direito penal iii programa esquematizado de aula

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Isaac de Luna Ribeiro Material auxiliar para acompanhamento das aulas de Direito Penal III | 2010 PROGRAMA ESQUEMATIZADO DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL

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Isaac de Luna Ribeiro

Material auxiliar para acompanhamento das aulas de Direito Penal III |

2010

PROGRAMA

ESQUEMATIZADO

DIREITO PENAL

PARTE ESPECIAL

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 2

FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS

BACHARELADO EM DIREITO

DIREITO PENAL III - PARTE ESPECIAL

Primeiro Módulo

MATERIAL AUXILIAR PARA ACOMPANHAMENTO DAS AULAS1

Prof. Isaac de Luna Ribeiro*

1 ATNAÇÃO: O presente material não substitui os textos doutrinários indicados na bibliografia sugerida para a disciplina de Direito Penal Especial III, tratando-se de mero roteiro de aulas. Fica, desde já, expressamente desautorizada a modificação, distribuição ou comercialização do conteúdo deste material, podendo, entretanto, ser utilizado para fins acadêmicos, desde que citada a fonte. * Graduado em Direito; mestre em Filosofia, Sociologia e Teoria Geral do Direito (UFPE) e especialista em Ciência Política pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Professor do curso de Direito da graduação e da pós-graduação da Faculdade Maurício de Nassau (FMN) e do programa de pós-graduação em Direito Penal e Processual Penal da Escola Superior de Advocacia da OAB/PE (ESA). Advogado Criminalista militante.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 3

SUMÁRIO

1. DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL ............................ 06

1.1 Dos crimes Contra a Propriedade Intelectual ........................................ 06

1.1.1 Violação de direito autoral ................................................................... 06

2. DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ....................

18

2.1 Atentado contra a liberdade de trabalho ................................................. 18

2.2 Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta .......................................................................................................

19

2.3 Atentado contra a liberdade de associação ............................................ 20

2.4 Paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem ..........................................................................................................

20

2.5 Paralisação de trabalho de interesse coletivo ........................................ 21

2.6 Invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. Sabotagem .................................................................................................

22

2.7 Frustração de direito assegurado por lei trabalhista ............................. 23

2.8 Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho ........................... 24

2.9 Exercício de atividade com infração de decisão administrativa ...... 25

2.10 Aliciamento para o fim de emigração ................................................ 25

2.11 Aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional ....................................................................................................

26

3. DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS ...............................................................................

28

3.1 DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO ............................ 28

3.1.1 Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo .. 28

3.2 DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS ............................. 30

3.2.1 Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária ......................... 30

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 4

3.2.2 Violação de sepultura ............................................................................. 31

3.2.3 Destruição, subtração ou ocultação de cadáver ................................. 33

3.2.4 Vilipêndio a cadáver ...............................................................................

34

4. DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ....................................... 36

4.1 Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual .................................................. 36

4.1.1 Estupro .................................................................................................... 36

4.1.2 Estupro de Vulnerável ............................................................................ 40

4.1.3 Violação Sexual Mediante Fraude ......................................................... 41

4.1.4 Assédio Sexual ....................................................................................... 42

4.2 DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL .................................... 46

4.2.1 Da Corrupção de Menores ..................................................................... 46

4.2.2 Satisfação de Lascívia Mediante Presença de Criança ou Adolescente ...........................................................................................

48

4.2.3 Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual de Vulnerável ............................................................................

49

5 DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL .........

51

5.1 DO LENOCÍNIO ........................................................................................... 51

5.1.1 Mediação para servir a lascívia de outrem ........................................... 51

5.1.2 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual .....................................................................................................

54

5.1.3 Casa de prostituição .............................................................................. 57

5.1.4 Rufianismo .............................................................................................. 64

5.2 DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL ..............................................................

69

5.2.1Tráfico Internacional de Pessoas ........................................................... 69

Direito Penal III - Parte Especial

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5.2.2 Tráfico Interno de Pessoas .................................................................... 74

5.3 DISPOSIÇÕES GERAIS ............................................................................. 76

5.3.1 Causas de Aumento da Pena ................................................................ 76

5.3.2 Segredo de Justiça ................................................................................. 77

6. DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR ..........................................................

78

6.1 Ato obsceno ............................................................................................... 78

6.2 Escrito ou objeto obsceno ........................................................................ 84

REFERÊNCIAS .................................................................................................

89

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 6

1. DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL

1.1 DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL

1.1.1 Violação de Direito Autoral

Art. Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: (Redação

dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

§ 1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de

lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual,

interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor,

do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de

quem os represente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou

indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire,

oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma

reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete

ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga

original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa

autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

§ 3o Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo,

fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário

realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar

previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de

lucro, direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do

autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de

quem os represente:

Direito Penal III - Parte Especial

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Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº

10.695, de 1º.7.2003)

§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de

exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em

conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,

nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso

privado do copista, sem intuito de lucro direto ou indireto. (Incluído pela Lei

nº 10.695, de 1º.7.2003).

NATUREZA JURÍDICA: Discute-se três posições na doutrina, (COSTA JR.):

a) é um direito integrante dos direitos da personalidade, por ser oriundo da

criação intelectual do homem (Kant, Otto, Candian)

b) tudo que o homem produz integra-se ao seu patrimônio, logo, o direito

autoral é um direito patrimonial (Planiol, Ripert e Boulanger)

c) trata-se de um direito sui géneris que preserva e protege tanto aspectos

relativos ao patrimônio quanto à personalidade, mas não se confunde com

nenhum deles

Posição adotada pelo CPB:

A nossa legislação pôs fim a polêmica que se

estabeleceu na doutrina sobre se estariam protegidos

direitos pessoais ou patrimoniais, ao explicar que

ambos se encontram devidamente tutelados. É o que

dispõe o art. 22 da Lei 9.610/98 (Lei dos direitos

autorais): “Pertencem ao autor os direitos morais e

patrimoniais sobre a obra que criou. [...] Em outras

palavras, ambos os aspectos estão protegidos, optando

o nosso legislador pela doutrina que estimamos ser

claramente majoritária (PIERANGELI, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

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OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: A obra violada e a propriedade intelectual,

respectivamente.

O tipo penal em exame figura como um dos instrumentos para o combate à

pirataria nas suas mais variadas formas.

OBS: Pirataria e imitação são conceitos distintos, de modo que o tipo penal em

tela ocupa-se apenas da primeira.

NÚCLEO DO TIPO: /Violar/ que “é utilizado pelo texto legal no sentido de

transgredir, infringir” (GRECO, 2007). “O tipo é uma norma penal em branco,

necessitando, pois, de vinculação com as leis que protegem o direito de autor”

(NUCCI, 2007)

SUJEITO ATIVO: Pode ser “qualquer pessoa que viole o direito autoral de

outrem, nada impedindo a co-autoria e a participação, comum quando atuam

editores, empresários, atores etc.” (MIRABETE).

SUJEITO PASSIVO: “é o autor da obra, seus herdeiros e sucessores, na

forma que dispõe o código civil. Destarte, pode ser sujeito passivo o próprio

autor da criação, isto é, a pessoa física, ou seus herdeiros, mas também pode

ser a pessoa jurídica, esta como cessionária ou sucessória dos direitos

autorais” (PIERANGELI, 2007); “Necessário, porém, que demonstre que esse

direito provem, por contrato ou outro meio, do autor, o qual, crucialmente, só

pode ser uma pessoa física (RT 230/254)” (apud MIRABETE, 2007).

Tratando-se de violação de direitos conexos ao direito

de autor, são sujeitos passivos os artistas interpretes

(atores, cantores, músicos, bailarinos etc., que por

diferentes meios e formas de expressão, executam

quaisquer obras literárias ou artísticas ou expressões

do folclore), os produtores (que têm a iniciativa e a

responsabilidade econômica da primeira fixação do

fonograma ou da obra áudio visual, qualquer que seja a

natureza do suporte utilizado) e as empresas de

radiodifusão (que têm o direito de autorizar ou proibir a

Direito Penal III - Parte Especial

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retransmissão, fixação e reprodução de suas emissões)”

(MIRABETE, 2007).

CONDUTA: O núcleo do tipo é violar, de modo que tal violação pode se dar

através de condutas diversas, das quais se destacam (COSTA JR. 2006):

a) Contrafação: Publicação ou reprodução abusiva, não autorizada

- Publicação: referente a obras inéditas

- Reprodução: refere-se a obras já publicadas (fotocópias, cópias,

mimeógrafos ou impressoras)

b) Plágio (furto literário): usurpação de autoria, modificação tênue, imitação

servil, ardilosa ou fraudulenta.

A transgressão ao direito autoral pode dar-se de várias

formas, desde a simples reprodução não autorizada de

um livro por fotocópias até a comercialização de obras

originais, sem a permissão do autor. Uma das mais

conhecidas formas de violação do direito de autor é o

plágio, que significa tanto assinar como sua obra alheia,

como também imitar o que outra pessoa produziu. O

plágio pode dar-se de maneira total (copiar ou assinar

como sua toda a obra de terceiro) ou parcial (copiar ou

dar como seus apenas trechos da obra de outro autor.

São condutas igualmente repugnantes, uma vez que o

agente do crime se apropria sorrateiramente da criação

intelectual de outrem, o que nem sempre é fácil de

detectar pela vítima (NUCCI, 2006).

CONSUMAÇÃO: “Ocorre: a) com a efetiva violação, no caso da figura típica

descrita no caput, b) com a reprodução da obra intelectual (no todo ou em

Direito Penal III - Parte Especial

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parte), de fonograma ou videograma etc., na hipótese descrita no § 1º, e c)

com a realização de quaisquer das condutas descritas nos §§ 2º e 3º

(DAMÁSIO, 2007).

O momento consumativo acontece no ato da

transgressão do direito autoral, cabendo ao interprete

observar em que consiste exatamente a violação,

socorrendo-se da legislação civil, para definir o exato

instante da violação, que ocorre, por exemplo, com a

publicação da obra inédita ou reproduzida, com a

exposição pública de uma pintura ou com a execução ou

representação de uma obra musical ou teatral” (TELES,

2006).

TENTATIVA: “Tratando-se de um crime purissubsistente, torna-se possível o

raciocínio da tentativa (GRECO, 2007)

ELEMENTOS SUBJETIVOS: “É a vontade livre e consciente de violar o direito

autoral alheio. O tipo contemplado no art. 184, caput, contente-se com o dolo

genérico. As demais espécies delituosas, descritas nos §§ 1º e 2º, exigem a

reprodução, a ocultação, a manutenção em depósitos se façam com o intuito

de lucro, o que configura o dolo específico” (COSTA JR., 2006); “O delito de

violação de direito autoral somente pode ser praticado dolosamente, não

havendo previsão para a modalidade de natureza culposa” (GRECO, 2007).

FORMAS QUALIFICADAS: Estão estabelecidas nos §§ 1º 2º e 3º do próprio

tipo (MIRABETE, 2007).

O §1º pune com pena mais grave (2 a 4 anos) se a violação do direito autoral

se perfaz mediante reprodução ilegal, sem consentimento do titular do direito,

com o intuito de lucro.

Direito Penal III - Parte Especial

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OBS: incorre na figura típica da primeira parte deste parágrafo o editor ou

produtor que produzir um número de cópias superior ao pactuado com o autor

(COSTA JR. 2006, p. 368).

O § 2º pune com as mesmas penas algumas condutas posteriores à violação

per si, tais como distribuir, vender, expor à venda, alugar, introduzir no País,

adquirir, ocultar, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual, desde

que, também, com o intuito de lucro.

O § 3º é fruto de inovação legislativa que visa adequar a tutela penal à

evolução tecnológica, coibindo e punindo com pena majorada os delitos

cometidos por modernas formas transmissão, receptação e armazenamento, tais

como “cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao

usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e

lugar previamente determinados”. É o que se tem chamado hodiernamente de

pirataria digital. Neste sentido expõe Guilherme de Souza Nucci:

É perfeitamente possível a violação do direito de autor

através da internet, por exemplo, valendo-se o agente do

crime de oferecimento ao público, com o intuito de

lucro, de músicas filmes, livros e outra obras,

proporcionando ao usuário que retire da rede, pela via

de cabo ou fibra ótica, conforme o caso, instalando-as

em seu computador. [...] Lembremos que, atualmente,

até mesmo por satélite ou por ondas torna-se possível a

receptação de obras em geral, sendo útil para

receptação um simples aparelho celular ou, como é mais

comum, através de televisão por assinatura (2006).

OBS: A violação de direito de autor de programas de computador

(Softwares), encontra-se regulada em lei específica, qual seja: Lei 9.609/98.

Direito Penal III - Parte Especial

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EXCLUDENTE DE TIPICIDADE: Encontram-se tanto nos dispositivos

elencados no § 4º do artigo em exame quanto nas limitações aos direitos de

autor, dispostas no art. 46 da Lei 9.610/98, respectivamente, in verbis:

§ 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando

se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou

os que lhe são conexos, em conformidade com o

previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem

a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só

exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de

lucro direto ou indireto. (Incluído pela Lei nº 10.695, de

1º.7.2003)

São limitações legais ao direito de autor, nos termos da Lei 9.610/98:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:

I - a reprodução:

a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo

informativo, publicado em diários ou periódicos, com a

menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de

onde foram transcritos;

b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em

reuniões públicas de qualquer natureza;

c) de retratos, ou de outra forma de representação da

imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo

proprietário do objeto encomendado, não havendo a

oposição da pessoa neles representada ou de seus

herdeiros;

d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso

exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reprodução,

Direito Penal III - Parte Especial

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sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou

outro procedimento em qualquer suporte para esses

destinatários;

II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos,

para uso privado do copista, desde que feita por este, sem

intuito de lucro;

III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro

meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para

fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada

para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem

da obra;

IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino

por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicação,

integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa de

quem as ministrou;

V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas,

fonogramas e transmissão de rádio e televisão em

estabelecimentos comerciais, exclusivamente para

demonstração à clientela, desde que esses

estabelecimentos comercializem os suportes ou

equipamentos que permitam a sua utilização;

VI - a representação teatral e a execução musical, quando

realizadas no recesso familiar ou, para fins exclusivamente

didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em

qualquer caso intuito de lucro;

VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas

para produzir prova judiciária ou administrativa;

VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos

trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 14

obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a

reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova

e que não prejudique a exploração normal da obra

reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos

legítimos interesses dos autores.

