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Casa da Fonte Novembro 2007 Desenvolvimento Infantil & Alterações Comportamentais na Infância

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Page 1: Desenvolvimento Infantil

Casa da Fonte  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Educadora: Ana Cláudia Ferreira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Novembro 2007

Desenvolvimento Infantil &

Alterações Comportamentais

na Infância

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ÍNDICE 

Psicologia do Desenvolvimento ................................................................................ 3 

“Desenvolvimento” e as suas Concepções ........................................................... 3 

Piaget e o Desenvolvimento Cognitivo ................................................................. 5 

Freud e o desenvolvimento ................................................................................ 10 

Erikson e o desenvolvimento psicossocial .......................................................... 15 

A relação Mãe ‐ Filho .......................................................................................... 19 

Alterações Comportamentais da Infância .............................................................. 22 

Depressão Infantil ............................................................................................... 22 

Depressão em Função da Idade ...................................................................... 23 

Perturbações de Ansiedade ................................................................................ 27 

Perturbação de Ansiedade de Separação ....................................................... 28 

Aversão a falar – Mutismo Selectivo .............................................................. 29 

Fobias Específicas ............................................................................................ 29 

Perturbação de Hiperactividade e de Défice de Atenção ................................... 31 

Perturbações da Eliminação ............................................................................... 33 

Enurese ........................................................................................................... 33 

Encoprese ........................................................................................................ 35 

Perturbações do Sono ......................................................................................... 37 

Dificuldades de Aprendizagem ........................................................................... 40 

Perturbação Obsessivo‐compulsivo Infantil ....................................................... 44 

Agressividade e Desobediência .......................................................................... 47 

Perturbação do Comportamento.................................................................... 48 

Efeito de vivências traumáticas na infância e Adolescência ............................... 50 

Bibliografia .............................................................................................................. 53 

 

 

 

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO 

“DESENVOLVIMENTO” E AS SUAS CONCEPÇÕES 

Compreender as mudanças contínuas do ser humano operadas ao longo da vida e 

descobrir  as  razões  dessas mudanças  tem  constituído  um  desafio  para  a  Psicologia, 

nomeadamente para os psicólogos do desenvolvimento. 

Por  desenvolvimento  entende‐se  o  conjunto  de  mudanças  contínuas  no  ser 

humano ao longo da sua existência. 

O  conceito  de  desenvolvimento  pressupõe  assim  uma  sequência  de  alterações 

graduais  que  levam  a  uma  maior  complexidade  no  interior  de  um  sistema  ou 

organismo. Na  evolução  de  cada  indivíduo  desenham‐se  estádios  que  seguem  uma 

ordem praticamente  imutável, mas o tempo de permanência em cada um deles varia 

conforme o indivíduo. 

A psicologia do desenvolvimento é uma área especializada da Psicologia que  só 

amadureceu no século XIX. Até à contemporaneidade, era  impossível o aparecimento 

desta  área  de  investigação,  devido  aos  estereótipos  que  se mantinham  acerca  do 

conceito de criança e da pouca importância que lhe era concedida. 

Uns  tinham  uma  visão  negativa  da  infância,  encarando  a  criança  como  uma 

espécie de selvagem quase sem humanidade, incluindo‐a na mesma categoria em que 

mantinham  os  primitivos  e  os  deficientes  mentais.  Outros  consideravam  que  as 

crianças tinham uma mente como a dos adultos, sendo a única diferença entre ambos 

o crescimento e não o desenvolvimento; constituindo a criança como um adulto em 

miniatura. 

Desta  forma,  o  estatuto  próprio  da  criança  não  era  reconhecido,  o  que  tinha 

reflexos  negativos  na  educação  familiar  e  escolar  que  lhe  exigiam  condutas muito 

próximas das do adulto, sem que ela pudesse comportar‐se da forma pretendida. 

As  grandes mudanças  quanto  ao modo  de  encarar  a  criança  deve‐se  à  teoria 

evolucionista de Darwin, estilhaçadora da  fronteira  intransponível entre animal e ser 

humano,  abre  caminho  a  uma  nova  perspectiva  em  psicologia  genericamente 

apelidada de organicismo por oposição ao maturacionismo.   

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Maturacionismo:  Gesell  encabeça  a  defesa  do  modelo  maturacionista, 

acreditando que o desenvolvimento se deve fundamentalmente a processos  internos 

de maturação do organismo. Segundo o maturacionismo, as diferenças observadas ao 

longo do desenvolvimento ocorreriam numa  sequência geneticamente determinada, 

devendo muito pouco às influências ambientais externas.  

Mecanicismo: Os psicólogos behavioristas (comportamentais) são adeptos de um 

modelo mecanicista,  segundo  o  qual  o  organismo  humano  reage  passivamente  às 

imposições  do  meio  externo,  que  determinam  as  suas  progressivas  modificações. 

Resumidamente, podemos dizer que psicólogos como Watson e Skinner negligenciam 

qualquer  interferência  de  factores  internos  associados  ao  organismo.  Reduzindo  o 

organismo  ao  binómio  Sujeito=Estímulo‐Resposta,  acreditam  que  as  diferenças 

detectadas na evolução do indivíduo se devem exclusivamente às situações do meio. 

Organicismo: Os psicólogos que defendem o modelo organicista assumem uma 

perspectiva interaccionista, em que consideram que o desenvolvimento é um processo 

dinâmico  em  que  factores  maturacionais,  genéticos  e  da  experiência  externa  se 

combinam no decorrer dos diferentes estádios do indivíduo ao longo da vida.   O 

modelo organicista realça o carácter adaptativo do processo de desenvolvimento, uma 

vez que considera que ao progredir na sequência dos estádios, o organismo dispõe de 

mecanismos psicológicos diferentes e qualitativamente superiores de  intervenção no 

meio.  Essas  intervenções,  por  sua  vez,  contribuem  para  reorganizar  os mecanismos 

psicológicos,  fazendo  com  que  o  indivíduo  fique melhor  apetrechado  para  ajustar 

adequadamente os comportamentos às exigências do meio. 

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PIAGET E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 

Jean  Piaget  elaborou  uma  teoria  do  desenvolvimento  a  partir  do  estudo  da 

inteligência da criança e do adolescente. A sua teoria permitiu que se acabasse com a 

concepção  de  que  a  adolescência  da  criança  era  semelhante  à  do  adulto,  existindo 

entre elas mera diferença quantitativa. 

Segundo  Piaget,  a  inteligência  precede  o  pensamento,  desenvolvendo‐se  por 

etapas  progressivas  que  exigem  processos  de  adaptação  ao meio.  Deste modo,  o 

desenvolvimento  pressupõe  a maturação  do  organismo,  bem  como  a  influência  do 

meio físico e social. 

Para  compreendermos  a  teoria  de  Piaget,  é  necessário  ter  em  conta  alguns 

conceitos: 

Esquema: em cada etapa de desenvolvimento estão presentes esquemas 

mentais, que formam uma estrutura quando coordenados entre si. 

Adaptação:  a  inteligência  é  uma  adaptação  ao  meio  ambiente,  feita 

através da assimilação e da acomodação. 

Assimilação:  é  o  processo  de  integração  dos  dados  da  experiência  nas 

estruturas do sujeito.  

Acomodação: é a modificação constante das estruturas do sujeito para se 

adaptar aos novos elementos provenientes do meio. Entre a assimilação e 

a  acomodação  desenrola‐se  a  coordenação  que  permite  que  ocorra  o 

desenvolvimento intelectual progressivo. 

Organização: o pensamento actua de forma organizada e de acordo com o 

meio, isto é, a adaptação ao meio conduz à organização do pensamento e 

o pensamento organizado estrutura melhor os objectos do meio. 

Estádios: são fases ou etapas qualitativamente diferentes por que passa o 

desenvolvimento  intelectual.  O  desenvolvimento  intelectual  ocorre  por 

etapas  sucessivas,  em  que  as  estruturas  intelectuais  se  desenvolvem 

progressivamente. Cada novo estádio representa uma forma de equilíbrio 

cada  vez  maior,  que  permite  uma  adaptação  mais  adequada  às 

circunstâncias. 

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Em  todos  os  estádios  existe  uma  interacção  entre  o  sujeito  e  o mundo,  feita 

através  da  assimilação  e  da  acomodação.  Estes  dois  mecanismos  possibilitam  a 

construção das novas estruturas ou esquemas.  Inicialmente  são esquemas de  acção 

que quando interiorizados se transformam em esquemas operatórios. 

O  desenvolvimento  pode  explicar‐se  através  de  diferentes  factores,  como  a 

hereditariedade, a maturação  interna, que não actua  sozinha e por  isso é um  factor 

insignificante. O segundo factor é a experiência física, a acção dos objectos. A lógica da 

criança advém das acções exercidas sobre os objectos. O terceiro factor prende‐se com 

a educação, que por si só é  insuficiente, sendo necessária a assimilação por parte da 

criança. O quarto  factor é a equilibração, ou  seja, o equilíbrio entre os  três  factores 

anteriores. 

O  desenvolvimento  da  inteligência  faz‐se  pelo  interacção  constante  entre  a 

criança e o meio. Piaget distingue quatro estádios de desenvolvimento: 

 

1. Estádio da inteligência sensório‐motora: desde o nascimento até aos 2 

anos.  Neste  estádio  a  criança  não  se  distingue  dos  objectos  que  a  rodeiam,  nem 

compreende  as  relações  entre  os  objectos  independentemente  dela.  Em  vez  de 

palavras e conceitos, a criança serve‐se de percepções e movimentos organizados em 

esquemas de acção. Na presença de um objecto novo, a criança procura compreendê‐

lo pelo uso, sacudindo‐o por exemplo. Durante estes 2 anos, ao nível da 

acção,  a  criança  constrói  noções  fundamentais  para  o 

desenvolvimento ulterior, como a noção de objecto permanente e a 

de causalidade. Se taparmos com um lenço um objecto do interesse do 

bebé, este não afasta o obstáculo para lhe chegar, pois ao desaparecer do seu campo 

perceptivo, o objecto deixou de existir para ele. No fim deste período, já compreende 

a permanência do objecto, mesmo quando é escondido em  sítios diferentes. Aos 18 

meses, o bebé  já é capaz de chegar aos objectos que quer,  isto é,  já é capaz de fazer 

relações objectivas de causalidade, na medida em que se serve de meios apropriados 

para  alcançar  os  seus  fins.  Trata‐se  de  uma  causalidade  egocêntrica,  ligada  à  acção 

própria,  caracterizada  pela  ausência  de  relações  objectivas  entre  o meio  e  o  fim  a 

atingir. 

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2. Estádio  das  representações  pré‐operatórias:  dos  2  aos  7  anos.  A 

entrada neste estádio é marcada pelo aparecimento da função semiótica ou simbólica, 

que  assinala  o  início  do  pensamento.  A  função  simbólica  é  a  capacidade  de  criar 

símbolos para substituir ou representar os objectos e de lidar mentalmente com eles. 

A  linguagem,  a  imagem  mental  e  o  jogo  simbólico  são  manifestações  da  função 

simbólica. A  linguagem permite à criança comunicar com os outros. Neste período a 

criança  é muito  egocêntrica,  pelo  que  o  diálogo  é  inexistente, mesmo 

quando brinca com outras crianças, pois fala para si sem se  interessar 

pelas respostas dos outros. Neste sentido, devemos falar de monólogo 

colectivo, em  vez de diálogo. O  jogo  simbólico  também é marcado pelo 

egocentrismo, pois a criança torna o real no real dos seus desejos, transformando os 

objectos  naquilo  que  quer.  A  esta  capacidade  da  criança  chamamos  realismo.  A 

emissão de palavras  significa que  a  criança  já possui  imagens mentais. Piaget  fala  a 

este  respeito de pré‐conceitos, na medida em que a criança, não dispondo ainda de 

esquemas de generalização, é  incapaz de distinguir com nitidez “todos” de “alguns”. 

Neste  período,  os  esquemas  de  acção  são  substituídos  por  esquemas  de 

representação, assinalando o  início da  inteligência  representativa ou pensamento. A 

criança manifesta curiosidade por aquilo que a rodeia, mas interpreta as coisas sempre 

em  função  de  si,  o  que  torna  o  pensamento  incipiente  e  altamente  egocêntrico. O 

pensamento  que  começa  neste  período  apresenta  as  seguintes  características:  o 

antropomorfismo,  que  se  refere  à  visão  animista  ou  antropomórfica  da  criança, 

característica  deste  período,  a  criança  concebe  as  coisas  como  vivas  e  dotadas  de 

intenção  e  sentimentos,  à  semelhança  do  que  se  possa  com  os  seres  humanos. O 

antropomorfismo deste pensamento  também  se manifesta na noção de  causalidade 

da criança. Em  face dos acontecimentos, a criança pergunta: “o que é?”; “porquê?”. 

Estas questões não exigem apenas resposta causal, mas também final, na medida em 

que ela entende que  tudo é orientado para um  fim. O  raciocínio da criança procede 

por  vaga  analogia  associativa.  Isto  significa  que  criança  vai  recorrer  a  uma 

generalização ainda  imprecisa e sem controlo. Por exemplo, se a criança vir um tigre 

na  televisão  vai  dizer  que  se  trata de  um  gato,  dadas  as  suas  características  serem 

idênticas  às  de  um  gato.  Piaget  designa  este  tipo  de  raciocínio  de  raciocínio 

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transductivo. O  raciocínio dedutivo é  também próprio desta  fase da vida da criança. 

