imigração ilegal, direito à nacionalidade, cidadãos e pessoas constitucionais - jus navigandi
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7/25/2019 Imigrao Ilegal, Direito Nacionalidade, Cidados e Pessoas Constitucionais - Jus Navigandi
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Publicado em 11/2013.
Elaborado em 10/2013.GOSTOU?
Imigrao ilegal, direito nacionalidade, cidados e pessoas constitucionais
problemas da atualidade ainda sem soluo
Carina Barbosa Gouva
CINCIA POLTICA DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITO INTERNACIONAL PBLICO CIDADANIA
As velhas questes que envolvem nacionalidade, pessoas e cidados continuam ainda desafiando o constitucionalismo e a
democracia.
Uma notcia[1] publicada em 19 de outubro informa que a Repblica Dominicana foi convidada pela Anistia Internacional para rejeitar uma
deciso proferida por sua Corte Constitucional que afetaria a nacionalidade dos dominicanos de ascendncia estrangeira.
A TC 0168/13 foi interposta por JULIANA DEGUIS PIE RRE perante a Suprema Corte Constitucional dominicana, tendo em vista ter sido
negada a emisso de sua cdula de identidade e de seu ttulo eleitoral, solicitada junto ao Municpio de Yamas, de onde natural. A fundamentao
para a negao do pedido da tutelante foi de que seus pais eram haitianos.
Na pretenso alegou-se, em sntese:
1. A situao de indeterminao que se encontra, no s perante a Junta Eleitoral, como tambm perante o Estado onde seus direitos devem
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ser tutelados
2. Que para a sua emisso, todos os documentos exigidos foram apresentados
3. A falta de tutela dos direitos fundamentais consagradas na Constituio, nos Tratados
Internacionais, no Cdigo Civil dentre outros.
4. Que os direitos violados so inerente a sua pessoa
5. Que a acionante continua sem amparo frente a Junta Eleitoral, e que as violaes dos
direitos fundamentais se tem extendido e aprofundado.
A Corte, de forma sucinta, assentou sua deciso na afirmao de que a competncia para a
regulao do regime de nacionalidade do direito interno. Na Repblica Dominicana, existe uma
grande quantidade de estrangeiros que aspiram obter a nacionalidade, a maior parte so imigrantes ilegais de natureza haitiana. Alcana-se, assim,
um total de 524.632 de imigrantes, o que totaliza 5,4% da populao nacional, de acordo com uma pesquisa realizada pela a Oficina Nacional de
Estatsticas, no ano de 2012.
De maneira geral, a nacionalidade considerada um lao jurdico que une uma pessoa ao Estado mas, de uma maneira mais tcnica e
precisa, no s um vnculo jurdico, mas tambm sociolgico e poltico, cujas condies so definidas e estabelecidas pelo prprio Estado. Trata-se
de um vnculo jurdico, porque dele se despreendem mltiplos direitos e obrigaes de natureza civil sociolgico, porque faz parte da existncia de um
trao histrico, lingustico, racial e geopolticos, entre outros, que conformam e sustentam uma idiosincracia particular e aspiraes coletivas e poltico,
porque essencialmente permite acesso aos direitos inerentes da cidadania, ou seja, a possibilidade de eleger e ser eleito para exercer cargos pblicos
no governo do Estado.
As determinaes e regulamentaes sobre questes migratrias pertencem ao Congresso Nacional. Informa, ainda, que a Corte
Interamericana de Direitos Humanostem sustentado que as condies e procedimentos para a aquisio de nacionalidade so predominantemente do
direito interno de cada Estado, confirmado tambm pelo Tribunal de Justia das Comunidades Europeias.
De igual maneira, ambos os pases acordaram em convnio internacional denominado Modus Operandi de la Repblica Dominicana con la
Repblica de Haiti, para regular as questes migratrias entre os Estados, onde se l expressamente, em seu artigo 4, las interpretaciones de la
expresin inmigrante sern determinadas exclusivamente por cada Estado y de conformidad con sus leyes, decretos y reglamentos.
