neoconstitucionalismo e neoprocessualismo no novo cpc - jus navigandi

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Este texto foi publicado no site Jus Navigandi no endereço http://jus.com.br/artigos/36710 Para ver outras publicações como esta, acesse http://jus.com.br O Neoconstitucionalismo e sua influência sobre a ciência processual: algumas reflexões sobre o neoprocessualismo e o projeto do novo Código de Processo Civil Marcos Meira Publicado em 02/2015. Elaborado em 02/2015. Propõese a examinar, criticamente, o fenômeno do neoconstitucionalismo para entender seus principais desdobramentos na cultura jurídica contemporânea, sobretudo, no campo da ciência processual e como inspirou a elaboração do anteprojeto do Novo CPC. Resumo: O trabalho propõese a examinar, criticamente, o fenômeno do neoconstitucionalismo para entender seus principais desdobramentos na cultura jurídica contemporânea, sobretudo, no campo da ciência processual. A partir de seus marcos teóricos fundamentais, buscase explicar alguns fenômenos jurídicos atuais, como a constitucionalização do Direito, a judicialização de políticas públicas, o ativismo judicial, a teoria da coisa julgada inconstitucional e o Neoprocessualismo. Examinase, ainda, a influência que a teoria neoconstitucional exerceu, e exerce, sobre a ciência processual e como inspirou a comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. Palavraschave: Neoconstitucionalismo. Constitucionalização do Direito. Judicialização de políticas públicas. Ativismo judicial. Teoria da coisa julgada inconstitucional. Neoprocessualismo. Formalismo valorativo. Novo CPC. Sumário: Introdução; 1. Marcos do neoconstitucionalismo; 2. O marco histórico; 3. O marco filosófico. O Positivismo. O pós positivismo; 4. O marco teórico; 4.1. Normatividade, superioridade e centralidade da Constituição; 4.2. A expansão da jurisdição constitucional. O respeito à dignidade da pessoa humana; 4.3. A nova interpretação constitucional. Conflitos axiológicos (choque entre princípios e valores fundamentais da ordem jurídica); 5. As manifestações do neoconstitucionalismo no ordenamento jurídico brasileiro; 5.1. A constitucionalização do Direito; 5.2. A judicialização de políticas públicas. Os parâmetros de controle; 5.3. O ativismo judicial; 5.4. A teoria da coisa julgada inconstitucional; 6. O Neoprocessualismo; 6.1. Evolução do direito processual. Sincretismo ou praxismo. Processualismo. Instrumentalismo. Neoprocessualismo. O formalismovalorativo; 6.2. O Neoprocessualismo e as teorias modernas do direito de ação. Direito de ação como direito à tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva. Direito de ação como direito à efetiva satisfação do direito material reclamado; 7. O Neoprocessualismo e o novo CPC; 8. Conclusões. 1. MARCOS DO NEOCONSTITUCIONALISMO. O surgimento do constitucionalismo clássico está ligado não só à promulgação das Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos da América (1787) e da França (1791), mas também à Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). A partir delas, as constituições começaram a surgir por toda Europa e, posteriormente, por outros continentes. Nessa época, todavia, a constituição era vista muito mais como instrumento político do que jurídico, o que acabava dificultando, e mesmo impedindo, a sua aplicação de fato. Foi na segunda metade do século XX, sobretudo no pósguerra, como uma reação natural aos regimes totalitários, que as constituições passaram a exercer um poder normativo efetivo, iniciandose uma nova fase do constitucionalismo, chamado de constitucionalismo contemporâneo ou neoconstitucionalismo. O neoconstitucionalismo consubstancia uma nova visão acerca dos propósitos da Constituição nas estruturas jurídicas contemporâneas. Tal visão tem por pressuposto que a Constituição exerce uma função de supremacia em relação aos demais diplomas legais. Sendo que tal supremacia vai além do controle de constitucionalidade e da tutela da esfera individual de liberdade. Ela exerce a função de norma diretiva fundamental, que se dirige aos poderes públicos e condiciona os particulares de tal maneira que assegura a realização dos valores constitucionais (direitos sociais, direito à educação, à subsistência, à segurança, ao trabalho etc.).

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Sobre o novo projeto do CPC e sua relação com o direito constitucional

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  • 05/06/2015 NeoconstitucionalismoeneoprocessualismononovoCPCJusNavigandi

    http://jus.com.br/imprimir/36710/oneoconstitucionalismoesuainfluenciasobreacienciaprocessualalgumasreflexoessobreoneoprocessualismo 1/23

    EstetextofoipublicadonositeJusNavigandinoendereohttp://jus.com.br/artigos/36710Para ver outras publicaes como esta, acessehttp://jus.com.br

    ONeoconstitucionalismoesuainflunciasobreacinciaprocessual:algumasreflexessobreoneoprocessualismoeoprojetodonovoCdigodeProcessoCivil

    MarcosMeira

    Publicadoem02/2015.Elaboradoem02/2015.

    Propeseaexaminar,criticamente,ofenmenodoneoconstitucionalismoparaentenderseusprincipaisdesdobramentosnaculturajurdicacontempornea,sobretudo,nocampodacinciaprocessualecomoinspirouaelaboraodoanteprojetodoNovoCPC.

    Resumo: O trabalho propese a examinar, criticamente, o fenmeno do neoconstitucionalismo para entender seusprincipaisdesdobramentosnaculturajurdicacontempornea,sobretudo,nocampodacinciaprocessual.Apartirdeseusmarcostericosfundamentais,buscaseexplicaralgunsfenmenosjurdicosatuais,comoaconstitucionalizaodoDireito,a judicializao de polticas pblicas, o ativismo judicial, a teoria da coisa julgada inconstitucional e oNeoprocessualismo. Examinase, ainda, a influncia que a teoria neoconstitucional exerceu, e exerce, sobre a cinciaprocessualecomoinspirouacomissodejuristasresponsvelpelaelaboraodoanteprojetodoNovoCdigodeProcessoCivil.

    Palavraschave: Neoconstitucionalismo. Constitucionalizao do Direito. Judicializao de polticaspblicas. Ativismo judicial. Teoria da coisa julgada inconstitucional. Neoprocessualismo. Formalismovalorativo.NovoCPC.

    Sumrio:Introduo1.Marcosdoneoconstitucionalismo2.Omarcohistrico3.Omarcofilosfico.OPositivismo.Opspositivismo 4. Omarco terico 4.1. Normatividade, superioridade e centralidade da Constituio 4.2. A expanso dajurisdio constitucional.O respeito dignidade da pessoa humana 4.3. A nova interpretao constitucional. Conflitosaxiolgicos (choque entre princpios e valores fundamentais da ordem jurdica) 5. As manifestaes doneoconstitucionalismonoordenamentojurdicobrasileiro5.1.AconstitucionalizaodoDireito5.2.Ajudicializaodepolticaspblicas.Osparmetrosdecontrole5.3.Oativismojudicial5.4.Ateoriadacoisajulgadainconstitucional6.ONeoprocessualismo 6.1. Evoluo do direito processual. Sincretismo ou praxismo. Processualismo. Instrumentalismo.Neoprocessualismo.Oformalismovalorativo6.2.ONeoprocessualismoeasteoriasmodernasdodireitodeao.Direitodeaocomodireitotutelajurisdicionalefetiva,adequadaetempestiva.Direitodeaocomodireitoefetivasatisfaododireitomaterialreclamado7.ONeoprocessualismoeonovoCPC8.Concluses.

    1.MARCOSDONEOCONSTITUCIONALISMO.

    OsurgimentodoconstitucionalismoclssicoestligadonospromulgaodasConstituiesescritasergidasdosEstadosUnidosdaAmrica(1787)edaFrana(1791),mastambmDeclaraoUniversaldosDireitosdoHomemedoCidado(1789).

    Apartirdelas,asconstituiescomearamasurgirportodaEuropae,posteriormente,poroutroscontinentes.Nessapoca,todavia,aconstituioeravistamuitomaiscomoinstrumentopolticodoquejurdico,oqueacabavadificultando,emesmoimpedindo,asuaaplicaodefato.

    FoinasegundametadedosculoXX,sobretudonopsguerra,comoumareaonaturalaosregimestotalitrios,queasconstituiespassaramaexercerumpodernormativoefetivo,iniciandoseumanovafasedoconstitucionalismo,chamadodeconstitucionalismocontemporneoouneoconstitucionalismo.

    O neoconstitucionalismo consubstancia uma nova viso acerca dos propsitos da Constituio nas estruturas jurdicascontemporneas.TalvisotemporpressupostoqueaConstituioexerceumafunodesupremaciaemrelaoaosdemaisdiplomaslegais.Sendoquetalsupremaciavaialmdocontroledeconstitucionalidadeedatuteladaesferaindividualdeliberdade. Ela exerce a funo de norma diretiva fundamental, que se dirige aos poderes pblicos e condiciona osparticulares de talmaneira que assegura a realizao dos valores constitucionais (direitos sociais, direito educao, subsistncia,segurana,aotrabalhoetc.).

  • 05/06/2015 NeoconstitucionalismoeneoprocessualismononovoCPCJusNavigandi

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    Oneoconstitucionalismo,emresumo,adenominaodadaporalgunsdoutrinadoresaonovodireitoconstitucional,apartirdasegundametadedosculoXX,frutodemudanasparadigmticascontidasemestudosdoutrinriosejurisprudenciaisqueenxergamaConstituiocomocentrodosistemajurdico.

    Na viso do professor e, hoje, tambm, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Lus Roberto Barroso, oneoconstitucionalismopodeserexaminadoapartirdetrsmarcosfundamentais:ohistrico,ofilosficoeoterico.Aeles,podeseacrescer,ainda,omarcoconsequencial,queanalisaoconstitucionalismocontemporneoluzdeseusefeitosmaisevidentes.

    Examinase,nasequncia,cadaumdeles.

    2.OMARCOHISTRICO.

    Apontasecomomarcohistricodonovodireitoconstitucional,oconstitucionalismodopsguerra,sobretudonaAlemanhaenaItlia.

    A reestruturao poltica da Europa, como consequncia do repdio que se imps aos regimes totalitrios de direita(NazismoeFascismo),conduziuaumaparalelareestruturaojurdicadospaseseuropeus,quepassaramporumprocesso,mais oumenos gradual, de reconstitucionalizao, logo aps a SegundaGrandeGuerra, pautado na reaproximao doDireitocomoidealdemocrtico.

    Omarco zerodesseprocesso foi aLeiFundamental deBonn (Constituio alem), de 1949, seguidapela instalaodoTribunalConstitucionalFederalAlemo,em1951,queproduziuriqussimajurisprudnciaefomentoudiversostrabalhosdoutrinriosquerealocaramaConstituionocentrodosistemajurdico,atribuindoaseutextoumcontedonormativoeaxiolgicoatentojamaisimaginado.

    SegundoBarroso:

    H razovel consenso de que o marco inicial do processo deconstitucionalizao do Direito foi estabelecido na Alemanha. Ali,sob o regime da Lei Fundamental de 1949 e consagrandodesenvolvimentos doutrinrios que j vinham de mais longe, oTribunal Constitucional Federal assentou que os direitosfundamentais, alm de sua dimenso subjetiva de proteo desituaes individuais, desempenham uma outra funo: a deinstituir uma ordem objetiva de valores. O sistema jurdico deveprotegerdeterminadosdireitosevalores,noapenaspeloeventualproveitoquepossamtrazeraumaouaalgumaspessoas,maspelointeresse geral da sociedade na sua satisfao. Tais normasconstitucionais condicionama interpretaode todosos ramosdoDireito,pblicoouprivado,evinculamospoderesestatais[2].

    AConstituiodaItlia,de1947,easConstituiesdePortugaleEspanha,jnadcadade1970,tambmsoapontadascomodadosreferenciaisdoconstitucionalismocontemporneo.

    NoBrasil,omarcohistrico foiaConstituiode1988,smbolodoprocessoderedemocratizao iniciadocomo fimdaditaduramilitar.Seutextorefletiuosanseiosdeliberdade,oidealdemocrtico,consolidouosdireitosfundamentaiscomobasedonovoregimeconstitucionaleestabeleceuumasriedeaesprogramticas(masimpositivas)aseremexecutadaspeloEstadonabuscadobemestarsocial.

    3.OMARCOFILOSFICO.

    3.1OPOSITIVISMO.

    Aescolapositivista,quesurgiudasuperaohistricado jusnaturalismo,conduziu,aindaque involuntariamente,aumreducionismodofenmenojurdico,aoidentificaroDireitocomalei,aodivorciaracinciajurdicadarealidadefticaedapercepoaxiolgica,almdospreceitosdeordemtica.

  • 05/06/2015 NeoconstitucionalismoeneoprocessualismononovoCPCJusNavigandi

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    OspositivistasconcebiamoPoderLegiferantecomodomdaoniscincia,jquesupunhamqueasregraslegislativasseriamcapazes,porsiss,dedisciplinar,demaneirauniformeeintegral,opluralismodinmicodasrelaessociais.Defendiamaconcepodequeosistemajurdicocompostotosomentedeumsubsistema,onormativo,desvinculadodossubsistemasfticoeaxiolgico.Assim,entendiamqueainterpretaoliteral,filolgica,gramatical,seriaanicacapazdeassegurarumadas funes mais significativas do Direito, que a de realizao da Justia, por reproduzir, de maneira pura e semintervenesexgenas,opensamentodolegislador.Defendiam,abertamente,queaincidnciadanormajurdicasobreoscasosconcretosdavaseapartirdeumasimplessubsuno,ouseja,umaoperaoneutra,desprovidadevaloraosubjetivaelibertadainflunciadequalqueroutrosubsistema(poltica,economia,moral,tica).