Se,  nesta  fase,  colocarmos  em  fila  oito  fichas  brancas,  separadas  por  pequenos 

intervalos e pedirmos a uma criança que, com  fichas pretas, construa uma  fila  igual, 

veremos que fará uma fila do mesmo comprimento da branca, mas sem se preocupar 

com  a  correspondência  termo  a  termo.  Conclui‐se  assim,  que  a  criança  avalia  a 

quantidade pela percepção do espaço ocupado, ou seja, pela configuração global, sem 

se deter na análise das relações entre os objectos.  

3. Estádio  das  operações  concretas:  dos  7  aos  11  anos.  Nesta  fase,  as 

estruturas  intuitivas  transformam‐se  num  sistema  de  relações  de  tipo  operatório,  o 

que significa que as acções  interiorizadas ou acções mentais que já se manifestam no 

período precedente tornam‐se agora reversíveis e designam‐se por operações. Piaget 

realizou  várias experiências para estudar  a  reversibilidade de pensamento, presente 

nas operações que as crianças são capazes de efectuar neste estádio: 

Conservação: se deitarmos em 2 copos  iguais a mesma quantidade de 

água e se fizermos notar a uma criança de 4 ou 5 anos que o líquido se encontra 

ao mesmo  nível  nos  2  copos,  ela  admiti‐lo‐á  imediatamente.  Porém,  se,  em 

seguida, deitarmos o líquido de um dos copos para um recipiente mais estreito e 

mais alto e lhe perguntarmos qual é o que contém mais água, ela apontará para 

o recipiente alto e estreito. Isto significa que a criança no estádio anteriormente 

referido  ainda  não  atingiu  o  nível  operatório,  uma  vez  que  não  é  capaz  de 

regressar mentalmente ao ponto inicial. As suas “operações” não possuem ainda 

a reversibilidade. Quando uma criança atinge o pensamento operatório, afirmará 

sem reservas que a quantidade de  líquido não se alterou pelo facto de ter sido 

mudado de um vaso para o outro. Poderá mesmo servir‐se de argumentos para 

justificar a sua resposta. São três os tipos de argumentos a que pode recorrer: o 

da identidade, o da reversibilidade e o da compensação. Identidade→ é a mesma 

água porque não se pôs nem se tirou nenhuma. Reversibilidade→ 

é a mesma água porque, se voltasse a deitar no copo pequeno, 

ficava  como dantes. Compensação→ é a mesma água porque 

este copo é mais alto mas também é mais estreito. Quando 

uma criança justifica de uma destas formas, significa que já 

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está de posse do esquema da conservação da quantidade. Ainda neste período, 

adquirirá a conservação de peso, de volume, etc. 

Classificação:  se  colocarmos  uma  criança,  ainda  em  estádio  pré‐

operatório  perante  brinquedos  ou  figuras  de  animais,  em  que  haja  oito  cães 

“caniche”, dois cães “terrier” e três gatos e lhe pedirmos para fazer colecções de 

animais, ela fará três grupos simples, um de “terriers”, outro de cães “caniches” 

e  outro  de  gatos.  A  criança  já  tem  assim  a  noção  de  inclusão  em  classes.  A 

confusão entre “todos” e “alguns”, característica dos períodos anteriores, tende, 

portanto,  a  desaparecer  nesta  fase.  Contudo,  as  estruturações  lógicas 

apresentam  ainda  algumas  limitações.  As  operações  são  concretas,  recaindo 

directamente  sobre os objectos e  situações actuais, não  sendo ainda  capaz de 

raciocinar sobre situações hipotéticas. 

4. Estádio  das  operações  formais:  dos  11  aos  15  anos.  Ao  contrário  do 

anterior  estádio,  durante  a  adolescência  desenvolve‐se  a  inteligência  formal,  que 

significa a entrada num domínio novo que é o do pensamento puro. Assim, nesta fase, 

o adolescente é capaz de  raciocinar sobre hipóteses abstractas, ou seja, proposições 

enunciadas verbalmente, ou através de outros símbolos, a partir dos quais se efectuam 

os encadeamentos típicos da lógica formal. 

Desta  forma,  o  adolescente  já  é  capaz  de  raciocinar 

dedutivamente  a  partir  de  hipóteses, mas  também  é  capaz  de 

formular hipóteses para resolver um problema, as quais compara 

de  forma  sistemática  na  experiência,  até  encontrar  a  solução 

explicativa mais adequada. Ao mesmo  tempo,  surge  também a 

possibilidade  de  compreender  princípios  abstractos, 

demonstrando  uma  grande  abertura  a  conceitos  científicos  e 

filosóficos, que não demonstrava qualquer interesse em fases anteriores. 

Esta nova capacidade para pensar abstractamente  leva o adolescente a  fazer da 

sua própria  reflexão um objecto  sobre o qual pode  reflectir. Esta atitude  reflexiva é 

imbuída de um novo egocentrismo intelectual que se manifesta na convicção de que o 

seu pensamento está apto a resolver todos os problemas e de que se as suas ideias são 

indubitavelmente as melhores. O jovem actua como se os outros e o mundo tivessem 

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que se organizar em função dos seus pontos de vista, que apresenta e defende por via 

lógico‐argumentativa. Nesta fase, o adolescente é capaz de se colocar na perspectiva 

do outro, atingindo um novo equilíbrio eu‐mundo.  

FREUD E O DESENVOLVIMENTO  

Assim  como  Piaget  na  perspectiva  cognitiva,  também  Freud  considera  que  a 

compreensão  do  comportamento  exige  uma  análise  dos  fenómenos  psíquicos. 

Contudo, se a perspectiva cognitiva encara as pessoas como processadoras  racionais 

de  informação,  a  perspectiva  psicodinâmica  procura  evidenciar  aspectos  em  que  a 

racionalidade  humana  falha:  enfatiza  as  motivações  inconscientes  e  o  papel 

desempenhado pelas vivências emocionais  infantis na estruturação da personalidade 

do adulto. Segundo Freud, o nosso aparelho psíquico ou estrutura da personalidade, é 

formado  por  3  componentes  ou  sistemas  motivacionais,  também  designados  por 

instâncias do eu ou instâncias de personalidade, são elas o id, o ego e o superego.  

O  id, é  constituído por  todos os  impulsos biológicos,  como  a  fome,  a  sede e o 

sexo,  que  exigem  satisfação  imediata.  É  o  fundamento  da 

sobrevivência individual e da espécie. 

O  superego,  é  formado  pelo  conjunto  de  regras  e  proibições 

impostas primeiramente pelos pais e depois pela sociedade em geral 

e que foram interiorizados pelo indivíduo. É o fundamento da moral.  

O  ego,  é o  elemento decisor dos  conflitos  travados  entre o  id  e o  superego,  é 

portanto, o fundamento racional da personalidade humana. 

Segundo  Freud,  estas  3  instâncias  estabelecem  entre  si  uma  relação  dinâmica, 

muitas  vezes  conflitual,  de  que  resulta  a  conduta  das  pessoas.  Assim,  o 

comportamento  de  umas  pessoas  compreende‐se  pela  supremacia  do  id  e  o 

comportamento de outras compreende‐se pela supremacia do superego. 

A nível genético, o id é o primeiro elemento. Nasce com a criança, sendo a única 

motivação do bebé nos primeiros meses de vida, o que significa que a energia psíquica 

deriva apenas de tendências instintivas de natureza biológica, cujo único objectivo é a 

satisfação imediata na busca exclusiva do prazer. 

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O ego, de acordo com a teoria psicanalítica, surge relativamente cedo, à medida 

que  a  criança  vai  experienciando  e  se  vai  apercebendo  de  privações  e  recusas  no 

mundo exterior. O ego tem por função orientar as pulsões de acordo com as exigências 

da realidade, tornando possível a adaptação do indivíduo ao mundo externo, de forma 

a  ficar apto a enfrentar situações geradoras de ansiedade. Sendo o “árbitro” na  luta 

entre as pulsões  inatas e o meio, o ego desenvolve um conjunto de mecanismos de 

defesa  que  exercem  um  controlo  inconsciente  sobre  as  pulsões  que  ameaçam  o 

equilíbrio psíquico do  indivíduo, canalizando‐as para formas  indirectas e substitutivas 

da obtenção do prazer. 

O  superego  constitui  a moral  do  indivíduo  e  tem  a  sua  origem  na  relação  da 

criança com os pais, que lhe fazem exigências, interdições e ameaças que pesam sobre 

a criança. Este controlo imposto a partir do exterior tende a ser interiorizado, pelo que 

por  volta  dos  7  anos,  o  superego  é  já  uma  instância  interna  que  actua  de modo 

automático  e  espontâneo.  O  superego  é  formado  então  por  princípios  morais  e 

representa um conjunto de valores nucleares como a honestidade, o sentido de dever 

e de responsabilidade, as obrigações, entre outros. 

Contudo,  o  superego  não  elimina  a  actuação  do  id,  que  se mantém  activo  ao 

longo da  vida. Toda  a  teoria de  Freud desenvolve‐se  à  roda do  conceito de energia 

psicossexual ou  líbido, cuja proveniência são as pulsões biológicas e  instintivas do  id. 

Freud defende que o desejo ou busca do prazer psicossexual surge no indivíduo antes 

da puberdade, logo a partir do nascimento. 

O  termo prazer psicossexual é usado por  Freud num  sentido muito amplo, que 

inclui as sensações agradáveis resultantes da estimulação de diversas áreas do corpo e 

considera que  a  energia psicossexual ou  líbido deriva de processos metabólicos. Os 

órgãos  envolvidos  na  digestão  e  procriação,  fundamentais  para  a  sobrevivência  do 

indivíduo e da espécie, são zonas erógenas, ou seja, fontes instintivas de prazer sexual.  

Desde modo,  a  criança  atravessa  uma  série  de  estádios,  cada  um  dos  quais  se 

associa a sensações de prazer ligadas a uma zona erógena específica. O controlo destas 

sensações  origina  conflitos  cuja  resolução  influencia  a  formação  da  personalidade 

adulta,  pelo  que  para  alcançar  a maturidade  psicológica,  o  indivíduo  deve  resolver 

positivamente os conflitos próprios de cada etapa. Assim, as pessoas que experienciam 

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um excesso de  frustração ou de satisfação dos sentimentos sexuais de cada período 

poderão permanecer psicologicamente presas a esse estádio, fenómeno designado por 

fixação, segundo Freud. 

O Estádio oral decorre desde o nascimento até aos 12/18 meses. Durante este 

período a boca é a principal  fonte de prazer,  tornando‐se numa zona erógena, dado 

que não  se presta apenas à  satisfação das necessidades alimentares do bebé,  como 

também se constitui como  fonte de prazer sensual, pelo que nesta  fase, seja ou não 

alimento, tudo o que a criança agarra é levado à boca. O seio materno é 

então  fonte  de  grande  satisfação  que  lhe  permite  estabelecer  uma 

relação afectiva de proximidade com a mãe, cuja natureza marca o modo 

como  futuramente se relacionará com o mundo. No  início deste estádio, a 

criança  vive  um  estado  de  indiferenciação  eu‐mundo  com  o  qual  contacta 

fundamentalmente através da boca e é por isso que durante alguns meses se limita a 

mamar no seio, na chupeta ou no biberão passivamente. Posteriormente, ela própria 

procura  agarrar  qualquer  objecto,  chegando  a  mordê‐lo,  de  acordo  com  o 

desenvolvimento  de  uma  oralidade  mais  agressiva,  para  a  qual  contribui  o 

aparecimento de dentição. 

Segundo  Freud,  a  fixação  neste  estádio  conduz  à  tendência  exagerada  para 

comportamentos  de  gratificação  oral,  como  por  exemplo,  comer,  beber,  beijar  e 

fumar. 

Neste  período,  começa‐se  a  estruturar  a  personalidade,  desenvolvendo‐se 

algumas  características  com  dimensões  bipolares,  de  acordo  com  o  excesso  de 

satisfação ou de desprazer. 

Posteriormente, Freud coloca a criança no Estádio anal, que decorre dos 12/18 

meses aos 3 anos. Neste período, mais especificamente aos 2 anos, a criança começa a 

desenvolver  o  controlo muscular  ligado  à  defecação,  sendo  que  a  descarga  reflexa 

produzida  pela  pressão  nos  músculos  do  esfíncter  anal,  torna‐se  agradável.  Deste 

modo, tanto reter, como expulsar fezes torna‐se numa fonte de prazer, constituindo a 

região anal como a zona erógena desta fase. Também por esta altura, 

os  pais  preocupam‐se  com  a  criação  de  hábitos  de  higiene.  Se  a 

exigência dos pais for demasiado rígida a criança tende a reter as fezes 

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ou a expulsá‐las nos momentos mais inoportunos.  

Segundo  Freud,  a  educação  do  asseio  demasiado  restritiva  ou  tolerante  pode 

determinar 2 tipos de personalidade adulta: 

Retentivo‐anal,  onde  se  observam  características  como  avareza, 

obstinação, meticulosidade, ordem compulsiva. 

Expulsivo‐anal, onde se observa a tolerância, a submissão, a generosidade 

excessiva e desordem. 

