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FUSÕES E AQUISIÇÕES: O CASE DA AT&T E TIME WARNER Henry Dias Alves Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Thereza Aquino Rio de Janeiro Dezembro de 2018

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FUSÕES E AQUISIÇÕES: O CASE DA AT&T E TIME WARNER

Henry Dias Alves

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientadora: Thereza Aquino

Rio de Janeiro

Dezembro de 2018

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Alves, Henry Dias

Fusões E Aquisições: O Case Da AT&T E Time Warner/

Henry Dias Alves. – Rio de Janeiro: UFRJ/ESCOLA

POLITÉCNICA, 2018.

VII, (48 páginas) p.: il, 29,7 cm

Orientadores: Thereza Cristina Nogueira de Aquino.

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Produção, 2018

Referências bibliográficas: p. a definir.

1. Fusões e Aquisições 1. 2. Sinergias 2 3. Criação de

Valor 3 I. Aquino, Thereza et al. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia de

Produção. III. Título a definir

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Regina e Henrique, por terem me possibilitado um

futuro sem barreiras inalcançáveis.

Agradeço em segundo lugar ao Colégio Pedro II, lugar que me formou como pessoa e me fez

acreditar que tudo era possível.

Agradeço posteriormente a todas as pessoas envolvidas na minha formação na UFRJ. Amigos,

Professores, Funcionários e Família durante esses mais de 5 anos.

Agradeço em último lugar à minha melhor amiga. Importante em tempos difíceis e companheira

em todos os outros.

Obrigado!

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“Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos

muito mais do que antes julgávamos”

José Saramago

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

FUSÕES E AQUISIÇÕES: O CASE DA AT&T E TIME WARNER

Henry Dias Alves

Dezembro/2018

Orientadores: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Curso: Engenharia de Produção

O presente projeto cria-se da motivação de explorar os motivos estruturais e estratégicos que

permeiam uma operação pertencente ao escopo das fusões e aquisições. Para isso, analisa-se o

case de compra da Time Warner pela AT&T, duas empresas americanas dos setores de

telecomunicações e mídia. O trabalho perpassa, desta forma, e fundamentado por completa

revisão teórica, pela classificação e identificação de sinergias, pela discussão sobre as mudanças

estratégicas que uma negociação de M&A pode trazer em termos de integração de negócios e

pelas mudanças imediatas à consolidação do balanço contábil das empresas participantes da

operação. Por fim, conclui-se o projeto testando as motivações que levaram a sua escrita,

encontrando a validade do estudo mesmo dentro das limitações e com a indicação de estudos e

análises futuras nos temas de análise e valoração de empresas prevalecendo-se da

fundamentação apresentada.

Palavras-chave: Fusões e Aquisições, Sinergias, Criação de valor,

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer

MERGERS AND ACQUISITIONS: THE CASE OF AT&T AND TIME WARNER

Henry Dias Alves

December/2018

Advisors: Thereza Cristina Nogueira de Aquino

Course: Industrial Engineer

The present work was formed from the motivation to explore both structural and strategic

reasons that pervade operations belonging to the scope of Mergers and Acquisitions (M&A).

Therefore, we analyze the case of purchase of Time Warner by AT&T, two American

companies at the telecommunications and media sectors. Using a complete theoretical review,

this work deliberates the classification and identification of synergies, the discussion about the

strategic changes a M&A trade brings in terms of business integration and the accounting

balance changes immediate to the financial consolidation. In conclusion, the project tests the

motivations that led to its writing, encountering the validity of the study even considering its

limitations and indicates studies amoung the topics of Company Analysis and Valuation

benefiting of the presented theoretical base.

Keywords: M&A, Valuation, Synergies

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SUMÁRIO

1 Introdução ..................................................................................................................... 1

1.1 Motivação ................................................................................................................ 1

1.2 Metodologia ............................................................................................................. 2

1.3 Objetivo ................................................................................................................... 2

2 Revisão bibliográfica..................................................................................................... 4

2.1 Fusões e Aquisições ................................................................................................. 4

2.2 Sinergias e criação de valor ...................................................................................... 7

2.3 Goodwill e prêmio ................................................................................................. 10

2.4 Balanço e fluxo de caixa ........................................................................................ 14

2.4.1 CONTAS DO BALANÇO .............................................................................. 15

2.4.2 CONTAS DO DRE E FLUXO DE CAIXA .................................................... 16

2.5 Diferença nas normas contábeis ............................................................................. 17

3 Fusões e Aquisições no Brasil e no Mundo................................................................. 18

3.1 Números no mundo ................................................................................................ 18

3.2 Brasil ..................................................................................................................... 22

4 AT&T .......................................................................................................................... 26

4.1 AT&T .................................................................................................................... 26

4.2 Operação................................................................................................................ 27

4.3 Posicionamento e Swot .......................................................................................... 28

5 Time Warner ............................................................................................................... 31

5.1 Home Box Office – HBO ....................................................................................... 32

5.2 Warner Bros .......................................................................................................... 34

5.3 Turner .................................................................................................................... 35

6 Case: AT&T e Time Warner ...................................................................................... 38

6.1 Análise Financeira ................................................................................................. 40

6.2 Análise de Sinergias ............................................................................................... 45

7 Conclusão .................................................................................................................... 47

7.1 Resultados futuros e limitações .............................................................................. 47

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Referências ......................................................................................................................... 49

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 - Goodwill e Prêmio .......................................................................................................................11

Figura 2.2 - Goodwill – Retorno de longo-prazo ..............................................................................................12

Figura 2.3 - TSR e prêmio em operações de M&A ..........................................................................................13

Figura 2.4 - Retorno de empresas e M&A. ............................................................................................................14

Figura 3.1 - Crescimento de operações de M&A ..................................................................................................18

Figura 3.2 - Crescimento dos índices americanos de ações ..............................................................................20

Figura 3.3 - Números de M&A entre setores ...................................................................................................21

Figura 3.4 - M&A no Brasil: setores e perfil das transações .............................................................................22

Figura 3.5 - M&A no Brasil: setores e perfil das transações .............................................................................23

Figura 3.6 - M&A no Brasil: Regiões e Estados ..............................................................................................24

Figura 3.7 - M&A no Brasil: Transações domésticas e com participação Estrangeira .......................................24

Figura 3.8 - Dados: Transações cross-border ...................................................................................................25

Figura 4.1 - Evolução visual AT&T ................................................................................................................26

Figura 4.2 - Fortune 10 -2018 .........................................................................................................................27

Figura 4.3 - Distribuição de receita pelos seguimentos ....................................................................................28

Figura 4.4 - Empresas concorrentes no mercado de telecomunicação ...............................................................29

Figura 5.1 - Receita 3T – Time Warner (AT&T annual report) ........................................................................32

Figura 5.2 - HBO programação .......................................................................................................................33

Figura 5.3 - Receita 3T – HBO .......................................................................................................................34

Figura 5.4 - Warner Bros 3T – Time Warner ...................................................................................................35

Figura 5.5 - Canais Turner ..............................................................................................................................36

Figura 5.6 - Turner 3T – Time Warner ............................................................................................................37

Figura 6.1 - Descontos T, VZ ..........................................................................................................................39

Figura 6.2 - Portfolio de Serviços – AT&T x Verizon......................................................................................40

Figura 6.8 - Crescimento comparativo de receita .............................................................................................45

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 4.1: SWOT..................................................................................................................................................30

Tabela 6.3: Balanço Patrimonial - Ativo. ......................................................................................................... 41

Tabela 6.4: Balanço Patrimonial - Ativos Intangíveis....................................................................................... 42

Tabela 6.5: Balanço Patrimonial - Passivo e Patrimônio Líquido...................................................................... 43

Tabela 6.6: Fluxo de Caixa Livre e Dividendos......................................................................................................43

Tabela 6.6: DRE......................................................................................................................................................44

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ÍNDICE DE SIGLAS

BR GAAP – Sigla para os princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil

DRE – Demonstrativo de resultado de exercício

IOT – Internet das coisas (tradução do inglês)

IRFS - International Financial Reporting Standards

M&A – Sigla para fusões e aquisições em inglês

NYSE – New York Stock Exchange, bolsa de valores americana

US GAAP - Sigla para os princípios contábeis geralmente aceitos nos Estados Unidos

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1 INTRODUÇÃO

Gitman [3], define as fusões e aquisições como formas de reestruturação empresarial,

inseridas no conjunto de movimentos coorporativos que envolvam a expansão ou contração

operacional de uma companhia ou modificações na sua estrutura financeira ou de ativos.

Brealey, Myers e Allen [4] acrescem à definição a ideia fundamental de que a mudança de

controle ou reestruturação da empresa tem objetivos definidos a priori que culminam em um

único principal: a criação de valor ao acionista [4].

Neste contexto, a importância crescente das fusões e aquisições no cenário financeiro

mundial após a primeira onda de eventos ocorrida ao final do século XIX - iniciada nos Estados

Unidos e posteriormente presente na Europa e na Ásia [1] em conjunto com seu impacto nos

cenários de desenvolvimento econômico, industrial e financeiro do mundo desde então,

fomentam e servem de base para discussões que estarão dispostas a seguir.

1.1 MOTIVAÇÃO

O atual projeto criou-se da motivação de explorar e identificar os principais motivos

predecessores e posteriores a uma operação pertencente ao escopo das fusões e aquisições

através da análise de um caso recente, a compra da Time Warner pela AT&T, duas empresas

americanas dos setores de telecomunicações e mídia. O trabalho perpassa todos os temas

envolvidos no processo de M&A, desde a classificação e identificação das sinergias de uma

transação durante o processo de análise de aquisição às mudanças estratégicas que uma

negociação de M&A pode trazer em termos de integração de negócios.

O ponto central da análise disposta no projeto, no entanto, está na análise fundamentada

por completa revisão teórica das sinergias e das mudanças imediatas à consolidação do balanço

contábil das empresas participantes da fusão. Desta forma, busca-se encontrar evidências que

comprovem a criação de valor ao acionista e o estabelecimento das sinergias nos números

divulgados pela companhia adquirida após a fusão de atividades.

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1.2 METODOLOGIA

O critério para seleção das empresas analisadas avaliou a robustez da transação em

termos de relevância para o mercado e os setores em que atuam e o a proximidade da conclusão

de negócio a confecção desse trabalho. A escolha de uma transação envolvendo duas empresas

de capital aberto – negociadas na New York Stock Exchange (NYSE), maior bolsa de valores

americana – favorece a pesquisa em termos de acesso, disponibilidade e clareza dos dados

utilizados.

O material constituinte das análises foi obtido primariamente de relatórios de análise de

mercado emitidos por instituições internacionais e através dos canais de divulgação de

resultados e apresentações a investidores das próprias companhias. Estas informações,

adquiridas das plataformas on-line de relações com investidores das empresas, são de acesso

público e de divulgação obrigatória segundo regulamentação própria destinada a companhias

de capital aberto, da mesma forma que ocorre no Brasil.

1.3 OBJETIVO

Este trabalho objetiva, ao final dos cinco capítulos iniciados pelo aqui disposto, verificar

através da análise dos dados da transação e utilizando o balanço da empresa adquirente como

ferramenta os principais pontos estratégicos do movimento de fusão e aquisição analisado,

sendo os principais: a identificação e quantificação - mesmo que limitada - de sinergias na

aquisição, o processo de criação de valor para o acionista, e as mudanças no posicionamento de

mercado da empresa compradora.

