dano moral aspectos relevantes

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MATERIAL DE APOIO DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Apostila 03 Prof. Pablo Stolze Gagliano Dano Moral 1. Dano Moral Aspectos Relevantes 1.1. Quantificação Na busca de parâmetros, a doutrina tem estabelecido critérios, mesmo dentro do sistema do arbitramento, para quantificar a reparação por dano moral (ver: Ronaldo Alves Andrade O Dano Moral à Pessoa e Sua Valoração Ed. Juarez de Oliveira). Segue, abaixo, texto de Débora Pinho e Gláucia Milicio, publicado no Site Consultor Jurídico (www.conjur.com.br), acerca dos critérios para a fixação do dano moral. Compare este texto com o informativo do STJ que segue ao final do material de apoio. É uma boa dica de pesquisa!

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Page 1: Dano Moral Aspectos Relevantes

MATERIAL DE APOIO

DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL

Apostila 03

Prof. Pablo Stolze Gagliano

Dano Moral

1. Dano Moral – Aspectos Relevantes

1.1. Quantificação

Na busca de parâmetros, a doutrina tem estabelecido critérios, mesmo dentro do sistema do

arbitramento, para quantificar a reparação por dano moral (ver: Ronaldo Alves Andrade – O Dano

Moral à Pessoa e Sua Valoração – Ed. Juarez de Oliveira).

Segue, abaixo, texto de Débora Pinho e Gláucia Milicio, publicado no Site Consultor Jurídico

(www.conjur.com.br), acerca dos critérios para a fixação do dano moral.

Compare este texto com o informativo do STJ que segue ao final do material de apoio.

É uma boa dica de pesquisa!

Page 2: Dano Moral Aspectos Relevantes

Preço moral

Juízes fixam indenizações maiores para danos menores

por Débora Pinho e Gláucia Milicio

A dor de uma advogada que teve seu nome relacionado ao da ex-garota de programa Bruna

Surfistinha no Google vale muito mais que a dos pais que perderam a filha de três anos

assassinada durante uma briga familiar. A conclusão pode ser tirada da etiqueta de preço colocada

pela primeira instância nos dois processos de indenização por danos morais.

Enquanto a advogada conseguiu uma indenização de R$ 4,3 milhões, a quantia fixada para os pais

da menina foi de R$ 30 mil. A falta de parâmetros em processos de danos morais dá margem à

subjetividade dos juízes de primeira instância na hora de arbitrar indenizações e as discrepâncias

correm soltas em casos concretos semelhantes.

O valor do sofrimento de uma mãe que teve sua filha assassinada por outra criança no Rio Grande

do Sul foi fixado em R$ 20 mil na primeira instância. Os pais da criança que atirou foram

condenados a indenizar porque, segundo os juízes, foram negligentes ao deixar a arma ao alcance

da criança. Os pais da vítima recorreram ao Tribunal de Justiça gaúcho. O valor foi aumentado

apenas em R$ 10 mil. Passou de R$ 20 mil para R$ 30 mil.

Em outro caso, a Justiça entendeu que difamar uma namorada por e-mail custa R$ 30 mil. O ex-

namorado da moça foi condenado por enviar mensagens eletrônicas afirmando que a ex era

“garota de programa”. A ex-namorada ajuizou ação na Comarca de Porto Alegre. Alegou que

recebeu diversas ligações telefônicas de pessoas que queriam contratá-la para programas sexuais.

Valor muito mais alto foi dado a uma cliente do Itaú confundida com uma ladra de banco. A juíza

Lucilia Ferreira Lammertz, da 33ª Vara Cível do Rio de Janeiro, avaliou o abalo em R$ 200 mil. Para

a juíza, é preciso ter mais respeito à honra alheia.

Já a família da servidora Sebastiana Monteiro dos Santos, que morreu em conseqüência de erro

médico num hospital público do Distrito Federal, deve receber apenas R$ 40 mil do estado. Isso se

Page 3: Dano Moral Aspectos Relevantes

não recorrer às instâncias superiores para aumentar o valor. A servidora morreu depois que um

auxiliar de enfermagem, em vez de aplicar 0,3 mililitros de adrenalina por via subcutânea, injetou

3 mililitros de remédio na veia da paciente. Detalhe: a servidora deu entrada no hospital

reclamando somente de coceira no pescoço.

A dor de um advogado ferido numa corrida de kart foi mais valorizada na 1ª Vara Cível de Belo

Horizonte. A primeira instância condenou a empresa a indenizar o advogado em R$ 41.281,88. A

empresa foi considerada negligente e culpada pelo acidente que provocou graves ferimentos.

Segundo os juízes, a empresa não orientou a forma como o kart deveria ser conduzido.

Para o juiz Tadeu Zanoni, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Osasco, a falta de parâmetros acontece

porque o juiz não tem uma tabela em sua frente com os preços a serem fixados nos casos de dano

moral. Ele diz que não se pode fazer regra de três para chegar a uma conclusão. “Cada caso é um

caso”, afirma.

O juiz ressaltou que numa determinada ocasião recebeu uma petição em que o autor levantou o

faturamento do Bradesco para pedir a metade do lucro. Nesse caso, ele entendeu que o

importante era apenas reparar ou remediar o dano e não garantir ao autor parte do lucro da

empresa. “O preço do dano moral está em queda”, ressalta.

Ivan Sartori, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, diz que o valor da indenização

deve ser fixado tendo em conta o grau da lesão e as condições das partes. Isso evita o

enriquecimento ilícito da vítima, afirma, ao mesmo tempo que reconhece, que as decisões são

totalmente subjetivas. “O que para um juiz é muito grave, para outro pode não ser”, compara.

Sartori afirma que para alguns casos, como os de morte de criança, a indenização deveria ser mais

alta. O desembargador explica que, às vezes, o Judiciário fixa valor irrisório por medo de estimular

a indústria do dano moral.

Page 4: Dano Moral Aspectos Relevantes

O advogado especialista em Direito Civil, Frederico Diamantino, do Diamantino Advogados

Associados, diz que os juízes deveriam analisar se a outra parte teve realmente a intenção de

causar o dano e qual o potencial ofensivo do ato.

No caso do Google, por exemplo, ele tem dúvidas se o portal teve mesmo intenção de relacionar o

nome da advogada com a ex-garota de programa. O advogado também defende que as

indenizações por morte devem ser mais altas. “Qualquer pai penhoraria a própria vida para ter o

filho de volta”.

Segundo ele, os casos de calúnia e difamação só deveriam ser analisados pela Justiça se os fatos

geraram repercussão extremamente negativa na vida da pessoa. “Se provado o dano, a

condenação deveria ser apenas educativa”, declara.

Já o advogado Antônio de Almeida e Silva, especialista em dano moral, reclama da incoerência

que permeia as decisões. “Juízes de primeira instância têm agido de maneiras díspares. Há casos

idênticos com valores diferentes. Apenas alguns se preocupam em verificar como o Superior

Tribunal de Justiça está decidindo sobre os casos em questão. A maioria age de acordo com a sua

própria convicção”, critica. E lembra que o importante é a decisão final que vai ser a do STJ.

“Ministros têm parâmetros e já é possível saber como irão decidir em cada caso”, diz.

Veja alguns valores fixados pelo STJ:

Motivo Valor da indenização

Inscrição indevida em cadastro

restritivo ou devolução indevida de

cheques e situações similares

50 salários mínimos

Manutenção do nome de

consumidor em cadastro de

inadimplentes após quitação de

débito

15 salários mínimos

Page 5: Dano Moral Aspectos Relevantes

Inscrição indevida na Serasa 50 salários mínimos

Entrega indevida de talonários de

cheques a falsário 150 salários mínimos

Devolução indevida de cheque 50 salários mínimos

Falha na entrega de conta telefônica

com inclusão de cliente em órgão de

restrição ao crédito

10 salários mínimos

Doméstica injustamente acusada de

furto em supermercado 25 salários mínimos

Exoneração indevida 50 salários mínimos

Extravio de bagagem 50 salários mínimos

Vítimas fatais de acidente aéreo 500 salários mínimos

Atropelamento com culpa

concorrente 100 salários mínimos

Detenção indevida, efetuada por

lojista, por suspeita de furto 300 salários

Perda precoce de filho em razão de

acidente com transporte urbano 500 salários mínimos

Tetraplegia resultante de queda em

supermercado 1.000 salários mínimos

Notícia ofensiva à honra de

magistrada 100 salários mínimos

Várias publicações ofensivas a um

ex-candidato à Presidência

101 salários mínimos por

publicação

Matéria injuriosa publicada por rede

nacional de televisão contra modelo 500 salários mínimos

Ofensa veiculada na imprensa 400 salários mínimos

Publicação de foto vexatória e não R$ 50.000,00

Page 6: Dano Moral Aspectos Relevantes

autorizada de atriz

Fonte: Jus Navigandi

Texto extraído da Revista Consultor Jurídico, 24 de março de 2007 www.conjur.com.br

(http://www.conjur.com.br/static/text/53979,1)

Conforme vimos em aula, merecem também referência, ainda que ilustrativa, alguns Projetos de Lei que

visam a estabelecer o “tarifamento legal da reparação por dano moral” no Brasil:

PROJETOS DE LEI (TARIFAMENTO DO DANO MORAL)1

PL 7124/2002

Dispõe sobre danos morais e sua reparação.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Constitui dano moral a ação ou omissão que ofenda o patrimônio moral da pessoa física ou

jurídica, e dos entes políticos, ainda que não atinja o seu conceito na coletividade.

Art. 2º São bens juridicamente tutelados por esta Lei inerentes à pessoa física: o nome, a honra, a

fama, a imagem, a intimidade, a credibilidade, a respeitabilidade, a liberdade de ação, a auto-

estima e o respeito próprio.

Art. 3º São bens juridicamente tutelados por esta Lei inerentes à pessoa jurídica e aos entes

políticos: a imagem, a marca, o símbolo, o prestígio, o nome e o sigilo da correspondência.

Art. 4º São considerados responsáveis pelo dano moral todos os que tenham colaborado para a

ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão.

Art. 5º A indenização por danos morais pode ser pedida cumulativamente com os danos materiais

decorrentes do mesmo ato lesivo.

