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DIREITO PENAL I *resumo por Fabiana Araujo Coura 1 A CIÊNCIA PENAL CONTROLE SOCIAL O fato que contraria a norma legal, ofendendo ou pondo em perigo um bem jurídico tutelado, é um ilícito jurídico e poderá ter consequência sem vários ramos do Direito. O Direito Penal constitui uma das espécies do sistema de controle social formal. Possui regras e princípios especiais, devendo ser utilizado apenas como ultima ratio, ou seja, para os casos de ofensas graves aos bens jurídicos fundamentais, os mais sensíveis à sociedade. 1.2 - O DIREITO PENAL Conceito, Características e Funções. O Direito penal é o ramo do direito público que se encarrega de selecionar condutas atentatórias aos mais importantes bens jurídicos sancionando-as com uma pena criminal ou medida de segurança. Tem por função primordial servir como modelo orientador de condutas adequadas, promovendo o normal funcionamento da vida em sociedade. O direito penal pertence ao direito público, pois seu objeto refere-se primordialmente às relações do Estado com particulares em razão de seu poder soberano, atuando na tutela do bem-estar coletivo. É possível dividir o direito penal em objetivo e subjetivo . O primeiro consiste no próprio ordenamento jurídico-penal, isto é, no conjunto de normas jurídicas que perfazem o sistema penal. O segundo, também chamado de jus puniendi estatal, corresponde ao direito de punir do Estado. Fontes As fontes do direito subdividem-se em fontes materiais, substanciais ou de produção e em fontes formais, de conhecimento ou de cognição. As fontes materiais indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penais As fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas. Somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal, porquanto não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Analogia Em Direito Penal A analogia é uma forma de suprimento (preenchimento) de lacunas (brechas) legislativas. Consiste em “aplicar, a um caso não contemplado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado”. Em direito penal, contudo, somente se admite a analogia in bonam partem, ou seja, aquela utilizada em benefício do sujeito ativo da infração penal. Proíbe-se, de outra parte, a analogia in malam partem, isto é, em prejuízo do sujeito ativo da infração penal, justamente por importar a criação de delitos não previstos em lei ou no agravamento da punição de fatos já disciplinados legalmente, atentando contra o princípio da legalidade. Há duas espécies de analogia: 1ª) analogia “legis”: dá-se com a aplicação de uma norma existente a um caso semelhante; 2ª) analogia “juris”: ocorre quando se baseia num conjunto de normas, visando retirar elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso concreto não previsto. 2 PRINCÍPIOS NORTEADORES, GARANTIDORES E LIMITADORES DO DIREITO PENAL 2.1 - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS Atuam como balizas para a correta interpretação e o justo emprego das normas penais, não se podendo cogitar de uma aplicação meramente robotizada dos tipos incriminadores...

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DIREITO PENAL I*resumo por Fabiana Araujo Coura

1 A CIÊNCIA PENAL

CONTROLE SOCIALO fato que contraria a norma legal, ofendendo ou pondo em perigo um bem jurídico tutelado, é um ilícito jurídico e poderá ter consequência sem vários ramos do Direito. O Direito Penal constitui uma das espécies do sistema de controle social formal. Possui regras e princípios especiais, devendo ser utilizado apenas como ultima ratio, ou seja, para os casos de ofensas graves aos bens jurídicos fundamentais, os mais sensíveis à sociedade.

1.2 - O DIREITO PENAL

Conceito, Características e Funções.O Direito penal é o ramo do direito público que se encarrega de selecionar condutas atentatórias aos mais importantes bens jurídicos

sancionando-as com uma pena criminal ou medida de segurança. Tem por função primordial servir como modelo orientador de condutas adequadas, promovendo o normal funcionamento da vida em sociedade.

O direito penal pertence ao direito público, pois seu objeto refere-se primordialmente às relações do Estado com particulares em razão de seu poder soberano, atuando na tutela do bem-estar coletivo. É possível dividir o direito penal em objetivo e subjetivo. O primeiro consiste no próprio ordenamento jurídico-penal, isto é, no conjunto de normas jurídicas que perfazem o sistema penal. O segundo, também chamado de jus puniendi estatal, corresponde ao direito de punir do Estado.

