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    A imprensa brasileira teve um nascimento tardio, co-mo tardios foram o ensino superior, as manufaturas, a pró-pria independência política e a abolição da escravatura.Fatores como esses geraram um legado de analfabetismo econcentração da renda que, sentidos até hoje, significaramcondicionantes da evolução da imprensa brasileira ao im-pedir que o público leitor nacional atingisse o percentualregistrado em países com economia de porte semelhante

    ou maior. Os vários períodos sob regime de exceção, emparticular as fases mais repressivas da Era Vargas (1930-1945) e os Governos Militares (1964-1984) afetaram dediversas formas o desenvolvimento da atividade jornalísti-ca nacional. Apesar das dificuldades e limitações, como sepode observar nos textos a seguir, o Brasil tem um númeroapreciável de jornais que têm revelado notável capacidadede inovação técnica e editorial, o que lhes permitiu vencertodos os desafios surgidos até hoje.

    Impressos circularam no Peru já em 1594, e o primei-ro jornal em território latino-americano, comparável aosque se editava na Europa, foi a Gazeta de México y Notici-as de Nueva España, de 1722. Sete anos depois surgia, nahoje América Central, a Gazeta de Goathemala. Na Amé-rica do Sul, ainda no século XVIII, o Peru teve três perió-dicos, sendo o primeiro a circular regularmente o  Diariode Lima, fundado em 1790. Na Colômbia, o primeiro jor-nal, Papel Periódico de Santa Fé de Bogotá, foi lançadono ano seguinte. Um jornal bilíngüe e editado pelas tropasde ocupação britânicas foi o primeiro jornal uruguaio –The Southern Star-La Estrella del Sur  –, do qual só saíramoito números. De um modo geral foram publicações efê-meras, como as duas iniciativas registradas na Argentinano mesmo século e o Telégrafo Mercantil, Rural, PolíticoEconômico e Histórico del Rio de La Plata,  fundado em1801 e fechado pelo vice-rei no ano seguinte, mas geral-mente considerado como marco fundador da imprensa ar-gentina. Somente no século XIX surgiriam na AméricaLatina jornais duradouros, com perfil informativo e perio-dicidade regular.

    I – Antecedentes

    Portugal teve imprensa antes do des-cobrimento do Brasil. O Pentateuco,livro religioso impresso em hebrai-co, foi concluído em 30 de junho de1487, na oficina de Samuel Gacon.Em território brasileiro, o primeiroprelo a funcionar regularmente foi oque imprimiu a Gazeta do Rio de

     Janeiro, em 10 de setembro de1808.

    Imprensa Brasileira - dois séculos de história

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    A imprensa brasileira tem duas datas comomarcos fundadores: o lançamento, em Londres,do Correio Braziliense, em 1º de junho, e a cria-ção da Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de se-

    tembro, ambos de 1808. A qual dos dois cabe otítulo de precursor é tema de controvérsia em fun-ção das características de ambos, principalmenteem torno das datas, dos locais em que circularamsuas primeiras edições e de quem os editava.

    Ao contrário dos principais países latino-americanos, o Brasil entrou no século XIX semtipografia, sem jornais e sem universidades (quecontribuíam para a formação do público leitor).Em 1706, uma Carta Régia, enviada ao governa-dor Francisco de Castro Moraes, ordenava o se-

    qüestro das “letras impressas e notificar os donosdelas e os oficiais da tipografia que não imprimis-sem nem consentissem que se imprimissem livrosou papéis avulsos”. O material supostamente per-tenceria a um impressor de Recife cujo nome éaté hoje desconhecido. Mais que isso: não se temqualquer informação sobre sua identidade, seuprelo ou o produto de seu trabalho. A única refe-rência documental a eles, portanto, é a medida

    repressiva a respeito de cuja data exata os histo-riadores também divergem. É possível, até, quenunca tenha existido de fato.

    O dono do primeiro prelo a comprovada-

    mente funcionar no Brasil, em 1746, foi Antô-nio Isidoro da Fonseca, que transferiu sua ofici-na de Lisboa para o Rio de Janeiro. Com a devi-da autorização do governador Gomes Freire,imprimiu dois textos, um dos quais de apenas uma página. Apesar disso, uma Ordem Régia,editada meses mais tarde, mandou seqüestrar eenviar as “letras de imprensa de volta ao Reino,por conta e risco de seus donos”. Em 1750, omesmo Antônio Isidoro, antes de deixar Lisboa,pediu autorização para instalar uma oficina no

    Rio de Janeiro, mas o pedido foi negado.

    A primeira tipografia a funcionar de formaduradoura no País viria a bordo da nau Medusa,integrante da esquadra que transferiu a Corte,em sua fuga de uma Lisboa assediada pelas tro-pas napoleônicas. Foi referindo-se a esse mate-rial tipográfico que o príncipe D. João (mais tar-de D. João VI) baixou o decreto de 13 de maio

    Correio Braziliense e Gazeta do Rio de Janeiro são os primeiros jornais brasileiros. Nesta ilustração, as

    primeiras páginas de ambos, respectivamente, de 1º de junho e de 10 de setembro de 1808.

    II – Os primeiros tempos

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    de 1808, determinando a instalação da ImpressãoRégia no Rio de Janeiro, com a ressalva de quenela “se imprimam exclusivamente toda a legisla-ção e papéis diplomáticos que emanarem de qual-quer repartição do meu real serviço, e se possamimprimir todas e quaisquer obras, ficando inteira-mente pertencendo seu governo e administração à

    mesma Secretaria”.Com os prelos de 1808, não veio, portanto, a

    liberdade de imprensa. Pouco mais de um mêsdepois, uma série de medidas renovou os disposi-tivos referentes à censura e à vigilância sobre osimpressos, tanto os oriundos da Impressão Régiaquanto do exterior. Em 4 de setembro de 1811, D.João ordenou a apreensão de uma tipografia, en-viada da Inglaterra para a Bahia (onde outra foraautorizada a funcionar, sob censura, em 1810).

