-se em várias comissões, englobando vários tipos de

temáticas e problemáticas, que foram sendo construídas e reformuladas ao longo dos

anos. Actualmente a ISME é constituída pelas seguintes comissões: Research (1968);

Community Music Activity (CMA) (1982); Early Childhood Music Education (ECME)

(1978); Education of the Professional Musician (CEPROM) (1974); Music Policy in

Educational, Cultural and Mass Media Policies (1976); Music in Schools and Teacher

Education (MISTEC) (1974) ; Special Education: Music Therapy, Music Medicine (1974)

e o “Forum for Instrumental and Vocal Teaching”. Estas sete comissões realizam

seminários, normalmente na semana anterior à da conferência mundial, em que são

apresentadas trabalhos de investigação sobre temas específicos dentro de cada

temática.

Desde 1961 que, de dois em dois anos, se realiza uma conferência mundial em

diferentes continentes e países do mundo, na qual participam professores e

investigadores de todo o mundo. Cada um destes encontros mundiais é organizado em

torno de um tema central, como por exemplo, SAMSPEL (2002), palavra norueguesa

que significa trabalhar conjuntamente em música e noutras áreas da actividade

humana (http://www.uib.no/isme2002/welcome/welcome.html); “Sound Worls to

Discover” (2004) em Tenerife); A importância destas conferências é traduzida, em

1971, por Franck Callaway (sócio fundador da Organização) do seguinte modo: “as

muitas conferências que a ISME tem desenvolvido acerca de vinte anos em diferentes

partes do mundo serviram para nos lembrar, apesar das vastas distâncias geográficas

que nos separam, que temos um elo comum no nosso desejo de ver a vida das pessoas

enriquecida através da música. Trocámos ideias e firmamos contactos artísticos,

ouvimos e estudamos música dos nossos diferentes países, consideramos e difundimos

a relevância de técnicas musicais e de métodos de educação musical para além dos

países que lhe deram origem”. Por outro lado, Egon Kraus, relembra aos associados em

1973 que “não devemos esquecer que as nossas actividades na ISME são contributos

para a compreensão e amizade internacional através da música *…+ que ajuda a

promover a paz num mundo ansioso e inquieto” (citado por McCarty, 2003: 53).

14

Nos anos 90 a ISME divulga uma “Declaração de Princípios para a Divulgação Mundial

da Educação Musical” que representam a posição da ISME em relação à educação

musical. Esta posição pode ser sintetizada no seguinte: (a) na diferenciação entre a

“educação em música” e a “educação pela música”; (b) que este tipo de formação

deve ser um processo que se desenvolve ao longo da vida e que abrange todas as

faixas etárias; (c) que todos os estudantes devem não só ter acesso a um programa

educativo equilibrado, implementado por “educadores musicais eficazes” como

também esta formação deve ser desenvolvida de modo a “que se proponham desafios

à sua inteligência”, se “estimule a sua imaginação” e se “projecte alegria e satisfação

na sua vida e se eleve o seu espírito”; (d) que os estudantes tenham oportunidades de

prosseguir estudos musicais e que a “qualidade e extensão da educação musical” não

devem depender de factores geográficos, socioculturais, económicos, vocacionais ou

étnicos e que estas oportunidades devem estar presentes “através de um sistema

educativo que responda às suas necessidades individuais”; (e) deve ser proporcionada

a possibilidade de participar activamente em actividades e acontecimentos musicais

enquanto “ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores”, assim como

participar nas músicas das suas culturas e de outras culturas dos seus países e do

mundo compreendendo os contextos históricos e culturais da música e “apreender

questões estéticas relevantes para a música” e (f) a “ISME acredita na validade de

todas as músicas do mundo e respeita o valor que cada comunidade dá à sua própria

música. A riqueza e diversidade das músicas do mundo é um factor a celebrar e é uma

oportunidade para a aprendizagem intercultural, contribuindo para estimular a

compreensão internacional, a cooperação e a paz” (APEM, Boletim, n.º 86,

Julho/Setembro, 1995, p. 23)

Um outro documento produzido por esta organização intitula-se “A Política da ISME

em relação às culturas musicais do mundo” em que se defende que estas culturas,

consideradas individualmente ou como uma unidade “devem desempenhar um papel

significativo na educação musical”.

4. União Europeia

A actuação da União Europeia (EU), actualmente constituída por 27 estados membros,

desenvolve-se num quadro em que os países se encontram interligados através de

diferentes tipos de tratados em que predominam os tratados de natureza económica.

Intervindo em diferentes domínio, a EU é caracterizada por uma grande diversidade

cultural e em que as prioridades, sob o ponto de vista educativo e cultural, estão

centradas no desenvolvimento da “sociedade do conhecimento” e na promoção de

15

uma identidade cultural comum. A Educação e a cultura apresentam-se como

instrumentos estratégicos no desenvolvimento destes desígnios9.

No que se refere à educação para que a Europa se possa desenvolver “como sociedade

do conhecimento e ser suficientemente competitiva numa economia mundial cada vez

mais globalizada, é essencial que o seu ensino e formação sejam de elevada qualidade.

Embora cada país decida da sua própria política da educação, os países da UE

estabelecem em conjunto objectivos comuns e trocam entre si boas práticas. Por outro

lado, a UE financia um grande número de programas para que os seus cidadãos

possam tirar o melhor partido das suas capacidades individuais e do potencial

económico da EU *…+” (http://europa.eu/pol/educ/index_pt.htm).

Sob o ponto de vista da cultura “a Europa tem orgulho na sua diversidade cultural. A

língua, a literatura, o teatro, as artes plásticas, a arquitectura, o artesanato, o cinema

e a radiodifusão podem pertencer a uma região ou país específicos, mas fazem parte

do património cultural comum da Europa. A União Europeia quer preservar e apoiar

esta diversidade e contribuir para a tornar acessível a outros *…+ Estes objectivos foram

fixados no Tratado de Maastricht de 1992, que, pela primeira vez, reconheceu

formalmente a dimensão cultural da integração europeia. No entanto, as iniciativas

culturais começaram antes, como é o caso do programa de selecção anual de uma

Capital Europeia da Cultura, lançado em 1985 *…+. Como parte da sua política regional,

por exemplo, a União Europeia ajuda a pagar escolas de música, salas de concertos e

estúdios de gravação10 *…+” (http://europa.eu/pol/cult/index_pt.htm).

9 No plano regional a Assembleia Europeia das Regiões (AER) criada em 1985, e a rede EUROCITIES, fundada em 1986, as questões da educação e cultura, em particular da educação artística, apresentam um interesse renovado nos desígnios destas organizações europeias. No primeiro caso a conferência de 2003 realizada em Budapest e intitulada “Homo ludens versus Homo economicus” os conferencistas concordaram em acentuar o papel das artes na formação dos indivíduos, do seu papel social, cultural e económico e sublinhando que a necessidade do desenvolvimento de em termos “de criatividade e imaginação, a cooperação interpessoal, motivação e auto-suficiência são fortes razões para fazer das artes uma disciplina obrigatória de todos os sistemas de ensino,” e lamenta-se que alguns destes sistemas de ensino “negligenciam frequentemente a arte e cultura, e, portanto, justificam uma reavaliação do seu lugar e seu papel na educação” (citado por Wimmer, 2009,pp. 60-61). Esta mesma AER realiza no ano seguinte uma outra conferência intitulada ”What Place for Arts in Education? Towards a new pedagogical pattern based on creativity & participation”. Esta conferência em que participaram os ministros da Educação e cultura manifestam por um lado, preocupação “com o crescente uso económico da educação” e salientam “a importância de todas as formas de arte no nosso processo educacional” procurando fazer “propostas concretas sobre como alcançar um novo equilíbrio entre os aspectos do desenvolvimento económico e humano”. A AER considera que esta conferência “incidirá sobre uma novo paradigma de educação que reafirma o papel das artes na educação para além da pura considerações utilitárias. As regiões estão muito preocupados que apresentam conceitos educativos e contexto com os conceitos educacionais actuais e com o pensamento político dominante que parece seguir uma abordagem predominantemente funcional da educação artística, destacando acima de tudo factores profissionais e do emprego” (http://www.aer.eu/news/2004.html). No que se refere ao segundo caso o Comité da Cultura da EUROCITIES, criou um grupo de trabalho em 2005 procurando ligar a educação e a cultura e em que se assume um conjunto de ideias relacionadas com as artes e a educação de que se salienta, por exemplo, que a “participação na vida cultural é um assunto de natureza política e não pode ser assegurada pela ‘mão invisível’ do mercado” (cf. Wimmer, 2009, pp. 61-64 e http://www.eurocities.eu). 10 Através da “Resolução do Conselho de 20 de Janeiro de 1997 sobre a integração dos aspectos culturais nas acções comunitárias (97/C 36/04)”. O Conselho da União Europeia “ congratula-se com a apresentação do

16

Em qualquer uma das áreas11, em que o papel da União se centra fundamentalmente

no apoio aos governos nacionais, assiste-se, contudo, a um incremento do papel da EU

no sentido do desenvolvimento de políticas comuns neste domínio. Um dos

instrumentos utilizados assenta na criação, desde a década de 1980 de vários tipos de

programas que se salientam, no período entre 2007-2013, os seguintes: (a) Leonardo

da Vinci: programa de apoio a acções de formação profissional, sobretudo estágios

para jovens trabalhadores e formadores em empresas fora do respectivo país de

origem e projectos de cooperação entre estabelecimentos de formação profissional e

empresas; (b) Erasmus: programa de mobilidade e de cooperação entre universidades.

Desde que foi criado em 1987, o programa Erasmus contou com a participação de um

milhão e meio de estudantes. Um programa mais recente, denominado Erasmus

Mundus, permite a jovens licenciados e universitários de todo o mundo obter um

mestrado em cursos que envolvem consórcios de, pelo menos, três universidades

europeias; (c) Grundtvig: programa de apoio a programas de educação para adultos,

especialmente parcerias, redes e acções de mobilidade transnacionais; e (d) Comenius:

programa de cooperação entre estabelecimentos de ensino e professores. Estes

programas têm em comum o facto de se procura encorajar um maior conhecimento

dos outros países que compõem a EU e disseminar as boas práticas de educação e de

formação existentes. No caso do processo de Bolonha a EU procura apoiar padrões

comparáveis e graus compatíveis em toda a Europa.

O programa “Cultura 2000”, estabelecido entre 2000 e 2006, contribui com bolsas no

âmbito de projectos de cooperação cultural em todas as áreas artísticas e culturais,

das artes performativas à história cultural. Concebendo a cultura como uma das

dimensões da integração social e desempenhando um papel no desenvolvimento

socioeconómico, o objectivo central enquadra-se na criação de uma área cultural

primeiro relatório da Comissão sobre a consideração dos aspectos culturais na acção da Comunidade Europeia, no qual se afirma não se tratar de uma descrição exaustiva e que, embora sejam consagrados meios substanciais às actividades culturais ou de dimensão cultural, as acções realizadas raramente correspondem a objectivos específicos da Comunidade no domínio cultural” e “acorda em tomar em consideração os aspectos culturais nos fundos estruturais com a finalidade de reforçar a coesão económica e social da Comunidade e de promover um desenvolvimento global harmonioso dentro do actual quadro jurídico comunitário” (http://eurlex.europa.eu/Notice.do?mode=dbl&lang=ro&ihmlang=ro&lng1=ro,pt&lng2=da,de,el,en,es,fi,fr,it,nl,pt,sv,&val= 221418:cs&page=). Consultar este relatório em (http://aei.pitt.edu/1329/01/culture_report _COM_96_160.pdf). 11 A procura do estabelecimento de relações entre as áreas da cultura e da educação, e formação conduziu à criação pela Comissão Europeia do programa “Connect” em que se procuram “sinergias entre a cultura e os domínios da educação e da formação que possam envolver a investigação e as novas tecnologias” no contexto de uma “Europa do Conhecimento” assim como duma “Sociedade da Informação”. (JOC, de 13 de Maio de 1999, C 133/26 a C 133/30) Esta iniciativa terminou em 2002. Contudo, a EU seleccionou o Pólo Universitário européen de Lorraine para a realização deste estudo.com o objetivo “de dar uma visão global das actuais acções nacionais que ligam a cultura (artes visuais, música, artes cénicas, livros e leitura, património cultural) de forma mais estreita com a educação formal, não formal e informal, a formação profissional e os jovens” (http://ec.europa.eu/culture/key-documents/doc898_en.htm). O relatório apresentado, salienta a necessidade de uma visão política que seja acompanhada de acções concretas e que a ligação entre a cultura e a educação apresenta-se como um elementos indispensável de integrar nas prioridades políticas da EU. (cf.http://ec.europa.eu/ culture/ pdf/doc903_en.pdf).

17

comum na EU caracterizada pela sua diversidade e património partilhado. Procura

encorajar a criação e a mobilidade artística e cultural, o acesso à todos à cultura e a

disseminação das artes e da cultura, diálogo intercultural e o conhecimento da história

dos povos europeus. Das várias actividades que este programa apoia incluem festivais,

“master classes”, exposições, novas criações e produções artísticas, viagens, traduções

e conferências, pensadas para artistas e operadores culturais assim como para o

‘grande público’, em particular os jovens e os mais desfavorecidos. No seguimento

deste programa o “Programa Cultura” (2007-2013), abrange também todas as

actividades culturais não audiovisuais e tem como objectivos: (a) “promover a

mobilidade transnacional das pessoas que trabalham no sector da cultura”; (b)

“incentivar a circulação transnacional de obras e produções artísticas e culturais”; (c)

“fomentar o diálogo intercultural” (http://ec.europa.eu/culture/pdf/doc1165_pt.pdf).

