"gente em acção" nº 57 - junho 2011 - suplemento

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GENTE EM ACÇÃO SUPLEMENTO | JUNHO 2011 E-Mail: [email protected] I [SUPLEMENTO | REPORTAGEM] Este suplemento resulta de um trabalho de projecto desenvolvido pelos alunos do 8º ano da Escola Básica do 2º e 3º Ciclos de Vila Velha de Ródão. Resulta da consciência de cidadania destes jovens e da sua vontade de contribuir para ajudar a esclarecer as preocupações e dúvidas dos habitantes de Vila Velha de Ródão relativamente às questões ambientais. foto: Jorge Gouveia Ambiente: presente e futuro GENTE EM ACÇÃO SUPLEMENTO | JUNHO 2011 Cinza e cheiro desa- gradável por identificar preocupam população A qualidade do ambiente está cada vez mais no centro das preocupações das populações. Em Vila Velha de Ródão têm- -se ouvido algumas vozes de inquietação com a qualidade do ar que se respira. Alguns cidadãos, em nome individual ou colectivo, manifestaram já as suas dúvidas junto de enti- dades competentes. A popu- lação interroga-se sobre uma cinza preta e gordurosa que, por vezes, cobre o chão e todas as atenções se viram para a indústria presente no concelho. Nas ruas, ouvem-se cidadãos criticar o mau cheiro e o fumo, a existência de unidades fabris que arruínam qualquer hipótese de investimento no turismo e a consequente desertificação da região. Contudo, são também os cidadãos que reconhecem a im- portância das grandes unidades fabris na economia local, na manutenção de postos de tra- balho, na fixação da população residente e na sobrevivência de outras empresas que dependem e prestam serviços às maiores. A CELTEJO assegura a sua preocupação ambiental através da monitorização contínua das emissões gasosas e controle diário dos efluentes líquidos. A AMS – GOMA CAMPS SA. é vista como uma unidade modelo e que desenvolve um “processo limpo” de produção. A CENTRO- LIVA – INDÚSTRIA E ENERGIA SA., apesar dos contactos efec- tuados, optou por não prestar esclarecimentos. Queixas originam estudo A existência de um abaixo- assinado com cerca de 400 assinaturas e as vozes que se fizeram ouvir junto da As- sembleia Municipal dão conta do agravamento da poluição atmosférica nos últimos dois a três anos e conseguiram que a Câmara Municipal solicitasse ao Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecno- logia da Universidade Nova de Lisboa um estudo de avaliação da qualidade do ar no município, cujos resultados foram apresen- tados na Assembleia Municipal de 29 de Abril. O referido estudo aponta o poluente PM10 como responsável pelos únicos va- lores excedentes registados em dois locais de Ródão, entre 2 a 8 de Março e 25 de Março a 18 de Abril de 2011. Para os restantes poluentes, monóxido de carbo- no (CO), ozono (O 3 ), dióxido de azoto (NO 2 ) e dióxido de enxofre (SO 2 ), os valores medidos não ultrapassam os limites estipu- lados pelo Dec.-Lei nº102/2010. As conclusões deste estudo re- ferem ainda que “as emissões das fontes industriais terão tido uma influência decisiva nos valores medidos”. O mesmo poderá ser confirmado num quadro (ver pág. 2) retirado do relatório técnico do Quadro de Referência Ambiental do Plano Regional de Ordenamento do Território – Centro (2005). Este gráfico reporta-se aos dados de 2003 e identifica Vila Velha de Ródão como “zona de ac- tividade industrial considerável” onde se verificam emissões en- tre 500 e 600 toneladas/ano do poluente PM10. Maria do Carmo Sequeira, Presidente da Câma- ra, assegura que “em relação ao estudo, e assim que tiver a sua versão definitiva, a Câmara pretende encaminhá-lo para o Ministério do Ambiente e para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.” Ainda segundo a mesma responsável, “a Câmara não tem capacidade para inter- vir, são estas entidades que de- verão agir.” Contactado pelo “Gente em Acção”, um dos subscritores do abaixo-assinado, Cristiano São Pedro, refere uma grande preo- cupação com o agravamento do mau cheiro e com as “partículas sólidas pretas” que, de tempos a tempos, cobrem o chão. O mesmo cidadão refere que o ob- jectivo da iniciativa não é pôr em causa a existência de indústria na vila, mas sim saber se estão a ser cumpridas as normas pre- vistas por lei e se os graus de poluição não ultrapassam os limites a partir dos quais a saúde pública é posta em causa. Um inquérito feito pelos alu- nos promotores deste projecto, aplicado sob anonimato a 58 habitantes da vila, refere que 93% consideram a qualidade do ar que respiram Má (41%) ou Muito Má (52%). Quando questionados sobre se o ar traz malefícios para a saúde, 74% responde afirmativamente, en- quanto 19% manifesta dúvida. Contactado pelos alunos, o ges- tor de qualidade da CELTEJO, Manuel Gonçalves, refere que “o facto de uma substância química produzir mau cheiro não significa necessariamente que seja prejudicial à saúde,

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Jornal do Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão - Junho 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL - "Ambiente: Presente e Futuro"

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Page 1: "Gente em Acção" nº 57 - Junho 2011 - Suplemento

GENTE EM ACÇÃOSUPLEMENTO | JUNHO 2011

E-Mail: gente_vvr@gm

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[SUPLEMENTO | REPORTAGEM]

Este suplemento r e s u l t a d e u m trabalho de projecto desenvolvido pelos alunos do 8º ano da Escola Básica do 2º e 3º Ciclos de Vila Velha de R ó d ã o . R e s u l t a d a c o n s c i ê n c i a d e c i d a d a n i a destes jovens e da sua vontade de contribuir para ajudar a esclarecer as preocupações e d ú v i d a s d o s habitantes de Vila Velha de Ródão r e l a t i v a m e n t e à s q u e s t õ e s ambientais.

