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Exemplo de Caso Controle

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  • HBITOS ALIMENTARES DE CRIANAS EUTRFICAS E COM SOBREPESO | 633

    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007 Revista de Nutrio

    ORIGINAL | ORIGINAL

    1 Artigo elaborado a partir da dissertao de J.F. NOVAES, intitulada Fatores de risco para o sobrepeso em crianas domunicpio de Viosa-MG. Universidade Federal de Viosa, 2005. Apoio: Fundao de Amparo Pesquisa do Estado deMinas Gerais (FAPEMIG) - processo n CDS 801/04.

    2 Universidade Federal de Viosa, Departamento de Nutrio e Sade, Programa de Ps-Graduao em Cincia da Nutrio.Av. P.H. Rolfs, s/n., Campus Universitrio, 36571-000, Viosa, MG, Brasil. Correspondncia para/Correspondence to: J.F.NOVAES. E-mail: .

    3 Universidade Federal de Viosa, Departamento de Nutrio e Sade. Viosa, MG, Brasil.

    Hbitos alimentares de crianas eutrficas ecom sobrepeso em Viosa, Minas Gerais, Brasil1

    Food habits of well nourished and overweight

    children in Viosa, Minas Gerais state, Brazil

    Juliana Farias de NOVAES2

    Sylvia do Carmo Castro FRANCESCHINI3

    Silvia Eloiza PRIORE3

    R E S U M O

    Objetivo

    Comparar os hbitos alimentares entre crianas eutrficas e com sobrepeso.

    Mtodos

    Estudo caso-controle com 50 crianas eutrficas e 50 com sobrepeso, pareadas de acordo com o sexo, idadee condio socioeconmica, selecionadas a partir da avaliao nutricional de 2.074 crianas, entre 6 e 8 anos,de escolas pblicas e privadas da rea urbana de Viosa, Minas Gerais. O estado nutricional foi classificadopelo ndice de Massa Corporal, segundo o Centers for Disease Control and Prevention. Um questionrio defreqncia alimentar seletivo de alimentos que contribuem para o sobrepeso, bem como recordatriosalimentares habituais relativos aos dias de semana e finais de semana foram aplicados, sendo, nestes ltimos,avaliada a ingesto de energia, carboidrato, lipdio, protena, vitamina C, vitamina A, ferro, clcio e fibras. Umquarto questionrio foi aplicado, a fim de analisar a prtica de realizar dietas pelas crianas.

    Resultados

    Destaca-se a excessiva ingesto de alimentos pelo grupo com sobrepeso, evidenciando um maior consumo deenergia, lipdio, carboidrato, protena, vitamina C e vitamina A (p

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    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007Revista de Nutrio

    A B S T R A C T

    Objective

    To compare the food habits between well nourished and overweight children.

    Methods

    Case-control study with 50 well nourished children and 50 overweight children, paired by gender, age andsocioeconomic conditions. They were selected from the nutritional assessment of 2074 children aging from 6to 8 years, enrolled in public and private schools of the urban area of Viosa, Minas Gerais State. Nutritionalstatus was classified according to the Body Mass Index criteria of the Center for Disease Control and Prevention.A food frequency questionnaire with the foods that contribute to overweight as well as the usual food recallsregarding week and weekend days were applied. The food recalls were also used to determine intake ofenergy, carbohydrates, lipids, proteins, vitamin C, vitamin A, iron, calcium and fibers. A fourth questionnairewas applied in order to determine if the children had the habit of going on diets.

    Results

    Food intake among overweight children was excessive. They had a higher intake of energy, lipids, carbohydrates,proteins, vitamin C and vitamin A (p

  • HBITOS ALIMENTARES DE CRIANAS EUTRFICAS E COM SOBREPESO | 635

    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007 Revista de Nutrio

    escolas urbanas pblicas (19) e privadas (7) queatendiam esta faixa etria e aceitaram, espon-taneamente, participar do estudo. Somente umcolgio pblico no participou do estudo, devido no autorizao da respectiva direo escolar.Decidiu-se avaliar o total da populao, ao invsde uma amostra estimada, a fim de fornecer ummaior tamanho amostral aos grupos posterior-mente selecionados para o estudo (sobrepeso eeutrfico), garantindo, assim, maior consistncia anlise estatstica e, conseqentemente, melhorconfiabilidade nos resultados.

