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153 REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 13: 153-174 NOV. 1999 RESUMO Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 13, p. 153-174, nov. 1999 Este artigo aborda a preocupação das lideranças sindicais de São Bernardo com relação às programações culturais, aos planos de formação sindical e política, aos projetos de renovação da imprensa sindical e às atividades de lazer. Por intermédio do Jornal Tribuna Metalúrgica e do Suplemento Informativo da Tribuna Metalúrgica foi possível rastrear o discurso e as práticas das lideranças sindicais entre os anos de 1971 e 1982. Desse modo, as lideranças de São Bernardo, ao procurarem mobilizar a categoria instituem a educação sindical como uma estratégia de luta decisiva naqueles anos. PALAVRAS-CHAVE: Educação sindical; programação cultural sindical; formação sindical; comunicação sindical; lideranças sindicais de São Bernardo; movimento operário nos anos 70/80. EDUCAÇÃO SINDICAL EM SÃO BERNARDO NOS ANOS SETENTA E OITENTA 1 Kátia Rodrigues Paranhos Universidade Federal de Uberlândia I. INTRODUÇÃO Entre os anos de 1971 e 1982, por meio do discurso sindical dos metalúrgicos de São Bernar- do do Campo, deparei-me com os seguintes luga- res de luta – o sindicato, a fábrica, as greves, a cidade e o país – e do mesmo modo, com várias estratégias de luta. Fabricado no sindicato, esse discurso tenta inicialmente viabilizar a organização dos trabalhadores metalúrgicos em defesa de seus interesses no Brasil pós-64. Sobretudo, temos importantes estratégias de mobilização que podem ser entendidas como enunciados imagéticos e/ou lugares de luta. Desse modo, o sindicato, a fábrica, a greve, a cidade e o país iluminam a categoria e a própria classe trabalhadora ao estabelecerem temas caros ao movimento operário – vale citar, o chamado sindicalismo autêntico, a liberdade sindical, o direito de greve, as negociações diretas com os patrões, as atividades culturais, para não mencionar a questão da identidade operária em tempos tão bicudos. Por intermédio do jornal Tribuna Metalúrgica e do Suplemento da Tribuna Metalúrgica, foi possível investigar o discurso e as práticas forjadas pelas lideranças sindicais nos anos 70. Ao destacar os enunciados imagéticos e os lugares de luta – o sindicato, a fábrica, a greve, a cidade e o país – a fala sindical movimentava por meio desses uma série de estratégias pontuais de resistência operária. Assim sendo, cabe relacionar o esforço na edição e veiculação da Tribuna Metalúrgica e do Suple- mento, o empenho na tarefa de sindicalização, as campanhas salariais, os congressos operários, a orientação nas leis existentes e o acompanhamento de processos contra as empresas, o incentivo à luta nas fábricas, a preocupação com as atividades culturais (a aproximação entre os operários e os artistas, intelectuais, cineastas), as greves (“Dos Braços Cruzados à Greve Pipoca”). Novamente encontramos operários, pesquisadores, cineastas e cantores encantados com as greves operárias, a inquietação com a “cidade poluída”, ou a “República São Bernardo”, lembrando a linguagem utilizada pelos trabalhadores ao referirem-se à “cidade operária”. Enfim, um elenco de medidas de mobilização emblemáticas para o enfrentamento no cenário brasileiro das adversidades políticas dos anos 70 (cf. PARANHOS, 1999). Folheando as páginas do jornal Tribuna Metalúrgica e do Suplemento observam-se não apenas novas falas e imagens políticas, econômicas e sociais dos “lugares de luta”. Dá-se também um peso significativo para as atividades de 1 Este trabalho tem como referência o paper apresentado no grupo de trabalho O mundo do trabalho: da fábrica à informalidade no XXI Congresso da ALAS — Associação Latino-americana de Sociologia, realizado em São Paulo entre 31 de agosto e 5 de setembro de 1997.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 13: 153-174 NOV. 1999

RESUMO

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 13, p. 153-174, nov. 1999

Este artigo aborda a preocupação das lideranças sindicais de São Bernardo com relação às programaçõesculturais, aos planos de formação sindical e política, aos projetos de renovação da imprensa sindical e àsatividades de lazer. Por intermédio do Jornal Tribuna Metalúrgica e do Suplemento Informativo da TribunaMetalúrgica foi possível rastrear o discurso e as práticas das lideranças sindicais entre os anos de 1971 e1982. Desse modo, as lideranças de São Bernardo, ao procurarem mobilizar a categoria instituem a educaçãosindical como uma estratégia de luta decisiva naqueles anos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação sindical; programação cultural sindical; formação sindical; comunicaçãosindical; lideranças sindicais de São Bernardo; movimento operário nos anos 70/80.

EDUCAÇÃO SINDICAL EM SÃO BERNARDO

NOS ANOS SETENTA E OITENTA1

Kátia Rodrigues ParanhosUniversidade Federal de Uberlândia

I. INTRODUÇÃO

Entre os anos de 1971 e 1982, por meio dodiscurso sindical dos metalúrgicos de São Bernar-do do Campo, deparei-me com os seguintes luga-res de luta – o sindicato, a fábrica, as greves, acidade e o país – e do mesmo modo, com váriasestratégias de luta. Fabricado no sindicato, essediscurso tenta inicialmente viabilizar a organizaçãodos trabalhadores metalúrgicos em defesa de seusinteresses no Brasil pós-64. Sobretudo, temosimportantes estratégias de mobilização que podemser entendidas como enunciados imagéticos e/oulugares de luta. Desse modo, o sindicato, a fábrica,a greve, a cidade e o país iluminam a categoria e aprópria classe trabalhadora ao estabeleceremtemas caros ao movimento operário – vale citar, ochamado sindicalismo autêntico, a liberdadesindical, o direito de greve, as negociações diretascom os patrões, as atividades culturais, para nãomencionar a questão da identidade operária emtempos tão bicudos.

Por intermédio do jornal Tribuna Metalúrgicae do Suplemento da Tribuna Metalúrgica, foi

possível investigar o discurso e as práticas forjadaspelas lideranças sindicais nos anos 70. Ao destacaros enunciados imagéticos e os lugares de luta – osindicato, a fábrica, a greve, a cidade e o país – afala sindical movimentava por meio desses umasérie de estratégias pontuais de resistência operária.Assim sendo, cabe relacionar o esforço na ediçãoe veiculação da Tribuna Metalúrgica e do Suple-mento, o empenho na tarefa de sindicalização, ascampanhas salariais, os congressos operários, aorientação nas leis existentes e o acompanhamentode processos contra as empresas, o incentivo àluta nas fábricas, a preocupação com as atividadesculturais (a aproximação entre os operários e osartistas, intelectuais, cineastas), as greves (“DosBraços Cruzados à Greve Pipoca”). Novamenteencontramos operários, pesquisadores, cineastase cantores encantados com as greves operárias, ainquietação com a “cidade poluída”, ou a“República São Bernardo”, lembrando a linguagemutilizada pelos trabalhadores ao referirem-se à“cidade operária”. Enfim, um elenco de medidasde mobilização emblemáticas para o enfrentamentono cenário brasileiro das adversidades políticas dosanos 70 (cf. PARANHOS, 1999).

Folheando as páginas do jornal TribunaMetalúrgica e do Suplemento observam-se nãoapenas novas falas e imagens políticas, econômicase sociais dos “lugares de luta”. Dá-se tambémum peso significativo para as atividades de

1 Este trabalho tem como referência o paper apresentado nogrupo de trabalho O mundo do trabalho: da fábrica à informalidadeno XXI Congresso da ALAS — Associação Latino-americanade Sociologia, realizado em São Paulo entre 31 de agosto e 5de setembro de 1997.

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educação sindical. Ou seja, as lideranças sindicaisdão uma atenção especial às programaçõesculturais, aos planos de formação sindical epolítica, aos projetos de renovação da imprensasindical e às atividades de lazer. É desse temaportanto que pretendo tratar neste artigo limitando-me aqui a um levantamento do repertório deiniciativas dos dirigentes sindicais de São Bernardo.

II. PEQUENO BALANÇO SOBRE FORMAÇÃOOPERÁRIA

Na Europa, as atividades de formação sindicale/ou operária desenvolveram-se já a partir doséculo passado. A preocupação com a educaçãopermanente e com a difusão da cultura vem doexemplo das University Extensions ou das Uni-versidades populares dinamarquesas, criadas nametade do século XIX e que se desenvolveramtambém em outros países entre o fim do séculoXIX e o início do século XX. É importante salien-tar que a formação sindical, além de adaptar-se àsexigências e às formas de cada organizaçãosindical, é, em geral, fortemente condicionada pelarelação entre os intelectuais e a sociedade.

É interessante frisar — em uma breve retros-pectiva histórica2 — que num país como a Fran-ça, até 1914, o problema da formação operáriaocupa um lugar relativamente secundário na vidasindical. O estudo e a cultura não constituem ainda“centros de reflexão autônomos”. São preocu-pações ocasionais que surgem por conta da for-mação técnico-profissional. A partir de 1919 noscongressos promovidos pelas centrais sindicais(C.G.T. — Confédération Générale du Travail— e C.F.T.C. — Confédération Française desTravailleurs Chrétiens) o problema da formaçãopõe-se principalmente nos relatórios apresentadospelos militantes. Surgem ainda as “sessõesconfederais de estudos e práticas sindicais” e asescolas normais operárias — em duas ou trêsregiões de Lyon e Paris. Em 1932, a C.G.T. cria oCentro Confederal de Educação Operária que dáorigem, em Paris, a um Instituto SuperiorOperário, e aos Colégios do Trabalho noutrasregiões. Entre 1948 e 1950, cada central sindicalcoincidentemente está preocupada com ainstalação e normalização das suas estruturaseducativas. Disto decorre “o fato de cada central

sindical valorizar os problemas da formação peloestudo, considerada como uma das duas ou trêscondições fundamentais para a existência de umsindicalismo forte. Por conseqüência, assiste-seao acabamento da constituição dos dispositivosde formação. No plano nacional, são as três escolascentrais: de Bierville para a C.F.T.C., de Courcellespara a C.G.T. e da Avenida do Maine, em Paris,para a F.O. Cada central define igualmente todauma política educativa, com aspectos comuns atodas [...] mas também com aspectos particularesa cada uma” (DAVID, 1974, p. 291)3. Em 1956foram criados os Institutos Universitários doTrabalho e entre 1960-61, “o movimento operário,ao mesmo tempo que acentua o seu esforço deeducação dos militantes, situa-se de maneira cadavez mais clara dentro de uma perspectiva culturalalargada. [...] Em resumo, as organizaçõessindicais estão de acordo em estar presentes nasinstâncias que contribuem para a realização dapolítica de desenvolvimento cultural” (DAVID,1974, p. 292-293).

Ao instituir a idéia da formação permanente, omovimento sindical cumpriu uma funçãoproeminente, sobretudo quando se realizou oentrelaçamento entre movimento operário emovimentos de caráter intelectual. Assim, naFrança teve um papel decisivo o movimento quelegaram intelectuais e trabalhadores em 68 e quelevou aos acordos de Grenelle entre governo esindicatos, que deram início à legislação sobreformação permanente e a formação profissionalcontínua. Desse modo, os trabalhadores podemgozar de licenças remuneradas até seis meses porano, a cargo do fundo para a formação. E tambémpode ser reconhecida a experiência de trabalhocomo título para ter acesso à universidade, mesmoquando não tenham obtido o título de estudo deescola de 2º grau.

Legislações e apoios não podem ser explicadossimplesmente por uma espécie de colaboração ereformismo. Na realidade, a sensibilidade e oaguerrimento dos sindicatos e dos intelectuaisenvolvidos foram determinantes para experiênciastão importantes. Em países como a Bélgica, a Fran-ça, a Alemanha, a Grã-Bretanha e a Suécia os

3 Sobre as principais centrais francesas — CGT, CFDT e FO(Force Ouvrière) —, cf. TREMPÉ, 1977, p. 81-98; THI-BAULT, 1977, p. 93-98; e SEMEDO, 1995, especialmentep. 91-111.

2 As considerações iniciais deste artigo se basearam emMEMO, s/d, especialmente p. 1-37, bem como em DAVID,1974, p. 267-306.