    HansKelsen,comaTeoriaPuradoDireito,foiomaiorexpoentedestacorrentedopensamentojurdico,queimaginavaoDireitocomoumsistemafechado(autopoitico),imuneeinfensoaosinfluxoserefluxosdeoutrossistemas.

    3.2OPSPOSITIVISMO.

    OPspositivismosurgiucomosntesedoembatedialticoentreoJusnaturalismoeoPositivismoNormativista,valedizer,como resultado da dicotomia entre os defensores do Direito Natural, imanente espcie humana, e os adeptos doPositivismo,embasadoemconcepoestrita,emope,doDireito.

    Essa corrente do pensamento jurdico concebe o Direito como um sistema aberto (alopoitico), plural, em constanteinteraocomomundodosfatosecomosvalorespositivosaceitospelomeiosocialeconsagradosemregrasmaterchamadasprincpios.

    Opspositivismo,portanto,umacorrentedacinciajurdicaquesuperouolegalismoestritodoPositivismonormativista,notabilizandose (a) pela ascenso dos valores (b) pelo reconhecimento da normatividade dos princpios (c) pelaessencialidade dos direitos fundamentais edificados sobre o conceito de dignidade da pessoa humana e (d) pelareaproximaoentreoDireitoeatica.

    Ao abordar a reaproximao entreDireito e tica promovido pelo constitucionalismo contemporneo,RICARDOLOBOTORRES,ensinaque:

    De uns trinta anos pra c assistese ao retorno dos valores comocaminho para a superao dos positivismos. A partir do que seconvencionouchamardeviradakantiana(kantischewende),isto,a volta influncia da filosofia de Kant, deuse a reaproximaoentre tica e direito, com a fundamentao moral dos direitoshumanos e com a busca da justia fundada no imperativocategrico[3].

    Tratase, pois, de nova vertente do pensamento jurdico que, sob uma perspectiva principiolgica, influenciou,decisivamente,aformaodeumamodernahermenuticaconstitucional,emsubstituioaoconstitucionalismoclssico.

    Portanto,opspositivismoapresentasecomoomarcofilosficodoconstitucionalismocontemporneo,iniciadonaEuropanopsguerra.

    4.OMARCOTERICO.

    Noplanoterico,oneoconstitucionalismocaracterizaseporumasriedetransformaesque(a)alaramaConstituioaoepicentrodosistemajurdica,dotandoadeefetivanormatividadeesuperioridadesobreasdemaisnormasjurdicas(b)incorporaramsConstituies,demodoexpresso,valoreseopespolticas,expandindoajurisdioconstitucionale(c)impuseramumnovoparadigmadeinterpretaoeaplicaodasnormasconstitucionais.

    4.1.NORMATIVIDADE,SUPERIORIDADEECENTRALIDADEDACONSTITUIO.

    At meados do sculo XX, a Constituio era vista como um documento poltico, dirigido ao Estado e com contedomeramenteprogramtico.Eramrepositriosdepromessasvagas,semaplicabilidadediretaeimediata.Aefetivaoprticadeseuprogramacondicionavaseliberdadedolegisladorediscricionariedadedoadministrador,noseatribuindoaoJudiciriopapelminimamenterelevantenarealizaodoscomandosconstitucionais.

    Essepanoramafoimodificadonopsguerra,inicialmentenaAlemanha,depoisnaItlia,emaistarde,emPortugalenaEspanha.

    Esseprocessodereconstitucionalizao,chamadodeneoconstitucionalismo,alouaConstituioaocentrodosistema.Seutexto adquiriu densidade jurdica e suas normas passaram a gozar de normatividade efetiva, imperatividade plena esuperioridadehierrquicano apenas formal,masmaterial e axiolgica em relao s demaisnormasdo ordenamento

    MateusRealce

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  • 05/06/2015 NeoconstitucionalismoeneoprocessualismononovoCPCJusNavigandi

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    jurdico.

    Sobreessamudanadeparadigma,ANDERSONSANTANAPEDRAafirmaque:

    (...) num passado no muito remoto, o estudo do direitoconstitucional pareceria literatura, fico ou sociologia. Hoje, oquadro mudou: a Constituio passou a ser considerada comonorma e o Direito Constitucional disciplina jurdica efetiva eindispensvel.Era incomumverificaremalgumadeciso judicialamenoaalgumdispositivoconstitucionaleparafundamentarumadeciso bastava que ela apresentasse os dispositivosinfraconstitucionais do direito material ou processual: cotejloscomaConstituio,nempensar,afinalolegisladoreraconsideradocomo a exteriorizao da vontade constitucional. Contudo, novostempos surgem. O direito constitucional passa por um momentovirtuoso, emque se destaca o compromisso coma efetividadedasnormas constitucionais, com o respeito a sua fora normativa,superando,assim,afaseemqueaConstituioeraconsideradaummeroconjuntodepromessaspolticas,umdocumentoprogramticoenopragmtico[4].

    PornormatividadedaConstituioentendesequeasdisposiesconstitucionais, sejamelas regrasouprincpios, sonormas jurdicas dotadas de imperatividade, que a capacidade de impor, pela fora, a realizao dos efeitos prticospretendidospelanormaou,emsubstituio,dealgumaconsequnciapeloseudescumprimento[5].

    Alm de sua funo normativa, a Constituio assume posio central no sistema (centralidade), condicionando elimitando a interpretao que deve ser empreendida sobre as normas infraconstitucionais que compe o ordenamentojurdico.Emoutraspalavras,todoosistemajurdicodeveserinterpretadosobaslentesdaConstituioecomobservnciairrestritadeseuspreceitosevaloresfundantes.

    Por fim, a Constituio ocupa posio de supremacia (superioridade) sobre as demais normas do ordenamento,hierarquianoapenasformal,masmaterialeaxiolgica.

    4.2.AEXPANSODAJURISDIOCONSTITUCIONAL.

    Oincrementodejurisdioconstitucionalquebalizaosurgimentodoconstitucionalismocontemporneoexplicaseportrsrazesdistintas,emborainterligadas:

    (a)razodeordemmaterial:houveumacrscimonajurisdioconstitucionalpelofatodeteremsidoincorporadosaostextosdasConstituiodopsguerra,demodoexpresso,valoreseopespolticasatentonegligenciadospeloEstado,oquetornouasConstituiesmaisdensas,consequentemente,ampliandooslimitesdajurisdioconstitucional

    (b) razo de ordem instrumental: os textos constitucionais tambm ampliaram os mecanismos de controle deconstitucionalidadedasleiseatosnormativos,viabilizando,apardocontroleincidentaloudifuso,realizadoporqualquerjuiz ou tribunal, o controle direto ou concentrado, atribudo a uma corte constitucional. Na experincia brasileira, aConstituio de 1988 deu vida no apenas ao declaratria de constitucionalidade como tambm arguio dedescumprimentodepreceitofundamental

    (c)razodenaturezasubjetiva:ostextosconstitucionaisdopsguerratambmampliaram,quantitativamente,onmerode legitimados a exercer o controle de constitucionalidade das leis e atos normativos. Em outras palavras, houve umaampliao no direito de propositura. No caso brasileiro, a partir da Constituio republicana de 1988, vrios rgos eentidadespassaramadeterodireitodeproporaesdiretasparadiscutiraconstitucionalidadedeleiseatosnormativosdoPoderPblico[6],monoplioexercido,ataConstituiode1969,peloProcuradorGeraldaRepblica.

    Aincorporaoexpressadevaloreseopespolticasaostextosconstitucionais(fatormaterial),aampliaodosmecanismosde controle de constitucionalidade (fator procedimental) e o compartilhamentodo direitodepropositura pordiversosrgoseentidadesdoEstadoedasociedadecivil(fatorsubjetivo)levaramaoalargamentodajurisdioconstitucional,umadascaractersticasmarcantesdoconstitucionalismocontemporneo.

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    Jseafirmou,oneoconstitucionalismosurgiucomoumareaonaturaleamplaaosregimespolticosque,aolongodaprimeirametadedosculoXX,suplantaramosideaisdeliberdade,igualdadeefraternidadedetradioiluminista.

    Comaderrocadadosregimestotalitriosnopsguerra(NazismonaAlemanha,FascismonaItlia,FranquismonaEspanhaeoSalazarismoemPortugal), ospases europeus,numprimeiromomento,noque foramseguidosporpasesdeoutroscontinentes,decidiramintroduzirnostextosconstitucionaisvaloreseopespolticasfundamentais,quepassaramaformarumconsensomnimoaserobservadopelamaioria[7],foradoalcance,portanto,dasubjetividadedolegisladorordinrioedadiscricionariedadedoadministradorpblico.

    Osvalores incorporados expressamenteaos textos constitucionais traduzem, emsuamaioria,direitos fundamentais, quepodemserencapsuladosnoprincpiomaterdorespeitodignidadedapessoahumana.

    Dizsequeesseprincpioasntesedosdireitos fundamentaisporque, todoseles,demaneiramaisoumenos imediata,visamresguardaradignidadedapessoahumana,seumnimoexistencial.

    Noexageroafirmarqueadignidadedapessoahumanafoialada,pelasConstituiescontemporneas,categoriadeprincpiomaiordosistemajurdico,vistadoqualdevemserinterpretadasnoapenasasoutrasnormasconstitucionais,mastambmasdemaisnormasquecompemosistemajurdico.

    Pela importncia que assume no sistema jurdico, vale a pena dedicar algumas linhas a esse postulado axiolgicofundamental,cujaessnciaestligadaprpriagnesedoconstitucionalismocontemporneo.

    4.2.1.ORESPEITODIGNIDADEDAPESSOAHUMANA.

    Opsguerrarepresentou,noplanohistrico,asuperaodosregimestotalitrios,noplanofilosfico,oresgatedosideaisiluministas,sobretudodeliberdadeeigualdade,e,noplanojurdico,areconstitucionalizao,guiadapelaafirmaodosdireitosfundamentaisedadignidadedohomem.

    Adignidadedohomem,comosntesedosdireitosfundamentais,foientoaladaaocentrodosistemajurdiconacondiodepostuladoaxiolgicofundamental,emumprocessodereaopolticagenocidadonazismoedofascismo.Aohomem,qualquerquefosseaorigem,resguardouseummnimodedignidadeexistencial,capazdebarrarabarbriedosregimestotalitrioseimporumarsenalmnimodesubsistncia.

    BALERAretratou,comclareza,ocontextohistricoemqueinseridaaascensodessepostulado,verbis:

    A reaobarbriedonazismoedo fascismoemgeral levou,nopsguerra,consagraodadignidadedapessoahumananoplanointernacional e interno como valor mximo dos ordenamentosjurdicoseprincpioorientadordaatuaoestataledosorganismosinternacionais. Diversos pases cuidaram de introduzir em suasConstituiesadignidadedapessoahumanacomofundamentodoEstado que se criava ou recriava, podendose citarexemplificativamente, a Constituio italiana de 1947 e a leiFundamentalalemde1949[8].

    OqueasConstituiescontemporneasresguardamnoadignidadehumanaemsiqueexistirmesmopresentealesoaobemjurdicotuteladopelanorma,masorespeitoaela.Umhomemnegro,porexemplo,noperdeasuadignidadeportersofridoinjriaoupreconceitoracial.Eleaconserva,independentementedaleso.CabeaoEstadoadotarmedidas(leis,atosadministrativosoudecisesjudiciais)quereguardemessebemjurdico.OEstadonoatribuidignidadeaningum,porqueelainata,eleapenasaresguarda,aprotege,apromove,sejaporao(prestaespositivasquegarantamomnimoexistencial)ouporomisso(resguardosliberdadespblicas).

    ParaJOSAFONSODASILVA,adignidadehumananoumacriaoconstitucional,poiselaumdessesconceitosapriori,umdadopreexistenteatodaexperinciaespeculativa,talcomoaprpriapessoahumana[9].

    A dignidade da pessoa humana, portanto, no umdireito,mas umatributo que todo ser humano adquire ao nascer,independentementedesuaorigem,sexo,idade,crenaoucondiosocial.Oordenamentojurdiconoconferedignidadeaquemquerqueseja,mastemafunodeproteglacontraqualquertipodeviolao.

    OprincpioservedevetoraxiolgicoatodososPoderesconstitudosdoEstado:aoLegislativo,quenopodeeditarleisquedesrespeitem, direta ou indiretamente, a dignidade do homem (ao), ou deixar de elaborar as leis necessrias a suapromoo(omisso)aoExecutivo,quedeveexecutaraspolticaspblicasnecessriasamanteromnimoexistencialdohomem e absterse de adotar medidas que ofendam, limitem ou excluam a dignidade do administrado por fim, aoJudicirio,quejamaispoderinterpretarumanormaousolucionarumcasoconcretodemodoaporemxequeadignidadedohomem.

