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HISTÓRIA DE MATO GROSSO NO PERÍODO COLONIAL JOÃO ANTONIO PEREIRA Conhecer o passado, entender o presente e articular o futuro GUIRATINGA-MT, SETEMBRO/2009

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História, MAto Grosso, Exercícios resolvido

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Page 1: HISTÓRIA de MT PERÍODO COLONIAL

HISTÓRIA DE

MATO GROSSO NO PERÍODO COLONIAL

JOÃO ANTONIO PEREIRA

Conhecer o passado, entender o presente e articular o futuro

GUIRATINGA-MT, SETEMBRO/2009

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SUMÁRIO

SUMÁRIO_______________________________________________________________________2

INTRODUÇÃO___________________________________________________________________3

1. MT NO PERÍODO COLONIAL : 1500 a 1822_______________________________________4

EUROPEUS EM SOLO MATO-GROSSENSE_________________________________________5

3. A BANDEIRA DE PASCOAL MOREIRA CABRAL___________________________________6

4. A ETIMOLOGIA DO TERMO CUIABÁ____________________________________________8

5. A PRIMEIRA CAPITAL DE MATO GROSSO_______________________________________9

6. A ORIGEM DO NOME MATO GROSSO__________________________________________10

7. A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL________________________________________________11

8. A SOCIEDADE MINERADORA_________________________________________________12

9. OS IRMÃOS LEMES___________________________________________________________12

10. O ABASTECIMENTO DAS MINAS_____________________________________________14

11. A CRIAÇÃO DA CAPITANIA DE MT____________________________________________15

12. O POVOAMENTO SETECENTISTA_____________________________________________16

13. AMERÍNDIOS NO PERÍODO COLONIAL_______________________________________17

14. A TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL DE MT______________________________________20

15. O COMÉRCIO E O GADO EM MT______________________________________________20

16. A DEFESA DA TERRA________________________________________________________21

17. PROBLEMAS COM AS FRONTEIRAS__________________________________________21

18. TRATADOS LIMITES_________________________________________________________22

19. O FIM DO PERÍODO COLONIAL______________________________________________26

20. SÍNTESE___________________________________________________________________26

21. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO DE APRENDIZAGEM_______________________________30

22. GABARITO__________________________________________________________________34

BIBLIOGRAFIA________________________________________________________________34

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INTRODUÇÃO

Este trabalho é apenas um ensaio daquilo que pretendo concluir brevemente. O objetivo maior é colocar uma ferramenta atualizada sobre a História e Geografia de Mato Grosso nas mãos de nossos alunos, promovendo algumas reflexões acerca da ocupação e produção do espaço mato-grossense. É uma versão preliminar e carece de revisão, você pode ajudar enviando suas críticas e sugestões visando melhorá-la, no entanto, espero contribuir de alguma forma para melhor compreensão do momento, da forma e das forças que promoveram a ocupação e produção do espaço geográfico, desse estado com dimensões continentais bem como caracterizar as relações entre seus principais agentes.

Num futuro próximo este material terá também documentos de época e exercícios nos moldes dos vestibulares das mais distintas universidades brasileiras bem como do novo ENEM. Como outrora bradou o poeta: “Vem vamos embora que esperar não é saber quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Esta é a sua hora, esse é o seu tempo! Tome as rédeas do seu destino, pois “você é especial, quem te deu a vida, destruiu a forma, não tem outro igual”.

Brevemente quero ouvir o relato de sua história de sucesso, pois você é estrela, nasceu para brilhar e ninguém ofuscará seu brilho. Bons estudos! Até a vitória!

1. MT NO PERÍODO COLONIAL : 1500 a 1822

O período da história brasileira compreendida entre a chegada dos primeiros portugueses em 1500, e a independência, em 1822, quando o Brasil estava sob domínio socioeconômico e político de Portugal é tradicionalmente denominado pelos historiadores como período colonial; costuma-se dividí-lo nas seguintes categorias: Período pré-colonial (do descobrimento até 1530), Ciclo da cana de açúcar – Séc. XVI e XVII, Ciclo do ouro Séc. XVIII

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Efetivamente a colonização teve início com a chegada de Martim Afonso de Souza em 1532.Embora a historiografia tradicional encare sua expedição como a primeira expedição colonizadora, o Regimento a ele passado permite compreender que o principal objetivo de sua missão era colocar padrões de posse portugueses em toda a área da bacia do Rio da Prata, o que não alcançou em função de ter naufragado na região. Diz-se que sua nomeação como governador compreendia a missão de expulsar franceses, descobrir terras, explorar o rio da Prata e fundar núcleos de povoamento.

Graças as medidas tomadas por Martim Afonso, São Vicente se tornou Cellulla Mater da Nacionalidade (Primeira Cidade do Brasil), Berço da Democracia Americana (pois em 22 de agosto de 1532 foram realizadas as primeiras eleições populares das Três Américas, instalando a primeira Câmara dos Vereadores no continente).

A história de MT, no período "colonial" esta intimamente ligada ao ciclo das bandeiras. Houve quatro tipos de bandeiras: as de tipo apresador, para a captura de índios (chamado indistintamente o gentio) para vender como escravos; as de tipo prospector, voltadas para a busca de pedras ou metais preciosos e as de sertanismo de contrato, para combater índios e negros (quilombos) e as monções (expedições com finalidade de abastecer com suprimentos as regiões mineradoras). Através dos bandeirantes o país consolidou a sua propriedade e posse até os limites do rio Guaporé e Mamoré.

CAPITÃES GENERAIS DE MATO GROSSO

Capitania de SP e Minas de Ouro – Capitão General Início Término

Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos 1717 1721Capitania de São Paulo – Capitão General Início TérminoRodrigo César de Meneses 1721 1727Antônio da Silva Caldeira Pimentel 1727 1732Antônio Luís de Távora 1732 1732Gomes Freire de Andrade 1737 1739Luís de Mascarenhas, conde d'Alva 1739 1748

Em 1748 a coroa portuguesa resolve desmembrar Goiás e Mato Grosso da capitania de São Paulo e nomeia como primeiro Governador, D. Antonio Rolim de Moura Tavares, o Conde de Azambuja. Ele governou até 1765. Entre a nomeação e a posse (1748 – 1751) Gomes Freire de Andrade, o Conde de Bobadela, substituiu Rolim de Moura no governo. Observem na tabela abaixo os nomes e períodos que cada capitão administrou a capitania.

CAPITÃES GENERAIS – DA CAPITANIA AO IMPÉRIO

CAPITÃES GENERAIS Início Fim

Gomes Freire de Andrade 1748 1751

Antônio Rolim de Moura Tavares 1751 1765

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João Pedro da Câmara 1765 1769

Luís Pinto de Sousa Coutinho 1769 1772

Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 1772 1789

João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 1789 1796

1a. Junta Governativa 1796 1796

Caetano Pinto de Miranda Montenegro 1796 1803

2a. Junta Governativa 1803 1804

Manuel Carlos de Abreu e Meneses 1804 1805

3a. Junta Governativa 1805 1807

Gravenberg 1807 1819

Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho 1819 1821

2. EUROPEUS EM SOLO MATO-GROSSENSE

Entre 1673 e 1682, os bandeirantes paulistas Manoel de Campos Bicudo e Bartolomeu Bueno da Silva subiram o rio Cuiabá até a sua confluência com o rio Coxipó-Mirim, onde acamparam,denominando o local de São Gonçalo.No final de 1717, seguindo o mesmo caminho do seu pai, António Pires de Campos chegou ao mesmo local, rebatizando-o de São Gonçalo Velho. Nessa região, onde hoje vivem ribeirinhos e ceramistas, encontraram uma aldeia de índios Bororó. Muitos foram aprisionados em combate e levados para São Paulo como escravos. Fonte: Silva & Freitas (2000).

As primeiras informações sobre os primórdios mato-grossenses indicam que O primeiro europeu a desbravar a área que viria a constituir o estado do Mato Grosso foi o português Aleixo Garcia (há quem lhe atribua, sem provas decisivas, a nacionalidade espanhola), náufrago da esquadra de Juan Diaz de Solís. Em 1525, ele atravessou a Mesopotâmia formada pelos rios Paraná e Paraguai e, à frente de uma expedição que chegou a contar com dois mil homens, avançaram até a Bolívia. De volta, com grande quantidade de prata e cobre, Garcia foi morto por índios paiaguá Sebastião Caboto também penetrou na região em 1526 e subiu o Paraguai até alcançar o domínio dos guaranis, com os quais travou relações de amizade e de quem recebeu, como presente, peças de metais preciosos.

Em 1543 o espanhol Domingos Martinez de Irala foi incumbido pelo governador do Estuário do Prata, D. Alvar Nuñes Cabeza de Vaca (sede em Assunção), chegou até a região das lagoas que hoje divide os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e as denominou de “ Puerto de los Reys”. O próprio Cabeza de Vaca retornaria para Puerto de Los Reys e a transformou em sua base na busca de encontrar o grande rei branco e uma serra inteirinha de prata.

Em 1560 Nuflo Chaves sob o comando de Irala percorreu a cabeceira do Rio Paraguai, fundou Santa Cruz de La Sierra, percorreu terras dos atuais municípios deVila Bela da Santíssima

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Trindade e Cáceres, sendo morto pelo cacique Parrilha.

Em função de questões comerciais e a falta de estímulo por não terem encontrado nenhum grande veio mineral, a região do Rio Paraguai permaneceu a margem dos interesses dos governos coloniais com exceção da fundação de Jerez, na região de Miranda e das Missões jesuíticas desenvolvidas na margem esquerda do Rio Paraguai. A missão de Camapuã que surgiu em função da penetração de jesuítas pelo Rio Paraná.

Desde 1632, os bandeirantes conheciam, de passagem e de lutas, a região onde os jesuítas haviam localizado as suas reduções e que os espanhóis percorriam como terra sua. Antônio Pires de Campos chegou criança, em 1672, com a bandeira paterna, às depois famosas minas dos Martírios. Já adulto, retornou o caminho da serra misteriosa e navegou, de contracorrente, o rio Paraguai e o rio São Lourenço, embicando Cuiabá acima, até o atual porto de São Gonçalo Velho, onde travou uma batalha com os índios coxiponeses, que retiraram derrotado, foram aprisionados e levados à São Paulo como escravos.

3. A BANDEIRA DE PASCOAL MOREIRA CABRAL

A notícia de índios pouco ariscos e descuidados logo se espalhou entre os sertanistas. Em 1718, um bandeirante de Sorocaba, Pascoal Moreira Cabral Leme1, descendente de índios, realizou uma incursão ao Centro-Oeste, no caminho encontra-se com Antônio Pires de Campos que retornava à São Paulo depois de um bem sucedido confronto com os coxiponeses. Pascoal Moreira Cabral recebe um esboço de um mapa com a localização dos índios coxiponeses subiu o rio Coxipó até atingir a aldeia destruída dos coxiponeses, onde depois de uma resistência inicial dos nativos, solicitou reforço início à rancharia de uma base de operações, às margens do Coxipó e do Cuiabá.

Os bandeirantes recuaram, mas não desistiram de seus objetivos de tal forma que em 1718 na confluência do Rio Coxipó com o Rio Cuiabá os homens de Pascoal Moreira Cabral encontraram o maior veio aurífero da época, o local começou a atrair moradores das mais distintas partes do país e surgia assim primeiro arraial mato-grossense que recebeu o nome de São Gonçalo Velho, situado nas margens do rio Coxipó.

A bandeira de Cabral descobriu abundantes jazidas de ouro. A caça ao índio cedeu vez, então, às atividades mineradoras. Em oito de abril de 1719, foi lavrado o termo de fundação do

1 Filho do Coronel Pascoal Moreira Cabral e de Mariana Leme, nasceu em Sorocaba (SP), no ano de 1654. Seu pai dedicara-se aos trabalhos mineralógicos junto às Minas de Araçoiaba, mais tarde Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema, também em Sorocaba. Desde muito jovem, Pascoal Moreira Cabral dedicou-se ao sertanismo preador de índio. Em 1682, já era cabo da bandeira capitaneada por André Zunega, seu parente. Foi nessa expedição que Pascoal adentrou, pela primeira vez, em território mato-grossense, na região de Miranda, atual Mato Grosso do Sul. Durante três anos, essa bandeira permaneceu nos sertões caçando índios, erguendo trincheiras para defesa dos componentes e plantando roças para acudir à subsistência. Foi durante esse período que ganhou dois filhos, provavelmente, descendentes de uma índia, aos quais, mais tarde, reconheceu-os como filhos naturais. Oficialmente, casou-se em 1692, na cidade de Itu, com Isabel Siqueira Cortes, natural da Capitania da Paraíba. Com ela teve 4 filhos, sendo que o primogênito, que herdou-lhe o nome, acabou morrendo, em pleno sertão, no ano de 1722, quando foi vítima de um ataque de índios. Em 1699, capitaneou uma bandeira na região de Curitiba e, em 1716, seguiu novamente para a região de Miranda, onde passou dois anos em incursões de aprisionamento de índios. Dois anos depois, terminou subindo o rio Paraguai, atingindo o Cuiabá e, deste, seu afluente, o Coxipó, onde travou violento combate com os índios Coxiponeses. Eleito Guarda-mor das novas minas descobertas, Moreira Cabral ali viveu por muitos anos. Já velho, retirou-se para a primeira localidade onde ocorrera o primitivo achado aurífero, o Arraial Velho, às margens do rio Coxipó. Faleceu em 1730, aos 76 anos de idade, e seu corpo foi sepultado na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, em Cuiabá. Fonte: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002. ISBN 85-87226-14-2

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Arraial de Cuyabá, e aclamou-se Pascoal Moreira, guarda-mor regente com a função de "guardar todos os ribeiros de ouro, socavar, examinar, fazer composições com os mineiros e colocar bandeiras, tanto aurinas, como ao inimigo bárbaro".

Atendendo a que Pascoal Moreira Cabral tem feito entradas nos sertões à diligência de descobrir ouro, em que gastou alguns anos, com muita despesa de sua fazenda, morte de escravos e com grande risco da própria vida, pelo dilatado e agreste sertão, e multidão do gentio bárbaro, conseguindo com a sua diligência o descobrimento de ouro, que hoje se acha com grande estabelecimento no sertão do Cuiabá, e ter sido eleito pelo povo, que se achava naquelas minas, e ter sido confirmado pelo meu antecessor, o Conde D. Pedro de Almeida, hei por bem fazer-lhe mercê do cargo de Guarda-mor das ditas minas [...]. Rodrigo Moreira César de Menezes (LEITE -1982).