FontesAs fontes do direito subdividem-se em fontes materiais, substanciais ou de produção e em fontes formais, de conhecimento ou de cognição.As fontes materiais indicam o órgão encarregado da produção do direito penal.Em nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penaisAs fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas. Somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito

penal, porquanto não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

Analogia Em Direito PenalA analogia é uma forma de suprimento (preenchimento) de lacunas (brechas) legislativas. Consiste em “aplicar, a um caso não contemplado de

modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado”. Em direito penal, contudo, somente se admite a analogia in bonam partem, ou seja, aquela utilizada em benefício do sujeito ativo da infração

penal. Proíbe-se, de outra parte, a analogia in malam partem, isto é, em prejuízo do sujeito ativo da infração penal, justamente por importar a criação de delitos não previstos em lei ou no agravamento da punição de fatos já disciplinados legalmente, atentando contra o princípio da legalidade.

Há duas espécies de analogia: 1ª) analogia “legis”: dá-se com a aplicação de uma norma existente a um caso semelhante;2ª) analogia “juris”: ocorre quando se baseia num conjunto de normas, visando retirar elementos que possibilitem sua aplicabilidade ao caso

concreto não previsto.

2 PRINCÍPIOS NORTEADORES, GARANTIDORES E LIMITADORES DO DIREITO PENAL

2.1 - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAISAtuam como balizas para a correta interpretação e o justo emprego das normas penais, não se podendo cogitar de uma aplicação meramente

robotizada dos tipos incriminadores...

a)PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: Proíbe a incriminação de comportamentos socialmente inofensivos, isto é, que não provoquem dano efetivo ou lesão ao corpo social. b) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.c) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI PENAL: A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.d) PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM. : Ninguém pode ser condenado pelomesmo fato mais de uma vez; Logo, comportamentos que produzam lesões insignifi cantes aos objetos jurídicos tutelados pela norma penal devem ser considerados penalmente irrelevantes. A aplicação do princípio produz fatos penalmente atípicos. Na atualidade, a aceitação deste princípio é praticamente unânime. A divergência consiste, no mais das vezes, em defi nir, no caso concreto, se a lesão ao bem jurídico foi diminuta (e, portanto, penalmente relevante) ou insignifi cante (logo, atípica).f) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE OU DA TRANSCENDENTALIDADE: Proíbe a incriminação de atitude meramente subjetiva, que não ofenda bem jurídico alheio. Por conta desse princípio, não se pune a autolesão, salvo quando se projeta a prejudicar terceiros.g) PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE: Não há crime sem lesão efetiva ou ameaça concreta ao bem jurídico tutelado h) PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS (OU PRINCÍPIO DO FATO): Assim, toda norma penal em cujo teor não se vislumbrar um bem jurídico claramente definido e dotado de um mínimo de relevância social será considerada nula e materialmente inconstitucional. (...). i)PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: Somente se deve recorrer à intervenção do direito penal em situações extremas, como a última saída (ultima ratio).j) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE: Trata-se, na verdade, de uma característica do direito penal, mencionada por alguns autores também sob a forma de princípio, estabelecendo que as normas penais somente se devem ocupar de punir uma pequena parcela, um pequeno fragmento dos atos ilícitos, justamente aquelas condutas que violem de forma mais grave os bens jurídicos mais importantes.k) PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL: O fato deixará de ser típico quando aceito socialmente. Ex: “Contravenção Penal ‘jogo do bicho’

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l) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE: As normas penais devem sempre dispensar tratamento humanizado aos sujeitos ativos de infrações penais, vedando-se a tortura, o tratamento desumano ou degradante (CF, art.5º, III), penas de morte, de caráter perpétuo, cruéis, de banimento ou de trabalhos forçados.m)PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: Quando a criação do tipo penal não se revelar proveitosa para a sociedade, estará ferindo o princípio da proporcionalidade.n) PRINCÍPIO DA AUTORRESPONSABILIDADE OU DAS AÇÕES A PRÓPRIO RISCO: Aquele que, de modo livre e consciente, e sendo inteiramente responsável por seus atos, realiza comportamentos perigosos e produz resultados lesivos a si mesmo arcará totalmente com seu comportamento.o) PRINCÍPIO DA CONFIANÇA: Uma pessoa não pode ser punida quando, agindo corretamente e na confiança de que o outro também assim se comportará, dá causa a um resultado não desejado.p) PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA OU PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (CF, art. 5º, LVII).q) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE:.Segundo o qual se admite responsabilidade penal objetiva, ou seja, desprovida de dolo ou culpa ou carente de culpabilidade; a pena há de ser dosada segundo o grau de reprovabilidade da conduta do agente.

