galatas - m. henry

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GÁLATAS Introdução Capítulo 1 Capítulo 3 Capítulo 5 Capítulo 2 Capítulo 4 Capítulo 6 Introdução As igrejas da Galácia estavam formadas em parte por judeus convertidos, e em parte por gentios convertidos, como era o caso da Igreja em geral. Paulo afirma o seu caráter apostólico, e as doutrinas que ensinou para confirmar as igrejas da Galácia na fé em Cristo, especialmente naquilo que diz respeito ao importante ponto da justificação que é somente alcançada pela fé. Deste modo, o tema é principalmente o mesmo discutido na Epístola aos Romanos, isto é, da justificação somente pela fé. Contudo, nesta epístola dirige-se a atenção em particular ao ponto em que os homens são justificados pela fé, sem as obras da lei de Moisés. Sobre a importância das doutrinas estabelecidas com destaque nesta epístola, Lutero diz: "Temos que temer como o maior perigo, e como o perigo mais próximo, que Satanás retire de nós esta doutrina da fé e tome a trazer à Igreja a doutrina das obras e das tradições dos homens. Daí a necessidade de que esta doutrina seja mantida em prática contínua e exercida em público, tanto na forma de leitura como através do ouvir. Se esta doutrina se perder, então se perderam a doutrina da verdade, da vida e da salvação". Gálatas 1 Versículos 1-5: O apóstolo Paulo afirma o seu caráter apostólico contra aqueles que o desprestigiavam; 6-9: Repreende os gálatas por rebelarem-se contra o Evangelho de Cristo, por causa da influência de maus mestres;10-14: Prova a autoridade divina de sua doutrina e

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COMENTÁRIO BÍBLICO DE MATTHEW HENRY

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Page 1: Galatas - M. Henry

GÁLATAS Introdução Capítulo 1 Capítulo 3 Capítulo 5 Capítulo 2 Capítulo 4 Capítulo 6 Introdução As igrejas da Galácia estavam formadas em parte por judeus

convertidos, e em parte por gentios convertidos, como era o caso da Igreja em geral. Paulo afirma o seu caráter apostólico, e as doutrinas que ensinou para confirmar as igrejas da Galácia na fé em Cristo, especialmente naquilo que diz respeito ao importante ponto da justificação que é somente alcançada pela fé. Deste modo, o tema é principalmente o mesmo discutido na Epístola aos Romanos, isto é, da justificação somente pela fé.

Contudo, nesta epístola dirige-se a atenção em particular ao ponto em que os homens são justificados pela fé, sem as obras da lei de Moisés. Sobre a importância das doutrinas estabelecidas com destaque nesta epístola, Lutero diz: "Temos que temer como o maior perigo, e como o perigo mais próximo, que Satanás retire de nós esta doutrina da fé e tome a trazer à Igreja a doutrina das obras e das tradições dos homens. Daí a necessidade de que esta doutrina seja mantida em prática contínua e exercida em público, tanto na forma de leitura como através do ouvir. Se esta doutrina se perder, então se perderam a doutrina da verdade, da vida e da salvação".

Gálatas 1 Versículos 1-5: O apóstolo Paulo afirma o seu caráter apostólico

contra aqueles que o desprestigiavam; 6-9: Repreende os gálatas por rebelarem-se contra o Evangelho de Cristo, por causa da influência de maus mestres;10-14: Prova a autoridade divina de sua doutrina e

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 2 missão, e declara o que era antes de sua chamada e conversão; 15-24: O seu procedimento posterior.

Vv. 1-5. Paulo era um apóstolo de Jesus Cristo; foi expressamente nomeado por Ele, e em conseqüência por Deus Pai, que é um com Ele em sua natureza Divina, e nomeou a Cristo como Mediador. A graça incluí a boa vontade de Deus para conosco, e a sua boa obra em nós; e a paz, que é todo este consolo interior ou prosperidade exterior de que nós realmente necessitamos. Estas procedem de Deus Pai como uma fonte por meio de Jesus Cristo; porém, devemos observar em primeiro lugar a graça, e em seguida a paz. Não pode haver paz verdadeira sem a graça.

Cristo entregou-se a si mesmo por nossos pecados, para fazer expiação por nós: isto era exigido pela justiça de Deus e submeteu-se a isto livremente. Aqui deve ser observada a infinita grandeza do preço que foi pago, e, então, será evidente que o poder do pecado é tão grande que não poderia ser retirado, de modo algum, salvo se o Filho de Deus fosse entregue como resgate. Aquele que considera bem estas coisas, compreende que o pecado é o mais horrível que se poderia expressar, o que deveria nos comover e, sem dúvida, nos assustar.

Observemos bem e especialmente as palavras "por nossos pecados", porque aqui trata-se novamente de nossa frágil natureza, que deseja primeiramente ser digna por suas próprias obras; essa deseja levar à presença dEle aqueles que estão sadios, e não aqueles que precisam de um médico. Não somente para nos redimir da ira de Deus e da maldição da lei, mas também para nos separar dos maus costumes e das más práticas, aos quais estávamos naturalmente escravizados. É vão que aqueles que ainda não foram libertos deste mundo presente por meio da santificação do Espírito, tenham a expectativa de serem libertos de sua condenação pelo sangue de Jesus.

Vv. 6-9. Aqueles que desejam estabelecer qualquer outro caminho ao céu, e que não seja aquele que é revelado pelo Evangelho de Cristo, se encontrarão miseravelmente errados. O apóstolo faz com que os gálatas tenham a devida sensação de sua culpa por abandonarem o

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 3 caminho da justificação segundo o Evangelho, ainda que a repreensão tenha sido feita com ternura, e os retrate como levados a esta condição por obra de alguns que os perturbavam. Devemos ser fiéis quando repreendemos outras pessoas, e dedicar-nos, contudo, a restaurá-los com o espírito de mansidão.

