planejamento urbano celson ferrari 10

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10 Síntese da evolução urbana: de suas origens à cidade .contemporânea. 1. Evolução urbana: introdução Estudar-se-á aqui a cidade sob seus aspectos históricos, ou seja, quando, como e por que surgiu, como se desenvolveu através dos tempos e, sobretudo, como. sua evolução e estrutura sofreram as influências do meio físico, do desen- volvimento das ciências e tecnologia e, finalmente, das formas econômicas de produção. Pretende-se com tais estudos, ainda que sumários, atingir os seguintes objetiyos principais: a) Facilitar ao aluno de planejamento a leitura, a compreensão da cidade· atual, como obra de arte "aberta", ambígua, no sentido de possuir múltiplos significados, todos, porém, bem definidos e ordenados. A leitura de um signo

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Page 1: Planejamento Urbano Celson Ferrari 10

10Síntese da evolução urbana:de suas origens à cidade.contemporânea.1. Evolução urbana: introdução

Estudar-se-á aqui a cidade sob seus aspectos históricos, ou seja, quando,como e por que surgiu, como se desenvolveu através dos tempos e, sobretudo,como. sua evolução e estrutura sofreram as influências do meio físico, do desen-volvimento das ciências e tecnologia e, finalmente, das formas econômicas de

produção.Pretende-se com tais estudos, ainda que sumários, atingir os seguintes

objetiyos principais:

a) Facilitar ao aluno de planejamento a leitura, a compreensão da cidade·atual, como obra de arte "aberta", ambígua, no sentido de possuir múltiplossignificados, todos, porém, bem definidos e ordenados. A leitura de um signo

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f' :;./ ~ _.,_ ; __._ _ --.--.- ,.- '"-- .1";

2081 Célson Ferrari

se amplia em significadçs pela conhecimento de suas origens. Os estudas históricasdas fatos urbanas têm prestada grande contribuição ao.urbanismo. Os monumentos,as ruas, as praças, enfim, a cidade em seu traçado. geral são. permanências que,de acarda com a maior ou menor vitalidade de suas formas, conseguiram chegaraté nós, através de múltiplas adaptações às mudanças da ser ou sociedade humana.Praças de mercado (função. comercial) transformam-se em praças de reunião.CÍvica (função. política), ruas de veículos tornam-se passeios de pedestres, e assimpor diante, numa demonstração de que a valor dos fatos urbanos reside, essencial-mente, em sua forma e não. em sua transitória função. Os estudos históricas nospropiciam meios de distinguir as permanências negativas, patológicas, das positivasou vitais.

b) Dar ao. leitor uma compreensão do processo de urbanização, isto é,mostrar-lhe de que maneira a meio física e a evolução da tecnología e das formasde produção, cujo reflexo mais visível é a processa histórico da confrontaçãodialética das classes sociais, afetam a processo de urbanização.

c) Fornecer subsídios ao. planejamento de novas cidades ou de renovaçãourbana, pelo estuda comparativo das soluções já encontradas e pela sua análisecrítica.

d) Dar ao aluno, ainda que superficialmente, um conhecimento geral sobrea evolução das principais teorias urbanísticas.

- 7 L-- :;/COv' ~ ~2. A cidade na pré-história e na antiguidade

'I -p

2.1. A origem da cidade

~;A ~LL~e-og.r,át:icCLe..,_acima-àe-tudo.,-sociaL..C.o.mofato sacial a cidade sumiu muito recentemente na.Jdístóría, co~da ~apàrecimentp camo fim ~stOria.Aílistória da Civilização começa com

- --------===-o ~r~cer da cidade (do latim civitate), há cerca de 6.000 anas aI2enas~

(

~abend~as; ~q.~~ad~ p~esui:ní~l da Universo. é de 10 bilh?es de anos,que a~ade da erra e de 5 brlh.~S~d.~an\os e que a do homem, aproximadamente,é de milhã de anos, e comparantla~se a idade da Terra (5 x 109 anos)a um ano. (3,5 dias 'í--... em~g!u fa'ltanda apenas 1 hora e 45 min para ameia,naife--io últi so dia do ano. e a~6idade nas 30 segundas finais da ano,mais ou menos. /

~ Os períados da pré-história são.: palealítico, mesolítico e neolítiço. Nopaleolítica e mesolítica a homem vivia em estada de selvag~ri.a, estado culturalcaracterizada por uma economia de caça, pesca e coleta de alimentos in naturáecpor '1m artesanato. rudimentar de fabricação de instrumentos de Qedra lascadae~ NQ.nealítica, a homem passou a cul!ivar a_sQIQ,a domesticar os animaisa Qolir a pedra e a fabricar a15jeTõSaécêiã;Üca, deixando a selvggería.e.íngressaadona barbárie.

/

Urbanismo B~Na cansenso da maioria dos.historiadores, o gue seQara a História da mé-

-Hístória é a aQarecimenta dos documentos e.scJito$~O.utfQs,_delimi~nas coma aparecimento. da pão. au da cidade.------{) (\"\ pré-História não. canheceu a cidade,.IJgs apen~dei~ais a~ proto--cidâfe:( g!;l.!LnjJL.erªm fixas e !,!!uda,.Yamde lugar ~ a ~xaustãa aõ-s~~.Robert Redfield em O mundo Primitivo e suas Transformações, escreveu:"No neolítico etnográfica, as povoações apresentavam poucas centenas de habi-tantes. Na Europa pré-histórica, a maior povoação neolítíca já conhecida,

arkaer, na Jutlândia,' compreendia 52 habitações pequenas, com um só cômodo;a número mais comum, porém variava entre 16 a 30 casas; assim a grupo. localmédio na época neolítica tinha, em média, de 200 a 400 membros".

S~undo GORDON.s.!:i!!PE (~tOlladar ,-J!.rgue~ga e etnógrafo) _no_~-htíco acanteceraIlL.duas revoluções ilT!partantes,. caracterizadas par dois movi-mentas culturais qU€LPr.ovacaram mudanças sociais muita significativas:

4&J

-a) Revolução Agrz'sola 'T-------O )lOmem, em fins da nealítica, cameççu a ungar, a arar, a selecionarsementes.Jt1L~J.o.picias-ª-o....plantio. de alguns vegetai~ conhecer asdtações da ano., enfim, descabriu pracessas agrícalas raciau"ais. ~as a essaevoJuçãe,-~ela_pr:'imeir,a=v:e.z.,...a~J1mem.passa:a~~el-weede~~agrz'coIas ~eçaa .~ent:aJ::i2;aE:Se~Surg~passi.bilidade de tracar o excedente agrícola-por 0U-tI0Sben~ec9IlômicQS..:. Mas o aglomerado pré-mbano ~nda cantin!l1La.rn!lda.E. de !uga~c~tãa do SQlo,s~b~m que com menor freqüêncía. A protQ-cidade já existe.

~ b) Revolução urbana )~ --~As atividades agrícalas tarnaraJIl.:se_inc.ompatíveis com a criação. de gado

na mesrn;" área. Surg!C.-p_oisa separação_entre a agricultura e o Qastoreia e a primeiradivisão SoeiaCdo-t;abalh0~-0 ~gricultar.e_o-past~ ..A sociedade de classes preceaeupois, historicamente, a orl$~~c~de. -

~ -O pastor precisava das produtos agrícalas~ O agricultor, par outro ladonecessitava das produtos animais. C~çaram_e.ntíi9.-a...apare€er-p0st0s,-de'traca,onde Qastares e agricultore§ p..erm!ttay'am os seus Jllodutas: 4.c~cia., porém,que nem._$.tmpr!?...!!...troJ:.<tp.9dia ser procedida de fato: não era ocasião da colheitaou não~haYiLpr:.onta~disf>onibi1idade M produtos animais. IA n~ce~idade q~~ daíadveio d~_~e.~.:tr~em. as tracas_~omJlÍnas!:~~e):~regas-de pradutos; f~rçaua ap<!!..e.Ermentada escJJta. S-urguamas escribas: pessoas que sabiam representarpalavras e números com signas~'~\ --

J..l,mtQ.aas 110stas de troca, foram surgindo. aglamera~ões....de-pess0a.s-Gamoas sacerdotes, os saldadas e as artesãos; isto. é, a especializaçã~p!::afjssional.

-'-" - --1 Jutlândia _ península continental da Dinamarca.

Page 3: Planejamento Urbano Celson Ferrari 10

-.

G Célson Ferrari ~

A ]moeda é criada d)ara .facilitar as troca§,.-Em resumo, a revolução urbanaec~em..fins_do .Neolfticocec.princfpios .do pexíOdo j:tist9J:Í.fO. Coma cidades1!!giu a_História e a civilização!CO homem emergido de um estado ~l~a(paleolítico e mesolítico: pré-História) passa pela barbárie (neolítico: pré-História)e atinge o estado civilizado com o evento da cidade. E na cidadé nascenteestavam as raÍzes do próprio Estado» '---- ---

Para explicar,: origem d~de, há algumas hip.óteses:

aí 0s aElomerados pIT-u~banos neolíticos ou proto-cidades se desenvolverame~m-(;)Úgem-.às cidades': ~e-se em dúvida esta hiQQ..tese,çom o seguinte ;gu-mento: Como muitas cidades antigas foram construídas no cimo dos morros,as colheitas tinham que ser transportadas em a,9.iY..e'para serem armazenadas.Não é provável que os agricultores adotassem solução tão inadequada. Os quelevantam~s.Yt dúvida supõem' que a cidadetenha surgido um pouco mais tarde e,

§ n<2alto das elevações, em virtude de acontecimentos relatados a seguir. Mas I3em. ~ todas as cidades da antiguidade se localizavam em pontos elevados, diga-se de;: passagem.

Q , bfi cidade surgiu com a id~<!e dos metais ..O~os que desc.Q.b.rir.am..o,modo metal (pastores), possuindo armas mais poderosas qy'e_as...4.e_ped:r:a.,_dominaramas _RQpw.açoes"ãgr~olas, qüe ainda ás usa~~:' P;~a prote~_e.s.SM'OJ!ORUl~ções.óQL~ construíram cidades f~rtificadas em sítios el~ild2l. ]mJr2.ca ~proteçãomilitªl:..r.e..c..ebiamtributos e subserviência_dO-povo-agI-icultQ;s[_

r Na- realidade, as~cid~des '-d~Mesopotâmia (Ur, UrucJ'Lgash, Babilônia)foram fundadas pelos invasores sumérios; a "polis" grega, pelos invasores aqueus;as cidades de Creta pelos invasores egeus, etc. Essa luta entre pastores (guerreiros)e agricultores (trabalhadores) segue o homem através da História até a extinçãodos povos bárbaros, na Idade Média.

É--pouco provável que a hipótese (a) tenha-se verificado com exclusivi<k.de,não só pelas razões expostas..-m~porque a criação da cidade, ao exigir a produçãode excedentes ag!ic.olas,-ellLCaciter-permanente,--e-.taLqlliLPudesse manter uma

..pop.ulaçãO_.llLb.ana....nãü-pwdutora de seus alimentos,-_~slu'p'unha a existência deumª-estr.!!1J!J_ll-de_classes~diyidi.d2-em "classe dominante" e "classe domina~".{lssim---a-lúpó.1ese (b) é mais aceit.áY..eLp_o.I.qlliL.jáparte do pressuposto real daex~de_ uma.rclasse.domínante" co~JitJ!~.J~elos I!0vos invasores, pastores,guerreiros. A idade do ferro surge.em fins do.neolúíco marcando, d~al~rma,cõiríoaparecimento da escrita e da cidade, a Qrige~S-te.mI!os históricos oucivilizados. - .-A cidade pode ter nascido, algumas vezes, do mercado enquanto sítio(market-place), e outras, da proto-cidade transformada pela função comercial(hipótese a), Nesse caso porém, a cidade comercial deve ter surgido sob a proteçãode uma cidade-estado, cuja "classe dominante", pela imposição das armas de seussoldados dela retirava um "mais-produto" para sua manutenção, como tambémpara sustentar os artifíces, soldados, sacerdotes, etc.

Urbanismo &-o que vale a pena destacar é que ~ade, ao mesmoJ_em.p.o...queseconstitui

numlL-l1ova-técnica-de-dominação" dá à produção uma organízação, através dadivisão e e.mecializ~.ã.o dei trabalho. O poder militar se-aperfeiçoa com a cidade(criação de fortalezas,. facilidade de recrutar sQldados_PLofissionalizando-os, fabri-~ armas pelo artesanato urban.9t etc.), e dá-lhe-ensejo-de dominação políticasobre os territórios vizinhos.- ....----- -

ARTHUR KORN em sua obra History Builds the Town, escreveu: "A cidadeé a pedra fundamental do Estado que emerge", salientando o papel político dacidade e o resultado da progressiva desintegração da sociedade tribal pela divisãodo trabalho.

O novo gênero de vida que a cidade gerou trouxe uma nova dimensão àexperiência humvia. Antes das cidades, predominava uma ordem moral. A cidade,trouxe também uma ordem técnica, 'sre-é, o homem ~ssou a se organizar pelanecessidade ou utilidade dess aniza j:o. A cidade pela sua heterogeneida~eétnica, profissional de c as e costumes, enfraquece a ordem.moral e f.QI1ale..c..ea pr.dem técnica. Árrz:!' tb r:yU (I.'~L- (L)~ .(

»< __:.2. A cidade ",História Antiga

/ 2.2.1. As civilizações antigasI .

. As primeir~gvilizaç_ões desenvolveram-se nos ""'yales dos rios em vÍ!!udeda fertilIdade do solo, facilidade de irrigação ede transportest Nilo (Egito), Tigree Eufrates (tJêSopotâmia), Indus (Paquistão) e rios Amarelo e Yang-Tsé-Kiang(China). O rio é o elemento unificador dos primitivos Estados.

A cidade de Ombos no Egito, é tida como a mais antiga cidade do mundo,por vários autores, (4.000 A.C., portanto, há 6.000 anos),

Gideon Sjoberg adotando o aparecimento da escrita como critério definidorda cidade, remonta suas origens há 5.500 anos (3.500 A.C.) na Mesopotâmia.

Outras cidades antigas conhecidas são:Na. Mesopotâmia: Lagash, Larsa, Erek, Kish, Eridú, Ur e Babilônia. lJfêi

\ Babilônia são mais novas e contemporâneas de Tebas e Mênfis, no Egito.

No Vale do Nilo: Tebas, Mênfis, Hieracompolis, Buto, etc.

, Na Bacia do Indus: Harapá, Moenjo-Daro, Chandu-Daro, Laore, etc.

Estas cidades da bacia do Indus são contemporâneas das grandJs pirâmidesegípcias (2.700 A.C.). . '.-:::::J

Na região da P~a: Jericó, Biblos, Megido, Jerusalém, ,Tiro , etc.

Na China: em 1.100 A.C. surge Pequim com o nome de Ki.

Os chineses eram. agricultores e demoraram a fundar grandes cidades. Em /1409 Pequim recebeu um tratamento urbanístico que impressiona até hoje pelasua grandiosidade e religiosidade.\ ----

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212 Célson Ferra';

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JO''l- ,JQ;~/) Em 1.600 A.C. Tebas, no Egito, possuia 250.000 habitantes e seus habitantes

queixa~m-se já da jnsuportável poluição atmosférica e tráfego da cidade.

Breves comentários sobre algumas cidades antigas:

Harapá e Moenjo-Daro (Paquistão)

Apresentavam um característico ímpar dentre as cidades antigas. Eramconstruídas dentro do sistema tabuleiro de xadrez ou ortogonal. Foram encontradosvestígios de sistema dinâmico de esgotos em suas ruas. As quadras eram edificadassegundo essa concepção ora retomada em alguns loteamentos e desmembramentosmodernos: casas voltadas para o interior da quadra. Com as paredes cegas, oambiente interno ficava isolado do externo. Para a Índia, local de intenso calor,já representava uma solução de conforto térmico além de sua função estratégicapredominante de defesa.

Moenjo-Daro possuía duas zonas distintas: a cidade alta e a baixa. O principaledifício da parte alta era o dos Grandes Banhos com uma piscina de 11,70 mde lado e 2,40 m de profundidade?

"Quem construiu essas grandes cidades e nelas viveu? A origem de seushabitantes é um mistério. As cidades não parecem ter crescido gradualmente, comoUr ou Paris, mas ter sido deliberadamente construídas de acordo com um plano,como Washington, Nova Delhi ou Camberra ... Isso sugere que os pais da civili-zação Indus não apenas provieram de algum lugar fora do subcontinente, mastambém vieram de muito longe." (Arnold J. Toynbee in "De Leste a Oeste" -Ibrasa - S. Paulo - 1959 - às fls. 154)

-v :po..nc:1.AJ 'O txempl/t) oLo yVvy~; n'\.1 J" +o ok. v~ CI"elaoU:Babilônia (Mesopotâmia) ,

~bi1ônia do século XIX A:C. atin iu seu eríodoáureo. HERÓDOTO o ai da História' descreveu-a como sendo um~grande cidadecercada por muralhas de 21 Km de lado, de 80 metros_de altura,» espessura de20 metros; ossuindo 110 ort'ts maciças de cobre. Suas ruas eram lar as e retase- ~ssuía_pr.édiQs de_3 e 4 p~entos. - . - -- -

~c.cL~el que essa muralhiLcicl.á.pic.a_tenhLexistido..-EoLPMcial·mente destruída e pilhada por XERXES (486465 A.C. filho de DARIO.

Pequim (China)

Da China, a cidade mais importante é Pequim. Ela teve vários nomes:Ki Yen, Yen-Tcheu, Yen-King, Chung-Tu e Khan-Balik. O atual, só foi fixadoquando seu imperador Yung-Loh a remodelou toda, em 1409, criando amplasavenidas, parques e seus famosos jardins de traçados ,simétricos é grandiosos.

2 Sobre Moenjo-Daro veja-se a revista da Unesco editada pela Fundação Getúlio Vargus:Correio, fevcrciro/1974, ano 2, nl? 2, pp. 9-18.