    A partir dos valores de peso e estaturaaferidos em locais apropriados das respectivasescolas, calculou-se o ndice de Massa Corporal(IMC) e, de acordo com a idade e o sexo, definiu--se o estado nutricional das crianas segundo aclassificao proposta pelo Centers for DiseaseControl and Prevention (CDC)8: magreza ou baixopeso (percentil 5 epercentil 85e percentil 95). Areferncia antropomtrica tambm foi baseadano CDC8. importante ressaltar que, segundo oCDC8, sobrepeso o termo preferido para se referira crianas e adolescentes, cujo excesso de pesocorporal pode resultar em riscos sade comconseqncias negativas. Valores de IMC supe-riores ao percentil 95 foram definidos comosobrepeso, e no obesidade, porque este ndiceno mede gordura corporal e no h consensosobre o ponto de corte que indique obesidade emcrianas9.

    Toda a avaliao antropomtrica foi reali-zada pelo mesmo profissional, para minimizarpossveis vieses na aferio de medidas. O pesofoi obtido utilizando-se balana porttil, digital eeletrnica, com capacidade de 150 quilos e sensi-bilidade de 50 gramas. A estatura foi verificadacom estadimetro, com extenso de 2 metros,dividido em centmetros e subdividido em mil-metros. A aferio dessas duas medidas baseou--se na preconizao de Jelliffe10.

    A partir da avaliao antropomtrica reali-zada nas escolas iniciou-se o estudo caso-controle,

    no qual as crianas com sobrepeso (grupo caso) eas eutrficas (grupo controle) foram selecionadas,com pareamento na proporo de 1:1, de acordocom sexo, faixa etria, sala de aula e, conseqen-temente, escola e condio socioeconmica.Neste estudo, embora no tenham sido analisadasas variveis socioeconmicas, considerou-se queas crianas matriculadas no mesmo tipo de escola(pblica ou privada), geralmente, so pertencentesa famlias de semelhante condio socioeco-nmica. Assim, o critrio utilizado para realizar opareamento da condio socioeconmica foiestudar na mesma escola.

    Os autores optaram por fazer o pareamen-to do grupo caso com o controle buscando analisaraspectos do hbito alimentar que pudessemjustificar o sobrepeso, sem a interferncia de va-riveis que, reconhecidamente, interferem nessehbito, tais como sexo, idade e condio socioeco-nmica.

    Para este estudo foram includas na amos-tra as crianas com sobrepeso que apresentaramo IMC/idade igual ou superior ao percentil 96,pois o aumento da especificidade reduz a possi-bilidade de obter crianas falso-positivas. O critriode seleo das eutrficas (5< IMC/idade percentil 96), no municpio emestudo. Houve perda de 8 crianas com sobrepeso(6,9%) e, conseqentemente, seus pares eutr-ficos no foram avaliados (8). Essas perdas ocorre-ram pois, segundo relato materno, a criana jestava em acompanhamento nutricional comoutro profissional (2) e por indisponibilidade detempo das mes de participarem do estudo (4).Alm disso, estabeleceu-se a seleo dos gruposde crianas com sobrepeso e eutrficas no fim do

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    ano de 2003. No incio do ano de 2004, perodoem que foi aplicado o questionrio para a coletade dados, as crianas foram novamente pesadase medidas a fim de confirmar o diagnstico nutri-cional. Duas crianas que apresentaram sobrepesoem 2003, na coleta de dados em 2004, quandoforam reavaliadas, estavam em risco de sobrepeso,ocorrendo, assim, perda de duas com sobrepeso.

    O estudo foi realizado no Laboratrio deAvaliao Nutricional do Departamento deNutrio e Sade da Universidade Federal deViosa, ao qual os pais e as crianas que aceita-ram, espontaneamente, participar do estudocompareciam para a coleta de dados, realizadadurante o ano de 2004.