Neste período a Colônia brasileira passava por um momento de forte opressão portuguesa objetivando a maior extração possível de minerais em nome da Coroa Portuguesa. Convém destacar que os paulistas tinham sofrido uma derrota avassaladora na Guerra dos Emboabas em Minas Gerais e isto certamente estimulou Moreira Cabral a permanecer em MT mesmo depois de uma tentativa frustrada de aprisionar os índios coxiponeses.

Os rios eram os caminhos naturais de penetração do sertão. O principal trajeto seguia o seguinte itinerário: Rio Tietê, Rio grande, Rio Pardo, Rio Camapuã, Rio Coxim, Rio Taquari, Rio Paraguai, Rio São Lourenço e Finalmente Rio Cuiabá.

Nesta época Mato Grosso pertencia a Capitania de São Paulo e o surgimento de novas lavras começava a despertar o interesse dos representantes da Coroa Portuguesa no território mato-grossense, entre eles destacamos:

O arraial da Forquilha localizava-se na confluência de dois ribeirões, que, ao juntar-se, davam continuidade ao rio Coxipó. Daí a origem do nome. Supõe-se que o fundador do arraial tenha sido o bandeirante António de Almeida Lara, que, em 1720, estava explorando o rio Coxipó. Forquilha teve vida efêmera. Manteve-se como principal arraial das minas cuiabanas por apenas um ano e meio, até a descoberta das Lavras do Sutil, quando entrou em plena decadência. Em 1722 são descobertas as lavras do Sutil, dando início a um povoamento desordenado. Em 1723 surgia o Arraial do Senhor Bom Jesus de Cuiabá e em 1726 era elevado a categoria de Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá. SILVA & FREITAS (2000).

Em 1º de janeiro de 1727, o arraial foi elevado à categoria de Vila por ato do Capitão General de São Paulo, Dom Rodrigo César de Menezes. A presença do governante paulista nas Minas do Cuiabá ensejou uma verdadeira extorsão fiscal sobre os mineiros, numa obsessão institucional pela arrecadação do “quinto” do ouro. Esse fato somado à gradual diminuição da produção das lavras auríferas, fez com que os bandeirantes pioneiros fossem buscar o seu ouro cada vez mais longe das autoridades cuiabanas.

Em 1734, estando já quase despovoada a “Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá”, os irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, atrás dos índios Parecis, descobriram um veio aurífero, que recebeu o nome de “Minas do Mato Grosso”, situadas nas margens do rio Galera, no vale do Guaporé. Os Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, escritos em 1754 pelo escrivão da Câmara dessa vila, Francisco Caetano Borges, citando o nome Mato Grosso, assim nos explicam:

“Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais procurado, [...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento, arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do Nascente a buscar o rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra chamada hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte Oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele

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três quartos de uma oitava na era de 1734”.

Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos após descobertas as Minas do Mato Grosso, pela primeira vez o histórico dessas minas foi relatado num documento oficial, onde foi alocado o termo Mato Grosso, e identificado o local onde as mesmas se achavam.

Todavia, o histórico da Câmara de Vila Bela não menciona porque os irmãos Paes de Barros batizaram aquelas minas com o nome de Mato Grosso. José Gonçalves da Fonseca, em seu trabalho escrito por volta de 1780, Notícia da Situação de Mato Grosso e Cuiabá, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1866, que assim nos explica a denominação Mato Grosso:

[...] se determinaram atravessar a cordilheira das Gerais de oriente para poente; e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram a planície da parte oposta aos campos dos Parecis (que só tem algumas ilhas de arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento, que entrando a penetrá-lo, o foram apelidando Mato Grosso; e este é o nome que ainda hoje conserva todo aquele distrito. Caminharam sempre ao poente, e depois de vencerem sete léguas de espessura, toparam com o agregado de serras [...].

A notícia da descoberta de ouro não tardou em transpor os sertões, dando motivo a uma corrida sem precedentes para o oeste. A viagem até Cuiabá, distante mais de 500 léguas do litoral atlântico, exigia de quatro a seis meses, e era arriscada e difícil em conseqüência do desconforto, das febres e dos ataques indígenas.

Rodrigo César de Meneses, capitão-general da capitania de São Paulo, chegou a Cuiabá no fim de 1726 e ali permaneceu cerca de um ano e meio. A localidade recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Constituiu-se a câmara e nomeou-se um corpo de funcionários encarregados de dar cumprimento ao rigoroso regulamento fiscal da coroa. Em 1729 foi criado o lugar de ouvidor.

4. A ETIMOLOGIA DO TERMO CUIABÁ

Há várias versões para a origem do nome "Cuiabá". Uma delas diz que o nome tem origem na palavra Bororo ikuiapá, que significa "lugar da ikuia" (ikuia: flecha-arpão, flecha para pescar, feita de uma espécie de cana brava; pá: lugar). O nome designa uma localidade onde os bororos costumavam caçar e pescar com essa flecha, no córrego da Prainha, afluente da esquerda do rio Cuiabá. Outra explicação possível é a de que Cuiabá seria uma aglutinação de kyyaverá (que em guarani significa "rio da lontra brilhante") em cuyaverá, depois cuiavá e finalmente cuiabá.

Uma terceira hipótese diz que a origem da palavra está no fato de existirem árvores produtoras de cuia à beira do rio, e que "Cuiabá" seria "rio criador de vasilha" (cuia: vasilha e abá: criador). Martius traduz o vocábulo como "fabricante ou fazedor de cuias". Teodoro Sampaio interpreta, duvidando da origem tupi, como "homem da farinha", o farinheiro. De cuy: farinha e abá: homem.

SILVA, 1994 p. 20 aponta outra versão: Observe:

O nome Cuiabá, segundo carta relatório de 16 de setembro de 1741 do padre jesuíta Agostinho Castañares, ao adelantado paraguaio Don Rafael de la Moneda, adveio do nome ‘CUYAVERÁ”, toponímio guarani pelo qual era conhecido o rio Cuiabá. Por sua vez o termo Cuyaverá, é uma corruptela semântica da palavra também de origem guarani “KIIAVERÁ”, que significa Lontra brilhante, isso certamente, em virtude da grande quantidade de lontras e ariranhas que habitavam

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por todo o rio Cuiabá, com suas sedosas peles molhadas, brilhando ao reflexo dos raios do sol, daí, lontra brilhante ou KYYAVERÁ, assim batizado provavelmenete pelos índios Paiaguás que falavam a língua guarani.

Há ainda outras versões menos embasadas historicamente, que mais se aproximam de lenda do que de fatos. O certo é que até hoje não se sabe com certeza a origem do nome.

5. A PRIMEIRA CAPITAL DE MATO GROSSO

Conhecida como a cidade do ouro, das ruínas e das negras finas, Vila Bela da Santíssima Trindade, é fruto do sonho do Capitão General Dom Antônio Rolim de Moura, que em 19 de março de 1752, fundou a primeira capital de Mato Grosso, antes denominada Pouso Alegre.

Antes desse período, ainda estava em vigor o Tratado de Tordesilhas, e toda conquista empreendida pelos bandeirantes poderia passar a pertencer, legalmente, à Espanha. Assim, tornava-se urgente a fixação de um novo Tratado que o substituísse: o Tratado de Madri, firmado entre Portugal e Espanha, no ano de 1750, o qual veio demarcar novas fronteiras. Diante desse cenário, tratou Portugal de garantir o povoamento daquela região, especialmente na parte relativa à zona do rio Guaporé. Assim em 1748, foi criada uma nova capitania, a de Mato Grosso, desmembrada da capitania paulista.

Dom Antônio Rolim de Moura, de posse com a Carta Régia de D. João V, enviada de Lisboa, para fundar a sede administrativa da nova província de Mato Grosso, veio ao Brasil para desempenhar tal incumbência e Vila Bela, no extremo oeste do Estado, foi escolhida para ser a capital.

Levou-se em conta o seu ponto estratégico, seu relevo plano era apropriado para uma boa defesa militar, novas jazidas auríferas eram descobertas, o rio Guaporé, favorecia o acesso fluvial com diferentes países pelo Oceano Pacífico. Próxima do Paraguai e do Peru, Vila Bela, despertava cobiça tanto dos Espanhóis como dos Portugueses.

Essa negra cidade serviria para estabelecer divisas e garantir a retirado do ouro que ali era encontrado em abundância. Mas o grande problema era como abastecer a nova capital, já que os produtos vindos da Capitania de São Paulo ficariam muito caros, tendo em vista o percurso a ser percorrido. A solução foi a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que com sede em Belém, atingiria a região guaporeana navegando pelos rios componentes da Bacia Amazônica - Amazonas, Madeira e Guaporé. Por ali entravam, alimentos, roupas, instrumentos de trabalho e escravos africanos.

Viu-se que todo o Plano de Villa Bella de Mato Grosso, veio de Portugal, com suas linhas bem traçadas, onde fora planejado a construção da Igreja Matriz, dos jardins suspensos, do Palácio dos Capitães Generais, onde hoje se localiza a Prefeitura Municipal; a Provedoria da Fazenda, responsável pela parte financeira e fiscal; a Ouvidoria, a quem cabia tratar da Justiça; os seus fortes, fortalezas e prisões, que serviriam de pontos estratégicos de defesa do território; a Casa de Fundição, o quartel, a câmara, o cemitério, os oratórios e santos em madeira, datados do século XVIII, também de lá foram trazidos.

Como pano de fundo, lá está ela, a Serra Ricardo Franco, chapadões, montanhas, cortadas por diversas cachoeiras, algumas com até 218 metros, como a do Jatobá, considerada a maior do Mato Grosso. Por trilhas estreitas, chega-se à Cascata dos Namorados, uma cachoeira com cerca de 80 metros, onde o seu véu cria verdadeira caverna, cuja entrada se abre diante de um lago de águas

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claras. Mais adiante, podemos encontrar uma outra cachoeira, bem menor, a Cascatinha, entre altas copas de árvores.

Entre a Serra e a Vila, atravessa sinuosamente o Rio Guaporé, com suas águas límpidas, seus aguapés lentos e vegetação exuberante, correndo bondoso para o Norte. Nele convivem botos, matrinchãs, cacharas, pintados, pacus, tucunarés... Com o correr do tempo, observou-se que toda a beleza do Guaporé, o qual encantara Dom Antônio Rolim de Moura, era também motivo de desesperança. No seu período de cheia, grandes plantações eram destruídas, as doenças tropicais da Amazônia, como a malária e o maculo dizimava a população, e quem mais sofriam com tudo isso eram os negros escravos, trazidos para atender a cobiça dos europeus. Morriam sem qualquer assistência e os que resistiam, curta era sua longevidade.

Mas, Vila Bela da Santíssima Trindade, foi resistente, foi desbravada, edificada, cultivada. Suas grandes construções em pedra canga foram frutos da saga e tenacidade de um povo que não esmoreceu que lutou e luta até hoje para sobrevier e expressar o seu direito de ser negro.

6. A ORIGEM DO NOME MATO GROSSO

A denominação Mato Grosso é originária de uma grande extensão de sete léguas de mato alto, espesso, quase impenetrável, localizado nas margens do rio Galera, percorrido pela primeira vez em 1734 pelos irmãos Fernão e Arthur Paes de Barros. Acostumados a andar pelos cerrados do Chapadão dos Parecis, onde apenas havia algumas ilhas de arbustos agrestes, os irmãos aventureiros, impressionados com a altura e porte das árvores, o emaranhado da vegetação secundária que dificultava a penetração, com a exuberância da floresta e a corpulência dos arvoredos na planície oposta ao Chapadão dos Parecis, a denominaram de Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de São Francisco Xavier e toda a região adjacente, pontilhada de arraiais de mineradores, ficou conhecida na história como as Minas do Mato Grosso. Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Régia de 9 de maio de 1748, o governo português assim se manifestou:

Dom João, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] Faço saber a vós, Gomes Freire de Andrade, Governador e Capitão General do Rio de Janeiro, que por resoluto se criem de novo dois governos, um nas Minas de Goiás, outro nas de Cuiabá [...].

Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de consolidação e institucionalização da posse portuguesa na fronteira com o reino de Espanha, Lisboa resolveu denominá-las tão somente de Cuiabá. Mas no fim do texto da referida Carta Régia, assim se ex-prime o Rei de Portugal [...] por onde parte o mesmo governo de São Paulo com os de Pernambuco e Maranhão e os confins do Governo de Mato Grosso e Cuiabá [...].

Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o nome de Mato Grosso, somente referindo-se às minas de Cuiabá, no fim do texto da Carta Régia, é denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as minas, Mato Grosso e Cuiabá. Isso ressalva, na realidade, a intenção portuguesa de dar à Capitania o mesmo nome posto anos antes pelos irmãos Paes de Barros. Entende-se perfeitamente essa intenção.

Todavia, a consolidação do nome Mato Grosso veio rápido. A Rainha D. Mariana de Áustria, ao nomear Dom Antonio Rolim de Moura como Capitão General, na Carta Patente de 25 de setembro de 1748, assim se expressa:

[...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de Governador e Capitão

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General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de três anos [...].

A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega a Dom Rolim a suas famosas Instruções, que determinariam as orientações para a administração da Capitania, em especial os tratos com a fronteira do reino espanhol. Assim nos diz o documento:

[...] fui servido criar uma Capitania Geral com o nome de Mato Grosso [...] § 1o - [...] atendendo que no Mato Grosso se requer maior vigilância por causa da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso [...]; § 2o - Por se ter entendido que Mato Grosso é a chave e o propugnáculo do sertão do Brasil [...].

A partir da Carta Patente e das Instruções da Rainha, o governo colonial mais longínquo, mais ao oriente em terras portuguesas na América, passou a se chamar “Capitania de Mato Grosso”, tanto nos documentos oficiais como no trato diário por sua própria população. Logo se assimilou o nome institucional Mato Grosso em desfavor do nome Cuiabá. A vigilância e proteção da fronteira oeste era mais importante que as combalidas minas cuiabanas. A prioridade administrativa da Coroa era Mato Grosso e não Cuiabá.