    Enquanto isso, em 1º de junho de 1808, Hi-pólito José da Costa Pereira Furtado de Mendon-ça, natural de Colônia do Sacramento (atual terri-tório uruguaio), lançava o Correio Braziliense ou

     Armazém Literário – a primeira publicação regu-lar livre de censura, em língua portuguesa. Foipublicada ininterruptamente até dezembro de1822, sempre em Londres, sempre como mensá-rio. O nome estava relacionado a uma distinçãoque o editor fazia entre “braziliense” e“brasileiro”, assim explicada por ele: “Chamamos

    Braziliense, o natural do Brasil; Brasileiro, o por-tuguês europeu ou o estrangeiro que lá vai nego-ciar ou estabelecer-se...”. Com isso fica claro, apartir do título, que a publicação estava voltadapara o Brasil, apesar de impressa no exterior.

    Muitos autores afirmam que Hipólito foi umlutador pela independência do Brasil. No entanto,em alguns textos ele próprio sustenta posiçõescontrárias. Quando até D. Pedro já se insurgiracontra a autoridade de Lisboa – o “Fico” foi em 9

    de janeiro de 1922 –, na edição de fevereiro de1822, ele escrevia: “...Recomendando a união,temos sempre dirigido nossos argumentos aosbrazilienses... Mas infelizmente achamos que ascousas vão muito contrário, e que é entre os por-tugueses e alguns brasileiros, e não entre os brazi-lienses, que se fomenta e se adotam medidas paraessa separação, que temos julgado imprudente,por ser intempestiva; e que temos combatido...”,voltando ao assunto na edição de março: “...se osbrazilienses, imitando esse comportamento incon-

    siderado das Cortes, derem também o passo in-considerado de se declararem independentes...”.

    A Gazeta do Rio de Janeiro  circulou pela

    primeira vez em 10 de setembro de 1808, um sá-bado. Foi anunciada como semanário, mas já nasemana seguinte passou a bissemanário. Como acensura continuasse em vigor, o jornal, dirigidopor Frei Tibúrcio José da Rocha, procurou se a-presentar como independente. “Esta gazeta, ain-da que pertença por privilégio aos oficiais da Se-

    cretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros eda Guerra, não é, contudo, oficial e o governosomente responde por aqueles papéis que nelamanda imprimir em seu nome”, dizia em seu pri-meiro número.

    Apesar das transformações econômicas, so-ciais e políticas ocorridas no Brasil desde a che-gada da família real, a situação da imprensa nãose alterou antes de 1821. Nesse ano, devido àsdecisões das Cortes portuguesas, as restrições àimprensa diminuíram, enquanto no Brasil as ten-sões que levariam à independência faziam flores-cer uma imprensa política, polarizada como asposições políticas do momento, com espaço atépara o Conciliador do Reino Unido  (apenas seteedições), criado pelo mentor da Abertura dosPortos, José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu,que se tornou o primeiro brasileiro a redigir epublicar um jornal totalmente privado, emborafosse, simultaneamente, membro do conselho decensura da Impressão Régia e inspetor-geral dos

    estabelecimentos literários.Em 25 de abril de 1822, D. João VI, que her-

    dara a coroa, retornou para Portugal. Desta dataaté 23 de julho de 1840, quando foi declarada amaioridade de seu neto, o príncipe herdeiro queseria coroado imperador, como D. Pedro II,(18/7/1841), proliferaram tipografias, panfletos e

     jornais que, como diz a historiadora Isabel Lusto-sa ao analisar a imprensa do período 1821-1823,em grande parte não passavam de “insultos im-pressos” muitas vezes transformados em atenta-

    dos e agressões, numa luta política da qual o pró-prio príncipe e logo imperador, D. Pedro I, parti-cipou com escritos nem sempre elevados. Em1824, a primeira constituição brasileira outorga-da por D. Pedro I, estabeleceu a liberdade de im-prensa como norma, mas, como aconteceria comas Cartas posteriores, incluiu limitações su-ficientemente vagas para que os governos de tur-no aplicassem restrições e represálias.

    Como destaca o também historiador Nelson

    Werneck Sodré, a época da Regência (1831-1840) é muitas vezes apresentada como um tem-po de caos, quando o que havia era uma ordemna qual forças se defrontavam com bons

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    e sólidos motivos. Mais que insultos, eram idéiasem confronto e muitos dos homens que as susten-taram pela imprensa pagaram por isso com a vidaou com os maiores sofrimentos. Entre eles mere-cem destaque:

    • Cipriano José Barata de Almeida e seu

    Sentinela da Liberdade, o primeiro jor-nal republicano brasileiro.

    • João Soares Lisboa,  editor do Correiodo Rio de Janeiro, o primeiro a defen-der pela imprensa a convocação de umaconstituinte brasileira e a primeira pes-soa processada no Brasil por abuso daliberdade de imprensa.

    • Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo(Frei Caneca), editor do Typhis Pernam-

    bucano, no qual defendia a liberdade deimprensa e condenava a escravidão.Preso em combate na repressão à Con-federação do Equador (revolta contra opoder central que eclodiu em 1824), efuzilado no dia 15 de fevereiro de 1825,tornou-se o primeiro mártir da imprensabrasileira.

