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APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos História e Geografia do MT A Opção Certa Para a Sua Realização 1 HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE MATO GROSSO HISTÓRIA DE MATO GROSSO 1. Período Colonial. 1.1 Os bandeirantes: escravidão indígena e exploração do ouro. 1.2 A fundação de Cuiabá: Tensões olíticas entre os fundadores e a administração colonial. 1.3 A escravidão negra em Mato Grosso. 1.4 Os Tratados de Fron- teira entre Portugal e Espanha. 2. Período Imperial. 2.1 A crise da mineração e as alternativas econômicas da Provín- cia. 2.2 A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai e a participação de Mato Grosso. 2.3 A economia mato- grossense após a Guerra da Tríplice Aliança contra o Para- guai. 3. Período Republicano. 3.1 O coronelismo em Mato Grosso. 3.2. Economia de Mato Grosso na Primeira Repúbli- ca: usinas de açúcar e criação de gado. 3.3. Política fundiária e as tensões sociais no campo. 3.4. Desmembramento do Estado em MT e MS, ocorrido em 1977. 3.5. Criação e des- membramentos de municípios de Mato Grosso. Resumo histórico O primeiro a desbravar a área que viria a constituir o estado do Mato Grosso foi o português Aleixo Garcia (há quem lhe atribua, sem provas decisivas, a nacionalidade espanhola), náufrago da esquadra de Juan Díaz de Solís. Em 1525, ele atravessou a mesopotâmia formada pelos rios Paraná e Paraguai e, à frente de uma expedição que chegou a contar com dois mil homens, avançou até a Bolívia. De volta, com grande quantidade de prata e cobre, Garcia foi morto por índios paiaguás. Sebastião Caboto também penetrou na região em 1526 e subiu o Paraguai até alcançar o domínio dos guaranis, com os quais travou relações de amizade e de quem recebeu, como presente, peças de metais preciosos. Os fantásticos relatos sobre imensas riquezas do interior do continente sul-americano acenderam as ambições de portugueses e espanhóis. Os primeiros, a partir de São Paulo, lançaram-se em audaciosas incursões, nas quais prearam índios e alargaram as fronteiras do Brasil. As bandeiras paulistas chocaram-se com tropas espanholas do cabildo de Assunção e com resistência das missões jesuíticas. Desde 1632, os bandeirantes conheciam, de passagem e de lutas, a região onde os jesuítas haviam localizado as suas reduções de índios e que os espanhóis percorriam como terra sua. Antônio Pires de Campos, chegou criança, em 1672, com a bandeira paterna, às depois famosas minas dos Martírios. Já adulto, retomou o caminho da serra misteriosa e navegou, de contracorrente, o Paraguai e o São Lourenço, embicando Cuiabá acima, até o atual porto de São Gonçalo Velho, onde se chocou com os índios coxiponés, que se retiraram, derrotados, e se deixaram aprisionar como escravos. Corrida do ouro. A notícia de índios pouco ariscos e descuidados logo se espalhou. Em 1718, um bandeirante de Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral Leme, des- cendente de índios, subiu o rio Coxipó até atingir a aldeia destruída dos coxiponés, onde deu início à rancharia de uma base de operações. Às margens do Coxipó e do Cuiabá, Cabral Leme descobriu abundantes jazidas de ouro. A caça ao índio cedeu vez, então, às atividades minerado- ras. Em 8 de abril de 1719, foi lavrado o termo de fundação do arraial de Cuiabá, e aclamou-se Pascoal guarda-mor regente "para poder guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composições com os mineiros e botar bandeiras, tanto aurinas, como ao inimigo bárbaro". A notícia da descoberta de ouro não tardou em transpor os sertões, dando motivo a uma corrida sem precedentes para o oeste. A viagem até Cuiabá, distante mais de 500 léguas do litoral atlântico, exigia de quatro a seis meses, e era arriscada e difícil em consequência do desconforto, das febres e dos ataques indígenas. Rodrigo César de Meneses, capitão-general da capitania de São Paulo, chegou a Cuiabá no fim de 1726 e ali permaneceu cerca de um ano e meio. A localidade recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Constituiu-se a câmara e nomeou-se um corpo de funcionários encarrega- dos de dar cumprimento ao rigoroso regulamento fiscal da coroa. Em 1729 foi criado o lugar de ouvidor. Defesa da terra. As extorsões do fisco, a hostilidade dos índios e as doenças levaram os mineiros à busca de paragens mais compensadoras, Cuiabá e Paraguai acima, rumo à serra dos Parecis. Disseminados os povoadores pelos arraiais, a grande linha normativa da política do reino era manter e ampliar as fronteiras com terras de Espanha. Na década de 1740, Manuel Félix de Lima e, a seguir, João de Sousa Azevedo, desceram o Guaporé e o Sararé, e estabeleceram, pelo Mamoré e Madeira, a ligação com a bacia amazôni- ca, indo sair em Belém. Azevedo conseguiu fazer a viagem de volta, pelo Tapajós, em condições penosíssimas, durante nove meses. As lavras de ouro intensificaram o povoamento do Mato Grosso e im- puseram a estruturação de um poder local para melhorar a fiscalização dos tributos e a vigilância dos limites com as terras espanholas. Em 9 de maio de 1748, um alvará de D. João V criou a capitania de Cuiabá, com privilé- gios e isenções para aqueles que lá quisessem fixar-se, com o objetivo de fortalecer a colônia do Mato Grosso e, assim, conter os vizinhos, além de servir de barreira a todo o interior do Brasil. Problemas de fronteiras. Em 17 de janeiro de 1751, Antônio Rolim de Moura Tavares assumiu o cargo de capitão-general do Mato Grosso, capitania que havia sido des- membrada de São Paulo três anos antes. Sua administração, que durou 13 anos, foi importante sob vários aspectos. Rolim fundou novos centros de população, como Vila Bela da Santíssima Trindade, à margem do Guaporé, e estabeleceu uma nova organização militar, com três milícias: de brancos, pardos e pretos. O Tratado de Madri, de 1750, reconheceu as conquistas bandeirantes na região do Mato Grosso, para dirimir questões de limites entre Portugal e Espanha. Outro tratado, de 1761, modificou o anterior, ao proibir constru- ções fortificadas na faixa de fronteira. Os espanhóis exigiram a evacuação de Santa Rosa, ocupada e fortificada por Rolim de Moura, que resolveu enfrentá-los. Travou-se luta, sem vantagem decisiva para nenhuma das partes. Afinal, os castelhanos se retiraram em 1766, já sob o governo do sucessor de Rolim, seu sobrinho João Pedro da Câmara. Expulsos os jesuítas das missões espanholas, em 1767, a situação tornou-se mais tranquila para Portugal. Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que governou de 1772 a 1789, tomou, porém, a iniciativa de reforçar o esquema defensivo. Construiu, à margem do Guaporé, o forte real do Príncipe da Beira, no qual chegaram a trabalhar mais de duzentos obreiros, e no sul, sobre o rio Paraguai, abaixo do Miranda, o presídio de Nova Coimbra. Fundou Vila Maria (mais tarde São Luís de Cáceres, ou simplesmente Cáceres), Casal- vasco, Salinas e Corixa Grande. Criticou severamente o novo tratado luso- espanhol de 1777 (Tratado de Santo Ildefonso) no tocante ao Mato Grosso, por achar que encerrava concessões prejudiciais a Portugal. Usou no levantamento cartográfico e na delimitação de fronteiras os serviços de dois astrônomos e matemáticos brasileiros recém-formados em Coimbra, Fran- cisco José de Lacerda e Almeida e Antônio Pires da Silva Pontes, e dos

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  • APOSTILAS OPO A Sua Melhor Opo em Concursos Pblicos

    Histria e Geografia do MT A Opo Certa Para a Sua Realizao 1

    HISTRIA E GEOGRAFIA DE MATO GROSSO

    HISTRIA DE MATO GROSSO 1. Perodo Colonial. 1.1 Os bandeirantes: escravido indgena e explorao do ouro. 1.2 A fundao de Cuiab: Tenses olticas entre os fundadores e a administrao colonial. 1.3 A escravido negra em Mato Grosso. 1.4 Os Tratados de Fron-teira entre Portugal e Espanha. 2. Perodo Imperial. 2.1 A crise da minerao e as alternativas econmicas da Provn-cia. 2.2 A Guerra da Trplice Aliana contra o Paraguai e a participao de Mato Grosso. 2.3 A economia mato-grossense aps a Guerra da Trplice Aliana contra o Para-guai. 3. Perodo Republicano. 3.1 O coronelismo em Mato Grosso. 3.2. Economia de Mato Grosso na Primeira Repbli-ca: usinas de acar e criao de gado. 3.3. Poltica fundiria e as tenses sociais no campo. 3.4. Desmembramento do Estado em MT e MS, ocorrido em 1977. 3.5. Criao e des-membramentos de municpios de Mato Grosso.

    Resumo histrico

    O primeiro a desbravar a rea que viria a constituir o estado do Mato Grosso foi o portugus Aleixo Garcia (h quem lhe atribua, sem provas decisivas, a nacionalidade espanhola), nufrago da esquadra de Juan Daz de Sols. Em 1525, ele atravessou a mesopotmia formada pelos rios Paran e Paraguai e, frente de uma expedio que chegou a contar com dois mil homens, avanou at a Bolvia. De volta, com grande quantidade de prata e cobre, Garcia foi morto por ndios paiagus. Sebastio Caboto tambm penetrou na regio em 1526 e subiu o Paraguai at alcanar o domnio dos guaranis, com os quais travou relaes de amizade e de quem recebeu, como presente, peas de metais preciosos.

    Os fantsticos relatos sobre imensas riquezas do interior do continente sul-americano acenderam as ambies de portugueses e espanhis. Os primeiros, a partir de So Paulo, lanaram-se em audaciosas incurses, nas quais prearam ndios e alargaram as fronteiras do Brasil. As bandeiras paulistas chocaram-se com tropas espanholas do cabildo de Assuno e com resistncia das misses jesuticas.

    Desde 1632, os bandeirantes conheciam, de passagem e de lutas, a regio onde os jesutas haviam localizado as suas redues de ndios e que os espanhis percorriam como terra sua. Antnio Pires de Campos, chegou criana, em 1672, com a bandeira paterna, s depois famosas minas dos Martrios. J adulto, retomou o caminho da serra misteriosa e navegou, de contracorrente, o Paraguai e o So Loureno, embicando Cuiab acima, at o atual porto de So Gonalo Velho, onde se chocou com os ndios coxipons, que se retiraram, derrotados, e se deixaram aprisionar como escravos.

    Corrida do ouro.

    A notcia de ndios pouco ariscos e descuidados logo se espalhou. Em 1718, um bandeirante de Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral Leme, des-

    cendente de ndios, subiu o rio Coxip at atingir a aldeia destruda dos coxipons, onde deu incio rancharia de uma base de operaes. s margens do Coxip e do Cuiab, Cabral Leme descobriu abundantes jazidas de ouro. A caa ao ndio cedeu vez, ento, s atividades minerado-ras. Em 8 de abril de 1719, foi lavrado o termo de fundao do arraial de Cuiab, e aclamou-se Pascoal guarda-mor regente "para poder guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composies com os mineiros e botar bandeiras, tanto aurinas, como ao inimigo brbaro".

    A notcia da descoberta de ouro no tardou em transpor os sertes, dando motivo a uma corrida sem precedentes para o oeste. A viagem at Cuiab, distante mais de 500 lguas do litoral atlntico, exigia de quatro a seis meses, e era arriscada e difcil em consequncia do desconforto, das febres e dos ataques indgenas.

    Rodrigo Csar de Meneses, capito-general da capitania de So Paulo, chegou a Cuiab no fim de 1726 e ali permaneceu cerca de um ano e meio. A localidade recebeu o ttulo de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab. Constituiu-se a cmara e nomeou-se um corpo de funcionrios encarrega-dos de dar cumprimento ao rigoroso regulamento fiscal da coroa. Em 1729 foi criado o lugar de ouvidor.

    Defesa da terra.

    As extorses do fisco, a hostilidade dos ndios e as doenas levaram os mineiros busca de paragens mais compensadoras, Cuiab e Paraguai acima, rumo serra dos Parecis. Disseminados os povoadores pelos arraiais, a grande linha normativa da poltica do reino era manter e ampliar as fronteiras com terras de Espanha. Na dcada de 1740, Manuel Flix de Lima e, a seguir, Joo de Sousa Azevedo, desceram o Guapor e o Sarar, e estabeleceram, pelo Mamor e Madeira, a ligao com a bacia amazni-ca, indo sair em Belm. Azevedo conseguiu fazer a viagem de volta, pelo Tapajs, em condies penosssimas, durante nove meses.

