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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA INDICADORES GEOMORFOLÓGICOS, RISCOS E O PLANEJAMENTO URBANO – UMA APRECIAÇÃO TEÓRICO INTEGRADORA PARA A CIDADE DO RECIFE – PE Doutoranda: Roberta Medeiros de Souza Cavalcanti Março de 2012

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Page 1: INDICADORES GEOMORFOLÓGICOS, RISCOS E O PLANEJAMENTO ... · Geomorfologia. 3. ... informações úteis à gestão do meio-ambiente urbano. ... necessários ao planejamento urbano

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

INDICADORES GEOMORFOLÓGICOS, RISCOS E O PLANEJAMENTO URBANO – UMA APRECIAÇÃO TEÓRICO INTEGRADORA PARA A CIDADE DO

RECIFE – PE

Doutoranda: Roberta Medeiros de Souza Cavalcanti

Março de 2012

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ROBERTA MEDEIROS DE SOUZA CAVALCANTI

Indicadores Geomorfológicos, Riscos e o Planejamento Urbano – uma apreciação teórico

integradora para a cidade do Recife - PE

Tese de Doutorado apresentada para

obtenção de título de Doutor no Programa de Pós-graduação do Departamento de Ciências Geográficas da

Universidade Federal de Pernambuco

Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos de Barros Corrêa

Recife

2012

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Catalogação na fonte Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva, CRB4-1291

C376i Cavalcanti, Roberta Medeiros de Souza. Indicadores Geomorfológicos, Riscos e o Planejamento Urbano : uma

apreciação teórico integradora para a cidade do Recife - PE / Roberta Medeiros de Souza Cavalcanti. – Recife: O autor, 2012.

184 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos de Barros Corrêa.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Programa de Pós–Graduação em Geografia, 2012.

Inclui bibliografia.

1. Geografia. 2. Geomorfologia. 3. Indicadores ambientais. 4. Planejamento urbano. 5. Monitorização ambiental. 6. Avaliação de riscos ambientais. I. Corrêa, Antonio Carlos de Barros (Orientador). II. Título. 910 CDD (22.ed.) UFPE (CFCH2012-17)

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ROBERTA MEDEIROS DE SOUZA CAVALCANTI

"Indicadores Geomorfológicos, Riscos e o Planejamento Urbano – uma apreciação teórico integradora para a cidade do Recife - PE"

Tese defendida e aprovada com conceito ______ pela banca examinadora:

Orientador: __________________________________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos de Barros Corrêa - UFPE

Examinador: __________________________________________________ Prof. Dr. Osvaldo Girão da Silva - UFRPE

Examinador: __________________________________________________ Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida - UFRN

Examinador: __________________________________________________ Profa. Dra. Maria Betânia Moreira Amador - UPE

Examinador: __________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Eugênio Pereira Carvalho - UFCG

RECIFE - PE 2012

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Aos meus pais Bartolomeu (in memorian) e Lúcia, ao meu irmão Fred,

a minha tia Carminha, meu primo Roberto e meu esposo Vaz que são pessoas fundamentais em minha trajetória de vida e

apoiadores incondicionais de minha trajetória acadêmica

DEDICO

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por atenuar meu desânimo durante os momentos de

dúvidas e dificuldades e por abençoar minha alegria nos momentos de realizações.

A professor Antônio Carlos por aceitar ser meu orientador mais uma vez,

desde o mestrado sua paciência e dedicação foram priomordiais para minha

formação na prática da pesquisa.

A todos os professores do Departamento de Geografia que ao

proporcionarem ricos debates e reflexões científicas contribuíram sobremaneira para

meu aperfeiçoamento profissional e crescimento pessoal.

A José Fernando Thomé Jucá pela confiança, na qualidade de meu

chefe,durante todo o período em que me dividi entre o trabalho e o doutorado.

Aos professores Jan Bitoun e Benjamin Yuan pelo papel determinante que

tiveram para meu período de estudante visitante no Institute of Management of

Technology da National Chiao Tung University em Taiwan.

Aos meus irmãos taiwaneses Yiching e Kunming pelo carinho e atenção e por

minimizarem todos os obstáculos que tive de enfrentar durante minha permanência

em Hsinchu.

A todos os meus amigos e amigas por compreenderem minha ausência

quando tive que me dedicar mais intensamente ao doutorado.

Enfim, a todos que incansavelmente torcem pelo meu sucesso e celebram

comigo minhas conquistas.

Muito obrigada!

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Resumo

O presente trabalho apresenta reflexões, análises e conclusões resultantes de uma

pesquisa exploratória sobre a presença da dimensão ambiental no planejamento

urbano da cidade do Recife, mais especificamente buscou-se evidências desta

presença através da existência de indicadores ambientais, em geral, e indicadores

geomorfológicos, em particular, especialmente os concernentes à temática dos

riscos naturais, de modo que fosse possível obter um conjunto de dados e

informações úteis à gestão do meio-ambiente urbano. O arcabouço de análise

adotado foi concebido a partir da identificação de alguns elementos necessários ao

processo de planejamento urbano, quais sejam, as normas, os indicadores, os

sistemas de informações e a construção coletiva. Os indicadores foram escolhidos

como o elemento comprovador da presença da dimensão ambiental no

planejamento urbano. A busca por evidências de indicadores geomorfológicos na

base empírica analisada foi norteada por três fundamentos teóricos: a Avaliação

Ambiental Estratégica, os Sistemas de Informação e os Riscos, visto que todos

estes têm forte associação à elaboração e implantação de indicadores. As bases

empíricas forneceram sugestões de indicadores geomorfológicos para

monitoramento dos riscos naturais que juntamente com outras sugestões obtidas,

nas bases científicas, possibilitaram a obtenção de um conjunto de indicadores cuja

aplicação para o planejamento urbano foi proposta por meio de modelos de

exemplos para diferentes unidades de paisagem da cidade. As conclusões

constatam a fragilidade da estrutura informacional do município quanto ao

monitoramento das ações previstas para fins de planejamento, a ponto de tornar-se

inescrutável a determinação de se de fato houve sucesso na execução destas

ações. As conclusões apontam ainda para a atuação minimizada do órgão de

Defesa Civil Municipal, quanto ao uso de indicadores associados aos riscos, uma

vez que nos documentos analisados não há referências a este órgão. Por outro lado,

evidencia-se a latente potencialidade do município em implantar indicadores

geomorfológicos, afetos aos riscos, como importantes elementos norteadores do

processo de planejamento ambiental urbano.

Palavras-chave: geomorfologia urbana, indicadores geomorfológicos, planejamento

urbano, riscos, Recife

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Abstract

The present work exhibit reflections, analysis and conclusions resulting from an

exploratory research on the presence of the environmental dimension within urban

planning documents of the city of Recfe. Evidences of the presence of such

dimension were sought by means of the use of environmental indexes, in general,

and geomorphological indexes, specifically, mainly those regarding the occurence of

natural hazards, so that it became possible to obtain a data set and useful

information for urban environment management. The adopted analysis framework

was conceived based on the identification of some elements necessary to the urban

planning process, such as, rules, indexes, information systems and the collective

construction. The indexes were chosen as a testing element of the presence of the

environmental dimension in the urban planning. The search for the evidences of

geomorphological indexes in the analysed empirical data was guided by three

theoretical fundaments: strategical environmental assessment, information systems

and the hazards, considering that all of these bear a Strong association to the

elaboration and implementation of indexes. The empirical basis rendered sugestions

of geomorphological indexes for monitoring natural hazards which, coupled with

other type of information gathered from the scientific data set, enabled the

idetification of a set of indicators whose application in urban planning was proposed

by means of models aiming at diferente landscape units within the city. The

conclusions found the frailty of the informational structure of the municipality

regarding the monitoring of the planning foreseen actions, to a such an extent it was

impossible to determine whether any success had been accomplished in the

implementation of such actions. Conclusions point to the minimized role of the

municipal civil defense, as far as the use of hazard indexes is concerned, providing

the analysed document failed to refer to that particular authority. On the other side,

there are evidences of the latent potentiality of the Municipality in implementing

geomorphological indexes, related to hazards, as importante guidelines of the urban

environment planning process.

Key-words: urban geomorphology, Geomorphological indicators, urban planning,

risks, Recife

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Lista de Figuras Figura 1: Marcos importantes para a defesa civil no Brasil. Fonte: a autora adaptado

de Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2011 ..................................................... 17�Figura 2: Esquema ilustrando elementos do registro sistemático de dados

multidisciplinares ao longo do tempo para um processo de gestão e

entendimento das mudanças no espaço. Fonte: a autora. .................................. 20�Figura 3: Arcabouço de análise adotada para o presente estudo – elementos

necessários ao planejamento urbano e o recorte em indicadores da dimensão

ambiental como foco do estudo. Fonte: a autora. ............................................... 25�Figura 4: Processo de melhoria contínua através da prática do Ciclo PDCA. Fonte: a

autora .................................................................................................................. 31�Figura 5: Interações verticais e horizontais de informações da dimensão ambiental

nas políticas, planos e programas. As verticais dentro do mesmo setor e as

horizontais entre diferentes setores da administração. Fonte: a autora .............. 33�Figura 6: Ilustração dos diferentes níveis de informação necessários aos diferentes

níveis de processo decisório. Fonte: a autora ..................................................... 36�Figura 7: Número de mortes por escorregamento de encostas no Brasil. Fonte:

Adaptado de IPT apud Bandeira (2010) .............................................................. 40�Figura 8: Número de mortes por escorregamento de encostas na Região

Metropolitana do Recife (RMR). Fonte: Adaptado de IPT apud Bandeira (2010) 41�Figura 9: Número de mortes por deslizamentos no Recife. Fonte: CODECIR, 2011 41�Figura 10: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Augusto Filho et al apud

Reckziegel; Robaina, 2005.................................................................................. 65�Figura 11: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Cerri apud Reckziegel;

Robaina (2005) .................................................................................................... 66�Figura 12: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Gregory apud

Reckziegel; Robaina, 2005.................................................................................. 67�Figura 13: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Oliveira et al apud

Reckziegel; Robaina, 2005.................................................................................. 68�Figura 14: Ciclo de gestão de Riscos e Desastres com destaque para as ações de

mitigação. Fonte: a autora adaptado de OECD, 2005. ........................................ 73�

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Figura 15: Abordagem nacional para redução de desastres. Fonte: a autora a partir

de Ministério da Integração Nacional, 2007 ........................................................ 74�Figura 16: Ciclo de Intervenção adotado pela CODECIR. Fonte: CODECIR, 2011 .. 76�Figura 17: Localização do Brasil. Fonte: a autora adaptado de Google Maps, 2012.

............................................................................................................................ 80�Figura 18: Localização da RMR no estado de Pernambuco no Nordeste brasileiro.

Fonte: a autora adaptado de Google Maps, 2012. .............................................. 80�Figura 19: Localização do Recife dentro da RMR e dados gerais sobre o município.

Fonte: a autora adaptado de FIDEM, 2005 ......................................................... 81�Figura 20: Compartimentos geomorfológicos com destaque em pontilhado para a

localização de Recife. Fonte: a autora modificado de FIDEM, 2002 ................... 82�Figura 21: Unidades geológicas simplificadas com destaque em pontilhado para a

localização de Recife. Fonte: a autora modificado de Alheiros apud FIDEM, 2003

............................................................................................................................ 84�Figura 22: Unidades de Paisagens e riscos ambientais associados. Fonte: a autora

adaptado de Prefeitura do Recife, 2001 .............................................................. 85�Figura 23: Sistemas de Planejamento e Informações propostos no documento. ...... 93�Figura 24: Regiões Político Administrativas do Recife. Fonte: Prefeitura do Recife,

2001 .................................................................................................................... 96�Figura 25: Projetos e Subprojetos para recuperação do patrimônio natural e

construído. Fonte: FIDEM, 2005 ....................................................................... 119�Figura 26: Projetos e Subprojetos para melhoria da drenagem. Fonte: FIDEM, 2005

.......................................................................................................................... 120�Figura 27: Projetos e Subprojetos de destaque das propostas de melhoria da gestão

estratégica de desenvolvimento metropolitano. Fonte: FIDEM, 2005 ............... 124�Figura 28: Esquema ilustrativo do Plano Diretor referente aos pilares das políticas

setoriais e respectivo eixo norteador das intervenções espaciais. Fonte: a autora

.......................................................................................................................... 126�Figura 29: Divisão territorial do Recife segundo o Plano Diretor 2008. Fonte: a autora

adaptado de Prefeitura do Recife, 2008 ............................................................ 129�Figura 30: Destaques dos dois sistemas previstos no Plano Diretor, dois sobre a

informação para o público e um sobre a falta de indicadores ambientais nas

bases de dados previstas. Fonte: Adaptado de Prefeirtura do Recife (2008) ... 130�

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Figura 31: Recursos necessários para implantação de indicadores de forma

sistemática além do conhecimento técnico. Fonte: a autora ............................. 135�Figura 32: Esquema ilustrativo de como as informações podem ser subsídios para

prognósticos e construção de cenários. Fonte: a autora ................................... 141�Figura 33: Figura esquemática da matriz de apresentação dos registros dos valores

dos indicadores segundo a Escala de Alerta. Fonte: a autora .......................... 142�Figura 34: Localização da Unidade de Paisagem Tabuleiros e algumas

características de uso do solo e riscos ambientais. Fonte: modificado de

Prefeitura do Recife, 2001 ................................................................................. 144�Figura 35: RPA 3 onde ocorre a Unidade de Paisagem Tabuleiros (a oeste do

tracejado verde), especificamente nos bairros Pau Ferro e Guabiraba. ........... 145�Figura 36: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 3. Fonte: a autora . 146�Figura 37: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para os bairros Pau Ferro e

Guabiraba que melhor retratam a Unidade de Paisagem Tabuleiros. Fonte: a

autora ................................................................................................................ 147�Figura 38: Localização da Unidade de Paisagem Colinas. Fonte: modificado de

Prefeitura do Recife, 2001 ................................................................................. 148�Figura 39: RPA 2,com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Colinas (na

parte superior do tracejado verde). ................................................................... 149�Figura 40: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 2. Fonte: a autora . 150�Figura 41: Exemplos de recursos que o sistema de informação pode utilizar para

apresentar informações sobre os indicadores geomorfológicos: imagens de

satélites e fotografias da situação de pontos críticos (bairro Linha do Tiro,

bastante adensado e vulnerável a eventos de deslizamentos). ........................ 152�Figura 42: Localização da Unidade de Paisagem Estuarina. Fonte: modificado de

Prefeitura do Recife, 2001 ................................................................................. 153�Figura 43: RPA 1, cuja área está situadadentro do perímetro da Unidade de

Paisagem Estuarina. ......................................................................................... 154�Figura 44: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 1. Fonte: a autora . 155�Figura 45: Exemplo de resumo de informações sobre os indicadores que o sistema

pode apresentar. Fonte: a autora ...................................................................... 156�Figura 46: Localização da Unidade de Paisagem Planície. Fonte: modificado de

Prefeitura do Recife, 2001 ................................................................................. 157�

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Figura 47: RPA 4, com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Planície

(aleste do tracejado verde). ............................................................................... 158�Figura 48: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 4. Fonte: a autora . 159�Figura 49: Imagem com destaque de pontos críticos de alagamento nos bairros da

Iputinga, Várzea e Engenho do Meio. Fonte: a autora modificado de Google

Earth, 2011. ....................................................................................................... 160�Figura 50: Localização da Unidade de Paisagem Corpos d’água. Fonte: modificado

de Prefeitura do Recife, 2001 ............................................................................ 162�Figura 51: RPA 5, com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Corpos

d’água (na área do tracejado verde). ................................................................ 163�Figura 52: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 5. Fonte: a autora . 164�Figura 53: Imagens da localização do Canal .......................................................... 165�Figura 54: Situação de um trecho do Canal Laranjeiras. Fonte: Prefeitura do Recife,

2000 .................................................................................................................. 166�Figura 55: Situação de um trecho do Canal Laranjeiras. Fonte: Prefeitura do Recife,

2000 .................................................................................................................. 166�Figura 56: Localização do Canal Laranjeiras no Cadastro de Canais do Recife.

Fonte: Prefeitura do Recife, 2000 ...................................................................... 167�Figura 57: Imagem de satélite mostrando a situação de 2 trechos do Rio Jordão, o

Trecho 1 com margens não ocupadas nem impermeabilizadas, o Trecho 2

apresenta com ocupação urbana e impermeabilização das margens.Exemplo de

estudo temático. Fonte: Carvalho et al, 2010 .................................................... 167�Figura 58: Localização da Unidade de Paisagem Litorânea. Fonte: modificado de

Prefeitura do Recife, 2001 ................................................................................. 168�Figura 59: RPA 6, com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Litorânea (na

área do tracejado verde). .................................................................................. 169�Figura 60: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 6. Fonte: a autora . 170�Figura 61: Imagem com destaque do terreno onde o empreendimento será instalado.

Fonte: Grupo JCPM [ca.2011] ........................................................................... 170�Figura 62: Imagem de satélite com destaque do local, na Bacia Portuária, onde o

empreendimento será instalado. Fonte: a autora modificado de Google Earth,

2011. ................................................................................................................. 171�

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Figura 63: Preenchimento de lacunas de informações da dimensão ambiental para

os processos de planejamento urbano. Fonte: a autora. .................................. 174�Figura 64: Ilustração da interação possível entre as bases de dados para subsidiar o

Sistema de Informação de Defesa Civil com vistas ao uso no planejamento

urbano. Fonte: a autora ..................................................................................... 175�

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Lista de Tabelas Tabela 1: População vivendo em área urbana .......................................................... 15�Tabela 2: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável publicados pelo IBGE........ 46�Tabela 3: Indicadores Sintéticos adotados para a cidade de São Paulo ................... 50�Tabela 4: Categorias de comportamento morfodinâmico. ......................................... 52�Tabela 5: Indicadores para a dimensão ambiental propostos pelas Nações Unidas 54�Tabela 6: Exemplo de Indicadores adotados pela cidade de Taipei (Taiwan). ......... 55�Tabela 7: Tipos de modelos de gerenciamento de risco ambiental. .......................... 55�Tabela 8: Exemplo de parâmetros e indicadores para a cidade de Merseyside (Reino

Unido). ................................................................................................................. 56�Tabela 9: Exemplos de indicadores de sustentabilidade estabelecidos para Hong

Kong. ................................................................................................................... 58�Tabela 10: Classificação de acordo com a Codificação de Desastres, Ameaças e

Riscos de Origem Natural (CODAR) ................................................................... 68�Tabela 11: Lista de desastres naturais relacionados com a Geodinâmica Terrestre.

............................................................................................................................ 71�Tabela 12: Indicadores do Programa Guarda-chuva. ................................................ 77�Tabela 13: Intervalos pluviométricos com respectivos graus de suscetibilidade para a

Região Metropolitana do Recife. ......................................................................... 83�Tabela 14: Unidades geológicas e seus respectivos graus de suscetibilidade. ........ 83�Tabela 15: Riscos ambientais associados às Unidades de Paisagens. .................... 85�Tabela 16: Indicadores sugeridos no Atlas Ambiental. Fonte: Prefeitura do Recife,

2000 .................................................................................................................... 97�Tabela 17: Características das Ocupações Espontâneas nos Morros da Região

Metropolitana do Recife. ................................................................................... 100�Tabela 18: Características das Ocupações Planejadas nos Morros da Região

Metropolitana do Recife. ................................................................................... 101�Tabela 19: Diretrizes para Gestão e Controle da Ocupação Urbana ...................... 103�Tabela 20: Etapas de gestão de riscos ................................................................... 106�Tabela 21: Proposta de Escala de Alerta ................................................................ 136�Tabela 22: Cenários possíveis para as áreas analisadas pelo modelo ................... 142�

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Tabela 23: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de

Paisagem Tabuleiros. ........................................................................................ 144�Tabela 24: Exemplo de Cenário provável para a RPA 3, caso as Respostas não

sejam eficazes ................................................................................................... 146�Tabela 25: Exemplo de Cenário provável para os bairros Pau Ferro e Guabiraba,

caso as Respostas sejam eficazes. .................................................................. 147�Tabela 26: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de

Paisagem Colinas. ............................................................................................ 148�Tabela 27: Exemplo de Cenário provável para a RPA 2, caso as Respostas não

sejam eficazes ................................................................................................... 150�Tabela 28: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de

Paisagem Estuarina. ......................................................................................... 153�Tabela 29: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de

Paisagem Planície. ............................................................................................ 157�Tabela 30: Exemplo de Cenário provável para a RPA 4, caso as Respostas não

sejam eficazes ................................................................................................... 159�Tabela 31: Número total de domicílios na RPA 4 e os tipos de esgotamento sanitário

existentes .......................................................................................................... 160�Tabela 32: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de

Paisagem Corpos d’água. ................................................................................. 162�Tabela 33: Exemplo de Cenário provável para a RPA 5, caso as Respostas não

sejam eficazes. .................................................................................................. 164�Tabela 34: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de

Paisagem Litorânea. ......................................................................................... 168�

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Sumário

1.� Introdução ............................................................................................................. 15�1.1.� Justificativa ......................................................................................................... 18�1.2.� Hipóteses norteadoras ....................................................................................... 21�1.3.� Objetivos ............................................................................................................. 22�

2.�Planejamento urbano e Indicadores ambientais ................................................... 24�2.1.� Planejamento Urbano ......................................................................................... 26�2.2.� Indicadores Ambientais ...................................................................................... 42�

3.�A Geomorfologia, os Riscos e a Defesa Civil ........................................................ 59�3.1.� Riscos – tipos e implicações .............................................................................. 63�3.2.� Defesa Civil – estrutura e instrumentos .............................................................. 70�

4.�A preocupação ambiental e os riscos nos planos de desenvolvimento do Recife 79�4.1.� Aspectos Gerais da cidade do Recife ................................................................ 79�4.2.� Plano Diretor de Desenvolvimento do Recife (1991) ......................................... 88�4.3.� Atlas Ambiental da Cidade do Recife (2000) ...................................................... 94�4.4.� Manual de Ocupação dos Morros (2003) ......................................................... 100�4.5.� Diagnóstico Programa Viva o Morro (2003) ..................................................... 108�4.6.� Metrópole Estratégica (2005) ........................................................................... 115�4.7.� Plano Diretor do Recife (2008) ......................................................................... 125�

5.� Indicadores geomorfológicos aplicáveis à cidade do Recife ............................... 133�5.1.� Exemplo 1 – Unidade de Paisagem Tabuleiros ............................................... 144�5.2.� Exemplo 2 – Unidade de Paisagem Colinas .................................................... 148�5.3.� Exemplo 3 – Unidade de Paisagem Estuarina ................................................. 153�5.4.� Exemplo 4 – Unidade de Paisagem Planície ................................................... 157�5.5.� Exemplo 5 – Unidade de Paisagem Corpos d’água ......................................... 162�5.6.� Exemplo 6 – Unidade de Paisagem Litorânea ................................................. 168�

6.�Considerações finais ........................................................................................... 176�

7.�Referências Bibliográficas ................................................................................... 179�

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15

1. Introdução

Segundo o IBGE (Censo, 2000), 81% da população brasileira no ano 2000

residia em área urbana e a tendência brasileira para os próximos anos, tal como a

mundial (que no ano de 2005 era de 48,6% e a previsão para 2010 já passava para

50,6%, segundo a ONU), é de que este quadro se mantenha e intensifique, visto que

no Censo 2010 (IBGE, 2010), a população urbana brasileira já era de 84,4% (Tabela

1). Tabela 1: População vivendo em área urbana

2000 2005 2010Brasil (1) 81% - 84,4%Mundo (2) - 48,6% 50,6% *Fonte: (1) IBGE, 2000 e 2010 (2) ONU 2005 * Previsão para 2010

Este quadro, associado às mudanças climáticas e ambientais que têm

impactado todos os territórios de maneira global, remete à reflexão sobre como os

territórios estão, mais ou menos, preparados para enfrentar as transformações pelas

quais estão passando. Neste trabalho questiona-se como estas preocupações estão

inseridas nos planejamentos urbanos, quais áreas da cidade são mais sensíveis às

alterações na paisagem, em quais áreas a população necessita de maior atenção

aos riscos, como reordenar o território diante de mudanças mais intensas, o que se

espera da cidade para melhor acolher seus habitantes, quais órgãos públicos e

quais equipes de profissionais estão dedicados a lidar com estas preocupações da

sociedade, qual a repercussão destas mudanças nos orçamentos públicos, enfim,

uma gama de implicações geradas sobre os ambientes urbanos resultantes dos

impactos oriundos dos agentes modeladores da paisagem.

A Geomorfologia compreende o entendimento das ações dos agentes

modeladores da paisagem e os processos pelos quais as paisagens são

reafeiçoadas num eterno diálogo entre desgaste e deposição, por isso ela deve ser

considerada como relevante para os planos de gestão e desenvolvimento urbanos,

uma vez que os espaços urbanos são fortemente sujeitos a constantes alterações

no seu suporte físico-ambiental.

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Embora, de maneira geral, a sociedade moderna (fortemente caracterizada

pela vida em ambientes urbanos, que por sua vez apresentam feições de paisagem

bastante diferentes dos ambientes constituídos por elementos essencialmente

naturais) por estar menos atenta aos elementos naturais da paisagem, como por

exemplo a vegetação, os cursos d’água, a chuva e o solo, não agrega como parte

integrante do seu cotidiano o reconhecimento das intervenções dos agentes

naturais, o que resulta numa falsa ideia de que a cidade é um ambiente mais

protegido e, portanto, preparado para enfrentar os processos e os riscos naturais, de

modo que seus habitantes não precisam se preocupar muito com isto. Ainda que

recentemente várias consequências negativas decorrentes de eventos naturais

tenham atingido diversas cidades ao redor do mundo, ainda subexiste a percepção

de que esses tratam-se de acontecimentos arrítmicos, de grande magnitude e com

baixa recorrência temporal.

No Brasil, este comportamento social é fácil de ser percebido especialemente

porque não há histórico de ameaças por terremotos, vulcões e furacões. O poder

público, contudo, não pode pautar suas diretrizes de operação e intervenção ativa

com base neste tipo de atitude em relação à ação dos processos físico-naturais

sobre os espaços urbanos, visto que as consequências advindas da operação dos

fenômenos naturais, mesmo na escala das suas ciclicidades anuais e decadais,

sobre as cidades podem ser bastante graves inclusive com perdas de vidas

humanas. Para além da mitigação imediata dos efeitos danosos dos agravos

ambientais de maior severidade, a qualidade de vida da população urbana requer

um pensar mais debruçado sobre questões que contemplem a prevensão e a

convivência com os processos naturais, que deveriam estar refletidos em seus

documentos de desenvolvimento, planejamento e monitoramento urbanos. Para isto,

é preciso encarar a questão dos agentes naturais sobre ambiente urbanos de forma

comprometida, com ações de longo prazo e integração desta questão aos

instrumentos de gestão da cidade, de modo que a qualidade de vida da população

seja beneficiada e seu desenvolvimento sustentável seja mais viável.

De forma geral no mundo, as preocupações com calamidades naturais

externalizadas por meio de ações formais do poder público, existem mais fortemente

desde o período da Segunda Gerra Mundial. Segundo a Secretaria Nacional de

Defesa Civil (2011), no Brasil, desde 1824, já haviam nos documentos oficiais (as

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Constituições brasileiras) referências às incumbências do Estado em casos de

calamidade pública de prestar socorro à população. Em 1942, as ações de defesa

civil foram estabelecidas pelo então Serviço de Defesa Passiva Antiaérea e, logo em

seguida, em 1943, pelo Serviço de Defesa Civil vinculado ao Ministério da Justiça e

Negócios Interiores. Porém, em 1946, estes órgãos e suas diretorias regionais foram

extintos, e apenas em 1966, como consequência da grande enchente na região

Sudeste, retomam-se estudos e ações mais contundentes em relação à mobilização

em casos de catástrofe no então estado da Guanabara. A partir de 1967, o Governo

Federal passa a incluir formalmente na estrutura dos seus Ministérios competências

para assistir a população em todo o território nacional e, na década de 1970 os

estados passam a contar com estruturas nos seus próprios territórios. Em 1988,

mesmo ano da promulgação da atual Constituição brasileira, as ações da Defesa

Civil do país são organizadas de forma sistêmica mediante a criação do Sistema

Nacional de Defesa Civil (SINDEC). Os marcos importantes para a defesa civil no

Brasil encontram-se ilustrados na Figura 1:

1824

1942

1943

19671970

1988

Primeira Constituição

brasileira

Decreto-Lei dos serviços de Defesa passiva anti-aérea

Serviço de Defesa Civil vinculado ao

Ministério da Justiça e Negócios Interiores

A partir deste ano o país passa a contar com estruturas nos

Ministérios para assistir a população

A partir desta década os estados passam a contar

com estruturas em seus próprios

territórios

1971 Criação da Comissão de

Defesa Civil de Pernambuco

1994 Aprovação da Política Nacional de

Defesa Civil

Criação do Sistema Nacional de Defesa

civil (SINDEC)

Figura 1: Marcos importantes para a defesa civil no Brasil. Fonte: a autora adaptado de

Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2011

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Foi esta preocupação com as mudanças e o futuro das cidades que motivou o

presente trabalho, sobretudo a contribuição de indicadores geomorfológicos para

monitorar a evolução ambiental da dinâmica citadina em relação aos riscos, tendo

como área de análise a cidade do Recife. O foco nos indicadores ambientais

geomorfológicos é devido a estes serem mais alinhados à realidade concreta do

território propriamente dito, de modo a permitir avaliações dos resultados

provenientes de sua dinâmica específica com mínima intervenção de aspectos

decorrentes de outros subsistemas intervenientes, embora concorde-se que num

sistema aberto o isolamento total de seus componentes não seja factível. Vale a

pena também enfatizar que os indicadores não são tomados como aqueles

necessários e imprescindíveis para o monitoramento de impactos sobre a dinâmica

da cidade e seus rebatimentos nas políticas públicas, mas sim como alguns

possíveis à construção de uma melhor compreensão científica a respeito da relação

entre os agentes modeladores e a dinâmica da paisagem, visto que a escolha de

indicadores oficialmente utilizados por um governo devem basear-se na legitimidade

conquistada no território em questão, dentre outros atribuitos a eles relacionados tais

como, viabilidade técnica, econômica e política.

Ancorado neste contexto o presente trabalho reforça a importância dos

estudos geográficos para a temática das ameaças naturais em ambientes urbanos, e

pretende contribuir para um maior entendimento dos espaços urbanos sob uma

abordagem multidisciplinar promovendo uma integração entre as experiências

administrativas (mais especificamente a Administração Pública) e as experiências

geográficas (mais especificamente a Geomorfologia).

1.1. Justificativa

A preocupação dos governantes e da sociedade em geral com o crescimento

das cidades faz parte dos seus planejamentos já faz algum tempo e possuem várias

derivações para diferentes aspectos da vida do cidadão, tais como, habitação,

mobilidade, planejamento dos sistemas rodoviários, metroviários, aeroportuários,

zoneamento urbano de áreas residenciais, comerciais, industriais e espaços

públicos, dentre outras repercussões para os que nela vivem. Considerando apenas

as alterações nas formas de superfície geradas pelo agente antrópico no ambiente

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urbano, as cidades já retratam uma intensa atividade deste agente, como é o caso

da abertura de rodovias, construções de condomínios residenciais e comerciais,

aterramentos de áreas de várzea, ocupações das margens de corpos d’água,

desmatamentos de áreas suscetíveis a erosão e desmoronamento, enfim, inúmeras

alterações que tornam a cidade um espaço suscetível a constantes e intensas

mudanças, um sistema complexo aberto a interferências de diversos fluxos de

energia, que além do agente antrópico conta ainda com a interferência dos agentes

naturais, tais como chuvas, ventos, marés, dentre outros.

Com a introdução da questão ambiental nas discussões sobre o futuro das

cidades, além das preocupações sociais e econômicas para assistir à população,

aquela também passou a ser tratada como fundamental para a qualidade de vida

dos citadinos. Poluição, desmatamento, extinção de espécies animais e vegetais,

disponibilidade de água potável, destinação dos resíduos sólidos, mudanças

climáticas, enfim inúmeros aspectos passaram a ser discutidos mais profundamente.

Contudo, os territórios, não são exatamente iguais uns aos outros e, portanto,

necessitam de repostas diferentes para problemas que repercutem de forma

diferente em seus espaços, por isso é fundamental conhecer bem suas dinâmicas.

Por isso é essencial compreender que as análises ambientais viabilizam-se

por trabalhos interdisciplinares e que não se pode atribuir a uma ou outra disciplina

específica (MARQUES, 2007) a fonte de todas as respostas aos questionamentos

existentes neste vasto campo científico. Assim, entendendo ainda que impacto

ambiental é caracterizado como um movimento contínuo do processo de mudanças

sociais e ecológicas, e que os estudos destes processos tem importância para o

registro histórico que jamais finaliza mas sim redireciona-se com ações mitigadoras

(COELHO, 2009), é reforçada a contribuição de trabalhos que discutam as

possibilidades de se monitorar essa evolução espaço-temporal dos ambientes

urbanos.

Segundo Coelho (2009) estudar impactos ambientais, uma vez que não são

generalizáveis, requer análises de cada caso questionando-o sistematicamente,

desta feita, no ambiente urbano os impactos exigem investigações de localizações,

distâncias, condições ecológicas, uso e ocupação do solo, enfim diálogos entre o

ecológico e o social. Embora exista o reconhecimento da importância destes

entendimentos e de suas amplas discussões, há ainda uma carência de dados

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disponíveis para se avaliar os impactos ambientais decorrentes dos processos de

desenvolvimento urbano atuais e pregressos (PAULEIT et al, 2005).

Assim, um maior entendimento sobre os processos e repercussões de

mudanças no ambiente urbano, constitui-se em um aliado de relevância para prover

a cidade de ações para um desenvolvimento sócio-econômico mais adequado à

qualidade de vida da população. Quanto mais informações estiverem disponíveis

aos agentes municipais, mais esses agentes poderão colaborar para a construção

de uma cidade desejada. A Figura 2 ilustra como o diálogo interdisciplinar colabora

para as análises e avaliações das mudanças espaço-temporais, as quais dependem

de uma permanente adoção de indicadores e sistemas de informações que

forneçam munição adicional aos gestores públicos, que por sua vez devem conduzir

as estratégias de desenvolvimento mediante olhar sistêmico e multidisciplinar sobre

o tecido urbano, levando em consideração a participação e contribuição de tantos

atores quanto possível.

Figura 2: Esquema ilustrando elementos do registro sistemático de dados multidisciplinares ao longo do tempo para um processo de gestão e entendimento das mudanças no espaço.

Fonte: a autora.

Alguns impactos/mudanças nas cidades evidenciam-se num curto espaço de

tempo e são sentidos rapidamente pela população, outros, porém, podem levar

algum tempo para externalizar suas mazelas. Seja no curto prazo ou no longo prazo

a necessidade de um acompanhamento constante destes impactos é fundamental.

Sem o entendimento do que está acontecendo no território onde vivem, as pessoas

se distanciam do exercício de sua cidadania. Porém não é tarefa fácil implantar os

mecanismos para acompanhamento destes impactos, pois combinar crescimento

econômico, qualidade de vida para a população e conservação ambiental no âmbito

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da cidade implica em lidar com diferentes escalas de representação política,

arcabouço legal, responsabilidades, além de diferenças históricas, culturais, sociais,

etc.

Em muitos casos, os recursos disponíveis para a gestão pública são

escassos e fazer melhor uso dos já existentes pode ser o melhor caminho para

introduzir novas abordagens para o planejamento e monitoramento urbanos. A

busca por caminhos mais adequados ao desenvolvimento justificam, cada vez mais,

estudos que apontem alternativas viáveis para o trilhar destes caminhos. A

Geografia então contribui com sua abordagem especial, cujos elementos

constituintes relacionam-se de maneira tão particulares que configuram

especificidades inegavelmente relevantes aos planos de desenvolvimento (sejam

quais forem a escala – local, regional, nacional ou global).

1.2. Hipóteses norteadoras

Os planejamentos urbanos, cuja responsabilidade encontra-se na escala

local, ou seja, é atribuição do município, são norteadores essenciais para a

implantação das políticas públicas nesta escala, por isto eles deveriam sempre

ocupar posição de destaque nas atividades de gestão municipal, e ainda figurar

como documentos que a população pudesse facilmente e constantemente acessar

para avaliar as ações implantadas no território, tanto por agentes públicos quanto

privados, e a partir daí exercer a cidadania no que se refere às práticas de ocupação

e uso do solo, impactadas tanto por todos os planos setoriais de desenvolvimento

postos em prática ao longo do tempo, quanto por suas próprias formas de ocupar,

usar e encarar a cidade onde vive.

Entretanto, os planejamentos urbanos, mesmo quando existentes são difíceis

de serem postos em prática, esta dificuldade não lhes é exclusiva pois, de modo

geral, é uma tarefa complexa sair do planejamento e chegar na execução das ações

previstas. Porém, quando se parte de um planejamento cujo conteúdo apresenta as

ações executivas previstas com seus respectivos indicadores de monitoramento fica

mais viável sua implementação, seja qual for sua área de atuação.

