a importância das organizações internacionais na resolução da

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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO FACULDADE DE ECONOMIA A IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS NA RESOLUÇÃO DA QUESTÃO CLIMÁTICA: PNUMA E O DEBATE EM TORNO DA ONUMA PAULA CARRAMASCHI GABRIEL Monografia de Conclusão do Curso apresentada à Faculdade de Economia para obtenção do título de graduação em Relações Internacionais, sob orientação da Prof. Paola Gonçalves R. do Prado Juliano. São Paulo 2011

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Page 1: A importância das organizações internacionais na resolução da

FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO

FACULDADE DE ECONOMIA

A IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

NA RESOLUÇÃO DA QUESTÃO CLIMÁTICA:

PNUMA E O DEBATE EM TORNO DA ONUMA

PAULA CARRAMASCHI GABRIEL

Monografia de Conclusão do Curso apresentada

à Faculdade de Economia para obtenção do

título de graduação em Relações Internacionais,

sob orientação da Prof. Paola Gonçalves R. do

Prado Juliano.

São Paulo

2011

Page 2: A importância das organizações internacionais na resolução da

GABRIEL, Paula Carramaschi. “A IMPORTÂNCIA DAS ORGANIZAÇÕES

INTERNACIONAIS NA RESOLUÇÃO DA QUESTÃO CLIMÁTICA: PNUMA E

O DEBATE EM TORNO DA ONUMA”, São Paulo, FAAP, 2011, 51p.

(Monografia Apresentada ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da

Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado).

Palavras-chave: Organizações Internacionais; WWF; PNUMA; ONUMA; crise

climática; e cooperação

Page 3: A importância das organizações internacionais na resolução da

Dedicatória

Aos meus pais e irmãs, por sempre mostrarem que posso ir além.

Page 4: A importância das organizações internacionais na resolução da

Agradecimentos

Em primeiro lugar, e não poderia ser diferente, agradeço ao meu pai, Eduardo e à minha

mãe, Fátima, por terem me ensinado que acreditar vale sempre a pena. Às minhas irmãs

Fernanda e Beatriz, por tantas risadas e conselhos que significam o mundo para mim.

Aos meus amigos e companheiros de FAAP durante todos estes anos: Stella, Stephanie,

Yke, Fish, Ralph, Gro, Erika, Nathália, Pedro, Luana, Octavio, Marcela, Valéria, Samantha,

Rebecca, Juliana, Samara, Isabelly, Dila, Bruno J., Luiz Cláudio, Alexandra, Matão, Victor, Jú

Maiolino, Vivian, Marina Paiva, Carol Marson, Fê Proença, Cuder, Johnny, Sergio, Rento, Bru

Strufaldi, Kaike, Marianna, Bruno DG, Pamella, Larissa, Christian, Itapira, Manuela, Raul IV,

Raul H., Fabio Jr., Rapha Camargo, Rafa Serbaro, Nicholas, Birigui, Gui Vieira, Golin, Mayara

S., Débora, Paola, Uolli, Priscila, Maria Emília, Fernando P. e Victória.

Aos meus amigos músicos Agnaldo e Keply, pelos infinitos acordes.

Aos meus padrinhos Daniel e Eduardo, por me mostrarem que podemos sempre ir além.

À todos meus amigos e companheiros de Jr. FAAP e Fórum FAAP, essenciais em meu

crescimento acadêmico e profissional.

Aos professores Gunther Rudzit e Luiz Alberto Machado, pela confiança tantas vezes

depositada em mim.

Aos também professores Raquel e Casarões, pela amizade e ajuda ao longo desses anos.

Aos funcionários da Faculdade de Economia Dani, Bete, Luiz, Élida, Rosinha, Renata e

Mara, pela paciência e ajuda em diversos momentos.

Aos meus amigos de longa data, Naty, Flávia, Natália M, Daniela, Marcela, Natália K.

Danilo,Silas,Cacau, Gio, Tata, Dé, Gabriel B., Carol Bigi, Cami A., Pri Seguchi, Luiza, Carol

C., Paula King, Bibes, Clarinha, Rê Frare, Mari Moraes, Rê Thomaz, Sofia A., Vidigal, Vini,

Leo, Pedro C., Júlia Z. e Nilton, por me mostrarem sempre o verdadeiro significado da palavra

amizade.

Às minhas amigas e colegas de trabalho, Ana Campelo e Grasiela, que tornam meu

trabalho muito mais divertido.

E por fim, à minha amiga e orientadora, Paola, por sempre acreditar no meu esforço e

mostrar que com dedicação e determinação podemos alcançar o que quisermos.

Page 5: A importância das organizações internacionais na resolução da

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que

acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas

incomparáveis”.

Fernando Pessoa

Page 6: A importância das organizações internacionais na resolução da
Page 7: A importância das organizações internacionais na resolução da

Resumo

Este trabalho apresenta a crise ambiental e suas implicações institucionais. Suas

causas e conseqüências serão apresentadas nesta pesquisa, assim como algumas

importantes Cúpulas e Conferências, em que diversos Estados e outros órgãos buscam

as melhores soluções para a questão climática. Dentre elas, ECO-92, COP-3 (Protocolo

de Kyoto) e COP-15 serão destacadas. O objeto central desta monografia trata da

discussão em torno das instituições que tentam mitigar os danos ao meio ambiente,

inserindo nesse contexto o debate em torno da criação de uma organização internacional

nos moldes da ONU, a ONUMA. Tal indagação se justifica uma vez que a questão

ambiental possui tratamento disperso. Estados, instituições governamentais e

instituições não-governamentais buscam conscientizar e alertar a população mundial

sobre mudanças necessárias para reduzir os efeitos causados pelo aquecimento global.

Ressaltar-se-á os casos WWF e PNUMA como exemplos institucionais, além do debate

sobre a posição brasileira referente a esse assunto.

Palavras-chave: Organizações Internacionais; WWF; PNUMA; ONUMA; crise climática;

cooperação.

Page 8: A importância das organizações internacionais na resolução da

Abstract

This paper presents the environmental crisis, which appears increasingly to be

the agenda of discussions on the international scene and its institutional implications. Its

causes and consequences are presented in this research as well as some major Summits

and Conferences, in which several states and other bodies seeking the best solutions to

the climate issue. They are ECO-92, COP-3 (Kyoto Protocol) and COP-15. The central

object of this monograph deals with the discussion of the existing institutions that try to

mitigate the damage to the environment, inserting this context the debate on the creation

of an international organization along the lines of the UN, UNEO. Such an inquiry is

warranted as well as states, many organizations seek to educate and warn the world

population about a change needed to reduce the effects caused by global warming. It

will highlight cases such as WWF and UNEP examples institutional, beyond the debate

about Brazil's position regarding this issue.

Key words: International Organizations; WWF, UNEP; UNEO, climate crisis, and cooperation.

Page 9: A importância das organizações internacionais na resolução da

Sumário

LISTA DE SIGLAS

LISTA DE MAPAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

INTRODUÇÃO 1

1. CRISE AMBIENTAL E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL -

ECO-92, COP-3 E COP-15 4

1.1 Crise ambiental_________________________________________4

1.2 O meio ambiente e o início do debate nas relações internacionais _____________ 5

1.3 ECO-92 ____________________________________________________9

1.4 Protocolo de Kyoto ___________________________________________ 16

1.5 COP-15 __________________________________________________ 21

2. AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E SUA ATUAÇÃO NA CRISE

AMBIENTAL GLOBAL 27

2.1 Regimes Internacionais_____________________________________________ 28

2.2 Organizações Internacionais ________________________________________29

2.3 Organizações Não Governamentais ___________________________________ 31

2.4 O Caso PNUMA e WFF ____________________________________________ 33

2.4.1 Atuação do WWF e PNUMA no Brasil ______________________________ 35

Page 10: A importância das organizações internacionais na resolução da

3. O DEBATE SOBRE O ONUMA E A POSIÇÃO BRASILEIRA 38

3.1 Prós e Contras sobre a criação do ONUMA ____________________________ 39

3.2 Posição Brasileira __________________________________________________42

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 51

Page 11: A importância das organizações internacionais na resolução da

Lista de Siglas

Banco Mundial (BM)

Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS)

Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD)

Conferência das Partes (COP)

Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC)

Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC)

Estados Unidos da América (EUA)

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento Sustentável

e Meio Ambiente (FBOMS)

Gases de Efeito Estufa (GEE)

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

Organização Internacional (OI)

Organização Metereológica Mundial (OMM)

Organização das Nações Unidas (ONU)

Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONUMA)

Organizações Não-Governamentais (ONGs)

Organizações Inter-Governamentais (OIGs)

Organização Internacional Supra Governamental (OISG)

Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)

Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC)

Programa das Nações Unidas para o Maio Ambiente (PNUMA)

Worl Wild Fund (WWF)

Page 12: A importância das organizações internacionais na resolução da

Lista de Mapas

Mapa 1 – Mapa do Protocolo de Kyoto em 2005 (página 21)

Mapa 2 - Relação entre governança global, regimes internacionais e abordagens

organizacionais (página 29)

Mapa 3: Termômetros em Alta (página 45)

Page 13: A importância das organizações internacionais na resolução da

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Emissões de Gases em 2008 (página 18)

Tabela 2 – Emissões Absolutas em por países e cenários para 2020 (página 26)

Tabela 3 – Metas estabelecidas em Copenhagen, 2009 (página 39)

Page 14: A importância das organizações internacionais na resolução da

Lista de Gráficos

Gráfico 1 – Emissões Globais de GEE (página 24)

Gráfico 2 – Emissões de CO2 em 2005 (página 21)

Gráfico 3 – Reuniões sobre mudanças climáticas de 1997 a 2012 (página 47)

Page 15: A importância das organizações internacionais na resolução da

1

Introdução

Esta monografia tem como tema principal a crise ambiental e suas consequências. Para

melhor compreender esta questão, serão demonstrados a partir de gráficos e tabelas os dados e

problemas enfrentados por diversos países com o aquecimento global. O objeto central desta

monografia trata da discussão em torno das instituições existentes que tentam mitigar os danos

ao meio ambiente, como a WWF e o PNUMA, por exemplo. Será abordado também, nesse

contexto, o debate em torno da criação de uma organização internacional nos moldes da ONU, a

ONUMA.

O problema abordado neste trabalho visa a questão climática e a necessidade da

cooperação internacional, ou seja, além da atuação de instituições como WWF e PNUMA, se

existe a necessidade de criação de uma organização focada somente no meio ambiente.

Como hipótese desta monografia é possível afirmar que existe uma descentralização de

políticas da questão ambiental e devido à urgência de políticas eficazes para resolver a crise, uma

Organização em moldes da ONU seria importante, como a ONUMA.

Dentro da cooperação internacional na questão climática, a atuação de Organizações em

especial o WWF e PNUMA tem demonstrado grande importância e relevância na busca das

melhores saídas e soluções para as conseqüências causadas por todo esse cenário caótico e

problemático no meio ambiente. Tais instituições foram escolhidas devido suas importantes

ações e projetos na área ambiental e por serem consideradas instituições conceituadas e de

atuação internacional. A legitimidade e o comprometimento dessas organizações valorizam ainda

mais seus respectivos trabalhos realizados ao longo dos anos. Porém, ainda não se mostram

suficientes para combater a crise ambiental.

O primeiro capítulo desta monografia trará os esforços dos Estados, que vêm se reunindo

em Cúpulas e Conferências ao longo dos anos, com a intenção de encontrar as melhores soluções

para a crise climática. Este trabalho tratará de três dessas reuniões de forma mais detalhada -

ECO-92, COP-3 (Protocolo de Kyoto) e COP-15 – traçando um cenário destes eventos,

apresentando a quantidade de Chefes de Estados, ONGs e jornalistas presente em cada uma

delas, as diretrizes tratadas a partir desses encontros e os efeitos surtidos ao redor do mundo.

Page 16: A importância das organizações internacionais na resolução da

2

O segundo capítulo abordará conceitos como cooperação internacional, regimes

internacionais, regime ambiental, legitimidade, governança global e organizações internacionais

que serão tratados de forma a demonstrar a necessidade de interação entre os países e que um

trabalho de cooperação entre as nações alcança objetivos muito maiores do que um trabalho de

um único país. E ainda o caso do WWF e PNUMA e suas respectivas atuações no cenário

internacional.