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sindicatos gozam de licenças remuneradas, tutela-das pela lei, para participar das atividades de forma-ção sindical. As licenças remuneradas em algunscasos referem-se a todos os trabalhadores, en-quanto em outros lugares existem para quem de-senvolve atividade sindical a partir dos membrosdos comitês de empresa, com um número de horasmais ou menos extenso e com a possibilidade amais de um país de usufruir de licenças ainda maisamplas para quem desempenha a própria militânciasindical como formador. Ainda entre os países re-feridos anteriormente, existem formas de apoio àformação sindical. Em alguns países “existem con-tribuições específicas para a formação desenvolvi-da pelos sindicatos, em outros as formas de apoiosão em geral para a educação permanente e paraos adultos, nos quais entram também os centrosde formação sindical [...]” (MEMO, s/d, p. 8-9)4.

Na Grã-Bretanha, a relação entre movimentosindical, universidade e escola pública tem umatradição bem mais longa, que parte da instituiçãodo Ruskin College em Oxford em 1899, com oapoio dos sindicatos e que se amplia de maneirasignificativa depois de 1920, quando a “Universi-dade de Nottingham em primeiro lugar dá início auma faculdade aberta, cujo objetivo não é o deconceder títulos de graduação, mas de promovera educação permanente na sociedade. Em 1922,também em Nottingham institui-se a primeiracadeira de educação de adultos” (MEMO, s/d, p.7)5. Hoje, apesar da ação dos governos conserva-dores ao longo dos anos oitenta, que reduziu os

fundos à disposição da formação sindical, na Grã-Bretanha “382 são os tutores contratados pela uni-versidade e colleges, que dedicam a maior partedo tempo aos cursos sindicais: tanto nos institutossuperiores, técnicos e políticos, onde se desenvol-vem os cursos com licença remunerada para osrepresentantes de departamentos e os funcionáriosda segurança nos locais de trabalho, [...] comonas universidades onde se desenvolvem outrasatividades em colaboração com o sindicato”(MEMO, s/d, p. 7).

As necessidades de formação não diminuemcom o aumento do nível de instrução, mas, aocontrário, crescem. De acordo, com Roger Can-tigneau, responsável pela formação sindical daConfederação dos sindicatos cristãos belgas, “como aumento dos níveis de instrução hoje, os trabalha-dores não aceitam mais seguir as indicações dosgrupos dirigentes do sindicato sem discutir a fundoas razões; é, além disso, impensável um maiorpapel dos organismos de representação das empre-sas sem fornecer a eles os instrumentos culturaise informativos necessários” (MEMO, s/d, p. 10).No caso belga tanto a Confederação dos SindicatosCristãos — CSC quanto a Federação Geral dosTrabalhadores da Bélgica — FGTB, estãoempenhadas em atividades culturais, formativas ede pesquisa e é interessante observar que sozinhasrepresentam mais de 90% dos trabalhadores.

No Brasil, a preocupação educacional no movi-mento operário-sindical inicia-se com as propostaseducativas dos libertários, particularmente dosgrupos anarco-sindicalistas, englobando os anos1902/1920. O projeto educativo dos libertáriostinha três dimensões que se ligavam entre si: aeducação político-sindical, a educação escolar eas práticas culturais de massa6. Sílvia M. Manfre-di, em um texto fundamental sobre experiências epráticas de educação dos trabalhadores brasileiros7,destaca que a concepção educacional anarquista“articulava as práticas educativas [...] com outraspráticas no campo cultural e do lazer, de caráter

6 Sobre uma das propostas educativas mais famosas doslibertários, vale conferir o vídeo de ROMANI, PIMENTEL& CARDOSO, 1995.7 Sílvia M. Manfredi denomina “educação sindical” como“aquelas práticas educativas mais sistemáticas,intencionalmente programadas, como por exemplo oscongressos dos trabalhadores, cursos, seminários, palestrasetc., promovidos por entidades de classe ou outrasorganizações sócio-culturais, com o intuito de veicular

4 Para o processo e o desenvolvimento das atividades deformação sindical na Bélgica, na França, na Alemanha, naGrã-Bretanha, na Suécia e na Itália com maiores detalhes cf.MEMO, s/d, p. 19-155.5 E.P.Thompson, por quase duas décadas (entre 1948-1965)ocupou-se da educação de adultos no Departamento deEstudos Extracurriculares da Universidade de Leeds. Oreferido Departamento mantinha um apoio à extensãoeducacional, como uma ponte entre a universidade e oscompromissos com a Associação Educacional dosTrabalhadores (Worker’s Educational Association –WEA), desde1903 dedicada a oferecer cursos de treinamento prático aostrabalhadores. Dorothy Greenald (“a quem A formação daclasse operária inglesa seria dedicado”) e Peter Thornton,“integrantes da primeira turma de Thompson em Cleckheatonde 1948 a 1951, lembraram-se de que Edward fazia a históriatornar-se viva para seus alunos, e mais particularmente‘demonstrava que nossa formação não era motivo paraenvergonhar-se’. ‘Isso realmente me fez mudar’, disseDorothy, em uma declaração que talvez seja o mais carotributo a qualquer professor” (PALMER, 1996, p. 85-86).

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massivo e popular. Teatros, festivais de música epoesia, piqueniques eram constantemente promo-vidos pelos libertários nos bairros operários doscentros industrializados da época” (MANFREDI,1996, p. 25-26).

Sílvia M. Manfredi enfatiza sobretudo no pro-jeto de educação dos libertários o seu “caráter glo-balizante” (aspectos culturais, educativos e liber-tários) que o caracterizava “como um projeto deeducação classista [...] voltado para a emancipaçãopolítico-ideológica e cultural da classe operária”.Dessa forma, os libertários propuseram a constru-ção de um “projeto educativo singular, próprio eautônomo” (MANFREDI, 1996, p. 26).

Entre 1945 e 1950, cabe ressaltar as iniciativasde educação sindical assumidas por partidos eorganizações de esquerda. Nesse sentido, aatuação e as propostas do Partido Socialista Brasi-leiro, bem como a surpreendente recriação dauniversidade popular dos anarquistas em 1945, sãotópicos essenciais nesse período. Do mesmomodo, a presença do PCB no movimento operário-sindical é de fundamental relevância. O que sepercebe no partido é o nítido privilégio conferidoà formação político-partidária (formação de qua-dros), à qual se resumia, em última análise, suaprática de “educação sindical” (cf. MANFREDI,1996, p. 45-66).

Vale realçar a experiência das escolas do PCBno que tange sobre a pedagogia comunista. E ébom destacar, entre outras coisas, a desvinculaçãoentre partido e bases e a desqualificação dospróprios dirigentes sindicais — chamados de“sindicaleiros” —, dando uma mostra da visão deeducação do PCB8.

Em matéria de educação sindical multiplicaram-se por todo o Brasil – no período compreendidoentre as décadas de 70 e 80 – experiências de

formação em sindicatos de setores mais organiza-dos e ativos na condução do movimento (meta-lúrgicos, químicos, bancários, petroleiros etc.),assim como os sindicatos passaram a organizarseus departamentos de educação e cultura e aensaiar programas mais articulados de formaçãosindical. Cabe salientar as experiências levadas aefeito nesse período nos seguintes sindicatos:Metalúrgicos de São Paulo (São Paulo), Metalúr-gicos de São Bernardo do Campo (São Paulo),Metalúrgicos da Baixada Santista (Santos/SP),Metalúrgicos de Monlevade (Minas Gerais),Bancários de São Paulo (São Paulo), Telefônicos(Minas Gerais), Químicos de São Paulo e do ABC(São Paulo), Sapateiros (Franca/SP); entre asfederações destacaram-se as dos trabalhadoresrurais de Minas Gerais (Fetamg), Pernambuco(Fetape) e a Federação da Alimentação do RioGrande do Sul. Entre as confederações, há que seevidenciar a importância do trabalho desenvolvidopela Contag. Entre os grupos de oposição sindicalhá que se fazer referência à experiência da OSMSP– Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (cf.MANFREDI, 1996, p. 115-117).

III. UMA EXPERIÊNCIA DO “NOVO SIN-DICALISMO”

Desde 1971, as lideranças sindicais de SãoBernardo revelavam uma preocupação com asatividades de “educação sindical”9. O lançamentoda primeira edição do Jornal Tribuna Metalúrgicanaquele ano demonstrava um investimento nocampo da formação e da comunicação, de sumaimportância para o período dos anos 70. Dessemodo, uma das mais relevantes atividades deformação era feita pelo próprio jornal do sindicato.

O Jornal Tribuna Metalúrgica representavauma iniciativa que não visava apenas atingir amassa dos metalúrgicos. Revelava uma estratégiafundamental: a veiculação das “vozes operárias”(“Este jornal será sua voz”), significava simul-taneamente o desejo de que participassem efeti-vamente do sindicato.

A edição e veiculação mensal da Tribuna Meta-lúrgica foram uma tarefa assumida por AntônioCarlos Felix Nunes (o redator responsável), PauloVidal, Exupério Cardoso Campos, AntenorBrolcabbi, Dr. Maurício Gomes de Almeida, Dr.

9 Estou utilizando a concepção de MANFREDI, 1996, p.23-24.

projetos e propostas político-sindicais e formar quadrosorganizativos. Caberia ainda incluir entre as atividades deformação sindical aquelas iniciativas de formação político-ideológica que se destinam a grandes grupos de trabalhadores– a imprensa sindical, programas de rádio e televisão, boletins,revistas, teatro, cinema etc.” (MANFREDI, 1996, p. 23-24). Ainda sobre a educação sindical, v. ROSA, 1995,especialmente p. 5-14.8 Conferir os depoimentos de ex-dirigentes como HérculesCorrea, Armênio Guedes e Jacob Gorender em MANFREDI,1996, p. 45-87. A formação de quadros e a educação políticano PCB entre 1950 e 1958 pode ser vista em MOTTA,1995.

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Antônio Possidônio Sampaio, Nelson Campa-nhollo, Carlos Alfredo Rizzo, Roberto Mori Ma-chado e vários outros colaboradores ligados efeti-vamente à diretoria. Ou mesmo os próprios asso-ciados que talvez fortuitamente (e anonimamente)procuravam auxiliar no trabalho de produção edistribuição do jornal10.

De acordo com Antônio A. Primo a diretoriamandou imprimir 15 mil exemplares do primeironúmero da Tribuna Metalúrgica e em novembrode 1971 aumentou a tiragem para 30 mil jornais.Segundo dados do DIEESE, na época havia 64.972metalúrgicos trabalhando em São Bernardo doCampo e Diadema. Em junho de 1974, a tiragemda Tribuna Metalúrgica passou de 35 mil para 40mil, quando havia 92.869 operários trabalhandonas indústrias da região. Dados que revelamportanto tiragens que representavam quase ametade da quantidade de metalúrgicos do ABC (Cf.PRIMO, 1996, p. 29).

No nº 1 da Tribuna Metalúrgica os assuntosestavam dispostos em colunas relativas aosproblemas econômicos, políticos, sociais e cul-turais. O nome da primeira coluna cultural era“Recreação e Esporte”. A tônica estava voltadapara o futebol, com a fundação do GrêmioEsportivo Metalúrgico e para os piqueniques. Emmarço de 1972 teremos a estréia do “Bilhete doJoão Ferrador” e a coluna “Recreação, Cultura eEsporte” (cf. TRIBUNA METALÚRGICA nº 1,p. 7; TRIBUNA METALÚRGICA, nº 8, p. 4-5)11.

Além de futebol e dos passeios, a nova colunaprocurava explicar os “fatos históricos” para ostrabalhadores metalúrgicos. Pode-se aindaenfatizar a preocupação em organizar bailes, cursose dicas sobre livros, discos e programas detelevisão. Exemplos: Contos Brasileiros deGraciliano Ramos, Cartola e o noticiário da TVBandeirantes12.

É importante ressaltar que o personagem JoãoFerrador será uma tentativa de aproximação coma categoria. O Bilhete do João Ferrador não vemacompanhado de caricatura. O desenho – queaparecerá nos números posteriores do ano de 1972– representa um trabalhador de boné, escrevendoum bilhete.

Dirigindo-se sempre a alguma autoridade do“meu Brasil grande e potente”, João Ferrador(irônico, sutil) indaga e revela o cotidiano crueldos trabalhadores metalúrgicos e por conse-qüência, da própria classe trabalhadora. O custode vida, a política salarial, a política habitacional,os acidentes de trabalho serão assuntos prediletosda coluna do personagem.

O tema do custo de vida aliado à política salariale por conseguinte, à proibição à greve, seráapresentado sempre que possível na TribunaMetalúrgica. Em 1974, por exemplo, JoãoFerrador reclama da falta de óleo, de carne e doleite: “da mesma forma que os trabalhadores nãopodem fazer greve, porque prejudicaria a paz sociale o processo de desenvolvimento do país, segundoo governo, também creio que os comerciantes eindustriais não tem direito de sonegar mercadoriase inflacionar a economia popular” (TRIBUNAMETALÚRGICA, nº 23, p. 3)13.

