equilíbrio e entropia: crítica da teoria neoclássica *

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9 Equilíbrio e entropia: crítica da teoria neoclÆssica * EleutØrio F. S. Prado ** 1. Introduçªo É possível que o domínio exercido pelo pensamento neoclÆssico por mais de um sØculo, no campo do saber econômico, esteja chegando ao fim. Em The evolution of economic theory, Kirman, refletindo sobre a crise da economia walrasiana, levanta a seguinte possibilidade: A liçªo bÆsica que se pode tirar [...] Ø que a Economia, por vÆrias razıes, ficou encerrada num paradigma particular, paradigma este que Ø constantemente comparado com as realizaçıes de vÆrias ciŒncias, em particular com as da Física, com o fim de determinar o seu estatuto científico relativo. O que eu gostaria de sugerir [...] Ø que a Economia, tal como a ciŒncia em geral, estÆ entrando agora, provavelmente, num período de turbulŒncia teórica. Ela, basicamente, parece ter evitado a revoluçªo probabilística na Física. Entretanto, aquilo que agora estÆ acontecendo no que se pode descrever frouxamente como teoria da complexidade, ou como teoria dos sistemas adaptativos complexos, parece que vai ter provavelmente um impacto no desenvolvimento da teoria econômica (Kirman, 1997a, p. 102). Kirman sugere, assim, que estÆ-se abrindo, pouco a pouco, um novo caminho teórico para a Economia, e que para trilhÆ-lo Ø preciso abandonar os modos usuais de pensar a realidade econômica, passando a acompanhar * Este artigo tem por base um texto mais longo que foi apresentado no XXVI Encontro Nacional de Economia, realizado pela ANPEC, em dezembro de 1998. Ao modificar a versªo original, busca-se atender, em parte, aos agudos comentÆrios de Gilberto Tadeu Lima feitos na ocasiªo do Encontro e posteriormente. Busca-se, tambØm, apresentar a idØia central veiculada naquela versªo de uma maneira diferente, procurando tornÆ-la mais clara e mais acessível. Quando se menciona aqui teoria neoclÆssica, deve-se enten- der que se trata da economia política walrasiana em sua versªo atual. ** Professor da USP. VOL. I Nº II DEZ.99 pp. 8/34

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Page 1: Equilíbrio e entropia: crítica da teoria neoclássica *

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Eleutério F. S. Prado

Equilíbrio e entropia: crítica da teorianeoclássica *

Eleutério F. S. Prado **

1. Introdução

É possível que o domínio exercido pelo pensamento neoclássicopor mais de um século, no campo do saber econômico, esteja chegando aofim. Em The evolution of economic theory, Kirman, refletindo sobre a crise daeconomia walrasiana, levanta a seguinte possibilidade:

A lição básica que se pode tirar [...] é que a Economia, por váriasrazões, ficou encerrada num paradigma particular, paradigma esteque é constantemente comparado com as realizações de váriasciências, em particular com as da Física, com o fim de determinaro seu estatuto científico relativo. O que eu gostaria de sugerir[...] é que a Economia, tal como a ciência em geral, está entrandoagora, provavelmente, num período de turbulência teórica. Ela,basicamente, parece ter evitado a revolução probabilística naFísica. Entretanto, aquilo que agora está acontecendo no que sepode descrever frouxamente como teoria da complexidade, oucomo teoria dos sistemas adaptativos complexos, parece que vaiter provavelmente um impacto no desenvolvimento da teoriaeconômica (Kirman, 1997a, p. 102).

Kirman sugere, assim, que está-se abrindo, pouco a pouco, um novocaminho teórico para a Economia, e que para trilhá-lo é preciso abandonaros modos usuais de pensar a realidade econômica, passando a acompanhar

* Este artigo tem por base um texto mais longo que foi apresentado no XXVI EncontroNacional de Economia, realizado pela ANPEC, em dezembro de 1998. Ao modificar aversão original, busca-se atender, em parte, aos agudos comentários de Gilberto TadeuLima feitos na ocasião do Encontro e posteriormente. Busca-se, também, apresentar aidéia central veiculada naquela versão de uma maneira diferente, procurando torná-lamais clara e mais acessível. Quando se menciona aqui teoria neoclássica, deve-se enten-der que se trata da economia política walrasiana em sua versão atual.

** Professor da USP.

VOL. I Nº II DEZ.99 pp. 8/34

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um movimento científico que atualmente atinge várias outras ciências, emespecial a Física e a Biologia, e que vem sendo caracterizado pela suaorientação voltada à complexidade. A preocupação central desse movimentoconsiste em se apropriar de certas dimensões da realidade que a ciênciamoderna deixou em grande medida de lado, quais sejam, as do processo eda emergência. Dito de outro modo, esta linha de pensamento quer enfrentarde um modo científico os problemas da evolução temporal dos sistemas eda geração de estruturas macrossociais a partir de comportamentosmicrossociais.

Para caracterizar o modo pelo qual esse movimento está entrandono campo da Economia, Arthur, Durlauf e Lane, na introdução de umaobra coletiva denominada muito sugestivamente de The economy as an evolvingcomplex system, arrolam seis notas distintivas das novas construções teóricas,ainda em fase inicial de desenvolvimento: (ver Arthur, Durlauf & Lane,1997, p. 3-4)1. as interações entre agentes econômicos heterogêneos e adaptativos sãocoordenadas de modo descentralizado;2. essas interações são coordenadas por normas, instituições e organizaçõesendógenas, de tal modo que não haja qualquer instância global e externa decontrole;3. o sistema econômico tem propriedades emergentes e é constituído porvários níveis de coordenação;4. o novo emerge continuamente no sistema econômico;5. o sistema econômico, em conseqüência, encontra-se em permanenteprocesso de adaptação;6. o sistema econômico, finalmente, opera dinamicamente e, em geral, forado equilíbrio.

A perspectiva da complexidade caracteriza-se, pois, pela sua ambiçãode levar em consideração uma série de características normalmente atribuídasao sistema econômico realmente existente, ambição que a atual teoriaeconômica padrão � a teoria neoclássica �, entretanto, não consegueefetivamente realizar.

