mateus - m. henry

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MATEUS Introdução Capítulo 1 Capítulo 8 Capítulo 15 Capítulo 22 Capítulo 2 Capítulo 9 Capítulo 16 Capítulo 23 Capítulo 3 Capítulo 10 Capítulo 17 Capítulo 24 Capítulo 4 Capítulo 11 Capítulo 18 Capítulo 25 Capítulo 5 Capítulo 12 Capítulo 19 Capítulo 26 Capítulo 6 Capítulo 13 Capítulo 20 Capítulo 27 Capítulo 7 Capítulo 14 Capítulo 21 Capítulo 28 Introdução Mateus, também chamado Levi, antes de sua conversão era um publicano, ou cobrador de impostos, sujeito aos romanos em Cafarnaum. De maneira geral se reconhece que ele escreveu seu evangelho antes de quaisquer dos demais evangelistas. O conteúdo deste evangelho e a prova dos escritores antigos mostram que foi escrito primordialmente para o uso da nação judaica. O cumprimento da profecia era considerado pelos judeus como uma prova firme, portanto, Mateus usa este feito de forma especial. Aqui há partes da história e dos sermões de nosso Salvador, particularmente selecionados por adaptar-se melhor para despertar a nação judaica a ter consciência de seus pecados; para eliminar suas expectativas errôneas de um reino terrestre; derrubar o orgulho e engano existentes em si mesmos; para ensinar-lhes a natureza e magnitude espiritual do Evangelho; e para prepará-los para admitir os gentios na Igreja. Mateus 1 Versículos 1-17: A genealogia de Jesus; 18-25: Um anjo aparece a José. Vv. 1-17. Acerca desta genealogia de nosso Salvador, observe a intenção principal. Não é uma genealogia desnecessária, nem foi

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COMENTÁRIO BÍBLICO DE MATTHEW HENRY

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Page 1: Mateus - M. Henry

MATEUS Introdução Capítulo 1 Capítulo 8 Capítulo 15 Capítulo 22 Capítulo 2 Capítulo 9 Capítulo 16 Capítulo 23 Capítulo 3 Capítulo 10 Capítulo 17 Capítulo 24 Capítulo 4 Capítulo 11 Capítulo 18 Capítulo 25 Capítulo 5 Capítulo 12 Capítulo 19 Capítulo 26 Capítulo 6 Capítulo 13 Capítulo 20 Capítulo 27 Capítulo 7 Capítulo 14 Capítulo 21 Capítulo 28

Introdução Mateus, também chamado Levi, antes de sua conversão era um

publicano, ou cobrador de impostos, sujeito aos romanos em Cafarnaum. De maneira geral se reconhece que ele escreveu seu evangelho antes de quaisquer dos demais evangelistas. O conteúdo deste evangelho e a prova dos escritores antigos mostram que foi escrito primordialmente para o uso da nação judaica. O cumprimento da profecia era considerado pelos judeus como uma prova firme, portanto, Mateus usa este feito de forma especial. Aqui há partes da história e dos sermões de nosso Salvador, particularmente selecionados por adaptar-se melhor para despertar a nação judaica a ter consciência de seus pecados; para eliminar suas expectativas errôneas de um reino terrestre; derrubar o orgulho e engano existentes em si mesmos; para ensinar-lhes a natureza e magnitude espiritual do Evangelho; e para prepará-los para admitir os gentios na Igreja.

Mateus 1 Versículos 1-17: A genealogia de Jesus; 18-25: Um anjo aparece a

José. Vv. 1-17. Acerca desta genealogia de nosso Salvador, observe a

intenção principal. Não é uma genealogia desnecessária, nem foi

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 2 2 elaborada por vanglória como costuma ser a dos grandes homens. Demonstra que nosso Senhor Jesus Cristo é da nação e família da qual iria surgir o Messias. A promessa da benção foi feita a Abraão e sua descendência; a do domínio, a Davi e sua descendência. Foi prometido a Abraão que Cristo descenderia dele (Gn 12.3; 22.18), e a Davi que descenderia dele (1 Sm 7.12, Sl 89.3; 132.11); portanto, a menos que Jesus seja filho de Davi e filho de Abraão, não é o Messias. Isto se prova nesta passagem com registros bem conhecidos.

Quando o Filho de Deus quis tomar a nossa natureza, Ele se aproximou de nós em nossa condição caída e miserável, porém estava perfeitamente livre de pecado; e enquanto lemos os nomes de sua genealogia não nos esqueçamos de quão baixo se inclinou o Senhor da glória para salvar a raça humana.

Vv. 18-25. Vejamos as circunstâncias em que o Filho de Deus entrou neste mundo inferior, até que aprendamos a desprezar as honras vãs deste mundo, quando as comparamos com a piedade e santidade.

O mistério de Cristo feito homem deve ser adorado; não devemos inquirir nisto por curiosidade. Foi assim ordenado que Cristo participasse de nossa natureza, mas puro da contaminação do pecado, em que toda a raça de Adão havia andado.

Observe que Deus guiará aqueles que pensam, e não aqueles que não pensam. o tempo de Deus para chegar com instrução ao seu povo se dá quando estão perdidos. os consolos divinos confortam mais a alma quando esta está pressionada por pensamentos que confundem.

Foi dito a José que Maria traria o Salvador ao mundo, e que ele poria no menino o nome de Jesus, o Salvador. O nome Jesus tem o mesmo significado de Josué. A razão deste nome é clara, porque aqueles a quem Cristo salva, salva-os dos pecados deles, da culpa do pecado pelo mérito de sua morte e do poder do pecado pelo espírito de sua graça. Ao salvá-los do pecado, salva-os da ira e maldição e de toda desgraça, aqui e depois. Cristo veio salvar o seu povo não nos pecados deles, mas dos

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 3 3 pecados deles, e assim redimi-los de entre os homens para si. Ele que é separado dos pecadores.

José fez como ordenou o anjo do Senhor, rapidamente e sem demora, com júbilo, sem discutir. Aplicando as regras gerais da Palavra escrita, devemos seguir a direção de Deus em todos os passos de nossa vida, particularmente em suas grandes mudanças, que são dirigidas por Deus, e encontraremos que isto é seguro e consolador.

Mateus 2 Versículos 1-8: Os magos buscam a Cristo; 9-12: Os magos

adoram a Jesus; 13-15: Jesus é levado ao Egito; 16-18: Herodes ordena que se matem as crianças de Belém; 19-23: Morte de Herodes. Jesus é trazido a Nazaré.

Vv. 1-8. Os que vivem completamente afastados dos meios da graça, costumam usar a máxima diligência e aprendem a conhecer o máximo de Cristo e de sua salvação. Porém, nenhuma habilidade especial, e nenhum aprendizado puramente humano, são capazes de levar os homens a Ele. Devemos aprender de Cristo obedecendo a palavra de Deus, como luz que brilha em um lugar escuro, e buscando os ensinos do Espírito Santo. Aqueles em cujos corações se levanta o sol da manhã, para dar-lhes o necessário conhecimento de Cristo, fazem de sua adoração sua atividade preferida.

Ainda que Herodes fosse muito velho, e nunca houvesse mostrado afeto por sua família, e sendo improvável que vivesse até que o recém nascido chegasse à idade adulta, começou a turbar-se com o temor de um rival. Não compreendeu a natureza espiritual do reino do Messias. Acautelemo-nos da fé morta. o homem pode estar persuadido por muitas verdades e ainda odiá-las, pelo fato de elas interferirem em sua ambição ou libertinagem. Tal crença o incomodará, e este se decidirá mais a opor-se à verdade e à causa de Deus; e pode ser muito néscio para esperar ter êxito nisto.

Page 4: Mateus - M. Henry

Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 4 4 Vv. 9-12. Ninguém sabe tão bem quanto gozo sentiram estes sábios

ao avistarem a estrela, como aqueles que depois de uma longa e triste noite de tentação e abandono, sob o poder de um espírito de escravidão, finalmente recebem o Espírito de adoção, dando testemunho ao espírito de cada um que são filhos de Deus. Podemos pensar que desilusão foi para eles quando descobriram que uma cabana era seu palácio, e a única serva que tinha era a própria e pobre mãe. Contudo, estes magos não se sentiram impedidos, porque havendo encontrado o Rei que buscavam, ofereceram-lhe seus presentes. Quem humildemente busca a Cristo não tropeçará se encontrá-lo, com seus discípulos em cabanas escuras, depois de tê-lo buscado em vão em palácios e cidades populosas.

Existe uma alma ocupada em buscar a Cristo? Desejará adorá-lo e dizer-lhe: "Sim, sou uma criatura pobre e néscia e nada tenho a oferecer"? Claro que não! Não tem um coração ainda indigno dEle, escuro, duro, néscio? Ofereça-o tal como é, e prepare-se para que Ele o utilize e o disponha da maneira como apraza a Ele; Ele o tomará, e o fará melhor, e nunca se arrependerá de havê-lo dado. Ele o modelará à sua semelhança, e Ele mesmo será dado, e será seu para sempre.

Os presentes dos magos eram ouro, incenso e mirra. A providência divina os mandou como socorro oportuno para José e Maria, em sua atual condição de pobreza. Assim nosso Pai celestial, que sabe de que necessitam seus filhos, usa a alguns como mordomos para suprir a necessidade dos demais e dar-lhes o provimento desde os confins da terra.

Vv. 13-15. O Egito havia sido uma casa de escravidão para Israel, e particularmente cruel para as crianças de Israel; porém, seria um lugar de refúgio para o Santo menino Jesus. Quando é do agrado de Deus, Ele pode fazer com que o pior dos lugares sirva ao melhor dos propósitos. Esta foi uma prova da fé de José e Maria. Porém, a fé deles, sendo provada, foi achada firme. Se nós e nossos filhos estamos com problemas em qualquer tempo, recordemos os apertos em que Cristo esteve quando era uma criança.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 5 5 Vv. 16-18. Herodes não matou somente todos os meninos de

Belém, mas também a todos aqueles que moravam nas aldeias que pertenciam a esta cidade. A ira desenfreada, armada com um poder ilícito, às vezes leva os homens a crueldades absurdas. Não foi uma atitude injusta de Deus permitir isto; cada vida é entregue à sua justiça assim que nasce. As enfermidades e a morte dos pequenos não são prova do pecado original. o assassinato destes meninos foi um martírio. Como começou cedo a perseguição contra Cristo e seu reinado!

Herodes cria que obstruíra as profecias do Antigo Testamento, e os esforços dos magos para encontrarem a Cristo; porém, o conselho do Senhor permanecerá, por mais astutas e cruéis que sejam as artimanhas dos corações dos homens.

Vv. 19-23. O Egito pôde servir por um tempo como estada ou refúgio, mas não de forma permanente, para viver ali. Cristo foi enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, e a elas deve retornar. Se observarmos o mundo como o nosso Egito, o lugar de nossa escravidão e exílio, e só o céu como nossa Canaã, nosso lar e nosso repouso, deveremos nos levantar rapidamente e partir daqui quando formos chamados, como José saiu do Egito.

A família deveria estabelecer-se na Galiléia. Nazaré era um lugar tido em pouca estima, e Cristo foi crucificado com esta acusação: Jesus Nazareno. onde quer que a providência nos designe os [imites de nossa habitação, devemos partilhar o vitupério de Cristo; ainda que possamos nos gloriar em ser chamados por seu nome, asseguremo-nos de que se sofrermos com Ele, também com Ele seremos glorificados.

Mateus 3 Versículos 1-6. João Batista – sua pregação, seu estilo de vida, e o

batismo; 7-12: João reprova os fariseus e os saduceus; 13-17: O batismo de Jesus.

Vv. 1-6. Depois de Malaquias não houve profeta até João Batista. Este apareceu primeiro no deserto da Judéia. Não era um deserto

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 6 6 desabitado, mas sim uma parte do país, não densamente povoado nem muito ilhado. Nenhum lugar é tão remoto a ponto de excluir-nos das visitas da graça divina.

João pregava a doutrina acerca do arrependimento: "Arrependei-vos". A palavra aqui usada implica completa mudança do modo de pensar: uma mudança de juízo, da disposição e dos afetos, uma inclinação diferente e melhor da alma. Considerem seus caminhos, mudem seus pensamentos; se pensaram mal, pensem de novo, e pensem bem. os verdadeiros penitentes têm pensamentos; de Deus e de Cristo, do pecado e da santidade, deste mundo e do outro, diferentes dos que tiveram anteriormente. A mudança do pensamento produz uma mudança de caminho. Este é o arrependimento do qual fala o Evangelho, o qual se produz ao ver a Cristo, ao sentir seu amor e a esperança do perdão por meio dEle. É um grande estímulo para que nós nos arrependamos; arrependei-vos porque vossos pecados serão perdoados se vos arrependerdes. Voltai-vos a Deus pelo caminho do dever, e Ele por meio de Cristo se voltará a vós pelo caminho da misericórdia.

É agora tão necessário que nos arrependamos e humilhemos para preparar o caminho do Senhor, quanto o era então. Há muito que fazer para abrir caminho a Cristo em uma alma, e nada mais necessário que o descobrimento do pecado, e a convicção de que não podemos ser salvos por nossa própria justiça. o caminho do pecado e de Satanás é um caminho retorcido, mas para se preparar um caminho para Cristo é necessário endireitar as veredas (Hb 12.13).

Aqueles que têm como atividade chamar aos demais a lamentar o pecado e a mortificá-lo, devem levar uma vida séria, de abnegação e desprezo para com o mundo. Dando aos demais este exemplo, João preparou o caminho para Cristo.

Muitos foram ao batismo de João, mas poucos mantiveram a profissão de fé feita. Pode haver muitos ouvintes interessados, mas poucos crentes verdadeiros. A curiosidade e o amor pela novidade e variedade podem levar muitos a ouvir uma boa pregação, sendo afetados

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 7 momentaneamente; há muitas pessoas que nunca se submetem à sua autoridade. Aqueles que receberam a doutrina de João, testificaram seu arrependimento confessando os seus pecados. Somente os que são levados com tristeza e vergonha, a reconhecer sua culpa, estarão prontos para receber a Jesus Cristo como sua justiça. os benefícios do reino dos céus, agora já muito próximo, foram-lhes selados pelo batismo. João os purificou com água, em sinal de que Deus os limparia de todas as suas iniqüidades, dando a entender com isto que, por natureza e costume, todos estavam contaminados e não podiam ser recebidos em meio ao povo de Deus, a menos que fossem lavados de seus pecados no manancial que Cristo abriria (Zc 13.1).

Vv. 7-12. Dar aos ouvintes o sentido prático é a vida da pregação, e assim foi a pregação de João. os fariseus davam ênfase principal em observâncias exteriores, descuidando dos assuntos de mais peso na lei moral, e do significado espiritual de suas cerimônias legais.

Outros eram hipócritas detestáveis, que faziam com suas pretensões de santidade um manto para sua iniqüidade. os saduceus estavam no extremo oposto, negando a existência dos espíritos e do estado futuro. Eles eram os infiéis escarnecedores dessa época e nesse país.

Há uma grande ira vindoura. o grande interesse de cada um é fugir da ira. Deus, que não se deleita em nossa ruína, nos tem advertido pela palavra escrita, através dos ministros e pela consciência. Aqueles que dizem lamentar-se por seus pecados e persistem neles, não são dignos do nome de penitentes, nem de seus privilégios. Convém aos penitentes ser humildes e pequenos a seus próprios olhos, agradecer pela mínima misericórdia, ser pacientes nas grandes aflições, estar alerta contra toda a aparência do mal, abundarem todo dever, e ser caridosos ao julgar ao próximo.

Aqui há uma palavra de cautela para não se confiar nos privilégios exteriores. Existem muitos cujos corações carnais são dados a seguir o que eles mesmos dizem dentro de si, e deixam de lado o poder da Palavra de Deus, que convence do pecado e de seu poder. Há multidões

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 8 que não chegam ao céu por repousarem sobre as honras e nas simples vantagens de serem membros de uma igreja. Aqui está uma palavra de terror para o negligente e confiado. Nossos corações corruptos não podem dar bons frutos, a menos que o Espírito regenerador de Cristo implante a boa Palavra de Deus neles. Contudo, toda árvore com muitos dons e honras, por mais verde que pareça em sua profissão e desempenho exterior, se não der bons frutos, dignos de arrependimento, é cortada e lançada ao fogo da ira de Deus, que é o lugar mais apropriado para as árvores estéreis. Para que mais servem? Se não dão fruto, são boas como combustível.

João mostra o propósito e a intenção da aparição de Cristo, a qual eles agora esperam com prontidão. Não há formas externas que possam limpar-nos. Nenhuma ordenança, independente de quem a administre ou a sua modalidade, é capaz de suprir a necessidade do batismo no Espírito Santo e com fogo. Somente o poder purificador do Espírito Santo pode produzir a pureza do coração, e os santos afetos que acompanham a salvação. Cristo é quem batiza com o Espírito Santo. Isto foi feito com os extraordinários dons do Espírito enviados aos apóstolos (At 2.4). Isto Ele faz com a graça e a consolação do Espírito, dados a todos que lhe pedem (Lc 11.13; Jo 7.58,39; At 11.16).

Observe-se aqui, a igreja na era de Cristo (Is 21.10). os crentes verdadeiros são o trigo, substanciosos, úteis e valiosos; os hipócritas são como palha, levianos e vazios, inúteis, sem valor, levados por qualquer vento. Estão misturados bons e maus, na mesma comunhão exterior, mas virá o dia em que a palha e o trigo serão separados. o juízo final será o dia que fará a diferença, quando os santos e os pecadores serão separados para sempre. No céu os santos serão reunidos, e não mais separados; estarão a salvo e já não mais expostos; separados da corrupção exterior e interior. o inferno é o fogo inextinguível, que certamente será a porção e o castigo dos hipócritas e incrédulos. Aqui a -vida e a morte, o bem e o mal, são postos diante de nós; como somos agora no campo, assim o seremos na árvore.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 9Vv. 13-17. As condescendências da graça de Cristo são tão

surpreendentes, que mesmo os crentes mais firmes apenas podem acreditar nelas a princípio; tão profundas e misteriosas que mesmo os que conhecem bem a sua mente estarão prontos a oferecer objeções contra a vontade de Cristo. Aqueles que são cheios do Espírito de Deus, enquanto estão aqui, percebem que precisam pedir mais de Cristo. Não há dúvida de que João tinha necessidade de ser batizado por Ele, porém Jesus declarou que Ele deveria ser batizado por João. Cristo estava naquela ocasião em estado de humilhação. Nosso Senhor Jesus considerou conveniente, para cumprir toda justiça, apropriar-se de cada instituição divina, e mostrar sua disposição para cumprir com todos os justos preceitos de Deus.

Em Cristo e por meio dEle, os céus estão abertos para os filhos dos homens.

A descida do Espírito sobre Cristo, demonstra que estava dotado sem medida com seus poderes sagrados. O fruto do Espírito Santo é amor, gozo, paz, paciência, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.

No batismo de Jesus houve uma manifestação das três Pessoas da Santa Trindade. o Pai confirmando o Filho como Mediador; o Filho que solenemente se encarregada da obra; o Espírito Santo que desce sobre Ele para ser comunicado ao povo por seu intermédio. NEle os nossos sacrifícios espirituais são aceitáveis, porque Ele é o altar que santifica todo dom (1 Pe 2.5). Para aqueles que estão fora de Cristo, Deus é um fogo consumidor; para aqueles que estão em Cristo, um Pai reconciliado. Este é um resumo do Evangelho, o qual devemos abraçar com júbilo por fé.

Mateus 4 Versículos 1-11: A tentação de Cristo; 12-17: O começo do

ministério de Cristo na Galiléia; 18-22: O chamado de Simão e dos outros; 23-25: Jesus ensina e faz milagres.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 10 Vv. 1-11. Com referência à tentação de Cristo, observe que Ele foi

tentado logo depois de ser declarado Filho de Deus e Salvador do mundo. Os grandes privilégios e os sinais especiais do favor divino não asseguram a ninguém que não possa vir a ser tentado. Porém, se o Espírito Santo dá testemunho de que temos sido adotados como filhos de Deus, isso contestará todas as sugestões do espírito mal.

Cristo foi levado ao combate. Se nos envaidecermos por nossa própria força e desafiarmos o Diabo a nos tentar, provocaremos uma situação em que Deus nos deixará à mercê de nossa própria sorte. Outros são tentados quando desviados por seus próprios desejos, e são seduzidos (Tg 1.14); o Senhor Jesus não tinha natureza corrupta, portanto, Ele foi tentado somente pelo Diabo. Na tentação de Cristo se observa que nosso inimigo é sutil, mal-intencionado e muito atrevido, mas é possível resisti-lo. Um consolo para nós é que Cristo sofreu sendo tentado, porque assim manifesta-se que nossas tentações, enquanto não cedemos a elas, não são pecado, mas tão somente aflições. Em todas as suas tentações, Satanás atacava para que Cristo pecasse contra Deus.

1. Ele tentou fazê-lo perder a esperança em relação à bondade de seu Pai, e a não confiar no cuidado divino. Um dos ardis de Satanás é tirar proveito de nossa condição exterior; e os que são postos em apertos precisam redobrar sua guarda. Cristo respondeu todas as tentações de Satanás com um "Está escrito", para dar-nos o exemplo ao apelar ao que está escrito na Bíblia ; Devemos adotar este método cada vez que formos tentados a pecar. Aprendamos a não seguir rumos equivocados para a nossa provisão, conforme nossas próprias opiniões, quando nossas necessidades forem muito prementes: o Senhor proverá de uma ou de outra forma.

2. Satanás tentou a Cristo a que suspeitasse do poder e proteção de seu Pai em termos de segurança. Não há extremos mais perigosos do que o desespero e a presunção, especialmente no que se refere aos assuntos de nossa alma. Satanás não se intimida de assaltar até em lugares sagrados. Não baixemos a guarda em nenhum lugar. A cidade santa é o

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 11 11 lugar onde, com a maior vantagem, ele tenta os homens ao orgulho e à presunção. Todos os altos são lugares escorregadios; o avanço no mundo expõe o homem a tornar-se um alvo, para que Satanás dispare contra ele os seus dardos de fogo. Satanás está tão bem versado nas Escrituras que é capaz de citá-las facilmente? Sim, ele está. É possível que um homem tenha sua cabeça cheia de noções das Escrituras, e sua boca cheia de expressões das Escrituras, enquanto seu coração esteja cheio de inimizade inflamada contra Deus e contra toda bondade. Satanás citou mal as palavras. Se sairmos de nosso caminho, abandonaremos a promessa e nos colocaremos fora da proteção de Deus. Esta passagem (Dt 8.3) é feita contra o tentador, portanto ele omitiu uma parte. Esta promessa é firme e resiste bem. No entanto seguiremos no pecado para que a graça abunde? Não.

3. Satanás tentou a Cristo quanto à idolatria, oferecendo-lhe os reinos do mundo e a glória deles. A glória do mundo é a tentação mais encantadora para quem não pensa e não se dá conta; isto é o que mais facilmente vence os homens. Cristo foi tentado a adorar Satanás. Recusou a proposta com repulsa e respondeu: "Vai-te daqui Satanás". Algumas tentações são abertamente más; e não devem ser simplesmente resistidas, mas reprovadas de imediato. Bom é ser rápido e firme para resistir à tentação. Se resistirmos ao Diabo este fugirá de nós. Porém a alma que se entrega a ele deliberadamente está vencida. Encontramos somente alguns que podem resistir de modo resoluto às práticas carnais oferecidas pelo Diabo; mas de que aproveita a um homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?

Cristo foi socorrido depois da tentação para que fosse estimulado a seguir em seu esforço, e para que fôssemos estimulados a confiar nEle, porque sabia por experiência o que é sofrer sendo tentado, de modo que também sabia o que é ser socorrido na tentação; portanto, podemos esperar não somente que Ele sinta por seu povo quando este é tentado, mas que Ele mesmo se apresente com o socorro necessário e oportuno.

Page 12: Mateus - M. Henry

Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 12 Vv. 12-17. É justo que Deus retire o Evangelho e os meios da graça

daqueles que os desprezam e os lançam para longe de si. Cristo não permanecerá por muito tempo onde não seja bem-vindo. os que estão sem Cristo estão em trevas, e instalados nesta condição, preferem-na mais do que a luz; são voluntariamente ignorantes. Quando vem o Evangelho, vem a luz; quando o Evangelho chega à qualquer parte, à uma alma, aí se faz dia. A luz revela e dirige; assim faz o Evangelho.

A doutrina do arrependimento é um bom princípio apresentado pelo Evangelho. Não só o austero João Batista, mas também o bondoso Senhor Jesus, pregou o arrependimento. Ainda existe a mesma razão para fazê-lo deste modo.

Não foi reconhecido por completo que o reino dos céus havia chegado, até a vinda do Espírito Santo, depois da ascensão de Cristo.

Vv. 18-22. Quando Cristo começou a pregar, reuniu discípulos que deveriam ser ouvintes, e logo depois pregadores de sua doutrina; que deviam ser testemunhas de seus milagres, e logo depois testificar sobre eles. Não foi à corte de Herodes, nem a Jerusalém, ou aos sumos sacerdotes, nem aos anciãos, mas ao mar da Galiléia, aos pescadores. o mesmo poder que chamou a Pedro e a André poderia ter trazido a Anás e Caifás, porque nada é impossível para Deus. Porém, Cristo escolhe o néscio deste mundo para confundir o sábio.

A diligência é um chamado honesto para agradar a Cristo, e não é um obstáculo para uma vida santa. As pessoas ociosas estão mais suscetíveis às tentações de Satanás do que aos chamados de Deus. É algo feliz e esperançoso ver filhos que,cuidam de seus pais e cumprem o seu dever. Quando Cristo vier, é bom que sejamos achados fazendo assim. Estou em Cristo? É uma pergunta muito necessária que devemos fazer a nós mesmos, e logo a seguir devemos nos perguntar: Estou vivendo de acordo com a minha chamada? Haviam seguido anteriormente a Cristo como discípulos constantes (Jo 1.37); agora devem deixar seu ofício. Os que seguem bem a Cristo devem, por sua ordem, deixar todas as coisas

Page 13: Mateus - M. Henry

Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 13 para segui-lo e disporem-se a separar-se delas. Esta instância do poder do Senhor Jesus nos exorta a depender de sua graça. Ele fala e está feito.

Vv. 23-25. Onde ia, Cristo confirmava sua missão divina por meio de milagres, que foram o símbolo do poder de curar que tem a sua doutrina e do poder do Espírito que o acompanhava.