    MateusRealce

    MateusRealce

    MateusRealce

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  • 05/06/2015 NeoconstitucionalismoeneoprocessualismononovoCPCJusNavigandi

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    Oprincpiotambmseaplicasrelaesparticulares,nodiretamenterelacionadasaoEstado.Sernula,porexemplo,aclusulacontratualqueimponhasacrifciodignidadedeumdoscontratantes.

    NoBrasil,aConstituiorepublicanade1988listouoprincpiocomoumdosfundamentosdaRepblicanoart.1,incisoIII[10].

    Adignidadedapessoahumanacompeoncleoessencialdecadaumdosdireitosfundamentais,conferindolhesunidadeaxiolgicaeinspirandoainterpretaoeaplicaodetodasasoutrasnormasdosistemajurdico.Oprincpiooepicentroaxiolgico da ordem constitucional[11], irradiando seu comando valorativo sobre todos os quadrantes do ordenamentojurdico,decontedopublicistaouprivatista[12].

    Oprincpiotoamploquesereferetantosliberdadespblicas(direitosdeprimeirageraoouderesistncia)quantoaosdireitossociaiseeconmicos(direitosdesegundageraooudireitosaumaprestaoestatal).ParaBARROSO:

    O princpio da dignidade humana identifica um espao deintegridadeaserasseguradoatodasaspessoasporsuasexistncianomundo.umrespeitocriao,independentedacrenaqueseprofessequantosuaorigem.Adignidaderelacionasetantocomaliberdadeevaloresdoespritoquantocomascondiesmateriaisdesubsistncia. O desrespeito a esse princpio ter sido um dosestigmasdosculoqueseencerrouea lutaporsuaafirmao,umsmbolodonovotempo.Elerepresentaasuperaodaintolerncia,dadiscriminao,daexclusosocial,daviolncia,da incapacidadedeaceitarooutro,odiferente,naplenitudedesualiberdadedeser,pensarecriar[13].

    INGOSARLETtambmrelataesseaspectoamplssimodopostulado,aoexigirdoEstadotantoabstenes(direitogeraldeliberdade)quantoprestaespositivasquegarantamomnimoexistencial,verbis:

    Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrnseca edistintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmorespeito e considerao por parte do Estado e da comunidade,implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveresfundamentaisqueasseguremapessoatantocontratodoequalqueratodecunhodegradanteedesumano,comovenhamalhegarantirascondiesexistenciaismnimasparaumavidasaudvel,almdepropiciar e promover sua participao ativa coresponsvel nosdestinosdaprpriaexistnciaedavidaemcomunhodosdemaissereshumanos[14].

    Essevetoraxiolgicotopotentequeperpassatodososdireitosfundamentais,que,emmaioroumenorescala,representamaconcretizaodovalordignidade.FimefundamentodoEstadoDemocrtico,oprincpiobalizaintegralmenteacondutaestatal,quedevenoapenasperseguilo,masdefendelodeviolao.Servedenorteaxiolgico,tambm,aosparticulares,quesedevempautarsemprepelorespeitoadignidadedaspessoascomasquaisconvivemeinteragem.

    Comosntesedosdireitosfundamentais,orespeitodignidadedapessoahumanacentraliza,nasuaessncia,omnimoexistencial,quesecompedosbensevaloresmnimosindispensveissubsistnciamaterialemoraldoindivduo.Emqualquersituaoaqumdomnimonecessriosubsistncia,isto,abaixodeumpatamarmnimosubstancialderenda,educaoesade,noh,nemhaver,dignidade.

    ComoepicentroaxiolgiconainterpretaoeaplicaodoDireito,osistemajurdicorevelaseincompatvelcomqualquerlei, atoadministrativooudeciso judicialquepriveo indivduodomnimonecessrio subsistncia.Negaraohomemcondiesmnimasdeexistnciaatentarcontraasuacondiohumana.

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    O constitucionalismo contemporneo, inaugurado no psguerra a partir da Constituio Alem, notabilizouse pelaincorporaoexpressa,aotextoconstitucional,devalores,atentoadormecidosounegligenciadospeloEstado,traduzidosemdireitosfundamentaisesintetizadosnopostuladogeraldedignidadedohomem.

    Esseprocessode incorporaode valores e opes polticas, nota tpica do constitucionalismo contemporneo, impe aconvivncia,nemsempreharmnica,dediversosprincpiosigualmenterelevantesordemjurdica.Esseadensamentoaxiolgicoconduz,norarasvezes,atenseshorizontaisentreprincpios,quenopodemserresolvidosnoplanodavalidade,comoordinariamenteocorrecomosconflitosentreregrasjurdicas.

    Aincorporaoexpressadevaloresaotextoconstitucionalpotencializouosconflitosenvolvendoprincpiosconstitucionaisdesemelhantetessituraeimportncia.Essesconflitos,porsuavez,passaramaexigirdoaplicadordoDireito,sobretudo,doEstadoJuiz,aadoodenovospadreshermenuticos,semabandonodasregrasdeinterpretaojexistentes,queforamrevisitadas.

    Surge, assim, um novomodelo de interpretao constitucional que, ao lado da funo normativa da Constituio e doincrementodejurisdioconstitucional,compeomarcotericodoneoconstitucionalismo.

    Aessanovainterpretaoconstitucionaldedicaseotpicoseguinte.

    4.3.ANOVAINTERPRETAOCONSTITUCIONAL.

    Aexpansodajurisdioconstitucionalimpulsionada,sobretudo,pelaincorporaoexpressadevaloreseopespolticasaos textos constitucionaispromoveuumadensamentoaxiolgicoe, consequentemente,potencializouos conflitosentreprincpiosdemesmahierarquiaconstitucional.

    Essanovarealidadepermeadaportensesaxiolgicasfrequentesepeladisputahorizontalentreprincpiosqueconvivem,oudeveriamconviver,noambientedemocrticoexigiudosoperadoresjurdicos,sobretudodascortesconstitucionais,otrabalho de revisitar as regras clssicas de interpretao, bem como de sistematizar novos padres hermenuticos,necessriosesuficientesparasolucionaressanovacategoriadeconflitos.

    Ainterpretaojurdicatradicionalnofoiabandonadaelacontinuaaresolverboapartedosconflitosjurdicos.Mas,suascategoriasforamrevisitadas,emdecorrnciadacentralidadequeaConstituiopassouaocuparnonovosistemajurdico,desua foranormativaedoseuespetacularadensamentovalorativo.Almdessareleitura,outrascategoriashermenuticastiveramqueserconstrudasparadarrespostasatisfatriaaosconflitosaxiolgicosquesetornaramcadavezmaisfrequentes.Deflagrouse, ento, um processo de elaborao doutrinria e jurisprudencial (sobretudo do Tribunal ConstitucionalAlemo)denovosconceitosecategorias,agrupadossobadenominaodenovainterpretaoconstitucional,queseutilizadeumarsenaltericodiversificado,emumverdadeirosincretismometodolgico[15].

    Nomodelohermenuticoclssico,derivadodoPositivismojurdicoquepregaumsistemafechado,comregrassuficientesparadisciplinar,demaneirauniformeeintegral,opluralismodinmicodasrelaessociais,arespostaparaosproblemasestcontidanoprpriosistemajurdicoeointrpretedesempenhaumafunomeramentesubsuntiva,simplesaplicaodasnormasaofatosocial.Paraessemodelo,ainterpretaoumaoperaoneutra,desprovidadevaloraosubjetivaelibertadainflunciadequalqueroutrosubsistema.Prevalecemasinterpretaeslgica,gramaticalehistrica.

    Nomodelohermenuticopspositivista,marco filosficodoneoconstitucionalismo,o intrprete tornase coparticipedoprocessodecriaodoDireitocomplementandootrabalhodolegislador,aoatribuircargavalorativaparaasclusulasabertaseaorealizarescolhasdentresoluesnormativaspossveis[16].

    Navisopspositivista,anormaemabstratonocontmtodososelementosnecessriosasuaaplicao.Hexpressesdetessituraaberta(clusulasgeraisouconceitosjurdicosindeterminados,comoordempblica,interessesocialeboaf),quefornecemummnimodesignificaoasercompletadopelointrprete.Essasclusulasabertasexigemavaloraodefatorespresentesnarealidadefticaparadefinirosentidoeoalcancedanorma.Comoasoluonoseencontraintegralmentenoplanonormativo,mas tambmnoplano fticoeaxiolgico,a funodo intrpretenoserdemerasubsunomasdeintegraodocomandonormativoapartirdesuaprpriaexperincia[17].

    O constitucionalismo contemporneonotabilizase, como j afirmado, pela incorporao expressadeprincpios ao textoconstitucional,quepassamadeterfunonormativa.Osprincpios,diferentementedasregras,noenunciamcomandosdescritivosdecondutas,masvaloresqueindicamfinalidadespblicasaseremrealizadaspordiferentesmeios.

    Comoosprincpiostemmaiordensidadeaxiolgicaqueasregras(masmenordensidadejurdica),transfereseaointrpreteuma dose mais elstica de discricionariedade. A ele no cabe apenas aplicar o direito numa operao de simplessubsunocompetelheumatarefamuitomaisprofunda,deintegrarotrabalhodolegislador,imprimindo,nasoluoencontrada,muitodeseusvaloresedasuaexperincia.Ointrpretepassaatrabalharcomoutrosmodeloshermenuticos,comoaponderaoeaargumentao.

    Aponderaoestintrinsecamenterelacionadaideiadeconflitoesevaledoprincpioinstrumentaldarazoabilidade.Ointrpreteserobrigadoa(a)conciliar,pormeiodeconcessesrecprocas,princpiosemconflitorealouaparenteou,nolimite,a(b)elegeroprincpioquedeverprevalecer,porfazeratuarmaisadequadamente,luzdosfatosedocasoconcreto,avontadeconstitucional.

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    Jaargumentaoestassociadaideiadesoluespossveisparaomesmocaso,ouinterpretaesrazoveisparaamesmanorma.Atravs de um juzo argumentativo, o intrprete deve escolher, dentre as opes possveis derivadas da norma,aquelaque,luzdocasoconcreto,melhorrealizaavontadeconstitucional.

    4.3.1CONFLITOSAXIOLGICOS(CHOQUEENTREPRINCPIOSEVALORESFUNDAMENTAISDAORDEMJURDICA).

    Osconflitos,reaisouaparentes,entreprincpiosdemesmahierarquiatocomunsnoneoconstitucionalismoemrazodocarternormativodaConstituioedeseuadensamentoaxiolgico,explicamse,emgrandemedida,pelanecessidadedeconciliardiferentespretenses,queprecisamconviveremharmoniaemumambientedemocrtico.Essapluralidadetornadifcilaconvivnciaentrealgunselementoscentraisdosistemaconstitucionalcontemporneo,como,porexemplo,atensoconstanteentrealiberdadedeinformaoeaproteointimidadeevidaprivada,ouoconflitoentrealivreiniciativaeosprincpiosdaproteoaoconsumidoreaomeioambiente[18].

    Parasolucionarumconflitoentreregrasouseintroduz,emumadasregras,umaclusuladeexceoqueelimineoconflito,ousedeclaraainvalidadedeumadelas.Jacolisoentreprincpiossolucionadademaneiradiversa.

    Se dois princpios constitucionais demesma hierarquia colidem, um dos princpios ter que ceder. Isso no significa,contudo,queumdosprincpiosdevaserdeclaradoinvlido,nemqueneledeverserinseridaumaclusuladeexceo.Naverdade,oqueocorrequeumdosprincpiostemprecednciaemfacedooutrosobdeterminadascondies.Soboutrascondicionantes,aquestodaprecednciapodeserresolvidadeformaoposta[19].

    Emsntese,oconflitoderegrasseresolvenoplanodavalidade(seumaclusuladeexceonopuderserinseridaemumadelas).Jascolisesentreprincpiosvistoquesprincpiosvlidospodemcolidirocorrem,paraalmdessadimenso,nadimensodopeso[20]decadaumemrelaoaocasoconcreto.

    ParaROBERTALEXY,oobjetivodessesopesamentodefinirqualdosinteressesqueabstratamenteestonomesmonveltemmaiorpesonocasoconcreto[21].Aleidecolisoformuladapeloautorbaseiasenoestabelecimentodeumarelaodeprecednciacondicionadaentreosprincpios,combasenascircunstnciasdocasoconcreto[22].

    AnoodesopesamentoaqueserefereALEXYaproximase,oumesmoseconfunde,deponderaoexpostalinhasacima.Em ambas nsita a ideia de escolha, de eleio, dentre os princpios colidentes, de um que prevalecer, sob certascircunstncias.

