dir 452 penal iii

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DIR 452 – DIREITO PENAL III KARINA 26/11/2012 UNIDADE I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Bem jurídico tutelado: a pessoa humana. - Incumbência do Estado: o dever de proteger a pessoa é do Estado. Estrutura: os crimes contra a pessoa (e todos os outros) são divididos, no Código Penal, em capítulos, e, dentro dos capítulos, em seções. 1.1. Dos crimes contra a vida Bem jurídico tutelado: a vida Crimes: homicídio; induzimento/instigação/auxílio ao suicídio; infanticídio; aborto. Competência: CF, art. 5º, XXXVIII, “d” e CPP, art. 74, §1º. A competência, nos casos de crimes dolosos contra a vida (tentados ou consumados), é do Tribunal do Júri . A razão dessa competência é que o homicídio é o crime mais fácil de ser praticado por qualquer pessoa, e, por isso, deve ser julgado por alguém que seja seu igual. 1.1.1. Homicídio: art. 121. a) Conceito: “Eliminação da vida humana praticada por outrem.” Assassinato: ? – esta é uma expressão não adotada pelo legislador brasileiro, embora seja frequentemente utilizada pela mídia e pelo público, coloquialmente. b) Sujeito ativo

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Resumão de direito penal III

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Page 1: Dir 452 Penal III

DIR 452 – DIREITO PENAL III

KARINA

26/11/2012

UNIDADE I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

Bem jurídico tutelado: a pessoa humana.

- Incumbência do Estado: o dever de proteger a pessoa é do Estado.

Estrutura: os crimes contra a pessoa (e todos os outros) são divididos, no Código Penal, em

capítulos, e, dentro dos capítulos, em seções.

1.1.Dos crimes contra a vida

Bem jurídico tutelado: a vida

Crimes: homicídio; induzimento/instigação/auxílio ao suicídio; infanticídio; aborto.

Competência: CF, art. 5º, XXXVIII, “d” e CPP, art. 74, §1º. A competência, nos casos de crimes

dolosos contra a vida (tentados ou consumados), é do Tribunal do Júri. A razão dessa competência

é que o homicídio é o crime mais fácil de ser praticado por qualquer pessoa, e, por isso, deve ser

julgado por alguém que seja seu igual.

1.1.1. Homicídio: art. 121.

a) Conceito: “Eliminação da vida humana praticada por outrem.”

Assassinato: ? – esta é uma expressão não adotada pelo legislador brasileiro, embora seja

frequentemente utilizada pela mídia e pelo público, coloquialmente.

b) Sujeito ativo

Crime comum: o homicídio é um crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa.

Art. 123: infanticídio é exceção (não é crime comum).

Suicídio: não há punição para a tentativa de suicídio, mas um terceiro que participar será punido.

28/11/2012

c) Sujeito passivo

“Alguém”: a princípio, o crime de homicídio pode ser praticado contra qualquer pessoa. Da própria

descrição da conduta, extrai-se isso: “matar alguém”.

- Vida endouterina: art. 124, 125 e 126. É aborto, e não homicídio.

Page 2: Dir 452 Penal III

- Após parto iniciado: é o marco inicial a partir do qual já pode haver homicídio (ou infanticídio,

dependendo do caso).

- Cadáver: art. 17. Se o agente tenta matar alguém que já está morto, não sabendo desse fato, ele

não será responsabilizado por tentativa de homicídio, mas aplicar-se-á o instituto de crime

impossível.

- Moribundo, seres monstruosos, condenado à morte e eutanásia: moribundos e seres

monstruosos também são pessoas, e, por isso, podem ser vítima de homicídio. Da mesma forma, se

houvesse pena de morte no Brasil, ao matar um condenado, haveria homicídio, sim. A eutanásia

também constitui homicídio (está positivado), havendo apenas diminuição de pena (mas é uma

questão polêmica).

- Lei 7170/83: art. 29 – Lei de Segurança Nacional. Se ocorrer homicídio contra o Presidente da

República, da Câmara, do Senado ou do STF, será um homicídio qualificado por essa lei (crime

contra a segurança nacional) e será aumentada a pena.

d) Elementos objetivos do tipo. O tipo penal é composto por elementos objetivos descritivos; ou seja, são

facilmente percebidos sem que seja necessário juízo de valor.

Núcleo: é o verbo. Ex: Art. 121 – matar alguém.

Meios de execução: ação livre. O homicídio é um crime de ação livre, já que o legislador não

especificou o meio de execução. Assim, o homicídio pode ser praticado de qualquer forma e, ainda

assim, continuará a ser homicídio.

- Diretos ou indiretos: diretos são os meios que o agente atinge a vítima diretamente (com as

próprias mãos). Indiretos são aqueles em que o agente se utiliza de um instrumento (ex: atiçar um

cachorro para atacar a pessoa) para cometer o crime.

- Podem ser:

*Físicos. Ex: estrangular.

*Químicos. Ex: veneno.

*Patológicos. Ex: transmitir AIDS para outra pessoa, com a intenção de matá-la.

*Morais. Ex: assustar um cardíaco de alto risco.

- Formas

*Ação: é a regra para a prática do homicídio, pois a conduta descrita no tipo é positiva.

*Omissão: art. 13, §2º. É o caso dos crimes praticados pelos garantidores.

e) Elementos subjetivos do tipo

Dolo: é o único elemento subjetivo deste tipo.

- Animus necandi ou occidendi: vontade de matar (é o dolo desse crime).

- Dolo eventual: também é possível homicídio com dolo eventual.

f) Consumação

Page 3: Dir 452 Penal III

Crime material: é aquele crime em que o legislador já prevê um resultado naturalístico (mudança

no mundo exterior), o qual PRECISA acontecer para que o crime seja consumado. É o caso do crime

de homicídio.

- Morte: a vítima precisa morrer para que seja homicídio.

A morte pode ser:

*Clínica: parada cardiorrespiratória. Cessam as funções.

*Cerebral: o cérebro para de funcionar.

*Biológica: deterioração celular.

Lei 9434/97. Parte da doutrina defende que basta a morte cerebral para caracterizar homicídio, por

causa dessa lei que autoriza transplante de órgãos com a morte cerebral. Porém, a maioria da

doutrina defende que a morte clínica é essencial, aliada à cerebral, pois aí não haverá mais uma

“sobrevida”.

Prova: a prova da morte é feita com perícia, por meio de exame de corpo de delito, e depois é

emitido um documento, o auto de corpo de delito.

Tentativa: é possível tentativa de homicídio.

- Branca: tentativa branca é quando o autor executa a conduta, mas a vítima sai ilesa. Também é

possível. Ex: X desfere três tiros em Y, mas nenhum o atinge.

g) Homicídio simples: caput. É “simples” porque, em comparação com os parágrafos que seguem, o caput

é a forma mais simples de homicídio.

Exclusão: se não houver nenhuma das formas descritas nos parágrafos seguintes, será homicídio

simples. Nos parágrafos, o homicídio pode ser: §1 - “privilegiado”; §2º - qualificado; §3º - culposo;

§4º - majorado; §5º - com perdão judicial; §6º - praticado por grupos de extermínio ou milícias (lei

12720/12).

Hediondo: art. 1º, I, lei 8072/90. Será hediondo o homicídio quando praticado em atividade típica

de grupo de extermínio, ainda que matando uma só pessoa, ou quando for qualificado.

Majorante: aumenta a pena.

Até a lei de 2012, que acrescentou o §6º, o homicídio simples era hediondo quando praticado nessa

circunstância do grupo de extermínio. Agora, com a lei nova, o homicídio simples não é mais

hediondo (diz a Karina).

- Impessoalidade: classe. Essa disposição sobre o grupo de extermínio se refere a extermínio de

determinada classe, e não de uma pessoa específica.

h) Homicídio “privilegiado”: §1º. É passível de uma menor reprovação, em razão das suas circunstâncias.

Reduz a pena de 1/6 a ½. Termo equivocado: não existe privilégio no crime de homicídio.

Page 4: Dir 452 Penal III

Minorante: é minorante, e não privilégio, como chamam essa hipótese. Afinal, o próprio legislador

chama de “causa de diminuição de pena”; não há novos limites de mínimo da pena, mas apenas

diminuição, sendo, por isso, minorante.

Obrigatoriedade: ? – é obrigatória a diminuição da pena, se presentes os requisitos. É direito

subjetivo do réu.

Formas:

- Relevante valor social: motivo relevante analisado de forma coletiva, importante para a

sociedade. É um motivo que, de certa forma, torna a conduta menos reprovável. Ex: matar um

traidor da pátria; matar um político muito corrupto.

* Não leva em conta os interesses individuais do agente.

- Relevante valor moral: motivo relevante analisado individualmente. É mais frequente. Ex: o

agente vem a descobrir, tempos depois, quem que estuprou a sua filha, e aí mata esse cara;

eutanásia, que é praticada para cessar o sofrimento da vítima.

* Interesses individuais: levados em conta nessa forma de homicídio.

- Violenta emoção: homicídio praticado em momento de violenta emoção. Ex: marido traído, que

pega a mulher com o amante e mata os dois –> esse marido sofreu agressão ou provocação? De

acordo com doutrina e jurisprudência majoritárias, constitui provocação. NÃO é legítima defesa da

honra, pois não é possível agredir a honra de alguém utilizando o corpo de outrem.

* Homicídio emocional

* Requisitos: domínio de violenta emoção, logo em seguida de injusta provocação da vítima.

Se fosse injusta agressão, seria legítima defesa, e excluiria o crime.

Sendo injusta provocação, aplica-se o 121, §1º. Não chega a existir agressão, mas ataca de outra a

forma a vítima, abalando-a emocionalmente.

* Influência: art. 65, III, c. Não basta a influência de violenta emoção, deve ser domínio. Se for

influência, aplica-se este dispositivo.

* Homicídio passional: ? – é muito frequente.

03/12/2012

i) Homicídio qualificado: §2º. Reclusão de 12 a 30 anos, em razão de qualificadora (aumenta).

Qualificadora prevalece sobre agravante.

Maior desvalor da ação

I- Motivo torpe: é o motivo reprovável, vil, repugnante; abaixo dos princípios éticos da sociedade.

Ex: matar os pais para ficar com a herança.

- Ciúme: ? – a maioria da doutrina entende que o ciúme não é motivo torpe. Ao contrário, entende-

se que pode, inclusive, dependendo do caso, ser uma minorante, como a violenta emoção.

Page 5: Dir 452 Penal III

- Pagamento e promessa de recompensa: é um motivo torpe.

* Homicídio mercenário: chama-se de homicídio mercenário aquele executado em razão de

recompensa.

* Natureza da recompensa: a maioria da doutrina entende que a recompensa deve ter viés

econômico (dinheiro, joias, promoção no emprego etc.), pois, se houvesse abertura para outras

recompensas, a análise de casos diferentes poderia gerar insegurança jurídica. Mas há divergências

doutrinárias.

* Comunicabilidade: quando há pagamento ou promessa de recompensa, subentende-se que há

duas pessoas envolvidas, o mandante e o executor, e ambos serão responsabilizados. Mas na

aplicação da pena, somente ao executor será aplicada a qualificadora.

* Recebimento: não é necessário que o executor já tenha recebido a recompensa para que seja

qualificado o homicídio, bastando a promessa.

II- Motivo fútil

- Conceito: é o motivo insignificante, que quando comparada com o resultado da conduta, mostra-

se desproporcional.

* Desproporção: desproporção entre a conduta do agente e o motivo que a gerou.

- Ausência de motivo: a maioria da doutrina entende que a ausência de motivo não qualifica o

homicídio, em razão do Princípio da Legalidade (pois a lei só fala do motivo fútil). Aberração

doutrinária.

- Acaloradas discussões: acaloradas discussões entre autor e vítima podem desqualificar o

homicídio. Justificativa: o motivo da discussão podia até ser fútil, mas entende-se que foi a própria

discussão que levou à prática do crime e, por isso, dependendo das circunstâncias, a discussão

pode até ser uma minorante (ex: violenta emoção ou legítima defesa).

- Vingança: não constitui motivo fútil. Doutrina e jurisprudência entendem que, dependendo das

circunstâncias, pode ser um motivo torpe ou até mesmo um motivo relevante (ex: pai que mata o

estuprador da filha).

III- Meios

- Fórmula: interpretação analógica. Embora em Penal não se admita analogia que prejudique o

réu, aqui a interpretação analógica é permitida, pois no próprio dispositivo legal o legislador já dá

exemplos e abre espaço para essa interpretação.

- Veneno: é aquela substancia que causará sérios danos àquele que a ingerir. Ex: veneno de rato.

* Substâncias inócuas: são substancias que a princípio são consideradas inócuas, mas que, por se

tratar de determinada vítima, torna-se veneno. Ex: dar açúcar para um diabético.

Page 6: Dir 452 Penal III

* Insidioso: a doutrina majoritária entende que o envenenamento só qualificará o homicídio de for

insidioso, ou seja, quando a vítima não percebe que ele está sendo ministrado. Alguns autores

(Bittencourt) entendem que pode ser cruel também.

- Fogo: cruel. Causa um sofrimento para a vítima muito além do que se fosse um homicídio simples.

* Perigo comum: também qualificará se o fogo trouxer perigo comum, risco para a coletividade (ex:

incêndio criminoso).

- Explosivo: também pode configurar perigo comum, colocando em risco a coletividade.

- Asfixia: interrupção da respiração. Meio extremamente cruel.

*Pode ser: esganadura (uso das mãos); enforcamento (peso do corpo interrompe a respiração);

estrangulamento (uso de fios ou cordas no pescoço); sufocação (objetos na face da vítima,

bloqueando a respiração); soterramento (submersão em meio sólido); afogamento (submersão em

meio líquido); confinamento (local que impede a respiração).

- Tortura: meio cruel de duração prolongada.

* Mal desnecessário

* Lei 9455/97: fim. A diferença entre o crime de tortura e o homicídio qualificado por tortura está

na finalidade buscada pelo agente: quando o agente quer praticar o homicídio por meio de tortura,

é homicídio; quando ele só quer torturar, é crime de tortura, e se a vítima acaba morrendo (sem

que esta fosse a intenção do agente), caracterizará crime preterdoloso, em que a morte derivará de

culpa (aplica-se um artigo específico dessa lei).

- Meio insidioso: sempre qualificará o crime se o meio for insidioso (utilizado sem o conhecimento

da vítima, ou seja, na clandestinidade).

- Meio cruel: qualquer meio cruel qualifica o homicídio.

* Grave sofrimento: meio cruel que cause um grave sofrimento para a vítima.

* Reiteração de golpes: se os vários golpes provocarem um sofrimento maior para a vítima, o

homicídio será qualificado.

* Atos pós-morte: se, por exemplo, ocorrer esquartejamento, mas com a vítima morta, não será

meio cruel.

- Perigo comum: qualquer ato que coloque em risco a coletividade qualificará o homicídio.

IV- Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima

- Traição: quebra da confiança. Quebra-se uma relação de confiança entre autor e vítima. Ex:

matar o outro durante relação sexual; caso da Susane.

- Emboscada: o agente se esconde, posicionando-se de forma que facilite agredir a vítima, e isso

dificulta ou impossibilita a defesa da vítima.

- Dissimulação: distração da vítima. Prática que visa enganar a vítima, com a intenção de distraí-la

e então praticar homicídio.

Page 7: Dir 452 Penal III

- Outros recursos: qualquer outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa.

* Surpresa: agressão inesperada. Qualquer agressão inesperada que não se encaixe nas formas

anteriores (é mais genérica).

Afasta: animosidade. Se houver prévia animosidade (indisposição) entre autor e

vítima, isso afastará a qualificadora.

* Simples superioridade de armas: a princípio, não basta para qualificar o crime, mas é necessário

analisar o caso concreto.

05/12/2012

V- Conexão: §2º.

- Natureza: é considerado motivo torpe matar para assegurar impunidade, ocultar ou tirar

vantagem. Essa hipótese pode ser considerada desnecessária, porque já existe a do motivo torpe.

- Conceito: é quando existe conexão entre o homicídio e outro crime, ou seja, há um liame entre os

dois crimes, sendo um deles o homicídio. Ex: o cara quer incendiar um lugar e, para fazer isso, mata

o vigia.

- Espécies

* Conexão teleológica: meio

* Conexão consequencial: ocultar, assegurar impunidade, vantagem. Ex de vantagem: duas

pessoas roubam um banco, e depois de consumado o crime, um dos coautores mata o outro para

ficar com todo o dinheiro.

