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Anais do
Congresso Nacional de Ensino Religioso
8ª Edição
FONAPER Florianópolis/SC
2016
VIII Congresso Nacional do Ensino Religioso,
realizado entre os dias 29 a 31 de outubro de 2015,
na UNICAP, Recife/PE.
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ABNTe revisão textual são de responsabilidade dos autores e das autoras dos textos.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................................................10
PROGRAMAÇÃO ...................................................................................................... 13
COMUNICAÇÕES ...................................................................................................... 14
GT1: DIVERSIDADES, EDUCAÇÃO E CULTURAS DE PAZ .................................... 15
SEXUALIDADES: UM DIREITO HUMANO ................................................................. 16 Djanna Zita Fontanive
ENTRE O AXÉ E O AMÉM: A LAICIDADE COMO LEI, A INTOLERÂNCIA COMO PRÁTICA . 33
Jacquelane Bezerra dos Santos Maria Vanessa Nunes do Carmo
EDUCAÇÃO, RELIGIÃO E ESPAÇO SAGRADO ....................................................... 43 José Raniery Soares Eunice Simões Lins Gomes
ENSINO RELIGIOSO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS A LUZ DA ÉTICA DACOMPREENSÃO DE EDGAR MORIN .................................................................. 53 Mailson Fernandes Cabral de Souza
CULTURA DE PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS ........................................... 63 Marinilson Barbosa da Silva Giseli Paim Costa
EDUCAÇÃO, RELIGIÃO, JUVENTUDE E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES: TRÂNSITO E MOBILIDADE RELIGIOSA ENTRE JOVENS DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO INTEGRAL DA REDE ESTADUAL DE PERNAMBUCO ........................ 73 Marlon Anderson de Oliveira
PLURALISMO, ALTERIDADE E DIVERSIDADE DE GÊNERO NO CURRÍCULO DE ENSINO RELIGIOSO ................................................................................................. 85 Raiza da Silva Lima
A LITERATURA COMO POSSIBILIDADE METODOLÓGICA PARA O ENSINO RELIGIOSO ................................................................................................................ 93 Roseane Idalino da Silva
VALORIZANDO O PLURALISMO RELIGIOSO BRASILEIRO EM SALA DE AULA: O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO NAS MÚSICAS DE MARIA BETHÂNIA ................... 108 Wesley Henrique Soares Silva
GT2: CIÊNCIA(S) DA(S) RELIGIÃO(ÕES) E ENSINO RELIGIOSO ........................ 121
O VALOR PEDAGÓGICO DENTRO DO MITO DA DEUSA ATENA ......................... 122 Francinete Alves de Medeiros
LETRAMENTO LITERÁRIO NA FORMAÇÃO DISCENTE DE ENSINO RELIGIOSO: MITOS INDÍGENA .................................................................................................... 132 Francisca Luciene da Silva
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Maria de Fátima Araújo
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO E ENSINO RELIGIOSO – vamos pintar os cavalinhos do carrosel? ................................................................................................................... 144 Gilvan Gomes das Neves Sylvana Maria Brandão de Aguiar
UMA ABORDAGEM DA PRÁTICA LITERÁRIA SOBRE O OLHAR DO ENSINO RELIGIOSO: OBRA CINEMATOGRÁFICA E LEITURA LITERÁRIA ........................ 151 Jamiry Rosiely de Mesquita
SAGRADO E JOGOS DIGITAIS:ARQUÉTIPOS RELIGIOSOS NAS NARRATIVAS GAMIFICADAS DOS JOGOS ELETRÔNICOS ......................................................... 160 Luis Carlos de Lima Pacheco
ENSINO RELIGIOSO E O DESAFIO DO SEU NOME, OBJETO E FORMAÇÃO ..... 171 Paulo Agostinho Nogueira Baptista
OS GÊNEROS LITERÁRIO E SUA INSERÇÃO NA SALA DE AULA DE ENSINO RELIGIOSO POR MEIO DA FÁBULA E DA POESIA ............................................... 181 Priscila Fernandes da Costa
GT3: CURRÍCULOS INTERCULTURAIS E ENSINO RELIGIOSO NÃO CONFESSIONAL ..................................................................................................... 191
ENSINO RELIGIOSO E LETRAMENTO LITERÁRIO: UM RELATO DE VIVÊNCIAS PEDAGÓGICAS E FORMAÇÃO LEITORA POR MEIO DAS LENDAS..................... 192 Ana Carla Oliveira Nascimento Francisco Melquiades Falcão Leal
CORDEL NA SALA DE AULA DE ENSINO RELIGIOSO .......................................... 204 Cícero Alves Theoguenides Medeiros
REFLEXÃO SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL I ..................................................................................................... 215 Cleane Marcelino de Souza Maria Gorete Santos Jales de Melo
A MITOLOGIA GREGA NO CONTEXTO DAS ESCOLAS PUBLICAS ..................... 225 Clesio de Melo Cabral Filho
ENSINO RELIGIOSO E EDUCAÇÃO INTEGRAL: POSSIBILIDADES PARA REINVENTAR O CURRÍCULO DAS ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL ................. 236 Djanna Zita Fontanive Dolores Henn Fontanive Eliane Lea Vicente Testoni
ENSINO RELIGIOSO DIALOGANDO COM AS FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO ................................................................................................................................. 250 Lívia Cristiana Costa Martins
O LIVRO DIDÁTICO COMO RECURSO METOGOLÓGICO:UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA EM SALA DE AULA .................................................................................. 261 Maria da Penha Lima da Silva
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FONAPER
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Maria José Torres Holmes
O LÚDICO NO ENSINO RELIGIOSO ....................................................................... 278 Marilene Barbosa Maia Dantas
(RE) SIGNIFICANDO OS SENTIDOS DE CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE NO ENSINO RELIGIOSO: DESAFIOS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO ............... 290 Mirinalda Alves Rodrigues dos Santos Thalisson Pinto Trindade de Lacerda
A POESIA COMO FONTE DE APRENDIZAGEM NO ENSINO RELIGIOSO: UMA PERSPECTIVA NOS POEMAS DE PATATIVA DO ASSARÉ .................................. 305 Paulo Henrique Bezerra
LETRAMENTO LITERÁRIO NO CONTEXTO DO ENSINO RELIGIOSO: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA A PARTIR DA MITOLOGIA GREGA ............................ 316 Rosiane da Silva Paulo
GT5: FORMAÇÃO DE PROFESSORES E ENSINO RELIGIOSO NÃO CONFESSIONAL ..................................................................................................... 325
AS IDEIAS DE PAULO FREIRE NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO RELIGIOSO ......................................................................................... 326 Ana Paula Soares Loureiro Rodrigues Ana Cristina de Almeida Cavalcante Bastos
QUANDO O TEXTO LITERÁRIO ENTRA NA VIDA DO PROFESSOR EM FORMAÇÃO ................................................................................................................................. 338 Araceli Sobreira Benevides
MORTE E EDUCAÇÃO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA ABORDAGEM PEDAGÓGICA .......................................................................................................... 349 Elisabete Correa Arcanjo Franciele Elen de Souza Simone Riske-koch
A AVALIAÇÃO NO ENSINO RELIGIOSO: UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA ...... 358 Francisco de Assis Lopes Themis Andrea Lessa Machado de Mello
ENSINO RELIGIOSO E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ANÁLISE DA PROPOSTA CURRICULAR DE UMA CIDADE DO VALE DO AÇO- MG ...................................... 371 Ivone Rosa Ferreira de Sá Marilane de Cáscia Silva Santos
FORMAÇÃO CONTINUADA – PERCURSOS DE FORMAÇÃO DOS DOCENTES DA SME – NATAL/RN .................................................................................................... 385 Jamillis Keila Araceli Sobreira Benevides
A METODOLOGIA E A DIDÁTICA NO ENSINO RELIGIOSO DAS ESCOLAS PÚBLICAS E COLÉGIOS RELIGIOSOS DE PERNAMBUCO EM 1940 ................... 395 Luiz Henrique Rodrigues Paiva Fábio Medeiros
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE ENSINO RELIGIOSO: CONSIDERAÇÕES DE PROFESSORES A RESPEITO DO MODELO DA PMJP-PB ................................................................................................................................. 410 Sidney Allessandro da Cunha Damasceno
FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE DOCENTES DE ENSINO RELIGIOSO: REFLEXOS NA SALA DE AULA............................................................................... 422 Sunamita Araújo Pereira Damasceno
GT6: INTERCULTURALIDADE, DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE RELIGIOSA
................................................................................................................................. 437
ENSINO RELIGIOSO: RESPEITO À DIVERSIDADE ............................................... 438 Aline da Silva Roquete
EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E INTERCULTURALIDADE:CONHECER O DIFERENTE PARA VALORIZAR A DIVERSIDADECULTURAL-RELIGIOSA ........... 449 Evanilson Alves de Sá Wellcherline Miranda Lima
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO RELIGIOSO E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA ENTRE ADOLESCENTES E JOVENS NAS UNIDADES DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO – CASES DE PERNAMBUCO ................................................. 463 Maria Lucia Cavalcante Vera Lúcia Braga de Moura
O MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO E A CRIAÇÃO DO FÓRUM DIÁLOGOS DA DIVERSIDADE RELIGIOSA EM PERNAMBUCO: UMA IMPORTANTE CONTRIBUIÇÃO PARA O ENSINO RELIGIOSO NÃO-CATEQUÉTICO .................. 472 Maurício M. Amazonas dos Santos
GT7: ESTADO LAICO E ENSINO RELIGIOSO NÃO CONFESSIONAL ................. 483
VOZES SILENCIADAS: OS DESAFIOS PARA UMA EDUCAÇÃO ALTERITÁRIA E INCLUSIVA NA ESCOLA PÚBLICA ......................................................................... 484 Daniela Crusaro Lindamir Teresinha Bianchi Crusaro Josiane Crusaro
