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Estado de Mato GrossoMINISTÉRIO PÚBLICO
Promotoria de Justiça de São Félix do Araguaia
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA COMARCA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA/MT.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento
nos artigos 23, inciso VI, 129, inciso III, e 225 da Carta Magna; artigos 3º, 4º, inciso
VII, e 14, § 1º, da Lei nº 6.938/85; Lei nº 7.347/85 e demais disposições da lei adjetiva
civil; lastreado nas peças constantes no Inquérito Civil nº 011/2007, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE, COM PEDIDO LIMINAR, C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER
em face do MUNICÍPIO DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA/MT, pessoa jurídica de direito
público interno, com sede nesta cidade e Comarca, no Estado de Mato Grosso, pelos
motivos fáticos e jurídicos que passa a expor:
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I – DA LEGITIMIDADE ATIVA:
A legitimidade ativa do Ministério Público, in casu,
decorre da Constituição Federal, artigo 129, inciso III, verbis:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério
Público:”
[...]
“III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;”
Além de o artigo 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, que
estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, tem-se, a partir da Lei da Ação Civil
Pública, o que segue:
“Art. 5º. Tem legitimidade para propor a ação principal e a
ação cautelar:
I – o Ministério Público;”
No mesmo diapasão é o disposto no artigo 25, inciso IV,
alínea “b”, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público):
“Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições
Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis,
incumbe, ainda, ao Ministério Público:”
[...]
“IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei;”
Assim, decorre a legitimidade ministerial na medida em
que se trata de verdadeiro curador do meio ambiente, bem como dos princípios
constitucionais que regem a Administração Pública.
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Este é, inclusive, o entendimento do egrégio Superior
Tribunal de Justiça, cuja ementa peço vênia para transcrever:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LANÇAMENTO EM RIO DE
ESGOTO SEM TRATAMENTO. ANTECIPAÇÃO DOS
EFEITOS DA TUTELA PARA IMPOR À RÉ A
REALIZAÇÃO DE OBRAS PARA SOLUCIONAR O
PROBLEMA. REQUISITOS DO ART. 273 DO CPC.
REEXAME DE PROVA. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A DEFESA DOS
DIREITOS DIFUSOS. I - O Ministério Público, segundo
expressa disposição constitucional, tem legitimidade para
promover ação civil pública em defesa do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos. É destes
interesses que se cuida no caso, pois visa o parquet a
coibir o lançamento em rio de esgoto não tratado,
problema cuja solução, segundo procura demonstrar o
autor, cabe à recorrente. II – Omissis. III – Omissis. V -
Recurso Especial improvido.” (Superior Tribunal de Justiça
STJ; RESP 397840; SP; Primeira Turma; Rel. Min. Francisco
Cândido de Melo Falcão Neto; julgamento em 21/02/2006).
II – DA RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO NO CASO EM DESLINDE:
A Constituição Federal, em seu artigo 23, incisos VI e VII,
prevê que:
“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos MUNICÍPIOS:
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;”
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Já o art. 30, inc. V, da Carta Magna estabelece:
“Art. 30. Compete aos Municípios:
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, os serviços públicos
de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial;”
Diante deste quadro, é claro que a coleta e
destinação do lixo urbano se tratam de atividades com repercussão local, o que
justifica a competência municipal para a correta prestação de tal serviço público. Para
HELY LOPES MEIRELLES "a limpeza das vias e logradouros públicos é, igualmente,
serviço de interesse local, de suma importância para a coletividade.” (in Direito Municipal
Brasileiro. 10ª edição. São Paulo: Malheiros, 1998, pág. 348).
Compete aos Municípios, desta forma, a
disciplina e a prestação do serviço de coleta e destinação do lixo urbano, mediante a
observância das normas técnicas aplicáveis no sentido de proteger a qualidade do
meio ambiente e a saúde da população, o que não impede, de certo, a obtenção de
financiamentos junto aos demais entes públicos.
III - DOS FATOS:
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
No bojo do Inquérito Civil nº 011/2007, que instrui a
presente, por vários anos, o Ministério Público Estadual tratou de encaminhar
notificação recomendatória, realizar reuniões e apresentar minutas de termos de
ajustamento de conduta junto ao Município de São Félix do Araguaia/MT, tudo no
intuito de solucionar, extrajudicialmente, o tema em análise, qual seja a instalação e
funcionamento do aterro sanitário.
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No entanto, por 02 (duas) administrações públicas, nada
se efetivou, permanecendo o Município Requerido inerte, sendo a situação
relacionada com os resíduos sólidos idêntica desde o exercício de 2003.