Na segunda parte do dispositivo exclui-se a tipicidade quando a cópia é feita

em um só exemplar, para uso particular e sem intuito de lucro.

ACÃO PENAL: O procedimento da ação penal nos casos do caput e

parágrafos do tipo delito em tela estão previstas no art. 186 do Código Penal

(atentando para a revogação do art. 185 pela Lei 10.695/2003). Há duas

possibilidades de ação penal no tipo em comento, dependendo a sua

identificação da conduta praticada pelo agente do crime:

Art. 186. Procede-se mediante: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de

1º.7.2003)

I - queixa, nos crimes previstos no caput do art. 184; (Incluído pela Lei nº

10.695, de 1º.7.2003)

II - ação penal pública incondicionada, nos crimes previstos nos §§ 1o e

2o do art. 184; (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

III - ação penal pública incondicionada, nos crimes cometidos em

desfavor de entidades de direito público, autarquia, empresa pública,

sociedade de economia mista ou fundação instituída pelo Poder Público;

(Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

IV - ação penal pública condicionada à representação, nos crimes

previstos no § 3o do art. 184. (Incluído pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

1. Nos casos de violação de direito autoral previstos no caput do art. 184 a

ação penal será privada, devendo, portanto, seguir o rito processual

comum, conforme dispõem as regras dos art. 524 a 530 do CPP.

Direito Penal III - Parte Especial

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Se o delito cometido adéqua-se ao que dispõe os §§ 1º, 2º , a ação penal

será pública incondicionada, aplicando-se as regras dos art. 530-B a 530-I, todos

acrescentado pela Lei 10.695-2003:

Art. 530-B. Nos casos das infrações previstas nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 184

do Código Penal, a autoridade policial procederá à apreensão dos bens

ilicitamente produzidos ou reproduzidos, em sua totalidade, juntamente

com os equipamentos, suportes e materiais que possibilitaram a sua

existência, desde que estes se destinem precipuamente à prática do ilícito.

Art. 530-C. Na ocasião da apreensão será lavrado termo, assinado por 2

(duas) ou mais testemunhas, com a descrição de todos os bens

apreendidos e informações sobre suas origens, o qual deverá integrar o

inquérito policial ou o processo.

Art. 530-D. Subseqüente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou,

na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os

bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito

policial ou o processo.

Art. 530-E. Os titulares de direito de autor e os que lhe são conexos serão

os fiéis depositários de todos os bens apreendidos, devendo colocá-los à

disposição do juiz quando do ajuizamento da ação.

Art. 530-F. Ressalvada a possibilidade de se preservar o corpo de delito, o

juiz poderá determinar, a requerimento da vítima, a destruição da produção

ou reprodução apreendida quando não houver impugnação quanto à sua

ilicitude ou quando a ação penal não puder ser iniciada por falta de

determinação de quem seja o autor do ilícito.

Art. 530-G. O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, poderá determinar

a destruição dos bens ilicitamente produzidos ou reproduzidos e o

perdimento dos equipamentos apreendidos, desde que precipuamente

destinados à produção e reprodução dos bens, em favor da Fazenda

Direito Penal III - Parte Especial

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Nacional, que deverá destruí-los ou doá-los aos Estados, Municípios e

Distrito Federal, a instituições públicas de ensino e pesquisa ou de

assistência social, bem como incorporá-los, por economia ou interesse

público, ao patrimônio da União, que não poderão retorná-los aos canais

de comércio.

Art. 530-H. As associações de titulares de direitos de autor e os que lhes

são conexos poderão, em seu próprio nome, funcionar como assistente da

acusação nos crimes previstos no art. 184 do Código Penal, quando

praticado em detrimento de qualquer de seus associados.

Art. 530-I. Nos crimes em que caiba ação penal pública incondicionada ou

condicionada, observar-se-ão as normas constantes dos arts. 530-B, 530-

C, 530-D, 530-E, 530-F, 530-G e 530-H.

Nos casos que se ajustem ao disposto no § 3º a ação penal será de

natureza pública condicionada a representação da vítima, recebendo tal

determinação críticas na doutrina, já que entendem, alguns, que a ação penal,

aqui, deveria também ser de natureza pública incondicionada (Cf. NUCCI, 2006,

p. 784)

EFEITOS DA SENTENÇA: Vide o disposto no art. 530-G do CPP,

supramencionado.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 17

ATENÇÃO!

CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O PRIVILÉGIO DE INVENÇÃO

(Revogado pela Lei nº 9.279, de 14.5.1996)

CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA AS MARCAS DE INDÚSTRIA E

COMÉRCIO

(Revogado pela Lei nº 9.279, de 14.5.1996)

CAPÍTULO IV - DOS CRIMES DE CONCORRÊNCIA DESLEAL

(Revogado pela Lei nº 9.279, de 14.5.1996)

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 18

2. DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

2.1 Atentado Contra a Liberdade de Trabalho

Art. 197 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça:

I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar

ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência;

II - a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de

parede ou paralisação de atividade econômica:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: Materialmente, protege-se a pessoa que

sofre a conduta; juridicamente, protege-se a liberdade de trabalho (NUCCI).

NÚCLEO DO TIPO: /Constranger/ que “significa compelir, obrigar, coagir

alguém a fazer ou não fazer alguma coisa” (TELES).

SUJEITO ATIVO: Pode ser “qualquer pessoa que pratique a conduta típica”

(MIRABETE).

SUJEITO PASSIVO: É a pessoa constrangida pela conduta do agente, que,

dependendo do caso, poderá ser tanto o trabalhador (inciso I), quanto o

empregador, empresário ou patrão (inciso II).

Há um alerta claro na doutrina para o fato de que, em relação ao inciso II, não

se deve entender como possível de ser sujeito passivo também a pessoa jurídica.

O constrangimento dirige-se diretamente a pessoa física (proprietário, empresário,

empregador), e não a sua personificação jurídica (empresa, comércio, negócio

etc.). Neste sentido: Nucci (2006); Mirabette (2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 19

CONSUMAÇÃO: Delito material – com a ocorrência do resultado descrito na

norma.

TENTATIVA: “Tratando-se de um crime purissubsistente, torna-se possível o

raciocínio da tentativa (GRECO, 2007, p. 377)

ELEMENTOS SUBJETIVOS: O crime só existe na modalidade dolosa.

CONCURSO DE CRIMES: É possível o concurso com o tipo penal referente a

violência praticada, à coisa ou à pessoa.

2.2 Atentado Contra a Liberdade de Contrato de Trabalho e

Boicotagem Violenta

Art. 198 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a

celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou não adquirir de

outrem matéria-prima ou produto industrial ou agrícola:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

CONDUTA TÍPICA: obrigar a vítima a:

1. Celebrar contrato de trabalho;

2 .Não fornecer ou não adquirir de outrem matéria-prima ou produto industrial ou

agrícola

Havendo violência, a pena desta será aplicada cumulativamente

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 20

2.3 Atentado Contra a Liberdade de Associação

Art. 199 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a

participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação

profissional:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

É tipo específico de constrangimento ilegal

O art. 199 pressupõe a existência legal de um sindicato ao associação

profissional

Pena cumulativa

2.4 Paralisação De Trabalho, Seguida de Violência ou Perturbação

da Ordem

Art. 200 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,

praticando violência contra pessoa ou contra coisa:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

Parágrafo único - Para que se considere coletivo o abandono de trabalho é

indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: Direito do empregador de continuar

exercendo a sua atividade econômica; direito de outros trabalhadores que

querem trabalhar; integridade física; patrimônio.

SUJEITO ATIVO: Crime próprio e plurissubjetivo

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 21

SUJEITO PASSIVO: A pessoa vítima da violência; a pessoa física ou jurídica

titular do patrimônio danificado.

CONDUTA: Suspensão ou abandono de trabalho por meio de violência contra

coisa ou pessoa (crime de forma vinculada);

Abandono coletivo: greve dos empregados;

Suspensão do trabalho: greve dos empregadores.

ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo genérico.

CONSUMAÇÃO: crime material (participação + prática de violência).

TENTATIVA: Possível

ACÃO PENAL: Pública incondicionada.

2.5 Paralisação de Trabalho de Interesse Coletivo

Art. 201 - Participar de suspensão ou abandono coletivo de trabalho,

provocando a interrupção de obra pública ou serviço de interesse coletivo:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Suspensão coletiva: lockout

Abandono coletivo: greve

Lei n. 7.783 de 28 de junho de 1989

Artigo 10 - São considerados serviços ou atividades

essenciais:

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Prof. Isaac de Luna Ribeiro 22

I - tratamento e abastecimento de água; produção e

distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e

alimentos;

IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas,

equipamentos e mate-riais nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;

X - controle de tráfego aéreo;

XI - compensação bancária.

2.6 Invasão de Estabelecimento Industrial, Comercial ou Agrícola.

Sabotagem

Art. 202 - Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou

agrícola, com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho,

ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele

existentes ou delas dispor:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

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OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: Crime pluriofensivo (direito de trabalho,

organização de trabalho, patrimônio)

NÚCLEO DO TIPO: Invadir e ocupar

SUJEITO ATIVO: Crime comum

SUJEITO PASSIVO: Proprietário e trabalhadores

CONDUTA: Impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho; Danificar o

estabelecimento ou as coisas nele existentes, ou dessas dispor (sabotagem)

ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo específico (com fim de danificar...)

CONSUMAÇÃO: Crime formal (a invasão é suficiente)

ENTATIVA: Admissível.

ACÃO PENAL: Pública incondicionada.

2.7 Frustração de Direito Assegurado por Lei Trabalhista

Art. 203 - Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela

legislação do trabalho:

Pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena

correspondente à violência.

§ 1º Na mesma pena incorre quem:

I - obriga ou coage alguém a usar mercadorias de determinado

estabelecimento, para impossibilitar o desligamento do serviço em virtude

de dívida;

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 24

II - impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza,

mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou

contratuais.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de

dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou

mental.

O bem jurídico tutelado são os direitos trabalhista

A pena é cumulativa

Norma penal em branco

Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho

2.8 Frustração de Lei Sobre a Nacionalidade do Trabalho

Art. 204 - Frustrar, mediante fraude ou violência, obrigação legal relativa à

nacionalização do trabalho:

Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena

correspondente à violência.

Norma penal em branco

Art. 352 a 371 da CLT:

Art. 352. As empresas, individuais ou coletivas, que

explorem serviços públicos dados em concessão, ou

que exerçam atividades industriais ou comerciais, são

obrigadas a manter, no quadro do seu pessoal, quando

composto de três ou mais empregados, uma proporção

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 25

de brasileiros não inferior à estabelecida no presente

Capítulo.

Art. 354. A proporcionalidade será de 2/3 (dois terços) de

empregados brasileiros, podendo, entretanto, ser fixada

proporcionalidade inferior, em atenção às

circunstâncias especiais de cada atividade, mediante ato

do Poder Executivo, e depois de devidamente apurada

pelo Departamento Nacional do Trabalho e pelo Serviço

de Estatística da Previdência do Trabalho a insuficiência

do número de brasileiros na atividade de que se tratar.

2.9 Exercício de Atividade com Infração de Decisão

Administrativa

Art. 205 - Exercer atividade, de que está impedido por decisão

administrativa:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

2.10 Aliciamento Para o Fim de Emigração

Art. 206 - Recrutar trabalhadores, mediante fraude, com o fim de levá-los

para território estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 8.683, de 1993)

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos e multa. (Redação dada pela Lei nº

8.683, de 1993)

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 26

2.11 Aliciamento de Trabalhadores de um Local Para Outro do

Território Nacional

Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra

localidade do território nacional:

Pena - detenção de um a três anos, e multa. (Lei nº 9.777/98)

§ 1º Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da localidade

de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou

cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar

condições do seu retorno ao local de origem. Lei nº 9.777, de 29.12.1998)

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de

dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou

mental. (Lei nº 9.777/98)

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: Interesse econômico do trabalhador e

interesse socioeconômico das localidades menos favorecidas

NÚCLEO DO TIPO: Aliciar; recrutar

SUJEITO ATIVO: Crime comum

SUJEITO PASSIVO: O trabalhador aliciado

CONDUTA: Aliciamento por meio fraudulento; cobranças

ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo específico

CONSUMAÇÃO: Crime formal

TENTATIVA: Admissível

ACÃO PENAL: Pública incondicionada

COMPETÊNCIA

ART. 109, VI CF

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 27

Crimes contra a organização do trabalho e competência

compete à Justiça Federal julgar crimes contra a organização do trabalho, que

envolvam a exposição da vida e saúde dos trabalhadores a perigo, redução à

condição análoga de escravo, frustação de direito assegurado por lei trabalhista e

omissão de dados da CTPS. (STF. RE 541627/PA, rel. Min. Ellen Gracie,

14.10.2008. (RE-541627) Informativo/STF nº 524)

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 28

3. DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O

RESPEITO AOS MORTOS

3.1 DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO

3.1.1 Ultraje a Culto e Impedimento ou Perturbação de Ato a Ele

Relativo

Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou

função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto

religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um

terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: A tutela jurídica do tipo recai sobre “A

liberdade de crença e o exercício dos cultos religiosos, que não contrariem a

ordem pública e os bons costumes (CF, art. 5º, VI)” (DAMÁSIO, 2007). Há,

contudo, breve divergência doutrinária:

“Tutela-se a liberdade individual de ter a própria crença e de exercer um ministério

religioso, notadamente o sentimento religioso...” (CAMPOS et. al., 2008).