Alguns desejam instalar as obras da lei, ao invés da justiça de Cristo, e, deste modo, corrompem o cristianismo. O apóstolo o denuncia de modo solene, declarando como maldito todo aquele que tente colocar um fundamento tão falso. Todos os demais evangelhos, que não sejam o Evangelho da graça de Cristo, afagam para o orgulho da justiça própria, ou favorecem às luxúrias mundanas; são invenções de Satanás. Enquanto declaramos que reprovar a lei moral como regra de vida tende a desonrar a Cristo, e a destruir a verdadeira religião, devemos também declarar que toda a dependência das boas obras para a justificação, sejam reais, sejam imaginárias, são igualmente fatais pala aqueles que persistirem nelas. Enquanto formos zelosos pelas boas obras, tenhamos o cuidado de não colocá-las no lugar que pertence exclusivamente à justiça de Cristo, e não propor algo que possa trair o nosso próximo com um engano tão terrível.

Vv. 10-14. Ao pregar o Evangelho, o apóstolo procurava levar pessoas à obediência, não aos homens, mas a Deus. Paulo não desejava alterar a doutrina de Cristo, fosse para ganhar o favor deles, fosse para evitar a ira dos tais. Em um assunto tão importante não devemos temer a ira dos homens, nem buscar o favor destes utilizando palavras de sabedoria humana.

Quanto à maneira como ele recebeu o Evangelho, foi por meio de uma revelação do céu. Não foi levado ao cristianismo, como muitos, somente por meio de uma educação cristã.

Vv. 15-24. Paulo foi levado de uma forma maravilhosa ao conhecimento e à fé em Cristo.

Todos aqueles que são convertidos para a salvação são chamados pela graça de Deus; a conversão deles é uma obra de seu poder e de sua graça, que neles operam. Teremos pouco proveito se tivermos a Cristo

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 4 somente revelado a nós, se Ele também não estiver revelado em nós. Estava preparado para obedecer imediatamente, a despeito de seus próprios interesses, de seu crédito, conforto mundano ou de sua própria vida. Que motivo é de ação de graças e de alegria para os membros da Igreja de Cristo, quando tomam conhecimento de casos semelhantes para louvor da glória de sua graça, quer seja na vida de alguém que já tenham visto alguma vez, ou que jamais tenham visto! Eles glorificaram a Deus por seu poder e misericórdia ao salvar tais pessoas, e por todo o serviço feito ao seu povo e à sua causa, e pelo serviço que também pode ser esperado pela posteridade, por aqueles que ainda o servirão.

Gálatas 2 Versículos 1-10: O apóstolo declara que foi reconhecido como o

apóstolo dos gentios; 11-14: Resistiu publicamente a Pedro por seu comportamento voltado ao judaísmo; 15-21: Daí passa à doutrina da justificação por meio da fé em Cristo, sem as obras da lei.

Vv. 1-10. Observemos a fidelidade do apóstolo ao dar um relato completo da doutrina que havia pregado entre os gentios, e que ainda estava decidido a pregar, a do cristianismo, livre de toda a mescla com o judaísmo. Esta doutrina seria desagradável para muitos, mas ele não temia reconhecê-la. A sua preocupação era que não decaísse o êxito de seus trabalhos passados, ou que fosse prejudicado em sua futura utilidade. Enquanto dependermos claramente de Deus para o êxito em nossos labores, devemos utilizar toda a cautela necessária para eliminar erros, e contra os opositores. Há coisas que podem ser cumpridas de modo lícito; porém, quando não podem ser feitas sem trair a verdade, devem ser rejeitadas. Não devemos dar lugar a nenhuma conduta pela qual a verdade do Evangelho possa ser censurada.

Ainda que Paulo conversasse com os outros apóstolos, não recebeu destes nada novo para o seu conhecimento ou autoridade. Deram-se conta da graça que lhe foi dada, e estenderam a ele e a Barnabé as destras em comunhão, pelo que reconheciam que fora nomeado no ofício

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 5 e dignidade de apóstolo, como eles mesmos o foram. Acordaram que os dois deveriam ir aos gentios, enquanto eles continuariam pregando para os judeus; julgaram que a idéia de dividirem-se deste modo na obra era do agrado de Cristo.

Aqui aprendemos que o Evangelho não pertence a nós, mas a Deus, e que nós os homens somos apenas seus guardiães. Por esta razão temos que louvar a Deus. O apóstolo mostrou a sua disposição à caridade e o quão disposto estava para aceitar aos judeus convertidos como irmãos, ainda que muitos dos apóstolos dificilmente permitiriam igual favor a estes; porém, somente a diferença de opiniões não era um motivo justo para que não os ajudasse. Aqui está um padrão do amor cristão, que devemos sempre estender a todos os discípulos de Cristo.

Vv. 11-14. Apesar do caráter de Pedro, quando Paulo o viu agindo de modo prejudicial à verdade do Evangelho e à paz da Igreja, não teve medo de repreendê-lo. Quando viu que Pedro e os demais não viviam conforme o princípio que é ensinado pelo Evangelho, e que eles professavam, a saber, que pela morte de Cristo foi derrubado o muro de separação entre os judeus e os gentios, e a observância da lei de Moisés deixava de estar em vigência; como a ofensa de Pedro era pública, Paulo o repreendeu publicamente. Existe uma diferença muito grande entre a prudência de Paulo, que sustentou e utilizou por certo tempo as cerimônias da lei como se não fossem pecaminosas, e a conduta tímida de Pedro que, por apartar-se dos gentios, levou outros a pensar que estas cerimônias eram necessárias.

