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    ARTIGOSTEXTO SELECIONADO PELOS EDITORES

    Direito nacionalidade

    Mriton Silva Lima

    Publicado em 01/2007. Elaborado em 08/2004.

    GOSTOU?

    1

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    NACIONALIDADE (DIREITO CONSTITUCIONAL)

    Pgina 1 de 4

    A nacionalidade e os filsofos

    A Constituio Federal trata da nacionalidade nos artigos

    12 e 13, distinguindo entre brasileiros natos e naturalizados, e indica a

    lngua portuguesa como o idioma oficial da Repblica Federativa doBrasil e os seus smbolos, como a bandeira, o hino, as armas e o selonacionais.

    De onde surgiram as idias de nao, ptria, estado, raa,lngua e histria?

    A sociedade civil provm da unio de uma multido defamlias, que se prope como fim a realizao do bem comum temporal

    de todos os seus membros. assim que ela pode assumir as formas daNao, da Ptria e do Estado.

    Thomas Hobbes (1558-1679), na sua obraLeviathan orthe matter, form and power of acommonwealth ecclesiastical andcivil(1651), e J.-J. Rousseau (1712-1778), emContratsocial(1762),negam que a sociedade humana tenha origem natural. Para eles, toda a

    sociedade resulta de um contrato. Mas enquanto Rousseau imagina um

    estado de naturezanosocial, em que o homem era plenamente feliz,usufruindo de uma felicidade sem falhas, Hobbes considera o estado de

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    natureza comoanti-social, admitindo a guerra de todos contra todos,vivendo os homens em perptua luta com os seussemelhantes:bellumomnium in omnes, homo homini lupus.

    Partindo desse temor ou do desejo da prpriaconservao, estando a sua existncia constantemente ameaada,

    conforme Hobbes, os homens tiveram a idia de concluir entre si umpacto que fosse capaz de lhes assegurar a paz, por meio de um poder

    assaz forte para impor sua lei a todos.

    Rousseau concebia que o homem, sado das mos da

    natureza, era governado pelo seu simplesinstintoe por isso feliz, no

    conhecendo nenhum dos males que padece no meio da sociedade.

    Aos poucos, entrando em contato com seus semelhantes,constitua famlia e, em breve, cada uma delas vinha a ser uma pequena

    sociedade, unida pelos laos de afeto mtuo. Posteriormente, veio operodo dainveno das artes mecnicase daaquisio dapropriedade

    privada, do que resultou adesigualdadeentre os homens, provocandocom isso grandes desordens, aumentadas pela paixo, avareza e

    cupidez. Da surgiu a luta dos homens uns contra os outros.Compreendendo, no entanto, que essa guerra os condenava a perecer,decidiram concluir umpacto social, ou seja, uma sociedade quedefendesse a pessoa e os bens de cada um.

    Para Rousseau, ocontrato socialconsistia nisto:todospunham em comum suas pessoas eseus bens sob o governo davontade geral, de tal sorte que todos reunidos, formando um s corpo,pudessem receber cada membro como uma poro indivisvel do todo.

    Assim, o indivduo, ao obedecer autoridade social, soma de todos osdireitos e de todas as vontades individuais, de fato s estava obedecendo sua prpria vontade livre.

    Essaautoridade social, livremente escolhida, afontenica de todos os direitos e de todosos deveres. Tal doutrina, que foiadotada pela Revoluo Francesa, resumida num texto clebre da

    Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado (Dclaration des droitsdelHomme et du citoyen 26 aot 1789), afirmando que o princpio de

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    toda a soberania reside essencialmente na Nao (Article 3 Le principede toute souverainet rside essentiellement dans la Nation. Nul corps,nul individu ne peut exercer dautorit qui nenmane expressment).

    No social ouanti-social, esse estado de natureza notem nenhuma base histrica. Outro tanto se pode dizer dahiptese docontratopelo qual os homens teriam decidido viver em sociedade,mediante um compromisso recproco e perptuo. Essas imaginaespertencem ao domnio mtico.

    O prprio mito docontrato social um tecido decontradies. Para que os associados tivessem um poder igual uns sobre

    os outros, seria mister que cada um deles possusse o direito de obrigartodos os outros s por sua vontade. Nesse caso, cada um poderia fazerfracassar as vontades de todos os outros s por sua vontade contrria.

