dano moral aspectos relevantes
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MATERIAL DE APOIO
DIREITO CIVIL
RESPONSABILIDADE CIVIL
Apostila 03
Prof. Pablo Stolze Gagliano
Dano Moral
1. Dano Moral – Aspectos Relevantes
1.1. Quantificação
Na busca de parâmetros, a doutrina tem estabelecido critérios, mesmo dentro do sistema do
arbitramento, para quantificar a reparação por dano moral (ver: Ronaldo Alves Andrade – O Dano
Moral à Pessoa e Sua Valoração – Ed. Juarez de Oliveira).
Segue, abaixo, texto de Débora Pinho e Gláucia Milicio, publicado no Site Consultor Jurídico
(www.conjur.com.br), acerca dos critérios para a fixação do dano moral.
Compare este texto com o informativo do STJ que segue ao final do material de apoio.
É uma boa dica de pesquisa!
Preço moral
Juízes fixam indenizações maiores para danos menores
por Débora Pinho e Gláucia Milicio
A dor de uma advogada que teve seu nome relacionado ao da ex-garota de programa Bruna
Surfistinha no Google vale muito mais que a dos pais que perderam a filha de três anos
assassinada durante uma briga familiar. A conclusão pode ser tirada da etiqueta de preço colocada
pela primeira instância nos dois processos de indenização por danos morais.
Enquanto a advogada conseguiu uma indenização de R$ 4,3 milhões, a quantia fixada para os pais
da menina foi de R$ 30 mil. A falta de parâmetros em processos de danos morais dá margem à
subjetividade dos juízes de primeira instância na hora de arbitrar indenizações e as discrepâncias
correm soltas em casos concretos semelhantes.
O valor do sofrimento de uma mãe que teve sua filha assassinada por outra criança no Rio Grande
do Sul foi fixado em R$ 20 mil na primeira instância. Os pais da criança que atirou foram
condenados a indenizar porque, segundo os juízes, foram negligentes ao deixar a arma ao alcance
da criança. Os pais da vítima recorreram ao Tribunal de Justiça gaúcho. O valor foi aumentado
apenas em R$ 10 mil. Passou de R$ 20 mil para R$ 30 mil.
Em outro caso, a Justiça entendeu que difamar uma namorada por e-mail custa R$ 30 mil. O ex-
namorado da moça foi condenado por enviar mensagens eletrônicas afirmando que a ex era
“garota de programa”. A ex-namorada ajuizou ação na Comarca de Porto Alegre. Alegou que
recebeu diversas ligações telefônicas de pessoas que queriam contratá-la para programas sexuais.
Valor muito mais alto foi dado a uma cliente do Itaú confundida com uma ladra de banco. A juíza
Lucilia Ferreira Lammertz, da 33ª Vara Cível do Rio de Janeiro, avaliou o abalo em R$ 200 mil. Para
a juíza, é preciso ter mais respeito à honra alheia.
Já a família da servidora Sebastiana Monteiro dos Santos, que morreu em conseqüência de erro
médico num hospital público do Distrito Federal, deve receber apenas R$ 40 mil do estado. Isso se
não recorrer às instâncias superiores para aumentar o valor. A servidora morreu depois que um
auxiliar de enfermagem, em vez de aplicar 0,3 mililitros de adrenalina por via subcutânea, injetou
3 mililitros de remédio na veia da paciente. Detalhe: a servidora deu entrada no hospital
reclamando somente de coceira no pescoço.
A dor de um advogado ferido numa corrida de kart foi mais valorizada na 1ª Vara Cível de Belo
Horizonte. A primeira instância condenou a empresa a indenizar o advogado em R$ 41.281,88. A
empresa foi considerada negligente e culpada pelo acidente que provocou graves ferimentos.
Segundo os juízes, a empresa não orientou a forma como o kart deveria ser conduzido.
Para o juiz Tadeu Zanoni, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Osasco, a falta de parâmetros acontece
porque o juiz não tem uma tabela em sua frente com os preços a serem fixados nos casos de dano
moral. Ele diz que não se pode fazer regra de três para chegar a uma conclusão. “Cada caso é um
caso”, afirma.
O juiz ressaltou que numa determinada ocasião recebeu uma petição em que o autor levantou o
faturamento do Bradesco para pedir a metade do lucro. Nesse caso, ele entendeu que o
importante era apenas reparar ou remediar o dano e não garantir ao autor parte do lucro da
empresa. “O preço do dano moral está em queda”, ressalta.
Ivan Sartori, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, diz que o valor da indenização
deve ser fixado tendo em conta o grau da lesão e as condições das partes. Isso evita o
enriquecimento ilícito da vítima, afirma, ao mesmo tempo que reconhece, que as decisões são
totalmente subjetivas. “O que para um juiz é muito grave, para outro pode não ser”, compara.
Sartori afirma que para alguns casos, como os de morte de criança, a indenização deveria ser mais
alta. O desembargador explica que, às vezes, o Judiciário fixa valor irrisório por medo de estimular
a indústria do dano moral.
O advogado especialista em Direito Civil, Frederico Diamantino, do Diamantino Advogados
Associados, diz que os juízes deveriam analisar se a outra parte teve realmente a intenção de
causar o dano e qual o potencial ofensivo do ato.
No caso do Google, por exemplo, ele tem dúvidas se o portal teve mesmo intenção de relacionar o
nome da advogada com a ex-garota de programa. O advogado também defende que as
indenizações por morte devem ser mais altas. “Qualquer pai penhoraria a própria vida para ter o
filho de volta”.
Segundo ele, os casos de calúnia e difamação só deveriam ser analisados pela Justiça se os fatos
geraram repercussão extremamente negativa na vida da pessoa. “Se provado o dano, a
condenação deveria ser apenas educativa”, declara.
Já o advogado Antônio de Almeida e Silva, especialista em dano moral, reclama da incoerência
que permeia as decisões. “Juízes de primeira instância têm agido de maneiras díspares. Há casos
idênticos com valores diferentes. Apenas alguns se preocupam em verificar como o Superior
Tribunal de Justiça está decidindo sobre os casos em questão. A maioria age de acordo com a sua
própria convicção”, critica. E lembra que o importante é a decisão final que vai ser a do STJ.
“Ministros têm parâmetros e já é possível saber como irão decidir em cada caso”, diz.
Veja alguns valores fixados pelo STJ:
Motivo Valor da indenização
Inscrição indevida em cadastro
restritivo ou devolução indevida de
cheques e situações similares
50 salários mínimos
Manutenção do nome de
consumidor em cadastro de
inadimplentes após quitação de
débito
15 salários mínimos
Inscrição indevida na Serasa 50 salários mínimos
Entrega indevida de talonários de
cheques a falsário 150 salários mínimos
Devolução indevida de cheque 50 salários mínimos
Falha na entrega de conta telefônica
com inclusão de cliente em órgão de
restrição ao crédito
10 salários mínimos
Doméstica injustamente acusada de
furto em supermercado 25 salários mínimos
Exoneração indevida 50 salários mínimos
Extravio de bagagem 50 salários mínimos
Vítimas fatais de acidente aéreo 500 salários mínimos
Atropelamento com culpa
concorrente 100 salários mínimos
Detenção indevida, efetuada por
lojista, por suspeita de furto 300 salários
Perda precoce de filho em razão de
acidente com transporte urbano 500 salários mínimos
Tetraplegia resultante de queda em
supermercado 1.000 salários mínimos
Notícia ofensiva à honra de
magistrada 100 salários mínimos
Várias publicações ofensivas a um
ex-candidato à Presidência
101 salários mínimos por
publicação
Matéria injuriosa publicada por rede
nacional de televisão contra modelo 500 salários mínimos
Ofensa veiculada na imprensa 400 salários mínimos
Publicação de foto vexatória e não R$ 50.000,00
autorizada de atriz
Fonte: Jus Navigandi
Texto extraído da Revista Consultor Jurídico, 24 de março de 2007 www.conjur.com.br
(http://www.conjur.com.br/static/text/53979,1)
Conforme vimos em aula, merecem também referência, ainda que ilustrativa, alguns Projetos de Lei que
visam a estabelecer o “tarifamento legal da reparação por dano moral” no Brasil:
PROJETOS DE LEI (TARIFAMENTO DO DANO MORAL)1
PL 7124/2002
Dispõe sobre danos morais e sua reparação.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º Constitui dano moral a ação ou omissão que ofenda o patrimônio moral da pessoa física ou
jurídica, e dos entes políticos, ainda que não atinja o seu conceito na coletividade.
Art. 2º São bens juridicamente tutelados por esta Lei inerentes à pessoa física: o nome, a honra, a
fama, a imagem, a intimidade, a credibilidade, a respeitabilidade, a liberdade de ação, a auto-
estima e o respeito próprio.
Art. 3º São bens juridicamente tutelados por esta Lei inerentes à pessoa jurídica e aos entes
políticos: a imagem, a marca, o símbolo, o prestígio, o nome e o sigilo da correspondência.
Art. 4º São considerados responsáveis pelo dano moral todos os que tenham colaborado para a
ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão.
Art. 5º A indenização por danos morais pode ser pedida cumulativamente com os danos materiais
decorrentes do mesmo ato lesivo.
1 O PL 7124 de 2002, cuja referência mantivemos na apostila para efeito de
complementação de pesquisa e ilustração, tem o seguinte andamento, segundo o site da
Câmara dos Deputados (acessado em 21 de novembro de 2010):
6/8/2010 -
PLENÁRIO (PLEN) - Arquivado nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD
(inconstitucionalidade). DCD de 10/08/10 PÁG 36611 COL 02.(publicação)
§ 1º Se houver cumulação de pedidos de indenização, o juiz, ao exarar a sentença, discriminará os
valores das indenizações a título de danos patrimoniais e de danos morais.
§ 2º A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danos
emergentes, não se reflete na avaliação dos danos morais.