Há ocasiões em que somos milagrosamente curados pelo poder do Salvador, mas se formos também curados pela medicina, o louvor deve ser igualmente dEle. Aqui se usam três palavras gerais. Ele curou todas as enfermidades ou doenças: nenhuma foi demasiadamente má ou demasiadamente terrível para que Cristo não pudesse curar com uma palavra. Nomeiam-se três enfermidades: a paralisia, que é a máxima debilidade do corpo; a loucura, que é a maior enfermidade da mente; e a possessão demoníaca, que é a maior de todas as desgraças e calamidades; porém Cristo curou a todos, e assim ao curar as enfermidades do corpo, demonstrou que sua grande missão no mundo era curar os males espirituais. o pecado é uma terrível doença e tormento da alma: Cristo veio tirar o pecado e assim curar a alma.

Mateus 5 Versículos 1, 2: O sermão do monte; 3-12: Quem são os bem-

aventurados; 13-16. Exortações e advertências; 17-20: Cristo veio confirmar a lei; 21-26: O sexto mandamento; 27-32: O sétimo mandamento; 33- 37: O terceiro mandamento; 38-42: A lei de Talião; 43-48: A lei do amor explicada.

Vv. 1,2. Ninguém achará felicidade neste mundo ou no vindouro se não a buscar em Cristo através do governo de sua Palavra. Ele lhes ensinou o que era o mal que eles deveriam aborrecer, qual é o bem que devem buscar e em qual abundar.

Vv. 3-12. Aqui nosso Salvador dá oito características da gente bem-aventurada, que para nós representam as principais graças do cristianismo.

Page 14: Mateus - M. Henry

Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 14 1. Os pobres de espírito são bem-aventurados. Estes levam suas

mentes à sua condição quando esta é baixa. São humildes e pequenos segundo seu próprio critério. Enxergam a sua necessidade, condoem-se por sua culpa e têm sede de um Redentor. O reino da graça é dos tais; o reino da glória é para eles.

2. Os que choram são bem-aventurados. Parece que aqui se trata desta tristeza santa, que realiza verdadeiro arrependimento, vigilância, mente humilde e dependência contínua para ser aceito pela misericórdia de Deus em Cristo Jesus, com a busca constante do Espírito Santo, para limpar o mal restante. O céu é o gozo de nosso Senhor; um monte de gozo, pelo qual nosso caminho atravessa um vale de lágrimas. Tais doentes serão consolados por seu Deus.

3. Os mansos são bem-aventurados. São aqueles que submetem-se silenciosamente a Deus; os que podem tolerar insultos; são calados e respondem com respostas brandas; os que, em sua paciência, conservam o domínio de suas almas, quando raramente possuem alguma outra coisa. Estes mansos são bem-aventurados mesmo neste mundo. A mansidão aumenta a riqueza, o conselho e a segurança ainda neste mundo.

4. Os que têm fome e sede de justiça são bem-aventurados. A justiça está posta aqui por causa de todas as bênçãos espirituais. Estas são compradas para nós pela justiça de Cristo, confirmadas pela fidelidade de Deus. Nossos desejos de bênçãos espirituais devem ser fervorosos. Ainda que todos os desejos de graça não sejam graça, contudo, um desejo como este é um desejo daqueles que são criados por Deus, e Ele não abandonará a obra de suas mãos.

5. Os misericordiosos são bem-aventurados. Devemos não somente suportar as nossas aflições com paciência, mas também devemos fazer tudo que pudermos para ajudar aqueles que estão passando por situações de miséria. Devemos ter compaixão pela alma do próximo, e ajudar-lhes; compadecermo-nos dos que estão em pecado e procurar tirá-los como tições para fora do fogo.

Page 15: Mateus - M. Henry

Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 15 6. Os limpos de coração são bem-aventurados, pois verão a Deus.

Aqui são plenamente descritas e unidas a santidade e a felicidade. os corações devem ser purificados pela fé e mantidos por Deus. "Cria em mim, ó Deus, um coração limpo". Ninguém senão o limpo é capaz de ver a Deus, e o céu não está prometido para o impuro. Assim como Deus não tolera ver a iniqüidade, assim eles não podem ver a sua pureza.

7. Os pacificadores são bem-aventurados. Eles amam, desejam e se deleitam na paz; e para eles é agradável estar quietos. Conservam a paz para que não seja destruída, e recuperam-na quando é quebrantada. Se os pacificadores são bem-aventurados, ai daqueles que destroem a paz!

8. Aqueles que são perseguidos por causa da justiça são bem-aventurados. Este dito é peculiar do cristianismo; e se enfatiza com mais intensidade do que os demais. Não há nada em nossos sofrimentos que possa ser considerado mérito diante de Deus; porém, Ele verá que aqueles que perdem algo por amor a Ele, mesmo que seja a própria vida, não sofrerão nenhuma perda final por causa dEle. Bendito Jesus, quão diferentes são suas as tuas máximas das dos homens deste mundo! Eles chamam ditoso ao orgulhoso, e admiram ao alegre, ao rico, ao poderoso e ao vitorioso. Alcancemos misericórdia do Senhor; que possamos ser reconhecidos como seus filhos, e herdemos o reino. Com estes deleites e esperanças podemos dar boas vindas com alegria às circunstâncias difíceis ou dolorosas.

Vv. 13-16. Vós sois o sal da terra. A humanidade, na ignorância e pecados, era como um grande monte pronto para apodrecer, mas Cristo enviou seus discípulos para conservá-la e temperá-la com suas vidas e doutrinas, como conhecimento e a graça. Se não são como deveriam, assemelham-se ao sal que perdeu seu sabor. Se um homem adota a confissão de Cristo, e permanece sem a graça, nenhuma outra doutrina e meio serão proveitosos para ele. Nossa luz deve brilhar fazendo boas obras, sendo elas tais que os homens possam vê-las.

O que há entre Deus e nossas almas deve ser guardado para nós mesmos; devemos procurar fazer com que aquilo que por si só

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 16 permanece exposto à vista dos homens, esteja em conformidade com aquilo que professamos e que seja louvável. Devemos mostrar a glória de Deus.

Vv. 17-20. Que ninguém suponha que Cristo permite que seu povo brinque com qualquer dos mandamentos da santa lei de Deus. Nenhum pecador participa da justiça justificadora de Cristo, até que se arrependa de suas más obras. A misericórdia revelada no Evangelho guia o crente a uma renúncia ainda mais profunda de si mesmo. A lei é a regra do dever do cristão, e este se deleita nela. Se alguém que pretende ser discípulo de Cristo permitir a si mesmo qualquer desobediência à lei de Deus, ou ensina ao próximo a fazê-lo, qualquer que seja sua situação ou reputação entre os homens, não pode ser verdadeiro discípulo. A justiça de Cristo, que nos é imputada somente pela fé, é necessária para todos os que entram ao reino da graça ou da glória, mas a criação do novo coração para a santidade produz uma mudança radical no temperamento e na conduta do homem.

Vv. 21-26. Os mestres judeus haviam ensinado que nada, salvo o homicídio, era proibido pelo sexto mandamento. Assim, eliminaram seu significado espiritual. Cristo mostrou o significado completo deste mandamento; conforme ao qual devemos ser julgados no futuro e, portanto, já deve ser obedecido agora. Toda ira precipitada é homicídio no coração. Por nosso irmão aqui descrito, devemos entender qualquer pessoa, ainda que esteja em uma condição muito inferior à nossa, porque somos todos feitos de um mesmo sangue.

"Néscio" é uma palavra de zombaria que vem do orgulho; "Tu és um néscio" é uma palavra de desdém que vem do ódio. A calúnia e as censuras maliciosas são veneno que matam secreta e lentamente. Cristo disse-lhes que por mais desprezíveis que tenham considerado estes pecados, certamente seriam levados a juízo por causa deles. Devemos conservar cuidadosamente o amor e a paz cristãos com todos os nossos irmãos; e, se em algum momento houver uma dissensão, devemos confessar nossa falta, nos humilharmos perante nosso irmão, fazendo ou

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 17 oferecendo uma satisfação pelo mal cometido por palavra ou por obra, e devemos fazer isto rapidamente, porque até que o façamos, não estaremos prontos para nossa comunhão com Deus nas santas ordenanças. Quando estamos nos preparando para algum exercício religioso, é bom que façamos disto uma ocasião para nos examinar e refletirmos com seriedade.

O que foi dito aqui é muito aplicável a nosso ser, reconciliados com Deus por meio de Cristo. Enquanto estamos vivos, estamos a caminho de seu trono de juízo; depois da morte, será tarde demais. Quando consideramos a importância do caso, e a incerteza da vida, nos damos conta de quão necessário é buscar a paz com Deus sem demora!

Vv. 27-32. A vitória sobre os desejos do coração deve ser acompanhada de exercícios dolorosos, e devem ser feitos. Todas as condições rios são dadas para nos salvarmos de nossos pecados, e não neles. Todos os nossos sentidos e faculdades devem evitar as coisas que nos conduzem a transgredir. Aqueles que levam aos demais à tentação de pecar, seja pela roupa ou por qualquer outra forma, ou deixam-nos nesta condição, ou expõem-nos a esta, fazem-se culpados por seus pecados, e serão considerados responsáveis por dar contas por eles. se as pessoas submetem-se a cirurgias dolorosas para salvar a vida, do que a nossa mente deveria se reter quando o que está em jogo é a salvação de nossa alma? Existe terna misericórdia após todos os requisitos divinos, e as graças e consolos do Espírito nos capacitarão para cumpri-los.

Vv. 33-37. Não há razão para considerar que são maus os votos solenes em um tribunal de justiça, ou em outras ocasiões apropriadas, sempre e quando sejam formulados com a devida reverência. Porém, todos os votos feitos sem necessidade ou na conversação comum, são pecaminosos, como assim também todas as expressões que apelam a Deus, ainda que as pessoas pensem que por estes se eximam da culpa de jurar. Quanto piores forem os homens, menos comprometidos estarão pelos votos; quanto melhores sejam, menos necessidade há dos votos. Nosso Senhor não indica os termos precisos com que temos de afirmar

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 18ou negar, mas que o cuidado constante com a verdade tornaria os votos e os juramentos desnecessários.

Vv. 38-42. A simples instrução é: suporta qualquer injúria que possas sofrer por amor à paz, encomendando tuas preocupações aos cuidados do Senhor. o resumo de tudo é que os cristãos devem evitar as disputas e as acusações. se alguém diz que carne e sangue não podem passar por tais afrontas, que se recordem que carne e sangue não herdarão o reino de Deus, e os que atuam sobre a base dos princípios justos terão suprema paz e consolo.

Vv. 43-48. Os mestres judeus entendiam por "próximo" somente os que eram de seu próprio país, nação e religião, aos que os agradava considerar amigos. o Senhor Jesus ensina que devemos fazer toda a bondade verdadeira que possamos a todos, especialmente às suas almas. Devemos orar por eles. Enquanto muitos retribuirão bem por bem, devemos retribuir bem por mal; e isto falará de um princípio mais nobre, no qual se baseia a maioria dos homens para agir. outros saúdam a seus irmãos, e abraçam aos de seu próprio partido, costume e opinião; nós, porém, não devemos limitar o nosso respeito desta forma.

O dever dos cristãos é desejar e apontar a perfeição, e seguir adiante em graça e santidade. Ali devemos ter a intenção de nos conformarmos com o exemplo de nosso Pai celestial (1 Pe 1.15,16).

Seguramente espera-se mais dos seguidores de Cristo que dos demais; seguramente se achará mais neles que nos demais. Roguemos a Deus que nos capacite para nos comportarmos como filhos seus.

Mateus 6 Versículos 1-4: Contra a hipocrisia ao dar esmolas; 5-8: Contra a

hipocrisia ao orar; 9-15: Como orar; 16-18: Respeitar o jejum; 19-24: O mal de pensar conforme o mundo; 25-34: Ordena-se que confiemos em Deus.

Vv. 1-4. Em seguida, nosso Senhor advertiu contra a hipocrisia e o fingimento exterior nos deveres religiosos. o que quer que façamos,

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 19 devemos fazer a partir de um princípio interior de ser aprovados por Deus, não em busca de elogios de homens. Nestes versículos nos é advertido contra a hipocrisia de dar esmola. Atenção a isto, pois é um pecado sutil; e a vanglória se infiltra no que fazemos, antes mesmo de nos darmos conta. o dever não é menos necessário nem menos excelente, porque os hipócritas abusam dele para servirem a seu orgulho.

A condenação que Cristo dita parece primeiro uma promessa, porém, é sua recompensa; não é a recompensa que Deus promete aos que fazem bem, mas a recompensa que os hipócritas prometem a si mesmos, e que pobre recompensa é. Eles o fizeram para serem vistos pelos homens, e são vistos por eles. Quanto menos notamos nossas boas obras, Deus as nota muito mais. Ele te recompensará; não como o Senhor que dá a seu servo o que ganha, e nada mais, mas como Pai que dá abundantemente a seu filho que o serve.

Vv. 5-8. Dá-se por certo que todos aqueles que são discípulos de Cristo oram. Pode ser mais rápido encontrar um homem vivo que não respire, do que a um cristão que não ore. Se não há oração, então não há graça. os escribas e os fariseus eram culpáveis de duas grandes faltas na oração: A vanglória e a vã repetição.

"Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão", se em algo tão grande entre nós e Deus, quando estamos orando, podemos ter em conta uma coisa tão pobre como o afago dos homens, é justo que esta seja toda a nossa recompensa. Não existe um cochichar secreto e repetido em busca de Deus que Ele não veja. Ela é chamada recompensa e é de graça, e não como uma dívida; que mérito pode haver em mendigar?

Se Ele não dá a seu povo o que lhe pedem, isto se deve a que Ele sabe que não o necessitam ou que não é para seu bem. Deus está tão longe de ser convencido pela duração ou pelas palavras que utilizamos em nossas orações, que as intercessões mais fortes são aquelas que se fazem com gemidos inexprimíveis.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew) 20 Estudemos bem o que mostra a atitude mental em que devemos

fazer nossas orações, e aprendamos diariamente com Cristo como devemos orar.

Vv. 9-15. Cristo viu que era necessário mostrar a seus discípulos qual deve ser normalmente o tema e o método de sua oração. Não se trata de que estejamos presos a usar sempre uma mesma oração, porém, sem dúvida alguma, é muito bom orar segundo um modelo. Dizer muito em poucas palavras; pode ser utilizado em forma aceitável, mas com entendimento e sem vãs repetições. Seis são as petições; as primeiras três se relacionam mais expressamente a Deus e sua honra; as outras três, às nossas preocupações temporais e espirituais. Esta oração nos ensina a buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas as demais coisas nos serão acrescentadas. Depois das coisas da glória, do reino e da vontade de Deus, oramos pelo sustento e consolo necessários à vida presente.

Aqui, cada palavra contém uma lição. Pedimos pão; isso nos ensina sobriedade e temperança: e só pedimos pão, e não o que não necessitamos. Pedimos por nosso pão; isto nos ensina honestidade e trabalho; não devemos pedir o pão dos demais, nem o pão do engano, (Pv 20.17) nem o pão do ócio, (Pv 31.27), mas o pão honestamente obtido. Pedimos por nosso pão diário, o que nos ensina a depender constantemente da providência divina. Rogamos a Deus que no-los dê, não que o venda nem o empreste, mas que nos dê. o maior dos homens deve dirigir-se à misericórdia de Deus para que tenha o seu pão diário. oramos: "Dá-nos". Isto nos ensina compaixão pelos pobres. Também que devemos orar com nossa família. oramos pedindo que Deus nos dê o necessário para este dia, o que nos ensina a renovar os desejos de nossas almas quanto a Deus, como são renovadas as necessidades de nossos corpos. Ao amanhecer o dia, devemos orar a nosso Pai celestial e reconhecer que poderíamos passar o dia muito bem sem comida, mas não sem oração. Nos é ensinado a odiar e aborrecer o pecado enquanto esperamos misericórdia, a não confiar em nós mesmos e a confiar na

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 21 providência e na graça divinas, para que Ele nos impeça de pecar, e a estarmos preparados para resistir ao tentador, e não nos tornarmos tentadores dos demais.

Aqui há uma promessa. Se perdoares, também teu Pai celestial te perdoará. Devemos perdoar porque esperamos ser perdoados. os que desejam alcançar misericórdia de Deus, devem mostrar misericórdia a seus irmãos. Cristo veio ao mundo como o grande pacificador, não só para nos reconciliar com Deus, mas também uns com os outros.

Vv. 16-18. O jejum religioso é um dever requerido aos discípulos de Cristo, porém não é tanto um dever em si mesmo, mas como meio para nos dispormos para outros deveres. Jejuar é humilhar a alma, (Sl 35.13), e esta é a face interna do dever; portanto, que seja teu principal interesse. E quanto à face externa, não permita que seja vista cobiça. Deus vê em secreto, e te recompensará em público.

Vv. 19-24. A mentalidade mundana é sintoma fatal e comum da hipocrisia, porque por nenhum pecado Satanás pode ter um suporte mais seguro e mais firme na alma, do que sob o manto de uma profissão de fé. A alma terá de enxergar algo como sendo o melhor naquilo em que se compraz e confia, acima de todas as demais coisas. Cristo nos aconselha que tenhamos como nossas melhores coisas os gozos e as glórias do mundo porvir; as coisas que não se vêem, que são eternas e que depositemos a nossa felicidade nelas. Há tesouros no céu. A nossa sabedoria é colocar toda diligência para assegurar nosso direito à vida eterna por meio de Jesus Cristo, e ver todas as coisas daqui da terra como indignas de serem comparadas com aquelas, e a não nos contentarmos com nada menos do que elas. É uma felicidade superior e mais além das mudanças e dos infortúnios do tempo; é uma herança incorruptível.

O homem mundano erra em seu primeiro princípio; portanto, todas as suas argumentações e ações que daí surgem devem ser más. Isto se aplica igualmente à falsa religião: o que é considerado luz, é a escuridão mais densa. Este é um exemplo espantoso, mas comum; portanto devemos examinar cuidadosamente nossos princípios e diretrizes à luz

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 22 da Palavra de Deus, pedindo em oração fervorosa o ensino de seu Espírito. Um homem pode servir um pouco a dois senhores, mas somente pode consagrar-se ao serviço de um destes.

Deus requer todo o coração, e não o compartilhará com o mundo. Quando dois senhores se opõem entre si, nenhum homem pode servir a ambos. Ele se apega e ama o mundo, e deve desprezar a Deus; o que ama a Deus deve abandonar a amizade do mundo.

Vv. 25-34. Dificilmente há um outro pecado contra o qual o nosso Senhor Jesus Cristo advirta mais seus discípulos do que as preocupações inquietantes, desconfiadas e que distraem a atenção pelas coisas desta vida. Às vezes isto serve como armadilha ao pobre, tanto como o amor à riqueza, no caso do rico. É nosso dever não nos preocuparmos demasiadamente com as coisas temporais, e não devemos levar a um extremo estas preocupações que são lícitas. Não andeis inquietos por vossa vida, nem pela extensão dela, mas dedicando-a a Deus para que a prolongue ou abrevie de acordo com a sua vontade. Nossos tempos estão em suas mãos, e estão em boas mãos. Não vos apegueis nem mesmo ao conforto desta vida; deixe que Deus a amargue ou a adoce segundo a sua vontade. Deus nos tem prometido a comida e as vestes, portanto podemos esperá-los.

Não penseis no amanhã, nos dias vindouros. Não vos inquieteis pelo futuro, como vivereis o próximo ano, ou a velhice, ou o que deixareis como herança. Assim como não devemos presumir de nós mesmos sobre o amanhã, assim também não devemos nos preocupar pelo amanhã ou por seus acontecimentos. Deus nos tem dado a vida, e nos tem dado o corpo. E o que não poderia fazer por nós aquEle que fez isto? Se nos preocupamos com nossas almas e com a eternidade, que são mais do que o corpo e esta vida, podemos deixá-las nas mãos de Deus, que nos proverá a comida e o vestido, que são menos importantes.

Consideremos isto como exortação a confiarmos em Deus. Devemos nos conformar com nosso patrimônio no mundo, assim como o fazemos com nossa estatura. Não podemos alterar as disposições da

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 23 providência; portanto, devemos nos submeter e nos resignar a elas. o cuidado considerado por nossas almas é o melhor remédio para os cuidados que preocupam o mundo. Buscai primeiro o reino de Deus, e fazei da religião a vossa ocupação. Não digais que este é o modo de tornar-se faminto; esta é a maneira de estar bem abastecido, mesmo neste mundo.

A conclusão de todo o assunto é que a vontade e o mandamento do Senhor Jesus, é que através das orações diárias possamos obter forças para nos sustentarmos sob os nossos problemas cotidianos, e nos armarmos contra as tentações que os acompanham, e não deixarmos que nenhuma destas coisas nos comovam.

Bem-aventurados os que tomam o Senhor como seu Deus, e dão plena prova disto, confiando-se totalmente à sua sábia disposição. Que teu Espírito nos dê convicção do pecado na necessidade dessa disposição, e retire de nossos corações tudo aquilo que for mundano.

Mateus 7 Versículos 1-6. Cristo reprova o julgamento precipitado; 7-11:

Exortações à oração; 12-14: O caminho largo e o caminho estreito; 15-20: Contra os falsos profetas; 21-29: Sede cumpridores da Palavra, e não somente ouvintes.

Vv. 1-6. Devemos nos julgar a nós mesmos, e julgar a nossos próprios atos; porém, sem fazer de nossa palavra uma lei para alguém. Não devemos julgar duramente a nossos irmãos sem ter base para isto. Não devemos tomá-los os piores dentre todas as pessoas. Aqui há uma repreensão justa para todos os que contendem com seus irmãos por faltas pequenas, enquanto eles se permitem as grandes. Alguns pecados são leves como ciscos, outros são pesados como vigas; alguns são como um mosquito, enquanto outros são como um camelo. Não é que exista pecado pequeno, se é como um estilhaço ou um cisco está no olho, se é como um mosquito está na garganta: ambos são dolorosos e perigosos, e não podemos estar bem nem confortáveis até que sejam retirados. o que

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 24 a caridade nos ensina a chamar de algo pequeno como palha no olho alheio, o arrependimento e a santa tristeza nos ensinarão a chamá-lo de viga em nossos próprios olhos. É estranho que um homem possa estar em um estado pecaminoso e miserável, e não dar-se conta disto, como um homem que tem uma viga em seu olho e não leva isso em conta; o Deus deste mundo lhes cega o entendimento.

Aqui há uma boa regra para os que julgam aos demais: primeiro concerta-te a ti mesmo.

Vv. 7-11. A oração é o meio designado para conseguirmos o que necessitamos. Oremos, e freqüentemente; façamos da oração a nossa ocupação, e sejamos sérios e fervorosos nela. Peçamos como um mendigo pede esmola. Peçamos, como o viajante que pergunta pelo caminho. Busquemos, como se busca uma coisa de alto valor, que perdemos; ou como o mercador que busca boas pérolas. Batamos, como bate à porta o que deseja entrar na casa. o pecado fechou a porta e trancou-a com chave contra nós; mas pela oração batemos.

Seja pelo que for que orardes, vos será dado de acordo com a promessa, se Deus vir que será bom para vós ; o que mais poderíeis desejar? Isto está feito para ser aplicado a todos aqueles que oram bem; todo o que pede recebe, seja judeu ou gentio, jovem ou velho, rico ou pobre, servo ou Senhor, alto ou baixo, douto ou indouto, todos da mesma maneira são bem-vindos ao trono da graça, se a ele forem por fé.

Isto é explicado comparando com os pais terrenos e suas aptidões para dar aos seus filhos o que pedem. Os pais costumam ser afetuosos de modo néscio, porém, Deus é onisciente; Ele sabe o que necessitamos, o que desejamos e o que é bom para nós. Nunca suponhamos que o Pai celestial nos pediria que orássemos, e em seguida se negaria a ouvir ou nos daria algo que nos prejudicasse.

Vv. 12-14. Cristo veio ensinar-nos não só o que ternos de saber e crer, mas o que temos de fazer, não só para com Deus, mas também para com os homens; não só para os que são de nosso partido e denominação, mas para com todos os homens em geral, com todos aqueles com quem

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 25 nos relacionamos. Devemos fazer ao nosso próximo aquilo que sabemos ser bom e razoável. Em nosso trato com os homens, devemos nos colocar no mesmo caso e circunstâncias com aqueles com os quais nos relacionamos, e agir em conformidade com isto. Não existem senão dois caminhos: o certo e o errado, o bom e o mal, o caminho ao céu e o caminho ao inferno; todos vamos caminhando por um ou outro; não há um lugar intermediário no porvir; não há um caminho neutro. Todos os filhos dos homens são santos ou pecadores, bons ou maus.

Observe que no caminho do pecado e dos pecadores, a porta é larga e está aberta. Podeis entrar por esta porta com todas as luxúrias que a rodeiam; ela não refreia apetites nem paixões. É um caminho largo; há muitas veredas nele, há opções de caminhos pecaminosos. Há multidões neste caminho. Porém, que proveito há em estar disposto a ir para o inferno com os demais, porque eles não irão ao céu conosco? o caminho para a vida eterna é estreito. Não chegamos ao céu assim que passamos pela porta estreita. Precisamos negar o nosso eu, manter nosso corpo sob controle e mortificar as corrupções. Devemos resistir às tentações diárias e cumprir os deveres. Devemos vigiar em todas as coisas e andar com cuidado, e teremos que passar por muitas tribulações. Não obstante, este caminho nos convida a todos; nos conduz à vida, ao consolo presente no favor de Deus, que é a vida da alma; à bênção eterna, cuja esperança ao final de nosso caminho deve facilitar todas as dificuldades do caminho. Esta simples declaração de Cristo tem sido rejeitada por muitos que se tem dado ao trabalho de fazê-la desaparecer com explicações, mas em todas as épocas, o verdadeiro discípulo de Jesus tem sido visto como uma personalidade singular, que está fora de moda; e todos os que se puseram do lado da grande maioria têm ido pelo caminho largo para a destruição. Se servimos a Deus, devemos ser firmes em nossa religião.

Vez por outra, podemos ouvir sobre a porta estreita e o caminho estreito, e que são poucos os que os encontram, sem nos condoermos por nós mesmos ou sem considerar se entramos pelo caminho estreito; qual é o avanço que estamos fazendo neste aspecto?

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 26 Vv. 15-20. Nada impede tanto aos homens de entrarem pela porta

estreita e chegarem a ser verdadeiros seguidores de Cristo, como as doutrinas carnais, apaziguadoras e que afagam aqueles que se opõem à verdade. Estes podem ser conhecidos por seu ímpeto e pelos efeitos de suas doutrinas. Uma parte de seus temperamentos e condutas é contraria à mente de Cristo. As opiniões que levam a pecar não vêm de Deus.

Vv. 21-29. Aqui o Senhor nos mostra que não bastará reconhecê-lo como nosso Senhor só de palavra e língua. É necessário, para nossa felicidade, que creiamos em Cristo, que nos arrependamos do pecado, que vivamos uma vida santa, que nos amemos uns aos outros. Esta é a sua vontade, a nossa santificação.