Por outro lado, propõe-se uma “Agenda europeia para a cultura num mundo

globalizado”, “uma nova agenda europeia para a cultura, que tenta responder aos

desafios da globalização”, atendendo a que, não só “o sector da cultura desempenha

um papel essencial, dadas as suas numerosas implicações sociais, económicas e

políticas”, como também “a cultura ocupou sempre um lugar fundamental no processo

da integração europeia”. Os objectivos da nova agenda para a cultura articulam-se em

torno de três prioridades: (a) diversidade cultural e diálogo intercultural12; (b)

dinamização da criatividade no âmbito da ‘Estratégia de Lisboa’ para o crescimento e o

emprego e (c) dimensão cultural como elemento vital nas relações internacionais.

No primeiro caso procura-se incentivar (a) a mobilidade dos artistas e profissionais do

campo da cultura e a circulação de todas as formas de expressão artística; e (b) “o

reforço das competências interculturais e do diálogo intercultural, mormente pelo

desenvolvimento de capacidades que figuram entre as competências essenciais para a

aprendizagem ao longo da vida, como a sensibilidade e a expressão culturais e a

comunicação em línguas estrangeiras”. No segundo, argumenta-se que “as indústrias

culturais contribuem para o dinamismo da economia europeia, bem como para a

competitividade da UE. A título de exemplo, a cultura emprega cerca de cinco milhões

de pessoas na EU” Deste modo, a Comissão propõe os seguintes objectivos: (a)

“promover a criatividade na educação e integrar esta dimensão nas medidas relativas

à aprendizagem ao longo da vida”; (b) “reforçar as capacidades do sector cultural em

12 Em 2008 a EU designou este ano como o Ano Europeu do Diálogo Cultural por proposta da Comissão em Outubro de 2005. Este ano em que são privilegiados “os domínios da cultura, da educação, da juventude, do desporto e da cidadania” *…+ constituirá, para além do seu efeito multiplicador, um instrumento único de sensibilização dos cidadãos e, nomeadamente, dos jovens, para esta problemática. || O Ano Europeu deverá visar, de uma maneira geral, a: (a) Promoção do diálogo intercultural como instrumento para auxiliar os cidadãos europeus e todos os habitantes da União Europeia a adquirir conhecimentos e aptidões que lhes permitam compreender um ambiente mais aberto e mais complexo; (b) Sensibilização dos cidadãos europeus e de todos os habitantes da União Europeia para a importância do desenvolvimento de uma cidadania europeia activa e aberta para o mundo, no respeito da diversidade cultural e com base em valores comuns” (http://europa.eu/rapid/pressReleasesAction.do?reference=IP/05/1226&format=HTML&aged= 0&language= EN&guiLanguage=en).

18

termos de organização, com especial incidência no empreendedorismo e na formação

do sector cultural em competências de gestão (fontes de financiamento inovadoras,

dimensão europeia das actividades comerciais, etc.); (c) “desenvolver parcerias eficazes

entre o sector cultural e outros sectores (TIC, investigação, turismo, parceiros sociais,

etc.) no intuito de aumentar o impacto dos investimentos na cultura”. Por último, “na

esteira da Convenção da UNESCO sobre a protecção e a promoção da diversidade das

expressões culturais, ratificada por todos os Estados-Membros e pela UE, a nova

agenda para a cultura propõe o reforço da dimensão cultural enquanto elemento

indispensável das relações externas da UE. Esta prioridade faz-se acompanhar de

várias medidas tendentes a: (a) prosseguir o diálogo político no domínio da cultura e

fomentar o intercâmbio cultural entre a UE e os países terceiros; (b) favorecer o acesso

aos mercados mundiais dos bens e serviços culturais provenientes de países em

desenvolvimento, por meio de acordos que prevejam um tratamento preferencial ou de

medidas de assistência relacionadas com os intercâmbios; (c) apoiar-se nas relações

externas para instaurar apoios financeiros e técnicos (preservação do património

cultural, apoio a actividades culturais em todo o mundo); (d) ter em conta a cultura

local em todos os projectos financiados pela UE; (e) intensificar a participação da UE

nos trabalhos das organizações internacionais activas no domínio da cultura e no

processo «Aliança de civilizações» da ONU (EN)”.(http://europa.eu/legislation.

summaries/culture/l29019_pt.htm)

Artes, cultura e educação artística e artístico-musical

Em 1998 organiza-se a primeira conferência intitulada “A Creative Culture – Creativity

and Cultural Education” em que “a vontade política de criação de uma política comum

era encontrar novas formas pedagógicas não apenas para mediar o conhecimento

cognitivo, mas para colocar a ênfase na mediação das qualificações-chave: "estas

qualificações essenciais incluem a resolução de problemas de forma independente e

criativa, *…+ comportamento social, trabalho de projecto e de resolução de conflitos.

Novas formas de ensino e aprendizagem devem ser aplicadas em sala de aula ... [..], é

essencial desenvolver habilidades criativas dos jovens. Portanto, as escolas não devem

de modo algum negligenciar a educação musical e a educação artística: "É

fundamental ressaltar o valor da criatividade em toda a formação de professores e

criar a consciência de sua importância. A criatividade é promovida especialmente com

exercícios lúdicos, tarefas concretas bem como com projectos interdisciplinares e

projectos em rede” (Wimmer, 2009: 55).

De acordo com este autor desde esta Conferência que a “criatividade” se transformou

numa “fórmula mágica” e, por outro lado a educação para a “sociedade de

informação” baseia-se não tanto na “mediação de determinadas competências

19

académicas dos indivíduos mas num conjunto de competências-chave desenvolvidas

num processo de aprendizagem ao longo da vida” (Idem).

A Estratégia de Lisboa ou Agenda de Lisboa delineada em Março de 2000, no âmbito

da Presidência Portuguesa da União Europeia, “para uma Europa da inovação e do

conhecimento” “é um conjunto de linhas de acção política dirigidas à modernização e

crescimento sustentável da economia europeia, através do incremento da

produtividade, com base na valorização dos recursos humanos e no modelo europeu

de protecção social” (http://www.ces.pt/file/doc/68). O objectivo estratégico para a

primeira década do século XXI no espaço da União Europeia: “tornar-se na economia

baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do mundo, capaz de garantir

um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior

coesão social”. Esta estratégia assenta esta estratégia assenta em três pilares

económico; social e ambiental (http://europa.eu/scadplus/glossary/lisbon_strategy

_pt.htm).

Conjuntamente com esta “estratégia” o Conselho da Educação elaborou a estratégia

“Educação e formação para 2010”. D acordo com o “Relatório do Conselho (Educação)

para o Conselho Europeu - "Os objectivos futuros concretos dos sistemas de educação

e formação"” de 14 de Fevereiro de 2001, os objectivos gerais que a sociedade atribui

à educação e à formação estão centrados (a) no “desenvolvimento do indivíduo, para

que possa realizar todas as suas potencialidades e ter uma vida feliz”; (b) no

“desenvolvimento da sociedade, em especial através do fomento da democracia, da

redução das disparidades e das injustiças entre indivíduos ou grupos e da promoção da

diversidade cultural” e no (c) desenvolvimento da economia, assegurando-se que as

competências da força de trabalho correspondam à evolução económica e tecnológica”

(p. 4). Tendo em conta os desafios das sociedades contemporâneas caracterizadas

“por rápidas mutações, uma globalização crescente e uma maior complexidade em

termos de relações económicas e sócio-culturais” e em que “as novas sociedades e

estruturas económicas são cada vez mais guiadas pela informação e o conhecimento”

(p. 5), os ministros da Educação formulam três objectivos estratégicos (a) aumentar a

qualidade e a eficácia dos sistemas de educação e formação na União Europeia; (b)

facilitar o acesso de todos aos sistemas de educação e formação e (c) abrir os sistemas

de educação e formação ao resto do mundo (p. 7). Na procura de operacionalização

destes objectivos enumeram-se um conjunto de afiliações para o desenvolvimento

destas competências chave13 como por exemplo “manter a faculdade de aprender” (p.

13 Estas competências chave para a aprendizagem ao longo da vida são consideradas como “fundamentais para cada indivíduo numa sociedade baseada no conhecimento” fornecendo uma “mais-valia para o mercado de trabalho, a coesão social ea cidadania activa, oferecendo flexibilidade e adaptabilidade, satisfação e motivação”. As oito competências chave são: comunicação na língua materna, comunicação em línguas estrangeiras, competência matemática e competências básicas em ciências e tecnologia, competência digital, aprender a aprender, competências sociais e cívicas, espírito de iniciativa e espírito empresarial, e sensibilidade e expressão cultural. Em relação a esta última sublinha-se que ela implica “a consciência da importância da expressão criativa das ideias, experiências e emoções através de meios distintos (música,

20

9); providenciar um “ambiente de aprendizagem aberto” como meio facilitador da

aprendizagem ao longo da vida (p. 11) tornando a “aprendizagem mais atraente” (p.

12) ou “promover a cidadania activa, a igualdade de oportunidades e a coesão social”

(p. 13).

Em 2009 a Comissão Europeia apresentou um estudo intitulado “Arts and Cultural

Education at School in Europe” (Eurydice, 2009) baseado no trabalho da rede Eurydice

e produzido no âmbito do “Ano Europeu da Criatividade e Inovação”. Este estudo

envolve a educação obrigatória em 30 países europeus (estados membros mais a

Islândia, Liechtenstein a Noruega). Neste na apresentação o Comissário Europeu para a

Educação, Formação, Cultura e Juventude Maroš Šefčovič afirma que “a educação

artística favorece o desenvolvimento de competências criativas, incentivando os

estudantes a experimentar, expressar-se, cooperar, superar os problemas e tomar

iniciativas. Por conseguinte, o reforço da educação artística para o desenvolvimento do

nosso potencial criativo e inovador deve constituir-se como uma componente central

de qualquer estratégia de educação para a competitividade económica, coesão social e

bem-estar individual”.

Em nota da Comissão Europeia de Outubro de 2009 salientam-se as principais

conclusões deste estudo que remetem para (a) o tempo mínimo dedicado ao ensino

das artes é muito baixa, especialmente no ensino secundário”; (b) “Em alguns países,

os professores do ensino primário não são ser ‘treinados’ para ensinar todas as formas

de arte incluída no currículo escolar” e (c) as “iniciativas ad hoc e as actividades

extracurriculares podem ajudar a promover a educação artística nas escolas”. Em

relação ao primeiro caso, escreve-se que as modalidades artísticas mais comuns ensino

nas escolas, e que constam dos currículos de todos os países, são artes visuais e

música, “cerca de metade dos países europeus dedicam entre 50 e 100 horas por ano

para as artes no nível primário” e que existem países que estão fora deste intervalo

como o Luxemburgo, que prevê até 36 horas e Portugal, que prevê até 165 horas. No

que se refere ao ensino secundário inferior, o tempo ensinou é ligeiramente inferior,

com cerca de metade dos países, dedicando cerca de 25 a 75 horas por ano para as

artes”. No segundo caso, na maioria dos países são os professores do ensino primário

que desenvolvem trabalho mo domínio das artes e na “maioria dos países, recebem

teatro, literatura, artes visuais” (http://europa.eu/legislation_summaries/education_training_youth/ lifelong_learning/c11090_en.htm). Sobre estas competências chave e a implementação e os desenvolvimentos do programa “Educação e Formação 2010” consultar por exemplo o "Educação e Formação para 2010" a urgência das reformas necessárias para o sucesso da estratégia de Lisboa - Relatório intercalar conjunto do Conselho e da Comissão sobre a realização do programa de trabalho pormenorizado relativo ao seguimento dos objectivos dos sistemas de ensino e formação na Europa”, de 3 de Março de 2004; “Education & Training 2010” – Main policy initiatives and outputs in education and training since the year 2000”, 2066 e relatório conjunto de 2008 do Conselho e da Comissão sobre a aplicação do programa de trabalho "Educação e Formação para 2010 - Aprendizagem ao longo da vida ao serviço do conhecimento, da criatividade e da inovação" de 31 de Janeiro de 2008 e o “Relatório intercalar conjunto de 2010 do Conselho e da Comissão Europeia sobre a aplicação do programa de trabalho «Educação e Formação para 2010», Jornal Oficial da União Europeia de 6.5.2010, assim como Gordon et al., 2009.

21

formação em mais de que uma forma de arte”. No entanto, em alguns países, os

professores primários não recebem formação adequada para ensinar todas as facetas

das artes no currículo. Por último, em muitos países existem iniciativas e projectos que

incentivam educação artística, em alguns dos quais, a Bélgica, Dinamarca, Irlanda,

Malta, Países Baixos, Áustria e Noruega, foram especificamente criados organizações e

redes nacionais para a promoção das artes e a educação cultural. Por outro lado,

existem países que incentivam as escolas e outras organizações para oferecer

actividades extra-curriculares das artes. “No entanto, há obstáculos que podem existir

para os alunos o acesso dessas actividades, nomeadamente em termos de

financiamento. É por isso que os governos nacionais ou locais, na Bélgica, República

Checa, Espanha, Itália, Letónia, Áustria, Portugal e Finlândia subsidiam integralmente

as actividades extra-curriculares relacionadas com as artes” (http://europa.eu/rapid/

pressReleasesAction.do?reference=IP/09/1517&format=HTML&aged=0&language=EN

&guiLanguage=en).