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214 Célson Ferrari

Ki ou Chi foi construída em 1.100 A.C. e destruída em 226 A.C. porCHE-H~ANG-TI. Ressurge depois sob as designações sucessivas de Yen, Yen-Tchau,Yen-King e Tchong-Tu (Chung-Tu). Foi destruída pelos bárbaros de GENGISKHAN em 1215, de nossa era. KUBILAY KHAN construiu à nordeste da cidadeprecedente uma nova cidade chamada Khan-balik (cidade do Khan, em mongol).A dinastia dos Ming mudou-lhe o nome para Pei-King ou Pequim (Paz do Norte).~

A vida urbana na China, surgiu muito tarde, pois lá, a economia se baseavana agricultura, predominantemente, e sua civilização rural não criou metrópolesmilenares. As capitais não duravam mais que suas dinastias transitórias.

No Egito e Mesopotâmia, principalmente, as cidades eram estruturas frágeis,perecíveis, que não deixaram vestígios em torno de palácios, templos ~ monu-mentos colossais e eternos. Refletem tais estruturas o despotismo político dôs--reise deuses através de seus prepostos na terra, os sacerdotes. É a cidade da antiguidade,um privilégio da classe dirigente, qual seja a dos reis-sacerdotes do Egito, e a dopoder militar dos reis-comerciantes da Mesopotâmia. É o símbolo do despotismoe da opressão dos poderosos sobre um povo oprimido cuja moradia não deixousequer vestígios de sua efêmera e miserável existência.

2.2.2. Povos e cidades da Grécia-~o mar Egeu, I!recedendo a cultura da enínsul gregas.na.ílha.da.Crejasurgiu a pa~r <k 2.0QO_A..C.-a~ ão cretense ou egéia. ili-egeu ovosportadores d armas-de bronze, dominam os ne1álrtQSbárbaros ue usavam armasde p~. Em.Creta ..fundam-se-cidades como Cnossos, Eaistos e Mália. Na penínsulagrega fundam-se praças fortes militares: Orcomenos, Tebas, Argos, Tirinto e Micenas.

No século XVI A.C. os a ueus, povos indo-europeus que usavam armas de_......... -~ - o _. - - ~

ferro ocu~uase toda a enínsula gr~ga. Eram eles os jônios, eólios edórios, principalmente. Em 1450 A.. o ag~us~invadem Creta e destroem Cnossos.Com a uéd de ' 'nossos--Micenas capital.de uma federaçao de cidade - stadósno- ontinente, assa,a te maior importância. Tróia, na Ásia Menor, é destruídapelo povo grego, em formação, em 1300 A.C. Os aqueus, juntamente com oscretenses (egeus) dominados, seriam os mais importantes componentes étnicosdo povo grego.

"i.. Al.Sidades crete ses das quais temos ruínas bem co~s_de algunspalácios, tinham ruas em CUIYa de, nível; eram estreitas e pavimentadas com reded~ água e esgoto. ~

d A Civilização rmcernca era militarista e comercial. Suas fidades tinh~muralhas roteto as, de alYenaria de pedra ciclópica. '" .,..,..-,"\..

-4 . -2:j As cidades--mi€ênÜ;a deram origem às rimitivas cidades gr2s que er~

um -labirirrtc--de.cbeccs...sern dre!ill~m_eem_esgütos~canalizados. rua comabaulamentn.ínverüdo, servia de canal de esgoto. Segundo G. CHILDE, a socie- )

-s-, dade micênica era bárbara.

Urbanismo 215

oe:;;cAL-A (~...,..)r Io 100 2s:Jo •

CRET"Â

Figura 10.2 - Península grega e mar Egeu.

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Urbanismo 217

i\

216 Célson Ferrari

r Com exceção dos templos e das mural~ (os governantes eram sacerdotes-j -reis comerciantes), oLdemais edifícios eram de construção sjm~erecíyel.

taL9,ual-oCDma_no-Egito e Mesü.p-otâ~r..ifteipa-l-mente.""- .

A ágora (praça do mercado) e a cidade eram irregulares na forma. A ágora,aos poucos, foi passando de praça do mercado para espaço político: Nela os gregosdiscutiam seus problemas e votavam diretamente suas leis. A Grécia conheceu,

)

por isso, a única democracia direta, não representativa. O cidadão livre gregoexercia seus direitos políticos pela votação direta e livre manifestação do pensa-mento.

Atenas - séculoJI" D.C. (A9o..-a e e.n+Or-no)

e:SCA~A. <.....,)

1° 'I'

Figura 10.4 - Milcto.

Figura 10.3 - Atenas c sua ágora.

, Um dos primefros urbanistas conhecidos, HIPÓDAMOS DE MILETO,seculo V A:C., fez amosos rojefôs de algumas--eiº-ª-des. Ele;ãféná algum tempo,e:a. conhecido como o pai do sistema de xadrez. stabeleceu esse si a paravangs CIdades gregas. Após a descoberta de Harapá e Moenjo-Daro, constatou-seque não tinha sido ele o primeiro a usar e referido sistema.

I,

I

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218 Célson Ferrari

HIPÓDAMOS observava a orienta 'ão e dimensícna ento das ruas segundoa intensidàdê'dê seus usos. Até hoje, aqui no Brasil muitas cidades nao observam essahierarquização em seus"""sistemasviários, com evidente desperdício de espaço urbano.

Atribui-se ao urbanista jônio HIPÓDAMOS e seus discípulos os planos dasseguintes cidades: Pireu, Túrio, Rodas, Selino, Cirene, Pérgamo, Alexandria, Mileto,Nieéia, ete. todos segundo o sistema tabuleiro de xadrez.

~.í' Procurava ele atingir a es eeializa ão de função ~onas urb~5 ~ de

efeitos estéticos e o desenvolvimento da ág~a c~o eSI1ao isolado e cívico.Sua idade-íâea nao everia abrigar mais de 10.000 "cídadãos'? e seu espaçodevia subdividir-se em três partes principais: a dos deuses, a do Estado ea dos

i indivíduos. C.olocava a ágora (espaço cívico) no centro geométrico da -cidade,,,---próxima dos edifícios públicos. ~

A cidade de Mileto, reconstruída em 480 A"C. (fora destruída pelos persasem 494 A.C.), segundo plano de seu filho Hipódamos, cobria 90 ha, dos quais52 ha eram parques e jardins. O sistema viário foi projetado segundo o sistematabuleiro de xadrez.

Atenas, nessa época - século V - tinha 300.000 habitantes, dos quais115.000 eram escravos, de acordo eQm estimativa de Gomme, citada por A. KORN.

- - A--- -ARISTOTELES e PLATAO viviam neste século, e achavam Atenas dema-

~siadamente grande. Segundo eles, a população id~al de uma cidade seria de( 1.9.000 "cidadãos", no que concordavam com HIPODAMOS,

A cidade grega atinge um dos objetivos da-arte urbana: É orgânica no sentidode que tem Cãaa orga"7rrr gar onde deve cumprir sua função específica, sendopor issoc exaltada pelos adeptos do u 11: 'smo orgánico. Por sua forma e arqui-tetura, a ci ãâ/ con emporânea tem suas raízes na Grécia.

A sociedade helênica era divida em ricos e pobres, bem como em livres eescravos. Dentre os livres, destacava-se uma classe nobre e de donos de terra,além de uma classe mercantil muito ativa e rica. A cidade reflete essa dicotomiaentre o poder político e o poder econômico pelo destaque que dá ao castelo dorei e da nobreza (acrópole) e ao mercado (ágora). À medida que a democraciase instaura nas cidades gregas, a ágora passa a disputar com a acrópole o poderpolítico: torna-se a assembléia do povo, o espaço cívico da "polis". A ágora dascidades gregas naturais, como o forur.i dos romanos, situava-se perifericamente.

[

Assim como nas cidades do Egito e Mesopotâmia, a população (classe pobre)residia sob coberturas precárias construídas na meia encosta dos morros e também.não deixaram vestígios.

A geomorfologia acidentadíssima da Ática foi a principal responsável peloaparecimento das Cidades-Estados, gregas, já que as isolava entre si, protegendo-as

3 "Cidadãos", isto é, homens livres. Incluindo-se as mulheres, os escravos e estrangeiros,não deveria ultrapassar 100.000 habitantes.

Urbanismo 219

com barreiras naturais. Influiu também na concepção de suas estruturas Pér amo~or exemplo foi construída sobre uma elevada montanha, constituindo.se

gnu~

os mais engenhosos planos urbanísticos da antiguidade.

2.2.3. Roma"

No século X A C os t . d. " e nucas, vm os provavelmente da Lídia _ Á .~~nor -. fU~da~m o império etrusco na península itálica. Suas cidades princiP;::

/..:I . ~ram con _e~I as c~mo as ""~odecápolis" e eram: Tarquínia, Cerveteri, Vulci,VeIOS,Vetuloma, OrvIeto, ChIUSI,Perugia, Ruselae, Cortona, Volterra e Arezzo.

~ na pe~;~~~l m~ta~?s dOAlSéCUlOVIII A.C. os gregos passaram a fundar colôniast T t S" a I a rca. " gumas delas: Nápoles (Neapolis), Messina. Agrigento

aren o, iracusa, Selino, etc. ' ,

. ~~d A civilização urbana não é autóctone na Europa. Resultou da ação coloni-za "ora de povos procedentes do Oriente e dos gregos que também VI"era d "Onente. m o

~ ~resumível da fundaçã:..o-1Le...Rmna.,_Lo_al1Q...de 754 A.C. Teria sido~~~~a~1C or descende dos anti os troianos. Com a destruição de Tróia em

.. , os troianos comandados por ENE-IAS di " " 'itálica) e fo _ . ' ingiram-se ao Lácio (península

-. rmaram com os abongmes um povo único. ASCANHO, fllho deENEIAS, fundou Alba. De Alba partiu RÓMULO ue fu d "mentos latinos e sabinos. q n ou Roma com ele-

. Além ~~s "dodecapólis" ~ das colônias gregas, durante muito tempo, divul-go~ se. a n~tIcIa de que tena havido nas planícies do rio PÓ, por voJ.tade 2000 A Ca civilização das "Terremares" (de terra marma: terra gorda fi' til) E . :'ate t '. , er I. xame maisn o e mmucIOSOdos vestígios das "cidades" d . " _...t d . essa suposta clVlhzaçao indicaramo avia, tratar-se de obras de irrigação agrícola. '

t3 ',--" RQllltL--AG--Séoo-le-Al-à f1ossa- - .ê I"·. erll, graças ao g ande desenvolvimento tecno-16 QgJ.co da en?enhana romana, conseguia atingir P,.2 ulaçãõ que só foi iguaJãda

u .por ouc s_cIdades QS·temI1os atuais' milhão de h bít t P ~Q 19 d -. a 1 an es! ossuia Roma'~ ..;g~e~~ue forneciam 1·900.000 m3/dia à Cidade, esgotos dinâmicos rua;~ p~~e,ntadas, "46.602 prédios de apartamentos, tendo alguns até 8 andares~ 80 ~acIOs ara os nobres,. além de ser protegida por muralhas. '

Q"i> O alto pad - d t ' .I . ,rao a ecmca romana permitiu a construção de prédios em

a venana de ate 8 andares! Constitui Ro "'" "_d desenvolvi " su estIvo exe 10 da nfluenciao ~enYQIYlmento tecOQlógico sobre <> "",.,1" tO!} " "" d ',- ••••(,J.••_~~ •• r-.Q-ua c.ll.!a =o..?ç Os romanos fund~ram colônias, todas construídas dentro do sistema orto-

gonal e amuralhadas: Timgad - na Argélia Aosta na It T SOlh CC I I t (Ch ' a Ia, I c ester; hester:o c ies er ester-castelo), na Inglaterra' Colonía na AI h .,, , eman a, etc.

.' ~ram cid~des fortificadas: que defendiam o Estado romano e sua popula ãoagflc?la sedentana. Sempre a Irreconciliável antinomia entre pastores (soldad~S)e agncultores. "

/

i\

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220 Célson Ferrari

Fig. lO.5·a - Plano de Tirngad - Co-lônia romana:

Fig. lO.S·b - Silchester (Calleva Atrebatium)vendo-se o foro, as portas, pousa-das, termas, o templo e o anfi-teatro dessa colônia romana.

N

( EscalQi

Fig. 10.S-c - St. Albans (Verulamíum), a cidade pré-histôrica, a Romados primeiros tempos e a Roma do auge de sua civilização.

I

Urbanismo 221

o desenvolvimento de Roma capital do vasto Imperium Romanum, é, sobretudo, o resultado da pujança econômica uesse Império.

Um traço peculiar do planejameet di Roma foi a-criação-de-vias pJ:inci aiscom colunf!jas, arcos-e-cnonu e tos. Outro característico é a existência dasluxuosas termas. Os jardins úblicos_ eram poucos Ill.as muito freqüentes nasmansões os ricos romanos.

As massas VIVIam em promiscuidade, em edifícios de apartamentos e osnobres em palácios de grande luxo e conforto.

A escravidão e a servidão que, a pouco e pouco, constituíram a única formade trabalho produtivo do gran e Império, relegaram o tra alho à condição deativMade_jnJffior. O resultado da aceitação esse conceito neg~do Trabalhofoi --ª-l1aralisação dQ d.e.senvólvimento -te~nológico,a ·queda da produtividade~grÍcola e arte~al e o conseqüente enfraquecimento do Im12§:.io.

No ano de 476, ODOACRO, rei dos érulos, conquista Roma. Dá-se a guedado Impenã Romano do Ocidente, e inicia-se a Idade Média. De 476 a 1453se estende a Idade Média. Em 1453 caiu o Império Romano do T e..-O.s.Jur..c..o.s.tomaram Bizâncio ou Constantinogla. Princi iam empos..moderno corri-aRenascença.

A tomada de Roma em 476 significou o fim da "paz romana". Ondassucessivas de bárbaros começaram a invadir o império romano, que não tinhamais uma organização defensiva capaz de detê-los. Não é um "acidente" naHistória, mas a conseqüência da luta econômica secular entre agricultores (seden-tários) e pastores (n~des).

i-------3. A urbanização medieval

C~ueda do Império Romano do Ocidente a Euro a. é envolvida ~O!um estado de 8!!e!!ª-p'erma~

D9- sécu~o_V_a.o IX,_ilÇontece.1!-a_grande_desur:banização .. A cidade eraum alvo fácil às pilhagens dos povos bárbaros. Assim, os citadinos fugiam paraos campos num processo acentuado de desurbanízação.' Vjena, na Áustria, pordois séculos chegou a desaparecer dos mapas europeu}t'Roma, na época deCARLOS MAGNO, chegou a ter apenas 20.000 habitantés. As estradas, abando-nadas, desapareceram. Com exceção das cidades marítimas, as interioranas, forammorrendo, em sua grande maioria. Nessa época surgiu na Europa o feudalismo.--------- - --

Mesmo no Império de CARLOS MAGNO (768 a 814) não havia uma cidadecapital.

[;Surgem pequenos burgos_de traçado irregular e .pestilentos. As ruas eram

estreitas --avI"mentadas.osisteIDa de..esgotos era estático. As casas não abriamjanelas para as ruas defenden<!o-~ do mau cheiro.

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222 Célson Ferrari

A igreja ou catedral é o centro da vida comunit' ria. O regime é verdadeira-mente teocrático: o poder dos bispos, dominando os homens e as terras. O teatro,a arena, o banho público da Roma pagã desaparecem e os deuses do paganismosão substituídos pelos santos cristãos.

Alguns mosteiros fundados por religiosos deram origem a cidades, poste-riormente. Ex.: Wurzburgo, Brandeburgo e Oldenburgo, na Alemanha.

~

VRUCMV•

PRINCIPAISsÉCUL.O )(11 E

CIDA.OES RU&&ÀSMETADE 00 SÉC.UL.O )(111

E.cala I r:1=~__j::==IIII--'=1 =::::f-~ 1<,.,.o ;lOO 400 ~

Figura 10.6 - Cidades russas principais no século XII e metade do século XIII.

Urbanismo 223

Do século IX ao século XI, há uma sucessão contínua de invasões debárbaros e sarracenos na Europa Continental. A chegada dos árabes ao Mediterrâneofez cessar o comércio marítimo. Paris é invadida e saqueada, sucessivamente,em 845, 857 e 861. Os dinamarqueses (VIKINGS) invadem a Inglaterra. Normandosconquistam o este europeu e fundam o reino de Novgorod - núcleo do atualEstado russo, cuja capital foi Kiev e, mais tarde, Moscou.

Nesse período, ou mais precisamente, j1.Qsséculos IX e X, já existiam naRússia as seguintes cidades: Belgorod (980), Beloozero (muito antiga), Vasilev(988), Vyshgorod (946), Vruchy (977), Izborsk(862),· Iskorosten (946), Kiev(muito antiga), Novgorod (algumas fontes dizem-na muito antiga outras dão oano de 862 como o de sua fundação), Polotsk (862), Pskov (903), Rodnya (980),Rostov (862), Smolensk (muito antiga), Turov (980), Chermigov (907) e muitasoutras. Parece fora de dúvida que tais cidades foram fundadas pelos eslavos.

A arecem no mente as muralhas, que na "paz romana" não se faziamnecessárias. Surgiram mais burgos e castelos forÍificãdos_na Inglaterra e baluartes,~- . ---na França em defesa da população _contra as constantes- invasões bárbaras.Ao mesmo tempo que o feudalismo crescia, os mercadores da orla marítimaintensificavam o seu comércio, a partir do século XI. O burgo assume novasfunções: abriga os artesãos que se associam em "corporações de ofícios" e oscomerciantes reunidos em "corporações de mercadores" ou "guildas". O homem-medíezal.nãc.zíze.Jsolado: p.ertence.dLumJnosteiro,...!.J,IJll.. alácio, a um~ _corpo-ração de ofíci a uma" uilda" enfim a uma comunidade qualquer.

O capital comercia) começa.a.se.expandij através dO_CQIDérci.Q..!laci~al einternacional elas rotas marítimas, ~o origem a uma burguesia rica queco~om-o senhores feudais, aristocráticos. (Burguês era ohabitante do burgo, em oposição aos nobres que residiam nos castelos.)

O crédito e o capital usurário surgem no século- XI, intensamente, comodecorrência do capital mercantil que se acumulava desde o século IX, principal-mente, nos portos do Mediterrâneo, e, em particular, em Veneza. A família Fuggerpossuía cerca de 10.000 mineiros empregados, navios, sendo que imperadores eo papa eram seus dependentes. Outras famílias de fortuna incalculável: os Peruzzi,os Medicis, etc.

r O poder dos bispos sobre as cidades é total na Idade Média e vem desde\ o século VII, impondo um regime teocrático sobre o regime municipal da anti-

güidade. Movimentos comunais reinvindicando o retorrto do poder temporalmunicipal começam a surgir nos séculos XI e XII.

