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EDITORA JUSPODIVM ERRATA Exame da OAB - Doutrina - Volume Único – 9ª edição Organizadores: Flávia Cristina, Lucas Pavione e Júlio Cesar Franceschet Texto incluído: aparece em fonte vermelha. Disciplina: Direito Internacional Autor: Diego Pereira Machado Capítulo VI NACIONALIDADE 1. CONCEITOS Os Nacionais são os destinatários das normas constitucionais. Nacionalidade consiste no vínculo jurídico-político permanente que liga o indivíduo ao Estado. É um direito humano (Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, seu art. 15), cujo único titular capaz de outorgar é o Estado soberano (princípio da atribuição estatal da nacionalidade). Todo ser humano pode exercer o direito à opção por uma nacionalidade. O Exame FGV 2013.1 cobrou os temas estudados no presente capítulo! 2. TIPOS DE NACIONALIDADE 2.1 Primária, originária, involuntária ou atribuída: imposta ao nascer. São os brasileiros natos, conforme hipóteses taxativamente previstas no inc. I do art. 12 da CF (numerus clausus). Por ser um país de imigração, o Brasil adota com temperamentos o critério do jus solis (territorial), que é a regra em nosso ordenamento. Sistema misto: jus solis + jus sanguinis; |A| Art. 12, inc. I, “a”: regra jus solis. Aqueles nascidos no território nacional, abrangendo aqui o território em sentido restrito e o por extensão (mar e ar), são brasileiros natos. Quando nascidos em navios e aeronaves de guerra são natos, independentemente do lugar onde estejam. Pode até ser filho de estrangeiros, ainda assim, se aqui nascido, será brasileiro nato, salvo se os pais (um ou outro) estiverem a serviço (de natureza pública) de seu país; |B| Art. 12, inc. I, “b”: aqui é a exceção, em que o critério é o jus sanguinis (sanguíneo). Serão brasileiros natos os nascidos no estrangeiro se um ou ambos os pais estiverem lá a serviço (de natureza pública) do Brasil; |C| Art. 12, inc. I, “c”: vide EC 54 de 2007. Com esta atual alínea, agora há duas possibilidades para que filhos de brasileiros nascidos no exterior sejam natos, desde que os pais não estejam a serviço do Brasil, pois neste caso se encaixariam no dispositivo imediatamente anterior. Serão natos: 1ª) desde que sejam registrados em repartição brasileira competente

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Page 1: Capítulo VI NACIONALIDADE · Luca nunca procurou se informar sobre seu direito à nacionalidade brasileira, mas, agora, ... promulgação desta Emenda Constitucional,

EDITORA JUSPODIVM

ERRATA

Exame da OAB - Doutrina - Volume Único – 9ª edição Organizadores: Flávia Cristina, Lucas Pavione e Júlio Cesar

Franceschet

Texto incluído: aparece em fonte vermelha.

Disciplina: Direito Internacional Autor: Diego Pereira Machado

Capítulo VI

NACIONALIDADE

1. CONCEITOS

Os Nacionais são os destinatários das normas constitucionais. Nacionalidade consiste no

vínculo jurídico-político permanente que liga o indivíduo ao Estado. É um direito humano

(Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, seu art. 15), cujo único titular capaz de

outorgar é o Estado soberano (princípio da atribuição estatal da nacionalidade). Todo ser

humano pode exercer o direito à opção por uma nacionalidade.

O Exame FGV – 2013.1 cobrou os temas estudados no presente capítulo!

2. TIPOS DE NACIONALIDADE

2.1 Primária, originária, involuntária ou atribuída: imposta ao nascer. São os brasileiros

natos, conforme hipóteses taxativamente previstas no inc. I do art. 12 da CF (numerus clausus). Por

ser um país de imigração, o Brasil adota com temperamentos o critério do jus solis (territorial), que é

a regra em nosso ordenamento. Sistema misto: jus solis + jus sanguinis;

|A| Art. 12, inc. I, “a”: regra – jus solis. Aqueles nascidos no território nacional, abrangendo

aqui o território em sentido restrito e o por extensão (mar e ar), são brasileiros natos. Quando

nascidos em navios e aeronaves de guerra são natos, independentemente do lugar onde estejam.

Pode até ser filho de estrangeiros, ainda assim, se aqui nascido, será brasileiro nato, salvo se os

pais (um ou outro) estiverem a serviço (de natureza pública) de seu país;

|B| Art. 12, inc. I, “b”: aqui é a exceção, em que o critério é o jus sanguinis (sanguíneo). Serão

brasileiros natos os nascidos no estrangeiro se um ou ambos os pais estiverem lá a serviço

(de natureza pública) do Brasil;

|C| Art. 12, inc. I, “c”: vide EC 54 de 2007. Com esta atual alínea, agora há duas

possibilidades para que filhos de brasileiros nascidos no exterior sejam natos, desde que os pais

não estejam a serviço do Brasil, pois neste caso se encaixariam no dispositivo imediatamente

anterior. Serão natos: 1ª) desde que sejam registrados em repartição brasileira competente

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(basta registrar, assim pode ser brasileiro, sem nunca ter falado nossa língua e sem ter

estado em nosso território). OBS.: com a EC 54 de 2007 ocorrera a repristinação das normas da

Lei de Registro Público; ou 2ª) venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em

qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira. Trata-se da

nacionalidade potestativa. É ato jurídico personalíssimo, unilateral e de vontade, ou seja, os

familiares não podem mediante procuração efetuar. Depois de atingida a maioridade podem

ingressar com pedido na Justiça Federal (procedimento de jurisdição voluntária). Não há fixação de

prazo para a vinda ao Brasil;

