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Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio Direito Penal I – Aula 07 Teoria Geral do Crime – Módulo III Classificação das Infrações Penais 1. Considerações Introdutórias Cumpre expor, antes de mais nada, que esta nossa aula vai ser um pouco diferente das outras que já tivemos e das que serão dadas futuramente. Tem, esta aula, aspectos muito peculiares, inclusive no que toca á redação do texto. Isto porque nesta aula cuidaremos de abordar as diversas classificações dos crimes, e assim, o texto da aula tende, inevitavelmente, a ser mais “objetivo”. Por óbvio que: quando for necessário, deixaremos de lado esta nossa “objetividade”, para explicar de maneira detalhadas as subespécies de crime que assim exigirem. Saiba ainda que: tem esta nossa aula, também, importância inquestionável, pois a compreensão das aulas posteriores, em muitos momentos, terá como pressuposto a compreensão das diversas espécies de infrações penais aqui abordadas. Ensino Jurídico à Distância 1

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Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio

Direito Penal I – Aula 07

Teoria Geral do Crime – Módulo III

Classificação das Infrações Penais

1. Considerações Introdutórias

Cumpre expor, antes de mais nada, que esta nossa aula vai ser um

pouco diferente das outras que já tivemos e das que serão dadas futuramente.

Tem, esta aula, aspectos muito peculiares, inclusive no que toca á redação do

texto. Isto porque nesta aula cuidaremos de abordar as diversas classificações

dos crimes, e assim, o texto da aula tende, inevitavelmente, a ser mais

“objetivo”.

Por óbvio que: quando for necessário, deixaremos de lado esta nossa

“objetividade”, para explicar de maneira detalhadas as subespécies de crime

que assim exigirem.

Saiba ainda que: tem esta nossa aula, também, importância inquestionável,

pois a compreensão das aulas posteriores, em muitos momentos, terá como

pressuposto a compreensão das diversas espécies de infrações penais aqui

abordadas.

A propósito: é importante que se tenha em mente que não podemos confundir

a “qualificação legal dos crimes” com as “qualificações doutrinárias das

infrações”.

Vejamos a diferença entre esses dois conceitos:

Qualificação legal dos Crimes: nomem juris ( nome jurídico) da infração.

Por exemplo: quem ofende a integridade física ou a saúde de outrém ( art.

129, Caput) pratica o crime com nome jurídico de lesões corporais.

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Saiba que: esta é a qualificação legal do fato, e se distingui da qualificação

legal da infração, pois esta ( qualificação legal da infração), tal como nos

ensina o Profº. Damásio Evangelista de Jesus é o nome que recebe a

modalidade a que pertence o fato: crime ou contravenção”. ( Grifo Nosso)

Qualificação Doutrinária: esta, que mais nos interessa no presente

momento, é o nome dado pela doutrina ao fato delituoso, e tais

classificações doutrinárias são resultado de um trabalho construtivo de

sistematização científica da teoria do crime.

A Propósito: Tais classificações são baseadas, segundo Damásio Evangelista

de Jesus em distinções que se estabelecem em razão dos múltiplos elementos

essenciais da norma penal1 e da infração, da estrutura desta e de seu

conteúdo.

Pois bem: feitos estes esclarecimentos iniciais, passemos, então, a estudar as

classificações das infrações penais.

2. Da Classificação das Infrações Penais

Crimes Comuns e Especiais: Crimes comuns são os descritos no Direito

Penal Comum, na parte especial do próprio Código Penal, que se inicia no

artigo 121 do referido diploma legal. E crimes especiais são os definidos no

Direito Penal Especial, como por exemplo os delitos elencados na Lei de

Proteção ao Meio Ambiente ( Lei 9.605 / 98), que são os crimes

denominados pela doutrina de “crimes contra o meio ambiente”.

Crimes Comuns e Próprios: esta é uma classificação que tem por base o

sujeito ativo da infração penal, e assim, aqui, o conceito de crime comum

não se confunde com o conceito supramencionado.

Perceba que: para esta classificação, os crimes comuns são os que podem

ser praticados por qualquer pessoa ( furto, estelionato, homicídio).

1 - VG: Sujeito ativo, passivo, objeto material do delito, resultado, momento consumativo, etc...

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Em contrapartida: os chamados, Crimes Próprios são aqueles que exigem

certas condições especiais do sujeito ativo, e portanto, só podem ser

cometidos por uma determinada categoria de pessoas. Tal como ensina-nos o

Profº. Damásio Evangelista de Jesus, os crimes próprios “pressupõem no

agente uma particular condição ou qualidade pessoal.”

Preste Muita Atenção: É importante que se tenha em mente que, segundo o

doutrinador supra, o crime próprio pode exigir uma particular condição do

agente de quatro categorias distintas, a saber:

a – Condição Jurídica ( acionista, funcionário público)

b – Condição Profissional ( comerciante2, médico)

c – Condição De Parentesco ( pai, mãe, filho)

d – Condições Naturais ( gestante, homem)

Crimes de Mão Própria: São os delitos que só podem ser cometidos pelo

sujeito em pessoa ( VG: falso testemunho, prevaricação). Tais delitos são

tipificados de tal maneira pelo legislador que o autor só pode ser quem

esteja em situação de realizar imediata e corporalmente a conduta punível.

A propósito: para que se possa melhor compreender os “crimes de mão

própria”, vejamos um exemplo citado por Damásio Evangelista de Jesus: o

funcionário público não pode pedir a terceiro que deixe de realizar ato de ofício

em seu lugar, a fim de atender sentimento pessoal

.Saiba que: a conduta usada como exemplo caracteriza o crime denominado

“prevaricação” , que é previsto no artigo 319 do Código Penal. Vamos dar uma

olhada no dispositivo em questão:

Prevaricação

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar,

indevidamente, ato de ofício, ou praticá-

lo contra disposição expressa da lei, para

satisfazer interesse ou sentimento pessoal

2 - Vide, como exemplo, o artigo 292 do CP.

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Saiba que: esperamos que o exemplo supra tenha auxiliado a compreensão

do conceito de “crimes de mão própria”.

Preste atenção: É preciso que se frise a diferença entre crimes próprios e

crimes de mão própria. Vamos fazer uma breve explicação acerca da referida

distinção:

Nos crimes próprios o sujeito ativo pode determinar a outrem sua execução,

enquanto que nos crimes de mão própria, ninguém pode cometê-los por

intermédio de outrém.

Sendo que: se isso ocorrer, a infração fica descaracterizada, podendo

ocorrer, como conseqüência, uma atipicidade relativa, na qual ficará

descaracterizado, por exemplo, o crime de falso testemunho, podendo

entretanto, subsistir outro crime.