A ponte entre o sindicato e os metalúrgicos

10 O surgimento da Tribuna Metalúrgica e a importância doprocesso de comunicação sindical é destaque no depoimentode SAMPAIO, 1990. Sobre o mesmo tema v. ARAÚJO,1991.11 Entre 1962 e 1964 houve uma iniciativa cultural bastanterelevante, a do Centro Popular de Cultura de Santo André.Mesmo num período muito curto de existência é importanteressaltar que o Centro Popular de Cultura do Sindicato dosMetalúrgicos de Santo André foi uma experiência inovadora.Cf. CAMACHO, 1987.12 Consultei a Tribuna Metalúrgica em suas edições de 1971a 1980. Cabe salientar uma charge de 1975 na qual em meio

a uma festa no sindicato, um dos participante fala:“Sindicalize-se amigo, e aproveite os bailes e cursos dosindicato”. Nas dicas da diretoria vale registrar “os melhoresnoticiários da televisão, os do Canal 13, Bandeirantes”.Segundo o jornal, “são mais pobres que os da Globo, éverdade, mas em compensação são muito mais ricos eminformações de real interesse para a coletividade. O canalBandeirantes apresenta muitos programas sindicais. É o quenos interessa, né!” Cf. TRIBUNA METALÚRGICA, nos 28e 31, 1975.13 Sobre o João Ferrador, conferir a entrevista com o jornalistaAntônio Carlos Félix Nunes, ex-editor do jornal TribunaMetalúrgica na qual ressalta que “João Ferrador foi novidade.Primeiro, saiu sem ilustração, depois com desenho do Henfile, mais tarde, do Laerte, até virar logotipo do jornal e dosmetalúrgicos de São Bernardo” (ARAÚJO, 1991, p. 111).Merece menção ainda um episódio ocorrido em outubro de1968, quando o Sindicato dos Metalúrgicos de Santos relançao jornal mensal O Metalúrgico, cuja publicação havia sidointerrompida em 1964. A criação da figura do Zé Protestoteria, de acordo com a análise de Braz José de Araújo, alcan-çando sucesso ao divulgar as denúncias dos trabalhadores. Aidéia “passa para outros sindicatos. Surge o João Ferrador nosmetalúrgicos de São Bernardo, e o Décio Malho nos meta-lúrgicos de São Paulo”. Cf. ARAÚJO, 1985, p. 140-141.

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tem no meio do caminho o João Ferrador quereclama em nome da categoria e, ao mesmo tempo,desenvolve uma identificação operária. Nesse viés,o personagem João Ferrador (outros serão criadosno decorrer dos anos, como o Repórter Meta-lúrgico e o Sombra) significa a possibilidade daslideranças sindicais aproximarem-se da baseoperária.

Ao estabelecer um enunciado de força ao sereferir a um “sindicalismo atuante e autêntico”, e,conseqüentemente, uma imagem vigorosa, positivado sindicato, João Ferrador busca suscitar umavontade de participação e mobilização dostrabalhadores metalúrgicos. Cabe frisar que essaintenção encontrava respaldo em outras colunasdo jornal. Se o Bilhete do João Ferrador tratavade examinar o cotidiano dos metalúrgicos (custode vida, política salarial, os problemas com aaquisição da casa própria, o desemprego etc.), oobjetivo final teria como alvo os própriostrabalhadores. Desenvolvendo, portanto, umalógica de identificação operária na qual a categoriareconhecia-se pelo trabalho fabril e, necessaria-mente, como “classe”. Outras colunas irão juntar-se nesse empenho de comunicação sindical: NossaOpinião, Legislação Trabalhista, Notícias dasFábricas, e o Repórter Metalúrgico.

O discurso do Sindicato de São Bernardo é aexpressão de um “ato de ruptura”, lembrandoGeneviève Bollème, com uma “linguagem detradição”. Ou seja, a fala sindical produzida nosindicato é a tentativa de registrar o “apelo à palavraoperária” que “reclama o enunciado de sensaçõesou de impressões por aqueles que as sofrem”(BOLLÈME, 1988, p. 131-132). Portanto, odiscurso sindical dos metalúrgicos de São Bernar-do busca — em tempos tão difíceis — uma lin-guagem em que a palavra operária não encontreos limites não apenas da imprensa burguesa comotambém da própria imprensa sindical.

Por isso, duas questões devem ser colocadas:a primeira refere-se ao período repressivo vividono país nos anos 70, acarretando com isso acensura à imprensa. Decorre daí a segundaquestão, pois se o intuito era informar osmetalúrgicos para de algum modo atraí-los para osindicato, não resta dúvida de que a tarefa não erafácil. Percebe-se que a heterogeneidade de temasera fruto não apenas da censura, mas também dasdificuldades das gestões sindicais em traçar umprojeto específico para o próprio jornal.

Todavia, com o decorrer dos anos – principal-mente após as greves de 1978/80 – os dirigentesirão desenvolver e solidificar o perfil da TribunaMetalúrgica. Apenas exemplificando, o RepórterMetalúrgico (coluna publicada a partir de 1972 ecaracterizada pelo desenho de um trabalhador comcapacete e uma máquina fotográfica que focalizauma espécie de noticiário geral) procurará veicularprincipalmente as notícias das lutas da “classetrabalhadora” nacional e internacional. Detalhe: odesenho muda após as greves de 78. O RepórterMetalúrgico é representado pelo João Ferrador apartir de 1979. Contribuindo também no sentidoda informação das outras categorias, é lançado oSuplemento Informativo diário procurandotambém angariar novos associados.

Fundamentalmente, o importante a ser ressalta-do é que desde 1971 as lideranças sindicais deSão Bernardo procuravam – através da TribunaMetalúrgica – sensibilizar os metalúrgicos para amobilização e luta na “Rua João Basso, 121”14.Colunas como Nossa Opinião, Notícias das Fá-bricas, Legislação Trabalhista buscavam suscitaro interesse pelo sindicato. Personagens como JoãoFerrador e o Repórter Metalúrgico chamavam paraa mobilização do homem do macacão.

Logo, foi possível constatar, no que se refereao universo simbólico da Tribuna Metalúrgica, aintenção de instituir um modo adequado de dirigir-se aos operários metalúrgicos e, ao mesmo tempo,representá-los legitimamente. Os recursos gráfi-cos, os artigos, a divulgação das atividades dosindicato – incluindo os cursos, congressos,campanhas salariais, as colunas, as caricaturas,as charges, as histórias em quadrinhos. Enfim, asvariações gráficas utilizadas serão fundamentaispara uma identificação operária.

Em setembro de 1971 a Tribuna Metalúrgica

14 Local onde está sediado o Sindicato dos Metalúrgicos deSão Bernardo e Diadema. Em 1993, o Sindicato unifica-seformalmente aos Metalúrgicos de Santo André, constituindoo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à Central Únicados Trabalhadores, a CUT, consolidando a reunificação dosmetalúrgicos de São Bernardo e Diadema com os de SantoAndré e região, restando de fora o Sindicato dos Metalúrgicosde São Caetano do Sul, filiado à Força Sindical. No entanto,embora os dois sindicatos continuem formalmente juntos, aunificação se mostrou bastante problemática na prática,estando o Sindicato de Santo André impulsionando nomomento um processo de separação.

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no 3 publica a realização de um evento – um ciclode conferências – realizado no mês de agosto pelosindicato na colônia de férias da Federação dosMetalúrgicos na Praia Grande. Os temas discutidosforam: “sindicalismo histórico, contemporâneo eperspectivas futuras, política salarial e convençãocoletiva, legislação trabalhista e previdência socialno INPS”. Certamente, o intuito da diretoria eraevidentemente congregar o maior número possívelde diretores e associados da entidade. Afinal, deacordo com a matéria veiculada, o “sindicato for-ma companheiros para as nossas lutas sindicais!”.

O que poderíamos considerar um simples“acontecimento operário” é potencializado aomáximo pela diretoria do sindicato. Novamente,vamos assistir ao empenho da participação dostrabalhadores.

A diretoria do sindicato procurava participarde todos os eventos realizados no país e fora dele.Era uma maneira de pelo menos discutir e reivin-dicar os assuntos de interesse dos trabalhadores.

Se os dirigentes sindicais de São Bernardoapostavam na freqüência ativa nos encontros econgressos, de modo a unificar e aproximar a baseoperária metalúrgica (nacional e internacionalmen-te), a possibilidade também de organizar os seuspróprios eventos tornar-se-ia uma ponte de ligaçãofundamental com a categoria.

Em julho de 1974 a Tribuna Metalúrgica convi-da 500 entre os vinte mil associados do sindicato(em razão do espaço da sede) para o I Congressode Metalúrgicos de São Bernardo do Campo eDiadema, que realizar-se-ia entre 06 e 08/09/74.Pela primeira vez na história do sindicato seriaimplementado um congresso de trabalhadores paradiscutir e deliberar sobre os problemas que afligiamos metalúrgicos.

A realização do congresso representou um mo-mento particular na militância em torno do sindi-cato e a ampliação de sua presença nas bases, oupelo menos entre o grupo de ativistas que sedestacava no interior das empresas. O congressosignificou também a oportunidade de as expe-riências, até então vividas fragmentadamentedentro das fábricas ou até mesmo em algumasseções, comunicarem-se e adquirirem um referen-cial mais coletivo, o que por sua vez iria reverterpara a continuidade do trabalho localizado.

Nas resoluções do I Congresso, alguns aspec-tos foram objetos de especial análise. Como “polí-

tica salarial, política salarial das empresas, condi-ções de trabalho, segurança no trabalho, rotativi-dade da mão-de-obra e situação das empresas”.Por fim, os participantes do I Congresso definiramos princípios e os objetivos da categoria: 1) “Reco-nhecimento da liberdade sindical [...] com aconseqüente revogação das restrições contidas naC.L.T.”; 2) Formação de uma lei básica do trabalho,encerrando os direitos principais, fundamentais ecomuns a todos os trabalhadores que vivam desalários, em regime de emprego, a partir dascondições mínimas hoje asseguradas; 3) Totalliberdade para o exercício do direito à ContrataçãoColetiva de trabalho [...]; 4) Implantação emanutenção de cursos de capacitação sindicaldestinados a todos os associados [...]; 5) Reali-zação de reuniões mensais sem caráter deliberativo[...] incluindo-se palestras e debates [...]” (TRI-BUNA METALÚRGICA, nº 25, p. 5)15.

Com certeza o I Congresso dos Metalúrgicosde São Bernardo do Campo constitui-se um movi-mento decisivo na ampliação de uma liderançasindical que começou a estreitar as relações entrea fábrica e o sindicato. Sobretudo, definiu o sindi-cato como “lugar de luta”, onde os trabalhadoresunidos buscariam soluções coletivas. Enfim, pas-sou a se distinguir como o “novo sindicalismo”.

Em 1974, as lideranças sindicais apostaram emum veículo de educação de extrema importânciapara o universo operário. Trata-se da criação doCentro Educacional Tiradentes – CET — que ini-ciou suas atividades em 15 de janeiro daquele anocom um curso de madureza. Os cursos profissio-nalizantes foram criados no segundo semestre de1974 em convênio com a Escola SENAI AlmiranteTamandaré, de São Bernardo. Na visão dos diri-gentes do sindicato, o CET foi fundado porquehavia uma demanda na categoria tanto por cursos

15 De acordo com Silvia M. Manfredi a implantação decursos de capacitação indicaria “a preocupação comatividades educativas que pudessem ser utilizadas comoespaços para atrair e estimular a participação dos trabalhadoresem seus sindicatos. [...] O que há de novo nas propostas deencontros, congressos e cursos de capacitação neste períodoé o surgimento de uma perspectiva de educação nascida dainiciativa dos próprios dirigentes e militantes sindicais, tendoem vista as necessidades específicas do próprio movimento”.Cf. MANFREDI, 1986, p. 110-111. Ver ainda da mesmaautora, “Os anos 70/80 – tempos de resistência e construçãode um modelo de formação próprio” (MANFREDI, 1996,p. 111-143).

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profissionalizantes (haja vista, a preocupação ex-pressada na Tribuna Metalúrgica desde 1971 poruma escola profissional) quanto por madureza16.