O WWF e PNUMA participam ativamente de campanhas, projetos, ações e pesquisas,

isso para ampliar cada vez mais o número de pessoas e organizações que se empenhariam para

combater esse sério problema. O papel fundamental de organismos internacionais como estes é a

conscientização, visando alterar o comportamento diário das pessoas em relação a preservação

do meio ambiente e também as atitudes de governantes. Contudo, os recursos desses dois órgãos

são baixos. No entanto, são as iniciativas não-governamentais que acabam influenciando as

possíveis ações políticas. Manifestos, passeatas e campanhas são alguns exemplos reais que

demonstram essa capacidade de influência destes organismos. Verifica-se para combater as

mudanças climáticas, proteger a diversidade biológica, restaurar a vitalidade dos mares e areas

pesqueiras e disserminar poluentes orgânicos permanentes, requerem uma ação coletiva, ou seja,

cooperação.

A governança ambiental é dada de maneira bastante dispersa e não muito eficaz. Por isso,

o tema deste trabalho se mostra importante ao debater o que as instituições que existem tem feito

e ainda instigar uma discussão em torno de uma organização mais centralizada nos moldes da

ONU para meio ambiente. Então, para inserir tal debate, no terceiro capítulo, será abordada a

real necessidade e viabilidade da criação efetiva do ONUMA (Organização das Nações Unidas

para o Meio Ambiente). Além de apontar a posição brasileira sobre essa questão, serão apontadas

as vantagens e desvantagens sobre o assunto.

Então, a relevância deste trabalho se dá porque este buscará verificar a importância das

organizações internacionais na resolução da questão climática e se a falta que uma organização

específica na ONU para o tema é o grande problema da questão. Além disso, a análise de uma

ONG (WWF) e do Programa da ONU para o Meio Ambiental (PNUMA), que se mostram

atuantes com relação ao tema, trará uma visão comparativa (e complementar) do que ocorre na

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3

governança ambiental e se a ONUMA resolveria essa descentralização. A questão climática faz

parte hoje da agenda interna de cada país, portanto surge a necessidade de se pensar em

coordenar as políticas dadas em nível internacional.

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4

CAPÍTULO 1

Crise ambiental e a cooperação internacional: Eco 92, COP-3 e COP-15

O primeiro capítulo desta monografia tratará sobre a questão climática a partir do

conceito de crise ambiental global, demonstrando a relação entre o meio ambiente e as relações

internacionais. Será elaborado um histórico da inserção do tema nas relações internacionais e em

seguida, um panorama da ECO 92, Protocolo de Kyoto e COP-15.

1.1 Crise ambiental

Pode-se pensar na crise ambiental global como uma incongruência entre duas esferas: o

espaço físico (terra) e o espaço socialmente construído (mundo) (BARROS, VARELLA e

SCHLEICHER, 2004). Ou seja, o comportamento dos seres humanos e a maneira como os

mesmo utilizam-se de recursos naturais são um ponto importante para a compreensão da crise.

Apesar de o diálogo entre os países e suas devidas preocupações com o meio ambiente

tenham se alterado e a necessidade de ação seja algo de maior urgência nos dias de hoje, os

estudiosos e pensadores sobre as questões climáticas ecoam necessidades do passado. O que fica

bastante claro é a ausência de uma agencia internacional que agregue toda e qualquer

necessidade dos países ricos, pobres e intermediários em relação às principais dificuldades

enfrentadas para combater o aquecimento global e suas conseqüências para o planeta.

A necessidade deste debate no cenário internacional pode ser verificado na seguinte

passagem de Keohane (1989): “(...) nosso objetivo deve ser ajudar nossos estudantes, colegas, e

o público mais amplo a entender a necessidade de governança em um mundo parcialmente

globalizado e os princípios que fariam esta governança legítima.”

Para Thomas Malthus (apud BARROS-PLATIAU, VARELLA, SCHELEICHER, 2004),

o crescimento populacional provocaria a escassez dos recursos naturais, além do agravamento da

pobreza e do desemprego. Esse pensamento reflete muito a situação encontrada nos dias de hoje,

em que a economia e a política determinam a direção que os países tomarão para enfrentarem a

crise ambiental. Porém, como se percebe ao redor do mundo, a natureza chegou a um ponto em

que ações devem ser imediatas e deve partir de todos os países, independente de seu tamanho

Page 19: A importância das organizações internacionais na resolução da

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geográfico ou da dimensão de seu PIB. A relação entre o meio ambiente e as relações

internacionais determinarão o futuro do Planeta como um todo, já que todo ser humano depende

dos recursos naturais em sua vida.

1.2 O meio ambiente e o início do debate nas relações internacionais

A Conferência da ONU de 1972 ocorreu em Estocolmo, na Suécia. Esta Conferência

ficou marcada por ter dado início às discussões a respeito dos efeitos das mudanças climáticas.

A Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, criada nessa reunião, teve como resultado 26

princípios, contendo planos e metas a serem cumpridos por diversos países. Alguns desses

princípios são: “os recursos naturais devem ser preservados; os países em desenvolvimento

requerem ajuda; é necessário estabelecer um planejamento integrado para o desenvolvimento;

ciência e a tecnologia devem ser usadas para melhorar o meio ambiente; cada país deve

estabelecer suas próprias normas; deve haver cooperação em questões internacionais”

(DECLARAÇÃO SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972).

Diversas áreas e setores foram e ainda são atingidos com a crise ambiental. Foi criada no

ano de 1983, pela Assembléia Geral da ONU, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento – CMMAD, com o objetivo diminuir as conseqüências causadas à natureza e

com isso também aos seres humanos. Tinha como Presidente a primeira-ministra norueguesa,

Gro Harlem Brundtland. A Comissão tinha como intuito examinar as situações mais críticas em

relação ao meio ambiente e desenvolvimento, para elaborar propostas possíveis de serem

realizadas, juntamente com uma compreensão atual do problema. Deveria ainda sugerir novas

regras para a cooperação internacional para os países serem orientados quanto às políticas e

ações internacionais, promovendo as mudanças necessárias. O termo “Desenvolvimento

Sustentável” surgiu de forma clara no trabalho realizado pela Comissão, pode ser compreendido

como o possível fato de no futuro, as gerações conseguirem atender as suas precisões (CMMAD,

1991).

O documento final criado a partir dos estudos da Comissão foi o “Nosso Futuro Comum”

ou Relatório de Brundtland. O documento mostrou não só as metas que serão tratadas mais

Page 20: A importância das organizações internacionais na resolução da

6

adiante neste capítulo, mas também uma forma de desenvolvimento sustentável que está

relacionado a questões como alcançar o fim da pobreza, atingir as necessidades bases no que diz

respeito a alimentação, moradia, saúde, mudança da matriz energética, dando certo privilégio as

fontes renováveis e também o processo de tecnologias e suas inovações. Em outras palavras, é

preciso existir uma compatibilidade do crescimento da economia, com o desenvolvimento

ambiental e humano. E para tal equilíbrio devem existir limites mínimos para o bem-estar da

sociedade e limites máximos na utilização dos recursos naturais, de modo a serem preservados

por países desenvolvidos e em desenvolvimento. De acordo com a CMMAD, 1991,

desenvolvimento sustentável é:

(...) um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção

dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança

institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender

às necessidades e às aspirações humanas.

A CMMAD faz críticas ao modelo de desenvolvimento adotado pelos países

industrializados e reproduzidos pelas nações em desenvolvimento, apontando a

incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo vigentes e o desenvolvimento

sustentável – ressaltando o uso em excesso dos recursos naturais, que muitas vezes deixam de

lado a preocupação com a capacidade de suporte dos ecossistemas. O Relatório de Brundtland ou

“Nosso Futuro Comum” contém diversas medidas a serem tomadas e metas a serem cumpridas.

Com o intuito de direcionar os países para novas possibilidades e alternativas para ações

importantes em relação a crise climática, o Relatório propôs metas internas de âmbito

internacional. Para atingir o desenvolvimento sustentável, os países deveriam seguir medidas

como a limitação do crescimento populacional, garantia de recursos básicos como água, alimento

e energia a longo prazo, preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, diminuição do

consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis,

aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias

ecologicamente adaptadas, controle da urbanização desordenada e integração entre campo e

cidades menores e atendimento das necessidades básicas como saúde, escola e moradia.

Já em âmbito internacional as metas propostas são a adoção da estratégia de

desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento como órgãos e instituições

Page 21: A importância das organizações internacionais na resolução da

7

internacionais de financiamento, proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antártida e

oceanos pela comunidade internacional, banimento de guerras e implantação de um programa de

desenvolvimento sustentável pela ONU.

Outras medidas mais pontuais também fazem parte do relatório, como o uso de novos

materiais na construção, reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais,

aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a

geotérmica, reciclagem de materiais reaproveitáveis, consumo racional de água e de alimentos e

redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos.

Ainda sobre o “Nosso Futuro Comum”, foi possível estabelecer uma co-relação entre o

ambiente e o desenvolvimento. Ou seja, ambos devem ser tratados de maneira conjunta, levando

em consideração que o crescimento econômico e populacional deve sempre ter a preocupação

com o meio ambiente e a utilização consciente dos recursos naturais. É possível estabelecer que

danos causados a florestas, afetam também o ar e os mares. E que problemas econômicos afetam

áreas como saúde e moradia. Portanto podemos afirmar que a crise ambiental atingiu áreas como

a pobreza, a fome e a segurança, já que todos esses pontos estão co-relacionados e precisam ser

tratados de forma conjunta.

O crescimento acelerado da população causa um grande impacto no ambiente e no

desenvolvimento de várias regiões, uma vez que são necessárias expansões na agricultura para

suprir as necessidades dessa enorme população. Uma saída encontrada por muitos países

industrializados foi a migração e o comércio internacional de alimentos e combustíveis, que

aliviou a pressão sobre os recursos locais. Porém, em alguns países em desenvolvimento, o

desequilíbrio entre o ritmo da produção alimentar e de crescimento da população é bastante

expressivo, podendo limitar o uso do comercio internacional para aumentar o acesso a recursos.

De maneira geral, nota-se uma grande necessidade de existir um controle da população,

tanto em seu crescimento quanto em sua mobilidade. Ou seja, os governos deveriam estimular

boa parte da população a ocuparem regiões menos povoadas e, portanto pouco exploradas. Para

que a produção em seus países ocorra de maneira harmoniosa com o tamanho da população.

Page 22: A importância das organizações internacionais na resolução da

8

O Relatório de Brundtland é bastante atual e capaz de ser tomado como referência nos

dias de hoje. De forma crítica, pode-se perceber que os objetivos e metas ainda precisam ser

trabalhados e que a cooperação internacional continua sendo uma das melhores alternativas no

cumprimento de tais metas.1

O combate as mudanças climáticas, a proteção da diversidade biológica, a restauração da

vitalidade das áreas pesqueiras nos mares e a prevenção da disseminação de poluentes orgânicos

permanentes requerem uma ação coletiva. Se não puderem criar um sistema de governança

ambiental global que funcione nossa gestão do meio ambiente continuará a ser ineficaz e injusta,

e terá poucas chances de encontrar o caminho para a sustentabilidade (IVANOVA, 2005).

Portanto, a necessidade da gestão coletiva ou cooperação internacional é imprescindível

na busca por alternativas e soluções que possam resultar na proteção e preservação do meio

ambiente. Afinal, quando se trata do planeta como um todo e os problemas ambientais

enfrentados em diferentes países, as fronteiras existentes entre os Estados nacionais são

perpassadas e os interesses econômicos, políticos e sociais têm de ser equilibrados e muitas

vezes as forças internacionais devem ser direcionadas à busca de melhores soluções para a crise.

A necessidade da cooperação internacional e o conceito de governança global – a ideia de

democratização, legitimidade, comunicação aberta e reflexividade coletiva -, podem ser

verificadas em especial a partir dos anos 90, com as Conferências e Convenções internacionais

sobre o meio ambiente. Para uma melhor compreensão, será traçado um panorama com os

principais aspectos do Eco 92, Protocolo de Kyoto e COP-15.

1 Pensando no conceito de cooperação, é possível perceber o ambientalismo como forma de relevância à

multiplicidade de suas expressões e suas interações, enfatizando tanto a importância do papel dos setores moderados

quanto dos radicais, dos setores técnicos e dos políticos, dos não-governamentais e governamentais, dos cientistas

como dos empresários. Ou seja, quando trata-se de um conflito que necessite de cooperação para chegar a alguma

solução, será redefinindo o comportamento dos diversos setores e atores sociais em termos de suas orientações

favoráveis ou contrarias a uma relação equilibrada entre a sociedade e a natureza. De forma que a questão ambiental

produz, portanto, a clivagem principal e decisiva (civilizatória) da sociedade contemporânea, instalando no seio de

cada um dos setores e atores sociais tradicionais uma nova e mais estratégica possibilidade, tanto para o conflito

como para a cooperação (LEIS, 1999).