Uma interessante questão foi elaborada em abril de 2017, pela FGV, com o seguinte

enunciado: “Luca nasceu em Nápoles, na Itália, em 1997. É filho de Marta, uma ilustre pintora

italiana, e Jorge, um escritor brasileiro. Quando de seu nascimento, seus pais o registraram apenas

perante o registro civil italiano. Luca nunca procurou se informar sobre seu direito à nacionalidade

brasileira, mas, agora, vislumbrando seu futuro, ele entra em contato com um escritório

especializado, a fim de saber se e como poderia obter a nacionalidade brasileira. Assinale a opção

que apresenta, em conformidade com a legislação brasileira, o procedimento indicado pelo

escritório”. Sendo que o gabarito oficial foi o seguinte: “D) Luca deverá ir residir no Brasil e fazer a

opção pela nacionalidade brasileira”.

- Importante destacar os dispositivos da nova Lei de MIGRAÇÃO, Lei 13.445, de 2017, que

no seu art. 63 preceitua: “O filho de pai ou de mãe brasileiro nascido no exterior e que não tenha

sido registrado em repartição consular poderá, a qualquer tempo, promover ação de opção de

nacionalidade. Parágrafo único. O órgão de registro deve informar periodicamente à autoridade

competente os dados relativos à opção de nacionalidade, conforme regulamento”.

A mesma Lei é regulamenta por Decreto, que no art. 216 assegura o que segue: “216. A

comprovação da opção pela nacionalidade brasileira ocorrerá por meio do registro da sentença no

Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, observado o disposto no art. 29, caput, inciso VII,

da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973”.

DICA

IMPORTANT

E

Fórmula para memorização quanto à aquisição da nacionalidade potestativa:

Filiação brasileira + residência no Brasil + maioridade + opção + pedido na justiça federal

+ sentença homologatória = brasileiro nato.

Sobre a condição de brasileiro nato, exatamente conforme consta na CF de 1988, a FGV

cobrou em questão no Exame de Ordem 2015.2.

QUESTÃO: O que é nacionalidade provisória?

RESPOSTA: A qualidade de nacional provisório é concedida ao menor nascido no estrangeiro, filho de pais

brasileiros que não estão a serviço do Brasil, e que não fora registrado em embaixada ou consulado, e mesmo

assim, antes da maioridade, venha a residir no Brasil. Como da residência até atingir a maioridade é incapaz e

levando em conta que se trata de ato unilateral de vontade, intransferível e personalíssimo, o menor será

considerado brasileiro para todos os fins. O fato gerador da nacionalidade provisória é a residência.

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MUITA

ATENÇÃO!

Vide art. 95 do ADCT: “Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da

promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser

registrados em repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro,

se vierem a residir na República Federativa do Brasil.” Acrescentado pela Emenda 54 de 2007.

Hipótese excepcional. Regula situações ocorridas entre 07/06/1994 a 20/09/2007.

2.2 Secundária, adquirida, voluntária, derivada ou de eleição: caso do estrangeiro ou

apátrida que quer se naturalizar. Brasileiro naturalizado. Art. 12, inc. II, da CF. É a nacionalidade

que se adquire após o nascimento, de forma voluntária, desde que cumpridos requisitos da CF e da

lei. Só existe naturalização expressa, depende da manifestação de vontade do estrangeiro e

da aceitação unilateral e discricionária do Estado, por isso que, em regra, não pode ser

considerado direito público subjetivo;

|A| Lembretes sobre naturalização: tem natureza constitutiva e produz efeitos ex nunc, não

extinguindo as responsabilidades penais e civis antes de sua concessão;

|B| Tipos de naturalização: Sobre o tema, insta realçar as espécies de naturalização

existentes no ordenamento brasileiro. Eis a redação da Lei de MIGRAÇÃO, 13.445, de 2017:

A naturalização pode ser:

I - ordinária;

II - extraordinária;

III - especial; ou

IV - provisória.

De acordo com o art. 65, será concedida a naturalização ordinária àquele que preencher

as seguintes condições:

I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de 4 (quatro) anos;

III - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e

IV - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

Já a naturalização extraordinária será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade

fixada no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que

requeira a nacionalidade brasileira.

Enquanto isso, o art. 68 da Lei de MIGRAÇÃO delineia os requisitos da naturalização

especial, que poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das seguintes

situações:

I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço

Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior; ou

II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em repartição consular do

Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos.

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O art. 69 sublinha que são requisitos para a concessão da naturalização especial:

I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e

III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.

E, por fim, o art. 70 trata, de forma inovadora, sobre a naturalização provisória, que

poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência em território

nacional antes de completar 10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu

representante legal.

Cabe ao Ministro da Justiça conceder a condição de brasileiro naturalizado. Eis os artigos

do Decreto regulamentar da Lei de Migração:

Art. 220. Ato do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública concederá a naturalização, desde que satisfeitas as condições objetivas necessárias à naturalização, consideradas requisito preliminar para o processamento do pedido;

Art. 227. A Polícia Federal, ao processar o pedido de naturalização (...);

Art. 223. O naturalizando poderá requerer a tradução ou a adaptação de seu nome à língua portuguesa;

Art. 232. O prazo para apresentação de recurso na hipótese de indeferimento do pedido de naturalização será de dez dias, contado da data do recebimento da notificação.