VI- Observações

- Crime hediondo: art. 1º, I, lei 8072/90. O homicídio qualificado não era crime hediondo nesta lei;

só em 1994, com uma lei de iniciativa popular, é que ele entrou para o rol dos crimes hediondos.

- Premeditação: é o homicídio planejado, e não qualifica o crime. A premeditação afasta a

minorante de violenta emoção, por exemplo, e pode ser considerada para aumentar a pena base,

mas não chega a ser qualificadora.

- Parentesco: não há qualificadora em razão de parentesco. Cometer homicídio contra parente é

agravante genérica.

* Art. 61, II, e.

- Genocídio: art. 1º, lei 2889/56. Se houver genocídio, aplica-se a lei especial do genocídio, e não o

art. 121 do CP. A pena aplicada é a mesma da prevista no Código.

- Comunicabilidade: art. 30. As circunstâncias que forem objetivas conhecidas irão se comunicar.

As subjetivas (características da vítima) não se comunicam.

Obs: circunstâncias aumentam ou diminuem a pena.

Page 8: Dir 452 Penal III

- Concurso de qualificadoras: se houver mais de duas qualificadoras no homicídio, uma das

qualificadoras será aplicada como tal, qualificando o crime e aumentando a pena base. A outra (ou

outras) será usada como agravante, sendo aplicada na 2ª fase de aplicação da pena, pois todas as

qualificadoras do homicídio estão previstas no rol de agravantes (art. 61), que é taxativo. Se não

houvesse essa previsão, as outras qualificadoras seriam usadas na pena base, como circunstâncias.

Não há critério para escolher qual será qualificadora mesmo e qual(is) será(ão) agravante(s).

- Homicídio qualificado-privilegiado: é quando há uma qualificadora e uma causa de diminuição de

pena (§1º). Só será possível cumular essas duas hipóteses se a qualificadora for objetiva (ex: motivo

fútil não pode ser, pois é subjetivo), já que o privilégio é de causa subjetiva.

Aplicação da pena: qualificadora na 1ª fase, e privilégio na 3ª (causa de diminuição).

* Hediondo: ? – a maioria da doutrina entende que o homicídio qualificado-privilegiado não poderá

ser caracterizado como hediondo, em razão do privilégio.

j) Homicídio culposo: §3º. Diminui a pena base (utilizado na 1ª fase). Não há o requisito objetivo (dolo) do

caput.

Requisitos: conduta voluntária; inobservância do dever objetivo de cuidado (negligência, imperícia

ou imprudência); resultado não querido; nexo causal entre conduta e resultado; resultado

previsível objetivamente (homem médio); tipicidade.

Delitos de trânsito

- Art. 302, lei 9503/97. Prevê o homicídio culposo no trânsito. Prevalece sobre o Código Penal por

ser é lei especial. Então o homicídio culposo do CP será aplicado em todos os casos, exceto no

homicídio culposo no trânsito na direção de veículo automotor. No caso de homicídio doloso no

trânsito, aplica-se o 121 do CP.

l) Causa de aumento: §4º. Arrola causas de aumento que incidem sobre o homicídio culposo.

§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra

técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir

as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é

aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60

(sessenta) anos.

Com relação ao imediato socorro, isso afasta o concurso de crimes (que seria homicídio culposo e omissão

de socorro).

Com relação à idade da vítima, considera-se a data do fato.

m) Perdão judicial: §5º. O juiz pode deixar de aplicar a pena se o resultado do crime já é sanção suficiente

para a punição do agente. Extingue a punibilidade. Só se aplica no culposo.

Page 9: Dir 452 Penal III

Se ocorrer erro na execução e o agente matar outra pessoa que não a desejada, e fosse a mãe, por

exemplo, não é possível aplicar perdão judicial, pois considera-se que atingiu quem o agente

queria.

Doutrina majoritária: é possível aplicar o perdão judicial nos homicídios culposos no trânsito.

n) Extermínio de seres humanos: §6º.

§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o

pretexto de prestação de serviço de segurança*, ou por grupo de extermínio**. (Incluído pela Lei nº 12.720, de

2012)

*Ex: “Segurança” interna de favelas.

** Grupos de pessoas que agem com a intenção de eliminar um grupo de pessoas por razões étnicas,

sociais, culturais etc.

Lei 12720/12. Acrescentou esse parágrafo.

10/12/2012

1.1.2. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio: art. 122.

Suicídio: é a eliminação da própria vida.

- Punição: a tentativa de suicídio não sofre punição -> razão de política criminal: entende-se que o

suicida não está preocupado com a sanção, e a pena não seria a melhor solução para o problema

do suicida. Somente o terceiro que ajuda de alguma maneira será punido.

* Princípio da Lesividade: somente deve ser incriminada a conduta que exceda o âmbito do próprio

autor, lesando terceiro.

a) Sujeito ativo: alguém. É crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.

Participação no suicídio # homicídio consentido.

b) Sujeito passivo

Discernimento: a vítima deve ter discernimento, ou seja, deve ser capaz de resistir à participação

do terceiro.

Quem não tem discernimento: menores de 14 anos; doentes mentais absolutamente incapazes;

pessoa completamente embriagada. -> quem induz uma dessas pessoas a suicidar-se incorre em

homicídio (art. 121).

Pessoa determinada: deve haver a determinação da conduta, ou seja, o autor deve induzir uma

determinada pessoa a suicidar-se. Ex: escrever um livro “20 Maneiras Legais de Se Suicidar” não é

caracteriza esse tipo.

c) Elemento objetivo do tipo

Formas de realização

Page 10: Dir 452 Penal III

- Participações morais: induzir (fazer nascer a ideia) ou instigar (reforçar a ideia). Mas esse

induzimento ou instigação deve ter sido fundamental para a ocorrência do suicídio, havendo,

portanto, nexo de causalidade entre a participação e o suicídio.

* Elemento intencional

- Participação material: auxiliar, por meio de participação material. Ex: emprestar à vítima algum

material para que ela se suicide.

Mas é possível o auxílio moral também, dando dicas, por exemplo.

* Ato consumativo: vítima. Só haverá ocorrência desse tipo se a própria vítima consumar o crime.

Se o agente que ajudar que consumar, configurará homicídio.

Crime de ação múltipla: pode ser praticado de mais de uma forma. Também pode ser chamado de

crime de conteúdo variado.

Omissão: é possível que os garantidores incorram nesse crime (doutrina majoritária). Ex: filho fala

para o pai que vai suicidar e para de comer, e o pai não faz nada para impedir.

- Auxílio: entende-se que só é possível o induzimento e a instigação por omissão, e o auxílio só

seria possível com uma ação. Mas o modo mais possível seria a instigação.

Resultado: o tipo traz dois tipos de resultados (consumação ou lesão grave), e para que o crime

ocorra, um deles tem, obrigatoriamente, que ocorrer. As penas são diferentes para cada resultado.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: deve haver dolo. Não existe esse crime na modalidade culposa.

Elemento subjetivo do injusto

- Desejo de que a vítima morra: a doutrina dispensa a análise desse elemento, pois ele já está

subentendido dentro dolo.

Mesmo que o agente pratique as três condutas possíveis para esse crime, considera-se como que

pratica somente um crime.

e) Consumação

Crime material: pois depende da ocorrência de um resultado naturalístico, que a morte da vítima

ou lesão grave.

Tentativa: se ocorrer lesão não-grave, não haverá punição do agente. Ou seja, não se admite

tentativa do art. 122.

f) Causa de aumento: p. único. Duplica-se a pena. É causa de aumento, pois não determina um novo

quantum (que seria qualificadora). As causas de aumento são:

Motivo egoístico: fim especial. É quando o agente deseja não só a morte da vítima, mas tem

também uma outra finalidade, egoística, buscando a satisfação de interesses pessoais do agente,

que se sobrepõem à vida da vítima. Ex: ajudar alguém a se suicidar para ficar com a herança.

Vítima:

Page 11: Dir 452 Penal III

- Absolutamente incapaz (menor de 14 anos ou doente mental): é homicídio (121).

- Capacidade de resistência reduzida (entre 14 e 18 anos; relativamente embriagada): causa de

aumento (inciso II do 122)

- Capacidade plena: apenas o 122.

1.1.3. Infanticídio: art. 123. Também é homicídio, mas o 121 é uma norma geral e o 123 é um homicídio

com peculiaridades.

Estado puerperal é chamado vulgarmente de “depressão pós-parto”, mas também pode ser algo

mais forte.

Homicídio privilegiado: é um privilégio, e não qualificadora, pois, diante das circunstâncias, aplica-

se uma pena menor por ser menos reprovável.

Este crime está previsto em tipo diferente do homicídio por razão de escolha do legislador, mas não

deixa de configurar homicídio.

a) Sujeito ativo

Crime próprio: só pode ser praticado por pessoa específica, que preencha as condições trazidas

pelo legislador.

Condições: somente a mãe pode ser autora, e ela deve estar no estado puerperal.

- Coautoria: ex: a mãe que quer matar o filho pede ajuda para a enfermeira, que consente.

Hipótese muito discutida, mas a doutrina majoritária entende que, sim, é possível coautoria no

infanticídio. Embora seja injusto, admite-se por questões técnicas: art. 30 (determina que

circunstâncias elementares se comunicam entre os autores).

b) Sujeito passivo: o filho da autora, durante o parto (nascente) ou logo após (recém-nascido).

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: matar.

- Omissão é possível que esse crime seja praticado por omissão, visto que a mãe é garantidora.

Estado puerperal: é IMPRESCINDÍVEL a influência do estado puerperal.

- Conceito: é o período de dequitação (descolamento e expulsão da placenta) até volta do

organismo materno ao normal. Esse período pode causar na mãe alterações muito graves, gerando

um abalo psicológico que, em algumas mulheres, gera uma revolta ou maldade que culmina na

morte do filho que acabou de nascer.

A duração desse estado varia, mas para a doutrina, são 8 semanas.

* Doença mental: esse abalo psicológico não constitui doença mental, pois é só um período, que

passa. Se a mãe for doente mental, ela será inimputável.

- Nexo causal: a morte do filho deve ocorrer por causa da influência do estado da mãe.

Tempo

Page 12: Dir 452 Penal III

- Durante parto ou logo após

* Início do parto: é o marco a partir do qual é possível o crime (podendo haver homicídio ou

infanticídio, dependendo de quem pratica).

Início do parto = contrações e rompimento da bolsa (normal) ou início do corte das camadas

abdominais (cesárea).

12/12/2012

d) Elementos subjetivos do tipo

Dolo: a conduta só é punida se houver dolo, que é o único elemento subjetivo exigido pelo autor. O

dolo deve ser o de matar o próprio filho.

Se não houver dolo, a mãe responderá por homicídio culposo (pois há previsão de culpa apenas

para o homicídio, e não para o infanticídio).

e) Consumação

Crime material: exige o resultado morte.

Mas admite-se também a tentativa de infanticídio.

1.1.4. Aborto

a) Conceito: é a eliminação da vida endouterina.

Espécies

- Autoaborto ou consentimento no aborto: art. 124.

- Aborto sem consentimento da gestante: art. 125.

- Aborto com consentimento da gestante: art. 126.

b) Sujeito ativo

Art. 124: crime próprio. O sujeito ativo é a própria gestante, que aborta sozinha ou consente que

outrem o faça por era.

Art. 125 e 126: crimes comuns. O sujeito ativo é uma outra pessoa que provoca o aborto na

gestante, com ou sem o seu consentimento (depende do tipo).

OBS: as penas são diferenciadas.

c) Sujeito passivo

Ovo, embrião ou feto: o nascituro. Ovo = 3 semanas; embrião = 3 semanas a 3 meses; feto = a

partir de 3 meses.

Mulher: art. 125. Nesta hipótese a mulher não consente com o aborto, também sendo, portanto,

vítima do crime de aborto. Assim, no art. 125, há dois sujeitos passivos (gestante e nascituro).

Estado: ? – há doutrinadores que defendem que o nascituro ainda não é pessoa, não podendo,

assim, ser vítima (sujeito passivo). Não havendo vítima determinada (exceto no art. 125), o sujeito

passivo seria o Estado.

Page 13: Dir 452 Penal III

d) Elemento objetivo do tipo

Objeto material: ovo, embrião ou feto.

Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual é praticada a conduta típica.

Final da gravidez: é a fronteira entre aborto e homicídio.

- Início do parto: contrações e rompimento da bolsa amniótica ou início dos cortes das camadas

abdominais. A partir do início do parto, portanto, fala-se em homicídio (ou infanticídio), e não mais

em aborto.

- Vida extrauterina: gravidez tubárica, ovárica (desenvolvida nas trompas ou nos ovários): a

doutrina majoritária entende que provocar aborto nessas condições não é crime, pois a gravidez

não é viável e nem há potencial de desenvolvimento do feto, além de ser de alto risco para a

gestante.

Provocação do aborto: art. 124 a 126. Provocar: fazer com que o aborto ocorra utilizando um meio

hábil para isso (não importa qual meio seja). Crime de ação livre.

e) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: o único elemento subjetivo exigido é o dolo, não havendo previsão de culpa.

f) Consumação

Crime material: exige o resultado morte do nascituro (em qualquer dos estágios da gravidez).

Admite-se também a tentativa de aborto, que seria no caso em que alguém (gestante ou terceiro)

provocou o aborto, mas não obteve sucesso.

Se um terceiro provoca aborto na gestante mas o nascituro só morre na incubadora, ainda

configura aborto, e não homicídio, pois deve-se analisar o momento da conduta, e não do

resultado (CP, art. 4º).

g) Art. 124: gestante provoca o aborto em si mesma ou consente que outrem o faça nela.

Crime próprio

- Concurso de agentes: é possível? Há duas correntes (bastante controversas).

* Agente – modos de participação:

Intervém no consentir: art. 124. O terceiro induz ou instiga (participação moral).

Concorre no fato de 3º provocador: art. 126. O terceiro auxilia (participação material).

* Correntes sobre a participação de terceiro:

a) Não importa qual o tipo de participação do terceiro, ele incorre no art. 126. Para essa corrente, a

segunda parte do 124 seria apenas para a gestante (quando ela pede para o médico para abortar,

por exemplo). Aí o médico que fizesse o aborto incorreria no 126.

b) Participação moral: incorre no 124, como partícipe. Participação material: incorre no 126, como

autor.

h) Art. 125

Page 14: Dir 452 Penal III

Ausência de consentimento: a gestante não autoriza a realização do aborto, e portanto, ela passa a

ser vítima também. -> conduta mais reprovável: pena maior.

- Presunção: p. único, art. 126. É possível a presunção de ausência de consentimento (menor de 14

anos; alienado ou doente mental; consentimento viciado, obtido mediante fraude, grave ameaça

ou violência).

i) Art. 126: quando a gestante consente, esse consentimento deve ser válido, não viciado.

j) Aborto qualificado pelo resultado: art. 127. Embora o legislador utilize a expressão “qualificado”, não há

qualificadoras pois não ocorrem novos limites para as penas. Há apenas causas de aumento.

Crime preterdoloso: é quando o resultado mais grave advém de culpa.

Resultados mais graves: o agente só quer o aborto, e não a lesão grave ou a morte da gestante. Se

esses resultados mais graves ocorrem, configura crime preterdoloso.

- Lesão grave (art. 129, §§1º e 2º)

- Morte da gestante

Aplicação

- Art. 125 e 126: aumenta a pena desses artigos quando ocorre o resultado mais grave (125:

aumenta 1/3; 126: duplica a pena).

- Art. 124: não se aplica o art. 127 a essa hipótese.

17/12/2012

l) Aborto legal: art. 128.

Natureza jurídica

Espécies: excluem a ilicitude.

l.1) Aborto necessário: é quando há risco de vida para a gestante.

Terapêutico: é outra nomenclatura para o aborto necessário.

Requisitos

- Risco de vida para a gestante. É uma hipótese em que a permanência da gravidez traz risco de

morte para a gestante.

- Inexistência de outro meio para salvar: o único meio para salvar a vida da gestante é o aborto.

Ocorre um conflito entre a vida do feto e a vida da gestante. O legislador autoriza o aborto,

considerando a vida da gestante como de maior valor.

- Consentimento: por se tratar do direito à vida, não há necessidade de consentimento da

gestante. Desde que seja detectado o risco de vida para a mãe, não importa que ela consinta, o

médico pode realizar o aborto mesmo assim.