foto: Jorge GouveiaAmbiente:presente e futuro

GENTE EM ACÇÃOSUPLEMENTO | JUNHO 2011

Cinza e cheiro desa-gradável por identificar preocupam população

A qualidade do ambiente está cada vez mais no centro das preocupações das populações. Em Vila Velha de Ródão têm--se ouvido algumas vozes de inquietação com a qualidade do ar que se respira. Alguns cidadãos, em nome individual ou colectivo, manifestaram já as suas dúvidas junto de enti-dades competentes. A popu-lação interroga-se sobre uma cinza preta e gordurosa que, por vezes, cobre o chão e todas as atenções se viram para a indústria presente no concelho. Nas ruas, ouvem-se cidadãos criticar o mau cheiro e o fumo, a existência de unidades fabris que arruínam qualquer hipótese de investimento no turismo e a consequente desertificação da região. Contudo, são também os cidadãos que reconhecem a im-portância das grandes unidades fabris na economia local, na manutenção de postos de tra-balho, na fixação da população residente e na sobrevivência de outras empresas que dependem

e prestam serviços às maiores. A CELTEJO assegura a sua preocupação ambiental através da monitorização contínua das emissões gasosas e controle diário dos efluentes líquidos. A AMS – GOMA CAMPS SA. é vista como uma unidade modelo e que desenvolve um “processo limpo” de produção. A CENTRO-LIVA – INDÚSTRIA E ENERGIA SA., apesar dos contactos efec-tuados, optou por não prestar esclarecimentos.

Queixas originam estudo

A existência de um abaixo-assinado com cerca de 400 assinaturas e as vozes que se fizeram ouvir junto da As-sembleia Municipal dão conta do agravamento da poluição atmosférica nos últimos dois a três anos e conseguiram que a Câmara Municipal solicitasse ao Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecno-logia da Universidade Nova de Lisboa um estudo de avaliação da qualidade do ar no município, cujos resultados foram apresen-tados na Assembleia Municipal

de 29 de Abril. O referido estudo aponta o poluente PM10 como responsável pelos únicos va-lores excedentes registados em dois locais de Ródão, entre 2 a 8 de Março e 25 de Março a 18 de Abril de 2011. Para os restantes poluentes, monóxido de carbo-no (CO), ozono (O3), dióxido de azoto (NO2) e dióxido de enxofre (SO2), os valores medidos não ultrapassam os limites estipu-lados pelo Dec.-Lei nº102/2010. As conclusões deste estudo re-ferem ainda que “as emissões das fontes industriais terão tido uma influência decisiva nos valores medidos”. O mesmo poderá ser confirmado num quadro (ver pág. 2) retirado do relatório técnico do Quadro de Referência Ambiental do Plano Regional de Ordenamento do Território – Centro (2005). Este gráfico reporta-se aos dados de 2003 e identifica Vila Velha de Ródão como “zona de ac-tividade industrial considerável” onde se verificam emissões en-tre 500 e 600 toneladas/ano do poluente PM10. Maria do Carmo Sequeira, Presidente da Câma-ra, assegura que “em relação ao estudo, e assim que tiver a

sua versão definitiva, a Câmara pretende encaminhá-lo para o Ministério do Ambiente e para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.” Ainda segundo a mesma responsável, “a Câmara não tem capacidade para inter-vir, são estas entidades que de-verão agir.”Contactado pelo “Gente em Acção”, um dos subscritores do abaixo-assinado, Cristiano São Pedro, refere uma grande preo-cupação com o agravamento do mau cheiro e com as “partículas sólidas pretas” que, de tempos a tempos, cobrem o chão. O mesmo cidadão refere que o ob-jectivo da iniciativa não é pôr em causa a existência de indústria na vila, mas sim saber se estão a ser cumpridas as normas pre-vistas por lei e se os graus de poluição não ultrapassam os limites a partir dos quais a saúde pública é posta em causa.Um inquérito feito pelos alu-nos promotores deste projecto, aplicado sob anonimato a 58 habitantes da vila, refere que 93% consideram a qualidade do ar que respiram Má (41%) ou Muito Má (52%). Quando

questionados sobre se o ar traz malefícios para a saúde, 74% responde afirmativamente, en-quanto 19% manifesta dúvida. Contactado pelos alunos, o ges-tor de qualidade da CELTEJO, Manuel Gonçalves, refere que “o facto de uma substância química produzir mau cheiro não significa necessariamente que seja prejudicial à saúde,

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O que são PM 10?São partículas inaláveis, em suspensão, que provêm de cinzas, fuligem e outras partículas produzidas por combustão. Os efeitos nocivos na saúde humana poderão manifestar-se ao nível do aparelho respi-ratório e dependem mais do tamanho e grau de toxi-cidade das partículas, do que da sua concentração. Considera-se limite legalmente permitido a emissão de 50 microgramas por metro cúbico de ar.

[SUPLEMENTO | REPORTAGEM]

As nuvens de fumo são uma constante na paisagem

Ambiente:presente e futurosobretudo se as concentrações em que surge são baixas”, dando como exemplo os com-postos de enxofre, facilmente perceptíveis pelo olfacto hu-mano, mas inofensivos. Rui Berkemeier, fundador e coorde-nador do Centro de Informação de Resíduos da QUERCUS, refere, a este propósito, que “o mau cheiro quase permanente é originado pelos processos de tratamento da madeira que li-bertam compostos de enxofre e mercaptanos”.

