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86 O dano moral e a teoria dos Punitive Damages The moral damage and the punitive damages theory Letícia Alves Ferreira Souto Graduanda do 8º período do curso de Direito do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM). E-mail: [email protected] Resumo: O presente trabalho tem como objeto de estudo a discussão quanto à possibilidade de aplicação da Teoria dos Punitive Damages no ordenamento jurídico brasileiro, especificamente em relação à indenização por dano moral. O que se buscou foi a breve discussão acerca do dano extrapatrimonial, a construção histórica da Teoria, seu desenvolvimento no direito comparado e, ao final, demonstrar sua adequação ao Direito brasileiro. Por fim, concluiu-se que a indenização punitiva está em consonância ao disposto na Constituição Federal e no atual Código Civil, em razão não só da necessidade de proteção da vítima, mas também de punição exemplar do ofensor. Palavras-chave: Direito Civil. Responsabilidade Civil. Dano Moral. Punitive Damages. Abstract: The present research aims at discussing about the applicability of the Punitive Damages Theory to the Brazilian law, specifically in relation to compensation for moral damage. The aim was a brief discussion of off-balance sheet damage, the historical basis of this Theory, its development in comparative law and, ultimately, to demonstrate its suitability to the Brazilian law. Finally, it was concluded that the punitive damages are in accordance with the provisions of the Federal Constitution and the current Civil Code, not only because of the need for victim protection, but also for exemplary punishment of the offender. Keywords: Civil Law. Civil Liability. Moral Damage. Punitive Damages. 1 Introdução Partindo-se da ideia de que o ser humano é eminentemente um animal gregário, parece óbvio que das constantes interações humanas, em algum aspecto, surgirão conflitos, existindo de um lado o direito à reparação pelo dano sofrido, e de outro o dever de responder pela conduta danosa. É nesse contexto que surge a noção de responsabilidade civil como sendo o mecanismo capaz de restaurar o equilíbrio econômico das partes envolvidas. Durante toda a história de desenvolvimento do instituto da responsabilidade civil, o que se buscou sempre foi a proteção da vítima, sendo resguardada de forma mais ampla possível. Porém, em muitos momentos, a conduta danosa do ofensor foi relegada a segundo plano, fato que não mais deve se perdurar, tendo em vista a necessária punição daqueles que praticam ilícitos civis. A partir daí, surge a Teoria dos Punitive Damages, que tem por principal objetivo o reconhecimento do caráter punitivo da indenização e consequente majoração do quantum indenizatório. Revista Jurisvox, n. 15, vol. 1, jul. 2014, 86-107 © Centro Universitário de Patos de Minas http://jurisvox.unipam.edu.br

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O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

The moral damage and the punitive damages theory

Letiacutecia Alves Ferreira Souto Graduanda do 8ordm periacuteodo do curso de Direito do Centro Universitaacuterio de Patos de Minas (UNIPAM) E-mail leticiafsoutohotmailcom

Resumo O presente trabalho tem como objeto de estudo a discussatildeo quanto agrave possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro especificamente em relaccedilatildeo agrave indenizaccedilatildeo por dano moral O que se buscou foi a breve discussatildeo acerca do dano extrapatrimonial a construccedilatildeo histoacuterica da Teoria seu desenvolvimento no direito comparado e ao final demonstrar sua adequaccedilatildeo ao Direito brasileiro Por fim concluiu-se que a indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em consonacircncia ao disposto na Constituiccedilatildeo Federal e no atual Coacutedigo Civil em razatildeo natildeo soacute da necessidade de proteccedilatildeo da viacutetima mas tambeacutem de puniccedilatildeo exemplar do ofensor Palavras-chave Direito Civil Responsabilidade Civil Dano Moral Punitive Damages Abstract The present research aims at discussing about the applicability of the Punitive Damages Theory to the Brazilian law specifically in relation to compensation for moral damage The aim was a brief discussion of off-balance sheet damage the historical basis of this Theory its development in comparative law and ultimately to demonstrate its suitability to the Brazilian law Finally it was concluded that the punitive damages are in accordance with the provisions of the Federal Constitution and the current Civil Code not only because of the need for victim protection but also for exemplary punishment of the offender Keywords Civil Law Civil Liability Moral Damage Punitive Damages