Page 23: A importância das organizações internacionais na resolução da

9

1.3 ECO-92

A ECO 92, também conhecida como Cúpula ou Cimeira da Terra, ou Conferência das

Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), ocorreu em junho de

1992 no Rio de Janeiro, com o objetivo de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a

proteção e conservação dos ecossistemas da Terra, consolidou também o conceito de

desenvolvimento sustentável – mencionado anteriormente. Foi muito importante para

conscientização sobre danos causados ao meio ambiente e para o reconhecimento de que os

principais causadores desses danos ao meio ambiente são os países desenvolvidos – que por sua

vez deveriam dar apoio financeiro e tecnológico para os países em desenvolvimento, para

avançarem em busca do desenvolvimento sustentável.

ECO 92 foi o maior evento organizado pela ONU até então, reunindo delegações de 172

países, com 108 Chefes de Estado ou Governo. Segundo dados das próprias Nações Unidas, a

Conferência contou com 10.000 jornalistas credenciados, representantes de 1.400 ONGs e

pretendia elaborar estratégias e medidas para parar e reverter os efeitos da degradação ambiental

no contexto dos crescentes esforços nacionais e internacionais para a promoção do

desenvolvimento sustentável e ambientalmente adequado em todos os países (UNITED

NATIONS, doc. A/RES/44/228, “United Nations Conference on Environment and

Development”, 1992). Vinte anos após a Conferência de Estocolmo (1972), a ECO 92 foi

segundo o próprio Secretário-Geral da Conferência, Maurice Strong2, “um momento histórico

2 Maurice Strong é canadense e um dos principais proponentes do mundo da cooperação ambiental

global. Ele foi Secretário Geral da Conferência de Estocolmo, a primeira grande conferência inter-governamental

sobre o meio-ambiente. Em 1992, Strong foi Secretário Geral da Conferência da ONU sobre Meio-Ambiente e

Desenvolvimento - a ECO-92 no Rio. Este evento considerado um marco liderado por Strong, contou com a

participação de mais chefes de estado do que qualquer outro evento, e resultou na primeira cooperação global sobre

a mudança climática (www.mauricestrong.net). Segundo Kofi Annan (ex-Secretário-Geral da ONU), "se o mundo

consegue fazer uma transição para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, todos nós não devemos

pequena dívida de gratidão para com Maurice Strong, cuja presciência e presença dinâmica no palco internacional

tem desempenhado um papel fundamental nos governos convincente e popular tanto para abraçar o princípio - se

ainda não a prática - de adotar uma nova abordagem a longo prazo de custódia, para o ambiente global”.

Page 24: A importância das organizações internacionais na resolução da

10

para a humanidade”. Afinal, a questão do meio ambiente tornou-se de grande importância na

agenda internacional para justificar a ida de um numero tão significativo de Chefes de Estado e

de Governo em uma única Conferencia. Outro aspecto relevante é o fato da ECO 92 ter

acontecido em um país em desenvolvimento, demonstrando que o tema não era exclusivo dos

países ricos, mas sim uma questão que exigia um engajamento coletivo da comunidade

internacional. Nas palavras ainda do Secretário-Geral da Conferência em seu discurso final foi

possível perceber a relevância daquele evento, “vislumbrou-se a possibilidade de que fossem

resgatados o humanismo e a ótica universalista como veículos da generalização de valores, como

a proteção dos direitos humanos e do meio ambiente, o pluralismo, o fortalecimento do

multilateralismo e a solidariedade como cimento do relacionamento entre os Estados”.

Foram elaborados documentos oficiais a partir das discussões da ECO 92, que serviriam

como programas de ação e referência para os países ali presentes. Na I Sessão do Comitê

Preparatório foi elaborada a “Carta da Terra”, que propunha um espírito de cooperação mundial

para restabelecer, proteger e conservar a saúde do Planeta Terra - foi elaborada a partir de três

convenções oficiais: Biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas. Foi feita uma

Declaração de Princípios sobre Florestas, que devido a luta para obter um consenso em torno de

um conjunto modesto de princípios sobre florestas buscava combater a dificuldade de se obterem

compromissos legalmente vinculantes dos governos sobre a proteção das florestas do mundo. Ao

final da IV Sessão do Comitê Preparatório, estava concluída a “Declaração do Rio”, que continha

de forma concisa as questões mais importantes e de interesse dos países desenvolvidos e em

desenvolvimento. Dentre os 27 princípios da Declaração, está a preocupação com o

desenvolvimento sustentável, a questão do direito soberano dos países de explorar os próprios

recursos segundo as próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, o direito ao

desenvolvimento, o fato de normas ambientais aplicadas por alguns países serem inadequadas

para outros e a necessidade de reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e

consumo (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2002).

Page 25: A importância das organizações internacionais na resolução da

11

Como documento principal produzido na ECO 92 temos a Agenda 21, que para Strong

era mais do que um plano de ação dirigido a governos: “tratava-se do documento que deveria ser

a base para a atuação de governos, mas que atribuía papel primordial à sociedade civil, que, com

as ONGs, participariam da avaliação dos progressos alcançados”. Tiveram três elementos que

permitiram com que a Agenda 21 tivesse uma importância maior do que outros planos de ação,

foram eles um mecanismo financeiro com autonomia e recursos vultosos, um compromisso que

permitisse a criação de um sistema eficaz de transferência de tecnologia e a reforma e o

fortalecimento das instituições para que o objetivo do desenvolvimento sustentável fosse levado

adiante de forma efetiva e para que houvesse acompanhamento atento a esse processo. Dentro da

ONU, o mecanismo adotado para o acompanhamento ficou a cargo da Comissão de

Desenvolvimento Sustentável (CDS), no âmbito da ECOSOC (Conselho Econômico e Social das

Nações Unidas) – que faria esse papel de monitoramento, com participação de ONGs.

A Agenda 21 foi estruturada em quatro sessões, subdivididas em 40 capítulos temáticos.

Os temas dos capítulos são: as dimensões econômicas e sociais, a conservação e questão dos

recursos para o desenvolvimento, revisão dos instrumentos necessários para a execução das

ações propostas e a aceitação do formato e conteúdo da Agenda. Esses quatro temas

determinavam como seriam os próximos passos que os países deveriam tomar.

As dimensões econômicas e sociais matinha seu foco nas políticas internacionais que

pudessem auxiliar os países de terceiro mundo nos caminhos para o desenvolvimento

sustentável, a partir de alternativas para combater a pobreza, implementação de medidas para

rever os padrões de consumo, relações entre dinâmica demográfica e sustentabilidade, melhoria

na saúde pública e nas moradias. Alguns exemplos de ações que deveriam ser realizadas a partir

da primeira seção são: promoção do desenvolvimento sustentável por meio do comércio, apoio

recíproco entre comércio e meio ambiente, capacitação dos pobres para a obtenção de meios de

subsistência sustentáveis, desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais para estimular

mudanças nos padrões insustentáveis de consumo, formulação de políticas nacionais integradas

para meio ambiente e desenvolvimento, levando em conta tendências e fatores demográficos,

implementação de programas integrados de meio ambiente e desenvolvimento no plano local,

levando em conta tendências e fatores demográficos, satisfação das necessidades de atendimento

Page 26: A importância das organizações internacionais na resolução da

12

primário da saúde, especialmente nas zonas rurais, aperfeiçoar o manejo dos assentamentos

humanos, promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental como água, saneamento,

drenagem e manejo de resíduos sólidos, promover sistemas sustentáveis de energia e transporte

nos assentamentos humanos, integração entre meio ambiente e desenvolvimento nos planos

políticos, de planejamento e de manejo, utilização eficaz de instrumentos econômicos e de

incentivos de mercado e outros.3

A conservação e questão dos recursos para o desenvolvimento abrangem diferentes

aspectos, como a proteção da atmosfera e com isso tornar possível a transição energética,

proteção dos recursos de água doce e do mar e proteção as florestas com o combate ao

desmatamento. Entram nessa seção também a promoção e proteção de alguns assuntos sociais

como a busca por igualdade e melhor nível de educação para a mulher e também sua inserção na

sociedade, proteção aos jovens, aos índios, sindicatos, à comunidade científica, tecnológica, aos

agricultores e também às ONGs.

Já a revisão dos instrumentos necessários para a execução das ações propostas trataria dos

instrumentos financeiros e jurídicos no âmbito internacional, possibilidade de ofertar atividades

científicas e tecnologia para gestões da sustentabilidade, utilização de treinamento e educação

para buscar uma consciência ambiental, analisar os dados importantes para a gestão da

sustentabilidade, tornar as instituições mais fortes e por fim a melhoria no sistema de coleta e

processamento e a capacidade de cada país para tal.

A aceitação do formato e conteúdo da Agenda aponta a aprovação de todos os países que

estiveram na CNUMAD, que tornou possível a criação da CDS – vinculada a ECOSOC,

conforme já mencionado. A CDS tem como propósito cooperar com os países na elaboração de

suas agendas nacionais e assim a implementação que torne possível o cumprimento da Agenda,

acompanhando esse processo. Como meios dessa esperada implementação, temos no capítulo 40

da Agenda o financiamento e estimativa de custos, os meios institucionais Meios científicos e

tecnológicos, desenvolvimento dos recursos humanos e fortalecimento institucional.

3 Exemplos extraídos do site oficial da Comissão de Desenvolvimento Sustentável ou Division for

Susteinable Development , da ONU, 1983.

Page 27: A importância das organizações internacionais na resolução da

13

A importância da ECO 92 é nítida e pode ser percebida a partir dos documentos criados a

partir da Conferência. Dez ano após a Conferência em Estocolmo, os países tinham novos

objetivos e deveriam manter-se alinhados com o que elaborassem em sua Agenda nacional,

sempre em busca de melhores resultados para atingir o desenvolvimento sustentável. O

comprometimento dos 172 países presentes em 1992 no Rio de Janeiro criou uma expectativa

muito grande por parte das pessoas, governos, ONGs e até empresas ao redor do mundo.

O engajamento de órgãos da ONU na questão do meio ambiente tornou-se ainda mais

forte, como se pode verificar na seguinte parte de um documento produzido pelo Departamento

das Nações Unidas para assuntos econômicos e sociais (UNITED NATIONS DEPARTMENT

OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS) e Organização das Nações Unidas para

desenvolvimento industrial (UNITED NATION INDUSTRIAL DEVELOPMENT

ORGANIZATION), “Technology Development and Transfer for Climate Change - A Survey of

Activities by United Nations System Organizations”:

The United Nations system is currently engaged in a substantial effort, across a broad

spectrum of complementary activities, to assist the international community in

mitigating and adapting to climate change and especially to better prepare developing

nations to adapt to the adverse effects. While the magnitude of this effort is exceptional

and many activities are innovative, it will be crucial to make an even more effective use

of the wealth of the expertise and experience available within the United Nations system

in pursuit of an endeavour that can be achieved only through global cooperation

A Conferência no Rio de Janeiro teve grande importância na questão do meio ambiente e

de forma esperançosa e confiante os governos reconheceram que a mesma poderia ser propulsora

de ações mais ousadas e de melhores resultados no futuro. Pode-se perceber a grandeza da ECO

92 com o número de países, Chefes de Estado e Governo, jornalistas e representantes de ONGs

de todo o mundo – bastante significativo. Segundo a ex- Ministra do Meio Ambiente Marina

Silva (apud, AGABRASIL, 2007), "a Agenda 21 reúne o conjunto mais amplo de premissas e

recomendações sobre como as nações devem agir para alterar seu vetor de desenvolvimento em

favor de modelos sustentáveis e a iniciarem seus programas de sustentabilidade”

(AGABRASIL, 2007)

Page 28: A importância das organizações internacionais na resolução da

14

Como na ECO 92 não foram estabelecidos prazos para as ações em busca do

desenvolvimento sustentável, surgiram as Conferências das Partes4 - com o intuito de criar metas

e prazos para países desenvolvidos e em desenvolvimento que reduzam os danos causados ao

meio ambiente.

Adotou-se em 1995 o “Mandato de Berlim”, na Conferência das Partes (COP-1), em

Berlim, durante a primeira sessão. O foco era com que os países chegassem a um consenso para

definir as medidas e ações que deveriam ser tomadas para conter as causas do efeito estufa.