Após esta introdução, inicia-se a revisão bibliográfica, que pretende, de maneira breve,

mas abrangente, definir os conceitos teóricos utilizados ao longo do trabalho. Revisitam-se

artigos sobre a temática de fusões e aquisições, em sua maioria de autoria internacional,

literatura didática sobre as características das fusões e aquisições para a administração

financeira das empresas, artigos específicos estudando os detalhes e expectativas de mercado

sobre o case específico de compra da Time Warner pela AT&T e os materiais de pesquisa e

análise de criação de valor que irão compor a metodologia de avaliação, em termos de valor

para o acionista, da empresa consolidada.

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No capitulo três, expandiremos o histórico inicial e os números relacionados a

transações de M&A no cenário internacional e nacional atualmente, explicando cases históricos

e as diferenças entre as diferentes ondas de fusões e aquisições ao longo do tempo.

Posteriormente, nos capítulos quatro e cinco, apresentam-se as duas empresas,

respectivamente AT&T e Time Warner, perpassando o histórico das mesmas e seus modelos

de negócio de maneira distinta, realizando críticas setoriais e de posicionamento de ambas.

No capítulo seis e mais central à discussão, centralizaremos toda a análise do case

escolhido utilizando os conceitos teóricos e os números introduzidos nos capítulos anteriores.

Em seguida, os números e detalhes da transação de aquisição serão dispostos, juntamente às

contas do balanço que serão estudadas.

No mesmo tópico, faremos a crítica sobre a criação de valor da transação para os

acionistas de ambas as companhias, adquirente e adquirida, por meio da já mencionada

quantificação, após a assimilação, das sinergias resultantes ao negócio. Ademais, classifica-se

e dispõe-se sobre a integração de negócios e o efeito prático da aquisição no que diz respeito a

posicionamento estratégico na empresa e crescimento operacional como consolidadora de

conteúdo. Por fim, conclui-se o projeto testando as motivações que levaram a sua escrita, a

validade da pesquisa e a indicação de estudos e análises futuras.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 FUSÕES E AQUISIÇÕES

Gitman [3], define as fusões e aquisições como as formas mais comuns de reestruturação

empresarial, inseridas no conjunto de atividades que envolvam a expansão ou contração de

operações de uma empresa ou mudanças na estrutura de ativos ou financeira. Uma aquisição,

nesse contexto, acontece quando duas empresas unificam suas atividades sob a identidade da

empresa adquirente [3]. Nas operações de aquisição, os ativos e passivos da empresa adquirida

se tornam parte do balanço contábil da adquirente. Uma fusão, por outro lado, engloba a

combinação de operações de duas companhias formando uma terceira integralmente nova,

usualmente rebatizada, e que, por imediato, herda os ativos e passivos das empresas

originadoras. O escopo de fusões e aquisições engloba ainda outras operações, como spin-offs

e oferta de ações, casos que não serão desenvolvidos neste projeto.

Brealey, Myers e Allen [4] complementam a definição de fusão como forma de

estruturação empresarial justificando as razões pelo qual as organizações buscam mudanças no

controle de operações e corporativo. Segundo os autores, a ideia fundamental da união é o

aumento de valor da empresa resultante da operação [4]. Desta forma, uma fusão ou aquisição

pode ser classificada como horizontal – combinação de duas companhias dentro do mesmo

setor de atuação – ou vertical – combinação de duas empresas com atividades de mercado

diferentes ou em estágios distintos do processo produtivo.

Segundo Copeland, Koller e Murrin [14], as fusões e aquisições tornaram-se um meio

decisivo para realocação de recursos na escala econômica global e para execução de estratégias

coorporativas, acompanhando o surgimento de uma infraestrutura particular de bancos de

investimento, consultorias e escritórios de advocacia especializados.

Gitman, adicionalmente, classifica as transações de M&A por dois motivos básicos:

estratégicos e financeiros [3]. De acordo com o autor, transações estratégicas tem como

premissa a obtenção de economias de escala por eliminação de operações pleonásticas, aumento

da fatia de mercado (marketshare), melhorias no processo logístico e na cadeira de suprimentos

etc. Por sua vez, transações ocorridas por motivo financeiro consolidam o objetivo de

reestruturação por meio da melhora nos fluxos de caixa da empresa, alinhada com a diminuição

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nos custos, com objetivo, muitas vezes agressivo, de gerar retornos muito acima do mercado

para os acionistas no curto-prazo.

A forma de aquisição – compra – da empresa visada também é fruto de dois tipos de

classificação diferentes, ligados a maneira com que a tomada de controle ocorre nas companhias

alvo. Propostas recebidas de forma cordial pela direção da empresa visada e que culminam no

fechamento da transação após fluxo normal de negociações são chamadas aquisições

amigáveis. Em contraponto, há situações em que o controle da empresa visada é adquirido sem

a anuência da diretoria, através da compra do número suficiente de ações para tal. Esse modo

de aquisição denomina-se aquisição hostil [3].

As fusões e aquisições, como citado anteriormente no texto, se espalham pela história

moderna e contemporânea através de ondas, examinadas e vastamente revisitadas pela literatura

[2]. Cinco são as academicamente reconhecidas e explicitadas de maneira cronológica pelos

autores, identificadas em conjunto com mudanças no cenário econômico, político e regulatório

do período.

A primeira onda inicia-se no final do século XIX, impulsionada por mudanças radicais

na tecnologia, expansão econômica e inovação de processos nas indústrias juntamente a nova

legislação – neste aspecto inteiramente relacionada aos Estados Unidos – e ao desenvolvimento

de negociações de ações ligadas à indústria na principal bolsa de valores do país, New York

Stock Exchange - NYSE. As fusões e aquisições deste período caracterizam-se pela

consolidação através de integração horizontal e são descritas, conforme a literatura, como

fusões para formação de monopólios [13]. Nesta onda, houve o surgimento de grandes grupos

econômicos em diversos setores da economia – exemplo da compra da Carnegie Steel Company

pela United States Steel Corporation, a maior aquisição do período - com fim anunciado pela

quebra do mercado de ações no início do século XX [2].

A segunda onda de transações de M&A emergiu no final da primeira década dos anos

1900 culminando com a grande depressão de 29. Stigler [13] define as transações do período

como direcionais a formação de oligopólios, uma vez que ao contrário do primeiro grande

movimento, ao final da segunda onda de fusões e aquisições, não haviam mais monopólios

dominantes em seus setores. Desta maneira, é natural concluir-se que grande parte das

transações do período tiveram como protagonistas pequenas e médias empresas com objetivo

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de geração de ganhos operacionais de escala que possibilitassem competição com os grandes

grupos corporativos formados no final do século anterior [2].

Em meados do mesmo século, após a recuperação econômica pós-crise, a terceira onda

de fusões e aquisições foi marcada pelo surgimento de grandes conglomerados empresariais,

consequência do alto número de transações diversificantes no sentido de atuação de mercado.

De acordo com a bibliografia [2], isto permitiu às companhias a criação de valor para as marcas,

a redução da volatilidade dos ganhos e a superação das imperfeições de mercado.

A recuperação da economia mundial da crise do petróleo da década de 80, motivo do fim

da última onda favorável a movimentos de fusão e aquisição no cenário global, possibilitou o

surgimento do quarto período de agitamento nas transações de M&A. A nova onda eclodiu em

meio a desregulação do mercado de serviços financeiros nos Estados Unidos, a novas

tecnologias na indústria de eletrônicos e a criação de novos instrumentos financeiros [2].

Naquele momento, grande parte das transações de tomada de controle adveio da reestruturação

por aquisições hostis e através de movimentos de fechamento de capital de companhias.

Segundo a literatura, os movimentos descritos anteriormente foram impulsionados pela

ineficiência resultante da formação de conglomerados na última onda de M&A como forma de

reorganização dos seus negócios.

A quinta onda de fusões e aquisições teve início novamente após a reestruturação da

economia no final do último período de grande atividade no cenário de fusões e aquisições.

Esta última onda, dentre todas as outras citadas anteriormente, definiu o caráter das transações

de M&A que se seguiriam da última década do último século até os tempos atuais,

caracterizando o mercado de fusões e aquisições no século XXI. O movimento global de troca

de informações e o avanço da tecnologia permitiram que as transações tivessem natureza

internacional, seja através do aumento de negócios realizados entre empresas de países

diferentes ou através das intenções de tomada de mercados internacionais como motivo

participante das principais transações do período [2]. Os mercados de M&A na Europa e Ásia

juntaram-se ao mercado norte americano como peças relevantes nos movimentos de

reestruturação empresarial, corroborando para a tese do autor de competição e igualdade de

informação nos mercados globais.

Este mesmo período coincide com o surgimento das transações multibilionárias no

mercado internacional de fusões e aquisições – exemplo da aquisição do conglomerado alemão

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Mannesman pelo grupo inglês Vodafone pelo valor recorde de U$ 183 bilhões – levantando a

reflexão sobre a relação entre M&A e a criação de valor. É possível que exista valor mesmo

pagando-se prêmios tão altos no momento da aquisição? Esta e demais questões serão

discutidas no tópico a seguir.

2.2 SINERGIAS E CRIAÇÃO DE VALOR

O objetivo maior das fusões e aquisições de empresas é a maximização de riqueza de seus

proprietários, ou em outros termos, a criação de valor ao acionista [14]. A maximização de

valor, por sua vez, é atingida por meio da capitalização de objetivos específicos das transações

de M&A, sejam eles a diversificação de portfólio, a obtenção de tecnologias ou, o mais

importante e usual deles, o aproveitamento de sinergias.

As sinergias são definidas por Gitman [4] como as economias de escala resultantes da

redução dos custos fixos das empresas antes da fusão ou aquisição, seja através da diminuição

de funções administrativas redundantes ou pela eliminação de cargos semelhantes no corpo de

colaboradores. Brealey, Myers e Allen [3], expandem o conceito das sinergias definindo-as

como o objetivo principal das fusões horizontais e, adicionalmente, alvo importante no caso das

fusões verticais. Nestes casos, uma empresa tende a se mover na própria cadeia produtiva

adquirindo ou se fundindo com outra companhia fornecedora ou clientes. Este passo permite,

através da maior coordenação e administração de processos, que empresas criem valor aos seus

acionistas, embora devam ser muito bem avaliados devido as opções de redução de custos

através da simples terceirização [3].

Damodaran [23] define sinergia como o valor adicional que é gerado pela combinação de

duas companhias e que gera oportunidades que não estariam disponíveis caso essas empresas

operassem de forma independente. O autor acrescenta à sua definição dois tipos classificação

de sinergias: as sinergias operacionais e as sinergias financeiras. De acordo com Damodaran,

as sinergias operacionais afetam de maneira geral as operações da empresa e incluem as

economias de escala, o incremento no poder de preço, a complemento de forças funcionais e o

maior potencial de crescimento. As sinergias financeiras, por outro lado, são mais específicas

e englobam os benefícios fiscais, maior capacidade de tomar dívida, diversificação e eventuais

usos de excesso de caixa.

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Damodaran define cada um dos tipos de sinergias que categorizam as Sinergias

Operacionais e as Sinergias Financeiras e seus efeitos nos indicadores de desempenho da

companhia. Os parágrafos subsequentes detalham, respectivamente, os quatro tipos dentro de

cada uma delas.