Partindo da premissa de que todo planejamento deve ser posto em prática, e

que as ações executadas devem ser monitoradas e avaliadas para realimentar um

novo planejamento, e que no caso do planejamento urbano indicadores

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geomorfológicos podem compor um conjunto significativo de sinais indicativos de

qualidade de vida dos citadinos, considerou-se como hipóteses norteadoras a

listagem a seguir:

x No estágio atual já seria possível propor um modelo para o uso de índices

geomorfológicos urbanos, auto-aferido, que permita avaliar seus impactos

sobre os índices de qualidade de vida na cidades;

x O ambiente físico é encarado como substrato inerte sobre o qual se dá a

dinâmica urbana e o órgão de Defesa Civil possui atuação subestimada em

relação à reversão deste quadro ao não contribuir para o preenchimento das

lacunas de informação sobre o monitoramento dos riscos naturais no espaço

urbano;

x Os indicadores geomorfológicos são bons elementos para a interação dos

atores envolvidos no planejamento urbano e promovem um diálogo

interdisciplinar voltado para a melhoria da qualidade de vida.

1.3. Objetivos

Tratando-se de ambiente urbano, qualquer que seja o quadro a ser avaliado,

as variáveis e, consequentemente, os indicadores a serem utilizados podem ser

inúmeros dependendo da abordagem adotada. Neste estudo foi depositada uma

maior atenção sobre as relações entre as políticas e os documentos oficiais de

planejamento e/ou desenvolvimento urbanos e as operações de monitoramento e

avaliação dos mesmos. Com intuito de verificar a prática do discurso contido nestes

registros textuais, foi direcionado um olhar mais focado aos indicadores de natureza

ambiental, que muito contribuem para a compreensão das mudanças e das

respectivas ações mitigadoras que o poder público precisa implantar por meio de

seus sistemas oficiais de execução das políticas públicas, atentando para que as

ameaças ao ambiente urbano possam ser antrópicas (aterramentos,

desmatamentos, alterações deliberadas das feições urbanas) ou não (chuvas,

terremotos, eventos climáticos e/ou geológicos) que mais recentemente vêm

impactando as populações urbanas com mais intensidade.

No Brasil muitos impactos em abientes urbanos, decorrentes de intensa

atividade de elementos naturais, como transbordamento de rios e canais, avanço do

nível do mar, deslizamentos de terra, dentre outros, estão cada vez mais frequentes

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e as populações afetadas demandam então mais atuação do poder público, em

especial dos seus órgãos de Defesa Civil. Esta realidade repercute sobremaneira

em diversos setores da administração pública tais como saúde, habitação,

assistência social, dentre outros, de modo que um diferente pensar sobre o

planejamento urbano passa a ser premente. As ameaças às cidades, que de forma

geral permeavam mais fortemente apenas a dimensão social e a dimensão

econômica (quando se pensa, por exemplo, em geração de emprego e renda,

criminalidade e saúde pública), passam a incorporar a dimensão ambiental mais

claramente. Eventos como tsunamis no Japão, alagamentos e inundações em

Bangladeshl, Filipinas e Austrália e deslizamentos de terra na China e Hong Kong

reforçam a necessidade dos mesmos serem considerados pelo planejamento

urbano, e o Brasil não deve ignorar esta necessidade, uma vez que o país também

sofre com os impactos de desastres naturais.

As cidades brasileiras então, precisam incluir verdadeiramente a dimensão

ambiental em seus planos de desenvolvimento, e como compromisso desta inclusão

adotar indicadores desta dimensão em seus sistemas de monitoramento e

avaliação, bem como divulga-los à população. Objetivando contribuir para o

entendimento desta mudança de comportamento, o presente trabalho teve como

objetivo geral:

x Eleger um conjunto de indicadores geomorfológicos relativos aos riscos

naturais possíveis de serem ancorados no órgão de Defesa Civil municipal

como forma de preencher lacunas de informação para o planejamento e/ou

desenvolvimento urbano.

E como objetivos específicos:

x Identificar sugestões de indicadores geomorfológicos relativos aos riscos

(ainda que não explícitos) em documentos governamentais de planejamento

urbano;

x Posicionar o papel dado ao órgão de Defesa Civil (ainda que não explícito)

nos documentos governamentais de planejamento urbano;

x Avaliar as diretrizes norteadoras dos sistemas de informação municipais no

tocante à dimensão ambiental mais especificamente os riscos naturais.

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2. Planejamento urbano e Indicadores ambientais

Ciente dos impactos ambientais que as perturbações naturais do meio físico,

como por exemplo as enchentes e os deslizamentos de terra, causam à vida de

todos que vivem nas cidades, a sociedade passa a cobrar melhores providências

preventivas e atuação mitigatória dos governantes em relação às consequências das

ameaças naturais no ambiente citadino. Neste trabalho foi adotado o conceito de

impacto ambiental como o processo de mudanças sociais e ecológicas causadas por

perturbações no ambiente (COELHO, 2009). Assim sendo, um melhor entendimento

das perturbações no ambiente contribui também para uma melhor compreensão dos

processos de mudanças sociais e ecológicas derivadas de tais perturbações. Do

ponto de vista das providências e ações mitigadoras busca-se sempre a prevenção

ao invés de ficar à mercê das incertezas, e para a cidade as decisões de enfatizar,

mais ou menos, as ações preventivas ou corretivas podem ser orientadas pelos seus

Planos Urbanos.

Para observar e entender as mudanças ocorridas são necessários

monitoramento e avaliação dessas mudanças, fato que demanda os registros de

medidas observadas e comparações com medidas adotadas como referências a fim

de verificar padrões de perturbações que possuam grau de impacto significativo num

determinado território. Os registros de perturbações só são possíveis mediante a

seleção de indicadores que traduzam a dinâmica dos eventos em questão, no caso

os eventos naturais combinados com a organização espacial de um determinado

território.

O ambiente urbano então passou a ser palco de inúmeras possibilidades de

análises e abordagens de desenvolvimento e qualidade ambiental e de vida, de

modo que para o planejamento urbano novos indicadores passam a ser, ao menos,

considerados pelos gestores públicos e privados. Assim, pode-se observar a

importância do binômio planejamento urbano e indicadores ambientais para uma

positiva retroalimentação do processo de gestão.

Sob esta perspectiva de planejamento estratégico (de longo prazo) para o

ambiente urbano, e melhor compreendendo o processo de gestão necessário a

qualquer organização bem como a necessária comunicação dos elementos deste

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processo para seus atores internos e externos, o presente estudo adotou como

arcabouço de análise a estrutura do processo de planejamento e a existência de

algumas lacunas de informação, sugerindo então a temática dos riscos como ramo

setorial de planejamento urbano possível de contribuir com informações relevantes

para a gestão pública em escala municipal (Figura 3).

Figura 3: Arcabouço de análise adotada para o presente estudo – elementos necessários ao

planejamento urbano e o recorte em indicadores da dimensão ambiental como foco do estudo. Fonte: a autora.

Quando das primeiras leituras sobre planejamento urbano, seus respectivos

critérios e indicadores de monitoramento e, consequentemente, o uso destas

informações para a retroalimentação da gestão e comunicação aos atores

envolvidos, observou-se que todos os textos comentavam sobre a dificuldade de

encontrar ampla disponibilidade e acesso aos elementos Indicadores e Sistemas

adotados pela gestão pública. É evidente que se o acesso aos elementos “Bases

normativas (documentais) e Construção coletiva” é de certa forma facilitado e de

maior difusão, o mesmo deveria ocorrer em relação ao acesso aos Indicadores e

Sistemas utilizados, uma vez que estes servem de subsídio para a elaboração das

Bases normativas (documentais) e para a Construção coletiva.

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As análises realizadas ocorreram no âmbito de três pilares teórico-

conceituais:

x Sistema de Informações Gerencial (SIG) - para que as informações sejam

sistematicamente incorporadas aos processos decisórios é preciso existir um

sistema que coordene o fluxo de informações;

x Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) – para que a dimensão ambiental

seja considerada nas fases ainda de concepção das políticas, planos e

programas urbanos, ela precisa estar presente como elemento de avaliação e

não apenas como pano de fundo;

x Riscos (RISCOS) - as ameaças naturais precisam ser monitoradas como

elemento importante da avaliação da qualidade de vida da população.

Segundo Gardrey e Jany-Catrice (2006) a partir da década de 1990 ocorreu

um crescimento do número de indicadores não monetarizados, cuja construção foi

motivada predominantemente por preocupações sociais e humanas, bem como de

indicadores monetarizados com ênfase ambiental. Muitos destes indicadores

correspondem a alternativas para medir o bem-estar da sociedade que ainda nos

dias atuais não possui o status do crescimento econômico, medido através da

progressão do PIB (Produto Interno Bruto). O PIB deveria orientar o

desenvolvimento humano das nações, melhorar as condições de vida das

populações, e não ser um fim em si mesmo. Sua inadequação como medida de

bem-estar suscitou a busca por outros indicadores (GOMES; SEPE, 2008). A busca

por sistemas e indicadores alternativos e complementares aos já existentes, para

melhorar os processos de planejamento e gestão urbanos, demonstra a importância

do tema, bem como sua complexidade, que é característica dos sistemas abertos

suscetíveis a fluxos de energia diversos.

2.1. Planejamento Urbano

O documento do planejamento urbano a princípio deveria ser um instrumento

através do qual seria possível acompanhar a evolução da cidade, pois ele mostraria

sucessivos retratos da paisagem urbana contemplando diversos temas e que

nortearia o caminho a seguir visando um contínuo desenvolvimento. Esse

documento refletiria então os ambientes existentes e os ambientes pretendidos, pois

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apresentaria as atividades antrópicas e naturais ocorridas no território. O diretor do

Centro de Estudos da Metrópole em São Paulo, já destacava que os instrumentos

de planejamento das cidades, contêm a cidade que queremos para o futuro, e

assim, neles devem constar o modelo de cidade a ser adotado hoje de forma a

influenciar os cenários urbanos futuros (SVMA, 2008). Segundo Huang et al (1998) o

desenvolvimento sustentável global requer autoridade e capacidade locais para um

desenvolvimento e gerenciamento urbano sustentável, ou seja, é na escala local que

as ações serão postas em prática com vistas a um desenvolvimento sustentável.

A Lei Federal no 10.257 de 10/07/2001 (Brasil, 2001), Estatuto da Cidade, tem

como objetivo da política urbana o planejamento do desenvolvimento das cidades, o

planejamento da distribuição espacial da população e o planejamento das atividades

econômicas do Município, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento

urbano. Nesta mesma Lei consta ainda o planejamento municipal como um de seus

instrumentos, incluindo neste planejamento:

x plano diretor;

x disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;

x zoneamento ambiental;

x plano plurianual;

x diretrizes orçamentárias e orçamento anual;

x gestão orçamentária participativa;

x planos, programas e projetos setoriais;

x planos de desenvolvimento econômico e social.

Ora, somente considerando estes, o município conta com 08 (oito)

instrumentos para executar e gerir sua política urbana. Considerando-se o melhor

cenário possível, todos os instrumentos acima enunciados, além de outros, deveriam

ser integrados e dialogar entre si, com foco num objetivo comum e prévio constante

na própria lei, qual seja, o planejamento do desenvolvimento das cidades.

Segundo Schasberg (2006) ao analisar alguns planos diretores brasileiros

apresentaram traços gerais predominantes, o primeiro é a prevalência da visão

tecnocrática sem interação com múltiplos órgãos locais e desconsiderando a

existência, ou não, de um quadro técnico local capaz de implementa-lo, o segundo

traço refere-se à baixa e seletiva legitimidade social e política, no sentido de não

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repassar informações em linguagem acessível para a população afastando-a da

capacidade de munir-se de poder para participação decisória, finalmente o terceiro

traço marca a natureza excessivamente normativa dos planos, trazendo um vasto

repertório de diretrizes sem apresentar instrumentos necessários para sua efetiva

viabilidade. Este quadro exemplifica a abordagem fragmentada / estanque do

planejamento urbano adotada de forma geral pela administração pública.

Neste momento vale uma breve reflexão sobre o entendimento e definição de

planejamento. Nas ciências administrativas, este é um conceito básico, fundamental,

para os estudos dos processos de gestão das organizações, sejam elas privadas ou

públicas, porque é considerado um dos pilares das funções administrativas. Tomada

assim desde o Século XIX com Henri Fayol, um dos expoentes das ciências

administrativas, é então uma atividade obrigatória para aqueles que figuram como

gestores, ou como componentes de uma equipe que possui objetivos específicos.

Kwasnicka (1995) já destacava a importância do planejamento para o

estabelecimento dos objetivos, dos métodos e tipos de controles e as formas de

ação para o alcance desses objetivos, e definia então planejamento como a

atividade pela qual os gestores analisam as condições presentes para decidir as

formas de atingir um futuro desejado. Chiavenato (1993) comentava também que o

planejamento é um modelo teórico para a ação futura, é a base para todas as

demais funções de gestão, deve englobar os objetivos pretendidos e,

consequentemente, o que deve ser feito, quando e como deve ser feito. O autor

complementa ainda com um alerta para os níveis de planejamento que podem ser

estratégico, tático ou operacional, sendo o primeiro mais abrangente e de longo

prazo, o segundo mais departamental e de prazo menor, e o terceiro mais específico

e pertinente a um conjunto de tarefas de curto prazo.

Retomando a reflexão sobre o planejamento urbano, seus alicerces e

instrumentos legais e normativos a serem seguidos, observa-se uma premente

necessidade de adotá-lo como referencial norteador das ações municipais no intuito

de obter uma cidade que atenda às demandas e funções sociais de todos os seus

elementos constituintes ao longo de sua existência. O planejamento urbano seria

então não apenas um documento elaborado para atendimento de exigências legais

e normativas, desconexo com as demais funções e atividades municipais, mas o

instrumento a ser consultado e atualizado durante toda a gestão municipal com fins

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de averiguar os graus de sucesso e fracasso no atingimento dos objetivos urbanos

definidos.

Alguns obstáculos para determinar se uma comunidade está ou não

caminhando em direção a um desenvolvimento sustentável é a ausência de métodos

articulados para relatórios de sustentabilidde urbana (MACLAREN apud HUANG,

1998). O planejamento urbano deve estar atento ao fato de que um rápido

crescimento econômico associado a uma limitação de espaço e infraestrutura

insuficiente pode resultar em uma baixa qualidade de vida na cidade. Nota-se que a

dimensão ambiental adquire forte visibilidade na gestão pública quando sua atuação

vislumbra o desenvolvimento sustentável, visão mais holística do que unicamente o

desenvolvimento econômico, que ainda é bastante determinístico na sociedade

atual. Além do que os fracassos de planejamentos provocam um certo descrédito

quanto à sua eficácia, dando margem para críticas excessivas de base econômica

contra os limites que o planejamento impõe ao livre Mercado, contudo o poder

público não pode ficar alheio a sua responsabilidade quando se tem a existência de

bens públicos, monopólios naturais, externalidades negativas, deficiências de

informação.

O sucesso das políticas de desenvolvimento local não pode desconsiderar o

papel intervencionista do Estado, não se pode apenas induzir e/ou construir um

arranjo socioprodutivo e esperar que a autodeterminação da população seja

suficiente para gerar um desenvolvimento endógeno e autônomo (ORTEGA;

SOBEL, 2007). Enfim, o poder público precisa se comprometer com a gestão urbana

(FIDEM, 2005), ainda que muitas dificuldades se apresentem nas fases de

planejamento, implementação, monitoramento e avaliação desta gestão.

Entender a cidade como um organismo cujo metabolismo é dinâmico ajuda a

compreender a necessidade de avaliar suas bases físicas e as respectivas

implicações da urbanização com o passar do tempo. A dimensão ambiental deve ser

usada então como a base para avaliar a qualidade ambiental urbana, que por sua

vez repercute no potencial de geração de contribuição para o sistema econômico

(HUANG et. al., 1998). Este entendimento implica em muito mais do que

simplesmente a proteção de áreas sensíveis, mas também numa mudança

econômica e social de mais harmonia com os elementos naturais. Muitas vezes as

atuações de caráter fragmentário contendo um somatório de intervenções

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arquitetônicas isoladas são resultado de uma visão cada vez mais distante da

holística (que pressupõe uma visão de conjunto onde todos os elementos devem ser

considerados numa análise mais global), assim o plano de ordenação fica subjugado

aos projetos arquitetônicos e urbanos individualizados (FIDEM, 2005).

Pela Constituição Brasileira de 1988, segundo seu Artigo 30, compete aos

municípios brasileiros promover adequado ordenamento territorial mediante

planejamento e controle do solo urbano, e para as cidades com mais de vinte mil

habitantes o Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento e

expansão urbana (Artigo 182). Alguns especialistas comentam que a década que se

seguiu à Constituição de 1988 foi um período de aprendizado para os agentes

públicos (e também privados) que tiveram de repensar os processos de

planejamento, tipicamente de curto prazo, face à instabilidade econômica que

pairava sobre as instituições instaladas em território nacional, para uma prática de

longo prazo, possível graças à estabilidade econômica que o país passou a

vivenciar. Incorporar então aspectos da dimensão ambiental no planejamento

públicos não seria, portanto, tarefa amplamente disseminada, apesar da Eco-92.

Assim sendo, é compreensível que apenas em 2002 o governo federal por meio do

Ministério do Meio Ambiente publicasse documento intitulado Avaliação Ambiental

Estratégica (AAE), que trata da introdução da dimensão ambiental nos processos de

planejamento e tomada de decisão nos níveis estratégicos da gestão pública.

A gestão pública passa então a contar com orientações oficiais para

introdução da temática ambiental nos seus processos decisórios, embora

originalmente a maior preocupação fosse com os processos de Licenciamento

Ambiental. A adoção da AAE contribui para gestão pública na medida em que

pretende servir à construção de políticas, planos, programas e projetos setoriais,

regionais ou globais, indicando possibilidades de impactos ambientais das propostas

em elaboração consolidando-se como procedimento sistemático, implicando

consequentemente ou necessitando antecipadamente, uma adoção de gestão de

melhoria contínua a exemplo do Ciclo PDCA (P=Planejar, D=Dirigir, C=Checar e

A=Agir).

No âmbito gerencial o Ciclo PDCA é um dos mais básicos, podendo ser

aplicado em quaisquer níveis hierárquicos e setor de atuação, é uma prática

sistemática de checagem das atividades gerenciais da Administração. Cada letra da

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31

sigla representa uma atividade a ser realizada e, à medida que a checagem destas

atividades tornam-se permanentes, torna-se mais fácil avançar na resolução dos

problemas e na sugestão de melhorias. A Figura 4 ilustra o ciclo cujos princípios

básicos são P=Planejar, D=Dirigir, C=Checar e A=Agir (do original em inglês Plan,

Do, Check e Act), sendo que Planejar é definir as ações e metas a serem

implantadas e alcançadas, Dirigir é o processo de execução das atividades

necessárias a por em prática o planejado, Checar é o conjunto de atividades com

vistas a avaliar e verificar se o que foi executado está conforme o planejado e/ou o

que foi divergente, por fim Agir representa o conjunto de intervenções necessárias

para melhorar o realizado e/ou corrigir os desvios ocorridos.

Figura 4: Processo de melhoria contínua através da prática do Ciclo PDCA. Fonte: a autora

Diante deste contexto de empoderamento do município cuidar do seu

desenvolvimento, da inclusão da dimensão ambiental e da necessidade de melhorar

a gestão para dar conta disto tudo, a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) aparece

como uma boa alternativa de mecanismo para introduzir mais elementos ambientais

na gestão pública e para ser melhor sucedida requer algumas condições pré-

existentes, dentre elas uma estrutura política integrada fornecedora de um

referencial para a avaliação, ou seja, uma adequada integração dos atores públicos

para que a AAE tenha fácil trânsito entre eles, uma pré-definição das metas e

objetivos que sirvam de balizadores para a avaliação, bem como suas prioridades,

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32

visto que é impossível avaliar todas as possibilidades, e tornar o processo

transparente de modo que todos possam ter acesso aos parâmetros usados na

tomada de decisão, neste sentido a AAE é um processo público de avaliação. Uma

observação interessante é a de que a AAE tem mais sucesso tanto mais a estrutura

política esteja engajada com a temática ambiental e com os instrumentos e

mecanismos de avaliação e decisão bem estruturados e envolvendo todos os órgãos

da gestão pública, e com amplo acesso às informações pela sociedade, de modo

que seja possível vislumbrar uma maior efetividade da AAE em ambientes onde esta

estrutura é mais robusta.

Conforme Steinberger (2006) as políticas adjetivadas de ambiental, territorial,

regional, urbana e rural são espacialmente fundamentadas, o espaço é o

protagonista do encontro entre elas, assim elas se constituem num conjunto enão

devem ser concebidas separadamente.

Dentro dos princípios operacionais da AAE merece destaque o elemento

informação citado em todas as etapas do processo. Interessante também é a

sugestão de início de uso da AAE em qualquer uma das atividades do Ciclo PDCA,

pois assim suas raízes podem ramificar pelas demais sem causar muito impacto ou

uma não aceitação pelas equipes envolvidas. Outra observação a ser entendida é o

fato de que a AAE é um processo e não um resultado de gestão, o que a torna difícil

de ser analisada quanto aos resultados, especialmente, quando o ambiente no qual

é introduzida sofre de imaturidade na análise e avaliação dos resultados de gestão.

Se um sistema de gestão possui carências e lacunas de informação nos resultados

maior será sua fragilidade no acompanhamento dos processos. Ao mesmo tempo,

por esta mesma característica é possível adotar a AAE de modo mais complementar

nos níveis hierárquicos mais elevados, e de forma mais detalhada nos níveis

hierárquicos mais operacionais, em especial naqueles órgãos cujas atribuições são

ainda mais diretas no âmbito ambiental.

Além disso é importante atentar para a multidisciplinaridade da equipe

envolvida, conforme Donnelly et al (2007) uma equipe multidisciplinar tanto no

âmbito ambiental quanto no administrativo é fundamental para prover alternativas de

indicadores e outros aspectos para se avaliar as políticas, planos e programas. De

forma complementar, Briffett et al (2003) reforça a necessidade de se estabelecer

critérios ambientais para todos os envolvidos, e que a mudança do modelo mental

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33

do pessoal de alto escalão e suas motivações sejam também diferenciais para a

adoção da AAE, e revelam ainda que as dificuldades para efetivo uso e bons

resultados da AAE, em países em desenvolvimento da Ásia, por exemplo, são de

toda sorte passando por capacidade de infraestrutura, treinamento de pessoal,

educação dos tomadores de decisão, formação de equipes e mais participação da

sociedade.

Retomando as considerações do Ministério do Meio Ambiente (2002) quanto

à AAE, cabe destacar a possibilidade de percolar a avaliação para outras instâncias

de planejamento seja vertical ou horizontalmente, sendo que na primeira as

instâncias vão da estratégica, passando pela tática chegando à operacional, já na

segunda as instâncias se interligam devido às relações intersetoriais que as

políticas, programas ou planos possuem, conforme pode ser visto na Figura 5.

Nível Operacional

Nível Tático

Nível Estratégico

Informações mais detalhadas sobre os

processos de execução operacional

Informações mais agregadas do nível operacional devidamente

processadas com aspectos do nível estratégico

Informações mais holísticas utilizando informações do nível

tático devidamente processadas com aspectos de outros setores e

ambientes organizacionais

SETOR A

SETOR B

Nível Operacional

Nível Tático

Nível Estratégico

Interação horizontal

Interação vertical

Figura 5: Interações verticais e horizontais de informações da dimensão ambiental nas

políticas, planos e programas. As verticais dentro do mesmo setor e as horizontais entre diferentes setores da administração. Fonte: a autora

Adicionalmente a disponibilidade de informações, principalmente as

espacialmente organizadas, auxilia deveras à avaliação ambiental, sobretudo para

construir previsões dos impactos que os programas e planos provoquem. Assim

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34

sendo, as técnicas de construção de cenários e sistemas de informação geográfica

são fundamentais para melhor suportar a AAE. Com base nestas últimas

considerações é possível perceber a utilidade da AAE para o planejamento urbano,

especialmente no âmbito da gestão dos riscos naturais aos quais a cidade está

sujeita, ou talvez a intrínseca necessidade de seus elementos para propor

programas e planos mais adequados à realidade da cidade. Finalmente o Ministério

do Meio Ambiente (2002) reforça o papel que a disponibilidade de dados e

informações ambientais, estruturadas em bancos de dados baseados em diversos

tipos de zoneamentos, tem para se implantar a AAE nos processos de planejamento

das políticas, planos e programas governamentais.

É bastante interessante e animador perceber que os mecanismos de inclusão

da variável ambiental nos processos decisórios, sobretudo governamentais,

subsidiam-se fortemente na disponibilidade de informações espacializadas para

decisões de intervenções com grande impacto no território, de modo que alguns

trabalhos interfaceiam e refletem sobre a temática ambiental, nos planejamentos de

uso do solo, exemplo da China (TAO et al, 2007), nos planos de desenvolvimento,

exemplos da Asia (BRIFFETT et al, 2003), e no planejamento de forma mais ampla,

exemplo europeu (DONNELLY et al, 2007). Ou seja, a questão ambiental mostra-se

plenamente relevante e determinante na dinâmica territorial, transbordando a

limitada visão de meramente conservacionista dos recursos naturais de um lugar,

passando a ser componente de valor para a determinação da qualidade de vida dos

cidadãos.

Em diversas passagens, vários textos destacam o importante papel da

disponibilidade de informações para os processos de planejamento. Sem dúvida

qualquer iniciativa no sentido de introduzir a questão ambiental nos processos de

tomada de decisão (em todos os níveis) requer um conjunto de dados

suficientemente organizados e estruturados para subsidiar as discussões ao longo

do processo decisório. Quanto maior e melhor organizada for a disponibilidade de

dados, maior o potencial de seu uso nas mais diferentes instâncias governamentais

e também pela sociedade, daí a importância dos sistemas de informação.

No meio das ciências administrativa e computacional o entendimento de

sistemas de informação gerenciais é notado desde a década de 80 e 90 do Século

XX, tendo nesta última ocorrido um movimento de institucionalização dos esforços

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acadêmicos nesta área (RODRIGUES FILHO; LUDMER, 2005), porém com raízes

ainda na década de 60 nos estudos da ciência da computação com objetivo de

aplicações de processamento de dados nas organizações (INTRONA, 1997).

Porém o uso de sistemas de informação como ferramenta nos processos

administrativos organizacionais percolou todas as instâncias e níveis decisórios

organizacionais públicos e privados, tendo no conteúdo informacional uma maior ou

menor aderência aos diversos setores temáticos da sociedade.

A Geografia obviamente não ficou alheia a esta realidade e além dos dados

alfa-numéricos agregou ao universo das bases de dados e processamentos

cruzados o elemento espacial, a localização, o mapeamento, de modo que este

passa a ser dado importante para os sistemas com aspirações de uso territorial.

Contudo ainda não é fácil compatibilizar as bases de dados detentoras da

informação geográfica. O elevado número de dados e a possibilidade de rápida troca

de informações só é possível de serem bem explorados se as ferramentas

operativas permitem seus usos. Considerações bastante relevantes sobre este

assunto são tratadas por Fonseca; Egenhofer (1999), assim é preciso que os

sistemas sejam capazes de “ler” os materiais neles introduzidos ainda que estes

materiais tenham diferentes origens. Os mesmos autores comentam ainda que,

como exemplo desta necessidade, os municípios dentro de um Estado deveriam ter

interoperabilidade para seus dados geográficos.

Estas dificuldades técnicas e a complexidade da natureza dos dados

geográficos, muitos deles oriundos de mapas e imagens de satélites, por si só já

impõem aos sistemas de informação desafios significativos. Ao transportar estas

considerações para o uso da informação geográfica, no âmbito dos processos

decisórios institucionais, ou seja a serem usados nos sistemas de informação

gerenciais, o desafio torna-se ainda maior porque passa a ser o da utilização de

informação geográfica para decisões estratégicas institucionais.

No âmbito do planejamento urbano, como subsídios aos processos decisórios

e formulação de políticas, planos e programas a conjugação de dados espaciais com

os dados sócio-econômicos são fundamentais, entretanto conforme ressalta

Carneiro (2009) é ainda um grande desafio os estudos que conjunguem dados de

sensores remotos e dados sócio-econômicos. Adicionalmente Carneiro (2009)

comenta que por ser reconhecida como um fenômeno dinâmico, com

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36

transformações permanentes e resultados instáveis, a cidade carrega maior

dificuldade em aproximar os estudos urbanos ao seu planejamento e gestão.

Na estrutura de Sistemas de Informação Gerenciais as escalas decisórias são

fundamentais para sua definição, determinados dados deverão ser tratados

diferentemente para a escala estratégica, tática ou operacional de modo que para

auxiliar no processo de planejamento urbano as bases de dados e o processamento

das informações devem considerar estas demandas diferentemente. Conforme pode

ser visto na Figura 6 a disponibilidade de informação adequada aos diferentes níveis

hierárquicos decisórios é uma aliada importante para o planejamento urbano.

Nível Operacional

Nível Tático

Nível Estratégico

Informações mais detalhadas sobre os

processos de execução operacional

Informações mais agregadas do nível operacional devidamente

processadas com aspectos do nível estratégico

Informações mais holísticas utilizando informações do nível

tático devidamente processadas com aspectos de outros setores e

ambientes organizacionais

Figura 6: Ilustração dos diferentes níveis de informação necessários aos diferentes níveis de

processo decisório. Fonte: a autora

Os Sistemas de Informação Gerenciais, neste caso, se constituem em

ferramentas de apoio à decisão quanto às ações prioritárias a serem empreendidas,

bem como de monitoramento de programas avaliando o esforço governamental na

formulação e avaliação de políticas públicas (JANNUZZI et al, 2009). Entendendo os

Sistemas de Informação Gerenciais como a organização estruturada das

informações existentes para uso nos processos decisórios institucionais, é preciso

então reconhecer a informação como um pré-requisito para o desenvolvimento de

sistemas, além disso, tanto os planejamentos quanto os sistemas de informação do

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município devem estar integrados e alinhados vertical e horizontalmente (REZENDE,

2007).

A integração dos planejamentos e projetos municipais promovem uma melhor

gestão das operações municipais de modo que o acesso às informações tanto do

planejamento, quanto da execução e avaliação das ações, possibilitam uma

abordagem mais holística de desenvolvimento do município, bem como permite aos

diferentes órgãos executores organizarem suas atividades alinhadas aos objetivos

de desenvolvimento além de avaliar o andamento das mesmas através de

indicadores previamente estabelecidos.

Neste sentido a observação de Rezende (2007) quanto à integração vertical e

horizontal é fundamental para as questões dos riscos que possuem relações

verticais e horizontais com diferentes instrumentos e setores da gestão urbana.

Dentre os órgãos executores municipais estão os relacionados à gestão dos

riscos, neste caso entendendo por riscos aqueles associados a eventos naturais.

Com o aumento da ocupação de áreas consideradas de risco pela população

urbana, este tem sido um tema de significativa relevância para o planejamento

urbano, ainda que as ações estejam mais voltadas ao enfrentamento da emergência

e reconstrução do que propriamente a uma prevenção mais contundente. A gestão

dos riscos em ambientes urbanos é uma temática com alto grau de complexidade,

envolve vários setores, órgãos e funções governamentais que precisam estar

sensibilizados e engajados nas atividades, bem como a questão territorial do ponto

de vista de informação disponível é essencial. Adiante este tema será retomado e o

conjunto de reflexões realizadas até lá auxiliarão na sua compreensão inserida no

planejamento urbano.

A definição de tipos de riscos, as prioridades dadas a eles, o estudo das

áreas onde há maior e menor grau de risco, enfim, as informações a seu respeito

são valiosas para o ordenamento e gestão territorial urbana. Fernandes; Amaral

(2006) explicam que as ações voltadas para gestão das vulnerabilidades aos

desastres envolvem a capacidade de adoção de soluções de curto e médio prazos,

gestão de situações críticas, participação da sociedade e fluxo apropriado e

permanente de informações via redes de informações gerenciais.

A realização de estudos com vistas a conhecer melhor o território e a seus

diversos padrões espaciais, elementos naturais e sociais promovem um melhor

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zoneamento territorial. Segundo estudo da FIDEM (2005) é fundamental que as

propostas de desenvolvimento e ordenamento sejam precedidas de um

reconhecimento das diferentes características de cada fragmento do território, de

modo que para cada um dos fragmentos se identifique uma uniformidade interna,

similaridades entre seus atributos geográficos e morfológicos, suas normativas

urbanísticas e atividades realizadas nos mesmos para assim serem ordenados de

forma conjunta e mais adequada.

O próximo passo da reflexão segue em direção ao alcance dos objetivos

estabelecidos para a cidade. Para se conseguir bons resultados, com um

planejamento dotado de uma visão estratégica, é importante relacionar os territórios

dos projetos propostos, estabelecendo uma ordenação geral considerando aspectos

físicos, morfológicos e demais características, reconhecendo sua forma, e não

somente estabelecer propostas sobre um suporte abstrato (FIDEM, 2005). O

município possui então seu planejamento urbano, seja ele consolidado em um único

documento, ou separado em diversos documentos com temáticas específicas. A

questão agora recai sobre como avaliar os resultados das ações que foram

adotadas mirando um futuro desejado, chega-se aí às ferramentas de avaliação que

indispensavelmente exigem o uso de indicadores. Esses devem medir atributos que

reflitam a realidade existente e possam comunicá-la (SPANGENBERG et al., apud LI

et al, 2009), neste caso, eles devem medir os resultados das ações do planejamento

urbano.

Quando se aborda o desenvolvimento sustentável, dentro deste considerando

os ambientes urbanos, inúmeros indicadores podem ser utilizados para medir seus

diversos atributos, a Geografia contribui enormemente neste campo de estudo, e a

Geomorfologia se adequa como específico ramo de estudo em virtude de fornecer

informações sobre os agentes modeladores da paisagem (naturais e antrópicos). Os

indicadores então possuem propósitos bastante específicos e não devem ser

encarados apenas como ferramentas para se medir algo, mas principalmente como

ferramentas que subsidiarão uma tomada de decisão posterior. É, portanto, um

grande desafio o de estabelecer um conjunto de indicadores que permitam aferir o

ambiente urbano e em que medida o planejamento urbano está sendo seguido, ou

seja, se os seus objetivos estão sendo alcançados e quais medidas devem ser

tomadas para corrigir equívocos e melhorar resultados. O estabelecimento de

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39

indicadores, e a escolha de certos tipos de indicadores, envolvem um complexo

processo de estudo dos mesmos e está intimamente atrelado a quais vertentes do

planejamento urbano o município prioriza. Isto porque os indicadores demandarão

coleta de dados específicos e desencadearão a necessidade de uma infraestrutura

capaz de fornecê-los, assim então aparecem muitos obstáculos e indisponibilidades

desta infraestrutura, tais como, falta de pessoal qualificado, falta de pessoal

suficiente, falta de recursos financeiros, falta de recursos tecnológicos, dentre

outros. Neste momento, abre-se mão de algumas averiguações devido à

impossibilidade de contar com os dados necessários e, alguns objetivos e ações

previstos no planejamento ficam órfãos de monitoramento e são relegados ao

esquecimento ou ao final da lista de prioridades do momento.

O fato de, cada vez mais, os modelos de desenvolvimento sustentável passar

a ser condicionante para o desenvolvimento territorial e urbano demonstra a

importância do planejamento como instrumento de governo para um projeto coletivo

de cidade, onde os diferentes agentes (por exemplo, transporte, circulação,

habitação e serviços) possam atuar como impulsores de melhorias dos territórios

sem perder a visão de conjunto (FIDEM, 2005).

Quando se pensa gestão pública e seus respectivos desmembramentos

setoriais como, por exemplo, saúde, educação, segurança e riscos, o território se

reduz a um nível de suporte abstrato, mas para se alcançar um desenvolvimento

desejado as propostas e projetos devem se expressar de forma concreta nos

territórios, havendo portanto necessidade destas propostas e projetos terem como

alicerce os suportes naturais físicos, geomorfológicos, e suas respectivas

características.

Assim, chega-se à interseção e ao diálogo entre os estudos geográficos e a

gestão urbana, ou seja, o uso de indicadores de cunho geográfico que podem ser

aplicados à gestão urbana. Para fins de uma abordagem geográfica a análise de

alguns indicadores é fundamental visto que o planejamento urbano é de abrangência

local e suas especificidades e características estão diretamente ligadas à geografia

deste território. Na mão inversa, as abordagens geográficas devem atentar para as

condições municipais de gestão, visto que os métodos e técnicas sugeridos como

modelos devem ser adequados à realidade de implantação e manutenção, ainda

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que os modelos sejam representações limitadas do mundo real, não se pode

esquecer que a população vive neste.

Conforme já comentado, os indicadores de risco são de grande importância

para o monitoramento do planejamento urbano. Recentemente, uma atenção

especial é dada a esta categoria em virtude dos inúmeros eventos naturais que vem

impactando fortemente a vida das pessoas ao redor do globo, e porque em última

instância, as consequências de tais impactos deverão ser tratados em âmbito local.

