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Leonardo dos Santos Silva DANO MORAL ADVINDO DO ACIDENTE DE TRABALHO Centro Universitário Toledo Araçatuba 2010

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Leonardo dos Santos Silva

DANO MORAL ADVINDO DO ACIDENTE DE TRABALHO

Centro Universitário Toledo Araçatuba

2010

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Leonardo dos Santos Silva

DANO MORAL ADVINDO DO ACIDENTE DE TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito á Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo sob a orientação do Prof. Mauricio de Carvalho Salviano.

Centro Universitário Toledo Araçatuba

2010

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Banca Examinadora Exmo. (a): Exmo. (a): Marcus Vinicius F. H. Xavier Orientador: Mauricio de Carvalho Salviano Araçatuba, ____/____/ 2010.

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Resumo

O dano moral faz parte das mais antigas civilizações. O mesmo foi se

desenvolvendo e sendo aceito por diversas legislações e sua indenização sendo apenas

baseada na indenização pecuniária. O dano moral no Brasil, somente foi aceito expressamente

com a Constituição de 1988 em seu artigo 5º incisos V e X e consagrado com o Código Civil

de 2002. Apesar disso no âmbito do Direito do Trabalho, houve uma maior dificuldade em

aceita-lo, devido a varias dúvidas acerca do tema, tais como: critérios para fixação da

indenização, competência para julgar, entre outras. Tais indagações foram solucionadas e

pacificadas pela jurisprudência, doutrina e com a Emenda Constitucional 45/2004, que se

posicionam na aplicação e apreciação do dano moral na Justiça do Trabalho.

Palavras chaves: acidente do trabalho; responsabilidade civil; dano moral; indenização; e

competência.

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Abstract

The moral damage is part of the oldest civilizations. It was evolving and

being accepted by various laws and their compensation is only based on monetary

compensation. The moral damage in Brazil was only accepted expressly with the 1988

Constitution in its Article 5 incised V and X and devoted to the Civil Code of 2002.

Nevertheless under the Labor Law, there was greater difficulty in accepting it because of

several questions about the subject, such as setting criteria for the indemnity, jurisdiction

over, among others. These questions were addressed and pacified by case law, doctrine and

the Constitutional Amendment 45/2004, which are positioned in the implementation and

assessment of material damage in the Labor Court.

Key words: occupational accident, liability; damage morale; indemnification; and

competence.

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Lista de Abreviaturas e Siglas

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organizações das Nações Unidas

Nº Número

Art. Artigo

STJ Superior Tribunal de Justiça

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CC Código Civil

RT Revistas dos Tribunais

NR’s Normas Regulamentadoras

CF Constituição Federal

CFM Conselho Federal de Medicina

CPP Código de Processo Penal

CPC Código de Processo Civil

EC Emenda Constitucional

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................07

ACIDENTE DO TRABALHO

1.1 Breve Histórico ........................................................................................................ 09

1.2 Conceito de Acidente de Trabalho........................................................................... 10

1.3 As Leis Acidentarias ................................................................................................ 11

1.4 A Legislação Acidentaria Brasileira ........................................................................ 12

1.5 Doença do Trabalho ................................................................................................. 14

1.6 Causalidade Indireta................................................................................................. 16

1.7 Doenças Profissionais .............................................................................................. 18

1.8 Acidente Típico........................................................................................................ 19

1.9 Acidente de Trajeto .................................................................................................. 20

1.10 Concausas ............................................................................................................... 21

II. RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 Responsabilidade Civil e sua Classificação ............................................................. 22

2.2 Responsabilidade Contratual.................................................................................... 22

2.3 Responsabilidade Extracontratual............................................................................ 24

2.4 Responsabilidade Civil Subjetiva............................................................................. 24

2.5 Responsabilidade Civil Objetiva .............................................................................. 27

2.6 Elementos da Responsabilidade Civil ...................................................................... 28

2.6.1 Nexo Causal..................................................................................................... 28

2.6.2 Excludentes do Nexo Causa ............................................................................ 30

III. DANO MORAL

3.1 Conceito ................................................................................................................... 33

3.2 Evolução e Abrangência .......................................................................................... 33

3.3 Diferença entre Dano Material e Dano Moral.......................................................... 35

3.4 Elementos para a Caracterização do Dano Moral .................................................... 36

3.5 O Dano Moral nas Relações de Trabalho e no Acidente de Trabalho ..................... 37

3.6 Critérios para fixação da Indenização ...................................................................... 39

IV. JUSTIÇA COMPETENTE

4.1 Competência Judicial ............................................................................................... 41

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................47

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INTRODUÇÃO

O trabalho monográfico a seguir vem dispor sobre o dano moral advindo do

acidente de trabalho.

O tema possui alguns pontos de divergências e especulações tanto pela

doutrina ou jurisprudência, ocasionados pela falta de legislação especifica quanto ao dano

moral.

O dano moral no acidente de trabalho busca resolver os problemas do

cotidiano dos empregados que sofrem abusos morais de todas as formas possíveis. Devido a

essas freqüências de abuso que vêm ocorrendo no trabalho, o tema abordado está ganhando

espaço na mídia, e mostrando que não existe mais tolerância para a seguinte questão.

Uma das finalidades primordiais do direito do trabalho é propiciar o respeito

á dignidade do trabalhador.

O tema é tratado pela Constituição Federal, pela Consolidação das Leis do

Trabalho e pelo Código Civil. Anteriormente a promulgação da Constituição Federal de 1988,

a CLT já se falava em reparação de danos, mas tratava somente de uma reparação material,

como forma de multa paga ao empregado. Após a promulgação, o sistema jurídico brasileiro

sofreu algumas modificações, e foram adotados alguns principio que passaram a dar mais

valor á vida, a dignidade do ser humano e principalmente ao empregado.

Com isso então surgiu o dano moral, como uma forma de indenização, para

reparar possíveis danos causados a honra e a dignidade do trabalhador.

A partir daí então, surgiram diversas discussões sobre o tema, uma vez que a

CLT é omissa no que tange o dano moral, tendo que partir do pressuposto da analogia do

direito. A Constituição Federal, como sendo a Carta Magna, e prepondera sobre todos os

demais ramos do direito então permitiu a analogia, onde se pode admitir o dano moral, pode-

se verificar da competência da justiça do trabalho para dirimir quaisquer danos ocasionados

na relação laboral.

Outro tema que será abordado é a questão da responsabilidade do

empregador. O Código Civil atual trouxe uma novidade a respeito desta questão. A

responsabilidade objetiva, que gera também divergência de opiniões entre os magistrados,

doutrinadores e advogados. Uma vez que se tem a chamada responsabilidade subjetiva do

empregador, e esse ponto é de extrema importância, pois se resume em praticamente todo

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tema. A diferença esta entre a culpa do empregador, caso em que será subjetiva, o

empregador, responde pelos danos, porem com culpa, podendo se defender, ou parte do

pressuposto de que a responsabilidade objetiva do empregador independe de culpa do

empregador, não é exercido nem mesmo o direito de defesa, de contradição, ocorreu um fato,

o empregador é inteiramente responsável, caso este portanto que gera a grande discussão pelo

pensadores do direito.

E por fim, verificaremos o cabimento então do dano moral advindo do

acidente de trabalho.

I – ACIDENTE DO TRABALHO

1.1 – Breve Histórico

No Brasil, o trabalho sempre foi explorado desordenadamente, e, durante

muito tempo, a mão-de-obra regida ficou sobre o amparo da escravatura. Desde o inicio da

nossa colonização, até o final do século passado, o destino do trabalhador ficava entregue ao

livre arbítrio dos poderosos, muito embora, até os dias atuais, ainda existam reflexos, em

algumas regiões menos desenvolvidas, onde o rurícola principalmente vive sob a tutela do

latifundiário, que não cumpre a lei se esta lhe obstar vantagens econômicas.

Com o ciclo da cana-de-açúcar, iniciou-se a fixação no solo brasileiro, para

a qual era imprescindível a presença constante do Senhor de engenho, aristocrata europeu, e a

do colono na lavoura. Inicialmente o trabalho mais pesado era desenvolvido pelo indígena,

que, por sua formação sedentária e o espírito nômade, não se assimilou á nova vida.

Acostumado a aproveitar as condições naturais que olhe oferecia o Gigante, vivia em regiões

selvagens, alimentando-se da caça, pesca e alimentos naturais. Forte, tornava-se fraco no

trabalho diário. Adoecia com freqüência e morria cedo, quando não fugia. Enfim não produzia

o suficiente para satisfazer a ansiedade do senhor do engenho.

A importação dos escravos, que, em pouco tempo, substituíram o trabalho

do índio. O negro africano era também forte fisicamente, resistia ao trabalho forçado e se

subjugava com mais facilidade. Por isso, da África, iniciou-se a importação do negro africano

para trabalhar na lavoura.

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Nos dias atuais a nossa agricultura, tendo em vista a fertilidade do solo e o

clima favorável, é uma das mais importantes do mundo. Nossos produtos são de alta

qualidade e, por isso tornando-se competitivo no mercado internacional. Figuramos entre os

maiores exportadores de soja, cacau, algodão, cana de açúcar, milho e laranja, dentre outros.

Antes do advento da Primeira Guerra Mundial, a indústria brasileira

praticamente inexistia. A figura do artesão predominava na transformação de algumas

matérias primas regionais, sendo totalmente importada a produção industrial.

Aos pouco a indústria nacional se desenvolveu; inicialmente importava

know-how (técnica, conhecimento) procurando assimilar a técnica estrangeira e adaptando-a

ás peculiaridades locais.

No que tange as principais vitórias, aos poucos o trabalhador foi

organizando-se e conquistando direitos, concretizados através de leis. Normalmente, o homem

produz durante um determinado tempo, dependendo de suas condições físicas e de saúde.

Após esse período de trabalho, tem direito de descansar e obter condições legais de

aposentadoria. Todavia, durante esse período de atividade, o trabalhador esta sujeito a sofrer

acidentes, ou então a adquirir doenças, provocadas em virtude de sua atividade laboral. Surge,

então, o que o doutrinador denominou acidentes do trabalho, matéria que objetiva proteger o

obreiro acidentado no exercício de sua profissão legal.