Do século XII ao século XV ocorre 0_ seguinte:

Al umas mercadorias,[email protected] seus destinos, tinham..sle atravessar~ras dos senhores feudais e pagar altas tarifas de pedágio. sto obstaculizavaI ·vH~vQ.. o desenvolvimento do comércio. Os mercadores então ue à época já possuíamm~ o e.coni>mWe,-fmancia am a implantação_ <!.emonarquias, a fim de

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224 Célson Ferrari

e~ragueJ;.eLJ senhores feudais e eliminar os pedágios. Na França, por exemplo,de Ruão a Nantes, havia cerca de 70 pedágios. Nos estroncamentos viários implan-tam-se feiras que floresceram sobretudo, no século XIII, em toda a França,Inglaterra e Itália, principalmente.

Assim em fins da Idade Média, os interesses mercantilistas haviam conso-lidado as tiranias. A ética divorcia-se da política passando os fins (manutençãoda tirania) a justificar todos os meios empregados para atingí-los. MAQUIA VELprocurou justificar esse divórcio em O Principe (1513) onde estabelece os prin-cípios recomendáveis à implantação de uma, tirania, ainda que fazendo-se uso daviolência e da fraude. ~ À. ~ o-...r;,t--..M

. c?iCI"Esse período da Idade Média é aracterizado or a intensa urbanização.

O comércio e as cidades renascem a partir do século XIII. o mesmo secu o surgea cate r gotica e a Súmula Teológica de Tomás ti q ino que representavamuma renovação da fé católica. No século XIII, Paris passa de 100.000 habitantesa 240.000 habitantes; Veneza de 100.000 habitantes chega a ter 200.000 habi-tantes; Florença passa de 45.000 habitantes a 90.000 habitantes.

(( . de de fins da Idade M.' ia é nitidamente burwsa~ Na Idade Média,"todo plano era uma projeção direta dos objetivos dos clérigos, dos senhoresfeudais ou dos mercadores"." Castelo e catedral dominam o perfil das cidadesmedievais. Qualitativamente, a cidade do medievo é superior à inóspita cidadeantiga porque mais humanizada: possui hospital, estalagem para forasteiros e asilode inválidos e pobres, todavia, não possui jardim público. O jardim é particular,doméstico, íntimo. É jardim e pomar ao mesmo tempo em que se cultivam flores,hortaliças e árvores frutíferas. -,

O fim da Idade Média é caracterizado pela forma ão das monar uias eexpan~ do mercantilismº _-4. A cidade nos. tempos modernos

~- ----- - ------ ----4.1. A Renascenç.fl..~a cid~ssica

(jo ,q.u.e-maIC3-a-OfÍge dos teml20s modernos, sob o aspecto cultural é a~ça\ movimento de retorno às artes e conhecimentos da antigüidadeclássica helêníca que provocou uma ampla renovação cultural, social e religiosa,durante os séculos XVI e XVII, principalmente.

Com a ueda de Constantinopla, todo o comércio ue se fazia através doMedi-ter-râneo';1foL-0rien-te Médie,se-desleca-lléH'a-o-A-tlântico. ~a, 1.Ing1a·tu~potências navais e inicia-se o ciclo das grandes''naveg~~

4 FRANÇOISE CHOAY em The Modem City: Planning in the 19th Century, p. 7.

Urbanismo 225

O mercantilismo se desenvolve apoiado pela ex ansão do capital comercial(capital derivado das trocas de bens e do a Vial usurário (capital derIva õ darenumera ao o ró rio capital). facilitou e incentivou a expansão do capitalusurário a Reforma reli 'osa iniciada or Lutero: a usura que era condenada pelaIgreja passou a ser aceita pelos reformistas. ca us rário, através dos jurosexcessivos ex ropria e enfraH!leCe ..Q.Lll\l..qlleJlOsp'rodutores,-geralmente artesãos,qu~ não.jíveram outra alternativa ~Eão a de ingressar nas fábricas como assala-riados, como roletários. Comep a desenvo ver-se uma incipiente in ustria manu-fatureira. / ~ - - - ~-- --

I

A descoberta dos metais preciosos na América robusteceu o mercantilismoeuropeu o colonialismo. \ . -..,; .. -

É de se notar que esse mercantilismo ainda não é o regime capitalista,embora prepare o caminho para ele.

<c. As cidades conti aumenllu sua im ortância nesse p,eríodo histórico.A. cavalaria, suprema arma da Idade Média, pe;Je terreno par;;;-~tilharia e ainfantaria. Os canhões tornam obsoletas as muralhas apenas defensivas. As cidadesdescem das colinas para as- lanícies e os traçados regulares dominam. As ruasp~s a uradiar de U.1Rapraça celltgl de on e·os_c ões defendem, estrategica-mente, as entr aa.d cidade.

A Renascença artís.W;a-domina-to.da_LALquitetma e a Arte llrbana.se-CQ.n-fuode G9ffi Q pl.anejafHetlt€H:l-l'lTano.1\ Igreja ou catedral que na Idade Médianão é isolada, regra-geral, das demais construções, passa a ter destaque especial emgrandes praças ajardinadas. Fontes esculturais, estátuas, colunas e obeliscos decoramas praças. A arte urbana copia da arquitetura seu desenvolvimento clássico.

~ Em fin: do século XVI a cidade passa a ser olhada. ~bretudo como es açopolític~o u centro de decisão oderoso, de grande importância estratégica.Desde o declínio do mundo clássico ~o, apenas na Renascença uma teoriaurbanística é reformulada. A _cidade é em ai ns casos amuralhada, mas sua

lha não tem caráter a 2lIDJiS de ens'vo com9 na Idade Média. ~ ao mesmotem o ofensiva. Sob o aspecto doutrinal, as leis da perspectiva são regras deconstrução das vias e praças, edificadas dentro de princípios da mais rígidasimetria e proporção. As construções, de caráter monumental, eram salientadaspelas perspectivas de ruas largas, confluindo para elas.

Grandes ra as Ço ro'etadas às vezes fora da área urbanizada~ên-diçe puramente decorativo. Em Roma, BERNINI projeta a famosa praça deSão Pedro, e sob Sisto V, Domenico ontana projeta "Ia piú grande Roma".Em Veneza, é construída a célebre p. aça de São Marco, e em Paris surgem aspraças Real (hoje, de Vosges) e praça das itórias. Na Itália ainda, se projetaa cidade de Pienza, é feita a ampliação de Ferr a e a reforma de Vigevano, dentrodo mais puro estilo renascentista.

Até o Renascímentc a arte dOLjardins se resumia na aprop.riação pelacidade de es a os J~rdes_natm:a.is_qw: .JJUILCJll.caQQSe. domesticados, ou então

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226 Célson Ferrari

o eu tivo de áreas verdes o 'sti as. Agora, os jardins se Jxpandem em amplaspraças com desenhos geométricos, escalonados em di~rsos planos. Por suasdimensões e grandes escadas ou rampas não se prestam ao passeio. É o 'ardimmonumental para ser visto e ouco usufruído.

4';" A cidade barrgçai

Na evolução histórica da arte, ao classicismo renascentísta segue-se o estilobarroco. Barroca era a p'érola defeitoosa. e'orativamente, chamou-se de bãr"rocaa- ~ que, negando o realismo clássico das' roporções imutáveis 7iiõrmas rígidasde comunica ão, passou a valorizar-se çpm a cõirtIilmição eSp'ontânea do artista ..~ ~ •.. _ ..• ---..

A arte barroca é "aberta" na acepção moderna que lhe dá UMBERTO ECO,no sentido de ser dinâmica, mutável conforme o ângulo de observação, permitindouma multiplicidade de significados. cidade barroca' espetáculo-Rara~ lhos. Em termos de Estética inforrnacional, o barroco é de rep,ertório mais ricoe possui um!ID!...!!laior dejllformaçã~ue estilo renascentista.'º' traça~ cidades ..-n da difere do das cidades clássic.aLa não ser- a ar u' ijl!e_de.-clássi~passa.U-a..b.au;o.ca g ~antl m isri ue e movimento o su b r., Continua a- êiistir aquele mesmo monu-mentalismo clássico das praças e jardins e dos traçados rádio-concêntricos. A escalahumana continua esquecida, no traçado urbano.i Em Paris, surgem praças, comoas de Versalhes, Vendôme e Concórdia e as 'ruas de La Paix, de Castiglione,de Rivoli e des Pyramides; projeto de ANTOLINI para Milão; na Alemanhasurgem Mannheim, Munique, Potsdam e Carlsruhe , principalmente.

JOHN NASH, inspirado na rua de Rivoli-Paris, projeta para Londres aRegent Street, ligando Portland Place a Carlton House (181201819). Em Paris,os projetos de HAUSSMANN retomam ao classicismo, perdendo em substância.

O artificialismo geométrico dos jardins clássicos se atenua com o retornoà natureza, preconizado por Milton (Paraíso Perdido) e Rousseau, dentre outrosautores. Por volta dos anos 1700, o jardim clássico começa a tornar-se parquecom arvoredo, córregos e um propositado desalinho. Bons exemplos desses parquessão em Londres: Kensington, Green Park, Hyde Park, Batersea Park e Saint-JamesPark. É o jardim paisagista ecleticamente combinado com o clássico.

Todavia. a arquitetura da cidade bar ca é retórica, não é aberta comoaparenta sg..e perde-se em fáceis efeitos de gosto kitsc . SQb o aspecto argui-tetfuUço a cidade barroca tende..pan-a-aristocraGia (grandiloqüência de formas)en uanto é burguesa em seu aspecto socioeconômico.

~\ A Revolução industrial: a cidade burguesa do capitalismo

/ I o~ror,i~eGonômica...c.os1umam situar a revolução industrialen re os anos-de..-1-7.6Q.,.e-18~G,peFíed9-efl'Ht\:le-pr-edeminaW-aindéW1~s oneoclassicismo.... A arquitetura neoclássica, renascentista, representa um rompi,

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Urbanismo 227

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228 Célson Ferrari

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Urbanismo 229

mento da arte com a tecnologia pelo seu servilismo ao modelo clássico, em desres-peito até à funcionalidade do elemento estrutural (Colunatas sem sentido, cornijasdesnecessárias, tímpanos que não ocultam telhados, etc.). ~rática construtivase~esloca áa arquitetura paüULeng.enhatia. A técnica sobrepõe-se à arte.

r Em fins do século XVIII e início do século XlX,..s.w:g~ade da Máquina,.caracterizada por algumas descobertas important§.: \

WATT desenvolee a máquina de vapor entre 1765 e 1774; RICHARDARKWRIGHT em 1785 difunde o uso do tear mecânico, inventado, em 1770,~ HARGREAVES, para o fio de algodão; em 1784, GUILHERME MURDOCH(~~~strói a primeira locomotiva de vapor ainda rudimentar; VOLTA, em 1800,inventa a pilha elétrica; em 1825 uma máquina de vapor transporta 50 toneladasde carvão pela estrada Stokton-Darlington"; em 1825 é inventado o eletroímã;em 1828, VICAT descobre o cimento; em 1829, a locomotiva "Rocket" deSTEPHENSON, percorre o trecho Liverpool-Londres; FARADAY, em 1831,constrói o primeiro dínamo e FOURNEYRON inventa a turbina hidráulica; em1832 é construída a primeira ferrovia francesa ligando Lyon a Saint-Etienne;em 1856, é inventado o conversor Bessemer para a fabricação de aço; em 1859a American Drake extrai petróleo do subsolo de Titusville-Pensilvânia; em 1860é construído por LENOIR o primeiro motor de exploção de gás; em 1865 surgeo motor de gasolina; em 1866, o engenheiro SlEMENS constrói o primeirodínamo industríal; EDISON instala a primeira central térmica, em 1882; e muitasoutras invenções e descobertas nos campos das engenharias mecânica e elétrica.

f ~J.la-fa.\(.0rec.e.11- aparecisnento o-industFial4smo_e .0--...,capitalismo .

~o condições fundamen aiLpara-o_apafeeimento do capitalismo a exis-tência de:

a)S-ª2.ital us.unuio e comerl!ial. .

b) ,Mão-de-obra !lssalariada abundante.

c) Mercado consu ~~.dor.

I C9 o a arecimento da fiação e tecelagem mecânicas e o conseqüente apa-recimento das fábr~e numero de artesãos fiadores e ~ce@~ltue tinhaseus ofícios em seus lares, fica desempregado~ Com essa abundância de mão-de~obra,co~rande ca ital comercial e usurário acumulado. através da economiamercantilista e com um amplo merca o consumidor da o ar suas co ônias, aI ID!Lp~ da Eur-ºW principalmente a Inglaterra e França, ram origem ao sistemacapitalista baseado nas livres forças do mercado (lib rãli mo o ômico do"laissez-faíre ").~=

5 Em 1853, por iniciativa do Barão de Mauá, foi inaugurada no Brasil o 19 trecho daantiga Estrada de Ferro Central do Brasil.

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230 Célson Ferrari

As cidade come ariam a crescer ex losivamente. ~~s inc!i!~trias localizam-sey na cidade, a' d apseveitar proxímrdad d rnãb"'="cte-úbr:e-d m~-

sumidor e a "urbe" passou a ser centro de produção, em caráter prioritário, pela;::tPiiiTicira vez na História. Todas essas mudanças cogstituem o que se convencionou

chamar de ~ução Industrial, que é um fenômeno sociológico complexo.A cidade, co ,o de-In:odução~e eeméroio, se..divide sm difúenteuonas çarac-t~rizadas por aíjyjda cionais redomina teso Assim é que, surgem as zonasindustriais, comerciais, residêneiâs de J)"a-ixo,médio e alto padrão, etc., refletindoa injustiça das classes sociais (...i. dicotomi ptodução-consumo origina na cidaded~os 1iii'!ãBônicos: trabalhadores ~esjtlindo em cortiços favelas ce t ais ouperiféricas e proprietários dos meios de rodução (burgueses em ai bs resi-d'enciais.

( .Em 1800, no início da Revolução Industrial, contavam-se apenas 20 cidades

de mais de 100.000 habitantes e nenhuma cidade que atingisse 1.000.000 dehabitantes; e apenas 1,7% da população mundial era urbana; em 1850, já existiam4 cidades com 1.000.000 ou mais de habitantes; em 1900 esse número subiupara 19.

Entre 195Ú e 1960 constatou-se que existiam:

141 cidades com mais de 1.000.000 de habitantes; 12 cidades entre 5 e10 milhões de habitantes; 1.460 cidades com mais de 100.000 habitantes; 3 cidadescom mais de 10 milhões de habitantes e 13% da população mundial era urbana,em 1950.

C No Brasil, a população total cresceu de 1950 a 1960 de 17,8% e sua popu-lação urbana cresceu de 70,2%; de 1960 a 1970 a população total cresceu de31,2% e a urbana de 62,9%.

! L ---r- r'

~ L.-yc= ~0)1J )

TABELA 10.1: DISTRIBUiÇÃO INTERCONTINENTAL DAS GRANDES CI-DADES.

Cidades com mais Cidades com mais Cidades com maisContinente de 1 milhão de de 2 milhões de de 5milhões de

habitantes habitantes habitantes

Américas 45 36,4% 19 40,4% 5 50%Ásia 43 34,4% 16 34,1% 2 20%Europa + URSS 33 25,9% 9 19,1% 3 30%África 4 2,2% 1 2,1% - -Oceania 2 1,1% 2 4,3% - -

TOTAL 127 100% 47 100% 10 100%

FONTE: Anuário Demográfico das Nações Unidas, 1967.

"

Urbanismo 231

TABELA 10.2: RELAÇAO DAS MAIS POPULOSAS CIDADES DO MUNDO.3*

Cidades Populaç/io

1~) Xangai 10.820.000 hab.2é!) Tóquio 8.678.642 hab.311) , Cidade do México 8.591.750 hab.4é!) Nova lorque 7.894.862 hab.5I!) Pequim 7.570.000 hab.6é!) Moscou 7.528.000 hab.7é!) Sâ'o Paulo 7.198.608 hab.8é!)

L~re 7.167.600 hab.9é!) C lcutá 7.031.382 hab.

10<}) B mbaim 5.970.575. hab.

%

FONTES: The Europa Year Book - 1976 'ê---~lmanaqUe Abril 1977

Obs.: As áreas metropolitanas não estão compreendidas nesta Tabela.

IA população urbana mundial está cre cendo à razão de 6,5% ao ano, o que

quer dizer que ela dobrará em apenas 11 a os.No Brasil, a taxa anual de cresci-mento urbano foi de 5,2% na década de 60, uito embora suas cidades médiasde 100.000 a 250.000 hab. no mesmo período, rescessem à razão de 9,7%!

Houv.e um crescimento maior das cidades e~ detrimento da população rural.Nunca as CIdades cresceram tanto como sob o regime capitalista de produção.

J

TABELA 10.3: PERCENTUAL DE POPULAÇÃO URBANA DE ALGUNSPAíSES, EM 1960.

81%78%71%69%67%69,9%63%66,5%62,5%50,7%45,1% 6

PaJses

Inglaterra . . . . . . . . _ . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Israel ........•.••.................. ' .Rep. Federal Alemã .Austrália .Dinamarca ..................•........................Estados Unidos ................•...........•....•......Bélgica//. ...............•...•.......................Chile 'l~;, .Venez ela .....•.•................................•..México .Brasil .

6 Isto, adotando-se o critério de considerar como população urbana, todas as pessoas quehabitam as sedes de municípios e distritos. Pelo critério da ONU, que só considera urbana apopulação de núcleos de 20.000 ou mais habitantes, a taxa 'do Brasil seria de 29% aproxi-madamente.

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( 232 }Ccl/.WJn Ferrar!

De I H30 11 I ~OO, Londres passou de 2 milhões para 4 milhões de habitantes.Paris, no mesmo período, passou de 1 milhão para pouco mais de 2 milhões de \habitantes. Bcrllrn, do início do século XIX até 1890, teve sua população aumen-tada de 150.000 para 1.300.000. ~ento básico passou.-a:WeOGupar osgovernos porque cidades inteiras foram atingidas por violentas epidemia!!.