Perceba que: na atipicidade relativa, a conduta é descrita como crime distinto

do inicialmente cogitado. Já no caso da atipicidade absoluta, a conduta não se

enquadrará em nenhuma outra norma diferente da inicialmente cogitada. Ou

seja: a conduta será um irrelevante penal.

Outra diferença relevante no que toca à diferenciação entre crimes próprios

e crimes de mão própria pode assim ser exposta: nos crimes de mão

própria os terceiros apenas podem figurar como partícipes, e nunca como

co-autores, tal como se verá na última aula deste nosso semestre.

A propósito: os institutos da co-autoria e da participação já foram citados em

um aula anterior, onde dissemos que eles seria estudados com maior

profundidade no momento oportuno ( e não nos referimos, naquela ocasião, à

esta aula, mas sim à última aula deste semestre, onde será abordado o tema

“concurso de pessoas”)

No entanto: temos por oportuno relembrar tais conceitos, para que se possa

compreender porque nos crimes de mão própria os terceiros podem apenas

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figurar como partícipes: Vejamos, mais uma vez, em apertada síntese, a

diferença entre os institutos da co-autoria e da participação:

a - Co-Autoria: os co-autores praticam o verbo descrito no tipo penal ( matam,

roubam, furtam).

b - Participação: já os partícipes são aqueles que, de qualquer forma

contribuem para a prática da infração penal, sem contudo praticar o verbo

descrito no tipo penal. São as pessoas que ajudam a matar, ajudam a roubar.

Por exemplo: O motorista que, sabendo da intenção dos companheiros os

leva de carro até o banco para que estes pratiquem o crime descrito no artigo

157 do Código Penal, qual seja, o roubo, contribui para a prática da infração,

mas não praticou o verbo do referido dispositivo legal. Será, o motorista,

portanto, partícipe. Vamos dar uma olhada no dispositivo legal em comento:

Roubo

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia,

para si ou para outrem, mediante violência

ou grave ameaça a pessoa, ou depois de

havê-la, por qualquer meio, reduzido à

impossibilidade de resistência.

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10

(dez)anos e multa.

Crimes de Dano: são os delitos que exigem uma efetiva lesão ao bem

jurídico tutelado, protegido, pela norma penal. Tais delitos só se

consumam com a efetiva lesão do bem jurídico.

Crimes de Perigo: esta espécie de delitos se consumam apenas com a

possibilidade de dano 3 . Segundo o Prof. Fernando Capez, para a

consumação dos crimes perigo, “basta a possibilidade do dano, ou seja, a

exposição do bem a perigo de dano. 130, 13 e 250

3 - Exemplos: art. 130, caput, 137 e 250.

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A propósito: podemos pegar como exemplo desta espécie de crimes o artigo

130 do Código Penal, que assim preceitua:

Perigo de contágio venéreo

Art. 130 - Expor alguém, por meio de

relações sexuais ou qualquer ato

libidinoso, a contágio de moléstia

venérea, de que sabe ou deve saber que

está contaminado:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1

(um) ano, ou multa.

Preste Muita Atenção: antes de tratarmos dos crimes materiais, formais e de

mera conduta é oportuno que façamos alguns breves comentários acerca do

resultado da conduta criminosa ( que será melhor estudado em uma aula

posterior). Em primeiro lugar, é importante que se observe que este, via de

regra, pode ser considerado sob dois aspectos: o naturalístico e normativo.

Sendo que: sob o enfoque naturalístico, diz-se que o resultado compreende a

modificação ocasionada no mundo exterior por conta da prática de uma

determinada infração, e esta modificação no mundo exterior, segundo Damásio

Evangelista de Jesus é estranha a qualquer valor e não comporta nenhuma

apreciação normativa.

Em contrapartida: sob o prisma jurídico ou normativo, o conceito de resultado

guarda relação com a ofensa ao bem jurídico protegido pela norma, e não

necessariamente com alguma modificação no mundo exterior.

A propósito: acerca do “resultado”, deve-se ter em mente ainda que os dois

diferentes enfoques sob os quais pode ele ser conceituado, são oriundos de

duas teorias distintas, que têm em comum apenas a finalidade de conceituar o

resultado, posto que.

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Sendo que: tais teorias serão melhor estudadas em uma aula posterior,

entretanto, por hora, é por bem que se teçam alguns breves comentários sobre

elas:

Teoria normativa : para esta teoria, que considera o “resultado” sob o

prisma normativo ou jurídico, não há que se falar em crime sem resultado,

posto que, segundo ela, todo e qualquer delito produz um dano ou perigo

de dano a um bem jurídico tutelado pela norma penal, e sendo assim,

segundo esta teoria, tanto nos crimes materiais, como nos crimes formais,

dos quais adiante trataremos, sempre vai existir o elemento resultado.

Teoria Naturalística : para esta teoria, que considera o “resultado” sob o

prisma naturalístico existe a possibilidade de haver crime sem resultado,

posto nem todas as condutas tipificadas penalmente produzem,

necessariamente, uma modificação no mundo exterior, ou seja, um

resultado naturalístico.

Mas, enfim: após essas necessárias explicações sobre o resultado, podemos

agora tratar de conceituar os crimes materiais, formais e de mera conduta:

Crimes Materiais: são crimes que só se consumam com a produção do

resultado naturalístico, como por exemplo, o homicídio, que só se consuma

com a morte da vítima. Nesta espécie de delito o legislador descreve a

conduta do autor e a modificação causada no mundo exterior por tal

conduta.

Ou seja: nesses casos descreve-se a conduta e o resultado naturalístico.

Para que melhor se compreenda esta espécie de crimes, vamos transcrever

alguns tipos penais incriminadores que são inseridos nesta categoria, e fazer

os devidos comentários:

Roubo

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia,

para si ou para outrem, mediante grave

ameaça ou violência à pessoa, ou depois de

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havê-la, por qualquer meio, reduzido à

impossibilidade de resistência.

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10

(dez)anos e multa.

OBS: no caso do “Roubo”, há a descrição da

ação de ameaçar gravemente ou violentar a

vítima, e do resultado, que é a subtração

de coisa alheia móvel. Observe que sem o

resultado naturalístico ( subtração de

coisa alheia móvel)a infração fica

descaracterizada, e ocorrerá, neste caso

em particular, o que se denomina

atipicidade relativa, pois a ação sem a

ocorrência do resultado impedirá que a

conduta seja enquadrada no artigo supra

transcrito, entretanto poderá, tal

conduta, se adequar ã um outro tipo penal,

ou seja, mesmo que não ocorra o resultado

pretendido ( subtração da coisa) poderá

subsistir outro crime, como por exemplo, o

descrito pelo artigo 129 do Código Penal (

lesões corporais). Vamos dar uma olhada no

referido dispositivo:

Lesões Corporais

Art. 129. Ofender a integridade corporal

ou a saúde de outrem:

Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um)

ano.