1 Introduccedilatildeo

Partindo-se da ideia de que o ser humano eacute eminentemente um animal

gregaacuterio parece oacutebvio que das constantes interaccedilotildees humanas em algum aspecto

surgiratildeo conflitos existindo de um lado o direito agrave reparaccedilatildeo pelo dano sofrido e de

outro o dever de responder pela conduta danosa Eacute nesse contexto que surge a noccedilatildeo

de responsabilidade civil como sendo o mecanismo capaz de restaurar o equiliacutebrio

econocircmico das partes envolvidas

Durante toda a histoacuteria de desenvolvimento do instituto da responsabilidade

civil o que se buscou sempre foi a proteccedilatildeo da viacutetima sendo resguardada de forma

mais ampla possiacutevel Poreacutem em muitos momentos a conduta danosa do ofensor foi

relegada a segundo plano fato que natildeo mais deve se perdurar tendo em vista a

necessaacuteria puniccedilatildeo daqueles que praticam iliacutecitos civis A partir daiacute surge a Teoria dos

Punitive Damages que tem por principal objetivo o reconhecimento do caraacuteter punitivo

da indenizaccedilatildeo e consequente majoraccedilatildeo do quantum indenizatoacuterio

Revista Jurisvox n 15 vol 1 jul 2014 86-107 copy Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

httpjurisvoxunipamedubr

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Este trabalho abordaraacute sucintamente as bases da responsabilidade civil

adentrando a uma das espeacutecies de dano previsto na Constituiccedilatildeo Federal qual seja o

dano moral A seguir sem qualquer pretensatildeo de esgotar o tema seraacute discutida a

Teoria dos Punitive Damages destacando seu conceito surgimento histoacuterico

desenvolvimento no direito comparado requisitos para sua aplicaccedilatildeo controveacutersia

existente na doutrina e Jurisprudecircncia paacutetrias quanto agrave sua adequaccedilatildeo ao ordenamento

juriacutedico e ao final demonstrando uma tendecircncia doutrinaacuteria moderna no sentido de

autorizar a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no direito brasileiro

O objetivo deste trabalho eacute analisar a possibilidade de aplicaccedilatildeo e adequaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro especificamente no

que diz respeito agrave fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo decorrente de dano moral

Por fim o presente trabalho foi desenvolvido utilizando-se do meacutetodo dedutivo

de pesquisa na modalidade de revisatildeo bibliograacutefica vez que foram utilizados textos

que de forma direita ou indireta abordaram a temaacutetica incluindo artigos perioacutedicos

inclusive aqueles disponiacuteveis na rede mundial de computadores

2 Noccedilotildees essenciais de responsabilidade civil

Pode-se definir responsabilidade civil como sendo o dever de reparar o dano

causado a outrem em virtude de uma conduta violadora de uma norma juriacutedica

preexistente assumindo o agente as consequecircncias de seu ato (GAGLIANO

PAMPLONA FILHO 2013) Em nosso atual Coacutedigo Civil estaacute prevista no artigo 927 o

qual institui ao causador do dano o dever de indenizar pela praacutetica de ato iliacutecito

(artigos 186 e 187 do mesmo diploma) O Codex ainda estabelece que a reparaccedilatildeo

poderaacute se dar em face de dano material ou ainda que exclusivamente de dano moral

A partir de tal conceito conclui-se que a responsabilidade civil encontra seus

fundamentos no princiacutepio do neminem laedere de Ulpiano pelo qual natildeo se deve lesar a

ningueacutem Nos dizeres de Yussef Said Cahali ldquoa regra neminem laedere insere-se no

acircmago da responsabilidade civilrdquo (1998 p 37) Assim uma vez desrespeitada tal

maacutexima surge o dever de indenizar ou seja de reparar o dano causado a outrem