    Por questes ticas, as mes cujas crianasno foram identificadas como eutrficas foraminformadas sobre o estado nutricional de seu filhoe encaminhadas ao servio pblico de sade, ondeo atendimento nutricional foi realizado. Coletadastodas as informaes necessrias para a realizaodo estudo, as crianas participantes receberam,individualmente, orientao nutricional especfica,objetivando melhoria do hbito alimentar, con-forme os dados alimentares relatados pelas mese o seu estado nutricional.

    Os hbitos alimentares das crianas foramavaliados por um questionrio de freqnciaseletiva de alimentos e dois recordatrios alimen-tares habituais (relativos aos dias de semana efins de semana).

    Antes de aplicar o questionrio de freqn-cia seletiva de alimentos, foi realizado um estudo--piloto com 10 mes ou responsveis por crianasde 5 e 9 anos, que apresentavam sobrepeso eestavam matriculadas nas mesmas escolas envol-vidas no estudo. Este estudo-piloto englobou aaplicao de questionrio de freqncia alimentar,formulado pelos prprios autores, segundo o hbitoalimentar regional, e objetivou confirmar os h-bitos alimentares dessa populao infantil, visando incluso ou excluso de alimentos que contri-bussem para o excesso de peso infantil. Apesarde a amostra se constituir de crianas de 6 a 8anos, o estudo-piloto alimentar foi realizado com

    crianas de 5 e 9 anos, devido impossibilidadede perda da amostra, sendo importante ressaltarque os hbitos alimentares das duas faixas etriasse assemelham11.

    Formulou-se, ento, o questionrio defreqncia seletiva dos alimentos que contribuempara o sobrepeso infantil, sendo esta analisadaem cinco grupos de alimentos: cereais e massas;leite e derivados; carnes e ovos; acares e doces;e gorduras. As freqncias de consumo foramclassificadas em no-consumo, menor que umavez por semana, uma a trs vezes por semana,quatro a cinco vezes por semana e seis a setevezes por semana. Juntamente com o questionriode freqncia seletiva de alimentos, foi aplicadoo recordatrio alimentar habitual relativo aos diasde semana, sendo entrevistadas, preferencial-mente, as mes. Quando essas no podiamcomparecer, os inquritos alimentares foramaplicados a outros responsveis pelas crianas(3% - pai, av ou tia). Esse recordatrio foi com-posto pelo tipo de refeio, hora, local, alimentoe quantidade ingerida (em medidas caseiras). Aadequao de protenas, ferro, vitamina A evitamina C foi calculada, de acordo com a neces-sidade mdia estimada (Estimated AverageRequirement/EAR)12-15. O consumo de fibras e cl-cio foi avaliado, com base nos valores da ingestoadequada (Adequate Intake/AI), pois no existemEARs para esses nutrientes13,16. A avaliao daingesto de energia foi feita utilizando-se a necessi-dade energtica estimada (Estimated EnergyRequirement/EER), que o consumo de energianecessrio para atender o balano energticocompatvel com um bom estado de sade13. Ana-lisou-se, tambm, a distribuio relativa dos

    macronutrientes da dieta, em relao ao valorenergtico total (VET) utilizando-se, como refe-rncia, os valores recomendados de AMDR

    (Acceptable Macronutrients Distribution Range):carboidratos, 45% a 65%; protenas, 10% a 30%;e lipdios, 25% a 35% do VET13.

    Com a finalidade de avaliar o hbito ali-mentar no fim de semana, foi aplicado outrorecordatrio alimentar habitual, relativo a esse

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    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007 Revista de Nutrio

    perodo, sendo analisados os mesmos nutrientes.Os recordatrios alimentares habituais relativos aosdias de semana e ao fim de semana foram ava-liados em conjunto, baseando-se na mdia daingesto energtica e dos nutrientes, obtida nessesdois inquritos, sendo que, a partir dessa, foiavaliada a mediana de consumo, representando,portanto, o consumo habitual total das crianas.

    Para auxiliar as mes ou os responsveisna determinao do tamanho das pores inge-ridas, foram utilizadas figuras de utenslios e por-cionamento de alguns alimentos17.

    Em questionrio aplicado s mes, veri-ficou-se a prtica passada e/ou atual das crianasquanto realizao de algum tipo de dieta, bemcomo se houve orientao profissional.