De tal arte, a partir de análise técnica levada a efeito por
perito oficial, propõe-se a presente demanda no intuito, tão-somente, de salvaguardar
o meio ambiente nesta localidade tão bem servida pela Natureza.
3.1 – DA EXPOSIÇÃO FÁTICA:
Visando a cabal apuração de fatos indicadores de que a
Prefeitura Municipal de São Félix do Araguaia/MT estaria dando destinação final aos
resíduos sólidos urbanos inadequadamente, despejando-os em local impróprio,
ocasionando, assim, em severos prejuízos ao meio ambiente e à saúde pública da
população, o Ministério Público Estadual requisitou ao órgão fiscalizatório competente
uma análise criteriosa da situação.
Assim, a partir de requisição ministerial, procedeu-se com
vistoria técnica ambiental na área atualmente destinada pelo Poder Público Municipal
para a emissão e disposição de resíduos e dejetos sólidos.
De certo, o Requerido, sem qualquer critério ou
preocupação, deposita o lixo a céu aberto. Não há qualquer indício de proteção, bem
como obras de contenção do chorume. Ademais, o depósito de resíduos e dejetos não
se encontra cercado, encontrando-se em inobservância das normas sanitárias
exigíveis.
Ressalte-se, ainda, o acúmulo de resíduos hospitalares
com os resíduos sólidos domésticos, sem qualquer medida que vise o isolamento dos
primeiros. Saliente-se que quaisquer resíduos sólidos portadores de agentes
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infectantes, isto é, os materiais provenientes de estabelecimentos hospitalares e
congêneres, estão sujeitos a tratamento específico, bem como a procedimentos
mínimos ao gerenciamento desses resíduos, com vista a preservar a saúde pública e
a qualidade do meio ambiente, nos termos do artigo 1º, incisos III e IV, da Resolução
nº 05 do CONAMA. Ademais, segundo especificações da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), os resíduos de serviços de saúde deverão ser
acondicionados adequadamente em sacos plásticos brancos leitosos, devidamente
identificados e dispostos separadamente do lixo urbano, evitando assim a proliferação
de agentes patogênicos, o que, de maneira indubitável, no caso em deslinde, não
passa de mera ficção legal.
Invariavelmente, sobras domésticas, sucatas, detritos,
lixo hospitalar, vêm sendo acumulados no depósito acima mencionado. Com tal
prática, tem-se desconforto para parte da população circunvizinha, acarretando, ainda,
em inúmeros malefícios à saúde dos moradores da região, com a proliferação de
milhares de vetores, quais sejam insetos, roedores e aves, tudo isso sem prejuízo dos
danos ambientais em seguida descritos.
Outrossim, conforme já mencionado, o local não se
encontra isolado, havendo, assim, presença freqüente de adultos e crianças
trabalhando clandestinamente no local, dedicando-se, de certo, à atividade de seleção
de materiais recicláveis. De igual maneira, a presença de animais é rotineira, os quais
se alimentam dos dejetos ali depositados, sendo certo que tais animais estão sendo
vendidos na região, demonstrando, assim, o risco com que a população está sendo
submetida.
3.2 – DOS DANOS AMBIENTAIS:
Os “lixões” urbanos similares ao que existe no Município
de São Félix do Araguaia/MT constituem-se sério problema no tocante a aspectos do
meio ambiente, saúde e suas interações.
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O impacto causado por determinados resíduos pode
trazer conseqüências irreversíveis ao meio ambiente. Na questão do lixo doméstico,
resta sabido que materiais tóxicos são ali incluídos, os quais alcançando as águas
subterrâneas podem provocar poluição física, química, bioquímica e biológica das
mesmas. A demonstrar o ocorrido, seguem um breve excerto da perícia técnica
outrora realizada no “lixão” local:
“Esta poluição é compatível com a composição do lixo
disposto no lixão. Como exemplo deste tipo de poluição
ou contaminação, podemos citar as causadas por metais
pesados como o mercúrio, o cádmio e o chumbo,
presentes em lâmpadas de neom e fluorescente, pilhas,
baterias, tintas, amaciantes, ligas metálicas, papéis,
resíduos de galvanoplastia, impermeabilizantes,
anticorrosivos, cerâmica, vidro, plástico, inseticidas, etc.,
que poderão causar distúrbios renais, distúrbios
neurológicos, efeitos mutagênicos, alterações no
metabolismo, deficiências nos órgãos sensoriais, dores
reumáticas, distúrbios metabólicos levando à
osteoporose, perda de memória, dor de cabeça,
irritabilidade, alucinação, anemia, depressão, paralisia,
etc.” (fls. 31/32 do Inquérito Civil nº 11/2007 anexo).