Com o ocorrer dos dias a legislação foi aprimorando-se e os trabalhadores

conquistaram, principalmente através de criação pretoriana, direitos, hoje firmados na

jurisprudência e garantidos pelas legislações em vigor.

1.2 – Conceito de Acidente de Trabalho

O estudo infortunística sugere que seja definido como “acidente sofrido pelo

trabalhador, a serviço da empresa, e que ocorre pelo exercício do trabalho, provocando lesão

corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte, a perda ou redução permanente

ou temporária da capacidade para o trabalho”, conforme dispõe o art. 164 do decreto nº.

77.077 de 24 de janeiro de 1976.

O art. 19 da Lei nº. 8.213 conceitua acidente do trabalho como “o que

ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos

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segurados especiais (trabalhadores rurais, o pescador artesanal, e o índio que exercer atividade

rural), provocando lesões corporais ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou

redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.

É preciso que, para existência do acidente do trabalho, exista um nexo entre

o trabalho e o efeito do acidente. Esse nexo de causa e efeito é tríplice, pois envolve o

trabalho, o acidente, com a conseqüente lesão, e a incapacidade, resultante da lesão.

Inexistindo essa relação de causa e efeito entre o acidente e o trabalho, não

se poderá falar em acidente do trabalho. Mesmo que haja lesão, mas que esta não venha a

deixar o segurado incapacitado para o trabalho, não haverá direito a qualquer prestação

acidentária.

É mister também, que ocorra um nexo causal entre a contingência e o

trabalho, resultando na lesão com a conseqüente incapacidade do operário para o trabalho,

seja ela temporária ou definitiva. É o que chama de “causalidade direta”, “acidente tipo” ou

“acidente típico”.

1.3 – As Leis Acidentárias

Em meados do século XX, com o grande desenvolvimento na

industrialização, aumentou o número de mutilados e mortos oriundos de acidente de trabalho,

surgindo assim à necessidade de proteger os acidentados, bem como seus dependentes. Com

isso, a Alemanha, em 1884, instituiu a primeira lei especifica a respeito dos acidentes de

trabalho, cujo modelo logo se expandiu pela Europa.

A necessidade de consagração das medidas efetivas de proteção e

propagação da legislação social trabalhista, de maneira a assegurar o dever do Estado de

intervir nas relações de trabalho e garanti um mínimo de direitos irrenunciáveis aos

trabalhadores, motivou o desenvolvimento do direito do trabalho e originou as primeiras

convenções internacionais, em 1905.

Em 1919 foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo

Tratado de Paz (Tratado de Versailles), com a finalidade de proteger o trabalhador, com

objetivos amplos e variados, dentre os quais se destacam a prevenção ao acidente de trabalho

e a adaptação do meio ambiente do trabalho ás capacidades físicas e mentais dos

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trabalhadores, ás formas de organização racional de trabalho, á ergonomia e ás condições do

meio onde vive o trabalhador (habitação, alimentação, saúde, educação, os serviços sociais,

lazer, etc). (BRANDÃO, 2006, p.52)

Esse organismo foi visto como um dos primeiros marcos do processo de

internacionalização dos direitos humanos, vindo a atender três preocupações fundamentais: as

humanitárias, as políticas e as econômicas.

No final do ano de 1920 nasceram as primeiras iniciativas voltadas para

formação do conceito de prevenção dos acidentes de trabalho, a partir das causas e

circunstancias em que ocorreram (Recomendação nº 31, de 1929: reparação de acidentes de

trabalho e de doenças profissionais).

A ação normativa da OIT avançou cada vez mais em direção á

implementação de uma política abrangente no sentido de assegurar a efetiva proteção do

trabalhador, surgindo assim às primeiras normas de medidas de prevenção com a finalidade

de protegê-los.

Em 10/12/1948 foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos

da Organização das Nações Unidas (ONU), a qual incorporou a dignidade humana como

direito fundamental vindo mais tarde assegurar garantias dirigidas á proteção do homem.

Em dezembro de 1966 foi celebrado o Pacto Internacional sobre os Direitos

Econômicos Sociais e Culturais, da ONU, o qual regulamentou os direitos humanos

fundamentais criando obrigações para os Estados no plano internacional responsabilizando-os

em caso de violação.

Em 1981 foi aprovada a Convenção nº 155, com vigência no plano

internacional em 11/08/1983. Tal convenção abordou os elementos físicos e mentais que

afetam a saúde do trabalhador, os quais estão diretamente ligados ao meio ambiente do

trabalho, assegurando ao empregado o direito de interromper o trabalho caso este acarrete

perigo iminente ou gravidade para a sua vida.

Em 1988, o Protocolo de San Salvador da Organização dos Estados

Americanos (OEA), buscou garantir o reconhecimento e a efetiva proteção dos direitos

humanos, sociais e culturais, na esfera do Sistema Interamericano de Direitos Humanos e

incluiu entre eles o direito do trabalho.

1.4 – A legislação Acidentaria Brasileira

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A legislação brasileira foi construída com sete etapas, sendo estas as mais

significantes ao longo do século XX, até atingir a norma legal em vigor atualmente.

(OLIVEIRA, 2005, p.30/33).

A primeira Lei acidentária brasileira – Decreto Legislativo nº 3.724, de 15

de janeiro de 1.919, onerou o empregador com a responsabilidade pelo pagamento das

indenizações acidentárias. Fundamentada na teoria da responsabilidade extracontratual ou

aquiliana do empregado, vinculava a indenização á efetiva prova da culpa.

A segunda Lei acidentária - Decreto Legislativo nº 24.637, de 10 de julho de

1.934, ampliou o conceito de acidente para incluir as doenças profissionais atípicas

estabelecendo a obrigação do seguro privado ou o depósito em dinheiro junto ao Banco do

Brasil ou Caixa Econômica Federal, para garantia do pagamento das indenizações, cujo valor

variava de acordo com o numero de empregados.

A terceira Lei acidentária – Decreto-lei nº 7.036, de 10 de novembro de

1944, dispõe que:

Art. 3º - Considera-se caracterizado o acidente, ainda quando não seja ele a causa única e exclusiva da morte ou da perda ou redução da capacidade do empregado, bastando que entre o evento e a morte ou incapacidade haja uma relação de causa e efeito.

É nítida a ampliação do conceito de acidente de trabalho, definindo-o a

partir de sua causa e não mais de seu efeito, incorporando a teoria das concausas previu a

responsabilidade do empregador quanto aos danos ocasionados por terceiros, ou decorrentes

de caso fortuito ou força maior, incorporou o acidente in itinere (ocorrido no trajeto ao

trabalho); instituiu obrigação para o empregador de fornecer aos seus empregados à máxima

segurança e higiene no trabalho, e o dever para o empregado de cumprir as normas de

segurança mandadas pelo empregador (art. 77 e 79).

A quarta Lei acidentária – Decreto-lei nº 293, de 28 de fevereiro de 1967,

representou um grande retrocesso ao tratar da responsabilidade por acidente de trabalho, mas

teve duração de apenas seis meses. Atribuiu ao seguro acidente um caráter exclusivamente

privado, permitindo á Previdência Social operar em concorrência com as entidades

seguradoras privadas.

A quinta Lei acidentária – Lei nº 5.316, de 14 de dezembro de 1967 –

transferiu ao Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) o seguro de acidente de

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trabalho, por meio de monopólio, e criou plano especifico de benefícios previdenciários

acidentários, estendendo a proteção aos trabalhadores avulsos e presidiários.

A sexta Lei acidentária – Lei nº 6.367, de outubro de 1.976, inovou a lei

anterior ampliando a cobertura para alcançar os trabalhadores temporários, e incluindo a

doença proveniente da contaminação acidental do pessoal da área médica como situação

equiparada a acidente de trabalho.

A sétima Lei acidentária – Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 – é a que

vigora atualmente. Esta lei criou estabilidade para o trabalhador vítima de acidente de

trabalho (art. 118). Também excluiu o auxilio suplementar, fixando o auxilio acidente em

30% , 40% e 60%; suprimiu o abono de permanência em serviço, a renda mensal vitalícia

para os idosos e inválidos, o auxílio funeral, a exigência de carência na concessão de pensão

por morte, auxílio reclusão, aposentadoria por invalidez e auxílio doença. O trabalhador rural

foi incluído no Regime Geral de Previdência Social. Os aspectos centrais do acidente do

trabalho estão disciplinados nos arts. 19 a 23, com regulamentação pelo Decreto nº

3.048/1999. Após a Lei 9.032/05, os benefícios do acidentado praticamente foram

equiparados aos benefícios previdenciários.

Para Alexandre de Moraes, a inclusão dos direitos sociais na classificação

dos Direitos fundamentais previstos na Constituição, tem como finalidade a melhoria das

condições de vida dos hipossuficientes, visando à concretização de igualdade social, um dos

fundamentos do Estado Democrático de direito, também nela previsto. (MORAES, 2002, p.

164/165).

1.5 – Doença do Trabalho

Para Humberto Theodoro Junior, “são doenças, que, no entanto, numa

determinada hipóteses, foram, excepcionalmente, geradas pelas condições momentâneas do

trabalho”. (THEODORO JUNIOR, 1987, p.7).

O artigo 19 da Lei n. 8.213/91 conceitua o acidente do trabalho como aquele

que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos

segurados referidos no inciso VII do art. 11 da mesma Lei, que provoca lesão corporal ou

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perturbação funcional, causando a morte, a perda ou a redução permanente ou temporária da

capacidade para o trabalho.

São considerados também acidentes de trabalho: I – o acidente ligado ao

trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte

do segurado, para a perda ou redução de sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão

que exija atenção medica para a sua recuperação; II – o acidente sofrido pelo segurado no

local e no horário de trabalho em conseqüência de: a) ato de agressão, sabotagem ou

terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional,

inclusive de terceiros, por motivo de disputa relacionada com o trabalho; c) ato de

imprudência, de negligencia ou de imperícia de terceiro, ou de companheiro de trabalho; d)

ato de pessoa privada do uso de sua razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros

casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III – a doença proveniente de contaminação

acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV – o acidente sofrido pelo segurado,

ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de

serviços sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço á

empresa par lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa,

inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor

capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive

veiculo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local do trabalho, ou

deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive do próprio segurado. Nos

períodos destinados a refeição ou descanso ou para a satisfação de outras necessidades

fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do

trabalho. Não é considerada agravação ou complicação de acidente de trabalho a lesão que,

resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha ás conseqüências do

anterior.