    • Líbero Badaró, editor do  ObservatórioConstitucional. Defensor da tese de que

    • Líbero Badaró, editor do  ObservatórioConstitucional. Defensor da tese de quea imprensa deveria ser tanto livre quantoresponsável, e crítico em relação ao au-toritarismo do Imperador, Badaró mor-reu, no dia 21 de novembro de 1830, emconseqüência do atentado a bala de que

    fora vítima na véspera. Foi o primeiro jornalista assassinado no Brasil em virtu-de do que escrevia (antes dele, em 1822,Zeferino Vito de Meireles, fundador do

     Diário do Rio de Janeiro, também mor-reu em conseqüência de um atentado,mas de causas desconhecidas).

    Dessa imprensa pioneira, seguem em circula-ção:  Diario de Pernambuco, lançado em Recife

    (PE), em 7/11/1825,  Jornal do Commercio, funda-do no Rio de Janeiro (RJ), em 1º/10/1827, e Moni-tor Campista, de Campos dos Goytacazes (RJ),criado em 4/1/1834. 

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    No transcurso do longo Segundo Reinado(1840-1889), o Brasil manteve-se como uma soci-edade essencialmente rural, com a produção base-ada na mão-de-obra escrava e com uma estruturapolítica conservadora. Mesmo ao final do Impé-

    rio, mais de 90% da população viviam na árearural e 85% eram analfabetos, inclusive grandeparte dos proprietários de terras. Esse quadro im-punha barreiras intransponíveis ao desenvolvi-mento da imprensa brasileira que, entretanto, su-pera a fase dos efêmeros pasquins panfletários,dando origem a jornais mais estáveis e estrutura-dos. O número de títulos até diminui num primei-ro momento, mas as edições e as tiragens aumen-tam; começa a segmentação; a contundência doembate político diminui, embora o alinhamentocom correntes políticas prossiga.

    Do ponto de vista da liberdade de imprensa,o Reinado de Pedro II é incomparável tanto com asituação dos países vizinhos quanto com a regis-trada na Era Republicana, circunstância em muitodecorrente da postura tolerante do monarca frenteàs críticas escritas e ao deboche das caricaturasque na ausência das fotografias eram a principalforma de ilustração. Especialmente notável a esse

    respeito é o fato de que os jornais que pregavama mudança da forma de governo nunca foramreprimidos por isso, ao contrário do que ocorre-ria com as publicações monarquistas, após aProclamação da República. A situação era dife-

    rente nas províncias, principalmente naquelasonde ocorreram conflitos armados, mas na capi-tal, mesmo durante a Guerra do Paraguai, nãohouve cerceamento à imprensa.

    O desenvolvimento dos jornais intensificou-se na segunda metade do século XIX, quandoos títulos mais fortes mudaram de formato, a-bandonando o tamanho pequeno, característicoda fase inicial, incorporaram prelos mais moder-nos e instalaram-se em prédios construídos es-

    pecialmente para abrigá-los. A maioria dos diá-rios fundados no século XIX deixou de circular.Permanecem em circulação os cariocas  Jornaldo Brasil  (Rio de Janeiro) e O Fluminense(Niterói) , os paulistas A Província de São Paulo[atual O Estado de S. Paulo] (São Paulo)  e  ATribuna  (Santos), e o gaúcho Correio do Povo(Porto Alegre). 

    III – O jornalismo no Segundo Reinado

    D. Pedro II foi alvo de críticas e caricatu-ras mordazes e muitas vezes pessoalmenteagressivas, mas jamais admitiu a censura.

    Neste cartum da Revista Ilustrada, a legen-da diz: “El Rey, nosso Senhor, e amo, dor-me o sono da indiferença. Os jornais quediariamente trazem os desmandos destasituação parecem produzir em Sua Majes-tade o efeito de um narcótico”.

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    Ainda sob o Império a segmentação, que atéentão se limitara a jornais políticos, voltados paraa atividade comercial e de informação geral, am-pliou-se com o surgimento dos periódicos ilustra-dos, como A Semana Ilustrada (1860); femininos,como o Jornal das Senhoras (1852); e os voltadosaos imigrantes, como o pioneiro O Colono Ale-

    mão (1836). Do ponto de vista ideológico, no últi-mo quarto do século XIX, a segmentação deu-seem torno de duas clivagens: entre monarquistas erepublicanos, como já mencionado, e entre aboli-cionistas e partidários da ordem escravocrata. Emdefesa dessas causas, as principais lideranças po-líticas e intelectuais debateram pelos jornais atéque, num intervalo de 18 meses, a monarquia es-cravista desse lugar à república de homens livres.

    Na década de 1850, o Brasil entra na era dasferrovias e das telecomunicações. Entre a primei-ra ferrovia – cerca de 15km, ligando Porto da Es-trela a Raiz da Serra, inaugurada em 1854 –, inici-ativa de Irineu Evangelista de Sousa (que por issorecebeu o título de Barão de Mauá), e o final doImpério, em 1889, foram construídos cerca de9.000km de estradas de ferro, a maior quilometra-gem da América do Sul. Apesar de entrecortado,esse sistema facilitou a distribuição dos jornaisnas regiões de maior população e mais intensaatividade econômica, ao mesmo tempo em que

    as linhas telegráficas paralelas aos trilhos e operadaspelas empresas ferroviárias proporcionavam maiorrapidez no fluxo de informações destinadas às reda-ções.

    O telégrafo elétrico foi introduzido no Brasilem 1852 – apenas oito anos após, portanto, o iníciodas transmissões experimentais de Morse entre Wa-

    shington e Baltimore –, ligando o Palácio Real daQuinta da Boa Vista ao Quartel General do Exérci-to. Não era de acesso público. Nos anos seguintes, arede operada pela Repartição Geral dos Telégraphosfoi ampliada paulatinamente e em maio de 1889 me-dia 10.755Km, com 172 estações entre o Pará e oRio Grande do Sul e ramificações para cidades dointerior de diversos estados. Essa rede nacional foiinterligada ao cabo submarino que partia de Londrese chegava a Recife, cujo trecho transatlântico foiinaugurado em 1874. O custo e as condições detransmissão não favoreciam o envio de mensagenslongas, mas permitiram aos jornais das maiores ci-dades brasileiras receber informações sobre os prin-cipais acontecimentos no mesmo dia emque ocorriam. 