Vv. 15-19. Tendo Paulo assim demonstrado que não era inferior a nenhum dos apóstolos, nem ao próprio Pedro, fala da grande doutrina fundamental do Evangelho. Para que cremos em Cristo? Não foi para que fôssemos justificados por meio da fé em Cristo? Sendo assim, não é uma atitude néscia retornarmos à lei, e esperar que sejamos justificados pelos méritos de obras morais, dos sacrifícios ou das cerimônias? A ocasião desta declaração surgiu sem dúvida da lei cerimonial; porém, o

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 6 argumento é tão forte contra toda a dependência das obras da lei moral, que jamais seria capaz de obter a justificação.

Para dar maior peso a este fato, acrescenta-se aqui: "Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é, porventura, Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma". Isto seria muito desonroso para Cristo e também traria muitos danos para eles. Considerando a mesma lei, entendeu que não deveria esperar a justificação por meio das obras da lei, e que agora já não havia mais necessidade dos sacrifícios e das purificações, uma vez que estes foram terminados em Cristo quando Ele mesmo se ofereceu como sacrifício por nós. Não esperava nem tinha algum temor; não mais do que um homem morto para os seus inimigos. Porém, o efeito desta situação não era uma vida descuidada e ilícita. Era necessário que ele pudesse viver para Deus e ser dedicado a Ele por meio dos motivos e da graça do Evangelho. Esta não é uma nova objeção, porém, é extremamente injusto que a doutrina da justificação exclusivamente pela fé estimule as pessoas a pecarem. Não é assim, porque aproveitar-se da graça que é concedida gratuitamente, ou de sua doutrina, é viver em pecado, é procurar fazer com que Cristo seja ministro do pecado, uma idéia que deveria estremecer a todos os corações cristãos.

Vv. 20,21. Aqui, em sua própria pessoa, o apóstolo descreve a vida espiritual e reservada do crente. o velho homem foi crucificado (Rm 6.6); porém, o novo homem está vivo; o pecado é mortificado e a graça é vivificada. Tem as consolações e os triunfos da graça, e esta graça não é de si mesmo, mas de outro. Os crentes se vêem vivendo em um estado de dependência de Cristo. Daí que, ainda que viva na carne, contudo, não vive segundo a carne. Aqueles que possuem a verdadeira fé vivem por meio desta fé; e a fé se afirma em que Cristo deu-se a si mesmo por nós.

Ele nos amou, e entregou a sua vida por nós. É como se o apóstolo dissesse: O Senhor me viu fugindo mais e mais dEle. Tal maldade, erro e ignorância, estavam em minha vontade e entendimento, e não era

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 7 possível que eu fosse resgatado por outro meio que não fosse o preço que Ele pagou. Consideremos bem este preço.

Aqui podemos observar a falsa fé que muitos têm. A confissão deles está de acordo: têm a forma da piedade, mas sem o poder desta. Pensam que crêem bem nos artigos da fé, mas estão enganados. Crer em Cristo crucificado não é somente crer que Ele foi crucificado, mas também crer que eu estou crucificado com Ele. Isto é conhecer a Cristo crucificado. Daí aprendemos qual é a natureza da graça. A graça de Deus não pode estar unida ao mérito do homem. Ele não é a graça a menos que seja de todas as formas livremente concedida. Quanto mais o crente confie em Cristo para tudo, mais devotamente andará diante dEle em todas as suas ordenanças e mandamentos. Cristo vive e reina nele, e ele vive aqui na terra pela fé no Filho de Deus, que trabalha em sua vida por amor, produz a obediência e muda a sua imagem. Deste modo, não abusa da graça de Deus nem a torna vã.

Gálatas 3 Versículos 1- 5: Os gálatas são repreendidos por desviarem-se da

grande doutrina da justificação, que somente acontece pela fé em Cristo; 6-9: Esta doutrina é afirmada a partir do exemplo de Abraão; 10-14: O teor da lei e a gravidade de sua maldição; 15-18: O pacto da promessa que a lei não podia anular; 19-25: A lei foi um aio para guiar-nos a Cristo; 26-29: No Evangelho todos os crentes são um em Cristo Jesus.

Vv. 1-5. Vários fatores contribuíam para que o estado néscio dos cristãos gálatas se tornasse ainda mais grave. A doutrina da cruz lhes fora pregada, e a ceia do Senhor lhes era ministrada. Em ambas, Cristo crucificado e a natureza de seus sofrimentos lhes haviam sido expostos de modo pleno e claro.

Eles foram feitos participantes do Espírito Santo pela ministração da lei ou por conta de algumas obras que fizeram em obediência a ela? Não foi por terem ouvido e abraçado a doutrina da fé exclusivamente em Cristo, que sozinha é suficiente para a justificação? Não foi por meio do

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 8 primeiro, mas deste último. Não são sábios aqueles que toleram ser desviados do ministério e da doutrina em que foram abençoados para o seu próprio proveito espiritual.

Ah! Que os homens não se desviem da doutrina de Cristo crucificado, que é uma doutrina de importância absoluta, para ouvirem distinções inúteis, pregações puramente morais ou loucas imaginações! O deus deste mundo cegou o entendimento dos homens usando diversos homens e meios, para que aprendessem anão confiar no Salvador crucificado. Podemos perguntar de modo direto: Onde há o fruto do Espírito Santo de modo mais evidente? Naqueles que pregam a justificação por meio das obras da lei, ou naqueles que pregam a doutrina da fé? Com toda a segurança, nestes últimos.