Na Resolução do Parlamento Europeu, de 24 de Março de 2009, sobre os estudos

artísticos na União Europeia (2008/2226(INI)) convida o Conselho, a Comissão e os

Estados-Membros a: (a) “reconhecerem a importância de promover o ensino artístico e

a criatividade no contexto de uma economia baseada no conhecimento, nos termos da

Estratégia de Lisboa; (b) “ definirem o papel da educação artística como instrumento

pedagógico essencial para a valorização da cultura num mundo globalizado e

multicultural” ; (c) “estabelecerem estratégias comuns para a promoção de políticas de

educação artística e de formação de docentes especializados nesta área”; (d)

“reconhecerem o importante papel dos artistas na sociedade e a necessidade de

estabelecer competências específicas para o ensino artístico no processo educativo”;

(e) “incentivarem os representantes nacionais no Grupo de Trabalho sobre Educação e

Cultura, recentemente criado no âmbito do Método Aberto de Coordenação (MAC) da

Cultura, a debaterem o papel das artes nos diferentes contextos educativos (formal,

informal e não-formal) e em todos os níveis de ensino (desde o ensino pré-escolar até à

formação profissional no ensino artístico superior, e para além dela) e também a

formação requerida para docentes especializados”; (f) “incentivarem os representantes

nacionais nos Grupos de Trabalho sobre Indústrias Culturais do MAC a abordarem,

como uma questão central, a formação profissional e o desenvolvimento profissional

contínuo de artistas, gestores, professores, facilitadores e outros profissionais do sector

cultural”; (g) “convidarem os intervenientes relevantes da sociedade civil a partilharem

os seus conhecimentos e competências neste domínio no que respeita ao processo em

curso no âmbito do MAC; (h) “melhorarem a oferta de formação profissional no sector

artístico, reconhecendo o ensino artístico superior em todos os três graus definidos pelo

processo da Declaração de Bolonha (licenciatura, mestrado, doutoramento),

melhorando assim a mobilidade dos artistas na UE; (i) “introduzirem um regime

especial para promover a educação artística no contexto do programa plurianual de

22

cultura” e (j) “reconhecerem a importância das actividades artísticas colectivas e

amadoras” (Jornal Oficial da União Europeia C 117 E/25 e E/26 de 6.5.2010).

Esta resolução, apoiada no “Relatório sobre os estudos artísticos na União Europeia”

da Comissão da Cultura e da Educação tendo por relatora Maria Badia i Cutchet,

assenta em três tipos de argumentos. Por um lado, um argumento assente em que “as

nossas sociedades heterogéneas e de carácter multicultural valorizaram o papel da

cultura e a riqueza da sua diversidade, elementos que são essenciais para melhorar a

convivência entre povos e culturas diferentes. Neste sentido, num contexto marcado

por uma maior mobilidade dos cidadãos, a educação na cultura converteu-se num

factor fundamental para preservar a identidade e promover o entendimento

intercultural e inter-religioso, como aliás foi colocado em evidência pelo Ano Europeu

do Diálogo Intercultural 2008, através dos objectivos de sensibilização e de promoção

da cultura que com o mesmo se prosseguiram”. Por outro lado, salienta-se que “a

educação artística faculta aos países o meio que lhes permite desenvolver os recursos

humanos imprescindíveis à exploração da riqueza do seu património cultural. *…+ Não

deve esquecer-se que a arte e o design são uma componente do desenvolvimento da

sociedade, na medida em que ajudam a desenvolver filosofias e a criar novos estilos e

movimentos artísticos, reforçando assim a imagem da União Europeia no mundo ao

permitir uma projecção a nível internacional que transcende o meio em que se insere”

(p. 8). Um terceiro tipo de argumento situa-se na constatação de que “as mudanças

rápidas e sistemáticas registadas nas nossas sociedades exigem uma maior

adaptabilidade, flexibilidade, criatividade, inovação e comunicação das pessoas no

trabalho, como de resto se salienta no programa «Educação e Formação 2010».

Acresce ainda a exigência cada vez maior ditada pela competitividade em múltiplos

domínios, e que justifica a prioridade concedida por muitos sistemas educativos à

promoção do desenvolvimento da criatividade nos curricula escolares através de

programas educativos desenvolvidos mediante métodos pedagógicos adequados com

um grande impacto na posterior inserção dos alunos no mercado artístico e criativo.

Neste contexto, é fundamental alargar os conteúdos da formação artística com vista a

melhorar a inserção no mercado de trabalho neste sector, bem como as

potencialidades de actividade artística na nova era digital” (pp. 8-9)

Música

Nas Conclusões do Conselho de 18 de Dezembro de 1997 “sobre o papel da música na

Europa14” (Jornal Oficial das Comunidades Europeias, 3 de Janeiro de 1997,

14 As conclusões deste Conselho remetem para o Estudo “A Música na Europa e a Europa pela Música” apresentado em 18 e 19 de Outubro de 1996 e onde se analisa, por um lado, a importância económica da música, em todos os seus sectores – da música gravada, ao mercado dos instrumentos musicais, dos espectáculos ao vivo dos media à educação, e, por outro, se focaliza a interligação da música, cultura e

23

considerando a música como “um elemento fundamental da cultura e da história dos

nossos países e constitui uma das formas de expressão artística individual e colectiva

mais importantes e mais presentes na vida quotidiana dos cidadãos” a riqueza do

património e que “Consciente de que o processo de criação musical se baseia num ciclo

que vai da composição à difusão da obra junto do público e de que, por conseguinte, a

música, enquanto forma de expressão artística e cultural, n}o pode ser dissociada do

seu papel eminentemente social nem da importância do sector económico que

representa, sector esse que abrange, na Europa, uma gama infinita de talentos, de

knowhow e de profissões, constituindo, por isso mesmo, uma reserva de empregos a

ter em conta, designadamente para os jovens”; Consciente de que um melhor acesso

aos reportórios permite desenvolver na geração mais jovem o interesse e o gosto pela

música, bem como favorecer a divulga.}o das diferentes culturas musicais”, (p. C1/6)

convida a Comissão a apresentar propostas em favor da música, no âmbito da decisão

do Conselho, de 22 de Setembro de 1997, sobre o futuro da acção cultural europeia e

tendo em vista completar a acção dos Estados membros através de medidas a tomar,

designadamente, nos seguintes domínios:

-promoção do acesso de um público mais vasto à música, com especial

destaque para a educação musical desde a primeira infância, mediante o apoio a

acções inovadoras e exemplares de valorização do papel essencial e integrador da

música na sociedade;

-difusão e criação musicais, promoção do intercâmbio, nomeadamente dos

jovens artistas criadores e artistas intérpretes, e apoio à circulação dos reportórios, dos

artistas e das produções musicais (espectáculos ao vivo);

-maior qualificação dos artistas e outros profissionais da música,

nomeadamente no âmbito das novas possibilidades de criação musical, através das

novas tecnologias da informação, bem como no domínio da orientação profissional no

sector da música;

-eventual possibilidade, no quadro das estruturas existentes e dentro dos limites

dos recursos financeiros disponíveis, de melhorar a informação mútua dos Estados

membros sobre o conhecimento da música através, por exemplo, do reforço das redes

existentes ou da criação de um observatório ou de um centro europeu de informação e

de documentação (p.C1/ 7).

Sob o ponto de vista da “composição e da disseminação da música” a EU “através das

suas actividades no âmbito do desenvolvimento regional, cultura e pesquisa, *…+

incentiva a criação, difusão e distribuição de obras musicais” contribuindo para (a) “o

sociedade no contexto da união focando-se nos modos como os desenvolvimentos da cultura musical interage com os desenvolvimento e processos culturais na sociedade europeia (http://www.icce.rug.nl/ ~soundscapes/DATABASES/MIE/General_contents.shtml).

24

financiamento de locais para a criação e distribuição de obras artísticas: escolas de

música, salas de concerto, estúdios de gravação, etc”, bem como a condução de “uma

política de preservação do património, abrangendo aspectos como a restauração dos

teatros históricos”; (b) o apoio das “orquestras europeias, por meio de subsídios

destinados a cobrir os custos de gestão e funcionamento de organismos de interesse

cultural” incentivando além disso “a cooperação entre agrupamentos musicais no

âmbito de projectos comuns: excursões e shows, festivais, introdução à música

contemporânea ou ópera, etc15” e o apoio a (c) “iniciativas criativas contemporâneas,

por exemplo, novas formas de teatro musical ou multimédia obras musicais, bem como

a produção de obras clássicas ou tradicionais. *…+ A Comissão também une forças com

o Conselho da Europa para espalhar a consciência da riqueza e da diversidade do

património musical: por exemplo, ajudando a financiar um projecto que faz parte da

campanha "Europa, um património comum" (1999-2000), relacionado com a música

tradicional europeia” (http://ec.europa.eu/culture/portal/activities/music/music

_creation _en.htm).

No que diz respeito aos “músicos profissionais” “a União dá “apoio aos profissionais

através de suas actividades fomentando a mobilidade dos artistas, redes e formação”.

No primeiro caso, e no âmbito do mercado interno os “profissionais da cultura

beneficiam das disposições comunitárias que regulam a liberdade dos trabalhadores de

circularem e de se estabelecer num estão membro. Em termos de relações comerciais

da UE com países terceiros, o Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS),

concluído sob a égide da Organização Mundial do Comércio, estabelece regras para o

comércio internacional de serviços. Em especial, permite aos prestadores de serviços,

incluindo os músicos, compreender as condições sob as quais eles podem ganhar

acesso aos mercados estrangeiros”. No segundo, a EU, “também ajuda a proporcionar

oportunidades de formação para artistas e outros operadores do sector musical. O

programa "Cultura 2000" inclui, assim, projectos de música orientada envolvendo

seminários de composição e formação específica para outros condutores. Por exemplo,

a União Europeia tem subsidiado o Centro Europeu de Ópera, que incentiva a formação

ea carreira de jovens artistas no campo da ópera de toda a Europa”. Por outro lado, a

União desempenha um outro tipo de papel “através das suas políticas de educação e

formação, por exemplo, dando apoio à rede temática de "arte erudita e educação

musical na Europa", financiado pelo programa SOCRATES. Além disso, o programa

Juventude apoia inúmeros projectos para jovens na área musical (bolsas, projectos

conjuntos, etc), enquanto alguns dos projectos destinados a jovens desempregados ou

desempregados de longa duração financiado pelo Fundo Social Europeu tem que fazer

com o sector musical” (http://ec.europa.eu/ culture/portal/activities/music/ music_

profes_en.htm).

15 Estes pressupostos têm como pano de fundo o programa “Cultura 2000”.

25

Por seu lado, numa Resolução de 20 de Novembro de 1980, publicada no Jornal Oficial

n.º C 327 de 15 de Dezembro de 1980, tendo em conta a possibilidade de designar o

ano de 1985 como “ano Europeu da Música” o Parlamento Europeu considera que “um

tal acontecimento deveria contribuir não só para reforçar o interesse do público pela

música mas também encorajar igualmente todos aqueles que estão directamente

preocupados pelos espectáculos e a produção musical e, em particular, pelo ensino da

música”. Por seu lado, a Assembleia parlamentar do Conselho da Europa segue esta

recomendação e através da Recomendação 917, de Março de 1981, apoia esta

Resolução “convencida que uma manifestação deste género deve incidir sobre as

actividades de desenvolvimento cultural do Conselho da Europa e permitir a

participação dos jovens16”.

No que se refere ao apoio às escolas de música, numa resposta a uma pergunta de um

deputado europeu em Outubro de 2000, acerca da legislação comunitária existente

em matéria de subvenção por parte da UE de todo o tipo de escolas de música e

conservatórios (estatais e privados) nos Estados-membros. Quais são os programas

comunitários em vigor que permitem o apoio financeiro destas escolas? “ Vivianne

Reding em nome da Comissão responde que “no âmbito do programa Sócrates, o

programa de acção comunitário no domínio da educação, estão previstas ajudas a

actividades transnacionais levadas a efeito por parcerias de instituições provenientes

de pelo menos três países participantes no programa. No atinente à secção Comenius,

referente ao ensino escolar, são elegíveis, geralmente, todos os estabelecimentos de

ensino reconhecidos enquanto tal pelo país participante. A lista detalhada das

instituições elegíveis consta do guia do candidato relativo a este programa. Sócrates

não prevê medidas reservadas exclusivamente ao ensino artístico. || O Programa

Cultura 2000, único instrumento de financiamento e programação para a cooperação

cultural da Comunidade, estabelecido pela Decisão no 508/2000/CE do Parlamento e

do Conselho, de 14 de Fevereiro de 2000(1), prevê enquanto objectivos,

designadamente, a promoção do diálogo cultural e o conhecimento da cultura e

história dos povos da Europa, bem como a promoção da criação e a divulgação

transnacional da cultura” (Jornal Oficial nº 174 E de 19 de Junho de 2001 pp. 0031 –

0032).

16 O Conselho de Ministros criou um grupo de trabalho em 1981, constituído por diferentes responsáveis do parlamento europeu, conselho da Europa e da Comissão europeia, que propõem um conjunto de temáticas a abordar durante este ano europeu: “a música e a identidade cultural da Europa”; “a música e as políticas culturais”; “a educação em música e o ensino musical”; “a investigação musical”; “a promoção dos músicos”; a promoção dos compositores”; “a edição e a economia”; “a difusão” (Relatório Final do grupo preparatório, 31 de Março de 1982). Sobre a questão dos compositores consultar Robert Gregoire Journal of New Music Research, 1744-5027, Volume 12, N.º 1, 1983, pp. 155 – 166.