Art. 6º A situação de irregularidade do agente ou preposto da Administração não a isenta da
responsabilidade objetiva de indenizar o dano moral, ressalvado o direito de regresso.
Art. 7º Ao apreciar o pedido, o juiz considerará o teor do bem jurídico tutelado, os reflexos
pessoais e sociais da ação ou omissão, a possibilidade de superação física ou psicológica, assim
como a extensão e duração dos efeitos da ofensa.
§ 1º Se julgar procedente o pedido, o juiz fixará a indenização a ser paga, a cada um dos ofendidos,
em um dos seguintes níveis:
I – ofensa de natureza leve: até R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
II – ofensa de natureza média: de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a R$ 90.000,00 (noventa mil reais);
III – ofensa de natureza grave: de R$ 90.000,00 (noventa mil reais) a R$ 180.000,00 (cento
e oitenta mil reais).
§ 2º Na fixação do valor da indenização, o juiz levará em conta, ainda, a situação social, política e
econômica das pessoas envolvidas, as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral, a
intensidade do sofrimento ou humilhação, o grau de dolo ou culpa, a existência de retratação
espontânea, o esforço efetivo para minimizar a ofensa ou lesão e o perdão, tácito ou expresso.
§ 3º A capacidade financeira do causador do dano, por si só, não autoriza a fixação da indenização
em valor que propicie o enriquecimento sem causa, ou desproporcional, da vítima ou de terceiro
interessado.
§ 4º Na reincidência, ou diante da indiferença do ofensor, o juiz poderá elevar ao triplo o valor da
indenização.
Art. 8º Prescreve em 6 (seis) meses o prazo para o ajuizamento de ação indenizatória por danos
morais, a contar da data do conhecimento do ato ou omissão lesivos ao patrimônio moral.
Art. 9º Os arts. 159 e 1.518 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil, não se aplicam
às ações de reparação de danos morais.
Art. 10. Esta Lei entra em vigor após decorrido 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial.
Senado Federal, em 7 de agosto de 2002
Senador Ramez Tebet
Presidente do Senado Federal
APENSO:
PROJETO DE LEI Nº 1443, DE 20032
(Do Sr.Dep. PASTOR REINALDO)
Estabelece critérios para a definição do dano moral
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º O dano moral decorre de ação ou omissão, dolosa ou culposa, que provoca, gravemente, e
de maneira injustificada, pertubação, intranquilidade e ofensa a outrem, contrária aos princípios e
valores consagrados na sociedade e no ordenamento jurídico.
§ 1º A crítica e a divergência de opiniões, ainda que veementes, não caracterizam o dano moral.
§ 2º A denúncia de fato ilícito, se verdadeiro, não gera direito à indenização.
Art. 2º A indenização do dano moral será fixada em até duas vezes e meia os rendimentos do
ofensor ao tempo do fato, desde que não exceda em dez vezes o valor dos rendimentos mensais
do ofendido, que será considerado limite máximo.
2 O PL mencionado, cuja referência mantivemos na apostila para efeito de complementação
de pesquisa, tem o seguinte andamento, segundo o site da Câmara dos Deputados
(acessado em 21 de novembro de 2010):
6/8/2010 -
PLENÁRIO (PLEN) - Arquivado nos termos do § 4º do artigo 58 do RICD
(inconstitucionalidade). DCD de 10/08/10 PÁG 36611 COL 02.(publicação)
§ 1º Na ocorrência conjunta de dano material, o valor indenizatório do dano
moral não poderá exceder a dez vezes o valor daquele apurado.
§ 2º A autoridade judicial deverá levar em consideração, para a fixação do
montante indenizatório, o comportamento do ofendido e se houve retratação por parte do ofensor,
podendo reduzir a indenização e, até mesmo, cancelá-la se houver anuência do ofendido.
§ 3º O ressarcimento pelos danos moral e material são independentes e não se
excluem.
Art. 3º A ação por dano moral prescreve em um ano a contar do conhecimento
pelo ofendido.
Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
Com a proposição que levamos à consideração dos demais parlamentares,
buscamos fornecer parâmetros para a fixação do dano moral, uma vez que proliferam os pedidos
indenizatórios em nossos Tribunais claramente abusivos, onde fica patente a desproporção entre o dano
e o montante que se quer obter a seu pretexto. São pedidos formulados sem a mínima razoabilidade e
que nos fazem crer, infelizmente, na existência de uma indústria – no pior sentido da palavra -,
indenizatória.
Com isso, a máquina judiciária é mobilizada – juízes, advogados, promotores,
testemunhas, diversificados meios de prova – com custos altíssimos para as partes e também para o
Poder Público, quando é evidente a simulação com vistas a obter um valor acima do que seria razoável.
Portanto, queremos, sobretudo, oferecer parâmetros objetivos que permitam
estabelecer uma indenização justa.
Nesse sentido, contamos como apoio dos demais parlamentares.
Sala das Sessões, em de de 2003.
Deputado PASTOR REINALDO
1.2. Dano Moral “in re ipsa”
Outro tema da alta importância, na sua preparação para concurso, e que vimos em aula, foi o dano
moral “in re ipsa”, ou seja, o que dispensa a sua demonstração ou prova, por parte da vítima.
Acompanhemos, pois, a jurisprudência do STJ a respeito:
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANO EXTRAPATRIMONIAL.
INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE INADIMPLENTES.
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. CULPA IN RE IPSA.
1. O órgão de proteção ao crédito é responsável pela conferência da exatidão entre o nome e o
CPF do consumidor, bem como pela comunicação prévia da pessoa cujo CPF se pretende
negativar.
2. Nos casos de inscrição indevida em cadastro de restrição ao crédito, o dano extrapatrimonial é
considerado in re ipsa.
3. Recurso especial provido.
(REsp 649.104/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em
13/10/2009, DJe 26/10/2009)
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES. COBRANÇA DE ANUIDADE E ENCARGOS DE CARTÃO DE CRÉDITO JÁ CANCELADO.
LEGITIMIDADE PASSIVA. PROVA DO DANO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO.
– Pertencendo a empresa administradora do cartão de crédito ao mesmo grupo econômico do
réu, este tem legitimidade passiva ad causam para responder por dano moral causado à
contratante. Precedentes.
– O dano moral não depende de prova; acha-se in re ipsa (REsp n. 296.634-RN, de minha relatoria).
– O valor da indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justiça
quando a quantia arbitrada se mostrar ínfima, de um lado, ou visivelmente exagerada, de outro.
Hipótese de fixação excessiva, a gerar enriquecimento indevido do ofendido.
Recurso especial conhecido, em parte, e provido.
(REsp 775.766/PR, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 07.02.2006, DJ
20.03.2006 p. 300)
CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. PLANO DE SAÚDE. CIRURGIA.
AUTORIZAÇÃO. AUSÊNCIA. QUANTUM. ALTERAÇÃO. RAZOABILIDADE.
1 - Não há falar em incidência do art. 1061 do Código Civil e muito menos na sua violação se, como
no caso presente, os danos morais não decorrem de simples inadimplemento contratual, mas da
própria situação vexatória (in re ipsa), criada pela conduta da empresa ré, marcada pelo descaso e
pelo desprezo de, no momento em que a segurada mais precisava, omitir-se em providenciar o
competente médico de seus quadros e autorizar a necessária cirurgia, preferindo, contudo, ao
invés disso, deixar a doente por mais de seis horas, sofrendo dores insuportáveis em uma
emergência de hospital e, ao final de tudo, ainda dizer que a liberação do procedimento médico
poderia demorar até 72 (setenta e duas) horas.
2 - Considerando as peculiaridades do caso e os julgados desta Corte em hipóteses semelhantes, a
estipulação do quantum indenizatório em aproximadamente R$ 23.000,00 não é desarrazoada,
não merecendo, por isso mesmo, alteração em sede especial.
3 - Recurso especial não conhecido, inclusive porque incidente a súmula 83/STJ.
(REsp 357.404/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
04.10.2005, DJ 24.10.2005 p. 327)
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. REGISTRO NO CADASTRO DE DEVEDORES DO SERASA.
EXISTÊNCIA DE OUTROS REGISTROS. INDENIZAÇÃO.
POSSIBILIDADE.
A existência de registros de outros débitos do recorrente em órgãos de restrição de crédito não
afasta a presunção de existência do dano moral, que decorre in re ipsa, vale dizer, do próprio
registro de fato inexistente. Precedente.
Hipótese em que o próprio recorrido reconheceu o erro em negativar o nome do recorrente.
Recurso a que se dá provimento.
(REsp 718.618/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
24.05.2005, DJ 20.06.2005 p. 285)
Em conclusão, vale lembrar que, recentemente, editou-se a Súmula 403 do STJ, com a seguinte
redação:
“Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais”.
1.3. Jurisprudência Selecionada
Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais.
(Súmula 420, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/03/2010, DJe 11/03/2010)
O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de
exclusão.
(Súmula 402, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009)
A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
(Súmula 388, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009, DJe 01/09/2009)
É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
(Súmula 387, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2009, DJe 01/09/2009)
Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral,
quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
(Súmula 385, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2009, DJe 08/06/2009)
Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
(Súmula 370, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 16/02/2009, DJe 25/02/2009)
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.
(Súmula 362, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/10/2008, DJe 03/11/2008)
A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.
(Súmula 281, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28.04.2004, DJ 13.05.2004 p. 200)
A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
(Súmula 227, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08.09.1999, DJ 20.10.1999 p. 49)
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
(Súmula 37, CORTE ESPECIAL, julgado em 12.03.1992, DJ 17.03.1992 p. 3172, REPDJ 19.03.1992 p.
3201)
CIVIL. DANOS ESTÉTICOS E MORAIS. CUMULAÇÃO. Os danos estéticos devem ser indenizados
independentemente do ressarcimento dos danos morais, sempre que tiverem causa autônoma.