3 TEORIA DA NORMA JURÍDICO-PENAL

Lei penal x Norma penalLei penal: designa o enunciado legislativo, ou seja, o fato descrito e a pena.Norma penal: Refere-se ao comando normativo implícito na lei, isto é, a norma de conduta imposta a todos (ex.: no caso do homicídio simples:

“não matarás”).

3.1- A NORMA JURÍDICA

No direito penal, reveste-se das seguintes características:a) imperatividade: impõe-se a todos independentemente de sua vontade ou concordância;b) exclusividade: somente a ela cabe a tarefa de definir infrações penais;c) generalidade: incide sobre todos, generalizadamente;d) impessoalidade: projeta-se a fatos futuros, sem indicar a puniçãoa pessoas determinadas.

3.2- CLASSIFICAÇÃO:

Incriminadora e Não Incriminadora. A primeira compreende todos os dispositivos penais que descrevem condutas e lhes cominam uma pena. Compõe-se do preceito ou preceito

primário — descrição da conduta proibida — e da sanção ou preceito secundário — quantidade e qualidade da(s) pena(s) aplicável(eis). Seu comando normativo pode ser proibitivo ou mandamental Nos crimes comissivos, a lei penal descreve e pune uma ação esperando que todos se abstenham de praticá-la; trata-se de uma norma proibitiva. Nos crimes omissivos, a lei penal descreve uma omissão (um não fazer), porque espera de todos, naquela determinada situação, um comportamento ativo; trata-se de uma norma mandamental (ex.: a lei penal manda agir, sob pena de, omitindo-se, receber uma pena). A norma penal não incriminadora, por sua vez, subdivide-se em explicativa ou complementar, e permissiva. (restringe o direito de punir do Estado).

3.3-NORMA PENAL DO MANDATO EM BRANCO – confronto com o princípio da legalidadeTrata-se da lei cujo preceito primário é incompleto, embora o preceito secundário seja determinado. Tal lei tem de ser completada por outra, já

existente ou futura, da mesma hierarquia ou de hierarquia inferior. Entende-se por lei penal em branco homogênea aquela cujo complemento se encontra descrito numa fonte formal da mesma hierarquia da norma incriminadora, ou seja, quando o complemento também está previsto numa lei ordinária (ou outra espécie normativa equivalente). E heterogênea é aquela cujo complemento está descrito em fonte formal distinta daquela do tipo penal incriminador.

3.4 - CONFLITO APARENTE DE NORMASUm mesmo fato concreto não pode ser enquadrado em vários tipos penais. Portanto, se aparentemente ocorrer a incidência de mais de um tipo

penal a um mesmo fato, caberá ao intérprete, socorrendo-se dos princípios da especialidade, consunção, subsidiariedade ou alternatividade, resolver o conflito, apontando o correto enquadramento.

PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE Dá-se quando existir, entre as duas normas aparentemente incidentes sobre o mesmo fato, uma relação de gênero e espécie. Será especial e,

portanto, prevalecerá a norma que contiver todos os elementos de outra (a geral), além de mais alguns, de natureza subjetiva ou objetiva, considerados especializantes.

Ex.: se a mãe mata o filho durante o parto, sob a influência do estado puerperal, incorre, aparentemente, nos arts. 121 (homicídio) e 123 (infanticídio). Note que esse confl ito se resolve abstratamente, isto é, basta a comparação entre as duas normas, em tese, para saber qual delas é a especial.

PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE A relação de subsidiariedade pressupõe que haja entre as normas aparentemente aplicáveis uma relação de conteúdo a continente. Há uma

norma mais ampla (norma primária), porque descreve um grau maior de violação ao bem jurídico, e uma norma menos ampla (norma subsidiária), pois descreve um grau inferior de violação a esse mesmo bem. A diferença que existe entre especialidade e subsidiariedade é que os fatos previstos em uma e outra norma não estão em relação de espécie

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e gênero, e se a pena do tipo principal (sempre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa, a pena do tipo subsidiário pode.