26

5. O Parlamento Europeu

No estudo “The status of artists in europe” (aavv17,2006), encomendado pelo Comité

da Cultura e Educação do Parlamento Europeu considera-se que "o trabalho de

artistas contribui para uma parte considerável da força de trabalho na Europa. Ele

está situado no coração do “sector criativo", que serve tanto as organizações públicas e

privadas de artes e indústrias culturais. Se eles são autores ou intérpretes, os artistas

profissionais normalmente geram direitos de propriedade intelectual e os rendimentos

deste trabalho são insuficientes para o seu sustento, excepto numa minoria de casos.

Apesar do florescimento dos mercados da cultura e da indústria criativa, as suas

actividades são geralmente realizadas em condições muito mais precárias do que as

outras ocupações. Um emprego atípico (com base no projecto) e informal, e um

rendimento irregular e imprevisível, não remunerado nas fases de investigação e

desenvolvimento, um acelerado desgaste e altos níveis de mobilidade estão entre as

principais características não consideradas no âmbito jurídico existente, segurança

social e das estruturas fiscais”. Tendo em conta estas características, o estudo revela

que “diferentes Estados membros da UE já consideraram que esta situação exige uma

melhoria, a fim de tornar possível que estes cidadãos da Europa obtenham um nível

adequado de reconhecimento profissional e integração social".

Ao caracterizar a situação do artista no âmbito da União europeia, este estudo

identifica um conjunto de “atipicidades” que constituem o trabalho e as profissões e

actividades artísticas, quando comparadas com outro tipo de actividades. Atipicidades

estas que se manifestam em relação: (a) a determinados tipos de lógicas em que como

regra os projectos artísticos "não são lançados para sair do desemprego ou

simplesmente para ganhar dinheiro, mas, sobretudo, para expressar a força criativa de

uma personalidade”; (b) ao estatuto de trabalho (multi-actividade) em que a maioria

dos criadores alternam facilmente entre um estatuto de auto-emprego para outro de

trabalhador assalariado “ao do chefe da empresa ou funcionário público, e, ao mesmo

tempo ser capaz de combinar um ou outro status"; (c) à mobilidade transfronteiriça em

que os artistas, mais do que qualquer outro trabalhador “têm grande mobilidade quer

na Europa quer internacionalmente”; (d) às estruturas económicas onde existem “uma

miríade de pequenas empresas ou mesmo empresas unipessoais que competem ao

lado de grandes multinacionais, dominantes no mercado mainstream”; (e) à sua

influência nos ciclos económicos em que "o trabalho dos artistas atinge muito além da

esfera da cultura, no sentido estrito e influencia o centro de grandes sectores

industriais da economia, tais como moda e outros bens de consumo *…+, turismo,

electrónica, desenvolvimento de software", etc.”; (f) à avaliação dos resultados do

17 European Institute for Comparative Cultural Research (ERICarts); Suzanne Capiau, Andreas Johannes

Wiesand In cooperation with Danielle Cliche. Additional contributions by Vesna Čopič, Ritva Mitchell and a

network of experts in Europe.

27

trabalho onde sucesso artístico e o seu impacto “não pode ser medido do mesmo

modo como outras realizações do mercado”; (h) ao financiamento em que “a inovação

artística e qualidade no sector da cultura não podem depender exclusivamente dos

“retornos sobre o investimento”, mas precisa de formas específicas de intervenção

pública, bem como as contribuições privadas. As parcerias público-privado são cada vez

mais vistas como uma solução para este problema" (p. 5).

Os autores (as) do relatório apresentam três cenários para tentar encontrar soluções,

ou pelo menos equilíbrios, em relação a algumas destas situações. No primeiro

cenário, a criação de uma directa da União europeia, ou outras formas legislativas

acerca do estatuto do artista, com a introdução de procedimentos legais comuns aos

países da EU. No entanto, consideram este cenário difícil de alcançar tendo em conta

dois argumentos essenciais. O primeiro diz respeito às diferentes condições de

trabalho dos artistas, em que existem artistas relacionados com o audiovisual ou com

as artes performativas que geralmente trabalham em colaboração com outros e numa

localização fixa embora o seu trabalho seja caracterizado por níveis elevados de

mobilidade de com estatutos de emprego diferenciados; e, um outro tipo como

pintores, compositores e escritores que de um modo geral to seu trabalho é mais

solitário. Um segundo argumento, está relacionado com o facto de que o estatuto do

artista é um assunto transversal e percorre diferentes arenas legais e competências

institucionais diversificadas entre as quais o livre circulação de pessoas e

trabalhadores, a legislação relacionada com impostos e segurança social, o mercado

interno, e que, procurar um legislação comum é extremamente complexa, desafio

contudo que pode ser endereçado aos governos nacionais. No segundo cenário, uma

acção do parlamento europeu relacionado com o referido estatuto, e partindo da

recomendação da UNESCO de 1980 em que o parlamento pode convidar o Conselho, a

Comissão e o estado membros não só no reconhecimento da importância do papel dos

artistas e das suas afectividade criativas no contexto da integração europeia assim

como trabalhar aspectos relacionados com as condições em relação ao estatuto do

emprego, segurança social, impostos, assim como no estatuto socioeconómico dos

artistas e na produção e publicação da informação legal e trabalhos estatísticos no

sector cultural. Por último, o status quo, isto é manter uma situação em que o estatuto

socioeconómico dos artistas não melhorou devido a impedimentos legais, nos planos

europeu e nacionais e que as mudanças são agravadas pelos contextos de mobilidade

e as suas restrições. Para as autoras manter o status quo não é a solução (pp. 53-57).

6. Conselho da Europa

O Conselho da Europa é uma organização política do continente europeu, fundado em

1949, composto por 47 países, e que tem como principal objectivo a criação de “um

espaço democrático e jurídico comum em todo o território do continente, garantindo o

28

respeito pelos seus valores fundamentais: direitos humanos, a democracia e o Estado

de Direito”. Estes valores “são os alicerces de uma sociedade tolerante e civilizada

indispensável para a estabilidade europeia, o crescimento económico e a coesão social.

Na base destes valores fundamentais, tentamos encontrar soluções partilhadas para

problemas graves como o terrorismo, crime organizado e à corrupção, crimes

cibernéticos bioética e clonagem, violência contra mulheres e crianças e o tráfico de

seres humanos. A cooperação entre todos os Estados membros é a única maneira de

resolver os graves problemas da sociedade actual” (http://www.coe.int/aboutCoe/

index.asp?page=nosObjectifs&l=en).

Neste contexto, que a educação quer a cultura são considerados componentes

essenciais para o desenvolvimento da sua missão. No caso “da educação para Europa”

a perspectiva é a de que ajuda “a incorporar os princípios dos direitos humanos,

democracia, tolerância e respeito mútuo, a regra da lei e da resolução pacífica de

conflitos no quotidiano do ensino e da aprendizagem” (http://www.coe.int/T/E/

Cultural_Co-operation/education). No caso da cultura, a sua directoria “tem dois

objectivos complementares: servir o mandato Conselho da Europa no que se refere aos

sectores de cultura, o património cultural e o património natural e promover o poder

da cultura e do património, como uma força para o desenvolvimento da democracia

nas sociedades europeias” (http://www.coe.int/t/dg4/cultureheritage/ About/

mission_en.asp).

Paralelamente, a estas áreas de intervenção, esta organização procura construir

conhecimento em torno da educação, cultura e do diálogo intercultural. Do ponto de

vista da educação artística e artístico-musical este Conselho tem apoiado um conjunto

de iniciativas dentro deste âmbito. Partindo do relatório da World Comission on

Culture and Development” (Our Creative Diversity, UNESCO, 1996) “ o Comité da

Cultura iniciou um projecto iniciado “Culture, Creativity and the Young”. De acordo

com Wimmer (2009), O Conselho Europeu “depois de uma análise reconheceu por um

lado, a importância da educação artística para a valorização geral do indivíduo e a sua

contribuição para a preparação dos jovens para enfrentar os desafios do

desenvolvimento da sociedade, e, por outro, o lugar secundário das artes no interior e

exterior dos processos formativos no interior dos Estados membros, desenvolveu um

conjunto de múltiplas actividades. A intenção era encontrar novos argumentos para a

necessidade de mais investigação e de acção no domínio da educação artística” (pp.

52-53).

Das suas recomendações este relatório salienta-se que (a) os Estados-Membros devem

desenvolver de serviços culturais centrais para os jovens de modo a prepará-los para

participar plenamente nas artes e no mundo cultural; (b) o lugar das artes e da cultura

deve ser estudado e reconhecido como um contributo para o desenvolvimento social

dos indivíduos; (c) às artes no currículo deve ser dado maior apoio por parte das

29

autoridades da escola; (e) artistas e especialistas em artes devem ser ter um maior

envolvimento no planeamento da educação formal e informal e (f) indicadores

culturais existentes deveriam ser aperfeiçoados para incluir um foco mais específico

sobre os efeitos a longo prazo que a participação e estudo das artes têm sobre os

jovens (Conselho da Europa, 1999, pp. 65-66).

Um outro projecto desenvolvido está relacionado com o programa intitulado

“Compendium - Cultural Policies and Trens in Europe”. Este projecto compreende o

perfis dos países membros com “mais de 80 questões de política cultural organizado

em capítulos sobre a evolução histórica, os processos de decisão, os principais

objectivos, as questões políticas actuais, os enquadramentos legais, as instituições

culturais e parcerias, o financiamento disposições, apoio à criatividade e à

participação”. Este Compendium, é composto por um conjunto de temáticas

transversais (diversidade cultura, diálogo intercultural, o estatuto do artista18,

cooperação cultural internacional, mobilidade e políticas culturais, ética e direitos

humanos nos contextos culturais). Estes temas “foram identificadas como assuntos

prioritários para o Conselho da Europa, para os especialistas de outras organizações

internacionais e dos países participantes no Compêndio, bem como para a comunidade

investigativa” (http://www.culturalpolicies.net/web/themes.php).

Um outro tipo de actuação está relacionado com a elaboração de recomendações para

os Estados Membros19. No domínio específico das artes e em particular da música

algumas recomendações merecem especial destaque: a recomendação n.º 929 de

1981; a recomendação “Da educação musical para todos” e a recomendação n.º 1001

de 1985, “Ano Europeu da Música”, e a recomendação n.º 1073 de 1988 “sobre

seguimento (follow-up) do Ano Europeu da Música”.

No primeiro caso, parte-se do princípio que “a música, em todas as suas formas, é um

meio importante de expressão humana e também uma componente da herança

cultural da Europa” e que se deseja “encorajar o desenvolvimento contínuo desse

património através de ajudas à criatividade da música contemporânea, mas também

18 No que se refere aos artistas escreve-se que “além dos sistemas de apoio público directo para as artes e artistas, existe alguma legislação em muitos países europeus, que tem em conta algumas das necessidades sociais e/ou económicas dos trabalhadores criativos resultantes do seu estatuto de trabalho muitas vezes precário”. São poucos “os "modelos integrados" que facilitem a cooperação entre as políticas culturais (incluindo as medidas directas e indirectas) e outras áreas de decisão política (por exemplo, economia, assuntos sociais, saúde ou emprego). A re-orientação ou re-focalização das políticas públicas existentes para os artistas e o seu ambiente de trabalho de uma forma mais integrada continua a ser uma tarefa desafiadora”. 19 Para além de um tipo de actuação de carácter mais político o Conselho da Europa promove um conjunto de trabalhos sobre os temas mais variados no âmbito da educação e da cultura, que sob o ponto de vista da governança da cultura, das políticas culturais locais e regionais, da educação e formação, da gestão cultural, da construção das políticas culturais do trabalho e emprego cultural (cf. http://www.coe.int/t/dg4/ cultureheritage/culture/Resources/PublicationsCulture_en.asp#P317_7841). Sob o ponto de vista educacional o departamento de educação do Conselho a Europa coloca especial ênfase em temáticas relacionadas com a cidadania europeia, e diversidade sociocultural e o diálogo intercultural (cf.http://book.coe.int/FR/catalogue.php? PAGEID=48&lang=FR&theme_catalogue=100045).

30

preocupado (concerned) de que cada indivíduo deve estar habilitado para desenvolver

uma apreciação crítica de música e, sempre que possível, a capacidade de auto-

expressão musical através do cantar ou tocar um instrumento ou na sua

interpretação”. Convencidos “de que a educação musical, para além da oferta de

formação especial para as crianças especialmente dotadas, deve ser reconhecido como

fazendo parte permanente do ensino geral em todos os países” salienta-se “a

importância da educação musical e da disciplina de formação musical para o

desenvolvimento global da personalidade do indivíduo e do seu comportamento

cultural”. Por outro lado, chama-se a atenção para “os resultados de investigações”

que “têm mostrado que a educação musical pode fazer uma contribuir directamente

para o desempenho em outras disciplinas ensinadas na escola” e para “a omnipresença

da música na sociedade moderna, em especial através da media, e sublinhando a

necessidade dos jovens serem capazes de distinguir (discriminate) dentro deste

bombardeio acústico constante” e valoriza-se “as oportunidades oferecidas pela actual

disponibilidade de música em todas as formas, bem como o crescente interesse

demonstrado por jovens e adultos pela música nos últimos duas décadas, muitos dos

quais estão à procura de formação em canto ou tocar um instrumento” , assim como

“o reconhecimento da importância da educação musical como parte da política do

governo, apresentado pelos ministros europeus responsáveis pelos Assuntos Culturais”

(http://assembly.coe.int/Mainf.asp?link=/Documents/AdoptedText/ta81/EREC929.ht

m#1).