    ALEXY relata um caso muito interessante, decidido pelo Tribunal Constitucional Alemo, que pode ser resumido naseguintesituao:umaemissoradetelevisoplanejavaexibirumdocumentriochamadoOassassinatodesoldadosemLebach,pormeiodoqualsecontavaahistriadequatrosoldadosdaguardadesentineladeumdepsitodemuniesdoExrcitoAlemo,pertodacidadedeLebach,que forammortosenquantodormiameasarmas foramroubadasaparaaprtica de outros crimes.Umdos condenados, que estava perto de ser libertadoda priso, entendia que a exibio doprograma violaria o seu direito de personalidade, j que ameaaria sua ressocializao. A questo chegou ao TribunalAlemoque,sopesandoosaspectosdofatoesuascondicionantes,decidiuqueodireitofundamentalpersonalidadedeveriapreceder,naquelecaso,aodireitotambmfundamentalliberdadedeexpressoedeimprensa.AessaconclusochegouoTribunalapartirdeumdadodarealidade:ofatodeocrimenoseratual,ouseja,deteracontecidohmuitosanos.Assim,tratandosedeumanotciarepetida,noatual,odireitodepersonalidadeprevalecesobreodireitoinformaosoboutrascondies,ouseja,seestivesserevestidodeinteresseatualocrime,asoluoseriaoposta,devendoprevalecerodireitoinformaosobreodireitopersonalidade[23].

    Esseexemploilustraoqueataquisetemafirmado:aponderaodeprincpiosevaloresconstitucionais(ousopesamento,parautilizaranomenclaturadeAlexy)ocorreluzdocasoconcretoedesuascondicionantes.Noexisteumaprecednciaobrigatriaentreprincpiosconstitucionais,queoraprevalecemoracedemaoutrosprincpios,tomandoporbaseosubstratofticoqueembasaoconflito.Anicaexceooprincpiodorespeitodignidadedapessoahumana,queassumeposiocentraldetodosistemaconstitucionalcontemporneoporsintetizartodaagamadedireitosfundamentais.

    Emsuma:

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    (...) o neoconstitucionalismo ou novo direito constitucional, naconcepo aqui desenvolvida, identifica um conjunto amplo detransformaesocorridasnoEstadoenodireitoconstitucional,emmeio s quais podem ser assinalados, (i) comomarco histrico, aformaodoEstadoconstitucionaldedireito, cujaconsolidaosedeu ao longo das dcadas finais do sculo XX (ii) como marcofilosfico, o pspositivismo, com a centralidade dos direitosfundamentaiseareaproximaoentreDireitoeticae (iii)comomarco terico, o conjunto de mudanas que incluem a foranormativadaConstituio,aexpansodajurisdioconstitucionale o desenvolvimento de uma nova dogmtica da interpretaoconstitucional.DesseconjuntodefenmenosresultouumprocessoextensoeprofundodeConstitucionalizaodoDireito[24].

    Passados em revista osmarcos fundamentais do neoconstitucionalismo, fazsemister examinar, ainda que brevemente,cincodesuasconsequnciasmaisvisveis:(a)aconstitucionalizaodoDireito(b)ajudicializaodepolticaspblicas(c)oativismojudicial(d)ateoriadacoisajulgadainconstitucionale(e)oNeoprocessualismo(oformalismovalorativo).

    5.ASMANIFESTAESDONEOCONSTITUCIONALISMONOORDENAMENTOJURDICOBRASILEIRO.

    5.1.ACONSTITUCIONALIZAODODIREITO.

    AconstitucionalizaodoDireito,queumdosmarcosconsequenciaisdoneoconstitucionalismo,deveserexaminadasobatica do texto constitucional em si mesmo considerado (plano objetivo) e tambm sob o prisma do intrprete (planosubjetivo).

    No plano objetivo, o processo quer significar a constitucionalizao de temas at ento relegados legislaoinfraconstitucionaleaincorporaoexpressadevaloreseprincpiosaotextoconstitucional,todosdotadosdenormatividadeefetiva.

    EsseprocessodeadensamentoaxiolgicodaConstituio,queseespraiapelosmaisvariadosrincesdosistemajurdico,indododireitocivil,passandopelodireitoadministrativoeprocessualechegandoaodireitopenal,alargousobremaneiraocampodajurisdioconstitucional.

    Nocasobrasileiro,essaexperinciafoipotencializadaemltimograu,jqueoconstituintede1988elaborouumtextolongo,extremamente analtico, tornando constitucionais temas acessrios e secundrios, que poderiam,muito bem, compor oarsenaldasleisinfraconstitucionais.

    Esseprocessode transferncia temticadas leis sConstituies ficou conhecido comoa descodificaododireitocivil[25].

    Noplanosubjetivo,aconstitucionalizaodoDireitosignificaumamudanadepadrohermenutico,umanovaposturadointrpretefrenteaosistemajurdico.Asvelhascategoriashermenuticas,asregrasclssicasdeinterpretao,jnososuficientesparasolucionarosconflitoshavidosdaprpriaConstituio(frutodoseuincrveladensamentoaxiolgico).

    EssamudanadeposturaqueasConstituiescontemporneaspassaramaexigirdointrpreterecebeuonomedefiltragemconstitucional,peloqualtodaaordemjurdicaprecisaserlidaeapreendidasobaslentesdaConstituio[26].

    Portanto, a constitucionalizao do Direito significa no apenas a transferncia de temas infraconstitucionais para aConstituio,mastambmanovaposturaqueseexigedointrpreteemfacedesseadensamentoaxiolgico,valedizer,areleituradeinstitutosinfraconstitucionais(atento)sobumanova,enecessria,ticaconstitucional.

    EssanovaposturadointrpreteemfacedaConstituioenvolvediferentestcnicas,assimresumidasporBARROSO[27]:

    (a)ano recepo (Barroso fala em revogao[28])dasnormas constitucionais anteriores Constituio (ou emendaconstitucional),quandocomelaincompatveis

    (b) a declarao de inconstitucionalidade de normas infraconstitucionais posteriores Constituio, quando com elaincompatveis

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    (c)adeclaraodeinconstitucionalidadeporomisso,comaconsequenteconvocaoatuaodolegislador

    (d)a interpretao conformeaConstituio, comou semreduode texto,quepode significar: (i) a leitura da normaconstitucional da forma que melhor realize o sentido e o alcance dos valores constitucionais a ela subjacentes (ii) adeclarao de inconstitucionalidade parcial, que consiste na excluso de uma determinada interpretao possvel e aafirmaodeumainterpretaoalternativa,compatvelcomaConstituio.

    5.2.AJUDICIALIZAODEPOLTICASPBLICAS.

    Emumprimeiro contato comamatria, impeseumadistinonecessria entre judicializaodepolticaspblicas eativismo judicial: soexpressesqueveiculamsignificaoaproximada,masnocoincidente.ComodizBARROSO, soconceitosprimos,poisvmdamesmafamlia,frequentamosmesmoslugares,masnotmasmesmasorigens[29].

    AjudicializaopelomenosnocontextobrasileiroumfatoquederivadoprpriomodeloconstitucionaldesenhadopelaCartarepublicanade1988,enoumexercciodeliberadodevontadepoltica.Joativismojudicialumaatitude,umaopo,umaescolhadeummodoespecficoeproativode interpretarasnormasconstitucionais, comaexpansode seusentidoealcance[30].

    A judicializao encontra, na experincia brasileira, trs causas igualmente relevantes: (a) a redemocratizao, quefortaleceu a cidadania, atribuindo a diversos segmentos sociais antesmarginalizados ummaior nvel de informao e,portanto, conscincia sobre seus direitos, que passaram a ser perseguidos, emmaior escala, noPoder Judicirio (b) oprocesso de constitucionalizao do Direito, que incorporou ao texto constitucional inmeras matrias que at entopertenciamao campoda legislaoordinria (Legislativo) edaspolticaspblicas (Executivo) epor fim,(c) o sistemabrasileirodecontroledeconstitucionalidade,quecombinaaspectosdossistemaseuropeu(poraodireta)eamericano(incidental),aliadoampliaododireitodepropositura,queanteserarestritoaoProcuradorGeraldaRepblica.

    Aproteoepromoodosdireitosfundamentaisexigemaeseomissesestatais.Relativamenteaosdireitosdeprimeiragerao(asliberdadespblicas),bastaumaomissoestatalparaasseguraraproteoaobemdavidatutelado.Assim,porexemplo,aliberdadedeexpressoestarprotegidadesdequeoEstadonolheimponharestriesecensuraabusivas.Josdireitosdesegundagerao(direitossociais)demandamumaatuaoproativadoEstado,quedeverpensareexecutarpolticaspblicasparaatenderasnecessidadessociaisbsicasnasreasdesade,educao,transportepblico,etc.Estasaesestataisenvolvemdecisesacercadousoderecursospblicos.

    AsescolhasqueoEstadofazemmatriadegastospblicos,todavia,noserestringemaocampodapolticamajoritria.EmboracaibaaoLegislativoaprovaraleioramentriaeaoExecutivoelaborareexecutarpolticaspblicasconcretasparaasmaisvariadasnecessidadessociais,coubeaoJudicirio,porforadaconstitucionalizaoabrangenteimpressapelaCartarepublicanade1988,amissodefazercumprirasfinalidadeseospropsitosconstitucionais,sobretudo,quantoaotemadosdireitosfundamentais.

    No h dvida que a Constituio, ao estabelecer direitos fundamentais com fora normativa, fixou deveres ao Estado,cabendoaoJudiciriofazervalerestavontadeconstitucional.Paratanto,emdeterminadassituaes,deveroEstadoJuizinterferir,comcarterimperativo,sobreadefiniodosgastospblicos.

    NaspalavrasdaprofessoraAnaPauladeBarcellos:

    Se a Constituio contm normas nas quais estabeleceu finspblicos prioritrios e, e se tais disposies so normas jurdicas,dotadasdesuperioridadehierrquicaedecentralidadenosistema,no haveria sentido em concluir que a atividade de definio depolticaspblicasqueir,ouno,realizaressesfinsdeveestartotalmente infensa ao controle jurdico.Em suma:no se tratadaabsoro do poltico pelo jurdico, mas apenas da limitao doprimeiropelosegundo[31].

    Portanto,nohdvidadequeadefiniodaspolticaspblicas,emborareservadoemgrandeparteaocampodapolticamajoritria, sofre limitao jurdica geraldecorrentedoprprioEstado republicanoedasopespolticas incorporadasexpressamenteaotextoconstitucionalpormeiodevalores,princpiosedireitosfundamentais.Assim,ocontrolejudicialdaspolticaspblicasfazpartesdasregrasprpriasdoEstadodeDireito.

    O limitequeseparaodeverconstitucional impostoaoJudicirioeoabusodepoder, todavia,muito tnue.Emoutraspalavras,delimitarcomprecisoatondepodeatuaroJudiciriosemviolaoregradeseparaodosPoderestarefadasmaisdifceis.

    Parasuperarestasdificuldades,adoutrinaeajurisprudnciadostribunaissuperiores,sobretudodoSupremo[32],tmumpapelrelevantssimonaconstruodeumadogmticajurdicaaplicvelatuaojudicialnessareatoinstvel.

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    precisoestabelecerparmetrosminimamenteobjetivoscapazesdedelimitaroterritriodentrodoqualestaroJudicirioagindonoestritocumprimentodesuamissoinstitucional.

    5.2.1OSPARMETROSDECONTROLE.

    H,basicamente, trs categoriaisde controleque legitimame autorizama interfernciado Judiciriona realizaodaspolticaspblicas:

    (a)parmetro puramente objetivo(controlequantitativo), quando a prpriaConstituio fixa a quantidade derecursosmnimosaseremaplicadosemumadeterminadamodalidadedepolticapblica.

    Oart.212daCF/88[33],porexemplo,impeaUnioaplicar,anualmente,nomenosque18%dareceitaresultantedeimpostosnamanutenoedesenvolvimentodoensino.EstemesmoartigoimpeaEstadoseMunicpiosparticipaoaindamaior,daordemde25%,incluindoasreceitasdetransferncia.

    Descumpridaaprevisoconstitucional,ouseja, investidorecursosaqumdomnimo indicado,caberaoJudicirio, seprovocado,imporsanesasmaisdiversas,acomearpelaintervenofederalouestadual,conformeocaso.Tratasedeinterfernciajudiciallegtima,parafazercumpriravontadeconstitucional.

    (b) parmetro finalstico (controle de fins),queseocupadoresultadoltimodaatuaoestataletrabalhacomaideiadeprioridade,depreferncia,ouseja,gastospblicossecundriosnopodemserefetivadosantesdoatendimentointegraldaspolticaspblicasprioritrias.

    Nocasodaeducao,porexemplo,oensino fundamentalprefereaoensinomdio (oartigo208daCF/88[34] falaemprogressivauniversalizaodoensinomdiogratuito).Assim,nopoderoEstadoinvestirnoensinomdioantesdeatingirametanofundamental,docontrrioestarinvertendo,oualterando,afinalidadebuscadapelaConstituio,oqueensejarintervenojudiciallegtima,noofensivaseparaodePoderes.

    (c)parmetrodaprpriadefiniodapolticapblica(controledemeios),quecuidadeexaminarseosmeioseleitospelogestorpblicosoeficientesparaatingirafinalidadeconstitucional.

    HaverviolaodemeiosseoEstadoAdministrador,porexemplo,realizardespesasparaacompradecarteirasescolaresantesderealizarosgastosparaaconstruodaprpriaescola.

    Aindaqueoordenadordedespesastenhaobservadooparmetroquantitativo(atingiuomnimoderecursos)eofinalstico(cumpriu ameta constitucional em relao ao ensino fundamental), se realizar despesas desnecessrias ou ineficientespoderresponderperanteoJudicirio,aquemcaberanularoatoedeterminarocumprimentodavontadeconstitucional.