Mais uma vez a diretoria, além de procurar seaproximar dos metalúrgicos e fortalecer o sindicatoatravés do CET, também pretendia aumentar suarepresentatividade e controle sobre a entidade. Noentanto, concordando com Antônio A. Primo, é“significativo” que a então diretoria tenha “usadoparte do imposto sindical repassado pelo Ministériodo Trabalho para criar uma escola, pois a maioriados sindicatos de metalúrgicos do Estado de SãoPaulo não fazia isso. Nos limites impostos pelaconjuntura ditatorial brasileira, era preciso tercriatividade para fortalecer os movimentos sociaise para resistir ao avanço das forças conservadorasque os haviam derrotado no golpe de 1964. O CET,mesmo que não tenha sido intencionalmentefundado com este caráter político, na prática dosanos seguintes serviu como um dos elementos defortalecimento do sindicato” (PRIMO, 1996, p.15-16)17.

É bom ressaltar que no 1º semestre de 1978 ocurso de madureza foi substituído pelo supletivo.De acordo com Antônio A. Primo, essa decisão“foi amadurecendo aos poucos e fazia parte deum projeto cultural e educacional em implantaçãono sindicato, que visava politizar a categoria, [...]”(PRIMO, 1996, p. 53).

Entre os docentes do CET entrevistados porAntônio A. Primo, “houve consenso de que ossindicalistas tinham interesse em fazer esse projetocultural e educacional para fortalecer o movimentodos trabalhadores da região. Para alguns deles,influenciados por idéias marxistas, [...] também

interessava educar para politizar os trabalhadores[...]” (PRIMO, 1996, p. 42).

É importante salientar que para as liderançassindicais de São Bernardo a educação operáriaenvolve aspectos políticos e culturais que buscampromover a dignidade dos trabalhadores como cida-dãos. Isto é, a formação profissional e a formaçãoescolar são importantes para os metalúrgicos comocategoria. E mais, está óbvio que a educação básicaformava homens nas letras e na política.

Em 1975 o jornal Tribuna Metalúrgicaveiculava um artigo (“O teatro está perto de você”)sobre o Grupo Ferramenta de Teatro. Vale ressaltarum trecho: “um grupo de pessoas, como você,concordou em reduzir o seu fim de semana, traba-lhando neste, a fim de que você tenha realmenteum fim de semana agradável, e uma vez apoiadopelo sindicato, esse grupo que eu disse, “Grupode Pessoas” passou a agir consciente em buscade um fim comum. [...] coletando elementos nonosso próprio meio, ou seja, elementos que traba-lham a semana toda nas indústrias metalúrgicas, eque no fim desta, ou seja, nos seus dias de folga,deixam de lado as ferramentas usadas no trabalhonas fábricas, e pegam aquelas, as quais são usadasnum trabalho cultural. Assim se formou um grupode teatro, o qual se deu o nome de “GRUPOFERRAMENTA DE TEATRO”. [...] É objetivodo nosso “Ferramenta”, nosso e também seu,companheiro: difundir a cultura, aprimorar os nos-sos conhecimentos, dar uma melhor divulgaçãodo teatro no nosso meio, [...]. [...] estaremos sem-pre pertinho de você, apresentando-lhe algo quevocê goste, que o distraia, que o descanse etambém que faça você pensar, porque, este algo éda realidade. [...] Companheiro, você é parteimportante de nosso trabalho [...]. Para o “GrupoFerramenta de Teatro” esse trabalho representauma caminhada, buscando difundir o teatro popularnos meios fabris [...]” (TRIBUNA METALÚR-GICA, nº 28, p. 7)18.

16 Entre os “sete diretores efetivos da gestão 1972-75, LuísInácio da Silva e Rubens Teodoro de Arruda estudavam emMadureza de 1º grau, assim como os operários Djalma deSouza Bom da Mercedes e Luís dos Santos, o Lulinha daFord, trabalhadores da base sindical da diretoria” (PRIMO,1996, p. 5). Sobre a criação do Centro Educacional Tiradentes– CET – consultei também TRIBUNA METALÚRGICA,nos 1 a 56, 1971-1980.17 Na década de 70, o sindicato de Santos criou uma escola.Tratava-se do Colégio dos Metalúrgicos — CEMETAL —,inaugurado em 17 de março de 1976 pelo Sindicato dosMetalúrgicos da Baixada Santista. Além dos cursosprofissionalizantes e supletivos de 1º e 2º graus, o CEMETALprocurava “formar e informar o trabalhador em todos osângulos: sindical, político, cultural etc.” (ARAUJO, 1985, p.256).

18 Desde 1974, “alguns professores do CET formaram umgrupo de teatro, enquanto outros alunos organizaram umgrupo de samba. Tempos depois, criariam o Grupo de TeatroFerramenta, pelo qual passaram sindicalistas como ExpeditoSoares, autor do texto “Ele cresce e eu não vejo”, encenadopelo grupo; advogados como o Dr. Raimundo Simão Melo,funcionário do Departamento Jurídico do sindicato nos anos70 e atualmente procurador em Campinas; e Ângela Sabóia,ex-aluna metalúrgica, hoje diretora de uma escola estadualna região” (PRIMO, 1996, p. 11). As atividades teatrais dos

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A apresentação do Grupo Ferramenta acon-teceu na festa de posse da nova diretoria eleitapara o triênio 75/78. Entre as várias atrações daposse, festa, show musical e baile, o teatro estavapresente. Assim no dia 20 de abril na sede dosindicato, o Grupo Ferramenta encenou duascomédias de Martins Pena: “O Caixeiro da Ta-verna” e “Quem casa quer casa”. O jornal Tribu-na Metalúrgica ressalta que a representação foifeita pelo grupo “formado e mantido pelo sindi-cato, como parte das suas atividades culturais econstituído por associados da entidade” (TRIBU-NA METALÚRGICA, nº 28, p. 5).

Como mostra do interesse no campo cultural,indo além do trabalho incipiente que vinha sendorealizado desde 1971, o sindicato de São Bernardodava novas provas de vitalidade. Em 1976, o“Departamento Cultural” é inaugurado com umapalestra do economista Valter Barelli, então diretortécnico do DIEESE. O novo departamento teminteresse em desenvolver “atividades de cunho cul-tural e educativo, algumas relativas ao diver-timento e outras à luta do dia-dia dos trabalha-dores”. Para esta finalidade específica, que “cons-titui uma inovação em termos de atribuiçõessindicais, nosso órgão de classe destinará uma boaparte dos seus recursos financeiros”. Desse modo,mesmo reconhecendo que o sindicato já vinhadesenvolvendo atividades, como o Grupo Ferra-menta de Teatro, os bailes, a realização de palestras,entre outras, o esforço é redobrado. Assim, “sentin-do a importância de tudo isso, e com vistas à umamaior ligação com a categoria, resolveu a diretoriacriar esse departamento que centralizará todas asnossas atividades culturais, educacionais e recrea-tivas, com maior possibilidade de desenvolvê-lase, inclusive, de ampliá-las”. Portanto, “todos osfins de semana, você encontrará dentro do seupróprio sindicato os motivos de lazer, assistindoas peças teatrais e filmes selecionados, ouvindopalestras de grande alcance social, assim comoparticipando de cursos sobre sindicalismo e que-stões trabalhistas” 19.

Cabe recordar uma passagem – em uma discus-são na Escola Normal Superior de Paris no finaldos anos 60 – de Marcel David: “o movimentosindical convence-se pouco a pouco de que, parapermitir aos militantes que cumpram as suas taref-as, não basta ensinar-lhes economia política, direi-to, contabilidade – mas que é necessário integrarna formação que lhes é dada, outras dimensõesda cultura, as quais, de qualquer modo, invadema vida do trabalhador; o sindicalismo, se não quiserficar separado das massas, tem de se preocuparcom isto” (DAVID, 1974, p. 304). Com certeza,os sindicalistas de São Bernardo mesmo que nãoestando cientes dessa discussão, souberam articu-lar comunicação, educação e cultura de modoexemplar nos anos 70-80.

Assim sendo, o departamento cultural do sindi-cato implementa os mais diversos eventos. Porexemplo, em agosto de 1976 acontecem duassessões de teatro com a peça Epidemia, um cursosobre pintura e outro a respeito de fotografia, cine-ma e literatura, e sessões de cinema, com o filmeMeu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch,1969, EUA) de Sam Peckinpah. No mês seguinte,foi apresentada a peça O Inspetor Geral, com ogrupo de teatro de Santo André, Tear. Ocorreramainda a festa da criança e uma excursão com osalunos do Centro Educacional Tiradentes20.

“Neste setembro, teremos nosso Congresso,aqui em casa”. Esta é uma das manchetes estam-padas pela Tribuna Metalúrgica nº 36, de agostode 1976. Durante três dias, cerca de 400 con-gressistas, representando os companheiros das fá-bricas, debateram os problemas dos locais de tra-balho e os grandes problemas nacionais. As con-clusões do II Congresso incidiram sobre questõespormenorizadas, entre as quais: “aspectos salariais,

metalúrgicos do ABC podem ser vistas em FESTA, 1984;CAMACHO, 1987, e ALMEIDA, 1996.19 “Um departamento para aumentar a cultura dos nossosassociados” (TRIBUNA METALÚRGICA, no 36, 1976, p.7). Outra iniciativa cultural promovida pelo sindicato foi acomemoração do 1o de maio de 1976. Em primeiro lugar,apresentou-se o “Jogral 1o de maio” composto por elementosdo Grupo Ferramenta de Teatro e em segundo foramconhecidos os resultados de um concurso realizado entre os

alunos do Curso de Madureza. Maiores detalhes verRAINHO & BARGAS, 1983, p. 63.20 “Atividades do Departamento Cultural” (TRIBUNAMETALÚRGICA, no 38, 1976, p. 7). Merecem destaqueainda outras programações culturais citadas no jornal, taiscomo, a exibição do filme Ver-te-ei no Inferno (The MollyMaguires, 1970, EUA), de Martin Ritt, sobre a saga de umvingativo bando de mineiros que ingressam na clandestinidadee se transformam em terroristas numa mina da Pensilvânia,em 1876. O mesmo Ritt mostrou o processo de conscien-tização de uma operária têxtil em Norma Rae (1979, EUA).Houve também a realização da Feira de Ciência, com trabalhosdos alunos da escola do sindicato e no mês de novembro apromoção de um baile.

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horário de trabalho, férias e descanso semanal,garantia de emprego, condições de trabalho, garan-tias sindicais e assistência aos trabalhadores”.

Em dezembro de 1976, o jornal TribunaMetalúrgica publica um balanço das atividadesdesenvolvidas pelo sindicato. Apresenta os serviçosprestados pelos departamentos jurídico, previden-ciário, odontológico, médico e cultural. Algumaspromoções, entre tantas, foram citadas, como apalestra Considerações sobre Acidentes do Tra-balho e Doenças Profissionais com o dr. AntônioPossidônio Sampaio, as peças de teatro e os filmes,as atividades da escola do sindicato, enfim, o ba-lanço de um departamento cultural voltado para aEscola, Divulgação, Estatística, Arte e osDivertimentos (TRIBUNA METALÚRGICA nº 39,p. 5).

Outras iniciativas de mobilização também forampropostas e efetivadas como os debates operários.Em fevereiro de 1977, por iniciativa da diretoria,realizou-se com a participação de seis trabalhadorespertencentes a empresas diferentes (Ford do Brasil,Carjac, SAAB-Scania, Brastemp, IGB e Arteb) umdebate no sindicato sobre o tema horas extras.“Qual a razão de se fazer hora extra nas fábricas?Seria porque somos acomodados e preferimos,por isso, as soluções mais fáceis para nossosproblemas econômicos imediatos? Ou seria porquesomos realmente pressionados pelos patrões,mediante ameaças de toda ordem?” (TRIBUNAMETALÚRGICA nº 40, p. 10). Ao reproduzir odebate, o jornal alcançava um número certamentepromissor de leitores interessados (ou que pode-riam interessar-se) em uma questão tão polêmica.Fundamentalmente, o debate propiciava a trocade experiências, a aproximação da diretoria com abase e, sem dúvida, a circulação impressa do temaproposto e o seu respectivo esclarecimento.

Essa estratégia era considerada importante paraa discussão da pauta de reivindicações da campa-nha salarial. Mas não ficou só nisso. Enquanto osindicato desenvolvia a campanha com os conhe-cidos recursos tradicionais, outra atividade culturalagitava os trabalhadores. A peça teatral Ele Crescee Eu Não Vejo, escrita por Expedito Soares Batista,título aliás inspirado na campanha contra a hora-extra, procurava construir um canal efetivo deacesso aos metalúrgicos21.

Em julho o jornal Tribuna Metalúrgica publicao relatório das atividades do sindicato referentesao exercício de 1976, no qual procurava amarrara estruturação de todo um trabalho. Trabalho essedesenvolvido com insistência na campanha salarialde 76, no Conselho de Coordenação de Trabalhode Base (CCTB), em cultura e recreação e no IICongresso dos Metalúrgicos de São Bernardo eDiadema22.