Actividade industrialfiscalizada

A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR-Centro), a Agên-cia Portuguesa do Ambiente (APA) e o Instituto Nacional da Água (INAG) controlam periodi-camente as emissões gasosas e efluentes líquidos, fazendo de-pender do bom funcionamento das unidades fabris a emissão de licenças ambientais. Contudo, a população não tem acesso aos dados resultantes dos proces-sos de controle da qualidade do ar e da água. Apesar do estudo encomendado pela autarquia, segundo Paulo Santos, respon-sável pelo serviço de Águas, Saneamento e Ambiente, a Câmara Municipal não verifica regularmente “a qualidade do ar na zona, pois não faz parte das suas competências.” O mesmo responsável camarário refere ainda que a autarquia “ não dispõe dos meios técnicos para proceder a essa verificação.” Paulo Santos sublinha, no en-tanto, a preocupação da Câ-mara com a qualidade do ar: “Já temos contactado as empresas da região, no sentido de saber se estão a ser cumpridas as re-

gras relativamente às emissões para a atmosfera.” Hugo Olivei-ra, responsável pelo sector de segurança e ambiente da AMS – GOMA CAMPS, refere que há “algum controle interno, mas não temos meios técnicos para o fazer com muito rigor”. Por isso, as medições são feitas por laboratórios acreditados, que se deslocam periodicamente à em-presa para recolha e análise de amostras. O mesmo responsá-vel afirma que há várias razões para a eficácia da AMS no con-trole da poluição: “por um lado temos um processo mais limpo, por outro temos equipamentos modernos que são sujeitos a verificações e ajustes periódi-cos. Estes ajustes permitem controlar a queima e torná-la mais eficiente.” No mesmo sen-tido da população, que parece ilibar a AMS da poluição visível em Vila Velha de Ródão, Hugo Oliveira alerta: “nas empresas em que o equipamento é mais velho, é mais difícil proceder a esse controle. Por outro lado, há empresas cujos processos não são tão limpos.” Também a CELTEJO apresenta o cui-dado com o ambiente como um “ponto de honra”, afirmando ser uma empresa com “certificação ambiental”. Desde o início da laboração que a fábrica “pos-sui instalado equipamento para tratamento dos efluentes líqui-dos e das emissões gasosas, de modo a minimizar o seu impacto no meio ambiente, quer no rio Tejo, quer no meio envolvente.” Segundo Manuel Gonçalves, a CELTEJO tem feito um esforço no “investimento em tecnolo-gias mais eficazes e comple-mentares” para responder às preocupações ambientais, mas também para aumentar a eficá-cia energética dentro da própria

empresa, o que a torna econo-micamente viável.” Fernando Ferreira, professor da EB2/3 de Vila Velha chama a atenção precisamente para a concor-rência: “É preciso não esquecer que estas são empresas que produzem riqueza líquida, quer a nível local quer a nível interna-cional. Estas empresas acres-centam mais-valias a produtos transaccionáveis internacional-mente, concorrendo no mercado global onde há países com um quadro legislativo sem regras ao nível laboral e ao nível ambien-

tal.” Acrescenta ainda que “esta é uma fileira [fileira do papel] que nós dominamos. Portugal é líder na produção e na tecno-logia desde a matéria-prima até ao produto final, tanto em ter-mos de estação fabril como em termos tecnológicos.”

“Not in my backyard”

Quando analisada a questão do custo/benefício, Fernando Ferreira e Hugo Oliveira (AMS GOMA-CAMPS) estão de acor-do: “Não poluir é impossível. Na

verdade, o que o Homem tem que fazer é minimizar, controlar o impacto da sua acção sobre o ambiente e, ao mesmo tempo, fazer com que o sistema ecoló-gico consiga recuperar desses impactos”, afirma o responsável pela segurança e ambiente da AMS. “O progresso tem os seus custos. Estas empresas têm que existir, se não fosse aqui seria noutro lado. As pessoas preo-cupam-se com a poluição quan-do é à sua porta. Como dizem os ingleses not in my backyard, isto é, não no meu quintal”.

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1 - Quais os grandes de-safios que se colocam às sociedades modernas em matéria ambiental?R.B. - Os principais desafios prendem-se com a boa gestão dos recursos naturais, tais como as matérias primas, as fontes de energia renovável, a biodiversi-dade, a água ou o solo.2 - O que podemos ganhar com uma política ambiental responsável?R.B. - Uma política ambiental responsável significa, em primeiro lugar, que os recursos naturais são utilizados pelo homem de uma forma racional, ou seja op-timizada, permitindo tirar deles o maior proveito no presente sem comprometer a sua utilização no futuro. 3 - Portugal é um bom e-xemplo de cumprimento de regras ambientais?R.B. - Portugal tem aspectos de política do ambiente em que tem vindo a recuperar um grande atra-so que tinha em relação a outros países europeus, como é o caso dos resíduos ou o tratamento das águas residuais, mas tem outras áreas ambientais em que con-tinua quase tudo por fazer, como é o caso do ordenamento do ter-ritório. 3.2 - Se Portugal não for um bom exemplo, como se explica essa situação?R.B. - No caso do ordenamento do território, Portugal continua a ser um país em que o financia-mento das câmaras municipais está muito dependente das recei-tas provenientes das obras que se realizarem no concelho. Esta situação leva a que, muitas vez-es, se aprovem projectos que têm um impacte ambiental negativo só para se receber na câmara o dinheiro referente às licenças das obras e outras taxas camarárias. 3.3 - Quais as áreas do ambiente em que esse cumprimento levanta maiores dificuldades. Porquê?R.B. - Para além do ordenamen-to do território, Portugal continua com um sério problema na fiscali-zação das infracções ambientais cometidas em diversas áreas.O problema surge, por um lado,