    O banco de dados e as anlises estatsticasforam realizados utilizando-se os softwares Epi Infoe Sigma-Stat. Para verificar se a distribuio dosvalores das variveis era normal, utilizou-se o testede normalidade de Kolmogorov-Smirnov. A asso-ciao entre cada fator e o sobrepeso das crianasfoi analisada por meio do teste do Qui-quadradode McNemar, indicado para amostras pareadas.O teste de Wilcoxon foi utilizado para compararas medianas das variveis entre os grupos pa-reados, respectivamente. Considerou-se, comonvel de significncia estatstica, a probabilidadeinferior a 5%.

    R E S U L T A D O S

    Foi analisada a ingesto diettica relativaao habitual nos dias de semana e nos finais desemana, o que corresponde ingesto habitualtotal das crianas, pelo mtodo do recordatrioalimentar (Tabela 1). Verificou-se diferena esta-

    tisticamente significante para a ingesto deenergia (p

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    diferena estatstica significante entre os doisgrupos (p=0,71 e p=1,00; respectivamente - dadosno apresentados em tabela). No entanto, valeressaltar que, embora a impossibilidade de calcularo percentual de inadequao para os nutrientescuja EAR no est disponvel, 86 e 84% das crian-as com sobrepeso e eutrficas apresentaramingesto de fibras abaixo do valor da ingestoadequada, enquanto para o clcio esses valoresforam 56 e 50%, respectivamente (dados noapresentados em tabela).

    Quanto distribuio relativa dos macronu-trientes da alimentao, em relao ao valorenergtico total, tanto as crianas com sobrepesoquanto as eutrficas apresentaram valores dentroda faixa indicada na Acceptable MacronutrientsDistribution Range (AMDR)13: carboidratos, 45%- 65%; lipdios, 25% a 35%; e protenas, 10% a30% (Tabela 3). Esses valores mostram que,

    apesar do consumo mediano superior dos macro-nutrientes pelas crianas com sobrepeso, emrelao ao VET, as quantidades apresentaram-sedentro das faixas preconizadas.

    A Tabela 4 apresenta o percentual da fre-qncia de consumo de alimentos que contri-buem para o sobrepeso em crianas, obtido peloquestionrio de freqncia seletiva, sendo cadagrupo alimentar representado pelo alimento maisconsumido freqncia de seis a sete vezes porsemana. Assim, os alimentos mais destacadosentre as crianas com sobrepeso e eutrficas foramsemelhantes: po branco (cereais e massas);queijo (leite e derivados); carnes e ovos fritos(carnes e ovos); bala, chicletes e pirulito (acarese doces); e margarina (gorduras). Observou-semaior percentual de crianas com sobrepeso, queconsumiam queijo na freqncia de seis a setevezes por semana, em relao s eutrficas

    Tabela 2. Prevalncia de inadequao de energia, protena, vitaminas e minerais entre as crianas, segundo o estado nutricional.Viosa, MG, 2004.

    Energia (kcal)a

    Protenas (g)b

    Vitamina C (mg)b

    Vitamina A (gRE)b

    Ferro (mg)b

    Clcio (mg)c

    Fibras alimentares (g)c

    a EER: necessidade energtica estimada; bEAR: necessidade mdia estimada; cAI: ingesto adequada; ** recomendao preconizada indivi-

    dualmente (EER) de acordo com o sexo, faixa etria e o nvel de atividade fsica; *** recomendao preconizada individualmente (EAR): gramas

    de protenas ingeridas/kg de peso; o valor de p foi originado do teste do Qui-quadrado de McNemar.

    **

    ***

    022,0

    275,0

    004,1

    800,0

    025,0

    Energia e nutrientesParmetro de

    comparao

    24,0

    0,0

    8,0

    28,0

    0,0

    -

    -

    Inadequao (%)

    Sobrepeso

    Crianas

    22,0

    0,0

    16,0

    42,0

    0,0

    -

    -

    Inadequao (%)

    Eutrficas

    1,000

    -

    0,289

    0,497

    -

    -

    -

    p

    Tabela 3. Percentual de consumo de macronutrientes em relao ao VET*, segundo o estado nutricional das crianas. Viosa, MG,2004.

