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Tribunal de Contas da União GRUPO I – CLASSE II – 2ª Câmara TC-009.027/2004-8 - c/ 2 volumes e 2 anexos (estes c/ 36 volumes) Apenso: TC-020.542/2006-4 Natureza: Tomada de Contas Especial Entidade: Município de Curionópolis/PA Responsáveis: Sebastião Curió Rodrigues de Moura (CPF 089.074.121-20) e Município de Curionópolis/PA Advogado: Olivaldo Ferreira (OAB/PA 8.383) Sumário: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. UTILIZAÇÃO IRREGULAR DE RECURSOS DO FUNDEF. DESPESAS ESTRANHAS A SUA FINALIDADE. AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL PARA UTILIZAÇÃO INDISTINTA EM VEÍCULOS DA PREFEITURA. PAGAMENTOS DISSOCIADOS DAS FINALIDADES DO FUNDEF A PESSOAS FÍSICAS. COMPROVAÇÃO DA REALIZAÇÃO DE DESPESAS COM DOCUMENTOS FISCAIS INIDÔNEOS. CONTRATAÇÃO DIRETA IRREGULAR PARA AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE INFORMÁTICA. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO. MULTA. RELATÓRIO Cuidam os autos de tomada de contas especial decorrente da conversão de Representação oferecida a este Tribunal pelo Procurador da República Luiz Francisco F. de Souza, acerca de irregularidades na gestão dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental - Fundef, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, no Município de Curionópolis/PA. 2. Por meio do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara, inserido na Relação nº 41/2005 deste gabinete, foi proferida a seguinte deliberação: “9.1. com fundamento no art. 47 da Lei n° 8.443/92, converter estes autos em Tomada de Contas Especial; 9.2. com fulcro no art. 12, incisos I e II, da Lei n° 8.443/92, determinar a citação solidária do Município de Curionópolis/PA com o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura para que, no prazo de 15 (quinze) dias, contados da ciência desta deliberação, apresentem

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Tribunal de Contas da União

GRUPO I – CLASSE II – 2ª CâmaraTC-009.027/2004-8 - c/ 2 volumes e 2 anexos (estes c/ 36 volumes)Apenso: TC-020.542/2006-4Natureza: Tomada de Contas EspecialEntidade: Município de Curionópolis/PAResponsáveis: Sebastião Curió Rodrigues de Moura (CPF 089.074.121-20) e Município de Curionópolis/PAAdvogado: Olivaldo Ferreira (OAB/PA 8.383)

Sumário: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. UTILIZAÇÃO IRREGULAR DE RECURSOS DO FUNDEF. DESPESAS ESTRANHAS A SUA FINALIDADE. AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL PARA UTILIZAÇÃO INDISTINTA EM VEÍCULOS DA PREFEITURA. PAGAMENTOS DISSOCIADOS DAS FINALIDADES DO FUNDEF A PESSOAS FÍSICAS. COMPROVAÇÃO DA REALIZAÇÃO DE DESPESAS COM DOCUMENTOS FISCAIS INIDÔNEOS. CONTRATAÇÃO DIRETA IRREGULAR PARA AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS DE INFORMÁTICA. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO. MULTA.

RELATÓRIO

Cuidam os autos de tomada de contas especial decorrente da conversão de Representação oferecida a este Tribunal pelo Procurador da República Luiz Francisco F. de Souza, acerca de irregularidades na gestão dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental - Fundef, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, no Município de Curionópolis/PA.

2. Por meio do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara, inserido na Relação nº 41/2005 deste gabinete, foi proferida a seguinte deliberação:

“9.1. com fundamento no art. 47 da Lei n° 8.443/92, converter estes autos em Tomada de Contas Especial;

9.2. com fulcro no art. 12, incisos I e II, da Lei n° 8.443/92, determinar a citação solidária do Município de Curionópolis/PA com o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura para que, no prazo de 15 (quinze) dias, contados da ciência desta deliberação, apresentem alegações de defesa ou recolham aos cofres do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental - Fundef do Município as quantias a seguir indicadas, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, nos termos da legislação pertinente, a contar das datas especificadas:

9.2.1. Despesas estranhas à finalidade do Fundef, contrariando o art. 71 da Lei n° 9.394/96 (LDB):

(...)

[valor histórico total: R$ 743.195,00]

9.2.2. Despesas com aquisição de combustível para a Prefeitura, com integral cobertura pelos recursos do Fundef, cuja utilização atendeu indistintamente veículos não destinados às atividades vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental :

(...)

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC-009.027/2004-8

[valor histórico total: R$ 684.022,97]

9.2.3. Despesas estranhas à finalidade do Fundef, não enquadráveis entre as previstas no art. 70 da Lei n° 9.394/96, tendo como beneficiários as seguintes pessoas físicas:

(...)

[valor histórico total: R$ 6.834,42]

9.3. com fulcro no art. 12, inciso II, da Lei n° 8.443/92, determinar a citação do Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura para que, no prazo de 15 (quinze) dias, contados da ciência desta deliberação, apresente alegações de defesa ou recolha aos cofres do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental – Fundef do Município de Curionópolis/PA as quantias a seguir indicadas, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, nos termos da legislação pertinente, a contar das datas especificadas, em razão de despesas comprovadas com documentos fiscais inidôneos, emitidos de forma fraudulenta por empresas inidôneas ou inexistentes, mediante utilização indevida de Autorização de emissão de Documentos Fiscais - AIDFs e de selos fiscais que não lhes pertencem:

(...)

[valor histórico total: R$ 55.009,99]

9.4. com fundamento no art. 12, inciso III, da Lei n° 8.443/92, determinar a audiência do Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura para que, no prazo de 15 (quinze) dias, contados da ciência desta deliberação, apresente razões de justificativa em razão das irregularidades a seguir, todas relativas à contratação direta do Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação – ITEAI, em 2001, 2002 e 2003 (Dispensas de Licitação n°s 009/2001, contrato assinado em 15.01.2001, no valor de R$ 550.000,00; 018/2002, contrato assinado em 19.07.2002, no valor de R$ 275.000,00; e 014-A/2003, contrato assinado em 25.06.2003, no valor de R$ 558.000,00), para fornecimento de bens e equipamentos de informática, incluindo computadores, impressoras, softwares e mesas, com base no inciso XIII do art. 24 da Lei nº 8.666/93 (valor total acumulado de R$ 1.383.000,00):

9.4.1. contratação direta, por dispensa de licitação, com fundamento no art. 24, inciso XIII, da Lei n° 8.666/93, do Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação – ITEAI, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, para ‘prestação de serviços de natureza técnica no desenvolvimento de atividade educacional pedagógica, de caráter educacional de forma contínua do Projeto de Informática Educacional – Projeto DESPERTAR – ITEAI, em escolas da rede pública municipal de ensino, no município de Curionópolis, no Estado do Pará’, quando, na verdade, o referido Instituto, embora qualificado estatutariamente como sociedade civil sem fins lucrativos, tem como finalidade, entre outras, ‘comprar, vender e repassar computadores, impressoras, periféricos, vídeos, softwares, equipamentos de informática, móveis e peças de reposição (...)’, aliado ao fato de que foram efetivamente adquiridos tão-somente equipamentos e softwares de informática como, por exemplo, computadores, monitores, impressoras jatos de tinta, mesas para micro e para impressoras;

9.4.2. contratação direta, por dispensa de licitação, com fundamento no art. 24, inciso XIII, da Lei n° 8.666/93, do Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação – ITEAI, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, acima mencionada, infringindo os princípios constitucionais da isonomia, da legalidade e da licitação (art. 37, caput, e inciso XXI, da Constituição Federal), haja vista a essência lucrativa do negócio e a possibilidade de competição entre fornecedores da área;

9.4.3. ausência de elaboração de orçamento detalhado em planilhas que expressassem a composição de todos os custos unitários, contrariando o § 2°, inciso II, c/c o § 9°, ambos do art. 7° da Lei nº 8.666/93, o que possibilitaria verificar a compatibilidade dos valores contratados com os de mercado;

9.4.4. ausência da razão da escolha do ITEAI e das justificativas quanto aos preços, de modo a atender a exigência do parágrafo único do art. 26 da Lei n° 8.666/93;

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9.4.5. ausência de ratificação da dispensa de licitação, bem como publicação na imprensa oficial, com infringência ao caput do art. 26 da Lei n° 8.666/93;

9.4.6. descumprimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, em face da inadequação da natureza da despesa com os objetivos do Fundef;

9.5. comunicar ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Pará as irregularidades na utilização de recursos do Fundo de Participação dos Municípios constantes destes autos, enviando, em anexo, cópias dos elementos pertinentes:

9.5.1. realização de despesa sem licitação com utilização de recursos do FPM, nas seguintes contratações:

(...)

[valor histórico total: R$ 517.204,90]

9.5.2. realização das seguintes despesas efetuadas com recursos do FPM, cuja liquidação se processou com base em documentos fraudulentos, visto que os selos fiscais e as AIDFs não pertencem às empresas emitentes das notas fiscais, estando ainda as referidas empresas em situação irregular com o Fisco Estadual:

(...)

[valor histórico total: R$ 10.280,00]

9.6. remeter cópia das notas fiscais inidôneas para a Secretaria de Executiva de Estado da Fazenda do Governo do Estado do Pará para providências de sua alçada.”

3. Do exame das alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis para as irregularidades listadas no item 9.2 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara, registrou a Secex/PA:

“4. Em suas alegações de defesa, o responsável, após tecer considerações sobre a natureza dos fatos e considerar improcedentes as imputações (fls. 320/323), preliminarmente argüiu a incompetência do TCU para fiscalizar os recursos do Fundef, supondo que a competência desta Corte de Contas estaria limitada às parcelas referentes à complementação da União (fl. 324).

5. Não lhe assiste razão nesse ponto, uma vez que há entendimento pacífico no âmbito deste Tribunal de que a competência do TCU abrange todo o montante destinado ao Fundef. Esse posicionamento, decorrente da Decisão n° 735/2000-Plenário seguiu a linha do voto proferido pelo Ministro-Relator Humberto Guimarães Souto, resultando na aprovação do projeto de Instrução Normativa que resultou na edição da IN n° 36/2000, a qual reafirma a competência desta Egrégia Corte para fiscalizar os recursos do Fundef, na sua totalidade, quando houver complementação da União. O seguinte excerto do voto condutor ressalta o entendimento firmado:

‘Como não é possível distinguir os recursos federais dos demais recursos, vez que são todos depositados na mesma conta-corrente vinculada ao Fundo, só é possível ao TCU exercer a fiscalização sobre o todo. Isso vale para os Tribunais de Contas das outras esferas de governo. O exercício da fiscalização sobre a totalidade dos recursos, além de fundamentar-se na impossibilidade da fiscalização parcial, pode amparar-se numa interpretação ampla do art. 11 da Lei nº 9.424/96 e no fato de que o Fundo, e não a União, é o destinatário do ressarcimento dos recursos’.