    ComoadverteaprofessoraBARCELLOS,nosetrata(...)dejulgarentreeficinciasmaioresoumenores,nemdesubstituiraavaliaopolticadaautoridadedemocraticamenteeleitapeladojuiz,masapenasdeeliminarashiptesesdeineficinciacomprovada[35].

    Noestgioatualdoconstitucionalismocontemporneo,perfeitamentelegtimo,evivel,ocontrolejudicialdaexecuode polticas pblicas comomaneira de conformlas realizao da vontade constitucional, vale dizer, comomeio derecolocarnostrilhosaatividadeadministrativaqueporventuradelasetenhadesgarrado,desdequerespeitadoscertoslimites,certosparmetros,embrionariamentedescritosemlinhaspassadas.

    Tambmpossvelafirmarapossibilidadedecontrolejudicialnaformulaodepolticaspblicas,estemitigado,restritoacasosexcepcionaisemquepresenteviolaoinequvocadomnimoexistencial.

    Aocontrolaraexecuodepolticaspblicas,quasesempre,atuaoJudicirioanulandoumatoadministrativoquetenhadesrespeitadoumavontadeconstitucional.Jnocontroledaformulaodepolticaspblicas,oEstadoJuizatuademaneiracriativa, impondo aoEstadoAdministrador a realizaodeumadespesanecessria afirmaodomnimo existencial,respeitado,sempre,oprincpiodareservadopossvel[36].

    5.3.OATIVISMOJUDICIAL.

    A ideiadeativismo judicial estassociadaaumaparticipaomaisamplae intensadoJudiciriona concretizaodosvaloresefinsconstitucionais,commaiorinterferncianoespaodeatuaodosoutrosdoisPoderes.

    SegundoBARROSO[37],aposturaativistamanifestasepormeiodediferentescondutasqueincluem:

    (a) a aplicao direta da Constituio a situaes no expressamente previstas em seu texto e independentemente demanifestaodolegisladorordinrio.Comoexemplo,oprofessorcitaojulgamentosobrefidelidadepartidria:oSTF,emnomedoprincpiodemocrtico,decidiuqueavaganoCongressopertenceaopartidopoltico,criando,assim,umanovahiptesedeperdademandatoparlamentar,almdasqueseencontramexpressasnotextoconstitucional.

    (b)adeclaraodeinconstitucionalidadedeatosnormativosemanadosdolegisladorcombaseemcritriosmenosrgidosqueosdepatenteeostensivaviolaodaConstituio.Citaseoexemplodadecisoquejulgouaverticalizaodaseleies:oSTFdecidiupelainconstitucionalidadedasnovasregrassobrecoligaeseleitoraiseleioqueserealizariaemmenosdeumano.Paratantodeclarouainconstitucionalidadedeumaemendaconstitucionalaoatribuirregradaanterioridadedaleieleitoralostatusdeclusulaptreaqueelanopossui.

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    (c)aimposiodecondutasoudeabstenesaoPoderPblico,notadamenteemmatriadepolticaspblicas.Aqui,valecitarocasodadistribuiodemedicamentosnoconstantesdaslistaserotinasdoSUSpormeiodedecisojudicial.

    Embora o ativismo revele um aspecto positivo relevantssimo o de impor a realizao da vontade constitucional, aefetivaodosdireitosfundamentaiseaafirmaodomnimoexistencial,humafacenegativatambminquestionvel.Ele escancara a crise de representatividade da poltica majoritria, revelando uma grave patologia democrtica. OdeslocamentodaagendadecisriadoLegislativoaoJudiciriotemmuitoavercomodescrditoque,anoapsano,vemcorroendoasbasesdesustentaodapolticamajoritriaemnossopas.

    Essacrisede representatividade,aliada ineficinciadoLegislativo (queno realizaas reformasnecessrias,que travapautasimportantesparaanaoporsimplesbarganhapoltica,etc.)acabaporcriarumaatmosferaamplamentefavorveleatmesmonecessriaaocumprimentodaConstituioparaoavanodajurisdioconstitucionalemumritmonuncavistonahistriarepublicanadopas.

    Ojuiztornouseoprincipalgarantidordosdireitosetambmoresponsvelpelarecuperaodaidentidadedemocrtica,oltimoguardiodepromessastantoparaosujeitocomoparaacomunidadepoltica[38].

    Essacriseinstitucionalacabaporjustificar,aindaqueembasesembrionrias,oativismojudicialemnossopas.Masseessefenmenoumapatologiadosistemademocrtico,fazseurgenteabuscaporumremdiocapazdecurlo.

    5.4.ATEORIADACOISAJULGADAINCONSTITUCIONAL.

    Outro importantemarco consequencial do neoconstitucionalismo na experincia brasileira revelase na teoria da coisajulgadainconstitucional.

    As caractersticas prprias do neoconstitucionalismo sobretudo a centralidade que a Constituio ocupa no sistemajurdico,aliadaasuaforanormativaimprimiramumanovafeioaoDireitoConstitucional,promovendoumnovoolhardointrpretesobrevelhosinstitutos,agorasobaslentesdaConstituio,deseusvaloreseprincpiosfundamentais.

    Essanovahermenuticajurdica,essenovoolharsobreopapeleafunodasnormasconstitucionais,explica,atcertoponto,aascensodateoriadacoisajulgadainconstitucionalnoseiodoconstitucionalismocontemporneo.

    A teoria baseiase no critrio da ponderao de valores, entendendo que a coisa julgada, que revela um postulado desegurana jurdica, no prevalece, sempre e sob qualquer circunstncia, sobre outros valores de mesma estaturaconstitucional.

    Quandoadecisojudicialtransitadaemjulgadorevelarsevioladora,porexemplo,dadignidadedapessoahumanaoudomnimoexistencialqueassumemposiodedestaqueecentralidadenoordenamentojurdico,porenfeixarememsioncleobsicodosdireitosfundamentais,fimefundamentoimediatodaConstituioaseguranajurdicaquedelaemanadeveceder,numjuzodeponderao,emhomenagemaessesvalores,constitucionalmentemaisrelevantes.

    Damesmaformaqueoatoadministrativoealei,adecisojudicial,aindaquesoboamparodacoisajulgada,poderserdeclaradanulaseofensivaaalgumvalorjurdicofundamental,mesmoqueultrapassadooprazodaaorescisria.

    A teoria temacertos edesacertos.Tomandocaronanamesmacrticadirigidaaoativismoe judicializaodepolticaspblicas,precisoamadurecerodebateefixarparmetrossegurosdeatuaojudicial.Emoutraspalavras,necessriodesenvolveradogmticajurdicaquelhedarfundamentodevalidadeedotarointerpretedeummnimodesegurananasuaaplicao,semoqueseestardiantedeaplicaocasusta,incompatvelcomacinciajurdica.

    6.ONEOPROCESSUALISMO.

    6.1.EVOLUODODIREITOPROCESSUAL

    Aexatanoosobreoneoprocessualismopassa,sobretudo,pelacompreensonomenosexatadasdiversasfasesporquepassou a cincia processual. Cada uma dessas fases expressa ideias mais oumenos consensuais, poca, mas que setornaramanacrnicasmedidaemqueprogrediramosestudosdoutrinrioseenriqueceuseaexperinciahumanasobreoprocessocomoinstrumentomuitasvezesnecessrioconsecuododireitomateriallesado.

    Oneoprocessualismo,jsepodeadiantar,emergedainflunciaqueoconstitucionalismocontemporneocalcadonaforanormativadaConstituioenaascensodevaloresfundamentaisquepassamaocuparocentrodetodoosistemanormativo exerceu e exerce sobre o processo civil. Tratase de verdadeira constitucionalizao da cincia processual, cujainstrumentalidadepassaaserinterpretadaluzdaaxiologiaconstitucional.

    Acinciaprocessualpodesersubdivididaemquatrofases,assimresumidas.

    6.1.1SINCRETISMOOUPRAXISMO

    Fasequesecaracterizapelaausnciadeautonomiaentreodireitomaterialeodireitoprocessual.Oprocessoeraexaminadoapenas em seus aspectos prticos, sem maiores preocupaes cientficas. Existiam formas no sistematizadas, quederivavamdaexperinciahumanaparaoexercciododireito,sobaconduopoucodefinidadojuiz.

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    ParaADAGRINOVER:

    Atmeadosdosculopassado,oprocessoeraconsideradosimplesmeio de exerccio dos direitos (da, direito adjetivo, expressoincompatvel com a hoje reconhecida independncia do direitoprocessual). A ao era entendida como sendo o prprio direitosubjetivomaterial que,umavez lesado, adquiria forasparaobteremjuzoareparaoda lesosofrida.Nose tinhaconscinciadaautonomiadarelaojurdicaprocessualemfacedarelaojurdicade natureza substancial eventualmente ligando os sujeitos doprocesso.Nem se tinha noo do prprio direito processual comoramo autnomo do direito e,muitomenos, elementos para a suaautonomia cientfica. Foi o longo perodo de sincretismo, queprevaleceu das origens at quando os alemes comearam aespecularanaturezajurdicadaaonotempomodernoeacercadaprprianaturezajurdicadoprocesso[39].

    Nessafasenohaviaumaverdadeiracinciadoprocessocivil.Osconhecimentoserampuramenteempricos,semqualquerreferncia a princpios, conceitos prprios ou mtodo. O processo era vista apenas em sua realidade fsica exterior eperceptvel aos sentidos, confundido com o mero procedimento. Tinhase uma viso linear do ordenamento jurdicocaracterizapelaconfusoentreosplanosmaterialeprocessual.

    Aaoeraoprpriodireitomaterialemmovimento.Noseatentavaparaaexistnciadarelaojurdicaprocessual,distintada relao de direito material. A jurisdio era vista como um sistema de tutela de direitos exercida com reduzidaparticipaodojuiz.Adefesabaseavasenaconcepodesimplesacessodoruaoprocesso,semanoodecontraditrioefetivoacadaatoprocessual.

    AfasesincretistaprevaleceuatmeadosdosculoXIX,quandoforamdesenvolvidostrabalhosaretrataranaturezajurdicadaaoedoprprioprocesso.

    6.1.2PROCESSUALISMO

    Na segunda fase, chamada de processualismo, iniciase o estudo do processo como direito autnomo, desvinculado dodireitomaterial.Poressarazo,algunsautoreschamamesseperododefaseautonomista.

    O processo passou por uma fase de formulao de institutos, categorias e conceitos, que lhe conferiram organicidade,convertendo o que antes era apenas procedimento em sistema. A sistematizao dessas ideias conduziu primeiraafirmaododireitoprocessualcomocincia,quepassouadedicarseacategoriasjurdicasespecficas:jurisdio,ao,defesaeprocesso.

    Destacaramse,nestaetapa,grandesjuristascomoGiuseppeChiovenda,FrancescoCarnelutti,PieroCalamandreieEnricoTullioLiebman,naItliaAdolfWach,JamesGoldschmidteOskarVonBllow,naAlemanhaeAlfredoBuzaideLopesdaCosta,noBrasil,todosdefensoresdaautonomiacientficadoprocesso.

    Sobreestafaseautonomista,defendeaprofessoraADAGRINOVER:

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    A segunda fase foi autonomista, ou conceitual, marcada pelasgrandes construes cientficas do direito processual. Foi duranteesse perodo de praticamente um sculo que tiveram lugar asgrandesteoriasprocessuais,especialmentesobreanaturezajurdicada ao e do processo, as condies daquela e os pressupostosprocessuais,erigindosedefinitivamenteumacinciaprocessual.Aafirmao da autonomia cientfica do direito processual foi umagrandepreocupaodesseperodo,emqueasgrandesestruturasdosistema foram traadas e os conceitos largamente discutidos eamadurecidos[40].

    6.1.3INSTRUMENTALISMO

    Aterceirafase,tambmconhecidacomodeteleologiadoprocesso,coincidecomatentativadeaproximaoentreodireitomaterialeoprocessual.

    Os processualistas, desta fase, entendem necessrio direcionar o processo para resultados substancialmente justos,superandooexageradotecnicismoreinanteatento.

    O instrumentalismo processual instaura uma fase eminentemente crtica, capaz de olhar o processo a partir de umaperspectivaexternaeprticae,comisso,identificarseusgargalosdeeficincia,queimpedemoudificultamaprestaojurisdicional. Oprocessualistamodernosabeque,peloaspecto tcnicodogmtico,asuacincia jatingiunveismuitoexpressivos de desenvolvimento,mas o sistema continua falho na suamisso de produzir justia entre osmembros dasociedade.precisoagoradeslocaropontodevistaepassaraveroprocessoapartirdeumnguloexterno,isto,examinlonosseusresultadosprticos.Comotemsidodito,jnobastaencararosistemadopontodevistadosprodutoresdoservioprocessual(juzes,advogados,promotoresdejustia):precisolevaremcontaomodocomoosseusresultadoschegamaosconsumidoresdesseservio,ouseja,populaodestinatria[41].

    umafaseemquesebuscaafirmaraefetividadedoprocessoeaeficinciadaprestaojurisdicional.