Tenhamos o cuidado de não nos apoiarmos em privilégios e obras exteriores, para que não aconteça que nos enganemos e pereçamos eternamente com uma mentira em nossa destra, como multidões o fazem. Que cada um que invoca o nome de Cristo se afaste de todo pecado. Há outros cuja religião descansa no puro ouvir, sem ir mais além; suas cabeças estão cheias de noções vazias. Estas duas classes de ouvintes estão representadas pelos dois construtores.

Esta parábola nos ensina a ouvir e a cumprir os ensinos do Senhor Jesus; alguns destes podem parecer duros para carne e sangue, mas devem ser cumpridos. Cristo está posto como fundamento, e tudo que esteja fora de Cristo é areia. Alguns constroem suas esperanças na prosperidade mundana; outros, em uma profissão exterior de religião. Sobre estas se arriscam, porém, todas estas são areia, demasiadamente fracas para suportar algo como as nossas esperanças quanto ao céu.

Há uma tempestade que chegará e provará a obra de todo o homem. Quando Deus tira a alma, onde está a esperança do hipócrita? A casa foi destruída pela tempestade quando o construtor mais precisava dela, e esperava que fosse um refúgio. Caiu quando era tarde demais para construir outra. Que o Senhor nos faça construtores sábios para a eternidade. Então, nada nos separará do amor de Cristo Jesus.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 27 As multidões ficavam atônitas diante da sabedoria e poder da

doutrina de Cristo. Este sermão, tão freqüentemente lido, é sempre novo. Cada palavra prova que seu Autor é divino. Sejamos cada vez mais decididos e fervorosos, e façamos de cada uma destas bem-aventuranças e graças cristãs, o tema principal de nossos pensamentos por semanas seguidas. Não repousemos sobre desejos gerais e confusos a este respeito, pelos quais podemos captar tudo, mas sem reter nada.

Mateus 8 Versículos 1: Multidões seguem a Cristo; 2-4: A cura de um

leproso; 5-13: A cura do servo de um centurião; 14-17: A cura da sogra de Pedro; 18-22: A promessa entusiasmada do escriba; 23-27: Cristo em uma tempestade; 28-34: A libertação de dois endemoninhados.

V. 1. Este versículo se refere ao final do sermão anterior. Aqueles a quem Cristo se tem dado a conhecer desejam saber mais sobre Ele.

Vv. 2-4. Nestes versículos encontramos o relato da limpeza de um leproso feita por Cristo; o leproso se aproximou dEle e o adorou como a alguém que está investido de poder divino. Esta purificação não só nos guia a irmos rapidamente à presença de Cristo, que tem todo o poder para curar todas as enfermidades físicas; também nos ensina a maneira de apelar a Ele.

Quando não podemos estar seguros da vontade de Deus, podemos estar seguros de sua sabedoria e misericórdia. Por maior que seja a culpa, no sangue de Cristo existe o poder para expiá-la; nenhuma corrupção é tão forte que não haja na graça de Cristo o que possa subjugá-la. Para sermos purificados devemos no,s encomendar à sua piedade; não podemos reivindicá-la como dívida; devemos pedi-la humildemente como um favor.

Aqueles que por fé apelam a Cristo por misericórdia e graça, podem estar seguros de que Ele estará lhes dando livremente a misericórdia e a graça que eles assim buscam. Benditas sejam as aflições que nos levam a conhecer a Cristo, e nos fazem buscar sua ajuda e sua salvação. Aqueles

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 28 que são limpos de sua lepra espiritual devem ir aos ministros do Senhor para exporem o seu caso, para que sejam aconselhados, consolados e recebam oração.

Vv. 5-13. Este centurião era pagão, um soldado romano. Mesmo sendo um soldado, não obstante, era um bom homem. Nenhuma vocação nem posição do homem servirá de desculpa para a incredulidade e o pecado. observe como expõe o caso de seu servo. Devemos nos interessar pelas almas de nossos filhos e servos espiritualmente enfermos, que não sentem os males espirituais e não conhecem o que é espiritualmente bom; devemos levá-los a Cristo por meio da fé e da oração.

Observe sua humilhação. Em uma situação como esta, as almas humildes tornam-se mais humildes pela graça de Cristo. observe sua grande fé. Quanto menos confiarmos em nós mesmos, mais forte será nossa confiança em Cristo. Aqui, o centurião o reconhece com autoridade e pleno poder divino sobre todas as criaturas e poderes da natureza, como um Senhor sobre seus servos. Todos devemos ser para com Deus como este tipo de servo. Devemos ir e vir conforme as ordens de sua Palavra e as disposições de sua Providência.

Quando o Filho do Homem vier, encontrará pouca fé e haverá pouco fruto. Uma profissão pública de nossa fé faz com que sejamos chamados de filhos do reino, porém, se nos acomodarmos a esta situação e não pudermos mostrar nada mais, seremos reprovados. o servo obteve a cura de sua enfermidade e o seu Senhor obteve a aprovação de sua fé. o que foi dito a ele é dito a todos: Creia e receberá; tão somente creia. Observe o poder de Cristo e o poder da fé. A cura de nossas almas é imediato, o efeito e a prova de nosso interesse pelo sangue de Cristo.

Vv. 14-17. Pedro tinha uma esposa, mesmo sendo apóstolo de Cristo, o que demonstra que Jesus aprovava o matrimônio, sendo bondoso com a mãe da esposa de Pedro. A igreja de Roma, que prole que seus ministros se casem, contradiz este apóstolo, sobre o qual tanto se apóia. Tinha a sua sogra morando consigo em sua família, o que é um

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 29 exemplo para que sejamos bons para nossos pais. Na cura espiritual, a Escritura diz a palavra, e o Espírito dá o toque, toca o coração e a mão. Aqueles que se recuperam de uma febre costumam estar fracos por algum tempo; porém, para mostrar que esta cura estava acima do poder da natureza, a mulher estava tão bem que de imediato dedicou-se aos afazeres da casa.

Os milagres que Jesus realizou foram amplamente publicados, de modo que muitos se acotovelavam vindo a Ele. E Ele curou a todos os que estavam enfermos, mesmo quando o paciente estivesse muito fraco e o caso fosse o pior possível. Muitas são as enfermidades e as calamidades do corpo a que estamos sujeitos; e há mais nessas palavras do Evangelho, que dizem que Jesus Cristo levou nossas enfermidades e nossas dores, para nos sustentar e consolar quando estamos submetidos a elas, do que em todos os escritos dos filósofos. Não nos queixemos pelo trabalho, pelo problema ou pelo gasto ao fazermos o bem ao próximo.

Vv. 18-22. Um dos escribas se apressou a comprometer-se; declarou-se ser um fiel e próximo seguidor de Cristo. Parece muito decidido. Muitas decisões religiosas são produzidas por uma súbita convicção do pecado, e assumidas sem uma devida reflexão; estas não levam a nada. Quando este escriba se ofereceu a seguir a Cristo, alguém poderia pensar que Jesus deveria ter se sentido animado; um escriba poderia dar mais crédito e prestar um maior serviço do que doze pescadores; porém, Cristo viu seu coração, e respondeu a seus pensamentos, e ensina a todos como devem ir a Ele. Sua decisão parece surgir de um princípio mundano e cobiçoso. Cristo não tinha onde reclinar sua cabeça, e se o seguisse, não deveria esperar que com ele seria melhor.

Temos razões para pensar que este escriba tenha se afastado. outro era lento demais. A demora em agir é, por um lado, tão má quanto a pressa para resolver. Pediu permissão para ir enterrar seu pai, e logo se poria a serviço de Cristo. Isto parecia razoável, mesmo não sendo justo. Não tinha o zelo verdadeiro pela obra. Enterrar o morto, especialmente um pai morto, é uma boa obra, mas não é a sua obra neste momento. Se

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 30 Cristo requer nosso serviço, devemos abrir mão até mesmo do afeto pelos parentes mais próximos e queridos, e pelas coisas que não são nosso dever. Para a mente sem disposição nunca faltam desculpas. Jesus lhe disse: "Segue-me", e sem dúvida, saiu poder desta palavra tanto para ele como para os demais; seguiu a Cristo e não se apartou dEle. O escriba disse, eu te seguirei; a este outro homem, Cristo disse: "Segue-me". Comparando estes casos, podemos concluir que somos levados a Cristo pela força de seu chamado pessoal (Rm 9.16).

Vv. 23-27. O consolo para aqueles que se lançam ao mar em barcos, e costumam ali passar por perigos, é pensar que têm um Salvador em quem podem confiar e ao qual orar, e que sabe o que é estar no mar e em tormentas. os que estão passando com Cristo pelo oceano deste mundo devem esperar tormentas.

Sua natureza humana, semelhante a nós em tudo, mas sem pecado, estava fatigada e neste momento Ele dormiu para provar a fé de seus discípulos. E em seu temor, eles recorreram ao seu Mestre. E assim acontece com a alma; quando as luxúrias e as tentações se levantam e rugem, e Deus parece estar adormecido em relação ao que está acontecendo, isto nos leva quase ao desespero. Então clamamos por uma palavra de seus lábios: Senhor Jesus, não permaneça calado ou estarei perdido. Há muitos que mesmo tendo a fé verdadeira, são fracos nela. os discípulos de Cristo tinham a tendência a inquietarem-se com temores em um dia tempestuoso; atormentavam a si mesmos, como se a situação lhes estivesse desfavorável, e com pensamentos desalentadores de que aconteceria algo pior. As grandes tormentas da dúvida e o temor na alma sob o poder do espírito de escravidão, costumam terminar em uma calma maravilhosa, criada e dirigida pelo Espírito de adoção.

Eles ficaram estupefatos. Nunca tinham visto uma tormenta ser imediatamente acalmada e com tamanha perfeição. AquEle que fez isto pode fazer qualquer coisa, o que nos estimula a ter confiança e consolo nEle no dia mais tempestuoso, seja em nosso interior, seja nas condições exteriores à nossa vida (Is 26.4).

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 31 Vv. 28-34. Os demônios nada têm a ver com Cristo, nem esperam

qualquer benefício dEle! Que profundidade neste mistério do amor divino: o homem caído tem tanto a ver com Cristo, enquanto os anjos caídos nada têm a ver com Ele! (Hb 2.16). Com toda certeza sofreram aqui um tormento, ao serem forçados a reconhecer a excelência que há em Cristo, e ainda assim não terem parte com Ele. Os demônios não desejam ter nada a ver com Cristo como Rei. Observe a linguagem daqueles que não têm nada a ver com o Evangelho de Cristo. Não é verdade, porém, que os demônios não tenham nada a ver com Cristo como Juiz, porque têm a ver, e eles o sabem; e assim também é no caso de todos os filhos dos homens.

Satanás e seus instrumentos não podem ir mais além do que o Senhor permita; eles devem deixar a possessão quando Ele ordena. Não podem romper o cerco de proteção em torno de seu povo; nem sequer podem entrar em um porco sem a sua permissão.

Receberam a permissão. Às vezes Deus permite, por sábios e santos objetivos, os esforços da ira de Satanás. Assim, o Diabo apressa as pessoas a pecar, para que executem as suas más decisões, das quais estão conscientes que lhes trarão vergonha e sofrimento: a condição dos que são levados cativos por ele, e conforme a vontade dele, é miserável.

Há muitos que preferem seus porcos ao Salvador, e assim não alcançam a Cristo e a salvação por meio dEle. Eles desejam que Cristo se vá de seus corações, e não suportam que a sua Palavra tenha lugar neles, porque Ele e a sua Palavra destruíram as suas concupiscências brutais, que são entregues aos porcos como alimento. Justo é que Cristo abandone aos que estão cansados dEle, e depois diga: "Apartai-vos", malditos, àqueles que agora dizem ao Todo poderoso: Vai-te de nós.

Mateus 9 Versículos 1-8: Jesus regressa a Cafarnaum e cura um paralítico;

9: O chamado de Mateus; 10-13: Mateus, ou a festa de Levi; 14-17: As objeções dos discípulos de João; 18-26: Cristo ressuscita a filha de

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Mateus (Comentário Bíblico de MatthewHenry) 32 Jairo e cura a mulher do fluxo de sangue; 27-31: Cura dois cegos; 32-34: Cristo expulsa um espírito mudo; 35-38: Os apóstolos são enviados.

Vv. 1-8. A fé dos amigos do paralítico ao levá-lo a Cristo era uma fé firme; eles criam firmemente que Cristo podia e queria curá-lo. Uma fé forte não considera os obstáculos ao ir em busca de Cristo. Era uma fé humilde; eles o levaram a esperar em Cristo. Era uma fé ativa. O pecado pode ser perdoado, porém, não ser eliminada a enfermidade; a enfermidade pode ser curada, e não ser perdoado o pecado: se temos o consolo da paz com Deus, com o consolo da recuperação da enfermidade, isto fará com que sem dúvida a cura seja uma misericórdia. Isto não é exortação para pecar. Será bom que você leve os seus pecados a Jesus Cristo, assim como as suas enfermidades e desgraças, pois será curado e liberto. Se vamos ao encontro do Senhor levando-os como seus amores e deleites, pensando ainda em retê-los e ao mesmo tempo receber a Cristo, é um grande erro, um miserável engano. A grande intenção do bendito Jesus na obra da redenção que realizou, é separar nossos corações do pecado.

Nosso Senhor Jesus tem perfeito conhecimento de tudo o que dizemos dentro de nós mesmos. Há muitos males em nossos pensamentos pecaminosos que são muito ofensivos para o Senhor Jesus. É o interesse de Cristo mostrar que sua grande missão no mundo era salvar o seu povo dos pecados deles. Deixou o debate com os escribas e pronunciou as palavras de saúde ao enfermo. Além de não ter mais a necessidade de que o levassem em seu leito, o paralítico passou a ter forças para carregar o seu próprio leito.

Deus deve ser glorificado em todo o poder que é dado para fazer o bem.

V. 9. Mateus teve seu chamado como os demais que Cristo chamou. Como Satanás vem com suas tentações ao ocioso, assim vem Cristo com seus chamados aos que estão ocupados. Muitos dentre nós têm uma aversão natural a ti, ó Deus; chama-nos a seguir-te; atraia-nos por tua poderosa Palavra, e correremos ao teu encontro. Fale através da Palavra

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 33 do Espírito Santo aos nossos corações; o mundo não pode nos reter, Satanás não pode deter nosso caminho, e nos levantaremos e te seguiremos. Cristo, como autor, e sua Palavra como meio, realiza uma mudança na alma. Nem o cargo de Mateus, nem seus ganhos, puderam detê-lo quando Cristo o chamou. Ele deixou tudo, e ainda que depois, ocasionalmente, os discípulos que eram pescadores foram encontrados pescando outra vez, nunca mais encontramos Mateus em seus ganhos pecaminosos.

Vv. 10-13. Algum tempo depois de sua chamada, Mateus procurou levar seus antigos sócios a ouvirem a Cristo. Sabia por experiência o que a graça de Cristo era capaz de fazer, e não perdeu a esperança a este respeito. os que são eficazmente levados a Cristo não podem senão desejar que os demais também sejam levados a Ele.

Aqueles que supõem que suas almas estão sem enfermidade não recorrerão ao Médico espiritual. Este era o caso dos fariseus; eles desprezaram a Cristo porque se julgavam íntegros; porém, os pobres publicanos e pecadores sentiam que lhes faltava instrução e correção. É fácil e comum dar as piores interpretações sobre as melhores palavras e ações. Podemos suspeitar com justiça que aqueles que não têm a graça de Deus, não se comprazem em que outros a alcancem. Aqui pode ser chamado misericórdia o fato de Cristo conversar com os pecadores, porque aumentar a conversão das almas é o maior ato de misericórdia.

O chamado do Evangelho é um chamado ao arrependimento; um chamado para que mudemos nosso modo de pensar e nossos caminhos. Se os filhos dos homens não fossem pecadores, não seria necessário que Cristo viesse a eles. Examinemos se temos investigado nossa enfermidade e se temos aprendido a seguir as ordens de nosso grande Médico.

Vv. 14-17. Nesta época João estava preso; suas circunstâncias, caráter e a natureza da mensagem que foi enviado a entregar, dirigiu aqueles que estavam peculiarmente afeiçoados a ele, a realizarem jejuns

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 34 freqüentes. Cristo referiu-se ao testemunho que João dá a respeito dEle (Jo 3.29).

Mesmo que não caiba nenhuma dúvida de que Jesus e seus discípulos viveram de maneira sóbria e modesta, seria impróprio que seus discípulos jejuassem enquanto tinham o consolo de sua presença. Quando está com eles, tudo está bem. A presença do sol faz o dia, e sua ausência produz a noite.

Nosso Senhor os faz recordar imediatamente as regras comuns da prudência. Não se costumava pegar um pedaço de pano de lã crua, que nunca havia sido usada, para com ela consertar um traje velho, porque não se uniria bem com a roupa velha e suave, mas esta se rasgaria ainda mais, e o estrago seria ainda maior. Nem tão pouco os homens deitavam vinho novo em odres velhos, que iam apodrecer, e se quebrariam pela fermentação do vinho; ao colocar o vinho novo em odres novos e fortes, ambos seriam preservados. Requer-se grande prudência e cautela, para que os novos convertidos não recebam idéias sombrias e proibitivas a respeito do serviço ao nosso Senhor; antes, devem ser bem estimulados nos deveres, à medida que sejam capazes de suportá-los.

Vv. 18-26. A morte de nossos familiares deve levar-nos a Cristo, que é a nossa vida. Uma grande honra para os maiores reis é esperar no Senhor, e os que recebem misericórdia de Cristo devem honrá-lo. A variedade de métodos que Cristo usou para fazer seus milagres talvez se devesse às diferentes disposições mentais e temperamentos, com que vinham os que a Ele recorriam. AquEle que esquadrinha os corações conhecia tudo isto perfeitamente.

Uma pobre mulher apelou a Cristo e recebeu dEle misericórdia, ao passar pelo caminho. Se somente tocarmos, por assim dizer, na orla da túnica de Jesus, com fé viva, nossos piores males serão curados; não há outra cura verdadeira, nem temos que temer que Ele conheça aquilo que nos traz dor e uma carga, e que não contaríamos a nenhum amigo na terra.

Quando Cristo entrou na casa do principal da sinagoga, disse: "Retirai-vos". Às vezes, quando prevalece a dor do mundo, é difícil que

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 35 Cristo e suas consolações entrem. A filha do principal da sinagoga estava realmente morta, porém não para Cristo. A morte do justo, de maneira especial, deve ser considerada somente um sono.

As palavras e as obras de Cristo podem não ser entendidas a princípio; mesmo assim, não devem por isso ser desprezadas. o povo foi fortalecido. os escarnecedores que zombam daquilo que não entendem não são testemunhas apropriadas das maravilhosas obras de Cristo. As almas mortas não são ressuscitadas à vida espiritual, a menos que Cristo as tome pela mão. Isto será feito no dia do seu poder. Se somente este caso em que Cristo ressuscitou a um morto recente aumentou tanto a sua fama, que grande glória será quando todos os que estão nos sepulcros ouvirem sua voz e saírem; os que fizeram bem, para a ressurreição da vida, e os que fizeram mal para a ressurreição da condenação!

Vv. 27-31. Nessa época os judeus esperavam que o Messias aparecesse; estes cegos souberam e proclamaram nas ruas de Cafarnaum que Ele havia chegado, e que era Jesus. os que pela providência de Deus têm perdido a sua vista física, pela graça de Deus podem ter os olhos de seu entendimento plenamente iluminados. Sejam quais forem as nossas necessidades e cargas, não necessitamos mais de provisão e apoio do que participar da misericórdia do nosso Senhor Jesus. Em Cristo há o suficiente para todos. Eles o seguiram gritando em voz alta. Jesus ia provar a sua fé, e nos ensinaria a orar sempre e não desanimar, ainda que a resposta não chegue de imediato. Eles seguiram a Cristo e seguiram-no clamando. A grande pergunta é: "Crede vós?" A natureza pode nos tornar fervorosos, mas somente a graça é capaz de gerar a fé.

Cristo tocou os seus olhos. Ele dá vista às almas cegas pelo poder de sua graça, que vai unida à sua Palavra e realiza a cura com base na fé deles. os que apelam a Cristo serão tratados não conforme as suas fantasias nem no que professam crer, mas conforme a sua fé.

Às vezes Cristo ocultava seus milagres porque não queria dar ocasião ao engano que prevalecia entre os judeus, de que seu Messias

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 36 seria um príncipe transitório, e assim dar ocasião a que o povo intentasse promover tumultos e sedições.

Vv. 32-34. De ambos, melhor é um demônio mudo do que um que blasfeme. As curas de Cristo vão à raiz, e eliminam o efeito e a causa; abrem os lábios desfazendo o poder de Satanás na alma.

Nada pode convencer a quem está sob o poder do orgulho. Crerão em qualquer coisa, por mais falsa ou absurda que seja, ao invés de crerem nas sagradas Escrituras; assim mostram a inimizade de seus corações contra o santo Deus.

Vv. 35-38. Jesus não visitou somente as cidades grandes e ricas, mas também as aldeias pobres e obscuras, e ali pregou e curou. As almas dos mais vis do mundo são muito preciosas para Cristo, e devem ser também para nós, quanto as almas dos que são mais ilustres. Havia sacerdotes, levitas e escribas em toda a terra, porém, eram pastores de ídolos (Zc 11.17). Portanto, Cristo teve compaixão do povo como ovelhas desamparadas e dispersas, como homens que perecem por falta de conhecimento. Hoje há enormes multidões que são como ovelhas sem pastor, e devemos ter compaixão e fazer tudo o que pudermos para ajudá-las. As multidões desejosas de instrução espiritual formavam uma colheita abundante, que necessitava muitos obreiros ativos; porém, poucos mereciam este ofício. Cristo é o Senhor da ceifa.

Oremos para que muitos sejam levantados e enviados a trabalhar para levar as almas a Cristo. É sinal de que Deus está por conceder alguma misericórdia especial a um povo, quando convida outros a orar por ele. As missões designadas aos obreiros como respostas à oração, são as que mais provavelmente terão êxito.

Mateus 10 Versículos 1-4: A chamada dos apóstolos; 5-15: Os apóstolos são

instruídos e enviados; 16-42: Instruções para os apóstolos. Vv. 1-4. A palavra "apóstolo" significa mensageiro; eles eram os

mensageiros de Cristo, enviados a proclamar o seu reino. Cristo deu-lhes

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 37 poder para curar todos os tipos de enfermidades. Na graça do Evangelho há um balsamo para cada chaga, um remédio para cada doença.

Não existe enfermidade espiritual para a qual não haja poder em Cristo para curá-la. Seus nomes estão escritos e isso é a sua honra; porém, eles tinham as maiores razões para regozijarem-se em que seus nomes estivessem escritos no céu, enquanto os nomes dos grandes e poderosos da terra estão enterrados no pó.

Vv. 5-15. Não se deveria levar o Evangelho aos gentios até que os judeus o tivessem rejeitado. Esta limitação dada aos apóstolos foi válida somente para a sua primeira missão.

Onde quer que fossem, deveriam proclamar que o reino dos céus está às portas. Eles pregaram para estabelecer a fé; pregaram o reino para animar a esperança; pregaram sobre os céus para inspirar o amor às coisas celestiais e o desprezo pelas terrestres. o reino tem se aproximado para que os homens se prepararem sem tardança.

Cristo deu-lhes poder para fazerem milagres, como confirmação de sua doutrina. Isto ainda é necessário em nossos dias, mesmo o reino de Deus já estando entre nós. Mostra que a intenção da doutrina que pregaram era curar as almas enfermas e ressuscitar os que estavam mortos no pecado.

Ao proclamar o Evangelho da graça gratuita para cura e salvação das almas dos homens, não podemos mesclar a mensagem com interesses financeiros.

Foi-lhes dito o que fazer nas cidades e entre povos desconhecidos. o servo de Cristo é embaixador da paz em qualquer parte onde seja enviado. Sua mensagem vai até os pecadores mais vis, ainda que tenham por obrigação buscar as melhores pessoas de cada lugar. Nos convém orar de todo coração a favor de todos, e nos conduzirmos de modo cortês para com todos.

Ele lhes dá instruções sobre como deveriam agir em relação àqueles que os rejeitassem. Todo o conselho de Deus deve ser declarado, e aos que não escutam a mensagem da graça, deve ser mostrado que seu estado

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 38 é perigoso. Isto deve ser levado muito a sério por todos os que ouvem o Evangelho, para que não aconteça que seus privilégios lhes sirvam somente para aumentar a sua condenação.

Vv. 16-42. Nosso Senhor adverte a seus discípulos que se preparem para a perseguição. Eles teriam de evitar todas as coisas que dessem vantagem a seus inimigos, toda intromissão nos afãs políticos ou mundanos, toda a aparência do mal ou egoísmo, e as medidas clandestinas. Cristo predisse dificuldades não só para que os transtornos não fossem surpresa, mas para que eles pudessem ter a sua fé confirmada. Disse-lhes que deveriam sofrer, e por parte de quem viria o sofrimento. Assim, Cristo nos tem tratado fielmente e de modo justo, dizendo-nos o que de pior podemos encontrar em seu serviço; e quer que assim tratemo-nos a nós mesmos, ao nos assentarmos para calcular o que isto nos custará. os perseguidores são piores do que as feras, porque fazem como presa aos de sua própria espécie. os laços de amor e dever mais sólidos, muitas vezes têm sido destruídos pela inimizade contra Cristo. Os sofrimentos causados por amigos e parentes são muito dolorosos, e nada fere mais. Parece que todos aqueles que desejam viver de modo piedoso em Cristo Jesus padecerão perseguições; e devemos esperar que através de muitas tribulações entremos no reino de Deus.

Nesta predição de problemas há conselhos e consolo para os momentos de prova. Os discípulos de Cristo são odiados e perseguidos como serpentes, e se procura sua ruína; portanto, devem ter a sabedoria da serpente e a simplicidade das pombas. Que não causem dano a ninguém, e que também não tenham má vontade para com ninguém. Devem ter prudência, mas não devem deixar-se dominar por pensamentos de angústia e confusão; que esta preocupação seja deixada sobre o Senhor Deus. os discípulos de Cristo devem preocupar-se mais em fazer o bem, do que em falar bem. No caso de grande perigo, os discípulos de Cristo devem sair do caminho perigoso, mas não do caminho do dever. Não se deve usar meios pecaminosos e ilícitos para escapar; isto não será uma porta aberta por Deus. O temor ao homem

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 39 lhes coloca uma armadilha, uma armadilha de confusão que perturba nossa paz; uma armadilha que enreda, pela qual somos atraídos ao pecado; portanto, deve-se lutar e orar contra isso. A tribulação, a angústia e a perseguição não podem tirar-lhes o amor de Deus por eles, ou o amor deles por Deus. Temei antes aquEle que pode destruir o corpo e a alma no inferno.