Neste contexto, lamenta-se “a baixa prioridade dada à educação musical em vários

países membros” e chama-se à “atenção para o volume de negócios na indústria da

música”, esperando “que alguns desses lucros possam ser redistribuídos no apoio à

formação de músicos e para incrementar a apreciação musical do público” e acredita-

se que “o número de escolas de música dos países membros é insuficiente para atender

a necessidade de formação vocal e instrumental especializado a par da educação

primária e secundária” e também se lamenta “a falta de professores do ensino geral e

especializado *…+ como resultado da inadequada formação de professores, utilização

de técnicas obsoletas e a falta de incentivos para os potenciais professores de música,

tendo em conta as suas perspectivas de emprego”. Assim recomenda-se (a) que a

educação musical seja uma realidade desde o pré-escolar até ao final do ensino

secundário; (b) que haja um interligação entre o ensino geral e o ensino especializado;

(c) que se fomente a educação de adultos através de diferentes tipos de cursos; (d)

que se dê atenção à formação de professores e ao seu estatuto; (e) que haja um

acordo em relação ao reconhecimento e equivalência de graus e de diplomas; (f) que

haja uma maior utilização dos meio de comunicação social para este tipo de formação;

(g) que se incentive a criação adequada de música contemporânea para utilização na

aprendizagem da música; (h) que se apoie o espectáculos amadores em especial

orquestras de jovens, estudantes de escolas de música, coros, bem como a

participação de grupos profissionais no interior das escolas; (i) que se incentive e

31

dissemine as boas práticas em termos das inovações e de projectos-piloto; (j) que

parte dos lucros das indústrias culturais, em particular da música, possa ser distribuído

pelo ensino.

No que se refere ao “Ano Europeu da Música” a recomendação argumenta “que a

música, em todas as suas formas, faz parte do património artístico da Europa, sendo

também uma forma de superar as barreiras linguísticas e políticas e um elemento

importante nos valores fundamentais da pessoa humana” e que “observando os

problemas que envolvem a música, em especial, a comercialização da música e as

dificuldades cada vez mais graves relacionados com direitos de autor” espera-se que o

Ano Europeu da Música seja “uma oportunidade para a cooperação europeia sobre

estes problemas”. Assim tendo em consideração os principais objectivos adoptados

para este ano: “(a) promover a música em geral, de todos os tipos e períodos; (b)

ampliar o acesso do público e participação activa na vida musical, em especial pelos

jovens e as minorias; (c) oferecer melhores oportunidades e condições sociais para

jovens compositores e intérpretes; (d) reforçar o ensino da música e da formação e (e)

salvaguardar, valorizar e enriquecer o património musical comum”, recomenda-se ao

Comité dos Ministros que (a) “adoptem os principais objectivos do Ano Europeu da

Música como directrizes para a continuidade de acção, tanto nos Estados membros

como no Conselho da Europa e a Comunidade Europeia” e (b) “preparem a elaboração

de novas recomendações, à luz do Ano Europeu da Música, para a acção dos governos

e dos Estados membros” (http://assembly.coe.int/Mainf.asp?link=/Documents

/AdoptedText/ ta85/EREC1001.htm).

Na recomendação n.º 1073 de 1988,“Sobre seguimento (follow-up) do Ano Europeu da

Música”, realizado em 1985, este Conselho, “recordando as suas várias recomendações

e propostas relativas à música e, em particular a Recomendação 1001 (1985) sobre o

Ano Europeu da Música, e da Resolução do Parlamento Europeu e do Comité

Organizador, de 16 de Abril de 1986, no follow-up do Ano”, recomenda “que o Comité

dos Ministros incentivem uma real cooperação europeia no domínio da música através

da criação de um comité director para a música com a missão de prosseguir a nível

intergovernamental e não governamental, os objectivos do Ano Europeu da Música, a

saber: (a) ampliar o acesso do público e participação activa na vida musical, em

especial pelos jovens e as minorias; (b) oferecer melhores oportunidades e condições

sociais para jovens compositores e intérpretes; (c) reforçar o ensino da música e da

formação e (e) salvaguardar, valorizar e enriquecer o património musical comum”

(http://assembly.coe.int/Mainf.asp?link=/Documents/AdoptedText/ta88/EREC1073.

htm).

Por outro lado, no estudo realizado por Ken Robinson para o Conselho da Europa

(1997) este autor refere que “os padrões de directrizes para as artes existentes nas

escolas variam consideravelmente entre os estados membros. Alguns países têm

32

prescrições rigorosas em relação a conteúdos e critérios de avaliação que devem ser

seguidos por escolas e professores em todas as disciplinas. Noutros países, e dentro dos

enquadramentos nacionais, as escolas e os professores têm liberdade para

desenvolverem os seus conteúdos curriculares e métodos de ensino. Em alguns países

as artes têm um perfil positivo nas declarações de política nacional e as escolas são

fortemente encorajadas a desenvolvê-las, tanto no âmbito como à margem do

currículo formal. Tal não se verifica na maioria dos países” (p. 11).

No relatório Culture, Creativity and the Young Project do Conselho da Europa escreve-

se: “nestes países, o estudo das provisões para a educação artística mostra também,

em muitos casos, uma inconsistência entre declarações políticas nacionais, que

enfatizam fortemente a importância da dimensão cultural da educação e do

encorajamento do desenvolvimento artístico e estético nos jovens, e a prática

existente, onde o estatuto de uma provisão para a educação artística parece ser menos

proeminente. Alem disso, a ênfase na educação académica e técnica relega com

frequência as artes para a periferia curricular, encorajando polaridades entre as artes e

as ciências. Em muitos países, tais factos são reforçados pela existência de diferentes

ministérios para a educação e para a cultura, o que frequentemente conduz ao

desenvolvimento de responsabilidades independentes”.

Também num relatório do Conselho da Europa (Robinson, 1996) se refere que os

sistemas educativos dos países europeus se encontram perante desafios políticos,

educativos, tecnológicos e culturais complexos e sem procedentes, procurando,

através da iniciativa realizada, “incluir a cultura, a criatividade e as artes na educação”.

Esta inclusão repousa sobre dois postulados. O primeiro é “que as artes não devem ser

o único domínio de ensino e aprendizagem de valores e conhecimentos culturais, nem o

único sector onde se encoraja a criatividade. Todas as matérias escolares têm um papel

a desempenhar tanto na sensibilização dos jovens para os valores e tradições culturais

nacionais como para ajudar a melhorar a compreensão das outras culturas e as suas

relações com a cultura nacional”. O segundo “é que as artes contribuem efectivamente

de forma significativa, singular, e até mesmo única nos processos criativos” e, nesta

medida, um conjunto de países europeus reconhece, no quadro das suas políticas

educativas nacionais “que a expressão e o conhecimento artístico têm um papel

particular na educação afectiva dos jovens”. Questionando as tradicionais dicotomias

entre a razão e o sentimento e as consequentes “fraccionamentos dos programas

escolares”, argumenta-se que, visando as políticas educativas dos diferentes países

objectivos diferentes em sectores diversos, as artes “tocam à vez todos esses sectores

– em proporções variáveis” (pp. 18-19).

Neste relatório do Conselho da Europa (Robinson, 1996), refere-se que os objectivos

da educação artística compreendem o desenvolvimento (a) intelectual; (b) afectivo; (c)

cultural; (d) moral; (e) estético e (f) criativo. No primeiro caso “o domínio artístico é um

33

dos melhores vectores das nossas experiências multiformes e das inúmeras facetas da

nossa inteligência. Músicos, dançarinos, especialistas em artes visuais têm cada um o

seu modo de expressão – sonoro, gestual ou visual. Um dos principais papéis da

educação artística é o de permitir que cada um possa desenvolver ao máximo as suas

capacidades intelectuais”. No que se refere ao desenvolvimento afectivo, “as

disciplinas artísticas devem particularmente: conceder um estatuto e um papel

positivos aos sentimentos e valores pessoais; permitir uma tomada de consciência

imediata dos valores e das emoções; contribuir para a expressão dos sentimentos”. No

desenvolvimento cultural, e atendendo a que a cultura é constituída por valores,

crenças, códigos e regras que regem as relações com o outro e que poderão ser

diferentes consoante os contextos e as épocas, “as artes são justamente um dos

domínios de predilecção desses valores culturais e contribuem para o seu reforço ao

partilhá-los”. Na dimensão moral, “as artes estão sempre ligadas à noção de valor –

este considerado numa dupla acepção: valor social e moral, por um lado, e valor

estético e artístico, por outro”, podendo ser “um instrumento positivo e imediato para

colocar a questão da moral e analisar os seus laços com a cultura”. No

desenvolvimento estético, e entendendo sentimento estético como a capacidade de

apreciar as qualidades formais dos objectos e dos acontecimentos, “a educação

artística consiste justamente no apuramento do sentimento estético nos jovens, na sua

sensibilização para o prazer e para a mensagem da arte e – assim – para o

desenvolvimento simultâneo do seu sentido artístico e crítico”. Sob o ponto de vista

criativo, e atendendo às diferentes transformações das sociedades contemporâneas,

“o mundo do trabalho exige de todos os que entram na vida activa um sentido de

inovação e de iniciativa, a capacidade de resolver problemas e explorar todas as

possibilidades – dito de outra forma, qualidades que permitam garantir a saúde

económica da empresa e do país”. Daí a necessidade da educação em todos os seus

domínios, incentivar a reflexão e a acção criadora que se constituem como essenciais

no domínio artístico. No desenvolvimento físico e perceptivo argumenta-se que a

educação artística desenvolve um conjunto alargado de atitudes, quer no plano das

técnicas, quer no plano da percepção, observação, de concepção e de apreciação, bem

como de atitudes sociais. Por último, no que se refere ao desenvolvimento pessoal e

social, “as artes permitem igualmente ao aluno aprofundar o conhecimento dos seus

dons pessoais – ou simplesmente descobri-los” (Robinson, 1996: 18-21).

Também um outro relatório do Conselho da Europa (Interarts, 1999) refere que a

“cultura e as artes impregnam a educação europeia: são um elemento integrado nos

planos de estudo das escolas primárias e secundárias, ainda que nem sempre recebam

a consideração que merecem. Têm as suas próprias instituições de aprendizagem

profissional na primária e no ensino secundário. No ensino superior, as escolas de

belas-artes detêm um papel importante na educação de segundo ciclo e nos

departamentos de humanidades de universidades ‘orientadas para a ciência’.

34

Simultaneamente, muitas organizações desenvolvem trabalhos educativos dentro das

suas estratégias globais” (p. 44).

7. European League of Institutes of the Arts -ELIA

A Liga Europeia de Institutos das Artes (ELIA), fundada em 1990, “é uma organização

independente que representa cerca de 350 instituições superiores de educação artística

em mais de 45 países e foi fundada em 1990”. A ELIA “representa todas as disciplinas

de artes, incluindo a arquitectura, dança, design, artes plásticas, artes multimédia,

música e teatro” representando, através dos seus membros, “um organismo único de

conhecimento em que se facilita o diálogo, mobilidade e as actividades entre artistas,

professores, administradores, gestores, decisores e mais de 250 mil estudantes”. A ELIA

procura: (a) “reforçar a posição e influência das artes e de do ensino superior das artes

a nível regional, nacional, europeu e internacional”; (b) “promover os valores do ensino

superior das artes no âmbito da sociedade europeia do conhecimento e da

criatividade”; (c) “promover a função da arte como um aspecto central que contribui

para a estratégia de desenvolvimento e de regeneração cultural e económica”; (d)

“defesa e promoção da diversidade das culturas e para promover a comunicação entre

culturas europeias e não europeias vistas como parceiras numa sociedade cultural

mundial”; (e) “apoiar a criação e a manutenção de condições sociais e políticas

adequadas para o livre desenvolvimento da educação nas artes e as necessidades

específicas de educação artística e da produção artística”. As suas actividades

principais incluem: (a) “advocacia internacional” (international advocacy),

representação e promoção do ensino superior das artes”; (b)

“criação de plataformas de discussão e intercâmbio através da organização de

conferências bienais; simpósios centrados em determinada especialidade, seminários e

oficinas, serviços especializados e partilha de boas práticas”; (c) “iniciar uma série de

pesquisas e desenvolvimento de projectos relativos à formação no espaço europeu de

ensino superior em artes”; (d) “prestar serviços on-line, incluindo um site com a

distribuição de actividades da ELIA e uma newsletter” e (e) “criação e publicação de

revistas especializadas” (http://www.elia-artschools.org).

A ELIA organiza eventos em várias cidades do mundo e considera-se como “um "think

tank" internacional para as artes, cultura, educação artística e as suas conexões com a

política de desenvolvimento” e como “um centro de excelência e conhecimento,

promovendo a inovação, criatividade e desenvolvimento do uso das novas tecnologias

nas artes” (Idem). As actividades da organização são financiadas pela Comissão

Europeia.