3. PERDA DA NACIONALIDADE

O § 4º do art. 12 da CF estabelece sobre a perda da nacionalidade, do nato e do naturalizado, vejamos:

Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

- Vide DECRETO da nova de MIGRAÇÃO, de 2017: “Art. 248. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de sentença transitada em julgado por atividade nociva ao interesse nacional, nos termos estabelecidos no art. 12, § 4o, inciso I, da Constituição. Parágrafo único. A sentença judicial que cancelar a naturalização por atividade nociva ao interesse nacional produzirá efeitos após o trânsito em julgado”.

- ATENTAR: para decisão recente do STF, de 2013 (RMS 27.840), no sentido de que o ato de naturalização só pode ser anulado por DECISÃO JUDICIAL, e não por ato administrativo, UM DOS fundamentos foi a Convenção das Nações Unidas para reduzir os casos de apatridia (1961), incorporada pelo Brasil em 2007.

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II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)

b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)

Sobre este inciso II, mister citar o DECRETO da nova Lei de MIGRAÇÃO de 2017: “Art. 249. A perda da nacionalidade será declarada ao brasileiro que adquirir outra nacionalidade, exceto nas seguintes hipóteses: I - de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; e II - de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis”.

QUEM DECLARA A PERDA DA NACIONALIDADE? Eis o art. 250 do mesmo DECRETO de 2017: “A declaração da perda de nacionalidade brasileira se efetivará por ato do Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, após procedimento administrativo, no qual serão garantidos os princípios do contraditório e da ampla defesa”. Tal procedimento poderá ser instaurado pelo próprio interessado em perder a nacionalidade, conforme art. 251 do Decreto.

4. REAQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE

Sem previsão constitucional. Conforme a doutrina a reaquisição tem efeitos ex nunc. O

naturalizado que perdeu sua condição de nacional poderá readquiri-la por meio de ação

rescisória. Já o nato deve formular pedido ao Presidente da República, o qual tramitará

perante o Ministro da Justiça, para que depois haja um decreto presidencial determinando a

reaquisição.

Vide DECRETO, acima citado: “Art. 254. O brasileiro que houver perdido a nacionalidade, em

razão do disposto no inciso II do § 4o do art. 12 da Constituição, poderá, se cessada a causa,

readquiri-la ou ter revogado o ato que declarou a sua perda. § 1o Cessada a causa da perda de

nacionalidade, o interessado, por meio de requerimento endereçado ao Ministro da Justiça e

Segurança Pública, poderá pleitear a sua reaquisição. § 4o O ato que declarou a perda da

nacionalidade poderá ser revogado por decisão do Ministro de Estado da Justiça e Segurança

Pública caso seja constatado que estava presente uma das exceções previstas nas alíneas “a” e “b”

do inciso II do § 4o do art. 12 da Constituição. (...) § 7o O deferimento do requerimento de

reaquisição ou a revogação da perda importará no restabelecimento da nacionalidade originária

brasileira”.

5. DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS

Não pode haver distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo hipóteses previstas na

CF (art. 12, § 2º). Princípio da isonomia – caput do art. 5º da CF. A Magna Carta trás alguns

preceitos diferenciadores, quais sejam:

• Para o exercício de alguns cargos – art. 12, § 3º, da CF

• Para o exercício de função – art. 89, VII, da CF

• Extradição – art. 5º, LI, da CF. Sobre extradição, diferença entre nato e naturalizado,

recentemente foi cobrado em prova (FGV - Exame de Ordem – Abril/2016), conforme

texto constitucional.

• Direito de propriedade – art. 222 da CF (artigo da CF objeto de pergunta no Exame OAB,

FGV – 2014.1)

Page 6: Capítulo VI NACIONALIDADE · Luca nunca procurou se informar sobre seu direito à nacionalidade brasileira, mas, agora, ... promulgação desta Emenda Constitucional,

• Cancelamento da condição de nacional em razão da prática de atividade nociva ao

interesse nacional – art. 12, § 4º, I, da CF

Sem receio de afirmar, é certo que o dispositivo mais cobrado pela OAB, dentre os acima

citados, é o § 3º do art. 12 da CF, que merece leitura: “São privativos de brasileiro nato os cargos: I

– de Presidente e Vice-Presidente da República; II – de Presidente da Câmara dos Deputados; III –

de Presidente do Senado Federal; IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – da carreira

diplomática; VI – de oficial das Forças Armadas”.

Agora, veja a alternativa considerada correta do Exame OAB, FGV – 2013.3: “João poderia ter-

se candidatado ao cargo de Deputado Federal, bem como ser eleito, entretanto, não poderia ter sido

escolhido Presidente da Câmara dos Deputados, eis que esse cargo deve ser exercido por brasileiro

nato”.

QUESTÃO: O que é conflito de nacionalidade?

RESPOSTA: Pode haver conflito negativo ou positivo. O positivo (plurinacionalidade ou dupla nacionalidade) ocorre

quando um indivíduo cumula mais de um vínculo jurídico-político permanente com mais de um Estado. Já o negativo

consiste na apatria ou anacionalidade, o sujeito não possui vínculo desta natureza com qualquer Estado, é uma

pessoa desprotegida. Situação esta refutada pelo Direito Internacional.

FIQUE

POR

DENTRO:

“Caso Rafael Canevaro”

Caso Rafael Canevaro, envolvendo Itália e Peru. Rafael era peruano pelo jus solis e italiano pelo jus

sanguinis. Ele estava sendo processado em uma ação de natureza tributária. Na iminência de ver

seus bens expropriados no Peru, pediu proteção diplomática a Itália. Deste quid juris restou decidido

que não pode um Estado proteger seu nacional se este também for nacional do outro país.