Eles devem entregar a sua mensagem publicamente, porque todos estão profundamente preocupados com a doutrina do Evangelho. Todo o conselho de Deus deve ser trazido ao conhecimento das pessoas (At 20.27). Cristo mostra-lhes porque devem ter bom ânimo. Seus sofri-mentos testificam contra os que se opõem ao seu Evangelho. Quando Deus nos chama a falar dEle, podemos depender dEle para que nos ensi-ne o que devemos dizer. Uma perspectiva fiel do final de nossas afli-ções será muito útil para nos sustentar quando estivermos submetidos a elas. O poder será conforme o dia. É de grande alento, para aqueles que estão fazendo a obra de Deus, saber que esta certamente será feita.

Observe como o cuidado da providência estende-se a todas as criaturas, até aos passarinhos. Isto deve acalmar todos os temores do povo de Deus: "Mais valeis vós do que muitos passarinhos". "E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados". Isto denota a consideração que Deus tem e mantém pelo seu povo. Nosso dever não é somente crer em Cristo, mas também professar esta fé, sofrendo por Ele quando somos chamados a isto, da mesma maneira que o servimos. Aqui somente se faz alusão à negação de Cristo; esta confissão só pode ter a bendita recompensa aqui prometida, que é a linguagem verdadeira e constante do amor e da fé. A fé vale mais do que tudo; todos os que crêem em sua verdade alcançarão o prêmio e farão com que todos os demais rendam-se a isto. Cristo nos guiará através dos sofrimentos, para nos gloriarmos com Ele. os mais preparados para a vida vindoura são aqueles que estão mais livres desta vida presente. Ainda que a bondade feita aos discípulos de Cristo seja sumamente pequena, será aceita quando houver ocasião para ela e quando não houver capacidade de fazer

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 40 mais. Cristo não disse que mereciam recompensa, porque não merecemos nada das mãos de Deus; porém, receberão um prêmio da dádiva gratuita de Deus. Confessemos ousadamente a Cristo e mostremos nosso amor por Ele em todas as coisas.

Mateus 11 Versículos 1: A pregação de Cristo; 2-6. A resposta de Cristo aos

discípulos de João; 7-15; O testemunho de Cristo acerca de João Batista; 16-24: A perversidade dos judeus; 25-30: O Evangelho revelado aos simples – Convite aos sobrecarregados.

V. 1. O nosso divino Redentor nunca se cansou de sua obra de amor; e nós não devemos nos cansar de fazer o bem, porque a seu devido tempo colheremos, se não desfalecermos.

Vv. 2-6. Alguns pensam que João enviou os seus discípulos a perguntá-lo, meramente para sua satisfação. Mesmo aonde há verdadeira fé, pode ainda haver uma mescla de dúvida. A incredulidade remanescente nos homens bons, pode às vezes, na hora da tentação, questionar as verdades mais importantes. Acreditamos que a fé de João não falhou neste assunto, e que ele só desejava ter a sua fé fortalecida e confirmada. outros pensam que João enviou seus discípulos a Cristo para a satisfação deles.

Cristo lhes observa o que têm ouvido e visto. A condescendência e a compaixão da graça de Cristo pelos pobres mostram que era Ele quem deveria trazer ao mundo as ternas misericórdias de nosso Deus.

As coisas que os homens vêem e ouvem, comparadas com as Escrituras, dirigem o caminho em que se deve encontrar a salvação. É difícil vencer preconceitos e perigos, e existe o risco de não vencê-los; porém, os que crêem em Cristo verão que sua fé será achada muito mais para louvor, honra e glória.

Vv. 7-15. O que Cristo disse acerca de João não foi só para elogiá-lo, mas também para proveito do povo. os que ouvem a palavra serão chamados a dar conta de seu proveito. Pensamos que o cuidado termina

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 41 quando termina o sermão? Não! É aí que tem inicio o maior dos cuidados.

João era um homem abnegado, morto para as pompas do mundo e os prazeres dos sentidos. Convém que as pessoas em todas as suas aparências sejam coerentes com seu caráter e situação. João era um grande e bom homem, mas não perfeito; portanto não alcançou a estatura dos santos glorificados. o menor no céu sabe mais, ama mais e faz mais louvando a Deus, e recebe mais dEle do que o maior deste mundo. o reino dos céus aqui mencionado deve ser entendido como o reino da graça, a dispensação do Evangelho em seu poder e pureza. Quanta razão temos para estar agradecidos que nossa sorte esteja lançada nos dias do reino dos céus, sob tais vantagens de luz e amor!

Há multidões que foram trazidas pelo ministério de João e chegaram a ser seus discípulos. E houve quem lutasse por um lugar neste reino, que ninguém pensaria que pudesse ter direito nem título para isto, e pareceram ser intrusos. Isto nos mostra quanto fervor e zelo é requerido de todos. Deve-se negar o eu; deve-se mudar a disposição, a inclinação e o temperamento da mente. os que têm um interesse na grandiosa salvação, a terão a qualquer preço, e não pensarão que é difícil, nem a deixarão passar de si sem que recebam a bênção. As coisas de Deus são de preocupação grande e comum. Deus não requer mais de nós que o uso justo das faculdades que nos tem dado. As pessoas são ignorantes porque não querem aprender.

Vv. 16-24. Cristo faz uma reflexão sobre os escribas e fariseus, que tinham um conceito orgulhoso de si mesmos. compara a conduta deles com a brincadeira das crianças, que zangando-se sem razão, rebatem todos os intentos de seus companheiros para agradá-los ou para que se unam às brincadeiras para as quais costumavam reunir-se.

As objeções capciosas dos homens mundanos são freqüentemente muito fraudulentas, e demonstram grande malícia. Estes sempre têm algo a criticar nos outros, por mais excelentes e santos que aqueles possam ser. Cristo, que era imaculado e apartado dos pecadores, aqui se

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 42 apresenta com eles e "contaminado" por eles. A inocência mais imaculada nem sempre será defesa contra a reprovação.

Cristo sabia que os corações dos judeus eram mais irados e endurecidos contra seus milagres e doutrinas, do que os de Tiro e Sidom; portanto, sua condenação será maior. O Senhor exerce sua onipotência, mas não castiga mais do que se é merecido, e nunca retém o conhecimento da verdade daqueles que o anelam.

Vv. 25-30. É dever dos filhos serem agradecidos. Quando vamos a Deus como Pai, devemos nos lembrar que Ele é o Senhor do céu e da terra, que nos faz ir a Ele com reverência, por ser Ele o Senhor soberano sobre tudo. Com tal confiança o fazemos, como a quem é capaz de nos defender do mal e nos proporcionar todo bem.

Nosso bendito Senhor adicionou uma declaração notável: que o Pai havia posto em suas mãos todo o poder, autoridade e juízo. Estamos endividados com Cristo por toda a revelação que temos da vontade e amor de Deus Pai desde que Adão pecou.

Nosso Salvador tem convidado para que venham a Ele todos os que trabalham arduamente e que estão sobrecarregados. Em alguns aspectos, todos os homens estão assim. Os homens mundanos se sobrecarregam com preocupações infrutíferas, riquezas e honras; o que busca o divertimento e o prazer sensual ilícito se esforça pelos prazeres; o escravo de Satanás e suas próprias luxúrias é o servo mais escravizado da teria. os que trabalham arduamente para estabelecer sua própria justiça também trabalham em vão. O pecador convicto está muito carregado de culpa e terror; o crente tentado e afligido tem trabalhos duros e cargas.

Cristo convida que todos venham a Ele em prol do repouso para as suas almas. Só Ele faz este convite. os homens vão a Ele quando, sentindo sua culpa e miséria e crendo em seu amor e poder para os socorrer, buscam-no com oração fervorosa. Assim, é interesse e dever dos pecadores cansados e carregados, virem a Jesus Cristo. Este é o chamado do Evangelho: aquele que quiser, venha. Todos os que assim

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 43 vão receberão repouso como presente de Cristo, e obterão paz e consolo em seu coração. Ao ir a Ele, devem tomar seu jugo e submeter-se à sua autoridade. Devem aprender dEle todas as coisas acerca de seu consolo e obediência. Ele aceita o servo disposto, por riais imperfeitos que sejam os seus serviços. Aqui podemos encontrar repouso para nossas almas, e só aqui.

Não temos que temer o seu jugo. Seus mandamentos são santos, justos e bons. Isto requer que nos neguemos a nós mesmos e traz dificuldades; porém, isto é abundantemente recompensado já neste mundo, pela paz e gozo inferior. É um jugo que tem como base o amor. Tão poderosos são os socorros que nos dá, tão adequadas as exortações, e tão fortes as consolações que se encontram no caminho do dever, que podemos dizer verdadeiramente que é um jugo grato. o caminho do dever é o caminho do repouso. As verdades que Cristo ensina são tais que podemos arriscar a nossa alma por elas. Sendo tal a misericórdia do Redentor, então por que deve o pecador laborioso e carregado buscar repouso em alguma outra parte? Devemos ir a Ele diariamente em busca da libertação da ira e da culpa do pecado e de Satanás, de todas as nossas preocupações, temores e dores. A obediência forçada, longe de ser fácil e leve, é uma carga pesada. Em vão nos aproximaremos de Jesus com nossos lábios, enquanto o coração estiver longe dEle. Então vinde a Jesus para encontrardes repouso para as vossas almas.

Mateus 12 Versículos 1-8: Jesus defende seus discípulos por debulhar as

espigas no dia do repouso; 9-13: Jesus cura o homem da mão seca no dia de repouso; 14-21: A malícia dos fariseus; 22-30: Jesus liberta um endemoninhado; 31, 32: A blasfêmia dos fariseus; 33-37: As trás palavras procedem de um coração mau; 38-45: Os escribas e fariseus são repreendidos por pedirem sinais; 46-50: Os discípulos de Jesus são seus irmãos mais próximos.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 44 Vv. 1-8. Estando nos campos de trigo, os discípulos começaram a

colher espigas, pois a lei de Deus o permitia (Dt 23.25). Esta era uma pequena provisão para Cristo e seus discípulos, porém, contentavam-se com isto. os fariseus não discutiram com eles por cortarem o milho de outro homem, mas sim por fazê-lo no dia de repouso. Cristo veio libertar seus seguidores não só das corrupções dos fariseus, mas também de suas regras antibíblicas, e justificou o que eles fizeram. O maior não verá satisfeitas suas concupiscências, porém, o menor verá que há respeito por suas necessidades. os trabalhos no dia de repouso são legítimos se forem necessários, e o dia de repouso é para aumentar, e não para ser obstáculo à adoração. Deve-se fazer a provisão necessária para a saúde e a comida, porém, o caso é muito diferente quando se tem servos em casa, e as famílias tornam-se cenários de pressa e confusão no dia do Senhor, para dar uma festa aos visitantes ou para fazer algo especial para elas mesmas. Cabe condenar coisas como essas e outras que são comuns entre os que professam a fé. o descanso do dia de repouso foi ordenado para o bem do homem (Dt 5.14). Não se deve entender nenhuma lei de forma tal que contradiga a sua própria finalidade. Como Cristo é o Senhor do dia do repouso, é apropriado que dedique a si o dia e sua obra.

Vv. 9-13. Cristo demonstra que as obras de misericórdia são lícitas e próprias para serem realizadas no dia do Senhor. Há outras maneiras de fazer o bem nos dias de repouso, além dos deveres da adoração: atender ao enfermo, aliviar ao pobre, ajudar aos que necessitam de alívio urgente e ensinar os jovens a cuidar de suas almas; estas obras fazem bem, e devem ser feitas por amor e caridade, com humildade e abnegação para serem aceitas (Gn 4.7).

Isto tem um significado espiritual, como outras curas que Cristo realizou. Por natureza nossas mãos estão secas, e por nós mesmos somos incapazes de fazer algo que seja bom. Só Cristo nos cura pelo poder de sua graça; Ele cura a mão seca dando vida à alma morta; realiza em nós tanto o querer como o efetuar; porque com o mandamento há uma promessa de graça dada pela Palavra.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 45 Vv. 14-21. Os fariseus consultaram-se entre si para achar alguma

ocasião contra Jesus, para condená-lo a morte. Consciente da intenção deles, Ele se retirou deste lugar, porque a sua hora não havia chegado. ' o rosto não corresponde mais exatamente ao rosto refletido na água, o que simboliza o caráter de Cristo em nossa vida, esboçado pelo profeta com seu temperamento e conduta descrita pelos evangelistas. Encomendemos nossas almas com alegre confiança a um amigo tão bom e fiel. Longe de rompê-la, fortalecerá a cana quebrada; longe de apagar o pavio fumegante, ou quase extinto, Ele soprará para avivar a chama. Desprezemos as contendas e os debates irados, e nos recebamos uns aos outros como Cristo nos recebe, e enquanto estivermos animados pela bondade da graça de nosso Senhor Jesus, devemos orar para que seu Espírito repouse em nós e nos faça capazes de imitar seu exemplo.

Vv. 22-30. Uma alma submetida ao poder de Satanás e presa por ele está cega para as coisas de Deus e muda perante o trono da graça; nada vê e nada diz com propósitos. Satanás cega os olhos com incredulidade e sela os lábios, impedindo-os de orar. Enquanto mais pessoas magnificavam a Cristo, os fariseus estavam mais desejosos de injuriá-lo. Era evidente que se Satanás ajudasse Jesus a expulsar demônios, o reino do inferno estaria dividido contra si mesmo; então, como poderia resistir? E se diziam que Jesus expulsava demônios pelo príncipe dos demônios, não podiam provar que seus filhos os expulsaram por algum outro poder.

Existem dois grandes interesses no mundo; e quando os espíritos imundos são expulsos pelo Espírito Santo, na conversão dos pecadores a uma vida de fé e obediência, tem chegado a nós o reino de Deus. Todos os que não ajudam, nem se regozijam com este tipo de mudança estão contra Cristo.

Vv. 31,32. Aqui está uma bondosa segurança do perdão de todo o pecado nas condições do Evangelho. Cristo estabelece aqui o exemplo, para que os filhos dos homens estejam dispostos a perdoar as palavras ditas contra eles. Às vezes os crentes humildes e conscientes são

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 46 tentados, para que pensem que têm cometido o pecado imperdoável, enquanto os que mais se aproximam disto raramente sentem algum temor. Podemos ter a segurança de que os que sem dúvida se arrependem e crêem no Evangelho, não têm cometido este pecado ou algum outro da mesma classe; o arrependimento e a fé são dons especiais de Deus, que Ele não outorgaria a nenhum homem se estivesse decidido a não perdoar; os que temem haver cometido este pecado, dão um bom sinal de que não o fizeram o pecador que é temente e contrito tem em si mesmo o testemunho de que não é esse o seu caso.

Vv. 33-37. Através do idioma de um homem se descobre de que país ele procede, igualmente de que classe e de que espírito é. o coração é a fonte, as palavras são os ribeiros. Uma fonte turva e uma corrente corrupta devem produzir ribeiros barrosos e desagradáveis. Nada curará as águas, amadurecerá o falar, nem purificará a comunicação corrupta, senão o sal da graça, lançada na corrente. o homem mau tem um mau tesouro em seu coração, do qual o pecador tira as más palavras e as más ações para desonrar a Deus e ferir ao próximo. Vigiemos continuamente sobre nós mesmos, para que possamos falar palavras de acordo com o caráter cristão.

Vv. 38-45. Ainda que Cristo esteja sempre pronto para ouvir e responder os desejos e as orações dos santos, os que pedem mal, pedem e não recebem. Foram dados sinais aos que os desejavam para confirmar sua fé, como no caso de Abraão e Gideão; porém, foram negados aos que os exigiam para desculpar sua incredulidade. A ressurreição de Cristo dentre os mortos por seu poder aqui se chama sinal "do profeta Jonas", e é a grande prova de que Cristo é o Messias. Assim como Jonas esteve três dias e três noites dentro do grande peixe, e em seguida voltou a sair vivo, assim estaria Cristo por este mesmo período na tumba e ressuscitaria.

Os ninivitas envergonhariam os judeus por não arrependerem-se; a rainha de Sabá os envergonharia por não crer em Cristo. Não temos tais impedimentos, nem vamos a Cristo com tais inseguranças. Esta parábola

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 47 representa o caso da Igreja e nação judia. Também é aplicável a todos os que ouvem a palavra de Deus e reformam-se parcialmente, mas não se convertem de verdade. o espírito imundo se vai por um tempo, e quando volta, percebe que Cristo não está ali para impedi-lo de entrar, o coração está varrido pela reforma externa, mas adornado pelos preparativos para cumprir as más sugestões; e o homem se torna um inimigo ainda maior. Todo coração é a residência de espíritos imundos, salvo os que são templo do Espírito Santo, por fé em Cristo.

Vv. 46-50. A pregação de Cristo era simples, familiar e adequada para seus ouvintes. Sua mãe e seus irmãos queriam ouvi-lo. Com freqüência, os que estão mais próximos dos meios do conhecimento e da graça são os mais negligentes. Temos a tendência de nos descuidar de nossos pensamentos sobre aquilo que podemos ter um dia, esquecendo que o amanhã não é nosso. Às vezes nos deparamos com obstáculos à nossa obra, por amigos que nos rodeiam, tomados pelos cuidados das coisas desta vida, das preocupações de nossa alma.

Cristo estava tão decidido a realizar sua obra que nenhum dever natural de outra índole o apartava dela. Não se trata de que sobre o pretexto da religião, sejamos insolentes com nossos pais ou maus para com eles, más sim que o dever menor deve aguardar enquanto cumprimos o maior. Deixemos os homens e nos apeguemos a Cristo; consideremos a todo cristão, em qualquer condição de vida, como irmão, irmã, ou mãe do Senhor da Glória; amemos, respeitemos e sejamos amáveis com eles por amor a Jesus, e seguindo o seu exemplo.

Mateus 13 Versículos 1-23: A parábola do semeador. 24-30 e 36-43: A

parábola da discórdia; 31-35: As parábolas da semente de mostarda e do fermento; 44-52: As parábolas o tesouro escondido, a pedra preciosa, a rede lançada ao mar e o pai de família; 53-58: Jesus é novamente rejeitado em Nazaré.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 48 Vv. 1-23. Jesus entrou em um barco para ser menos pressionado e

para que as pessoas o escutassem melhor. Com isto nos ensina nas circunstâncias externas da adoração a não desejar o que é majestoso, mas sim a fazer o melhor das facilidades que Deus nos concede em sua providência. Cristo ensinava por meio de parábolas. Por meio delas simplificava e tornava mais fáceis as coisas de Deus para os dispostos a aprender, e mais difíceis ou obscuras aos dispostos a ser ignorantes.

A parábola do semeador é clara. A semente semeada é a Palavra de Deus. o semeador é nosso Senhor Jesus Cristo, por si ou por seus ministros. Pregar a uma multidão é semear o grão; não sabemos onde brotará. Alguns tipos de terrenos, ainda que tenhamos trabalhado muito nele, não dá fruto adequado, enquanto a boa terra dá fruto com abundância. Assim também ocorre com os corações dos homens, que possuem caracteres diferentes, e estão aqui descritos como quatro classes de terrenos. Os ouvintes negligentes e frívolos são presas fáceis para Satanás que, como o grande homicida das almas, é o grande ladrão dos sermões, e seguramente estará pronto a roubar-nos a Palavra se não tivermos o cuidado de obedecê-la. Os hipócritas, como o terreno pedregoso, têm seu começo freqüentemente como cristãos verdadeiros em sua demonstração de profissão de fé. Muitos dos que se alegram por ouvir um bom sermão são os que não se beneficiam. Se lhes é falado da salvação gratuita, dos privilégios dos crentes e a felicidade do céu, e que sem mudança de coração, sem convicção permanente de sua própria depravação, de sua necessidade do Salvador ou da excelência da santidade, rapidamente adotam uma segurança sem fundamentos. Porém, quando uma grande prova os ameaça ou podem ter uma vantagem pecaminosa se rendem ou ocultam sua profissão de fé, ou voltam-se a um sistema mais fácil.

Os afãs do mundo são comparados de modo apropriado com as espigas, porque vieram com pecado e são fruto da maldição; são bons em seu lugar para encher um vazio; porém, o homem que tenha muito a ver com eles deve estar bem armado, pois enredam, afligem e arranham, e

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 49 seu fim é ser queimado (Hb 6.8). Os afãs do mundo são grandes obstáculos para que tenhamos proveito na Palavra de Deus.

O engano das riquezas efetua o mal; não se pode dizer que nos enganamos, a menos que depositemos a nossa confiança nelas; então, afogamos a boa semente. o que distinguiu o bom terreno foi a frutificação. Através disto, os cristãos verdadeiros são distinguidos dos hipócritas. Cristo não disse que a boa terra não tem pedras e espinhos, mas que nada pode impedir que dê fruto. Não são todos iguais; devemos crescer mais em direção ao céu para que demos mais frutos. A audição não pode ser melhor utilizada do que para ouvir a palavra de Deus; observemo-nos a nós mesmos para que saibamos distinguir a que classe de ouvintes pertencemos.

Vv. 24-30 e 36-43. Esta parábola representa o estado presente e o futuro da Igreja do Evangelho; o cuidado de Cristo por ela, a inimizade do Diabo contra ela; a mescla de bons e maus que existe neste mundo, e a separação deles no mundo vindouro. Tão propenso a pecar é o homem caído, que se o inimigo semear, poderá seguir o seu caminho, pois a ira brotará e causará dano; mesmo quando se planta uma boa semente, deve-se ter o cuidado de regá-la e protegê-la. os servos se queixam a seu Senhor: "Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente?". Sem dúvida que sim; seja o que for que estiver mal na Igreja, tenhamos a segurança que não é de Cristo. Ainda que os transgressores grosseiros e outros que se opõem abertamente ao Evangelho, devam ser separados da sociedade dos fiéis, contudo, não há habilidade humana que possa efetuar uma separação precisa: os que se opõem não devem ser arrancados, mas sim instruídos, e com mansidão. E ainda que os bons e os maus estejam juntos neste mundo, contudo, no dia do grande juízo serão separados, e então serão claramente conhecidos o justo e o ímpio; aqui muitas vezes é difícil demais distinguí-los. Se conhecemos o temor do Senhor, não cometamos iniqüidades. Na morte, os crentes brilharão por si mesmos; no grande dia brilharão ante todo o mundo. Brilharão por reflexo, com luz emprestada da Fonte de luz. A santificação deles será

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 50 aperfeiçoada e sua justificação publicada. Que sejamos achados neste feliz grupo.

Vv. 31-35. O alcance da parábola da semente de mostarda é mostrar que o princípio do Evangelho é pequeno, mas seu final será grande; deste modo, será executada a obra da graça no coração, o reino de Deus dentro de nós. A graça, realmente crescerá na alma onde realmente está; ainda que no princípio não seja discernida, ao final terá grande força e utilidade.

A pregação do Evangelho trabalha como fermento no coração dos que o recebem. O fermento certamente trabalha, e assim faz também a Palavra, mas gradualmente. Atua silenciosamente, sem ser vista e sem falhar. Assim foi no mundo. os apóstolos, pregando o Evangelho, esconderam um punhado de fermento na grande massa da humanidade. Tornou-se poderoso pelo Espírito do Senhor dos exércitos, que trabalha e ninguém pode impedi-lo. No coração é assim. Quando o Evangelho chega à alma, realiza uma transformação radical; se expande a todos os poderes e faculdades da alma e altera a propriedade até mesmo dos membros do corpo (Rm 6.13). Estas parábolas nos ensinam a esperar um processo gradual; perguntemos então: Estamos crescendo na graça e nos santos princípios e costumes?

Vv. 44-52. Aqui temos quatro parábolas: 1. A do tesouro escondido no campo. Muitos recebem o Evangelho

apressadamente porque olham apenas a superfície do campo. Todos os que esquadrinham as Escrituras podem encontrar nelas a Cristo e a vida eterna (Jo 5.39), descobrirão porque o tesouro deste campo o torna extremamente valioso, e se apropriarão dele a qualquer custo. Ainda que nada possa ser dado como pagamento pela salvação, todavia, muito deve dar-se por amor a ela.

2. Todos os filhos dos homens estão ocupados; um será rico, outro será honrado, ainda outro será douto; porém, a maioria está enganada e tomam as falsificações como pérolas legítimas. Jesus é a pérola preciosa; tendo a Ele teremos o suficiente para fazermo-nos felizes aqui e para

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 51 sempre. O homem pode comprar ouro muito caro, mas não esta pérola preciosa. Quando o pecador convicto vê a Cristo como o Salvador da graça, tudo mais perde o seu valor para seus pensamentos.

3. O mundo é um grande mar, e em seu estado natural, os homens são como os peixes. Pregar o Evangelho é lançar uma rede nesse mar, para pescar algo para a glória daquEle que tem a soberania sobre este mar. os hipócritas e os cristãos verdadeiros serão separados: desgraça será a condição daqueles que forem lançados fora.

4. O fiel e destro ministro do Evangelho é um escriba bem versado nas coisas do Evangelho e capaz de ensiná-las. Cristo o compara com um bom pai de família, que traz os frutos da colheita do ano anterior e o recolhido este ano, abundante e variado, para com ele tratar de seus amigos. Todas as experiências antigas e as observações novas têm sua utilidade. Devemos estar aos pés de Cristo, e aprender diariamente, novamente, as velhas lições e também as novas.

Vv. 53-58. Cristo repete a sua oferta àqueles que o rejeitaram. Eles o rejeitam: Não é este o filho do carpinteiro? Sim, é certo que tinha a fama de sê-lo. Não é nenhuma desgraça ser filho de um comerciante honesto; deveriam respeitá-lo ainda mais por ser um deles, mas por isto o desprezaram. Ele não fez muitas obras poderosas ali, devido à incredulidade deles. A incredulidade é o grande obstáculo para os favores de Cristo. Mantenhamo-nos fiéis a Ele, como o Salvador que fez a nossa paz com Deus.

Mateus 14 Versículos 1-12: A morte de João Batista; 13-21: Cinco mil pessoas

são alimentadas milagrosamente; 22-33: Jesus caminha sobre o mar. 34-36. Jesus cura um enfermo.

Vv. 1-12. O terror e a reprovação da consciência, dos quais Herodes não pôde eximir-se, bem como outros ofensores ousados, são prova e advertência de um juízo futuro e de sua miséria futura. Mas pode haver terror pela convicção de pecado onde não está a verdade da conversão.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 52 Quando os homens pretendem favorecer o Evangelho, mas vivem no mal, não devemos permitir que enganem a si mesmos, mas livrar nossa consciência, como fez João. O mundo pode dizer que isto é rude e parte de um zelo cego. Aqueles que professam a religião falsamente ou os cristãos tímidos podem censurá-lo como falta de civilidade, mas os inimigos mais poderosos não podem ir além do que o Senhor permitir.