Dos 3 aos 5/6 anos, a criança encontra‐se no Estádio fálico, cujo objecto da líbido 

são os órgãos genitais.  Isto porque é nesta  fase que a criança descobre que o corpo 

dos rapazes e das raparigas e diferente, pelo que a criança obtém prazer ao tocar nos 

órgãos  genitais.  Se  os  pais  ensinam  aos  filhos  que  isso  é  vergonhosos,  os  rapazes 

podem contrair o medo da castração e as  raparigas a “inveja do pénis”. Rapazes ou 

raparigas podem apresentar, futuramente, dificuldades de relacionamento sexual.  

Nesta  fase,  as  crianças  vivem  a  primeira  experiência  de  amor 

heterossexual.  O  rapaz  nutre  uma  atracção  especial  pela  mãe,  ao 

mesmo  tempo que desenvolve uma agressão  competitiva em  relação 

ao  pai;  contudo,  procura  imitá‐lo  para  conquistar  a  mãe, 

desenvolvendo  assim  o  conceito  de  masculinidade.  Freud 

designou esta vivência “complexo de Édipo”. No caso da rapariga, esta sente‐se atraída 

pelo  pai,  vendo  a mãe  como  um  obstáculo  à  realização  dos  seus  desejos,  embora 

procure  parecer‐se  com  ela,  de  forma  a  seduzir  o  pai,  construindo  o  conceito  de 

feminilidade; esta vivência é designada “complexo de Electra”. 

Quando  estes  complexos  não  são  bem  resolvidos,  quer  porque  as  fantasias 

sexuais  infantis são satisfeitas por defeito ou por excesso, pode ocorrer uma  fixação 

nesta  fase,  da  qual  resultam  dimensões  bipolares  de  personalidade:  orgulho‐

humildade; sedução‐retraimento; promiscuidade‐castidade.  

Dos 5/6 anos aos 12/13 anos, a criança encontra‐se no Estádio de latência. Nesta 

fase, os desejos sexuais estão praticamente ausentes. Esta situação de apaziguamento 

das pulsões sexuais deve‐se à amnésia infantil, processo pelo qual a criança reprime no 

inconsciente  as  experiências  fortes  do  estádio  fálico.  A  criança  canaliza  a  energia 

psíquica para actividades de outro tipo. A curiosidade sexual cede  lugar à curiosidade 

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intelectual que a entrada na escola ajuda a desenvolver, também na medida em que 

afasta  a  criança  do  mundo  familiar  carregado  de  afectividade  e  portanto  a 

exploração,  a  descoberta,  a  procura  e  a  invenção  ocupam  a  criança 

num número de  actividades de  acordo  com os  seus  gostos ou  metas  a 

atingir.  Durante  este  período  de  acalmia  sexual,  a  criança  procura 

tornar‐se numa espécie de “criança‐modelo” bem comportada e apreciada pelos pais, 

professores e amigos. 

O  aparelho  psíquico  constituído  pelas  3  instâncias  ‐  id,  ego,  superego  ‐  está 

completamente  organizado  nesta  fase,  pelo  que  a  estrutura  da  personalidade  se 

encontra praticamente formada. No estádio seguinte, o desenvolvimento psicossexual 

está terminado. 

Após  o  estádio  de  latência,  Freud  considera  o  Estádio  Genital,  desencadeado 

depois  da  puberdade.  Nesta  fase,  a  sexualidade  desperta  de  novo  e  com  grande 

intensidade,  facto explicável pela maturação orgânica e aos  impulsos desencadeados 

pela  consequente  produção  de  hormonas  sexuais.  Este  estádio  torna‐se  assim  uma 

repetição  dos  períodos  precedentes,  pelo  que  se  reactivam  os  conflitos  vividos  na 

infância.  O  complexo  de  Édipo  é  revivido  pelo  adolescente  de  uma  forma  muito 

especial, o amor vivido no período  fálico em relação ao progenitor do sexo oposto é 

agora  canalizado  para  uma  atracção  heterossexual  por  pessoas  alheias  ao  universo 

familiar. A  satisfação dos  impulsos da  líbido é procurada pela prática de actividades 

sexuais de natureza genital. Os jovens que atingem este estádio após terem resolvido 

os conflitos  inerentes às fases anteriores, estão preparados para o exercício de actos 

ligados à  reprodução, bem como para assumir as  responsabilidades da  idade adulta. 

Não há fixação neste período, visto ser a última etapa desenvolvimento psicossexual. 

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ERIKSON E O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL 

A perspectiva de Erikson caracteriza‐se pela sua ênfase nos aspectos psicossociais.  

Erikson  apresenta  uma  teoria  de  desenvolvimento,  cujos  pressupostos  são  os 

seguintes: 

A energia que orienta o desenvolvimento é essencialmente de natureza 

psicossocial, havendo portanto uma valorização da  interacção entre a personalidade 

em transformação e o meio social; 

O  desenvolvimento  é  um  processo  contínuo  que  se  inicia  com  o 

nascimento e se prolonga até ao final da vida; 

A  personalidade  constrói‐se  à  medida  que  a  pessoa  progride  por 

estádios psicossociais que, no seu conjunto, constituem o ciclo da vida; 

Em  cada  estádio manifesta‐se  uma  crise  que  é  vivida  em  função  de 

aspectos biológicos,  individuais e sociais. A crise consiste num conflito ou dilema que 

deve  ser  resolvido,  sendo que existe uma  solução positiva e negativa para  cada um 

deles; 

Os  conflitos  estão,  desde  o  nascimento,  latentes  no  indivíduo,  só  se 

tornando patentes e predominantes em fases específicas da vida; 

Quando  as  crises  são  resolvidas  de  forma  positiva,  resultam  em 

equilíbrio  e  saúde  mental,  já  as  soluções  negativas  das  crises  conduzem  ao 

desajustamento e ao sentimento de fracasso; 

Ajustamento  ou  desajustamento  não  são  situações  ou  estados 

definitivos. Em fases subsequentes, o indivíduo pode passar por experiências positivas 

e negativas que contrariem as vivências tidas em estados anteriores. 

Desta  forma,  o  conceito  de  crise,  segundo  Erikson,  é  fundamental  para  a 

construção  da  personalidade  que  se  desenvolve  em  função  da  resolução  de  crises 

sucessivas. De  acordo  com  a  forma  como  a  crise  for  resolvida,  a  pessoa  situar‐se‐á 

mais ou menos adequadamente no contexto social. 

As  crises  psicológicas  que  permitem  ao  indivíduo  adquirir  sentimentos,  como 

confiança em  si próprio, autonomia,  iniciativa, ou pelo  contrário,  falta de  confiança, 

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sentimentos de inferioridade e culpabilidade, surgem ao longo da vida, distribuídas por 

8 idades, em cada uma das quais aparecem virtudes específicas. 

Erikson emprega o termo virtude com o significado de uma aquisição positiva que 

ocorre  quando  a  resolução  da  crise  é  favorável.  Esta  aquisição  constitui  um  ganho 

psicológico,  emocional  e  social  que  se  pode  traduzir  por  um  valor,  por  uma 

característica de personalidade, por uma competência, por uma qualidade pessoal ou 

por um sentimento. 

1. Bebé:  vai desde o nascimento  até  aos 18 meses. O  conflito  típico desta 

idade  é:  Confiança  versus  Desconfiança. 

Durante  este  período,  o  relacionamento  com  a 

mãe é da maior  importância. Se a mãe alimenta 

bem  o  filho,  se  o  aconchega  e  acarinha,  brinca  e  fala 

ternamente com ele, o bebé desenvolve o sentimento de que o ambiente 

é agradável e  seguro, criando uma atitude básica de confiança e  face ao 

mundo. Contudo, se pelo contrário, o comportamento da mãe não satisfaz 

o  bebé,  este  desenvolve  medos  e  suspeitas  que  contribuem  para  a 

formação  de  uma  atitude  negativa  de  desconfiança.  A  virtude 

desenvolvida durante este período é a esperança. Esta  fase  corresponde 

ao estádio oral da teoria de Freud.  

2. Criança de  tenra  idade: situa‐se desde os 18 meses até aos 3 anos. O 

conflito  típico  desta  idade  é  a Autonomia  vs. Vergonha  e  dúvida. Nesta 

fase,  as  crianças  sentem  ainda  necessidade  de  protecção,  mas 

simultaneamente,  gostam  de  experimentar.  Por  isso,  sentem‐se  bem 

sempre  que  podem  exercitar  as  suas  capacidades motoras: 

correr, puxar, empurrar, segurar, largar são actividades que 

treinam e procuram desenvolver. Se os pais encorajarem 

a  criança  a exercitar estas habilidades, ela desenvolve o 

controlo  dos  seus  músculos,  o  que  contribui  para  o 

domínio  do  seu  próprio  corpo  e  do  ambiente  que  a 

rodeia. Desta forma, a criança ganha autonomia. No entanto, 

se a criança for impedida de usar as suas capacidades ou se 

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lhe  é  exigido  que  use  essas  capacidades  precocemente,  a  criança 

desenvolve  sentimentos  negativos,  como  a  vergonha  e  a  dúvida.  A  boa 

resolução entre aquilo que a criança quer e o que os outros exigem dela, 

resulta na sua força de vontade, virtude própria desta idade. Este período 

aproxima‐se do estádio anal da teoria de Freud. 

3.  Criança  em  idade  pré‐escolar:  dos  3  aos  6  anos.  O  conflito  próprio 

desta fase é  Iniciativa vs. Sentimento de culpa. O desejo de experimentar 

mantém‐se  e  amplia‐se  com  a  aquisição  de  novas 

capacidades intelectuais, como o pensamento e a 

linguagem,  que  usa  como  outras  formas  de 

explorar  a  realidade.  Com  elas  toma  iniciativas, 

idealiza  façanhas,  realiza  tarefas  e  exibe‐se.  Se  os  pais  compreendem  e 

aceitam  o  jogo  activo  das  crianças,  estas  sentem  que  o  seu  sentido  de 

iniciativa  é  valorizado.  Porém,  se  os  pais  se  impacientam  e  consideram 

disparatadas  as  suas  perguntas,  brincadeiras  e  actividades,  as  crianças 

sentem‐se  culpadas  e  inseguras,  evitando  agir  de  acordo  com  os  seus 

próprios  desejos.  A  virtude  própria  deste  período  é  a  tenacidade, 

desenvolvida quando o conflito é resolvido de forma positiva. Este período 

aproxima‐se do estádio fálico da teoria de Freud. 

4.  Criança em  idade escolar: dos 6 aos 12 anos. O conflito próprio desta 

idade é Diligência  vs.  Sentimento de  inferioridade. A  criança descobre o 

universo  da  escola,  onde  se  espera  que  faça  grandes 

aprendizagens, a nível académico e social. Sonha com 

o  sucesso,  desenvolvendo  esquemas  cognitivos 

para  se  tornar  excelente  nas  tarefas 

desempenhadas.  Quando  as  crianças  se  sentem 

menos  capazes  do  que  os  seus  pares,  sentem‐se 

inferiores. No entanto, se sentirem que são bem sucedidas e acreditarem 

nas suas capacidades e no seu valor pessoal, empenham‐se com prazer no 

trabalho, desenvolvendo a diligência. A virtude desenvolvida nesta fase é a 

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competência ou perícia. Este período aproxima‐se do estádio de  latência 

da teoria de Freud. 

5.  Adolescente:  dos  12  aos  20  anos.  O  conflito  próprio  desta  idade  é 

Identidade  vs.  Confusão.  Nesta  idade,  o  adolescente 

apercebe‐se  da  sua  singularidade  como  pessoa, 

adquirindo  a  noção  de  que  é  um  ser  único,  com 

identidade  própria,  mas  inserido  num  meio  social 

onde tem vários papéis a desempenhar. O adolescente 

vai  ter  de  integrar  diversas  auto‐imagens:  jovem,  amigo,  estudante, 

seguidor,  líder,  trabalhador, homem ou mulher numa única  imagem, é a 

partir delas que escolhe uma carreira profissional e um estilo de vida. Se 

nos períodos anteriores  conseguiram obter  confiança básica, autonomia, 

iniciativa  e  diligência,  os  adolescentes  constroem mais  facilmente  a  sua 

identidade.  Se  pelo  contrário, manifestam  dificuldades  em  saber  o  que 

são, o que querem, que opções  seguir e que papel desempenhar, vivem 

situações  difíceis  de  confusão  e  indecisão. A  virtude  desenvolvida  nesta 

fase é a lealdade (consigo próprio) ou fidelidade. Este período aproxima‐se 

ao estádio genital da teoria de Freud. 

Erikson ainda  refere as  fases de  jovem adulto  (20 aos 35 anos), onde o conflito 

típico  é  Intimidade  vs.  Isolamento;  a  de  adulto  (35  anos  aos  65  anos),  em  que  o 

conflito é Generatividade vs. Estagnação; e, a de idoso (65 anos em diante), em que o 

conflito típico deste período é a Integridade vs. Desespero.  

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A RELAÇÃO MÃE ‐ FILHO 

Piaget,  Freud  e  Erikson,  cada  um  na  sua  perspectiva,  considerava  uma  “nova” 

infância,  em  que  a  criança,  desde  o  nascimento,  vai‐se  desenvolvendo  a  nível 

intelectual, afectivo e social, respectivamente. 

Todos  estes  psicólogos  evidenciam  que  o  desenvolvimento  é  dinâmico  e  que 

necessita de uma  relação com outrem. A mãe é então o primeiro agente através do 

qual a criança se relaciona com o meio, desenvolvendo com ela as primeiras relações 

afectivas e iniciando o seu processo de relacionamento com o mundo físico e social. 