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CAPÍTULO VII

CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

1. NOÇÕES

Estrangeiro, alienígena ou forasteiro: pessoa nascida em outro país ou em terras estranhas,

que conserva sua primitiva nacionalidade. Pode, também, ser definido como aquele que não

ostenta a qualidade de nacional. O apátrida já tem um conceito diferente, pois se refere ao que

não tem nacionalidade alguma, é anacional. Conceito de condição jurídica do estrangeiro:

consiste no conjunto de direitos de que goza o estrangeiro em determinado país, numa certa

época. Modernamente, a maioria dos Estados considera o estrangeiro como sujeito de direitos.

Todavia, ainda é domínio reservado dos Estados determinar o tratamento legal dado aos mesmos.

1.1 NOVA LEI DE MIGRAÇÃO

A Lei 13.445, de 2017, vem com o título de “Lei de Migração”, tendo revogado as seguintes

leis: a Lei 818, de 1949 (que regulava a aquisição, a perda e a reaquisição da nacionalidade); e a

Lei 6.815, de 1980 (antigo Estatuto do Estrangeiro).

A atual Lei de Migração dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante,

regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas

para o emigrante. Para tanto, tal normativa traz conceitos legais, quais sejam:

Imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se

estabelece temporária ou definitivamente no Brasil;

Emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior;

Residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua

residência habitual em município fronteiriço de país vizinho;

Visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de

curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no território nacional;

Apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a

sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada

pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.

Em seu art. 3º delineia os princípios e diretrizes da atual política migratória brasileira:

I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;

II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;

III - não criminalização da migração;

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IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi

admitida em território nacional;

V - promoção de entrada regular e de regularização documental;

VI - acolhida humanitária;

VII - desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do

Brasil;

VIII - garantia do direito à reunião familiar;

IX - igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;

X - inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas;

XI - acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens

públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e

seguridade social;

XII - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante;

XIII - diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e

promoção da participação cidadã do migrante;

XIV - fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América

Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas;

XV - cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos

migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante;

XVI - integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas

regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço;

XVII - proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante;

XVIII - observância ao disposto em tratado;

XIX - proteção ao brasileiro no exterior;

XX - migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de

todas as pessoas;

XXI - promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos

da lei;

XXII - repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.

Em consonância com o próprio caput do art. 5º da CF de 1988, o art. 4º da Lei do Migrante,

assegura aos migrantes, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Bem como tantos outros direitos, como

liberdades civis, sociais, culturais e econômicos, liberdade de circulação em território nacional,

direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e

dependentes, medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos e

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muitos outros.

O art. 5º da Lei de 2017 arrola os documentos de viagem, que são: passaporte; laissez-

passer; autorização de retorno; salvo-conduto; carteira de identidade de marítimo; carteira de

matrícula consular; documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando

admitidos em tratado; certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e outros que vierem

a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento.

2. SITUAÇÃO DO ESTRANGEIRO À LUZ DAS NORMAS INTERNACIONAIS E

DAS NACIONAIS

|A| Direito Internacional: Não há um conjunto de normas internacionais específicas para a

proteção dos estrangeiros. São utilizados alguns documentos dos sistemas universal e do regional.

SISTEMA GLOBAL: Declaração Universal dos Direito Humanos, de 1948; Pactos de Nova York, de

1966 etc.; SISTEMA REGIONAL: Carta Europeia para proteção dos direitos humanos e das

liberdades fundamentais, de 1950; Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969; e

Convenção Africana dos Direitos Humanos e Povos, de 1981;

|B| Direito nacional: O Brasil adota o standard nacional (equiparação aos nacionais), basta

leitura do caput do art. 5º da CF. Hoje a situação jurídica do estrangeiro vem regulamentada,

principalmente, pelas seguintes normas: Lei 13.445, de 2017; e Decreto 9.199, de 2017.

Vide também condição específica dos portugueses no art. 12, § 1º, da CF. decisão do STF

sobre o dispositivo: “A norma inscrita no art. 12, § 1º, da CR – que contempla, em seu texto, hipótese

excepcional de quase-nacionalidade – não opera de modo imediato, seja quanto ao seu conteúdo

eficacial, seja no que se refere a todas as consequências jurídicas que dela derivam, pois, para incidir,

além de supor o pronunciamento aquiescente do Estado brasileiro, fundado em sua própria soberania,

depende, ainda, de requerimento do súdito português interessado, a quem se impõe, para tal efeito, a

obrigação de preencher os requisitos estipulados pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres

entre brasileiros e portugueses” [Ext 890, rel. min. Celso de Mello, j. 5-8-2004,1ª T, DJ de 28-10-2004];

HC 100.793, rel. min. Marco Aurélio, j. 2-12-2010, P, DJE de 1º-2-2011.

|C| O estrangeiro e a CF de 1988: A Constituição de 1988 traz poucos dispositivos que

regulam as atividades do estrangeiro no Brasil. Quanto ao tema extradição, a CF preceitua que:

“não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião” (art. 5º, inc. LII). Em

relação ao alistamento eleitoral: não “podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o

período do serviço militar obrigatório, os conscritos” (art. 14, § 2º). Relacionado ao exercício de

cargos públicos: “os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que

preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei” (art.