Para entender essa ruptura possível no campo específico da teoriaeconômica, procura-se aqui contrapor dois modos de abordar esta esfera

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da realidade social, os quais diferem entre si especialmente pela maneiracomo concebem os homens e as relações sociais no que ainda pode serdenominado, de modo provocativo, modo de produção capitalista. Paraenfocar os problemas de uma maneira mais precisa, apresenta-se de início,em amplos traços, um modelo de equilíbrio de mercado desenvolvido porDuncan Foley (1994). Segue-se este caminho porque o modelo, nascido deuma apropriação de resultados da mecânica estatística, se ainda conservaum caráter estático, tem como característica importante que o equilíbrio aíconsiderado não vem a ser um ponto fixo, mas tem, diferentemente, umanatureza estatística.

Justamente por causa dessas duas características distintivas, o modelode Foley permite mostrar, em primeiro lugar, as deficiências maisfundamentais e, assim, os limites da teoria neoclássica de equilíbrio geral,que pode ser vista como um seu caso particular. Em segundo lugar, porintroduzir uma noção de equilíbrio que não reprime a noção de incertezaendógena do sistema econômico, torna possível mostrar porque acoordenação das transações que ocorrem num mercado complexo não podeser feita sem o dinheiro. E este é, como se sabe, um ponto fraco da teorianeoclássica padrão. Segundo Kirman, por exemplo,

[...] é revelador que o dinheiro, enquanto um meio de transação,apareça como uma preocupação natural no sistema iterativo edescentralizado em que me concentro [...] já que o dinheiro nãose ajusta de modo confortável no arcabouço da teoria do equilíbriogeral. (Kirman, 1997b, p. 499).

Subjacente à questão da ausência intrínseca do dinheiro no modelode equilíbrio geral e de sua presença necessária num modelo construídosob a perspectiva da complexidade, encontram-se duas concepçõesantagônicas de sistema econômico. Uma delas, a neoclássica, supondo que acoordenação das ações é feita de forma centralizada e que os mercados sãocompletos e não seqüenciais, opta por uma concepção atomista de sociedade,em que as interações sociais ocorrem de um modo mecânico e sãoinerentemente reversíveis. A outra, a ser denominada de evolucionária, aoincorporar explicitamente noções de incerteza endógena � ou seja, deentropia � e de processo de mercado, leva a adotar uma concepção de

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economia como um sistema de ações que ocorrem de modo espalhado, asquais se influenciam e se realimentam mutuamente, dependendo sempre deum meio de comunicação adequado. A primeira dessas duas tem, como sesabe, uma natureza estática e a segunda caracteriza-se por incorporar aflecha do tempo.

Aqui se sustenta que o sucesso dessa linha teórica no campo daciência econômica depende crucialmente da adoção de fundamentos sociaise antropológicos distintos dos fundamentos da teoria neoclássica. Sustenta-se, ademais, que aqueles se mostram necessários quando se passa a considerar,além das dimensões do processo e da emergência como características emgeral dos sistemas adaptativos complexos, a dimensão da comunicação comoparticularidade inerente aos sistemas sociais, como o sistema econômico,que engloba os mercados e as hierarquias administrativas, assim como outrosmodos de governança.

Nessa perspectiva, as relações sociais passam a ser concebidas comovínculos constituídos por comunicações, fazendo-se diferença entre asrelações mediadas pela linguagem no âmbito do mundo da vida e ascomunicações mediadas pelos meios não lingüísticos na esfera do sistema.O dinheiro aparece, assim, como um meio de comunicação crucial para aexistência e o funcionamento do sistema econômico como tal.

Ao final do artigo, pretende-se ter apresentado não só uma críticainterna à teoria neoclássica de equilíbrio geral, mas também um enfoqueteórico em que o dinheiro aparece como algo co-originário ao sistemaeconômico � sistema este, agora, dotado da propriedade da auto-organização.Pretende-se, também, ter mostrado um caminho promissor dentro do quala teoria econômica pode se desenvolver como teoria do processo deacumulação de capital. Para tanto, este último é entendido, ao modo clássico,como valor que cresce no tempo e que se expressa, de um modo pleno, nodinheiro.

2. Modelo neoclássico generalizado 1

O modelo a ser aqui apresentado vem a ser uma generalização domodelo neoclássico padrão. A sua característica distintiva vem do fato de

1. Nesta seção se aproveita em parte uma contribuição do autor a um artigo escrito emcolaboração com Jorge Soromenho (Prado & Soromenho, 1988).

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que vai além do determinismo inerente à análise econômica usual, tratandoo mercado como um sistema de coordenação que opera segundo um certopadrão de aleatoriedade. Esse modelo, em que os preços são variáveisestocásticas e o equilíbrio é estatístico, vem a ser uma aplicação de umresultado clássico de mecânica estatística em Economia, que estende o escopodo que é usualmente denominado análise econômica.

Fazendo abstrações drásticas, é possível apresentar o modeloconstruído por Foley de um modo simples. Seja uma economia de produtoresindependentes em que as duas únicas mercadorias existentes são produzidasapenas com trabalho; cada uma delas, perfeitamente homogênea, é produzidasempre com uma mesma técnica. Admitiremos que, em razão da existênciade uma restrição institucional, a jornada de trabalho de todos os produtoresé fixa no período de produção. Cada trabalhador, por razões tecnológicas,produz uma única mercadoria, 1 ou 2, de tal modo que há apenas dois tiposde produtores. As quantidades efetivamente produzidas das mercadorias 1e 2 são fixas período a período e iguais a e

1 e e

2, respectivamente.

Para apresentar o modelo do modo mais claro possível, necessitamosestabelecer uma notação adequada. Para tanto, assumimos que quatro índicesestão associados às quantidades de mercadoria, da seguinte forma: jc

ikK,

onde o sub-índice i responde pelo bem de que se trata (i = 1,2); k indica otipo de produtor (k = a,b); o sobre-índice j indica os indivíduos dentro decada tipo de produtor ( j = 1,2, ...., n

k) e, finalmente, o sub-índice K indica a

troca a que se associa a quantidade do bem. Em alguns casos, para evitarredundância, omitiremos o sub-índice k ou o sub-índice K ou, ainda, ambos.Com base nessas convenções de notação, podemos enfrentar melhor oproblema de expor o modelo neoclássico generalizado desenvolvido porFoley.