    Igualmente, seria necessrio que o poder de mandar s fosse entregueao consentimento unnime dos cidados. Assim, cada um estaria emcondies de, por sua simples absteno, estorvar a vontade de todos osoutros.Em ambos os casos, o contrato social no teria sentido nemeficcia alguma e deixaria subsistir a anarquia qual se supunha viera

    ele remediar.

    Conseqncia paradoxal da teoria contratual eindividualista da sociedade o poder absoluto. O que ele defende a

    prpria essncia da concepo do poder implicada nessa teoria. Querinvoque, com Rousseau, o poder legal da maioria dos sufrgios, quer

    recorra, com Hobbes, ao poder absoluto e ilimitado do soberano, a teoriadocontrato socialredunda em conferir carter de poder arbitrrio ao

    exerccio da autoridade pblica. Isso, por motivos to essenciais, quemerece ser tida como o prprio cdigo da tirania.

    No h nenhum meio de impor deveres conscinciamoral nem de fazer aceitar de outro modo seno pela fora o exerccio da

    autoridade, quando se recusa ligar o poder de mandar nica vontadecapaz de obrigar as conscincias, ou seja, vontade de Deus, princpio

    primeiro da natureza e da sociedade e Legislador supremo da ordem

    moral universal.

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    A nacionalidade no direito natural

    Assim como a famlia algo natural, provida de umaconstituio adaptada aos seus fins domsticos, igualmente asociedadeciviltem sua origem na natureza do homem.

    Ela de direito natural (ius naturae),exigida pelascondies de existncia psicolgicas, morais e fsicas, que so asprprias do homem.

    Tendo por base o seu instinto social, os homens sentemanecessidade irresistvel de reunir-se, para trabalhar em comum, paracomunicar uns aos outros seus pensamentos, sentimentos, intenes,para repartir entre si, segundo seus gostos e suas aptides, as tarefas

    necessrias manuteno da vida humana.No prprio seio dessareunio, e em virtude de uma tendncia espontnea, criam-sehierarquiase estabelece-se uma ordem, em que alguns, mais bemdotados de inteligncia, de energia ou de prestgio, desempenham o

    papel dechefe, enquanto a maioria aceita trabalhar de acordo com asordens daquele que assumiu o encargo do bem comum.

    Aristteles (384-322 a.C.) j dizia que o homem , porinstinto, um animal social (tica a Eudemo, VII, c. I, 1242 a, 23-26;ticaa Nicmaco, VIII, c, XIV, 1162 a, 17-27).

    Qual a forma desse instinto social? Adam Smith (1723-

    1790) recorre simpatia como critrio da moralidade. "Como possvel

    pergunta ele encontrar regras invariveis que fixem o ponto em que, emcada caso particular, o sentimento delicado da justia no mais que umescrpulo frvolo, que mostra o preciso instante em que a reserva e a

    discrio degeneram em dissimulao?" (Theory of moral sentiment, II, p.257). Para ele, s por si, a humanidade no poderia conseguir fundar e

    manter a coeso social, porque, tratando-se de puro sentimento, est elasujeita a todos os caprichos, a todas as obcecaes, a todas as

    estreitezas e parcialidades que caracterizam os impulsos emocionais.

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    Como queria Aristteles, o instinto que fundamenta asociedade, e que se exprime na e pela simpatia, carregado de poderracional e, por isso, no h realmente nenhuma passagem concebvel do

    instinto gregrio ao instinto social autntico.

    As tendncias sociais da natureza humana respondem

    anecessidades fsicas, intelectuais emorais, cuja satisfao s pode serobtida por meio da sociedade civil, que oEstado.

    O indivduo e a famlia so obrigados a viver reunidos demaneira permanente em sociedade organizada, visando proporcionar a

    seus membros o que lhes necessrio para a obteno dos bens que

    correspondem s exigncias essenciais de sua natureza racional. Asociedade domstica insuficiente. A vocao social do homemcaracteriza-se pelosentimento da justia, que s tem utilidade na vidacoletiva. A vontade do pai apia-se no senso natural da eqidade, pararegular as questes que interessam os membros da sociedade

    domstica. Mas essa eqidade sofreria um eclipse total, tratando-se defamlias distintas, formandomundos independentes, sem cdigo nem leique lhes definissem as relaes. Da a necessidade da existncia de leis,

    juzes e uma organizao poltica.