Foram várias resoluções, entre elas ficou definido que o compromisso dos países desenvolvidos

em reduzir as emissões para os níveis verificados em 1990, até 2000, não obteria os resultados e

objetivos imaginados a longo prazo na Convenção. Devido a isso, as Partes (os Países presentes)

chegaram a novo consenso, que um protocolo com o comprometimento legal fosse elaborado,

tornando assim a questão oficial. O prazo para que esse documento fosse apresentado era o ano

de 1997, na COP-35. No gráfico abaixo é possível perceber a grande quantidade desses gases

emitidos por diferentes países e suas respectivas porcentagens:

GRÁFICO 1 - EMISSÕES GLOBAIS DE GEE

4 A Conferência das Partes (COPs) constitui o órgão supremo da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e

neste caso, “Partes” são o mesmo que País. A COP é responsável pela implementação e incluí os países que ratificaram ou aderiram a

Convenção em questão. Os encontros das Partes são anuais e acontecem desde 1995 (Berlim, Alemanha). A última Conferência das

Partes foi a COP-15 (Copenhagen, Dinamarca), em 2009.

5 Informação extraída de Relatório encontrado no site do Programa Estadual de Mudanças Climáticas, em conjunto com a

Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo.

Page 29: A importância das organizações internacionais na resolução da

15

Fonte: Gráfico elaborado pela autora a partir de dados extraídos de WRI, CAIT (2009) – porcentagem da contribuição para as

emissões de GEE, no ano de 2005. Movendo da esquerda para a direito, os países são adicionados na ordem de emissões

absolutas, com o maior que está sendo adicionado em primeiro lugar. Os números excluem as emissões de uso da terra e

silvicultura e combustíveis de bancas internacionais. Adaptado a partir da Figura 2.3 em Baumert et al. (2005).

Com o objetivo de criar o rascunho de um acordo que depois de oito sessões seria

enviado à COP-3 para que fosse finalmente negociado, formou-se um grupo Ad Hoc6 a respeito

do Mandato de Berlim.

1.4 Protocolo de Kyoto

6 O termo Ad Hoc quer dizer “para isto” ou “específico”.

Page 30: A importância das organizações internacionais na resolução da

16

A COP-3 aconteceu em Kyoto, no Japão, em 1997 e teve um número bastante

significativo de 10.000 delegados, observadores e jornalistas. Na proposta de atodar um

protocolo constava que os países ricos tinham como meta reduzir suas emissões dos gases

causadores do efeito estufa em pelo menos 5%, comparado com os graus de 1990, de 2008 a

2012.

O Protocolo possui 28 Artigos, nos quais podemos verificar a intenção de melhorar as

medidas e políticas visando às situações de cada país, por exemplo, ter uma maior eficiência de

energia em setores importantes para a economia em questão; a importância de proteger os

reservatórios e também os sumidouros de gases prejudiciais a camada de ozônio que o Protocolo

de Montreal não controla, tendo em vista o que foi definido internacionalmente em acordos

importantes sobre o meio ambiente, promover iniciativas que visem a sustentabilidade em

relação ao modo como florestas são tratadas e o reflorestamento; promover iniciativas de

agricultura que sejam sustentáveis, pensando também nas transformações do clima; o trabalho

relacionado a pesquisas, promovendo o desenvolvimento, novos jeitos de usar energias

renováveis, utilização de tecnologia que sejam seguras para o meio ambiente e que inovem;

normas no setor de transporte para diminuir a emissão de gases de efeito estufa; reduzir ou até

limitar as emissões de metano. O ponto principal do Artigo 2 é que os países parte do Anexo I

devem cooperar entre si para aumentar a eficiência de cada um, para que como um todo

respeitem em cumpram as medidas e políticas adotadas no próprio Artigo.

É possível verificar essa necessidade de cooperação entre os países no seguinte parágrafo

do Artigo 4:

(...) as Partes de qualquer um desses acordos devem notificar o Secretariado sobre os

termos do acordo na data de depósito de seus instrumentos de ratificação, aceitação,

aprovação ou adesão a este Protocolo. O Secretariado, por sua vez, deve informar os

termos do acordo às Partes e aos signatários da Convenção”

(Protocolo de Kyoto, Artigo 4).

Portanto, para atingir esse objetivo, as Partes precisam tomar medidas para trocar

conhecimentos sobre políticas e medidas, até construir possibilidades da comparabilidade,

transparência e eficiência ser cada vez melhor. A Conferência das Partes considerou formas para

Page 31: A importância das organizações internacionais na resolução da

17

aumentar e ser mais fácil a cooperação, pensando e levando em consideração toda informação

importante (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2002).

Além dos Artigos o Protocolo possui dois Anexos, A e B. O primeiro descreve de forma

detalhada os gases que devem ter seu uso reduzido e também as atividades que devem ser

monitoradas. Como por exemplo, os gases dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido

nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre

(SF6). E atividades como a queima de combustível, emissões fugitivas de combustíveis, uso de

solventes e outros produtos, queima de resíduos agrícolas e tratamento de esgoto (Nações Unidas

do Brasil, 2002). Podemos observar na próxima tabela a relação de alguns países e suas emissões

desses gases:

Page 32: A importância das organizações internacionais na resolução da

18

TABELA 1: EMISSÕES DE GASES EM 2008

Emissões de Gases em 2008

Total GHG Emissions in 2008

(excludes land use change)

CO2, CH4, N2O, PFCs, HFCs, SF6

Country MtCO2e Rank

Metric tons

CO2e Per Person Rank

Australia 549.5 (8) 25.6 (1)

Austria 86.6 (21) 10.4 (19)

Belarus [1] 91.1 (20) 9.4 (25)

Belgium 133.3 (18) 12.4 (13)

Canada 734.4 (6) 22.0 (4)

Czech Republic 141.4 (17) 13.6 (10)

Denmark 65.1 (28) 11.9 (14)

European Community 3,970.5 (2) 10.1 (22)

Finland 70.1 (26) 13.2 (11)

France 531.8 (10) 8.5 (30)

Germany 958.1 (5) 11.7 (15)

Greece 126.9 (19) 11.3 (16)

Hungary 73.1 (25) 7.3 (33)

Iceland 4.9 (39) 15.4 (7)

Ireland 67.4 (27) 15.2 (8)

Italy 541.5 (9) 9.1 (27)

Japan 1,281.8 (4) 10.0 (23)

Netherlands 206.9 (15) 12.6 (12)

New Zealand 74.7 (23) 17.5 (5)

Norway 53.7 (30) 11.3 (17)

Portugal 78.4 (22) 7.4 (32)

Russian Federation 2,229.6 (3) 15.7 (6)

Spain

Sweden

Switzerland 405.7 (12) 8.9 (29)

Turkey [1] 64.0 (29) 6.9 (37)

United Kingdom 366.5 (14) 5.0 (40)

United States of America 427.8 (11) 9.2 (26)

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir dos dados encontrados no “Climate Analysis Indicators Tool – World Resources Institute (2008)”

Page 33: A importância das organizações internacionais na resolução da

19

São sugeridas, portanto, as seguintes ações dos países ao redor do mundo, para

contribuir com a diminuição dos gases de efeito estufa: uma maior utilização de fontes de

energias renováveis e limpas (como biocombustíveis, energia eólica, biomassa e solar); a

proteção de áreas verdes; um melhor desenvolvimento nos sistemas de energia e

transporte, para atingir o consumo racional; a redução das emissões de metano, presentes

em sistemas de depósito de lixo orgânico (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2002).

Foram determinadas três possibilidades dos participantes do Protocolo reduzirem suas

emissões de carbono. A primeira é a única que os países em desenvolvimento fazem parte,

portanto a que interesse o Brasil. É o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que

permite que países industrializados comprem essas reduções de emissão dos países do terceiro

mundo, podendo também optar por investir em projetos de redução nos países em

desenvolvimento. Essa forma pode ser exemplificada da seguinte forma, se a França reduzir suas

emissões em 5%, e não 7% como previsto no Protocolo, poderá comprar créditos dos países em

desenvolvimento que fosse correspondente aos 2% que faltam para atingir a meta. Para

compreendermos melhor os “créditos de carbono”, pode-se verificar no Artigo 6 do Protocolo de

Kyoto (1997):

A fim de cumprir os compromissos assumidos sob o Artigo 3, qualquer Parte incluída

no Anexo I pode transferir para ou adquirir de qualquer outra dessas Partes unidades de

redução de emissões resultantes de projetos visando a redução das emissões antrópicas

por fontes ou o aumento das remoções antrópicas por sumidouros de gases de efeito

estufa em qualquer setor da economia, desde que:

(a) O projeto tenha a aprovação das Partes envolvidas;

(b) O projeto promova uma redução das emissões por fontes ou um aumento das

remoções por sumidouros que sejam adicionais aos que ocorreriam na sua ausência;

A segunda forma é o “Comércio de Emissões”, que diz respeito às negociações entre

países desenvolvidos e indústrias localizadas em seu território, visando que o lançamento de

poluentes no meio ambiente diminua ainda mais do que foi acordado no Protocolo. Essa prática

pode trazer bons resultados econômicos, já que essa redução pode ser vendida para outros países

desenvolvidos que não atingiram suas metas – segundo o próprio Protocolo. Segundo reportagem

da BBC Brasil, em dezembro de 2007, “países que poluem muito podem comprar créditos não

usados daqueles que têm direito a mais emissões do que o que normalmente geram”. Ou seja,

Page 34: A importância das organizações internacionais na resolução da

20

“depois de muitas negociações, os países também podem agora ganhar créditos por atividades

que aumentam a sua capacidade de absorver carbono, como o plantio de árvores e a conservação

do solo”.

E a última forma é a “Implementação Conjunta”, ou seja, os países industrializados

procuram atingir suas metas juntos. Assim, se um país não atinge a meta proposta, mas o país

que está trabalhando em conjunto atinge, é possível que ambos firmem um acordo – um país

investiria no outro, o que fosse mais fácil atingir os objetivos. Nos anos seguintes a COP-3,

países se posicionaram a respeito do Protocolo, aderindo-o ou não, como é possível verificar a

partir do mapa a seguir:

Page 35: A importância das organizações internacionais na resolução da

21

MAPA 1 - MAPA DO PROTOCOLO DE KYOTO

Fonte: Progresso Verde (2009)

A questão da diminuição dos gases de efeito estufa e os problemas causados ao meio

ambiente continuaram em pauta nas Conferências seguintes. Será destacada a COP-15, que por

sua grande importância e expectativa criada ao seu redor, poderia resultar em um novo acordo

sobre as reduções necessárias aos países desenvolvidos e em desenvolvimento – não substituiria

o Protocolo de Kyoto, mas seria mais atual.

1.5 COP-15

Serão tratados a seguir os principais aspectos da COP-15, que ocorreu em Copenhagen,

Dinamarca em 2009.

A COP-15 ocorreu na mesma época da 5ª Reunião das Partes do Protocolo de Kyoto. A

primeira tinha como principal objetivo estabelecer um novo acordo internacional para o clima,

mantendo a continuidade do acordo de Kyoto. Ou seja, o documento determinaria metas

significativas de redução para países ricos e compromissos sem obrigatoriedade por parte dos

países em desenvolvimento (de forma que ações pudessem ser medidas, verificáveis e

reportáveis internacionalmente). Com o objetivo inicial de uma diminuição entre 25% e 40%, os

Page 36: A importância das organizações internacionais na resolução da

22

países desenvolvidos deveriam chegar a esses resultados até 2020, se comparados com o ano de

1990.

Os países em desenvolvimento estariam comprometidos com um crescimento baseado em

um modelo econômico com menos carbono. Esse novo acordo não substituiria o Protocolo de

Kyoto, já que na 5ª Reunião das Partes do Protocolo de Kyoto seriam definidas as metas

destinadas aos países do Anexo I (países desenvolvidos), entre 2013 e 2017 – os países

signatários do Protocolo deveriam reduzir suas emissões em 5,2% até 2012. Com esse objetivo

de reduzir as emissões, seria necessário que as Partes chegassem a consensos nos cinco

principais eixos: financiamento, transferência de tecnologia, mitigação, adaptação e visão

compartilhada sobre qual o objetivo global necessário (PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO

DE SÃO PAULO SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 2009).