Suporemos, agora, que ambos os tipos de produtores, parasobreviver, precisam consumir os bens 1

e 2, buscando trocar no mercado,

período a período, certa quantidade do bem que produzem por certaquantidade do bem que não produzem. Como existem n

a produtores da

mercadoria 1, indicamos por 1c1a

, 2c1a

,...,nac1a

as quantidades vendidas nomercado pelos indivíduos 1, 2, ..., n

a. De igual modo, como existem n

b

produtores da mercadoria 2, indicamos por 1c2b

, 2c2b

, ... , nbc2b

as quantidades

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trocadas no mercado pelos indivíduos 1, 2, ... , nb. A população total de

trabalhadores é igual a na+n

b = n. As razões de troca entre 1

e 2

são

consideradas, entretanto, como variáveis aleatórias.Cada tipo de produtor encontra-se caracterizado por sua dotação

inicial daquele bem que produz, assim como por seu mapa de preferências.No gráfico abaixo (figura 1), a título de exemplo, apresentamos a situaçãode escolha dos indivíduos que produzem a mercadoria 1. A dotação inicialdeste tipo de produtor encontra-se indicada negativamente no eixohorizontal por e

1a. A curva aí traçada, e que passa pela origem, representa

uma curva de indiferença dos trabalhadores do tipo a. Ao se admitir queambas as mercadorias não são perfeitamente divisíveis, fica determinado oelenco das trocas possíveis para cada produtor do tipo a como um conjuntofinito de pontos. Este conjunto é designado na figura 1 por A

a. Os pontos

do conjunto Aa podem, então, ser indexados pela seqüência 1, 2, ..., s

a,

sendo então designados genericamente por w. Evidentemente podemos fazero mesmo com a situação de escolha dos produtores da mercadoria 2,indexando, então, os pontos de A

b especificamente por 1, 2, ...., s

b e

genericamente por j .

-e1a

C2a

C1a

Aa

0

-C1ω

C2ω

Figura 1 � Conjunto de oferta

Definamos, agora, as trocas possíveis para os produtores do bem 1pelo vetor c

w = (c

1w, c

2w), em que c

1w £ 0 e c

2w ³ 0. Os valores de troca

podem ser representados de modo usual por retas que passam pela origeme pelo ponto de troca considerado. Tomando, então, por base a troca jc

w ,

destacada no gráfico, podemos ver que o produtor j troca c1w

por c2w

, ficando

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Eleutério F. S. Prado

para si mesmo com c2w

de 2 e (e1a

- c1w

) de 1. Definamos, igualmente, astrocas possíveis para os produtores de 2 por c

j = (c

1j ,c

2j) em que c

1j ³ 0 e

c2j

£ 0. Omitimos aqui o sub-índice a em cw

e o sub-índice b em cj.

É evidente que podemos indicar as opções escolhidas pelosprodutores da mercadoria 1 por jc

w = (jc

1w, jc

2w), com j = 1, 2, 3, ... , n

a e as

opções escolhidas pelos produtores da mercadoria 2 por jcj

= (jc1j

, jc2j

),com j = 1, 2, 3, ... , n

b.

Ao conjunto das trocas possíveis em Aa, em princípio, associamos

uma distribuição de probabilidades p(cw), com å p(c

w) = 1, em que p(c

w)

indica a proporção dos agentes do tipo a que faz a troca cw em A

a. Igualmente,

ao conjunto das trocas possíveis em Ab, em princípio, associamos uma

distribuição de probabilidades p(cj), com as mesmas característica da anterior.

Os excessos de demanda média para os bens 1 e 2 podem serexpressos do seguinte modo:

cn

c c

cn

c c

j

j

nj

j

n

j

j

nj

j

n

a b

a b

1 11

11

2 21

21

11

12

= +

= +

= =

= =

∑ ∑

∑ ∑

[ ] ( )

[ ] ( )

ω ϕ

ω ϕ

Reagrupando os c1w

e os c1j

comuns na primeira expressão e os c2w

e os c2j

comuns na segunda, podemos fazer a seguinte transformação de(1) e (2) em (3) e (4), respectivamente:

cn

np c c

n

np c c

cn

np c c

n

np c c

a b

A A

b a

A A

a b

b a

1 1 1

2 2 2

3

4

= +

= +

∑ ∑

∑ ∑

( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )

ω ω ϕ ϕ

ϕ ϕ ω ω

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Considerando como eventos as trocas possíveis de cada tipo deprodutor, dadas as distribuições de probabilidade associadas a estas trocas,é possível medir o grau de incerteza relativo ao conjunto destes eventos.Para tanto, é preciso empregar o conceito de entropia, cuja origem encontra-se na termodinâmica, mas foi utilizado na teoria da informação de Shannon.(Ver Haykin, 1994, pp. 444-449) Fazendo uso da expressão normalmenteempregada para medir a entropia de um sistema estocástico bidimensional,temos:

E p cn

np c p c

n

np c p ck

a

A

b

Aa b

[ ( )] ( ).ln ( ) ( ).ln ( ) (5)= − −∑ ∑ω ω ϕ ϕ

É preciso notar que a expressão acima define uma medida dadesorganização do sistema econômico. Quanto maior a incerteza associadaao sistema em consideração, maior será a sua entropia. De modo metafórico,pode-se dizer genericamente que quanto maior for a entropia de um sistema,mais �aquecido� ele se encontra. Assim, um mercado pode ser considerado�frio� ou �quente�, dependendo de seu grau de incerteza.

Para encontrar o equilíbrio estatístico do sistema é preciso resolverum problema de programação não linear, em que se maximiza E[p(c

k)]

sujeito às restrições de que os excessos de demanda (3) e (4) acima sejamnulos. Eis que estas restrições, como se sabe, correspondem ao supostousual da teoria neoclássica de market clearing. Ao maximizar-se E[p(c

k)],

procura-se garantir que os casamentos entre os dois tipos de produtoresvenham a ocorrer de tal modo a obedecer àquelas restrições. A soluçãodeste problema, como indica Foley, deve-se ao físico J. W. Gibbs e é chamadacanônica:

p cc

Z

onde Z c

se k a se k b

k

kAk

( )exp[ ]

( )( )

( ) exp[ ] ( )

;

κκ

κ

ππ

π π

κ ω κ ϕ

= −

= −

= ⇒ = = ⇒ =

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As funções Zk(p), k = a,b, chamadas de partições, associam-se às

trocas possíveis para os produtores dos bens 1 e 2, respectivamente. Elasse compõem de s

a e s

b partes; cada parte corresponde a uma das trocas

possíveis em Aa ou em A

b, respectivamente. Em ambos os casos, a

contribuição de cada troca para a soma Zk(p), k = 1,2 , define, de um modo

proporcional, as probabilidades de ocorrência da troca.2

3. Da interpretação do modelo

Antes de procurar chegar a algumas conclusões na interpretaçãodos resultados do modelo estatístico apresentado, é preciso mencionaralgumas razões pelas quais ele foi considerado uma generalização do modeloneoclássico de equilíbrio geral. Note-se, antes de tudo o que se segue, queambos têm um caráter estático.