1 O PL 7124 de 2002, cuja referência mantivemos na apostila para efeito de

complementação de pesquisa e ilustração, tem o seguinte andamento, segundo o site da

Câmara dos Deputados (acessado em 21 de novembro de 2010):

6/8/2010 -

PLENÁRIO (PLEN) - Arquivado nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD

(inconstitucionalidade). DCD de 10/08/10 PÁG 36611 COL 02.(publicação)

Page 7: Dano Moral Aspectos Relevantes

§ 1º Se houver cumulação de pedidos de indenização, o juiz, ao exarar a sentença, discriminará os

valores das indenizações a título de danos patrimoniais e de danos morais.

§ 2º A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danos

emergentes, não se reflete na avaliação dos danos morais.

Art. 6º A situação de irregularidade do agente ou preposto da Administração não a isenta da

responsabilidade objetiva de indenizar o dano moral, ressalvado o direito de regresso.

Art. 7º Ao apreciar o pedido, o juiz considerará o teor do bem jurídico tutelado, os reflexos

pessoais e sociais da ação ou omissão, a possibilidade de superação física ou psicológica, assim

como a extensão e duração dos efeitos da ofensa.

§ 1º Se julgar procedente o pedido, o juiz fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos,

em um dos seguintes níveis:

I – ofensa de natureza leve: até R$ 20.000,00 (vinte mil reais);

II – ofensa de natureza média: de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a R$ 90.000,00 (noventa mil reais);

III – ofensa de natureza grave: de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) a R$ 180.000,00 (cento

e oitenta mil reais).

§ 2º Na fixação do valor da indenização, o juiz levará em conta, ainda, a situação social, política e

econômica das pessoas envolvidas, as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral, a

intensidade do sofrimento ou humilhação, o grau de dolo ou culpa, a existência de retratação

espontânea, o esforço efetivo para minimizar a ofensa ou lesão e o perdão, tácito ou expresso.

§ 3º A capacidade financeira do causador do dano, por si só, não autoriza a fixação da indenização

em valor que propicie o enriquecimento sem causa, ou desproporcional, da vítima ou de terceiro

interessado.

§ 4º Na reincidência, ou diante da indiferença do ofensor, o juiz poderá elevar ao triplo o valor da

indenização.

Art. 8º Prescreve em 6 (seis) meses o prazo para o ajuizamento de ação indenizatória por danos

morais, a contar da data do conhecimento do ato ou omissão lesivos ao patrimônio moral.

Art. 9º Os arts. 159 e 1.518 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil, não se aplicam

às ações de reparação de danos morais.

Art. 10. Esta Lei entra em vigor após decorrido 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial.

Senado Federal, em 7 de agosto de 2002

Page 8: Dano Moral Aspectos Relevantes

Senador Ramez Tebet

Presidente do Senado Federal

APENSO:

PROJETO DE LEI Nº 1443, DE 20032

(Do Sr.Dep. PASTOR REINALDO)

Estabelece critérios para a definição do dano moral

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º O dano moral decorre de ação ou omissão, dolosa ou culposa, que provoca, gravemente, e

de maneira injustificada, pertubação, intranquilidade e ofensa a outrem, contrária aos princípios e

valores consagrados na sociedade e no ordenamento jurídico.

§ 1º A crítica e a divergência de opiniões, ainda que veementes, não caracterizam o dano moral.

§ 2º A denúncia de fato ilícito, se verdadeiro, não gera direito à indenização.

Art. 2º A indenização do dano moral será fixada em até duas vezes e meia os rendimentos do

ofensor ao tempo do fato, desde que não exceda em dez vezes o valor dos rendimentos mensais

do ofendido, que será considerado limite máximo.

2 O PL mencionado, cuja referência mantivemos na apostila para efeito de complementação

de pesquisa, tem o seguinte andamento, segundo o site da Câmara dos Deputados

(acessado em 21 de novembro de 2010):

6/8/2010 -

PLENÁRIO (PLEN) - Arquivado nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD

(inconstitucionalidade). DCD de 10/08/10 PÁG 36611 COL 02.(publicação)

Page 9: Dano Moral Aspectos Relevantes

§ 1º Na ocorrência conjunta de dano material, o valor indenizatório do dano

moral não poderá exceder a dez vezes o valor daquele apurado.

§ 2º A autoridade judicial deverá levar em consideração, para a fixação do

montante indenizatório, o comportamento do ofendido e se houve retratação por parte do ofensor,

podendo reduzir a indenização e, até mesmo, cancelá-la se houver anuência do ofendido.

§ 3º O ressarcimento pelos danos moral e material são independentes e não se

excluem.

Art. 3º A ação por dano moral prescreve em um ano a contar do conhecimento

pelo ofendido.

Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

Com a proposição que levamos à consideração dos demais parlamentares,

buscamos fornecer parâmetros para a fixação do dano moral, uma vez que proliferam os pedidos

indenizatórios em nossos Tribunais claramente abusivos, onde fica patente a desproporção entre o dano

e o montante que se quer obter a seu pretexto. São pedidos formulados sem a mínima razoabilidade e

que nos fazem crer, infelizmente, na existência de uma indústria – no pior sentido da palavra -,

indenizatória.

Com isso, a máquina judiciária é mobilizada – juízes, advogados, promotores,

testemunhas, diversificados meios de prova – com custos altíssimos para as partes e também para o

Poder Público, quando é evidente a simulação com vistas a obter um valor acima do que seria razoável.

Portanto, queremos, sobretudo, oferecer parâmetros objetivos que permitam

estabelecer uma indenização justa.

Nesse sentido, contamos como apoio dos demais parlamentares.

Sala das Sessões, em de de 2003.

Page 10: Dano Moral Aspectos Relevantes

Deputado PASTOR REINALDO

1.2. Dano Moral “in re ipsa”

Outro tema da alta importância, na sua preparação para concurso, e que vimos em aula, foi o dano

moral “in re ipsa”, ou seja, o que dispensa a sua demonstração ou prova, por parte da vítima.

Acompanhemos, pois, a jurisprudência do STJ a respeito:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO EXTRAPATRIMONIAL.

INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE INADIMPLENTES.

AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. CULPA IN RE IPSA.

1. O órgão de proteção ao crédito é responsável pela conferência da exatidão entre o nome e o

CPF do consumidor, bem como pela comunicação prévia da pessoa cujo CPF se pretende

negativar.

2. Nos casos de inscrição indevida em cadastro de restrição ao crédito, o dano extrapatrimonial é

considerado in re ipsa.

3. Recurso especial provido.

(REsp 649.104/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em

13/10/2009, DJe 26/10/2009)

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE

INADIMPLENTES. COBRANÇA DE ANUIDADE E ENCARGOS DE CARTÃO DE CRÉDITO JÁ CANCELADO.

LEGITIMIDADE PASSIVA. PROVA DO DANO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO.

– Pertencendo a empresa administradora do cartão de crédito ao mesmo grupo econômico do

réu, este tem legitimidade passiva ad causam para responder por dano moral causado à

contratante. Precedentes.

– O dano moral não depende de prova; acha-se in re ipsa (REsp n. 296.634-RN, de minha relatoria).

– O valor da indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justiça

quando a quantia arbitrada se mostrar ínfima, de um lado, ou visivelmente exagerada, de outro.

Hipótese de fixação excessiva, a gerar enriquecimento indevido do ofendido.

Page 11: Dano Moral Aspectos Relevantes

Recurso especial conhecido, em parte, e provido.

(REsp 775.766/PR, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 07.02.2006, DJ

20.03.2006 p. 300)

CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. PLANO DE SAÚDE. CIRURGIA.

AUTORIZAÇÃO. AUSÊNCIA. QUANTUM. ALTERAÇÃO. RAZOABILIDADE.

1 - Não há falar em incidência do art. 1061 do Código Civil e muito menos na sua violação se, como

no caso presente, os danos morais não decorrem de simples inadimplemento contratual, mas da

própria situação vexatória (in re ipsa), criada pela conduta da empresa ré, marcada pelo descaso e

pelo desprezo de, no momento em que a segurada mais precisava, omitir-se em providenciar o

competente médico de seus quadros e autorizar a necessária cirurgia, preferindo, contudo, ao

invés disso, deixar a doente por mais de seis horas, sofrendo dores insuportáveis em uma

emergência de hospital e, ao final de tudo, ainda dizer que a liberação do procedimento médico

poderia demorar até 72 (setenta e duas) horas.

2 - Considerando as peculiaridades do caso e os julgados desta Corte em hipóteses semelhantes, a

estipulação do quantum indenizatório em aproximadamente R$ 23.000,00 não é desarrazoada,

não merecendo, por isso mesmo, alteração em sede especial.

3 - Recurso especial não conhecido, inclusive porque incidente a súmula 83/STJ.

(REsp 357.404/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em

04.10.2005, DJ 24.10.2005 p. 327)

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. REGISTRO NO CADASTRO DE DEVEDORES DO SERASA.

EXISTÊNCIA DE OUTROS REGISTROS. INDENIZAÇÃO.

POSSIBILIDADE.

A existência de registros de outros débitos do recorrente em órgãos de restrição de crédito não

afasta a presunção de existência do dano moral, que decorre in re ipsa, vale dizer, do próprio

registro de fato inexistente. Precedente.

Hipótese em que o próprio recorrido reconheceu o erro em negativar o nome do recorrente.

Recurso a que se dá provimento.

(REsp 718.618/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em

24.05.2005, DJ 20.06.2005 p. 285)

Page 12: Dano Moral Aspectos Relevantes

Em conclusão, vale lembrar que, recentemente, editou-se a Súmula 403 do STJ, com a seguinte

redação:

“Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de

pessoa com fins econômicos ou comerciais”.

1.3. Jurisprudência Selecionada

Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais.

(Súmula 420, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/03/2010, DJe 11/03/2010)

O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de

exclusão.

(Súmula 402, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009)

A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.

(Súmula 388, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009, DJe 01/09/2009)

É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

(Súmula 387, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009, DJe 01/09/2009)

Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral,

quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

(Súmula 385, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)

Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

(Súmula 370, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 16/02/2009, DJe 25/02/2009)

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.