    As lavras de ouro intensificaram o povoamento do Mato Grosso e im-puseram a estruturao de um poder local para melhorar a fiscalizao dos tributos e a vigilncia dos limites com as terras espanholas. Em 9 de maio de 1748, um alvar de D. Joo V criou a capitania de Cuiab, com privil-gios e isenes para aqueles que l quisessem fixar-se, com o objetivo de fortalecer a colnia do Mato Grosso e, assim, conter os vizinhos, alm de servir de barreira a todo o interior do Brasil.

    Problemas de fronteiras.

    Em 17 de janeiro de 1751, Antnio Rolim de Moura Tavares assumiu o cargo de capito-general do Mato Grosso, capitania que havia sido des-membrada de So Paulo trs anos antes. Sua administrao, que durou 13 anos, foi importante sob vrios aspectos. Rolim fundou novos centros de populao, como Vila Bela da Santssima Trindade, margem do Guapor, e estabeleceu uma nova organizao militar, com trs milcias: de brancos, pardos e pretos.

    O Tratado de Madri, de 1750, reconheceu as conquistas bandeirantes na regio do Mato Grosso, para dirimir questes de limites entre Portugal e Espanha. Outro tratado, de 1761, modificou o anterior, ao proibir constru-es fortificadas na faixa de fronteira. Os espanhis exigiram a evacuao de Santa Rosa, ocupada e fortificada por Rolim de Moura, que resolveu enfrent-los. Travou-se luta, sem vantagem decisiva para nenhuma das partes. Afinal, os castelhanos se retiraram em 1766, j sob o governo do sucessor de Rolim, seu sobrinho Joo Pedro da Cmara. Expulsos os jesutas das misses espanholas, em 1767, a situao tornou-se mais tranquila para Portugal.

    Lus de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres, que governou de 1772 a 1789, tomou, porm, a iniciativa de reforar o esquema defensivo. Construiu, margem do Guapor, o forte real do Prncipe da Beira, no qual chegaram a trabalhar mais de duzentos obreiros, e no sul, sobre o rio Paraguai, abaixo do Miranda, o presdio de Nova Coimbra. Fundou Vila Maria (mais tarde So Lus de Cceres, ou simplesmente Cceres), Casal-vasco, Salinas e Corixa Grande. Criticou severamente o novo tratado luso-espanhol de 1777 (Tratado de Santo Ildefonso) no tocante ao Mato Grosso, por achar que encerrava concesses prejudiciais a Portugal. Usou no levantamento cartogrfico e na delimitao de fronteiras os servios de dois astrnomos e matemticos brasileiros recm-formados em Coimbra, Fran-cisco Jos de Lacerda e Almeida e Antnio Pires da Silva Pontes, e dos

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    gegrafos capites Ricardo Francisco de Almeida Serra e Joaquim Jos Ferreira.

    Lus de Albuquerque j estava seriamente enfermo quando indicou pa-ra substitu-lo seu irmo Joo de Albuquerque, que chegou ao Mato Grosso doente, assumiu o posto em 1789 e morreu de "sezes malignas" em fevereiro de 1796.

    Caetano Pinto de Miranda Montenegro, o futuro marqus de Vila Real de Praia Grande, chegou a Cuiab em 1796 para assumir o cargo de capito-general, com recomendao da metrpole para elaborar um plano de defesa que protegesse a capitania contra qualquer tentativa de invaso. A guerra com os espanhis foi deflagrada em 1801, quando Lzaro de Ribera, frente de 800 homens, atacou o forte de Coimbra, defendido bravamente por Ricardo Franco, com apenas cem homens, que consegui-ram repelir o invasor. A paz, todavia, s foi firmada em Badajoz, em 6 de maio de 1802. A capitania, com meio sculo de vida autnoma, consolidou sua estabilidade territorial e neutralizou de imediato o perigo de novas invases.

    No fim do perodo colonial, registrou-se certo declnio da capitania. Em 1819, Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho, futuro baro de Vila Bela, ltimo capito-general, encontrou vazios os cofres pblicos. Cuiab e Vila Bela haviam sido elevadas categoria de cidade. Em 20 de agosto de 1821, Magessi foi deposto pela "tropa, clero, nobreza e povo", como "ambicioso em extremo, concussionrio insacivel, hipcrita". For-mou-se em Cuiab uma junta governativa que jurou lealdade ao prncipe D. Pedro, e outra, dissidente, em Vila Bela, com o que se estabeleceu a duali-dade de poder.

    Independncia.

    A notcia da independncia foi recebida ao raiar do ano de 1823. Um governo provisrio nico substituiu as duas juntas. O primeiro presidente da provncia, que assumiu em 20 de abril de 1824, foi Jos Saturnino da Costa Pereira, irmo de Hiplito Jos da Costa, que instalou o governo em Cuia-b, o que transformou Vila Bela em "capital destronada".

    As lutas entre as tendncias conservadora e liberal refletiram-se na provncia durante o primeiro reinado e a regncia. O padre Jos Joaquim Gomes da Silva, de Vila Maria, foi processado em 1830 por suas "procla-maes revolucionrias". Em 7 de dezembro de 1831 irrompeu um motim contra os "ps-de-chumbo" portugueses. O carmelita frei Jos dos Santos Inocentes ganhou evidncia ao chegar a Cuiab, em maro de 1833, a-companhado de comitiva militar, como "embaixador da insurreio".

    O governador, capito-mor Andr Gaudie Ley, combateu os exaltados, que se reuniam no Centro de Zelosos da Independncia, fundado em agosto de 1833, sob a liderana de Antnio Lus Patrcio Silva Manso, mulato natural de So Paulo, que conquistou maioria no conselho geral da provncia.

    A revolta conhecida como "a rusga" encontrou no governo o conselhei-ro mais votado, tenente-coronel Joo Poupino Caldas, que tinha um passa-do de agitador como participante do motim de 1831. "A rusga" eclodiu na noite de 30 de maio de 1834, em Cuiab, com a priso ou morte de vrios portugueses em suas residncias. Poupino Caldas apareceu dessa vez como defensor da ordem, mas, na verdade, contemporizou com os rebel-des, nomeou lderes extremados para postos importantes, e acabou prisio-neiro da rebelio, submetido s ordens da junta revolucionria. Antnio Pedro de Alencastro assumiu em 22 de setembro a presidncia e j em 30 de outubro conseguiu prender os chefes da revolta.

    Poupino Caldas voltou a atuar em 1836, tentando duas sedies, a primeira para impedir a posse do presidente escolhido pela assembleia, Jos Antnio Pimenta Bueno, futuro visconde e marqus de So Vicente, e a segunda para amotinar a tropa contra essa autoridade. O presidente fez valer sua autoridade e expulsou-o da provncia. Quando fazia suas despe-didas, Poupino foi assassinado com um tiro pelas costas. Na administrao de Pimenta Bueno foi montada em Cuiab a tipografia na qual seria im-presso o primeiro jornal da provncia, A Tifis Matogrossense, cujo primeiro nmero circulou em 14 de agosto de 1839. A situao econmico-financeira da provncia se agravou, com um dficit oramentrio crescente.

    Guerra do Paraguai.

    Os governos se sucederam sem acontecimentos de maior relevo at a guerra do Paraguai. Uma guarda defensiva montada em 1850 no morro do Po de Acar pelo governador Joo Jos da Costa Pimentel irritou o governo paraguaio. Pimentel ento recuou ante gestes diplomticas realizadas em Assuno. Foi substitudo pelo capito-de-fragata Augusto Joo Manuel Leverger, baro de Melgao, cujo primeiro governo durou de 1851 a 1857.

    Leverger recebeu ordem de concentrar toda a fora militar da provncia no baixo Paraguai, para esperar os navios que deveriam subir o rio com ou sem licena de Solano Lpez. Mudou-se ento para o forte de Coimbra, onde permaneceu cerca de dois anos.

    O coronel Frederico Carneiro de Campos, nomeado presidente provin-cial em 1864, subia o rio Paraguai para assumir o posto quando seu navio -- o Marqus de Olinda -- foi atacado e aprisionado por uma belonave para-guaia. Logo que o Paraguai rompeu as hostilidades, revelou-se a fraqueza do sistema defensivo brasileiro no Mato Grosso, prevista por Leverger. Caiu logo Coimbra, aps dois dias de resistncia. Em seguida, foi a vez de Corumb e da colnia de Dourados. A guerra seguiu seu curso, marcada por episdios como a retirada de Laguna, a retomada e subsequente aban-dono de Corumb. Dessa cidade, as tropas brasileiras trouxeram para Cuiab uma epidemia de varola que teve efeitos devastadores. Para o povo, 1867 seria o "ano das bexigas", mais que da retomada de Corumb.

    Os ltimos anos do imprio registraram um lento desenvolvimento da provncia, governada de outubro de 1884 a novembro de 1885 pelo general Floriano Peixoto. Em 9 de agosto de 1889, assumiu a presidncia o coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos, sob cujo governo se realizou a eleio de que saram vitoriosos os liberais -- triunfo celebrado em Cuiab com um pomposo baile em 7 de dezembro, pouco antes de chegar cidade a notcia da queda da monarquia.

    Repblica.

    As aspiraes republicanas e federalistas no Mato Grosso tinham tido expresso confusa em vrias revoltas, mas no remanso do segundo reina-do as agitaes se aplacaram. As campanhas pela abolio e pela repbli-ca tiveram ali repercusso modesta. Ao iniciar-se o perodo republicano, o Mato Grosso tinha uma populao calculada em oitenta mil habitantes. A provncia ficava segregada: sem estradas de ferro, eram necessrios cerca de trinta dias de viagem, passando por trs pases estrangeiros, para atingi-la, a partir do Rio de Janeiro, por via fluvial.

    Em 9 de dezembro foi aclamado governador do estado o general Ant-nio Maria Coelho, baro de Amamba, liberal dissidente, antigo heri da retomada de Corumb. Coelho fundou o Partido Nacional, ao qual se contrapunha o Partido Republicano, liderado por Generoso Ponce. Esse ato foi denunciado como "manobra palaciana" por Joaquim Murtinho. Nas vsperas da eleio de 15 de setembro de 1890, os republicanos recomen-daram a absteno. Como era de prever, Antnio Maria Coelho saiu vitorio-so. Logo demitiu diversos adversrios, entre os quais o juiz da capital, Manuel Jos Murtinho, irmo de Joaquim Murtinho e aliado de Generoso Ponce, e mandou a seguir prend-lo, a pretexto de uma suposta ameaa de sublevao monarquista. Essa arbitrariedade valeu-lhe a deposio. A constituio do estado foi aprovada em 15 de agosto de 1891. No dia seguinte empossou-se o primeiro governador republicano: Manuel Jos Murtinho.

    No plano nacional, os acontecimentos se complicaram com o manifesto de generais e almirantes contra Floriano Peixoto, em que denunciavam a "indbita interveno da fora armada nas deposies de governadores dos estados". Entre os signatrios estava o general Coelho, que seria preso. Em Corumb, seus partidrios revidaram, com a deposio do intendente municipal. Os rebeldes instalaram na cidade uma junta governativa de tendncia separatista, que logo estendeu seu domnio a Cuiab e destituiu Manuel Murtinho. Em 7 de maio de 1892, Generoso Ponce, a frente de quatro mil homens, iniciou o cerco s foras adversrias na capital e domi-nou-as em menos de uma semana. Em 22 de junho caiu Corumb. Vitorio-so o Partido Republicano, Manuel Murtino retornou ao poder.

    Surgiu mais tarde, entretanto, uma desavena entre os dois lderes, Ponce e Murtinho, este ltimo j ento ministro do Supremo Tribunal Fede-ral. O rompimento consumou-se em dezembro de 1898, com uma declara-o pblica de Manuel Murtinho, apoiado por seu prestigioso irmo Joa-

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    quim Murtinho, ministro da Fazenda do presidente Campos Sales. Seus partidrios conquistaram o poder, num ambiente de grande violncia. Mais tarde, contudo, Ponce e Murtinho reconciliaram-se e formaram novo agru-pamento poltico, a Coligao. A vitria dessa corrente poltica se deu com o movimento armado de 1906, que culminou na morte do presidente Ant-nio (Tot) Pais de Barros. Seguiu-se um perodo de interinidade na presi-dncia. Generoso Ponce foi afinal eleito em 1907. A economia do estado melhorou com a abertura de vias frreas a partir do leste (Jupi, Trs Lagoas e gua Clara) e do oeste (Porto Esperana, Miranda e Aquidaua-na), para se encontrarem em Campo Grande. A ligao ferroviria com So Paulo foi fator de progresso para o Mato Grosso, por intensificar o comrcio e valorizar as terras da regio.