Estas  concepções  contemporâneas  acerca  do  que  é  a  criança  nos  primeiros 

tempos, mudaram o modo  como  a mãe  assume os  cuidados maternais, pelo que  a 

criança  apresenta  necessidades  que  não  são  exclusivamente  comer,  dormir,  estar 

limpa e agasalhada. 

Às  necessidades  fisiológicas  juntam‐se  outras  que  se  não  forem  satisfeitas, 

comprometerão o desenvolvimento harmonioso da personalidade individual. 

Muitos psicólogos se  têm dedicado ao estudo da privação do afecto materno. A 

este respeito, a psicanalista Ana Freud efectuou observações em infantários fundados 

no  tempo da guerra para acolher os  filhos das mães  trabalhadoras cujos maridos  se 

tinham  alistado  em  combate.  Estas  crianças  eram  bem  cuidadas  em  termos  de 

alimentação  e  higiene,  no  entanto,  quase  todas  apresentavam  perturbações 

emocionais e atraso no desenvolvimento, cujas causas foram atribuídas à ausência de 

afecto materno. 

Também  o  psicanalista  americano  Spitz  efectuou 

estudos  semelhantes,  observando  crianças  abandonadas 

que passaram a viver, desde os primeiros meses de vida, em 

orfanatos e outras instituições similares. Spitz concluiu que a 

privação  dos  cuidados  e  aconchego  maternos  levavam  à 

morte  precoce,  dificuldades  no  relacionamento  interpessoal  manifestados  por 

condutas que passam pela  insensibilidade a outrem e pela  tendência para, a  todo o 

custo, cobrar o afecto e a atenção dos outros. 

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As observações de Bowlby são mais recentes e foram feitas em crianças de tenra 

idade. Bowlby concluiu que quando as crianças são afastadas da família por períodos 

de tempo superiores a 3 meses, vêm a sofrer de perturbações que se desenvolvem em 

3  fases:  inicialmente, mostram desespero; em seguida,  irritação e cólera, mesmo em 

relação à família; por último caem num estado de indiferença e apatia.  

O vínculo afectivo que se estabelece entre o  filho e a mãe e que se  traduz pelo 

desejo da presença desta e do seu contacto tem uma origem de cariz emocional, cuja 

satisfação  reside  em  experiências  gratificantes  como:  estar  ao  colo,  ser  embalado, 

abraçado e beijado, receber afagos, festas e carícias.  

Harlow  realizou  experiências  notáveis  em  que macacos  eram  criados  por  duas 

mães artificiais, sendo que uma era feita de arame, tinha uma espécie de biberão onde 

eles  se  alimentavam;  outra,  revestida  de  material  felpudo,  proporcionava  aos 

macaquinhos um  contacto macio e  agradável. Harlow  verificou que os  animaizinhos 

estabeleceram  um  vínculo  afectivo  com  a mãe  de  veludo,  permanecendo  a maior 

parte do  tempo abraçados a ela na procura do conforto que a “mãe de arame” não 

lhes  podia  dar.  Mesmo  quando  sentiam  fome  ou  queriam  explorar  objectos  nas 

imediações, procuravam uma posição que  lhes permitisse não perderem o  contacto 

com a mãe mais confortável. Mal se apercebiam da presença de objectos estranhos, 

corriam para ela e agarravam‐se‐lhe com todas as forças. Pouco depois, acalmavam‐se 

ao seu colo e observavam os objectos. Pareciam estar a viver um conflito entre o medo 

que  o  “estranho”  lhes  provocava  e  a  curiosidade  que  sentiam  pela  “novidade”. 

Progressivamente,  iam explorando os objectos, usando  a mãe  como base de  apoio: 

corriam a tocar num objecto e regressavam rapidamente; voltavam aos objectos mais 

calmamente e, alguns, transportavam os objectos para junto dela. 

Harlow  concluiu  assim,  que  após  estabelecido  o  vínculo  afectivo,  a  “mãe  de 

veludo” proporcionava‐lhes sentimentos de segurança que contribuíam para a perda 

de receio quando pretendiam satisfazer a sua necessidade.   

Inicialmente, Harlow  pensou  que  as mães  felpudas  satisfaziam  as  necessidades 

emocionais dos bebés macacos, pois entre os 3 e os 6 meses pareciam  saudáveis e 

normais.  No  entanto,  não  se  tornaram  adolescentes  nem  adultos  com  padrões  de 

comportamento  semelhantes  aos  dos  outros macacos. Harlow  verificou  o  seguinte: 

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apresentavam comportamentos compulsivos, movendo‐se em círculos ou baloiçando o 

corpo para trás e para diante; não revelavam qualquer  interesse por outros macacos 

ou pessoas; eram sexualmente desajustados, não se relacionando normalmente com 

macacos  do  sexo  oposto;  quando  algumas macacas  ficaram  grávidas mostravam‐se 

incapazes  de  cuidar  dos  filhos  e  rejeitavam‐nos  agressivamente.  Alguns  dos 

macaquinhos recém‐nascidos morreram mesmo. 

A  razão  destas  perturbações  foi  atribuída  à  privação  ou  défice  de  estimulação 

sensorial,  perceptiva  e  social  que  os macacos  sofreram  na  situação  de  isolamento. 

Apesar de se ligarem afectivamente à mãe substituta, esta não interagia com eles, não 

havendo um intercâmbio de sinais, pelo que as mães substitutas não lhes ensinaram a 

“comportar‐se  em  sociedade”. Das  observações  de Harlow podemos  concluir  que  o 

bebé precisa de  criar  laços  afectivos  com  alguém, mas  também de  viver num meio 

social estimulante onde possa  interagir com os outros e aprender a comportar‐se em 

sociedade. 

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ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA INFÂNCIA 

Estudar  os  problemas  do  comportamento  na  infância  implica  considerar  duas 

questões  centrais:  compreender o comportamento no  contexto do desenvolvimento 

infantil  (normas  de  comportamento  próprias  para  cada  intervalo  de  idade)  e 

compreender o percurso do desenvolvimento dos problemas de comportamento. 

As  variáveis  relacionadas  com  a  idade  afectam  também  a  consideração  de  um 

comportamento  como  problemático:  é  importante  que  se  conheça  que 

comportamentos são adequados e em que idade. 

DEPRESSÃO INFANTIL 

A Depressivo Infantil (DI) é uma perturbação do humor capaz de comprometer o 

desenvolvimento  da  criança  ou  do  adolescente  e  interferir  com  seu  processo  de 

maturidade psicológica e social. São diferentes as manifestações da depressão infantil 

e dos adultos, possivelmente devido ao processo de desenvolvimento que existem na 

infância e adolescência. Estima‐se que 3% da população infantil seja afectada pela DI. 

Podem ser diferentes as etiologias que podem contribuir para a existência de um 

quadro de DI: 

1. Perda do Objecto  (Spitz) – Este autor é o primeiro que fala de Depressão 

Infantil. Segundo autor a sintomatologia é fruto da perda de atenção materna 

(ou do prestador de cuidados), quanto maior for esse período mais sintomas 

apresentará a criança.  

2. Inadaptação dos reforços – Quando a criança 

tem uma necessidade, manifesta atenção e a 

resposta não se adequa ao seu pedido. 

3. Não existe contingências entre os 

comportamentos – Estímulo ‐Resposta não têm 

uma relação constante e não se correspondem, a criança sente‐se 

desorientada. 

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4. Atribuições inadequadas (Beck) – valores e crenças que são destruídos por 

mudança de ambiente, se for muito frequente podem conduzir a 

sintomatologia depressiva. 

5. Outros aspectos familiares – problemas conjugais, problemas financeiros, 

expectativas exageradas por parte dos pais, falta de contacto, morte de um 

familiar (directo ou indirecto), maus tratos, filho indesejado, alcoolismo, entre 

outros. 

6. Causas biológicas. 

DEPRESSÃO EM FUNÇÃO DA IDADE 

Depressão do bebé e criança muito pequena (2‐3 anos) 

Choramingos, retraimento, indiferença, olhar apagado, isolada. 

Depressão anaclítica: prostração, abatida, indiferente ao meio, retirada. 

Segundo Bowlby as consequências da separação podem ser: 

Fases de protesto, de desespero e de desligamento; 

Carência familiar grave e caos educativo; 

Ausência de manifestações de alerta; 

Ausência na participação de jogos próprios para a idade; 

Ausência de gorjeios e balbucia;  

Ausência de curiosidade exploratória; 

Ausência  de  auto‐estimulações:  balanceio,  lamúrias  e  condutas  auto‐

agressivas; 

Atraso do desenvolvimento psicomotor; 

Atraso da linguagem; 

Atraso global do desenvolvimento. 

Depressão da criança pequena (3 aos 5/6 anos) 

Perturbações  comportamentais:  isolamento  ou  retraimento,  calma 

excessiva,  agitação,  irritabilidade  significativa,  condutas  auto  e  hetero‐

agressivas,  condutas masturbatórias,  oscilações  do  humor  alternando  os 

estados de agitação com os de choro. 

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Aquisições  sociais  perturbadas:  nada  de  jogos,  nenhuma  autonomização 

nas condutas da vida quotidiana. 

Perturbações  somáticas:  dificuldades  do  sono,  pesadelos,  sonolência 

diurna, anorexia ou bulimia, enurese, encoprese. 

Depressão da criança maior (5/6 anos aos 12/13 anos) 

Manifestações  ligadas  ao  sofrimento  depressivo:  auto‐desvalorização, 

auto‐depreciação, humor depressivo, fracasso escolar. 

Condutas  ligadas  ao  protesto  e  à  luta  contra  os  afectos  depressivos 

(distúrbios  do  comportamento):  cólera,  impulsividade,  agressividade, 

furtos repetidos, mentiras e fuga, fracasso escolar. 

Frequência: 3%  a 25%, em que 3% equivale  à depressão do  adulto e os 

25% são equivalentes depressivos. 

Evolução  para  estado  depressivo  (não  frequente),  distúrbios  do 

comportamento e psicossomáticos 

Contexto  etiopatológico:  existência  da  perda  ou  separação,  ambiente 

familiar. 

Reacção de Dor e Aflição Prolongadas: 

Este  estado  pode  manifestar‐se  por  qualquer  etapa  da  sequência:  protesto, 

desespero e desinteresse. 

1. A  criança  chora,  chama  e  busca  o  progenitor  ausente,  recusando  quaisquer 

tentativas de consolo por outras pessoas. 

2. Retraimento  emocional  que  se  manifesta  por  letargia,  expressão  facial  de 

tristeza e falta de interesse nas actividades apropriadas para a idade. 

3. Desorganização dos horários de comer e dormir. 

4. Regressão ou perda de hábitos já adquiridos, como por exemplo, fazer xixi e/ou 

coco na roupa (ou cama), falar como se fosse mais novo. 

5. Desinteresse  paradoxal,  que  se manifesta  por  indiferença  às  recordações  da 

figura cuidadora  (fotografia ou menção do nome), ou mesmo uma espécie de 

"ouvido selectivo", que parece não reconhecer essas pessoas. 

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6. Como comportamento alternativo, a criança pode mostrar‐se exactamente ao 

contrário das características acima; torna‐se extremamente sensível a qualquer 

recordação  do(a)  cuidador(a),  apresentando  mal‐estar  agudo  diante  de 

qualquer estímulo que lembre a pessoa. 

Luto da Criança 

Para entender o impacto que causa na criança a perda por morte de uma figura de 

forte  vínculo  afectivo  (mãe, pai,  irmãos), é preciso entender  a  teoria da  vinculação, 

inicialmente pesquisada por Bowlby.  

Existem 3 fases do luto, assim caracterizadas: 

Busca  ou  protesto  ‐  o  intenso  desejo  de  recuperação  da  pessoa  amada  e 

perdida, que  leva a comportamentos de busca  inócua, produz uma  forte  reacção de 

protesto pela impossibilidade de se alcançar o objectivo desejado. 

Desespero  e  desorganização  ‐  o  conflito  permanente  entre  o  desejo  e  sua 

frustração,  leva  ao  desespero,  pois  não  se  abdica  do  vínculo  estabelecido  com 

facilidade  e  sem  sofrimento.  O  pensamento,  constantemente  concentrado  nessa 

tarefa,  deixa  pouca  possibilidade  para  se  dedicar  a  outras  actividades,  revelando  o 

quanto é  importante o trabalho de busca de uma resolução para o conflito; o mundo 

parece estar fora de contexto, tanto quanto este parece estar fora de contexto para o 

mundo. 

Recuperação  e  restituição  ‐  o  conflito  pode  ser  solucionado  a  partir  de  uma 

nova construção do vínculo com o falecido, o que preserva a relação noutro patamar; 

o sofrimento diminui gradualmente, permitindo um retorno da atenção para o mundo 

e trazendo a possibilidade do estabelecimento de novas relações. 

Stroebe, Stroebe e Hansson  (1993) apresentam um  levantamento das  respostas 

emocionais esperadas no processo normal de luto. Acrescentam que, em casos de luto 

complicado,  estes  aspectos  podem  apresentar‐se  com  intensidade  ou  duração 

alteradas, apontando para a  impossibilidade do processo esperado e constituindo‐se 

um indicativo da não resolução do luto. 