    A doutrina da origem natural da sociedade implica esteprincpio: a sociedade poltica umainstituio de direito divino natural.

    Corolrio imediato queo poder de governar igualmentede direito divino natural. pois vontade de Deus que o poderpoltico tenha direito de elaborar leis e de obrigar as conscincias aobedecer-lhe as decises. Toda a autoridade vem de Deus (Rm 13,1-2) e

    toda a resistncia autoridade legal uma resistncia ordem queridapor Deus.

    Exercida em nome de Deus, aautoridade, estabelecidanos limites que a tornam legtima, deve conformar-se s regras morais da

    justia e do direito.

    Os fatos contingentes so variados. Materialmente, h

    ofator territorial, na instalao das famlias no mesmo solo. Ofator

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    nacional a formao de um esprito comum. Formalmente, o fatorcapital adecisode viver em comum de gerao em gerao e desubmeter-se a uma autoridade soberana. Dessa deciso que nasceovnculo jurdicoda justia conforme lei, constitutivo da sociedadepoltica.

    Se a vida em sociedade provm da natureza,os Estadosprocedem de um pacto, que um fato natural, no sentido de que atualizaa vida em sociedade poltica, natural ao homem. O que nele contingente e convencional reduz-se s modalidades que determinamasformas e as condies particulares da sociedade poltica, tal como defato a constroem e organizam os homens, seja por sua deciso de se

    unirem, seja simplesmente pelo efeito natural, aceito e tacitamenteratificado, da sua associao.

    Como dizia A. Croiset (Les dmocraties antiques, Paris,1909, p. 20), assim que se iniciaram os Estados.

    A nao e a nacionalidade

    A palavra nao faz aparecer a idia de esprito comum e

    de uma famlia. Sua etimologia (natio,nascor, nascer) designa a unidademoral que resulta de uma comunidade de raa ou de lngua, de cultura ede tradies, com a vontade de viver em comum e de compartilhar amesma sorte.

    O historiador francs Fustel de Coulanges (1830-1889),emLa Cit Antique, 1905, Paris, 19.ed., p. 134-135, mostra o seurevestimento histrico nas formas concretas no cl e na tribo dos gregose na cria dos latinos.

    O filsofo H. Bergson (1859-1941), emLes deux sourcesde la morale et de la religion, 1932, Paris, p. 228, ao definir a sua atitudeem face do problema moral e do problema religioso, afirma que oprincpio capaz de neutralizar a tendncia desagregao das naes o esprito ou a alma nacional.

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    A nao tambm uma grande famlia, com o "em suacasa" e o "entre si" que caracterizam a unidade domstica.

    Fato da natureza, ela est em toda a parte onde h

    homens. A gente nasce numa nao, como nasce numa famlia. poisaalma nacionalque anima espiritualmente toda a existncia social, donascimento morte.

    Os fatores constitutivos da nao so numerosos, mas os

    principais so a raa, a lngua, o meio fsico, as recordaes comuns eas tradies culturais.

    Araa uma realidade biolgica, marcada porsemelhanas que se impem imediatamente, quando se trata dasgrandes raas da espcie humana, como a branca, a negra, a amarela ea vermelha. J. Millot, emgalit et races, nostudes Carmelitaines,1939, p. 58, fala das raas ariana e semita, que dividem a raa humana,bem como das raas indiana, latina, germnica, eslava, ibrica, bret

    etc.,variedadesque diversificam o tipo ariano.

    No h raas puras, pois todas se misturaram desde os

    tempos pr-histricos, entendendo-se porraaumfato tico-histrico,que consiste numa certa mentalidade desenvolvida pela vida em comum.

    Alnguacria uma comunidade muito forte, pois significaummecanismo mental particular, de tal modo que falar a mesma lngua, em larga medida, pensar da mesma maneira.

    Fazer da lngua o carter distintivo da nacionalidade uma

    idia antiga.

