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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ - FEPI Curso de Direito Professora Dra. Miriam Senise Lisboa DIREITO PROCESSUAL PENAL III 1

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Page 1: Apostila PENAL III 20132 Fepi

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ - FEPI

Curso de Direito

Professora Dra. Miriam Senise Lisboa

DIREITO PROCESSUAL PENAL III

ITAJUBÁ

2013

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Professora Dra. Miriam Senise Lisboa

DIREITO PENAL III

Apostila referente à disciplina de Direito Penal III, do curso de Direito do Centro Universitário de Itajubá.

Itajubá

2013

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Dedico esta apostila a todos os alunos que tiveram o ímpeto de agregar mais uma etapa na sua vida: A Graduação, que apesar das dificuldades da união dos primordiais vínculos: trabalho, estudo e família, fazem ainda mais valorizar esta batalha!

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RESUMO:

A finalidade desta compilação tem com principal objetivo, ajudar a melhoria do

aprendizado de Direito Penal III, e suas aplicações na prática da advocacia. Para conseguir

este objetivo foram introduzidos novos tópicos, com uma linguagem academicamente

simples com exemplos familiares do cotidiano. Sabe-se que o Direito Penal existe para

promover a paz social e suas mudanças, que tentam acompanhar os anseios da sociedade,

são temidas por alguns e desvalorizadas por outros, mas tem papel primordial na

construção acadêmica e cultural de todos. Os assuntos foram desenvolvidos

sistematicamente por intermédio de textos compilados e simplificados, bem como questões

propostas com respostas. Alguns tópicos são sistematicamente revistos, diante de sua

importância. Para que este aprendizado consiga a eficácia necessária, os assuntos

pertinentes ao ensino básico de Direito Penal – leia-se: Direito Constitucional, Filosofia

Jurídica e Direito Penal I e II – tenha uma base satisfatória, principalmente com referencia a:

história do Direito Penal, português e lógica argumentativa.Foram utilizados todos os livros

que constam na bibliografia principal, assim como alguns livros da bibliografia secundaria.

Palavras-chave: Penal. Direito.

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Índice

I – Contravenções penais................................................................... Página 6

II – Direito Penal Econômico: noções................................................. Página 29

III – Direito Penal Ambiental ............................................................... Página 48

IV – Leis penais especiais: Drogas ....................................................... Página 60

V - Segurança Nacional ....................................................................... Página 91

VI – Abuso de Autoridade .................................................................... Página 93

VII – Tortura ......................................................................................... Página 97

VIII – Violência Doméstica e Familiar................................................... Página 99

Referencias Bibliográficas...................................................................... Página 117

Anexo – Ementa da disciplina................................................................. Página 119

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Os tópicos seguem a ordem encontrada na ementa.

Contravenções penais. Direito Penal Econômico: noções. Direito Penal Ambiental. Leis penais especiais: Drogas; Segurança Nacional; Abuso de Autoridade; Tortura; Violência Doméstica e Familiar.

I - Contravenções penais

Contravenção Penal – Contravenções penais são infrações penais de menor gravidade, a critério do legislador, e que, por isso, tem como conseqüência uma pena mais leve do que a estabelecida para um crime. Quem estabelece o que será crime e o que será apenas contravenção é o legislador.

Pena: é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos

Ora, todo o conjunto de normas jurídicas que têm por finalidade estabelecer as infrações de cunho penal e suas respectivas sanções e reprimendas compõe o Direito Penal, que é um ramo do Direito Público (que diz respeito a função ou dever do Estado). Há que se acrescentar que o Direito Penal é formado por uma descrição, em série, de condutas definidas em lei, com as respectivas intervenções do Estado (na aplicação de sanções e eventuais benefícios), quando da ocorrência do fato delituoso, concreto ou tentado.

DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Anterioridade da lei: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 

Lei penal no tempo: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.  A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o

agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Lei excepcional: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.   

Tempo do crime: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 

Territorialidade: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.  Consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, e as

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mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 

Lugar do crime: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 

Contravenção: INFRAÇÃO MENOS GRAVE por definição do legislador; são punidas apenas com multa ou prisão simples e estão arroladas na Lei de Contravenções Penais.

OBS.: O enquadramento é ato de escolha do legislador. O traço distintivo entre ambos é a cominação do tipo de pena (critério prático).

Elementos Objetivos: são os que se referem à materialidade da infração penal – forma de execução, tempo, lugar, etc.

Elementos Subjetivos: são os referentes à intenção do sujeito ativo, que podem ser crimes dolosos e crimes culposos.

Dolosos: o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Neste caso a pena é mais severa.

Culposos: o agente não quer o resultado, não assume o risco de produzi-lo, mas causa o resultado por imprudência, imperícia ou negligência. A pena é mais branda.

Penas: Pena é a sanção imposta pelo Estado ao autor de uma infração penal (crime ou contravenção). De acordo com a nossa legislação penal, as penas podem ser:

Restritiva de direitos: ex: prestação de serviços à comunidade, limitação de fins de semana, etc.

Pecuniárias: multas

Privativas de liberdade: reclusão (aplicada aos crimes mais graves), detenção (aplicada aos crimes menos graves) e prisão simples (aplicada às contravenções).

Imputabilidade Penal: é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para ser responsabilizado por um crime. É inimputável aquele que não pode ser responsabilizado.

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Causas que EXCLUEM A IMPUTABILIDADE (deixam a pessoa isenta de PENA):

Absolutas (isentam): psicopatas; menores de 18 anos; embriaguez completa (proveniente de caso fortuito ou força maior)

Relativas (reduzem): semi-psicopatas; embriaguez incompleta

Causas que NÃO EXCLUEM A IMPUTABILIDADE (recebem PENA normal):

- emoção e paixão; embriaguez voluntária, culposa ou pré-ordenada (completa ou incompleta)

-

CONTRAVENÇÃO

Conceito de Contravenção

Adotou-se o critério bipartido, não o tripartido, como em outros países.

Bipartido -

De um lado, o crime ou delito (como expressões sinônimas)

E, do outro, a contravenção (que é um crime menor).

Tripartido

Crime

Delito

Contravenção

Conceito FormalFato típico e ilícito (Damásio – Lei das Contravenções Penais Anotada – Art.1º)

A Lei de Contravenções Penais – Decreto-lei n. 3688/41 é especial em relação ao Código Penal, devido a seus elementos especializantes e, desta feita, prefere ao CP. Assim, caso determinada infração seja especificada pela lei de contravenções e, também, pelo CP, aplica-se a especial (LCP), evitando-se, desta forma, o bis in idem. Mas, ao mesmo tempo, podem-se aplicar, também, as regras gerais (não incriminadoras) do código, caso a lei especial não discipline de modo diverso.

Lembra-nos Damásio que a menoridade prevista no art. 27 do código aplica-se às contravenções.

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É o chamado crime anão (concepção de Hungria). São infrações punidas com prisão simples e/ou multa e estão disciplinadas, principalmente, no DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 , a chamada Lei das Contravenções Penais.

São infrações consideradas de menor potencial ofensivo, sendo, portanto, disciplinadas, também, pela Lei 9.099/90 e de competência dos Juizados Especiais Criminais.

O Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei 3.914/41 assevera que crime é a infração penal com pena de reclusão ou detenção, isolada, alternativa ou cumulativamente com a pena de multa e Contravenção a infração com pena de prisão simples ou multa, cumulativa ou alternativamente.

Observa-se que, na realidade, não há diferença ontológica entre crime e contravenção. A classificação é meramente política, pois referida classificação depende, muitas vezes, do momento político, podendo, mais tarde, ser considerado crime, o que, hoje, é considerado contravenção e vice-versa, como ocorreu com a posse de arma de fogo.

Exemplos de contravenções

Praticar vias de fato contra alguém;

Receber em estabelecimento psiquiátrico, e nele internar, sem as formalidades legais, pessoa apresentada como doente mental;

Fabricar, ceder ou vender gazua ou instrumento empregado usualmente na prática de crime de furto;

Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar nu objeto;

Provocar o desabamento de construção ou, por erro no projeto ou na execução, dar-lhe causa;

Provocar tumulto ou portar-se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembléia ou espetáculo público, se o fato não constitui infração penal mais grave;

Prisão simples É a prisão sem rigor penitenciário

A pena deve ser cumprida em estabelecimento especial ou seção especial de

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prisão comum.

O regime deve ser o aberto ou o semi-aberto.

Os presos devem permanecer separados dos outros que cumpram pena de detenção ou reclusão.

Deve-se facultar o trabalho ao preso.

Como está hoje a situação de se converter multa em prisão simples?

A contravenção provoca reincidência?

Não se considera, para efeito de reincidência, condenação anterior por crime propriamente militar ou político, nem pena imposta por contravenção. Mas...

Condenação definitiva pela prática de contravenção + prática posterior de crime – não é considerado reincidência, já que o art. 63 do CP fala em condenação por crimes anteriores.

Todavia, caso haja condenação por contravenção, no Brasil + prática posterior de outra contravenção, haverá reincidência, nos termos do art. 7º da LCP.

Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

Condenação definitiva por crime + prática posterior de contravenção, será considerado reincidente, para aplicação da pena da contravenção.

O elemento subjetivo na contravenção é a

Voluntariedade.

Quanto à tentativa?

Não é punível a tentativa, consoante prescreve o art. 4º da LCP.

Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.

Existe Sim. A contravenção pode apresentar-se na forma dolosa ou culposa. Sua

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contravenção culposa

indicação dolosa ou culposa será indicada no tipo.

É bem verdade que a grandíssima maioria das contravenções é apresentada em sua forma dolosa.

Na verdade, a contravenção apresenta uma voluntariedade.

Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer efeito jurídico.

Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar nu objeto:

Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis.

Veja que o tipo do art. 26 da LCP retrata uma conduta culposa.

A ação penal nas contravenções

É sempre pública e, portanto, tem como peça inicial a denúncia.

Art. 17 da LCP"A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício".

Há, aqui, duas impropriedades:

A primeira é de que a ação penal, na verdade, deve ser pública incondicionada, pois para ser pública condicionada à representação, o dispositivo, obrigatoriamente, terá que assim descrever.

A segunda é de que, como é cediço, a autoridade não pode proceder de ofício, dado que a Constituição de 88 expurgou, de vez, a propositura de ação penal pública incondicionada por portaria judicial ou policial, já que, hoje, o representante do MP é o único legitimado a promover a ação penal.

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Princípio Legalidade e da anterioridade

Estes princípios são aplicados normalmente às contravenções, que, neste caso figura como sinônimo de crime, pois não haverá contravenção se não existir lei anterior que a defina, consoante prescrevem os arts. 5, XL da CF e 1º do CP.

Crimes hediondosA Lei 8.072/90 não se aplica às contravenções, nos termos de seu art. 1º, já que crime, naquele contexto significa crime mesmo, dado a pena desse tipo de crime.

Abolitio Criminis e retroatividade da lei mais benéfica

Logicamente, se a abolitio e a retroatividade do art. 2º do CP se prestam a aplicarem-se ao crime, com muito mais razão se aplicam à contravenção, que é crime menor e sua lei não disciplina de forma contrária e a CF/88, em seu art. 5º, inciso XL prescreve que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.

Leis excepcionais ou temporárias

As leis excepcionais ou temporárias aplicam-se normalmente às contravenções.

Quanto ao tempo, aplica-se a teoria da atividade

Nos termos do art. 4º do CP, considera-se praticada a contravenção no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Todavia, referido sistema somente se aplica aos crimes materiais, vale dizer, com resultado naturalístico.

Princípio da Territorialidade

A contravenção praticada no exterior jamais poderá ser punida no Brasil, consoante prescreve o art. 2º da LCP.

Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.

Prescrição

Para efeito de prescrição, não se aplica o art. 4º, mas o 111, I do CP, ou seja, a prescrição começa a correr do dia em que o crime se consumou. Salientando-se que esta prescrição somente tem razão de ser se ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Contagem do prazo

Aplica-se o prescrito no art. 10 do CP, incluindo-se o dia do começo e contando-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum (Gregoriano – o do dia a dia)

Forma de conduta na contravenção

Ação Movimento corpóreo direcionado a um fim.

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Omissão

Não realização de um comportamento exigido pela lei, desde que seja possível tal realização.

Esta omissão é normativa, isto é, o sujeito somente responde pela contravenção se prescrita a ação omissiva.

Prisões temporária e preventiva

Não cabem nas contravenções, porquanto tanto o art. 1º da Lei 7960, quanto os 312 e 313 do CP fala em crime, não em infração penal, que seria o gênero.

Doutrina

1. Portal ClubJus - Contravenção Penal e o descabimento do artigo 17 ...

Dispõe o artigo 17 da Lei das Contravenções Penais, in verbis: “A ação penal é pública, .... Crime e contravenção são espécies do gênero infração penal. ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=2.19094

2. Portal ClubJus - A reincidência no sistema jurídico brasileiro

30 Dez 2007 ... Em relação às contravenções, Capez [17] assevera que o condenado ... Entretanto, se vier a praticar nova contravenção, é considerado ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=2.13643

3. Portal ClubJus - Fornecimento de bebida alcoólica para crianças e ...

17 Set 2008 ... 63, inciso I, da Lei de Contravenções Penais, alegando a incidência do denominado ‘princípio da especialidade’ ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=2.21075

4. Portal ClubJus - Mendicância contravencional: a gestão penal do medo

15 Set 2007 ... A Lei das Contravenções Penais, entre seus vários dispositivos, prevê a contravenção de mendicância, para a qual estabelece pena de prisão ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=2.10094

5. Portal ClubJus - A justiça consensual e o importante instituto da ...

6 Out 2008 ...em sua redação original, preconizava que infrações penais de menor potencial ofensivo seriam as contravenções penais e os crimes a que a ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=2.21444

Contravenção

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Legislação LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS

DECRETO-LEI Nº 3.688, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941.

Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo diverso.

Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.

Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de outra, qualquer efeito jurídico.

Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.

Art. 5º As penas principais são:

I – prisão simples.

II – multa.

Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou em secção especial de prisão comum, podendo ser dispensado o isolamento noturno.

Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.

§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não excede a quinze dias.

Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada.

Art. 9º A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de multa em detenção.

Parágrafo único. Se a multa é a única pena cominada, a conversão em

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prisão simples se faz entre os limites de quinze dias e três meses.

Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.

Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender, por tempo não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples que não ultrapasse dois anos.

Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender por tempo não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem como conceder livramento condicional. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)[...]

Informativos

Contravenção

6. Portal ClubJus - Informativo 150 do TJDFT - 2008

A despeito de o procedimento adotado para o julgamento das contravenções penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher ser o ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=238.20153

7. Portal ClubJus - Informativo 137 do TJDFT - 2007

31 Dez 2007 ... Tratando-se de contravenção penal praticada com violência doméstica deve ser observada a Lei nº 9.099/95, vez que a vedação contida no art. ...www.clubjus.com.br/?artigos&ver=238.13814

REVENDO:

Noções Preliminares

A doutrina conceitua a infração penal como gênero do qual são espécies os crimes e as contravenções, estas últimas, espécie de infração de menor gravidade em relação aos crimes. A Lei de Contravenções Penais foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 como leis ordinária. Vale salientar que dois são os sistemas ou critérios de classificação das infrações penais:

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1) Sistema bipartido ou critério dicotômico crimes (delitos) e contravenções (adotado pelo Brasil). 2) Sistema tripartido ou critério tricotômico delitos, crimes e contravenções.

Entretanto, não há diferença significativa entre crimes e contravenções, considerando que as duas espécies caracterizam ilícitos penais, apontando, a doutrina, como diferença entre ambas, a gravidade (ou quantidade de pena, conforme se depreende da exposição de motivos do Código Penal).

Algumas observações devem ser apontadas, ainda, no que concerne às distinções significativas entre contravenções e crimes:

Contravenções

•Prisão simples •Multa (isolada ou cumulativa) •Não admite tentativa (art.4º.) •São de ação penal publica incondicionada (art.17) •Não cabe o princípio da extraterritorialidade (art..2º.) •Tempo máximo de cumprimento da pena=05 anos (art.10) •Possibilidade de sursis– 01 a 03 anos (art.11) •Prevê o erro de direito, sendo hipótese de perdão judicial (art.8º.) •Não há o regime fechado

Crimes: •Reclusão •Detenção •Reclusão •Multa (cumulativa) •A tentativa é punível (art.14, II), doutrinariamente classificada como perfeita e imperfeita, em razão do percurso cumprido dos atos executórios. • Admite a aplicação das três modalidades de ação penal (art.100) •A extraterritorialidade tem previsão legal (art.7º.) •Tempo máximo de cumprimento de pena=30 anos (art.75) •Sursis de 2 a 4 anos (simples ou especial) e 4 a 6 anos (etário ou humanitário). • Não cabe alegação de erro de direito.

As contravenções penais possuem previsão legal, ainda, nas chamadas Leis especiais ou extravagantes, como por exemplo:

• Ambientais – Art. 26, “e”, “j”, “l”, “m” Lei 4.771/65. • Loterias – Decreto - lei 6.259/44 que revogou os artigos 51 e 58 da LCP. • Retenção de documentos – art. 3º da Lei 5.553/68. • Economia popular – art. 66, I a III da Lei 4.591/64•Locações – art. 43, Lei 8.245/91 •Segurança e higiene do trabalho – art. 19, § 2º, Lei 8.213/91 •Eleitoral, Lei 4.737/75 possui algumas infrações onde são previstas apenas pena de multa. • Contravenções referentes ao sexo ou estado civil da vítima (Lei. 7.437/85).

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(*) Essa lei inclui cor e raça, tendo sido revogado em relação a estas, pela lei 7.716/89. As Contravenções Penais, inclusive as previstas em lei especial, são de menor potencial ofensivo, em razão da quantidade de pena (penas iguais ou inferiores a 2 anos). Excepcionam a esta regra os arts. 45, 53 e 54 do Decreto-Lei n. 6.259/44, não são de menor potencial ofensivo.

As Contravenções penais praticadas com violência contra a mulher, tomando-se como exemplo a importunação ofensiva ao pudor, conforme dispõe o art. 41 da Lei Maria da Penha, afastaria a aplicação da Lei 9.099/95 e, em razão desta dicção legal, surgem duas posições:

1ª posição - Seria aplicável a lei 9099/95 aos casos de contravenções praticadas com violência contra a mulher, eis que o art.41 usa o vocábulo crimes. 2ª posição - Jurisprudência UNÂNIME – NÃO se aplica. Não pretendeu, o legislador, in casu,fazer distinção entre crime e contravenção.

COMPETÊNCIA

O art. 109, inc. IV da CF diz expressamente que a Justiça Federal não julga contravenções penais, logo, ainda que a contravenção atinja bens, serviços e interesses da União, a Contravenção Penal é julgada pela JUSTIÇA ESTADUAL.

* EXCEÇÃO: o contraventor que possua foro especial na Justiça Federal.

Nesta hipótese, o critério funcional se sobrepõe ao critério federal.

Ex.: Juiz Federal que pratique contravenção penal será julgado pelo TRF.

* Vale lembrar que, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a doutrina majoritária, as regras processuais sobre conexão e continência, se submetem à regra constitucional inserta no art.109, IV da Constituição Federal, submetendo à separação obrigatória dos processos.

Ex: competência do júri na esfera federal em conexão com contravenção penal.

PRISÃO PROVISÓRIA NAS CONTRAVENÇÕES PENAIS

As prisões preventiva e temporária, não poderão ser impostas aos acusados pela prática de contravenções penais, por inexistir previsão legal. No caso da prisão em flagrante, necessário distinguir a captura em flagrante de formalização do flagrante. Em se tratando, a contravenção penal, de infração de menor potencial ofensivo, faz-se o TERMO CIRCUNSTANCIADO para formalizar a atividade ilícita. Não sendo, o contraventor, encaminhado ao JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL, ou ainda, se recusando a assinar o termo de comparecimento ao Juizado, a formalização da prisão através do Auto de Prisão em Flagrante será realizada, lembrando que se trata de infração que o réu se livra solto.

Ainda sobre a dicotomia crime X contravenção, há que se destacar a expressão ATO INFRACIONAL, encontrada no art. 103 do estatuto da criança e do adolescente

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que assim define: é a conduta descrita como crime ou contravenção penal no âmbito do Estatuto. É de se concluir, por conseguinte, que o adolescente que pratique contravenção penal, será responsabilizado, em conformidade com o Estatuto da Criança e Adolescente.

As Contravenções Penais são classificadas como infrações de perigo abstrato e, sem dúvida, sugerem polêmica constante sobre a constitucionalidade destas infrações. Os posicionamentos que se apresentam na doutrina e na jurisprudência são as seguintes:

1) Não sendo admitida a infração de perigo abstrato, a Lei de contravenções Penais estaria revogada. 2) Luis Flavio Gomes e Regis Prado sustentam que as infrações de perigo abstrato violam o Princípio da Lesividade e o princípio da Ofensividade. 3) O Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) entendem que existe infração de perigo abstrato e é constitucional. 4) NUCCI – é constitucional tal infração, desde que as regras concretas de experiência denotem que aquela conduta incriminada é realmente perigosa para a sociedade.

Resumo das Contravenções   Penais LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS – DEC.LEI n.3.688/41PARTE GERALTERRITORIALIDADE: contravenção praticada no território nacionalTENTATIVA: não punívelAÇÃO PENAL: pública incondicionada.REINCIDÊNCIA: contravenção e contravenção, crime e contravenção (Não: contravenção e crime)ERRO DE DIREITO: ignorância, isenção de penaCONVERSÃO DE MULTA EM PRISÃO SIMPLES: limites de 15 dias a 03 mesesPRISÃO SIMPLES: no máximo 05 anos.SURSIS: de 01 a 03 anos.LIVRAMENTO CONDICIONAL: permitidoPENAS ACESSÓRIAS:  Publicação da sentença e Interdição de direitosincapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo exercício dependa de habilitação especial, licença ou autorização do poder público (01 mês a 02 anos); suspensão dos direitos políticos (duração da pena).MEDIDAS DE SEGURANÇA: Presunção de periculosidade e internação em colônia agrícola ou similar (mínimo de 01 ano), manicômio judiciário (06 meses), para os casos de: embriaguez pelo álcool ou substância de efeitos análogos; vadiagem; mendicância.PARTE ESPECIALPESSOAArts.18 e 19, vide Lei 10.826/2003 – Estatuto do DesarmamentoArt.20 – Anúncio de meio abortivoArt.21 – Vias de fato. Com qualificadora conforme Lei 10.741/2003 – Estatuto do IdosoArt.22 – Internação irregular em estabelecimento psiquiátrico

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Art.23 – Indevida custódia de doente mentalPATRIMÔNIOArt.24 – Instrumento de emprego usual na prática de furto (fabricar, ceder, vender/gazua, chaves falsas, etc)Art.25 – Posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto (depois de condenado por crime de furto/roubo, ou vadio/mendigo)Art.26 – Violação de lugar ou objeto no exercício de profissão de serralheiro/ofício análogo.INCOLUMIDADE PÚBLICAArt.28 – Disparo de arma de fogo, vide Lei 10.826/2003 – Estatuto do DesarmamentoArt.29 – Desabamento de construção (por profissional)Art.30 – Omissão no aviso de perigo de desabamento (responsável)Art.31 – Omissão de cautela na guarda ou condução de animaisArt.32 – Falta de habilitação para dirigir veículo. Vide CTB – Lei 9.503/97Art.33 – Direção não licenciada de aeronave.Art.34 – Direção perigosa de veículo na via pública. Vide CTB – Lei 9.503/97Art.35 – Abuso na prática da aviaçãoArt.36 – Sinais de Perigo. (deixar de colocar, apagar, destruir, remover,etc.)Art.37 – Arremesso ou colocação perigosa. (derramar coisa em via pública)Art.38 – Emissão de fumaça, vapor ou gás.PAZ PÚBLICAArt.39 – Associação secreta. Vide Lei 1.207/50 – Direito de reuniãoArt.40 – Provocação de tumulto e conduta inconveniente (solenidade/ato oficial, assembléia/espetáculo público)Art.41 – Falso alarme (capaz de produzir pânico/tumulto)Art.42 – Perturbação do trabalho ou do sossego alheiosFÉ PÚBLICAArt.43 – Recusa de moeda de curso legalArt.44 – Imitação de moeda para propagandaArt.45 – Simulação da qualidade de funcionário públicoArt.46 – Uso ilegítimo de uniforme/distintivoORGANIZAÇÃO DO TRABALHOArt.47 – Exercício ilegal de profissão/atividadeArt.48 – Exercício ilegal do comércio de coisas antigas e obras de arteArt.49 – Matrícula/escrituração de indústria e profissãoPOLICIA DE COSTUMESArt.50 – Jogo de Azar. Dec.lei 9.215/46 e Instr.Normativa n.309/2003 da Secret. Receita Federal. (ex: de sorte, corrida de cavalos, apostas em competição esportiva)Art.51 – Loteria não autorizadaArt.52 – Loteria estrangeiraArt.53 – Loteria estadual (introduzir fora do Estado)Art.54 – Exibição/guarda de lista de sorteio de loteria estrangeiraArt.55, Art.56 e Art.57 – Impressão/distribuição/transporte de bilhetes, lista/anúncios, publicidade de sorteio fora do local/território permitidos.Art.58 – Jogo do bichoArt.59 – vadiagemArt.60 – MendicânciaArt.61 – Importunação ofensiva ao pudor

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Art.62 – Embriaguez que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria/alheiaArt.63 – Servir bebidas alcoólicas a pessoas proibidas por lei (- 18 anos, bêbado, doente mental, proibido por decisão judicial)Art.64 – Crueldade contra animaisArt.65 – Perturbação da tranqüilidade

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICAArt.66 – Omissão de comunicação de crimeArt.67 – Inumação/exumação de cadáverArt.68 – Recusa de dados sobre a própria identidade/qualificação, bem como declarações inverídicas.Art.70 – Violação do privilégio postal da União.