6. Quanto ao mérito, o gestor se manifestou da seguinte forma:

7. Em relação às Despesas estranhas à finalidade do Fundef, contrariando o art. 71 da Lei n° 9.394/96 (LDB) - pagamento de hospedagem e alimentação, o responsável alega que as despesas foram realizadas em favor de uma orientadora educacional, de professores e de funcionários que fazem entrega de material didático (fl. 326).

8. Quanto às despesas com a ITEAI, o responsável argumenta que a contratação dos serviços e fornecimento de materiais da firma ITEAI ‘em momento algum comprometeu o percentual gasto com a

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remuneração do magistério, visto que dos três exercícios (2001 a 2003) restou um saldo de R$ 268.864,04 a ser aplicado nos 40%’ .

9. Reafirma ainda que a contratação da firma ITEAI não contrariou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, concluindo que nem a LDB nem Legislação do Fundef proíbem a aquisição de computadores e softwares para atendimento ou complementação do ensino fundamental, assim não teria havido desvio de recursos do Fundef para outras finalidades.

Análise

10. Observa-se que o gestor admite ter realizado despesas incompatíveis com a manutenção do ensino fundamental ao assumir que arcou com despesas de hospedagem e alimentação de servidores daquela Prefeitura.

11. Ora, se a Lei de Diretrizes e Bases – LDB veda em seu art. 71 a utilização de recursos do Fundo para cobrir despesas relacionadas a Programas Suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social, com mais razão ainda estão proibidos gastos com alimentação e hospedagem de servidores da prefeitura. Tais gastos devem ser cobertos por outras fontes de recursos do município distintas do Fundef.

12. A análise à fl. 285 demonstra que a Prefeitura de Curionópolis/PA deixou de destinar o percentual estipulado em lei para a remuneração do magistério em 2001, 2002 e 2003, pois foram aplicados nessa finalidade apenas os percentuais de 58,64%, 57,38% e 58%, respectivamente.

13. À fl. 292, resta claro que os contratos com o Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação – ITEAI correspondem a praticamente todo o percentual de 40% dos recursos do Fundef que seriam destinados às demais despesas relacionadas com a manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental. Em 2001, o valor do contrato correspondeu a 111,42% do total gasto; em 2002, correspondeu a 54,68%; e, em 2003, atingiu 94,73%.

14. O gestor em seguida se manifesta sobre a contratação sem licitação da firma ITEAI, aspecto que será examinado no item que se refere às irregularidades que ensejaram audiência do responsável, objeto do Ofício n° 1002/2005-SECEX-PA (fl. 310/311).

15. Em relação às despesas com aquisição de combustível para a Prefeitura, com integral cobertura pelos recursos do Fundef, cuja utilização atendeu indistintamente veículos não destinados às atividades vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental, o gestor alega ter verificado que o combustível destinado ao ensino fundamental vincula-se aos recursos do Fundef, mas o combustível destinado a manutenção de serviços de transportes são vinculados à fonte de recursos FPM, ICMS e recursos próprios. Em razão disso, solicita que se proceda a uma análise minuciosa dos documentos pertinentes.

Análise

16. Examinando os documentos do vol. 35 - fl. 6935 (Convite n° 08/02) e fl. 6997 (Convite n° 020/2002), observa-se que o objeto da contratação foi o fornecimento de combustível para os veículos próprios e credenciados da Prefeitura Municipal, não havendo qualquer especificação quanto à aplicação desses insumos.

17. Os documentos evidenciam a utilização de combustível indistintamente em todos os veículos à disposição da Prefeitura, não havendo qualquer vinculação do uso dos insumos exclusivamente com o ensino fundamental, mas, sim, a utilização do combustível indistintamente por todos os veículos a serviço da Prefeitura (fls. 6922/7006 - vol. 35).

18. A planilha apresentada pelo gestor (fls. 332 – vol. I) não elide as irregularidades apontadas, pois demonstra apenas que os recursos do Fundef também são utilizados para aquisição de combustível juntamente com recursos de outras fontes. Ademais, os veículos da Prefeitura são abastecidos de modo indistinto com o combustível adquirido, não havendo controle quanto a esse aspecto.

19. Por fim, em relação às despesas estranhas à finalidade do Fundef, não enquadráveis entre as previstas no art. 70 da Lei n° 9.394/96, tendo como diversas pessoas físicas, o gestor alega que os

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gastos foram realizados em benefício do ensino fundamental, indicando que ocorreu locação de veículo, conserto de geladeiras, bebedouros e outros.

20. Quanto a esse aspecto, o gestor, embora tenha alegado que as despesas se destinaram a finalidades que estariam voltadas para o ensino fundamental, não apresentou qualquer documento comprovando tal alegação. Os argumentos são insuficientes para comprovar a correta e regular aplicação dos recursos, pois os documentos constantes dos autos contrariam a defesa e a tornam insustentável.

21. Com efeito, conforme indicado à fl. 290, onde se menciona especificadamente cada irregularidade encontrada, a natureza das despesas não se compatibiliza com a finalidade do Fundef, como transporte de alunos para freqüentar cursos de preparação ao exame vestibular de acesso ao ensino superior, despesas relacionadas ao programa de erradicação do trabalho infantil, despesas de manutenção da creche municipal, fretes para alunos realizarem provas do ENEM, pagamento de diárias a professores sem vinculação com o ensino fundamental, despesas do Sistema de organização Modular de Ensino – SOME

22. Desse modo, não foram elididas as irregularidades.”

4. Do exame das alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura para a irregularidade indicada no item 9.3 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara, registrou a Secex/PA:

25. Em suas alegações de defesa, o responsável, após tecer considerações sobre a natureza dos fatos e considerar improcedentes as imputações (fls. 334/338), limitou-se invocar a esta Corte de Contas que fosse revista a posição adotada quanto às despesas consideradas irregulares e ‘após uma revisão analítica tenha como regular todas as despesas acima evidenciadas’.

Análise

26. Por óbvio, esse pedido puro e simples de considerar regulares despesas claramente forjadas por documentos fiscais inidôneos não pode e não deve ser acolhido. A ausência de elementos que se contraponham à força probatória dos documentos acostados aos autos torna a defesa apresentada frágil e insuscetível de acolhimento.

27. Desse modo, não foram elididas as irregularidades.”

5. As razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura para as irregularidades constantes do item 9.4 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara foram examinadas pela Secex/PA, que se manifestou nos seguintes termos:

“31. Apesar da gravidade das irregularidades as justificativas apresentadas foram superficiais e sem acréscimo de nenhum documento com eficácia probatória. Limitou-se o gestor a afirmar (fl. 329):

‘a) que a Administração Municipal contratou a firma ITEAI com base em um parecer jurídico emitido pela Comissão de Licitação, embasado no inciso XIII do art. 24 da Lei n° 8.666/93;

‘b) que a firma ITEAI está qualificada estatutariamente como Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos e devidamente registrada em Junta Comercial desde 1997, conforme comprovante às fls. 283 dos presentes autos;

‘c) que esta prefeitura não dispõe do poderio de investigação como a Revista Veja dispõe. Nem poderia se basear no artigo publicado na Revista para por em dúvida a idoneidade da firma, visto que o artigo só foi publicado em 20 de abril de 2005;

‘d) Tampouco contrariou a LDB ou a Lei do Fundef como já demonstramos anteriormente no item 1 da presente defesa e ainda que a contratação não comprometeu o percentual a ser aplicado com a remuneração do magistério.’

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32. Além disso, o gestor nega ter comprometido a destinação do percentual mínimo de 60% para a remuneração do professores, alegando que ‘do total dos três exercícios restou um saldo de R$ 268.864,04 a ser aplicado nos 40%’ (fl. 327).

33. Adicionalmente, afirma não ter contrariado a LDB e argumenta que nem esse diploma legal nem a legislação do Fundef proíbem a aquisição de computadores e softwares para atendimento ou complementação do ensino fundamental.

Análise

34. As alegações não elidem as irregularidades, pois, a rigor, nem sequer atacam o fundamento da impugnação, limitando-se a reafirmar a suposta licitude ou legitimidade do procedimento.

35. Como foi salientado na instrução de fls. 292, a seguir transcrito, resta claro que o enquadramento indevido da dispensa de licitação no art. 24, inciso XIII, da Lei n° 8.666/93, afastou a competitividade entre os fornecedores.

‘A contratada – ITEAI –, embora qualificada estatutariamente como sociedade civil sem fins lucrativos (fl. 6869), tem como finalidade, dentre outras, ‘comprar, vender e repassar computadores, impressoras, periféricos, vídeos, softwares, equipamentos de informática, móveis e peças de reposição (...)’.

‘Tal finalidade revela a essência lucrativa da contratação, pois a aquisição desses produtos no mercado é plenamente viável, havendo ampla possibilidade de competição a ensejar obtenção de propostas efetivamente vantajosas para a Administração, ao passo que ao contratar diretamente a Prefeitura rejeitou a possibilidade de economizar, afrontando os princípios da economicidade e da isonomia.’

36. Saliente-se que a contratação - ainda que sustentada em parecer jurídico favorável ao enquadramento da dispensa na hipótese do art.24, inciso XXIII, da Lei n° 8.666/93 - contrariou o art. 37, caput, e inciso XXI da Constituição Federal, haja vista a essência lucrativa do negócio e a possibilidade de competição entre fornecedores da área.

37. Logo, não foram elididas as irregularidades concernentes ao enquadramento da dispensa de licitação nas hipóteses do art. 24, inciso XIII, da Lei de Licitações, para compra de computadores e softwares. O mesmo se diga quanto à inobservância dos princípios constitucionais elencados no art. 37, caput, e inciso XXI, da Constituição Federal.

38. Quanto às irregularidades mencionadas nos itens 9.4.3 e 9.4.5. do acórdão n° 1.583/2005-2ª Câmara, correspondentes às alíneas ‘c’, ‘d’ e ‘e’ do ofício de audiência n° 1002/2005-SECEX-PA (fl. 300), o gestor não apresentou defesa específica.

39. Conquanto afirme não ter contrariado a LDB, argumentando que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não veda a aquisição de computadores e softwares, o gestor deixou de observar que o volume dos gastos desembolsados inviabilizou outras ações que poderiam ter sido empreendidas com os recursos do Fundo, após a destinação do percentual mínimo de 60% para remuneração do magistério.

40. É importante salientar que, deduzida a remuneração do magistério (contemplada com os 60% do Fundef), o restante dos recursos (correspondente ao máximo de 40%) deverá ser utilizado na cobertura das demais despesas previstas no art. 70 da Lei n 9.393/96 (LDB), que permite:

. ‘remuneração e aperfeiçoamento de demais profissionais da educação’

. ‘aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino’

. ‘uso e manutenção de bens vinculados ao ensino’

. ‘levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino’

. ‘realização de atividades–meio necessárias ao funcionamento do ensino’

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. ‘amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos itens acima’;

. ‘aquisição de material didático – escolar e manutenção de transporte escolar’

41. A LDB estabelece, igualmente, em seu art. 71, os impedimentos de uso dos recursos do FUNDEF. Os recursos do Fundo não poderão ser utilizados para pagamento de:

. Pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou , quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua qualidade ou à sua expansão;

. Subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural;

. Formação de quadros especiais para Administração Pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;

. Programas Suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social;

. Obras de infra –estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;

. Pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.

