minha história, minha vida
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História encantadora de Valdelice, que se dedicou a educação no campo desde jovem. Iniciou uma escola na sala do santo de sua casa que posteriormente deu origem a escola da comunidade Santo Antonio, Crato-CE. Apoiada pelo marido, João, hoje é aposentada e juntos cuidam de um quintal produtivo admirávelTRANSCRIPT
Minha História, Minha Vida...
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 9 • nº 1752
Março/2015
Crato
“Esse pé de cajarana é onde eu fazia as
reuniões da associação de moradores,
envolvendo as comunidades dos sítio
Santo Antônio, Cruzeiro e Baixa do
Maracujá, então esse é um lugar
histórico, é o lugar onde aconteceu
minha história, minha vida ” , essa
frase é de Maria Valdelice da Silva
Lima,70 anos, agricultora, mãe de oito
fi lhos, professora por vocação e
profissão. Nascida no sítio Lameiro,
cidade de Crato-CE, local em que
estudou e se formou na Escola de Líderes Rurais. Nessa mesma época, foi fundado o
STTR de Crato, e com ele as Escolas Radiofônicas da qual participou como monitora.
Nestas escolas, as professoras ministravam as aulas
pela rádio, e as agentes(monitoras), acompanhavam os
alunos na zona rural do município. Estas escolas
acabaram com a criação do Movimento Brasileiro de
Alfabetização – Mobral (projeto do governo brasileiro).
Então, em 1974 D. Valdelice se muda para um sítio na
Chapada do Araripe,
distante 13 quilômetros
do centro da cidade, a
pedido de dr. Humberto Macário, proprietário de uma
extensa área de terra, com o objetivo de cuidar da
educação naquela localidade que deu origem
posteriormente ao Sítio Santo Antônio, sendo ela uma
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
uma das responsáveis por esse nome, já que o
citado santo é sempre presente em suas orações.
“No dia 9 de Março daquele ano, foi o primeiro dia
de aula aqui em casa, pelo concurso da prefeitura,
através do Movimento de Educação de Base – MEB
(organismo vinculado a conferência nacional dos
bispos, fundado em 1961)”, recorda.
“Quando começamos eram 76 alunos, João era o babá das crianças(filhos/as), quando terminava o seu trabalho na vacaria, banhava os meninos, penteava o cabelo das meninas,
durante a noite as crianças acordavam e chamavam por ele. Ele fazia comida. Ele me deu muita oportunidade, ... pra nós dois né?”, conta, lembrando do apoio do marido, João Vicente de Lima, 71 anos.
E ela enfatiza, “ o conhecimento que eu recebi dos meus professores, Estela Pinheiro, Carmélia Sampaio Muniz, Lassalete Esmeraldo, Chiquinha Piancó,..., junto com a preocupação dos meus pais de eu ser professora e sempre pedir a interseção de Santo Antônio, e foi ele que me trouxe para cá, hoje vejo essa comunidade transformada, sentindo o prazer de ter compartilhado o que recebi”. D. Valdelice já lecionava para 120 alunos, distribuídos nos três turnos. Só a sala do santo - espaço reservado aos santos escolhidos pela família, costume do sertanejo/a – já não comportava mais a quantidade de alunos, passando a ocupar também a varanda da casa. Tornando-se assim, necessário a construção da Escola Municipal José Peixoto de Lima – 1990, nome dado em homenagem ao doador do terreno. Neste novo momento D. Valdelice ocupa o lugar de diretora e continua em sala de aula até o ano de 2005.
Maria de Lourdes Sebastiana da Silva, 49 anos, aluna desde o tempo das aulas na sala do santo conta, “...ela saía na casa das pessoas pedindo para os pais deixar os filhos estudar...”, e acrescenta, “Valdeliceprofessora, era uma mãe, do mesmo jeito que ela tratava os filhos, tratava os alunos, o mesmo carinho.....todos os meus filhos passaram na mão dela no início dos estudos”.
Mas ela não apenas ensina, ainda tem disposição de aluna, isso fica claro quando fala que “já que fui criada na agricultura, aprender o que fazer, como fazer, porque fazer....”, em se tratando das capacitações de GAPA, SSMA e Intercâmbio, componentes do processo para receber a cisterna de produção do Programa Uma Terra Duas Águas – P1+2, do qual participou recentemente e já faz planos para produzir ao lado de seu exemplar companheiro.
E conclui, “quando Deus quiser me levar, eu sei que tem essa parte, eu sou muito feliz por isso, pois passou por aqui muita coisa boa”, embora ainda tenha um sonho: “ o de ter as terras em que aconteceu minha história, minha vida em meu nome”.
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