    Carboidrato

    Lipdio

    Protena

    * VET: valor energtico total.

    Percentual em relao ao VET das crianas

    Macronutrientes

    61,4

    25,2

    13,4

    Sobrepeso

    60,4

    26,4

    13,2

    Eutrficas

    Dias de semana

    59,0

    27,1

    13,9

    Sobrepeso

    61,0

    26,0

    13,0

    Eutrficas

    Fim de semana

  • HBITOS ALIMENTARES DE CRIANAS EUTRFICAS E COM SOBREPESO | 639

    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007 Revista de Nutrio

    (22,9% vs 6,0%; p=0,02), sendo os tipos maiscitados o minas e o muzarela. No entanto, paraos demais alimentos selecionados como contri-buintes para o sobrepeso infantil, no foi encon-trada diferena na freqncia de consumo entreo grupo de crianas eutrficas e aquelas comsobrepeso.

    Neste estudo, observou-se diferena,estatisticamente significante quanto prtica dej ter realizado ou estar realizando algum tipo dedieta, em que 22,0% das crianas com sobrepesoj apresentaram esse hbito, no sendo encon-trada tal situao em nenhuma eutrfica(p=0,002). Verificou-se que 100% das crianascom sobrepeso, que j realizaram dietas, foramorientadas por profissionais de sade, sendo 63,6%por nutricionista e 36,4% por mdico (dados noapresentados em tabela).

    D I S C U S S O

    Em relao aos dados do recordatrioalimentar habitual, os resultados comprovam asuperior ingesto de alimentos pelas crianas comsobrepeso, ressaltando um maior consumo deenergia, carboidrato, lipdio, protena, vitamina Ae vitamina C em relao s eutrficas. impor-tante ressaltar que os hbitos alimentares foramsemelhantes entre as crianas eutrficas e aquelascom sobrepeso, ou seja, grande parte dos ali-mentos consumidos era similar entre os dois gru-pos; entretanto, estas ltimas apresentaram umaingesto significativamente superior em relaos eutrficas.

    Quanto ao consumo excessivo de nutrien-tes, resultados semelhantes foram encontrados porMcGloin et al.18, que constataram que as crianasobesas consumiam maior quantidade de gorduraque as eutrficas. Hui et al.19 observaram asso-ciao significante entre a ingesto energtica,calculada por recordatrio alimentar de trs dias,e o sobrepeso das crianas aos 6 e 7 anos.

    Fatores de risco para doenas cardiovas-culares iniciam na infncia e esto associados acelerada aterosclerose. Hbitos alimentaresinadequados podem ser observados na infncia,e incluem a ingesto excessiva de energia, gordurasaturada e colesterol, levando obesidade. Talcomportamento indica a necessidade de progra-mas preventivos, no somente para indivduosobesos, mas, tambm, para crianas em geral20.

    Observou-se maior consumo de vitaminasA e C em crianas com sobrepeso. Com relao vitamina A, esse resultado pode ser explicadopelo excessivo consumo de alimentos-fonte dessavitamina, que normalmente so de origem animale se constituem de elevado teor de lipdios, sendofontes de vitamina A pr-formada, que lipos-solvel, como fgado, manteiga, leite integral,gema de ovo, creme de leite, queijos etc21. Talfato pode ser confirmado pelos maiores valoresmedianos de lipdios em geral ingeridos pelascrianas com sobrepeso, em comparao seutrficas. Entretanto, no foram observadasdiferenas significantes quanto ingesto dosalimentos-fonte de carotenides, precursores davitamina A, entre os dois grupos de crianas(p=0,526). Quanto vitamina C, apesar da

    Tabela 4.Consumo de alimentos que contribuem para o sobrepeso pelas crianas, na freqncia de seis a sete vezes por semana,segundo o estado nutricional Viosa, MG, 2004.