I O industrialismo já existia antes da r.evQIl!9.ãq,industrial, na Europa, masa ..!!rbanização foi incrementada pela fábrica. \Diversas pessoas já~se preocupavamcom os problemas urbanos criados pelo industrialismo, e alguns como FRANÇOISFOURIER, escreveram livros sobre o assunto. ONovo Mundo Industrial e Societáriofoi escrito por FOURIER, em 1829, tendo criado uma habitação do tipo comunala que denominou: o falanstério. A residência seria próxima à fábrica. Haveria"creches" para a guarda das crianças. Quando ele escreveu sua obra, KARL MARXe ENGELS não haviam ainda estruturado o socialismo científico. Era um socia-lismo utópico."

ROBERT OWEN, em 1813, escreveu Uma Nova Visão da Sociedade; JAMESSILK BUKINGHAM, em 1849, publicou: Males Nacionais e Remédios Práticosonde defendia a idéia de que as cidades deveriam ser compartimentadas segundoas classes sociais. Além desses, literatos (BALZAC, ZOLA, DICKENS, etc.) filó-sofos (COMTE, ENGELS, MARX), sociólogos (LE PAY, DURKHEIM), geógrafos(VIDAL DE LA BLACHE, BRUNHELS, RATZEL, MARTONE), arquitetos e ospróprios papas cuidam de resolver os problemas criados pelo capitalismo e quese manifestam nas cidades capitalistas, com veemência, através de crescenteurbanização.

Os-problemas urbanos começaram a preocupar os governos ensejando oaparecimento das primeiras leis urbanísticas: \ -

Ogoverno grego, em 1835, fixa normas urbanísticas para o projeto e implan-tação de novas cidades e vilas, determinando que as cidades devem ser concebidassegundo um esquema ortogonal e as vilas conforme um traçado circular ouquadrado com as habitações locadas ao redor dos edifícios públicos. Em conse-qüência dessa determinação governamental foram fundadas: Nova Esparta, NovaCorinto e Nova Tebas, Na Itália, em 1865, é elaborada uma legislação urbanísticasobre saneamento, comunicação e estética da cidade.

Surgiu em 1874 na Suécia uma lei urbanística: Preceituava que toda a cidadede mais de 10.000 habitantes deveria elaborar seu plano de expansão. Prússia(1875), Holanda (1901), Inglaterra (1909), França (1919), etc., seguem o exemploda Suécia, elaborando leis urbanísticas semelhantes.

.t.

Os adeptos de FOURIER, nos Estados Unidos, fundaram muitos falanstérios, tendo sidoo de BROOK FARM o mais conhecido. No Brasil, cerca de 200 colonos europeus fundaramum falanstério em Saí, município de São Francisco, Santa Catarina, segundo citação deGILBERTO FREYRE em "Um engenheiro francês no Brasil", p. 369.

Urbanismo 233

I,

ç>s termos "urbaniz~o", "urbanismo", com a acepção de planejamentou~o foram formulados pela primeira vez na segy!!.da..m.etade do séculq passadÇ>.Parece que quem se utilizou pela primeira vez do termo "Urbanização" foi ILDE-FONSO CERDÁ, em 1867, em sua obra pioneira: Teoria Geral da Urbanização.Empregou-o para explicar a organização das cidades resultantes da revolução indus-trial, em seu sentido sociológico atual, de forma surpreendentemente antecipadora.

, Com a revolução io@strial surge o mbanismo moderno. í~ -.,)I Como a cidade moderna é filha do capitalismo, é conseqüência do regime

vigente, todos os seus males d{rivam desse regime econômico, dizem os urbanistasmarxistas, chamando de ide~gos aos que pretendem resolver os problemasurbanos sem mudar, primeiramente, o regime polítíco'" No entretanto, o urba-nismo russo padece dos mesmos males, nada tendo criado de original até agora.Seria a crítica improcedente ou não teria o socialismo russo atingido os verdadeirosobjetivos do socialismo?

/: O'uirbanísmo moderno começou com as teorias'~:

~ ARTURO SORIA Y MATA - 1882 com sua cidade linear; CAMILO SITTE- 1889, preocupado com a estética urbana; EBENEZER HOWARD - 1898 _criador da cidade jardim; TONY GARNIER - 1901 - com sua cidade industrial;PATRICK GEDDES - 1915 - e suas originais concepções teóricas.

Depois desse período inicial da teoria urbanística, utópica em alguns casos,surgiu LE CORBUSIER com o chamado Urbanismo racionalista. O homem passaa ser uma unidade estatística considerando-se, sobretudo, os aspectos quantitativosdo urbanismo. Defende LE CORBUSIER as grandes densidades .demográflcas,sob o aspecto econômico, altamente aceitáveis. É o apologista incondicional doarranha-céu, da máquina de morar.

BRUNO ZEVI, renomado crítico de arte italiano, escreveu que o raciona-lismo de LE CORBUSIER é a predominância do absurdo-lógico querendo significarque suas concepções, ousadas até ao absurdo, eram lógicas. Parece-nos que aqualificação de "racionalista" dada ao urbanismo é redundante ou pejorativa.

Contra o racionalismo de LE CORBUSIER, surgiram, na opinião de BRUNOZEVI:

a) O Equivoco (Russo, que é uma volta ao c1assicismo; praças e avenidasmonumentais, colun,tas nos edifícios, etc.

b) A "Retórica monumental nazi-fascista" (Alemanha). O nazismo e ofascismo precisando de promoção tentavam obtê-Ia através de obras monumentais.

c) O urbanismo orgânico, representado pelos americanos e escandinavos,através dos arquitetos FRANK LLOYD WRIGHT e ALVAR AALTO, americano

I

8 Leia-se sobre o assunto, Miséria de Ia Ideologia Urbanistica de FERNANDO RAMON.

I'

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234 Célson Ferrari Urbanismo 235

e escandinavo, respectivamente. Cogitou-se de dar à cidade, a estrutura de umorganismo vivo: multicelular, polinucleada. À semelhança de um organismo, quetem órgãos diferençados, procurou-se organizar os núcleos urbanos de formaescalonada atribuindo-se às funções urbanas o papel de criar as formas urbanas.

Essa similitude, contudo, não deve ser confundida com igualdade, pois, acidade não é um ser vivo, a não ser figuradamente. No planejame~to de uma cidadeorgânica, já se chegou a extremos de assemelhá-Ia a uma árvore, estruturalmente,o que levou C. ALEXANDER a contestar essa organicidade escrevendo conhecidaobra de análise e crítica intitulada: The City is not a Tree.

Finalmente surge o urbanismo contemporâneo, síntese do orgânico e doracional-;-representado, predominantemen1e, pelos ingleses. BRUNO ZEVI escreveu:"O plano de Londres de 1944 sintetiza 100 anos de urbanismo europeu".

As "New towns" inglesas representam, em alguns casos, essa síntese ou,na pior das hipóteses, a luta em busca da síntese. O projeto de "HOOK" - NewTown Industrial - é um dos mais significativos dos últimos anos. As "new towns"foram construídas à partir do "New Towns .Act" editado em 1946 pelo governoinglês, visando a descentralização industrial e urbana de Londres.

4.4. Os próceres do urbanismo contemporâneo

4.4.1. ARTURO SORJA Y MATA, espanhol, republicano, conspirador,espírito ilustrado e irriquieto, em 1882 e 1883, através de uma série de artigospublicados no jornal madrilenho "EI Progresso", defendeu a idéia de que a raizde todos os males da época residia na forma das cidades. Dizia ARTURO SORJAY MATA: "Que pede, o que reclama imperiosamente a vida urbana? Terrenobarato e comunicações rápidas, freqüentes e econômicas. Pois bem, a estaspremissas conduz, logicamente, a cidade linear que delinearemos uma vez mais:Uma só rua de 500 m de largura e de comprimento que fosse necessário, entenda-sebem, do comprimento que fosse necessário, tal será a cidade do futuro, cujosextremos podem ser Cádiz e São Petersburgo, ou Pequim e Bruxelas. Coloquem-seao centro desta imensa rua, ferrovias e rodovias, tubulações para água, gás eeletricidade, piscinas, jardins e de trecho em trecho pequenos edifícios para osdiferentes serviços municipais de incêndio, de saúde, segurança e outros, e ficarãoresolvidos ao mesmo tempo quase todos os complexos problemas que engendraa vida urbana de grandes massas populacionais".

ARTURO SORIA Y MATA, genial criador da cidade linear, deixou-nos umasérie t princípios urbanísticos ainda perfeitamente válidos. Exemplos:

'Do problema da locomoção derivam-se todos os demais da urbanização"ou "A forma das cidades é o resultado fatal da estrutura da sociedade que as ocupa"ou "Onde não vive uma árvore tampouco pode viver um ser humano". (Misériade ia Ideologia Urbanistica, F. RAMÓN).

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2 6 '''/,\'/1/1 F rturl

S RIA Y MA'I A combate a cidade circular, com os seguintes argumentosprin 'ipllls:

a) Terrenos centrais, muito caros (procura muitíssimo maior que a oferta).

b) ongestionamento no centro da cidade.

c) Marginalização da população periférica, principalmente.

Na cidade linear tais inconvenientes não se verificam porque:

a) Quando há crescimento da cidade, a avenida central pode-se alongarindefinidamente.

b) A oferta de terrenos na área central, sendo praticamente ilimitada mantémo equilíbrio oferta-procura, e impede a especulação imobiliária. Os terrenos daszonas residenciais teriam uma uniformidade de preço.

Além disso, as comunicações entre os diferentes pontos da cidade são fáceise rápidas.

O urbanismo moderno adota a estrutura linear, não com as dimensões efunções de ARTURO SORIA Y MATA, ~as com a e~~rutu~~ dele. S.ubs.titui,~eixo longitudinal, monumental, por uma trama linear ou trama direcional ,como propõe DOXIADlS.

4.4.2. CAMILO SITTE, arquiteto austríaco, que nos deixou sua mensagemem um livro famoso "Construção de cidades segundo princípios artísticos" (1889),preocupava-se com o desaparecimento da vida cívica e formas artísticas dascidades. Estudou a função e distribuição das praças públicas, fazendo com quea mesma voltasse a ser um Centro Cívico urbano.

Era um esteta urbano, não um planejador. Era o antiurbanista até.

Inculpa-se o automóvel, de ter feito desaparecer as praças, os locais d.ereunião e os passeios pedestres e, conseqüentemente, de ter causado o de~apare=l-mento da vida comunitária e cívica. Mas, à época de SITTE o automovel naoexistia. A causa não seria mais profunda? Nossos sistemas de produção e consumonão seriam os responsáveis? É um problema em debate e de difícil solução.

Dizia CAMILO SITTE:

IrAs obras de arte não podem criar-se por comissões nem escritórios, se nãoindividualmente, e o plano da cidade, que tem por dever produzir umefeito artístico, é uma de tantas'\ '<,

Mas, acontece que o plano de uma cidade é muito mais do que uma ob~ade arte.Yé uma obra científica também, enquanto produto de uma mtegraçaomultidisciplinar. Alguns arquitetos, numa desculpável atitude de defes~ de suacategoria profissional, valorizam o instante "mágico" da criaçã~ artlst~c~ noprocesso de planejamento integrado sem, contudo, assumirem, ate suas últimas

Urbanismo 237

conseqüências, as responsabilidades dessa conceituação que seria a de negar opróprio processo de planejamento, como o fez CAM~L SITTE, coerentemente:"As obras de arte não podem criar-se senão individ almente ... " Acontece quea criação artística existe, inegavelmente, no planejan nto integrado urbano e semanifesta na Arquitetura urbana que é parte do planejamento e não todo o plane-jamento ... Por intuição artística não se cria uma estrutura urbana, consubstanciadanum zoneamento de usos do solo e num sistema viário, através de um processode planejamento completo que compreende pesquisas, análise da pesquisa, diagnosee prognose, por meio de elaboração de matrizes de mudanças do sistema, modelosparciais ou totais e técnicas aprimoradas de avaliação e controle.

Referindo-se às cidades romanas, construídas pelo povo dizia o arquitetoSlTTE:

'.

"Assim, pois, não era causalidade, senão a grande tradição de arteviva em todo um povo, a que produzia, aparentemente sem planos, as dispo-sições urbanas. O mesmo ocorria na Idade Média e no Renascimento". É oantiurbanista que fala.

Absurdo que todo um povo tenha uma tradição de arte, capaz de orientá-Iona construção de cidades, quando se sabe que essa tradição sempre foi umprivilégio das elites. As cidades, ou cresciam naturalmente, construindo-se nelasedifícios, monumentos e praças de seus artistas, ou eram, realmente, planejadas ...

,

4.4.3. EBENEZER HOWARD, taquígrafo do Parlamento Britânico, em1889, publicou: Tomorrow: a Peaceful Path to Real Reform que, em 1902 foireeditado com o título: Garden Cities of Tomorrow.

Embora tenha conseguido que apenas duas cidades na Inglaterra, Letchworthe Welwyn, fossem planejadas,se'gundo sua concepção quase todos os bairros dascidades, habitados por gente de renda mais alta, passaram a ser "cidades jardins",ainda que falsamente, de um modo geral-,

Em seu livro, HOWARD propõe {compra de 2.400 ha: 400 ha seriam espaçourbano, e 2.000 ha seriam espaço agrícola, ao redor da cidade.

HOWARD chamou a esse espaço agrícola, "cinturão agrícola" não tendojamais o chamado de "cinturão verde" ou green belt como tornou-se conhecidomais tarde.

A terra pertence à comunidade ou ao Município, o que elimina a especu-lação imobiliária. A planta da cidade compõe-se de uma praça circular central,algumas ruas concêntricas à praça e algumas ruas radiais. A cada anel de casassegue-se outro ocupado por jardins e assim sucessivamente. A natureza deve estarsempre presente na cidade. A essa estrutura corresponde uma população de32.000 habitantes, aproximadamente.

As casas são de dois pavimentos, geminadas de 6 a 8 unidades. As ruas têm32 metros de largura.

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238 Célson Ferrari

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I- PREFEITU ••••••a- SALA PE CONCE-RTO.s3- TEATRO4- BI8UOTECA5· HOSF'>ITAI-6" Museu, GAL-E.RIA P6 .A..R,-e.

Figura 10.10 - Três diagramas da cidade-jardim de Howard.

Urbanismo 239

APEAS,-CIDADE.,'400ha.

- zONA RURAL.2.000hOl .

POPULAçÃo,.32.000 hob;j-antes

ESCALA,.,."

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240 Célson Ferrari

ARTURO SORJA Y MATA fez uma crítica correta à cidade jardim deHOWARD na revista "La Ciudad Lineal" de 20 de setembro de 1904, em artigotranscrito por FERNANDO DE TERÁN em seu livro: La Ciúdad Lineal: Antece-dente de um Urbanismo Actual. 9

4.4.4. TONY GARNIER, arquiteto francês de Lyon, projetou entre 1901e 1904 uma cidade industrial com características lineares.

Sua "Cité Industrielle" destinava-se a abrigar 35.000 habitantes - O projetocompreende duas grandes áreas: uma residencial e outra industrial, separadas poruma zona verde.

Yigura 10.11 - A cidade industrial de Garnier.

4.4.5. PATRICK GEDDES - Em 1910, um pouco antes da 1~ GrandeGuerra Mundial, na Escócia, PATRJCK GEDDES, cientista de múltiplas especia-lizações, naturalista, sociólogo, sexólogo, etc. anuncia que uma nova ordemse aproxima: a ordem neotécnica, sucedendo à ordem paleotécnica então predo-minante. Segundo ele:

9 TERÁN, FERNANDO La Ciudad Lineal:Antecedente de un Urbanismo Actual. Madrid:Editorial Ciencia Nueva - 1968, p. 78.

; I

Urbanismo 241

"Uma nova era industrial se abre. Tal e como na Idade da Pedra, disttu-~imos ~~je . dois períodos, o Paleolítico': o Neolítülo, ~a era Industrial,e necessano diferençar duas fases, a Paletotecmca e a N~otecnica".

E prossegue, explicitando a posição do trabalhador em cada uma dessa.ordens:

"Sob a forma paleotécnica, o trabalhador dirigido como está, como todosnós, por sua educação tradicional, ao salário monetário, em vez de ao orça-mento virtual, não tem tido uma casa adequada, nem mesmo aquilo qu .poderia qualificar-se como uma casa decente. Mas, quando a ordem neotécnicachegar. .. o trabalhador construirá sua vivenda e se porá a planejar a cidade,a projetar seu centro cívico, tudo semelhante senão superior a das glóriaspassadas da história".

Escreveu em 1915, um livro: Evolução das Cidades, republicado em 1949com o título: Cidades em Evolução - iCities in Evolutionv, que passou a sermuito conhecido depois da divulgação que lhe deu seu discípulo LEWISMUMFORD. Nesta obra expõe algumas teorias sobre a cidade e seus problemas,ressaltando, sobretudo, o caráter político dos mesmos.

GEDDES, pela primeira vez, chamou a atenção para a importância dosaspectos sociais do planejamento regional e urbano e ensinou que todo planeja-mento deve se basear em pesquisas.

4.4.6. CHARLES EDOUARD JEANNERET (LE CORBUSIER) - LECORBUSIER era um fascinado pela cidade grande, pelo domínio dos arranha-céus:"Grandes cidades, células ardentes do mundo: delas surge a paz ou a guerra,a abundância ou a miséria, a glória, o espírito triunfante ou a beleza. A grandecidade expressa as potências do homem: as casas, que obrigam um ardor ativo,elevam-se em uma ordem insigne". ~

Imaginou uma cidade de 3 milhões de habitantes. Vinte e quatro arranha-céuscentrais de 60 andares com 10.000 a 50.000 empregados cada um: negócios,hotéis, escritórios, etc. Viveriam neste centro de 400.000 a 600.000 habitantes.Rodeando o centro mais 600.000 habitantes. Longe: a indústria. Os trabalhadoresvivendo em cidades-jardins de 2.000.000 de habitantes ou mais. É preciso dis-tanciar os subúrbios. Escreveu: "Penso pois, com toda frialdade, que devemosaceitar a idéia de demolir o centro das grandes cidades e reconstruí-lc e que énecessário suprimir o cinturão piolhento dos arrabaldes ... "

Sua cidade é segregacionista. Criticado por esta atitude pouco democrática,escreveu:

"Muito me cuidei de não sair do terreno técnico. Sou arquiteto e nãome obrigarão a fazer política" ... afirmando que pretendia apenas dar uma ordema uma situação de fato, a uma sociedade cristalizada em classes.

