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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO (IGHD) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MESTRADO EM HISTÓRIA PROJETO DE PESQUISA Quilombo de Abolição: identidade e resistência CLÉIA BATISTA DA SILVA MELO Linha de pesquisa: Fronteiras, Identidades e Culturas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT

INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO (IGHD)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

MESTRADO EM HISTÓRIA

PROJETO DE PESQUISA

Quilombo de Abolição: identidade e resistência

CLÉIA BATISTA DA SILVA MELO

Linha de pesquisa:

Fronteiras, Identidades e Culturas

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CUIABÁ-MT

OUTUBRO/2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT

INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO (IGHD)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

MESTRADO EM HISTÓRIA

ANTEPROJETO DE PESQUISA

Quilombo de Abolição: identidade e resistência

CLÉIA BATISTA DA SILVA MELO

Requisito parcial para o processo

seletivo do Mestrado no Programa de

Pós- Graduação em História da

Universidade Federal de Mato

Grosso, na Linha de Pesquisa

Fronteiras, Identidades e Culturas.

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CUIABÁ-MT

OUTIBRO/2017

APRESENTAÇÃO

O presente Projeto de Pesquisa tem por finalidade identificar e compreender as

causas e motivos que levaram muitos dos remanescentes de quilombolas da Comunidade de

Abolição, localizada às margens da BR 364, município de Santo Antônio de Leverger/MT, a

mostrarem certa resistência em autoidentificarem remanescentes de quilombolas.

O interesse nessa pesquisa surgiu a partir da vivência com essa comunidade entre

os anos de 2009 e 2014, quando tomei posse como professora na Escola Estadual Maria de

Arruda Muller, localizada às margens da BR 364, comunidade de Abolição.

No ano de 2005, a comunidade Abolição foi reconhecida pela Fundação Cultural

Palmares como comunidade quilombola. Porém muitos remanescentes não se reconheciam

como tal. Isso foi perceptível no ano de 2011 , quando a escola passou a ser escola de

educação quilombola, reconhecida pela Superintendência de Diversidade da Seduc/MT.

Muitos alunos, pais e comunidade escolar não se identificavam como quilombolas,

demonstrando certa resistência e até desconhecimento sobre o assunto. Mas para ser

identificado como quilombola segundo a Instrução Normativa n° 49/2008, o único meio para

que uma comunidade seja reconhecida como quilombola é a autoidentificação dos

moradores.

No entanto essa autodefinição ou autoidentificação não ocorreu de forma simples,

pois muitos remanescentes não se identificavam com aquela cultura, mesmo fazendo parte das

famílias quilombolas que se autoidentificaram através da história de seus antepassados e da

manutenção dos costumes afro- brasileiros.

Conhecendo um pouco da cultura, história e vivência dos moradores quilombolas

de Abolição, algo causou-me estranheza: algumas famílias também pertencentes às famílias

autoidentificadas quilombolas, persistiam em resistir a se autoidentificarem como

remanescentes. A partir de então surgiram indagações como: Quais os motivos, questões ou

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causas levaram diversos moradores da Comunidade Quilombola de Abolição, a não se

identificarem como remanescentes? Por que tanta resistência? Será que essa resistência tem

influencia de fatores externos? Quais são esses fatores? Quais as consequências dessa não

aceitação? Quais as vantagens em ser quilombola no Brasil?

A escolha dessa temática teve origem a partir das observações e vivência na Escola

Estadual Maria de Arruda Muller, na comunidade quilombola de Abolição, com todo o

aprendizado obtido nesse espaço, de cultura, costumes, ritos e histórias.

Por ter formação em História, sempre tive fascínio pela história dos povos afro-

brasileiros, sua cultura e contribuições para o desenvolvimento do Brasil e formação da nossa

identidade, tão importante, como afirma Manoel Querino:

Foi o trabalho do negro que aqui sustentou por séculos e sem desfalecimento, a

nobreza e a prosperidade do Brasil; foi com o produto do seu trabalho que

tivemos as instituições científicas, letras, artes, comércio, indústria, etc..,

competindo-lhe portanto, um lugar de destaque, como fator da civilização

brasileira[...] Fôra o braço propulsor do desenvolvimento manifestado no estado

social do país, na cultura intelectual e nas grandes obras materiais[...].