- Realização por médico: se for outra pessoa a praticar o aborto, como uma parteira ou uma

enfermeira, o aborto necessário será punido? Seria possível a aplicar a analogia in bonam partem?

Os entendimentos doutrinários variam: há quem entenda que seria possível a analogia, mas há

Page 15: Dir 452 Penal III

também quem considere desnecessário esse mecanismo, pois poderia aplicar o art. 24 do CP, que

trata do estado de necessidade.

l.2) Aborto sentimental: é quando a gravidez resulta de um crime, o estupro. Entende-se que seria

inconcebível obrigar a mãe a manter uma gravidez que, além de não ter sido desejada, resultou de um

crime que gerou muito sofrimento e poderia continuar gerando após o nascimento do filho.

Requisitos

- Gravidez resultante de estupro: art. 213 (crime de estupro: qualquer ato libidinoso forçado

constitui estupro, e não mais apenas a conjunção carnal, como era antes).

* Art. 217-A: estupro de vulnerável. Não importa se a gravidez resultou de estupro violento (a

regra) ou de estupro de vulnerável (menor de 14 anos; problemas mentais; dificuldade de

resistência), o aborto sentimental será autorizado.

- Prévio consentimento: nessa espécie de aborto legal, o consentimento da gestante (ou de seu

representante) é necessário para que seja realizado o aborto.

- Autorização judicial: não é necessária autorização judicial para que o médico realize o aborto.

* Processo: ? – não precisa nem de processo investigando o estupro para que o aborto sentimental

seja feito.

* Código de Ética: elementos sérios: não se exige provas do estupro nem autorização do juiz, mas a

lei se refere a elementos sérios, que serão analisados no caso concreto.

* Erro: art. 20, §1º

l.3) Aborto eugenésico ou eugênico: ocorre nos casos em que não há chance de vida para o feto. A

hipótese mais frequente é quando o feto é anencefálico. Esse tipo de aborto não foi incluído no Código

Penal pois, na época da sua elaboração, não havia métodos para averiguar esse tipo de coisa antes do

parto.

Permitido: ?

- ADPF nº 54: fato atípico. Ausência de potencialidade de vida do feto, pois nesse caso, se fosse

mantida a gravidez, a vida preservada não vingaria após o parto.

Aborto social e honoris causa: aborto social é o aborto econômico, ou seja, praticado quando se

alega que a gestante não tem condições de criar a criança; aborto honoris causa é o praticado em

defesa da honra da gestante (gravidez extramatrimonial). Nessas hipóteses não se permite o

aborto.

1.2.Das lesões corporais: art. 129

a) Bem jurídico tutelado: integridade corporal ou saúde.

b) Sujeito ativo

Autolesão: a autolesão não é crime, em razão do princípio da lesividade. Não lesa terceiro.

Page 16: Dir 452 Penal III

c) Sujeito passivo

Outrem: qualquer pessoa pode ser sujeito passivo desse crime.

- Cadáver: art. 211 (outro crime)

Consentimento da vítima: quando a vítima consente que alguém a lesione. Até certo tempo atrás,

considerava-se que o consentimento da vítima era irrelevante, por se tratar de integridade

corporal, um bem indisponível. Mas hoje tem-se entendido que seria um bem relativamente

indisponível, e, por isso, dependendo da lesão, o consentimento poderia afastar a punição do fato.

- Relativamente indisponível

* Lesões leves e lesões culposas: o consentimento afasta a punição para lesões leves e, no caso das

lesões culposas, o consentimento é sobre a conduta.

d) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: ofender a integridade física ou a saúde de outrem.

- Integridade física ou saúde: esse tipo inclui meios físicos e até mesmo transmissão de doença.

Há entendimentos que a transmissão dolosa de AIDS configura homicídio (tentado ou consumado).

* Princípio da insignificância: deve sempre ser considerado no caso de lesões corporais, pois, para

ser crime, a integridade deve ter sido razoavelmente ofendida.

Meios de execução: violência física, violência moral (ameaça) ou transmissão de moléstia.

Omissão: só pode haver crime de lesão corporal por omissão quando praticado por garantidor. Ex:

mãe deixar o filho sem comer por um dia, ofendendo a sua saúde.

e) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: animus laedendi. Intenção de lesionar.

f) Consumação

Crime material: exige resultado naturalístico, ofensa real. Admite-se tentativa de lesão corporal.

Se uma pessoa atira uma pedra em outra, configura lesão ou tentativa de homicídio? Depende do dolo. Esse

tipo de caso exige análise do elemento subjetivo, dos meios de execução, do local das lesões (cabeça ou

perna, p. ex.) etc.

19/12/2012

g) Lesão corporal leve: caput. A lesão trazida pelo caput é considerada pela doutrina como lesão leve. A

determinação de se a lesão é leve é feita por exclusão, ou seja, ela será leve se não se encaixar nos

parágrafos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte. Ser leve é diferente de ser insignificante,

quando não é crime.

h) Lesão corporal grave: §1º

Art. 19: o agente só responderá pelo resultado mais grave se ele tiver agido com dolo ou culpa

(impedindo a responsabilização objetiva). Assim, se o resultado tiver sido causado por um acidente,

não haverá responsabilização.

Page 17: Dir 452 Penal III

Inciso I: quando resultar inabilitação para atividades habituais por mais de 30 dias. – exige-se que

haja um exame para averiguar a lesão e esse tempo de inabilitação.

Inciso II: quando resulta perigo de vida para a vítima, mesmo que por curto período. Esse perigo

deve resultar da lesão, e não necessariamente vir simultaneamente a ela.

- Perigo efetivo

- Exame: fundamentação. Exige-se uma fundamentação por peritos a respeito do perigo de vida, se

foi efetivo, se existiu realmente etc.

- Ausência de dolo: para que seja lesão grave, o agente não pode ter o dolo de provocar o risco de

morte, pois aí configuraria tentativa de homicídio, e não lesão.

Inciso III

- Redução capacidade funcional: quando resultar debilidade permanente de funções (órgãos,

locomoção, reprodução etc.). Reduz a capacidade, mas não resulta incapacidade total. Ex: lesão

que leva a vítima a ficar cega de um dos olhos.

- Próteses: mesmo que, futuramente, a redução de capacidade seja sanada por uso de próteses,

por melhores que sejam, a lesão continuará sendo grave.

Inciso IV: quando a lesão resulta em parto prematuro. Não há aborto, mas apenas aceleração do

parto.

Não há necessidade de exame que comprove a aceleração, pois ela se presume a partir do perigo

causado pela lesão. Só deve-se comprovar a lesão.

- Gravidez conhecida: o agente deve saber que a vítima estava grávida.

i) Lesão gravíssima: §2º. São hipóteses ainda mais graves que as de lesão grave, pois as penas são maiores.

As denominações “grave” e “gravíssima” são dadas pela doutrina para diferenciar as hipóteses do §1º e 2º.

Inciso I

- Duradoura: quando resulta incapacidade permanente para o trabalho. Não é necessária uma

previsão futura, bastando que, com o diagnóstico do momento, constate-se que a pessoa não pode

mais fazer o trabalho. Não importa se existir a possibilidade de, 10 anos depois, surgir uma

novidade medicinal que capacite a pessoa novamente, continuará sendo lesão gravíssima.

- Qualquer trabalho: a doutrina defendia que a incapacitação deveria ser para qualquer trabalho,

ou seja, que a pessoa não poderia mais fazer absolutamente nada. Hoje, tem-se entendido que a

incapacidade deve ser para trabalho na área da vítima. Ex: personal trainer que sofre lesão que o

incapacita de treinar, mas ele ainda pode dar aula em escola -> não se aplica a lesão gravíssima.

Inciso III: quando resulta perda ou inutilidade de órgão, sentido ou função do organismo. É

diferente da debilidade, que é a perda de capacidade parcial.

Inciso IV: quando resulta deformidade permanente para a vítima.

- Duradoura, visível e estética. “Requisitos” da deformidade.

Page 18: Dir 452 Penal III

* Irreparável naturalmente

Inciso V: quando resulta em aborto.

- Aborto preterintencional: o agente deveria conhecer a gravidez da vítima, mas o resultado aborto

deve ser culposo, pois, se fosse doloso, configuraria o crime autônomo de aborto.

j) Lesão corporal seguida de morte: §3º

“Homicídio preterdoloso”: há dolo em relação à lesão corporal, mas a morte decorre de culpa. As

circunstâncias devem evidenciar que o agente não queria o resultado morte.

No homicídio preterdoloso, há um dolo, mas de lesão. Já no homicídio culposo não há nenhum tipo

de dolo, e todo o resultado é culposo.

l) Redução de pena: §4º. Mesmas razoes do 121, §1º. É quando o crime é cometida por relevante valor

moral ou social, ou sob o domínio de violenta emoção ... .

m) Substituição de pena: §5º. Lesões leves: no caso do inciso I, o juiz pode escolher se diminui a pena ou se

a substitui por multa. No inciso II, pode substituir se as lesões forem recíprocas (a não ser que haja

excludente da ilicitude, como a legítima defesa).

n) Lesão culposa: §6º

Gravidade irrelevante: se a lesão for culposa, não importa se for leve, grave ou gravíssima, a pena

será a mesma. Se for lesão seguida de morte, na verdade será caracterizado como homicídio

culposo.

o) Aumento de pena: §7º. “Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos

§§4º e 6º do art. 121 deste Código.” – a hipótese das milícias.

p) Perdão judicial: §8º. Mesmo caso do homicídio, que é quando as consequências do crime já são sanção

suficiente para o agente. Só cabe em hipóteses de culpa.

q) Qualificadora: §9º. Lesão resultante de violência doméstica. Inclui até pessoas que o agente tenha

convivido mas não convive mais (ex-namorado). -> Qualifica lesões leves no âmbito doméstico.

r) Causa de aumento: §§10 e 11:

- §10: para lesões graves, gravíssimas ou seguidas de morte, no âmbito da violência doméstica, continuam

incidindo os parágrafos 1º, 2º e 3º, mas com causa de aumento.

- §11: causa de aumento para crime contra deficiente.

A lesão leve praticada com violência doméstica incorre no parágrafo 9º. Se a lesão for grave ou gravíssima

continuarão incidindo os parágrafos 1º, 2º e 3º, não havendo pois a qualificadora, mas sim causa de

aumento do § 10º.

14/01/2013

1.3. Da periclitação da vida e da saúde

- Perigo individual, não é necessário dano.

Page 19: Dir 452 Penal III

* Perigo abstrato: há a presunção de perigo e tal é bastante para que a periculosidade se concretize.

* Perigo concreto: a consumação só ocorre se a conduta perigosa de fato tiver causado perigo à vítima.

Muitos autores criticam a previsão do crime de perigo abstrato em nossa legislação, alegando que violaria o

princípio da lesividade.

Todas as condutas trazidas no Capítulo III do CP são subsidiárias, ou seja, se ultrapassar o perigo, havendo

dano, outro tipo penal será aplicado.

1.3.1. Perigo de contágio venéreo: art. 130

- Exposição de motivos, 44. Denota a preocupação do legislador em preservar tal bem jurídico na época.

a) Sujeitos

Ativo: qualquer pessoa que esteja contaminada por doença venérea.

Passivo: qualquer pessoa.

No caso de ambos as pessoas que praticam o ato sexual terem a doença, configura crime impossível.

b) Elementos objetivos do tipo

Núcleo: “expor” (o núcleo já denota que se está diante de um crime de perigo).

Objeto de conduta

- Contágio de doença venérea: doença venérea é aquela transmissível pelo ato sexual. *AIDS: não

é doença venérea

→Norma penal em branco: existe uma portaria da ANVISA que arrola as doenças venéreas.

Forma de execução: as formas de execução do crime estão elencadas pelo legislador:

- Atos sexuais ou atos libidinosos (que possuem o intuito de satisfação da lascívia).

c) Elementos subjetivos do tipo

Dolo: deve incidir sobre o perigo e não sobre dano. Ou seja, o agente deve ter o dolo de expor ao

perigo, mas não de causar dano, pois aí configuraria outro crime.

“De que sabe ou devia saber”: a expressão devia saber, para a maioria da doutrina não deve ser

indicativo de culpa, pois esses crimes exigem previsão expressa. Muitos doutrinadores entendem

que tal expressão é, na verdade, relacionada à contaminação da doença, ou seja, indicam que só

haverá punibilidade havendo a conduta.

Dolo de dano: não deve haver dolo de dano, mas sim de perigo; se houver dolo de contaminação

surgirá a figura expressa no § 1º.

d) Consumação

Perigo concreto: independe da consumação.

- Crime formal

e) Espécie qualificada: CP, 130, § 1º.

Elemento subjetivo do injusto: é a finalidade especial do agente, qual seja o dolo de dano.

Page 20: Dir 452 Penal III

- Resultado: pode ocorrer lesão corporal de natureza grave (art. 129, §§ 1º e 2º).

A doutrina expõe que só haverá a transferência do crime previsto no art. 130 do CP para o crime de

dano se a lesão for grave ou gravíssima. No caso de lesão leve, deve-se aplicar o § 1º do art. 130.

Ex: no caso de morte da vítima em função da transmissão da doença venérea feita por dolo,

encaixando-se no § 1º (intenção de transmitir doença), haverá a consumação de homicídio doloso.

f) Ação penal: prevista no § 2º, art. 130 do Código Penal -> ação penal pública condicionada à

representação da vítima (ação promovida pelo MP).

g) Outra moléstia: art. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está

contaminado, ato capaz de produzir o contágio.

h) Outras formas de perigo: art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente. É tipo

penal subsidiário pouco aplicado.

1.3.2. Abandono de incapaz: art. 133.

a) Sujeito ativo

Crime próprio: deve haver relação de dependência (cuidado, guarda, vigilância ou autoridade)

entre sujeito passivo e ativo. O ativo deve cuidar do passivo.

b) Sujeito passivo

Incapaz: o legislador não se refere aqui somente à incapacidade civil. Uma pessoa plenamente

capaz que está, p. ex., doente, se enquadraria.

c) Elementos objetivos do tipo

Núcleo: abandonar.

- Formas de realização: qualquer conduta que implique em abandono, desde que resulte em

perigo.

Perigo concreto: o abandono deve de fato colocar a vítima em perigo.

Duração: o legislador não estipula a duração, o tempo que a pessoa fica abandonada. A doutrina

estipula que o abandono deve durar um tempo razoável para que haja perigo para as vítimas.

d) Elementos subjetivos do tipo: dolo; consciência de que o abandono pode resultar dano.

e) Consumação: é crime de perigo concreto, e por isso a consumação está condicionada à existência de

perigo.

f) Forma qualificada: art. 133, § 1º e § 2º. Ambas configuram crimes preterdolosos.

g) Causa de aumento: art. 133, § 3º. Hipóteses: 1) se o local do abandono aumentar a possibilidade de

dano; 2) maior reprovabilidade da conduta (quem abandonar for parente); e 3) idade superior a 60 anos.

16/01/2013

1.3.3. Exposição ou abandono de recém-nascido: art. 134.

Page 21: Dir 452 Penal III

Privilégio: é um tipo privilegiado com relação ao 133, pois traz elementos que especializam a

conduta do agente, fazendo com que ela se torne menos reprovável que a conduta do 133. Traz,

portando, uma pena menor. Embora as condutas sejam parecidas, o que as diferencia é o sujeito

ativo, o motivo do crime (ocultar desonra própria), e a vítima ser recém-nascido.

a) Sujeito ativo: crime próprio. O sujeito ativo é aquela pessoa motivada pelo desejo de ocultar a desonra.

Há uma grande divergência doutrinária: parte defende que apenas a mãe pode ser sujeito ativo, e outra

parte defende que pode ser a mãe ou o pai/marido/companheiro.

b) Sujeito passivo: somente o recém-nascido pode ser vítima deste crime.

Recém-nascido: conceito não é claro. Há doutrinadores que dizem que recém-nascido é aquele

com até 5 dias, 7 dias, 30 dias, ou enquanto o nascimento puder ser oculto, ou até que cicatrize o

cordão umbilical.

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: expor e abandonar. A doutrina entende que o legislador foi redundante, pois ao ser

abandonada, a vítima já está exposta ao perigo.

Perigo concreto: deve ser um perigo real, que gere risco para a vida da vítima. Ex: a mãe pode

abandonar o filho numa situação que ela julga ser perigosa, mas não é -> não configura o crime.

d) Elemento subjetivo do tipo: tem que haver dolo de perigo. Se houver dolo de dano, configurará outro

crime.