Herodes temia que mandar matar João pudesse levantar uma revolta no povo, o que este não fez, mas nunca temeu que pudesse despertar sua própria consciência contra si mesmo, e foi o que aconteceu. os homens temem ser enforcados, mas não ser condenados por Deus. As épocas de alegria e júbilo carnal são temporadas convenientes para que sejam executados maus desígnios contra o povo de Deus.

Herodes recompensou profusamente uma dança indigna, enquanto a prisão e a morte foram a recompensa para o homem de Deus que procurava salvar-lhe a alma. Havia uma verdadeira maldade contra João por trás de seu consentimento; caso contrário, Herodes haveria encontrado formas de livrar-se de sua promessa. Quando os pastores da terra são derribados, as ovelhas não têm de dispersar-se enquanto têm o Grande Pastor ao qual podem recorrer. É melhor ser levado a Cristo por necessidade e por perda que deixar de ir a Ele completamente.

Vv. 13-21. Quando Cristo e a sua Palavra se retiram, é melhor para nós que o sigamos procurando para a nossa alma os meios da graça ao invés de qualquer vantagem mundana. A presença de Cristo e de seu Evangelho não somente tornam o deserto suportável, como até mesmo desejável. O pequeno mantimento de pão foi aumentado pelo poder criador de Cristo, até que toda a multidão se satisfez. Ao buscar o bem estar para a alma dos homens, devemos igualmente ter compaixão de seus corpos. Também nos lembremos de anelar sempre uma bênção para a nossa comida, e aprendamos a evitar todo o desperdício, porque a modéstia é a fonte apropriada da generosidade. veja-se neste milagre um emblema do Pão da Vida que desceu do céu, para sustentar nossa alma que perecia. As providências do Evangelho de Cristo parecem pequenas

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 53 e escassas para o mundo, mas satisfazem a todos os que por fé se alimentam dEle em seus corações, com ação de graças.

Vv. 22-33. Não são seguidores de Cristo os que não podem estar a sós com Deus em seus corações. Em ocasiões especiais, e quando temos os nossos corações dilatados, é bom continuar orando secretamente por um longo tempo, e derramar nossos corações diante do Senhor.

Não é coisa nova para os discípulos de Cristo deparar-se com tormentas pelo caminho do dever, mas por isso Ele se mostra com mais graça a eles e a favor deles. Ele pode tomar o caminho que lhe agrade para salvar a seu povo. Porém, até as aparências de libertação às vezes ocasionam problemas e perplexidade ao povo de Deus pelos erros que têm acerca de Cristo. Nada deveria assustar aos que têm a Cristo junto a si e que sabem que é seu, nem mesmo a própria morte.

Pedro caminhou sobre a água, não por diversão, nem por soberba, mas para ir a Jesus, e nisso foi sustentado maravilhosamente. É prometido sustento especial, que deve ser esperado; porém, somente em empreendimentos espirituais; tampouco podemos sequer ir a Jesus a menos que sejamos sustentados pelo seu poder. Cristo disse a Pedro que viesse a Ele, não só para que pudesse andar sobre as águas e assim conhecer o poder de seu Senhor, mas para que conhecesse a sua própria fraqueza. Às vezes o Senhor permite que seus servos tenham o que escolhem para humilhá-los, prová-los e mostrar a grandeza de seu poder e de sua graça.

Quando deixamos de olhar a Cristo para olhar a grandeza das dificuldades que se nos opõem, começamos a desfalecer; mas quando o invocamos, Ele estende seu braço e nos salva. Cristo é o grande Salvador; aqueles que precisam ser salvos devem ir a Ele e clamar pedindo salvação; nunca somos levados até a este ponto, até que nos encontremos afundando: o sentimento de necessidade nos leva a Ele. Ele repreendeu a Pedro. Se pudéssemos crer mais, sofreríamos menos. A debilidade da fé e o predomínio de nossas dúvidas desagradam nosso Senhor Jesus, porque não há uma boa razão para que os discípulos de

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 54 Cristo tenham dúvidas. Mesmo em um dia tempestuoso, Ele é uma ajuda muito presente para eles.

Ninguém, senão o Criador do mundo, podia multiplicar os pães; ninguém, senão o seu Governador, poderia andar sobre as águas do mar: os discípulos se renderam à evidência e confessaram a sua fé. Eles foram apropriadamente tocados e adoraram a Cristo. Aquele que vai a Deus deve crer; e o que crê em Deus, irá a Ele (Hb 11.6).

Vv. 34-36. Aonde quer que fosse, Cristo fazia o bem. Levavam a Ele todos os que se encontravam enfermos, que recorriam humildemente a Ele, implorando por sua ajuda. As experiências do próximo podem guiar-nos e estimular-nos a buscar a Cristo. Tornou perfeitamente íntegros a todos quantos tocou. os que são curados por Cristo são curados perfeitamente. Se os homens estivessem mais familiarizados com Cristo e com o estado de suas almas enfermas, se aglomerariam para receber seu poder sanador. A virtude sanadora não estava no dedo, mas na fé deles; ou melhor, estava em Cristo, em quem creram.

Mateus 15 Versículos 1-9: Jesus fala das tradições humanas; 10-20:

Advertência contra as coisas que realmente contaminam; 21-28: A cura da filha de uma mulher siro-fenícia; 29-39: Jesus cura um enfermo e alimenta milagrosamente quatro mil.

Vv. 1-9. Adicionar algo às leis de Deus, coloca a sua sabedoria em descrédito, como se Ele tivesse deixado de fora algo necessário que o homem seja capaz de suprir; de uma ou de outra maneira levam sempre os homens a desobedecerem a Deus. Quão agradecidos devemos estar pela Palavra escrita de Deus! Nunca pensemos que a religião da Bíblia pode ser melhorada por algum agregado humano, seja em doutrina ou prática. Nosso bendito Senhor falou de suas tradições como inventos próprios deles, e destacou um exemplo onde isto era muito claro: as transgressões do quinto mandamento. Quando lhes era pedida ajuda para as necessidades de um pai, ou uma mãe, eles alegavam que já haviam

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 55 dedicado ao templo tudo aquilo de que podiam dispor, e mesmo sem separarem-se deles; portanto, os seus pais não deveriam esperar nada deles. Isto era anular a efetividade de um mandamento de Deus. A atitude comum dos hipócritas leva à adição de um pequeno parêntesis: "Em vão me adoram". Estas práticas não agradarão a Deus, e também não lhes serão de nenhum proveito; eles confiam na vaidade, e a vaidade será a sua recompensa.

Vv. 10-20. Cristo mostra que a contaminação que deviam temer não era a que entrava pela boca como alimento, mas a que saia de suas bocas, que demonstrava a maldade de seus corações. Nada permanecerá na alma, além da graça regeneradora do Espírito Santo, e nada deve ser admitido na Igreja além daquilo que é do alto. Portanto, não devemos nos perturbar por qualquer pessoa que venha a se ofender pela afirmação clara e oportuna da verdade.

Os discípulos pedem que se lhes ensine melhor sobre este assunto. onde uma cabeça fraca duvida de uma palavra de Cristo, o coração reto e a mente disposta buscam instrução.

O coração é perverso (Jer. 17.9) porque não há pecado por palavra ou por obras que não esteja primeiro no coração. Todos saem do interior do homem, e são fruto da maldade que há no coração e que ali opera. Quando Cristo ensina, mostra aos homens o engano e a maldade de seus corações; Ele os ensina a humilharem-se e a procurarem ser purificados de seus pecados e de sua imundícia no manancial aberto.

Vv. 21-28. Os mais remotos e escuros rincões do país recebem as influências de Cristo; depois, os confins da terra verão a sua salvação.

A angústia e o transtorno de sua família levou uma mulher a Cristo; ainda que seja a necessidade que nos leve a Cristo, jamais seremos desprezados por Ele. Ela não limitou Cristo a nenhum caso particular de misericórdia, mas misericórdia foi o que ela pediu. Ela não alegou que tivesse méritos, mas apresentou-se como dependente da misericórdia dEle. O dever dos pais é orar por seus filhos, e serem fervorosos ao orar por eles, especialmente por suas almas.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 56 Tens um filho ou uma filha dolorosamente afligida por um demônio

do orgulho, um demônio imundo, um demônio da maldade, e que está cativo por sua vontade? Este caso é mais deplorável do que o da possessão corporal, e deveis levá-los a Cristo por fé e oração, pois somente Ele é capaz de libertá-los.

Muitos métodos da providência de Cristo, especialmente de sua graça para tratar com seu povo, que são obscuros e confusos, podem ser explicados por este relato. Ele nos ensina que pode haver amor no coração de Cristo, mesmo que o seu rosto tenha um aspecto franzido e expressão severa, e nos anima a confiar nEle, ainda que pareça pronto para matar-nos. Aqueles a quem Cristo planeja honrar mais, são humilhados para que sintam a sua própria indignidade. Um coração orgulhoso, sem saber o que é humilhação, não suportaria isto. A humilhação o converteu em um argumento para validar sua petição. o estado desta mulher é um emblema do estado do pecador, profundamente consciente da miséria de sua alma. o mínimo de Cristo é precioso para um crente, até mesmo as migalhas do Pão da Vida. De todas as graças, a fé é aquela que mais honra a Cristo; portanto, de todas as graças, Cristo honra mais a fé. Ele curou a filha da mulher cananéia. Ele falou e foi feito. Através deste relato, os que buscam ajuda do Senhor e não recebem a resposta da graça, devem aprender a converter até mesmo a sua indignidade e desalento em rogos de misericórdia.

Vv. 29-39. Qualquer que seja nosso caso, a única maneira de encontrar bem estar e alívio é deixá-lo aos pés de Cristo, submetê-lo a Ele e referi-lo à sua disposição. Os que querem obter de Cristo a saúde espiritual, devem ser governados de uma maneira que agrade a Ele.

Veja o trabalho que o pecado tem feito: a quanta variedade de enfermidades estão submetidos os corpos humanos. Aqui havia tantas enfermidades que a fantasia não podia sequer supor qual era a sua causa, nem qual o estado de seu coração; contudo, estavam sujeitas às ordens de Cristo. As curas espirituais que Cristo opera são maravilhosas. Devemos

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 57 nos maravilhar quando Ele faz com que as almas cegas vejam pela fé, o mudo fale pelas orações, o coxo e o manco andem em santa obediência.

Seu poder também foi mostrado à multidão através da abundante provisão que fez para eles: a maneira é muito semelhante à anterior. Todos comeram e ficaram satisfeitos. Cristo satisfaz aqueles a quem alimenta. Com Cristo há pão suficiente para saciar a fome, e ainda para guardar para depois; provisões de graça superiores àquelas que são buscadas, e para aqueles que buscam mais. Cristo despediu ao povo. Ainda que Ele tenha alimentado a multidão por duas vezes, não devem esperar milagres para encontrar o seu pão diário. voltem às suas casas, às suas ocupações e suas mesas. Senhor, aumente a nossa fé, e perdoe a nossa incredulidade, ensinando-nos a viver da sua plenitude e abundância, em todas as coisas que pertencem a esta vida e à vindoura.

Mateus 16 Versículos 1-4: Os fariseus e os saduceus pedem um sinal; 5-12:

Jesus adverte contra a doutrina dos fariseus; 13-20: O testemunho de Pedro de que Jesus era o Cristo; 21-23: Cristo prediz seus sofrimentos e repreende a Pedro; 24-28: A necessidade de negar-se a si mesmo.

Vv. 1-4. Os fariseus e os saduceus se opunham uns aos outros em princípios e condutas, mas se uniram contra Cristo. Eles desejavam um sinal de sua própria escolha: desprezavam os sinais que aliviavam a necessidade dos enfermos e angustiados, e pediram outra coisa que gratificasse a curiosidade do orgulhoso. Uma grande hipocrisia é buscar sinais de nossa própria invenção, quando ignoramos os sinas ordenados por Deus.

Vv. 5-12. Cristo fala de coisas espirituais através de uma analogia, e os discípulos entendem mal, como de coisas carnais. Desagradou a Cristo eles pensarem que Ele se preocupava tanto com o pão quanto eles; que estivessem tão pouco familiarizados com sua maneira de pregar. Então eles entenderam o que Jesus queria dizer. Cristo ensina ao

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 58 coração, através do Espírito de sabedoria, abrindo o entendimento ao Espírito de revelação na Palavra.

Vv. 13-20. Pedro falou por si mesmo e por seus irmãos, que estavam seguros de que nosso Senhor era o Messias prometido, o Filho do Deus vivo. Isto mostra que criam que Cristo era mais do que um simples homem. Nosso Senhor afirma que Pedro era bem aventurado, porque os ensinos de Deus faziam-no diferente de seus compatriotas incrédulos.

Cristo acrescenta que Pedro o chama, fazendo alusão à sua estabilidade ou firmeza para professar a verdade. A palavra "rocha", aqui traduzida, não é a mesma palavra "Pedro", mas uma de significado similar. Nada pode ser mais errôneo que supor que Cristo quis dizer que a pessoa de Pedro era a rocha. Sem dúvida o próprio Cristo é a Rocha, o fundamento comprovado da Igreja; e ai daquele que tente colocar outro! A confissão de Pedro é esta Rocha enquanto doutrina. Se Jesus não fosse o Cristo, aqueles que Ele possui não seriam da Igreja, mas enganadores e enganados. Nosso Senhor declara, em seguida, a autoridade com que Pedro seria investido. Ele falou em nome de seus irmãos, e isto relacionava-os a Cristo. Eles não tinham o conhecimento exato do caráter dos homens, e estavam propensos a erros e pecados em sua conduta; porém foram guardados livres de errar ao estabelecer o caminho da aceitação e da salvação, a regra da obediência, o caráter e a experiência do crente, e a condenação final dos incrédulos e hipócritas.

Em tais matérias sua decisão era reta e confirmada no céu. Mas todas as pretensões de qualquer homem de desatar ou atar os pecados, são blasfemas e absurdas. Ninguém pode perdoar pecados, senão Deus. E este atar e desatar, na linguagem comum que os judeus usavam na época, significava proibir e permitir, ou ensinar o que era legal ou ilegal.

Vv. 21-23. Cristo revela paulatinamente o seu pensamento ao seu povo. Desde essa época, quando os apóstolos fizeram a confissão completa de que Cristo era o Filho de Deus, Ele começou a falar-lhes de seus sofrimentos. Disse isto para corrigir os erros de seus discípulos

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 59 sobre a pompa e o poder exteriores de seu reino. Aqueles que seguem a Cristo não devem esperar coisas grandes nem elevadas neste mundo, acima de sua capacidade pessoal. Pedro queria que Cristo aborrecesse o sofrimento tanto quanto ele, mas nos equivocaremos se medirmos o amor e a paciência de Cristo pelos nossos. Não lemos nada que algum de seus discípulos tenha dito ou feito em algum momento, que desse a entender que Cristo tivesse se ressentido tanto quanto ao ouvir isto. Qualquer pessoa que nos tire daquilo que é bom, e nos impeça de fazer muito por Deus, fala a linguagem de Satanás. o que parece ser tentação a pecar deve ser resistido com horror, e não ser considerado. Aqueles que renunciam o sofrer por Cristo, têm mais prazer nas coisas do homem do que nas coisas de Deus.

Vv. 24-28. Um verdadeiro discípulo de Cristo é aquele que o segue no dever, e o seguirá à glória. É aquele que anda no mesmo caminho que Cristo andou, que é guiado por seu Espírito e segue os seus passos aonde quer que for.

"Negue-se a si mesmo". Se, negar-se a si mesmo é uma lição dura, não é mais do que aprendeu e praticou nosso Mestre para nos redimir e nos ensinar. "Tome sua cruz". Aqui deve-se entender a cruz como todo problema que nos sobrevenha. Temos a tendência de pensar que podemos levar melhor a cruz alheia do que a nossa própria, mas é melhor fazer o que nos está designado, e devemos fazer o melhor nisto. Não devemos, por nossa precipitação e atitudes néscias, trazer cruzes sobre a nossa vida, mas tomá-las quando aparecerem em nosso caminho. Se um homem tem o nome e o crédito de um discípulo, siga a Cristo na obra e no dever de discípulo.

Se todas as coisas do mundo nada valem quando comparadas com a vida do corpo, que forte é o mesmo argumento acerca da alma e seu estado de felicidade ou miséria eterna! Milhares perdem suas almas pela mais frívola ganância ou pela mais indigna indulgência, ou ainda pela preguiça ou negligência. Qualquer que seja o motivo pelo qual os homens deixem a Cristo, esse será o preço com que Satanás terá

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 60 comprado as suas almas. Mas uma alma é mais valiosa do que o mundo inteiro. Este é o juízo de Cristo quanto a este assunto: conhecia o preço das almas, porque as resgatou; também não teria sub-valorizado o mundo, porque foi Ele quem o criou. o transgressor moribundo não pode comprar uma hora de alívio, para buscar misericórdia para a sua alma que perece. Então, aprendamos a valorizar nossa alma, e a Cristo como o único Salvador dela.

Mateus 17 Versículos 1-13: A transfiguração de Cristo; 14-21: Jesus expulsa

um espírito surdo e mudo; 22, 23: Novamente prediz os seus sofrimentos; 24-27: Cristo realiza um milagre para pagar o tributo.

Vv. 1-13. Aqui os discípulos viram algo da glória de Cristo, como do Unigênito do Pai. Tinha o propósito de sustentar a fé deles, para quando tivessem que presenciar a sua crucificação; lhes daria uma idéia da glória preparada para eles, quando fossem transformados por seu poder e feitos semelhantes a Ele.

Os apóstolos ficaram maravilhados pela visão gloriosa. Pedro pensou que era mais desejável continuar ali, e não voltar a descer para encontrar-se com os sofrimentos, dos quais tinha tão pouca disposição para ouvir. Nisto não sabia o que dizia. Nos equivocaremos se esperarmos um céu aqui na terra. Sejam quais forem os tabernáculos que nos proponhamos a fazer para nós mesmos neste mundo, sempre devemos nos lembrar de pedir permissão a Cristo. Ainda não fora oferecido o sacrifício, sem o qual as almas dos homens pecadores não podem ser salvas; havia serviços importantes que Pedro e seus irmãos deveriam cumprir.

Enquanto Pedro falava, uma nuvem brilhante os cobriu, como sinal da presença e glória divinas. Desde que o homem pecou, e ouviu a voz de Deus no jardim, as aparições não habituais de Deus têm sido terríveis para o homem. Caíram prostrados em terra, até que Jesus lhes deu ânimo; quando olharam ao redor, viram somente o seu Senhor, como o

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 61 viam constantemente. Devemos passar por diversas experiências em nosso caminho para a glória. E quando regressamos ao mundo depois de participar de um meio de graça, devemos ter o cuidado de levar Cristo conosco, e que o nosso consolo seja Ele estar conosco.

Vv. 14-21. O caso dos filhos aflitos deve ser apresentado a Deus com orações fervorosas e fiéis. Cristo curou o menino. Ainda que o povo fosse perverso e Cristo provocado, mesmo assim atendeu o menino. Quando falham todas ajudas e socorros, somos bem-vindos a Cristo, podemos confiar nEle, em seu poder e bondade. vejamos aqui um sinal do esforço de Cristo como nosso Redentor. Os pais têm o alento, para que levem seus filhos a Cristo, cujas almas estão debaixo do poder de Satanás; Ele é capaz de curá-los e está totalmente disposto, como Todo-Poderoso que é. Não só levá-los a Cristo através da oração, mas levá-los à Palavra de Cristo; aos meios pelos quais as fortalezas de Satanás na alma são derrubadas.

Bom é que não confiemos em nós mesmos nem em nossa força, mas é desagradável para Cristo quando não confiamos em qualquer poder derivado dEle, ou outorgado por Ele. Também havia algo na enfermidade que dificultava a cura. o poder extraordinário de Satanás não deve desalentar a nossa fé, e sim nos estimular a um maior fervor ao orarmos a Deus, para que a nossa fé seja aumentada! Nos maravilhamos ao ver que Satanás tinha a possessão corporal deste jovem dede criança, quando ele tem a possessão espiritual de todo filho de Adão desde que este caiu!

Vv. 22,23. Cristo sabia de todas as coisas que lhe aconteceriam; mesmo assim, empreendeu a obra de nossa redenção, o que demonstra fortemente o seu amor. Que humilhação exterior e glória divina foi a vida do Redentor! Toda a sua humilhação terminou em sua exaltação. Aprendamos a suportar a Cruz, a desprezar as riquezas e as honras mundanas, e a estarmos contentes com a sua vontade.

Vv. 24-27. Pedro estava certo de que seu Mestre estava pronto para fazer o que era justo. Cristo falou primeiro de dar-lhe provas de que não

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 62 se podia esconder dEle nenhum pensamento. Não renunciemos nosso dever por medo de ofender, mas às vezes temos de negarmo-nos a nós mesmos, em nossos interesses mundanos, para não ofender outros.

Contudo o dinheiro estava no peixe; o único que sabe todas as coisas era quem poderia sabê-lo, e si o poder onipotente poderia levar este peixe ao anzol de Pedro.

O poder e a pobreza de Cristo devem ser mencionados juntamente. Se somos chamados pela providência divina a sermos pobres, como nosso Senhor, confiemos em seu poder, e o nosso Deus satisfará todas as nossas necessidades, conforme as suas riquezas em glória por Cristo Jesus. No caminho da obediência, ao longo do caminho, a nossa vocação habitual poderá nos ajudar, assim como ajudou a Pedro. Se uma emergência repentina se apresentar, que não estejamos preparados para enfrentar, não recorramos ao próximo sem antes buscarmos a Cristo.

Mateus 18 Versículos 1-6: A importância da humildade; 7-14: Advertência

contra as ofensas; 15-20: A remoção das ofensas; 21-35: A conduta para com os irmãos – A parábola do servo sem misericórdia.

Vv. 1-6. Cristo falou muitas palavras sobre os seus sofrimentos, e somente uma sobre a sua glória; todavia, os discípulos se firmaram nesta e esqueceram-se das outras. Muitos dos que gostam de ouvir falar de privilégios e glória estão dispostos a desviar-se dos pensamentos acerca de trabalhos e problemas. Nosso Senhor colocou diante deles uma criancinha, assegurando-lhes solenemente que não poderiam entrar em seu reino se não fossem convertidos e se tornassem como os pequeninos.

Quando as crianças são muito pequenas, não desejam autoridade, nem consideram as distinções exteriores, estão livres de maldade, são aprendizes e estão dispostas a confiar em seus pais. É verdade que assim que começam a mostrar outras disposições e chega a juventude, lhes são ensinadas outras idéias, mas são as características da infância que as convertem em exemplos adequados de mente humilde e de cristãos

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 63 verdadeiros. Certamente necessitamos ser renovados sempre no espírito de nossa mente, para que cheguemos a ser simples e humildes como os pequeninos, e dispostos a sermos o menor de todos. Estudemos diariamente este tema e examinemos o nosso espírito.

Vv. 7-14. Considerando a astúcia e a maldade de Satanás, e a fraqueza e depravação dos corações dos homens, não é possível que haja algo além de ofensas. Deus as permite para fins sábios e santos, para que sejam dados a conhecer os que são sinceros e os que não o são. Tendo-nos dito anteriormente que haveriam sedutores, tentadores, perseguidores e maus exemplos, permaneçamos em guarda. Apartemo-nos tão breve quanto possamos daquilo que pode nos levar ao pecado. Evitemos dar ocasião ao pecado.

Se vivermos segundo a carne, morreremos. Se através do Espírito mortificamos as obras da carne, viveremos. Cristo veio ao mundo para salvar almas e tratará severamente aos que atrapalham o progresso de outros que estão voltando o seu rosto ao céu! E algum de nós recusará atender aqueles que o Filho de Deus veio buscar e salvar? Um pai cuida de todos os seus filhos, mas é particularmente terno com os pequenos.

Vv. 15-20. Se alguém faz algum mal a um cristão confesso, este não deve queixar-se aos demais, como costumam fazer, mas ir de maneira privada a quem lhe ofendeu, tratar o assunto com amabilidade e repreender sua conduta. Isto terá no cristão verdadeiro, de modo geral, o efeito desejado e as partes se reconciliarão. Os princípios destas regras podem ser praticados em todas as partes e em todas as circunstâncias, mesmo sendo demasiadamente renegados por todos. Quão poucos são os que provam os métodos que Cristo ordenou expressamente a todos os seus discípulos.

Em todos os nossos procedimentos, devemos buscar a direção orando; nunca devemos apreciar de modo indigno as promessas de Deus. Em qualquer tempo ou lugar que nos encontremos no nome de Cristo, devemos considerar que Ele está presente em nosso meio.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 64 Vv. 21-35. Ainda que vivamos totalmente pela misericórdia e

perdão, somos demorados para perdoar as ofensas de nossos irmãos. Esta parábola anuncia quanta provocação Deus vê em sua família na terra, e quão indóceis somos nós, os seus servos.

Há três pontos a destacar nesta parábola: 1. A maravilhosa clemência do Senhor. A dívida do pecado é tão

grande que não somos capazes de pagá-la. observe aqui o que todo pecado merece; este é o pagamento do pecado: ser vendido como escravo. Muitos que estão fortemente convictos de seus pecados agem de forma néscia, quando fantasiam poder dar satisfação a Deus pelo mal que têm feito.

2. A severidade irracional do servo para com o seu conservo, apesar da clemência de seu Senhor para com ele. Não se trata de que ignoremos que não devamos fazer o mal ao nosso próximo, já que isto também é pecado diante de Deus, mas que não devemos aumentar o mal que nosso próximo nos faz, nem pensar em vingança. Que nossas queixas, tanto da maldade de alguém mau, quanto das aflições daquele que é afligido, sejam levadas diante de Deus e deixadas com Ele.

3. O Senhor reprovou a crueldade de seu servo. A magnitude do pecado acrescenta as riquezas da misericórdia que perdoa, e o sentido consolador da misericórdia que perdoa, faz muito para dispor nossos corações a perdoar nossos irmãos. Não devemos supor que Deus perdoa aos homens, mas posteriormente reconhece suas culpas para condená-los. A última parte desta parábola mostra as conclusões falsas a que muitos chegam quanto ao assunto do perdão dos seus pecados, mesmo que a sua conduta posterior demonstre que nunca entraram no espírito do Evangelho, nem demonstraram com a sua vivência a graça que santifica.

Não perdoamos corretamente a nosso irmão ofensor se não o perdoarmos de todo coração. Porém, isto não basta. Devemos buscar o bem estar até mesmo daqueles que nos ofendem. Com quanta justiça serão condenados os que, mesmo levando o nome de cristãos, persistem em tratar a seus irmãos sem misericórdia! o pecador humilhado confia

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 65 somente na misericórdia abundante e gratuita através do resgate da morte de Cristo. Busquemos mais e mais a graça de Deus que renova, para que nos ensine a perdoar ao próximo, assim como esperamos o perdão dEle.