( QUERINO,1980, p. 156)

Nos aprendizados diversos, como valores, na transmissão da cultura, no modo simples,

humilde, e na manutenção dos costumes aprendidos com seus antepassados, faz da

Comunidade Quilombola de Abolição, um ambiente de riquezas diversas, que precisam ser

respeitadas, preservadas e valorizadas.

Nessas vivências, questiono se ao longo dos anos algumas pessoas dessa comunidade,

não foram se afastando de suas origens e perdendo a cultura ainda preservada por famílias

quilombolas que se orgulham em preserva-las? Por que houve esse distanciamento? Será que

essas pessoas sofreram aculturação? Será que a não aceitação em se identificarem

remanescentes de quilombolas também não foi uma forma de resistência? Qual a influência

dos grandes fazendeiros da região nesse processo?

Nesse sentido buscaremos analisar através de estudos etnográficos quais conflitos ou

problemas fizeram alguns desses remanescentes a resistirem em se identificarem como parte

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dessa história, cultura e identidade quilombola. Já que segundo informações do INCRA, a

comunidade de Abolição já registrava a presença de negros escravizados desde 1871.

Dessa forma, vale salientar a importância do estudo da cultura dessa comunidade

tradicional, em seus saberes seculares, passado de geração em geração e a preservação dos

seus conhecimentos empíricos, na contribuição para a ciência e cultura como parte integrante

da história de Mato Grosso e do Brasil. Sendo de grande relevância para valorização cultural

local, resultando na manutenção dessa cultura e devendo ser estudada, compartilhada e

continuada por seus membros, pela escola e comunidade no geral. Importância cultural essa,

bem relatada na Dissertação de Mestrado de Augusta Eulália Ferreira, intitulada Educação

Escolar Quilombola: Uma perspectiva identitária a partir da Escola Estadual Maria de Arruda

Muller. E também do livro A População Quilombola: Santo Antônio do Leverger/MT,

trabalho realizado pelas pesquisadoras Maria de Lourdes Sá Barreto Pimentel (Antropóloga e

Socióloga/ UFRJ) e Maria Augusta Bittencourt ( Comunicação Social/UFRJ ) contratadas

pelas empresas Agrar, IE Madeira e Norte Brasil Linhas de Transmissão.

Sendo assim faz-se necessário aprofundar os estudos e pesquisas a cerca dessa

comunidade quilombola, visando compreender o processo de identificação, autoidentificação

e resistência que persistem até hoje. Já que alguns ainda não se identificaram como

remanescentes quilombolas, e para isso é necessário se identificar com a história e com as

relações territoriais, conforme I.N abaixo:

Considera-se remanescente das comunidades dos quilombos os grupos

etnicorraciais, segundo critérios de autodefinição, com trajetória histórica

própria, dotado de relações territoriais especificas, com presunção de

ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.

(I. N. n°49/2008, artigo 3).

Nesse sentido buscarei contribuir ainda mais para pesquisas voltadas para questões

étnico-raciais, história de Mato Grosso, movimentos sociais e manutenção da cultura popular,

bem como o incentivo ainda maior das escolas, das disciplinas de história e geografia e dos

professores a trabalharem em suas aulas as questões culturais locais, com ênfase nas questões

étnico-raciais.

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OBJETIVOS

Compreender a importância da Comunidade Quilombola de Abolição para

manutenção e valorização da identidade cultural desses remanescentes, assim como a

resistência de algumas famílias em não autoidentificarem como quilombolas.

Corroborando com o PPP da escola na valorização da história e identidade da

comunidade escolar, local, e do estado, dentro das propostas pedagógicas da educação

básica do estado de Mato Grosso.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Contextualizar o processo histórico da distribuição de sesmarias no Estado de

Mato Grosso durante o século XIX, com foco no município de Santo Antônio de

Leverger e a vinda de africanos para serem escravizados nas terras desse

município;

Identificar as famílias de negros escravizados que foram comprados pelos

fazendeiros locais durante o século XIX e a formação de quilombos;

Identificar as famílias remanescentes que permaneceram em Abolição até os dias

atuais;

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Analisar os motivos que fizeram com que algumas famílias resistissem em se

reconhecerem como remanescentes quilombolas.