    NoBrasil,algumasreformasprocessuaisassentaramse,emgrandemedida,nestavisoinstrumentalistadoprocesso,quebuscaaefetividadeeeficinciadaprestaojurisdicional.Nessecontextoqueforamintroduzidasemnossoordenamentojurdicoaantecipaodetutela(art.273),atutelainibitria(art.461e84doCDC),aexecuoespecficadasobrigaesdefazeredenofazer,asimplificaodoprocessodeexecuo,aaudinciaprviadeconciliaoesaneamento,asalteraesna sistemtica recursal (Leis 9.139/96 e 9.756/98), dentre tantas outras, tudo com o objetivo de tornarmais clere eeficienteaprestaojurisdicionalnaconcretizaodoidealdejustia.

    6.1.4NEOPROCESSUALISMO

    ONeoprocessualismonadamaisdoqueoreflexodoconstitucionalismocontemporneosobreacinciaprocessual.

    Oiderioneoconstitucionalinspirou,aindaquecomcertoatraso,osprocessualistas,quepassaramadefenderareleituradacinciaprocessual(emsuatrilogiajurisdio/ao/processo)sobaticadaConstituio,afimdeimplementarummodeloconstitucionaldeprocesso.

    a fasedeconstitucionalizaododireitoprocessual,de intensanormatizaoaxiolgicadoprocesso,oque impeaointrpreteumareleituradosvelhosinstitutosprocessuaisluzdosprincpiosconstitucionaisedosdireitosfundamentais,centrodetodooordenamentojurdico.

    Nestafase,confereseespecialrelevoaosdireitosfundamentais,comovaloressupremosprotegidosnoepeloprocesso.Eparanodistanciaroprocessodaconcretizaodosdireitosfundamentaisexigesedojuizumaposturamaisativa,emesmocooperativa,naconduodoprocesso,sobretudonainvestigaodosfatos.

    ONeoprocessualismotemporcaractersticasbsicas,dentreoutras:(a)aforteinflunciadodireitoconstitucionalsobreoprocesso(b)aefetividadedosprincpiosconstitucionaisprocessuaisindependentementedeprevisolegalexpressa(c)ademocratizaodoprocesso(d)avisopublicistadarelaoprocessual(e)avisodoprocessocomomeiodeefetivaodosdireitosfundamentais(f)aascensodosprincpiosdacolaboraoedacooperaodaspartesedojuzoe(g)oincrementodospoderesinstrutriosdojuiznabuscapelaverdadereal(queafirmaosdireitosfundamentais)[42].

    Buscase valorar a tica na aplicao do direito processual. Afirmamse os marcos ideolgicos do sistema processual,tornandose consenso que o processo no mero instrumento tcnico a servio da ordem jurdica, mas um poderosoinstrumentoticodestinadoaservirsociedadeeaoEstado[43].

    Oprocesso,segundoaticaneoprocessual,deveseradequadotutelaefetivadosdireitosfundamentais,vistocomoocentrodetodooordenamentojurdico.

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    6.1.5OFORMALISMOVALORATIVO

    ParaCARLOSALBERTOLVARODEOLIVEIRA[44]eDANIELMITIDIERO[45],acinciaprocessualavanouparaumaquarta fasemetodolgica,evoluiudo instrumentalismoparaoformalismovalorativo,emquehoestreitamentodasrelaes entre processo e Constituio. Segundo os autores, no h mais lugar para formalismos vazios, utilizao deexpedientesburocrticos,prticadeartimanhasprocessuaispelaspartes.OprocessoprecisaserinterpretadocomosculosdaConstituio, jqueoprocessoexisteparaimplementarosdireitosfundamentais,razopelaqualnopodedeixardeatendersgarantiasindispensveisaumprocessoticaesocialmentejusto.

    O formalismovalorativo prope uma releitura da instrumentalidade do processo, que serve, ou deveria servir, a umafinalidade externa, nopodendo ser concebido comum fim em simesmo.O formalismo excessivo deve ser combatidosemprequesedesvirtuardasuafinalidadeessencial,deservircomoinstrumentoparaarealizaodajustia,desdequerespeitadososdireitosfundamentaisdaspartesenaausnciadeprejuzo[46].

    OformalismovalorativoumacorrentederivativadoNeoprocessualismoquebuscacombateroexcessodeformalismonacinciaprocessual.

    Paraessacorrente,arigidezexcessivaeorecursoabusivoinstrumentalidadedoprocessonocondizemcomosvaloresconstitucionaisqueiluminamacinciaprocessual.

    Essacorrentedefendequeoformalismonoprocessonoumfimemsimesmo,masdeveserexaminadoluzdosprincpiosticosedosdireitosfundamentaisquenorteiam,porimposioconstitucional,oprocesso.

    Muitosexemplosexplicitamoformalismovalorativocomo:aadoodoritoordinrio,emumacausaquedeveriatramitarpeloritosumrioasuperaodoprazodaaorescisria,quandosetratardevciotransrescisrioadecisoquebuscasalvaroprocessodeserextintosemresoluodemrito,depoisderealizadaainstruoprobatriaadecisoqueadmitedenunciaodalide,mesmoemhiptesedegarantiaimprpriaavisualizaodaexistnciadeinteressedeagir,mesmoquandooautorajuzaaodeconhecimento,muitoemboradisponhadettuloexecutivoextrajudicialasrarssimasdecisesdoSTJquepermitempartearegularizaodarepresentaoprocessualapsainterposiodorecurso[47].

    O formalismovalorativo est amparadonos conceitos de lealdade e boaf, que se aplicam, indistintamente, a todos ossujeitosdarelaoprocessual,inclusiveaojuiz,quedeveseabsterdaprticadeatosqueimpliquemviolaodessesbensjurdicos. E haver violao boaf objetiva e lealdade processual quando no houver esforo efetivo do rgojurisdicionalparasalvaroinstrumentodevciosformais[48].

    Humcasoemblemtico,decididopeloSTJcombasenoformalismovalorativo,aindaquesemcitloexpressamente.NosautosdoRecursoEspecial901.556/SP[49],aCorteEspecial,sobarelatoriadaMin.NancyAndrigui,concluiuquedeveseraceito o recurso interposto via fax, semas cpias dos documentos que o instruem, posteriormente apresentadas comosoriginais, jquenohprevisonaLein9.800/99de transmissovia faxdedocumentos,masapenasdasrazesqueamparamorecurso.Assimsedecidiu,pois:(a)nohouveprejuzoparaadefesadorecorrido,quesserintimadoparacontrarrazoarapsajuntadadosoriginaisaosautos(b)orecursoremetidoviafaxdeverindicaroroldosdocumentosqueoacompanham,sendovedadoaorecorrentefazerqualqueralteraoaojuntarosoriginais(c)evitaseumcongestionamentonotrabalhodasecretariadosgabinetesnosfrunsetribunais,queterodedisponibilizarumfuncionrioparamontarosautos do recurso, especialmente quando o recurso vier acompanhadodemuitos documentos (d) evitase discusso dedisparidadededocumentosenviados,comdocumentosrecebidos(e)evitaseocongestionamentonosprpriosaparelhosdefaxdisponveispararecepodoprotocolo(f)vedadoaointrpretedaleieditadaparafacilitaroacessoaoJudiciriofixarrestries,criarobstculos,elegermodosquedificultemsuaaplicao.

    Asrazesqueinspiraramadecisotmcontedoformalvalorativo,umadasvertentesdoNeoprocessualismo.

    6.2.ONEOPROCESSUALISMOEASTEORIASMODERNASDODIREITODEAO

    6.2.1DIREITODEAOCOMODIREITOTUTELAJURISDICIONALEFETIVA,ADEQUADAETEMPESTIVA

    Asteoriasmodernas,influenciadas,sobretudo,pelaconstitucionalizaodosdireitosegarantiasdenaturezaprocessual,valedizer,suaincorporaogradativaaoroldosdireitosfundamentais,defendemqueodireitodeaonoseconformacomqualquertutelajurisdicional,massomentecomaprestaojurisdicionalefetiva,adequadaetempestiva.

    Tutelajurisdicionalefetivaaquepermite,aomenosemtese,arealizaoprticadodireitomaterialcomummnimodeseguranajurdica,medianteaobservnciadodevidoprocessolegal.

    Tutelajurisdicionaladequadaaquelaquesemoldaaodireitosubstantivoreclamado.

    Tutela jurisdicional tempestivano saque se realizaem temporazovel (durao razoveldoprocesso) comoaquedisponibilizamecanismosparatutelarsituaesdeurgncia,impedindooperecimentododireitomaterialesalvaguardandoautilidadedoprprioprocesso.

    ParaoprofessorCASSIOSCARPINELLA:

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    No h mais espao para entender o direito de ao, ou,simplesmente, a ao como a mera ruptura da inrcia dajurisdio, quando o tema inserido em seu devido contexto, domodelo constitucional do direito processual civil. Muitomais doque isto, importante entendlo e associlo como prprio agir,durantetodooprocesso,paraaobtenodatutelajurisdicionaledeseusefeitosconcretosnoplanomaterial.Odireitodeao,nestascondies, deve ser entendido como o direito subjetivo pblicoexercitvel contraoEstadojuizao longode todooprocesso comoforma de garantir quele que o exerce a prestao da tutelajurisdicionaldeacordocomumprocesso devido,assimentendidooprocessoemqueseasseguremtodososdireitosasseguradospelosprincpiosconstitucionaisdoprocessocivil.[50]

    Asteoriasmodernas,portanto,focamodireitodeaoapartirdomeio(oprocesso)edofim(asentena),agregandoaumeoutro uma srie de qualidades informadas pelos direitos e garantias processuais alados a condio de direitosfundamentais.

    Todosessesdireitosegarantiasprocessuaisdeordemconstitucionalpodemserenfeixadosemumprincpiosntese:odevidoprocessolegal.

    6.2.2DIREITODEAOCOMODIREITOEFETIVASATISFAODODIREITOMATERIALRECLAMADO.

    Asteoriasmodernassobreodireitodeaoagregam,ainda,umaoutraparticularidade:adequeatutelajurisdicionaldeveserplena,ouseja,nodeveseesgotarsimplesmentenoreconhecimentododireitoaumadaspartespeladecisodemrito,aindaqueestasobrevenhatempestivamenteemprocessopautadoemtodososprincpiosprocessuaisconstitucionais.Issoporquenemsempreocomandocontidonasentenaserealizadeimediato,demodoacumpriroquedeterminaodireitomaterialreconhecidopelojuiz.

    Odireitodeao,tambm,umdireitoexecuo.Ouseja,direitodeverassegurado,naprticaeconcretamente,obemdavidaperseguidoemjuzo.

    Assim,paraas teoriasmodernas,almdeefetiva,adequadae tempestiva,a tutela jurisdicionalprecisaserplena(oqueincluiasuaconcreo).

    NodifcilperceberqueestasteoriasmodernasforamconcebidasluzdospreceitosdoNeoconstitucionalismo,sobretudodaforanormativadaConstituioedacentralidadequeosvaloresedireitosfundamentaispassamaocuparnosistemajurdico:atutelajurisdicionalprecisaserefetiva,adequada,tempestivaeconcretaporqueosdireitosfundamentaisassimoexigem.Emoutraspalavras, odevidoprocesso legal aque aludeaConstituio,no se contenta comqualquer tutelajurisdicional,masimpeaoprocessocomprometimentocomosvaloresfundamentaisdaordemjurdica,exigindolheumresultadonoapenasjusto,masqueigualmenterespeiteosdireitosfundamentaisdaspartes.

    nessecontextodeafirmaodosdireitofundamentaisnoplanodoprocessoquenasceoNeoprocessualismo,calcadoemvalorescomo:aefetividadedatutelajurisdicional(eficinciaeduraorazoveldoprocesso)aboafelealdadedaspartesedorgojurisdicionalamitigaodosformalismosinteisarelaoprocessualbaseadanatica,dentreoutros.

    7.ONEOPROCESSUALISMOEONOVOCPC

    O Novo Cdigo de Processo Civil tem inspirao neoprocessual. Ele consagra, de modo expresso, alguns princpiosconstitucionais de natureza processual, como a inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 3), a razovel durao doprocesso(art.4e8),ocontraditrioeseusreflexos,comoosprincpiosdacooperaoedaparticipao(art.5,8,9e10),eapublicidade(art.11).

    Jnoart.1doNovoCdigorevelasuainspiraoneoprocessualaoditarqueoprocessocivilsejaordenado,disciplinadoeinterpretadocomobedinciaaosvaloreseprincpiosfundamentaisfixadosnaConstituio,verbis:

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    Art.1.Oprocessocivilserordenado,disciplinadoeinterpretadoconformeosvaloreseosprincpios fundamentaisestabelecidosnaConstituio da Repblica Federativa do Brasil, observandose asdisposiesdesteCdigo.

    A inspirao tambmse revelanoart.6doprojeto,que impeaomagistradoodeverdeobservar,naaplicaoda leiprocessual,osfins sociais a que ela se dirige e as exigncias dobemcomum, com respeito pleno aos princpios dadignidadedapessoahumana,darazoabilidade,dalegalidade,daimpessoalidade,damoralidade,dapublicidadeedaeficincia.

    Outrainspiraovemdaopoporclusulasgerais,decontedoaberto,quetornamaatuaojurisdicionalmuitomaiscriativae fazemdo juizumcoparticipedavidapolticadopas, tornandoa sentenaalgomais justo,maisefetivo,maisprximodarealidadedesejadapelaConstituio.Assim,possvelencontrar,notextodoProjeto,expressescomoprazorazovel(art.4),finssociaisaqueelasedirigeesexignciasdobemcomum(art.6),lealdadeeboaf(art.66,II),medidasqueconsideraradequadas(art.278),lesograveeriscodelesograveededifcilreparao(artigos278e283).