(Súmula 362, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/10/2008, DJe 03/11/2008)

A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.

(Súmula 281, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28.04.2004, DJ 13.05.2004 p. 200)

A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

(Súmula 227, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08.09.1999, DJ 20.10.1999 p. 49)

São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

Page 13: Dano Moral Aspectos Relevantes

(Súmula 37, CORTE ESPECIAL, julgado em 12.03.1992, DJ 17.03.1992 p. 3172, REPDJ 19.03.1992 p.

3201)

CIVIL. DANOS ESTÉTICOS E MORAIS. CUMULAÇÃO. Os danos estéticos devem ser indenizados

independentemente do ressarcimento dos danos morais, sempre que tiverem causa autônoma.

Recurso especial conhecido e provido em parte.

(REsp 251.719/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 25.10.2005, DJ

02.05.2006 p. 299)

OBS.: Este entendimento (cumulação dos danos moral e estético) foi recentemente reafirmado,

consoante se lê abaixo.

Note-se, inclusive, no primeiro julgado transcrito, a influência da doutrina do desestimulo (teoria

do punitive damage).

RECURSO ESPECIAL DE JPGB E OUTROS. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.

ERRO MÉDICO. HOSPITAL MUNICIPAL. AMPUTAÇÃO DE BRAÇO DE RECÉM-NASCIDO. DANOS

MORAIS E ESTÉTICOS. CUMULAÇÃO.

POSSIBILIDADE. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM FAVOR DOS PAIS E IRMÃO.

RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

1. É possível a cumulação de indenização por danos estético e moral, ainda que derivados de um

mesmo fato, desde que um dano e outro possam ser reconhecidos autonomamente, ou seja,

devem ser passíveis de identificação em separado. Precedentes.

2. Na hipótese dos autos, em Hospital Municipal, recém-nascido teve um dos braços amputado em

virtude de erro médico, decorrente de punção axilar que resultou no rompimento de veia, criando

um coágulo que bloqueou a passagem de sangue para o membro superior.

3. Ainda que derivada de um mesmo fato - erro médico de profissionais da rede municipal de

saúde -, a amputação do braço direito do recém-nascido ensejou duas formas diversas de dano, o

moral e o estético. O primeiro, correspondente à violação do direito à dignidade e à imagem da

vítima, assim como ao sofrimento, à aflição e à angústia a que seus pais e irmão foram

submetidos, e o segundo, decorrente da modificação da estrutura corporal do lesado, enfim, da

deformidade a ele causada.

Page 14: Dano Moral Aspectos Relevantes

4. Não merece prosperar o fundamento do acórdão recorrido no sentido de que o recém-nascido

não é apto a sofrer o dano moral, por não possui capacidade intelectiva para avaliá-lo e sofrer os

prejuízos psíquicos dele decorrentes. Isso, porque o dano moral não pode ser visto tão-somente

como de ordem puramente psíquica - dependente das reações emocionais da vítima -, porquanto,

na atual ordem jurídica-constitucional, a dignidade é fundamento central dos direitos humanos,

devendo ser protegida e, quando violada, sujeita à devida reparação.

5. A respeito do tema, a doutrina consagra entendimento no sentido de que o dano moral pode

ser considerado como violação do direito à dignidade, não se restringindo, necessariamente, a

alguma reação psíquica (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 7ª ed. São

Paulo: Atlas, 2007, pp. 76/78).

6. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 447.584/RJ, de relatoria do Ministro Cezar

Peluso (DJ de 16.3.2007), acolheu a proteção ao dano moral como verdadeira "tutela

constitucional da dignidade humana", considerando-a "um autêntico direito à integridade ou à

incolumidade moral, pertencente à classe dos direitos absolutos".

7. O Ministro Luix Fux, no julgamento do REsp 612.108/PR (1ª Turma, DJ de 3.11.2004), bem

delineou que "deflui da Constituição Federal que a dignidade da pessoa humana é premissa

inarredável de qualquer sistema de direito que afirme a existência, no seu corpo de normas, dos

denominados direitos fundamentais e os efetive em nome da promessa da inafastabilidade da

jurisdição, marcando a relação umbilical entre os direitos humanos e o direito processual".

8. Com essas considerações, pode-se inferir que é devida a condenação cumulativa do Município à

reparação dos danos moral e estético causados à vítima, na medida em que o recém-nascido

obteve grave deformidade - prejuízo de caráter estético - e teve seu direito a uma vida digna

seriamente atingido - prejuízo de caráter moral. Inclusive, a partir do momento em que a vítima

adquirir plena consciência de sua condição, a dor, o vexame, o sofrimento e a humilhação

certamente serão sentimentos com os quais ela terá de conviver ao longo de sua vida, o que

confirma ainda mais a efetiva existência do dano moral. Desse modo, é plenamente cabível a

cumulação dos danos moral e estético nos termos em que fixados na r. sentença, ou seja,

conjuntamente o quantum indenizatório deve somar o total de trezentos mil reais (R$

300.000,00). Esse valor mostra-se razoável e proporcional ao grave dano causado ao recém-

nascido, e contempla também o caráter punitivo e pedagógico da condenação.

Page 15: Dano Moral Aspectos Relevantes

9. Quanto ao pedido de majoração da condenação em danos morais em favor dos pais e do irmão

da vítima, ressalte-se que a revisão do valor da indenização somente é possível quando

exorbitante ou insignificante a importância arbitrada. Essa excepcionalidade, contudo, não se

aplica à hipótese dos autos. Isso, porque o valor da indenização por danos morais - fixado em R$

20.000,00, para cada um dos pais, e em R$ 5.000,00, para o irmão de onze (11) anos, totalizando,

assim, R$ 45.000,00 -, nem é irrisório nem desproporcional aos danos morais sofridos por esses

recorrentes. Ao contrário, a importância assentada foi arbitrada com bom senso, dentro dos

critérios de razoabilidade e proporcionalidade.

10. Recurso especial parcialmente provido, apenas para determinar a cumulação dos danos moral

e estético, nos termos em que fixados na r. sentença, totalizando-se, assim, trezentos mil reais (R$

300.000, 00).

RECURSO ESPECIAL ADESIVO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. PROCESSUAL CIVIL.

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. REVISÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO.

INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO-CONHECIDO.

1. O recurso especial adesivo fica prejudicado quanto ao valor da indenização da vítima, tendo em

vista o exame do tema por ocasião do provimento parcial do recurso especial dos autores.

2. O quantum indenizatório dos danos morais fixados em favor dos pais e do irmão da vítima, ao

contrário do alegado pelo Município, não é exorbitante (total de R$ 45.000,00). Conforme

anteriormente ressaltado, esses valores foram fixados em patamares razoáveis e dentro dos

limites da proporcionalidade, de maneira que é indevida sua revisão em sede de recurso especial,

nos termos da Súmula 7/STJ.

3. Recurso especial adesivo não-conhecido.

(REsp 910.794/RJ, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/10/2008, DJe

04/12/2008)

RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL E ESTÉTICO.

CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. VALOR ARBITRADO EXAGERADO. REDUÇÃO. BASE DE CÁLCULO DA

PENSÃO. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INCLUSÃO DO CAPITAL

NECESSÁRIO PARA CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. IMPOSSIBILIDADE.

1. Somente é possível alterar o valor arbitrado a título de danos morais em sede de recurso

especial quando este se mostra ínfimo ou exagerado, como na espécie, em que se reconhece a

violação aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Precedentes.

Page 16: Dano Moral Aspectos Relevantes

2. A base de cálculo da pensão deferida em razão da redução da capacidade laborativa de vítima

que não exerce atividade remunerada deve se restringir a 1 (um) salário mínimo.

3. Nos casos de responsabilidade extracontratual, os juros de mora incidem a partir do evento

danoso. Súmula 54/STJ.

4. No caso de arbitramento de pensão, o capital necessário a produzir a renda correspondente às

prestações vincendas não deve integrar a base de cálculo da verba honorária. Precedentes.

5. O pleito de redução do montante arbitrado a título de honorários advocatícios esbarra no óbice

da súmula 07/STJ, exceto nas situações em que exorbitante ou irrisório o quantum fixado pelas

instâncias ordinárias, o que não ocorre na hipótese vertente.

6. Recursos especiais conhecidos em parte e, nessa extensão, providos.

(REsp 519258/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em

06/05/2008, DJe 19/05/2008)

DANOS MORAIS. LEGITIMIDADE AD CAUSAM. NOIVO. MORTE DA NUBENTE.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, após voto-vista que acompanhou o relator, deu provimento

ao recurso especial para restabelecer a sentença que extinguiu o processo sem julgamento do

mérito, por considerar que o noivo não possui legitimidade ativa ad causam para pleitear

indenização por danos morais em razão do falecimento de sua nubente. Inicialmente, destacou o

Min. Relator que a controvérsia em exame – legitimidade para propor ação de reparação por

danos extrapatrimoniais em decorrência da morte de ente querido – apesar de antiga, não está

resolvida no âmbito jurisprudencial. Entretanto, alguns pontos vêm se firmando em recentes

decisões judiciais. De fato, não há dúvida quanto à legitimidade ativa do cônjuge, do companheiro

e dos parentes de primeiro grau do falecido. Da mesma forma, é uníssono que, em hipóteses

excepcionais, o direito à indenização pode ser estendido às pessoas estranhas ao núcleo familiar,

devendo o juiz avaliar se as particularidades de cada caso justificam o alargamento a outros

sujeitos que nele se inserem. Nesse sentido, inclusive, a Turma já conferiu legitimidade ao

sobrinho do falecido que integrava o núcleo familiar, bem como à sogra que fazia as vezes da mãe.

Observou o Min. Relator que, diante da ausência de regra legal específica acerca do tema, caberia

ao juiz a integração hermenêutica. Após um breve panorama acerca das origens do direito de

Page 17: Dano Moral Aspectos Relevantes

herança e da ordem de vocação hereditária, e à vista de uma leitura sistemática de diversos

dispositivos de lei que se assemelham com a questão em debate (art. 76 do CC/1916; arts. 12, 948,

I, 1.829, todos do CC/2002 e art. 63 do CPP), sustentou-se que o espírito do ordenamento jurídico

brasileiro afasta a legitimação daqueles que não fazem parte do núcleo familiar direto da vítima.