Existem dois Grupos de Trabalho Ad Hoc para a questão do Protocolo de Kyoto e

também para ações de cooperação a longo prazo. O AWG-KP (Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre

Novos Compromissos para os Membros do Anexo I do Protocolo de Kyoto); e AWG-LCA

(Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Ações de Cooperação a Longo Prazo). Criado em 2005, o

primeiro Grupo tem como objetivo o debate de compromissos novos ou diferentes dos países

desenvolvidos, em temas relacionados ao Protocolo. Já o segundo Grupo surgiu em 2007, com o

objetivo de debater e até criar novos acordos sobre temas que acarretem certa importância aos

países menos desenvolvidos, como o financiamento de táticas de adaptação e mitigação.Os

assuntos debatidos nesses grupos dizem respeito aos cinco eixos mencionados anteriormente.

Segundo Yvo de Boer, o sucesso da COP-15 depende de serem estabelecidas metas claras

e bem definidas aos países ricos para a redução dos gases; definição esclarecida dos objetivos

que devem ter os países em desenvolvimento quanto às formas de limitação e do aumento das

emissões; os países ricos financiarem de forma adequada os países em desenvolvimento a se

adequarem aos efeitos causados pelas mudanças no clima; o estabelecimento de um mecanismo

institucional para gerir os financiamentos (JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, 2009).

Podem-se destacar alguns pontos principais e também os mais polêmicos que foram

discutidos ao longo dos quinze dias de debate na Conferência; países desenvolvidos e não

Page 37: A importância das organizações internacionais na resolução da

23

desenvolvidos têm percepções diferentes em relação às metas de redução dos gases causadores

do efeito estufa. Os que fazem parte do Anexo I apresentaram propostas de redução inferiores ao

esperado, 40% em relação à 1990 até 2020 – os países em desenvolvimento exigem valores mais

ambiciosos. Já os países ricos exigem dos países em desenvolvimento adoções de metas

voluntárias para redução dos gases, mas que possam de verificadas e mensuradas

internacionalmente.

Quanto ao possível novo acordo após 2012, novamente as nações mais e menos

favorecidas têm opiniões divergentes, uma vez que os países ricos defendem a criação de novas

metas a partir de um novo documento e os países menos desenvolvidos defendem os princípios

adotados em Kyoto e acreditam que devem continuar a vigorar. Alguns especialistas apontam

intenções da adesão de Brasil, China e Índia em um compromisso global que ultrapasse as metas

voluntárias – intenções essas por parte dos países ricos. Porém esses três países citados defendem

o Protocolo, mas com objetivos e valores mais ousados para as Partes do Anexo I. E por fim, os

países em desenvolvimento exigem o financiamentos dos países ricos para o auxílio na

implementação de ações de redução de emissões dos gases de efeito estufa.

No gráfico a seguir é possível verificar as emissões de CO2 por países parte e não parte

do Anexo I e suas previsões até 2025:

Page 38: A importância das organizações internacionais na resolução da

24

GRÁFICO 2 - EMISSÕES DE CO2 ATÉ 2025

Fonte: Gráficos elaborados pela autora a partir de dados extraídos de WRI, CAIT (2009) - previsão da "Energy Information

Administration" (EIA) na porcentagem de emissões de CO , gerados a partir do consumo de combustíveis fósseis entre 2006 e

2025.

Mesmo com tantas expectativas e propostas, o Acordo de Copenhagen não foi aprovada

pela ONU – já que segundo o protocolo das Nações Unidas, só são aprovados acordos por

unanimidade -, mas “tomou-se nota” do mesmo. Essa foi a decisão encontrada para que o

Acordo tivesse alguma validade legal internacionalmente. As opiniões de representantes de

diferentes países sobre o desfecho da COP-15 foi diverso. Para o Ministro do Meio Ambiente

Carlos Minc, chefe da delegação brasileira na Conferência, o acordo não dá condições

suficientes aos países, dando maior atenção aos menos desenvolvidos, para atuarem de forma

Page 39: A importância das organizações internacionais na resolução da

25

eficiente e atingindo as expectativas. Para Suzana Kahn, secretária de Mudanças Climáticas e

Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e membro do IPCC, a COP 15 a

decepcionou. Isso porque foi discutido por chefes de estado muito mais a parte econômica dos

países ricos e pobres, deixando de lados os que serão afetados fortemente com os efeitos do

aquecimento global. "Existem muitos países africanos, por exemplo, que irão sofrer demais com

o aumento da temperatura. No entanto, parece que a discussão tomou um viés econômico e

político, o que eu acho muito preocupante. A questão climática ultrapassa a fronteira ambiental.

É uma questão de desenvolvimento, de justiça, de equidade", afirmou Suzana Kahn (JORNAL O

ESTADO DE SÃO PAULO, 2009).

É possível destacar os principais pontos do Acordo de Copenhagen como: não

vinculativo, o que uma proposta anexa ao Acordo exige que seja legal e vinculante até o fim de

2011; dois graus Celsius foram a temperatura limite em relação ao seu aumento, mas não foi

especificado como e de quanto devem ser os cortes de emissões que são precisos para atingir

esse objetivo; ficou instituído o valor de US$ 10 bilhões entre 2010 e 2012 por ano aos países

menos desenvolvidos, para que possam assim combater os efeitos e conseqüências do

aquecimento global; e US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 destinados à mitigações e

adequações; US$ 25,2 bilhões virão da Europa, Japão e EUA.

Segundo a proposta, os EUA terão uma contribuição de US$ 3,6 bilhões entre 2010 e

2012. Nessa mesma época, a contribuição do Japão será de US$ 11 bilhões e da Europa de US$

10,6 bilhões. Ainda segundo o acordo, os países terão que disponibilizar “informações

nacionais” referentes a como estão agindo para enfrentar e combater o aquecimento global,

através de "consultas internacionais e análises feitas sob padrões claramente definidos"; o texto

diz: "Os países desenvolvidos deverão promover de maneira adequada (...) recursos financeiros ,

tecnologia e capacitação para que se implemente a adaptação dos países em desenvolvimento";

os detalhes de como funcionará a questão de mitigação podem ser encontrados em dois anexos

do Acordo de Copenhague. O primeiro com as metas dos países desenvolvidos e o outro com os

compromissos voluntários de países em desenvolvimento, de extrema importância, como o

Brasil; o acordo "reconhece a importância de reduzir as emissões produzidas pelo desmatamento

e degradação das florestas" e concorda promover "incentivos positivos" para o financiamento

Page 40: A importância das organizações internacionais na resolução da

26

dessas ações com recursos dos países ricos; em relação ao Mercado de Carbono ficou decidido

seguir diferentes enfoques, como as chances de usar os mercados para aprimorar a afinidade

custo-rendimento e para gerar ações de mitigação (JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO, 2009).

A partir da tabela abaixo é possível verificar as metas de redução para 2010 do Brasil,

China, Estados Unidos, Índia, Indonésia, Japão, Rússia e União Européia:

TABELA 2 - EMISSÕES ABSOLUTAS POR PAÍS E CENÁRIOS PARA 2020

Fonte: Tabela elaborada pela autora a partir de WRI, CAIT (2009) – se as metas acima forem atingidas será um grande avanço na tentativa de

combater o aquecimento global, mas não são suficientes para que a temperatura não aumente mais do que 2º Celsius, limite determinado pela

Convenção do Clima.

Portanto, a expectativa que deixou a COP-15 é muito grande em relação às reduções dos

gases de efeito estufa e todo o esforço dos países para conter o aquecimento global. A

cooperação entre as nações é imprescindível e deve ocorrer de maneira contínua e cada vez

melhor, visando às necessidades dos países mais e menos desenvolvidos. A atuação de

Organizações na questão climática é muito importante e merece uma atenção cada vez maior.

Page 41: A importância das organizações internacionais na resolução da

27

CAPÍTULO 2

As Organizações Internacionais e sua atuação na crise ambiental global.

O segundo capítulo desta monografia tratará de conceitos mais específicos das relações

internacionais, como a cooperação internacional, regimes internacionais, legitimidade,

multilateralismo e as organizações internacionais. Aqui, serão apresentados os diferentes tipos de

organizações, como as organizações não governamentais, organizações transnacionais, entre

outras - destacando os casos do WWF e PNUMA.

2.1 Cooperação Internacional e governança global

A cooperação internacional ocorre quando dois ou mais estados, desenvolvidos ou em

desenvolvimento, unem esforços para combater problemas ou dificuldades em diferentes áreas.

Ou seja, a cooperação pode acontecer devido a problemas sociais, econômicos, políticos e no

caso aqui debatido, o meio ambiente. Pelo fato de assuntos relacionados ao meio ambiente na

maioria das vezes gerarem conseqüências a outros países, a cooperação se tornou cada vez mais

importante. As cúpulas e conferências ao longo dos anos passaram a levar em consideração

ações e metas a serem feitas e atingidas e na maioria das vezes, fazendo parte dessas a

cooperação internacional.

Segundo Keohane (1989) “a cooperação internacional é um processo de coordenação de

políticas por meio do qual os atores (no caso os Estados) ajustam seu comportamento às

preferências reais ou esperadas dos outros atores.” O autor define a cooperação como um

processo, não como um fim.

A questão da governança global gera uma série de opções para encontrar melhores

soluções para os países e seus atuais governantes. Ou seja, enquanto não existir a cooperação

internacional para combater as mudanças climáticas, proteger a diversidade biológica, restaurar a

vitalidade das áreas pesqueiras nos mares e prevenir a disseminação de poluentes orgânicos

permanentes, fica extremamente difícil encontrar uma saída para toda essa questão. Portanto, é

necessário criar um sistema eficaz de governança ambiental global para que, finalmente,

encontre-se um caminho para a sustentabilidade.

Page 42: A importância das organizações internacionais na resolução da

28

Ainda partindo dos conceitos de governança global, não se pode deixar de lado a

importância e conceitos como legitimidade, transparência e também a “prestação de contas” das

organizações que serão analisadas neste projeto.

Essa maneira de pensar decorre da hipótese e que os governos lutam de forma natural e

correta contra uma organização internacional que limite demasiadamente suas escolhas em

relação às políticas ambientais e econômicas de seus respectivos países (GAINES, 2003; MOE,

1989 e ZEGART, 1999).

Segundo Keohane (1989)

os acontecimentos ocorridos em determinado pais tinham efeitos concretos em outros

paises, que não tinham qualquer controle sobre tais efeitos. Este grau de

interdependencia levaria os Estados a procurarem mecanismos para administrar os

conflitos inerentes a ela, de maneira a permitir que os Estados usufruam dos beneficios

de um sistema internacional mais integrado(…)

Este foi o ponto que deu origem aos estudos dos regimes na década de 1980. Ainda

segundo Keohane, regimes são “regras, normas e processos de tomadas de decisões, atuando de

acordo com interesses e expectativas de atores em determinada área.”

2.1 Regimes Internacionais

Os regimes internacionais estão sujeitos à mudanças e funcionam como variáveis

mediadoras dos interesses, poderes e valores (fatores causais) e as consequencias ou

comportamentos atingidos a partir deles. Alguns exemplos desses fatores causais são o poder

politico, princípios, normas, usos, costumes e conhecimento da ciencia (KRASNER, 1982).

Portanto, mudanças só acontecerão quando as consequencias e comportamentos atingidos não

estejam de acordo com os princípios e regras existents nos regimes, podendo assim acontecerem

as mudanças nesses princípios e regras.

Assim, será multilateral, na definição qualitativa, um regime no qual o significado

substantivo desses termos reflita, mesmo que grosso modo, os princípios generalizados de

conduta apropriados e estabelecidos pela coletividade sobre a qual ele desempenhará seus

preceitos regulatórios (RUGGIE, 1993: 13).

Page 43: A importância das organizações internacionais na resolução da

29

MAPA 2 - Relação entre governança global, regimes internacionais e abordagens

organizacionais

O Regime internacional que trata da questão climáticas aponta metas para Estados do

primeiro mundo, tendo os mesmos como os maiores poluidores e como consequencia, os

causadores do efeito estufa. Tanto os países desenvolvidos quanto em desenvolvimento têm cada

vez mais defendido métodos para que essas emissões de gases diminuam - diferente dos meios

que constam no Anexo I - países signatários do Protocolo de Kyoto.

2.3 Organizações Internacionais

Outro foco da governança global são as Organizações Intergovernamentais (OIGs), as

mesmas são utilizadas pelos Estados como uma organização coletiva. Isso parte das três teorias

que formaram e desenvolveram as OIGs: federalismo, funcionalismo e bens coletivos. Cada uma

dar três teorias possui uma linha de pensamento e seus respectivos autores principais. São eles

Jean-Jacques Rousseau (“Projetos para umas paz perpétua”), David Mitrany (“A working peace

system”) e Garrett Hardin (“The tragedy of the Commons”), respectivamente.