1. Choque, entorpecimento e dificuldade de acreditar na realidade; 

2. Pesar  e  tristeza,  acompanhados  por  dor mental  e  sofrimento,  com  choro  e 

lamentação; 

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3. Senso de perda devido ao reconhecimento da ausência e da impossibilidade de 

recuperação; 

4. Raiva é comum e pode voltar‐se contra a pessoa falecida, familiares, médicos, 

amigos e mesmo contra o próprio ego; 

5. Culpa e arrependimento, que aparecem  sob as  formas:  culpa por  sobreviver, 

pela  responsabilidade  da morte  ou  pelo  sofrimento  que  ela  trouxe  e,  ainda, 

pela deslealdade do falecido; 

6. Ansiedade  e  receios  que  aparecem  sob  a  forma  de  insegurança, medos  ou 

crises de angústia; 

7. Imagens  repetitivas  da  pessoa  falecida  próxima  da morte,  da  doença,  com 

carácter intrusivo e fora de controlo; 

8. Desorganização mental apresentando graus  variados de distracção,  confusão, 

esquecimento ou falta de coerência; 

9. Sobrecarga de tarefas e dificuldades para sua realização, que trazem a sensação 

de estar a perder o controlo, de desamparo e sentir‐se  incapaz de enfrentar a 

realidade; 

10. Alívio,  especialmente  após  doença  longa  e  sofrida,  pelo  término  do 

sofrimento; 

11. Solidão, que  se expressa  como  sentir‐se  só mesmo quando em  grupo e  com 

picos de sentimentos intensos de isolamento. 

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PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE 

A  ansiedade  é  uma  resposta  normal  que  surge  quando  a  pessoa  se  sente 

ameaçada  ou  em  perigo.  A  ansiedade  torna‐se  um  problema  quando  aparece  em 

situações  em  que  não  existe  perigo  real  ou  quando  se  mantém  depois  de  ter 

desaparecido a fonte de stress. 

As  perturbações  de  ansiedade  mais  frequentes  na  clínica 

infantil são: as fobias específicas (fobia aos animais, à escuridão, 

aos  ruídos  intensos  e  a  fobia  escolar),  a  ansiedade  de 

separação  e  o  retraimento  social  com  aversão  a  falar  e 

mutismo selectivo. 

As  crianças  experimentam  diversos medos  ao  longo  do  seu  desenvolvimento, 

muitos deles são  transitórios, de  intensidade  leve e específicos de uma determinada 

idade.  Muitos  autores  consideram  estes  medos  evolutivos  e  parte  integrante  do 

desenvolvimento  normal  e  necessário  ao  desenvolvimento  da  criança.  Os  medos 

proporcionam  ferramentas  para  fazer  face  e  ultrapassar  situações  adversas, 

desagradáveis ou perigosas. Devemos pois distinguir entre medos evolutivos e outros 

medos mais intensos ou fobias.  

Entre os medos mais comuns na infância encontram‐se os seguintes: 

Criança até aos 2 anos 

Perda súbita da base de sustentação, estimulação visual ou auditiva muito intensa, 

estranhos, separação das figuras de vinculação, feridas, do escuro e animais. 

Criança dos 3 aos 5 anos 

Estimulação visual ou auditiva intensa, separação, dano físico, pessoas com roupas 

estranhas, do escuro e animais. 

Criança dos 6 aos 8 anos 

Separação  das  figuras  de  vinculação,  dano  físico,  do  escuro,  animais,  seres 

imaginários, solidão, pesadelos e escola. 

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Criança dos 9 aos 12 anos 

Animais,  dano  físico,  pesadelos,  escola,  relações  interpessoais,  aspecto  físico  e 

morte. 

PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO 

A  ansiedade  na  perturbação  de  ansiedade  de  separação  é  experimentada  pela 

criança quando  é  separada na  realidade ou  supostamente dos  seus  entes queridos, 

especialmente da mãe. Aparece quando a criança tem de se afastar dos pais, quando 

vai  por  exemplo  para  a  escola, mas  também  ocorre  quando  os  pais  têm  de  viajar, 

quando a criança vai a uma visita de estudo, a casa de um familiar ou de um amigo. 

Assim, a fonte de ansiedade é a separação dos pais por qualquer motivo. 

As crianças com Ansiedade de Separação podem ser incapazes de permanecer 

num quarto sozinhas, podem exibir um comportamento muito adesivo à pessoa de 

forte vínculo afectivo (normalmente a mãe), costumam andar juntos como uma 

sombra atrás dos pais, não só fora de casa como por toda a casa e sofrem muito diante 

da possibilidade de ficarem separadas. 

As características mais frequentes são: 

1. A criança apresenta sintomas que excedem 

o que seria esperado no desenvolvimento. 

2. A ansiedade cria comprometimento 

significativo em alguma área das funções 

da criança. 

3. Os sintomas de ansiedade persistem por um tempo inadequado. 

Os transtornos ansiosos podem ser debilitantes para crianças e adolescentes e 

stressantes para as famílias, podem comprometer significativamente o 

desenvolvimento e o equilíbrio emocional. Por isso, o tratamento rápido e 

apropriado pode ser efectivo em aliviar os sintomas e ajudar a criança a retornar à 

função normal. 

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AVERSÃO A FALAR – MUTISMO SELECTIVO 

Dependendo da gravidade da perturbação podemos falar de mutismo selectivo ou 

de aversão generalizada a falar. 

O mutismo selectivo consiste num padrão de  fala em que a 

criança,  apesar  de  ter  capacidade  para  falar,  saber  falar  e 

compreender  a  linguagem  falada,  recusa‐se  a  fazer, 

seleccionando  determinadas  situações  ou  pessoas  com  quem 

falar. 

Na  aversão  generalizada  a  falar,  a  criança  tem  dificuldade 

para o fazer em determinadas situações mas, consegue fazê‐lo com um volume baixo, 

utilizando frases curtas ou monossílabos. Nestes casos os adultos descreveriam como 

uma criança tímida que lhe custa falar, mas que o faz quando lhe é exigido. 

FOBIAS ESPECÍFICAS 

Dentro das  fobias específicas  vamos  falar daquelas que  são mais específicas da 

infância: a fobia escolar e a fobia social. 

Fobia Escolar 

Apesar do medo da escola ser muito frequente na infância, a Fobia escolar é uma 

perturbação pouco  frequente, no entanto é a  fobia mais  frequente na clínica  infantil 

devido às  implicações que apresenta em termos de aprendizagem escolar e social da 

criança.  Em  termos  dos  três  sistemas  de  resposta,  os  comportamentos  que  estas 

crianças apresentam são: 

1. Nível  Motor:  A  criança  evita  ir  à  escola  ou  foge  da  mesma.  Expressa 

verbalmente a sua recusa a ir à escola. Queixa‐se de doenças ou de dores. 

Mostra  um  comportamento  negativista:  não  se  veste,  não  toma  o 

pequeno‐almoço, não encontra ou suja a roupa. Se os pais a obrigam a ir à 

escola chora, grita, treme, agarra‐se a eles, pede para voltar para casa. Se 

devido à pressão dos pais e professores permanece na escola, apresenta 

comportamentos desajustados, faz fitas, ou é muito passiva, não fala e não 

brinca. 

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2. Nível  Fisiológico:  A  criança  experimenta  um 

importante  aumento  na  sua  actividade 

fisiológica.  Aparecem  respostas  como 

transpiração,  tensão  muscular  elevada,  ritmo 

cardíaco  acelerado,  desmaios,  disfunções  do 

estômago, vómitos, diarreias, urgência para urinar. Com frequência podem 

apresentar dores de cabeça ou alterações na alimentação e no sono. 

3. Sistema  Cognitivo:  A  criança  tem  pensamentos  ou  imagens  negativas 

sobre  situações  escolares.  Antecipa  consequências  desfavoráveis:  os 

colegas  vão  gozar  com  ela,  o  professor  vai  ralhar,  é  pior;  avalia 

negativamente as suas próprias capacidades e/ou a situação; preocupa‐se 

pelas suas próprias reacções somáticas; pensa ou representa em  imagens 

respostas de fuga/evitação da aula ou da escola. 

Fobia Social 

Esta perturbação caracteriza‐se pela excessiva evitação do contacto com pessoas 

desconhecidas,  crianças  e  adultos.  A  timidez  interfere  nas  relações  sociais  com  os 

colegas, reagindo com medo ou ansiedade perante situações em que têm de interagir 

com  outras  pessoas.  As  crianças  com  fobia  social  podem  chorar,  gaguejar,  ficarem 

paralisadas, abraçarem familiares próximos, e até recusar‐se a falar. 

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PERTURBAÇÃO DE HIPERACTIVIDADE E DE DÉFICE DE ATENÇÃO 

Na  Perturbação  de  Hiperactividade  com  Défice  de  Atenção  (PHDA)  as  crianças 

costumam ser descritas mais ou menos como  sendo  inquietas desde pequenas. “Em 

casa corre daqui para  lá o dia  todo, sem que nada o detenha, nem sequer o perigo. 

Tira os brinquedos do lugar, atira todos pelo chão e, quase sem usá‐los, agarra outros 

e  outros,  sem  deter‐se  em  nenhum.  Interrompe  permanentemente  os  adultos  e  as 

outras  crianças,  respondendo  impulsivamente  e  de  forma  exagerada.  Na  escola  é 

evitado, mesmo assim ele chama os colegas para pedir ajuda com os trabalhos sem, no 

entanto,  os  copiar  a  tempo”.  A  criança  pode  ser  portadora  PHDA.  É  uma  das 

perturbações mentais mais frequentes nas crianças em idade escolar, atingindo 3 a 5% 

delas, na faixa etária dos 6 anos. 

Na realidade, determinar qual o nível de actividade normal de uma criança é um 

assunto  polémico.  A  maioria  dos  pais  tem  uma  certa  expectativa  em  relação  ao 

comportamento dos  filhos e, normalmente, esta expectativa  inclui um certo grau de 

agitação,  desarrumação  e  desobediência,  características  que  são  aceitas  como 

indicativos de saúde e vivacidade infantil. 

Porém, algumas vezes podemos estar perante de um quadro de Hiperactividade 

Infantil, que foge da simples questão de comportamento.  

As  crianças  portadoras  de  PHDA  ultrapassam  a  festiva  barreira  das  partidas 

engraçadinhas, deixam de ser adoráveis diabinhos e transformam‐se num verdadeiro 

transtorno  na  vida  dos  pais,  professores  e  todos  que  estiverem  à  sua  volta.  Elas 

parecem  ignorar as regras de convívio social e, devido aos problemas que provocam, 

acabam por ser consideradas de má índole ou carácter, mal‐educadas pelos pais.  

A Perturbação de Défice de Atenção é caracterizado primariamente por: 

1. Dificuldade  de  atenção  e  concentração,  característica  que  pode  estar 

presente desde os primeiros anos de vida; 

2. A criança tende a mostrar‐se "desligada", tem dificuldade em organizar‐se 

e,  muitas  vezes,  faz  erros  em  tarefas  devido  à  desatenção.  Estas 

características tendem a ser mais notadas por pessoas com quem convive; 

3.  Constantemente esquecem informações, compromissos, datas ou tarefas; 

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4. Costumam perder ou não se lembram onde colocam as coisas; 

5. Têm dificuldades em seguir regras, normas e instruções que lhe são dadas. 

6. Têm aversão a tarefas que requerem muita concentração e atenção, como 

trabalhos de casa. 

 

Em  cerca  de  metade  dos  casos  pode  ainda  apresentar  hiperactividade,  como 

movimento  incessante de mãos e pés, dificuldade de permanecer sentado ou dentro 

da  sala  de  aula,  fala muito, mexe‐se muito  e  tem  dificuldade  em  realizar  qualquer 

tarefa estando quieta. 

Em  alguns  casos,  pode  acontecer  também  a  impulsividade  caracterizada  pela 

incapacidade de esperar a sua vez, interrompendo as pessoas durante uma conversa e 

também pelo impulso de falar as respostas antes que as perguntas sejam terminadas.  

 

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PERTURBAÇÕES DA ELIMINAÇÃO 

ENURESE 

A enurese pode ser definida como a micção involuntária e frequente (pelo menos 

uma  vez  por  mês)  numa  idade  na  qual  o  controlo  da  bexiga  já  devia  existir. 

Normalmente a partir dos 5 a 6 anos de idade é que passamos a considerar relevante 

este problema, já que até esta idade muitas crianças normais ainda estão a adquirir o 

controlo completo sobre a micção.  

A enurese denomina‐se nocturna quando a micção involuntária ocorrer durante a 

noite (ou durante o sono) e diurna se ocorrer durante o dia. A enurese diz‐se primária 

se a criança nunca adquiriu o controlo de urina e secundária se surge após um período 

de controlo normal superior a 6 meses.  

A enurese nocturna é um problema muito comum. Calcula‐se que afecte 15% das 

crianças  aos  5  anos,  7%  aos  10  anos,  3%  aos  12  anos  e  1%  aos  20  anos.  Embora 

frequente, muitas crianças com enurese nocturna não são levadas ao médico por esse 

motivo. A enurese nocturna não  tratada cura espontaneamente ao  ritmo de 10‐20% 

dos casos por ano. No entanto, 10% das crianças enurécticas vão manter a enurese na 

idade adulta se não forem tratadas.  