Outra situação originada pela forma atual de despejo dos
resíduos sólidos é a da sua decomposição/fermentação, que contribui para a formação
do gás metano, o qual representa grave risco de incêndios.
Por conseguinte, os danos ocasionados ao meio
ambiente, em razão da atual situação envolvendo o “lixão” local, são diversos, os
quais, em síntese, aqui seguem demonstrados a partir de uma atenta transcrição do
laudo técnico anexo:
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“Pelo que foi visto no local, porém sem condições
nenhuma de medi-los, os danos causados ao meio
ambiente pela disposição inadequada de lixo são os
seguintes:
11-1) Contaminação de parte da camada superficial do
solo que está em contato direto como lixo;
11-2) Poluição atmosférica causada pela queima do lixo
e emanação de gases oriundos da decomposição do
mesmo;
11-3) Proliferação de vetores como moscas, ratos e usa
do excesso de alimento no lixo e facilidade de abrigo;
11-4) Possível contaminação de águas subterrâneas.
Conforme já foi citado, há necessidade de averiguação;
11-5) Poluição visual causada pela distribuição
desordenada de lixo na área e no entorno imediato.” (fl. 32 do Inquérito Civil nº 011/2007 anexo).
Assim, além da poluição das águas subterrâneas e da
poluição atmosférica oriunda, precipuamente, das queimadas e da emissão de gases
provenientes da decomposição dos resíduos, tem-se a poluição visual, posto que o
despejo de dejetos a céu aberto são fétidos e visualmente repugnantes.
Ademais, a proliferação de vetores, intimamente
relacionada com a transmissão de doenças, é um ponto gravoso no “lixão” municipal.
Ora, resta sabido que as moscas apresentam um ciclo reprodutivo de 12 (doze) dias,
com a emissão de cerca de 150 (cento e cinqüenta) ovos diários, as quais são
responsáveis pela transmissão de diversas espécies patogênicas. De igual maneira,
os roedores, agentes de transmissão de doenças como leptospirose e salmonelose,
em apenas 01 (um) ano de vida dão origem a um número próximo de 100 (cem) novos
ratos.
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Nesse sentido, tanto a degradação ambiental, quanto a
proliferação de doenças, advêm da emissão e disposição de resíduos indevidamente
realizada.
Se não bastasse a questão acima mencionada, o
Município não possui qualquer programa de reciclagem de lixo, o que diminuiria, em
muito, a quantidade de resíduos. Estima-se que mais de 40% (quarenta por cento) do
lixo doméstico é constituído por materiais recicláveis, dentre garrafas, papéis, metais e
plásticos.
A Administração Pública que pretenda gerenciar a
questão dos resíduos sólidos não pode considerar uma única tendência para o seu
tratamento, seja ela sob o ponto de vista químico, biológico ou físico. O enfoque
deverá ser interdisciplinar sobre todos os ângulos da atividade humana, desde a
geração do lixo até a sua destinação final. Nesse contexto, cumpre-se considerar que
um programa que englobe a reciclagem do lixo, bem como a conscientização da
população para este aspecto, torna-se imprescindível.
Contrariamente às tendências de compatibilização do
desenvolvimento com a preservação do meio ambiente, a Prefeitura de São Félix do
Araguaia/MT despeja resíduos de toda espécie em um mesmo local, denotando
absoluta falta de respeito à natureza.
Acerca do tema em deslinde, assim enuncia o douto
especialista Paulo Affonso Leme Machado:
“As descargas livres praticadas por particulares ou pelas
prefeituras municipais apresentam, inegavelmente,
perigos certos: poluição das águas subterrâneas e por
conseguinte dos cursos d’ água vizinhos, proliferação de
animais parasitas (insetos e roedores), odores
nauseabundos de fermentação, tendo efeito adverso
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sobre os valores da terra, criando transtorno público, com
interferência na vida comunitária e no desenvolvimento.”
[...]
“Consoante a Sociedade Americana de Engenheiros
Civis, aterro sanitário é ‘método de disposição de refugo
na terra, sem criar prejuízos ou ameaças à saúde e
segurança pública, pela utilização de princípios de
engenharia que confinam o refugo ao menor volume
possível, cobrindo-o com uma camada de terra na
conclusão de cada dia de operação, ou mais
freqüentemente de acordo com o necessário.” (Paulo
Affonso Leme Machado in Direito Ambiental Brasileiro. 14ª
edição. São Paulo: Malheiros. 2006, págs. 552/553).