Com a independência do Brasil em 1822, passou a ser denominado “Província de Mato Grosso”, e com a República em 1899, a denominação passou a” Estado de Mato Grosso”. As Minas do Mato Grosso, descobertas e batizadas ainda em 1734 pelos irmãos Paes de Barros, impressionados com a exuberância das 7 léguas de mato espesso, dois séculos depois, mantendo ainda a denominação original, se transformaram no continental Estado de Mato Grosso. O nome colonial setecentista, perdurou até nossos dias.

Conforme prescrevia o “Tratado de Tordesilhas”, grande parte do território de MT pertencia à Espanha. Jesuítas espanhóis ali presentes desde o início do século XVII fundaram missões entre os rios Paraná e Paraguai. Descobriu-se ouro na região, fato que atraiu muito mais desbravadores e acelerou o povoamento local. Até a definição das fronteiras a cargo de Portugal e Espanha através dos Tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), Portugal expandiu seus domínios construindo vilas e fortes visando proteger as terras de ataques espanhóis e originando a Capitania de Mato Grosso.

 No século XIX, com o declínio da mineração, o empobrecimento e o isolamento da província são inevitáveis. Alguma atividade agrícola e mercantil de subsistência sobrevive nos campos mais férteis do sul. O único meio de transporte até a capital é o navio, numa viagem pelo rio Paraguai. Com a República, esse isolamento vai sendo vencido com a ampliação da rede telegráfica pelo marechal Cândido Rondon, a navegação a vapor e a abertura de algumas estradas precárias. Esse avanço em infra-estrutura atrai seringueiros, criadores de gado, exploradores de madeira e de erva-mate para a região.

O movimento separatista de 1892 contra o governo do então Presidente Floriano Peixoto fracassou. Disputas ocorridas entre o norte e o sul culminaram em 1917 na intervenção federal no Estado.

7. A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

A colonização do Brasil foi estabelecida seguindo as diretrizes da política mercantilista, que privilegiava a produção do gênero agrícola de exportação e a atividade extrativista. A empresa açucareira foi montada a partir de 1530, visando atender os interesses da coroa portuguesa. No

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entanto, na segunda metade do século XVII, após a invasão holandesa na região nordeste, a produção açucareira entrou em decadência.

Diante da nova conjuntura, a coroa portuguesa passou a incentivar os bandeirantes com a intenção de buscar uma nova atividade econômica que mantivesse a sua balança comercial favorável. As primeiras bandeiras que avançaram para o interior tinham como principal objetivo o aprisionamento de índios; outras eram contratadas para aprisionar negros que fugiam da escravidão e também para destruir os quilombos, os quais representavam a resistência dos negros à sua condição de escravo.

Em 1693, adentrando o interior, os bandeirantes descobriram ouro em Minas Gerais, atraindo a atenção da coroa portuguesa. Antônio Pires de Campos, em 1718, atingiu o rio Coxipó e um ano depois a bandeira de Pascoal Moreira Cabral encontrou ouro nas barrancas do mesmo rio. Surgia assim os primeiros núcleos populacionais em Mato Grosso - o Arraial de São Gonçalo e o Arraial da Forquilha. Com a tarefa de promover a organização jurídica, política e administrativa do arraial da Forquilha, a população escolheu Pascoal Moreira Cabral para ser seu primeiro administrador.

No entanto, a coroa portuguesa não confirmou o nome de Pascoal Moreira Cabral e nomeou, para o cargo de Capitão-mor regente, Fernando Dias Falcão. Em 1722, Miguel Sutil encontrou ouro próximo ao Córrego da Prainha, aumentando assim mais ainda o interesse do governo pela região. A grande produção aurífera despertou em Rodrigo César de Menezes (capitão governador da capitania de São Paulo) o interesse em residir em Cuiabá, pois Mato Grosso pertencia à capitania de São Paulo. O objetivo do governador era o de fiscalizar de perto as minas de Cuiabá. Para tanto, Rodrigo César de Menezes teve que combater o poder local, representado pelos irmãos Lemes (João e Lourenço Lemes).

Ao mudar-se para Cuiabá, Rodrigo César de Menezes fez dessa cidade a sede da capitania de São Paulo, elevando-a, em 1727, à categoria de Vila Real de Bom Jesus de Cuiabá.

8. A SOCIEDADE MINERADORA

Era formada por homens livres e escravos. Os livres estavam subdivididos em Primeira Classe; Ricos (fazendeiros, grandes comerciantes, e altos funcionários do Estado Português), Classe média (formada por profissionais liberais, professores, pequenos comerciantes, militares de média patente e etc.), a Terceira Classe os Pobres, era formada por homens livres pobres, soldados, mineiros e pequenos agricultores. Os desclassificados, os escravos eram formados por negros africanos e índios que trabalhavam nos serviços urbanos e rurais.

Os negro fugidos se fugiam nos quilombos, como o quilombo do Piolho ou Quariterê no Guaporé no Século XVIII, composto por negros, índios Cabixis e pelos cafuzos caburés. Nos quilombos a forma de governo era a monarquia, em particular no Guaporé, o poder pertencia à rainha Teresa de Benguela.

A economia do quilombo era voltada para a subsistência, com o plantio do milho, mandioca e de animais domésticos. Além desses quilombos, podemos citar o do Rio Manso, o Mutuca, Pindaituba e o do Rio Seputuba, o Mata-cavalo e outros.

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9. OS IRMÃOS LEMES

As minas de Cuiabá distanciavam-se da sede da Capitania, o Povoado, como era chamada a Vila de São Paulo de Piratininga. O acesso à legislação régia, a fiscalização na extração aurífera, a entrada de mercadorias e, sobretudo, a saída do ouro ficavam, praticamente, sob o controle dos próprios descobridores. Foi pensando em estender a administração portuguesa até as minas cuiabanas que o governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo Moreira César de Menezes, resolveu, em meados do ano de 1726, deixar o conforto da capital paulista e ir morar, por algum tempo, em Cuiabá. Desde antes, pressentia o governante que o controle político dessa região se encontrava em mãos de antigos sertanistas, enriquecidos com os lucros auríferos. Era o caso dos irmãos Leme, João e Lourenço, que, como opulentos comerciantes e mineradores, exerciam um extremo controle na região das minas de Cuiabá. Necessário se fazia acabar com o mando desses poderosos locais ou aliciá-los como representantes da Coroa portuguesa.

A estratégia montada por Rodrigo César foi, num primeiro momento, chamar para si um dos Leme, oferecendo-lhe o cargo de Provedor dos Quintos, o que foi recusado. Respondeu que, se o governador não desse a seu irmão o cargo de Mestre de Campo Regente, eles se recusariam a trabalhar para a Coroa, continuando a exercer seu poder independente dela. O governador paulista, fazendo valer sua autoridade, confirmou apenas o primeiro cargo, para o quê obteve todo o apoio da Câmara Municipal da Vila de São Paulo.

Inconformados, os Leme romperam com o governador e prepararam viagem de volta para as minas cuiabanas. Nesse momento, no entanto, Rodrigo César, decidindo acabar definitivamente com o poder dos Leme, armou uma emboscada para prendê-los. Contando com forças arregimentadas em Santos, o governador paulista mandou que fossem destruídas todas as embarcações que compunham a frota dos Leme, as quais estavam estacionadas à beira do rio Tietê. As canoas, com todas as mercadorias, foram desbaratadas e os irmãos e seus exércitos de índios e negros africanos foram cercados, encurralados e presos.

Para evidenciar a força da Coroa portuguesa, um dos irmãos Leme, depois de preso, foi remetido para a Bahia, então capital da Colônia, e ali decapitado; teve seu corpo esquartejado, salgado e exposto pelas ruas de São Salvador. O outro foi morto durante o cerco. Não satisfeito em punir os dois irmãos, o castigo recaiu, também, sobre a família Leme, que teve seus bens confiscados e os descendentes diretos considerados banidos das benesses e consideração da Coroa, por muitos anos.

Uma vez desimpedido o caminho, Rodrigo de Menezes decide embarcar, em monção, para Cuiabá, em expedição composta de 308 embarcações e uma tripulação de 3.000 pessoas. A viagem demorou, aproximadamente, 5 meses, desembarcando no porto de Cuiabá, em novembro de 1726. Em 15 de janeiro de 1727, elevou Cuiabá à categoria de vila, intitulando-a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

Com esse ato, Rodrigo César de Menezes deu início ao controle administrativo-fiscal dessa longínqua zona mineira. Uma de suas primeiras providências foi aumentar os impostos, medida que afugentou muitos moradores de Cuiabá. Mediante o arrocho fiscal, resolveram, alguns, ir para Goiás; outros, saíram em busca de novas minas, sendo que alguns poucos retornaram à Vila de São Paulo. Em sua permanência em Cuiabá, Rodrigo César tratou de garantir a reprodução do modelo colonial, com as seguintes medidas: Determinou que os impostos sobre o ouro não mais fossem cobrados por capitação, isto é, por cabeça, instituindo, em seu lugar, o quinto; 13 João Antonio Pereira

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Ordenou que todo o ouro retirado das minas de Cuiabá deveria ser quintado junto à Casa de Fundição de São Paulo, ocasião em que, de pó, seria transformado em barra, da qual se extrairia 20%, a ser enviado para Lisboa; Criou os postos de Provedor da Fazenda Real e Provedor dos Quintos, para cuidar das finanças; Criou o cargo de Ouvidor Geral das minas de Cuiabá, para cuidar da Justiça.

Rodrigo César de Menezes estava cansado das arruaças que os irmãos Lemes estavam aprontando em Cuiabá, já havia lhes oferecido cargos, convocado para reuniões amigáveis, nem mesmo a nomeação de Fernando Falcão Dias em substituição a Pascoal Moreira Cabral, motivada pela influência dos mesmos lhes havia deixado satisfeitos, o Governador, determinou ordem de prisão a ambos, e os mesmos acabaram sendo mortos pela força policial.

Depois de estender o poder metropolitano às minas sertanejas, Rodrigo Moreira César de Menezes deixou a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá no primeiro semestre de 1728, rumo à Vila de São Paulo, utilizando-se do segundo roteiro monçoeiro. Estavam timbrados, em pleno sertão Oeste da Colônia, os símbolos administrativos e fiscais da Coroa portuguesa.

10. O ABASTECIMENTO DAS MINAS

A descoberta de ouro em Mato Grosso, nas margens do Rio Coxipó por Pascoal Moreira Cabral em 1719 marcou o início das monções, expedições fluviais regulares que faziam a comunicação entre São Paulo e Cuiabá. A palavra monção era usada pelos portugueses para denominar os ventos periódicos que ocorriam na costa da Ásia Meridional. Esses ventos, que durante seis meses sopram do continente para o Oceano Índico e nos seis meses seguintes em sentido contrário, determinavam a saída das expedições marítimas de Lisboa para o Oriente.

Na Colônia, as expedições que utilizavam as vias fluviais foram chamadas de monções, não por causa dos ventos, mas por se submeterem ao regime dos rios, partindo sempre na época das cheias (março e abril), quando os rios eram facilmente navegáveis, tornando a viagem menos difícil e arriscada.

As monções partiam das atuais cidades de Porto Feliz e Itu, às margens do rio Tietê, levando em média cinco meses até alcançar as minas de Cuiabá.

No início as monções transportavam paulistas para as minas cuiabanas, mas logo se tornaram expedições de abastecimento, isto é, bandeiras de comércio, levando mercadorias para as zonas mineradoras. A população das minas necessitava adquirir tudo que precisava, pois só estava interessada em achar ouro e enriquecer rapidamente.

A viagem era difícil devido às inúmeras corredeiras, febres, insetos venenosos, piranhas e, principalmente, ataques de índios. As canoas eram construídas à maneira indígena, cavadas em um só tronco e muito rasas. As maiores chegavam a transportar até 300 arrobas de carga, e com o tempo receberam toldos para evitar que as provisões se estragassem. A tripulação era formada pelo piloto, pelo proeiro e por cinco ou seis remadores que remavam em pé como os índios. A carga ficava no centro da canoa, os tripulantes na proa e os passageiros na pôpa. Navegavam entre 8 horas da manhã e 5 da tarde, quando embicavam as canoas nos barrancos dos rios, armando 14 João Antonio Pereira

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acampamentos. Alimentavam-se de feijão, farinha de mandioca ou de milho e recorriam à pesca, aos palmitos, frutos e caça.

Com o tempo, por medida de segurança, as viagens passaram a ser feitas em grandes comboios. O número de canoas e pessoas num comboio variava , mas sabe-se que um dos maiores, o do governador de São Paulo, D. Rodrigo César de Menezes, partiu de Porto Feliz com mais de 300 canoas e cerca de 3.000 pessoas.

Na região de Mato Grosso os índios Caiapós, Paiaguás e Guaicurus lutaram e resistiram para preservarem suas terras. No entanto, a violência do homem branco levou ao quase total desaparecimento dessas nações. Os custos dos transportes, somados a outras dificuldades, elevavam os preços das mercadorias, agravando ainda mais as condições de vida da população mineira.

Em meados de 1727, as minas cuiabanas já se encontravam em decadência de exploração, forçando a população a buscar outras regiões. É nesse contexto que irá se dar a descoberta das minas do Guaporé (Mato Grosso). O abastecimento do Guaporé foi feito através dos rios Guaporé, Madeira e Amazonas. No período de 1755 a 1778 o roteiro fluvial Madeira Guaporé ficou atrelado às determinações da Companhia de Comércio do Grão Pará e Maranhão, responsável por abastecer o mercado local de escravos, instrumentos de trabalho, comestíveis e manufaturas em geral.

11. A CRIAÇÃO DA CAPITANIA DE MT

Portugal precisava empenhar-se na defesa do território conquistado. A preocupação com a fronteira, a extensa linha que ia do Paraguai ao Acre, continha um aspecto estratégico: ocupar o máximo de território possível na margem esquerda do Rio Guaporé e na direita do Rio Paraguai. O rio e as estradas eram questões de importância fundamental, pois apenas se podia contar com animais e barcos.

Antes de chegar ao Brasil, o primeiro governador da Capitania de Mato Grosso recebeu das mãos da rainha Mariana da Áustria, esposa do adoentado rei português, D. João V, uma série de instruções, que lhe serviram de orientação no encaminhamento das questões regionais. Constituída de 26 artigos, podem ser destacados os seguintes pontos:

Fundar a capital da nova Capitania no vale do rio Guaporé.