Mateus 19 Versículos 1, 2: Jesus entra na Judéia; 3-12: A pergunta dos

fariseus sobre o divórcio; 13-15: Os pequenos levados a Jesus; 16-22: A pergunta do jovem rico; 23-30: A recompensa dos seguidores de Cristo.

Vv. 1,2. Grandes multidões seguiam a Cristo. Quando Cristo parte, o melhor que temos a fazer é segui-lo. Em todas as partes sempre o encontravam totalmente capaz e disposto a ajudar, como havia sido na Galiléia; aonde quer que saía o Sol da Justiça, era com saúde em suas asas.

Vv. 3-12. Os fariseus desejavam surpreender Jesus em algo que pudesse representar uma ofensa à lei de Moisés. os casos matrimoniais eram numerosos e, às vezes paradoxos; isto era assim não pela lei de Deus, mas pelas injúrias e necessidades dos homens, e pelo fato de as pessoas freqüentemente resolverem o que querem fazer antes de pedir conselho. Jesus replicou perguntando se não haviam lido o relato da criação, e o primeiro exemplo de matrimônio; deste modo, advertiu que todo desvio nisto era mal.

A melhor condição para nós, que devemos escolher e manter em forma coerente o que é melhor para nossas almas, é a que tenda a preparar-nos e preservar-nos melhor para o reino do céu.

Quando realmente se abraça o Evangelho, ele nos torna bons pais e amigos fiéis dos homens; nos ensina a levar a carga e a suportar as enfermidades daqueles com quem estamos relacionados, a considerar a paz e a felicidade deles mais do que as nossas próprias. É normal para os ímpios serem refreados por Íeis, para que não destruam a paz da sociedade. Aprendamos que o matrimônio deve ser assumido com grande seriedade e com fervorosas orações.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 66 Vv. 13-15. É bom quando buscamos a Cristo sem perda de tempo, e

levamos nossos filhos a Ele. os pequenos devem ser levados a Cristo porque necessitam e podem receber bênçãos dEle, e por serem beneficiados por sua intercessão. Devemos pedir bênçãos para eles: só Cristo pode abençoar. É bom sabermos que Cristo tem mais amor e ternura em si mesmo, do que o melhor de seus discípulos poderia ter. Aprendamos com Ele a não lançar fora nenhuma alma disposta e bem intencionada em sua busca por Cristo, mesmo àquelas que são mais fracas. Aqueles que se entregam a Cristo, como parte de sua compra, não serão lançados fora de maneira nenhuma. Portanto, Ele não se agrada dos que proíbem ou deixam de fora aqueles que Ele tem recebido. Todos os cristãos devem levar seus filhos ao Salvador para que os abençoe com bênçãos espirituais.

Vv. 16-22. Cristo sabia que a cobiça era o pecado que mais facilmente incomodava a este jovem; mesmo que ele tivesse obtido honestamente o que possuía, não podia, contudo, separar-se de suas riquezas com alegria, e assim demonstrava sua falta de sinceridade. As promessas de Cristo facilitam os seus preceitos e fazem com que o seu jugo seja leve e muito consolador; esta promessa foi tanto um juízo sobre a fé do jovem, quanto o preceito o foi de sua caridade e desprezo do mundo. Nos é requerido que sigamos a Cristo, atendendo devidamente as suas ordenanças, seguindo estritamente o seu padrão e submetendo-nos alegremente às suas disposições; e isto por amor a Ele e por depender dEle. Vender tudo e dar aos pobres não servirá se não seguirmos a Cristo.

O Evangelho é o único remédio para os pecadores perdidos. Muitos dos que se abstêm de vícios grosseiros são os que não atendem a sua obrigação pára com Deus. Milhares de casos de desobediência de pensamento, palavra e obra são registradas contra eles no livro de Deus. Assim, pois, são muitos os que abandonam a Cristo por amar a este mundo presente: eles se sentem convictos e desejosos, mas se afastam

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 67 tristes, talvez até mesmo tremendo. Convém provarmo-nos nestes assuntos porque o Senhor nos julgará.

Vv. 23-30. Ainda que Cristo tenha falado com tanta veemência, nem todos aqueles que têm riquezas confiam em suas Palavras. Quão poucos dentre os pobres não se sentem tentados a invejar! Porém, o favor do homem neste assunto, é como se esforçassem-se para edificar um muro alto, para trancarem-se a si mesmos e a seus filhos longe do céu. Deve ser satisfatório para aqueles que estão em uma condição baixa, não estarem expostos à tentação de uma situação próspera e elevada, acima de sua capacidade. Se estes vivem com mais dificuldades do que os ricos neste mundo, partirão com maior facilidade a um mundo melhor, e não terão razão para se queixarem. As palavras de Cristo mostram que é muito difícil um rico ser um bom cristão e ser salvo. o caminho para o céu é apertado para todos, e a porta que para ali conduz é estreita, particularmente para as pessoas ricas. Esperam-se mais deveres deles do que dos demais, e os pecados os importunam com mais facilidade. É difícil não ser fascinado por um mundo sorridente. As pessoas ricas têm acima dos demais, uma grande conta a pagar por suas oportunidades. É absolutamente impossível que um homem que põe seu coração em suas riquezas chegue ao céu.

Cristo usou uma expressão que denota uma dificuldade absolutamente insuperável pelo poder do homem. Nada menos que a toda poderosa graça de Deus fará com que um rico supere esta dificuldade. Então, quem poderá ser salvo? Se as riquezas atrapalham aos ricos, não se encontram o orgulho e as concupiscências pecaminosas nos que não são ricos e são tão perigosas para eles? "Quem poderá, pois, salvar-se"? Essa foi a pergunta dos discípulos. Ninguém, por nenhum poder criado. O princípio, a profissão e o aperfeiçoamento da obra da salvação depende inteiramente da onipotência de Deus, para quem todas as coisas são possíveis. Não quer dizer que as pessoas ricas serão salvas em sua condição mundana, mas que serão salvas de sua condição mundana. Pedro disse: "Eis que nós deixamos tudo"! Ah! Não eram

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 68 senão todos pobres, possuindo somente uns poucos botes e redes? Porém, observe como Pedro fala, como se tivessem sido uma grande coisa! Somos demasiadamente propensos a dar o máximo valor a nossos serviços e sofrimentos, nossas perdas e gastos por Cristo. Contudo, Cristo não os reprova pelo pouco que haviam deixado; pois era tudo o que possuíam, e era para eles tão precioso como se fosse mais. Cristo teve na mais alta consideração que eles tenham deixado tudo para segui-lo; aceita segundo o que tenha o homem.

A promessa de nosso Senhor para os apóstolos é que quando o Filho do Homem se assentar em seu trono de glória, fará novas todas as coisas, e eles se assentarão com Ele, em juízo contra os que serão julgados conforme a sua doutrina. Isto estabelece a honra, a dignidade, e a autoridade do ofício e ministério deles. Nosso Senhor acrescenta que qualquer que deixe casas, ou posses, ou confortos por amor a Ele e ao Evangelho, será recompensado ao final.

Que Deus nos dê fé para que a nossa esperança descanse nesta sua promessa; então estaremos dispostos para todo serviço ou sacrifício.

Nosso Salvador, no último versículo, elimina o erro de alguns. A herança celestial não é dada como a terrena, mas conforme a bondade de Deus. Não confiemos em aparências promissoras, nem na profissão exterior. outros podem chegar a ser eminentes em fé e santidade, até onde o saibamos.

Mateus 20 Versículos 1-16. A parábola dos trabalhadores da vinha; 17-19:

Jesus volta a anunciar seus sofrimentos; 20-28: A ambição de Tiago e João; 29-34: Jesus cura dois cegos perto de Jericó.

Vv. 1-16. O objetivo direto desta parábola parece demonstrar que ainda que os judeus tenham sido chamados primeiro para a vinha, a longo prazo, o Evangelho será pregado aos gentios, que devem ser recebidos com os privilégios e vantagens em igualdade com os judeus. A parábola também pode ser aplicada de forma mais geral e mostra, que:

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 69 1. Deus não é devedor para com nenhum homem. 2. Muitos que começam no final, e prometem pouco na religião, às

vezes, pela bênção de Deus chegam a muito conhecimento, graça e utilidade.

3. A recompensa será dada aos santos, mas não conforme o tempo de sua conversão. Descreve o estado da Igreja visível e explica a declaração de que há últimos que serão os primeiros, e há primeiros que serão os últimos em suas diversas referências.

Enquanto não somos contratados para o serviço do Senhor, estamos todo o dia ociosos: um estado pecaminoso, ainda que para Satanás seja um estado de escravidão, pode chamar-se estado de ociosidade. o mercado de trabalho é o mundo e dele fomos chamados para o Evangelho. Saia deste mercado de trabalho. o trabalho para Deus não admite bagatelas. o homem pode ir ocioso para o inferno, mas quem vai para o céu deve ser diligente.

O dinheiro (centavo) romano equivale a sete centavos, meio pêni do dinheiro inglês, e isto pagava então o suficiente para o sustento diário. Isto não prova que nossa obediência a Deus seja de obras ou de dívidas; quando temos feito tudo, somos servos inúteis; significa que há uma recompensa posta diante de nós, mas que ninguém por esta suposição postergue o arrependimento até a sua velhice. Alguns foram enviados à vinha na hora undécima, mas ninguém os havia contratado antes. os gentios entraram na hora undécima; o Evangelho não havia sido pregado antes a eles. Aqueles que têm recebido a oferta do Evangelho na hora sexta, e a têm rejeitado, não terão que dizer como estes na hora undécima: Ninguém nos contratou.

Portanto, não para desanimar a ninguém, mas para despertar a todos, é necessário que saibamos que agora é a hora e o tempo aceitável.

As riquezas da graça divina são objetadas com voz alta pelos fariseus orgulhosos e pelos cristãos nominais. Existe em nós uma grande inclinação a pensar que temos demasiadamente pouco, e os demais muito dos sinais do favor de Deus; que fazemos muito e os demais pouco na

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 70 obra de Deus. Porém, se Deus dá graça aos outros, é bondade para eles, e não injustiça para nós. As criaturas mundanas e carnais não estão de acordo com Deus quanto à sua riqueza neste mundo, e optam por sua porção nesta vida. os crentes obedientes estão de acordo com Deus quanto às suas riquezas no outro mundo, e devem recordar que concordaram com isto. Não concordaste tu em tomar o céu como tua porção, como o teu tudo, e buscas a tua felicidade na criatura? Deus não castigará mais do que o merecido, e premia cada serviço feito por Ele e para Ele; portanto, não faz mal a ninguém ao mostrar graça extraordinária a outros.

Observe aqui a natureza da inveja. É uma avareza descontente por causa do bem dos demais, e que deseja o seu mal. É um pecado que não dá prazer, proveito nem honra. Deixemos de lado toda a reclamação orgulhosa e procuremos a salvação como dádiva gratuita. Não invejemos nem murmuremos; regozijemo-nos e louvemos a Deus por sua misericórdia para com os demais e para conosco.

Vv. 17-19. Cristo é aqui mais detalhista do que anteriormente, ao predizer os seus sofrimentos. Aqui, como antes, acrescenta a menção de sua ressurreição e glória, à de sua morte e sofrimentos, para dar ânimo aos seus discípulos e consolá-los. A maneira de ver a nosso Redentor uma vez crucificado e agora glorificado com fé, é boa para humilhar a disposição orgulhosa que se justifica a si mesma. Quando consideramos a necessidade da humilhação e sofrimentos do Filho de Deus, para a salvação dos pecadores que perecem, certamente devemos nos dar conta da liberalidade e das riquezas da graça divina em nossa salvação.

Vv. 20-28. Os filhos de Zebedeu usaram mal o que Cristo disse para consolar seus discípulos. Alguns não podem ter consolo; eles o transformam para um mau propósito. O orgulho é o pecado que mais facilmente nos acusa; é uma ambição pecaminosa de superar aos demais em pompa e grandeza. Para abater a vaidade e ambição de seu pedido, Cristo os guia a pensar em seus sofrimentos. O cálice que deve ser bebido é amargo; cálice de tremor, mas não o cálice do ímpio. Não é

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 71 senão um cálice, talvez seco e amargo; porém rapidamente se esvazia; é um cálice na mão do Pai (Jo 18.11). O batismo é uma ordenança pela qual somos unidos ao Senhor em pacto e comunhão; e assim é o sofrimento por Cristo (Ez 20.37; Is 48.10). O batismo é um sinal exterior e visível de uma graça espiritual interior; assim é o padecimento por Cristo, que a nós é concedido (Fp 1.29). Mas não sabiam o que era o cálice de Cristo, nem o que era o seu batismo.

Comumente, os mais confiados são os que estão menos familiarizados com a cruz. Nada causa maior mal entre os irmãos do que o desejo de grandeza. Nunca encontramos os discípulos de Cristo disputando, sem que algo sobre isto se ache no fundo da questão. o homem que com mais diligência trabalha e com mais paciência sofre, buscando fazer o bem a seus irmãos e estimulando a salvação das almas, mais evoca a Cristo, e receberá mais honra dEle por toda a eternidade. Nosso Senhor fala de sua morte nos termos aplicados aos sacrifícios de antigamente. É um sacrifício pelos pecados dos homens, e é aquele sacrifício verdadeiro e essencial, que os da Lei representavam de modo frágil e imperfeito. Era um resgate de muitos, suficiente para todos, operando sobre muitos; e se é a favor de muitos, então a pobre alma temerosa pode dizer: Por que não por mim?

Vv. 29-34. Bom é que os submetidos à mesma prova ou enfermidade do corpo ou da mente, se unam para orar a Deus por alívio, para que possam estimular-se e exortar-se uns aos outros. Há suficiente misericórdia em Cristo para todos aqueles que a pedem. Eles oravam com fervor. Clamavam como homens apressados. os desejos frios mendigam negações. Foram humildes ao orar, colocando-se à mercê da misericórdia do mediador e referindo-se alegremente a ela. Mostram fé ao orar pelo título que deram a Cristo. Foi seguramente através do Espírito Santo que chamaram a Jesus de Senhor. Perseveraram em oração. Quando iam em busca da misericórdia, não havia tempo para a timidez ou para o vacilar; clamavam com fervor.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 72 Cristo os animou. Nos sensibilizamos rapidamente perante as

necessidades e as cargas do corpo, e podemos nos relacionar com elas com prontidão. Quão bom seria se nos queixássemos com tanto sentimento de nossas doenças espirituais, especialmente de nossa cegueira espiritual! Muitos estão espiritualmente cegos, mas dizem que vêem. Cristo curou a estes cegos, e quando receberam a vista seguiram-no. Ninguém segue cegamente a Cristo. Primeiramente, por graça Ele abre os olhos dos homens, e assim atrai até Ele seus corações. Estes milagres são a nossa chamada a Jesus; podemos ouvi-lo e fazer nossa oração diária para crescer na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Mateus 21 Versículos 1-11: Cristo entra em Jerusalém; 12-17: Cristo lança

para fora do templo aqueles que o profanavam; 18-22: A maldição da figueira estéril; 23-27: O sermão de Jesus no templo; 28-32: A parábola dos dois filhos; 33-46. A parábola do pai de família.

Vv. 1-11. Esta vinda de Cristo foi descrita pelo profeta Zacarias (Zc 9.9). Quando Cristo aparecesse em sua glória, seria em mansidão, não em majestade, mas em misericórdia para realizar a obra da salvação. Como a mansidão e a pobreza externa foram plenamente vistas no Rei de Sião, e marcaram a sua entrada triunfal em Jerusalém, quão equivocadas estavam a cobiça, a ambição e a soberba da vida dos cidadãos de Sião.

Eles lhe trouxeram um jumento, mas Jesus não o usou sem o consentimento de seu dono. os acessórios utilizados como sela foram os que estavam à mão. Não devemos pensar que as roupas que vestimos são tão caras, a ponto de não podermos abandoná-las pelo serviço de Cristo. os sumos sacerdotes e anciãos uniram-se posteriormente à multidão que o maltratou na cruz; mas nenhum deles se uniu à multidão que lhe rendeu honras. os que tomam a Cristo como seu Rei devem colocar aos seus pés tudo o que possuem. Hosana significa "Salva agora, te rogamos"! Bendito o que vem em nome do Senhor! Mas de tão pouco

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 73 valor é o aplauso do povo! A multidão instável se une ao clamor do dia, seja hosana ou, crucifica-o! Às vezes, as multidões parecem aprovar o Evangelho, mas poucos chegam a ser discípulos coerentes.

Quando Jesus ia entrar em Jerusalém, toda a cidade se comoveu; provavelmente aqueles que esperavam o Consolo de Israel foram comovidos pelo gozo; aqueles que faziam parte do grupo dos fariseus foram movidos pela inveja. Assim também as motivações da mente dos homens são variadas quanto à proximidade do reino de Cristo.

Vv. 12-17. Cristo encontrou parte do átrio do templo convertido em mercado de gado e de coisas usadas nos sacrifícios, e parcialmente ocupado por cambistas. Nosso Senhor os lançou fora daquele lugar, como havia feito ao iniciar seu ministério (Jo 2.13-17). Suas obras testificavam dEle mais que os "Hosanas", e as curas que realizou no templo foram cumprimento da promessa, de que a glória da última casa seria maior que a glória da primeira. Se Cristo viesse agora à muitas partes da sua igreja visível, quantos males secretos descobriria e limparia! Quantas coisas que são praticadas diariamente sob o manto da religião. Ele não demonstraria que são mais adequadas para um covil de ladrões do que para uma casa de oração!

Vv. 18-22. A maldição da figueira estéril, representa o estado dos hipócritas em geral, e assim nos ensina que Cristo busca o poder da religião naqueles que a professam, e o sabor dela naqueles que dizem possuí-la. Suas expectativas sobre os professos que florescem costumam frustrar-se; Ele vem a muitos buscando frutos, porém, só encontra folhas. Uma profissão falsa de fé freqüentemente murcha neste mundo, e este é o efeito da maldição dada por Cristo. A figueira que não possuía frutos logo perdeu as suas folhas. Isto representa em particular o estado da nação e do povo judeu. Nosso Senhor só encontrou neles folhas. Depois que rejeitaram a Cristo, a cegueira e a dureza de coração lhes foram acrescentadas até serem derrotados e desarraigados de seu lugar e de sua nação. o Senhor foi justo nisto. Temamos muito a condenação pronunciada para a figueira estéril.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 74 Vv. 23-27. Como agora o nosso Senhor se manifestou abertamente

conto o Messias, os sumos sacerdotes e os escribas se ofenderam muito, em especial porque expulsou e eliminou os abusos que eles estimulavam. Nosso Senhor perguntou-lhes o que pensavam sobre o ministério e batismo de João. Muitos se assustam mais pela vergonha que produz a mentira do que pelo pecado e, portanto, não têm escrúpulos para contarem o que sabem sobre o que é falso, como seus próprios pensamentos, afetos, intenções, e suas lembranças ou esquecimentos. Nosso Senhor se recusou a responder sua pergunta. É melhor evitar as disputas desnecessárias com os ímpios oponentes.

Vv. 28-32. As parábolas que repreendem se dirigem claramente aos ofensores, e os julgam por suas próprias bocas. A parábola dos dois filhos enviados a trabalhar na vinha serve para mostrar que os que não sabiam que o batismo de João era de Deus, foram envergonhados pelos que o sabiam e o reconheciam. Toda a raça humana é como crianças a quem o Senhor tem criado; elas tem se rebelado contra Ele, só que algumas são mais convincentes em sua desobediência do que outras. Às vezes acontece que o rebelde atrevido é levado ao arrependimento, e chega a ser servo do Senhor, enquanto o formalista se endurece no orgulho e na inimizade.

Vv. 33-46. Esta parábola expressa claramente o pecado e a ruína da nação judaica; e o que é dito para acusá-los é dito para advertir a todos os que gozam dos privilégios da Igreja exteriormente. Assim como os homens tratam ao povo de Deus, tratariam ao próprio Cristo se estivesse com eles! Se somos fiéis a causa de Cristo, como podemos esperar uma recepção favorável da parte de um mundo ímpio ou dos ímpios que professam o cristianismo! Perguntemo-nos se nós, que temos a vinha e todas as suas vantagens, damos fruto na temporada devida, como família, como povo ou indivíduos. Nosso Salvador declara em sua pergunta que o Senhor da vinha virá, e quando vier, com toda certeza destruirá os maus.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 75 Os sumos sacerdotes e os anciãos eram os construtores e não

reconheciam suas doutrinas nem suas leis; desprezaram-no como pedra desprezível. Mas o que foi desprezado pelos judeus foi abraçado pelos gentios. Cristo sabe quem dará frutos do Evangelho, no uso dos meios do Evangelho. A incredulidade dos pecadores será sua ruína, ainda que Deus tenha muitas maneiras de refrear os remanescentes da ira, bem como para fazer com que o que é quebrantado redunde em seu louvor. Que Cristo venha a ser mais e mais precioso para as nossas almas, como firme Fundamento e Pedra angular de sua Igreja. Sigamos a Cristo, ainda que sejamos odiados e desprezados por amor a Ele.

Mateus 22 Versículos 1-14: A parábola da festa das bodas; 15-22: Os fariseus

perguntam a Jesus sobre o imposto; 23-33: A pergunta dos saduceus sobre a ressurreição; 34-40: A essência dos mandamentos; 41-46. Jesus interroga os fariseus.

Vv. 1-14. A provisão feita no Evangelho para as almas que perecem, está representada por uma festa real, feita por um rei de um modo pródigo, conforme o costume oriental, por ocasião do casamento de seu filho. Nosso Deus misericordioso não só tem providenciado o alimento, mas também uma festa real para as almas que perecem, dentre as suas rebeldes criaturas. Na salvação de seu Filho Jesus Cristo há o suficiente, e com sobra, de tudo o que se pode acrescentar a nosso consolo e felicidade eterna.

Os primeiros convidados foram os judeus. Quando os profetas do Antigo Testamento não prevaleceram, nem João Batista, nem o próprio Cristo, que lhes disse que o reino de Deus estava próximo, foram enviados os apóstolos, e ministros do Evangelho, depois da ressurreição de Cristo, a dizer-lhes que viria persuadi-los para que aceitassem a sua oferta. A razão de os pecadores não irem a Cristo e à salvação por Ele, não é que não possam, mas porque não querem. Ignorar a Cristo e a grande salvação realizada por Ele é o pecado que condena o mundo. Eles

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 76 foram indiferentes. As multidões perecem para sempre por pura indiferença, sem mostrar aversão direta, mas são negligentes acerca de suas almas. Além do mais, as atividades e o proveito das ocupações mundanas atrapalham a muitos, impedindo-os de estabelecer uma aliança com o Salvador. Camponeses e mercadores devem ser diligentes, e não importa o que tenhamos nas nossas mãos no mundo, devemos ter o cuidado de manter fora de nosso coração, para que não aconteça que isto se interponha entre nós e Cristo. A extrema ruína que sobreviria a alguns na Igreja e à nação judaica está representada aqui. A perseguição dos fiéis ministros de Cristo enche a medida da culpa de todo o povo. A oferta de Cristo e a salvação dos gentios não era esperada; foi tamanha surpresa, como seria se um peregrino fosse convidado para uma festa real de casamento. o desígnio do Evangelho é alcançar almas para Cristo; a todos os filhos de Deus espalhados por todas as partes (Jo 10.16; 11.52).

O exemplo dos hipócritas está representado pelo convidado que não possuía o traje adequado para a ocasião. É nossa obrigação prepararmo-nos para o juízo; e os que, e só os que se vistam do Senhor Jesus, que tenham o temperamento mental cristão, que vivam por fé em Cristo e para quem Ele é o todo em tudo, possuem a vestimenta para a boda. A justiça de Cristo que nos é imputada, e a santificação do Espírito, são igualmente necessárias. Ninguém possui a roupa das bodas por natureza, nem pode fazê-lo por si mesmo. Chegará o dia em que os hipócritas serão chamados a prestar contas de todas as suas instruções presunçosas nas ordenanças do Evangelho e da usurpação dos privilégios do Evangelho. Lançai-o às trevas exteriores. Aqueles que andam de um modo indigno em relação ao cristianismo abandonam toda a felicidade que proclamam presunçosamente.

Nosso Salvador passa aqui da parábola ao seu ensino. os hipócritas, mesmo aparentemente andando na luz do Evangelho, caminham em direção à extrema escuridão. Muitos são chamados à festa das bodas, isto é, à salvação, mas poucos têm a roupa para a ocasião; a justiça de Cristo

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 77 e a santificação do Espírito. Então, examinemo-nos se estamos na fé e procuremos ser aprovados pelo Rei.

Vv. 15-22. Os fariseus enviaram seus discípulos aos herodianos, um partido de judeus que apoiava a submissão total ao imperador romano. Mesmo sendo contrários entre si, uniram-se contra Cristo. Estavam corretos naquilo que disseram a respeito de Cristo; seja o que for que eles soubessem, bendito seja Deus por aquilo que sabemos. Jesus Cristo é um mestre fiel, que reprova diretamente.

Cristo viu a iniqüidade deles. Qualquer que seja a máscara que o hipócrita utilize, nosso Senhor Jesus vê através dela. Cristo não interveio como juiz em matérias desta natureza, porque o seu reino não é deste mundo, porém, insta a sujeitar-se pacificamente aos poderes que existem. Reprovou os seus adversários e ensinou aos seus discípulos que o cristianismo não é inimigo do governo civil.

Cristo é e será a maravilha não só de seus amigos, como também de seus inimigos. Eles admiraram a sua sabedoria, mas não foram guiados por ela; igualmente ao seu poder, porém não se submeteram.

Vv. 23-33. As doutrinas de Cristo desagradam aos infiéis saduceus, aos fariseus e aos herodianos. Ele mostra as grandes verdades da ressurreição e do estado futuro, mais além do que se havia revelado até então. Não é possível deduzir através do estado deste mundo o que acontecerá no além. A verdade seja manifesta à luz, e se manifeste com toda a sua força. Havendo-os silenciado deste modo, nosso Salvador passou a mostrar-lhes a verdade da doutrina da ressurreição a partir dos livros de Moisés. Deus declarou a Moisés que Ele era o Deus dos patriarcas que haviam morrido há muito tempo; isto demonstra então que eles estavam capacitados a desfrutar seu favor, e prova que a doutrina da ressurreição é claramente ensinada no Antigo e no Novo Testamento. Mas esta doutrina estava reservada para uma revelação mais plena depois da ressurreição de Cristo, primícias dos que dormiram. Todos os erros surgem de não conhecer as Escrituras e o poder de Deus.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 78 Neste mundo a morte leva uns após outros, e assim acaba com todas

as esperanças, as alegrias, as tristezas e os relacionamentos terrenos. Quão desgraçados são aqueles que não esperam nada melhor além da sepultura!