Como se sabe, a compreensão do sistema econômico que vem dateoria walrasiana funda-se, em última análise, em supostos bastanteextremados sobre a capacidade cognitiva dos agentes. Para poder pensarque estes são perfeitamente racionais e que fazem escolhas ótimas, estateoria toma como se certo fosse que os agentes possuem um conhecimentocompleto de todas as escolhas possíveis, assim como das conseqüênciasdestas escolhas para o seu próprio bem-estar. A mesma teoria presume,ademais, que a relação destas escolhas com o próprio funcionamento dosistema econômico pode ser negligenciada pelos agentes, porque se admiteque eles tomam os preços como dados. Para tornar as opções individuaisdos agentes coerentes no agregado, supõe ainda aquela teoria que estesvalores de troca foram já descobertos previamente pelo leiloeiro por meiode uma seqüência de experimentos de equilibração cujo resultado final é asupressão do processo de mercado e a inversão de sua seqüência espontânea:no modelo walrasiano, primeiro o equilíbrio é atingido e, depois, fazem-seas trocas.

Na visão de sistema econômico sugerida pelo modelo generalizado,os indivíduos são concebidos ainda como unidades básicas deste sistema.

2. Esses resultados podem ser estendidos para os modelos estatísticos de mercado emque os conjuntos de oferta são infinitos (Foley, 1994, p. 330).

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Eles se encontram definidos como átomos sociais, ou seja, como elementosque têm uma unidade própria, externos uns aos outros, imutáveis emprincípio e que interagem mecanicamente por meio de trocas. A busca dopróprio interesse é a força inerente que os move; o entrechoque de suasações, que se constituem como ofertas e demandas, é o único modo pormeio do qual interagem; em conjunto, eles compõem um campo de forçasque tende ao equilíbrio. O mercado é o que meramente resulta da agregaçãodas ações dos indivíduos que o formam, apresentando, em conseqüência,propriedades emergentes, mas estas, estando ausente qualquer noção deprocesso, não influenciam o comportamento dos agentes por realimentação.

No modelo generalizado, para que um equilíbrio aconteça, é precisosupor que os agentes � uma parte deles pelo menos �, ademais de atuaremcomo compradores e vendedores, operam também como intermediáriosno mercado. Enquanto compradores e vendedores, eles fixam os valores detroca ao se encontrarem nos pontos de seus conjuntos de oferta A

a e A

b;

entretanto, apenas dessa forma o mercado não chega à plena compensação.Dada a distribuição das demandas e ofertas nesses conjuntos, é precisoadmitir então que, enquanto intermediários, os agentes são capazes delocalizar os excessos de uma e outra existentes, realizando as transaçõesnecessárias para que o equilíbrio estatístico venha a ocorrer. Assim se élevado a atribuir comportamentos aos agentes em função de umconstrangimento que opera ao nível do mercado como um todo.

Note-se, agora, que no modelo generalizado os agentes atuam combase nos valores de troca, mas a informação disponível para estes agentesnão é completa. Em conseqüência, na ausência de leiloeiro, eles não podemseguir a regra de maximização. Note-se, também, que os agentes são dotadosde racionalidade instrumental e que buscam melhorar a sua condiçãoeconômica. Tendo em mente essas observações, não é difícil perceber que omodelo walrasiano tradicional pode ser visto como um caso particular domodelo de Foley. Para tanto, basta substituir os intermediários pelo leiloeiro,supondo ao mesmo tempo que um processo de tâtonnement descobre umk* que gera o market clearing de um modo determinista. O ponto descobertovem a ser, como se sabe, um equilíbrio de Arrow-Debreu. Nestecaso, p(c

k* ) = 1 e p(c

k*) = 0 para k ¹ k * e a entropia do sistema é nula.

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Esse resultado reclama, entretanto, uma explicação, pois para obtê-lo foi necessário partir da maximização da entropia associada ao sistemaeconômico. Eis que isto se explica pela adoção de um princípio deobjetividade científica que recomenda não supor que existe informação eque esta esteja disponível, quando isto não puder ser bem justificado nostermos da própria construção teórica em consideração.3 Ora, justamente aviolação deste princípio � ou seja, a adoção de uma forma de geração deinformação puramente ad hoc, puramente imaginária � é o que possibilita àteoria neoclássica apresentar o sistema econômico como uma máquina deinformação perfeita que chega possivelmente a um equilíbrio de pontofixo.

Tudo isto, entretanto, é surpreendente, pois revela uma fraquezaprofunda da teoria neoclássica de equilíbrio geral. Diferentemente dos agenteseconômicos que povoam o modelo, o leiloeiro não está submetido a qualquerconstrangimento informacional: a sua capacidade de processar a informaçãonecessária para descobrir a alocação de equilíbrio é praticamente ilimitada.Ele organiza o mercado transformando informação dispersa em centralizadade um modo perfeito � dito de outro modo, o �custo� entrópico é nulo.Tudo se passa como se, no âmbito da Economia, estivesse sendo contrariadauma lei da Física: o leiloeiro representa, de certo modo, uma violação doequivalente informacional do segundo princípio da termodinâmica.4

Apesar de cometer esse atentado à objetividade científica, é sabidoque o programa de pesquisa em equilíbrio geral não conseguiu resolver osproblemas que ele próprio privilegiou como as questões teóricas porexcelência no campo da ciência econômica. Se para o problema da existência

3. Sobre este princípio, ver Kapur & Kesavan (1992).

4. Foley menciona a similaridade entre o leiloeiro walrasiano e o demônio de Maxwell,figura inventada por este físico famoso com o intuito de mostrar a conversão possívelde uma forma de energia degradada, ou seja, calor, em outra mais nobre, por exemplo,energia cinética, de modo perfeito, isto é, sem gasto adicional de energia, em condiçõesimaginárias. O papel do demônio, como se sabe, vem a ser separar, num sistema fecha-do, as moléculas com maior energia daquelas com menor energia, de tal modo a criardois subsistemas com temperaturas diferentes. Em Física, o problema era bem claro, jáem Economia ...