Fundar uma aldeia jesuítica para os índios mansos.

Incentivar a criação de gado (vacum e cavalar).

Conceder privilégios e isenções de impostos àqueles que desejassem residir nas imediações da nova capital.

Construir, na nova capital, residência para os capitães-generais.

Agir com muita diplomacia nas questões de fronteira, evitando entrar em confronto aberto com os espanhóis.

Tomar cuidado com os ataques dos índios bravios, especialmente os Paiaguá e Guaicuru.

Fornecer informações mais precisas sobre a capitania recém-criada, seus limites e potencialidades.

Proibir a extração e comercialização de diamantes.

Criar uma Companhia de Ordenanças.

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Incentivar a pesca no rio Guaporé.

Informar sobre a viabilidade de comunicação fluvial com a Capitania do Grão-Pará.

Em 1748, as minas de Mato Grosso são desmembradas das minas de São Paulo, sendo nomeado como Capitão-General Antonio Rolim de Moura. A capital da nova capitania foi instalada oficialmente em 1752, nas margens do Guaporé, passando a ser denominada Vila Bela da Santíssima Trindade. A necessidade de povoamento da região do Guaporé se deu em virtude do imperativo de vigilância da fronteira. Por esse motivo, o governo português deu carta branca a Rolim de Moura para que escolhesse o local onde deveria ser instalada a sede da capitania. No entanto, foi recomendado ao capitão-general que o local escolhido não deveria ser insalubre, ainda que próximo ao rio Guaporé ou a um de seus afluentes navegáveis.

As instruções que se seguem são datadas de 19 de janeiro de 1749 e se referem às medidas que Antônio Rolim de Moura deveria tomar para administrar a nova capitania:

Fundação da capitania de Mato Grosso, criação da Companhia de Dragões, eleição de Juiz de Foral e/ou de Ouvidor, privilégios e isenções para os moradores da capital, prevenções e cuidados com vizinhos dos domínios espanhóis e jesuítas, informações à coroa para decidir se as comunicações fluviais com o Pará seriam permitidas, os ataques dos índios Paiaguás, os Caiapós, proteção aos Parecis, fundação de Aldeias para os mansos, proibição da extração de Diamantes. (Moura, C. E, 1982:21)

À Capitania de Mato Grosso faltava povo e recursos financeiros para manter a política de conquista. Favorecimentos especiais foram prometidos para os que morassem em Vila Bela, visando o aumento da povoação. Como o Rio Paraguai era vedado à navegação até o Oceano Atlântico, os governadores da Capitania agilizaram o domínio dos caminhos para o leste e a navegação para o norte, pelos rios Madeira, Arinos e Tapajós.

Ocorreram avanços de ambas as partes, Portugal e Espanha, para território de domínio oposto. Antes da criação da Capitania de Mato Grosso, os missionários jesuítas espanhóis ocuparam a margem direita do Rio Guaporé, como medida preventiva de defesa. Para desalojar os missionários, Rolim de Moura não duvidou em empregar recursos bélicos. 

No governo do Capitão General João Carlos Augusto D’Oeynhausen, Dom João VI instituiu o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a 16 de dezembro de 1815. A proximidade do governo supremo situado no Rio de Janeiro favoreceu a solução mais rápida das questões de governo. A independência de comércio trouxe novos alentos à vida mato-grossense.

Com a aproximação do fim da Capitania, Cuiabá assumiu aos poucos a liderança política. Vila Bela da Santíssima Trindade funcionou eficazmente como centro político da defesa da fronteira. Não podia ostentar o brilho comercial de Cuiabá e Diamantino. O último governador da Capitania, Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho já governou todo o tempo em Cuiabá.

Em Mato Grosso, precisamente nos anos de maturação da Independência, acirraram-se as lutas pelo poder supremo da Capitania. A nobreza, o clero e o povo depuseram o último governador Magessi. Em seu lugar se elegeu uma Junta Governativa. Enquanto uma Junta se elegia em Cuiabá, outra se elegeu em Mato Grosso, topônimo que passou a ser conhecido Vila Bela da Santíssima Trindade, a partir de 17 de setembro de 1818. Sob o regime de Juntas Governativas entrou Mato Grosso no período do Brasil Independente, tornando-se Província.

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12. O POVOAMENTO SETECENTISTA

Nessa trajetória de ocupação e povoamento da Capitania de Mato Grosso, iniciada no governo de Rolim de Moura, outros povoados surgiram, a exemplo de Santana da Chapada, que, inicialmente se constituiu em uma grande reserva indígena, devido à determinação do governo em congregar naquela porção da Capitania, tribos indígenas diversas, com o objetivo de minimizar os constantes choques com as comunidades. Esse Parque Indígena, cuja formação remonta a 1751, teve a sua administração entregue a um padre jesuíta, que através de um trabalho de aculturação, conseguiu colocá-los em contato com a população garimpeira das proximidades.

O período de 1772 a 1789 foi decisivo para a Capitania de Mato Grosso e consequentemente para o país, haja vista ter acontecido nessa época o alargamento da fronteira ocidental do estado, estendendo-se desde o Vale do Rio Guaporé até as margens do Rio Paraguai. Para efetivação da política de expansão e povoamento e, principalmente para assegurar a posse da porção ocidental da Capitania, por inúmeras vezes molestadas pelos espanhóis, foram criados nesse período, alguns fortes e povoados. Em 1755, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, determinou a fundação do Forte de Coimbra, sito à margem direita do Rio Paraguai. Um ano após foi a vez do Forte Príncipe da Beira, instalado à margem direita do Rio Guaporé, hoje Estado de Rondônia.

Em 1778, através de sua política expansionista, Luís de Albuquerque fundou o povoado de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque, atualmente município de Corumbá. Três anos após foi a vez da fundação de Vila Maria do Paraguai, hoje Cáceres. Ainda em 1781 foi fundada a povoação de São Pedro Del Rey, atualmente o município de Poconé. Além do que fundou os registros do Jauru (região oeste) e Ínsua (região leste) no Rio Araguaia. Em 1783, Melo e Cáceres determinou a fundação do povoado de Casalvasco e ainda ocupou a margem esquerda do Rio Guaporé, de domínio espanhol, fundando o povoado de Viseu.

13. AMERÍNDIOS NO PERÍODO COLONIAL

Nas instruções régias que Antônio Rolim de Moura recebeu da rainha de Portugal para governar o Mato Grosso, estão meticulosas orientações sobre o tratamento às nações indígenas; uma política clara de preservação e incorporação enquanto vassalos do rei, com os mesmos direitos e prerrogativas, como se brancos fossem. Ou seja, a política indigenista posta como componente do conjunto de ações destinadas ao objetivo final, a ocupação do território e a demarcação das fronteiras, que deveriam assegurar dos mais próximos conquistadores da América, os espanhóis. Para explicitar essa idéia, vemos que, em 19 de janeiro de 1749, Antônio Rolim de Moura, depois de nomeado primeiro governador e capitão-general da Capitania de Mato Grosso, viaja para cumprir sua missão no Mato Grosso. Além da responsabilidade de definir as fronteiras da Capitania do Mato Grosso, foi-lhe incumbido a instrução de proteger os índios mansos. Sobre esse assunto, assim orientou a Majestade portuguesa:

(...) Pelo que toca aos índios das nações mansas, que se acham dispersos servindo aos moradores a título de administração, escolhereis sítios nas mesmas terras donde foram tirados, nas quais se possam conservar aldeiados e os fareis recolher todos ás aldeias, tirando-os aos chamados administradores, e pedireis ao provincial da Companhia de Jesus do Brazil vos mande missionários para lhes administrarem a doutrina e sacramento. Igualmente lhes pedireis para se descubra, não consentindo que se dissipem os Índios ou se tirem das suas naturalidades, ou se lhes faça dano ou violência alguma, antes se apliquem todos os meios de suavidade e indústria para civilizá-los, doutrina em tudo como pede a caridade cristão2.

2 CORRESPONDÊNCIA enviada pela rainha e Portugal ao governador e capitão general da capitania de Mato Grosso Antônio Rolim de Moura. Lisboa, em 19 de janeiro de 1749. Pasta 23, n. 1391. IHGMT.

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Ao seguir as orientações ditadas pela rainha, Antônio Rolim de Moura fazia conhecida sua “desaprovação” à escravidão dos índios mansos. Desde o início de seu governo, em bandos publicados em locais públicos, “proibiu” a escravidão que continuava pelos sertanistas aos índios de modo geral. No documento que segue, vemos claramente a persistência dos preadores de índios em manter as práticas escravistas. Da parte do governo, vale ressaltar as ameaças de punição àqueles que insistiam em levar para fora da Capitania de Mato Grosso os escravos sem sua autorização. Entretanto, percebe-se com nitidez uma política de proteção traiçoeira e, acima de tudo, pérfida, uma vez que nas palavras do capitão há um discurso concessivo à saída de índios da então Capitania:

(...) Por quanto me consta que muitas pessoas desta capitania saiem em bandeiras a buscar gentio ao mato ainda daquelas nações que sua majestade não tem mandado dar guerra, e trazendo-os violentamente das suas aldeias, com morte e ferimentos de muitos, o que he tanto contra as ordens de S. M., que proibe expressamente e acontem a mesma lei divina: ordeno e mando que daqui em diante pessoa nenhuma vá a tal diligência sob pena de ser castigado. Conforme as ordens de sua Majestade e de lhe serem tirados não somente os índios que trouxer, mas também o que eles tiverem de baixo de sua administração: outro sim ordeno também que pessoa alguma possa levar para fora da capitania. Indios nenhum de qualidade que sejam mos apresentar primeiro a tirar licença minha por escrito, e o que ao contrário fizer serão tomados os ditos indios e prezo e castigado aos meus arbítrios e para que venha a notícia de todos se lançará este bando a som de caixas, e se fixara na parte pública desta vila (...).10

A política de proteção e conservação dos índios precede a publicação das leis que constituiriam, posteriormente, o Diretório11, tendo como objetivo fundamental a civilização dos índios, transformando-os em vassalos da Coroa portuguesa, com os mesmos “direitos e prerrogativas” que os brancos. Sobre esse tema, ilustra Perrone- Moisés:

A catequese e a civilização são os princípios centrais de todo esse projeto, reafirmados ao longo de toda a colonização: justificam o próprio aldeamento, a localização das aldeias, as regras da repartição da mão-de-obra aldeada, tanto a administração jesuítica quanto a secular, escravização e o uso da força em alguns casos3.

Em conjunto com outros poderes administrativos, a Igreja trabalhava seu espaço de conquista religiosa e formava dupla importante no contexto de formação de uma história ocidental marcada pela conquista do europeu sobre as múltiplas sociedades americanas.

Aldear índios, ensinar-lhes a língua portuguesa e mantê-los sob a orientação de missionários jesuítas asseguraria o domínio lusitano destas partes da América. Subtrair as distâncias e estabelecer procedimentos que identificassem o poder de Portugal em terras da América eram os objetivos a serem alcançados. As instruções da Coroa determinavam a fundação de aldeias para os índios. Em se tratando da história da Capitania de Mato Grosso, lugares, aldeias e vilas tiveram acentuada presença da população nativa4.

Perrone-Moisés afirma que aos “índios aldeados e aliados é garantida a liberdade ao longo em toda a colonização” e significava a “realização do projeto colonial”. No entanto, a liberdade não era respeitada. A legislação prescrevia que os índios deveriam, quando requisitados, trabalhar mediante o pagamento de salários e deveriam ser bem tratados; porque deles dependia, também, a defesa do território.

A situação era insustentável para os nativos, do litoral brasilerio partiam os bandeirantes paulistas, do interior do continente partiam os espanhóis, todos com o mesmo objetivos, subjugar os nativos e leva-los cativos às áreas agrícolas e descobrir metais preciosos para encher os cofres das coroas européias, contra isso

3 PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e índios escravos : os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo : Companhia das Letras : Secretaria Municipal de Cultura : FAPESP, 1992, p.122.3SILVA, Jovam Vilela da. Op., cit., p. 27.4

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se insurgiram diversas nações ameríndias, mas duas tribos, destacaram-se como guerreiras e por mais de três séculos lutaram bravamente para defender o solo que lhes pertenciam. Eram os Paiaguás nas suas canoas e os Guaicurus nos seus cavalos.

Não se sabe ao certo de onde vieram. Parece que ocupavam o território do Chaco, expandindo-se depois pela margem oriental dos rios Paraguai e Miranda, onde viviam da caça, da pesca e do saque aos semelhantes. Índios indomáveis e valentes dominavam as outras tribos com as quais mantiveram posição de superioridade, escravizando-as, tornando-as prisioneiras.

Eram índios de língua “guaicuru” e reuniam-se na mesma família lingüística dos Mbayá , subdivididas em vários troncos, entre os quais os Mbayá Paiaguá e Mbayá Guaicuru.

Os Paiaguás, também conhecidos por índios canoeiros, viviam errantes em cima de canoas velozes, conduzindo filhos e mulheres pelos rios, remando com espantosa habilidade, pilhando as tribos vizinhas quando necessário, conhecendo todos os caminhos das águas, desde a confluência do Paraguai-Paraná, ate para além das grandes lagoas.

Unidos aos Guaicurus, os índios cavaleiros, com os quais cruzavam indiscriminadamente, formaram a grande resistência contra as expedições espanholas e luso-brasileiras que os atacavam sem trégua e sem piedade.

Os Guaicurus, com tamanha habilidade guerreira, tornaram-se força política, cujo apoio Portugal e Espanha disputavam para melhor dominar toda a Bacia do Paraguai. Em 1791, no dia 1º de

agosto, em Vila Bela, foi assinado um tratado de paz entre essa poderosa nação indígena e a Coroa portuguesa, a amizade se fez por longos anos até o extermínio desses índios. Defenderam o forte de Coimbra na Guerra do Paraguai ao lado dos brasileiros e, aos poucos, foram perdendo o antigo ardor combativo, enfraqueceram-se e caíram em decadência, até o total desaparecimento. Hoje existem apenas os seus descendentes: os Kadiwéu, internacionalmente famosos pelas suas cerâmicas e pela sua expressiva mitologia.