Assim, gravosos os danos ambientais provenientes dos
depósitos de resíduos sólidos a céu aberto.
IV – DO DIREITO:
O sustentáculo e a fonte de todo direito ambiental
brasileiro é o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, que dispõe:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe
ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
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II e III – Omissis;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
V e VI – Omissis;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei,
as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais à crueldade.”
Por seu turno, a Lei Federal nº 6.938/81, que dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, prevê, em seu artigo 10, caput, o
seguinte:
“Art. 10. A construção, instalação, ampliação e
funcionamento de estabelecimentos e atividades
utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva
e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob
qualquer forma, de causar degradação ambiental,
dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual
competente, integrante do Sistema Nacional do Meio
Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em
caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças
exigíveis.”
A Lei Estadual nº 7.862, de 19 de dezembro de 2002, que
dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos, estabelece:
“Art. 14 Constituem serviços públicos de caráter
essencial à organização municipal, o armazenamento, a
coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final dos
resíduos sólidos.”
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“Art. 19 Os responsáveis pela geração de resíduos ficam
obrigados a elaborar o Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos - PGRS, de acordo com o estabelecido
no art. 20.
§ 1º Os Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
deverão ter um planejamento compatível com o período
de implantação de seus programas e projetos, devendo
ainda ser periodicamente revisados e devidamente
compatibilizados com o plano anteriormente vigente.
§ 2º Os resíduos que apresentem risco potencial à saúde
pública e ao meio ambiente, devido à presença de
agentes biológicos e substâncias químicas perigosas,
deverão receber tratamento diferenciado durante as
operações de manejo, coleta, acondicionamento,
armazenamento, transporte, tratamento e disposição
final.”
“Art. 20. Caberá a FEMA fixar os critérios básicos sobre
os quais deverão ser elaborados os Planos de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos - PGRS, para fins
de licenciamento, contemplando, além dos princípios e
fundamentos estabelecidos nesta lei, os itens a seguir:
I - diagnóstico da situação atual do sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos;
II - a origem, caracterização e volume de resíduos
gerados;
III - os procedimentos a serem adotados na segregação,
coleta, classificação, acondicionamento, armazenamento,
transporte, reciclagem, reutilização, tratamento e
disposição final, conforme sua classificação, indicando os
locais onde essas atividades serão implementadas;
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IV - as ações preventivas e corretivas a serem praticadas
no caso de situações de manuseio incorreto ou
acidentes;
V - definição e descrição de medidas direcionadas à
minimização da quantidade de resíduos e ao controle da
poluição ambiental causada por resíduos, considerando
suas diversas etapas - acondicionamento, coleta,
segregação, transporte, transbordo, tratamento e
disposição final;
VIII - cronograma de implantação das medidas e ações
propostas; e
IX - a designação do responsável técnico pelo plano de
gerenciamento de resíduos e pela adoção das medidas
de controle estabelecidas por esta lei.
§ 3.º - Ficam sujeitos à elaboração e apresentação do
Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos
de que trata este artigo:
I - os Municípios;
Em observância aos princípios da Política Nacional do
Meio Ambiente, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) editou a
Resolução nº 1, de 23 de janeiro de 1986, que disciplina:
“Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se
impacto ambiental qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada
por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente;
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V - a qualidade dos recursos ambientais.”
“Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de
impacto ambiental e respectivo relatório de impacto
ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do
órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter
supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do
meio ambiente, tais como:
I a IX – Omissis;
X- Aterros sanitários, processamento e destino final de
resíduos tóxicos ou perigosos;”
Quanto à destinação dos resíduos de serviços de saúde,
o Município deve atender ao que disciplina a Resolução CONAMA n.º 358, de 29 de
abril de 2005, promovendo a regularização do atual sistema de incineração junto ao
órgão ambiental.
Como importantes marcos legais aplicáveis ao caso em
tela, podemos trazer, ainda, as disposições do artigo 264 da Constituição do Estado
de Mato Grosso, e artigos 17, 23, 24, inc. X, 86, 87 e 89 do Código Ambiental de Mato
Grosso (Lei Complementar n.º 38/1995).
Portanto, o Município de São Félix do Araguaia/MT vem
se omitindo na preservação dos recursos naturais e no atendimento aos padrões de
qualidade ambiental e de saúde pública, havendo a necessidade premente de coibição
da prática em tela, considerando-se os males à saúde pública e ao meio ambiente
que, a essa altura, já se encontram afetados.