    P. Henry, emLe Problme des nationalits, Paris, 1937, p.11, diz que o filsofo J.G. Fichte (1762-1814), nos seusclebresDiscursos nao alem(Reden an die deutsche Nation),pronunciados para sustentar o patriotismo germnico contra Napoleo,longamente insistira sobre este ponto. Narra tambm que, do mesmo

    modo, em 1601, Henrique IV, anexando o Bugey e o Bresse, declarava:

    "Bem quero que a lngua espanhola fique na Espanha, a alem naAlemanha, porm a francesa deve ser minha."

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    Infelizmente, ofator lingstico no decisivo, pois nem aunidade de lngua acarreta necessariamente a unidade nacional, nem opoliglotismo impede naes como o Canad e a Sua de serem

    fortemente unidas.

    A influncia domeio fsicoage poderosamente sobre osindivduos agrupados no mesmo solo, submetidos ao mesmo clima, aosmesmos fenmenos luminosos, ao mesmo tipo de alimentao e ao

    mesmo regime econmico. Asmaneiras de sentir comunstornam-secaractersticas dosolo nacional.

    Ahistriada nao, com as recordaes de suas

    vicissitudes de grandeza ou de humilhao, com os nomes dos heris,com as alegrias e os lutos comuns, constitui tambm um fator deunidade, criando uma espcie dememria nacional, onde cada um vemhaurir as lies de um passado que permanece sempre vivo.

    naparticipao das mesmas tradies culturaisquedescobrimos um dos fatores mais ativos da unidade nacional. Asdiferentes naes caracterizam-se por suasinstituiese seuscostumes,

    por suascrenase seushbitos. Areligioento desempenha papelpreponderante, pelo fato de influenciar profundamente os pensamentos,os sentimentos e os costumes.

    Aconscincia nacionaldepende da participao ativanessas tradies culturais. Todos os membros da comunidade nacionalpossuem um registro de sentimentos, de idias, de lembranas, um tipo

    de imaginao e, acima de tudo, uma vontade e um ideal comuns.Assim, a nao verdadeiramente umapessoa moral.

    Conforme Ernest Renan (1823-1892), emQuest-cequune nation?, conferncia feita na Sorbonne em 11/03/1882, "Umanao uma alma, um princpio espiritual (...). A nao, como oindivduo, o desfecho de um longo passado de esforos, de sacrifciose de dedicaes (...). Ter glrias comuns no passado, uma vontadecomum no presente; ter feito grandes coisas juntas, ainda querer faz-

    las, eis a as condies essenciais para ser um povo. Ama-se em

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    proporo dos sacrifcios em que se consentiu, dos males que sesofreram".

    A ptria e a nacionalidade

    Tia Filozinha reunia todos os alunos, no Grupo EscolarJoo Lisboa, em Caxias (MA), para cantarmos o hino nacional, antes do

    incio das aulas. Ns cantvamos o hino, um dos smbolos da RepblicaFederativa do Brasil (CF, art. 13, 1).

    Esse sentimento cvico era uma expresso daptria, aterra dos nossos pais, a terra que amamos. Ptria a me comum de

    todos ns (Patria est communis omnium nostrum parens).

    Materialmente, confunde-se com a nao, mas ela aterra dos pais, onde dormem os mortos e sobre a qual os vivosperpetuam a raa dos que j no existem. Ela surge da espontnea

    relao estabelecida entre o ser humano e as potncias do solo e do

    sangue.

    Comoterra, a ptria est ligada idia dosolo natal, quea fixa no espao e lhe proporciona um corpo e um rosto. Sua estrutura,

    seu clima, seus recursos, suas plantas e seus animais, sua luz e suasguas, suas casas, seus trabalhos, tudo isso forma o aspecto particularda ptria. Paisagem cheia de encanto inigualvel que reencontramostodas as vezes que fechamos os olhos. Ela tambm aterraque nosreceber, quando chegar a nossa vez de nos irmos juntar queles queviveram antes de ns.

    Jacques Bnigne Bossuet (1627-1704), orador, polemista,educador e telogo, emPolitique tire des propres paroles de lcritureSainte, 1701, I, 1, art. 2, 3 prop., enfatiza que "os homens sentem-seligados por algo de forte, quando pensam que a mesma terra, que os

    trouxe e os nutriu vivos, os receber em seu seio quando morrerem; umsentimento natural a todos os povos".