Raramente, a enurese nocturna pode ser um sintoma de doenças variadas como 

infecções urinárias, doenças  renais ou distúrbios hormonais. No  entanto, na  grande 

maioria dos casos não se encontra associada a nenhuma doença em particular. Nestas 

crianças parece haver um atraso do desenvolvimento do controle da bexiga. Algumas 

crianças  têm  bexigas  de menor  capacidade  (bexigas  pequenas)  ou  não  conseguem 

reduzir  a  produção  de  urina  durante  o  sono  fazendo  com  que  não  consigam 

"aguentar". Outra causa possível é o sono profundo, acredita‐se que algumas crianças 

que têm o sono mais pesado não acordam quando a bexiga fica cheia, a certa altura o 

músculo da bexiga tem uma contracção reflexa e leva à perda de urina.  

A  enurese  nocturna  tem  uma  elevada  incidência  familiar,  isto  é,  passa muitas 

vezes  de  pais  para  filhos.  Quase metade  das  crianças  cujo  pai  ou  a mãe  tiveram 

enurese  poderá  também  ter  este  problema.  Se  ambos  os  progenitores  tiveram 

enurese essa probabilidade sobe para mais de 50%. 

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A enurese representa um pesado fardo para a criança e para a família, não só por 

afectar  a  auto‐estima  numa  idade  em  que  ela  é  extremamente  importante  para  o 

desenvolvimento da personalidade, mas também por que acarreta custos económicos 

e  sociais  consideráveis,  que  vão  aumentando  com  o  crescimento  da  criança.  Além 

disso,  a  enurese  pode  limitar  uma  série  de  actividades  comuns  e  importantes  na 

infância,  como  dormir  na  casa  de  amigos,  excursões  escolares,  campos  de  férias, 

campeonatos desportivos, visitas a familiares, entre outros. Uma criança com enurese 

evita todas estas actividades com medo que o seu “segredo” seja revelado.  

Tratamento Comportamental 

Compreende medidas que visam motivar a criança ou alterar hábitos que possam 

predispor à enurese: 

Comportamento  positivo  dos  pais  (educadores),  incentivando  a  criança  quando 

consegue passar uma noite ou várias noites sem fazer xixi. Deve‐se recompensar o 

esforço mais do que o sucesso.  

Manter a criança envolvida no tratamento: uso do "diário miccional".  

Não  castigar a  criança, visto que não  ‘molha’ a  cama para  chamar a atenção ou 

porque é preguiçosa, não tem nenhum controlo sobre o problema. Castigá‐la só vai 

fazê‐la sentir‐se pior.  

Se a criança tiver obstipação esse problema deve ser resolvido. 

Evitar excesso de líquidos à noite.  

Fazer xixi antes de se deitar.  

 

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ENCOPRESE 

A  definição  científica  de  encoprese  é  a  passagem  involuntária  de  fezes  em 

momentos inapropriados, ao longo de mais de 6 meses, em crianças com idade mental 

e cronológica superior a 4 anos. Ou seja, é a perda de  fezes nas cuecas, durante um 

período superior a 6 meses, em crianças com  idade para saberem que não o devem 

fazer. 

Esta situação é relativamente frequente, estimando‐se que ocorra em cerca de 1% 

a 2% das crianças com idade inferior a 10 anos, sendo mais frequente nos meninos. 

Em geral, não há qualquer doença de base responsável por este problema. Cerca 

de 80% das crianças têm história de obstipação (prisão de ventre) ou de dor ao defecar 

há alguns anos. 

Normalmente  a  forma  como  ocorre  é  simples  de  entender.  Primeiro,  a  criança 

tem dor ao defecar. A dor é provocada pelas cólicas ou pelo facto de as fezes serem 

mais duras. Para evitar a dor, a criança acaba por reter as fezes, evitando a ida à casa 

de  banho.  Com  o  tempo,  o  recto  vai‐se  distendendo,  perdendo  sensibilidade,  e 

acabam por se acumular quantidades cada vez maiores de fezes duras. A certa altura, 

o recto está totalmente preenchido por  fezes duras, quase sem sensibilidade, e cada 

vez que chegam novas fezes líquidas à parte terminal do intestino, conseguem passar 

pelo  ânus  sem  que  a  criança  se  aperceba,  acabando  assim  por  sujar  as  cuecas 

involuntariamente.  

Inicialmente,  só  passam  pequenas  quantidades,  razão  pela  qual  os  pais  não  se 

apercebem da situação ou julgam que a criança está a limpar‐se mal após ir à casa de 

banho.  Com  o  tempo,  a  quantidade  começa  a  aumentar  e,  como  estas  fezes  não 

passam pelas fases de digestão normal do intestino, tornam‐se pegajosas e com muito 

mau cheiro. Em geral, esta situação manifesta‐se mais frequentemente durante o dia, 

enquanto a criança está activa, e muito raramente de noite, durante o sono. 

A  encoprese  não  é  considerada  uma  alteração  do  comportamento  normal  da 

criança.  Devido  à  encoprese,  a  criança  pode  passar  a  manifestar  alterações 

comportamentais,  nomeadamente  baixa  de  auto‐estima, mau  rendimento  escolar  e 

até conflitos com os pais. Frequentemente, estas situações tendem a arrastar‐se por a 

criança, com vergonha, negar e não aceitar que tem este problema. 

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Nesta  situação é necessário  retirar as  fezes duras que estão no  recto. Esta  fase 

pode demorar alguns dias e em geral só é possível com a ajuda de clisteres. Depois de 

esvaziado  o  recto  e  toda  a  parte  terminal  do  intestino  é  necessário  evitar  que  a 

situação  se  repita,  assegurando  a  ida  diária  à  casa  de  banho.  Normalmente  é 

necessário medicar com  laxantes orais, que tornarão as fezes moles e evitarão que a 

defecção  seja  dolorosa.  Esta  terapêutica  deve  durar  meses  até  que  se  tenha 

estabelecido uma rotina diária. 

Quanto à dieta, recomenda‐se que seja rica em  fibras, ou seja, sopa de  legumes 

todos os dias e saladas. Também é importante que beba muita água para que as fezes 

sejam mais moles. 

 

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PERTURBAÇÕES DO SONO 

Uma boa noite de sono… 

Um  sono  tranquilo,  repousante,  que  cumpra  as  funções  de  recuperação  de 

energia  e  permita  o  bem‐estar  físico  e  mental  para  enfrentar  as  actividades  do 

quotidiano é uma necessidade e o desejo de muitas crianças, adolescentes e pais. 

As  necessidades  de  sono  são  variáveis  e  diminuem  com  a  idade;  enquanto  os 

bebés precisam de 16 a 18 horas de sono, para a maioria dos adultos 7 a 8 horas é 

suficiente para um bom desempenho das tarefas diárias. Os adolescentes, ao contrário 

do que muitas vezes afirmam, funcionarão melhor com 9 a 10 horas de sono por dia. 

Quando o sono não cumpre a sua função… 

As perturbações do sono afectam‐nos de  forma significativa tanto ao nível  físico 

como ao nível psicológico, intelectual (no aproveitamento das capacidades cognitivas), 

nas  manifestações  comportamentais  e  na  estabilidade  emocional.  E  se  isto  é 

preocupante no adulto, mais o é em crianças e adolescentes. Curiosamente, as  suas 

consequências  nem  sempre  são  atribuídas  à  patologia  do  sono  mas  a  outros 

problemas,  o  que  leva  a  que  muitas  vezes  estas  complicações  não  sejam 

diagnosticadas nem  tratadas, prolongando‐se no  tempo sem que as pessoas  tenham 

consciência da sua real causa. 

As dificuldades  relativas ao  sono podem estar associadas a outras perturbações 

do  desenvolvimento  infantil,  como  por  exemplo  a  hiperactividade  e  dificuldade  em 

focar e manter a atenção, perturbações no comportamento, fraco rendimento escolar, 

perturbações do espectro do autismo, entre outras. 

Que perturbações do sono existem? 

Há um grande número de perturbações associadas ao sono mas, de acordo com a 

Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono, podemos subdividi‐las em quatro 

grupos gerais: 

• Dissónias:  resultam  em  insónia  ou  sonolência  excessiva  e  estão  associadas  a 

perturbações do sono nocturno ou da vigília (ex:  insónia psicofisiológica, narcolepsia, 

síndrome da apneia obstrutiva do sono, higiene do sono pouco adequada…) 

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• Parassónias: fenómenos indesejáveis que ocorrem sobretudo durante o sono 

(pesadelos, terrores nocturnos, sonambulismo, sonilóquio, enurese nocturna, 

síndrome de morte súbita infantil…) 

• Perturbações associadas a doenças médicas, neurológicas ou psiquiátricas 

(epilepsia, cefaleias e asma nocturnas, distúrbios devidos a ansiedade ou pânico, entre 

tantas outras). 

• Prováveis perturbações do sono (situações clínicas por categorizar). 

A criança dorme mesmo bem? 

Enquanto  são  bebés  e  dormem  no 

quarto dos pais, é mais  fácil acompanhá‐los. 

A  partir  do momento  em  que  a  criança  se 

desenvolve  e  conquista  um  espaço  próprio 

para  dormir,  esta  vigilância  deixa 

naturalmente  de  acontecer  de  forma  tão 

constante. 

Assim sendo, a menos que a criança acorde durante a noite ou conte o que lhe 

aconteceu de noite no dia seguinte (no caso dos pesadelos), estas situações passam 

frequentemente desapercebidas. Ou então, o que pode ser mais problemático, nem 

sequer são percebidas pela própria criança. 

Não obstante, há alguns sinais que a criança exibe durante o dia que podem 

alertar para problemas durante a noite: sonolência excessiva, recusa em ir dormir ou 

em ir sozinha para a cama, agitação psicomotora, dificuldade em manter a atenção e 

concentração, impulsividade, problemas de memória, agressividade face aos pares e à 

família, comportamentos de oposição, alterações do humor, ansiedade (derivadas de 

medos, fobias, problemas emocionais) e problemas na aprendizagem. 

Para além dos  fenómenos que acontecem ao  longo da noite e que  são mais ou 

menos percebidos, poderão haver outros factores que estejam a impedir que a criança 

beneficie das horas de sono necessárias para a sua idade. 

A  menos  que  estejam  habituadas  desde  tenra  idade,  as  crianças  fazem 

frequentemente birras para atrasar o ir para a cama. Os motivos são os mais variados: 

querem ver televisão, brincar ou não querem dormir sozinhas por medo do escuro, dos 

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ladrões ou dos monstros dos  seus pesadelos. Certo é que, entre gritos e discussões 

que  desgastam  e  que  acabam  por  se  constituir  em  fontes  diárias  de  confronto,  as 

crianças acabam por deitar‐se cada vez mais tarde. Isto é igualmente verdade para os 

adolescentes que, entre a televisão, a playstation e a internet atrasam cada vez mais a 

sua  hora  de  adormecer, mesmo  com  a  consciência  dos  horários matutinos.  Assim 

sendo acabam por não beneficiar de um  sono eficaz, quer em quantidade, quer em 

qualidade. Não obstante, haverá mais cedo ou mais tarde um momento em que todos 

se deitam e a casa entra no silêncio desejado, mas isto não significa que todos estejam 

a dormir. É mesmo natural que o adolescente tenha dificuldades em adormecer devido 

a ansiedades próprias da sua etapa desenvolvimentista ou a problemas que sente no 

quotidiano.  Quando  os  acordares  nocturnos  envolvem  o  choro  dos  filhos,  por 

pesadelos  ou  terrores  nocturnos,  ou  o  deambular  pela  casa  nos  casos  de 

sonambulismo,  todos  entram  em  estado  de  alerta  e  o  sono  de  toda  a  família  fica 

comprometido.  Desta  forma,  as  perturbações  do  sono  acabam  por  desregular  os 

padrões de sono‐vigília de todo o agregado familiar, com consequências significativas 

nos  ambientes  escolares  e  laborais  e  com  prejuízo  das  relações  interpessoais  e 

familiares. 

O que fazer? 

Após  avaliar  todos  os  factores  predisponentes  e  de manutenção  do  problema, 

bem  como  o  impacto  deste  no  desenvolvimento  e  na  qualidade  de  vida  da 

criança/adolescente  e  agregado  familiar.  Esta  intervenção  pode  incidir  em  vários 

domínios,  nomeadamente:  esclarecimentos  sobre  a  perturbação  propriamente  dita; 

estruturação  de  rotinas  relacionadas  com  a  vigília  e,  em  maior  detalhe,  com  o 

momento  do  deitar;  estruturação  de  hábitos  alimentares;  elaboração  de 

problemáticas emocionais subjacentes; desenvolver formas adequadas para lidar com 

o  problema  (estilos  de  coping,  relaxamento);  e  ajudar  os  professores  a  lidar  com 

crianças que apresentem alguns dos sinais acima mencionados na sala de aula. 

Através de um acompanhamento  cuidado e multidisciplinar, espera‐se não  só a 

resolução possível do problema,  como  a diminuição da  frequência e  intensidade da 

sintomatologia  associada  e,  principalmente,  a  coesão  e  reestruturação  individual  e 

familiar subjacente a noites de sono tranquilo. 

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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 

São  alunos  que  apresentam  discrepância  entre  o  seu  potencial  estimado  de 

aprendizagem e as suas  realizações,  têm uma  inteligência normal, mas  fracassam na 

vida académica.  São  crianças que  se  revelam distraídas, muito activas, esquecidas e 

tagarelas. 

Estas crianças também podem apresentar diferentes tipos de problemas ao nível 

da leitura, da escrita e da matemática. 

Não  devemos  tratar  as  Dificuldades  de  Aprendizagem  (DA)  como  se  fossem 

problemas  insolúveis mas,  antes  disso,  como  desafios  que  fazem  parte  do  próprio 

processo da Aprendizagem, a qual pode  ser normal ou não‐normal. Também parece 

ser consensual a necessidade  imperiosa de se  identificar e prevenir precocemente as 

DA, de preferência ainda na pré‐escola. 