Atenção: caso um determinada conduta

definida como crime fique descaracterizada

pela ausência do resultado exigido pelo

tipo penal ( crime material), e não se

enquadre, a referida conduta, em nenhum

outro tipo penal, que possam incidir

subsidiariamente, ocorrerá o que se

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denomina pelo doutrina de atipicidade

absoluta.

Crimes Formais: nestes delitos o tipo não exige a produção do resultado

naturalístico para a consumação da infração, embora seja possível sua

ocorrência. Como bem assevera o Profº. Fernando Capez, o resultado

naturalístico, nos crimes formais, embora possível, é irrelevante para que a

infração penal se consume.

Saiba que: nos crimes formais o legislador descreve apenas o comportamento

do sujeito, não fazendo referência a qualquer mudança no mundo externo

produzida pela infração. No caso dos crimes formais, o resultado naturalístico

até é descrito pelo tipo penal, contudo, a configuração do crime não depende

de sua ocorrência.

A propósito: para que se possa bem compreender o conceito de crime formal

temos por oportuno transcrever alguns tipos penais que descrevem crimes

desta espécie e fazer os devidos comentários:

Ameaça

Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra,

escrito ou gesto, ou qualquer outro meio

simbólico, de causar-lhe mal injusto e

grave:

Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses

ou multa.

OBS: no caso do crime de ameaça, há a

descrição da ação, que é a de ameaçar, e a

descrição do resultado, que se traduz em

sendo a causação do mal injusto e grave.

Nesse tipo penal, é possível que o agente

realmente cause um mal injusto e grave a

vítima, mas a efetiva ocorrência desta

“causação o mal injusto” não é

imprescindível para a consumação do

delito.

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Extorsão Mediante Seqüestro

Art. 159. Seqüestrar pessoa com o fim de

obter, para si ou para outrem, qualquer

vantagem, como condição ou preço do

resgate.

Pena – reclusão de 8 (oito) a 15 (quinze)

anos.

OBS: também no caso da “extorsão mediante

seqüestro”, há a descrição da ação, que é

seqüestrar a pessoa, e a descrição do

resultado, que é a obtenção de qualquer

vantagem como condição ou preço do

resgate. O resultado ( obtenção de

qualquer vantagem...) é descrito porém não

exigível. Em termos mais simples: o

“pagamento do resgate”, no caso da

extorsão mediante seqüestro, não

influencia o enquadramento da conduta no

tipo penal supra transcrito

Preste muita atenção: tal como leciona o Profº. Fernando Capez, nos tipos

penais que descrevem os crimes formais ( ameaça e extorsão mediante

seqüestro, por exemplo) há uma incongruência, uma falta de harmonia, entre o

fim visado pelo agente e o resultado exigido pelo tipo.

Vejamos um exemplo: no crime de ameaça ( supra transcrito), o fim visado

pelo agente é a intimidação da vítima, mas o tipo penal se contenta com

menos, pois não importa que o agente consiga ou não intimidar a vítima.

Assim, esses tipos também são denominados, pela doutrina, de tipos

incongruentes.

Crimes de Mera Conduta: nesses casos o resultado naturalístico, além de

irrelevante, é inexistente. No caso de violação de domicílio ( art. 150) ou

desobediência ( art.330), por exemplo, não existe nenhum resultado que

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provoque modificação no mundo concreto. Nesses casos o legislador

apenas descreve o comportamento do agente.

A propósito: vamos dar uma olhada nos dispositivos legais supra

mencionados, como sempre fazemos:

Violação de Domicílio

Art. 150. Entrar ou permanecer,

clandestina ou astuciosamente, ou contra a

vontade expressa ou tácita de quem de

direito, em casa alheia ou em suas

dependências.

Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três)meses

ou multa.

Desobediência

Art. 330. Desobedecera ordem legal de

funcionário público.

Pena – detenção de 15 (quinze) dias a 6

(seis)meses e multa.

Crimes Comissivos: são os delitos praticados por meio de uma ação, de

um comportamento positivo. Vejamos um exemplo de tipo penal que

descreve uma conduta comissiva.

Contrabando ou Descaminho

Art. 334. Importar ou exportar mercadoria

proibida ou iludir, no todo em parte, o

pagamento o pagamento de direito ou

imposto devido pela entrada, pela saída ou

pelo consumo de mercadoria.

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro)

anos.

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Crimes Omissivos: são os crimes praticados por meio de uma omissão, de

uma abstenção de um determinado comportamento. Vejamos agora um

exemplo de tipo penal que descreve uma conduta omissiva:

Omissão de Socorro

Art. 135. Deixar de prestar assistência ,

quando possível fazê-lo sem risco pessoal,

à criança abandonada ou extraviada, ou à

pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou

em grave e iminente perigo; ou não pedir,

nesses casos, o socorro da autoridade

pública.

Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses

ou multa.

Preste muita atenção: os crimes omissivos, se subdividem em:

a – crimes omissivos próprios: estes também são denominados crimes “de

pura omissão”, e tais delitos se concretizam com a simples abstenção da

realização de um ato, independentemente de um resultado posterior. Como

bem leciona Damásio Evangelista de Jesus, o resultado é imputado ao sujeito

pela simples omissão normativa.

A propósito: o exemplo mais comum desta espécie de crime omissivo é a

“omissão de socorro”, tipificada pelo artigo 135 do Código Penal ( supra

transcrito), pois tal delito se consuma com a abstenção de prestação de

assistência ao necessitado, não se condicionando a qualquer evento posterior.

b – Crimes Omissivos Impróprios: estes também são denominados de

comissivos por omissão. Nestes casos o sujeito, através da abstenção de um

comportamento devido permite a produção de um resultado posterior, que é

imprescindível para a existência desta espécie de delitos. Nestes casos, tal

com enfatiza o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, via de regra, a simples

omissão não constitui crime.

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Saiba que: esses crimes são denominados também de “comissivos por

omissão” pois, em virtude do dever jurídico que é imposto por lei ao omitente,

através do artigo 13, § 2º do Código Penal, sua omissão, fictamente, eqüivale

a um comportamento positivo.

Em outros termos: tal como ensina-nos Fernando Capez, nesses casos o

omitente tinha o dever jurídico de evitar o resultado e portanto, por este

responderá.

Por exemplo: se o salva-vidas, por exemplo, na posição de garantidor, deixa,

por negligência, o banhista morrer afogado, responderá por homicídio culposo

e não por omissão de socorro.