Page 19: Planejamento Urbano Celson Ferrari 10

via

Urbanismo 243

.a! "Acabar com o antagonismo entre a cidade e o campo é uma d0rimeirascondições para a coletivização" dizia KARL MARX. Para acabar com .0 antago-nismo propôs-se a redução da cidade a uma faixa estreita ao longo das estradase rios. Era" a desurbanização linear do país - uma ideologia negativista e semsentido, defendida por MILIUTIN e outros.

LE CORBUSIER em carta dirigida ao urbanista russo MOISE GINZBURGdiz entre outras coisas: "O desurbanismo é uma interpretação mistificada de umprincípio de LENIN. LENIN disse: se se quer salvar o camponês é necessário

/

242 Célson Ferrar!

Baseou o urbanismo moderno em quatro postulados concisos, fundamentais:'?

1ÇJ)Descongestionar o centro das cidades para fazer face às exigências dacirculação.

2ÇJ)Aumentar a densidade do centro das cidades para realizar" o contatoexigido pelos negócios.

3<?) Aumentar os meios de circulação, ou seja, modificar completamente aconcepção atual da rua que se encontra sem efeito diante do fenômeno novo dosmeios modernos de transportes: metrôs ou automóveis, aviões, trens, etc.

4ÇJ)Aumentar as superfícies plantadas, única maneira de assegurar a higienesuficiente e a calma útil ao trabalho atento exigido pelo novo sistema dosnegócios". Aparentemente paradoxais, esses postulados são coerentes entre si ede inquestionável racionalídade.

Esquema preconizado para a cidade contemporânea de LE CORBUSIER:

a. (CIDA.DES-JARDIM)

B, ÁREAS NAO URBAN lZADASC'. 24 ARRANHA- cEtus

a.

Q,HI+--- vtu

vtQ

Figura 10.12 - A cidade contemporânea de Le Corbusicr.

A - cidades jardins - 2.000.000 habitantes.B - terrenos livres - não urbanizados.C - cidade, composta de 3 retângulos concêntricos: no mais central há mais de 24arranha-céus com uma densidade demográfica bruta de 3.000 habitantes/ha (400.000a 600.000 habitantes comércio, hotéis, negócios, jardins, parques, etc, com 95% desuperflcie plantada); ao redor da zona central segue-se uma zo~a residencial luxuosacom densidade de 300 hab/ha bom 85% de superHcie plantada (lotes fechados,murados). Nas zonas residenciais viveriam 600.000 habitantes. Nas áreas B situam-seo aeroporto, áreas industriais, hipódromo, universidade, serviços públicos. etc.Nas zonas residenciais as superquadras medem 400 X 200 m ou 600 X 400 m,diminuindo-se assim o número de cruzamentos e a área de ruas.

4.5. Evolução urbana em alguns paises

4.5.1. Rússia - Em 1930 houve, entre os urbanistas russos, ampla discussãoentre duas teorias: a da desurbanização linear e a da urbanização funcional.

10 LE CORBUSIER, Urbanisme, Editions Vicent, Paris: Fréal & Cia., nova edição, 1966,p.92.

Figura 10.13 - Desurbanízação linear. Diagrama de Hilberseiner.

Page 20: Planejamento Urbano Celson Ferrari 10

244 Célson Ferrari

transportar a indústria às aldeias; não disse: se se quer salvar ao cidadão ...A vida em coletividade fornece a produção industrial e intelectual. A dispersãoobstaculiza o desenvolvimento espiritual e debilita os reflexos da disciplinamaterial e intelectual... o homem aspira à urbanização; Um dos projetos dedesurbanização de Moscou propõe cabanas de palhas no bosque. Esplêndidaidéia! Mas só para o Week-end".'!

ENGELS escreveu: "A separação entre cidade e campo condenou a popu-lação rural a milênios de atraso e a população urbana à escravidão do trabalhoassalariado. Destruiu a possibilidade de qualquer desenvolvimento cultural naprimeira e de qualquer desenvolvimento físico na segunda".12

b) Urbanização funcional que consistia na substituição das grandes cidadese das aldeias, por um maior número de cidades industriais e agrícolas de 40.000a 50.000 habitantes' onde o consumo seria inteiramente coletivizado. A casafamiliar seria substituída pela casa comunitária, com capacidade para 4.000 pessoasou mais. As crianças seriam cuidadas em creches e locais apropriados. Urbanizareliminando-se as grandes cidades era evidentemente, diminuir o ritmo de desen-volvimento do País. Defendia essa tese os "urbanistas" dirigidos pro SABSOVITCH.

Ambas as teorias foram consideradas desviacionistas pelos dirigentes russos,assim como a alternativa de LE CORBUSIER representada pela Ville Radieusede 1933.

O Instituto de Planificação Urbana entregou o projeto de suas cidades aarquitetos russos e estrangeiros. Assim, a cidade jardim foi aceita. As cidades--satélites foram empregadas para resolver o problema de descentralização eexpansão. Aceitando a sugestão dos "urbanízadores" a agricultura foi consideradauma função urbana, tanto quanto a indústria. Procurou-se não eliminar a cidade,mas transformar o campo de modo a acabar a dicotomia campo-cidade. O campodeverá urbanizar-se pela criação de cidades-agrícolas, com industrialização dapopulação agrícola. Procura-se a nítida separação entre a zona residencial e aindustrial. A atividade comercial foi centralizada e passou a ocupar áreas reduzidasnas cidades.

Uma cidade passou a ser um organismo polinucleado, policêntrico, de distritosiguais projetados para uma massa indiferençada de habitantes. No centro ficamos principais órgãos administrativos, as mais altas instituições sociais e culturaise os grandes armazéns. Os distritos residenciais abrigam de 2.000 a 6.000 pessoase possuem: jardim de infância, restaurante; creches, armazéns, casa de socorro, etc.Correspondem, aproximadamente ao escalão "unidade residencial" do escalona-mento urbano orgânico norte-americano. As escolas primárias, servem ao mesmotempo a mais de um distrito e estão situadas nas áreas verdes que as separam.

11 Citação de P. CECCARELLI in La Construccion de Ia Ciudad Soviética, pp. 81 e 82.

12 P. CECCARELLI, idem, p. 84.

• I'~ismo 245

1\I

Esse conjunto de distritos servidos por uma escola primária e outros equipamentoscomunitários (clube, centro de saúde, correio, etc.) chama-se "rádio" (8.000 a12.000 habitantes) e corresponde a "unidade de vizinhança" do organicismonorte-americano. Os espaços verdes formam uma rede contfnua através da cidade.A publicação da ONU, Urbanization: Development Policies and Planning informa,diferentemente, que os microdistritos residenciais das cidades russas abrigam de8.000 a 12.000 habitantes e que alguns microdistritos formam um distritoresidencial de 25.000 a 50.000 habitantes.

Um dos maiores urbanistas russos, N. A. MILlUTIN, propôs o seguinteesquema linear para as novas cidades russas:

~R~OVIÂ

Fig. 10.14 - Diagramas lineares de Magnitogorsk e Stalingrado (hoje Volvogrado).

NOTA: Os equipamentos recreativos e' desportivos se localizam nas áreas verdes. O equipa-mento escolar nas áreas residenciais.

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246 Célson Ferrari

o projeto' de MILIUTIN satisfaz a tarefa principal do planejamento dosdiferentes centros de habitação que é a de distribuir, de forma a mais racional,as funções fundamentais da cidade socialista: a produtiva e a residencial.

I Um pouco de história da evolução urbana na Rússia:'Parece que as primeirascidades russas encontradas já nos séculos XI e X, foram fundadas pelos eslavos,principalmente, ao longo das vias fluviais Dníeper-Volkhov e alto Volga. Em finsdo século IX e começo de século X o feudalismo se estabeleceu como um sistemasocial. As cidades russas dós séculos Xl e XlII eram centros administrativos ondehavia divisão de trabalho e uma separação das atividades comerciais e industriaisdas agrícolas. As maiores cidades desses períodos desenvolveram-se em regiões demaior desenvolvimento agrícola: região de Kiev, de Galich-Volyn, de Polotsk--Smolensk, de Rostov-Suzdal e de Ryazan. Essas áreas eram separadas por regiõesde vastas florestas e pantanoso Se o comércio não criou cidades, é certo queproporcionou o crescimento das mesmas. A agricultura, o artesanato e as relaçõesfeudais de trabalho é que deram origem às cidades russas.

No século XlII, GENGIS KHAN domina o ducado de Kiev.

- Nos séculos XlV e XV as cidades russas são destruídas pelos tártaros, apesarde serem fortificadas como as cidades do Oeste Europeu.v Em contraste com ascidades medievais da Europa Ocidental, muitas das cidades russas possuíam forti-ficações de madeira. O mercado (torg ou torgovishche) era o centro cívico dacidade e se situava usualmente, aó lado do rio, em posição não central da cidade,levando-se em conta os fatores geográficos. Note-se a semelhança dessa localizaçãoe função cívica do mercado com as das cidades gregas.

Geralmente, a praça do mercado continha uma ou mais igrejas .../'

As cidades eram, geralmente, construídas de madeira, em virtude de seuprolongado e intenso inverno>

Kiev, chamada a "mãe das cidades russas" e sua região formaram o primitivoterritório russo (hoje Ucrânia). Em 1169 a hegemonia de Kiev é substituída pelade Novgorod. Moscou começa sua ascensão a partir de 1326. Ivan 111impõe asupremacia de Moscou sobre os reinos vizinhos (1462-1505). Ivan, o terrível(1523-1584) consolida o Império Russo e adota o título de czar. NICOLAU 11(1894-1917) foi o último czar derrotado pela revolução socialista de novembrode 1917 que leva à formação da U.R.S.S.: União das Repúblicas SocialistasSoviéticas.

Entre 1917 e 1965 mais de 900 novas cidades foram criadas na Rússia.De 1917 até começos da década de 30 a Rússia foi um país de economia, predo-minantemente agrícola. Em 1928 teve início o primeiro Plano Qüinqüenal comduas metas prioritárias: desenvolvimento da indústria pesada e criação de novaszonas -industriais nas regiões orientais, menos desenvolvidas. Seguiram-se outrosplanos qüinqüenais e a URSS experimenta uma notável urbanização. A populaçãourbana cresceu 33% de 1926 a 1938 enquanto que a população total aumentoude 18%.

Urbanismo 247 (

4.5.2. Inglaterra

A revolução industrial alcançou na Inglaterra sua maior intensidade naprimeira metade do século XIX. Uma série de importantes invenções, iniciadasna segunda metade do século XVIII, encontraram no grande capital usurárioacumulado na Inglaterra, por força de seu mercantilismo altamente desenvolvido,condições de se implantarem. A máquina de fiar (1765), a máquina de vapor(1782), a máquina de tecer de CARTWRIGHT (1785), a locomotiva, o navioa vapor e outros inventos criaram o industrialismo moderno e o proletariado.

A produção de ferro, na Inglaterra, que em 1740 era de 17.000 t. passou aser de 2.000.000 t. em 1850; o número de teares movidos a vapor (10.000 em1823) atingiu em 1855, a 400.000.13 Estradas de rodagem, de ferro, canais sãoconstruidos. Ao lado de todo esse desenvolvimento, as cidades começaram acrescer de forma galopante. (Tabela 10.4).

TABELA 10.4: CRESCIMENTO DAS CIDADES INGLESAS NO INíCIO DOSÉCULO XIX.

Cidade 1801 1841

Liverpool 82.000 hab. 299.000 hab.Manchester 75.000 hab. 252.000 hab.Birminghan 71.000 hab. 202.000 hab.Bradford 13.000 hab. 67.000 hab,

FONTE: DAWSON,Keith The Industrial Revolution Pan Books, 1972, p. 16.

O agravamento do nível de vida e das condições de higiene das cidadesatingiu seu ponto crítico em meados do século passado. Epidemias diversasassolaram o paíS.14 Surgiram por essa época as primeiras leis sanitárias e de saúdepública: Towns Improvement Act (1847) e Public Health Act (1848). Em 1875surge o Public Health Act do qual resultou o modelo de planejamento típicodas cidades do norte, tais como: Preston e Leeds. .

13 A produção de carvão de 6 X 106 t. (1770) passa a 49,4 X 106 t. (1850); os produtosde algodão crescem de 8.000 t. (1760) a 300.000 t. (1850).

14 "Descobriu-se que em Preston, em um conjunto de 442 residências, 2.400 pessoasdormem em 852 camas" - Relatórios de Chadwick, em 1845, para a "Comissão Real paraa Saúde das Cidades". Citação de A. KORN em "La Histeria Construye Ia Ciudad", p. 126.

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248 Célson Ferrari Urbanismo 249

Em 1898, conforme já se viu, E. HOWARD publicou Tomorrow: a PeacefulPath to Real Reformn reeditada em 1902, como: Garden Cities of Tomorrow.Foi fundada a Garden City Association, logo depois.

A primeira legislação inglesa sobre planejamento urbano surge em 1909:The Town Planning Act e autoriza os governos locais a elaborarem planos deordenação do solo, de. saneamento básico e de proteção da estética urbana ..

Em 1910, PATRICK GEDDES, pela primeira vez, ensina que o planejamentoregional ou urbano deve sempre ser precedido de uma pesquisa sistemática.

Em 1913 é fundado o Royal Town Planning Institute que caracteriza oaparecimento do planejamento urbano inglês.

As cidades jardins nesse País tiveram grande repercussão. Em 1903, noprojeto de uma "cidade nova" - "New Town" - situada em Letchworth, algumasidéias de HOWARD foram empregadas pelo arquitetos BARRY PARKER eRAYMOND UNWIN. Este último, R. UNWIN, associado a EDWIN LUTYENS,projetou, segundo os mesmos princípios da cidade jardim, em 1907, o "HampsteadGarden Suburb" .15 E as primeiras "new-towns" sofreram todas, forte influênciada cidade-jardim de HOWARD: obediência a um plano diretor, reserva de espaçospara os equipamentos comunitários, um padrão de espaços vazios e a definição doslimites urbanos por um anel verde.

As idéias de LE CORBUSIER, principalmente, as de sua La Ville Radieuse(1922), foram aproveitadas mais tarde em algumas "new-towns". Em fins da décadade 1920 o conceito de cidade satélite surgiu dos estudos de planejamento regional,então' em seus princípios. Uma cidade satélite que surgiu desse conceito foiWythenshawe, próxima de Manchester.

A comissão Barlow teve por objetivo estudar a descentralização das indústrias ea dispersão da população industrial de Londres, sendo que o relatório de SCOTT eBARLOW é considerado a melhor síntese sobre o assunto.

Sob o aspecto do planejamento do uso do solo, os planos do Condado deLondres (County of London Plan) e da Grande Londres (Greater London Plan),elaborados, respectivamente, em 1943 e 1944, sintetizam de forma a mais com-pleta, todas as correntes de pensamento vigorantes sobre o assunto até então. O pri-meiro teve por autores principais ABERCROMBIE e FORSHA W e o segundo, omesmo ABERCROMBIE. Propõem a criação de subúrbios satélites nas cidades exis-tentes próximas ao cinturão verde (GREENBELT) de Londres e sugerem a criaçãoe localização das "novas cidades": as New-Towns.

Sob o aspecto formal, pode-se distinguir três fases na construção das New--Towns. A primeira compreende as projetadas entre 1946 e 1950; pertencem à

lS Esse projeto suburbano de cidade jardim gerou, no mundo todo, uma infinidade deloteamentos com os nomes de "cidade jardim", "jardim América", "jardim Europa", "jardimJapão", etc., que de jardim apenas ostentam o nome enganoso.

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segunda fase as cidades de Cumbernauld (1955), de Hook (não construída, infeliz-mente) em 1960 e Skelmersdale (1961);'finalmente, ao terceiro grupo pertencemas de~s.

As cidades do primeiro grupo (Basildon, Bracknell, Crawley, Harlow,Hatfield, Hemel Hempstead, Stevenage, Welwyn Garden City, Aycliffe, Corby,Cwmbran, Peterlle, East Kilbride, Glenrothes), derivaram sua forma das cidades-jar-

. ,dins e do conceito de vizinhança16.\Além disso, eram projetadas para populaçõeslimites, geralmente, entre 50.000 e 80.000 habitantes. Eram dimensionadas para75 habitantes por hectare (zona residencial) e densidade de 125 trabalhadores porhectare (zona industrial). Foram criticadas por falta de coesão e senso de localiza-

ÇãO./:O segundo grupo caracterizou-se pelo abandono das formas de baixa-densi-

dade pela conscientização da influência do automóvel sobre o espaço urbano\Aidéia de unidade de vizinhança foi abandonada porque as altas densidades adotadasfaziam com que as caminhadas à pé ao centro da cidade fossem sempre possíveis.Influenciadas por STEIN e WRIGHT (RADBURN), os planejadores ingleses fizeramessencial ao projeto a secregação veículo/pedestre. As concepções estéticas de LECORBUSIER influenciaram o estilo e forma das cidades desse período: Cumber-nauld é disso um exemplo marcante.

As cidades da terceira fase (MiltonKeynes, Newton, Peterborough, Redditch,Runcorn, Telford, Warrington, Washington, Irvine e Livingston) têm em comum aimportância dada aos deslocamentos de pessoas e veículos e a forma "celular" ado-tada. O Relatório de BUCHANAN (1963) influenciou muito na elaboração dosplanos dessa última fase, principalmente, no que se refere ao conceito de hierarqui-zação das vias urbanas e ao seu conceito paralelo de meio ambiente. Há um reno-vado interesse pela estrutura linear urbana .. O conceito de espaço ambiental e oretorno à idéia da unidade de vizinhança, originou uma estrutura celular escalonada(unidade de residência, unidade de vizinhança, setor, distrito, microdistrito, etc.).