Entre 1977 e 1978 continuam as investidasculturais. Merece destaque o filme feito para osindicato, Acidentes de Trabalho, que acabousendo premiado durante a VI Jornada Brasileirade Curta Metragem, realizada em Salvador, Bahia.A fita aborda o problema dos acidentes de trabalhodo ponto de vista do trabalhador, sendo o principalprejudicado e a grande vítima das ocorrências.Segundo o jornal Tribuna Metalúrgica: “O nossofilme procura dar uma idéia desse outro lado daquestão, que a propaganda oficial e as campanhasde prevenção de acidentes que se conhecem nãoaprofundam” (TRIBUNA METALÚRGICA, nº 43,p. 2)23. É possível afirmar que as apresentaçõesteatrais, os cursos da escola do sindicato, as fes-tas, os passeios e os bailes pretendiam “sacudir”os trabalhadores.

Em dezembro de 1977, a Tribuna Metalúrgicaestampa a seguinte manchete: “Desta vez, elas vãomandar e falar”, estava sendo lançada a idéia darealização do I Congresso da Mulher Metalúrgica.Após os dois congressos para debaterem osproblemas da categoria, surge a intenção de abrirespaço para as operárias tratarem de sua situaçãono mercado de trabalho. É importante observarque foi uma iniciativa pioneira da diretoriamasculina do sindicato, apesar de não partir daspróprias operárias (cf. TRIBUNA METALÚRGICA

21 Uma seleção dos trechos mais importantes da peça teatralEle cresce e eu não vejo pode ser encontrado no livro de FRE-

DERICO, 1979, p. 39-48. Maiores detalhes da CampanhaSalarial de 1977, ver PARANHOS, 1999, p. 89-102.22 “Aqui o que o sindicato fez em 1976” (TRIBUNAMETALÚRGICA, no 42, 1977, p. 4). Em abril de 1977, ojornal anunciava a estréia (no mês de maio) da peça GuerraMais ou Menos Santa, do Grupo Ferramenta de Teatro. VerTRIBUNA METALÚRGICA, no 41, 1977, p. 6.23 É importante esclarecer que o filme Acidentes de Trabalhofoi realizado pela dupla Olga Futemma e Renato Tapajós,sendo que Tapajós foi contratado pela diretoria em março de1977 para filmar as lutas dos operários do ABCD. Em 1977,tivemos também a promoção pelo sindicato de um “curso desindicalismo” e a “I Feira de Arte do Metalúrgico”. VerRAINHO & BARGAS, 1983, p. 63.

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nos 40 e 41, 1977).

Assim, realizou-se nos dias 21 e 28 de janeirode 1978 um Congresso de Mulheres Metalúrgicas.Das 800 operárias inscritas (10% das quase 8 milmetalúrgicas de São Bernardo e Diadema, à época)participaram somente 300 empregadas de 30empresas, seja devido à ameaça de dispensa quemuitas sofreram ou então porque nos dois sábados(21 e 28) do encontro, muitas empresas, no intuitode boicotar a participação de suas operárias, mar-caram “compensação” pelo feriado de segunda fei-ra de carnaval. E ainda não se pode descartar afalta de interesse ou entusiasmo para participar deum congresso programado pelos diretores sindi-cais e não pelas próprias metalúrgicas.

Desse modo, a Tribuna Metalúrgica publicaamplamente o que de fato interessava: as denún-cias sobre as más condições de trabalho, os baixossalários, as pressões de chefias, a discriminaçãoproposital e maus-tratos, enfim, situações difíceiscomo o controle ao banheiro pela chapinha.

Ao promover o congresso a diretoria sindicalprocurava incitar as companheiras não apenas parao debate e o esclarecimento de questões pontuais,afirmava sobretudo o “lugar da luta” para adiscussão desses assuntos. Procurava principal-mente apagar certas expressões corriqueiras dodia-a-dia: “lugar de mulher de metalúrgico é dedia no tanque e de noite no ferro”; “lugar da mulheré em casa e que não tem nada que se meter emsindicato ou em política que são assuntos só dehomem”.

A greve de 78 – que produziu um sem-númerode produções teóricas e depoimentos em revistas,boletins e textos mimeografados – levantou pro-fundas discussões nos rumos do sindicalismo bra-sileiro. No número 47 do jornal Tribuna Meta-lúrgica, João Ferrador relata a participação dos“autênticos dirigentes sindicais brigadores” no 5ºCongresso Nacional dos Trabalhadores na Indús-tria (C.N.T.I.) de 24 a 29 de julho de 1978, no Riode Janeiro. Nessa ocasião, houve o lançamentode uma Carta dos Dirigentes Autênticos. Outrachamada importante é a divulgação do III Con-gresso dos Metalúrgicos que seria realizado nosdias 6, 7, 8, 14, e 15 de outubro com o temaestrutura sindical brasileira.

O redator responsável pela Tribuna Metalúr-gica, Antônio Carlos Felix Nunes, também con-tribuiu nessa discussão ao veicular o livro Além

da Greve, que trata das aventuras de VandelícioMascarenha e do surgimento do novo sindicalis-mo. Através deste livro “pode-se avaliar quantonociva é a estrutura sindical brasileira” (TRIBUNAMETALÚRGICA, nº 47, p. 10)24.

O III Congresso ocorreu na colônia de fériasdos metalúrgicos no Guarujá com cerca de “400companheiros”. As resoluções do Congresso, inti-tuladas “Eis o projeto de novo sindicalismo”, fo-ram as seguintes: autonomia e liberdade sindical,contrato coletivo, obediência à convenção 87 daOIT, pleno exercício da greve, unidade e plurali-dade sindical, sindicatos únicos (em cada ramode produção ou de serviços), Central Única dosTrabalhadores, comissões de empresas e delega-dos sindicais, eleições sindicais diretas e fim doimposto sindical.

João Ferrador é enfático ao observar que aestrutura sindical vigente “não presta e precisa serprofundamente modificada. [...] E será na prática,usando a inteligência e forjando nossa união, queconstruiremos a estrutura sindical ideal. [...] Porisso, devemos traçar um programa de ação viávele lutar para concretizá-lo. Assim, devemos nosempenhar até o próximo congresso para concreti-zar o seguinte: Organizar as comissões de empresa,[...]. Promover a realização de cursos de formaçãosindical para os membros das comissões defábrica. Realizar reuniões por empresa, para iniciaro trabalho de formação das comissões em nossabase.[...] O planejamento das finanças do nossosindicato deverá ter por objetivo torná-lo cada vezmenos dependente da contribuição sindical. Inten-sificar as campanhas de sindicalização” (TRIBUNAMETALÚRGICA, nº 48, p. 5-8; grifos meus).

As resoluções do III Congresso foram ampla-mente divulgadas por meio de sua transposiçãopara uma história em quadrinhos, tendo comopersonagem central o João Ferrador, num trabalhode criação de Henfil e Laerte. Esse trabalho serviutambém para personalizar ainda mais o JoãoFerrador de “braços cruzados”, ou exibindo o“polegar da vitória”. Desde então, ele passou aser reconhecido não apenas nos jornais e nosfolhetos. Mas também aparecendo em camisas,bonés, broches etc.

Nos primeiros anúncios de 1979, João Ferra-dor indicava os livros que “falam da gente”. O

24 Consultei também NUNES, 1978.

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primeiro a ser apresentado era do advogado Antô-nio Possidônio Sampaio, que lançava A Capitaldo Automóvel. O editor do jornal Tribuna Meta-lúrgica, Antônio Carlos Felix Nunes, também lan-çava o livro Além da Greve, referido anteriormente.Não esquecendo a peça teatral de Henfil, Revistado Henfil, e os bailes de carnaval. Aliás, cabereproduzir o conselho do João Ferrador comrelação à peça teatral: “diverte e, ao mesmo tempo,ensina muita coisa sobre a luta que devemos aindafazer. No momento em que se discute a partici-pação dos trabalhadores em partido político, é bomver essa peça” (TRIBUNA METALÚRGICA, nº50, p. 15)25.

Outra iniciativa de mobilização dos trabalha-dores (citada anteriormente) – de fundamentalimportância no campo da comunicação sindical –é a veiculação de um suplemento diário. OSuplemento Informativo da Tribuna Metalúrgicaé um investimento como tantos outros naformação e no esclarecimento dos “companheiros”(SUPLEMENTO INFORMATIVO DA TRIBUNAMETALÚRGICA, fevereiro, 1979).

Em maio de 1979, um grupo de operários efilhas de operários metalúrgicos reunia-se na sededo sindicato, que há menos de dez dias estava sobintervenção. O grupo pretendia “realizar um traba-lho cultural a partir do sindicato, que além de seruma opção de lazer, pudesse também contribuirno crescimento e avanço da consciência da classeoperária. [...] O teatro era arma. [...] Formou-seassim o Grupo de Teatro Forja do Sindicato dosMetalúrgicos de São Bernardo do Campo. [...] Masnão era a primeira vez que esses operários sereuniram para falar de teatro. Alguns já haviamparticipado do extinto Grupo Ferramenta tambémdo sindicato” (cf. URBINATTI, 1981, p. 9; vertambém FESTA, 1984, especialmente p. 99-101).

Já em fins de 1978, na preparação da campanhasalarial para 1979, esse grupo de trabalhadoresmetalúrgicos havia se organizado para montar umapeça que pudesse ajudá-los no esclarecimento ena mobilização da categoria em torno do “contrato

coletivo de trabalho”, que era o eixo principal dacampanha. Baseado em entrevistas, Tin Urbinatti,coordenador geral, escreveu um “esquete ‘curtoe grosso’”: “O Contrato”, que em menos de ummês foi montado e apresentado no sindicato e nosbairros.

Depois da greve e da intervenção, o GrupoForja estava criado e tinha definido alguns de seusobjetivos: “atuar no sindicato, nos bairros e favelasonde moram os metalúrgicos; montar peças maiselaboradas artisticamente e peças mais simples(esquetes) para auxiliar mais diretamente nascampanhas deflagradas pelo sindicato”(URBINATTI, 1981, p. 10)26.

As lideranças sindicais, ao promoverem asatividades do departamento cultural e ao apoiaremas investidas teatrais dos trabalhadores, procura-vam construir laços sólidos com a sua categoria.A greve de 79, marcada pela intervenção nosindicato, acaba paradoxalmente produzindo umnovo “lugar da luta”: o Fundo de Greve. Escalda-dos com a experiência de 78, os líderes sindicaispropuseram a criação do fundo de greve, “quenos dará uma retaguarda maior nas lutas futurascontra os patrões exploradores e seu governoopressor”. Dentre as linhas a serem seguidas peloFundo pode-se destacar, por exemplo, arrecadarfundos, apoiar outras categorias, promoção deatividades nos bairros para arrecadação, motivara internacionalização da solidariedade dos povos,efetivar debates dentro das fábricas e nos bairros.Os Estatutos da Associação Beneficente e Culturaldos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo eDiadema, nome oficial do Fundo de Greve, foramaprovados em 07 de outubro de 1979. Em 28 deagosto de 1980, saiu o registro da Associação.Desta forma, no artigo 1o é ressaltado que aAssociação, com sede própria (mantendoautonomia em relação ao sindicato), é constituídacom as seguintes finalidades: “prestar auxíliofinanceiro ou em espécie aos trabalhadores meta-lúrgicos; arrecadar fundos para assistir estes mes-mos trabalhadores quando participantes em movi-mentos reivindicatórios ou que tenham sofridorepresálias por causa deles; promover o nívelcultural dos metalúrgicos mediante seminários,debates, shows, conferências e painéis e desenvol-ver o espírito de solidariedade entre os trabalha-

25 Vale registrar as outras peças de teatro que o João Ferradorindicava (no final de 1978) para os trabalhadores assistirem:Desgraça de Uma Criança de Martins Pena, com Grupo deTeatro Popular do SESI; Liberdade Camará de Miroel Silveira,encenada pelo Grupo ZUMBI do Centro Cultural GuimarãesRosa; e A Farsa do Truco e O Padre e o Cangaceiro, de Chico deAssis. Ver TRIBUNA METALÚRGICA, no 47, 1978, p. 11.

26 Maiores detalhes das greves de 78 e 79, ver PARANHOS,1999, p. 147-193.

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dores” (ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE E CUL-TURAL DOS METALÚRGICOS DE SÃO BER-NARDO DO CAMPO E DIADEMA, 1980, p. 1).