Analisando as ocorrências de mortes por escorregamentos de encostas no

Brasil e na Região Metropolitana do Recife entre as décadas de 1990 e 2000,

(Figura 7 e Figura 8) (ALHEIROS apud FIDEM, 2003) e no Recife (Figura 9)

(CODECIR, 2011), observa-se uma diminuição principalmente da década de 1990

para a de 2000 na Região Metropolitana do Recife e no município de Recife,

evidenciando que é possível reduzir as perdas humanas em áreas de risco. Embora

a redução das mortes possa estar associada a inúmeros fatores alheios às ações de

gestão urbana, não se pode deixar de considerar tais ações como fundamentais

para a redução das perdas humanas.

0

50

100

150

200

250

300 277

90

34 26

99

2864

166

228

89

2348

8558 68

103

57 50 41 56

182

96

Núm

ero

de m

orte

s

Brasil

Figura 7: Número de mortes por escorregamento de encostas no Brasil. Fonte: Adaptado de IPT apud Bandeira (2010)

Década de 1980 367

Década de 1990805

Década de 2000 796

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41

0

10

20

30

40

50

60

70

12 8

39

1

16

1

62

6

25

0 2 2 5 2 2 6 310

Núm

ero

de m

orte

s

Região Metropolitana do Recife

Figura 8: Número de mortes por escorregamento de encostas na Região Metropolitana do Recife (RMR). Fonte: Adaptado de IPT apud Bandeira (2010)

05

101520253035404550

128

3 1

9

1

43

1

11

0 0 1 1 2 2 0 26

Núm

ero

de m

orte

s

Recife

Figura 9: Número de mortes por deslizamentos no Recife. Fonte: CODECIR, 2011

Assim sendo, é preciso incluir os riscos como elemento significativo do

documento de planejamento urbano no sentido de fazê-lo interagir com outros

setores, ações extremas como uma realocação de comunidade ou ações mais

simples como permitir a permanência de outras, devem ser feitas com subsídios que

atendam às exigências de segurança. Daí a importância da sistematização de

informações provedoras de elementos capazes de gerar cenários urbanos, simular

suas relações e acompanhar sua evolução.

Segundo a Secretaria Municipal do Verde e do Meio ambiente da cidade de

São Paulo (SVMA, 2008), é importante para a gestão pública a preocupação em

encontrar indicadores visando subsidiar os tomadores de decisão e facilitar a

comunicação com o público em geral. Ou seja, além de servir à construção de

políticas públicas, os indicadores devem servir também para que a sociedade se

posicione diante das situações vividas. O documento faz referência ainda à

Década de 1980 20

Década de 1990125

Década de 2000 57

Década de 1980 20

Década de 199058

Década de 200025

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necessidade do planejamento urbano incorporar a dimensão ambiental,

principalmente devido às pressões de reestruturação do espaço diante das novas

dinâmicas econômicas e sociais, e de adaptação das cidades aos efeitos das

mudanças climáticas, sem contar que a falta de um acompanhamento mais intenso

da ordenação do território repercute nas complexas interações dos setores, tais

como, transporte, saneamento e habitação, que por sua vez, resultam no aumento

da vulnerabilidade tanto social como ambiental.

Ainda neste documento, encontra-se referência sobre a importância dos

administradores públicos de produzir, sistematizar e disponibilizar informações, de

forma mais ampla possível, a toda a sociedade, aí incluídas aquelas relacionadas à

sustentabilidade urbana. Considerar as diferenças no modo de intervenção e a

heterogeneidade dos fenômenos atuantes sobre o território é fundamental para a

aderência das políticas públicas, que não podem mais olhar a cidade como um ente

único homogêneo.

A manutenção das funções do ecossistema em regiões urbanas é importante

e, em sua maioria, não possui retorno financeiro direto. Contudo a variável ambiental

já se comprovou importante para as propostas de desenvolvimento dado o valor da

preservação do território para a qualidade de vida de seus habitantes bem como

para a oferta de atividades econômicas nele realizadas (FIDEM, 2005). Neste

contexto de introdução da dimensão ambiental como elemento estruturante do

documento de planejamento urbano, e consequentemente seus desdobramentos

setoriais, aí inseridas as questões dos riscos, leva ao passo seguinte do processo de

construção do planejamento urbano, sua implantação e monitoramento através do

uso dos indicadores.

2.2. Indicadores Ambientais

Embora haja consenso entre especialistas, órgãos de governo e agências

internacionais que o uso de um conjunto de indicadores é ferramenta essencial para

o planejamento das políticas públicas, visto que podem ser entendidos como uma

simplificação de fenômenos complexos produzindo, assim, ganhos de interpretação

(GOMES; SEPE, 2008), não há modelos que sem adaptações, alterações e/ou

ajustes, possam servir indisdintamente a diferentes territórios. Ainda segundo as

autoras, trabalhar com indicadores implica em um amplo e infinito debate sobre o

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que medir e como medir, e este, por si só, já oferece diferentes metodologias, com

seus próprios pressupostos e conduções, levando a distintos resultados.

Uma discussão interessante é a de que não é fácil a monetarização de

variáveis ambientais e sociais com vistas a ampliar o conceito do PIB econômico

incluindo-lhe variáveis de bem-estar (GARDREY; JANY-CATRICE, 2006), isto posto,

observa-se então uma certa consolidação da visão de que apenas o valor monetário

é capaz de valorar a riqueza de uma nação, deixando todos os demais valores

relegados a um fração ínfima de importância para as análises do progresso de uma

sociedade. Entretanto atualmente além da riqueza medida em valores monetários, a

qualidade de vida da sociedade está sendo questionada visto que não

necessariamente a primeira resultará na segunda.

Segundo Huang et. al. (1998) um grande desafio para os planejadores

urbanos é encontrar indicadores que possam ser facilmente acessados e sejam

confiáveis. Ainda segundo estes autores, indicadores são pequenas porções de

informação que refletem a situação de amplos sistemas, são portanto, sinais que

podem auxiliar nos processos de gestão, em especial, seus mecanismos de tomada

de decisão partindo da situação atual para uma desejada.

Há inúmeros indicadores na literatura científica que podem ser aplicados a

diferentes necessidades de análise ambiental, dentre eles apresentam-se os

indicadores de risco. Conforme Veyret (2007) o risco é a percepção de uma

potencialidade de crise, de acidente ou de catástrofe. Considerando esta definição, é

possível entender o risco como uma medida de prevenção, que tal como o

planejamento no âmbito das práticas de gestão deve anteceder a ação. Percebe-se

então a relação complementar entre o risco e as demais variáveis que podem ser

incorporadas ao processo de decisão dos agentes políticos, sociais e econômicos da

organização territorial. Sendo os indicadores uma forma de agregar e quantificar

informações de modo que sua relevância torne-se mais evidente (BELLEN, 2007).

Os indicadores de risco conferem ferramenta importante aos planejadores urbanos e

seus respectivos agentes que lidam diariamente com as operações de organização

espacial. Os riscos só existem para um determinado conjunto social por exemplo, a

população de uma cidade, o grupo de profissionais de uma empresa. As variáveis de

risco só existem quando as pessoas as reconhecem como tradução de uma

ameaça, de um perigo, os riscos então são percebidos de forma diferente

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dependendo do local onde o conjunto social está situado, daí a importância dos

mesmos serem incorporados aos planejamentos territoriais.

Tendo em vista as repercussões que os eventos naturais tais como

enchentes, deslizamentos de terra, tufões e terremotos, dentre outros, causam na

rotina dos habitantes das cidades, bem como sobre as finanças públicas e privadas

dos atores locais, os indicadores de risco são importantes ferramentas para o

planejamento urbano, mais ainda quando se pensa no longo prazo uma vez que

alguns eventos naturais de grande magnitude são recorrentes em longos intervalos

de tempo. Além disso, em última instância, é o município que deve agir sobre as

questões relativas aos riscos naturais e suas implicações, pois quando da ocorrência

de evento adverso é o conunto de pessoas situadas naquele local que sofrerá

diretamente suas consequências. Daí o importante papel do município em

capitanear as iniciativas para melhorar a gestão dos riscos, inclusive na organização

de indicadores que ajudem nessa gestão.

Por força legal (Constituição Federal de 1988, Estatuto da Cidade, dentre

outros documentos normativos) no Brasil os assuntos diretamente relacionados ao

uso e ocupação do solo são de responsabilidade do município, ou seja, o agente

público na escala local. Assim sendo, o município deve prover planejamentos

alinhados aos demais planos de desenvolvimento municipal como um todo, o passo

seguinte é pensar como as políticas públicas implantadas podem ser avaliadas de

modo que seus resultados possam ser utilizados como imputs de novas discussões

e revisões dessas políticas e, consequentemente, serem melhoradas ao longo do

tempo. Ao município cabe também responsabilidades sobre as ações preventivas

destinadas a evitar desastres e minimizar seus impactos. Este é, portanto, um

assunto bastante complexo uma vez que envolve questões referentes ao tipo de

desenvolvimento, volume de recursos financeiros disponíveis, origem destes

recursos, alinhamento dos objetivos municipais aos planos de desenvolvimento

nacional, características históricas, culturais e geográficas peculiares aos

municípios, enfim, inúmeras questões que servem para preparar a cidade para

enfrentar intempéries e definir parâmetros de monitoramento.

Diante de uma infinidade de alternativas, doravante serão apresentados

alguns indicadores de cunho ambiental, que embora não estejam explicitamente

definidos como geomorfológicos ou de riscos podem ser considerados como ponto

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de partida para construção de indicadores geomorfológicos de riscos para uma

determinada localidade.

No Brasil, o IBGE publicou série relativa aos Indicadores de Desenvolvimento

Sustentável em escala nacional nos anos 2002, 2004, 2008 e 2010 os quais tiveram

como base os indicadores da Comissão de Desenvolvimento Sustentável - CDS, das

Nacões Unidas, que os organiza em quatro dimensões: Ambiental, Social,

Economica e Institucional. Estas publicações não são destinadas especificamente às

areas urbanas, mas podem orientar os governos municipais no sentido de adotarem

determinados indicadores que poderiam servir de comparativos entre as cidades

brasileiras, além de servirem como sinalizadores para o próprio acompanhamento

da evolução do município.

Conforme pode ser visto na Tabela 2, do total de 55 indicadores

apresentados pelo IBGE na publicação mais recente (2010), a maioria dos

indicadores classificados como ambientais (no total 24 no ano de 2010) estão

concentrados na preservação e conservação dos recursos naturais de modo que

ficam um pouco mais distantes da realidade dos ambientes urbanos no que tange

aos aspectos de uso e ocupação do solo. Mas existem ainda alguns indicadores que

estão diretamente relacionados à vida nas cidades quais sejam, (i) população

residente em áreas costeira; (ii) acesso a serviço de coleta de lixo doméstico; (iii)

destinação final do lixo; (iv) acesso a sistema de abastecimento de água; (v) acesso

a esgotamento sanitário; e (vi) tratamento de esgoto. Estes indicadores se

relacionam com o atendimento de demandas básicas da população e suas relações

com riscos ambientais podem ser construídas.

Embora os impactos apresentados sejam extremamente relevantes para a

sociedade tais como, contaminação de corpos d’água e do solo, captação irregular

de água e proliferação de doenças, não há relação entre eles com possíveis

monitoramentos da morfodinâmica citadina. Ou seja, por meio destes indicadores

não há como acompanhar a evolução de ocupações em determinadas localidades

da cidade, especialmente as ditas informais. Outra consideração relevante é o fato

de que tais indicadores poderiam ser atrelados ao conceito mais simples de

desenvolvimento ainda que não sustentável. Infelizmente, algumas cidades estão

em busca de condições mais básicas de qualidade de vida para sua população, daí

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a não adoção de indicadores ambientais que reflitam processos de mudanças de

estado ambiental. Tabela 2: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável publicados pelo IBGE.

DIMENSÃO AMBIENTAL - INDICADORES RELAÇÃO COM

RISCOS AMBIENTAIS (do

IDS de 2008) 2002 2004 2008 2010

- -

Emissões de origem antrópica dos gases associados ao efeito estufa

Emissões de origem antrópica dos gases associados ao efeito estufa

Variações climáticas e ocorrência de eventos extremos (secas, enchentes, furacões,etc.)

Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio

Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio

Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio

Consumo industrial de substâncias destruidoras da camada de ozônio

Indireta devido à substituição destas substâncias por outras associadas ao efeito estufa

Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas

Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas

Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas

Concentração de poluentes no ar em áreas urbanas

Chuva ácida

Uso de fertilizantes

Uso de fertilizantes

Uso de fertilizantes

Uso de fertilizantes

Eutrofização de rios e lagos, acidificação dos solos, contaminação de aquíferos e reservatórios de água, e efeito estufa

Uso de agrotóxicos

Uso de agrotóxicos

Uso de agrotóxicos

Uso de agrotóxicos

Acumulação tóxica no solo e biota, contaminação das águas superficiais e subterrâneas

Terras aráveis - - -

Pressão sobre áreas de preservação e conservação; e disputas por diferentes tipos de uso

- Terras em uso agrossilvipastoril

Terras em uso agrossilvipastoril

Terras em uso agrossilvipastoril

Pressão sobre áreas de preservação e conservação; e disputas por diferentes tipos de uso

Queimadas e incêndios florestais

Queimadas e incêndios florestais

Queimadas e incêndios florestais

Queimadas e incêndios florestais

Desflorestamento; intensificação de processos erosivos; danos à biodiversidade; e efeito estufa

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DIMENSÃO AMBIENTAL - INDICADORES RELAÇÃO COM

RISCOS AMBIENTAIS (do

IDS de 2008) 2002 2004 2008 2010

Desflorestamento da Amazônia Legal

Desflorestamento da Amazônia Legal

Desflorestamento da Amazônia Legal

Desflorestamento da Amazônia Legal

Danos à biodiversidade; impactos negativos sobre os solos e recursos hídricos; e efeito estufa

Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas (restingas e manguezais)

Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas (restingas e manguezais)

Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas (restingas e manguezais)

Área remanescente e desflorestamento na Mata Atlântica e nas formações vegetais litorâneas (restingas e manguezais)

Ameaça de extinção do bioma Mata Atlântica; avanço da ocupação antrópica na região costeira

- Desertificação e arenização

Desertificação e arenização -

Erosão e degradação do solo com danos à fauna e flora; impactos sobre os núcleos urbanos dos estados atingidos (movimento migratório)

- - -

Área remanescente e desmatamento no Cerrado

Ameaças aos bioma Cerrado; avanço de fronteiras agrícolas

- Qualidade de águas interiores

Qualidade de águas interiores

Qualidade de águas interiores

Contaminação dos cursos d'água; degradação de nascentes e mananciais; impactos sobre os núcleos urbanos (associados ao déficit estrutural de saneamento)

- Balneabilidade Balneabilidade Balneabilidade

Contaminação dos ambientes estuarinos;impactos sobre os núcleos urbanos (associados ao déficit estrutural de saneamento); proliferação de doenças

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DIMENSÃO AMBIENTAL - INDICADORES RELAÇÃO COM

RISCOS AMBIENTAIS (do

IDS de 2008) 2002 2004 2008 2010

Produção de pescado marítima e continental

Produção de pescado marítima e continental

Produção de pescado marítima e continental

Produção de pescado marítima e continental

Degradação e poluição de manguezais, lagunas e estuários; destruição de matas ciliares, drenagem de várzeas; erosão dos solos; poluição dos cursos d'água

População residente em áreas costeiras

População residente em áreas costeiras

População residente em áreas costeiras

População residente em áreas costeiras

Redução de áreas de restingas e manguezal; impactos associados às mudanças climáticas; conflitos de uso do solo

Espécies extintas e ameaçadas de extinção

Espécies extintas e ameaçadas de extinção

Espécies extintas e ameaçadas de extinção

Espécies extintas e ameaçadas de extinção

Extinção de espécies de fauna e flora; conflitos de uso do solo; fragmentação de ecossistemas; alterações climáticas

Áreas protegidas

Áreas protegidas Áreas protegidas Áreas protegidas

Qualidade dos recursos hídricos, solos, florestas e biodiversidade; conflitos de uso do solo

-

Tráfico, criação e comércio de animais silvestres

Tráfico, criação e comércio de animais silvestres

-

Extinção de espécies; impactos sobre o equilíbrio dos ecossistemas

- Espécies invasoras

Espécies invasoras

Espécies invasoras

Extinção de espécies; impactos sobre equilíbrio dos ecossistemas; proliferação de parasitas e vetores de doenças

Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico

Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico

Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico

Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico

Contaminação de solo e corpos d'água; proliferação de vetores de doenças

Destinação final do lixo

Destinação final do lixo

Destinação final do lixo -

Lançamento em vazadouros a céu aberto, em áreas alagadas, queima a céu aberto; contaminação do solo e água pelo chorume

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DIMENSÃO AMBIENTAL - INDICADORES RELAÇÃO COM

RISCOS AMBIENTAIS (do

IDS de 2008) 2002 2004 2008 2010

Acesso a sistema de abastecimento de água

Acesso a sistema de abastecimento de água

Acesso a sistema de abastecimento de água

Acesso a sistema de abastecimento de água

Captação irregular de água (uso de água imprópria para consumo, danos sobre a malha legal de abastecimento, instalações irregulares e precárias)

Acesso a esgotamento sanitário

Acesso a esgotamento sanitário

Acesso a esgotamento sanitário

Acesso a esgotamento sanitário

Proliferação de doenças

Tratamento de esgoto

Tratamento de esgoto

Tratamento de esgoto -

Contaminação de solo e corpos d'água; proliferação de doenças

Fonte: a autora daptado de IBGE (2002, 2004, 2008, 2010)

Considerando estes indicadores adotados pelo IBGE é possível verificar que

eles não estão diretamente relacionados e alinhados a algumas questões que na

escala municipal são muito importantes para a população e gestores públicos, como

por exemplo, definição de zoneamentos baseados nos limites naturais que suas

configurações impõem. Ao vislumbrar o desenvolvimento sustentável em ambientes

urbanos as características naturais devem ser consideradas como elementos não

apenas importantes, mas também integrantes do planejamento e planos setoriais de

desenvolvimento, isto se reforça com a atual preocupação em relação aos efeitos da

mudanças climáticas, especialmente para as populações localizadas em áreas

litorâneas (caso de importantes cidades brasileiras). Nota-se então que tais

indicadores não dão conta da relação entre homem e meio físico com vistas a prover

um ambiente físico capaz de alimentar o desenvolvimento sustentável que se deseja

para a cidade. Neste sentido percebe-se que a introdução de indicadores

geomorfólogicos nos sistemas de planejamento e desenvolvimento das cidades

daria contribuição significativa para delimitação dos limites de carga aos quais seus

diversos recortes estão sujeitos.

Na escala local, o município de São Paulo, em 2008, coordenou um trabalho

relativo à produção de indicadores ambientais para a cidade por meio de sua

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Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente (SVMA) no intuito de incorporar a

dimensão ambiental ao tradicional planejamento urbano (SVMA, 2008). Na ocasião,

a equipe adotou o marco conceitual utilizado pelo Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente (PNUMA) como metodologia de avaliações urbano-

ambientais, aplicado inicialmente no processo GEO Cidades (Global Environmental

Outlook), iniciativa que buscava melhor compreender as dinâmicas das cidades e

seus respectivos ambientes, cuja participação de São Paulo se deu em 2004.

A metodologia utilizada foi baseada no sistema PEIR (Pressão – Estado –

Impacto – Resposta), cujas premissas são a existência de indicadores que mostrem

as Pressões às quais o ambiente está sujeito e vem sofrendo, o Estado em que o

ambiente se encontra, os Impactos gerados pelas condições em que o ambiente se

encontra e, finalmente, as Respostas que são dadas pelos responsáveis para que o

ambiente enfrente a situação existente. Para cada um dos componentes do sistema,

é necessário o estabelecimento de um conjunto de indicadores cujos valores

expressem aquilo que se quer medir. No caso de São Paulo o que importava era a

medida, em indicadores sintéticos, representativa da qualidade do meio ambiente

em área urbana, que fosse capaz de demonstrar as condições socioambientais das

distintas regiões da cidade, cujos resultados pudessem ser usados na formulação de

políticas públicas e, ao mesmo tempo, pudessem ser usados como informação

pública para a sociedade. Dentre o universo de indicadores existentes, cerca de 100

variáveis foram utilizadas para compor os indicadores sintéticos desejados.

Para cada um dos componentes do sistema PEIR, os indicadores sintéticos

estabelecidos são os que constam na Tabela 3: Tabela 3: Indicadores Sintéticos adotados para a cidade de São Paulo

Componente Indicador Sintético

Pressão Adensamento Vertical Precariedade Urbana

Estado Cobertura Vegetal Impacto N.E.1

Resposta Controle Ambiental Urbano Conservação da Biodiversidade

Fonte: SVMA, 2008.

O indicador de Impacto não pôde ser estabelecido em virtude das variáveis

adotadas para os cálculos estatísticos não conterem os dados necessários 1 Os autores explicam que N.E. significa Não Estabelecido. O indicador não foi estabelecido por

dificuldades na coleta de dados.

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suficientes para gerar resultado confiável. Por exemplo, uma variável usada tratava

da relação ao impacto que a situação do ambiente acarretava na saúde da

população, por meio dos registros de doenças relacionadas à qualidade da água e

do ar, dentro dos grupos crianças e idosos. Porém, nos estabelecimentos de saúde

que atendem estes casos, para os específicos grupos populacionais, não haviam

registros suficientes que pudessem auxiliar numa análise sobre as relações causa-

impacto entre o meio ambiente e a população.

Os indicadores de Pressão – Adensamento Vertical e Precariedade Urbana –

demonstraram que o padrão adotado de ocupação da cidade não contribui para um

equilíbrio ambiental. Os maiores valores encontrados deste indicador, estavam

atrelados a uma ocupação horizontal, dispersa e de baixo padrão, concentração de

grande contingente populacional, lugares de baixa legalidade da posse da terra e

infra-estrutura urbana precária. Destaca-se que nas principais regiões com este

perfil, estão localizadas as áreas prestadoras de serviços ambientais e/ou

ecossistêmicos para a cidade, bem como as populações mais vulneráveis à

intensificação dos riscos urbanos, tais como enchentes e deslizamentos de

encostas.

O indicador de Estado – Cobertura Vegetal – permitiu ver as regiões onde a

cobertura vegetal é mais significativa, sendo tais regiões coincidentes com as

regiões protegidas por lei (por exemplo, parques e unidades de conservação). O

indicador permitiu compreender o importante papel destas porções no cumprimento

das finalidades de suporte para as áreas prestadoras de serviços ambientais e

amenidades às áreas intensamente construídas da cidade.

Os indicadores de Resposta – Controle Ambiental Urbano e Conservação da

Biodiversidade – permitiram ver como o poder público se posicionava, por meio do

Controle Ambiental Urbano, diante das demandas por ações preventivas e corretivas

relacionadas, especialmente, às áreas de urbanização consolidada, de pressão

imobiliária, bem como às denúncias feitas pela sociedade, e também sua posição

frente às demandas de Conservação da Biodiversidade que repercute fortemente na

criação e manutenção de áreas verdes públicas, as quais cumprem importante

função de abrigar grande diversidade de espécies e atenuar os efeitos das ilhas de

calor e maciça impermeabilização das áreas intensamente construídas da cidade.

Estes indicadores de Resposta podem ainda sinalizar alguns caminhos possíveis

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para a ação pública quanto à adaptação da cidade aos possíveis impactos das

mudanças climáticas, sobretudo as porções mais vulneráveis da população a esses

efeitos.

Os indicadores adotados neste estudo, realizado especificamente para um

ambiente urbano, já traduzem melhor as condições ambientais para as quais os

gestores públicos e população em geral devem estar atentos. Em especial os

indicadores de Pressão (Adensamento vertical e Precariedade urbana) fazem

referência à ocupação de áreas provedoras de serviços ambientais e ecossistêmicos

por populações mais vulneráveis, de modo que neste caso é possível ver a relação

entre os possíveis zoneamentos e os limites naturais da área em questão. Neste

caso, é possível ver ainda o indicador como uma ferramenta de gestão com vistas

ao desenvolvimento sustentável, pois preparar a cidade para enfrentar os impactos

das mudanças climáticas no longo prazo e os riscos ambientais de mais curto prazo

como enchentes e deslizamentos, evidenciam seu progresso em direção a uma

qualidade de vida mais ampla da população. A questão posta neste caso de São

Paulo é a manutenção do sistema coletor e processador dos dados necessários,

mais uma vez os indicadores geomorfológicos teriam por afinidade boa pousada no

sistema de Defesa Civil municipal, que do ponto de vista legal normativo também

permite esta adoção.

Em Ross (2007) é possível buscar inspiração quanto ao uso de categorias

para análise do relevo aplicada ao planejamento ambiental, o autor explica a

utilização de categorias num estudo realizado no estado de São Paulo cuja proposta

é resultante de uma síntese de diversos documentos existentes previamente

incluindo aspectos topográficos, geológicos, pluviométricos, dentre outros (Tabela

4). O autor ainda pontua a inexistência de uma forma de relevo igual a outra, de

modo que os estudos aplicados a determinadas porções territoriais são

fundamentais para o planejamento ambiental da área.

Tabela 4: Categorias de comportamento morfodinâmico.

Categoria Características

Estabilidade morfodinâmica natual

Cobertura vegetal densa Relevo com formas de topos convexos e declividades médias (acima de 30%) Alta pluviosidade anual e concentração nos meses de verão

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Estabilidade morfodinâmica de origem antrópica

Alta densidade de urbanização Terreno impermeabilizado por edifícios e asfalto Declividades médias enre 6 a 20% Pluviosidade elevada e concentrada no verão

Instabilidade morfodinâmica moderada

Uso da terra com horticultura Relevo com formas convexas em colinas baixas e declividades predominantemente entre 6 e 20% Pluviosidade elevada e concentrada no verão

Instabilidade morfodinâmica de alto grau

Processo de urbanização com loteamentos sem infra-estrutura urbana Terrenos com obras de terraplenagem com desmontes e aterros dos vales e cabeceiras Processos de ravinamento, voçorocamentos e assoreamentos generalizados

Instabilidade morfodinâmica de alto grau2

Terrenos com baixas declividade (menores que 5%) Planícies fluviais e fundos de vales Inúmeras secções com estrangulamento do leito por pontes e tubulões subdimensionados, aterros e acúmulo de lixo e entulho Terrenos sujeitos a inundações freqüentes

Fonte: a autora adaptado de Ross, 2007 No âmbito internacional, as Nações Unidas (United Nations, 2004)

apresentaram indicadores urbanos que serviriam de subsídios para manutenção de

uma base comparativa entre cidades, monitorando assim suas condições e

progressos em direção aos objetivos previstos, em especial àqueles relacionados a

melhores condições de moradia dos cidadãos. Observa-se então a importância da

escala local nos resultados a serem atribuídos aos países. Contudo, um

questionamento feito é o quanto os indicadores selecionados são aplicáveis,

adequados, às diferentes cidades em diversos países, os quais possuem suas

próprias histórias, culturas, hábitos e programas de desenvolvimento. Do ponto de

vista de escala, há uma dificuldade em padronizar a extensão territorial em que os

dados são coletados, visto que há diferentes entendimentos sobre o que seja

aglomeração urbana, região metropolitana, município, dentre outros. Em relação a

esta questão, é possível prever que dependendo do indicador adotado, a

responsabilidade pela coleta de dados, monitoramento e planos de ação pode ser

delegada a diferentes escalas governamentais, cuja integração nem sempre é rápida

2 Embora para esta categoria o autor tenha adotado o mesmo nome que a categoria anterior, ela

apresenta características diferentes.

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e fácil. A proposta de indicadores para a dimensão ambiental pode ser visualizada

na Tabela 5. Tabela 5: Indicadores para a dimensão ambiental propostos pelas Nações Unidas

# Objetivo Indicador

1 Promover o equilíbrio geográfico das estruturas de ocupação

Crescimento da população urbana Ocupações planejadas

2 Gerir o fornecimento e demanda por água de forma efetiva

Preço da água Consumo de água

3 Reduzir a poluição urbana Tratamento de água Destinação dos resíduos sólidos Coleta regular de resíduos sólidos

4 Prevenir desastres e reconstruir ocupações

Instrumentos de mitigação e prevenção de desastres Casas em locais de risco

5 Promover sistemas de transportes efetivos

Tempo de viagem Meios de transporte

6 Apoiar mecanismos para preparar e implementar planos ambientais locais e iniciativas de Agenda 21 locais

Planos ambientais locais

Fonte: United Nations, 2004

Nesta proposta é possível visualizar uma característica peculiar à dimensão

ambiental: a não linearidade de comportamento de seus elementos, ou seja, a

gestão ambiental requer uma condução multifacetada e um olhar multidimensional,

para prover meios com vistas a uma melhoria de qualidade de vida, os setores

urbanos precisam estar cientes que trabalham com as interfaces e nas interseções

uns dos outros.

Em Taiwan, um modelo de condições ambientais físicas relacionado aos

zoneamentos da cidade de Taipei foi proposto como subsídio ao poder público

municipal para monitoramento da sustentabilidade da cidade. Segundo Huang et al

(1998) neste caso, os indicadores foram tomados como auxiliares dos planejadores

e administradores do governo municipal para avaliar a efetividade das políticas em

alcançar a sustentabilidade. Três tipos de categorias foram estabelecidas para

enquadramento dos indicadores: driving force (força de transformação), efeito e

resposta, uma outra categorização feita foi a destinação dos indicadores definida

entre: gestores públicos e população em geral. Neste caso 10 categorias foram

estabelecidas para enquadramento dos indicadores possivelmente propostos, um

total de 80 sugestões de indicadores foram recebidas e para a população em geral

tais indicadores foram agrupados em 10 (Tabela 6).

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Tabela 6: Exemplo de Indicadores adotados pela cidade de Taipei (Taiwan). # Categoria Indicador (exemplos) 1 Sistema natural Área natural; Biodiversidade; Espécies de pássaros 2 Sistema agrícola Área produtiva

3 Recursos hídricos Qualidade das águas superficiais; Disponibilidade de fluxo hídrico

4 Sistema urbano Densidade populacional; Disponibilidade habitacional; Taxa de impermeabilidade; Mobilidade

5 Serviços de suporte a vida

Taxa de produção de agricultura indígena; Área natural per capita

6 Recursos importados Uso de eletricidade per capita; Uso de combustíveis fósseis

7 Produção urbana PIB per capita; Horas trabalhadas semanalmente per capita

8 Tratamento de lixo Resíduos sólidos per capita; Percentual de efluentes tratados

9 Recursos reciclados Percentual de resíduo sólido reciclado

10 Gestão ambiental Percentual de gastos públicos em proteção ambiental

Fonte: Huang et al, 1998.

Neste caso eles também incluíram indicadores que dessem conta dos riscos

associados ao desenvolvimento inadequado da cidade, como por exemplo, a

capacidade de suportar as precipitações pluviométricas, que repercutem diretamente

sobre as condições dos corpos d’água, área verde, cobertura vegetal e taxa de

impermeabilização do solo, cujos estados em que se apresentam colaboram para a

delimitação do quadro morfodinâmico em que se encontra a cidade. Neste caso,

mais uma vez, é possível visualizar a contribuição de indicadores geomorfológicos

ao monitoramento de ambientes urbanos.

Nos Estados Unidos alguns modelos de gerenciamento de risco ambiental

comentam as decisões entre o uso de modelos mais especializados, com elementos

específicos a serem monitorados e, por conseguinte, com maior precisão nas

informações, versus modelos mais holísticos, ou seja, com maior número de

elementos a serem monitorados, contudo, com menor precisão nas informações

(SHRADER-FRECHETTE, 1998) (Tabela 7). Tabela 7: Tipos de modelos de gerenciamento de risco ambiental.

# Tipo de modelo Características

1 Especializados Elementos específicos. Maior precisão nas informações.

2 Holístico Maior número de elementos. Menor precisão nas informações.

Fonte: Sharader-Frechette, 1998

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A adoção de determinados modelos envolve, portanto, questões sobre os

alicerces técnicos (por exemplo, tipo de análises químicas e/ou físicas e infra-

estrutura laboratorial), mas também os políticos e sociais (diretrizes de

desenvolvimento urbano, valores culturais da população, dentre outros). Como De

Angelis et. al. apud Shrader-frechette (1998) comentaram: sistemas ecológicos

sempre refletem sistemas de valores, de modo que enfrentamos um paradoxo entre

a adoção de um sistema científico intensivo que geralmente carece de utilidade para

as práticas humanas, e um sistema humano intensivo cujo peso maior é dado aos

serviços que o ecossistema oferece às atividades humanas. Um caminho possível é

o claro estabelecimento dos propósitos dos modelos, quais os objetivos que de fato

se quer alcançar (SHRADER-FRECHETTE, 1998) e a participação de todos os

interessados além da dos especialistas. Santos; Assunção apud Bandeira (2010)

estudaram a participação antrópica nos processos de instabilidade dos taludes,

sendo o lançamento das águas servidas diretamente sobre o solo ao longo de

meses, importante contribuinte para tais processos. Neste caso percebe-se a

relação entre planejamento e desenvolvimento urbano, no que diz respeito à

infraestrutura de saneamento e drenagem e aos sistemas de monitoramento. Mais

uma vez as evidências são de que não apenas as causas naturais, isoladamente

são as responsáveis por tragédias, mas a combinação destas com condições sócio-

econômicas que intensificam as condições de risco para a população.

Em Merseyside (Reino Unido) um modelo de monitoramento e avaliação de

impactos ambientais foi aplicado tomando como parâmetros a ocupação e uso do

solo e 03 indicadores de performace quais sejam, (i) Temperatura superficial mínima

e máxima; (ii) Coeficiente de escoamento; e (iii) Biodiversidade (PAULEIT, et. al.,

2005). Quanto aos parâmetros utilizados, a classificação de ocupação e uso do solo

pode ser visualizada na Tabela 8. Tabela 8: Exemplo de parâmetros e indicadores para a cidade de Merseyside (Reino Unido).

Parâmetros # Tipos de Uso do Solo Tipos de Ocupação do Solo 1 Prédios Área constuída 2 Transporte Asfalto / concreto 3 Jardins privados Solo nu 4 Espaço aberto Grama regular uniforme 5 Cemitério Grama irregular 6 Recreação e lazer Arbustos 7 Agricultura/ horticultura Árvores

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8 Área degradada Outras vegetações 9 Área semi-natural Água 10 Água Outras ocupações 11 Outros usos

Fonte: Pauleit et al, 2005.

# Indicadores de performace 1 Temperatura superficial mínima e máxima 2 Coeficiente de escoamento 3 Biodiversidade

Fonte: Pauleit et al, 2005.

Neste estudo conduzido por Pauleit et al (2005) os resultados obtidos dos

dados coletados nos anos 1975 e 2000 demonstraram a deterioração da qualidade

ambiental decorrente da dinâmica citadina refletida em seus parâmetros de

ocupação e uso do solo. Vale salientar que a falta de dados para obtenção de

alguns indicadores impuseram ao estudo algumas estimativas e aproximações

necessárias. Além dos padrões paisagísticos, os autores também fizeram

cruzamentos entre as áreas delimitadas e seus status sócio-econômicos. As

evidências demonstraram que de forma geral a qualidade ambiental piorou

independente do nível sócio-econômico reforçando a assertiva de que o

compromisso assumido pela sociedade em busca de um desenvolvimento

sustentável pressupõe escolhas estratégicas diferentes daquelas adotadas para um

desenvolvimento sócio-econômico simplista. Mais uma vez, indicadores

geomorfológicos relativos à dinâmica das feições citaditanas demonstram importante

utilidade para os processos decisórios de planejamento e desenvolvimento urbanos.

Segundo Jim (1994) em Hong Kong, houve um longo histórico de suscessivas

tentativas não bem sucedidas de melhoria das condições de vida da população.

Depois dessas tentativas o governo adotou algumas medidas especialmente no

setor habitacional que surtiram bons efeitos, e a partir da década de 1990 seus

planejamentos passaram a ser melhor implantados contando com uma re-

estruturação de instrumentos e órgãos gestores urbanos e com uma maior cobrança

da população por melhores condições de vida. Esta mudança de comportamento

ratificou-se por meio de diversos documentos oficiais publicados a partir de então.

Em 1997, o governo estabelece indicadores adotados para monitorar a melhoria da

qualidade de vida na cidade e seu desenvolvimento incluindo-os nos documentos

oficiais (HONG KONG, 1997). Dentre os 39 indicadores descritos, 03 referem-se a

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temáticas relacionadas a aspectos geomorfológicos, quais sejam, (i) Indicador de

paisagem; (ii) Percentual de habitantes vivendo em moradias inadequadas; e (iii)

Percentual da população morando em habitação a uma caminhada de distância de

centro provedor de “facility”. Tabela 9: Exemplos de indicadores de sustentabilidade estabelecidos para Hong Kong. # Categoria Indicadores 1

Recursos Naturais

Consumo de energia 2 Quantidade de resíduos sólidos 3 Total restante de capacidade de aterro sanitário 4 Volume de água per capita fornecido 5 Indicador de paisagem 6

Infraestrutura social

Percentual de habitantes vivendo em moradias inadequadas 7 Área útil por pessoa

8 Percentual da população morando em habitação a uma caminhada de distância de centro provedor de “facility”

9 Média do tempo de espera por moradia de aluguel pública Fonte: adaptado de Hong Kong, 1997

O conjunto destes 03 indicadores repercute em monitoramentos de cunho

geomorfológico, que em outros documentos setoriais são observados. Os

zoneamentos urbanos possuem recomendações importantes sobre, por exemplo,

área impermeabilizada, sistema de drenagem e acesso quando da implantação de

empreendimentos residenciais ou comerciais. Estas preocupações são mais

facilmente entendidas quando se consideram as características físicas de Hong

Kong, confinada a uma extensão de terra bastante limitada tendo de um lado o litoral

e de outro um relevo acidentado com cotas altimétricas significativas e encostas

suscetíveis aos agentes modeladores, daí uma preocupação prioritária com a

moradia de modo a evitar ocupações em áreas de risco.