Reincidência: A contravenção penal no estrangeiro não gera reincidência no Brasil, entendimento consoante ao disposto no art. 2º da Lei de Contravenções Penais.

O art.7º. da lei de contravenções penais e sua combinação com o art. 63 do Código Penal, geram as seguintes situações de reincidência:

a) o condenado em definitivo no Brasil por Contravenção Penal que venha a praticar nova contravenção penal. b) condenação definitiva no Brasil ou estrangeiro, por crime e contravenção no Brasil.

Em outro turno, não geram reincidência: a) condenação definitiva por Contravenção Penal no estrangeiro, vindo a praticar outra Contravenção Penal no Brasil. b) condenação definitiva por Contravenção Penal no Brasil, vindo a praticar crime no Brasil.

Art. 7º da Lei de Contravenções Penais:

        Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

O artigo deixa bem clara a regra:

Se o sujeito pratica uma contravenção seguida de crime, a contravenção não contará para efeito de reincidência.

Se o sujeito pratica uma contravenção no Brasil seguida de nova contravenção também no Brasil, a primeira contravenção contará para efeito de reincidência.

Se o sujeito pratica um crime no Brasil ou no estrangeiro, seguido de contravenção no Brasil, o crime contará para a reincidência quando feita a dosimetria da sentença condenatória pela contravenção.

E se o sujeito pratica crime em qualquer lugar seguido de crime no Brasil, a reincidência será considerada, naturalmente.

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Para todos os casos acima, só se considerará o primeiro fato, sendo crime ou contravenção, se for passado em julgado. Portanto ao dizer “se o sujeito pratica um crime no Brasil”, este crime deve ter tido uma sentença transitada em julgado.

Exemplo: Felisberto cometeu, em 2004, um crime de furto, cuja sentença penal condenatória transitou em julgado, e ele foi condenado a 1 ano de reclusão, com a pena privativa de liberdade substituída por prestação de serviços à comunidade ou entidade pública. Em 2007, ele é preso e processado pela contravenção de perturbação de trabalho ou sossego alheio, como no art. 42 da LCP, e foi condenado à pena de prisão simples de quinze dias. A reincidência, que aqui deve ser considerada pelo crime de furto praticado anteriormente, incidirá sobre essa pena de quinze dias, aumentando-a.  

Deve-se observar o princípio da territorialidade absoluta para efeito de contravenção, só se consideram as contravenções realizadas dentro do território nacional.

CONTRAVENÇÕES PENAIS – DL 3.688/41

O Brasil adotou o sistema bipartido ou dicotômico, no qual infração penal é gênero que comporta duas espécies: crimes (delitos) e contravenções penais.

As contravenções são infrações menos graves do que os crimes, também conhecidas como “crime anão”, “delito vagabundo” ou “delito liliputiano”.

Crime x Contravenção:

Crime Contravenção

Pena (art. 1º da LICP) Reclusão ou Detenção cumulada ou não com multa

Prisão simples cumulada ou não com multa ou só multa (art. 5º, LCP) .

Tentativa (conatus) Punível (art. 14, II, CP) Impunível (art. 4º da LCP)

Ação penal (art. 17, LCP) Admitem as três espécies de ação penal:a) pública incondicionada;

b) pública condicionada;

c) privada.

Só ação penal pública incondicionada (art. 17 da LCP).Se houver vítima determinada (ex.: inoportunação ofensiva ao pudor) será cabível ação penal privada subsidiária da pública, porque esta é um direito constitucional.

Extraterritorialidade Admite (art. 7º , CP) Não admite (art. 2º, LCP)

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Tempo máximo de cumprimento de pena

30 anos (art. 75, CP) 5 anos (art. 10, LCP)

Período de prova do sursis

2 a 4 anos – sursis simples e especial4 a 6 anos – sursis etário ou humanitário

1 a 3 anos (art. 11, LCP)

Desconhecimento sobre a existência da lei (erro de direito)

Sempre inescusável (art. 21, 1ª parte, CP)

Permite a aplicação do perdão judicial (art. 8º, LCP)

OBS.: TODAS as contravenções, INCLUSIVE AQUELAS COM PENA MÁXIMA SUPERIOR A 2 ANOS e aquelas com procedimento especial de apuração são Infrações de Menor Potencial Ofensivo.

OBS.: Quem julga as contravenções penais é SEMPRE A JUSTIÇA ESTADUAL, AINDA QUE ATINJA BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO, porque o art. 109, IV da CF diz que a Justiça Federal não julga contravenções. EXCEÇÃO: quando o infrator tem foro por prerrogativa de função na Justiça Federal garantido na CF.

OBS.: Quem julga contravenção penal praticada em situação de violência doméstica contra a mulher? É o Juizado especial criminal ou Juízo comum ou Juízo Especial da Mulher (onde existir)?

R: Doutrina: É o JECRIM. O art. 41 da lei 11.340/06 (Maria da Penha) só exclui da competência do Jecrim os crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, não se referindo às contravenções penais. Só não pode ser aplicada a pena exclusiva de multa, porque o art. 17 da LMP proíbe. Mas, há contravenção penal punida só com multa. Nesse caso não tem jeito, tem que aplicar a pena de multa, sob pena de violação ao princípio da legalidade.

Jurisprudência: às contravenções penais praticadas em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica a lei do JECRIM.

OBS.: Os menores de 18 anos podem responder por atos referentes a contravenções penais.

PARTE GERAL

Não existe extraterritorialidade da lei penal brasileira em relação às contravenções penais. 

Não é possível extradição de estrangeiro por contravenção penal cometida no Brasil.

A regra é que existe contravenção sem dolo e sem culpa, ou seja, basta a conduta voluntária (CONTRAVENÇÃO TÍPICA ou PRÓPRIA). Só necessitará de dolo ou culpa quando a lei expressamente exigir (CONTRAVENÇÃO

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ATÍPICA ou IMPRÓPRIA). Para a doutrina, no entanto, o art.3º da LCP NÃO SE APLICA MAIS, porque isso ensejaria hipótese de responsabilidade penal objetiva. Doutrina entende que contravenção exige dolo ou culpa (segundo a regra geral dos crimes), sob pena de violação ao princípio da culpabilidade.

Em tese, é cabível a substituição da prisão simples por multa, SALVO se ambas estiverem cominadas cumulativamente no tipo penal. VIDE Súmula 171 do STJ.

A aplicação da multa segue as regras dos art. 59 a 76 CP, inclusive o critério trifásico no cálculo da multa.

Regras da prisão simples: 1ª. Só pode ser cumprida em regime aberto ou semi aberto. Regime fechado JAMAIS, nem por regressão.

2ª. O condenado tem que cumprir sua pena em estabelecimento especial para contraventores ou em sala especial de prisão comum.

3ª. Contraventor tem que ficar separado dos condenados a reclusão e detenção.

4ª. Se a pena não for superior a 15 dias o trabalho do preso é facultativo. Se a pena for de 16 dias ou mais o trabalho é obrigatório, o que não se confunde com o trabalho forçado.

              5ª. O tempo máximo de cumprimento de pena é de 5 anos.

O agente será reincidente nas seguintes situações:a)      condenação definitiva por CONTRAVENÇÃO praticada no BRASIL + prática de nova CONTRAVENÇÃO cometida no BRASIL;

b)      condenação definitiva por CRIME praticado no BRASIL ou no ESTRANGEIRO + prática de nova CONTRAVENÇÃO cometida no BRASIL;

Assim, não será reincidente o agente:a)      condenado definitivamente no estrangeiro pela prática de contravenção penal;

* O Brasil não pune contravenção penal cometida no estrangeiro.

b)      que, condenado definitivamente no Brasil pela prática de contravenção penal, praticar crime.

No caso de crimes, o erro de direito é sempre inescusável (art. 21, 1ª parte do CP). Mas, no caso das contravenções penais, se escusável, autoriza o perdão judicial.

Art. 9º da LCP - Conversão da multa em prisão simples: Desde 1996, esse artigo está tacitamente revogado. O CP NÃO PERMITE MAIS A CONVERSÃO DA MULTA EM PRISÃO. O art. 51 do CP dispõe que a multa não paga será cobrada como dívida ativa da Fazenda Pública. OBS.: O art. 85 da lei 9.099/95 permite a conversão da multa em pena privativa de liberdade. Esse artigo, no entanto, também foi tacitamente revogado pelo art.

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51 do CP segundo entendimento unânime da doutrina e da jurisprudência. Não é possível, pois, conversão de multa em prisão nem no Jecrim.

Prazo do sursis para as contravenções penais: 1 a 3 anos.O STJ entende que no caso das contravenções penais o juiz só pode revogar o livramento condicional se ouvir antes o condenado, sob pena de nulidade da decisão que revogou o livramento. (O prazo do sursis no CP é: 2 a 4 anos – simples e especial; 4 a 6 anos – etário ou humanitário)

A quase unanimidade da doutrina diz que o artigo 12 da LCP foi tacitamente revogado pela lei 7.209/84. Essa lei criou a nova parte geral do CP e aboliu do sistema penal brasileiro as penas acessórias. Mesmo que esse art. 12 esteja revogado, a suspensão dos direitos políticos continua como efeito da condenação  – art. 15, III da CF, inclusive de contravenção penal.

Contraventor inimputável ou semi-imputável pode sofrer medida de segurança.

Os art. 14 e 15 da LCP estão tacitamente revogados (presumia como perigosos, o ébrio, o vadio e o mendigo).

Internação em manicômio judiciário ou em casa de custódia e tratamento – art. 16, LCP: No CP, o prazo mínimo de duração da internação é 1 a 3 anos.

Na LCP, o prazo mínimo de duração da internação é 6 meses. E o juiz ainda pode substituir internação por liberdade vigiada.

CONDENAÇÃO NOVA INFRAÇÃO ARTIGOContravenção praticada no Brasil

contravenção reincidente (art. 7º, da LCP)

Contravenção praticada no exterior

contravenção não-reincidente (o art. 7º da LCP é omisso)

Contravenção crime não-reincidente (o art. 63 do CP é omisso)

Crime praticado no Brasil ou no exterior

Crime reincidente (art. 63 do CP )

Crime praticado no exterior Contravenção reincidente (art.7º, da LCP )

Quais são as infrações penais que não admitem tentativa

Publicado por Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes (extraído pelo JusBrasil) -

Contravenções penais (art. 4º, da LCP) que estabelece não ser punível a tentativa.

Crimes culposos nos tipos culposos, existe uma conduta negligente, mas não uma vontade finalisticamente dirigida ao resultado incriminado na lei. Não se pode tentar aquilo que não se tem vontade livre e consciente, ou seja, sem que haja dolo.

Crimes habituais são aqueles que exigem uma reiteração de condutas para que o crime seja consumado. Cada conduta isolada é um indiferente para o Direito Penal.

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Crimes omissivos próprios o crime estará consumado no exato momento da omissão. Não se pode admitir um meio termo, ou seja, o sujeito se omite ou não se omite, mas não há como tentar omitir-se. No momento em que ele devia agir e não age, o crime estará consumado.

Crimes unissubsistentes são aqueles em que não se pode fracionar a conduta. Ou ela não é praticada ou é praticada em sua totalidade. Deve-se ter um grande cuidado para não confundir esses crimes com os formais e de mera conduta, os quais podem ou não admitir a tentativa, o que fará com que se afirme uma coisa ou outra é saber se eles são ou não unissubsistentes.

Crimes preterdolosos são aqueles em que há dolo no antecedente e culpa no conseqüente. Ex. lesão corporal seguida de morte. Havendo culpa no resultado mais grave, o crime não admite tentativa.

Crimes de atentado são aqueles em que a própria tentativa já é punida com a pena do crime consumado, pois ela está descrita no tipo penal. Ex. art. 352 do CP evadir-se ou tentar evadir-se.

Ação Penal

Três pontos interessantes:

a) Ação Penal Pública incondicionada, sempre;

b)competência para processar e julgar: Justiça Estadual Comum, ainda que o fato seja cometido em detrimento de bens, serviços ou interesses da união (Súmula 38 do STJ); ex. um indivíduo pratica vias de fato contra um policial federal;

c) Com o advento da lei 9.099/95, o Juizado Especial Criminal é competente para apreciar os feitos relativos às contravenções. Também não é instaurado Inquérito Policial mas apenas um termo circunstanciado;

PARTE ESPECIAL

Porte de Arma

Não obstante a edição da lei 9.437/97, que disciplinou a reprimenda penal aplicável ao uso irregular das armas de fogo, é necessário destacar-se que ainda subsistem situações regulada tão somente pela Lei de Contravenções Penais. São as armas brancas e as impróprias e, ainda, a questão temporal advinda tanto da reformatio legis quando do prazo de vacatio legis.

a) O porte - Ao contrário da lei 9.437/97, o art. 19 da LCP não arrola um cem número de condutas alternativas capazes de enquadrar um determinado sujeito. Assim, hoje, só é punível a conduta de "trazer consigo" uma arma branca ou imprópria. O porte, propriamente dito, distingue-se do transporte pois neste não há o fácil acesso do agente ao seu instrumento. No porte, a característica principal é a possibilidade de um indivíduo fazer uso do instrumento de modo imediato. Um exemplo bem simples é o seguinte, uma pessoa que é detida pela autoridade policial com um facão dentro

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do carro, facão este que acabara de comprar para uso no sítio e ainda embalado não configura porte, apenas transporte.

b)Armas Brancas - Arma branca é aquela essencialmente cortante, como a navalha, essencialmente perfurante, como o punhal, ou notadamente vulnerante, como as facas com lâminas de maior porte, por exemplo as peixeiras ou facões.

A matéria está regulamentada pelo decreto 6.911/35.

Outros instrumentos só podem ser encarados como armas sob o aspecto impróprio pois sua destinação específica não converge com a prática de qualquer delito. Assim, um machado pode ser considerado uma arma imprópria. O porte de tal instrumento não pode ser reprimido pois seria no mínimo ridículo que alguém fosse perante a autoridade requerer licença para portar um machado.

c)Confisco - Não pode ser confiscado, pela sentença, a arma apreendida. Primeiro porque o Código Penal só fala em Crimes e, segundo, porque nestes casos a arma não é instrumento da infração mas sim objeto material desta.

d) Concurso de Infrações - Quando utilizado como instrumento do delito, o porte da arma é absorvido pelo fato mais grave.

Vias de Fato

Vias de fato nada mais são que o uso da força física com o fim de agredir outrem. Ocorre que se a agressão for de menor gravidade, incapaz de provocar lesão corporal, resta apenas a punição pelo uso da força. Para a lesão corporal deve-se ter ao menos um hematoma ou escoriações, pois esses representam lesão de tecido.

O que deve ficar nítido é que a intenção do agente deve ser a de agredir o outro, não a de ofendê-lo, que seria a injúria real, nem a de aplicar um corretivo, art. 136 do cp.

a) Necessidade de representação em face da lei 9.099/95

O ponto de maior discussão envolvendo as vias de fato se refere à necessidade, ou não, de representação do ofendido em face da edição da lei 9.099/95. Isto porque esta lei passou a exigir o exercício do direito de representação por parte da vítima nos casos de Lesão corporal culposa ou leve. Foi omissa, no entanto, em relação às vias de fato.

Ronaldo Batista Pinto e Damásio E. de Jesus sustentam que agora há a necessidade de representação para processar-se as vias de fato uma vez que as contravenções são infrações de perigo e o crime do art. 129 do cp reclama além do perigo o dano causado. Portanto, se para o mais que é o crime se exige a iniciativa da vítima, para o menos ela não pode ser afastada. Cuidar-se-ia de verdadeira analogia in bonan partem.

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Desta posição discorda Ada Pelegrini Grinover, para esta autora, não obstante o raciocínio acima exposto, a lei é taxativa em dar diretamente ao MP a titularidade incondicionada da ação penal, salvo em casos expressos. Enquanto a lei não é modificada, prevalece a situação anterior.

Exercício Ilegal de Profissão

Dois requisitos básicos:

habitualidade. A lei fala em "exercer". Um simples praticar ato que seria de atribuição de um profissional em específico não leva à incidência de nada.

O art. 47 é lei penal em branco. Portanto, deve estar expressamente indicado na denúncia qual dispositivo legal é que regula o exercício de determinada profissão.

Jogos de Azar.

Requisitos:

a) Habitualidade;

b) Fito de lucro;

c) O jogo em questão não pode depender basicamente da perícia do jogador. Deve ser aleatório. Assim, o poquer, truco, pif-paf, cacheta, bilhar, etc não constituem jogo de azar.

BINGO:

É jogo de azar e a persecução penal só pode ser afastada de uma forma: prova de que não havia habitualidade. Portanto, igreja que promove "festival de prêmios" toda semana é criminosa e pode mandar prender o padre!

Jogo do Bicho

Os artigos 51 a 57 da LCP está, não expressamente, revogada pelo decreto-lei 6.259/44. O jogo do bicho está tratado no art. 58 do DL 6.259/44.

Qual seria o bem jurídico tutelado pela contravenção agora em estudo? A) o patrimônio do apostador; B) a moralidade e os bons costumes – Damásio, diz-se que o jogo estimula a ociosidade, afeta a estrutura familiar, é foco de anarquismo; C) o monopólio estatal na exploração de loterias;

A primeira hipótese é descartável pois o patrimônio do indivíduo, não sendo bem fundamental, pode ser disposto como bem entender. A opção por apostar na SENA ou no jogo do bicho não faz diferença.

A segunda hipótese é, à princípio a defensável. No entanto, o jogo legalizado não tem diferença nenhuma daquele clandestino e, portanto, como não podemos admitir

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que o Estado esteja incentivando algo imoral, devemos concluir que o jogo do bicho não ofende os bons costumes.

A terceira hipótese é a mais sensata. Mas se a admitirmos deveremos tomar as seguintes conclusões: a) só ofende o monopólio de exploração aquele que explora jogo clandestino; b) o apostador não pratica nada de ofensivo ao monopólio estatal; c) o intermediário também não explora o jogo e, assim, também não ofende o bem jurídico pois é a organização de uma loteria clandestina que ameaça a egemonia estatal.

Não obstante a posição acima, entendo, particularmente, que o apostar e o intermediador enquadram-se perfeitamente no art. 29 do Código Penal. Sem apostador e intermediário, o banqueiro não é nada. Tanto apostador quanto intermediário entendem o caráter ilícito do jogo do bicho e, no entanto, aderem à estrutura criminosa criada pelo banqueiro.

SÚMULA 51 DO STJ: a punição do intermediador independe da identificação do apostador ou do banqueiro.

O STJ é taxativo em não aceitar a tese de que o jogo do bicho não é antijurídico.

Importunação de alguém

arts. 61 e 65 da LCP.

O art. 61 enquadra, p/ ex., aquele que passa a mão nas nádegas de alguém em local público.

O art. 65 enquadra aquelas perseguições de chatos.

CUIDADO, o art. 61 é subsidiário de um atentado violento ao pudor, mesmo que na forma de tentativa, e se distingue dele pela gravidade dos atos e intenção do agente. O art. 65 é subsidiário de uma eventual injúria.

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Direito Penal Econômico: noções

Quando do surgimento dos primeiros estudos acerca da criminalidade econômica, podendo-se destacar como marco a obra de Edwin Sutherland (White Collar Crime, 1939), certo é que se tinha em mira o homem, pessoa que detinha no meio social posição profissional de realce e destaque, seja pela sua atividade profissional, seja pelo seu elevado status social, fato que também foi objeto de estudo da Professora de Coimbra Cláudia Maria Cruz Santos (O Crime de Colarinho Branco. Coimbra: Coimbra editora, 2001).

Atualmente objeto de estudo quando se fala em crime econômico, não é mais somente o agente do fato delituoso, na verdade tem maior relevância a forma, o modo, as circunstâncias como são praticados tais delitos, tanto quanto o bem jurídico lesado ou colocado em perigo, com relevância na vida econômico-social, por isso merecedor de proteção do Direito Penal.

É característica do Direito Penal Econômico e o elo conceitual existente na criminalização das condutas que são objeto de sua atuação, a tutela de interesses coletivos e difusos pela seara do Direito Penal (proteção contra lesões ou riscos à necessária relação de confiança na ordem econômico, à atividade financeira do Estado ou à Fazenda Pública, ao sistema financeiro nacional, ao meio ambiente sustentável, etc, valores que, ademais, são constitucionalmente reconhecidos).

O elo conceitual existente entre os diversos tipos penais pode ser representado, primeiro, pela natureza do bem jurídico tutelado pelo tipo penal. Estamos, portando, a falar em tutela penal de interesses coletivos e difusos, de modo direto, e somente eventualmente ou de modo indireto, na tutela penal de interesses individuais.

Klaus Tiedemann (Manual de Derecho Penal Econômico, parte general y especial. Valencia: Editorial Tirant lo Blanch, 2010, p.  59) ao conceituar o Direito Penal Econômico, numa perspectiva jurídico-dogmática, tem o entendimento de que: “En un sentindo dogmático-penal se aprecia hoy em día la peculiaridad de los delitos económicos y del Derecho penal económico, principalmente, em la protección de bienes jurídicos supraindividuales (sociales o colectivos, intereses de la comunidad)”. Outrossim, conforme entende este autor, é possível fundamentar satisfatoriamente a conceituação da maioria dos crimes econômicos utilizando-se do critério dos delitos especiais em conexão com os bens jurídicos supraindividuais ou coletivos.

Toda e qualquer análise elaborada para a origem do Direito Econômico, como ciência jurídica surgida no início do século XX, leva a conclusão da crescente intervenção do Estado no domínio Econômico, diante das diversas transformações presenciadas pela humanidade a partir do acontecimento da Primeira Grande

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Guerra. O intervencionismo estatal, então, passou a ser uma realidade na economia do Estado Moderno. Lembra KARDEC DE MELO que, "o planejamento de setores fundamentais da economia levou o Estado a exercer atividades nitidamente econômicas e a estabelecer políticas destinadas a direcionar tais atividades, cuja regulamentação jurídica passou a constituir arcabouço do Direito Econômico".

Essa nova espécie de criminalidade introduzida pelo processo de globalização da economia, desenvolvida em ambiente macro, mais especificamente, nos processos de integração econômica, tem como protagonistas personagens que sempre figuraram a frente do processo de desenvolvimento econômico das chamadas nações civilizadas. No entanto, nunca fora alcançada uma magnitude tão maléfica dos seus efeitos como a atual. Uma ofensividade de ordem econômica, política e social, nunca vista. É verdadeiramente a criminalidade dos poderosos. A realidade do novo poder hegemônico global é denunciada por ZAFFARONI, pela forma irracional em comparação com os modelos imediatamente anteriores de poder mundial, a constatação do atual modelo é que as condutas que antes eram tipificadas como delitos contra a economia nacional, como alterações artificiais de mercados, acesso à informações confidenciais, evasões impositivas, monopólios e oligopólios, incluindo condutas que norteiam as tipicidades nacionais de delitos menos sofisticados, como extorsão, são agora condutas licitas na economia mundial. Tudo isso é denunciado face a ausência de um poder regulador de amplitude internacional, é a materialização do foro internacional da impunidade, com uma prática reiterada em proporções inidentificáveis.

T utela à ordem pública econômica.

O Direito Penal Econômico visa à proteção da atividade econômica presente e desenvolvida na economia de livre mercado. Ele integra o Direito Penal como um todo, já que não possui autonomia científica, mas apenas metodológica ou didático-pedagógica, em razão da especificidade do seu objeto de tutela, e da natureza particular da intervenção penal.

Ao conceituar-se Direito Penal Econômico pode-se partir da definição ofertada por Hans Jescheck que sustenta ser ele um setor do Direito Penal que dirige sua intervenção sobre as condutas que atentam contra o conjunto total da economia.

O Direito Penal não protege ou tutela a realização do fenômeno econômico em si, mas protege a integridade da ordem e, por isso, qualquer conduta que produza a ruptura desta ordem trará como conseqüência necessária uma sanção.

Baumann, afirma que o Direito Penal Econômico é a soma das normas jurídicos penais que se situam no espaço coberto pelo Direito Econômico, definindo, este, como o ‘conjunto de normas que regulam a vida e as atividades econômicas e dos preceitos que de alguma forma se relacionam com a produção e distribuição dos bens econômicos’. Embora esse conceito seja criticável por sua extrema amplitude, tem sido considerado.

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Assim, Direito Penal Econômico é o conjunto de normas que tem por objeto sancionar, com as penas que lhe são próprias, as condutas que, no âmbito das relações econômicas, ofendam ou ponham em perigo bens ou interesses juridicamente relevante.

As transformações sociais operadas na sociedade, especialmente pelo fenômeno da globalização, contribuíram, e ainda contribuem para o seu fortalecimento.

A necessidade de integração supranacional entre os países – também uma conseqüência do fenômeno da globalização – exige que cada estado mantenha um setor atuante na reprimenda aos comportamentos que atentam, de modo geral, contra a ordem econômica.

As ações que se caracterizam como concorrência desleal, fraudes ao fisco, o contrabando, condutas contra a ordem econômica, contra as relações de consumo, contra os sistemas tributário, financeiro e previdenciário, são exemplos de comportamentos que se inserem nesse contexto do Direito Penal Econômico.