Certamente, se um segurado sofrer trincamento, por exemplo, de um dos

ossos do braço no exercício regular de sua atividade, o fato será considerado acidente do

trabalho. Todavia, não será considerada como agravação de acidente de trabalho a lesão

sofrida pelo segurado, ao praticar esporte que nada tem que ver com a empresa, quando ainda

convalescente de lesão, no mesmo local, que foi considerada acidente de trabalho.

Assim resume Mauro César Martins de Souza: “Em suma, tem-se por regra

genérica que ocorre acidente do trabalho quando o fato gerador do infortúnio é abrangido

pelas hipóteses constantes dos arts. 19 e 21 da Lei 8.213/1991”, (2000, p.51).

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Conclui-se, portanto, que acidente do trabalho é o gênero do qual são

espécies o acidente típico e as doenças ocupacionais.

Sebastião Geraldo de Oliveira comenta que acidente típico e enfermidade

(doença ocupacional) são conceitos distintos, vez que aquele “caracteriza-se pela ocorrência

de um fato súbito e externo ao trabalhador”, (2007, p. 46).

Oswaldo e Sílvia Optiz (1988, p. 22), diferenciam acidente e doença do

seguinte modo:

“Distinguem-se sob dois aspectos: etiológico e cronológico. Caracteriza-se, em regra, o acidente pela subtaneidade e a violência, na expressão da Lei de 1919. Ao passo que, na doença, isso não ocorre, porque é um processo que tem certa duração, embora se desencadeie num momento certo, provocando a lesão corporal ou a perturbação funcional e até mesmo a morte. Pode-se acrescentar, ainda, mais um elemento diferenciador, qual seja a sua causa, que no acidente-tipo é externa, quando, quase sempre, na doença, ela se apresenta internamente devido ao processo silencioso peculiar a toda moléstia orgânica do homem.”

Não são consideradas como doenças do trabalho: a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário, como osteoporose, esclerose, etc; c) a que não produz

incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurados habitantes de regiões

em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que resultou de exposição ou contato direto

determinado pela natureza do trabalho. É o que ocorreria com doenças como malária, febre

amarela, que ocorrem na Amazônia, ou dengue, salvo comprovação de que resultou de

exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Sendo transparente que, mesmo não estando relacionada entre as doenças do

trabalho, se o segurado adquirir a moléstia em função de sua atividade profissional, será

considerado acidente de trabalho.

Assim, por exemplo, será considerado acidente de trabalho a contaminação

de uma enfermeira pelo vírus HIV, mesmo não estando a AIDS relacionada entre as doenças

do trabalho. Ou, então, se um trabalhador, ao doar, sangue, adquire a doença, estando em seu

horário de trabalho, esta será considerada também acidente de trabalho.

1.6 - Causalidade Indireta

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O art. 21 da Lei nº. 8.213 equipara também ao acidente do trabalho outras

hipóteses em que o segurado venha a sofrer uma lesão que é relacionada com sua atividade

laboral. É chamada causalidade indireta. São equiparados ao acidente do trabalho os seguintes

casos: a) o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário de trabalho, proveniente de: 1)

ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiros ou companheiro de trabalho;

2) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada com o

trabalho; 3) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiros, ou de

companheiro de trabalho; 4) ato de pessoa privada do uso da razão; 5) desabamento,

inundação, incêndio e outros casos fortuitos decorrentes de forca maior. b) a doença

proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; c) o

acidente sofrido, ainda que fora do local e horário de trabalho: 1) na execução de ordem ou na

realização de serviços sob a autoridade da empresa. Nesse item pode ser enquadrado o

acidente do empregado que portava BIP, pois não importa se o acidente ocorreu fora do local

e do horário de trabalho. Assim, se o empregado estiver portando BIP e ocorrer o acidente,

terá direito aos benefícios dele decorrentes, pois se encontrava á disposição do empregador

aguardando ordens, segundo o art. 4º da CLT. Entretanto, melhor examinando a questão,

entendemos que o fato de o empregado portar BIP não implica hora de “sobreaviso”, para se

aplicar por analogia o § 2º do art. 244 da CLT, pois o empregado não tem privada a sua

liberdade de locomoção, de modo a ficar exclusivamente na sua residência aguardando ser

chamado, como ocorre no “sobreaviso”. O trabalhador não está exatamente executando

ordens ou realizando serviço. Logo, não se pode considerar o trabalhador que porta BIP como

á disposição do empregador, nem se poderá falar em acidente do trabalho, se ocorrer o

infortúnio; 2) na prestação espontânea de qualquer serviço á empresa para lhe evitar prejuízo

ou proporcionar proveito; 3) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando

financiada por esta, dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra,

independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do

segurado; 4) no percurso da residência para o local de trabalho deste para aquela, qualquer

que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. É o que se

chama de acidente in itinere.

Verificamos que a lei determina que outras hipóteses podem desencadear o

acidente do trabalho, ainda que indiretamente. Esses eventos podem ocorrer tanto no local e

no horário do trabalho, como fora destes. Vem também à lei a estender o acidente do trabalho

para aquele evento ocorrido no percurso da residência do empregado para o local de trabalho

e vice versa, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veiculo de propriedade do

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segurado. Chama-se a isso de acidente in itinere, ou aquele ocorrido no percurso entre a

residência e o trabalho e para a sua volta, vindo a incapacitar o obreiro para o trabalho.

Se o empregado é assaltado no percurso para o trabalho e morre, existe o

acidente do trabalho, pois a lei reconhece o acidente de trajeto.

Ocorre também o acidente in itinere quando o empregado vai fazer o

intervalo legal ou quando dele retorna para a empresa.

Não se exige que o colaborador preste direta e imediatamente o serviço na

ida e volta ao trabalho. A exigência decorre da existência de um contrato de trabalho. Se,

embora suspenso o contrato de trabalho, o empregado comparece ao empregador para cuidar

de assuntos atinentes ao pacto laboral, como entrega de documentos exigidos pelo

empregador, considera-se como acidente de trajeto se a empregada vai ate sua residência

buscar esses documentos exigidos pela empresa. Da mesma forma, caracteriza-se o acidente

do trabalho no evento ocorrido em dia útil, em horário comercial, quando o trabalhador exerce

atividade sindical, sem desvinculação com a empregadora. No caso não houve suspensão ou

interrupção do contrato de trabalho, visto que o empregado recebia remuneração da empresa,

exercendo a atividade sindical, havendo inclusive recolhimento de contribuições

previdenciárias.

O acidente ocorrido em jogo de futebol, quando o empregado esta vestindo

a camisa da empresa, é considerado como acidente do trabalho, na ocasião os funcionários da

empresa tiveram a oportunidade da integração com outras pessoas, resultando melhor

relacionamento e entrosamento entre os participantes, o que pode proporcionar melhoria na

qualidade do serviço e melhor produtividade. A empresa goza da publicidade ao colocar o seu

nome na camisa do seu time de futebol. Já o empregado, ao vestir a camisa da empresa,

prestava serviços a ela. Há também acidente de trabalho quando o empregado volta do evento

esportivo para sua residência, tendo participado de jogo pelo empregador, que se considera

como acidente de trajeto.

O dolo do acidentado excluirá, porém, a configuração de acidente do

trabalho.

1.7 – Doenças Profissionais

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Doenças profissionais são aquelas específicas à determinada atividade ou

profissão. São também conhecidas como ergopatias, tecnopatias, idiopatias, doenças

profissionais típicas, doenças profissionais verdadeiras ou tecnopatias propriamente ditas. O

exercício de determinada profissão pode produzir ou despender certas doenças.

O nexo causal da doença com atividade é presumido. Basta comprovar a

ação do serviço na atividade e o provocamento da doença profissional.

Em suma, é aquela típica de determinada profissão, como por exemplo, as

afecções devidas ionizantes, para os operadores de aparelho de raio X.

1.8 – Acidente Típico

Acidente é um fato que ocorre casualmente, eventualmente. É um incidente.

Há que ser inesperado e fortuito. É evidente que todo o acidente é previsível. Se um operário

tem um dos dedos cortados em uma prensa, é certo que esse fato é inesperado, anormal,

súbito. Todavia é previsível

Nas palavras de Hertz Costa, “acontecimento brusco, repentino, inesperado,

externo e traumático, ocorrido durante o trabalho ou em razão dele, que agride a integridade

física ou psíquica do trabalhador”, (2003, p. 74).

A Lei 8.213/91 traz o conceito legal de acidente do trabalho típico:

“Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”

Importante ressaltar que é fundamental à existência do acidente que haja

lesão corporal ou perturbação funcional. Quando ocorre um evento sem que haja lesão ou

perturbação física ou mental do trabalhador, não haverá, tecnicamente, acidente do trabalho.

Assim, Cláudio Brandão (2006, p. 137/138) conceitua o acidente-tipo da

seguinte forma:

“Trata-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e de conseqüências geralmente imediatas, não sendo essencial a violência, podendo ocorrer sem provocar alarde ou impacto, ocasionando, meses ou anos depois de sua ocorrência, danos graves e até fatais, exigindo-se, apenas, o nexo de causalidade e a lesividade.”

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Assim, além do nexo de causalidade e da lesão ou perturbação funcional,

faz-se necessária a morte, a perda ou a redução (permanente ou temporária) da capacidade

para o trabalho para que reste caracterizado o acidente do trabalho.

1.9 – Acidente de Trajeto

Também chamados “acidentes in itinere”, estão regulamentados no art. 21

da Lei 8.213/91:

Art. 21: Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para os efeitos desta Lei: IV – o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

Expressão utilizada para caracterizar o acidente que, tendo ocorrido fora do

ambiente de trabalho, ainda assim se considera acidente de trabalho, pois decorrente do

deslocamento do segurado entre sua residência e local de trabalho, e vice-versa. Esclarece-se,

ainda, que a lei é taxativa, portanto, não admite outra interpretação, não será considerado o

fato do empregado que sai do trabalho e dirige-se para a escola.