A tutela jurídica recai sobre o sentimento religioso como

interesse ético-social em si mesmo. [...] Ficou para trás,

no campo da doutrina, a opção por uma tutela que recai

sobre a liberdade individual no que respeita à livre

manifestação religiosa e sobre a religião em si

(PIERANGELI, 2007)

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 29

NÚCLEO DO TIPO: Trata-se de tipo misto (cumulativo), havendo previsão de

três condutas distintas e, assim, três ações nucleares: a) escarnecer (zombar,

ridicularizar, achincalhar); b) impedir (obstar, não deixar que aconteça,

impossibilitar) ou perturbar (tumultuar, atrapalhar); c) vilipendiar (considerar vil,

desprezar, ultrajar) (TELES, 2006).

SUJEITO ATIVO: O delito é comum, podendo ser cometido por qualquer

pessoa (DAMÁSIO, 2007).

SUJEITO PASSIVO: Pode ser, no primeiro caso, a pessoa de quem se zomba

(padre, pastor, rabino etc.) e na segunda, a coletividade religiosa atingida

(COSTA JR.). Contudo, na ótica de José Henrique Pierangeli, “... a doutrina mais

recente fixa como sujeito passivo a comunidade nacional [...]” (2007).

CONSUMAÇÃO: Na primeira conduta, consuma-se com o escárnio,

independentemente de qualquer outro resultado; na segunda, com o efetivo

impedimento ou turbação do culto (trata-se de crime material); e, na última

conduta, como vilipêndio. (COSTA JR.).

OBS: “Não haverá ofensa ao sentimento religioso quando o objeto se encontrar

na fabrica ou numa loja para a sua comercialização, bem como no interior de uma

residência” (PIERANGELI, 2007).

“Exige-se que a ação de vilipendiar seja feita no decorrer do ato religioso ou

diretamente sobre ou contra a coisa objeto do culto” (CAPEZ, 2007).

“Objeto de culto religioso é o consagrado e utilizado em culto religioso”

(DELMANTO, 2007).

TENTATIVA: A tentativa é inadmissível.

ACÃO PENAL: Pública incondicionada. Tratando-se de crime de menor

potencial ofensivo, pode ser processado e julgado nos juizados especiais

criminais, donde também poderá haver suspensão condicional do processo – Lei

n. 9.099/95, art. 61 c/c 89.

Direito Penal III - Parte Especial

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3.2 DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS

3.2.1 Impedimento ou Perturbação de Cerimônia Funerária

Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um

terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: “Tutela-se o sentimento de respeito aos

mortos (CAMPOS et. al., 2008).

NÚCLEO DO TIPO: “São duas as condutas típicas: impedir ou perturbar

enterro ou cerimônia funerária” (TELES, 2006).

SUJEITO ATIVO: “Trata-se de crime comum, onde pode ser sujeito ativo

qualquer pessoa” (PIETANGELI, 2007).

SUJEITO PASSIVO: “... ao contrário do que possa parecer, não é o morto,

pois ele não é mais titular de direito. Trata-se de crime vago, isto é, tem por

sujeito passivo entidade sem personalidade jurídica, como a coletividade, a

família e amigos do morto” (CAMPOS et. al., 2008).

CONSUMAÇÃO: “Ocorre com o efetivo impedimento ou perturbação de

enterro ou cerimônia funerária” (DAMÁSIO, 2007).

Sobre a abrangência da norma, diz Delmanto:

Em nossa opinião, a expressão enterro deve ser

entendida em sentido amplo, abrangendo o velório, que

o integra e pode ou não ser realizado no mesmo lugar

do sepultamento ou cremação. [...] Cerimônia funerária é

o ato religioso ou civil, realizado em homenagem ao

morto (2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 31

TENTATIVA: “A tentativa é possível” (TELES, 2006).

ACÃO PENAL: Pública incondicionada (CAMPOS et. al., 2008, p. 183).

3.2.2 Violação de Sepultura

Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: Também é o sentimento de respeito aos

mortos (MIRABETE, 2007).

NÚCLEO DO TIPO: Violar (abrir, romper) e Profanar (ultrajar, desprezar,

escarnecer) (TELES, 2006).

SUJEITO ATIVO: “O agente do crime pode ser qualquer pessoa, até mesmo

um dos titulares da sepultura” (COSTA JR., 2008)

SUJEITO PASSIVO: Trata-se de crime vago, sendo sujeito passivo a

coletividade (família, amigos do falecido etc.) (MIRABETE, 2007)

CONSUMAÇÃO: “Consuma-se o crime com a efetiva violação ou profanação

da sepultura ou urna funerária” (DAMÀSIO, 2007).

O que ocorre no caso em que são furtados objetos da sepultura? E

quando a violação destina-se à subtração de coisas enterradas com o

morto?

No primeiro caso, não havendo a profanação ou vilipendio, mas apenas a

subtração das coisas, subsistirá apenas o crime do art. 155 do Código Penal

(DELMANTO, 2007), não restando maior divergência na doutrina.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 32

Porém, em relação a segunda questão percebe-se uma pluralidade de

entendimentos, como se expõe a seguir:

1. O primeiro grupo entende não haver furto, já que “ os objetos que foram ali

deixados pela família do morto não pertencem mais a ninguém, tratando-

se, pois, de res derelicta” (GRECO, 2007,) – No mesmo sentido (NUCCI,

2006).

2. Há também o entendimento de que, sendo o animus da ação determinado

pela intenção de subtrair os bens, ocorrerá crime único de furto, já que este

absolverá a violação, tendo em vista o princípio da consunção (CAPEZ,

2007; TELES, 2006, p. 516; CAMPOS et. al., 2008).

3. Para uma outra corrente é irrelevante que haja o intuito do furto, já que os

agentes tenham, também, plena consciência da pratica da violação da

sepultura. Neste sentido, o crime é mo do art. 210 (MIRABETE, 2007).

4. Por fim, há o entendimento de que tal fato deverá ser entendido como

concurso material de crimes (PIERANGELI, 2007).

TENTATIVA: “A tentativa é possível, inclusive quando a profanação é feita

oralmente...” (PIERANGELI, 2007) No mesmo sentido (TELES, 2006; MIRABETE,

2007; COSTA JR., 2008). Em sentido contrário: “ Inadmissível no caso de

violação, pois a tentativa já constitui o delito em sua forma consumada, e na

hipótese de o ultraja ser realizado por meio de palavras proferidas em público”

(CAMPOS, et. al., 2008). No mesmo sentido (DAMÁSIO, 2007).

ACÃO PENAL: A ação penal é de natureza pública incondicionada

(PIERANGELI, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 33

3.2.3 Destruição, Subtração ou Ocultação de Cadáver

Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: O objeto material é o cadáver.

Juridicamente “Tutela-se o sentimento de respeito aos mortos (CAMPOS et. al.,

2008).

O conceito de cadáver deve abranger, para a incidência da norma, “... o corpo

do ser humano morto enquanto conserva a sua aparência de pessoa. Não se

inclui o corpo em estado de putrefação, as cinzas, o esqueleto, enfim, restos do

cadáver em adiantado estado de decomposição” (TELES, 2006). No

entendimento de Damásio, a múmia também não deve ser entendida como

cadáver, “por não inspirar o sentimento de respeito aos mortos” (2007).

NÚCLEO DO TIPO: São três as condutas nucleares do tipo: a) destruir

(suprimir, acabar, queimar, esmagar, reduzir a pó, destroçar); b) subtrair (tirar do

local onde se encontra, furtar, tirar da situação de proteção); e, c) ocultar

(esconder) – tendo, todas as condutas, por objeto, o cadáver ou parte dele

(TELES, 2006).

SUJEITO ATIVO: “Qualquer pessoa, inclusive membro da família”

(MIRABETE, 2007).

SUJEITO PASSIVO: É a coletividade, e “em especial a família do morto”

(PIERANGELI, 2007).

CONSUMAÇÃO: Ocorre com a destruição, total ou parcial do cadáver; com a

sua subtração, ou desaparecimento, mesmo que apenas temporário, na

modalidade de ocultação (DAMÁSIO, 2007).

TENTATIVA: “A tentativa é, em todos os casos, perfeitamente admissível,

bastando que o agente inicie o processo de execução, não se consumando por

circunstancias alheias a sua vontade” (TELES, 2006).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 34

ACÃO PENAL: “A ação penal é pública incondicionada” (CAMPOS et. al.,

2008).

3.2.4 Vilipêndio a Cadáver

Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

OBJETO MATERIAL E JURÍDICO: O sentimento de respeito aos mortos

(DAMÁSIO, 2007).

NÚCLEO DO TIPO: Vilipendiar, com o significado de ultrajar, tratar com

desprezo (CAMPOS et. al., 2008, p. 188). “É conduta ofensiva dirigida a memória

de pessoa morta, realizada, necessariamente, junto ao cadáver ou as cinzas”

(TELES, 2006).

SUJEITO ATIVO: “Qualquer pessoa pode cometer esse delito – posto que se

trata de delito comum -, inclusive os parentes do morto, o sacerdote, o coveiro e

demais funcionários da administração do cemitério” (PIERANGELI, 2007).

SUJEITO PASSIVO: “... é a coletividade destituída de personalidade jurídica e

formada pelas pessoas da família do falecido” (MIRABETE, 2007). Tem-se,

também, como vítima, além da família, os amigos do de cujos (CAPEZ, 2007).

CONDUTA: “A conduta poderá verificar-se por palavras ultrajantes proferidas

diante do cadáver ou das cinzas, ou por atos materiais (esputar sobre o cadáver,

arremessar-lhe imundices, defecar sobre ele, tirar-lhe as vestes, praticar atos de

necrofilia)” (COSTA JR, 2008).

CONSUMAÇÃO: Trata-se de delito material, consumando-se “Com o efetivo

vilipendio” (DELMANTO, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 35

TENTATIVA: “A tentativa é possível, salvo na hipótese de vilipendio oral, pois

se trata de crime unissubsistente” (CAPEZ, 2007) – no mesmo sentido: Mirabete

(2007), Costa Jr. (2008), Damásio (2007).

Há, contudo, divergência na doutrina, já que, no entendimento de Pierangeli:

“A tentativa é possível, mesmo na expressão verbal, quando o vilipendio é

formado por um encadeamento de palavras que formam uma ofensa, isto é,

quando se apresentar um inter criminis real, que possa ser interrompido” (2007, p.

458).

Em posição aproximada, entende Ney Moura Teles ser possível a tentativa por

meio de palavras: “... contidos em suportes que venham a ser interceptados”

(2006).

ACÃO PENAL: A ação penal é de natureza pública incondicionada

(DELMANTO, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 36

4. DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

4.1 DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

4.1.1 Estupro

Etmologia da palavra: stuprum - No Direito Romano era qualquer

ato/atitude/atividade sexual reprovável, tais como Conjunção carnal segundun

naturan, per anus ou per os, além do adultério e da pederastia.

Nas ordenações filipinas era tido como crime de grave violação contra a pessoa,

punido, àquela época, com a pena capital.

Os Códigos Penais Brasileiros de 1830, 1890 e 1940 colocavam esse tipo penal

na seara dos crimes contra os costumes, com abrandamento da pena (3 a 8 anos

de prisão).

A Lei n. 8.072/90 incluiu o estupro no rol dos crimes hediondos.

NOVATIOS LEGIS

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter

conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato

libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é

menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos." (NR)

NÚCLEO DO TIPO: /Constranger/ tolher a liberdade, forçar, coagir, violentar.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 37

OBJETIVIDADE JURÍDICA: a liberdade sexual (objeto jurídico específico); o

objeto material tutelado, no caso do estupro, é o corpo do homem e o corpo da

mulher.

SUJEITOS: pela nova redação trazida pela Lei n. 12.015/09, o tipo em exame

passou a ser crime comum, podendo figurar como sujeito ativo do delito tanto o

homem quanto a mulher.

Pode haver estupro entre lésbicas?

O marido, na vigência na união matrimonial, pode estuprar a esposa

(e virse e versa)?

Tese negativa (Hungria, Noronha e Costa Jr.): CC – dever de coabitação/recusa

injustificada/exercício regular de direto/justa-causa de recusa;

Tese permissiva (Damásio, Delmanto e Mirabete): Lei

civil/violência/constrangimento/ divórcio.

Configura estupro a cópula com mulher ou homem em óbito?

CONDUTA:

a) Conjunção carnal (união dos órgãos genitais de pessoas de sexo diverso)

sem consentimento da vítima e com o emprego de violência (vis absoluta

ou vis compulsiva). É a cópula vaginal - introductio penis intra vas –

diversa do coito per anus e per os.

b) Outro ato libidinoso: ato libinidoso, diverso da conjunção carnal, sem

consentimento do ofendido, com o emprego de violência realou grave

ameaça (COSTA JR).

O QUE É ATO LIBIDINOSO?

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 38

“Libido é o desejo sexual. Ato libidinoso é todo ato de

satisfação da libido, isto é, de satisfação do desejo ou

do apetite sexual” (TELES).

“Ato lascivo, voluptuoso, dissoluto, destinado ao

desafogo da concupiscência” (MIRABETE).

“Todo ato que atenta contra o pudor do homem médio,

contrastante com o sentimento normal de moralidade

(COSTA JR.).

“Cuida-se de conceito bastane abrangente, na medida

em que compreende qualquer atitude com conteúdo

sexual que tenha por finalidade a satisfação da libido

(CAPEZ).