Vv. 6-14. O apóstolo pro,~a a doutrina, de cuja rejeição havia culpado os gálatas. A saber, a da justificação pela fé, sem as obras da lei. Ele o faz a partir do exemplo de Abraão, cuja fé se firmou na Palavra e na promessa de Deus, e por crer foi reconhecido e aceito por Deus como sendo um homem justo. É dito que as Escrituras prevêem, porque aquEle que previu foi o Espírito Santo, que inspirou as Escrituras. Abraão foi abençoado por causa da fé que possuía na promessa de Deus; e esta é a única forma pela qual os demais obtêm este privilégio. Então, estudemos o assunto, a natureza e os efeitos da fé de Abraão, porque quem pode escapar da maldição da santa lei de alguma outra maneira? A maldição é contrária a todos os pecadores; portanto, é contrária a todos os homens, porque todos pecaram, e todos se fizeram culpáveis diante de Deus; e como transgressores da lei, estamos debaixo de sua maldição, e em vão buscaremos a justificação por meio dela. Os justos ou retos são somente aqueles que são libertos da morte e da ira, e que são restaurados a um estado de vida no favor de Deus: somente através da fé é que as pessoas chegam a ser justas.

Assim vemos, pois, que a justificação por meio da fé não é uma doutrina nova, mas foi ensinada na Igreja de Deus muito antes dos

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 9 tempos em que o Evangelho foi introduzido. Na verdade, é a única maneira pela qual os pecadores foram ou podem ser justificados.

Mesmo não tendo sentido esperar a libertação por meio da lei, existe um caminho aberto para que o homem escape da maldição, e recupere o favor de Deus, a saber, por meio da fé em Cristo. Cristo nos redimiu da maldição da lei; foi feito pecado, ou uma oferta pelo pecado por nós; não separado de Deus, mas por certo tempo sujeito ao castigo divino. Os intensos sofrimentos do Filho de Deus advertem os pecadores aos gritos, para que fujam da ira vindoura, mais do que de todas as maldições da lei, porque, como é que Deus poderia salvar a um homem que permanece sob o pecado, tendo em vista que não poupou o seu próprio Filho, quando os nossos pecados foram carregados sobre Ele? Porém, ao mesmo tempo, Cristo, da cruz, convida os pecadores a que de modo livre e de graça, refugiem-se nEle.

Vv. 15-18. O pacto que Deus fez com Abraão não foi cancelado por meio da entrega da lei a Moisés. O pacto foi estabelecido com Abraão e com a sua semente. Ele ainda está em vigor. Cristo permanece para sempre em pessoa e na semente espiritual de Abraão, que são seus por meio da fé. Por esta razão conhecemos a diferença entre as promessas da lei e as promessas do Evangelho. As promessas da lei são feitas à pessoa de cada ser humano; as promessas do Evangelho são feitas primeiramente a Cristo, e depois feitas por meio dEle aos que pela fé são enxertados nEle.

Para dividir corretamente a Palavra da verdade, deve ser estabelecida uma grande diferença entre a promessa e a lei quanto aos efeitos interiores e a toda a prática da vida. Quando a promessa se mescla com a lei, anula-se e converte-se em lei. Que Cristo esteja sempre diante de nossos olhos como argumento seguro para a defesa da fé, contra a dependência da justiça humana.

Vv. 19-22. Se esta promessa foi suficiente para a salvação, então para que serviu a lei? Os israelitas, mesmo tendo sido escolhidos para serem o povo peculiar de Deus, eram pecadores como os demais. A lei

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 10 não foi concebida para descobrir uma maneira de justificar, diferente daquela que fora dada pela promessa, mas para conduzir os homens a enxergarem a necessidade que tinham da promessa, mostrando-lhes a gravidade do pecado, e para dirigi-los somente a Cristo, por meio de quem poderiam ser perdoados e justificados.

A lei foi dada pelo ministério dos anjos e pela mão de um mediador, Moisés; porém, a promessa foi feita pelo próprio Deus. Daí temos que a lei não poderia ser projetada para revogar a promessa. Como o próprio vocábulo indica, o mediador é um amigo que se interpõe entre duas partes e que não age somente em relação a uma, ou a favor de uma das partes. A grande intenção da lei era que a promessa por fé em Jesus Cristo fosse dada àqueles que crêem; àqueles que, estando convictos de sua culpa, e da insuficiência da lei para efetuar a justiça por eles, pudessem ser persuadidos a crer em Cristo, e, assim, alcançarem o benefício da promessa. Não é possível que a santa, justa e boa lei de Deus, a norma do dever para todos, seja contrária ao Evangelho de Cristo. A lei empreende todos os esforços para promover o Evangelho.

Vv. 23-25. A lei não ensinava um conhecimento vivo e Salvador, porém, por meio de seus ritos e cerimônias, especialmente por seus sacrifícios, apontava para Cristo, para que eles fossem justificados pela fé nEle. Deste modo, a palavra "aio" significava um servo que tinha a incumbência de levá-los a Cristo, como as crianças eram levadas à escola pelos servos encarregados de atendê-los; para que fossem mais plenamente ensinados por Ele, que é o verdadeiro caminho de justificação e salvação, o qual existe unicamente pela fé em Cristo.

Destaca-se a grande vantagem do estado do Evangelho, no qual desfrutamos a revelação da graça e da misericórdia divina, mais claramente do que os judeus de antigamente. A maioria dos homens continua presa como se estivesse em um calabouço escuro, apaixonados por seus pecados, cegos e adormecidos por Satanás, por meio dos prazeres, preocupações e esforços mundanos. Porém, o pecador despertado descobre o seu terrível estado, e sente que a misericórdia e a

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 11 graça de Deus são a sua única esperança. Os terrores da lei costumam ser utilizados pelo Espírito Santo, que produz a convicção, para mostrar ao pecador que este precisa de Cristo, para levá-lo a confiar em seus sofrimentos e méritos e possa ser justificado pela fé. Então, a lei, pelo ensino do Espírito Santo chega a ser a sua amada norma do dever e a sua norma para o exame diário de si mesmo. Utilizando-a deste modo, aprende a confiar mais claramente no Salvador.

