direito humano fundamental à moradia - a morada...
TRANSCRIPT
0
SERVIÇO SOCIAL
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
FERNANDA BONFIM ROCHA
A IMPLEMENTAÇÃO DO “PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA”, A
GARANTIA DE VIDA DIGNA, E O DESENVOLVIMENTO URBANO LOCAL: UM
ESTUDO DE CASO DO LOTEAMENTO RESIDENCIAL ORQUÍDEAS NA CIDADE
DE TOLEDO-PR
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
TOLEDO-PR
2012
1
FERNANDA BONFIM ROCHA
A IMPLEMENTAÇÃO DO “PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA”, A
GARANTIA DE VIDA DIGNA, E O DESENVOLVIMENTO URBANO LOCAL: UM
ESTUDO DE CASO DO LOTEAMENTO RESIDENCIAL ORQUÍDEAS NA CIDADE
DE TOLEDO-PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
curso de Serviço Social, Centro de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção
do grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Dra. Marli Renate von Borstel
Roesler
TOLEDO - PR
2012
2
FERNANDA BONFIM ROCHA
A IMPLEMENTAÇÃO DO “PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA”, A
GARANTIA DE VIDA DIGNA, E O DESENVOLVIMENTO URBANO LOCAL: UM
ESTUDO DE CASO DO LOTEAMENTO RESIDENCIAL ORQUÍDEAS NA CIDADE
DE TOLEDO-PR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
curso de Serviço Social, Centro de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção
do grau de Bacharel em Serviço Social.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profa. Dra. Marli Renate von Borstel Roesler
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste
_________________________________________________
Profa. Ms. India Nara Smaha
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste
_________________________________________________
Profa. Dra. Rosana Miralles
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste
Toledo, 26 de novembro de 2012.
3
Agora que a terra é redonda
E o centro do universo é outro lugar
É hora de rever os planos
O mundo não é plano, não pára de girar
Agora que tudo é relativo
Não há tempo perdido, não há tempo a perder
Num piscar de olhos tudo se transforma
Tá vendo? Já passou!
Mas ao mesmo tempo
Fica o sentimento
De um mundo sempre igual
Igual ao que já era
De onde menos se espera
Dali mesmo é que não vem
Agora que tudo está exposto
A máscara e o rosto trocam de lugar
Tô fora se esse é o caminho
Se a vida é um filme, eu não conheço diretor
Tô fora, sigo o meu caminho
Às vezes tô sozinho, quase sempre tô em paz
Visão de raio-x
O x dessa questão
É ver além da máscara
Além do que é sabido, além do que é sentido
Ver além da máscara
(Além da máscara – Pouca Vogal)
4
ROCHA, Fernanda Bonfim. A implementação do “Programa Minha Casa, Minha Vida”,
a garantia de vida digna, e o desenvolvimento urbano local: um estudo de caso do
loteamento residencial Orquídeas na cidade de Toledo-PR. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Social Aplicadas. Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – Campus Toledo-PR, 2012.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema A implementação do “Programa
Minha Casa, Minha Vida”, a garantia de vida digna, e o desenvolvimento urbano local,
pautado no seguinte problema: Como a implementação de programa habitacional ao mesmo
tempo em que possibilita o acesso a um direito fundamental, limita a outros direitos sociais
afetando a qualidade de vida dos sujeitos? Observando que há uma falta de planejamento por
parte do poder público na construção desses loteamentos, que são localizados nas periferias da
cidade, levando ao usuário que adquiriu uma moradia nesses loteamentos e acabam por
privar-se do acesso a regiões centrais e aos serviços públicos básicos como acesso a escolas,
unidade básica de saúde, lazer e cultura. A pesquisa tem como objetivo geral: Avaliar a
implementação do “Programa Minha Casa, Minha Vida” e seus impactos na garantia de
moradia e vida digna, e desenvolvimento urbano/local no loteamento residencial Orquídeas na
cidade de Toledo-PR. Tendo como objetivos específicos: Discutir a partir de abordagens
teórico-documental o direito a moradia e o direito a Cidade, e as formas de acesso no
município; Identificar condições de infraestrutura urbana local, a partir da implementação do
“Programa Minha Casa, Minha Vida”, e sua integração com outras políticas públicas; e
Discutir e demonstrar a necessidade de se efetivar um planejamento frente ao
desenvolvimento urbano a partir do “Programa Minha Casa, Minha Vida” como direito social
e moradia digna. A metodologia de pesquisa definida para a realização do trabalho foi de
abordagem qualitativa com caráter bibliográfico exploratório, e a realização de entrevistas
com os beneficiados do Residencial Orquídeas, localizado no Jardim Coopagro na cidade de
Toledo- PR, deu-se através de um sorteio de maneira aleatória, sorteando uma família de cada
quadra do loteamento. Com a pesquisa espera-se que a mesma além de subsidiar outros
estudos exploratórios acadêmicos, também possa reforçar para os gestores das políticas em
questão a necessidade da intersetorialidade e do planejamento do desenvolvimento urbano
local compromissado efetivamente com a promoção e proteção da vida digna, aos
beneficiados dos programas habitacionais, e à intervenção do Serviço Social na defesa
equitativa da garantia dos diretos fundamentais e sociais e ao acesso equitativo aos
equipamentos públicos. Considerando a moradia digna não somente uma casa, mas toda a
infraestrutura em seu redor, que, somente a construção de casas não irá suprir a real
necessidade das famílias que vierem a adquirir um imóvel nesses loteamentos.
Palavras chave: “Programa Minha Casa, Minha Vida”, Direito a Moradia, Vida Digna,
Desenvolvimento Urbano Local.
5
LISTA DE SIGLAS
BNH Banco Nacional de Habitação
CEF Caixa Econômica Federal
Cohab-PG Companhia de Habitação de Ponta Grossa
COHABs Cooperativas Habitacionais
COHAPAR Companhia de Habitação do Paraná
FAR Fundo de Arrendamento Residencial
FCP Fundação Casa Popular
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INOCOOPs Instituto de Cooperativas Habitacionais
MBES Ministério da Habitação e Bem-Estar Social
MDU Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente
MPO Ministério do Planejamento e Orçamento
OGU Orçamento Geral da União
PAC 2 Programa de Aceleração do Crescimento 2
PLANHAP Plano Nacional de Habitação Popular
PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Social
PMC MV Programa Minha Casa Minha Vida
PNDA Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNDU Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano
SBPE Sistema de Poupança e Empréstimo
SEAC Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária
SEPURB Secretaria de Política Urbana
SFH Sistema Financeiro de Habitação e Saneamento
SNHIS Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
UBS Unidade Básica de Saúde
6
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... 4
LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
1 DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL À MORADIA - A MORADA DIGNA ......... 10
1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DE IMPLEMENTAÇÃO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL, ESTADUAL E MUNICIPAL . 14
1.1.1 Política Nacional da Habitação .................................................................................... 14
1.1.2 Política Habitacional do Estado do Paraná ................................................................. 17
1.1.3 Política Municipal de Habitação e Plano Local de Habitação .................................. 20
2 POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO, DIREITO À
CIDADE E PLANO DIRETOR ............................................................................................ 24
2.1 BREVE RELATO DA IMPLEMENTAÇÃO E INTITUCIONALIZAÇÃO DA
POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL ......................................... 24
2.2 CORRELAÇÃO ENTRE POLÍTICA HABITACIONAL, POLÍTICA DE
DESENVOLVIMENTOP URBANO E A VIDA DIGNA ...................................................... 27
2.3 ESTATUTO DA CIDADE, PLANO DIREITOR E DIREITO A CIDADE ..................... 33
2.4 O PLANEJAMENTO FRENTE A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS E
PROGRAMAS ......................................................................................................................... 38
3 PERCEPÇÕES APROXIMATIVAS DOS BENEFICIADOS DO RESIDENCIAL
ORQUÍDEAS DOS SERVIÇOS/EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DISPONÍVEIS NO
BAIRRO JARDIM COOPAGRO COM A IMPLEMENTAÇÃO DO “PROGRAMA
MINHA CASA, MINHA VIDA” ........................................................................................... 43
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ........................................... 44
3.2 PERCEPÇÃO DOS BENEFICIADOS DO “PROGRAMA MINHA CASA, MINHA
VIDA” DO RESIDENCIAL ORQUÍDEAS DOS SERVIÇOS E INFRAESTRUTURA
OFERECIDOS NO BAIRRO JARDIM COOPAGRO, TOLEDO-PR .................................. 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 58
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62
APÊNDICES ........................................................................................................................... 67
ANEXO .................................................................................................................................... 71
7
INTRODUÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é uma atividade curricular
obrigatória do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE, este trabalho iniciou-se a partir da inserção da acadêmica nas mais variadas
atividades curriculares, possibilitando aproximação com atividades interventivas e
investigativas subsidiando a produção deste. Não deixando de ressaltar que, essa atitude
investigativa é um elemento intrínseco do processo de formação profissional, logo da
cotidianidade do Serviço Social, não garantindo somente avanços na área do conhecimento,
mas contribuições garantidas na unificação entre “[...] o saber, o fazer e o saber refazer,
ancorados em uma clara compreensão do tipo de sociedade que queremos construir”
(MORAES; JUNCÁ; SANTOS, 2010, 435)
A aproximação com o tema tratado no presente trabalho deu-se a partir de observações
no dia-a-dia no campo de estágio curricular obrigatório na Secretaria Municipal da Habitação
nos anos de 2011 e 2012, onde notou-se a necessidade de uma pesquisa que mostrasse tanto
no âmbito teórico como no empírico a realidade vivida pelas famílias que são beneficiadas em
projetos habitacionais realizados pelo município de Toledo sem a devida atenção do direto à
integralização da garantia de acesso a cidade e demais diretos sociais no planejamento e
implementação da política habitacional. Foram levantadas questões em torno da moradia
digna, qualidade de vida, e do desenvolvimento urbano local, e pôde ser observado que
loteamentos são construídos em locais que a cidade em si ainda não chegou, ou seja, nem
sempre a urbanização acompanha os loteamentos, deixando de lado mais um direito do
cidadão que é o direito a cidade, dentre outros direitos como saúde, educação, lazer. E tendo o
Serviço Social um compromisso com a luta pela garantia dos direitos sejam eles
fundamentais, sociais, ou de qualquer outra ordem, o trabalho veio acrescentar para que a
partir dele pudesse dar subsídios para esclarecimento dos gestores municipais possibilitando
compreensão referente à complexidade que envolve a implementação de um projeto
habitacional.
Este trabalho trata de maneira geral sobre a temática relacionada a implementação do
“Programa Minha Casa, Minha Vida”, os impactos ocasionados pela falta de planejamento ou
limitação em sua proposição em relação a integralização de diretos sociais, para além do
direito à moradia, justificando-se que nos dias atuais o fator planejamento e a
intersetorialidade devem ser um elemento empregado em qualquer ação que possa vir a
interferir de maneira direta na qualidade de vida dos indivíduos. Que os riscos emergentes
8
dessa falha pode ocasionar danos na vida de muitas pessoas, principalmente, retirando dos
indivíduos a sua dignidade diante de uma sociedade tão individual.
Portanto frente à implementação desse programa, e levando em conta seus limites e as
possibilidades que ele traz aos beneficiados, e a questão do planejamento relacionado
diretamente a qualidade de vida, vê-se a necessidade de estudos, pesquisas acadêmicas nessa
direção, para que possa a partir delas dar subsídios para a implementação de programas com a
sua inserção voltados ao planejamento, tido como pilar nesse processo, tendo como base a
intersetorialidade entre os gestores da política pública referente a esses programas, que não se
limitam somente ao da habitação e desenvolvimento urbano, mas também a outras áreas como
saúde, educação, cultura e lazer. Também será apresentada a percepção que os moradores
beneficiados pelo “Programa Minha Casa, Minha Vida” do Residencial Orquídeas, no intuito
de demonstrar como a falta de planejamento como ou sua limitação afeta diretamente a
qualidade de vida desses indivíduos.
Não há como pensar e refletir sobre a questão moradia, qualidade de vida, e vida digna
sem pensar na intersetorialidade dos gestores em prol de um planejamento frente às ações
relacionadas à implementação de um programa habitacional, considerando a qualidade de
vida uma questão fundamental na atualidade para que um indivíduo consiga levar uma vida
digna frente à sociedade que está inserido. Todos buscam um lugar para morar, mas junto a
sua moradia buscam também suprir outras necessidades que estão imbricadas ao fator
moradia, como saúde, educação, lazer, cultura. Ou seja, busca não somente casas, mas
também um aparato de infraestrutura de desenvolvimento urbano para fortalecer essa morada
digna.
Esse trabalho tem como objetivo geral avaliar a implementação do “Programa Minha
Casa, Minha Vida” e seus impactos na garantia de moradia e vida digna, e desenvolvimento
urbano/local no loteamento Residencial Orquídeas na cidade de Toledo-PR. E apresenta como
objetivos específicos: discutir a partir de abordagens teórico-documental o direito a moradia e
o direito a cidade, e as formas de acesso no município; identificar condições de infraestrutura
urbana local, a partir da implementação do “Programa Minha Casa, Minha Vida”, e sua
integração com outras políticas públicas; e discutir e demonstrar a necessidade de se efetivar o
desenvolvimento urbano a partir do referido programa como direito social e moradia digna,
levantar juntos aos beneficiados pelo programa já citado os impactos obtidos com a inserção
no loteamento, e suas percepções em relação a infraestrutura oferecida no bairro em que o
loteamento foi introduzido.
9
Vale ressaltar que o trabalho também tem como objetivo subsidiar outros estudos e
discussões voltadas as relações existentes entre condições de moradia digna, infraestrutura,
qualidade de vida, e a influência do fator planejamento na implementação de um programa
habitacional, tanto no espaço acadêmico quanto para os profissionais gestores das políticas
responsáveis pela execução e implantação desses programas.
O TCC foi sistematizado através da abordagem qualitativa, pesquisa bibliográfica,
exploratória, e documental, e para compreender os fenômenos que envolvem a temática o
trabalho apresenta entrevistas semiestruturadas com os beneficiados do loteamento
Residencial Orquídeas, localizado no Jardim Coopagro, Toledo-PR.
Para melhor compreensão da temática abordada no trabalho em questão optou em
dividi-lo em três capítulos, ficando o primeiro com a parte bibliográfica voltada para as
discussões em torno do direito fundamental a moradia, da contextualização histórica da
implementação e institucionalização Política de Habitação nos três âmbitos, Nacional,
Estadual e Municipal.
O segundo capítulo centra-se na temática relacionada à Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano seus aspectos históricos frente a sua institucionalização e a
correlação entre ambas as políticas de habitação e desenvolvimento urbano, junto à questão da
vida digna, abordando na sequência o Estatuto da Cidade, o Plano diretor e o Direito a
Cidade, finalizando o capítulo com a importância do planejamento na implementação de
programas e projetos.
O terceiro capítulo apresenta a análise frente às percepções dos beneficiados
entrevistados, tendo as entrevistas com objetivo de aproximar-se, e compreender como os
moradores do loteamento se posicionam frente às questões relacionadas a infraestrutura local
a qual são submetidos no seu dia-a-dia.
Espera-se que, com esse trabalho possa contribuir para que gestores das políticas já
citadas possam se pautar na discussão da temática abordada ampliando suas visões em relação
a implementação de um programa habitacional.
O trabalho também ficará disponível para servir de subsídio para outras pesquisas
relacionadas ao mesmo tema.
10
1 DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL À MORADIA - A MORADA DIGNA
Foi a partir da urbanização desenfreada no contexto global no século XVIII, e no
Brasil no século XX, onde os impactos do desenvolvimento econômico e da industrialização
sem os devidos planejamentos no espaço urbano e a má distribuição de renda, começaram a
evidenciar a exclusão territorial nas cidades, tornando clara a segregação espacial1, cidades
estas que surgiram com a ideia de incluir o indivíduo em um espaço urbano. Lembrando que
cidade e cidadania possuem em comum um fator, a cidadania não se faz individualmente
assim como cidades também não, são elementos que resultam de conquistas coletivas,
conquistas essas equivalentes a direitos, definida por Hanna Arendt apud Rocha como
“Cidadania é o direito a ter direito” (ROCHA, 2004, p.290). Contudo, a cidade é vista como
um ambiente em que a idealização da cidadania2 possa se concretizar. E, é nesse espaço
urbano que é por natureza conflituoso que possibilita a construção dessa cidadania,
proporcionando o reconhecimento dos direitos humanos, coletivos e individuais.
Apesar de a moradia ser essencial ao homem, garantida pela Constituição Federal de
1988 como um direito fundamental, esta necessidade deu-se,
Com o contexto do imenso crescimento das cidades que se teve com a
industrialização e com o desenvolvimento da tecnologia, os quais, atrelados
à idéia de conforto, melhores condições de vida, oferta de emprego e
possibilidade de aquisição de bens, principalmente da propriedade, passaram
a criar nas pessoas a ilusão de que a vida nos grandes centros permitia a
realização plena de seus sonhos. Entretanto, o processo de industrialização
gerou acentuado desequilíbrio das condições e da expectativa de vida,
resultando num rapidíssimo processo de urbanização, porém com
consequências muito drásticas, dentre elas a falta de moradia e o surgimento
das áreas de ocupação irregular. (ROMANELLI, 2007, p. 71)
Essas consequências do crescimento industrial e urbano desenfreados são sentidos até
hoje na sociedade brasileira, o que gera cada vez mais uma segregação espacial nas regiões do
país. Ainda sobre o processo de urbanização acelerado Romanelli acrescenta que “O processo
1“Dessa maneira, existiria uma estratificação urbana vinculada ao sistema de estratificação social condicionada
pelo nível de distribuição e apropriação dos produtos do sistema social. O distanciamento entre aqueles que
conseguem apropriar-se dos meios de consumo coletivos e os que a eles não têm acesso provoca a chamada
segregação espacial. [...] tal segregação obedeceria à lógica da distribuição do produto entre os indivíduos, no
caso a moradia; a segregação espacial é influenciada, não somente pelas diferenças de localidade, mas também
pela capacidade de deslocamento e acesso a pontos estratégicos da rede urbana.” (SANCHES; MACHADO,
2009, p. 37 – 38) 2“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida
e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada
de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.” (DALLARI apud ARAGÃO NETO;
COSTA FILHO, 2010, p. 154)
11
de urbanização das cidades foi tão rápido que o Estado não deu conta das transformações
ocorridas. Os sonhos almejados por aqueles que se dirigiam aos grandes centros em busca de
uma condição de vida melhor se perderam no tempo.” (ROMANELLI, 2007, p. 72). Ou seja,
a ocupação das regiões que estavam se urbanizando deu-se em contrapartida aos serviços que
o Estado estava oferecendo no momento, o que não possibilitava zelar da qualidade de vida
dos indivíduos, “O Estado tornou-se ineficiente, não sendo capaz de gerir os problemas que
surgiam e que continuam a surgir com o contínuo crescimento da população. [...].”
(ROMANELLI, 2007, p. 72). Na verdade o Estado sempre teve dificuldades em conseguir se
posicionar frente às demandas com uma solução real aos problemas enfrentados pela
sociedade em relação à moradia digna, devido a grande demanda e baixa oferta.
O direito a moradia no Brasil sempre foi encarada como um problema e não como um
direito social, um direito que traz consigo soluções para outras dificuldades encontradas na
sociedade atualmente como a segregação espacial, econômica e social.