CONSUMAÇÃO:

a) Introdução do pênis na cavidade vaginal (imissio in vaginam), total ou

parcial, inexigindo-se o orgasmo (emissio in seminis), a satisfação da

lascívia ou o rompimento da membrana himenal (ou himenial).

b) Sexo oral, anal, masturbação, apalpadelas, chupões, esfregões, beijos

forçados e voluptuosos, etc.

Há estupro na prática de inseminação artificial, com uso de violência,

contra mulher dissenciente?

A mulher que obriga o homem a despir-se, mediante violência ou grave

ameaça, para o seu deleite visual e masturbação, comete estupro?

ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo genérico: vontade de empregar violência na

conjunção carnal ou em outros atos libidinosos; Dolo específico: obter

conjunção carnal para satisfazer a lascívia.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 39

CONCURSO DE CRIMES: homicídio, lesões corporais, perigo de contágio

O que ocorre se um homem estupra uma mulher e, em razão da violência,

ocorreram lesões leves?

E se um homem domina uma mulher, mediante violência ou grave ameaça, e a

leva para um terreno baldio, onde mantém com ela conjunção carnal. No curso da

conjunção carnal, como ele não conseguia evitar que a mulher gritasse para

chamar a atenção de alguém, ele lhe dá um tiro, matando-a.

EXAME DE CORPO DE DELITO: pode ser dispensado, havendo outras

possibilidades probatórias – possibilidade de condenação por depoimento

pessoal da ofendida.

AUSÊNCIA DE LESÕES NA VÍTIMA: não afasta a possibilidade do crime –

controvérsia doutrinária: estupro na sua forma simples x estupro na sua forma

qualificada.

CAUSAS DE AUMENTO DA PENA: art. 226 (Redação da lei nº 11.106 \

28.03.2005):

Art. 226. A pena é aumentada:

I – de quarta parte, se o crime é cometido com o

concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; (Redação da LEI

Nº 11.106 \ 28.03.2005)

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou

madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,

curador, preceptor ou empregador da vítima ou por

qualquer outro título tem autoridade sobre ela; (Redação

da LEI Nº 11.106 \ 28.03.2005) .

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 40

4.1.2 Estupro de Vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor

de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com

alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário

discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não

pode oferecer resistência.

Por questões meramente didáticas o tipo penal foi deslocado do seu

capítulo original para dar seqüência às discussões sobre o tipo básico em exame,

qual seja: o Estupro.

Considerações remissivas aos elementos básicos que compõem o tipo do

artigo anterior.

Discussão sobre o conceito de vulnerável na nova lei e sobre a natureza

da presunção de violência que envolve o tipo: há violência presumida no tipo

(elementar), ou há possibilidade de relativização da mesma em decorrência da

análise do fato (circunstanciais)?

FORMA QUALIFICADA

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 41

4.1.3 Violação Sexual Mediante Fraude

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,

mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação

de vontade da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem

econômica, aplica-se também multa.

NÚCLEO DO TIPO: Ter (obter ou conseguir) conjunção carnal (cópula entre

pênis e vagina) ou outro ato libidinoso (sexo oral, anal, etc.) mediante fraude

(manobra, engodo, logro). (NUCCI).

OBJETIVIDADE JURÍDICA: a liberdade sexual

SUJEITOS: Qualquer pessoa; O crime tornou-se comum.

CONDUTA: Induzir, fazer nascer na mente de alguém, mediante fraude, uma

determinada idéia, vontade (TELES). Faz-se necessário que o induzimento se

dê por meio fraudulento. “O Dissentimento é integrante do tipo. Assim, a

pessoa que cede aos rogos e carícias do agente não está sendo levada ao ato

pela fraude” (COSTA JR.).

A conduta do agente pode consistir tanto em induzir a vítima em erro como em

aproveitar-se do erro dela” (CAPEZ).

CONSUMAÇÃO: “Consuma-se o crime com a conjunção carnal ainda que

incompleta”(MIRABETE), ou com outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

Existe posse sexual mediante fraude tentada?

ELEMENTOS SUBJETIVOS: É o dolo, consubstanciado na vontade livre e

consciente de ter conjunção carnal ou outro ato libidinoso homem ou com mulher,

mediante fraude (CAPEZ).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 42

Não requer o dolo específico, “ou seja, a vontade de satisfazer a própria lascívia”

(MIRABETE).

FRAUDE: É o ardil, o engodo que induz a vítima em erro, levando-a a crer

numa situação falsa. Por meio de artifícios o sujeito forja uma série de

circunstâncias que levam a mulher à convicção da legitimidade do ato ou

fazem com que ela se engane sobre a sua identidade pessoal (DAMÁSIO).

TENTATIVA: É admissível (NUCCI).

O crime é sempre doloso, não existindo na modalidade culposa.

FORMAS QUALIFICADAS: Prevista no parágrafo único do art. 215. à pena

acrescenta-se a multa.

“Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se

também multa”

4.1.4 Do Assédio Sexual

GENERALIDADES: Tem origem no direito norte americano, onde mais

comumente é tratado no plano da responsabilidade civil ou do direito laboral.

No Brasil, por influência da opinião pública, buscou se criar um tipo penal que

estivesse em linha intermediária a importunação ofensiva ao pudor, estupro e

atentado violento ao pudor:

A criação de um tipo penal referente ao assédio sexual

exige cautelas. Não se pode desconsiderar que tal

prática não deixa vestígios, diferentemente do crime de

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 43

estupro [...]. E dificilmente poder-se-á contar com prova

testemunhal. Em regra, os fatos passam-se entre agente

e vítima (COSTA JR.).

O artigo 216-A foi incluído no CP pela Lei n. 10.224/01, e alterado pela lei

12.015/09:

Art. 216-A - Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou

favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de

superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,

cargo ou função.

Pena detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18

(dezoito) anos.

NÚCLEO DO TIPO: /Constranger/ “que significa, além de forçar, coagir,

obrigar, compelir [...]” (MIRABETE).

OBJETIVIDADE JURÍDICA: a liberdade sexual da pessoa, “quando o titular

está submetido a outrem numa relação de poder, em decorrência de

superioridade administrativa ou trabalhista. Na verdade, com o ilícito são

atingidos bens jurídicos de liberdade sexual, honra, liberdade do exercício do

trabalho, de não discriminação, etc.” (MIRABETE).

SUJEITOS: É crime bipróprio, já que requer uma situação especial tanto do

sujeito ativo quanto do sujeito passivo: “Para sua caracterização é necessário

que agente seja superior hierárquico ou tenha ascendência com relação ao

ofendido, estando, portanto, em posição de mando em relação a vitima”

(MIRABETTE). Pode ser pessoa de qualquer sexo, homem ou mulher, em

relações heterossexuais ou homossexuais (BITENCOURT).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 44

CONDUTA: Consiste em constranger; e constrangimento que busque a

violação da liberdade moral da vítima, como escopo de obter vantagem ou

favorecimento sexual. “Como se verifica, a descrição da conduta não adotou a

melhor técnica, já que as locuções “vantagem ou favorecimento sexual” são

indeterminadas e vagas, ferindo o princípio da taxatividade do tipo, e, por

conseguinte, o princípio da legalidade” (COSTA JR.).

A conduta típica foi restrita à seara das relações trabalhistas, públicas ou

privadas, sendo, portanto, de abrangência demasiado limitada, vez que:

restam sem tutela penal correspondente outras relações

nas quais é freqüente a prática de assédio sexual. [...] o

assédio sexual não está restrito às relações

empregatícias, ocorrendo também nas relações

domesticas, religiosas, de guarda ou custódia e de

confiança, como as que se estabelecem entre médico-

paciente e professor-aluno (COSTA JR.).

ELEMENTOS SUBJETIVOS: Dolo, ou seja, vontade, a consciência do

incômodo, da perturbação, do constrangimento a que está sendo submetida a

vítima pelo assédio. “Por isso será muito difícil reconhecer, na prática, a

ocorrência do crime, pois na maioria das vezes o agente não está convicto de que

não está agradando(TELES). Exige-se o dolo especifico, “ou seja, que tenha o

sujeito ativo a finalidade de obter vantagem ou favorecimento de natureza sexual”

(MIRABETE).

O crime é sempre doloso, não existindo na modalidade culposa.

CONCURSO: Possibilidade de concurso material com o crime de posse sexual

mediante fraude. Tratando-se de corrupção de menores, esse é absolvido pelo

atentado ao pudor mediante fraude (MIRABETE).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 45

CAUSA DE AUMENTO DA PENA: § 2o A pena é aumentada em até um terço

se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

FORMAS QUALIFICADAS: Aplicam-se ao art. 216-A as qualificadoras prevista

no art. 226 do Código Penal (concurso de pessoas, e a relações de

dependência).

ACÃO PENAL: Incidência do que preceitua o art. 225.

Art. 217 - SEDUÇÃO:

(REVOGADO PELA LEI n. 11.106/05)

Art. 217 - Seduzir (conquistar, persuadir, captar a vontade de menor) mulher

virgem (é a que nunca manteve cópula vagínica), menor de 18 anos e maior

de 14 (se não for maior de 14 anos, o agente responderá pelo “estupro” com

presunção de violência), e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de

sua inexperiência (ingenuidade sob o aspecto sexual, não se exigindo que a

mulher ignore totalmente o significado do ato sexual – “sedução simples”)

ou justificável confiança (o agente se aproveita de um namoro prolongado

ou de promessa de casamento, para desvirginar a vítima – “sedução

qualificada”):

Pena - reclusão, de 2 a 4 anos.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 46

4.2 DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

4.2.1 Da Corrupção de Menores

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de

outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

OBJETIVIDADE JURÍDICA: o interesse jurídico tutelados é a moral sexual dos

maiores de 14 e menores de 18 anos (CAPEZ).

SUJEITO ATIVO: Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, em relações

heterossexuais ou homossexuais. Co-autoria e participação são possíveis

entre homens e mulheres em qualquer pólo (BITENCOURT).

SUJEITO PASSIVO: Pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que

menor de 18 anos (SILVA).

CONDUTA: induzi prática de ato de libidinagem por menor para a satisfação de

outrem, configurando a corrupção de menor propriamente dita (JESUS).

CONSUMAÇÃO: Ocorre com a efetiva prática de libidinagem. “Consuma-se

com a efetiva prática do ato libidinoso” (MIRABETE).

DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA:

“... o crime só se consuma com o resultado

naturalístico, que é a deterioração do caráter moral-

sexual da vítima. Se o autor não chega a produzir tal

modificação concreta, muito embora tenha praticado o

ato de corrupção ou facilitação, o crime ficará na esfera

da tentativa” (CAPEZ);

“Com a efetiva corrupção do menor” (NUCCI);

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 47

“Para a consumação, é necessário que o ato libidinoso

tenha levado a vítima à degradação moral” (COSTA JR.).

TENTATIVA: “É admissível” (BITENCOURT).

ELEMENTOS SUBJETIVOS: Dolo, ou seja, vontade, a consciência de que

está corrompendo ou induzindo a vítima a praticar ou a permitir a pratica de ato

libidinoso (TELES).

O crime é sempre doloso, não existindo na modalidade culposa.

CONCURSO: Possibilidade de concurso formal heterogêneo com o crime de

ato obsceno quando o ato é praticado em lugar público, aberto ou exposto ao

público. A prática de vários atos com a mesma vítima pode constituir

continuidade delitiva. (MIRABETE).

ATENÇÃO! : “Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva ou

cinematográfica, ou contracenar com criança ou adolescente em cena de

sexo explícito, ou ainda fotografar ou publicar cenas do gênero: vide arts.

240 e 241 do ECA” (BITENCOURT).

Discussão doutrinária: qual o tratamento legal tratando-se de menor já

parcialmente ou inteiramente corrompido?

AUMENTO DA PENA: As causas prevista no art. 226 do Código Penal.

ACÃO PENAL: Incidência do que preceitua o art. 225 (TELES).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 48

4.2.2 Satisfação de Lascívia Mediante Presença de Criança ou

Adolescente

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou

induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de

satisfazer lascívia própria ou de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

OBJETIVIDADE JURÍDICA: o interesse jurídico tutelados é a moral sexual

dos menores de 14 anos (CAPEZ).

SUJEITO ATIVO: Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, em relações

heterossexuais ou homossexuais. Co-autoria e participação são possíveis

entre homens e mulheres em qualquer pólo (BITENCOURT).

SUJEITO PASSIVO: Pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que

menor de 14 anos (SILVA).

CONDUTA: Prática de ato de libidinagem na presença do menor; ou induzir o

mesmo a presenciar ato libidinoso.

As duas modalidades dizem respeito à corrupção acessória (JESUS).

CONSUMAÇÃO: O delito se consuma no momento em que o há a prática do

ato de libidinagem na presença do menor.

“Trata-se, pois, de delito formal, uma vez que a corrupção do menor é

presumida” (SILVA).

TENTATIVA: “É admissível” (NUCCI).

ELEMENTOS SUBJETIVOS: Dolo, ou seja, vontade, a consciência de que

está corrompendo ou induzindo a vítima a presenciar a pratica de ato libidinoso

(TELES). Não requer o dolo específico, “uma vez que o agente, com a prática

do ato libidinoso, aceita o resultado como conseqüência” (MIRABETE).

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CONCURSO: Possibilidade de concurso formal heterogêneo com o crime de

ato obsceno quando o ato é praticado em lugar público, aberto ou exposto ao

público. A prática de vários atos com a mesma vítima pode constituir

continuidade delitiva. (MIRABETE).

AUMENTO DA PENA: As causas prevista no art. 226 do Código Penal.

ACÃO PENAL: Incidência do que preceitua o art. 225.

4.2.3 Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de

Exploração Sexual de Vulnerável

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de

exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por

enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento

para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-

se também multa.

§ 2o Incorre nas mesmas penas:

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor

de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput

deste artigo;

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se

verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.