Elemento subjetivo do injusto: “ocultar desonra própria”. Se não houver este elemento subjetivo

específico, será o crime de art. 133.

- Desonra sexual: a doutrina majoritária entende que a “desonra própria” referida no tipo deve ser

sexual.

Se uma prostituta engravidar e abandonar o filho recém-nascido, não poderá configurar este crime,

pois o tipo exige “ocultar desonra sexual”, e a doutrina entende que a prostituta não possui honra

sexual.

* Gravidez e nascimento sigilosos: é necessário esse sigilo ou ao menos que pouquíssimas pessoas

tenham conhecimento, porque se muitas pessoas já souberem, não haverá desonra a ser oculta.

e) Consumação: o crime é consumado com a ocorrência do perigo concreto.

f) Formas qualificadoras pelo resultado: §§1º e 2º. Tais resultados devem ser obtidos por culpa (crimes

preterdolosos). As hipóteses são de se resulta lesão grave ou (ver artigo).

1.3.4. Omissão de socorro: art. 135. É crime omissivo próprio.

Crime omissivo próprio é aquele cujo tipo descreve uma omissão que viola uma norma mandamental, e

pode ser praticado por qualquer pessoa. Crime omissivo impróprio (ou crime comissivo por omissão) é

Page 22: Dir 452 Penal III

aquele que só pode ser praticado por garantidor, quando este comete um crime deixando de praticar

determinada ação (ex: deixar de alimentar o filho).

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Garantidores: têm um dever maior. Têm dever de agir praticando uma ação.

Causador da lesão: o sujeito ativo não pode ser o causador da lesão. O causador da lesão por culpa

tem sua pena aumentada se deixa de prestar socorro à vítima (CP, 129, §7º - majorante).

b) Sujeito passivo: estão arrolados no artigo: criança abandonada ou extraviada; pessoa inválida ou ferida;

(pessoas) ao desamparo ou em grave e iminente perigo.

Desamparo ou grave e iminente perigo: embora haja divergência na doutrina, a maioria entende

que esta parte do tipo é uma terceira categoria do rol de sujeitos passivos (e não um aposto das

primeiras categorias, como a minoria entende).

- Não inválida nem ferida: não há necessidade invalidez nem ferimento.

Recusa da vítima: se a vítima se recusa a ser ajudada, isso não afasta o crime, pois se trata de

direito indisponível (questão divergente).

c) Elemento objetivo do tipo

Crime omissivo próprio

- 1ª forma de realização: é quando a pessoa pode prestar o socorro imediato, e não o presta.

* Possibilidade de agir: poder prestar o socorro sem risco próprio.

* Socorro imediato

- 2ª forma de realização: se não há como prestar o socorro imediato, também não pedir ajuda a

autoridade pública (polícia e bombeiros).

* Alternativa: NÃO se trata de alternativa. A obrigação é a própria pessoa prestar o socorro, visto

que assim ele será imediato.

* Autoridade pública: somente se a pessoa não puder agir imediatamente sem risco pessoal,

caberá a comunicação das autoridades.

Crime de perigo

- Vítima em:

* Desamparo: abstrato. Não há necessidade de provar que, em situação de desamparo, houve

exposição ao perigo, pois presume-se que esta já é uma situação de perigo.

* Grave perigo: concreto. Porém, na situação de grave perigo, exige-se que se prove essa situação;

demonstração real.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo

- Consciência do perigo

e) Consumação

Page 23: Dir 452 Penal III

Crime instantâneo: o crime se consuma em um único momento, não havendo possibilidade de

fracionamento da conduta do agente. Não comporta tentativa.

f) Causa de aumento: p. único. Crimes preterdolosos -> Se resultar em lesão grave, a pena é dobrada; se

resultar em morte, a pena é triplicada. (resultantes de culpa)

Se tais resultados mais graves forem dolosos, ainda assim será aplicado este dispositivo, pois, como a lesão

e o homicídio se tratam de crimes comissivos, não são passíveis de serem praticados por omissão por

qualquer pessoa.

Atuação: evitaria resultado.

g) Casos especiais

Art. 97, Lei nº 10741/03. Previsão especial para o caso de pessoas idosas.

Art. 135-A, Lei 12653/12: proíbe a exigência de quaisquer garantias de pagamento em casos de

emergência hospitalar.

21/01/2013

1.3.5. Maus-tratos: art. 136.

a) Sujeito ativo

Crime próprio: é preciso haver relação de dependência entre o agente e vítima.

- Ensino, educação, tratamento ou custódia

b) Sujeito passivo: alguém que possui relação de dependência com o sujeito ativo.

Relação de dependência: crime bipróprio. Se não houver dependência, não haverá crime de maus

tratos.

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: expor. Colocar em perigo.

Formas de realização:

- Privar de alimentação (necessária a repetição dessa conduta).

- Privar de cuidados indispensáveis (higiene, remédios).

- Sujeitar a trabalho excessivo ou inadequado (qualidade do serviço é inadequado; a duração deve

ser ampla).

- Abusar dos meios de correção ou disciplina.

d) Elemento subjetivo do tipo: dolo – é necessário em relação a uma das condutas descritas.

Elemento subjetivo do injusto

- Animus corrigendi ou disciplinandi: vontade de corrigir ou disciplinar.

e) Consumação

Perigo concreto: perigo real.

Page 24: Dir 452 Penal III

f) Formas qualificadoras: §§ 1º e 2º. Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (§1º) ou se resulta

a morte (§2º).

g) Causa de aumento: §3º. Aumenta a pena se o crime for praticado contra menor de 14 anos.

Art. 99, lei 1043/03 (Estatuto do idoso): se houver maus tratos contra pessoa idosa, incorre-se em

crime específico.

Art. 1º, lei 9455/97 (Lei de Tortura): o inciso I trata da diferenciação do crime de maus tratos para

o de tortura, qual seja a finalidade de cada um. No crime de maus tratos a intenção do agente é

corrigir ou disciplinar, já no crime de tortura a intenção é impor sofrimento.

1.4.Da rixa: art. 137

a) Bem jurídico tutelado: incolumidade (saúde física) das pessoas e, principalmente, proteção da

generalidade, pois a rixa vai além das lesões corporais (art. 129) dos envolvidos, consistindo em ofensa à

paz pública. Gera uma confusão que impede a identificação precisa dos autores.

Briga de torcida não é considerada crime de rixa, pois são grupos bem organizados.

b) Sujeito ativo: crime comum – pode ser praticado por qualquer pessoa.

Crime plurissubjetivo: no tipo, consta “participar de rixa”, mas há um número mínimo de

participantes para configurar o crime?

- Número: considera-se que deve ter pelo menos 3 participantes para que se configure a rixa.

* Impunes: se um dos participantes for menor de idade, não descaracterizará o crime.

* Não identificados: participante não identificado também não descaracteriza.

* Separadores: aquele que entrar na briga para separar, apartá-la, não será considerado agente do

crime.

c) Sujeito passivo: os próprios rixentos são o sujeito passivo deste crime. As pessoas que participam da rixa

são, ao mesmo tempo, autores e vítimas.

d) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: participar. Essa conduta alcança uma série de atos, que podem ser socos, chutes, utilizar

instrumentos para bater etc. É necessário contato físico? Não, pois é possível ser coautor na rixa

tacando uma pedra, p. ex.

É possível ser partícipe na rixa, com induzimento ou instigação.

- Qualquer momento: a pessoa será agente deste crime independentemente do momento em que

ela entrar na briga.

Confusão

- Não identificação: por se tratar de uma confusão, é muito difícil identificar quem praticou cada

ato, quem realmente participou etc.

Perigo presumido

Page 25: Dir 452 Penal III

e) Elemento subjetivo do tipo

Animus rixandi: é a vontade de participar da rixa.

Não é possível a culpa neste crime.

e) Consumação

Crime instantâneo: a conduta é difícil fracionamento, portanto, basta uma participação pequena

na rixa para configurar o crime.

f) Formas qualificadas: p. único (aumentam a pena)

Resultado: quando resulta em lesão grave ou morte (basta a participação na rixa). Aplica-se pena

mais grave para TODOS os participantes da rixa.

Vítima do resultado mais grave: também será responsabilizada pela rixa qualificada.

Autor identificado

- Autor: rixa qualificada. O autor do golpe que culminou no resultado mais grave será

responsabilizado pela rixa (qualificada¹) + resultado mais grave (lesão grave ou morte).

¹ Divergência doutrinária, mas a maioria entende que o autor responderá pela forma qualificada.

- Demais: para a maioria da doutrina, os outros autores (que não provocaram o resultado mais

grave) também responderão pela rixa qualificada.

Retirada antes do resultado mais grave: se a pessoa estava participando da rixa, se retire, e logo

depois ocorre morte de um dos agentes, ainda assim ela será responsabilizada pelo resultado mais

grave.

- Entrada posterior: se a pessoa entra na rixa após a ocorrência do resultado mais grave, ela não

será responsabilizada com rixa qualificada, pois não contribuiu em nada para este resultado.

Page 26: Dir 452 Penal III

23/01/2013

1.5.Dos crimes contra a honra

Bem jurídico tutelado: honra (CF, 5º).

Page 27: Dir 452 Penal III

- Honra:

* Objetiva: juízo público. Opinião que a sociedade tem acerca da pessoa.

* Subjetiva: autoestima. É o juízo que a própria pessoa faz de si mesma.

- Crimes: calúnia, difamação e injúria. A calúnia e a difamação atingem a honra objetiva, e a injúria

atinge a honra subjetiva.

1.5.1. Calúnia: art. 138. Imputar falsamente a uma pessoa fato definido como crime.

a) Sujeito ativo: crime comum. Qualquer pessoa pode praticar.

Lei nº 5250/67: STF. Há alguns anos atrás o STF determinou que esta lei não foi recepcionada pela

CF. Para essa lei, o crime de calúnia cometido pela imprensa caracterizava outro crime, específico.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa.

Pessoa jurídica: a lei 9605/98 determina que as pessoas jurídicas só podem ser autoras de um tipo

de crime, o ambiental. Dessa forma, elas só podem ser vítimas do crime de calúnia se o fato

falsamente imputado for de crime ambiental.

- CP, 173, §5º; e CF, 225, §3º.

Inimputáveis: podem ser vítima de calúnia, pois o tipo fala em “fato definido como crime”.

Inimputáveis não praticam crime, mas podem praticar fato que teoricamente é punível.

Infames: pessoas que já têm a honra violada em razão de fatos anteriores (ex: pessoa que já

cometeu crime anteriormente). Podem ser vítima de calúnia, pois todo mundo possui honra.

Consentimento do ofendido: excludente de ilicitude (supralegal).

Requisitos para ser excludente da ilicitude: bem jurídico disponível; proferido por pessoa

plenamente capaz; ser anterior ao fato.

Mortos: §2º. É punível a calúnia contra os mortos. Nessa hipótese, o sujeito passivo é a família do

falecido (que teoricamente também terá sua honra atingida).

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: caluniar.

Elementos da calúnia:

- Imputação do fato determinado. Ex: fulano matou beltrano – mas isso é falso. Falar que Fulano

cometeu vários homicídios não é caluniar. Para caracterizar calúnia, deve-se ser mais preciso a

respeito do fato criminoso imputado, não basta falar só “Fulano cometeu um homicídio”.

- Fato criminoso: o fato determinado imputado deve ser definido como crime.

- Falsidade: a imputação do fato deve ser falsa.

Presença do ofendido: não é necessário que a vítima esteja presente para que haja calúnia.

Formas de realização: forma livre. Pode ser realizada de várias formas. Ex: falar, divulgar panfletos,

publicar num jornal etc.

Page 28: Dir 452 Penal III

Fato: determinado

- Contravenção: se o fato imputado for uma contravenção penal, não haverá calúnia.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: só pode ser praticado com dolo. Não é possível calúnia culposa.

Ver CP, 339: denunciação caluniosa (é um crime contra a AP).

Elemento subjetivo do injusto

- Animus injuricandi: intenção de ofender a honra.

* Animus: jocandi (brincar), consulendi (aconselhar), narrandi (narrar), defendendi (defender a si

próprio) – afastam a tipicidade (?).

Acirrada discussão: quando a pessoa ofende a honra de outrem em meio a acirrada discussão,

alguns julgados entendem que não houve calúnia. Questão controversa.

Erro de tipo: se eu, achando que era verdade, imputo fato a determinada pessoa, ocorre erro sobre

elemento essencial do tipo e não há responsabilização por calúnia.

O erro de tipo afasta o dolo – o agente achava que não estava imputando fato falso.

Dúvidas: se a pessoa imputa fato a outra, mas está em dúvida se esse fato é verdade ou não,

configura dolo eventual.

e) Consumação

Crime formal: é aquele em que há previsão de resultado naturalístico, mas ele não precisa

acontecer. Assim, para que haja calúnia, a vítima não precisa se sentir desonrada, bastando que

terceira pessoa tome conhecimento do fato.

f) Condutas incriminadas: §1º. Pune também (com a mesma pena) outras pessoas que “espalham a

notícia”, sabendo falsa a imputação, depois de uma primeira já ter realizado a calúnia.

Dolo direto: exigindo que as outras pessoas também saibam que é falsa a imputação, o tipo aponta

que deve haver dolo direto.

28/01/2013

g) Exceção da verdade: §3º

Prova da verdade: é uma oportunidade processual em que o autor da calúnia pode tentar provar a

veracidade do que ele disse. Assim, deixa de haver calúnia.

Não cabimento: há 3 casos em que não se admite a exceção da verdade.

- Hipóteses:

I- Quando for ação penal privada e a vítima da calúnia não tiver sido condenada: se nem a vítima

quis ajuizar a ação contra o autor, o legislador não permite que outra pessoa o faça.

II- Se o fato imputado for em face do Presidente da República ou de Chefe de Governo ou de

Estado estrangeiro (ainda que o fato seja verdadeiro). Isso ocorre em razão da função que tais

pessoas exercem.

Page 29: Dir 452 Penal III

III- Quando, mesmo sendo ação pública, a vítima da calúnia foi absolvida da imputação por

sentença irrecorrível: é evidente, pois se houve absolvição é porque o fato é falso.

1.5.2. Da difamação: art. 139. É imputar falsamente a alguém fato que ofende sua reputação.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa – “alguém”.

Pessoa jurídica: pode ser vítima de difamação, pois aqui a ofensa é à honra objetiva, que a pessoa

jurídica também possui. Nesse caso, o “alguém” tem sentido mais amplo e inclui a pessoa jurídica.

Mortos: não se pune a difamação contra os mortos em razão da ausência de previsão legal. (na

calúnia existe previsão)

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: difamar.

Fato: deve-se imputar fato.

- Desonroso e concreto: o que se imputa falsamente é um fato, que deve ser desonroso e concreto.

Ex: Fulano é um vagabundo -> não é um fato, mas um adjetivo, portanto não configura difamação.

- Contravenção: imputar a alguém a prática de contravenção configura difamação, mesmo que o

fato imputado seja verdadeiro.

- Falso: falsidade do fato imputado é irrelevante, pois a reputação da pessoa será atingida de

qualquer jeito.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: é necessário o dolo. Não existe difamação culposa.

Elemento subjetivo do injusto

- Animus diffamandi: vontade de difamar.

e) Consumação: o crime se consuma quando terceira pessoa toma conhecimento da imputação.

f) Exceção da verdade: só é admitida em uma hipótese.

Cabimento: p. único. Quando o ofendido é funcionário público e o fato imputado é relativo ao

exercício de suas funções. Motivo: há um interesse público em apurar se o fato imputado é

verdadeiro ou não.

1.5.3. Da injúria: art. 140. Trata-se de ofender a dignidade ou o decoro de uma pessoa, atingido a sua

honra subjetiva.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa, com ressalvas:

Sem consciência: só podem ser vítimas de injúria aquelas pessoas (físicas) que podem ter

consciência da imputação feita, ou seja, que entendem que estão sendo ofendidas. P. ex., uma

Page 30: Dir 452 Penal III

pessoa que tem doença mental que afasta totalmente a sua capacidade, não pode ser vítima de

injúria.

Pessoa jurídica e mortos: não é punível a injúria contra PJ e contra mortos porque eles não têm

consciência.

c) Elemento subjetivo do tipo

Núcleo: injuriar. Injuriar é ofender a dignidade ou o decoro da pessoa.

- Atributos morais: dignidade.

- Físicos, intelectuais e sociais: decoro.

Menosprezo: a imputação revela um menosprezo do autor para com a vítima.