Se o empregado é assaltado no percurso para o trabalho e morre, existe o

acidente do trabalho, pois a lei reconhece o acidente de trajeto.

Não se exige que o trabalhador preste direta e imediatamente o serviço na

ida e na volta ao trabalho. A exigência decorre da existência de contrato de trabalho. Se,

embora suspenso o contrato de trabalho, o empregado comparece ao empregador para cuidar

de assuntos atinentes ao pacto laboral, como a entrega de documentos exigidos pelo

empregador, considera-se como acidente de trajeto se a empregada vai até a sua residência

buscar esses documentos exigidos pela empresa.

Destarte, importante explicar que os acidentes “in itinere” não são

considerados acidentes do trabalho para fins de indenização por responsabilidade civil do

empregador, mas tão somente para fins de recebimento de benefícios previdenciários. Isso

porque é essencial à responsabilidade civil a presença dos elementos dano, culpa ou atividade

de risco exercida pela empresa, e nexo de causalidade entre aquele e este.

Via de regra não haverá que se falar em culpa do empregador no acidente de

trajeto, salvo se este decorrer de ato patronal culposo, como por exemplo, os casos em que a

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empresa fornece ao empregado o meio de transporte e a falta de manutenção deste é a causa

do acidente.

1.10 – Concausas

A concausalidade do acidente do trabalho pode ser observada no inciso I do

art. 21 da Lei nº 8.213/91, quando a lei equipara ao acidente de trabalho “o acidente ligado ao

trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte

do segurado, para a redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão

que exija atenção médica para a sua recuperação”.

A exceção prevista no inciso I do art. 21 da Lei supra acima citada, é

conhecida, portanto, como concausalidade. Tendo fato ocorrido como uma condição

fundamental para o acidente de trabalho, estará configurado o infortuíto. É o que ocorre

quando o fato superveniente a um evento vem a resultar, por exemplo, na morte do

empregado. Seria a hipótese de um empregado quebrar um braço no local de trabalho e

posteriormente vir a perdê-lo por gangrena (morte do tecido/atrofiamento). Como vemos, o

segundo fato contribuiu para a ocorrência do evento final: a perda de todo o braço do

trabalhador. O evento tempo entre o primeiro fato e o segundo não descaracteriza o acidente

do trabalho, pois se o operário não tivesse quebrado o braço na empresa, não teria necessidade

de amputar esse mesmo braço posteriormente.

Esclarece Octávio Bueno Magano (1974, p.34) que “a concausa pode ser

preexistente, superveniente ou simultânea. Se o trabalhador sofre ferimento leve e não

obstante vem a morrer porque era diabético, tem-se que a concausa é preexistente. Se o

trabalhador recebe ferimento leve e vem a morrer em virtude do tétano, trata-se de concausa

superveniente. Se o trabalhador, acometido de mal súbito, cai de um andaime, morrendo em

conseqüência, configura-se a concausa simultânea”.

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II – RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 – Responsabilidade Civil e sua Classificação.

A responsabilidade civil não contém definição legal, contudo,

doutrinariamente pode ser concebida como a obrigação de uma pessoa a reparar dano moral

ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, ou por outrem

em seu nome, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal (AZEVEDO,

2004, p. 277 - apud BRANDÃO, 2006, p. 236).

A responsabilidade civil constitui uma relação obrigacional que tem por

objeto a prestação de ressarcimento do dano causado.

No Código Civil, a responsabilidade civil é tratada nos capítulo I e II do

título IX, do livro I (art. 927 a 954), podendo também ser identificada nos artigos 186 e 187.

Os pressupostos da responsabilidade civil são: a) ação ou omissão do

agente; b) culpa do agente; c) relação de causalidade; d) dano experimentado pela vítima.

Na responsabilidade civil há divisões, podendo ela ser classificada em

extracontratual e contratual; em ambas, existem em comum os pressupostos da

responsabilidade civil e a conseqüência que é a de reparar o prejuízo causado, o qual pode

originar-se da inexecução de contrato ou da lesão a direito subjetivo, sem que preexista entre

lesado e lesante qualquer relação jurídica que a possibilite. A diferença está no ônus da prova.

Quanto ao modo de reparar o dano, a responsabilidade se divide em

subjetiva e objetiva.

O Código Civil adotou a teoria clássica chamada teoria subjetiva, segundo a

qual a vítima tem o ônus de provar a culpa (em sentido amplo) do causador do dano. Essa

teoria passou a ser injusta para a vítima, uma vez que, em alguns casos, é muito difícil provar

a culpa do causador do dano. Em decorrência dessa dificuldade, surgiu uma nova teoria

chamada teoria objetiva, segundo a qual a culpa não é discutida, e sim presumida, e a

responsabilidade baseia-se no risco.

2.2 – Responsabilidade Contratual.

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É aquela proveniente de um contrato mantido previamente entre as partes.

Na responsabilidade contratual as pessoas podem ser obrigadas a reparar

danos decorrentes de inadimplemento contratual. Esta responsabilidade pode ser objetiva ou

subjetiva.

Objetiva, quando o agente contratado tem o dever de alcançar o resultado

pretendido – obrigação de resultado. O inadimplemento considera-se culposo (presunção

relativa), não havendo necessidade de a vítima preocupar-se com a prova da culpa; quem

deverá provar é o inadimplente (o obrigado que deixou definitivamente de cumprir com a

obrigação).

Subjetiva, quando se tratar de obrigação de meios, em que a parte se obriga

a empregar todos os meios ao seu alcance para atingir um determinado fim e não a satisfazer

uma certa prestação. Nesse caso a vítima tem o ônus de provar a culpa (em sentido amplo) do

causador do dano.

A responsabilidade contratual se resolve com a verificação das perdas e

danos sofridos, a teor do que dispõe o art. 389 do Código Civil (BRANDÃO, 2006, p. 336/340).

Quando o empregado celebra contrato de trabalho assume uma obrigação

principal que é o compromisso de trabalhar, sendo esta uma obrigação de meio. E as

atividades do empregado são conduzidas pelo empregador conforme as necessidades do

serviço da empresa, vista em sua finalidade social.

O empregador ao contratar um empregado tem a obrigação de remunerá-lo,

sendo esta uma obrigação de resultado, observando-se as normas típicas do contrato dirigido

(art. 444 da CLT). Em razão do conceito conferido pelo art. 2º da CLT, o empregador assume

os riscos da atividade desempenhada pelo empregado.

Se a obrigação do empregado é de trabalhar (meio) e a do empregador é de

remunerar (resultado), então o empregador deve assumir o resultado da atividade

desempenhada pelo empregado, devendo este receber os direitos assegurados por lei, e o

salário ajustado sem qualquer risco, já que é dever do empregador cuidar pela saúde,

segurança e higiene de seus empregados.

Isso porque o empregado ao celebrar um contrato de trabalho, não concorre

com qualquer risco, tendo direito de conservar íntegro seu patrimônio físico, moral e

econômico. Assim, ocorrendo qualquer dano em razão da atividade profissional, a

indenização recairá sobre quem detém o risco da atividade econômica, ou seja, o empregador.

Como se vê, o próprio contrato de trabalho traz o dever de reparação do empregador

fundamentado numa cláusula tácita de garantia de segurança.

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Essa é uma característica marcante do contrato de trabalho que diferencia

dos demais contratos civis, uma vez que nestes a indenização dos danos está vinculada ao ato

culposo do agente, enquanto que no contrato de trabalho há dois tipos de responsabilidade:

subjetiva, se houver inexecução de obrigação de meio, e objetiva, relativa à assunção do risco

da atividade pela empresa, se houver dano que tenha como nexo causal o simples exercício

regular da atividade profissional.

2.3 – Responsabilidade Extracontratual.

Também conhecida como aquiliana, é aquela que decorre da violação de um

dever geral previsto em lei ou na ordem jurídica. Advém de situação de fato, e não de um

contrato entre as partes. É exemplo desta responsabilidade aquela decorrente de um acidente

de trânsito.

O artigo 186 do Código Civil fundamenta a responsabilidade extracontratual

quando dispõe que toda pessoa que causar prejuízo a outrem ficará obrigada a indenizar.

Impõe a todos, o dever legal de não lesar outrem.

A responsabilidade civil é sempre subjetiva, pois quando se trata de

responsabilidade extracontratual, não existe presunção de culpa, salvo casos especiais, sendo

da vítima o ônus da prova, não bastando a demonstração do prejuízo (artigo 186 do Código

Civil).

Estando presentes os seguintes pressupostos: ação ou omissão; culpa, em

sentido amplo; dano; relação de causalidade, o causador do dano fica obrigado a indenizar.

2.4 – Responsabilidade Civil Subjetiva.

Responsabilidade Civil Subjetiva é a teoria clássica e tradicional da culpa,

também chamada de Teoria da Responsabilidade Subjetiva. Tem como pressupostos o dano, o

nexo causal e a culpa do empregador, conforme já mencionado no item 2.1.

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O Código Civil de 2.002 manteve-se fiel à teoria subjetiva. Estabelece o art.

927, caput: “Aquele que comete ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo”. O ato ilícito é conceituado nos artigos 186 e 187 (VADE MECUM,

2010, p. 161):

Art.186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes.

Essa é a regra geral da responsabilidade civil, que se inspira na idéia da

culpa. A responsabilidade do agente causador do dano, só se configura se agiu culposamente

ou dolosamente. À vítima incumbe provar a culpa do agente, para obter reparação do dano.

No acidente do trabalho ou doença ocupacional, a culpa do empregador

pode se dar por violação de leis que estabelecem os deveres do empregador ou por violação

do dever geral de cautela.

O empregador tem o dever de zelar pela saúde, higiene e segurança de seus

empregados, bem como reduzir todos os riscos que afeta a sua saúde no ambiente de trabalho.