porque o Estado não tem recur-sos humanos suficientes para fazer uma fiscalização eficiente. O argumento utilizado é, que não há dinheiro para pagar aos fiscais, mas a realidade é que a fiscalização, quando bem feita, pode pagar-se a si própria trazen-do grandes receitas para o Estado através das multas, mas também através dos impostos pagos pelas empresas que cumprem a legis-lação e que são afectadas diaria-mente pela concorrência desleal feita por empresas que actuam ilegalmente.Por outro lado, quando os pro-cessos vão para tribunal, muitas vezes os infractores acabam por não ser penalizados porque a nossa justiça, infelizmente, ainda funciona muito mal.Partindo do princípio que conhece o concelho de Vila Velha de Ródão e o estudo em curso sobre a qualidade do ar, gos-taríamos de saber a sua opinião sobre algumas questões. 4 - Em termos de desen-volvimento sustentável como classifica este concelho? Porquê?É um concelho com grandes desequilíbrios ambientais e so-ciais.Em primeiro lugar, porque se veri-fica um grande envelhecimento da população resultado de um mau modelo de desenvolvimento a nível nacional e local que fez com que as populações do inte-rior abandonassem a agricultura, sem que se tivesse compensado com outras alternativas de empre-go para manter as populações.Em segundo lugar, pelo modelo de desenvolvimento industrial as-sente em empresas poluidoras, como a fábrica de celulose, que impedem o desenvolvimento de projectos de turismo ecológico na envolvente do rio Tejo, que ajudariam a criar postos de tra-balho, assim como a promover e preservar as riquezas naturais que ainda existem no concelho de Vila Velha e nos concelhos limítrofes.5 - Como caracteriza o desempenho ambiental deste concelho, a nível

de: Poluição do solo;R.B. - Não tenho informação so-bre este parâmetro.Poluição da água;R.B. - O principal curso de água da região, o rio Tejo, apresenta-se poluído, com surgimento no verão de algas indicadoras de poluição orgânica, com origem na fábrica de celulose, mas também prove-niente de outras fontes a mon-tante. As linhas de água afluentes do Tejo também apresentam al-guma poluição.Poluição do ar;R.B. - É evidente a poluição do ar resultante da fábrica de celu-lose, nomeadamente através de um mau cheiro quase permanen-te que é originado pelos proces-sos de tratamento da madeira que libertam compostos de enxofre e mercaptanos.Para além desse aspecto, que limita drasticamente o desenvolvi-mento ambiental do concelho, verifica-se ainda que existem con-centrações elevadas de partículas inaláveis, o que poderá ter origem na queima de resíduos florestais para produção de energia na uni-dade de biomassa existente em

V.Velha de Ródão.Biodiversidade;R.B. - Apesar dos muitos pro-blemas ambientais existentes no concelho, tais como o pólo indus-trial ou a monocultura do euca-lipto, verifica-se que ainda existe uma significativa biodiversidade na região, fruto principalmente, da existência de um rio com as características do Tejo, para além da existência de escarpas onde várias aves podem nidificar.Um dos problemas para a biodi-versidade ao nível do Tejo e suas margens é a existência de uma praga de lagostim de água doce, espécie invasora que é predadora das espécies autóctones. Energias renováveis;R.B. - É importante a existência de uma central de biomassa no concelho, mas era importante um maior desenvolvimento da ener-gia solar. Resíduos sólidos urba-nos;R.B. - O concelho de V.V. de Rodão está agora inserido no sis-tema de gestão de resíduos urba-nos da Valnor, que é um dos que melhor funciona no país, pelo que isso é positivo para o concelho.

Em todo o caso é fundamental uma melhoria do processo de re-colha selectiva.6 - Em relação à quali-dade do ar, que medidas podem ser tomadas no sentido de ultrapassar os problemas actuais?R.B. - Em relação à poluição provocada pela celulose e pela central de biomassa julgo que será conveniente uma melhoria dos sistemas de tratamento dos gases.7 - Como podemos, como cidadãos, contribuir para melhorar a qualidade am-biental?R.B. - Os cidadãos têm um papel fundamental na preservação do ambiente, através da sua atitude enquanto consumidores adqui-rindo produtos mais amigos do ambiente (feitos em materiais re-ciclados, provenientes de agricul-tura biológica, mais duradouros, provenientes de comércio justo, etc), poupando água e energia ou participando na recolha selectiva.8 - Que papel poderá/deverá caber às escolas neste esforço de melho-ria?R.B. - As escolas devem dotar-se de recursos informativos para poderem desenvolver projectos concretos na área do ambiente, de forma a envolver os seus alu-nos.Esses projectos devem, sempre que possível, tentar envolver tam-bém os familiares dos alunos para que essas acções cheguem a um público o mais vasto possível.9 - Que apelo gostaria de deixar aos jovens e suas famílias sobre o tema em questão?A protecção do ambiente é hoje um imperativo de consciência e de sobrevivência, sem o qual a nossa qualidade de vida pode vir a diminuir significativamente.Precisamos de um ambiente sau-dável para os nossos tempos de lazer, mas também precisamos de uma boa gestão dos recursos naturais para podermos continuar a criar riqueza e bem estar.É pois, imperioso, que todos par-ticipem nesta causa comum que é o ambiente.

Envelhecimento e indústria impedem desenvolvimento

fonte:

www

.cmjor

nal.x

l.pt

Rui Berkemeier, da QUERCUS, especialista em resíduos analisa a situação ambiental de Vila Velha de Ródão.