- Fatos não determinados: aqui imputam-se fatos não determinados, ou nem imputa fato algum,

mas sim adjetivos.

Meios de execução: admitem-se diversos meios de execução.

Presença da vítima: não é necessária para a prática do crime.

Exceção de verdade: não se admite a exceção da verdade (mesmo que o fato imputado seja

verdadeiro).

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: deve haver a intenção.

Elemento subjetivo do injusto: animus injuriandi.

e) Consumação: ocorre quando a vítima toma conhecimento da ofensa (pois atinge a honra subjetiva). Não

há necessidade de terceiro também ter conhecimento do fato.

Crime formal: a consumação está condicionada ao conhecimento da vítima.

f) Perdão judicial: §1º. É causa de extinção da punibilidade (que exige previsão expressa, como ocorre

nesse tipo). Ocorre nas seguintes hipótese:

I- Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria. – quando o autor da injúria a

cometeu após ter sido provocado.

II- No caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. – quando a pessoa injuria alguém que a

injuriou anteriormente.

g) Injúria real: §2º. É aquela injúria eu utiliza como meio de execução a violência física contra a vítima, ou

vias de fato (agressão que não configura lesão de fato). Ex: ofender uma pessoa dando um tapa na cara

dela.

Pena

- Violência: concurso de crimes. Cumula-se a violência (lesão corporal) e a injúria real.

- Vias de fato: absorção pela injúria. Entende-se que a contravenção vias de fato é pequena e pode

ser absorvida pela injúria.

Page 31: Dir 452 Penal III

h) Injúria por preconceito: §3º. Qualificadora. É ofender alguém com preconceito. O legislador não

especifica nenhuma conduta, é mais geral (não se encaixa em nenhum dos artigos da lei especial que

tipifica o racismo).

Lei do crime racial (7716/89): o crime de racismo é mais grave que a injúria por preconceito. É

equiparado a crime hediondo.

06/02/2013

1.5.4. Disposições comuns

a) Causas de aumento: art. 141. Majora a pena. Hipóteses em que fica evidente a preocupação do

legislador com os crimes praticados contra o presidente da república ou chefe de governo e contra a

administração pública (na pessoa do servidor e relacionado ao desempenho da sua função, embora atinja a

imagem do Estado). Ainda, quando há muitas pessoas presentes (doutrina: mínimo 3 pessoas, além do

autor e da vítima, e sem incluir incapazes de entender a ofensa) ou por meio que facilite a divulgação da

ofensa (imprensa, internet etc.). Também majora quando for praticado contra maior de 60 anos ou

portador de deficiente (exceto se for injúria, porque injúria nessas hipóteses é tipo qualificado – CP, 140,

§3º).

Parágrafo único: recompensa. Dobra a pena se a calúnia, a difamação ou a injúria for praticada de

forma mercenária.

b) Exclusão do crime: art. 142. Hipóteses em que a injúria e a difamação não são puníveis. Não alcança a

calúnia.

Ausência de animus injuriandi ou diffamandi: duas correntes: 1) exclui a tipicidade (o elemento

subjetivo do injusto); 2) exclui a ilicitude (porque estaria no exercício regular de um direito).

Imunidade judiciária: exclui o crime.

- Crimes: calúnia não abrangida pela exclusão do crime.

- Alcance: beneficiados serão as partes e os procuradores (dentro do processo penal). Ex de

procurador: advogado constituído; defensor público; ou dativo.

* Juiz: por não ser parte, o juiz não se beneficia dessa imunidade.

* MP: pode se beneficiar pela imunidade judiciária? Sim, quando ele for parte (ação penal

pública).

* Alvo das ofensas:

Terceiros: qualquer presente. As ofensas podem atingir qualquer pessoa (parte, procurador,

terceiros) e ainda assim serão abrangidas pelo tipo.

Juiz: ofensas contra o juiz não são abrangidas pela imunidade, porque o juiz está representando o

Estado. Mas autores mais modernos têm entendido que devem ser abrangidas sim, pois não veem

razão lógica para não o serem.

Page 32: Dir 452 Penal III

- Forma: a imunidade abrange tanto as ofensas orais quanto as escritas.

* Em juízo: mas a ofensa tem que ser durante os atos processuais para que seja abrangida.

* Na discussão da causa: e a ofensa tem que ser relacionada à discussão da causa.

Com isso, verifica-se que, assim como as imunidades parlamentares, as judiciais também possuem

limites.

- Advogado: CF, 133 e Lei 8906/94, art. 7º, §2º. Ao advogado, especificamente, essa lei prevalece

sobre a disposição do CP, pois é posterior e específica, e muito mais ampla que a do código. – o

advogado é inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão e nos limites da lei.

* Discussão extracausa

* Em juízo ou não

* Alvo: juiz.

Excessos cometidos por advogados ficam sujeitos a questões disciplinadas pela OAB.

Opinião desfavorável: opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando

inequívoca a intenção de injuriar ou difamar, não é crime.

- Liberdade de crítica: não constitui crime quando é simples expressão de opinião.

- Elemento subjetivo: só constitui crime se for evidente a intenção, o animus.

Conceitos desfavoráveis: o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação

ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício, não é crime. – estrito cumprimento

do dever legal.

Publicidade: p. único. Nos casos das condutas praticadas sob imunidade judiciária e no caso do

funcionário público, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.

c) Retratação: art. 143. Retratar é retirar o que se disse, “voltar atrás”. O fato não deixa de ser típico, nem

ilícito, nem culpável, ou seja, ainda é crime, mas não será punido devido à retratação.

Natureza jurídica: é causa de extinção de punibilidade do art. 107 do CP.

Ocorrência

- Injúria: não cabe retratação de crime de injúria, pois atinge a hora subjetiva.

- Ação privada: a maioria da doutrina condiciona a possibilidade de retratação para quando a ação

for pública (?).

Realização: deve ser feita pelo querelado, o autor do crime, o réu. (ou procurador com poderes

especiais)

- Comunicação: a retratação de um NÃO se comunica aos demais agentes. Quem não

se retratou será punido, pois essa é uma questão pessoal.

- Completa: a retratação deve ser completa, cabal.

- Momento: deve ocorrer até a sentença.

- Forma: a forma da retratação é livre.

Page 33: Dir 452 Penal III

- Aceitação do ofendido: não é necessário que a vítima aceite a retratação para que haja a extinção

da punibilidade.

07/02/2013

d) Pedido de explicações: art. 144.

Ofensas duvidosas: o pedido de explicações cabe para toda vez que houver alguma dúvida a

respeito da ofensa, ou seja, quando forem dúbias, obscuras. Ou seja, caberá toda vez que houver

algo a ser explicado.

A parte ofendida que deve provocar, pedindo a explicação.

Embora o artigo faça parecer assim, se o esclarecimento não for satisfatório, isso não significa que,

obrigatoriamente, haverá condenação.

A explicação deve preceder a ação.

e) Ação penal: art. 145. A regra é que seja ação penal privada (queixa), pois assim o legislador explicitou.

Mas há exceções:

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no

caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.

 Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I

do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo

artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.

Ou seja, haverá todos os tipos de ações.

1.6. Dos crimes contra a liberdade individual

1.6.1. Constrangimento ilegal: art. 146.

CF, 5º, II: ninguém pode ser obrigado a fazer nada senão em virtude de lei.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Mas se for funcionário público, poderá configurar outro crime, dentro de

outro rol, que abrange crimes contra funcionário público.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa.

Capacidade de querer: alguns autores entendem que essa qualquer pessoa deve ter “capacidade

de quer”, discernimento a respeito do que ela estiver sendo cosntrangida.

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: constranger. Compelir, forçar.

Fazer ou deixar de fazer: o constrangimento visa forçar uma pessoa a fazer ou deixar alguma coisa

(qualquer coisa).

Meios de execução: violência, grave ameaça (violência moral), ou reduzir por algum meio a

capacidade de resistência da vítima.

Page 34: Dir 452 Penal III

Resultado pretendido lícito: art. 345. Exercício arbitrário das próprias razões – é fazer justiça pelas

próprias mãos. Havendo os requisitos, esse crime prevalece sobre o de constrangimento ilegal.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: exige-se que o agente queira constranger a vítima. Não existe a modalidade culposa.

Elemento subjetivo do injusto: obter ação ou omissão da vítima. É a vontade do autor de obter

certa ação ou omissão da vítima.

e) Consumação

Crime material: consuma-se com a ocorrência do resultado naturalístico, que seria a prática da

ação ou da omissão pela vítima. Se eu tentar mas a vítima resistir e não praticar ação, haverá

constrangimento ilegal tentado.

f) Causa de aumento: §1º. As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do

crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas (qualquer arma, desde que seja de fato

utilizada, mesmo que só pra ameaçar).

* Se for utilizada arma de brinquedo, não será causa de aumento.

g) Concurso: §2º. Ex: se o autor utilizar violência para constranger a vítima e acabar lesionando a vítima, ele

responderá pelos dois crimes, em concurso. Esse parágrafo abrange apenas a violência física, devido à letra

da lei.

h) Exclusão do crime: §3º. Hipóteses:

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se

justificada por iminente perigo de vida;

II - a coação exercida para impedir suicídio.

18/02/2013

1.6.2. Ameaça: art. 147. Ofende a liberdade de maneira diferente do tipo anterior, mas sim no sentido de

tranquilidade psíquica da pessoa, que deve ser mantida em sua integralidade.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum.

Lei nº 4898/65: se o sujeito ativo for funcionário público, e o cometer no exercício de suas funções,

poderá caracterizar o crime de abuso de autoridade.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa que possa ser intimidada, ameaçada pelo autor. Sendo assim, não

podem ser sujeito passivo as pessoas que não possuam capacidade entendimento (loucos, incapazes

absolutos).

Entendimento: capacidade de entendimento da ameaça.

Determinada: o sujeito passivo deve ser determinado. Se o autor ameaçar uma coletividade, não

haverá esse crime.

c) Elemento objetivo do tipo

Page 35: Dir 452 Penal III

Núcleo: ameaçar. Significa intimidar, fazer medo na vítima.

Forma de execução: palavras, por escrito, por gesto ou meios simbólicos (ex: pichar uma porta com

um símbolo de organização criminosa).

Mal: a ameaça deve ser um mal, e esse mal deve ser grave e injusto (não tutelado pelo direito). A

doutrina sustenta que o mal deve ser, também, iminente, ou seja, não pode já ter acontecido, nem

estar acontecendo (pois seria aquele o crime), nem estar em um futuro remoto.

Presença da vítima: não é necessário que a vítima esteja presente para a ocorrência do crime, pois

este pode ser praticado por e-mail, por exemplo.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: intenção de prometer aquele mal.

Elemento subjetivo do injusto

- Intenção de intimidar: a finalidade de prometer o mal é aterrorizar, amedrontar a vítima.

Embriaguez e ira do autor: a maioria da doutrina e jurisprudência sustenta que não afasta o dolo.

Mas há quem sustente que afasta sim, dependendo da situação.

e) Consumação

Crime formal: exige resultado naturalístico, ou seja, tem que haver a ameaça, capaz de deixar a

vítima num estado de intranquilidade. Mas esse estado ocorrer ou não é irrelevante para

caracterizar o crime: basta que haja a ameaça capaz de intimidar ocorra.

- Conhecimento da ameaça: para que a ameaça seja capaz de causar intranquilidade, é necessário

que a vítima conheça a ameaça. Portanto, o crime se consuma com o conhecimento da vítima.

É possível a tentativa, embora seja muito raro. Ex: fazer ameaça por meio de carta, e a carta se

extraviar, indo para outra pessoa.

f) Ação penal: p. único. Ação penal pública condicionada à representação da vítima. O promotor só pode

fazer a denúncia se a vítima concordar.

1.6.3. Sequestro e cárcere privado: art. 148. É frequentemente confundido com o tipo do art. 159, que é o

que vemos sempre na mídia e que constitui crime contra o patrimônio. No tipo do 148, a única finalidade

do crime é privar a liberdade de ir e vir de uma pessoa.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa, independentemente da capacidade.

c) Elemento objetivo do tipo

Diferença entre sequestro e cárcere privado: a doutrina tem entendido que no cárcere a vítima é

mantida presa no lugar em que ela já estava. Já no sequestro, a vítima seria deslocada para outro

lugar, e lá teria sua liberdade privada. Distinção irrelevante.

Núcleo: privar.

Page 36: Dir 452 Penal III

Consentimento: o consentimento da vítima afasta a tipicidade, pois se há consentimento, não há

liberdade a ser privada. (o consentimento deve ser válido)

Toda vez que o tipo penal trouxer, ainda que implicitamente, conduta que exija que não haja

consentimento, se ele ocorrer, afastará a tipicidade.

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: basta o dolo, a intenção de privar a liberdade de ir e vir de uma pessoa, sem nenhuma outra

intenção a mais.

- Fim: esses outros fins caracterizam outros crimes.

* Outras finalidades: Correção: art. 136. Liberdade de locomoção: art. 148. Vantagem: art. 159.

Criação: art. 249.

* Libidinoso: qualificado. Está dentro do tipo do sequestro ou cárcere privado, mas em uma forma

qualificada.

e) Consumação

Crime material: previsão de resultado naturalístico, que é a privação da liberdade. O resultado

privação tem que ocorrer para que o crime seja consumado.

Permanente: é crime permanente, pois sua consumação se prolonga no tempo. Ou seja, a

consumação ocorre durante todo o tempo em que a pessoa está privada da sua liberdade. Crime

permanente permite o flagrante delito durante todo o período do crime.

f) Formas qualificadas

§1º. I- Quando a vítima é ascendente, descendente (não inclui filho adotivo), cônjuge (casado no

civil) ou companheiro, ou maior de 60 anos. II- Quando o cárcere é mediante internação em

hospital ou casa de saúde, e a vítima não precisa ser internada. III- Quando dura mais de 15 dias.

IV- Quando é praticado contra menor de 18 anos. V- Quando tem o fim de praticar atos libidinosos

(mesmo que estes venham a não ser praticados).

§2º. Se resulta resultado mais grave para a vítima: grave sofrimento físico ou moral, em razão de

maus tratos ou da natureza da detenção.

1.6.4. Redução a condição análoga à de escravo: art. 149. Reduz a dignidade da pessoa.

Lei 10803/03: alterou substancialmente o tipo.

“Plágio”: desvio de escravos. Nome dado por Mirabette. Mascarar a condição de escravidão,

fazendo parecer que a vítima é mero empregado, mas na verdade ele está em condição de

escravidão.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa.

c) Elemento objetivo do tipo

Page 37: Dir 452 Penal III

Núcleo: reduzir. Esse é o núcleo porque a pessoa que é exposta a essa condição tem sua liberdade

reduzida.

Formas de realização: trazidas pelo tipo. São elas: trabalhos forçados; jornada exaustiva; condições

degradantes de trabalho; reduzir a locomoção em razão de dívida.

Quando se pratica várias condutas para um crime, pode ser crime misto alternativo (várias

condutas = 1 crime. Condutas separadas por vírgula ou por “ou”) ou cumulativo (nº de condutas =

nº de crimes. Condutas separadas por ponto e vírgula).

Submissão

20/02/2013

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: dolo de reduzir à condição análoga à de escravo.

Elemento subjetivo do injusto

- Dívida contraída: só nessa conduta exige-se o elemento subjetivo do injusto de reduzir à

condução de escravo em razão de dívida.

e) Consumação: o crime se consuma durante todo o tempo que a vítima está sob a condição de escravidão.

Permanente: é crime permanente por se consumar durante o tempo.

f) Formas equiparadas: §1º. Condutas que o legislador explicitou que também são crime, além daquelas

presentes no caput. A pena é a mesma.

g) Aumento de pena: §2º. I- crime contra criança ou adolescente; II- por motivo de preconceito.

1.6.5. Violação de domicílio: art. 150.

Art. 5º, XI, CF

a) Bem jurídico tutelado: a inviolabilidade da casa. A doutrina aponta que não é apenas o domicílio que é

protegido pelo direito, como indica a redação do tipo, pois a proteção vai além deste. Mas não é o direito

patrimonial que é protegido aqui, mas a tranquilidade do morador.

b) Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive um próprio morador da casa, pois ele pode perturbar a paz dos

outros moradores da sua casa.

c) Sujeito passivo: é o titular do bem tutelado, ou seja, aquele que mora na casa e tem sua tranquilidade e

paz protegidas.

Titular do bem tutelado

- Dissenso: quando há discordância entre os moradores a respeito do ingresso de determinada

pessoa na casa.