ENSINO RELIGIOSO E LAICIDADE: UMA PERSPECTIVA DE TOLERÂNCIA ........ 496 José Carlos do Nascimento Santos
ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: DA CATEQUESE À ÁREA DE CONHECIMENTO .................................................................................................... 505 Maria Dalva de Oliveira Araujo
ENSINO RELIGIOSO EM DEBATE:UMA ANÁLISE CRÍTICA DE DOIS PONTOS DE VISTA ....................................................................................................................... 520 Max Weydson Farias Rodrigues
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EMBATE POLÍTICO ENTRE GÊNERO E RELIGIÃO: O PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CHAPECÓ-SC ............................................................................... 531 Myriam Aldana Vargas Daian Cattani
RELIGIÃO E POLÍTICA: PARTICIPAÇÃO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS NAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS........................................................................................ 542 Ricardo Jorge Silveira Gomes
O CURRÍCULO ESCOLAR: EDUCAR PARA A TOLERÂNCIA RELIGIOSA ............ 549 Vilma Lúcia de Oliveira Carvalho
GT 9: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E ENSINO RELIGIOSO NÃO
CONFESSIONAL ..................................................................................................... 562
ESIN EKO: PROPOSIÇÃO PARA UM DIÁLOGO SOBRE O ESTUDO DOS SABERES DAS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS ........................................................ 563 Claudia Lima Gilbraz de Souza Aragão
A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI FEDERAL 10.639/2003: ENCONTROS E DESENCONTROS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ................... 579 Constantino José Bezerra de Melo
O GÊNERO FILME E SUA INSERÇÃO COMO TEXTO LITERÁRIO NO CONTEXTO DA SALA DE AULA DE ENSINO RELIGIOSO ............................................................... 589 Francisco Melquiades Falcão Leal Rozélia Maria do Nascimento
ENSINO RELIGIOSO E EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO ENFRENTAMENTO À INTOLERÂNCIA CONTRA RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS ................................................................................................................................. 597 Maria Cristina do Nascimento Zuleica Dantas Pereira Campos
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS: O SINCRETISMO SIMBÓLICO COMO VIA DE UM PROCESSO EDUCACIONAL ................................................................................... 609 Rafael Heneine
GT 10: CULTURAS E RELIGIOSIDADES INDÍGENAS E ENSINO RELIGIOSO NÃO
CONFESSIONAL ..................................................................................................... 622
ESTADO LAICO E A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS POVOS INDÍGENAS: AVANÇOS, TENSÕES E DESAFIOS NO CONTEXTO BRASILEIRO ............................................................................................................ 623 Leonel Piovezana Giovana Didoné Piovezana
HAITIANOS EM SANTA CATARINA: INSERÇÃO SOCIAL E RELIGIOSA ............... 639 Sandra de Avila Farias Bordignon Leonel Piovezana Maria de Lourdes Bernartt
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PÔSTERES ............................................................................................................................. 650 UMA ANÁLISE MÍTICA SOBRE AS LENDAS NA SALA DE AULA ........................... 651
A MANDALA COMO SÍMBOLO RELIGIOSO EM SALA DE AULA ........................... 651
INSTITUTO RELEGERE : INTERFACES ENTRE CIÊNCIAS DA RELIGIÃO E ENSINO
RELIGIOSO .............................................................................................................. 652
HISTÓRIA E PERCURSOS DA DEVOÇÃO A SANTA RITA DE CÁSSIA EM SANTA
CRUZ (RN) ............................................................................................................... 653
JESUS CRISTO NO CINEMA ................................................................................... 653
RITUAIS SAGRADOS: MANIFESTAÇÕES CULTURAIS ......................................... 654
CONTEÚDOS TRABALHADOS EM SALA DE AULA E SUA RELAÇÃO COM OS
PCNER ..................................................................................................................... 655
ENSINO RELIGIOSO E IDENTIDADE QUILOMBOLA: A EXPERIÊNCIA DA
EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA NA EMEF ANTÔNIA DO SOCORRO SILVA MACHADO,
JOÃO PESSOA – PB. ............................................................................................... 655
CONCEPÇÕES E AÇÕES SOBRE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NAS
IGREJAS EVANGÉLICAS NO BAIRRO DA CIDADE TABAJARA- OLINDA ............. 656
RELIGIOES AFRO- BRASILEIRA EM SALA DE AULA ............................................ 657
AS AVENTURAS DE YARA NAS AULAS DE ENSINO RELIGIOSO ........................ 658
LIVRO DIDÁTICO NA SALA DE AULA DE ENSINO RELIGIOSO ............................ 658
A CULTURA DE PAZ NA DIVERSIDADE RELIGIOSA ............................................. 659
TEXTOS SAGRADOS: O SIMBOLISMO DAS MANDALAS ...................................... 659
RELIGIÃO E POLÍTICA: PARTICIPAÇÃO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS NAS
ELEIÇÕES MUNICIPAIS DO CABO DE SANTO AGOSTINHO ................................ 660
SEXUALIDADE E OS CONFLITOS COM O UNIVERSO RELIGIOSO ..................... 661
DIVERSIDADE CULTURAL RELIGIOSA E DIREITOS HUMANOS: CARTOGRAFIAS
DE UMA FORMAÇÃO INICIAL NA FURB/SC........................................................... 662
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FONAPER
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APRESENTAÇÃO
Desde a sua instalação, o FONAPER vem atuando enquanto espaço de
debates, reflexões e proposição de um Ensino Religioso que contemple a
complexidade do mundo contemporâneo em seus paradigmas emergentes. É
reconhecido nacional e internacionalmente por defender o direito do educando
de ter acesso ao conjunto de saberes e conhecimentos historicamente
construídos pelas culturas e tradições religiosas, sem proselitismos. Estes
saberes e conhecimentos, por sua vez, estão presentes nos processos de
construção e desenvolvimento das identidades pessoais e coletivas, sofrendo
ressignificações e ampliações por influência de pesquisas, experiências
pedagógicas e outras vivências no decurso da vida.
Atentos às mudanças da sociedade brasileira e frente aos desafios
contemporâneos surgidos após a Constituição Federal de 1988, diferentes
sujeitos vêm propondo e construindo novos paradigmas para o Ensino Religioso.
Legitimado pelo art. 33 da LDB nº. 9.394/96 (redação alterada pela Lei nº.
9.475/1997) e pela Resolução CNE/CEB 04 e 07/2010, é considerado
componente curricular e área de conhecimento da educação básica, parte
integrante da formação do cidadão, assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
Desde então, o Ensino Religioso objetiva disponibilizar conhecimentos
construídos historicamente pelas culturas - tradições religiosas e não-religiosas,
a fim de possibilitar esclarecimentos sobre o direito à diferença, valorizando a
diversidade cultural e religiosa presentes na sociedade, como uma das formas
de promover e exercitar a liberdade de concepções e a construção da autonomia
e da cidadania, prerrogativas de um estado laico e democrático.
Todo conhecimento humano, dentre eles o religioso, independente da
forma como foi construído, quando elaborado, torna-se patrimônio da
humanidade. Deste modo, deve estar disponível à escola a fim de possibilitar ao
educando uma compreensão mais acurada da realidade em que está inserido,
possibilitando o desenvolvimento de ações conscientes e seguras no mundo
imediato, além de ampliar o seu universo cultural.
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Anais do VIII Congresso Nacional de Ensino Religioso
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Estudos e pesquisas em torno da temática da Interculturalidade têm
proporcionado e provocado outros olhares referentes à relação entre pessoas e
grupos humanos, valorizando também outros saberes, conhecimentos e práticas
sociais, isto é, outras racionalidades, tanto no campo educacional, como no
político, ideológico, cultural e religioso.
O acesso e a aprendizagem dos conhecimentos da diversidade religiosa,
em uma sociedade marcada pela racionalidade etnocêntrica, monocultural e
instrumental que afeta as distintas esferas da vida humana, apresenta-se como
um desafio permanente à educação básica, bem como a superior. O desafio
reside na dificuldade de os currículos educacionais reconhecerem distintas
identidades individuais e coletivas em suas diferenças, propiciando o
estabelecimento de relações dialógicas, acolhedoras e libertárias, basilares à
construção de culturas de paz.
A realização do VIII Congresso Nacional do Ensino Religioso foi mais uma
oportunidade para ampliar e aprofundar discussões e intercâmbios de pesquisas
e práticas pedagógicas nas Ciências da(s) Religião(ões) e no Ensino Religioso
não confessional, favorecendo a construção de uma cultura de paz. Neste
sentido, objetivou: articular as Ciências da(s) Religião(ões) e o Ensino Religioso
no contexto da educação intercultural enquanto promotora de culturas de paz;
possibilitar discussões interculturais articulando Educação e Ciências da(s)
Religião(ões); refletir os processos de ensino-aprendizagem do Ensino Religioso
não confessional em perspectivas interculturais; socializar pesquisas e práticas
pedagógicas de Ensino Religioso, na perspectiva intercultural, que contribuam
para culturas de paz, viabilizada na medida em que outras lógicas historicamente
invisibilizadas e subalternizadas são reconhecidas e valorizadas, tensionando a
colonialidade do saber, do poder e do viver, sustentada pela reprodução de
concepções, práticas e relações opressoras e desiguais em contexto sócio
educacionais.