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A Corte Constitucional estima que a tutelante no cumpre as condies para a expedio em seu favor da cdula de identidade e eleitoral, uma
vez que a Certido de Nascimento est sob investigao - tendo sido ilcita e irregularmente inscrita no Cartrio de de Registro Civil, por ser filha de
imigrantes ilegais ademais, porque tambm no satisfaz as condies previstas na Carta para a aquisio de nacionalidade.
Acontece que sendo os pais imigrantes ilegais sem identificao, no poderiam realizar o respectivo registro. A lei prev a obrigatoriedade da
apresentao de identidade nos casos de registro civil.
Esta formalidade foi implementada, tambm, para respeitar os trabalhadores haitianos que encontram-se no pas, com o propsito de garantir
uma imigrao regulamentada e possibilitar que os direitos trabalhistas sejam reconhecidos e implementados.
Eis a aquisio de nacionalidade pelo critrio ius solis, conforme a Constituio Federal dominicana:
A Corte no considerou a situao de Juliana aptrida, j que existe a possibilidade de adquirir a nacionalidade haitiana. A Constituio
Haitiana, de 1983, estipula expressamente que obtero nacionalidade haitiana originria todos aqueles indivduos nascidos no estrangeiro de pai e me
haitianaos, nos seguintes termos: son haitianos de origen (...) 2.- Todo individuo nacido en el extranjero de padre o madre haitianos.
A Corte Constitucional dominicana negou o direito de reconhecimento a nacionalidade a Juliana, mesmo tendo confirmado seu nascimento em
territrio nacional e filha de cidados estrangeiros em trnsito.
Cabe relembrar que os dois pases dividem os cerca de 76.000 km da Ilha de So Domingos, tambm conhecida como Hispaniola: a
Repblica Dominicana, a segunda maior economia caribenha, a leste, ocupando cerca de dois teros da ilha e o Haiti, ocupando o tero ocidental o
pas mais pobre das Amricas.
Separados por uma fronteira que divide a ilha do litoral norte ao litoral sul, numa extenso de 360 km, os dois pases possuem, histrica e
culturalmente, uma rivalidade secular. A situao pela qual o Haiti tem passado, na ltima dcada, vivendo um processode estabilizao, com a
Artculo 18. - Nacionalidad
3) Las personas nacidas en territorio nacional, con excepcin de los hijos e hijas de extranjeros miembros de legaciones diplomticas y
consulares, de extranjeros que se hallen en trnsito o residan ilegalmente en territorio dominicano. Se considera persona en trnsito a toda
extranjera o extranjero definido como tal en las leyes dominicanas
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presena de tropas internacionais, agravada por catstrofes naturais, ndice elevado de contaminao por clera, desempregoe dificuldades
econmicas, s aumenta as tenses com a Repblica Dominicana.
Caso a deciso seja implementada, as identidades destes indivduos sero cancelados, confinando-os ao Estado, pois no podero viajar, alm
de terem cancelados os recursos e servios do governo. A deciso afetar principalmente os cidados de origem haitiana, de acordo com a Anistia
Internacional, alm disso resultaria em inmeros abusos dos direitos humanos s pessoas que sero deixadas sem nacionalidade.
At recentemente, de acordo com o grupo Open Society Foundations todos os nascidos em territrio dominicano, exceto os filhos dediplomatas e os filhos de pais que estavam em trnsito, tinham o direito de nacionalidade dominicana . Os pais seriam considerados "em trnsito" se
permanecessem no pas por um perodo de 10 dias ou menos.
Sob esta poltica de cidadania, muitos, embora no todos, nascidos na Repblica Dominicana e filhos de imigrantes haitianos, foram
oficialmente reconhecidos como nacionais dominicanos.
Isso tudo mudou em agosto de 2004, quando uma nova Lei federal de migrao foi promulgada. De acordo com essa lei, as pessoas
classificadas como "no-residentes" agora seriam considerados "em trnsito" e, portanto, excludas da garantia de nacionalidade pela Constituio.
A partir de 2004 , as crianas de "no-residentes " j no tinham o direito automtico nacionalidade dominicana, mesmo nascendo e
possuindo sua residncia habitual na Repblica Dominicana. Em vez disso, elas devem esforar-se para se tornarem cidados do Haiti, um pas com o
qual poucos delas tm qualquer ligao afetiva.