Dessarte, concluiu-se que a legitimação para a propositura da ação por danos morais deve alinhar-

se à ordem de vocação hereditária, com as devidas adaptações, porquanto o que se busca é a

compensação exatamente de um interesse extrapatrimonial. Vale dizer, se é verdade que tanto na

ordem de vocação hereditária quanto na indenização por dano moral em razão da morte, o

fundamento axiológico são as legítimas afeições nutridas entre quem se foi e quem ficou, para

proceder à indispensável limitação da cadeia de legitimados para a indenização, nada mais correto

que conferir aos mesmos sujeitos o direito de herança e o direito de pleitear a compensação

moral. Porém, a indenização deve ser considerada de modo global para o núcleo familiar, e não a

cada um de seus membros, evitando-se a pulverização de ações de indenização. Segundo se

afirmou, conferir a possibilidade de indenização a sujeitos não inseridos no núcleo familiar

acarretaria a diluição indevida dos valores em prejuízo dos que efetivamente fazem jus à

reparação. Acrescentou-se, ainda, o fato de ter havido a mitigação do princípio da reparação

integral do dano, com o advento da norma prevista no art. 944, parágrafo único, do novo CC. O

sistema de responsabilidade civil atual rechaça indenizações ilimitadas que alcançam valores que,

a pretexto de reparar integralmente vítimas de ato ilícito, revelam nítida desproporção entre a

conduta do agente e os resultados ordinariamente dela esperados. Assim, conceder legitimidade

ampla e irrestrita a todos aqueles que, de alguma forma, suportaram a dor da perda de alguém

significa impor ao obrigado um dever também ilimitado de reparar um dano cuja extensão será

sempre desproporcional ao ato causador. Portanto, além de uma limitação quantitativa da

condenação, é necessária a limitação subjetiva dos beneficiários nos termos do artigo supracitado.

No voto-vista, registrou a Min. Maria Isabel Gallotti não considerar ser aplicável a ordem de

vocação hereditária para o efeito de excluir o direito de indenização dos ascendentes quando

também postulado por cônjuge e filhos, pois é sabido que não há dor maior do que a perda de um

filho, uma vez que foge à ordem natural das coisas. Reservou-se, também, para apreciar quando se

puser concretamente a questão referente à legitimidade de parentes colaterais para postular a

indenização por dano moral em concorrência com cônjuge, ascendentes e descendentes.

Page 18: Dano Moral Aspectos Relevantes

Precedentes citados: REsp 239.009-RJ, DJ 4/9/2000, e REsp 865.363-RJ, DJe 11/11/2010. REsp

1.076.160-AM, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/4/2012.

DANOS MORAL E MATERIAL. ALEMANHA.

O autor, brasileiro naturalizado e residente no Brasil, busca indenização por danos morais e

materiais decorrentes de diversas atrocidades de que foi vítima à época da ocupação da França

pela Alemanha Nazista. Tais atos tiveram como fundamento, meramente, o fato de ser o autor

judeu de nascença e se incluíam num projeto maior de eugenia, com o extermínio do povo judeu

na Alemanha Nazista e nos países por ela ocupados. Para a Min. Relatora, dois princípios devem

atuar na definição da jurisdição brasileira para conhecer de determinada causa. Além dos arts. 88

e 89 do CPC, que não são exaustivos, deve-se ter atenção, sempre, para os princípios da

efetividade e da submissão. Compreendida a atuação deles, resta aplicá-los à hipótese dos autos.

No precedente RO 13-PE, DJ 17/9/2007, a competência da autoridade brasileira foi fixada com

base no art. 88, I, do CPC e a Min. Relatora firmou que a mesma idéia pode ser estendida à

hipótese dos autos – a representação oficial do país, na plenitude, mediante sua embaixada e

consulados no Brasil –, ainda destacando que os incisos da referenciada norma legal constituem

pressupostos independentes e não conjuntos. Pelo princípio da efetividade, o Estado tem

interesse no julgamento da causa. Diante disso, entendeu a Min. Relatora ser imperativo que se

determine a citação, no processo sub judice, da República Federal da Alemanha para que,

querendo, oponha resistência à sua submissão à autoridade judiciária brasileira. Somente após

essa oposição, se ela for apresentada, é que se poderá decidir a questão. Tal medida não encontra

óbice nem nos comandos dos arts. 88 e 89 do CPC, que tratam da competência (jurisdição)

internacional brasileira, nem no princípio da imunidade de jurisdição que, segundo a mais

moderna interpretação, prevalece apenas para as ações nas quais se discute a prática dos atos de

império pelo Estado estrangeiro, não sendo passível de ser invocado para as ações nas quais se

discutem atos de gestão. Diante disso, a Turma deu provimento ao recurso para determinar a

citação da ré. RO 64-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/5/2008.

Page 19: Dano Moral Aspectos Relevantes

Separação judicial. Proteção da pessoa dos filhos (guarda e interesse). Danos morais (reparação).

Cabimento.

1. O cônjuge responsável pela separação pode ficar com a guarda do filho menor, em se tratando

de solução que melhor atenda ao interesse da criança. Há permissão legal para que se regule por

maneira diferente a situação do menor com os pais. Em casos tais, justifica-se e se recomenda que

prevaleça o interesse do menor.

2. O sistema jurídico brasileiro admite, na separação e no divórcio, a indenização por dano moral.

Juridicamente, portanto, tal pedido é possível: responde pela indenização o cônjuge responsável

exclusivo pela separação.

3. Caso em que, diante do comportamento injurioso do cônjuge varão, a Turma conheceu do

especial e deu provimento ao recurso, por ofensa ao art. 159 do Cód. Civil, para admitir a

obrigação de se ressarcirem danos morais.

(REsp 37051/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA TURMA, julgado em 17.04.2001, DJ

25.06.2001 p. 167)

RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO. DANOS MORAIS.

IMPOSSIBILIDADE.

1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à

aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de

reparação pecuniária.

2. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 757.411/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em

29.11.2005, DJ 27.03.2006 p. 299)

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO MOVIDA EM RAZÃO DE ACIDENTE

AUTOMOBILÍSTICO CAUSADO POR "BURACO' EM RODOVIA EM MAU ESTADO DE CONSERVAÇÃO.

RESPONSABILIDADE DO ESTADO APURADA E RECONHECIDA, PELA SENTENÇA E PELO ACÓRDÃO, A

PARTIR DE FARTO E ROBUSTO MATERIAL PROBATÓRIO. CONDENAÇÃO DO ESTADO AO

PAGAMENTO DE PENSIONAMENTO VITALÍCIO E DANOS MORAIS. ALEGADA EXORBITÂNCIA DO

VALOR INDENIZATÓRIO (DE R$ 30.000,00) E DE HONORÁRIOS (R$ 5.000,00).

DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DO ÓBICE INSCRITO NA SÚMULA 7/STJ.

Page 20: Dano Moral Aspectos Relevantes

MANIFESTA LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO, ORA RECORRENTE. RECURSO ESPECIAL NÃO-

CONHECIDO.

1. Trata-se de recurso especial (fls. 626/634) interposto pelo Estado do Espírito Santo em autos de

ação indenizatória de responsabilidade civil e de danos morais, com fulcro no art. 105, III, "a", do

permissivo constitucional, contra acórdão prolatado pelo Tribunal Justiça do Estado do Espírito

Santo que, em síntese, condenou o Estado recorrente ao pagamento de danos morais e pensão

vitalícia à parte ora recorrida.

2. Conforme registram os autos, diversos familiares do autor, inclusive sua filha e esposa,

faleceram em razão de acidente automobilístico causado, consoante se constatou na instrução

processual, pelo mau estado de conservação da rodovia em que trafegavam, na qual um buraco de

grande proporção levou ao acidente fatal ora referido. Essa evidência está consignada na

sentença, que de forma minudente realizou exemplar análise das provas coligidas, notadamente

do laudo pericial

3. Em recurso especial duas questões centrais são alegadas pelo Estado do Espírito Santo: a -

exorbitância do valor fixado a título de danos morais, estabelecido em R$ 30.000,00; b -

inadequação do valor determinado para os honorários (R$ 5.000,00).

4. Todavia, no que se refere à adequação da importância indenizatória indicada, de R$ 30.000,00,

uma vez que não se caracteriza como ínfima ou exorbitante, refoge por completo à discussão no

âmbito do recurso especial, ante o óbice inscrito na Súmula 7/STJ, que impede a simples revisão

de prova já apreciada pela instância a quo, que assim dispôs: O valor fixado pra o dano moral está

dentro dos parâmetros legais, pois há eqüidade e razoabalidade no quantum fixado. A boa

doutrina vem conferindo a esse valor um caráter dúplice, tanto punitivo do agente quanto

compensatório em relação à vítima.

5. Quanto ao valor de honorários, semelhante juízo se aplica, uma vez que decorrente

exclusivamente da apreciação dos elementos fáticos presentes no processo. Confira-se (fl. 606):

Em relação aos honorários de sucumbência, estes são reconhecidos como um direito do advogado

da parte que venceu a demanda, devendo a parte vencida, neste caso o apelante ESTADO DO

ESPÍRITO SANTO, arcar com o ônus sucumbencial. Entendo que, em se tratando do caso concreto,

o valor dos honorários advocatícios foi fixado de forma equilibrada e justa.

Page 21: Dano Moral Aspectos Relevantes

6. A alegada ilegitimidade passiva do Estado querelante se encontra determinantemente afastada,

haja vista o expresso liame causal estabelecido nos autos, com amparo em elementos probatórios

fartos e robustos, demonstrados à saciedade no curso da instrução processual.

7. Recurso especial conhecido em parte e não-provido.

(REsp 965.500/ES, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ

25/02/2008 p. 1)

2. Textos Complementares

Editorial 24 – Método Bifásico na Fixação da Indenização por Dano Moral

Chamou a nossa atenção noticiário do Superior Tribunal de Justiça veiculado em maio deste ano.