    Questo do mate. Com o novo presidente, Joaquim Augusto da Costa Marques, que assumiu em 1911, avultaram as presses da companhia Mate Laranjeira no sentido de renovar o arrendamento dos seus extensos ervais no sul do estado. A pretenso suscitou nova divergncia entre Murti-nho e Ponce: o primeiro defendia a prorrogao do contrato at 1930, com opo para a compra de um a dois milhes de hectares, enquanto Ponce queria a diviso da rea em lotes de 450 hectares, que seriam oferecidos a arrendamento em hasta pblica.

    Morto Ponce, a empresa ganhou novo trunfo com o apoio do senador situacionista Antnio Azeredo. Mas o antigo presidente do estado, Pedro Celestino Correia da Costa, tomou posio contrria. Os deputados esta-duais hostis prorrogao do contrato fizeram obstruo e impediram que ela fosse aprovada. Finalmente, a Mate Laranjeira foi frustrada em suas pretenses, com a aprovao da lei n 725, de 24 de agosto de 1915.

    O general Caetano Manuel de Faria Albuquerque assumiu o governo em 15 de agosto de 1915. Seus prprios correligionrios conservadores tentaram for-lo renncia, e ele, tendo a seu lado Pedro Celestino, aceitou o apoio da oposio, num movimento que se chamou "caetanada". Contra seu governo organizou-se a rebelio armada, com ajuda da Mate Laranjeira e seus aliados polticos. Na assembleia foi proposto e aprovado o impedimento do general Caetano de Albuquerque. Consultado, o Supre-mo Tribunal Federal no tomou posio definitiva, e o presidente Venceslau Brs acabou por decretar a interveno no estado em 10 de janeiro de 1917. Em outubro, no Rio de Janeiro, os chefes dos dois partidos locais concluram acordo, mediante o qual indicavam o bispo D. Francisco de Aquino Correia para presidente, em carter suprapartidrio. O prelado assumiu em 22 de janeiro de 1918, e fez uma administrao conciliadora, assinalada por uma srie de iniciativas.

    Depois de 1930. At a revoluo de 1930, a administrao estadual lu-tou com graves problemas financeiros. No perodo ps-revolucionrio, sucederam-se os interventores. Em 1932, o general Bertoldo Klinger, comandante militar do Mato Grosso, deu apoio armado ao movimento constitucionalista de So Paulo. Em 7 de outubro de 1935, a Assembleia Constituinte elegeu governador Mrio Correia da Costa. Incidentes ocorri-dos em dezembro de 1936, quando foram feridos a bala os senadores Vespasiano Martins e Joo Vilas Boas, deram causa renncia do gover-nador e a nova interveno federal.

    Separao.

    A velha ideia da separao s veio a triunfar em 1977, por meio de uma lei complementar que desmembrou 357.471,5km2 do estado para criar o Mato Grosso do Sul. A iniciativa foi do governo federal, que alegava em primeiro lugar a impossibilidade de um nico governo estadual administrar rea to grande e, em segundo, as ntidas diferenas naturais entre o norte e o sul do estado. A lei entrou em vigor em 1 de janeiro de 1979.

    As polticas econmicas de apoio preferencial exportao e ocupa-o e desenvolvimento da Amaznia e do Centro-Oeste, implantadas a partir da dcada de 1970, levaram a novo surto de progresso no Mato Grosso. A construo de Braslia contribuiu para acabar com a antiga estagnao. Uma vez inaugurada a nova capital, o Mato Grosso continuou a atrair mo-de-obra agrcola de outros estados, pois oferecia as melhores reas de colonizao do pas. Graves problemas persistiam, porm, na dcada de 1980. O sistema de transporte, embora tenha ganho a rodovia Cuiab-Porto Velho em setembro de 1984, ainda no bastava para escoar a produo estadual; as instalaes de armazenamento deixavam a dese-jar; a disponibilidade de energia eltrica (120.000kW em 1983) era insufici-ente; eram precrios o saneamento e os servios de sade e educao.

    Tambm o problema ecolgico apresentava-se gravssimo: inmeras espcies dessa regio j foram extintas e outras estavam em processo de extino, como os jacars, caados razo de dezenas de milhares por ms. Para coibir esses abusos, o governo federal lanou a Operao Pantanal e criou o Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense.

    Cuiab

    Fundao de Cuiab em 8 de abril de 1719

    A localizao de Cuiab coincide exatamente com o centro geodsico da Amrica do Sul, cujo marco indicativo se situa na praa Moreira Cabral.

    Capital do estado de Mato Grosso, Cuiab est situada margem es-querda do rio do mesmo nome. Apresenta relevo tabular e suas temperatu-ras so elevadas, com chuvas no vero. Predomina em seus arredores a vegetao do cerrado, salvo s margens do rio Cuiab, onde se concentra o remanescente da reserva florestal do municpio.

    As primeiras notcias de ocupao efetiva da regio datam de 1719, quando a descoberta do ouro atraiu para l levas de povoadores vindos da Europa e dos estabelecimentos agrcolas do litoral. Assim, o ncleo desen-volveu-se em funo da explorao aurfera e dos movimentos das bandei-ras. Os distritos de Mato Grosso (Vila Bela) e Cuiab constituram, durante a primeira metade do sculo XVIII, os nicos aglomerados urbanos de toda a rea que abrange o centro-norte do atual estado de Mato Grosso, na poca sob a jurisdio da capitania de So Paulo. Esta, entretanto, sem poder responder pelos encargos administrativos das duas localidades, desanexou-as por meio do alvar de 9 de maio de 1748. Criou-se dessa forma a capitania de Mato Grosso e Cuiab.

    Com o declnio da explorao mineral nas jazidas e aluvies, que se revelaram de pequena importncia, e com a imposio de normas drsticas de fiscalizao e o estabelecimento da sede do governo da capitania em Vila Bela, iniciou-se para Cuiab um perodo de rpida decadncia, com evaso em massa da populao, que l no encontrava nenhum elemento fixador.

    A vila foi elevada categoria de cidade em 17 de setembro de 1818, passando a ser capital em 1820. A funo de centro administrativo, no entanto, no foi suficiente para tirar Cuiab da estagnao econmica em que se encontrava, da qual somente libertou-se a partir de meados do sculo XX, com sua ligao rede rodoviria nacional, realizada em 1960. Essa ligao tirou partido da excelente posio estratgica de que a cidade desfruta, permitindo seu desenvolvimento como plo de atrao regional e porta de entrada para toda a Amaznia meridional.

    O centro urbano abrange a parte mais antiga de Cuiab, que compre-ende um conjunto de vias estreitas e tortuosas que datam do ciclo da minerao. Desse perodo podem ainda ser encontrados, na chamada Cidade Velha, inmeros sobrados, a igreja do Rosrio e a capela de So Benedito (1772), exemplos tpicos da arquitetura colonial brasileira, que, juntamente com as caractersticas do traado dessa rea, conferem certo potencial turstico cidade.

    Na economia, o setor tercirio o de maior relevncia, em virtude da funo administrativa como sede estadual e de sua posio como nico

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    centro urbano de vulto em uma vasta regio. Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicaes Ltda.

    Chegada de Rodrigo Cesar de Menezes para a instalao da Villa

    Processo Histrico da Ocupao

    http://www.bonsucessomt.com.br/historia/matogrosso.pdf

    O processo de ocupao desta regio ocorreu na primeira metade do sculo XVIII, com o avano realizado para alm da fronteira oeste, a partir de um paralelo traado pelo Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espa-nha, sendo que as terras que ficassem ao lado oeste pertenceriam ao Governo espanhol e a leste ao Governo portugus. O Tratado de Tordesi-lhas, assinado entre Portugal e Espanha em 07 de Junho de 1494, oficiali-zou a diviso do mundo por linhas imaginrias entre os Estados dos tem-pos modernos.

    Os responsveis por este avano alm fronteira foram os bandeirantes paulistas, com o objetivo de aquisio de mo-de-obra barata, uma vez que o trfico negreiro j sofria restries, o que tornava a atividade muito onero-sa, constituindo a priso de indgenas como uma alternativa vantajosa, por no ocasionar custos elevados. Os bandeirantes faziam estas longas expedies, com este nico e exclusivo interesse, afinal, o comrcio de escravos indgenas era lucro garantido para seus capturadores.

    No sculo XVII, So Vicente (onde hoje est o estado de So Paulo) era uma capitania pobre, quando comparada s da Bahia e de Pernambu-co. No havia nela nenhum produto de destaque para exportao. A eco-nomia era baseada em agricultura de subsistncia: milho, trigo, mandioca. Vendia alguma coisa para o Rio de Janeiro, e s. A cidade de So Paulo no passava de um amontoado de casebres de gente pobre. Mas tinha a vantagem de ser uma das poucas vilas Brasileiras que no se localizam no litoral. Partindo dela fica mais fcil entrar nas florestas. Pois foi exatamente por isso que a maioria dos bandeirantes saiu de So Paulo. Tornar-se bandeirante era uma chance para o paulista melhorar de vida....Os coman-dantes usavam roupas novas e botas de couro, para se protegerem de picada de cobra. Os homens livres e pobres tinham roupas velhas e ps descalos. Todos eles armados. Tambm fazia parte da bandeira um grupo de ndios j submetidos pelos colonos. ...Eles se embrenhavam na floresta tropical fechada e rios agitados, indo a lugares muito distantes de qualquer cidade colonial. Mas o objetivo deles no era nada herico: eles eram caadores de ndios. ...Os bandeirantes atacavam impiedosamente as aldeias indgenas. Matavam todo mundo que atrapalhasse inclusive as crianas. Depois acorrentavam os ndios e os levavam como escravos.

    ... a cana-de-acar no obteve xito, sendo que seus colonos resolve-ram se dedicar a outras atividades, como foi o caso da Capitania de So Paulo que, ao lado da agricultura de subsistncia, optou por traficar, no escravos africanos, mas sim ndios, necessrios s capitanias que no desenvolveram com sucesso o plantio da cana-de-acar e o fabrico da acar. Dessa forma, os paulistas criaram o movimento das bandeiras. ...Nesse movimento, os bandeirantes acabaram descobrindo ouro, em primeiro lugar, em terras que hoje pertencem ao estado de Minas gerais e, mais tarde, nas de Mato Grosso e de Gois. Com esse movimento, os bandeirantes paulistas estavam, sem querer, aumentando o territrio colo-nial, pois essas novas terras descobertas, segundo o tratado de Tordesi-

    lhas, fixado em 1494, antes mesmo da descoberta do Brasil, no pertence-riam a Portugal, mas sim Espanha. O Rei Lusitano, vendo que os bandei-rantes estavam alargando as fronteiras de sua Colnia, povoando esses territrios e descobrindo metais preciosos (ouro e diamante), resolveu apoi-los e incentiv-los nesse movimento.

    A bandeira de Antnio Pires de Campos atingiu a regio do rio Coxip-Mirim e ali ocorreu uma guerra, e aprisionaram os ndios Coxipons, que reagiram, travando um intenso combate com os paulistas. Logo atrs dessa bandeira, seguiu-se outra, capitaneada por Pascoal Moreira Cabral que, desde 1716, j palmilhava terras mato-grossenses sabendo ele da existn-cia de ndios, resolveu seguir para o mesmo local, onde havia um acampa-mento chamado So Gonalo. Exaurida pelas lutas travadas, a bandeira de Moreira Cabral resolveu arranchar-se s margens do rio Coxip-Mirim e, segundo nos conta o mais antigo cronista, Joseph Barboza de S, desco-briram casualmente ouro, quando lavavam os pratos na margem daquele rio. Para garantir tranquilidade no local, Pascoal Moreira Cabral resolveu pedir reforos s bandeiras que se encontravam na regio. Chegou ento ao Arraial de So Gonalo a bandeira de Ferno Dias Falco, composta de 130 homens de guerra, que passaram a auxiliar nos trabalhos aurferos.