[SUPLEMENTO | ENTREVISTA]

Rui Berkemeier: especialista em resíduos

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[SUPLEMENTO | INQUÉRITO] INQUÉRITOQualidade do ar

Um dos objectivos do inquérito é apurar se as queixas relativas à má qualidade do ar constitu-em a opinião da maioria das pessoas ou se esta questão só incomoda alguns habitantes. Assim, podemos constatar que nenhum dos inquiridos classifi-ca a qualidade do ar como “boa” ou “muito boa”, sendo que uma clara maioria (93%) a aponta como “má” (41%) ou “muito má” (52%). Apenas 7% dos inquiri-dos a considera “razoável”.À pergunta “De que forma é que a qualidade do ar condiciona o seu dia-a-dia?”, os habitantes questionados afirmam sentir-se incomodados com o mau cheiro (91%), ter dificuldades em are-jar as casas (58%), queixam-se da sujidade e/ou do mau cheiro dos seus carros (72%), das

O inquérito “Qualidade do ar em Vila Velha de Ródão” foi elaborado com o objectivo de perce-ber qual a opinião dos habitantes de Vila Velha relativamente à qualidade do ar que respiram e de que forma esta questão condiciona o seu dia-a-dia e/ou o desenvolvimento da região.Foi aplicado a 58 pessoas que habitam em Vila Velha de Ródão. Foram contabilizados e valida-dos 58 inquéritos preenchidos sobre anonimato entre os meses de Fevereiro e Abril.

roupas (66%), das varandas e pátios (72%) e mais de metade afirma sentir dificuldades em respirar ou tosse (57%).Na sequência desta queixa, refira-se que todos os inquiri-dos consideram a possibilidade desta má qualidade do ar poder trazer malefícios à saúde (74%), ainda que alguns demonstrem algumas dúvidas (19%).Quando questionados sobre se alguma vez reclamaram das características do ar na região, observamos que 59% dos inquiridos responde nega-tivamente e 34% afirma já ter reclamado. Os que reclamaram endereçaram as suas queixas a várias entidades: Câmara Municipal (35%), GNR-SEPNA (30%), Ministério do Ambiente (17%), Linha SOS Ambiente

e Território (17%) e Centro de Saúde (9%).Para resolver esta situação, um número significativo dos in-quiridos confia no Ministério do Ambiente (85%) e na Câmara Municipal (58%). No entanto, (27%) aponta a GNR-SEPNA e (19%) o Centro de Saúde. Ape-sar da responsabilidade que reconhecem a estas instituições na resolução do problema, os inquiridos admitem a importân-cia e a necessidade da sua in-tervenção enquanto cidadãos: para além da organização de abaixo-assinados (70%), apon-tam-se outras formas de partici-pação como reclamar (69%), ou manifestações públicas do seu desagrado (59%).Quando os inquiridos são con-frontados com a possibilidade da má qualidade do ar condi-cionar o desenvolvimento local, uma grande maioria considera que este problema prejudica o turismo (80%), afecta a fixação da população (70%) e contami-na os alimentos produzidos pela população (69%). Ainda assim, há algumas pessoas que são de opinião que este é “um mal necessário” (26%).

MuitoMÁ

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Qualidade doar

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Qualidadedoaredesenvolvimento

localPrejudica o turismo

Afecta a fixação de população

Contamina alimentos

É um mal necessário

foto: Rui Espinho

Qualidadedoaréprejudicialà

saúde80% 20% 0%

Sim Talvez Não

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E-Mail: gente_vvr@gm

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Respiração mais difícil em VVR

Vila Velha de Ródão Vila de Rei

OcorrênciasCasos por

mil habitantes

OcorrênciasCasos por

mil habitantes

DOR ATRIBUÍDA AO APARELHO RESPIRATÓRIO 2 1 0 0DIFICULDADE RESPIRATÓRIA, DISPNEIA 36 10 4 1

RESPIRAÇÃO RUIDOSA 23 7 1 1TOSSE 264 75 27 8

ESPIRRO / CONGESTÃO NASAL 54 15 5 1OUTROS SINAIS / SINTOMAS NASAIS 24 7 2 1

SINAIS / SINTOMAS DOS SEIOS PERINASAIS 15 4 1 1SINAIS / SINTOMAS DA GARGANTA 108 31 4 1

SINAIS / SINTOMAS DA VOZ 28 8 0 0EXPECTORAÇÃO / MUCOSIDADE ANORMAL 5 1 0 0

OUTROS SINAIS / SINTOMAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO 4 1 0 0INFECÇÃO AGUDA DO APARELHO RESPIRATÓRIO SUPERIOR 90 26 13 4

SINUSITE CRÓNICA / AGUDA 55 16 9 3AMIGDALITE AGUDA 71 21 35 10

BRONQUITE / BRONQUIOLITE AGUDA 25 8 14 4BRONQUITE CRÓNICA 73 21 17 5

GRIPE 151 43 88 26DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÓNICA 49 14 20 6

ASMA 83 24 19 6RINITE ALÉRGICA 63 18 18 5

TOTAIS 1223 347 277 82

[SUPLEMENTO | SAÚDE]

18

5

75

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24

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26

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aConsiderando a proximidade geográfica e em número de habitantes entre os conce-lhos de Vila de Rei (3354 hab./INE 2008) e Vila Velha de Ródão (3534 hab./INE 2008), obtivemos os dados de 2010, provenientes do Sistema de Informação da Administração Regional de Saúde (SIARS) relativos a doenças do aparelho respiratório. Numa primeira observação (ver quadro ao lado), verificamos que, em cada mil habitantes, existem mais pessoas afectadas por variadas ocorrências respiratóri-as em Ródão do que em Vila de Rei. Destacam-se, por exemplo, situações de tosse, que em Ródão afectou 75 habi-tantes em mil, enquanto em Vila de Rei se registaram apenas 8 casos. Durante o ano de 2010, 31 em cada 1000 habitantes de Vila Velha registaram sintomas ao nível da garganta, enquanto em Vila de Rei esse número desce para 1 em cada 1000. Quando nos reportamos a doenças crónicas, aparece a asma em destaque com um registo de 23/1000 em Vila Velha contra 6/1000 em Vila de Rei, ou a rinite alérgica com 18/1000 em Ródão e apenas 5/1000 em Vila de Rei.