Page 44: A importância das organizações internacionais na resolução da

30

A ação das Nações Unidas, OISGs (Organismos Internacionais Intergovernamentais) e

outros tipos de organizações que defendem o meio ambiente constituem fóruns com enfoques

políticos renovados e pensando nas relações internacionais, já que um dos objetivos é criar uma

nova relação entre povos e países. Com negociações baseadas em princípios de interdependência

e solidariedade internacional, utilizam-se visões multilaterais e multidisciplinares para encontrar

melhores soluções para problemas globais (SENHORAS e MOREIRA, 2008).

Organizações internacionais são constituídas a partir de um tratado internacional,

envolvendo dois ou mais países, que possui regulamentos e órgãos próprios, com o a intenção de

atingir objetivos e metas comuns determinados por Estados membros. Como os membros das

OIs são Estados, podemos definí-las como interestatais. Esses Estados associam-se de forma

livre às OIs, tendo os originários e os membros ordinaries (que tornaram-se parte após a criação

da mesma) (RUGGIE, 1993).

Segundo Cervera (1991), algumas consequências das OIs são: a inovação científica e

tecnológica e sua aplicação aos meios de transporte e comunicação; as alterações experimentadas

pelas relações de produção, distribuição e consumo ocasionadas pelo processo de

industrialização; a reordenação das estruturas sociais; desenvolvimento do nacionalismo.

Podemos destacar a internacionalidade e a relevância juridical como conceitos e

características das OIs.

De forma bem simples podemos compreender a estrutura das Organizações. Nas

organizações internacionais estão as OIGs (internacionais governamentais); e Atores

Transnacionais - ONGs (não-governamentais) e Empresas Multinacionais. E no outro grupo, as

Organizações Nacionais.

Os Estados, em conjunto com as OIGs, muitas vezes criam ou fazem a manutenção de

princípios e regras internacionais baseados nas preocupações comuns. Os regimes internacionais

mudam o comportamento dos Estados. É possível encontrar as normas, regras e processos de

tomada de decisões desses regimes nos estatutos das OIGs. A intenção dessas regras de conduta

é reduzir o incentivo de trapaça e valorizando a boa reputação (MINGST, 2009).

Page 45: A importância das organizações internacionais na resolução da

31

Podem-se encontrar os princípios desses regimes no caso dos direitos humanos, por

exemplo, em tratados internacionais e também na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A ONU e a União Européia são exemplos de OIGs que institucionalizam esses princípios

em normas e regras específicos. “Elas estabelecem processos elaborados para monitorar o

comportamento dos Estados na questão dos Direitos Humanos e sua obediência aos princípios

humanitários corretos. Essas mesmas organizações oferecem oportunidades para que os

diferentes membros do regime – Estados, outras OIGs - por exemplo, PNUMA -, ONGs - por

exemplo o WWF - e indivíduos se reúnam e avaliem seus esforços” (MINGST, 2009).

Pensando agora na questão da legitimidade das organizações, podemos destacar a

representatividade das mesmas como algo muito vago e não muito bem definido. Ou seja, para a

maioria dos Estados que devem lidar com essas organizações, ainda é desconhecida a questão

financeira, a parte organizacional e functional dessas ONGs, OIs e OIGs.

2.4 Organizações Não – Governamentais

Muitas ONGs surgiram em pouco tempo formando hoje, uma extensa trama de relações da

Sociedade internacional (ROJAS ARAVENA & MILET GARCÍA, 1999: 303)‏. As ONGs

tem a capacidade de veiculação instantânea. Muitas delas acabam se tornando transnacionais

com sedes em muitos países. Auxiliam na formação de agendas e até na elaboração destas.

Tendo como exemplo as ONGs, que a partir dos anos 1970 tornavam-se parte do Terceiro

Setor, não tem bem definido suas fronteiras, já que muitas vezes atuam em mais de um país e

com assuntos globais, de interesse internacional. Portanto, são mais flexíveis e menos rígidas

do que as organizações governamentais.

Porém, mesmo que na maior parte dos casos as ONGs sejam independentes, em algumas

fases da história como o pós-guerra nos EUA e Europa, essa independência não é total, uma vez

que partidos politicos acabavam por apoiar algumas ONGs para auxiliar nas reconstruções em

questão.

Segundo Augusto de Franco (2002), as ONGs só falam e agem por elas mesmas.

Portanto, por mais que tratem de assuntos globais, não podem agir em nome de outros.

Page 46: A importância das organizações internacionais na resolução da

32

Quando questionadas sobre a representatividade, as ONGs alegam falta de democracia

por parte das organizações intergovernamentais. Se essas ONGs aceitam ou não regras e normas

impostas por Estados, isso acabará por definir a legitimidade das mesmas. Que segundo o

Dicionário de Política (1998), é:

um atributo do Estado, que consiste na presença, emu ma parcela significativa da

população, de um grau de consenso capaz de assegurar a obediência sem a necessidade

de recorrer ao uso da força, a não ser em casos esporádicos (…) o element integrador na

relação de poder que se verifica no âmbito do Estado.

Portanto não importando somente se as ONGs não “obedecem” essas normas, mas

também como estas paraticiparão efetivamente de processos governamentais internacionais. E

outro ponto ainda pouco definido, como mencionado anteriormente, é a questão financeira e a

origem e destino dos recursos que tem as ONGs. São raros os registros dessas organizaç ões

quando trata-se de prestações de contas. O que elas realmente querem é exercer influência no

assunto em questão, interagindo com o maior número de pessoas e tornando possível um

objetivo comum.

Independente da área que atuam, têm contribuído com diferentes causas e levando muitas

vezes ao conhecimento e alcance da população assuntos ainda não muito discutidos ou até

mesmo desconhecidos pela maior parte da população de determinada região. Como cada vez

mais as ONGs querem atuar paralelamente em relação aos Estados, são muitas vezes

questionados os aspectos de legitimidade e representativo. Segundo Nye e Keohane, 1989,

“ONGs são associadas a organizações transnacionais”.

Já Chiang Pei-heng (1981), ressalta os diferentes propósitos de criação das ONGs.

Algumas para prestar auxílio ou Socorro, outras para repassar e expandir conhecimento e

informação, outras para atuar em areas ou grupos específicos e outras ainda para defender algum

projeto ou movimento. Outro autor que trata deste tema é David Horton Smith, 1974, este analisa

os diferentes tipos e formatos das organizações, a partir de seu local, tamanho, relação com a

sociedade e meios para realizar os respectivos trabalhos. O mesmo autor lembra ainda que a

maioria dessas diversas organizações são bastante discretas quando trata-se do assunto

econômico, ou seja, não são muitas as que declaram no que exatamente atuam e quais suas

atividades e também o apoio financeiro ou institucionais.

Page 47: A importância das organizações internacionais na resolução da

33

2.5 O Caso PNUMA e WWF

A atuação das ONGs ocorre em diversas áreas, para este trabalho será tratada apenas a

área do meio ambiente.

A Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, que ocorreu em 1972, foi

o marco da participação dessas organizações das reuniões entre diversos países para debaterem

temas e problemas, tentando chegar à medidas e conclusões, referentes ao meio ambiente. Com

um número bastante significativo, a Conferência contou com 255 ONGs nacionais e

internacionais. E ainda como consequência de Estocolmo, criou-se o PNUMA (Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente) - que iria dialogar e atuar em conjunto com essas

organizações.

Segundo a seção IV da Resolução 2997 (XVII) da Assembléia Geral de 1972, o PNUMA

colaborou com as ONGs:

a) apoiar o estabelecimento de redes regionais e internacionais e ONGs;

b) estimular a contribuição daquelas organizações no planejamento e implementação de

diferentes programas e projetos”.

Ao longo dos anos 1980, o PNUMA já tinha dificuldades de tratar dos assuntos

ambientais de forma centralizada, o que fez com que muitas ONGs buscassem apoio e trabalho

em conjunto por parte de outras agências ligadas à ONU. Como por exemplo o BM e a FAO -

que também tratavam de questões ambientais.

Nessa mesma década, criou-se a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente, que tinha na

presidência a Primeira Ministra da Noruega, Gro Brundtland e também o Relatório “Nosso

Futuro Comum” ou “Relatório de Brundtland”. Relatório que afirmava a necessidade da criação

de ONGs e do importante apoio financeiro as mesmas ser necessário.

As ações do WWF e PNUMA, se possibilitam a verificação da real necessidade da

criação de uma agência internacional para solucionar a questão do meio ambiente ou se as

organizações já existentes são suficientes e eficazes.

Page 48: A importância das organizações internacionais na resolução da

34

O WWF nasceu em 1961, no Reino Unido. Surge como um fundo internacional para

questões do meio ambiente ao redor do mundo. Nos dias de hoje, possui sede nos cinco

continentes e em mais de 90 países. Construir um futuro melhor, no qual natureza e seres

humanos possam viver de forma harmonica é uma das missões, contando que a destruição e

degradação do meio ambiente seja contida.

Isso a partir da conservação da diversidade biológica mundial, garantindo que exista

sustentabilidade dos recursos naturais renováveis e promovendo a redução da poluição e do

desperdício. No Brasil, as principais atuações são na Amazônia, Pantanal e na Mata Atlântica. A

organização busca reduzir impactos e atuar nos seguintes sentidos: mudança climática e energia;

desenvolvimento sustentável; agricultura; água; ecologia da paisagem; educação para sociedades

sustentáveis.

O melhoramento e aperfeiçoamento de marcos institucional e legal e também na condição

técnica para lidar com questões ambientais em ambitos nacionais, regionais e globais foram um

dos pontos ajudados com o PNUMA. Diferentes cúpulas internacionais e conferências

aconteceram, tendo como consequências muitos acordos e metas para reduzir a destruição do

meio ambiente e a utilização dos recursos naturais de modo errado e não pensando na

sustentabilidade. Pode-se destacar alguns aspectos abordados nas conferências: administrar e

coordenar as realizações e esforços em âmbito global, agregando objetivos e metas que diversos

países estivessem de acordo, levando em consideração a economia verde internacional.

Ao longo de anos, algumas conferências deram origens a tratados, Acordos e novos

rumos e metas para trilhar o melhor caminho na resolução das questões climáticas.

O WWF e PNUMA participam ativamente de campanhas, projetos, ações e pesquisas,

isso para ampliar cada vez mais o número de pessoas e organizações que se empenhariam para

combater esse sério problema. O papel fundamental de organismos internacionais como estes é a

conscientização da população para que possamos alterar nosso comportamento diário em relação

a preservação do meio ambiente e também as atitudes de governantes. Contudo, os recursos

desses dois órgãos são baixíssimo em relação ao que o os governos poderiam auxiliar, mas são as

iniciativas não-governamentais que acabam influenciando as possíveis ações políticas.

Page 49: A importância das organizações internacionais na resolução da

35

Manifestos, passeatas e campanhas são alguns exemplos reais que demonstram essa capacidade

de influência destes organismos.

2.6. Atuação do WWF e PNUMA no Brasil

Em relação à atuação no Brasil, o WWF tem como principal foco “contribuir para que a

sociedade brasileita conserve a natureza, harmonizando a atividade humana com a conservação

da biodiversidade e com o uso racional dos recursos naturais, para o benefício dos cidadãos de

hoje e das futuras gerações” (WWF, 2011).

Podemos destacar a atuação na Amazônia como a principal e mais frequente atividade

realizada em nosso país por membros da ONG. Campanhas para valorizar as reservas, criar um

número maior de áreas protegidas (unidades de conservação de proteção integral, como parques

e reservas biológicas), recuperar áreas de preservações danificadas, apoiar projetos e estudos

relacionados à proteção da Amazônia, fortalecer a sociedade civil que organiza e cria políticas

públicas para esta questão e campanhas e ações de conscientização social.

Além dos problemas enfrentados e debatidos pelo WWF sobre a Amazônia, existem

projetos relacionados à conservação e preservação da água, debates sobre o desenvolvimento

sustentável, políticas de defesa da agricultura, e projetos relacionados à mudanças climáticas e

energia. Um exemplo dessa última é a “Hora do Planeta”, que incentiva pessoas ao redor do

mundo à apagarem as luzes de suas casas ou locais de trabalho por uma hora em um mesmo dia -

mostrando a importancia da conscientização e conservação de energia em todos os países - é um

projeto que vem crescendo ao longo dos anos.

As campanhas visuais como banners, outdoors, rádios e televisão também têm boa

apelação - mas muitas vezes por questão financeira são menos acessíveis por certas ONGs.