Recurso especial conhecido e provido em parte.
(REsp 251.719/SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 25.10.2005, DJ
02.05.2006 p. 299)
OBS.: Este entendimento (cumulação dos danos moral e estético) foi recentemente reafirmado,
consoante se lê abaixo.
Note-se, inclusive, no primeiro julgado transcrito, a influência da doutrina do desestimulo (teoria
do punitive damage).
RECURSO ESPECIAL DE JPGB E OUTROS. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
ERRO MÉDICO. HOSPITAL MUNICIPAL. AMPUTAÇÃO DE BRAÇO DE RECÉM-NASCIDO. DANOS
MORAIS E ESTÉTICOS. CUMULAÇÃO.
POSSIBILIDADE. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM FAVOR DOS PAIS E IRMÃO.
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. É possível a cumulação de indenização por danos estético e moral, ainda que derivados de um
mesmo fato, desde que um dano e outro possam ser reconhecidos autonomamente, ou seja,
devem ser passíveis de identificação em separado. Precedentes.
2. Na hipótese dos autos, em Hospital Municipal, recém-nascido teve um dos braços amputado em
virtude de erro médico, decorrente de punção axilar que resultou no rompimento de veia, criando
um coágulo que bloqueou a passagem de sangue para o membro superior.
3. Ainda que derivada de um mesmo fato - erro médico de profissionais da rede municipal de
saúde -, a amputação do braço direito do recém-nascido ensejou duas formas diversas de dano, o
moral e o estético. O primeiro, correspondente à violação do direito à dignidade e à imagem da
vítima, assim como ao sofrimento, à aflição e à angústia a que seus pais e irmão foram
submetidos, e o segundo, decorrente da modificação da estrutura corporal do lesado, enfim, da
deformidade a ele causada.
4. Não merece prosperar o fundamento do acórdão recorrido no sentido de que o recém-nascido
não é apto a sofrer o dano moral, por não possui capacidade intelectiva para avaliá-lo e sofrer os
prejuízos psíquicos dele decorrentes. Isso, porque o dano moral não pode ser visto tão-somente
como de ordem puramente psíquica - dependente das reações emocionais da vítima -, porquanto,
na atual ordem jurídica-constitucional, a dignidade é fundamento central dos direitos humanos,
devendo ser protegida e, quando violada, sujeita à devida reparação.
5. A respeito do tema, a doutrina consagra entendimento no sentido de que o dano moral pode
ser considerado como violação do direito à dignidade, não se restringindo, necessariamente, a
alguma reação psíquica (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 7ª ed. São
Paulo: Atlas, 2007, pp. 76/78).
6. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 447.584/RJ, de relatoria do Ministro Cezar
Peluso (DJ de 16.3.2007), acolheu a proteção ao dano moral como verdadeira "tutela
constitucional da dignidade humana", considerando-a "um autêntico direito à integridade ou à
incolumidade moral, pertencente à classe dos direitos absolutos".
7. O Ministro Luix Fux, no julgamento do REsp 612.108/PR (1ª Turma, DJ de 3.11.2004), bem
delineou que "deflui da Constituição Federal que a dignidade da pessoa humana é premissa
inarredável de qualquer sistema de direito que afirme a existência, no seu corpo de normas, dos
denominados direitos fundamentais e os efetive em nome da promessa da inafastabilidade da
jurisdição, marcando a relação umbilical entre os direitos humanos e o direito processual".
8. Com essas considerações, pode-se inferir que é devida a condenação cumulativa do Município à
reparação dos danos moral e estético causados à vítima, na medida em que o recém-nascido
obteve grave deformidade - prejuízo de caráter estético - e teve seu direito a uma vida digna
seriamente atingido - prejuízo de caráter moral. Inclusive, a partir do momento em que a vítima
adquirir plena consciência de sua condição, a dor, o vexame, o sofrimento e a humilhação
certamente serão sentimentos com os quais ela terá de conviver ao longo de sua vida, o que
confirma ainda mais a efetiva existência do dano moral. Desse modo, é plenamente cabível a
cumulação dos danos moral e estético nos termos em que fixados na r. sentença, ou seja,
conjuntamente o quantum indenizatório deve somar o total de trezentos mil reais (R$
300.000,00). Esse valor mostra-se razoável e proporcional ao grave dano causado ao recém-
nascido, e contempla também o caráter punitivo e pedagógico da condenação.
9. Quanto ao pedido de majoração da condenação em danos morais em favor dos pais e do irmão
da vítima, ressalte-se que a revisão do valor da indenização somente é possível quando
exorbitante ou insignificante a importância arbitrada. Essa excepcionalidade, contudo, não se
aplica à hipótese dos autos. Isso, porque o valor da indenização por danos morais - fixado em R$
20.000,00, para cada um dos pais, e em R$ 5.000,00, para o irmão de onze (11) anos, totalizando,
assim, R$ 45.000,00 -, nem é irrisório nem desproporcional aos danos morais sofridos por esses
recorrentes. Ao contrário, a importância assentada foi arbitrada com bom senso, dentro dos
critérios de razoabilidade e proporcionalidade.
10. Recurso especial parcialmente provido, apenas para determinar a cumulação dos danos moral
e estético, nos termos em que fixados na r. sentença, totalizando-se, assim, trezentos mil reais (R$
300.000, 00).
RECURSO ESPECIAL ADESIVO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. REVISÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO.
INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO-CONHECIDO.
1. O recurso especial adesivo fica prejudicado quanto ao valor da indenização da vítima, tendo em
vista o exame do tema por ocasião do provimento parcial do recurso especial dos autores.
2. O quantum indenizatório dos danos morais fixados em favor dos pais e do irmão da vítima, ao
contrário do alegado pelo Município, não é exorbitante (total de R$ 45.000,00). Conforme
anteriormente ressaltado, esses valores foram fixados em patamares razoáveis e dentro dos
limites da proporcionalidade, de maneira que é indevida sua revisão em sede de recurso especial,
nos termos da Súmula 7/STJ.
3. Recurso especial adesivo não-conhecido.
(REsp 910.794/RJ, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/10/2008, DJe
04/12/2008)
RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL E ESTÉTICO.
CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. VALOR ARBITRADO EXAGERADO. REDUÇÃO. BASE DE CÁLCULO DA
PENSÃO. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INCLUSÃO DO CAPITAL
NECESSÁRIO PARA CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. IMPOSSIBILIDADE.
1. Somente é possível alterar o valor arbitrado a título de danos morais em sede de recurso
especial quando este se mostra ínfimo ou exagerado, como na espécie, em que se reconhece a
violação aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Precedentes.
2. A base de cálculo da pensão deferida em razão da redução da capacidade laborativa de vítima
que não exerce atividade remunerada deve se restringir a 1 (um) salário mínimo.
3. Nos casos de responsabilidade extracontratual, os juros de mora incidem a partir do evento
danoso. Súmula 54/STJ.
4. No caso de arbitramento de pensão, o capital necessário a produzir a renda correspondente às
prestações vincendas não deve integrar a base de cálculo da verba honorária. Precedentes.
5. O pleito de redução do montante arbitrado a título de honorários advocatícios esbarra no óbice
da súmula 07/STJ, exceto nas situações em que exorbitante ou irrisório o quantum fixado pelas
instâncias ordinárias, o que não ocorre na hipótese vertente.
6. Recursos especiais conhecidos em parte e, nessa extensão, providos.
(REsp 519258/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
06/05/2008, DJe 19/05/2008)
DANOS MORAIS. LEGITIMIDADE AD CAUSAM. NOIVO. MORTE DA NUBENTE.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, após voto-vista que acompanhou o relator, deu provimento
ao recurso especial para restabelecer a sentença que extinguiu o processo sem julgamento do
mérito, por considerar que o noivo não possui legitimidade ativa ad causam para pleitear
indenização por danos morais em razão do falecimento de sua nubente. Inicialmente, destacou o
Min. Relator que a controvérsia em exame – legitimidade para propor ação de reparação por
danos extrapatrimoniais em decorrência da morte de ente querido – apesar de antiga, não está
resolvida no âmbito jurisprudencial. Entretanto, alguns pontos vêm se firmando em recentes
decisões judiciais. De fato, não há dúvida quanto à legitimidade ativa do cônjuge, do companheiro
e dos parentes de primeiro grau do falecido. Da mesma forma, é uníssono que, em hipóteses
excepcionais, o direito à indenização pode ser estendido às pessoas estranhas ao núcleo familiar,
devendo o juiz avaliar se as particularidades de cada caso justificam o alargamento a outros
sujeitos que nele se inserem. Nesse sentido, inclusive, a Turma já conferiu legitimidade ao
sobrinho do falecido que integrava o núcleo familiar, bem como à sogra que fazia as vezes da mãe.
Observou o Min. Relator que, diante da ausência de regra legal específica acerca do tema, caberia
ao juiz a integração hermenêutica. Após um breve panorama acerca das origens do direito de
herança e da ordem de vocação hereditária, e à vista de uma leitura sistemática de diversos
dispositivos de lei que se assemelham com a questão em debate (art. 76 do CC/1916; arts. 12, 948,
I, 1.829, todos do CC/2002 e art. 63 do CPP), sustentou-se que o espírito do ordenamento jurídico
brasileiro afasta a legitimação daqueles que não fazem parte do núcleo familiar direto da vítima.