A redução dos riscos relacionados ao trabalho tem previsão na Constituição

Federal em seu artigo 7º, inciso XXII.

Nesse sentido, o art. 157 da CLT estabelece (VADE MECUM, 2.010, p.

805):

Art. 157. Cabe às empresas: I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II – instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais.

Tendo em vista o art. 155 e 200 da CLT, os quais encontram-se em

harmonia com o art. 7º, XXII, da CF, o Ministério do Trabalho e do Emprego publicou a

Portaria nº 3.214/78, que instituiu as Normas Regulamentadoras (NR’s) do trabalho, com

eficácia normativa, devendo serem observadas obrigatoriamente por parte de todos os

empregadores.

Art. 155. Incumbe ao órgão de âmbito nacional competente em matéria de segurança e medicina do trabalho:

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I – estabelecer, nos limites de sua competência, normas sobre a aplicação dos preceitos deste Capítulo, especialmente os referidos no art. 200. Art. 200. “Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer disposições complementares às normas de que trata este capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho (...)”.

Tais normas além de estabelecer várias medidas de prevenção da saúde do

trabalhador, também conferem ao empregador o dever de fazer uma identificação prévia dos

fatores de riscos presentes no ambiente de trabalho, eliminando-os antes que venham causar

qualquer infortúnio ao trabalhador.

Trazem ainda como obrigação do empregador, informar o empregado dos

riscos existentes no local de trabalho, pois, estando o empregado orientado para operar dentro

dos padrões de segurança, torna-se mais fácil à adoção de medida preventiva.

Tendo em vista o disposto no art. 225 da CF, que prevê que “todos têm

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso do povo e essencial à sadia

qualidade de vida”, bem com o art. 200, VIII do mesmo diploma legal, que insere o meio

ambiente do trabalho no meio ambiente como um todo, o empregador também tem a

obrigação de promover a redução de todos os riscos que afetam a saúde do empregado no

ambiente de trabalho, a fim de assegurar um ambiente de trabalho saudável que não venha a

ameaçar a qualidade da vida humana e nem prejudicar um direito humano fundamental: a

saúde.

Os tipos de risco ambiental vêm definidos na NR-9: “consideram-se riscos

ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que,

em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de

causar danos à saúde do trabalhador”.

São também considerados risco ambiental os agentes psicológicos, já que

são encontrados no ambiente de trabalho e são capazes de produzir danos à saúde do

trabalhador.

Assim, o empregador tem o dever legal de oferecer aos seus empregados os

equipamentos de segurança adequado ao risco de cada atividade, devendo orientá-los e treiná-

los sobre seu uso correto, bem como obrigá-los a usá-los, tomando todas as medidas

necessárias para que o trabalho seja prestado em ambiente salubre, e em condições saudáveis,

sob pena de ficar provada a sua culpa nos acidentes do trabalho e doenças ocupacionais,

devendo indenizar a vítima pelo dano ocorrido.

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O acidente do trabalho pode ocorrer do mesmo modo, por culpa do

empregador, sem a violação da legalidade, uma vez que não é possível as normas de

segurança e saúde do trabalhador abranger todas as possibilidades de condutas do empregado

e empregador no cumprimento do contrato laboral. A culpa do empregador pode se dar

também na violação do dever geral de cautela, a qual adquire maior importância jurídica no

tema acidente do trabalho.

Nesse caso se verificará a culpa avaliando-se a conduta do empregador. Se

tivesse adotado outra conduta teria evitado a doença ou o acidente? Se sim, está assinalada a

culpa do empregador.

Desta forma, se o empregador, por qualquer descuido ou negligência,

deixou de zelar pela segurança, higiene e saúde do trabalhador, seja pelo descumprimento de

um dever legal, ou seja, por violação do dever geral de cautela, poderá ser considerado

culpado nos casos de acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais, devendo indenizar a

vítima.

Neste sentido vem se posicionando o Tribunal Regional da 15ª Região:

Acidente de trabalho. Indenização por dano moral. Culpa da reclamada. Não basta à empresa apenas fornecer equipamentos individuais e coletivos de segurança. Necessário que haja orientação do trabalhador para que se torne apto a utiliza-los corretamente. O empregador ainda tem o dever de fiscalizar o uso efetivo desses equipamentos de proteção. Entretanto, deixando de agir em conformidade com as normas legais que objetivam eliminar ou dirimir os riscos da atividade laborativa, mormente omitindo-se, que por dolo ou mesmo culpa, na prevenção do que era previsível, o empregador comete ato ilícito, passível de responsabilização. A culpa, nesse caso, decorre da inobservância do poder de cautela. TRT/15ª REGIÃO. RO 00107-2005-129-15-00-9. Rel. Juíza Maria Cecília Fernandes Leite.

A responsabilidade do empregador também será subjetiva no caso de risco

genérico, sendo este o que decorre naturalmente da própria vida humana.

2.5 – Responsabilidade Civil Objetiva.

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Na teoria da responsabilidade civil objetiva, a lei impõe, em alguns casos, a

reparação do dano sem que haja culpa do lesante. Segundo essa teoria, aquele que através de

sua atividade cria um risco de dano para outrem, deve ser obrigado a repará-lo, independente

de sua culpa, bastando a existência da relação de causalidade entre o dano experimentado pela

vítima e o ato do agente.

Muito embora permaneça a regra geral da responsabilidade civil subjetiva

(art. 927 “caput”), o Código Civil de 2002 alargou seu campo de abrangência, adotando a

teoria objetiva, ao estabelecer no parágrafo único do art. 927 que “haverá obrigação de reparar

o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade

normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os

direitos de outrem” (VADE MECUM, 2.010, p. 212).

No art. 931, o Código Civil reitera regra constante do Código do

Consumidor, art. 12, pela qual: “Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial,

os empresários individuais e as empresa respondem independentemente de culpa pelos danos

causados pelos produtos postos em circulação” (VADE MECUM, 2.010, p. 212).

Assim, o novo Código Civil possibilita ao judiciário uma ampliação dos

casos de dano indenizável sem a necessidade de prova da culpa do agente.

A responsabilidade objetiva foi desenvolvida na teoria do risco, em suas

várias concepções, tendo o novo Código Civil adotado a teoria do risco criando: a) o risco

integral: havendo qualquer fato, o agente está obrigado a indenizar. Para isso basta a

existência de dano ligado ao fato. b) risco proveito: baseado na idéia de quem tira proveito ou

vantagem de uma atividade e causa dano a outrem tem o dever de repará-lo. c) risco criado: o

dever de reparar o dano surge da atividade exercida normalmente pelo agente que cria risco a

direitos ou interesses alheios. Basta a ocorrência de dano ligado causalmente a uma atividade

geradora de risco, normalmente exercida pelo agente. d) risco profissional: é o risco inerente a

determinada atividade sem que haja culpa de alguém.

2.6 – Elementos da Responsabilidade Civil.

Na responsabilidade civil não haverá indenização sem a presença do dano e

quando ausente o nexo causal entre o dano e a culpa (ou atividade do risco) do agente.

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Ambos elementos são imprescindíveis tanto na responsabilidade civil

contratual e extracontratual, quanto na responsabilidade civil subjetiva e objetiva.

Para o direito à indenização são indispensáveis também o ato ilícito e a

culpa do causador do dano – quando se tratar de responsabilidade subjetiva, e atividade de

risco – em se tratando de responsabilidade civil objetiva.

2.6.1 – Nexo Causal.

Nexo causal é a relação de causalidade entre o dano e o ato culposo do

agente.

Para o acidente do trabalho, nexo causal é o vínculo que se estabelece,

necessariamente, entre a execução do serviço (causa) e o acidente de trabalho ou doença

ocupacional (efeito). É a relação de causa e efeito entre o dano (evento) e o infortúnio que

atinge o empregado (efeito).

Em relação ao contrato de trabalho, o nexo causal se aplica tanto na

responsabilidade civil objetiva como na subjetiva. Porém, tem destaque especial naquela em

que o dano provém do simples cumprimento normal e regular do contrato, independente da

culpa do empregador, uma vez que para fazer jus à indenização, o empregado lesado deverá

provar que o dano sofrido teve como causa o mero cumprimento regular do contrato de

trabalho.

O nexo de causalidade do acidente com o trabalho do empregado é

pressuposto indispensável tanto para a condenação do empregador por responsabilidade civil,

quanto para a concessão dos benefícios da lei do seguro acidentário. A lei acidentária

contempla a causalidade em três modalidades: a) causalidade direta: é aquela em que causa e

efeito estão intimamente ligados na ocorrência do acidente. O nexo fica caracterizado logo

quando o acidente ocorre. Há uma vinculação imediata entre a execução das tarefas e o

acidente ou doença que afetou o empregado. Exemplo: quando o trabalhador tem a mão

amputada pela prensa. (Lei nº 8.213/1991, artigos 19 e 20). b) causalidade indireta: é aquela

denominada nos casos em que não se tem no trabalho a causa direta, embora o acidente tenha

ocorrido no local e em horário de trabalho. Na causalidade indireta o fato gerador do acidente

não está ligado à execução do serviço num sentido estrito, e sim às desgraças que só têm

ligação de forma oblíqua com o contrato de trabalho. Podem ser enquadrados nesta

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modalidade de causalidade: a agressão praticada por terceiro ou companheiro de trabalho, os

acidentes decorrentes de desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes

de força maior, os acidentes de trajeto etc (Lei nº 8.213/1991, art. 21, incisos II e IV e § 1º). c)

concausalidade: é uma circunstância independente do acidente e que a ele se soma para atingir

o resultado final. Nas hipóteses de concausas o acidente está ligado ao trabalho, mas ocorre

por múltiplos fatores, combinando causas relacionadas ao trabalho com outras, extralaborais.

(Lei nº 8.213/1991, artigo 21).

Numa seqüência lógica, o exame do nexo causal deve ser feito antes da

verificação da culpa do empregador ou do risco da atividade, uma vez que poderá haver nexo sem

culpa, mas não haverá culpa sem causalidade.

Nos casos de acidente de trabalho típico, a presença do nexo causal fica bem

evidente. A descrição da Comunicação do Acidente do Trabalho facilita a percepção do vínculo da

causalidade do dano com a execução do contrato laboral.