Como sabemos, um dos pontos críticos do Direito Civil é, precisamente, a quantificação do dano

moral, digladiando-se, em doutrina, aqueles que defendem o método da “tarifação legal” – pelo

qual caberia à própria lei fixar antecipadamente o valor do dano moral devido – com adeptos da

corrente preponderante que defende a fixação judicial mediante “arbitramento”.

Sucede que, ainda que se adote o critério do arbitramento, o juiz, ao fixar a indenização devida por

dano moral, não pode, logicamente, basear-se em meras conjecturas pessoais, em seu “achismo”,

em detrimento da adoção de critérios mais seguros de hermenêutica, sempre à luz do ônus da

argumentação jurídica sustentado pelo filósofo Robert Alexy .

Ora, nesse esforço de definição de bases e referenciais interpretativos, decisão do STJ apresentou

um interessante método de definição da indenização devida por dano moral, ainda desconhecido

por muitos, e que merece a nossa atenção.

É o chamado método bifásico de fixação da indenização por dano moral.

No caso que serviu de base a esta linha de raciocínio, “o STJ determinou pagamento de 500

salários mínimos, o equivalente a R$ 272,5 mil, como compensação por danos morais à família de

uma mulher morta em atropelamento. O acidente aconteceu no município de Serra (ES). A decisão

da Terceira Turma, unânime, adotou os critérios para arbitramento de valor propostos pelo

ministro Paulo de Tarso Sanseverino, relator do caso. De acordo com o processo, o motorista

estaria dirigindo em velocidade incompatível com a via. Ele teria atravessado a barreira eletrônica

a 66 km/h, velocidade acima da permitida para o local, de 40 km/h, e teria deixado de prestar

Page 22: Dano Moral Aspectos Relevantes

socorro à vítima após o atropelamento. Ela tinha 43 anos e deixou o esposo e quatro filhos, sendo

um deles judicialmente interditado”.

O ministro, na oportunidade, aplicando o direito à espécie, utilizou um critério dual ou bifásico de

fixação da indenização devida, pelo qual, após pesquisa de casos semelhantes, o julgador chega a

um referencial médio de valor, para, em seguida, majorar ou minorar a indenização, à luz das

peculiaridades do caso concreto:

“O ministro explicou que o objetivo do método bifásico é estabelecer um ponto de equilíbrio entre

o interesse jurídico lesado e as peculiaridades do caso, de forma que o arbitramento seja

equitativo. Segundo ele, o método é o mais adequado para a quantificação da compensação por

danos morais em casos de morte. ‘Esse método bifásico é o que melhor atende às exigências de

um arbitramento equitativo da indenização por danos extrapatrimoniais´, afirmou.

Pelo método bifásico, fixa-se inicialmente o valor básico da indenização, levando em conta a

jurisprudência sobre casos de lesão ao mesmo interesse jurídico. Assim, explicou o ministro,

assegura-se ‘uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes’. Em seguida, o

julgador chega à indenização definitiva ajustando o valor básico para mais ou para menos,

conforme as circunstâncias específicas do caso.

O ministro destacou precedentes jurisprudenciais em que foi usado o método bifásico. Em um dos

julgamentos citados, foi entendido que cabe ao STJ revisar o arbitramento quando o valor fixado

nos tribunais estaduais destoa dos estipulados em outras decisões recentes da Corte, sendo

observadas as peculiaridades dos processos”.

Fonte:

http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101710&tmp.

area_anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=bifásico acessado em 03 de junho de 2011.

Trata-se de um critério hermenêutico ainda não amplamente conhecido, e que merece a nossa atenção,

pela sua importância no âmbito da Responsabilidade Civil.

Page 23: Dano Moral Aspectos Relevantes

Bom estudo, meus amigos!

Um abraço no coração, meus amigos!

Pablo Stolze

03 de junho de 2011.

Editorial disponível no www.pablostolze.com.br

RESPONSABILIDADE PELA GUARDA DE VEÍCULOS EM ESTACIONAMENTOS3

Fernando Gaburri

Graduado pela Faculdade de Direito do Instituto Vianna Júnior, em Juiz de Fora-MG. Mestre em

Direito Civil Comparado pela PUC-SP. Professor de Direito Civil na UFBA e de Teoria Geral do Direito

na AREA1FTE, em Salvador-BA. Co-autor da obra Direito Civil v. 5, editada pela RT em 2008, em que

escreveu, dentre outros, o capítulo 22, que versa sobre o tema em questão.

De quem é a responsabilidade por dano ou subtração de veículos em estacionamentos de

estabelecimentos empresariais, como supermercados, shoppings centers e congêneres?

O dano ou subtração – furto ou roubo – de veículos em pátio destinado a estacionamento, poderá

ser de responsabilidade do estabelecimento empresarial que o disponibiliza. Tudo dependerá da

resposta à seguinte indagação: a guarda do veículo foi transferida para o estabelecimento

empresarial? Em caso de resposta afirmativa, o supermercado, shopping center ou congênere

deverá ressarcir os danos sofridos pelo proprietário, em caso de avaria ou subtração do veículo

que lá estiver estacionado.

Se a pedra de toque da responsabilidade pelos encarregados da custódia de veículos é a

transferência da guarda dos mesmos, resta-nos identificar quando ocorre essa transferência.

Em primeiro lugar, não se confundem guarda e depósito, porque este último é o contrato pelo

qual uma pessoa entrega uma coisa móvel a um depositário, para que este a conserve e depois a

3 Texto gentilmente cedido pelo professor e amigo Fernando Gaburri (Recomendamos,

inclusive, aos nossos alunos, a excelente obra Direito Civil – Responsabilidade Civil – escrita

pelos brilhantes co-autores: Fernando Gaburri, Leonardo Beraldo, Romualdo Baptista dos

Santos, Sílvia Vassilieff, Vaneska Araújo).

Page 24: Dano Moral Aspectos Relevantes

restitua. O depositário tem total disponibilidade sobre a coisa. No nosso caso, para haver depósito

do veículo, seria necessário que as chaves fossem entregues ao estabelecimento que oferece o

estacionamento. Como sabemos, em alguns estacionamentos não há entrega de chaves. Assim,

não se trata de depósito, mas sim de um contrato de guarda ou vigilância, que não é previsto pelas

leis brasileiras.

É comum que nesses locais exista uma tabuleta, com o aviso de que o estabelecimento não se

responsabiliza em caso de dano ou subtração do veículo. Entretanto, tal aviso não é suficiente para

excluir essa responsabilidade pois, se a guarda do veículo foi transferida, o dever de indenizar

persiste ainda que o estacionamento seja gratuito. Na verdade, essa gratuidade é apenas

aparente, porque, ao oferecer estacionamento, o estabelecimento empresarial atrai para si um

maior número de clientes.

Como fica essa responsabilidade no caso de o estacionamento não ter vigilância?

É comum que em alguns supermercados o estacionamento não seja vigiado, podendo qualquer

pessoa nele ingressar ou dele sair, mesmo quem use aquele espaço mas não se dirija ao

estabelecimento. Na prática, algumas pessoas estacionam seus veículos no pátio do supermercado

e vão para o trabalho ou tomam transporte público, e só voltam àquele local no final do dia, ou

mesmo no dia seguinte, para retirar o veículo, que ficou ali estacionado gratuitamente.

Se não houve a entrega ou a transferência da guarda do veículo, se não foi emitido bilhete e, ao

final, se não foi preciso que o condutor se identificasse para sair dali com seu veículo, então não

haverá responsabilidade. Ou seja, não havendo efetiva entrega do veículo, não existirá o dever de

guarda

O mesmo vale para as universidades e escolas que não mantêm vigilância em seus

estacionamentos. Neste caso, os alunos, professores e funcionários podem estacionar seus

veículos, mas o estabelecimento de ensino não terá nenhuma responsabilidade. O Superior

Tribunal de Justiça – STJ – já decidiu neste sentido, no Recurso Especial 438870-DF, de 12.04.2005.

E quando meu veículo é entregue a um manobrista?

É comum que nas grandes cidades, os hotéis e restaurantes ofereçam estacionamento com serviço

de manobrista. Neste caso, o dono do veículo vê-se obrigado a entregar suas chaves ao

funcionário do estabelecimento, o que caracteriza o contrato de depósito.

Page 25: Dano Moral Aspectos Relevantes

Nesta hipótese haverá responsabilidade do estabelecimento por dano ou subtração, ainda que o

estacionamento seja gratuito. Na verdade, como já dissemos, essa gratuidade é apenas aparente,

porque, por exemplo, o restaurante que oferece estacionamento atrai muito mais clientela do que

aquele outro que o não oferece. Neste sentido já decidiu o STJ no Recurso Especial 419465-DF, de

25.02.2003.

É importante esclarecer que se o condutor estacionar, por conta própria, seu veículo nas

imediações do restaurante, confiando-o aos cuidados dos chamados flanelinhas, o

estabelecimento não terá nenhuma responsabilidade.

É semelhante a situação dos postos de combustível e das oficinas mecânicas, porque também

ocorre a efetiva entrega do veículo. Se o mecânico da oficina causar danos ao veículo enquanto o

manobra ou quando o testa na via pública, o estabelecimento deverá indenizar o proprietário.

O STJ, ao julgar o Recurso Especial 218470-SP, entendeu que a oficina fica responsável até mesmo

na ocorrência de assalto à mão armada, porque se trata de acontecimento previsível em negócio

dessa espécie, que se caracteriza na manutenção de loja em local de fácil acesso, em que se

encontram automóveis e demais objetos de valor.

E quando deixo meu veículo nas zonas azuis?

As zonas ou áreas azuis são espaços públicos destinados a estacionamento, explorados pelo

município, ou por empresas permissionárias. Trata-se de um serviço público prestado mediante

remuneração.

Neste caso, haverá responsabilidade do município ou de quem lhe faz as vezes – a empresa

permissionária – por força do § 6º do artigo 37 da Constituição Federal.

Page 26: Dano Moral Aspectos Relevantes

3. Fique por Dentro

Indenização por paraplegia deve ser maior que em casos de morte

19/11/2010

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aumentou de R$ 40 mil para R$ 250 mil a

indenização por dano moral em favor de um cidadão de Santa Catarina que ficou paraplégico depois de

um acidente de trânsito.