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     Os linotipos, que fundiam numa liga de chumbo, ré-gulo de antimônio e estanho o texto digitado pelográfico, substituíram a composição com tipos móveis.No Brasil, os grandes jornais adquiriram os primeirosequipamentos durante a chamada República Velha.

    Com a Era Republicana a imprensa atraves-sou um novo ciclo de transformações. Do pontode vista institucional, a primeira conseqüência foiuma volta aos tempos de cerceamento da liberda-de e dos atos de violência, no início sobretudocontra os poucos jornais que se mantinham mo-narquistas, por parte de agentes e simpatizantesdo governo. Não foram atos isolados de indiví-duos exaltados, mas reflexos do clima de “caça àsbruxas” estabelecido pelo Governo Provisório (doqual faziam parte os jornalistas Quintino Bocaiú-va e Aristides Lobo, que haviam pregado a causarepublicana sem constrangimentos) ao baixar oDecreto 85, de 23 de dezembro de 1889, pelo qual“os indivíduos que conspirarem contra a Repú-

    blica e o seu governo: que aconselharem ou pro-moverem por palavras escritos ou atos a revoltacivil ou a indisciplina militar... serão julgados

     por uma comissão militar... e punidos com as pe-nas militares de sedição”.

    A chamada República Velha (1889-1930)teve história acidentada, marcada por revoltas mi-litares e civis, prolongados períodos de estado desítio, além de medidas de repressão às liberdadesem geral e em particular à de imprensa, como aLei Adolfo Gordo (em alusão ao autor do proje-to). Em alguns casos, essas medidas fizeram parteda repressão a movimentos operários e anarquis-tas, embora abrangessem a imprensa em geral.Em outros casos, tratava-se simplesmente de calara oposição. E, além da repressão, não foram pou-cos os casos em que recursos públicos foram utili-zados para corromper jornais e jornalistas, emespecial sob o governo Campos Salles.

    Apesar da repressão, a imprensa da Repúbli-ca Velha desenvolve-se em dois novos segmen-

    tos: o da imprensa operária e o da voltada para ascomunidades imigrantes. As publicações operá-rias cresceram com a industrialização e com a i-migração registrada no início do século XX, fa-zendo com que o surgimento de títulos voltadospara esse público se multiplicasse (entre 1890 e1923, segundo um levantamento, chegaram a 343,a maioria em São Paulo e Rio de Janeiro). Quantoàs comunidades, somente em São Paulo, à épocada Revolução de 1930, havia de 30 periódicos emsete idiomas estrangeiros.

    Do ponto de vista técnico, durante a Repúbli-ca Velha a imprensa viu surgir o primeiro desafi-

    ante ao seu monopólio secular como fonte de in-formação barata: o rádio, que chegou ao Brasilem 1923, pela mão de Edgard Roquette-Pinto.Por alguns anos, porém, as emissoras de rádiolimitaram-se a programas de entretenimento, sóposteriormente passando a veicular publicidadede notícias. Enquanto isso, os principais jornaisbrasileiros deram um novo salto com a incorpo-ração de máquinas de escrever à redação e à áreaadministrativa, linotipos para acelerar a composi-ção e rotativas que permitiram aumentar as tira-gens e melhorar a qualidade da impressão.

    IV – A imprensa na tumultuada República Velha

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    Nessa fase, surgem novos títulos, entre osquais os atualmente filiados à ANJ: Alto Madeira(Porto Velho-RO), A Cidade (Ribeirão Preto-SP),

     A Gazeta (Vitória-ES), A Notícia (Joinville-SC), A Tarde (Salvador-BA),Comércio da Franca(Franca-SP), Comércio do Jahu (Jaú-SP), Cor-reio Popular (Campinas-SP), Cruzeiro do Sul

    (Sorocaba-SP), Diário (Marília-SP), DCI – Diá-rio Comércio e Indústria (São Paulo-SP), Diáriodo Povo (Campinas-SP), Diário dos Campos(Ponta Grossa-PR), Diário Popular (Pelotas-RS),Estado de Minas (Belo Horizonte-MG), Diário

     Mercantil (Rio de Janeiro-RJ); Folha da Noite (hoje Folha de S.Paulo - São Paulo-SP), Gazetado Povo (Curitiba-PR), Gazeta do Sul (SantaCruz do Sul-RS), Gazeta Mercantil (São Paulo-SP), Jornal de Piracicaba (Piracicaba-SP), Jor-nal do Comércio (Manaus-AM), Jornal do Com-mercio (Recife-PE), Jornal do Povo (Cachoeira

    do Sul-RS), Monitor Mercantil (Rio de Janeiro- RJ), O Globo (Rio de Janeiro-RJ), O Imparcial(São Luís-MA), O Nacional (Passo Fundo-RS), O

     Norte (João Pessoa-PB), O Povo (Fortaleza-CE).

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      Da Revolução de 1930 até o fim do Esta-do Novo, em 1945, o quadro político brasileirooscilou entre a instabilidade do Governo Provisó-rio, a Revolução de 1932, o breve interlúdio de-mocrático que culminou com a Constituição de

    1934, e o estabelecimento do Estado Novo em1937. A imprensa acompanhou essa evolução,posicionando-se em função dos acontecimentos,inclusive alinhando-se com as facções em comba-te em 1932. A partir do golpe de estado de 1937,porém, o espaço para o exercício da liberdade deimprensa virtualmente desapareceu e até mesmoas diferenças políticas regionais foram sufocadas.O peso do Estado fez-se crescente sobre os jor-nais com base numa Carta constitucional outorga-da no mesmo ano, que tornava a imprensa um ser-

    viço público e como tal sujeita ao controle estatal.