Quando fala-se em moradia como um dos elementos que fazem parte do conjunto que
elevam a vida a um patamar digno, Rocha coloca uma informação interessante sobre o morar,
Quando a três décadas [...] constatou que a casa é um complemento da
própria condição humana, [...] um bilhão de seres humanos moram de
maneira precária, [...]. Mais que corresponder à tradução numérica do
imenso contingente de seres humanos que moram em condições baixíssimas
de habitabilidade, esse dado revela que essas pessoas vivem sem dignidade
[...]. (ROCHA, 2004, p. 289 grifo do autor)
Quando a autora relata a casa como um complemento, pode-se compreender que o
crescimento desenfreado das cidades e das indústrias trouxeram consigo a produção de
cidades sem acesso a moradia e também a cidade, com ela a consequência da falta de
dignidades para seus moradores. Sobre moradia adequada Romanelli cita Fabris, que aponta
itens que devem conter uma moradia para que ela seja adequada, “[...] segurança jurídica da
posse, disponibilidade de serviços e infra-estrutura, custos da moradia acessível,
habitabilidade, acessibilidade e localização e adequação cultural” (FABRIS apud
ROMANELLI, 2007, p. 72 grifos do autor)
O direito a moradia – morada digna - também é uma necessidade vital do ser humano,
que é indispensável que para o indivíduo possa começar a ter uma vida digna, portanto, pode-
se ressaltar que moradia e vida digna não são elementos inseparáveis, ou melhor, são
elementos indissociáveis. De acordo com os princípios do Plano Nacional de
Desenvolvimento Urbano (PNDU) entende-se como moradia digna “[...] aquela que atende às
12
necessidade básicas de qualidade de vida, de acordo com a realidade local, contanto com
urbanização completa, serviços e equipamentos urbanos diminuindo o ônus com a saúde e
violência e resgatando a auto-estima do cidadão.” (BRASIL, 2004 b, p. 77)
Analisando o direito social no caso do Brasil, pode-se considerar que o mesmo para
concretizar-se passa por caminhos considerados injustos e demorados. Ou seja, se é de direito
a vida, que se viabilizam outros direitos fundamentais, as necessidades julgadas vitais, como a
moradia, por exemplo, entende-se, no entanto que, a mesma deveria ser priorizada para que o
direito a vida digna fosse efetivado com sucesso (ROCHA, 2004). Os direitos fundamentais e
sociais possuem vinculação direta com o direito da igualdade. “Representam o compromisso
estatal em diminuir as diferenças sociais assegurando-se, pelo menos, um mínimo básico para
todos.[...]” (ROMANELLI, 2007, p. 75)
Viabilizando o direito a moradia, consequentemente fará com que a qualidade de vida
de uma família, em parte, torne-se digna. Pois sabe-se que, com o êxodo rural, muitas famílias
vieram para as cidades atrás de trabalho e melhor qualidade de vida, porém, a vinda dessas
famílias e a falta de planejamento por parte do poder público em acolher as mesmas nos
grandes centros, trouxe consigo um grande contingente de desabrigados, e um emaranhado de
pessoas que não tiveram direito a moradia, engendrando grandes favelas, gerando um
crescimento desordenado em relação ao desenvolvimento da cidade, que não teve um pleno
planejamento para que isso não chegasse a acontecer. (BRASIL, 2004, b) Sobre o direito a
moradia, Rocha ressalta que “No que diz respeito à vida do homem na cidade e ao mínimo de
direitos necessários à garantia do seu direito à cidade, não pode haver dúvida de que entre eles
encontram-se o direito à moradia e a satisfação da liberdade de locomoção por meio de
transporte adequado.” (ROCHA, 2004, p. 297)
Deve-se considerar que, é indispensável para que haja um desenvolvimento urbano
pleno que a questão habitacional tenha uma atenção especial. Por isso a criação do Estatuto da
Cidade, que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, tratando da
política de desenvolvimento urbano que deve ser cumprida pelo poder público, através de
uma gestão democrática. (ROMANELLI, 2007)
O Estatuto da Cidade é claro em seu artigo 2º, inciso I, salientando a “Garantia do
direito a cidades sustentáveis, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao
saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte a aos serviços públicos, ao
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 2004 b, p. 17,). Assim
como direito fundamental a moradia também está enquadrada no Estatuto da Cidade, que tem
como objeto a proteção da vida humana, Rocha complementa “[...]. Se, na concepção
13
platônica, o homem é uma alma que serve de um corpo, tem-se que a moradia é abrigo
indispensável para esse corpo e essa alma.” (ROCHA, 2004, p. 298). No entanto, necessita o
homem de uma casa para morar, assim como necessita de uma cidade que dê suporte a essa
moradia.
As cidades que tiveram grande crescimento urbano, sem planejamento, e um
crescimento desenfreado de sua economia, assistem hoje a um grande problema, que tentam
controlar esse processo de expansão do desenvolvimento urbano, o que acabou se
constituindo em um desafio para as cidades3. E a frente desse dilema se posiciona o Estatuto
da Cidade, que em seu artigo 4º deixa claro os instrumentos necessários para que as cidades
possam dar conta das demandas por moradia digna e desenvolvimento urbano sustentável, e
em seu inciso III é citado o “Planejamento Municipal” (BRASIL, 2002, p. 20) que engloba
dentre tantos elementos na alínea a o “Plano Diretor”4, um instrumento que se tornou
obrigatório a municípios com mais de 20 mil habitantes.
Por mais que a questão urbana abranja um leque de fatores necessários para a atuação
da gestão pública, dentre eles se destaca a questão da moradia. Entende-se que o alcance desse
direito torna-se muito difícil devido a uma gama de fatores, dentre os quais os critérios de
seleção para os programas habitacionais, mas por outro lado sabe-se que a sociedade
brasileira cresce rapidamente, e a cada dia o Estado mostra sua incapacidade de corresponder
as demandas geradas dia a dia pela sociedade. A cidade cresce, mas junto com ela não cresce
os serviços públicos, e principalmente por falta de planejamento, e até mesmo de uma
interlocução de políticas públicas, ou melhor a falta de intersetorialidade, são realizados
investimentos tanto urbanos como em outras áreas de atuação do setor público em locais que
já foram atendidos, procurando através das políticas dar conta do crescimento dos índices de
pobreza.
1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA IMPLEMENTAÇÃO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
POLÍTICA DE HABITAÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL, ESTADUAL E MUNICIPAL
3Cidade: “Pode significar aglomeração humana de certa importância, localizada numa área geográfica
circunscrita e que tem numerosas casas, próximas entre si, destinadas à moradia e/ou a atividades culturais,
mercantis, industriais, financeiras e a outras não relacionadas com a exploração direta do solo. [...] A cidade, não
importando sua dimensão ou característica, é um produto social que se insere no âmbito da ‘relação do homem
com o meio’ – referente mais clássico da geografia. Isso não significa dizer, todavia, que estabelecida essa
relação tenhamos cidades. Não importando as variações entre cidades, quer espaciais ou temporais há uma idéia
comum a todas elas, que é a de aglomeração. Não é à toa, então, que a idéia de aglomeração se faz presente na
definição da palavra cidade.” (LENCIONI, 2008, p. 13/15) 4“O Plano Diretor é um complexo de normas legais e diretrizes técnicas para o desenvolvimento global e
constante do município, sob os aspectos físicos, social, econômico, e administrativo, desejado pela comunidade
local. Deve ser a expressão das aspirações dos munícipes quando ao progresso do território municipal no seu
conjunto cidade-campo.” (MEIRELLES apud ROMANELLI, 2007, p. 93)
14
1.1.1 Política Nacional da Habitação
No Brasil a política da habitação no decorrer da história foi marcada por várias
mudanças tanto na sua concepção, como no modo de intervenção em relação à política
pública, principalmente no que se refere ao equacionamento dessa problemática para
habitações para as classes sociais5. Fica claramente exposto que o acesso a habitação é um dos
problemas sociais que afetam diretamente a sociedade. Desde o início de 1920 quando o
mercado cafeeiro estava em seu auge, trouxe consequentemente uma enorme quantidade de
trabalhadores, que tinha como um local para sua habitação e sobrevivência as moradias
alugadas, salientando que, suas remunerações não condiziam com suas necessidades básicas,
o que lhes cabia somente os cortiços como alternativa principal para a moradia. A partir da
década de 1920,
[...] com as transformações da economia que levaram ao crescimento
industrial, o modelo de concentração do trabalhador no centro comercial e ao
redor das fábricas, progressivamente cede lugar a um modelo de urbanização
caracterizado pela segregação espacial, registrando mudanças substanciais
na estrutura urbana e na forma de atuação do Estado. Inicia-se um processo
de segregação da habitação popular de forma lenta, desarticulada e até
incoerente, não se pautando por nenhum plano. (SILVA, 1989, p. 36)
Na década de 1940 essas mudanças iniciadas anteriormente passaram a ser
identificadas, o que levou a um rompimento com o que antes era adotado em termos
habitacionais, os cortiços foram trocados por outro padrão de habitação, que passou de
aluguel dos cortiços para a construção de periferias, que se pautava na autoconstrução da casa
própria. Foi no ano de 1946 que deu-se a primeira criação de um órgão responsável pela
construção de moradias no Brasil, a Fundação Casa Popular (FCP). Apesar do seu fracasso
desenvolveu atividade até a década de 1960, tendo como finalidade a construção de novas
moradias para a sociedade brasileira. (BRASIL, 2004 a)
Entre as décadas de 1930 e 1940, frente o novo modelo de desenvolvimento
econômico que se delineava, e com o acelerado crescimento da população, os cortiços
passaram a representar um perigo para a saúde pública, tanto pela insalubridade nos locais,
quanto na imagem que passavam no embate com as fábricas. Ou seja, não possuía
5 “[...] as classes sociais são grupos amplos, em que a exploração econômica, opressão política e dominação
cultural resultam da desigualdade econômica, do privilégio político e da discriminação cultural,
respectivamente.” (CAMARGO, 2012, s.p.)
15
compatibilidade para o modelo econômico, que cortiços ficassem meio às fábricas nos centros
das cidades, onde a circulação do capital era localizado. Conforme Pinto:
A cidade constitui-se então como um lugar importante para a materialização
do capital e decisivo para as metamorfoses necessárias para a consolidação e
expansão do sistema capitalista; como também se tornou o lugar onde a
habitação se transformava em uma mercadoria produzida sob as relações
capitalistas e, portanto, destinada ao lucro. [...] Concorreram para a definição
do perfil da cidade o Estado, as empresas, as imobiliárias, os donos da terra
urbana e população trabalhadora. (PINTO, 2004, 94)
Todavia, as tentativas do Estado de intervir na área habitacional se fizeram
indiretamente, adotando medidas sanitárias alegando as preocupações que giravam em relação
às condições de higiene da cidade.
[...] as condições habitacionais não atendiam às demandas e propiciaram o
aparecimento de surtos endêmicos pelas condições miseráveis e anti-
higiênicas em que os proletários foram obrigados a se alojar. Paralelamente,
a concentração de trabalhadores favorecia o processo de politização. A
burguesia, sentindo-se ameaçada tanto pelas doenças que podiam afetar o
chamado “exército industrial de reserva”, como pela disseminação de idéias
revolucionárias, reage demolindo imóveis em nome de uma renovação
urbana, o que provocou a criação de condições para a especulação
imobiliária (altos aluguéis) e o deslocamento dos alojamentos precários dos
trabalhadores. (PINTO, 2004, p. 94)
As habitações populares, os cortiços eram enxergados como focos de epidemias, o que
afetava consequentemente as classes dominantes, deixando ao Estado a intervenção, que
passou a derrubar as moradias que julgavam insalubres, e a incentivar o setor privado na
construção de vilas que avaliavam ser higiênicas. Não deixando de ressaltar a repressão que
tiveram frente as favelas nesse período. (SILVA, 1989) A partir do momento em que as
favelas passaram a ser vistas como um grave problema que deveria ser eliminado e evitado
acima de qualquer circunstância, o Estado inspirou em uma política de eliminação e
contenção.
A partir de 1964 a produção de moradia passou a ser realizadas pelo Banco Nacional
de Habitação (BNH), que estava vinculado aos Sistemas de Financiamento de Habitação e
Saneamento (SFH), que desempenhava o papel principal na definição e financiamento da
política habitacional no Brasil. Este por sua vez, utilizava dos recursos do Sistema de
Poupança e Empréstimo (SBPE) e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para
realização dos seus empreendimentos.
16
Em 1964, após o Golpe Militar que derrubou o governo de João Goulart, o
novo governo que se estabelece cria o Sistema Financeiro de Habitação
juntamente com o Banco Nacional de Habitação (SFH/BNH) [...]. O BNH
teve como aporte inicial 1 bilhão de cruzeiros antigos, e mais um
crescimento garantido pela arrecadação compulsória de 1% da folha de
salários sujeitos à Consolidação das Leis Trabalhistas do país, o que
demonstra que a habitação popular fora eleita um dos “problemas
fundamentais” do Governo Castelo Branco. (BOTEGA, 2008, p.5 grifos do
autor)
As moradias produzidas pelo BNH eram dividias em duas categorias, ou seja,
conforme as definições salariais. Para a população que recebia entre três e cinco salários
mínimos, cabia às Cooperativas Habitacionais (COHABs) a produção das moradias. Para as
pessoas que tinham rendimentos de até doze salários mínimos, cabia ao Instituto de
Cooperativas Habitacionais (INOCOOPs) a produção das moradias. O BNH conseguiu
produzir 25% das moradias da entre os anos de 1964 a 1986, portanto, apenas 33%
alcançaram a população de rendimento de três a cinco salários. Com a sua extinção em 1986 o
BNH passou suas atribuições para a Caixa Econômica Federal (CEF), porém a área
habitacional permaneceu vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio
Ambiente (MDU), cabendo a este a competência frente a política habitacional, saneamento
básico, desenvolvimento urbano e meio ambiente. (BRASIL, 2004 a)
Em 1987 o MDU foi transformado em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio
Ambiente (MBES), e em 1988 ocorreram outras alterações, criou-se o Ministério da
Habitação e Bem-Estar Social (MBES).
Com a Constituição de 1988 e a reforma do Estado, o processo de
descentralização, um dos pontos principais do modelo proposto, ganha base
para se efetivar. Dentro do processo de descentralização, se estabelece uma
redefinição de competências, passando a ser atribuição dos Estados e
Municípios a gestão dos programas sociais, e dentre eles o de habitação, seja
por iniciativa própria, seja por adesão de alguns programas propostos por
outro nível de governo, seja por imposição Constitucional. (BRASIL, 2004
a, p. 10)
Logo em março de 1989 o MBES é extinto e criou-se a Secretaria Especial de
Habitação e Ação Comunitária (SEAC), vinculada ao Ministério do Interior. Juntamente com
fundos junto ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e também junto a Caixa Econômica
Federal (CEF) vinculado ao Ministério da Fazenda. O modelo adquirido pela SEAC passou a
dar privilégio a iniciativa dos Municípios e Estado, consentindo mais autonomia dos mesmos
17
frente às políticas. (BRASIL, 2004 a) Em 1990 com Fernando Collor de Mello assumindo a
presidência da república, as políticas brasileiras passaram a ter uma forte influência
neoliberal6, afundando ainda mais a crise habitacional no Brasil. No período do governo
Collor “[...] o Brasil chegava há um número de 60 milhões de cidadãos de rua, em uma
realidade no qual 55% das famílias que se encontravam em déficit habitacional recebiam até
dois salários mínimos” (SANTOS apud BOTEGA, 2008, p. 12)
No ano de 1995 realizou-se uma reforma no setor da política habitacional, extinguindo
assim o Ministério do Bem-Estar Social e criando a Secretaria de Política Urbana (SEPURB),
adjacente ao Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), que a partir daí ficou
responsável pela formulação e prática da PNH. Logo com o Governo Lula, observa-se uma
transição das políticas de desenvolvimento urbano para o Ministério das Cidades que foi
criado em sua gestão, frisando que, dentro do mesmo passa a situar-se a Secretaria Nacional
de Transporte e Mobilidade Urbana, a Secretaria Nacional de Programas Urbanos, a
Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental e a Secretaria Nacional da Habitação. Na
tentativa de maior democratização houve em 2003 a Conferência Nacional das Cidades,
resultante dela a criação do Conselho das Cidades e a aprovação de diretrizes para uma
Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. (BRASIL, 2004 a) Fruto desse processo das
conferências foi apresentado a proposta de uma nova Política Nacional de Habitação, que
surgiu de uma análise dos principais problemas existentes. A PNH visa a promoção das
condições de acesso a moradia digna a todos os segmentos da população, principalmente os
de baixa renda, contribuindo assim para a inclusão social.
1.1.2 Política Habitacional do Estado do Paraná
No período de 1970 e 1980, o Paraná iniciou um momento de grande e rápido
crescimento. Seus primeiros habitantes se alojaram nas áreas consideradas melhores, nos
centros das cidades, e a partir daí começaram a concretizar seu poder, implantando
estabelecimentos comerciais que forneciam aos trabalhadores que chegavam para trabalhar na
agricultura e na construção civil. Nessa conjuntura, várias das cidades paranaenses emergiram
de maneira tipicamente capitalista, ou seja, sobre forte influência do mercado, principalmente
em transições imobiliárias. Frente ao capitalismo surgem os primeiros indícios de segregação
6“O neoliberalismo tem como pressuposto básico a contrariedade a intervenção do Estado na economia,
propondo um Estado mínimo onde os serviços são regulados pelo mercado.” (BOTEGA, 2008, p. 12)
18
socioespacial, e uma considerável quantia da população é excluída do acesso à moradia e
meios de consumo. (ROMANELLI, 2007) De acordo com Tschá, Rippel, Lima,
Uma vez iniciada o processo de industrialização numa determinada
localidade, ela tende a atrair populações de áreas geralmente próximas,
tornando o crescimento demográfico da cidade um mercado cada vez mais
importante para bens e serviços de consumo, constituindo para os indivíduos
um fator adicional de atração (TSCHÁ; RIPPEL; LIMA, 1010 [sic], p. 10)
Segundo Pereira, foi no período entre os anos de 70 a 80 que através dos avanços tanto
do crescimento desenfreado da economia e da população no estado do Paraná que “Na esteira
desse processo ocorreu uma acentuada ampliação da desigualdade social, que se revelou em
crescentes restrições para a inserção no mercado formal e em ampla disparidade na
apropriação da renda entre as pessoas.” (IPARDES apud PEREIRA, 2012, p. 3)
Mesmo que nesse período obteve-se um apoio da política habitacional federal, que
passou a construir conjuntos habitacionais que viabilizassem a habitação para as demandas
excluídas do mercado imobiliário, a construção desses conjuntos se deram em locais muito
distantes dos grandes centros, o que aglutinou grandes áreas urbanas vazias. Esses vazios,
gerados principalmente pelo valor da terra, acabou sendo destinada a camada que possuía
grande poder aquisitivo. Na forma como se deu essa produção do território urbano, por mais
que foi de maneira coletiva com característica social, consentiu que a apropriação do espaço
se desse de modo privado, diferenciado, satisfazendo ao caráter capitalista de mercado.