Já nas doenças ocupacionais, a identificação do nexo causal exige maior cuidado

e pesquisa, pois nem sempre é fácil estabelecer se a enfermidade apareceu ou não por causa do

trabalho.

Tendo em vista as inúmeras controvérsias a respeito da causalidade nas doenças

ocupacionais, o Conselho Federal de Medicina baixou a resolução CFM nº 1488/1998,

recomendando os procedimentos e critérios técnicos mais apropriados para a consignação ou

negação do nexo causal nas perícias médicas a respeito das doenças ocupacionais.

Art. 2º. Para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar: I. a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer

diagnóstico e/ ou investigação de nexo causal; II. o estudo do local de trabalho; III. o estudo da organização do trabalho; IV. os dados epidemológicos; V. a literatura atualizada; VI. a ocorrência de quatro clínico ou subclínico em trabalhador

exposto a condições agressivas; VII. a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos.

Mecânicos, estressantes e outros; VIII. o depoimento e a experiência dos trabalhadores; IX. os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus

profissionais, sejam ou não da área da saúde.

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Contudo, em muitas ocasiões, as provas colhidas não permitem concluir

com absoluta certeza quanto à origem do adoecimento. Assim, as provas não devem ser

avaliadas tecnicamente. O julgador deve formar seu convencimento observando o que

realmente acontece, analisando, conjuntamente, os fatos, os indícios e as presunções.

2.6.2 – Excludentes do Nexo Causal.

Alguns acidentes do trabalho, embora ocorram durante a prestação de

serviço, não autorizam o acolhimento da responsabilidade civil patronal por ausência do

pressuposto do nexo causal ou do nexo de imputação do fato ao empregador.

As hipóteses de excludentes da responsabilidade civil são:

a) culpa exclusiva da vítima:

Ocorre a culpa exclusiva da vítima quando a causa única do acidente de

trabalho tiver sido a sua conduta.

Se o acidente ocorrer por culpa concorrente da vítima e do empregador, o

nexo causal do acidente com o trabalho continua, mas a indenização pode ser reduzida na

forma do art. 945 do código Civil: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento

danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em

confronto com a do autor do dano” (VADE MECUM, 2.010, p. 213).

b) fato exclusivo de terceiro:

Tal hipótese diz respeito ao ato ilícito praticado por terceiro, ainda que no

local e horário de trabalho, que seja causa única e exclusiva do evento gerador do dano, não

havendo participação direta do empregador ou do exercício da atividade laboral para a

ocorrência do caso.

No acidente provocado por terceiro, a vítima terá o amparo dos benefícios

previstos na legislação acidentária, porém, não caberá indenização por parte do empregador.

O acidentado poderá postular a devida indenização, se for o caso, em face do terceiro

causador do dano. Os terceiros aqui tratados são diferentes daqueles mencionados no art. 21

da Lei n. 8.213/91, inciso II, alíneas “a” a “d”.

c) caso fortuito ou força maior:

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A CLT, em seu art. 501, conceitua força maior da seguinte forma:

“Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do

empregador, e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente”

(VADE MECUM, 2.010, p. 834).

A lei do Seguro Acidentário (Lei nº 8.213/1991) equipara ao acidente de

trabalho os eventos advindos de casos fortuitos ou força maior. Entretanto, os acidentes

decorrentes de tais causas, mesmo que ocorridos no local e horário de trabalho, em regra, não

geram responsabilidade civil do empregador, uma vez que não está presente o nexo causal

direto do evento com a realização do trabalho.

Contudo, deve-se ressaltar a ressalva do § 1º do art. 501 da CLT: “a

imprevidência do empregador exclui a razão de força maior” (VADE MECUM, 2.010, p.

834).

Desta forma, para ser considerado caso fortuito ou força maior é necessário

avaliar se o empregador, por meio de medidas preventivas, poderia ter evitado o acidente

acorrido. Pois, se o fato for imprevisível, mas o resultado evitável, cabe ao empregador adotar

as medidas preventivas. Na omissão, fica reconhecido o nexo causal do evento com a sua

conduta, tornando viável a indenização.

Sérgio Cavalieri apresenta a diferenciação conceitual entre o caso fortuito e

força maior, considerando como caso fortuito o evento imprevisível e inevitável; e força

maior o evento inevitável, porém previsível, como, por exemplo, os eventos naturais

(tempestades, terremoto etc). Considera como elemento indispensável para a caracterização

do caso fortuito a imprevisibilidade, e da força maior a inevitabilidade (2000, p. 66).

Apesar de haver divergências doutrinárias sobre tal conceito, os diplomas

legais, normalmente, consideram sinônimas essas duas causas de danos.

Nos casos legais de aplicação da teoria da responsabilidade objetiva, as

doutrinas e jurisprudências não consideram como excludentes do nexo causal o caso fortuito

interno - fato imprevisível que se liga à atividade da empresa, e sim, os casos fortuitos ou de

força maior de origem externa.

III – DANO MORAL

3.1 – Conceito.

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Pontes de Miranda (2001, p. 395) conceitua dano moral da seguinte forma:

“Nos danos morais, a esfera ética da pessoa é que é ofendida: o dano não patrimonial é o que, só atingindo o devedor como ser humano, não lhe atinge o patrimônio”.

Já para a doutrinadora, Maria Helena Diniz (2007, p.71):

“Dano moral é a lesão de interesse não patrimonial de pessoa física ou jurídica”.

Nessa ótica, de acordo com o ensinamento de Caio Mario da Silva Pereira, o

dano moral é: “qualquer sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária e

abrangem todo o atentado á sua segurança e tranqüilidade, ao seu amor próprio estético, á

integridade de sua inteligência, á suas afeicões, etc...” (1998, p. 54).

No mesmo sentido explica Antonio Jeová Santos:

(...) o dano também acarreta um prejuízo. Porém, é valorado sob ótica não pecuniária, porque o dano moral resulta da lesão de um interesse espiritual que está relacionado com a intangibilidade da pessoa humana. O que configura o dano moral é aquela alteração no bem estar psicofísico do individuo. Se do ato de outra pessoa resultar alteração desfavorável, aquela dor profunda que causa modificações no estado anímico, aí está o início da busca do dano moral. (2003, p. 94/95)

Contudo, verifica-se que o dano moral tem origem numa lesão que atinge a

essência do ser humano, capaz de lhe causar sofrimento, humilhação, vexame, angústia, dor

(inclusive física) e, portanto, torna-se de difícil valoração pecuniária.

3.2 – Evolução e Abrangência

O dano moral propriamente dito sempre existiu, mas a possibilidade de sua

indenização foi conquistada com o avanço da civilização. Havia certo preconceito ou mesmo

constrangimento em aceitar a compensação de sofrimento, dores, angústia por valores

monetários, chegando-se até o dizer que era imoral a indenização por dano moral, contudo

não se pode mais ignorar o abalo moral provocado pelo ato ilícito, que, muitas ocasiões, têm

maior relevo ou repercussão do que o prejuízo material.

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Agora, o direito não só protege os bens materiais, mais os valores imateriais

da personalidade, ou seja, alem de proteger o que temos, resguarda e valoriza o que somos.

Discorrendo a respeito da indenização por dano moral (PEREIRA, 2002, p.

58), concluiu:

“Com as duas disposições contidas na Constituição de 1.988, o Principio da

Reparação do Dano Moral encontrou o batismo que o inseriu em a mais alta da norma

constitucional, tornou-se princípio de natureza cogente o que estabelece a reparação por dano

moral em o nosso direito. Obrigatório para o legislador e para o juiz”.

O dano moral também esta expresso no artigo 5º, inciso V, da atual

Constituição Federal, deixando claro que tal responsabilidade é eficaz, sepultando de vez a

teorias que insistiam pela sua impossibilidade:

Art. 5º. (...) V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

O Código Civil 2.002, também faz referência expressa ao dano moral

quando dispõe em seu Artigo 186:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Sebastião Geraldo de Oliveira (2008, p. 2001), assevera:

“O amplo território de abrangência do dano moral e as sutilezas do seu conteúdo dificultam a formulação de um conceito que possa englobar todas as hipóteses do seu cabimento. Com bem assinala André Gustavo Andrade, o dano moral é um conceito em construção e, com o desenvolvimento social e a conseqüente evolução dos direitos da personalidade, tende a ser ampliado para alcançar situações hoje ainda não consideradas. Entrementes, como se trata de um conceito em construção” é conveniente registrar o pensamento corrente a respeito da sua abrangência”.

Não resta dúvida, que o ato ilícito ou antijurídico pode provocar danos

materiais e danos morais, ou seja, danos patrimoniais e extrapatrimoniais. Sendo que o

dispositivo constitucional já deixou patente que a sanção do dano moral ocorre por intermédio

da indenização.

O dano moral assume papel de muita importância quando decorrente de

infortúnio laboral, sendo o trabalhador atingido em sua integridade psicobiofisica, o que

muitas vezes significa o dilaceramento de um projeto de vida, a condenação em passar o resto

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de seus dias numa cadeira de rodas, e a frustração na busca de um futuro melhor. O dano

moral no acidente do trabalho se verifica no dispositivo da Constituição Federal:

Art. 7º. (...) XXVIII – seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

3.3 – Diferença entre Dano Material e Dano Moral.

O dano material é aquele que afeta exclusivamente os bens concretos que

compõem o patrimônio do lesado.

Pode-se conceituar ainda como lesivo todo ato que, afetando o individuo no

seu trabalho, reputação, ou vida profissional, tenha reflexos sobre o patrimônio físico.

Todavia, há circunstancias em que o ato lesivo afeta a personalidade do

individuo, sua honra, sua integridade psíquica, seu bem estar íntimo, suas virtudes, enfim,

causando-lhe mal estar ou uma indisposição de natureza espiritual.

A diferença dessas lesões reside, substancialmente, na forma de reparação.