Diante deste quadro e tendo em vista as funções
institucionais imposta pela Constituição Federal ao Ministério Público, em especial
“zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública
aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a
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sua garantia” e ainda “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos” (CF, art. 129, II e III), nada resta senão o ajuizamento da presente
ação civil pública, cabendo ao Poder Judiciário a relevantíssima função de assegurar o
exercício dos direitos constitucionais pelos cidadãos de São Félix do Araguaia/MT,
desta e das próximas gerações.
Em casos similares, já se decidiu:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
DEFESA DO MEIO AMBIENTE. ATERRO SANITÁRIO.
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. Diante da ampliação, pela Constituição Federal, das funções institucionais do Ministério Público, a quem incumbe promover a ação civil para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, apresenta-se juridicamente possível o pedido formulado pelo Parquet visando a compelir a administração do município a tomar as medidas cabíveis para implantação de aterro sanitário, localizado em área de preservação permanente.” (TJ-SC; AI 98.017550-0;
Urubici; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Eder Graf; Julg.
13/04/1999)(negrito nosso).
“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA AMBIENTAL. DESTINAÇÃO FINAL DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO MUNICÍPIO.
OBRIGAÇÃO DE FAZER. IMPLANTAÇÃO DE ATERRO
SANITÁRIO ADEQUADO. PROVA DA
IRREGULARIDADE DO SISTEMA DE DESTINAÇÃO
FINAL DO LIXO DO MUNICÍPIO. SENTENÇA ULTRA
PETITA. DECOTE. 1 - Em ação civil pública proposta
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pelo Ministério Público com fundamento na precariedade do sistema de destinação final do lixo urbano do Município, revelando-se incontroversa a ilegalidade praticada e não estando demonstrada a regularização da situação, é de confirmar-se a sentença na parte que condenou os réus a providenciarem a implantação de aterro sanitário adequado. 2 - Se a sentença exorbita o pedido inicial e
condena o requerido à restauração das condições da
área onde era feito o depósito do lixo, cabe decotar o
excesso, assim afastando o vício ultra petita do julgado. 3
- Sentença parcialmente reformada, em reexame
necessário.” (TJ-MG; RN 1.0012.04.000250-8/001; Aiuruoca;
Oitava Câmara Cível; Rel. Des. Edgard Penna Amorim; Julg.
24/08/2006; DJMG 25/10/2006)(negrito nosso).
Não cumprindo com suas incumbências e atribuição, já
esboçadas, o Requerido se torna civilmente responsável, inclusive, por eventuais
danos sofridos pela sociedade e o meio ambiente, em virtude de sua omissão
(negligenciando o policiamento e a execução de medidas preservacionistas do
patrimônio natural e da saúde e segurança da comunidade). Realça-se,
oportunamente, que a responsabilidade, aos termos do artigo 14, § 1º, da Lei nº
6.938/81, é objetiva, pouco importando, pois, qualquer argumentação acerca da
existência de culpa ou de responsabilidade de qualquer outro órgão.
V – DA POSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO DO PODER PÚBLICO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA:
Está se tornando pacífico o entendimento de que os
direitos difusos e coletivos podem ser reivindicados por intermédio de Ação Civil
Pública em face da Administração Pública, inclusive em hipóteses onde a conduta
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administrativa é discricionária, sem que se constitua tal ação numa intromissão
indébita de um Poder, mas, na verdade, um meio legítimo de controle externo, no
âmbito da moralidade, igualdade e razoabilidade, princípios basilares do Direito
Público Pátrio.
A jurisprudência, a seu turno, já tem apresentado
decisões neste sentido, conforme ementas acima descritas que, no entanto, restam
ratificadas pelas que seguem:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. LIXO.
DESTINAÇÃO FINAL. Ação procedente para compelir a
municipalidade a fazer aterro sanitário e a não depositar
detritos noutro local. Recurso não provido.” (Apelação
Cível nº 113.882-1, 5ª Câmara Civil do TJSP, Sertãozinho, Rel.
Des. Ralpho Waldo. Julgamento em 17.08.1987).
“Ação civil pública. Lixão. Adequação. Dano ambiental.
Prevalência do interesse difuso. Requisitos autorizadores
da concessão presentes. 1. O princípio da prevalência do
meio ambiente deve ser observado em face de outros
porque matéria de ordem pública. 2. A concessão da
liminar, assim, há de ser sopesada pelo julgador, pois
que permanente o risco suportado pela sociedade,
princípios observados no caso em testilha. 3.
Considerando que o Poder Público é quem, com
primazia, tem o dever de orientar-se segundo as normas
ambientais constitucionais, por essa mesma razão é que
se impõe a obrigação de adequação de suas
providências. Agravo de instrumento desprovido.” (TJPR -
Agravo de Instrumento nº 0087446800, 1º de maio, 6ª C.Cív.,
Relª Desª Rosene Arão de Cristo Pereira, julgamento em
18.10.2000).