A Economia de Escala representa as economias que surgem da fusão de duas companhias

e a permitem tornar-se mais lucrativa e eficiente em termos de custos. Esse tipo de sinergia é

mais observável em fusões horizontais, mas sem limitar-se as mesmas. O Incremento no Poder

de Preço é a sinergia resultante da menor competição e da maior parcela de mercado

(marketshare) obtida pela empresa consolidada após a transação. Essa sinergia aparece de

forma mais importante em transações onde o movimento de fusão ou aquisição se beneficia de

condições favoráveis, como o menor número de players no mercado. A Combinação de Forças

Funcionais é uma sinergia que se aplica em fusões onde empresas se utilizam de forças de suas

adquirentes para operação do negócio resultante. Por fim, o Maior Potencial de Crescimento

surge como sinergia resultante em transações onde adquire-se uma empresa pertencente a um

mercado antes de difícil acesso para empresa compradora. Segundo Damodaran [23], as

sinergias operacionais afetam a criação de valor das empresas pois tem efeito direto nas suas

margens, retornos e crescimento.

Fusões de empresas com caixa limitado e empresas com caixa excedente podem

proporcionar sinergias que permitem o melhor uso do caixa adicional para execução de projetos

que – devido a limitação de uso de capital - não seriam realizados. Segundo o autor, esse tipo

de sinergia é comum em aquisições de empresas pequenas por empresas maiores. A Maior

Capacidade de Tomar Dívida também surge de um cenário parecido, se beneficiando da maior

previsibilidade de fluxos de caixa e dos ganhos de uma empresa após a consolidação da

transação. Isso permite que a empresa tenha mais capacidade de tomar empréstimos do que a

soma das capacidades anteriores. Os Benefícios Fiscais originam-se da redução dos tributos de

uma empresa através de maiores números de depreciação ou pela redução dos lucros

operacionais. Por fim, completa a lista de sinergias financeiras a Diversificação, representada

como a sinergia resultante da diversificação de atividades de uma companhia, em sua maioria

observada em transações verticais, como a que veremos adiante no trabalho.

Segundo Copeland, Koller e Murrin [14], os fatores que levam ao sucesso na criação de

valor ao acionista em transações de fusão e aquisição, no ponto de vista da empresa compradora,

são, em conjunto, a expectativa de maior criação de valor pelo mercado – no sentido de

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visualização de sinergias singulares -, o menor pagamento de ágio – valor final da transação

mais próximo do valor justo da companhia adquirida - e melhor performance operacional na

empresa adquirente. Em paralelo, dezenas de estudos produzidos nos últimos anos provam que

o retorno médio do acionista da empresa comprada - medido pelo prêmio pago no momento da

compra – resulta em mais de dez vezes o retorno do acionista da empresa adquirente [14].

Os autores definem a metodologia para fusões e aquisições bem-sucedidas no quesito

criação de valor antes do movimento de reestruturação. Em primeiro lugar, deve-se realizar

uma abordagem agregadora de valor, definindo se a rota a ser tomada pela empresa após a

negociação será o reforço ou alavancagem do seu negócio-núcleo através do acesso a novos

clientes ou produtos e serviços; a capitalização de economias de escala e elevação da qualidade

dos produtos ou serviços; ou a transferência de tecnologias ou habilidades da empresa alvo. Em

segundo lugar, deve-se eleger as empresas alvo candidatas a operação. Neste estágio, a

realização de um processo de avaliação criterioso e um processo de due diligence bem

executado devem auxiliar na montagem de um preço justo para a oferta.

Definido o preço justo de compra, o próximo passo consolida a análise de investimentos

pela quantificação e classificação das sinergias resultantes no negócio. Copeland, Koller e

Murrin [14] classificam as sinergias em três amplas categorias que devem compor a análise de

M&A de empresas. As sinergias universais caracterizam sinergias disponíveis a qualquer

adquirente, podendo ser captadas da mesma forma por qualquer ofertante. As sinergias

endêmicas estão disponíveis para apenas adquirentes específicos – usualmente localizados no

mesmo setor. Por último, as sinergias exclusivas podem ser exploradas por um único

comprador. É a quantificação - em termos de valor - dessas sinergias e a ponderação, junto ao

processo de negociação com vendedor, que definirá o preço a ser pago na transação e boa parte

da capacidade de a empresa adquirente gerar valor ao seu acionista com a mesma.

Após a definição da empresa alvo e a concretização da operação iniciam-se decisões

estratégicas importantes, como a acepção do novo modelo de negócios da companhia

traduzindo a unificação estratégica da empresa e os planos de realização das sinergias avaliadas;

a solução de incertezas e conflitos no corpo de trabalho, através da escolha da alta administração

- c-levels -, adoção de planos de bonificação por resultados e melhor comunicação com

empregados; e a reação a pressões externas, sejam de fornecedores, clientes ou acionistas.

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A não adoção da metodologia correta em transações de M&A por parte das empresas

adquirentes nas negociações onera na maioria das vezes o valor ao acionista. Estudos realizados

com empresas abertas demonstram que apenas 40% das companhias alcançam retornos

positivos no período de dois a três anos após a conclusão da aquisição [15]. Agrawal and Jaffe

[16], evidenciam que os retornos agregados das empresas adquirentes em transações de M&A

nos anos seguintes ao fim da compra são negativos ou estatisticamente iguais a zero.

2.3 GOODWILL E PRÊMIO

Os dois conceitos expostos no título do tópico desempenham papel fundamental quanto

ao estudo de criação de valor em fusões e aquisições. Ambos estão diretamente relacionados

por definição e devem estar sempre incluídos nos planos de avaliação e análise de investimento

por parte das empresas adquirentes.

Il Oh [17], define Goodwill através dos princípios aceitáveis de contabilidade como a

diferença entre a soma do valor justo dos ativos e passivos identificados no balanço da

companhia adquirida e o valor de compra. Esta diferença, o Goodwill, é reconhecido como um

ativo no balanço patrimonial da empresa compradora [18]. A conta de Goodwill representa em

média 32% do capital investido das empresas americanas e europeias, carregando conotação

negativa por ser um ativo não operacional e de difícil mensuração [9]. Para uma empresa, ter

altos valores de Goodwill no seu balanço financeiro pode significar uma visão negativa por

parte do mercado e de analistas financeiros.

O ativo Goodwill não sofre amortizações por regra contábil, mas deve, de maneira

recomendada, passar por testes de impairment - redução de capital através da diminuição de

valor de ativos - rigorosos. Sendo Goodwill a diferença entre o preço de aquisição de uma

empresa e o seu valor de Equity, podemos separá-lo em dois componentes distintos e analisa-

los separadamente [9]. O primeiro define-se como o prêmio pago pelo adquirente, explicitado

como a quantia desembolsada em excesso ao valor de negociação da empresa alvo. O segundo

é definido como a diferença entre o valor de mercado da empresa alvo e o seu valor de Equity

antes da oferta. Segundo bibliografia, o segundo componente representa quase 60% do valor de

Goodwill reconhecido pelas empresas.

Damodaran [23], separa as partes componentes do preço de aquisição de uma companhia

em uma transação de fusões e aquisições de acordo com o digrama exposto na Figura 2.1. De

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acordo com o autor, a diferença entre o valor da companhia marcado nos seus relatórios

financeiros e o valor de compra pode ser separado em duas caixas distintas. O Goodwill

representa a diferença entre o valor patrimonial e o valor de mercado anteriormente a transação,

enquanto o prêmio é a diferença entre o mesmo valor de mercado e o valor de aquisição.

Figura 2.1 – Goodwill e Prêmio – Adaptado de Damodaran

O prêmio, componente do cálculo de Goodwill e definido no parágrafo anterior, é pago

pela empresa adquirente como forma de convencimento do board da empresa alvo à conclusão

da operação [9]. O prêmio desembolsado pode ser pequeno ou substancial e, por este motivo,

levanta o questionamento que deve permear a análise da transação de M&A em termos de

criação de valor: há como justificadamente pagar-se um prêmio de controle a empresas cujo

valor está completamente avaliado? Neste cenário o mercado não punirá a adquirente por tal

realização? A decisão de investimento nesse caso deve sempre ser realizada de maneira correta

e levando em consideração o valor das sinergias esperadas na transação. Segundo Damodaran,

as sinergias de uma aquisição podem valer 2 bilhões, mas se pagarmos 3 bilhões de prêmio,

destrói-se 1 bilhão de valor para o acionista da empresa adquirente.

Por mais que a interpretação teórica dos pontos apresentados anteriormente nos indique

que maiores valores de prêmio e Goodwill onerem o retorno do acionista da empresa adquirente,

em contraponto, estudo provam que a correlação entre os dois fatores e o retorno de longo prazo

é praticamente nulo, como observa-se na figura 2.2 abaixo [9].

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Figura 2.2 – Goodwill – Retorno de longo-prazo. Credit Suisse

A figura 2. 2 demostra um mapa de correlação entre o percentual do valor de uma

empresa representado pela conta de Goodwill no seu balanço contábil o o retorno dos acionistas

da companhia no longo-prazo (definido e calculado através do retorno sobre os números da

companhia em um período que abrange os quatro meses anteriores até os três anos posteriores).

A observação da distribuição de pontos pelo gráfico explicita a não correlação visível entre as

duas varíveis. A inclinação negativa da reta indica que os retornos tendem a decrescer quanto

maior a contabilização de Goodwill no valor da empresa, mas de forma inconclusiva. O

coeficiente de determinação da regressão linear – representado por R2 – calculado como o

quadrado do ceficiente de Pearson, indica que apenas 0.3% da variação dos valores de retorno

de longo prazo de uma compania podem ser explicados pela variação na porcentagem de

Goodlwill em seu valor.

Da mesma forma que a aplicação da regressão entre o retorno de longo prazo dos

acionistas de uma companhia e a porcentagem de Goodwill criada na aquisição nos retorna

correlação estatisticamente nula, na figura 2.3 nota-se que a diferença entre o retorno total

(TSR) médio de longo prazo dos shareholders e o valor de prêmio desembolsado na aquisição

não tem significância estatística, seja através da ótica de empresas que performaram acima do

mercado ou sob a ótica de empresas com performance abaixo da média.

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Figuras 2.3 – TSR e prêmio em operações de M&A. Credit Suisse

Os quadros explicitam que a diferença das médias de retorno entre empresas que pagaram

prêmios abaixo de 30% e empresas que pagaram acima de 30% de prêmio nas transações de

compra varia de três a dois pontos percentuais apenas.

Historicamente, o retorno total ao acionista (TSR) - contabilizado pelo retorno total da

ação mais os dividendos pagos – de empresas que se utilizam de estratégias de M&A para

crescimento é maior que o retorno de empresas que não fazem uso dessas transações [9] – vide

a figura 2.4. De acordo com o gráfico, a diferença percentual no TSR entre empresas

adquirentes e não adquirentes, é, pelo menos desde 2011, positiva. Segundo o Credit Suisse, a

discrepância em termos percentuais se aproxima de 40% na média apurada.