Quando a relação entre os moradores for de subordinação, a vontade daqueles de maior

autoridade prevalece. Quando for de igualdade, a doutrina majoritária entende que prevalece a

vontade de quem discordar.

Page 38: Dir 452 Penal III

* Igualdade. Ex: entre os cônjuges; república.

* Subordinação. Ex: pais e filhos.

d) Elemento objetivo do tipo

Núcleos: entrar (transpor o corpo) e permanecer.

Formas de realização: assim como os núcleos, há duas formas de realização: 1) entrar contra a

vontade, ou seja, transpor o corpo; 2) permanecer contra a vontade (ex: a pessoa entrou

licitamente, mas foi convidada a sair e se recusou).

O crime se realiza clandestinamente (às escondidas), ou astuciosamente (utilizando de fraude – ex:

fingir que é entregador de gás). Deve ser contra a vontade expressa ou tácita do titular.

Essas formas (clandestina, astuciosa ou contra a vontade) são concorrentes, qualquer uma delas

configura o crime.

Casa: §4º. Termo muito mais amplo que domicílio.

§ 4º - A expressão "casa" compreende:

I - qualquer compartimento habitado;

II - aposento ocupado de habitação coletiva; – ex: quarto de hotel.

III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. – ex: consultórios; escritórios;

oficinas.

- Dependências externas da casa – ex: quintais, varandas, garagens. Também são abrangidas pelo

tipo penal, contanto que estejam protegidas por um obstáculo ao ingresso livre.

- Exclusão: §5º.

§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":

I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do

parágrafo anterior;

II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

* Templos: não são considerados casa.

* Meios de locomoção: depende. Só serão casa aqueles que tiverem um compartimento adequado

à habitação. Ex: trailer.

* Não habitada: não é necessária a presença dos titulares do bem no momento do crime, mas a

casa deve ser habitada (no sentido de que alguém habita). Ex: casa que está à venda não é objeto

de violação de domicílio.

e) Elemento subjetivo do tipo: dolo.

f) Consumação

Mera conduta: não há previsão de resultado naturalístico, bastando a simples entrada ou

permanente, violando o domicílio.

Page 39: Dir 452 Penal III

g) Formas qualificadas: §1º. Crime cometido 1) à noite (entre o pôr e o nascer do sol), ou 2) em lugar ermo,

ou 3) com violência física* ou arma, ou 4) com duas ou mais pessoas. Será qualificado com qualquer uma

dessas formas, mesmo que seja só uma.

* Com relação à violência, haverá concurso da violação com a violência (preceito secundário).

h) Causas de aumento: §2º. Quando cometido por funcionário público 1) fora dos casos legais, ou 2) com

inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou 3) com abuso do poder. – a conduta do funcionário

público é mais reprovável, por causa da sua posição.

25/02/2013

i) Exclusão do crime: §3º

Ilicitude: as condutas trazidas por esse parágrafo são típicas, mas lícitas.

Prisão: de dia. O agente, nessa hipótese, está cumprindo uma diligência, com observância das

formalidades legais (ex: mandado judicial para prisão – não pode ser mandado policial, não é

legítimo). Se não for nesta observância, será crime.

Mesmo para cumprir mandado de prisão, não pode haver violação de domicílio à noite. Só é

permitido invadir a casa durante o dia. Se tiver que ser à noite, os policiais devem cercar as saídas

da casa e esperar amanhecer, e aí sim poderá “invadir”.

- Art. 5º, XI, CF: prevalece sobre a hipótese do CP.

Prática de crime: também é possível violar o domicílio se estiver ocorrendo crime naquele

momento e naquele domicílio, ou em caso de flagrante delito.

Flagrante delito: CPP, 302 -> é quando o crime está sendo praticado, ou quando ele acabou de ser

praticado. É a única hipótese em que se permite prisão sem mandado judicial. Aqui, não há

restrição em relação ao horário.

- Contravenção: a doutrina majoritária entende que também exclui a ilicitude se a violação ocorrer

em flagrante de contravenção. Bittencourt defende que não é possível.

- Iminência: embora o CP permita, a CF não menciona essa possibilidade, restringindo-se ao

flagrante, e, por isso, a iminência de crime não permite a violação de domicilio.

Desastre ou prestação de socorro: é possível a violação. São hipóteses especiais de estado de

necessidade.

1.6.6. Violação de correspondência: art. 151.

Lei 6538/78 (Crimes contra o Serviço Postal), art. 40: alterou alguns preceitos do CP, 151, inclusive

o caput.

a) Bem jurídico tutelado: viola a liberdade, no sentido de privacidade de correspondência entre as pessoas.

b) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Destinatário e remetente: são as únicas pessoas que não podem ser sujeitos ativos.

Page 40: Dir 452 Penal III

c) Sujeito passivo

Dupla subjetividade: destinatário e remetente.

d) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: devassar. Significa tomar conhecimento do conteúdo da correspondência.

- Simples abertura: a simples abertura, sem que o agente tome conhecimento do conteúdo, não

configura o crime de violação de correspondência.

Objeto

- Correspondência fechada: só há crime se a correspondência estivesse fechada, pois se estivesse

aberta, presumir-se-ia que não era querido o sigilo.

* Lei 6538/78, art. 47: correspondência, para efeitos legais, é toda comunicação entre pessoas (via

postal, telegrama etc.). A maioria dos autores tem entendido que o e-mail também está incluído na

correspondência, interpretando o dispositivo à luz da modernidade. Mas há quem defenda

também que seria analogia in malan partem.

- Pessoa determinada: só é crime a violação de correspondência de destinatário determinado. Ou

seja, se for aquelas cartinhas que todo mundo recebe, de político, p. ex., não será violação de

correspondência.

Elemento normativo

- Indevidamente: para que seja crime, a violação de correspondência deve ser de forma indevida,

ou seja, sem justa causa, sem permissão do ordenamento jurídico. Ex: pais que leem

correspondência de filho menor.

* Preso: art. 5º, XII, CF: questão divergente. A doutrina majoritária entende que é lícito violar

correspondência de preso.

* Cônjuge: hoje, prevalece o entendimento de que é crime um cônjuge abrir a correspondência do

outro, a não ser quando há consentimento, expresso ou tácito.

e) Elemento subjetivo do tipo: dolo. Ex: homônimos -> abre-se correspondência alheia achando que era

pra própria pessoa.

f) Consumação: ocorre com a devassa, com o acesso ao conteúdo, com a leitura. É possível tentativa,

quando a pessoa que está violando é interrompida, por exemplo.

g) Condutas incriminadas: §1º.

Inciso I: “I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada, para

sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte;” (redação alterada recentemente) – a

correspondência pode estar aberta ou fechada, e não se exige a real sonegação ou destruição, mas

apenas que exista essa finalidade.

- Lei 6538/78, art. 40, §1º.

04/03/2013

Page 41: Dir 452 Penal III

II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica

dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas; – transmitir a outrem significa que há destinatário

determinado, e na divulgação o destinatário é indeterminado. Em relação à conversação telefônica, esse inciso não

subsiste, pois prevalece a lei especial 9472/97 (continua sendo crime).

III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;

Inciso IV: alterado por “Art. 70. Constitui crime punível com a pena de detenção de 1 (um) a 2

(dois) anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou utilização de

telecomunicações, sem observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos.” – ex: rádio pirata.

- Código Brasileiro de Telecomunicações: Lei 4117/62, art. 70. Alterou o inciso IV, dando essa nova

redação.

h) Causa de aumento: §2º. A ocorrência de dano é causa de aumento, seja ele moral ou material.

i) Forma qualificada: §3º. Qualifica o crime quando ele é feito com abuso de função de serviço postal ou

outro do gênero.

Lei 6538/78, art. 43. Exceção em que essa hipótese não é qualificadora, mas sim agravante, por

simples disposição do legislador, que usa a palavra “agravada”.

“Art. 43º - Os crimes contra o serviço postal, ou serviço de telegrama quando praticados por pessoa prevalecendo-se do

cargo, ou em abuso da função, terão pena agravada.”

Essa lei, por ser lei especial, se aplica ao inciso I, tanto com o art. 40 quanto com o 43. Mas não altera em

nada o inciso II e III.

j) Ação penal: §4º. A regra é a ação penal pública condicionada à representação da vítima. Há três

exceções: é ação pública incondicionada no §1º, IV e no §3º.

Lei 6538/78, art. 45. “Art. 45º - A autoridade administrativa, a partir da data em que tiver ciência da prática de crime

relacionado com o serviço postal ou com o serviço de telegrama, é obrigada a representar, no prazo de 10 (dez) dias, ao

Ministério Público Federal contra o autor ou autores do ilícito penal, sob pena de responsabilidade.”

- Publicidade condicionada à representação da autoridade administrativa: hipótese também

excepcional.

l) Correspondência comercial: art. 152. Trata de correspondência comercial, e violação cometida com

abuso de função (sendo, por isso, crime próprio, pois só pode ser praticado por sócio ou empregado do

estabelecimento).

1.6.7. Divulgação de segredo: art. 153.

a) Bem jurídico tutelado: a liberdade de manter segredo em relação a algumas informações.

b) Sujeito ativo

Crime próprio: só pode praticar esse crime quem é destinatário ou detentor do documento ou

correspondência.

Page 42: Dir 452 Penal III

Funcionário público: art. 325. Se o agente for funcionário público, é outro crime, e, por isso, não

incide o art. 153.

c) Sujeito passivo: a pessoa que for atingida com a divulgação do segredo, ou seja, o “outrem” que sofre o

dano.

d) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: divulgar (tornar público).

Objeto material

- Documento particular ou correspondência confidencial: ou seja, que não seja e nem é para ser

de conhecimento público, pois se era, não tem por que proibir sua divulgação.

- Forma

* Oral: ? – O objeto material (conteúdo divulgado) tem que ser exclusivamente escrito, ou também

pode ser oral? Exige-se a forma escrita.

Dano: potencial ou efetivo. Pode ser dano moral ou material, pois o legislador não distingue no

tipo. Não é necessário que o dano tenha ocorrido, bastando que ele seja possível em razão da

situação.

Elemento normativo: “sem justa causa”. Se houver justa causa, não ocorrerá o crime. Ex. de justa

causa: pessoa que está sendo acusada de prática de algum crime divulgar conteúdo sigiloso num

processo, se a ajudar.

e) Elemento subjetivo tipo: dolo. Intenção de divulgar, sabendo que essa divulgação pode causar dano

(ainda que não haja essa intenção específica).

f) Consumação

Formal: consuma quando número indeterminado de pessoas toma conhecimento do conteúdo –

pois núcleo é “divulgar”.

Se, embora havendo divulgação, não ocorrer o conhecimento por número indeterminado,

caracteriza a tentativa.

g) Conduta incriminada: §1º-A. “§1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em

lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública.”

Ou seja, é quando a informação é definida por lei como sigilosa.

h) Ação penal: §1º. Regra: ação penal pública condicionada à representação da vítima (?).

§2º: ação penal incondicionada quando houver prejuízo para a Administração Pública.

i) Segredo profissional: art. 154. Norma especial com relação ao art. 153: crime próprio, praticado só por

uma das pessoas indicadas no artigo (quem tenha ciência do segredo em razão de função, ministério, ofício

ou profissão). Pena maior, em razão do maior dever dessas pessoas de manter sigilo.

Lei 12737/12: ainda não entrou em vigor. Dispõe sobre a tipificação dos delitos informáticos.

Acrescentaria o 154-A e o 154-B. É a “Lei Carolina Dieckman”.

Page 43: Dir 452 Penal III

FIM DA MATÉRIA DA PROVA

04/03/2013

UNIDADE II – DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Bem jurídico tutelado: o patrimônio.

2.1. Furto: art. 155. É diferente do roubo (art. 157) em razão do meio de execução, que é específico.

a) Sujeito ativo: crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: é o titular do patrimônio violado, podendo ser pessoa física ou jurídica.

Obs: quem detém a posse legítima de uma coisa não a devolve, ficando com ela para si, não comete furto,

mas o crime específico de apropriação indébita.

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: subtrair. Ou seja, pegar, tirar.

Objeto material: “coisa alheia móvel”.

- Coisa comum: art. 156. Crime específico.

“Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem

legitimamente a detém, a coisa comum:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

§ 1º - Somente se procede mediante representação.

§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem

direito o agente.”

- Coisas de uso comum: não podem ser objeto do furto, a não ser que estejam destacadas (ex:

balão de ar). Coisas de uso comum: ar, água do mar etc.

Page 44: Dir 452 Penal III

- Ser humano: não pode ser objeto de furto. Pode haver sequestro ou cárcere ou subtração de

incapaz.

Se for furto de cadáver, haverá outro crime, especial, o de subtração de cadáver (art. 211). Mas a

doutrina tem entendido que, se o cadáver tiver cunho econômico, será furto. Ex. de cunho

econômico: cadáver de laboratório de anatomia.

d) Elemento subjetivo do tipo: exige-se inicialmente o dolo.

Elemento subjetivo do injusto: é exigido, além do dolo.

- Animus furandi: significa a vontade de ficar com a coisa para si ou dá-la para outrem. Se não

houver esse elemento subjetivo, não caracterizará crime, pois será furto de uso, que não é

tipificado em nosso direito.

e) Consumação

Inversão da posse: a doutrina majoritária entende que a consumação se dá com a inversão da

posse, ou seja, quando quem subtraiu passa a ter uma posse tranquila, longe da esfera de

vigilância do titular do bem. Se a coisa ainda está na esfera de vigilância, o crime ainda não se

consumou. Ex: entrei na casa de alguém para furtar um objeto -> o crime só se consuma depois que

eu saio da casa sem ser percebido, e já posso ficar tranquilo; se o dono percebeu e começou a

perseguir o agente, se ele tiver seu bem de volta, haverá o furto tentado.

f) Furto de uso: é subtrair um bem com a única intenção de usá-lo e depois devolvê-lo. Não é tipificado no

direito brasileiro. A restituição deve ser do objeto nas mesmas condições, e o uso deve ser por tempo curto.

g) Furto de energia: §3º

Elétrica: pode ser objeto de furto. Assim como a elétrica, qualquer outra energia com valor

econômico pode ser objeto material, como p. ex. a energia genética (reprodutora).

- Desvio x Fraude: desvio é quando eu pego uma energia que não chegava até à minha residência;

fraude é quando a energia chega, mas eu faço alguma coisa que altera a percepção da realidade,

para parecer que eu gasto menos, p. ex. Só o desvio caracteriza furto. Fraude é o crime de

estelionato (art. 171).

h) Furto noturno: §1º. Majorante. Aumenta a pena em 1/3. Furto noturno é um “apelido” dado pela

doutrina.

Repouso noturno: o requisito trazido pelo parágrafo especifica que tem que ser durante período

comum de REPOUSO noturno, que é uma limitação maior do que o simples período noturno. Por

quê? Por causa da menor proteção do patrimônio nessas horas. Esse período de repouso varia de

acordo com os costumes locais.

- Festas ou outro movimento: se, durante o período normal de repouso, há um movimento de

pessoas que faz com que o patrimônio não esteja menos protegido, há julgados que entendem que

não se aplica essa majorante.

Page 45: Dir 452 Penal III

i) Furto privilegiado: §2º. Requisitos cumulativos: criminoso primário (que não é reincidente: art. 63 e 64);

coisa furtada de pouco valor.

Surge para o réu o direito subjetivo de ter um dos benefícios trazidos pelo parágrafo: substituir a reclusão

pela detenção, aplicar só a pena de multa (privilégios), ou diminuir a pena de 1/3 a 2/3 (minorante).

Pequeno valor: a doutrina entende que pequeno valor é aquele que, à época do fato, não

ultrapassava o valor do salário mínimo.

Furto simples: a forma privilegiada se aplica somente ao caput (furto simples), ou também se aplica

ao furto qualificado? Questão divergente, mas a maioria da doutrina entende que só se aplica ao

furto simples, tanto por causa da disposição topográfica (o qualificado vem depois do §2º), quanto

por causa da própria razão do privilégio, incompatível com as qualificadoras.

j) Furto qualificado: §4º

Inciso I: “I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa” – ex: cercas,

cadeados, senhas etc. que são rompidos ou destruídos para poder ter acesso à res furtiva, que

estava protegida.