Vv. 26-29. Os verdadeiros cristãos desfrutam de grandes privilégios sujeitos ao Evangelho, e já não são mais contados como servos, mas como filhos; agora não são mantidos a determinada distância e sujeitos a certas restrições como os judeus. Tendo aceito a Cristo Jesus como o seu Senhor e Salvador, e confiando somente nEle para a justificação e a salvação, eles chegam a ser filhos de Deus. Porém, nenhuma forma exterior ou confissão é capaz de garantir estas bênçãos, porque se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Ele.

No batismo nós nos revestimos de Cristo; por meio deste professamos que somos seus discípulos. sendo batizados em Cristo, somos batizados em sua morte, porque assim como Ele morreu e ressuscitou, nós morremos para o pecado e andamos em uma vida nova e santa. Revestir-se de Cristo, de acordo com o Evangelho, não consiste na imitação daquilo que é exterior, mas em ter um novo nascimento, uma completa transformação.

Aquele que faz com que os crentes sejam herdeiros proverá o necessário para eles. Portanto, o nosso afã deve ser o de cumprir os deveres que são de nossa responsabilidade, e devemos lançar sobre Deus todas as nossas outras ansiedades. Devemos ter um interesse especial pelo céu; as coisas desta vida não passam de ninharias. A cidade de Deus no céu é a porção ou a parte de seus filhos. Procuremos nos assegurar de ser participantes destas promessas, acima de todas as outras coisas nesta vida.

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 12 Gálatas 4 Versículos 1-7. O ato néscio de retornar à observância da lei

visando a justificação; 8-11: A feliz transformação realizada na vida dos crentes gentios; 12-18: O apóstolo argumenta contra a atitude tola de seguir os falsos mestres; 19,20: Expressa a sua intensa preocupação por eles; 21-31: Em seguida explica a diferença entre aquilo que deve ser esperado da lei, e aquilo que deve ser esperado do Evangelho.

Vv. 1-7. O apóstolo trata claramente com aqueles que queriam impor a lei de Moisés com o Evangelho de Cristo, propondo-se a sujeitar os crentes à escravidão. Não podiam compreender plenamente o significado da lei que havia sido dada por Moisés. Como esta era uma dispensação de trevas, era de escravidão; eles estavam presos a tantos ritos e observâncias fatigantes por aquilo que lhes era ensinado, e eram mantidos sujeitos a tais, como uma criança que fica sujeita a tutores e curadores. sob a dispensação do Evangelho, aprendemos sobre a condição mais feliz dos cristãos.

Observemos nestes versos as maravilhas do amor e da misericórdia divina, particularmente de Deus Pai, ao enviar o seu Filho ao mundo para redimir-nos e salvar-nos; do Filho de Deus, ao sujeitar-se a tanta baixeza e a sofrer tanto por nós; e do Espírito Santo, ao condescender e habitar nos corações dos crentes para tais propósitos de graça. Além do mais, observemos as vantagens de que os cristãos desfrutam por meio do Evangelho. Ainda que sejamos por natureza filhos da ira e da desobediência, chegamos a ser, por graça, filhos do amor, e participamos da natureza dos filhos de Deus; porque Ele fará com que todos os seus filhos sejam parecidos com Ele. O Filho Primogênito é o herdeiro entre os homens, e todos os filhos de Deus terão a herança dos primogênitos. Que o temperamento e a conduta dos filhos demonstre para sempre a nossa adoção, e que o Espírito Santo testifique com o nosso espírito de que somos filhos e herdeiros de Deus.

Vv. 8-11. A mudança feliz pela qual os gálatas voltaram-se dos ídolos mortos ao Deus vivo, e receberam por meio de Cristo a adoção de

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 13 filhos, foi o efeito de sua graça rica e ofertada gratuitamente. Eles foram postos sob a obrigação maior de manterem a liberdade com que Ele os libertou. Todo o conhecimento que temos a respeito de Deus tem início em seu lado; conhecemo-lo porque somos conhecidos por Ele. Mesmo a nossa fé proibindo a idolatria, ainda há muitos que praticam a idolatria espiritual em seus corações. Aquilo que o homem mais amar e aquilo que mais lhe interessar será o seu deus. Alguns têm as suas riquezas como o seu deus; alguns, os seus prazeres; e outros, as suas luxúrias. Muitos adoram, sem saber, a um deus feito por eles mesmos; um deus que foi fabricado repleto de misericórdias, mas sem nenhuma justiça. Por que se convencem de que haverá misericórdia de Deus para eles, mesmo que não se arrependam e ainda continuem a praticar os seus pecados?

É possível que aqueles que fizeram uma grande profissão de fé em sua religião, sejam posteriormente desviados da pureza e da simplicidade. Quanto mais misericórdia tenha sido mostrada por Deus, por ter levado pessoas a conhecerem o Evangelho, a liberdade e os privilégios deste, maior é o pecado destas pessoas e mais néscio é o seu modo de agir por suportarem que eles mesmos sejam privados de tamanhas bênçãos. Daí, pois, que todos os membros da Igreja devam aprender a temer o seu próprio ego, e a julgarem a si mesmos. Não devemos nos contentar com termos em nós apenas algumas coisas boas. Paulo teve o temor de que o seu trabalho se tornasse vão, mas ainda se esforça; e, fazê-lo assim, aconteça o que acontecer, será a verdadeira sabedoria e temor a Deus. Cada homem deve se lembrar disto em sua posição e em sua chamada.