42. Deste modo, evidencia-se que também não restou elidida a irregularidade referente ao descumprimento da LDB, haja vista a inadequação da natureza das despesas realizadas com o objetivo do Fundef.”

6. Com base nessas conclusões, a Secex/PA propôs que estas contas fossem julgadas irregulares, condenando-se os responsáveis em débito, aplicando-se a multa do art. 58, inciso III, da Lei nº 8.443/92 ao Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura, remetendo-se cópia dos presentes autos ao Ministério Público da União e autorizando-se a cobrança judicial da dívida.

7. O Ministério Público, por meio de parecer do Procurador-Geral Lucas Rocha Furtado, suscitou uma preliminar, manifestando-se nos seguintes termos:

“(...)

Ante o que foi examinado, este membro do Parquet perfilha-se parcialmente às conclusões a que chegou a Secex/PA, dissentindo, em particular, daquelas afetas à contratação irregular, mediante dispensa de licitação, do Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação - ITEAI, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, para o fornecimento de equipamentos e softwares de informática (computadores, monitores, impressoras jato de tinta, mesas para micro e para impressoras), motivo que me leva a acrescentar as considerações que se seguem.

II

As várias irregularidades detectadas no processo de contratação do ITEAI, financiado com recursos do Fundef, no montante de R$ 1.383.000,00, foram o motivo gerador da audiência do Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura, determinada no item 9.4 do Acórdão nº 1.583/2005 – 2ª Câmara, a saber:

(...)

Não obstante a gravidade dos fatos apontados no item 9.4 e subitens do decisum acima reproduzido, o responsável restringiu-se a exibir, com o intuito de demonstrar a regularidade da contratação da ITEAI, as justificativas integralmente transcritas a seguir:

‘a) Que a Administração Municipal contratou a firma ITEAI com base em um parecer jurídico emitido pela Comissão de Licitação, embasado no Inciso XIII do Art. 24 da Lei nº 8.666/93.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC-009.027/2004-8

b) Que a Firma ITEAI está qualificada estatutariamente como Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos e devidamente registrada em Junta Comercial desde 1997, conforme comprovante às fls. 283 dos presentes autos.

c) Que esta prefeitura não dispõe do poderio de investigação como a Revista Veja dispõe. Nem poderia se basear no artigo publicado na Revista para por em dúvida a idoneidade da firma, visto que o artigo só foi publicado em 20 de abril de 2005.

d) Tampouco contrariou a LDB ou a Lei do Fundef como já demonstramos anteriormente no item 1 da presente defesa e ainda que a contratação não comprometeu o percentual a ser aplicado com a remuneração do magistério.’

Há de se observar, logo de início, que o argumento de que a contratação da ITEAI ter-se-ia amparado em parecer jurídico emitido por Comissão de Licitação não encontra qualquer respaldo legal. Conforme prescreve o art. 51 da Lei nº 8.666/93, as atribuições de comissão permanente ou especial de licitação estão afetas a procedimentos concernentes ao processamento e ao julgamento da habilitação preliminar, da inscrição em registro cadastral, da sua alteração ou cancelamento, e das propostas das licitantes, ou seja, todas relacionadas à condução de procedimentos licitatórios e não ao exame jurídico de possível contratação, fundada na dispensa de certame.

Ainda na Lei de Licitações, encontra-se no inc. VI do art. 38 regra tratando da emissão e juntada oportuna aos autos do processo de contratação de pareceres técnico e jurídico a respeito de dispensa ou inexigibilidade, e, se for o caso, de licitação. Ao comentar tal dispositivo, Marçal Justen Filho1 assevera que os ‘pareceres técnicos e jurídicos são manifestações de terceiros, não integrantes da comissão de licitação, pertencentes ou não à Administração Pública’ (grifo nosso). Interpretação diversa não poderia ser intentada, visto que não haveria qualquer isenção no caso de membros de comissões de licitações e de servidores das áreas de contratação direta terem de submeter os próprios atos, futuros ou já concretizados, ao seu exame para emissão de opinião técnica ou jurídica.

Esse mesmo artigo da Lei prevê, em seu parágrafo único, a obrigatoriedade de as minutas de contratos serem, anteriormente a sua assinatura, analisadas e aprovadas pela assessoria jurídica da Administração, determinação legal essa que se destina exatamente ao controle prévio da regularidade e da validade dos atos relativos à gestão dos recursos públicos.

Considerando, então, que a manifestação da comissão de licitação daquela Prefeitura não supre parecer jurídico emitido por consultoria ou assessoria especializada da Administração daquele Município, vê-se que a possível motivação e os termos do ajuste firmado com a entidade ITEAI não foram submetidos ao exame preliminar da legalidade, porquanto não se pode acatar a tese do responsável de que a contratação encontrou arrimo em devida manifestação jurídica.

Quanto ao argumento do responsável de que a ITEAI ‘está qualificada estatutariamente como Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos e devidamente registrada em Junta Comercial’, também não pode ser admitido, por si só, como condição para o acolhimento da legalidade da sua contratação com dispensa de licitação, nos termos do inc. XIII do art. 24 da Lei de Licitações, que assim dispõe:

‘Art. 24. É dispensável a licitação: (...)

XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos’

A contratação direta alicerçada nesse dispositivo legal está autorizada desde que atendidos, concomitantemente, os pressupostos expressamente nele estabelecidas como: (i) o fim buscado pela instituição - pesquisa, ensino ou desenvolvimento institucional, ou recuperação social do preso -, (ii) a inquestionável capacitação da instituição para o desempenho da atividade contratada – inquestionável reputação ético-profissional -, e (iii) não ser a obtenção de lucro a disposição

1 Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 11ª ed., Dialética, São Paulo, 2005, p.377.

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preponderante da entidade - ausência de finalidade lucrativa. Acrescente-se, ainda, como circunstância necessária para caracterizar a excepcionalidade prescrita no inciso retro reproduzido, mesmo não constando expressamente do texto legal, a pertinência entre o objeto da contratação e o ramo de atividade da entidade, isto é, o vínculo entre o fim da instituição e o objeto contratado.

Foi tendo em conta essas premissas que o Eminente Ministro Marcos Vinicios Vilaça adotou mesma linha de raciocínio no seu Relatório que acompanha a Decisão nº 830/98-Plenário, vejamos:

‘Em princípio, vale dizer quer os requisitos para contratação com base no artigo 24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93, não se restringem a ser a instituição brasileira; sem fins lucrativos; detentora de inquestionável reputação ético-profissional; incumbida, regimental ou estatutariamente, da pesquisa, ensino ou desenvolvimento institucional ou, ainda, dedicada à recuperação social do preso.

A fim de compatibilizar a norma com o ordenamento jurídico vigente, onde se tem, no campo da Administração pública, o princípio maior da licitação - balizada por princípios outros como o da impessoalidade, da moralidade - impõe-se uma interpretação rigorosa do dispositivo legal citado, de modo a exigir que a entidade contratada tenha objetivos condizentes com o objeto da contratação e estrutura que comporte o cumprimento pessoal dos compromissos assumidos. (...)

Na hipótese de desconsideração do objeto a ser contratado, estar-se-á concedendo às entidades em questão privilégios além daqueles que se pretendeu. Ademais, tal prática provocará um completo desvirtuamento do instituto da licitação, pois qualquer tipo de serviço poderá ser contratado sem licitação, bastando que a contratada possua os requisitos estabelecidos [expressamente] na lei. Ao se levar em conta somente a característica da contratada, estar-se-á permitindo, portanto, uma interpretação absurda do inciso XIII, do artigo 24, da Lei nº 8.666/93, absolutamente desconforme com o ordenamento pátrio, inclusive a Carta Magna.’ (grifo nosso)

No caso dos autos, deve-se perquirir, portanto, a existência ou não de nexo entre o dispositivo legal que se comenta, a natureza da instituição e o objeto a ser contratado, de modo que se possa, então, deliberar sobre a licitude da contratação efetuada.

De plano, verifica-se que embora o objeto do contrato firmado com a ITEAI tenha sido definido como ‘prestação de serviços de natureza técnica no desenvolvimento de atividade educacional pedagógica, de caráter educacional de forma contínua do Projeto de Informática Educacional –Projeto DESPERTAR – ITEAI, em escolas da rede pública municipal de ensino, no município de Curionópolis, no Estado do Pará’ (fl. 292 do v. 1), refere-se, essencialmente, como consigna a unidade técnica (fl. 291 do v. 1) e, claramente, a defesa do responsável (fl. 327 do v. 1), a ‘fornecimento de equipamentos e softwares para escolas do ensino fundamental’.

Logo, pode-se afirmar que tal objeto não diz respeito à pesquisa ou à recuperação do preso. Ainda que financiado com recursos do Fundef, o fornecimento realizado não pode ser aceito como atividade de ensino, mas como um meio para realizá-la. Poder-se-ia, por fim, argumentar se o objeto contratual sob exame tipificaria a figura do desenvolvimento institucional. Para elucidar essa questão e restar demonstrada a improcedência de tal pretensão, faz-se indispensável transcrever trecho da Decisão nº 30/2000, do Plenário desta Casa:

(...)

Observa-se, outrossim, que o objeto contratado e realizado, conquanto guarde estrita relação com determinadas finalidades a que se presta a contratada, dentre elas a de ‘comprar, vender e repassar computadores, impressoras, periféricos, vídeos, softwares, equipamentos de informática, móveis e peças de reposição necessários à execução dos projetos junto aos cooperados e conveniados’, definida estatutariamente (fls. 6869/6876 do Anexo 1, v. 34), não mostra afinidade com os requisitos necessários a evidenciar a situação de dispensa prevista no inc. XIII, art. 24 da Lei de Licitações, ao contrário, pois abrange somente o fornecimento ordinário de móveis, microcomputadores e impressoras, produtos esses corriqueiramente comercializados por inúmeras empresas do ramo existentes no mercado. No que diz respeito aos softwares, também item do fornecimento, não consta dos autos informação sobre o desenvolvimento dos mesmos pela ITEAI,

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razão porque conclui-se tratarem de programas prontos e, por conseguinte, disponíveis por empresas diversas.

O que se pode inferir dos elementos do processo é que a realização de certame para a contratação do objeto em comento seria o caminho legal a ser trilhado por aquela Prefeitura, entretanto, de forma inversa, buscou ela justificativas frágeis e sem fundamento legal para escorar a contratação direta.