    O fato de terem os bandeirantes paulistas, encontrado ouro mudou o rumo de sua marcha, pois ao invs de continuarem caando os ndios, terminaram por fixar-se na regio, construindo casas e levantando capeli-nha. Esse primeiro povoamento denominou-se So Gonalo Velho.

    Em 1719, em So Gonalo Velho, a 08 de abril, Moreira Cabral lavra a Ata de Fundao do Arraial do Senhor Bom Jesus. Dois anos depois o arraial foi mudado para o rio Coxip, uma vez que a populao mineira comeou a perceber que o ouro estava escasseando, e resolveu mudar para outro local denominado Forquilha, tambm no rio Coxip-Mirim. Ali levantaram novo acampamento, ergueram outra capela e deram continui-dade aos trabalhos de minerao.

    Aos oito dias do ms de abril da era de mil setecentos e dezenove a-nos, neste Arraial do Cuiab, fez junto o Capito-Mor Pascoal Moreira Cabral com os seus companheiros e ele requereu a eles este termo de certido para notcia do descobrimento novo que achamos no ribeiro do Coxip, invocao de Nossa Senhora da Penha de Frana, depois que foi o nosso enviado, o Capito Antnio Antunes com as amostras que levou do ouro ao Senhor General. Com a petio do dito capito-mor, fez a primeira entrada aonde assistiu um dia e achou pinta de vintm e de dois e de quatro vintns a meia pataca, e a mesma pinta fez na segunda entrada em que assistiu, sete dias, ele e todos os seus companheiros s suas custas com grandes perdas e riscos em servio de Sua Real Majestade. E como de feito tem perdido oito homens brancos, foros e negros e para que a todo tempo v isto a notcia de sua Real Majestade e seus governos para no perderem seus direitos e, por assim, por ser verdade ns assinamos todos neste termo o qual eu passei bem e fielmente a f de meu ofcio como escrivo deste Arraial. Pascoal Moreira Cabral, Simo Rodrigues Moreira, Manoel dos Santos Coimbra, Manoel Garcia Velho, Baltazar Ribeiro Navar-ro, Manoel Pedroso Lousano, Joo de Anhaia Lemos, Francisco de Sequei-ra, Aseno Fernandes, Diogo Domingues, Manoel Ferreira, Antnio Ribeiro, Alberto Velho Moreira, Joo Moreira, Manoel Ferreira de Mendona, Ant-nio Garcia Velho, Pedro de Godois, Jos Fernandes, Antnio Moreira, lncio Pedroso, Manoel Rodrigues Moreira, Jos Paes da Silva. (BARBOZA de S, 1975, p. 18).

    Nesse dia, os bandeirantes fixados no Arraial de So Gonalo, elege-ram um chefe chamado Guarda-Mor e o escolhido por eleio, foi Pascoal Moreira Cabral.

    Em 1722, o bandeirante Miguel Sutil chegou zona mineira com o ob-jetivo de verificar o estado de uma roa que havia plantado s margens de outro rio, o Cuiab. Como ele e seus companheiros estavam famintos, mandou Sutil que dois ndios sassem cata de mel. Os ndios se demora-ram muito e, quando chegaram,ao invs de mel, trouxeram ouro em pe-quenos folhetos caet. Como j era quase noite, Miguel Sutil deixou para o dia seguinte, verificar pessoalmente onde se localizava a nova mina. Situava-se s margens de um crrego, brao do rio Cuiab - Crrego da Prainha.

    As notcias do novo descobrimento aurfero foram enviadas para a Ca-pitania de So Paulo, da qual essas terras faziam parte. Com isso, um

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    grande fluxo migratrio chegou regio, visando o enriquecimento e o estabelecimento de roas que pudessem fornecer alimentos populao.

    A "boa nova" se espalhou rapidamente entre os pequenos arraiais de So Gonalo e da Forquilha, ocasio em que, impressionados pelo volume aurfero que diziam conter essa mina, seus habitantes abandonaram os dois ncleos iniciadores do povoamento da regio, dando inicio a outro ncleo urbano, que so as origens da atual cidade de Cuiab, capital do estado de Mato Grosso. A notcia foi levada para So Paulo e de l se espalhou por outras capitanias, chegando at Portugal, o que provocou, em pouco tempo, um aumento da populao, que passou a disputar palmo-a-palmo os terrenos aurferos.

    Em 1 de janeiro de 1727, o Arraial do Senhor Jesus do Cuyab, rece-beu o foro e foi elevado categoria de vila, para a se chamar Vila Real do Senhor Bom Jesus por ato do Capito General de So Paulo, Dom Rodrigo Csar de Menezes. Em 17 de setembro de 1818, por Carta Rgia de D. Joo VI, a vila do Cuiab elevada categoria de cidade.

    A presena do governante paulista nas Minas do Cuiab ensejou uma verdadeira extorso sobre os mineiros, numa obcesso institucional pela arrecadao dos quintos de ouro. Esses fatos somados gradual diminui-o da produo das lavras aurferas fizeram com que os bandeirantes pioneiros fossem buscar o seu ouro cada vez mais longe das autoridades cuiabanas.

    Com esse movimento, novas minas foram descobertas, como as La-vras dos Cocais, em 1724, s margens do ribeiro do mesmo nome (atual Nossa Senhora do Livramento), distante 50 km de Cuiab. Os descobrido-res do novo vieram aurferos, foram os sorocabanos Antonio Aires e Dami-o Rodrigues. Em pouco tempo, o pequeno arraial foi integrado por outros mineiros que, igualmente, fugiram das imposies fiscalistas, impostas na Vila Real do Senhor Bom Jesus, com a presena do governador Paulista.

    Em 1734, estando j quase despovoada, a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab, os irmos Fernando e Artur Paes de Barros, atrs de ndios Parecis, descobriram veio aurfero, os quais resolveram denominar Minas do Mato Grosso, situadas nas margens do Rio Galera, no Vale do Guapor.

    Os Anais de Vila Bela da Santssima Trindade, escritos em 1754, pelo escrivo da Cmara dessa vila, Francisco Caetano Borges, citando o nome Mato Grosso, assim nos explicam:

    Saiu da Vila do Cuiab Fernando Paes de Barros com seu irmo Artur Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais procurado, [...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento, arranchando-se em um ribeiro que desgua no rio da Galera, o qual corre do Nascente a buscar o Rio Guapor, e aquele nasce nas fraldas da Serra chamada hoje a Chapada de So Francisco Xavier do Mato Grosso. Da parte Oriental, fazendo experincia de ouro, tiraram nele trs quartos de uma oitava na era de 1734.

    Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos aps descobertas as Minas do Mato Grosso, pela primeira vez o histrico dessas minas foi relatado num documento oficial, onde foi alocado o termo Mato Grosso, e identificado o local onde as mesmas se achavam. .

    Todavia, o histrico da Cmara de Vila Bela no menciona porque os irmos Paes de Barros batizaram aquelas minas com o nome de Mato Grosso.

    Quem nos d tal resposta Jos Gonalves da Fonseca, em seu tra-balho escrito por volta de 1780, Notcia da Situao de Mato Grosso e Cuiab, publicado na Revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro de 1866, que assim nos explica a denominao Mato Grosso.

    [...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais de oriente pa-ra poente; e como estas montanhas so escalvadas, logo que baixaram a plancie da parte oposta aos campos dos Parecis (que s tem algumas ilhas de arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento que entrando a penetr-lo o foram apeli-dando Mato Grosso: e este o nome que ainda conserva todo aquele distrito.

    Caminharam sempre ao poente, e depois de vencerem sete lguas de espessura, toparam com o agregado das serras [...].

    Pelo que desse registro se depreende, o nome Mato Grosso origin-rio de uma extenso de sete lguas de mato alto, espesso, quase impene-trvel, localizado nas margens do Rio Galera, percorrido pela primeira vez em 1734, pelos irmos Paes de Barros. Acostumados a andar pelos cerra-dos do chapado dos Parecis, onde haviam apenas algumas ilhas de arbustos agrestes, os irmos aventureiros, impressionados com a altura e porte das rvores, o emaranhado da vegetao secundria que dificultava a penetrao, com a exuberncia da floresta, a denominaram Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de So Francisco Xavier e toda a regio adjacente, pontilhada de arraiais de mineradores, ficou conhecida na histria como as Minas do Mato Grosso.

    Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Rgia, em 09 de maio de 1748, (em 2011- 263 anos da criao da Capitania de Mato Grosso e do Cuiab) o governo portugus assim se manifestou:

    Dom Joo, por Graa de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] Fa-o saber a v6s, Gomes Freire de Andrade, Governador e Capito General do Rio de Janeiro, que por resoluto se criem de novo dois governos, um nas Minas de Gois outro nas de Cuiab [...].

    Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de consolidao e institucionalizao da posse portuguesa na fronteira com o reino da Espa-nha, Lisboa resolveu denomin-las to somente de Cuiab. Mas no fim do texto da referida Carta Rgia, assim se exprime o Rei de Portugal:

    [...] por onde parte o mesmo governo de So Paulo com os de Per-nambuco e Maranho e os confins do Governo de Mato Grosso e Cuiab [...].

    Apesar de no denominar a Capitania expressamente com o nome de Mato Grosso, somente referindo-se s Minas do Cuiab, no fim do texto da Carta Rgia, denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as minas, do Mato Grosso e do Cuiab. Isso ressalva, na realidade, a inteno portuguesa de dar Capitania o mesmo nome posto anos antes pelos irmos Paes de Barros. Entende-se perfeitamente essa inteno.

    Todavia, a consolidao do nome Mato Grosso veio rpido. A Rainha D. Mariana Vitria, ao nomear Dom Antonio Rolim de Moura Tavares como Primeiro Capito General, em Carta Patente de 25 de setembro de 1748, assim se expressa:

    [...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de Governador e Capito General da Capitania do Mato Grosso por tempo de trs anos [u.].

    A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega a Dom An-tnio Rolim de Moura Tavares as suas famosas Instrues, que lhe deter-minariam as orientaes para a administrao da Capitania, em especial os tratos com a fronteira do reino espanhol. Assim nos d o documento:

    [...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Gros-so [...]

    1 - [...] atendendo que no Mato Grosso se querer muita vigilncia por causa da vizinhana que tem, houve por bem determinar que a cabea do governo se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...];

    2 - Por ter entendido que no Mato Grosso a chave e o propugnculo do serto do Brasil [...].

    E a partir da, da Carta Patente e das Instrues da Rainha, o governo colonial mais longnquo, mais ao oriente em terras portuguesas na Amrica, passou a se chamar de Capitania de Mato Grosso, tanto nos documentos oficiais como no trato dirio por sua prpria populao. Logo se assimilou o nome institucional Mato Grosso em desfavor do nome Cuiab. A vigilncia e proteo da fronteira oeste eram mais importantes que as combalidas minas cuiabanas. A prioridade era Mato Grosso e no Cuiab.

    A exemplo do restante das colnias brasileiras, a regio fora objeto, num primeiro momento da busca por metais preciosos, servindo de passa-gem de garimpeiros fugindo das altas taxas de que eram cobradas em nome Rei de Portugal, atravs de seus representantes nas minas do Cuia-b e o grande aparato de fiscalizao ali conduzido ao fio da baioneta se preciso fosse.

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    Ao longo dos anos, foram estabelecendo roas para cultivo de alimen-tos para abastecer as regies com veio aurfero, o qual era outro mecanis-mo de ocupao e o povoamento para garantir a posse, o que ocasiona a distribuio gratuita de terras aos nobres portugueses e aventureiros, a atravs da concesso de Sesmaria, no sendo diferente nesta nossa regio, onde hoje ns a denominamos de Vrzea Grande, com as conces-ses das Sesmarias do Bonsucesso e So Gonalo etc.

    No Brasil, o direito de conceder sesmarias cabia aos delegados do rei, mas com o estabelecimento das capitanias hereditrias, passou aos dona-trios e governadores.

    Sesmaria um pedao de terra devoluta -- ou cuja cultura foi abando-nada -- que tomada a um presumido proprietrio para ser entregue a um agricultor ou sesmeiro. A posse da terra est, assim, vinculada a seu apro-veitamento. Os portugueses trouxeram essa tradio para o Brasil, onde, no entanto, a imensido do territrio acabou por estabelecer um sistema de latifndios improdutivos.

    Sesmaria.