37, inc. I). Quanto ao ensino em nível superior: “É facultado às universidades admitir professores,

técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei” (art. 207, § 1º). Lembrando que compete

privativamente à União legislar sobre emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de

estrangeiros (art. 22, inc. XV). Cabe aos juízes federais processar e julgar os crimes de ingresso ou

permanência irregular (art. 109, inc. X);

|D| Ingresso e concessão de vistos: Para ingressar em território nacional, a trabalho ou não,

é imprescindível a obtenção de visto, uma espécie de cortesia, não um direito. A concessão,

sua prorrogação ou transformação ficarão sempre condicionadas aos interesses nacionais

(conveniência e oportunidade).

|E| Tipos de vistos:

Conforme nova Lei de MIGRAÇÃO, o visto é o documento que dá a seu titular expectativa

de ingresso em território nacional. O visto será concedido por embaixadas, consulados-gerais, consulados, vice-consulados e,

quando habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de representação do Brasil no exterior. Sendo que, excepcionalmente, os vistos diplomático, oficial e de

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cortesia poderão ser concedidos no Brasil. O Regulamento da Lei disporá sobre: I - requisitos de concessão de visto, bem como de sua

simplificação, inclusive por reciprocidade; II - prazo de validade do visto e sua forma de contagem; III - prazo máximo para a primeira entrada e para a estada do imigrante e do visitante no País; IV - hipóteses e condições de dispensa recíproca ou unilateral de visto e de taxas e emolumentos consulares por seu processamento; e V - solicitação e emissão de visto por meio eletrônico.

O art. 10 da nova Lei é peremptório, ao preceituar que não se concederá visto:

I - a quem não preencher os requisitos para o tipo de visto pleiteado;

II - a quem comprovadamente ocultar condição impeditiva de concessão de visto ou de ingresso no País; ou

III - a menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos responsáveis legais ou de autoridade competente.

E, por fim, vide art. 12 da nova Lei, para sabermos quais são os atuais tipos de vistos que

podem ser concedidos pelo Brasil: “Ao solicitante que pretenda ingressar ou permanecer em território nacional poderá ser concedido visto: I - de visita; II - temporário; III - diplomático; IV - oficial; V - de cortesia”.

|F| Atividade remunerada e irregularidade: para que um estrangeiro possa trabalhar no Brasil

deve estar munido da devida autorização de trabalho, a qual se trata de ato administrativo de

atribuição do Ministério do Trabalho, exigido pelas autoridades consulares brasileiras, para efeito de

concessão de vistos permanentes e/ou temporários. Algumas atividades, além das já conhecidas

disposições constitucionais, devem ser exercidas somente por brasileiros. A Lei 7.183, de 1984,

atribui privativamente aos brasileiros a profissão de aeronauta, ressalvando os casos previstos no

Código Brasileiro de Aeronáutica (7.565 de 1986), que são: o exercício de função não remunerada a

bordo de aeronave de serviço aéreo privado; comissários no serviço aéreo internacional em número

que não exceda 1/3 dos que estiverem a bordo, a menos que haja acordo bilateral de reciprocidade;

em caráter provisório, por no máximo seis meses, instrutores, quando não houver tripulantes

brasileiros qualificados. Situação que pode comportar dúvidas é acerca da posição, sob a

perspectiva dos direitos sociais, dos estrangeiros irregulares no Brasil, i.e., que são empregados,

exercem atividade laboral, mas que não possuem autorização de trabalho e visto. Aqui há relação

laboral, subordinação e todos os elementos da relação de emprego, contudo, a condição como

estrangeiro afronta o Estatuto do Estrangeiro, pois ao indivíduo não lhe foi outorgado o visto. Com

amparo na jurisprudência, o visto não é condição para o reconhecimento da relação de empregado,

se esta começou antes daquele. O TST, há pouco tempo, confirmou esse entendimento: RR –

49800-44.2003.5.04.0005, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 1ª T – TST, P. 12/11/2010.

3. AFASTAMENTO COMPULSÓRIO

Não é possível o afastamento compulsório de nacionais (banimento), somente de estrangeiros.

As medidas mais populares e lícitas de afastamento dos estrangeiros são: expulsão, deportação e

extradição. Estas não podem ser confundidas com desterro (confinamento de nacional em

determinado lugar do próprio país; não permitida), entrega (estudar capítulo sobre o TPI) e

abdução (sequestro de indivíduo que se encontra em dado Estado para ser julgado no território de

outro, em flagrante violação aos direitos humanos).

Antes de se adentrar no estudo de expulsão, deportação e extradição, importante trazer a baila

o tema da REPATRIAÇÃO, tratada de forma separa na nova Lei de MIGRAÇÃO: ocorre quando o

clandestino é impedido de ingressar em território nacional pela fiscalização fronteiriça e

aeroportuária brasileira (Departamento de Polícia Federal). De acordo com o novo art. 49: “A

repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de

impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade”.

|A| Expulsão: É o ato pelo qual o estrangeiro, com entrada ou permanência regular no

Brasil, é obrigado a abandonar o país. Ocorre quando ele atentar contra a segurança nacional, a

ordem pública ou social, a tranquilidade ou a moralidade pública e a economia popular, ou

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quando seu procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses nacionais. O

Estado possui o direito soberano de expulsar os estrangeiros que desafiam sua ordem pública. A

expulsão não é uma pena, mas sim medida administrativa. A expulsão admite pedido de

reconsideração (Gabarito correto de Exame OAB, FGV – 2014.1: “Caberá exclusivamente ao

Presidente da República resolver sobre a conveniência e a oportunidade de expulsão do estrangeiro

ou de sua revogação”). Cabe habeas corpus de expulsão ilegal. Nesse caso quem julga? O STF. O

expulso não poderá retornar ao Brasil, somente no caso de revogação do decreto (a juízo

exclusivo do Presidente). Eventual ingresso configura crime, segundo o Código Penal, art. 338:

“Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena – reclusão de um a

quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena”.