No seu “Manifesto”, aprovado em 2000, e na sua dimensão política, a ELIA defende (a)

o “valor das artes” argumentado que “as artes criativas contribuem para a experiência

35

da vida em paridade com a ciência e a filosofia. As artes têm a capacidade de

persuadir, subverter, celebrar e confrontar; desafiar o status quo; actuar como agentes

culturais poderosas; ajudar as pessoas a aprenderem a apreciar as diferenças e

construir sistemas de valores coerentes. As artes constituem uma rede distinta de

conhecimento, com sua própria linguagem e procedimentos, o que nos permite

descrever, compreender e participar em formas diferentes de experienciação”; (b) as

artes na educação e a importância da aprendizagem através das artes defendendo que

as artes na educação, “através de seus processos e produtos, inicia os estudantes numa

forma única de experiência, o que melhora a qualidade e o sentido de suas vidas *…+

ajudando-os a alargar a sua imaginação, criatividade e competências perceptivas” e

que a “individualidade, imaginação e inovação devem ser incentivadas e desenvolvidas

no âmbito da experiência do estudante”. Deste modo preconizam uma maior

flexibilidade dos sistemas educativos e académicos transformando-os numa “rede

fluida de recursos transnacionais e transdisciplinares, capaz de integrar as artes,

humanidades, tecnologia e ciências”; (c) “o ensino superior artístico em

desenvolvimento” em que se considera que este tipo de ensino “é parte integrante do

desenvolvimento artístico” e que “sem oportunidade de experienciar as artes, sem

investigação e desenvolvimento que aumente a criatividade, sem formação inovadora,

as artes tornam-se menos dinâmicas. O futuro das artes é dependente da criatividade,

conhecimento, habilidades e motivação das pessoas que experimentam, ensinar e

praticar”. Neste contexto “as instituições de educação artística deve ser laboratórios e

não museus” devem estar integradas “na vida das cidades e desenvolver um diálogo

permanente com os seus cidadãos” tendo “não só um carácter educativo, mas também

uma responsabilidade cívica para enfrentar os desafios enfrentados pela humanidade”.

Assim, estes “laboratórios devem iniciar novos desenvolvimentos através de novas

tecnologias tendo em vista um processo de transformação das formas de arte e novas

formas de ensino e aprendizagem”. Por outro lado, considerando que as “instituições

de educação artística são profundamente afectados pela desenvolvimentos técnicos e

políticos” elas “não se deveriam procurar afastar-se de toda essa complexidade, nem

devem sentir-se compelidas a procurar um estatuto próprio” ( http://www.elia-

artschools.org/ELIA/Manifesto).

Dos diferentes documentos estratégicos produzidos salientam-se “A importância e a

contribuição da pesquisa artística para “os novos sabres” numa Europa criativa” (Maio

de 2008) em que se defende que “as escolas artísticas desenvolvem as suas próprias

prioridades, métodos e abordagens de investigação, que correspondem às

necessidades e características específicas de diferentes disciplinas e contextos

institucionais e nacionais. Embora o ritmo da mudança e níveis de “expertise” varie

entre os países, a maioria das instituições de ensino superior de arte na Europa, estão

plenamente consciente da importância da pesquisa em arte.No entanto, continua a

haver uma falta de coerência e lacunas na abordagem e na compreensão comum de

que o sector de modo a implementar uma estratégia para uma cultura europeia de

36

investigação centrada nas artes”. A ELIA esclarece que o seu papel não é de “articular

ou desenvolver uma posição definitiva em nome dos seus membros sobre a definição

de investigação artística. A sua principal função é estimular o discurso interdisciplinar e

interinstitucional, com o objectivo de criar uma argumentação convincente, irrefutável

e colectiva de todas as partes envolvidas na defesa dos valores essenciais e da

importância da investigação artística como uma contribuição significativa e específica

de desenvolvimento de novos conhecimentos”. Este documento propõe uma estratégia

para melhorar a visibilidade da pesquisa artística que passa por um conjunto de

iniciativas de que se destacam a criação de doutoramentos em artes, uma a criação de

uma dinâmica internacional de colaboração em matéria relaciona com a pesquisa no

domínio artístico e com outras áreas disciplinares recrutamento de massa crítica de

estudantes para o 3.º ciclo de formação e de professores investigadores, e colaboração

com as instituições parceiras para a criação de pólos de pesquisa e de consórcios

internacionais” (http://www.elia-artschools.org/images/products/13/research_paper

_08.pdf).

No Manifesto da (ELIA), intitulado “Manifesto for Arts Education in Europe”

(http://www.elia-artschools.org/elia/manifesto_eng.htm), apresentado em 2000 com

o objectivo de reavaliar a educação artística e as artes após a declaração de Bolonha

de 1999 pode ler-se em relação às artes na educação que “a importância da

aprendizagem pelas artes na educação, através dos seus processos e produtos,

introduz os indivíduos numa experiência única, que melhora a qualidade e o significado

das suas vidas, agindo como fonte de inspiração e celebrando a riqueza do espírito

humano. Aprender através das artes pode desempenhar um papel fundamental no

desenvolvimento pessoal dos indivíduos, ajudando-os a aumentar a imaginação, a

criatividade e as capacidades cognitivas. A educação pelas artes é um processo de

aprendizagem que desperta a consciência e a curiosidade em relação às demais

culturas, componentes estes muitíssimo necessários na educação contemporânea. A

individualidade, a imaginação e inovação devem ser encorajadas e desenvolvidas no

âmbito da experiência estudantil. Os sistemas académicos precisam ser mais flexíveis –

uma rede fluida de recursos transnacionais e transdisciplinares, capaz de integrar

artes, humanidades, tecnologia e ciências”.

8. Conselho Internacional da Música

O Conselho Internacional da Música (International Music Council – IMC) é uma

organização não governamental fundado em 1949 pela Unesco, como órgão consultivo

desta organização, e caracteriza-se por ser “a maior rede mundial de organizações,

instituições e indivíduos que trabalham no campo da música20” procurando promover

20 O ICM inclui comissões música nacionais em 70 países em todos os continentes e cerca de 40 membros internacionais e membros associados que representam todas as áreas musicais. De acordo com a informação

37

“a diversidade musical, o acesso à cultura para todos e une as organizações em cerca

de 150 países a nível mundial na construção da paz e da compreensão entre os povos

de todas as culturas e do património”. A sua missão “é fornecer um valor excepcional

aos seus membros através da construção de conhecimento, criando redes de

oportunidades, apoiando e reforçando a visibilidade das iniciativas que contribuam

para uma participação sustenta das pessoas e comunidades na música e na vida

cultural. Assim, ele monitoriza a disponibilidade de acesso à música para todos

apoiando os esforços que garantam esse direito *…+ bem como o direito de exercer

advocacia quando e onde necessário. O ‘core business’ do IMC é para defender as

políticas e práticas adequadas destinadas a reforçar o trabalho de seus membros”.

Deste modo procura prosseguir os seguintes objectivos: (a) “contribuir para o

desenvolvimento e a consolidação de relações amistosas de cooperação entre as

culturas musicais do mundo baseado na igualdade, respeito e reconhecimento mútuo”;

(b) “reforçar a criação, educação, tradições, divulgação, pesquisa e documentação no

campo da música e do estudo do estatuto dos músicos”; (c) “desenvolver uma ampla

rede de competências entre compositores, intérpretes, professores e investigadores,

editores de livros, partituras e gravações, e bibliotecas, centros de media sobre todos

os tipos de música, popular, tradicional, clássica, jazz e contemporânea21”

(http://www.imc-cim.org).

Um dos campos de intervenção do IMC, para além da realização do “Fórum Mundial da

Música” compreende a “advocay” que envolve a: (a) “ratificação pelos países membros

da UNESCO das convenções da UNESCO para a Protecção e a Promoção da Diversidade

das Expressões Culturais, e para a Salvaguarda do Património Cultural Intangível, e a

implementação das recomendações, *…+ para a valorização da diversidade cultural

dentro das fronteiras nacionais, o apoio à cultura nos países em desenvolvimento e

resgate de espécies das músicas tradicionais ameaçadas *…+”; (b) “promoção, no

âmbito dos ministérios da educação nacional e da Cultura, do Roteiro para a Educação

Artística, formulado na conferência da UNESCO em Lisboa em 2006. Os colaboradores

incluem a International Society for Music Education. A promoção terá lugar,

divulgada no sítio da internet “ao longo dos últimos sessenta anos, o IMC desenvolveu-se como uma organização mundial especializada, um espaço de intercâmbio e reflexão e um observatório no domínio da música. Mandatado para promover todos os tipos de música, o IMC é uma organização habilitada a falar com governos, instituições e regiões. Ele funciona através de e para os seus membros a nível internacional de apoio ao desenvolvimento e à promoção da música diversificada e o papel dos músicos, no contexto do desenvolvimento social, cultural e económico. No curso de sua existência, o IMC tornou-se uma rede altamente influente. Isso se deve em grande parte à sua extensão geográfica e à variedade de competências de seus membros. Através de seus membros, o IMC tem acesso directo a mais de 1000 organizações em todo o mundo, criando uma rede de conhecimento e experiência que toca em todos os aspectos da música. Além de trabalhar com os seus membros e os parceiros internacionais em projectos locais, regionais e internacionais, IMC e os seus membros participam de uma série de projectos e iniciativas da UNESCO nos domínios da educação, cultura e juventude” (Idem). Sobre o Conselho Europeu da Música consultar http://www.emc-imc.org/about-emc/). 21 Os países e as organizações epopeias que fazem parte do IMC encontram-se disponíveis no sítio do Conselho na Internet.

38

principalmente por meio de conselhos nacionais de música e membros de organizações

educacionais”; (c) “defesa do direito à liberdade de expressão na música, o primeiro

dos cinco direitos musicais22 na base das actividades do IMC *…+” e (d) “promoção da

"Música Justa" [Fair Music], em apoio de uma iniciativa do Centro de Informação da

Música da Áustria. Feira da Música que, entre outras coisas, procurar uma distribuição

mais justa dos rendimentos de royalties entre artistas e aqueles que usaram seus

direitos autorais” (Idem).

9. Federação Internacional dos músicos

A Federação Internacional de Músicos (FIM), fundada em 1948, é um tipo de

organização que representa os sindicatos e associações de músicos de várias partes do

mundo. De acordo com a organização, até o momento, “tem cerca de 65 membros em

57 países”e criou “três grupos regionais da África (CAF, o Comité Africano da FIM), a

América Latina (GLM, o Grupo Latino-americano de Músicos) e Europa (do grupo

europeu da FIM)”. Esta Federação “visa salvaguardar e desenvolver os interesses de

ordem económica, social e artístico dos músicos representados pelas suas associações

membros” e tem como principais objectivos, entre outros, (a) “incentivar em todos os

países a organização profissional dos músicos”; (b) “agrupar no seu seio as

organizações de músicos a nível mundial, estimulando e fortalecendo a cooperação

internacional”; (c) “tomar todas as medidas adequadas a fim de elevar as disposições

legais (ou outro), nacional e internacional para a protecção dos músicos”; (d)

“incentivar todos os esforços para assegurar que a boa música vai se tornar um

património comum de todos os povos” e (e) “trabalhar em estreita colaboração com a

World Intellectual Property Organization (WIPO), Organização Internacional do

Trabalho (OIT) e da UNESCO” (http://www.fim-musicians.com/p02.html).

Esta Federação, “como uma organização não-governamental” mantém relações de

contacto “com as principais organizações intergovernamentais como a UNESCO, a OIT,

a OMPI” sendo “reconhecido e consultado pelo Conselho da Europa, a Comissão

Europeia e o Parlamento Europeu” e tem “a oportunidade de participar nas

negociações internacionais sobre a protecção dos artistas e expressar a posição dos

músicos”. É membro do Conselho Internacional da Música (IMC) e “também colabora

com todas as organizações nacionais e internacionais que representam os

trabalhadores dos media” com “a Federação Internacional de Actores (FIA) e a

Federação UNI dos Media e Entretenimento (UNI-MEI)” e “criou a Aliança Internacional

22 Estes direitos musicais compreendem: (a) ”o direito ou a todas as crianças e adultos” a (1) “expressarem-se musicalmente com toda a liberdade”; (2) “aprenderem linguagens e competências musicais”; (3) “terem acesso ao envolvimento musical através da participação, de audição, de criação e informação” e (b) “o direito de todos os artistas musicais” (4) “desenvolverem a sua arte e comunicarem através de todos os media, com instalações adequadas ao seu dispor” e (5) “obterem o justo reconhecimento e remuneração pelo seu trabalho” (Idem).

39

para as Artes e Entretenimento (AIEA)” sendo também “membro do Conselho de

Federações sectoriais mundiais (UGC)” (Idem).

10. Associação Europeia de Festivais

A Associação Europeia de Festivais de Música é (European Festivals Association – EFA)

tornou-se “ao longo de mais de 50 anos” numa “rede dinâmica que representa mais de

100 festivais de música, dança, teatro e festivais multidisciplinares, associações de

festivais nacionais e organizações culturais de cerca de 40 países (principalmente

europeus)” . O principal objectivo desta organização é apoiar e promover festivais “ e

o seu papel importante na cooperação cultural internacional nas sociedades

contemporâneas”. A EFA visa essencialmente (a) “coordenar os esforços dos seus

membros”; (b) “facilitar a cooperação e a co-produção”; (c) “definir políticas comuns”;

(d) “promover tendências multidisciplinares”; (e) “sublinhar o estado da arte na

sociedade” e (f) “actuar predominantemente no debate político mais amplo”

(http://www.efa-aef.eu/en/association/). Fundada em Genebra em 1952 através da

iniciativa do maestro Igor Markewitch e do filósofo Denis de Rougemont, los

fundadores “estavam profundamente envolvidos na qualidade e responsabilidade

social dos festivais”. Esta organização afirma-se como um organização profissional, não

governamental, sem fins lucrativos e apolítica, considerando-se como “a maior

organização profissional de festivais europeus no âmbito das artes performativas e

interdisciplinares”, englobando “mais de 100 membros individuais e associações e

redes nacionais de festivais” (Idem).