    Em 1349 o rei D. Afonso IV promulgou a lei que restaurava o regime anterior peste, mas enfrentou grande oposio. Presses da corte por fim fizeram Fernando I assinar, por volta de 1375, a clebre lei das sesmarias, compromisso de difcil cumprimento entre a nobreza e a burguesia. A propriedade agrcola passou a ser condicionada a seu uso. Uma vez utili-zada, tornava-se concesso administrativa, com a clusula implcita de transferncia e reverso. O exerccio da propriedade da terra seguia o estabelecido nas Ordenaes Manuelinas e Filipinas.

    Sistema de Sesmaria

    A adaptao das sesmarias s terras incultas do Brasil desfigurou o conceito, a comear pela imediata equiparao da sesmaria s glebas virgens. A prudente recomendao da lei original de que no dessem "maiores terras a uma pessoa que as que razoadamente parecer que no dito tempo poder aproveitar" tornou-se letra morta diante da imensido territorial e do carter singular da colnia. O sesmeiro, originalmente o funcionrio que concedia a terra, passou a ser beneficirio da doao, sujeito apenas ao encargo do dzimo.

    A terra era propriedade do rei de Portugal, que a concedia em nome da Ordem de Cristo. Martim Afonso de Sousa, em 1530, foi o primeiro a ter essa competncia, num sistema que j tinha ento maior amplitude, ajusta-do s condies americanas. Um ato de 1548 legalizou o carter latifundi-rio das concesses, contrrio ao estatuto portugus. Estabelecidas as capitanias hereditrias, o poder de distribuir sesmarias passou aos donat-rios e governadores.

    Em 1822, graas s concesses liberais e desordenadas, os latifndios j haviam ocupado todas as regies economicamente importantes, nas imediaes das cidades e em pontos prximos dos escoadouros da produ-o. Os proprietrios de grandes reas no permitiam o estabelecimento de lavradores nas reas incultas seno mediante vnculos de dependncia. Quando o governo baixou a Resoluo n 017, promulgada pelo Prncipe Regente D. Pedro, a qual suspendeu a concesso de terras de sesmaria at que nova lei regulasse o assunto, no havia mais terras a distribuir. Estavam quase todas repartidas, exceto as habitadas pelos ndios e as inaproveitveis. Em suas origens, o regime jurdico das sesmarias liga-se aos das terras comunais da poca medieval, chamado de communalia. (grifo nosso).

    O vocbulo sesmaria derivou-se do termo sesma, e significava 1/6 do valor estipulado para o terreno. Sesmo ou sesma tambm procedia do verbo sesmar (avaliar, estimar, calcular) ou ainda, poderia significar um territrio que era repartido em seis lotes, nos quais, durante seis dias da semana, exceto no domingo, trabalhariam seis sesmeiros. A mdia aproxi-madamente de uma Sesmaria era de 6.500m. Esta medida vigorou em Portugal e fora transplantada para as terras portuguesas ultramar, chegan-do ao Brasil o Sistema de Sesmaria foi uma prtica comum em todas as possesses portuguesas, como podemos constatar no processo de orde-namento jurdico na promoo da ocupao de terras no novo mundo, dado pelos portugueses logo que decidiam ocup-las e povo-las.

    O Modelo foi radicado e posto em prtica pela poltica de ocupao portuguesa para suas colnias do alm mar, formando Colnias de Povoa-

    mento e Explorao; modelo este levado exausto por longos sculos de expropriao de propriedade de terceiros sem tomar conhecimento, quem era ou quem poderia reclamar sua posse, montando um aparato de domi-nao e extermnio dos opositores, neste caso os primitivos habitantes dessa regio, os povos silvcolas (erradamente chamados pelos europeus civilizados e cultos de ndios), que compunham diversas naes e etnias.

    A Vrzea Grande, antes do Ato do governo Provincial de Jos Vieira Couto Magalhes, era uma regio explorada como qualquer outra nesta busca por veio aurfero, ocupada por aventureiro, alguns correndo do fisco real instalado na Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab. Consta infor-maes no oficial, um processo de ocupao por Ato Real, em que concedido uma Sesmaria ao ndios Guans, habitantes da regio e por serem mansos e estarem este em atos comerciais com os bandeirantes paulistas e moradores da Vila do Cuiab. Inclusive este a origem do topnimo da localidade: Vrzea Grande dos ndios Guans4, doada aos Guans em 1832, por Ato do Governo imperial. Quanto ao caminho obriga-trio para o oeste e sul da provncia, a Vrzea Grande era desde o inicio do processo de ocupao dos primeiros aventureiros, que por esta regio se atreveram avanar, em terras pertencentes ao Reino de Espanha por fora do Tratado de Tordesilhas de 1494, mas sim caminho de tropeiros e boia-deiros.

    Esta doao de terras em sesmaria a silvcolas mansos ou agressivos so bastante questionveis, tendo em vista a atividade que interessavam aos portugueses e paulistas no inicio da marcha para o oeste, como fora denominada a aventura dos bandeirantes nesta regio, aprisionar indge-nas para o trabalho forado em So Paulo, por representar mo de obra mais barata e bem como investigar a existncia de metais preciosos, o que acabou ocorrendo e mudou todo o interesse por estas terras. Porm o trabalho forado no seria agora para as lavouras de caf paulista, e sim as minas de ouro que precisavam de todo o esforo para delas jorrar toda riqueza possvel.

    Os silvcolas e negros eram considerado uma forte mo de obra e no ser humano, sim mercadoria, como escravos podiam ser comercializados em mercados e, portanto, propriedade de donatrios de terras aqui ou em qualquer regio onde estivesse e fosse necessrio mo de obra de baixo custo, onde neste perodo da historia, a mo de obra negra j estava muito dispendiosa para os latifundirios.

    O Povoamento

    As origens histricas do povoamento de Mato Grosso esto ligadas s descobertas de ricos veios aurferos, j no comeo do sculo 18. Em 1718, o bandeirante Antnio Pires de Campos, que um ano antes esteve s margens do Rio Coxip, em local denominado So Gonalo Velho, onde combateu e aprisionou centenas de ndios Coxipons (Bororo), encontrou-se com gente da Bandeira de Paschoal Moreira Cabral Leme, informando-lhes sobre a possibilidade de escravizarem ndios vontade.

    Ao ser informado da fartura da (possvel) prea, Paschoal Moreira Ca-bral Leme seguiu Coxip acima: o seu intento, no entanto, no foi realizado, pois no confronto com o gentio da terra, na confluncia dos rios Mutuca e Coxip, os temveis Coxipon, que dominavam esta regio, teve sua expe-dio totalmente rechaada pelas bordunas e flexas certeiras daquele povo guerreiro.

    Enquanto a expedio de Moreira Cabral se restabelecia dos danos causados pela incurso Coxipon, dedicaram-se ao cultivo de plantaes de subsistncia, apenas visando o suprimento imediato da bandeira. Foi nesta poca que alguns dos seus companheiros, embrenhando-se Coxip acima, encontraram em suas barrancas as primeiras amostras de ouro. Entusiasmados pela possibilidade de riqueza fcil, renegaram o objetivo principal da bandeira, sob os protestos imediatos de Cabral Leme, que, entretanto, aderiu aos demais. Foi desta forma que estando a procura de ndios para escravizar Paschoal Moreira Cabral Leme encontrou ouro em quantidade inimaginada.

    Desta forma os paulistas bateram as estremas das regies cuiabanas, onde o ouro se desvendava aos seus olhos. A descoberta do ouro levou os componentes da bandeira de Cabral a se deslocarem para uma rea onde tivessem

    maior facilidade de ao. Surgiu Forquilha, a povoao pioneira de to-do Mato Grosso, na confluncia do Rio Coxip com o Ribeiro Mutuca,

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    exatamente onde tempos havia ocorrido terrvel embate entre paulistas e ndios da nao Coxipon.

    Espalhou-se ento a notcia da descoberta das Minas do Cuyab. Vale dizer que o adensamento de Forquilha foi inevitvel, o que preocupou a comunidade quanto manuteno da ordem e estabilidade do ncleo. Este fato levou Paschoal Moreira Cabral, juntamente com alguns bandeirantes, a lavrar uma ata e fundar o Arraial de Cuiab, em 08 de abril de 1719, de-vendo a partir de ento, seguir administrativamente os preceitos e determi-naes legais da Coroa. Na verdade, a Ata de Criao de Cuiab deixa ntida a preocupao de Paschoal Moreira Cabral em notificar Coroa Portuguesa os seus direitos de posse sobre as novas lavras.

    Em 1722, ocorreu a descoberta de um dos veios aurferos mais impor-tantes da rea, no local denominado Tanque do Arnesto, por Miguel Sutil, que aportara em Cuiab com o intuito de dedicar-se agricultura. Com a propagao de que constituam os veios mais fartos da rea, a migrao oriunda de todas as partes da colnia tornou-se mais intensa, fato que fez de Cuiab, no perodo de 1722 a 1726, uma das mais populosas cidades do Brasil, na poca.

    Primrdios Cuiabanos

    Em 1722, por Proviso Rgia, o Arraial de Cuiab foi elevado catego-ria de distrito da Capitania de So Paulo. A Coroa mandou que o governa-dor da Capitania de So Paulo, Dom Rodrigo Cesar de Menezes instalasse a Villa, o municpio, estrutura suprema local de governo. Dom Rodrigo partiu de So Paulo a 06 de junho de 1726 e chegou a Cuiab a 15 de novembro do mesmo ano. A 1 de janeiro instalou a Villa.

    H de se dizer, entretanto, que na administrao do governador Rodri-go Cesar de Menezes, que trouxe ao Arraial mais de trs mil pessoas, houveram transformaes radicais no sistema econmico-administrativo da Villa. A medida mais drstica foi a elevao do imposto cobrado sobre o ouro, gerando aumento no custo de vida, devido ao crescimento populacio-nal, agravando a situao precria do garimpo j decadente. Estes fatos, aliados grande violncia que mesclou a sua administrao, bem como a escassez das minas de Cuiab, tornaram-se fundamentais para a grande evaso populacional para outras reas.

    A 29 de maro de 1729, D. Joo V, criou o cargo de Ouvidor em Cuia-b. Apesar do Brasil j se desenvolver a 200 anos, Cuiab ainda participou da estrutura antiga dos municpios, em que o poder mximo era exercido pelo legislativo, cabendo ao executivo um simples papel de Procurador. O chefe nato do legislativo era a autoridade suprema do Judicirio. Por isso o poder municipal era tambm denominado de Ouvidoria de Cuiab. Ainda no se usava designar limite ou rea ao municpio; apenas recebia ateno formal a sede municipal, com permetro urbano. O resto do territrio se perdia num indefinido denominado Districto. Por isso se costumava dizer Cuyab e seu Districto. Naquele tempo os garimpeiros corriam atrs das manchas, lugares que rendiam muito ouro. Assim, em 1737, por ocasio das notcias de muito ouro para as bandas do Guapor, enorme contingen-te optou pela migrao. Se a situao da Vila de Cuiab j estava difcil, tornou-se pior com a criao da Capitania, em 09 de maio de 1748. Em 1751, a vila contava com seis ruas, sendo a principal a Rua das Trepadei-ras (hoje Pedro Celestino). Muitos de seus habitantes migraram para a capital da Capitania, atrados pelos privilgios oferecidos aos que ali fos-sem morar. Este fator permitiu que Cuiab ficasse quase estagnada por perodo de setenta anos.

    Vila Bela da Santssima Trindade - Antiga Capital

    Por ordem de Portugal, a sede da Capitania foi fixada no Vale do Rio Guapor, por motivos polticos e econmicos de fronteira. D. Antnio Rolim de Moura Tavares, Capito General, foi nomeado pela Carta Rgia de 25 de janeiro de 1749. Tomou posse a 17 de janeiro de 1751. Rolim de Moura era fidalgo portugus e primo do Rei, mais tarde foi titulado Conde de Azambuja. A 19 de maro de 1752, D. Rolim de Moura Tavares, fundou Villa Bela da Santssima Trindade, s margens do Rio Guapor, que se tornou capital da Capitania de Mato Grosso.

    Vrios povoados haviam se formado na poro oestina, desde 1726 at a criao da Capitania, a exemplo de Santana, So Francisco Xavier e Nossa Senhora do Pilar.Esses povoados, alm de constiturem os primeiros vestgios da ocupao da poro ocidental da Capitania, tornaram-se o embrio para o surgimento de Vila Bela, edificada na localidade denomina-

    da Pouso Alegre. O crescimento de Vila Bela foi gradativo e teve como maior fator de sua composio tnica, os negros oriundos da frica para trabalho escravo, alm dos migrantes de diversas reas da Colnia.