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Figura 2.4 – Retorno de empresas e M&A. Credit Suisse

Entretanto, mesmo que os resultados mostrados acima sejam inconclusivos quanto a

relação estatística entre o resultado de uma transação e as variáveis de prêmio e Goodwill

relacionadas à aquisição, há diversos estudos que demonstram o papel fundamental dos mesmos

na análise de criação de valor em M&A. Rhodes-Kropf et al. [19]; Moeller et al. [20] e outros

diversos estudos demostram que a má-avaliação de empresas tem relação com performances

operacionais desapontadoras. Segundo Copeland, Koller e Murrin [14], a maioria das

aquisições falha pelo alto preço de compra na conclusão da operação. Segundo os autores,

existem três motivos principais explicativos para essa situação: a avaliação excessivamente

otimista do potencial de mercado da empresa comprada, a superestimativa ou má quantificação

das sinergias do negócio e erros cometidos durante o processo de due-diligence - estudo prévio.

A reflexão para lances excessivos deve ser: se você saiu vitorioso de uma guerra de lances, foi

por que os seus adversários desistiram [14].

2.4 BALANÇO E FLUXO DE CAIXA

O balanço contábil de uma empresa em conjunto com o seu fluxo de caixa desempenha

papal fundamental na análise da saúde financeira de uma companhia no momento anterior e

posterior à conclusão de uma transação de M&A. Além do Goodwill, que abordamos no tópico

acima, outras contas do balanço e métricas do demonstrativo de resultados podem ser utilizadas

como base do estudo de análise financeira da transação de fusão e aquisição.

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Enquanto o balanço patrimonial de uma companhia define a situação financeira da mesma

em um momento específico no tempo, detalhando as suas contas de ativo (bens e direitos

pertencentes à companhia), passivo (deveres) e patrimônio líquido (representado pelo capital

dos donos ou sócios da mesma), o seu demonstrativo de resultados revela os resultados da

empresa durante certo período de tempo, detalhando todas as suas linhas de receita (e suas

respectivas origens) e despesas.

Se por um lado o balanço nos permite analisar a estrutura de capital de uma companhia

(percentual de capital próprio e dívida em seu passivo) e a sua liquidez frente as suas obrigações

de curto e longo prazo, o demonstrativo de resultados do exercício (DRE) é comumente

utilizado para análise de resultados operacionais, como as margens e lucros. Nos próximos dois

tópicos, introduzem-se contas relevantes do balanço e do fluxo de caixa que serão centrais à

analise realizada posteriormente no capítulo 6.

2.4.1 CONTAS DO BALANÇO

2.4.1.1 INTANGÍVEL

O ativo intangível pertence a conta de ativos fixos – ou não-circulantes - no balanço patrimonial

de uma empresa e é definido como qualquer bem incorpóreo ou não tangível que seja utilizado

pela companhia para sua manutenção. Exemplos de ativos que incorporam essa conta nas

demonstrações de uma empresa são marcas, patentes, direitos autorais e licenças de uso de

qualquer natureza.

Os ativos intangíveis são comumente mais relevantes em empresas onde grande parte do valor

do negócio envolve ativos ou forças não tangíveis, como direitos de exclusividade na

exploração de marcas e produção de conteúdo, caso da Time Warner, empresa adquirida no

case que veremos adiante.

2.4.1.2 CAIXA E EQUIVALENTES

A conta de caixa e equivalentes inicia a demonstração dos ativos circulantes de uma empresa

no balanço como ativo de maior liquidez. A composição da conta caixa de uma companhia é

formada pelas suas disponibilidades imediatas de caixa e aplicações financeiras de alta liquidez

e é importante como medida de liquidez da mesma frente as suas necessidades imediatas de

caixa.

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Essa conta é importante à análise de uma transação de fusões e aquisições justamente por

demonstrar a possibilidade de sinergias de utilização de caixa, conforme exposto por

Damodaran [23].

2.4.1.3 PATRIMONIO LÍQUIDO

A conta de patrimônio líquido no balanço de uma companhia representa o financeiro injetado

pelos sócios do negócio, contendo as contas de capital social, reservas de lucros e reserva de

capital. O patrimônio líquido de uma empresa e a sua composição podem passar por alterações

após uma transação de fusão ou aquisição.

2.4.2 CONTAS DO DRE E FLUXO DE CAIXA

2.4.2.1 RECEITA

A receita inicia a demonstração de resultados de uma companhia é composta pelas entradas de

recursos no caixa ou no patrimônio da empresa, sejam elas em sua maior parte as representadas

pela receita de vendas ou as receitas provenientes de recebimento de juros, dividendos, royalties

etc.

A linha de receita bruta ter mudanças significativas quando observarmos o DRE de uma

companhia consolidada após uma aquisição. As maiores variações são provenientes das

transações onde há grande disparidade de geração de receitas entre adquirente e adquirida.

2.4.2.2 FLUXO DE CAIXA LIVRE

O fluxo de caixa livre é uma métrica do relatório de fluxos de caixa de uma companhia e define-

se como uma medida do caixa disponível aos seus acionistas depois da dedução de todas as

despesas, investimentos em CAPEX e mudanças no capital de giro.

A análise do fluxo de caixa livre nos permite avaliar se uma empresa terá ou não capacidade de

arcar com os juros de sua dívida e com eventuais pagamentos de dividendos aos acionistas.

2.4.2.3 PAYOUT DE DIVIDENDOS

O payout de dividendos, ou simplesmente pagamento de dividendos, é a métrica que define o

percentual do lucro líquido de uma empresa (ou de seu caixa livre) que é distribuída aos seus

acionistas na forma de dividendos. Essa medida relaciona-se ao fluxo de caixa livre e funciona

como um meio de análise da maturidade de uma empresa. O pagamento de dividendos pode ser

impactado por transações de fusão e aquisição na medida em que duas companhias, após a

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consolidação, podem ter seu caixa livre expandido ou retraído, fazendo com que a distribuição

de dividendos seja mais ou menos provável aos acionistas.

2.5 DIFERENÇA NAS NORMAS CONTÁBEIS

As demonstrações financeiras utilizadas neste trabalho respeitam as normas contábeis e

financeiras aceitas pelos Estados Unidos. A sigla que define essas normas é US GAAP. No

Brasil, o conjunto de normas contábeis respeitada nas divulgações de empresa leva a sigla de

BR GAAP.

Apesar de seguirem as regras internacionais da IFRS, os princípios contábeis aceitos no

Brasil e nos Estados Unidos diferem em alguns pontos. Uma das diferenças mais importantes

está na demonstração do balanço patrimonial. No US GAAP, empresas podem apresentar um

balanço patrimonial classificado ou não, sem necessidade dos itens aparecerem em ordem

decrescente de liquidez. No BR GAAP, ativos e passivos são segregados entre os grupos de

circulante e não-circulante. Dentro desses grupos, os ativos e passivos são apresentados em

ordem decrescente de liquidez, com agrupamento de contas visando facilitar o conhecimento e

a análise da situação financeira da empresa.

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3 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO BRASIL E NO

MUNDO

3.1 NÚMEROS NO MUNDO

As transações de M&A no mercado global contabilizaram volume total, somando o

financeiro de todas as operações realizadas no ano de 2017, de mais de U$ 3 trilhões (dólares)

pelo quarto ano consecutivo, atingindo o patamar dos U$ 3.7 trilhões [5, 6]. Estes números nos

fornecem a dimensão do crescimento e consolidação do mercado de fusões e aquisições, vide

figura 3.1. No gráfico, comparam-se o número de transações envolvendo fusões e aquisições

de companhias no mundo e o valor total das mesmas, em bilhões de dólares, de 1985 a 2018. A

análise dos dados nos permite observar uma clara tendência de crescimento em ambos os

números, vide-se o número total de transações, que cresceu mais de 20 vezes desde o início das

medidas.

Figura 3.1 – Crescimento de operações de M&A. JP Morgan.

Mais da metade das transações contabilizadas no levantamento mundial são originadas

na América do Norte, impulsionadas pelo volume de transações advindo dos Estados Unidos,

maior economia do mundo. Segundo estudo do Financial Times [6], do total de pouco mais de

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U$ 1.5 trilhões envolvidos em negociações de fusões e aquisições no ano na região, mais de

80% ocorreram entre duas ou mais empresas sediadas em território norte americano.

Consequência direta, as maiores transações em valor individual em 2017 referem-se a empresas

americanas. A maior transação ocorreu entre duas empresas relacionadas ao setor de saúde, a

fusão entre CVS Health, uma das líderes do varejo farmacêutico, e Aetna, do setor de venda de

seguros e planos de saúde, no total de U$ 69 bilhões [7]. No setor de entretenimento, a segunda

maior transação nominou-se à aquisição de parte dos negócios da Twenty Century Fox –

estúdios, franquias e streaming - pela Disney, no valor de U$67 bilhões [8].

As duas maiores transações de 2017 – fusão entre Aetna e CV Se a aquisição de negócios

da Twenty Century Fox pela Disney - citadas acima em conjunto com o aumento do número de

fusões de aquisições em valor menor que U$ 1 bilhão demonstram a tendência estratégica de

consolidação de atividades, seja ela através da integração vertical, pelo aumento do portfólio

de produtos e serviços e relacionamento da cadeia produtiva, no caso da fusão entre CVS Health

e Aetna ou através da integração horizontal de negócios, pela consolidação de posição no setor

através de ganho de fatia de mercado do concorrente (adquirido) – exemplo da aquisição da

Twenty Century Fox pela Disney.

Mesmo mantendo o posto de região mais ativa do cenário de M&A mundial, os Estados

Unidos observaram queda nos números de volume transacional de 16% no último ano,

enquanto, por contraposto, o número total de transações atingiu patamar recorde na história -

12.400 negócios – liderada, segundo o estudo, pelo aumento dos acordos em valores menores

que U$ 1 bilhão [6]. Parte da queda nos números de fusões e aquisições no país explica-se pela

performance das ações americanas no ano de 2017 – vide figura 3.2. Os índices de empresas

listadas cresceram acima de dois dígitos na análise de doze meses atingindo marcas históricas,

evidenciando o impacto da alta expectativa de mercado no valuation das companhias. Na

economia americana, 9 de 10 setores atingiram retornos positivos no ano – 8 deles acima de

dois dígitos – com o S&P, principal índice de ações dos Estados Unidos, atingindo o recorde

de altas históricas batidas ao longo do ano: 62 vezes [5]. Este cenário torna o panorama de

M&A menos atrativo, uma vez que o alto valuation do mercado para as companhias aumenta o

valor de prêmio negociado em possíveis transações.

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Figura 3.2 – Crescimento dos índices americanos de ações – 2016-2017. JPM

A figura 3.2 iguala quatro índices de performance das empresas americanas listadas em

bolsa no final de 2016 para mostrar o crescimento relativo dos mesmos ao longo do ano de

2017. O crescimento varia dos 12% no Russel 2000 – índice composto por mais ou menos 2.000

empresas small-caps americanas – a 28% na NASDAQ, bolsa que engloba empresas listadas

de tecnologia no país.

O mercado de M&A nos países da Ásia e Oceania correspondeu por pouco menos de um

quarto do total mundial no ano, o equivalente a mais de U$ 900 bilhões em transações de fusão

e aquisição envolvendo empresas da região [5]. Os valores correspondem a um aumento de

11% em relação aos do período anterior em uma localidade em que as grandes transações são

lideradas por players de China e Japão, responsáveis respectivamente por 57% e 17% do

volume total.