IIélson Ferrari

t:-::] INDÓSTRIAS

o ÁREASRESIDENCIAIS

• ESCOLAS

4.5.3. Estados Unidos da América do Norte

l-Assim como no Brasil, o europeu, após o descobrimento do território dosE.U.A., não encontrou cidades nele: Em contraste, porém com o Brasil, o coloni-zador norte-americano que desembarcou com o MAY FLOWER, mais de um séculoapós o início da colonização das terras brasileiras, não permaneceu no litoral,criando uma "urbanização de caranguejo". Embrenhou-se para o oeste com o firmepropósito de colonizar e permanecer na nova pátria de sua eleição. A superioridadeda urbanização e colonização americanas sobre a brasileira não advém, como muitospensam, da superioridade racial do anglo-saxão sobre o português. VIANNA MOOGem seu conhecido livro Bandeirantes e Pioneiros, esclarece as razões dessa diferença

16 Os conceitos de unidade de vizinhança e de coesão comunitária eram, àquela época, demodo pioneiro, exaltados por CLARENCE PERR Y nos EUA. Figura 10.16 - Cumbernald.

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Figura 10.17 - Runcorn.

Urbanismo 253

de colonização, desfazendo os errôneos argumentos racistas de autores consagrados,como HOUSTON STEWART CHAMBERLAIN, GOBINEAU, GUSTAVE LEBON e outros. As teorias racistas também fizeram adeptos no Brasil e em toda aAmérica Latina. Em 1897, conforme VIANNA MOOG, JOAQUIM MURTINHOassim se referia às possibilidades de desenvolvimento industrial do Brasil: "Nãopodemos, como muitos aspiram, tomar os Estados Unidos da América do Nortecomo tipo para nosso desenvolvimento industrial, porque não temos as aptidõessuperiores de sua raça, força que representa o papel principal no progresso indus-trial desse grande povo".

(Os principais fatores do contraste de colonização entre os dois países são osque se seguem, muito embora não expliquem tudo: \

Ia) Fator econômico - Sabe-se que a história se processa através de fatores

predominantemente econõmícos.lOs Estados Unidos POSSUía.llcarvão e petróleo eaí está, em grande parte,explicada a diferença de desenvolvimento entre os doispaíses. O carvão mineral brasileiro é de qualidade .ínferior a do americano e petróleo,só recentemente, nos foi permitido descobrí-Io. A acumulação de renda deveu-se auma utilização de recursos naturais e a uma agricultura de exportação cujos exce-dentes permaneciam no país e eram distribuídos, igualitariamente, pela população.

(b) Fator orográfico - A Serra do Mar constitui, no Brasil, uma barreira natu-ral à penetração. Nos Estados Unidos, toda a costa atlântica, numa extensão de300 Km é constituída por uma planície. A cadeia dos A1leghenies e dos Apalachesque então surgem, são, mais facilmente, transponíveis ou contornáveis que a Serrado Mar. Depois seguem-se novamente a planície até as Montanhas Rochosas, pró-ximas ao Pacífico. No Brasil, a Serra do Mar, a Serra Geral e Serra da Mantiqueira(Maciço Atlântico) constituem sérios obstáculos à implantação de estradas de ferroe rodovias.

c) Fator hidrográfico - Os Estados Unidos possuem a melhor rede hídrográ-fica do mundo com relação à navegação fluvial. O Mississipi é um verdadeiro marinterior. No Brasil, principalmente na zona temperada, os poucos grandes rios exis-tentes não são navegáveis: o São Francisco é interrompido a 250 Km da costa pelacachoeira de Paulo Afonso, o Paraná possui Sete Quedas, o Tietê é todo enca-choeirado. Temos é verdade o Amazonas, o maior rio do mundo, mas que corre porterras situadas na linha do Equador, de densas florestas e de difícil aproveitamentoeconômico.

c) O fator clima - A diversidade do clima dos Estados Unidos contribui paraformação de uma agricultura diversificada. O frio levou o americano a desenvolveruma indústria para cornbatê-lo: tecidos de lã, aquecedores de água e ar, roupasespeciais, etc. O otimismo de PERO VAZ DE CAMINHA ao dizer a el-rei que"querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo" referindo-se às nossas terras e climainfelizmente, não é verdadeiro.

d) Outros fatores: psicológicos (o colono americano veio com a família com opropósito de lançar raízes em sua nova pátria em virtude das perseguições religiosas

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na Europa, principalmente; o português veio sozinho para enriquecer-se e retomar apátria); religiosos (o americano era calvinista e como tal intransigente com os víciosdo jogo, bebida, luxo, etc., mas polarizado por uma idéia fixa de acumular riquezae poder; o português era católico, contrário à usura e, conseqüentemente, aocrédito, ao financiamento, etc.)."?

I .As cidades renascentistas, reticulares, em tabuleiros de xadrez, passaram para

a América do Norte."> . ~,7 .

Nova York fOI fundada pelos holandeses, na ilha de Manhattan, com o nomede Nova Amsterdã, na foz do rio Hudson, no ano de 1626.' Possuía um traçadoirregular e uma muralha (wall) onde hoje fica a Wall Street. Ao estender-se além damuralha o fez segundo um plano retilíneo, com avenidas no sentido Norte-Sul eruas no sentido Leste-Oeste (tabuleiro de xadrez). Deve seu excepcional cresci-mento a sua condição de excelente porto e ao fato de possuir ótimas comunicaçõescom o interior, tanto para as exportações como para as importações. Na mesmacosta atlântica Boston, Charleston, Baltimore e Filadélfia não gozavam das mesmasfacilidades de comunicação com o interior.

Com a revolução industrial, em meados dó século passado, desenvolvem-se ascidades ligadas à indústria do ferro e aço, que se valem do carvão da Pensilvânia,do minério de ferro das margens do Lago Superior (Michigan e Wisconsin) e docapital e capacidade empresarial acumulados em Nova York. São elas: Bufalo, Cle-veland, Detroit, Pittsburgh e Chicago, um pouco depois. Nesse período, consolida-seainda mais o papel polarizado r de Nova York.

Antes de 1900, Nova Orleans, São Francisco e Minneápolis cresceram comocentros comerciais do golfo do México e da bacia do Mississipi (Nova Orleans -Louisiana), do vale central da Califórnia (S. Francisco - Califórnia) e as planíciescentrais do país (Minneápolis - Minnesota).

Entre 1900 e 1940 duas cidades, principalmente, crescem como centroscomerciais e de serviços: Los Angeles (sul da Califórnia) e Kansas City (planíciescentrais).

I Depois de 1940, refletindo o desenvolvimento do setor terciário da economia,outras cidades americanas experimentam grande crescimento! Seattle (Washington),Dallas (Texas), Houston (Texas), Fênix (Arizona), Oklahoma City (Oklahoma),Atlanta (Georgia), San Diego (Califórnia). De um modo geral, em virtude do cresci-mento do setor terciário, a população norte-americana urbanizou-se, a taxas eleva-das, a partir de 1950.

Filadélfia, foi fundada em 1682, na confluência dos rios Delawre e Schuylkill,por WILLlAN PENN, num local habitado já, desde o início do século pelos suecos.

17 Segundo CALVINO, Deus escolhe seus eleitos à revelia de suas obras e méritos, aben-çoando a riqueza. Legitimou o calvinismo, a usura e o "turpe lucrum" (lucro obtido no comér-cio). Essa idéia de vincular o capitalismo ao calvinismo parece ser de MAX WEBER. A modernahistoriografia rejeita essa vinculação weberiana.

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Figura 10.18 - Washington D. c. - Estados Unidos.

Possui uma grande praça central onde cruzam-se, ortogonalmente, duas amplas ave-nidas. Há no projeto um princípio de zoneamento caracterizado por lotes de tama-nhos diferentes conforme a zona e um princípio de hierarquização de vias. É seutraçado retilíneo, ortogonal, cruzando-se as ruas formando quadrados e retângulos.É um misto de tabuleiro de xadrez e grelha.

Savannah, fundada em 1733, segundo um traçado ortogonal em gelha, monó-tono, apresenta um princípio de diferençação de vias (vias de trânsito e vias de ser-viço). As casas estão abertas para um jardim interior. A preocupação pelo verdepúblico já aparece no traçado de Savannah que possui três grandes parques.

Fugindo ao traçado puramente retilíneo, a que não escaparam nem mesmocidades como São Francisco de topografia acidentada, há poucas exceções: Aná-polís, Washington, Detroit e Chicago.

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I ! Anápolis, fundada em 1649, na foz do rio Severn, na baía de Chesapeake, é a

II

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primeira cidade norte-americana a apresentar uma estrutura formada de duas praçascirculares ligadas por uma avenida, dentro de um conjunto de ruas ortogonais.

Washington foi projetada pelo major PIERRE L'ENFANT, em 1781, caracte-rizando-se por uma concorrência de vias diagonais em dois pontos da cidade: o Capi-tólio e a Casa Branca. Essas diagonais foram traçadas sobre um traçado ortogonal,havendo grandes jardins e esplanadas. A cidade implantada difere um pouco dotraçado original, conservando-o porém, em essência. )

Detroit teve origem num forte fundado por ANTOINE DE LA MOTHECADILLAC, em 1701. Em 1796, Detroit passa a pertencer aos Estados Unidos. Em1807, é feito um projeto de extensão de Detroit segundo um traçado de diagonaisformando trama de triângulos eqüiláteros e sucessão de unidades radioconcêntricas.

Chicago foi fundada por JOHN KINZIE em 1804, às margens do LagoMichigan. Um grande incêndio destruiu o centro da cidade que foi reconstruídosegundo plano de DANIEL H. BURNHAM e EDWARD BENNET, em 1909. Otraçado é inspirado no plano barroco de Versalhes (Paris), em absoluto desprezopelos problemas sociais da época.

A primeira grande contribuição norte-americana ao urbanismo, surgiu em1928: CLARENCE. STEIN e HENRY WRIGHT; projetaram perto de Nova York, aRadburn. Pela primeira vez se procurou numa cidade "a domesticação do auto-móvel". Até hoje sua concepção é aceita como moderna, como inovadora. Pro-curou-se separar o trânsito de automóveis do de pessoas, através de superblocosou superquadras. As moradias são construídas com as fachadas principais voltadaspara o interior das quadras, e seus fundos, para os acessos, constituídos porculs-de-sac, loops, de formas diversas. O veículo entra pela via de acesso e, chegaaos fundos da residência. A fachada fica voltada para os pátios internos onde hávegetação, sombra, espelhos d'água, caminhos de pedestres, etc. Os pedestres emgeral, caminham dentro da superquadra, enquanto o veículo passa pelas vias que acircundam. As pessoas não se cruzam com automóveis, eliminando-se o perigo deacidentes e afastando-se da moradia o ruído e a poluição.

Depois surgiram as greenbelts: cidades inteiramente limitadas em extensão epopulação. A primeira foi construída em 1936 por HALES J. WALKER em Mary-land a 16 Km de Washington e se chamou Greenbe1t. Surgiram depois: Greenhills(Ohio) Greendale (Wísconsín), Greenbrook (Nova Jersey) e outras mais. São cidadeslimitadas por um cinturão verde.

As greenbelts são empreendimentos estatais, projetadas e implantadas sem onecessário apoio das comunidades interessadas. Daí a razão do relativo fracasso dasgreenbelts.

À partir de Radburn as propostas americanas de planejamento urbano, atéquase a metade deste século, são empiristas, isto é, fundadas na experiência já acu-mulada e analisada tendo-se em conta, principalmente, a presença do automóvel navida urbana. Repete-se, neles, a mesma rigidez dos planos racionalistas, isto é,faltam-Ihes abertura.

Urbanismo 257

Figura 10.19 - Radbum - "the town for the motor age". (Diagrama do Plano deClarence Stein e Henry Wright.)

Nos Estados Unidos, LUDWIG HILBERSEIMER, imigrante alemão, contra-tado para ensinar Urbanismo em Chicago, em 1938, e o arquiteto amerícanoFRANK LLOYD WRIGHT, propõem também uma desurbanização, ou seja, umadispersão urbana à escala do automóvel privado. Lutam pela implantação de umabaixíssima densidade demográfica urbana, pela quase "ruralização" da cidade, ale-gando os benefícios da vida rural e as facilidades de !ápida comunicação e loco-moção através do automóvel privado.

FRANK LLOYD WRIGHT em sua Broadacre City expõe uma teoria, atécerto ponto, organicista. Entende-se como orgânica ou organicista toda teoria urba-nística baseada em modelos criados à semelhança dos organismos vivos, tanto noque se refere à organização espacial quanto à organização social. Em BroadacreCity, WRIGHT procurou criar uma comunidade que pudesse desfrutar, simuLtanea-

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Urbanismo 259

mente, da vida urbana e rural, numa tentativa utópica de eliminar a contradiçãocampo-cidade. É uma teoria romântica que a experiência demonstrou ser errônea.

Atualmente, os americanos, ao modo dos ingleses, passaram a projetar e im-plantar novas cidades como satélites de metrópoles congestionadas: Jonathan(Minnesota - 50.000 hab.), Park Forest South (Illinois - 110.000 hab.) SaintCharles (Maryland - 78.000 hab.); Maumelle Little Rock (Arkansas - 52.000 hab.);Flower Mound Dallas (Texas - 64.000 hab.); Cedar-Riverside (Minnesota -30.000 hab.); Riverton (Rochester N.Y. - 25.600 hab.); San Antonio Ranch (Texas- 89.000 hab.); Woodlands (Texas - 150.000 hab.); Gananda (Rochester - N.Y.50.000 hab.).

O urbanismo contemporâneo nos Estados Unidos conta com trabalhos muitooriginais, dos quais destacam-se os de CHRISTOPHER ALEXANDER, JANEJACOBS, LOUIS KAHN, KEVIN LYNCH, PAUL RUDOLPH, WILLIAM PEREIRA,P. GOODMAN, etc.

CHRISTOPHER ALEXANDER, arquiteto versado em matemática, a partir daanálise combinatória tenta matematizar a teoria urbanística elaborando estudosanalíticos muito importantes. Neste sentido, sua obra publicada mais conhecida éNotes on the Synthesis of Form, Cambridge, Mass., 1964. Em estudos de "modelosde planos de usos do solo", SCHLAGER valeu-se dos trabalhos analíticos de C.ALEXANDER.

KAHN é um teórico do urbanismo e em seu estudo para o centro de Fila-délfia, sem modificar a trama de ruas existentes, projeta uma rede tridimensionalpara o trânsito de pedestres e de veículos, de grande flexibilidade, e propõe umamecanização e hierarquização do trânsjto com. ~s" ou torres de estaciona-mento, além de criar um centro cívico.'--

Os estudos de análise das estruturas ~rritoriais regionais e urbanas alcançaramelevado nível de teorização nos EstadosUnidos, através dos estudos de WALTERISARD, EDWARD ULMAN, LOWDON WINGO Jr., RAYMOND VERNON,WILLIAM ALONSO, JOHN R. FRIEDMANN, IRA S. LOWRY, EDWIN vonBOVENTER, etc.

Também os estudos de circulação urbana atingiram grande desenvolvimentonaquele país, principalmente, no que se refere à projeção de trânsito através demodelos matemáticos complexos e de precisão.

Desde 1917 que os planejadores norte-americanos têm seu American CityPlanning Institute, órgão de classe profissional.

"\-----r----------~4.5.4. Outros paises

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A Finlândia tem uma tradição de planejamento urbano que remonta ao séculoXVII quando o reino Suécia-Finlândia era uma potência mundial.t Já naqueletempo, cerca de 15 de suas atuais cidades foram planejadas segundo os esquemasrenascentistas, geométricos. O mais conhecido desses planos é o de Harnina, cidade

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de traçado ortogonal, em forma estelar, cujo plano datado de 1722 foi renovado,em 1962, por OLLl KIVINEN.

ixcomo as construções, em sua maciça maioria, eram de madeira, havia sempreincêndios devastadores que proporcionavam a oportunidade de um novo plano àcidade devastada~Uma legislação urbana de 1856 estipulava que as cidades deveriamser constituídas de zonas de incêndio, separadas entre si por Iargas avenidas, prote-toras, que impediam a passagem do fogo de uma zona a outra, Avenidas, jardinsamplos, arquitetura de estilo "império", sebes verdes unindo os edifícios entre si,edifícios públicos construídos em parques abertos (ideal neoclássico), dão àscidades finlandesas do século XIX uma paisagem agradável.

CAMILO SITE teve alguma influência sobre o planejamento na Finlândia,provocando um breve retorno às praças medievais, em fins do século passado.Neste século, em seus primeiros 50 anos, predominou o "monumental" na arqui-tetura e no planejamento urbano. Em Helsinque, os conjuntos residenciais dos dis-tritos de Eira e Kulosaari, foram construídos conforme os princípios da "ArtNouveau".

ELlEL SAARINEM, autor do célebre livro The City , que traz uma impor-tante contribuição à teoria do planejamento urbano, em 1915, ainda na Finlândia,fez o plano de Munkkiniemi - Haaga, inspirado na teoria da cidade-jardim deHoward. Entre 1911 e 1915, SAARINEN elaborou o plano diretor de Budapest,venceu o concurso para a elaboração do plano diretor de Tallinn e preparou, junta-mente com outro planejador, um esquema para o plano de Helsinque. ProjetouSAARINEN, entre outras obras, os distritos marginais ao lago de Chicago, em 1923.

Alguns projetos significativos que se seguiram: - subúrbio-jardim de Hel-sinque chamado Kapyla (1921-1924), financiado pelo poder público municipal;área residencial das indústrias Sunila por ALVAR AALTO (1936) e a Vila Olímpicapara os Jogos Olímpicos de 1940 por H. EKELUND e M. VALIKANGAS.

O planejamento regional começou na Finlândia, em 1940, com o projeto deALVAR AALTO do vale do rio Kokenaki.

Depois da 2~ Grande Guerra, ALVAR AALTO desempenhou papel impor-tantíssimo na reconstrução das cidades finlandesas, assim como OTTO MEURMANe OLLl KIVINEN.

'\l(0 mais conhecido projeto urbanístico da Finlândia contemporânea é a cidade--jardim de Taplólrfi. Foi projetada por uma equipe pluriprofissional dirigida porHEIKKI VON HERTZEN, diretor executivo da Fundação de Habitação. O projetoprincipiou em 1951.

Tapíola é uma nova cidade situada no Golfo da Finlândia a 11 Km à oestede Helsinque. Inicialmente foi projetado um núcleo de 17.000 habitantes para umacidade de 80.000 habitantes. Em relação às suas 4.575 unidades residenciais, 6.000empregos foram previstos em todas as categorias menos na de indústria pesada. Apopulação é balanceada, econômica e socialmente, evitando-se predominância dedeterminados estratos sociais ou de famílias de padrões de renda uniformes. O pro-

Urbanismo 261

jeto de seu centro (core) foi vencido por AARME ERVI (1953) que conseguiu umaclareza de expressão e uma harmonia dificilmente igualáveis em projetos semelhan-tes. Lembra uma cidade-jardim pela abundância de espaços vazios e verdes.