Vv. 12-18. O apóstolo deseja que eles sejam unânimes com ele quanto à lei de Moisés, e unidos a ele em amor. Ao repreendermos aos outros, devemos ter o cuidado de convencê-los de que a nossa repreensão vem de uma sincera consideração da honra de Deus e da fé, e do bem estar das pessoas a quem estamos nos dirigindo. O apóstolo relembra aos gálatas a dificuldade com que trabalhou quando esteve entre eles pela primeira vez, e observa que foi um mensageiro bem

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 14 recebido por eles. Contudo, quão incertos são o favor e o respeito dos homens! Esforcemo-nos para que sejamos aceitos por Deus.

Certa vez vos considerastes felizes por terdes recebido o Evangelho; agora tendes razão para pensar o contrário? Os cristãos jamais devem deixar de dizer a verdade por temerem ofender ao próximo. Os falsos mestres que desviaram os gálatas da verdade do Evangelho eram homens astutos. Aparentavam ser afetuosos, mas não eram sinceros e nem retos. É dada uma regra excelente: é sempre bom que sejamos zelosos por algo bom não somente por uma vez, ou de tempos em tempos, mas sempre. seria uma felicidade para a Igreja de Cristo se este zelo fosse melhor sustentado pelos cristãos.

Vv. 19,20. Os gálatas estavam prontos para considerar o apóstolo como um inimigo, mas este lhes assegura que era amigo deles, e que tinha sentimentos paternais em relação a eles. Tem dúvidas quanto ao estado deles e anseia conhecer o resultado dos enganos que atravessavam na ocasião. Nada é uma prova tão segura de que um pecador passou para o estado de justificado, do que quando Cristo está sendo formado nele pela renovação do Espírito Santo, e isto não seria alcançado se os homens dependessem da lei para serem aceitos por Deus.

Vv. 21-27. A diferença entre os crentes que descansam somente em Cristo e aqueles que confiam na lei, é explicada pelas histórias de Isaque e Ismael. Estas coisas são alegorias nas quais o Espírito de Deus revela algo mais além do sentido literal e histórico das palavras.

Sara e Agar eram emblemas adequados das duas diferentes dispensações do pacto. A Jerusalém celestial, a verdadeira Igreja do alto, representada por Sara, está em estado de liberdade e é a mãe de todos os crentes que são nascidos do Espírito Santo. Por meio da regeneração e da verdadeira fé, tornaram-se parte da semente de Abraão, conforme a promessa feita a ele.

Vv. 28-31. Aplica-se a história aqui exposta. Então, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre. se os privilégios de todos os crentes são tão grandes de acordo com o novo pacto, que absurdo seria

Page 15: Galatas - M. Henry

Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 15 que os convertidos gentios estivessem sujeitos a esta lei, que não foi capaz de livrar os judeus incrédulos da escravidão ou da condenação!

Nós não teríamos encontrado esta alegoria na história de Sara e Agar se ela não nos fosse revelada, e não podemos duvidar que assim foi planejado pelo Espírito Santo. Esta é uma explicação deste assunto, e não um argumento que o comprove. Nisto estão prefigurados os dois pactos, o das obras e o da graça, os professos da lei e os professos do Evangelho.

As obras e os frutos produzidos pelo poder do homem são legais, mas se surgirem da fé em Cristo, serão evangélicos. O espírito do primeiro pacto é de escravidão ao pecado e à morte. O espírito do segundo pacto é de liberdade e de libertação; não de liberdade para pecar, mas dentro dos limites dos deveres e para cumprir estes deveres. O primeiro é um espírito de perseguição; o segundo é um espírito de amor. Que olhem para este, aqueles professos que tenham um espírito violento, duro e autoritário em relação ao povo de Deus. Assim como Abraão despediu Agar, assim é possível que o crente se desvie em algumas coisas no pacto de obras, quando por incredulidade e negligência em relação à promessa, atue em seu próprio dever em conformidade com a lei; ou em um caminho de violência, não de amor, para com os seus irmãos. Contudo, não faz parte de seu espírito agir deste modo, e jamais terá repouso até que retorne à sua dependência de Cristo. Confiemos a nossa alma às Escrituras e repousemos, e mostremos, por uma esperança evangélica, e por alegre obediência, que a nossa conversão e o nosso tesouro estão, sem dúvida, no céu.

Gálatas 5 Versículos 1-12: Uma fervorosa exortação a estarem firmes na

liberdade do Evangelho; 13l5: Uma fervorosa exortação a terem o cuidado de não consentirem com um temperamento pecador; 16-26. Urna fervorosa exortação a caminharem no Espírito, e não darem lugar às luxúrias da carne: as obras de ambos são descritas.

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 16 Vv. 1-6. Cristo não será o Salvador de alguém que não o receba e

confie nEle como o seu único Salvador. Demos ouvidos às advertências e às exortações do apóstolo, a estarmos firmes na doutrina e na liberdade do Evangelho. Todos os verdadeiros cristãos, que são ensinados pelo Espírito Santo, esperam pela vida eterna, pela recompensa da justiça, e pelo objeto de sua esperança, como dádiva de Deus por meio de sua fé em Jesus Cristo, e não por amor às suas próprias obras.

O judeu convertido pode observar as cerimônias ou afirmar a sua liberdade; o gentio pode desprezá-las ou tomar parte nelas, sempre e quando não dependa destas. Nenhum privilégio ou profissão exterior de fé, servirão para que sejam aceitos por Deus, sem que tenham a fé sincera em nosso Senhor Jesus Cristo. A verdadeira fé é uma graça que age, trabalha por amor a Deus e aos nossos irmãos. Que estejamos entre aqueles que, pelo Espírito Santo, aguardam a esperança da justiça pela fé.

O perigo anterior não estava em coisas sem importância em si mesmas, como agora o são em muitas formas e observâncias. Porém, sem a fé que trabalha por meio do amor, tudo mais carece de valor, e comparado a isto, todas as demais coisas são de escasso valor.

