educação e tecnologias

1
Educação Educação [email protected] Juscelino Polonial Origens da educação formal em Anápolis Educação e Tecnologias: parceria de sucesso *Luciana Barbosa C. Carniello Especial para a Folha 670 A velocidade com que uma infor- mação circula pela Internet, al- cançando milhares de pessoas em al- guns segundos, é impressionante. Em um intervalo muito pequeno de tempo um vídeo, uma música ou a fa- la de alguém pode virar 'febre' no mundo todo. Um grande exemplo dis- so é a jovem Luiza, de João Pessoa, que desde o último dia onze tornou- se celebridade mundial pelo simples fato de ter seu nome citado em um comercial de TV, para venda de apar- tamentos de luxo na mesma cidade. O que levou à fama repentina da estudante de 17 anos foi justamente a Internet, uma vez que o vídeo foi publicado na rede internacional de computadores e, em menos de 48 horas, Luiza já era conhecida em to- do o mundo e dava entrevistas em telejornais. Analisando um fato co- mo este, podemos nos perguntar: "como usar esta influência da Inter- net sobre as pessoas de forma que assuntos relevantes e informações significativas também ganhem uma repercussão mundial, abrindo espa- ço para debates e discussões inteli- gentes e instigantes?" Podemos afirmar que grande parte dos responsáveis por essa pro- liferação instantânea de informações são os jovens. Considerados 'nativos digitais', por estarem em contato com as novas tecnologias desde seus primeiros anos de vida, os jo- vens de hoje utilizam as telas digitais (celulares e computadores, por exemplo) com uma facilidade que lh- es é peculiar. De posse de aparelhos portáteis com acesso à Internet, é como se eles carregassem o mundo na palma da mão. Com apenas al- guns cliques é possível fazer uma vi- sita virtual ao Museu do Louvre, ba- ter papo com um amigo no Japão en- quanto se escuta uma música e sal- va um vídeo. É esse o ritmo de exe- cução de atividades ao qual o jovem está acostumado. Não seria interes- sante para pais e educadores conhe- cerem este mundo? O que podería- mos fazer para que informações de fato relevantes também chamassem a atenção destes jovens na Internet? Enquanto educadora, formadora de professores e pesquisadora, per- cebo uma crescente necessidade de inserção tecnológica no cotidiano es- colar. A adoção de recursos tecnológi- cos neste ambiente se justifica por moti- vos diversos, sendo que um deles é jus- tamente esta habili- dade em executar várias tarefas, perti- nente aos jovens e que é contemplada através do uso des- tes recursos. Outro fator que depõe a favor do uso das tecnologias, como aliadas no proces- so de educação, é o aumento significativo das possibili- dades de abordagem de um determi- nado assunto, resultando em aulas muito mais atrativas e significativas tanto para os alunos quanto para os professores. A utilização de um proje- tor e de um computador com acesso à Internet pode possibilitar uma via- gem estática por todo interior do cor- po humano ou pela Grécia Antiga. Is- so sem falar no que podemos fazer em um laboratório de informática ou em sala de aula utilizando dispositi- vos móveis como celulares. Quando falamos sobre essa mo- dernização nas práticas de ensino en- caramos uma série de desafios e pré- conceitos equivocados. Um deles é de que a função do professor seria minimizada com o uso de tecnologias em sala de aula. Pelo contrário, o pa- pel do professor se fortalece e justifi- ca-se ainda mais, já que ele passa a ser mediador e organizador desse processo de aprendizagem onde a escola deixa de ser a única fonte de informação, ganhando como aliadas as sucessivas atualizações disponí- veis na Rede. A tarefa do professor torna-se mais nobre uma vez que ele deve estimular o aluno a pesquisar e analisar os resultados encontrados, ao invés de dar respostas imediatas. Atitudes como esta formam cidadãos mais conscientes e críticos e estimu- lam o planejamento de aulas mais di- nâmicas e significativas. Outro desafio que encontramos na busca pela conexão do mundo es- colar com aquele onde os jovens ha- bitam é de ordem estrutural e finan- ceira. Sabemos que não é um projeto barato, mas sem dúvida é um projeto que investe na formação de uma es- cola mais conectada com a realidade de seus alunos, fazendo com que es- tes vejam mais sentido no ato de sair de casa para ouvir seus professores. Analisando a realidade da rede municipal de ensino de Anápolis percebemos sinais visíveis e rele- vantes da preocupação em promo- ver um acesso amplo e consciente das mídias e seus