Analisar o modo de vida dos remanescentes de quilombola e dos que ainda não se

identificaram, comparando suas semelhanças, diferenças e contribuições.

Contribuir para o processo de transformação educacional e da necessidade da

implementação, cumprimento das leis federais 9394/96 LDB (Lei) art. 26 lei

10639/2003 e 11645/2008 e da lei estadual 5573/1990, é que se faz necessário

desenvolver temáticas regionais mato-grossense, dentro das propostas da Educação

básica do Estado de Mato Grosso na qual esse projeto objetiva.

Colocar em prática juntamente com a unidade escolar e comunidade as

singularidades da cultura local com base nas políticas educacionais como as

Diretrizes Nacionais, Orientações Curriculares e o Plano Estadual de Educação nas

políticas educacionais referentes à Educação Escolar Quilombola e as questões das

Diversidades Étnico-raciais, realizando leituras, pesquisas e culminância de

projetos histórico e culturais na unidade escolar, valorizando os costumes, a

memória, a cultura popular e étnico-racial dentro das propostas da Lei

10.639/2003.

REFERÊNCIAIS TEÓRICOS

A lei 10.639/03 ressalta a importância dos estudos da História e Cultura Afro-

brasileira e Africana, assim como a relevância dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a

cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a

contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do

Brasil. Por isso, a Escola Estadual Quilombola Maria de Arruda Muller tem fundamental

importância nesse processo de valorização e manutenção do legado deixado pelos povos

africanos escravizados que viveram na região da Comunidade de Abolição durante o século

XIX. Povos esses que formaram quilombos na região da Serra de São Vicente onde está

localizada a Comunidade de Abolição. Sendo os quilombos uma das formas de busca por

liberdade e fuga dos maus tratos operados pelos opressores senhores de escravos, como relata

Jaime Pinsky, ao afirmar que:

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A fuga não era em si, a libertação do negro, uma vez que, em geral, ele não tinha

para onde ir. Sua cor de pele logo o denunciava [...], a falta de um trabalho o

levava muitas vezes a assaltar para sobreviver; sua captura era apenas uma

questão de tempo. O quilombo tornava-se uma alternativa viável para ele, uma

forma de conseguir não apenas uma intervenção passageira do brutal cotidiano,

mas uma liberdade real. ( PINSKY, 2006, p.86)

Ciente da importância desse tema que ao mesmo tempo em que é fascinante ,

também é muito complexo, e essa complexidade requer um olhar específico e minucioso

tornando necessário um estudo etnográfico, para uma análise mais abrangente, sobre

diversos aspectos e dimensões da problemática identitária de algumas famílias da

Comunidade Quilombola de Abolição. Sendo relevante entender o porquê da não aceitação

por parte de alguns, sabendo da importância da valorização e manutenção da memória de um

povo, para sua identidade cultural. Como afirma Jacy Alves de Seixas:

[...] Toda memória é fundamentalmente ‘criação do passado’: uma reconstrução

engajada do passado (muitas vezes subversiva, resgatando a periferia e os

marginalizados) e que desempenha um papel fundamental na maneira como os

grupos sociais mais heterogêneos apreendem o mundo presente e reconstroem

sua identidade, inserindo-se assim nas estratégias de reivindicação por um

complexo direito ao relacionamento.” ( SEIXAS, 2001, p.42)

Assim como muitas famílias, cerca de 9 já autoidentificadas remanescentes da

comunidade quilombola de Abolição, segundo estudos das Pesquisadoras Maria de Loudes

Sá Barreto Pimentel e Maria Augusta Bittencourt, ambas pertencentes a UFRJ, também

existem famílias cujo numero ainda não fora levantado, e esse é o objeto principal desse

anteprojeto de pesquisa, que não se reconhecem com essa identidade cultural, que é uma

construção a partir das relações com os seus pares. Como explica, Augusta Eulália Ferreira:

[...] as identidades são formadas nas relações dialógicas estabelecidas com o

outro. E é nessa dinâmica de relação multicultural, pela qual passa todo e

qualquer processo identitário, que se constrói, portanto, a identidade negra. Essa

identidade negra se revela principalmente através do corpo, que na sua essência

pode simbolizar diferentes identidades sociais, extrapolando a dimensão do

indivíduo e da pessoa. (FERREIRA, 2015, p. 87)

Suely Castilho confirma este conceito de identidade quilombola quando afirma que

identidades coletivas desses grupos se definem pelas experiências vividas e pelas versões

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compartilhadas de sua trajetória comum e da continuidade como grupo (CASTILHO, 2011,

p. 93).

Woodward, faz uma análise de um texto de Michael Ignatieff em que enfatiza

questões relevantes à identidade, afirmando que há também, o caráter histórico que faz com

que a identidade adquira o aspecto de processo, sendo influenciado, atualmente, pelas

múltiplas práticas discursivas ou representações existentes em um mesmo indivíduo.(p.14)

E completa sua análise dizendo que tal processo só pode ser vislumbrado,

considerando-se o indivíduo como fragmentado, pertencendo a identidades diferentes, que

“não são unificadas”, criando, com isso, “contradições no seu interior que têm que ser

negociadas” (p. 14)

Talvez sejam essas contradições, essas fragmentações e principalmente influenciam

externas e midiáticas que fizeram ou ainda fazem com que muitas famílias de remanescentes

quilombolas da Comunidade de Abolição não se aceitem como pertencentes a essa identidade,

e a essa cultura, tão rica e preservada ainda por alguns quilombolas que se autorreconheceram

como remanescentes.

Tendo em vista a necessidade de enfatizar a riqueza cultural e os diversos

conhecimentos específicos que esses povos quilombolas possuem e suas contribuições para

identidade do povo brasileiro, conforme afirma Manoel Querino:

Com justa razão disse um patriota:

“Quem quer que releia a história

Verá como se formou

A nação, que só tem glória

No africano que importou”. (QUERINO,2017, p.21) Esse orgulho negro relatado por Manoel Querino nos faz refletir a cerca dessa

valorização, que muitas vezes fica submersa ao preconceito que ainda permeia em nossa

sociedade, e que me faz pensar ser talvez um dos grandes motivos para muitos moradores

remanescentes daquela comunidade não se identificarem como tal. Preconceito esse que para

Kabengele Munanga, é um produto das culturas humanas que, em algumas sociedades,

transformou em arma ideológica para legitimar e justificar a dominação de uns sobre os

outros. (MUNANGA, 2005, p.18).

Cândida Soares da Costa também chama para uma reflexão mais profunda a cerca

da construção desse preconceito por parte dos grupos dominantes que utilizam de meios como

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a educação e a informação para afirmar uma supremacia branca em detrimento de toda uma

história de africanos e seus descendentes brasileiros.:

Entende-se que a educação brasileira tem ao longo do tempo seguido a

perspectiva de que o Brasil se faz por via de uma única história. Desse modo,

tem contribuído para que se entenda a sociedade como uniforme, dificultando

que se compreenda a diferença como construção social e também como fator de

produção e naturalização de desigualdades raciais. Desse modo, tem privilegiado

conteúdos que dizem respeito aos europeus, em detrimento de conhecimentos

acerca de indígenas, de africanos e de seus descendentes negros no Brasil.

(COSTA, 2013, p.21)

Torna-se de fundamental importância trazer esses indivíduos que foram e ainda são

excluídos do processo histórico, para o centro das discussões, para o protagonismo da

História, da construção de uma sociedade onde o negro e o pobre não apareçam apenas

através dos registros de nascimento, casamento ou morte. (HOBSBAWN, 1998).

FONTES E METODOLOGIA

Na busca pela compreensão desse processo de identidade cultural e resistência por

parte de alguns remanescentes da Comunidade Quilombola de Abolição, faz-se necessário

muitas leituras, estudos, pesquisas, entrevistas, coleta de documentos iconográficos, relatos e

principalmente a sensibilidade e perspicácia de um pesquisador cujo objetivo principal é

contribuir para o enriquecimento cultural e científico da nossa história, valorizando as

peculiaridades de cada grupo na busca da manutenção da identidade daqueles que por séculos

ficaram a margem da sociedade e da própria história.