§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da

condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do

estabelecimento.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 50

OBJETIVIDADE JURÍDICA: o interesse jurídico tutelado é a moral sexual dos

menores de 18 anos (CAPEZ).

SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa, homem ou mulher

SUJEITO PASSIVO: Pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que

maior de 14 e menor de 18 anos (SILVA).

NÚCLEO DO TIPO: Submeter/ induzir/ atrair

CONSUMAÇÃO: O delito se consuma no momento em que o agente, por

intermédio de meios idôneos, induz ou submete o menor à prostituição.

“Trata-se, pois, de delito formal, uma vez que a corrupção do menor é

presumida” (SILVA).

TENTATIVA: “É admissível” (NUCCI).

ELEMENTOS SUBJETIVOS: Dolo, ou seja, vontade, a consciência de que

está corrompendo ou induzindo a vítima a ingressar no mundo do comércio

sexual.

AUMENTO DA PENA: § 1o Se o crime é praticado com o fim de obter

vantagem econômica, aplica-se também multa.

ACÃO PENAL: Incidência do que preceitua o art. 225.

ATENÇÃO!

CAPÍTULO III - DO RAPTO

(Capítulo revogado pela Lei n. 11.106/05)

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5 DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO

OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

5.1 DO LENOCÍNIO

5.1.1 Mediação Para Servir A Lascívia De Outrem

Art. 227 – Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena – Reclusão, de 1 a 3 anos.

§ 1º - Se a vítima é maior de 14 anos e menor de dezoito anos, ou se o

agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão,

tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação,

de treinamento ou de guarda (redação dada pela lei 11.106/05):

Pena – reclusão de 2 a 5 anos.

§ 2º - se o crime é cometido com o emprego de violência, grave ameaça ou

fraude:

Pena – reclusão, de 2 a 8 anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com fim de lucro, aplica-se também multa.

CONCEITO: No caso do tipo em comento, trata-se do lenocínio principal,

denominado como mediação para servir a lascívia de outrem (MIRABETE); “É a

prestação de apoio, assistência e incentivo à vida voluptuoso de outra pessoa,

dela tirando proveito” (NUCCI).

“O lenocínio é um dos crimes mais degradantes e moralmente censuráveis que a

civilização, ao longo de toda a sua história, não conseguiu eliminar”

(BITENCOURT).

Direito Penal III - Parte Especial

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GENERALIDADES: Embora a prostituição, em si mesma, não seja prevista

como ilícito penal, a lei reprime a exploração do meretrício por ser ele prejudicial à

normalidade da vida sexual moralmente aceita pela sociedade (MIRABETE). O

que se pretende punir é a atividade parasitária ou acessória que tem por

finalidade proporcionar, estimular ou facilitar a devassidão ou a prostituição, por

meio de práticas que a lei considera eficiente de tal fim (FARIA apud MIRABETE).

OBJETO JURÍDICO: A moralidade sexual pública (NUCCI);

Procura-se, com essa proteção legal, impedir o

desenvolvimento desenfreado da prostituição, o qual é

comumente estimulado pela ação de terceiros que

exploram o „comércio carnal (CAPEZ).

NUCLEO DO TIPO: Induzir, ou seja, aliciar, persuadir, levar alguém, por

qualquer meio, a praticar uma ação para satisfazer a lascívia de outrem (CAPEZ).

“Outrem deve ser pessoa determinada, de qualquer sexo” (BITENCOURT).

O agente deve induzir a vítima a satisfazer a lascívia de

pessoa (s) determinada (s), isto é, de pessoas certas,

pois se o agente induz a vítima a satisfazer a lascívia de

um número indeterminado, impreciso, de pessoas, o

crime passa a ser outro: favorecimento da prostituição

(art. 228) (CAPEZ).

Para que haja induzimento de alguém a satisfazer a

lascívia de outrem é necessário que tenham ocorrido

promessas, dádivas, ou súplicas. A meretriz não pode

ser tida como vítima do delito previsto no art. 227 do CP,

pois não é induzida, mas se presta, voluntariamente, à

lascívia de outrem” (BITENCOURT).

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ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo. “... é a finalidade de satisfazer a lascívia de

outrem. Existente outro fim, como o de obter fotografias eróticas ou obscenas, por

exemplo, poderá ocorrer outro ilícito (art. 234)” (MIRABETE).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa. “É o tipo de crime que exige a participação

necessária do sujeito passivo, que, no entanto, não „e punido” (NUCCI).

E o destinatário do lenocínio, ou seja, aquele que satisfaz a sua lascívia com

a ação da vitima, responde por algum crime?

- Segundo a doutrina, não poder‟a ser co-autor, pois não realiza a mediação

típica do crime. Poder‟a responder por outros crimes, p.ex: Corrupção de

menores (CAPEZ).

SUJEITO PASSIVO: “Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, não

exigindo que se trata de menor” (BITENCOURT).

CONSUMAÇÃO: “Consuma-se com qualquer ato praticado pela vítima para

satisfazer a lascívia de outrem. Não se exige a efetiva satisfação do destinatário”

(CAPEZ).

TENTATIVA: “Admite-se a tentativa, embora, teoricamente, difícil seja a sua

comprovação” (BITENCOURT). “Haverá tentativa se houver o emprego de meios

idôneos a induzir a vítima a satisfazer o desejo sexual de terceiro e, quando este

está preste a praticar qualquer ato de cunho libidinoso, é impedida por terceiros”

(CAPEZ).

FORMA QUALIFICADA: “Há quatro hipóteses que qualificam o crime: a

menoridade da vítima (§ 1º primeira parte); a autoridade do agente (§ 1º segunda

parte); a violência, grave ameaça ou fraude (§ 2º); o fim de lucro (§ 3º)”

(BITENCOURT).

Há duas hipóteses, uma delas múltipla: a) sendo a vítima

menor de 18 anos e maior de 14, aplica-se mais

severamente a pena”. Lembremos que, no caso da

vítima menor de 14 anos, induzida à satisfação da

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 54

lascívia de outrem, por não apresentar consentimento

válido, configura-se a situação de violência presumida (§

2º deste art); b) quando o agente é ascendente,

descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor, ou

curados ou pessoa que cuide da educação tratamento

ou guarda da vítima, torna-se mais grave a punição, uma

vez que não se admitiria tal postura, justamente

daqueles que deveriam zelar pela integridade moral da

pessoa sob sua guarda (NUCCI).

Mirabete prevê três qualificadoras, quais sejam: 1º - quando a vítima é

maior de 14 e menor de 18; 2º - ascendente, descendente...; 3º - violência, grave

ameaça... (p. 458).

OBS: Lenocínio questuário – cometido com a finalidade de lucro (NUCCI, p.

848).

AÇÃO PENAL: Pública Incondicionada.

5.1.2 Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de

Exploração Sexual

Art. 228 - Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que

alguém a abandone:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do artigo anterior:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.

Direito Penal III - Parte Especial

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§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou

fraude:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, além da pena correspondente

à violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

BEM JURÍDICO TUTELADO: Moralidade pública sexual, “objetivando,

particularmente, evitar o incremento e o desenvolvimento da prostituição”

(BITENCOURT).

NÚCLEO DO TIPO: I - Induzir, ou seja, aliciar, persuadir, levar alguém, por

qualquer meio, a praticar uma ação para satisfazer a lascívia de outrem (CAPEZ,

p. 77); II – Facilitar, ou seja, tornar mais fácil, colocar à disposição; III – Impedir,

colocar obstáculo ou dificultar alguém a abandonar, largar ou deixar a

prostituição. “O tipo misto alternativo é composto das figuras de induzir pessoa à

prostituição, atrair pessoa à prostituição, facilitar o ingresso de alguém na

prostituição ou impedir pessoa de largar a prostituição” (NUCCI, 2006).

SUJEITO ATIVO: “trata-se de crime comum. Qualquer pessoa pode praticar o

crime em comento” (CAPEZ, 2007).

SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa, homem ou mulher, mesmo os já

prostituídos (CAPEZ, 2007).

Controvérsia doutrinária:

Como punir aquele que induz (dá a idéia) alguém à

prostituição se essa pessoa já está prostituída? A

„disciplinada vida sexual‟, objeto jurídico do tipo penal,

já está nitidamente comprometida nessa hipótese, de

forma que não se vê razão lógica para a punição do

agente” (NUCCI, 2006).

O homossexual e a prostituta poderão ser sujeitos

passivos do crime de favorecimento à prostituição [...] a

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 56

condição moral da vítima é irrelevante para que ela

receba a proteção penal da norma em exame

(BITENCOURT, 2007).

OBS: Para Nucci, a pessoa ofendida deve ser determinada, ou seja, certa e

identificada, “não se configurando o tipo penal caso o agente, genericamente, leve

pessoas indeterminadas á prostituição” (2006, p. 849).

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: “É o dolo, consubstanciado na vontade livre

e consciente de induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que

alguém a abandone” (CAPEZ, 2007).

Controvérsia doutrinária: Elemento subjetivo do tipo específico – “enfronhar

alguém no comércio profissional do amor sexual” (NUCCI, 2006).

“Não concordamos com grande parte da doutrina, que exige também o elemento

subjetivo especial do tipo...” (BITENCOURT, 2007).

CONSUMAÇÃO: Consuma-se o crime no momento em que a vítima passa a

dedicar-se habitualmente à prostituição por meio do induzimento ou facilitação do

agente, “ou ainda quando já se dedica usualmente a tal prática, tenta dela se

retirar, mas se vê impedida pelo autor” (CAPEZ, 2007).

OBS: se a vítima é criança ou adolescente:

ECA/Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no

caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Incluído

pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000).

Pena - reclusão de quatro a dez anos, e multa.

§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável

pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às

práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 9.975, de

23.6.2000).

Direito Penal III - Parte Especial

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§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de

localização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº

9.975, de 23.6.2000).

TENTATIVA: possível, embora de difícil constatação (BITENCOURT, 2007, p.

93). “Não havendo habitualidade no comportamento da induzida, o crime ficará na

esfera da tentativa” (CAPEZ, 2007).

FORMAS QUALIFICADAS: Prevê as mesmas hipóteses do art. 227, quais

sejam: “a menoridade da vítima (§ 1º, primeira parte); a autoridade do agente (§

1º, segunda parte); a violência, grave ameaça ou fraude (§ 2º); o fim de lucro (§

3º)” (BITENCOURT).

OBS: Acerca da última possibilidade, alerta Nucci:

Finalidade de Lucro: não se trata de uma qualificadora,

mas apenas do acréscimo da pena pecuniária ao tipo

secundário. Não se exige que o agente obtenha lucro,

mas apenas que o faça pensando em conseguir

vantagem econômica” (2006).

CONCURSO: “pode-se punir o agente pela violência praticada contra a vítima,

em concurso” (NUCCI, 2006).

AÇÃO PENAL: “A ação penal é pública incondicionada” (BITENCOURT, 2007).

`

5.1.3 Casa De Prostituição

Art. 229 - Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou

lugar destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de

lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 58

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

CONCEITO: É a edificação na qual é exercida a atividade das pessoas que

realizam contrato sobre o próprio corpo, prestando serviços de natureza sexual

(TELES, 2006).

A lei brasileira destacou, das várias modalidades de

favorecimento da prostituição, uma que lhe mereceu

atenção particular: a manutenção de casa de

prostituição ou tolerância, também conhecida como

bordel, lupanar, conventinho, prostíbulo ou alcoice

(COSTA JR., 2006).

BEM JURÍDICO TUTELADO: “O interesse jurídico protegido é o da sociedade,

contra a mantença de estabelecimentos destinados ao exercício da prostituição.

Mesmo não proibindo a prática individual da prostituição o Direito, contudo, atua

no sentido de coibir sua disseminação” (TELES, 2006).

NÚCLEO DO TIPO: Manter, que “quer dizer sustentar, fazer permanecer ou

conservar, o que fornece a nítida visão de algo habitual e freqüente” (NUCCI,

2006).

Manter implica a idéia de habitualidade, que

eventualmente pode ser confundida com permanência.

[...] Embora a lei se refira genericamente a „ou lugar

destinado a encontros para fim libidinoso‟, deve-se

interpretar restritivamente, como outro local para

encontro de prostituição, adequando-se ao nomen iuris

do tipo penal. O crime consiste em manter esses locais,

explorá-los ou dirigi-los, exatamente para o fim

mencionado no tipo penal” (BITENCOURT, 2007; no

mesmo sentido: CAPEZ, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 59

“O agente realizará a conduta típica quando o fizer diretamente ou através de

outra pessoa, seu preposto, que, igualmente, cometerá o mesmo delito” (TELES,

2006, p. 52).

Casas de massagem, motéis, hotéis de alta rotatividade, saunas, bares ou

cafés, boates, casa de relaxamento, quartos em bares ou lanchonetes etc,

configuram o crime em comento?

Não se pode considerar típica a manutenção de motéis,

hotéis de alta rotatividade, quartos ou apartamentos em

boates ou lanchonetes que se destinem a encontros

libidinosos, mas não exclusivamente a encontros com

prostitutas. Locais como esses servem, na prática, para

encontros de outra natureza, como os adulterinos e,

mesmo, os absolutamente lícitos entre pessoas capazes

que acorrem a esses ambientes para satisfazer seus

desejos sexuais. Se ali acorrem prostitutas, como é

certo, nem por isso são lugares destinados a servir à

prostituição (TELES, 2006).

A práxis tem comprovado que, em regra, ninguém se

dirige a um motel com uma prostituta; e lá tão pouco

existe alguma à espera do „freguês‟. Em tese, esses

locais destinam-se a receber toda espécie de hóspedes

(BITENCOURT, 2007).