As propostas de monitoramentos ambientais apresentadas nesta seção não

pretendem esgotar as possibilidades de construção e definição de novos indicadores

para a dimensão ambiental, ao contrário, pretendem servir de motivação para a

continuidade de estudos sobre este tema, sobretudo no âmbito do planejamento

urbano que exigem um conjunto de indicadores de cunho ambiental para dar conta

da complexidade das relações que constroem os territórios e dentro deles áreas com

especificiades que, do ponto de vista dos riscos, também não podem ser tratadas

como homogêneas e passíveis das mesmas ações propostas para as demais.

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3. A Geomorfologia, os Riscos e a Defesa Civil

A variável ambiental é essencial ao planejamento urbano dado que o

equilíbrio entre capacidade de suporte e tensões de crescimento, assim como a

existência de recursos naturais limitados, demanda uma estrutura de critérios de

preservação, salvaguarda e revalorização de diferentes áreas de interesse. Desta

forma, a gestão pública necessita de um prévio reconhecimento cuidadoso destas

áreas quanto às uniformidades, ou não, das suas características geográficas e

morfológicas, normativas urbanísticas e atividades que nelas são realizadas. Cada

área dita homogênea deve ser percebida como uma unidade de paisagem comum,

cujos elementos bióticos e antrópicos lhe conferem sigularidade (FIDEM, 2005). A

partir desta consideração é possível integrar a Geomorfologia aos planos de

desenvolvimento urbano, tomando-a como forte aliada à construção de um alicerce

sobre o qual as intervenções de crescimento e desenvolvimento da cidade serão

propostas. O conhecimento das relações entre os aspectos físicos e as atividades

sociais de determinadas porções do território, permite entender a dinâmica espacial

e como ela se conforma ao longo do tempo.

A Geomorfologia tem como preocupação os efeitos, ou seja, os impactos que

determinados empreendimentos trará ao relevo e vice-versa. Os empreendimentos

devem ser analisados quanto aos riscos de sua instalação para o meio físico, bem

como os riscos que o meio físico, ou seja, os riscos naturais, oferecem aos

empreendimentos num determinado lugar (ROSS, 2006).

Para uma cidade cujos atributos naturais lhe conferem certas pressões e

impactos, é ainda mais aceitável a possibilidade de integração da Geomorfologia

aos planos de desenvolvimento, para isto é necessário encontrar uma estrutura

dentro da gestão pública que abrigue a sua manutenção, de modo que ela passe a

ser constantemente uma fonte de informação para a gestão urbana, evitando que

sua participação se restrinja aos momentos de descrição e caracterização física do

espaço. Dentro da estrutura setorial (saúde, educação, segurança, habitação,

defesa civil, dentre outros.) que a gestão pública possui, a Geomorfologia pode ser

inserida, e, portanto, auxiliar os tomadores de decisão a construir uma visão mais

holística e integradora de suas propostas de intervenção sobre o território urbano.

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Segundo Gupta; Ahmad (1999) a geomorfologia urbana combina o ambiente

geológico, paisagens e processos geomorfológicos com os impactos que a

urbanização lhes causou. Ainda segundo os autores, os estudos geomorfológicos,

em geral, possuem como linha-base as alterações do ambiente físico, e muitos deles

têm demonstrado sua utilidade para engenheiros, gestores públicos e planejadores

urbanos, porém as lacunas de comunicação entre estes grupos e a geomorfologia

também são frequentes e este fato repercute nas ações para minimizar os perigos

aos quais os residentes urbanos estão sujeitos. Complementarmente eles comentam

que, devido à falta de integração entre os grupos, problemas como deslizamentos de

encostas e inundações em cidades são comumente tratadas muito mais após suas

ocorrências do que nos estágios de planejamento e construção de propostas.

O desafio então é encontrar mecanismos e ferramentas de diálogo entre a

área técnica-científica e os tomadores de decisão da gestão pública, para isto os

indicadores são opções que podem ser adotadas como ponto de ligação, pois

através deles todos os interessados (técnicos, gestores e população) podem

acompanhar as ações setoriais implementadas no município. Este desafio é

enfrentado por diversas cidades ao redor do mundo, e Gupta; Ahmad (1999) citam o

exemplo dos mapas temáticos como ferramentas que possiblitem a interação entre

engenheiros, geógrafos e gestores públicos.

A Geomorfologia então pode integrar-se a um setor que lida diretamente com

as relações entre o ambiente físico e o ser humano, com olhar direcionado às

ameaças e desastres possíveis de ocorrer e, por conseguinte, suas repercussões e

consequências para a sociedade. Assim, assuntos correlatos às vulverabilidades,

riscos, reconstrução, dentre outros, decorrentes de eventos naturais no âmbito

municipal que se alinham à Defesa Civil, podem contar com o suporte teórico-

metodológico da geomorfologia com olhar voltado para a gestão pública com foco

nos indicadores geomorfológicos de risco.

Uma parte dos riscos impostos aos residentes urbanos se inscreve no quadro

das relações natureza – sociedade fundadas na abordagem ambiental, aí a

participação da Geografia é indispensável pois as zonas de risco podem ser

definidas por formas e superfícies variáveis, em diferentes escalas espaciais e

temporais, ou seja, o espaço sobre os quais as ameaças existem não é neutro, pelo

contrário é um componente extrínsico do risco (VEYRET, 2007). Como as interações

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entre os agentes estruturadores do território e os riscos se revelam também

espacialmente, essa relação ganha complexidade.

Segundo a FIDEM (2003) a análise de risco pressupõe o entendimento das

características físicas do meio, pois essas características definem a suscetibilidade

dos terrenos existentes e o entendimento das ocupações, pois definem a

vulnerabilidade dos sistemas receptores. No tocante à dinâmica natural geológica,

cotidianamente ocorrem mudanças no ambiente em certa magnitude, tempo e área

na busca do equilíbrio do sistema terrestre, as quais nem sempre são possíveis de

serem registradas, contudo ao resultarem em perdas materiais e humanas passam a

serem reconhecidas como acidentes ou desastres. A prevenção e redução de

acidentes naturais passa necessariamente pelo conhecimento das suscetibilidades e

vulnerabilidades das áreas de interesse, neste caso uma ferramenta útil é a

elaboração de mapas de risco com constante atualização, esta é fundamental diante

do anteriormente exposto em relação às frequentes mudanças do sistema terrestre,

mais ainda quando adiciona-se aos elementos naturais os processos antrópicos de

ocupação de terrenos e intervenções de correções de situações de risco.

Uma importante consideração sobre gestão e planejamento urbano é a

disponibilidade de dados para avaliar a extensão dos processos de desenvolvimento

urbano ao longo do tempo e as consequências destes processos, bem como, é

igualmente importante monitorar os eventos considerados esporádicos e pequenos,

pois após um longo período de observação eles podem revelar impactos sobre o

tecido urbano e a qualidade ambiental (PAULEIT et al, 2005), ou seja, não são

apenas os grandes empreendimentos urbanos que geram perturbações, mas

também os pequenos tais como construção de novas casas nos subúrbios,

construção de um prédio residencial no lugar de uma galeria comercial, construção

de garagens e novos cômodos em casas já existentes, dentre outros. Modelos de

monitoramento utilizando imagens de satélite e fotografias aéreas são cada vez mais

comuns, mas vale salientar que a interpretação destas imagens necessita de equipe

técnica especializada e que sua aplicação para áreas urbanas heterogêneas é mais

problemática.

Ainda em relação à gestão, é condição primordial para o monitoramento de

riscos e vulnerabilidades a atividade de coleta e registro de dados (que alimentam os

indicadores) esta atividade por vezes é negligenciada pelos sucessivos governos

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municipais, causando descontinuidades, e no pior dos casos, inexistência de forma

estruturada. Bandeira (2010) já fazia referência a esta relevante questão ao

comentar a dificuldade de fazer correlações entre a pluviosidade antecedente e o

potencial de deslizamentos de encostas devido à falta histórica de dados

pluviométricos de áreas específicas e dos registros dos escorregamentos.

Entendendo ainda que as condições de relevo, vegetação, uso de solo, dentre

outras, são muito peculiares, ainda que em escala local, cabe reconhecer a

complexidade dos sistemas de monitoramento. Em muitas zonas metropolitanas

brasileiras, a ocupação desordenada de encostas impacta na sua desestabilização

(GIRÃO, CORRÊA; GUERRA, 2007), aumentando a vulnerabilidade das mesmas

aos riscos naturais que periodicamente, especialmente nas estações chuvosas, se

constatam.

A discussão e gestão do risco perpassam ainda pelo entendimento de que

esta matéria deve ser tratada por uma abordagem holística e contingencial, incluindo

aspectos sobre a percepção do perigo, análises técnicas, disseminação de

informações e estruturas gerenciais como instrumento operativo para tomada de

decisão e sua implantação pelo sistema envolvido. Assumindo que é essencial a

existência de uma entidade formalmente constituída no âmbito municipal para

articular os elementos constituintes do sistema e manter seu fluxo de informação,

pode-se reconhecer como mais adequado do ponto de vista de legitimidade e

legalidade a Defesa Civil Municipal que sempre é lembrada nos episódios de

desastres mas nem sempre é organizada e estruturada para dar conta de outras

funções que a própria legislação prescreve. O sistema de Defesa Civil brasileiro tem

o entendimento legal de coordenar ações preventivas, de socorro, assistenciais e

recuperativas destinadas a evitar desastres e a minimizar seus impactos, dentre os

quais estão desastres naturais e impactos sociais, econômicos e ambienais em

áreas urbanas.

O desenho das relações entre Geomorfologia, Riscos e Defesa Civil

apresenta-se como mecanismo possível de produzir informação ambiental para

gestores e planejadores urbanos.

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3.1. Riscos – tipos e implicações

A temática dos riscos se expressa mais fortemente nas localidades onde as

pessoas que nela vivem percebem os riscos como uma realidade capaz de trazer

sérios prejuízos às suas vidas. Pode-se dizer que este é o ponto de partida para

haver qualquer mobilização de esforços no sentido de mudar esta realidade.

Paralelamente a esta percepção, o conhecimento existente sobre os fenômenos que

aumentam ou diminuem os riscos sobre uma determinada área geográfica é alicerce

essencial para organizar, estruturar e integrar, os esforços para minimizar seus

impactos.

Com estas duas premissas – percepção e conhecimento - norteando as

reflexões é possível compreender melhor a razão pela qual os riscos precisam ser

matéria relevante para o planejamento urbano. Sem preparar-se para intervir

adequadamente, as cidades ficam à mercê dos fenômenos causadores de desastres

e suas consequências. Diante do exposto, cabe conhecer melhor os tipos de riscos

e suas implicações.

Inicialmente é de todo importante encarar a gestão dos riscos como diferente

da gestão das catástrofes, isto é, não se deve confundir os riscos com as

catástrofes, enquanto estas são gerenciadas pela urgência dos serviços de socorro,

aqueles devem ser integrados às escolhas de gestão, políticas de organização

territorial e práticas econômicas (VEYRET, 2007). De fato, as áreas de risco surgem

da interação do meio natural com o meio social, é necessário que os processos

naturais de dinâmica superficial afetem um grupo social para que os riscos existam,

consequentemente, devem ser analisados de forma integrada numa visão sistêmica

do meio (RECKZIEGEL; ROBAINA, 2005). Ainda segundo os autores, “as situações

de risco são originadas pela soma de vários fatores, como as características

geológicas/geotécnicas, a remoção da cobertura vegetal, as características da

vertente, a forma desordenada da ocupação entre outros”. Observação ainda

importante sobre os graus de definição, de apreensão dos riscos, é que eles são

resultados da quantidade de dados disponíveis (VEYRET, 2007)

Os tipos de riscos são apresentados de diversas formas segundo diferentes

autores, contudo de maneira geral existem riscos de origens naturais, sociais,

econômicas, tecnológicas, dentre outros que embora sejam assim classificados, por

vezes possuem interligações tornando difícil apontar uma ou outra como a origem.

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Para o presente trabalho foi adotado o entendimento de risco como a relação

existente entre a probabilidade de uma ameaça de evento adverso se concretizar

com uma magnitude definida e a vulnerabilidade do sistema receptor aos seus

efeitos, sendo vulnerabilidade entendida como as condições intrínsecas dos

sistemas receptores que em interação com a magnitude do evento adverso expressa

a intensidade dos danos causados (SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL,

1999).

Ainda em relação aos riscos, interessa ao presente trabalho, aqueles

atrelados aos fenômenos naturais, e dentro desta categoria há ainda um

desdobramento com várias classificações, aqui entendidas como construto

facilitador do seu estudo e entendimento, e não como “caixas” herméticas que

ignoram a essência sistêmica da matéria.

Independente da classificação / tipologia adotada, as implicações são

inúmeras e diferentes de acordo com a localização das ocorrências, no sentido de

encarar a existência dos riscos com maior atenção quanto maior for seu grau numa

escala de preocupação, as implicações devem estar alinhadas a um entendimento e

compromisso pactuado entre os atores envolvidos e as ações para seu

enfrentamento devem ser adequadas a cada um dos tipos definidos.

Em seguida serão apresentadas algumas classificações/tipos de riscos

ambientais/naturais que reforçam a importância de seu monitoramento para os

ambientes urbanos.

Segundo Augusto Filho et al apud Reckziegel; Robaina (2005), tem-se os

riscos Atmosféricos e os Geológicos, nos primeiros enquadram-se os tufões,

ciclones, tempestades e secas, nos segundos enquadram-se os terremotos,

vulcanismo e tsunamis (todos estes considerados Endógenos) e os

escorregamentos, enchentes, erosão, subsidência e solos expansivos (todos estes

considerados Exógenos), a Figura 10 ilustra esta classificação.

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ProcessosTufões

CiclonesTempestades

SecasTerremotosVulcanismoTsunamis

EscorregamentosEnchentes

ErosãoSubsidência

Solos expansivos

Classificação

Atmosféricos

Endógenos

Exógenos

Geológicos

Figura 10: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Augusto Filho et al apud

Reckziegel; Robaina, 2005

Já para o autor Cerri apud Reckziegel; Robaina (2005) os riscos naturais se

dividem em Físicos e Biológicos, sendo que os Físicos compreendem os

Atmosféricos (por exemplo, granizo, secas, tempestades e furações), os

Hidrológicos (enchentes e inundações) e os Geológicos subdivididos em Endógenos

(terremotos, vulcões e tsunamis) e Exógenos (movimentos de massa, erosões,

dentre outros) a Figura 11 ilustra melhor a classificação de Cerri.

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Riscos Ambientais

Riscos Tecnológicos

Riscos Naturais

Riscos Sociais

Riscos Físicos

Riscos Biológicos

Riscos Atmosféricos

Riscos Geológicos

Riscos Hidrológicos

Riscos Associados à

Fauna

Riscos Associados à

Flora

Endógenos Exógenos

Granizo, Secas, Tempestades,Furacões, etc.

Terremotos,vulcões e “tsunamis”.

Movimentos de Massa, Erosões, etc.

Doenças provocadas por vírus e bactérias, pragas,picadas de animais, etc

Doenças provocadas por fungos, pragaservas tóxicas, etc

Enchentes,Inundações

Figura 11: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Cerri apud Reckziegel; Robaina

(2005)

Ainda na publicação de Reckziegel; Robaina (2005) os autores apresentam a

proposta de Gregory (Figura 12) a qual está associada a três sistemas – atmosfera,

geosfera e biosfera – e seus elementos, sendo que a atmosfera envolve

temperatura, precipitação e vento, a geosfera envolve água, terra, gelo, terremotos e

erupções vulcânicas, e a biosfera envolve plantas, animais e o homem.

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ATMOSFERA

GEOSFERA

BIOSFERA

TEMPERATURA

PRECIPITAÇÃO

VENTO

ÁGUA

TERRA

GELO

TERREMOTOS

ERUPÇÕES VULCÂNICAS

PLANTAS

ANIMAIS

HOMEM

Onda de CalorGeada

ChuvaGranizoNevadasNevoeiros

Temporais eRelâmpagosTufõesFuracões

Seca

Nevascas

TsunamisDeposição sílticaErosão dos solosAvalanchesDeslizamentos eFluxos de lama

Inundação marinhaInundação fluvial

Movimentos de massa

IncembergAvanço dos glaciares

QueimadasInvasões

Epidemias

Gelo no soloTernoccarste

Figura 12: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Gregory apud Reckziegel;

Robaina, 2005

Uma outra proposta bastante interessante é a de Oliveira et al apud

Reckziegel; Robaina (2005) que integra aspectos do sistema Físico e do Antrópico

de modo que a relação entre os processos geomorfológicos e a dinâmica do espaço

urbano se mostra evidente para existência de áreas de risco geomorfológico, na

Figura 13 a proposta é apresentada de forma esquemática.

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Sistema Físico

Processos Geomorfológicos

Dinâmica do Espaço Urbano

Dinâmica Fluvial

Ocupações de Áreas Inadequadas

Dinâmica de Encostas

Intervenções AntrópicasÁreas Susceptíveis

Áreas de Risco Geomorfológico

Sistema Antrópico

Baixo Padrão Construtivo

Figura 13: Proposta de tipos/classificação de riscos. Fonte: Oliveira et al apud Reckziegel;

Robaina, 2005

Finalmente, esta seção apresenta a classificação oficial utilizada pelas

autoridades brasileiras para tratar os assuntos afetos ao tema. Segundo o Ministério

da Integração Nacional (2003) os desastres naturais são classificados segundo a

Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos (CODAR) (Tabela 10).

Tabela 10: Classificação de acordo com a Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos de

Origem Natural (CODAR) CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES DE ORIGEM NATURAL

Classificação Desastres Naturais de Origem Sideral

Impactos de Corpos Siderais Impacto de Meteoritos

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Externa Desastres Naturais de Causa Eólica Vendavais ou tempestades Vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais Vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais Tornados e trombas d`água

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Desastres Naturais Relacionados com Temperaturas Externas Onda de frio intenso Nevadas Nevascas ou tempestades de neve Aludes ou avalanches de neve Granizos Geadas Ondas de calor Ventos quentes e secos Desastres Naturais Relacionados com o Incremento das Precipitações Hídricas e com as Inundações Enchentes ou inundações graduais Enxurradas ou inundações bruscas Alagamentos Inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar Desastres Naturais Relacionados com a Intensa Redução das Precipitações Hídricas Estiagens Secas Queda intensa dos índices de umidade relativa do ar Incêndios florestais das estações estivais

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Interna

Desastres Naturais Relacionados com a Sismologia Terremotos, sismos e/ou abalos sísmicos Maremotos e tsunamis Desastres Naturais Relacionados com a Vulcanologia Erupções vulcânicas Desastres Naturais Relacionados com a Geomorfologia, o Intemperismo, a Erosão e a Acomodação do Solo Escorregamentos ou deslizamentos Corridas de massa Rastejos Quedas, tombamentos e/ou rolamentos de matacões e/ou rochas Processo erosivos – erosão laminar Erosão linear - sulcos, ravinas e boçorocas ou voçorocas Subsidência do solo Erosão fluvial - desbarrancamentos de rios e fenômenos de terras caídas Erosão marinha Soterramento de localidades litorâneas por dunas de areia

Desastres Naturais Relacionados com Desequiíbrios na Biocenose

Pragas Animais Ratos Domésticos

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Morcegos Hematófagos Ofídios Peçonhentos Gafanhotos Formigas Saúvas Bicudos Nematóides Pragas Animais Pragas Vegetais Prejudiciais à Pecuária Pragas Vegetais Prejudiciais à Agricultura Maré Vermelha

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2003

3.2. Defesa Civil – estrutura e instrumentos

Em 1o de Dezembro de 2010 foi publicada a Lei Federal n o 12.340 (BRASIL,

2010), que dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC) cujo objetivo

é planejar, articular e coordenar as ações de defesa civil em todo o território

nacional. Contudo, quase nada sobre esses tópicos é abordado na Lei que em

quase totalidade se atém à questão de repasse de recursos financeiros em especial

do Fundo Especial para Calamidades Públicas (FUNCAP). Ao longo dos 18 (dezoito)

artigos que constituem a Lei apenas 02 (dois) tratam do SINDEC propriamente dito,

o artigo Primeiro explicitando seu objetivo e o artigo Segundo definindo os órgãos e

entidades da administração pública que compõem o SINDEC. Todos os demais

artigos estão relacionados aos procedimentos que estados e municípios da

federação devem seguir para ter direito aos recursos federais em caso de situacão

de emergência ou estado de calamidade pública. Ora se o próprio instrumento de

constituição do Sistema não aborda as questões relativas às ações preventivas

destinadas a evitar os desastres e minimizar seus impactos, à integração dos órgãos

e entidades que o compõem, e à operação do Sistema, não causa surpresa um

certo despreparo dos municípios em organizarem-se para melhor gerir os riscos. E

ainda na própria Lei o artigo Segundo parágrafo primeiro, relata a obrigação dos

estados em encaminhar à Secretaria Nacional da Defesa Civil um mapeamento (a

ser atualizado anualmente) das áreas de risco de seu território, disponibilizando

apoio à elaboração de plano de trabalho aos municípios que careçam de capacidade

técnica. Ou seja, já se admite a fragilidade dos municípios em conuzir tal tarefa.

Observa-se então neste documento, a decisão por enfatizar as ações

recuperativas aos eventos de calamidade e não à sua prevenção, além da

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delegação aos municípios, em última instância, a responsabilidade de definir

isoladamente seu planejamento sobre esta matéria. Diante deste quadro, é fácil

entender porque os municípios optam pelo que já está estabelecido em Lei - solicitar

ajuda à esfera Federal apenas no que tange os recursos financeiros, após decretar

situação de emergência ou estado de calamidade pública – e não por avançar em

direção aos planejamentos e monitoramentos, implantação de sistemas de alerta,

enfim, gestão dos riscos existentes. Segundo esta lei entende-se por defesa civil

(grifo nosso) (BRASIL, 2010): [...] o conjunto de ações preventivas, de Socorro, assistenciais e recuperativas destinadas a evitar desastres e minimizar seus impactos para a população e restabelecer a normalidade social.

O Sistema Nacional de Defesa Civil tem na escala municipal seu principal

órgão de execução das ações diretamente relacionadas à prevenção de desastres.

Segundo o Manual de Desastres (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL,

2003) os diversos tipos de desastres naturais (classificados conforme padrões

internacionais) podem ser monitorados, tais monitoramentos podem ser parte

constituinte dos Planos Diretores de Defesa Civil dos municípios, sobretudo para

aqueles municípios suscetíveis a ameaças naturais mais recorrentes. Além do

Manual de Desastres, os gestores municipais contam ainda com o Manual de

Planjemento em Defesa Civil (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 1999)

que apresenta diversas formas de lidar com esta temática.

Os desastres naturais, segundo o Ministério da Integração Nacional (2003),

podem ser de origem; (i) Sideral; (ii) Relacionados com a geodinâmica terrestre

interna; (iii) Relacionados com a geodinâmica terrestre externa; e (iv) Relacionados

com desequilíbrios na biocenose. Para atendimento do tema do presente estudo, o

olhar será posto sobre os itens (ii) e (iii) cujas subdivisões podem ser visualizadas na

Tabela 11.

Tabela 11: Lista de desastres naturais relacionados com a Geodinâmica Terrestre.

Classificação Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Externa

Desastres Naturais de Causa Eólica Vendavais ou tempestades Vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais

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Vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais Tornados e trombas d`água Desastres Naturais Relacionados com Temperaturas Externas Onda de frio intenso Nevadas Nevascas ou tempestades de neve Aludes ou avalanches de neve Granizos Geadas Ondas de calor Ventos quentes e secos Desastres Naturais Relacionados com o Incremento das Precipitacões Hídricas e com as Inundacões Enchentes ou inundações graduais Enxurradas ou inundações bruscas Alagamentos Inundacões litoraneas provocadas pela brusca invasão do mar Desastres Naturais Relacionados com a Intensa Reducão das Precipitacões Hídricas Estiagens Secas Queda intensa dos índices de umidade relativa do ar Incendios florestais das estações estivais

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Interna

Desastres Naturais Relacionados com a Sismologia Terremotos, sismos e/ou abalos sísmicos Maremotos e tsunamis Desastres Naturais Relacionados com a Vulcanologia Erupcões vulcânicas Desastres Naturais Relacionados com a Geomorfologia, o Intemperismo, a Erosão e a Acomodacão do Solo Escorregamentos ou deslizamentos Corridas de massa Rastejos Quedas, tombamentos e/ou rolamentos de matacões e/ou rochas Processo erosivos – erosão laminar Erosão linear - sulcos, ravinas e boçorocas ou voçorocas Subsidencia do solo Erosão fluvial - desbarrancamentos de rios e fenomenos de terras caídas Erosão marinha Soterramento de localidades litoraneas por dunas de areia

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2003

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Com base nesta classificação é possível identificar diversos processos

passíveis de serem considerados para elaboração e acompanhamento do

planejamento e desenvolvimento urbanos. Os desastres supramencionados

requerem para sua prevenção o monitoramento das ameaças naturais e a

preparação da cidade parasua ocorrência, tanto no âmbito da prevenção quanto do

socorro e reconstrução.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico3apresenta

um ciclo de gestão de Riscos e Desastres (OECD, 2005) (Figura 14) que não difere

muito do brasileiro, de modo que estudos internacionais podem servir de bases para

melhoria da gestão nacional nesta temática.

Figura 14: Ciclo de gestão de Riscos e Desastres com destaque para as ações de

mitigação. Fonte: a autora adaptado de OECD, 2005.

3 Organização internacional criada em 1960, conta com 34 países membros e tem por objetivo

identificar problemas comuns aos membros, analisa-los e discuti-los e promover políticas para soluciona-los.

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No Brasil, a Política Nacional de Defesa Civil (MINISTÉRIO DA

INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2007) adota uma abordagem (Figura 15) tendo como

objetivo a redução de desastre mediante:

x Prevenção de desastres;

x Preparação para emergências e desastres;

x Resposta aos desastres;

x Reconstrução.

Figura 15: Abordagem nacional para redução de desastres. Fonte: a autora a partir de

Ministério da Integração Nacional, 2007

A Defesa Civil então possui papel fundamental nos processos de

planejamento urbano devido às necessidades ora apresentadas. Como indicadores

de monitoramento é possível pensar naqueles que auxiliem a medir as ameaças e

vulnerabilidades com vistas a reduzir os desastres, figurando então como

instrumentos de prevenção:

x Avaliação de Riscos de Desastres, compreendida dentre outras iniciativas

por:

x Estudo das ameaças de desastres;

x Estudo do grau de vulnerabilidade do sistema e dos corpos receptores;

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x Sínteses contendo hierarquização dos riscos de desastres e áreas de

maior risco;

x Elaboração de bancos de dados e de mapas temáticos sobre

ameaças, vulnerabilidades e riscos de desastres.

x Redução dos Riscos de Desastres, compreendida dentre outras iniciativas

por:

x Medidas não-estruturais, que englobam o planejamento da ocupação

e/ou da utilização do espaço geográfico, em função da definição das

áreas de risco, bem como o aperfeiçoamento da legislação de

segurança contra desastres;

x Medidas estruturais, que englobam obras de engenharia de qualquer

especialidade.

No âmbito local, a Comissão de Defesa Civil do Recife (CODECIR) é um

órgão da Secretaria de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente (Seplam) e

desde o ano 2001 é responsável pela execução do Programa Guarda-chuva cujas

ações envolvem a prevenção de desastres nos morros e planície do Recife

decorrente das chuvas, especialmente nos meses de inverno.

Segundo a CODECIR (2011) as ações nas áreas de planície englobam:

x Saneamento com obras estruturadoras de micro e macro-drenagem;

x Limpeza e correção de galerias e canais;

x Controle urbano para evitar novas ocupações nas áreas de mangues e

margens de rios;

x Trabalhos educativos visando mudar a cultura da população.

Já nas áreas de morros as ações segundo a CODECIR (2011) englobam:

x Obras de macro drenagem;

x Obras de impermeabilização das encostas;

x Relocação de fossas, confecção de canaletas para microdrenagem,

viabilização do corte de árvores de risco;

x Fiscalização da ocupação de áreas de risco.

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Como ações emergenciais são elencadas (CODECIR, 2011):

x Vistorias nos locais de risco;

x Monitoramento de barreiras;

x Limpeza de canaletas;

x Recuperação de escadarias;

x Remoção de lixo das encostas;

x Corte de árvores;

x Colocação de lonas;

x Realização de microdrenagens;

x Remoção de famílias das áreas de risco;

x Montagem do sistema de alerta.

A abordagem adotada para as ações nos morros compreende o Ciclo de

Intervenção cujas ações podem ser visualizadas na Figura 16.

Figura 16: Ciclo de Intervenção adotado pela CODECIR. Fonte: CODECIR, 2011

Como resultados das ações realizadas pelo Programa Guarda-chuva os

balanços 2002 e 2003 apresentam os indicadores utilizados para avaliar o programa

neste perído (Tabela 12).

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Tabela 12: Indicadores do Programa Guarda-chuva.

# Indicadores do Programa 2001 2002 2003 Total

1 Vistorias e monitoramentos realizados 8.000 2.925 6.454 17.3792 Famílias retiradas de áreas de risco 1.986 1.669 97 3.7523 Lonas plásticas colocadas (m2) 1.861.076 1.283.142 585.556 3.729.774

4 Famílias beneficiadas pelo auxílio-moradia 1.986 1.669 97 3.752

5 Atendimentos feitos durante o programa por dia (sem chuva) 100 100 100 100

6 Atendimentos feitos pelo programa em dia (de chuvas intensas) 500 500 500 500

7 Técnicos envolvidos no programa em época sem chuva 179 179 179 179

8 Técnicos envolvidos no programa em época de chuvas intensas 250 250 250 250

9 Quantidade de equipes (em período sem chuvas) 10 11 11 11

10 Quantidade de equipes (em período de chuvas intensas) 54 60 60 60

11 Pequenos Serviços microdrenagem, retirada de bananeira, etc. 206 498 77 781

12 Placas colocadas em áreas de risco 0 1.000 0 1.00013 Demolição Imóvel em risco 463 477 49 98914 Demolição muro em risco ou irregulares 36 59 25 12015 Remoções 193 54 41 28816 Casas Entregues 446 14 104 56417 Obras Coletivas Concluídas 202 223 32 45718 Obras coletivas execução 0 0 80 8019 Obras de Parceria Concluídas 316 441 81 83820 Obras de Parceira em execução 0 0 214 214

Fonte: CODECIR, 20034

Uma breve análise desses indicadores demostra que os mesmos estão mais

voltados às Respostas do poder público em relação às fases de Preparação para

Emergências e Desastre, Resposta aos Desastres e Reconstrução (Figura 15)

ficando apenas os indicadores de Obras e de Pequenos Serviços associados ao

instrumento de Redução dos Riscos de Desastre como medidas estruturais, que por

sua vez estão sob responsabilidade de outros órgãos do município tais como

Empresa de Urbanização do Recife, Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana e

4 Há divergências entre alguns valores de indicadores constantes no Balanço 2002 e Balanço 2003.

Estas divergências não são comentadas pela CODECIR em nenhum dos documentos.

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Diretoria de Habitação. Vale ainda ressaltar que no relatório do Programa

emergencial referente ao inverno de 1989 (CODECIR, 1990) os indicadores usados

como resultados também apresentavam essas mesmas características.

Assim sendo, é possível entender que a Defesa Civil do Recife pode investir

mais esforços também nos instrumentos de Prevenção dos Riscos e seus

respectivos indicadores cuja contribuição para o planejamento urbano é mais

aderente, sobretudo aqueles associados aos Estudos de ameaças e

vulnerabilidades, Sínteses de hierarquização dos riscos, Elaboração de banco de

dados e mapas temáticos e Medidas não-estruturais envolvendo planejamento da

ocupação e/ou utilização do espaço geográfico.

Diante do quadro apresentado os indicadores geomorfológicos de riscos

parecem ser um bom ponto de encontro entre a Geomorfologia, os riscos e a Defesa

Civil com vistas à sua utilização nos processos de planejamento urbano.

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4. A preocupação ambiental e os riscos nos planos de desenvolvimento do Recife

O Recife possui características geográficas que naturalmente impõem à sua

população riscos ambientais diversos. À medida que a cidade cresce e sua dinâmica

econômica e social é retratada em suas feições morfológicas, alguns dos riscos pré-

existentes tornam-se maiores e outros anteriormente não identificados passam a

existir. Este fato inevitável pressupõe que deveria ser uma constante ter indicadores

relativos aos riscos e seções especiais sobre os mesmos nos documentos oficiais de

planejamento da cidade, porém as análises doravante realizadas mostram uma

realidade um pouco diferente, ainda que haja comentários sobre os riscos, o

tratamento da matéria não é apresentado com a profundidade necessária.

4.1. Aspectos Gerais da cidade do Recife

Recife localiza-se no litoral de Pernambuco, estado do Nordeste brasileiro,

(Figura 17 e Figura 18) e os dados gerais do município segundo o IBGE (2010)

encontram-se na (Figura 19). O Recife possui significativa relevância econômica e

histórica para a Região Metropolitana do Recife (RMR) e vivencia um momento de

oportunidades em virtude dos investimentos que o estado de Pernambuco vem

recebendo nos últimos anos. A sua composição geográfica impõe certos limites a

determinados tipos de negócios (sobretudo aqueles que necessitam de grandes

áreas e terreno plano) e à população concentrada no núcleo urbano da RMR, neste

contexto a busca por alternativas para proporcionar melhor bem-estar à população

apresenta-se como inevitável para os períodos vindouros.

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Brasil

Figura 17: Localização do Brasil. Fonte: a autora adaptado de Google Maps, 2012.

Nordeste brasileiro Pernambuco Região Metropolitana do Recife (RMR) Figura 18: Localização da RMR no estado de Pernambuco no Nordeste brasileiro. Fonte: a

autora adaptado de Google Maps, 2012.

N

N

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Figura 19: Localização do Recife dentro da RMR e dados gerais sobre o município. Fonte: a

autora adaptado de FIDEM, 2005

A configuação morfoestrutural do Município é marcada por dois grandes

compartimentos: (i) os morros (colinas) e tabuleiros estruturado na Formação

Barreiras que caracteriza grande parte dos limites oeste da cidade e (ii) a Planície

flúvio-marinha que caracteriza sua parte central além das áreas alagáveis a leste.

RECIFE Área: 218,5 km2

Densidade demográfica: 7.037 hab/km2

Clima: Tropical quente e úmido

Temperatura média anual: 27oC

Vegetação: Mata capoeirinha, arbustiva,

manguezal, coqueiral

Fonte: IBGE, 2010

Limite esquemático das áreas de planície ou de baixa declividade Concentração da área urbanizada (núcleo central)

Recife

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Figura 20: Compartimentos geomorfológicos com destaque em pontilhado para a localização

de Recife. Fonte: a autora modificado de FIDEM, 2002

Em geral, a Região Metropolitana do Recife é constituída por dois domínios

geomorfológicos, quais sejam os Tabuleiros Costeiros formados sobre sedimentos e

rochas sedimentares, e o Planalto Rebaixado Litorâneo formado sobre rochas

cristalinas (Figura 20). Nestes domínios encontram-se as unidades de relevo que

segundo Alheiros apud FIDEM (2003) possuem diferentes graus de suscetibilidade a

escorregamentos, e que por sua vez são também influenciados pelas ações

Recife

0 4 8 12 km

LEGENDA: Destaque da localização de Recife Faixa Litorânea Tabuleiros Costeiros Planalto Rebaixado Litorâneo

N

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antrópicas. Como agente principal das ameaças naturais, as chuvas também

guardam relação com os graus de suscetibilidade dos compartimentos aí

localizados, por isso o monitoramento da pluviosidade é importante para os

municípios da região como pode ser visto na Tabela 13. Tabela 13: Intervalos pluviométricos com respectivos graus de suscetibilidade para a Região

Metropolitana do Recife. Intervalos de chuva média (mm/ano) Graus de Suscetibilidade

> 1.500 Alto 1.000 – 1.500 Médio

<1.000 Baixo Fonte: Alheiros apud FIDEM, 2003 Do ponto de vista da geologia (Figura 21) a Alheiros apud FIDEM (2003)

explica que o embasamento cristalino é formado por rochas graníticas e ocorre

extensivamente a oeste da Região Metropolitana do Recife. A acumulação de

argilominerais nesses solos possui influência significativa na ocorrência de

escorregamentos nestas áreas ainda que a maturidade do relevo e a preservação da

cobertura vegetal auxilie na manutenção das boas condições da estabilidade natural.