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do equilíbrio foi dada uma solução satisfatória, o mesmo não ocorreu comos problemas conexos da unicidade e da estabilidade. Ao contrário, ficoudemonstrado, por exemplo, que mesmo a existência de um ponto fixo noprocesso de tâttonement não era garantia de que ele fosse estável. Mais doque isto, foi provado que a propriedade da unicidade não poderia sergarantida, a não ser mediante a adoção de restrições ad hoc. (Ver Soromenho,1997 e Ingrao & Israel, 1990) Eis, porém, que soluções para esses trêsproblemas somente seriam realmente satisfatórias se consistentes entre si.

O modelo acima apresentado, ao generalizar a teoria neoclássica,elimina em parte essas dificuldades. Ao fazê-lo, entretanto, deixa-a indefesadiante de uma crítica mais penetrante: o modelo de Arrow-Debreu concebeo mercado como uma máquina perfeita que organiza as informaçõesnecessárias ao próprio funcionamento, sem custo e sem limitações decapacidade de processamento. Observe-se, porém, que o modelogeneralizado não elimina toda dificuldade: não fica claro como osintermediários � um elemento do modelo tão ad hoc quanto o leiloeiro �,cumprem a sua tarefa. Afinal, o que garante, ao nível microeconômico, queas situações de desequilíbrio convirjam para as de equilíbrio?

Vale notar, agora, que se o modelo padrão é determinista, o modeloneoclássico generalizado apresenta em princípio um grau excessivo dealeatoriedade ou de incerteza sistêmica. Se o número de bens aumenta e seo número de tipos tender a igualar o número de trabalhadores na população,o grau de entropia do sistema tenderá a um valor cada vez mais alto,5 de talmodo que a sua possibilidade de funcionamento desaparecerá. Isto mostrauma limitação do modelo generalizado: para que haja solução é precisopensar que os agentes da economia são tipos e não individualidades. Ora,isto é uma espécie de preço que se tem de pagar pela eliminação do leiloeiro.

Ademais, no modelo generalizado, não há nem externalidades enem custos de transação, (ver Amable, Boyer & Lordon, 1997) mas háincerteza e esta é medida pela entropia. Neste modelo, apesar disso, não háainda dinheiro, de tal modo que a economia representada não deixa de serde troca. Parece óbvio, entretanto, que a situação modelada, ao envolver

5. Isto pode ser provado rigorosamente. (Karlin & Taylor, 1975, pp. 495-502)

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incerteza endógena, parece requerer a consideração de algo que possa mantera entropia do sistema num nível razoável.

Recusa-se aqui, entretanto, um caminho fácil, que consiste em derivara existência do dinheiro de uma função que ele pode ter no sistemaeconômico. Para introduzir rigorosamente o dinheiro no modelo vem a sernecessário, primeiro, criticar as bases da teoria econômica walrasiana,sugerindo inclusive que é preciso considerar uma outra concepção dehomem e de sociabilidade. É preciso mostrar, ademais, que estas concepçõessó fazem sentido quando a economia for apreendida como um processoevolucionário. Assim, encontrar-se-ão novas bases que permitirão aconstrução de um modelo no espírito da teoria da complexidade em que odinheiro está presente por necessidade intrínseca.

4. Da concepção alternativa

A compreensão da economia que vem de Walras foi criticada porHayek de um modo agudo, já em 1936: a construção walrasiana tem paraele um caráter tautológico, já que não é capaz de mostrar como oconhecimento necessário ao funcionamento do sistema econômico éadquirido e transmitido. Para chegar aos seus resultados logicamentenecessários, a teoria walrasiana assume que já se encontra resolvido oproblema que o mercado real tem de resolver, qual seja, o da sua própriaauto-organização. Segundo Hayek (1948a, p. 45), esta teoria assume que �osistema econômico como um todo é um mercado perfeito em que todossabem tudo�. Entretanto, afirma ele, é preciso superar o caráter centralizado,�tautológico� e estático do modelo de equilíbrio geral.

Para compreender melhor tal sistema, de acordo com Hayek, deve-se considerar explicitamente o problema da �dispersão do conhecimento�e enfrentar a questão de entender �como a interação espontânea de umgrande número de pessoas, cada uma delas possuindo apenas uma porçãode conhecimento, leva a um estado em que os preços correspondem aoscustos ...� (Id., ibid., 1948a, pp. 50-51). Em outro texto, diz, maisenfaticamente:

O caráter peculiar do problema da ordem econômica édeterminado precisamente pelo fato de que o conhecimento

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necessário das circunstâncias nunca existe numa formaconcentrada ou integrada, mas somente como porções incompletasde conhecimentos, freqüentemente contraditórias, porções estasdetidas por indivíduos distintos. (Hayek, 1948b, p. 77)

Apesar de responder em alguma medida às preocupações de Hayek� as trocas não são coordenadas de forma centralizada e não há inversão daseqüência espontânea do mercado � o modelo generalizado ainda nãosatisfaz à perspectiva desse autor, já que não incorpora o que vem sendochamado propriamente de auto-organização, algo intimamente relacionadocom o que Smith designava por mão invisível. O modelo generalizadotambém não incorpora a formação descentralizada de conhecimento, aaprendizagem e a revisão do conhecimento antes adquirido; também nãopermite � e isto é crucial � que os agentes se influenciem reciprocamente,em particular, que aprendam uns com os outros. Ademais, não admite queesses agentes possam ser inovadores, que possam interagir com o ambientesocial, comportando-se com base numa racionalidade processual eadaptativa.6 Eis que estas notas são características distintivas da visãohayekiana do processo de mercado, indicando, também, aspectos que podemfazer diferença em uma nova construção teórica distinta da neoclássica.

Em conseqüência, é preciso, agora, passar de uma concepção atomistae mecânica para uma concepção sistêmica e pragmática, respectivamente,de economia e de interação econômica, admitindo desde o início que omercado funciona com o dinheiro. Dito de outro modo, é preciso adotaruma perspectiva evolucionária. O dinheiro, como já se mencionou na

6. O conceito de racionalidade otimizadora, característica da assim chamada teoria daescolha racional, vem a ser uma particularização do conceito mais amplo de racionalidadecognitiva e instrumental. O conceito de racionalidade limitada, que envolve restrições àcapacidade cognitiva do agente, vem a ser outra particularização possível. O mesmoocorre com o conceito de racionalidade adaptativa. Aqui é fundamental perceber que osagentes, imersos num contexto social, são impelidos a se ajustar da melhor forma possí-vel a um ambiente em processo de mudança, algumas das quais ocasionadas por elesmesmos, consciente ou inconscientemente. Em qualquer dos casos, a racionalidade dizrespeito à consistência dos fins � e, obviamente, à adequação de meios a fins �, mas nãoao seu conteúdo, já que no dizer clássico de Hume, ela é meramente �escrava das pai-xões�.