Vv. 7-12. A vida do cristão é uma carreira na qual ele deve correr e manter-se, se desejar alcançar o prêmio. Não basta que professemos o cristianismo; devemos correr bem, vivendo conforme esta confissão. Muitos que começam bem na religião são prejudicados em seu avanço ou desviam-se pelo caminho. Aqueles que começaram a desviar-se do caminho e a mostrarem-se cansados, deveriam perguntar a si mesmos, de modo sério, o que é que lhes está atrapalhando.

A opinião ou a persuasão (v. 8) era sem dúvida a de mesclar as obras da lei com a fé em Cristo quanto à justificação. O apóstolo deixa que eles mesmos julguem de onde surgiu o problema, e mostra o suficiente para indicar que esta situação deve-se a Satanás, e a mais ninguém.

Para as igrejas cristãs, é perigoso dar ânimo àqueles que seguem a erros destruidores, e especialmente àqueles que os difundem. Ao

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 17 repreender o pecado e o erro, devemos sempre distinguir entre os líderes e os liderados. Os judeus se ofendiam por ser pregado que Cristo é a única salvação para os pecadores. se Paulo e os demais tivessem aceito que a observância da lei de Moisés deveria unir-se à fé em Cristo, como necessária para a salvação, então os crentes poderiam evitar muitos dos sofrimentos que tiveram. Deve-se resistir aos primeiros indícios deste fermento. Certamente aqueles que persistem em perturbar a Igreja de Cristo, devem suportar o seu juízo.

Vv. 13-15. O Evangelho é uma doutrina que está de acordo com a piedade (1 Tm 6.3), e está longe de consentir com o menor pecado que seja, e vem nos submeter à obrigação mais forte de evitá-lo e vencê-lo. O apóstolo insiste em que toda a lei se cumpre em uma só palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. se os cristãos, que devem ajudar-se uns aos outros e regozijarem-se uns nos outros, brigam entre si, o que se pode esperar senão que o Deus de amor negue a sua graça, e que o Espírito de amor se retire, e prevaleça o espírito maligno que procura destruí-los?

Bom seria que os crentes se posicionassem contra o pecado em si mesmos e nos lugares aonde vivem, ao invés de morderem-se e devorarem-se uns aos outros, sob o pretexto de terem diferentes opiniões.

Vv. 16-26. Se fôssemos cuidadosos para agir sob a direção e poder do bendito Espírito Santo, mesmo que não fôssemos libertos dos estímulos e da oposição da natureza corrupta que procura permanecer em nós, esta não nos dominaria. Os crentes estão envolvidos em um conflito, onde desejam esta graça capaz de alcançar a vitória plena e rápida. Aqueles que desejam entregar-se à direção do Espírito Santo, não estão sob a lei como pacto de obras, nem expostos à sua espantosa maldição. O ódio que possuem contra o pecado e a sua busca pela santidade mostram que possuem uma parte na salvação que é trazida pelo Evangelho.

As obras da carne são muitas, e são manifestas. Estes pecados excluíram os homens do céu. Porém, quantas pessoas que se dizem cristãs vivem desta maneira, e declaram que estão à espera do céu! Os

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 18 frutos do Espírito, ou da natureza renovada que devemos ter, são enumerados. Assim, o apóstolo os nomeia, bem como as obras da carne, que são daninhas não somente para os próprios homens, mas tendem a tomá-los mutuamente nocivos. Deste modo o apóstolo observa aqui o fruto do Espírito, que tende a tornar os cristãos mutuamente agradáveis e felizes. O fruto do Espírito mostra a evidência de que eles são dirigidos pelo Espírito.

A descrição das obras da carne e do fruto do Espírito nos diz o que devemos evitar e resistir, e o que devemos desejar e cultivar; este é o anelo e a obra sincera de todos os verdadeiros cristãos. O pecado já não reina agora em seus corpos mortais, de modo que o obedeçam (Rm 6.12), pois eles procuram destruí-lo. O Senhor Jesus Cristo jamais reconhecerá aqueles que se rendem para serem servos do pecado. E não basta que cessemos de fazer o mal, mas devemos aprender a fazer o bem. A nossa conversação deverá estar de acordo com o princípio que nos dirige e nos governa (Rm 8.5). Devemos mortificar as obras da carne, e a caminhar na nova vida sem desejar a -vanglória, nem de modo indevido a estima e o aplauso dos homens; não provoquemo-nos nem invejemo-nos mutuamente, mas buscando dar estes bons frutos com maior abundância, que são, por meio de Jesus Cristo, para o louvor e a glória de Deus.

Gálatas 6 Versículos 1-5: Exortações à mansidão, à bondade e à humildade;

6-11: Exortação à bondade para com todos os homens, especialmente para com os crentes; 12-15: Os gálatas são advertidos contra os mestres judaizantes; 16-18: Uma bênção solene.

Vv. 1-5. Devemos levar as cargas uns dos outros. Assim estaremos cumprindo a lei de Cristo. Isto nos obriga à tolerância mútua e à compaixão de uns para com os outros, conforme o exemplo que Ele nos deu. É o nosso dever levarmos as cargas uns dos outros como companheiros de viagem.