Vv. 34-40. Um intérprete da lei perguntou algo a nosso Senhor, para provar não tanto seu conhecimento, mas seu juízo. o amor de Deus é o primeiro e grande mandamento, e o resumo de todos os mandamentos da primeira tábua. Nosso amor por Deus deve ser sincero, não só por palavra e língua. Todo o nosso amor é pouco para dar-lhe; portanto, todos os poderes da alma devem comprometer-se com Ele e ser executados para Ele.

Armar a nosso próximo como a nós mesmos é o segundo grande mandamento. Há um amor próprio que é corrompido, e é a raiz dos maiores pecados; este deve ser deixado e mortificado; porém, há um amor próprio que é a regra do dever maior: devemos ter o devido interesse pelo bem estar de nossa alma e nosso corpo. Devemos amar a nosso próximo tão verdadeira e sinceramente como nos amamos a nós mesmos; em muitos casos devemos negar a nós mesmos pelo bem do próximo. Que o nosso coração seja modelado por estes dois mandamentos.

Vv. 41-46. Quando Cristo deixou os seus inimigos perplexos, perguntou-lhes o que pensavam sobre o Messias prometido. Como podia Ele ser o filho de Davi e, ao mesmo tempo, ser o seu Senhor? Cita o Salmo 110.1. Se o Cristo seria um simples homem, que só existiria muito tempo depois da morte de Davi, como poderia o seu antepassado tratá-lo como Senhor? os fariseus não puderam responder isto, nem tampouco resolver a dificuldade, a menos que reconhecessem que o Messias seja o Filho de Deus e o Senhor de Davi, do mesmo modo que o Pai. Ele tomou nossa natureza humana e, assim, Deus se manifestou em carne; neste sentido Ele é o Filho do Homem e filho de Davi.

Sobretudo, nos convém indagar seriamente: Que pensamos de Cristo? É Ele completamente glorioso aos nossos olhos e precioso a

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 79 nossos corações? Que Cristo seja nosso gozo, nossa confiança, nosso tudo. Que diariamente sejamos feitos mais como Ele é, e mais dedicados a seu serviço.

Mateus 23 Versículos 1-12: Jesus repreende os escribas e fariseus; 13-33: Os

delitos dos fariseus; 34-39: A culpa de Jerusalém. Vv. 1-12. Os escribas e fariseus explicavam a lei de Moisés, e

obrigavam a obedecê-la. São acusados de hipocrisia na religião. Só podemos julgar conforme as aparências exteriores, porém, Deus esquadrinha o coração. Eles faziam filactérios, rolos de papel ou pergaminho onde escreviam quatro artigos da lei, para atá-los na testa e no braço esquerdo (Êx 13.2-16; Dt 6.4-9; 11.13-21). Faziam estes filactérios extensos, para que se pensassem que eram mais zelosos da lei que os demais. Deus ordenou aos judeus que pusessem franjas nas suas vestiduras (Núm. 15.38), para recordar-lhes que são um povo peculiar, mas os fariseus as faziam ainda maiores do que era comum, como se por isto fossem mais religiosos que os demais. O orgulho era o pecado reinante nos fariseus, o pecado que mais facilmente nos assalta, e contra o qual o Senhor Jesus fala aproveitando todas as ocasiões. Aquele que é ensinado na Palavra deve elogiar e honrar ao que ensina; porém, para o que ensina, é pecaminoso exigir esta honra e envaidecer-se por isto. Quão contrário isto é ao espírito cristão!

Ao discípulo coerente de Cristo, é penoso ser colocado em posições de destaque, mas quando se olha ao redor da Igreja, quem pensará que este é o espírito requerido? Está claro que alguma medida do espírito anticristão predomina em toda a sociedade religiosa e no coração de cada um de nós.

Vv. 13-33. Os escribas e os fariseus eram inimigos do Evangelho de Cristo e, portanto, da salvação das almas dos homens. Não é bom nos mantermos longe de Cristo, mas pior que isto é manter os demais longe dEle. Não é novidade que a aparência e a forma da piedade são usadas

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 80 como manto para as maiores distorções. Porém, a piedade hipócrita será considerada como iniqüidade dobrada.

Estavam muito ocupados em ganhar almas para seu partido; não para a glória de Deus, nem para o bem das almas, mas para terem o mérito e a vantagem de fazer prosélitos. Sendo a ganância sua piedade, com milhares de estratagemas eles fizeram com que a religião cedesse seu lugar a seus interesses mundanos. Eram muito estritos e precisos em matérias mínimas da lei, mas negligentes e conseqüentes nas matérias de maior peso. Não é o escrúpulo por um pequeno pecado que Cristo reprova aqui; mesmo se fosse um pecado como um mosquito, eles o filtravam, mas faziam isso e logo depois engoliam um camelo, ou seja, cometiam um pecado muito maior.

Ainda que pareciam ser santos, não eram sóbrios nem justos. Realmente somos o que somos por dentro. Os motivos externos podem manter limpo o exterior, enquanto o interior está imundo; porém, se o coração e o espírito são feitos novos, haverá vida nova; aqui devemos começar por nós mesmos. A justiça dos escribas e dos fariseus era como os adornos de uma tumba ou o vestido de um cadáver, que só serviam como espetáculo. o enganoso dos corações dos pecadores se manifesta em que navegam, rio abaixo, pelas torrentes de pecado de sua própria época, enquanto se sentem orgulhosos de oporem-se aos pecados mais freqüentes em épocas anteriores.

Às vezes pensamos que se tivéssemos vivido quando Cristo esteve na terra, não o teríamos desprezado nem o reprovado, como fizeram os homens; mas Cristo, em seu Espírito, sua palavra e em seus ministros, ainda não é tratado de uma maneira melhor. Justo é que Deus entregue à carnalidade de seus corações a estes que se obstinam em satisfazerem-se a si mesmos. Cristo dá aos homens seu caráter verdadeiro.

Vv. 34-39. Nosso Senhor declara as misérias que estavam por acontecer aos habitantes de Jerusalém, por culpa deles mesmos; porém, Ele não dá tamanha atenção aos sofrimentos que iria enfrentar. Uma galinha que ajunta seus pintainhos sob suas asas é um emblema

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 81 adequado do terno amor do Salvador, àqueles que confiam nEle, e seu fiel cuidado por eles. Ele chama aos pecadores para que se refugiem em sua terna proteção, os mantém a salvo e os nutre para a vida eterna.

Aqui se anunciam a dispersão e a incredulidade dos judeus, e sua futura conversão a Cristo. Jerusalém e seus filhos tinham grande parte de culpa e seu castigo fora um sinal. Não tardará, e a vingança merecida cairá sobre cada Igreja que é cristã apenas nominalmente. Enquanto isso, o Salvador está pronto para receber a todos os que vão a Ele. Nada há entre os pecadores e a felicidade eterna, senão seu orgulho e sua incrédula falta de vontade.

Mateus 24 Versículos 1-3: Cristo anuncia a destruição do templo; 4-28:

Desastres anteriores à destruição de Jerusalém; 29-41: Cristo anuncia outros sinais e desgraças do fim do mundo; 42-51: Exortações a vigiar.

Vv. 1-3. Cristo predisse a total ruína e a destruição futura do

templo. Uma crédula visão em fé, da desaparição de toda a glória mundana, nos servirá para que evitemos admirá-la e super valorizá-la. O corpo mais belo se tornará imediatamente em alimento para os vermes, e o edifício mais magnífico, um montão de escombros. Não vemos estas coisas? Nos fará bem que as olhemos como vendo através delas, e vendo o fim delas.

Nosso Senhor, havendo se retirado juntamente com seus discípulos para o Monte das Oliveiras, colocou diante deles a ordem dos tempos quanto aos judeus, até a destruição de Jerusalém, e quanto aos homens em geral até o fim do mundo.

Vv. 4-28. Os discípulos perguntaram acerca dos tempos. Quando serão estas coisas? Cristo não lhes respondeu esta pergunta, mas eles também haviam perguntado: Qual será o sinal? Ele respondeu esta pergunta completamente. A profecia trata primeiro os acontecimentos mais próximos: a destruição de Jerusalém, o fim do estado judeu, o

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 82 chamado aos gentios e o estabelecimento do reino de Cristo no mundo; mas também contempla o juízo geral; fala também sobre o que deve acontecer em breve, com mais detalhes. O que Cristo disse aqui a seus discípulos, tendia mais a incitar a cautela que a satisfazer sua curiosidade; mais a prepará-los para os acontecimentos que sucederiam, do que a dar-lhes uma idéia clara dos já ocorridos. Este é o bom entendimento dos tempos que todos devemos almejar, para disto inferir o que Israel deve fazer.

Nosso Salvador adverte a seus discípulos que se acautelem contra os falsos mestres. Anuncia guerras e grandes comoções entre as nações. Desde o tempo em que os judeus rejeitaram a Cristo e Ele deixou a sua casa desolada, a espada nunca tem se apartado deles. Observe o que acontece por se rejeitar o Evangelho. Aqueles que não ouvirem os mensageiros da paz, será feito com que ouçam os mensageiros da guerra. Aqueles que mantém o seu coração confiando em Deus se mantém em paz e não se assustam. É contrário a mente de Cristo que seu povo tenha seus corações perturbados mesmo em tempos turbulentos.

Quando olhamos adiante e vemos a miséria eterna que está diante dos obstinados que rejeitam a Cristo e seu Evangelho, podemos dizer na verdade: os maiores juízos terrenos são somente o princípio de dores. Que perseveremos até o fim. Nosso Senhor predisse a pregação do Evangelho em todo o mundo. O fim do mundo só virá quando o Evangelho tiver realizado a sua obra.

Cristo anuncia a ruína que sobrevirá ao povo judeu; e o que disse aqui servirá para a conduta e o consolo de seus discípulos. Se Deus abre uma porta de escape, devemos passar por ela; caso contrário, não confiamos em Deus, mas o tentamos. Em tempos de transtornos públicos, os discípulos de Cristo devem estar orando muito; isso nunca é inoportuno, mas toma-se especialmente oportuno quando somos angustiados por todos os lados. Mesmo que devamos aceitar aquilo que Deus envie, ainda assim devemos orar contra os sofrimentos; e algo que prova muito ao homem bom é ser retirado do serviço e adoração solenes

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 83 a Deus no dia de repouso, por causa de algum outro trabalho ou necessidade. Aqui há uma palavra de consolo, que por amor aos eleitos estes dias serão abreviados, em relação ao que conceberam seus inimigos. Estes teriam destruído a todos, se Deus, que usou estes inimigos para servir aos seus propósitos, não tivesse colocado limite à ira deles.

Cristo anuncia a rápida difusão do Evangelho no mundo. É visto simplesmente como o raio. Cristo pregou o seu Evangelho abertamente. os romanos eram como águias, e a insígnia de seus exércitos era a águia. Quando um povo, por seu pecado, se torna como asquerosos esqueletos, nada pode ser esperado, senão que Deus envie inimigos para destruí-lo. Isto é muito aplicável ao dia do juízo, à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo nesse dia (2 Ts 2.1,2). Sejamos diligentes para fazer segura a nossa eleição e vocação; deste modo, poderemos saber que nenhum inimigo nem enganador prevalecerá contra nós.

Vv. 29-41. Cristo predisse a sua Segunda vinda. É habitual que os profetas falem de coisas próximas e que estejam à mão para expressar a grandeza e certeza delas. Quanto à Segunda vinda de Cristo, anuncia-se que haverá uma grande mudança para fazer novas todas as coisas. Então verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens. Em sua Primeira vinda, foi posto como sinal que seria contraditado; porém, em sua Segunda Vinda, um sinal que deve ser admirado.

Cedo ou tarde, todos os pecadores se lamentarão, mas os pecadores arrependidos olham para Cristo e se condoem de maneira santa; os que semeiam com lágrimas colherão com gozo dentro de pouco tempo. Os pecadores impenitentes verão àquEle que transpassaram, e ainda que agora riam, lamentarão e chorarão com horror e desespero intermináveis.

Os eleitos de Deus estão dispersos por todas as partes e nações; mas quando chegar o grande dia desta reunião, não faltará sequei um deles. A distância do lugar não deixará ninguém fora do céu. Nosso Senhor declara que os judeus nunca deixarão de ser um povo distinto, até que se cumpram todas as coisas que Ele havia predito. Sua profecia finalmente

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 84 chega ao dia do juízo final; portanto, aqui, no versículo 34, Ele anuncia que Judá nunca deixará de existir como povo distinto, enquanto durar este mundo.

Os homens do mundo fazem complôs e planejam de geração em geração, mas não fazem nenhum plano em relação ao acontecimento mais seguro, que é a Segunda Vinda de Cristo. Esta se aproxima de modo que surpreenderá os homens, o qual dará fim a todo estratagema humano e apartará para sempre tudo o que é proibido por Deus. Esse dia será de tão grande surpresa quanto foi o dilúvio para o mundo antigo.

Isto deve ser primeiramente aplicado aos juízos temporais, particularmente ao que na ocasião chegava de modo apressado ao povo e à nação judaica. Em segundo lugar, ao juízo eterno. Aqui Cristo mostra o estado do mundo antigo quando o dilúvio chegou; e eles não criam. Se nós soubéssemos corretamente que todas as coisas terrenas devem passar dentro de pouco tempo, não colocaríamos nossos olhos e coração nelas tanto quanto o fazemos.

Que palavras podem descrever com mais impacto a súbita chegada de nosso Salvador! os homens estarão em suas respectivas ocupações, e repentinamente se manifestará o Senhor da glória. As mulheres estarão ocupadas em suas tarefas domésticas, mas nesta hora toda a obra será deixada de lado, todo coração baterá mais forte e dirá: É o Senhor! Estou preparado para encontrá-lo? Estou em condições de me apresentar diante dEle? O que é o dia do juízo para todo o mundo, senão o dia da morte de cada um?

Vv. 42-51. Velar pelo dia da vinda de Cristo é mantermos o temperamento mental em que desejamos que o nosso Senhor nos encontre. Temos pouco tempo para viver. Não sabemos quanto tempo nos resta para viver, muito menos o tempo determinado para o juízo.

A vinda de nosso Senhor será feliz para os que estiverem preparados, mas muito espantosa para aqueles que não estiverem. Se um homem, que professa ser servo de Cristo, é incrédulo, cobiçoso, ambicioso ou amante do prazer, será cortado. Aqueles que escolhem o

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 85 mundo por sua porção nesta vida, terão o inferno como porção na outra. Que quando nosso Senhor vier, nos declare como bem aventurados e nos apresente diante do Pai, lavados em seu sangue, purificados por seu Espírito, e aptos para sermos participantes da sorte dos santos em luz.

Mateus 25 Versículos 1-13: A parábola das dez virgens; 14-30: A parábola

dos talentos; 31-46. O juízo. Vv. 1-13. As circunstâncias da parábola das dez virgens foram

tomadas dos costumes nupciais dos judeus, e explica o grande dia da vinda de Cristo. Observe a natureza do cristianismo. Como cristãos professamos obedecer a Cristo, honrá-lo, e estar à espera de sua vinda. Os cristãos sinceros são as virgens prudentes, e os hipócritas são as néscias. São verdadeiramente néscios ou prudentes, conforme atuem em relação aos assuntos de sua alma. Muitos têm uma lâmpada de profissão de fé em suas mãos, mas em seus corações não têm o conhecimento sadio nem a decisão necessários para levá-los através dos serviços e das provas da condição presente. Seus corações não contém em si uma disposição santa dada pelo Espírito de Deus, que nos cria de novo. Nossa luz deve brilhar diante dos homens em boas obras; porém, não é provável que isto aconteça por muito tempo, a menos que haja um princípio ativo de fé em Cristo, e amor por nossos irmãos no coração.

Todas tosquenejaram e dormiram. A demora representa o espaço entre a conversão verdadeira ou aparente destes professos, e a vinda de Cristo, para levá-los pela morte ou para julgar ao mundo. Porém, ainda que Cristo tarde, não tardará mais além do tempo devido. A virgens sábias mantiveram as suas lâmpadas acesas, mas não se mantiveram acordadas. Muitos são os cristãos verdadeiros que se tornam descuidados, e um grau de negligência dá lugar a outro. Os que se permitem cochilar dificilmente evitam adormecer; portanto, devemos temer o princípio da deterioração espiritual.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 86 Se ouvir um chamado surpreendente, saia a atender; é um chamado

para os que estão preparados. A notícia da vinda de Cristo e o chamado a sair a recebê-lo, os despertará. Mesmo os que estão melhor preparados para a morte têm um trabalho a fazer para estarem verdadeiramente preparados (2 Pe 3.14). Será um dia de buscas e de perguntas; cabe a nós pensarmos em como seremos achados então.

Algumas levaram azeite para abastecer suas lâmpadas antes de sair. As que não alcançam a graça verdadeira certamente sentirão a sua falta em um ou outro momento. Uma profissão de fé apenas exterior pode iluminar a um homem neste mundo, mas as umidades do vale da sombra da morte extinguirão a sua luz. os que não se preocupam com a sua maneira de viver morrerão como o justo. Porém, os salvos devem ter graça própria, e aqueles que têm mais graça não a devem economizar. o melhor necessita ainda mais de Cristo. Enquanto a pobre alma alarmada se dirige, no leito de enfermidade, ao arrependimento e à oração com espantosa confusão, vem a morte, vem o juízo, a obra é desfeita e o pobre pecador parte para sempre. Esta situação acontece por irmos comprar azeite quando deveríamos estar queimando-o; por irmos obter a graça, quando deveríamos estar usando-a. Aqueles que irão para o céu estão sendo aqui preparados para lá. o súbito da morte e da chegada de Cristo a nós, então, não tirará a nossa alegria se estivermos preparados.

A porta foi fechada. Muitos procurarão ser recebidos no céu quando for tarde demais. A vã confiança dos hipócritas os levará longe nas expectativas de felicidade. A convocação inesperada da morte pode alarmar o cristão, mas passando sem demora a alimentar a sua lâmpada, as suas qualidades brilharão mais fortemente, enquanto a conduta do simples professo mostra que a sua lâmpada está se apagando. Portanto, velai e atendei ao assunto de vossas almas. Permanecei todos os dias no temor do Senhor.

Vv. 14-30. Cristo não tem servos para que estes estejam ociosos: eles têm recebido tudo que possuem dEle, e nada possuem que possam chamar seu próprio, salvo o pecado. Aquilo que recebemos de Cristo,

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 87 tem a finalidade de que trabalhemos para Ele. A manifestação do Espírito é dada a todo o homem para proveito dos santos. Chegará o dia de prestar contas, e todos deveremos ser examinados quanto ao bem que tivermos feito para a nossa alma e para nosso próximo, e pelas vantagens que desfrutamos. Não significa que o realce dos dons naturais possa dar mérito a um homem para a graça divina. É liberdade e privilégio do cristão verdadeiro ser empregado como servo de seu Redentor, divulgando sua glória e promovendo o bem de seu povo: o amor de Cristo o constrange a não viver mais para si, mas para aquEle que morreu e ressuscitou por ele.

Aqueles que pensam ser impossível agradar a Deus, e que é vão servi-lo, nada farão em benefício da fé. Queixam-se de que Ele exige deles mais do que são capazes, e castiga-os pelo que não podem evitar. Independente do que pretendem, a verdade é que não apreciam o caráter nem a obra do Senhor. o servo preguiçoso está sentenciado a ser privado de seu talento. Isto pode ser aplicado às bênçãos desta vida; porém, melhor ainda aos meios da graça. Aqueles que não conhecem o dia da sua visitação, terão ocultas aos seus olhos as coisas que convém à sua paz. A condenação destes é serem lançados nas mais profundas trevas. Esta é uma maneira habitual de se expressar as misérias dos condenados ao inferno. Aqui, em relação ao que foi dito aos servos fiéis, nosso Salvador passa da parábola para o significado dela e isto serve como uma chave para o todo. Não invejemos aos pecadores nem cobicemos nada de suas posses perecíveis.

Vv. 31-46. Esta é uma descrição do juízo final. É uma explicação das parábolas anteriores. Há um juízo vindouro em que cada homem será sentenciado a um estado de felicidade ou miséria eterna. Cristo virá não só na glória de seu Pai, mas em sua própria glória, como Mediador. o justo e o ímpio aqui habitam juntos, nas mesmas cidades, igrejas e famílias, e nem sempre são diferenciados uns dos outros; tais são as fraquezas dos santos, tais as hipocrisias dos pecadores, e a morte os leva a ambos; porém, naquele dia serão separados para sempre. Cristo é o

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 88 grande Pastor; Ele distinguirá dentro de pouco tempo entre os que são seus e os que não são. Todas as demais distinções serão eliminadas, e a maior delas é entre os santos e os pecadores, os fiéis e os ímpios; esta diferença permanecerá para sempre.

A felicidade que os santos possuirão é muito grande. É um reino; a possessão mais valiosa na terra não é nada mais do que uma pálida semelhança do estado bem aventurado dos santos no céu. É um reino preparado. O Pai o preparou para nós na grandeza de sua sabedoria e poder; o Filho o comprou para nós, e o Espírito bendito, ao preparar-nos para o reino, está nos preparando para Ele. O reino está preparado para nós: Isto está em todos os aspectos adaptado à nova natureza da alma santificada. Está preparado desde a fundação do mundo. Esta felicidade está reservada somente para os santos, e eles para ela, desde a eternidade.

Aquilo que herdamos não é algo que obtivemos por nós mesmos, pois Deus é quem nos faz herdeiros do céu. Não devemos pensar que atos de generosidade dão direito à felicidade eterna.

As boas obras feitas por amor a Deus, por meio de Jesus Cristo, aqui são comentadas como marcas do caráter dos crentes feitos santos pelo Espírito de Cristo, e como os efeitos da graça concedida aos que as fazem. o ímpio neste mundo foi freqüentemente chamado a ir a Cristo em busca de vida e repouso, porém, recusaram os seus chamados; e justamente são os que preferiram afastar-se de Cristo, aqueles que não irão a Ele. Os pecadores condenados darão desculpas vãs. O castigo do ímpio será um castigo eterno; seu estado não poderá ser mudado. Assim é a vida e a morte, o bem e o mal, a bênção e a maldição: estão postos diante de nós, para que possamos escolher nosso caminho; e nosso fim será de acordo com o nosso caminho.

Mateus 26 Versículos 1-5: Os governantes conspiram contra Cristo; 6-13:

Cristo é ungido em Betânia; 14-16. Judas negocia para trair a Cristo; 17-25: A páscoa; 26-30: Cristo institui a Santa Ceia; 31-35: Cristo

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 89 adverte a seus discípulos; 36-46. Agonia no jardim; 47-56. É traído; 57-68: Cristo perante Caifás; 69-75: A negação de Pedro.

Vv. 1-5. Nosso Senhor falou freqüentemente de seus sofrimentos como distantes; agora, fala deles como imediatos. Ao mesmo tempo, o concílio judeu consultava como poderiam matá-lo de forma secreta, mas foi do agrado de Deus derrotar-lhes a intenção. Jesus, o verdadeiro Cordeiro Pascal, seria sacrificado por nós nesse mesmo momento, e sua morte e ressurreição seriam públicas.

Vv. 6-13. O ungüento derramado sobre a cabeça de Cristo era um sinal de maior respeito. Onde há amor verdadeiro por Jesus Cristo no coração, nada será considerado como bom demais para ser dado a Ele. Quanto mais os servos de Cristo e os seus serviços forem criticados, mais Ele manifestará a sua aceitação. Este ato de amor e fé foi tão notável que seria registrado como monumento à fé e ao amor de Maria para todas as eras futuras, e em todos os lugares onde se pregasse o Evangelho. Esta profecia tem se cumprido.

Vv. 14-16. Não há senão doze apóstolos chamados, e um deles era como um Diabo. Com toda segurança, nunca podemos esperar que nenhuma sociedade seja absolutamente pura debaixo do céu. Quanto maior for a profissão da religião que façam os homens, maior será a oportunidade que terão de fazer o mal, se seus corações não estiverem bem com Deus. observe que o próprio discípulo de Cristo, que conhecia tão bem sua doutrina e estilo de vida, foi falso com Ele, e não o pôde acusar de nenhum delito, ainda que isto servisse para justificar a sua traição. o que Judas queria? Não era ele bem recebido onde quer que fosse com o seu Mestre? Não ia tão bem a ele quanto a Cristo? A falta que cometeu não foi o amor ao dinheiro, que é a raiz de todos os males? Depois de ter feito esta malvada transação, Judas teve tempo para arrepender-se e revogá-la; porém, quando a consciência se tem endurecido com atos de desonestidade aparentemente menores, os homens fazem sem duvidar o que é mais vergonhoso.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 90 Vv. 17-25. Observe que o lugar para comer a páscoa foi designado

por Cristo aos seus discípulos. Ele conhece a pessoa que secretamente favorece a sua causa, e por sua graça visita todos os que estão dispostos a recebê-lo. os discípulos fizeram como Jesus lhes indicou. Aqueles que desejam ter a presença de Cristo na páscoa do Evangelho, devem fazer o que Ele diz.

Isto quer dizer que os discípulos de Cristo devem ser sempre zelosos de si mesmos, especialmente em tempos de prova. Não sabemos com quanta força podemos ser tentados, nem quanto Deus pode nos deixar livres, à nossa própria vontade; portanto, temos razões para não sermos altivos, mas para temer. o exame que esquadrinha o coração e a oração fervorosa são especialmente apropriados antes da ceia do Senhor, para que, uma vez que Cristo a nossa páscoa, é agora sacrificado por nós, podemos guardar esta festa e renovar nosso arrependimento, nossa fé em seu sangue e nos rendermos a seu serviço.

Vv. 26-30. A ordenança da ceia do Senhor é para nós a ceia da páscoa, através da qual comemoramos uma libertação muito maior que a de Israel no Egito. "Tomai, comei"; aceite a Cristo como te é oferecido, receba a expiação, aprove-a, submeta-se à sua graça e autoridade. A carne para a qual somente se olha, por mais bem apresentada que esteja no prato, não alimenta; deve ser comida: assim deve acontecer com a doutrina de Cristo.