(ROMANELLI, 2007). Ainda sobre como se deu o processo de urbanização do Estado do
Paraná Tschá, Rippel, Lima acrescentam,
O processo de urbanização, além de ter provocado grande transformação na
distribuição geográfica da população, causou intensos impactos na estrutura
urbana e nas condições de gestão das cidades, que passaram a administrar
um abrupto crescimento das demandas (de água, esgoto, energia, educação,
saúde entre outros. (TSCHÁ; RIPPEL; LIMA, 1010 [sic], p. 10)
Mesmo sendo construídas muitas unidades habitacionais não foi possível absorver
toda a população que deixavam os locais que habitavam, seu local de origem indo atrás da
oportunidade de conseguir uma casa própria nos grandes centros urbanos. Não conseguindo o
acesso a moradia muitas pessoas recorreram à ocupação de áreas não loteadas, ilegais, e
passaram a obter suas casas num processo de autoconstrução, com materiais dispensados em
outras construções civis. Romanelli afirma que “O problema da falta de moradia e/ou da
produção de moradias precárias faz parte da formação do próprio Estado paranaense,
19
vinculado às condições do modo capitalista de produção. [...]”. (ROMANELLI, 2007, p.142)
A migração para as cidades maiores e com melhores condições de infraestrutura,
principalmente a partir de 1970, fez com que uma grande parcela da população que vinha para
os grandes centros não encontrasse mercado de trabalho, levando-as a buscar alternativas para
construir suas casas, isso gerou condições péssimas de vida, aumento de favelas e cortiços.
[...] o montante da população que deixou o campo em busca de maiores
oportunidade na cidade fez parte de um fenômeno inevitável do
desenvolvimento social e econômico. Assim, se por um lado a taxa de
crescimento do emprego urbano acompanhou e mesmo excedeu a taxa de
crescimento da população urbana, foi, porém, insuficiente para absorver o
volume total da mão-de-obra excedente do campo nesse período (IPARDES
apud TSCHÁ; RIPPEL; LIMA, 1010 [sic], p. 11)
Frente à questão habitacional que se estabelecia no estado do Paraná, criou-se um
órgão específico para intervir nessa problemática, a Companhia de Habitação do Paraná7
(COHAPAR), após sua criação como uma sociedade de economia mista, a mesma surgiu com
o propósito de unir o Paraná no Sistema Financeiro da Habitação, que passaria a operar suas
construções a partir dos recursos adquiridos do BNH. No ano de 1969, a Cohapar foi
agrupada à Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Cohab-PG), mudando sua forma de
operacionalizar seus projetos. Desde então, a Cohapar parou de assumir os riscos de
comercialização, e começou a construir casas melhores. Esse novo modelo que passou a
vigorar obteve êxito, uma vez que os conjuntos construídos não sobrecarregava
financeiramente a empresa. No início de 1970 a Cohapar passou a executar o Plano Nacional
de Habitação Popular (PLANHAP), por meio de um convênio firmado com o BNH. Com o
objetivo de redução mesmo que paulatinamente o déficit habitacional das famílias que
possuíam renda de até cinco salários mínimos. (ROMANELLI, 2007)
Em 2003 deu-se a implementação do Sistema de Gestão Comunitária, momento em
que a participação da comunidade se efetivou, possibilitando as famílias a participarem na
escolha dos projetos das unidades habitacionais, acompanhando o procedimento em todo seu
processo construtivo. Diante de sua história a Cohapar ficou conhecida como referência em
propor soluções novas para habitações populares, tendo construído ao longo dos anos cerca de
167.657 casas e 3.378 empreendimentos.
7“Fundada em 14.05.1965, pela Lei Estadual 5.113, sucedeu a Caixa de Habitação Popular do Estado do
Paraná.” (ROMANELLI, 2007, p. 146)
20
Todo o trabalho que vem sendo implementado atualmente segue diretrizes
legais. Coerente com a Constituição, que considera a habitação um direito do
cidadão, com o Estatuto da Cidade, que estabelece a função social da
propriedade, a gestão participativa e democrática, a Política de Habitação
instituída pela Cohapar visa promover as condições de acesso à moradia
digna aos segmentos da população de baixa renda, promovendo a inclusão
social. (ROMANELLI, 2007, p. 149)
Em relação ao município de Toledo a Cohapar continua executando seus projetos,
atualmente a companhia executou uma obra de 315 unidades nomeada de Jardim da Mata,
localizada no Jardim Maracanã, em parceria com a Caixa Econômica Federal e Prefeitura
Municipal. (TOLEDO, 2012)
1.1.3 Política Municipal de Habitação8 e Plano Local de Habitação
Na década de 1970, Toledo-PR deparou-se com um problema que acabava de surgir,
antes não evidenciado, a questão habitacional, decorrente da modernização agrícola. Frente
essa problemática o município passou a exigir respostas governamentais, em formato de
política. Fazendo com que a gestão que atuava no momento passasse a incorporar e solucionar
essa dificuldade em suas ações governamentais. No ano de 1975, construíram o primeiro
conjunto habitacional em Toledo, tentando atender ao problema que emergia. Este conjunto
destinado a classe média baixa, foi financiado pelo Sistema Financeiro de Habitação, por
meio da Cooperativa Habitacional de Toledo. (WERNER, 2002)
Em 1985, o setor do edifício passa a ser coordenado pelo Banco de Promoção Humana
– PROVOPAR, que passa a executar as obras nesta área, coordenada pela primeira dama. A
partir daí, o governo municipal, deu início a determinadas formulações acerca da questão da
habitação, através da criação da Secretaria de Assuntos Comunitários e Ação Social, que
passou a executar projetos, programas e atividades concernentes a habitação para famílias de
baixa renda. A partir dos anos 1990 no município de Toledo,
[...] tem-se uma incisiva ação de expansão da industrialização e do setor de
serviços ligados a atividades agroindustriais. Alterações da dinâmica das
atividades econômicas produzem mudanças significativas na estrutura sócio-
espacial e estrutura produtiva de alguns bairros, principalmente daqueles que
recebem impulsos para a denominada modernização. Mas, desenvolvimento
8 Referente à Política Municipal de Habitação não encontrou-se nenhum documento disponível que descrevesse
sobre a mesma, porém os dados informado neste item sobre a política foram retirados do Plano Local de
Habitação, documento disponível na Secretaria Municipal de Habitação.
21
e crescimento nunca são processos unilaterais, especialmente em sociedades
capitalistas eles estão intrinsecamente articulados às dinâmicas da inclusão
de uns e da exclusão de muitos os benefícios produzidos e dos direitos
sociais que são construídos pelo desenvolvimento, contudo inacessíveis para
uma grande maioria da população. (BIDARRA, 2006, p.69)
O município de Toledo em 1993 eliminou o Fundo Financeiro da política da habitação
do município, propiciando assim o apoio financeiro a consecução das metas da Política
Municipal de Habitação, que passou a ser administrada por um Conselho Deliberativo, que
respondia pela autorização de recursos do fundo habitacional, aprovando projetos e programas
habitacionais. (WERNER, 2002)
A política municipal de habitação de Toledo-PR segue princípios como:
O reconhecimento do direito à moradia; moradia digna; a moradia como
construção e exercício da cidadania; o acesso à habitação e ao meio
ambiente equilibrado, como garantia da qualidade de vida; função social da
propriedade urbana; a participação da sociedade na definição da política
habitacional e sua gestão; o acesso à moradia enquanto política social; a
integração com as demais políticas públicas; articulação das ações de
habitação à política urbana; e questão habitacional como uma política de
Estado. (TOLEDO, 2010, p. 10)
O município de Toledo-PR a partir de sua Política Municipal de Habitação construiu
um Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS)9 que é uma exigência do Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), no qual é usado como instrumento
referente a implementação da Política Municipal de Habitação.
O plano tem como objetivo a promoção do planejamento das ações frente ao setor
habitacional, possibilitando assim através deste a garantia ao acesso à moradia digna, e
também ações integradas entre desenvolvimento urbano e habitação. (TOLEDO, 2010) Este
plano é composto por categorias sendo elas: estratégia de ação englobando as diretrizes e
objetivos, programas e ações, e metas. A ação estratégica desse plano foi construída a partir
da identificação dos problemas emanados da sociedade, portanto, a mesma tem como objetivo
definir propostas de como esses problemas terão soluções, ou minimizados. Para isso são
designados diretrizes e objetivos para que assim possam ser seguidos e consequentemente
poder solucionar os problemas da sociedade frente a habitação. Destaca-se algumas diretrizes:
Promover o acesso à terra e à moradia digna, com a melhoria das
habitabilidades, de preservação ambiental e de qualificação dos espaços
urbanos, avanços na construção da cidadania, priorizando as famílias de
9 Documento disponível na Secretaria Municipal da Habitação.
22
baixa renda; Assegurar a vinculação da política habitacional com as demais
políticas públicas, com ênfase às sociais, de geração de renda, de educação
ambiental e de desenvolvimento urbano; Integração da política habitacional
à política de desenvolvimento urbano. (TOLEDO, 2010, p.13)
Frente a essas diretrizes percebe-se antes de qualquer coisa, a necessidade da
integração que a política da habitação e a de desenvolvimento urbano devem ter, para que
juntas possam garantir a população o mínimo relacionado à moradia digna, e a qualidade de
vida. Quanto aos objetivos do plano elencam-se alguns,
Universalizar o acesso à moradia digna; Tornar a questão habitacional uma
prioridade; A melhoria das condições de habitabilidade das habitações
existentes de modo a corrigir suas inadequações, inclusive em relação a
infra-estrutura e aos acessos aos serviços urbanos essenciais e aos locais de
trabalho e lazer; (TOLEDO, 2010, p.14)
Mais uma vez fica claro frente aos objetivos do plano, a necessidade de ambas as
políticas citadas acima terem sua integração, de modo que faça com que a garantia de um
direito se concretize, porém, levando junto qualidade de vida aos seus moradores, tornando-os
dignos de uma morada descente, amparada por infraestrutura, serviços públicos capazes de
dar conta da demanda gerada pela população. Reforça-se a partir disso a necessidade do
planejamento entre essas políticas, para que assim possam realizar seus objetivos em prol de
uma sociedade mais justa, acabando com a segregação espacial.
As metas encontradas no plano tende a atender o déficit habitacional do município,
identificado no Diagnóstico do Setor Habitacional10
, relacionando a conformidade, a
capacidade de investimento local com a disponibilidade de recursos conforme a prioridade de
ações. As metas foram estabelecidas seguindo os seguintes passos
a) Cálculo das quantidades para o enfrentamento global das necessidades
habitacionais, incluindo a produção de novas unidades, a urbanização de
assentamentos precários e a regularização fundiária; b) Cálculo da
disponibilidade de recursos no prazo temporal do Plano; c) Estabelecimento
das metas físicas de produção de novas unidades; d) Estabelecimento das
metas físicas relacionadas à regularização e à urbanização de assentamentos
precários; (TOLEDO, 2010, p. 23)
10
“Na etapa II, Diagnóstico do Setor Habitacional, o município de Toledo apresentava um déficit habitacional de
1.584 unidades. O déficit habitacional quantitativo, fora das ocupações, com base nos dados do Censo, IBGE
2000, atualizados para o ano de 2009, era de 1.8884 unidades. O município de Toledo não tem déficit
qualitativo, pois não possui ocupações irregulares, [...]. A demanda habitacional levantada foi de 356 unidades,
considerando como indicador o crescimento populacional do IBGE, no Horizonte Temporal do PLHIS, até o ano
de 2023.” (TOLEDO, 2010, p. 23)
23
E para finalizar, o plano ainda conta com elementos designados como programas e
ações, que são resultados da identificação dos imperativos que foram mapeados através do
Diagnóstico do Setor Habitacional. Portanto os programas terão o papel de resolver, dar
soluções aos problemas identificados no diagnóstico, articulando várias ações para enfrentar
as problemáticas demandadas pela sociedade.
Atualmente a Secretaria Municipal de Toledo atua com a execução do “Programa
Minha Casa, Minha Vida” (PMCMV), um programa do Governo Federal destinado a famílias
com renda familiar de até R$1.600,00. O PMCMV é oriundo do Plano de Aceleração do
Crescimento 2 (PAC 2) (TOLEDO, 2012). O PAC Minha Casa, Minha Vida tem como
objetivo reduzir o déficit habitacional, dinamizar o setor de construção civil e gerar trabalho e
renda. O PMCMV utiliza recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). O
programa é gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pela Caixa Econômica
Federal, que consiste em aquisição de terreno e construção de imóveis contratados como
empreendimentos habitacionais em regime de condomínio ou loteamento, constituídos de
apartamentos ou casas, que depois de concluídos são alienados às famílias que possuem renda
familiar mensal de até R$ 1.600,00. (BRASIL, 2009)
O PMCMV foi lançado em março de 2009, com a finalidade de criar mecanismos de
incentivo à produção e aquisição de 1 milhão de novas unidades habitacionais, atualmente
essa meta é de 2 milhões de novas moradias para as famílias com renda bruta mensal de até
R$ 5.000,00. No âmbito do PMCMV para as famílias com renda mensal de até R$1.600,00
estabeleceu-se inicialmente a meta de construção de 400 mil unidades habitacionais e,
atualmente, com a continuidade do programa a meta consiste na produção de 860.000
unidades habitacionais até o ano de 2014, para as operações contratadas com recursos
especificamente do FAR, que viabiliza as construções através de recursos transferidos do
Orçamento Geral da União (OGU), de acordo com a estimativa do déficit habitacional,
considerando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao ano de 2008. (BRASIL, 2009) A
execução das obras do empreendimento é realizada por construtora contratada pela CEF, que
se responsabiliza pela entrega dos imóveis concluídos e legalizados.
O Município de Toledo executa esse programa desde seu lançamento em 2009. Desde
então no município já foram construídos 590 unidades, sendo os loteamentos: Alto Panorama,
Orquídeas, Acácias, Lucyck, Domio e Soster II. O presente trabalho terá como enfoque o
Loteamento Residencial Orquídeas (244 unidades), localizado no Jardim Fachini – Coopagro.
(TOLEDO, 2012)
24
2 POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO, DIREITO À
CIDADE E PLANO DIRETOR
2.1. BREVE RELATO DA IMPLEMENTAÇÃO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL
Incialmente cerca de 80% da população brasileira se encontra na área urbano do país,
no entanto, os problemas relacionados ao desenvolvimento urbanos foram agravados ao longo
dos anos, consequentemente e principalmente pela falta de planejamento, e também pelo mau
controle do uso da ocupação do solo. Desde então, nota-se as desigualdades geradas por essa
falta de planejamento. Foram cinco décadas de transição onde a população brasileira passou
majoritariamente da área rural para a urbana. Segundo Maricato:
Apesar de o país apresentar importantes cidades durante os séculos XVIII e
XIX, a sociedade brasileira se urbanizou praticamente no século XX. O
Brasil começou o século com 10% da população na cidade e terminou com
81%. E embora o processo de urbanização tenha ocorrido durante o regime
republicano o peso das heranças colonial e escravistas é notável, também na
formação das cidades. (MARICATO, 2006, p. 211)
E essa transição, uma das mais precipitadas urbanizações do mundo, não foi
acompanha de políticas públicas específicas para essa área urbana que se propusessem a dar
conta dessa demanda, e não trouxe consigo uma inserção urbana digna aos indivíduos que
abandonaram a área rural e ainda continuam abandonando, por esse meio/local não favorecer
a permanência das famílias na área agrária. (BRASIL, 2004 b)
Esse período foi acompanhado por políticas públicas que tentavam dar um respaldo a
essa demanda que só vinha a aumentar gradativamente.
A institucionalização do planejamento urbano no Brasil ganha força a partir
dos anos 60, com a criação do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
(SERFHAU) e do Banco Nacional de Habitação, como parte da estratégia do
governo federal voltada para a centra lização do planejamento, com o
objetivo de promover e ordenar o crescimento urbano e regional no contexto
de um modelo de desenvolvimento econômico, autoritário e excludente.
(HASS; ALDANA; BADALOTTI, 2009, s.p)
A primeira tentativa de concretizar uma política nessa área foi na ditadura militar.
Titulado como o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento, foi formulado em 1973 através de
diretrizes para uma Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), implementado
25
pela Secretaria de Articulação entre Estados e Municípios, e o Serviço Federal de Habitação e
Urbanismo. De acordo com a PNDU
Nesse período o planejamento urbano obteve grande prestígio, ainda que
fosse marcado por uma acentuada ineficácia. Os planos diretores se
multiplicavam, mas sem garantir um rumo adequado para o crescimento das
cidades. [...] a aplicação desses planos a uma parte das cidades ignorou as
condições de assentamento e a necessidades de grande maioria da população
urbana, relegada a ocupação ilegal e clandestina das encostas e baixadas das
periferias ou, em menor escala, aos cortiços em áreas centrais abandonadas.
Inúmeros estudos e planos tiveram as gavetas como destino. (BRASIL, 2004
b, p. 9)
Nos anos 1970 o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de
Habitação (BNH), foram os grandes responsáveis pela vasta construção de moradias no país.
Ente 1964 e 1985 foram construídos mais de 4 milhões de casas, e inserido o principal
sistema de saneamento. A imagem das cidades brasileiras a partir de então mudou, passou a
construir uma vasta quantia de apartamentos destinados a classe média, que absorveu a maior
parte dos recursos que continham os financiamentos habitacionais. Uma das grandes críticas
relacionadas à ação do BNH foi de construir conjuntos habitacionais fora da área urbanizada
existente na época, passando a submeter às famílias a morarem fora da cidade, isolando-os, e
contrariando o apropriado desenvolvimento urbano. Não menos diferentes essas práticas ainda
se concentram nas administrações públicas até os dias atuais. (BRASIL, 2004 b)
De acordo com Maricato,
Durante as décadas de 1980 e 1990, o país cresceu apenas 1,3% e 2,1%,
respectivamente, não incorporou sequer todos os ingressantes ao mercado de
trabalho. O baixo crescimento acentuou as mazelas urbanísticas
(relacionadas ao solo) e influiu no aparecimento de novos aspectos negativos
nas grandes cidades: o desemprego e a violência. (MARICATO, 2006, p.
212)
A administração do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) usado no
financiamento das construções habitacionais agravou-se, mas foi no governo Collor que seu
auge foi identificado, Collor deixou mais de mil unidades habitacionais sem concluir, e
invadidas. Em 1995 foi criada a Secretaria de Política Urbana, que era subordinada ao
Ministério do Planejamento e Orçamento no governo de Fernando Henrique Cardoso que a
transformou em Secretaria de Desenvolvimento Urbano, vinculada a Presidência da
República. Com o corte no orçamento orientados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI),
26
os investimento na área de habitação e saneamento tiveram um grande recuo entre os anos de
1998 e 2002. Segundo a PNDU,
No mesmo período, 70% dos recursos federais para habitação
(majoritariamente do FGTS) foram destinado à população com renda
superior a 5 salários mínimos, quando o acúmulo da década de exclusão nas
cidades criou um déficit habitacional composto em 92% por famílias com
renda abaixo deste mesmos 5 salários mínimos. Este foi o resultado da falta
de políticas setoriais claras e de uma gestão macroeconômica que priorizou o
ajuste fiscal. (BRASIL, 2004 b, p. 11)
Em 1980 com o crescimento da democracia, passou a alimentar uma articulação dos
movimentos comunitários setoriais urbanos com sindicatos, foi nesse momento que
apresentaram uma Emenda Constitucional pela Reforma Urbana na Assembleia Nacional
Constituinte, incorporando a questão urbana em dois capítulos da Constituição Federal,
permitindo apresentar propostas democráticas frente à função social da cidade e da
propriedade. No entanto, para regulamentar esses capítulos foram necessários 13 anos.
Contudo, no ano de 2001 o projeto de Lei do Estatuto da Cidade foi aprovado no Congresso
Nacional e se torna a Lei 10.25711
. De acordo com a Romanelli:
O Estatuto da Cidade, lei federal que regulamenta os instrumentos de
política urbana que devem ser aplicados pela União, Estados e Municípios,
veio atender o antigo reclamo social por uma gestão mais democrática do
espaço urbano, com expressão da organização social, trazendo ainda
instrumentos que operacionalizam a implementação de moradias e a
ordenação do solo, buscando a efetividade dos princípios constitucionais e,
com isso, a constituição de uma sociedade mais justa e equilibrada.