Ainda sobre a contratação da ITEAI, com base nos elementos constantes destes autos, vale salientar que a Prefeitura de Curionópolis não atendeu as regras previstas no art. 26 da Lei de Licitações, eis que: (i) não foi apresentada justificativa acerca da presença dos pressupostos que levaram à contratação direta da instituição (caput do art. 26); (ii) não foram cumpridos os atos de ratificação e de publicação da dispensa na imprensa oficial (caput do art. 26); (iii) não foram apresentadas as razões de escolha daquela entidade (inc. II do parágrafo único do art. 26); e (iv) não foi demonstrada a razoabilidade dos preços contratados (inc. III do parágrafo único do art. 26).

É essencial que num processo de contratação direta seja observado o disposto no comentado artigo, devendo ser demonstradas, em especial, a razão da escolha do fornecedor e a justificativa do preço a fim de que sejam respeitados os princípios da isonomia e da economicidade, princípios esses que não podem ser preteridos em virtude do fundamento em que se dá a contratação. A situação que se mostra mais desfavorável à contratação da ITEAI, no nosso sentir, é, decerto, a ausência de informação detalhada acerca desses dois aspectos.

Legitimar a contratação invocando o fato de não ter a entidade fins lucrativos, como dito anteriormente, não é o bastante. E verdadeiramente preocupante é notar que não foram adotadas por aquela Prefeitura as medidas cautelares com vistas à verificação da compatibilidade do preço contratado com o possivelmente praticado por outras empresas, mediante prévia pesquisa de mercado e elaboração de orçamento estimado. A hipótese de ter havido superfaturamento na contratação da ITEAI é admissível, pois resta claro que, ausentes os parâmetros necessários, não houve por parte do Município de Curionópolis a busca de melhor proposta e, sim, a aceitação irrestrita daquela ofertada pela multicitada instituição.

Outrossim, os relatórios da Secex/PA não consignam qualquer avaliação acerca da razoabilidade dos preços contratados com a ITEAI (DL 09/2001, DL 018/2002 e DL 014-A/2003) e, mais, deixam transparecer que o montante dos pagamentos efetuados àquela instituição, comprovado por intermédio dos documentos enviados pela Prefeitura de Curionópolis, pode não corresponder ao valor real despendido, eis que a importância quitada soma, originalmente, R$ 742.000,00, enquanto que os termos ajustados indicam valor global de R$ 1.383.000,00 (fls. 284/300 e 361/369 do v. 1). A elucidação de tais questões, diga-se, é essencial ao cálculo do possível débito e à devida condenação das partes contratantes

Parece que em razão da ausência de informações sobre a compatibilidade dos preços pactuados com os correntes no mercado e de dados precisos quanto aos pagamentos à ITEAI, a Secex/PA propõe seja julgado em débito o Município de Curionópolis, solidariamente com o Prefeito, pelo valor de R$ 742.000,00, tendo por fundamento somente a compreensão de que tais despesas, bem assim o objeto do contrato, não estão em consonância com as finalidades do Fundef (fl. 366/367 do v. 1). Sustenta que as despesas a serem suportadas pelo Fundef são as de remuneração do magistério e de manutenção e desenvolvimento do ensino, conforme prevê o art. 70 da Lei nº 9.394/96 (estabelece as diretrizes e bases da educação nacional), que transcrevemos a seguir:

‘Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:

I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação;

II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino;

III - uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;

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IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do ensino;

V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino;

VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;

VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;

VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar.’(grifo nosso)

A unidade técnica sugere, ainda, que os gastos com o fornecimento objeto dos contratos com a ITEAI estariam inseridos no rol das despesas que não se constituem em de manutenção e de desenvolvimento, definidos no art. 71 da citada Lei, que assim prescreve:

‘Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:

I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão;

II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural;

III - formação de quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;

IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social;

V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;

VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.’

Primeiramente, vale esclarecer que o Fundef foi criado pela Emenda Constitucional nº 14/96 e regulamentado pela Lei 9.424/96 e pelo Decreto nº 2.264/97, cujo objetivo é garantir a aplicação de recursos públicos na educação, principalmente no ensino fundamental, e corrigir a má distribuição de recursos entre as diversas regiões do País. Dos recursos do Fundef, pelo menos 60% devem ser aplicados na remuneração dos profissionais do magistério (professores - inclusive os leigos - e os profissionais que exercem atividades de suporte pedagógico, tais como: direção, administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional) e a percentagem remanescente nas despesas que guardem correlação com a manutenção e o desenvolvimento do ensino fundamental.

O art. 70 da Lei nº 9.394/96 preceitua que as despesas de manutenção e de desenvolvimento do ensino ali definidas estão voltadas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais, dentre as quais se encontra a de ‘aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino’, portanto, vislumbra-se que tal dispositivo abriga o investimento em equipamentos de informática destinados diretamente à atividade de ensino.

Acredito que contribuem à elucidação da questão suscitada pela unidade técnica, a respeito de a despesa de manutenção e de desenvolvimento do ensino abarcar a resultante da compra de equipamentos de informática, os objetivos e metas consignados no Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 10.172/01. No que se refere ao ensino fundamental, tem-se definidos dentre os objetivos e metas os que se seguem:

‘4. Elaborar, no prazo de um ano, padrões mínimos nacionais de infra-estrutura para o ensino fundamental, compatíveis com o tamanho dos estabelecimentos e com as realidades regionais, incluindo:**

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a) espaço, iluminação, insolação, ventilação, água potável, rede elétrica, segurança e temperatura ambiente;

b) instalações sanitárias e para higiene;

c) espaços para esporte, recreação, biblioteca e serviço de merenda escolar;

d) adaptação dos edifícios escolares para o atendimento dos alunos portadores de necessidades especiais;

e) atualização e ampliação do acervo das bibliotecas;

f) mobiliário, equipamentos e materiais pedagógicos;

g) telefone e serviço de reprodução de textos;

h) informática e equipamento multimídia para o ensino.

5. A partir do segundo ano da vigência deste plano, somente autorizar a construção e funcionamento de escolas que atendam aos requisitos de infra-estrutura definidos.**

6. Assegurar que, em cinco anos, todas as escolas atendam os itens de "a" a "d" e, em dez anos, a totalidade dos itens.**

7. Estabelecer, em todos os sistemas de ensino e com o apoio da União e da comunidade escolar, programas para equipar todas as escolas, gradualmente, com os equipamentos discriminados nos itens de "e" a "h".’** (grifo nosso)

No nosso entender, o Plano Nacional de Educação veio explicitar que a informática a ser introduzida como meio à educação dos alunos do nível fundamental é meta a ser assegurada aos estabelecimentos de ensino. Portanto, de uma interpretação sistemática dos dispositivos legais aqui transcritos e examinados pode-se inferir que o dispêndio decorrente do atendimento do objetivo fixado na alínea ‘h’ e nas metas ‘5’, ‘6’ e ‘7’ está correlacionado ao desenvolvimento do ensino fundamental, e, por conseguinte, está autorizado a ser financiado com os recursos do Fundef.

Convencimento nessa linha já foi revelado pelo Exmo. Sr. Ministro Adylson Motta, no Relatório que acompanha o Acórdão 434/2004-2ª Câmara, ao examinar situação análoga à aqui explorada, vejamos:

‘a15)Com respeito às aquisições de equipamentos de informática, depreende-se das justificativas do gestor que seriam usados - mesmo aqueles instalados em escolas - em atividades administrativas e não de ensino; daí não estariam autorizadas pelo art. 70, inciso II, da Lei nº 9.394/96, que admite tão somente a aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino. Devem estender-se as impugnações também às compras ocorridas em 12.06.2001, mencionadas nas justificativas do gestor.’

III

Com essas ponderações, sugere-se, primeiramente, conforme prevê o art. 40 da Lei nº 8.443/92, o retorno dos autos à Secex/PA para a adoção das medidas necessárias com vistas ao exame da compatibilidade dos preços praticados pelo Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação - ITEAI nos contratos firmados, mediante dispensa de licitação, com a Prefeitura de Curionópolis (DL 09/2001, DL 018/2002 e DL 014-A/2003) e ao levantamento do valor efetivamente pago à mencionada entidade.

Entretanto, à vista do preceito contido no § 2º do art. 62 do Regimento Interno do Tribunal, que dispõe sobre a necessidade de este Ministério Público pronunciar-se, desde logo, sobre o mérito das presentes contas, ainda que suscite questão preliminar, em face da eventualidade da sugestão supra não ser acolhida, manifesto-me no sentido de serem acatadas as propostas de encaminhamento formuladas pela Secex/PA e consignadas nas alíneas ‘a’, ‘c’, ‘e’ e ‘f’ da instrução de fls. 361/369 (v. 1), e, em acréscimo, as que se seguem:

I  -  acatar parcialmente as justificativas apresentadas pelo responsável Sebastião Curió Rodrigues de Moura, especificamente quanto à compatibilidade do objeto dos contratos firmados, com

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dispensa de licitação, entre a Prefeitura de Curionópolis e o Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação - ITEAI com a finalidade do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef;

II -  julgar em débito o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura solidariamente com o Município de Curionópolis/PA, nos termos dos arts. 1º, inciso I, e 16, inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’ e 19, caput, da Lei nº 8.443/92, condenando-o ao pagamento do valor original de R$ 692.052,35, discriminado a seguir, atualizado monetariamente e acrescido dos juros de mora, calculado a partir da data indicada até a efetiva quitação do débito, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias para que comprove, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Fundef, nos termos do art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da citada Lei c/c o art. 214, inciso III, alínea ‘a’ do Regimento Interno/TCU:

(...)

III- aplicar ao Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura a multa prevista no art. 58, incisos II e III, da Lei nº 8.443/92, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada na forma prescrita no citado Diploma Legal.”

8. Acolhida pelo Ministro-Substituto Marcos Bemquerer a preliminar suscitada pelo Ministério Público, a Secex/PA fez as pesquisas necessárias para verificar a compatibilidade dos preços praticados pelo ITEAI nos contratos firmados mediante dispensa de licitação, bem como para levantar o valor efetivamente pago à referida entidade, promovendo nova instrução dos autos.

9. Salienta a instrução que o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura não apresentou em suas razões de justificativa as propostas comerciais do ITEAI, nas quais estariam previstos, segundo o item 8.2 do Contrato 018/02, todos os custos diretos e indiretos relativos aos serviços, bem como todas as despesas com transporte, estada e alimentação. Ademais, que os contratos celebrados com base nas dispensas de licitação examinadas não apresentam custo unitário por item do objeto, apenas valor global.

10. Menciona, ainda, trabalho realizado na Prefeitura Municipal de Belém (Relatório da Fiscalização de Orientação Centralizada - FOC Inclusão Digital, TC 023.630/2006-2), no qual se constatou que o software de autoria do ITEAI, denominado Projeto Despertar, é de baixa qualidade técnica e possui preço acima do mercado.

11. Registra a instrução todos os esforços empreendidos para verificar a compatibilidade dos preços, conforme suscitado pelo Ministério Público. Foram feitas comparações com outras contratações do ITEAI e com outras fontes de consulta. Pesquisou-se, também, ações em curso envolvendo contratações superfaturadas dessa entidade em outros municípios do País.