recursos aos alu- nos das unidades escolares. Não podemos nos esquecer da necessi- dade de formação dos educadores para trabalharem mais à vontade com todas estas possibilidades, mantendo o foco pedagógico, e isso também tem sido percebido nesta rede de ensino. Enfim, "Tecnologias e Educação" é um tema bastante amplo e digno de bons debates, exi- gindo disposição, vontade e dispo- nibilidade para navegar por este mundo tão diversificado e com tan- tas possibilidades de aplicação. Anápolis, 3 a 9 de fevereiro de 2012 FOLHA 670 *Graduada em Licenciatura Plena em Ma- temática - UEG. Especialista em Educação Matemática do Ensino Básico e Superior - UEG. Especialização em Tecnologias em Edu- cação - PUC Rio (em andamento). Mestrado em Educação - UFG (em andamento) Vamos utilizar essa coluna do jornal para contar um pouco da história educacional de Anápolis, que teve sua origem ainda no século XIX e que hoje tem milhares de alunos, contabilizando matrículas do ensino básico ao ensi- no superior, fazendo da cidade uma referência na educação regional. Mas nem sempre foi assim. Enquanto o mundo ocidental vivia momentos de grandes transformações na passagem do século XVIII para o século XIX, como no setor econômico com a Revolução Industrial, na organização da política, com a consolidação da sociedade burguesa e libe- ral, e no campo social com a criação dos primeiros sindica- tos, a região onde seria a futura cidade Anápolis era forma- da por fazendas isoladas do mundo, desenvolvendo uma economia de subsistência e servindo de pouso para tropei- ros que cortavam a província de Goiás. Nesse século, a educação era vista como fundamental para o desenvolvimento da sociedade, e muitas teorias tenta- vam inovar no setor, como a do professor norte-americano John Dewey (1859-1952), defendendo que a educação deve valorizar o aluno e desenvolver nele a sua capacidade de raci- ocínio e espírito criativo. Era uma crítica à escola tradicional, esta centrada no professor. Dessas ideias e outras como a escola pública e gratuita e ensino laico, defendidas por outros filósofos como Rousseau (1712-1778), Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel (1782-1852) vai nascer a escola progressiva, que receberá o nome de Escola Nova. No Brasil, essas inovações vieram em 1882 com Rui Barbosa (1849-1923), mas só ganharam força com educadores como Lourenço Filho (1897-1970), Anísio Teixeira (1900-1971) e Fernando de Azevedo (1894-1974), que publicaram o Manifesto dos Pioneiros, em 1932, um do- cumento que denunciava a precariedade da educação brasi- leira no período, mas ao mesmo a importância de uma nova escola para colocar o Brasil nos rumos do progresso europeu. Se essa era a avaliação da educação brasileira pelos principais educadores no período, em Anápolis essa possi- bilidade de debate nem existia, pois no final do século XIX éramos apenas um pequeno arraial sem escolas para a sua população aqui existente. Na Verdade, desde 1819 a região já era habitada por fa- zendeiros e comerciantes de gado e percorrida por viajantes, tropeiros e religiosos. Aliás, já em 1833, os moradores da regi- ão faziam uma festa em homenagem à Sant’Ana, futura pa- droeira de Anápolis. No entanto, foi só em 1871 que teve início a construção da capela em homenagem à Santa, embora já existisse o povoado com pelo menos sete casas, além de inú- meros habitantes nas fazendas da região, perfazendo uma população de, aproximadamente, três mil habitantes. Para essa população não exista escola, pois pelo que nós sabemos apenas em 1873 é que vai ser autorizada a primeira escola no arraial, e somente para os homens. As mulheres só terão o benefício quase vinte anos depois, em 1891, quando já tínhamos uma população de mais ou menos cinco mil pes- soas. Ou seja, pelo menos a metade dessa população não ti- nha acesso a nenhum tipo de instrução regular. Eram escolas primárias, e assim vai ficar até a década de 1920, quando vai ser instalada a primeira escola secun- dária em Anápolis, autorizada pela portaria do dia 27 de fe- vereiro de 1925, pelo Secretário do Interior e Justiça, que concedeu uma licença para funcionar o Instituto de Ciên- cias e Letras de Anápolis. Portanto, durante décadas a população local não teve acesso a uma educação formal e, da educação secundária, só vai ter essa oportunidade um século depois de aqui chega- rem os primeiros moradores do Vale das Antas. No próximo artigo falaremos mais dessa década tão importante para a História de Anápolis e, particularmente, para a educação local. 18