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 19 É muito comum que os homens considerem-se mais sábios e

melhores do que todos os demais, e bons para comandarem os outros. Enganam-se a si mesmos; pretendem ter algo maior do que aquilo que realmente possuem, e enganando-se a si mesmos, cedo ou tarde enfrentarão os lamentáveis efeitos de suas atitudes. Estes jamais terão a estima de Deus e nem a dos homens. Cada um é advertido a analisar a sua própria obra. Quanto melhor conheçamos o nosso coração e os nossos modos, menos desprezaremos aos demais, e estaremos mais dispostos para ajudá-los quando tiverem enfermidades ou aflições. Quão leves parecem os pecados aos homens quando os praticam, e os considerarão como uma carga pesada quando tiverem que dar conta destes a Deus. Ninguém é capaz de pagar o resgate por um irmão, e o pecado é um grande peso espiritual para a alma; e quanto menos alguém sentir este peso, mais motivos terá para suspeitar de si mesmo. A maioria dos homens está morta em seus pecados e, portanto, estes não vêm e nem sentem o peso espiritual do pecado. Ao sentirmos o peso e a carga espiritual que são os nossos pecados, devemos procurar ser aliviados pelo Salvador, e dar-nos por advertidos contra todo o pecado.

Vv. 6-11. Muitos escusam-se da obra da religião, mesmo fingindo participar desta e professá-la. Podem ser capazes de imporem-se aos demais, porém, estarão se enganado se pensam que podem enganar a Deus, que conhece os seus corações e as suas atitudes. E como Ele não pode ser enganado, ninguém será capaz de zombar dEle. O nosso tempo é um tempo de semeadura; no outro mundo segaremos aquilo que semearmos agora.

Há dois tipos de semeadura; uma para a carne e outra para o Espírito. Assim será a prestação de contas no porvir. Aqueles que levam uma vida sexual pecaminosa e uma vida carnal, não deverão esperar outro fruto deste caminho que não seja a miséria e a fruto. Porém, aqueles que, sob a direção e o poder do Espírito Santo, levam uma vida de fé em Cristo e são abundantes na graça cristã, colherão do Espírito Santo a vida eterna.

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 20 Todos nós temos uma forte inclinação a nos cansarmos do dever,

particularmente de fazer o bem. Devemos vigiar com grande cuidado e guardar-nos a este respeito. A recompensa é prometida somente àqueles que perseveram em fazer o bem.

Aqui há uma exortação a todos, para que façam o bem no lugar em que estão. Devemos ter o cuidado de fazer o bem em nossa vida, e fazer dele a atividade de nossa existência, especialmente quando se apresentarem ocasiões novas, e até onde sejamos capazes de fazê-lo por nosso próprio poder.

Vv. 12-15. Os corações orgulhosos, vãos e carnais, contentam-se precisamente com uma religião que lhes ajude a fingir bem. Porém, o apóstolo professa a sua própria fé, esperança e gozo, e que a sua principal glória está na cruz de Cristo, pela qual expressam-se aqui os seus sofrimentos e a sua dolorosa morte na cruz, que é a doutrina da salvação por meio do Redentor crucificado. Por Cristo ou pela cruz de Cristo, o mundo está crucificado para o crente e o crente para o mundo.

Quanto mais consideremos os sofrimentos do Redentor que pode salvar a todo o mundo, embora apenas uma parte deste venha a Ele, menos provável será que amemos o mundo. O apóstolo era pouco afetado pelos aparentes encantos do mundo, como seria um espectador por qualquer coisa graciosa, se tivesse em vista alguém crucificado, contemplando a este sofrendo as agonias da morte. Este não era mais afetado pelos objetos que o rodeavam, como poderia ser alguém que expira, por alguma das perspectivas que os seus olhos moribundos pudessem ver a partir da cruz em que estava pendurado. E quanto a todos aqueles que creram ou que têm verdadeiramente crido em Cristo Jesus, todas as coisas lhe são reputadas como inválidas, quando são comparadas a Ele. Existe uma nova criação: as coisas velhas passaram; aqui estão os novos pontos de vista, e as novas disposições são trazidas sob a influência regeneradora do Deus Espírito Santo. Os crentes são levados a um novo mundo e, sendo criados em Cristo Jesus para as boas obras, são formados para uma vida de santidade. Esta é uma mudança de

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Gálatas (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 21 pensamentos e uma transformação de coração, pelas quais somos capacitados para crermos no Senhor Jesus e a vivermos para Deus; e aonde quer que venha a faltar esta religião interior e prática, as profissões exteriores ou os títulos jamais serão substituídos.

Vv. 16-18. Uma nova criação à imagem de Cristo, que demonstre a fé nEle, é a maior distinção entre um homem e outro, e uma bênção declarada a todos aqueles que andam conforme esta regra. As bênçãos são paz e misericórdia. Paz com Deus e com a nossa consciência, e todos os consolos desta vida, à medida que sejam necessários. E a misericórdia e o interesse pelo amor e pelo favor gratuitos de Deus em Cristo são o manancial e a fonte de todas as demais bênçãos.

A Palavra de Deus escrita é a regra pela qual devemos nos dirigir, tanto por seus preceitos como por suas doutrinas. Que a sua graça esteja sempre com o nosso espírito para santificar-nos, vivificar-nos e alegrar-nos, e que nós estejamos sempre prontos para sustentar a honra daquEle que é, sem dúvida, a nossa vida. O apóstolo trazia em seu corpo as marcas do Senhor Jesus, as cicatrizes dos ferimentos infligidos pelos inimigos perseguidores, porque se apegava fortemente a Cristo e à doutrina do Evangelho.

O apóstolo trata os gálatas como seus irmãos, mostrando desta forma a sua humildade e o seu afeto por estes, e conclui a epístola com uma oração muito séria, pedindo que eles desfrutem do favor de Cristo Jesus em seus efeitos, ao invés de fazê-lo em suas provas. Não precisamos desejar mais do que a graça de nosso Senhor para sermos felizes. O apóstolo não ora para que a lei de Moisés ou a justiça das obras seja com eles, mas que a graça de Cristo seja com cada um deles, para que possa estar em seus corações e com o espírito de cada um deles, avivando-os, consolando-os e fortalecendo-os. A tudo isto coloca o seu amém, expressando o seu desejo de que assim seja, e a sua fé de que assim seria.