    O perodo ureo de Vila Bela ocorreu durante o espao de tempo em que esteve como sede poltica e administrativa da Capitania, at 1820. A partir da, comeou a haver descentralizao poltica, e Vila Bela divide com Cuiab a administrao Provincial. No tempo do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, no incio do sculo XIX, Cuiab atraa para si a sede da Capitania. Vila Bela recebia o ttulo de cidade sob a denominao de Matto Grosso. A medida tardou a se concretizar, dando at ocasio de se propor a mudana da capital para Alto Paraguay Diamantino (atualmente municpio de Diamantino). A Lei n. 09, de 28 de agosto de 1835, encerrou definitivamente a questo da capital, sediando-a em Cuiab. Tratou-se de processo irreversvel a perda da capital em Vila Bela, quando esta vila declinava aps o governo de Luz de Albuquerque.

    A cidade de Matto Grosso, a nova denominao, passou s runas, e era considerada como qualquer outro municpio fronteirio. Hoje em dia a cidade passou a ser vista de outra maneira, principalmente pelo redesco-brimento de sua riqueza tnico-cultural. A Lei Federal n. 5.449, de 04 de julho de 1968 tornou Mato Grosso municpio de Segurana Nacional. Em 29 de novembro de 1978, a Lei n. 4.014, alterava a denominao de Mato Grosso para Vila Bela da Santssima Trindade, voltando ao nome original.

    A Capitania

    No perodo de Capitania, Portugal se empenhou na defesa do territrio conquistado. A preocupao com a fronteira, a extensa linha que ia do Paraguai ao Acre, continha um aspecto estratgico: ocupar o mximo de territrio possvel na margem esquerda do Rio Guapor e na direita do Rio Paraguai. O rio e as estradas eram questes de importncia fundamental, pois apenas se podia contar com animais e barcos.

    Capitania de Mato Grosso faltava povo e recursos financeiros para manter a poltica de conquista. Favorecimentos especiais foram prometidos para os que morassem em Vila Bela, visando o aumento da povoao. Como o Rio Paraguai era vedado navegao at o Oceano Atlntico, os governadores da Capitania agilizaram o domnio dos caminhos para o leste e a navegao para o norte, pelos rios Madeira, Arinos e Tapajs.

    Ocorreram avanos de ambas as partes, Portugal e Espanha, para ter-ritrio de domnio oposto. Antes da criao da Capitania de Mato Grosso, os missionrios jesutas espanhis ocuparam a margem direita do Rio Guapor, como medida preventiva de defesa. Para desalojar os mission-rios, Rolim de Moura no duvidou em empregar recursos blicos.

    No governo do Capito General Joo Carlos Augusto DOeynhausen, Dom Joo VI instituiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a 16 de dezembro de 1815. A proximidade do governo supremo situado no Rio de Janeiro favoreceu a soluo mais rpida das questes de governo. A independncia de comrcio trouxe novos alentos vida mato-grossense.

    Com a aproximao do fim da Capitania, Cuiab assumiu aos poucos a liderana poltica. Vila Bela da Santssima Trindade funcionou eficazmente como centro poltico da defesa da fronteira. No podia ostentar o brilho comercial de Cuiab e Diamantino. O ltimo governador da Capitania,

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    Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho j governou todo o tempo em Cuiab.

    Em Mato Grosso, precisamente nos anos de maturao da Indepen-dncia, acirraram-se as lutas pelo poder supremo da Capitania. A nobreza, o clero e o povo depuseram o ltimo governador Magessi. Em seu lugar se elegeu uma Junta Governativa. Enquanto uma Junta se elegia em Cuiab, outra se elegeu em Mato Grosso, topnimo que passou a ser conhecida Vila Bela da Santssima Trindade, a partir de 17 de setembro de 1818. Sob o regime de Juntas Governativas entrou Mato Grosso no perodo do Brasil Independente, tornando-se Provncia.

    Povoamento Setecentista

    Nessa trajetria de ocupao e povoamento da Capitania de Mato Grosso, iniciada no governo de Rolim de Moura, outros povoados surgiram, a exemplo de Santana da Chapada, que, inicialmente se constituiu em ma grande reserva indgena, devido determinao do governo em congregar naquela poro da Capitania, tribos indgenas diversas, com o objetivo de minimizar os constantes choques com as comunidades. Esse Parque Indgena, cuja formao remonta a 1751, teve a sua administrao entre-gue a um padre jesuta, que atravs de um trabalho de aculturao, conse-guiu coloc-los em contato com a populao garimpeira das proximidades.

    O perodo de 1772 a 1789 foi decisivo para a Capitania de Mato Gros-so e consequentemente para o Pas, haja vista ter acontecido nessa poca o alargamento da fronteira ocidental do Estado, estendendo-se desde o Vale do Rio Guapor at as margens do Rio Paraguai. Para efetivao da poltica de expanso e povoamento e, principalmente para assegurar a posse da poro ocidental da Capitania, por inmeras vezes molestadas pelos espanhis, foram criados nesse perodo, alguns fortes e povoados.

    Em 1755, Lus de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres, determinou a fundao do Forte de Coimbra, sito margem direita do Rio Paraguai. Um ano aps foi a vez do Forte Prncipe da Beira, instalado margem direita do Rio Guapor, hoje Estado de Rondnia.

    Em 1778, atravs de sua poltica expansionista, Lus de Albuquerque fundou o povoado de Nossa Senhora da Conceio de Albuquerque, atu-almente municpio de Corumb. Trs anos aps foi a vez da fundao de Vila Maria do

    Paraguai, hoje Cceres. Ainda em 1781 foi fundada a povoao de So Pedro Del Rey, atualmente o municpio de Pocon. Alm do que fundou os registros do Jauru (regio oeste) e nsua (regio leste) no Rio Araguaia. Em 1783, Melo e Cceres determinou a fundao do povoado de Casalvasco e ainda ocupou a margem esquerda do Rio Guapor, de domnio espanhol, fundando o povoado de Viseu.

    ...e seus Desdobramentos

    Antes da abordagem do povoamento no sculo XIX, referenciamos a ocupao de povoados que se revestiram de grande importncia no quadro geral da expanso desenvolvimentista. Neste particular no podem ser esquecidas as reas hoje constitudas pelos municpios de Barra do Gar-as, Rosrio Oeste, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antnio de Leverger.

    Os primeiros sinais de povoamento na regio onde hoje se localiza o municpio de Barra do Garas, e consequentemente da margem esquerda do Rio Araguaia, foi o Arraial dos Aras, mais tarde denominado Santo Antnio do Amarante, por volta de 1752.

    Na rea do atual municpio de Nossa Senhora do Livramento, a mine-rao aurfera se constituiu na clula mater de sua ocupao. Adversamen-te ocupao de grande poro da Capitania de Mato Grosso, a das reas onde atualmente se localizam os municpios de Santo Antnio de Leverger e Baro de Melgao no se fez embasada na minerao, mas sim na fertilidade das terras, denotada pela exuberncia das matas que margea-vam toda a vasta orla ribeirinha, no baixo Cuiab. O incio do povoamento remonta aos primeiros anos do sculo XVIII, e seus primeiros habitantes constituiram-se no s de pessoas desgarradas das bandeiras que aporta-vam em Cuiab, mas tambm daquelas que buscavam fugir da penria que por longo tempo reinou no povoado.

    Em 1825, a populao da regio de Diamantino era de cerca de 6.077 pessoas, das quais 3.550 escravos. Cuiab era o principal centro comercial

    de borracha, e alm da Casa Almeida, trabalhavam neste ramo as empre-sas, Casa Orlando, fundada em 1873, Alexandre Addor, fundada em 1865 e com sede na Rua Conde DEu (hoje Avenida 15 de novembro), ainda as empresas Firmo & Ponce, Figueiredo Oliveira, Lucas Borges & Cia., Fer-nando Leite e Filhos, Joo Celestino Cardoso, Eduardo A. de Campos, Francisco Lucas de Barros, Arthur de Campos Borges, Dr. Joo Carlos Pereira Leite e outros. Foi a poca do esplendor da borracha, com Diaman-tino sendo o grande centro produtor e Cuiab convergindo a comercializa-o.

    A Fundao de Cuiab

    De acordo com A. de Taunay, o fundador de Cuiab, Pascoal Moreira Cabral nasceu em 1655. Filho de: Pascoal Moreira Cabral e D Mariana Leme. Casado com a paraibana Isabel de Siqueira Crtes.

    Ao Pascoal Moreira Cabral, todavia, reservou-se o direito, o privilgio de iniciar a nova era da regio, de que surgiu Mato Grosso. Fonte: Histria de Mato Grosso Virglio Corra Filho.

    Pascoal Moreira Cabral perdera o cargo de Guarda Mor. Inconformado efetuou petio ao Rei de Portugal em 15 de julho de 1722 e expressou o seu descontentamento com os seguintes dizeres: Seis anos nesses sertes, ocupado no real servio de Vossa Majestade, trazendo em minha companhia 56 homens brancos, fora escravos e servos, sustentando-os a minha custa. Perdera um filho e 15 homens brancos e alguns negros nas lutas contra o gentio e achava-se destitudo de cabedais e com famlia de mulher e duas filhas e um filho e rematava: peo a Vossa Majestade ponha os olhos neste leal vassalo como fora servido (Virglio Corra Filho)

    A primeira iniciativa de organizao poltica em Mato Grosso foi regis-trada: recomendava o governador (Rodrigo Csar) que se elegessem 12 deputados distribudos pelos bairros, com um escrivo e meirinho, quando ocorresse alguma dvida, deviam reunir-se, com o Guarda Mor, para cons-titurem um como Senado para interpretao cabal das rigorosas instrues baixadas pelo desabusado Capital General. (Barbosa de S)

    Jos Barbosa de S, considerado o maior cronista de Mato Grosso.

    Em 08 de abril de 1719, no mesmo dia da lavratura da Ata de Funda-o de Cuiab, o povo elegeu em voz alta o Capito Mor Pascoal Moreira Cabral.

    Os primeiros quintos de ouro, destinados a Coroa Portuguesa saram de Cuiab em 1723.

    O surgimento de Forquilha. E agremiaram-se na Forquilha pe-quena distncia da paliada donde foram rechaados, por ocasio da primeira malograda investida. Ergueram igreja, consagrada a Nossa Senho-ra da Penha de Frana, como prova da sua deliberao de fixar-se pelos arredores (Virglio Corra Filho) http://culturacuiaba.wordpress.com/

    Fundaes de Cuiab: o arraial, a vila

    O centro histrico da atual cidade de Cuiab tem quase trs sculos. Hoje difcil perceber essa configurao urbana secular. Mas as avenidas largas que percorremos, olhar em movimento pegando nesgas da paisa-gem, foram "caminhos", ruas, becos.

    Este desenho de cidade comeou por volta de 1722, em meio inva-so de terras indgenas milenares. Hoje, permanece o nome indgena: Cuiab. A presena de sociedades amerndias aqui, com grandes aldeias populosas, no existe mais em nossas memrias. Podemos cultivar lem-branas de longnquos ancestrais "bugres", ou assumir atitudes pblicas de respeito para com atuais lideranas amerndias, - mas nem vislumbramos na cidade em que vivemos as formas de espacializao anteriores que conhecemos.

    O prprio lugar onde teve incio o arraial do Bom Jesus era "uma gran-de aldeia". Era "coberto de mato", com "grandiosos arvoredos" e envolto pela vastido "campestre", que chamamos cerrado. Os "grandiosos arvore-dos" margeavam o sinuoso crrego depois chamado "Prainha" (o Ikuebo dos Bororo, crrego das estrelas). E se esgalhavam pelos afluentes. Ao longe, a norte e leste, os "morros" ou "serranias dos Chipone" - a chapada hoje "dos Guimares". A sudeste, o morro de Santo Antnio.

    A margem esquerda do crrego erguia-se em escarpas. A direita subia mais suave, em "colinas". Nesta foi edificado arraial, erguido em 1727

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    categoria de vila, com o nome de Vila Real do Bom Jesus do Cuiab. A formao do arraial e da vila destruiu a mata, assoreou os crregos.