    Cereais e massas (po branco)

    Leite e derivados (queijo)a

    Carnes/ovos (ambos fritos)b

    Acares e doces (bala, chicletes e/ou pirulito)

    Gorduras (margarina)

    a muzarela ou minas; bambos os consumidos na freqncia de uma a trs vezes por semana; o valor de p foi originado do teste do Qui-quadrado

    de McNemar; *p

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    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007Revista de Nutrio

    superior ingesto pelo grupo das crianas com so-brepeso, no foram encontradas diferenas signi-ficantes quanto ao consumo dos alimentos-fontedessa vitamina entre os dois grupos. Uma possvelexplicao para a maior ingesto mediana devitamina C pelo grupo das crianas com sobrepeso,pode ser o maior consumo de sucos, em termosde quantidade, pelas crianas com sobrepeso,principalmente no horrio do almoo (p=0,011).Alm disso, importante ressaltar o maior consu-mo de sucos industrializados, pelas crianaseutrficas e com sobrepeso, em relao formanatural, sendo a quantidade ingerida superiornestas ltimas (p=0,019). Segundo Pereira et al.22,grande parte dos sucos industrializados apresentaadio de vitamina C em sua composio, poden-do, assim, favorecer a maior ingesto dessa vita-mina no grupo das crianas com sobrepeso, emvirtude da maior quantidade consumida dessesprodutos.

    No foi encontrada diferena estatistica-mente significante quanto inadequao deenergia e de nutrientes entre as crianas. Almdisso, surpreendentemente, nenhuma criana comsobrepeso ou eutrfica apresentou dficit naingesto de ferro. Entretanto, considerando a carnecomo uma excelente fonte de ferro, esperava-seencontrar deficincia desse mineral na alimen-tao de algumas crianas, uma vez que, naanlise do recordatrio habitual relativo aos diasde semana e fim-de-semana, observou-se queapenas 78% e 60% das crianas com sobrepesoe eutrficas consumiam carne todos os dias, res-pectivamente. No entanto, a ingesto medianade ferro das crianas apresentava-se acima dovalor de EAR, que preconiza a necessidade mdiae no meta de ingesto.

    Sabe-se que uma alimentao equilibrada indispensvel ao crescimento e desenvolvimentoadequado. importante ressaltar que o aumentodo consumo energtico a partir de sacarose egorduras, no est associado, necessariamente, melhoria qualitativa da dieta em relao amicronutrientes, que podem estar deficitrios,mesmo em uma dieta hiperenergtica. Muitasvezes, a ingesto de nutrientes essenciais comoferro, zinco e clcio est abaixo do recomendado

    para crianas e adolescentes23. Segundo Strauss24,a prtica profissional diria e a literatura cientficatm demonstrado o dficit na ingesto de vita-minas, por parte das crianas, em particular asportadoras de obesidade.

    Rogers et al.25 verificaram que altas inges-tes de gordura estavam associadas alimentaodeficiente em ferro, alm da existncia de baixosnveis sricos de ferritina. Resultados semelhantesforam encontrados por Pinhas-Hamiel et al.26, queconstataram anemia ferropriva em 6,7%; 35,0%e 58,3% de crianas e adolescentes eutrficos,com sobrepeso e obesos, respectivamente. Segun-do os autores, a deficincia de ferro comum emcrianas com obesidade, sendo que, devido aoseu potencial efeito danoso, essas crianas devemser avaliadas e tratadas, rotineiramente, quandonecessrio.

    De acordo com a anlise da freqnciaseletiva de alimentos contribuintes para o sobre-peso infantil, os resultados confirmam o semelhan-te hbito alimentar entre as crianas com sobrepe-so e eutrficas, sendo que os alimentos maisconsumidos, em cada grupo alimentar, so simila-res em ambos os grupos. Para todos os alimentos,com exceo do queijo, no foi encontrada dife-rena na freqncia do consumo entre os grupos.Resultados semelhantes foram encontrados emoutros estudos, sendo observado que, para todosos itens do questionrio de freqncia alimentaravaliados, no houve diferena entre o consumode crianas obesas e aquele das eutrficas27-29.No entanto, vale ressaltar a dificuldade de avaliar,fidedignamente, o consumo diettico, pois todosos instrumentos apresentam limitaes12. Quantoao questionrio de freqncia de consumo ali-mentar, as limitaes do mtodo incluem depen-dncia de memria da freqncia da ingesto dealimentos pelo entrevistado, bem como o tempogasto em sua realizao30.