A propósito: sobre os crimes omissivos ( próprios e impróprios) mais se falará

quando tratarmos da “omissão” de uma forma mais aprofundada, na próxima

aula.

Crimes Instantâneos: se consumam em um dado momento, sem

continuidade temporal.

Crimes Permanentes: nestes delitos o momento consumativo se prolonga

no tempo.

Sendo que: no seqüestro, por exemplo ( art. 148), enquanto a vítima não

recupera sua liberdade de locomoção, o crime está se consumando. E para

que melhor se elucide nossa exposição, temos oportuno expor que, para

alguns autores, o crime permanente apresenta duas fases, a saber:

a – fase de realização do fato descrito pela lei, que é de natureza comissiva;

b – fase de manutenção do estado danoso ou perigoso, de caráter omissivo.

Vamos agora dar uma olhada no dispositivo legal que tipifica a conduta

do seqüestro:

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Seqüestro e Cárcere Privado

Art. Privar alguém de sua liberdade,

mediante seqüestro ou cárcere privado.

Pena – reclusão de 1(um) a 3 (três) anos.

Veja que interessante: a mídia ( televisão, jornais, etc...) sempre acaba por

confundir o “seqüestro” propriamente dito com a “extorsão mediante

seqüestro”. Para os telejornais, por exemplo, se o agente privar alguém da

liberdade com o intuito de obter qualquer vantagem, como condição ou preço

do resgate ou privar alguém sem tal intuito, praticou, tanto num como noutro

caso, “seqüestro”. Tecnicamente, entretanto, tais delitos não se confundem, e

inclusive pertencem a categorias diferenciadas. A extorsão mediante seqüestro

( art. 159) é inserida no rol dos crimes contra o patrimônio, enquanto que o

seqüestro e cárcere privado é inserido no rol dos crimes contra a liberdade

individual

A propósito: é por bem que se exponha que nesta espécie de crimes

( permanentes), segundo o artigo 303 do Código de Processo Penal, enquanto

não cessar a permanência o agente se encontra em situação de flagrante

delito. Mas tal aspecto é estudado quando do estudo do “Processo Penal”, que

é disciplina acadêmica que não se confunde com o nosso “Direito Penal”,

apesar de ter com este relação indiscutível.

Sendo que: apenas à título complementativo, convém darmos uma olhada no

citado artigo do Código de Processo Penal4. É dispositivo:

Art. 303. Nas infrações permanentes,

entende-se o agente em flagrante delito

enquanto não cessar a permanência.

Crimes Instantâneos de efeitos permanentes: consuma-se em um dado

instante, mas seus efeitos se perpetuam no tempo.

4 - Note que tal artigo não está inserido no Código Penal e sim no Código de Processo Penal.

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Crime Continuado: o conceito desta espécie de crime, prevista no artigo

71, Caput, do Código Penal, pode assim ser sistematizado:

agente, mediante mais de uma ação ou omissão;

pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, sendo que;

pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras

semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do

primeiro.

A propósito: vamos dar uma olhada no “caput” do citado artigo 71 do Código

Penal, que conceitua o instituto do crime continuado:

Crime Continuado

Art. 71. Quando o agente, mediante mais de

uma ação ou omissão, pratica dois ou mais

crimes da mesma espécie e, pelas condições

de tempo, lugar, maneira de execução e

outras semelhantes, devem os subseqüentes

ser havidos como continuação do primeiro,

aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes,

se idênticas, ou a mais grave, se

diversas, aumentada, em qualquer caso, de

um sexto a dois terços

Preste muita atenção: Segundo o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o

crime continuado não se trata de um tipo de crime, mas de uma forma de

concurso de delitos, e é por bem que se tenha em mente que que tal instituto

será estudado no semestre que vem, quando trataremos da Teoria Geral da

Pena.

Crime Principal: existe independente de outros ( furto, por exemplo)

Crime acessório: depende de outro crime para existir, como a receptação,

por exemplo, que pressupõe um crime anterior para sua consumação.

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Vamos dar uma olhada no artigo de lei que descreve a receptação, para

que assim se possa melhor compreender o que estamos a expor:.

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar,

conduzir ou ocultar, em proveito próprio

ou alheio, coisa que sabe ser produto de

crime, ou influir para que terceiro, de

boa-fé, a adquira, receba ou oculte:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)

anos, e multa

Crime Simples: apresenta um tipo penal único.

Crime Complexo: resulta da fusão de dois ou mais tipos penais. Cite-se

como exemplo o latrocínio, que nada mais é do que a fusão entre os crimes

de roubo e homicídio.

A propósito: o chamado latrocínio é tipificado pelo artigo 157, parágrafo 3º, in

fine. Vamos ao dispositivo:

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia,

para si ou para outrem, mediante grave

ameaça ou violência a pessoa, ou depois de

havê-la, por qualquer meio, reduzido à

impossibilidade de resistência.

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)

anos e multa.

( ... )

§ 3º. Se da violência resulta lesão

corporal grave, a pena é de reclusão de 7

(sete) a 15 (quinze) anos, além da multa;

se resulta morte, a reclusão é de 20

(vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo

da multa.

( Grifo Nosso)

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Crime Progressivo: este ocorrerá quando o sujeito, para alcançar a

produção de um resultado mais grave, passa por outro, menos grave.

Segundo o Profº. Fernando Capez, nestes casos, o agente, visando desde

o início a produção de um resultado mais grave, pratica sucessivas e

crescentes violações ao bem jurídico até atingir o intuito principal.

Saiba que: o crime menos grave não será atribuído ao agente em face do

princípio da consunção, que será estudado quando abordarmos o chamado

“conflito aparente de norma”. De acordo com o Profº. Fernando Capez, o crime

consumido é chamado de ação de passagem.

Progressão Criminosa: nesta hipótese o agente, inicialmente, deseja

produzir um resultado e, após consegui-lo, resolve prosseguir na violação

do bem jurídico, produzindo um outro crime mais grave. Seria o caso, por

exemplo, do agente que quer ferir e depois resolve matar.

Saiba que: de acordo com o doutrinador supracitado, o agente só responderá

pelo crime mais grave, também em virtude do princípio da consunção. Enfatiza

ainda, ainda o doutrinador em questão, que nestes casos existem dois crimes,

e por isso não se fala em crime progressivo, e sim em progressão criminosa

entre crimes.

Crime Unissubsistente: é o que se perfaz com um único ato, como por

exemplo, a injúria verbal. Vamos dar uma olhada no tipo penal que

incrimina a injúria:

Injúria

Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a

dignidade ou o decoro.

Pena – detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses

ou multa.