Para piorar a situao, o governo dominicano aplicou retroativamente a lei de imigrao de 2004, tirando a nacionalidade de milhares de
dominicanos de ascendncia haitiana. Funcionrios do governo argumentam que os milhares de pessoas nessa condio, que at agora tm
desfrutado de nacionalidade dominicana, nunca deveriam ter sido reconhecidos como cidados: porque seus pais eram todos "no-residentes" no
momento do seu nascimento. Tal aplicao retroativa de uma lei contraria tanto o direito internacional e as prprias normas legais da Repblica
Dominicana .
A mudana, ocorrida em janeiro 2010 com a nova Constituio Nacional, solidificou a primeira exceo com relao a nacionalidade de no-
residentes, introduzida na lei de imigrao de 2004.
Atuais polticas de nacionalidade da Repblica Dominicana discriminam dominicanos de ascendncia haitiana, e, portanto, entram em conflito
com suas obrigaes de assegurar igual proteo dos direitos humanos perante a lei na concesso da nacionalidade e para prevenir, evitar e reduzir a
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condio de aptrida.
O grupo Open Society Foundations, por meio de suas representantes Indira Goes e Liliana Gamboa, tem denunciado que o gozo ao direito
nacionalidade tornou-se quase impossvel para os dominicanos de ascendncia haitiana. Desde 2004, esta populao vulnervel enfrentou uma
avalanche de mudanas legislativas hostis e polticas administrativas eficazes, o que os privou de sua nacionalidade dominicana, tornando-os
excludos permanentemente da vida econmica, social e cultural do pas.
A iniciativa deste grupo trabalha para atingir os seguintes objetivos: combater a negao da emisso dos documentos civil e eleitoral eprivao da nacionalidade no mbito de prover a sensibilizao nacional e internacional de discriminao no acesso nacionalidade na Repblica
Dominicana envolver-se nos desafios que envolvem as questes legais a discriminao no acesso nacionalidade, perante os tribunais nacionais,
regionais e internacionais investir no corpo poltico do governo da Repblica Dominicana no combate as suas polticas discriminatrias de
nacionalidade e for -los a efetuar a mudana a partir do Poder Executivo para alcanar o Registro Civil.
Um dos desafios propostos por Canotilho[2] ao apresentar o constitucionalismo moralmente reflexivo, que consiste na substituio de um
modelo autoritariamente dirigente, atravs de outras maneiras que permitam conjugar o projeto da modernidade, onde ele no se realizou. O desenho
institucional centrado exclusivamente na estatalidade, no vai dar conta de superar os anseios que espera uma sociedade democrtica.
Os Estados que se assumem democrticos e pluralistas devem deixar um espao para a poltica constitucional, principalmente em matria de
direitos fundamentais.
Apesar da Corte Constitucional ter negado o direito nacionalidade, adotou uma postura dialgica que em tempos
de constitucionalismotransformador, pretendeu determinar ao Poder Executivo a proceder e implementar um plano nacional de regulao de
estrangeiros ilegais radicados no pas.
As Constituies formam o corpo poltico do Estado, h uma necessidade urgente de se abordar o papel constitucional da poltica
democrtica, a fim, de ver, por exemplo, como no a separaodos poderes, mas a alternncia entre eles, que fortalece a melhor defesa dos nossos
direitos, e de fato, o que um direito fundamental dos cidados de serem tratados como iguais, com abertura de suas reivindicaes no quadro
democrtico, a fim de poder controlar a constituio permanente e suas polticas[3].
No se pode entender a dimenso de direitos dissociada da dimenso institucional. A separao dos poderes envolve no s presidentes e
parlamentos, mas tambm a posio constitucional de tribunais e das agncias administrativas[4]. Os direitos se realizam pelo brao institucional do
funcionamento do poder e caso no haja esta conexo pode gerar um artificialismo na questo do que seja o constitucionalismo.
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Pode-se dizer, assim, que a cidadaniaversa sobre o reconhecimento dos direitos dos indivduos e, desta forma, Kenneth Karst[5] afirma que o
princpio da igualdade dos cidados protege o interesse fundamental em ser tratado pela sociedade como uma pessoa, algum a que pertence.