Observem outros povos que habitavam a zona de inflência portuguesa e espanhola em território mato-grossense:

1. Os Bororo

Na região do Paraguai superior, do rio Cabaçal até as grandes lagoas, também espalhando-se ao longo dos rios Cuiabá e São Lourenço viviam os Bororo. Numerosa tribo, que se dividia em dois grupos com características étnicas e lingüísticas semelhantes: os Bororo Ocidentais e os Orientais.

Os Bororo Orientais, desde 1895, vêm sendo objeto de estudos dos padres salesianos, que mantiveram a direção da colônia Teresa Cristina. Memórias bem fundamentadas vieram à lume através das notáveis publicações: “Os Bororos Orientais”, dos padres Antonio Colbachini e César Albisseti e “Enciclopédia Bororo”, dos padres César Albisseti e Jayme Venturelli. O Museu Regional Dom Bosco, em Campo Grande, guarda um rico acervo da cultura Bororo.

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2. Os Guatós

Habitavam as cercanias das Lagoas Uberaba e Gaíva. Eram também conhecidos como índios canoeiros. Valentes caçadores de onça. Utilizavam as zagaias para as caçadas dos felinos, atacando-os nos esconderijos. Cada exemplar abatido dava direito à posse de uma companheira. Havia chefes que chegavam a possuir dezenas de mulheres.

Usavam arcos de dimensões amplas e flechas com pontas de osso. Construíam canoas com troncos de árvores escavadas a fogo e aparadas com instrumentos rudimentares. Utilizavam a zinga nos lugares mais rasos. Deles o homem do Pantanal herdou vários costumes até hoje presentes. Eram agricultores, pacíficos, nada hostis aos colonizadores, por esta razão entraram em decadência logo no início do século XIX. Atualmente existe a aldeia dos Guató nas proximidades da Ilha da Insua, em Mato Grosso do Sul fronteira com a Bolívia.

A arte Guató é bastante rica, representa-se nas cestarias feitas de salsaparrilha (cestas, leques, etc.) aguapé (tapetes, bolsas e outros artefatos), e de palha de acuri e carandá.

3. Os Quinquinau

Fixaram-se às margens do rio Paraguai, desde os maciços calcários até as montanhas do Urucum, nas circunvizinhanças de Albuquerque (MS). Viveram em contato amistoso com os Xamacoco e Guaná. Não foram hostis aos colonizadores, prevalecendo neles a índole pacífica.

4. Os Terenas

Ao longo do rio Aquidauana e Miranda, chegando às alturas da Serra de Maracaju, estavam os Terena. Tribo pacífica, deixavam que os espanhóis e portugueses viajassem à vontade em seus domínios. Em 1580 fundaram a cidade de Santiago de Xerez.

Atualmente os seus remanescentes estão agrupados nas aldeias de Cachoeirinha e Bananal, nos municípios de Miranda e Aquidauana. Podem ser vistos frequentemente nas rodoviárias vendendo suas famosas cerâmicas.

5. Os Xamacocos

Eram índios descendentes dos Samucos, habitantes da parte mais setentrional do Chaco.Viviam também pelas cercanias de Albuquerque, município de Corumbá, e se uniram aos Guaná e Quiniquanau com os quais mantiveram uma relação íntima, a ponto de seus componentes serem com eles confundidos.Os cientistas do século XIX, que visitaram o Brasil, percorrendo-lhe várias regiões, inclusive o Pantanal, deixaram-nos informações valiosas sobre os hábitos e costumes dos índios da região.

6. Os Guanás

Na bacia do rio Paraguai e pelas imediações de Albuquerque (MS), localizavam-se os Guaná. Agricultores e pacíficos. Ao lado das outras tribos do município de Corumbá foram aculturados e aldeados nas Missões de Nossa Senhora da Misericórdia e do Bom Conselho. Pertenciam à família Aruaque, que se fixaram no Brasil Central.

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14. A TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL DE MT

Na primeira metade de século XIX MT, vivia uma realidade diversa se comparada a do início da sua colonização, pois a mineração estava em decadência e a economia baseava-se principalmente em atividades agropecuárias e no comércio. Com relação aos seus núcleos populacionais, os mais desenvolvidos eram Vila Bela e a cidade de Cuiabá.

Nesse período a elite cuiabana passa a almejar a transferência da capital para Cuiabá, alegando às autoridades governamentais que Vila Bela deveria deixar de ser a capital porque era um local insalubre, propiciando com isso o aumento da mortalidade, provocado principalmente pela febre amarela.

Para a elite cuiabana, engajar-se na luta pela transferência da Capital tinha um sentido mais amplo, uma vez que era a possibilidade de inserir Mato Grosso no comércio internacional, abastecendo os países europeus que passavam pela Revolução Industrial e tinham necessidade de matérias-primas.

A elite cuiabana, apoiada por outros segmentos sociais, destituiu o capitão-general Francisco Tavares Magessi de Carvalho e proclamou, após a deposição do governador, uma junta governativa de Cuiabá em 20 de agosto de 1821.

Vila Bela tentou resistir, formando também uma outra junta governativa, chegando inclusive a pedir apoio ao governo de Lisboa. Apesar do confronto entre Vila Bela e Cuiabá, em 1822 D. Pedro I acabou aprovando a junta governativa de Cuiabá.

15. O COMÉRCIO E O GADO EM MT

Os primeiros bovinos que foram introduzidos em Mato Grosso fizeram esse roteiro. Eram quatro ou seis novilhas que vieram de canoa na monção de 1727. As canoas eram, em geral, inteiriças, feitas com um só tronco de árvore, medindo doze a treze metros de comprimento, por um metro e meio de diâmetro. As maiores chegavam a transportar até quatrocentas arrobas de carga (seis toneladas), além de 25 a 30 pessoas, entre as quais o piloto, o proeiro (que viajava na proa, à frente do barco) e seis remeiros.

Com o crescimento do comércio entre São Paulo e as povoações de Mato Grosso, surgiu a necessidade de racionalizar as expedições. As viagens passaram então a ser feitas em grandes comboios, apenas uma vez por ano. Essas frotas de comércio chegaram a abranger até quatrocentas canoas, aonde ia tudo o que necessitavam os habitantes de Cuiabá, Vila Bela e demais povoações que iam surgindo em decorrência do trabalho de mineração: desde o sal, destinado à cozinha dos ricos e ao batizado dos pobres, até a seda para os dias de festa.

Aos práticos, pilotos e proeiros das monções deve-se a abertura das comunicações regulares entre Mato Grosso e Pará. O velho caminho fluvial prolongava-se, assim, penetrando pelos rios amazônicos. No início do século XIX, as monções começaram a se tomar mais raras. Sabe-se que as últimas ocorreram por volta de 1838.

16. A DEFESA DA TERRA

As extorsões do fisco, a hostilidade dos índios e as doenças levaram os mineiros à busca de paragens mais compensadoras, Cuiabá e Paraguai acima, rumo à serra dos Parecis. 21 João Antonio Pereira

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Disseminados os povoadores pelos arraiais, a grande linha normativa da política do reino era manter e ampliar as fronteiras com terras de Espanha. Na década de 1740, Manuel Félix de Lima e, a seguir, João de Souza Azevedo, desceram o Guaporé e o Sanaré, e estabeleceram, pelo Mamoré e Madeira, a ligação com a bacia amazônica, indo sair em Belém. Azevedo conseguiu fazer a viagem de volta, pelo Tapajós, em condições penosíssimas, durante nove meses.

As lavras de ouro intensificam o povoamento do Mato grosso e impuseram a estrutura de um poder local para melhorar a fiscalização dos tributos e a vigilância dos limites com as terras espanholas. Em 9 de maio de 1748, um alvará de D. João V criou a capitania de Cuiabá, com privilégios e insenções para aqueles que lá quisessem fixar-se, com o objetivo de fortalecer a colônia do Mato Grosso e, assim, conter os vizinhos, além de servir de barreira a todo o interior do Brasil.

17. PROBLEMAS COM AS FRONTEIRAS

A formação do atual território do Brasil remonta ao século XIV, ao início da chamada Era dos Descobrimentos quando se impôs a partilha das terras descobertas e a descobrir entre as monarquias ibéricas, pioneiras nas grandes navegações. Sucedem-se, a partir de então, uma série de iniciativas e questões, que culminam no ínício do século XX, com a definição das fronteiras terrestres, e prosseguem em nossos dias, no tocante à fixação das fronteiras marítimas, na questão denominada pela Marinha do Brasil como "Amazônia Azul".

O Brasil limita-se ao norte com a Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana e a Venezuela; a noroeste, com a Colômbia; a oeste, com o Peru e a Bolívia; a sudoeste, com o Paraguai e a Argentina; ao sul, com o Uruguai e a leste com o Oceano Atlântico.

Os pontos extremos do território brasileiro são:

Ao norte, a nascente do Rio Ailã, no Monte Caburaí, Estado de Roraima (5º 16' de latitude norte), na fronteira com a Guiana; Ao sul, o Arroio Chuí no Rio Grande do Sul (33º 45' de latitude sul), fronteira com o Uruguai; O extremo leste da parte continental do Brasil é a Ponta do Seixas, em João Pessoa, na Paraíba (34º 47' de longitude oeste); porém, as ilhas oceânicas de Fernando de Noronha, Atol das Rocas, arquipélago de São Pedro e São Paulo, Trindade e Martim Vaz ficam ainda mais a leste, sendo o extremo leste absoluto do território brasileiro uma ponta sem nome na Ilha do Sul do arquipélago de Martim Vaz, a cerca de 28° 50' de longitude oeste; A oeste, a serra da Contamana ou do Divisor, no Acre (73º 59' de longitude oeste), na fronteira com o Peru.

18. TRATADOS LIMITES

Bula "Inter Coetera" do Papa Alexandre VI -1493. Concedeu à Espanha as terras descobertas ou que se descobrissem a partir de um meridiano distante 100 (Cem) léguas a Ocidente de qualquer das ilhas de Açores e Cabo Verde.

Tratado de Tordesilhas - 1494. Anulando a Bula Alexandrina, estabeleceu a divisão do globo terrestre em dois hemisférios por um meridiano localizado 370 (Trezentos e Setenta) léguas a Oeste das ilhas de Cabo Verde. (A localização correta das Linhas de Tordesilhas revelou-se

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impraticavel, na época, pela impossibilidade da determinação de longitudes, o que só foi possível cerca de dois séculos após).

Convenção de Saragoça - 1529. Escritura da venda feita pelo Rei da Espanha ao de Portugal da região onde se encontravam as ilhas Molucas. (Estabelecido também na base de um meridiano localizado à Leste dessas ilhas, passando pelas ilhas denominadas "las Velas e de Santo Thome").

Primeiro Tratado de Utrecht - 1713. Firmado entre Portugal e a França para estabelecer os limites entre os dois paises na costa norte do Brasil. Estas disposições serviram, quase dois séculos após, para defender a posição brasileira na questão do Amapá. Segundo Tratado de Utrecht - 1715. Firmado entre Portugal e a Espanha, restabelecendo a posse da Colônia de Sacramento para Portugal.

Tratado de Madri - 1750. Também entre Portugal e a Espanha, esbabeleceu os limites entre as colônias dos dois, na America do Sul, respeitando a ocupação realmente exercida nos territórios e abandonando inteiramente a "linha de Tordesilhas". (A Colônia de Sacramento passaria para o domínio da Espanha). Com esse Tratado o Brasil ganhou já um perfil próximo ao de que dispõe hoje, no entanto O território dos Sete Povos das Missões não pode ser ocupado pacificamente pelos portugueses. Isso porque havia nele grandes aldeamentos indígenas organizados por jesuítas espanhóis; e os índios guaranis, guardando antigos rancores dos bandeirantes, protestaram contra a transferência dessa região para os domínios portugueses. Por outro lado, Marquês de Pombal e os colonos portugueses não queriam entregar a Colônia do Sacramento aos espanhóis.

Tratado do Pardo - 1761. Tornaram nulas todas as disposições e feitos, decorrentes do Tratado de Madri.

Tratado do Pardo – 1778 - Foi assinado em 11 de Março de 1778 entre a Rainha Maria I de Portugal e o Rei Carlos III de Espanha. Com base nos termos do tratado, a rainha Maria cedeu as ilhas de Annobon e Bioko (Formosa) para o Rei Carlos, assim como a costa do Golfo da Guiné entre o rio Níger e o rio Ogooué. Em troca de um desses territórios, Portugal adquiria território para o Brasil na América do Sul. A ilha de Formosa (chamada Fernão do Pó durante o Estado Português) foi oficialmente reconhecida e rebaptizada como Fernando Poo.

Tratado de Santo Ildefonso - 1777. Ainda entre Portugal e Espanha. Seguiu em linhas gerais os limites estabelecidos pelo Tratado de Madri, embora com prejuízo para Portugal no extremo sul do Brasil. Pelo Tratado de Santo Idelfonso, assinado em 1777, retomavam-se os princípios de Madri, com exceção do extremo sul da América do Sul. Ali, o arroio Chuí passou a servir de limite entre as possessões ibéricas, ao mesmo tempo em que os Sete Povos das Missões e a Colônia do Sacramento passaram para o domínio espanhol.

Apenas no primeiro ano do século seguinte, por ocasião da assinatura do Tratado de Badajós, a região dos Sete Povos passou a fazer parte de modo definitivo do império português na América.

Convenção (ou Paz) de Badajoz - 1801. Estabelece as condições de paz na Península Ibérica (sem fazer menção aos limites das colônias de Portugal e da Espanha na América do Sul). Com isto tornaram nulas, na prática, todas as disposições a respeito - entre estes dois países, permitindo a expansão da ocupação gaúcha até o rio Uruguai, foi celebrado na cidade espanhola de

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Badajoz, em 6 de Junho de 1801, entre Portugal, por uma parte, e a Espanha e a França coligadas, pela outra.

O Tratado colocava fim à chamada Guerra das Laranjas, embora tenha sido assinado por Portugal sob coacção, já que o país encontrava-se ameaçado pela invasão de tropas francesas estacionadas na fronteira, em Ciudad Rodrigo. Por meio desse tratado, cujos termos eram bastante severos para Portugal, estabelecia-se:

Portugal fecharia os portos de todos os seus domínios às embarcações da Grã-Bretanha (art. II); A Espanha restituía a Portugal as fortificações e territórios conquistados de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, com artilharia, espingardas e munições de guerra (art. III); A Espanha conservava, na qualidade de conquista, a praça-forte, território e população de Olivença, mantendo o rio Guadiana como linde daquele território com Portugal; Eram indemnizados, de imediato, todos os danos e prejuízos causados durante o conflito pelas embarcações da Grã-Bretanha ou pelos súbditos de Portugal, assim como dadas as justas satisfações pelas presas feitas ilegalmente pela Espanha antes do conflito, com infracções do território ou debaixo do tiro de canhão das fortalezas dos domínios portugueses (art. V).