A urbanização da França, iniciada à época do Império Romano, intensificadaem fins da Idade Média pelo desenvolvimento do mercantilismo, atravessa a Renas-cença, os tempos modernos e chega à Revolução Industrial em meados do séculopassado, com algumas realizações no setor do planejamento urbano: os mosteirosdo século VI foram a origem de inúmeras cidades francesas, castelos e vilas da épocade CARLOS MAGNO, criados para defender o Império Franco, deram origem acidades (Halle, Merseburgo, Magdeburgo, etc.); nos séculos IX e X, aldeias e cidadesfronteiriças são amuralhadas, em virtude das invasões bárbaras, assim como castelossão construídos, até que no século XIV todas as cidades estavam protegidas pormuralhas. Entre 1220 e 1350, mais de 300 fortalezas ou novas cidades foram fun-dadas em França. Porém, apenas algumas dessas fundações se transformaram emcidades verdadeiras. Essas cidades ou fortalezas eram chamadas "baluartes". Geral-mente, possuíam um plano retangular ou quadrado, eram protegidas por um fossoe uma muralha e, algumas, por um castelo ou cidadela.

'\:(A cidade renascentista francesa exalta, pelo Grande Estilo, o despotismo. Ospalácios do Louvre e Versalhes são monumentos à grandiloqüência arquitetônica,ao Grande Estilo, ao absolutismo.

Entre 1853 e 1869, o barão HAUSSMANN, sob o beneplácito de NAPO-LEÃO 111, pela primeira vez, encara uma renovação urbana como um técnico, umurbanista e não como um esteta, um arquiteto, na acepção restrita do termo. Abreamplas avenidas à época dos veículos à tração animal (velocidade média: 4 Km/ho-ra) que até hoje servem ao trânsito motorizado (velocidades superiores a 80 Km/ho-ra).

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Mais modernamente, em França surgem TONY GARNIER (La Cité Indus-triel/e) e LE CORBUSIER (Une Vil/e Contemporaine, Plan Voisin, La Ville Radi-euse, projeto de Argel, Nemours, etc.). Atualmente, há destacados urbanistas emFrança estudando problemas ligados ao urbanismo subterrâneo, urbanismo subma-rino, às estruturas urbanas projetadas para o futuro, à metodologia do planejamentourbano e regional, à análise regional, à economia urbana, à construção de novascidades, etc.

'C/'A França possui uma tradição respeitável no ensino do Urbanismo que láprincipiou por volta de 1916.~(

'~O início .da urbanização da Alemanha parece-se, historicamente, com a daFrança. Teve origem na colonização levada a efeito pelo poderoso Império Romanoe, posteriormente, pela Igreja Romana~\Nos séculos IV e V seu território é invadidopelos germanos, povos indo-europeus, de diversas origens: alamanos, bávaros, fran-conianos, saxões e turíngios. Do século VI ao IX, de CLOVIS a CARLOS MAGNO,surgem reinos na Alemanha que prestam vassalagem aos francos, com exceção dossaxões, que são submetidos a CARLOS MAGNO, finalmente. Nesse período a

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Alemanha é evangelizada pelos missionários católicos e muitos mosteiros são funda-dos, transformando-se, posteriormente, em cidades.

Com o esfacelamento do Império Carolíngio surge, na Alemanha, um feuda-lismo aguerrido e forte, cujo aparecimento foi favorecido pelas invasões de novashordas bárbaras: normandos, dinamarqueses, húngaros, morávios, etc. Cidades forti-ficadas e mosteiros se fundam: Friesack, Chorin, Lehnin, Gransee e outras. Em~1134, Lubeck é reconstruída, das cinzas a que fora reduzida pelos eslavos. Depoisdo ano 1200, muitas cidades se fundam nas regiões da Prússia, Saxônia, Silésia,Áustria e Polônia: Berlim, Breslau, Kovno, Brest-Litovsk, Riga e outras mais. Em1400, Colônia fundada pelos romanos, era a mais importante cidade alemã, com30.000 habitantes.

Os mercadores flamengos e banqueiros italianos, a partir do século XIII,haviam estabelecidos um intenso comércio transalpino e as cidades do sul da Ale-manha se desenvolveram muito: Augsburgo, Nuremberg, Ulm e Estrasburgo.

A Liga Hanseática que controlava cerca de 80 cidades e todo o comércio donorte da Europa deu grande desenvolvimento à urbanização da Alemanha e de seusvizinhos, principalmente, da Holanda. As cidades que se situavam nos mares inte-riores da Europa (Mediterrâneo e Báltico) e nas vias de ligação entre eles crescerammuito durante o período medieval. Com o deslocamento do eixo comercial europeupara o Atlântico (portugal, Espanha, Inglaterra e Holanda), a urbanização desloca-separa a orla atlântica da Europa.

Nuurante o Renascimento, na Alemanha, a cidade também adota em algunscasos, o "grande estilo": Carlsruhe e Mannheim, ambas, port~ fluviais do Reno, são"ernbelezadas" segundo os modelos parisienses de Versalhes.

~m 1868 é editada na Alemanha a primeira legislação urbanística, no GrandeDucado de Badert:-Dava ela à autoridade municipal competência para fixar o alinha-mento das edificações e a divisão da rua e dos lotes para edificações. Assim, osistema viário, na teoria do planejamento urbano foi o primeiro a merecer os cui-dados da lei. Só em fins do século XIX é que surgiram as primeiras ordenaçõessobre usos do solo, na Alemanha.

O movimento artístico de maior relevo surgido na Alemanha deste século tal-vez tenha sido o criado pela BAUHAUS, escola de arte e arquitetura fundada porW. GROPIUS em Weimar, em 1919 e transferi da para Dessau (1925-1932). Com asubida de HITLER ao poder em 1933, os mais representativos artistas daBauhaus, refugiaram-se nos Estados Unidos: GROPIUS, LUDWIG, HILBERSEI-MER, NEUTRA, WASSILY KANDINSKI, PAUL KLEE, LUDWIG MIES VANDER ROHE, LAZSLO MOHOLY-NAGY e outros.

Após a 2~ Guerra Mundial, ainda obedientes aos princípios da Carta da Ate-nas (1933-CIAM), algumas obras de urbanização foram executadas: desde 1945,Hanover foi reconstruídá e totalmente planejada; a renovação de Kreuzkirche é umdos primeiros exemplos de estudos de áreas centrais destruídas; algumas extensões

Urbanismo 263

de cidades, tais como a de Hemmingen - Westerfeld; bairros residencias de Berlim(Markisches Viertel, ao norte, e Britz-Buckow-Rudow, a sudeste); bairros residen-ciais de Hamburgo; renovação das áreas centrais de Munique, Essen, Bremen, Colô-nia, Kassel, Dusseldorf, etc. O plano de Buckow-Rudow à sudeste de Berlim Ociden-tal é comumente chamado de Plano Gropius de vez que foi elaborado por WALTERGROPIUS. Outros planejadores que se destacaram na Alemanha Ocidental do apósguerra: HEINLE, WISHER e Associados (Vila Olímpica de Munique, 1872) WAL-TER SCHWAGENSEHEIDT e TASSILO SITTMANN (Frankfurt), FRITZEGGELING (Nova Cidade de Wulfen), H.B. REICHOW (Nova Cidade deSennestadt), FRANZ REIDEL (plano da comunidade de Langwasser à sudeste deNuremberg, para 60.000 hab.) e outros mais.

Na Alemanha Oriental, um dos mais importantes planos urbanísticos implan-tados foi o da reconstrução do centro de Dresden. Algumas novas cidades foramprojetadas e construídas: Schwarze Pumpe, Houerswerda, Schwedt (no rio Oder) eHalle-Neustadt.

O projeto de expansão de Rostock, o mais importante porto da AlemanhaOriental, é um de seus mais famosos planos urbanísticos, assim como o plano derenovação urbana de Erfurt,

4.5.5. Evolução urbana~o Brasil~ -;;

4.5.5.1.\ economia portuguesa, à época da descoberta do Brasil, era me...r.cap-~. Havia em Portugal, um regime semifeudal, representado por uma aristo-cracia patrimonial e uma monarquia absoluta aliada aos mercadores, em sua grandemaioria, estrangeirot Convém lembrar,de passagem, que a dinastia então reinante,fundada pelo bastardo Mestre de Avis, D. João I (1385-1580), fora apoiada pelaburguesia comercial.

?f ~lill de tomar posse-das t~rras d~s~~b~rtas, ~ortygaLdiy:~~ís em c,api=-anias hereditárias - visando atraves da illlclativa nvada colonIza-lo e es lor -10.

O fracasso desse sistema levou a coroa portuguesa a criar o sistema de Governo~~ Aos donatários, colonos e governadores gerais cabia a relevante~nção de fundar cidadeS na colônia. A primeira cidade unda, a no B.rÂ8i.l.:.Il~cetersido Igaraçu em Pernambuco e SZ4(Seguiram-se depois as segu.itl1~escidades:Marim (Olinda) em 1530 (Pe Recife (PEJ~1531,J'ao/Vlcen (SP) e Ita-nhaém (SP) ["m 1532, Vit ria ( S) em V5r:), Vil~ do ~ereira (Salvador) (B ) em1536, Vial d~ São Jorge ( héus (BA) em h 540;Santos (sI» ~,543, It 'aracá(PE) em 1548~alvador(B m 1549,SãO~ -Io(1554),P r:anaguá(PR)-em 1560Rio de Janeiro (Gin em 1565, Ni-tet:ói-fR:-Jem 1573 e outras mais \fi) fJ ~

18 Martim Afonso de Souza instala a 22/janeiro/1532 a Câmara de Vereadores chamadaRepública Municipal, a primeira a se implantar no Brasil. As novas Repúblicas foram instaladasem Olinda (1537), Santos (1545), Salvador da Bahia (1549), Santo André da Borda do Campo(1553) ...

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,mbora o capital mercantil não se aplique à produção, no Brasil, excepcio-

nalmente, para assegurar sua posse, os mercadores portugueses e holandeses inves-tiram na empresa colonial açucareira, principalmente, em Pernambuco ~

?'Quando em 1580 Portugal é anexado ao }eino da Espanha é proibida aosholandeses a comercialização do açúcar brasileiro. O produto na época provinha dotrabalho escravo, tendo portanto baixo custo. O mercado para isto na Europa erabom, sendo a distribuição feita a preço razoável. Pernambuco, o maior centro açu-careiro do País, foi, então, invadido pelos. holandeses, que ofereceram tais e tantasvantagens aos produtores de açúcar, que acabaram por aderir ao invasor, ou pelomenos por aceitar, indiferentes, o domínio holandês. Portugal mais tarde recuperouo domínio das terras invadidas, com o auxílio dos brasileiros.

r Nossa civijização desenvolveu~se ao lon o do litoral, tendo sido, jocosamente,chamada por gu , e CIV'ização de caranguejo". A sociedade era escravagista e~@ rural. (Açúcar, gado, lavoura.) A cidade não tinha nenhuma importânciaRolítica ou economlca e era pobre. Todavia, era um instrumento de congUlsta1.....de_~;-minação militar e eCQn~ sobre a--.(;.Qlô.Ilia. "A cidade foi fundada pelo

\' Conquistador para atender aos mesmos objetivos a que serve ainda hoje: incorporar

a população indígena à economia trazida e desenvolvida pelo Conquistador e seusI

\ descendentes". 19 •

Í'Posteriormente, na área açucareira o astoreio se arou-se da a ricultur~Aquele se embre ou para o interior do aís e esta fIxou-se no litoral. A sociedadefIcou então, assim dividida..:....

~ L~t0lJ!l:sociedaç!~ escr~ .sta mercan tilista.'" .[!JJp;i@: .regime_semi:WJ,ldal,_Qll..d~ trabalhador é um servo dos donos das

t~ (O rabalhador vendia sua rodu ão em troca de su .manúi~nçãõLe e;a li;;epara vender sua orça de trabalho a quem quisesse, ao menos teoricamente.) O.fe~dalismo brasileir~ ~ãié as "êIuZadas" do europeu-, re resentadas _pelas "ban-deíras't.?" na opinião de alguns autores.

.......4.5.5.2. Aldeamentos indtgenas

/os primeiros embriões de cidades surgiram nos aldeamentos indígenas, feitospelos jesuítas e franciscanos, dominicanos ou salesianos. Eram do estilo "tabuleirode xadrez", ocupando a igreja uma posição de destaque em uma praça (o largo damatriz).

19 Citação de Andrew Gunder Frank in "Urbanização e subdesenvolvimento" - Rio deJaneiro - Zahar - 1969, p. 28.

20 Esse "feudalismo" brasileiro como de resto, o latino-americano é sui generis, ou seja,assemelha-se ao feudalismo europeu sem se igualar a ele. Economicamente, o feudalismo seapresenta como um sistema fechado, dominado por uma classe social - os barões ou senhores -intermediária entre a realeza e o povo. O produtor era dono dos próprios meios de produção.Portugual medieval era um Estado patrimonial e não feudal. Veja-se sobre' o assunto, de RA Y-MUNDO FAORO, Os Donos do Poder.

) Urbanismo> 265

Figura 10.21 - Diagrama do tabuleiro de xadrez brasileiro.

, , Exemplos de cidades originadas de aldeamentos indígenas: Missão Nova,Missão das Almas, etc. (Norte e Nordeste); Santa-Cruz- São Mateus, Piúma, Bena-vente-{Bahia>-Espírito Santo); Itaboraí ou-São-Pedro da Aldeia (Rio de Janeiro);São Paulo, Itapecerica, Embu, São Miguel, Sant' Ana do Parnaíba, etc. (São Paulo).

fIZ- 4.5.5_3. Cidades de Origem Militar

Algumas cidades que tiveram origem na função militar: Salvador (BA), Natal(RN); Fortaleza (CE); Manaus (AM), Belém (PA), Santarém (PA), Marzagão (GO);Óbidos (PA); Castro (PR); Avanhandava (SP); Laguna (SC), Desterro (hoje Floria-nópolis) (SC); Sacramento (MG).

-4.5.5.4. Ciclos econômicos e suas cidades

_ a) Ciclos do açúcar e da mineração

O ciclo da mineração causou o aparecimento da várias cidades. Tanto ele-quanto o do açúcar eram escravagistas, mas, no período da mineração, os escravos,servos e homens livres trabalham, lado a lado, em condições mais humanas.

( Sob o aspecto socioeconômico, entre os senhores e escravos surgiu a classemédia, que deu origem mais tarde à burguesías Neste ciclo, cresceu, de uma maneiramuito acentuada, o mercado de trocas, pois dentro da região não havia possibilidadede os mineiros produzirem todo o necessário para sua manutenção. Este comércio

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266 Célson Ferrari

gerou um grande deslocamento de tropas para as Minas Gerais, e, conseqüente-mente, a abertura de novos caminhos e a criação de inúmeros núcleos urbanos. Opólo mineiro teve o mérito de promover a integração do centro do País com asregiões pecuaristas do Nordeste e do Sul.

Sob o aspecto demográfico, a mineração atraiu um grande fluxo de popu-lação branca, européia, responsável pela etnia prevalecente no ~País.21 O ciclo damineração originou dois tipos de cidades:

a.i. - Cidades que surgiram nos locais de mineração, tais como:

Em Minas Gerais: Ouro Preto, Mariana, Sabará, Caetê, Queluz, São João DeIRey, Estrela do Sul, Diamantina, Congonhas do Campo.

Em Goiás: Goiás, Ouro Fino, Meia-Ponte (hoje: Pirenópolis), Jaraguá, SantaLuzia, Cavalcante, Arraias, etc.

Em São Paulo: Apiaí e Eldorado Paulista '(antiga Xiririca).

Em Mato Grosso: Cuiabá e Mato Grosso.

No Paraná: Curitiba e Paranaguá.

No Rio Grande do Sul: Lavras e Encruzilhada do Sul.

a.2. - Cidades nascidas da circulação provocada pela mineração (pousos,encruzilhadas, postos de pedágio, passagens difíceis): Exemplo: Pouso Alegre, PousoAlto, Passa Três, Passa Quatro, Passa Vinte, Registro, Curral d'EI Rei,22 Lajes, Soro-caba, Mogi-Guaçu, Feira de Sant'Ana, Malhada Grande, Feira de Conquista, CasaBranca, etc.

Aspectos arquitetônicos e urbanísticos: desenvolveu-se na época uma arquite-tura barroca, de valor inestimável, sobretudo pela sua originalidade.

As cidades nascidas nesse ciclo, na área de mineração, passaram, então, a sernossas cidades barrocas. São barrocas na arquitetura de seus edifícios, mas, quantoa traçado, são de concepção medieval: ruas estreitas, curvas, semhierarquização devias e sem zoneamento.

b) Ciclo do café

...-- O café é um produto que necessita de latifúndios e de mão-de-obra abundantepara conseguir excedentes exportãveís Poi, primitivamente, escravagista.

,

21 Não fosse a acentuada imigração de população branca provocada pela descoberta doouro nas Minas Gerais, principalmente, a população brasileira atual se assemelharia, etnica-mente, à do Caribe, pelo predomínio da raça negra.

22 Curral d'El-Rei, nasceu da fazenda do Cercado, fundada pelo paulista JOÃO LEITEDA SILVA ORTlZ, o Anhanguera 11, em 1701. Logo, Cercado se tornou um verdadeiro"curral" do gado vindo da Bahia e da região do S. Francisco para abastecer as zonas aurfferasdo rio das Velhas e um próspero povoado ali se formou: Curral d'El-Rei. Duzentos anos maistarde surgiria naquele mesmo local, Belo Horizonte 01eja-se ABÉLIO BARRETO em BelloHorizonte - Memária, histórica e descriptiva, Belo Horizonte: Livraria Rex, 1936, 356 pp.)

Urbanismo 267

Em 1850, sob a pressão da Inglaterra, a monarquia promulga lei proibindo otráfego de escravos no Brasil. A Inglaterra exerceu pressão nesse sentido por razõeseconômicas: o açúcar brasileiro, graças à mão-de-obra escrava, concorria com oinglês, no mercado mundial, a preços vantajosos. O capital comercial empregado notráfico de escravos passou a ser investido no café, e em menor escala numa indústrianascente no país.