Importantes no ano de 2016, as transações realizadas por empresas Chinesas fora do Ásia

em 2017 continuaram a apresentar números agressivos, alcançando o segundo maior patamar

da história, perto da casa dos U$ 140 bilhões, mesmo que isso represente uma queda

considerando análise ano contra ano [6]. Segundo o Financial Times [6], as companhias

chinesas mudaram o foco dos Estados Unidos e da tecnologia para os setores de infraestrutura,

recursos e energia. Notam-se, como exemplo, a compra do Grupo Europeu de logística Logicor

e a compra de um ativo de carvão do grupo Australiano Rio Tinto.

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No cenário mundial, transações de M&A entre fronteiras também representaram número

expressivo no volume total correspondente a 30% do volume, explicitando a tendência de

consolidação estratégica de operações não apenas nos mercados nacionais, mas internacionais.

Destacam-se também a alta participação de transações ocorridas entre empresas de

setores diferentes, corroborando para essas empresas a ideia de expansão de serviços e

mercados via aquisição de companhias com business diferentes. O total de negociações do tipo

chega a 25% de todo o valor calculado para fusões e aquisições do tipo em 2017, entre elas a

maior do ano, como mostra o gráfico 3.4. Além da maior transação de fusão fechada no ano de

2017 – compra da Aetna pela CVS – destacam-se também a compra da Mobileye – empresa

desenvolvedora de sistemas avançados de assistência para carros autônomos pela Intel –

empresa desenvolvedora de processadores e a aquisição da Whole Foods – rede mercados

especializada em produtos naturais - pela Amazon, gigante do varejo e marketplace.

Figura 3.3 – Números de M&A entre setores. Credit Suisse

Os números de Europa e América Latina representam em conjunto perto de 20% do

absoluto contabilizado, com os números europeus em U$ 850 bilhões, esfriados em parte pela

indefinição do processo de saída do Reino Unido da União Europeia e a incerteza que isso

ocasiona ao mercado da região [6]. Na América Latina, o Brasil conduz o mercado de M&A

com quase 60% valor monetário advindo de negociações anunciadas por empresas nacionais,

que serão detalhados no tópico seguinte.

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3.2 BRASIL

No mercado brasileiro, o levantamento de informações e dados sobre fusões e aquisições

parte majoritariamente do trabalho próprio de duas consultorias: PricewaterhouseCoopers (ou

PWC) Brasil e KPMG.

Segundo dados da PWC [11], foram anunciados em quantidade 643 transações de fusão

e aquisição no Brasil, número que representa alta de 8% sobre os números divulgados pela

consultoria sobre os doze meses do ano anterior. O relatório da KPMG, por outro lado,

contabiliza 830 transações fechadas, mantendo a tendência de alta – de 12% - contra seus

números divulgados ano contra ano.

O gráfico abaixo demonstra os cinco setores com maior número de fusões e aquisições

em 2017 e a sua comparação com o ano precedente. Lideram o ranking o setor de Tecnologia

da Informação, que seguiu líder em número de negócios anunciados no comparativo a 2016,

seguido pelo setor de Serviços Auxiliares, que engloba em sua definição companhias de

Serviços como transporte, consultoria, publicidade, telecomunicações e outras. Ambos

possuíram, respectivamente, 132 e 57 transações em números totais, entretanto, enquanto o

setor de TI cresceu o número de negócios em 27%, o setor de Serviços Auxiliares apresentou

redução de 23%.

Figura 3.4 – M&A no Brasil: setores e perfil das transações. PWC.

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Uma característica do mercado brasileiro é o alto número de transações com perfil de pequeno

porte, onde o valor transacionado representa, em financeiro, menos que 100 milhões de dólares,

contabilizando aproximadamente 74% do total das 216 que tiveram seus valores divulgados no

levantamento da PWC em 2017. Dentre elas, apenas 18 transações foram classificadas como

transações de grade porte - superando o valor de 1 bilhão de dólares, sendo as demais

classificadas como transações de médio porte. O perfil das transações de fusão e aquisição no

país em 2017 pode ser observado por completo na figura 3.5 abaixo.

Figura 3.5 – M&A no Brasil: setores e perfil das transações. PWC.

Outra característica das transações de fusão e aquisição no Brasil é a disparidade da

distribuição de negócios, que acompanha a disparidade da distribuição de serviços e indústria

no país. Em termos regionais, a Região Sudeste segue como a responsável envolvida em 68%

das transações de M&A anunciadas envolvendo empresas brasileiras no último ano, o se explica

de maneira dedutiva pela presença do estado de São Paulo, que lidera o ranking nacional com

quase metade das fusões e aquisições anunciadas em 2017 - perto de 50%. A região Sul segue

como segunda colocada, com aproximadamente 14% do total de transações, seguida do

Nordeste e das regiões Centro-Oeste e Norte. Dentre os estados, destacam-se o Rio de Janeiro

e Minas Gerais, segundo e terceiro colocados no ranking estadual e que sozinhos detém perto

de 17% do total de negócios. Nas outras regiões, Rio Grande do Sul, Bahia e Distrito Federal

aparecem como representantes na lista dos 10 maiores estados em números transacionais [12].

Todos os dados podem ser observados na figura 3.6 abaixo.

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Figura 3.6 – M&A no Brasil: Regiões e Estados. PWC/KPMG.

As transações com participação de capital estrangeiro – compostas por negócios que

envolvam, de qualquer forma - a participação de controle ou capital estrangeiro – compõem de

maneira significativa o mapa de M&A no país. Segundo levantamento da KPMG [12], do total

de 830 transações contabilizadas no ano, mais 50% - ou 452 - tiveram a participação estrangeira,

conforme mostra figura 3.7. Esse tipo de transação corresponde por pelo menos a metade do

número de fusões e aquisições ocorridas no país desde 2012.

Figura 3.7 – M&A no Brasil: Transações domésticas e com participação Estrangeira (KPMG)

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Entram nessa classificação cinco tipos diferentes de negócios: empresa de capital

majoritário estrangeiro adquirindo, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no brasil;

empresa de capital majoritário brasileiro adquirindo, de estrangeiros, capital de empresa

estabelecida no exterior; empresa de capital majoritário brasileiro adquirindo, de estrangeiros,

capital de empresa estabelecida no brasil; empresa de capital majoritário estrangeiro

adquirindo, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no brasil; empresa de capital

majoritário estrangeiro adquirindo, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no exterior.

O detalhamento da participação dos países nas transações classificadas como cross-border

mostra que aproximadamente 50% do total de transações do tipo em 2017 conteve a

participação de Estados Unidos, Reino Unido, França ou Argentina. O capital americano está

presente em quase 35% do total de negociações cross-border fechadas enquanto os outros três

dividem o restante do protagonismo, como mostra a figura 3.8.

Figura 3.8 – Dados: Transações cross-border. KPMG.

Os gráficos da figura 3.8 também demostram a origem e o destino do capital transacional

quando a fusão ou aquisição envolve a saída ou entrada de capital do país. De forma dedutiva,

as três primeiras posições listadas acompanham as informações de participação em transações

cross-border, mas temos a Holanda e o Canada ocupando a quarta colocação em negócios que

envolvam saída de capital estrangeiro e entrada de capital estrangeiro respectivamente, no lugar

da Argentina.

Dentre as transações recentes de destaque em território nacional, podemos destacar a

compra das Drogarias Onofre pela Raia Drogasil e a fusão das operações de Boeing e Embraer.

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4 AT&T

4.1 AT&T

A AT&T é reconhecida mundialmente como uma das maiores e mais tradicionais

companhias americanas, sendo líder nos setores de comunicação, tecnologia e entretenimento.

A empresa que deu origem a que hoje chamamos de AT&T foi fundada no final do século XIX

por Alexander Graham Bell, fundador e dono da primeira patente de telefone na história. Isso

demonstra que o surgimento da companhia se confunde com o surgimento e desenvolvimento

da história das telecomunicações nos Estados Unidos e no mundo, por isso a sua tradição e

reconhecimento.

Originada inicialmente como subsidiária da Bell Telephone Company, primeira

companhia de telefonia fundada por Graham Bell, a AT&T passou por algumas mudanças de

estrutura ao longo de século XX, até finalmente trocar seu nome de American Telephone and

Telegraph Company para a sigla atual. A figura 4.1 ilustra as mudanças de identidade visual da

companhia desde sua fundação.

Figura 4.1 – Evolução visual AT&T

Atualmente, a AT&T figura na nona colocação do S&P 100, índice de mercado americano com

as 100 empresas mais relevantes nas bolsas de valores dos Estados Unidos, e na Fortune 10,

ranking que engloba anualmente as 10 maiores empresas em termos de receita (dados de 2017

na imagem abaixo). Adicionalmente, a empresa tem suas ações publicamente negociadas na

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principal bolsa de valore americana, NYSE, sobre o ticker T, com market cap – valor de

mercado – de mais de $ 220 bilhões de dólares.

Figura 4.2 – Fortune 10 -2018 (Fortune)

4.2 OPERAÇÃO

A operação da companhia ocorre majoritariamente nos Estados Unidos, país onde é líder de

marketshare no setor de telecomunicação e serviços de internet. Entretanto, a empresa também

atua internacionalmente e tem seguimentos distintos que se aproveitam da infraestrutura da

companhia. De acordo com seu relatório anual do ano de 2017, a AT&T divide a sua operação

em quatro seguimentos distintos.

Business Solutions: maior da companhia, o seguimento de Business Solutions da AT&T é

responsável pelo fornecimento de diversos serviços a empresas, incluindo multinacionais,

instituições governamentais e clientes de atacado. Serviços que compõem o seguimento são

soluções baseadas em telefonia fixa, móvel e serviços de redes locais, redes externas e internet.

Este seguimento representa em média pouco mais de 40% das fontes de receita da companhia,

algo em torno de U$ 60 bilhões usando dados de 2017.

Entertainment Group: este seguimento oferece serviços de vídeo, internet, comunicação por

voz e soluções de marketing para consumidores localizados nos Estados Unidos. Neste

seguimento está localizado o serviço de banda-larga da companhia, que atente mais de 12

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milhões de assinantes no território americano. O seguimento de Entertainment da AT&T foi

responsável por 32% da Receita Operacional da companhia em 2017.

Consumer Mobility: seguimento da AT&T que engloba o serviço de internet wireless para

clientes sediados nos estados unidos. Além do serviço de internet para clientes individuais e

empresas, há também o serviço de monitoramento doméstico de aparelhos sem fio. Este

seguimento representa 20% das receitas da companhia no último relatório anual.

International: este seguimento engloba a operação da AT&T fora do território dos Estados

Unidos, contabilizando a atuação da companhia em alguns países da América Latina e no

México. Dentro dos serviços oferecidos estão os serviços de vídeo baseados em satélite,

primariamente oferecidos no México, e serviços de internet sem fio oferecidos através da

própria companhia ou subsidiária locais. Os números do seguimento representam cerca de 5%

das receitas da companhia em 2017.

A quebra de receitas da empresa, considerando os números divulgados pela companhia no final

de 2017, podem ser observados na figura 4.3 abaixo.

Figura 4.3 – Distribuição de receita pelos seguimentos – AT&T

4.3 POSICIONAMENTO E SWOT

A AT&T é empresa líder mundial em telecomunicações e internet, sendo a primeira

companhia do setor em número de receita e em valor de mercado. A receita operacional da

AT&T em 2017 fechou o ano contabilizando $145 bilhões de dólares.