Crime Plurissubsistente: é o que exige mais de um ato para sua

consumação

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Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio

Crime de Concurso Necessário ou plurissubjetivo: são aqueles que

exigem a presença de mais de uma pessoa no polo ativo, exige-se a

pluralidade de sujeitos ativos, como por exemplo o crime de rixa ( art. 137) e

o de quadrilha ou bando ( art. 288). Vamos dar uma olhada nos referidos

dispositivos legais, pois assim se poderá compreender o “porque” de tais

crimes serem classificados como sendo “de concurso necessário”

Rixa

Art. 137. Participar de rixa, salvo para

separar os contendores.

Pena – detenção de 15 (quinze) dias a 2

(dois) meses ou multa.

Quadrilha ou Bando

Art.288. Associarem-se, mais de três

pessoas, em quadrilha ou bando, para fim

de cometer crimes:

Pena – reclusão de 1(um) a 3 (três) anos

Crimes de Concurso Eventual ou Monossubjetivos: são aqueles que

podem ser cometidos por um ou mais agentes. Para a tipificação da

conduta, é irrelevante que ele tenha sido praticada por uma ou mais

pessoas.

Crime Consumado: quando nele se reúnem todos os elementos da figura

típica, todos os elementos de sua definição legal. Tal modalidade de crime é

conceituada pelo artigo 14, I do Código Penal. É também denominado de

“crime perfeito”.

Crime Tentado: diz-se crime tentado quando, iniciada a execução, ele não

se consuma por vontades alheias ä vontade do agente. Estes são definidos

pelo artigo 14, II do Código penal e também são denominados de “crime

imperfeito”

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Page 19: Direito Penal I - Aula 07

Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio

A propósito: no que toca aos crimes consumados e aos crimes tentados, vale

lembrar que eles serão melhor estudados em uma aula posterior. Temos por

conveniente, entretanto, que desde já se dê uma lida no dispositivo legal que

regula o tema. Vamos ao dispositivo:

Art.14. Diz-se o crime:

I – consumado, quando nele se reúnem todos

os elementos de sua definição legal;

II – tentado, quando, iniciada a execução,

não se consuma por circunstâncias alheias à

vontade do agente.

Parágrafo único. Salvo disposição em

contrário, pune-se a tentativa com a pena

correspondente, diminuída de um a dois

terços.

Crime Exaurido: o exaurimento representa um “plus” em relação ao

resultado propriamente dito. Em linhas gerais, pode-se dizer que o crime

exaurido é aquele que produz efeitos, mesmo após a produção do

resultado, como no caso do falso testemunho, por exemplo, que é tipificado

pelo artigo 342 do Código Penal, no qual o agente, após ter mentido em

juízo, beneficia o réu, que vem a ser absolvido. Tal como leciona o Profº.

Damásio Evangelista de Jesus, para o crime se exaurir é preciso que tenha

causado todas as conseqüências visadas pelo agente. Vamos dar uma

olhada no citado artigo 342 do Código Penal:

Falso testemunho ou falsa perícia

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar

ou calar a verdade, como testemunha,

perito, tradutor ou intérprete em processo

judicial, policial ou administrativo ou em

juízo arbitral.

Pena – reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos

e multa.

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Page 20: Direito Penal I - Aula 07

Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio

Crime Vago: aquele que tem sujeito passivo indeterminado, tem por sujeito

passivo entidade sem personalidade jurídica, como por exemplo, a

comunidade em seu pudor, no caso de crime de ato obsceno, que é

descrito pelo artigo 233 do Código Penal. Vamos dar uma olhada no citado

tipo penal:

Ato Obsceno

Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar

público, ou aberto ou exposto ao público:

Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um)

ano ou multa.

Crimes Conexos: pode ocorrer que um sujeito pratique vários crimes, sem

que entre esses delitos haja qualquer ligação, esses seriam, segundo o

Profº. Damásio Evangelista de Jesus, “crimes independentes”.

Em contrapartida: pode acontecer que entre os delitos praticados exista um

liame, um nexo. Tal como leciona o penalista supracitado, o sujeito pode

cometer um crime para ocultar outro, por exemplo.

Sendo que: segundo a melhor doutrina, existem três tipos de conexão, a

saber:

a – Conexão teleológica ou ideológica: nesta modalidade estão inseridos os

casos em que um crime é praticado para assegurar a execução de outro. Seria

o caso, por exemplo, do sujeito que mata o marido para estuprar a esposa.

Perceba que: neste exemplo, o homicídio é o que se denomina de crime-meio

e o estupro é o que se denomina crime-fim. Á título de complementação,

transcreveremos os tipos penais do homicídio e do estupro, para que se tenha

uma idéia mais concreta do que estamos dizendo:

Homicídio

Art. 121. Matar alguém:

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Page 21: Direito Penal I - Aula 07

Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio

Pena – reclusão de 6 (seis) a 20

(vinte)anos.

Estupro

Art. 213. Constranger mulher à conjunção

carnal, mediante violência ou grave

ameaça:

Pena – reclusão de 6 (seis) a 10 (dez)

anos.

b – Conexão conseqüencial ou causal: quando um crime é praticado para

assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro. Podemos citar como

exemplo desta espécie de delito a execução da única testemunha ocular de um

roubo, que seria capaz de fazer prova contra o agente.

Perceba que: A testemunha foi vítima de homicídio para que a impunidade em

relação ao roubo fosse garantida. E, falando em “roubo”, vamos dar uma lida

no dispositivo legal que tipifica tal conduta:

Roubo

Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, par

si ou para outrem, mediante grave ameaça

ou violência a pessoa, ou depois de havê-

la, por qualquer meio, reduzido à

impossibilidade de resistência.

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez)

anos e multa.

c – Conexão ocasional: ocorrerá quando um crime for praticado por ocasião

da prática de outro. Seria o caso, por exemplo, do sujeito que, após ter

estuprado a vítima, resolve subtrair seu relógio.

Preste muita atenção: o artigo 61, II, “b” do Código Penal determina que a

pena sempre será agravada pela circunstância de ter o agente cometido o

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Page 22: Direito Penal I - Aula 07

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crime para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou

vantagem de outro crime”

Continue prestando atenção: a conexão ocasional não é considerada

agravante, de acordo como dispositivo em questão. Vamos dar uma olhada no

dispositivo em questão:

Circunstâncias agravantes

Art. 61. São circunstâncias que sempre

agravam a pena, quando não constituem ou

qualificam o crime:

( ... )

II – ter o agente cometido o crime:

(...)

b) para facilitar ou assegurar a execução,

a ocultação, a impunidade ou vantagem de

outro crime;

(...)

Crime de Mera Suspeita: também são denominados de “crimes sem ação”.

Nesta espécie de delito o autor é punido pela mera suspeita despertada.