    Tambmhntida inspiraoneoprocessual quando oCdigo positiva princpios constitucionais expressos e implcitos,buscandoaconcretizaodosdireitos fundamentaisnoplanoprocessual.Noart.7,porexemplo,afirmaseaisonomiamaterialdaspartesnotratamentoquedevemreceberemrelaoaoexercciodedireitosefaculdadesprocessuais,aosmeios de defesa, aos nus, aos deveres e aplicao de sanes processuais, competindo ao juiz velar pelo efetivocontraditrioemcasosdehipossuficinciatcnica.

    Diante das peculiaridades do caso concreto, poder omagistrado pormeio de deciso fundamentada e observado ocontraditrio distribuir demodo diverso o nus da prova, impondoo parte que estiver emmelhores condies deproduzila (art. 262). A adoo da teoria dinmica de distribuio do nus da prova (em contraponto a teoria estticaconsagrada no art. 333 do Cdigo atual) representa tentativa de trazer, ao plano processual, a isonomia material topretendidapelaConstituioeseuidealdemocrtico.

    Oart.107,incisoV,permiteaojuizadequarasfaseseosatosprocessuaissespecificaesdoconflito,criandoummodeloprocessualmaisaberto,queacabaporconferirmaiorefetividadetutelajurisdicionalpretendida.Percebese,sclaras,aopoqueoProjetofezporampliarospoderesdojuiz,criandoumespritodecooperaoatentojamaisimaginado.

    Estes so apenas alguns exemplos de como o neoconstitucionalismo, em geral, e o neoprocessualismo, em particular,influenciaramacomissodejuristasresponsvelpeloAnteprojetodoNovoCPC.

    8.CONCLUSES

    FoinasegundametadedosculoXX,sobretudonopsguerra,comoumareaonaturalaosregimestotalitrios,queasconstituiespassaramaexercerumpodernormativoefetivo,iniciandoseumanovafasedoconstitucionalismo,chamadodeconstitucionalismocontemporneoouneoconstitucionalismo.OmarcohistricodesseprocessofoiaLeiFundamentaldeBonn,Constituioalemde1949,seguidapela instalaodoTribunalConstitucionalFederalAlemo,em1951,queproduziuriqussimajurisprudnciaefomentoudiversostrabalhosdoutrinriosquerealocaramaConstituionocentrodosistemajurdico,atribuindoaseutextoumcontedonormativoeaxiolgicoatentojamaisimaginado.NoBrasil,omarcozerofoiaConstituiode1988,smbolodoprocessoderedemocratizaoiniciadocomofimdaditaduramilitar.Seutextorefletiu os anseios de liberdade, o ideal democrtico, consolidou os direitos fundamentais como base do novo regimeconstitucionaleestabeleceuumasriedeaesprogramticas(masimpositivas)aseremexecutadaspeloEstadonabuscadobemestarsocial.

    Opspositivismoapresentasecomoomarco filosfico do constitucionalismocontemporneo, iniciadonaEuropanopsguerra.TratasedecorrentejurdicaquesuperouolegalismoestritodoPositivismonormativista,notabilizandose(a)pelaascensodosvalores(b)peloreconhecimentodanormatividadedosprincpios(c)pelaessencialidadedosdireitosfundamentaisedificadossobreoconceitodedignidadedapessoahumanae(d)pela reaproximaoentreoDireitoeatica.

    Omarco tericodoneoconstitucionalismocompreendeumasriedetransformaesque(a)alaramaConstituioaoepicentrodosistemajurdica,dotandoadeefetivanormatividadeesuperioridadesobreasdemaisnormasjurdicas(b)incorporaramsConstituies,demodoexpresso,valoreseopespolticas,expandindoajurisdioconstitucionale(c)impuseramumnovoparadigmadeinterpretaoeaplicaodasnormasconstitucionais.

    Oconstitucionalismocontemporneonotabilizousepelaincorporaoexpressa,aotextoconstitucional,devalores,atentoadormecidos ou negligenciados pelo Estado, traduzidos em direitos fundamentais e sintetizados no postulado geral dedignidadedohomem.

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    Adignidadedohomemasntesedosdireitosfundamentais,tendosidoaladaaocentrodosistemajurdiconacondiodepostuladoaxiolgicofundamental,comoumprocessonaturaldereaopolticagenocidadonazismoedofascismo.Comosntesedosdireitosfundamentais,orespeitodignidadedapessoahumanacentraliza,nasuaessncia,omnimoexistencial,quesecompedosbensevaloresmnimosindispensveissubsistnciamaterialemoraldoindivduo.

    Aexpansodajurisdioconstitucionalimpulsionada,sobretudo,pelaincorporaoexpressadevaloreseopespolticasaostextosconstitucionaispromoveuumadensamentoaxiolgicoe,comoefeito,potencializouosconflitosentreprincpiosdemesmahierarquiaconstitucional.Essanovarealidadeexigiudosoperadoresjurdicos,sobretudodascortesconstitucionais, o trabalho de revisitar as regras clssicas de interpretao, bem como de sistematizar novos padreshermenuticos,necessriosesuficientesparasolucionaressanovacategoriadeconflitos.

    Ainterpretao jurdica tradicionalnofoiabandonada.Mas,suascategoriasforamrevisitadas,emdecorrnciadacentralidadequeaConstituiopassouaocuparnonovosistemajurdicoedesuaforanormativa.Almdessareleitura,outrascategoriashermenuticastiveramqueserconstrudasparadarrespostasatisfatriaaosconflitosaxiolgicosquesetornaramcadavezmaisfrequentes.

    Nomodelo hermenutico clssico, derivado do Positivismo jurdico, a resposta para os problemas est contida noprpriosistemajurdicoeointrpretedesempenhaumafunomeramentesubsuntiva,simplesaplicaodasnormasaofato social. Para esse modelo, a interpretao uma operao neutra, desprovida de valorao subjetiva e liberta dainflunciadequalqueroutrosubsistema.Prevalecemasinterpretaeslgica,gramaticalehistrica.

    Nomodelo hermenutico pspositivista o intrprete tornase coparticipe do processo de criao do Direito, aoatribuircargavalorativaparaasclusulasabertaseaorealizarescolhasdentresoluesnormativaspossveis

    Ao intrprete, segundo o novo modelo, j no cabe apenas aplicar o direito numa operao de simples subsunocompetelheumatarefamuitomaisprofunda,de integraro trabalhodo legislador, imprimindo,nasoluoencontrada,muito de seus valores e da sua experincia.O intrprete passa a trabalhar comoutrosmodelos hermenuticos, como aponderaoeaargumentao.

    ONeoconstitucionalismoapresentadiversasconsequnciasvisveis,dasquaissedestacam:(a)aconstitucionalizaodoDireito(b)ajudicializaodepolticaspblicas(c)oativismojudicial(d)ateoriadacoisajulgadainconstitucionale(e)oNeoprocessualismo(oformalismovalorativo).

    Noplanoobjetivo,oaconstitucionalizaododireitoquersignificaraconstitucionalizaodetemasatentorelegadoslegislao infraconstitucional e a incorporao expressade valores eprincpios ao texto constitucional, todosdotadosdenormatividadeefetiva.

    Noplanosubjetivo,aconstitucionalizaodoDireitosignificaumamudanadepadrohermenutico,umanovaposturadointrpretefrenteaosistemajurdico.EssamudanadeposturaqueasConstituiescontemporneaspassaramaexigirdointrpreterecebeuonomedefiltragemconstitucional,peloqualtodaaordemjurdicaprecisaserlidaeapreendidasobaslentesdaConstituio.

    AjudicializaodepolticaspblicaspelomenosnocontextobrasileiroumfatoquederivadoprpriomodeloconstitucionaldesenhadopelaCartarepublicanade1988,enoumexercciodeliberadodevontadepoltica.Joativismojudicialumaatitude,umaopo,umaescolhadeummodoespecficoeproativodeinterpretarasnormasconstitucionais,comaexpansodeseusentidoealcance.

    AsescolhasqueoEstadofazemmatriadegastospblicosnoserestringemaocampodapolticamajoritria.Emboracaibaao Legislativo aprovar a lei oramentria e ao Executivo elaborar e executar polticas pblicas concretas para asmaisvariadas necessidades sociais, coube ao Judicirio, por fora da constitucionalizao abrangente impressa pela Cartarepublicanade1988,amissodefazercumprirasfinalidadeseospropsitosconstitucionais,sobretudo,quantoaotemadosdireitosfundamentais.

    No h dvida que a Constituio, ao estabelecer direitos fundamentais com fora normativa, fixou deveres ao Estado,cabendoaoJudiciriofazervalerestavontadeconstitucional.Paratanto,emdeterminadassituaes,deveroEstadoJuizinterferir,comcarterimperativo,sobreadefiniodosgastospblicos.

    OlimitequeseparaodeverconstitucionalimpostoaoJudicirioeoabusodepoder,todavia,muitotnue,sendodifcildelimitarcomprecisoatondepodeatuaroJudiciriosemviolaoregradeseparaodosPoderes.

    preciso,portanto,estabelecerparmetrosminimamenteobjetivosdecontrole judicialdepolticaspblicascapazesdedelimitaroterritriodentrodoqualestaroJudicirioagindonoestritocumprimentodesuamissoinstitucional.

    H, basicamente, trs categoriaisde controleque legitimame autorizama interfernciado Judiciriona realizaodaspolticaspblicas:(a)parmetropuramenteobjetivo(controlequantitativo),quandoaprpriaConstituiofixaaquantidadederecursosmnimosaseremaplicadosemumadeterminadamodalidadedepolticapblica.Descumpridaaprevisoconstitucional,ouseja,investidorecursosaqumdomnimoindicado,caberaoJudicirio,seprovocado,imporsanesasmaisdiversas,acomearpelaintervenofederalouestadual,conformeocaso(b) parmetro finalstico(controle de fins), que se ocupa do resultado ltimo da atuao estatal e trabalha com a ideia de prioridade, de

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    preferncia, ou seja, gastos pblicos secundrios no podem ser efetivados antes do atendimento integral das polticaspblicasprioritriase(c)parmetrodaprpriadefiniodapolticapblica(controledemeios),quecuidadeexaminarseosmeioseleitospelogestorpblicosoeficientesparaatingirafinalidadeconstitucional.

    Anovahermenuticajurdica,essenovoolharsobreopapeleafunodasnormasconstitucionais,explicatambm,atcerto ponto, a ascenso da teoria da coisa julgada inconstitucional, que se baseia no critrio da ponderao devalores, entendendo que a coisa julgada, que revela umpostulado de segurana jurdica, no prevalece, sempre e sobqualquercircunstncia,sobreoutrosvaloresdemesmaestaturaconstitucional.

    JoNeoprocessualismoemergedainflunciaqueoconstitucionalismocontemporneoexerceueexercesobreoprocessocivil.Tratasedeverdadeiraconstitucionalizaodacinciaprocessual,cujainstrumentalidadepassaaserinterpretadaluzdaaxiologiaconstitucional.

    Oiderioneoconstitucionalinspirou,aindaquecomcertoatraso,osprocessualistas,quepassaramadefenderareleituradacinciaprocessual(emsuatrilogiajurisdio/ao/processo)sobaticadaConstituio,afimdeimplementarummodeloconstitucionaldeprocesso.

    Nestafase,confereseespecialrelevoaosdireitosfundamentais,comovaloressupremosprotegidosnoepeloprocesso.Eparanodistanciaroprocessodaconcretizaodosdireitosfundamentaisexigesedojuizumaposturamaisativa,emesmocooperativa,naconduodoprocesso,sobretudonainvestigaodosfatos.

    ONeoprocessualismotemporcaractersticasbsicas,dentreoutras:(a)aforteinflunciadodireitoconstitucionalsobreoprocesso(b)aefetividadedosprincpiosconstitucionaisprocessuaisindependentementedeprevisolegalexpressa(c)ademocratizaodoprocesso(d)avisopublicistadarelaoprocessual(e)avisodoprocessocomomeiodeefetivaodosdireitosfundamentais(f)aascensodosprincpiosdacolaboraoedacooperaodaspartesedojuzoe(g)oincrementodospoderesinstrutriosdojuiznabuscapelaverdadereal(queafirmaosdireitosfundamentais).

    OformalismovalorativoumacorrentederivativadoNeoprocessualismoquebuscacombateroexcessodeformalismonacinciaprocessual.Elapropeumareleiturada instrumentalidadedoprocesso,que serve,oudeveria servir, aumafinalidade externa, nopodendo ser concebido comum fim em simesmo.O formalismo excessivo deve ser combatidosemprequesedesvirtuardasuafinalidadeessencial,deservircomoinstrumentoparaarealizaodajustia,desdequerespeitadososdireitosfundamentaisdaspartesenaausnciadeprejuzo.

    OprojetodoNovoCdigo de Processo Civil tem inspiraoneoprocessual.Eleconsagra,demodoexpresso,algunsprincpios constitucionais de natureza processual, como a inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 3), a razovelduraodoprocesso(art.4e8),ocontraditrioeseusreflexos,comoosprincpiosdacooperaoedaparticipao(art.5,8,9e10),eapublicidade(art.11).