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    Comolar, a terra da ptria a dos antepassados,a terrados seus lares e dos seus tmulos. No por ser nossa terra que ela nossa ptria, mas por haver pertencido aos nossos antepassados, por ter

    sido modelada imagem deles e banhada por seus suores. Eles

    fundaram suas cidades e suas aldeias, edificaram suas igrejas e suascasas, traaram as estradas e os canais, amanharam, para seusdescendentes, esse lar, onde cada um se sente to plenamente em sua

    casa, como numa casa paterna. Como diz Toms de Aquino (1221-1274), sentimos pela ptria essa mesma piedade filial que devemos a

    nossos pais e a Deus (Unde sicut ad religionem pertinet cultum Deoexhibere, ita secundo gradu ad pietatem pertinet exhibere cultum

    parentibus et patriaeS.th. II-II 101,1 co).

    A ptria umame, cujo nome capaz de responder plenitude do seu sentido. ptria devemos o que somos. Desde nossonascimento, ela nos investiu de um patrimnio de bens materiais esobretudo espirituais, dos tesouros do pensamento e da arte, de um idealde beleza e de nobreza, que no cansamos de honrar e de admirar, com

    toda a parcialidade de um amor que no se discute, porque nasce dacarne e do sangue, como o do filho por sua me.

    Henri Bergson (1859-1941), emLes deux sources de lamorale et de la religion, 1932, pg. 229, diz que "h grande distnciadesse apego Cidade (...) ao patriotismo, que uma virtude de paz tantoquanto de guerra (...) que se foi formando lenta, piedosamente, comrecordaes e esperanas, com poesia e amor, com um pouco de todasas belezas morais que existem sob o cu, como o mel com as flores".

    Essa idia de ptria aplica-se primeiramente grandeptria, que coincide materialmente com a nao. Vale tambm paraaspequenas ptrias, as unidades naturais que entram na composio dagrande ptria, como lugarejo e aldeia, parquia, cidade e estado. Ela fala

    ao corao e desperta sentimentos de ufania, de amor e de fidelidade noculto que se vota grande ptria maior.

    No discurso pronunciado por ocasio da solenidade de

    formatura no Liceu do Colgio Anchieta de Friburgo, em 13/12/1903, RuiBarbosa (1849-1923) sintetizou a sua definio de ptria, conceito acima

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    de todas as divises polticas, econmicas, religiosas, profundamenteligado noo de democracia:

    "O sentimento que divide, inimiza, retalia, detrai,

    amaldioa, persegue, no ser jamais o da ptria. A ptria a famlia amplificada. E a famlia, divinamente constituda,

    tem por elementos orgnicos a honra, a disciplina, afidelidade, a benquerena, o sacrifcio. A ptria no

    ningum: so todos; e cada um tem no seio dela o mesmodireito idia, palavra, associao. A ptria no umsistema, nem uma seita, nem um monoplio, nem uma formade governar: o cu, o solo, o povo, a tradio, a

    conscincia, o lar, o bero dos filhos e o tmulo dosantepassados, a comunho da lei, da lngua e da liberdade."

    O Estado e a nacionalidade

    Estado sinnimo desociedade civilou de autoridade

    supremaexistente nessa sociedade. No primeiro sentido, dizemos que o cidadodeve sacrificar-se ao bem do Estado. No segundo, afirmamos que o Estado obrigado a proteger a paz pblica.

    !rist"teles, emPoltica, #$, c.$., %&'( b, ''-&), diz que *aplisuma sociedade perfeita que se basta completamente, formada para proporcionar aseus membros a vida feliz*.

    +ociedade completa, o Estado tem por fim o bem comum, no queeste tem de mais geral material, intelectual e moralmente. ma misso

    civilizadora, que abrange todo o domniodo humano, nos dizeres de . /abin 0LaPhilosophie de lordre juridique positif, +ire1, %2(&, p. %%(3.

    +ociedade perfeita, o Estado independente, na sua exist4ncia ena sua atividade, de todas associedadesparticulares, e possui todos os meiosnecess5rios para cumprir as obriga67es que resultam da sua misso.

    nio das fam8lias, clulas primordiais da sociedade pol8tica, oEstado comp7e-se da multido de fam8lias. 9 assim que o estagirita definia acidade como *a unio das fam8lias e das comunas* 0Poltica, #, c.#, %':' b, ';3.