Saiba que: a maioria da doutrina repudia esta espécie de delitos, entretanto,

segundo o Profº. Fernando Capez, em nosso ordenamento jurídico há uma

forma que se assemelha a esse crime, que é a contravenção penal prevista no

artigo 25 da Lei de Contravenções Penais5. É o dispositivo:

Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois

de condenado por crime de furto ou roubo,

ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou

quando conhecido como vadio ou mendigo,

gazuas, chaves falsas ou alteradas ou

instrumentos empregados usualmente na

prática de crime de furto, desde que não

prove destinação legítima:

5 - Decreto-Lei 3688/41

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Page 23: Direito Penal I - Aula 07

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Pena – Prisão simples, de 2 ( dois) meses

a 1 ( um ) ano e multa.

Crime de Opinião: estes se caracterizam pelo abuso da liberdade de

expressão do pensamento, como a injúria, por exemplo, que é descrita pelo

artigo 140 do Código Penal, que já fora por nós transcrito anteriormente,

quando falamos dos crimes unissubsistentes.

Crimes de Ação Múltipla ou Conteúdo Variado: são aqueles crimes nos

quais o tipo penal descreve várias formas de realização do crime. Podemos

pegar como exemplo o artigo 122 do Código Penal que pune a instigação, o

induzimento ou o auxílio ao suicídio. Ou, pode-se citar também, como

exemplo desta espécie de delito, o artigo 12 da Lei 6368/76 ( Lei de

Tóxicos), que descreve várias maneiras de realização do crime de “tráfico

de entorpecentes”. Vamos dar uma olhada nos citados tipos penais:

Induzimento, instigação ou auxílio ao

suicídio.

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a

suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para

que o faça.

Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis)

anos, se o suicídio se consuma, ou

reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, se da

tentativa de suicídio resulta lesão

corporal de natureza grave.

Art. 12. Importar ou exportar, remeter,

preparar, produzir, fabricar, adquirir,

vender, expor à venda ou oferecer,

fornecer ainda que gratuitamente, ter em

depósito, transportar, trazer consigo,

guardar, prescrever, ministrar ou

entregar, de qualquer forma, a consumo

substância entorpecente ou que determine

dependência física ou psíquica, sem

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Page 24: Direito Penal I - Aula 07

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autorização ou em desacordo com

determinação legal ou regulamentar.

Pena – reclusão de 3 (três) a 15 (quinze)

anos e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360

(trezentos e sessenta) dias-multa.

Crimes Funcionais: crimes cometidos por funcionário público. Estes se

subdividem em:

a – crimes funcionais próprios: só podem ser cometidos por funcionário

público.

b – crimes funcionais impróprios: são aqueles que também podem ser

cometidos por particular, mas com outra rubrica, outro nomem juris.

Por exemplo se um funcionário público se apropriar indevidamente de coisa

móvel pertencente à Administração, estará cometendo o crime de peculato. O

particular, se cometer tal ato, também estará praticando um crime, mas não o

de peculato, e sim o de apropriação indébita.

A propósito: para que se possa compreender melhor o que estamos dizendo,

convém darmos uma olhada nos dispositivos legais que incriminam,

respectivamente, a apropriação indébita. Vamos aos dispositivos:

Apropriação Indébita

Art. 168. Apropriar-se de coisa alheia

móvel, de que tem a posse ou detenção.

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro)

anos e multa.

Peculato

Art.312. Apropriar-se, o funcionário

público de dinheiro, valor ou qualquer

outro bem móvel, público ou particular, de

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Page 25: Direito Penal I - Aula 07

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que tem a posse em razão do cargo ou

desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.

Pena – reclusão de 2 (dois) a 12 (doze)

anos e multa.

Delitos de fato permanente ( delicta facti permanentis) – são os delitos

que deixam vestígio, sendo que, no que toca à esta espécie de delitos,

cumpre observar o que preceitua o artigo 158 do Código de Processo

Penal, que assim pode ser transcrito:

Art. 158. Quando a infração deixar

vestígios, será indispensável o exame de

corpo de delito, direto ou indireto, não

podendo supri-lo a confissão do acusado.

Delitos de fato transeunte ( delicta facti transeuntis) – são infrações

penais que não deixam vestígios.

Delito Putativo ( imaginário ou erroneamente suposto): em breves linhas,

pode-se afirmar que estes compreendem os casos em que o agente pensa

que cometeu um crime, mas na verdade realizou um irrelevante penal. Tal

como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o delito putativo

não é uma espécie de crime, mas sim uma maneira de expressão para

designar casos de não-crime.

A propósito: O delito putativo se divide em:

a – delito putativo por erro de tipo: este ocorrerá quando a errônea

suposição, a falsa valoração do agente recair sobre os elementos do crime.

Nestes casos, tal como ensina-nos o Profº. Damásio, o agente crê violar uma

norma realmente existente, mas à sua conduta faltam elementares do tipo.

Saiba que: exemplo clássico desta espécie de delito putativo é o caso de um

sujeito que, pretendendo furtar o chapéu de outrém, acaba pegando o próprio

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Page 26: Direito Penal I - Aula 07

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chapéu. Neste caso, ele “pensa estar furtando”, mas sua conduta não tem

nenhuma importância para o Direito Penal.

b – delito putativo por erro de proibição: nestes casos, o agente supõe

violar uma norma penal que, na verdade, não existe. Aqui, o erro do agente

recai sobre a ilicitude da conduta. Seria o caso, por exemplo, do pai que, ao

manter relações sexuais consentidas com sua filha de 25 anos pensa estar

adentrando na zona do ilícito penal quando, em verdade, sua conduta é

penalmente irrelevante, uma vez que o incesto não é descrito como crime por

nenhum diploma legal . Pode ser uma conduta moral e socialmente reprovável,

mas não é “crime”.

c – delito putativo por obra de agente provocador ( crime de flagrante

provocado): também conhecido como delito de ensaio, delito de experiência.

Esta espécie de delito putativo ocorrerá quando alguém, de forma insidiosa,

provoca o agente à prática do crime, ao mesmo tempo que toma providências

para que o mesmo não se consume. Nestes casos não há que se falar em

existência de crime, por parte do agente induzido, ante a ausência de

espontaneidade.

A propósito: tal como ensina-nos o Profº. Nelson Hungria, nesses casos,

somente na aparência é que o ocorre um crime exteriormente perfeito, posto

que, na realidade, seu autor é apenas protagonista inconsciente de uma

comédia.

Saiba que: sobre os “delitos putativos” mais se falará no momento oportuno.