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O pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) é, de acordo com a informação recolhida na wiki-pedia, “uma pequena ave que se conhece bem pela mancha alaranjada que lhe ornamenta o peito. É uma das aves portugue-sas que mais alegra os dias de Inverno, com o seu canto melo-dioso e persistente”. Alimenta-se, entre outras coisas, de insectos e caracóis, bichinhos com quem não simpatizamos, dada a sua atracção pelos nossos legumes e que nos empenhamos a exter-minar das hortas deitando mão aos pesticidas que o mercado simpaticamente nos oferece . Este pisco que está na foto morava em Vila Velha, mesmo ao pé do Monumento Natural das Portas de Ródão, e resolveu , no dia 3 de Fevereiro, passear no Bosque da Achada onde teve um encontro fatal com um costil. Porque é que o mataram? In-terrogaram-se os jovens que o encontraram. Porque fazia muito barulho, não deixando as pes-soas dormirem? Porque chupava o sangue às galinhas? Porque comia as couves? Porque era venenoso, peçonhento? Porque urinava para os nossos olhos? Porque era feio e nojento? Porque faz alergias? Estas são, evidentemente, res-postas aceitáveis para a maioria de nós. E que os nossos jovens provavelmente poderiam aceitar mesmo que depois de alguma discussão. Mas o problema é que, dada a informação disponí-vel (e ainda por cima na Net….), todas estas respostas são ab-surdas! A Escola e em particular os pro-fessores de Ciências Naturais ficam engasgados! O que responder?

Quanto mais se aprofunda o problema mais inexplicável é a situação! A pergunta inicial desmultiplica-se em infindáveis questões! Para além de ser boni-to e simpático o pisco não é útil? Comer os insectos e caracóis não é bom para nós (espécie humana)? Então se ele come os animais que comem os nos-sos legumes, porque é que o matamos com pesticidas que envenenam e poluem as nossas águas, custam dinheiro e têm efeitos prejudiciais para a saúde, como está provado cientifica-mente?Parece não haver uma resposta que consiga defender o compor-tamento dos adultos! Para res-ponder a estas questões, temos de assumir a responsabilidade das nossas acções no futuro destes jovens. Vão herdar um planeta com menos espécies, isto é, com menos biodiversi-dade, portanto menos probabi-lidade de sobreviver e de garantir a sobrevivência dos seus filhos!Há 30 anos que falo aos alunos sobre a eminência do esgota-mento dos recursos naturais num futuro próximo, mas este ano tive o choque de perceber que afinal o que projectava no futuro é já rea-lidade no nosso país. É também o caso da floresta. Aquilo que é designado “floresta” em Portugal é mais próximo de um aviário de

produtos florestais. O subcoberto vegetal é sistematicamente des-truído, expondo o solo à erosão e reduzindo drasticamente a complexidade deste ecossistema precioso para a preservação de muitas espécies. Deixamos aos nossos jovens apenas peque-nas bolsas dispersas de floresta espalhadas pelo país. O resto foi consumido pela ganância e má gestão da nossa e das gerações que nos precederam. São as florestas que “fabricam” o solo. Poderemos garantir a nossa so-brevivência sem solo?O nosso concelho ainda é muito rico em património biológico e geológico. Será que temos cons-ciência do seu significado para a nossa sobrevivência? Nunca se falou tanto de susten-tabilidade, integra os programas de várias disciplinas e, contudo, nunca os jovens estiveram tão afastados da Natureza e nunca se consumiram tantos recursos - a nossa pegada ecológica é a mais alta de sempre! Portugal tem capacidade para que cada cidadão utilize os recursos de 2,1 hectares e estamos a gas-tar os recursos de 5,1 hectares. É urgente que mudemos de atitude, que liguemos a palavra à acção - mais do que falar é ur-gente preservar e dispormo-nos a reduzir , de forma significativa, a nossa pegada ecológica.

Armadilhas humanas vitimam animais indiscriminadamente

Graça PassosProfessora

[SUPLEMENTO | OPINIÃO]

Pedro Belo 8º A

Da palavra à acção Assumir responsabilidadespela nossa sobrevivência

Biodiversidade

Durante este ano lectivo estive envolvido, no âmbito da disci-plina de Ciências Naturais, no Projecto “Um Bosque Perto de Si”.Este projecto tem sido uma experiência muito interes-sante, porque nos aproxima da natureza à qual por vezes não estamos muito atentos. Através deste projecto apren-demos a conhecer melhor um espaço natural da nossa vila, o Bosque da Achada e a olhar para ele de outra maneira. Vi-sitámos este local três vezes, recolhemos amostras de plan-tas e pedras que foram ana-lisadas na sala de aula. A nossa professora é uma apaixonada pela natureza e tenta transmitir essa paixão aos seus alunos. Para a aula, traz muitas vezes insectos e répteis. Alguns alunos arrepi-

am-se, acham-nos nojentos, mas eu acho que o objectivo é aproximar-nos da natureza, ajudar-nos a perceber como é que ela é e funciona para além dos textos e das imagens do manual.Na minha opinião, o ser hu-mano esquece-se que faz parte de um ecossistema, que somos mais um ser vivo entre as muitas espécies que exis-tem… mas somos também o ser vivo com mais responsa-bilidades na preservação da natureza. Só quando perce-bermos e assumirmos ver-dadeiramente essa respon-sabilidade é que poderemos assegurar a sobrevivência do nosso planeta.

(...) o ser humano esquece-se que faz parte de um ecos-sistema, que somos mais um ser vivo entre as muitas es-pécies que existem… mas somos também o ser vivo com mais responsabilidades na preservação da natureza.

“Um Bosque Perto de Si” projecto desenvolvido na EB 2/3 de VV Ródão, no Bosque da Achada, tendo sido distinguido, a

nível nacional, com o primeiro prémio da Agência Ciência Viva.