Os termos do tratado foram ratificados pelo Príncipe-Regente de Portugal, D. João, no dia 14, e por Carlos IV de Espanha, a 21 do mesmo mês, mas foram rejeitados pelo primeiro cônsul da França, Napoleão Bonaparte. A manutenção das suas tropas em território espanhol, forçou Portugal a aceitar alterações à redacção do Tratado. Desse modo, a 29 de Setembro desse mesmo ano, era assinado um novo diploma, o chamado Tratado de Madrid (1801) que, se por um lado formulou imposições mais severas a Portugal, por outro, evitou uma nova violação do seu território. Por ele, eram mantidos os termos de Badajoz, mas Portugal, adicionalmente, obrigava-se a pagar à França um montante de 20 milhões de francos.

Com relação aos domínios coloniais na América do Sul, por este novo diploma Portugal cedia ainda metade do território do Amapá à França, comprometendo-se a aceitar como fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa, o rio Arawani [Araguari] até à foz. Estas condições adicionais foram estabelecidas e ditadas por Napoleão.

Após a batalha de Trafalgar (1805), na qual a Royal Navy derrotou as Marinhas da França e da Espanha, Napoleão fracassou na tentativa de invadir a Grã-Bretanha e decretou o Bloqueio Continental (1806). Diante da recusa Portuguesa em acatar os seus termos, foi assinado o Tratado de Fontainebleau (27 de Outubro de 1807), ocorrendo a subsequente invasão franco-espanhola de Portugal, o que deflagrou a chamada Guerra Peninsular. O Princípe-Regente, retirando-se para o Brasil (1807), declarou nulo o tratado de Badajoz em 1 de Maio de 1808, deixando por conseguinte de reconhecer a ocupação espanhola de Olivença que, no entanto, se mantém até aos dias de hoje.

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O Tratado de Petrópilis – 1903: O atual estado brasileiro do Acre era, no início do século XX, uma região pertencente à Bolívia, que vinha sendo ocupada por seringueiros brasileiros em

plena época de expansão da economia de extração da borracha. Para resolver a tensão que se agravava, o Barão do Rio Branco dirigiu as negociações que resultaram no Tratado de

Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903 na cidade brasileira homônima, que formalizou a incorporação do Acre ao território brasileiro. Com esse acordo, o Brasil pagou à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas e indenizou o Bolivian Syndicate em 110 mil libras

esterlinas pela rescisão do contrato de arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano. Em contrapartida, cedia algumas terras no Mato Grosso e comprometia-se a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para escoar a produção boliviana pelo rio

Amazonas.

Antecedentes: A região que corresponde ao atual estado brasileiro do Acre era uma possessão da América espanhola, de acordo com o Tratados Hispano-Portugueses de 1750 (Tratado de Madrid), 1777 (Santo-Ildefonso) e 1801 (Badajoz). Havia naquela região uma busca intensa por látex, que fez gerar conflitos fronteiriços. Os seringueiros do Brasil subiram os rios Purus e Acre e ocuparam os seus afluentes, estimulando assim o povoamento da região.

Com a Comissão Demarcadora de Limites, ocorrida em 1898, e após as independências da América Latina, o Brasil reconheceu aquela zona como boliviana, através do tratado de limites. No entanto, a região é de difícil acesso, e não houve efetiva ocupação boliviana.

O tratado determinava que a fronteira entre Brasil e Bolívia seria definida por uma linha reta entre a foz do rio Abunã no rio Madeira e a nascente do rio Javari, ainda desconhecida. Portanto, a fronteira estava determinada, mas não era definitiva. Algumas missões encarregadas de determinar a nascente do Javari não tiveram sucesso, enquanto a ocupação daquela parte do território boliviano por seringueiros brasileiros (em sua maioria, nordestinos fugindo da seca) era um fato.

Pontos mais importantes: O tratado estabeleceu definitivamente as fronteiras entre Brasil e Bolívia, compensando a anexação do Acre por meio da cessão de pequenos territórios próximos à foz do rio Abunã (numa região próxima ao Acre) e na bacia do rio Paraguai, do pagamento da quantia de 2 milhões de libras esterlinas, o correspondente a, atualmente, 630 milhões de reais.

Como a Bolívia perdeu, após guerra com o Chile, sua saída para o mar, dois artigos do Tratado de Petrópolis obrigaram o Brasil e a Bolívia a estabelecerem um Tratado de Comércio e Navegação que permitisse à Bolívia usar os rios brasileiros para alcançar o oceano Atlântico. Além disso, a Bolívia poderia estabelecer alfândegas em Belém, Manaus, Corumbá e outros pontos da fronteira entre os dois países, assim como o Brasil poderia estabelecer aduanas na fronteira com a Bolívia.

O Brasil assumiu também a obrigação de construir uma ferrovia "desde o porto de Santo Antônio, no rio Madeira, até Guajará-Mirim, no Mamoré", com um ramal que atingisse o território boliviano. Era a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. [3] Por fim, o Brasil se obrigava a demarcar a nova fronteira com o Peru. A licitação para a ferrovia foi realizada em 1905; as obras foram iniciadas em 1907 e concluídas em 1912.

Além da questão territorial, havia um componente econômico em disputa: a fonte de uma das matérias-primas mais valorizadas no mercado internacional, o látex, responsável pelos milhões de dólares movimentados pela indústria mundial da borracha.

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Ademais, o governo brasileiro presenteou o presidente da Bolívia com dois cavalos brancos.

José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio-Branco, foi o negociador brasileiro e estabeleceu dois frontes para evitar o choque militar com a Bolívia. Num deles arregimentou o apoio da Casa Rothschild, de Londres, instituição financeira de históricas ligações com o Brasil, para que os banqueiros intermediassem um acordo com o Bolivian Syndicate de Nova York. Operação bem-sucedida, pois os norte-americanos aceitaram uma compensação de 110 mil libras esterlinas para desistir do negócio, o que enfraqueceu o lado do governo de La Paz.

O outro, foi mostrar à Bolívia que o Brasil estaria mesmo disposto a ir a guerra na defesa do povo extrativista do Acre, visto que a opinião pública não aceitaria que o governo do Rio de Janeiro cruzasse os braços caso soubesse que os seringueiros fossem expulsos pelas armas daquela área. Um admirador exaltado da posição tomada pelo barão escreveu na imprensa: “Temos um Homem no Itamaraty.”

Para dar prova de seriedade, como demonstração de força, ordenou-se a mobilização de tropas federais em Mato Grosso e no Amazonas para que se deslocassem para o território do Acre. Assim, com essa articulada combinação de diplomacia e do uso do argumento militar, só restou ao governo da Bolívia retroceder. Aceitou um acordo provisório, assinado em março de 1903, e decidiu por comparecer à mesa de negociação. O local acertado foi Petrópolis no estado do Rio de Janeiro, honorável cidade imperial onde se encontravam as delegações estrangeiras no Brasil.

O principio sustentado pelo Brasil na sua demanda para com a Bolívia foi o mesmo utilizado pelos portugueses nos tempos dos tratados de 1750 e 1777, assinados então entre o Reino de Portugal e o Reino da Espanha para acertarem suas diferenças fronteiriças na América Ibérica: o do uti possidetis solis. Quer dizer, tem direito ao território quem o possui, quem tomasse a terra contestada era o seu dono de fato. Pelo lado brasileiro atuaram Ruy Barbosa e depois o gaúcho Assis Brasil, que o substituiu, enquanto que representando a Bolívia encontrava-se o senador Fernando Guachalla e o ministro Cláudio Pinilla. No primeiro dos seus dez artigos fixou-se: “Do Rio Beni na sua confluência com o Mamoré (onde começa o Rio Madeira), para o oeste seguirá a fronteira por uma paralela tirada da sua margem esquerda, na latitude 10º20’, até encontrar as nascentes do Rio Javari”.

Acordou-se então que o Brasil indenizaria a Bolívia com 2 milhões de libras esterlinas em troca de um território que incorporaria não somente o Acre inferior (142.000 km²), como o Acre superior (48.000 km²), rico em florestas e reservas de seringais. O Brasil, por igual, comprometeu-se a entregar em permuta certas áreas da fronteira do Mato Grosso que, no total, perfaziam 3.164 km, bem como dar início a construção da estrada-de-ferro Madeira-Mamoré, numa extensão de 400 km, para permitir uma saída da Bolívia para o oceano Atlântico (promessa feita a primeira vez em 1867).

As negociações, entre os legatários bolivianos e os brasileiros, iniciadas em julho de 1903, enceraram-se quatros meses depois com a assinatura solene do Tratado de Petrópolis no dia 17 de novembro de 1903. Consagrou-se como uma das maiores vitórias diplomáticas do Brasil visto que conseguiu incorporar ao território nacional, sem deflagrar guerra, uma extensão de terra de quase 200.000 km², que foi entregue a 60 mil seringueiros e suas famílias para que lá pudessem exercer as funções extrativas da borracha e, fundamentalmente, evitou-se um conflito bélico com a Bolívia, um país pobre e isolado do mundo. Guerra que, se travada, traria uma mancha indelével para a imagem do Brasil, pois iria aparecer no cenário mundial como um valentão prepotente tirando 26 João Antonio Pereira

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proveito dos mais fracos. O barão do Rio-Branco, por sua parte, foi homenageado pelo povo acreano com a fundação da Vila de Rio-Branco, atual capital do estado do Acre.

19. O FIM DO PERÍODO COLONIAL

Com a chegada de D. João VI ao Brasil em 1808, a decadência do ouro em Vila Bela da Santíssima Trindade então capital da Província e as dificuldades diversas, fez os moradores mudarem-se para Cuiabá. Para isso foi nomeado o novo governador; João Carlos Oeynhausen, que preferiu morar em Cuiabá considerado um bom governador na época. Entre seus feitos; criou o Curso Superior de Anatomia, Companhia de Mineração e Escola de Aprendizes de Marinheiros. O último Capitão General foi Francisco de Paula Magessi de Carvalho que ao preferir morar também em Cuiabá causou descontentamento na população de Vila Bela, que destituíram Magessi, Cuiabá passou a ser governada por uma Junta Governista, e o mesmo ocorrendo em Vila Bela, assim Mato Grosso passou a ter dois governos. Movido por interesse econômico, D. Pedro I, decidiu que Cuiabá seria de fato a capital de Mato Grosso (antes era Vila Bela da Santíssima Trindade).

20. SÍNTESE

Ciclo das Bandeiras:

Denomina-se bandeirantes os sertanistas que, a partir do século XVI, saiando de São Paulo, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, sobretudo a prata, abundante na América espanhola, ouro, diamantes, indígenas para escravização ou extermínio de quilombos no Brasil.Tradicionalmente, os historiadores distinguem as entradas, como movimentos promovidos pelo Governo, das bandeiras, como expedições particulares, com fins lucrativos, ambas contribuiram decisivamente para a atual extensão do território nacional e para a formação de inúmeras cidades. Neste ciclo destacam-se em MT: Manoel de Campos Bicudo (1675 em busca da Mina dos Martírios), seu filho Antonio Pires de Campos (1718) Pascoal Moreira Cabral (1719) e Fernando Dias Falcão (1719). A rota de Manoel de Campos Bicudo passava pelo rio Coxipó, Morro de São Gerônimo, Rio das Mortes, Rio Araguaia, por esse motivo é considerado o descobridor de Cuiabá.

1)Ciclo do apressamento de índios -séc. XVI-XVIII objetivavam capturar índios para vende-los como escravos. Destruiram Guaira e Itatim. 2 Ciclo da prospecção Buscavam ouro, diamantes e pedras preciosas. 3. Sertanismo de Contrato: Objetivo - Aprisionar índios e negros fugidos Descobriram ouro e diamantes em Minas Gerais, Goiás, MT. Em 1718 o Bandeirantes Paschoal Moreira Cabral Lemes descobre ouro no rio Coxipó. 08 de abril de 1719 - Fundação do Arraial da Forquilha (Bom Senhor Jesus) - Atual Cuiabá. A Ata de Fundação de Cuiabá é datada de 08 de Abril de 1719 no Arraial do Cuiabá porém há enorme discussão entre os historiadores sobre a real data de fundação da capital Cuiabana, uma vez que não se concebe o fato de criar uma cidade sem que antes ela fosse elevada a categoria de vila e isto só aconteceu com a chegada do governador da Capitania de São Paulo Dom Rodrigo César de Menezes, instalasse a “Villa Real do Senhor Bom Jesus de Cuyabá”, o Município e a estrutura para o funcionamento do governo. A Vila Foi instalada “ao primeiro dia do mês de janeiro de 1727” pelo então governador da Capitania de São Paulo que chegara com essa finalidade em 15 de novembro de 1726.27 João Antonio Pereira