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Page 27: Direito Penal I - Aula 07

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Questão – Problema

Um primo seu, que não cursou a faculdade de Direito, chega, num

churrasco em família e lhe diz:

- Primo, outro dia eu estava assistindo um debate jurídico na televisão, do

qual participavam um advogado e um promotor de justiça. Eles usaram

alguns termos durante o debate que eu nunca tinha ouvido falar, e nem

imagino o que significam. Falaram, por exemplo, em “crimes de ação

múltipla ou conteúdo variado”. O que significa isto primo ? Você pode me

dar um exemplo de um desses tais “crimes de ação múltipla ou conteúdo

variado?

E antes mesmo que você respondesse, ele ainda lhe diz:

- Falaram também os debatedores, sobre uns tais “crimes de concurso

necessário” e “delitos putativos”. Primo, será que você também pode me

explicar o que significam estes termos ?

O que você, como futuro penalista, responderia ao seu curioso primo ?

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Page 28: Direito Penal I - Aula 07

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Quadro Sinóptico

1. Não podemos confundir a qualificação legal dos crimes com a

qualificação doutrinária dos crimes. Vamos relembrar a diferença entre

estas duas modalidades de qualificação:

Qualificação legal dos Crimes: é o nomem juris ( nome jurídico) da

infração. Por exemplo: quem ofende a integridade física ou a saúde

de outrém ( art. 129, Caput) pratica o crime com nome jurídico de

lesões corporais.

Qualificação Doutrinária: esta é o nome dado pela doutrina ao fato

delituoso, e tais classificações doutrinárias são resultado de um

trabalho construtivo de sistematização científica da teoria do

crime.

2. Vamos relembrar, de forma resumida, as espécies da crime das quais

falamos na presente aula:

Crimes Comuns e Especiais: Crimes comuns são os descritos no

Direito Penal Comum, na parte especial do próprio Código Penal, que

se inicia no artigo 121 do referido diploma legal. E crimes

especiais são os definidos no Direito Penal Especial, como por

exemplo os delitos elencados na Lei de Proteção ao Meio Ambiente

( Lei 9.605 / 98), que são os crimes denominados pela doutrina de

“crimes contra o meio ambiente”.

Crimes Comuns e Próprios: esta é uma classificação que tem por base

o sujeito ativo da infração penal, e assim, aqui, o conceito de

crime comum não se confunde com o conceito supramencionado. Para

esta classificação os crimes comuns são os que podem ser praticados

por qualquer pessoa ( furto, estelionato, homicídio), e os

chamados, Crimes Próprios são aqueles que exigem certas condições

especiais do sujeito ativo, e portanto, só podem ser cometidos por

uma determinada categoria de pessoas.

Crimes de Mão Própria: São os delitos que só podem ser cometidos

pelo sujeito em pessoa ( VG: falso testemunho, prevaricação).

Tais delitos são tipificados de tal maneira pelo legislador que o

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Page 29: Direito Penal I - Aula 07

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autor só pode ser quem esteja em situação de realizar imediata e

corporalmente a conduta punível.

Lembre-se que: nos crimes próprios o sujeito ativo pode determinar a

outrem sua execução, enquanto que nos crimes de mão própria, ninguém

pode cometê-los por intermédio de outrém.

Crimes de Dano: são os delitos que exigem uma efetiva lesão ao bem

jurídico tutelado, protegido, pela norma penal. Tais delitos só se

consumam com a efetiva lesão do bem jurídico.

Crimes de Perigo: esta espécie de delitos se consumam apenas com a

possibilidade de dano. Segundo o Prof. Fernando Capez, para a

consumação dos crimes perigo, “basta a possibilidade do dano, ou

seja, a exposição do bem a perigo de dano.

Crimes Materiais: são crimes que só se consumam com a produção do

resultado naturalístico, como por exemplo, o homicídio, que só se

consuma com a morte da vítima. Nesta espécie de delito o legislador

descreve a conduta do autor e a modificação causada no mundo

exterior por tal conduta.

Crimes Formais: nestes delitos o tipo não exige a produção do

resultado naturalístico para a consumação da infração, embora seja

possível sua ocorrência. Como bem assevera o Profº. Fernando Capez,

o resultado naturalístico, nos crimes formais, embora possível, é

irrelevante para que a infração penal se consume.

Crimes de Mera Conduta: nesses casos o resultado naturalístico,

além de irrelevante, é inexistente. No caso de violação de

domicílio ( art. 150) ou desobediência ( art.330), por exemplo, não

existe nenhum resultado que provoque modificação no mundo concreto.

Nesses casos o legislador apenas descreve o comportamento do

agente.

Crimes Comissivos: são os delitos praticados por meio de uma ação,

de um comportamento positivo, de um fazer.

Crimes Omissivos: são os crimes praticados por meio de uma omissão,

de uma abstenção de um determinado comportamento, de um não fazer.

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Page 30: Direito Penal I - Aula 07

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Lembre-se que: os crimes omissivos, se subdividem em:

a – crimes omissivos próprios: estes também são denominados crimes “de

pura omissão”, e tais delitos se concretizam com a simples abstenção

da realização de um ato, independentemente de um resultado posterior.

b – Crimes Omissivos Impróprios: estes também são denominados de

comissivos por omissão. Nestes casos o sujeito, através da abstenção

de um comportamento devido permite a produção de um resultado

posterior, que é imprescindível para a existência desta espécie de

delitos. Nestes casos, tal com enfatiza o Profº. Damásio Evangelista

de Jesus, via de regra, a simples omissão não constitui crime.

Crimes Instantâneos: se consumam em um dado momento, sem

continuidade temporal.

Crimes Permanentes: nestes delitos o momento consumativo se

prolonga no tempo.

Crimes Instantâneos de efeitos permanentes: consuma-se em um dado

instante, mas seus efeitos se perpetuam no tempo.

Crime Continuado: o conceito desta espécie de crime, prevista no

artigo 71, Caput, do Código Penal, pode assim ser sistematizado:

a - agente, mediante mais de uma ação ou omissão;

b - pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, sendo que;

c - pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras

semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do

primeiro.

Crime Principal: existe independente de outros ( furto, por

exemplo)

Crime acessório: depende de outro crime para existir, como a

receptação, por exemplo, que pressupõe um crime anterior para sua

consumação.

Crime Simples: apresenta um tipo penal único.

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Page 31: Direito Penal I - Aula 07

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Crime Complexo: resulta da fusão de dois ou mais tipos penais.

Cite-se como exemplo o latrocínio, que nada mais é do que a fusão

entre os crimes de roubo e homicídio.

Crime Progressivo: este ocorrerá quando o sujeito, para alcançar a

produção de um resultado mais grave, passa por outro, menos grave.