    Em 1939, o governo reformulou seu organis-mo de propaganda criando o Departamento deImprensa e Propaganda (DIP), pelo decreto-lei nº1915, em 27 de dezembro, com as atribuições decensurar toda a produção jornalística, cultural ede entretenimento, produzir conteúdos e controlaro abastecimento de papel. A polícia política vigia-va de perto os profissionais de imprensa eos jo rnais eram submetidos à censura, com a

    V – Entre a Revolução de 1930 e o fim do Estado Novo

    O Palácio Tiradentes, sededa Câmara dos Deputados

    até o fechamento do Con-gresso Nacional por GetúlioVargas, passou a abrigar oDepartamento de Imprensa ePropaganda, o DIP. Hojeacolhe a Assembléia Legis-lativa do Estado do Rio deJaneiro.

    reprodução obrigatória ou enfaticamente induzidada propaganda estatal, pressionados por meio deverbas publicitárias, financiamentos e subsídiosou obstáculos ao fornecimento de insumos, quasetodos importados. Não por acaso, a entrada em

    cena do DIP e a exigência de autorização para acirculação de publicações, estabelecida pouco de-pois pelo Decreto 1.949, de 30 de dezembro de1939, significou o veto ao registro de 420 jornaise 346 revistas. Não houve alterações expressivasno aspecto técnico da imprensa, já que a Guerraimplicara o engajamento da capacidade industrialdos países desenvolvidos, fornecedores de equi-pamentos, no esforço bélico.

    Nesse período surgiram os seguintes jornais

    associados à ANJ:  A Tribuna (Vitória-ES), Cor-reio de Uberlândia (Uberlândia-MG), Correio Lageano (Lages-SC), Diário da Manhã (PassoFundo-RS), Diário de Natal/O Poti (Natal-RN),Gazeta de Alagoas (Maceió-AL), Jornal Cidadede Rio Claro (Rio Claro-SP), Jornal do Comércio(Porto Alegre-RS), O Imparcial (Presidente Pru-dente-SP), O Popular (Goiânia-GO), O São Gon-çalo (São Gonçalo-RJ).

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    A deposição de Vargas, em 1945, foi mais doque o encerramento de um ciclo autoritário. Re-presentou o início de uma experiência democráti-ca republicana como o País ainda não havia expe-rimentado, que se prolongaria até o golpe militar

    de 1964. Nem por isso foi um período tranqüilo.Em 1954, Vargas, que havia sido eleito quatroanos antes, suicidou-se em meio a uma crise polí-tica desencadeada pelo atentado contra o jornalis-ta Carlos Lacerda. O episódio causou comoçãonacional com incidentes em várias cidades, inclu-sive com o empastelamento de jornais identifica-dos com a oposição ao presidente.

    A turbulência foi menos dramática em 1961,quando Jânio Quadros renunciou à presidência e

    seu vice, João Goulart, só assumiu depois de acei-tar a adoção do regime parlamentarista, revogadoem 1963. Eventos como esses, contribuíram paratornar o jornalismo político o tema central da im-prensa brasileira que, ao mesmo tempo, passavapor mudanças estruturais, que faziam parte de umprocesso mais amplo de transformação do País,de agrário em urbano e de uma economia agrário-exportadora em industrializada, uma mudança emcujo centro esteve o governo de Juscelino Kubits-check. O mandato de JK condensou e acelerou os

    processos de urbanização, industrialização, for-mação de um mercado interno integrado e nota-velmente o fez sob um clima de vigência das li-berdades só comparável aos melhores momentos

    VI – O Brasil e a imprensa no interregno democrático 1945- 1964

    O suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954,provocou uma comoção nacional. Seguindo cada deta-lhe da crise pelos jornais – e atacando aqueles que con-siderava opositores ao presidente –, a população acom-panhou como pôde o velório no Rio de Janeiro e o tras-lado do corpo até o cemitério de São Borja, no RioGrande do Sul.

    do Segundo Reinado.

    O período 1945-1964 foi um tempo de transi-ção do Brasil e de sua imprensa. Havia absolutaliberdade, mas as relações entre o governo e os

     jornais e entre o governo e os jornalistas manti-nham algumas práticas do passado, que começa-ram a perder terreno frente a uma crescente parti-cipação da publicidade privada no faturamentodas empresas jornalísticas, decorrente da moder-nização econômica. É nessa época que, para umnúmero crescente de jornais, a receita publicitáriasuplanta a obtida com assinaturas e com vendaavulsa.

    A TV surge na metade dessa fase, o rádiotem enorme audiência, mas os jornais são o meio

    de comunicação por excelência. Segundo levanta-mento da agência de publicidade J. WalterThompson, em 1952, o Brasil tinha 55,77 milhõesde habitantes, um PIB de 12,5 bilhões de dólares,um PIB per capita de 224 dólares e 230 jornais,com uma circulação total de 5,75 milhões de e-xemplares. Já a Argentina, no auge de seu podereconômico, tinha 18,48 milhões de habitantes, umPIB de 8,5 bilhões de dólares, um PIB per capitade 460 dólares e 130 jornais, com uma circulaçãototal de 1,8 milhão de exemplares.