A norma aplicável será sempre a que previr o maior grau de violação(lei primária).

PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO OU DA ABSORÇÃO Ocorre a relação consuntiva, ou de absorção, quando um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de

preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime (...). Os fatos não se apresentam em relação de espécie e gênero, mas de minus a plus, de conteúdo..

a) Progressão criminosa em sentido estrito: o agente inicia o iter criminis com o objetivo de provocar determinada lesão a um bem jurídico; após conseguir seu intento, muda de ideia e busca provocar umgrau maior de violação ao mesmo bem jurídico.

b) Antefactum impunível: quando um fato anterior menos grave é praticado como meio necessário para a realização de outroc) Post factum impunível: quando o agente, após praticar o fato,provoca nova violação ao mesmo bem jurídico.

PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADEEste princípio tem lugar nas infrações penais de ação múltipla ou conteúdo variado, que são aqueles tipos penais que possuem diversos núcleos

(verbos).

4. VALIDADE E EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO4.1

4.1 - CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPOQuando várias leis penais que tratam do mesmo assunto de modo distinto se sucedem no tempo, deve o intérprete definir qual delas será

aplicada ao fato. A regra é que a lei que deve ser aplicada é a vigente ao tempo da prática do fato criminoso, de acordo com o princípio do tempus regit actum. Contudo, existem exceções e elas se dividem em retroatividade (aplicação da lei a fatos cometidos antes da sua vigência quando for mais benéfica) e ultra-atividade (a lei penal revogada pode ser aplicada após sua revogação, quando o ilícito praticado durante a sua vigência for sucedido por lei mais severa).

Obs.: *SUMULA 711 DO STF, se crime cometido na vigência da lei menos grave, mas cuja execução se prolongue até a entrada em vigor da lei mais grave, poderá ser aplicada esta última. Não há nisso nenhuma violação irretroatividade gravosa. De fato,a lei mais grave está sendo aplicada simplesmente porque o crime ocorreu durante sua vigência. Embora parte da doutrina discorde da súmula, ela atualmente é posição majoritária.

4.2 -LEIS EXCEPCIONAIS E LEIS TEMPORÁRIASDe acordo com o art. 3º do CP. É considerada excepcional a lei elaborada para incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas

circunstâncias excepcionais, como situações de crise social, econômica, guerra, calamidades etc. E temporária aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período de tempo. A doutrina costuma afirmar que as leis excepcionais e temporárias são leis ultrativas, ou seja, que produzem efeitos mesmo após o término de sua vigência. Na verdade, não se trata do fenômeno da ultratividade uma vez que, com o passar da situação excepcional ou do período de tempo estipulados na lei, ela continua em vigor, embora não mais seja aplicável.

4.3 -TEMPO DO CRIMEDentre as três teorias possíveis na matéria: teoria da atividade, teoria do resultado e teoria da ubiquidade (ou mista), o CP adotou a primeira.

Considera-se praticado o crime ao tempo da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado.a) Delimitação da responsabilidade penal: com base na regra do art. 4º do CP torna-se possível delimitar o exato momento em que o agente

passará a responder criminalmente por seus atos, o que ocorre no primeiro minuto de seu 18º aniversário. b) Delimitação da lei penal aplicável: nos crimes materiais ou de resultado, a conduta pode ocorrer num momento, e o resultado, depois. Por

força do art. 4º do CP, deve-se considerar o momento da conduta;.

*Crime continuado : Qdo o agente pratica dois fatos quando menor de 18 anos e um terceiro quando maior, todos em continuidade delitiva. Aos dois primeiros fatos aplicar-se-á o ECA, e ao último, o CP.

4.4 - A LEI PENAL NO ESPAÇOO CP defi niu no art. 6º o lugar do crime, adotando a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual o crime se considera praticado tanto no

lugar da conduta quanto naquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. São chamados crimes a distância ou de espaço. Imagine a hipótese de um agente iniciar a execução de um crime na Argentina, visando produzir o resultado no Brasil, ou o inverso. Em ambos os casos, os delitos serão considerados como ocorridos em território nacional, de modo que a lei penal brasileira a eles se aplicaria. Como dizia Hungria, basta que o crime tenha “tocado” o território nacional para que nossa lei seja aplicável.