    Foram observadas a prtica atual e passadade dieta entre as crianas com sobrepeso, pormtodas receberam orientao de um profissionalespecializado, sendo esse um resultado favorvel.Sabe-se que, geralmente, crianas com sobrepesodesejam realizar dietas a fim de perder peso. Noentanto, muitas o fazem por conta prpria ou por

  • HBITOS ALIMENTARES DE CRIANAS EUTRFICAS E COM SOBREPESO | 641

    Rev. Nutr., Campinas, 20(6):633-642, nov./dez., 2007 Revista de Nutrio

    informao de familiares, revistas, amigos e outros,ou seja, sem orientao profissional. O acon-selhamento para a realizao de dieta na infnciadeve ser realizado com muita cautela, em razoda fase de intenso crescimento. A utilizao dedietas restritivas contra-indicada na infncia, poispodem levar perda de tecido muscular e diminuio da velocidade de crescimento e desen-volvimento31. A reeducao alimentar a melhorforma de tratamento e deve ser mantida por todaa vida23. Assim, tambm importante ressaltar otipo de conduta preconizada para o estmulo reeducao alimentar da criana, uma vez que,geralmente, ela no altera o seu estado nutricionalaps as orientaes nutricionais, que podembasear-se na restrio acentuada de energia eproibio de alimentos preferidos. Muitas vezes,as crianas no possuem maturidade suficientepara entender essa rgida reeducao alimentar,estipulada pelo profissional de sade, para suaperda de peso e promoo da sade. SegundoValverde & Patin32, em acompanhamento nutri-cional infantil, importante utilizar tcnicas eestratgias facilitadoras do aprendizado e damudana de comportamento alimentar, evitando--se os riscos de fornecer orientaes padronizadase, principalmente, evitando tratar o paciente comoum adulto em miniatura. O desenvolvimento dehabilidades de relacionamento e o estabeleci-mento de forte vnculo entre a criana e o profis-sional de sude, assim como o envolvimento dafamlia no processo, so fundamentais para o xitodo tratamento.

    Uma limitao deste estudo so os viesesde resposta e o de memria existentes na apli-cao dos inquritos dietticos. Para minimizar oerro do relato materno sobre o consumo alimentarda criana, foi enfatizada, no incio do atendi-mento nutricional, a importncia da veracidadedas informaes relatadas por ela, permitindo aoprofissional orient-la em relao ao hbitoalimentar do seu filho.

    Neste estudo, identificou-se que a quanti-dade de alimentos ingeridos pelas crianas comsobrepeso elevada, evidenciando um maiorconsumo de energia e nutrientes em relao seutrficas, tais como lipdio, carboidrato, protena,

    vitamina C e vitamina A. Alm disso, tanto ascrianas eutrficas quanto aquelas com sobrepesoapresentaram hbitos alimentares semelhantes,sendo os alimentos mais consumidos de cadagrupo alimentar similares em ambos os grupos.Este resultado confirma a relevncia da reedu-cao nutricional, contemplando tanto as crianaseutrficas quanto as com sobrepeso, ressaltandoa importncia de uma alimentao saudvel evariada, alm da importncia de trabalhar otamanho das pores ingeridas pelas crianas comsobrepeso.

    A G R A D E C I M E N T O S

    Coordenao de Aperfeioamento de

    Pessoal de Nvel Superior (Capes) pela concesso da

    bolsa de mestrado, Fundao de Amparo Pesquisa

    do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo finan-

    ciamento do projeto, ao Departamento de Nutrio e

    Sade da Universidade Federal de Viosa pelo apoio,

    s crianas e aos pais pela participao no estudo.

    C O L A B O R A D O R E S

    J. F. NOVAES, participou da coleta de dados,

    escrita do manuscrito e anlise estatstica. S.E. PRIORE

    e S.C.C. FRANCESCHINI participaram na orientao

    do estudo, redao e anlise estatstica.

    R E F E R N C I A S

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    Recebido em: 5/6/2006Verso final reapresentada em: 29/6/2007Aprovado em: 21/8/2007