As bacias sedimentares são localizadas ao sul e ao norte de Recife, sendo elas a

Bacia do Cabo e a Bacia Pernambuco-Paraíba, respectivamente. Essas possuem

relações com a Formação Cabo e a Formação Ipojuca (localizadas ao sul) e a

Formação Gramame e Formação Maria Farinha (localizadas ao norte).As

características da geologia ao norte apresentam excelentes condições para

acumulação de água subterrânea, estando aí o mais importante aquífero da região.

Já as características do sul com camadas arenosas e argilosas, com alto conteúdo

de feldspatos sujeitos aos processos de argilização sob clima quente e úmido,

favorecem os episódios de escorregamentos. Deste modo os processos de

desestabilização, desencadeados também pelas ações antrópicas, são

caracterizados por erosão pronunciada nas camadas mais arenosas e

escorregamentos naquelas mais argilosas. As unidades geológicas do Recife podem

ser visualizadas na Tabela 14. Tabela 14: Unidades geológicas e seus respectivos graus de suscetibilidade.

Unidades Geológicas Grau de Suscetibilidade Rochas Cristalinas Baixo

Formação Cabo Baixo Formação Beberibe Baixo Formação Gramame Médio Formação Barreiras Alto

Fonte: Adaptado de Alheiros apud FIDEM (2003)

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0 4 8 12kmEscala

LEGENDA

Formação Barreiras

Granito do Cabo de Sto. Agostinho eEmbasamento Cristalino

Bacia do Cabo

Bacia PE-PB

Formações Quaternárias

Figura 21: Unidades geológicas simplificadas com destaque em pontilhado para a localização de Recife. Fonte: a autora modificado de Alheiros apud FIDEM, 2003

Por si só estes elementos possuem características suscetíveis aos riscos

naturais existentes, mas quando a relação entre as unidades de paisgem da cidade

e os riscos existentes em cada uma é feita (CORRÊA, 2006), percebe-se que as

vulnerabilidades são reforçadas pela ação antrópica (Figura 22 e Tabela 15):

Recife

0 4 8 12 km

N

Legenda:

Planície Costeira

Formação Barreiras

Formação Gramame, Beberibe e

Maria Farinha

Formações Cabo e Ipojuca

Embasamento Cristalino

Destaque da localização de Recife

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Figura 22: Unidades de Paisagens e riscos ambientais associados. Fonte: a autora

adaptado de Prefeitura do Recife, 20015

Tabela 15: Riscos ambientais associados às Unidades de Paisagens.

Fonte: a autora adaptado de Corrêa, 2006

5 O original da fonte não apresenta escala.

1

2

4 3

6

5

N

1 2

3 4

5 6

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86

Esta configuração física deveria ter sua morfodinâmica monitorada

sistematicamente, por estruturas institucionais formalmente constituídas, e deveria

ser considerada nos estágios de planejamento, implantação, monitoramento e

avaliação dos planos urbanos.

Com a promulgação da Constituição Federal em 1988 as instâncias estaduais

e municipais da federação brasileira passam a ter papel e responsabilidades

fundamentais no que tange ao crescimento e desenvolvimento dos municípios

brasileiros de modo que a democracia servisse aos propósitos de inclusão das

várias escalas governamentais (municipais, estaduais e federais) e da participação

da sociedade. Especificamente sobre receitas para o município a Constituição faz

referência ao estabelecimento de impostos sobre propriedade predial e territorial

urbana, de modo que os municípios necessitam ter registros bem atualizados destas

propriedades para fazer uso de suas respectivas receitas. Só por esta razão já seria

natural entender que a questão urbana passa a ser deveras importante para os

municípios, contudo, além desta, a competitividade entre cidades em escala global

também passa a ser relevante, sobretudo para captação de financiamentos

estrangeiros destinados a ações específicas, tais como revitalização de áreas

urbanas, projetos turísticos histórico-culturais, atração de eventos culturais,

esportivos e atividades industriais.

Entre as décadas de 20 e 30 do Século XX, o Recife foi alvo de um plano de

urbanismo que se restringiu a intervenções para remodelação e embelezamento nos

bairros centrais e significativa ampliação do sistema viário (SANTANA, 2005). A

história recifense mostra o expressivo crescimento da população, a concentração

dos setores de serviços, comércio e indústria, ampliação da rede rodoviária, enfim,

Recife teve um papel fundamental no crescimento dos municípios vizinhos de modo

que sua característica metropolitana vem de longa data, daí as preocupações de

planejamento não se restringirem apenas ao território municipal, mas sim englobar

as relações e as dinâmicas dos municípios que nele orbitam. A este respeito,

diferentes estudos e planejamentos vêm sendo realizados, alguns em âmbito

metropolitano outros em âmbito municipal. Durante o período de governo militar, na

década de 1960, a Constituição de 1967 permitia à União, mediante Lei

Complementar, estabelecer regiões metropolitanas constituídas por municípios de

uma mesma comunidade socioeconômica para a realização de serviços comuns

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(SANTANA, 2005). Já na década de 1970 houve a constituição formal de algumas

regiões metropolitanas brasileiras, entre elas Recife, finalmente na década de 80 as

discussões se voltaram para o resgate do papel dos municípios e a questão

metropolitana foi deixada em segundo plano, subestimando o papel da instância

estadual no enfrentamento de seus problemas, culminando com a promulgação da

Constituição de 1988, que facultou aos Estados instituir regiões metropolitanas,

aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de

municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de

funções públicas de interesse metropolitano. Inclusive o Estatuto da Cidade (Lei

Federal n. 10.257) não tratou em profundidade esta matéria. Apesar destas fases do

arcabouço legal, a Região Metropolitana do Recife não ficou sem propostas nos

âmbitos do planejamento e da gestão, tendo desde a década de 1970 contado com

relevantes estudos, planos, projetos e legislações relacionados aos seus problemas

de urbanização, saneamento, habitabilidade, transporte urbano, sistema viário,

industrialização, meio ambiente, dentre outros.

Diante do exposto, nota-se que a cidade desde muito tempo contou com

importantes e numerosos registros discursivos de planejamentos para sua

organização espacial (ainda que em escala metropolitana) em contrapartida espera-

se haver em mesma medida os instrumentos utilizados para averiguar os resultados

dos mesmos e, consequentemente, corrigir equívocos ocorridos e subsidiar os

novos planejamentos.

O Recife possui documentos oficiais que fazem referência à preocupação

ambiental já faz algum tempo. A partir dos anos 1990 há legislações, normas,

estudos e publicações técnicas que apresentam diagnósticos da situação existente e

sugestões de ações para que o poder público municipal melhor trate o assunto.

Historicamente a ocupação de áreas consideradas de risco ocorre desde

sempre, em sua maioria, por segmentos da sociedade desprovidos de recursos

financeiros e técnicos, o que agrava a situação destes habitats. No caso dos mais

abastados, estes se estabeleceram em áreas mais enxutas da cidade, cujas ações

para provimento de infraestrutura e edificações foram menos penosas. Já nas áreas

de inundação, manguezais, zonas estuarinas e encostas, estas ações até hoje

exigem maior dispêndio de recursos financeiros e técnicos (FIDEM, 2003), ficando

repetidas vezes de fora das programções orçamentárias governamentais.

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O reconhecimento destas especificidades naturais e suas repercussões,

especialmente no âmbito dos riscos, será analisado na base documental oficial

relativa aos planos de desenvolvimento urbanos do Recife e/ou Região

Metropolitana. A Lei Orgânica do município de Recife datada de 1990, possui

referências sobre as questões de planejamento urbano e ordenamento territorial,

participação da sociedade e democratização das informações. Estas três questões

são importantes para as análises doravante realizadas porque espera-se que ao

longo de quase duas décadas (1990 – 2008) elas tenham sofrido um

amadurecimento refletido nos documentos oficiais governamentais.

Os dados qualitativos destacados ao final de cada documento analisado

registram uma maior ou menor evidência de elementos da base teórica adotada para

o presente trabalho, quais sejam, elementos da Avaliação Ambiental Estratégica

(AAE), Sistemas de Informação Gerenciais (SIG) e gestão de riscos (RISCOS), que

se trabalhados de forma integrada permitem a construção de indicadores que podem

subsidiar os processos de planejamento e gestão urbanos.

As análises e críticas que se seguem tomaram como base empírica

documentos oficiais do município e documentos de abrangência metropolitana no

qual o município está inserido. Esta base foi selecionada por sugerir tratar de

assuntos relativos às bases conceituais (sistemas de gestão, avaliação ambiental

estratégica e riscos) adotadas para análise neste trabalho e por sugerir abordagem

apropriada à explanação da introdução da dimensão ambiental nos processos de

desenvolvimento da cidade (contemplação de indicadores ambientais e/ou

geomorfológicos).

4.2. Plano Diretor de Desenvolvimento do Recife (1991)

Considera-se aqui o Plano Diretor de Desenvolvimento do Recife de 1991

como um ponto de partida da análise e o Plano Diretor de 2008 como ponto de

chegada, analisando também em outros documentos seus pontos de destaque,

sobretudo quanto à temática ambiental e dos riscos.

O poder público do Recife já em 1989 deu início à elaboração de um

documento que tratava das preocupações relativas à matéria de Política Urbana,

Plano de Desenvolvimento da Cidade do Recife e Sistema de Planejamento e de

Informações da Cidade, cujo resultado pode ser visto na Lei n. 15.547/91 cuja

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ementa estabelece as diretrizes gerais em matéria de política urbana por meio da

instituição do Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife e criação do

Sistema de Planejamento e de Informações da Cidade.

O documento6 apresenta dentre os objetivos da política urbana dois de

interesse para o presente trabalho, quais sejam, (i) a proteção, valorização e uso

adequado do meio ambiente, das amenidades e da paisagem urbana; e (ii) a

articulação dos diversos agentes públicos e privados atuantes na cidade no

processo de desenvolvimento urbano. Como funções sociais asseguradas aos

citadinos o documento apresenta um total de treze estão listadas dentre elas a

moradia, o saneamento e o patrimônio cultural e ambiental. Além disto, as diretrizes

apresentadas contemplam aspectos no âmbito da dotação adequada de

infraestrutura urbana em especial o saneamento básico; utilização, manutenção e

recuperação de sistemas de infraestrutura; preservação, proteção e recuperação do

meio ambiente, paisagem urbana e patrimônio histórico, dentre outros.

Dentre os nove princípios norteadores do Plano Diretor dois merecem

destaque (i) o ambiente natural é o suporte para o processo de desenvolvimento da

cidade, e (ii) é direito do citadino participar da gestão dos negócios de interesse

público e acompanhar as suas realizações. Quanto aos padrões desejados de

desenvolvimento o documento cita o periódico (anual) estabelecimento de metas

como parâmetro para as ações dos diversos agentes urbanos.

A divisão territorial é proposta em Unidades Urbanas possuidoras de

características de urbanização e padrões sócio-econômicos semelhantes, além de

haver exigência de atualização/ revisão destas Unidades. Mais ainda, estas

Unidades Urbanas deverão ser usadas como referência para a implantação dos

sistemas de planejamento e informação.

O documento ainda comenta alguns aspectos para estabelecimento da Lei de

Uso e Ocupação do Solo sendo aqui destacado o estabelecimento de índices

urbanísticos de ocupação por Unidade Urbana considerando suas características

geomorfológicas.

Dentro dos Programas de Urbanização é possível observar algumas

indicações de intervenções nos ambientes considerados de risco, sendo que no

6 Neste tópico as palavras documento e Plano Diretor foram utilizadas indistintamente para se referir à

publicação da Prefeitura do Recife (1991) ora analisada

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Programa de Reestruturação e Renovação Urbana tem-se o Projeto de Urbanização

dos morros visando assegurar a contenção de encostas nas áreas de riscos,

controle de erosão, drenagem, segurança das habitações, sistema de transporte,

saneamento básico e controle ambiental de acordo com as características do meio

físico da área, já no Programa de Estruturação Urbana tem-se o Projeto de

Estruturação e Consolidação Habitacional nas áreas de risco, incluindo contenção

de encostas, controle de erosão e drenagem. Já no Programa de Dinamização

Urbana os projetos organizam-se em três: Projeto de Faixa Litorânea, Projeto da

Bacia do Rio Jordão e Pina, Projeto da Bacia do Rio Capibaribe e Projeto da Bacia

de Apipucos.

Uma observação sobre o tópico de Transportes Urbanos é o enfoque que o

documento apresenta no sistema rodoviário em detrimento de outros como o

ferroviário e fluvial, e como as intervenções para sua implantação têm impactos

significativos na dinâmica da paisagem urbana.

No capítulo do Meio Ambiente Urbano o documento reforça que as diretrizes

a serem formuladas devem considerar os aspectos de preservação e recuperação

num total de nove, resumidos a seguir:

x A presença de água nas mais diversas formas (rios, canais, estuários, mar,

lençóis sub-superficiais e aquíferos, umidade do ar e pluviosidade);

x O relevo constituído pela planície circundada pelos morros agredidos por

ocupação e desmatamento além de erosão e desmontes não controlados;

x Vegetação nativa, remanescente da Mata Atlântica em áreas públicas

constituindo elemento da composição da paisagem recifense;

x Áreas estuarinas com remanescentes de manguezais propícias à

reprodução da vida animal aquática;

x Aterros de planície, áreas antes ocupadas pelas águas criando obstáculos

ao seu escoamento;

x Elevado grau de poluição de cursos d’água devido à carência de sistema de

esgotos sanitários e limpeza urbana;

x Sítios históricos e outros aglomerados constituintes de recantos de

amenização para a vida na cidade;

x Degradação do ambiente construído com má conservação de prédios e

logradouros;

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x Exploração mineral não controlada deixando cicatrizes na paisagem

citadina.

No âmbito das competências dos órgãos executivos uma merece destaque: a

de gerar informações necessárias à comunicação ao público e produzir estudos

técnicos sobre as condições de meio ambiente do município.

No capítulo de Serviços Urbanos cinco foram elencados (i) abastecimento

d’água, (ii) esgotamento sanitário, (iii) drenagem pluvial, (iv) limpeza urbana e (v)

financiamento dos serviços públicos. Cabe aqui um comentário sobre a drenagem

pluvial que já neste documento aponta situações problemáticas como ocupações

situadas às margens de canais e rios dificultando o escoamento das águas,

crescente impermeabilização do solo, necessidade de remoção de algumas famílias

porém condicionada à disponibilidade de novas unidades habitacionais, delimitação

de áreas de risco para melhor propor ações nas mesmas, enfim problemas que se

agravam com o crescimento desordenado.

O capítulo de Setores Sociais é composto por seis tópicos, a saber:

Habitação, Educação, Saúde, Cultura e Lazer, Abastecimento e Defesa Civil da

Cidade, para este último, três artigos discorrem sobre (i) a finalidade de coordenar

as ações e atuar preventiva e imediatamente nos casos de ameaça às condições

normais de funcionamento das atividades e vida na cidade, (ii) a sua constituição por

órgãos municipais e entidades comunitárias, com participação das esferas estadual

e federal, e (ii) os seus objetivos num total de três em seguida resumidos:

x Prevenção dos efeitos das enchentes, deslizamentos de barreiras,

desmoronamentos e situações de risco por meio do controle e fiscalização

das causas;

x Impedimento e fiscalização da ocupação de áreas de risco, faixas marginais

de rios e canais, lagoas e encostas de morros;

x Organização da comunidade para ação preventiva e imediata na defesa da

cidade.

Finalmente o capítulo que trata dos Sistemas de Planejameto e de

Informações descreve ambos os sistemas. O Sistema de Planejamento da Cidade

do Recife tem por princípios a integração e coordenação do planejamento

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articulando os diversos agentes sobre a cidade, inclusive todos os órgãos da

Prefeitura e participação popular no acompanhamento e avaliação das ações

planejadas. Já o Sistema de Informações para o Planejamento da Cidade constitui-

se um instrumento de apoio operado pela Prefeitura tendo por princípios a

disponibilidade das informações para o conhecimento e uso da sociedade recifense,

integração com outros sistemas de informações (federais, estaduais, municipais e

privados) tanto quanto possível e produção de informações reconhecidas como

necessárias ao planejamento.

Constituem produtos do Sistema de Planejamento da Cidade do Recife os

planos, programas, orçamentos, projetos e atividades que garantam a integração e

coordenação das ações planejadas, dentre esses estão: (i) o Plano diretor de

Desenvolvimento da Cidade do Recife, (ii) Planos Diretores Setoriais, (iii) Plano

Plurianual Orçamentário, (iv) Orçamento anual, (v) Planos e Programas Setoriais e

(vi) Programas Locais.

Constituem subsistemas do Sistema de Informações para o Planejamento da

Cidade do Recife o Subsistema de Indicadores de Desenvolvimento (SIND), o

Subsistema de Referências Documentais (SIRD) e o Subsistema de

Acompanhamento das Expectativas da Sociedade (SIAC). O Sistema de

Informações para o Planejamento deve dispor de informações geo-ambientais (solo,

sub-solo, relevo, hidrografia, vegetação), cadastros urbanos (imobiliário,

equipamentos urbanos, áreas vazias, sistema viário, transporte, infraestrutura de

esgoto, água, energia elétrica, dentre outros), legislação urbanística, informações

sócio-econômicas, e ações regionais, além disso deverá estar à disposição dos

cidadãos e de qualquer entidade pública ou privada. De forma esquemática a Figura

23 ilustra os Sistemas de Planejamento e de Informações:

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93

Sistema de Informações

Funções de apoio técnico a serem exercidas pelo Sistema de Planejamento

Elaboração, atualização, controle, acompanhamento e avaliação de

Planos, Programas, Projetos e Atividades

Articulação político-social, responsável pela facilitação da negociação entre a

Prefeitura e outros agentes do planejamento, públicos e privados

Orçamentação, responsável pela elaboração, controle, acompanhamento e avaliação dos orçamentos plurianuais e

anuais de forma integrada e consistente com o planejamento substantivo

Auto-desenvolvimento do planejamento, responsável pelo

aperfeiçoamento, flexibilidade e adaptação do sistema às mudanças requeridas pela

sociedade e pela Prefeitura

Sistema de Planejamento

Informações que devem ser disponibilizadas pelo Sistema de Informações

Geo-ambientais, compreendendo

o solo, o sub-solo, relevo, hidrografia e

cobertura vegetal

Cadastros urbanos: Imobiliário, Viário, Infraestrutura

de Água, Esgoto, Energia Elétrica etc.

Legislações urbanísticas, Código de

obras, Áreas especiais de preservação, histórica e

cultural

Sócio-econômicas principalmente

demografia, emprego e renda e zoneamento fiscal

imobiliário

Operações de serviços públicos, em

especial, transporte, saúde, educação, segurança, recre

ação e lazer

Plano de Ação Regional com os investimentos

programados e executados

Figura 23: Sistemas de Planejamento e Informações propostos no documento.

Após esta releitura do documento e análise das informações nele contidas,

destacam-se como pontos merecedores de registro para o presente trabalho,

aqueles que se alinham ao arcabouço de análise adotado:

Avaliação Ambiental

Estratégica Sistema de Informação

Gerencial Riscos

Diversas passagens do documento (objetivos, funções, diretrizes e princípios norteadores) reforçam a necessidade de considerar: o “ meio ambiente”, a “paisagem urbana”e o “ambiente natural”

“[...] criação do Sistema de Planejamento e de Informações da Cidade”

“Projeto de Urbanização dos morros visando assegurar a contenção de encostas nas áreas de riscos, controle de erosão, drenagem, segurança das habitações [...]”

“produzir estudos técnicos sobre as condições de meio ambiente do município”

“é direito do citadino participar da gestão dos negócios de interesse público e acompanhar as suas realizações”

“[...] planície circundada pelos morros agredidos por ocupação e desmatamento além de erosão e desmontes não controlados”

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“o ambiente natural é o suporte para o processo de desenvolvimento da cidade”

“gerar informações necessárias à comunicação ao público”

“Aterros de planície áreas antes ocupadas pelas águas criando obstáculos ao seu escoamento”

“[...] estabelecimento de índices urbanísticos de ocupação por Unidade Urbana considerando suas características geomorfológicas”

“[...] integração e coordenação do planejamento articulando os diversos agentes sobre a cidade, inclusive todos os órgãos da Prefeitura e participação popular no acompanhamento e avaliação das ações planejadas”

“Exploração mineral não controlada deixando cicatrizes na paisagem citadina”

“[...] Sistema de Informações para o Planejamento deve dispor de informações geo-ambientais, cadastros urbanos, legislação urbanística, informações sócio-econômicas, e ações regionais, além disso deverá estar à disposição dos cidadãos e de qualquer entidade pública ou privada”

“Objetivos da Defesa Civil: Prevenção dos efeitos das enchentes, deslizamentos de barreiras, desmoronamentos e situações de risco por meio do controle e fiscalização das causas. Impedimento e fiscalização da ocupação de áreas de risco, faixas marginais de rios e canais, lagoas e encostas de morros”

4.3. Atlas Ambiental da Cidade do Recife (2000)

O Atlas Ambiental da Cidade do Recife é um documento que datado de 2000

apresenta o resultado da iniciativa de 1990 para se instalar o Sistema de

Informações Municipal. Vale destacar a existência de um intervalo de dez anos entre

os dois momentos. Neste documento7 encontram-se listados alguns objetivos para

os quais o Atlas foi constituído no intuito de servir ao poder público, são eles:

x Subsidiar a tomada de decisões sobre ações e políticas de desenvolvimento

do meio ambiente

x Instrumentalizar o Sistema de Planejamento Urbano

x Subsidiar o monitoramento das condições ambientais

x Subsidiar as ações preventivas de fiscalização, controle, monitoramento,

educação ambiental e de recuperação de áreas degradadas 7 Neste tópico as palavras documento e Atlas foram utilizadas indistintamente para se referir à

publicação da Prefeitura do Recife (2000) ora analisada

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Vale ainda ressaltar a temática que o documento incorpora sobre os riscos

geoambientais relativos às características geológicas de ameaça constante à

cidade.

O Atlas considerou quatro unidades ambientais para a cidade: (1) Ambiente

dos Morros; (2) Ambiente das Planícies; (3) Ambiente Litorâneos; (4) Ambientes

Aquáticos. Segundo suas características, estas unidades ambientais confere à

cidade uma feição propensa a eventos naturais relacionados aos fluxos das águas

sejam elas pluviais, fluviais, subterrâneas ou oceânicas. Esta feição por si só implica

na necessidade de observar tais eventos para que sirvam de imput para o

planejamento, crescimento e desenvolvimento da cidade. Neste sentido o Atlas

apresenta as divisões territoriais aplicadas à cidade para que o poder público melhor

visualize onde determinadas ações devem ser implantadas, monitoradas e

avaliadas. As divisões territoriais se constituem de 94 bairros e 6 Regiões Político-

Administrativas (RPAs) (Figura 24), as quais são utilizadas para efeito de

formulação, execução e avaliação das políticas e planejamento governamental,

estas, por sua vez, são sub-divididas em 3 microregiões para facilitar as atividades

de planejamento.

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Figura 24: Regiões Político Administrativas do Recife. Fonte: Prefeitura do Recife, 20018

8 O original da fonte não apresenta escala.

N

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97

Alicerçado no que diz o documento é possível considerar que o Atlas seria

uma ferramenta, um instrumento, pelo qual o município obteria os dados e

informações necessárias para o seu planejamento urbano. Iniciativa que várias

outras cidades no Brasil e no mundo passam a realizar, devido ao grande peso que

as questões ambientais adquiriu ao longo dos anos em termos de comparativos de

qualidade entre cidades, bem como devido aos eventos de calamidade, catástrofe,

que algumas vêm sofrendo por conta de mudanças climáticas, adensamento

populacional, baixos padrões sócio-econômicos, dentre outros fatores que reforçam

as vulnerabilidades das cidades aos riscos ambientais. Nota-se ainda que as

atividades relativas ao planejamento urbano necessitam de estreita interação entre

os técnicos, cientistas, população e gestores públicos. Assim percebe-se que a

questão de implantação, monitoramento e avaliação de sistemas urbanos, e sua

gestão, incorpora sistemas complexos abertos cujas influências e interferências vão

além das dificuldades de se registrar dados do ambiente físico da cidade.

O documento esclarece ainda que os aspectos da gestão ambiental têm

bases na Lei Orgânica do Município, Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade

do Recife, na Política Municipal do Meio Ambiente (Lei n. 16.243 de 13/09/1996) e

no Código do Meio Ambiente e do Equilíbrio Ecológico da Cidade do Recife, e que

sua execução está sob responsabilidade da Secretaria de Planejamento, Urbanismo

e Meio Ambiente (SEPLAM) do município. O modelo adotado sugerido na época

para o Recife tem como suporte um sistema de informações. Este sistema constituir-

se-ia no Sistema de Informações do Meio Ambiente (SIMA), cujo sub-sistema SIPC

(Sistema de Informações para o Planejamento da Cidade) acomodaria os dados

ambientais georeferenciados de solo, subsolo, relevo, hidrografia e cobertura

vegetal, com base nestes dados o conjunto de indicadores sugeridos (Tabela 16)

subsidiariam os processos decisórios do planejamento urbano no que concerne aos

aspectos ambientais, aí incluídos os riscos aos quais a cidade do Recife é suscetível

em maior e/ou menor graus. Tabela 16: Indicadores sugeridos no Atlas Ambiental. Fonte: Prefeitura do Recife, 2000

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Após esta releitura do documento e análise das informações nele contidas,

destacam-se como pontos merecedores de registro para o presente trabalho,

aqueles que se alinham ao arcabouço de análise adotado: Avaliação Ambiental

Estratégica Sistema de Informação

Gerencial Riscos

Com base no SIMAe SIPC, “conjunto de indicadores sugeridos subsidiariam os processos decisórios do Planejamento Urbano no que concerne aos aspectos ambientais”

“Sistema de Informações do Meio Ambiente (SIMA), cujo sub-sistema SIPC (Sistema de Informações para o Planejamento da Cidade) acomodaria os dados ambientais geo-referenciados de solo, subsolo, relevo, hidrografia e cobertura vegetal”

“unidades ambientais confere à cidade uma feição propensa a eventos naturais relacionados aos fluxos das águas sejam elas pluviais, fluviais, subterrâneas ou oceânicas”

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4.4. Manual de Ocupação dos Morros (2003)

Este documento9 apresenta-se como uma publicação de referência quanto às

soluções técnicas para a estabilidade de encostas ocupadas, bem como para

ocupação de novas áreas pelo poder público e setor privado. Tem ainda como

finalidade contribuir para uma nova forma de planejar e administrar os morros

apontando soluções mais estruturadoras e adequadas às características físicas e

ambientais da Região Metropolitana do Recife.

Historicamente, os morros passaram a ser mais povoados em meados do

Século XX (anos 1940 e 1950) com a transferência não planejada dos moradores

expropriados das áreas da planície estuarina após a ocorrência de grandes

enchentes que lhes afetaram fortemente. Em seguida já por volta dos anos 1960 a

implantação de habitações populares em conjuntos se deram, pelo poder público,

em áreas de topos, ao mesmo tempo que ocupações irregulares se multiplicavam

nas encostas adjacentes. Este modo de ocupação se repetiu até os anos finais do

Século XX. Em relação ao modo de ocupação existem dois tipos: espontâneo e

planejado.

As ocupações espontâneas nos morros caracterizam-se pelo solo removido e

lançado sobre a encosta original favorecendo a infiltração de água devido à

porosidade e permeabilidade rebatendo em aumento de risco erosivo e

escorregamentos, quanto mais focos de instabilização numa mesma encosta maior

a possibilidade de acidentes. A Tabela 17 destaca as características predominantes

das ocupações espontâneas segundo o documento.

Tabela 17: Características das Ocupações Espontâneas nos Morros da Região

Metropolitana do Recife. Característica Predominantes das Ocupações Espontâneas

Ocupações desordenadas Inexistência de reserva de áreas de servidão Rede viária descontínua e sem hierarquização Corte da barreira para criar terreno Aumento do talude de corte para ampliação de terreno Lançamento de aterro não compactado (bota-fora) na borda da encosta Remoção da vegetação natual Árvores de grande porte no talude de corte e na crista da encosta

9 Neste tópico as palavras documento e Manual foram utilizadas indistintamente para se referir à

publicação da FIDEM (2003) ora analisada.

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Baixo padrão construtivo das habitações Inexistência de calhas, biqueiras e impermeabilização no entorno da casa Inexistência de canaletas para a drenagem das águas servidas e pluviais Inexistência de rede de coleta e estações de tratamento de esgotos Fossa localizada na borda da encosta Deficiência do sistema de coleta do lixo domiciliar Obstrução da drenagem pelo lixo jogado sobre os talude e canaletas

Fonte: FIDEM, 2003

Quanto à ocupação planejada promovida pelo poder público as intervenções

abrangem requalificação de áreas degradadas e remanejamentos de habitações

tanto dentro da própria localidade quanto para outros espaços. Novos

assentamentos adotam processo de terraplanagem generalizada, aplainando os

topos e deixando as encostas sem tratamento, facilitando a ocupação espontânea.

Esta dinâmica constitui um quadro comportamental que exige um planejamento

holístico integrador (que pressupõe uma visão de conjunto onde todos os elementos

devem ser considerados numa análise mais global) no sentido de agregar esforços

para que este ciclo se altere.

Quanto à ocupação planejada promovida pelo setor privado nem sempre é

adequada às condições de estabilidade nem observa os parâmetros urbanísticos,

bem como nem sempre são regulares, ou seja, aprovadas pelos órgãos

competentes. A Tabela 18 apresenta as características predominantes das

ocupações planejadas segundo o documento. Tabela 18: Características das Ocupações Planejadas nos Morros da Região Metropolitana

do Recife. Características Predominantes das Ocupações Planejadas

Ocupação ordenada com lotes e vias definidas Rede viária hierarquizada Reserva de espaço para lazer e equipamentos de uso público Definição de espaços para uso não habitacional Adoção de terraplanagem generalizada aplainando o todo dos morros Baixo padrão construtivo das moradias Ausência de tratamento das encostas adjacentes à ocupação

Fonte: FIDEM, 2003 Quanto aos modelos de ocupação, o documento destaca o sistema viário

como um dos mais importantes elementos para a definição do desenho urbano. As

diversas possibilidades de disposição das vias em relação às curvas de nível

definem os distintos modelos de ocupação nessas áreas. Este também pode ser um

ponto de partida para modificação dos padrões urbanísticos no sentido de tomar a

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mobilidade da população em conjunto com os arranjos espaciais de provimento de

trabalho, lazer, estudo, saúde, enfim não se limitar apenas aos padrões viários para

automóveis, mas lembrar das opções de mobilidade mediante bicicleta, à pé, sobre

trilhos, dentre outras, tal como acontece em Hong Kong (1997) cujos planos urbanos

consideram, inclusive, como qualidade para a população a possibilidade de acessar

os serviços citadinos caminhando.

O documento destaca os prós e contras dos modelos de ocupação dos

morros, quais sejam, ortogonal, radial, patamares e topos planos. O modelo

ortogonal é tradicional para áreas planas de modo onde se observa a falta de

adequação do mesmo às características topográficas dos morros. O modelo radial é

mais adequado para as colinas suaves, contudo é adotado também para altas

declividades acarretando alguns incovenientes nestes casos, em especial porque as

escadarias tornam-se a principal via de drenagem. O modelo de ocupação em

patamares permite três possibilidades de acessos, a via entre a edificação e a crista

da barreira, a via entre a edificação e o pé da barreira e a via entre duas edificações

dispostas no mesmo patamar. O modelo em topos planos caracteriza-se pelo

processo de terraplenagem generalizado para gerar um grande terreno plano com

remoção da cobertura vegetal nestes pontos, ignorando as especificidades das

encostas e acarretando alterações mecânicas do solo, interferências na drenagem e

ocorrências de erosão e deslizamentos, além de ocupações irregulares nas

adjacências por conta dos “vazios” nestes pontos, ou seja, não se estabelece (ou a

fiscalização é falha) um uso para estas áreas que impeçam a ocupação irregular.

Em seguida o Manual aborda algumas questões sobre riscos tais como a

importância da elaboração de mapas de riscos, da identificação de pontos de riscos

iminentes, da previsão e prevenção dos riscos. Especialmente interessante é a

passagem sobre os fatores de risco e os graus de risco, evidenciando a

multidisciplinaridade da temática uma vez que os fatores de risco estão associados a

questões geológicas, geomorfológicas, climáticas, hidrológicas e antrópicas, além de

questões que perpassam pela oferta e gestão dos serviços públicos. Quanto à

geologia há que se respeitar algumas limitações para intervenções urbanísticas,

deve-se respeitar quanto à geomorfologia, por exemplo, o perfil de encosta, a

declividade e a altura. As questões climáticas também devem ser consideradas, tais

como chuva acumulada e chuva concentrada, pois a pluviosidade tem papel

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fundamental no desencadeamento de processos de deslizamento e erosão. A

hidrologia compõe os fatores de risco e deve ser analisada quanto às redes naturais

de drenagem bem como aspectos sobre infliltração, águas subterrâneas e saturação

dos solos pela água que não chega aos aquíferos ficando retida nos poros dos

solos. Finalmente os fatores antrópicos ao promoverem perturbações na dinâmica

natural dos ambientes físicos se constituem importantes agentes modificadores do

espaço principalmente por conta da ocupação irregular e desordenada. Alguns

fatores foram destacados no manual como a densidade populacional, frequência de

cortes e aterros, fossas nas encostas e pontos de lançamento de lixo, taxa de solo

exposto, pontos de vazamento e lançamento de águas. Enfim, esta explanação

reforça uma abordagem sistêmica necessária ao trato dos assuntos dos riscos e

planejamento urbano, porém os mecanismos, ferramentas e processos de

coordenação de tudo isso carece de meios que lhes forneça um apoio mais sólido.

O manual contempla algumas orientações para implantação urbana nos

morros, ressalta que estes espaços são unidades vulneráveis a desequilíbrios do

meio, portanto as intervenções devem subordinar-se à uma estrutura urbana

definida através de planejamento e gestão alinhando urbanismo e riscos, cujas

características morfológicas sofrem alterações especialmente pelo binômio relevo-

água. Alerta para que estes espaços sejam objeto de monitoramento permanente de

risco conjuntamente com fiscalização e controle do poder público. No tocante às

diretrizes de intervenção nas áreas de morro o documento contempla a regulação do

uso e ocupação do solo, aspectos urbanísticos, reordenamento de áreas já

ocupadas e sua requalificação, definição dos sistemas viários e de drenagem,

conservação e reabilitação do meio físico natural e diretrizes para a gestão e

controle da ocupação urbana. Na

Tabela 19 estão destacadas as diretrizes para a gestão e controle da

ocupação urbana listadas no documento.

Tabela 19: Diretrizes para Gestão e Controle da Ocupação Urbana Diretrizes para a Gestão e Controle da Ocupação Urbana

Exercer o controle da ocupação e do adensamento Apoiar a execução de moradias, por meio de acesso a projetos de arquitetura, estruturais, instalações elétricas e hidráulicas Garantir e potencializar o desenvolvimento de atividades artísticas, culturais e socioeconômicas dos moradores Promover programas de educação ambiental usando os sistemas integrados de

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educação, saúde e defesa civil Fonte: FIDEM, 2003

Quanto ao sistema viário o destaque fica por conta da orientação para que

este seja planejado em consonância com o sistema de drenagem do local sempre

facilitando a coleta das águas superficiais pelos sistemas de microdrenagem desde

os topos dos morros até os sistemas de macrodrenagem mais próximos. Também

as questões de hierarquização das vias chamam atenção sendo a Via Coletora

responsável por distribuir o tráfego de veículos entre as diferentes zonas da cidade

(nesta via deve circular o transporte coletivo), a Via Local permite acesso e fluxos

internos de veículos em uma unidade espacial mais restrita (nesta via o fluxo de

veículos deve ser baixo e a velocidade reduzida) e a Via de Pedrestre compreende

escadarias e rampas de acesso aos lotes e edificações (nesta via a circulação de

veículos deve ser apenas de pequeno porte e de utilidade pública). Cabe aqui uma

reflexão sobre estes padrões que até os dias de hoje ainda se observa, os veículos

automotivos são supervalorizados nos traçados urbanos da cidade, característica já

comentada por Medeiros (2006) na dissertação de mestrado ao descrever a falta de

ligação entre os grandes empreendimentos localizados próximos ao Complexo de

Salgadinho para os pedestres.

Como contraponto em Hong Kong é possível ver uma outra abordagem para

a questão da circulação por meio do uso de transporte de massa (metrôs), escadas

rolantes em áreas íngrimes do centro da cidade, passarelas entre diversos

equipamentos urbanos do centro, com acesso inclusive por elevadores, e por

esteiras rolantes entre as estações de metrôs mais distantes umas das outras. Já

em Singapura existe sinalização de trânsito para os pedestres além de haver uma

disposição urbanística que permite o caminhar por longas distâncias sem ter que

“enfrentar” os veículos. As diferentes escolhas para os traçados da cidade possuem

implicações e impactos diferentes.

No capítulo sobre Lotes de Interesse Social comenta-se o desafio de atender

diversas legislações (federais, estaduais e municipais), o mesmo foca os parâmetros

para construção das edificações como tamanho das glebas, espaço para uso público

e espaço para expansão. Infelizmente o documento não pontua alternativas para

requalificar as áreas já existentes, nem os órgãos que deveriam trabalhar em

conjunto e o montante de recursos financeiros necessários para tal operação. Já no

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capítulo sobre Edificações o documento apresenta diversas opções construtivas

conforme as características do terreno que receberá as edificações (tipo de solo,

declividade, densidade populacional, dentre outras).