    Jnoart. 1,oprojetodoNovoCdigo revela sua inspiraoneoprocessual aoditarqueoprocesso civil sejaordenado,disciplinadoeinterpretadocomobedinciaaosvaloreseprincpiosfundamentaisfixadosnaConstituio.

    A inspirao tambmse revelanoart.6doprojeto,que impeaomagistradoodeverdeobservar,naaplicaoda leiprocessual,osfins sociais a que ela se dirige e as exigncias dobemcomum, com respeito pleno aos princpios dadignidadedapessoahumana,darazoabilidade,dalegalidade,daimpessoalidade,damoralidade,dapublicidadeedaeficincia.

    Outrainspiraovemdaopoporclusulasgerais,decontedoaberto,quetornamaatuaojurisdicionalmuitomaiscriativae fazemdo juizumcoparticipedavidapolticadopas, tornandoa sentenaalgomais justo,maisefetivo,maisprximodarealidadedesejadapelaConstituio.

    Estassoapenasalgumasdas inspiraesda filosofianeoprocessualsobreoprojetodonovoCPC.Seestasalteraesvorepresentarganhosreaisdeeficinciaevopermitirummaiorrespeitoaosdireitosfundamentaisnoplanoprocessual,sotempoeaexperinciajurdicapoderodizer.

    NOTAS

    [2]BARROSO,LuisRoberto.Cursodedireitoconstitucionalcontemporneo:osconceitosfundamentaiseaconstruodonovomodelo.SoPaulo:Saraiva,2009,p.355356.

    [3]TORRES,RicardoLobo.TratadodeDireitoConstitucional,FinanceiroeTributrio:ValoresePrincpiosConstitucionaisTributrios,SoPaulo:Saraiva,2005,p.41.

    [4] PEDRA, Anderson Sant Ana. A constitucionalizao do direito e o controle do mrito do ato administrativo peloJudicirio.In:Agra,WalberdeMouraetal(org.).Constitucionalismo:osdesafiosnoterceiromilnio.BeloHorizonte:Frum,2008,p.4142.

    [5]Sobreotema,v.ENGISH,Karl.IntroduoaoPensamentoJurdico,1983,p.27eSS.BOBBIO,Norberto.TeoriadoOrdenamentoJurdico,1997,PP.21e22eLARENZ,Karl.MetodologiadaCinciadoDireito,1969,p.214.

    [6]Art.103.Podemproporaaodiretadeinconstitucionalidadeeaaodeclaratriadeconstitucionalidade:

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    IoPresidentedaRepblica

    IIaMesadoSenadoFederal

    IIIaMesadaCmaradosDeputados

    IVaMesadeAssembleiaLegislativaoudaCmaraLegislativadoDistritoFederal

    VoGovernadordeEstadooudoDistritoFederal

    VIoProcuradorGeraldaRepblica

    VIIoConselhoFederaldaOrdemdosAdvogadosdoBrasil

    VIIIpartidopolticocomrepresentaonoCongressoNacional

    IXconfederaosindicalouentidadedeclassedembitonacional.

    1.OProcuradorGeraldaRepblicadeverserpreviamenteouvidonasaesde inconstitucionalidadeeemtodososprocessosdecompetnciadoSupremoTribunalFederal.

    2.Declaradaainconstitucionalidadeporomissodemedidaparatornarefetivanormaconstitucional,serdadacinciaaoPodercompetenteparaaadoodasprovidnciasnecessriase,emsetratandodergoadministrativo,parafazloemtrintadias.

    3.QuandooSupremoTribunalFederal apreciar a inconstitucionalidade, em tese,denorma legal ouatonormativo,citar,previamente,oAdvogadoGeraldaUnio,quedefenderoatooutextoimpugnado.

    [7] BARCELLOS, Ana Paula. Neoconstitucionalismo, Direitos Fundamentais e Controle das Polticas Pblicas, p. 5.Disponvelem:

    http://www.direitopublico.com.br/pdf_seguro/artigo_controle_pol_ticas_p_blicas_.pdf.

    [8] BALERA,Wagner. A dignidade da pessoa e omnimo existencial. In: IRANDA, Jorge SILVA,M. A.Marques da(Coord.).TratadoLusoBrasileirodadignidadehumana.SoPaulo:QuartierLatin,2009,p.127.

    [9]SILVA,JosAfonsoda.Cursodedireitoconstitucionalpositivo.25ed.rev.eatual.SoPaulo:Malheiros,2000,p.146.

    [10]Art.1.ARepblicaFederativadoBrasil,formadapelaunioindissolveldosEstadoseMunicpiosedo Distrito Federal, constituise em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: I asoberaniaIIacidadaniaIIIadignidadedapessoahumanaIVosvaloressociaisdotrabalhoedalivreiniciativaVopluralismopoltico.

    Pargrafonico.Todoopoderemanadopovo,queoexercepormeioderepresentanteseleitosoudiretamente,nostermosdestaConstituio.

    [11]SARMENTO,Daniel.DireitosfundamentaiseRelaesprivadas.RiodeJaneiro:LumenJuris,2004,p.110.

    [12]OSupremoTribunalFederal,emalgumasoportunidades,afirmouoprincpiocomopostuladoaxiolgicofundamental,ocupandoposiodedestaqueecentralidadenosistemajurdico,verbis:

    A durao prolongada, abusiva e irrazovel da priso cautelar de algum ofende, demodo frontal, opostulado dadignidade da pessoa humana,que representaconsiderada a centralidade desse princpio essencial(CF,art.1,III)significativovetor interpretativo,verdadeirovalorfontequeconformae inspira todooordenamento constitucional vigente em nosso Pas e que traduz, de modo expressivo, um dosfundamentosemqueseassenta,entrens,aordemrepublicanaedemocrticaconsagradapelosistemadedireitoconstitucionalpositivo. (HC85.237,Rel.Min.CelsodeMello, julgamentoem1732005,Plenrio,DJde2942005)

    Nomesmo sentido:HC 95.634, Rel.Min. Ellen Gracie, julgamento em 262009, 2 Turma, DJE de 1962009HC95.492,Rel.Min.CezarPeluso,julgamentoem1032009,2Turma,DJEde852009.

    [13]BARROSO,LuisRoberto.Op.Cit.p.252.

    [14]SARLET,IngoWolfgang.DignidadedaPessoaHumanaeDireitosFundamentais.PortoAlegre:LivrariadoAdvogado,2001,p.60.

    [15] BARROSO, Lus Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalizao do Direito: o trinfo tardio do DireitoConstitucional no Brasil, p. 11. Disponvel em: http://www.luisrobertobarroso.com.br/wpcontent/themes/LRB/pdf/neoconstitucionalismo_e_constitucionalizacao_do_direito_pt.pdf.Acessoem:04fev.2015.

    [16]BARROSO,LusRoberto.Ibid.,p,12.

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    [17]BARROSO,LusRoberto.Id.

    [18]BARCELLOS,AnaPaula.Op.Cit.p.6.

    [19]ALEXY,Robert.TeoriadosDireitosFundamentais,traduodeVirglioAfonsodaSilva.SoPaulo:MalheirosEditores,2008,p.93.

    [20]Ibid.,p.94.

    [21]Ibid.,p.95.

    [22]Ibid.,p.97.

    [23]Ibid.,p.99a103.

    [24]BARROSO,LusRoberto.Neoconstitucionalismo...,p.15.

    [25]N.Irti.Letdelladecodificzione,1989,apudBARROSO,LusRoberto.Neoconstitucionalismo...,p.23.

    [26]BARROSO,LusRoberto.Neoconstitucionalismo...,p.27.

    [27]BARROSO,LusRoberto.Neoconstitucionalismo...,p.28.

    [28]Propriamente,nohrevogaoquandoasnormassoanterioresConstituiotratase,emverdade,dofenmenodarecepoconstitucional,realidadeaproximadarevogao,masdistinta.

    [29] BARROSO, Lus Roberto. Judicializao, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrtica, p. 6. Disponvel em:http://www.oab.org.br/editora/revista/users/revista/1235066670174218181901.pdf.

    [30]Id.

    [31]Op.Cit.p.14.

    [32]RegistraseavaliosacontribuiodadapeloSupremonojulgamentodaADPFn.45MC/DF,darelatoriadoMin.CelsodeMello,queassimteorizousobreajudicializaodepolticaspblicas:

    Talincumbncia,noentanto,emboraembasesexcepcionais,poderatribuirseaoPoderJudicirio,seequandoosrgosestataiscompetentes,pordescumpriremosencargospolticojurdicosquesobreelesincidem,vieremacomprometer,comtalcomportamento,aeficciaeaintegridadededireitosindividuaise/oucoletivosimpregnadosdeestaturaconstitucional,aindaquederivadosdeclusulasrevestidasdecontedoprogramtico.

    Cabeassinalar,presenteessecontextoconsoantejproclamouestaSupremaCortequeocarterprogramticodasregrasinscritasnotextodaCartaPolticanopodeconverterseempromessaconstitucionalinconsequente,sobpenadeoPoderPblico,fraudandojustasexpectativasneledepositadaspelacoletividade,substituir,demaneirailegtima,ocumprimentode seu impostergvel dever, por umgesto irresponsvel de infidelidade governamental ao quedetermina a prpriaLeiFundamentaldoEstado(RTJ175/12121213,Rel.Min.CELSODEMELLO).

    (...)

    Ameta central dasConstituiesmodernas, e daCartade 1988 emparticular, pode ser resumida, como j exposto, napromoodobemestardohomem,cujopontodepartidaestemassegurarascondiesdesuaprpriadignidade,queinclui, alm da proteo dos direitos individuais, condies materiais mnimas de existncia. Ao apurar os elementosfundamentaisdessadignidade(omnimoexistencial),estarseoestabelecendoexatamenteosalvosprioritriosdosgastospblicos.Apenasdepoisdeatingilosquesepoderdiscutir,relativamenteaosrecursosremanescentes,emqueoutrosprojetossedeverinvestir.Omnimoexistencial,comosev,associadoaoestabelecimentodeprioridadesoramentrias,capazdeconviverprodutivamentecomareservadopossvel.

    (...)

    Noobstante a formulao e a execuodepolticaspblicasdependamdeopespolticas a cargodaquelesque,pordelegao popular, receberam investidura emmandato eletivo, cumpre reconhecer que no se revela absoluta, nessedomnio,aliberdadedeconformaodolegislador,nemadeatuaodoPoderExecutivo.

    que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazovel ou procederem com a clara inteno de neutralizar,comprometendoa, a eficcia dos direitos sociais, econmicos e culturais, afetando, como decorrncia causal de umainjustificvelinrciaestataloudeumabusivocomportamentogovernamental,aquelencleointangvelconsubstanciadordeumconjuntoirredutveldecondiesmnimasnecessriasaumaexistnciadignaeessenciaisprpriasobrevivnciadoindivduo, a, ento, justificarse, como precedentemente j enfatizado e at mesmo por razes fundadas em umimperativoticojurdico,apossibilidadedeintervenodoPoderJudicirio,emordemaviabilizar,atodos,oacessoaosbenscujafruiolheshajasidoinjustamenterecusadapeloEstado.

    [33]Art.212.AUnioaplicar,anualmente,nuncamenosdedezoito,eosEstados,oDistritoFederaleosMunicpiosvintee cinco por cento, no mnimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferncias, namanutenoedesenvolvimentodoensino.

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    [34]Art.208.OdeverdoEstadocomaeducaoserefetivadomedianteagarantiade:IIprogressivauniversalizaodoensinomdiogratuito.

    [35]Op.Cit.p.24.

    [36]Valeapena,referir,maisumavez,agorasobreotemadareservadopossvel,oqueafirmouoMin.CelsodeMellonojulgamentodaADPF45MC/DF,verbis:

    quearealizaodosdireitoseconmicos,sociaiseculturaisalmdecaracterizarsepelagradualidadedeseuprocessode concretizao depende, em grandemedida, de um inescapvel vnculo financeiro subordinado s possibilidadesoramentriasdoEstado,detalmodoque,comprovada,objetivamente,a incapacidadeeconmicofinanceiradapessoaestatal, desta no se poder razoavelmente exigir, considerada a limitao material referida, a imediata efetivao docomandofundadonotextodaCartaPoltica.

    Nosemostrarlcito,noentanto,aoPoderPblico,emtalhiptesemedianteindevidamanipulaodesuaatividadefinanceirae/oupolticoadministrativacriarobstculoartificialquereveleoilegtimo,arbitrrioecensurvelpropsitodefraudar,defrustraredeinviabilizaroestabelecimentoeapreservao,emfavordapessoaedoscidados,decondiesmateriaismnimasdeexistncia.

    Cumpre advertir, desse modo, que a clusula da reserva do possvel ressalvada a ocorrncia de justo motivoobjetivamenteafervelnopode ser invocada,peloEstado, coma finalidadedeexonerarsedocumprimentode suasobrigaesconstitucionais,notadamentequando,dessacondutagovernamentalnegativa,puderresultarnulificaoou,atmesmo,aniquilaodedireitosconstitucionaisimpregnadosdeumsentidode