12. Contudo, apesar desses esforços, ressalta a instrução:

“16. O art. 210, § 1º, inciso I, do Regimento Interno dispõe que a apuração do débito far-se-á mediante estimativa, quando, por meios confiáveis, apurar-se quantia que seguramente não excederia o real valor devido.

17. As tabelas acima demostram a incompatibilidade dos preços praticados pelo ITEAI nos contratos DL 09/2001, DL 018/2002 e DL014-A/2003 celebrados com o município de Curionópolis. O menor valor calculado para cada software, incluindo os serviços, considerando o preço estimado de mercado para os equipamentos, foi de R$ 1.833,33. A título de comparação, embora não seja educativo-pedagógico, o software MS Offfice 97 Educacional, contendo os aplicativos Word, Excel, PowerPoint e Internet Explorer, custava em 2003 R$ 600,00 no varejo. Utilizando os preços oferecidos pela RCT Computadores na Escola Ltda. (fls. 397), calculamos o valor de R$ 9.324,00 (R$1.332,00 X 7) para a compra de 23 softwares para instalação em 170 computadores. Não obstante a Prefeitura Municipal de Curionópolis não tenha especificado suficientemente o objeto dos contratos nem apresentado custo unitário por item do objeto, e o responsável possa utilizar o direito a ampla defesa e contraditório para impugnar a estimativa das tabelas acima, entendemos, não ser possível determinar com precisão o valor do dano causado ao erário, pelos fatores abaixo:

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a) o objeto dos contratos não está suficientemente especificado;

b) os contratos não apresentam custo unitário por item do objeto (equipamentos, software e serviços);

c) a Prefeitura Municipal de Curionópolis não realizou pesquisa de preços;

d) a defasagem tecnológica dos equipamentos contratados, com suas configurações específicas, o bem como o lapso decorrido, dificultam a pesquisa de preços;

e) A localidade distante obsta que se faça comparação com preços de serviço, como manutenção, contratado em São Paulo.

Conforme o Acórdão n.º 640/2006-Plenário, quando a metodologia de cálculo de débito utilizada não atender às condições estabelecidas no artigo 210, § 1º, do RITCU, deverão as contas ser julgadas irregulares, sem imputação de débito aos responsáveis, ante a existência de um dano de difícil quantificação. Todavia, ainda nos termos do Acórdão em comento, será possível a aplicação aos responsáveis da multa prevista no art. 58, inciso I, da Lei 8.443/92, quando configurada a hipótese descrita no art. 16, III, ‘c’, da Lei Orgânica desta Corte de Contas.”

13. Passa, em seguida, a instrução a registrar, além do já mencionado Relatório da Fiscalização de Orientação Centralizada - FOC Inclusão Digital (TC 023.630/2006-2), ações a cargo da Controladoria-Geral da União que identificaram irregularidades em contratos firmados com o ITEAI, alguns também objeto deste processo, e com a empresa Aplicar Serviços Especializados de Pesquisa e Tecnologia Ltda., sucessora do ITEAI. Destaca-se:

“19. Em seu Relatório de Ação de Controle 00190.011469/2004-16 (Anexo 2), referente a fiscalização executada entre 9 e 25/8/2005, a Controladoria-Geral da União constatou nos contratos celebrados pelo município de Curionópolis com o ITEAI em 2001, 2002, 2003 e 2004:

a) localização de 43 computadores informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI em diversos setores da Administração Municipal (subitem 1.4);

b) ausência de semelhança de 5 computadores inspecionados, dos 43 computadores citados, com os encontrados nas escolas municipais encontradas nem semelhança entre si, caracterizando indício de que não foram fornecidos pelo ITEAI (subitem 1.5);

c) localização na Escola Betel de 5 computadores informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI, no entanto, oriundos do Programa Nacional de Informática na Escola-Proinfo do MEC (subitem 1.5);

d) localização na Escola José Rodrigues de apenas 10 computadores dos 12 informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI (subitem 1.5);

e) localização na Escola São Benedito de apenas 9 computadores dos 10 informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI, haja vista um deles ter sido emprestado à Assistência Social do município (subitem 1.7);

f) estimativa de 480 CDs não localizados e instalados, dos 640 contratados, representando inexecução de 75% do item do contrato (subitem 1.6);

g) ausência de manutenção dos equipamentos adquiridos com recursos do Fundef, com 39 computadores com defeito e 6 impressoras inoperantes por falta de cartucho de tinta (subitem 1.7);

h) comprovantes de despesas apresentados pelo ITEAI sem o correspondente documento bancário de pagamento (subitem 1.2), conforme tabela abaixo:

(...)

20. O Relatório da Fiscalização de Orientação Centralizada - FOC Inclusão Digital (TC 023.630/2006-2) já citado constatou que a empresa Aplicar Serviços Especializados de Pesquisa e Tecnologia Ltda., sucessora do ITEAI, em conluio com a Prefeitura Municipal de Belém, não efetuou a entrega do material permanente do convênio, que montam em R$ 993.000,00, e também, não

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executou os treinamentos e adequação da rede lógica e elétrica, orçados em R$ 540.000,50, o que vem sendo realizado pela própria prefeitura, por meio de sua empresa pública Cinbesa.

21. A Controladoria-Geral da União, motivada por representação do Ministério Público Federal – Procuradoria Regional da República da 1a. Região, desenvolveu ações de controle interno com o objetivo de verificar a aplicação de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do ensino Fundamental e de Valorização do Magistério-Fundef no município de Curionópolis no período de 2001 a 2004. Os resultados foram apresentados no já citado Relatório de Ação de Controle 00190.011469/2004-16 (fls. 2 a 118), encaminhado a este Tribunal de Contas da União, juntado como anexo 2, e estão resumidos a seguir.

. LICITAÇÃO - ITEAI (subitem 1.1, fl. 7)

. Ausência de autuação, protocolo e numeração sequencial-art. 38, Lei 8666/93 (subitem 1.1.1, fl. 7);

. Ausência de justificativa de preço-art. 26, III, Lei 8.666/93 (subitem 1.1.2, fl. 8);

. Ausência de proposta formalizada com orçamento detalhado em planilha-art. 7º, II, par. 2º c/c art. 38, IV, Lei 8.666/93 (subitem 1.1.3, fl. 8);

. CONTRATO - ITEAI (subitem 1.2, fl. 9)

. Ausência de designação formal de fiscal dos contratos (subitem 1.2.1, fl. 9);

. Ausência de comprovante de publicação dos extratos dos contratos-art. 61, Lei 8666/93 (subitem 1.2.2, fl. 9);

. Fuga à licitação na aquisição de equipamentos de informática (DL 09/2001 e DL 14-A/2003) (subitem 1.3, fl. 10);

. Realização de despesas em desacordo com a legislação do FUNDEF: localização de 43 computadores informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI em diversos setores da Administração Municipal (subitem 1.4, fl. 10);

. Ausência de semelhança dos 43 computadores citados com os encontrados nas escolas municipais encontradas nem semelhança entre si, caracterizando indício de que não foram fornecidos pelo ITEAI (subitem 1.5, fl. 12);

. Localização na Escola Betel de 5 computadores informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI, no entanto, oriundos do Programa Nacional de Informática na Escola-PROINFO do MEC (subitem 1.5, fl. 12);

. Localização na Escola José Rodrigues de apenas 10 computadores dos 12 informados pela prefeitura como fornecidos pelo ITEAI (subitem 1.5, fl. 12);

. Estimativa de 480 CDs não localizados, dos 640 contratados, representando inexecução de 75% do item do contrato (subitem 1.6, fl. 13);

. Ausência de manutenção dos equipamentos adquiridos com recursos do Fundef, com 39 computadores com defeito e 6 impressoras inoperantes (subitem 1.7, fl. 14);

. PRESTAÇÃO DE CONTAS (item 2, fl. 15)

. Movimentação bancária da conta corrente do FUNDEF divergente dos comprovantes de despesas constantes nas prestações de contas. Retiradas da conta do FUNDEF sem suporte documental (subitem 2.1, fls. 15 e ss);

(...)

. Comprovantes de despesas sem os documentos bancários de pagamento correspondentes (subitem 2.1, fls. 42 e ss);

(...)

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. Irregularidades em notas fiscais pertencentes à prestação de contas do FUNDEF, com utilização de documentos inidôneos, no total de R$ 55.009,99 (subitem 2.2, fl. 74);

. Omissão de documentos fiscais irregulares pertencentes a prestação de contas do FUNDEF - 13 dos 15 documentos fiscais inidôneos citados na denúncia foram retirados da prestação de contas do FUNDEF (subitem 2.3, fl. 78);

. Divergência entre as prestações de contas apresentadas na prefeitura e no TCM. Documentos encontrados apenas no TCM (subitem 2.4, fl. 80);

. Divergência entre as prestações de contas apresentadas na prefeitura e no TCM. Documentos encontrados apenas na Prefeitura (subitem 2.4, fl. 80);

. Despesas inelegíveis realizadas em desacordo com a legislação do FUNDEF (subitem 2.5, fl. 85);

. Aquisição de combustíveis sem prévia licitação do Posto Fazendão, no total de 69.371,42, R$ 26.002,87 em 2002 e R$ 43.368,55 em 2003 (subitem 2.6, fl. 88);

. Impropriedades no processo de dispensa de licitação 018/04 para aquisição de combustíveis adjudicada ao Auto posto Alvorada Ltda. pelo valor de R$ 147.210,44-valor do contrato: R$ 200.000,00 (subitem 2.7, fl. 89);

. Impropriedades no processo de licitação para aquisição de materiais de construção - Convite 014/04 adjudicado à Marabá Motores Ltda. (subitem 2.8, fl. 89);

. Impropriedades no processo de dispensa de licitação para locação de veículos (subitem 2.9, fl. 90);

. Impropriedades no processo de licitação para aquisição de materiais de limpeza - Convite 012/04 (subitem 2.10, fl. 90);

. Fracionamento de despesas, com a contratação de compras e serviços sem processo licitatório, em 2001,2002,2003 e 2004. (subitem 2.11, fl. 91);

. FOLHA DE PAGAMENTO (item 3, fl. 93)

. Pagamentos efetuados em 2001 e 2002 pela prefeitura com recursos do FUNDEF (parcela dos 60%) a profissionais do magistério lotados em creches e escolas estaduais (subitem 3.1, fl. 93);

. Pagamentos efetuados em 2001 e 2002 pela prefeitura com recursos do FUNDEF (parcela dos 40%) a profissionais do magistério lotados em creches, escolas estaduais e servidores lotados na Secretaria da Educação (subitem 3.2, fl. 95);

. Ausência de concurso público para contratação dos profissionais do magistério público municipal, contrariando a CF/88, a LDB e a Resolução /CNE 03/97 (subitem 3.3, fl. 97);

. Ausência da instituição de plano de carreira e remuneração do magistério, em desacordo com o art. 9º da Lei 9424/96 (subitem 3.4, fl. 98);

. Ausência de apresentação das guias de recolhimento do FGTS e informações à Previdência Social-GFIP referentes às folhas de pagamento do magistério e dos trabalhadores da educação pagos com recursos do FUNDEF em 2001, 2002, 2003 e 2004. (subitem 3.5, fl. 98);

. Ausência de anotações na CTPS dos profissionais do Magistério, por parte da prefeitura. (subitem 3.6, fl. 100);

. Ausência de comprovação do recolhimento do FGTS do magistério fundamental e dos trabalhadores da educação por parte da prefeitura (subitem 3.7, fl. 101);

. Pagamento de salário família aos profissionais do magistério e aos trabalhadores da educação em valores inferiores aos estabelecidos na legislação (subitem 3.8, fl. 102);

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. CONSELHO DE ACOMPANHAMENTO E CONTROLE SOCIAL (item 4, fl. 111)

. Indício de fraude na documentação sobre a criação e atuação do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF apresentada pela prefeitura e pelo conselho. (subitem 4.1, fl. 111).