(ROMANELLI, 2007, p. 77)
Dentre vários acontecimentos relacionados à questão urbana, como conferências
mundiais, mobilizações e movimentos sociais, se fez presente a consciência política frente a
questão urbana na criação em 2003 no Ministério das Cidades pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Não deixando de ressaltar que “[...] a proposta do Ministério das Cidades veio
ocupar o vazio institucional que retirava completamente do governo federal da discussão a
política urbana e o destino das cidades” (MARICATO, 2006, p. 214). Na estrutura do
Ministério das Cidades foram consideradas áreas relevantes e estratégicas do
11
“O Estatuto da Cidade começou a tramitar pelo Projeto de Lei nº 181/1989 de autoria do Senador Pompeu de
Souza, tramitando por doze anos consecutivos no Congresso Nacional, tendo sido promulgada pela lei
10.257/2001. Essa lei fundamentalmente regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal aprovada em
1988 e faz do plano diretor o instrumento básico da política de desenvolvimento urbano.” (SANTOS JUNIOR;
MERLIN; QUEIROGA, 2009, p. 12)
27
desenvolvimento urbano, tanto na área social, econômica, sustentabilidade ambiental e
inclusão social. Criaram-se a partir do ministério quatro secretarias nacionais, da habitação,
saneamento ambiental, mobilidade e transporte urbano.
2.2 CORRELAÇÃO ENTRE POLÍTICA HABITACIONAL, POLÍTICA DE
DESENVOLVIMENTO URBANO E A VIDA DIGNA
O direito a moradia está garantido pela Constituição Federal de 1988 como um
direito fundamental, porém não há como se pensar em moradia somente na edificação de uma
casa solta em um local qualquer, faz-se necessário também a incorporação do direito a área
urbanizada, a infraestrutura, aos serviços públicos, ou seja, para que o indivíduo tenha acesso
ao direito à cidade12
, consequentemente a uma vida com parâmetros de dignidade. E a política
de desenvolvimento urbano e a política da habitação devem estar interligadas para que esses
direitos sejam de fato efetivados, tendo como instrumento principal o planejamento em torno
desses elementos, que podem contribuir para que a população acesse áreas urbanizadas. Em
relação ao desenvolvimento urbano, Souza afirma:
Um desenvolvimento urbano autêntico, [...] não se confunde com uma
simples expansão do tecido urbano e a crescente complexidade deste [...].
Ele não é, meramente, um aumento da área urbanizada, e nem mesmo,
simplesmente, uma sofisticação ou modernização do espaço urbano, mas,
antes e acima de tudo, um desenvolvimento sócio-espacial na e da cidade:
vale dizer, a conquista de melhor qualidade de vida para um número
crescente de pessoas e de cada vez mais justiça social. (SOUZA, 2003, p.101
grifos do autor)
Diante da problemática frente ao desenvolvimento urbano, levamos em conta em
primeiro lugar o direito de todos a uma casa para morar, mas não somente a ela, segundo
Rolnik, “Todos os habitantes de nosso País devem ter acesso a um lugar para viver com
dignidade e acesso aos meios de subsistência, como manda a Constituição e diversos tratados
internacionais dos quais o Brasil é signatário. [...].” (ROLNIK, 2009, s.p.), ou seja, programas
habitacionais estão presentes justamente para suprir essa demanda por moradias, respondendo
12
“Essa competência está fixada no art. 182 da Constituição Federal que atribui aos municípios a missão de
garantir o bem-estar de seus habitantes por meio de implantação de política de desenvolvimento urbano que seja
capaz de ‘ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade’.” (BRASIL, 2009, p. 53)
28
assim a uma das expressões da questão social, mas também não acabará a expressões se
construírem somente casas.
Frente à afirmação entende-se que, o desenvolvimento urbano tem como obrigação
acompanhar o crescimento da cidade, proporcionando infraestrutura e serviços, porém,
sabemos que isso nem sempre acontece devido à falta de planejamento do município, de
acordo com Maricato,
Terra urbana significa terra servida por infra-estrutura e serviços (rede de
água, rede de esgoto, rede de drenagem, transporte, coleta de lixo,
iluminação pública, além dos equipamentos de educação, saúde etc.). Ou
seja, a produção da moradia exige um pedaço de cidade e não terra nua. Há
necessidade de investimento sobre a terra para que ela ofereça condições
viáveis de moradia [...]. (MARICATO, 2002, p.119)
E ao se referir a um programa que veio para suprir essa demanda por moradia digna
como o “Programa Minha Casa, Minha Vida” Maricato acrescenta,
Com o Minha Casa, podemos dizer que o rabo abana o cachorro: iniciativas
desarticuladas, seguindo interesses privados, definirão a maior parcela da
localização do milhão de unidades estimadas, com consequências territoriais
e ambientais imprevisíveis. Ninguém mora apenas em sua casa. Necessitam-
se também dos transportes, da infraestrutura urbana, dos equipamentos
públicos e privados de abastecimento, saúde, educação, etc. [...]. Um
equipamento mal localizado gera desperdícios que impõem um alto preço à
sociedade, que custeará a extensão das redes e equipamentos urbanos.
(MARICATO, 2009, p. 45)
Percebe-se que não há um consenso entre as políticas responsáveis, o que acaba
influenciando no modo de planejar os programas habitacionais e a política de gestão do
desenvolvimento urbano, gerando assim, casas sem cidades.
A população mais pobre que é a que mais precisa desse programa habitacional fica
sem alternativas e acaba sem acesso a terra urbanizada. (ROLNIK, 2011) “A urbanização é
necessária para garantir a qualidade de vida da população residente e a minimização dos
impactos negativos da ocupação sobre o meio ambiente, através da implantação de infra-
estrutura e saneamento básico, coleta de lixo, [...].” (SOUZA, 2010, p. 158)
Esse modo de produzir moradias populares além das cidades em locais distantes e
sem acesso a estrutura, não prejudica somente os moradores dos loteamentos, mas também
traz consequências a toda a cidade, segundo Rolnik e Nakano,
29
Além de encarecer a extensão das infraestruturas urbanas, que precisam
alcançar locais cada vez mais distantes, o afastamento entre os locais de
trabalho, os equipamentos urbanos e as áreas de moradia aprofundam as
segregações socioespaciais e encarecem os custos da mobilidade urbana.
(ROLNIK; NAKANO, 2009, p. 5)
Conforme o citado compreende-se que a construção de loteamentos além das
cidades, traz consequências a todos, não somente aos que irão morar nesses locais distantes,
mas a própria cidade, que terá de investir em infraestrutura para dar conta das demandas que
irão existir a partir da implementação dos programas habitacionais, para que possam dar
acesso à cidade para população. Além do que, o Estatuto da Cidade deixa claro em seu artigo
2º, inciso I, a garantia que os cidadãos têm perante a cidade, destacando o “[...] direito a
cidade sustentável, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e serviços públicos, ao trabalho e ao lazer,
para as presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 2002, p. 17)
Em uma sociedade que se julga democrática, onde os direitos são iguais, satisfazer as
necessidades sociais básicas é um direito de todos os habitantes, o que possibilita solidificar
um padrão de urbanidade, além do que a inclusão socioterritorial, levando a universalização e
garantia da cobertura de serviços e infraestrutura urbana. Frente a isso os cidadãos podem
democratizar suas decisões, tendo assim a possibilidade de escolher diante de seu
desenvolvimento a possibilidade de realização de suas capacidades humanas. (NAKANO,
2010).
A política de habitação tem como um de seus objetivos a universalização do acesso a
moradia digna, democratização ao acesso a moradia, e ampliação e melhora da qualidade na
produção habitacional (BRASIL, 2004 a), elementos que unificados somente em construção
de casas não possibilitam viabilizar a população uma qualidade de vida digna. E salientando a
política de desenvolvimento urbano alguns objetivos como, reduzir o déficit habitacional;
propiciar acesso universal ao saneamento ambiental; gestação integrada e sustentável da
política de saneamento; mobilidade urbana com segurança e estatuto da cidade (BRASIL,
2004 b). Perante a exposição de alguns dos objetivos dessas políticas percebe-se a
necessidade destas de integrar seus projetos para conseguir propor através de seus
instrumentos operacionais a garantia de um direito fundamental estabelecido pela
constituição, a moradia em local urbanizado, consequentemente, garantindo assim, a
dignidade da pessoa humana.
30
Ainda sobre a integração Gazola afirma “O projeto integrado não é nada mais que uma
concentração de esforços, onde o Poder Público local, leva de uma vez só, os serviços de
todas as secretarias com o intuito de promover a inclusão social dos moradores na área de
intervenção. [...]” (GAZOLA, 2008, p. 149). Ou seja, não sendo possível integrar todas as
secretarias em prol de uma causa, no que nos referimos aqui a moradia, tem-se pelo menos a
necessidade de integrar no mínimo a elaboração de um planejamento que integre as políticas
de habitação e desenvolvimento urbano, para que juntas possam intervir na área que
pretendem atender.
E ao abordarmos a vida digna como um elemento intimamente ligado as condições de
moradia e em seu contexto que engloba todo o seu território habitável, não se pode deixar de
ressaltar o que se entende por vida digna no âmbito de um direto.
A vida nem sempre foi entendida como um valor, que tivesse o direito como um
respaldo. Nem sempre o homem teve proteção garantida pelo direito, pela sua condição de ser
humano. Foi no decorrer dos tempos após algumas atrocidades cometidas referentes à
dignidade humana como guerras mundiais, que o cuidado com a vida humana passou a ocupar
espaços, inicialmente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, logo, também na
Constituição Federal Brasileira de 1988, que garante a segurança não somente de viver, de
estar vivo, mas de estar vivo e viver dignamente (ROCHA, 2004). Ou seja, no artigo 1º, inciso
III, “A dignidade da pessoa humana” (BRASIL, 2009, p. 8) vem como princípio fundamental,
no entanto, não tem como dissociar a dignidade de uma pessoa da qualidade de vida, são
elementos entrelaçados, para ser possível acessar um deve-se ter acesso inicialmente ao outro.
A vida digna já foi considerada privilégio, que era assegurado apenas a alguns
indivíduos, os que possuíam meios e modos para que pudesse defender esse privilégio – não
deixando de ressaltar que ainda hoje essa é uma situação ainda existente.
Quando se fala em vida digna e/ou dignidade humana refere-se ao sentido amplo, não
somente o meio de cuidado com a vida refere-se à qualidade que essa vida deve ter, a garantia
que o Estado deve proporcionar para os indivíduos acessarem esse direito, se
responsabilizando pela tutela, proteção e principalmente pela garantia deste. (ROCHA, 2004)
A Constituição Federal de 1988 deixa claro o direito à dignidade como direito
fundamental, ou seja, o principio da dignidade humana é o que conduz os direitos
fundamentais. E como já mencionado acima, não tem como falar em garantir outros direitos
sem falar no principal, o que rege os outros, o direito a uma vida digna.
Mais que a própria existência, que é a fonte inicial de outros bens, deve-se observar o
processo no qual está inserido a qualidade existencial do ser humano e qual a sua dignidade
31
frente a essa dinâmica. Abordando não somente a vida num sentido de existir, mas sua
qualidade, levando em considerações fatores que contribuem primordialmente para que isso
possa acontecer. Apontar as condições que possam assegurar ao indivíduo e sua família
recursos que são indispensáveis a sua existência digna. (ROCHA, 2004). O termo qualidade
de vida citado pode ser definido com uma amplitude de significados...
O conceito qualidade de vida guarda relação com a satisfação das
necessidades humana e numerosos estudos fazem essa vinculação. Algumas
das necessidades humanas se transformam com o tempo, mas as
necessidades básicas, ou fundamentais, são as mesmas em todas as culturas e
em qualquer período histórico, porque são afeitas à condição humana.
(VITTE, 2009, p. 91)
A definição de qualidade de vida é muito abrangente, abarca vários significados, mas
pode ser relacionada ao desenvolver do bem estar do grupo/indivíduo, no qual a satisfação de
suas necessidades básicas pode ser efetivada. Vitte cita uma definição de Allardt sobre as
necessidades básicas expostas como:
[...] os recursos econômicos: renda e riqueza; as condições de moradia:
medidas pelo espaço disponível e equipamentos domésticos (housing
amenities); emprego (ausência ou ocorrência de emprego); condições de
trabalho: barulho, temperatura, rotina, medidas de estresse, etc; saúde:
presença ou ausência de vários sintomas de dos ou doença, os cuidados
médicos disponíveis e educação: anos de educação formal. (ALLARDT
apud VITTE, 2009, p. 92 grifos do autor)
Com base na citação podemos identificar que para ter qualidade de vida deve-se
atender inicialmente as necessidades designadas básicas, como moradia, saúde, educação, ou
seja, a partir dessa premissa, tem-se que considerar que políticas públicas que abordam essas
categorias necessariamente precisam discutir e caminhar juntas, para que assim possam
garantir um mínimo a população. Portanto não se pode deixar de ressaltar o papel que o
planejamento dos gestores dessas políticas devem ter para alcançar o sucesso na
implementação de projetos e programas.
A Agenda Habitat acrescenta ainda sobre a qualidade de vida referente a moradia no
artigo 30, do capítulo II, em seus princípios e objetivos:
A qualidade de vida de todos os povos depende, entre outros fatores
econômicos, sociais, ambientais e culturais, das condições físicas e espaciais
das nossas vilas, cidades pequenas e grandes. A disposição e a estética das
cidades, padrões de ocupação do solo, densidade populacional e de
32
construções, transporte e facilidade de acesso de todos a produtos, serviços e
amenidades públicas básicas têm um peso crucial nas boas condições de vida
dos assentamentos. Isso se torna ainda mais importante para as pessoas
vulneráveis e desfavorecidas, muitas das quais enfrentam barreiras no acesso
a moradias e na participação na elaboração do futuro dos seus
assentamentos. A necessidade das pessoas por comunidades e suas
aspirações por bairros e assentamentos com melhores condições devem guiar
o processo de projeto, gestão e manutenção de assentamentos humanos. Os
objetivos desse esforço incluem proteção à saúde pública, garantia de
segurança, educação e integração social, incentivo à igualdade e ao respeito
pela diversidade e identidade cultural, maior acessibilidade para pessoas
portadoras de deficiências e preservação de prédios e áreas de valor
histórico, espiritual, religioso e cultural, respeito às paisagens locais, e
cuidado com o meio ambiente local. [...] É também crucial que a
diversificação espacial e a utilização mista de moradias e serviços sejam
promovidas em nível local, de forma a atender à diversidade de necessidades
e expectativas. (FERNANDES, 2003, p. 25)
Ainda referente ao direito de viver dignamente, entende-se como tudo aquilo que torna
a vida um espaço onde o aperfeiçoamento é continuado, o que possibilita a garantia de uma
vida estável, compreendida por Rocha como “[...] o direito à saúde, à educação, à cultura, ao
meio ambiente equilibrado, aos bens comuns a comunidade, enfim, o direito de ser em
dignidades e liberdades.” (ROCHA, 2004, p. 25). Ou seja, para garantia de uma vida digna é
necessário à garantia/o acesso a direitos eminentes do princípio fundamental da pessoa
humana, mas que juntos possibilitam a dignidade de um indivíduo em sua sociedade. São
elementos/direitos que se entrelaçam, para que um direito principal possa ser garantido.
Além disso, sobre o que compreende a vida digna e/ou o direito de viver com
dignidade Rocha complementa que são...
[...] todas as condições para uma vida que se possa experimentar segundo as
próprias idéias e vocação, de não ter a vida atingida ou desrespeitada por
comportamento público ou privado, de fazer as opções na vida que melhor
assegurem à pessoa a sua realização plena. (ROCHA, 2004, p. 26)
No entanto, não basta existir, faz-se necessário a dignidade, é necessário que haja a
segurança para que essa vida seja experimentada dignamente através da qualidade referente às
condições dadas ao homem. Ou seja, garantindo o direito, que já é do indivíduo, melhor será a
sua vida frente sociedade.
E isso não deve ser diferente frente ao direito a moradia, no entanto, fica a cargo dos
municípios um planejamento na hora de construir um loteamento, por exemplo, pois a partir
dele possibilitará assegurar demais direitos, como o direito à cidade.
33
Frente a esse planejamento tão necessário, os gestores antes da implementação de um
loteamento devem ter conhecimento sobre o Estatuto da Cidade13
, pois este traz subsídios
necessários para que isso possa ocorrer de forma justa, possibilitando a garantia de acesso a
esse direito, que é a moradia digna.
2.3 ESTATUTO DA CIDADE, PLANO DIRETOR E DIREITO À CIDADE
O Estatuto da Cidade passa a regulamentar dois artigos da Constituição de 1988
relacionados ao desenvolvimento urbano. Possibilitando através dele o desenvolvimento e o
reordenamento das cidades, proporcionando bem-estar e qualidade de vida aos seus
habitantes.
No período entre 1970 e 1980 a sociedade brasileira passou por um momento político
designado de redemocratização, caracterizado pelo aumento de maneiras de organização
popular, principalmente em relação aos segmentos organizados, frente ao processo de decisão.
Foi a primeira vez em todos os tempos que as lutas obteram resultados. A Constituição
Federal de 1988 acrescentou um capítulo específico que contemplava a política urbana,
prevendo uma amplitude de instrumentos que garantem que cada município defenda sua
função social, da propriedade e da democratização da gestão urbana. (ROMANELLI, 2007)
As funções sociais da cidade são elencadas em quatro: a habitação, o trabalho,
circulação e lazer. Não sendo as únicas.
A função social da cidade é cumprida quando esta proporciona a seus
habitantes o direito à vida, à segurança, à igualdade, à propriedade e a à
liberdade (CF, art. 5º, caput), bem como quando garante a todos um piso
vital mínimo, compreendido pelos direitos sociais à educação, à saúde, ao
lazer, ao trabalho, à previdência social, à maternidade, à infância, à
assistência aos desamparados, entre outros encartados no art. 6º (FIORILLO
apud SOUZA, 2010, p.63)
No entanto, a cidade para atingir sua função social deve abranger todos os direitos
sociais, proporcionando qualidade de vida e bem-estar a seus habitantes, não somente
propiciar um direito social, como a moradia, por exemplo, e deixar para trás outros direitos
inerentes à pessoa humana. Para complementar essa afirmação Souza cita Dias sobre as
funções sociais da cidade e sua ligação que a mesma tem com o aspecto econômico...
13
Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2010, Estatuto da Cidade.
34
No que tange à questão urbana e ao desenvolvimento econômico é preciso a
realização de gestão municipal que consiga compatibilizar as atividades
econômicas em espaços urbanos que viabilizem o crescimento e progressos
sociais em bases sustentáveis. Nesse sentido, a atividade econômica, de
forma geral, deve trazer benefícios ao espaço urbano e a seus habitantes
como seres dignos a uma vida sadia, por meio da consecução de direitos
fundamentais como a saúde, trabalho, habitação, educação, lazer, transporte,
segurança, proteção ao meio ambiente, [...], dentre tantos valores
implicitamente compreendidos na expressão “dignidade humana”. (DIAS
apud SOUZA, 2010, p. 64)
A afirmativa da autora deixa claro o empenho conjugado que devem ter todos os
gestores e atores da sociedade, em prol de uma causa que traga benefícios, priorizando a
coletividade. Portanto, compreende-se que à cidade só está atendendo suas funções sociais no
momento em que está satisfazendo no mínimo as necessidades básicas da população. Para
além do que já foi exposto, a função social da cidade está diretamente ligada ao exercício da
cidadania,
[...] salvo melhor juízo, a concretização da função social da cidade, ao
mesmo no Brasil, precisa ser condizente com os demais princípios e
objetivos fundamentais do Estado Brasileiro, insertos no Texto Político
vigente, o que significa pressupor o exercício da cidadania na definição das
ações voltadas para esse sentido, maximizando a realização da justiça social
e a busca de uma sociedade justa e solidária, tudo mediado pela
responsabilidade compartida do Poder Público, mercado e sociedade civil
organizada. (LEAL apud SOUZA, 2010, p. 66)
Frente ao citado pode-se compreender que pessoas que vivem melhor, que possuem
qualidade de vida, certamente terão mais entendimento dentro da sociedade, podendo assim
de fato contribuir com as decisões tomadas para a própria sociedade, melhorando a qualidade
de vida dela e da cidade.