    O fim da II Guerra significou em todo o mun-do a reconversão para fins civis da produção in-dustrial de bens de capital e de consumo e uma

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    retomada do comércio internacional. Parte do de-senvolvimento tecnológico gerado durante o con-flito também foi aplicado com outras finalidades.Para a imprensa, isso significou o início de umnovo ciclo de modernização tecnológica, emboramodesto se comparado com a revolução tecnoló-gica que ocorreria no final do século XX. Ainda

    assim, os jornais brasileiros investiram em equi-pamentos. As inovações alcançaram as redaçõescom a adoção de técnicas jornalísticas inspiradasno modelo americano, entre as quais a busca daobjetividade, o lide, a pirâmide invertida, a dia-gramação mais atrativa e até a organização dasredações por editorias.

    As empresas e os jornalistas passavam porum processo de profissionalização tanto adminis-trativa como operacional, embora ser dono oumembro da redação de um grande jornal aindaconferisse prestígio e influência. Talvez por issoalguns autores reduzam a evolução da imprensadurante esse período ao conflito entre três perso-nalidades: Assis Chateaubriand (Diários Associa-dos), Samuel Wainer (Última Hora) e Carlos La-cerda (Tribuna da Imprensa), o que é incor reto.

    Nessa época surgiram os seguintes jornaisassociados à ANJ:  A Crítica (Manaus-AM), Cor-reio Braziliense (Brasília-DF), Correio da Paraí-ba (João Pessoa-PB), Correio do Estado (CampoGrande-MS), Diário Comercial (Rio de Janeiro-

     RJ), Diário da Borborema (Campina Grande-PB), Diário da Região (São José do Rio Preto-

    SP), Diário de Suzano (Suzano-SP), Diário doGrande ABC (Santo André-SP), Diário do Noro-este (Paranavaí-PR), Diário Popular (Curitiba-PR), Jornal da Manhã (Ponta Grossa-PR), Jornal

     NH (Novo Hamburgo-RS), O Dia (Rio de Janeiro-RJ), O Dia (Teresina-PI), O Diário de Mogi(Mogi das Cruzes-SP), O Estado do Paraná(Curitiba-PR), O Liberal (Belém-PA), O Progres-so (Dourados-MS), Pioneiro (Caxias do Sul-RS),Tribuna de Indaiá (Indaiatuba-SP), Tribuna do

     Norte (Natal-RN), Tribuna do Paraná (Curitiba-

    PR), Valeparaibano (São José dos Campos-SP).

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    Na noite de 31 de março para 1º de abril de1964, o deslocamento de tropas do Exército sedi-adas em Minas Gerais em direção ao Rio de Ja-neiro iniciou o movimento militar que deporia o

    presidente João Goulart, dando início ao ciclo degovernos militares que duraria até 15 de março de1985. Como indica o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, da Fundação Getúlio Var-gas, se a chegada dos militares ao poder não podeser considerada uma “Revolução”, como se pre-tendeu, tampouco foi um Golpe de Estado no sen-tido clássico. Foi um movimento político-militarque mais do que transformações abruptas, mudouo País ao longo de duas décadas. Foi apoiado poramplas parcelas da população e pela maioria dos

    detentores de cargos eletivos. Teve, também, orespaldo editorial da quase totalidade dos jornaisbrasileiros.

    Durante os anos subseqüentes, em graus emomentos distintos, os jornais gradualmente as-sumiram postura crítica ao regime militar na me-dida em que este se tornava politicamente maisautoritário, economicamente menos eficaz e mo-ralmente mais frágil. A princípio, embora as lide-ranças políticas identificadas com o antigo gover-

    no e à esquerda dele tenham sido perseguidas, nãohouve maior repressão à imprensa que, entretanto,perdeu força como espaço de discussão dos gran-des temas nacionais. Isso ocorreu muito mais peloafastamento da cena pública dos principais mem-bros das correntes opositoras do que pela censuradireta ou por qualquer outro motivo. Basta lem-brar que o exílio, a prisão ou o ostracismo forçadoforam o destino de personalidades de prestígioantes de 64 e após a redemocratização, como

    Quando o regime militar já ensaiava a “abertura”, o jornalista Vladimir Herzog, que se apresentou esponta-neamente ao saber que era procurado pelos órgãos re-pressivos, tornou-se um mártir. Nesta foto, divulgadapelo governo, ele aparece como teria sido encontradona peça em que estava detido. O atestado dizia que ha-via morrido por auto-enforcamento.

    VII – Novo ciclo autoritário: a imprensa e o regime militar

    os ex-presidentes (Juscelino Kubitscheck, JânioQuadros e João Goulart), os ex-governadores(Carlos Lacerda, Leonel Brizola e Miguel Arra-es), intelectuais (Celso Furtado, Fernando Henri-que Cardoso, Josué de Castro e Paulo Freire), lí-deres emergentes do movimento estudantil (JoséDirceu e José Serra), para citar apenas alguns.

    Diante das restrições ao noticiário político esocial e da expansão econômica do País, os jor-nais reforçaram suas editorias de economia. Issosignificou o desenvolvimento de um jornalismoeconômico vigoroso, tanto nos títulos especializa-dos, quanto nos de informação geral. Essa exper-tise se revelaria de extraordinária utilidade para aimprensa e para a população nas décadas de 1980

    e 1990, quando o Brasil, em menos de dez anos,passou por três presidentes, 11 ministros da Fa-zenda, nove diferentes políticas econômicas e seispadrões monetários. Se a população e a economiasuportaram tamanha instabilidade, isso se deveu,em grande medida, à capacidade dos jornais debem informar a respeito.