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No mercado americano, a AT&T possui quatro empresas competidoras no mercado de

internet e telecomunicação, que são, respectivamente, e por tamanho de mercado e receita,

Verizon, Vodafone e Sprint e T-Mobile. A receita da Verizon no fechamento do último

exercício contabilizou $126 bilhões enquanto as receitas de Vodafone, T-Mobile e Sprint

contabilizaram $46 bilhões, $40 bilhões e $32 bilhões de dólares respectivamente.

Figura 4.4 – Empresas concorrentes no mercado de telecomunicação

A AT&T possui como forças em uma análise de posicionamento de mercado e cenário

externo e interno o fato de ser líder mundial em seu seguimento de mercado, seja em números

de assinantes - exemplo de sua base de mais de 140 milhões de usuários wireless nos Estados

Unidos – ou em valor da marca. Outra força da companhia é o seu portfólio de negócios, que

engloba e diversifica a atuação entre clientes corporativos, clientes governamentais e clientes

individuais, reduzindo riscos e dependência de apenas um nicho de consumidores.

Adicionalmente, a AT&T tem como força a sua infraestrutura única de distribuição e sua

tecnologia. A rede de distribuição da companhia em território americano se mostra uma

vantagem sobre os competidores e permite a maior capilaridade e facilidade na entrega de

serviço em diferentes localizações.

A AT&T foi selecionada para operar a primeira rede de banda-larga nacional

especialmente desenhada para segurança pública, englobando órgãos policiais, bombeiros e

outros respondentes de emergência. O contrato, além de promover uma receita esperada fixa no

balanço da empresa, possibilita que a AT&T se beneficie dos investimentos dos projetos de

infraestrutura que criará em todo os Estados Unidos. A parceria público-privada tem duração

estipulada de 25 anos e investimento projetado de $40 bilhões de reais.

Podemos identificar como fraqueza a queda de receita nos serviços de voz, mostrando

uma mudança de tendência de consumo nas telecomunicações.

As aquisições são oportunidades para a AT&T como empresa consolidada no setor e

permitem o crescimento inorgânico e acelerado na companhia em algumas das suas áreas de

atuação. Aquisições pontuais, como a DIRECTV foram importantes para ampliação da base de

clientes e diversificação da fonte de receitas da companhia no México e na América Latina. No

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cenário externo, outras oportunidades para a companhia são o crescimento da demanda global

por dados móveis, na contramão das quedas de utilização dos serviços de voz por celular, o

aumento da demanda de serviços por conteúdo streaming e a Internet das Coisas. A AT&T

fornece diversos serviços para esse mercado, como dispositivos de gestão de energia e

conectividade em carros. De acordo com estimativas da companhia, esse mercado pode chegar

a $7.1 trilhões de dólares em 2019.

As ameaças para a companhia são a saturação de serviços como o mercado de internet

sem fio, onde o excesso de oferta pode provocar guerra de preços e perda de receitas para a

empresa. Outra ameaça para a companhia é a concorrência. Um exemplo disso é o fato de 98%

da população dos Estados Unidos viver em áreas com cobertura de pelo menos três operadoras

de telecomunicação e 94% em áreas onde há cobertura de pelo menos quatro. Isso demonstra

um ambiente de alta competitividade.

Tabela 4.1 – SWOT – Elaboração Própria

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5 TIME WARNER

Time Warner Inc. ou simplesmente Time Warner é uma empresa americana líder em

produção de mídia e entretenimento. A Time Warner classifica e reporta seus negócios em três

seguimentos distintos, definidos por três braços: Turner, seguimento que consiste

principalmente de conteúdo em canais de televisão por assinatura e propriedades de mídia

digital; Home Box Office, ou como usualmente chama-se, HBO, seguimento composto de

produção de conteúdo premium (conforme classifica a empresa) para televisão por assinatura e

serviços on demand domésticos e internacionais; e Warner Bros, seguimento que agrupa

produção e distribuição de conteúdo em séries, filmes e games.

A operação da empresa, segundo relatório anual [24], persegue a definição da sua

competição através da produção e distribuição de conteúdo de vídeo em alto qualidade,

utilizando a crescente demanda global por este tipo de serviço nas mais distintas plataformas.

Desta forma, os três seguimentos da companhia, que serão detalhados nos tópicos seguintes do

capítulo, trabalham em conjunto – em operações similares, mas díspares em pontos como

público-alvo e essência em conteúdo - para alavancar as marcas próprias, o material intelectual

único e a escala global com potencial de atingir diferentes consumidores em diferentes locais

do mundo. A Time Warner se posiciona, desta forma, para capitalizar sobre as transformações

provenientes da evolução da indústria televisiva, marcada em grande parte pela evolução da

tecnologia, crescimento na disponibilidade de novos serviços e mudanças no hábito dos

consumidores dentro e fora do ecossistema da TV, aumentando o conteúdo oferecido

diretamente aos consumidores.

O portfólio de serviços dentro do ecossistema tradicional de televisão é composto pela

produção de conteúdo para canais dentro dos seguimentos da Warner Media, investindo, como

dito anteriormente, em conteúdo de alta qualidade, disponibilidade on-demand em plataformas

televisivas e tecnologia para melhora de experiência dos usuários. Uma das grandes fontes de

receita deste tipo de serviço, os anúncios nos portais de conteúdo da Time Warner, são fonte

originadora de investimento contínuo por parte da empresa em soluções para mensuração da

eficiência de campanhas e análise de dados para atingimento de público-alvo. Por outro lado,

fora do sistema tradicional de televisão, a Time Warner tirar proveito de oportunidades com

aumento do investimento em novas soluções digitais e tecnologia, seja através do lançamento

de plataformas próprias de vídeo on-demand ou em outras plataformas do mercado. Para esse

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mercado, a empresa investe em desempenho de análise de dados, transmissão de vídeo e

tecnologia que garanta a melhor experiência ao usuário multi-plataforma.

Os dados de receita da companhia no fechamento de exercício de 2017 a posicionam,

dentro da diversidade da empresa do setor de entretenimento, como número um dentre as rivais

produtoras de conteúdo. Os $32 bilhões de receita superam os $12 bilhões da Viacom – dona

de marcas como MTV, Comedy Central, Nickelodeon e Paramount, os $14 da CBS – produtora

de conteúdo mais integrada ao sistema televisivo americano; e os $7 bilhões da Discovery

Communications. Os resultados do terceiro trimestre de 2018 mostram crescimento de 7% na

receita da companhia (em comparação com o mesmo período do ano anterior - Figura 5.1),

atingindo os $ 8.2 bilhões de dólares, impulsionada pelo aumento nas receitas de assinatura e

licenciamento de conteúdo especialmente da Warner Bros. A empresa também se destaca pelo

reconhecimento do conteúdo de qualidade, notado pela conquista de 37 prêmios na maior

premiação da televisão americana de 2018 - o Emmy Awards [22].

Figura 5.1 – Receita 3T – Time Warner (AT&T annual report)

5.1 HOME BOX OFFICE – HBO

O primeiro seguimento da empresa é responsável pela operação de serviços multicanais

pagos para televisão, englobando os serviços on-demand e o licenciamento de produtos sobre

as marcas da companhia. Os dois grupos comandados pelo braço da Warner, HBO e Cinemax,

são líderes em programação diversa e de alta qualidade mundialmente.

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Nos Estados Unidos, os conteúdos produzidos são distribuídos de diversas formas ao

assinante dos canais, seja de forma tradicional por meio de consumo em tempo real nas redes

de plataformas afiliadas de televisão por assinatura ou, de acordo com a convergência à novas

maneiras de consumo de entretenimento, por meio de consumo on-demand na própria televisão

ou em outros aparelhos conectados à internet. De maneira independente, a HBO também opera

a sua própria plataforma de conteúdo sobre demanda, a HBO NOW, distribuída por empresas

de televisão por assinatura e players do mercado de distribuição de conteúdo digital, como

Apple, Google e Amazon.

No mercado internacional, a distribuição de conteúdo da HBO segue um dos modelos

abaixo para se adequar as especificidades de cada um dos territórios onde oferece seus serviços:

através de operadoras de TV por assinatura afiliadas tradicionais, via licenciamento de

programação para fornecedores terceiros e por meio de plataformas de programação terceiras

ou diretamente ao consumidor pelos serviços on-demand próprios da marca. O modelo acima

permite que a programação da companhia esteja presente em mais de 65 países, somando o

alcance de consumidores da América Latina, Europa e Ásia, e em mais de 150 países

ponderando a disponibilidade através de licenciamento, serviços sob demanda e distribuição

digital e física de produtos.

Figura 5.2 –HBO programação

Uma amostra da qualidade de conteúdo de produção original da HBO pode ser

evidenciada pelo desempenho da rede em premiações de televisão nos Estados Unidos. As

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séries e materiais produzidos pelo seguimento da Warner Media são os maiores ganhadores do

Emmy Awards, maior premiação do gênero no mundo, pelo 17º - décimo sétimo - ano

consecutivo. A HBO também detém o recorde de indicações por uma mesma produtora em só

uma edição com 216 indicações em 2015. Na edição de 2018, uma das maiores produções do

canal na última década, a série Game of Thrones, acumulou o seu 47º Emmy, tornando-se a

série televisiva com roteiro com maior número de prêmios na história.

Em termos de receita, a Home Box Office representa a menor parcela dos três

seguimentos da Time Warner, mas o lucro operacional da companhia se equipara ou supera

(olhando para o ano de 2017) aos números da Warner Bros, nos indicando o fato das margens

do business serem mais competitivas. Os números até o terceiro trimestre do ano evidenciam o

aumento sutil de receitas.

Figura 5.3 – Receita 3T – HBO (AT&T annual report)

5.2 WARNER BROS

A Warner Bros, segundo seguimento de produção de conteúdo da Time Warner, opera

de maneira semelhante a HBO, diferenciando-se pelo tipo de conteúdo e, de maneira direta, o

seu público alvo. A produtora foi pelo 9º ano seguido, na temporada 2017-2018, a maior

produtora de séries televisivas para o mercado americano com 35 no total. O grande volume de

conteúdo em conjunto com a grande rede de distribuição possibilita que a Warner Bros tenha

pelo menos 4 séries nas 5 principais redes de televisão dos Estados Unidos e alcance, através

do licenciamento da sua programação e parceria com produtoras locais em diferentes países,

sendo presença em mais de 190 nações.

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Adicionalmente às séries de televisão, que também capturam essas sinergias, a empresa

também gera receitas pelo licenciamento de marcas em jogos, acessórios e demais produtos em

todo o mundo. Dentre as marcas do portfólio atual estão algumas mundialmente conhecidas

como DC Comics, Harry Potter, Looney Tunes e Senhor dos anéis. Desta forma, é estratégia

da empresa expandir suas marcas e personagens nos próximos anos, principalmente com o

lançamento de filmes de super-heróis e as franquias de Hobbit (de mesma autoria de Senhor

dos Anéis) e Animais Fantásticos (história similar e de mesma autoria de Harry Potter).

Algumas das séries mais reconhecidas da produtora são The Ellen Degeneres Show, The Flash,

The Middle, Super Girl e Super Natural.