O PNUMA atua na conscientização da população de diversos países, para uma melhor

compreensão da questão climática e que cada um pode fazer a diferença a partir de pequenas

atitudes - reciclagem, economia de energia e água. Segundo o site oficial do PNUMA, “o

Page 50: A importância das organizações internacionais na resolução da

36

PNUMA ajudou a estabelecer o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - o IPCC -

junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM), nos anos 80. Ademais, o PNUMA

forneceu suporte à negociação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do

Clima (UNFCCC), que entrou em vigor em 1994.

O PNUMA vem apoiando diversos esforços realizados pelo Governo brasileiro, pelos

setores privados, acadêmicos e da sociedade civil através da disseminação de informações,

publicações técnicas e intercâmbio de experiências.

Em parceria com o Governo brasileiro, o PNUMA apoia setores acadêmicos, privados e

da sociedade civil como um todo. Seja transmitindo informações ou com trocas de experiências.

Prestando também ajuda ao Ministério de Ciência e Tecnologia e também de Meio Ambiente,

para que fosse estabelecido do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), fundado em

abril de 2009. O PBMC tem como objetivos principais o incentivo ao melhor entendimento sobre

as consequências causadas pelo aquecimento global, elaboração de avaliações completas, e

objetivas, sobre o clima e avanços científicos relacionados ao tema no Brasil ou em outros países

que tenham importância em nosso país.

Além disso, o PNUMA busca coordenar ações de ONGs e outras organizações, que

atuam no combate à questão climatic e outras questões ligadas ao meio ambiente.

Levando em consideração a situação atual do meio ambiente, como enxentes, queimadas,

desmatamento, poluição do ar e dos mares, entre outras consequências do aquecimento global, é

bastante claro que independente de qual organização, não têm sido suficiente para combater a

questão climática e reduzir os efeitos causados ao redor do mundo.

A frase da ex- Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, nos mostra a urgência

de uma melhora nas organizações existentes, ou a possibilidade da criação de uma organização

vinculada às Nações Unidas: “A questão ambiental no mundo vem sendo alçada a um patamar

inédito na história da humanidade. As mudanças climáticas globais, e suas conseqüências no

Brasil exigem um amplo esforço de fortalecimento das estruturas de governo para fazer face aos

Page 51: A importância das organizações internacionais na resolução da

37

desafios que nos estão colocados”. E ainda: "Vamos atravessar esse novo século discutindo meio

ambiente e desenvolvimento, queiram ou não queiram"

O que ficou muito claro é que talvez a discussão sobre a criação do ONUMA

(Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente) possa voltar a ter uma maior

importância nos dias de hoje. No próximo capítulo será tratada a posição do Brasil em relação à

essa possibilidade e também como esta organização poderia auxiliar o combate à questão

climática.

Page 52: A importância das organizações internacionais na resolução da

38

CAPÍTULO 3

O debate sobre o ONUMA e a posição brasileira.

O terceiro capítulo desta monografia trará o debate sobre a criação efetiva da

Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONUMA), seus prós e contras e

também a posição brasileira sobre essa questão.

As organizações têm como uma de suas funções buscarem os interesses comuns de países

através de uma cooperação constante entre os membros da mesma. Com forte presença no

cenário internacional, a continuidade dos feitos e projetos delas depende da vontade ou não dos

Estados - Membros.

Essas organizações atuam em diferentes linhas: aproximando as posições dos países

membros; adoção de regras comuns para reger o comportamento dos países membros; previsões

de ações operacionais em momentos de conflitos ou situações emergenciais no cenário

internacional (conflitos, guerra civil, catástrofes); cooperação econômica entre os países

(BARBÉ, 2007).

Para continuar abordando a possível criação da ONUMA, faz-se necessário lembrar,

conforme apresentado no Capítulo 2, que uma

organização internacional é uma associação de estados estabelecida mediante um acordo

internacional com três ou mais Estados, para a realização de objetivos comuns e dotada

de estrutura institucional com órgãos permanentes, próprios e independentes de seus

membros”(VELASCO, 2007).

Alguns aspectos importantes das organizações, que resultam em algo positivo para

diversos países, são a aplicação de novas formas de energia (elétrica, vapor, carvão), transportes

marítimos, terrestres e comunicação e transmissão internacional de informações.

De acordo com Thomas R.Van Dervort (1997)

A emergência de uma comunidade mundial das nações com um conjunto funcional de

diferenciadas instituições para tomada de decisões políticas e o conjunto de princípios

legais que definem as suas funções, é o mais importante desenvolvimento do século

vinte.

Na tabela a seguir pode-se verificar o comprometimento de alguns países na COP-15, em

relação à redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa:

Page 53: A importância das organizações internacionais na resolução da

39

TABELA 3 – METAS ESTABELECIDAS EM COPENHAGEN,

2009

É possível perceber em desenvolvimento tiveram números mais ousados, como Brasil ou

China, se pensarmos em relação aos Estados Unidos e o Canadá.

3.1 Prós e Contras sobre a criação do ONUMA

Os interesses dos países em desenvolvimento geralmente lideram as discussões sobre os

melhores caminhos a serem tomados a partir da governança global e ambiental, sobre a questão

climática. Muitos desses Estados são contra a criação, por exemplo, do ONUMA (Organização

das Nações Unidas para o Meio Ambiente) - uma vez que essa organização poderia representar

imposições de metas sobre reduções e necessidade do cumprimento de novas regras.

Independente do caminho que for adotado pela maioria dos países em relação a crise

ambiental, a solução deve estar de acordo com a estrutura da ONU, devem implementar modelos

e projetos realmente sustentáveis, estar atento às necessidades de inclusão social e

desenvolvimento econômico, principalmente nos países menos desenvolvidos e ser contemplado

em princípios, estrutura e conceitos no que diz respeito a sua forma de atuação.

Em Reunião da Assembléia Geral da ONU, representantes da UE deram a seguinte

declaração em relação à transição de PNUMA para ONUMA: “com uma transição estável,

adequada, recursos previsíveis e representantes internacionais favoráveis à mudança, seria

Page 54: A importância das organizações internacionais na resolução da

40

possível criar essa organização, com um mandato sério e atingindo as expectativas dos países

desenvolvidos e em desenvolvimento”.

O ONUMA seria estabelecido com base em um acordo intergovernamental, fornecendo

disposições básicas de uma organização. Não seria necessário que todos os membros da ONU

estivessem de acordo com a mudança para que a mesma ocorresse. Portanto, membro da ONU e

do ONUMA poderiam ser diferentes – não deixando de ter caráter legal e baseado em um tratado

internacional (FÓRUM BRASILEIRO DE ONGS E MOVIMENTOS SOCIAIS PARA O MEIO

AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO - FBOMS, 2007).

Os países contra a criação de uma nova organização para o meio ambiente alegam que os

novos investimentos e reforço ao PNUMA devem ser esperados a longo prazo. Ou seja, ao invés

de logo abrir mão de uma melhora no Programa e partir para a criação da Organização, esperar

para ver resultados positivos daqui certo tempo. Se ainda assim os objetivos não sejam atingidos,

esse sim seria o momento para considerar a criação efetiva do ONUMA.

Os países a favor da criação do ONUMA acreditam que a organização seria fundamental

para a coordenação das políticas relacionadas ao meio ambiente, mas também na erradicação da

probreza e desenvolvimento econômico - em especial para países e desenvolvimento.

Voltando aos conceitos tratados no segundo capítulo desta monografia, é possível

destacar como principais diferenças entre o PNUMA e ONUMA: uma maior liberdade para os

Estados com o fortalecimento do Programa e a não criação da Organização; uma imposição

maior de regras e metas com a criação da Organização; a soberania dos países mantida, sem a

interferência internacional tão forte, com o fortalecimento do Programa; a criação de metas mais

ousadas com a criação da Organização; um orçamento melhor definido com a criação da

Organização.

No âmbito do PNUMA na Europa, em 2006, no Fórum Regional da Sociedade Civil,

discutiu-se a criação de uma agência fortalecida para tratar de questões ambientais, algo

semelhante ao ONUMA. Segundo relatórios do Fórum, “os defensores desta idéia acreditam que

tal organização poderia proporcionar melhor liderança política, legitimidade e coordenação

efetiva, outros não estão convencidos de que aumentaria o financiamento para uma nova

Page 55: A importância das organizações internacionais na resolução da

41

instituição, se comparado com os níveis de recursos que o PNUMA dispõe atualmente, e que

uma nova organização garantiria maior eficiência para as políticas ambientais”.

Alguns pontos importantes levantados nesses debates a respeito da criação ou não do

ONUMA são se a organização deveria tratar de assuntos internacionais ou também locais e

regionais; o fortalecimento ou não da sociedade civil e sua participação; a institucionalização da

influência de ONGs; a independência financeira da organização para resolver problemas globais

relacionados ao meio ambiente; mandatos similares ao PNUMA; revisões e monitoramento dos

impactos como resultados de políticas e medidas ambientais globais sobre os países.29

Em outro Seminário, representantes do FBOMS reuniram-se, entre os dias 23 e 24 de

agosto de 2007, em São Paulo, no Seminário “Governança ambiental internacional, Rio+15 e

Reforma da ONU”, tendo como os principais tópicos: “a governança global como grande

desafio, refletindo sobre a governança ambiental; o sistema ONU foi criado em um momento

especifico para desenvolver um debate específico, entretanto, a discussão sobre mudanças do

sistema se faz necessária com as mudanças políticas, sociais, econômicas e ambientais no

mundo; a importância de iniciativas de governança alternativa, tais como o Fórum Social

Mundial; o acesso à informação e a participação da sociedade na governança ambiental

internacional como pontos fundamentais”.

Outro painel que contou com presenças importantes foi o painel “O processo de reforma

da ONU e o meio ambiente: O que se discute? Por quê?”. Personalidades como Cristina

Montenegro, do PNUMA; Marcelo Furtado, do Greenpeace e Esther Neuhaus, do FBOMS,

fizeram parte do debate. Os principais pontos foram: “razões para a reforma do assunto meio

ambiente na ONU: complexidade e fragmentação da arquitetura da governança ambiental

internacional”.

E ainda “falta de coerência, eficiência, informação e financiamento adequados,

mecanismos fracos de cumprimento e arbitragem internacionais, brecha entre compromisso e

ação; necessidade de fortalecer governança, considerando a grande privatização do espaço

public; as atuais iniciativas de reforma na ONU: Painel de Coerência do Secretário-Geral da

ONU “Unidos na Ação” (2006) e processo de consultas informais sobre o marco institucional

para as atividades ambientais da ONU (Embaixadores da Suíça e México)”.

Page 56: A importância das organizações internacionais na resolução da

42

E também “recomendações do painel: fortalecer a governança ambiental internacional;

aumentar status do PNUMA com novo mandato e mais financiamento; novo PNUMA como

autoridade de política ambiental do sistema ONU, com capacidade normativa e analítica;

fortalecer base científica; implementação do Plano Estratégico de Bali sobre Assistência Técnica

e Capacitação”.

Também “assistência aos países em desenvolvimento na quantificação de custos e

benefícios ambientais para políticas públicas e melhor coordenação das políticas ambientais de

todo sistema ONU; outra recomendação é “Uma ONU por País” com coordenador único pelo

sistema ONU, com projeto-piloto nas regiões; cenários em discussão sobre futuro do PNUMA: 1

– PNUMA Plus, 2 - Nova agência especializada, e 3 - Organização Mundial (Chamada de Paris

por 46 países, os Amigos da ONUMA)”.

E por fim “o papel do Brasil como fundamental para a governança ambiental no mundo.

Qualquer coisa decidida pelo mundo na questão ambiental tem enormes conseqüências para o

Brasil; consultas realizadas pelo FBOMS e parceiros desde 2006 sobre a reforma da ONU, o

futuro do PNUMA, eficiência/sinergia dos Acordos Ambientais, opções para o GEF,

recomendações para o ECOSOC e a CSD, comércio e meio ambiente, gênero e meio ambiente,

capacitação local, e participação da sociedade civil e do setor privado”.

3.2 Posição Brasileira

Em diferentes oportunidades o governo brasileiro já demonstrou de forma oficial a sua

posição sobre o processo de reforma da ONU. A ex- Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,

em fevereiro de 2007, enfatizou a necessidade de fortalecer o PNUMA (FBOMS, 2007). Porém,

deixou claro que “o debate sobre governança ambiental internacional e do sistema ONU precisa

respeitar as necessidades de cada país, em especial os países em desenvolvimento, e o princípio

das responsabilidades comuns, porém diferenciadas (Princípio 7 da Declaração do Rio)”.Deu

ênfase ainda na importância da implementação de Acordos Ambientais Multilaterais (JORNAL

O ESTADO DE SÃO PAULO, 2007).