Em complemento ao supra, calha ressaltar os principais pontos da nova Lei de MIGRAÇÃO:

A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou

visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo

determinado.

Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à

prática de: crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de

agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de

1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou crime comum

doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades

de ressocialização em território nacional.

Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de

reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto

nesta Lei.

O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de

regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena

ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de

quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro.

O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será

proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo.

No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.

|B| Deportação: É o processo de devolução de estrangeiro com permanência irregular no

Brasil. A deportação é de iniciativa da Polícia Federal, devendo ser lavrado o termo competente

quando de sua ocorrência. Eventual habeas corpus em favor do deportando deverá ser impetrado

perante a Justiça Federal de primeiro grau. Está permitido na própria Lei, o reingresso do

estrangeiro deportado, bastando pagamento de despesas e multas emergentes e preenchimento

dos requisitos para sua entrada regular (conforme Exame OAB, FGV-2014.3).

Em complemento ao supra, calha ressaltar os principais pontos da nova Lei de MIGRAÇÃO:

A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada

compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional.

A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem,

expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60

(sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e

mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares.

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A deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou

decorrentes da lei brasileira.

Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla

defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo.

Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela

legislação brasileira.

|C| Extradição: É o ato bilateral pelo qual um Estado libera um indivíduo que praticou um

crime para ser processado (extradição instrutória) ou para cumprir pena (extradição executória) em

outro país. Instrumento típico de cooperação internacional em matéria penal. Instituto sem

caráter absoluto, possuindo limitações no Brasil. O extraditado pode retornar ao Brasil, desde que

tenha cumprido sua pena. A extradição se classifica em ativa (em relação ao Estado que a requer) e

passiva (em relação ao Estado requerido). Quase todos os Estados negam a extradição de seus

nacionais, inclusive o Brasil. Não é permitida a ocorrência da extradição dissimulada (proibição

da deportação e da expulsão quando estas caracterizarem extradição inadmitida pelo ordenamento

jurídico);

|C.1| Requisitos da extradição: 1) especialidade: julgamento ou cumprimento de pena pelo

delito considerado, tão somente; 2) identidade ou dupla incriminação: o crime deve fazer parte da

legislação de ambos os Estados considerados; e 3) a extradição depende da existência de tratado

entre os países considerados, ou de promessa de reciprocidade. Quanto aos requisitos da

extradição, houve questão no exame da FGV, de abril de 2017.

Em complemento ao supra, calha ressaltar os principais pontos da nova Lei de MIGRAÇÃO.

São condições para concessão da extradição:

Ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao

extraditando as leis penais desse Estado; e

Estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter

sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade.

De acordo com o novo art. 84: “Em caso de urgência, o Estado interessado na extradição

poderá, previamente ou conjuntamente com a formalização do pedido extradicional, requerer, por

via diplomática ou por meio de autoridade central do Poder Executivo, prisão cautelar com o objetivo

de assegurar a executoriedade da medida de extradição que, após exame da presença dos

pressupostos formais de admissibilidade exigidos nesta Lei ou em tratado, deverá representar à

autoridade judicial competente, ouvido previamente o Ministério Público Federal”. Dessa forma, o

art. 86: “O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público, poderá autorizar prisão albergue

ou domiciliar ou determinar que o extraditando responda ao processo de extradição em liberdade,

com retenção do documento de viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até o julgamento

da extradição ou a entrega do extraditando, se pertinente, considerando a situação administrativa

migratória, os antecedentes do extraditando e as circunstâncias do caso”.

|C.2| Limites da extradição: 1) os delitos militares (deserção, insubordinação, abandono de

posto) e os delitos de opinião ou políticos não ensejam a extradição; e 2) a extradição é medida

grave, por isso somente deve ser entregue um indivíduo por causa da prática de crime grave. OBS.:

no rol de crimes políticos não se inclui o delito de terrorismo, que é passível de extradição.

Em complemento ao supra, calha ressaltar os principais pontos da nova Lei de MIGRAÇÃO.

Não se concederá a extradição quando:

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o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato;

o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;

o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;

a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos;

o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido

no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;

a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado

requerente;

o fato constituir crime político ou de opinião;

o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de

exceção; ou

o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei no 9.474, de 22 de julho de

1997, ou de asilo territorial.

|C.3| Extradição no Brasil: Art. 5º da CF de 1988, incisos LI e LII. Regra: nenhum brasileiro

será extraditado. O brasileiro nato nunca será extraditado. O naturalizado será extraditado em duas

hipóteses: quando praticar crime comum antes da naturalização e quando estiver envolvido em

tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. Não será concedida extradição de estrangeiro por

crime político ou de opinião;

|C.4| Procedimento da extradição passiva: Brasil – sistema judicial. São três fases: 1ª)

Administrativa (Poder Executivo, via diplomática); 2ª) Judiciária (STF examina a legalidade); e 3)

Administrativa (entrega o extraditando ou comunica a recusa). Após a entrada do pedido pelo

Ministério das Relações Exteriores, a solicitação de extradição é remetida ao STF, onde o Ministro

relator designado remete ao plenário que irá analisar somente os requisitos legais, decisão esta que

não cabe recurso (art. 102, I, g, da CF). Atua o Ministério Público como fiscal da lei. A defesa do

extraditando é limitada, podendo versar somente sobre a identidade da pessoa, defeito de forma

dos documentos ou ilegalidade (contenciosidade limitada). Se o Supremo autorizar a extradição,

cabe o Presidente se manifestar.