Figura 5.4 – Warner Bros 3T – Time Warner (AT&T annual report)

As receitas da Warner Bros no terceiro trimestre de 2018 mostram o seguimento como

o maior gerador de caixa para o grupo, com $3.7 bilhões de dólares, ou em termos percentuais,

mais de 40% do resultado de receita da Time Warner. Os números na figura 5.4 acima trimestre

contra trimestre mostram crescimento de 8% nas receitas contra o mesmo trimestre do ano

anterior.

5.3 TURNER

Terceira e última companhia do grupo, a Turner é responsável pela criação e operação

de programação multi-plataforma em diferentes seguimentos, desde esportes a programação

infantil, em mais de 180 canais globalmente. O portfólio da companhia detém marcas como

TNT, CNN, Cartoon Network, NBA e outros, estando em mais de 200 países e territórios

espalhados pelo mundo.

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Figura 5.5 – Canais Turner

A operação da empresa funciona através da distribuição dos canais e programas para

afiliados, chegando ao consumidor final através de programação em tempo real ou plataformas

de consumo on-demand próprias e de terceiros, de maneira semelhante a HBO e a Warner Bros.

A Turner, de maneira distinta das outras empresas do grupo, controla licenças digitais próprias

e de terceiros, exemplo das propriedades digitais das ligas de esportes americanos. A gestão e

operação de aplicativos e sites, assim como o controle de conteúdo nas redes sociais, da CNN,

TNT e Bleacher Report são um exemplo. Adicionalmente, como exemplo, a companhia

controla e opera os direitos da NBA.com, o portal de jogos on-demand da NBA (NBA league

pass) e os direitos sobre as finais do basquete universitário americano, conhecido como March

Madness.

A empresa apresenta como objetivo o apoio ao desenvolvimento de melhores maneiras

de medir audiência em diferentes plataformas, notado pela criação, junto a Viacom e a 21st

Century Fox (companhias concorrentes), de uma plataforma independente para gerar

consistência nos números através de métricas mais avançadas de audiência. Outros objetivos

deste seguimento da Time Warner no planejamento são o aumento de anúncios dentro da

programação original dos canais e a melhora na tecnologia para inserção de propaganda no

conteúdo assistido on-demand. A criação de plataformas próprias para streaming sobre a marca

Boomerang (direcionada ao conteúdo para o público infantil) e para transmissão de jogos da

UEFA são direcionamentos recentes da Turner, corroborados pela aquisição de uma empresa

de streaming e vídeos baseados em nuvem iStreamPlanet, já prestadora de serviços de vários

canais da Turner.

Os números de receita da Turner em 2018, olhando para o terceiro trimestre do ano

mostram crescimento de 6% contra o ano anterior, que representam, sob os $8 bilhões da Time

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Warner, aproximadamente 30% de participação do seguimento nos números, como mostra a

figura 5.6.

Figura 5.6 – Turner 3T – Time Warner (AT&T annual report)

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6 CASE: AT&T E TIME WARNER

A aquisição da AT&T pela Time Warner foi realizada de forma amigável e concluída após

liberação dos órgãos reguladores de mercado americanos em junho de 2018. Os resultados das

duas empresas passam, desta forma, a compor o mesmo balanço a partir das divulgações

públicas do segundo trimestre de 2018. A aquisição teve como objetivo fundamental a

diversificação do portfólio de serviços da companhia pela consolidação da nova corporação

como provedora e distribuidora de conteúdo de alta qualidade, se aproveitando das sinergias

que a infraestrutura e o portfólio de clientes da AT&T poderiam proporcionar ao novo negócio.

Estas sinergias estruturais são provenientes da operação nacional da empresa de

telecomunicações e da sua ampla plataforma de distribuição direta ao consumidor. Segundo a

própria companhia, estima-se como meta o aproveitamento de sinergias no valor de $1.5 bilhões

de dólares em termos de redução de custos e de $1 bilhão de dólares em sinergias de receitas

ao final dos três anos subsequentes ao closing da operação.

Os termos da aquisição foram fechados em valor próximo a $85 bilhões de dólares, com

$42.5 bilhões pagos em dinheiro diretamente aos acionistas da Time Warner e o restante pago

segundo o cálculo de 1.437 ações da AT&T por ação da companhia adquirida. De maneira

explicativa, cada acionista da Time Warner recebeu – por cada ação vendida – uma quantia em

dinheiro e uma quantia de ações da AT&T, seguindo os números apresentados.

A aprovação do movimento de fusão e aquisição pela justiça americana, dado o tamanho

da transação e o posicionamento das duas companhias, foi facilitado pelo fato da aquisição ser

considerada vertical. Desta forma, não há aumento da companhia de forma lateral dentro do

próprio setor de atuação, como visto no capítulo 2. A ideia da AT&T é diversificar o seu

portfólio de produtos e suas fontes originadoras de receita, se aproveitando do cenário saturado

do mercado de telecomunicação e internet dos Estados Unidos e também da alta

competitividade e crescimento da demanda por serviços de streaming e conteúdo on-demand

por consumidores.

Com a aquisição, a AT&T se diferencia estrategicamente dos seus maiores competidores

no mercado de telecomunicação ao adicionar o serviço de mídia em seus produtos, que passam

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a fazer parte, desde a conclusão da transação, de um novo seguimento da companhia nomeado

AT&T’s Media Business. Como efeito comparativo, o movimento de M&A demuda a gama

de mercados onde a empresa compete. A figura 6.1 demonstra, de maneira ilustrativa à questão,

os descontos históricos em que as ações da AT&T e da Verizon – sua principal empresa

concorrente no mercado de wireless e telecomunicação - são negociadas. Através dos números,

dispostos desde 2008, é possível observar que as duas ações caminham juntas em termos de

múltiplo de negociação P/E (ou Preço/Lucro). O desconto de múltiplos de negociação, além de

ser uma característica do setor em que a empresa está inserida, demonstra que o mercado

enxerga similaridades no posicionamento e operação das mesmas.

Figura 6.1 – Descontos T, VZ – 2009/2017

Os gráficos comparativos de portfólio de serviços com as atividades das duas companhias

explicitado na figura 6.2 evidenciam a mudança estratégica da companhia. Os números de 2013,

prévios às aquisições de Time Warner pela AT&T e da recompra de participação da Vodafone

na Verizon Wireless pela mesma mostram a similaridade dos portfólios de serviço e

consequentemente das fontes de receita das duas companhias. Por outro lado, nos gráficos

projetados para 2019, enquanto a Verizon passa a ser quase que inteiramente dependente do

serviço de wireless, o crescimento vertical da AT&T diversifica as fontes de receita projetadas

para empresa, prevendo 18% das mesmas como oriundas da consolidação da Time Warner –

através dos braços HBO, Turner e Warner Bros - em um novo seguimento de mídia. Desta

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forma, o percentual dos serviços de wireless, business services e consumer internet são

reduzidos. O resultado final desta diferença deve intensificar a análise de mercado de que os

negócios da empresa não mais coincidem e distanciar as similaridades históricas de múltiplos

e descontos.

Figura 6.2 – Portfolio de Serviços – AT&T x Verizon (Goldman Sachs)

6.1 ANÁLISE FINANCEIRA

A transação foi fechada através da utilização de caixa e dívida, tendo seus termos definidos

pelo pagamento de $42.5 bilhões em moeda corrente e o restante através da emissão de ações

da nova companhia (sob o ticker da AT&T, T). O balanço consolidado da empresa, que agrupa

os resultados de dois trimestres do ano após a aprovação da aquisição, nos ajuda a destrinchar

os movimentos originados. De maneira adicional, vale ressaltar que a análise dos movimentos

no balanço patrimonial e nos demonstrativos de resultados e fluxo de caixa nos ajuda a entender

de forma preliminar a baseada na prévia dissertação sobre a aquisição, os motivos e primeiros

impactos da transação na companhia.

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Através da tabela 6.1 é possível observar o recorte do Ativo reportado no balanço

patrimonial da empresa. O ativo circulante, através linha de caixa e equivalentes no balanço

patrimonial, é reduzida em $35 bilhões devido a consolidação do caixa da empresa adquirida

menos o pagamento dos $42.5 bilhões desembolsados para aquisição. A ordem da redução no

Ativo Circulante é suavizada pelo reconhecimento das linhas de contas a receber da Time

Warner antes da transação.

No Ativo não-circulante, o crescimento entre o primeiro e segundo trimestre do ano da

ordem de $89 bilhões de dólares é explicada em 96% pelas mudanças nas contas de Goodwill

e Intangíveis (figura 6-3). Ambas as linhas podem ser observadas de forma destacada na

imagem.

2016 2017E 1Q18 2Q18 3Q18

Ativos

Caixa e equivalentes 5,788 50,498 48,872 13,523 8,657

Contas a receber 16,794 16,522 16,290 25,492 26,312

Outros ativos circulantes 15,787 12,126 13,343 16,271 18,138

Total Ativo Circulante 38,369 79,146 78,505 55,286 53,107

Propriedades, Instalações e Equipamentos 124,899 125,222 125,124 129,556 130,348

Goodwill 105,207 105,449 105,482 143,499 146,475

Licenciamento 94,176 96,136 96,556 96,802 96,077

Outros ativos Intangíveis 8,441 7,464 7,201 55,240 24,389

Investimentos 1,674 1,560 2,623 8,007 6,128

Outros ativos não circulantes 31,055 29,120 30,821 46,986 78,346

Total Ativos 403,821 444,097 446,312 535,376 534,870

Tabela 6-3 – Balanço Patrimonial - Ativo

Como desenvolvido no capítulo dois, o aumento da linha de Goodwill é fato subsequente

à conclusão de uma operação de M&A no balanço da empresa compradora e está vinculado ao

valor pago acima do valor justo de mercado da companhia alvo, sendo consolidado como ativo

não circulante no balanço patrimonial. A variação na conta de Goodwill medido na compra da

Time Warner foi de $37 bilhões de dólares, quase 30% a mais do contabilizado no primeiro

trimestre do ano para a AT&T. A explicação analítica se encontra na particularidade do

portfólio de serviços da empresa adquirida, que consiste da criação e produção de conteúdos

cujo valor de propriedade intelectual supera em muito o valor dos ativos utilizados para sua

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produção e na expectativa da AT&T sobre a performance da Timer Warner dentro da sua

operação. O valor de Goodwill conceitualmente carrega a esperança de geração de resultados

que elucidem o valor do prêmio pago. Desta forma, ter a conta de Goodwill como representante

de um quarto dos seus ativos continua a ser um risco no curto prazo da companhia devido a

testes de impairment (redução de valor de ativos) anuais. Essa redução do valor de ativos pode

influenciar o olhar e a avaliação do mercado sobre a companhia e o poder do seu time de gestão

em gerar negócios sustentáveis e que criem valor ao acionista, mesmo que não impactem a

geração e caixa da mesma.

O valor dos ativos intangíveis da empresa subiu em $48 bilhões, ratificando o valuation

de compra da AT&T pelos ativos de posse intelectual da Warner, como marca, licenças e

copyrights. A mudança na conta de intangíveis pode ser observada na tabela 6.3 e em detalhe

na tabela 6.4, mostrando o crescimento da conta devido a compra de ativos. No terceiro

trimestre de 2018, a redução na conta se deve a reclassificação de ativos de intangíveis para

outros ativos não-circulantes.