    Durante esse período, a TV, que chegara aoPaís em 1950, tornou-se um meio de comunica-ção de massa, fortalecido pela possibilidade de

    realizar transmissões ao vivo a longas distâncias eem cores, com o desenvolvimento das telecomu-nicações na década de 1970. Paralelamente, ocrescimento econômico que caracterizou o final

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    dos anos 1960 e grande parte da décadaseguinte, em particular a expansão industri-al, foi acompanhado pela aceleração do processode urbanização (é nessa época que a populaçãourbana supera a rural) e pela redução do analfabe-tismo (que se tornou inferior a 40% em 1960).Em conseqüência dessas transformações, a im-

    prensa brasileira passou por mais um ciclo de mu-danças. Os jornais vespertinos gradualmente de-sapareceram ou se tornaram matutinos, o númerode títulos nas maiores cidades diminuiu. Os líde-res, porém, aumentaram sua circulação e se mo-dernizaram tecnologicamente com a introduçãoda fotocomposição e da impressão offset na déca-da de 1970 e com a informatização, já na fase detransição do regime militar para a redemocratiza-ção.

    Paralelamente à imprensa estabelecida sobrebases tradicionais, o Brasil sob os governos mili-tares viu surgir uma “imprensa alternativa”, com-posta por veículos independentes em relação àsempresas jornalísticas e ao mercado publicitário,cujo conteúdo se caracterizava pelo tom críticoem relação à situação econômica e política do Pa-ís, mas também relativamente aos costumes. Oprimeiro foi o Pif Paf , criado por Millôr Fernan-des em maio de 1964, que teve apenas oito edi-ções. Mais duradouros foram O Pasquim, funda-

    do em 1969, que mesclava textos sobre política,cultura e humor; Opinião, criado em 1972 peloempresário e futuro deputado constituinte Fernan-do Gasparian, que se caracterizava por artigossobre a situação nacional e internacional;  Movi-mento, surgido em 1975 de uma dissidência deOpinião  sob a liderança de Raimundo RodriguesPereira. A maioria teve vida efêmera devido àcensura ou à falta de sustentação financeira. Ain-da assim, segundo a publicação Imprensa alterna-tiva: Apogeu, queda e novos caminhos, no final

    do regime militar “podiam-se contar mais de 150 jornais alternativos de vários tipos – satíricos, po-líticos, feministas, ecológicos, culturais”. 

    O período foi sombrio para o exercício daliberdade de imprensa. O endurecimento do regi-me militar, com a edição do Ato Institucional nº 5(AI-5), no dia 13 de dezembro de 1968, reintrodu-ziu a censura direta e indireta em níveis só com-paráveis ao período mais duro do Estado Novo,chegando a situações surrealistas, como a proibi-ção, pela Polícia Federal, de que os jornais divul-gassem um discurso do líder do governo no Sena-do negando a existência de censura no País. Em-bora poucos tenham sido os jornais obrigados a

    submeter todos os seus textos a censores, o cer-ceamento da liberdade dava-se sob outras for-mas, como as pressões econômicas por meio deverbas publicitárias oficiais ou a anunciantes pri-vados, atentados, ameaças e vigilância ostensivasobre os editores e jornalistas.

    Em agosto de 1974, o presidente da Repúbli-

    ca, general Ernesto Geisel anunciava uma “lenta,gradativa e segura distensão”. A partir dessa dataocorreu efetivamente uma abertura política, em-bora prosseguissem os atentados aos direitos hu-manos e à liberdade de imprensa. Entre os casostrágicos de maior repercussão está a morte – sui-cídio por enforcamento segundo a versão oficial– do jornalista Valdimir Herzog, em 25 de outu-bro de 1975. Os jornais brasileiros não se resig-naram com as promessas e concessões e passa-ram a buscar a ampliação da abertura, aumentan-do o noticiário crítico ao governo, acompanhan-do a crescente atividade dos movimentos sociais,em particular as greves então ilegais em todos ossetores exceto em casos muito limitados, e reper-cutindo as manifestações de uma oposição que sefortalecia a cada oportunidade, em especial a par-tir da revogação do AI-5 e da Anistia aos puni-dos pelo regime.

    Nesse período foram fundados os seguintes- jornais associados à ANJ: Cinform (Aracaju-SE),

     Diário Catarinense (Florianópolis-SC), Diárioda Manhã (Goiânia-GO), Diário do Amazonas(Manaus-AM), Diário do Nordeste (Fortaleza-CE), Diário do Pará (Belém-PA), Folha da Ma-nhã (Campos de Goytacazes-RJ), Folha da Regi-ão (Araçatuba-SP), Folha de Boa Vista (BoaVista-RR), Folha Dirigida (Rio de Janeiro-RJ),Gazeta do Oeste (Mossoró-RN), Hoje em Dia(Belo Horizonte-MG), Jornal da Cidade(Aracaju-SE), Jornal da Cidade (Bauru-SP),

     Jornal da Manhã (Uberaba-MG), Jornal da Pa-

    raíba (Campina Grande-PB), Jornal da Tarde(São Paulo-SP), Jornal de Brasília (Brasília-

     DF), Jornal de Jundiaí (Jundiaí-SP),Jornal de Londrina (Londrina-PR), Jornal de Santa Cata-rina (Blumenau-SC), Jornal do Dia (Macapá-

     AP), Jornal do Tocantins (Palmas-TO), Mogi News (Mogi das Cruzes-SP), O Debate-Diáriode Macaé (Macaé-RJ), O Diário do Norte doParaná (Maringá-PR), O Estado do Maranhão(São Luís-MA), O Paraná (Cascavel-PR), O Re-gional (Catanduva-SP), Tribuna de Minas (Juizde Fora-MG), Tribuna do Cricaré (São Mateus-ES), Vale dos Sinos (São Leopoldo-RS), Zero

     Hora (Porto Alegre-RS).