A constituição do Fundo de Greve significa amovimentação dos trabalhadores em mais um“lugar da luta”. Assim como a fábrica, o sindicato,o Paço Municipal, o Estádio de Vila Euclides, aPraça da Igreja Matriz e os bairros. Para isso, apartir de 1980, o jornal Tribuna Metalúrgica e oSuplemento propagam freqüentemente não apenasos cursos da escola do sindicato, as atividades dodepartamento cultural e o apoio ao Grupo de TeatroForja, mas também a importância da Associação:“venha contribuir para seu fundo de greve”.

Cabe esclarecer que no final de 1979 a diretoriado sindicato decidiu encerrar as atividades do CET.Com o supletivo fechado – em função de inúmerosfatores27, procurou-se manter e divulgar ampla-mente os cursos profissionais básicos, através deconvênios com o Senai. É importante destacarque “o fechamento do supletivo ocorreu, principal-mente, porque houve uma mudança na situaçãopolítica e sindical: no final da década de 70 aorganização do movimento passava mais pelacriação das comissões de fábrica, pela formaçãosindical dos metalúrgicos, pela profissionalizaçãode mais diretores, pela expansão dos meios decomunicação do sindicato. Portanto, os investi-mentos deveriam mudar de rumo, ou seja, da ma-nutenção do supletivo e outras atividades assis-tenciais para a organização de base. A escola haviaesgotado sua importância de meio auxiliar nomovimento. [...] Agora, convinha formar sindica-listas por outras vias” (PRIMO, 1996, p. 105).

No dia 7 de março de 1980 o Suplementopropagava a estréia do Sombra, denunciando asirregularidades nas fábricas. As notícias da Ford,da Brastemp, da Volks, entre outras, irão se juntaràs do Fundo de Greve (“Baile para ajudar o Fundode greve da categoria. Compareça....”). Assimcomo as notícias do Teatro: “Pensão liberdade” éo nome da peça que “o grupo Forja, formado portrabalhadores, irá apresentar domingo dia 9 às 20horas, no auditório do sindicato. [...] Compareçae traga a sua família” (SUPLEMENTO INFOR-

MATIVO DA TRIBUNA METALÚRGICA, 7/3/1980)28.

O Grupo Forja realizou no início do ano de1980 uma pré-estréia da peça, para os parentesdos atores, membros da comissão de salário e alg-uns diretores do sindicato. A estréia da peça Pen-são Liberdade aconteceu no dia 9 de março, nasede do sindicato, que estava totalmente ativadopara a campanha salarial.

No dia seguinte à estréia apareceu uma pessoaprocurando o departamento cultural do sindicato,e encontrando o seu diretor identificou-se comoagente da Polícia Federal. Solicitava que fossemencaminhadas três cópias do texto Pensão Liber-dade àquela repartição. Aliás, é importante evi-denciar que a peça registra como o operário vê osseus problemas, as lutas, o seu trabalho. Narra oque é a vida do operário através do dia-a-dia emuma pensão. Os temas dispostos mostram a lutana fábrica, o desemprego, o escritório, a escola,o sindicato, a assembléia, a greve e o piquete.

Assim, o Grupo Forja continuava a apresen-tação da peça no sindicato. Enquanto isso, os traba-lhadores metalúrgicos entraram em greve. As apre-sentações teatrais e as ações do Fundo de Greveagitavam o cenário São Bernardo. Em plena grevea Associação, mais do que nunca, procurava agili-zar as suas atividades. Tais como: a distribuiçãode alimentos às famílias dos operários e a confec-ção de cinco mil camisetas, com o desenho doJoão Ferrador para serem vendidas e o dinheiroposteriormente arrecadado pelo Fundo.

Todavia, houve novamente a intervenção nosindicato de São Bernardo. A partir desse instante,uma violenta repressão se desencadeou sobre omovimento grevista. Bombas, espancamentos eprisões eram rotina.

Após o término da greve de 80, os líderes sindi-cais cassados continuam dando sua contribuição.Mesmo afastados do sindicato eles procuravamorganizar e preparar as lutas mais imediatas. OFundo de Greve também estava nessa “briga dosdiabos”. Distribuindo alimentos e remédios, pro-

27 Um dos motivos para a extinção do CET foram as disputasinternas e a troca de críticas entre diretoria e corpo docente,particularmente com os professores ligados a agrupamentosde esquerda. Cf. PRIMO, 1996, p. 97-105.

28 Consultei também “Associação. Venha contribuir paraseu fundo de greve” (TRIBUNA METALÚRGICA, no 56,1980, p. 8). Como já havia mencionado anteriormente, o“Sombra” é outro personagem de “briga” veiculado pelojornal, a exemplo do João Ferrador.

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movendo uma campanha da associação com dis-tribuição da ficha de inscrição, nas portas das fá-bricas; vendendo livros produzidos pela Associa-ção e organizando o “Bazar da Pechincha”: “Du-rante dois dias inteiros, o companheiro vai podercomprar bem barato roupas novas e usadas, todotipo de material de artesanato, livros, camisetas ebonés do João Ferrador e até rever e bater papocom outros companheiros, tomando uma pingui-nha e comendo uma pipoca” (TRIBUNA META-LÚRGICA, nº 58, p. 7)29.

No decorrer dos anos 1971-1980, as matériasveiculadas pelas lideranças sindicais enfatizaramcrescentemente as campanhas salariais, os cursos,os congressos, as notícias culturais, as discussõessobre as possibilidades de luta na “cidade operária”,as “Notícias das Fábricas”, os esclarecimentosdas leis trabalhistas, as lutas nas fábricas, o coti-diano dos operários, a própria importância do sin-dicato (atendimento dos trabalhadores, denúnciasde empresas, assembléias e reuniões) e as grevesde 1978-1980. Cabe recordar que as greves serãoprecedidas pela campanha pela reposição em 1977;que procurou engajar o maior número de traba-lhadores com a distribuição do jornal e de um abai-xo-assinado nas fábricas, entre outras medidas.A diretoria – que auto-intitula-se o “novo sindica-lismo” – enfrentará as greves (1978-80) e procu-rará sempre orientar os grevistas: “O sindicato éo único órgão em que devemos confiar para resol-ver os nossos problemas” (TRIBUNA METALÚR-GICA nº 49, 1978, p. 1).

Assim, as matérias veiculadas a partir dasgreves de 1978 continuaram cada vez mais a esten-der o universo simbólico de identificação: as men-sagens do João Ferrador a cada número sofremuma mudança de imagem: agora de corpo inteiro,gesticulando, apontando, ironizando, debochando.As histórias em quadrinhos são freqüentes. Asmatérias sobre a participação política dos trabalha-dores (sobre “Partido dos Trabalhadores” – re-cém-fundado por alguns membros da diretoria epor outros segmentos sociais); os desenhos e ascharges; as festas e os bailes; as peças de teatro eos filmes; os bazares (para divulgação de livros) ea própria utilização de cores berrantes (vermelho,

principalmente) para o estímulo à leitura30.

Corria o ano de 1981. O Grupo de Teatro For-ja estava apresentando três trabalhos: Operário emConstrução, baseado em poesias de Vladimir Maia-kóvisky, Vinícius de Morais e Tiago de Melo. Eduas peças de teatro de rua – A Greve de 80 e oJulgamento Popular da Lei de Segurança Nacionale Greve do ABC. As duas últimas eram apre-sentadas nas ruas, praças, na Vila Euclides (Estádio1o de Maio), ou seja, nos locais onde a diretoriacassada realizava as assembléias da campanha sa-larial de 1981, pois o sindicato estava sob inter-venção federal.

Sem “a sua casa”, “sua oficina de trabalho queera o sindicato”, o Forja utilizava o espaço do Fun-do de Greve. Com estas peças, o Forja “cumpriaseus objetivos: 1) fazer um teatro que fosse umaopção cultural, de lazer para os trabalhadores e2) cumprir a função social do teatro de fornecersubsídios para a reflexão da própria vida erealidade”31.

O Fundo de Greve continuava promovendoatividades das mais diversas para a mobilizaçãodos trabalhadores na campanha salarial de 81. Osbailes eram uma medida freqüentemente utilizadapelos líderes sindicais. Serviam para arrecadarfundos, para a troca de experiências de vida, na-moros e, quem sabe até discutir algo sobre a cam-panha. É interessante observar que nas assem-

29 Consultei também o Suplemento Informativo dos Metalúrgicos,de 13 de novembro de 1980; e FESTA, 1984, p. 107-108.

30 Ao consultar os jornais O Metalúrgico (Órgão Oficial doSindicato dos Trabalhadores nas Indústrias M. M. e deMaterial Elétrico de São Paulo), Zé Ferrugem e O Metalúrgico(Órgão Oficial do Sindicato dos Trabalhadores nas IndústriasMetalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Recife,Olinda Paulista, Igarassu, São Lourenço da Mata, Jaboatão eCabo), foi possível constatar que a partir do final dos anos70 (1979) esses veículos começaram a se preocupar cominovações de linguagem e imagem. A exemplo do jornalTribuna Metalúrgica e do Suplemento vamos encontrar tambémpersonagens interessantes, como o Repórter Décio Malho, comnotícias das fábricas (São Paulo), e o Recado do Zé Ferrugem(1982 — Recife), com notícias das fábricas e da(s) cidade(s).Sobre a importância do universo simbólico dos jornaisoperários ver uma primeira reflexão em RODRIGUES,1991.31 Cf. URBINATTI, 1982, p. 15-16. Conferir a experiênciado Departamento Cultural do Sindicato dos Metalúrgicosde Santos, entre os anos de 1978 e 1981 em que estão incluídasas atividades do TEMETAL (Teatro dos Metalúrgicos), assimcomo as apresentações do teatro de rua, no mesmo período,dos bancários de São Paulo. Ver ARAÚJO, 1985, p. 250-259; e BLASS, 1992, p. 81-84.

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bléias promovidas nas ruas e nas praças, o GrupoForja não era a única atração para os trabalhadores.O ex-dirigente Luís Inácio da Silva recebia atençãoespecial do Suplemento. A presença dele – “LulaNa Paulicéia” – era considerada um chamativotambém importante para os “trabalhadores e o po-vo em geral.”. Afinal, “a luta por melhores condi-ções de vida é de todos!!!” (SUPLEMENTO IN-FORMATIVO DOS METALÚRGICOS, 19-02-1981).

O Suplemento procurava não apenas divulgaras atividades do Fundo de Greve. A campanhapara os sócios era intensa: “o sucesso das nossaslutas depende da nossa organização. Fique sóciodo Fundo de Greve”. A sua importância era enfa-tizada “na luta contra a legislação sindical fascistaque permite cassar os dirigentes eleitos por nós eintervir em nosso sindicato” (SUPLEMENTO IN-FORMATIVO DA TRIBUNA METALÚRGICA,23/2/1981).

Em agosto de 81, a Tribuna Metalúrgica saúdaa esmagadora vitória da Chapa I. A nova diretoria“assume a luta”. O jornal focaliza a importânciado Fundo e noticia as eleições para a renovaçãoda diretoria “do nosso FUNDO DE GREVE”.Naquele ano, o Fundo, que contava com cerca de3 mil sócios, recebia por isso elogios, pois “a cate-goria compreendeu a sua finalidade”. Os novoslíderes sindicais, a exemplo dos anteriores, esta-vam afinados com as propostas de um “sindica-lismo atuante”. Vale lembrar a palavra de ordem:“A Luta Continua/ Para Vencer o Patrão/ Na Rua/Na Fábrica/ Na Hora da Diversão” (SUPLE-MENTO INFORMATIVO DOS METALÚR-GICOS, 16-06-81; ver ainda TRIBUNA META-LÚRGICA, no 61, 1981, p. 7).

Em continuidade à política dos anos anteriores,as novas lideranças sindicais apostavam tambémnas iniciativas culturais. No mês de outubro temosduas promoções. A primeira patrocinada pela dire-toria era a apresentação da peça de Plínio Marcos,Homens de Papel. Após o espetáculo ocorreu umapalestra do autor com os presentes. A segundafoi O Ciclo de Palestras do Fundo de Greve, como tema Sindicato e a Luta dos Trabalhadores.