Ao todo, 54 artigos e 17 pôsteres foram aprovados pela Comissão
Científica para a publicação, os quais integram o presente volume dos Anais
do VIII CONERE.
O FONAPER agradece as instituições co-promotoras e apoiadoras do
evento, os membros da Comissão Organizadora e da Comissão Científica,
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FONAPER
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acadêmicos, pesquisadores e docentes de Educação Básica que gentilmente
submeteram seus trabalhos, bem como a todos os participantes do VIII
CONERE, os quais, em conjunto, contribuíram para a realização de mais um
evento científico em prol da consolidação do Ensino Religioso como área de
conhecimento na Educação Básica.
Coordenação FONAPER
(Gestão 2014-2016)
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PROGRAMAÇÃO
DATA HORA ATIVIDADE
29/10
5ª feira
09h Reunião da RELER
14h às 17h Roda de Diálogo – Ensino Religioso na Base Nacional Comum Curricular
29/10
5ª feira
16h Credenciamento
18h Solenidade de Abertura
18h30min às 21h30min
Mesa I: Educação Intercultural e Culturas de Paz: desafios e perspectivas curriculares Prof. Dr. Luiz Augusto Passos (UFMT) Profª. Dra. Francielli Morêz Gusso (Rep. Comitê Nacional de Respeito a Diversidade Religiosa) Prof. Dr. Gilbraz de Souza Aragão (UNICAP) Coordenação: Prof.Newton Darwin de Andrade Cabral (UNICAP)
30/10
6ª feira
08h às 12h Comunicações de trabalhos – GTs e Pôsteres Coordenação Geral: Marcos Rodrigues da Silva, Tarcísio Alfonso Wickert, Josiane Crusaro Simoni
13h30min às 15h30min
Espaços Pedagógicos
16h às 18h Conferência: Ensino Religioso e a Base Nacional Comum Curricular Prof. Dr. Ítalo Dutra (DCEI/MEC) Coordenação: Prof. Dr. Leonel Piovezana (FONAPER)
18h Assembleia Ordinária do FONAPER
19h Programação Cultural
20h15min Assembleia Extraordinária do FONAPER Abertura do ano comemorativo dos 20 anos do FONAPER
31/10
sábado
08h30min Mesa II: Ensino Religioso e Culturas de Paz: contribuições do Ensino Religioso e das Ciências da(s) Religião(ões) para o diálogo intercultural Prof. Dr. Remi Klein (Faculdades EST) Prof. Dr. Marinilson Barbosa da Silva (UFPB) Prof. Dr. Elcio Cecchetti (UFSC - GPEAD/FURB) Coordenação: Prof. Dr. Deyve Redyson Melo dos Santos (UFPB) Plenária
12h Encerramento
14h Atividades culturais (livre)
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COMUNICAÇÕES
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GT1: DIVERSIDADES, EDUCAÇÃO E CULTURAS DE PAZ
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Coordenação:
Remí Klein (Faculdades EST)
Luiz José Dietrich (PUC/PR)
Henri Luiz Fuchs (IFRGS)
Ementa: Este GT acolheu pesquisas e práticas sócio educacionais relacionadas a
diversidade nas suas múltiplas manifestações: diversidade humana e cultural;
diversidade étnico-racial; relações de gênero e diversidade sexual; modalidades de
educação; biodiversidade; movimentos sociais; políticas públicas, inclusão e culturas de
paz.
Palavras-chave: Educação. Diversidades. Culturas de Paz.
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SEXUALIDADES: UM DIREITO HUMANO
Djanna Zita Fontanive - GPEAD/ FURB1
Resumo: Educar na perspectiva da diversidade cultural em conformidade com os direitos humanos para que as sexualidades sejam respeitadas em suas diferentes expressões é o objetivo deste artigo. A pesquisa é resultado do curso “Direitos Humanos e Diversidade Cultural Religiosa”, realizado no município de Rio do Sul/SC, durante o ano de 2012. Inicialmente aborda a homossexualidade como uma das formas de viver a sexualidade. Em continuidade, apresenta a influência da religião do Cristianismo na construção e sustentação do modelo sexual hegemônico. Posteriormente, propõe a educação sexual ao componente curricular Ensino Religioso, através do recurso metodológico webquest fim de superar visões preconceituosas e discriminatórias, promovendo o respeito às diferenças sexuais.Por fim, apresentam-se, em forma de considerações parciais, algumas reflexões a partir do tema investigado.
Palavras-chave: Educação Sexual. Homossexualidade. Direito Humano. Ensino Religioso. Webquest.
1 INTRODUÇÃO
A sexualidade é uma dimensão humana histórica e cultural, portanto, diversa,
peculiar e temporal. Segundo Mott (1983, p. 61), cada povo, etnia, cada complexo
cultural, encontrou soluções próprias e às vezes completamente opostas para
problemas essenciais – como a subsistência material, as formas de comunicação, a
expressão social de pertencer a determinado gênero, a manifestação do desejo erótico.
Diferentemente de sexo, que é uma palavra atualmente usada para identificar o
gênero e define como a pessoa é - masculino ou feminino, como também se refere à
parte física da relação sexual, a sexualidade transcende os limites do ato sexual e inclui
sentimentos, fantasias, desejos, sensações e interpretações (BRASIL, 2004).
A sexualidade varia de povo para povo e se modifica ao longo do tempo dentro
de uma mesma sociedade. Desta maneira, é questionável o modelo sexual ideal e
hegemônico da heterossexualidade em detrimento a outras sexualidades.
1Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau – FURB/SC. Especialização em Fundamentos e Metodologia do Ensino Religioso. Licenciada em Pedagogia e Ensino Religioso – Ciências da Religião. Professora de Ensino Religioso da rede municipal de educação de Rio do Sul/SC. Membro do Grupo de Pesquisa Ética, Alteridade e Desenvolvimento - GPEAD e do Centro de Direitos Humanos do Alto Vale do Itajaí – CDHAVI. E-mail: [email protected].
mailto:[email protected]
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Anais do VIII Congresso Nacional de Ensino Religioso
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A escola, entendida como espaço de socialização, é segundo Ramires (2011), o
“primeiro lugar de encontro sistemático com a diversidade humana”, o que pode gerar
identificações e ganhos ou hostilidades e conflitos, que são próprios das diversidades
de representações, de interesses, de crenças e valores presentes em um mesmo
espaço de convivência e aprendizado. Para Louro (1997, p. 61):
Gestos, movimentos, sentidos são produzidos no espaço escolar e incorporados por meninos e meninas, tornam-se parte de seus corpos. Ali se aprende a olhar e a se olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar, se aprende a preferir. Todos os sentidos são treinados. [...] Todas essas lições são atravessadas pelas diferenças, elas confirmam e também produzem diferença.
É, portanto, no universo plural e contraditório da escola, onde as diferenças e
desigualdades sociais, econômicas e culturais estão presentes e expostas, que a
homofobia se apresenta, em meio a tantos outros preconceitos e discriminações que
permeiam as relações ali estabelecidas.
De acordo com Martucci (2002), homofobia derivada das palavras gregas
homos, que quer dizer “o mesmo” e phobikos que quer dizer “ter medo e/ou aversão a”.
Palavra usada para definir a repulsa de alguns indivíduos diante de relações afetivas e
sexuais entre pessoas do mesmo sexo. A homofobia é caracterizada pelo medo e
desprezo pelos homossexuais,muitas vezes por se considerar crenças que assumem
que a heterossexualidade é a única forma de sexualidade normal e, portanto, aceitável.
No Brasil, segundo o Censo 2010, sessenta mil brasileiros declararam viver com
cônjuge do mesmo sexo. Foi a primeira vez que o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) levantou em todo o País o número de casais gays. Apesar deste
dado, muitos são os que não se declaram devido às possíveis violências que esta
afirmação pode ocasionar.
Comprometer-se com a educação sexual no currículo escolar é promover direitos
humanos. No pensamento de Nunes (1987, p. 54):
Não se trata, de educar para a repressão, para a reversão ou para a camuflagem da homossexualidade. Trata-se, igualmente, de educar para que a pessoa humana conheça seus próprios desejos e viva sua sexualidade, seja hetero ou homo-sexualmente, de maneira gratificante e realizadora.
A educação sexual não é tarefa apenas do componente curricular de ciências ou
biologia, mas daqueles/as dispostos a romper com práticas legitimadoras de ideologias
preconceituosas e discriminatórias, que propagam a violação do dos direito humanos.
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Nesta direção, o artigoreúne informações bibliográficas sobre o direito humano
de viver às diferentes sexualidades,especificamente a homossexualidade,propondo ao
componente curricular Ensino Religioso, a reflexão da temática, por meio de webquest,
ou seja, uma atividade investigativa onde as informações com as quais os estudantes
interagem provêm da internet (MEC, 2015), a fim promover o respeito à diversidade
sexual.