Fundamentos do D. Penal Econômico

O crime econômico é a expressão dos danos que ele causa, ou também, a partir da natureza coletiva ou supraindividual dos interesses ou bens jurídicos. Enquanto os crimes contra o patrimônio atingem interesses inscritos na esfera da livre disponibilidade de seus portadores concretos, o crime contra a economia atinge interesses que o legislador converte em bens jurídicos supra-individuais, por isso, mesmo, indisponíveis.

Bens e interesses protegidos pelas normas de Direito Penal Econômico

O objeto de proteção é a segurança, e a regularidade da realização da política econômica do Estado.

S ão legislações específicas de Direito Penal Econômico com seus respectivos bens jurídicos:

- Lei 8137, de 1990: Delitos contra a ordem econômica (arts. 4º a 6º): BEM JURÍDICO: livre concorrência e livre iniciativa, fundamentos basilares da ordem econômica.

- Lei 8137, de 1990: Delitos contra as relações de consumo (art. 7º): BEM JURIDICO: nos incisos I a IX, os interesses econômicos ou sociais do consumidor (indiretamente, a vida, a saúde, o patrimônio e o mercado);

- Lei 8137, de 1990: Delitos contra a ordem tributária (arts. 1º a 3º): BEM JURIDICO: erário público, como bem supraindividual, de cunho institucional; proteção da política socioeconômica do Estado.

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- Lei 8176, de 1991: Trata de delitos contra a ordem econômica. BEM JURÍDICO: fontes energéticas.

- Lei 8078, de 1990: Trata dos crimes contra as relações de consumo – Código de Defesa do Consumidor; BEM JURÍDICO: relações de consumo, relação jurídica de consumo.

- Lei 7492, de 1986: Trata dos crimes contra o sistema financeiro nacional; BEM JURÍDICO: proteção pública aos valores mobiliários (públicos e das empresas privadas que atuam nesse setor) e o patrimônio de terceiros (investidores); a higidez da gestão das instituições financeiras; a fé pública; fé pública de documentos; veracidade dos demonstrativos contábeis das instituições; regular funcionamento do sistema financeiro; reservas cambiais;

- Código Penal Brasileiro, de 1940: nos artigos 359-A a 359-H, trata dos crimes contra as finanças públicas; BEM JURIDICO: finanças públicas;

- Código Penal Brasileiro, de 1940: nos artigos 168-A e 337-A, trata dos crimes contra o sistema previdenciário; BEM JURÍDICO: interesse patrimonial da previdência social;

- Código Penal Brasileiro, de 1940: artigo 334; BEM JURÍDICO: prestígio da administração pública e o interesse econômico do Estado;

- Lei 9613, de 1998: Lavagem ou ocultação de bens. BEM JURÍDICO: administração da justiça e a ordem socioeconômica (ordem econômico-financeira);

O fato típico é o primeiro elemento que estrutura o crime e que, portanto, condiciona à responsabilidade penal. Nele estão integradas a conduta, o nexo de causalidade, o resultado e a tipicidade.

A existência do tipo penal é o postulado básico do princípio da legalidade no Direito Penal, consagrado pelo artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal , cabendo à lei, em sentido estrito, definir as condutas que merecem a reprimenda penal, constituindo-se, assim, os tipos penais.

Exemplo, Lei 8137, no que pertine ao crime contra a ordem econômica. Segundo o artigo 4º, inciso I, constitui crime contra a ordem econômica abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando total ou parcialmente a concorrência mediante alguma daquelas condições estabelecidas nas letras “a” a “f”.

Abuso de poder econômico traz a ideia de mau uso do poder, de certo desvirtuamento ou da aplicação ardilosa, deformada de atitudes em detrimento de outrem. A finalidade do tipo, reprimir e impedir a dominação do mercado e a eliminação, total ou parcial da concorrência.

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Outro exemplo, no âmbito da criminalidade econômica, é o do artigo 1º da Lei 8176/91, que em seu inciso II incrimina a conduta de quem usa gás liquefeito de petróleo em motores de qualquer espécie, saunas, caldeiras, e aquecimentos de piscinas, ou para fins automotivos, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei.

O tipo penal, como se observa, utiliza a expressão ‘de qualquer espécie’, ampliando o alcance da lei, de modo a abarcar as mais variadas situações, ou seja, as espécies de motor podem ser os de combustão, de explosão, diesel etc.

Já na modalidade delitiva do artigo 4º, parágrafo único, da Lei 7492/86, trata da gestão temerária de instituição financeira, cuja pena cominada é de reclusão de 2 a oito anos e multa.

A gestão temerária é caracterizada pela abusiva conduta, que ultrapassa os limites da prudência, ou seja, é a ação que arrisca para além do permitido. É o arrojo, o comportamento afoito, arriscado, atrevido. Ex: realização de operações especulativas de desmedido risco; omissão no alerta aos investidores sobre riscos das suas operações financeiras etc.

Na Lei 7492/86, artigo 11, ‘manter ou movimentar recurso ou valor paralelamente à contabilidade exigida pela legislação’ (caixa dois), a amplitude da redação do tipo penal. Qualquer tipo de manutenção ou movimentação de valores paralelos à contabilidade, inclusive do ‘empresário que mantenha uma escrituração auxiliar, paralela à legal, com o intuito de melhor acompanhar a vida contábil da empresa, fazendo lançamento corretos, mantendo ou movimentando recursos igualmente indicados na contabilidade legal’, como cita a doutrina.

Tipicidade omissiva. O Direito Penal Econômico é um dos domínios dos chamados crimes omissivos próprios. A omissão, para ser punível ao seu agente, implica no reconhecimento de que houve a violação de um dever jurídico que se encontra rigorosamente definido em diploma legal. A responsabilidade decorre por infração ao dever de agir, imposto por outra norma que não necessariamente a de Direito Penal.

Na lei 8078/90 – Código de Defesa do Consumidor – ao definir os crimes contra as relações de consumo, o legislador previu 12 hipóteses típicas. Destas, 50% delas, seis crimes, são omissivos próprios, se perfazem com a simples omissão.

(*) Um exemplo bem característico de crime de perigo abstrato na macro criminalidade é a gestão fraudulenta e a gestão temerária, crimes contra o sistema financeiro, previstos no artigo 4º, caput e parágrafo único da Lei 7492/86. Esses crimes se consumam com a gestão, fraudulenta ou temerária, independentemente de qualquer resultado, haja vista se constituírem em crimes de perigo abstrato e de mera atividade.

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(*) Outra situação é a contemplada na Lei complementar 105/2001, que trata do sigilo das operações de instituições financeiras, em cujo artigo 10 preleciona que a quebra do sigilo, fora das hipóteses autorizadoras, constitui crime e sujeita os responsáveis à pena de reclusão de 1 a 4 anos. Trata-se, também aqui, de crime de perigo abstrato, eis que sua consumação ocorre com a mera violação do sigilo, independentemente de qualquer resultado (crime de mera atividade e de perigo abstrato).

Prevalência de crimes formais. A Lei 8137, ao prever os crimes contra a ordem econômica, estatuiu, em seu artigo 5º, inciso IV, o comportamento delitivo de quem se recusa a prestar informação, sem justa causa, sobre o custo de produção ou preço de venda da mercadoria ou serviço. Nessa hipótese, estamos diante de um crime formal, ou de mera atividade, eis que não se exige, nele, nenhum resultado material, sendo suficiente, para a responsabilização, apenas a sua prática, ou seja, a recusa.

Número de normas penais em branco, em se tratando da criminalidade econômica. Nos mais variados diplomas legais, a norma penal em branco aparece. Veja-se, a hipótese do artigo 6º da Lei 8137, regulando a ordem econômica, no qual se incrimina a conduta de quem vende ou oferece à venda mercadoria, ou contrata ou oferece serviço, por preço superior ao oficialmente tabelado, ao fixado por órgão ou entidade governamental, e ao estabelecido em regime legal de controle. Trata-se, como se vê, de norma penal em branco que necessita de integração por outros dispositivos legais.

Atipicidade

Circunstâncias Excludentes da Tipicidade– Bagatela: mínima ofensividade; nenhuma periculosidade social da ação; reduzido grau de reprovabilidade da conduta; inexpressividade da lesão provocada. Exs. Legislação Previdenciária; crimes de descaminho.– Adequação social: Ex. Descaminho– Consentimento do ofendido: Lei 8137, artigo 7º, inciso IX; Lei 8176/90, artigo 2º, parágrafo primeiro. – Desistência Voluntária– Arrependimento eficaz: pagamento do tributo devido nos crimes de sonegação fiscal (extinção da punibilidade).– Crimes impossível ou tentativa inidônea– Erro de tipo: Exs. Lei 8137/90, artigo 7°, inciso IX; crimes previdenciários, dificuldades financeiras da empresa, desconto da parcela sem recolhimento, ausência de dolo.

O Direito Econômico e o conseqüente Direito Penal Econômico da era pós-moderna e contemporânea de final de século e começo de novo milênio, representa algo totalmente diferente daquele fenômeno surgido no início do século XX objeto de estudos dos filósofos alemães. O que antes era possível, atualmente já não o é mais, o propósito de estabelecer um conceito imutável seja do Direito Econômico ou

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do Direito Penal Econômico é algo realistamente não recomendável. O que antes não se admitia, como uma propositura de autonomia da ciência penal econômica, hoje é pauta de discussão acadêmica e doutrinária, como também representa preocupação da formulação político-criminal e da dogmática jurídico-penal. E mais do que nunca, identifica-se um déficit de investigação criminológica (inter) nacional do fenômeno penal econômico, que o mantém ligado a terminologias vazias como: direito penal do mundo dos negócios, criminalidade empresarial, criminalidade econômica, criminalidade moderna, criminalidade organizada, criminalidade de empresa, a criminalidade do White collar etc.

A sua identificação remota, com o surgimento do que ficou conhecido como sendo Direito Penal extravagante, acessório ou secundário, que também é chamado de direito penal administrativo, não comporta mais tal conceituação numa visão global do Direito Penal Econômico, corroborando a idéia de EDUARDO CAVALCANTI, a problemática do fenômeno penal econômico não pode ser submetida a uma análise divorciada dos demais temas jurídico-penais de relevante conflagração, que estabelecem atualmente pontos fundamentais de discordância entre o Direito Penal Clássico e o Direito Penal Econômico, não é admissível um exame desprovido do ambiente contextual, sobretudo das condições culturais e sociais.

A problemática do fenômeno penal econômico, assim como da sociedade moderna é de extrema complexidade. Pois, por primeiro, requer-se a constatação de uma existente não-subordinação da política criminal frente à dogmática jurídico-penal. Como sustentado por FIGUEIREDO DIAS, a primeira sendo vista como a ciência que delimitou seu objeto a partir do que já foi especificado pelo Direito Penal, gozando, portanto, atualmente de uma posição de autonomia e transcendência em relação ao domínio jurídico-criminalmente relevante. Na atualidade o que se tem é uma relação de igualdade (política criminal e dogmática jurídico-penal) de importância para a ciência penal, cada uma com a sua tarefa peculiar, mas associativa; por segundo, daí resultar um retrato dos tópicos filosófico-jurídicos do Direito Penal Moderno (EDUARDO CAVALCANTI). Tal relação de igualdade fazendo exteriorizar os pontos fundamentais do Direito Penal a partir da Modernidade. Torna-se um processo evolutivo, já que se identifica uma relação genética entre Modernidade e Pós-Modernidade.

EXs mais comuns de excludentes da Ilicitude e sua relação com o D.Penal Econômico;

Art. 24 – necessidade econômica da empresa;Art. 24 – frágil saúde financeira da empresa;Art. 24 – dificuldades financeiras intransponíveis.Risco permitido.

Bens e interesses protegidos pelas normas de Direito Penal Econômico:- Lei 8137/90 – Ordem Econômica.Ordem Tributária e Relações de Consumo;- Lei 8176/91 – Ordem Econômica-Lei 8078/90 – Código de Defesa do Consumidor- Lei 7492/86 – Sistema Financeiro - Código Penal Brasileiro: artigos 359-A a 359-H – Finanças Públicas- Código Penal Brasileiro: artigos 168-A e 337-A – Sistema Previdenciário- Código Penal Brasileiro: artigo 334 – Administração Pública e interesse econômico

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- Lei 9613/98 – Lavagem de Dinheiro e ocultação de bens – ordem econômico financeira

O Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (CDC) é um ordenamento jurídico um conjunto de normas que visam a proteção e defesa aos direitos do consumidor, assim como disciplinar as relações de consumo entre fornecedores e consumidores finais e as responsabilidades que tem esses fornecedores (fabricante de produtos ou o prestador de serviços) com o consumidor final, estabelecendo padrões de conduta, prazos e penalidades.

 Segundo a referida Legislação na parte do Código referente aos Direitos do Consumidor CAPÍTULO I das Disposições Gerais temos algumas definições fundamentais esclarecedoras para o consumidor final.

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

  De acordo com Nelson Nery Junior (1995, p. 270), entende-se por relação de consumo, a relação jurídica entre fornecedor e consumidor, tendo como objeto o produto ou o serviço. Por sua vez, outro dos autores do anteprojeto do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, professor José Geraldo Brito Filomeno (1995, p. 47), assim define o que seja relações de consumo:

  As relações de consumo nada mais são do que 'relações jurídicas' por excelência, pressupondo, por conseguinte, dois pólos de interesses: consumidor - fornecedor e a coisa, objeto desses interesses. No caso, mais precisamente, e consoante ditado pelo Código de Defesa do Consumidor, tal objeto consiste em 'produtos' e serviços.

Outra definição bastante apropriada é de Stoco (1996, p. 411):

  Relação de consumo, para o Código de Defesa do Consumidor, é toda relação jurídica contratual que envolva a compra e venda de produtos, mercadorias ou bens

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móveis e imóveis, consumíveis ou inconsumíveis, fungíveis ou infungíveis, adquiridos por consumidor final, ou a prestação de serviços sem caráter trabalhista.

O capítulo III define os Direitos Básicos do Consumidor relacionados abaixo:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;IX - (Vetado);X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

  Recentemente o presidente da República sancionou uma lei determinando que todos os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços do país devem ter um exemplar do Código de Defesa do Consumidor disponível para consulta.

   Segundo determina o texto legal o Código de Defesa do Consumidor deve estar em local visível e de fácil acesso ao público. Em caso de descumprimento, a penalidade é de multa de até R$ 1.064,10.

  Temos uma das legislações mais importantes do mundo que trata da defesa do consumidor envolvendo temas que não eram aceitos por determinadas Instituições poderosas como os bancos, por exemplo, mas que o Supremo Tribunal Federal decidiu que existe entre um consumidor que tem conta bancária e as Instituições Financeiras uma relação de consumo assim como em relação aos Planos de Saúde.

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Direitos difusos (art. 81, I, do CDC)

Direitos ou interesses difusos “são espécie do gênero interesses metaindividuais - interesses coletivos lato sensu – e ocupam o topo da escala de indivisibilidade e falta de atributividade a determinado indivíduo ou grupo, sendo a mais ampla síntese dos interesses de uma coletividade, verdadeiro amálgama de interesses em torno de um bem da vida.” (ROCHA, 2001:32)

Características:

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- Quanto aos sujeitos: não há vínculo jurídico entre os sujeitos afetados e a lesão dos respectivos interesses, que se agregam eventualmente, por força de certas contingências, como, por exemplo, o fato de habitarem certa região, consumirem certo produto, comungarem pretensões semelhantes, trabalharem no mesmo ambiente, etc. (MANCUSO apud LEITE, Ibidem:47) 

- Quanto ao objeto: é indivisível, tal que a satisfação de um sujeito implica satisfação de todos, assim como a lesão, isto é, o dano, ao afetar um, afeta todos e vice-versa (idem, ibidem).

- Duração: efêmera, em função da inexistência, entre seus titulares, de vínculo jurídico básico, de modo que a ligação entre eles é difusa, não individualizável a priori. (idem, ibidem).

Carlos Henrique Bezerra Leite (Ibidem:49) destaca que se trataria também de interesse público primário:

“Se um governo de uma dada unidade da Federação anuncia que pretende celebrar um convênio para a construção de uma usina nuclear, dois interesses públicos fatalmente exsurgiriam: o da Administração, cujo escopo residiria, por exemplo, no aumento das receitas tributárias e o da sociedade, que é o de não ver seus integrantes expostos aos riscos de um acidente nuclear, o de proteger o meio ambiente, etc. Diz-se, assim, que o interesse público da sociedade é primário; o da administração, secundário. Pode acontecer, porém, que, ao depois de instalada a usina nuclear, o governo sucessor, pressionado pela opinião pública, opte por desativá-la. Aqui, os interesses públicos primário e secundário se fundiriam num só interesse, geral, social.”

Complementa o mesmo autor com exemplo de direito difuso na seara trabalhista (Ibidem): contratação de servidores pela administração pública, direta ou indireta, para investidura em emprego público sem, contudo, observar regra de provas ou títulos. Nessa hipótese, o interesse caracteriza-se pela indivisibilidade porque o acesso a cargos públicos é garantido constitucionalmente a todos os cidadãos brasileiros; pela indeterminação, pois não é possível individualizar potenciais candidatos; pela inexistência de vínculo jurídico entre os potenciais candidatos e o certame, entre si, entre eles e a Administração; pelo conflito entre os potenciais candidatos ao concurso, porque os interesses entre eles são contrapostos, por força do reduzido número de vagas.

Direitos coletivos (art. 81, II, do CDC)

Direitos e interesses coletivos metaindividuais possuem maior afinidade com a tutela processual trabalhista, em razão das características desse ramo do direito, “em que as organizações de trabalhadores sempre exerceram influência marcante, mesmo quando não reconhecidas pelo Estado” (ROCHA, idem:35). Destaque-se que os direitos coletivos, sentido amplo, confundem-se com os direitos de solidariedade,

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abrangendo todas as espécies de direitos metaindividuais. No sentido estrito, são aqueles descritos no artigo 81, II, do CDC.

- Quanto aos sujeitos: dizem respeito ao homem socialmente vinculado e não isoladamente considerado. Não se trata da pessoa tomada à parte, mas, sim, como “membro de grupos autônomos e juridicamente definidos, tal como o associado do sindicato, o profissional vinculado a uma corporação, acionista de uma grande sociedade anônima, condômino de edifício de apartamentos, etc. Interesses coletivos seriam, pois, os interesses afectos a vários sujeitos não considerados individualmente, mas sim por sua qualidade de membro de comunidades menores ou grupos intercalares, situados entre o indivíduo e o Estado.” (BASTOS, 1999: 251). 

- Quanto ao objeto: é indivisível, mas, seus titulares, embora tratados coletivamente, são determináveis, passíveis de identificação, à medida que se encontram vinculados, entre si ou com a parte contrária, por meio de relação jurídica base (LEITE, idem:54). Ex.: trabalhadores da empresa “Z” têm direito a meio ambiente de trabalho em condições de salubridade e segurança. “Se esse grupo de trabalhadores objetiva a eliminação dos riscos à vida, à saúde e à segurança, emerge aí o interesse coletivo do grupo (transindividual), de natureza indivisível (eliminando-se os riscos, todos serão beneficiados indistinta e simultaneamente), cujos titulares (o grupo dos trabalhadores da empresa Z) estão ligados entre si (empregados da mesma empresa) e com a parte contrária (empregador), através de uma relação jurídica base (vínculo organizacional, no primeiro caso, e relação empregatícia, no segundo).” (LEITE, idem:59).

Direitos individuais homogêneos (art. 81, III, do CDC)

O traço que diferenciam direitos individuais homogêneos e coletivos – stricto senso – é sua indivisibilidade, “decorrente da sua afetação a um grupo mais restrito e determinado de pessoas, que estão ligadas entre si para um fim comum decorrente de origem comum”. (ROCHA, idem:39)

Interesses individuais homogêneos possuem causa comum que afeta, embora de modo diverso, número específico de pessoas, com consequências distintas para uma delas. “A distinção entre o interesse individual homogêneo e o individual simples repousa na existência, no primeiro, de uma origem comum, que atinge diversas pessoas de forma homogênea, é dizer, são diversas afetações individuais, particulares, originárias de uma mesma causa, as quais deixam os prejudicados em uma mesma situação, sem embargo de poderem expor pretensões com conteúdo e extensões distintos.” (MORAIS apud LEITE, idem:62)

Aqui, em que pese os direitos individuais homogêneos serem provenientes de causa comum que atinge uniformemente a todos os lesados, são metaindividuais apenas para fins de tutela judicial coletiva, porque continuam a possuir, no plano do direito material, característica individual clássica. Trata-se, então de prerrogativa

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processual concedida em razão da homogeneidade causal. Carlos Henrique Bezerra (idem:67) Leite indica o seguinte exemplo:

“Parece-nos razoável que a expressão ‘direitos ou interesses individuais da categoria’ (CF, art. 8, III) deva ser entendida como ‘direitos ou interesses individuais homogêneos dos integrantes da categoria representada pelo sindicato, porque decorrentes de uma mesma causalidade comum surgida no âmbito e no interesse da própria categoria”.

O Código de Defesa do Consumidor, nos artigos 2º e 3º e parágrafos, apresentou os principais conceitos que regem a relação de consumo. Consoante o artigo 2º da Lei nº 8.090/90 (CDC) consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, ou seja, é qualquer pessoa que compra um produto ou que contrata um serviço, para satisfazer suas necessidades pessoais ou familiares.

Fornecedor, de acordo com o artigo 3º da mesma Lei, é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

No § 1º do artigo 3º, tem-se que produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. Destacando que os produtos podem ser de dois tipos: durável e não durável. Este corresponde ao produto que acaba logo após o uso, como por exemplo, os alimentos, um sabonete, uma pasta de dentes; já o durável é o que não desaparece com o seu uso, por exemplo, um carro, uma geladeira, uma casa.

Em contrapartida, serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista, como exposto no § 2º, artigo 3º, CDC.

Assim, tudo o que você paga para ser feito é considerado serviço, exemplo corte de cabelo, conserto de carro, de eletrodoméstico, serviço bancário, serviço de seguros, serviços públicos.

Tal como os produtos, os serviços podem ser duráveis e não duráveis. Serviço durável é aquele que custa a desaparecer com o uso. A pintura ou construção de uma casa ou uma prótese dentária são produtos duráveis. Serviço não durável é aquele que acaba depressa. A lavagem de uma roupa na lavanderia é um serviço não durável, pois a roupa suja logo após o uso. Outros exemplos são os serviços de JARDINAGEM e faxina, que precisam ser feitos constantemente.

Há ainda o serviço público que é aquele prestado pela administração pública. São os serviços de saúde, educação, transporte coletivo, água, luz, esgoto, limpeza pública, asfalto, entre outros. O Governo estabelece as regras e controla esses serviços que são prestados para satisfazer as necessidades das pessoas. Os serviços públicos são prestados pelo próprio governo ou o governo contrata empresas particulares

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que prestam serviços. São obrigados a prestar serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Consumidores e cidadãos pagam por serviços públicos de qualidade, por isso têm o direito de exigir.

No Brasil, as preocupações com as relações de consumos surgiram nas décadas de 40 e 60, quando foram criadas diversas leis regulando o assunto. Dentre essas leis pode-se citar a Lei n.º 1221/51 Lei de Economia Popular, a Lei Delegada n.º 4/62, a Constituição de 1967, com a emenda n.º 1 de 1969 que consagrou a defesa do consumidor.

Em 1985, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas adotou a Resolução 39/248, que estabeleceu Diretrizes para a Proteção do Consumidor ressaltando a importância da participação dos governos na implantação de políticas de defesa do consumidor.

Assim, a proteção do consumidor, em nosso país, ganhou importância com a Constituição Federal de 1988, que a consagrou como garantia constitucional e como princípio norteador da atividade econômica. O artigo 48 do ADCT (Atos das Disposições Constitucionais Transitórias) determina a criação do Código de Defesa do Consumidor.

Desse modo, em 11 de setembro de 1990, foi publicada a Lei nº 8.078/90, popularmente conhecida como Código de Defesa do Consumidor (CDC), a qual entrou em vigor em 11 de março de 1991, 180 (cento e oitenta dias) após sua publicação, conforme estabelecido em seu artigo 118.

É lamentável que mesmo nos dias atuais o consumidor não seja tratado com o devido respeito que lhe é de direito, em um cenário onde a busca constante pelo lucro acaba prejudicando o responsável pelo desenvolvimento econômico do país. Mas, em contrapartida, o CDC, após 22 anos de sua publicação, continua na luta em pelo equilíbrio na relação de consumo, tutelando os direitos da classe hipossuficiente.

PRINCÍPIOS

O Código de Proteção e Defesa do Consumidor foi editado segundo os Princípios de um Estado Democrático de Direito aliado à Dignidade da Pessoa Humana. Para tanto, o artigo 5º, inciso XXXII, da Carta Magna, reza que o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor, como meio de garantia aos direitos à vida, liberdade, segurança e propriedade, os quais têm ligação direta com o consumo.

A Carta Magna, em seu artigo 170, inciso V, prevê a defesa do consumidor como um dos princípios gerais da atividade econômica, visto que o consumidor é um dos responsáveis pelo desenvolvimento econômico de um país.

Para a implementação da defesa do consumidor mister se faz a criação de um conjunto de normas para regê-la. Destarte, o artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor trata acerca da Política Nacional das Relações de Consumo, com vistas a atender às necessidades dos consumidores, respeitando a saúde, dignidade,

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segurança, proteção dos interesses econômicos, melhoria da qualidade de vida, visando a transparência e harmonia das relações de consumo.

Para tanto a Política Nacional das Relações de Consumo foi pautada em princípios, os quais visam preencher as lacunas existentes na constante busca pelo equilíbrio nas relações consumeristas, a saber:

1) Da Vulnerabilidade – (artigo 1º, inciso I do CDC) – a vulnerabilidade do consumidor é oriunda do princípio da isonomia, onde busca-se constantemente a igualdade, já que o consumidor é o elemento mais fraco na relação de consumo, pois fica à mercê do fornecedor, que detém o poder econômico, ante o pleno domínio técnico e econômico.