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    O Estado pois uma multido de indiv8duos, reunidos emfam8lias, cidades, prov8ncias e of8cios< uma autoridade suprema 0interna3 e umasoberania 0externa3, em rela6o a outras sociedades da mesma natureza.

    +ociedade necess5ria ao =omem. +er perfect8vel, ele s" poderealizar a perfei6o de sua natureza com a a>uda da sociedade civil, de direitonatural 0ius naturae3.

    +ociedade org?nica, resulta da unio est5vele =ier5rquica degrupos sociais inferiores, que continuam a existir e a desempen=ar as fun67esdiversas requeridas pela amplitude da tarefa deferida ao Estado.

    +eu problema pol8tico consiste em regular as liberdadespblicas e o poder central, para evitar a anarquiae o despotismo.

    +ociedade desigual organicamente que se comp7e de pessoas>uridicamente desiguais. !ssim, a diversidade das profiss7es e dos interessesdetermina a forma6o declasses decidados, que se =ierarquizam entre si,segundo a import?ncia de suas fun67es.

    ! natureza realista do Estado admite ter o grupo uma realidadeque transborda o simples total dos indiv8duos.

    O Estado um todo. @ara a filosofia peripattica, *o Estado naturalmente anterior A fam8lia e ao indiv8duo, porque o todo necessariamente

    anterior As suas partes* 0Poltica, %, c, #3.

    Bodo l"gico, princ8pio formal que faz a unidade dos elementos,pois o todo no existe como tal, mas reside nos seus elementos constitutivos. 9assim o pensamento de Bom5s de !quino 0%''%-%';C3D totumdicitur esse in

    partibus. (... totum non est praeter partes! et sic oportet ut intelligatur esse

    inpartibus0;%2((, #nDPh"sic, lib. Cl. Cn3.

    Bodo moral, o Estado uma realidade que, como todo,s e#istena mente! mas que sefunda na unidade de fim das pessoas humanas. Enquanto a

    multido constitui o elemento material do Estado, o elemento formal, de ondeprocede a unidade da multido, baseia-se nessa finalidade comum das pessoas enas rela67es mtuas que dela derivam.

    !ssim compreendido, o Estado um todo cujo princpiounificador $ o bemcomum visado pelos indivduos! e depois redistribudo a cadaum. Esse fim comum, constitutivo da unidade social e, por conseguinte, do

    pr"prio Estado, que gera os "rgos e as institui67es >ur8dicas que formam ocorpo do Estado e, de maneira efetiva e de alguma sorte material, asseguram acomum depend4ncia dos membros da sociedade pol8tica.

    https://jus.com.br/tudo/uniao-estavelhttps://jus.com.br/tudo/uniao-estavel
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    ! dificuldade em compreender tudo isso vem da for6a com que oEstado se imp7e como uma realidade fsica! visvel e sensvel. @or Estadoentende-se entoD um territ"rio 0o soberano visita seus Estados3< o povo instaladoneste territ"rio ou a Na6o 0o governo do Estado3< o territ"rio e a Na6o >untos 0oc=efe do Estado3< o pr"prio governo 0as rela67es da #gre>a com o Estado3< osfuncion5rios e a administra6o do Estado. uando a gente diz que *Fulanodemanda em face do Estado*, ou *esta floresta pertence ao Estado*, o termoEstado no tomado em nen=uma das acep67es precedentes, seno que

    personifica a autoridade, no como tal, mas em seus instrumentos ou "rgos emgeral. O Estado assim considerado como um todo entitativo. #sso tambmsucede quando se personifica uma parte do Estado, por exemplo o munic8pio ou odepartamento 0*essa estrada pertence ao departamento*3.

    Nesses diversos casos, servimo-nos de "rgos ou de propriedadesdo Estado e realizamos um todo que no passa de um todo l"gico. Nada maisleg8timo e nem mais inevit5vel. Gas isso no nos autoriza a transferir ao Estadocomo um todo a realidade entitativa que de fato s" pertence aos seus "rgos e aosseus efeitos >ur8dicos.