“Não há como negar o impacto psicológico e a dor íntima que pode causar para um pai de família,

saudável e ativo, a constatação de ver-se preso a uma cadeira de rodas pelo resto de sua vida,

demandando cuidados exclusivos e permanentes”, afirmou a relatora do caso, ministra Nancy Andrighi.

O acidente foi causado por um caminhão conduzido pelo preposto do proprietário do caminhão, ao fazer

ultrapassagem em local proibido. Para evitar a colisão frontal, o carro em que estavam a vítima, sua

esposa e seu filho foi desviado para o acostamento e, descontrolado, acabou batendo em outro veículo.

Processado, o proprietário do caminhão foi condenado a pagar os danos materiais, mais uma

indenização por danos morais e estéticos no valor de R$ 40 mil e pensão de um salário-mínimo por mês

para a vítima paraplégica. O juiz determinou, ainda, o pagamento de R$ 15 mil ao filho, como

compensação pela dor psicológica de ver o pai naquela situação.

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), ao julgar o recurso de apelação, afastou o pagamento dos

danos morais para o filho da vítima e manteve os demais itens da sentença, inclusive o valor de R$ 40 mil

ao pai, considerado dentro dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Inconformada, a

vítima recorreu ao STJ, na tentativa de majorar a própria indenização, restabelecer a do filho e aumentar

também a pensão mensal.

Segundo a ministra Nancy Andrighi, o pai não conseguiu demonstrar a ocorrência de ilegalidade a

permitir a análise, pelo tribunal superior, do pedido de indenização ao filho. Quanto à pensão mensal, a

majoração foi pedida com base em argumentos jurídicos que não haviam sido abordados antes no

processo – portanto, o assunto não daria margem a recurso para o STJ.

Já no caso da indenização de R$ 40 mil, a relatora afirmou que a jurisprudência do STJ permite a

Page 27: Dano Moral Aspectos Relevantes

alteração do valor de indenizações por dano moral quando esse valor se mostrar ínfimo ou exagerado,

“pois nesses casos reconhece-se a violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade”.

A ministra ressaltou que há vários precedentes da Corte fixando em 400 salários-mínimos (R$ 204 mil,

atualmente) as indenizações por dano moral causado aos parentes próximos de vítimas fatais. Por outro

lado, de acordo com a relatora, “são poucos os precedentes que versam acerca do valor do dano moral,

em casos nos quais resulte à vítima incapacidade permanente para o trabalho, decorrente de tetraplegia,

paraplegia ou outra lesão, ou seja, nas hipóteses em que se busca compensar a própria vítima por

sequela que irá carregar pelo resto de sua vida”.

Em um desses precedentes, de 2007, cuja relatoria coube à própria ministra Nancy Andrighi, a Terceira

Turma manteve em R$ 1,14 milhão a indenização devida a um policial de 24 anos que ficou tetraplégico

após ser baleado acidentalmente pelo vigia de um banco, durante uma repressão a assalto. Na ocasião, a

ministra afirmou que não seria razoável reduzir o valor para o nível das condenações em caso de morte.

“A aflição causada ao próprio acidentado não pode ser comparada, em termos de grandeza, com a perda

de um ente querido”, disse a ministra em seu voto, acompanhado por todos os demais ministros da

Turma. “A morte de nossos pais, de nossos irmãos, por mais dolorida que seja, por mais que deixe

sequelas para sempre, não é, ao menos necessariamente, tão limitadora quanto a abrupta perda de

todos os movimentos, capacidade sexual e controle sobre as funções urinárias e intestinais”, afirmou a

relatora naquele julgamento (Resp 951.514).

Depois de mencionar outras indenizações da mesma natureza, em patamares de R$ 250 mil, R$ 360 mil e

R$ 500 mil, a ministra declarou que, no caso do acidente em Santa Catarina, “o montante arbitrado (R$

40 mil) desafia os padrões da razoabilidade, mostrando-se aquém daquilo que vem sendo estabelecido

pelo STJ”, devendo, por isso, ser aumentado.

Processos: Resp 1189465

Fonte:

http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=9

9864 acessado em 21 de novembro de 2010.

Page 28: Dano Moral Aspectos Relevantes

Contratos bancários sem previsão de juros podem ser revistos pela taxa média de mercado

20/05/2010

Nos contratos de mútuo (empréstimo de dinheiro) em que a disponibilização do capital é imediata, o

montante dos juros remuneratórios praticados deve ser consignado no respectivo instrumento. Ausente

a fixação da taxa no contrato, o juiz deve limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie,

divulgada pelo Banco Central, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente. O entendimento

foi pacificado pela Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento de dois recursos

especiais impetrados pelo Unibanco. Os processos foram apreciados em sede de recurso repetitivo.

Em ambos os casos, o Unibanco recorreu de decisões desfavoráveis proferidas pelo Tribunal de Justiça

do Paraná (TJPR). As ações envolviam revisão de contratos bancários. Nos dois episódios, os autores –

uma construtora e uma empresa de transportes – contestaram a legalidade de o banco alterar

unilateralmente o contrato, definindo a taxa de juros não prevista anteriormente. Na ausência do índice,

o Unibanco estipulou, por conta própria, a cobrança pela taxa média de mercado. Para as empresas,

houve abuso da instituição financeira, já que esta teria de se sujeitar ao limite de 12% ao ano para juros

remuneratórios. Os pedidos foram julgados procedentes na Justiça estadual.

No STJ, os processos foram relatados pela ministra Nancy Andrighi, que analisou a questão nos termos

do art. 543-C do Código de Processo Civil. No seu entender, contratos bancários que preveem a

incidência de juros, mas não especificam seu montante, têm de ter essa cláusula anulada, já que deixam

ao arbítrio da instituição financeira definir esse índice. Nos casos, porém, em que o contrato é omisso

quanto a essa questão, é preciso interpretar o negócio considerando-se a intenção das partes ao firmá-

lo.

E, nesse aspecto, a incidência de juros pode ser presumida, mesmo não prevista em contrato. Isso

porque, de acordo com Nancy Andrighi, o mutuário recebe o empréstimo sob o compromisso de restituí-

lo com uma remuneração, que são os juros, e não restituir o dinheiro sem qualquer espécie de

compensação. “As partes que queiram contratar gratuitamente mútuo com fins econômicos só poderão

fazê-lo se, por cláusula expressa, excluírem a incidência de juros”, afirmou a ministra em seu voto.

Para Nancy Andrighi, a taxa média de mercado é adequada porque é medida por diversas instituições

financeiras, representando, portanto, o ponto de equilíbrio nas forças do mercado. Segundo a ministra, a

adoção da referida taxa ganhou força quando o Banco Central passou a divulgá-la, em 1999 – e seu uso,

nos processos sob análise, é a “solução que recomenda a boa-fé”. A jurisprudência do STJ tem utilizado a

taxa média de mercado na solução de conflitos envolvendo contratos bancários. Paralelamente, o

Page 29: Dano Moral Aspectos Relevantes

Tribunal tem reiterado o entendimento de que a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12%

ao ano, por si só, não indica abusividade.

Além de estabelecer que, ausente a fixação da taxa no contrato, cabe ao juiz limitar os juros à média de

mercado (a menos que a taxa indicada pela instituição financeira seja mais vantajosa para o cliente), a

Segunda Seção do STJ assinalou que, em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se

houver abuso nos juros remuneratórios praticados. Por ter sido pronunciada em julgamento de recurso

repetitivo, a decisão deve ser aplicada a todos os processos com o mesmo tema.

Processos: REsp 1112879; REsp 1112880

Fonte:http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.te

xto=97326

STJ busca parâmetros para uniformizar valores de danos morais

13/09/2009

Por muitos anos, uma dúvida pairou sobre o Judiciário e retardou o acesso de vítimas à reparação por

danos morais: é possível quantificar financeiramente uma dor emocional ou um aborrecimento? A

Constituição de 1988 bateu o martelo e garantiu o direito à indenização por dano moral. Desde então,

magistrados de todo o país somam, dividem e multiplicam para chegar a um padrão no arbitramento das

indenizações. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem a palavra final para esses casos e, ainda que não

haja uniformidade entre os órgãos julgadores, está em busca de parâmetros para readequar as

indenizações.

O valor do dano moral tem sido enfrentado no STJ sob a ótica de atender uma dupla função: reparar o

dano buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor para que não reincida. Como é vedado ao

Tribunal reapreciar fatos e provas e interpretar cláusulas contratuais, o STJ apenas altera os valores de

indenizações fixados nas instâncias locais quando se trata de quantia irrisória ou exagerada.

A dificuldade em estabelecer com exatidão a equivalência entre o dano e o ressarcimento se reflete na

quantidade de processos que chegam ao STJ para debater o tema. Em 2008, foram 11.369 processos

que, de alguma forma, debatiam dano moral. O número é crescente desde a década de 1990 e, nos

últimos 10 anos, somou 67 mil processos só no Tribunal Superior.

O ministro do STJ Luis Felipe Salomão, integrante da Quarta Turma e da Segunda Seção, é defensor de

uma reforma legal em relação ao sistema recursal, para que, nas causas em que a condenação não

Page 30: Dano Moral Aspectos Relevantes

ultrapasse 40 salários mínimos (por analogia, a alçada dos Juizados Especiais), seja impedido o recurso ao

STJ. “A lei processual deveria vedar expressamente os recursos ao STJ. Permiti-los é uma distorção em

desprestígio aos tribunais locais”, critica o ministro.

Subjetividade

Quando analisa o pedido de dano moral, o juiz tem liberdade para apreciar, valorar e arbitrar a

indenização dentro dos parâmetros pretendidos pelas partes. De acordo com o ministro Salomão, não há

um critério legal, objetivo e tarifado para a fixação do dano moral. “Depende muito do caso concreto e

da sensibilidade do julgador”, explica. “A indenização não pode ser ínfima, de modo a servir de

humilhação a vítima, nem exorbitante, para não representar enriquecimento sem causa”, completa.

Para o presidente da Terceira Turma do STJ, ministro Sidnei Beneti, essa é uma das questões mais difíceis

do Direito brasileiro atual. “Não é cálculo matemático. Impossível afastar um certo subjetivismo”, avalia.