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“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MUNICIPALIDADE. AÇÃO
VISANDO A ERRADICAÇÃO DE DEPÓSITO DE LIXO
URBANO (DOMÉSTICO E HOSPITALAR). LIMINAR
CONCEDIDA PARA ATENDIMENTO ÀS SUGESTÕES
DA CETESB. "PERICULUM IN MORA" INDISCUTÍVEL.
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO EM PARTE.
Dá-se provimento em parte ao recurso, para determinar-
se liminarmente a municipalidade, atenda às sugestões
de fls. 46 da CETESB, ou seja passe a reunir o lixo já
espalhado e aquele que chega diariamente,
compactando-o; e execute o cobrimento desse lixo com
terra, no mínimo duas vezes por semana. Não há,
também, se discutir a presença do "periculum in mora". O
laudo da CETESB, é incisivo em afirmar que o depósito
de lixo a céu aberto, sem a mais simples proteção
(aterro), já causa grave e sério prejuízo ao meio
ambiente, "o tipo de destinação final de lixo no Município
de Rio das Pedras é inadequado e prejudicial... e esta
deposição está sendo feita de modo a infringir o Decreto
de 08.09.76 (art. 51 e 52) pertencente a legislação
estadual de controle do meio ambiente" (fls. 45).” (Agravo
de Instrumento nº 109.652-1, 7ª Câmara Civil do TJSP,
Piracicaba).
Vale também ressaltar outro julgado atinente à espécie:
“A verdade é que o ponto sensível da controvérsia em
torno dos problemas da responsabilidade, são os casos
de ação ou falta de providência do serviço. É o que se
chamou de inércia da Administração Pública da
população e dos usuários. A Administração Pública
responde civilmente pela inércia em atender a uma
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situação que exigia a sua presença para evitar a
ocorrência danosa.” (in RDA 97/177).
VI – DOS OBJETIVOS DA PRESENTE DEMANDA:
Aos termos do artigo 3º da Lei nº 7.347/85, são três os
objetivos da Ação Civil Pública: obrigação de fazer, obrigação de não fazer e
indenização.
No caso em comento, o Ministério Público Estadual
materializa seu pedido, consoante da documentação inclusa, com fulcro na Lei nº
7.347/85, na condenação do Município de São Félix do Araguaia a:
I – Obrigação de não fazer, consistente em abster-se de
dispor os resíduos sólidos coletados de maneira irregular
e em área não licenciada pelo órgão gestor ambiental;
II – Obrigação de fazer, consistente em:
a) construir, mediante projeto e EIA/RIMA, previamente
licenciado pelo órgão gestor ambiental, um aterro sanitário de depósito de resíduos
sólidos, tudo em observância à preservação do meio ambiente e da saúde pública,
vedando-se, assim, as descargas livres a céu aberto;
b) apresentar, e executar, projeto dos serviços de limpeza
e coleta dos resíduos sólidos urbanos, especificando a estrutura física e de pessoal a
ser empregada;
c) apresentar, e executar, projeto de educação ambiental
municipal relacionada com o gerenciamento dos resíduos sólidos;
d) remover os resíduos sólidos incorretamente
depositados da atual área conhecida, vulgarmente, como “lixão” e
e) restaurar as condições primitivas da área do atual
“lixão”, especificamente no tocante às condições do solo, dos corpos d’água, e da
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vegetação, na conformidade da recomendação técnica anexa no Inquérito Civil nº
011/2007.
VII – DA NECESSIDADE DA MEDIDA LIMINAR:
A prática nociva ao meio ambiente antes narrada deve
cessar imediatamente. A proliferação de vetores, a contaminação do lençol e a
possibilidade de ocorrência de outros danos, inclusive à fauna e à flora locais, são
iminentes.
Em razão da inexistência do licenciamento ambiental; da
irregular deposição e acondicionamento do lixo urbano em local inadequado para a
destinação que lhe foi dada; do não cumprimento da exigência legal de elaboração de
EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental), nos
termos da legislação pertinente; e por haver o Requerido, com essa atuação,
desrespeitado vários dispositivos legais, além de estar ocasionando degradação
ambiental de caráter irreversível na região; resta imprescindível a concessão de
medida liminar para que cessem os danos e não acarretem maiores prejuízos ao meio
ambiente e à saúda da coletividade.