    A configurao do espao do arraial e da vila comeou com a constru-o de igreja dedicada ao Bom Jesus, em fins de 1722, pelo paulista Jacin-to Barbosa Lopes. Este Jacinto construra a igreja-matriz da vila do Carmo (hoje cidade de Mariana), nas Gerais, com a frente voltada para o ribeiro do Carmo, entre dois afluentes dele. Aqui, ergueu igreja tambm voltada para um crrego, o Prainha, entre dois afluentes (um, na atual Voluntrios da Ptria, outro na atual Generoso Ponce).

    Em 1723 o governador da capitania de So Paulo assinou regimento para normatizar o espao do arraial: (...) se faa uma povoao grande na melhor parte que houver (...), aonde haja gua e lenha (...); e o melhor meio de se adiantar na dita povoao o nmero de Moradores estes fazerem suas casas; far fazer o (...) Regente as suas, como tambm os principais Paulistas, porque sua imitao se iro seguindo os mais(...). E como (...) nas ditas Minas h telha e barro capaz para ela, deve animar e persuadir aos mineiros e mais pessoas que fizerem as suas casas, as faam logo de telha, porque alm de serem mais graves, so tambm mais limpas e tm melhor durao(...).

    No mesmo ano o governador recebeu ordem do rei, mandando criar vi-la no Cuiab. A expresso "criar vila" significava, na poca, constituir go-vernana local, formada por "homens bons" ou "de bens", eleitos trienal-mente. A instituio dessa governana era a cmara ou senado da cmara, que concentrava os poderes legislativo, executivo e judicirio.

    Ainda nesse ano de 1723 foi criada a freguesia do Cuiab, com sede no arraial e a igreja do Bom Jesus foi alada categoria de igreja matriz.

    Mas foi s a 1 de janeiro de 1727 que o governador executou a ordem rgia de fundar vila no Cuiab: Ao primeiro dia do ms de janeiro de 1727, nesta Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiab, sendo mandado por Sua Majestade, que Deus guarde, a cri-la de novo, o Exm. Sr. Rodrigo Csar de Meneses, governador e capito general desta capitania, e que o acom-panhasse para o necessrio o Dr. Antonio lvares Lanhas Peixoto, ouvidor geral da comarca de Paranagu, sendo por ele feitas as justias, juizes ordinrios Rodrigo Bicudo Chacim, o tesoureiro coronel Joo de Queirs, e vereadores Marcos Soares de Faria, Francisco Xavier de Matos, Joo de Oliveira Garcia, e procurador do conselho Paulo de Anhaia Leme, servindo de escrivo da cmara Luiz Teixeira de Almeida, almotacs o brigadeiro Antonio de Almeida Lara, e o capito mor Antonio Jos de Melo, levando o estandarte da vila Matias Soares de Faria, foi mandado pelo dito senhor governador e capito general que com o dito Dr. ouvidor, todos juntos com a nobreza e povo, fossem praa levantar o pelourinho desta vila, a que em nome de el rei deu o nome de Vila Real do Bom Jesus, e declarou que sejam as armas de que usasse, um escudo dentro com o campo verde e um morro ou monte no meio, todo salpicado com folhetas e granetes de ouro, e por timbre em cima do escudo uma fnix; e nomeou para levantar o pelourinho ao capito mor regente Fernando Dias Falco, e todos os so-breditos com o dito Dr. ouvidor, nobreza e povo foram praa desta vila, aonde o dito Fernando Dias Falco levantou o pelourinho, do que para constar a todo o tempo fiz este.

    poca da fundao, o ambiente do arraial foi descrito nos seguintes termos: Corre toda a povoao do sul para o norte, com plancie que faz queda para um riacho que seca no vero: a leste fica um morro vizinho e a oeste uma chapada em que se tem feito parte das casas do arraial e se podem fazer muitas mais. (...) Junto deste arraial e a sudoeste dele est um morro, em que a devoo de alguns devotos colocou a milagrosa imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho: daqui se descobre todo o arraial, e faz uma alegre vista pelo aprazvel dos arvoredos, morros e casas que dele se descobrem. (...) no princpio da povoao e defronte da Igreja Matriz (...).

    As imagens, 'do sul para o norte', eram as de quem vinha do porto no rio Cuiab para o centro do arraial. Mas o olhar descritivo ala-se para o conjunto: "toda a povoao".

    O "riacho que seca no vero" era o prainha, hoje esgoto sob a Tenen-te-Coronel Duarte.

    O "morro vizinho" a leste, o que resta dele tem o nome recente de "Morro da Luz".

    A "chapada" de oeste era onde hoje est o centro histrico.

    O "morro" de sudoeste o atual "Morro do Seminrio", com igreja construda neste sculo. A igreja setecentista foi demolida. Notvel a "Igreja Matriz" como princpio da povoao.

    Fundada a vila, trs dias depois a primeira vereana da cmara come-ou a registrar suas formas de controle do espao urbano: (...) nenhuma pessoa (...) far casa sem pedir licena Cmara, que lhe dar mandando primeiro o Arruador, que deve haver de marcar lugar para as edificar em rua direita e continuada das que esto principiadas, em forma que todas vo direitas por corda, no consentindo os Oficiais da Cmara se faam daqui por diante casas separadas e desviadas para os matos como se acham algumas, porque alm de fazerem a vila disforme, ficam nelas os moradores mais expostos a insultos (...).

    Tinha incio assim a consolidao do ambiente urbano colonial que hoje o centro histrico desta cidade, patrimnio histrico nacional. CAR-LOS ROSA professor do Departamento de Histria da UFMT e Doutor em Histria Social, pela USP

    O Primeiro Imprio

    Em 25 de maro de 1824, entrou em vigor a Constituio do Imprio do Brasil. As Capitanias passaram denominao de Provncias, sendo os presidentes nomeados pelo Imperador. Mas o Governo Provisrio Constitu-cional regeu Mato Grosso at 1825. A 10 de setembro de 1825, Jos Sa-turnino da Costa Pereira assumiu o governo, em Cuiab, como primeiro governador da Provncia de Mato Grosso, aps a gesto do Governo Provi-srio Constitucional. No governo de Costa Pereira passou por Mato Grosso a clebre expedio russa, chefiada pelo Baro de Langsdorff, quando se registrou fatos e imagens da poca.

    Tambm Costa Pereira, por arranjos de negociao, paralisou o avan-o de 600 soldados chiquiteanos contra a regio do Rio Guapor, em fins de 1825. Costa Pereira criou o Arsenal da Marinha no porto de Cuiab e o Jardim Botnico da cidade, entregando-o direo do paulista Antnio Lus

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    Patrcio da Silva Manso. No governo do presidente Antnio Corra da Costa, ocorreu a criao do municpio de Pocon, por Decreto Regencial de 25 de outubro de 1831, o quarto de Mato Grosso e o primeiro no perodo Provincial - Villa do Pocon.

    A 28 de maio de 1834, o tambm tenente coronel Joo Poupino Cal-das, assume a presidncia da Provncia. Em seu governo eclodiu a Rusga, revolta nativista que transformou a pacata comunidade cuiabana em feras cata de portugueses, a quem chamavam bicudos. Em Cuiab a Sociedade dos Zelosos da Independncia organizou a baderna, visando a invaso das casas e comrcios de portugueses.

    Antnio Pedro de Alencastro assume o governo da Provncia a 29 de setembro de 1834 e promove processo contra os criminosos da sedio mato-grossense. Poupino, em troca da confiana do Presidente da Provn-cia, programa o enfraquecimento dos amotinados pela dissoluo da Guar-da Municipal e reorganizao da Guarda Nacional. A Assembleia Provincial, pela Lei n. 19 transfere a Capital da Provncia de Mato Grosso da cidade de Matto Grosso (Vila Bela) para a de Cuiab.

    A 14 de agosto de 1839 circulou pela primeira vez um jornal em Cuiab - Themis Mato-Grossense. A primeira tipografia foi adquirida por subscrio pblica organizada pelo Presidente da Provncia Jos Antnio Pimenta Bueno, que era ferrenho defensor dos direitos provinciais. A educao contou com seu irrestrito apoio, sob sua direo, foi promulgado o Regula-mento da Instruo Primria, atravs da Lei n. 08, de 05 de maro de 1837. Esse regulamento, disciplinador da matria, estabelecia a criao de escolas em todas as povoaes da Provncia e o preenchimento dos car-gos de professor mediante concurso. Multava os pais que no mandassem seus filhos s escolas, o que fez com que o ensino fosse obrigatrio. Pi-menta Bueno passou seu cargo ao cnego Jos da Silva Guimares, seu vice.

    O Segundo Imprio

    O primeiro presidente da Provncia de Mato Grosso, nomeado por Dom Pedro II, foi o cuiabano cnego Jos da Silva Magalhes, que assumiu a 28 de outubro de 1840. Em 1844, chega a Cuiab o mdico Dr. Sabino da Rocha Vieira para cumprir pena no Forte Prncipe da Beira. Fora o chefe da famosa Sabinada, pretendendo implantar uma Repblica no Brasil. Neste mesmo ano de 1844, o francs Francis Castelnau visitou Mato Grosso em viagem de estudos. Tornou-se clebre pelos legados naturalistas.

    O cel. Joo Jos da Costa Pimentel foi nomeado para a presidncia da Provncia a 11 de junho de 1849. Augusto Leverger, nomeado a 07 de outubro de 1850, assumiu o governo Provincial a 11 de fevereiro de 1851. Exerceu a presidncia cinco vezes. Alm de providncias notveis no tempo da Guerra do Paraguai, notabilizou-se pela pena de historiador de Mato Grosso.

    Importante Tratado abriu as portas do comrcio de Mato Grosso para o progresso: o de 06 de abril de 1856. Graas habilidade diplomtica do Conselheiro Paranhos, Brasil e Paraguai celebraram o Tratado da Amizade, Navegao e Comrcio.

    O primeiro vapor a sulcar as guas da Provncia de Mato Grosso foi o Water Witch, da marinha dos Estados Unidos, sob o comando do Comodo-

    ro Thomaz Jefferson Page, em 1853, incumbido pelo seu governo da explorao da navegao dos afluentes do Prata. Em 1859, ao tomar posse o presidente Antnio Pedro de Alencastro (o 2 Alencastro), chegou a Mato Grosso o Ajudante de Ordens, o capito Manoel Deodoro da Fonseca, o futuro proclamador da Repblica.

    No ano de 1862, o clebre pintor Bartolom Bossi, italiano, visitou a Provncia de Mato Grosso, deixando um livro de memrias. Imortalizou em tela acontecimentos da poca. Sobressai na Histria de Mato Grosso o episdio da Guerra do Paraguai. Solano Lopes aprisionou a 12 de novem-bro de 1864 o navio brasileiro Marqus de Olinda, que havia acabado de deixar o porto de Assuno, conduzindo o presidente eleito da Provncia de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos. Comeara ali a Guerra do Paraguai, de funestas lembranas para Mato Grosso. Os mato-grossenses foram quase dizimados pela varola. Um efeito cascata se produziu atingin-do povoaes distantes. Metade dos moradores de Cuiab pereceu. No entanto, o povo de Mato Grosso sente-se orgulhoso dos feitos da Guerra do Paraguai onde lutaram em minoria de gente e de material blico, mas tomando por aliado o conhecimento da natureza e sempre produzindo elementos surpresa. Ruas e praas imortalizaram nomes e datas dos feitos dessa guerra.

    A notcia do fim da Guerra do Paraguai chegou a Cuiab no dia 23 de maro de 1870, com informaes oficiais. O vapor Corumb chegou em-bandeirado ao porto de Cuiab, s cinco da tarde, dando salvas de tiros de canho. Movimento notvel ocorrido nesse perodo do Segundo Imprio foi o da abolio da escravatura. O smbolo do movimento aconteceu a 23 de maro de 1872: O presidente da Provncia, Dr. Francisco Jos Cardoso Jnior, libertou 62 escravos, ao comemorar o aniversrio da Constituio do Imprio. Em dezembro do mesmo ano, foi fundada a Sociedade Emanci-padora Mato-Grossense, sendo presidente o Baro de Aguape.

    A 12 de agosto de 1888, nasceu o Partido Republicano. Nomeiam-se lderes; Jos da Silva Rondon, Jos Barnab de Mesquita,

    Vital de Arajo, Henrique Jos Vieira Filho, Guilherme Ferreira Garcz, Frutuoso Paes de Campos, Manoel Figueiredo Ferreira Mendes. A notcia da Proclamao da Repblica tomou os cuiabanos de surpresa a 09 de dezembro de 1889, trazida pelo comandante do Paquetinho Coxip, pois vinte e um dias antes, a 18 de novembro felicitaram Dom Pedro II por ter sado ileso do atentado de 15 de junho. A 02 de setembro a Assembleia Provincial aprovara unnime a moo congratulatria pelo aniversrio do Imperador. Ao findar o Imprio, a Provncia de Mato Grosso abrigava 80.000 habitantes.