De acordo com o ministro Beneti, nos casos mais freqüentes, considera-se, quanto à vítima, o tipo de

ocorrência (morte, lesão física, deformidade), o padecimento para a própria pessoa e familiares,

circunstâncias de fato, como a divulgação maior ou menor e consequências psicológicas duráveis para a

vítima.

Quanto ao ofensor, considera-se a gravidade de sua conduta ofensiva, a desconsideração de sentimentos

humanos no agir, suas forças econômicas e a necessidade de maior ou menor valor, para que o valor seja

um desestímulo efetivo para a não reiteração.

Tantos fatores para análise resultam em disparidades entre os tribunais na fixação do dano moral. É o

que se chama de “jurisprudência lotérica”. O ministro Salomão explica: para um mesmo fato que afeta

inúmeras vítimas, uma Câmara do Tribunal fixa um determinado valor de indenização e outra Turma

julgadora arbitra, em situação envolvendo partes com situações bem assemelhadas, valor diferente.

“Esse é um fator muito ruim para a credibilidade da Justiça, conspirando para a insegurança jurídica”,

analisa o ministro do STJ. “A indenização não representa um bilhete premiado”, diz.

Estes são alguns exemplos recentes de como os danos vêm sendo quantificados no STJ.

Morte dentro de escola = 500 salários

Quando a ação por dano moral é movida contra um ente público (por exemplo, a União e os estados),

cabe às turmas de Direito Público do STJ o julgamento do recurso. Seguindo o entendimento da Segunda

Seção, a Segunda Turma vem fixando o valor de indenizações no limite de 300 salários mínimos. Foi o

Page 31: Dano Moral Aspectos Relevantes

que ocorreu no julgamento do Resp 860705, relatado pela ministra Eliana Calmon. O recurso era dos pais

que, entre outros pontos, tentavam aumentar o dano moral de R$ 15 mil para 500 salários mínimos em

razão da morte do filho ocorrida dentro da escola, por um disparo de arma. A Segunda Turma fixou o

dano, a ser ressarcido pelo Distrito Federal, seguindo o teto padronizado pelos ministros.

O patamar, no entanto, pode variar de acordo com o dano sofrido. Em 2007, o ministro Castro Meira

levou para análise, também na Segunda Turma, um recurso do Estado do Amazonas, que havia sido

condenado ao pagamento de R$ 350 mil à família de uma menina morta por um policial militar em

serviço. Em primeira instância, a indenização havia sido fixada em cerca de 1.600 salários mínimos, mas o

tribunal local reduziu o valor, destinando R$ 100 mil para cada um dos pais e R$ 50 mil para cada um dos

três irmãos. O STJ manteve o valor, já que, devido às circunstâncias do caso e à ofensa sofrida pela

família, não considerou o valor exorbitante nem desproporcional (REsp 932001).

Paraplegia = 600 salários

A subjetividade no momento da fixação do dano moral resulta em disparidades gritantes entre os

diversos Tribunais do país. Num recurso analisado pela Segunda Turma do STJ em 2004, a Procuradoria

do Estado do Rio Grande do Sul apresentou exemplos de julgados pelo país para corroborar sua tese de

redução da indenização a que havia sido condenada.

Feito refém durante um motim, o diretor-geral do hospital penitenciário do Presídio Central de Porto

Alegre acabou paraplégico em razão de ferimentos. Processou o estado e, em primeiro grau, o dano

moral foi arbitrado em R$ 700 mil. O Tribunal estadual gaúcho considerou suficiente a indenização

equivalente a 1.300 salários mínimos. Ocorre que, em caso semelhante (paraplegia), o Tribunal de Justiça

de Minas Gerais fixou em 100 salários mínimos o dano moral. Daí o recurso ao STJ.

A Segunda Turma reduziu o dano moral devido à vítima do motim para 600 salários mínimos (Resp

604801), mas a relatora do recurso, ministra Eliana Calmon, destacou dificuldade em chegar a uma

uniformização, já que há múltiplas especificidades a serem analisadas, de acordo com os fatos e as

circunstâncias de cada caso.

Morte de filho no parto = 250 salários

Passado o choque pela tragédia, é natural que as vítimas pensem no ressarcimento pelos danos e

busquem isso judicialmente. Em 2002, a Terceira Turma fixou em 250 salários mínimos a indenização

devida aos pais de um bebê de São Paulo morto por negligência dos responsáveis do berçário (Ag

437968).

Page 32: Dano Moral Aspectos Relevantes

Caso semelhante foi analisado pela Segunda Turma neste ano. Por falta do correto atendimento durante

e após o parto, a criança ficou com sequelas cerebrais permanentes. Nesta hipótese, a relatora, ministra

Eliana Calmon, decidiu por uma indenização maior, tendo em vista o prolongamento do sofrimento.

“A morte do filho no parto, por negligência médica, embora ocasione dor indescritível aos genitores, é

evidentemente menor do que o sofrimento diário dos pais que terão de cuidar, diuturnamente, do filho

inválido, portador de deficiência mental irreversível, que jamais será independente ou terá a vida

sonhada por aqueles que lhe deram a existência”, afirmou a ministra em seu voto. A indenização foi

fixada em 500 salários mínimos (Resp 1024693)

Fofoca social = 30 mil reais

O STJ reconheceu a necessidade de reparação a uma mulher que teve sua foto ao lado de um noivo

publicada em jornal do Rio Grande do Norte, noticiando que se casariam. Na verdade, não era ela a

noiva, pelo contrário, ele se casaria com outra pessoa. Em primeiro grau, a indenização foi fixada em R$

30 mil, mas o Tribunal de Justiça potiguar entendeu que não existiria dano a ser ressarcido, já que uma

correção teria sido publicada posteriormente. No STJ, a condenação foi restabelecida (Resp 1053534).

Protesto indevido = 20 mil reais

Um cidadão alagoano viu uma indenização de R$ 133 mil minguar para R$ 20 mil quando o caso chegou

ao STJ. Sem nunca ter sido correntista do banco que emitiu o cheque, houve protesto do título devolvido

por parte da empresa que o recebeu. Banco e empresa foram condenados a pagar cem vezes o valor do

cheque (R$ 1.333). Houve recurso e a Terceira Turma reduziu a indenização. O relator, ministro Sidnei

Beneti, levou em consideração que a fraude foi praticada por terceiros e que não houve demonstração

de abalo ao crédito do cidadão (Resp 792051).

Alarme antifurto = 7 mil reais

O que pode ser interpretado como um mero equívoco ou dissabor por alguns consumidores, para outros

é razão de processo judicial. O STJ tem jurisprudência no sentido de que não gera dano moral a simples

interrupção indevida da prestação do serviço telefônico (Resp 846273).

Já noutro caso, no ano passado, a Terceira Turma manteve uma condenação no valor de R$ 7 mil por

danos morais devido a um consumidor do Rio de Janeiro que sofreu constrangimento e humilhação por

ter de retornar à loja para ser revistado. O alarme antifurto disparou indevidamente.

Para a relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, foi razoável o patamar estabelecido pelo Tribunal

local (Resp 1042208). Ela destacou que o valor seria, inclusive, menor do que noutros casos semelhantes

Page 33: Dano Moral Aspectos Relevantes

que chegaram ao STJ. Em 2002, houve um precedente da Quarta Turma que fixou em R$ 15 mil

indenização para caso idêntico (Resp 327679).

Tabela

A tabela abaixo traz um resumo de alguns precedentes do STJ sobre casos que geraram dano moral, bem

como os valores arbitrados na segunda instância e no STJ. Trata-se de material exclusivamente

jornalístico, de caráter ilustrativo, com o objetivo de facilitar o acesso dos leitores à ampla jurisprudência

da Corte.

Evento 2º grau STJ Processo

Recusa em cobrir tratamento

médico-hopsitalar (sem dano à

saúde)

R$ 5 mil R$ 20 mil Resp 986947

Recusa em fornecer

medicamento (sem dano à saúde) R$ 100 mil 10 SM Resp 801181

Cancelamento injustificado de

vôo 100 SM R$ 8 mil Resp 740968

Compra de veículo com defeito

de fabricação; problema resolvido

dentro da garantia

R$ 15 mil não há dano Resp 750735

Inscrição indevida em cadastro de

inadimplente 500 SM R$ 10 mil Resp 1105974

Revista íntima abusiva não há dano 50 SM Resp 856360

Omissão da esposa ao marido

sobre a verdadeira paternidade

biológica das filhas

R$ 200 mil mantida Resp 742137

Morte após cirurgia de amígdalas R$ 400 mil R$ 200 mil Resp 1074251

Paciente em estado vegetativo

por erro médico R$ 360 mil mantida Resp 853854

Estupro em prédio público R$ 52 mil mantida Resp 1060856

Publicação de notícia inverídica R$ 90 mil R$ 22.500 Resp 401358

Preso erroneamente não há dano R$ 100 mil Resp 872630

Page 34: Dano Moral Aspectos Relevantes

Processos: Resp 860705; REsp 932001; Resp 604801; Ag 437968; Resp 1024693; Resp 1053534; Resp

792051; Resp 846273; Resp 1042208; Resp 327679

Fonte:

http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=93

679 acessado em 30 de outubro de 2009.

Nova súmula dispensa AR na comunicação ao consumidor sobre negativação de seu nome

29/10/2009

O entendimento da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça de que a notificação de inscrição em

cadastro de proteção ao crédito não precisar ser feita com aviso de recebimento (AR) agora está

sumulado.

Os ministros aprovaram a Súmula de número 404, que ficou com a seguinte redação: “é dispensável o

Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome

em bancos de dados e cadastros”.

A questão foi julgada recentemente seguindo o rito da Lei dos Recursos Repetitivos. Na ocasião, a Seção,

seguindo o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, concluiu que o dever fixado no parágrafo 2° do

artigo 43 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), de comunicação prévia do consumidor acerca da

inscrição de seu nome em cadastros de inadimplentes, deve ser considerado cumprido pelo órgão de

manutenção do cadastro com o envio de correspondência ao endereço fornecido pelo credor. Sendo,

pois, desnecessária a comprovação da ciência do destinatário mediante apresentação de aviso de

recebimento (AR).