Entre os meses de novembro e dezembro va-mos encontrar bailes, palestras, filmes e peçasteatrais. Pode-se começar com o baile Noite Ha-waiana (no dia 14 de novembro de 1981) e com aexibição nos cines de São Bernardo, Santo Andrée em São Caetano do filme de Leon Hirszman:

Eles não usam Black Tie. A propósito, o Suple-mento jogou o maior peso na exibição desse filme,com diversas chamadas para o comparecimentodos trabalhadores. (“se você for sócio de qualquersindicato da região, pagará só meia entrada”.) Emvários números do jornal o depoimento de Djalmade Souza Bom era evidenciado: “Um filme dignode ser visto pelos metalúrgicos do ABCD, o seuconteúdo está muito ligado à luta da classe traba-lhadora”. Outro filme que também teve destaquefoi Os Libertários (1976), de Lauro Escorel Filho,que trata da história da luta da classe operária nosanos de 1900 a 1920. A história de São Bernardoaté às greves pôde ser vista na peça São Bernardo,Ensaio Geral, apresentada no sindicato. Assimcomo A Gaiola (do Grupo Forja, uma peça sobreo desemprego e a opressão do trabalhador nafábrica), Show de Emergência, do Grupo de TeatroDebate e A Vida na Favela do Grupo Teatral doJardim Silvina. Gostaria ainda de ressaltar a palestrade uma comissão de camponeses de Ronda Alta,no Rio Grande do Sul, que provocou agitação nostrabalhadores no sindicato. De acordo com o Su-plemento, “320 famílias estavam acampadas à beirade uma estrada enfrentando o cerco da polícia e apressão do governo para abandonar a luta” (SU-PLEMENTO INFORMATIVO DA TRIBUNAMETALÚRGICA, 3/12/1981). Entretanto, não épossível esquecer os outros bailes que ocorreram,apresentados pelo conjunto de Roberto Ferri oupelo MPB Trio32.

Gostaria também de observar um fato bastanteexplorado pelos líderes sindicais desde 1980. Ouseja, a luta dos trabalhadores poloneses ocupouum espaço significativo na imprensa sindical. Asatividades do sindicato independente polonêsSolidariedade eram vistas com satisfação e sinalde reforço na luta da classe trabalhadora. Os conta-tos políticos e culturais eram travados com fre-qüência pelas lideranças sindicais. Assim comopelo ex-dirigente e Presidente Nacional do Partidodos Trabalhadores, Luís Inácio da Silva. É interes-sante constatarmos que as experiências de lutanos dois países serviam de acúmulo para uma

32 Suplemento Informativo da Tribuna Metalúrgica, de novembroe dezembro de 1981. Cabe citar o artigo de Luís CarlosMerten, “A vitória do ponto de vista operário”. Nele, oautor examina filmes de Eisenstein (de A Greve) ao sucessodo brasileiro Eles não usam Black-Tie. Desse modo, salientauma análise da afirmação do cinema ideológico para grandesplatéias. Ver Coojornal, no 68, 1981, p. 20-21.

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reflexão de dirigentes sindicais e intelectuais sobrea consciência da classe operária. O Suplemento,por exemplo, estava preocupado em divulgar umnovo companheiro de luta, o Pé de Ferro, umboneco no estilo do João Ferrador no jornal dosmetalúrgicos de Salto e Itu. Contudo, a intençãode divulgar as atividades dos outros trabalhadores(metalúrgicos e outros setores) não se limitavaapenas ao Brasil. Os poloneses (e outros que eramcitados: alemães, franceses, japoneses etc.) tam-bém recebiam tratamento especial33. No meu en-tender, essas experiências serviam não apenas parasolidificar a identidade operária entre os “trabalha-dores do mundo”, segundo a expressão de E.Hobsbawn (1988, p. 163-202). Essas experiências— no sindicato e no partido —incluíam sobretudoo campo da cultura.

Para as lideranças sindicais de São Bernardo oimportante é tentar qualquer coisa para arrancaros trabalhadores de uma certa pobreza cultural,bem como da pressão a que estão submetidos pelosmodernos meios de comunicação. RelembrandoMarcel David, “na medida em que os conheci-mentos servem para estruturar o pensamento deum homem, trata-se de cultura” (DAVID, 1974,p. 302).

O ano de 1982 começava com o anúncio noSuplemento de um grande Show-Baile com Gonza-guinha, no conjunto Vera Cruz. Ainda no mês dejaneiro ocorreriam a 1a Feira de Cultura OperáriaPopular, os anúncios dos cursos da escola do sin-dicato e o baile de verão no sindicato. Simultanea-mente estava sendo agilizada a campanha salarialde 82. O Robô que Virou Peão foi a peça de teatrode rua com que o Grupo Forja auxiliou a diretoriado sindicato nas assembléias da campanha. Umteatro sem texto. Sem nenhuma palavra. Apenasmímica e gestos.

O Grupo Forja materializou alguns personagenscomo o João Ferrador, o Patronildo e o Sombra,que até então eram apenas estampados nos jornais

e boletins do sindicato ou nas camisetas do Fun-do de Greve. Desse modo, “o trabalhador via nasua frente o João Ferrador, o Sombra, ou oPatronildo, os quais vinham cumprimentá-lo. Per-sonagens que até então eram apenas imagens queestavam em seu pensamento, em sua memória,na sua cultura de peão do ABC” (URBINATTI,1982, p. 40)34.

Entre fevereiro e maio de 1982 o Suplementoesteve repleto de atividades culturais. A começarpor um Show-Baile e pelos bailes de Carnaval. OsCipeiros também estarão incluídos nessa rodacultural. O sindicato organizou um ciclo dereuniões com os representantes dos empregadosnas CIPAS. Nestas reuniões, os dirigentes sindicaisalém de fornecerem as informações técnicas sobredoenças e acidentes (“que os cursos oficiaisescondem do trabalhador”), também procuravamdebater com os trabalhadores as várias formas deatuação e as experiências nas diferentes fábricas.Na reunião do dia 12 de fevereiro foi projetado ofilme O Pó Nosso de Cada Dia, seguido de umdebate em grupo.

Uma iniciativa do departamento cultural, quefoi amplamente divulgada, foi a exibição do filmede Renato Tapajós, Linha de Montagem. O filmetrata das greves de 79 e 80 dos metalúrgicos deSão Bernardo do Campo e Diadema. Um filmehistórico que mostra as grandes assembléias noEstádio 1o de Maio, as prisões, as intervenções eas brigas com a polícia nas ruas. Na pré-estréiado filme no sindicato (no dia 13 de abril), estavampresentes Luís Inácio da Silva, Renato Tapajós eChico Buarque, autor da música do filme35.

No dia 18 de abril, acontece o II Seminário doFundo de Greve de São Bernardo do Campo eDiadema. Realizado no sindicato, o temário doseminário abordava dois pontos básicos: “O queé o Fundo de Greve e Objetivos” e “Relação Fundode Greve-Sindicato e Movimento Popular”. OSuplemento igualmente divulgou essa atividade porvários dias seguidos, antecedendo o II Seminário,assim como a palavra de ordem “Fique sócio doFundo de Greve”, que era repetida praticamenteem todos os números de 1982. O chamado para

33 “Esse é o ‘PÉ DE FERRO’. É o nosso novo companheirode luta!” (SUPLEMENTO INFORMATIVO DATRIBUNA METALÚRGICA, de 16-12-1981). Consulteitambém no mesmo jornal a matéria, “Todo o Apoio aosTrabalhadores Poloneses.” As referências aos trabalhadorespoloneses, japoneses, italianos, alemães, entre outros, estarãopresentes no Suplemento e na Tribuna Metalúrgica, no decorrerdos anos 70, sobretudo no final desta década e início dosanos 80.

34 Ver as fotos da peça O robô que virou peão no trabalhocitado. Consultei também o Suplemento do mês de janeiro de1982.35 Consultei o Suplemento entre os meses de fevereiro e maiode 1982, além do filme Linha de Montagem (1982).

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se associar ao Fundo incluía também a comprade livros e camisetas para arrecadação de fundos,não esquecendo as camisetas do João Ferrador eos pôsteres de Chaplin, Che Guevara, Lennon etc.

No mês de abril, vamos encontrar uma inicia-tiva sindical muito importante para os trabalhadoresmetalúrgicos. As lideranças sindicais, que já procu-ravam fornecer subsídios para a formação profis-sional dos operários com os cursos da escola dosindicato, lançavam uma novidade: o curso de“Formação Sindical”. A concepção desse cursodemonstra, no meu entender, uma preocupaçãopolítica e cultural significativa dos dirigentes sin-dicais de São Bernardo.

Assim, o Suplemento dava o seguinte conselho:“Companheiro: Faça o Curso de Formação Sindi-cal”. Afinal, ele representava “mais uma arma deluta em suas mãos!”. Em junho, o sindicato faziaum balanço do primeiro curso de formação sindi-cal, que havia começado com 50 trabalhadores dediversas fábricas. Ao explicar o funcionamentodeste, é possível acompanhar as intenções doslíderes sindicais. O curso sempre começava coma história presente. Os problemas que os traba-lhadores estavam enfrentando naquele momento.A cada semana havia um assunto dentro de umaseqüência: jornada de trabalho, desemprego,comissão de fábrica, Enclat, Conclat, entre outros.O trabalho de formação sindical era desenvolvidoatravés de audio-visuais, filmes, apostilas ilustradase cartilhas populares. Para a diretoria era funda-mental ressaltar que essa atividade contava “coma participação dos companheiros através da dinâ-mica de grupo onde cada um pode dar a sua opiniãolivremente e contribuir com sua experiência”. Porisso, era necessário “continuar com o curso deformação sindical. Só que agora não só com 50companheiros, mas 200 ou até mais. Muitos jáfalaram que vão participar quando começar outrocurso. Então chegou a hora. Faça sua inscriçãoneste 2o curso” (SUPLEMENTO INFORMATIVO

DA TRIBUNA METALÚRGICA, 3/6/1982)36.

Para as lideranças do “novo sindicalismo” fica-va claro o valor estratégico da formação sindical(“capacitação dos militantes”), assim como aformação profissional cumpriria o papel de quali-ficar a mão-de-obra. Por isso, deixando de lado aeducação básica dos trabalhadores (com o fecha-mento do CET) e reafirmando a importância dosconvênios com o SENAI, os dirigentes sindicaisao final da década de 70 acreditavam em umprocesso de formação dos operários que envolviacomunicação (os jornais Tribuna Metalúrgica eSuplemento), educação (congressos, cursos,palestras e debates, formação sindical) e cultura(festas, sessões de cinema, shows etc).

Temos ainda entre os meses de abril e maioalguns espetáculos teatrais e circenses. Há que sedestacar a apresentação das peças: Donde Co CeVem?, da Cooperativa Paulista de Teatro, A Ferroe a Fogo, do Grupo Apoena, Cavalheiro doDestino, do Grupo Tesol, A Cobra Gigante e osDois Vigias Valentes, de Natanael da CostaOliveira, com o Grupo de Teatro Mamulengo(Bonecos de Pernambuco) e A Festa do Pastoril,do grupo teatro-circo Alegria dos Pobres, daCooperativa Paulista de Teatro. Essas apresenta-ções no sindicato de São Bernardo encontraramainda outras companhias, ou seja, os artistas docirco. As estrepolias de Sabugo, Espoleta e Verô-nica vão provocar risos e gargalhadas nostrabalhadores do ABC. Assim como O MundoAlegre do Circo, com palhaços e equilibristas.

Destarte, podemos perceber que as liderançasde São Bernardo, ao procurarem mobilizar a cate-goria, instituem uma fala calcada em enunciadose imagens operárias que apontam para a própriaclasse trabalhadora. Sobretudo, um discurso de“apelo à palavra operária” – recordando a expressãode Geneviève Bollème, destinado à classetrabalhadora. As atividades propostas pelos líderesno sindicato, na fábrica, na greve, na cidade e nopaís, sugerem o empenho sindical em transpor ouniverso dos “homens de macacão”. Ao unirpolítica e cultura, os dirigentes sindicais inovamno discurso e na prática do movimento operáriodos anos 70. Assim sendo, ao visitar o sindicatode São Bernardo, encontrei estratégias, imagens,métodos e alvos de uma luta política e cultural.

Desse modo, voltando às atividades promovi-das pelo sindicato entre os meses de junho e

36 “Mais uma arma de luta em suas mãos!” (SUPLEMENTOINFORMATIVO DA TRIBUNA METALÚRGICA, de 3de junho de 1982). Consultei também o Curso de formaçãosindical (Proposta para 1982), SBC, dezembro de 1981; Cursode formação sindical/82, março/abril e julho/agosto. Na fasede implantação do trabalho de formação — período entre1981 e 1985 — o sindicato contratava assessores e técnicosque organizavam e ministravam cursos para os militantes epara a categoria em geral.Cf. PORTELA, 1990, especialmentep. 70-77.