Foro competenteÉ competente o foro do local em que o crime se consumou (ou, no caso de tentativa, o do local em que se deu o último ato executório).

Territorialidade da lei penalO art. 5º do CP, a lei penal brasileira aplica-se em todo o território nacional, ressalvado o disposto em tratados, convenções ou regras de direito

internacional. Trata-se do princípio da territorialidade temperada oumitigada. Por território (sentido jurídico) deve-se compreender todo o espaço em que o Brasil exerce sua soberania, que abrange:a) os limites compreendidos pelas fronteiras nacionais;b) o mar territorial brasileiro c) todo o espaço aéreo subjacente ao nosso território físico e ao mar territorial nacional

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d) as aeronaves e embarcações

Extraterritorialidade da lei penalExtraterritorialidade é o fenômeno pelo qual a lei penal brasileira se aplica a fatos ocorridos fora do território nacional. Subdivide-se em

extraterritorialidade condicionada ou incondicionada. Nesta, a lei brasileira aplicar-se-á ao crime praticado no exterior, independentemente do preenchimento de qualquer requisito ou condição.

*extraterritorialidade incondicionada, nas seguintes hipóteses:

a) crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;b) crime contra o patrimônio ou contra a fé pública da União, doDistrito Federal, dos Estados, dos Municípios ou dos Territórios, ou suas autarquias, das empresas públicas, das sociedades de economia mista

oudas fundações instituídas pelo Poder Público;c) crime contra a administração pública brasileirad) crime de genocídio, se o agente for brasileiro ou domiciliadono Brasil.

*extraterritorialidade condicionada ocorre em relação às seguintesinfrações:a) crimes previstos em tratado ou convenção internacional que o Brasil se obrigou a reprimir;b) crimes praticados por estrangeiro contra brasileiro, fora do nosso território (se não foi pedida ou se foi negada a extradição e se houve

requisição do Ministro da Justiça);c) crimes praticados por brasileiro;d) crimes praticados a bordo de navio ou aeronave brasileiros privados, quando praticados no exterior e ali não forem julgados.

Condições aplicáveis aos casos de extraterritorialidade condicionadaSão as seguintes:a) entrada do agente no território nacional (condição de procedibilidade);b) ser o fato punível também no país em que cometido;c) estar o crime entre aqueles a que a lei brasileira admite a extradição;d) não ter sido o agente absolvido ou não ter cumprido pena no estrangeiro;e) não ter sido perdoado e não se tiver extinguido sua punibilidade, segundo a lei mais favorável

Extraterritorialidade na Lei de TorturaA Lei n. 9.455, de 1997, que tipifica o delito de tortura. non bis in idem o qual proíbe seja alguém condenado duas vezes pelo mesmo fato).Sendo assim, a pena cumprida no estrangeiro: a) atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas;

5. TEORIA DO DELITO

5.1 O CARÁTER FRAGMENTÁRIO DO DIREITO PENALUma das principais características do direito penal reside em sua fragmentariedade. Apesar da multiplicidade de atos ilícitos existentes, apenas

uma pequena parcela interessa a esse ramo do direito; tal parcela compreende os atos que ofendem de modo mais grave.

5.2 CONCEITO DE CRIME

Os penalistas, então, na tentativa de cumprir essa árdua missão, apresentam uma série de conceitos, ora enfatizando o aspecto puramente legislativo (conceitos formais), ora procurando investigar a essência do instituto (conceitos materiais), ora verificando os elementos constitutivos do crime (conceitos analíticos). Tradicionalmente, os conceitos analíticos têm sido o foco central da preocupação dos juristas brasileiros.

Conceito material e formalMaterial, crime pode ser definido como toda ação ou omissão consciente, voluntária e dirigida a uma finalidade, que cria um risco

juridicamente proibido e relevante a bens considerados essenciais para a paz e o convívio em sociedade. E formalmente, crime é a conduta proibida por lei, com ameaça de pena criminal (prisão, pena alternativa ou multa).