2) Do Dever Governamental – (artigo 4º, incisos II, VI e VII do CDC) -  oriundo da Constituição Federal de 1988, onde incumbe ao Estado a responsabilidade em promover meios para a efetiva proteção do consumidor, principalmente através da fiscalização.

3) Da Garantia de Adequação – (artigo 4º, inciso II, alínea “d” e inciso V do CDC) – corresponde à plena adequação dos produtos e serviços ao binômio da segurança/qualidade que é o fim ideal colimado pelo sistema protetivo do consumidor, respeitando seus interesses econômicos e buscando a melhoria de sua qualidade de vida.

4) Da Boa-Fé nas relações de consumo – (artigo 4º, inciso III CDC) – a Boa-Fé corresponde à lealdade e cooperação nas relações entre consumidor e fornecedor, com vistas a combater os abusos praticados no mercado, evitando que interesses particulares sobreponham-se aos interesses sociais. A Boa-Fé é um princípio orientador, no qual as partes de uma relação jurídica devem se pautar, ou seja, é o dever conduta que razoavelmente se espera das partes com vistas a impedir qualquer conduta abusiva.

5) Da Informação – (artigo 4º, inciso IV CDC) – é responsável pelo esclarecimento acerca dos direitos e deveres dos consumidores e fornecedores, com vistas a harmonizar a relação de consumo. Com a edição da Lei 8.078/90, tornou-se ilegal qualquer ato ou procedimento que atente contra o direito à informação do consumidor, assim, a informação tem que ser ampla, substancial, extensiva a todos os aspectos da relação de consumo desenvolvida.

6) Do Acesso à Justiça – (artigo 6º, incisos VII e VIII CDC) – todos têm direito do acesso à justiça para invocar perante o Estado qualquer que seja o seu direito. Assim, teve o legislador a preocupação de fornecer subsídios, que pudessem facilitar ainda mais o acesso a todos os cidadãos à justiça, como um meio de defesa de seus direitos como forma de reequilibrar ou reduzir a distância na qual se evoluiu entre o consumidor e o fornecedor.

DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

Os direitos básicos do consumidor, constantes do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, foram editados segundo os Princípios apresentados no tópico superior,

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que regem a Política Nacional das Relações de Consumo. É possível notar um “mix” de todos os princípios na formação dos direitos básicos do consumidor. Vejamos:

a) O artigo 6º, inciso I do CDC, prescreve acerca da proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos – corresponde ao dever do fornecedor de informar os possíveis riscos que o produto/serviço oferece à vida, saúde, segurança e patrimônio do consumidor, por exemplo, um alimento não pode conter uma substância que pode fazer mal à saúde. O artigo 8º do CDC prescreve que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. O fornecedor dos produtos e serviços que forem nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar de maneira clara acerca dos riscos que podem causar à saúde e à vida do consumidor. Referida informação deverá ocorrer por meio de anúncios publicitários através dos meios de comunicação (imprensa, rádio e televisão), com vistas a evitar danos ao maior bem do ser humano – vida.

b) Educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações - diz respeito ao direito de o consumidor receber orientação acerca do consumo adequado e correto dos produtos e serviços colocados à disposição no mercado de consumo. Pois assim, pode optar, decidir e escolher o produto ou serviço existente no mercado, que atenda sua necessidade.

c) Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem – a informação deve ser adequada e clara, não deixando dúvidas acerca do produto. Referida informação engloba a especificação correta da quantidade, características, composição, qualidade e preço do produto, assim como dos riscos que o produto possa oferecer. Importante destacar que a informação se limita aos compostos e se apresentam alguma contra indicação, não englobando o segredo industrial, que é direito do produtor.

d) Proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços - correspondem ao dever do fornecedor de publicar de modo exato, a oferta do produto oferecido, com vistas a evitar que o consumidor seja induzido a erro. Destarte, o consumidor tem o direito de exigir que tudo o que for anunciado seja cumprido. Destaca-se que a publicidade enganosa e abusiva são proibidas pelo CDC e, consoante o artigo 67 do diploma legal, são consideradas crime.

A publicidade é enganosa quando contenha qualquer informação/comunicação publicitária falsa, no todo ou em parte, ou que de qualquer modo, induza o consumidor em erro, acerca da sua natureza, características, qualidade,

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quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

É abusiva, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

Há, ainda, a proteção contra cláusulas abusivas, ou seja, as que são excessivamente onerosas ao consumidor. O artigo 51, incisos I ao XVI, do CDC, elenca as cláusulas contratuais quanto ao fornecimento de produtos e serviços, que são nulas de pleno direito.

e) Modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas - este direito é oriundo do princípio Pacta sunt servanta (os acordos devem ser cumpridos), visa proteger o consumidor que assina um contrato com cláusulas pré-redigidas pela outra parte e, estas não são cumpridas ou acabam por prejudicá-lo.

O artigo 47 do CDC prevê que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Assim, o consumidor pode requer que tais cláusulas sejam modificadas ou anuladas pelo juiz.

f) Efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas refere-se à comunicação, pelo consumidor, à autoridade competente, acerca da descoberta de algum vício em potencial no produto adquirido, visando a troca do produto ou devolução do valor pago. Destaca-se que a reparação pode ocorrer na esfera administrativa ou judicial.

g) Acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados - com vistas a auxiliar o consumidor, parte frágil na relação de consumo, a ter acesso ao Judiciário em busca da defesa de seus direitos devidamente assegurados no CDC. Um instrumento de destaque na execução deste direito é a inversão do ônus da prova, que corresponde à transferência ao responsável pelo dano, do ônus de provar que não houve culpa de sua parte, que a mesma é exclusiva da vítima ou que houve fato superveniente.

h) Facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências – já que o fornecedor é  a parte que detém o poder econômico e financeiro na relação consumerista, nada mais justo que a prova dos fatos seja de sua responsabilidade, por isso a inversão do ônus da prova, com vistas a facilitar o acesso do consumidor à Justiça, para ver/ter seus direitos garantidos.

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i) Adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral – os serviços públicos, como por exemplo, o transporte coletivo, o fornecimento de água e energia, são fornecidos por particulares, mas com a concessão do poder público estatal, por isso devem ser prestados de forma adequada e eficaz, consoante determina o artigo 22 da Lei nº 8.078/90 (CDC).

MEIOS DE EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

O Poder Público, para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, conta com os alguns instrumentos colocados à sua disposição para fazer valer os direitos estampados no Código de Defesa do Consumidor. Referidos instrumentos estão elencados no artigo 5º, incisos I a V, do CDC, a saber: I – manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; II – instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.

SANÇÕES CONSTANTES DO CDC PARA O FORNECEDOR QUE DESRESPEITAR SUAS REGRAS

No Código de Defesa do Consumidor existem penas para aquele fornecedor que não obedecer suas regras. Referidas penas são chamadas sanções administrativas, encontram-se listadas no artigo 56, incisos I ao XII, a saber: multa; apreensão do produto; inutilização do produto; cassação do registro do produto junto ao órgão competente; proibição de fabricação do produto; suspensão de fornecimento de produtos e serviços; suspensão temporária da atividade; revogação de concessão ou permissão de uso; cassação de licença do estabelecimento ou da atividade; interdição total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; intervenção administrativa; imposição de contrapropaganda. Referidas sanções podem ser aplicadas cumulativamente.

Importante destacar que além das sanções administrativas retromencionadas, há também as de natureza civil penal e das definidas em normas específicas, como prescreve o caput do artigo 56 do CDC.

Resta claro que o desenvolvimento econômico é responsável pela disparidade entre o consumidor e o fornecedor, já que este busca o lucro de forma desenfreada, para tanto, utilizam de práticas arbitrárias e desleais, com publicidade enganosa e abusiva, na tentativa de enriquecimento e domínio de mercado.

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Direito Penal Ambiental

em 12 de fevereiro de 1998, o Brasil promulgou a Lei 9.605, a Lei dos Crimes Ambientais, satisfazendo, ao menos em parte, as aspirações de ambientalistas e penalistas.

A referida lei é sem dúvida uma grande evolução do direito pátrio, vez que não trata somente dos crimes contra o meio ambiente, mas também contra a Administração Pública e contra o Patrimônio Cultural, no que se relacione á questão ambiental.

Há de se destacar ainda que inúmeras foram as inovações da lei 9.605, não só no que se relaciona ao referido no parágrafo anterior, sendo tais inovações visualizadas não só no campo penal, no que se refere aos crimes praticados pelas pessoas jurídicas e as sanções que lhe são peculiares, o recolhimento domiciliar da pessoa física, mas também em matéria de direito à desconsideração da personalidade jurídica.

Direito Ambiental

O direito ambiental configura-se como sendo um ramo do direito considerado relativamente novo em se tratando de direito pátrio. Antigamente, tal verificava-se como sendo objeto de análise do Direito Administrativo, de acordo dispunha Hely Lopes Meirelles e teve tão somente reconhecida sua autonomia com o advento da Lei 6.938 de 31 de agosto de 1981.

Define Luís Paulo Sirvinskas que o direito Ambiental “é a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria das condições de vida no planeta”.

Conceito de meio ambiente

O termo meio ambiente é doutrinariamente tido como equivocado, vez que se literalmente analisado, têm-se meio como sendo aquilo que se encontra no centro de algo, e ambiente o lugar ou a área em que habitam seres vivos. Assim sendo nota-se que o termo meio está implicitamente inserido no termo ambiente, verificando-se então um vício de linguagem denominado pleonasmo.

Por meio ambiente entende-se como sendo, de acordo disposição legislativa no art. 3º, I, da Lei 6.938/81, “o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

O douto constitucionalista José Afonso da Silva define, face às deficiências legislativas, o meio ambiente como: “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento da vida de todas as formas”.

Têm-se como sendo o meio ambiente natural: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os

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elementos da biosfera, a fauna, a flora, o patrimônio genético e a zona costeira (art. 225 da Constituição Federal).

No que se relaciona ao meio ambiente cultural, têm-se: os bens de natureza material e imaterial, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (arts. 215 e 216 da Constituição Federal).

Em relação ao meio ambiente artificial, relaciona-se: os equipamentos urbanos, os edifícios comunitários (biblioteca, pinacoteca).

Por fim, em se tratando de mio ambiente do trabalho, que se refere diretamente à proteção do homem no seu local de trabalho, com a devida observância às normas de segurança (arts. 200, VII e VIII, e 7º, XII, ambos da Constituição Federal). 

Princípios gerais do direito ambiental

São muitos os princípios norteadores do Direito Ambiental, sendo eles: o do direito humano, decorrente da declaração de Estolcomo de 1972; o princípio do desenvolvimento sustentável, que busca conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico; o princípio democrático, o que assegura a quaisquer cidadãos participar das políticas públicas ambientais; o princípio da prevenção, decorrente do princípio quinze da Declaração do Rio/92; o princípio do equilíbrio, que dispões da necessidade de que se verifiquem implicações pesadas em se tratando de intervenções no meio ambiente a fim de solucionar quaisquer problemas; o princípio do limite, que dispõe que a Administração Pública deverá fixar limites a fim de se coibir a presença de corpos estranhos no meio ambiente; nota-se por fim o princípio do poluidor pagador, também decorrente do Rio/92, que dispõe da necessidade de se criar legislações relativas às indenizações e à responsabilidade dos envolvidos na prática de danos ambientais.

direito ambiental x direito penal.

O direito ambiental se relaciona com o direito penal ao passo que este último dispõe normas de proteção à saúde, que caracterizam matéria ambiental.

Lei 9.605 e a tutela penal do meio ambiente.

A Lei 9.605/98, de certa forma, é uma tentativa de ser uma lei uniforme e única sobre o tema. Os conceitos básicos do direito penal permanecem válidos e fundamentais para a responsabilização do autor do ilícito penal ambiental. Os princípios fundamentais da legalidade, tipicidade e subjetividade existem no direito penal ambiental com força igual àquela que possuem em outros setores do direito penal, seja no comum, seja no especial.

Em se tratando da omissão nos crimes ambientais, é mister enfatizar que se entendo por ela como sendo o não-impedir o resultado, assim sendo, a não produção de um resultado que a lei ordena. Em suma, é a ausência de atividade, proveniente quer seja de uma inércia, quer de um aliud facere, consumando-se então a referida ocorrência do resultado.

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Da pessoa jurídica.

Dispõe o artigo 3º da Lei 9.605 da seguinte redação: “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nessa lei, em caso que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”. Assim sendo, face às disposições legais, entenderam os legisladores que a pessoa jurídica era penalmente capaz de ser punida pelas infrações ambientais que lhe beneficiasse. No entanto é mister enfatizar que de acordo com o parágrafo único do referido artigo, a responsabilidade da pessoa física não é excluída com a responsabilidade da pessoa jurídica.

De acordo com a doutrina civil “surgem, então, as pessoas jurídicas, que se compõem, ora de um conjunto de pessoas, ora de uma distinção patrimonial, com aptidão para adquirir e exercer direitos e contrair obrigações”. No mesmo sentido, preleciona Luiz Manzione: “é a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações”.

Em se tratando de Brasil verifica-se que a Constituição Federal promulgada no ano de 1988 previu em seus artigos 173, § 5º e no artigo 225, § 3º, a responsabilização da pessoa jurídica, bem como na Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Dr. Édis Milaré, dispõe que são duas as tais condicionantes, sendo elas: (a) que a infração penal tenha sido absolutamente cometida em benefício ou interesse de sua pessoa; (b) por decisão de seu representante, de natureza legal ou contratual, ou, então, de seu colegiado.

Da primeira condição para responsabilização da pessoa jurídica há de se destacar que, se houver tão somente o interesse de seus dirigentes ou colegiado e não o da pessoa jurídica em si, na prática do ato delituoso essa última se configura como sendo tão somente um meio utilizado para que se desse o resultado. No entanto, verificando-se o seu interesse no resultado, deixa de ser meio utilizado e passa a ser agente na prática do ilícito penal.

Em se tratando da segunda condição, extrai-se em virtude das considerações anteriores que elementos subjetivos do tipo penal poderão, tão somente, serem analisadas em face das pessoas que dirigem as empresas, elencadas na própria lei 9.605/98 em seu artigo 2º.

É sabido então que a pessoa jurídica reúne capacidade penal para responder pelas infrações penais de acordo com o que dispõe a lei, no entanto, muito se divergiu no que se relaciona a diferença entre as pessoas de direito público e privado, e em ambos os casos são passíveis de responsabilidade no âmbito penal.

No que se relaciona às pessoas jurídicas de direito público, entendem doutrinadores que, haja vista a lei não ter especificado a quais pessoas jurídicas de direito se refere, aplicando-se então o conhecido princípio da hermenêutica jurídica: “ubi lex non distinguit nec nos destinguere debemus”.

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Entretanto, há de se destacar que qualquer punição às pessoas jurídicas de direito público, certamente recairiam sobre toda a sociedade, em face de sua natureza jurídica. Assim sendo, parte da doutrina defende que essas não são passíveis de responsabilidade penal, no entanto, tal proibição não extingue a dos agentes públicos responsáveis pela prática do referido ato lesivo. Nota-se também a possibilidade da busca da reparação do dano na esfera cível, fundamentada no art. 37, § 6º, da Constituição Federal.

Da desconstituição da pessoa jurídica.

Visualizada em diversos países a teoria da “desconsideração da personalidade jurídica” ou da “despersonificação da pessoa jurídica” vem, sem dúvidas, ganhando espaço na doutrina brasileira e aos poucos sendo aplicada nos Tribunais, não só no que se relaciona ao direito ambiental, mas também a outros ramos do direito.

A referida consiste em extinguir a personalidade jurídica sempre que a existência desta, porventura, obstar ao ressarcimento dos prejuízos causados á qualidade do meio ambiente, de acordo dispõe o art 4º da 9.605: “Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”.

 A referida Lei dos Crimes Ambientais, no que se refere à desconsideração da personalidade jurídica (art. 4º), praticamente, reproduz o que aduz o artigo 28, § 5º do Código de Defesa do Consumidor. O principal parâmetro da questão é sem dúvidas a necessidade de reparação dos prejuízos causados.

O que na realidade se depreende é que a “desconsideração” é enfim aplicada quando a pessoa jurídica em questão foge das finalidades a que foi criada ou, mesmo dentro dela, comete atos que, se analisados, demonstra fraude à lei ou ao contrato, em detrimento de terceiros.

Como objeto da possível desconsideração ou despersonalização é, indubitavelmente, coibir a fraude, em todos os sentidos, bem como o abuso de direito, haja vista o cometimento de excessos. Há de se destacar, no entanto que a despersonalização só anula os atos em questão impugnados, preservando então os demais que se verificarem alheios aos atos outrora impugnados.

Vislumbra-se que não é qualquer prática delituosa que motivará a desconsideração. Destaca Valdir Sznick, que a desconsideração se dará “quando há uma ocultação da pessoa por trás da pessoa jurídica e ocorrendo o levantamento do véu do véu ( lifting the corporate veil) se descobre o uso abusivo ou excessivo da pessoa jurídica, mascarando a verdadeira finalidade da mesma. A má direção da empresa (com o abuso ou o uso excessivo) constitui-se em uma infração e, pois, um comportamento ilícito, justificando a desconsideração”.

A aplicação das penas. No que se relaciona à aplicação das penas, o referido diploma legal (lei. 9.605/98) não dista em nada do Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei. 2.848, de 07 de dezembro de 1940), prevendo penas de multa, restritivas de liberdade e restritivas de direito.

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Entretanto destaca-se a preferência legislativa em relação às penas restritivas de direito e as pecuniárias e isso se explica por dois motivos. Inicialmente as referidas penas aplicam-se a quaisquer pessoas, ou seja, às pessoas físicas e jurídicas; e, haja vista a enorme diferença entre os delinqüentes ambientais e àqueles que tem ocupado o sistema prisional brasileiro. Ainda em relação a segunda situação notar-se-ia um contra-senso se o legislador optasse pela pena restritiva de liberdade, vez que a sociedade suportaria o dano causado e às custas no que se relaciona a privação de liberdade do delinqüente.

Das penas aplicáveis às pessoas físicas.

Ambas as penas do referido diploma legal aplica-se às pessoas físicas, sendo elas, as anteriormente citadas, ou seja, as restritivas de liberdade, de direito e multa.

Penas restritivas de liberdade.

As penas privativas de liberdade que se verificam no ordenamento jurídico nacional são as de detenção e as de reclusão, e prisão simples em se tratando de contravenção penal.

Diferencia-se a detenção e a reclusão por um aspecto meramente formal, de acordo com o art. 33 do Código Penal. Dispõe este da seguinte redação: “a pena de reclusão de ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”. Assim sendo, tal diferença consiste tão somente no regime de cumprimento de pena.

Em se tratando da Lei dos Crimes Ambientais, como anteriormente citado, fez o legislador explicita preferência pela restritiva de direito, podendo até, em determinados casos, ser substituída pelas restritivas de direito. Assim sendo, verifica-se que sua aplicabilidade se dá tão somente no último caso.

Penas Restritivas de direito.

Face ao disposto no artigo 7º da Lei 9.605/98, que dispõe da seguinte redação: “as penas privativas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I – trata-se de crime culposo ou for aplicada pena privativa de liberdade, inferior a quatro anos; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime”, verifica-se como anteriormente referido, que o legislador brasileiro sem dúvida fez estrita opção pela pena restritiva de direito.

O fato acima descrito se deu face algumas características dos crimes ambientais.

Inicialmente nota-se que há, indubitavelmente, uma diferença entre o perfil do delinqüente que o comete em relação ao que comete um crime, como por exemplo, de homicídio, assim sendo, não é concebível a lei preveja a estes, a mesma cominação de pena, nem mesmo o regime de cumprimento.

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De acordo ainda a disposição do art. 7º, parágrafo único, da Lei dos Crimes Ambientais, as penas restritivas de direito terão a mesma duração das restritivas de liberdade.

Sem dúvida é uma evolução do direito moderno, haja vista a busca incessante de se afastar as penas restritivas de liberdade em função do colapso que vive o sistema prisional brasileiro, e são elencadas de acordo dispõe o art. 8º do referido diploma legal: “I – prestação de serviços à comunidade; II – interdição temporária de direitos; III – suspensão parcial ou total de atividades; IV – prestação pecuniária; V – recolhimento domiciliar”.

Das penas acima citadas, não se verifica uma sobreposição ou uma hierarquia entre elas, tendo o juiz discricionariedade na aplicação das mesmas, no entanto verifica-se ao passo da atual conjuntura econômica nacional, a maior aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade e a pena de prestação pecuniária, sendo que historicamente a primeira se deriva da segunda, ao passo que era aplicada àquelas pessoas que não reuniam condições de solver com as pecuniárias.   

Penas da Pessoa Jurídica

Após descrever as penas aplicáveis as pessoas físicas, a Lei dos Crimes Ambientais elucida acerca das penas cabíveis as pessoas jurídicas.

Dispõe o art. 21: “as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o art. 3º são: I – multa; II – restritivas de direitos; III – prestação de serviços à comunidade”.

No que se relaciona à aplicação da pena, define o artigo anteriormente citado, três possibilidade. Inicialmente as penas são impostas: isoladas, assim sendo uma só pena a ser aplicada; alternativa, onde nota-se que há mais de uma pena, no entanto tão somente uma é aplicada, e; por fim as cumulativas, onde verifica-se mais de uma pena e sendo, então, aplicadas ambas em cumulo.

Em se tratando da pessoa jurídica a pena alternativa, ou seja, a restritiva de direito será aplicada como regra, vez que a Parte Especial do diploma legal em questão prevê tão somente penas privativas de liberdade, o que se verifica como sendo fator motivador de muitos contrários a punição penal da pessoa jurídica.

Ainda neste, foi citada as modalidades de penas no que se relaciona à sua aplicação. Na prática, quando, porventura, se verificar uma pena alternativa, aplicar-se-á a restritiva de direito; quando notar-se a cumulativa, aplicar-se-á tão somente a restritiva de direito.

Em face ao grau dos danos causados, os prejuízos causados e a extensão da degradação visualizada, entendem doutrinadores que ao lado da pena de multa, poderá ser aplicada outra restritiva de direito, como a prestação de serviços à comunidade.

A Lei 9.605/98 devidamente elencou as penas restritivas de direito a serem aplicadas à pessoa jurídica, sendo elas, de acordo com o art. 22: “as penas

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restritivas de direito da pessoa jurídica são: I – suspensão parcial ou total das atividades; II – interdição temporária de estabelecimento, obra, atividades; III – proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações”.

Em se tratando da suspensão das atividades, explicada no § 1º do artigo supra citado, assim como se verifica no direito administrativo, constitui-se um ato punitivo. Dada a gravidade do dano, verificar-se-á a aplicação da suspensão parcial ou total, no entanto nota-se que a suspensão susta tão somente a execução (continuação).

Em se tratando da interdição, explica o § 2º: “a interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com a violação de disposição legal ou regulamentar”.

Nota-se que este acima traz de forma taxativa os casos onde caberá a aplicação da interdição.

São sujeitas á interdição em face das disposições legais: a) obra ou atividade – aqui, trata-se de qualquer execução, inclusive se esta tiver natureza tão somente de reparos, como, por exemplo, reforma em galerias de águas pluviais. Nota-se que para a sua aplicação há a necessidade de que esta esteja contrariando a lei ou a regulamento; b) estabelecimento – nota-se aqui que há a necessidade da participação de uma empresa ou firma que está a desenvolver atividades que não estão de acordo com as disposições legais.

No que se relaciona à interdição verificar-se-á esta quando: 1 – autorização: tal verifica-se por em relação ao funcionamento, bem como a construção de uma obra. Em ambos os casos a não existência da autorização torna a atividade clandestina; 2 – em desacordo aqui, há a autorização para realização de determinada atividade, no entanto, tal poderá ser verificada em duas situações distintas – a) concedida: verifica-se quando a autorização é dada para a consecução de atividade diversa da que realmente se verifica ocorrendo; b) violação: quando apesar de ter autorização para realização daquela determinada atividade, não a executa de acordo com as disposições legais.

Por fim, a proibição de contratar com o Poder Público é aplicada às pessoas jurídicas de grande repercussão em suas áreas de atuação.

Dispõe o § 3º, do art. 22 da Lei dos Crimes Ambientais que: “A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder a dez anos”.

No que se relaciona á pessoa física, tal restrição foi fixada de 03 (nos casos de crimes culposos) a 05 anos (nos casos de crimes dolosos). No caso da pessoa jurídica, previu o legislador o prazo máximo de 10 anos. Sabe-se que as penas que vedam subsídios e adjacências repercutem em muito nas empresas, haja vista sua natureza financeira.

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Do art. 23 ao art. 25, prevê a Lei dos Crimes Ambientais acerca da prestação de serviços, da liquidação forçada e da apreensão de produtos.

Inicialmente da prestação de serviços à comunidade tal se verificará num desenvolvimento por parte da pessoa jurídica condenada de programas e projetos de cunho social, bem como o desenvolvimento de recuperação de áreas degradas. Na impossibilidade de se verificar o cumprimento destas, poderá se aplicada a contribuição a entidades, sendo que pela ordem, tais deverão ser: ambientais, culturais e públicas.

Da liquidação forçada percebe-se que esta se configura como sendo uma pena de morte, haja vista, ter por escopo por fim à pessoa jurídica. Destaca-se o fato de seu patrimônio ser revertido para a união, e, assim como a pena de multa, são revertidos ao Fundo Penitenciário.