22. A Controladoria-Geral da União no Estado do Pará recomendou ao Ministério da Educação a instauração de tomada de contas especial, em face dos prejuízos decorrentes dos contratos do município de Curionópolis com o ITEAI (Anexo 2, fl. 115) e das divergências entre os documentos de suporte das despesas e débitos na conta corrente do Fundef, pelo fato de os contratos não discriminarem o valor unitário de cada item contratado e pela impossibilidade de identificar quais documentos de suporte das despesas pertencem legitimamente à prestação de contas do Fundef.

23. O Relatório da Fiscalização de Orientação Centralizada - FOC Inclusão Digital (TC 023.630/2006-2) já citado constatou que a empresa Aplicar Serviços Especializados de Pesquisa e Tecnologia Ltda., sucessora do ITEAI, em conluio com a Prefeitura Municipal de Belém, não efetuou a entrega do material permanente do convênio, que montam em R$ 993.000,00, e também, não executou os treinamentos e adequação da rede lógica e elétrica, orçados em R$ 540.000,50, o que vem sendo realizado pela própria prefeitura, por meio de sua empresa pública Cinbesa.

24. Pela análise da tabela elaborada às fls. 400 a 402, constatamos as seguintes irregularidades descritas no relatório da Controladoria-Geral da União e já constantes da citação e audiência efetuadas ao Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura ou informadas ao Tribunal de Contas dos Municípios ou analisada em instrução:

a) Despesas estranhas à finalidade do Fundef, pagas a José Ivan de A Azevedo (com diferença de 5 dias com relação à data informada na citação), Célia Maria de S Costa, Maria do Rosário Castro e Ricardo da Costa Ferreira;

b) Irregularidades em notas fiscais pertencentes à prestação de contas do FUNDEF, com utilização de documentos inidôneos, no total de R$ 55.009,99;

c) Aquisição de combustível do Posto Fazendão Ltda. sem licitação, com recursos do FPM, com emissão da nota fiscal 4152, de 10/9/2003 (no Acórdão 1.583/2005-2C é citada a nota fiscal 130, com a mesma data e valor da nota 4152).

d) Fuga à licitação na aquisição de bens de informática do ITEAI;

e) ausência de justificativa de preço para contratação do ITEAI (para os contratos celebrados em 2001, 2002 e 2003, já que no TC 009.027/2004-8 o contrato celebrado em 2004 não é objeto de análise);

f) Ausência de proposta formalizada com orçamento detalhado em planilha para contratação do ITEAI (para os contratos celebrados em 2001, 2002 e 2003, já que no TC 009.027/2004-8 o contrato celebrado em 2004 não é objeto de análise),

g) treze dos quinze documentos fiscais inidôneos citados na denúncia foram retirados da prestação de contas do FUNDEF (item 18 da instrução de 15/4/2005, fl. 287).

25. Executada a primeira determinação constante do despacho à fl. 379, em relação ao levantamento do valor efetivamente pago pelo município de Curionópolis ao ITEAI, em seu Relatório de Ação de Controle 00190.011469/2004-16 (TC 020.542/2006-4, fls. 8 e 15), a Controladoria-Geral da União informa que o investimento foi de R$ 1.755.000,00 (em 23/8/2004 foi assinado o contrato 17/2004 com o ITEAI no valor de R$ 372.000,00).”

14. Diante dessas novas informações, a Secex/PA propõe:

“a) acatar parcialmente as justificativas apresentadas pelo responsável Sebastião Curió Rodrigues de Moura, especialmente quanto à compatibilidade do objeto dos contratos firmados, com dispensa de licitação, entre o município de Curionópolis e o Instituto de Tecnologia Aplicada à

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Informação-ITEAI com a finalidade do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef;

b) Julgar as presentes contas irregulares;

c) Julgar em débito o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura solidariamente com o Município de Curionópolis/PA, nos termos dos arts. 1º, inciso I, e 16, inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’ e 19, caput, da Lei nº 8.443/92, condenando-o ao pagamento do valor original de R$ 692.052,35, discriminado a seguir, calculado a partir da data indicada, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, até a efetiva quitação do débito, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, para que comprove, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Fundef, nos termos do Art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da citada Lei c/c o Art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do Regimento Interno/TCU:

Denominação Social NF/NP Emissão Valor (R$)

Chamon & Cia Ltda 697 19/02/2002 25,00

Churrascaria Carajás 286 12/03/2002 300,00

Churrascaria Carajás 279 24/06/2002 70,00

COTRANSP 74 09/10/2001 800,00

Posto Fazendão Ltda - 29/03/2002 220.000,00

Posto Fazendão Ltda - 11/10/2002 433.325,00

Auto Posto Curionópolis 275 13/03/2002 27.027,68

Auto Posto Modelo 596 10/04/2002 3.670,29

CPF Nome Data Valor (R$)

124.927.102-97 João José de Oliveira 24/10/01 2.682,42

718.473.912-49 Ana Célia B. Lima 03/07/01 250,00

225.405.983-15 José Ivan de A. Azevedo 12/06/01 990,00

- Célia Maria de S. Costa 01/11/01 260,00

138.872.542-87 Ambrozino Brito Barbosa

20/09/01 792,00

- Maria do Rosário Castro

03/10/01 60,00

181.916.902-25 Ricardo da Costa Ferreira

05/06/01 1.800,00

.Valor Original do Débito: R$ 692.052,35

d) Julgar em débito o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura, nos termos dos arts. 1º, inciso I, e 16, inciso III, alínea ‘d’ e 19, caput, da Lei nº 8.443/92, condenando-o ao pagamento do valor original de R$ 55.009,99, discriminado a seguir, calculado a partir da data indicada, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, até a efetiva quitação do débito, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, para que comprove,, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres da Fundef, nos termos do Art. 23, inciso III, alínea ‘a’, da citada Lei c/c o Art. 214, inciso III, alínea ‘a’, do Regimento Interno/TCU:

Denominação Social Nota Fiscal Data de Emissão Valor (R$)

Dist S. Izabel 789 22/04/2003 6.202,20

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FER 72 16/01/2003 674,80

FER 85 24/02/2003 1.465,00

RG Serra 326 10/05/2002 2.407,40

M A de Aguiar 2361 21/06/2002 7.884,48

M E S Rodrigues 280 10/05/2002 3.700,00

MDS Machado 687 12/08/2003 5.400,00

FF Ribeiro 852 03/07/2002 7.947,22

M C Tapanã 136 10/02/2003 2.500,00

L F Fontel 3803 10/07/2002 7.880,29

Liderança 110 21/03/2003 2.900,00

Comercial ABC 6771 10/04/2003 6.048,60

. Valor Original do Débito: R$ 55.009,99

e) Aplicar ao Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura a multa prevista no art. 58, incisos I , II e III, da Lei n° 8.443/92, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, acrescida de correção monetária, calculada a partir do dia seguinte ao término do prazo ora fixado até a data do recolhimento, na forma da legislação em vigor;

f) Seja remetida cópia dos presentes autos ao Ministério Público da União para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis, nos termos do Art. 16, §3º, da Lei nº 8.443/92; e

g) Seja autorizada, desde logo, a cobrança judicial da dívida, nos termos do art.28, inciso II, da Lei nº 8.443/92, caso não atendida a notificação.”

15. Em nova intervenção, o Ministério Público, por meio de parecer do Procurador-Geral Lucas Rocha Furtado, manifestou-se nos seguintes termos:

“Trata-se de representação da lavra do Procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza convertida em tomada de contas especial mediante o Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara. Apontam-se, no processo, irregularidades na gestão de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef – repassados ao Município de Curionópolis/PA nos exercícios de 2001, 2002 e 2003.

- II -

Já opinamos neste feito, mediante parecer constante das folhas 370 a 378. Naquela oportunidade, sugerimos que o feito retornasse à Secex/PA para que se procedesse ao exame da compatibilidade, frente ao mercado, dos preços praticados pelo Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação – ITEAI – nos contratos firmados com dispensa de licitação entre aquela entidade e o Município de Curionópolis.

Admitindo a hipótese de não ser acatada a nossa sugestão de adoção daquela medida preliminar saneadora, formulamos desde logo, naquele ensejo, proposta de mérito em concordância com o alvitrado pela unidade técnica às folhas 368/369, alíneas ‘a’ (que as presentes contas sejam julgadas irregulares), ‘c’ (que seja condenado em débito, pelo valor de R$ 55.009,99, o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura, prefeito à época dos fatos, em razão de utilização de notas fiscais inidôneas na comprovação de despesas realizadas com recursos do Fundef); ‘e’ (que seja remetida cópia destes autos ao Ministério Público da União, para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis) e ‘f’ (que seja autorizada, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação).

Propusemos, ainda, naquela oportunidade: o acatamento das justificativas apresentadas pelo prefeito Sebastião Curió Rodrigues de Moura quanto às irregularidades apontadas nos contratos

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firmados entre o Município de Curionópolis e o ITEAI; a condenação em débito daquele gestor, solidariamente com o Município de Curionópolis/PA, pelo valor de R$ 692.052,35, em razão de realização de despesas estranhas às finalidades do Fundef; e a aplicação da multa prevista no artigo 58 da Lei nº 8.443/1992 ao referido gestor, em decorrência da não realização de licitação na contratação de fornecedores.

- III -

Autorizada, mediante despacho exarado à folha 379, a adoção da medida preliminar que havíamos sugerido, a Secex/PA, após levá-la a efeito, chegou à conclusão de que, nas contratações do ITEAI pelo Município de Curionópolis/PA (folha 409):

‘a) o objeto dos contratos não está suficientemente especificado;

b) os contratos não apresentam custo unitário por item do objeto (equipamentos, software e serviços);

c) a Prefeitura Municipal de Curionópolis não realizou pesquisa de preços;

d) a defasagem tecnológica dos equipamentos contratados, com suas configurações específicas, o bem como o lapso decorrido, dificultam a pesquisa de preços;

e) A localidade distante obsta que se faça comparação com preços de serviço, como manutenção, contratado em São Paulo.’