11. International Society for Contemporary Music (ISCM)

A Sociedade internacional para a música contemporânea (ISCM) é uma rede

internacional que engloba “membros de cerca de 50 países, dedicado à promoção e

apresentação de música contemporânea”. Fundada em Salzburgo em 1922 desde a sua

fundação que a ISCM se caracteriza pela “receptividade” em relação à “diversidade

estética e estilística” existente na criação contemporânea. Para além do “World Music

Days Festival” que serve também para que os seus membros realizem o congressos de

discussão de assuntos relacionados com a “música contemporânea”, a ISCM,

desenvolve vários tipos de actividades desde a atribuição de prémios a compositores

até a programas de “residência de compositores” (http://www.iscm.org).

40

12. International Network for Contemporary Performing Arts (IETM)

A rede internacional das artes do espectáculo (IETM) é uma organização internacional

sem fins lucrativo sob a jurisdição belga “que existe para estimular a qualidade,

desenvolvimento e contextos contemporâneos das artes do espectáculo n um ambiente

global, através da iniciação e da facilitação de redes profissionais e de comunicação, a

troca dinâmica de informações, transferência de saber fazer (know-how) e

apresentações de exemplos de boas práticas”. Os seus objectivos são (a) antecipar

“novas tendências artísticas e as evoluções no ambiente das artes contemporâneas na

Europa e no mundo”; (b) conectar “diversas organizações que partilham interesses

comuns numa rede intersectorial”; (c) catalisar “parcerias internacionais, intercâmbios,

colaborações e transferência de conhecimento” (d) reforçar “o sector de artes cénicas

contemporâneas, fornecendo novos argumentos para as artes e apoiando os

profissionais através de experiências de aprendizagem informal” (e) influenciar

“políticas públicas através da participação activa nos debates sobre políticas culturais,

política para e com a “advocacy” directa”; (f) federar “os diferentes intervenientes do

sector através da natureza neutra e internacional da IETM” (http://www.ietm.org).

13. Associação Europeia dos Conservatórios, Academias de Música e

Musickhochschulen

A Associação Europeia dos Conservatórios, Academias de Música e Musickhochschulen

(AEC) é uma rede educativa e cultural europeia fundada em 1953 e “representa os

interesses das instituições cujo objectivo é a formação para o exercício da profissão de

músico”. Esta rede, que inclui 273 instituições representando 55 países, tem como

objectivos: (a) “estimular e apoiar a colaboração internacional entre as instituições que

a compõem”; (b) “realizar projectos internacionais variados acerca de assunto

relevantes relacionados com a formação de músicos profissionais”; (c) “organizar um

congresso anual e seminários específicos para os seus membros”; (e) “representar os

interesses do sector da formação profissional de músicos a nível nacional, europeu e

internacional”. A AEC apresenta-se como uma rede “pró-activa no sentido de manter e

criar uma ampla rede de relações com as instituições europeias (Parlamento Europeu,

Comissão Europeia e do Conselho de Ministros), os governos nacionais e as instituições

e redes no campo da música e da educação a nível nacional, europeu e níveis

internacionais. A fim de fazer ouvir a voz do sector, também publica um conjunto de

documentos de política e recomendações, numa base regula, relacionadas com as

questões europeias” (www.aecinfo.org).

No que se refere à realização de projectos “a AEC tem uma política pró-activa no

sentido de iniciar e realizar projectos europeus no domínio da formação profissional de

músicos” em que, de um modo geral são projectos “apoiados por programas da União

41

Europeia” em que a AEC, em alguns projectos da AEC “actua como coordenador e

‘contratante’, enquanto que em outros a AEC participa como uma organização parceira

com uma função específica”. Destro destes projectos saliento: (a) A rede Erasmus para

a música intitulado "Polifonia", apoiado pela Comissão Europeia, com um primeiro

ciclo (2004-2007) e o segundo ciclo (2007-2010). Este novo ciclo é coordenado em

conjunto com o Royal College of Music, em Estocolmo tem como objetivo estudar: o

impacto da Declaração do Processo de Bolonha na formação profissional de música na

Europa, desenvolvimento profissional contínuo para a gestão do conservatório e

aprofundamento da investigação de formação de professores instrumental e vocal”;

(b) O projecto 'VARIAZIONI' (2006-2009), apoiado pelo programa eContent e

coordenado pela Fundação Albéniz, consistindo na instalação de um portal de

conteúdo da web e musical, onde as instituições europeias e comunidades de

utilizadores poderão ser integrados, enriquecer e reutilizar conteúdos musicais

existentes e demonstrando o seu desenvolvimento (através da realização de cursos,

material didáctico, artigos, redes temáticas, etc.); (c) "Os Efeitos da Declaração de

Bolonha formação musical profissional na Europa" (2001-2004), apoiado pela rede

temática ERASMUS "Inovação no Ensino superior das Artes"; (d) O "Estudo Musical,

Mobilidade e prestação de contas (Accountability)", projecto (2002-2004), apoiado

pelo programa da União Europeia / EUA, em que se desenvolveu um estudo de

questões relativas à mobilidade e da cooperação transatlântica em matéria de

formação profissional da música, e garantia de qualidade e acreditação na área da

música e (e) o “Fórum Europeu para a Educação Musical e Formação – EFMET”

projecto (2004), apoiado pelo Programa Cultura 2000 e coordenado pelo Conselho

Europeu da Música, estudou a interacção entre os tipos formais e não formais de

educação musical e questões em relação formação de professores de música na

Europa (http://www.aecinfo.org/Content.aspx?id=33).

No que se refere aos documentos de política, a AEC apresentam-se como “resposta a

importantes desenvolvimentos europeus ou consultas emitidas pela União Europeia,

em que as necessidades e características do sector da formação profissional de músicos

são explicitadas” (http://www.aecinfo.org/Content.aspx?id=42). A par destes

documentos políticos a AEC desenvolve também uma actividade no domínio da

publicação de vários tipos de relatórios, estudos e de outro tipo de documentos.

No domínio dos “documentos de política”, a AEC em parceria com a ELIA, escreveram

em 2007 o texto “Rumo a uma forte criatividade nas disciplinas artísticas na Europa”

(Towards strong creative arts disciplines in Europe) em que, mobilizando a sua

representatividade no contexto formativo europeu assim como o trabalho

desenvolvido em termos de projectos e de publicações no âmbito do ensino

superior23, em particular a “expertise” no âmbito do processo de Bolonha consideram

23 “A Associação Europeia de Conservatórios (AEC) e da Liga Europeia de Institutos de Artes (ELIA), representa mais de 600 do ensino superior europeu instituições nas artes e música com mais de 400.000 estudantes

42

que através do conhecimento produzido “são capazes de agir como pontos de

referência europeu para ensino superior em artes e música, oferecendo serviços e

orientação profissional para as instituições de educação artística, Ministros da

Educação, Comissão Europeia e outros actores” nos seguintes domínios: (a) quadros de

qualificações sectoriais; (b) “garantia e Aprimoramento da qualidade”; (d) programas

de doutoramento e de investigação; (e) desenvolvimento da prática profissional; (f)

dimensão externa do processo de Bolonha (http://www.aecinfo.org/

Publications.aspx?id=-1).

No que se refere, por exemplo, a produção de documentação em reposta as propostas

do Comissão Europeia realço o contributo do Working Paper “Schools for the 21st

Century” (2007) em que a AEC se congratula com a importância atribuída à formação

cultural no âmbito do ensino primário e secundário. Escreve a AEC que “um papel

activo para a música e as artes na educação em geral é visto como essencial, porque:

(a) ajuda os jovens a desenvolver a participação e a compreensão da cultura, da

música e das artes, que irão enriquecer o seu quotidiano”; (b) “desenvolve

competências criativas, pessoais e interpessoais que podem ser essenciais como

competências transferíveis para os trabalhadores numa sociedade baseada no

conhecimento, tal como referido no estudo "A Economia da Cultura na Europa" ; (c)

“pode potenciar a coesão social e a compreensão intercultural, que é essencial para

uma Europa construída sobre a diversidade cultural e do diálogo intercultural” (d)

“pode contribuir para o desenvolvimento de competências-chave no domínio da

"expressão cultural e de sensibilização" como uma das oito competências-chave que

cada cidadão europeu deveria possuir para ser capaz de funcionar numa sociedade

baseada no conhecimento, como mencionado na recomendação "do Parlamento

Europeu e do Conselho sobre as competências essenciais para a aprendizagem ao

longo da vida".

Neste contexto, convidam a Comissão a: (a) “encorajar os Estados-Membros da UE

para que a música e a educação artística desempenhem um papel substancial nos

programas de estudo do ensino primário e secundário”; (b) “promover parcerias

criativas entre as escolas, por um lado, e organizações musicais e artísticas, por outro,

no sentido de providenciar aos alunos uma experiência verdadeira e de alta qualitativa

anualmente a estudarem nos 1, 2 e 3 níveis do ciclo de estudos, envolveram-se activamente na implementação dos objectivos definidos pelos ministros europeus da Educação em relação ao processo de Bolonha”, feito “em colaboração com o redes e organizações do ensino superior europeu, tais como EUA e EURASHE”. Diz este documento que “o ensino superior em artes e música desenvolve-se em mais de mil instituições em toda a Europa, incluindo academias especializadas, como Conservatórios, Escolas de Belas Artes, bem como em faculdades / departamentos de Universidades, Hochschulen e Hogescholen com ou sem o status de universidade, bem como em escolas de arte privadas. Essas instituições oferecem uma formação especializada em arquitectura, dança, design, artes plásticas, artes multimédia, música e teatro a nível do ensino superior caracterizada por quatro elementos interdependentes - a produção do conhecimento, a sua transmissão, a sua difusão e o seu uso em inovação técnica - descrito pela Associação Europeia das Universidade (EUA) como sendo necessários para desempenhar um papel central no desenvolvimento da sociedade europeia baseada no conhecimento” (Idem).

43

musical e artística (por exemplo, bandas, coros, orquestras, etc)”; (c) “utilizar as

oportunidades oferecidas pelo Método Aberto de Coordenação, que já existe na

educação e agora também é sugerido para o campo da cultura na "Comunicação sobre

uma agenda europeia para a cultura num mundo globalizado" *…+”; (d) “promover

investimentos por parte dos Estados-membros da UE no domínio da formação

especializada de professores de música, em conformidade com as recomendações

feitas na comunicação "Melhorar a Qualidade da Formação de Professores" e (e) “fazer

uso da experiência da AEC em relação às sinergias entre a educação e a cultura,

através, por exemplo, da consulta à AEC no desenvolvimento de aspectos e indicadores

relacionados com a educação cultural para o Método Aberto de Coordenação” (Idem).

14. European Music School Union (EMU)

A rede de escolas de Música europeia (EMU) constitui-se como uma organização não

governamental e sem fins lucrativos em que estão agregadas as associação de escolas

de música da Europa. De acordo com a informação existente no sítio da Internet a

MEU representa 6.000 escolas, 150 mil professores, 4 milhões de estudantes e gera

um volume de negócio de 1.500 milhões de euros (http://www.musicschoolunion.eu).

A EMU apresenta-se com o estatuto de conselheiro no Conselho Europeu (CE),

membro do Conselho Europeu da Música (CEM) e do International Music Council

(IMC).

As associações nacionais que compõem esta rede “são oficialmente reconhecidos por

trabalharem para o interesse público e, como regra, recebem financiamento público. A

sua tarefa é assegurar os padrões de âmbito nacional e desenvolver infra-estruturas

para o trabalho das escolas de música associadas, tais como: desenvolvimento

curricular, apoio organizacional e formações adicionais”. A EMU especifica que as

“Escolas de Música na Europa são as instituições, especialmente dedicada à educação

musical e, principalmente, voltada para os aspectos práticos do fazer musical. Embora

a "escola de música" é comum em quase todos os países europeus, não há nenhuma

exigência internacional vinculativo que uma escola de música tem que cumprir. *…+ As

Escolas de música são geralmente frequentadas por crianças e jovens, mas, como regra

geral, também estão abertos a adultos até à idade sénior. As Escolas de música

habilitam as pessoas para participar na criação de música em todos os níveis até a

preparação para os estudos de música profissional. A "escola de música" na Europa é

uma instituição claramente definida, fazendo parte integrante do sistema educacional

europeu. Muitas escolas de música co-operar em estreita colaboração com as escolas

do ensino regular” (Idem).

Os objectivos e as tarefas importantes da EMU, tal como estão definido nos estatutos,

são: (a) “promover a educação musical e a prática musical” ; (b) “cooperar através de

troca de informações sobre todas as questões relativas com as escolas de música”; (c)

“promover o intercâmbio de estudantes, professores, alunos, orquestras, coros, grupos

44

de música de outros e assim por diante”; (e) “aumentar o interesse das autoridades

competentes e do público em geral sobre as questões do ensino da música e incentivar

a música amadora e os estudos musicais”; (f) “ajudar a criar e desenvolver as

federações de âmbito nacional de escolas de música” e (g) “manter contactos regulares

com instituições internacionais como a UNESCO, o Conselho Europeu da Música (CEM)

e outros24”.

Estes objectivos foram expressos na designada “Declaração de Weimar”. Esta

declaração refere que: “por ocasião da Assembleia Geral da Música da Escola Europeia

(UEM), que decorreu de 6 a 10 de Outubro de 1999 em Weimar, de 1999 Capital

Europeia da Cultura, a seguinte declaração foi aprovada por unanimidade pelos

representantes da Escola Nacional de Música Associações. A Escola de Música da

União Europeia aborda a seguinte declaração para a Comissão da Cultura, Juventude e

Educação, Média e Desporto do Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa,

incitando seus membros a fazer tudo ao seu alcance para apoiar activamente a

promoção de escolas de música na Europa, no espírito de Weimar da UEM Declaração.