Da apreensão do produto destaca-se o fato ser esta ligada diretamente aos que foram utilizados na prática do crime. Tal apreensão é praticada pela autoridade policial o a quem faz suas vezes.

Das circunstâncias.

Atenuantes

Face ao princípio da especialidade, tratou o legislador de inserir na Lei dos Crimes Ambientais, as circunstâncias que atenuam (art. 14), bem como as que agravam (art. 15) a pena. Levou-se em consideração a especificidade das agressões que são direcionadas ao meio ambiente, bem como os meios como a ação fora executada.

Então, presentes quaisquer das situações prevista no art. 14, a pena será diminuída, sendo tal diminuição a critério do julgador, haja vista tal circunstância não prevê o quantum. Das quatro circunstâncias visualizadas no referido artigo, três têm referência direta com o dano: espontânea reparação, comunicação do perigo, colaboração na vigilância. Tão somente uma se liga ao agente: baixo grau de instrução e escolaridade.

Agravantes

Ante ao anteriormente disposto, prevê a Lei 9.605/98 as circunstâncias agravantes no que se relaciona aos crimes ambientais. Dispõe o art. 15: “Art 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente cometido a infração: a) para obter vantagem pecuniária; b) coagindo outrem para a execução material da infração; c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos à propriedade alheia; e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso; f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos; g) em período de defeso à fauna; h) em domingos ou feriados; i) à noite; j) em épocas de seca ou inundações; l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; n) mediante fraude ou abuso de confiança; o) mediante

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abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental; p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais; q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes; r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções”.

A reincidência “perfaz-se pela prática de novo crime pelo agente, depois de transitada em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior”, dispõe o art. 63 do Código Penal. No entanto, em se tratando dos crimes ambientais, salienta o art. 15 a necessidade que a reincidência se dê em crime de natureza ambiental. Assim sendo, tem-se o que se denomina de reincidência específica. Destaca-se que a reincidência não tem caráter de perpetuidade, mas sim, prescreve no decurso de prazo de 05 anos (art. 64, I, do Código Penal).

Das excludentes de ilicitude

O fato típico, sempre que se verificar um excludente de antijuricidade, perderá a sua ilicitude.

A Lei dos Crimes Ambientais tratou de elucidar as causas excludentes de ilicitude. Elencou, por exemplo, no art. 37 situações que se configuram como sendo excludentes de ilicitude em se tratando do abate de animais. Dispõe o referido artigo da seguinte redação: “Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III - (VETADO) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente”.

Nas disposições finaIs, tratou o legislador de explicitar a aplicabilidade do princípio da subsidiariedade da lei penal comum, tendo então, perfeita aplicabilidade em se tratando de crimes ambientais o art. 23 do Código Penal.

Da ação penal.

Em se tratando da ação penal, tratou o legislador de ser objetivo, haja dispôs tal matéria em tão somente três artigos, sendo eles o 25, 26 e 27 da Lei 9.605/98.

Dispõe o art. 25: “nas infrações penais previstas nesta lei a ação penal é pública e incondicionada”.

Assim sendo, têm-se como exclusivamente competente para propor a ação o Ministério Público, não cabendo de forma alguma a ação penal privada. Salienta-se ainda que a referida ação independe de qualquer representação ou requisição.

“Dentro dos princípios que regem o Ministério Público, mais do que a obrigatoriedade (para alguns legalidade) funciona o princípio da oportunidade,

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especialmente nos crimes ambientais, onde uma ação esperada em lugar de uma precipitada pode propiciar a descoberta do grupo ou de seus responsáveis”.

Dos crimes propriamente ditos.

Contra a fauna

Os atentados que se relacionam à fauna, então previstos na Lei 5.197/67 (Código de Caça) e o Decreto-Lei 221/67 (Código de Pesca), foram consolidados então na Seção I do Capítulo V.

Aqui se cumpre salientar que as penas cominadas guardam, de certo modo, uma adequação à gravidade dos fatos, distanciando-se do que foi outrora previsto que, por considerar como inafiançáveis os delitos cometidos contra a fauna silvestre e, por estabelecer sanções um tanto quanto rigorosas em demasia, tinha sua aplicação prática um tanto quanto discreta. Aplica-se, na grande maioria dos casos, os princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato (= delito de bagatela), absolvendo então os acusados.

Algumas considerações acerca dos tipos penais em se tratando a fauna merecem destaque.

Inicialmente no art. 29 fez o legislador referência à “espécimes”, assim sendo, este deu sentido de que o tipo penal só se verificará com a ação em face de vários exemplares da fauna, ou seja, que o dano aplicado em relação a tão somente um exemplar não configuraria crime.

Com relação ao art. 30, verificou-se a utilização da expressão: “exportar para o exterior”, se não verificando-se essa redundante, ao menos restringiu a possibilidade da prática de tal fato típico no comércio tão somente interno, fato muito comum em se tratando de Brasil.

Questão também relevante é a que se refere ao art. 32, que trata da prática de abuso contra os animas, haja vista não se ter definido legalmente o que se configura como sendo a “pratica de abusos”. “Maus-tratos” é o nome jurídico da conduta que consta o art. 136 do Código Penal, no entanto, praticada contra animais possui uma pena maior do que contra a pessoa.

Contra a flora.

Dos crimes contra a flora, previstos na Seção II do Capítulo V, destaca-se a incorporação como sendo conduta criminosa a maioria das contravenções penais outrora previstas na Lei 4.771/65 (Código Florestal).

Em se tratando desta modalidade de crimes, sem dúvidas um dispositivo legal que merece destaque é o art. 42, que se refere ao fabrico, venda, transporte ou soltura de balão. O referido artigo é, sem dúvida, um comportamento adequado para figurar no rol das contravenções penais ou das infrações administrativas, haja vista, ter como escopo inibir conduta típica da cultura brasileira. Certamente a alegria

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propiciada pelas festas juninas, que em nada se dista das manifestações culturais fadará tal dispositivo ao desuso.

Da poluição.

Em se tratando dos crimes previstos na Seção III do Capítulo V da Lei dos Crimes Ambientais, o legislador destacou no art. 54 os crimes de poluição, revogando então tipificação análoga prevista no art. 15 da Lei 6.938/81, em face de possui um conteúdo mais abrangente. Dispõe o referido artigo da seguinte redação: “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tomar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível”.

Destaca-se que o caput prevê a forma dolosa do crime. O tipo penal tutela então a saúde humana, podendo o crime ser figurado como de perigo ou de dano. A segunda parte, tara o artigo da incolumidade animal e vegetal, sendo o referido crime tão somente de dano, vez que, explicitamente tipifica a conduta capaz de provocar a mortandade de animais ou a efetiva destruição significativa da flora.

Tratou o § 1º da modalidade culposa do referido crime, em todas as suas modalidades. Já em seu § 2º cuida do crime qualificado pelo resultado, onde se permite a aplicação de uma pena mais severa. Por fim o § 3º, prevê a omissão na adoção de medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível, valorizando-se então os princípios de direito ambiental.

REVENDO

Crimes contra o meio ambiente

- Crimes contra a fauna:

Os artigos 29 a 37, da Lei nº 9.605/98, procuram dar proteção máxima à flora brasileira enquanto bem ambiental, já que os animais não são sujeitos de direitos, porquanto a proteção do meio ambiente existe para favorecer o próprio homem e, somente por via reflexa, as demais espécies.

É, portanto, com a aplicação da tutela criminal dos bens ambientais que devemos interpretá-la em face da fauna.

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- Crimes contra a flora:

O legislador também descreveu inúmeras situações que poderiam configurar os denominados delitos contra a flora (artigos 38 a 53, da Lei nº 9.605/98). Assim, a proteção da flora deve ser adaptada às necessidades da pessoa humana, já que é evidente a volúpia dos países de primeiro mundo de "internacionalizar" a nossa biodiversidade.

A proteção das florestas é o fundamento básico para a aplicação dos crimes contra a flora, fato que motivou o legislador a adotar desde logo critérios preventivos e repressivos, visando a aplicação das sanções penais ambientais.

- Poluição e outros crimes ambientais:

De acordo com a Lei nº 6.938/81, em seu artigo 3º, inciso III, são considerados crimes com pena da reclusão as seguintes atividades:

"III- poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos".

- Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural:

A proteção do meio ambiente cultural e artificial merece destaque, tendo em vista a imposição de sanções penais muito bem adequadas às necessidades de salvaguardar a natureza imaterial dos bens ambientais culturais, assim como as relações fundamentais normativas que vinculam o direito à moradia com as necessidades de adquirir quantia em dinheiro a partir da disponibilização da força de trabalho físico-psíquica humana no capitalismo para as necessidades de consumo essencial e não essencial.

- Crimes contra a administração ambiental:

Os artigos 66 a 69, da Lei nº 9.605/98, tentam detalhar critérios no sentido de que o Poder Público, por meio da atuação de seus agentes, possa realizar a importante tarefa que lhe foi destinada pela Constituição Federal (artigo 225, da CF), de defender e preservar o direito ambiental para as presentes e futuras gerações.

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Leis penais especiais: Drogas LEI 11.343/06

A lei atual foi divida em seis títulos: das disposições preliminares, do sistema nacional de políticas públicas sobre drogas, das atividades de prevenção ao uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, da repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, da cooperação internacional e das disposições finais e transitórias. Assim, toda vez que se fala de drogas deve se vislumbrar: prevenção (medidas de políticas públicas ao combate as drogas), repressão (trata da punição) e tratamento (política de redução de danos, mais barato tratar do que arcar com os efeitos).

O primeiro artigo (Disposições preliminares) cria o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD.

Para Rassi, a nova lei deu tratamento diverso a quem traz droga para consumo próprio. Não se trata de descriminalização, mas depenalização, e neste sentido já se pronunciou o STF. A idéia da lei atual é acabar com o estigma social de se tratar o usuário como criminoso, assim tratou-se dele em título separado, mas isso não ocasionou a descriminalização.

Todos os crimes de drogas hoje são normas penais em branco, como já previa as anteriores. É uma norma de conteúdo incompleto que necessita de complemento. Se o complemento advém de ato normativo diverso, será heterogênea, como ocorre aqui, com a Portaria 344/98 (quem atualiza a portaria é a Anvisa). O art. 66 da lei faz referência expressa dessa portaria.

As drogas podem ser classificadas em 3 tipos:

- drogas psicoanalépticas, que são estimulantes do sistema nervoso central. Ex. cocaína, merla, craque. A merla é um subproduto da cocaína. É retirada das folhas da coca onde se adiciona alguns solventes como: querosene, ácido sulfúrico, cal virgem etc.

- drogas psicolépticas, são depressoras do sistema nervoso central. Ex. morfina, heroína, ópio.

- drogas psicodislépticas, são as despersonalizantes, são desestruturadoras do sistema nervoso central. Ex. maconha, LSD25, chá de lírio e ecstase.

- hoje no Brasil está autorizada (cabe a União regulamentar o cultivo, plantio e cultura dessas plantas) a utilização de plantas para uso (estritamente) ritualísticos e religiosos, além do uso para fins medicinais. Há aqui uma causa de exclusão de tipicidade. O objetivo era proteger culturas indígenas.

Título 2º - trata do SISNARD – objetivos e organização.

Qual a situação jurídica quando há uma exclusão temporária da substância da portaria? Isso já ocorreu com o cloreto de etila. Se isso ocorrer de novo, se o sujeito

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for surpreendido no período da exclusão será abolitio criminis, o fato será atípico. Para o STF, a exclusão temporária tem os mesmo efeitos da lei penal temporária, assim, os fatos praticados antes do período da exclusão continuarão sendo crimes. No entanto, se a exclusão não for excepcional, ou seja, quando uma junta médica disser que os efeitos não afetam a saúde, retroagirá. Foi mais ou menos o que ocorreu com o Santo Daime, ou seja, o caráter de exclusão não foi temporário.

Título 3º - trata da prevenção. Atenção para o art. 18 e 19 como CONANDA, pois as leis anteriores não trataram dele.

Sobre drogas, desde as ordenações filipinas já se definiu algo a respeito. Primeiro surgiu a lei 5. 726/51, depois veio a 6.368/72.

A lei 10.409-02 revogou a lei 6.368-72, mas não estabeleceu crimes, assim, os operadores do direito tinham que usar as duas leis. Mas hoje, a lei 11.343/06 revogou as duas anteriores.

OBSERVAÇÕES DA LEI 11.343-06

I - Objeto material: não se usa mais substancia entorpecente, a lei nova trata de drogas, segundo recomendação da organização mundial da saúde.II - A drogas é norma penal em branco1ª corrente: o juiz deve analisar no caso concreto, com base no art. 2º, p. 4º da convenção de Viena. Ela ofende o princípio da taxatividade

2ª corrente: droga é o etiquetado como droga na portaria 344-98 do Ministério da Saúde. É a que prevalece no BR.

III – A lei trabalha com proporcionalidade.

LEI 11343-06

3 a 15 anos:

- para o tráfico e figuras equiparadas. 5 a 15 anos:

- para o tráfico e determinadas figuras equiparadas;

- punindo com pena menos ou mais severa outras condutas criminosas equiparadas.

A lei respeita o princípio da proporcionalidade ao trabalhar muito com exceções pluralistas a teoria monista.

IV – mais severa a pena de multa.

a) USUÁRIO DE DROGAS OU DEPENDENTE

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Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;II - prestação de serviços à comunidade;III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I - admoestação verbal;II - multa.

§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

- o art. 28, p. 4º utiliza a expressão reincidência, o que confirma que é crime, pois falou em reincidência é crime. - reincidência também existe em infrações administrativas, o legislador usou a expressão reincidência em sentido vulgar, de repetir a infração. - o não cumprimento da “pena” não gera conseqüências penais (art. 48, p. 4º )*

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- o art. 30 fala em prescrição. - prescrição também está no ilícito civil, infrações administrativas e atos inflacionais (o STF diz que infração administrativa também prescreve). - a saúde individual é um bem disponível.

- o art. 5º, XLVI, CF, afirma que há crimes em que não se pune com prisão e detenção. A LICP diz que crime sofre reclusão e detenção e contravenção penal, prisão simples.

Se o art. 28 não trata de prisão ou detenção, então não é crime nem contravenção, sendo infração penal sui generis.

- POSIÇÃO DO STF: pois se não for crime, desaparece o ato infracional do “menor” e isso não é interessante. - o art. 101 do ECA, o “menor” pego com drogas deve ser submetido a medidas protetivas, ele deve ser cuidado e protegido e não punido.

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado.

Art. 30: Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

Art. 28: prescreve em 2 anos, não importa se é prescrição punitiva ou executória.

No art. 28, aplica-se o princípio da insignificância?

Para Vicente Greco, o STF não admite o princípio da insignificância na lei de drogas.

No entanto, o STF admite o princípio da insignificância, principalmente em relação ao usuário.

O que leva o delegado a definir pelo tráfico ou uso? A quantidade da droga é apenas um dos elementos a ser analisado pelo delegado, promotor e juiz, para tipificar o crime. Art. 52:

Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:

I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação

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criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou

II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.

Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências complementares:

I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento;

II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Art.28 trata de quem traz droga para o consumo pessoal, prevendo como penas:

- advertência sobre os efeitos das drogas;- prestação de serviços a comunidade;- medida educativa de comparecimento a programa ou a curso educativo.

A expressão consumo pessoal é compatível com o parágrafo 3º do art. 33, eles são diferentes, mas envolvem situações análogas. É crime do art. 28 quem traz droga para uso próprio ou de 3ª pessoa, é crime do parágrafo 3º quem “oferece” droga para juntos consumirem (o verbo não está no 28). A punição é mais severa pela dispersão da droga.

A conduta de preparar droga para uso pessoal pode ser enquadrada no 28? Sim, se provar que é para uso pessoal (analogia in bonam partem). E a conduta de plantar? A lei inovou no art. 28 parag. 1º .

As penas do 28 podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente. Para a garantia do cumprimento das penas do art. 28, há previsão no parag. 6 de admoestação verbal e multa. Crítica o parag. 6 é mais brando que as do art. 28, assim o juiz deve ser incisivo na multa.

O art. 28 é de competência do JeCrim.Nem se descumprir a medida alternativa irá preso.

Descumprimento da transação: a solução será, segundo o STF, oferecer a denúncia. Com a nova lei não é mais denúncia. O juiz vai impor admoestação verbal e multa. Duração: a PSC e a medida educativa terão duração de 5 meses a 10 meses (para reincidentes).

A transação não gera reincidência. É possível transação para reincidente.

Semear, cultivar para consumo pessoal – juizado especial com penas alternativas. 64

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TRÁFICO TÍPICO

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

Art. 33, caput.

a) Bem jurídico

O art. 12 tem um bem jurídico primário ou imediato que é a saúde pública e um secundário ou mediato que é a saúde individual da pessoa que integra a sociedade.

b) Sujeito ativo

Em regra, o sujeito ativo é comum, salvo no verbo prescrever é próprio, só pode ser praticado por médico e dentista.

c) Sujeito passivo - É a coletividade.

Venda de drogas para criança ou adolescente. Qual é o crime? art. 33 da lei de drogas majorado pelo art. 40, VI ou é o art. 243 do ECA?

A lei de drogas fala em drogas. O eca fala em produtos causadores de dependência (ex. cola de sapateiro). Aplicamos aqui o princípio da especialidade. Assim, se rotulado como drogas é o art. 33.

d) Tipo objetivo

18 núcleos (traficância)

Objeto material: drogas

crime de ação múltipla ou de conteúdo variado (plurinuclear), ou seja, se praticados pluralidades de núcleos no mesmo contexto fático, temos crime único.

CESSÃO GRATUITA PARA CONSUMO GRATUITO

É art. 33, 3, da lei nova. É um tráfico atípico de menor potencial ofensivo.

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SEM AUTORIZAÇÃO OU EM DESACORDO COM DETERMINAÇÃO LEGAL OU REGULAMENTAR

Estamos diante de um elemento normativo indicativo da ilicitude.

É possível alegar estado de necessidade no tráfico?Os tribunais rejeitam por completo.

CIRCUNSTÂNCIAS INDICATIVAS DE TRÁFICO

Art. 52 da lei – Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:

I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou

II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.

Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências complementares:

I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento;

II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Os crimes desta lei só são punidos a título de dolo direto ou eventual.

Assim, pode haver erro de tipo! Porque a proibição aqui é elemento normativo do tipo.

Lembre que erro de tipo essencial sempre exclui dolo e não pune a modalidade culposa, assim não há crime.

CONSUMAÇÃO

Com a prática de qualquer um dos núcleos. Mas temos que fazer uma alerta! Alguns núcleos referem-se a crime permanente, ou seja, a consumação de prolonga no tempo. Ex. manter em depósito, guardar, possuir, trazer consigo, etc.

TENTATIVA

1ª corrente (majoritária): o exagero de núcleos tornou inviável a tentativa.

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Em concurso: PF ficou com a 2ª corrente, que diz que é possível tentativa de tráfico, na modalidade tentar adquirir.

CRIME DE PERIGO OU DE DANO?Será que o art. 33 é crime de perigo ou de dano?É um crime de perigo. É abstrato ou concreto?Perigo abstrato: o perigo é absolutamente presumido por lei.Perigo concreto: o perigo deve ser comprovado.

1ª corrente: trata-se de crime de perigo abstrato (ainda é majoritária).

2ª corrente: o perigo abstrato ofende o princípio da lesevidade (pune alguém sem prova concreta de lesão ou ameaça ao bem jurídico) e o princípio da ampla defesa (impede o acusado de fazer prova em sentido contrato). O STF já está adotando a segunda corrente para o usuário e também para o estatuto do desarmamento, repelindo o perigo abstrato.

Ex. A vende drogas. B vigia para garantir a venda. C é policial simulando ser usuário, havendo aqui uma compra e venda simulada. Quando A entrega a droga é preso e aponta B como partícipe.

Posso denunciar A e B pela venda de drogas? não porque por ser simulado, trata-se de crime impossível, denúncia inepta.

Posso denunciar A e B por trazer consigo? Com relação a A pode, pois se trata de crime permanente. Deve se dizer “A, auxiliado por B, trazia consigo.”

Súmula 145 do STF: “não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível sua consumação.” A doutrina extrai dessa súmula dois tipos de flagrante:

- flagrante provocado: o agente policial induz terceira pessoa a praticar o crime. É crime impossível.

- flagrante esperado: o agente policial aguarda, espera terceira pessoa praticar crime. É crime possível.

CONCURSO DE CRIMES

Tráfico e furto. É possível, é processado pelo 2º. Furta a droga e mantém em depósito para a venda.

Tráfico e receptação também é possível.

Se o crime começou a manter em depósito na lei anterior, sendo processado na lei nova. Aplica-se a pena da lei velha.

Ex. começou a manter em depósito na lei anterior e continuou na lei nova. Aplica-se a lei nova. Súmula 711 STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

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A pena de multa

Ex. A usuário, vai ao morro e compra droga por R$25,00. Desce o morro e um policial se dizendo usuário, pede para comprar a droga por R$ 50,00. A aceita para poder comprar mais droga. A pode ser preso por tráfico? a venda é crime impossível. Assim, tenho que me atentar pela conduta anterior, ou seja, reponde por uso.

ART. 33, I

Pune nas mesmas penas do caput.

- objeto material: não mais comercializa a droga, mas matéria prima, produtos ou insumos destinados a preparação da droga. Ex. éter sulfúrico, acetona, etc. Tem que ter exame pericial para apurar se a substância é capaz de produzir droga. A matéria prima, produtos e insumos dispensam o efeito farmacológico.

- este crime é punido por dolo + elemento subjetivo do tipo (finalidade especial). No entanto, prevalece na doutrina que basta o DOLO.

A expressão “destinada a preparação de drogas” poderia levar o interprete a concluir que o tipo exige finalidade especial. A destinação, contudo, para a maioria da doutrina, não é colocada como fim pelo agente, mas a que normalmente pode prestar-se a substância. (Vicente Greco Filho).

consumação: o crime se consuma com a prática de qualquer um dos núcleos dispensando a efetiva preparação da drogas.

- a doutrina admite tentativa.

ART. 33, II Está punindo o cultivo de plantas que pode ser transformada em droga. A maioria da doutrina, diz que não precisa que estas possuam o princípio ativo, a lei exige apenas que elas se destinem a produção de drogas.

PLANTAR PARA CONSUMO PESSOAL

Art. 243 CF: é a expropriação sanção.

Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e

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recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias.

E se ele planta no único imóvel, que é considerado bem de família, como fica?

O bem de família não pode desconsiderar a função social da propriedade. Ninguém pode se valer de garantias constituições para práticas ilícitas.

O bem de família não é absoluto, há exceções, como esta, que é pertinente.

ART. 33, III (é a última hipótese que a pena é a mesma do caput)

- dolo, dispensando a finalidade de lucro.

Na primeira modalidade (utilizar), o crime se consuma com o efetivo proveito do local. Sendo perfeitamente possível a tentativa.

Na segunda modalidade (consentir), o crime se consuma com a mera permissão. Só admite a tentativa quando a permissão for escrita.

ART. 33, … 2º

- Sujeito ativo: qualquer pessoa;

- Sujeito passivo: a sociedade. A doutrina põe como sujeito passivo o induzido, instigado e auxiliado.

*Induzir: fazer nascer a idéia;

* Instigar: reforçar a idéia já existente-

* Auxilio: prestar assistência matéria.

- Todos esses comportamentos devem visar pessoa determinada.

- O crime e punido a titulo de dolo.

- Induzir a usar. O induzido tinha que usar para o crime se consumar (e crime material) - Induzir a usar. Ou seja, dispensa o efetivo uso (crime formal) (Vicente Greco Filho diz que o crime continua sendo material)

ART. 33, 3º

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

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§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

- crime bipróprio, ou seja, exige pessoa oferecendo droga a pessoa de seu relacionamento.

- o crime e oferecer droga eventualmente, se houver habitualidade será trafico.

- sem objetivo de lucro presente ou futuro. E elemento subjetivo negativo, finalidade que não pode existir.

- para juntos consumirem e elemento subjetivo positivo, essa finalidade tem que existir.

- consuma-se com o oferecimento, independente da aceitação e consumo.

- trata-se de um crime de trafico de menor potencial ofensivo.

ART. 33, 4º - traz causa de diminuição de pena de um sexto a um terço.

- traz uma causa de diminuição de pena. E direito subjetivo do réu, se preenchidos os requisitos, o juiz deve diminuir a pena,

- requisitos:

*Primário

*Portador de bons antecedente

*Não pode se dedicar a atividades criminosas

São requisitos cumulativos.

O tipo da droga e a quantidade norteiam o juiz na dosimetria da redução de um sexto a um terço.

Capítulo 3º : dos crime e das penas.

Art. 30 – prescrevem em 2 anos os crimes do art. 28.

b) DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS

Art. 31 – é indispensável para produzir drogas licença prévia da autoridade competente.

Art. 32 - é sobre a expropriação. O que significa expropriação de drogas? O parag. 4 trata disso.

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A expropriação de glebas utilizadas pelo tráfico esta prevista na lei 8.257/91. No parag. 1º, o preparo da terra passou a integrar o conceito de cultivo.

A expropriação NÃO está vinculada a sentença condenatória(não precisa esperar sua ocorrência). Como defesa o proprietário pode alegar que desconhecia o plantio em seu terreno.

a) TRÁFICO DE DROGAS Se eu importo a folha de coca, que vem prensada, aí eu acrescento éter (estou produzindo). Mas se já tinha mais droga eu já armazenava que é crime.