Page 7: "Gente em Acção" nº 57 - Junho 2011 - Suplemento

GENTE EM ACÇÃOSUPLEMENTO | JUNHO 2011

E-Mail: gente_vvr@gm

ail.comVII

fonte:

A.E

.A.T.

Quarenta anos a trabalhar em prol do conhecimento, valoriza-ção e divulgação do património de Ródão e da Beira Interior Sul, constitui o desígnio da As-sociação de Estudos do Alto Tejo, ONG (Organização Não-Governamental) do Ambiente criada e sedeada em Vila Velha de Ródão.Sem a exposição pública e mediática de outras ONG do Ambiente, hoje bastante co-nhecidas, a AEAT, desde a sua origem que acredita no poten-cial da região e, por isso, faz dos estudos de caracterização o seu principal eixo de acção, inicialmente com trabalhos de arqueologia e antropologia de-pois, progressivamente, alar-gando o seu âmbito de acção às áreas do património natural com estudos realizados sobre a avifauna, flora, geologia e geo-morfologia. É neste contexto que assumiu a responsabi-lidade pelo processo de clas-sificação das Portas de Ródão como Monumento Natural.Promover a riqueza e a bio-diversidade da região é, mais do que uma intenção, a mani-festação do reconhecimento de um potencial que confere ao território uma extraordinária importância.Este conhecimento alargado e fundamentado permite-nos ter a consciência dos princi-pais problemas associados aos recursos naturais: agressões

perpetradas através de inter-venções no terreno com maqui-naria pesada, sem o acom-panhamento especializado; os incêndios florestais, devas-tadores em áreas de terreno acidentado e de difícil acesso, o desrespeito pela legislação e pelas convenções às quais estamos obrigados, a poluição do ar e dos cursos de água, constituem as principais preo-cupações que incidem sobre os valores naturais e sobre a paisagem.Mas, igualmente, muitas poten-cialidades podemos ver associ-adas à riqueza natural e cultural desta região: desde logo as Por-tas de Ródão e o seu território envolvente poderão constituir um laboratório vivo com poten-cial para o desenvolvimento de projectos de investigação e de sensibilização ambiental, em áreas como a biologia, geolo-gia, paleontologia e arqueolo-gia. Estas apresentam um valor didáctico para que as escolas, dos diferentes ciclos de ensino, tirem partido do espaço e dos valores existentes, para leccio-nar e desenvolver conteúdos programáticos que, em con-texto de sala de aula, assumem um carácter menos motivador.Toda a região dispõe de locais com um elevado potencial para o turismo de natureza, permitin-do o desenvolvimento de ac-tividades de lazer associadas à observação de aves, pedestri-anismo, desportos aquáticos e radicais.Este conjunto de variáveis será concretizado se tivermos a ca-pacidade de nos empenhar na conservação e defesa do am-biente e da qualidade de vida que, no século XXI, constituem os verdadeiros objectivos pelos quais as sociedades modernas deverão pugnar.

Jorge GouveiaAssociação de Estudos do

Alto Tejo

Portas de RódãoLaboratório vivo

livro vermelho[SUPLEMENTO | ESPECIAL]

[OPINIÃO]

A classificação de áreas geográficas da Rede Natura esteve na origem do Decreto Regulamentar nº 7/2009, de 20 de Maio, que classifica o Monumento Natural das Portas de Ródão como área protegida. A designação visa assegurar a preservação de um conjunto de habitats de elevado interesse conservacionista. Assim, uma área de 965 hectares foi classificada devido às suas cara-cterísticas geológicas onde “sobressai a garganta escavada pelo rio Tejo nas cristas quartzíticas da serra do Perdigão, com um estrangulamento de 45m de largura. Nesta área destacam-se ainda formações vegetais naturais (e.g. comunidades reliquiais de zimbro), manchas de matagal medi-terrânico e a ocorrência de espécies de aves nidificantes com elevado estatuto de protecção, tais como a Cegonha Preta, a Águia de Bonelli, o Abutre do Egipto, o Bufo Real, o Chasco Preto e o Grifo.”(in Relatório Ambiental, Avaliação Ambiental Estratégica do Plano Regional de Ordenamento do Território para a Região Centro). O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, da responsabili-dade do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, classifica estas espécies quanto ao grau de ameaça.

Águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus)

Cegonha Preta(Ciconia nigra)

Abutre do Egipto (Neophron percnopterus)

Chasco-preto (Oenanthe leucura)

criticamenteem perigo

Grifo (Gyps Fulvus)

quaseameaçado

vulnerável

em perigoem perigo

quaseameaçado

Bufo Real(Bubo Bubo)

Morcego-de-Ferradura (Rhinolophus hipposideros)

vulnerável

Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis)

em perigo

vulnerável

Cobra-lisa-europeia (Coronella austriaca)

vulnerável

Gato-Bravo(Felis silvestris)

Fonte: ilustrações retiradas do LivroVermelho dos Vertebrados de Portugal

Page 8: "Gente em Acção" nº 57 - Junho 2011 - Suplemento

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COORDENAÇÃO DO SUPLEMENTOProf. Anabela Estrela

Prof. Cristina RaimundoProf. Hélder Rodrigues

GRAFISMO E PAGINAÇÃOProf. Luís Costa

REDACÇÃO

8º A:Adriana Correia, Ana Aparício,

Ana Nunes, Ana Belo, Bruno Antunes,Carolina Gonçalves,

Gonçalo Prates, João Matos, João Silva, Ophelie Filipe,

Patrícia Pereira, Pedro Belo, Ricardo Farinha, Vasco Veríssimo

8º B:Ana Afonso, Ana Bexiga,

André Pequito, Beatriz Simões, Beatriz Rodrigues, Daniela Pires,

Joana Martins, João Pinto, Mariana Morgado, Paulo Solipa, Rodrigo Martins, Vanessa Nunes