Não são lugares específicos para a prostituição, nem

para encontros libidinosos, pois têm outra finalidade,

como a hospedagem, o serviço de massagem ou

relaxamento, a sauna, o serviço de bar etc. Sabe-se

perfeitamente que, em muitos desses locais, trata-se de

autentica casa de prostituição disfarçada com um nome

mais moderno e adequado à realidade, embora, o que

esteja antiquado e decadente, seja o tipo penal. Por isso,

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 60

não se aperfeiçoando na sua redação, terminou

morrendo na sua efetiva aplicação (NUCCI, 2006).

PENAL. CASA DE PROSTITUIÇÃO. ESTABELECIMENTO COMERCIAL.

MATÉRIA DE FATO. REEXAME DE PROVA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.

1. A simples manutenção de estabelecimento comercial relativo a casa de

massagem, banho, ducha, “relax” e bar não configuram o delito do art. 229 do CP.

Hipótese que demanda análise do material fático-probatório, vedado nesta

instância. Incidência da Sumula. 7/STJ. 2. Dissídio jurisprudencial caracterizado.

3. Recurso conhecido, pelo dissídio, mas improvido. (STJ, 6ª turma, Resp

65.951/DF, Rel. Min. Edson Vidigal).

PENAL. CASA DE PROSTITUIÇÃO. ART. 229, DO CP.

1. ABSTRAÇÃO FEITA A MAIORES CONSIDERAÇOES ACERCA DA

TIPICIDADE DO DELITO, ACOLHIDA, DE MANEIRA UNIFORME, NAS

INSTANCIAS ORDINARIAS, NÃO HA NO CODIGO PENAL BRASILEIRO, EM

TEMA DE EXCLUDENTE DA ILICITUDE OU CULPABILIDADE, POSSIBILIDADE

DE SE ABSOLVER ALGUEM, EM FACE DA EVENTUAL TOLERANCIA A

PRATICA DE UM CRIME, AINDA QUE A CONDUTA QUE ESSE DELITO

ENCERRA, A TEOR DO ENTENDIMENTO DE ALGUNS, POSSA, SOB A OTICA

SOCIAL, SER TRATADA COM INDIFERENÇA. O ENUNCIADO LEGAL (ART. 22

E 23) E TAXATIVO E NÃO TOLERA INCREMENTOS JURISPRUDENCIAIS.

2. A CASA DE PROSTITUIÇÃO NÃO REALIZA AÇÃO DENTRO DO AMBITO DE

NORMALIDADE SOCIAL, AO CONTRARIO DO MOTEL QUE, SEM IMPEDIR A

EVENTUAL PRATICA DE MERCADORIA DO SEXO, NÃO TEM COMO

FINALIDADE UNICA E ESSENCIAL FAVORECER O LENOCINIO.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 61

3. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PARA RESTABELECER A SENTENÇA.

(STJ, 6ª turma, REsp 149070 / DF; RECURSO ESPECIAL 1997/0066324-8, Rel.

Ministro FERNANDO GONÇALVES).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, homem ou mulher, que mantenha casa de

prostituição, não se exigindo o intuito de lucro (CAPEZ, 2007). “empregados e

funcionários subalternos têm sido excluídos da prática delituosa (camareiros,

porteiros, etc.)” (COSTA JR., 2006).

A prostituta que exerce o meretrício na sua própria residência, comete o crime?

A prostituta que aluga um imóvel para exercer a exercer o seu ofício, comete o

crime em comento?

O que se configura se várias prostitutas locarem um imóvel para, neste,

exercerem o meretrício, a lascívia e a devassidão?

“A prostituta que exerce o meretrício em sua própria residência não comete o

crime, até porque sua casa não se destina exclusivamente aos encontros sexuais,

mas é lugar onde vive e, como tal, tem proteção da norma constitucional” (TELES,

2006).

Também exclui-se dessa tipificação legal a conduta da

prostituta que aluga um imóvel para exercer o

meretrício, pois não é crime prostituir-se. Mesmo que

várias prostitutas mantenham um imóvel com esse fim,

a conduta será atípica, pois tem de existir a figura de

terceira pessoa que mantenha, administre a casa com

fim de proporcionar os encontros sexuais (CAPEZ,

2007).

SUJEITO PASSIVO: “É a sociedade, o Estado” (TELES, 2006); “É a

coletividade, embora haja quem, equivocadamente, aponte mulheres perdidas e

travestis como ofendidos” (COSTA JR., 2006).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 62

Controvérsia doutrinária:

A pessoa que se prostituiu não é sujeito passivo, tendo

em vista que o ato em si não é considerado ilícito penal,

além do que ela também esta ferindo os bons costumes,

ao ter vida sexualmente desregrada, de modo que não

pode ser vítima da sua própria liberdade de ação (NUCCI,

2006).

Sujeito passivo será sempre a coletividade.

Eventualmente, a prostituta que permanece no local

(bordel) ou se dirige a ele para fim libidinoso (local

especialmente mantido para esse fim). [...] Na verdade, ela

não é vítima de sua própria ação, mas da exploração de

quem mantêm o local para esse fim (BITENCOURT, 2007).

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: “É o dolo, consistente na vontade livre e

consciente de manter casa de prostituição ou qualquer lugar destinado a

encontros libidinosos. O intuito lucrativo é irrelevante” (CAPEZ, 2007).

Controvérsia doutrinária:

“É o dolo, acrescido do elemento subjetivo do tipo específico, consistente na

vontade de satisfazer o prazer sexual alheio através da manutenção de lugar”

(NUCCI, 2006).

[...] elemento subjetivo especial do tipo, isto é, pelo

especial fim de manter local destinado a finalidade

libidinosa. Não nos parece que seja possível admitir

como especial fim do tipo a „vontade de satisfazer o

prazer sexual alheio através da manutenção de lugar

(BITENCOURT, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 63

O dolo específico consiste no fim de satisfazer a concupiscência alheia (COSTA

JR., 2006).

“O dolo é essencial. Consciência de que os seus atos constituem mantença de

casa de prostituição ou de lugar para encontros libidinosos...” (TELES, 2006).

CONSUMAÇÃO: Ocorre a consumação com o início da manutenção de casa de

prostituição, sendo dispensável qualquer prática de ato sexual; “basta a prova de

que a casa se destina a prostituição” (CAPEZ, 2007).

Controvérsia doutrinária:

Embora parte da doutrina entenda bastar, para o

aperfeiçoamento do delito, um único ato libidinoso,

entendemos diversamente. Sendo crime habitual, está a

exigir, para sua configuração, uma reiteração de atos

(COSTA JR., 2006).

Há entendimento doutrinário no sentido de ser exigida,

para a consumação, a prática de pelo menos um

encontro libidinoso com prostituta, todavia penso que o

tipo exige apenas que a casa esteja instalada e sendo

mantida... Do momento em que está em condições de

realizar a sua finalidade, o crime está consumado”

(TELES, 2006).

Tratando-se de crime habitual, a pratica de um ou outro

encontro amoroso é insuficiente para consumar o delito,

cuja tipificação exige a prática de reiterada de condutas

que, isoladamente, constituem um indiferente penal

(BITENCOURT, 2007).

TENTATIVA: Impossível, por tratar-se de crime habitual (CAPEZ, 2007;

BITENCOURT, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 64

Controvérsia doutrinária: Possível (TELES, 2006; COSTA JR.).

FORMA QUALIFICADA: Art. 232 c/c o art. 223.

AÇÃO PENAL: Pública incondicionada. “Esse delito segue o procedimento

comum ou ordinário” (CPP, arts. 394 a 495 e 498 a 502).

5.1.4 Do Rufianismo

Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de

seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a

exerça:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, além da multa.

§ 2º - Se há emprego de violência ou grave ameaça:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, além da multa e sem prejuízo da

pena correspondente à violência.

CONCEITO: “É uma modalidade de lenocínio, que consiste em viver à custa da

prostituição alheia. É a atividade exercida por aquele que explora prostituta e,

conseqüentemente, incentiva o comércio sexual” (NUCCI, 2006).

O tipo incrimina a conduta sórdida do parasita que é o

rufião, apache, cáften, souterneur (entre os franceses),

sfruttatore (para os italianos), que explora a miséria

sexual da decaída (alfonsismo) (COSTA JR., 2006).

BEM JURÍDICO TUTELADO: A moralidade sexual e os bons costumes

(BITENCOURT, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 65

“O interesse econômico da prostituta contra a exploração de outra pessoa que

dele se aproveita” (TELES, 2006, p. 55).

“A disciplina sexual e os bons costumes, sem deixar de tutelar a decaída”

(COSTA JR., 2006, p. 434 – no mesmo sentido, CAPEZ, 2007, p. 94).

Nucci concilia, didaticamente, as posições, ao colocar a moralidade e os bons

costumes como objeto jurídico, e o interesse da prostituta como objeto matéria do

crime (2006, p. 857).

NÚCLEO DO TIPO: Tirar proveito da prostituição, auferir vantagem econômica

da prostituta:

a) Participando diretamente dos lucros (o agente participa dos lucros como

verdadeiro sócio da prostituta);

b) Fazendo-se sustentar por quem exerça a prostituição (o agente mantêm-se

através do fornecimento de alimentos, vestuários, habitação etc, por parte da

meretriz) (CAPEZ, 2007, p. 94; BITENCOURT, 2007, p. 100).

O crime é permanente e habitual, exigindo-se ação

continuada, “o que afasta a possibilidade de ser

incriminado o sujeito que, uma vez ou outra,

esporadicamente, recebe algum donativo da prostituta

ou uma atenção material especial, um auxílio numa

situação passageira (TELES, 2006).

“Isoladamente, o fato de a pessoa tirar proveito dos lucros da prostituta uma única

vez é atípico, penalmente irrelevante” (NUCCI, 2006, p. 856).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, homem ou mulher (CAPEZ, 2007), embora,

em regra, seja praticado por homem, popularmente conhecido como rufião ou

cafetão (BITENCOURT, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 66

Rufianismo passivo: O agente recebe presentes e favores da prostituta, que

lhe tem deveras afeição – é a típica figura do gigolô (amant du coeur).

Rufianismo ativo: É o verdadeiro rufião, já que “atribui-se direito a um pesado

tributo, ou arrebata da meretriz todos os ganhos, quase sempre pela força”; A

prostituta rende-se à violência e/ou as ameaças contínuas, impingidas pelo seu

suposto protetor (COSTA JR., 2006).

Obs: Aquele que recebe favores, mimos ou gracejos da prostituta, como jantares,

viagens, não pagar pelos préstimos sexuais etc, não configura o tipo penal em

comento.

SUJEITO PASSIVO: Aquele (a) que exerce a prostituição (TELES, 2006, p. 55).

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: Dolo;

O elemento psicológico é apresentado pela vontade

consciente e livre de participar dos lucros da

prostituição, ou de fazer sustentar-se por ela. Apesar de

aquele que desfruta da meretriz estar concorrendo para

a satisfação da lascívia de terceiros, não é essa a

finalidade perseguida pelo agente. O crime dispensa,

assim, o dolo específico (COSTA JR., 2006 – No mesmo

sentido: CAPEZ, 2007; BITENCOURT, 2007; TELES,

2006).

Controvérsia doutrinária: Acerca da necessidade do dolo específico, há

entendimento contrário:

“Exige-se o elemento subjetivo do tipo específico, consistente no „habitus‟, que é a

vontade de praticar a conduta com habitualidade, como estilo de vida” (NUCCI,

2006, p. 856).

CONSUMAÇÃO: “Consuma-se com a prática reiterada, com habitualidade, de

uma das condutas descritas no tipo penal, isto é, quando o agente (rufião) passa

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 67

a participar dos lucros, ou ser sustentado por quem exerce a prostituição”

(BITENCOURT, 2007).

TENTATIVA: Por tratar-se de crime habitual, a tentativa é inadmissível (CAPEZ,

2007, p. 95).

FORMAS QUALIFICADAS: a) a menoridade da vítima; b) a autoridade do

agente; c) a violência ou grave ameaça (BIENCOURT, 2007, p. 102).

Na forma prevista na modalidade „a‟, tratando-se de menor de 14 anos, o que se

tem é o crime do 213 ou 214.

No que tange a hipótese „b‟, deve-se incluir-se no seu rol:

Os professores, educadores, diretores de

estabelecimento de ensino, de saúde, internatos,

externatos, casas de internação de menores, enfim, as

pessoas que estejam exercendo um poder de

autoridade, decorrente das relações de tratamento e

guarda.

Em „c‟, cuida-se de violência ou grave ameaça, devendo-

se entender por violência “as lesões corporais, leves,

graves ou gravíssimas e também as vias de fato. Grave

ameaça é a promessa de causação de um mal

importante. Essa qualificadora não contempla a hipótese

fraude” (TELES, 2006).

CONCURSO:

Além da pena mais severa, o agente responderá, em

concurso material, pelo crime contra a pessoa

decorrente do emprego de violência – lesão corporal ou

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 68

morte - , a não ser que esses resultados sejam

derivados de negligência, caso em que incidirá o art.

223, aplicável também ao art. 230, por força do que

dispõe o art. 232 (TELES, 2006).

AÇÃO PENAL: “Trata-se de crime de ação pública incondicionada” (CAPEZ,

2007).

DISTINÇÕES ENTRE RUFIANISMO E OS TIPOS PENAIS ANTERIORES DO

CAPÍTOLO EM COMENTO:

Pela proximidade conceitual dos tipos em análise, algumas imprecisões

costumam ocorrer na interpretação e aplicação da norma.

A primeira confusão se dá com o artigo 227 do Código Penal Brasileiro,

que diz: “Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem”. A possível confusão

poderá se acentuar quando é analisado o § 1º do mesmo artigo: “Se a vítima é

maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu

ascendente, descendente, marido, irmão, tutor ou curador ou pessoa a que esteja

confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda”.

Outra confusão se dá quanto ao art. 228 do código Penal Brasileiro.

“Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a

abandone”. Assim como se acentua a confusão na sua forma qualificada, art. 228,

§ 1º “Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do artigo anterior”.

Contudo algumas distinções básicas devem ser feitas entre os dispositivos

citados a cima e o Rufianismo. Em primeiro lugar, no caso concreto, não se fala

em induzir e sim em oferecer. O professor Roque de Brito Alves define induzir

como “persuadir ou levar alguém a praticar algum ato” (ALVES. p. 69, 2006).

Neste caso, João que oferece Maria a outrem não utilizou nenhuma arma retórica

ou oratória para que Maria tivesse relação sexual com outrem, pois Maria já era

meretriz. Não se aplicaria os arts. 227 e 228 do Código Penal:

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 69

O rufianismo não pode concorrer com a mediação para

satisfazer a lascívia de outrem, quando a ação é dirigida

contra mesma pessoa. Se a prostituição já existe como

forma profissional de saciar a lascívia alheia e

indeterminada, será possível o favorecimento à

continuidade de um estado preexistente, mas nunca o

induzimento particular e determinado (TJGB – Rev. –

Rel. – Amílcar Laurindo – RDP 3/88) (FRANCO, p. 3287,

2001).

APELAÇÃO - FAVORECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO E

RUFIANISMO - CONFLITO APARENTE DE NORMAS -

ABSORÇÃO DO CRIME DE FAVORECIMENTO À

PROSTITUIÇÃO PELO DE RUFIANISMO. - Não obstante

o angariamento de clientes a configurar o favorecimento

à prostituição, este crime foi absorvido pelo delito de

RUFIANISMO pela preponderância do indevido proveito,

consubstanciado na participação nos lucros. (TJMG –

AP – Rel. Paulo Cezar Dias).

Outra distinção especifica entre o artigo 228 e 230: Por ser Maria nesse

caso uma prostituta, não se enquadra nesse artigo supracitado, pois “como punir

aquele que induz (dá a idéia) alguém a prostituição se essa pessoa já está

prostituída? A Disciplina vida sexual, objeto jurídico de tipo penal, já está

nitidamente comprometido nessa hipótese de forma que não se ver razão lógica

para punição do agente” (NUCCI, 2006).

5.1.5 Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração

sexual

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 70

Art. 231 - Promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional,

de pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoa para

exercê-la no estrangeiro:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.102

§ 2º Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena é de

reclusão, de 5 (cinco) a 12 (doze) anos, e multa, além da pena

correspondente à violência.

CONCEITO: “Refere-se o crime à conduta daqueles que vão recrutar pessoas

destinadas à prostituição em nosso país ou no estrangeiro” (COSTA JR., 2006).

BEM JURÍDICO TUTELADO: A moralidade pública sexual. “Procura-se, com o

dispositivo, evitar o parasitismo da prostituição, em especial no que tange a suas

implicações internacionais” (MIRABETE, 2007).

O bem jurídico protegido é o interesse público em não

incentivas, incrementar, ver disseminar a prostituição,

seja no território nacional, seja em país estrangeiro, até

porque o crime em comento é um daqueles que o Brasil,

por convenções internacionais, obrigou-se a reprimir,

aplicando a lei brasileira ainda quando cometidos no

estrangeiro, desde que presentes os requisito do art. 7º,

§ 2º do Código Penal” (TELES, 2006).

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 71

b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de

propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam

julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda

que absolvido ou condenado no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984).

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do

concurso das seguintes condições: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984)

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a

extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a

pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não

estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

NÚCLEO DO TIPO: I - Promover, que significa “ser a causa geradora de algo”;

II – Intermediar, ou seja, “servir de ponte ou está no meio de pessoas,

aproximando-as”; Facilitar, “tornar acessível, sem grande esforço” (NUCCI,

2006).

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: Dolo, que consiste na “vontade livre e

consciente de promover ou facilitar a entrada ou a saída de pessoa para o

exercício da prostituição. Não é necessário que o agente queira esta finalidade,

bastando que esteja ciente de que o homem ou a mulher virá a exercer o

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 72

meretrício. O desconhecimento do agente a respeito da atividade que será

desempenhada pelo sujeito passivo é erro do tipo que exclui o dolo” (MIRABETE,

2007, p. 469).

Controvérsia doutrinária

“O crime é punível a título de dolo genérico, não sendo exigido o específico, por

ser indiferente a configuração do crime que venha a pessoa a exercer o

meretrício” (COSTA JR., 2006).

Cremos existir elemento do tipo subjetivo específico,

consistente na vontade de promover a prostituição da

pessoa que fez ingressar ou sair do país. A não adoção

do elemento específico poderia resultar em injustiças.

Imagine-se o sujeito que traz uma mulher para

empregar-se como garçonete, embora ele venha a

prostituir-se. Ainda que tenha promovido a entrada da

pessoa no território nacional, que, efetivamente tornou-

se prostituta, não era essa a intenção específica do

sujeito (NUCCI, 2006).

“Se quem promove ou facilita a entrada ou saída da pessoa da pessoa não sabe

que sua intenção é exercer a prostituição o fato é atípico, excludente de dolo”

(TELES, 2006).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, home ou mulher, “embora, geralmente, seja

praticado por homem; em regra, por mais de uma pessoa” (BITENCOURT, 2007).

SUJEITO PASSIVO: “O crime em questão, em sua forma simples, pressupõe

que a vítima seja homem ou mulher maior de 18 anos. Caso seja maior de 14 e

menor de 18, configura-se a forma qualificada [...]. Se a vítima tiver 14 anos ou

menos, o crime será de lenocínio na forma qualificada (CP, art. 231, § 2º), uma

vez que estará presente a violência presumida” (CAPEZ, 2006).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 73

CONSUMAÇÃO: “Há fato consumado no momento em que a pessoa entra no

território nacional ou quando dele sai” (TELES, 2006).

“Pra a consumação do delito basta a entrada ou saída da pessoa no território

nacional, não se exigindo o efetivo exercício efetivo da prostituição. Trata-se de

crime de perigo que não exige como resultado indispensável o meretrício”

(MIRABETE, 2007).

TENTATIVA: A tentativa é possível (COSTA JR.; BITENCOURT, 2007).

“A tentativa é perfeitamente possível e acorre, por exemplo, quando o agente

prepara os papéis e compra a passagem e a pessoa é detida antes do embarque

para o exterior” (MIRABETE, 2007).

FORMAS QUALIFICADAS: “O emprego de violência ou grave ameaça ou

mesmo a fraude qualifica o crime. O crime de tráfico de pessoas também será

qualificado nas mesmas hipóteses do art. 227, § 1º”. (BITENCOURT, 2007).

Art. 227/§ 1º - Se a vítima é maior de 14 anos e menor de dezoito anos, ou se

o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão,

tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação,

de treinamento ou de guarda (redação dada pela lei 11.106/05):

Pena – reclusão de 2 a 5 anos.

CONCURSO: “Possível é o crime continuado, quando o agente pratica vários

delitos nas condições previstas no art. 71”.

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica

dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar,

maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser

havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos

crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer

caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de

11.7.1984).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 74

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos

com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a

culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um

só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,

observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste

Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11. 07. 1984).

“O agente que pratica outro crime contra os costumes (estupro, atentado violento

ao pudor etc.) contra a mesma vítima responde por ambos os delitos em concurso

material” (MIRABETE, 2007).

“Se a figura qualificada for praticada com violência ou grave ameaça, haverá

soma de penas, desde que a violência constitua em si mesma crime”

(BITENCOURT, 2007).

AÇÃO PENAL: Pública incondicionada (TELES, 2006).

COMPETÊNCIA: “Tratando-se de crime internacional, a competência é da

justiça federal (CF/88, art. 109, V)” (CAPEZ, 2006).

5.1.6 Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual

Art. 231-A. Promover, intermediar ou facilitar, no território nacional, o

recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento

da pessoa que venha exercer a prostituição

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Parágrafo único. Aplica-se ao crime de que trata este artigo o disposto nos

§§ 1º e 2º do art. 231 deste Decreto-Lei.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 75

CONCEITO: Crime caracterizado pela conduta de recrutar ou favorecer o fluxo

de pessoas destinado a prostituição dentro do território nacional (MIRABETE,

2007).

BEM JURÍDICO TUTELADO: A moralidade sexual e os bons costumes (NUCCI,

2007). “Existe também o interesse do Estado em evitar e reprimir o torpe

comércio da carne” (COSTA JR., 2006).

“O bem jurídico protegido é o interesse público em não incentivar, incrementar,

ver disseminar a prostituição no território nacional” (TELES, 2006).

NÚCLEO DO TIPO: I - Promover, que significa ser a causa geradora de algo; II

– Intermediar, - servir de ponte ou está no meio de pessoas, aproximando-as;

Facilitar, tornar acessível, sem grande esforço (JESUS, 2006).

ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: Dolo, que consiste na “vontade livre e

consciente de promover ou facilitar a prostituição alheia” (NUCCI, 2007).

O desconhecimento do agente a respeito da atividade que será desempenhada

pelo sujeito passivo é erro do tipo que exclui o dolo. (MIRABETE, 2007).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, home ou mulher, “embora, geralmente, seja

praticado por homem; em regra, por mais de uma pessoa” (BITENCOURT, 2007).

SUJEITO PASSIVO: “em regra é a mulher, nada impedindo que seja o homem,

já que o texto fala em pessoa que venha a exercer a prostituição” (COSTA JR.,

2006).

CONSUMAÇÃO: “Ocorre com a realização de qualquer ato de recrutamento,

transporte, transferência, alojamento ou acolhimento da vítima” (JESUS, 2007).

TENTATIVA: A tentativa é possível (COSTA JR., 2006; MIRABETE, 2007;

JESUS, 2007).

Divergência doutrinária

Não é admissível, pois se cuida de um crime

condicionado: a conduta do agente, para aperfeiçoar-se,

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 76

depende do efetivo exercício da prostituição. Havendo,

consuma-se. Inexistindo, não é fato relevante no

contexto do tráfico interno de pessoas, podendo

constituir outro tipo de delito (NUCCI, 2007).

FORMAS QUALIFICADAS: O crime de tráfico interno de pessoas será

qualificado nas mesmas hipóteses dos §§ 1º e 2º do artigo anterior (230).

(BITENCOURT, 2007). Ver, também, o que dispõe o art. 232.

“Se a figura qualificada for praticada com violência ou grave ameaça, haverá

soma de penas, desde que a violência constitua em si mesma crime”

(BITENCOURT, 2007).

CONCURSO: “Possível é o crime continuado, quando o agente pratica vários

delitos nas condições previstas no art. 71”.

“O agente que pratica outro crime contra os costumes (estupro, atentado violento

ao pudor etc.) contra a mesma vítima responde por ambos os delitos em concurso

material” (MIRABETE, 2007).

AÇÃO PENAL: Pública incondicionada (TELES, 2006).

5.3 DISPOSIÇÕES GERAIS

5.3.1 Causas de Aumento da Pena

Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:

III - de metade, se do crime resultar gravidez; e

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 77

IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença

sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.

5.3.2 Segredo de Justiça

Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título

correrão em segredo de justiça.

ATENÇÃO!

Art. 7º da Lei 12.015/09:

Revogam-se os arts. 214, 216, 223, 224 e 232 do Decreto-Lei no 2.848, de 7

de dezembro de 1940 - Código Penal, e a Lei no 2.252, de 1o de julho de

1954.

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 78

6. DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

6.1 Ato Obsceno

Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao

público:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

OBJETO JURÍDICO: O bem jurídico tutelado é o pudor público, ou seja, o

sentimento coletivo de vergonha que deriva do pudor individual médio vigente na

sociedade (FRAGOSO, 1991). “Em segundo lugar está protegido, também, o

pudor individual de quem, eventualmente, presencie o fato” (MIRABETE, 2007).

“Esse sentimento de pudor é variável em face das constantes modificações por

que passa a sociedade. O que é imoral para uns pode ser totalmente aceitável

para outros, principalmente se houver diferença de idade” (SILVA, 2006).

“... não se deve atender, porém, „as exigências extraordinárias das sensibilidades

mórbidas ou exageradas ou às austeridades do puritanismo ou os falsos

princípios sem equilíbrio na concepção da vida social‟” (FARIA apud MIRABETE,

2007).

NÚCLEO DO TIPO: “Praticar (executar, levar a efeito ou realizar, implicando uma

movimentação do corpo humano, e não simplesmente em palavras)” (NUCCI,

2007).

Ato obsceno: “É a manifestação corpórea, de cunho sexual, que ofende ao

pudor público” (JESUS, 2007), “Considerando-se os costumes vigentes naquele

local e época (SILVA, 2006).

“Ato obsceno é a prática impudica, que agride o sentimento médio de pudor da

sociedade, causando-lhe estupor e repulsa” (COSTA JR., 2006).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 79

“Cremos ser, diante do que a mídia divulga todos os dias em todos os lugares,

conduta de difícil configuração, atualmente” (NUCCI, 2007).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa (COSTA JR., 2006). “Freqüentemente, o

agente é inimputável por sofrer de alienação mental (exibicionismo, p. ex.)”

(MIRABETE, 2007).

SUJEITO PASSIVO: A coletividade, “diretamente atingida pelo ato atentatório ao

pudor público” (SILVA, 2006, p. 305).

CONDUTA TÍPICA: A conduta punida é a pratica do ato obsceno, isto é, ato que

ofenda o pudor público, objetivamente, de acordo com o meio ou circunstâncias

em que é praticado. O ato pode ser real ou simulado, mas deve ter conotação

sexual, não se enquadrando no dispositivo a manifestação verbal obscena

(JESUS, 2007).