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Bandeiras de Monções: Abasteciam Cuiabá e todo interior do país. 1515 – Juan Díaz de Solis adentra o Paraná-Guaçu, posteriormente é morto com sua comitiva, da qual escapa Aleixo Garcia, que em 1.524 adentra o Gran Chaco à procura das minas do Peru. 1.534 – D. Pedro de Mendoza recebe dos reis de Espanha as terras do estuário do Prata até a atual Venezuela e Guianas contornando a Cordilheira dos Andes. 1.538 – Domingos Martinez de Irala teria fundado a colônia de Maracaju. 1.542/3 – Cabeza de Vaca, segundo Adelantado do Paraguai, descobre o mar dos Xaraés. 1.579/80 ou 1.593 – Fundação de Santiago de Xerez, provavelmente às margens do Mboiteteí, atual Miranda (a segunda fundação foi às margens do Aquidauana) pelos espanhóis. 1.580 – União Ibérica anula o Tratado de Tordesilhas. 1.609 – Felipe II ordena a redução pelos jesuítas dos índios Itatins. 1.628 – Antônio Raposo Tavares invade Guairá. 1.632 – Jesuítas estabelecem Missões no Itatim. 1.647/8 - Raposo Tavares vence as Missões do Itatim. 1.648 – A Espanha expulsa os jesuítas do Paraguai pela primeira vez. 1.718 – Antônio Pires dos Campos sobe o Tietê até o Paraná, sobe o Pardo chegando ao Anhanduí, atravessa a pé a Serra de Maracaju, chegam pelo córrego Varadouro ao rio Aquidauna, de onde chegam ao Miranda, Paraguai e Cuiabá, onde capturam índios coxiponés. No mesmo ano, seguindo a mesma rota, descobre ouro no Coxipó-Mirim. 1.719 – Fundação da Fazenda Camapuã pelos irmãos Leme.(1ª povoação do atual MS).Resistência indígena dos Caiapós, Guaicurus (índios cavaleiros) e Paiaguás (índios canoeiros). Em 1722 fora encontrado ouro em grande quantidade às margens do Córrego Prainha as chamadas Lavras do Sutil. Tem se confundido a fundação do Arraial da Forquilha, fundado em 08 de abril de 1719 (por questões ideológicas), alegando-se que 1º de janeiro seria a elevação do Arraial da Forquilha a Categoria de Vila. Não se pode ser fundada uma cidade num lugar que só seria descoberto depois. Porém a data de 08 de Abril vem sendo mantida (com o objetivo de se firmar como a primeira cidade do Centro Oeste Brasileiro) A Vila Real de São Bom Jesus de Cuiabá foi elevada a categoria de cidade em 17 de setembro de 1818 e a capital do estado em 1835 (até essa data a capital era Vila Bela da Santíssima Trindade). 1.740 – Acordo entre os portugueses e os guaicurus arrasa os paiaguás. Outros grupos indígenas – Guatós – à margem esquerda do Paraguai; Cadiuéus – abaixo do Bodoquena; Terenas – às margens do Miranda e Aquidauana e Guanás – ao oeste do Paraguai. 1.752 – Rolim de Moura funda Vila Bela da Santíssima Trindade às margens do Guaporé, que se tornará a 1ª capital do MT. Durante a segunda metade do Séc. XVIII, após o esgotamento das lavras de ouro, a cidade entra em decadência, quadro que só mudaria após a Guerra Contra o Paraguai e os investimentos em infra-estrutura. Nesse período a economia se baseava na cana-de-açúcar e no extrativismo até o Séc. XIX. Esse quadro permanece praticamente inalterado até 1930 graças às ligações rodoviária com Goiás e São Paulo. O maior crescimento econômico vai ocorrer a 1.755 – Fundação do Forte de Coimbra por Matias Ribeiro da Costa. Parcialmente destruído pelos guaicurus. Em 17 de janeiro de 1751, Antônio Rolim de Moura Tavares assumiu o cargo de capitão-general do Mato Grosso, capitania que havia sido desmembrada de São Paulo três anos antes. Sua administração, que durou 13 anos, foi importante sob vários aspectos. Rolim fundou novos centros de população, como Vila Bela da Santíssima Trindade, à margem do Guaporé, e estabeleceu uma nova organização militar, com três milícias: de brancos, pardos e pretos. O Tratado de Madri, de 1750, reconheceu as conquistas bandeirantes na região do Mato Grosso, para dirigir questões de limites entre Portugal e Espanha. Outro tratado, de 1761, modificou o anterior, ao proibir construções fortificadas na faixa de fronteira. Os espanhóis exigiram a

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evacuação de Santa Rosa, ocupada e fortificada por Rolim de Moura, que resolveu enfrentá-los. Travou-se luta, sem vantagem decisiva para nenhuma das partes. Afinal, os castelhanos se retiraram em 1766, já sob o governo do sucessor de Rolim, seu sobrinho João Pedro da Câmara. Expulsos os jesuítas das missões espanholas, em 1767, a situação tornou-se mais tranqüila para Portugal. Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que governou de 1772 a 1789, tomou, porém, a iniciativa de reforçar o esquema defensivo. Construiu, à margem do Guaporé, o forte real do Príncipe da Beira, no qual chegaram a trabalhar mais de duzentos obreiros, e no sul, sobre o rio Paraguai, abaixo do Miranda, o presídio de Nova Coimbra. Fundou Vila Maria (mais tarde São Luis de Cáceres, ou simplesmente Cáceres), Casalvasco, Salinas e Corixa Grande. Criticou severamente o novo tratado luso-espanhol de 1777 (Tratado de Santo Ildefonso) no tocante ao Mato Grosso, por achar que encerrava concessões prejudiciais a Portugal. Usou no levantamento cartográfico e na delimitação de fronteiras os serviços de dois astrônomos e matemáticos brasileiros recém-formados em Coimbra. Francisco José de Lacerda e Almeida e Antônio Pires da Silva antes, e dos geógrafos capitães Ricardo Francisco de Almeida Serra e Joaquim José Ferreira. Luís de Albuquerque já estava seriamente enfermo quando indicou para substituí-lo seu irmão João de Albuquerque, que chegou ao Mato Grosso doente, assumiu o posto em 1789 e morreu de "sezões malignas" em fevereiro de 1796. Caetano Pinto de Miranda Montenegro, o futuro marquês de Vila Real de Praia Grande, chegou a Cuiabá em 1796 para assumir o cargo de capitão-general, com recomendação da metrópole para elaborar um plano de defesa que protegesse a capitania contra qualquer tentativa de invasão. A guerra com os espanhóis foi deflagrada em 1801, quando Lázaro de Ribeira, à frente de 800 homens, atacou o forte de Coimbra, defendido bravamente por Ricardo Franco, com apenas cem homens, que conseguiram repelir o invasor. A paz, todavia, só foi firmada em Badajoz, em 6 de maio de 1802. A capitania, com meio século de vida autônoma, consolidou sua estabilidade territorial e neutralizou de imediato o perigo de novas invasões. sido elevadas à categoria de cidade. Em 20 de agosto de 1821, Magessi foi deposto pela "tropa, clero, nobreza e povo", como "ambicioso em extremo, concussionário insaciável, hipócrita". Formou-se em Cuiabá uma junta governativa que jurou lealdade ao príncipe D. Pedro, e outra, dissidente, em Vila Bela, com o que se estabeleceu a dualidade de poder. 1.778 – Fundação de Albuquerque, que pode ser considerada a primeira vila da região e, posteriormente viabiliza a formação de Corumbá e Ladário. 1.797 – Reconstrução do Forte Coimbra, por Ricardo Franco. 1.797 – Fundação do Presídio de Miranda, ou seja, quartel militar, que deu origem à atual cidade. 1.801 – Ataque rechaçado por Ricardo Franco de Dom Lázaro Ribeiro, espanhol, ao Forte Coimbra. No fim do período colonial, registrou-se certo declínio da capitania. Em 1819, Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho, futuro barão de Vila Bela, último capitão-general, encontrou vazios os cofres públicos, Cuiabá e Vial Bela haviam 1.826 – Expedição d’Alincourt – viagem de inspeção que constatou a fragilidade das defesas do sul do Mato Grosso. 1.826 – Expedição Langsdorf – expedição científica, que estuda pela primeira vez o Pantanal. 1.834 – Rusga –Revolta em Cuiabá; conflito entre brasileiros e portugueses, no bojo das revoltas do final do primeiro império. 1.838 – Fundação de Santana do Paranaíba, por paulistas vindos de Franca, interior de São Paulo, para plantar café, mas a terra se mostra imprópria. 1.864 – O comandante paraguaio Barrios ataca e toma o Forte Coimbra, defendido por Porto Carreiro, que juntamente com Camisão, que defendia Corumbá, foge para Cuiabá sem defender as praças. O herói Antônio João morre com dois soldados na defesa da colônia militar de Dourados. 1.865 – Tomada da Vila de Nioaque, transformada em sede da Província do Alto Paraguai. Formação da

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Força Expedicionária para a retomada do Mato Grosso. 1.867 – O coronel Carlos de Morais Camisão assume o comando da coluna. José Francisco Lopes, o Guia Lopes, se oferece como voluntário, pois sua esposa, Dona Senhorinha, havia sido capturada pelos paraguaios. Morrem de cólera o Guia Lópes, o Coronel Camisão e o Coronel Juvêncio. Após a desastrosa retirada da Laguna a tropa chega ao rio Aquidauana.Corumbá é retomada. 1.883 - Fundação da Companhia Mate Laranjeira, de Tomás Laranjeira e dos irmãos Murtinho, no sul do estado. 1.889 – primeiro governador General Antônio Maria Coelho. 1.892 – Fundação de Porto Murtinho, às margens do Paraguai. Revolução e fundação da República Transatlântica de Mato Grosso, por Antônio M. Coelho, logo debelada. 1.901 – Rondon implanta a estação telegráfica do Itiquira. Morre Jango Mascarenhas, separatista, em combate com as forças legalistas do Coronel Jejé e Bento Xavier, sendo que este último se torna, posteriormente, separatista. 1.904 - Instalação da NOB. 1.925 – Passagem da Coluna Prestes. 1.932 – Estado de Maracaju – Vespasiano Martins. Liga Sul-Mato-Grossense. 1.934 a 1.946 – Território de Ponta Porã. 1.977 – Lei Complementar nº31 de 11 de outubro cria o Mato Grosso de Sul. O gado foi introduzido na América do Sul pelos conquistadores e Jesuítas (mission). No MT as primeiras fazendas, são datadas por volta de 1740. Após a Guerra do Paraguai advém uma leva de migrações inter-regionais: mineiros, paulistas, paranaenses, gauchos, etc; Vão fundar fazendas nas áreas de Campos Limpos(Campos de Vacaria). No entanto, o gado do MT só entraria no circuito nacional após 1914, com a Criação da RFN, Ferrovia (Trajeto - Baurú/Corumbá) No governo Vargas criou-se o programa a "Marcha para o Oeste" incentivando a ocupação do Centro-Oeste. Denomina-se bandeirantes os sertanistas que, a partir do século XVI, saiando de São Paulo, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, sobretudo a prata, abundante na América espanhola, ouro, diamantes, indígenas para escravização ou extermínio de quilombos no Brasil.Tradicionalmente, os historiadores distinguem as entradas, como movimentos promovidos pelo Governo, das bandeiras, como expedições particulares, com fins lucrativos, ambas contribuiram decisivamente para a atual extensão do território nacional e para a formação de inúmeras cidades. Neste ciclo destacam-se em MT: Manoel de Campos Bicudo (1675 em busca da Mina dos Martírios), seu filho Antonio Pires de Campos (1718) Pascoal Moreira Cabral (1719) e Fernando Dias Falcão (1719). A rota de Manoel de Campos Bicudo passava pelo rio Coxipó, Morro de São Gerônimo, Rio das Mortes, Rio Araguaia, por esse motivo é considerado o descobridor de Cuiabá. A Ata de Fundação de Cuiabá é datada de 08 de Abril de 1719 no Arraial do Cuiabá porém há enorme discussão entre os historiadores sobre a real data de fundação da capital Cuiabana, uma vez que não se concebe o fato de criar uma cidade sem que antes ela fosse elevada a categoria de vila e isto só aconteceu com a chegada do governador da Capitania de São Paulo Dom Rodrigo César de Menezes, instalasse a “Villa Real do Senhor Bom Jesus de Cuyabá”, o Município e a estrutura para o funcionamento do governo. A Vila Foi instalada “ao primeiro dia do mês de janeiro de 1727” pelo então governador da Capitania de São Paulo que chegara com essa finalidade em 15 de novembro de 1726. 1752 – D. Antonio Rolim de Moura Tavares 1º Governador da Capitania de MT, fundou Vila Bela da Santíssima Trindade as margens do Rio Guaporé e a mesma tornou-se a primeira capital do estado. Durante a segunda metade do Séc. XVIII, após o esgotamento das lavras de ouro, a cidade entra

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em decadência, quadro que só mudaria após a Guerra Contra o Paraguai e os investimentos em infra-estrutura. Nesse período a economia se baseava na cana-de-açúcar e no extrativismo até o Séc. XIX. Esse quadro permanece praticamente inalterado até 1930 graças às ligações rodoviária com Goiás e São Paulo. O maior crescimento econômico vai ocorrer a partir de 1960 com a transferência da Capital Federal para Brasília e o Programa de Povoamento do Interior do país, ganhando novo impulso entre 1970 e 1980 com o agronegócio.

21. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO DE APRENDIZAGEM

01 – Sobre o processo de ocupação do espaço geográfico mato-grossense, assinale (V) para afirmativas verdadeiras e (F) para as alternativas falsas:

a) Dom Antonio Rolim de Moura recebeu instruções reais para criar a Capitania de Mato Grosso e fundar sua capital nas margens do Guaporé;b) A intenção da Coroa portuguesa ao criar Vila Bela era a de impedir o avanço dos espanhóis e devido a proximidade da capitania com o Peru;c) Os comerciantes e os fornecedores de alimento para Vila Bela iam aos poucos se enriquecendo com o alto valor alcançado por suas mercadorias;d) Para conter o avanço dos espanhóis o governo português construiu fortes, aliciou índios, treinou negros escravos, etc.;e) Chamar toda espécie de pessoas, mesmo criminosos, para povoar Mato Grosso foi necessário uma vez que a região era insalubre e repleta de índios bravios.

02 – Julgue os itens abaixo:

a) Os funcionários da Coroa faziam parte da camada privilegiada da sociedade;b) Os comerciantes realizavam o comércio entre as diversas áreas da Colônia: Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.c) Em Mato Grosso o comércio era realizado principalmente pela Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão (1755- 1778).d) Os lucros conseguidos nas áreas de mineração ficavam na Capitania, favorecendo a elite local.e) Era substancial o número da população pobre, a qual vivia da pequena lavoura de subsistência ou se dedicava à “faiscagem” nos rios.

03- Em 1552 foi criada Vela Bela de Santíssima Trindade. Com relação à Capitania, pode-se afirmar que:

a) Vila Bela produzia grande parte de seus mantimentos, podendo sustentar-se sem a importação de produtos básicos como a farinha, carne, arroz e milho.b) A corporação social era heterogênea e marcada pela miséria; o ouro transmitia a aparência de riqueza, porém poucos usufruíam dela.c) Nas comemorações eram apresentadas comédias, danças, etc. E todos os membros da sociedade participavam, dando a aparência de uma sociedade democrática.d) Grande parte da população de Mato Grosso era composta por negros, uma vez que a sociedade se baseava na escravidão.