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introdução, será aqui entendido como um meio de comunicação sistêmicopor meio do qual se estabelecem as relações sociais na economia mercantilgeneralizada.7 O dinheiro, assim concebido, permite a equivalência geraldas mercadorias, possibilita a memória do sistema e a aprendizagem dosagentes, mantendo a entropia de um funcionamento progressivo altamentecomplexo em níveis suportáveis.

Para tanto, torna-se necessário apresentar uma concepção alternativade homem e de relação social em comparação com aquela da teorianeoclássica. Seguindo Habermas, admite-se desde o princípio que o homemé um ser que se desenvolve historicamente por meio do uso da comunicaçãolingüística e não lingüística, relacionando-se assim entre si e com a natureza� neste último caso, por meio do trabalho (que tem também uma dimensãosimbólica). Admite-se ainda que os atores sociais, na sociedade moderna,estão sempre submetidos a uma dupla imersão contextual: junto ao mundoda vida (ou seja, a esfera da cultura, da formação da personalidade e daconstituição da sociabilidade) e junto ao sistema social como um todo (quenada mais é do que a parte da estruturação simbólica que se tornou reificadae que é constituída, basicamente, pelo sistema econômico e pelo Estado).

O mundo da vida é o acervo dos conhecimentos intersubjetivamentecompartilhados pelos atores sociais e que permite a entabulação dacomunicação por meio da linguagem. O sistema social � que aqui interessamais de perto �, estruturação simbólica que aparece para os agentes comorealidade objetiva, ou seja, como uma segunda natureza, é constituído porum complexo de modos de governança que funcionam a despeito daconsciência dos agentes e que constrangem e moldam as ações instrumentaise estratégicas dos atores sociais.8 No sistema, os agentes atuam com base

7. Isto significa que não se concorda aqui com a posição de Shubik, segundo a qual épreciso �evitar aquele tipo de debate que quer saber �o que é dinheiro?��. Antes de maisnada, porque é assim que se cai em contradição: �a atitude adotada aqui [...] é conside-rar� � diz Shubik, logo após firmar essa posição � �que todas as formas de dinheiro e deinstrumento de crédito têm uma existência física� (1997, p. 268). Sem considerar o di-nheiro, primeiro, sociologicamente, como algo por meio de que se estabelecem certasrelações sociais, não se terá sucesso na construção de modelos econômicos em que eletenha um papel relevante.8. As regras de comportamento reificadas aparecem, então, como instituições.

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em regras operacionais, buscando fins exteriores, largamente independentesdos valores e das normas do mundo da vida.

Descobre-se essa concepção alternativa de homem e de relação socialquando se presta atenção ao que vem sendo chamado usualmente de �viradalingüística� da Filosofia. (Ver Herrero, 1997) No movimento de passagemque ultrapassa a filosofia da consciência, tornou-se claro que as formas decomunicação lingüísticas e não lingüísticas fazem a mediação de toda relaçãoentre os sujeitos e entre os sujeitos e os objetos, intermediando todo osentido e toda a validade possíveis. Nessa perspectiva, a interação socialnão é meramente mecânica, mas constitutiva das partes que interagem, asquais se transformam no processo. Mais do que isso, o meio por excelênciade interação social é a comunicação que envolve, além da transmissão deinformação, o vínculo intersubjetivo.

Buscando agora descer do geral para o específico, é preciso fazerreferência aqui à crítica de Commons à noção de troca de mercadoria e àsua proposta de substituí-la pela noção de transação, enquanto a menorunidade de análise em Economia. O seu argumento básico consiste emdizer que a noção de troca é naturalista, pois pressupõe agentes situados nomesmo nível da natureza e se remete, portanto, meramente, às relaçõesdestes agentes com o seu entorno natural. Para fazer diferente, para ver aí,antes de tudo, relações dos homens entre si, ele propõe o conceito detransação:

As transações são, não �trocas de mercadorias�, mas a alienação ea aquisição, entre indivíduos, dos direitos de propriedade e deliberdade criados pela sociedade, os quais têm de ser negociadosentre as partes interessadas antes de que o trabalho possa produzi-los ou os consumidores possam consumi-los ou as mercadoriaspossam ser fisicamente trocadas.

Nas transações, diz ele, estão envolvidas negociações:

[...] cada participante busca influenciar o desempenho, aindulgência e o comedimento do outro. Cada um modifica ocomportamento do outro em maior ou menor grau. Esta é apsicologia dos negócios, dos costumes, da legislação das cortes,das associações comerciais e dos sindicatos. (Commons, 1931).

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Ainda que a crítica de Commons à noção de troca de mercadorias� quando ele tem por referência a economia neoclássica walrasiana � sejacorreta,9 não se endossa aqui inteiramente, entretanto, a noção de transaçãoque ele propõe, pois, como se sabe, desde Marx as relações sociais mercantissão coisificadas. Mas julga-se que o conceito de Commons tem a suaimportância porque enfatiza o caráter interativo e �comunicacional� darelação econômica e o papel que esta tem na constituição das regras, dasconvenções, das instituições e mesmo dos processos tecnológicos quepermeiam o funcionamento do sistema econômico e que permitem tanto aação coletiva quanto a ação individual. A sua noção de transação, assim,encontra-se ligada a uma concepção evolutiva de economia.10

Nesta perspectiva, pois, é que cabe procurar compreender o dinheirocomo um meio que regula as transações no sistema econômico. Para tanto,é necessário entender, de início, que a linguagem natural � assim como oseu emprego na vida cotidiana � vem a ser o paradigma por excelência dosmeios de comunicação, atentando para o significado que o próprio termocomunicação assume no contexto dessa �virada�: basicamente, ao mesmotempo, vínculo intersubjetivo e troca de informação.