Progressão Criminosa: nesta hipótese o agente, inicialmente, deseja

produzir um resultado e, após consegui-lo, resolve prosseguir na

violação do bem jurídico, produzindo um outro crime mais grave.

Seria o caso, por exemplo, do agente que quer ferir e depois

resolve matar.

Crime Unissubsistente: é o que se perfaz com um único ato, como por

exemplo, a injúria verbal.

Crime Plurissubsistente: é o que exige mais de um ato para sua

consumação

Crime de Concurso Necessário ou plurissubjetivo: são aqueles que

exigem a presença de mais de uma pessoa no polo ativo, exige-se a

pluralidade de sujeitos ativos, como por exemplo o crime de rixa

( art. 137) e o de quadrilha ou bando ( art. 288).

Crimes de Concurso Eventual ou Monossubjetivos: são aqueles que

podem ser cometidos por um ou mais agentes. Para a tipificação da

conduta, é irrelevante que ele tenha sido praticada por uma ou mais

pessoas.

Crime Consumado: quando nele se reúnem todos os elementos da figura

típica, todos os elementos de sua definição legal. Tal modalidade

de crime é conceituada pelo artigo 14, I do Código Penal. É também

denominado de “crime perfeito”.

Crime Tentado: diz-se crime tentado quando, iniciada a execução,

ele não se consuma por vontades alheias ä vontade do agente. Estes

são definidos pelo artigo 14, II do Código penal e também são

denominados de “crime imperfeito”

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Page 32: Direito Penal I - Aula 07

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Crime Exaurido: o exaurimento representa um “plus” em relação ao

resultado propriamente dito. Em linhas gerais, pode-se dizer que o

crime exaurido é aquele que produz efeitos, mesmo após a produção

do resultado, como no caso do falso testemunho, por exemplo, que é

tipificado pelo artigo 342 do Código Penal, no qual o agente, após

ter mentido em juízo, beneficia o réu, que vem a ser absolvido.

Crime Vago: aquele que tem sujeito passivo indeterminado, tem por

sujeito passivo entidade sem personalidade jurídica, como por

exemplo, a comunidade em seu pudor, no caso de crime de ato

obsceno, que é descrito pelo artigo 233 do Código Penal.

Crimes Conexos: pode ocorrer que um sujeito pratique vários crimes,

sem que entre esses delitos haja qualquer ligação, esses seriam,

segundo o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, “crimes

independentes”.

Em contrapartida: pode acontecer que entre os delitos praticados

exista um liame, um nexo. Tal como leciona o penalista supracitado, o

sujeito pode cometer um crime para ocultar outro, por exemplo.

Sendo que: segundo a melhor doutrina, existem três tipos de conexão, a

saber:

a – Conexão teleológica ou ideológica: nesta modalidade estão

inseridos os casos em que um crime é praticado para assegurar a

execução de outro. Seria o caso, por exemplo, do sujeito que mata o

marido para estuprar a esposa.

Perceba que: neste exemplo, o homicídio é o que se denomina de crime-

meio e o estupro é o que se denomina crime-fim.

b – Conexão conseqüencial ou causal: quando um crime é praticado para

assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro. Podemos citar

como exemplo desta espécie de delito a execução da única testemunha

ocular de um roubo, que seria capaz de fazer prova contra o agente.

c – Conexão ocasional: ocorrerá quando um crime for praticado por

ocasião da prática de outro. Seria o caso, por exemplo, do sujeito

que, após ter estuprado a vítima, resolve subtrair seu relógio.

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Page 33: Direito Penal I - Aula 07

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Crime de Mera Suspeita: também são denominados de “crimes sem

ação”. Nesta espécie de delito o autor é punido pela mera suspeita

despertada.

Crime de Opinião: estes se caracterizam pelo abuso da liberdade de

expressão do pensamento, como a injúria, por exemplo, que é

descrita pelo artigo 140 do Código Penal, que já fora por nós

transcrito anteriormente, quando falamos dos crimes

unissubsistentes.

Crimes de Ação Múltipla ou Conteúdo Variado: são aqueles crimes nos

quais o tipo penal descreve várias formas de realização do crime.

Podemos pegar como exemplo o artigo 122 do Código Penal que pune a

instigação, o induzimento ou o auxílio ao suicídio. Ou, pode-se

citar também, como exemplo desta espécie de delito, o artigo 12 da

Lei 6368/76 ( Lei de Tóxicos), que descreve várias maneiras de

realização do crime de “tráfico de entorpecentes”. Vamos dar uma

olhada nos citados tipos penais:

Crimes Funcionais: crimes cometidos por funcionário público. Estes

se subdividem em:

a – crimes funcionais próprios: só podem ser cometidos por funcionário

público.

b – crimes funcionais impróprios: são aqueles que também podem ser

cometidos por particular, mas com outra rubrica, outro nomem juris.

Delitos de fato permanente ( delicta facti permanentis) – são os

delitos que deixam vestígio.

Delitos de fato transeunte ( delicta facti transeuntis) – são

infrações penais que não deixam vestígios.

Delito Putativo ( imaginário ou erroneamente suposto): em breves

linhas, pode-se afirmar que estes compreendem os casos em que o

agente pensa que cometeu um crime, mas na verdade realizou um

irrelevante penal. Tal como ensina-nos o Profº. Damásio Evangelista

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Page 34: Direito Penal I - Aula 07

Direito Penal I Profº. Paulo Eduardo Sabio

de Jesus, o delito putativo não é uma espécie de crime, mas sim uma

maneira de expressão para designar casos de não-crime.

Lembre-se que: O delito putativo se divide em:

a – delito putativo por erro de tipo: este ocorrerá quando a errônea

suposição, a falsa valoração do agente recair sobre os elementos do

crime.

b – delito putativo por erro de proibição: nestes casos, o agente

supõe violar uma norma penal que, na verdade, não existe. Aqui, o erro

do agente recai sobre a ilicitude da conduta. Seria o caso, por

exemplo, do pai que, ao manter relações sexuais consentidas com sua

filha de 25 anos pensa estar adentrando na zona do ilícito penal

quando, em verdade, sua conduta é penalmente irrelevante, uma vez que

o incesto não é descrito como crime por nenhum diploma legal . Pode

ser uma conduta moral e socialmente reprovável, mas não é “crime”.

c – delito putativo por obra de agente provocador ( crime de flagrante

provocado): também conhecido como delito de ensaio, delito de

experiência. Esta espécie de delito putativo ocorrerá quando alguém,

de forma insidiosa, provoca o agente à prática do crime, ao mesmo

tempo que toma providências para que o mesmo não se consume. Nestes

casos não há que se falar em existência de crime, por parte do agente

induzido, ante a ausência de espontaneidade.

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