    Nacionalismo e patriotismo

    Na6o e @5tria sofatosque se imp7em A mente e ao cora6o.Boda uma srie de gera67es e de sculos necess5ria para formar a alma e aconsci4ncia comuns que fazem a Na6o e a @5tria. O Estado pode nascer oudesaparecer de um dia para o outro, por efeito de uma deciso arbitr5ria ou deuma guerra infeliz.% P&tria $ a realidade que durae que no muda, aquela quedizemos eterna, enquanto o Estado no cessa de se transformar no correr dossculos.

    Fiador do bem comum, o Estado pode reclamar os maioressacrif8cios, mas, por instinto, cada um sente que A @5tria e no ao Estado que sefaz =omenagem dos pr"prios bens e, se preciso, da pr"pria vida.

    !'ao antes de tudo uma unidade histrica< o Estado,uma unidade poltica< e a @5tria, uma unidade moral.

    m Estado pode englobar v5rias na67es. Foi assim o imprioromano, na antiguidade. Em nossos dias, o caso do imprio brit?nico, como foitambm o do imprio franc4s e o da Hssia. !demais, uma s 'ao pode

    formar v&rios )stados, como sucedeu na Ircia antiga, ou ento ela pode estardividida entre v5rios Estados, como a @olnia, ap"s a partil=a do sculo J$###.

    ! Na6o no tem a estabilidade da @5tria. @ode modificar-se dediversas maneirasD pelo aflu#o de elementos novos0em conseqK4ncia de umainvaso3, por efeito de novastradi*es, de muta*es econ+micas ou

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    polticas0revolu6o3, que transformam o seu aspecto material e espiritual.%P&tria! esta no mudaD no meio de todas as perturba67es, continua sendo omesmo solo, o mesmo lar< continua a oferecer ao amor de seus fil=os o mesmorosto materno.

    !s duas realidades de Na6o e @5tria no coincidemnecessariamente, pois existe o caso de uma nao que no tem p&tria. !ssim foio caso da nao judiadurante sua perman4ncia no Egito dos fara"s. #gualmente,desde a revolta de +imo Lar-Mo=ba contra a domina6o romana 0%&'-%&( a./.3at %2C, quando, depois de dezenove sculos, voltou a encontrar uma @5tria, oEstado de #srael, em condi67es territoriais prec5rias.

    +endo a Na6o e a @5tria umfato, o nacionalismouma doutrina. Gel=or dizendo, o princ8pio segundo o qual dever essencial doEstado trabal=ar por conservar e por desenvolver a Na6o, por promover orespeito de seus direitos e o 4xito de suas reivindica67es.

    Nesse sentido, o nacionalismo uma forma vigilantedopatriotismo. @ara no estar su>eito a excessos, se o patriotismo uma virtude,deve submeter-se A lei do >usto meio-termo 0inmedio virtus3, que uma regra desabedoria e de perfei6o.

    !mar a pr"pria p5tria em demasia talvez se>a uma maneira deam5-la mal. /evemos evitar os excessos. @atriotismo sadio no implica nem axenofobia, sentimento rid8culo de averso a pessoas ou a coisas estrangeiras, nemo desprezo ou o "dio dos forasteiros, nem o esp8rito de guerra e de conquista,nem o fanatismo que pretendesse colocar o servi6o da p5tria acima da >usti6a e dodireito. Budo isso uma maneira m5 de amar a pr"pria p5tria, querendosacrificar-l=e essas coisas, que so a verdade e a >usti6a.

    O amor que devemos A @5tria fruto do encanto que nasce desua bele,a moral. @ara que possamos am5-la sem reservas, e at ao sacrif8cio davida, torna-se mister que sua fisionomia conserve sempre aos nossos ol=os umaaurola de santidade.

    O termo nacionalidadeevoca o fato da perten6a >ur8dica no a umEstado 0-taatsangehrig/eit3, mas sim a uma'ao. !ssim, o princ8pio dasnacionalidades consiste em afirmar que toda a 'ao ou P&tria deve atingir suas

    fronteiras naturais< ou que toda a 'ao deve poder constituir0se em )stadoindependente< ou, enfim, que todo opovo tem o direito de dispor livremente de simesmo. Essas f"rmulas encerram a mesma reivindica6o, que a coincid1nciado )stado com a 'ao, ponto de vista que, desde a Hevolu6o Francesa,exerceu influ4ncia enorme sobre os destinos do mundo.