2 HOMOSSEXUALIDADE: UMA DAS SEXUALIDADES
A homossexualidade é uma entre outras formas de viver o desejo e o prazer
sexual. Segundo Dráuzio Varela (2011),existe gente que acha que os homossexuais já
nascem assim. Outros, ao contrário, dizem que a conjunção do ambiente social com a
figura dominadora do genitor do sexo oposto é que são decisivos na expressão da
homossexualidade masculina ou feminina. Também há os que defendem que a
homossexualidade é determinada pela herança genética. Como também aqueles que
buscam justificar essa diferença na morfologia do cérebro.
Na continuidade de seu pensamento sabe-se que a propriedade mais importante
do sistema nervoso central é sua plasticidade. De nossos pais herdamos o formato da
rede de neurônios que trouxemos ao mundo. No decorrer da vida, entretanto, os
sucessivos impactos do ambiente provocaram tamanha alteração plástica na arquitetura
dessa rede primitiva que ela se tornou absolutamente irreconhecível e original.Cada
indivíduo é um experimento único da natureza porque resulta da interação entre uma
arquitetura de circuitos neuronais geneticamente herdados e a experiência de vida. É
impossível existirem dois habitantes na Terra com a mesma forma de agir e de pensar.
Desta maneira, não há como identificar as origens exatas de nenhuma
orientação sexual2. A sexualidade humana não é questão de opção individual, ela
simplesmente se impõe a cada um de nós. Simplesmente, é! Teoricamente, cada um
de nós tem discernimento para escolher o comportamento pessoal mais adequado
socialmente, mas não há quem consiga esconder de si próprio suas preferências
sexuais.
2A orientação sexual se refere à direção ou à inclinação do desejo afetivo e erótico, por sexo oposto (heterossexualidade), pelo mesmo sexo (homossexualidade) ou ambos os sexos (bissexualidade). O termo orientação sexual substitui a noção de opção sexual, pois o objeto do desejo não é escolha consciente da pessoa, uma vez que é resultado de um processo complexo de constituição, do qual a pessoa é levada a lidar com uma infinidade de fatores sociais a partir de sua trajetória de vida (MEC, 2007).
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Afirma Nunes (1987, p. 52) que, na realidade o que existem são pessoas que
possuem comportamento sexual de busca erótica e de compensação ou prazercom
pessoas do mesmo sexo [...] e outras com sexo diferente.
De acordo com o Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra
GLTB e Promoção da Cidadania Homossexual: Brasil sem homofobia ( BRASIL, 2004,
p. 29):
A orientação sexual existe num continuum que varia desde a homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva, passando pelas diversas formas de bissexualidade. Embora tenhamos a possibilidade de escolher se vamos demonstrar, ou não, os nossos sentimentos, os psicólogos não consideram que a orientação sexual seja uma opção consciente que possa ser modificada por um ato da vontade.
Segundo Martucci (2002), em 1870, a homossexualidade em termos
psiquiátricos foi definida, como um desvio sexual, uma inversão do masculino e do
feminino, uma espécie de loucura. Desde então, no ramo da sexologia, a
homossexualidade foi descrita como uma das formas emblemáticas da degeneração,
isto é, como um estado de depravação e nos códigos penais surgiram leis que proibiam
as relações entre pessoas do mesmo sexo. Até meados dos anos 70, o
homossexualismo era considerado uma doença, equívoco excluído apenasem 1973, do
Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), elaborado pela
Associação Psiquiátrica Norte Americana (APA-2000).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), no dia 17 de maio de 1990, retirou a
homossexualidade da sua lista de doenças mentais,declarando que,a
homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão, e que os
psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura.
De acordo com Mott (1983, p. 66), para uma compreensão da homossexualidade
é importante considerar alguns pontos básicos:
a) Ser homossexual não é crime. O preconceito e a discriminação é que são proibidos pelas leis brasileiras;b) Homossexualidade não é doença. É natural, normal e saudável tanto quanto as demais. [...] Impedir alguém de realizar sua verdadeira orientação sexual é tirania, crueldade, abuso de poder e desrespeito aos direitos humanos;c) Homossexualidade não é pecado. Apesar de haver contradições, Jesus Cristo nunca falou sequer uma palavra contra gays e lésbicas. Jesus condenou os hipócritas, ladrões, mentirosos e intolerantes. [...]. As religiões que discriminam homossexuais devem ser denunciadas, pois desobedecem nossa Constituição e a Declaração Universal dos Direitos Humanos; d) Homossexualidade sempre existiu. Há 2 mil anos antes da Bíblia ser escrita já existia no antigo Egito documentos que descrevem relações sexuais entre dois deuses e dois homens; e)
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Homossexualidade é natural. Outros animais também praticam a homossexualidade, desde percevejos até as baleias. Dizer que a homossexualidade é antinatural ou ircontra a natureza é ignorância; f) A causa da homossexualidade é um mistério. Não há conclusão definitiva sobre a origem da homossexualidade. [...]. Mais importante que procurar esta resposta é buscar as causas da homofobia e lutar contra o preconceito e a discriminação. As causas da homossexualidade são as mesmas da heterossexualidade, já que entre os humanos não é só o instinto que determina a atração sexual, mas a preferência individual; g) A homossexualidade não é sinônimo de cópula anal, nem de AIDSou doença de gay. O sexo não se destina apenas à reprodução, mas ao prazer, à união, amor e amizade.
No entanto, os/as homossexuais foram condenados com tamanha
perversidade em épocas passadas que na atualidade,apesar da Constituição Brasileira
ter avançado na valorização da diversidade humana, no sentido de rejeitar qualquer tipo
de discriminação e defender a igualdade de direitos, a homofobia também se expressa
e se reproduz na indiferença e invisibilidade da abordagem das sexualidades no campo
da educação.
Segundo levantamento realizado em 2011, pela Secretaria de Direitos
Humanos (SDH) foi registradocerca de 6.809 denúncias de violações aos direitos
humanos de homossexuais, com 278 assassinatos relacionados à homofobia (MELLO,
2012, p. 183).
A lógica que fundamenta a homofobia no Brasil está alicerçada numa
concepção de sociedade que é multiétnica, com características culturais plurais, mas
que tem uma representação social que valoriza um modelo ideal de indivíduo: o homem
branco, heterossexual, pertencente às classes mais abastadas e católicas. Esse
modelo, idealizado e presente na heteronormatividade, vai gerar práticas
discriminatórias que se baseiam em critérios de gênero, de etnia, de sexualidade, de
classe social e de religião, o que por sua vez poderão gerar diversos tipos de violência
(BRANDÃO; MIRANDA, 2013).
No caso do respaldo à homofobia por parte das religiões, se optou por dar
ênfase ao estudo da religião do Cristianismo - religião hegemônica no país e com uma
história de mais de 300 séculos de união da igreja católica com o estado brasileiro -
determinante na formação cultural e política do povo brasileiro.
2.1 CRISTIANISMO E A HOMOSSEXUALIDADE
A tradição religiosa é a manifestação de um conjunto de crenças, preceitos e
valores de determinado grupo que, de acordo com a cultura, constrói a visão de mundo,
do ser humano e sua relação com o transcendente. No pensamento Tassinari (1995, p.
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448), a cultura é o conjunto de símbolos compartilhado pelos integrantes de determinado
grupo social e que lhes permite atribuir sentido ao mundo em que vivem e às suas ações.
A cultura é dinâmica e comum a toda a humanidade. É compartilhada,
formulada e transformada por um determinado grupo social. Portanto, as tradições
religiosas são componentes de determinadas culturas (TASSIANI,1995).
O cristianismo é a tradição religiosa com maior número de adeptos no mundo,
sendo o Brasil o país que concentra seu maior número.Segundo Araújo (1977, p. 31), o
Cristianismo surgiu numa época que as civilizações greco-romanas estavam em
decadência. O povo judeu, que deu origem aos cristãos, era um povo com regras rígidas
em relação à sexualidade. A essência da visão judaica sobre a sexualidade era a crença
de que a procriação era a razão básica para o sexo.
O Novo Testamento, que contém os ensinamentos de Jesus, não sistematiza
a conduta sexual nem dá uma norma completa de moral, o que nos dá é a orientação
para cada uma das situações concretas originadas de situações particulares para as
quais nos dá o ensinamento. Situações condicionadas à forma de vida do século I,
influenciadas pelo mundo greco-romano.
Os ensinamentos evangélicos sobre a sexualidade concentram-se nas
epístolas de Paulo e entre eles estão: a sexualidade completa só pode ser exercida
dentro do matrimônio, o celibato é melhor que o casamento, o juízo final está próximo e
as pessoas deveriam se dedicar à oração e à evangelização, um novo casamento só
era permitido em caso de morte de um dos cônjuges, só era concedido o divórcio se
uma das partes não fosse cristã, a homossexualidade e a fornicação(relação sexual fora
do casamento) eram condenadas, a mulher considerada submissa ao marido (ARAÚJO,
1977).
No período da Idade Média, fase que dura um milênio, a Igreja Católica tem
domínio da sociedade e condiciona às relações humanas a crença básica de que o
prazer sexual é condenável e há regras para manter-se longe do pecado; Sexo é
permitido no casamento; O celibato é sinal de pureza que só os fortes conseguem; A
mulher ocupava posição inferior, não tendo nem existência legal. Ela saía do domínio
do pai para o domínio do marido. Servia apenas para gerar filhos e a amante para
satisfazer a luxúria. A nobreza tinha liberdade para usar as mulheres das classes baixas,
que podiam ser violentadas (ARAÚJO, 1977).