Enquanto no caso dos danos materiais a reparação tem como finalidade

repor as coisas lesionadas ao seu “statu quo ante” ou possibilitar á vitima a aquisição de outro

bem semelhante ao destruído, o mesmo não ocorre, no entanto, com relação ao dano

eminentemente moral. Neste é impossível repor as coisas ao seu estado anterior. A reparação,

em tais casos, reside no pagamento de uma soma pecuniária, arbitrada pelo consenso do juiz,

que possibilite ao lesado uma satisfação compensatória da sua dor íntima.

Dessa forma, enquanto uma repõe o patrimônio lesado, a outra compensa os

dissabores sofridos pela vitima, em virtude da ação ilícita do lesionador.

Neste aspecto reside a diferença entre o dano material e o dano moral,

porquanto as causas e efeitos são distintos. No primeiro, atingem-se o bem físico, coisas

palpáveis que tem valor pecuniário, que pode ser reparado com a perda. No segundo, o dano

moral é o prejuízo resultante da ofensa á integridade psíquica ou á personalidade moral,

compensando-o através de uma soma em dinheiro que assegure á vitima uma satisfação

compensatória.

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É inquestionável, dessa forma, como abordaremos aportunamente, que,

inobstante os danos tenham a mesma causa, a lesão do direito, e produzirão efeitos diferentes,

a exigir procedimentos indenizatórios distintos nos seus objetivos.

Por fim, lembraremos o enunciado na Súmula 37 do STJ, que diz o seguinte:

“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”.

Efetivamente, não se paga à dor e não se indenizam os sentimentos e os

sofrimentos, mas o sofredor necessita de meios para se recuperar psicologicamente, para se

distrair, como distrai uma criança que cai e se machuca, aliviando-se ao receber um

brinquedo.

3.4 – Elementos para a Caracterização do Dano Moral.

Intentando caracterizar o dano moral, Messineo (Derecho Civil, p. 566)

aponta como lesão extrapatrimonial passível de ressarcimento, o ato que atenta contra um

direito de personalidade moral ou espiritual (liberdade, dignidade, respeitabilidade, decoro,

honra, reputação social, etc), o que ocasiona paixão de ânimo, gerando uma dor não física;

aquele ato que provoca uma alteração psíquica, ou uma grave perturbação; a lesão a afetos e

sentimentos; desfiguração do rosto ou do corpo; a perda de qualquer dos sentidos como a

audição, olfato, paladar, etc.

O que caracteriza o dano moral é a conseqüência de algum ato que cause

dor, angústia, aflição física ou espiritual ou qualquer padecimento infligido á vítima em razão

de algum evento danoso. É o menoscabo a qualquer direito inerente á pessoa, como a vida, a

integridade física, a liberdade, a honra, a vida privada e a vida de relação.

Também, a perda de algum bem em decorrência de ato ilícito que viole um

interesse legítimo, de natureza imaterial e que acarrete, em sua origem, profundo sofrimento,

dor, aflição, angústia, desânimo, desespero, perda da satisfação de viver, também caracteriza

o dano moral. Portanto, quando o ato ilícito afeta ou compromete o desenvolvimento de

qualquer destas mencionadas acima, é passível de reparação por dano moral.

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Existem situações em que a vítima se torne demente, sofra amnésia ou

permaneça em estado comatoso em decorrência do ato lesivo, são constitutivas do dano

moral, pois foram afetadas as faculdades mentais ou intelectuais do ofendido.

O dano moral é afetação espiritual do sujeito. O que não quer dizer que todo

estado espiritual desvalioso seja um dano moral. Devem concorrer os demais pressupostos da

responsabilidade civil, como o ato ilícito, o nexo causal e o dano, que é elemento mais

importante da obrigação de indenizar.

Destarte, convém mencionar, a respeito de um determinado funcionário que

exerce as funções de caixa em supermercado, por exemplo, está sujeito a deparar-se com

pessoas insatisfeitas com o preço ou com a qualidade do produto encontrado. É natural,

embora reprovável, que essa pessoa procure desabafar o seu descontentamento com o

funcionário mais próximo e que passe mais tempo ouvindo-a. Também não haverá dano

moral. O motorista de ônibus coletivo que a todo instante é obrigado a suportar palavras

ferinas, ora porque o passageiro está atrasado e quando chegar ao destino ouvirá uma

descompostura do seu chefe, ou o árbitro de futebol que, no estádio ouve de torcedores

enraivecidos adjetivos, não poderão invocar, depois, o órgão jurisdicional para buscar

reparação por dano moral. Assim, as atividades que ditar pessoas desenvolvem implicam no

risco de ouvirem palavras menos airosas, o baldão. É o risco previamente assumido e decorre

do cotidiano. Por serem consideradas um simples desabafo, sem nenhuma outra valoração do

que poderia se converter em ilicitude, não há dano moral indenizável.

3.5 – O Dano Moral nas Relações de Trabalho e no Acidente de Trabalho.

No que tange o dano moral nas relações de trabalho, está relacionado à

exposição dos empregados a situações humilhantes, que se repetem e prolongam durante toda

a jornada de trabalho ou exercício das funções. Palavras estas consideradas, discriminatórias e

de baixo nível, proferidas pelo empregador contra o empregado, que ferem a dignidade e

atacam a intimidade do indivíduo.

Outro aspecto significante, o dano moral trabalhista também está

configurado nos casos de assédio sexual, que possui como tipificação penal no Artigo 216-A,

do Código Penal, sendo este praticado pelo empregador. No pedido o empregado pode pedir

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além da indenização pelo dano moral sofrido, a rescisão indireta do contrato de trabalho, com

fulcro no artigo 483, alínea “e”, da CLT.

Ainda, cumpre estabelecer, que a maior parte das indenizações por danos

morais no campo do direito do trabalho, é alineada nas dispensas injustificáveis, nas

imputações aos empregados da pratica dos delitos de roubo, furto ou apropriação indébita de

coisas da empresa ou de outros colaboradores.

Ademais, insta salientar, que para o empregado ter direito á indenizações, o

mesmo deve demonstrar a presença de todos os requisitos da responsabilidade civil, quais

sejam, a conduta do agressor, a culpa, o dano e o nexo de causalidade, existindo ainda outro

fator de suma importância que é a relação jurídica do vinculo empregatício.

Numa explanação muito feliz acerca do assunto (OLIVEIRA, 2008, p. 207):

A indenização pelos danos matérias pode até alcançar a recomposição do prejuízo e a equivalência matemática norteia os critérios de calculo. No entanto, a dor da exclusão, a tristeza da inatividade precoce, a solidão do abandono na intimidade do lar, o vexame da mutilação exposta, a dificuldade para os cuidados pessoais básicos, o constrangimento da dependência permanente de outra pessoa, a sensação de inutilidade, o conflito permanente de um cérebro que ordena a um corpo que não consegue responder, a orfandade e a viuvez inesperada, o vazio da inércia imposta, tudo isso e muito mais não tem retorno ou dinheiro que repare. Na verdade a dor moral deixa na alma feridas abertas e latentes que só o tempo, com vagar, cuida de cicatrizar, mesmo assim, sem apagar o registro. Entretanto se a reparação no seu sentido rigoroso não é possível, pelo menos uma compensação monetária, oferecendo ao lesado um outro bem da vida para abrandar sua revolta e facilitar sua resignação diante do fato consumado.

Não se trata, porém, de estabelecer um preço para a dor, mas de criar

possibilidades para a vitima criar novas perspectivas de vida, buscar novos horizontes, para

que possa tentar vencer as dolorosas recordações da dor sofrida.

O cabimento da indenização por danos morais decorrentes do acidente do

trabalho é, atualmente, questão pacificada na doutrina e jurisprudência. Em primeiro lugar

porque o dispositivo constitucional acima transcrito não restringiu a indenização apenas aos

aspectos patrimoniais, não podendo o interprete impor limitações onde à norma não

restringiu. Em segundo, porque o Código Civil consagra a clausula genérica da indenização

decorrente do ato ilícito no artigo 186, onde está indicado expressamente o dano moral. E em

terceiro, porque o mesmo Código Civil quando trata da indenização por danos pessoais indica

as parcelas da reparação material, mas deixa a ressalva “sem excluir outras reparações”, (art.

948) ou além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

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3.6 – Critérios para fixação da Indenização.

No Brasil, está hoje assegurada constitucionalmente a indenização do dano

moral á pessoa.

Art. 5º. (...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

O arbitramento judicial, que deve ser a um só tempo, razoável e severo, tem

por objetivo atender a “finalidade de compensar e de dar satisfação ao lesado e de

desestimular a reincidência”.

No arbitramento da indenização em reparação do dano moral, o juiz terá em

conta, notadamente:

I – A intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e a posição social e política deste. II – A intensidade do dolo ou o grau da culpa do responsável e a sua situação econômica.

A indenização não pode ser tão elevada que pareça extravagante e leve a um

enriquecimento injusto, a uma situação que nunca se gozou, que modifique a vida do

prejudicado ou da sua família, que o transforme em um novo rico.

Outrossim, ao se fixar a indenização por dano moral, o seu montante deve

ser capaz de proporcionar á vítima satisfação na justa medida do abalo sofrido, sem,

entretanto, haver enriquecimento sem causa. (RT 675/100).

No que tange a vitimização no dano moral, existem pessoas que se colocam

como vítimas de danos morais com a finalidade óbvia de buscar a indenização. Eis a lição

doutrinária, (SANTOS, 2004, p. 119/120):

“Pessoas que posam de vítima ou que provocam o fato para se tornarem ofendidas, criando, assim, condições para o pleito ressarcitório, por certo merecerão todo o repúdio do órgão jurisdicional. Enquanto o direito brasileiro está vivendo nova fase quanto à efetiva proteção aos direitos da personalidade, é necessário que os cuidados sejam redobrados para evitar condenações de pessoas que foram vítimas de supostos ofendidos por danos morais. Nesse trabalho de joeirar, deve ser vasculhada a motivação do pedido”.

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O legislador do Código Civil de 2.002 criou o artigo 945, que impõe á

vítima um encargo pela ação comissiva ou omissiva no pretendido evento danoso. No caso

especifico do dano moral, a atuação da vítima, na maioria esmagadora das vezes, será sempre

omissiva, mas note-se que essa omissão é consciente, já pretendendo a indenização, que lhe

beneficiará. Em suma, quanto maior for à ação da vítima, menor será a indenização por ela

merecida, ou até mesmo a total isenção de indenização.