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dezembro de 82, verifica-se a continuidade doseventos culturais como meio de mobilizar ostrabalhadores. No mês de junho, por exemplo, épossível destacar quatro atividades desenvolvidaspelos líderes sindicais: 1) uma palestra com ClaraSharf sobre “A Mulher Cubana e o Socialismo”;2) a utilização freqüente de charges e histórias emquadrinhos, algumas assinadas por Henfil; 3) oapoio decisivo a um outro curso de formaçãosindical; 4) a promoção do Fundo de Greve de uma“Tarde Cultural” no sindicato com várias ativi-dades, como o Bazar da Pechincha, o teatro infantile a exibição do Filme Linha de Montagem (Cf.SUPLEMENTO INFORMATIVO DA TRIBUNAMETALÚRGICA, junho de 1982).

Entre os meses de julho e agosto vamos encon-trar no Suplemento eventos como palestras (“SeteQuedas Vai Acabar”) e filmes (Perigos deIntoxicação na Empresa), assim como a promoçãodo Grupo de Teatro Forja (“Você Quer FazerTeatro?”) e os cursos da escola do sindicato.

No dia 28 de agosto, o Grupo de Teatro Tupida Vila Palmares apresenta no sindicato a peça AInvasão. Escrita por Dias Gomes, essa peça deteatro trata de problemas como falta de moradia,desemprego, falta de assistência médica erepressão policial e patronal. (Cf. SUPLEMENTOINFORMATIVO DA TRIBUNA METALÚR-GICA, nº 420, 1982).

Vários outros eventos são evidenciados naTribuna Metalúrgica, no Suplemento e nosfolhetos. Vale ressaltar a mensagem de um desses:“O departamento cultural do sindicato ‘arregaçaas mangas’ e promove uma série de atividadesculturais para o trabalhador e sua família. Alémdas dificuldades salariais, do desemprego ou dasprecárias condições de trabalho, o operário,enfrenta um outro problema, que é a falta de lazere de diversão. E tem mais. A cultura feita pelotrabalhador como a poesia, a música, o teatro etc.,nunca atingem os meios de comunicação como atelevisão e o rádio, porque tudo está nas mãos daclasse patronal ou do governo que é tudo farinhado mesmo saco. Por isso iremos promover deba-tes, teatro, festival de música, de poesia, biblioteca,Centro de Memória das nossas lutas, shows,cinemas etc. [...] a partir do dia 23 de setembrocomeçará o PRIMEIRO CICLO DE CINEMA.Compareça e traga sua família!” (O DEPAR-TAMENTO CULTURAL INFORMA. FOLHETO,1982).

O 1o Ciclo de cinema realizado no sindicatocontou com a participação de três filmes:O Homem que Virou Suco (1980), de João Batistade Andrade, Acontecimentos de Marusia (1975),de Miguel Littin, e A Mãe, de Vsevolod Pudovkin.

Destaca-se também as promoções de bailes eshows que ocorreram entre setembro e dezembrode 82, assim como dois debates organizados pelosindicato: 1) Como os Trabalhadores Tomaram oPoder em Moçambique, com a presença derepresentantes dos trabalhadores moçambicanos;e 2) com Domitila Chungara, líder sindicalboliviana exilada (Cf. SUPLEMENTO INFORMA-TIVO DA TRIBUNA METALÚRGICA, meses desetembro a dezembro de 1982).

Desta forma, encontramos também no ano de1982 o Grupo de Teatro Forja agitando ostrabalhadores com outro texto teatral. No dia 16de outubro, estreou a peça Pesadelo, escrita edirigida pelo Forja.

Aliás, merece ser frisado que o Grupo de Tea-tro Forja – representando a categoria metalúrgicade São Bernardo e Diadema, participou do IIFestival de Teatro Amador do ABC promovido pelaPrefeitura de Santo André em outubro de 82. Paraa felicidade do Grupo Forja e do próprio sindicato,a peça Pesadelo obteve a maioria dos prêmios.Recebeu troféus pelo melhor espetáculo, melhorcenário, melhor ator coadjuvante, melhor atrizcoadjuvante e medalhas de Menção Honrosa paraJonas dos Santos e Carlos (pelo trabalho de ator),Tin Urbinatti (direção) e figurinos do Grupo Forja.O Suplemento fez questão de destacar que ostroféus e as medalhas estavam em exposição nosindicato: “Com esse feito do Forja, a categoriametalúrgica de São Bernardo e Diadema dádemonstração de que é capaz de produzir não sódentro da fábrica, mas também de fazer a suacultura. A cultura do trabalhador, feita por elemesmo” (Cf. SUPLEMENTO INFORMATIVODA TRIBUNA METALÚRGICA, nº 450,novembro,1982).

Nesse momento, a “linguagem de classe” doslíderes sindicais de São Bernardo, ao determinaro sindicato, a fábrica, a greve, a cidade (“sindica-lismo de Base”) e o país como “lugares da luta”,simbolicamente constrói um discurso de unidadedos trabalhadores. A intenção é “mostrar para acategoria, como para todos os trabalhadores, quenão somos só metalúrgicos, mas que pertencemosà classe trabalhadora como um todo” (cf. RELA-

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TÓRIO DO SEMINÁRIO, São Bernardo do Cam-po e Diadema, maio de 1982, mimeo, p. 14-15).

Ao estabelecer esses enunciados e imagensoperárias, entre os anos de 1971 e 1982, aslideranças sindicais de São Bernardo buscamlegitimar suas lutas e determinar novos padrõesno movimento operário. No meu entender, pode-se acompanhar nos anos seguintes não apenas aconsolidação dos enunciados imagéticos, mastambém a instituição de novas imagens, metáforas,estratégias e um certo vocabulário.

Assim, entre os anos de 1983-84 os líderessindicais de São Bernardo continuaram apostandotodas as suas fichas: nas campanhas salariais; nasnotícias das fábricas; nos debates; nas históriasem quadrinhos; nos cursos de formação sindical;nos filmes; nas festas; no IV Congresso; nosshows; no João Ferrador e no Sombra. Mesmocom uma nova intervenção no sindicato (em1983), as várias atividades propostas serão levadasadiante. Cabe lembrar a importância determinantedo Fundo de Greve como “lugar da luta” – “QuemTá no Fundo, Não Afunda”, palavra de ordemrepetida freqüentemente nos jornais. Além do mais,o Fundo terá em junho de 1983 um Boletim-FG/Fundo de Greve no qual divulgará suaspromoções: os bailes, as festas, os torneiosesportivos ou outros eventos como “CachorroQuente e Domingo Cultural” (cf. BOLETIMFUNDO DE GREVE, nº 1, junho, 1983)37.

Em agosto de 83, concretizou-se a fundaçãoda Central Única dos Trabalhadores38, em SãoBernardo do Campo, sendo eleito como principaldirigente o então presidente do sindicato, JairMeneguelli.

Entre os anos de 1984 a 1988, podemosacrescentar outros enunciados imagéticos, tais

como: as atividades do Grupo Forja (A exibição,por exemplo, da peça O Operário em Construçãoem 1984); os bailes do sindicato, do Fundo deGreve e da CUT (“Bailão da CUT”); novos jornais(por exemplo: Jornal dos Trabalhadores daBRASTEMP); o V Congresso da categoria; o 1ºFestival de Música da Campanha Salarial de 1988;e também os primeiros planos de organização deum trabalho de base sistemático39.

Nesse sentido, cabe mencionar as novasestratégias estabelecidas pelo discurso sindical,num texto de maio de 88 intitulado “Trabalho debase: plano global de organização e formação”.Esse texto é composto de cinco itens: 1) Porqueeste plano, 2) O que é trabalho de base; 3) Aformação se dá na ação; 4) Necessidade de umplanejamento global; e 5) Proposta concreta. Noitem cinco, “proposta concreta”, gostaria deevidenciar as “pedras preciosas” para as liderançassindicais: 1) Planos e metas para as equipes dotrabalho de base, 2) Grupo de Fábrica nas em-presas com mais de 200 funcionários; 3) CIPAS;4) Comissões de Fábrica; 5) Sindicalização;6) Cursos, atividades culturais e TVT; 7) Im-prensa; 8) Saúde; 9) Mulheres; 10) Fundo deGreve e 11) Militância Geral (TRABALHO DEBASE: PLANO GLOBAL DE ORGANIZAÇÃO EFORMAÇÃO, 1988, p. 01-11). Não há dúvida deque, ao designar os enunciados imagéticos (osindicato, a fábrica, a greve, a cidade e o país), aslideranças sindicais de São Bernardo procuraramconstruir e incorporar esses “lugares da luta” àfala sindical, sem esquecer de redimensionar essesenunciados imagéticos, possibilitando novasimagens do movimento operário. Dois exemplosdesta afirmação podem ser apontados: a expe-riência pioneira da TVT - TV dos Trabalhadores,

39 Consultei o Suplemento entre os anos de 1984 e 1987. Verainda Jornal dos Trabalhadores da BRASTEMP, no 1, dezembro,1984; Jornal da Comissão (BRASTEMP), no 1, março, 1985;TRIBUNA METALÚRGICA, entre 1987 a 1988 (nesseperíodo, o jornal passou a ter uma circulação diária); eTRABALHO DE BASE: PLANO GLOBAL DEORGANIZAÇÃO E FORMAÇÃO, 1988.40 A TVT atua até hoje como produtora ligada formalmenteà Associação Beneficente e Cultural dos Metalúrgicos de SãoBernardo do Campo e Diadema — Fundo de Greve. A con-cessão do governo para atuar como uma emissora de TV nãofoi conseguida, assim como não foi liberado o direito a umafaixa de Rádio. Tanto num caso como no outro as condiçõestécnicas, o pessoal habilitado, os recursos e equipamentospara levar ao ar já estão assegurados. A TVT é formada por

37 Consultei também o SUPLEMENTO INFORMATIVODA TRIBUNA METALÚRGICA, anos 1983 a 1984;TRIBUNA METALÚRGICA, no 66, 1983; e GALVÃO,1996, p. 25-46.38 O Estatuto provisório da CUT, de 1983, já previa acriação de uma Secretaria Nacional de Formação, Educaçãoe Cultura. Apesar de a Secretaria já estar criada em 1984,suas atividades iniciam-se apenas em 1987 (cf. ROSA, 1985,especialmente p. 15-23). Em São Bernardo, em 1986, osindicato estrutura o trabalho de educação sindical e políticano Departamento de Formação. Cf. SINDICATO DOSMETALÚRGICOS DE SÃO BERNARDO DO CAMPOE DIADEMA, 1989, p. 53-73.

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nascida em 1986 no sindicato, e a propostaorganizativa referente às mulheres40.

Ao examinar o discurso sindical dos meta-lúrgicos de São Bernardo, foi possível com-preender a singular experiência vivida na décadade 70. Especialmente que a concepção de umaHistória do movimento operário, forjada emmoldes, regras e normatizações tradicionais,necessita de um fustigamento constante por partedos pesquisadores. Nesse sentido, tentei evidenciarao longo desse artigo, que a história desses traba-lhadores está mais para uma comparação com um

caleidoscópio do que com uma régua.

Assim sendo, entre os anos de 1971 e 1982,encontramos uma experiência operária signifi-cativa e determinante para os anos posteriores.Por meio de um discurso homogeneizador da“classe trabalhadora”, as lideranças sindicais deSão Bernardo apostam na possibilidade da liber-tação de uma sociedade de classes. Entretanto,pretendo distinguir uma questão tópica — que meparece necessária ao final deste artigo — ou seja,as atividades de educação sindical são capazes deresponder às exigências atuais do sindicalismo eda sociedade brasileira?

Por enquanto, reconheço que as liderançassindicais têm encontrado dificuldades ao traba-lharem no discurso e na prática, com as atividadesde educação sindical iniciadas nos anos 70. Toda-via, essas dificuldades podem apontar para novasaventuras e experiências no cenário das lutassociais nos próximos anos. Não é um caminhofácil. Mas a tentativa de ter dias melhores continua,apesar dos reveses. Afinal, a experiência operárianão tem hora e nem dia para terminar.

Recebido para publicação em março de 1999.

uma equipe de nove pessoas. Oito são ex-metalúrgicos quenão têm uma função fixa, podem ser câmeras, iluminadoresentre outros. A equipe mantém ainda um repórter comformação universitária fora do meio (por enquanto...). Essasinformações foram gentilmente cedidas pelo coordenadorda TVT, o ex-ferramenteiro Elizeu Marques da Silva (ex-integrante da Chapa I, de Jair Meneguelli) em uma entrevistano mês de dezembro de 1994. Ver também FESTA, 1991.Com relação a uma proposta organizativa referente às mu-lheres, cf. TRABALHO DE BASE: PLANO GLOBAL DEORGANIZAÇÃO E FORMAÇÃO, 1988; SINDICATODOS METALÚRGICOS DE SÃO BERNARDO DOCAMPO E DIADEMA, 1989, p. 53-73.

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