Sob as influências das tradições religiosas, a sexualidade é vivenciada de
maneiras diferentes e desiguais em toda a história da humanidade e, como elemento da
cultura de um povo, também está sujeita a um permanente processo de mudanças, que
se reflete em diferentes setores e em sua doutrina moral.
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É oportuno recordar o pensamento de Seffner (2009, p. 135):
Aquilo que as religiões pensam e dizem acerca da sexualidade humana não deve virar regra dentro da escola. As regras da escola são as regras do espaço público, regras democráticas de convívio, valorização e respeito da diferença. Escola não é igreja e professor não é sacerdote ou pastor. Escola é espaço público [...] apenas com regras diferentes de acesso e convivência, e propósitos e objetivos claramente diferentes de outros espaços públicos.
É fundamental que o respeito aos diretos humanos e o diálogo sejam princípios
comuns a estruturar e orientar a convivência, combatendoa perpetuação de
preconceitos, discriminações, homofobia os quaislimitam o livre desenvolvimento das
sexualidades.
Neste sentido, a instituição escolar, por meio da educação sexual poderá
contribuir na ressignificação de conceitos e atitudes, na busca de respeitar os direitos
humanos e a diversidade sexual.
3 EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: APRENDIZAGEM ATRAVÉS DE WEBQUEST
A escola integra à lista de instituições que através de múltiplos e contínuos
processos de aprendizagem naturalizam modos de ser e viver, os quais produzem as
diferenças, distinções e desigualdades.
Para Furlani (2008, p.41),
Educar não é um ato neutro. Há uma íntima relação entre o que pensamos e nossa prática pedagógica; que toda prática docente é amparada por uma teorização (mesmo que não tenhamos consciência dela); que a formação docente (os cursos de formação) e a educação continuada deveriam refletir esses pressupostos teóricos e práticos; que o ato pedagógico é permeado de decisões, escolhas e, portanto, por disputas de saberes e significados... Tudo isso torna a educação uma ação, permanentemente, política.
Sabendo que nossas práticas revelam nossos pensamentos e esses, produzem
modos de ser e viver se faz imprescindível, construir uma cultura de direitos humanos.
Louro (1997) afirma que o olhar dos educadores deve se voltar especialmente
para as práticas cotidianas em que se envolvem todos os sujeitos. São os gestos e
palavras banalizados que precisam se tornar alvos de atenção renovada, de
questionamento e, em especial, de desconfiança do que é tomado como natural. É
indispensável questionar não apenas o que ensinamos, mas o modo como ensinamos
e que sentidos nossos/as educandos/as dão ao que aprende. Problematizar as teorias
que orientam nosso trabalho, estar atentos para nossa linguagem, procurando perceber
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o sexismo, o racismo e o etnocentrismo que ela frequentemente carrega e institui. No
pensamento de Junqueira (2009, p. 27):
A falta de solidariedade por parte dos profissionais, da instituição e da comunidade escolar diante das mais corriqueiras cenas de assédio moral contra LGBT pode produzir ulteriores efeitos nos agressores e nos seus cúmplices. Além de encorajá-los a continuarem agindo aquiescendo ou omitindo-se, são aprofundados em um processo de “alheamento”. Este esvazia o sentido da vida, alimenta o cinismo, anestesia as sensibilidades em relação às injustiças,conduz à naturalização do inaceitável, produz uma resignação ao intolerável e mina os parâmetros éticos ainda existentes.
Constata-se que a homofobia interfere fortemente na formação educacional
privando direitos aqueles\as que vivenciam processos identitários sexuais diferentes.
O pesquisador supra referendado alude que a homofobia interfere no
desempenho escolar, produz intimidação, insegurança, estigmatização, segregação,
isolamento, gera desinteresse pela escola quando abandono e evasão, prejudica a
entrada no mercado de trabalho, cria uma visibilidade distorcida, vulnerabiliza física e
psicologicamente, afeta a autoestima, dificulta a integração da familiar e escola
(JUNQUEIRA, 2009).
Assim como a escola reproduz mecanismos de opressão sexual, ela também
pode desconstruir esses mecanismos através de uma educação sexual que tem na
diversidade sexual sua base teórico-metodológica.
O professor adequado para trabalhar à educação sexual é na visão de Ribeiro
(1998, p. 197):
Aquele que saiba ouvir, que respeita e valoriza cada comentário, que seja dinamizador, sabendo ampliar as discussões surgidas, que seu comportamento em si poderá ter mais influencia do que o verbalizado, bem como, propõe pontos fundamentais à reflexão como a informação, a desmistificação de mitos e tabus e o trabalho com as emoções. E afirma que, informar não basta. Possibilitar vivências, pois tem questões que somente o discurso não consegue identificar, porque passa pelo emocional e se instala em atitudes e crenças.
Para Furlani (2008, p. 45), alguns princípios para educadores/as que pretendem
desenvolver uma educação sexual na escola são apontados como fundamentais à
prática pedagógica. Entre eles estão:
1) A educação sexual deve começar na infância e, portanto, fazer parte do currículo escolar. [...]. O sexo, o gênero, a sexualidade, a raça, a etnia, a classe social, a origem, a nacionalidade, a religião, por exemplo, são identidades culturais que constituem os sujeitos e determinam sua interação social desde os primeiros momentos de sua
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existência. 2) As manifestações da sexualidade não se justificam, apenas, pelo objetivo da “reprodução” – a vivência da sexualidade, desde a infância, se justifica pela descoberta corporal, vista como um ato de autoconhecimento. 3) Não deve existir qualquer segregação de gênero nos conhecimentos apresentados a meninos e meninas, portanto, a prática pedagógica deve acontecer sempre em co-educação. A convivência mútua e o compartilhamento de experiências subjetivas e materiais é um modo de meninos e meninas,superarem as desigualdades de gênero, respeitarem-se mutuamente.4) A linguagem plural, usada na Educação Sexual, deve contemplar tanto o conhecimento científico, quanto o conhecimento cultural. Ambos são constituintes das experiências dos sujeitos e são expressões da multiplicidade lingüísticasócio-cultural humana. 5) A educação sexual pode discutir valores como respeito, solidariedade, ente outros. E assim, questionar preconceitos e refletir sobre a importância de se aceitar “o outro”, “o diferente”.
Considerando os princípios orientadores da educação sexual na escola, o
processo de aprendizagem dos educandos sobre o respeito ao direito humano às
sexualidades será desenvolvido pelo componente curricular Ensino Religioso por meio
do recurso metodológico denominado webquest.
3.1 WEBQUEST: PELO DIREITO DE SER DIFERENTE.
A webquest é um recurso da internet para a educação, elaborada pelo professor
para ser solucionada pelos estudantes de forma cooperativa. A webquest parte de um
tema ou situação problema, propondo tarefasque envolvem a busca por fontes de
informações na internet (MEC, 2015).
A Webquest é constituída das seguintes seções (MEC, 2015): a) Introdução
(Motivaao tema/problema); b) Tarefa (Informa o software e osrecursos a serem
utilizados na investigação do tema/problema); c) Processo (É o passo a passo na busca
da informação e sua organização. Sugere os endereços de sites, páginas da Web); d)
Avaliação (Aponta os critérios de avaliação do aprendizado); e) Conclusão (Resume os
assuntos explorados na Webquest e os objetivos supostamente atingidos); f) Créditos
(Informa as fontes de onde são retiradas as informações para montar a webquest,
quando página da Web coloca-se o link, quando material físico coloca-se a referência
bibliográfica. É também o espaço de agradecimento às pessoas ou instituições que
tenham colaborado na elaboração).
A webquest pode ser: a) Curta: Leva de uma a três aulas para ser explorada
pelos estudantes e seu objetivo é a integração do conhecimento e b) Longa: Leva de
uma semana a um mês para ser explorada pelos estudantes em sala de aula e tem
como objetivo a extensão e o aprimoramento de conhecimentos (MEC, 2015).
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Considerando o exposto, propõe-se uma webquest longa, para os estudantes do
oitavo e nono ano do Ensino Fundamental, com o objetivo de educar na perspectiva da
diversidade cultural para que as sexualidades sejam respeitadas em suas diferenças.
Os conceitos essenciais trabalhados na proposta de Educação Sexual ao
componente curricular Ensino Religioso são:Ser Humano e Conhecimento Religioso.
Vejamos a proposta de webquest “Pelo direito de ser diferente!”:
SITUAÇÃO PROBLEMA
Vivemos numa sociedade em que muitos não respeitam as diferenças sexuais.
Um modelo de sexualidade é estabelecido. Quem não for heterossexual é considerado
inferior, doente, pecador, pervertido e anormal.Usa-se o mesmo mecanismo para
legitimar discriminações e preconceitos que a humanidade já sofreu ao longo de sua
história.
Pesquisa da UNESCO sobre Juventudes e Sexualidade revelou que 87% da
comunidade escolar tem algum grau de homofobia; 39,6% dos estudantes masculinos
não gostariam de ter homossexuais como colegas de classe, 35,2% dos pais/mães não
gostariam que seus filhos tivessem homossexuais como colegas de classe, e 60% dos
professores admitem não ter base para lidar com a diversidade sexual e 59,5% dos/das
professores/as afirmam não ter conhecimento suficiente para lidar com a questão da
homossexualidade na sala de aula (ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004).