Upload: luciana

Post on 20-Jul-2015

172 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

7Anápolis, 3 a 9 de fevereiro de 2012FFOOLLHHAA 670

EducaçãoEducaçã[email protected]

Juscelino Polonial

Origens da educaçãoformal em Anápolis

EEdduuccaaççããoo ee TTeeccnnoollooggiiaass::ppaarrcceerriiaa ddee ssuucceessssoo**LLuucciiaannaa BBaarrbboossaa CC.. CCaarrnniieellllooEspecial para a Folha 670

A velocidade com que uma infor-mação circula pela Internet, al-

cançando milhares de pessoas em al-guns segundos, é impressionante.Em um intervalo muito pequeno detempo um vídeo, uma música ou a fa-la de alguém pode virar 'febre' nomundo todo. Um grande exemplo dis-so é a jovem Luiza, de João Pessoa,que desde o último dia onze tornou-se celebridade mundial pelo simplesfato de ter seu nome citado em umcomercial de TV, para venda de apar-tamentos de luxo na mesma cidade.

O que levou à fama repentina daestudante de 17 anos foi justamentea Internet, uma vez que o vídeo foipublicado na rede internacional decomputadores e, em menos de 48horas, Luiza já era conhecida em to-do o mundo e dava entrevistas emtelejornais. Analisando um fato co-mo este, podemos nos perguntar:"como usar esta influência da Inter-net sobre as pessoas de forma queassuntos relevantes e informaçõessignificativas também ganhem umarepercussão mundial, abrindo espa-ço para debates e discussões inteli-gentes e instigantes?"

Podemos afirmar que grandeparte dos responsáveis por essa pro-liferação instantânea de informaçõessão os jovens. Considerados 'nativosdigitais', por estarem em contatocom as novas tecnologias desdeseus primeiros anos de vida, os jo-vens de hoje utilizam as telas digitais(celulares e computadores, porexemplo) com uma facilidade que lh-es é peculiar. De posse de aparelhosportáteis com acesso à Internet, écomo se eles carregassem o mundona palma da mão. Com apenas al-guns cliques é possível fazer uma vi-sita virtual ao Museu do Louvre, ba-ter papo com um amigo no Japão en-quanto se escuta uma música e sal-va um vídeo. É esse o ritmo de exe-cução de atividades ao qual o jovemestá acostumado. Não seria interes-sante para pais e educadores conhe-cerem este mundo? O que podería-mos fazer para que informações defato relevantes também chamassema atenção destes jovens na Internet?

Enquanto educadora, formadorade professores e pesquisadora, per-cebo uma crescente necessidade deinserção tecnológica no cotidiano es-

colar. A adoção derecursos tecnológi-cos neste ambientese justifica por moti-vos diversos, sendoque um deles é jus-tamente esta habili-dade em executarvárias tarefas, perti-nente aos jovens eque é contempladaatravés do uso des-tes recursos. Outrofator que depõe afavor do uso dastecnologias, comoaliadas no proces-so de educação, éo aumento significativo das possibili-dades de abordagem de um determi-nado assunto, resultando em aulasmuito mais atrativas e significativastanto para os alunos quanto para osprofessores. A utilização de um proje-tor e de um computador com acessoà Internet pode possibilitar uma via-gem estática por todo interior do cor-po humano ou pela Grécia Antiga. Is-so sem falar no que podemos fazerem um laboratório de informática ouem sala de aula utilizando dispositi-vos móveis como celulares.

Quando falamos sobre essa mo-dernização nas práticas de ensino en-caramos uma série de desafios e pré-conceitos equivocados. Um deles éde que a função do professor seriaminimizada com o uso de tecnologiasem sala de aula. Pelo contrário, o pa-pel do professor se fortalece e justifi-ca-se ainda mais, já que ele passa aser mediador e organizador desseprocesso de aprendizagem onde aescola deixa de ser a única fonte deinformação, ganhando como aliadasas sucessivas atualizações disponí-veis na Rede. A tarefa do professortorna-se mais nobre uma vez que eledeve estimular o aluno a pesquisar eanalisar os resultados encontrados,ao invés de dar respostas imediatas.Atitudes como esta formam cidadãosmais conscientes e críticos e estimu-lam o planejamento de aulas mais di-

nâmicas e significativas.Outro desafio que encontramos

na busca pela conexão do mundo es-colar com aquele onde os jovens ha-bitam é de ordem estrutural e finan-ceira. Sabemos que não é um projetobarato, mas sem dúvida é um projetoque investe na formação de uma es-cola mais conectada com a realidadede seus alunos, fazendo com que es-tes vejam mais sentido no ato de sairde casa para ouvir seus professores.