As funções sociais da cidade devem abranger o acesso de todos os habitantes,
considerando o acesso a moradia, serviços urbanos, transporte público, cultura, lazer,
saneamento básico. Nesse sentido, sua função social deverá exercer funções dedicadas a
redução e combate as desigualdades sociais territoriais, extinguir a pobreza, promover a
justiça social, e principalmente satisfazer os direitos fundamentais, proporcionando vida digna
a seus habitantes. Conforme Saule Júnior o direito à cidade pode ser definido como...
[...] os direitos inerentes às pessoas que vivem nas cidades de ter condições
dignas de vida, de exercitar plenamente a cidadania, de ampliar os direitos
35
fundamentais (individuais, econômicos, sociais, políticos e ambientais), de
participar da gestão da cidade, de viver num ambiente ecologicamente
equilibrado. (SAULE JUNIORS apud SOUZA, 2010, p.98)
O direito à cidade que está elencada dentro das funções sociais da mesma, só será
respeitado quando as políticas públicas estivem com o intuito de assegurar aos moradores o
acesso a moradia digna, a terra urbanizada, saneamento ambiental, transporte público,
serviços públicos, infraestrutura, lazer, esporte para as gerações presentes e as futuras. Frente
a isso, para que todos os moradores tenham condições de viver com qualidade e dignamente,
tendo acesso à cidade, com moradias adequadas, fica mais uma vez exposto a necessidade que
esta seja bem planejada, o que de fato teve uma atenção especial no Estatuto da Cidade, ao
que se refere ao planejamento. (SOUZA, 2010) Essa lei proporciona diversos instrumentos
voltados ao planejamento e a organização da sociedade, destacando o plano diretor, que é o
instrumento base da política de desenvolvimento urbano.
O Plano Diretor instrumento obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes,
deve conter informações fixados pelo Estatuto da Cidade como: “Instituição de zonas
especiais de interesse social; concessão de direito real de uso; concessão de uso especial para
fins de moradia; parcelamento, edificação ou utilização compulsória; desapropriação;
usucapião especial de imóvel urbano; outorga onerosa do direito de construir.” (GAZOLA,
2008, p. 87-88).
São com esses elementos exigidos nos planos diretores que cada município irá poder
garantir e efetivar o direito a moradia digna a seus habitantes, fazer cumprir a função social da
cidade, e implementar uma gestão pautada na democracia, ressaltando que o processo de
elaboração do plano diretor deve ser procedimento democrático,
A constituição de um sistema de gestão democrática da cidade no município,
é condição essencial para os objetivos da política urbana serem atingidos,
através da aplicação do plano diretor, uma vez que o processo de
formulação e execução das políticas públicas, o planejamento municipal e o
modelo de gestão da cidade são matérias vinculantes para a execução do
plano diretor. (SAULE JUNIOR apud ROMANELLI, 2007, p. 93 grifos do
autor)
Somente a partir da gestão democrática sabe-se as demandas necessárias que a cidade
possui, e principalmente, é a partir dessa gestão que possibilitará o acesso de todos os
moradores aos benefícios oferecidos por ela.
O plano diretor surgiu justamente para estabelecer regras indiferente aos interesses
particulares de setores privados, responsável por diretrizes, metas da política urbana, que
36
possibilitam a condicionalidade do exercício desse direito, garantindo assim condições de
vida digna no espaço urbano, o íntegro desenvolvimento das funções sociais da cidade,
consequentemente a igualdade e a justiça social, e principalmente a participação popular, para
que haja a democracia na gestão desse plano. (ROMANELLI, 2007)
O plano pautado na gestão democrática acabou com gestões burocratizadas, que eram
afastadas dos cidadãos e das verdadeiras necessidades da população. A partir dessas
mudanças trazidas pelo Estatuto da Cidade, possibilitando uma atuação do poder público de
forma diferente,
[...] verifica-se que a relação entre democracia participativa e representativa
torna-se mais nítida, pois é nesse aspecto que o povo consegue conviver
diretamente com aquele que o representa. No município existe uma maior
proximidade entre o gestor público e a cidadania, o que facilita uma gestão
pública compartilhada. Assim o poder local, a figura da união do Município
com a sociedade civil que o compõe, assume status significante, ainda mais
quando se percebe que os grandes projetos, que exigem dispêndios
econômicos elevados fogem da real necessidade social já são realizados
dissociados do cidadão e sem levar em conta a grande desigualdade existente
no Brasil. (ROMANELLI, 2007, p. 96)
Mais uma vez fica clara a necessidade da sociedade civil tanto na elaboração dos
planos quanto no acompanhamento da execução, pois é a partir da mesma que saberá as reais
necessidades da população.
O Plano Diretor de Toledo – PR conta com uma estrutura que abrange várias áreas de
atuação, que contempla várias políticas públicas que juntas possibilitam chegar a uma
finalidade relacionada a melhoria da condição de vida na cidade. Dentre suas diretrizes
destaca-se:
I – garantia do direito a uma cidade sustentável, entendido como o direito a
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana,
ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para a presente e
futuras gerações; II gestão democrática de participação da população e de
associações representativas dos vários segmentos da comunidade na
formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de
desenvolvimento urbano; [...] IV – planejamento do desenvolvimento das
cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas
do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e
corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o
meio ambiente; V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários,
transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da
população e às características locais; [...] IX – justa distribuição dos
benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; [...] XVII –
promoção do exercício da cidadania através da implantação de canais de
37
informações que estimulem a participação democrática no desenvolvimento
das ações. (TOLEDO, 2006, s.p)
Frente às diretrizes pode-se compreender que a ambas unem-se para concretizar a
função social da cidade e a iniciativa da participação popular em todos os âmbitos da
realização dos projetos e programas em prol de uma cidade mais justa para todos.
O plano também enfatiza a vinculação entre as políticas sociais (saúde, educação,
assistência social, esporte e lazer entre outras) na tentativa de proporcionar juntas, planejando
suas ações em função de um único objetivo, possibilitar o acesso de todos aos direitos
garantidos, levando a população qualidade de vida e bem-estar. O artigo 77 do plano diretor
do município acrescenta outro elemento que deve conter um planejamento adequado para que
a qualidade de vida da população possa ser efetivada.
O Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV) deverá considerar o
sistema de transportes, meio ambiente, infra-estrutura básica, estrutura sócio-
econômica e os padrões funcionais e urbanísticos de vizinhança e
contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade
quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas
proximidades, [...]. (TOLEDO, 2006, s.p)
Um estudo prévio das condições antes de instalar um empreendimento ou uma
atividade é de fundamental importância para que a cidade tenha seu crescimento de acordo
com que o Estatuto da Cidade prega. Planejar, realizar um diagnóstico para saber a real
situação de um local, faz com que ao implantar um empreendimento no território traga junto a
ele toda a estrutura necessária para que seus habitantes possam usufruir de serviços e
instalações que irão trazer a eles qualidade de vida, nessa perspectiva possibilitando uma vida
digna aos moradores do município.
2.4 PLANEJAMENTO FRENTE À IMPLEMENTAÇÃO14
DE POLÍTICAS E
PROGRAMAS
A população mundial cresce a cada dia, com ela cresce também os problemas oriundos
dessa expansão populacional em relação a todos os setores, porém, necessita-se acomodar
14
Silva cita uma definição de implementação dada pela Unicamp como sendo, “O processo autônomo onde
decisões cruciais são tomadas e não só ‘implementadas’. Conflitos interjurisdicionais entre órgãos e instituições,
brechas e ambiguidades legais, omissões de normas operacionais, além de outros fatores, permitem que os
executores de políticas tomem decisões relevantes para o sucesso da política.” (UNICAMP apud SILVA;
BASSI, 2012, p. 29)
38
essa população em locais adequados, onde esses indivíduos possam levar uma vida com
qualidade, tornando-os dignos perante a sociedade.
O processo de implementação de uma política ou de um programa é complexo e isso
leva seu envolvimento primordial com o processo de planejamento, para que seus objetivos
sejam enfim alcançados. “O resultado do planejamento, incluindo sua implementação, deve
ser visto como uma série de eventos que dependem de uma complexa cadeia de interações
para se chegar a um resultado, e muitas vezes esta cadeia é imprevista ou incontrolável. [...].”
(SILVA; BASSI, 2012, p. 29). Ou seja, muitas vezes na fase da implementação os interesses
estejam ligados somente nos resultados, não nos impactos correspondentes nos projetados no
momento de sua formulação.
Na verdade no decorrer da implementação de um programa podem surgir problemas
que julgam-se incorrigíveis, por não terem sido pensados na hora do planejamento.
O planejamento urbano vem para dar conta dessa demanda que aumenta rapidamente,
e o ordenamento da cidade por si só, não consegue urbanizar-se para que a procura por
moradia e serviços públicos seja suprida no mesmo nível em que a população almeja. E é esse
o papel do planejamento urbano, regular o ordenamento da cidade para proporcionar
qualidade de vida a seus habitantes. Para Souza,
[...] a cidade serve de abrigo para as pessoas à medida que o direito à
moradia se tornou um direito fundamental. Diante disso, as cidades oferecem
significativa contribuição para a chamada sustentabilidade habitacional. [...]
pode-se compreender a cidade como um local de aglomeração humana onde
as pessoas desempenham atividades das mais diversas, agindo e interagindo
entre si, buscando, na medida do possível, uma melhoria em suas qualidades
de vida, pressupondo esta, necessariamente, de estudos técnicos voltados a
tornar eficaz a função social da cidade, procurando compatibilizar os
problemas apresentados pela urbe e os anseios de seus habitantes. (SOUZA,
2010, p.56 -59)
As cidades possuem pontos positivos e negativos, elenca-se aqui os negativos como
má distribuição de serviços públicos como saúde, educação, altos índices de analfabetismo,
poluição, congestionamento. (SOUZA, 2010) São elementos que vividos diariamente afeta
principalmente a qualidade de vida dos indivíduos que fazem parte da sociedade. São
elementos que devem ser pensados e planejados para que possam ser evitados na cidade.
Portanto, o planejamento urbano é imprescindível para que uma sociedade possa
desenvolver-se sustentavelmente, “[...] o planejamento constitui um dos pontos mais
importantes (senão o mais) na busca da qualidade de vida das pessoas nas cidades, com
reflexos diretos em seu modo de ser, viver e pensar.” (SOUZA, 2010, p. 58). Por isso a
39
necessidade de um ordenamento urbano bem feito, bem planejado, para que a cidade a partir
dele possa garantir suas funções sociais, e o bem-estar dos seus habitantes.
Contudo, quando objetiva-se implantar um loteamento, por exemplo, com quantidades
significativas de casas, deve-se ter como passo inicial planejar, para que possa antes construir
cidades, não somente casas,
[...] a ocupação e o desenvolvimento dos espaços habitáveis, sejam eles no
campo ou na cidade, não podem ocorrer de forma meramente acidental, sob
as forças dos interesses privados e da coletividade. Ao contrário, são
necessários profundos estudos acerca da natureza da ocupação, sua
finalidade, avaliação da geografia local, da capacidade de comportar essa
utilização sem danos para o meio ambiente, de forma a permitir boas
condições de vida para as pessoas, permitindo o desenvolvimento
econômico-social, harmonizando os interesses particulares e os da
coletividade. E, exatamente, para que todas essas variáveis apontem num
mesmo sentido, necessário se faz um planejamento urbanístico, permitindo
desse modo, o desenvolvimento sustentável e integrado das comunidades.
(MUKAI apud SOUZA, 2010, p. 58)
Essa afirmação reforça no sentido de que, é imprescindível o planejamento urbano
antes de qualquer ação que possa vir a modificar a vida/qualidade de vida de um cidadão. No
entanto, categorias como cidade, qualidade de vida, meio ambiente, bem-estar e planejamento
são elementos que se devem encontrar imbricados.
Planejar é segundo Barbalho apud Costa, “[...] manter o rumo e minimizar os erros.
Isto porque as constantes transformações que estão sendo inserida no contexto mundial impõe
a necessidade de um preparo para enfrentar o futuro.” (BARBALHO apud COSTA et al,
2006, p. 98) Planejar é fundamental para que haja um reordenamento urbano pleno, sendo
este designado como um instrumento de maior importância na gestão do desenvolvimento da
cidade.
Considera-se o planejamento um procedimento de definição dos objetivos, para que as
necessidades emanadas pela população sejam supridas. Para realizar o planejamento, surgem
os maiores embates, senão o maior da humanidade que é conseguir integrar desenvolvimento
econômico, preservação do meio ambiente e justiça social. Em razão disso o planejamento
tem como função essencial sua execução vinculada diretamente com os princípios pregados
na Constituição de 1988, ou seja, somente planejando é que o poder público irá conseguir o
que necessita para a sociedade, um real desenvolvimento urbano. Frente a isso a extrema
necessidade da preocupação da coletividade e a administração pública com o tema, pois
inviabilizar a vida na cidade seria prejudicial a todos. (SOUZA, 2010)
40
O planejamento tão citado exerce um papel fundamental para que a sociedade consiga
caminhar em benefícios a todos os cidadãos que a ela pertença. Essa necessidade de
articulação das políticas estarem planejando em conjunto suas ações está imbricada na
necessidade de estarem atuando em prol de uma sociedade mais justa, nos parâmetros de
oferta de bens e serviços que possam trazer benefícios aos indivíduos, principalmente aos que
mais precisam e fazem uso de serviços públicos.
Contudo, a implementação de um programa e/ou projeto, é fundamental um vasto
planejamento/estudo prévio, visando a real necessidade dos que irão fazer uso dos benefícios
que o mesmo pretende oferecer. Se sua implantação realmente vai trazer benefícios, ou se isso
irá causar ainda mais transtornos na vida de quem se pretendia melhorar.
Frente ao planejamento pode-se classificar a intersetorialidade15
como um elemento
fundante para a execução plena de um projeto ou programa. Perante essa afirmativa
Nascimento cita Koga que afirma que “[...] a intersetorialidade se torna, assim, uma qualidade
necessária ao processo de intervenção. Programas, projetos, equipes técnicas são desafiados
ao diálogo, ao trabalho conjunto com a perspectiva da inclusão social.” (KOGA apud
NASCIMENTO, 2010, p.100). Portanto, faz-se necessário um intenso trabalho em
conjunto/equipe de vários setores para que um projeto possa ser bem executado, atendendo
todas as necessidades dos indivíduos que irão se beneficiar do empreendimento. Portanto, a
intersetorialidade:
[...] constitui uma concepção que deve informar uma nova maneira de
planejar, executar e controlar a prestação de serviços, de forma a garantir um
acesso igual dos desiguais. Isso significa alterar toda a forma de articulação
dos diversos segmentos da organização governamental e dos seus interesses.
Diante disso, a implantação integrada das várias políticas sociais não
depende apenas da vontade política de quem tem o poder ou os recursos
disponíveis, pois cada política setorial tem seus interesses e práticas.
(JUNQUEIRA apud NASCIMENTO, 2010, p. 100)
Ou seja, realizar um projeto de maneira articulada e planejada entre as várias políticas
públicas – entre os gestores que executam essas políticas – é uma maneira de tornar eficaz o
que se pretende implementar e tornando eficaz também a gestão pública, que não ficará
fragmentada limitando seu espaço de atuação.
No artigo 2, inciso IV, o Estatuto afirma mais uma vez a necessidade do planejamento
para que a cidade possa cumprir suas funções estabelecidas e equiparar as desigualdades:
15
“[...] define a intersetorialidade como a articulação de saberes e experiências para o planejamento, a realização
de avaliação de políticas, programas e projetos, cujo fim é alcançar resultados cooperativos em situações
complexas.” (INOJOSA apud NASCIMENTO, 2010, p. 101)
41
“Planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das
atividades econômicas do município e do território sob sua área de influência, de modo a
evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente.” (BRASIL, 2002, p. 18). O planejamento é visto como essencial, principalmente
para assegurar aos desprovidos de riqueza material, possam ter acesso aos serviços públicos
com mais facilidade e com qualidade, o que gera mais possibilidade de melhorar a qualidade
de vida desses cidadãos.
Compreende-se que, é um desafio conseguir integrar todas as secretarias em torno de
um projeto, porém, até mesmo a intersetorialidade necessita de um planejamento para que
possa acontecer,
O projeto, elaborado de forma integrada entre as diversas secretarias e a
partir de diagnóstico, pode e deve ser executado simultânea e
harmonicamente pelas secretarias municipais, de conformidade com suas
atribuições institucionais. Para que isso ocorra a vontade política dos
administradores é fundamental, [...], do coordenador do mesmo que deve se
reportar diretamente ao chefe do executivo municipal. (GAZOLA, 2008, p.
150)
Sabe-se que cada secretaria tem seu papel, porém, ao estarem integrada em suas ações,
na implantação de projetos, fariam com que vários benefícios fossem proporcionados a toda
sociedade. Pois, juntas poderiam em um momento único intervir para que as classes menos
favorecidas da sociedade tivessem uma inclusão social, melhorando assim a qualidade de vida
de todos os moradores da cidade, tornando-os dignos, garantindo qualidade de vida.
As políticas citadas no trabalho têm um papel fundamental na garantia do direito a
morada digna, e através do planejamento destas é que essa vida digna pode começar a ser
assegurada, pois a problemática referente ao acesso à moradia digna em local regularmente
urbanizado está intimamente ligado à falta de planejamento dos gestores públicos que são os
responsáveis pela execução dos programas oriundos dessas políticas.
Sobre o planejamento de ações em conjunto frente a implementação de programas
que garantem o acesso a moradia em áreas urbanizada Gazola coloca,
Compete aos municípios a identificação de seus problemas, demandas e
potenciais de forma que possam fixar metas e identificar os instrumentos que
serão utilizados para que possam ser alcançadas, vez que as pessoas não
residem na união, nem nos Estados, elas residem nos municípios (GAZOLA,
2008, p.76)
42
A partir da afirmativa de Gazola fica claro que o planejamento deve ser priorizado
para que as demandas da cidade sejam supridas. Ou seja, que haja uma comunhão entre
gestores e sociedade civil, daí a importância do controle social16
, um espaço para que a
comunidade possa dar sua opinião a ajudar na gestão pública, fazendo com que sua
participação se enraíze no controle da coisa pública. Mas ainda assim, cabe ao município
identificar os problemas e as demandas encontradas na cidade, e a partir delas construir com
as políticas que julgarem necessários o planejamento em torno de programas que se pretenda
implementar.
16
“[...] o controle social é utilizado com o significado de exercício democrático da cidadania ativa, onde todos os
cidadãos estão habilitados a participar do planejamento, da execução e da avaliação da política pública [...].”