Sendo assim, caracterizar-se- que o princpio da igualdade, em um ordenamento constitucional, inicialmente, protege a pessoa constitucional,
atribuindo condies e procedimentos para que possa participar efetivamente da organizao poltico-administrativa em que est inserida,
denominando-a de cidado. Tal princpio, ainda, prega que a proteo unssona, no perfazendo distino entre pessoas constitucionais, ou seja,
includas no Estado politicamente organizado.
Frequentemente, a cidadania e a pessoalidade so consideradas direitos opostos, podendo isso ser vislumbrado nas referncias cidadania
nacional e seus direitos conexos, enquanto que a pessoalidade invoca os direitos e a dignidade dos indivduos, independente do estado nacional ao
qual esto inseridos. Nesta linha, pode-se ponderar o pensamento de Alexander Bickel[6] de que a Constituio, exemplificativamente a Norte
Americana, no faz expresso a proteo a pessoas e sim a cidados.
O pensamento de Alexader Bickel no est em consonncia com os preceitos de proteo constitucional e, nesta linha, apresenta-se o
argumento de fundamentao da Professora Linda Bosniak[7], que considera a ambiguidade da personalidade, a partir da ideia construda de
cidadania, como por exemplo, a ideia clssica da teoria poltica que diz, conforme expressado por John Locke[8], que a compreenso do significado
estaria ligado ao poder poltico e aos direitos do homem na sociedade civil, entendido, tambm hoje, como direitos e deveres dos integrantes dasociedade civil.
Locke traz a concepo de que no existe a possibilidade de sustentar a existncia de direitos diferenciados para os homens na sociedade civil,
os homens no podem ter limitados os seus direitos a vida, liberdades, posses, sade, felicidade. Assim sendo, pode-se compreender que,
analiticamente, os termos cidadania e pessoa constitucional so indicados para ambas as relaes existentes entre os membros da comunidade
poltica. No mbito normativo, a cidadania compreendida com o universalismo no seio da comunidade, associada, ainda, a compromissos sociais.
Em se tratando de universalidade de direitos e concepes de garantias fundamentais, atribuir somente ao cidado os direitos constitucionais
previstos legitimar um verdadeiro retrocesso, inclusive democracia instituda. Tem-se, por certo, que as pessoas inseridas no Estado constitucionalso sujeitas de direitos e deveres, estando garantidos os diretos fundamentais aos cidados e as pessoas constitucionais.
Os tempos hodiernos permitem fazer uma leitura mais apurada do conceito de cidadania, pois o direito a ter direitos independe da possede
cidadania, sendo a mesma assegurada s pessoas sujeitas de direitos humanos.
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Carina Barbosa Gouva
Advogada especialis ta em Direito Milit ar/ConstitucionalDoutoranda em Direito pela UNESA Mestre em
Direito pela UNESA Pesquisadora Acadmica do Grupo "Novas Perspectivas em Jurisdio
Constitucional" Professora da Ps Graduao em Direito Militar Professora de Direito Constitucional,
Direito Eleitoral e Internacional Penal Ps Graduada em Direito do Estado e em Direito Militar, com
NOTAS
[1] Migalhas Internacional. Dominican Republic should not implement court ruling on nationality. Disponvel em . Acesso em 21 de out de 2013
[2] CANOTILHO, J. J. Gomes. Brancosos e Interconstitucionalidade: itinerrios dos discursos sobre a historicidade
constitucional. Coimbra: Almedina, 2008, p. 127.
[3] BELLAMY, RICHARD. Constitucionalism and Democracy. Internacional Library of Essays in Law Theory Second Series, p. 11-68.
Disponvel em < http://papers.ssrn.com/sol3/ papers.cfm?abstract_ id=1571492>. Acesso em 08 de jun. de 2013.
[4] ACKERMAN, Bruce. A nova separao dos poderes. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 6.
[5] KARST, Kenneth. Foreword: equal citizenship under the fourteenth amendment. Harvard Law Review, 1977.
[6] BICKEL, Alexander M. The morality of consent. Yale University Press, 1975.
[7] BOSNIAK, Linda S. Persons and citizens in constitutional thought. Oxford University Press, 2010. Disponvel em:
. Acesso em: 24 de setembro de 2010.
[8] LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. 1. ed. So Paulo: Martin Claret, 2010, p. 68.
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Internacional PblicoDireito ConstitucionalCincia Poltica
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