De acordo com o art. 79 do revogado Estatuto do Estrangeiro: “Quando mais de um Estado

requerer a extradição da mesma pessoa, pelo mesmo fato, terá preferência o pedido daquele em

cujo território a infração foi cometida” (Exame OAB, FGV-2014.2).

Calha ler esta recente e interessante decisão do STF, sobre extradição:

“COMPETÊNCIA – EXTRADIÇÃO – ESTADO REQUERENTE. Havendo notícia de prática

delituosa voltada a introduzir substância entorpecente no território do Governo requerente,

incumbe ter como de boa origem o pedido de extradição. DUPLA TIPICIDADE – EXTRADIÇÃO

– CONSPIRAÇÃO – ASSOCIAÇÃO PARA LAVAGEM DE RECURSOS. A Convenção das

Nações Unidas contra o Crime Organizado Internacional, por ter sido assinada por Brasil e

Estados Unidos, inseriu, no Tratado de Extradição firmado pelos dois países, o crime de lavagem

de capitais, se presente a transnacionalidade. EXTRADIÇÃO – REQUISITOS. Uma vez

atendidos os requisitos legais sob o ângulo da existência de ordem de prisão ou de título

condenatório criminal, da dupla tipologia e da ausência de prescrição, estando os documentos

anexados ao processo em harmonia com a forma prevista em lei, há de ser reconhecida a

possibilidade de entrega do extraditando, cabendo o ato definidor ao Chefe do Poder Executivo

Nacional. PRISÃO PERPÉTUA – EXCLUSÃO – EXTRADIÇÃO. No deferimento da extradição,

deve-se impor cláusula, considerada a norma do artigo 75 do Código Penal e, portanto, a

impossibilidade de o extraditando cumprir pena perpétua cerceadora da liberdade de ir e vir,

observando-se a detração. DETRAÇÃO – CUSTÓDIA NO BRASIL – PRISÃO – DURAÇÃO.

Impõe-se, na entrega do extraditando, a formalização de compromisso, visando subtrair de

possível pena aplicada ao extraditando o período em que esteve preso no Brasil, procedendo-se,

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de igual forma, quanto ao prazo máximo de prisão – 30 anos” (Ext. 1367, STF, Min. Rel. MARCO

AURÉLIO, j. 01/09/2015).

MUITA

ATENÇÃO!

Pedimos vênia para expressar nossa opinião, a qual vai ao encontro do entendimento de muitos

outros professores de Internacional e Direitos Humanos. Entendemos que a decisão definitiva

sobre a extradição é do STF, em razão de adotarmos um sistema judicial e levando em conta

que a CF é expressa neste ponto, não sendo, assim, discricionário por parte do Presidente

entregar ou não, especialmente quando há tratado assinado entre os países envolvidos.

Contudo, no STF prepondera o entendimento de que “a última palavra” é do Presidente. E

esse posicionamento foi confirmado com a Extradição 1085, caso Battisti, na qual, embora

autorizada a extradição pela Corte Suprema, restou o Presidente por não entregar o italiano ao

governo solicitante, que na situação era o italiano.

DICA

IMPORTANT

E

Há julgados importantes do STF sobre extradição: Súmula 421; Ext. 766, de 2000; Ext. 897, de

2005; Ext. 864, de 2003; Ext. 855, de 2005; Ext. 688, de 1997; Ext. 643, de 1995; Ext. 524, de

1991; Ext. 1085 (Caso Cesare Battisti), de 2009; Ext. 1218, de 2013; Ext. 1125, de 2013; Ext.

1222, de 2013; Ext. 1232, de 2013; Ext. 1276, de 2014; e Ext. 1254, de 2014.

QUESTÃO: É possível a rejeição sumária do pedido de extradição?

RESPOSTA: Quando o pedido de extradição se fundamentar apenas na promessa de reciprocidade de tratamento

(não em tratado), o governo brasileiro, na primeira fase do procedimento (administrativa), poderá indeferi-lo sem

necessidade de submeter o pedido ao Supremo. É a recusa ou rejeição sumária.

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CAPÍTULO VIII

ASILO E REFÚGIO

1. QUADRO EXPLICATIVO E COMPARATIVO

|A| Semelhanças: ambos visam proteger pessoa humana em razão de perseguição. Por essa

razão têm caráter tutelar, podendo ser concedidos até mesmo ao indivíduo que ingressa

irregularmente em território nacional. Quando concedidos por um Estado não poderão ser

interpretados como atos inamistosos pelos demais. Não estão sujeitos ao princípio da

reciprocidade. Tanto o refugiado como o asilado, quando em gozo desses institutos, somente

poderão se retirar do país onde se encontram protegidos com prévia anuência das autoridades

locais, sob pena de perderem essas condições. Os dois têm viés humanitário e face suas similitudes

pode-se afirmar que se complementam.

|B| Quadro para memorização:

Institutos Asilo Refúgio

Previsão em

âmbito nacional

• É um dos princípios que rege o Brasil

nas relações internacionais (art. 4,

inc. X, da CF).

• Sem previsão constitucional.

Previsão em

Tratados

Internacionais:

Características

• Convenções sobre asilo: de Havana

de 1928; de Montevidéu de 1933; de

Caracas de 1954; e de Montevidéu

de 1889 e 1939.

• Vide art. 14 da Declaração Universal

dos Direitos Humanos: “1.Toda

pessoa, vítima de perseguição, tem o

direito de procurar e de gozar asilo

em outros países. 2. Este direito não

pode ser invocado em caso de

perseguição legitimamente motivada

por crimes de direito comum ou por

atos contrários aos propósitos e

princípios das Nações Unidas.”

• Instrumento político e de caráter

latino-americano.

• Direito Internacional dos Refugiados.