É nossa expectativa de que os órgãos e pessoas responsáveis por escolas de música a

nível europeu, nacional e local voltará a ver a Declaração de Weimar como um guia

para a elaboração de uma política com relação às escolas de música, que contribui

para a construção de um activo cultural sociedade europeia”.

15. RESEO - European Network for Opera and Dance Education.

A rede europeia para a educação em ópera e dança, fundada em 1996, é uma

organização que engloba um conjunto de organizações que trabalham na formação

nestes domínios. De acordo com a RESEO a sua força “reside no número e na

diversidade dos seus membros, que actualmente compreende mais de setenta ópera e

companhias de dança de todos os tipos de vinte países da Europa25”. Esta rede “actua

como um fórum de intercâmbio sobre a prática da educação de ópera a nível europeu -

os membros podem partilhar informações, experiências e ideias” considerando-se

como uma “plataforma europeia para o desenvolvimento da educação de ópera e

apoia o sector através de lobbing, pesquisas e projectos” (http://www.reseo.org).

O trabalho que desenvolve, no sentido de colocar em conexão os seus membros,

divide-se em encontros, conferências e seminário, desenvolvimento de projectos, de

fóruns online e de publicações, incluindo publicações relacionadas com as

investigações realizadas. No que se refere aos projectos salientam-se as “residências

24 Alguns destes objectivos estão expressos, por exemplo, na apresentação de projectos formativos existentes em várias escolas do ensino “não especializado” oriundos de vários países europeus apresentados na conferência da EMU realizada em Maio de 2010 na Alemanha intitulada “ Educação musical na Europa – música para todos” (‘Music Education in Europe - Music For All’). 25 No caso português, e de acordo com o sítio da internet da RESEO, fazem parte desta organização: Casa da Música, Companhia de Música Teatral, Companhia de Ópera do Castelo, Foco Musical, Fundação Calouste Gulbenkian.

45

criativas”; “caminhos criativos para Mozart”, projectos de desenvolvimento artístico

para profissionais, e “porquê educação em ópera”. Em relação à investigação algumas

das temáticas de investigação compreendem: “Panorama da produção para audiências

de jovens”; “Mapeamento da educação em ópera e dança na Europa”; “Casas de ópera

e a sua cooperação com as universidades” e “Porquê a educação em ópera: cinco

estudos de caso no contexto europeu”.

Num estudo realizado em 2008 e intitulado “Mapping report of measures taken to

improve education & awareness of opera and dance in 200826” (O’Shaughnessy, Joly

& Sittler, 2088) os autores, apesar de salientarem que “as respostas e os resultados

obtidos” apenas permitem “desenhar os contornos do sector da educação e da

sensibilização para a ópera e dança na Europa em 2008” e que as respostas “recebidas

dos membros RESEO neste estudo podem servir como uma base para fazer algumas

observações e tirar conclusões”(p. 28) apresentam um conjunto de conclusões

representativas das organizações e do trabalho desenvolvido.

Uma conclusão está relacionada com a grande diversidade de organizações que

compõem a rede são oriundas de diferentes países e com perfis e países diferenciados.

Esta rede “é constituída por organizações como companhias que actuam em

diferentes locais e que empregam menos de cinco pessoas, a par de festivais e casas

de ópera que se desenvolvem muitas actividades e contratam muito pessoal”. Esta

diversidade tem consequências no público que é abrangido pelas actividades

desenvolvidas. No entanto, os autores constatam que “mais de um milhão de pessoas

foram envolvidas nas atividades relacionadas à educação e sensibilização da ópera e

dança na Europa” no período em análise. A maioria destas actividades27 tem como

foco as crianças e os jovens, embora “o leque de actividades educacionais se estenda a

todas as gerações, desde as mais jovens às mais velhas28” (p. 28).

Um outro tipo de conclusão refere que os Departamentos Educativos das organizações

“ estão envolvidos no processo de produção e na criação de oficinas e projectos. Esses

programas que envolvem um grande número de mediadores (mediadores

especialmente free-lance)” e “um grande número de participantes produzindo muito

26 De acordo com estes autores o objectivo do relatório de mapeamento é de dupla natureza: “por um lado, fornecer informações quantitativas sobre o contexto actual do sector profissional da educação e da sensibilização (awareness) da ópera e dança na Europa e por outro, permitir à RESEO criar projectos e actividades que estão em consonância com a actual situação dos seus associados, promovendo a coerência e clareza dos mesmos” (p. 3). 27 A maioria destas actividades está centrada na ópera representando os sectores da dança e dos cruzamentos artísticos uma actividade de menor dimensão. 28 Destas parcerias o estudo destaca um conjunto de “categorias de participantes envolvidos em projectos ou oficinas” que variam “desde os muito jovens (bebés) aos idosos (65 +)” embora a maioria “das acções são voltadas para crianças em idade escolar (jardim de infância e mesmo antes, até estudantes universitários)” . Contudo, “um número crescente de serviços (50%) de trabalho para grupos específicos de pessoas” como por exemplo “comunidades rurais, instituições de formação especializadas (música ou a dança, conservatórios, etc), hospitais ou grupos desfavorecidos ou com necessidades específicas” (pp. 20-21).

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material de aprendizagem. O grande número de cooperações e parcerias com outras

instituições, sublinha a variedade de actividades orientadas” (Idem).

16. International association of music information centres (IAMIC)

A IAMIC “é uma rede internacional de organizações que documentam e promovem a

música do seu país ou região ou de um determinado campo musical (principalmente a

música erudita contemporânea)”. As suas actividades “fornecem um contexto

internacional para seus membros, presta serviços, incentivando o desenvolvimento,

incentivando a colaboração e o intercâmbio, e iniciando projectos para trabalho futuro

dos seus membros”. A IAMIC “potencia um cenário internacional onde os caminhos

para a informação acerca da música, produtos, publicações e outros materiais são

continuamente reforçada de modo a oferecer aos utilizadores o mais alto nível possível

de acesso”. Tem como principais objectivos (a) “incentivar e melhorar o acesso a

informações, materiais e produtos fornecidos pelos seus membros e incentivar o

desempenho, difusão e divulgação da música de membros”; (b) “incentivar o

intercâmbio, a colaboração e a troca de ideias, experiências e competências entre seus

membros, de modo a fornecer uma gama de serviços relevantes aos seus membros” e

(c) “desempenhar um papel activo no ambiente mais amplo da música internacional, e

aumentar a visibilidade da IAMIC” (http://www.iamic.net).

Esta organização apoia o “ apoia o trabalho de 40 organizações membros em 37 países.

Os centros de informação musical em todo o mundo têm semelhanças fundamentais:

eles fornecem recursos de música especializada para estudantes de música,

intérpretes, compositores e professores de música, eles agem como centros de

visitantes de qualquer membro do público com interesse em aprender sobre a herança

musical nacional, que desenvolvem as audiências para a nova música através de

projectos de educação e de promoção” (Idem).

17. World Alliance for Arts Education – WAAE

No âmbito da preparação da Conferência Mundial sobre Educação Artística de 2006,

referida anteriormente, três organizações de âmbito mundial, International

Drama/Theatre and Education Association (IDEA), International Society for Education

through Art (INSEA) and the International Society for Music Education (ISME), a que se

juntou mais tarde a World Dance Alliance, constituíram-se numa “aliança mundial”,

intitulada World Alliance for Arts Education – WAAE, em que se integram diferentes

tipos de disciplinas artísticas e se procura ser “uma voz poderosa para a ‘advocacy, o

trabalho em rede e a investigação” (http://www.insea.org/council/waae). Neste ano,

formularam em Viseu uma declaração conjunta que representou um documento

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relevante para a referida conferência como também um ponto de partida para um

conjunto de outras acções quer de âmbito mundial e regional quer através de fóruns.

Este documento expressa o seguinte:

Após seis anos de reuniões preparatórias, a IDEA, ISME e a InSEA uniram-se para definir uma estratégia integrada que responde a um momento crítico na história da humanidade: a fragmentação social, uma cultura global assente na concorrência, uma violência urbana e ecológica endémica, e a marginalização educativa e cultural de linguagens de transformação nos domínios educativo e cultural. || Acreditamos que as sociedades contemporâneas pós-industriais e baseadas no conhecimento requerem cidadãos com inteligências flexíveis, competências criativas de comunicação verbal e não-verbal, habilidades para pensar criticamente e com imaginação bem como a compreensão intercultural e um compromisso empático com a diversidade cultural. || A investigação tem mostrado cada vez mais esses atributos pessoais são adquiridos através de processos de aprendizagem e de aplicação de linguagens artísticas. Congratulamo-nos com as decisões dos governos de todo o mundo que colocam a reforma educativa e o desenvolvimento cultural no centro das suas agendas. No entanto, sabemos que nem sempre existe a vontade política e profissional para integrar as artes numa “educação para todos" eficaz, como instrumento vital para a aprendizagem dos direitos humanos, da cidadania responsável e da democracia inclusiva. || Prevendo uma adesão de mais de 90 países, a nossa aliança global de organizações de educação artística envolve destacados profissionais e promove práticas inovadoras no ensino das artes a nível internacional. Através das nossas parcerias nacionais e adesões individuais, queremos aproveitar as experiências de mais de um milhões de dedicados e corajosos professores, artistas/performers, investigadores, académicos, líderes comunitários, gestores e decisores políticos que contactam com nas comunidades educativas, formais e informais, em todo o mundo. || As nossas três organizações estão inequivocamente bem posicionadas para avançar com práticas profissionais e políticas nas artes visuais, educação musical e teatro/drama. Nós proporcionamos: • canais efectivos de comunicação internacional e de intercâmbio de políticas e recursos pedagógicos; • fóruns nacionais, regionais e mundiais, para debate e disseminação de teorias e de práticas educativas inovadoras; • estruturas conceptuais e profissionais para preservar as culturas artísticas tangíveis e intangíveis (em particular nos países em desenvolvimento), ameaçadas pela globalização; • Os modelos de análise intercultural que explorem aspectos relacionados como os media tradicionais e com os novos e permitir a demonstração e a troca de diversas pedagogias diferenciadas; • investigação sobre pedagogias para a transformação pessoal e social; e • investigação crítica sobre os impactos educacionais, socioeconómicos e culturais das artes. || Nas artes visuais, a pedagogia crítica e reflexiva e novos meios de produção artística oferecem aos estudantes oportunidades para explorar os seus mundos visuais multiculturais e multi-tecnológicos. Através das artes performativas, os educadores estão transformando salas de aulas em teatros de diálogo criativo, equipando os jovens a adoptar soluções para as necessidades e desafios sociais contemporâneos. Na educação musical, as novas tecnologias proporcionam oportunidades surpreendentes para desenvolver a consciência intercultural e produção colaborativa. Colectivamente as artes oferecem aos jovens oportunidades únicas de entender e criar suas próprias identidades culturais e pessoais. Elas estimulam o estudo interdisciplinar e a tomada de decisão participativa, para além de os motivar para se empenharem numa aprendizagem activa e de questionamento criativo. As nossos três organizações formaram uma aliança para a acção estratégica baseada no diálogo com princípios e sustentado. O nosso principal objectivo é acelerar a implementação de políticas de educação artística internacionalmente. Queremos colaborar com todos os governos, redes, instituições de ensino, comunidades e indivíduos que partilham da nossa visão. || Desafiamos a UNESCO a cumprir as responsabilidades de seu mandato fundador juntando-se a nós para tornar a educação artística central numa agenda mundial para o desenvolvimento

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humano sustentável e para a transformação social" (http://www.insea.org/sites/ default/files/ uploads/zzz/Joint_Declaration_2006.pdf).

18. Jeunesses Musicales International (JMI)

As “Jeunesses Musicales International (JMI) é uma ONG relacionada com os jovens

músicos criada em Bruxelas, em 1945 “com a missão de "permitir aos jovens a

desenvolver através da música em todos os limites". Com uma vasta gama de

actividades, JMI estabeleceu quatro domínios prioritários de actividade: Jovens

Músicos, Jovens Audiências, a mobilização da juventude e da Juventude Orquestras e

Conjuntos”. Actualmente a JMI conta com “organizações membros em 45 países e

organizações de contacto de outro 35, JMI é uma rede global que oferece

oportunidades para os jovens se envolverem com música. A rede JMI envolve mais de 5

milhões de jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 30 anos, através de

cerca de 36.000 actividades, abrangendo todos os estilos musicais. Esta rede coordena

as oportunidades de intercâmbio transfronteiriço a nível internacional”. A JMI enfatiza

“a inclusão social e de coesão” e “há mais de 60 anos, que a JMI foi "Fazendo a

Diferença através da Música", usando o poder da música para criar pontes que cruzam

as divisões sociais, geográficas, raciais e económicas e criar uma plataforma para o

diálogo intercultural” (http://www.jmi.net/page.php?n=2&s=1).

Desenvolvendo diferentes tipos de projectos a nível transnacional e transcontinental,

que “oferecerem oportunidades musicais para que os jovens atravessem fronteiras e e

interajam globalmente” e onde cada projecto tem “um foco exclusivo sobre a

diversidade e empowerment” contribuindo para a “criação a compreensão e aceitação

cultural através da música” (http://www.jmi.net/page.php?n=3&s=1), a JMI afirma-se

como uma organização que “oferece aos jovens oportunidades internacionais para

crescerem e desenvolverem-se no mundo da música” fornecendo “um trampolim para

o lançamento de carreiras no mundo da música e/ou gestão cultural, e em outros

campos diversificados” (http://www.jmi.net/ page. php?n=5&s=1).