A comunicação é constituída por atos de fala e estes têm umaestrutura dual: por um lado, propõem um compromisso, estabelecemintenções e, por outro, apontam para os objetos, transmitem informação.Assim, eles apresentam algo no mundo objetivo, mas só o fazem porque,ao mesmo tempo, estabelecem uma relação intersubjetiva entre aqueles que

9. De acordo com Walras, �o fato do valor de troca toma, pois, desde que estabelecido,o caráter de um fato natural, natural em sua origem, natural em sua manifestação e emsua maneira de ser� (Walras, 1983, p. 22). A expressão �desde que estabelecido� dentroda sentença acima sugere que Walras estava pensando, também, implicitamente, emcoisificação.

10. Estas observações foram sugeridas pela leitura de um texto de Renault que ressalta arelação entre o �velho� institucionalismo de Veblen, Commons etc. e o pragmatismo dePierce, James etc., ambos de origem norte-americana (Renault, 1997). Ora, foi justamen-te a semiótica de Pierce elaborada na virada do século XIX para o século XX que assen-tou as bases para a revolução lingüística do final deste último e que está influenciando odesenvolvimento de todas as ciências, inclusive da Economia.

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participam do processo da conversação.11 Quando a comunicação, entretanto,é perturbada, ou seja, quando ocorrem problemas de divergência deinterpretação, os atores sociais podem passar à argumentação que se movepelo resgate de pretensões de validade.12 Algo de semelhante acontece como dinheiro.

No âmbito do mundo da vida, o resgate de pretensões de validadepressupõe a busca de entendimento por meio do uso da racionalidadecomunicativa (Ver Prado, 1993). No âmbito das relações de mercado, acomunicação tem uma forma que envolve necessariamente o dinheiro. Ospossuidores de mercadorias asseguram, implícita ou explicitamente, que opreço pedido é correto, ou seja, que ele expressa adequadamente o valor damercadoria. Os demandantes podem concordar ou discordar, dispondo-sea pagá-lo ou não. Tal como ocorre, pois, no âmbito do mundo da vida,pode haver ou não acordo sobre o conteúdo da proposição. Logo, tambémno âmbito do sistema econômico pode haver necessidade de resgate depretensões de validade � que aqui é melhor denominarmos de pretensõesde valor.

Entretanto, agora, o emprego da racionalidade comunicativaencontra-se obstado, e isto ocorre em virtude do caráter quantitativo dodinheiro (frente ao qual todas as mercadorias são igualadas, ou seja, as suasqualidades são colocadas entre parênteses). Em conseqüência, tal resgateocorre pelo uso da racionalidade instrumental e estratégica � em si mesma,uma expressão da busca da autoconservação por meio de procedimentosintencionalmente eficientes.13 De qualquer modo, nessa perspectiva, mesmo

11. Segundo Habermas, as expressões lingüísticas têm uma estrutura dual: compõem-sede uma frase performativa, que permanece geralmente implícita, e de uma frase infor-mativa ou propositiva. Por exemplo: [Asseguro-lhe que ...] a flor é vermelha. A primeirapropõe um compromisso intersubjetivo, estabelecendo intenções; já a segunda apontapara as coisas e transmite uma informação sobre o mundo.12. É claro que uma perturbação de comunicação pode ser interrompida pela quebra dovínculo intersubjetivo ou pode ser encerrada pelo apelo à tradição ou ao poder.13. A racionalidade instrumental aparece na filosofia subjacente à teoria neoclássica comouma característica por excelência da natureza humana. Ora, a razão é a negação daanimalidade e, por conseqüência, deve ser compreendida com a contrapartida dainstitucionalização histórica da produção mercantil, por meio dos mercados, das orga-nizações e do Estado moderno.

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sendo instrumental, a racionalidade dos agentes é processual e adaptativa,já que envolve interpretação, aprendizagem, revisão de conhecimento,formação de expectativas e constituição de regras que limitam e possibilitamas ações dos próprios agentes por meio de realimentação.

Em conseqüência, o mercado é constituído por interações mediadasde modo crucial pelo dinheiro � ainda que raramente só por ele. Aí seencontram vendedores que oferecem certos tipos de mercadorias a certospreços e compradores que buscam adquirir certos bens desejados e cujospreços eles conhecem aproximadamente. Estes agentes, dotados deracionalidade instrumental, agem estrategicamente, buscando, como sempreconsiderou a ciência econômica, efetuar transações as mais vantajosaspossíveis, dentro das limitações existentes (internas e externas ao próprioego).

5. Do conceito de dinheiro

O meio de comunicação dinheiro é, pois, um substituto dacomunicação lingüística no âmbito do sistema econômico; ao comensuraras mercadorias, assume uma função sistêmica antientrópica. É apenas apartir desta função básica que se pode entender as outras funções do dinheiro,tais como meio de transação, reserva de valor, meio de especulação, veículopor excelência do capital etc. Esta questão, entretanto, extrapola ospropósitos do presente artigo.

Se o dinheiro é um meio de comunicação sistêmico, (ver Prado,1996) se ele é a linguagem das mercadorias, qual vem a ser a sua especificidade?O que o distingue da linguagem natural? Ora, no uso da linguagem naturalas noções se expressam nas palavras e as idéias se expressam nas sentenças eno encadeamento das sentenças, mantendo sempre o caráter de atualizaçãoe de recriação de um patrimônio intersubjetivo sustentado como tal porum conjunto de atores sociais. A memória da sociedade assume, então, aforma de um acervo de conhecimentos, normas e vivências compartilhadasde modo intersubjetivo ou, o que é o mesmo, de um mundo da vida sociale cultural. No mundo das mercadorias, diferentemente, a memória social se�materializa� como sistema, não podendo ser concebida, então, meramente,como patrimônio intersubjetivo, pois ela se afigura para os próprios agentes

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como possuindo uma objetividade natural, ou seja, como algo que existeindependentemente das escolhas que fazem, assim como de sua vontade econsciência.

Dado que os preços emergem de um processo que transcende aintenção e a vontade dos agentes,14 eles não figuram para os atores sociaiscomo produtos de sua criação coletiva, ou seja, como expressões simbólicasda igualação de coisas diferentes � física e socialmente. Ao contrário, têm ocaráter de algo inerente às relações das próprias mercadorias. À medida queas trocas se generalizam e que as razões de troca se estabilizam � semnunca se fixarem totalmente, entretanto �, aquilo que vai se configurandocomo o dinheiro, além de comensurar as mercadorias, parece capaz detransferir indefinidamente valor no tempo. O dinheiro figura, então, comoelemento do sistema, como algo capaz de expressar conteúdos quantitativosque se formam autonomamente.