Diante desta realidade cada vez mais visível em nosso país,uns condenam,
outros toleram e há os que aceitam a homossexualidade. E você? Qual sua opinião
sobre esta realidade? Em que está fundamentada sua opinião e qual as consequências
desse pensamento? Quais os argumentos de quem pensa diferente de você? Como a
sociedade percebe a homossexualidade? E as religiões o que dizem a respeito disso?
Essas questões fazem parte da reflexão proposta acerca do tema “Pelo direito de ser
diferente”!
TAREFAS
* Investigar conceitosrelacionados à diversidade sexual, especificamente, a
homossexualidadee sua relação com algumas tradições religiosas;
* Conhecer a história da homossexualidade, por meio de audiovisual, para
reconhecer esta sexualidade e superar preconceitos;
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* Identificar preconceitos e discriminações ao público LGBTs, analisando
situações destrutivas do respeito à diferença;
* Propor ações para superação da violência homofóbica;
* Divulgar o estudo realizado na elaboração do recurso “folder” a fim de informar
aspectos do tema que contribuam para o entendimento e respeito a diversidade sexual.
PROCESSO
1ª ETAPA:
Formem equipes por afinidade com no máximo três membros. Observem as imagens e
registrem a opinião sobre qual visão possuem da homossexualidade.
Figura 1: Casamento homossexual
Fonte: http://blogs.odia.ig.com.br/lgbt/2014/01/page/3/
Figura 2: Primeira criança adotada oficialmente por um casal homossexual masculino no Brasil.
Fonte: http://www.visaooeste.com.br/230/sociedade.html
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2ª ETAPA:
Pesquise o significado das palavras que compõem a sigla: LGBTs no documento: Brasil
Sem Homofobia. Entre no sítio de busca www.google.com.br, digite na caixa de busca
o nome do documento e registre os significados num arquivo Word;
3ª ETAPA: Acesse ao sítio
http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=historia-da-homossexualidade para
conhecer a história da homossexualidade através de uma entrevista com um historiador.
Aproveitem e registrem aspectos significativos à compreensão da diversidade sexual.
4ª ETAPA: Uma das formas históricas de propagar o preconceito à diferença sexual é a
condenação religiosa. Façam a leitura do texto “Os Gays e a Bíblia” do escritor Frei
Betto no sítiohttp://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-
defesa-dos.htmle reflitam sobre seu pensamento elencando as principais ideias.
5ª ETAPA: Cada integrante da equipe deverá solicitar por e-mail à professora de Ensino
Religioso o texto: “A visão da homossexualidade em algumas tradições religiosas”
(Apêndice I). Fazer leitura e sublinhar as tradições que possuem orientações
semelhantes.
6ª ETAPA:O que a medicina diz sobre a homossexualidade? Leiam o texto do médico
Dráuzio Varella no sítio http://drauziovarella.com.br/sexualidade/violencia-contra-
homossexuais/ e da mesma maneira destaquem as ideias mais significativas.
7ª ETAPA: AConstituição da República Federativa do Brasil, em seus artigos 1º, 3º e 5º
garantem a dignidade da pessoa humana, a não discriminação, a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança. Assistam ao filme: Pra que time
você joga? Com duração de 23 min. Produção:- Fórum de HSH/SP e Coordenação
Estadual de DST e Aids/SP, 2002. Disponível em: Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=cy5y4P33rLg; Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=ZfMcfhwfoi4&feature=related; Parte 3:
http://www.youtube.com/watch?v=q7nQBQq1I0I&feature=related.
Após assistir o filme façam uma roda de conversa a partir das questões abaixo,
registrando as conclusões da equipe: 1) Quais as dificuldades enfrentadas pelo
personagem (Pedro)? 2) Na sua escola existe homofobia? Como ela ocorre? Ela pode
afetar de que forma a vida escolar? 3) Quais os estereótipos estão ligados aos
http://www.google.com.br/http://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-defesa-dos.htmlhttp://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-defesa-dos.htmlhttp://drauziovarella.com.br/sexualidade/violencia-contra-homossexuais/http://drauziovarella.com.br/sexualidade/violencia-contra-homossexuais/
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homossexuais? 4) De que modo cada um de nós pode eliminar os preconceitos contra
as pessoas que têm orientação sexual diferente da nossa?
8ª ETAPA:Por fim, elaborem um folder informativo sobre este tema para ser fotocopiado
e distribuído em sua escola. Para isso, recorde da estrutura desse gênero textual e
observe as orientações para a execução desta tarefa no sítio
http://www.assimsefaz.com.br/sabercomo/como-fazer-folder.
AVALIAÇÃO
A avaliação foi realizada através de critérios conceituais, procedimentais e
atitudinais assim dispostos:
Conceituais (saber sobre): O significado de sexualidade e suas diferentes
orientações sexuais; Homofobia;Visão de diferentes religiões e da ciência sobre a
homossexualidade;Formas de preconceito e discriminação a serem combatidas;
Estrutura do gênero textual:folder.
Procedimentais (saber fazer):Trabalho em equipe. Exposição oral. Formulação
de proposições acerca de como superar os preconceitos e discriminações; Elaboração
do folder informativo sobre o direito à diferença sexual.
Atitudinais (saber ser): Valorizar as ideias uns dos outros; Respeitar as opiniões
alheias; Interação entre os integrantes do grupo; Responsabilidade com a execução das
atividades.
CONCLUSÃO
O estudo “Pelo direito de ser diferente”, foi organizado para compreender que a
sexualidade é uma construção histórica - cultural permeada por relações de poder, que
determinam valores comuns aos diferentes grupos sociais, os quais orientam nossas
vidas. Reconhecer e respeitar as diferentes formas de viver a sexualidade é a atitude
desejável à dignidade do ser humano.
A padronização da orientação sexual é uma das mais profundas violações dos
direitos humanos.
Somos desafiados a rever conceitos e atitudes, pois a educação deve estar a
serviço da libertação e da humanização!Neste sentido, propor ações para superação da
violência homofóbica, divulgar o estudo realizado através da elaboração de material
contribui com a aprendizagem dos direitos à diversidade sexual.
CRÉDITOS
http://www.assimsefaz.com.br/sabercomo/como-fazer-folder
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http://webeduc.mec.gov.br/webquest/index.php
http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=lgbt
http://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-defesa-
dos.html
http://drauziovarella.com.br/sexualidade/violencia-contra-homossexuais/
http://www.youtube.com/watch?v=cy5y4P33rLg
http://www.youtube.com/watch?v=ZfMcfhwfoi4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=q7nQBQq1I0I&feature=related
http://www.assimsefaz.com.br/sabercomo/como-fazer-folder.
Ao finalizar o planejamento da webquest, o professor criará no Google Sites a webquest,
Assista o vídeo explicativo: https://www.youtube.com/watch?v=LyOhGsoBFng.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Asexualidade é elemento cultural, logo, varia de povo para povo e se modifica
ao longo do tempo dentro de uma mesma sociedade.Por isso, há de se considerar e
respeitar as diferentes orientações sexuais.
O modelo hegemônico heterossexual difundido como o normal, o certo e o
saudável, especificamente, pela tradição religiosa cristã tem contribuído ao
desrespeitoàs diferentes formas de sexualidades, desqualificando as diferenças e
acentuando as desigualdades. Não obstante, a ciência também foi parceira histórica da
repressão, reversão e camuflagem da homossexualidade.
Deste modo, à sexualidade homossexual foi duplamente condenada e, apesar
das descobertas e mudanças culturais relacionadas às orientações sexuais, a
homossexualidade, ainda é alvo de preconceitos, homofobia e, repugnantes homicídios.
A escola por ser espaço do encontro plural, contraditório e sistemático com o
Outro, em suas diferenças e desigualdades, quando se faz indiferente, omissa e
negligente frente a realidade da diversidade sexual,reproduz a homofobia que se
apresenta e se acentua, em meio a tantos outros preconceitos e discriminações que
permeiam as relações humanas, se tornando conivente à violação do direito humano à
diversidade sexual.