Analisando a realidade da redemunicipal de ensino de Anápolispercebemos sinais visíveis e rele-vantes da preocupação em promo-ver um acesso amplo e conscientedas mídias e seus recursos aos alu-nos das unidades escolares. Nãopodemos nos esquecer da necessi-dade de formação dos educadorespara trabalharem mais à vontadecom todas estas possibilidades,mantendo o foco pedagógico, e issotambém tem sido percebido nestarede de ensino. Enfim, "Tecnologiase Educação" é um tema bastanteamplo e digno de bons debates, exi-gindo disposição, vontade e dispo-nibilidade para navegar por estemundo tão diversificado e com tan-tas possibilidades de aplicação.

Anápolis, 3 a 9 de fevereiro de 2012FFOOLLHHAA 670

*Graduada em Licenciatura Plena em Ma-temática - UEG. Especialista em EducaçãoMatemática do Ensino Básico e Superior -UEG. Especialização em Tecnologias em Edu-cação - PUC Rio (em andamento). Mestradoem Educação - UFG (em andamento)

Vamos utilizar essa coluna do jornal para contar umpouco da história educacional de Anápolis, que teve

sua origem ainda no século XIX e que hoje tem milhares dealunos, contabilizando matrículas do ensino básico ao ensi-no superior, fazendo da cidade uma referência na educaçãoregional. Mas nem sempre foi assim. Enquanto o mundoocidental vivia momentos de grandes transformações napassagem do século XVIII para o século XIX, como no setoreconômico com a Revolução Industrial, na organização dapolítica, com a consolidação da sociedade burguesa e libe-ral, e no campo social com a criação dos primeiros sindica-tos, a região onde seria a futura cidade Anápolis era forma-da por fazendas isoladas do mundo, desenvolvendo umaeconomia de subsistência e servindo de pouso para tropei-ros que cortavam a província de Goiás.

Nesse século, a educação era vista como fundamentalpara o desenvolvimento da sociedade, e muitas teorias tenta-vam inovar no setor, como a do professor norte-americanoJohn Dewey (1859-1952), defendendo que a educação devevalorizar o aluno e desenvolver nele a sua capacidade de raci-ocínio e espírito criativo. Era uma crítica à escola tradicional,esta centrada no professor.

Dessas ideias e outras como a escola pública e gratuita eensino laico, defendidas por outros filósofos como Rousseau(1712-1778), Pestalozzi (1746-1827) e Freidrich Fröebel(1782-1852) vai nascer a escola progressiva, que receberá onome de Escola Nova. No Brasil, essas inovações vieram em1882 com Rui Barbosa (1849-1923), mas só ganharam forçacom educadores como Lourenço Filho (1897-1970), AnísioTeixeira (1900-1971) e Fernando de Azevedo (1894-1974),que publicaram o Manifesto dos Pioneiros, em 1932, um do-cumento que denunciava a precariedade da educação brasi-leira no período, mas ao mesmo a importância de uma novaescola para colocar o Brasil nos rumos do progresso europeu.

Se essa era a avaliação da educação brasileira pelosprincipais educadores no período, em Anápolis essa possi-bilidade de debate nem existia, pois no final do século XIXéramos apenas um pequeno arraial sem escolas para a suapopulação aqui existente.

Na Verdade, desde 1819 a região já era habitada por fa-zendeiros e comerciantes de gado e percorrida por viajantes,tropeiros e religiosos. Aliás, já em 1833, os moradores da regi-ão faziam uma festa em homenagem à Sant’Ana, futura pa-droeira de Anápolis. No entanto, foi só em 1871 que teve inícioa construção da capela em homenagem à Santa, embora jáexistisse o povoado com pelo menos sete casas, além de inú-meros habitantes nas fazendas da região, perfazendo umapopulação de, aproximadamente, três mil habitantes.

Para essa população não exista escola, pois pelo que nóssabemos apenas em 1873 é que vai ser autorizada a primeiraescola no arraial, e somente para os homens. As mulheres sóterão o benefício quase vinte anos depois, em 1891, quandojá tínhamos uma população de mais ou menos cinco mil pes-soas. Ou seja, pelo menos a metade dessa população não ti-nha acesso a nenhum tipo de instrução regular.

Eram escolas primárias, e assim vai ficar até a décadade 1920, quando vai ser instalada a primeira escola secun-dária em Anápolis, autorizada pela portaria do dia 27 de fe-vereiro de 1925, pelo Secretário do Interior e Justiça, queconcedeu uma licença para funcionar o Instituto de Ciên-cias e Letras de Anápolis.

Portanto, durante décadas a população local não teveacesso a uma educação formal e, da educação secundária,só vai ter essa oportunidade um século depois de aqui chega-rem os primeiros moradores do Vale das Antas. No próximoartigo falaremos mais dessa década tão importante para aHistória de Anápolis e, particularmente, para a educação local.

18