Seis outros capítulos do manual discorrem sobre aspectos técnicos para um

melhor tratamento da estabilização das encostas incluindo alternativas de obras sem

estrutura de contenção, obras com estrutura de contenção, proteção para massas

movimentadas, drenagem, esgotamento sanitário e lixo, inclusive com diversos

croquis esquemáticos ilustrando as possibilidades técnicas propostas. Vale a pena

destacar o alerta dado pelo texto em relação ao sistema de drenagem e

esgotamento sanitário, ambos responsáveis por importante papel na estabilização

destas áreas, contudo precariamente gerido pelo poder público.

Finalmente quanto aos aspectos de planejamento e gestão dos morros o

manual destaca duas considerações, quais sejam, a estruturação urbana e a

prevenção e resposta aos acidentes. Destacam-se ainda as ações bem sucedidas

do município do Recife no âmbito da atuação nos morros fundamentadas na

integração dos órgãos públicos como obras, controle urbano, defesa civil, habitação

e mantuenção urbana, entretanto as descontinuidades destas ações ao longo das

diversas gestões municipais prejudicam o avanço das melhorias.

Como atividade no âmbito do planejamento, o manual cita a importância de

um sistema de informações técnicas e gerenciais para suporte à tomada de

decisões. Já como atividades de gestão o documento propõe uma coordenação dos

instrumentos técnicos para conhecimento das realidades ambiental, urbanística e

social para avaliação das formas e condições das ocupações e processos

construtivos, contudo não aponta possível órgão responsável por esta coordenação.

Reforço ainda é dado para que uma ação de maior conhecimento do território com

diversas bases técnicas seja perene de modo a subsidiar melhor os projetos de

intervenção e as discussões orçamentárias. O documento chama atenção para que

as escalas de ação sejam capazes de dar conta do detalhamento no nível da

microbacia ou saneamento além da importância da disponibilidade de informações

para a população no âmbito dos riscos, sendo, portanto, necessário o trabalho

integrado de diversos setores públicos e a formação de recursos humanos com

capacidade para lidar com essa integração. O destaque das propostas para

fortalecimento do sistema de defesa civil municipal é o que mais se adere ao

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arcabouço e análises realizadas no presente trabalho, o manual enfatiza que este é

o órgão central para uma boa gestão urbana atrelada aos riscos.

Como estratégia para fortalecimento da Defesa Civil sugere a implantação de

sistemas de informações integrados entre os municípios da Região Metropolitana do

Recife, neste sistema de informações haveria módulos para os aspectos político-

institucionais (Políticas, Diretrizes, Programas e Projetos), aspectos geoambientais

(geologia, pedologia, morfologia, dentre outros) e aspectos urbanos-sociais (por

exemplo, Cadastro imobiliário e zoneamento urbano) para cada um destes grupos

haveriam instrumentos específicos para subsidiar os trabalhos das respectivas

equipes de profissionais, cuja concretização se daria por meio dos mapas e cartas.

Além disso, um importante trabalho deve ser feito quanto às atualizações e

atendimentos das legislações vigentes (federal, estadual e municpal) que se

configuram numa teia com significativas ramificações nada simples de se alinhar.

Considerações à parte foram feitas no manual especificamente para a Defesa

Civil cujas funções destacadas incluem estabelecimento de procedimentos comuns

de prevenção de acidentes, estímulo ao intercâmbio entre as instituições de defesa

civil, integração de informação e comunicação, e identificação e busca pela

otimização dos recursos humanos, materiais e financeiros. Para tal, a Defesa Civil

Municipal precisa de uma estrtura organizacional de viabilização técnica e

administrativa e base operacional preferencialmente ligada à Secretaria de

Planejamento. Especificamente em relação ao risco o manual discorre sobre as

etapas de gestão do risco estruturadas conforme Tabela 20. Tabela 20: Etapas de gestão de riscos

Etapas

Identificação dos riscos Caracterização dos possíveis desastres e indicação dos locais mais suscetíveis

Análise de risco Fornecimento de dados sobre condições ambientais, magnitude do possível acidente e perdas potenciais humanas e materiais

Avaliação das opções Indicação de soluções considerando a eficácia da proposta, capacidade de implementação e operação

Escolha da solução técnica e do seu desenho

Define os tipos de obras e demais benfeitorias mais adequadas à situação

Comunicação da solução Mecanismos para sensibilização e convencimento da população sobre os riscos

Implementação Corresponde à elaboração dos projetos básicos e executivos de engenharia e a execução dos serviços

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Monitoramento Deve ter caráter permanente e sistemático podendo ser intensificado nos períodos de inverno

Fonte: FIDEM, 2003

Uma observação feita pelo manual é o fato de que as ações da Defesa Civil

Municipal são muitas vezes descontinuadas por gestões subsequentes do município

bem como ao longo do ano, sendo apenas lembradas e acionadas nos períodos

críticos. Como etapas fundamentais ao exercício das funções da defesa civil o

manual cita (i) o Planejamento momento em que são reunidos os instrumentos

técnicos disponíveis e definidos aqueles a serem produzidos bem como o

etabelecimento de parcerias e articulações institucionais, (ii) a Preparação como a

etapa em que as aquisições de materiais e equipamentos, contratação de pessoal,

elaboração de material informativo e vistorias são realizadas, (iii) a Resposta aos

desastres corresponde ao socorro de vítimas e verificação da necessidade de

reconhecer a Situação de Emergência ou de Calamidade Pública, (iv) a Reabilitação

compreende as ações para retorno da população às suas moradias incluindo

religação de redes de infraestrutura afetadas, (v) a Reconstrução refere-se às obras

visando à recomposição dos ambientes vitimados incluindo estabilização de

encostas, recomposição de cobertura vegeal, reconstrução de moradias, etc., e (vi)

o Monitoramento permanente realimenta o processo de planejamento definindo

prioridades de intervenções e pequenos tratamentos preventivos em áreas

específicas. Todas as ações da Defesa Civil podem ser formalmente estabelecidas

através do Plano Preventivo de Defesa Civil no qual se detalha todas as atividades

relacionadas a cada etapa necessária à boa atuação deste órgão, como destaque

deste plano vale citar as atividades de produção sistemática de informações

(sistemas de informação) e de ampla divulgação destas informações à sociedade.

Após esta releitura do documento e análise das informações nele contidas,

destacam-se como pontos merecedores de registro para o presente trabalho,

aqueles que se alinham ao arcabouço de análise adotado:

Avaliação Ambiental

Estratégica Sistema de Informação

Gerencial Riscos

“nos morros, [...] as intervenções devem subordinar-se à uma estrutura urbana definida através de planejamento e

“importância de um sistema de informações técnicas e gerenciais para suporte a tomada de decisões”

“As ocupações espontâneas nos morros caracterizam-se pelo solo removido e lançado sobre a encosta original favorecendo a infiltração de

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108

gestão alinhando urbanismo e riscos”

água devido à porosidade e permeabilidade rebatendo em aumento de risco erosivo e escorregamentos”

“[...] as ações da Defesa Civil Municipal são muitas vezes descontinuadas por gestões subsequentes do município bem como ao longo do ano, sendo apenas lembrada e acionada nos períodos críticos”

“importância da disponibilidade de informações para a população no âmbito dos riscos”

“[...] chuva acumulada e chuva concentrada, [...] tem papel fundamental no desencadeamento de processos de deslizamento e erosão.”

“[...] A hidrologia compõe os fatores de risco e deve ser analisada quanto às redes naturais de drenagem bem como aspectos sobre infliltração, águas subterrâneas e saturação dos solos pela água que não chega aos aquíferos ficando retida nos poros dos solos.”

“[...] os fatores antrópicos ao promoverem perturbações na dinâmica natural dos ambientes físicos se constituem importantes agentes modificadores do espaço principalmente por conta da ocupação irregular e desordenada.”

4.5. Diagnóstico Programa Viva o Morro (2003)

O documento10 introduz o ambiente de morros da Região Metropolitana do

Recife como uma área cuja preocupação foi introduzida na pauta dos problemas

comuns dos municípios constituintes no final da década de 1990, mais

especificamente em 1997, como decorrência dos graves acidentes do inverno de

1996 que implicou em mortes e inúmeras famílias desabrigadas. O Conselho de

Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife seleciona a temática como um

dos temas prioritários de sua agenda para o ano de 1998 sob a Resolução no32

(Controle urbano – ocupação dos morros e encostas).

10 Neste tópico as palavras documento e Diagnóstico foram utilizadas indistintamente para se referir à

publicação da FIDEM (2003) ora analisada.

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109

Duas recomendações básicas foram resultantes das inúmeras reuniões

ocorridas em 1998:

x Buscar uma solução articulada e progressiva para se contrapor à prática das

ações emergenciais e pontuais através de uma mobilização sistemática

integrada com os órgãos públicos e os moradores;

x Realizar estudos sobre o estado d’arte da ocupação de morros, como reflexo

do conhecimento disponível na região e em outras áreas com problemas

semelhantes a serem aplicados no planejamento estratégico da Região

Metropolitana do Recife e como subsídios para as Comissões de Defesa

Civil.

Nestas duas recomendações é possível ver algumas relações com o

arcabouço de análise do presente trabalho ao destacar-se “mobilização sistemática”,

“conhecimento disponível”, “aplicado no planejamento” e “subsídios para as

Comissões de Defesa Civil”. O documento então pretendeu ser uma contribuição

para o atendimento destas recomendações tendo como objetivos:

x Representar o estado d’arte em ocupação de morros a ser aplicado no

planejamento estratégico da Região Metropolitana do Recife;

x Fornecer informações que sirvam de referência para ações de planejamento,

monitoramento e prevenção de riscos de erosão e escorregamento

empreendidas pelos órgãos de controle urbanístico, defesa civil e população

local;

x Indicar diretrizes para elaboração de uma estratégia com formulação de

propostas de ação para a defesa civil e controle urbano.

O documento comenta que os riscos nas áreas de morros são tomados como

expressão extrema e urgente que se apresentam sazonalmente e nestes momentos

envolvem a Defesa Civil e os setores de obras de emergência, tão logo estes

momentos findam, nada mais é feito até o próximo período de emergência. Sendo

estes órgãos/ setores os mais familiarizados com essa situação, eles mesmos

externalizaram a necessidade de que as áreas de morros fossem tratadas mais

efetivamente no Planejamento Urbanístico e na programação das prioridades de

investimentos. Entendeu-se então que o desafio seria municiar de instrumentos e

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110

sistematizar procedimentos nesses órgãos de modo que sua contribuição ao

Planejamento Urbanístico fosse mais significativa, uma vez que se verificou o pouco

envolvimento dos órgãos formalmente incubidos do planejamento e controle nesta

área da cidade.

Inclusive é citado que o setor de Controle Urbano focalizou esforços na

montagem do Cadastro Imobiliário, para fins de arrecadação e de fiscalização da

“cidade formal”, do qual muitas áreas de morros ficaram de fora e,

consequentemente, também das ações de planejamento persistindo a prática de

atendimento desta porção da cidade apenas nos momentos de emergência

resultante de sua condição de alto risco.

O documento reforça então a necessidade de que esta parte da cidade seja

efetivamente incorporada aos processos decisórios dos órgãos de planejamento

devendo para tal desenvolver os mecanismos para que isto ocorra. A princípio não

há sugestão, no documento, de como isto possa, ao menos ter início, muito menos é

aventada a possibilidade do planejamento destas áreas ser conduzido por quem

mais acumula experiência, segundo o próprio documento, a Defesa Civil que,

inclusive por força legal, detém também esta função desde 1993. Conforme a

proposta de análise do presente trabalho, seria mais efetivo se o órgão com maior

propriedade técnica e experiência acumulada durante décadas cuidasse do

planejamento das áreas de risco da cidade visto que devido à própria condição

natural, de ocupação e uso possui especificidades mais difíceis de serem atendidas

por equipes que lidem com porções da cidade que não apresentam estas condições,

assim, o órgão majoritário de planejamento urbano da cidade poderia contar com

valiosa contribuição de uma equipe mais bem familiarizada e preparada para tratar

destas áreas de risco, no caso a Defesa Civil. Uma outra associação interessante a

ser feita é a importância das ações dos órgãos responsáveis pela habitação

integradas com a Defesa Civil em virtude das técnicas construtivas deverem

necessariamente ser adequadas às potencialidades e limites dos terrenos.

Uma outra consideração, não explicitada no documento, é a importância de

considerar as áreas de risco como tal, ainda que sob ações planejadas, monitoradas

e avaliadas de ocupação e uso do solo. Algumas passagens do documento levam a

um entendimento de que, com o devido planejamento urbano, estas áreas deixam

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111

de ser de risco, quando, ao contrário, por elas serem de risco é que precisam de

planejamento diferenciado.

No tocante às informações a serem utilizadas pelos órgãos responsáveis pelo

planejamento no âmbito dos riscos, o Diagnóstico ressalta a importância dos dados

estarem disponíveis numa escala igual ou superior a 1:10.000 porque são as mais

adequadas à escala municipal de atuação. Este alerta reforça o papel crítico que a

gestão do município tem em assumir as rédeas da ordenação territorial sobretudo

nas áreas de risco por meio de seus órgãos competentes.

O Diagnóstico indica alguns caminhos que poderiam ser percorridos na

direção de uma melhoria do tratamento das áreas de morros dentro do planejamento

da cidade, tais como integração de setores da administração, ação mais contínua e

sistematizada da Defesa Civil ao longo de todo o ano, as obras estruturantes não

serem adotadas como emergências e aumento das equipes técnicas do município

para atender satisfatoriamente às demandas existentes.

Uma parte importante do documento aborda questões relativas à arquitetura e

engenharia das construções das residências, vias de acesso e áreas públicas,

chamando atenção para a necessidade das técnicas aplicadas serem as mais

adequadas às condições físicas naturais, bem como às sócio-culturais dos

moradores das áreas. Comenta a elevação dos custos para reverter o quadro de

inadequação da ocupação desordenada, e da implantação de infraestrutura básica

em áreas de morros.

Segundo o documento, de forma geral as administrações municipais encaram

os morros como um problema de difícil resolução ao qual os técnicos se

acostumaram, resultando na “não inclusão” deles no primeiro escalão de importância

da administração. Relata em adição a isto três observações sobre a abordagem

empregada:

x Insuficiente envolvimento de setores da administração municipal,

multiplicando situações de risco e generalizando um habitat urbano de baixa

qualidade;

x Intervenções de caráter esporádico e assistemático tanto das obras de

infraestrutura quanto das práticas de defesa civil;

x Os serviços de caráter mais permanente e rotineiro são comumente os de

saúde, educação e coleta de lixo.

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112

Mais especificamente sobre o setor de planejamento municipal o Diagnóstico

relata uma situação de não incorporação destas parcelas da cidade nos seus

processos decisórios, repassando para outros setores da administração municipal as

responsabilidades com estas áreas. O Diagnóstico destacou duas responsabilidades

para o setor de planejamento, a primeira de coordenação dos processos decisórios

e de elaboração dos instrumentos de planejamento governamental, a segunda, com

base em estudos, propor ações urbanísticas de intervenções físicas e normativas

para reconfigurar o espaço urbano a médio e longo prazos. Não foram encontrados

planos de urbanização ou qualificação de bairros em morros neste setor da

administração municipal, em geral repassados para o setor de obras. O setor de

planejamento também demonstrou sua pouca integração com os morros na medida

em que não foram encontrados estudos sistemáticos para orientar os planos

urbanísticos, ou seja, poucos mapeamentos em escalas, abrangências e

atualizações capazes de fornecer melhores condições ao planejamento destas

áreas, também na seara normativa não há documentos específicos que se

debrucem sobre estes ambientes de modo mais detalhado, ou seja, que forneçam

as informações necessárias para implantar ações que atendam às diretrizes

constantes, por exemplo, no plano diretor.

O setor de controle urbano também se monstrou pouco atuante nos morros

quanto às suas funções de atualização de cadastro imobiliário e de fiscalização das

irregularidades no uso e ocupação do solo, situação reforçada e originada por

fatores tais como insuficiente corpo de fiscalização que mal cumpre suas atribuições

na planície e menos ainda nos morros, falta de instrumentos normativos específicos

para as áreas de morro, cadastro imobiliário inexistente ou pouco abrangente, em

grande parte por ser visto apenas como instrumento tributário. Como destaque

segue trecho extraído na íntegra do documento da FIDEM:

[...] o papel que cabe ao setor público desenvolver: cadastrar e fiscalizar através da ação sistemática de agentes públicos dotados de meios e rotinas permanentes, acostumando os habitantes dos morros à presença do controle urbanístico [...]. (FIDEM, 2003, p.82)

Finalmente, quanto ao setor de obras e defesa civil o documento introduz a

discussão de como este setor lida com a parcela morros descrevendo o

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procedimento comum do setor de planejamento encaminhar aos setores de obras e

defesa civil os assuntos relativos às ações em áreas de morros, essencialmente

direcionadas aos enfrentamentos anuais dos riscos. Por outro lado, as comunidades

dos morros reivindicam a redução das precariedades relativas ao abastecimento de

água, transporte, saúde, energia elétrica e escadarias, sendo estes os pontos mais

recorrentes. Embora haja um discurso sobre a necessidade de uma ação mais

global desenvolvendo uma intervenção planejada além das emergências, não há

iniciativas concretas nesta direção. O documento sugere algumas práticas para

melhor abordar estas áreas como controle das ocupações e remoção das famílias

em situação de risco, realização de obras corretivas, intervenções mais amplas de

infraestrutura envolvendo drenagem, acesso e habitação.

Considerações importantes sobre a defesa civil contidas neste tópico do

documento merecem destaque, tais como, a defesa civil é o setor mais próximo das

populações em situação de risco; é um setor com grande potencial para realização

de práticas integradas com diversos órgãos e junção de diversas informações

necessárias ao seu desempenho, prover uma maior institucionalidade de modo que

este setor pudesse atuar o ano todo aprimorando mobilizações e sistemas de

informação poderia ser uma alternativa para orquestrar os demais setores da

administração no tratamento dos riscos também intensificados devido às

problemáticas urbanísticas não atendidas pelos mesmos, segundo o documento há

evidências de que é por meio deste setor que algumas mudanças podem ser

operadas nas áreas de morros em particular.

Finalmente, o Diagnóstico apresenta em suas considerações finais a

necessidade do poder público se posicionar quanto às intervenções nas áreas de

morro sobretudo quanto às temáticas técnicas como por exemplo definição dos

parâmetros de segurança para ocupação e uso do solo, soluções arquitetônicas e de

engenharia, estabelecimento dos serviços e espaços públicos e das infraestruturas

básicas, todas elas imprescindíveis para transformar estas parcelas da cidade. Cita

ainda que intervenções desta natureza implicariam inclusive numa melhora do

quadro de riscos em que se encontram. Contudo, o documento reforça a importância

do setor de planejamento da cidade utilizar diferentes mecanismos e ferramentas

para melhor tratar os morros em virturde das especificidades que possuem, bem

como reforça a importância de fortalecer os sistemas de Defesa Civil municipal

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114

passando por melhorar sua estrutura funcional e hierárquica no âmbito da

administração do município, apoiar a implantação de sistemas de informação,

monitoramento e cadastros, além de práticas de comunicação mais próximas da

população e atualização de bases cartográficas e outras informações geo-

referenciadas, de modo a subsidiar mais adequadamente os processos decisórios

do planejamento urbano.

Após esta releitura do Diagnóstico e análise das informações nele contidas,

destacam-se como pontos merecedores de registro para o presente trabalho,

aqueles que se alinham ao arcabouço de análise adotado:

Avaliação Ambiental

Estratégica Sistema de Informação

Gerencial Riscos

“as ações da Defesa Civil Municipal são muitas vezes descontinuadas por gestões subsequentes do município bem como ao longo do ano, sendo apenas lembrada e acionada nos períodos críticos”

“O setor de planejamento também demonstrou sua pouca integração com os morros na medida em que não foram encontrados estudos sistemáticos para orientar os planos urbanísticos, ou seja, poucos mapeamentos em escalas, abrangências e atualizações capazes de fornecer melhores condições ao planejamento destas áreas”

“necessidade do poder público se posicionar quanto às intervenções nas áreas de morro sobretudo quanto às temáticas técnicas [...]”

“verificou-se o pouco envolvimento dos órgãos formalmente incubidos do planejamento e controle nesta área da cidade”

“a defesa civil é o setor mais próximo das populações em situação de risco; é um setor com grande potencial para realização de práticas integradas com diversos órgãos e junção de diversas informações necessárias ao seu desempenho, prover uma maior institucionalidade de modo que este setor pudesse atuar o ano todo aprimorando mobilizações e sistemas de informação poderia ser uma alternativa para orquestrar demais setores da administração no

“[...] definição dos parâmetros de segurança para ocupação e uso do solo, soluções arquitetônicas e de engenharia, [...]

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tratamento dos riscos”

“Insuficiente envolvimento de setores da administração municipal, multiplicando situações de risco e generalizando um habitat urbano de baixa qualidade”

“apoiar a implantação de sistemas de informação, monitoramento e cadastros, além de práticas de comunicação mais próximas da população e atualização de bases cartográficas e outras informações geo-referenciadas, de modo a subsidiar mais adequadamente os processos decisórios do planejamento urbano”

“[...] estabelecimento dos serviços e espaços públicos e das infraestruturas básicas, todas elas imprescindíveis para transformar estas parcelas da cidade

“Intervenções de caráter esporádico e assistemático tanto das obras de infraestrutura quanto das práticas de defesa civil”

4.6. Metrópole Estratégica (2005)

O documento11 apresenta-se como um pacto metropolitano cuja estratégia

nele contida deve ser um referencial coletivo de seus atores e governos locais. O

início do documento possui um tópico interessante que trata da história do processo

de estabelecimento e gestão da Região Metropolitana do Recife citando, inclusive,

documentos que trataram de importantes assuntos no âmbito metropolitano entre os

anos de 1973 e 2003, comenta a necessidade de entendimento sobre as relações

inter-municipais como forma de melhor atuar para atender às necessidades de seus

cidadãos. A contextualização da dinâmica econômica numa abordagem temporal

também foi contemplada através da qual se observa os movimentos de

concentração e desconcentração espacial das atividades econômicas ao longo da

história, que num período mais recente chama atenção para o forte adensamento

populacional das áreas urbanas que por sua vez não proporcionaram, na mesma

medida, o provimento dos serviços estruturais necessários a um nível satisfatório de

qualidade para seus residentes.

11 Neste tópico a palavra documento foi utilizada para se referir à publicação ora analisada

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Como desafios a superar são citados a busca pela diminuição do hiato entre

os estratos mais ricos e os mais pobres da sociedade, melhoria dos níveis de renda,

regularização fundiária, implantação dos serviços básicos de saneamento, bem

como de drenagem, principalmente devido às características físicas notadamente

associadas à ação da água.

Dentro das reflexões sobre a gestão pública que o documento faz, estão as

contradições sociais a serem superadas, e a dificuldade de por em prática o acervo

intelectual construído pelos institutos de pesquisa e universidades que transitam

pelas instâncias do poder público. Também está comentada a agregação de projetos

e prioridades, pelos atores envolvidos, em escalas apropriadas de ação como forma

de estruturar os planos governamentais, juntando-se a isto está a perspectiva de

melhorar a base institucional e gerencial dos municípios. Como mecanismo de

difusão da informação sobre os processos de planejamento e ação o documento

comenta a experiência do governo em disponibilizar tais informações de forma

padronizada para todos os órgãos que o compõem.

Passando para a parte do documento onde se encontram as considerações e

propostas de estratégia de desenvolvimento se reforça as bases para uma cidade

atrair e ao mesmo tempo proporcionar condições de competitividade nas redes

globais, sendo que uma das características para que isto ocorra é a habitabilidade,

de modo que parece ser impossível uma cidade com violência, insegurança,

pobreza e degradação do ambiente natural e construído atingir este patamar. São

também comentadas as pressões existentes sobre os ambientes naturais e

construídos, tais como, agressão sobre as bacias e estuários, destruição de

mangues, aumento da poluição atmosférica, desmatamento, contaminação dos

recursos hídricos superficiais e profundos, escorregamentos e erosão de encostas,

alagamentos de áreas de planície e erosão costeira, cujas intensidades podem

aumentar diante da consolidação da expansão urbana e adensamento desordenado.

Cabe aqui um destaque da passagem do texto sobre a expansão urbana ao se

referir como possível movimento desta em direção oeste, ocupando espaços vazios

entre as reservas florestais e mananciais preservados. Sobre este trecho é possível

comentar que este movimento sem conhecimento prévio da dinâmica dos

ecossistemas em questão impactam em resultados negativos muito mais difíceis de

serem revertidos, basta observarmos a atual situação das encostas de morros e

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planícies alagáveis ocupadas sem prévio conhecimento e preparo, cujos impactos

podem ser ainda mais devastadores se a ocupação é irregular, predatória e

subnormal, lembrando que para contar com acervo suficiente de informações desta

natureza é preciso tempo uma vez que o diagnóstico de um momento estanque não

basta.

No cenário descrito como desejável o documento descreve que as estratégias

de desenvolvimento devem englobar melhoria da habitabilidade e da competitividade

com medidas no tocante à regulação e controle do uso e ocupação do solo e

conservação do ambiente natural e construído. Os macroobjetivos estabelecidos

incluem a conservação e uso sustentável do patrimônio natural e construído, porém

dentre as metas gerais com respectivos indicadores só se apresenta a de aumento

da cobertura de esgotamento sanitário. Por outro lado a estratégia proposta está

organizada de modo a atender três vetores de desenvolvimento: (i) Competitividade

com inclusão social; (ii) Habitabilidade e inclusão social e (iii) Gestão e planejamento

metropolitano, cada um deles desdobrados em vários projetos de cunho mais

específico. Os projetos de Drenagem e Tratamento de Encosta de Risco e o de

Consolidação do sistema geral de informações, ficaram ancorados nos vetores de

Habitabilidade e inclusão social e no de Gestão e planejamento metropolitano,

respectivamente.

Quanto ao conteúdo relativo às questões dos ambientes natural e construído,

o documento apresenta um quadro de fortes pressões antrópicas sobre os

ambientes naturais que implicam em alterações de diferentes escalas de intensidade

e tempo cujas consequências serão percebidas e sentidas posteriormente.

Exemplos bastante representativos destas pressões são as ocupações de mangues,

matas e estuários, áreas alagadas por meio de aterros, ocupação de encostas,

substituição de edificações unifamiliares por mulifamiliares sobrecarregando a

infraestrutura disponível, dentre outros, enquanto os modelos de crescimento e

desenvolvimento não adotarem mudanças as expansões demográficas e

econômicas continuarão a exercer fortes pressões sobre o ambiente natural.

Mais especificamente sobre as áreas de morros os processos erosivos e

rupturas de taludes são consequências negativas de uma ocupação desordenada

ocorrida sobretudo pelas camadas mais pobres da população. Segundo o

documento, problemas desta ordem estão relacionados a (i) falta de uma política

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habitacional associada à situação de pobreza da população, (ii) deficiente controle

do solo urbano por parte das prefeituras, (iii) execução de intervenções físicas

pontuais e não integradas, especialmente sob forma de obras pontuais e de rotinas

da defesa civil restringindo-se à redução e controle dos riscos emergenciais. Uma

vez que a ocupação é irregular, consequentemente os serviços urbanos tais como

abastecimento de água, saneamento e drenagem, prestados a estas porções do

território são precárias.

Já sobre as áreas localizadas ao longo dos rios e canais urbanos os impactos

das inundações tornam-se uma preocupação constante cujas causas estão muitas

vezes associadas à (i) ocupação desordenada, (ii) acúmulo de resíduos sólidos, (iii)

vegetação aquática e sedimentação dos rios, (iv) drenagem inadequada e (vi) forte

impermeabilização do solo.

Quanto à área litoránea a erosão costeira é um problema registrado desde o

século passado cuja intervenção de solução sob a forma de diques perpendiculares

à praia transferiu o problema antes apenas de Recife para os municípios localizados

ao norte. As consequências desta situação é uma balneabilidade muito baixa nestas

áreas onde a circulação da água fica diminuída e as emissões de esgotos

domésticos se apresentam em vários pontos. Nas últimas décadas problemas de

erosão costeira tem se apresentado de forma mais contundente também no litoral

sul onde a densidade populacional é maior. Além disso, o aterro das áreas

estuarinas e dos manguezais sobretudo para intervenções imobiliárias residenciais

trazem risco de instabilidade para as edificações próximas e agravamento dos

alagamentos das áreas adjacentes.

Nas áreas de remanescentes de mata o desmatamento compromete o

abastecimento de água, a proteção contra erosão e deslizamento, a manutenção

das espécies de fauna e flora, além de contribuir para o assoreamento de rios,

canais e estuários agravando o problema dos alagamentos.

As propostas para recuperação do patrimônio natural e construído ficaram

distribuídas entre seis projetos e seus respectivos subprojetos conforme pode ser

visualizado na Figura 25.

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Requalificação dos espaços públicos das centralidades locais e

metropolitanas, estimular a economia local, privilegiando áreas carentes e

habtitadas por população pobreImplementação/qualificação de

pequenos e médios empreendimentos localizados próximos a terminais de

ônibus e estações de metrô

Requalificação de espaços públicos

Qualificação dos espaços urbanos do entorno de equipamentos

públicos, por exemplo escolas e postos de saúde

Recuperação de espaços públicos de lazer de pequeno e médio

porte, como campos de futebol, quadras e equipamentos de

apoio à prática de esportes, bem como de mobiliário urbano de apoio

Elaboração de um plano metropolitano de recuperação e

dinamização de núcleos

Reabilitação de pequenos conjuntos históricos de escala municipal

Reabilitação de áreas do patrimônio cultural

Recuperação de sítios histórico-culturais nas áreas rurais, com

prioridade à implantação de atividades ligadas ao turismo

ecológico e cultural

Figura 25: Projetos e Subprojetos para recuperação do patrimônio natural e construído.

Fonte: FIDEM, 2005

No que diz respeito às considerações sobre problemas e/ou propostas de

soluções para o abastecimento de água e esgoto, drenagem, resíduos sólidos e

limpeza urbana, ocupação e uso do solo e circulação e transporte, os recortes

realizados para efeitos de análise para o presente trabalho ficaram por conta dos

tópicos drenagem e ocupação e uso do solo.

Sobre a drenagem pode-se destacar os problemas listados com reflexos sob

a forma de inundações:

x Maré alta e transbordamento dos rios em áreas alagadiças próximas à foz

dos rios;

x Redução da capacidade de escoamento consequência do acúmulo de

resíduos sólidos, vegetação aquática e sedimentação dos rios;

x Aumento das descargas das inundações e escoamento dos sedimentos de

áreas ocupadas;

x Drenagem inadequada;

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x Impermeabilização acentuada do solo;

x Confinamento da calha fluvial de alguns trechos de rios e canais;

x Assoreamento;

x Inexistência e deficiência do sistema de microdrenagem;

x Avanço da ocupação em áreas de várzeas.

Como importante passo para melhor preparar os planos de drenagem, o

documento cita a necessidade da coleta e processamento de dados básicos sobre a

hidrologia ao longo de vários anos. Os projetos de intervenção propostos para a

drenagem podem ser visualizados na Figura 26.

Renaturalização e melhoria de calhas

fluviaisRio Beberibe e MornoRio JaboatãoRio FragosoRiacho MirueiraRiacho MacacosRiacho CamaragibeRio Paratibe

Construção de pequenas barragens

Em cursos de água em áreas vazias a montante de áreas densamente ocupadas para atenuar os picos das enchentes

Alargamento, revestimento e conclusão da dragagem

de canais

Ao todo são 24 obras de engenharia incluindo revestimento de calhas e do fundo, transposição e interconexão com obras de microdrenagem

Recuperação das redes de macro e

microdrenagem

Ao todo são 10 obras de recuperação na Região Metropolitana, sendo 64 km de canais e 600 km de galerias no Recife

Ampliação e consolidação do

Programa Viva o MorroMelhoria da infraestrutura urbana e habitabilidade nos morros com ênfase na sustentabilidade ambiental e segurança das famílias residentes em áreas de risco

Implementação do Manual Técnico de Ocupação dos Morros

Reassentamento de famílias em áreas de

risco nos morros

Aquisição de terras e construção de moradias para as famílias deslocadas devido à recuperação e proteção de encostas

Figura 26: Projetos e Subprojetos para melhoria da drenagem. Fonte: FIDEM, 2005

Sobre a ocupação e uso do solo, o documento introduz a temática informando

que o litoral, os rios, os mangues e os alagados figuram como principais elementos

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indutores da ocupação. A urbanização da área de planície além de apresentar a

maior extensão também dispõe da maior disponibilidade de serviços e infraestrutura

urbana, em contrapartida as áreas com cotas superiores a quarenta metros de altura

são ocupadas pela população de menor poder aquisitivo apresentando baixa

qualidade de urbanização, risco ambiental e ausência de infraestrutura. Quanto aos

condicionantes legais, estes são inexpressivos do ponto de vista da configuração da

urbanização, apesar do vasto arsenal da legislação o controle urbano se mostra

ineficiente quanto ao seu cumprimento. Alerta para a tendência de verticalização e

adensamento de áreas centrais e residenciais mais valorizadas do Recife, ocupação

desordenada próxima aos trechos de rodovias (BRs e PEs), esvaziamento funcional

e decadência física de áreas antigas, expansão sobre áreas de mananciais,

permanência dos assentamentos populares espontâneos e juridicamente informais

implicando em aumento de risco nas áreas de encostas, alagáveis e margens de

canais.

Finalmente no capítulo Projetos Territoriais o documento apresenta algumas

bases sobre as quais devem ser lançadas novas luzes a respeito do planejamento

urbano, tais como, não subordinar os planos de ordenação aos projetos

arquitetônicos e urbanísticos, explorar melhor as sinergias dos projetos de diferentes

escalas (por exemplo, locais e regionais), minimizar as intervenções fragmentadas

no território, aceitar a necessidade de viabilizar projetos estratégicos que atuem

como catalizadores do desenvolvimento, internalizar o planejamento como um

instrumento do poder público na busca por um maior equilíbrio do desenvolvimento

territorial, passar a pensar o planejamento e os projetos de desenvolvimento a partir

também de condicionantes e exigências do meio ambiente, e coordenar as ações

propostas como um projeto único de cidade sem perder a visão de conjunto e

critérios gerais.

Para relacionar os territórios dos projetos propostos é preciso considerar a

visão física, morfológica, e não apenas supor que as ações ocorrem num suporte

abstrato. Neste momento a variável ambiental adquire importância neste processo

visto que há uma exigência quanto ao equilíbrio entre a capacidade de suporte do

território e as alternativas de crescimento. Dentro desta perspectiva é possível que

os diversos órgãos envolvidos cheguem a um consenso sobre áreas mais

homogêneas da cidade que comportem semelhantes usos e ocupações. É preciso

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“territorializar” as informações e os diversos estudos existentes. O procedimento de

sobrepor diversas informações sobre o território valoriza a idoneidade de cada

fragmento para diferentes usos frente às diversas propostas de desenvolvimento. De

forma basilar se reconhece duas áreas com diferentes interesses, as naturais e as

alteradas, sendo as naturais listadas como (i) as bacias fluviais, lagos e lagoas, (ii)

os alagados e mangues, (iii) os morros, (iv) as praias e os arrecifes, (v) as matas,

coqueirais, enfim recursos florestais diversos; do lado das áreas alteradas estão (i) a

cidade tradicional, (ii) as favelas, (iii) as áreas de grande superfície (por exemplo,

industriais, militares, shoppings) (iv) áreas reservadas para crescimento futuro e (v)

áreas destinadas a operações de carater estratégico.

Nestes procedimentos de territorialização da estrutura urbana devem ser

incluídos questionamentos sobre seus efeitos sobre o território, especialmente

porque muitas dessas estruturas são de porte considerável capaz de desencadear

inúmeros efeitos espaciais e funcionais. Dentre as intervenções estruturais urbanas

cita-se a estrutura viária, ferroviária, portuária, aeroportuária e os espaços livres.

Assim sendo, o espaço costeiro da Região Metropolitana do Recife com extensão de

117Km e atravessados por dezesseis bacias fluviais que desembocam no mar por

meio de estuários e zonas alagáveis conformam um espaço que merece especial

atenção quando da implantação dos sistemas estruturais já citados.

As propostas de âmbito metropolitano indicadas no documento são num total

de oito sendo que uma delas é o Viva o Morro, que se figura como tópico comentado

no presente trabalho, as outras são (i) Parque habitacional metroviário - com objetivo

de incrementar a ocupação das áreas do entorno da rede metroviária, (ii) Novo

mundo rural - com objetivo de reorganizar o uso e a ocupação do solo que

promovam o desenvolvimento sócio-econômico da porção oeste da Região

Metropolitana do Recife, (iii) Estudo propositivo do litoral de Pernambuco - com

objetivo de valorizar os ambientes natural e construído e manifestações culturais do

litoral pernambucano, (iv) Parques metropolitanos - com objetivo de ofertar lazer

público por meio de uma rede de áreas verdes, (v) Projeto Recife-Olinda - com

objetivo de gerar uma nova centralidade articulando áreas dos municípios de Recife

e Olinda, (vi) Parque aeroportuário dos guararapes - com objetivo de potencializar os

investimentos formando um pólo de atividades de comércio, serviços e habitação,

(vii) Programa de infraestrutura em área de baixa renda - com objetivo de

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123

reestruturar a bacia do Beberibe diminuindo as carências de infraestrutura e serviços

urbanos.