Dessarte, concluiu-se que a legitimação para a propositura da ação por danos morais deve alinhar-
se à ordem de vocação hereditária, com as devidas adaptações, porquanto o que se busca é a
compensação exatamente de um interesse extrapatrimonial. Vale dizer, se é verdade que tanto na
ordem de vocação hereditária quanto na indenização por dano moral em razão da morte, o
fundamento axiológico são as legítimas afeições nutridas entre quem se foi e quem ficou, para
proceder à indispensável limitação da cadeia de legitimados para a indenização, nada mais correto
que conferir aos mesmos sujeitos o direito de herança e o direito de pleitear a compensação
moral. Porém, a indenização deve ser considerada de modo global para o núcleo familiar, e não a
cada um de seus membros, evitando-se a pulverização de ações de indenização. Segundo se
afirmou, conferir a possibilidade de indenização a sujeitos não inseridos no núcleo familiar
acarretaria a diluição indevida dos valores em prejuízo dos que efetivamente fazem jus à
reparação. Acrescentou-se, ainda, o fato de ter havido a mitigação do princípio da reparação
integral do dano, com o advento da norma prevista no art. 944, parágrafo único, do novo CC. O
sistema de responsabilidade civil atual rechaça indenizações ilimitadas que alcançam valores que,
a pretexto de reparar integralmente vítimas de ato ilícito, revelam nítida desproporção entre a
conduta do agente e os resultados ordinariamente dela esperados. Assim, conceder legitimidade
ampla e irrestrita a todos aqueles que, de alguma forma, suportaram a dor da perda de alguém
significa impor ao obrigado um dever também ilimitado de reparar um dano cuja extensão será
sempre desproporcional ao ato causador. Portanto, além de uma limitação quantitativa da
condenação, é necessária a limitação subjetiva dos beneficiários nos termos do artigo supracitado.
No voto-vista, registrou a Min. Maria Isabel Gallotti não considerar ser aplicável a ordem de
vocação hereditária para o efeito de excluir o direito de indenização dos ascendentes quando
também postulado por cônjuge e filhos, pois é sabido que não há dor maior do que a perda de um
filho, uma vez que foge à ordem natural das coisas. Reservou-se, também, para apreciar quando se
puser concretamente a questão referente à legitimidade de parentes colaterais para postular a
indenização por dano moral em concorrência com cônjuge, ascendentes e descendentes.
Precedentes citados: REsp 239.009-RJ, DJ 4/9/2000, e REsp 865.363-RJ, DJe 11/11/2010. REsp
1.076.160-AM, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/4/2012.
DANOS MORAL E MATERIAL. ALEMANHA.
O autor, brasileiro naturalizado e residente no Brasil, busca indenização por danos morais e
materiais decorrentes de diversas atrocidades de que foi vítima à época da ocupação da França
pela Alemanha Nazista. Tais atos tiveram como fundamento, meramente, o fato de ser o autor
judeu de nascença e se incluíam num projeto maior de eugenia, com o extermínio do povo judeu
na Alemanha Nazista e nos países por ela ocupados. Para a Min. Relatora, dois princípios devem
atuar na definição da jurisdição brasileira para conhecer de determinada causa. Além dos arts. 88
e 89 do CPC, que não são exaustivos, deve-se ter atenção, sempre, para os princípios da
efetividade e da submissão. Compreendida a atuação deles, resta aplicá-los à hipótese dos autos.
No precedente RO 13-PE, DJ 17/9/2007, a competência da autoridade brasileira foi fixada com
base no art. 88, I, do CPC e a Min. Relatora firmou que a mesma idéia pode ser estendida à
hipótese dos autos – a representação oficial do país, na plenitude, mediante sua embaixada e
consulados no Brasil –, ainda destacando que os incisos da referenciada norma legal constituem
pressupostos independentes e não conjuntos. Pelo princípio da efetividade, o Estado tem
interesse no julgamento da causa. Diante disso, entendeu a Min. Relatora ser imperativo que se
determine a citação, no processo sub judice, da República Federal da Alemanha para que,
querendo, oponha resistência à sua submissão à autoridade judiciária brasileira. Somente após
essa oposição, se ela for apresentada, é que se poderá decidir a questão. Tal medida não encontra
óbice nem nos comandos dos arts. 88 e 89 do CPC, que tratam da competência (jurisdição)
internacional brasileira, nem no princípio da imunidade de jurisdição que, segundo a mais
moderna interpretação, prevalece apenas para as ações nas quais se discute a prática dos atos de
império pelo Estado estrangeiro, não sendo passível de ser invocado para as ações nas quais se
discutem atos de gestão. Diante disso, a Turma deu provimento ao recurso para determinar a
citação da ré. RO 64-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/5/2008.
Separação judicial. Proteção da pessoa dos filhos (guarda e interesse). Danos morais (reparação).
Cabimento.
1. O cônjuge responsável pela separação pode ficar com a guarda do filho menor, em se tratando
de solução que melhor atenda ao interesse da criança. Há permissão legal para que se regule por
maneira diferente a situação do menor com os pais. Em casos tais, justifica-se e se recomenda que
prevaleça o interesse do menor.
2. O sistema jurídico brasileiro admite, na separação e no divórcio, a indenização por dano moral.
Juridicamente, portanto, tal pedido é possível: responde pela indenização o cônjuge responsável
exclusivo pela separação.
3. Caso em que, diante do comportamento injurioso do cônjuge varão, a Turma conheceu do
especial e deu provimento ao recurso, por ofensa ao art. 159 do Cód. Civil, para admitir a
obrigação de se ressarcirem danos morais.
(REsp 37051/SP, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA TURMA, julgado em 17.04.2001, DJ
25.06.2001 p. 167)
RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO. DANOS MORAIS.
IMPOSSIBILIDADE.
1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à
aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de
reparação pecuniária.
2. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 757.411/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
29.11.2005, DJ 27.03.2006 p. 299)
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO MOVIDA EM RAZÃO DE ACIDENTE
AUTOMOBILÍSTICO CAUSADO POR "BURACO' EM RODOVIA EM MAU ESTADO DE CONSERVAÇÃO.
RESPONSABILIDADE DO ESTADO APURADA E RECONHECIDA, PELA SENTENÇA E PELO ACÓRDÃO, A
PARTIR DE FARTO E ROBUSTO MATERIAL PROBATÓRIO. CONDENAÇÃO DO ESTADO AO
PAGAMENTO DE PENSIONAMENTO VITALÍCIO E DANOS MORAIS. ALEGADA EXORBITÂNCIA DO
VALOR INDENIZATÓRIO (DE R$ 30.000,00) E DE HONORÁRIOS (R$ 5.000,00).
DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DO ÓBICE INSCRITO NA SÚMULA 7/STJ.
MANIFESTA LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO, ORA RECORRENTE. RECURSO ESPECIAL NÃO-
CONHECIDO.
1. Trata-se de recurso especial (fls. 626/634) interposto pelo Estado do Espírito Santo em autos de
ação indenizatória de responsabilidade civil e de danos morais, com fulcro no art. 105, III, "a", do
permissivo constitucional, contra acórdão prolatado pelo Tribunal Justiça do Estado do Espírito
Santo que, em síntese, condenou o Estado recorrente ao pagamento de danos morais e pensão
vitalícia à parte ora recorrida.
2. Conforme registram os autos, diversos familiares do autor, inclusive sua filha e esposa,
faleceram em razão de acidente automobilístico causado, consoante se constatou na instrução
processual, pelo mau estado de conservação da rodovia em que trafegavam, na qual um buraco de
grande proporção levou ao acidente fatal ora referido. Essa evidência está consignada na
sentença, que de forma minudente realizou exemplar análise das provas coligidas, notadamente
do laudo pericial
3. Em recurso especial duas questões centrais são alegadas pelo Estado do Espírito Santo: a -
exorbitância do valor fixado a título de danos morais, estabelecido em R$ 30.000,00; b -
inadequação do valor determinado para os honorários (R$ 5.000,00).
4. Todavia, no que se refere à adequação da importância indenizatória indicada, de R$ 30.000,00,
uma vez que não se caracteriza como ínfima ou exorbitante, refoge por completo à discussão no
âmbito do recurso especial, ante o óbice inscrito na Súmula 7/STJ, que impede a simples revisão
de prova já apreciada pela instância a quo, que assim dispôs: O valor fixado pra o dano moral está
dentro dos parâmetros legais, pois há eqüidade e razoabalidade no quantum fixado. A boa
doutrina vem conferindo a esse valor um caráter dúplice, tanto punitivo do agente quanto
compensatório em relação à vítima.
5. Quanto ao valor de honorários, semelhante juízo se aplica, uma vez que decorrente
exclusivamente da apreciação dos elementos fáticos presentes no processo. Confira-se (fl. 606):
Em relação aos honorários de sucumbência, estes são reconhecidos como um direito do advogado
da parte que venceu a demanda, devendo a parte vencida, neste caso o apelante ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO, arcar com o ônus sucumbencial. Entendo que, em se tratando do caso concreto,
o valor dos honorários advocatícios foi fixado de forma equilibrada e justa.
6. A alegada ilegitimidade passiva do Estado querelante se encontra determinantemente afastada,
haja vista o expresso liame causal estabelecido nos autos, com amparo em elementos probatórios
fartos e robustos, demonstrados à saciedade no curso da instrução processual.
7. Recurso especial conhecido em parte e não-provido.
(REsp 965.500/ES, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ
25/02/2008 p. 1)
2. Textos Complementares
Editorial 24 – Método Bifásico na Fixação da Indenização por Dano Moral
Chamou a nossa atenção noticiário do Superior Tribunal de Justiça veiculado em maio deste ano.
Como sabemos, um dos pontos críticos do Direito Civil é, precisamente, a quantificação do dano
moral, digladiando-se, em doutrina, aqueles que defendem o método da “tarifação legal” – pelo
qual caberia à própria lei fixar antecipadamente o valor do dano moral devido – com adeptos da
corrente preponderante que defende a fixação judicial mediante “arbitramento”.
Sucede que, ainda que se adote o critério do arbitramento, o juiz, ao fixar a indenização devida por
dano moral, não pode, logicamente, basear-se em meras conjecturas pessoais, em seu “achismo”,
em detrimento da adoção de critérios mais seguros de hermenêutica, sempre à luz do ônus da
argumentação jurídica sustentado pelo filósofo Robert Alexy .