Na ocasião, os ministros determinaram que o tema fosse sumulado.

Leia também:

Inclusão de danos morais no contrato de seguro por danos pessoais, salvo exclusão expressa, agora é

súmula

Súmula trata da indenização pela publicação não autorizada da imagem de alguém

Súmula da Segunda Seção trata do prazo para pedir o DPVAT na Justiça

Page 35: Dano Moral Aspectos Relevantes

Processos: Resp 1083291; resp 893069; AG 963026; resp 1065096; AG 727440; AG 1019370; AG

1036919; AG 833769; AG 1001058

Fonte:

http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=94

426 acessado em 30 de outubro de 2009.

Ações judiciais sobre relacionamentos amorosos têm respostas no STJ

24/05/2009

Namoro, noivado, casamento. Qualquer relacionamento amoroso pode terminar em processo judicial,

como mostram as inúmeras decisões do Superior Tribunal de Justiça referentes às relações de casal. As

mais recentes tratam da aplicação da lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), que combate a violência

doméstica e familiar contra a mulher.

Em julgado deste ano, a Terceira Seção concluiu pela possibilidade de aplicação da lei a relações de

namoro, independentemente de coabitação. No entanto, segundo o colegiado, deve ser avaliada a

situação específica de cada processo, para que o conceito de relações íntimas de afeto não seja ampliado

para abranger relacionamentos esporádicos ou passageiros.

“É preciso existir nexo causal entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre autor e

vítima, ou seja, a prática violenta deve estar relacionada ao vínculo afetivo existente entre vítima e

agressor”, salientou a ministra Laurita Vaz. No processo, mesmo após quase dois anos do fim do namoro,

o rapaz ameaçou a ex-namorada de morte quando ficou sabendo que ela teria novo relacionamento. O

STJ determinou que a ação seja julgada pela Justiça comum, e não por Juizado Especial Criminal, como

defendia o advogado do acusado da agressão.

Em outra questão sobre a Lei Maria da Penha e namoro, o STJ entendeu ser possível o Ministério Público

(MP) requerer medidas de proteção à vítima e seus familiares, quando a agressão é praticada em

decorrência da relação. Para a desembargadora Jane Silva, à época convocada para o STJ, quando há

comprovação de que a violência praticada contra a mulher, vítima de violência doméstica por sua

vulnerabilidade e hipossuficiência, decorre do namoro e de que essa relação, independentemente de

coabitação, pode ser considerada íntima, aplica-se a Lei Maria da Penha.

Noivado

Page 36: Dano Moral Aspectos Relevantes

O fim de um noivado pode gerar pendências no Judiciário, como o processo que foi julgado pelo STJ em

2002. Por uma questão constitucional, a Corte manteve a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo

(TJSP) que isentou o ex-noivo de indenizar a ex-noiva e o pai dela, mesmo tendo desistido do casamento

15 dias antes de cerimônia, já com os convites distribuídos e as despesas pagas.

O TJSP reconheceu o direito da ex-noiva e de seu pai à indenização pelos prejuízos morais e financeiros

sofridos por causa da desistência. No entanto, durante o processo, o ex-noivo obteve o benefício da

Justiça gratuita para responder à ação e essa peculiaridade implicou a isenção da obrigação de indenizar

os

autores. O TJSP se baseou no artigo 5º da Constituição Federal. No STJ, os ministros concluíram que o

recurso, baseado no julgado do TJSP que seguiu o artigo 5º, não poderia ser analisado pela Corte, e sim

pelo Supremo Tribunal Federal, por se referir a texto da Constituição. Por esse motivo, manteve a

decisão do TJSP.

Casamento

Já está firmado o entendimento de que o imóvel de família onde o casal reside e, em alguns casos, com

outros parentes é protegido pela Lei n. 8.009/90, que torna impenhorável esse tipo de imóvel. Segundo o

STJ, essa proteção prevalece mesmo quando o casal decide separar-se. Em 2008, a Corte concluiu que a

impenhorabilidade do bem de família visa resguardar não somente o casal, mas a própria entidade

familiar. Por isso, no caso de separação, não é extinta a impenhorabilidade, pelo contrário, surge uma

duplicidade da entidade, que passa a ser composta pelo ex-marido e pela ex-mulher com os respectivos

parentes.

Outro tema que surge em relação ao casamento ou à separação diz respeito ao uso de sobrenome. Em

julgado de 2005, o STJ reconheceu a possibilidade de os noivos suprimirem um dos nomes que

representa a família quando do casamento, desde que não haja prejuízo à ancestralidade (identificação

da família) nem à sociedade, pois o nome civil é direito de personalidade.

A hipótese de continuar a usar o sobrenome do ex-marido após o divórcio também foi analisada pelo

Superior Tribunal. Julgados autorizam a ex-mulher a manter o sobrenome do ex-marido, pois deve

prevalecer a disposição legal que preserva o direito à identidade. Em uma das decisões, o Tribunal

assinala que o uso pode permanecer, mesmo que isso gere desconforto e constrangimento ao homem.

Em outra, o Tribunal avaliou a manutenção do nome após o fim de um matrimônio de 45 anos. A Corte

Page 37: Dano Moral Aspectos Relevantes

concluiu que, neste caso, obrigar a ex-mulher a retirar o nome do ex-marido poderia causar grave dano à

personalidade dela e prejuízo à sua identificação diante do longo tempo em que foi apresentada com tal

sobrenome.

Ainda sobre o tema, o STJ analisou pedido de uso de nome em registro de óbito de companheiro (pessoa

que conviveu em união estável). De acordo com o Tribunal, se não houve o reconhecimento oficial da

convivência comum do casal, em união estável, o nome do companheiro da pessoa falecida não pode

constar no registro do óbito. Para o ministro Aldir Passarinho Junior, esse entendimento não nega a

legislação que rege a união estável, mas é preciso focar que o reconhecimento do relacionamento não se

dá automaticamente. Além disso, a lei que regula os elementos possíveis de figurar na certidão de óbito

é taxativa. Ainda segundo o ministro, é preciso cuidado no registro de óbito, já que dele podem vir

consequências legais.

Também sobre casamento, o STJ analisou, em 2000, pedido de anulação de matrimônio impetrado pela

noiva porque seu pai descobriu, durante a lua de mel, dívidas e títulos protestados contra o noivo. O

recurso da noiva não foi conhecido pelo Tribunal. Segundo o ministro Ruy Rosado de Aguiar, relator do

processo à época, caso prevalecesse o pedido da noiva pela nulidade, qualquer cheque devolvido ou

fornecedor insatisfeito, chegando aos ouvidos da família da noiva, dariam margem a que seu pai fizesse

com que o casal interrompesse a lua de mel, com imediata separação e ação de anulação. “O que

reservar então aos falidos, concordatários, processados criminalmente, investigados por muitas

mazelas?”, concluiu o relator.

Casos especiais

Além dos aspectos diretamente relacionados com namoro, noivado e casamento, partilha e pensão, o

Tribunal da Cidadania já respondeu a diversas questões apontadas em recursos, como a de processos

sobre regimes de bens. Em julgamento de 2008, a Corte permitiu a alteração do regime de bens de

casamento celebrado sob a vigência do Código Civil de 1916 (antigo), possibilidade expressa no novo

Código (de 2002), desde que respeitados os direitos de terceiros.

Em outro julgado, o Tribunal também definiu que cônjuges casados em comunhão de bens não podem

contratar sociedade entre si. Segundo os ministros, as restrições previstas na lei pretendem evitar a

utilização das sociedades como instrumento para encobrir fraudes ao regime de bens do casamento. Já

os cônjuges casados em regime de separação de bens pelo Código Civil de 1916 podem realizar doações

de bens entre si durante o matrimônio. O STJ entendeu válido esse tipo de operação.

Page 38: Dano Moral Aspectos Relevantes

Algumas pendências judiciais sobre união estável foram analisadas pelo Tribunal da Cidadania. Em uma

delas, ele concluiu que o direito de companheiro à metade de imóvel dado como garantia em contrato

não prevalece sobre o direito do credor a executar a hipoteca, se o companheiro que assinou o contrato

de hipoteca omitiu a existência da união estável. Em outro caso, a Corte entendeu impossível o

reconhecimento concomitante de duas uniões estáveis. Para os ministros, o objetivo de reconhecer a

união estável e o fato de que ela é entidade familiar não autoriza que se identifiquem várias uniões

estáveis. “Isso levaria, necessariamente, à possibilidade absurda de se reconhecerem entidades

familiares múltiplas e concomitantes.”

Um caso de bigamia também chegou à análise do STJ. O Tribunal negou a homologação de uma sentença

estrangeira que tornou nulo o casamento realizado no Brasil entre uma brasileira e um japonês, após ele

descobrir que ela já era casada e tinha três filhos com o primeiro cônjuge. Segundo os ministros, como o

casamento foi realizado no Brasil, portanto de acordo com a lei brasileira, o pedido de nulidade do

matrimônio deve ser feito de acordo com a mesma lei, e não no Judiciário japonês, como ocorreu.

Vários processos com decisões divulgadas nesta matéria não têm seus números informados por se

referirem a ações com trâmite em segredo de justiça.

Processos: RESP 963370; CC 100654; HC 92875; RESP 241200; RESP 662799; SEC 1303; RESP 952141;

RESP 471958; RESP 707092; RESP 812012; RESP 1058165

Fonte:

http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto

=92109acessado em 24 de maio de 2009.

4. Bibliografia Básica do Curso

Novo Curso de Direito Civil – Vol. III – Responsabilidade Civil – Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho – Ed. Saraiva (www.editorajuspodivm.com.br ou www.saraivajur.com.br)

Page 39: Dano Moral Aspectos Relevantes

5. Mensagem

Pelo fato de a Responsabilidade Civil ser matéria sensível a mudanças, aconselhamos você a acompanhar

atentamente as aulas e os informativos eletrônicos de jurisprudência, especialmente do STJ e do STF.

Acompanhe também andamento de projetos nos sites da Câmara e do Senado.

É uma dica valiosa para concurso!

Queridos amigos,

Força e Fé!

Deus os ilumine, sempre!

O amigo,

Pablo.

Revisado. 2012.1.OK C.D.S.