04-( UNIC 96/6) “Após a descoberta de ouro nas regiões do Coxipó (1719) e o de Cuiabá (1722), foi grande o fluxo migratório advindo da capitania de São Paulo e de outras com Rio de Janeiro, Minas Gerais e as do Nordeste.” (Madureira, 1990:). Com a Relação a este fluxo migratório, é incorreto afirmar que:

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a) Ocorreu um aceleramento do processo de interiorização, primeiramente pelas ações dos bandeirantes e, depois, pela vinda de migrantes: tropeiros e criadores de gado.b) Esse movimento no sentido leste-oeste representou uma ameaça aos índios a aos espanhóis que, então, habitavam parte dessa região.c) A ocupação da região Centro-Oeste ( séc.XVIII) sempre esteve ligada aos interesses econômicos, metropolitanos e coloniais, pois os migrantes que aqui chegavam tinham aguçadas idéias de enriquecimento.d) No final do século XVIII, com a visível decadência da mineração, os migrantes retornavam às regiões de origem ocorrendo assim um despovoamento da região.e) Com a decadência da mineração, a população que aqui permaneceu dedicou-se a outras atividades produtivas que lhes garantiam o sustento e possibilitavam o comércio;

05 – Após a anulação do Tratado de Madri, Portugal se empenhou para que a nova discussão diplomática lhes garantisse êxito nas negociações. O novo pacto de limites retificava o tratado de Madri, o que se refere à raiz oeste da colônia. Mais três núcleos de povoamento foram criados nas fronteiras mato-grossenses: Albuquerque (1778), Vila Maria (1778) e Casalvasco (1783). A fundação desses núcleos teve por finalidade:

a) Consolidar áreas ocupadas pelos portugueses à Espanha;b) Transformar Mato Grosso no antemural do Brasil, apto não só a defender os domínios portugueses na América, mas também amplia-los.c) Criar núcleos que possibilitassem maior segurança à população, dos ataques dos índios e por vezes dos espanhóis;d) Um caráter meramente fiscalizador, pois o contrabando da prata era intensivo nessa região;e) As instalações de novos núcleos como conseqüência da incapacidade dos espanhóis em ocupar toda sua área.

06 – Tendo como base seus conhecimentos sobre os governadores de MT no período Colonial, analise as seguintes afirmações:

a) Luiz Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres primou pela definição e fortalecimento das fronteiras do estado, criando cidades em locais estratégicos;b) Manoel Carlos A. De Menezes, o oitavo capitão-general de MT, foi responsável pela transferência da capital de Vila Bela para Cuiabá no ano de 1821;c) Francisco de Paula Magessi fundou importantes cidades durante seu governo, tais como Albuquerque (Corumbá), Vila Maria (Cáceres) e São Pedro Del´ Rei.d) O governo de João Carlos A. Dóyenhausen e Gravemburg se caracterizou principalmente pelas inúmeras festas que oferecia, as quais tinham como objetivo garantir sua popularidade e encobrir desigualdades sociais existentes na região;

7 – Com relação à ocupação de Mato Grosso no século XVIII, julgue as informações abaixo:a) Os índios aceitaram pacificamente a expedição de Pascoal Moreira Cabral;b) Anterior à bandeira de Pascoal Moreira Cabral, esteve nessa região o bandeirante Antônio Pires de Campos, que partiu da Capitania de São Paulo com a intenção de buscar índios para escravizar;c) A Coroa portuguesa aceitou, sem colocar nenhum empecilho, a nomeação de Pascoal Moreira Cabral como Guarda-mor do Arraial da Forquilha;d) Miguel Sutil está relacionado a descoberta das minas do Sutil;e) O abastecimento e o comércio na zona de mineração eram praticados pelas monções.

8 – Com relação à mineração, julgue os itens abaixo: No período em que Rodrigo César de Menezes governou a Capitania d Mato Grosso, as minas de MT já se encontrava em decadência;a) O trabalho nas minas era executado por trabalhadores livres pobres;b) O ouro em Mato Grosso trouxe a evolução e o desenvolvimento da vida urbana;

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c) A intendência das minas era responsável pela arrecadação do Quinto;d) Com a chegada de Rodrigo César de Menezes foi criado o cargo de Provedor da Fazenda Real, Provedor dos Quintos e do Registro e Entradas.

9 – O governador que levou Cuiabá à categoria de Vila Real de Bom Jesus de Cuiabá, aumentou o Quinto e as taxas tributárias referentes às passagens pelos rios. Estamos nos referindo a: Manoel Carlos de Menezes.a) Pedro de Toledo.b) Luiz Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.c) Rodrigo César de Menezes.d) Antônio Rolim de Moura.

10- Assinale a alternativa falsa, com relação a Vila Bela da Santíssima Trindade.

a) Antônio Rolim de Moura foi nomeado governador da Capitania de MT, com a função de escolher o local para ser construída a capital.b) Para promover a ocupação da região, o governador determinou a isenção do pagamento dos Dízimos e entradas e suspendeu as dívidas para com a Coroa Portuguesa por três anos;c) O local escolhido para ser construída a capital era saudável e de clima amenod) O abastecimento da capital era feito pela Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão;e) O roteiro seguido pela Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão passava pelos rios Amazonas, Madeira e Guaporé;

11 – Com relação à produção dos diamantes assinale a alternativa correta:

a) A produção de diamante foi estimulada pela Coroa Portuguesa, desde a ocupação da região.b) A descoberta das minas do rio Arinos e do Alto Paraguai levou a população à sua exploração, contrariando, portanto, os interesses da Coroa Portuguesa;c) Rodrigo César de Menezes estimulou a produção de diamantes;d) A extração de diamantes provocou o surgimento de núcleos populacionais como Vila Maria de Cáceres e São Pedro Del’ Rey. 12 – Com relação à questão indígena, julgue os itens abaixo:

a) As primeiras nações indígenas a resistirem às dominações do colonizador foram os Paiaguás, os Guaicurus e os Caiapós;b) Os índios Guaicurus foram conhecidos como cavaleiros, pois eram hábeis em montarias. Os Paiaguás, os Guaicurus e Caiapós.c) Os Paiaguás, ao atacarem as monções, não davam importância ao ouro; Seu interesse era somente com a tripulação que seria vendida aos espanhóis pela troca de armas e munições;d) Os índios foram utilizados na defesa das fronteiras, na construção de fortes e fortalezas;

13 – durante seu governo foi assinado o Tratado de Paz com os índios Guaicurus, estamos nos referindo a:a) Pedro da Câmara;b) Luiz Pinto de Albuquerque;c) Luís de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres;d) Augusto Leverger;e) José Bonifácio de Andrade e Silva.

14 – “Para a economia decadente do litoral vicentino, a utilização da mão-de-obra indígena era uma das alternativas possíveis a serem adotadas” (VOLPATO, 1985:36). Com relação as bandeiras assinale a alternativa incorreta:a) A escravidão dos índios era camuflada pelo compromisso da evangelização;

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b) A marcha para o sertão simbolizava a esperança de encontrar metais e pedras preciosas;c) A Coroa Portuguesa não aceitava as bandeiras, chegando a criar milícias para combater as expedições.d) As bandeiras aumentaram os domínios portugueses na América.e) O apogeu da caça ao índio se deu no período da União Ibérica.

15 – (UFMT) “Ameaçados a cada passo de perderem as suas mercadorias nas travessias perigosas; perseguidos de índios que ao menor descuido não lhe poupavam a vida; Maltratados pelas anofilinas que lhes inoculavam as maleitas, causa da dizimação, chegavam a Cuiabá, para onde se transportara o Arraial, depois da descoberta das Minas do Sutil, em outubro de 1722, nas imediações do sítio onde hoje branqueja à Frauda do morro a que emprestou o seu nome, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário” ( CORRÊA FILHO, 1889). Fundamentando-se no texto, dê algumas informações básicas sobre a fundação de Cuiabá, tais como:

a) As razões da penetração bandeirante nos sertões mato-grossenses.b) Da função de Cuiabá e sua organização político-social nos primeiros tempos.c) Explique as razões das dificuldades e da miséria dos primeiros tempos do Povoado de Cuiabá._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

16 – “Continua sendo voz corrente em MT a versão de que Cuiabá foi rica e populosa no século XVIII, atingindo, em 1740, quarenta mil habitantes. A força dessa versão mitológica ainda não declinou” (VOLPATO, 1987). Comente a afirmação do texto, contrapondo a visão mitológica de um passado faltoso e de grande índice populacional._____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17 – “As Minas de Ouro na região cuiabana floresceram no período em que governava a Capitania de São Paulo, Rodrigo César de Menezes representava o poder absolutista da metrópole portuguesa e lhe coube administrar uma extensa Capitania, potencialmente rica, na qual Mato Grosso fazia parte” (SIQUEIRA, 1990). Baseado no texto acima julgue as questões:

a) Rodrigo César pretendia passar a residir em Cuiabá, objetivando verificar pessoalmente a real situação das minas, tanto no aspecto referente à arrecadação dos impostos como também desejava implantar o poder administrativo na região.b) Durante dezoito meses Rodrigo César de Menezes residiu em Cuiabá, mas antes de vir para a região aurífera contou com o apoio político dos irmãos Lemes, que o ajudara na administração pública.c) Rodrigo César de Menezes elevou Cuiabá a categoria de Vila Real do Senhor Bom Jesus, período em que ocorreu um violento aumento dos quintos, taxas ributárias e demais impostos.d) Todas as alternativas estão corretas;

18 – “ A descoberta de ouro na Baixada Cuiabana havia atraído grandes levas de mineradores, que penetravam pelo interior em busca de um rápido enriquecimento. O declínio marcante da população causou abandono na Vila por parte de seus habitantes, outros, no entanto, passaram a compor uma população itinerante, que, tendo Cuiabá como referêncial, penetravam em áreas não exploradas, em busca de novas jazidas, concorrendo assim com o seu devassamento”. (VOLPATO, 1987) Tendo como referência o texto acima, avalie as alternativas:

a) Depois da região de Cuiabá, novos veios auríferos foram encontrados sendo os mais importantes os das Minas de Mato Grosso que se situavam no Vale do Rio Guaporé, região insalubre e dotada de difíceis condições para fixação do povoamento;b) A existência de uma população itinerante atingia mais diretamente o interesse da política colonial portuguesa;

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c) A procura constante por um novo achado concorria para que pequenos núcleos urbanos fossem se formando, onde a descoberta tivesse sido bem sucedida, conquistando assim, áreas da Espanha;d) Cuiabá foi rica e bem sucedida no século XVIII, atingindo em 1740, quarenta mil habitantes;e) As condições territoriais da Capitania, possuidora de mais de quinhentas léguas de fronteira, imprimiu à administração, um caráter nitidamente militar, cujo ônus maior recaiu sobre a própria população.

19 – Sobre a organização do trabalho e da produção de ouro no período colonial mato-grossense, avalie as alternativas abaixo: a) Paralelamente à produção de ouro formou-se uma agricultura de subsistência que conseguia abastecer toda demanda locacal;b) Para o seu desenvolvimento foram importados instrumentos de trabalho e mão-se-obra. Em 1727, existia em Cuiabá dois mil, seiscentos e sete escravos, trabalhando principalmente na mineração;c) As técnicas empregadas na extração do ouro eram muito rudimentares e pouco evoluiram durante o transcurso do século XVIII;d) A utilização do sivícula (índio) na mineração era uma das medidas utilizada pelos mineradores de MT, na tentativa de se equilibrar durante a fase crítica dessa exploração;e) A Coroa portuguesa tentou proibir a instalação de engenhos de açúcar na zona de mineração.

20 – Sobre Rodrigo César de Menezes, assinale “V” para verdadeiro e “F” para falso.a) Com a chegada de Rodrigo César de Menezes em Cuiabá, foram criados os cargos de Provedor da Fazenda Real, Provedor dos Quintos e Registros de Entradas;b) Os impostos que desde 1723 até 1727 eram cobrados pelo sistema de capitação, isto é, por cabeça, sofreram taxação substancial a partir de 1728, momento em que foi implantado o sistema de Quintação;c) Apesar do aparato fiscalizador implantado pela Coroa portuguesa nas minas, esse período foi marcado por um considerável aumento populacional e por um enriquecimento da maioria da população.d) Incentivou a popualção a recolher impostos demosntrando que os mesmos seriam revertidos para a defesa da região fronteiriça.e) Estimulou a caça ao índio e sua utilização como escravo cumprindo fielmente as órdens da Coroa portuguesa.

22. GABARITO

01 – V – V – V – F (os negros não eram armados para defender a fronteira devido sua condição de escravo) – V, 02 - V – V – V – F(Foram poucos os que conseguiram enriquecer devido a exploração aurífera, a maior parte dos lucros iam para os cofres da Coroa Portuguesa) – V, 03 - F (as regiões Mineiras eram carentes de mercadorias, a produção agrícola era mínima) - V - V -V, 04 - E, 05 - B, 06 - V – F ( o processo de transferência da capital de Vila Bela para Cuiabá se deu no governo de Paula Megessi) – F ( o responsável foi Luís Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres) – V, 07 - F ( os índios Coxiponés – Bororos – atacavam as Bandeiras) – V – F (A Coroa Portuguesa não aceitou a nomeação de Guarda-mor de Pascoal Moreira Cabral escolhido pela população e vai nomear Fernando Dias Falcão ao cargo) 08 - F (Foi um dos períodos áureos da mineração) - V – V – F (A responsabilidade era das casas de Fundição) - V, 09 - D, 10 - C, 11 - B, 12 - V – V – F (os Paiaguás após receberem a importância do ouro passaram a vender o mesmo aos espanhóis) – V, 13 - C, 14 - C, 15 – A – Busca de índios para serem escravizados... B 1719 a Bandeira de Pascoal ...C- distância dos grandes centros – A busca de índio – B 1719 Pascoal M. Cabral 16 – Na verdade a miséria social fez parte da vida cotidiana da população mineradora, por outro lado a historiografia tradicional coloca que por aqui havia riqueza e grande índice populacional. 17 – A) V – B) F – C) V – D) F - 18 – A) V – B) V – C) V – D) F E) V19 – A) F – A agricultura de subsistência chegou a ser praticada, mas enfrentou uma série de dificuldades tipo pragas e condições climáticas, dai a necessidade de buscar os produtos em outras regiões.20 A) V - B) V – C) V – D) V – E) F

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BIBLIOGRAFIA

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