Assim, como a escola reproduz mecanismos de opressão sexual, ela também
pode desconstruir esses mecanismos através de uma educação sexual que tem na
diversidade sexual sua base teórico-metodológica e no Ensino Religioso não
http://webeduc.mec.gov.br/webquest/index.phphttp://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-defesa-dos.htmlhttp://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-defesa-dos.htmlhttp://drauziovarella.com.br/sexualidade/violencia-contra-homossexuais/http://www.youtube.com/watch?v=cy5y4P33rLghttp://www.youtube.com/watch?v=ZfMcfhwfoi4&feature=relatedhttp://www.youtube.com/watch?v=q7nQBQq1I0I&feature=relatedhttp://www.assimsefaz.com.br/sabercomo/como-fazer-folder
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confessional, a possibilidade de conhecer, respeitar e conviver com as diferenças
religiosas e não religiosas na perspectiva dos direitos humanos.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam. CASTRO, Mary Garcia. SILVA, Lorena Bernadete da.Juventudes e Sexualidades. Brasília: Unesco Brasil, 2004. ARAUJO, Maria Luiza Macedo de. História crítica da sexualidade. In: SILVA, Maria do Carmo de Andrade, et al. (Orgs.). Sexologia: fundamentos para uma visão interdisciplinar.Rio de Janeiro: Editora Central da Universidade Gama Filho, 1977. BRANDÃO, Simone. MIRANDA, Valéria dos Santos Noronha. Homofobia e Invisibilidade na Educação. UFRB. Disponível em: .Acesso em: 05 jun. 2013. BRASIL, Ministério da Educação. Recursos da Internet para Educação. Disponível em: . Acesso em: 11 set. 2015. _______. Conselho Nacional de Combate à Discriminação/Ministério da Saúde (Brasil). Brasil Sem Homofobia: Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLTB e Promoção da Cidadania Homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. ________. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 2002. FREI BETTO. Os Gays e a Bíblia. Disponível em: http://www.homorrealidade.com.br/2011/05/em-artigo-frei-betto-sai-em-defesa-dos.html. Acesso em: 10 jun. 2011. HISTÓRIA DA HOMOSSEXUALIDADE. Disponível em: . Acesso em: 11 jun. 2012. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEIOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2010. Disponível em: . Acesso em 12 mai. 2013. JUNQUEIRA, Rogério Diniz. (Org.). Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. JURKEWICZ, Regina Soares. Cristianismo e Homossexualidade. In: GROSSI, Miriam Pillar et al. (Orgs). Movimentos Sociais, Educação e Sexualidades. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. p. 45-52. KÜHL, Eurípedes.A Homossexualidade e o Espiritismo. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2011. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
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MARTUCCI, Rubia Mara.Homossexualismo X Homossexualidade. Disponível em:
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APÊNDICE: VISÃO DA HOMOSSEXUALIDADE EM ALGUMAS RELIGIÕES
JUDAÍSMO
O amor homossexual é proibido, pois a finalidade da união corporal é a geração de filhos. No entanto, em cidades maiores existem comunidades de judeus gays. Em Jerusalém é celebrado o Christopher Street Day, em favor dos direitos homossexuais. Em Telaviv a administração da cidade oferece aos casais um contrato semelhante ao casamento.
CRISTIANISMO
* Para unsdeve ser rejeitada, pois é uma conduta antinatural e pecaminosa. As igrejas devem acolher os/as homossexuais, desde que eles/elas reconheçam que precisam de ajuda para mudar seu comportamento. * Outros, a consideram como uma opção inferior. Ajustar ao estilo de vida heterossexual tanto quanto possível, até converterem-se. * E há aqueles que afirmam que a homossexualidade é tão digna quanto a heterossexualidade. Alegam de que a Bíblia nunca foi pensada como lei para todos os tempos e que nela existem evidências que sugerem que a homossexualidade era às vezes tolerada sem críticas. O que é pecaminoso é a exploração de outra pessoa, o que pode ocorrer em qualquer relação sexual.
ISLAMISMO
É identificado com o “pecado de Ló” (Surata 29: 28-29) e condenado. O Alcorão proíbe expressamente calúnia e espionagem da vida particular. Também não considera a injusta discriminação com base em uma tendência que não foi escolhida por uma pessoa. Por isso tradicionalmente se tem tolerado.
HINDUÍSMO
Na Índia a homossexualidade é vista como um problema somente ocidental. Para as castas superiores, todo ato sexual que não sirva à geração é considerado como impureza, que hoje em dia pode ser lavada com um banho ritual. Se os atos devem ser condenados depende da classe, da fase da vida e da situação pessoal. Há os os“eunucos” – homens que assumem o papel de mulher em algumas castas.
BUDISMO
Em geral, não há condenação. Somente se condena as ações em caso de quebra de voto monástico.Há grupos que condenam qualquer sexualidade fora do casamento.Já outros grupos são aprovados.
AFRO-BRASILEIRAS
Não há condenação. Cada um deve sentir-se bem em sua sexualidade.Há inclusive o orixá Oxumarê que é metade do ano homem e a outra metade mulher.
INDÍGENAS
Era socialmente aceito e amplamente praticado em algumas sociedades indígenas. A permissão ou negação depende da cultura de cada povo.
ESPIRITISMO
Homens e mulheres nascem homossexuais com a destinação específica do melhoramento espiritual. São criaturas em purificação de faltas passadas, merecedoras de compreensão e, sobretudo esclarecimento.
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ENTRE O AXÉ E O AMÉM: A LAICIDADE COMO LEI, A INTOLERÂNCIA COMO
PRÁTICA
Jacquelane Bezerra dos Santos1
Maria Vanessa Nunes do Carmo2
Resumo: Ao abordar a História brasileira, o preconceito de raça sempre se fez presente, seja de forma direta ou velada. Fruto das lutas também dos Movimentos negros surge a Lei Federal 10.639/2003, onde torna obrigatório no país o Ensino da História da África e da cultura afro-brasileira nas escolas públicas e particulares. Frente a isso, temos a existência de um Estado laico, que parte do princípio da imparcialidade em temas religiosos, não apoiando ou discriminando nenhuma religião. O artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal trás descrito que: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. Diante disto, o objetivo principal deste trabalho é expor como a laicidade e o Ensino da História da África e da cultura afro-brasileiraestão sendo trabalhadas nas escolas públicas, tendo como objeto de estudo à Escola de Referência em Ensino Médio o Ginásio Pernambucano (Aurora), para uma conscientização das raízes étnicas do brasileiro e na diminuição do preconceito contra as religiões de matriz africana.
Palavras-chave: Laicidade. Educação. Cultura. Religião. Intolerância.
Introdução
Ao analisar a história de formação do povo brasileiro, verificamos repetidos
exemplos de tensões, hostilidade e conflitos diante das raças que se fez presente, para
só assim chegar a este modelo miscigenado de povo, que é a característica marcante
no Brasil. Sendo essa mistura nosso ponto alto, a segregação e falta de identidade com
nossas matizes é algo que nos aflige. E como à escola pode ser reprodutora de
concepções, conceitos e mentalidades, analisar como ocorre o processo ensino-
aprendizado neste ambiente é fundamental para compreender as novas gerações. O
objetivo é identificar como a laicidade e o Ensino da História da África e da cultura afro-
brasileira estão sendo trabalhadas nas escolas públicas em Pernambuco, para uma
1 Mestranda em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP; Graduada em Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural de Pernambuco– UFRPE. Contato: [email protected] 2 Mestranda em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP; Graduada em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Bolsista da CAPES. Contato: [email protected]
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efetiva mudança de postura, na proliferação de uma cultura de paz, no combate ao
racismo e preconceito de toda natureza.
...só temos o testemunho de um dos protagonistas, o invasor. Ele é quem nos fala de suas façanhas. É ele também, quem relata o que decidiu aos índios e negros, raramente lhes dando a palavra de registro de suas próprias falas. O que a documentação copiosíssima nos conta é a versão do dominador (RIBEIRO, 2006, p. 27).
Tivemos um processo histórico de formação brutal e eugênico, que ainda com
todas as mudanças ocorridas em nossa sociedade, mesmo através de grandes
conquistas alcanças através de movimentos sociais, o racismo e o preconceito são
disseminados de forma naturalizada no meio escolar, sendo notado na falta de
contemplação da história de outros povos, que não os dominadores, nos livros didáticos,
ou mesmo da falta de interesse por parte dos docentes em sinalizar outras fontes de
pesquisa, como também de não oferecer eventos pedagógicos que evidencie a
importância social, cultural e histórica de outras raças na formação de nossa matriz
étnica. Há um discurso de igualdade racial falacioso, um ensino tecnicista e conteudistas
que contribui ainda mais, para a reprodução de uma mentalidade racista e
preconceituosa. O objetivo é averiguar os atrelamentos entre as práticas e conteúdos
pedagógicos, a Lei de diretrizes e bases da educação nacional, os parâmetros
curriculares nacionais, frente a Lei 10.639/03 e a laicidade no ambiente público. As
fontes fundamentais desta pesquisa foram documentos, entrevistas semiestruturadas e
em profundidade e observação na escola. Foram entrevistados 13 professores com
mais de cinco anos na escola, uma coordenadora pedagógica e uma ex-aluna.
O CONTEXTO
Partiremos do pressuposto que houve uma adequação e efetiva mudança no
ambiente escolar com a alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação com a
sanção da lei 10.639, que determinou os seguintes artigos:
Art. 26 – A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1ª – O Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à História do Brasil. § 2ª – Os Conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira.
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Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.
Entendemos que a estrutura escolar pode a partir disso alicerçar suas práticas
de forma transdisciplinar, de modo a contemplar a cultura africana e afrodescendente,
que até então foram marginalizadas ou até mesmo esquecidas na política educacional
brasileira, mesmo tratando-se de um país com sua forte miscigenação, o etnocentrismo
sempre foi algo evidente.
As relações sociais e econômicas no Brasil trazem uma lógica na eugenia
fortemente caracterizadas no período da escravização. E que mesmo com os ideais
abolicionistas, a liberdade dos cativos não seria acompanhada da igualdade entre as
raças. A vinda de imigrantes oriundos da Europa no século XIX, para trabalhar, foram
vistos com grande entusiasmo, de modo a embranquecer e salvar a raça brasileira,
visão bem racista que adentrava o século XX. A brancura estrangeira dotada de diversos
preconceitos e com forte tendência xenofóbica eram alastradas na vida diária dos
brasileiros de forma crescente e naturalizadas. O imigrantenegro extraído de sua pátria
brutalmente e escravizado, com a abolição tornou-se agoraabandonado, pobre e
excluído socialmente, frente a sua cor e origem, passa a ser oprimido em diferentes
graus e ter sua imagem ligada a criminalidade.