(BATINI; COLIN. FOWLER apud PEREIRA, 2012, p. 13)
43
3 PERCEPÇÕES APROXIMATIVAS DOS BENEFICIADOS DO RESIDENCIAL
ORQUÍDEAS DOS SERVIÇOS/EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DISPONÍVEIS NO
BAIRRO JARDIM COOPAGRO COM A IMPLEMENTAÇÃO DO “PROGRAMA
MINHA CASA, MINHA VIDA”
Sendo o Serviço Social uma profissão que tem como objeto a questão social
(constituídas por variadas expressões) das quais necessitam, entendimento, conhecimento e
resposta do assistente social para intervenção nesse objeto de trabalho. Diante disso, a
pesquisa se faz necessário em todos os níveis do trajeto profissional, tanto na sua formação
acadêmica quando na sua atuação cotidiana. Sendo uma profissão com uma dimensão
investigativa a pesquisa deve ser assumida como “[...] indispensável à consolidação da área
como produtora de conhecimento que tenha uma relevância social.” (GUERRA, 2010, p.734)
Portanto a pesquisa é de extrema necessidade, pois é reconhecida como uma dimensão
crucial na atuação/exercício profissional possibilitando “[...] uma condição para se formular
respostas capazes de impulsionar a elaboração de propostas profissionais que tenham
efetividade e permitam atribuir materialidade aos princípios ético-políticos norteadores do
projeto profissional.” (IAMAMOTO apud MORAES; JUNCÁ; SANTOS; 2010, p. 442).
Despertando no profissional de serviço social o estranhamento frente a aparência que lhe
aparece como familiar, despertando a necessidade de buscar enquanto pesquisador e também
um profissional respostas para situações que no âmbito da aparência não visualizam a
necessidade de produzir conhecimento.
Não deixando de ressaltar o compromisso que o profissional deve ter na sua atuação,
claramente exposto nos princípios do Código de Ética do profissional de Serviço Social,
devendo ter o “Compromisso a qualidade dos serviços prestados a população e com o
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.” (BRASIL, 2006, p.
17) No entanto, a pesquisa se faz necessário para que a qualidade dos serviços possa se
concretizar, se baseando em estudos, planejamento, e avaliações que o assistente social poderá
se posicionar frente a suas demandas e supri-las com qualidade na prestação desses serviços, e
isso requer o aprimoramento não só no momento em que está na trajetória acadêmica, mas
também na sua vida profissional.
Portanto, nesse terceiro e último capítulo será abordado sobre o processo de
investigação resultante de entrevistas realizadas com os beneficiados do Residencial
Orquídeas, loteamento construído através do “Programa Minha Casa, Minha Vida” no bairro
Jardim Coopagro na cidade de Toledo-PR, no intuito de aproximação com a temática
abordada em capítulos anteriores.
44
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Esta pesquisa se caracteriza pela abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa se
ocupa do “[...] universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos
valores e das atitudes. [...]” (MINAYO, 2010, p. 21). Esse universo que contempla a produção
humana e suas relações não pode ser quantificado, portanto, trabalha com um nível de
realidade que não é visível imediatamente, mas necessita ser exposta, interpretada e analisada
pelo pesquisador. A escolha da abordagem qualitativa de pesquisa se deu considerando que
esta permite o foco da análise e interpretação de dados, que de acordo com Oliveira, pode ser
definida como “[...] sendo um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização
de métodos e técnicas para a compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto
histórico e/ou segundo sua estruturação.” (OLIVEIRA, 2007, p.37). A análise supõe ir além
da descrição dos dados e a interpretação, busca os sentidos para compreensão dos mesmos.
A metodologia que se definiu para efetivação da pesquisa do Trabalho de Conclusão
de Curso em Serviço Social, foi a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, com a
realização de entrevistas com os beneficiários do Residencial Orquídeas, usuários que foram
beneficiados pelo “Programa Minha Casa, Minha Vida” na cidade de Toledo-Pr.
Para a realização da pesquisa utilizou-se a priori a pesquisa bibliográfica podendo o
pesquisador ter um contato direto com obras, artigos, e documentos já elaborados que
abordem o tema que será debatido, para que diante desse levantamento bibliográfico tenha
uma visão fundamentada e apropriada do problema proposto a averiguar. Procurando de
forma geral explicar os fatos, por meio do estudo referente ao problema. Segundo Lima e
Mioto é “[...] um dos procedimentos mais visados pelos investigadores na atualidade, [...] a
pesquisa bibliográfica implica um conjunto ordenado de procedimentos de busca por
soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser aleatório”. (LIMA;
MIOTO, 2007, p. 38) A pesquisa documental também foi utilizada para realização da
pesquisa em si, de acordo com Gil,
A pesquisa documental assemelha-se muito a pesquisa bibliográfica. A única
diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa
bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos
autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de
materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 1989,
p. 73)
45
A pesquisa também pautou-se no método exploratório, tendo como finalidade “[...]
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas na formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.” (GIL, 1989, p.
44) Esse método de pesquisa tem como principal finalidade proporcionar uma visão geral,
possibilitando aproximação com determinado fato. Segundo Gil “[...] esse tipo de pesquisa é
realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado, e torna-se difícil sobre
ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis.” (GIL, 1989, p. 45)
Em relação a pesquisa de campo, a mesma realizou-se em torno de um universo de
244 (duzentos e quarenta e quatro) famílias, oriundas do programa “Minha Casa, Minha
Vida” do Residencial Orquídeas, escolhido por ser o maior loteamento construído na cidade
de Toledo através desse programa, portanto, a necessidade de ter um maior planejamento
frente ao mesmo. Foram extraídos para realizar as entrevistas 10 (dez) famílias, sendo (1) uma
de cada quadra do loteamento, sorteadas aleatoriamente. A amostra foi delimitada em 10 (dez)
por serem dez quadras totais, podendo assim abordar de uma forma geral o loteamento por
inteiro.
Sobre as técnicas elencadas para o desenvolvimento desta pesquisa, optou-se pela
técnica da entrevista. A entrevista configura-se como,
[...] a técnica que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe
fórmula perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que interessam a
investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais
especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes
busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. [...] A
entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizada no âmbito das
ciências sociais. (GIL, 1989, p. 113)
A entrevista utilizada na pesquisa foi a semiestrutura, (apêndice A), e para sua
realização inicialmente foi apresentado ao sujeito entrevistado o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE (apêndice B), que foi aprovado pelo Comitê de Ética da Unioeste
(anexo A). Na sua realização foi utilizado um gravador para melhor auxiliar no momento de
transcrever as falas, para haver mais fidelidade nos detalhes da mesma, isso se deu com a
autorização dos sujeitos entrevistados que se sentiram confortáveis com a presença do
gravador. A apresentação dessas falas foram separadas por temas e escritas na íntegra para sua
apresentação, acompanhada da interpretação do pesquisador
46
3.2 PERCEPÇÃO DOS BENEFICIADOS DO “PROGRAMA MINHA CASA, MINHA
VIDA” DO RESIDENCIAL ORQUÍDEAS DOS SERVIÇOS E INFRAESTRUTURA
OFERECIDOS NO BAIRRO JARDIM COOPAGRO, TOLEDO –PR
As entrevistas foram realizadas no intuito de saber se os moradores beneficiados pelo
“Programa Minha Casa, Minha Vida” do Residencial Orquídeas estavam satisfeitos com a
infraestrutura e serviços oferecidos pelo bairro que o loteamento foi construído, enfatizando
saúde, educação, lazer, meios de locomoção. Pretendendo revelar as dificuldades ou não,
apresentadas quando se implementa um loteamento sem os devidos planejamentos, afetando
diretamente a qualidade de vida dos indivíduos. Kãssmayer acrescenta que:
Torna-se essencial ao bom desempenho da administração pública o estudo
das características físicas da região a fim de se formularem políticas públicas
[...]. Todavia, esta implementação somente será possível mediante a
conscientização prévia dos moradores e dos próprios administradores.
(KÃSSMAYER, 2009, p. 156)
As questões foram formuladas objetivando de maneira geral possibilitar uma visão
dos beneficiados referente aos serviços públicos oferecidos, e, se existem limites para acessar
os mesmos. As respostas envolvem questões sobre:
Qualidade dos serviços públicos prestados;
Dificuldade de acessos aos serviços oferecidos entre eles escola, saúde, lazer,
transporte público;
E também o que estava faltando no loteamento na opinião dos moradores.
A partir daqui passe-se a expor as falas dos entrevistados, para ilustrar e relacionar
com as questões que foram debatidas nesse trabalho.
Ao serem questionados se já haviam utilizado alguma vez os serviços públicos, e se
houve alguma dificuldade para ter acesso a esses serviços que o bairro Jardim Coopagro
oferece. Obteve-se as seguintes respostas:
E1: “Nunca usei”
E2: “Sim, o posto de saúde. É ruim. Ficha é difícil conseguir, nunca
consegue”
E3: “Nunca fui ali. Fui uma vez só aplicar vacina na minha menina só”
E4: “Não”
47
E5: “Só o posto de saúde sempre. É está meio difícil para consultas. Eu
estou esperando consulta com o angiologista já tem dois anos, e ainda não
consegui.”
E6: “O posto de saúde já. Os médicos estão precários. Olha o posto, a
questão de dentista para adulto, meu Deus do céu. Já estou com dois anos
esperando, não consigo. É duas pessoas por emergência eles atendem por
dia né, eu já cansei de ir dez horas chegava lá, já estava as duas pessoas e o
dentista começa atender uma hora da tarde, a secretária dele chega meio-
dia, meio-dia quinze, meio-dia e dez ela está ali, ela faz a ficha os outros
que estão primeiro é atendido e os que não estão, passou de dois já perdeu o
dia. Ou seja, tem que estar morrendo de dor né.”
E7: “Sei lá. Já usei o Posto de saúde. É bom né, para quem não tem como
pagar o jeito é correr para lá né.”
De acordo com a PNH:
[...] os programas e ações devem contar com fontes estáveis de subsídios e
linhas especiais de financiamentos, capazes de viabilizar a implementação de
um política urbana que universaliza o acesso à infra-estrutura urbana,
especialmente, rede viária e energia elétrica e aos equipamentos e serviços
urbanos e sociais. (BRASIL, 2004, p. 41 a)
Dos entrevistados os que usaram alguma vez um dos serviços oferecidos pelo bairro,
utilizaram o posto de saúde. Sabe-se que, é uma das áreas mais procuradas em qualquer lugar
do país. Pois como foi citado acima, a PNH coloca que deve haver um financiamento para
viabilizar esses serviços e poder universalizar o acesso aos equipamentos públicos. Podemos
concluir ainda que “[...] sem um sadio planejamento e gestão, cidades podem vir a se tornar
fontes de sérios problemas concernentes à saúde [...]”. (BASIC apud KÃSSMAYER, 2009, p.
158) Não somente a saúde, mas afetando-a, causará danos em efeito dominó, desemprego,
fome, entre outros fatores que podem vir a ser acarretados em função de uma má qualidade de
vida.
Mais uma vez fica claro que a falta de planejamento da gestão pública afeta
diretamente a população quando não realiza os empreendimentos conforme o proposto. Souza
afirma que “[...] o planejamento constitui um dos pontos mais importantes (senão o mais) na
busca da qualidade de vida das pessoas nas cidades [...]” (SOUZA, 2010, p.57). Os serviços
prestados pelo bairro, aqui no caso da Unidade Básica de Saúde (UBS), não comportam uma
48
demanda gerada pela implementação de um loteamento, no caso do Residencial Orquídeas
localizado no Jardim Fachini, que utilizam o posto de saúde do Jardim Coopagro.
Esse residencial é composto por 244 famílias, ou seja, subentende-se que a gestão
pública não se preocupou em fazer um estudo, sobre o impacto que a implementação de um
loteamento naquele local pode ocasionar. A priori não foi realizado um levantamento se a
unidade básica de saúde iria comportar atender mais 244 famílias que passariam a utilizar dos
serviços oferecidos naquele lugar.
Salientando que, além de atender ao bairro Coopagro, a UBS do mesmo ainda dá
suporte em algumas situações a UBS da Vila Industrial, que atende 30 horas semanais, e que
não possui atendimento odontológico para adultos. E no caso de não conseguir consultas ou
alguma urgência surgida no período vespertino a população que mora na Vila Industrial tem
que recorrer a UBS do Coopagro, ou ao Mini Hospital. Ou seja, mais procura frente a oferta
de serviços prestados pelo município.
As demandas geradas por essas famílias não estão sendo supridas pelos serviços
ofertados, prejudicando diretamente sua qualidade de vida. No intuito de proporcionar o
acesso ao direito a moradia, retira de ambas as famílias o direito a outros serviços que são
necessários para que possam ao menos ter uma vida digna, com princípios básicos para
sobreviver. Frente a essa problemática o Estatuto da Cidade é claro em enfatizar “[...] que a
política urbana não pode ser um amontoado de intervenções sem rumo. Ela tem uma direção
global nítida: ‘ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e [...] garantir o
direito as cidades sustentáveis’.17
” (SUNDFELD apud KÃSSMAYER, 2009, p. 159), ou seja,
pensar as ações para que o acesso à cidade e aos serviços de se de forma uniforme e universal.
Apenas uma das entrevistadas que utilizou os serviços de saúde oferecidos pela UBS
afirmou que não teve dificuldade:
E7: “Não é muito difícil, porque tem muita gente, é gente demais. Mas como
sou idosa sempre tem vaga para mim.”
Porém, a E7 tinha consciência que conseguia ser atendida facilmente pelo fato de ser
idosa e possuir as vagas reservadas para idosos.
17
Por cidades sustentáveis pode-se entender “[...] aquelas em que o desenvolvimento urbano ocorre com
ordenação e gestão do solo, evitando ao máximo a degradação, possibilitando uma vida urbana digna para todos,
o direito à cidade.” (MEDAUAR; ALMEIRA apud KÃSSMAYER, 2009, p. 162)
49
Outro serviço público que foi questionado nas entrevistas foi em relação as escolas
que estão disponíveis no bairro. Das famílias que possuíam pessoas que estudavam obteve-se
as seguintes respostas:
E1: “Estudam. No centro, não achei vaga aqui. Eles vão de circular, eu levo
e busco.”
E3: “Estuda. Estuda ali no Novo Horizonte, e a pequenininha na Escola
Valdir Luiz Becker. A pequena vai de manhã na escola e a tarde na Dorcas.
Mas tem vez que ela fala que está com dor de barriga, e volta do meio do
caminho, porque ela acha que é longe. E a mais velha vai de bicicleta, ou a
pé mesmo.”
E5: “Sim. O filho 1, no Novo Horizonte, e o filho 2 aqui no Valdir Luiz
Becker. O filho 1 vai de bicicleta e a filho 2 vai a pé.”
Foi fácil conseguir vaga aqui na escola?
“Não tive problema em conseguir vaga aqui.”
E6: “Ali no Valdir Becker. Foi fácil conseguir vaga aqui na escola? Sim
porque o filho 1, saiu da creche e já foi para a escola. Os meninos no que
começou a funcionar a escola eu já fui para a fila, já consegui vaga. Para
escola não foi difícil.
Como que eles vão para a escola?
“De manhã eles vão a pé. Eles vão de manhã na escola, e a tarde eles vão
para a Dorcas.”
Em relação a escola, as mães entrevistadas conseguiram vaga para seus filhos, mesmo
sendo difícil a locomoção em ir até a escola por ser longe do loteamento, e não terem
transporte público para chegar até o local de destino, de acordo com Rounik e Nakano “As
longas viagens diárias entre residência e os locais de trabalho ou de ensino congestionam as
vias e os transportes coletivos, prejudicando a qualidade de vida coletiva. [...]” (ROLNIK;
NAKANO, 2009, p. 5). Toda falta de planejamento aponta diretamente na
interferência/consequências que as famílias sofrem em seu cotidiano, atingindo
principalmente a sua qualidade de vida. Apesar das condições que as famílias se encontram no
loteamento, ambas tem consciência de que o que falta é algo essencial para a melhoria de suas
vidas e dos demais moradores, visando a coletividade. As entrevistadas E5 e E6
acrescentaram que mais faz falta...
E5: “[...] um colégio de 1º a 4º ano, seria melhor se tivesse mais perto.”
50
E6: “[...] Eu acho que um colégio de 1º a 4º ajuda bastante né. Porque os
outros estão lotados. Tem criança aqui que não estuda. Que não tem vaga
ali, ai o tutelar pega no pé que não estuda né, só que se vai na escola não
tem vaga, ai você não pode deixar a criança em casa porque tem que
estudar, só que você vai na escola não tem vaga, e daí está cheia, lotada. É
20 aluno para cada professor, tem que esperar.
Eu tinha saído do serviço fui lá e tirei o mais novo, que ele ficava integral,
fui lá falei que tinha saído do serviço para passar a vaga dele para outra
criança que precisasse que a mãe trabalhasse, arrumei serviço, fui lá, pedir
a vaga de novo, entrei na fila de espera, não tinha, não tinha, falei o que
aconteceu que o pai dos meninos morreu, fui lá e falei agora não preciso
mais da vaga, pode tirar ele da fila de espera, mais ele ia estar lá até agora,
e a vaga era dele, é injusto eu ficar em casa e o meu filho ocupar a vaga de
alguém que precisa né, só que quando eu precisei de novo não tinha mais.
E tem bastante criança esperando desde o ano passado.”
Portanto, por mais que tenha escola nas proximidades do loteamento, uma escola mais
perto proporcionaria melhores condições de acesso às crianças que ali moram, conforme
declarou a E6. O loteamento tem muitas crianças que não estão estudando por falta de vagas
nas escolas, deste modo, estão deixando de lado um direito fundante como a educação por
falta de vaga nas escolas próximas ao seu local de moradia. Mais uma vez frisando a
importância de um estudo prévio para a implementação de um loteamento, visando uma
infraestrutura de serviços decente para atender a população.
A garantia à infra-estrutura urbana representa a realização por parte do Poder
Público de obras ou atividade destinadas a ordenar o espaço urbano, visando
o bem-estar geral da população, tanto no espaço estético das cidades, quando
na segurança da sua função social e salvaguardar do bem natural.
(KÃSSMAYER, 2009, p. 161)
Observa-se ainda a necessidade que as crianças tem de ir para a escola, porém o acesso
limita-se ao passar a morar em um loteamento que é entregue às vezes no meio do ano,
justificando os gestores das escolas que não tem vaga para poder aceitar crianças no meio do
ano letivo. Vale ressaltar que se não tem vaga no início do ano, mais dificuldade irão
encontrar para conseguir uma no meio do ano. A E3 acrescentou,
51
“Está mais longe da escola. A pequena tem preguiça de ir, e eu não fico em
casa para corrigir.”
E por mais um falha que os gestores das políticas responsáveis estão tendo, está
trazendo consigo prejuízos aos moradores do loteamento que podem ser consideráveis
irreversíveis, pois estão deixando principalmente de estudar, uma atividade fundamental para
o desenvolvimento da criança, e não só dela, estão deixando suas atividades devido à falta de
acessos, que estão limitando os usuários aos serviços oferecidos, impossibilitando-os de ter
acesso aos seus direitos sociais.
Com relação a suficiência ou não dos serviços prestados (saúde, educação, transporte,
lazer, cultura, coleta de lixo, saneamento básico) obteve-se as seguinte respostas:
E1: “Acho suficiente.”
E2: “Sei lá.”
E3: “Para sair no domingo, no sábado não dá. Meu marido tem carro, mas
vive no hospital com problema no coração.”
E4: “Ah acho nada né, para mim tanto faz”
E5: “Saúde não. Só aquele posto não está dando conta, é muita gente.”