Ora, nesse esforço de definição de bases e referenciais interpretativos, decisão do STJ apresentou
um interessante método de definição da indenização devida por dano moral, ainda desconhecido
por muitos, e que merece a nossa atenção.
É o chamado método bifásico de fixação da indenização por dano moral.
No caso que serviu de base a esta linha de raciocínio, “o STJ determinou pagamento de 500
salários mínimos, o equivalente a R$ 272,5 mil, como compensação por danos morais à família de
uma mulher morta em atropelamento. O acidente aconteceu no município de Serra (ES). A decisão
da Terceira Turma, unânime, adotou os critérios para arbitramento de valor propostos pelo
ministro Paulo de Tarso Sanseverino, relator do caso. De acordo com o processo, o motorista
estaria dirigindo em velocidade incompatível com a via. Ele teria atravessado a barreira eletrônica
a 66 km/h, velocidade acima da permitida para o local, de 40 km/h, e teria deixado de prestar
socorro à vítima após o atropelamento. Ela tinha 43 anos e deixou o esposo e quatro filhos, sendo
um deles judicialmente interditado”.
O ministro, na oportunidade, aplicando o direito à espécie, utilizou um critério dual ou bifásico de
fixação da indenização devida, pelo qual, após pesquisa de casos semelhantes, o julgador chega a
um referencial médio de valor, para, em seguida, majorar ou minorar a indenização, à luz das
peculiaridades do caso concreto:
“O ministro explicou que o objetivo do método bifásico é estabelecer um ponto de equilíbrio entre
o interesse jurídico lesado e as peculiaridades do caso, de forma que o arbitramento seja
equitativo. Segundo ele, o método é o mais adequado para a quantificação da compensação por
danos morais em casos de morte. ‘Esse método bifásico é o que melhor atende às exigências de
um arbitramento equitativo da indenização por danos extrapatrimoniais´, afirmou.
Pelo método bifásico, fixa-se inicialmente o valor básico da indenização, levando em conta a
jurisprudência sobre casos de lesão ao mesmo interesse jurídico. Assim, explicou o ministro,
assegura-se ‘uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes’. Em seguida, o
julgador chega à indenização definitiva ajustando o valor básico para mais ou para menos,
conforme as circunstâncias específicas do caso.
O ministro destacou precedentes jurisprudenciais em que foi usado o método bifásico. Em um dos
julgamentos citados, foi entendido que cabe ao STJ revisar o arbitramento quando o valor fixado
nos tribunais estaduais destoa dos estipulados em outras decisões recentes da Corte, sendo
observadas as peculiaridades dos processos”.
Fonte:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101710&tmp.
area_anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=bifásico acessado em 03 de junho de 2011.
Trata-se de um critério hermenêutico ainda não amplamente conhecido, e que merece a nossa atenção,
pela sua importância no âmbito da Responsabilidade Civil.
Bom estudo, meus amigos!
Um abraço no coração, meus amigos!
Pablo Stolze
03 de junho de 2011.
Editorial disponível no www.pablostolze.com.br
RESPONSABILIDADE PELA GUARDA DE VEÍCULOS EM ESTACIONAMENTOS3
Fernando Gaburri
Graduado pela Faculdade de Direito do Instituto Vianna Júnior, em Juiz de Fora-MG. Mestre em
Direito Civil Comparado pela PUC-SP. Professor de Direito Civil na UFBA e de Teoria Geral do Direito
na AREA1FTE, em Salvador-BA. Co-autor da obra Direito Civil v. 5, editada pela RT em 2008, em que
escreveu, dentre outros, o capítulo 22, que versa sobre o tema em questão.
De quem é a responsabilidade por dano ou subtração de veículos em estacionamentos de
estabelecimentos empresariais, como supermercados, shoppings centers e congêneres?
O dano ou subtração – furto ou roubo – de veículos em pátio destinado a estacionamento, poderá
ser de responsabilidade do estabelecimento empresarial que o disponibiliza. Tudo dependerá da
resposta à seguinte indagação: a guarda do veículo foi transferida para o estabelecimento
empresarial? Em caso de resposta afirmativa, o supermercado, shopping center ou congênere
deverá ressarcir os danos sofridos pelo proprietário, em caso de avaria ou subtração do veículo
que lá estiver estacionado.
Se a pedra de toque da responsabilidade pelos encarregados da custódia de veículos é a
transferência da guarda dos mesmos, resta-nos identificar quando ocorre essa transferência.
Em primeiro lugar, não se confundem guarda e depósito, porque este último é o contrato pelo
qual uma pessoa entrega uma coisa móvel a um depositário, para que este a conserve e depois a
3 Texto gentilmente cedido pelo professor e amigo Fernando Gaburri (Recomendamos,
inclusive, aos nossos alunos, a excelente obra Direito Civil – Responsabilidade Civil – escrita
pelos brilhantes co-autores: Fernando Gaburri, Leonardo Beraldo, Romualdo Baptista dos
Santos, Sílvia Vassilieff, Vaneska Araújo).
restitua. O depositário tem total disponibilidade sobre a coisa. No nosso caso, para haver depósito
do veículo, seria necessário que as chaves fossem entregues ao estabelecimento que oferece o
estacionamento. Como sabemos, em alguns estacionamentos não há entrega de chaves. Assim,
não se trata de depósito, mas sim de um contrato de guarda ou vigilância, que não é previsto pelas
leis brasileiras.
É comum que nesses locais exista uma tabuleta, com o aviso de que o estabelecimento não se
responsabiliza em caso de dano ou subtração do veículo. Entretanto, tal aviso não é suficiente para
excluir essa responsabilidade pois, se a guarda do veículo foi transferida, o dever de indenizar
persiste ainda que o estacionamento seja gratuito. Na verdade, essa gratuidade é apenas
aparente, porque, ao oferecer estacionamento, o estabelecimento empresarial atrai para si um
maior número de clientes.
Como fica essa responsabilidade no caso de o estacionamento não ter vigilância?
É comum que em alguns supermercados o estacionamento não seja vigiado, podendo qualquer
pessoa nele ingressar ou dele sair, mesmo quem use aquele espaço mas não se dirija ao
estabelecimento. Na prática, algumas pessoas estacionam seus veículos no pátio do supermercado
e vão para o trabalho ou tomam transporte público, e só voltam àquele local no final do dia, ou
mesmo no dia seguinte, para retirar o veículo, que ficou ali estacionado gratuitamente.
Se não houve a entrega ou a transferência da guarda do veículo, se não foi emitido bilhete e, ao
final, se não foi preciso que o condutor se identificasse para sair dali com seu veículo, então não
haverá responsabilidade. Ou seja, não havendo efetiva entrega do veículo, não existirá o dever de
guarda
O mesmo vale para as universidades e escolas que não mantêm vigilância em seus
estacionamentos. Neste caso, os alunos, professores e funcionários podem estacionar seus
veículos, mas o estabelecimento de ensino não terá nenhuma responsabilidade. O Superior
Tribunal de Justiça – STJ – já decidiu neste sentido, no Recurso Especial 438870-DF, de 12.04.2005.
E quando meu veículo é entregue a um manobrista?
É comum que nas grandes cidades, os hotéis e restaurantes ofereçam estacionamento com serviço
de manobrista. Neste caso, o dono do veículo vê-se obrigado a entregar suas chaves ao
funcionário do estabelecimento, o que caracteriza o contrato de depósito.
Nesta hipótese haverá responsabilidade do estabelecimento por dano ou subtração, ainda que o
estacionamento seja gratuito. Na verdade, como já dissemos, essa gratuidade é apenas aparente,
porque, por exemplo, o restaurante que oferece estacionamento atrai muito mais clientela do que
aquele outro que o não oferece. Neste sentido já decidiu o STJ no Recurso Especial 419465-DF, de
25.02.2003.
É importante esclarecer que se o condutor estacionar, por conta própria, seu veículo nas
imediações do restaurante, confiando-o aos cuidados dos chamados flanelinhas, o
estabelecimento não terá nenhuma responsabilidade.
É semelhante a situação dos postos de combustível e das oficinas mecânicas, porque também
ocorre a efetiva entrega do veículo. Se o mecânico da oficina causar danos ao veículo enquanto o
manobra ou quando o testa na via pública, o estabelecimento deverá indenizar o proprietário.
O STJ, ao julgar o Recurso Especial 218470-SP, entendeu que a oficina fica responsável até mesmo
na ocorrência de assalto à mão armada, porque se trata de acontecimento previsível em negócio
dessa espécie, que se caracteriza na manutenção de loja em local de fácil acesso, em que se
encontram automóveis e demais objetos de valor.
E quando deixo meu veículo nas zonas azuis?
As zonas ou áreas azuis são espaços públicos destinados a estacionamento, explorados pelo
município, ou por empresas permissionárias. Trata-se de um serviço público prestado mediante
remuneração.
Neste caso, haverá responsabilidade do município ou de quem lhe faz as vezes – a empresa
permissionária – por força do § 6º do artigo 37 da Constituição Federal.
3. Fique por Dentro
Indenização por paraplegia deve ser maior que em casos de morte
19/11/2010
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aumentou de R$ 40 mil para R$ 250 mil a
indenização por dano moral em favor de um cidadão de Santa Catarina que ficou paraplégico depois de
um acidente de trânsito.
“Não há como negar o impacto psicológico e a dor íntima que pode causar para um pai de família,
saudável e ativo, a constatação de ver-se preso a uma cadeira de rodas pelo resto de sua vida,
demandando cuidados exclusivos e permanentes”, afirmou a relatora do caso, ministra Nancy Andrighi.