A trajetória traçada das políticas públicas educacionais brasileiras traz uma base
eugênica para justificar a desigualdade nos direitos, fatos que podem ser lembrados ao
recorrer à Assembleia Constituinte de 1933-1934, onde legisladores como Miguel Couto
que defendiam a ideia da “purificação da raça” estavam à frente das ações que ocorriam
no meio escolar e nas práticas educativas.
Com as conquistas alcançadas através dos movimentossociais, podemos agora
acreditar numa mudança significativa, mas sem pensar em unidade étnico-cultural, pois
isso seria ignorar nossas matrizes. Para Ribeiro, essa unidade resultou de um processo
continuado e violento de unificação política, logrado mediante um esforço deliberado de
supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda
tendência virtualmente separatista (RIBEIRO, 2006, p. 20). Pois não é esquecendo
nossa formação histórica que teremos uma sociedade justa, pensando em unidade
nacional brasileira e ignorando o mosaico étnico que nos compõem.
O GINÁSIO PERNAMBUCANO
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Foi fundado no dia 1º de setembro de 1825, por decreto do presidente da
província de Pernambuco, José Carlos Mayrink, sob o nome de Liceu Provincial de
Pernambuco, numa das dependências do convento do Carmo.
Seu primeiro diretor foi o frade beneditino Miguel do Sacramento Lopes Gama,
mais tarde apelidado de Padre Carapuceiro. Passou a se chamar Ginásio
Pernambucano em 1855. Mudou-se da Rua Gervásio Pires para a Rua da Aurora em
1866. O prédio na Rua da Aurora foi projetado pelo engenheiro José Mamede Alves que
em 1859, recebeu visita do imperador Dom Pedro II. Mudou de nome para Instituto
Benjamim Constant em 1893. Voltou a ser chamado de Ginásio Pernambucano em
1899. O nome foi alterado para Colégio Pernambucano em 1942. Só voltou a ser
denominado Ginásio Pernambucano em dezembro de 1974. Até o início da década de
1950, só aceitava alunos do sexo masculino, As primeiras turmas femininas só foram
criadas em 1955, porém turmas mistas só surgiram em 1970.
Hoje, o colégio é referência no estado por ter sido o primeiro da rede pública a
implementar o ensino integral, em 2004. E possui um dos maiores índices educacionais
do estado. Com 741 alunos, 29 professores e 17 técnicos, o EREM Ginásio
Pernambucano (Aurora) conta com laboratórios de física, química, matemática, com
museu, auditório, oferece para seus alunos projetos de intercâmbio com aulas de
espanhol, inglês e alemão. Podemos vislumbrar uma escola de sonhos, se comparada
às demais escolas públicas do Brasil. Porém, o modelo de educação do GP Aurora,
reflete o que é demasiadamente visto nas escolas públicas e privadas do país, onde a
educação é pautada em conteúdos vinculados aos testes de vestibulares e na absorção
de conhecimento para o mercado de trabalho. As relações humanas são secundárias
para o planejamento pedagógico, vemos com preocupação um alto conteúdo de
informações técnicas serem lançadas em sala, divididas em mais de 12 disciplinas
isoladas, um discurso competitivo ao mercado e para à vida, enquanto as relações
sociais tornam-se cada vez mais frouxas, processos dissociativos de nossa raízes
culturais vão criando espaços cada vez maiores para a aculturação, e instituindo seres
globalizados destituídos de respeito as diferenças, pois é percebido que o conhecimento
institucionalizado feito pelas escolas, prima e segue a linha ocidental, tendo à Europa
como berço da humanidade e as grandes potências ocidentais modelos de progresso e
civilidade a serem seguidos.
A pesquisa foi realizada em uma escola vista como modelo, expor certas
fragilidades na execução da LDB e dos PCN´s no cotidiano das escolas. Mesmo com a
alteração sofrida com a Lei 10.639/03, até o ano de 2014 nunca houve nada que
contemplasse o “Dia da Consciência Negra” no calendário escolar, a África é pouco
lembrada nos conteúdos disciplinares. E podemos a partir destes fatos perceber a
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irrelevância por parte do próprio sistema educacional, de não enfatizar e não primar pelo
conhecimento de nossas raízes africanas, perpetua o racismo descabido de
racionalidade, tratando-se de pertencermos a um povo percebido justamente numa
mistura de raças, e acentua outras formas de preconceitos estéticos, políticos e sociais
já existentes:
[...] o reconhecimento da importância do papel da África na história da humanidade e tentava desconstruir os olhares preconceituosos/ racistas e as imagens negativas elaboradas até então sobre os africanos e as populações afro-americanas [...] esses estudos passaram a ser utilizados com uma intensidade desconcertantes na invenção de uma nova imagem dos africanos, contribuindo de forma inconfundível no quadro de redefinição da autoestima e da inserção político social das populações africanas e afro-americanas, em África, nas Américas e na Europa (OLIVA, 2007, p.74).
Fizemos entrevistas com questionários semiestruturados para 13 professores
efetivos, com mais de 5 anos de trabalho na instituição de ensino em questão. Mais
três entrevistas em profundidade foram feitas com dois destes professores, e mais uma
ex-aluna. E a partir da observação de elementos, da dinâmica escolar e dos dados
coletados, foi possível traçar um posicionamento institucional referente a
implementação da História e Cultura afro-brasileira e Africana, que é visto como
concessão.
Na prática o que é percebido na escola é de não aplicação no que rege a lei
10.639/2003, que implica na não valorização de elementos culturais afrodescendentes.
Há uma insatisfação por parte de alunos de religião de matrizes africanas e indígenas,
que não se percebem culturalmente ao que é imposto pedagogicamente.
Pesquisadora - De que forma à História e Cultura afro-brasileira e Africana é tratada na escola após a implementação da lei 10.639/2003? - Professor Marcos Durval (História) “Nunca houve nenhuma ação que contemplasse a cultura afrodescendente, creio que o fator determinante está muito correlacionada com a ideia que essa produção cultural, está constituída há pouco tempo, os elementos de análise dessa estrutura cultural, com a criação da lei, agora é que passa a ter forças dentro das escolas.”
- Professora Joelma Oliveira (Português e Espanhol) “Acho que é pela motivação dos professores que não existe, talvez por não entenderem a importância desse trabalho ser feito dentro da escola, e não haver projeto nenhum que implique a gente trabalhar esse tipo de temática de forma mais pontual. Ele é trabalhado, esporadicamente em algumas disciplinas, porque talvez a própria demanda da disciplina, implique que você verse, fale sobre a questão, mas um trabalho pontual com esse tema, eu pelo menos nunca vi ser trabalhado aqui.” - Fernanda Magalhães (aluna entre 2010 e 2012)
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“No ano de 2010 eu era primeiro ano do ensino médio e eu tive minha experiência em sala de aula com a cultura africana na disciplina de artes, era uma atividade para avaliação, e a turma foi dividida em grupos. Cada um tinha uma temática diferente que correspondia aos povos africanos. Meu grupo apresentou sobre o maculelê, a gente apresentou uma dança com a indumentária, com os bastões, referente ao tema. Depois a gente apresentou à história, os costumes, a música, a relação que o maculelê tinha com os índios. A cada aula que se passava dois grupos se apresentavam. Depois disso, em nenhum outro ano, disciplina ou momento, não vimos mais nada, só o foco no vestibular.”
A partir de tais informações, nos preocupamos em saber como alunos de tez
mais escuras se percebem no ambiente escolar, mais ainda, aqueles que pertencem a
religiões de matriz africana, uma vez que as religiões fazem parte do que há de mais
marcante em todas as culturas, ditando regras sociais de convívio e costumes que
perpassam gerações. Como estes jovens constroem suas identidades, se pertencente
a um grupo social tão importante como à escola, ele é cerceado de manifestar com
naturalidade sua pertença religiosa, quando esta ainda é vista, por falta de informação
e esclarecimentos, de forma demonizada e estereotipada por puro preconceito?
Foi verificado concessões para algumas religiões dentro do espaço público, que
neste caso abriria precedente para manifestações de outras religiosidades, algo que
não acontece e que vem a ferir a laicidade, quando frequentemente, é entoado orações
de cunho cristão nos eventos escolares ou em reuniões pedagógicas. Mentalidades
precisam ser trabalhadas para uma escola justa socialmente, que venha expor nossa
diversidade étnica, contemplando as diversas culturas que formaram nosso povo,
abolindo o discurso falacioso de “democracia racial”, onde não percebemos nada de
democrático na prática, vemos é um preconceito velado ou mesmo exposto em muitos
momentos, criando uma falsa ideia de igualdade racial:
...os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, "democracia racial", raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais. O mais grave é que esse abismo não conduz a conflitos tendentes a transpô-lo, porque se cristalizam num modus vivendi que aparta os ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alternidade. O povo-massa, sofrido e perplexo, vê a ordem social como um sistema sagrado que privilegia uma minoria contemplada por Deus, à qual tudo é consentido e concedido. Inclusive o dom de serem, às vezes, dadivosos, mas sempre frios e perversos e, invariavelmente, imprevisíveis (RIBEIRO, 2006 , p. 21-22).
As desigualdades existentes em todos os âmbitos da nossa sociedade não
podem ser facilmente esquecidas. Fomos formados por povos e culturas diversas, mas
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também por dominações étnicas que se perpetuam até hoje, e certos conceitos
precisam ser quebrados para romper com estereótipos de superioridade e assim
valorizar as nossas d