    Felizmente, a teoria das fronteiras naturais no tem em seu favornen=um argumento cient8fico ou >ur8dico.% P&tria e a 'ao no t1m fronteiras

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    determinadas, pois so fatos morais e espirituais. O Estado, sim, tem fronteirasdefinidas.

    #gualmente, o princ8pio das nacionalidades desprovido dequalquer fundamento cient8fico e >ur8dico, pois a 'ao e a P&tria no seidentificam necessariamente com o )stado. ma Na6o tem o direito de seseparar de um Estado no qual foi incorporado por efeito de conting4ncias

    pol8ticas que cessaram de valer. ircunst?ncias acidentais que tornam caduca ourevog5vel a primeira incorpora6o.

    O direito de nacionalidade

    @ovo o elemento =umano do Estado, de cu>as rela67es com oterrit"rio decorre o v8nculo da nacionalidade. Bal conceito no se confunde com

    popula6o nem com =abitante, que so o con>unto de residentes no territ"rio,nacionais ou estrangeiros. Nacionais so os nascidos no territ"rio com a mesmaorigem, a mesma l8ngua, os mesmos costumes e tradi67es de seus antepassados,formando uma comunidade de base sociocultural< estrangeiros so os nonacionais.

    Garcelo aetano 0#nD2ireito 3onstitucional, ed. portuguesa, p.&:'< ed. brasileira, p. %:23 diz que nacionais seriam *todos quantos nascem numcerto ambiente cultural feito de tradi67es e costumes, geralmente expresso numal8ngua comum, atualizado num id4ntico conceito de vida e dinamizado pelasmesmas aspira67es de futuro e os mesmos ideais coletivos*. uridicamente,

    porm, nacionalidade o v8nculo >ur8dico-pol8tico que faz da pessoa um doselementos componentes da dimenso pessoal do Estado, nos termos de @ontes deGiranda 0#nD 3oment&rios 4 3onstituio de 5678com a Emenda nP %, de %2(2,t. #$, p. &:'3.

    No direito constitucional brasileiro, nacional o brasileiro natoou naturalizado, ou se>a, o que se vincula, por nascimento ou naturaliza6o, aoterrit"rio brasileiro. idado o que qualifica o nacional no gozo dos direitos

    pol8ticos e os participantes da vida do Estado 0F, arts. %P, ##, e %C3, orecon=ecimento do indiv8duo como pessoa integrada na sociedade estatal 0F,art. :P, QJJ$##3. Nacionalidade prim5ria a que resulta de fato natural, onascimento< secund5ria a que se adquire por fato volunt5rio, depois donascimento.

    @ara a determina6o da nacionalidade prim5ria usa-se o critrioda origem sangu8nea ou da proced4ncia territorial. O substantivo defectivolatinosanguis, que s" se usa no singular, tem o genitivo pronunciado Rs?nguinisS,da8 o critrio ius sanguinis, pelo qual se confere a nacionalidade em fun6o dov8nculo de sangue, reputando-se nacionais os descendentes de nacionais. O

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    critrio de origem territorial, ius soli, o que atribui a nacionalidade a quemnasce no territ"rio do Estado de que se trata.

    Os Estados de emigra6o, como a maioria dos europeus, preferema regra doius sanguinis, com base na qual a diminui6o de sua popula6o pelasa8da para outros pa8ses no importar5 em redu6o dos integrantes danacionalidade. Os Estados de imigra6o, como a maioria dos americanos,acol=em a do ius soli, pela qual os descendentes na massa dos imigrantes passama integrar a sua nacionalidade, o que no ocorreria se perfil=assem o critrio dosangue.

    ! nacionalidade secund5ria depende primeiramente da vontadedo indiv8duo, quando se l=e d5 o direito de escol=er determinada nacionalidade0F, art. %', #, c, e ##, a3, e, em segundo lugar, do Estado, mediante outorga aonacional de outro, espontaneamente ou a pedido, como foi a grande naturaliza6oconcedida pela onstitui6o de %2% 0art. (2, #$ e $3 e como agora a =ip"teseda F, art. %', ##, b, em face da resid4ncia =5 mais de %: anos no Lrasil, bastandoo pedido do interessado.

    @olip5trida quem tem mais de uma nacionalidadeD o caso dosfil=os de italiano aqui nascidos, se seus pais no estiverem a servi6o de seu pa8s