Ponderou, então, a unidade técnica, que àquelas contratações deve-se aplicar o entendimento firmado pelo Tribunal no Acórdão nº 640/2006-TCU-Plenário, no sentido de que, revelando-se inviável a quantificação do dano segundo os critérios previstos no artigo 210, § 1º, do Regimento Interno do TCU, deverão as contas ser julgadas irregulares, sem imputação de débito aos responsáveis, podendo-se a esses aplicar a multa prevista no artigo 58 da Lei nº 8.443/1992.

Perfilhando esse posicionamento da Secex/PA, este representante do MP/TCU reitera sua proposta de mérito formulada às folhas 377/378, com os seguintes ajustes:

a) que sejam rejeitadas as justificativas apresentadas pelo Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura quanto às irregularidades apontadas nos contratos firmados entre o Município de Curionópolis e o ITEAI; e

b) que a aplicação da multa prevista no artigo 58 da Lei nº 8.443/1992 ao referido gestor se dê no valor máximo previsto em portaria da Presidência do TCU, vez que essa penalidade decorre da não realização de licitação na contratação de fornecedores e do cometimento, nas contratações do ITEAI, de irregularidades que acarretaram dano não quantificável aos cofres do Fundef.”

É o Relatório.

VOTO

Diversas irregularidades graves identificadas na gestão de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) repassados ao Município de Curionópolis/PA, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, motivaram o oferecimento de Representação pelo Ministério Público, posteriormente convertida em tomada de contas especial.

2. Algumas delas referem-se a prejuízos causados aos cofres do Fundef, em decorrência da utilização indevida de parte dos seus recursos, tais como: despesas estranhas à finalidade do Fundef, contrariando o art. 71 da Lei nº 9.394/96 (LDB); despesas com aquisição de combustível para a Prefeitura, com integral cobertura pelos recursos do Fundef, cuja utilização atendeu indistintamente veículos não destinados às atividades vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental; despesas estranhas à finalidade do Fundef, não enquadráveis entre as previstas no art. 70 da Lei n° 9.394/96, tendo como beneficiárias pessoas físicas; e despesas comprovadas com documentos fiscais inidôneos, emitidos de forma fraudulenta por empresas inidôneas ou inexistentes, mediante

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utilização indevida de Autorização de emissão de Documentos Fiscais - AIDFs e de selos fiscais que não lhes pertencem.

3. Essas despesas irregulares somaram, em valores históricos, a quantia de R$ 747.062,34. Trata-se, portanto, de soma significativa que deixou de ser aplicada nos objetivos expressos na lei para a manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e para a valorização do magistério.

4. Parte da utilização desses recursos (R$ 692.052,35) aproveitou ao Município de Curionópolis/PA, razão pela qual foi esse ente chamado a manifestar-se nos autos junto com o responsável, Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura. Todavia, as alegações de defesa apresentadas por ambos, idênticas, foram insatisfatórias.

5. Com relação à preliminar de incompetência deste Tribunal para fiscalizar a utilização dos recursos do Fundef, ressalta-se que se trata de matéria há muito superada. Nos termos da Decisão nº 735/2000-Plenário e da IN/TCU nº 36/2000, restou o entendimento de que essa competência abrange a totalidade dos valores destinados ao Fundef, quando houver complementação da União.

6. No tocante às questões de mérito, houve o reconhecimento do pagamento de hospedagem e alimentação para servidores municipais, tendo sido, segundo as informações apresentadas, R$ 25,00 referentes a despesas de hospedagem de uma orientadora de capacitação educacional, R$ 300,00 a despesas de alimentação de professores da zona rural, participantes de curso de capacitação pedagógica, e R$ 70,00 a despesas de alimentação de funcionários que fazem a entrega de material didático nas escolas municipais do ensino fundamental.

7. Ao contrário do que defendem, esses gastos não encontram amparo na Lei nº 9.394/96. Pelo art. 71, inciso IV, verifica-se não integrar o rol de despesas consideradas como de manutenção e desenvolvimento do ensino aquelas relacionadas a “programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de assistência social”. Assim, esses gastos deveriam ter sido cobertos por outras fontes próprias de recursos do Município distintas do Fundef, em especial quando se verifica que nos três exercícios examinados o percentual de 60% que deveria ter sido destinado à remuneração do magistério não foi atingido, conforme levantado pela Secex/PA.

8. Quanto às despesas com aquisição de combustível para a prefeitura, no valor de R$ 684.022,97, com integral cobertura pelos recursos do Fundef, para utilização em veículos não destinados às atividades vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento do ensino fundamental, a alegação do gestor de que o combustível destinado ao ensino fundamental vincula-se aos recursos do Fundef e de que aquele destinado à manutenção de serviços de transportes é vinculado à fonte de recursos FPM, ICMS e recursos próprios não encontra amparo nos elementos apresentados.

9. A única informação clara constante dos autos refere-se aos Convites n°s 08/02 e 020/2002, nos quais se observa que o objeto da contratação foi o fornecimento de combustível para os veículos próprios e credenciados da prefeitura, sem qualquer especificação quanto ao uso. Não há boletos de utilização indicando os carros abastecidos e sua vinculação. Assim, diante dessa absoluta ausência de informações, o que se verifica é a utilização de combustível indistintamente por todos os veículos a serviço da prefeitura.

10. No que se refere às despesas estranhas à finalidade do Fundef, não enquadráveis entre as previstas no art. 70 da Lei nº 9.394/96, tendo como beneficiárias diversas pessoas físicas, a alegação do gestor de que se trata de gastos realizados em benefício do ensino fundamental, como locação de veículo, conserto de geladeiras, bebedouros e outros, também não se sustenta. Não há nos autos nenhum documento que possa comprovar essa alegação.

11. Conforme apurado pela Secex/PA (fl. 290, volume 1), a natureza das despesas acima referidas não se compatibiliza com a finalidade do Fundef. Os gastos referem-se a: transporte de alunos para freqüentar cursos de preparação para exame vestibular de acesso ao ensino superior, despesas relacionadas ao programa de erradicação do trabalho infantil, manutenção da creche municipal, fretes para alunos realizarem provas do ENEM, pagamento de diárias a professores sem vinculação com o ensino fundamental, despesas do Sistema de organização Modular de Ensino – SOME.

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12. Com relação à irregularidade relativa às despesas comprovadas com documentos fiscais inidôneos, emitidos de forma fraudulenta por empresas inidôneas ou inexistentes, mediante utilização indevida de Autorização de emissão de Documentos Fiscais - AIDFs e de selos fiscais que não lhes pertencem, o responsável é somente o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura. Suas alegações de defesa, que se limitaram a discorrer sobre a natureza dos fatos, considerar improcedentes as imputações e pedir que este Tribunal revisse a posição para, após novo exame, considerar regulares as despesas comprovadas por meio desses documentos inidôneos, não merecem acolhida. O responsável não trouxe qualquer elemento capaz de se contrapor aos documentos acostados aos autos, inviabilizando a possibilidade de acolhimento de sua defesa.

13. No que se refere às irregularidades identificadas na contratação direta do Instituto de Tecnologia Aplicada à Informação (ITEAI), em 2001, 2002 e 2003, com fundamento no art. 24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93, para fornecimento de bens e equipamentos de informática, incluindo computadores, impressoras, softwares e mesas, totalizando R$ 1.383.000,00 (item 9.4 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara), verifica-se que as razões de justificativa apresentadas não são satisfatórias.

14. O responsável afirma que essa contratação não comprometeu o percentual gasto com a remuneração do magistério e que não houve afronta à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, uma vez que nem a LDB nem a legislação do Fundef proíbem a aquisição de computadores e softwares para atendimento ou complementação do ensino fundamental. Assim, não teria havido desvio de recursos do Fundef para outras finalidades.

15. Com efeito, os argumentos do responsável não justificam as irregularidades identificadas. O ITEAI, ainda que qualificado estatutariamente como sociedade civil sem fins lucrativos, tem como finalidade, entre outras, “comprar, vender e repassar computadores, impressoras, periféricos, vídeos, softwares, equipamentos de informática, móveis e peças de reposição (...)”. Nesse sentido, não há como afastar a essência lucrativa da contratação em foco, haja vista que a aquisição desses produtos no mercado mediante ampla competição, é viável, possibilitando a obtenção de propostas mais vantajosas para a Administração. Assim, a contratação direta afastou a possibilidade de observância dos princípios da economicidade e da isonomia.

16. Merece destaque que, apesar da gravidade do conjunto das irregularidades apontadas, o responsável limitou-se a apresentar as seguintes justificativas:

“a) Que a Administração Municipal contratou a firma ITEAI com base em um parecer jurídico emitido pela Comissão de Licitação, embasado no Inciso XIII do Art. 24 da Lei nº 8.666/93.

b) Que a Firma ITEAI está qualificada estatutariamente como Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos e devidamente registrada em Junta Comercial desde 1997, conforme comprovante às fls. 283 dos presentes autos.

c) Que esta prefeitura não dispõe do poderio de investigação como a Revista Veja dispõe. Nem poderia se basear no artigo publicado na Revista para por em dúvida a idoneidade da firma, visto que o artigo só foi publicado em 20 de abril de 2005.

d) Tampouco contrariou a LDB ou a Lei do Fundef como já demonstramos anteriormente no item 1 da presente defesa e ainda que a contratação não comprometeu o percentual a ser aplicado com a remuneração do magistério.”

17. Com relação à emissão de parecer jurídico pela comissão de licitação, cabe salientar que não se trata de competência dessa comissão, mas sim de consultoria ou assessoria especializada da Administração. Portanto, não é possível suprir parecer jurídico com qualquer manifestação da comissão de licitação. Nesse sentido, não houve o adequado exame da legalidade e da motivação da contratação direta do ITEAI, concretizando-se o negócio sem qualquer manifestação jurídica que o amparasse. Assim, o argumento do responsável não pode ser acolhido.

18. O fundamento utilizado para a contratação direta – art. 24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93 –, em razão de o ITEAI estar qualificado estatutariamente como sociedade civil sem fins lucrativos e devidamente registrado em Junta Comercial desde 1997, também não pode ser acolhido. Trata-se de

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matéria já amplamente discutida neste Tribunal, destacando-se que, além do atendimento dos pressupostos expressos no mencionado dispositivo legal, as contratações nele fundamentadas também devem observar como condição essencial para caracterizar a excepcionalidade requerida a pertinência entre o objeto da contratação e o ramo de atividade da entidade.

19. Nesse sentido, quando se examina a contratação em foco, verifica-se que, ainda que seu objeto tenha sido definido como “prestação de serviços de natureza técnica no desenvolvimento de atividade educacional pedagógica, de caráter educacional de forma contínua do Projeto de Informática Educacional –Projeto DESPERTAR – ITEAI, em escolas da rede pública municipal de ensino, no município de Curionópolis, no Estado do Pará”, tratou-se, na verdade, tão-somente de fornecimento de equipamentos e softwares para escolas do ensino fundamental. Portanto, não foram atendidos os pressupostos do art. 24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93, acima mencionados.