E6: “Olha, como que eu vou te dizer. Mais o menos. Porque tem muita coisa
lá. Tem segunda, terça e quinta e sexta tem pediatra né, só que dai as fichas
são poucas, se você demora, se você for muito tarde é pouca ficha, então
para que tantos dias de pediatra? E ginecologista, tem só um, clínico geral
tem dois ou três se eu não me engano. Tem mais não tem.”
E7: “No posto de saúde é muita gente né, eles não dão conta de atender.”
Mais uma vez a questão saúde foi mencionada, sabendo-se que a procura é sempre
maior que a oferta, e com o acréscimo de 244 famílias isso se torna um caos, a UBS não
comporta a demanda de todos que procuram seus serviços. Pois, além de deixar de planejar
suas ações, para que consiga construir escolas, unidades básicas de saúde, para acompanhar o
crescimento das demandas, os gestores também não planejam para inicialmente melhorar a
qualidade de atendimentos já existentes, não procuram aumentar os serviços prestados nas
instituições que já prestam serviços públicos, para que ao menos possam atender melhor a
população que ali já moram, e as que passaram a morar. Souza acrescenta que “[...] deve ser
constante a preocupação do administrador público e da coletividade em planejar, adequar ou
melhorar o espaço urbano, justamente para que se alcance, [...] uma melhor qualidade de vida
52
para todos os habitantes [...].” (SOUZA, 2010, p. 59). Vale ressaltar esse ponto, reforçando
que, os gestores da política não tendo condições ou não vendo possibilidade de implementar
uma nova UBS, ou uma nova escola, pensem a possibilidade de organizar os serviços
prestados, ou seja, aumentar os atendimentos, as vagas nas escolas, até conseguirem inserir
uma outra unidade que preste serviços de melhor qualidade para os moradores do bairro.
Outro fator que causa bastante insatisfação nos entrevistados além da falta de
atendimento no posto de saúde foi o transporte público...
E2: “Agora o transporte é bem ruim, circular pequena. Precisa de circular
grande, a gente precisa.”
E4: “Eu achava que era feio esse lugar, mas eu achava bonito, mas minhas
filhas não gostam daqui, acha tudo longe, e não tem como ir onde elas
querem.”
E5: “[...] mas a lotação entra aqui, só sábado e domingo que não.”
E6: “[...] e é até seis da tarde. E quando eu quero ir para o lago com as
crianças eu vou a pé. Por que lá tem bastante coisas para eles brincarem né.
Eu vou de circular e para vim como já está fresquinho, venho a pé. E é
longe.”
A questão do transporte público naquela região em que o loteamento é localizado é
bem precária, principalmente nos finais de semana, em que as linhas diminuem ainda mais em
relação ao que é oferecido de segunda a sexta-feira. Kãssmayer acrescenta sobre o transporte
“O direito ao transporte18
pode ser entendido como direito à população em se movimentar
livremente na cidade e entre as cidades, importando para o desempenho deste serviço a
observação das normas de segurança no trânsito e meios de transporte adequado”.
(KÃSSMAYER, 2009, p. 161) Esse transporte seria uma alternativa para a maioria dos
moradores que pretendiam ter um momento para sair e realizar algum lazer, já que no
loteamento e nas proximidades isso não é ofertado. A entrevistada 6 aponta:
E6: “Não tem! Tem só lá para cima né. Tudo longe. Nenhuma praça,
nenhum parque, nem um campo, nenhum nada. [...] Meu Deus do céu, aqui
falta. Não imitando, ou fazendo propaganda né, mas lá no Santa Maria saiu
18
“Este direito em partes está inserido no direito aos serviços públicos, cidades, o qual destaca o Estado como
fornecedor no âmbito das cidades, possuindo a população o direito de reivindicar, como base no Código de
Defesa do Consumidor, a boa prestação destes serviços, já que os usuários são os consumidores.”
(KÃSSMAYER, 2009, p. 161)
53
um parque assim para as pessoas irem a tarde tomar chimarrão né, um
parque de lazer.
Uma pracinha para as crianças, e de preferência que tem uma adaptação
assim no parque para cadeirante, porque aqui tem bastante né, aqui a
maioria das crianças é cadeirante, por que não é justo os bons brincarem,
correr com as perninhas deles, e os outros ficarem olhando, eles tem que
brincar também.
Meu pai mesmo é um, que se tiver parque eu levo ele lá, para ele dar uma
olhada.
No domingo que eu podia fazer um terere, uma pipoca e levar os meninos na
pracinha para eles gastarem as energias, não posso, porque não tem. Não
tem lazer para ninguém.”
O loteamento, além de não ter transporte adequado e suficiente para possibilitar seus
moradores a saírem e procurarem outras opções de lazer em outros locais da cidade, também
não oferece nada aos moradores no próprio loteamento. O lazer é um elemento fundamental
para uma qualidade de vida essencialmente sadia, proporcionando ao individuo atividades
prazerosas, além do que o lazer é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988,
citado no artigo 6º dos direitos sociais “[...] são direitos sociais, a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, [...]” (BRASIL, 2009, p.10) Kãssmayer
complementa:
As condições necessárias ao desempenho de atividade voltadas ao lazer
(como prática de esportes, atividades culturais, descanso) estão vinculadas
ao direito a infra-estrutura urbana, de modo que será por meio da construção
de espaços comunitários, teatros, parques, bosques, canchas desportivas que
a população poderá ter acesso ao lazer e às atividade sociais sem que seja
necessário um custo para tanto. (KÃSSMAYER, 2009, p. 162)
Chamando atenção para a resposta da E6 que afirmou que no bairro Santa Maria tem
praças, a partir disso pode-se perceber que só se vê melhorias ou construções possibilitando
lazer nos centros da cidade, frente a colocação da E6 ressalta-se que “Os investimentos
destinados a obras públicas e demais políticas urbanas devem ser direcionados de forma mais
justa ao bem-estar de toda a população, visando o combate a desigualdades econômicas e
sociais [...].” (KÃSSMAYER, 2009, p 162). A Entrevistada 6 acrescentou ainda:
54
“Mas olha, na área assim de esporte para as crianças fazerem, tem aquele
centro da juventude, mas só acima de 12 anos, meu piá é loco para ir, mas
só que ainda só tem 11 anos né, mas alguma coisa um campinho para eles
brincar, ter acesso, porque aqui perto a gente mesmo cuida.
Aqui não tem água de um chafariz para a gente se refrescar (risos), tem
bastante lá para o centro, mandar um pouco para cá, tanto trevo que está
fazendo, manda um pouco para cá. Esses dias fui la no marreco, voltei cheia
de sanguessuga.
Onde que é esse marreco?
Lá no fundão lá, lá onde antigamente o povo ia tomar banho. Só que agora é
área reservada ninguém usa mais, e esses dias eu fui com as crianças lá
para refrescar um pouquinho do calor, meu Deus, a gente ficou de pé lá,
meu pé ficou preto de sangue-suga.”
A falta de planejamento, gestão e integralização de acesso aos serviços voltados as
diferentes faixas etárias e demandas de condições de qualidade de vida, traz implícito os
riscos19
, aqui, relacionados as condições de saúde e saneamento ambiental 20
entre outros,
considerando que um ambiente saudável além de auxiliar na condição da saúde da população
irá consequentemente melhorar qualidade de vida dos indivíduos, que na atual condição que
se encontram são forçados a procurarem alternativas para ter algum tipo de lazer, para si seus
filhos. Tais questões postas pelos entrevistados deixa claro a vulnerabilidade que os
beneficiados possuem decorrente da emergência de fatores não pensados/planejados pelos
gestores, como o fator meio ambiente.
Os riscos assumidos pelos moradores em se expor em águas de rios que não conhecem
a procedência, pode trazer consequências diretamente ligadas a sua saúde21
, principalmente
19
O risco segundo Veyret; Richemond, “[...] objeto social é definido como a percepção do perigo, da catástrofe
possível. Segundo as autoras, o risco existe apenas em relação a um indivíduo, grupo social e/ou profissional,
comunidade da sociedade que o apreende por intermédio de representações mentais e com ele convive por meio
de práticas específicas. Nesse sentido, não há risco sem uma população ou indivíduo que o percebe e que poderia
sofrer efeitos. O risco é a significação de uma ameaça ou de um perigo para aquele que está sujeito a ele e assim
o percebe.” (VEYRET; RICHEMOND, 2007, p. 23) 20
“[...] é o conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por
meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos, sólidos, líquidos e gasosos,
promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais
serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural.”
(FUNASA apud CESCONETO, 2012, p. 55) 21
“As relações entre saúde, bem-estar e meio ambiente também podem ser alteradas pelas condições de
habitabilidade oferecidas pelas áreas edificadas dos assentamentos humanos. A habitabilidade, um atributo
importante da qualidade de vida, está intimamente relacionada às condições espaciais, sociais e ambientais das
edificações. Particularmente no caso da habitação, os projetos devem ser ecológica e culturalmente adequados,
55
em se tratando de doenças22
que podem ser adquiridas em águas contaminadas. Para
complementar o complexo entendimento de riscos e vulnerabilidades emergentes e seu
enfrentamento na sociedade atual a Agenda Habitat para Municípios em seu capítulo IV,
artigo 93, referente ao Plano Global de Ação: Estratégia para implementação acrescenta,
[...] Para reduzir a vulnerabilidade e o desfavorecimento é necessário
melhorar e assegurar o acesso das pessoas pertencentes a grupos vulneráveis
à habitação, financiamento, infra-estrutura, serviços sociais básicos,
mecanismos de segurança e processos de tomada de decisão nas esferas
nacional e internacional. [...] Reconhecendo que a vulnerabilidade e o
desfavorecimento são afetados, dentre outras coisas, pelas condições do setor
da habitação e pela viabilidade e eficácia da proteção jurídica garantindo
igualdade de acesso a recursos e oportunidades, os integrantes de
determinados grupos têm maior tendência à vulnerabilidade e ao
desfavorecimento no que se refere às condições de moradias e assentamentos
humanos. Os indivíduos de grupos vulneráveis ou desfavorecidos enfrentam
uma situação de risco, sobretudo quando não têm a segurança da posse ou
quando não existem serviços básicos ou quando enfrentam impactos
ambientais ou de saúde extremamente negativos ou podem ser excluídos,
inadvertida ou deliberadamente, do mercado e dos serviços relacionados a
moradias. (FERNANDES, 2003, p. 86)
Frente a isso percebe-se que categorias como infraestrutura, serviços básicos como
saúde, educação, lazer, podem relativamente ter eficácia no tratamento dos riscos que os
beneficiados são submetidos, tornando-os vulneráveis diante de situações que impostas pela
falta de equipamentos públicos que dão suporte a uma qualidade de vida digna, e mais uma
vez o planejamento se faz presente para que essa problemática seja contida. O planejamento
tão explicitado em toda parte da pesquisa é encarado como “[...] meio adequado de fazer com
que os bens públicos fossem produzidos na quantidade e qualidade demandadas [...].”
(CINTRA apud CARVALHO, 2009, p. 21) Para finalizar perguntou-se o que necessitaria na
opinião deles para melhorar a moradia naquele lugar, as respostas foram:
E1: “Se for falar tem que escrever uns dez livros”
E2: “Ah aqui. Aqui tinha que ter um posto de policial isso sim, é a melhor
coisa que poderia ter. [...] senão cuidar, aqui vira uma favela, que tanto vem
gente boa, como gente que não vale nada.”
proporcionando aos moradores um ambiente de vida saudável, habitável e sustentável.” (FERNANDES, 2003, p.
118) 22
Doenças como leptospirose e também esquistossomose. Sobre essas doenças ver mais em Doenças
transmitidas pela água, disponível em < http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Agua/Agua9.php>.
56
E3: “Ai acho que está faltando alguma coisa. Um mercado grande, para as
coisas serem mais barato. Eu queria que saísse um mercadão. Porque
hospital não é direto que a gente precisa não.”
E4: “Ah falta bastante, falta muita coisa de lazer né que não tem”
E5: “Acho que principalmente seria um posto de saúde mesmo né”
E6: “Aqui falta muita coisa!”
E7: “Falta, falta acabar com essa poeira né”
Em relação ao que os moradores sentem falta no loteamento ou nas proximidades do
mesmo, não estão nada além das necessidades básicas para sobreviverem. Mas não deixando
de ressaltar a fala da E2 que além de mencionar que o loteamento teria de ter cuidados em
relação a segurança para não acabar virando uma favela23
, mostrando a sua preocupação com
a segurança do local, e o artigo 144 da Constituição Federal de 1988 assegura que “A
segurança pública, dever do Estado, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio.” (BRASIL, 2009, p. 44) E o Plano Diretor do
município em relação a segurança pública em seu artigo 32, reforça “O objetivo da política
municipal de segurança pública e defesa civil é desenvolver e implantar medidas que
promovam a proteção do cidadão, articulando e integrando os organismos governamentais e a
sociedade, para organizar e ampliar a capacidade de defesa da comunidade.” (TOLEDO,
2006, s.p.)
Porém a preocupação exposta pela moradora mostra que não há em nenhuma
circunstância segurança alguma prestada pelo município no Residencial Orquídeas, não
deixando de frisar que esse serviço anda defasado. Através das respostas adquiridas e
separadas através de cada temática pode-se compreender que possibilitar o acesso a moradia,
mas somente a ela não trás consigo a qualidade de vida tão necessária para que um indivíduo
possa ter uma vida digna dentro de uma sociedade como a que estamos inseridos atualmente.
No caso do loteamento Orquídeas o acesso a moradia limitou o acesso a outros direitos
sociais previstos no artigo 6º, da nossa Constituição de 1988 como educação, saúde, lazer,
segurança. Impossibilitando assim a um princípio fundamental o previsto no artigo 1º, inciso
II, o da dignidade da pessoa humana.
Não há como possibilitar a dignidade ao indivíduo sem possibilitar o acesso universal
aos serviços prestados, todos os sujeitos tem direito à cidade, como consta no artigo 2º, inciso
23
“Grupamento contínuo onde os habitantes são caracterizados por terem domicílios e serviços básicos
inadequados. Frequentemente não é reconhecida e aceita pelo poder público como parte integral ou igualitária da
cidade.” (ONU apud COSTA; NASCIMENTO, 2005, p. 3801)
57
I do Estatuto da Cidade “Garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como direito a
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, infra-estrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações” (BRASIL,
2002, p. 17). E esse direito só será garantido a partir do momento em que os gestores das
políticas que possibilitam esse direito, passarem a planejar suas ações conjuntamente,
permitindo que haja uma intersetorialidade, que segunda Bidarra:
[...] pactuar a intersetorialidade representa um árduo trabalho de construção
[...] política. Quando se investe nesse tipo de alternativa é porque se acredita
que ela é a que melhor traduz uma opção por articular os vários saberes que,
se ocupam de diferentes fenômenos e /ou problemas, interferem em vários
sentidos no modo de vida social. (BIDARRA, 2009, p. 484)
Ou seja, optar pela intersetorialidade é optar por construir um processo que irá
favorecer quem realmente necessita, é optar em dar soluções para os verdadeiros problemas
sociais que agudizam essa sociedade, é dar conta das reais demandas oriundas dos indivíduos.
Sendo assim, o assistente social pautado no artigo 4, da Lei 8662/9324
onde constitui suas
competências como: “Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto à
órgãos da administração pública direta ou indireta, [...]” (BRASIL, 2006 b, p. 7), expõem
ainda mais a necessidade da intersetorialidade entre várias áreas para a
elaboração/planejamento para implementar programas sociais, e tendo o serviços social como
base a tradição crítica pode tornar-se um protagonista frente ao incentivo e mostrar as reais
necessidade para que haja sempre um planejamento entre as áreas envolvidas nesse processo
de implementação de um programa, que tem como intuito trazer benefícios e qualidade de
vida a sociedade que mais precisa, possibilitando uma vida digna e sem desigualdades sociais.
24
Dispõem sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do debate problematizado do tema a implementação do “Programa Minha
Casa, Minha Vida”, a garantia de vida digna, e o desenvolvimento urbano local,
fundamentado em referenciais teóricos, legislações e percepções e, frente à complexidade das
questões levantadas como de fragilidades no processo de implementação do programa
habitacional federal “Minha Casa, Minha Vida”, descentralizado em suas ações na cidade de
Toledo, o presente trabalho de pesquisa acadêmica e requisito parcial de Conclusão de Curso
de Graduação em Serviço Social, da UNIOESTE, almeja realizar alguns apontamentos finais
conclusivos, porém desprovidos da intersetorialidade de abarcar uma conclusão totalizante e
final do tema tratado.
Destacando informações, e possibilidades que possam subsidiar tanto aos gestores das
políticas responsáveis e aos profissionais do Serviço Social, e suporte para outras pesquisas se
aprofundarem na mesma temática. Diante disso contribuir para a defesa de um planejamento
pleno e que atende as reais demandas em torno dos programas habitacionais que ainda serão
construídos no município, priorizando a defesa do direito dos cidadãos em possuir uma casa
para morar, mas também todo o suporte de infraestrutura e serviços, para que essa morada se
torne digna.
Diante dos estudos que se realizaram no decorrer do processo de elaboração do
trabalho para que pudesse atingir o objetivo da pesquisa, foram constatados vários fatores.
Inicialmente frente às políticas tratadas no trabalho, percebe-se que os trajetos percorridos por
ambas referente às suas implementações foram construídas sobre uma lentidão que, ao se
instituir já havia grandes agravos relacionadas à área habitacional e desenvolvimento urbano
na sociedade brasileira. O que pode-se compreender que a sua implantação já se deu num
contexto de embates na sociedade, que já expunha suas demandas e necessidades nas áreas
citadas.
Ressaltando que, apesar de se conquistar leis que dessem respaldo a ações voltadas as
políticas sociais, havia ainda em seu desenvolvimento lutas para que ambas as políticas sejam
implementadas e efetivadas com base em seus objetivos, princípios e diretrizes, pois, diante
da aplicação fiel dessas categorias, seriam atendidas as verdadeiras demandas que se colocam
para cada umas das políticas.
As políticas de habitação e de desenvolvimento urbano abordadas no presente trabalho
têm em particular suas diretrizes, objetivos e princípios, porém, compreende-se que ambas
devem ter uma relação indiscutivelmente interligadas, ou seja, não há como ter uma visão
59
indissociável uma da outra, são políticas que devem caminhar juntas, ou seja, planejar juntas
as ações, levando em conta cada uma seus objetivos, em prol de uma ação única, um único
objetivo, um único fim. Porém, efetivar essa ação conjunta não é uma tarefa simples, no
entanto, fragmentá-las, não tendo como instrumento a intersetorialidade e o planejamento, não
somente entre essas duas políticas, mas entre outras também, pode não levar a uma eficiência
tão esperada como a proposta pelas políticas abordadas.
O quadro brasileiro frente à urbanização nunca foi de igualdade, desde seu início no
período da urbanização desenfreada, principalmente com a vinda da industrialização no
século XX, já havia locais com características de assentamentos precários, tornando mais
visível as desigualdades sociais, fatos pontuados tanto pela Política de Habitação como
também a de Desenvolvimento Urbano. E foram nesses assentamentos que se localizavam a
camada mais pobre da população, os menos favorecidos economicamente, consequentemente,
com moradias inadequadas, falta de infraestrutura, saúde, a qualidade de vida tornou-se um
fator inexistente.