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    A fase mais recente da história dos jornais bra-sileiros é marcada por circunstâncias únicas. Ape-sar de transcorridos apenas 20 anos, é o maior perí-odo da Era Republicana em que houve plena vi-gência das instituições democráticas. Os poderesLegislativo e Judiciário funcionaram ininterrupta-mente e com total autonomia. O País superou comabsoluta tranqüilidade a imprevisível experiência

    de declaração de impedimento de um presidente daRepública e há mais de dez anos afastou-se dosrecorrentes surtos inflacionários. Ao longo desseperíodo, a imprensa teve condições e exercitou efe-tivamente seu papel.

    Em 1992, as denúncias de corrupção que du-rante meses vinham sendo veiculadas pela impren-sa chegaram ao próprio presidente da República,Fernando Collor de Mello, o primeiro a ser eleitopelo voto direto após o ciclo de governos militares.

    Numa tentativa de obter respaldo popular, ele pe-diu à população que saísse às ruas com as coresnacionais. O efeito foi o contrário e, no dia 16 de

    Fernando Collor de

    Mello tornou-se o pri-meiro presidente eleitopelo voto direto após aredemocratização. Acorrupção, os desman-dos e a prepotência,revelados pela impren-sa, levaram a protestospor todo o País e a seuafastamento do cargopelo Congresso Nacio-nal, em 29 de dezembrode 1992.

    VIII – A redemocratização e a imprensa no Século XXI

    O início da redemocratização pode ser situa-do de diversas maneiras, segundo o evento histó-rico que se tenha como referência. A posse deJosé Sarney como o primeiro presidente civil a-pós o regime militar, em 1985, poderia ser umadelas, mas se deu ainda sob o arcabouço jurídicoanterior. Para alguns historiadores, o restabeleci-mento da democracia completou-se com a pri-meira eleição direta para presidente da Repúbli-ca, em 1989. Ent re ambas, contudo, deu-se a

    agosto, multidões manifestaram-se pacificamenteem todo o País, predominantemente de preto, exi-gindo o seu afastamento. Em 1º de setembro, o pe-dido de impeachment foi entregue formalmente àCâmara dos Deputados, que o aprovou no dia 29do mesmo mês, por 441 votos a 38. Afastado inte-rinamente do cargo, foi submetido a julgamentopor crime de responsabilidade pelo Senado Fede-

    ral, que, em 29 de dezembro, decidiu por seu afas-tamento definitivo e imediato e perda dos direitospolíticos por oito anos. Quatro horas depois do en-cerramento da votação pelos senadores, o vice Ita-mar Franco, que já exercia a Presidência, foi con-firmado no posto.

    A concorrência pela preferência do cidadão naescolha de suas fontes de informação intensificou-se com o surgimento de novas mídias, como a TVpor assinatura e a internet. Os jornais brasileiros

    souberam se adaptar a esse novo cenário, buscandomaior eficiência técnica e gerencial. Assim, aomesmo tempo em que se generalizaram as versões

    promulgação da Constituição de 1988, que conso-lidou o princípio da liberdade de imprensa comonenhuma outra antes, mas deixou indefinida umasérie de outras questões. Até hoje, decorridos 20anos, não está claro se recepcionou, isto é, semanteve vigente a legislação anterior sobre as-suntos como a regulamentação profissional, e so-mente em 2008 o Supremo Tribunal Federal sus-pendeu a vigência de alguns dispositivos da anti-ga Lei de Imprensa.

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    digitais, mesmo por iniciativa de jornais de pe-queno porte (em muitos casos com edições onli-ne), as edições impressas seguiram inovando enovos títulos, principalmente voltados para a lei-tura rápida, surgiram nas principais cidades. Emconseqüência, o Brasil é um dos poucos países domundo em que a circulação de jornais mantém-se

    em crescimento. No primeiro semestre de 2008, amédia diária de circulação dos 103 jornais filiadosao Instituto Verificador de Circulação (IVC)cresceu 8,1% em comparação com o mesmoperíodo do ano anterior. Foram 4,392 milhões deexemplares em 2008 ano contra 4,062 milhões noprimeiro semestre de 2007. Foi o quarto ano decrescimento ininterrupto.

    São dessa época os seguintes jornais associa-dos à ANJ: A Gazeta (Cuiabá-MT), A Gazeta (Rio

     Branco-AC), Alagoas em Tempo (Maceió-AL), Amazonas em Tempo (Manaus-AM), Amazônia Hoje (Belém-PA), Bom Dia (São José do RioPreto-SP), Correio da Bahia (Salvador-B A) ,

    Correio de Sergipe (Aracaju-SE), Diário da Ama- zônia (Porto Velho-RO), Diário do Alto Tietê(Suzano-SP), Diário do Amapá (Macapá-AP),

     Diário Lance! (Rio de Janeiro-RJ), Diário Regio-nal (Santo André-SP), Extra (Rio de Janeiro-RJ),Folha de Louveira (Louveira-SP), Folha de Per-nambuco (Recife-PE), Folha de Rondônia (Ji-

    Paraná-RO), Folha do Estado (Feira de Santana- BA), Folha do Estado (Cuiabá-MT), Jornal DeFato (Mossoró-RN), Jornal Meio Norte (Teresina-PI), Notícia Agora (Vitória-ES), Notícia Já(Campinas-SP), Notícias do Dia (Florianópolis-SC), O Estado do Mato Grosso do Sul (CampoGrande-MS), O Jornal (Maceió-AL), O Sul(Porto Alegre-RS), O Tempo (Contagem-MG),Oeste Notícias (Presidente Prudente-SP), Página20 (Rio Branco-AC), Tododia (Americana-SP),Tribuna do Norte (Apucarana-PR), Tribuna Im-

     pressa (Araraquara-SP), Valor Econômico (SãoPaulo-SP).