Conceito analíticoSob o pretexto de investigar quais os elementos constitutivos do crime, duas grandes teorias despontam no Brasil, a primeira defendendo que

crime é o fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável (teoria tripartida); a outra sustentando ser tal ilícito o fato típico e antijurídico (ou ilícito) (teoria bipartida). Não se pode ignorar a existência de autores asseverando que crime

é o fato típico, antijurídico, culpável e punível. Essa visão, contudo, tem pouco prestígio na doutrina. Assim, se um crime foi cometido há muito tempo, provavelmente o seu responsável não mais possa ser punido porque o fato terá sido atingido pela prescrição (causa extintiva da punibilidade — art. 107, IV, do CP). O crime, entretanto, subsiste, apesar da extinção da punibilidade.

Costuma-se designar como “clássico” o autor que diz ser o crime fato típico, ilícito e culpável, e “finalista” aquele que afirma ser fato típico e ilícito.

No Brasil, há o entendimento é que crime é o fato típico e antijurídico. O conceito tripartido, elaborado da seguinte forma: fato típico, antijurídico e culpável, é o predominante na doutrina, apesar de haver vários adeptos da corrente bipartida no Brasil. Quase a totalidade absoluta dos

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manuais de Direito penal adota esse sistema. Os efeitos da opção pelo conceito tripartido ou bipartido são muito mais teóricos do que práticos; pois para ambas as correntes se não houver a culpabilidade não haverá a imposição de pena.

5.3 SISTEMAS PENAIS E OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CRIME a) sistema clássicob) sistema neoclássicoc) sistema finalistad) sistema funcionalista(*ver pag 44 a 64)

6. FATO TÍPICO Fato típico é o fato humano que se adequa perfeitamente ao tipo penal.

6.1 CONDUTAA conduta deve ser entendida como a ação ou omissão humana, consciente e voluntária dirigida a uma finalidade. Seus elementos são:

exteriorização, consciência e voluntariedade. Faltando um desses elementos, não há falar em conduta. Omissão é a conduta negativa que consiste na abstenção de um movimento. É o deixar de fazer algo penalmente relevante. Há duas espécies de crimes omissivos: crimes omissivos próprios e crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão). Os crimes omissivos próprios são crimes de mera conduta, o tipo penal nem sequer faz uma referência à ocorrência de um resultado no mundo exterior, ou seja, basta o sujeito se omitir para estar configurado o tipo. Nos crimes omissivos impróprios (omissivos por omissão), o tipo penal descreve uma conduta positiva, ou seja, uma ação. O sujeito responde pelo crime porque estava juridicamente obrigado a impedir a ocorrência do resultado.

6.2 RESULTADO

Há duas teorias: 1ª) teoria naturalística: resultado é a modificação no mundo exterior provocada pela ação ou omissão; 2ª) teoria jurídica: resultado é a lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal.

Classificação dos crimes quanto ao resultado naturalístico

a) Materiais ou de resultado: o tipo penal descreve a conduta e um resultado material, exigindo-o para fins de consumação. Exemplos: homicídio

b) Formais: o tipo penal descreve a conduta e o resultado material, porém não o exige para fins de consumação. Exemplos: extorsão (CP art. 158), extorsão mediante sequestro (CP, art. 159)

c) De mera conduta: o tipo penal não faz nenhuma alusão a resultado naturalístico, limitando-se a descrever a conduta punível independentemente de qualquer modificação no mundo exterior. Exemplos: omissão de socorro (CP, art. 135)

Classificação dos crimes quanto ao resultado jurídico

a) De dano ou de lesão: quando a consumação exige efetiva lesão ao bem tutelado. Ex: homicídio (CP, art. 121)b) De perigo: caso a consumação se dê apenas com a exposição do bem jurídico a uma situação de risco. Exemplos: perigo de contágio

venéreo (CP, art. 130), pode ser de Perigo Concreto (demonstrado) ou Abstrato (por ação ou omissão)

6.4 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (NEXO CAUSAL)