A falta de acesso a moradia digna a preços que poderiam ser pagos por essa população
menos favorecida, levou esse grupo ocupar locais inadequados/impróprios, criando a partir
desse processo de ocupação os cortiços e mais a diante as favelas, locais hoje em dia
considerados impróprios, devido a falta de saneamento básico e ambiental, serviços públicos,
principalmente como saúde, educação, lazer. Ou seja, a população que reside nesses locais
passou a não ter acesso aos seus direitos sociais, tornando um agravante das expressões da
questão social.
Desde sua implementação as políticas aqui tratadas vem tentando dar conta dessa
demanda por moradia, gerado pela má distribuição de renda dos trabalhadores dos grandes
centros. Não podemos deixar de frisar ainda que, os aluguéis no momento do processo da
urbanização brasileira, tornou-se um tiro certeiro para empresários que possuíam meio de
produção, e também possuíam imóveis para locar para os que vinham atrás de trabalho e uma
melhora de vida, migrando principalmente do campo para a cidade. No entanto, as famílias
para se manterem nas cidades, sem acesso a moradias próprias, e para conseguir se manter em
relação principalmente a alimentação e moradia, necessitavam de trabalho, logo, se
submetiam a baixas remunerações, várias horas de trabalhos, para que pudessem ao menos
sobreviver e pagar um aluguel. Contudo, percebe-se que, frente a essa situação já se mantinha
um exército de reserva, ou seja, o capital já se favorecia dessa falha do Estado, da falta de
moradia, para manter seu sistema com mão-de-obra barata, salientando que com isso o
mercado imobiliário estava tendo um grande crescimento em relação aos alugueis.
60
Essa problemática, que podemos designar como a falta de moradia, que é um direito
fundamental garantido pela Constituição Federal de 1988, até os dias atuais ainda não vem
sendo resolvida de maneira abrangente. E quando se possibilita acessar esse direito a uma
pequena parcela da população, nem sempre possibilita acessar outros, trazendo limites aos
cidadãos que mais necessitam.
O que se constata, ao estudar as políticas abordadas no trabalho, é que, não está sendo
cumprindo um fator primordial, que são as falhas hoje cometidas, que giram em torno de um
fator que julga-se ser o mais importante numa gestão de qualquer política, o planejamento e a
intersetorialidade.
Avaliou-se a partir da pesquisa de campo a percepção dos beneficiados que, essa falta
de planejamento está ligada diretamente a má qualidade de vida que os moradores do
Residencial Orquídeas estão enfrentando. Ter acesso a moradia é um direito, porém, a saúde,
a educação, lazer entre outros também faz parte de um conjunto de elementos que
proporcionam uma vida sadia a esses moradores.
Portanto, a partir dos estudos pode-se compreender que outro fator fundante que deve
andar lado a lado com o planejamento é a intersetorialidade, salientando que optar pela
intersetorialidade é “[...] articular os vários saberes que, se ocupam de diferentes fenômenos e
/ou problemas, interferem em vários sentidos no modo de vida social.” (BIDARRA, 2009, p.
484). Por mais que seja difícil consegui-la, há essa necessidade, para que haja troca de ideias,
diversas visões de situações que um gestor sozinho não consegue enxergar. Antes de tudo
deve-se inicialmente realizar um estudo e planejamento, anterior a implementação de
qualquer projeto, principalmente habitacional, pois, entende-se que é uma mudança
significativa que o beneficiado irá ter, e essa mudança tão esperada, deve ser para melhorar a
sua vida, e não piorar. Deve proporcionar qualidade e vida digna perante o direito adquirido.
No entanto, esse planejamento de ações, essa intersetorialidade que deveriam
acontecer, não estão sendo priorizadas no processo de elaboração de um loteamento que virá a
ser construído. Apenas constroem-se casas, e nada além. Frente a esses apontamentos, ficam
os questionamentos, onde está a saúde, a educação, o lazer, a cultura, a infraestrutura para
esses moradores do Residencial Orquídeas? Que já vem sendo excluídos, colocados para
morar em locais distantes dos centros comerciais, serviços públicos, infraestrutura, sendo
desfavorecidos da cidade. Onde está a garantia do direito à cidade?
Portanto, com a finalização desse estudo, sugere-se que, o poder público, os gestores
das políticas responsáveis, que mantenham um compromisso com as categorias: planejamento
e intersetorialidade previstas nas políticas aqui tratada, tanto no Estatuto da Cidade, no plano
61
diretor e plano municipal de habitação, pois só assim, irá de fato conseguir atender as reais
demandas da sociedade existentes em sua totalidade, ou seja, fragmentar ações não irá atender
e proporcionar acesso a direitos, salientando também o direito à cidade, e dentro delas atender
as suas funções sociais. E isso só será possível, visando que esses projetos se desenvolvam de
forma integral entre os gestores, que se tornem eficientes em suas ações cumprindo o que está
proposto nos objetivos, diretrizes e princípios, de planos e políticas.
E para complementar salienta-se o compromisso que o Serviço Social tem tanto na
formação acadêmica como no exercício profissional a realização da pesquisa, frisando que a
mesma deve além de ser um movimento fundamental, também deve ser constante. Lembrando
que “A pesquisa é um dos procedimentos teórico-metodológicos que, ao ser incorporado à
prática profissional, poderá levar o assistente social a se reinventar, reconstruir e até construir
um vir a ser para o Serviço Social, a partir da eliminação da consciência acomodada e até
adormecida.” (SETÚBAL apud MORAES; JUNCÁ; SANTOS, 2010 p. 451). Não deixando
de ressaltar o compromisso frente aos princípios do Código de Ética, lutando sempre pela
defesa dos direitos humanos, equidade, igualdade e justiça social.
62
REFERÊNCIAS
ARAGÃO NETO, Dario; COSTA FILHO, Adilson da. Instrumentos judiciais e
administrativos de participação do cidadão na defesa da saúde e do meio ambiente. Revista
Jurídica Cesumar – Mestrado. vol. 10, n. 1, jan/jun 2010, p. 151-166. Disponível em:
<http://www.cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/viewFile/1185/998
>. Acesso em: 13 out. 2012.
BIDARRA, Zelimar Soares. O processo de urbanização e a preservação dos direito à moradia
em cidade de médio porte: um estudo de caso do Jardim Coopagro (Toledo). Revista
GEPEC. vol. 10, n. 02, jul/dez, 2006, p. 67 – 81. Disponível em:
<http://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCMQFjA
A&url=http%3A%2F%2Fe-
revista.unioeste.br%2Findex.php%2Fgepec%2Farticle%2Fdownload%2F392%2F308&ei=nR
x4UIfLDoWQ8wSnnYGQDg&usg=AFQjCNHrt1ynwUul470vjmCgiOKogHBw-
g&sig2=5TWk_blNDxl-1PxWccNneQ> Acesso em: 09 set. 2012.
BIDARRA, Zelimar Soares. Pactuar a intersetorialidade e tramar as redes para consolidar o
sistema de garantia de direitos. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n. 99, jul/set 2009, p.
483 – 497.
BOQUIMPANI, Eduardo Gonçalves. Utilização compulsória da propriedade urbana. In:
COUTINHO, Ronaldo; BONIZZATO, Luigi (Coords). Direito da cidade: novas concepções
sobre as relações jurídicas no espaço social urbano. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p.
170-199.
BOTEGA, Leonardo da Rocha. A política habitacional do Brasil (1930 – 1990). Periódico de
divulgação científica da FALS. Ano 1, n. 02, mar. 2008. Disponível em:
<http://www.fals.com.br/revela11/politicahabitacional.pdf>. Acesso em 15 set. 2012.
BRASIL. Código de Ética dos Assistentes Sociais de 1993. Resolução CFESS nº273/93 de
13/03/1993 com as alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS nº 290/94 e 293/94. In:
CRESS. Legislação Social: cidadania, políticas públicas e exercício profissional. Curitiba-
Paraná: Conselho Regional de Serviço Social. CRESS 11ª Região, 2006, p.13-25
BRASIL, Ministério das Cidades. Cartilha Minha Casa, Minha Vida. [2009] Disponível
em: <http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/habita/mcmv/CARTILHACOMPLETA.PDF>
Acesso em: 03 mar. 2012.
BRASIL, Ministério das Cidades. Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. In:
Cadernos MCidades 1. MC, nov. 2004 b
BRASIL, Ministério das Cidades. Política Nacional de Habitação, In: Caderno MCidades 4,
MC, nov. 2004 a
BRASIL, República Federativa do. Constituição da República Federativa do Brasil. 31. ed.
Brasília: Edições Câmara, 2009.
63
BRASIL. Lei n 10.257 de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. Regulamenta os arts. 182
e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras
providências. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. 2 ed. Brasília: Senado Federal,
subsecretarias de edições técnicas, 2002 . Disponível em:
<http://www.vsilva.com.br/dados/Estatuto%20da%20Cidade.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2012.
CAMARGO, Orson. Classe Social. 2012. Disponível em:
<http://www.brasilescola.com/sociologia/classe-social.htm> Acesso em: 15 set. 2012.
CARVALHO, Sonia Nahas de. Condicionantes e possibilidades políticas do planejamento
urbano. In: VITTE, Claudete de Castro Silva; KEINERT, Tânia Margarete Mezzomo. (Orgs)
Qualidade de vida, planejamento e gestão urbana: discussões teórico-metodológicas. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009, p. 21-67.
CESCONETO, Eugênia Aparecida. Água: o difícil percurso de preservação e acesso na sub-
bacia paranaense do rio São Francisco Verdadeiro. Tese apresentada Doutorado em Serviço
Social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. 2012. 238 p.
COSTA, Alexandre Marino; et al. Contribuições do cadastro técnico multifinalitário para a
gestão municipal. In: SHENINI, Pedro Carlos; NASCIMENTO, Daniel Trento do; CAMPOS,
Edson Telê. (Orgs) Planejamento, gestão e legislação territorial urbana: uma abordagem
sustentável. Florianópolis: Papa-livro, 2006, p. 95-105.
COSTA, Valéria Grace; NASCIMENTO, José Antônio Sena do. O conceito de favela e
assemelhados sob o olhar do IBGE, das prefeituras do Brasil e da ONU. Anais do X
Encontro de Geógrafos da América Latina, São Pulo, 2005, p. 3794 –3808. Disponível em:
<http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal10/Geografiasocioeconomica/Geogra
fiadelapoblacion/14.pdf> Acesso em: 12 out. 2012.
FERNANDES, Marlene (Coord). Agenda Habitat para municípios. Rio de Janeiro: IBAM,
2003. Disponível em:
<http://empreende.org.br/pdf/Programas%20e%20Pol%C3%ADticas%20Sociais/Agenda%20
Habitat%20para%20Munic%C3%ADpios.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2012.
GAZOLA, Patricia Marques. Concretização do direito a moradia digna: teoria e prática.
Belo Horizonte: Fórum, 2008.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 2. ed. São Paulo: Atlas S.A,
1989.
GUERRA, Yolanda. A formação profissional frente aos desafios da intervenção e das atuais
configurações do ensino público, privado e a distância. Serviço Social e Sociedade. n. 104,
out./dez., São Paulo, 2010, 715-736
HASS, Minoca; ALDANA, Myriam; BADALOTTI, Maria Rosana. Os planos diretores e a
possibilidade de um pacto social em torno de política urbana inclusiva. Florianópolis,
2009. Disponível em: <http://www.anpur.org.br/site/anais/ena13/ARTIGOS/GT1-761-466-
20081219204625.pdf> Acesso em: 09 set. 2012.
64
KÃSSMAYER, Karin. Cidade, riscos e conflitos socioambientais urbanos: desafios à
regulamentação jurídica na perspectiva da justiça socioambiental. Curitiba, 2009. Tese
apresentado Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Universidade Federal do
Paraná. 259 p.
LENCIONI, Sandra. Observações sobre o conceito de cidade e urbano. GEOUSP – Espaço e
Tempo. n. 24, São Paulo, 2008, p. 109-123. Disponível em:
<http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/Geousp/Geousp24/Artigo_Sandra.pdf>
Acesso em: 13 out. 2012.
LIMA, Telma Cristiane Sasso; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos
na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Katálysis. Florianópolis,
vol. 10, p. 37 – 45, 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
49802007000300004&script=sci_arttext> Acesso em: 19 set. 2012.
MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para uma crise urbana. 2. ed., Petrópolis:
Vozes, 2002.
MARICATO, Ermínia. O ministério das cidades e a política nacional de desenvolvimento
urbano. Políticas Sociais: acompanhamento e análise. Ipea. vol 12, fev, 2006, p. 211 -220.
Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/bpsociais/bps_12/ensaio2_ministerio.pdf>
Acesso em: 16 set. 2012.
_________________. O nó da terra urbana. Carta Capital. Ano XV, n. 561. São Paulo:
Confiança, set. 2009, p. 45.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, Maria
Cecília de Souza (Org.); DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
MORAES, Carlos Antônio de Souza; JUNCÁ, Denise Chysóstomo de Moura; SANTOS,
Katarine de Sá. Para quê? Para quem? Como? Alguns desafios do cotidiano da pesquisa em
serviço social. Serviço Social e Sociedade. n. 103, jul./set. 2010, p. 433-452. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-66282010000300003&script=sci_arttext>.
Acesso em: 14 out. 2012.
NAKANO, Kazuo. Para unir o urbano dividido. Le Monde Diplomatique Brasil. Ano 3, n.
32, São Paulo: Instituto Pólis, mar 2010, p. 4-5.
NASCIMENTO, Sueli do. Reflexões sobre a intersetorialidade entre as políticas públicas.
Serviço Social e Sociedade. n. 101, jan./mar. 2010, p. 95-120. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
66282010000100006&lng=pt&nrm=iso> . Acesso em: 15 out. 2012.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 1 ed. Rio de Janeiro: Vozes,
2007.
PEREIRA, Mirian. As ações da secretaria executiva do conselho dentro do conselho
municipal assistência social – Toledo/Paraná – na efetivação do controle social. Toledo,
2011.
65
PEREIRA, Valéria Vila Verde Reveles. Considerações a cerca da ocupação e da migração
no estado do Paraná. IPARDES, 2012. Disponível em:
<http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/ocupacao_migracao.pdf>. Acesso em: 15 set.
2012.
PINTO, Marina Barbosa. Questão habitacional como expressão social na sociedade brasileira.
Libertas - Revista da Faculdade de Serviço Social / UFRJ. v. 4 e 5, jan./dez. 2004, p. 92-
117. Disponível em: < http://www.ufjf.br/nugea/files/2010/09/Artigo-Marina.pdf>. Acesso
em:15 out. 2012.
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes (Coord.), O direito a vida digna. Belo Horizonte: Fórum,
2004.
ROLNIK, Raquel. Moradia adequada é um direito. 2009. Disponível em:
<http://raquelrolnik.wordpress.com/2009/10/19/moradia-adequada-e-um-direito>. Acesso em:
20 set. 2011.
ROLNIK, Raquel. Direito à moradia versus especulação imobiliária. Caros Amigos. Ano
XV, n° 169. São Paulo: Casa Amarela Ltda, abr 2011, p. 12-17.
ROLNIK, Raquel, NAKANO, Kazuo. As armadilhas do pacote habitacional. Le monde
Diplomatique Brasil. Ano 2, n° 20. São Paulo: Instituto Pólis, mar 2009, p 4-5.
ROMANELLI, Luiz Claudio. Direito à moradia à luz da gestão democrática. 2. ed.
Curitiba: Juruá, 2007.
SANCHES, Fabio; MACHADO, Luiz Roberto M. Segregação espacial e impactos
socioambientais: possíveis manifestações da degradação em novas paisagens urbanas. Revista
brasileira de gestão e desenvolvimento regional. Vol. 5, n. 3. Taubaté, set/dez 2009, p. 29-
46. Disponível em: <http://www.rbgdr.net/032009/artigo2.pdf >. Acesso em: 13 out. 2012.
SANTOS JUNIOR, Wilson Ribeiro dos; MERLIN, José Roberto; QUEIROGA, Eugenio
Fernandes. Estatuto da cidade e planos diretores: limites dos instrumentos de planejamento
frente à urbanização dispersa e fragmentada. Florianópolis, 2009.
SILVA, Christian Luiz da; BASSI, Nadia Solange Schmidt. Políticas públicas e
desenvolvimento local. In: SILVA, Christian Luiz da (Org). Políticas públicas e
desenvolvimento local: instrumentos e proposições de análise para o Brasil. Rio de Janeiro:
Vozes, 2012, p. 15-38.
SILVA, Maria Ozanira da. Política Habitacional Brasileira: verso e reverso. São Paulo:
Cortez, 1989.
SOUZA, Demétrio Coelho. O meio ambiente das cidades. São Paulo: Atlas, 2010.
SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2003.
66
TSCHÁ, Olga da Conceição Pinto; RIPPEL, Ricardo; LIMA, Jandir Ferreira de.
Transformação produtiva, urbanização e migração no Oeste do Paraná. XVII Encontro
Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, 1010 [sic]. Disponível em:
<http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2010/docs_pdf/tema_6/abep2010_2132.pdf>
Acesso em: 09 set. 2012.
TOLEDO, Secretaria municipal de habitação. Plano local de habitação de interesse social –
PLHIS: estratégias de ação. Prefeitura Municipal, 2010.
TOLEDO, Secretaria do Planejamento Estratégico. Plano Diretor. Estabelece diretrizes e
proposições para o planejamento, desenvolvimento e gestão do território do município.
Prefeitura Municipal, 2006. Disponível em: < http://www.toledo.pr.gov.br/?q=pagina/plano-
diretor> Acesso em: 09 set. 2012.
TOLEDO, Prefeitura Municipal de. Secretaria Municipal da Habitação. 2012.
VEYRET, Yvette; RICHEMOND, Nancy Meschinet. Os tipos de risco. In: VEYRET, Yvette
(Org). Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. 1. ed. São Paulo:
Contexto, 2007, p. 81-112.
VITTE, Claudete de Castro Silva. A qualidade de vida urbana e sua dimensão subjetiva: uma
contribuição ao debate sobre políticas públicas e sobre a cidade. In: VITTE, Claudete de
Castro Silva; KEINERT, Tânia Margarete Mezzomo. (Orgs) Qualidade de vida,
planejamento e gestão urbana: discussões teórico-metodológicas. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2009, p. 89-122.
WERNER, Alice. Análise Institucional. Toledo, 2002.
67
APÊNDICES
68
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO
PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A) DE TCC: DRA. MARLI RENATE VON
BORSTEL ROESLER
ACADÊMICO (A): FERNANDA BONFIM RCOHA OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Avaliar a implementação do “Programa Minha
Casa, Minha Vida” e seus impactos na garantia de moradia e vida digna, e desenvolvimento
urbano/local no loteamento residencial Orquídeas na cidade de Toledo-Pr.
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista semi-estruturada
SUJEITOS DA PESQUISA: Beneficiários do “Programa Minha Casa, Minha Vida” -
Residencial Orquídeas.
Perguntas
1- Sexo: ( ) F ( ) M
2- Qual sua idade?
3- Estado Civil?
4- Qual seu nível de escolaridade?
5- Número de pessoas que moram na casa
6- Você trabalha? Onde?
7- Como se locomove até o trabalho?
8- Você já utilizou os serviços públicos oferecidos no bairro? Quais?
9- Houve dificuldade?
10- As crianças estudam? Onde? Como vão para a escola?
11- Na sua opinião os serviços oferecidos são suficientes frente a procura? (saúde, educação,
transporte, lazer, cultura, coleta de lixo, saneamento básico)
12- Qual sua opinião sobre a localização do loteamento?
13- Apresenta dificuldade? Limita o acesso a algum serviço publico?
14- Você acha que falta alguma coisa para melhorar a moradia nesse loteamento?
69
APÊNDICE B
70
71
ANEXO
72
ANEXO A