A lei dispõe que é tráfico Fornecer, ainda que gratuitamente drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, acabando com a polêmica entre uso e o tráfico.

É possível ter crime continuado no art. 33? Em principio não se a conduta for a “ou” importa para fabricar, mas se forem condutas independentes poderá ser crime continuado.

*Importar é fazer entrar no território nacional *Exportar é o ato inverso.

Quando eu importo droga, pratico o crime de contrabando, por ser produto proibido? Não porque responde pelo art. específico da lei, além disso o bem jurídico é diverso, a lei de drogas é específica.

*Remeter significa enviar, encaminhar.

*Preparar é compor.

*Produzir é fabricar em pequena ou grande escala.

Produzir envolve maior criatividade, pois preparar é compor apenas.

*Fabricar é produzir por meio mecânico.

*Adquirir é fase de execução das outras condutas, é figura intermediária.

*Vender é alienar mediante contraprestação.

*Expor à venda é colocar a mostra de eventuais compradores.

*Oferecer é ofertar, fornecer propiciar, gratuito ou não.

*Ter em depósito ou guardar tem o mesmo conteúdo físico de reter.

*Transportar é conduzir de um local para outro.

*Trazer consigo o sujeito transporta pessoalmente a droga no próprio corpo.

*Ministrar é aplicar, inocular.

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*Prescrever é dar a droga por meio legal, se for dolosa é do 33, se culposa é do 38.

*Entregar de qualquer forma a consumo que é forma genérica que conclui todas as outras.

Obs. o art. 33 da lei não tem dolo específico eu não preciso de um fim.

Para concluir pelo tráfico ou pelo porte, o juiz (art. 52) deve verificar além da quantidade, as circunstâncias do fato, entre outros. A sistemática das leis anteriores foi mantida.

O art. 33 traz reclusão de 5 a 15 anos e de 500 a 1.500 dias-multa.

CUIDADO com os crimes permanentes. Se continua mantendo a droga, com o advento da lei nova, ela incidirá. Súmula 711 STF.

O 33 parag. 1 é considerado hediondo.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

Continua a discussão se a matéria prima, insumo ou produto deve ter efeito farmacológico. Tem-se entendido que prevalece o de não precisar ter o efeito farmacológico.

Elemento subjetivo: pratica o crime o agente que sabe que a matéria prima tem o potencial de causar dependência, por substância não permitida.

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

Induzir quando o propósito não existia.

Instigar quando o propósito já existe.

Na lei nova não há o crime de apologia ao uso das drogas.

O crime se consuma com a mera indução, instigação.

Art. 35 – pune o crime de associação para o tráfico.

- art. 288, do CP: que exige 4 pessoas reunidas deforma estável e permanente, com finalidade de praticar crimes;

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- art. 35 da Lei de drogas: que exige 2 pessoas reunidas de forma estável e permanente, com a finalidade da pratica dos crimes do art. 33 caput e p. 1º e art. 34;

- art. 35, p. primeiro da lei de drogas: que exige 2 pessoas reunidas de forma estável e permanente, com a finalidade praticar o crime do art. 36, que se refere ao sustento ou financiamento do tráfico.

Todos os acima são tipos autônomos, independentes do crime fim.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

pena para quem se associa para traficar drogas – 3 a 10 anos.

Ex. me associo para vender a droga (com o fim de) independente que venda uma ou mais vezes. Vou ter o art. 35 c/c 33 caput, parag. 1º ou 34.É necessário o vínculo associativo e não a mera convergência ocasional de vontades. Elemento subjetivo: dolo específico (associar para traficar). A associação é figura autônoma.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

- É a pena mais grave da lei de drogas.

- o traficante responde pelo art. 33 (5 a 15 anos) e o que sustenta, pelo art. 36 (8 a 20).

- O art. 36 é crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.

Obs: se praticado por 2 ou mais pessoas, associadas de forma estável e permanente, temos 35, p. único + art. 36 em concurso material.

Sujeito passivo: é a sociedade juntamente com o Estado.

• Financiar: sustentar os gastos

• Custear: prover despesas, abastecendo do que for necessário.

- o crime é punido a título de dolo. Consuma-se com , efetivo abastecimento, sustento, financiamento, etc. o crime é instantâneo ou habitual?Prevalece na doutrina que o crime não é habitual (Capez, Greco Filho, Damásio)

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Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Se sustenta o tráfico de forma habitual, responde pelo art33. Agora, se sustenta o tráfico de forma ocasional, responde pelo crime que foi sustentado com a causa de aumento do art. 40, VII, a fim de evitar o bis in idem.

O art. 35, no caput, quando fala do art. 33 e 34, diz reiteradamente ou não. Já no seu parágrafo único fala apenas reiteradamente para o art. 36. Ou seja, prova-se que o art. 36 é habitual.

Responde pelo 36,quando a atividade única for a de financiar o tráfico. O inciso 7º (causa de aumento), do art. 40 incidirá quando aquele que trafica, eventualmente financia (art. 33 c/c 34, VII). Só assim não ocorrerá bis in idem.

Poderá haver concurso de crimes entre 36 e o 35 parag. único? Sim.

Financiar envolve só dinheiro ou bens? Financiar é entregar moeda. O fornecimento de bens pode caracterizar o 33, a não ser que o fornecimento de bens envolva financiamento, como por ex. um leasing.

O consumidor pratica o crime do 36? Claro que não, pois o legislador quer punir o financiador.

art. 37: COLABORAR COMO INFORMANTE

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

-sujeito ativo: é crime comum, se for funcionário público haverá aumento de pena.

- sujeito passivo: a coletividade.

O que o 37 pune é aquele que colabora sem pertencer a organização. Mas se a pessoa pertence a organização, faz parte dela, se passar a informação é a sua função, responderá pelo art. 35.

- este crime só é punido a título de dolo.

- a consumação se dá com a prática de qualquer ato indicativo de colaboração.

- é possível tentativa na colaboração por escrito, carta interceptada.

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Art. 37 é uma figura nova (assim não retroage). Pune quem colabora como informante (é aquele associado de participação de menor importância).

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

Ex. o que empina pipa para avisar que a polícia chegou.

Mas o que cai EM prova é sobre o mau policial. Se sou servidor público e recebo dinheiro para colaborar com o tráfico responderá pelo crime do art. 37 com concurso com o crime de corrupção passiva. Se o funcionário colabora sem receber vantagem nenhuma vai incidir no art. 37 com a causa de aumento de pena do art. 40 inciso II.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

O crime se consuma com a simples colaboração. Não é crime habitual.

ART. 38 TRAZ MODALIDADE CULPOSA

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente.

Sujeito ativo: duas correntes:

1. Sabendo que os núcleos prescrever ou ministrar só podem ser praticados por médico, farmacêutico, dentista, professor de enfermagem, somente eles podem ser sujeitos, assim, está implícita no tipo essa condição.

2. Vicente Greco discorda, dizendo que a lei ao abolir eles personagens tornou o crime comum, podendo ser praticado até pelo veterinário.

Sujeito passivo: primário é a coletividade e, secundário, e a pessoa que teve ministrada a droga errada ou a quem se receitou a droga errada, em resumo é o paciente.

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MODALIDADES DE NEGLIGÊNCIA:

1. receitar⁄ministrar droga certa em dose em dose errada(maior que a necessária);

2. Recitar⁄ministrar droga errada em dose certa. MODALIDADES DE NEGLIGÊNCIA:

1. Receitar⁄ministrar droga certa em dose errada;

2. Receitar⁄ministrar droga errada em dose certa;

3. Receitar⁄ministrar droga certa, em dose certa para paciente errado. (corrigindo a lacuna).

- esse crime só é punido a titulo de culpa, é o único crime culposo da lei.

- consumação: na modalidade prescrever, o crime se consuma com a entrega da receita ao paciente (dispensando o efetivo uso da droga). Na modalidade ministrar, o crime se consuma com a efetiva aplicação.

Em caso de morte: o homicídio culposo absorve o art. 38, ou seja, o médico só responderia por homicídio culposo.

- admite tentativa? crime culposo não admite tentativa! No entanto, o Greco Filho diz que há tentativa, caso a receita não chegue ao paciente.

Negligencias:

- em doses excessivas;

- em desacordo com a regulamentação legal;

- sem que delas necessite o paciente.

É o único crime culposo da lei. Hungria o chamava de receita fictícia. O crime é de prescrever e ministrar drogas, o nutricionista pode receitar (prescrever) substâncias psicoterápicas.

E se o profissional fornece a droga por outro meio que não o receituário – o crime será o do 33. Se quem prescreveu não poderia prescrever nos termos da lei – crime do 33 caput.

Há concurso de pessoas? Não há participação dolosa em crime culposo. O que o induziu dolosamente a erro responderá pelo 33 caput, o que receitou incidirá neste 38.

1ª conduta: prescrever sem que o paciente necessite da droga – se a conduta for dolosa (33 caput).

2ª conduta: prescrever a droga em dose excessiva (o pressuposto é que o paciente necessite da droga).

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3ª conduta: prescrever com infração de preceito legal ou regulamentar – esse crime culposo se consuma quando médico entrega a receita para o paciente. Se o paciente rasga ou perde a receita não é caso de tentativa (não há tentativa em crime culposo).

Ministrar é aplicar o que foi prescrito.

Se ministro no paciente errado, aplica-se o art. 38. (sem que dela necessite o paciente – é novidade).

Essa pena permite o sursis, haverá prisão sem prejuízo das sanções administrativas dos conselhos de classe.

ART. 39, MODALIDADE CULPOSA

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Antes da lei praticava-se apenas uma simples contravenção penal de direção perigosa (art. 44). Assim esse artigo é irretroativo.

Sujeito ativo: qualquer pessoa,crime comum.

Sujeito passivo: a coletividade é o sujeito passivo primário. Temos também o sujeito passivo secundário e eventual, que é o indivíduo colocado em perigo com o comportamento do agente.

O art. 39 da lei nova é conduzir embarcação ou aeronave, se eventualmente se tratar de veículo automotor, nessas condições, será o art. 306 do CTB.

O crime é punido a título de dolo.

É crime de perigo concreto.

Não precisa provar que uma vítima correu perigo, basta provar que o nível de segurança das pessoas foi rebaixado.

Admite tentativa? NÃO.

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A pena do art. 39 e a do 306 do CTB é a mesma: 6 meses a 3 anos.

Note: não é crime de menor potencial ofensivo (é de médio). O art. 291 do CTB diz que, apesar de não ser de menor potencial ofensivo, cabe transação penal.

A lei 11.705-08 proibiu a transação penal para embriagues e drogas ao volante, assim Tb não se aplica mais ao 39.

Art. 39 Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Ex. piloto da TAM turbo! Note que incide ainda que não haja passageiros! No entanto, a doutrina majoritária entende, que por ser crime de perigo concreto, exige pelo menos um viajante.

É crime de perigo ... uns sustentam que é abstrato (seguindo o 306 do CTN) outros concreto. Em razão da parte “...expondo a dano a incolumidade de outro” Marcato diz que é de perigo concreto.

Aumento de pena: ...evidenciarem a transnacionalidade (mais amplo que internacionalidade) do crime. A lei nova é mais abrangente, engloba situações não previstas, como por exemplo quem financia trafico no exterior. Não é caso de extraterritorialidade do art. 7º. A transnacionalidade indica a competência da Polícia Federal.

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.

Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

ART. 43, MAJORANTES

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer

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natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;

V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

MAJORANTES

o agente público tem que praticar o crime se prevalecendo da função pública. A diferença é que aqui, é que na lei anterior o agente público tinha que ter por missão prevenir ou reprimir o tráfico, e hoje basta que seja agente público;

missão de guarda; missão de vigilância; missão de educação (professores que fornece droga aos alunos); poder familiar (pai que dá droga ao filho)

- inciso III, 1ª parte:

a) crime praticado em associação, que é eventual – mero concurso de pessoas – art. 29CP (diferente do art. 14, em que a associação é permanente)

- inciso VI:

a) a lei não traz a associação eventual (abolitio crimis, que na verdade é abolitio de majorante);

Há doutrina dizendo que a lei não aboliu nada, dizendo que responde pelo 35, VI, tanto a associação permanente (reiteradamente) quanto eventual (ou não – mas isso não diz respeito a associação, mas aos crimes futuros). Mas isso é um absurdo jurídico. O STF e o STJ dizem que é caso de abolitio.

- inciso III, 2ª parte:

Visa menor de 21 e idoso maior ou igual ou superior a 60 anos (só aqui e em um artigo do CP que o legislador lembrou do igual a 60 anos) - inciso VI:

Visa criança e adolescente: menores de 18 anos. (retroage)

- inciso III, 3ª parte:

Aumenta a pena se a vítima tem diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento.

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- inciso IV: - inciso III:Dependência e imediações:Imediações: o termo imediações não pode ser convertido em medida métrica rígida. Entende-se por imediações área em que poderia facilmente o traficante atingir o ponto em especial, com alguns passos, em alguns segundos ou em local de passagem obrigatória ou normal.- para incidir esse aumento, o traficante tem que ter ciência que estava perto desses locais.

- inciso IV:crimes do morro: com toque de recolher, disparo de armas de fogo, etc.

- inciso V: temos aqui o tráfico interestadual: a competência é da justiça estadual, podendo a polícia federal investigar, mas o inquérito tem que ir para a justiça estadual.

Súmula 611 STF: transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo da execução a aplicação da pena mais benigna.

A Convenção de Palermo, que trazia o termo transnacional.

Internacional quer dizer o Brasil e outro país. No transnacional, o que importa que o crime tenha entrado ou saído do Brasil, pode até vir de auto-mar, assim, hoje abrange o trafico praticado em águas internacionais. Esse é o tráfico genuíno da Polícia Federal.

3 hipóteses (poder familiar, guarda ou vigilância e ...)

III – nas imediações e dependências de estabelecimentos prisionais...... (lugar como causa de aumento de pena).

O agente não precisa visar o local, não precisa visar vender a droga na escola, basta estar lá.

A lei é taxativa em relação aos locais.

IV – praticado com violência, grave ameaça.... (violência para que o outro transporte a droga, por ex.)V – (não é de competência da PF). VI – a lei reduziu a idade – crianças e adolescentes.

O traficante responde pelo 33 em concurso com lesão ou eventual morte se o menor tiver, por ex., 10 anos (não há discernimento).

Confronto com a lei de corrupção de menores de 1954, prevalece o aumento de pena do inciso IV que é específico.

Delação premiada – a delação deve ser eficaz, efetiva. Pode ser no inquérito ou no processo. É um dever do juiz e um direito do delator. No BR a redução é ato do juiz, promessas e acordos da policia e do MP não tem valor legal.

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Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

ART. 44, CF, 5º , XLIII: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Equiparado a hediondo:

Art. 33, caput (corresponde ao art. 12);Art. 33, p. 1º (corresponde ao art. 12) ;Art.34 (corresponde ao art. 13); Art. 35 (corresponde ao art. 14); (novidade)Art. 36 (corresponde ao art. 12);Art. 37 (informante).

a) 1ª restrição: são inafiançáveis.- a lei 8.072s -90 já vedada fiança e a lei 11.464-07 manteve a vedação. Significa que a lei nova está de acordo com essas duas leis anteriores.

b) 2ª restrição: são insuscetíveis de sursis:- prevalecia que a lei8.072-90, ao prever regime integralmente fechado, vedada implicitamente o sursis (assim o art. 44, apenas explicitou isso). No entanto, a lei 11.464-07 aboliu o regime integramente fechado. Assim, desapareceu a vedação implícita. hediondo e equiparados admitem sursis, salvo drogas.

c) 3ª restrição: são insuscetíveis de graça, indulto ou anistia:

- a CF88: veda graça e anistia;- a lei 8072-90: veda graça, anistia e indulto.

- a lei 11343-06: veda graça, anistia e indulto. O STF disse que A VEDAÇÃO DO INDULTO É CONSTITUCIONAL, ratificando seu posicionamento.

d) 4ª restrição: são insuscetíveis de liberdade provisória: o STF vem entendendo que a vedação da liberdade provisória em abstrato sem considerar o caso concreto é INCONSTITUCIONAL. HC 96715-9. O STF concedeu provisória para acusado de tráfico.

e) 5ª restrição: vedada sua conversão em restritiva de direitos

f) 6ª restrição: livramento condicional O livramento condicional exige: cumprimento de 2⁄3 da pena (requisito objetivo) e não ser reincidente específico (requisito subjetivo).Na lei 11343-06 considera reincidente específico nos crimes dos arts. 33, 33 §1º , 34 a 37 (os do caput do 44).

E a progressão?

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- a lei 8072-90 veda a progressão, que abrange o tráfico.

- o art. 44 da lei nova de drogas nem tratou disso em decorrência de já estar disposto na lei supracitada;

- a lei 11.464-07 aboliu a vedação da progressão, que também abrange o tráfico.

Conclusão: é possível a progressão, mas nos termos da lei 11464-07, ou seja com o cumprimento de 2⁄ 5 (primário)e 3⁄ 5 (reincidente)

PROCEDIMENTO NA LEI DE DROGAS

Temos que diferenciar 3 procedimentos:CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO (incluo sempre o art. 28) AGENTE DETENTOR DE FORO ESPECIAL DEMAIS CASOS

- Lei 9.099⁄95 - Lei 8.038⁄90 - procedimento especial da Lei 11.343⁄06

Vamos analisar o procedimento especial da Lei 11.343⁄06

LEI 11.343⁄06 LEI 11.719⁄08 PREVALECE

- Inquérito policial;- denúncia;- defesa preliminar (deve ser apresentado o rol de testemunhas);- recebimento;- citação para audiência (una, concentrada) que terá:

*Interrogatório;*Testemunhas;*Debates;*Julgamento.

- art. 394 e p. 2º, 3º e 4º :

Procedimento comum:- Inquérito policial;- denúncia;- recebimento;- citação (art. 395, CPP, traz as hipóteses de rejeição da denúncia);- defesa escrita (oportunidade da defesa arrolar testemunhas – art. 396, CPP);- o juiz pode absolver sumariamente (397, CPP);- se não absolver, designa audiência una:* testemunhas;* interrogatório;debates;*julgamento (art. 400,CPP). - Inquérito;- denúncia;- defesa prévia;- recebimento;- citação;- defesa escrita;- possibilidade de absolvição sumária;- audiência una:

*o legislador NÃO mandou aplicar o art. 400, CPP na lei de drogas, assim, o rito é o da lei de drogas, assim, o acusado continua sendo ouvido em primeiro lugar. (já é a posição majoritária do TRF 4 região), assim:

*Interrogatório;*Testemunhas;*Debates;*Julgamento.

O art. 394, p. 4º manda aplicar a todos os procedimentos os artigos 395 ao 397:

- Aplico o art. 395, CPP, na lei de drogas&& sim, as hipóteses de rejeição são aplicadas a lei de drogas.

- aplico a defesa escrita do 395 à lei de drogas&& 3 correntes:1ª : a defesa escrita do art. 396 não se aplica a lei de drogas, pois esta norma já prevê defesa preliminar,

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também escrita;2ª : aplica-se o art. 396 do CPP à lei de drogas, dispensado a defesa preliminar.3ª: (tem prevalecido). A defesa escrita do art. 396 do CPP convive com a defesa preliminar da lei de drogas, ambas coexistem, pois tem finalidades diversas. A defesa preliminar busca a rejeição da denúncia; e a defesa escrita a absolvição. (

Art. 45 é para quem está cumprindo pena ou é semi-imputável e teve sua pena reduzida, nos moldes do art. 26 dessa mesma lei (não faz referência a quem foi absolvido).

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

procedimento penal

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.

§ 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.

§ 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente.

§ 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado.

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§ 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.

Art. 48 – procedimento diferenciado para o art. 28 da lei de drogas.

Competência: Juizado Especial Criminal.

Concurso de tráfico e uso: conexão – vai para o juízo comum.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

O art. 33, parag. 3º fala do traficante ocasional – competência deve ser a do Juizado Especial para o professor, apesar da lei dizer expressamente isso. O art. 48 diz que não há previsão em flagrante no caso do art. 33 § 3º.

LFG diz que não pode haver prisão em flagrante jamais. Mas vejamos: se uma pessoa é pega em flagrante consumindo drogas em repartição federal. (art. 63 lei de drogas) No entanto, se a pessoa se recusar a assinar o termo de compromisso lavrar-se-á o auto de flagrante (formalmente), mas ele livrar-se-á solto nos termos do art. 321, I, CPP, independentemente de fiança.

Exame de corpo de delito: antes e depois da condução para evitar violência policial. O MP poderá propor (art. 48, parag. 5º ) aplicação de 1 ou mais penas do 28.

Art. 49, tratando-se de condutas do 33 caput. E parag. 1º e do 34 ao 37 o juiz utilizará a 9.807/99.

Da Investigação

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

quando fala de policia, fala de polícia judiciária, assim a policia militar não pode lavrar termo circunstanciado.

Laudo de constatação: parag. 1º do art. 50 – laudo provisório de constatação. Não há impedimento do subscritor do laudo provisório lavrar o laudo definitivo. Não se aplica a lei de drogas a súmula 361 do STF.

PRAZO conclusão do inquérito = 30 dias indiciado preso e 90 dias solto. Esses prazos podem ser duplicados desde que haja justificação para a investigação.

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Sem considerar eventual prorrogação do parag. único, o exame de dependência do art. 56 parag. 2º , o prazo da prisão processual da lei de drogas é de 93 dias (30 inquérito + 10 oferec. Da denuncia +48 hs para autuação e conclusão + 48 hs despacho determinado a notificação do acusado + 48 hs para expedição de mandado de notificação do acusado + 10 dias para apresentação de defesa preliminar (novidade a defesa preliminar) + 48 hs para conclusão + 5 decisão do juiz + 30 audiência).

Art. 52 quando acabarem as investigações deve ler lavrado um relatório no qual deve:

- fundamentar a classificação jurídica;

- requerimento para outras diligencias, que só será possível se o réu estiver solto;

- diligências em autos separados;

- prazo para conclusão das novas diligencias: 3 dias antes da audiência.

Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:

I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou

II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.

Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências complementares:

I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento;

II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Art. 53 , I prevê a figura do agente infiltrado prevista Tb na lei do crime organizado. No inciso II, a não atuação policial..... : entrega vigiada de drogas: prevista na convenção da ONU, visa desmantelar as quadrilhas de drogas. Entende-se que há necessidade de autorização judicial para a atuação do agente infiltrado.

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Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:

I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes;

II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

Art. 70 – competência: caracterizado ilícito transnacional são de competência da justiça federal. Parag. Único: nos municípios em que não haja vara federal são processado no município mais próximos em que haja.

O que é crime transnacional? Art. 40, I – é um conceito mais aberto que o trafico para o exterior, pois abrange quem financia o tráfico a partir do Brasil para o exterior. Fundamento: ampliação das varas federais. Se houver conexão, resolve-se nos termos da lei processual.

CONFLITO TEMPORAL DE NORMAS

1 - Aspectos processuais da lei: aplicação imediata.

2 - Aspectos em que a lei foi maléfica: não há retroatividade.

3 - Haverá retroatividade, nos termos do art. 2º do CP, nos seguintes casos:

- abolitio criminis;

- novatio legis in melius;

Súmula 611 STF: a diminuição da pena do art. 33, parag. 4º se a condenação for pelo art. 12 caput, parag. 1º e 2º , II

§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Pode se aplicar a diminuição de pena para os processos já em andamento.

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EXs.A disponibilizou dinheiro para B pagar um malote de drogas, no entanto B mudou de idéia, pegou o dinheiro e sumiu. A responde pelo artigo 36* Financiar:Propor os meios necessários seja através de bens móveis ou imóveis(dinheiro, carro, jóia)

art.33 e 34 Tentativa: é possível Ex. Carta que continha as informações p/ tráfico é.

DOS CRIMES DE TRÂNSITO infração administrativa = multa

A parte geral do CTB aplica-se a parte especial do CTB.É possível aplicar ao CTB o CP no que couber? Sim E o CP ao CTB? Sim E a lei 9099/95? Sim

CTB: aplica-se ao CTB subsidiariamente o CP, o CPP e a lei 9099/95, salvo naquilo que o CTB dispuser em contrario.

Art. 291§1º a lesão corporal culposa aqui, por exemplo, é atropelar, matar, causou lesão corporal culposa.

Art 74 – composição dos danos civis. Ex: bateu o carro, compõe o dano civil, o promotor propõe você aceitar pena alternativa e você acaba nem sendo processado.

Art 76- 2º fase dos JECS = transação penal Art 88- representação

Com a influência do álcool eu não terei direito a estes institutos.

Aplica-se ao crime de lesão corporal culposa na direção de veiculo automotor na via terrestre os seguintes institutos da lei 9099/95:1- Composição de danos civis – art 74, consiste na possibilidade de reparar danos civis para não sofrer responsabilização na esfera penal. Ex: A bateu no carro de B que teve seu nariz dilacerado. A embora tenha causado lesão corporal culposa em B cobriu os gastos do veículo e neste caso não será responsabilizado na esfera penal.2- Transação penal ( art 76) = consiste na proposta do promotor ao ofensor em aceitar pena alternativa de imediato para não se ver processado criminalmente.

REPRESENTAÇÃO – ART 88

O crime de lesão corporal culposa é de ação penal pública condicionada a representação.Não haverá direito aos benefícios supracitados quando o agente estiver:

Sob influência de álcool ou substancia que determine dependênciaPraticando racha. Em velocidade superior a máxima permitida em 50km/h

Art. 292 = suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor. É uma pena especial para crimes de transito, eu vou ter meu direito suspenso ou proibido.