Sabendo da complexidade dessas relações, é que se torna necessário a realização de

um trabalho minucioso de pesquisa no Arquivo Público de MT, Cartórios, INCRA e

INTERMAT, para levantar informações e documentações a cerca das doações de sesmarias

daquela região, assim como a compra de negros para escravização. E talvez até noticias da

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fuga desses escravos para matas na região da Serra de São Vicente. Também e tão relevante

quanto as fontes escritas, é de fundamental importância a pesquisa incansável in loco para

obtenção das fontes orais através dos relatos dos próprios remanescentes autoidentificados e

daqueles que ainda resistem em se aceitarem quilombolas. Nesse sentido dedico-me a essa

pesquisa com toda a curiosidade de compreender esse processo de aceitação e não aceitação

da identidade quilombola, com intuito de contribuir ainda mais com as produções científicas

voltadas para história do nosso estado, da identidade e cultura das comunidades quilombolas,

que ainda são pouco exploradas e quando são muitas vezes são por pesquisadores de fora,

como concluem João José Reis e Flávio dos Santos Gomes, ao afirmarem que para maioria

dos quilombos na América e no Brasil em particular, dependemos exclusivamente de relatos

escritos por pessoas de fora, amiúde pela pena de membros das forças opressoras.( p.11)

Desta maneira, pretendemos com este trabalho demonstrar e valorizar as

contribuições que esses sujeitos históricos deixaram e continuam deixando ao manter viva a

história dos povos afro-brasileiros, mesmo que ainda através de lutas e negações da identidade

quilombola.

CRONOGRAMA DE PESQUISA

Data Atividades

03/2018 Redefinição do tema e análise do projeto de pesquisa

04/2018à

05/2018

Leituras iniciais/ reescrita do projeto

03/2018 à

07/2018

Frequência nas disciplinas obrigatórias do Mestrado

07/2018 à

10/2018

Revisão teórica, reformulação e sistematização do projeto.

08/2018

à 12/2019

Levantamento de fontes( Arquivo Público, INTERMAT e Cartórios) e

referenciais bibliográficos. Participação, produção e apresentação de

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trabalhos em eventos científicos.

02/2019 à

06/2019

Pesquisa de campo: coleta de dados, visitas e entrevistas com os

colaboradores da pesquisa.

07/2019 Sistematização dos dados e análise à luz dos referenciais teóricos.

07/2019 Apresentação parcial da pesquisa

07/2019 à

08/2019

Estruturação da dissertação

09, 10 /2019 Exame de Qualificação

01,02/2020 Defesa de Mestrado

REFERÊNCIAS

CASTILHO, Suely Dulce de. Quilombo Contemporâneo: educação, família e culturas,

Cuiabá, EDUFMT, 2011.

COSTA, Cândida Soares da. Lei Nº 10.639/2003: Dez anos de implementação do currículo

de Educação das Relações Étinico-Raciais. Artigo, NEPRE/UFMT, Cuiabá, 2013

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EAGLETON, Terry. A idéia de cultura. Tradução: Sandra Castelo Branco: São Paulo,

UNESP, 2005

FERREIRA, Augusta Eulália. Educação Escolar Quilombola: Uma perspectiva identitária a

partir da Escola Estadual Maria de Arruda Muller. Dissertação de Mestrado, UFMT, 2015.

HOBSBAWN, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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Querino e seu projeto de identidade nacional.. In: Jaime Nascimento; Hugo Gama. (Org.).

Personalidades negras: trajetórias e estratégias políticas. 1ed.Salvador: Quarteto, 2012.

REIS, João José/ GOMES, Flávio dos Santos.Liberdade por um fio: história dos Quilombos

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ROSA, Carlos Alberto/ JESUS, Nauk Maria de. A Terra da Conquista:história de Mato

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www.palmares.gov.br/

www.planalto.gov.br/ccivil03/lei10639