O Brasil desempenhou um papel muito importante em 2007, quando liderou no Rio de

Janeiro a “Reunião Ministerial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: Desafios

Page 57: A importância das organizações internacionais na resolução da

43

para a Governança Internacional”. Com a presença de países desenvolvidos e em

desenvolvimento, discutiu-se a respeito da criação de uma instituição “guarda-chuva” (umbrella

organization), sendo organização ou agência, trabalhando em prol do meio ambiente e

desenvolvimento sustentável, visando a cooperação financeira e implementando normas e regras

sobre a questão climática internacional.

O que fica bastante claro é que algo precisa ser feito para que decisões e principalmente

ações para conter o aquecimento global e suas consequências sejam eficientes e rápidas -

evitando desastres ainda maiores do que acontecem nos dias de hoje. Porém, a divergência entre

países desenvolvidos e os menos desenvolvidos acaba atrasando decisões que deveriam ser

tomadas imediatamente.

No fim de 2011 ocorrerá a próxima Conferência da ONU para Mudanças Climáticas,

talvez a melhor oportunidade para que os países a favor da criação efetiva do ONUMA

exponham suas ideias e a organização se torne realidade. Mas como a última Conferência deixou

muito a desejar, essa pauta de construção ou não de uma organização para o meio ambiente

talvez seja, mais uma vez, adiada por conta de tantas diferenças de opiniões entre os mais

diversos Estados.

Um exemplo de como a Conferência poderia ter tido resultados mais positivos é o que

mostra do site oficial da COP7, os cento e noventa e três países afirmaram “a necessidade

imperativa de evitar o aumento da temperature média da Terra em mais de dois graus Celsius até

o fim deste século (…) as consequências climáticas serão catastróficas”. Criou-se também o

Fundo Climático Verde, que tem como meta reunir 100 bilhões de dólares para auxiliar os países

menos desenvolvidos até 2020 e tem também metas para proteger as matas e novos meios de

compartilhar tecnologias inovadoras de energia limpa.

Porém, mesmo demonstrando enorme preocupação com a questão de emissão dos gases

causadores do efeito estufa, as metas obrigatórias e concretas de redução das emissões ficou para

a COP-17.

7 COP-16, 2011 (http://www.cc2010.mx/en/).

Page 58: A importância das organizações internacionais na resolução da

44

Segundo o Jornal Estado de São Paulo, 2011, o Brasil assumiu um papel importantíssimo,

sendo o único país a criar o “Plano Nacional de Mudanças Climáticas”, se comprometendo a

reduzir entre 36% e 39% até 2020.

Esse cenário demonstra que cada país está preocupado com as consequências que novas

regras, planos e metas terão para seu país e suas políticas internas e externas. Talvez a melhor

saída para esse impasse fosse ter uma “comissão para o meio ambiente” ou algo do gênero. Ou

seja, representantes ligados ao meio ambiente - políticos, civis, representantes de ONGs e

empresários -, de diversos países, se juntassem em prol desta causa. Afinal, com a cooperação

internacional, ideias e contribuições vindo de diferentes partes do mundo, fica muito mais fácil

imaginar melhores soluções para essa questão.

O ex-presidente francês, Jacques Chirac é um entusiasta da ideia e acredita na

necessidade da construção do ONUMA. Em algumas de suas declarações nas Conferências e

Reuniões relacionados ao meio ambiente ele disse: “temos que perceber que alcançamos um

ponto sem retorno e causamos damos irreparáveis”. E disse ainda: “começamos a perceber que o

Planeta como um todo está em risco. Nosso bem estar, saúde e segurança estão na balança”.

Estas declarações não são novidades para nenhum Chefe de Estado, porém as

preocupações de país em país divergem bastante.

Page 59: A importância das organizações internacionais na resolução da

45

MAPA 3 - TERMÔMETROS EM ALTA

Os dados acima mostram graficamente a gravidade da situação em todo o mundo,

exigindo atitudes precisas e rápidas por parte de governantes e organizações.

A expectativa para a próxima Conferência da ONU para o Meio Ambiente é sempre alta,

mas principalmente por parte dos entusiastas para soluções que resolvam a questão climática.

Países como Estados Unidos, China e Brasil seriam essenciais para motivar outros países a

lutarem por esta causa e apoiarem a criação do ONUMA. Porém, por motivos diversos, esses

países são contra essa criação e sim a favor do fortalecimento do PNUMA - sem regras ou

normas que atrapalhem o desenvolvimento econômico dos mesmos.

Enquanto para uns possa parecer uma encruzilhada, para outros o caminho está muito

claro: a cooperação internacional do maior número de países possível e a construção de um

órgão forte e que transmita credibilidade aos membros, na busca de atingir resultados rápidos e

eficientes (REVISTA MEIO AMBIENTE, 2010).

Os dados demonstrados ao longo desta monografia facilitam um maior entendimento de

como as transformações ao redor do Planeta vêm acontecendo de maneira rápida e intensa.

Page 60: A importância das organizações internacionais na resolução da

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Pessoas que jamais acreditavam que sofreriam com as consequências do aquecimento global hoje

perderam tudo devido à uma catástrofe natural.

Os envolvidos com as organizações mencionadas anteriormente como WWF e PNUMA,

são exemplos de entusiastas da ideia de que cada um pode sim, fazer a diferença. Porém para

governantes, políticos e até empresários, não é tão simples colocar em risco todo seu

desenvolvimento econômico em prol da causa ambiental.

E infelizmente, a criação ou não deste novo órgão internacional que intermediasse os

debates, projetos, metas e outros fatores ligados à questão climática, dependem da aprovação e

crença dessas pessoas e grupos que estão no poder.

É possível afirmar que o caminho mais curto seja a melhoria do PNUMA, ja que por

diversos motivos apontados ao longo deste trabalho foi possível perceber que a maioria dos

países ainda é contra a criação do ONUMA e temem sofrer intervenções que possam afetar seu

crescimento econômico, político e social.

A citação de Virally (1972) aponta um ponto negativo das Organizações como um todo:

(...) a base interestatal das Organizações Internacionais causa-lhes limitações, uma vez

que o Estado é a forma, mas evoluída e completa de organização do poder político-

econômico, sendo que todo incremento de poder e de capacidades das Organizações

Internacionais implica um fator de tensão ou conflito com os Estados.

De forma resumida, a Organização pode interferer na soberania dos Estados de forma

indesejada pela maioria deles.

A reforma do PNUMA tem caráter de urgência e precisaria que grande parte dos países

presentes nas Cúpulas e Conferências fosse a favor das mudanças e compreendessem a

necessidade de existirem metas mais ousadas e projetos mais ambiciosos para reduzir os danos

causados ao meio ambiente e prevenir maiores destruições ao redor do mundo.

O importante é que os países consigam agir de forma rápida e efetiva. Como disse Al

Gore, autor do documentário Uma verdade inconveniente (2006): “Não arriscar nada é arriscar

tudo”. Ou seja, quanto mais tempo os Estados esperam para tomarem suas decisões, maior é o

temo que estão perdendo para salvar o Planeta.

Page 61: A importância das organizações internacionais na resolução da

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No gráfico abaixo é possível relembrar todas as Reuniões para Mudanças Climáticas que

ocorreram de 1997 a 2012. Cada uma delas surtiu efeitos diferentes, algumas com metas e planos

mais eficazes, outras menos.

GRÁFICO 3 - REUNIÕES SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE 1997 À 2012

Pensando no que foi proposto, acordado e feito ou não por Estados ao longo desses anos e mais

ainda, de como o Planeta Terra vêm sofrendo cada vez mais com as mudanças climáticas, é preciso

refletir sobre os próximos passos.

Se o ONUMA não é a opção mais viável, a reforma do PNUMA é a melhor saída para a tentativa

de resolução da questão climática.

Page 62: A importância das organizações internacionais na resolução da

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CONCLUSÃO

Esta monografia apresentou as causas e consequências da crise climática, a partir de

dados, gráficos, tabelas, buscando uma reflexão sobre a questãoi ambiental e o respectivo

tratamento institucional. Apontou algumas das principais Cúpulas e Conferências para o Meio

Ambiente, a ECO-92, COP-3 (Protocolo de Kyoto) e COP-15. E seus principais pontos

debatidos, países e outros órgãos presents e também as metas e consequências geradas a partir de

cada uma das reuniões.

É notável a necessidade de os países agirem de forma rápida, efetiva e, principalmente,

coletiva - de modo a alcançar o desenvolvimento sustentável. Que de acordo com resultados da

Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD (1983), verifica-se

tentativa de cooperação, tendo em vista a urgência da problema, e que há um processo de

transformação no entendimento do que é exploração dos recursos; nota-se novas a direções dos

investimentos; além de uma orientação do desenvolvimento tecnológico e de mudança

institucional.

Essa ação coletiva torna-se cada vez mais necessária para combater as mudanças

climáticas, a restauração dos mares e a preservação da diversidade biológica. Por isso, autores

como Ivanova (2005) enfatizam a necessidade da criação e da efetividade de um sistema de

governança ambiental global.

A cooperação entre as nações é imprescindível e deve ocorrer de maneira contínua e cada

vez melhor, visando às necessidades dos países mais e menos desenvolvidos. A atuação de

Organizações na questão climática é muito importante e merece uma atenção cada vez maior.

Tendo os casos do WWF e PNUMA como base, foram também demonstradas as ações de

diferentes tipos de Organizações (não-governamentais, intergovernamentais e um Programa da

ONU).

Page 63: A importância das organizações internacionais na resolução da

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Foi possível perceber que os projetos e ações realizadas por ambos alcançaram resultados

bastante positivos, mas ainda são pequenos se comparados com a enorme necessidade que os

Estados de maneira coletiva deveriam atuar.

Devido ao agravamento da crise climática e a ausência de uma força internacional que

centralize as ações e coordene os países em relação às metas e objetivos traçados nas

Conferências para o Meio Ambiente, talvez a discussão sobre a criação do ONUMA

(Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente) possa voltar a ter uma maior

importância nos dias de hoje.

A necessidade de uma Organização para o Meio Ambiente ou a reforma do PNUMA são

os pontos que levam este trabalho à concluir alguns aspectos referentes à questão climática.

Com as diferenças entre Programa e Organização já definidas no segundo e terceiro

capítulo desta monografia, o que podemos ressaltar é que como a maioria dos países é contra a

criação do ONUMA, esse caminho torna-se o mais longo e complicado. E se os países vêm

encontrando dificuldades nos debates sobre a possível criação do ONUMA, é fácil imaginar

como seria a relação destes mesmos países a partir do momento que a Organização se tornasse

uma realidade - bastante conturbada.

Virally (1972) aponta a visão dupla da OI, a interna – um ator social, com base interestatal – e a

externa – um ator único, autônomo. Nesse sentido, tendo em vista a visão interna, tal carater

interestatal proporciona às OI´s limitações, uma vez que o Estado é a forma mas evoluída e

completa de organização do poder político-econômico. Sendo assim, qualquer aumento de poder

e de capacidades das Organizações Internacionais implica um fator de tensão ou conflito com os

Estados. Portanto, pensando nessas dificuldades, no caminho mais curto e na proposta mais

viável, a reforma do PNUMA surge como uma alternativa.

Ainda com resistência de alguns países, por exemplo a França - que acredita na criação

do ONUMA -, essa ainda parece ser a melhor saída para que os países estreitem seus laços e

busquem metas mais agressivas para reduzir o impacto da crise ambiental ao redor do mundo.

Page 64: A importância das organizações internacionais na resolução da

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Espera-se que os países desenvolvidos liderem este processo, com o apoio dos países em

desenvolvimento. Pois como mencionado anteriormente neste trabalho, a cooperação

internacional é o primeiro passo para alcançar objetivos que façam a diferença no cenário global.

Portanto, não foi possível comprovar a hipótese anteriormente apontadada. Uma vez que

a criação da ONUMA mostrou-se inviável visto a contraposição de diversos países quanto a este

assunto.

Não interferindo na soberania de cada país, mas com metas, orçamento e objetivos

melhores definidos, o “novo” PNUMA pode ser de grande importância para melhorar a atuação

dos Estados no combate ao aquecimento global e suas consequências. E como Keohane (1989),

coloca, a cooperação é um meio para atingir algo, não o fim.

Page 65: A importância das organizações internacionais na resolução da

51

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