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Pode ter crime de transito que vai ser aplicado PPL mais essa pena acima? SimEssa pena pode ser aplicada isolada ou cumulativamente com outras penas.

Diferença de suspensão e proibição

Art 298 são as circunstancias agravantes genéricas dos crimes de transito. Quando é aplicada cautelarmente eu não tenho sentença.Quando é imposta cautelarmente o objetivo é a ordem pública

Obs: suspensão: o prazo é fixado discricionariamente pelo magistrado entre 2 meses e 5 anos.Proibição: é vetado o direito de dirigir.

Art.296: essa pena especifica suspensão ou proibição o juiz pode aplicar a pena de PPL mais a suspensão ou proibição.

Interpretação do 296: se ele for réu reincidente em crime de transito pode aplicar.Art. 296: permite o juiz aplicar a suspensão ou proibição de dirigir ainda que esta pena não esteja prevista no crime praticado por um agente que é reincidente em crimes de transito.# de crime qualificado é que tem limite mínimo/Maximo da pena maior já oferecida pelo legislador.

Crime agravado majorado: o legislador da o índice e o juiz aplica fazendo a conta.Art 61CP: agravantes genéricas que se aplicam a todos os crimes da parte especial, por exemplo, a reincidência.

Art298CTB: circunstancias agravantes genéricas dos crimes de transito, são aplicáveis a todos os crimes de transito, quando houver a correspondência entre alguma agravante do art 298 com alguma qualificadora ou causa de aumento de pena de um tipo penal determinado, caso contrario ocorreria bis in idem, isto é punir 2 vezes pelo mesmo fato.Em qualquer crime de transito de que resulte vitima não se imporá prisão em flagrante em se exigira fiança quando houver pronto socorro integral a vitima.

PARTE ESPECIAL – CRIMES

ART 302- homicídio culposo na direção de veiculo automotor, não vai para o Jecrim, vai ser processado em vara criminal normal.

Penal geral para entender a punição:Substituição da PPL para penas alternativasPPL até 4 anos. Crime sem violência ou grave ameaçaNão reincidência em crime doloso HOMICÍDIO CULPOSOCircunstancias judiciais favoráveis.

Objetividade jurídica é a vida.Sujeito ativo: qualquer pessoa pode matar ou morrer no transito.Consumação ocorre com a morte, trata-se de crime material.Tentativa não há porque se trata de crime culposo.Penas de 2 a 4 anos de detenção e suspensão ou proibição de dirigir.

Por exemplo, você atropelou um motoboy, você tem obrigação legal de socorrer, você tem a obrigação desde que não haja risco pessoal.

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Seu eu sou transportadora de carga, atropelo e mato alguém? Aplica o 298 (majorante) Homicídio culposo na direção de veiculo automotor gravado/majorado a pena será aumentada de 1/3 a ½.

Quando as circunstancias que agravam a pena do homicídio culposo forem idênticasas agravantes do 298 aplica-se somente as circunstancias agravantes especificas do art302. Lesão corporal culposa é idêntica.

Art 303- lesão corporal culposa na direção de veiculo automotorA objetividade jurídica é a integridade física. Sujeito ativo é qualquer pessoaSujeito passivo é qualquer pessoa.A consumação ocorre com a lesão corporal, trata-se de crime material.

Não há tentativa é um crime culposo.Crime de menor potencial ofensivo vai para o Jecrim.

Artigo 304- crime de omissão

Exemplo: A atropelou e lesionou B e ao mesmo tempo bateu no carro de C.A responde por lesão corporal com pena agravada se omitir socorro responde pelo artigo 304. D estava passando pelo local, portanto D é alheio ao acidente, D também omitiu socorro, mas como D não estava envolvido no acidente de transito ele responde por 135CP

OBS: art 304 – omissão de socorro: pune o condutor de veiculo automotor que foi envolvido em um acidente de transito, mas que não deu causa ao acidente.O condutor que causou acidente que tenha resultado vitima e omitir socorro respondera pelo crime de homicídio culposo ou por lesão corporal culposa, conforme o caso com pena agravada pela omissão de socorro.

Qualquer pessoa alheia ao acidente de transito, esteja a pé, ou em qualquer meio de transporte e também omitir socorro a vitima respondera pelo crime previsto no artigo 135 do CP (omissão de socorro)

O parágrafo único não tem aplicabilidade pratica nenhuma. Quando a vitima estiver inequivocadamente morta não há a necessidade de socorrê-la.Quando houver ferimentos leves aplica-se na pratica o principio da insignificância ou relevância mínima.Quando a omissão for suprida por terceiros na hipótese do condutor não ter se recusado ao socorro não haverá como puni-lo.Só haverá incriminação pelo artigo 304 quando houver a recusa injustificada de prestar socorro.

Artigo 306 (crime de embriaguez ao volante) # artigo 165 ( infração administrativa de embriagues ao volante).Teste de alcoolemia: constatar a quantidade de bebida exata são eles sangue ou bafômetro.Artigo 5º inc 63 CF; Direito ao silencio ( interpretação sistêmica) Art 277CTB é inconstitucional.Lei penal não retroage salvo para beneficiar o réu.Como o único critério diferenciador entre crime e infração administrativa por embriaguez ao volante é a quantidade presente de álcool no organismo do condutor

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e tendo em vista que a quantidade só poderá ser determinada através de algum teste de alcoolemia (sangue ou bafômetro) e como não há obrigação de produzir prova contra si mesmo, portanto sujeitar-se a algum destes testes não será possível na pratica a incriminação.

O direito de não ser obrigado a produzir provas contra si mesmo não encontra-se previsto expressamente mas esta constatação decorre de uma interpretação do inciso 63 do art 5º da CF que garante o direito ao silencio, logo se há direito ao silencio não há obrigação de produzir provas contra si mesmo.

A objetividade jurídica do 306 é a segurança viária.Sujeito ativo é qualquer pessoa, crime comum.Sujeito passivo, coletividade, qualquer pessoa.A consumação ocorre quando eu estou conduzindo o veiculo automotor com a prova da quantidade (x), ou seja, concentração de álcool igual ou superior a 6 decigramas por litro de sangue ou igual ou superior a 0,30 mg por litro de ar expelido.

Crime de mera conduta. A condução de veiculo automotor sob a influencia de qualquer substancia psico-ativa que determine dependência também acarreta a tipicidade da conduta prevista no art 306, no entanto não há aplicabilidade prática.

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Segurança Nacional

A Lei de Segurança Nacional surgiu em momento de crise institucional, como expressão de um suposto direito penal revolucionário, inspirada por militares, que pretenderam incorporar na lei uma doutrina profundamente antidemocrática e totalitária.

A Lei de Segurança Nacional, promulgada em 4 de abril de 1935, definia crimes contra a ordem política e social. Sua principal finalidade era transferir para uma legislação especial os crimes contra a segurança do Estado, submetendo-os a um regime mais rigoroso, com o abandono das garantias processuais.

A LSN foi aprovada, após tramitar por longo período no Congresso e ser objeto de acirrados debates, num contexto de crescente radicalização política, pouco depois de os setores de esquerda terem fundado a Aliança Nacional Libertadora. Nos anos seguintes à sua promulgação foi aperfeiçoada pelo governo Vargas, tornando-se cada vez mais rigorosa e detalhada. Em setembro de 1936, sua aplicação foi reforçada com a criação do Tribunal de Segurança Nacional.

Após a queda da ditadura do Estado Novo em 1945, a Lei de Segurança Nacional foi mantida nas Constituições brasileiras que se sucederam. No período dos governos militares (1964-1985), o princípio de segurança nacional iria ganhar importância com a formulação, pela Escola Superior de Guerra, da doutrina de segurança nacional. Setores e entidades democráticas da sociedade brasileira, como a Ordem dos Advogados do Brasil, sempre se opuseram à sua vigência, denunciando-a como um instrumento limitador das garantias individuais e do regime democrático.

Uma lei de segurança nacional visa a proteger a segurança do Estado. Poderíamos dizer que o Estado, cuja segurança se visa a tutelar é o Estado democrático.

O terrorismo na lei nº 7.170/83 – Lei de Segurança Nacional Quando se fala em crime contra a segurança do Estado, pretende-se punir as ações que se dirigem contra os interesses do Estado. Por este motivo, uma lei de segurança nacional visa proteger a segurança do Estado. No caso da lei de segurança nacional brasileira, lei nº 7.170/83, seu art. 1º arrola os bens jurídicos a que visa proteger: I – a integridade territorial e a soberania nacional; II – o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; III – a pessoa dos chefes dos Poderes da União. Nesse sentido, FRAGOSO (2010) relembra que a lei de segurança nacional brasileira surgiu em momento de crise institucional, como expressão de um suposto direito penal revolucionário, inspirada por militares, que pretenderam incorporar na lei uma doutrina profundamente antidemocrática e totalitária. De fato, a Lei 7.170/83 não participa do espírito ideológico que informa a atual previsão constitucional da figura, mesmo porque antecede a CF/88 e a própria fundação do Estado Democrático de Direito (FELICIANO, 2009). Por este motivo, FRAGOSO (2010) o autor identifica que há, hoje, consciência nacional da necessidade urgente de reelaborar a lei de segurança, porque ela aparece como “uma excrescência, um corpo morto e fétido no ambiente democrático que o Brasil respira, devendo ser submetida às exigências fundamentais da defesa do Estado num regime de liberdade”. No entanto, estando ainda em vigor, a lei nº

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7.170/83 vem sendo aplicada, mas de acordo com o autor, “através de uma exegese que só faz destacar o seu caráter nitidamente antidemocrático e totalitário, quando se deveria dar à lei uma interpretação que se ajustasse às exigências de um sistema democrático de defesa da segurança do Estado”. Destarte, enquanto uma nova legislação para a segurança nacional não é elaborada, é a lei nº 7.170/83 quem define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social no Brasil. Dentre esses crimes, encontra-se o tipo penal do artigo 20, utilizando a expressão “atos de terrorismo” e é o único dispositivo do ordenamento jurídico brasileiro que trata diretamente do assunto, mas ainda assim não possui clareza objetiva: Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.

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Abuso de Autoridade - Lei 4.898/65

O ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização, a saber: responsabilização administrativa, civil e criminal, sendo esta última o chamado crime de abuso de autoridade. Entretanto, a lei nº 4.898/65 não é um diploma exclusivamente criminal, senão vejamos: “Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei”.

Esses crimes só são punidos na forma dolosa. Não existe abuso de autoridade culposo. O dolo tem que abranger também a consciência por parte da autoridade de que está cometendo o abuso. Portanto, além do dolo é exigida a finalidade específica de abusar, de agir com arbitrariedade. Desse modo, se a autoridade, na justa intenção de cumprir seu dever e proteger o interesse público acaba cometendo algum excesso (que seria um excesso culposo), o ato é ilegal, mas não há crime de abuso de autoridade.

Os crimes de abuso de autoridade estão previstos no art. 3º e no art. 4º da lei nº 4.898/65.  Os crimes do art. 3º não admitem a tentativa porque a lei já pune o simples atentado como crime consumado, os quais podem ser chamados de crimes de atentado.

“Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;b) à inviolabilidade do domicílio;c) ao sigilo da correspondência;d) à liberdade de consciência e de crença;e) ao livre exercício do culto religioso;f) à liberdade de associação;g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;h) ao direito de reunião;i) à incolumidade física do indivíduo;j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”

O simples atentado já configura crime consumado. Logo, esses crimes do art. 3º da Lei de Abuso de Autoridade não admitem tentativa.

O art. 4º, alíneas “c”, “d”, “g” e “i” também não admitem a tentativa, porque esses são crimes omissivos puros ou próprios, e crimes dessa natureza não admitem tentativa. As demais letras do art. 4º admitem tentativa.

“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;

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c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;

d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;

e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;

f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;

g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;

i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.” (Acrescentado pela L-007.960-1990)

A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas previstas nos tipos penais suso transcritos.

Os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública incondicionada. A representação mencionada no art. 12 não é aquela condição de procedibilidade do Código de Processo Penal, e sim apenas o direito de petição contra o abuso de poder previsto no art. 5º, XXXIV, “a”, da Constituição. Razão pela qual é importante ter cuidado com a leitura dos artigos abaixo colacionados, pois dão a entender numa leitura açodada que se trata de crime de ação pública condicionada a representação,  senão vejamos:

“Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:

a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.

Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver.[...]

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Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso.”

A pena máxima prevista para esses crimes é de 6 meses. Então, a competência é dos Juizados Especiais Criminais, estaduais ou federais, dependendo do caso. Via de regra, é da justiça estadual, será, no entanto, do Juizado Especial Federal se atingir bens, interesses ou serviços da União.

•1)   Direito de representação - Direito de petição constitucional para defesa dos direitos fundamentais.

•2)   Ação - Pena Pública Incondicionada.

•3)   O abuso de autoridade implicará em responsabilidade - Civil, Administrativa e Penal.

•4)   Pressuposto para a aplicação da Lei nº 4.898/65 é o abuso que deve ser praticado por autoridade no exercício da função ou segundo a jurisprudência, fora dela, quando o agente invocar sua condição de autoridade.

•5)   Conceito de autoridade - Qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou função civil ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. Não confundir com o conceito de funcionário público do art. 327 do CP.

•6)   Dos crimes - os crimes estão previstos nos arts. 3° e 4° da lei e têm como características:

Objeto jurídico: Direitos Fundamentais.

Sujeito ativo: A autoridade e ou particular em concurso de pessoas se conhecer a conduta criminosa.

Sujeito passivo: Qualquer pessoa.

Competência: Se a autoridade for federal, Justiça Federal;

Se a autoridade for estadual, Justiça Estadual.

Se for Militar Federal, Justiça Federal;

Se for Militar Estadual, Justiça Estadual.

Consumação e tentativa: Com a prática abusiva.

•7)   Art. 3° - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado (trata-se de crime de atentado, onde a tentativa é punida como crime consumado):

•a)    Liberdade de locomoção; •b)   Violação de domicílio; •c)    Violação do sigilo de correspondência;

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•d)   Liberdade de crença; •e)    Liberdade de arrecadação de recursos; •f)     Exercício do voto; •g)    Incolumidade física do endividado; •h)    Garantias do exercício profissional.

•8)   Art. 4° -  Constitui também abuso de autoridade: •a)    Executar medidas privativas da liberdade; •b)   Somente presos - constrangimento nas formalidades legais; •c)    Deixar de comunicar a ocorrência da prisão; •d)   Deixar o juiz de relaxar prisão ilegal; •e)    Manter preso quem queira pagar fiança; •f)     Praticar ato lesivo contra a honra e o patrimônio de alguém (multa arbitrária); •g)    Prolongar a prisão temporária; •h)    Mandado de segurança indevidamente.

OBS: Conflito aparente de norma entre o art. 3 ° e 4° ?

O Critério diferenciador é o princípio da especialidade.

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Tortura

O período da ditadura militar brasileira – 1964 a 1985 – simbolizou um golpe contra a democracia. Todo obstáculo à manutenção da ordem posta pelos militares era pressuposto para uso da força.

A Lei Contra Tortura, lei 9.455/97 é expressão do processo de redemocratização brasileira. Uma reação ao contexto de alto índice de criminalidade, que induz o povo a clamar por maior dureza nas leis, significou um passo no sentido da redemocratização brasileira. Comumente, um período pós-ditadura tende a negar o passado recente, exaltando a liberdade. O excesso costuma ser correspondido por uma mudança radical no sentido oposto.

Enquanto se distancia das idéias reinantes no governo militarista, a lei 9.455/97 se aproxima da filosofia de Cesare Beccaria – século XVIII. Para ele, a tortura é uma barbárie que remonta a épocas nas quais o Direito carecia de racionalidade e humanidade. Em sua obra Dos Delitos e das Penas, denunciou a ilegitimidade da tortura, seja como método investigativo ou como pena.

Paralelamente, a doutrina contemporânea também considera essa prática ilegítima. O criminalista argentino Eugenio Raul Zaffaroni, considerando o Direito como uma forma de controle social, traça quatro diretrizes básicas relativas à intervenção estatal na sociedade por meio do Direito Penal: a) o Estado não pode pretender impor uma moral, porque o mérito moral surge da livre escolha, que só pode ser moral, quando se tem a opção de escolher o imoral; b) o Estado deve reconhecer um âmbito de liberdade moral aos indivíduos, possibilitando, dessa forma, a conduta moral de seus cidadãos; c) as penas não podem recair sobre condutas que são justamente o exercício da autonomia moral, que a constituição e as leis garantem, mas sim sobre as condutas que ferem esse princípio; d) a pena não pode cumprir função de castigo e expiação, o que teria um sentido moral, mas sim uma função garantidora dos bens jurídicos. Como se pôde notar, é evidente que a tortura viola a autonomia moral do cidadão, tolhendo-lhe a liberdade.

LEI DE TORTURA - Lei 9.455/97.

CONCEITO: Crime equiparado a hediondo. OBJETO JURÍDICO - Integridade física e mental. SUJEITO ATIVO - Em regra, qualquer pessoa. CONSUMAÇÃO - Com a ocorrência de sofrimento físico ou mental. AÇÃO - Penal Pública Incondicionada. TORUTAR POR TORTURAR - Não é crime de tortura, podendo ser ameaça ou lesão corporal. DOS CRIMES: a lei de tortura prevê duas condutas criminosas uma por ação e outra omissão.

POR AÇÃO: Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental COM A SEGUINTE FINALIDADE: a) Obter confissão. b) Para alguém praticar um crime em seu lugar. c) Discriminação racial ou religiosa.

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d) Submeter pessoa sob sua guarda, poder ou vigilância a contágio. Ex. Pai, babá, enfermeiro, professor, etc. e) Pessoa presa ou sob medida de segurança (carcereiro, juiz, policial, MP, etc). POR OMISSÃO - Aquele que se omite em face dessas condutas e tenha o dever de evitá-las ou apurá-las. § 3º TORTURA QUALIFICADA - Se resultar lesão grave ou morte.

QUAL A DIFERENÇA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA TORTURA E O CRIME DE TORTURA QUALIFICADA PELA MORTE? É o dolo.

Homicídio qualificado pela tortura Tortura qualificada pela morte  

Dolo de matar - usa a tortura como meio

Dolo de torturar - morte a título de culpa  

Ex1: "A" querendo matar "B", usa de choques elétricos - Homicídio qualificado pela tortura. Ex2: "A" querendo torturar "B" para que confesse um crime, usa de choques elétricos e "B" vem a falecer - Tortura qualificada pela morte. Ex3: "A" tortura "B", com choques elétricos para que este confesse um crime. Uma semana após obter a confissão, por não mais precisar de "B", mata-o - Tortura e Homicídio. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço quando o crime de tortura é praticado contra: a) Agente Público b) Criança. c) Gestante. d) Adolescente. e) Portador de Deficiência. f) Maior de 60 anos de idade.

§ 5º CONSEQUENCIAS DA TORTURA

As mesmas previstas para os crimes hediondos, bem como a perda do cargo, emprego ou função e sua inabilitação pelo dobro do prazo da condenação.

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Violência Doméstica e Familiar

A Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha, ganhou este nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. 

Maria da Penha é biofarmacêutica cearense, e foi casada com o professor universitário Marco Antonio Herredia Viveros. Em 1983 ela sofreu a primeira tentativa de assassinato, quando levou um tiro nas costas enquanto dormia. Viveros foi encontrado na cozinha, gritando por socorro, alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu paraplégica A segunda tentativa de homicídio aconteceu meses depois, quando Viveros empurrou Maria da Penha da cadeira de rodas e tentou eletrocutá-la no chuveiro.

Apesar da investigação ter começado em junho do mesmo ano, a denúncia só foi apresentada ao Ministério Público Estadual em setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento só aconteceu 8 anos após os crimes. Em 1991, os advogados de Viveros conseguiram anular o julgamento. Já em 1996, Viveros foi julgado culpado e condenado há dez anos de reclusão mas conseguiu recorrer. 

Mesmo após 15 anos de luta e pressões internacionais, a justiça brasileira ainda não havia dado decisão ao caso, nem justificativa para a demora. Com a ajuda de ONGs, Maria da Penha conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que, pela primeira vez, acatou uma denúncia de violência doméstica. Viveiro só foi preso em 2002, para cumprir apenas dois anos de prisão.

O processo da OEA também condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à violência doméstica. Uma das punições foi a recomendações para que fosse criada uma legislação adequada a esse tipo de violência. E esta foi a sementinha para a criação da lei. Um conjunto de entidades então reuniu-se para definir um anti-projeto de lei definindo formas de violência doméstica e familiar contra as mulheres e estabelecendo mecanismos para prevenir e reduzir este tipo de violência, como também prestar assistência às vítimas. 

Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em vigor, fazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menos potencial ofensivo. A lei também acaba com as penas pagas em cestas básicas ou multas, englobando, além da violência física e sexual, também a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio moral.

Geralmente as razões que levam as mulheres a se calarem são:

- medo de represálias- medo de ficar sem recursos para sustentar os filhos,- acreditar que a agressão não irá se repetir,- vergonha da comunidade em geral,- o agressor ameaça sumir ou agredir seus filhos,- não ter um local para onde se recomeçar.

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Observe que há 3 fases distintas na violência doméstica:

1 - é o momento em que o agressor, nervoso, agride verbalmente a vitima, através de insultos,2 - é a fase em que o agressor descarrega todas suas tensões e usa a violência para reprimir,controlar, submeter a vitima e exigir obediência3 - é o período de calma. O agressor "promete" mudar e "promete" nunca mais agredir.

Se você se encontra em alguma dessas situações, ou conhece alguém, a primeira providência é se encaminhar para a delegacia de policia, ou de preferência a delegacia da mulher, onde será feita a abertura de inquérito policial para se investigar a agressão. Lembre que denunciar é um passo importante para se combater a violência, e no caso de criança ou adolescente, deve-se procurar o Conselho Tutelar.

A Lei 11.340 de 2006, Lei Maria da Penha, da Constituição Federal, garante a eliminação de todas as formas de violência seja de ordem física, moral, sexual, psicológica, lesão, morte e independe de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, idade, religião.

1. STJ, 5ª Turma, RMS 34607 (13/09/2011): A audiência prevista no art. 16 da Lei Maria da Penha não deve ser realizada de ofício como condição de abertura da ação penal, sob pena de constrangimento ilegal à mulher.

2. STJ, 5ª Turma, HC 172634 (06/03/2012): A Lei Maria da Penha aplica-se no caso de crime praticado contra cunhada, bastando que estejam presentes as hipóteses previstas no art. 5º.

3. STJ, 6ª Turma, HC 159619 (04/10/2011): A agravante prevista no art. 61, II, ‘f’, do CP, pode ser perfeitamente considerada em caso de crime de ameaça sob o rito da Lei Maria da Penha, não havendo que se falar em bis in idem, conquanto a sua inserção no CP deu-se justamente através da Lei 11340/06 para recrudescer a punição de tais delitos.

4. STJ, 5ª Turma, HC 189207 (27/09/2011): O habeas corpus não constitui meio idôneo para se pleitear a revogação de medidas protetivas previstas do artigo 22 da Lei 11.340/2006 que não implicam constrangimento ao direito de ir e vir do paciente, uma vez que ausente qualquer violação ou ameaça à liberdade de locomoção.

5. STJ, 4ª Turma, REsp 827962 (21/06/2011): A Lei Maria da Penha atribuiu às uniões homoafetivas o caráter de entidade familiar, ao prever, no seu artigo 5º, parágrafo único, que as relações pessoais mencionadas naquele dispositivo independem de orientação sexual.

6. STJ, 5ª Turma, HC 158615 (15/12/2011): Configurada a conduta praticada como violência doméstica contra a mulher, independentemente de sua classificação como crime ou contravenção, deve ser fixada a competência da Vara Criminal para

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apreciar e julgar o feito, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, consoante o disposto nos artigos 7º e 33 da Lei Maria da Penha.

7. STJ, 6ª Turma, HC 185930 (14/12/2010): O art. 41 da Lei Maria Penha, ao vedar a incidência da Lei 9.099/95, refere-se às disposições próprias do Juizado Especial Criminal, e, não, a outras, como aquelas contidas nos arts. 88 e 89. A suspensão condicional do processo comparece no bojo da Lei 9.099/95 de maneira apenas incidental, dado que não pertence substancialmente à planificação dos Juizados Especiais. Em sentido contrário, posiciona-se a 5ª Turma do STJ (dentre outros precedentes, ver o HC 203374, j. em 16/06/2011), que acompanha o entendimento do Plenário do STF (HC 106212, j. em 24/03/2011), no sentido de que o afastamento da Lei 9099/95 pelo art. 41 da Lei 11340/06 implica, consequentemente, na impossibilidade de salvar-se o benefício da suspensão condicional do processo.

8. STJ, 6ª Turma, HC 180353 (16/11/2010): A contravenção penal de vias de fato praticada no âmbito das relações domésticas, por não constituir violência de maior gravidade, é compatível com a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos.

9. STJ, 3ª Seção, REsp 1097042 (24/02/2010): A ação penal nos crimes de lesão corporal leve cometidos em detrimento da mulher, no âmbito doméstico e familiar, é pública condicionada à representação da vítima. Em sentido contrário, encerrando, portanto, a   discussão , o STF, no julgamento da ADI 4424 (09/02/2012), atribuiu interpretação conforme aos artigos 12, I; 16 e 41, todos da Lei 11340/06, assentando a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão corporal, mesmo que de natureza leve ou culposa, praticado mediante violência doméstica e familiar contra a mulher.

- Seguindo o precedente do STF, STJ, 5ª Turma, AREsp 40934 (13/11/2012): O crime de lesão corporal, mesmo que leve ou culposa, praticado contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, deve ser processado mediante ação penal pública incondicionada.