Como o café era produto de exportação, os países importadores começaram aconstruir estradas de ferro aqui. Todas eram estradas colonialistas, nitidamente vol-tadas para a exportação e nunca para a integração do país. Elas eram de bitolas dife-rentes, característicos de traçado diferentes, velocidades de projeto diferentes, infra--estrutura diferente, não se interligando. Enquanto isso, nos Estados Unidos oscolonos se preocupavam em levar a civilização de Leste para Oeste, construindoestradas que davam progresso a estas regiões. Eram estradas pioneiras, que deramcondições de sucesso a grande marcha para o distante oeste ("far west"). No Brasil,ao contrário, as estradas de ferro foram empós da colonização já encontrando fun-dados as aldeias e pousos que depois se transformaram em cidades.

A partir de 1850, o escravo passou a custar muito caro. Com a intensificaçãoda agricultura cafeeira, o trabalho escravo tomou-se insuficiente e incompatívelcom uma estrutura econômica rentável. O negro tinha poucos conhecimentos, eracaro, de baixa produtividade e fugia muito. Os cafeicultores passaram então a utili-zar-se dos imigrantes. Veio muita gente da Europa, com civilização e cultura maiselevadas que as predominantes aqui. Houve uma renovação urbana acentuada noBrasil. Nossa arquitetura enriqueceu-se com a contribuição dos imigrantes italianos,alemães, ingleses, etc. e o fenômeno de urbanização, além de acentuar-se, enrique-ceu-se, formalmente. É que a burguesia, àquela época, não era "crioula", nacional:era estrangeira (portugueses e ingleses) e ligada às economias européias.

Com a abolição da escravatura a 13 de maio de 1888, os latifundiários docafé que já estavam desgostosos com a monarquia apoiaram a implantação daRepública, em 1889. A República, regime próprio da burguesia, no Brasil, surgiu dofeudalismo latifundiário mais evoluído, não escravocrata, paraxodalmente.

Por que Rui Barbosa não se elegeu presidente da República a despeito de suanotoriedade em todo o País? Simplesmente porque era um lídimo burguês, cujosinteresses de desenvolvimento industrial, urbano, se opunham aos interesses daque-les que pretendiam conservar o País como seleiro de matéria-prima do mundo, im-portando os produtos manufaturados. Dizia-se: "O Brasil é um país essencialmenteagrícola", pretendendo com isso dizer que deveria permanecer "exclusivamenteagrícola".

Com a monocultura do café, intensifica-se a urbanização e modernização dealguns núcleos." Novas cidades foram surgindo como "bocas de sertão": Campinas,

23 O processo de urbanização se reflete no crescimento prodigioso de São Paulo: de31.385 habitantes, em 1872, passa para 47.696 em 1886 e atigen 64.934 habitantes em 1890.

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268 Célson Ferrari

Limeira, Pirassununga, Descalvado, São Carlos, Araraquara, Mogi-Mírim, CasaBranca, Mococa, Ribeirão Preto, Marília, Bauru, depois as cidades do norte doParaná. Muitas delas já tinham sido fundadas como antígospousos, cruzamentos devias de transporte, incipientes núcleos de mineração, ou tendo origem nos "patri-mônios" doados pelos proprietários de terra para sua urbanização, mas adquiriramforos de cidade com a chegada do café. Continua a prevalecer o traçado retilíneoortogonal, quase sempre do tipo "tabuleiro de xadrez" com sua rua principal par-tindo da estação ferroviária, com uma praça (geralmente, uma quadra) contendo aigreja matriz, ostentando, porém, uma arquitetura mais moderna, cosmopolita, emais e melhores equipamentos urbanos (iluminação das vias publicas, bondes, sanea-mento básico e pavimentação).

.-, c) Ciclo da industrialização

'Áté 1930 'as condições socioeconômicas do Brasil não são favoráveis à indus-trialização. Apenas durante a 1~ Grande Guerra (1914-1918), dadas as dificuldadesde importação, desenvolve-se no Brasil (São Paulo, principalmente) uma pequenaindústria de substituição de bens ímportados.>

Depois com o cracking mundial de 1929 que aqui repercutiu intensamenteabalando a economia cafeeira, o tenentismo burguês de nossas forças armadas im-planta a Revolução de 30, derrubando o feudalismo agrário do poder e dandoautenticidade à república brasileira.No Brasil, a burguesia só assume o poder depoisda revolução de 30. Com essa revolução, através de uma legislação protecionista e.trabalhista, a indústria incipiente pôde desenvolver-se. É o marco zero de nossarevolução industrial.

De passagem, seja lembrado que o ciclo do café preparou os caminhos para osurgimento da industrialização. A "fazenda" de café difere, substancialmente, do"engenho" de açücar. O "engenho" é auto-suficiente, ruralista e aristocrata. A "fa-zenda" é uma forma de exploração capitalista do solo, dependente da comerciali-zação urbana e quase burguesa. HANDELMANN, numa intuição certeira, chamouao cafeeiro de "planta democrática". Além do mais, .tendo os colonos origemurbana, em sua maciça totalidade, contribuíram parao desenvolvimento da pequenaindústria, principalmente, da agroindústria.

"* // A cidade derrotou o campo, em termos de predomínio político e econômico""\ a partir de 1930, acentuando-se a urbanização do país':A correlação entre industria-

lização e urbanização fez com que as regiões mais industrializadas (São Paulo, Riode Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul) sofressem um aumento demográficosuperior às demais regiões e com que suas cidades crescessem mais que as outras.A urbanização mais se acentuou após a 2~ Grande Guerra quando a industrializaçãoadquiriu novo e vigoroso impulso.

Vejam-se os incrementos populacionais do Estado de São Paulo nas três últi-mas décadas (Tabela 10.5).

Urbanismo 269

TABELA 10.5: CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO PAULISTA.

Datas dosPop, total %*CENSOS Pop. Urb. %* Pop. Rural %*

1940 7.180.316 - 3.168.111 - 4.012.205 -1950 9.134.423 27,2 4.804.211 51,6 4.330.212 7,91960 12.974.699 42,0 8.149.979 69,2 4.824.720 11,41970 17.958.693 38,4 14.432.244 77,2 3.526.449 6,2

* Incrementos populacionais em %.

+Pressionados pelos' problemas urbanos os a~nistradores principiaram a en-carar o planejamento como um meio de resolvê-Ios.

A rigor, o planejamento urbano iniciou-se com o plano de Brasílía." É semduvida, o primeiro plano urbanístico elaborado em bases científicas, representandouma síntese intuitiva, porém, genial, das teorias racionalistas e empiristas, conhe-cidas à época do projeto, representada por uma trama linear modificada. ApósBrasflia, muitos escritórios especializados em planejamento regional e urbano sur-giram no País e centenas de planos de renovação e extensão urbanas foram elabo-rados, bem como planos de distritos ou cidades industriais e de grandes conjuntosresidenciais.

--Antes de Brasília, o único plano sério conhecido é o da Cidade dos Motoresfeito por J. L. SERT, que não foi implan\ado.'-

Só mesmo, eufemístícamente, pode-se considerar como' planejamento urbanoo processo de trabalho que levou alguns técnicos a elaborarem os "planos" de BeloHorizonte (engenheiro AARÃO REIS), Qgiânia.{AIÍLIO CORREIA LIMA-e-irmã.Qs.COIMBRA BUENQ), Aracajú (engenheiro SEBASTIÃO PIRRO), Teresina, Ara-garças, Fortaleza (arquiteto português SILVA PAULET), Piracicaba, Londrina e deoutras cidades brasileiras. Na melhor das hipóteses, são simples traçados urbanosconvencionais, sem regulamentação de zoneamento, sem hierarquização de vias esobretudo sem a implementação necessária e indispensável ao prosseguimento doprocesso de planejamento. Isto, sem falar nos aspectos sociais e econômicos, nãoconsiderados no processo. Eram planos para a época em que foram elaborados: sódentro dessa relatividade de tempo podem ser aceitos como planos. Em verdade,não passavam de "riscos" de cidades ...

24 A idéia de situar a capital do país em seu interior, longe do litoral, é bem antiga.VELOSO DE OLIVEIRA, em 1810, aconselhara a D. JOÃO VI: "Que a Corte não se fixeem algum porto marítimo... principalmente se ele for grande e em boas proporções parao comércio, mas em lugar são, ameno, aprazível, isento do tropel das gentes indistinta-mente acumuladas". Em 1823, JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, o Patriarca,não só sugerira a mudança da capital para o planalto central corno dera-lhe o nome: Brasflia.Foi no governo de J. KUBITSCHECK que a mudança da capital foi autorizada pela lein'? 2874 de 1.9 de setembro de 1956.

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270 Célson Ferrari

Figura 10.22 - Plano de Belo Horizonte.

5. A cidade do futuro (ficção e ciência)

7- ARTURO SORIA Y MATA, criador genial da cidade linear, dizia que osmales contemporâneos derivam das formas das cidades.\

Alguns urbanistas de tendências marxistas diziam que como a forma dacidade é resultado da forma de produção capitalista (que exige grande concentraçãodos fatores de produção e se baseia na propriedade privada do solo), o correto seriaabolir a causa desses males: o sistema capitalista. A solução preconizada por alguns,seria a desurbanização. Mas qualquer economia, socialista ou capitalista, necessitada cidade para o seu desenvolvimento pelas economias de escala que gera.

Outros acusam especificamente, a propriedade privada do solo urbano, comocausa de todo o caos urbano. ·'Assim é que WRIGHT MILLS, em 1959 escreveu:"Não são acaso, a ganância capitalista e a acumulação de capital o denominadorcomum de toda essa "ordem"? Não são característicos de nosso meio os interessesprivados imobiliários e a publicidade desabrida? Para eles, nossas cidades não sãodesordenadas: ao contrário, acham-nas tão ordenadas como os arquivos de seustítulos de propriedade" (Miséria de Ia ideologia urbanistica, F. RAMÓN, p. 143.)

Diante disso tudo, surge a questão fundamental: Pode-se mudar a cidade semse mudar o regime econômico que lhe deu origem?

Urbanismo 271

Figura 10.23 - Plano de Brasília.

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272 Célson Ferrari

__ A nosso ver, a cidade contemporânea, filha, sem dúvida alguma, originalmenteda forma de produção capitalista, é uma conquista de nossa civilização comum,capitalista ou socialista, desejosa de desenvolvimento econôm~co, desejos~ de c~n-sumir cada vez mais o supérfluo, amante do conforto matenal, etc. Sena precisoretomar a uma civilização agrária, negar o progresso, para mudar a cidade?

Algumas tentativas de solução para os males da cidade: Unwin, o planejadordas duas cidades jardins inglesas (LETCHWORT e WELWYN) disse, ante a ComissãoBarlow .em 1939: "A nacionalização do solo seria a solução mais completa do pro-blema": referindo-se ao problema da distribuição da população industrial na Grã--Bretanha.

O gráfico abaixo] mostra, esquematicamente, corno a propriedade pri:~da dosolo trabalha contra a prosperidade, consumindo parte dos lucros das atividadesprodutivas e da cidade:

Unwin, diz que se a propriedade privada deixasse de existir sobraria 'parainvestimentos e para o governo local toda a renda que lhe é destinada.

, KROPOTKlN e BORSODI (Russos) - propõem acabar com as cidades,fazendo do país inteiro, uma cidade. Suas teorias são consideradas desviacionistas, eas vantagens da vida urbana são inegáveis para serem simplesmente repelidas.

A solução mais correta virá, por certo, de pesquisas de novas formas de vidaurbana.

Existem instituições que estão estudando novas formas de cidade: Na França,estudam-se cidades subterrâneas, para o caso de uma guerra atômica; DetroitEdison Company, iniciou estudos sobre o futuro da região urbana de Detroit;outros urbanistas estudam cidades submarinas ou flutuantes, como os ingleses ejaponeses.

PROPRIEDADE

PRIVADA

Figura 10.24 - Esquema do funcionamento da economia urbana.

rUrbanismo 273

Há propostas ainda para as "cidades-torres". RINO LEVI, concorrendo aoConcurso de Brasília, em 1957, apresentou audacioso plano que era "um esquemaaberto, uma imagem de cidade otimista, inédita, um marco da utopia do século XXfincado no deserto", no dizer elegante de BRUNO ZEVI. Eram quatro edifícios,com rede viária elevada, de 300 m de altura, que .atordoaram o júri e o levaram ainquinar a concepção de mecanicista e inexeqüível.

~ Outros tentam tornar a vida urbana possível nos desertos, através de umsistema de água e esgotos interligados, sem perda dos dejetos c1oacais. \)-

Muitos urbanistas pesquisam a possibilidade de se construírem cidadessegundo grandes, sistemas estruturais, lançando as bases do urbanismo espacial.Kenzo Tange formulou uma solução espacial para Tóquio. Yona Friedmann feztentativa semelhante para Paris.

Estuda-se também a utilização de uma trama linear em vários níveis, quefoi, parcialmente, utilizada em Hook, cidade nova inglesa, por exemplo.

Outros estudos visam a construção de cidades prefabricadas, desmontáveis,utilizando-se da tecnologia do perecível.

Estaria a solução em ,se retomar aos sistemas utópicos, produzindo cidadesideais, no esquema racionalista empirista, organicista, etc., como o fizeram:LÚCIO COSTA, LE CORBUSIER, F. L. WRIGHT, GROPIUS, HILBERSEIMER,NIEMEYER, e muitos outros?

Para finalizar este capítulo, eis algumas idéias que, por certo, estarão pre-sentes na cidade do futuro:

a) Verticalidade ordenada do crescimento urbano. As cidades grandes deverãocrescer em sentido vertical, por meio de edifícios-bairros, edifícios-torres, orde-nados na paisagem urbana com a finalidade de se conseguir: altas densidadesdemográficas, ,descongestionamentos, áreas verdes e recreativas em abundância,etc.

b) A Cibernética deverá ser colocada a serviço da vida urbana, na automação/

dos transportes coletivos, no controle automático dos serviços públicos em geral,etc. (2~ Revolução Industrial - mecanização do trabalho mental.)

c) Novos meios de transportes urbanos que deverão afastar-se da superfíciedo solo (subterrâneo, aéreo ou elevado).

d) Abolição, talvez, da rua, por desnecessária.

e) Abolição da propriedade privada do solo urbano."

25 O solo das "New Towns" é de propriedade da Development Corporation do Min. daHabitação, bem como a grande maioria dos imóveis, De acordo com o decreto-lei nÇl 271de 28/2/1967 em seu artigo 79 (cap. 14.5) no Brasil já se pode abolir os inconvenientes da

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274 Célson Ferrari

") f) O "funcionalismo" deve sobrepor-se a to~o "formalisrno" 2~a máquinacidade. Sempre que se buscou a cidade-arte, a urbanidade foi aviltada.

g) Finalmente, o aproveitamento das oportunidades oferecidas pela tecno-l~a do perecível. Sempre se procura nas edificações, o imperecíve~. Queren.do .usartudo aquilo que tenha duração muito grande, às vezes buscam-se mcongruencias edesvantagens, como estas: pontes que afunilam estradas, made~quadas aos nossosfluxos de trânsito' unidades habitacionais obsoletas tanto sob o aspecto dos ma-teriaisquanto fun;ionalmente; edifícios públicos inadequados à~novas funções: etc.Como a demolição e reconstrução de tais obras custam muito dinheiro, vao seeternizando em prejuízo da comunidade. Dever-se-á construir tudo, pensando nasua pronta e rápida substituição. Um material que dure de 15 a 20. ~nos, podeser desmontável, ou demolido facilmente. Muitos autores, portanto, ja defendemtais idéiás e lutam pela implantação da tecnologia do perecível. Todavia', o enve-lhecimento planejado objetivando o crescimento da demanda, imperante na pro-fitópolis - a cidade do lucro - deve ser evitado a tudo custo.

Diante do exposto e já que a busca de formas estruturais ótimas pa~a n~s~ascidades não chegou ainda a termo satisfatório, é prudente e até mesmo científico

Figura 10.25 - Perspectiva da cidade de Brasília projetada por Rino Levi e sua equipe.

ropriedadc privada do solo urbano ainda que parcialmente, através da instituição do direitop '.de concessão de uso do solo urbano.

. 26 Não se pretende que a cidade-arte seja esquecida, porém. Procura-se não. ordená-laapenas "visualmente", como queria SITIE, mas, "racionalmente". Todavia, a _cnatJvl~ade,a intuição artística, não podem ser desprezadas no planejamento urbano. Intuição e raciona-lização são aspectos complementares e não antagônicos de um mesmo processo de plane-jamento.

Urbanismo 275

que os planos urbanos sejam abertos, flexíveis, de modo a permitirem o maiorgrau de liberdade possível na adaptação do planejado às novas situações emergentes.Por exemplo, em vez de se definir previamente todas as funções urbanas futurasde uma cidade é mais lógico dar-lhe as melhores condições e organizá-Ia para seudesenvolvimento "deixando a cada cidade a possibilidade de encontrar seu estiloparticular", conforme afirmou GEORGES CANDILIS ao se referir ao projeto deuma nova cidade de 100.000 habitantes. Isto não significa um retorno ao "laissez--faire", já que a necessidade de planejamento é hoje indiscútivel e verdade corri:queira aceita até por leigos. A um dogmatismo rígido de escolas urbanísticas,cada uma com seus preceitos sagrados e intocáveis, oponha-se a riqueza de umplanejamento flexível que permita um relacionamento social espontâneo e livree uma superposição natural das funções urbanas.

1Sobre a cidade do futuro há que se dizer ainda uma palavra final: o urbanismo

(urbe-cidade) tende para o orbanismo (orbe-mundo) porque em futuro não muitoremoto, o antagonismo entre cidade e campo terá desaparecido pará dar lugara um mundo totalmente urbanizado.

Há uma derradeira perspectiva para que tal não suceda: o despovoamentoda terra pelo emprego maciço das armas atuais de destruição. Os sobreviventespor certo escolherão outros caminhos para seu desenvolvimento, já que o nossoprovou ser autodestrutivo. Todavia, se optarem novamente pela urbanização domundo, após a catástrofe, diremos, repetindo FERNANDO RÂMON: "Daqui euos saúdo e lhes desejo mais sorte do que a que tivemos" (Miséria de Ia ideologiaurbanistica, p. 161).,

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