Portanto, cabe ao magistrado, diante do caso concreto a árdua tarefa de

decidir quem detém, ou não, o direito á compensação dos danos, verificando, a gravidade do

dano sofrido, de acordo com os padrões da proporcionalidade, bem como se a vítima

concorreu ou não para a concretização do dano.

Nesse diapasão, o Tribunal de Justiça de Goiás, já teve oportunidade de

afirmar que: “no dano moral, o pretium doloris, por sua própria incomensurabilidade, fica a

critério do juiz, que fixa o respectivo valor, de acordo com seu prudente arbítrio. Grande,

portanto, é o papel do magistrado na reparação do dano moral, competindo-lhe examinar cada

caso, ponderando os elementos probatórios e medindo as circunstâncias” (RT 730/307, Rel.

Des. Arivaldo da Silva Chaves).

IV – JUSTIÇA COMPETENTE

4.1 – Competência Judicial

Outro ponto a ser dar importância dentro do assunto é a competência

judicial do dano moral nas relações de trabalho. O artigo 114 da Constituição Federal traz tal

competência:

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Art. 114 – Compete á Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II – as ações que envolvam exercício do direito de greve; III – as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV – os mandados de segurança, hábeas corpus e hábeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita a sua jurisdição; V – os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto do art. 102, I, “o”; VI – as ações de indenizações por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII – as ações relativas ás penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII – a execução, de oficio, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, “a”e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º - Recusando-se qualquer das partes á negociação coletiva ou á arbitragem, é facultado ás mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3º - Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse publico, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo á Justiça decidir o conflito.

Note-se que o inciso VI, o legislador deu ênfase ao Dano Moral e Dano

Material decorrente da relação de trabalho, portanto, não há qualquer duvida quanto à

competência da Justiça Trabalhista como competência para decidir o conflito.

Fala-se ainda em prazo prescricional do dano moral, pois a CLT é omissa,

ficando a dúvida, sobre qual aplicar, a prescrição trabalhista ou a civil. Em um recurso de

revista, interposto a primeira turma do TST, o relator João Oreste Dalazen assim o decidiu:

(TST-RR-1162/2002-014-03-00.1), acórdão da lavra, com a seguinte ementa: 1. O prazo de prescrição do direito de ação de reparação por dano moral e material trabalhista é o previsto no Código civil. 2. Á Justiça do Trabalho não se antepõe qualquer obstáculo para que aplique prazos prescricionais diversos dos previstos nas leis trabalhistas, podendo valer-se das normas do Código Civil e da legislação esparsa. 3. De outro lado, embora o dano moral trabalhista encontre matizes específicos no Direito do Trabalho, a indenização propriamente dita resulta de normas de Direito Civil, ostentando, portanto, natureza de credito não trabalhista. 4. Por fim, a prescrição é um instituto de direito material e, portanto, não há como olvidar a inarredável vinculação entre a sede normativa da pretensão de direito material e as normas que regem o respectivo prazo prescricional. 5. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.

E, nesse particular, já se demonstrou que deve ser a civil, uma vez que o

instituto da prescrição é regulado pelo direito material, e não processual, uma vez que o dano

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moral é garantia constitucional de todo cidadão, e em absoluto pode-se atribuir á indenização

decorrente do dano moral com origem na relação de trabalho a acepção de credito trabalhista

(férias, horas extras, etc., não pagas durante a relação de trabalho).

O artigo 483 em conjunto com o artigo 652, traz a seguinte redação:

Art. 652 – Compete ás Juntas de Conciliação e Julgamento: a) conciliar e julgar: I – os dissídios em que pretende o reconhecimento da estabilidade de empregado; II – os dissídios concernentes a remuneração, férias e indenizações por motivo de rescisão de contrato individual de trabalho; III – os dissídios resultantes de contratos de empreitadas em que o empreiteiro seja operário ou artífice; IV – os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho; V – as ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou Órgão Gestor de mão de obra – decorrentes da relação do trabalho. b) processar e julgar os inquéritos para apuração de falta grave; c) julgar os embargos opostos ás suas próprias decisões; d) impor multas e demais penalidades relativas aos atos de sua competência;

Atribui-se, portanto, no inciso IV, competência material á Justiça do

Trabalho para conciliar e julgar “os demais dissídios concernentes ao contrato individual de

trabalho”, ou seja, basta que a controvérsia respalde-se em um contrato de trabalho para que

essa justiça especializada seja competente.

Contudo, convém mencionar a EC 45/04 que tratou de esculpir e gravar

constitucionalmente a conclusão que já havia sido entabulada pela doutrina e pela

jurisprudência: é da competência da Justiça Trabalhista o julgamento de pretensão reparatória

de danos morais ou materiais, se decorrentes da relação de trabalho.

O direito, sobretudo o do Trabalho, é dinâmico e não se atrela a tipicidade

estrita, mas necessita de analogia e do auxilio de outros ramos para que possa responder ás

demandas que lhe são propostas.

Em suma, mesmo que ainda necessitam ver expressa a norma na CLT, terão

razões para admitir a competência da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar demandas

que impliquem o dano moral.

CONCLUSÃO

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O conceito de acidente de trabalho é bastante amplo, sendo ocasionado pelo

fato lesivo á saúde física ou mental, o nexo causal entre tal o fato e o trabalho e a redução da

capacidade laborativa.

Para concretizar a causa e o efeito entre o acidente e o trabalho é necessária

a existência da relação entre ambos. Caso a lesão não venha a deixar o segurado incapacitado

para o trabalho, não haverá direito a qualquer prestação pecuniária. Portanto é presumido o

nexo de causalidade em alguns casos, como no caso de doenças profissionais, sendo exigido

na maioria dos casos uma verificação mais exauriente da relação do evento com o trabalho

diante do texto legal e da prova pericial.

A Carta Magna trouxe ao ordenamento jurídico a tutela dos direitos de

natureza moral elevando ao caráter de direitos fundamentais os direitos da personalidade da

pessoa humana. Tais direitos, que são de suma importância, ganharam status de normas de

eficácia plena e de tutela irrestrita. Todavia, a sociedade à época da promulgação da

Constituição Federal, não estava preparada para a recepção e reivindicação da defesa destes

direitos. Assim, com a crescente abordagem dos direitos inerentes à pessoa humana

(dignidade, honra, decoro, igualdade, etc) principalmente por parte dos meios de comunicação

e da comunidade jurídica, o cidadão comum passou a compreender e exercitar sua cidadania

exigindo o respeito a esses privilégios. As legislações infraconstitucionais, por sua vez,

passaram a regular a aplicação de tais direitos e a população passou a bater às portas do

Judiciário para reivindicá-los.

No que tange os danos de natureza moral, o mesmo não possui um caráter

de verificação objetiva, como a análise da capacidade sócio-econômica da vítima, muitas

vezes servem como base para o aumento da desigualdade social criando categorias de

ofendidos com suas reparações maiores ou menores, de acordo com seus patrimônios. Para

solucionar este problema, o magistrado deve, ao analisar cada caso, se ater à razoabilidade de

suas convicções e decidir com eqüidade evitando injustiças.

Após tendo sido expostos os principais pontos da relação jurídica entre

empregado e empregador e direitos e obrigações atribuídas a estes, pude concluir que o dano

moral esta presente em todas as atividades dos empregadores perante seus empregados, bem

como, por presunção aos seus pressupostos que nestes casos se equiparam ao empregador,

ficando este responsável por seus atos.

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A lei trabalhista já tratava do tema muito antes da promulgação da

Constituição Federal de 1988, desde a sua promulgação, mas o tratava de uma maneira

diferente da que tratamos hoje, antes seria uma forma de indenização material, mais com a

promulgação da CF, o ordenamento jurídico brasileiro mudou por um todo. Passou-se a dar

mais ênfase a Dignidade Humana, a Honra, e nasceu o então conhecido Dano Moral, e

aplicável principalmente nas relações trabalhistas.

O Código Civil de 2002 trouxe também por analogia para o direito do

trabalho a responsabilidade objetiva do empregador perante seus empregados, e com isso, em

todas as ações dos mesmos. O empregador passou a assumir o risco da atividade. Pois o

empregador usa da força dos serviços do empregado, para que este por troca de um salário no

fim do mês gere renda e lucratividade para si e para sua empresa. O empregador nem precisa

provar sua idoneidade, em estando em conformidade com a lei, ele será punido pelo dano de

qualquer maneira independente de culpa. Por isso, que hoje, se fala na responsabilidade

subjetiva, uma vez que deve haver prova de que o empregador agiu com culpa ou dolo para

ocorresse o dano, esse é o posicionamento da CF, e por ser a carta maior, é a que tem maior

forca perante os tribunais.

A respeito de competência sobre o julgamento da causa, também houve

algumas divergências, mas a CLT e a CF, deixaram bem nítidas que a competência seria da

Justiça do Trabalho, pois o fato ocorreu dentro da relação jurídica de emprego.

É na “velha” CLT que encontraremos as respostas mais claras e

contundentes acerca dessa competência desgarrada da relação de emprego, mas dela

decorrente.

Diz o art. 652, inciso IV, da CLT, in verbis:

Compete às Juntas de Conciliação e Julgamento (atual Vara do Trabalho): ................................. IV – os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho.

Como se vê, é inarredável das Varas do Trabalho a conciliação e o

julgamento de uma ação que tenha por objeto o dano moral, quando houver relação de causa

direta com o contrato de trabalho, por isso importa tratar-se de matéria afetada a outro ramo

de direito.

Neste passo, a EC 45/04 concluiu que a parte que pretender ser reparada por

danos sofridos em acidente do trabalho, deverá movimentar a engrenagem judicial trabalhista,

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que apreciará a pretensão relativa à indenização devida por empregador eventualmente

culpado.

Enfim, o dano moral esta presente nos ordenamentos jurídicos, devendo o

homem cuidar de sua integridade física e moral, podendo recorrer ao judiciário para buscar

satisfação ao dano material, moral ou estético eventualmente produzido.

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