É muito importante a avaliação global da criança ou adolescente, considerando as 

diversas possibilidades de alterações que resultam das DA, para que o tratamento seja 

o mais específico e objectivo possível. 

Também existem diferentes problemáticas que podem estar associadas: 

Dislexia – Não têm dificuldade em compreender e utilizar a  linguagem. O 

seu problema centra‐se na codificação fonológica (fonética verbal) que os 

faz  fracassar  na  soletração,  leitura  e/ou  escrita  ‐  isto  é  quando  têm  de 

transformar letras ou palavras num código verbal. 

Disgrafia ‐  disfuncionalidade da escrita: irregularidade no tamanho, forma, 

inclinação, traçado, espaçamento e ligações entre letras. 

Disortografia – perturbação específica da escrita que altera a transmissão 

do  código  linguístico  ao nível dos  fonemas, dos  grafemas, da  associação 

correcta entre estes e regras de ortografia. 

Discalculia – dificuldades na simbolização dos números e na habilidade de 

calcular. Vão desde a incapacidade de reconhecer um número, dificuldade 

para  efectuar  operações  aritméticas,  dificuldades  em  compreender  o 

mecanismo da numeração, reter vocabulário matemático, realizar cálculos 

mentais, realizar as operações básicas e ordenar e sequencializar números. 

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Primeiramente devemos questionar se, de facto, a criança apresenta DA ou se o 

seu  rendimento  não  satisfaz  as  expectativas  do  professor  (da  escola).  Um 

desenvolvimento  incomum  nem  sempre  denuncia  alguma  patologia  (a  gravidez  de 

gémeos  é  anormal  estatisticamente  e  normal  medicamente),  podendo  reflectir 

dificuldades pessoais eminentemente circunstanciais.  

Na realidade, temos visto que a família só é mobilizada 

a procurar  ajuda especializada para  suas  crianças quando 

fica  evidente  ou  ameaçado  o  rendimento  escolar  e  a 

aprendizagem.  Infelizmente,  na  maioria  das  vezes  esta 

ajuda  é  procurada  incorrectamente  na medida  em  que  a 

família se sente ameaçada por algum estigma cultural. 

 As dificuldades escolares podem ocorrer em 4 situações: 

1. Quando há severo prejuízo do interesse da criança; 

2. Quando a performance global da criança está prejudicada; 

3. Quando há prejuízo da atenção; 

4. Quando há prejuízo na cognição, que se subdivide em: 

a. ‐ Prejuízo na apreensão de informações; 

b. ‐ Prejuízo no processamento das informações 

1 ‐ Quando há severo prejuízo do interesse 

Afastadas  causas  de  natureza  orgânica,  tais  como  anemia,  reumatismo 

infeccioso,  infecções, diabetes, estados de  intoxicação, a Depressão Infantil é a maior 

causa de desinteresse.  

O  Desinteresse  está  intimamente  relacionado  ao  Humor  ou  Afecto,  quando 

estamos mal‐humorados e/ou deprimidos, não nos interessamos por nada. Portanto, o 

interesse  é  um  problema  afectivo,  tanto  que,  nos  quadros  depressivos,  um  dos 

sintomas mais expressivo pode ser o desinteresse. Para entendê‐lo, o primeiro passo é 

estudar os sintomas básicos da depressão.  

2 ‐ Quando a performance global da criança está prejudicada 

Esses casos de DA são decorrentes de factores que comprometem o rendimento 

mental como um todo. Aqui não está em destaque o interesse do aluno na escola mas, 

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sobretudo, uma incapacidade de trabalhar mentalmente as informações. Neste ponto, 

embora em menor intensidade, também a Depressão Infantil pode ocasionar sintomas 

de  baixo  rendimento  psíquico  global,  entretanto,  são  as  Deficiências  Mentais  as 

patologias  que  mais  ocasionam  prejuízo  do  rendimento  mental  de  maneira  mais 

contundente. 

Na  Depressão  Infantil  ou  do  Adolescente,  o  sintoma  básico  responsável  pelo 

prejuízo do  interesse chama‐se Inibição (Psíquica) Global. Trata‐se de uma espécie de 

lentificação dos processos psíquicos na sua globalidade, como se fosse uma dormência 

generalizada de toda a actividade mental. Em graus variáveis, esta inibição geral torna 

o indivíduo apático, desinteressado, lento, desmotivado, com dificuldade em suportar 

tarefas elementares do quotidiano e com grande perda da capacidade de raciocínio e 

de tomar iniciativas.  

Em relação à Deficiência Mental, segundo a classificação da OMS  ‐  (Organização 

Mundial da  Saúde),  a  gravidade do quadro  seria  classificada  em  4 níveis: profundo, 

grave, moderado e leve. 

Não  são  os  três  níveis  mais  graves  de  Deficiência  Mental  a  preocupar  o 

diagnóstico  causal  das  DA.  Esses  pacientes  mostram  claramente  o  grau  de 

comprometimento intelectual que apresentam. O problema está na Deficiência Mental 

Leve,  às  vezes  limítrofe  entre  o  normal  e  o  sub‐normal.  Nestes  casos  o  aluno 

desenvolve‐se  sofregamente  durante  um  certo  tempo,  mas,  a  partir  de  um 

determinado nível de exigência mental começam a apresentar dificuldades. 

3 ‐ Quando há prejuízo da atenção 

Evidentemente a Perturbação de Hiperactividade e de Défice de Atenção (PHDA) é 

a  principal  situação  psiconeurológica  que  compromete  a  atenção  da  criança  ou 

adolescente.  Os  portadores  de  PHDA  são  frequentemente  rotulados  de 

"problemáticos", "desmotivados",  "malcriados", "indisciplinados", "irresponsáveis" ou, 

até mesmo e, erradamente, "pouco inteligentes". 

Pode haver  frequentes mudanças de uma  tarefa para outra, elas podem  iniciar 

uma  tarefa,  passar  para  outra,  depois  voltar  a  atenção  para  outra  antes  de 

completarem qualquer uma de suas incumbências. Estas crianças frequentemente não 

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respondem  a  solicitações  ou  instruções  e  não  conseguem  completar  os  trabalhos 

escolares, tarefas domésticas ou outros deveres.  

A Ansiedade Patológica na  Infância e Adolescência também 

interfere negativamente na atenção das crianças  (Fobia Escolar, 

Ansiedade  de  Separação).  Estas  crianças  podem  apresentar 

grande relutância ou recusa a irem à escola e, uma vez lá, ficam 

tão ansiosas que não conseguem prestar a atenção necessária.  

4 ‐ Quando há prejuízo na cognição 

4.1 ‐ Na apreensão da informação 

Qualquer  alteração  neuropsiquiátrica,  funcional  ou  orgânica,  suficiente  para 

comprometer o sistema sensorial, seja a nível periférico, como por exemplo, a surdez e 

a cegueira,  seja a nível central, como as  lesões cerebrais,  interfere  sobremaneira na 

apreensão dos estímulos. Evidentemente, se a pessoa não consegue ouvir ou ver, a sua 

aprendizagem estará seriamente comprometida. 

4.2 ‐ No processamento da informação 

A síntese das sensações que vêm do exterior sob a forma de estímulos, de forma a 

constituir percepções  conscientes do que  acontece  fora da pessoa,  dá‐se nas  zonas 

corticais  do  Sistema Nervoso Central  (SNC). A  anestesia,  surdez  ou  cegueira  podem 

resultar  da  lesão  de  um  órgão  sensorial  periférico,  do  nervo  que  leva  estas 

informações até o cérebro (nervos aferentes) ou de uma zona cortical do SNC, onde se 

projectam  essas  sensações.  Em  qualquer  das  circunstâncias  está  seriamente 

prejudicada a apreensão da informação. 

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PERTURBAÇÃO OBSESSIVO‐COMPULSIVO INFANTIL 

As “manias”, alguns tiques e pensamentos que não saem da cabeça podem fazer 

parte do quadro de Perturbação Obsessivo Compulsivo  (POC) e, embora este quadro 

tenha geralmente início na adolescência ou começo na idade adulta, ele pode aparecer 

na infância de forma tão comum como nos adultos. A idade de início costuma ser um 

pouco mais  precoce  nos  homens mas,  de  qualquer  forma,  cerca  de  33  a  50%  dos 

pacientes com POC referem que o início do transtorno foi na infância ou adolescência. 

As características principais do POC  são obsessões ou compulsões  recorrentes e 

suficientemente  graves  para  consumirem  tempo  ou  causar  sofrimento  acentuado  à 

pessoa. 

Com frequência o início da perturbação é gradual, mas em alguns casos pode ser 

agudo e a média de idade para o seu aparecimento é dos 6 aos 11 anos. A maioria dos 

indivíduos  tem  um  curso  crónico  de  vaivém  dos  sintomas,  com  exacerbações 

possivelmente relacionadas com a ansiedade, depressão e stress.  

O  conteúdo  das  obsessões  é muito  variado,  independente  da 

cultura,  as  ideias  podem  aparecer  sob  formas  de  pensamentos, 

frases,  imagens  ou  impulsos.  A  criança,  em  geral,  tenta  resistir  e 

livrar‐se  da  ideia  obsessiva  e  quando  tem  sucesso,  obtém  alívio 

apenas  temporariamente. Mas, de modo  geral,  a  ideia obsessiva  é 

sempre um pensamento ou ideia permanente na cabeça, mesmo contra a vontade do 

indivíduo e o grande esforço mental despendido ao tentar controlar os pensamentos 

pode ser exaustivo, e normalmente não é notado pelas outras pessoas.  

Pode  haver  um  medo  patológico  de  perder  o  controlo  e  realizar  algum  acto 

inadequado  socialmente;  envergonhar  pessoas,  engasgar‐se,  entornar  comida,  etc. 

Estes medos acabam por fazer a criança retrair‐se socialmente.  

As ideias obsessivas de sujidade e contaminação, normalmente andam à volta de 

pó, suor, urina, pêlos, sangue, germes, doenças, toxinas, etc. A criança pode ter ideias 

obsessivas  quanto  à  sua própria  auto‐estima,  achando‐se  suja, prostituta  (rapariga), 

homossexual (rapazes), pecadora entre outros. Podem existir temas impessoais como, 

por exemplo,  fazer  contas, problemas matemáticos,  figuras  geométricas,  solução de 

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quebra‐cabeças e enigmas, cadeados,  fechaduras,  joguinhos e outros dispositivos de 

segurança, ordenação dos mais variados objectos, determinadas palavras e números. 

De modo geral, é bom ter em mente que estas  ideias são as mais variadas possíveis, 

chegando ao limite do bizarro. 

A  compulsão  é  um  comportamento  sistemático,  repetitivo  e  intencional 

executado numa ordem pré‐estabelecida. A acção em geral não tem um fim próprio e 

procura prevenir a ocorrência de um determinado evento ou situação com conotação 

ameaçadora para o sujeito. Por exemplo: “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém 

de minha família terá cancro”... “se eu não tocar no objecto que vou levantar 2 vezes 

antes  de  pagar,  ele  pode  cair  no  chão  e  partir‐se”...  “se  eu  não  rezar  2  vezes  esta 

oração, o diabo leva‐me”.  

As atitudes compulsivas das crianças podem ser mal compreendidas pelos pais, os 

quais  tentam  corrigir  com  advertências,  castigos  ou  agressões.  É  difícil  também, 

algumas  vezes,  distinguir  um  tique  de  um  comportamento  compulsivo,  será 

aconselhado sempre fazer o despiste de POC. O acto compulsivo é precedido por uma 

sensação de urgência, seguida de alívio temporário da ansiedade após a realização do 

mesmo. A pessoa tem consciência que tais actos são  irracionais e não confere prazer 

na sua execução, apesar do ritual diminuir sua ansiedade. 

Nas  crianças  é  comum  a  dificuldade  em  relatar  e  descrever  os  sintomas, 

principalmente solicitar ajuda, o que dificulta o diagnóstico e o 

início do tratamento. 

As  mais  comuns  são  as  compulsões  de  limpeza  e 

descontaminação, como por exemplo, lavar repetidamente 

as  mãos,  roupas,  objectos  pessoais,  limpar,  lavar  ou  esterilizar  objectos  (roupas, 

sapatos, cadeiras, toalhas) que tenham sido “contaminados” de alguma forma. Isso dá‐

se através de lavagem das mãos, esterilização com álcool, banhos prolongados, rituais 

de  limpeza determinados, uso abundante desinfectantes. A compulsão de verificação 

diz  respeito  à  necessidade  imperiosa  e  involuntária  de  conferir  ou  examinar 

repetidamente, para estar seguro, determinados actos ou circunstâncias. Por exemplo, 

voltar  inúmeras  vezes  para  verificar  se  a  porta  está  fechada,  o  gás  desligado,  a  luz 

apagada,  a  janela  fechada,  a  gaveta  fechada,  etc.  Os  rituais  de  verificação  são 

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preventivos,  procurando  assegurar  que  nenhuma  catástrofe  irá  acontecer.  A 

compulsão  de  repetir  ou  tocar,  é muito  comum  também,  uma  vez  que  a  própria 

característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz muitas vezes para 

aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa, beijar inúmeras vezes uma imagem 

ou objecto sagrado para aliviar a ansiedade de que pode acontecer alguma coisa de 

mal,  etc. Com  frequência,  a  repetição  implica  um  número  definido  de  vezes. Assim 

uma pessoa pode  lavar as mãos 13 vezes, ou repetir uma oração 18 vezes. Os rituais 

compulsivos  implicam  repetir  de  maneira  precisa,  seguindo  regras  arbitrárias  e 

mágicas, praticamente litúrgicas. Compulsão de simetria e ordem “obriga” o individuo 

a  colocar  objectos  numa  ordem  e  simetria  pré‐determinadas,  como  por  exemplo, 

arrumar  as  camisas  pela  cor,  simetricamente  ou  uma  gaveta  obsessivamente 

organizada, ou os objectos sobre a mesa de modo pré‐estabelecido. 