Para a configuração típica do delito faz-se necessário que a conduta seja

praticada: 1. em lugar público (acessível, permanentemente, a um número

indefinido de pessoas – ex. ruas, praças, jardins);

2. em lugar aberto ao público (onde qualquer pessoa pode entrar, ainda que

mediante condições – bibliotecas, fóruns, museus, cinemas);

3. Ou exposto ao público (não é aberto ou acessível a todos, mas permite que

número indeterminado de pessoas vejam o que nele se passa; é o lugar

devassado – varanda de um apartamento, jardins ou quintais de uma casa).

(COSTA JR., 2006; MIRABETE, 2007).

“Em face dos nossos costumes atuais, entendemos que o topless praticado em

qualquer praia, ou o nudismo em praias predeterminadas ou afastadas, não

configura ato obsceno.” (DELMANTO, 2002).

ELEMENTO SUBJETIVO: Dolo - vontade livre e consciente de praticar o ato

obsceno, estando o agente consciente da publicidade do local e de estar

ofendendo o pudor.”Pode ser direto ou eventual. Direto, quando o sujeito deseja

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 80

que o ato seja visto. Eventual, quando assume o risco de vir a ser presenciado

por terceiros” (JESUS, 2007).

“Não se exige qualquer finalidade específica, como o propósito de ultraje ao

pudor público” (COSTA JR., 2006; MIRABETE, 2007).

Não existe o tipo na forma culposa.

CONSUMAÇÃO: Consuma-se com a efetiva prática do ato, independente de

alguém se sentir ofendido, “justamente por tratar-se de crime de perigo”

(SILVA, 2006).

“E delito formal, sendo irrelevante que não tenha sido presenciado ou não

tenha ofendido o pudor de quem o viu” (TACrSP, RT 527/380; contra: TACrSP,

RT 602/344).

TENTATIVA: Controvérsia doutrinária:

“É inadmissível: ou o pratica um ato que seja obsceno, e o crime está

consumado, ou não pratica, e, nesta hipótese, não existe início de execução

passível de interrupção” (JESUS, 2007; SILVA, 2006; COSTA JR.,).

“É admissível na forma plurissubsistente” (NUCCI, 2007, p. 822); “... em que

pese a opinião de Noronha em contrário, é possível” (MIRABETE, 2007, p 478).

AÇÃO PENAL: Pública incondicionada.

CAUSA DE EXCLUSÃO DO CRIME: “Caracteriza-se o estado de necessidade

quando o agente se apresenta despido porque perdeu sua roupa de banho,

teve suas roupas rasgadas acidentalmente ou queimadas em incêndio”

(MIRABETE, 2007).

QUESTÕES CONTROVERTIDAS NA JURISPRUDÊNCIA:

Lugar público:

Direito Penal III - Parte Especial

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Em geral. Se o lugar é público, mas nula a possibilidade de ser visto o ato, não se

configura (TACrSP, RT 544/380).

Exige-se que o lugar seja público, mas não que o ato obsceno seja presenciado

por pessoas, bastando o dolo eventual (TACrSP, RT 517/357, RJDTACr 21/83).

Lugar exposto ao público é aquele que, sem ser aberto ao público, é

possivelmente acessível às vistas de qualquer pessoa e não de alguma pessoa

(TJSC, RT 546/391).

Interior de veículo 1:

Não configura, se foi necessário usar lanterna para ver o casal (TACrSP,

Julgados 87/214).

Não é lugar exposto ao público o interior de veículo estacionado em lugar ermo.

(TACrSP, Julgados 72/393).

Não configura, a cópula realizada dentro de carro parado e trancado em lugar

deserto, que terceiros não podiam ver (TJSP, RT 520/387).

Não configura, o ato praticado no interior de automóvel, à noite e em lugar ermo

(TACrSP, RT 553/357).

A cabina de caminhão é sempre alta e subtrai quase totalmente a visão do seu

interior por eventual passante, sendo discutível a publicidade do ato obsceno nela

realizado (TACrSP, RT 438/432).

Interior de veículo 2:

Caracteriza-se, apesar de estar dentro de veículo, o agente permitiu que todos

vissem seu ato obsceno (TACrSP, Julgados 77/313).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 82

Configura o delito se, apesar de o ato ocorrer no interior de carro parado e na

madrugada, pôde ou podia ser visto (TACrSP, Julgados 71/253).

Interior de automóvel, parado em local iluminado e que permita ver bem o que ali

ocorre, é considerado lugar exposto ao público (TACsSP, RT 560/335).

“O fato de ser surpreendido abraçado à acompanhante, no assento do veículo, é

demonstração de afeto e não prática de ato obsceno (TACrSP, RT 415/261).

Interior de residência 1:

Como não é local acessível a indeterminado número de pessoas, desclassifica-se

para o art. 65 da LCP (TACrSP, RT 602/349).

Absolve-se, se o agente toma banho nu no quintal de sua casa, sendo

inadmissível em teoria penal a compreensão extensiva de „lugar público‟ (TJGO,

RT 728/609).

Interior de residência 2:

Configura o art. 233, a conduta de agente que exibe seu pênis na varanda de sua

casa para menores que por ali passavam, sendo o alpendre situado de frente

para a rua, com inteira visão de quem nesta se encontra (TACrSP, RJDTACr

22/77).

Também se caracteriza o art. 233, se o agente se despe em frente à janela de

apartamento vizinho, exibindo seus órgãos genitais em plena luz do dia, bastando

que sua janela aberta permita que pessoas de outro apartamento o vejam

(TACrSP, RJDTACr 22/75).

Local privado:

Direito Penal III - Parte Especial

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O agente que pratica ato obsceno em local privado, sem acesso nem

possibilidade de visão por parte de um número indeterminado de pessoas, não

comete o crime do art. 233 (DELMANTO, 2002, p. 497).

Exibicionismo:

“Pratica o homossexual que, fazendo trottoir, deixa entrever seu corpo seminu,

vestido com peças íntimas femininas” (TACrSP, Julgados 87/416. RT 637/280).

“Streaking: Ou “chispada” (correr nu) enquadra-se no art. 233 do CP” (TACrSP,

RT 515/363, 504/351, 495/332, 484/316).

Urinar em local público:

“Urinar é ato natural, mas quando a micção é praticada em via pública, com

exibição do pênis, ofende o pudor público e configura o delito de ato obsceno

(TACrSP, julgados 80/539, 68/293).

Urinar em lugar público, aberto ou exposto ao público, configura o crime do art.

233 (TACrSP, RT 763/ 598).

Basta a mera possibilidade do ato de urinar ser presenciado por terceiros, sendo

irrelevante a efetiva visão da genitália do agente (TACrSP, RJDTACr 25/61).

Urinar de costas para a rua, sem exibir o pênis, é grosseria, mas não tipifica o art.

233 (TACrSP, Julgados 67/464).

Urinar de madrugada, de maneira discreta, sem a presença de pessoas e de

frente para a parede, não configura o delito deste art. 233 (TACrSP, RJDTACr

21/84-5).”

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 84

6.2 Escrito ou Objeto Obsceno

Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim

de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho,

pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I – vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos

referidos neste artigo;

II – realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral,

ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro

espetáculo, que tenha o mesmo caráter;

III – realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição

ou recitação de caráter obsceno.

CONCEITO: “Trata-se daquilo que Manzini chamou de lenocínio intelectual, em

que o lenão prostitui a ciência e a arte, explorando-as, oferecendo-as a terceiros,

de modo que lhes excite a concupiscência e a sensualidade” (COSTA JR., 2006).

NÚCLEO DO TIPO: Fazer (produzir, criar, fabricar)/ importar (fazer entrar no

país)/ exportar (fazer sair do país)/ adquirir (obter, a título gratuito ou oneroso)/ ter

sob guarda (guardar, deter). “É crime do tipo misto alternativo ou de conteúdo

variado. Assim, praticada qualquer das condutas elencadas no tipo penal, haverá

o delito” (SILVA, 2006).

OBJETO JURÍDICO: O pudor público. “Coíbe-se fato que envolva ofensa ao

pudor „pela excitação dos instintos grosseiros e dos baixos apetites sexuais”

(FARIA apud MIRABETE, 2007).

SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa (NUCCI, 2007).

SUJEITO PASSIVO: A coletividade (JESUS, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 85

OBJETIVIDADE JURÍDICA: São várias as ações incriminadas. Tratando-se de

tipo penal misto alternativo, o crime será único, ainda que o agente pratique mais

de uma das ações indicadas.

As ações descritas no tipo devem ser praticadas com finalidade comercial, de

distribuição ou exposição pública (COSTA JR., 2006)

São objetos materiais da conduta típica: escrito, desenho, pintura, estampa ou

qualquer objeto obsceno; abrange, assim, filmes, fotografias, discos etc.

Discute-se quanto ao crime em apreço, o problema da

obra artística, sendo sutil e contestada a diferença entre

um livro realista um nu pintado, que podem ser

considerados obra de arte, e um escrito ou pintura

obscenos. Entendem uns que a arte nunca pode ser

obscena e outros que ela não justifica a obscenidade [...]

De qualquer forma, a obra literária, artística ou científica

deve ser apreciada, para os fins de incriminação, de

acordo com o seu momento histórico (MIRABETE, 2007).

“Hoje, parece induvidoso que uma obra artística, quanquanto de escasso valor,

não possa ser considerada obscena. Não deverá, entretanto, o obsceno,

disfarçado de falsas tinturas artísticas, valer-se do escudo da impunidade”

(COSTA JR., 2006, p. 442).

Já antes da CF/88 vinha decrescendo muito a repressão

deste delito, em virtude da mudança dos costumes e da

maior liberdade concedida pelos antigos órgãos de

censura. Com a abolição da censura pela nova Carta

(art.5º, IX), a sua repressão penal vem diminuindo ainda

mais. Como exemplo, lembramos as salas especiais de

cinema autorizadas a exibir filmes pornográficos; as

seções em locadoras de vídeo onde são oferecidos

esses mesmos filmes; as películas do mesmo gênero

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 86

exibidas nas televisões a cabo ou até mesmo em canais

normais, só que de madrugada; as sex-shops (lojas de

objetos eróticos), que apenas não exibem seus artigos

em vitrines; as revistas pornográficas vendidas em

bancas de jornais com invólucro plástico opaco etc.

Todas autorizadas pelo Poder Público, que recolhe

impostos sobre a sua comercialização, e hoje toleradas

pela sociedade. Embora o art. 234 do CP continue em

vigor e só outra lei possa revogá-lo, tais condutas não

devem ser punidas, uma vez que o sentimento comum

de pudor público, bem jurídico tutelado, se modificou,

não restando mais atingido por elas, e ainda em face do

princípio da adequação social, que é uma das causas

supralegais de exclusão da tipicidade, hoje aceito pela

doutrina moderna (Santiago Mir Puig, Derecho Penal,

PPU, Barcelona, 1990, pp. 567-70), e pela própria

jurisprudência...(DELMANTO, 2002).

ELEMENTO SUBJETIVO: “é a vontade de comercializar, distribuir ou expor

algo que possa ofender a moralidade pública no campo sexual” (NUCCI, 2007).

CONSUMAÇÃO: Consuma-se com a prática das ações, sendo dispensável

para o momento consumativo “que alguém tenha acesso ao escrito ou objeto

obsceno, nem que o pudor público seja efetivamente atingido. Basta a

possibilidade de que tal aconteça. Trata-se de crime de perigo”(JESUS, 2007).

TENTATIVA: Admite-se a tentativa.

Nas hipóteses de importar e exportar, o crime é este do art. 234 e não o de

contrabando do art. 334 do Código. Penal.

Se cometido por meio de imprensa ou informação o delito configurado é o

previsto na Lei nº 5.250, de 9.2.67, art. 17, caput (JESUS, 2007).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 87

Se o agente „produzir ou dirigir representação teatral, televisiva ou película

cinematográfica, utilizando-se de criança ou adolescente em cena de sexo

explícito ou pornográfica‟, ou contracenar „com criança ou adolescente‟ nestas

condições, vide art. 240 e parágrafo único da Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança

e do Adolescente).Se o agente „fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou

pornográfica envolvendo criança ou adolescente‟, vide art. 241 da mesma lei.”

AÇÃO PENAL: pública incondicionada.

FIGURAS ASSEMELHADAS (Art. 234, parágrafo único).

ATT: Com a mesma pena são punidas outras condutas análogas:

Inciso I - Venda, distribuição ou exposição à venda ou ao público .

Representação teatral, exibição cinematográfica ou qualquer outro espetáculo, em

Inciso II - lugar público ou acessível ao público.

Inciso III - Audição ou recitação, em lugar público ou acessível a este, ou pelo

rádio (inclui a televisão).

São incriminados, de modo geral, quaisquer espetáculos

obscenos, que ofendam o pudor público. Para que

ocorra a adequação típica os espetáculos deverão ser

realizados em local público (parques, praças, ruas etc.)

ou acessível ao público (cinemas, teatros etc.), desde

que não haja a devida restrição a menores de idade. Nos

dias atuais não há mais como fugir da realidade, uma

vez que os espetáculos pornográficos multiplicam-se e

não mais afetam a moralidade pública, quando exibidos

em locais apropriados a com as devidas restrições ao

público em face da idade.

[...]

Hoje em dia, a televisão é a maior veiculadora de

espetáculos sexuais, que não mais atingem a

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 88

moralidade pública. Assim, o juiz deverá analisar o caso

com muita cautela, atento às realidades sociais” (SILVA,

2006).

“A venda, por formandos, de convites para uma festa com dizeres

considerados obscenos, com intuito de arrecadar fundos para baile de

formatura, não caracteriza este delito; tal fato reprovável é absolvido pela

população e por esta considerado meramente jocoso, fruto natural da

euforia de acadêmicos” (TACrSP, RJDTACr 20/195).

Direito Penal III - Parte Especial

Prof. Isaac de Luna Ribeiro 89

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