Convenção Relativa ao Estatuto dos

Refugiados de 1951. Esta convenção

possuía uma limitação temporal e

geográfica, pois a condição de refugiado se

restringia aos acontecimentos ocorridos

antes de 1º de janeiro de 1951 no

continente europeu. O Protocolo sobre

Estatuto dos Refugiados de 1967 suprimiu

essas limitações.

• Instrumento apolítico, essencialmente

humanitário e de caráter convencional,

internacional e universal.

Natureza do ato

de concessão

• Ato unilateral de natureza constitutiva

e trâmite mais célere.

• Ato unilateral de natureza declaratória,

consistindo em procedimento administrativo

mais moroso. Ainda assim, é gratuito e de

tramitação urgente.

Motivos para

concessão, que

tipo de

perseguição?

• A perseguição deve ser efetiva e ficar

demonstrada, não bastando fundado

temor. Trata-se de perseguição

individualizada de natureza política. O

asilo é concedido em razão da prática

• A perseguição tem o aspecto generalizado,

havendo necessidade de proteção a um

número maior de pessoas.

• Basta o fundado temor de perseguição.

• A condição de refugiado é dada a qualquer

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Institutos Asilo Refúgio

de crimes políticos e ideológicos (ex.:

crimes contra a segurança do Estado).

pessoa e familiares que temam perseguição

por questões raciais, de religião, de

nacionalidade, grupo social ou opinião

política.

• Ler art. 1º do Estatuto dos Refugiados.

Excluídos (não

protegidos):

Procedimento para

concessão

• Não recebe asilo aquele que é

perseguido pela prática de crimes

comuns ou atos atentatórios aos

interesses e princípios das Nações

Unidas.

• O pedido de asilo diplomático é

solicitado diretamente nas embaixadas

e concedido pelo chefe da missão

diplomática. Já o asilo político é

concedido pelo Presidente da

República, após a análise do Ministério

da Justiça.

• Estatuto dos Refugiados, art. 3º.

• Ler art. 38 do Estatuto dos Refugiados –

causas de cessação e de perda da condição

de refugiado.

• MS 12510/2007 do STF: não é possível

conceder refúgio a indivíduo que resida no

Brasil ou que possua a condição de nacional.

In casu, suíço naturalizado pretendia refúgio

para evitar extradição, mas já tinha condição

de naturalizado e residia no Brasil.

• O refúgio pode ser requerido ao Comitê

Nacional para Refugiados (CONARE),

primeira instância. Este se reunirá com

quórum de quatro membros com direito a

voto, deliberando por maioria simples. Será

informado o Alto Comissariado das Nações

Unidas para Refugiados (ACNUR) sobre o

processo. Se indeferido pelo CONARE cabe

recurso ao Ministro da Justiça, no prazo de

quinze dias, contados da notificação.

• Além da concessão da condição de refugiado,

podem ser aplicados os mecanismos da

repatriação voluntária (art. 42), integração local

(art. 43) ou reassentamento em outro país.

Dos efeitos quanto

à extradição

• A condição de asilado, em tese, não

evita a extradição, ou seja, não é

causa de inextraditabilidade. Vide Ext.

524/91 do STF.

• O reconhecimento administrativo da

condição de refugiado é elisiva da

extradição.

• Estatuto dos Refugiados, seu art. 33.

• Ler Ext. 1170/2010 do STF.

No exame FGV, 2015.2, havia questão sobre o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados),

sobre a Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados e a Lei n° 9.474/97, que

define os mecanismos para a implementação dessa Convenção. Dessa forma, de acordo com a Lei,

a opção correta, que condição jurídica do refugiado no Brasil, é esta: “Possui os direitos e deveres

dos estrangeiros no Brasil, bem como direito a cédula de identidade comprobatória de sua condição

jurídica, carteira de trabalho e documento de viagem”.

MUITA

ATENÇÃO!

Não pode ser esquecida a tradicional classificação do asilo, principalmente por ser um instrumento

essencialmente latino-americano. Há o asilo diplomático, externo, provisório ou internacional,

cuja proteção é conferida ao estrangeiro nas embaixadas (ou até mesmo nos navios de guerra e

acampamentos ou aeronaves militares). Quando de sua concessão, o chefe da missão diplomática

deve providenciar um salvo-conduto, documento que permite o deslocamento do perseguido da

embaixada para o território brasileiro. Quando da entrada em território nacional, aí sim será

solicitado o asilo político, também conhecido como territorial.

Em complemento ao supra, calha ressaltar os principais pontos da nova Lei de MIGRAÇÃO:

O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou

territorial e será outorgado como instrumento de proteção à pessoa.

Não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a

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humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos do Estatuto de Roma do

Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro

de 2002.

A saída do asilado do País sem prévia comunicação implica renúncia ao asilo.

DICA

IMPORTANT

E

Todo o perseguido que se refugie em território nacional não pode ser devolvido ao Estado

perseguidor, eis o princípio da não devolução (non-refoulement). É uma garantia de proteção ao

refugiado.

QUESTÃO: A concessão de asilo é ato discricionário por parte do Estado? Ou é vinculativo, preponderando o entendimento de

que é um direito da pessoa?

RESPOSTA: Prepondera a posição de que é ato discricionário, exercício de soberania por parte do país que recebe

o perseguido (neste sentido o informativo 241 do STF). Todavia, vem crescendo a doutrina mais humanista, que

entende ser ato vinculativo, direito, principalmente quando previsto expressamente na Constituição Federal. Nesta

última situação encaixa-se o Brasil, que prevê no art. 4º, inc. X, da CF, a concessão de asilo.