2016 2017E 1Q18 2Q18 3Q18

Intangíveis

Intangíveis iniciais 9,409 8,441 7,464 7,201 55,240

Amortização (9) (18) 162 (22) (3,101)

+/- Venda/Compra de ativos (959) (959) (425) 48,061 (27,750)

Intangíveis finais 8,441 7,464 7,201 55,240 24,389

Tabela 6.4 – Balanço Patrimonial - Ativos Intangíveis

As contas de passivo e patrimônio líquido da companhia podem ser observados na tabela

6.5. Pode-se observar que o Passivo consolidado da empresa apresenta o aumento conjunto nas

contas de endividamento de longo prazo, fruto da consolidação da dívida da empresa adquirida

e na conta total de patrimônio líquido, este resultante da emissão de ações para compra da Time

Warner.

A primeira conta explícita um dos riscos da aquisição: o alto nível de dívida. De acordo

com os dados divulgados pela empresa, $49 bilhões de dólares do montante têm vencimento

igual ou inferior aos próximos 5 anos - contra $51 bilhões de dólares de fluxo de caixa livre

após dividendos na projeção de analistas do mercado [7]. Os dados de fluxo da caixa livre da

companhia, que representam a parcela de caixa gerado disponível para o pagamento das

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obrigações com terceiros, podem ser observados na tabela 6.6. Este dado implica na necessidade

de a empresa implementar crescimento de receitas caso decida manter os níveis históricos de

pagamento de dividendos na faixa de 60% do seu caixa livre sem comprometer eventuais

necessidades de caixa futuras.

2016 2017E 1Q18 2Q18 3Q18

Passivo e Patrimônio líquido

Dívida de curto-prazo 9,832 38,374 29,322 21,672 14,905 Contas a pagar e passivos acumulado 31,138 34,470 31,569 35,488 39,375 Outros passivos circulantes 9,606 8,545 9,689 11,433 11,140

Passivo circulante total 50,576 81,389 70,580 68,593 65,420

Dívida de longo-prazo 113,681 125,972 133,724 168,495 168,513 Diferimento de imposto de renda 60,128 43,207 45,730 59,665 60,495 Benefícios de aposentadoria/pensão 33,578 31,775 30,116 29,476 28,981 Outros ativos não circulantes 21,748 19,747 19,117 25,017 26,490

Total Passivo 279,711 302,090 299,267 351,246 349,899

Ação ordinária 6,495 6,495 6,495 7,621 7,621 Participações minoritárias 975 1,146 1,156 1,150 1,123 Patrimônio líquido 116,640 134,366 139,394 175,359 176,227

Patrimônio Líquido total 124,110 142,007 147,045 184,130 184,971

Total Liabilities & Equity 403,821 444,097 446,312 535,376 534,870

Tabela 6.5 – Balanço Patrimonial - Passivo e Patrimônio Líquido

2018E 2019E 2020E 2021E 2022E 2023E

Fluxo de caixa

FCL / Ação $3.01 $3.52 $3.48 $3.35 $3.43 $3.53

Variação ano/ano (%) 5.8% 16.9% -1.2% -3.7% 2.5% 2.7%

- Dividendos (13,478) (14,886) (15,184) (15,488) (15,797) (16,113)

- Razão dividendos (% do FCL) 64.9% 57.9% 59.7% 63.3% 63.0% 62.5%

FCF Depois dos Dividendos 7,275 10,826 10,231 8,995 9,286 9,649

Tabela 6.6 – Fluxo de Caixa Livre e Dividendos

O comparativo de receitas da companhia, observando os dados históricos e o balanço

consolidado a partir do segundo trimestre de 2018, dimensionam o tamanho e o impacto que a

aquisição e a diversificação de negócios da Time Warner podem trazer. Frente aos $150 bilhões

gerados pelo maior seguimento da AT&T, o crescimento de receita sólido da Time Warner

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pode ajudar a alavancar o retorno ao acionista do papel em menor tempo após a aquisição. A

tabela 6.7 e a figura 6.8 mostram, em sequência, os números de receita trimestrais do

seguimento de Communications da empresa em 2018 contra o crescimento dos seguimentos de

negócio da Time Warner e o gráfico de crescimento de receita das duas companhias na projeção

até 2023. A análise dos números evidencia o crescimento de receitas da Time Warner a ritmo

mais acelerado que da empresa adquirente, impulsionando seu crescimento anual composto –

CAGR e a aumentando a parcela referente ao resultado dos seus negócios dentro dos resultados

consolidados.

T / TWX

2016 2017 1Q18 2Q18 3Q18 4Q18E

Demonstrativo de Resultado

Receita

Mobility 71,090 17,355 17,282 17,938 19,701

Entertainment Group 49,995 11,431 11,478 11,589 11,770

Business Wireline 29,293 6,747 6,650 6,703 6,506

Communications 150,378 35,533 35,410 36,230 37,977

Variação ano/ano (%) -3.7% -5.0% -2.4% -2.9%

Variação tri/tri (%) -9.1% -0.3% 2.3% 4.8%

Turner 430 112 667 2,988 3,336

Home Box Office 0 0 281 1,644 1,786

Warner Bros. 0 0 507 3,720 4,242

Outros 0 0 (62) (148) (200)

WarnerMedia 430 112 1,393 8,204 9,164

Tabela 6.7 – DRE

No final de cinco anos, a projeção demonstra que o crescimento médio anual de meio

porcento a mais nas receitas proveninentes dos seguimentos daTime Warner contra os negócios

da AT&T se acumulam em um crescimento composto mais de 4 vezes maior no período para o

os seguimentos da companhia adquirida. O gráfico demonstra de maneira clara os momentos

distintos da companhias no momento prévio a aquisição. Enquanto a AT&T cresce receitas de

forma regular mas de forma lenta pela consolidação e saturação dos mercados em que atua, a

Time Warner cresce receitas muito mais rapidamente, seja pelo crescimento de demanda pelo

seu portifólio de serviços ou pela execução direfencial do seu time.

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Figura 6.8 – Crescimento comparativo de receita – AT&T e Time Warner

6.2 ANÁLISE DE SINERGIAS

A aquisição da Time Warner pela AT&T nos permite observar a possibilidade do

aproveitamento de sinergias descritas e explicadas no capítulo 2 seguindo a metodologia de

Damodaran [23].

De acordo com a metodologia do autor, dentre as sinergias operacionais o Maior

Potencial de Crescimento, sinergia que resultante do fato da AT&T ter adquirido junto com a

Time Warner o acesso a um mercado antes de difícil acesso e alta competitividade. A

Combinação de Forças Funcionais resultante da transação também deve ser contabilizada, uma

vez que a integração da rede de distribuição, infraestrutura e clientes da AT&T deve somar a

referência de produção de conteúdo da Time Warner criando robustez à nova companhia. Esta

sinergia pode ser considerada também uma sinergia exclusiva, observando a definição de

Copeland, Koller e Murrin [14], da AT&T na transação, uma vez que está disponível apenas a

um player com as suas características.

Por fim, a Diversificação, representada como a sinergia resultante da diversificação de

atividades de uma companhia, em sua maioria observada em transações verticais, como a que

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estamos analisando, é a sinergia financeira mais observável. A diversificação de receitas da

nova companhia explicitada no início do capítulo ilustra a importância de unir negócios

distintos para aproveitamento de sinergias de operação. Vale ressaltar também o fato da Time

Warner ser uma empresa diversa dentro do próprio setor de mídia, uma vez que possui negócios

distintos para diferentes tipos de públicos e plataformas.

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7 CONCLUSÃO

O projeto de graduação se mostrou conclusivo em virtude do que foi mencionado neste

trabalho, entendendo-se claramente que uma transação de fusão e aquisição possui

complexidades que podem definir seu sucesso mesmo que observadas anteriormente à sua

conclusão. A conclusiva identificação das Sinergias envolvidas na transação, assim como a

completa análise prévia e sua quantificação em termos financeiros demonstra que as mesmas

devem ser destrinchadas para formação do valor de aquisição de um ativo.

Especificamente nesse trabalho, o estudo de posicionamento de mercado das duas

companhias, AT&T e Timer Warner, bem como a demonstração minuciosa das suas operações

e portfólio de serviços nos permitiu detalhar de maneira satisfatória o ambiente da transação.

Em adição a isto, a análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças realizada para a

AT&T fomentou as razões pelo qual a companhia buscou expandir e diversificar seus negócios.

Desta forma, os objetivos do trabalho dispostos no capítulo 1 foram satisfeitos, dentro

das limitações do projeto. Foi possível observar em conjunto os principais pontos estratégicos

do movimento de aquisição, como a identificação de sinergias na aquisição, o processo de

criação de valor para a empresa e seus acionistas e as mudanças no posicionamento de mercado

da empresa compradora decorrentes.

7.1 RESULTADOS FUTUROS E LIMITAÇÕES

O presente trabalho apresentou limitações claras e definidas desde o seu início. A mais

presente delas se relaciona com o fator temporal, exposto pela proximidade da sua execução à

conclusão da operação de aquisição analisada. Surge daí uma expectativa de que o tema seja

abordado futuramente em um novo projeto, de maneira que os movimentos sinérgicos e de

posicionamento da companhia sejam validados.

A difícil mensuração das sinergias de uma transação estando de fora da mesma tornaram

difícil a crítica aos números apresentados pela própria AT&T e utilizados nesse trabalho. Esta

é uma limitação esperada, que impossibilitou a análise mais detalhada quanto a justiça do valor

desembolsado pela companhia na transação, mas que não prejudica a análise do case.

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Outra limitação do trabalho foi a impossibilidade de um cálculo técnico e mais profundo

do valor financeiro das sinergias analisadas. Mesmo que a importância do cálculo tenha sido

disposta no decorrer dos capítulos, é de fácil entendimento que a sua execução requer dados

que não são acessíveis. Como dito anteriormente, a ausência dos mesmos não invalida os

objetivos da pesquisa.

As discussões sobre as demonstrações financeiras realizadas no presente trabalho em conjunto

ao referencial teórico desenvolvido demonstram um almejo do autor de observar mais trabalhos

acadêmicos que discutam demonstrações de resultados de companhias nos temas de avaliação

de empresas, valorização de companhias (valuation) e indicadores financeiros.

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REFERÊNCIAS:

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[2] Richard A. Brealey, Stewart C. Myers, Franklin Allen. Princípios de Finanças

Corporativas - 12.ed.

[3] Gitman, L. Princípios da Administração Financeira.

[4] JP Morgan. 2018 Global M&A Outlook, 2018.

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https://www.nytimes.com/2018/10/10/health/cvs-aetna-merger.html

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[7] Disney and Fox Shareholders Approve Deal, Ending Corporate Duel, NY Times.

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[11] KPMG. Fusões e Aquisições 2018

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[12] Stigler, G., Monopoly and Oligopoly Power by Merger, American Economic Review

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[16] Hyung, I., A New Accounting Approach to Evaluate M & A Prices and Goodwill

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[17] KPMG. Finding Goodwill in Mergers, 2017

[18] Rhodes-Kropf. Does the Management's Forecast of Merger Synergies Explain the

Premium Paid, the Method of Payment, and Merger Motives? MIT Sloan, 2011.

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[20] Rocha, J. Fusões e Aquisições: Impactos no período de crise, 2017.

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[22] Time Warner. Annual Report

http://www.annualreports.com/Company/time-warner-inc

Acessado em 15/12/2018.

[23] Damodaran, A. The Value of Sinergy, Stern School of Business, 2005.