10. STJ, 3ª Seção, CC 103813 (24/06/2009): A Lei Maria da Penha aplica-se no caso de agressão cometida por ex-namorado que não se conformou com o fim do namoro e agrediu a vítima, haja vista a relação de intimidade que existia com esta, hipótese que se amolda ao art. 5º, III, não sendo exigível a coabitação. A 3ª Seção, noutro CC (100654, j. em 25/03/2009), ressalvou que a aplicabilidade da Lei Maria da Penha no caso de ex-namorados fica condicionada ao exame do caso concreto, eis que não se pode ampliar o termo relação íntima de afeto para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico.

11. STJ, 6ª Turma, HC 115857 (16/12/2008): Para a configuração de violência doméstica, basta que estejam presentes as hipóteses previstas no artigo 5º da Lei 11.343/2006 (Lei Maria da Penha), dentre as quais não se encontra a necessidade de coabitação entre autor e vítima.

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12. STJ, 3ª Seção, CC 96533 (05/12/2008): Delito de lesões corporais envolvendo agressões mútuas entre namorados não configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06, que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou vulnerabilidade. Foi decidido, ainda, neste CC, que o sujeito passivo da violência doméstica objeto da referida lei é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com ou sem coabitação.

13. STJ, 5ª Turma, REsp 1239850 (16/02/2012): A Lei Maria da Penha se aplica na relação entre irmãos, sendo desnecessário configurar coabitação entre eles. O julgamento deste REsp envolveu agressão física de IRMÃO vs. IRMÃ, aplicando-se, pois, normalmente a Lei 11340/06. No entanto, em se tratando de lesões envolvendo IRMÃ vs. IRMÃ, o STJ entende que não deve ser aplicada a Lei Maria da Penha, a qual tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica (3ª Seção, CC 88027, j. em 05/12/2008).

- Recentemente, a 6ª Turma do STJ decidiu no mesmo sentido: A hipótese de briga entre irmãos – que ameaçaram a vítima (irmã) de morte – amolda-se àqueles objetos de proteção da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), haja vista a relação íntima de afeto entre os agressores e a vítima, que dispensa, aliás, a exigência de coabitação ao tempo do crime (HC 184990, j. 12/06/2012).

14. STF, Plenário, ADC 19 (09/02/2012): É constitucional os artigos 1º, 22 e 41 da Lei 11340/2006 (Lei Maria da Penha), não sendo desproporcional ou ilegítimo, portanto, o uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado.

15. STJ, 3ª Seção, CC 111905 (23/06/2010): Compete ao Tribunal de Justiça, e não à Turma Recursal, julgar recurso de apelação aviado contra decisão do Juizado de Violência Doméstica.

16. STJ, 5ª Turma, RHC 27622 (07/08/2012): O aumento de pena do § 9º do art. 129 do CP, alterado pela Lei n. 11.340/2006, aplica-se às lesões corporais cometidas contra homem no âmbito das relações domésticas. Contudo, os institutos peculiares da citada lei só se aplicam quando a vítima for mulher.

17. STJ, 6ª Turma, HC 192104 (09/10/2012): Não é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em caso de condenação por crime de lesão corporal previsto no art. 129, § 9º, do CP. O termo “violência” contido no art. 44, I, do CP, que impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, não comporta quantificação ou qualificação. A Lei Maria da Penha surgiu para salvaguardar a mulher de todas as formas de violência (não só física, mas moral e psíquica), inclusive naquelas hipóteses em que a agressão possa não parecer tão violenta.

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Namoro (não- aplicação ) | Jurisprudência | Busca JusBrasil www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Namoro+(não-aplicação)Jurisprudência sobre Namoro (não-aplicação). Busca JusBrasil. ... Ementa: Violência doméstica e familiar contra a mulher ( Lei Maria da Penha ). Namoro ...

APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO EM ... www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?...APLICAÇÃO...VIOLÊNCI...

27/07/2013 - Jurisprudência sobre APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO ... com violência doméstica e familiar... por expressa determinação da Lei 11.340 /06

LEI MARIA DA PENHA. EX-NAMORADOS | Jurisprudência | Busca ... www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=LEI+MARIA+DA...

01/08/2013 - Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a ... Configura violência contra a mulher, ensejando a aplicação da Lei nº ...APLICA

ESPECIAL: Lei Maria da Penha na jurisprudência do STF e STJ | O ... oprocesso.com/.../especial-lei-maria-da-penha-na-jurisprudencia-do-stf-e...

11/04/2012 - hoje a seção “Especial” é sobre a Lei 11340/06 (Lei Maria da Penha), ... estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a ...

Da (in)aplicabilidade da Lei Maria da Penha aos homens vítimas de ... www.egov.ufsc.br/.../da-inaplicabilidade-da-lei-maria-da-penha-aos-hom...

03/05/2013 - 2.2.1 – Violência doméstica e familiar no Código Penal . .... garante a aplicação da Lei Maria da Penha em relações homoafetivas entre   ...

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ATENÇÃO:

Lei dos crimes hediondos - lei 8.072/90.

CRIMES HEDIONDOS •1.    Sistema acolhido - Legal (o legislador define o que é crime hediondo) •2.    Hipóteses legais: •a)    Homicídio simples quando praticado em atividade típica de grupo; •b)   Todos os homicídios qualificados; •c)    Latrocínio; •d)   Extorsão qualificada pela morte; •e)    Estupro mediante sequestro na forma simples e qualificada; •f)     Atentado violento ao pudor (não existe mais); •g)    Epidemia com resultado morte; •h)    Falsificação de medicamento; •i)      Genocídio.

Conseqüências aplicadas aos crimes hediondos: •a)    Tráfico, tortura e terrorismo não é crime hediondo e sim equiparado a crime

hediondo; •b)   Insusceptível de anistia, graça ou indulto; •c)    Regime de cumprimento da pena integralmente fechado; •d)   Cabe progressão 2/5 da pena se réu primário e 3/5 da pena se reincidente; •e)    Antes não cabia liberdade provisória, agora cabe; •f)     Prisão temporária - 30 dias prorrogáveis por mais 30 dias; •g)    Livramento condicional ao cumprir 2/3 da pena e demais requisitos do CP; •h)    A União manterá estabelecimento penal de segurança máxima para os

condenados de alta periculosidade; •i)      O juiz decidirá fundamentadamente e o réu pode apelar em liberdade, ou seja,

não irá levar em conta os demais critérios, principalmente, os antecedentes; •j)     No crime de quadrilha (mais de 3 pessoas), para a prática de crime hediondo a

pena será de 3 a 6 anos; •k)   Criação da figura da delação premiada para o crime de extorsão mediante

sequestro.

A lei dos crimes hediondos trás ainda um rol de crimes que ser praticados com presunção de violência ou violência ficta, terão aumento de pena de ½ no limite máximo de 30 anos. ATENÇÃO: NO ROL DE CRIMES APRESENTADOS ABAIXO, NEM TODOS SÃO CLASSIFICADOS COMO HEDIONDOS.

Obs: são causa que presumem a violência: •a)    Vítima não maior de 14 anos; •b)   Vítima alienada mental; •c)    Vítima não pode oferecer resistência.

Rol de crimes: •a)    Roubo qualificado pela lesão grave ou morte (só o qualificado pela morte é

hediondo); •b)   Extorsão qualificada por lesão grave ou morte (só a qualificada pela morte é

hediondo);

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•c)    Extorsão mediante sequestro na forma simples ou qualificada (ambos são hediondos);

•d)   Estupro na forma simples, qualificada, presumida (todos são hediondos).

LEI DE TORTURA - Lei 9.455/97. CONCEITO: Crime equiparado a hediondo. OBJETO JURÍDICO - Integridade física e mental. SUJEITO ATIVO - Em regra, qualquer pessoa. CONSUMAÇÃO - Com a ocorrência de sofrimento físico ou mental. AÇÃO - Penal Pública Incondicionada. TORUTAR POR TORTURAR - Não é crime de tortura, podendo ser ameaça ou lesão corporal. DOS CRIMES: a lei de tortura prevê duas condutas criminosas uma por ação e outra omissão.

POR AÇÃO: Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental COM A SEGUINTE FINALIDADE: a) Obter confissão. b) Para alguém praticar um crime em seu lugar. c) Discriminação racial ou religiosa. d) Submeter pessoa sob sua guarda, poder ou vigilância a contágio. Ex. Pai, babá, enfermeiro, professor, etc. e) Pessoa presa ou sob medida de segurança (carcereiro, juiz, policial, MP, etc). POR OMISSÃO - Aquele que se omite em face dessas condutas e tenha o dever de evitá-las ou apurá-las. § 3º TORTURA QUALIFICADA - Se resultar lesão grave ou morte.

QUAL A DIFERENÇA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PELA TORTURA E O CRIME DE TORTURA QUALIFICADA PELA MORTE? É o dolo. Homicídio qualificado pela tortura Tortura qualificada pela morte  Dolo de matar - usa a tortura como meio

Dolo de torturar - morte a título de culpa  

Ex1: "A" querendo matar "B", usa de choques elétricos - Homicídio qualificado pela tortura. Ex2: "A" querendo torturar "B" para que confesse um crime, usa de choques elétricos e "B" vem a falecer - Tortura qualificada pela morte. Ex3: "A" tortura "B", com choques elétricos para que este confesse um crime. Uma semana após obter a confissão, por não mais precisar de "B", mata-o - Tortura e Homicídio. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço quando o crime de tortura é praticado contra: a) Agente Público b) Criança. c) Gestante. d) Adolescente. e) Portador de Deficiência. f) Maior de 60 anos de idade.

§ 5º CONSEQUENCIAS DA TORTURA

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As mesmas previstas para os crimes hediondos, bem como a perda do cargo, emprego ou função e sua inabilitação pelo dobro do prazo da condenação.

LEI DE DROGAS -  11.342/06 Conceito: Crime equiparado a hediondo. Objeto jurídico: Saúde Pública. Sujeito ativo: Qualquer Pessoa. Sujeito passivo: A Coletividade - Crime Vago.

Crimes previstos na lei de drogas que são equiparados a hediondos: Art. 33 caput - prevê 18 condutas.

Importar - entrar com droga no país;

Exportar - sair com droga do país;

Remeter - enviar droga dentro do país;

Preparar - combinar substâncias;

Produzir - criar;

Fabricar - produzir em escala.

Adquirir - comprar;

Vender - alienar a título oneroso;

Expor à venda - exibir a droga;

Oferecer -Sugerir aquisição a título oneroso.

Ter em depósito - Reter para si;

Transportar - Utilizar meio de transporte;

Trazer consigo - Trazer junto a si;

Guardar - Reter para terceiros;

Prescrever - Crime próprio praticado por médico na forma dolosa; Se for na modalidade culposa, será o crime do art. 38, classificado como não equiparado a hediondo.

Ministrar - Injetar dolosamente, se for de forma culposa, crime do art. 38.

Entregar a consumo - Abastecer;

Fornecer drogas, ainda que gratuitamente  - Dar de forma contínua.

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Sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Importar, Exportar, Remeter, Preparar, Produzir, Fabricar, Adquirir, Vender, Expor a venda, Oferecer, Ter em depósito, Transportar, Trazer consigo,Guardar, Ministrar,Entregar a consumo,Fornecer, Prescrever

OBSERVAÇÃO •a)    Trata-se de crime de ação múltipla ou tipo misto alternativo, onde não importa a

quantidade das condutas praticadas, haverá um único crime de tráfico. •b)   Também é norma penal em branco pois quem define o que é droga é uma

portaria do Ministério da Saúde.

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

É considerado tráfico equiparado a hediondo.

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

É tráfico equiparado a hediondo.

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

É tráfico equiparado a hediondo.

OBS: art. 33 § 4o  Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo (OU SEJA, TODOS OS DESCRITOS ACIMA), as penas poderão ser reduzidas de 1/6 a 2/3: Primariedade, bons antecedentes, não integrar organizações criminosas e vedada a conversão em pena restritiva de direito. Art. 34. - Possuir maquinismo ou instrumento destinado à preparação de droga - crime subsidiário. Ex1: "A" é encontrado em seu apartamento mantendo em depósito grande quantidade de cocaína, bem como, maquinário destinado a sua preparação - responderá SOMENTE PELO ART. 33, CAPUT. Ex2: "A" é encontrado em seu apartamento com maquinário destinado a preparação de drogas - RESPONDE PELO ART. 34.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para a prática de tráfico. Respondem pelo crime de associação e pelo tráfico praticado.

O artigo 41 desta lei prevê a figura da delação premiada Causa de diminuição de pena, se entregar os comparsas e o produto do crime.

Art. 36. Financiar o tráfico de drogas.

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Art. 37. Colaborar como informante de organização criminosa.

CONSEQUÊNCIAS APLICADAS AOS CRIMES DESCRITOS ACIMAS, QUE SÃO EQUIPARADOS A HEDIONDOS - ART. 44 •a)    Inafiançáveis; •b)   Insusceptíveis de sursis, graça, indulto e anistia. •c)    Vedação a liberdade provisória; •d)   Demais conseqüências aplicadas ao crime hediondo;

CRIMES PREVISTOS NA LEI DE DROGAS QUE NÁO SE SUJEITAM AO TRATAMENTO DOS CRIMES HEDIONDOS.

Art. 33 § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso de drogas (não há presença de drogas); Art. 33 § 3  Oferecer droga, eventualmente, sem objetivo de lucro a pessoa do seu relacionamento.

Art. 28 - É considerado usuário aquele que: Usa a droga para consumo pessoal; Semeia, cultiva e colhe para uso pessoal.

Penalidades aplicadas ao usuário •a)    Advertência, prestação de serviços comunitários e freqüência a cursos

educativos; •b)   As duas últimas penalidades terão prazo máximo de 5 meses e se reincidente

de 10 meses. •c)    Havendo descumprimento por parte do condenado, o juiz irá sucessivamente,

aplicar: admoestação e multa de 40 a 100 Salários Mínimos.

O usuário pratica crime? Sim - não houve descriminalização e sim despenalização em pena privativa de liberdade.

OBS3: Critérios diferenciadores entre usuário e tráfico: Quantidade, natureza da substância, antecedentes, conduta do agente, local da apreensão, circunstâncias sociais. Art. 38  - Prescrever ou ministrar culposamente drogas. Art. 39.   Dirigir aeronaves e embarcações sob o efeito de drogas. Se o mesmo fato for praticado em direção de veículo automotor SERÁ TUTELADO PELO CBT. 0CAUSA DE AUMENTO - Aplicam-se a todos os crimes equiparados ou não a hediondos.

•a)    Transnacionalidade do delito - internacional;

•b)   Tráfico entre Estados da federação; •c)    Na função pública, missão de educação, poder familiar, guarda e vigilância. •d)   Com violência, grave ameaça ou arma de fogo; •e)    Nas dependências de prisões, escolas, hospitais, locais de diversão,

tratamento de dependentes, unidades militares e policiais e transportes públicos.

ABUSO DE AUTORIDADE - Lei 4.898/65

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•1)   Direito de representação - Direito de petição constitucional para defesa dos direitos fundamentais.

•2)   Ação - Pena Pública Incondicionada.

•3)   O abuso de autoridade implicará em responsabilidade - Civil, Administrativa e Penal.

•4)   Pressuposto para a aplicação da Lei nº 4.898/65 é o abuso que deve ser praticado por autoridade no exercício da função ou segundo a jurisprudência, fora dela, quando o agente invocar sua condição de autoridade.

•5)   Conceito de autoridade - Qualquer pessoa que exerça cargo, emprego ou função civil ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. Não confundir com o conceito de funcionário público do art. 327 do CP.

•6)   Dos crimes - os crimes estão previstos nos arts. 3° e 4° da lei e têm como características:

Objeto jurídico: Direitos Fundamentais.

Sujeito ativo: A autoridade e ou particular em concurso de pessoas se conhecer a conduta criminosa.

Sujeito passivo: Qualquer pessoa.

Competência: Se a autoridade for federal, Justiça Federal;

Se a autoridade for estadual, Justiça Estadual.

Se for Militar Federal, Justiça Federal;

Se for Militar Estadual, Justiça Estadual.

Consumação e tentativa: Com a prática abusiva.

•7)   Art. 3° - Constitui abuso de autoridade qualquer atentado (trata-se de crime de atentado, onde a tentativa é punida como crime consumado):

•a)    Liberdade de locomoção;

•b)   Violação de domicílio;

•c)    Violação do sigilo de correspondência;

•d)   Liberdade de crença;

•e)    Liberdade de arrecadação de recursos;

•f)     Exercício do voto; 110

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•g)    Incolumidade física do endividado;

•h)    Garantias do exercício profissional.

•8)   Art. 4° -  Constitui também abuso de autoridade:

•a)    Executar medidas privativas da liberdade;

•b)   Somente presos - constrangimento nas formalidades legais;

•c)    Deixar de comunicar a ocorrência da prisão;

•d)   Deixar o juiz de relaxar prisão ilegal;

•e)    Manter preso quem queira pagar fiança;

•f)     Praticar ato lesivo contra a honra e o patrimônio de alguém (multa arbitrária);

•g)    Prolongar a prisão temporária;

•h)    Mandado de segurança indevidamente.

OBS: Conflito aparente de norma entre o art. 3 ° e 4° ?

O Critério diferenciador é o princípio da especialidade.

RACISMO - Lei 7.716/89.

•1)   DIFERENÇA ENTRE RACISMO E INJÚRIA RACIAL? A injuria racial é xingar alguém utilizando-se de critério de raça, cor, etnia, religião, origem, pessoa idosa e deficiente. Racismo é segregação.

•2)   Assim, constitui crimes previstos nesta lei os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional através das seguintes condutas: As segregações abaixo: Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público.

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Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabelereiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidade. Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmo. Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social. Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses. Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza.§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:        I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;        II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas.        § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido.

•3)   Características comuns:

Objeto jurídico: igualdade - direito de igualdade.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer pessoa.

Tipo subjetivo: dolo de discriminar.

•4)   Consumação - com a prática da conduta de segregar.

•5)   Ação penal: pública incondicionada.

•6)   Formas qualificadas utilizar cruz suástica para divulgar o nazismo.

•7)   Efeitos da condenação - qualificada - perda do cargo e suspensão do funcionamento do estabelecimento e destruição do material.

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ESTATUTO DO DESARMAMENTO - Lei nº 10.826/2003.

•1)   SINARMA - Sistema Nacional de Armas - Ministério da Justiça (no âmbito da Polícia Federal).

•2)   O art. 3° trata do registro de arma de fogo:

É obrigatório, com validade em todo o território nacional, autoriza manter arma de fogo, acessórios ou munições em casa ou no local de trabalho. Arma de fogo de uso permitido - registro concedido pela Polícia Federal; arma de fogo de uso restrito - registro concedido pelas Forças Armadas.

•3)   O art. 6° trata do porte de arma de fogo:

A regra é a proibição. O art. 6º traz o rol de pessoas que estão autorizadas; leis específicas (juiz, promotor e aqueles que preencham os requisitos do art. 10; demonstração de necessidade, arma registrada, bons antecedentes, ocupação lícita, residência certa e capacidade técnica.

•4)   Dos crimes:

Objeto jurídico: Segurança Pública.

Sujeito ativo: Qualquer Pessoa.

Sujeito passivo: A Coletividade.

Ação penal: Pública Incondicionada;

Competência: Justiça Estadual, salvo, tráfico internacional de armas - Justiça Federal.

Os crimes classificam-se como de perigo abstrato.

Objeto material: arma de fogo, munição ou acessórios.

Classificação das armas de fogo: Arma de fogo de uso permitido:

Utilizada por qualquer pessoa física. Ex. revólver, pistola e Acessórios. Ex. capacete, colete.

Arma de fogo de uso  restrito:

Uso exclusivo das Forças Armadas e parcela da Segurança Pública. Ex. metralhadora, bazuca,

Acessórios - ex. silenciador, mira a laser.

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Arma de brinquedo:

Não é crime, todavia, o art. 26 veda sua fabricação e comercialização, salvo, para treinamento oficial.

POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO - art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda

arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido

em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa.

Possuir arma de fogo de uso permitido em casa ou no local de trabalho sem registro.

•a)    Atinge armas, acessórios e munições;

•b)   Arma quebrada ou obsoleta não há crime.

•c)    Arma desmuniciada - há crime.

•d)   Consumação - com a prática da conduta.

PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO - art. 14 Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar

arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido

sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar

•a)    Praticar estes verbos com arma de uso permitido sem possuir o porte.

•b)   Pode ser arma, acessório ou munição.

•c)    Arma quebrada ou obsoleta, não há crime.

•d)   Arma desmuniciada - há crime.

•e)    Consumação - com a prática da conduta.

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POSSE OU PORTE DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO - art. 16 Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar

arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito

sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar

•a)    Possuir ou portar arma de uso restrito sem registro ou porte.

•b)   As demais considerações idem ao art. 12 e 14.

OMISSÃO DE CAUTELA Deixar de observar as cautelas necessárias

para impedir que menor de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental

se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade

•a)    O crime é culposo.

•b)   Se for doloso será art. 242 do ECA.

•c)    Consumação - quando o menor ou deficiente mental se apodera da arma.

DISPARO DE ARMA DE FOGO - art. 15 Disparar arma de fogo ou acionar munição

em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela

desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime

•a)    Crime subsidiário.

•b)   Havendo homicídio praticado em via pública responderá somente por homicídio.

•c)    Consumação - com o disparo.

COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO - art. 17 Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio

no exercício de atividade comercial ou industrial

arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar

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•a)    Sujeito Ativo - comerciante ou industrial;

•b)   Se for arma de fogo de uso restrito a pena será aumentada.

•c)    Consumação - com a prática da conduta.

TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO - art. 18 Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título

de arma de fogo, acessório ou munição

sem autorização da autoridade competente:

•a)    Competência - Justiça Federal.

•b)   Se arma de fogo de uso restrito a pena será aumentada.

•c)    Consumação - com a entrada ou saída da arma do país.

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei

   

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BIBLIOGRAFIA

ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação penal especial. 6ª ed. São Paulo:Saraiva, 2009. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal- legislação penal especial. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 4ª ed.São Paulo: RT,2009FRANCO, Alberto Silva. Leis Penais Especiais e Sua Interpretação Jurisprudencial. 6ª ed. São Paulo: ed. RT. 1.997. JESUS, Damásio Evangelista de. Lei de Contravenções Penais Anotada. São Paulo: Saraiva; 1.993. PIMENTEL, Manoel Pedro. Contravenções Penais. BECCARIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas, São Paulo: Martin Claret.KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, 2ª ed., 1987, São Paulo: Martins Fontes.MATTOSO, Glauco. O que é tortura. São Paulo: Nova Cultural, Brasiliense, 1986.PLATÃO, A República, São Paulo: Martin Claret.REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003.SANTOS, Marcos André Couto. A efetividade das normas constitucionais: as normas programáticas e a crise constitucional. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 204, 26 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4731>. Acessado em: 19 dez. 2008.ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, Henrique, Manual de Direito Penal Brasileiro, 5ª ed., São Paulo: RT.MATTOSO, Glauco. O que é tortura. São Paulo: Nova Cultural, Brasiliense, 1986.Sobre a exclusão dos negros da proteção legal contra a prática de tortura, cabe resgatar uma passagem de Cesare Beccaria (in: Dos Delitos e das Penas, São Paulo: Martin Claret. Introdução), que vale como crítica: “As vantagens da sociedade devem ser distribuídas eqüitativamente entre todos os seus membros. Entretanto numa reunião de homens, percebe-se a tendência contínua de concentrar no menor número os privilégios, o poder e a felicidade, e só deixar à maioria a miséria e debilidade. Apenas com boas leis se podem impedir esses abusos”.PLATÃO, A República, São Paulo: Martin Claret.ZAFFARONI, Eugenio Raúl, PIERANGELI, Henrique, Manual de Direito Penal Brasileiro, 5ª ed., São Paulo: RT, p. 87/89.KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, 2ª ed., 1987, São Paulo: Martins Fontes.REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 102.BECCARIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas, São Paulo: Martin Claret, p. 38.GRINOVER, Ada Pellegrini e outros, Teoria Geral do Processo, 23ª ed., São Paulo: Malheiros, p. 51.REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 102.KELSEN, Hans, Teoria Pura do Direito, 2ª ed., 1987, São Paulo: Martins Fontes.

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Jurisprudência Resumida

Resumo dos informativos e julgados do STF, STJ e demais Tribunais Superiores separados por tema.

Legislação Penal Especial

Legislação Penal Especial o Lei 1.079/50 - Crimes de Responsabilidade o Lei 10.826/03 - Estatuto do Desarmamento - Lei de Armas o Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha o Lei 11.343/06 - Lei de Drogas o Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente

Justiça da Infância e da Juventude Regras Processuais Remissão

o Lei 8.072/90 - Lei dos Crimes Hediondos o Lei 8.137/90 - Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Contra as Relações de

Consumoo Lei 9.034/95 - Lei do Crime Organizado o Lei 9.099/95 - Juizados Especiais Cíveis e Criminais

Suspensão Condicional do Processo e Transação Penal o Lei 9.296/96 - Lei de Interceptação Telefônica o Lei 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro o Lei 9.605/98 - Leis dos Crimes Ambientais o Lei 9.613/98 - Lei dos Crimes de "Lavagem de Dinheiro"

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Ementa: Contravenções penais. Direito Penal Econômico: noções. Direito Penal Ambiental. Leis penais especiais: Drogas; Segurança Nacional; Abuso de Autoridade; Tortura; Violência Doméstica e Familiar.

Carga Horária: 80 aulas (67 H).

Calendário:

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