Como arremate final do documento o capítulo que trata da gestão apresenta

como desafio a articulação da gestão do meio ambiente com a regulação da

ocupação e uso do solo a fim de promover o desenvolvimento equilibrado,

conservação ambiental e a melhoria da habitabilidade. Apontam como arranjo

institucional necessário a interação e a atuação articulada dos órgãoes existentes,

tendo como diretrizes e princípios (i) a participação social, (ii) espaço de negociação

e capacidade de decisão, (iii) efetividade das ações, (iv) articulação e parceria entre

atores e agentes, (v) capilaridade do sistema, (vi) descentralização e fortalecimento

do poder local, cujos desdobramentos em projetos para a gestão organizam-se num

total de seis:

x Fortalecimento do Sistema de Gestão Metropolitano;

x Fortalecimento e capacitação dos órgãos reguladores das administrações

estadual e municipais;

x Implementação do Sistema Geral de Informações;

x Implementação do Sistema de Gerenciamento da Infraestrutura Urbana;

x Integração e capacitação de agentes sociais;

x Revisão e reforço dos mecanismos de regulação do espaço metropolitano.

Destes projetos, na Figura 27 estão destacados os subprojetos com

conteúdos de interesse para o presente trabalho:

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124

Fortalecimento do sistema de gestão metropolitano

Disponibilização, para o coletivo metropolitano, de um sistema de informações para monitoramento do uso do solo de forma integrada com os municípios, subsidiando o planejamento e a tomada de decisões

Fortalecimento e capacitação dos órgãos reguladores das administrações

estadual e municipais

Disponibilização de sistemas de informação para o planejamento na escala municipal, de forma integrada

Implementação do sistema geral de informações

Geoprocessamento e disponibilização em ampla escala do sistema de informações sobre parcelamento, uso e ocupação do solo metropolitano, litorâneo e áreas especiais, abrigando cadastros técnicos

Atualização das bases cartográficas do sistema Unibase e estruturação do Sistema de Geoprocessamento Metropolitano

Atualização da base de hardware e software no órgão metropolitano e instâncias de planejamento de todos os municípios

Criação do banco de dados ambientais

Implementação do sistema de gerenciamento da infra-estrutura

Gerenciamento da drenagem pluvial

Informações gerenciais de áreas de morros

Figura 27: Projetos e Subprojetos de destaque das propostas de melhoria da gestão estratégica de desenvolvimento metropolitano. Fonte: FIDEM, 2005

Após esta releitura do documento e análise das informações nele contidas,

destacam-se como pontos merecedores de registro para o presente trabalho,

aqueles que se alinham ao arcabouço de análise adotado: Avaliação Ambiental

Estratégica Sistema de Informação

Gerencial Riscos

“[...] conservação e uso sustentável do patrimônio natural [...]”

“necessidade da coleta e processamento de dados básicos sobre a hidrologia ao longo de vários anos”

“pressões existentes sobre os ambientes naturais e construídos, tais como, agressão sobre as bacias e estuários, destruição de mangues, aumento da poluição atmosférica, desmatamento, contaminação dos recursos hídricos superficiais e profundos, escorregamentos e erosão de encostas, algamentos de áreas de planície e erosão costeira, cujas intensidades podem aumentar diante da consolidação da expansão urbana e adensamento desordenados”

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“passar a pensar o planejamento e os projetos de desenvolvimento a partir também de condicionantes e exigências do meio ambiente”

“É preciso “territorializar” as informações e os diversos estudos existentes”

“quadro de fortes pressões antrópicas sobre os ambientes naturais que implicam em alterações de diferentes escalas de intensidade e tempo cujas consequências serão percebidas e sentidas posteriormente”

“devem ser incluídos questionamentos sobre seus efeitos sobre o território, especialmente porque muitas dessas estruturas são de porte considerável capaz de desencadear inúmeros efeitos espaciais e funcionais”

“Implementação do Sistema Geral de Informações”

“obras pontuais e de rotinas da defesa civil restringindo-se à redução e controle dos riscos emergenciais”

“apresenta como desafio a articulação da gestão do meio ambiente com a regulação da ocupação e uso do solo a fim de promover o desenvolvimento equilibrado, conservação ambiental e a melhoria da habitabilidade”

Implementação do Sistema de Gerenciamento da Infraestrutura Urbana”

“sobre as áreas localizadas ao longo dos rios e canais urbanos os impactos das inundações tornam-se uma preocupação constante”

“[...] sobre as áreas de morros os processos erosivos e rupturas de taludes são consequências negativas”

“área litoránea a erosão costeira é um problema”

“o aterro das áreas estuarinas e dos manguezais sobretudo para intervenções imobiliárias residenciais trazem risco de instabilidade para as edificações próximas e agravamento dos alagamentos das áreas adjacentes”

4.7. Plano Diretor do Recife (2008)

Após quase duas décadas de planejamento e gestão do município,

considerando o Plano Diretor de 1991 como um ponto de partida da análise e o

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126

Plano Diretor de 2008 como ponto de chegada, analisa-se neste tópico o Plano

Diretor em vigor.

Inicia-se a apreciação do documento12 pelos pilares fundamentais

estabelecidos para a política urbana quais sejam (i) a sustentabilidade urbana e (ii) a

gestão democrática, a serem observados por todas as demais políticas setoriais

componentes do Plano Diretor distribuídas em (i) Política de Desenvolvimento

Econômico, (ii) Política Social e (iii) Política Ambiental, sendo que para todas as

intervenções no espaço urbano o eixo norteador é a dimensão ambiental, ou seja, a

dinâmica espacial do município é regida por parâmetros ambientais. Todos esses

elementos estruturadores do Plano Diretor encontram-se ilustrados na Figura 28:

Figura 28: Esquema ilustrativo do Plano Diretor referente aos pilares das políticas setoriais e

respectivo eixo norteador das intervenções espaciais. Fonte: a autora

Para dar suporte aos pilares do Plano Diretor, estrutura-se duas bases

informacionais cada uma atrelada a um pilar no sentido de coletar dados a respeito

das respectivas temáticas e de servir de subsídios para a tomada de decisões do

governo municipal, são elas: (i) o Sistema de Planejamento Urbano Participativo e

Gestão Democrática e (ii) o Sistema de Informação Municipal, Urbano e Ambiental.

Desta feita, todas as políticas têm seu gerenciamento, pelos respectivos órgãos,

ligado aos mesmos, no caso do Sistema de Informação Municipal, Urbano e

Ambiental seu objetivo é fornecer informações ao Planejamento, Monitoramento,

Implementação e Avaliação da política de desenvolvimento urbano e ambiental do

município e do Plano Diretor, subsidiando a tomada de decisões pelos órgãos 12 Neste tópico as palavras documento e Plano Diretor foram utilizadas indistintamente para se referir à

publicação da Prefeitura (2008) ora analisada

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127

gestores, para tal, diversas bases de dados são organizadas dentre elas as Redes

de Infraestrutura (mobilidade urbana e saneamento ambiental), Unidades Territoriais

Básicas (zoneamentos, microrregiões, bairros, regiões político-administrativas),

Cadastros de Infraestruturas, de logradouros públicos e fundiário, e Indicadores

(sociais e econômicos). Cabe aqui a primeira observação sobre uma certa

inconsistência entre o discurso e prática uma vez que por um lado o documento

indica a dimensão ambiental como norteadora das intervenções no espaço urbano e

por outro não inclui no rol de indicadores os relativos a tal dimensão.

No âmbito da Política Ambiental Urbana, como instrumento para alcançar os

objetivos estabelecidos foi definido o Plano de Gestão de Saneamento Ambiental

Integrado responsável pela articulação de diferentes sistemas municipais com vistas

ao saneamento ambiental integrado cujos objetivos compreendem o equilíbrio do

meio ambiente com níveis crescentes de salubridade, sustentabilidade ambiental do

uso e ocupação do solo e melhoria da qualidade de vida da população. Na indicação

dos sistemas municipais a fazerem parte deste Plano de Gestão de Saneamento

Ambiental Integrado estão:

x Sistema de Informação de Desenvolvimento Urbano;

x Sistema de Informação de Saneamento;

x Sistema de Informação de Saúde;

x Sistema de Informação Ambiental;

x Sistema de Informação de Defesa Civil.

Sendo que o saneamento e o ambiental são contemplados pela Política

Ambiental Urbana, a saúde e defesa civil são contemplados pelas Políticas Sociais,

já o desenvolvimento urbano não é explicitado em nenhuma das Políticas Setoriais

do Plano Diretor (Figura 28). Especificamente sobre a Defesa Civil o Plano Diretor

traz três artigos: (i) o primeiro trata da finalidade de monitorar e proteger a

população, em caráter permanente, das ameaças às condições normais de

funcionamento das atividades e da vida na cidade, (ii) o segundo trata do

instrumento de execução, ou seja, o Plano Preventivo de Defesa Civil, e (iii) o

terceiro trata dos componentes do Conselho de Defesa Civil do Recife e do seu

papel em estabelecer as políticas, planos e bases para planejamento e gestão do

risco. Apesar dos poucos artigos dedicados à Defesa Civil, é possível identificar sua

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128

importância ao longo do documento que em diferentes trechos trata de questões de

seu interesse, como por exemplo, controlar o uso e a ocupação de margens de

cursos d’água, áreas sujeitas à inundação, mananciais, áreas de alta declividade e

cabeceiras de drenagem; recuperar ambiente degradado, natural e construído, em

especial nos locais onde haja ameaça à segurança humana; implantar medidas de

prevenção de inundações, incluindo controle de erosão, especialmente em

movimentos de terra, combate ao desmatamento e assentamentos clandestinos;

estimular a consolidação de tipologias habitacionais específicas para a

geomorfologia; eliminar a situação de risco das áreas de urbanização precária,

especialmente as sujeitas a desmoronamentos e alagamentos; delimitar as áreas de

encosta, passíveis de serem edificadas; dentre outras.

No que diz respeito ao ordenamento territorial o documento aborda a

Estrutura Espacial cuja configuração está distribuída em ambientes naturais e

edificados (formais e informais) e sistemas de infraestrutura e equipamentos

públicos. Reforça os fatores que a estruturação espacial deve considerar, dentre

elas vale a pena destacar para o presente trabalho a rede hídrica da cidade como o

mais importante sistema estruturador do ordenamento territorial da cidade; as

características morfológicas e tipológicas do ambiente construído; os sistemas de

saneamento ambiental; as áreas de morro com suas características urbanísticas e

ambientais; reconhecer e conservar espaços de usos predominantemente

residenciais. Já quanto à Divisão Territorial o documento estabelece como princípio

para sua definição os problemas urbanos e a melhor utilização a ser dada às

diferentes áreas da cidade, cujos objetivos se desdobram dentre os quais se

destacam o controle do adensamento; a qualificação ambiental; promover

habitabilidade em áreas de ocupação precária e em situação de risco. Desta feita o

ambiente urbano se compõe em ambiente construído e ambiente natural

formalmente constituído pela Macrozona do Ambiente Construído (MAC) –

predominantemente com conjunto edificado - e Macrozona do Ambiente Natural

(MAN) – predominantemente caracterizado pela presença significativa da água

como elemento definidor enriquecido pela presença de maciço vegetal e as

ocupações próximas aos cursos d’água. A partir destas Macrozonas o território se

subdivide em sete Zonas quais sejam três dentro da Macrozona do Ambiente

Construído e quatro dentro da Macrozona do Ambiente Natural, conforme Figura 29

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129

possuindo diretrizes para cada uma sendo que a temática ambiental se mostra

presente sobretudo relativa à infraestrutura de saneamento ambiental.

Zona de Ambiente Construído de

Ocupação Restrita (ZAC-Restrita)

Zona de Ambiente Construído de

Ocupação Controlada (ZAC-Controlada)

Zona de Ambiente Construído de

Ocupação Moderada (ZAC-Moderada)

Zona de Ambiente Natural Beberibe (ZAN-Beberibe)

Zona de Ambiente Natural Capibaribe (ZAN-

Capibaribe)

Zona de Ambiente Natural Tejipió (ZAN-Tejipió)

Zona de Ambiente Natural Orla (ZAN-Orla)

Zonas Especiais de Interesse Social - ZEIS

Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural - SEPH

Zonas Especiais de Dinamização Econômica -

ZEDE

Zona Especial do Aeroporto - ZEA

DIVISÃO TERRITORIAL DO RECIFE

ZAC Restrita – IZAC Restrita – IIZAC Restrita – IIIZAC Restrita - IV

ZAC Controlada – IZAC Controlada – II

Macrozona do Ambiente Construído (MAC)

Macrozona do Ambiente Natural (MAN)

Zonas Especiais, Imóveis Especiais e Unidades

Protegidas

ZEDE-I Centro – PrincipalZEDE-I Centro – SecundárioZEDE-I Centro Local

ZEDE-II Eixo Principal (EP)ZEDE-II Eixo Secundário (ES)ZEDE-II Eixos Locais (EL)

Figura 29: Divisão territorial do Recife segundo o Plano Diretor 2008. Fonte: a autora

adaptado de Prefeitura do Recife, 2008

O documento ainda discorre sobre os instrumentos legais existentes por meio

dos quais o poder público pode implantar as ações de ordenamento previstas e

finaliza com os capítulos sobre o Sistema de Planejamento Urbano Participativo e

Gestão Democrática e o Sistema de Informação Municipal, Urbano e Ambiental

cujos destaques estão ilustrados na Figura 30:

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Cadastros de infra-estrutura, logradouros

públicos e levantamento fundiário

Sistema de Informação Municipal, Urbano e Ambiental

Sistema de Planejamento Urbano Participativo e Gestão Democrática

Objetivos

Conferir as ações de execução da política de desenvolvimento urbano e

ambiental

Instituir mecanismos de implementação, acompanhamento, con-

trole e avaliação do Plano Diretor da Cidade e de outros que visem o

desenvolvimento urbano e ambiental

Promover a cooperação com órgãos federais, estaduais e de outros municípios para tratamento de

interesses comuns

Garantir a participação da sociedade na formulação, implementação, acompa-

nhamento e controle das ações da política de desenvolvimento urbano e

ambiental

Objetivos

Disponibilizar as informações ao público em geral

Articular e integrar-se com demais sistemas de informações e bases de dados

municipais, estaduais, nacionais e internacionais

Manter atualizados os sistemas de informações e bases de dados

Contará com as seguintes informações e bases de dados:

Redes de Infra-estrutura

Indicadores sociais e econômicos

Acompanhamento do Plano Diretor

Unidades Territoriais Básicas

Indicadores Ambientais ??

O próprio documento não estabelece os Indicadores Ambientais como integrante

do Sistema !

A disponibilidade de informação para o público é

muito importante Figura 30: Destaques dos dois sistemas previstos no Plano Diretor, dois sobre a informação para o público e um sobre a falta de indicadores ambientais nas bases de dados previstas.

Fonte: Adaptado de Prefeirtura do Recife (2008)

Vale a pena comentar aqui alguns documentos (datados de 2003) que

revisaram o Plano Diretor de 1991 e apresentaram algumas recomendações para a

atualização do Plano Diretor 2008, os dois documentos (i) Síntese do Diagnóstico

Espacial do Recife e sua Gestão, e (ii) Diagnóstico do SIPCR: Reformulação do

SIPCR-Sistema de Informações para o Planejamento da Cidade do Recife no âmbito

da revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento da Cidade do Recife.

Como forma de melhor complementar as análises e proposições contidas no

presente trabalho detalha-se alguns conteúdos do segundo documento supracitado.

Em 1993 foi criado dentro da Diretoria de Desenvolvimento Urbano e Ambiental o

Departamento de Informações e Projeções responsável pela implantação e

operação dos três subsistemas de informação previstos no Plano Diretor de 1991.

Neste diagnóstico foram organizadas três etapas de análise do SIPCR:

1a Etapa (Formulação das bases de dados e caracterização da cidade)

ocorreu entre os anos de 1993 e 2000 e suas atividades focaram prioritariamente a

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aquisição de dados e seu armazenamento, bem como utilização dos mesmos para

produção de estudos técnicos, sendo que nenhum dos produtos listados como desta

etapa contempla a temática ambiental

2a Etapa (Consolidação e administração das bases de dados e de retratos da

cidade e produção de agregados de informação para usuários internos da Prefeitura)

ocorreu entre os anos de 2000 e 2003 cujas atividades se concentraram em produzir

conteúdos sob encomenda para os órgãos internos da Prefeitura, na temática

ambiental pode-se citar Sistema de Informações Geográficas para a Política

Habitacional de Intersse Social, Grupo de Atualização da Base Cartográfica, e

Gestão Ambiental Urbana – Monitoramento da Bacia do Beberibe

3a Etapa (Atividades atuais em meio a elementos portadores de futuro)

ocorreu em 2003 com atividades concentradas em avaliar a operação desde o início

para servir de subsídio à formulação do Plano Diretor 2008. Pela primeira vez dá-se

início à utilização de um gerenciador de banco de dados e decide-se pela inclusão

de base cartográfica digital no Sistema a ser produzida e atualizada pela Prefeitura.

Como observações gerais o diagnóstico aponta carências na infraestrutura

física (computadores com pouca capacidade de processamento e falta de softwares

adequados ao registro e tratamento de dados), inexistência de um fluxo formal e

contínuo de alimentação dos dados por parte dos órgãos e instituições envolvidas e

inexistência também de produção documental regular resultando numa fraca

disponibilidade de séries temporais, além disso de forma geral o Sistema desviou-se

do foco de informações para planejamento urbano e passou a atender demandas

pontuais de órgãos isolados da Prefeitura, bem como a ausência do Subsistema de

atendimento à sociedade tornou o Sistema vulnerável aos sabores das diversas

Administrações. Ainda como insuficiências, disfunções e mau funcionamento são

apontadas os insuficientes ou inexistentes dados para o objetivo principal do

Sistema, ou seja, o planejamento urbano do Recife exemplificando as ausências

sobre projetos e construções, cadastro de logradouros, serviços urbanos, e de

divulgação de produtos para a sociedade. Enfim, o que formalmente deveria ser o

repositório de informações para o planejamento urbano da cidade se constitui num

pequeno departamento de pouca importância “pendurado”, pelo organograma, em

algum órgão executivo da Prefeitura.

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Após esta releitura do documento e análise das informações nele contidas,

destacam-se como pontos merecedores de registro para o presente trabalho,

aqueles que se alinham ao arcabouço de análise adotado:

Avaliação Ambiental

Estratégica Sistema de Informação

Gerencial Riscos

“para todas as intervenções no espaço urbano o eixo norteador é a dimensão ambiental”

“Sistema de Informação Municipal, Urbano e Ambiental seu objetivo é fornecer informações ao Planejamento, Monitoramento, Implementação e Avaliação da política de desenvolvimento urbano e ambiental do município e do Plano Diretor”

“estabelecer as políticas, planos e bases para planejamento e gestão do risco”

“[...] bases de dados Redes de Infraestrutura (mobilidade urbana e saneamento ambiental), Unidades Territoriais Básicas (zoneamentos, microrregiões, bairros, regiões político-administrativas), Cadastros de Infraestruturas, de logradouros públicos e fundiário, e Indicadores (sociais e econômicos)”

“[...] controlar o uso e a ocupação de margens de cursos d’água, áreas sujeitas à inundação, mananciais, áreas de alta declividade e cabeceiras de drenagem[...]”

“Sistema de Informação de Desenvolvimento Urbano”

“[...] recuperar ambiente degradado, natural e construído, em especial nos locais onde haja ameaça à segurança humana [...]”

“Sistema de Informação de Saneamento”

“[...] implantar medidas de prevenção de inundações, incluindo controle de erosão, especialmente em movimentos de terra, combate ao desmatamento e assentamentos clandestinos [...]”

“Sistema de Informação de Saúde”

“[...] estimular a consolidação de tipologias habitacionais específicas para a geomorfologia [...]”

“Sistema de Informação Ambiental”

“[...] eliminar a situação de risco das áreas de urbanização precária, especialmente as sujeitas a desmoronamentos e alagamentos[...]”

“Sistema de Informação de Defesa Civil”

“[...] delimitar as áreas de encosta, passíveis de serem edificadas [...]”

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133

5. Indicadores geomorfológicos aplicáveis à cidade do Recife

Considerando a existência dos Planos Diretores da Cidade do Recife datados

de 1991 e 2008 (norteadores do desenvolvimento da cidade, segundo a Constituição

brasileira de 1988), e demais documentos oficiais, a expectativa era de que a

dimensão ambiental no tocante aos riscos naturais após quase duas décadas de

processos de planejamento e ações urbanas representasse um peso considerável

em seus conteúdos externalizados por meio de uma seção dedicada a esta temática

que discorresse sobre a estrutura, funcionamento e perspectivas futuras da mesma.

Em especial no documento de 2008, poderia ter-se utilizado o próprio Plano Diretor

de 1991, bem como conceitos e abordagens teóricas, e orientações de documentos

oficiais e experiências extraídas de outras cidades, para elaborar um Plano Diretor

mais explícito quanto ao assunto.

Todas as leituras e reflexões sobre planejamento urbano, riscos, indicadores,

sistemas de informação e avaliação ambiental permitem compreender melhor a

complexidade e o desafio de integrar estas bases teóricas de forma aplicada, ou

seja, efetiva, operativa. Por outro lado, todas elas indicam caminhos possíveis, e a

geomorfologia pode se valer de suas contribuições para compor um conjunto de

indicadores por meio do qual os atores envolvidos possam, ao menos, começar a

dialogar e interagir.

Considerando as vulnerabilidades do Recife às ameaças de origem natural e

as possibilidades de acompanhamento destas vulnerabilidades por meio de

indicadores vinculados a um órgão gestor oficial já existente, é possível ilustrar

alguns indicadores que seriam úteis para as ações de planejamento urbano. Uma

das razões da existência de lacuna de informação é a ausência de coleta de dados

de forma sistêmica, este quadro pode ser mudado quando o rol de indicadores

encontra ancoragem em um locuspermanente cujo compromisso com a coleta e

processamento de dados extende-se no longo prazo. Enquanto os indicadores não

forem introduzidos nos processos de gestão urbana por órgãos oficiais eles têm

poucas chances de serem sistematizados. E, no que diz respeito a indicadores

geomorfológicos, a Defesa Civil é o órgão municipal que deve lidar com os

elementos necessários à construção de um conjunto de indicadores desta natureza,

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134

sobretudo com o anteparo dado pelo Plano Diretor de 2008 ao indicar o Sistema de

Informação de Defesa Civil como componente de um sistema maior de gestão.

A análise qualitativa realizada revela a existência de elementos que

externalizam a compreensão do quão são importantes a dimensão ambiental, a

questão dos riscos e a disponibilidade de dados, para o planejamento urbano, mas

ao mesmo tempo revela fragilidades, carências e deficiências para integrar esses

elementos de modo a preencher uma lacuna de informação existente, porém

fundamental para a gestão urbana.

No intuito de concretizar uma proposta de integração de tudo o que foi lido,

refletido e analisado segue adiante um conjunto de indicadores geomorfológicos

aplicáveis ao Recife que poderiam ser ancorados na Defesa Civil Municipal e ser

ponto de partida para um permanente diálogo entre os atores envolvidos com a

questão dos riscos no município.

A proposta que segue é teórica visto que para levar a cabo a implantação da

coleta e processamento de dados seria necessária uma equipe multidisciplinar para

definir detalhes técnicos do cálculo dos indicadores, recursos materiais e financeiros

para construir uma série temporal, dentre outras necessidades de cunho prático.

Portanto, a proposta aqui apresentada é um exercício teórico (um modelo no sentido

de simplificação da realidade) de integração do que foi estudado com vistas a uma

aplicação prática, ou seja, é uma maneira de reforçar que a Geomorfologia lida com

interseções, interfaces e processos, e, portanto, sua contribuição para os assuntos

relativos aos riscos é indispensável.

Alguns indicadores são mais críticos às áreas de morros da cidade, outros às

áreas de planícies e ainda outros tanto a uma quanto à outra. Uma série histórica de

indicadores desta natureza poderia subsidiar ações de zoneamento para uso e

ocupação do solo da cidade, bem como auxiliar em demais ações de

desenvolvimento do município. As técnicas, equipamentos e equipe especializada

para coleta, tratamento e análise dos dados podem ter diversas composições e

custos, o presente trabalho não entrou nesta seara, contudo é importante registrar

que tais aspectos são imprescindíveis à implantação e adoção destes indicadores de

forma sistemática. Algumas vezes, estes aspectos são os motivos para que a

adoção de certos indicadores não se viabilize, assim sendo, mantem-se a premissa

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135

de visão sistêmica para ter sucesso nesta empreitada, a Figura 31 ilustra a

consideração destes aspectos.

Figura 31: Recursos necessários para implantação de indicadores de forma sistemática

além do conhecimento técnico. Fonte: a autora

Nesta seção serão apresentados exemplos de aplicação dos indicadores, que

em conjunto com dados não geomorfológicos podem refinar análises ao mesmo

tempo que podem aumentar a complexidade do sistema, tanto quanto se queira. A

forma de apresentação foi inspirada na proposta feita para Taipei (HUANG, et al,

1998) que incluía a preocupação com a facilidade de acesso de forma ampla para a

sociedade. Para os exemplos foram utilizadas fontes visuais tais como: (i) Mapas

das Regiões Político-Administrativas do Recife (fonte: Prefeitua do Recife); (ii) Mapa

Unibase do Recife (fonte: Prefeitura do Recife); (iii) Imagens de satélite (fonte:

google maps); (iv) Dados sócio-econômicos (fonte: IBGE); (v) Unidade de Paisagem

(fonte: Prefeitura do Recife), dentre outras.

Os indicadores foram organizados de modo que se pudesse relacionar dados

e informações de áreas científicas que não a geomorfológica e/ou associada aos

riscos de desastres naturais a fim de acompanhar a evolução das relações destes

indicadores com outros quanto à estrutura de Pressão – Estado – Impacto –

Resposta (PEIR) sob esta ótica é possível fazer análises e avaliações de cunho

mais abrangente sobre a sustentabilidade como um todo.

A proposta apresentada espacializa os indicadores por Unidade de Paisagem,

os valores absolutos13 dos indicadores são enquadrados em uma escala de alerta de

modo que independente da técnica e metodologia utilizadas pelos especialistas para

obte-los, independente do período registrado e independente das atualizações

13 Valor absoluto aqui é entendido como o valor numérico apresentado para o indicador. São valores

fictícios usados apenas para ilustrar o modelo.

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136

tecnológicas nos processo de coleta e tratamento, o padrão de apresentação

permaneça preservado. É útil também o uso do enquadramento dos indicadores em

escalas de alerta14 para os gestores, tomadores de decisão, não especialistas, pois

os resultados podem ser entendidos por todos, este é um condicionante fundamental

para a utilização dos indicadores nos processos de ocupação e uso da cidade,

autores como Gupta e Ahmad em 1999 já destacavam a importância de informações

geomorfológicas para os trópicos e a forma como estas informações devem ser

transferidas para os gestores citadinos para que sejam utilizadas. O uso de escalas

referenciais atreladas aos valores absolutos dos indicadores também é útil porque

permite agregar e/ou excluir indicadores ao modelo sem necessidade de maiores

perturbações em sua estrutura.

Para concepção da escala de alerta recorreu-se ao Manual de Planejamento

em Defesa Civil (SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL, 1999), segundo o

qual o risco é a relação existente entre a probabilidade estatística de que uma

ameaça de evento adverso ou de acidente determinado se concretize com

magnitude definida e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor. Com base nisto

a Escala de Alerta reflete o risco associado a uma área específica da cidade (Tabela

21). Tabela 21: Proposta de Escala de Alerta

Escala de Alerta Risco

Muito preocupante Risco Alto => Alta probabilidade + Alta vulnerabilidade

Preocupante Risco Médio => Baixa probabilidade + Alta vulnerabilidade Alta probabilidade + Baixa vulnerabilidade

Pouco preocupante Risco Baixo => Baixa probabilidade + Baixa vulnerabilidade

Fonte: a autora

Para cada indicador os especialistas devem fornecer enquadramento

segundo a Escala de Alerta, assim, os gestores urbanos terão condições de associar

o valor absoluto com a preocupação a ser despendida aos mesmos, e,

consequentemente, organizar ações adequadas de intervenção sobre as áreas mais

preocupantes.

14 Escala de alerta aqui é entendida como uma simples classificação dos indicadores segundo a

intensidade de preocupação que os gestores precisam ter em relação aos mesmos segundo os riscos associados a eles.

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137

Os indicadores foram selecionados segundo sua utilidade para uso nas ações

de avaliação de riscos e prevenção de desastres, duas funções da Defesa Civil,

conforme a Política Nacional de Defesa Civil, são eles:

x Pluviosidade;

x Cobertura vegetal;

x Impermeabilização do solo;

x Capacidade de drenagem (superficial e subterrânea);

x Inclinação de terrenos;

x Cortes nas encostas;

x Assoreamento de cursos d’água;

x Ocupação de margens de corpos d’água;

x Ocupação de encostas;

x Lançamento de águas servidas;

x Vazamento nas redes de abastecimento;

x Tipo de solo;

x Aterros;

x Nível do mar.

x Pluviosidade

A pluviosidade é um importante elemento de monitoramento para a cidade do

Recife porque suas configurações físicas são suscetíveis à ação das chuvas como

agente modelador da paisagem, em áreas mais elevadas na ação de desgaste e

carreamento de sedimentos para áreas mais baixas, em áreas mais baixas atua

como intensificador de volume de água nos cursos d’água influenciando o

carreamento de sedimentos dos mesmos, além também de ser agente atuante na

reposição de águas subterrâneas, sobretudo em áreas onde o solo permite sua

atuação de forma mais efetiva. É também agente nos processos erosivos em

especial em áreas onde o solo está mais suscetível à sua ação.

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138

x Cobertura vegetal

A cobertura vegetal auxilia na proteção do solo, na absorção de água, além

de ser importante elemento para a manutenção da biodiversidade de uma região.

Para manutenção dos mananciais é um elemento do conjunto. Seu monitoramento é

util para analisar as fragilidades deste elemento na paisagem das áreas sujeitas a

ameaças naturais.

x Impermeabilização do solo

A impermeabilização do solo é um fator importante para o entendimento dos

fluxos das águas superficiais, em conjunto com outros fatores, a impermeabilização

reforça a velocidade e a vazão do escoamento dessas águas que ao encontrar

córregos, canais, rede de drenagem pluvial, dentre outros destinos, despreparados

para o recebimento de tamanha carga, provoca efeitos adversos às áreas dos seus

entornos. Inclusive as vias de circulação das cidades, tais como as ruas e calçadas,

passam a figurar como elementos de drenagem que somadas às perdas de jardins,

quintais, parques, estuários, dentre outras, aumentam as dificuldades de controle de

fluxo de águas superficiais nas cidades.

x Capacidade de drenagem (superficial e subterrânea)

O sistema de drenagem é fundamental para a dinâmica hídrica de uma

região, seu estado pode colaborar, ou não, para uma maior capacidade de suportar

eventos adversos, de modo que seu monitoramento auxilia na análise de riscos.

x Inclinação de terrenos

Em terrenos muito íngremes maiores cuidados devem ser aplicados ao seu

uso, em áreas com esta característica a gravidade age mais intensamente e o

transporte de sedimentos ocorre mais rapidamente. Já em terrenos muito planos, e

às vezes abaixo do nível do mar, o cuidado decorre dessas serem áreas propícias à

deposição de sedimentos provenientes dos setores mais elevados e à ação do

sistema hidrológico como receptor de seus elementos.

x Cortes nas encostas

Seja pela exploração econômica dos recursos minerais ou pela ocupação

humana algumas encostas sofrem cortes significativos implicando em alterações em

sua estrutura que passa a sofrer com acomodação e movimentação de solo. É um

importante elemento a ser monitorado para riscos.

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139

x Assoreamento de cursos d’água

Os cursos d’água são importantes sistemas receptores da dinâmica hídrica, o

monitoramento da sua situação de assoreamento, em especial a colaboração das

ações humanas para esta situação, é útil para analisar os riscos associados a tais

sistemas.

x Ocupação de margens de corpos e cursos d’água

Como são elementos importantes da dinâmica hídrica, o monitoramento de

suas margens é útil para realizar análises dos riscos destas áreas. Ainda mais

quando são ocupadas por assentamentos humanos.

x Ocupação de encostas

Por causa dos diferentes graus de inclinação, a ocupação de encostas pode

significar maior ou menor vulnerabilidade para as populações aí alocadas, mais

ainda quando associada a outras situações de risco, daí porque seu monitoramento

é importante para análise de riscos.

x Lançamento de águas servidas

Em áreas com infraestrutura insuficiente neste segmento as repercussões

sobre o solo tanto em camadas superficiais quanto nas mais profundas são bastante

danosas, bem como nos cursos e corpos d’água, problemas como erosão, saturação

e contaminação, reforçam o rol de elementos que contribuem para aumentar os

riscos nestas áreas.

x Vazamento nas redes de abastecimento

Vazamentos de água ao longo do sistema de abastecimento implicam em

infiltrações no solo resultando em modificações na sua estrutura subsidiando assim

acomodações inesperadas, saturação de água diminuindo sua capacidade de

absorção, dentre outras situações que contribuem para os riscos em área afetadas.

x Tipo de solo

Fundamental para entender a dinâmica associada às suas características,

suscetibilidade a determinados fenômenos naturais, potencial para diferentes usos,

comportamento quando submetido a interferências humanas, enfim, acompanhar

sua evolução é imprescindível para compreender sua formação e alteração.

x Aterros

Manobra importante a ser monitorada especialmente quando sua ocorrência

resulta em alteração da paisagem original, bastante conhecida em áreas alagáveis é

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140

também utilizada em terrenos inclinados para permitir sua ocupação. É importante

seu monitoramento porque esta ação pode aumentar as vulnerabilidades de

determinadas áreas às ameaças dos fenômenos naturais.

x Nível do mar

Muito importante, especialmente para regiões litorâneas, influencia a

formação e evolução das praias e áreas estuarinas. A dinâmica das marés também

repercute no comportamento dos ecossistemas associados à sua interferência.

Alterações no seu estado provomem rebatimentos em diversos ambientes e áreas

em suas proximidades.

Para cada um destes indicadores os respectivos cálculos técnicos para

obtenção do valor numérico da medida devem ser traduzidos para uma linguagem

passível de ser entendida por gestores que não necessariamente são técnicos e/ou

especialistas nestas áreas do conhecimento, daí a proposta por um nivelamento

segundo uma escala de alerta, alternativa mais ilustrativa para os gestores poderem

articular providências para as áreas mais preocupantes.

A sistematização do monitoramento é fundamental para que a série temporal

dos indicadores possa auxiliar nos prognósticos e construção de cenários a partir de

dados específicos das áreas monitoradas. Quanto maior a informação organizada

(usada em sistemas de informação) sobre as áreas, maior é a capacidade da

sociedade como um todo (não apenas os gestores) de se posicionar diante das

necessidades que se apresentam para a cidade. É importante reforçar a

necessidade de um sistema que “organize” as informações, um amontoado de

dados e informações em diferentes lugares, em diferentes linguagens, com acessos

restritos a poucos, enfim, apenas saber da existência de dados não é suficiente para

assegurar que os gestores citadinos os utilizem nos processos de planejamento e

gestão da cidade. A Figura 32 ilustra o entendimento e uso das bases de dados pelo

sistema de informação.

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141

Figura 32: Esquema ilustrativo de como as informações podem ser subsídios para

prognósticos e construção de cenários. Fonte: a autora

Assim, considerando tudo que foi apresentado até agora, seguem os modelos

visuais da proposta teórica de uso dos indicadores geomorfológicos para os

processos de planejamento urbano relativo aos riscos para o Recife.

Primeiramente temos a matriz de apresentação dos registros dos valores15

dos indicadores segundo a Escala de Alerta (Figura 33):

15 Valores aqui é entendido como o valor numérico correspondente à Escala de Alerta. São valores

fictícios usados apenas para ilustrar o modelo

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142

Conjunto de indicadores geomorfológicos úteis às

análises de risco e planejamento urbano

Referência da Prefeitura do Recife código numérico para os

bairros da respectiva RPA

Para o modelo foi utilizada uma sequência, mas de forma prática

pode-se utilizar os anos de fato, p. ex. 2001,2002,etc

Figura 33: Figura esquemática da matriz de apresentação dos registros dos valores dos indicadores segundo a Escala de Alerta. Fonte: a autora

Com uma sistematização, ou seja, coleta de dados, processamento, análises

e demais operações, os quadros gerados podem fornecer informações aos gestores,

que por sua vez podem articular as providências necessárias à melhoria da situação

ilustrada pela Matriz e por outros recursos tais como mapas, gráficos, comentários,

dentre outros.