O acidente foi causado por um caminhão conduzido pelo preposto do proprietário do caminhão, ao fazer
ultrapassagem em local proibido. Para evitar a colisão frontal, o carro em que estavam a vítima, sua
esposa e seu filho foi desviado para o acostamento e, descontrolado, acabou batendo em outro veículo.
Processado, o proprietário do caminhão foi condenado a pagar os danos materiais, mais uma
indenização por danos morais e estéticos no valor de R$ 40 mil e pensão de um salário-mínimo por mês
para a vítima paraplégica. O juiz determinou, ainda, o pagamento de R$ 15 mil ao filho, como
compensação pela dor psicológica de ver o pai naquela situação.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), ao julgar o recurso de apelação, afastou o pagamento dos
danos morais para o filho da vítima e manteve os demais itens da sentença, inclusive o valor de R$ 40 mil
ao pai, considerado dentro dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Inconformada, a
vítima recorreu ao STJ, na tentativa de majorar a própria indenização, restabelecer a do filho e aumentar
também a pensão mensal.
Segundo a ministra Nancy Andrighi, o pai não conseguiu demonstrar a ocorrência de ilegalidade a
permitir a análise, pelo tribunal superior, do pedido de indenização ao filho. Quanto à pensão mensal, a
majoração foi pedida com base em argumentos jurídicos que não haviam sido abordados antes no
processo – portanto, o assunto não daria margem a recurso para o STJ.
Já no caso da indenização de R$ 40 mil, a relatora afirmou que a jurisprudência do STJ permite a
alteração do valor de indenizações por dano moral quando esse valor se mostrar ínfimo ou exagerado,
“pois nesses casos reconhece-se a violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade”.
A ministra ressaltou que há vários precedentes da Corte fixando em 400 salários-mínimos (R$ 204 mil,
atualmente) as indenizações por dano moral causado aos parentes próximos de vítimas fatais. Por outro
lado, de acordo com a relatora, “são poucos os precedentes que versam acerca do valor do dano moral,
em casos nos quais resulte à vítima incapacidade permanente para o trabalho, decorrente de tetraplegia,
paraplegia ou outra lesão, ou seja, nas hipóteses em que se busca compensar a própria vítima por
sequela que irá carregar pelo resto de sua vida”.
Em um desses precedentes, de 2007, cuja relatoria coube à própria ministra Nancy Andrighi, a Terceira
Turma manteve em R$ 1,14 milhão a indenização devida a um policial de 24 anos que ficou tetraplégico
após ser baleado acidentalmente pelo vigia de um banco, durante uma repressão a assalto. Na ocasião, a
ministra afirmou que não seria razoável reduzir o valor para o nível das condenações em caso de morte.
“A aflição causada ao próprio acidentado não pode ser comparada, em termos de grandeza, com a perda
de um ente querido”, disse a ministra em seu voto, acompanhado por todos os demais ministros da
Turma. “A morte de nossos pais, de nossos irmãos, por mais dolorida que seja, por mais que deixe
sequelas para sempre, não é, ao menos necessariamente, tão limitadora quanto a abrupta perda de
todos os movimentos, capacidade sexual e controle sobre as funções urinárias e intestinais”, afirmou a
relatora naquele julgamento (Resp 951.514).
Depois de mencionar outras indenizações da mesma natureza, em patamares de R$ 250 mil, R$ 360 mil e
R$ 500 mil, a ministra declarou que, no caso do acidente em Santa Catarina, “o montante arbitrado (R$
40 mil) desafia os padrões da razoabilidade, mostrando-se aquém daquilo que vem sendo estabelecido
pelo STJ”, devendo, por isso, ser aumentado.
Processos: Resp 1189465
Fonte:
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=9
9864 acessado em 21 de novembro de 2010.
Contratos bancários sem previsão de juros podem ser revistos pela taxa média de mercado
20/05/2010
Nos contratos de mútuo (empréstimo de dinheiro) em que a disponibilização do capital é imediata, o
montante dos juros remuneratórios praticados deve ser consignado no respectivo instrumento. Ausente
a fixação da taxa no contrato, o juiz deve limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie,
divulgada pelo Banco Central, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente. O entendimento
foi pacificado pela Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento de dois recursos
especiais impetrados pelo Unibanco. Os processos foram apreciados em sede de recurso repetitivo.
Em ambos os casos, o Unibanco recorreu de decisões desfavoráveis proferidas pelo Tribunal de Justiça
do Paraná (TJPR). As ações envolviam revisão de contratos bancários. Nos dois episódios, os autores –
uma construtora e uma empresa de transportes – contestaram a legalidade de o banco alterar
unilateralmente o contrato, definindo a taxa de juros não prevista anteriormente. Na ausência do índice,
o Unibanco estipulou, por conta própria, a cobrança pela taxa média de mercado. Para as empresas,
houve abuso da instituição financeira, já que esta teria de se sujeitar ao limite de 12% ao ano para juros
remuneratórios. Os pedidos foram julgados procedentes na Justiça estadual.
No STJ, os processos foram relatados pela ministra Nancy Andrighi, que analisou a questão nos termos
do art. 543-C do Código de Processo Civil. No seu entender, contratos bancários que preveem a
incidência de juros, mas não especificam seu montante, têm de ter essa cláusula anulada, já que deixam
ao arbítrio da instituição financeira definir esse índice. Nos casos, porém, em que o contrato é omisso
quanto a essa questão, é preciso interpretar o negócio considerando-se a intenção das partes ao firmá-
lo.
E, nesse aspecto, a incidência de juros pode ser presumida, mesmo não prevista em contrato. Isso
porque, de acordo com Nancy Andrighi, o mutuário recebe o empréstimo sob o compromisso de restituí-
lo com uma remuneração, que são os juros, e não restituir o dinheiro sem qualquer espécie de
compensação. “As partes que queiram contratar gratuitamente mútuo com fins econômicos só poderão
fazê-lo se, por cláusula expressa, excluírem a incidência de juros”, afirmou a ministra em seu voto.
Para Nancy Andrighi, a taxa média de mercado é adequada porque é medida por diversas instituições
financeiras, representando, portanto, o ponto de equilíbrio nas forças do mercado. Segundo a ministra, a
adoção da referida taxa ganhou força quando o Banco Central passou a divulgá-la, em 1999 – e seu uso,
nos processos sob análise, é a “solução que recomenda a boa-fé”. A jurisprudência do STJ tem utilizado a
taxa média de mercado na solução de conflitos envolvendo contratos bancários. Paralelamente, o
Tribunal tem reiterado o entendimento de que a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12%
ao ano, por si só, não indica abusividade.
Além de estabelecer que, ausente a fixação da taxa no contrato, cabe ao juiz limitar os juros à média de
mercado (a menos que a taxa indicada pela instituição financeira seja mais vantajosa para o cliente), a
Segunda Seção do STJ assinalou que, em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se
houver abuso nos juros remuneratórios praticados. Por ter sido pronunciada em julgamento de recurso
repetitivo, a decisão deve ser aplicada a todos os processos com o mesmo tema.
Processos: REsp 1112879; REsp 1112880
Fonte:http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.te
xto=97326
STJ busca parâmetros para uniformizar valores de danos morais
13/09/2009
Por muitos anos, uma dúvida pairou sobre o Judiciário e retardou o acesso de vítimas à reparação por
danos morais: é possível quantificar financeiramente uma dor emocional ou um aborrecimento? A
Constituição de 1988 bateu o martelo e garantiu o direito à indenização por dano moral. Desde então,
magistrados de todo o país somam, dividem e multiplicam para chegar a um padrão no arbitramento das
indenizações. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem a palavra final para esses casos e, ainda que não
haja uniformidade entre os órgãos julgadores, está em busca de parâmetros para readequar as
indenizações.
O valor do dano moral tem sido enfrentado no STJ sob a ótica de atender uma dupla função: reparar o
dano buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor para que não reincida. Como é vedado ao
Tribunal reapreciar fatos e provas e interpretar cláusulas contratuais, o STJ apenas altera os valores de
indenizações fixados nas instâncias locais quando se trata de quantia irrisória ou exagerada.
A dificuldade em estabelecer com exatidão a equivalência entre o dano e o ressarcimento se reflete na
quantidade de processos que chegam ao STJ para debater o tema. Em 2008, foram 11.369 processos
que, de alguma forma, debatiam dano moral. O número é crescente desde a década de 1990 e, nos
últimos 10 anos, somou 67 mil processos só no Tribunal Superior.
O ministro do STJ Luis Felipe Salomão, integrante da Quarta Turma e da Segunda Seção, é defensor de
uma reforma legal em relação ao sistema recursal, para que, nas causas em que a condenação não
ultrapasse 40 salários mínimos (por analogia, a alçada dos Juizados Especiais), seja impedido o recurso ao
STJ. “A lei processual deveria vedar expressamente os recursos ao STJ. Permiti-los é uma distorção em
desprestígio aos tribunais locais”, critica o ministro.
Subjetividade
Quando analisa o pedido de dano moral, o juiz tem liberdade para apreciar, valorar e arbitrar a
indenização dentro dos parâmetros pretendidos pelas partes. De acordo com o ministro Salomão, não há
um critério legal, objetivo e tarifado para a fixação do dano moral. “Depende muito do caso concreto e
da sensibilidade do julgador”, explica. “A indenização não pode ser ínfima, de modo a servir de
humilhação a vítima, nem exorbitante, para não representar enriquecimento sem causa”, completa.
Para o presidente da Terceira Turma do STJ, ministro Sidnei Beneti, essa é uma das questões mais difíceis
do Direito brasileiro atual. “Não é cálculo matemático. Impossível afastar um certo subjetivismo”, avalia.
De acordo com o ministro Beneti, nos casos mais freqüentes, considera-se, quanto à vítima, o tipo de
ocorrência (morte, lesão física, deformidade), o padecimento para a própria pessoa e familiares,
circunstâncias de fato, como a divulgação maior ou menor e consequências psicológicas duráveis para a
vítima.