Conforme Rodolfo Camargo Mancuso ensina,
"Compreende-se uma tal ênfase dada à tutela jurisdicional preventiva, no campo dos
interesses metaindividuais, em geral, e, em especial, em matéria ambiental, tendo em
vista os princípios da prevenção, ou da precaução, que são basilares nessa matéria.
Assim, dispõe o princípio n. 15 estabelecido na Conferência da Terra, no Rio de
Janeiro (dita ECO 92): ‘Com o fim de proteger o meio ambiente, os Estados deverão
aplicar amplamente o critério de precaução conforme suas capacidades. Quando
houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não
deverá ser utilizada como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes em
função dos custos para impedir a degradação do meio ambiente’. Igualmente, dispõe
o Princípio n. 12 da Carta da Terra (1997): ‘importar-se com a Terra, protegendo e
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restaurando a diversidade, a integridade e a beleza dos ecossistemas do planeta.
Onde há risco de dano irreversível ou sério ao meio ambiente, deve ser tomada uma
ação de precaução para prevenir prejuízos." (in Ação Civil Pública. Em defesa do Meio
Ambiente, do Patrimônio Cultural e dos Consumidores. 9 ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2004, pág. 263).
Para a defesa imediata do meio ambiente, fazem-se
necessárias imposições ao Requerido de obrigações de fazer e não-fazer, com
fundamento no artigo 11 da Lei nº 7.347/85, que prevê: "Na ação que tenha por objeto
o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento
da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de
execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor."
Estas imposições, ante a irreversibilidade dos danos
ambientais e a farta prova da situação irregular do atual “lixão”, devem ser concedidas
initio litis, conforme previsão do artigo 12 da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº
7.347/85). Note-se que tal Lei prevê, inclusive, a tomada de medidas em sede
cautelar, em respeito à relevância e urgência das questões jurídicas que, a um só
tempo, atingem grande parcela da população de determinada comunidade. Dispõe a
LACP:
“Art. 12. Poderá o Juiz conceder mandado liminar, com
ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
§ 1º Omissis;
§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do
réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao
autor, mas será devida desde o dia em que se houver
configurado o descumprimento.”
“Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins
desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio
ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos
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bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.”
Com relação ao citado art. 4.º da LACP, deve-se ressaltar
que ele ostenta, inclusive, caráter satisfativo quando dispõe sobre a possibilidade de
se evitar o dano. Para Sérgio Ferraz, "Logo em seu artigo 4º, a lei 7.347/85 já alarga o
âmbito de ação cautelar, fazendo-a mais ampla e mais profunda, no campo da ação
civil pública. É o que se colhe desenganadamente de sua previsão no sentido de que
a ação cautelar possa, aqui, ter o fito de evitar o dano, cuja reparabilidade (este é o
alvo principal consagrado no art. 1º do diploma), ao lado da recomposição do status
quo ante (este o alvo basilar no art.2º), constituem as metas desse precioso
instrumento. É dizer, a ação cautelar na ação civil pública, em razão do ora examinado
art. 4º se reveste inclusive de feição satisfativa, de regra de se repelir nas medidas
dessa natureza." (in Provimentos antecipatórios na ação civil pública, In "Ação civil pública –
Lei 7347/85- 15 anos", 2. ed., São Paulo: RT, págs. 831, 832)(negrito nosso).
Quanto à conveniência de concessão de medidas
liminares, quer em antecipação de tutela, quer de índole cautelar, em sede de ação
civil pública, trazemos novamente a lição de Rodolfo de Camargo Mancuso:
"Conjugando-se os arts. 4º e 12º da Lei 7.347/85, tem-se que a tutela de urgência há de ser obtida através de liminar que, tanto pode ser pleiteada na ação cautelar (factível antes ou no curso da ação civil pública) ou no bojo da própria ação civil pública, normalmente em tópico destacado da petição inicial. Muita vez, mais
prática será esta segunda alternativa, já que se obtém a segurança exigida pela
situação de emergência, sem necessidade de ação cautelar propriamente dita". (in
Ação Civil Pública. Em defesa do Meio Ambiente, do Patrimônio Cultural e dos Consumidores.
9 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, págs. 268, 269)(negrito nosso).
Por força do disposto no art. 21 da LACP, tem total
aplicação à presente ação o disposto no artigo 84 do Código de Defesa do
Consumidor, segundo o qual “Na ação que tenha por objeto a obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará
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providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do inadimplemento.”
esclarecendo, no § 3.º do mesmo dispositivo, que “Sendo relevante o fundamento da
demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.”
O mesmo artigo 84 do CDC, em seu § 4.º, dispõe sobre o
mecanismo escolhido para dar efetividade e poder de coerção aos comandos acima
referidos, dispondo que “§4º O juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.”