20. A realização de procedimento licitatório teria sido a solução legal e adequada para a contratação dos equipamentos de informática e softwares que a prefeitura necessitava.

21. Com relação aos demais dispositivos da Lei nº 8.666/93 que deveriam ter sido observados na contratação, conforme itens 9.4.3, 9.4.4 e 9.4.5 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara, cabe ressaltar não haver qualquer menção nas razões de justificativa apresentadas. O que se tem é a completa ausência de orçamento expressando custos unitários, inviabilizando verificar a compatibilidade com os preços de mercado, de justificativa acerca da escolha do ITEAI, assim como de publicação da ratificação da dispensa de licitação.

22. Aliás, a necessidade de verificação da compatibilidade dos preços contratados com os de mercado foi o motivo da proposta preliminar do Ministério Público para que a Secex/PA buscasse os parâmetros apropriados. Como não havia maiores informações acerca dos preços pagos ao ITEAI, muito menos a justificativa requerida pelo art. 26 da Lei nº 8.666/93, a unidade técnica realizou algumas pesquisas com o objetivo de averiguar a referida compatibilidade. Vislumbrou o Ministério Público a possibilidade de superfaturamento na contratação do ITEAI, uma vez ausentes os parâmetros necessários à verificação da referida compatibilidade e a aceitação irrestrita da oferta do ITEAI pelo Município.

23. Esgotadas as possibilidades de identificar parâmetros para os preços contratados, concluiu a Secex/PA não ser viável apontar quais seriam corretos em razão de:

“a) o objeto dos contratos não está suficientemente especificado;

b) os contratos não apresentam custo unitário por item do objeto (equipamentos, software e serviços);

c) a Prefeitura Municipal de Curionópolis não realizou pesquisa de preços;

d) a defasagem tecnológica dos equipamentos contratados, com suas configurações específicas, o bem como o lapso decorrido, dificultam a pesquisa de preços;

e) A localidade distante obsta que se faça comparação com preços de serviço, como manutenção, contratado em São Paulo.”

24. Por conseguinte, não sendo possível concluir acerca dos preços de mercado para confrontar com aqueles pagos ao ITEAI a alternativa sugerida pela unidade técnica foi aplicar à contratação o entendimento firmado pelo Tribunal no Acórdão nº 640/2006-Plenário, no sentido de que, revelando-se inviável a quantificação do dano segundo os critérios previstos no artigo 210, § 1º, do Regimento Interno do TCU, deverão as contas ser julgadas irregulares, sem imputação de débito aos responsáveis, podendo-se a esses aplicar a multa prevista no artigo 58 da Lei nº 8.443/1992.

25. Verifica-se que, de fato, não é possível apontar quais seriam os preços de mercado dos itens contratados do ITEAI. Consequentemente, é inviável quantificar o prejuízo causado ao Município. Por outro lado, a partir das pesquisas efetuadas pela unidade técnica, constatou-se que os preços pagos foram muito superiores aos de mercado, razão pela qual, em não sendo viável calcular o débito corretamente, deve ser aplicada a multa do art. 58, inciso III, da Lei nº 8.443/92, em seu valor máximo, conforme sugerido pelo Ministério Público.

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26. Quanto à legalidade do tipo de despesa realizada, acolho a tese defendida pelo Ministério Público, no sentido de que gastos com informática encontram-se albergados na legislação aplicável, em especial, como salientado pelo Procurador-Geral em sua primeira intervenção, em face do Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/01) que “veio explicitar que a informática a ser introduzida como meio à educação dos alunos do nível fundamental é meta a ser assegurada aos estabelecimentos de ensino”. Assim, a LDB associada ao mencionado Plano permitiriam entender que as despesas decorrentes do contrato com o ITEAI poderiam ser realizadas com recursos do Fundef.

27. Assim, à exceção do item 9.4.6 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara, não merecem ser acolhidas as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura.

28. Por fim, cabe ressaltar que o Fundef foi sucedido pelo Fundeb - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, conforme Lei nº 11.494/2007. Portanto, os recolhimentos devem ser feitos à conta desse novo fundo.

Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 27 de maio de 2008.

UBIRATAN AGUIARMinistro-Relator

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ACÓRDÃO Nº 1413/2008 - TCU - 2ª CÂMARA

1. Processo: n.º TC - 009.027/2004-8 - c/ 2 volumes e 2 anexos (estes c/ 36 volumes)Apenso: TC-020.542/2006-42. Grupo I – Classe II – Tomada de Contas Especial3. Responsáveis: Sebastião Curió Rodrigues de Moura (CPF 089.074.121-20) e Município de Curionópolis/PA4. Entidade: Município de Curionópolis/PA5. Relator: MINISTRO UBIRATAN AGUIAR6. Representante do Ministério Público: Procurador-Geral Lucas Rocha Furtado7. Unidade Técnica: Secex/PA8. Advogado constituído nos autos: Olivaldo Ferreira (OAB/PA 8.383)

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial decorrente da conversão

de Representação oferecida a este Tribunal pelo Procurador da República Luiz Francisco F. de Souza, acerca de irregularidades na gestão dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental - Fundef, nos exercícios de 2001, 2002 e 2003, no Município de Curionópolis/PA.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Extraordinária da 2ª Câmara, em:

9.1. acolher as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura com relação ao item 9.4.6 do Acórdão nº 1.583/2005-2ª Câmara;

9.2. com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas “b” e “c” da Lei nº 8.443/92, c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, julgar as presentes contas irregulares;

9.3. condenar solidariamente o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura e o Município de Curionópolis/PA, ao pagamento das quantias abaixo indicadas - valor histórico de R$ 692.052,35 (seiscentos e noventa e dois mil, cinqüenta e dois reais, trinta e cinco centavos) -, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a” do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora calculados a partir das datas apontadas até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:

Denominação Social NF/NP Emissão Valor (R$)Chamon & Cia Ltda 697 19/02/2002 25,00 (vinte e cinco reais)Churrascaria Carajás 286 12/03/2002 300,00 (trezentos reais)Churrascaria Carajás 279 24/06/2002 70,00 (setenta reais)COTRANSP 74 09/10/2001 800,00 (oitocentos reais)Posto Fazendão Ltda - 29/03/2002 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais)Posto Fazendão Ltda - 11/10/2002 433.325,00 (quatrocentos e trinta e três mil,

trezentos e vinte e cinco reais)Auto Posto Curionópolis

275 13/03/2002 27.027,68 (vinte e sete mil, vinte e sete reais, sessenta e oito reais)

Auto Posto Modelo 596 10/04/2002 3.670,29 (três mil, seiscentos e setenta reais, vinte e nove centavos)

CPF Nome Data Valor (R$)124.927.102-97 João José de Oliveira 24/10/2001 2.682,42 (dois mil, seiscentos e oitenta e

dois reais, quarenta e dois centavos)

718.473.912-49 Ana Célia B. Lima 03/07/2001 250,00 (duzentos e cinqüenta reais)225.405.983-15 José Ivan de A.

Azevedo12/06/2001 990,00 (novecentos e noventa reais)

- Célia Maria de S. Costa 01/11/2001 260,00 (duzentos e sessenta reais)

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC-009.027/2004-8

138.872.542-87 Ambrozino Brito Barbosa

20/09/2001 792,00 (setecentos e noventa e dois reais)

- Maria do Rosário Castro 03/10/2001 60,00 (sessenta reais)181.916.902-25 Ricardo da Costa

Ferreira05/06/2001 1.800,00 (hum mil e oitocentos reais)

9.4. condenar o Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura ao pagamento das quantias abaixo indicadas - valor histórico de R$ 55.009,99 (cinqüenta e cinco mil, nove reais, noventa e nove centavos) -, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para comprovar, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a” do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora calculados a partir das datas apontadas até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:

Denominação Social

Nota Fiscal

Data de Emissão

Valor (R$)

Dist S. Izabel 789 22/04/2003 6.202,20 (seis mil, duzentos e dois reais, vinte centavos)FER 72 16/01/2003 674,80 (seiscentos e setenta e quatro reais, oitenta centavos)FER 85 24/02/2003 1.465,00 (hum mil, quatrocentos e sessenta e cinco reais)RG Serra 326 10/05/2002 2.407,40 (dois mil, quatrocentos e sete reais, quarenta centavos)M A de Aguiar 2361 21/06/2002 7.884,48 (sete mil, oitocentos e oitenta e quatro reais, quarenta e oito centavos)M E S Rodrigues 280 10/05/2002 3.700,00 (três mil, setecentos reais)MDS Machado 687 12/08/2003 5.400,00 (cinco mil, quatrocentos reais)FF Ribeiro 852 03/07/2002 7.947,22 (sete mil, novecentos e quarenta e sete reais, vinte e dois centavos)M C Tapanã 136 10/02/2003 2.500,00 (dois mil, quinhentos reais)L F Fontel 3803 10/07/2002 7.880,29 (sete mil, oitocentos e oitenta reais, vinte e nove centavos)Liderança 110 21/03/2003 2.900,00 (dois mil, novecentos reais)Comercial ABC 6771 10/04/2003 6.048,60 (seis mil, quarenta e oito reais, sessenta centavos)

9.5. com fundamento no art. 58, inciso III, da Lei nº 8.443/92, aplicar ao Sr. Sebastião Curió Rodrigues de Moura multa no valor de R$ 32.885,68 (trinta e dois mil, oitocentos e oitenta e cinco reais, sessenta e oito centavos), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal, o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, acrescida de correção monetária, calculada a partir do dia seguinte ao término do prazo ora fixado até a data do recolhimento, na forma da legislação em vigor;

9.6. com base no art. 16, § 3º, da Lei nº 8.443/92, encaminhar cópia do presente Acórdão, bem como do Relatório e do Voto que o fundamentam à Procuradoria da República no Estado do Pará para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis;

9.7. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/92, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, na forma da legislação em vigor;

9.8. autorizar desde já, caso solicitado pelos responsáveis, o pagamento das dívidas em 24 (vinte e quatro) parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei nº 8.443/92, c/c art. 217 do Regimento Interno, fixando-se o vencimento da primeira parcela em quinze dias, a contar do recebimento da notificação, e o das demais a cada trinta dias, devendo incidir sobre cada parcela, os encargos legais devidos;

9.8.1. alertar os responsáveis de que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do § 2º do art. 217 do Regimento Interno deste Tribunal.

10. Ata n° 17/2008 – 2ª Câmara11. Data da Sessão: 27/5/2008 – Extraordinária12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1413-17/08-213. Especificação do quórum:13.1. Ministros presentes: Aroldo Cedraz (na Presidência), Ubiratan Aguiar (Relator) e Raimundo Carreiro.13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.

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13.3. Auditor presente: André Luís de Carvalho.

AROLDO CEDRAZ UBIRATAN AGUIARna Presidência Relator

Fui presente:

MARIA ALZIRA FERREIRASubprocuradora-Geral