COLABORADORES:Prof. Ana Margarida Lima

António PequitoProf. Fernanda Pires

Prof. Fernando FerreiraProf. Jorge GouveiaProf. Graça Passos

Rui Espinho

IMPRESSÃO:Jornal RECONQUISTA - Castelo Branco

E-MAIL - [email protected] INTERNET - www.anossaescola.com/rodao

SUPLEMENTO ELABORADO A PARTIR DOS TRABALHOS REALIZADOS PELOS ALUNOS EM ÁREA PROJECTO

[SUPLEMENTO | ANÁLISE]

Tejofoto: Rui Espinho

ameaçadoO Tejo é um rio internacional e, como tal, cada tentativa de con-trole e averiguação da origem da poluição torna-se um assunto diplomático. Um dos fenómenos que está a tornar-se cada vez mais recor-rente é a presença de “azola”, uma alga infestante. “Este é um problema complexo que se deve à soma de vários factores, como a falta de chuva, o aumento da temperatura e a poluição vinda de Espanha, nomeadamente dos milhares de esgotos e da poluição agrícola lançada às águas”, refere Samuel Infante da QUERCUS. O mesmo res-ponsável refere ainda que “este tapete de algas afecta todos os ecossistemas dos rios e a vida que neles existe. Se forem de-tectadas cianobactérias, pode haver riscos para a saúde pú-blica.” Assume ainda que “o rio, quando entra em Portugal, já vem muito degradado”. Ques-tionada sobre a qualidade das águas do Tejo, Maria do Carmo Sequeira, Presidente da autar-quia, confirma a realização de análises periódicas pelo Serviço de Águas, Saneamento e Ambi-ente e assegura que “não são encontrados problemas signifi-cativos”.Sempre que há notícia de alte-rações na qualidade da água do Tejo, os cidadãos ponderam a in-fluência da indústria presente no concelho. No entanto, não é pos-sível comprovar a responsabi-lidade destas unidades no fenó-

Azola no Tejo, nas Portas de Ródão, em 10 de Setembro de 2009 (11h 27m)

meno. A AMS-GOMA CAMPS e a CELTEJO despejam efluentes no Tejo, mas asseguram que controlam o processo de clarifi-cação da água, após utilização industrial, nas suas ETAR’S e que os efluentes líquidos são constantemente monitorizados, quer internamente, quer por enti-dades externas às empresas. Sabemos ainda que a CENTRO-LIVA faz descargas de efluentes líquidos num afluente do Tejo, o Açafal, que desagua 500m a montante do cais de Vila Velha. Contudo, não nos foi possível obter qualquer declaração por parte da empresa, no sentido de esclarecer as condições em que as descargas são feitas.A 31 de Dezembro de 2010, o “Jornal de Nisa” noticiava um pedido de esclarecimento ao Ministério do Ambiente, da au-toria do Bloco de Esquerda. A razão mais directa prendia-se com uma descarga no Tejo ob-servada alguns dias antes, a 3 de Dezembro, junto a Vila Velha de Ródão. Por essa ocasião, a água apareceu “castanha e com espuma espessa branca, provocando a morte de milhares de lagostins e peixes”, refere a mesma fonte. Hugo Sabino,

pescador, referia, nessa altura, ter sido testemunha de outras descargas semelhantes anteri-ores a 3 de Dezembro. António Bernardo, pescador, entrevis-tado por nós, confirma, mas diz não se sentir afectado, porque só pesca a montante de Vila Velha, já que “o peixe se desloca para zonas menos poluídas”. As declarações de Paulo Mourato, pescador desportivo, vão no mesmo sentido. Confirma ter presenciado várias descargas no Açafal. Para este pescador, quando alguma descarga ocorre, a “água cheira muito mal, fica escura e leitosa”. Segundo o mesmo, a prova da perda da qualidade da água do Açafal é o decréscimo, de ano para ano, do número de peixes que aí fazem desova. A construção de uma barragem agrícola no Açafal terá também contribuído para este problema. Com menos caudal, a poluição concentra-se e os peixes têm maior dificul-dade em subir o rio. No entanto,

Paulo Mourato, aponta também outros três contribuintes para o mau estado deste afluente do Tejo: “os resíduos que vêm do destroço do bagaço, que é feito na CENTROLIVA; as queijarias que estão a “esgotar” a céu a-berto para dentro do Açafal e as lagoas do lagar de Vila Velha que, ou transbordam ou estão rotas.” Este pescador desportivo refere ainda que esta poluição é muito visível no Açafal, mas que se dilui ao chegar ao Tejo. Na sua opinião, “os maiores fo-cos de poluição do Tejo vêm de Espanha: os esgotos de Madrid,

as barragens e também, algo de que as pessoas se esquecem, a Central Nuclear de Almaraz” (Cáceres), a cerca de 100 Kms da fronteira com Portugal.Como que a confirmar estas de-clarações, o “Público” noticiava a 26 de Fevereiro de 2010 uma “espessa espuma branca” que cobrira vários quilómetros de rio a montante de Vila Velha. Na altura, pareceu apurar-se a res-ponsabilidade da barragem de Cedillo (Espanha), enquanto o SEPNA, a unidade de ambiente da GNR, concluia “não [haver] situação que leve ao levanta-mento de qualquer contra-orde-nação, nem [haver] crime ambi-ental”, referem o “Reconquista” e o “Diário Digital” (26-02-2010). O episódio pareceu não ter res-ponsabilidade criminal, mas Samuel Infante da QUERCUS lança o alerta: “infelizmente há muitas indústrias que aprovei-tam dias de chuva e descargas de barragens para fazer as suas próprias descargas, a fim de reduzir as hipóteses de serem detectadas.”

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