Vislumbrando a construção de cenários é possível ainda imaginar uma matriz

de enquadramento da situação com seis possibilidades (Tabela 22), considerando a

Escala de Alerta (alinhada à Pressão e Estado atuais, segundo metodologia PEIR) e

a Resposta (atrelada às ações que os responsáveis implantaram e/ou implantam

para reverter quadros negativos e/ou manter quadros positivos). Uma vez que não é

possível atuar diretamente para impedir um evento adverso, as Respostas devem

ser direcionadas à redução das vulnerabilidades do sistema receptor. Tabela 22: Cenários possíveis para as áreas analisadas pelo modelo

Escala de Alerta Resposta não Eficaz Resposta Eficaz

Muito preocupante Mantém situação de Alto Risco

Pode reverter para Escala Preocupante

Preocupante Pode tender à Escala Muito preocupante

Pode reverter para Escala Pouco preocupante

Pouco preocupante Pode tender à Escala Preocupante

Mantém situação de Baixo Risco

Fonte: a autora

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143

Nota-se que para uma análise bem detalhada com descrições e

considerações de diagnósticos e prognósticos a partir dos indicadores

geomorfológicos uma equipe multidisciplinar é essencial, além obviamente dos

recursos necessários às coletas, registros e processamento dos dados, já

comentado anteriormente. Como o olhar do presente trabalho foi depositado na

utilidade e aplicação dos indicadores geomorfológicos para preenchimento de

lacunas de informação como subsídio ao planejamento urbano no tocante aos

riscos, as formas de comunicação entre os elementos componentes do sistema são

destacadas, por exemplo, por meio de mapas, gráficos, tabelas, imagens,

fotografias, dentre outros.

Conjuntamente com a Matriz de Escala de Alerta é possível utilizar mapas

temáticos, ou ao menos ilustrações, que facilitem a comunicação do monitoramento

dos riscos para todos os atores envolvidos no planejamento urbano, inclusive pode

ser bastante útil montar séries de imagens ilustrando a morfodinâmica da região e

associá-las a demais indicadores, à semelhança do trabalho realizado por Medeiros

(2006) que ilustrou por meio de fotografias aéreas e imagens de satélites as

alterações na paisagem urbana em um recorte da cidade de Olinda (limítrofe com o

Recife) para um período de três décadas (1970,1980,1990), neste trabalho é

possível visualizar as alterações ocorridas à medida que os empreendimentos

imobiliários e viários foram implantados em uma porção específica da cidade, as

quais poderiam servir de insumos para os processos decisórios do planejamento

urbano se associados a um conjunto de indicadores geomorfológicos.

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144

5.1. Exemplo 1 – Unidade de Paisagem Tabuleiros

Este exemplo do modelo proposto retrata uma situação para a Unidade de

Paisagem Tabuleiros localizada na porção mais noroeste da RPA 3, particularmente

nos bairros Pau Ferro e Guabiraba (neste apenas uma porção).

Figura 34: Localização da Unidade de Paisagem Tabuleiros e algumas características de

uso do solo e riscos ambientais. Fonte: modificado de Prefeitura do Recife, 200116

Tabela 23: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de Paisagem Tabuleiros.

UNIDADE DE PAISAGEM USO DO SOLO RISCOS AMBIENTAIS

Tabuleiros Zona semi-rural (chácaras) e expansão urbana (bairros populares)

Voçorocas evoluindo para desabamentos. Contaminação de aqüíferos e nascentes.

Fonte: adaptado de Corrêa, 2006

16 O original da fonte não apresenta escala.

Tabuleiros Legenda:

N

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145

Figura 35: RPA 3 onde ocorre a Unidade de Paisagem Tabuleiros (a oeste do tracejado

verde), especificamente nos bairros Pau Ferro e Guabiraba.

N

Regional Bairros Hidrografia

Fonte: Prefeitura do Recife, 2001

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146

Segundo a Matriz de Escala de Alerta para o intervalo de vinte anos os graus

de preocupação para a RPA 3 como um todo têm-se agravado para os períodos

mais recentes (Figura 36) de modo que a situação sinaliza para um cenário bastante

negativo caso as Respostas para melhorar a situação não sejam eficazes.

Os registros detalhados ano a ano podem ser resumidos como uma

confluência de indicadores de Estado nada favoráveis à ocupação da área com

indicadores de Pressão também bastante desanimadores, resultando numa alta

carga de energia a impactar a morfodinâmica do local resultando esta bastante

instável. Caso as Respostas não sejam eficazes para reverter esta situação o

cenário para os próximos anos é de manter uma escala de Muito preocupante para

esta RPA (Tabela 24).

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 36: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 3. Fonte: a autora

Tabela 24: Exemplo de Cenário provável para a RPA 3, caso as Respostas não sejam eficazes

Escala de Alerta Resposta não Eficaz Resposta Eficaz

Muito preocupante Mantém situação de Alto Risco

Pode reverter para Escala Preocupante

Preocupante Pode tender à Escala Muito preocupante

Pode reverter para Escala Pouco preocupante

Pouco preocupante Pode tender à Escala Preocupante

Mantém situação de Baixo Risco

Fonte: a autora Já um olhar mais focado nos dois bairros (Pau Ferro e Guabiraba) que melhor

retratam a Unidade de Paisagem Tabuleiros revela que neles alguns indicadores

estão entre Preocupante e Pouco preocupante de modo que a atuação do poder

público neste caso deve ser no sentido de manter os níveis de Pouco preocupante e

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147

melhorar os de Preocupante, apresentando assim um cenário mais favorável caso

as Respostas sejam eficazes.

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 37: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para os bairros Pau Ferro e Guabiraba

que melhor retratam a Unidade de Paisagem Tabuleiros. Fonte: a autora

Tabela 25: Exemplo de Cenário provável para os bairros Pau Ferro e Guabiraba, caso as Respostas sejam eficazes.

Escala de Alerta Resposta não Eficaz Resposta Eficaz Muito preocupante

Mantém situação de Alto Risco

Pode reverter para Escala Preocupante

Preocupante Pode tender à Escala Muito preocupante

Pode reverter para Escala Pouco preocupante

Pouco preocupante

Pode tender à Escala Preocupante

Mantém situação de Baixo Risco

Fonte: a autora

Este exemplo ilustra o desafio do planejamento urbano em ser capaz de

identificar diferentes áreas dentro de uma mesma RPA, ou áreas semelhantes em

diferentes RPAs, além disso tem-se também que para uma mesma Unidade de

Paisagem as Pressões podem apresentar-se diferentes e, portanto necessitarem de

diferentes Respostas. Com um conjunto de indicadores auxiliando o monitoramento

e a composição de séries temporais tanto o governo quanto a sociedade podem

acompanhar melhor a evolução da cidade e se preparar para as intervenções

necessárias.

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148

5.2. Exemplo 2 – Unidade de Paisagem Colinas

Este exemplo do modelo proposto retrata uma situação para a Unidade de

Paisagem Colinas localizada numa grande porção da RPA 2.

Figura 38: Localização da Unidade de Paisagem Colinas. Fonte: modificado de Prefeitura do

Recife, 200117

Tabela 26: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de Paisagem Colinas.

UNIDADE DE PAISAGEM USO DO SOLO RISCOS AMBIENTAIS

Colinas Zona urbana com bairros populares não planejados.

Deslizamentos sob forte precipitação. Mineração ilegal de areia.

Fonte: adaptado de Corrêa, 2006

17 O original da fonte não apresenta escala.

Colinas Legenda:

N

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149

Figura 39: RPA 2,com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Colinas (na parte

superior do tracejado verde).

Regional Bairros Hidrografia

Fonte: Prefeitura do Recife, 2001

N

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150

Segundo a Matriz de Escala de Alerta para o intervalo de vinte anos os graus

de preocupação para a RPA 2 como um todo têm-se agravado em vários

indicadores nos períodos mais recentes, mas também ocorreram melhorias em

alguns outros (Figura 40), contudo como os graus Muito Preocupante ainda são

mais presentes a situação sinaliza para um cenário negativo caso as Respostas

para melhorar a situação não sejam tão eficazes (Tabela 27).

Os registros detalhados ano a ano podem mostrar que algumas Respostas

ainda, que implantadas, não deram bons resultados, outras ainda não foram postas

em prática, e ainda outras já estão melhorando os indicadores. Assim sendo, esta

porção merece uma atenção especial necessitando que a equipe multidisciplinar

fique alerta a possíveis interferências do desempenho de alguns indicadores sobre

outros.

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 40: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 2. Fonte: a autora

Tabela 27: Exemplo de Cenário provável para a RPA 2, caso as Respostas não sejam eficazes

Escala de Alerta Resposta não Eficaz Resposta Eficaz Muito preocupante

Mantém situação de Alto Risco

Pode reverter para Escala Preocupante

Preocupante Pode tender à Escala Muito preocupante

Pode reverter para Escala Pouco preocupante

Pouco preocupante

Pode tender à Escala Preocupante

Mantém situação de Baixo Risco

Fonte: a autora Este exemplo mostra uma outra possibilidade de uso das informações para os

gestores públicos e a sociedade na medida em que permite aos atores envolvidos

um olhar mais cuidadoso sobre aqueles indicadores que persistem sem melhorar,

ainda que as Respostas estejam sendo implantadas, a fim de descobrir razões para

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151

o seu insucesso. A utilidade do modelo proposto está justamente em prover

informações que todos podem acompanhar, sobretudo se as informações estiverem

amplamente disponíveis, por exemplo, no site da Defesa Civil do município.

Por meio de bases de dados estruturadas seria possível agregar informações

espacializadas no território, adensando o conhecimento sobre a cidade e suas

problemáticas. Inclusive, no longo prazo, se poderia caminhar na direção de coletar

dados na escala de vias e domicílios a fim de correlacionar possíveis dinâmicas que

impactam umas nas outras, bem como identificar, no ínício, processos

geomorfológicos danosos ao ambiente da respectiva área. É importante reconhecer

a dificuldade de cobrir o espaço nessas escalas, sobretudo em parcelas onde o

adensamento e ocupação do solo dificultam o trabalho, como por exemplo em

alguns bairros da RPA 2 (Figura 41).

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152

Fonte: a autora modificado de Google Earth, 2011 Legenda: Pontos críticos de deslizamentos –Cortes nas encostas Muito preocupante Fotografia de Ponto crítico

Figura 41: Exemplos de recursos que o sistema de informação pode utilizar para apresentar

informações sobre os indicadores geomorfológicos: imagens de satélites e fotografias da situação de pontos críticos (bairro Linha do Tiro, bastante adensado e vulnerável a eventos

de deslizamentos).

Indicador: Cortes nas Encostas: Escala = Muito preocupante Evidências de processos de desestabilização da encosta envolvendo os terrenos acima e abaixo do ponto crítico As Respostas devem compreender uma nova análise da paisagem modificada.

1

N

150 m

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153

5.3. Exemplo 3 – Unidade de Paisagem Estuarina

Este exemplo do modelo proposto retrata uma situação para a Unidade de

Paisagem Estuarina dominante na RPA 1.

Figura 42: Localização da Unidade de Paisagem Estuarina. Fonte: modificado de Prefeitura

do Recife, 200118

Tabela 28: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de Paisagem Estuarina.

UNIDADE DE PAISAGEM USO DO SOLO RISCOS AMBIENTAIS

Estuarina Zona urbana comercial e residencial. Impermeabilização total do terreno.

Inundação periódica, poluição por esgoto. Destruição de restos de manguezais.

Fonte: adaptado de Corrêa, 2006

18 O original da fonte não apresenta escala.

N

Estuarina Legenda:

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154

Figura 43: RPA 1, cuja área está situadadentro do perímetro da Unidade de Paisagem

Estuarina.

Regional Bairros Hidrografia

Fonte: Prefeitura do Recife, 2001

N

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155

Segundo a Matriz de Escala de Alerta para o intervalo de vinte anos os graus

de preocupação para a RPA 1 como um todo mostraram melhoras, apenas em três

indicadores os graus passaram para Muito Preocupante (Figura 44).

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 44: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 1. Fonte: a autora

Os registros detalhados ano a ano para o intervalo dos primeiros cinco anos

correspondem às ações, no âmbito do planejamento do uso e ocupação do solo

associados aos riscos de ameaças naturais, voltadas para a melhoria da capacidade

do sistema de Drenagem, redução do Lançamento de águas servidas,

Assoreamento de cursos d’água, Impermeabilização do solo e Ocupação de

margens de corpos d’água e melhoria da Cobertura Vegetal, sendo que a Ocupação

de margens de corpos d’água já no Ano 3 indicava uma situação Muito Preocupante.

Infelizmente as Respostas municipais, vislumbrando o futuro, não foram implantadas

de forma efetiva de modo que para períodos seguintes a matriz reflete o

agravamento das situações destes indicadores, sendo que para alguns indicadores

de Estado suas situações na Escala de Alerta que eram de Pouco Preocupante

passaram a Preocupantes, fato que somado à situação resultante da baixa eficácia

das Respostas urbanas vislumbraram um cenário futuro de maior dificuldade para as

autoridades em lidar com as ameaças que se apresentam.

A partir do Ano 11 ações mais contundentes para melhoria dos indicadores de

Capacidade de drenagem, Assoreamento de cursos d’água, Cobertura vegetal,

Impermeabilização do solo e Ocupação de margens de corpos d’água, surtiram

efeito visualizados no final dessa década, embora alguns indicadores de Estado

tenham passado para Muito Preocupante na Escala de Alerta implicando numa

maior atenção quanto ao monitoramento dos mesmos.

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156

Um olhar mais detalhado sobre cada um dos indicadores, individualmente, é

possível. Por exemplo, para o indicador Pluviosidade o sistema poderia retornar

informações sobre o que se entende por este indicador, a sua situação num

determinado momento, sua tendência, comentários, gráficos, dentre outras

informações. (Figura 45).

Figura 45: Exemplo de resumo de informações sobre os indicadores que o sistema pode

apresentar. Fonte: a autora

Este exemplo é interessante porque mostra como os gestores podem

detalhar a situação dos indicadores ao longo dos anos fazendo análises entre esses

e as ações de Resposta implantadas pelo poder público nos respectivos períodos.

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157

5.4. Exemplo 4 – Unidade de Paisagem Planície

Este exemplo do modelo proposto retrata uma situação para a Unidade de

Paisagem Planície unidade que domina grande parte da RPA 4.

Figura 46: Localização da Unidade de Paisagem Planície. Fonte: modificado de Prefeitura

do Recife, 200119

Tabela 29: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de Paisagem Planície.

UNIDADE DE PAISAGEM USO DO SOLO RISCOS AMBIENTAIS

Planície

Zona urbana predominantemente residencial (classe média), impermeabilizada.

Inundação periódica, poluição por esgoto. Contaminação e uso inadequado de aqüíferos.

Fonte: adaptado de Corrêa, 2006

19 O original da fonte não apresenta escala.

N

Planície Legenda:

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158

Figura 47: RPA 4, com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Planície (aleste do

tracejado verde).

Segundo a Matriz de Escala de Alerta para o intervalo de vinte anos os graus

de preocupação para a RPA 4 como um todo mostraram piora em muitos

indicadores (Figura 48).

Os registros detalhados ano a ano mostram que os indicadores que

apresentaram piora configuram um cenário preocupante para a área porque a

planície sofrerá fortes consequências no que se refere à atuação da dinâmica do

Nível do mar (as marés), à baixa Capacidade de drenagem, ao Assoreamento dos

cursos d’água e Ocupação de margens de corpos d’água. Caso as Respostas não

Regional Bairros Hidrografia

Fonte: Prefeitura do Recife, 2001

N

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159

resultem em melhoria dos mesmos, todos eles aumentarão os riscos (Tabela 30)

associados aos eventos pluviais, cujo indicador está numa escala de Muito

Preocupante para a área, sendo que em determinados pontos da RPA 4 a situação

é mais grave quanto aos alagamento.

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 48: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 4. Fonte: a autora

Tabela 30: Exemplo de Cenário provável para a RPA 4, caso as Respostas não sejam eficazes

Escala de Alerta Resposta não Eficaz Resposta Eficaz Muito preocupante

Mantém situação de Alto Risco

Pode reverter para Escala Preocupante

Preocupante Pode tender à Escala Muito preocupante

Pode reverter para Escala Pouco preocupante

Pouco preocupante

Pode tender à Escala Preocupante

Mantém situação de Baixo Risco

Fonte: a autora.

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160

Legenda: Pontos críticos de alagamentos –capacidadede drenagem Muito preocupante Figura 49: Imagem com destaque de pontos críticos de alagamento nos bairros da Iputinga,

Várzea e Engenho do Meio. Fonte: a autora modificado de Google Earth, 2011.

Tabela 31: Número total de domicílios na RPA 4 e os tipos de esgotamento sanitário existentes

Metropolitana de Recife 860 124 824 556 295 267 129 522 329 555 25 059 35 882 9 271 35 568Recife 376 022 365 826 161 163 57 279 117 940 9 002 16 738 3 704 10 196

RPA 04 67 486 66 149 34 150 17 095 11 350 1 140 2 088 326 1 337Microrregião 4.1 38 811 38 042 20 852 9 419 5 462 335 1 720 254 769 Cordeiro 10 237 10 196 5 297 3 712 1 140 20 16 11 41 Ilha do Retiro 830 806 418 139 17 114 87 31 24 Iputinga 12 659 12 121 4 658 4 105 2 406 124 636 192 538 Madalena 5 667 5 603 4 083 565 755 4 186 10 64 Prado 2 959 2 942 1 960 259 708 13 - 2 17 Torre 4 855 4 775 3 607 280 119 6 758 5 80 Zumbi 1 604 1 599 829 359 317 54 37 3 5Microrregião 4.2 10 058 9 922 7 398 912 1 167 438 1 6 136 Engenho do Meio 2 727 2 719 2 459 156 53 49 1 1 8 Torrões 7 331 7 203 4 939 756 1 114 389 - 5 128Microrregião 4.3 18 617 18 185 5 900 6 764 4 721 367 367 66 432 Caxangá 1 712 1 664 620 437 440 21 137 9 48 Cidade Universitária 157 151 8 42 101 - - - 6 Várzea 16 748 16 370 5 272 6 285 4 180 346 230 57 378

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Fossa rudimentar Vala Rio, lago

ou mar Outro

escoadouro

Recife, RMR, microrregiões e bairros

Domicílios particulares permanentes

Total

Tinham banheiro ou sanitário

Não tinhambanheiro

nem sanitário

Total

Tipo de esgotamento sanitário

Rede geralde esgoto ou pluvial

Fossaséptica

N

1000 m

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161

Neste exemplo, o modelo introduz mais um recurso que pode ser bastante útil

para o órgão de Defesa Civil e demais atores interessados (inclusive a sociedade

civil) que é o uso conjunto de imagens de satélite com dados demográficos de modo

que as análises sobre os indicadores possam englobar elementos de uso e

ocupação do solo da cidade. Assim as Respostas para melhorar a situação de risco

de determinadas localidades podem incorporar o montante de domicílios e famílias

afetadas, bem como os Impactos que eventos naturais adversos podem provocar

nas áreas adjacentes bem como na dinâmica do entorno.

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162

5.5. Exemplo 5 – Unidade de Paisagem Corpos d’água

Este exemplo do modelo proposto retrata uma situação para a Unidade de

Paisagem Corpos d’água presente na fronteira da RPA 5 com a RPA 6.

Figura 50: Localização da Unidade de Paisagem Corpos d’água. Fonte: modificado de

Prefeitura do Recife, 200120

Tabela 32: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de Paisagem Corpos d’água.

UNIDADE DE PAISAGEM USO DO SOLO RISCOS AMBIENTAIS

Corpos d’água Áreas de preservação mas com alguma ocupação por palafitas.

Poluição por esgoto e outros eflúvios tóxicos. Especulação imobiliária e aterros.

Fonte: adaptado de Corrêa, 2006

20 O original da fonte não apresenta escala.

N

Corpos d’águaLegenda:

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163

Figura 51: RPA 5, com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Corpos d’água (na área do tracejado verde).

Segundo a Matriz de Escala de Alerta para o intervalo de vinte anos os graus

de preocupação para a RPA 5 como um todo mostraram piora em alguns

indicadores (Figura 52).

N

Regional Bairros Hidrografia

Fonte: Prefeitura do Recife, 2001

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164

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 52: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 5. Fonte: a autora

Os registros detalhados ano a ano mostram que os indicadores que

apresentaram piora configuram um cenário Muito Preocupante (Tabela 33) para a

área porque além da própria existência de vários rios, canais e córregos, alguns

desses elementos estão localizados em terrenos com cotas baixas e forte

impermeabilização, configuração que aumenta a vulnerabilidade destas áreas frente

aos eventos adversos, visto que suas margens ao serem inundadas quando de um

maior fluxo hídrico já estão ocupadas pela urbanização (Figura 53) de modo que

estas parcelas da população serão bastante impactadas, além disso algumas

condições de ocupação são subnormais (exemplos nas Figura 54 e Figura 55)

reforçando o desafio dos órgãos competentes quanto ao planejamento e

implantação das Respostas necessárias para reversão do quadro.

Tabela 33: Exemplo de Cenário provável para a RPA 5, caso as Respostas não sejam

eficazes. Escala de Alerta Resposta não Eficaz Resposta Eficaz

Muito preocupante

Mantém situação de Alto Risco

Pode reverter para Escala Preocupante

Preocupante Pode tender à Escala Muito preocupante

Pode reverter para Escala Pouco preocupante

Pouco preocupante

Pode tender à Escala Preocupante

Mantém situação de Baixo Risco

Fonte: a autora

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165

Legenda: Fonte: a autora modificado de Google Earth, 2011

Techo do Canal Laranjeiras Rio Tejipió

Figura 53: Imagens da localização do Canal

Laranjeiras (bairro de Areias), mostrando a forte ocupação das margens e a forte impermeabilização do seu entorno.

N

250 m

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166

Figura 54: Situação de um trecho do Canal Laranjeiras. Fonte: Prefeitura do Recife, 2000

Figura 55: Situação de um trecho do Canal Laranjeiras. Fonte: Prefeitura do Recife, 2000

Neste exemplo, o modelo introduz mais um recurso que pode ser bastante útil

para o órgão de Defesa Civil e demais atores interessados (inclusive a sociedade

civil) que é o uso de bases temáticas, como por exemplo a base de Cadastro de

Canais da Cidade do Recife (2000) (Figura 56), ou trabalhos como o de Carvalho et

al (2010) (Figura 57) que poderiam inspirar outras bases, por meio das quais podem

ser feitas complementações quanto ao planejamento, implementação e

monitoramento de ações para melhorar os indicadores .

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167

Figura 56: Localização do Canal Laranjeiras no Cadastro de Canais do Recife. Fonte:

Prefeitura do Recife, 200021

Figura 57: Imagem de satélite mostrando a situação de 2 trechos do Rio Jordão, o Trecho 1 com margens não ocupadas nem impermeabilizadas, o Trecho 2 apresenta com ocupação urbana e impermeabilização das margens.Exemplo de estudo temático. Fonte: Carvalho et

al, 2010

21 O original da fonte não apresenta escala.

N

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168

5.6. Exemplo 6 – Unidade de Paisagem Litorânea

Este exemplo do modelo proposto retrata uma situação para a Unidade de

Paisagem Litorânea presente na RPA 6.

Figura 58: Localização da Unidade de Paisagem Litorânea. Fonte: modificado de Prefeitura

do Recife, 200122

Tabela 34: Características de uso do solo e riscos ambientais da Unidade de Paisagem Litorânea.

UNIDADE DE PAISAGEM USO DO SOLO RISCOS AMBIENTAIS

Litorânea Área residencial e comercial de alto valor especulativo. Forte impermeabilização.

Inundação periódica, poluição por esgoto, emissão de eflúvios sem tratamento no mar.

Fonte: adaptado de Corrêa, 2006

22 O original da fonte não apresenta escala.

N

Litorânea Legenda:

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169

Figura 59: RPA 6, com destaque onde ocorre a Unidade de Paisagem Litorânea (na área do

tracejado verde).

Segundo a Matriz de Escala de Alerta para o intervalo de vinte anos os graus

de preocupação especificamente para os bairros de Boa Viagem, Pina e Brasília

Teimosa, mostraram uma piora em alguns indicadores (Figura 60).

Os registros detalhados dos indicadores Nível do mar, Aterros e

Impermeabilização do solo merecem atenção porque esta Unidade de Paisagem

Regional Bairros Hidrografia

Fonte: Prefeitura do Recife, 2001

N

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170

possui elevado valor para o mercado imobiliário sobretudo devido à boa cobertura

de serviços públicos, tais como abastecimento, saneamento, transporte, dentre

outros. Nesta unidade também estão localizadas edificações multifamiliares com alta

densidade demográfica e importantes áreas públicas de entretenimento e comerciais

privadas, tais como a praia de Boa Viagem e o Shopping Center Recife,

respectivamente.

3 Muito Preocupante 2 Preocupante 1 Pouco Preocupante

Figura 60: Exemplo da Matriz de Escala de Alerta para a RPA 6. Fonte: a autora

Neste exemplo é interessante observar a possibilidade de uso do conjunto de

indicadores geomorfológicos para analisar uma proposta de intervenção urbana de

origem privada (Rio Mar Shopping) (Figura 61) às margens de uma parcela da Bacia

Portuária no bairro do Pina (Figura 62) e a partir daí gerar cenários de maior ou

menor riscos no local e seu entorno.

Figura 61: Imagem com destaque do terreno onde o empreendimento será instalado. Fonte:

Grupo JCPM [ca.2011]

FUTURA VIA MANGUE

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171

Área do empreendimento Riomar Shopping

Figura 62: Imagem de satélite com destaque do local, na Bacia Portuária, onde o empreendimento será instalado. Fonte: a autora modificado de Google Earth, 2011.

Este exemplo permite refletir sobre a possibilidade de criar cenários e analisar

futuras Pressões e Estados que este empreendimento pode exercer sobre o

território urbano, no tocante aos riscos de alagamento para a área e seu entorno.

Por exemplo, simular alterações nas dinâmicas geomorfológicas decorrentes de

alteração nos elementos componentes dos indicadores, tais como, alteração no

Nível do mar, na Capacidade de drenagem, alterações decorrentes de Aterros e

Impermeabilização do solo, enfim mudanças promovidas por um empreendimento

deste porte.

Entendendo que a implantação de um sistema como este não é simples nem

tampouco barato, é possível pensar em alternativas para implementação modular,

tendo como áreas-piloto alguns recortes territoriais específicos, daí a gestão

municipal teria mais subsídios para avaliar o seu funcionamento e expansão para

1000 m

N

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172

demais áreas, tal como realizado por Andreas e Allan (2007) na Costa Rica ao

estabelecerem uma área-piloto para testar um sistema de processamento de dados

geomorfológicos para subsidiar as decisões de gestão territorial.

Um exemplo de área “piloto” são os parques tecnológicos da cidade quais

sejam o Parque Tecnológico de Software (Porto Digital) e o Paque Tecnológico de

Eletro-eletrônica (Parqtel) ambos localizados em zonas distintas da cidade, o

primeiro na RPA 1 e o segundo na RPA 5, cuja contribuição para validação do

modelo proposto seria bastante rica.

Em Hsinchu – cidade localizada na porção norte de Taiwan – a existência do

Hsinchu Science Park pode ser vista como uma porção bem delimitada da cidade

onde alguns modelos de planejamento urbano foram implantados e o reflexo na

paisagem urbana impressiona. Dentro de seus limites toda a infraestrutura é

monitorada, abastecimento de água, energia elétrica, vias para veículos, transporte

público (urbano e intermunicipal) coleta de lixo, saneamento, padrões urbanísticos, e

até a reforma e alteração das fachadas das edificações são fiscalizadas, mas basta

transpor os limites do Parque que a sensação de desordem urbana surge.

Em entrevista com o representante do Hsinchu Science Park responsável

pelas questões urbanísticas (CHANG, 2010) ele relatou os desafios que está

enfrentando em manter o mesmo padrão de atendimento às demandas dos usuários

nos outros Parques Tecnológicos localizados em outras regiões de Taiwan,

reforçando a importância de se fazer adaptações e constantes estudos para melhor

implantar ações dessa natureza. Em outra entrevista com arquiteto, participante da

equipe que concebeu o Parque (LIN, 2010), ele relatou o efeito de “blue city”

ocorrido na cidade, ou seja, quando da criação do Parque esperava-se poder

transbordar seus princípios urbanísticos para o restante da cidade, contudo a

propriedade única (o Parque pertence ao Governo Federal), o uso especializado

existente no Parque (instalação de indústrias de alta tecnologia) e, portanto, a

população que vive “nele” e “dele” (taiwaneses e muitos estrangeiros funcionários de

grandes corporações empresariais) formam um conjunto bastante difícil de ser

replicado no restante da cidade, esta, por sua vez, usada para diversos fins e

povoada por uma população com perfil diferente daquela, forma um conjunto que

modela o restante da cidade diferentemente.

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173

A proposta de adotar indicadores geomorfológicos pelo Sistema de

Informação de Defesa Civil encontra suporte, ainda que de modo tímido e às vezes

aparentemente desarticulado, nos documentos oficiais governamentais de

planejamento. A organização do Sistema de Informação de Defesa Civil é a

estrutura necessária para ancorar os instrumentos de Prevenção de Desastres

sugeridos na Política Nacional de Defesa Civil (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO

NACIONAL, 2007) visto que a dispersão de informações dificulda seu uso nos

processos de planejamento e decisão, bem como sua comunicação para a

sociedade como um todo.

É importante também adicionar às análises realizadas a percepção de que

ainda não é dada a devida importância à informação no sentido em que os

repositórios das mesmas não se apresentam com organização estruturada. Tanto na

Biblioteca da Prefeitura do Recife quanto na Biblioteca da FIDEM não há, por

exemplo, terminais de computador para acessar o acervo disponível nem é fácil

contar com serviços remotos de acesso tanto a documentos em versão digital como

a própria disponibilidade de conteúdo físico nas respectivas bibliotecas.

Este quadro reforça a percepção da baixa valorização da informação nessas

instituições, porém esta situação parece ser generalizada no Brasil. Em outros

países é possível acessar mais informações sobre as ações do poder público a

exemplo das bases disponíveis pelo órgão de planejamento urbano de Hong Kong,

ou dos relatórios anuais de prestação de contas à sociedade de diveros órgãos em

Singapura e Taiwan. Em Taiwan a informação é tão valorizada que segundo Yuan

(2011) para se obter informações por meio de entrevistas é necessário remunerar as

horas que o entrevistado disponibilizará, ainda que para fins acadêmicos; também

todos os profissionais convidados para proferir palestras, ainda que em eventos

acadêmicos, são remunerados.

Uma vez que ainda há como avançar no sentido de melhorar a organização

das informações, para o caso dos riscos em particular, a organização do Sistema de

Informação de Defesa Civil, a introdução de indicadores geomorfológicos e,

consequentemente, um melhor suporte aos processos de Prevenção dos Riscos,

apresentam-se como mais adequados para que esta temática seja incorporada mais

eficientemente aos processos de planejamento urbano preenchendo lacunas

existentes na dimensão ambiental.

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174

Figura 63: Preenchimento de lacunas de informações da dimensão ambiental para os

processos de planejamento urbano. Fonte: a autora.

Uma apreciação integrada do arsenal científico e da estrutura governamental

existentes pode promover abordagens onde a Geomorfologia, os riscos e o

planejamento urbano, bem como aspectos relativos aos mecanismos e instrumentos

para inclusão da dimensão ambiental nos processos decisórios dentre eles os

indicadores ambientais, avaliação ambiental estratégica e os sistemas de

informação gerenciais possam ser tratados conjuntamente em prol de um

desenvolvimento mais sustentável para as cidades brasileiras.

A existência de um Sistema de Informações de Defesa Civil bem estruturado

pode ser um ponto de encontro para diversas bases de informações disponíveis com

vistas a uma melhoria da integração da temática dos riscos no planejamento urbano

(Figura 64), e ao mesmo tempo um ponto de partida para inúmeros estudos que

podem ser elaborados e, assim, adensarem o conhecimento sobre os riscos em

áreas urbanas.

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175

Figura 64: Ilustração da interação possível entre as bases de dados para subsidiar o Sistema de Informação de Defesa Civil com vistas ao uso no planejamento urbano. Fonte: a

autora

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176

6. Considerações finais

A partir das análises realizadas nas bases científicas, nas bases empíricas

oriundas dos documentos oficiais do Recife é possível verificar que, apesar da

viabilidade técnica em adotar tais indicadores como informação relevante, a cidade

ainda não dedica em seus documentos seções específicas sobre os riscos, bem

como o órgão responsável pela Defesa Civil municipal não se posiciona como setor

fundamental para provimento de informação desta natureza necessária ao

planejamento e gestão urbanos.

Os exemplos propostos de usos de conjunto de indicadores geomorfológicos

nos processos de planejamentos e desenvolvimento urbanos ilustram sua utilidade

tanto para os órgãos de Defesa Civil e demais órgãos municipais, quanto para a

sociedade visto que a partir deles é possível relacionar locais mais suscetíveis a

determinados processos geomorfológicos que acarretam riscos para a população

podendo a forma de apresentação agregar diversos recursos passíveis de serem

acervo de uma determinada base de dados do Sistema de Informação de Defesa

Civil.

Embora a existência de lacunas de informação ambiental sobre o tecido

urbano esteja presente em vários relatos nacionais e internacionais e os processos

de gestão e planejamento (por exemplo, a Avaliação Ambiental Estratégica)

discurssarem sobre a importânca da temática, os Sistemas de Informação

Municipais, sobretudo em relação à disponibilidade da informação para a sociedade,

não apresentam elementos / indicadores ambientais de riscos como subsídio para o

monitoramento do crescimento e desenvolvimento do município. O fato mais

evidente que corrobora esta assertiva é a avaliação feita sobre o sistema de

informação do município (concebido em 1991) quando da elaboração do Plano

Diretor 2008, ou seja, num intervalo de 17 anos, com recomendações explícitas para

estruturação e implantação de sistemas de informação pouco se avançou.

Quanto à presença dos riscos como elemento a ser considerado nestes

sistemas de informação municipais, somente no Plano Diretor de 2008 há

recomendação específica para implantação de um Sistema de Informação de

Defesa Civil, contudo este mesmo documento ao citar as bases de indicadores para

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177

a gestão urbana como um todo, não inclui a dimensão ambiental, citando apenas a

dimensão social e econômica. Esta constatação conduz ao entendimento de que os

aspectos ambientais (incluindo os riscos) não são considerados no âmbito

estratégico de planejamento e que o órgão de Defesa Civil é reconhecido mais como

ator nos episódios de emergências do que como órgão gestor dos riscos

responsável pelas atividades de prevenção.

Embora as bases empíricas em diversos pontos dos conteúdos comentem os

efeitos negativos dos riscos e a importância de minimizar seus efeitos, este

elemento permanece disperso, não há eleição de um ente coordenador das

atividades de planejamento preventivo. Um exemplo disso é a baixa disponibilidade

na Prefeitura do Recife de estudos e documentos que ao abordarem os riscos

incluam especificamente matéria relativa à problemática dos alagamentos na cidade,

para os quais estudos ligados a macro e microdrenagem deveriam ser

periodicamente atualizados. O órgão de Defesa Civil é tratado e referenciado no

nível operacional circunstanciado às ações de vistoria de edificações,

acompanhamento de obras, resgates e demais intervenções nos momentos de

ocorrência de eventos adversos, de modo que as ações no nível mais tático

necessárias para integrar horizontalmente e verticalmente os demais atores

envolvidos com os riscos, e as ações no nível estratégico incluindo análises e

elaboração de polítcas e planos municipais não são consideradas.

As análises ainda comprovam a manutenção, pelo poder público, da

valoração do sucesso municipal apenas através dos indicadores sociais e

econômicos, porque ainda há muito o que avançar nessas dimensões. E abordam a

dimensão ambiental sob um discurso majoritariamente de conservação e

preservação dos recursos naturais do município e apenas como pano de fundo das

decisões e não como elemento crítico para elas. As “perdas” para a dinâmica da

cidade decorrente dos desequilíbrios sociais e econômicos são percebidas como

maiores pelos gestores municipais do que as “perdas” decorrentes dos

desequilíbrios ambientais, assim sendo, valoriza-se prioritariamente as ações

públicas naquelas dimensões.

Um aspecto bastante positivo é a evidência de existência de significativo

conhecimento técnico-científico sobre a problemática dos riscos. Muitos documentos

tanto governamentais quanto acadêmicos discutem e apresentam várias reflexões

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afetas aos riscos, de modo que há base técnica suficiente para viabilizar sistemas

desta natureza. Ao mesmo tempo, a não implantação desses sistemas (que constam

em lei e são considerados importantes em diversos documentos governamentais de

desenvolvimento) sugere que as razões para esta não implantação são de outra

ordem.

Quanto à organização das informações é possível observar um hiato entre as

propostas existentes nos documentos de abordagem mais estratégica e os de cunho

mais operacional, ou seja, enquanto os primeiros apresentam uma visão mais global

os segundos são demasiados pontuais de modo que a integração entre as

instâncias governamentais e entre o governo e a sociedade fica débil abrindo

caminho para atuações fragmentadas e dissociadas sobre o território urbano.

Diante das inúmeras possibilidades de pesquisas que o ambiente urbano

oferece, a Geografia encontra, na mesma medida neste objeto de estudo, um campo

repleto de várias oportunidades para melhor entender e refletir o ambiente em que

se vive.

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179

7. Referências Bibliográficas

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