Nexo de causalidade consiste justamente nesse vínculo ou liame que une a conduta ao resultado nos crimes materiais.Várias teorias se preocupam em definir o critério para constatar o nexo causal:

a) teoria da equivalência dos antecedentes: Sustenta que todo fator que de forma direta ou indireta exerceu alguma influência no resultado deve ser considerado como sua causa;

b) teoria da causalidade adequada: Apenas se reputa causa do resultado a circunstância mais adequada a produzi-lo, se um homem dotado de conhecimentos medianos poderia antever o resultado como provável ou possível na situação em que o agente se encontrava;

c) teoria da imputação objetiva do resultado: defende que a causalidade natural, fundada na teoria da equivalência dos antecedentes, leva a exageros que devem ser limitados pela verifi cação da existência de relação de imputação objetiva entre a conduta e o resultado.

Causas dependentes e Independentes

ESPÉCIES DE CAUSAAs dependentes encontram-se na mesma linha do desdobramento causal. Originam-se na conduta, e o resultado é totalmente dependente dessa

conduta. As causas podem ainda ser independes quando o resultado não tem origem na conduta.Aquelas são as que se originam na conduta do agente e se inserem dentro da sua linha de desdobramento causal natural, esperado. Trata-se

daquilo que normalmente acontece. Em se tratando de causas dependentes, o agente responderá por todos os seus desdobramentos.As independentes, de sua parte, são as que, originando-se ou não da conduta, produzem por si sós o resultado e configuram algo que

normalmente não acontece. São eventos inusitados, inesperados (ex.: uma pequena ferida incisa, normalmente, não é capaz de levar à morte, mas isso pode ocorrer se a vítima for hemofílica).Quanto às causas independentes, é preciso distinguir entre as causas absoluta e as relativamente independentes da conduta do agente.Quanto às causas independentes, é preciso distinguir entre as causas absoluta e as relativamente independentes da conduta do agente.

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1) Causas absolutamente independentes: são as que produzem por si sós o resultado e não têm qualquer origem ou relação com a conduta praticada pelo sujeito. Como nesse caso o resultado ocorreria de qualquer maneira, com ou sem o comportamento realizado, fi ca totalmente afastado o nexo de causalidade

Subdividem-se em preexistentes (se anteriores à conduta do agente), concomitantes (quando ocorrem ao mesmo tempo) ou supervenientes (se posteriores).

Exemplos:a) efetuar disparos de arma de fogo, com intenção homicida, em pessoa que falecera minutos antes (causa preexistente);b) atirar em pessoa que, no exato momento do tiro, sofre ataque cardíaco fulminante que não guarda relação alguma com o disparo (causa

concomitante);c) ministrar veneno na comida da vítima, que, antes que a peçonha faça efeito, vem a ser atropelada (causa superveniente; nesse caso, o agente

só responde pelos atos praticados, ou seja, por tentativa de homicídio). Lembre-se de que em todas as causas absolutamente independentes ficará afastada a relação de causalidade entre a conduta do sujeito e o resultado produzido, razão pela qual o sujeito apenas responderá pelos atos praticados, não sendo possível imputar-lhe o resultado final

*Atenção: as causas absolutamente independentes sempre rompem o nexo causal, de modo que o agente nunca responderá pelo resultado; somente pelos atos praticados; as causas relativamente Independentes não rompem o nexo causal, motivo por que o agente, se a conhecia ou se, embora não a conhecendo, podia prevê-la, responde pelo resultado (salvo na causa superveniente).

2) Causas relativamente independentes: São as que, somadas à conduta do agente, produzem o resultado. De regra, não se exclui o nexo de causalidade, de forma que o resultado poderá ser atribuído ao agente, que por ele responderá. Também se subdividem em preexistentes, concomitantes ou supervenientes.

Exemplos: a) Efetuar ferimento leve, com instrumento cortante, num hemofílico, que sangra até a morte (a hemofilia é a causa preexistente que, somada à conduta do agente, produziu a morte) b) Efetuar disparo contra a vítima que, ao ser atingida pelo projétil, sofre ataque cardíaco, vindo a morrer, apurando-se que a soma desses fatores produziu a morte (considere, nesse caso, que o disparo, isoladamente, não teria o condão de matá-la, o mesmo ocorrendo com relação ao ataque do coração — causa concomitante). Nas causas relativamente independentes supervenientes não há, por força de lei, nexo causal.