Quanto ao ofensor, considera-se a gravidade de sua conduta ofensiva, a desconsideração de sentimentos
humanos no agir, suas forças econômicas e a necessidade de maior ou menor valor, para que o valor seja
um desestímulo efetivo para a não reiteração.
Tantos fatores para análise resultam em disparidades entre os tribunais na fixação do dano moral. É o
que se chama de “jurisprudência lotérica”. O ministro Salomão explica: para um mesmo fato que afeta
inúmeras vítimas, uma Câmara do Tribunal fixa um determinado valor de indenização e outra Turma
julgadora arbitra, em situação envolvendo partes com situações bem assemelhadas, valor diferente.
“Esse é um fator muito ruim para a credibilidade da Justiça, conspirando para a insegurança jurídica”,
analisa o ministro do STJ. “A indenização não representa um bilhete premiado”, diz.
Estes são alguns exemplos recentes de como os danos vêm sendo quantificados no STJ.
Morte dentro de escola = 500 salários
Quando a ação por dano moral é movida contra um ente público (por exemplo, a União e os estados),
cabe às turmas de Direito Público do STJ o julgamento do recurso. Seguindo o entendimento da Segunda
Seção, a Segunda Turma vem fixando o valor de indenizações no limite de 300 salários mínimos. Foi o
que ocorreu no julgamento do Resp 860705, relatado pela ministra Eliana Calmon. O recurso era dos pais
que, entre outros pontos, tentavam aumentar o dano moral de R$ 15 mil para 500 salários mínimos em
razão da morte do filho ocorrida dentro da escola, por um disparo de arma. A Segunda Turma fixou o
dano, a ser ressarcido pelo Distrito Federal, seguindo o teto padronizado pelos ministros.
O patamar, no entanto, pode variar de acordo com o dano sofrido. Em 2007, o ministro Castro Meira
levou para análise, também na Segunda Turma, um recurso do Estado do Amazonas, que havia sido
condenado ao pagamento de R$ 350 mil à família de uma menina morta por um policial militar em
serviço. Em primeira instância, a indenização havia sido fixada em cerca de 1.600 salários mínimos, mas o
tribunal local reduziu o valor, destinando R$ 100 mil para cada um dos pais e R$ 50 mil para cada um dos
três irmãos. O STJ manteve o valor, já que, devido às circunstâncias do caso e à ofensa sofrida pela
família, não considerou o valor exorbitante nem desproporcional (REsp 932001).
Paraplegia = 600 salários
A subjetividade no momento da fixação do dano moral resulta em disparidades gritantes entre os
diversos Tribunais do país. Num recurso analisado pela Segunda Turma do STJ em 2004, a Procuradoria
do Estado do Rio Grande do Sul apresentou exemplos de julgados pelo país para corroborar sua tese de
redução da indenização a que havia sido condenada.
Feito refém durante um motim, o diretor-geral do hospital penitenciário do Presídio Central de Porto
Alegre acabou paraplégico em razão de ferimentos. Processou o estado e, em primeiro grau, o dano
moral foi arbitrado em R$ 700 mil. O Tribunal estadual gaúcho considerou suficiente a indenização
equivalente a 1.300 salários mínimos. Ocorre que, em caso semelhante (paraplegia), o Tribunal de Justiça
de Minas Gerais fixou em 100 salários mínimos o dano moral. Daí o recurso ao STJ.
A Segunda Turma reduziu o dano moral devido à vítima do motim para 600 salários mínimos (Resp
604801), mas a relatora do recurso, ministra Eliana Calmon, destacou dificuldade em chegar a uma
uniformização, já que há múltiplas especificidades a serem analisadas, de acordo com os fatos e as
circunstâncias de cada caso.
Morte de filho no parto = 250 salários
Passado o choque pela tragédia, é natural que as vítimas pensem no ressarcimento pelos danos e
busquem isso judicialmente. Em 2002, a Terceira Turma fixou em 250 salários mínimos a indenização
devida aos pais de um bebê de São Paulo morto por negligência dos responsáveis do berçário (Ag
437968).
Caso semelhante foi analisado pela Segunda Turma neste ano. Por falta do correto atendimento durante
e após o parto, a criança ficou com sequelas cerebrais permanentes. Nesta hipótese, a relatora, ministra
Eliana Calmon, decidiu por uma indenização maior, tendo em vista o prolongamento do sofrimento.
“A morte do filho no parto, por negligência médica, embora ocasione dor indescritível aos genitores, é
evidentemente menor do que o sofrimento diário dos pais que terão de cuidar, diuturnamente, do filho
inválido, portador de deficiência mental irreversível, que jamais será independente ou terá a vida
sonhada por aqueles que lhe deram a existência”, afirmou a ministra em seu voto. A indenização foi
fixada em 500 salários mínimos (Resp 1024693)
Fofoca social = 30 mil reais
O STJ reconheceu a necessidade de reparação a uma mulher que teve sua foto ao lado de um noivo
publicada em jornal do Rio Grande do Norte, noticiando que se casariam. Na verdade, não era ela a
noiva, pelo contrário, ele se casaria com outra pessoa. Em primeiro grau, a indenização foi fixada em R$
30 mil, mas o Tribunal de Justiça potiguar entendeu que não existiria dano a ser ressarcido, já que uma
correção teria sido publicada posteriormente. No STJ, a condenação foi restabelecida (Resp 1053534).
Protesto indevido = 20 mil reais
Um cidadão alagoano viu uma indenização de R$ 133 mil minguar para R$ 20 mil quando o caso chegou
ao STJ. Sem nunca ter sido correntista do banco que emitiu o cheque, houve protesto do título devolvido
por parte da empresa que o recebeu. Banco e empresa foram condenados a pagar cem vezes o valor do
cheque (R$ 1.333). Houve recurso e a Terceira Turma reduziu a indenização. O relator, ministro Sidnei
Beneti, levou em consideração que a fraude foi praticada por terceiros e que não houve demonstração
de abalo ao crédito do cidadão (Resp 792051).
Alarme antifurto = 7 mil reais
O que pode ser interpretado como um mero equívoco ou dissabor por alguns consumidores, para outros
é razão de processo judicial. O STJ tem jurisprudência no sentido de que não gera dano moral a simples
interrupção indevida da prestação do serviço telefônico (Resp 846273).
Já noutro caso, no ano passado, a Terceira Turma manteve uma condenação no valor de R$ 7 mil por
danos morais devido a um consumidor do Rio de Janeiro que sofreu constrangimento e humilhação por
ter de retornar à loja para ser revistado. O alarme antifurto disparou indevidamente.
Para a relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, foi razoável o patamar estabelecido pelo Tribunal
local (Resp 1042208). Ela destacou que o valor seria, inclusive, menor do que noutros casos semelhantes
que chegaram ao STJ. Em 2002, houve um precedente da Quarta Turma que fixou em R$ 15 mil
indenização para caso idêntico (Resp 327679).
Tabela
A tabela abaixo traz um resumo de alguns precedentes do STJ sobre casos que geraram dano moral, bem
como os valores arbitrados na segunda instância e no STJ. Trata-se de material exclusivamente
jornalístico, de caráter ilustrativo, com o objetivo de facilitar o acesso dos leitores à ampla jurisprudência
da Corte.
Evento 2º grau STJ Processo
Recusa em cobrir tratamento
médico-hopsitalar (sem dano à
saúde)
R$ 5 mil R$ 20 mil Resp 986947
Recusa em fornecer
medicamento (sem dano à saúde) R$ 100 mil 10 SM Resp 801181
Cancelamento injustificado de
vôo 100 SM R$ 8 mil Resp 740968
Compra de veículo com defeito
de fabricação; problema resolvido
dentro da garantia
R$ 15 mil não há dano Resp 750735
Inscrição indevida em cadastro de
inadimplente 500 SM R$ 10 mil Resp 1105974
Revista íntima abusiva não há dano 50 SM Resp 856360
Omissão da esposa ao marido
sobre a verdadeira paternidade
biológica das filhas
R$ 200 mil mantida Resp 742137
Morte após cirurgia de amígdalas R$ 400 mil R$ 200 mil Resp 1074251
Paciente em estado vegetativo
por erro médico R$ 360 mil mantida Resp 853854
Estupro em prédio público R$ 52 mil mantida Resp 1060856
Publicação de notícia inverídica R$ 90 mil R$ 22.500 Resp 401358
Preso erroneamente não há dano R$ 100 mil Resp 872630
Processos: Resp 860705; REsp 932001; Resp 604801; Ag 437968; Resp 1024693; Resp 1053534; Resp
792051; Resp 846273; Resp 1042208; Resp 327679
Fonte:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=93
679 acessado em 30 de outubro de 2009.
Nova súmula dispensa AR na comunicação ao consumidor sobre negativação de seu nome
29/10/2009
O entendimento da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça de que a notificação de inscrição em
cadastro de proteção ao crédito não precisar ser feita com aviso de recebimento (AR) agora está
sumulado.
Os ministros aprovaram a Súmula de número 404, que ficou com a seguinte redação: “é dispensável o
Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome
em bancos de dados e cadastros”.
A questão foi julgada recentemente seguindo o rito da Lei dos Recursos Repetitivos. Na ocasião, a Seção,
seguindo o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, concluiu que o dever fixado no parágrafo 2° do
artigo 43 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), de comunicação prévia do consumidor acerca da
inscrição de seu nome em cadastros de inadimplentes, deve ser considerado cumprido pelo órgão de
manutenção do cadastro com o envio de correspondência ao endereço fornecido pelo credor. Sendo,
pois, desnecessária a comprovação da ciência do destinatário mediante apresentação de aviso de
recebimento (AR).
Na ocasião, os ministros determinaram que o tema fosse sumulado.