Assim, apurada a comprovação da irregularidade do
sistema de coleta e destinação dos resíduos sólidos e de serviços de saúde em São
Félix do Araguaia/MT, por meio de perícias e relatórios técnicos da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente, que é exatamente o órgão competente para esta
verificação, e sendo certo que a situação implica necessariamente em danos
ambientais de grande monta, resta evidenciada a presença dos requisitos legais para
a concessão de medida liminar que obrigue o Município à adoção das providências
que ao final serão especificadas, tudo sob pena de pagamento de multa diária pelo
Administrador, em caso de omissão. Isto porque não há dúvida da presença, no caso,
do periculum in mora e fumus boni iuris.
VIII – DOS REQUERIMENTOS FINAIS:
8.1. Liminarmente:
Em sede de liminar, observadas as disposições legais,
inclusive a oitiva prévia do representante judicial do Município, no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, nos termos do artigo 2º da Lei nº 8.437/92 , requer o
Ministério Público Estadual seja determinado ao Requerido o que segue:
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a) Apresentação de projeto de construção de aterro sanitário, observando-se todos os requisitos legais, no prazo de 30 (trinta) dias, o que, inclusive, deverá ser acostado aos autos;
b) Promoção, junto à SEMA, de pedido de licença
prévia para a construção do aterro sanitário, observados todos os requisitos legais, inclusive o que consta na Resolução nº 04/95, no prazo de 50 (cinqüenta) dias, o que deverá ser demonstrado nos autos;
c) Promoção, junto à SEMA, de pedido de licença de
instalação de aterro sanitário, no prazo de 90 (noventa) dias contados do cumprimento da obrigação prevista no tópico anterior, observados todos os requisitos legais, o que deverá ser demonstrado nos autos;
d) Implementação, no prazo de 60 (sessenta) dias
após a liberação da licença de instalação, do mencionado aterro sanitário, provendo-o de todas as condições para o funcionamento regular, o que deverá ser demonstrado nos autos;
e) Apresentação, junto à SEMA, no prazo de 60
(sessenta) dias contados do início da operação do aterro sanitário, do PRAD referente à área do atual “lixão”, o que deverá ser demonstrado nos autos;
f) Início da execução do PRAD referido no tópico
anterior imediatamente após sua aprovação pela
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SEMA, obedecido o cronograma de ações nele previsto, o que deverá ser demonstrado nos autos;
g) Apresentação nestes autos, no prazo de 60 (sessenta) dias, de projeto de educação ambiental, bem como de coleta dos resíduos sólidos, na condição de medida compensatória, a ser ofertado à municipalidade, os quais deverão ser executados no prazo máximo de 90 (noventa) dias.
8.2 – Ademais, requer:
8.2.1 – O recebimento da presente ação, a fim de que
seja, ainda, autuada e processada na forma e no rito ordinário;
8.2.2 – A citação do Requerido, na pessoa do Prefeito Municipal, Sr. João Abreu Luz, para, querendo, responder aos termos da presente
ação, sob pena de revelia;
8.2.3 – A notificação da SEMA, por meio do Secretário Estadual de Meio Ambiente, dos termos da presente ação, para que dela tome
ciência e promova o conveniente acompanhamento;
8.2.4 – A realização de inspeção judicial na área atualmente empregada para o depósito dos resíduos sólidos, com a assistência
técnica da SEMA;
8.2.5 – A produção de todos os meios de prova admitidos
em lei, notadamente a documental e testemunha, sem prejuízo, por óbvio, da
inequívoca possibilidade de julgamento antecipado da lide;
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8.2.6 – O julgamento final de procedência do pedido, para
o fim de condenar o Município de São Félix do Araguaia/MT nas mesmas obrigações
individualizadas no item “8.1” acima e na obrigação de não-fazer consistente na
abstenção de depósito de resíduos sólidos a céu aberto ou sem licenciamento do
órgão ambiental, com todas as cominações de estilo;
8.2.7 – A fixação de multa diária para o caso de
descumprimento das obrigações impostas em sede de liminar e julgamento de mérito,
no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), pessoal ao administrador incidente em caso de
descumprimento de qualquer dos prazos assinalados nos itens “8.1” e/ou “8.2.6”.
Não obstante os bens jurídicos que se pretende tutelar
sejam economicamente incomensuráveis, atribui-se à causa, para mero fim de alçada,
o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).
São Félix do Araguaia/MT, aos 23 de julho de 2.008.
Paulo Henrique Amaral MottaPromotor de Justiça
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