Se assim é, parece, então, para os atores sociais, que as mercadoriastêm um valor incorporado, valor este que assume o caráter de uma ilusãoreal quando visto da perspectiva do observador científico. Trata-se de umailusão, porque as mercadorias não têm, positivamente, valor incorporadoalgum � esta ilusão, entretanto, é real, porque ela se afigura como efetiva-mente existente, de um modo irrecusável, para aqueles que atuam no interiordo sistema econômico. Isto, obviamente, dá razão a Marx quando ele falada coisificação das relações sociais �no modo de produção capitalista� e serefere à relação de valor das mercadorias do seguinte modo:

[...] não é mais nada que determinada relação social entre ospróprios homens que para eles assume a forma fantasmagóricade uma relação de coisas. Por isso, para encontrar uma analogia,temos de nos deslocar à região nebulosa do mundo da religião.Aqui, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vidaprópria, figuras autônomas, que mantêm relações entre si e comos homens. Assim, no mundo das mercadorias, acontece com osprodutos da mão humana. Isto eu chamo o fetichismo que adereaos produtos de trabalho, tão logo são produzidos como

14. Aqui se está supondo � como é usual em Economia � que o mercado é concorrencial.

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mercadorias, e que, por isso, é inseparável da produção demercadorias.15 (Marx, 1983, p. 71)

Não se endossa aqui, entretanto, a não ser num sentido muito fraco,16

que o valor econômico seja constituído de algum modo pelo trabalhodespendido na produção das mercadorias. Não se assume aqui, dizendo deoutro modo, nenhuma suposta lei do valor trabalho. Em nossa opinião, atentativa de Marx de formular uma apresentação do sistema econômicocapitalista com base no �trabalho abstrato� encontra dificuldadesinsuperáveis, já que ele não consegue mostrar como os trabalhos concretosse transformam, anônima e inconscientemente, no processo social, em talsubstância que, supostamente, constitui os valores como algo distinto dosvalores de troca e dos preços. Acreditamos, isto sim, que este é um pontocego do marxismo, ponto este que pode ser eliminado quando se atribui aovalor, firmemente, apenas o caráter de fantasmagoria social.17 (Prado, 1997,p. 22-23)

15. Observemos que a distinção feita por Marx entre produto da cabeça e produto damão, que se remete à distinção entre mente e corpo, pode ser enganosa, já que a produ-ção de significado � porque em ambos os casos é disto que se trata � requer sempre oconcurso de significantes materiais. A diferença importante, sublinhada também porMarx, vem a ser entre o que é recriação humana, que aparece como tal para os própriosagentes, e o que é socialmente criado mas que se afigura como algo estranho. Num doscasos citados por Marx a criação se espiritualiza (Deus) e no outro ela se materializa(valor incorporado). De qualquer modo, em ambos os casos o significado socialmentecriado transforma-se em fonte de heteronomia.16. Parece certo que o trabalho, enquanto uma atividade que funda as relações de produ-ção, figura para os próprios atores sociais, de um modo difuso e subconsciente, como afonte por excelência da riqueza social, ainda que isto pareça suspeito para a perspectivada ciência positiva que só enxerga o natural nas coisas sociais.17. Os homens, enquanto agentes, estão submetidos aos imperativos do sistemaeconômico. Entretanto, é preciso notar que a tese aqui levantada sobre a alienação é bemdistinta daquela baseada no valor trabalho, ainda que ela reconheça, também, uma certaintransparência inerente ao sistema e um certo caráter ilusório da autonomia dos agentesque travam aí relações sociais. A alienação aqui não assume o caráter de uma intervençãodo criador do valor em criatura do capital-sujeito, não resulta na negação da auto-reali-zação do homem como sujeito da história. A alienação aqui assume o caráter de supres-são da racionalidade comunicativa em nome da racionalidade instrumental, da auto-organização do sistema econômico e, enfim, da eficiência.

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Do que dissemos não se pode inferir, entretanto, que adotamosaqui a tese segundo a qual o valor se forma na circulação. O que apresentamosanteriormente é consistente com a tese de que a gênese da economiamercantil se confunde com a gênese do dinheiro, sob várias formas, numprocesso histórico em que se engendra o valor como uma ilusão real. Ao setratar do sistema econômico como realidade existente num certo momentodo tempo, é preciso ressaltar que o valor se expressa primordialmente nodinheiro, mas também que não se expressa apenas nele. Por isso, tal comovem de Marx, o valor tem de ser compreendido como algo distinto dosvalores de troca e dos preços e que perpassa todo o processo de produção ecirculação mercantil. Tal como Foley ressalta,

[...] o valor aparece em outras formas que não o dinheiro. Porexemplo, na folha de balanço das firmas capitalistas se estima ovalor dos bens em processo e do capital fixo ainda não depreciado,assim como o valor dos estoques de bens finais que estãoesperando a venda. (Foley, 1983, p. 5)

6. Rumo a novos modelos

A teoria econômica aqui anunciada pode ser desenvolvida por meioda formulação de modelos mais complexos, nos quais se leve em contaaspectos tais como progresso tecnológico, regras que regulam oscomportamentos, mecanismos de seleção e de mudança etc. Ao incorporaro dinheiro e uma noção de valor distinta da noção de valor de troca e depreço permite, também, considerar a acumulação de capital � ou seja, aconversão de forma e a ampliação do valor como um fim em si mesmo �,em moldes muito semelhantes ao de Marx. Entretanto, o programa depesquisa que isto representa ainda se encontra em sua infância.

Há atualmente diversas linhas de pesquisa por meio das quais sebusca fazer avançar a teoria econômica através da compreensão do sistemaeconômico como sistema adaptativo complexo. As fontes de inspiraçãotambém variam: Marx, Keynes, Hayek etc. De qualquer modo, pode-semencionar aqui que há formulações teóricas baseadas em autômatoscelulares, na replicação dinâmica (jogos evolucionários), em algoritmosgenéticos, em casamentos aleatórios (random matching) etc., além daquela �

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aqui explorada em alguma medida � que procura aproveitar resultados damecânica estatística (estática e dinâmica). Para descortinar os horizontesdessas novas perspectivas, pode-se começar consultando Kirman (1997b),Lesourne (1992) e Arthur, W. B., S. N. Durlauf & D. A. Lane (1997).

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