    A escravido em Mato Grosso Wilson Santos

    A escravido foi praticada desde os primrdios da humanidade por di-versos povos, nas mais distintas regies do mundo. Os primeiros escravos foram prisioneiros de guerra e endividados. Mais a frente destacou-se o domnio sobre os negros, e com a descoberta da Amrica, aproximadamen-te 14 milhes de africanos foram transportados para este continente, dos quais 3.700.000 trazidos para a colnia brasileira.

    Em Mato Grosso houve escravido de ndios e negros, predominante-mente, de africanos. Os indgenas foram usados minimamente nas minas cuiabanas (Forquilha, Lavras do Sutil . . .) e principalmente eram levados para So Paulo, onde eram vendidos como escravos. Os escravos negros que chegaram inicialmente nossa regio foram trazidos pelos bandeiran-tes paulistas em suas expedies de reconhecimento e procura de ndios, ouro e prata no incio do sculo XVIII.

    Com a gigantesca descoberta de ouro por aqui (estima-se em 150 to-neladas) Cuiab tornou-se na dcada de 1720, o maior ncleo populacional do Brasil (chegou a ter mais populao que Salvador, capital do Brasil poca) e atraiu gente de todos os cantos da colnia e at de Portugal. Para atender essa enorme demanda por mo de obra, optou-se pela vinda de escravos negros para Mato Grosso.

    Os escravos africanos que chegaram a Mato Grosso vinham principal-mente de Angola e Guin e entravam no Brasil atravs do Rio de Janeiro, Bahia e Par.

    Os negros eram vendidos em Mato Grosso pelas mones, que eram expedies fluviais comerciais, e a partir de 1755, a Cia. de Comrcio do

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    Gro-Par e Maranho monopolizou esse comrcio. Os negros trabalharam em quase todas as reas, como na minerao, nos engenhos, nas lavou-ras, no comrcio, nas residncias, na conduo de tropas, na pecuria, no transporte de gua e lixo etc.

    As marcas do tratamento dado aos negros eram a discriminao total e a violncia fsica, que culminava, muitas vezes, em morte dos escravos. Muitos negros reagiram de diferentes formas, desde o suicdio at o assas-sinato dos seus senhores, mas a forma mais comum era a criao dos Quilombos, que eram refgios distantes, seguros, onde se reencontravam com seus irmos de sofrimento para seguir uma nova vida.

    Em Mato Grosso existiram muitos Quilombos, em especial nas regies de Cuiab, Chapada, Cceres, Diamantino e Vila Bela. O mais importante foi o Quilombo do Piolho ou do Quariter, localizado no Guapor e criado pelo escravo Jos Piolho, por volta de 1760.

    Com a morte de Jos Piolho, aconteceu algo indito e impressionante: uma mulher assumiu o comando do Quilombo do Piolho - Quariter, a primeira na histria do Brasil. Teresa de Benguela, a nova Rainha do Qui-lombo, governou distribuindo tarefas entre homens e mulheres e foi auxili-ada por um Conselho, que se reunia frequentemente.

    Entre 1770/1771, o Quilombo foi localizado por foras policiais financi-adas pela Cmara municipal de Vila Bela e fazendeiros e foi completamen-te destrudo, sendo aprisionadas aproximadamente 110 pessoas, dentre elas, a Rainha Teresa de Benguela, que acabou morrendo. A causa da morte da Rainha uma incgnita para os pesquisadores, que sugerem de suicdio, passando por depresso e at assassinato.

    A Rainha Teresa e seu Quilombo foram homenageados pelo carnava-lesco Joozinho Trinta, na Marqus de Sapuca , Rio de Janeiro, em 1994, pela escola de samba Viradouro.

    Assim como no Brasil, os negros e os ndios deram enormes contribui-es para formao da gente mato-grossense.

    O trabalho escravo em Mato Grosso O trabalho escravo foi duplamente lucrativo na economercantilista bra-

    sileira: no nvel da circulao da mercadoria humana, permitiu a acumula-o de riqueza por parte da burguesia traficante e, no nvel da produo, ao ser vendido como mercadoria, o africano trazia lucros enormes para o comerciante. Ao trabalhar, o escravo sustentava a classe dominante colo-nial e, em parte, as classes dominantes metropolitanas interessadas no pacto colonial.

    No Brasil, o trabalho escravo esteve presente em vrias atividades, do

    sculo XVIII at o final do sculo XIX. Em Mato Grosso, no sculo XVIII, com a descoberta das minas de ou-

    ro, o trabalho escravo foi amplamente utilizado nas atividades de extrao. Posteriormente (fins do sculo XVIII e sculo XIX), o escravo africano passou a realizar outros tipos de tarefas junto s plantaes e beneficia-mento da cana-de-acar, nas atividades agrcolas em geral e at em atividades urbanas.

    Embora o ndio fosse usado constantemente como mo-de-obra, prin-

    cipalmente como descobridores das lavras, a partir da colonizao mais efetiva da regio a escravido negra se tornou abundante.

    Como j observamos, os escravos estavam presentes em outras ati-

    vidades como, por exemplo, nos engenhos. A maioria dos trabalhos desen-volvidos dentro da propriedade era realizada por escravos; os cativos trabalhavam tanto nos canaviais como nos engenhos de acar e tambm eram responsveis pela produo de gneros de abastecimento interno ou o que o engenho comercializava; contudo, outros engenhos tinham uma mo-de-obra qualificada, como pedreiros, carpinteiros, ferreiros etc.

    A expanso territorial e os tratados de limites

    Conforme sabemos, a atual configurao do territrio brasileiro bem diferente daquela que foi originalmente estipulada pelo Tratado de Tordesi-lhas, em 1494. A explicao para a ampliao de nossos territrios est atrelada a uma srie de acontecimentos de ordem poltica, econmica e

    social que, com passar do tempo, no mais poderiam ser suportadas pelo acordo assinado entre Portugal e Espanha no final do sculo XV.

    Um primeiro evento que permitiu a expanso foi a Unio Ibrica, que entre 1580 e 1640 colocou as possesses lusas e hispnicas sob controle de um mesmo governo. Nesse momento, a necessidade de se respeitar fronteiras acabou sendo praticamente invalidada. Contudo, no podemos pensar que o surgimento de novos focos de colonizao se deu somente aps esse novo contexto.

    Desde muito tempo, personagens do ambiente colonial extrapolaram a Linha do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes saram da regio paulis-ta em busca de ndios, drogas do serto e pedras preciosas para atender suas demandas econmicas. Ao mesmo tempo, cumprindo seu ideal religi-oso, padres integrantes da Ordem de Jesus vagaram pelo territrio forman-do redues onde disseminavam o cristianismo entre as populaes ind-genas.

    Por outro lado, a criao de gado tambm foi de fundamental importn-cia na conquista desses novos territrios. O interesse dos senhores de engenho e da metrpole em no ocupar as terras litorneas com a pecuria possibilitou que outras regies fossem alvo dessa crescente atividade econmica. Paralelamente, o prprio desenvolvimento da economia mine-radora tambm fundou reas de domnio portugus para fora das fronteiras originais.

    Para que esses fenmenos espontneos fossem reconhecidos, autori-dades portuguesas e espanholas se reuniram para criar novos acordos fronteirios. O primeiro foi firmado pelo Tratado de Utrecht, em 1713. Se-gundo este documento, os espanhis reconheciam o domnio portugus na colnia de Sacramento. Insatisfeitos com a medida, os colonos de Buenos Aires fundaram a cidade de Montevidu. Logo em seguida, os lusitanos criaram o Forte do Rio Grande, para garantir suas posses ao sul.

    O Tratado de Madri, de 1750, seria criado para oficialmente anular os ditames propostos pelo Tratado de Tordesilhas. Segundo esse documento, o reconhecimento das fronteiras passaria a adotar o princpio de utis possi-detis. Isso significava que quem ocupasse primeiro uma regio teria seu direito de posse. Dessa forma, Portugal garantiu o controle das regies da Amaznia e do Mato Grosso. Contudo, os lusitanos abriram mo da colnia de Sacramento pela regio dos Sete Povos das Misses.

    A medida incomodou os jesutas e ndios que habitavam a regio de Sete Povos. Entre 1753 e 1756, estes se voltaram contra a dominao portuguesa em uma srie de conflitos que marcaram as chamadas guerras guaranticas. Com isso, o Tratado de Madri foi anulado em 1761. Em 1777, o Tratado de Santo Idelfonso estabelecia que a Espanha ficasse com as colnias de Sacramento e os Sete Povos. Em contrapartida, Portugal conquistou a ilha de Santa Catarina e boa parte do Rio Grande do Sul.

    Somente em 1801, a assinatura do Tratado de Badajs deu fim aos conflitos e disputas envolvendo as naes ibricas. De acordo com seu texto, o novo acordo estabelecia que a Espanha abriria mo do controle sobre os Sete Povos das Misses. Alm disso, a regio de Sacramento seria definitivamente desocupada pelos lusitanos. Com isso, o projeto inicialmente proposto pelo Tratado de Madri foi retomado. Mundoeducao

    A crise da minerao

    Rainer Gonalves Sousa

    No sculo XVIII, o advento da minerao no Brasil possibilitou o de-senvolvimento de centros urbanos, a articulao do mercado interno e a prpria recuperao econmica portuguesa. Sendo um recurso no reno-vvel, a riqueza conseguida com a extrao do ouro comeou a se escas-sear no fim desse mesmo sculo. Para entender tal fenmeno, preciso buscar os vrios fatores que explicam a curta durao que a atividade mineradora teve em terras brasileiras.

    Primeiramente, devemos salientar que o ouro encontrado nas regies mineradoras era, geralmente, de aluvio, ou seja, depositado ao longo de sculos nas margens e leitos dos rios. O ouro de aluvio era obtido atravs de fragmentos que se desprendiam de rochas matrizes. Entre os sculos XVII e XVIII era inexistente qualquer recurso tecnolgico que pudesse buscar o ouro diretamente dessas rochas mais profundas. Com isso, a capacidade de produo das jazidas era bastante limitada.

  • APOSTILAS OPO A Sua Melhor Opo em Concursos Pblicos

    Histria e Geografia do MT A Opo Certa Para a Sua Realizao 12

    Como se no bastassem tais limitaes, alguns relatos da poca indi-cam que o prprio processo de explorao do ouro disponvel era desprovi-do de qualquer aprimoramento ou cuidado maior. Quando retiravam ouro da encosta das montanhas, vrios mineradores depositavam esse material em outras regies que ainda no haviam sido exploradas. Dessa forma, a falta de preparo tcnico tambm foi um elemento preponderante para o rpido esgotamento das minas.

    Alm desses fatores de ordem natural, tambm devemos atribuir a cri-se da atividade mineradora ao prprio conjunto de aes polticas estabele-cidas pelas autoridades portuguesas. Por conta de sua constante debilida-de econmica, as autoridades lusitanas entendiam que a diminuio do metal arrecadado era simples fruto do contrabando. Por isso, ampliavam os impostos, e no se preocupavam em aprimorar os mtodos de prospeco e extrao de metais preciosos.

    Mediante a falta de metais preciosos, vemos que o enrijecimento da fiscalizao e a cobrana de impostos foi responsvel por vrios incidentes entre os mineradores e as autoridades portuguesas. Em 1789, esse senti-mento de insatisfao e a criao da derrama, instigaram a organizao da Inconfidncia Mineira. Mais do que um levante anticolonialista, tal episdio marcou o desenvolvimento da crise mineradora no territrio colonial.

    Ao fim do sculo XVIII, o escasseamento das jazidas de ouro foi segui-do pela recuperao das atividades no setor agrcola. A valorizao de produtos como o algodo, acar e o tabaco marcaram o estabelecimento do chamado renascimento agrcola. Com o advento da revoluo industri-al, o tabagismo e a indstria txtil alargaram a busca por algodo e tabaco. Paralelamente, as lutas de independncia nas Antilhas permitiram a recu-perao de mercado do acar brasileiro.

    Guerra do Paraguai

    Maior conflito armado ocorrido na Amrica do Sul, a guerra do Para-guai (1864-1870) foi o desfecho inevitvel das lutas travadas durante quase dois sculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as repbli-cas hispano-amer