Quando  se desconfia de POC os pais  (educadores) devem  tentar  identificar nas 

crianças a existência de  lesões cutâneas devido à  lavagem excessiva das mãos, gasto 

excessivo de sabão e papel, trejeitos e tiques, tempo excessivo para a realização das 

tarefas  (de  casa  e  da  escola),  buracos  nos  cadernos  ocasionados  por  apagar 

seguidamente,  solicitação  para  familiares  responderem  à  mesma  pergunta,  medo 

persistente e absurdo de doenças, aumento excessivo na quantidade de roupas para 

lavar,  tempo excessivo para  fazer  a  cama, medo persistente e  absurdo de que  algo 

terrível aconteça a alguém. 

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AGRESSIVIDADE E DESOBEDIÊNCIA 

A desobediência e o comportamento agressivo na infância, são duas das principais 

queixas dos pais e educadores, aparecem com frequência juntos na clínica infantil. 

Entende‐se por desobediência quando a criança se recusa a realizar aquilo que se 

pede, aquilo que se diz para não fazer ou deixar de fazer algo transgredindo uma regra 

estabelecida. 

Trata‐se  de  um  problema  com  grande  prevalência  na  infância,  no  entanto  é 

necessário ter em conta que são comportamentos que tendem a desaparecer com a 

idade, pelo que são  importantes aspectos como a frequência, duração e  intensidade, 

assim  como  o  grau  de  deterioração  familiar  e  social  para  estabelecer  a  difícil  linha 

entre  o  normal  e  o  patológico.  Quando  o  comportamento  de  desobediência  é 

extremamente  grave  recebe  o  nome  de  Perturbação  de  Oposição,  quando  essa 

gravidade  é  comportamental  recebe  o  nome  de  Perturbação  de  Comportamento 

(Conduta/Deliquência). 

O  comportamento agressivo  caracteriza‐se por  comportamentos específicos  tais 

como  um  comportamento  destrutivo, 

combativo, crueldade,  irritabilidade, desafio 

à  autoridade,  irresponsabilidade, 

necessidade  de  chamar  à  atenção,  baixos 

níveis  de  sentimento  de  culpa.  Este 

comportamento  é  frequente  na  infância  e 

começa  a  diminuir  por  volta  dos  4  ou  5  anos,  embora  em  algumas  crianças  possa 

manter‐se  durante  mais  tempo.  Alguns  autores  afirmam  que  um  comportamento 

demasiado  agressivo  na  infância  pode  ser  um  claro  sinal  de  um  intenso 

comportamento agressivo na idade adulta. 

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PERTURBAÇÃO DO COMPORTAMENTO 

Dentro  da  psiquiatria  da  infância  e  da  adolescência,  um  dos  quadros  mais 

problemáticos  tem  sido o  chamado Perturbação de Comportamento  (PC), o qual  se 

caracteriza por um padrão repetitivo e persistente de conduta anti‐social, agressiva ou 

desafiadora, por um período mínimo de seis meses.  

Para  ser  considerado  uma  PC,  este  tipo  de  comportamento  problemático  deve 

alcançar violações  importantes, além das expectativas apropriadas à  idade da pessoa 

e,  portanto,  de  natureza mais  grave  que  as  partidas  ou  a  rebeldia  normal  de  um 

adolescente. Este  tipo comportamento delinquente parece preocupar muito mais os 

outros do que a própria criança ou adolescente que sofre da perturbação.    

O  indivíduo não  tem em consideração os  sentimentos, direitos e bem‐estar dos 

outros,  faltando  um  sentimento  apropriado  de  culpa  e  remorso  que  caracteriza  as 

"boas pessoas". Normalmente há uma demonstração de  comportamento  insensível, 

podendo acusar os colegas e tentar culpar qualquer outra pessoa ou circunstâncias por 

eventuais más acções. A baixa tolerância a frustrações das pessoas com PC favorece as 

crises de irritabilidade, explosões temperamentais e agressividade exagerada. 

 Entende‐se  por  "baixa  tolerância  a  frustrações"  uma  incapacidade  em  tolerar 

dificuldades  existenciais  comuns  a  todas  as  pessoas  que  vivem  em  sociedade,  uma 

falta de  capacidade em  lidar  com os problemas do quotidiano ou  com  as  situações 

onde as coisas não acontecem do modo esperado. 

Estas  crianças  ou  adolescentes  costumam  apresentar  precocemente  um 

comportamento violento, reagindo agressivamente a tudo e a todos, supervalorizando 

o seu exclusivo prazer, ainda que em detrimento do bem‐estar alheio.  

Elas  podem  também  exibir  um  comportamento  de  provocação,  ameaça  ou 

intimidação, podem iniciar lutas corporais frequentemente, inclusive com eventual uso 

de  armas  ou  objectos  capazes  de  provocar  dano  físico,  como  por  exemplo,  tacos  e 

bastões, tijolos, garrafas, facas ou arma de fogo.  

Outra característica é a crueldade com outras pessoas e/ou com animais.  

As  perturbações  do  comportamento  acabam  por  causar  graves  prejuízos  no 

funcionamento  social,  escolar  ou  ocupacional,  favorecendo  uma  espécie  de  círculo 

vicioso:  perturbação  de  conduta,  prejuízo  sócio‐ocupacional,  repressões  sociais, 

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rebeldia, mais perturbação de conduta. O PC é um diagnóstico especialmente  infantil 

ou  da  adolescência  pois,  depois  dos  18  anos,  persistindo  os  sintomas  básicos 

(contravenção),  o  diagnóstico  deve  ser  alterado  para  Perturbação  da  Personalidade 

Anti‐Social.    

Não se sabe ainda uma causa única para o PC. Uma multiplicidade de diferentes 

tipos de stressores sociais e a vulnerabilidade de personalidade parece associado com 

estes  comportamentos  anti‐sociais.  Durante  muitos  anos,  as  teorias  sobre 

comportamentos  eram  de  natureza  sociológica.  Certamente  influencia  no 

desenvolvimento de uma PC as atitudes e comportamentos  familiares, assim como a 

exclusão  sócio‐económica,  a  inversão  dos  valores,  a  desestrutura  familiar  e  um 

número de ocorrências sociais, políticas e económicas referidas por investigadores das 

mais variadas áreas.   

 

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EFEITO DE VIVÊNCIAS TRAUMÁTICAS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 

Tem  havido  solicitação  crescente  aos  profissionais  da  saúde mental  o  estudo, 

conduta e intervenção nas necessidades de crianças e adolescentes expostos a eventos 

traumáticos  individualmente  ou  em  grupo.  Alguns  estudos  revelam  que  crianças  e 

adolescentes  têm  alto  risco  de  desenvolver  diferentes  problemas  comportamentais, 

psicológicos  e  neurobiológicos  como  consequência  de  vivências  traumáticas  ou 

experiências de vida stressantes. 

Cada vez mais se analisam as variedades de eventos traumáticos precoces ou em 

tenra idade e sua verdadeira importância no desenvolvimento de quadros conhecidos 

como Perturbação de Stress Pós‐Traumático, Perturbação de Ansiedade, Depressivos 

ou mesmo  nos  sintomas  de  luto  traumático  das  crianças.  Apesar  da  dedicação  de 

muitos  investigadores,  ainda  faltam  estudos  bem  desenhados  e  cientificamente 

expressivos para análise dos sintomas, quadro clínico, consequência e tratamento da 

Perturbação de Stress Pós‐Traumático em crianças e adolescentes.  

O que se observa na clínica diária, é que algumas crianças e adolescentes vítimas 

de  traumas  adaptam‐se  e  recuperam  de  maneira  surpreendente,  apesar  da 

experiência pela qual passaram ou que testemunharam. Portanto, constata‐se através 

da revisão de pesquisas sobre o tema, existir uma grande variedade de respostas aos 

eventos  traumáticos  em  crianças  e  adolescentes  e,  assim,  fica  cada  vez mais  difícil 

atribuir as consequências e emoções posteriores a uma 

causalidade vivencial precoce.  

A  pergunta  que  se  faz  é  se  existiriam,  e  quais 

seriam,  os  factores  protectores  individuais,  fazendo 

com que algumas pessoas pareçam menos vulneráveis 

que outras em relação às vivencias traumáticas. 

Discute‐se se existe uma personalidade mais  imune às vivências  traumáticas ou, 

por outro  lado, se o apoio social e  familiar seria o  factor decisivo para estas crianças 

recuperarem, impedindo assim uma consequência mais patológica do trauma.  

Num estudo com 109 adolescentes que sofreram abuso sexual,  incluindo toques 

sexuais,  beijos,  carícias  nas  mamas  ou  nos  genitais,  tentativas  de  penetração  e 

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penetração  por  alguém  da  família  ou  de  fora  dela,  50%  tiveram  diagnóstico  de 

Perturbação de Stress Pós‐Traumático, aproximadamente 33% foram assintomáticas e 

o restante teve outros problemas não significativos do ponto de vista sintomático (Bal, 

2004).  Ora,  ao  contrário  do  que  poderíamos  pensar,  não  é  a  expressiva  e maciça 

maioria  das  crianças  submetidas  a  traumas  que  desenvolve  transtornos  emocionais 

significativos. 

Isto  leva‐nos a crer que existem outros  factores e variáveis que  influenciam nas 

respostas  emocionais  aos  traumas,  como  por  exemplo,  características  da 

personalidade,  sensibilidade  afectiva  e  emocional  individual,  a  estrutura  de  apoio 

familiar e social e, obviamente, a própria natureza do trauma. 

O  maior  volume  de  pesquisas  sobre  o  impacto  psicológico  dos  traumas  em 

crianças e adolescentes, entretanto, concentra‐se nos abusos, maus‐tratos e violência 

doméstica em geral. Com diferentes graus de adaptação e recuperação, crianças que 

sofreram  abuso  e maus‐tratos  correm maior  risco  de  desenvolverem  os  seguintes 

quadros:  Perturbação  de  Stress  Pós‐Traumático,  Alexitimia,  Perturbação  de  humor, 

Abuso  de  drogas,  Problemas  de  Comportamento  Sexual,  Dissociação  Psicológica  e 

Somatizações. 

É  grande o número de pesquisas  sobre  efeitos de  experiências  traumáticas  em 

crianças e adolescentes, porém, da mesma  forma que algumas pesquisas apontam o 

desenvolvimento  de  transtornos  emocionais  depois  dessas  experiências  outras 

pesquisas falam em não consequências ou até em consequências positivas, como é o 

caso do chamado “crescimento pós‐traumático”.  

De  qualquer  forma,  um  facto  relevante  é  que  nem  todas  as  crianças  e 

adolescentes  submetidos  a  experiências  traumáticas  desenvolvem  graves 

consequências.  

Também  têm  sido  feitas  pesquisas  no  que  concerne  a  alterações  orgânicas 

provocadas  pelas  experiências  traumáticas.  Além  destas  eventuais  alterações 

endócrinas,  também  se  tem  relacionado  as  experiências  traumáticas  e  stress  a 

alterações funcionais e/ou anatómicas do Sistema Nervoso Central. 

De maior  relevância  são  as  variáveis  pessoais  e  culturais  que  influenciam  nas 

respostas  às  experiências  traumáticas.  As  variáveis  pessoais  dizem  respeito  à 

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constituição  da  própria  personalidade  e  a  ocorrência  de  transtornos  emocionais 

prévios e predisposições para os mesmos. Esta hipótese acaba por atribuir à pessoa 

uma  importância maior  que  à  vivência,  pelo menos  na maioria  dos  casos.  Não  se 

consegue  provar  que  indivíduos  são  sociopatas  devido  a  experiências  traumáticas 

sofridas  precocemente,  por  exemplo.  Nem  que  as  crianças  são  hiperactivas  por 

carência afectiva. Tudo isto parece mais relacionado com o DNA do que com o destino. 

Existem  experiências  fortemente  traumáticas  capazes  de  mobilizar  grande 

número de pessoas, como é o caso de catástrofes naturais e situações produzidas pelo 

ser  humano,  como  as  guerras,  terrorismo  e  violência  de  grandes  proporções.  Estas 

experiências,  sem  dúvida,  podem  produzir  mazelas  emocionais  significativas  em 

grande  número  de  crianças,  adolescentes  e  adultos.  Mesmo  assim,  estas 

consequências não aparecerão em 100%. 

Já as consequências das experiências  traumáticas particularmente vividas, como 

perdas  pessoais  ou  separações  conjugais  deverão  ser melhor  investigadas,  uma  vez 

que as variáveis são muitas, assim como são muitas as maneiras das pessoas reagirem 

a  elas.  Inclusive,  parece  que  em  determinadas  circunstâncias  as  crianças  reagem 

melhor que os adultos. 

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