- Própria coisa: quando é a própria res furtiva é destruída ou rompida (ex: quebrar a janela de um

carro para furtá-lo). Nessa hipótese, a doutrina tem entendido que não é furto qualificado, porque

o obstáculo destruído não é destacado, separado, mas é parte da própria coisa que foi furtada. Ou

seja, se quebra a janela de um carro para furtar uma bolsa que está dentro dele, é furto

qualificado, pois o obstáculo, nesse caso, era autônomo. (questão polêmica)

- Remoção: tem-se entendido que a simples remoção do obstáculo, sem destruído ou rompê-lo,

não qualifica o furto.

- Exame pericial: é imprescindível o exame pericial para comprovar o rompimento de obstáculo.

Crime que deixa vestígio exige exame pericial.

11/03/2013

Inciso II: “II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza” – qualquer uma

dessas 4 hipóteses elencadas no inciso qualificam o furto.

- Abuso de confiança: ocorre quando há relação de confiança entre os sujeitos, gerando uma

menos vigilância, proteção da coisa furtada. Aproveitando-se dessa menor proteção, o agente

pratica o furto com mais facilidade -> maior desvalor da sua conduta.

* Relação de emprego: toda vez que há relação de emprego, existe essa relação de confiança que

qualifica o crime? A doutrina tem entendido que não, não é todo emprego que gera relação de

confiança. Ex: crime praticado por empregado doméstico é qualificado por essa hipótese.

- Fraude: utilização de um artifício para se alterar a realidade a respeito dos fatos. No furto, a

fraude é utilizada para facilitar a subtração.

Page 46: Dir 452 Penal III

É diferente da fraude no estelionato, em que o agente se utiliza de um artifício para enganar a

vítima, que entrega o bem espontaneamente, pois estava enganada.

- Escalada: é a entrada no local da subtração por meio considerado “anormal”. Ex: retirar as telhas

de uma casa para entrar nela; cavar um túnel; pular um muro muito alto. (# do inciso I).

- Destreza: é a capacidade que o agente tem de subtrair a coisa sem que a vítima perceba; punga.

Ex: bater carteira sem a vítima perceber.

Inciso III: “III - com emprego de chave falsa”. Também vale a chave micha, aquele tipo de chave

que abre várias portas. A doutrina e jurisprudência têm entendido que se entende como chave

falsa qualquer objeto que faça as vezes de chave (ex: grampo de cabelo).

Inciso IV: “IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.” – muito comum no furto.

- Inimputável e não identificado: mesmo que uma ou mais pessoas que participaram do crime

sejam inimputáveis ou desconhecidos, qualificará o crime mesmo assim, pois o que conta é o

número de agentes. Mas os inimputáveis não serão punidos como os imputáveis.

l) Furto de veículo: §5º. Qualificadora específica. Quando subtrai veículo automotor, que é transportando

para outro estado ou país. – o veículo tem que ter sido efetivamente transportado, não bastando a

intenção de fazer isso.

2.2. Roubo: art. 157. Redação muito parecida com a do furto: a diferença é somente quanto aos meios de

execução, o que altera significativamente a pena base.

a) Sujeitos: os mesmos do furto – qualquer pessoa, sendo que o sujeito passivo é aquele titular do bem

roubado. Mas há a hipótese de haver duas vítimas, quando se aplica violência em uma pessoa para subtrair

a coisa de outra. Ex: bater no porteiro do prédio para furtar bens de um morador de apartamento (que está

vazio no momento).

b) Elemento objetivo do tipo

Meio de execução: “mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por

qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”. Qualquer um desses meios configura o

roubo, e não o furto.

- Momento: a conduta mais comum no roubo é esta prevista no caput, e por isso é apelidada de

roubo próprio. Aqui, esses meios de execução são utilizados antes da subtração.

* Posterior: “roubo impróprio”. É quando os meios de execução elencados no caput são utilizados

posteriormente à subtração.

Princípio da insignificância: é possível aplicar esse princípio quando o objeto do crime for

insignificante? Ex: bater na vítima para roubar 2 reais. A maioria da doutrina entende que não é

possível, em razão dos meios de execução.

Roubo “de uso”: entende-se o roubo de uso seria atípico -> atipicidade relativa.

Page 47: Dir 452 Penal III

- Art. 146: constrangimento ilegal. O “roubo de uso” se encaixaria, portanto, no tipo do

constrangimento ilegal.

c) Elemento subjetivo do tipo: dolo. Intenção de subtrair e ficar para si (elem. subj. do injusto).

d) Consumação

Crime material: consuma quando o agente, após o emprego de um dos meios de execução,

consegue retirar a res furtiva da esfera de vigilância da vítima.

e) Roubo impróprio

Violência: posterior. É quando os meios de execução – violência ou grava ameaça – do caput são

utilizados logo após a subtração da coisa. O emprego dos meios deve ser imediatamente.

OBS: não se inclui a impossibilidade de resistência da vítima, pois a res já teria sido subtraída, e não

faria sentido utilizar esse meio depois da subtração. (doutrina majoritária)

Fins: “a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro”.

Consumação: subtração e violência consumadas (assim como no roubo próprio).

- Tentativa

* Subtração tentada + violência consumada = tentativa de furto + lesão corporal. Concurso de

crimes.

* Subtração consumada + violência tentada = não é tentativa. Configura furto. (corrente

majoritária)

f) Causas de aumento: §2º. Majorantes de 1/3 a ½.

Inciso I: emprego de arma como violência ou grave ameaça. Não importa se é arma própria ou

imprópria.

- Arma de brinquedo: Súmula 174 STJ. Essa súmula pugnava por aplicar a majorante no uso de

arma de brinquedo, mas o próprio STJ a cancelou. Hoje, entende-se que arma de brinquedo não

majora a pena, pois ela não representa maior perigo para a vítima.

- Simulação de arma: também não majora o roubo, pela mesma razão da arma de brinquedo.

- Arma imprestável: é aquela que não funciona. Não incide a majorante, pela mesma razão das

hipóteses acima.

Obs: a arma de brinquedo, a simulação de arma e a arma imprestável, embora não majorem a

pena, não deixam de configurar o roubo, pois elas continuam sendo ameaça.

15/03/2013

Inciso II: se há concurso de duas ou mais pessoas.

Inciso III: vítima em serviço de transporte de valores. Tem a finalidade de proteger as pessoas que

trabalham com serviços de transporte de valores (esses valores não são pertencentes à vítima). Ex:

pessoa que dirige carro forte.

- Valores não pertencentes ao agredido

Page 48: Dir 452 Penal III

Inciso IV: subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado-

membro ou para o exterior. (é qualificadora do furto e majorante do roubo)

Inciso V: quando o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo a sua liberdade. Mas é

roubo ou sequestro ou cárcere privado? Para saber, analisa-se a finalidade: se o agente priva a

vítima de sua liberdade para furtar a res, incide a majorante (pois será meio de execução). Mas se

ele mantém a vítima presa após ter furtado a res, ocorrerá o crime de sequestro ou cárcere

privado.

- Breve: por menor que seja o tempo de duração da privação, a mojarante incidirá.

g) Roubo qualificado: §3º. É quando há ocorrência de resultado mais grave.

g.1) Lesão grave: refere-se às hipóteses de lesão grave e gravíssima.

Nexo: violência. É quando a violência aplicada no roubo resulta numa lesão mais grave (CP, 129,

§§1º e 2º). A lesão grave deve decorrer da violência física do roubo.

Aplicação: caput e §1º. A qualificadora se aplica ao roubo próprio (caput) e impróprio (§1º).

- §2º: aplicam-se as majorantes às qualificadoras? Há entendimentos na jurisprudência de que se

aplicariam. Mas isso é uma divergência muito grande, pois grande parte da doutrina defende que

não se aplicam as majorantes do §2º às hipóteses qualificadas do §3º, pois existiriam majorantes

específicas para o roubo qualificado (que estariam na lei dos crimes hediondos).

g.2) Morte: “latrocínio”. “Latrocínio” é um apelido dado pela doutrina que acabou sendo adotado pela lei.

É a única hipótese de roubo que é crime hediondo. Traz uma das maiores penas do Código Penal.

Há quem critique essa hipótese, dizendo que isso poderia ser um homicídio qualificado por motivo torpe,

que tem uma pena bem menor que a do latrocínio.

Resultado: art. 19. O resultado morte tem que ser doloso ou também pode ser culposo? Tanto faz.

Ocorrerá essa qualificadora independentemente de o resultado mais grave ter ocorrido com dolo

ou com culpa. A diferenciação ocorrerá na dosimetria da pena base.

- Fim da violência: assegurar a detenção da coisa ou impunidade do agente.

Alvo

- Várias mortes: ainda que ocorram várias mortes, se a subtração for de um único patrimônio,

ocorrerá apenas um crime (entendimento majoritário), pois esse é um crime contra o patrimônio.

Mas se forem várias mortes e vários patrimônios subtraídos, haverá concurso de crimes.

Consumação

- É crime complexo: crime complexo é aquele em que na sua definição típica existe a definição de

dois tipos penais autônomos. Latrocínio = subtração (art. 155) + homicídio (art. 121). Portanto, o

crime se consumará com a ocorrência dos dois resultados: subtração e morte.

- Ambos tentados: gera latrocínio tentado.

Page 49: Dir 452 Penal III

- Subtração consumada + morte tentada: a doutrina majoritária entende que caracteriza latrocínio

tentado.

- Morte consumada + subtração tentada: questão muito divergente – 4 correntes: a corrente

majoritária entende haver latrocínio consumado. (maior proteção da vida)

* Súmula 610 STF: há latrocínio quando a morte se consuma, ainda que o agente não tenha

conseguido subtrair a coisa -> reitera a corrente majoritária.

Causas de aumento

- Art. 9º, Lei nº 8072/90. Hipóteses: 1) ato libidinoso com menor de 14 anos; 2) contra pessoa sem

discernimento; 3) contra pessoa incapaz de resistir (ex: embriaguez).

Esse artigo diz que aumenta a pena até a metade, respeitando o limite máximo. Mas se aumentar

50% da pena mínima do latrocínio, por ter que respeitar o limite máximo, a pena ia ficar “de 30 a

30 anos”, e, por isso, parte da doutrina entende que aí haveria inconstitucionalidade, pois

ofenderia o princípio da individualização da pena.

“Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e

3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e

parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão,

estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal.”

2.3. Extorsão: art. 158. É semelhante ao constrangimento ilegal. O que os diferencia é a finalidade do

agente, que na extorsão visa um proveito econômico.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa. É possível também que haja duas vítimas, uma da violência ou ameaça

e outra da subtração.

18/03/2013

c) Elementos objetivos do tipo

Núcleo: constranger. Forçar, obrigar, compelir alguém a fazer alguma coisa.

Meios de execução: violência ou grave ameaça. O agente pode se valer de um desses meios de

execução previstos no tipo. A chantagem é um exemplo muito corriqueiro.

Finalidade: existe uma finalidade específica nesse crime, revelada pelo elemento subjetivo do

injusto. É a finalidade de obter indevida vantagem econômica. A maioria da doutrina sustenta que

só pode ser abrangida pela conduta a vantagem econômica, excluindo-se qualquer outro tipo de

vantagem.

Prática de ato: o agente constrange a vítima a fazer alguma coisa, tolerar que se faça ou deixar de

fazer alguma coisa. Ex: constranger a vítima a lhe pagar um valor que ela não precisa pagar.

Page 50: Dir 452 Penal III

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo

Elemento subjetivo do injusto: especial finalidade econômica da conduta.

e) Consumação: a consumação ocorre quando a vítima pratica o ato (formal), ou também é necessária a

obtenção de vantagem (material)?

Formal: a maioria da doutrina defende que é crime formal – consuma com a prática do ato pela

vítima.

- Súmula 96 STJ. Sustenta ser crime formal, e, portanto, a finalidade não precisaria ser alcançada.

Material: doutrina minoritária. Exige a prática do ato + obtenção da vantagem.

f) Causa de aumento: §1º. Aumenta-se a pena se o crime é cometido* 1) por duas ou mais pessoas, ou 2)

com emprego de arma.

* cometido = executado. Ou seja, as pessoas têm que participar, ambas, da execução.

g) Formas qualificadas pelo resultado: §2º. A mesma qualificadora art. 157, §3º: quando o crime é seguido

de lesão grave ou de morte. A pena também é a mesma.

Crime hediondo: art. 1º, III, Lei nº 8072/90.

h) Forma qualificada: §3º. Quando restringe a liberdade da vítima, e essa restrição é necessária para a

obtenção da vantagem econômica. Essa conduta pode, algumas vezes, abranger a conduta vulgarmente

chamada de “sequestro relâmpago” (semelhante ao inciso V do roubo, só que aqui é qualificadora e no

roubo é causa de aumento).

Se ocorre lesão grave ou morte, aplica-se a hipótese do art. 159.

2.4. Extorsão mediante sequestro: art. 159. É um crime especial com relação ao crime de sequestro ou

cárcere privado. É especial porque traz a privação da liberdade, mas acrescida da finalidade especial, que é

obter vantagem.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: qualquer pessoa. Pode, inclusive, ser mais de uma pessoa: uma vítima da privação da

liberdade, e outra que arca com a vantagem do agente (paga o resgate).

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: sequestrar. Privar a liberdade da vítima. A expressão sequestrar é utilizada em sentido

amplo, abrangendo o sequestro e o cárcere privado (corrente majoritária).

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo

Elemento subjetivo do injusto: intenção de obter vantagem.

- Vantagem: qualquer? No tipo, o legislador não especifica qual é o tipo de vantagem (ao contrário

do tipo anterior). Seria, portanto, qualquer vantagem simplesmente (ex: cunho acadêmico), ou

Page 51: Dir 452 Penal III

qualquer vantagem patrimonial? Divergência doutrinária. A corrente majoritária entende que se

trata de qualquer vantagem patrimonial, pois esse tipo está inserido no título “crimes contra o

patrimônio” e porque o legislador exemplifica ao fim do texto do tipo.

* Indevida: para configurar esse crime, a vantagem visada deve ser indevida. Se a vantagem é de

fato devida, haverá exercício arbitrário das próprias razões.

- Preço: valor que se paga para liberar a vítima do sequestro (valor do resgate).

- Condição: ação que também terá um reflexo patrimonial (ex: obrigar a vítima a assinar um

contrato).

e) Consumação

Formal: consuma com a privação da liberdade da vítima. A obtenção de vantagem configura como

exaurimento do tipo, ou seja, um novo dano, que ocorre após a consumação.

Crime permanente: o crime se consuma durante o tempo em que a vítima permanecer

sequestrada. Isso tem importância com relação à prescrição, à qual norma se aplica (em caso de lei

nova), à prisão em flagrante, e outras questões processuais.

f) Formas qualificadas

§1º. Se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos

(porque gera consequências piores para a vítima, como o pânico, o terror) ou se o crime é

cometido por bando ou quadrilha (# de concurso de pessoas).

- Art. 288: “Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer

crimes.” – definição de quadrilha: os crimes referidos são indeterminados, ou seja, as pessoas se

reúnem para praticar crimes, sejam eles quais forem.

22/03/2013

§§2º e 3º: traz penas mais altas (qualificadas) para os resultados lesão grave e morte. Essas penas,

por serem bem mais altas que a do homicídio simples, são muito criticadas pela doutrina, que diz

que o legislador não observou o p. da proporcionalidade.

- Vítima: sequestrado. Para que incida essa qualificadora, a vítima do resultado mais grave deve ser

o sequestrado. Se a vítima desse resultado for outra pessoa, haverá concurso de crimes.

g) Causas de aumento

Art. 9º, lei nº 8072/90. As mesmas causas de aumento atribuídas ao latrocínio aplicam-se à

extorsão mediante sequestro seguido de morte.

h) Delação premiada: §4º. É uma premiação concedida pelo legislador para o concorrente que delata, ou

seja, entrega os outros participantes do concurso de pessoas. Ocorre, para ele, uma diminuição de pena

razoável (1/3 a 2/3). Mas não basta a simples comunicação à autoridade: essa comunicação deve permitir a

libertação da vítima. Se ela não fizer possível a libertação, não aplica a redução da pena.

Page 52: Dir 452 Penal III

“§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do

sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.”

Fundamento: auxiliar na elucidação dos fatos.

Obrigatoriedade: não é faculdade do juiz. Assim, havendo os requisitos, o juiz é obrigado a reduzir

a pena do delator, de acordo com o grau de colaboração deste.

Beneficiado: concorrente. Participante em sentido lato: partícipe ou coautor.

Lei nº 9807/99

- Art. 13: o juiz pode conceder o perdão judicial, extinguindo sua punibilidade, para o delator que

preencher os requisitos deste artigo.

“Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da

punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o

processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza,

circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.”

- Art. 14: traz o mesmo quantum de redução de pena, mas com menos requisitos que o Código.

“Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na

identificação dos demais coautores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou

parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.”

Doutrina e jurisprudência têm entendido que essa lei é norma geral e, por isso, as hipóteses desses

artigos poderiam ser aplicadas a todos os crimes, e não apenas à extorsão mediante sequestro.

i) Conflito aparente de normas: o que fazer para determinar qual será a tipificação exata para a conduta,

visto que há vários tipos com hipóteses parecidas?

“Sequestro relâmpago”

- Art. 157, §2º, V; 158, §3º; 159; 148.

- Lei nº11923/09

* Críticas: graves, consequências, dificuldade, diferenciação

Art. 157 (roubo), §2º, V

- Privação: necessária para a subtração

- Art. 158 (extorsão), §3º: necessária para a obtenção de vantagem

Art. 159 (extorsão mediante sequestro)

- Cárcere

- Contato com terceiro

2.5. Extorsão indireta: art. 160

Page 53: Dir 452 Penal III

“Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que

pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Pena - reclusão, de um a três

anos, e multa.”

Considerações gerais: o núcleo estrutural é o mesmo, porém, esse tipo tem raríssima aplicação

prática. A pena, contudo, é muito menor, em razão da violência e grave ameaça, que são os meios

de execução das demais extorsões. O agente, aqui, abusa da situação de penúria econômica da

vítima e faz um empréstimo a ela, exigindo como garantia um documento (que pode até ser falso)

que possa dar causa a procedimento criminal contra ela ou contra outrem. É uma chantagem.

2.6. Do dano: art. 163. Causar dano a coisa alheia. É de aplicação muito frequente. Pena pequena.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa.

b) Sujeito passivo: o proprietário do bem que sofre o dano.

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleos: destruir (perder a essência), inutilizar (não é destruir, mas fazer perder a função), ou

deteriorar (estragar). O crime é de ação múltipla, ou seja, pode ser praticado com qualquer uma

dessas condutas.

Objeto material: qualquer coisa alheia.

O art. 163 é regra geral, mas o legislador traz, nos tipos seguintes, outros tipos de danos, especiais:

- Introdução de animais: art. 164. É causar dano mediante introdução de animais. Ex: soltar um

cachorro no quintal do vizinho para destruir tudo.

- Valor artístico: art. 165, arts. 62 e 63, Lei 9605/98. Destruição de bens tombados em razão do seu

valor artístico, arqueológico ou histórico.

Pichação ainda é crime, mas grafitagem não é, desde que haja autorização (abolitio criminis -> a

grafitagem antes era crime).

- Local protegido por lei: art. 166. Se o dano ou alteração é de local protegido por lei.

Os artigos 165 e 166 do CP estão tacitamente revogados pelos arts. 62 e 63 da Lei 9605/98.

“Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:

I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;

II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou

decisão judicial:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa.

Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou

decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso,

arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a

concedida:

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.”

Page 54: Dir 452 Penal III

25/03/2013

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: exige-se o dolo de praticar o dano (destruir, inutilizar, deteriorar).

Animus nocendi: além desse dolo, precisa ter a intenção de causar prejuízo à vítima? A maioria da

doutrina entende que não, que não precisa haver nenhuma intenção especial. O animus deve ser

apenas de praticar uma das condutas do caput.

e) Consumação: consuma com a ocorrência de um dos atos indicados no caput (destruição, inutilização ou

deterioração). É possível a tentativa (ex: desferir um golpe contra a coisa e algo impedir).

f) Formas qualificadas: p. único. Arrola as 4 hipóteses que qualificam. No caso do inciso II, só se aplicará a

forma qualificada se a conduta não acabar acarretando crime mais grave.

g) Ação penal: art. 167. “Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se

procede mediante queixa.”

Portanto, nas outras hipóteses a ação será pública incondicionada, pois não há previsão legal.

1.7. Da apropriação indébita: art. 168.

a) Sujeito ativo

Posse ou detenção: só pode ser sujeito ativo deste crime aquele tem a posse ou a detenção da

coisa apropriada.

b) Sujeito passivo: será aquele que sofrer o prejuízo, que teve sua coisa apropriada por outrem.

c) Elemento objetivo do tipo

Núcleo: apropriar-se (tratar a coisa como se fosse sua).

Objeto material: coisa alheia móvel.

Posse ou detenção

- 1º contato lícito: o agente já devia ter um contato prévio e lícito com a coisa apropriada. Ou seja,

no início ele não tinha vontade de tomar a coisa para si, como sua propriedade.

- Detenção não-vigiada: para ocorrer esse crime, a detenção da coisa não deve ser vigiada, ou seja,

deve haver uma livre disponibilidade. Ex: ir numa loja para experimentar uma roupa, pedir para o

vendedor ir buscar no estoque com a intenção de distraí-lo, e pegar as roupas que ele deixou

comigo, não é apropriação indébita, mas sim furto com fraude, porque a detenção era vigiada.

- Origem legítima

d) Elemento subjetivo do tipo

Dolo: dolo de apropriar-se da coisa.

Elemento subjetivo do tipo

Page 55: Dir 452 Penal III

- Animus rem sib habendi: é a intenção de ter a coisa como sua. O agente quer ter a coisa na sua

propriedade – inversão da posse. Assim, ele passa a praticar atos como se fosse de propriedade, ex:

vender.

- Dolo ab initio: art. 171. Configura estelionato quando o detentor ou possuidor da coisa já adquiriu

a posse ou detenção com má intenção de se apropriar da coisa, desde o início.

Diferença entre furto com fraude, apropriação indébita e estelionato:

Furto: existe subtração. Dessa forma, percebe-se que a coisa não está na posse do agente. Não

há contato lícito.

Apropriação indébita: há um prévio contato lícito, em razão de prévia posse ou detenção não

vigiada.

Estelionato: o agente já tem má intenção desde o início, ou seja, já quer enganar a vítima desde

sempre. Ele faz uso de fraude, engana a vítima, sendo que ele já quer ter a propriedade da

coisa desde o começo.

*OBS: tanto na apropriação quanto no estelionato, a vítima entrega a coisa. Porém, na

apropriação o agente tinha, inicialmente, boa intenção. Já no estelionato, ele já tinha dolo de

obter a vantagem e causar prejuízo à vítima desde o momento em que adquire a posse ou

detenção.

e) Consumação

Material: consuma com a inversão da posse no sentido da intenção do agente, que antes de

intenção de possuir sem ser dono, e agora ele quer possuir como se fosse dono.

f) Causas de aumento: §1º.  “§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: I -

em depósito necessário; II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,

testamenteiro ou depositário judicial (o agente teria maior dever de cuidado); III - em razão de ofício,

emprego ou profissão.”

g) Apropriação indébita privilegiada: art. 170. “Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no

art. 155, § 2º.” Se o acusado for réu primário ou se a coisa apropriada for de pequeno valor.

2.8. Apropriação indébita previdenciária: art. 168-A. Ex: descontar o valor da contribuição da previdência

do salário do empregado, mas não repassar isso para o INSS.

Page 56: Dir 452 Penal III

2.9. Outras apropriações: art. 169. Quando a apropriação advém de erro, caso fortuito ou força maior, ou

quando a pessoa encontra a coisa perdida. Incorre em pena se não devolver ao dono ou se não entregar a

autoridade competente.

01/04/2013

2.10. Estelionato: art. 171. Fraude.

Origem da expressão: “stellio”. Alguns doutrinadores dizem decorrer expressão da denominação

“stellio”, que é um lagarto capaz de mudar de cor para poder comer insetos sem que eles

percebam a sua aproximação.

Estelionatário engana a vítima com a intenção de fazer com que ela não perceba a vantagem

que o estelionatário deseja obter.

Bem jurídico tutelado: patrimônio; boa-fé da vítima.

a) Sujeito ativo: qualquer pessoa. Crime comum.

b) Sujeito passivo

Determinada: qualquer pessoa, desde que seja determinada.

Enganar um número indeterminado de pessoas não configura estelionato: poderá ser crime contra

economia popular, por exemplo.

Menor ou doente mental: se a vítima da fraude for menor ou doente mental, pode ocorrer outro

crime: abuso de incapazes (art. 173).

c) Elemento objetivo do tipo

Conduta

- Induzir ou manter alguém em erro: estelionatário cria a situação de erro em que vítima é

enganada. Pode ocorrer também que estelionatário não crie o erro, mas mantenha a vítima nele.

- Comissiva ou omissiva: omissiva -> manter-se silente, não revelando detalhes que permitam à

vítima não atuar em erro.

Meios de execução

- Fraude: falsa percepção da realidade. O agente, utilizando a fraude, faz com que erro nasça ou

continue existindo.

* Artifício: encenação. Agente se utiliza de aparatos que fazem com que se altere materialmente a

realidade. Ex: documentos falsos; disfarces.

* Ardil: conversa enganosa. É a lábia.

* Qualquer meio idôneo: qualquer meio idôneo para enganar a vítima (e não o homem médio). Ex:

se a vítima tem baixo grau de instrução, o meio para enganá-la é diferente de que seria utilizado

pra enganar uma pessoa bem instruída.

Objeto

Page 57: Dir 452 Penal III

- Vantagem ilícita: é o que o agente obtém. Do outro lado, a vítima sofre um prejuízo.

* Indevida: a vantagem obtida pelo agente deve ser indevida.

* Econômica: a doutrina entende que deve ser vantagem econômica, por se tratar de crime contra

o patrimônio.

Fraude bilateral: é aquela em que a vítima é enganada, mas ela acha que está enganando o autor.

d) Elemento subjetivo do tipo: dolo.

Elemento subjetivo do injusto: o agente deve querer utilizar a fraude como meio de execução.

- Obtenção de vantagem: o agente deve, ainda, ter uma finalidade específica, que é a obtenção da

vantagem.

e) Consumação

Material: consuma com a obtenção da vantagem. É possível a tentativa, quando o agente pratica a

conduta, mas, por razões alheias a ele, ele não consegue obter a vantagem.

Meio inidôneo: art. 17. Se o meio utilizado pelo agente for inidôneo para aquela vítima

determinada, configurará crime impossível.

Ressarcimento: art. 16. O ressarcimento da vítima NÃO afasta a punição, pois não afasta o crime,

podendo configurar apenas arrependimento posterior.

f) Distinção

Art. 155, §4º, II (furto com fraude): no furto, o agente emprega fraude para distrair a vítima e

subtrair a coisa.

Art. 168 (apropriação indébita): aqui, o agente já tinha um primeiro contato com a coisa, lícito. O

dolo é posterior.

Art. 158 (extorsão): a gente utiliza de violência ou ameaça para obrigar a vítima a entregar o bem.

“Passes”: art. 27, LCP/art. 284, CP. O artigo 27 foi revogado, mas subsiste o 284. Existem julgados

que dizem que há concurso entre estelionato e o curandeirismo, mas essa questão não é pacífica.

“Art. 284 - Exercer o curandeirismo:

I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;

II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III - fazendo diagnósticos:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.”

g) Estelionato privilegiado: §1º. Faz remissão ao CP, 155, §2º, que diminui ou substitui a pena quando o

agente é primário e o prejuízo resultante é pequeno.

h) Figuras equiparadas: §2º. Configuram estelionato pois se inserem no caput. O legislador exemplificou

formas de estelionato.

Súmula 246 STF: pré-datado. Emissão de cheque sem fundos, se ele for pré-datado, não configura

estelionato.

Page 58: Dir 452 Penal III

Súmula 521 STF: recusa de pagamento. Está em desconformidade com o art. 16 do CP, que é

posterior (1984) e por isso deve prevalecer.

Súmula 554 STF: pagamento

05/04/2013

i) Causa de aumento: §3º. A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de

entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

2.11. Das outras fraudes

Art. 171 a 179: são outros tipos penais que possuem o mesmo meio de execução do estelionato,

que é a fraude. Porém, constituem figuras autônomas.

2.12. Da receptação: art. 180.

a) Sujeito ativo

Concorrente crime anterior: quem foi partícipe do crime anterior, necessário para a receptação

(ex: furto do objeto), não é sujeito ativo da receptação. Para essas pessoas (partícipes do crime

anterior), a receptação é um post factum não punível, em razão do princípio da consunção.

b) Sujeito passivo: quem sofre o prejuízo patrimonial. Normalmente, é o proprietário.

c) Elemento objetivo do tipo: produto de crime.

Pressuposto: é pressuposto do crime de receptação a existência de um crime anterior (qualquer

crime) que traga um produto, uma vantagem patrimonial para alguém.

Não é necessário que haja TJ, nem ação penal em andamento, nem inquérito sobre esse crime

anterior.

- §4º. “A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que

proveio a coisa.”

Isento de pena: refere-se à culpabilidade.

Espécies

- Própria: 1ª parte do caput. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar. A receptação pode

ser praticada por qualquer dessas cinco condutas (rol taxativo).

- Imprópria: 2ª parte do caput. Influir para que terceiro de boa-fé adquira, receba ou oculte a coisa.

Nessa parte, a conduta típica é “influenciar”, o que faz do agente um partícipe moral.

Se o terceiro que recebe estiver de boa-fé, ele também pratica o crime de receptação, em sua

forma própria.

Objeto material

- Móvel: coisa móvel. Objeto material do crime.

Page 59: Dir 452 Penal III

- Produto direto ou indireto: essa coisa móvel é produto do crime anterior, seja direto ou indireto.

Direto é o que foi diretamente subtraído, extorquido etc., e indireto é, p. ex., o valor pecuniário

obtido com a venda de produto furtado.

d) Elementos subjetivos

Dolo: a receptação prevista no caput é dolosa. Só incorre nessa previsão do caput quem atua com

dolo.

- Caput: certeza? Quanto ao objeto material, o agente tem que saber ou deve saber? Se ele sabe, é

dolo direto; se ele deve saber, é dolo eventual. Depende da corrente. Bittencourt diz que “sabe” e

“deve saber” nada têm a ver com o dolo direto, mas apenas com o grau de reprovação da conduta.

O caput exige o dolo e, por isso, uma maior reprovação da conduta, pois a pessoa sabia realmente

da origem ilícita daquela coisa.

É possível receptação culposa.

Elementos subjetivo do injusto

- Obtenção de proveito: o agente busca obtenção de vantagem patrimonial própria ou alheia.

e) Consumação

Própria: material. Crime material. Consuma com uma das condutas do caput.

Imprópria: formal. Só exige a influência para a consumação. Não é necessário que o terceiro ceda à

influência.

Permanente: crime permanente. Todas as condutas previstas seriam permanentes, de acordo com

a doutrina.

f) Causa de aumento: §6º. A pena aumenta devido à titularidade do bem, objeto da receptação.

g) Receptação privilegiada: §5º. Criminoso primário – o juiz pode deixar de aplicar a pena, com base nas

circunstâncias.

h) Receptação qualificada: §1º

Crime próprio: essa modalidade (qualificada) só pode ser praticada por quem exerça atividade

comercial ou industrial, por isso é crime próprio.

- §2º: atividade comercial. Qualquer forma de comércio, irregular ou clandestino, se encaixa nessa

forma qualificada.

* Habitualidade

Condutas: as previstas do parágrafo.

Dolo: dolo de praticar quaisquer dessas condutas.

- Elemento subjetivo do injusto: buscar proveito próprio ou alheio.

- Deve saber: eventual ou culpa? A doutrina majoritária entende que o “deve saber” é dolo

eventual. LER BITTENCOURT!

Page 60: Dir 452 Penal III

e) Receptação culposa: §3º. É quando a coisa receptada pode ser presumida como produto de crime.

Muito comum.

Elementos indicadores: o parágrafo traz três elementos – ver artigo. Ex. de coisa que pode se

presumir produto de crime pela sua natureza: escultura de igreja.

- Valor relativo

2.13. Disposições gerais

a) Imunidade absoluta: isenção de pena dessas pessoas, nessas hipóteses. Elas não deixam de ter praticado

crime, apenas não recebem pena.

Escusas absolutórias: art. 181. Escusas absolutórias são causas pessoais de isenção de pena,

decorrentes de política criminal.

Incidência: art. 183. São exceções às escusas absolutórias.

b) Imunidade relativa: art. 182. Muda apenas o tipo de ação penal, não influenciando em nada na pena. A

ação deixa de ser pública incondicionada e passa a ser pública condicionada à representação da vítima.