"Isto é meu corpo", isto é, significa e representa espiritualmente o seu corpo. Participamos do sol, não tendo o sol posto era nossas mãos, mas seus raios são lançados sobre nós; assim participamos de Cristo ao participarmos de sua graça e dos frutos benditos no partir de seu corpo. o sangue de Cristo está significado e representado pelo vinho. Ele deu graças, para nos ensinar a olhar a Deus em cada aspecto da ordenança. Este cálice Ele deu aos discípulos com o seguinte mandamento: "Bebei dele todos". o perdão dos pecados é a grande bênção que se confere na ceia do Senhor, a todos os crentes verdadeiros; é o fundamento de todas as demais bênçãos.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 91 Ele aproveita a comunhão para assegurar-lhes a feliz reunião que

acontecerá novamente ao final: "Até aquele dia em que o beba de novo convosco", o que pode ser entendido como as delicias e as glórias futuras, da qual os santos participarão com o Senhor Jesus. Esse será o reino de seu Pai; o vinho do consolo será sempre novo ali. Enquanto olhamos para os sinais externos do corpo de Cristo partido, e seu sangue derramado para a remissão de nossos pecados, recordemos que a festa lhe custou tanto que teve que dar literalmente sua carne como comida e seu sangue como nossa bebida.

Vv. 31-35. A confiança imprópria em si mesmo, como a de Pedro, é o primeiro passo em direção a uma queda. Todos somos propensos a ser demasiadamente confiados, mas aqueles que estão mais confiados em si mesmos caem mais rapidamente e sofrem uma queda maior. Os que se sentem mais seguros são os que estão menos a salvo. Satanás está ativo para desviar aos tais; eles são os que estão menos em guarda. Deus os deixará entregues à sua própria sorte para humilhá-los.

Vv. 36-46. Aquele que fez a expiação pelos pecados da humanidade submeteu-se no jardim do sofrimento à vontade de Deus, contra a qua,1 se havia rebelado o homem em um jardim de prazeres. Cristo levou consigo a esta parte do jardim onde sofreu a sua agonia, somente aos que haviam presenciado a sua glória em sua transfiguração. Estão melhor preparados para sofrer com. Crista os que, por fé, têm contemplado a sua glória. As palavras usadas denotam a rejeição, o assombro, a angústia e o horror mental mais completos e profundos; o estado de alguém rodeado de sofrimentos, esmagado por misérias, e quase consumido pelo terror e pelo desânimo.

Agora começou a entristecer-se, e não deixou de estar assim até que disse: Está consumado. Ele orou para que se fosse possível o cálice passasse dEle. Mas também mostrou sua perfeita vontade de levar a carga de seus sofrimentos; estava disposto a submeter-se a tudo por nossa redenção e salvação. Conforme este exemplo de Cristo, devemos beber o cálice mais amargo que Deus coloque em nossas mãos; ainda

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 92 que nossa natureza se oponha a isto, deverá submeter-se. Devemos nos preocupar mais em fazer com que nossas tribulações sejam santificadas, e nossos corações se satisfaçam submetidos a elas, do que conseguir que os problemas sejam eliminados.

Bom é para nós que nossa salvação esteja na mão daquEle que não tosqueneja nem dorme. Todos somos tentados, mas devemos ter grande temor de cairmos em tentação. Para estarmos a salvo disto, devemos vigiar e orar e olhar continuamente para o Senhor, para que Ele nos sustenha e estejamos a salvo.

Sem dúvida nosso Senhor tinha uma visão clara e completa dos sofrimentos que ainda teria de suportar, e mesmo assim falou com a maior calma até este momento. Cristo é a garantia responsável por dar contas por nossos pecados. Como conseqüência, foi feito pecado por nós, e sofreu por nossos pecados; o justo pelo injusto. E a Escritura atribui os seus sofrimentos mais intensos à mão de Deus. Ele tinha pleno conhecimento do infinito mal do pecado e da imensa magnitude da culpa pela qual faria expiação; com horrendas visões da justiça e santidade divina, e do castigo merecido pelos pecados dos homens, tais que nenhuma língua pode expressar e nenhuma mente conceber.

Ao mesmo tempo Cristo sofreu sendo tentado; provavelmente Satanás sugeriu horríveis pensamentos, todos tendenciosos a tirar uma conclusão sombria e espantosa: estes devem ter sido os mais difíceis de suportar por sua santidade perfeita. E se a carga do pecado imputado pesou tanto na alma daquEle de quem foi dito: "Sustenta todas as coisas com a palavra de seu poder", em que miséria devem desfalecer aqueles cujos pecados pesam sobre suas próprias cabeças! Como escaparão aqueles que se descuidam de uma tão grande salvação?

Vv. 47-56. Não existem inimigos que sejam tão aborrecíveis quanto os discípulos professos que traem a Cristo com um beijo.

Deus não necessita de nossos serviços, muito menos de nossos pecados, para realizar os seus propósitos. Ainda que Cristo tenha sido

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 93 crucificado em fraqueza, esta fraqueza foi voluntária; Ele se submeteu à morte. Se não tivesse estado disposto a sofrer, eles não o teriam vencido.

Foi um grande pecado por parte daqueles que deixaram tudo para seguir a Cristo, abandoná-lo agora por algo que não sabiam. Que atitude néscia foi, por medo da morte, fugirem daquEle a quem conheciam e reconheciam como o manancial da vida!

Vv. 57-68. Jesus foi levado a Jerusalém apressadamente. Reflete mal e pressagia o pior, que os dispostos a serem discípulos de Cristo não estejam dispostos a serem reconhecidos como tais. Aqui começa a negação de Pedro: seguir a Cristo de longe é começar a retirar-se da presença dEle. Nós devemos nos preparar para o fim, seja este qual for, ao invés de perguntarmos, curiosos, qual será este fim. o agir é de Deus, mas o dever é nosso.

Agora foram cumpridas as Escrituras que dizem: Contra mim se têm levantado testemunhas falsas. Cristo foi acusado para que nós não fôssemos condenados; e se em qualquer momento sofrermos assim, recordemos que não podemos ter a expectativa de que nos sucederá algo melhor do que a nosso Mestre. Quando Cristo foi feito pecado por nós, ficou calado e deixou que seu sangue falasse. Até então, raras vezes Jesus havia confessado expressamente ser o Cristo, o Filho de Deus; o tom de sua doutrina o declarou, e seus milagres o provaram, mas agora omitiria fazer uma confissão direta. Teria parecido que estava renunciando aos seus sofrimentos.

Assim confessou Ele, a fim de que servisse de exemplo e estímulo para que os seus seguidores o confessassem diante dos homens, não importando qual seja o perigo que corram. o desdém, a zombaria cruel e o aborrecimento são a porção certa do discípulo, como foram a do Mestre, por parte daqueles que desejavam golpear e rir com zombaria do Senhor da Glória. No capítulo 50 de Isaías, estes fatos são preditos com precisão. Confessemos o nome de Cristo e suportemos a reprovação do mundo, e Ele nos confessará diante do trono de seu Pai.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 94 Vv. 69-75. O pecado de Pedro nos é relatado com veracidade,

porque as Escrituras tratam os assuntos com fidelidade. As más companhias levam a pecar. Aqueles que se relacionam sem necessidade com estas, podem criar a expectativa de serem tentados e envolvidos em uma situação difícil, como foi Pedro. Devem abandonar essas companhias sem culpa ou dor, ou ambas. É uma grande falta ter vergonha de Cristo e negar que o conhecemos quando somos chamados a reconhecê-lo, e, com efeito, isto é negá-lo. o pecado de Pedro teve agravantes, mas ele caiu em pecado por surpresa, não intencionalmente, como Judas. A consciência deve ser para nós como o canto do galo, para nos fazer lembrar dos pecados dos quais nos esquecemos. Foi permitido que Pedro caísse para que a sua confiança em si mesmo fosse abatida, e para que com isso ele se tornasse mais modesto, humilde, compassivo e útil para os demais. Este fato tem desde então ensinado muitas coisas para os crentes; e se os infiéis, os fariseus e os hipócritas tropeçam ou abusam disto, é por seu próprio risco. Apenas saberíamos como agir em situações muito difíceis, se fôssemos deixados a nós mesmos. Portanto, aquele que acredita estar firme, tenha cuidado para que não caia. Não coloquemos a nossa confiança em nossos próprios corações, mas confiemos totalmente no Senhor.

Pedro chorou amargamente. o sofrimento pelo pecado não deve ser leve mas grande e profundo. Pedro, que chorou amargamente por negar a Cristo, nunca voltou a negá-lo, mas confessou-o muitas vezes estando diante do perigo. o arrependimento verdadeiro de qualquer pecado será demonstrado pela graça, bem como pelo dever de proceder de modo contrário; este é o sinal de nosso pesar não somente amargo, mas sincero.

Mateus 27 Versículos 1-10: Cristo é entregue a Pilatos; 11-25: Cristo diante

de Pilatos; 26-30: Barrabás é solto - Cristo é escarnecido; 31-34: Cristo é levado para ser crucificado; 35-44: A crucificação; 45-50: A morte de

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 95 Cristo; 51-56. Os atos da crucificação; 57-61: O enterro de Cristo; 62-66. O sepulcro é selado.

Vv. 1-10. Os ímpios pouco enxergam das conseqüências de seus delitos quando os cometem, porém, deverão prestar contas por tudo que fizerem. Judas reconheceu da maneira mais completa, diante dos principais dos sacerdotes, que ele havia pecado e traído a uma pessoa inocente. Este foi um testemunho completo sobre o caráter de Cristo; mas os governantes estavam endurecidos. Judas atirou ao solo o dinheiro, e se enforcou por ser incapaz de suportar o terror da ira divina, e a angústia do desespero. Há pouca dúvida de que a morte de Judas se deu antes da morte de nosso bendito Senhor.

Porém, será que não significou nada para eles ter tido sede deste sangue, e de haverem contratado Judas para traí-lo, e de haverem condenado este sangue a ser derramado injustamente? Assim fazem os néscios que zombam do pecado. Assim fazem muitos que desprezam a Cristo crucificado. E é comum que o nosso coração enganoso nos leve a não dar a devida atenção aos nossos próprios pecados, insistindo nos pecados do próximo. Porém, o juízo de Deus é segundo a verdade.

Muitos aplicam esta passagem sobre a compra do campo com o dinheiro que Judas devolveu, para mostrar o favor concedido pelo sangue de Cristo a favor dos estrangeiros e os pecadores gentios. Este fato cumpriu uma profecia (Zc 11.12).

Judas avançou muito em direção ao arrependimento, mas não foi para a salvação. Confessou, mas não a Deus; ele não se dirigiu ao Pai dizendo: Pai tenho pecado contra o céu. Ninguém se satisfaça com as convicções parciais que um homem possa ter, se este continuar cheio de orgulho, inimizade e rebeldia.

Vv. 11-25. Não tendo maldade contra Jesus, Pilatos insistiu com Ele para que esclarecesse as coisas, e esforçou-se para declará-lo inocente. A mensagem da esposa de Pilatos foi uma advertência. Deus tem muitas maneiras de advertir aos pecadores sobre suas obras pecaminosas, sendo uma grande misericórdia ter tais restrições por parte

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 96 da Providência, por parte de amigos fiéis e de nossas próprias consciências. Ó! Não cometa esta ação pecaminosa que o Senhor odeia! Isto é algo que podemos ouvir, que nos é dito quando estamos entrando em tentação, e que devemos considerar.

Dominado pelos sacerdotes, o povo optou por Barrabás. As multidões que escolhem o mundo como seu rei e porção, em detrimento de Deus, escolhem assim o seu próprio engano. os judeus insistiam tanto na morte de Cristo, que Pilatos concluiu que seria perigoso recusar aquele pedido, e esta luta nos mostra o poder da consciência mesmo nos piores homens. Porém, tudo estava ordenado para deixar em evidência que Cristo sofreu não por faltas próprias mas pelos pecados de seu povo. Quão vão foi para Pilatos esperar livrar-se da culpa do sangue inocente de uma pessoa justa, a qual estava obrigado a proteger por seu ofício!

A maldição dos judeus contra si mesmos, tem sido espantosamente demonstrada nos sofrimentos de sua nação. Ninguém pode levar o pecado de outros, exceto aquEle que não tinha pecado próprio, pelo qual responder. E não estamos todos interessados? os pecadores não preferiram Barrabás a Jesus, quando rejeitaram a salvação para conservar seus amados pecados, que roubam a glória de Deus em suas vidas e assassinam as suas próprias almas? Agora o sangue de Cristo está sobre nós para sempre, por meio da misericórdia, uma vez que os judeus o rejeitaram. Ó! Fujamos agora a ele para nos refugiarmos!

Vv. 26-30. A crucificação era uma morte terrível e miserável, empregada somente pelos romanos. A cruz era colocada sobre o solo, e nela se cravavam as mãos e os pés, e então a levantavam e a firmavam de forma vertical, de modo que o peso do corpo era suportado pelos cravos até que o condenado morresse com tremenda dor. Cristo corresponde assim à tipificação que foi feita com a serpente de bronze, que foi levantada em uma haste de estandarte. Cristo passou por toda a miséria e vergonha aqui relatada para adquirir para nós vida eterna, gozo e glória.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 97 Vv. 31-34. Cristo foi levado como um Cordeiro ao matadouro,

como sacrifício ao altar. Até as misericórdias dos ímpios são realmente cruéis. Tirando-lhe a cruz, obrigaram a um tal Simão que a levasse. Prepara-nos, Senhor, para levarmos a cruz que nos tens designado, para que a tomemos diariamente com júbilo, e te sigamos. Existiu alguma vez dor como a sua dor? Quando contemplamos o tipo de morte com que morreu, contemplamos então com que tipo de amor nos amou. Como uma morte tão dolorosa não fosse suficiente, eles acrescentaram várias outras crueldades à sua amargura e terror.

Vv. 35-44. Costumava-se envergonhar os malfeitores com um letreiro que notificava o delito pelo qual sofriam. Assim, puseram um sobre a cabeça de Cristo, para sua reprovação, mas Deus o ignorou porque até esta acusação foi para sua honra.

Dois ladrões foram crucificados com Ele, ao mesmo tempo. Em sua morte foi contado com os pecadores, para que em nossa morte, sejamos contados com os santos. As zombarias e afrontas que Ele recebeu estão registradas aqui. os inimigos de Cristo trabalham intensamente para fazer com que os demais creiam em coisas a respeito da religião e do povo de Deus, que eles mesmos sabem ser falsas.

Os principais sacerdotes e escribas, e os anciãos escarneceram de Cristo por ser o Rei de Israel. Muita gente poderia gostar muito do Rei de Israel, se Ele houvesse descido da cruz; se eles pudessem ter seu reino sem a tribulação através da qual devem entrar agora. Mas se não há cruz, não há Cristo nem coroa. Aqueles que vão reinar com Ele devem estar dispostos a sofrer com Ele. Assim, pois, nosso Senhor Jesus, havendo empreendido a satisfação da justiça de Deus, o fez submetendo-se ao pior castigo dos homens. E a cada registro minuciosamente detalhado dos sofrimentos de Cristo, encontramos cumprida alguma predição dos profetas e dos Salmos.

Vv. 45-50. Durante as três horas nas quais continuaram as trevas, Jesus esteve em agonia, lutando com as potestades das trevas e sofrendo o desagrado de seu Pai contra o pecado do homem, pelo qual agora

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 98 entregava sua alma como oferta. Nunca existiram três horas como estas desde o dia em que Deus criou o homem na terra. Nunca houve uma cena tão tenebrosa e espantosa; foi o ponto sem retorno deste grande assunto, a redenção e salvação do homem.

Jesus expressou uma queixa no Salmo 22. Aqui nos é ensinado o quão útil é a Palavra de Deus para nos dirigir em oração, e nos recomenda usar as expressões das Escrituras para orar. O crente pode ter saboreado algumas gotas de amargura, mas estas somente podem dar uma fraca idéia da grandeza dos sofrimentos de Cristo. Contudo, daqui aprendemos algo sobre o amor do Salvador pelos pecadores; daqui obtemos uma convicção mais profunda da vileza e mal do pecado, e do que devemos a Cristo, que nos livra da ira vindoura. Seus inimigos ridicularizaram perversamente o seu lamento. Muitas das reprovações lançadas contra a Palavra de Deus e ao povo de Deus, surgem, como aqui, de erros grosseiros.

Cristo bradou com toda a sua força antes de expirar, para demonstrar que não estavam tirando dEle a sua vida, mas que Ele a entregava livremente nas mãos de seu Pai. Ele teve forças para desafiar as potestades da morte, e para mostrar que pelo Espírito eterno ofereceu-se a si mesmo, sendo o Sacerdote e Sacrifício, e clamou com grande voz. Então entregou o seu espírito. Na cruz, o Filho de Deus morreu pela violenta dor a que foi submetido. Sua alma foi separada de seu corpo, e seu corpo foi realmente morto. É certo que Cristo morreu porque era necessário que morresse. Ele havia se comprometido a entregar-se como oferta pelo pecado, e isto fez quando entregou a sua vida voluntariamente.

Vv. 51-56. O fato de o véu ter se rasgado, significa que Cristo, através de sua morte, abriu o caminho a Deus. Agora temos o caminho aberto por Cristo até o trono de graça, o trono de misericórdia e ao trono de glória que está mais além. Quando consideramos devidamente a morte de Cristo, nossos duros e empedernidos corações deveriam rasgar-se; o coração e não a roupa. o coração que não se rende, nem se derrete,

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 99 onde se apresenta claramente Jesus Cristo crucificado, é mais duro que uma rocha. os sepulcros se abriram e muitos corpos dos santos que dormiam se levantaram. Não nos foi dito a quem eles apareceram e nem como desapareceram; e não devemos desejar saber mais do que está escrito.

As aparições aterradoras de Deus em sua providência, às vezes são realizadas de modo estranho para a convicção e o despertamento dos pecadores. Isto foi expresso no terror que caiu sobre o centurião e os soldados romanos. Podemos refletir, para nosso consolo, nos abundantes testemunhos dados sobre o caráter de Jesus; e procurando não causar ofensas e deixar nas mãos do Senhor que absolva o nosso caráter, se vivermos para Ele. Com os olhos da fé contemplemos a Cristo, e este crucificado, e sejamos contagiados com o grande amor com que nos amou. Mas seus amigos não puderam fazer mais do que contemplá-lo; eles o viram, mas não puderam ajudá-lo. Nunca foram divulgados de forma tão tremenda a natureza e os horríveis efeitos do pecado, quanto naquele dia em que o amado Filho do Pai foi pendurado na cruz, sofrendo pelo pecado, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus. Rendamo-nos voluntariamente a seu serviço.

Vv. 57-61. Não houve pompa nem solenidades no enterro de Cristo. Assim como não teve casa própria, nem onde reclinar sua cabeça enquanto viveu, tampouco teve uma tumba própria onde o seu corpo pudesse repousar enquanto esteve morto. Nosso Senhor, que não teve pecado, não teve tumba. Os judeus determinaram que Ele deveria ter a sua tumba com os maus, e deveria ser enterrado com os ladrões com os quais foi crucificado, mas Deus ignorou esta opinião, para que Ele pudesse estar com o rico em sua morte (Is 53.9). Ainda que contemplar um funeral possa causar terror ao olho humano, deveríamos sentir gozo ao sabermos como Cristo, através de seu sepultamento, tem mudado a natureza da tumba para os crentes. Devemos imitar sempre o enterro de Cristo, estando continuamente ocupados com o funeral espiritual de nossos pecados.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 100Vv. 62-66. Os principais sacerdotes e os fariseus entraram em

acordo com Pilatos para guardarem o sepulcro, quando deveriam estar dedicados às suas devoções por ser o dia de repouso judeu. Isto foi permitido para que houvesse prova certa sobre a ressurreição de nosso Senhor. Pilatos lhes disse que deveriam guardar o sepulcro tão cuidadosamente quanto pudessem. Selaram a pedra, puseram guardas e certificaram-se de que todo o necessário fosse realizado. Porém, foi tolo guardar desta maneira o sepulcro contra os pobres e fracos discípulos, porque era desnecessário; enquanto era ainda mais néscio ter pensado em guardá-lo do poder de Deus, o que seria realmente algo fútil e insensato. Contudo, eles pensavam que agiam de modo sábio. O Senhor apanha os sábios na própria sabedoria deles. Deste modo se fará com que toda a ira e planos dos inimigos de Cristo fomentem sua glória.

Mateus 28 Versículos 1-8: A ressurreição de Cristo; 9,10: Cristo aparece às

mulheres; 11-15: A confissão dos soldados; 16-20: O comissionamento de Cristo para os seus discípulos.

Vv. 1-8. Cristo ressuscitou ao terceiro dia depois de sua morte; este era o tempo ao qual havia freqüentemente se referido. No primeiro dia da semana, Deus mandou que das trevas brilhasse a luz. Neste dia, aquEle que é a Luz do mundo saiu resplandecendo das trevas da tumba; e este dia é, desde então, mencionado freqüentemente no Novo Testamento como o dia em que os cristãos celebraram religiosamente assembléias solenes para honrar a Cristo.

Nosso Senhor Jesus poderia ter retirado a pedra por seu poder, mas optou por fazê-lo por intermédio de um anjo.

A ressurreição de Cristo é o gozo de seus amigos e o terror e a confusão de seus inimigos. O anjo exorta as mulheres contra os seus temores. Temam os pecadores de Sião. Não temais porque sua ressurreição será vosso consolo. Nossa comunhão com Ele deve ser espiritual, por fé em sua Palavra. Quando estamos prontos para fazer

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 101deste mundo o nosso lar, e a dizer que é bom estarmos aqui, recordemos então que nosso Senhor Jesus não está aqui. Ele ressuscitou, portanto, que nossos corações se elevem e busquem as coisas de cima. Ele tem ressuscitado como disse. Jamais consideremos como algo estranho a Palavra de Cristo nos aconselhar a esperarmos; sejam os sofrimentos deste tempo presente ou a glória que nos há de ser revelada. Pode ser que haja um bom efeito em nós, olharmos pela fé o lugar onde o Senhor jazera.

Ide imediatamente. Foi bom estar ali. Mas os servos do Senhor têm designada para si uma outra obra. A utilidade pública tem prioridade sobre o prazer da comunhão particular com Deus. Foi dito aos discípulos que eles podem ser consolados em suas tristezas.

Cristo sabe onde moram os seus discípulos e os visitará. Ele se manifestará por graça, mesmo àqueles que estejam longe da abundância dos meios da graça.

O temor e o gozo unidos aceleraram a sua vinda. os discípulos de Cristo devem ser estimulados a conhecer mutuamente suas experiências de comunhão com o Senhor, e devem contar aos demais o que Deus tem feito por suas almas.

Vv. 9,10. As visitas da graça de Deus costumam encontrar-nos no caminho do dever; e mais será dado aos que usam o que possuem para proveito do próximo. Este diálogo com Cristo era inesperado, mas Cristo estava perto deles e está perto de nós através da Palavra. A saudação fala da boa vontade de Cristo para com o homem, mesmo desde que entrou em seu estado de exaltação. É a vontade de Cristo que seu povo seja um povo alegre e jubiloso, e sua ressurreição dá abundante motivo para o gozo. Não temais. Cristo ressuscitou de entre os mortos para aquietar os temores de seu povo, e há suficiente nEle para aquietá-los. Os discípulos o abandonaram de forma vergonhosa em seus sofrimentos, porém, para nos mostrar que pode perdoar e para nos ensinar a fazer o mesmo, chama-os de irmãos. Apesar de sua majestade e pureza, e de nossa baixeza e indignidade, Ele não se envergonha de chamar os crentes de seus irmãos.

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Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 102Vv. 11-15. Que maldade foi a que os homens cometeram por amor

ao dinheiro! Aqui foi dado muito dinheiro aos soldados para dizerem propositadamente uma mentira; porém, muitos resmungam por ser pouco o dinheiro para dizerem o que sabem sobre a verdade. Nunca deixemos morrer uma boa causa quando vemos aos maus tão generosamente sustentados. os sacerdotes se preocuparam em proteger-se da espada de Pilatos, mas não protegeram os soldados da espada da justiça de Deus, que vem sobre a cabeça daqueles que amam e cometem mentiras.

Aqueles que procuram livrar de modo impune um homem que comete pecado de modo voluntário, prometem mais do que podem fazer. Porém, esta falsidade refuta-se a si mesma. Se todos os soldados tivessem realmente dormido, não poderiam saber o que aconteceu. Se algum deles estivesse acordado, teria despertado aos outros e impedido o roubo; se estivessem dormindo, por certo que nunca teriam se atrevido a confessá-lo, pois os governantes judeus teriam sido os primeiros a pedirem o seu castigo. E ainda, se realmente houvesse algo de verdade neste relato, os governantes teriam por esta razão julgado os apóstolos com severidade.

A situação completa mostra que a história era totalmente falsa. Não devemos culpar a fraqueza de entendimento portais coisas, mas sim a maldade do coração. Deus permitiu que eles mesmos expusessem o seu próprio caminho. O maior argumento para provar que Cristo é o Filho de Deus é a sua ressurreição, e nada poderia dar provas mais convincentes da verdade do que aquela dos soldados; mas eles aceitaram o suborno para impedir que outros cressem. A evidência mais clara não afetará aos homens, mas sim a obra do Espírito Santo.

Vv. 16-20. Este evangelista não registra outras aparições de Cristo, como as registradas por Lucas e João, e se apressa a relatar a mais solene; uma estabelecida desde antes de sua morte, e depois de sua ressurreição. Todos os que olham para o Senhor Jesus com olhos da fé, o adorarão. Porém, a fé do sincero pode ser muito frágil e instável. Cristo deu provas convincentes de sua ressurreição, para fazer com que a fé deles triunfasse sobre as dúvidas. Agora encarrega solenemente aos

Page 103: Mateus - M. Henry

Mateus (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 103apóstolos e a seus ministros, que vão a todas as nações. A salvação que iam pregar é a salvação ensinada por Jesus, quem quiser que venha e tome o benefício; todos são bem vindos a Jesus Cristo.

O cristianismo é a religião na qual um pecador pede a salvação da merecida ira e do pecado; recorre à misericórdia do Pai por meio da expiação feita pelo Filho encarnado e pela santificação do Espírito Santo. E entrega-se a ser adorador e servo de Deus, como Pai, Filho e Espírito Santo; três pessoas, porém um só Deus, em todas as ordenanças e mandamentos.

O batismo é um sinal exterior da limpeza interior ou santificação do Espírito, que sela e demonstra a justificação do crente. Examinemo-nos se realmente possuímos a graça espiritual interna da morte ao pecado, e o novo nascimento para a justiça, pelos quais os que eram filhos da ira passam a ser filhos de Deus.

Os crentes terão sempre a presença constante de seu Senhor a cada dia. Não há dia nem hora do dia em que o nosso Senhor Jesus não esteja presente em suas igrejas e com seus ministros; se assim não fosse, em algum dia ou em alguma hora eles seriam destruídos. o Deus de Israel, o Salvador, é as vezes um Deus que se oculta, mas nunca é um Deus distante. A estas preciosas palavras se acrescenta o amém. Mesmo assim, Senhor Jesus, sê conosco e com todo o teu povo; até que teu rosto brilhe sobre nós e que teu caminho seja conhecido na terra, e tua saúde salvadora entre todas as nações.