Leia também:
Inclusão de danos morais no contrato de seguro por danos pessoais, salvo exclusão expressa, agora é
súmula
Súmula trata da indenização pela publicação não autorizada da imagem de alguém
Súmula da Segunda Seção trata do prazo para pedir o DPVAT na Justiça
Processos: Resp 1083291; resp 893069; AG 963026; resp 1065096; AG 727440; AG 1019370; AG
1036919; AG 833769; AG 1001058
Fonte:
http://www.stj.jus.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto=94
426 acessado em 30 de outubro de 2009.
Ações judiciais sobre relacionamentos amorosos têm respostas no STJ
24/05/2009
Namoro, noivado, casamento. Qualquer relacionamento amoroso pode terminar em processo judicial,
como mostram as inúmeras decisões do Superior Tribunal de Justiça referentes às relações de casal. As
mais recentes tratam da aplicação da lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), que combate a violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Em julgado deste ano, a Terceira Seção concluiu pela possibilidade de aplicação da lei a relações de
namoro, independentemente de coabitação. No entanto, segundo o colegiado, deve ser avaliada a
situação específica de cada processo, para que o conceito de relações íntimas de afeto não seja ampliado
para abranger relacionamentos esporádicos ou passageiros.
“É preciso existir nexo causal entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre autor e
vítima, ou seja, a prática violenta deve estar relacionada ao vínculo afetivo existente entre vítima e
agressor”, salientou a ministra Laurita Vaz. No processo, mesmo após quase dois anos do fim do namoro,
o rapaz ameaçou a ex-namorada de morte quando ficou sabendo que ela teria novo relacionamento. O
STJ determinou que a ação seja julgada pela Justiça comum, e não por Juizado Especial Criminal, como
defendia o advogado do acusado da agressão.
Em outra questão sobre a Lei Maria da Penha e namoro, o STJ entendeu ser possível o Ministério Público
(MP) requerer medidas de proteção à vítima e seus familiares, quando a agressão é praticada em
decorrência da relação. Para a desembargadora Jane Silva, à época convocada para o STJ, quando há
comprovação de que a violência praticada contra a mulher, vítima de violência doméstica por sua
vulnerabilidade e hipossuficiência, decorre do namoro e de que essa relação, independentemente de
coabitação, pode ser considerada íntima, aplica-se a Lei Maria da Penha.
Noivado
O fim de um noivado pode gerar pendências no Judiciário, como o processo que foi julgado pelo STJ em
2002. Por uma questão constitucional, a Corte manteve a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP) que isentou o ex-noivo de indenizar a ex-noiva e o pai dela, mesmo tendo desistido do casamento
15 dias antes de cerimônia, já com os convites distribuídos e as despesas pagas.
O TJSP reconheceu o direito da ex-noiva e de seu pai à indenização pelos prejuízos morais e financeiros
sofridos por causa da desistência. No entanto, durante o processo, o ex-noivo obteve o benefício da
Justiça gratuita para responder à ação e essa peculiaridade implicou a isenção da obrigação de indenizar
os
autores. O TJSP se baseou no artigo 5º da Constituição Federal. No STJ, os ministros concluíram que o
recurso, baseado no julgado do TJSP que seguiu o artigo 5º, não poderia ser analisado pela Corte, e sim
pelo Supremo Tribunal Federal, por se referir a texto da Constituição. Por esse motivo, manteve a
decisão do TJSP.
Casamento
Já está firmado o entendimento de que o imóvel de família onde o casal reside e, em alguns casos, com
outros parentes é protegido pela Lei n. 8.009/90, que torna impenhorável esse tipo de imóvel. Segundo o
STJ, essa proteção prevalece mesmo quando o casal decide separar-se. Em 2008, a Corte concluiu que a
impenhorabilidade do bem de família visa resguardar não somente o casal, mas a própria entidade
familiar. Por isso, no caso de separação, não é extinta a impenhorabilidade, pelo contrário, surge uma
duplicidade da entidade, que passa a ser composta pelo ex-marido e pela ex-mulher com os respectivos
parentes.
Outro tema que surge em relação ao casamento ou à separação diz respeito ao uso de sobrenome. Em
julgado de 2005, o STJ reconheceu a possibilidade de os noivos suprimirem um dos nomes que
representa a família quando do casamento, desde que não haja prejuízo à ancestralidade (identificação
da família) nem à sociedade, pois o nome civil é direito de personalidade.
A hipótese de continuar a usar o sobrenome do ex-marido após o divórcio também foi analisada pelo
Superior Tribunal. Julgados autorizam a ex-mulher a manter o sobrenome do ex-marido, pois deve
prevalecer a disposição legal que preserva o direito à identidade. Em uma das decisões, o Tribunal
assinala que o uso pode permanecer, mesmo que isso gere desconforto e constrangimento ao homem.
Em outra, o Tribunal avaliou a manutenção do nome após o fim de um matrimônio de 45 anos. A Corte
concluiu que, neste caso, obrigar a ex-mulher a retirar o nome do ex-marido poderia causar grave dano à
personalidade dela e prejuízo à sua identificação diante do longo tempo em que foi apresentada com tal
sobrenome.
Ainda sobre o tema, o STJ analisou pedido de uso de nome em registro de óbito de companheiro (pessoa
que conviveu em união estável). De acordo com o Tribunal, se não houve o reconhecimento oficial da
convivência comum do casal, em união estável, o nome do companheiro da pessoa falecida não pode
constar no registro do óbito. Para o ministro Aldir Passarinho Junior, esse entendimento não nega a
legislação que rege a união estável, mas é preciso focar que o reconhecimento do relacionamento não se
dá automaticamente. Além disso, a lei que regula os elementos possíveis de figurar na certidão de óbito
é taxativa. Ainda segundo o ministro, é preciso cuidado no registro de óbito, já que dele podem vir
consequências legais.
Também sobre casamento, o STJ analisou, em 2000, pedido de anulação de matrimônio impetrado pela
noiva porque seu pai descobriu, durante a lua de mel, dívidas e títulos protestados contra o noivo. O
recurso da noiva não foi conhecido pelo Tribunal. Segundo o ministro Ruy Rosado de Aguiar, relator do
processo à época, caso prevalecesse o pedido da noiva pela nulidade, qualquer cheque devolvido ou
fornecedor insatisfeito, chegando aos ouvidos da família da noiva, dariam margem a que seu pai fizesse
com que o casal interrompesse a lua de mel, com imediata separação e ação de anulação. “O que
reservar então aos falidos, concordatários, processados criminalmente, investigados por muitas
mazelas?”, concluiu o relator.
Casos especiais
Além dos aspectos diretamente relacionados com namoro, noivado e casamento, partilha e pensão, o
Tribunal da Cidadania já respondeu a diversas questões apontadas em recursos, como a de processos
sobre regimes de bens. Em julgamento de 2008, a Corte permitiu a alteração do regime de bens de
casamento celebrado sob a vigência do Código Civil de 1916 (antigo), possibilidade expressa no novo
Código (de 2002), desde que respeitados os direitos de terceiros.
Em outro julgado, o Tribunal também definiu que cônjuges casados em comunhão de bens não podem
contratar sociedade entre si. Segundo os ministros, as restrições previstas na lei pretendem evitar a
utilização das sociedades como instrumento para encobrir fraudes ao regime de bens do casamento. Já
os cônjuges casados em regime de separação de bens pelo Código Civil de 1916 podem realizar doações
de bens entre si durante o matrimônio. O STJ entendeu válido esse tipo de operação.
Algumas pendências judiciais sobre união estável foram analisadas pelo Tribunal da Cidadania. Em uma
delas, ele concluiu que o direito de companheiro à metade de imóvel dado como garantia em contrato
não prevalece sobre o direito do credor a executar a hipoteca, se o companheiro que assinou o contrato
de hipoteca omitiu a existência da união estável. Em outro caso, a Corte entendeu impossível o
reconhecimento concomitante de duas uniões estáveis. Para os ministros, o objetivo de reconhecer a
união estável e o fato de que ela é entidade familiar não autoriza que se identifiquem várias uniões
estáveis. “Isso levaria, necessariamente, à possibilidade absurda de se reconhecerem entidades
familiares múltiplas e concomitantes.”
Um caso de bigamia também chegou à análise do STJ. O Tribunal negou a homologação de uma sentença
estrangeira que tornou nulo o casamento realizado no Brasil entre uma brasileira e um japonês, após ele
descobrir que ela já era casada e tinha três filhos com o primeiro cônjuge. Segundo os ministros, como o
casamento foi realizado no Brasil, portanto de acordo com a lei brasileira, o pedido de nulidade do
matrimônio deve ser feito de acordo com a mesma lei, e não no Judiciário japonês, como ocorreu.
Vários processos com decisões divulgadas nesta matéria não têm seus números informados por se
referirem a ações com trâmite em segredo de justiça.
Processos: RESP 963370; CC 100654; HC 92875; RESP 241200; RESP 662799; SEC 1303; RESP 952141;
RESP 471958; RESP 707092; RESP 812012; RESP 1058165
Fonte:
http://www.stj.gov.br/portal_stj/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=398&tmp.texto
=92109acessado em 24 de maio de 2009.
4. Bibliografia Básica do Curso
Novo Curso de Direito Civil – Vol. III – Responsabilidade Civil – Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho – Ed. Saraiva (www.editorajuspodivm.com.br ou www.saraivajur.com.br)
5. Mensagem
Pelo fato de a Responsabilidade Civil ser matéria sensível a mudanças, aconselhamos você a acompanhar
atentamente as aulas e os informativos eletrônicos de jurisprudência, especialmente do STJ e do STF.
Acompanhe também andamento de projetos nos sites da Câmara e do Senado.
É uma dica valiosa para concurso!
Queridos amigos,
Força e Fé!
Deus os ilumine, sempre!
O amigo,
Pablo.
Revisado. 2012.1.OK C.D.S.