A origem do instituto remonta agraves civilizaccedilotildees preacute-romanas em que a concepccedilatildeo

de responsabilidade estava calcada na noccedilatildeo de vinganccedila privada Jaacute na era do Direito

Romano natildeo se pode olvidar da Lei das XII Taacutebuas a qual ainda previa traccedilos da Pena

de Taliatildeo mas que inovou ao possibilitar a composiccedilatildeo entre a viacutetima e o ofensor

Aleacutem disso marco de grande importacircncia na evoluccedilatildeo histoacuterica da responsabilidade

civil foi a ediccedilatildeo da Lex Aquilia a qual previa a aplicaccedilatildeo de pena proporcional ao dano

causado levando-se em consideraccedilatildeo a culpa do agente Por fim haacute que se ressaltar o

Coacutedigo de Napoleatildeo o qual influenciou sobremaneira o Coacutedigo Civil brasileiro de

1916 em que a culpa foi alccedilada a elemento necessaacuterio ao reconhecimento da

responsabilidade civil

Cumpre nesse ponto elencar quais as funccedilotildees da reparaccedilatildeo civil ou seja quais

os objetivos a serem atingidos pela fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo A doutrina paacutetria estabelece

trecircs funccedilotildees principais compensatoacuteria punitiva e educativa (GAGLIANO

PAMPLONA FILHO 2013) Nessa linha de ideias a funccedilatildeo compensatoacuteria se traduz

no objetivo que a reparaccedilatildeo civil tem de retornar as coisas ao estado anterior voltando-

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

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se as partes agrave situaccedilatildeo por elas experimentada antes da ocorrecircncia do fato danoso Jaacute a

funccedilatildeo punitiva vista como secundaacuteria gera um efeito dissuasivo ao ofensor

compelindo-o a natildeo mais praticar tal conduta iliacutecita punindo-o pelo ato praticado Por

fim a funccedilatildeo educativa traduz-se na noccedilatildeo de mostrar agrave sociedade que condutas como

a adotada pelo ofensor natildeo satildeo toleradas e por isso natildeo devem ser tomadas pela

comunidade caso contraacuterio seratildeo passiacuteveis de reprovaccedilatildeo

Uma vez definidas as bases da responsabilidade civil passa-se agrave anaacutelise de uma

das possibilidades de incidecircncia do regramento indenizatoacuterio qual seja a reparaccedilatildeo do

dano moral objeto deste estudo

3 Dano moral conceito evoluccedilatildeo e indenizabilidade

Haacute muito no ordenamento juriacutedico brasileiro se discutia a possibilidade ou natildeo

de reparaccedilatildeo civil pelo dano exclusivamente moral Muitos defendiam a

impossibilidade de indenizaccedilatildeo nesses casos sob o argumento de que natildeo se pode

reparar pecuniariamente uma dor um sofrimento uma perda A par de tais

discussotildees a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 encerrou a querela uma vez que elevou a

status de direito fundamental a indenizaccedilatildeo pelo dano moral conforme artigo 5ordm

incisos V e X Em consonacircncia agrave Lei Maior o Coacutedigo Civil de 2002 em seu artigo 186

estabeleceu que aquele que por accedilatildeo ou omissatildeo viola direito de outrem e causa dano

ainda que exclusivamente moral comete ato iliacutecito ficando obrigado a reparaacute-lo (artigo

927 CC02)

Apresentadas as previsotildees legais garantidoras da indenizaccedilatildeo agrave viacutetima de dano

moral cumpre conceituaacute-lo Resumidamente o dano moral eacute aquele que viola direitos

da personalidade que natildeo invade o patrimocircnio econocircmico do ofendido mas sua

integridade fiacutesica sua vida seu bem-estar sendo tambeacutem denominado dano

extrapatrimonial Nas liccedilotildees de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona ldquoo dano moral

consiste na lesatildeo de direitos cujo conteuacutedo natildeo eacute pecuniaacuterio nem comercialmente

redutiacutevel a dinheirordquo (GAGLIANO PAMPLONA FILHO 2013 p 105)

Ainda nos dizeres de Siacutelvio Venosa

seraacute moral o dano que ocasiona um distuacuterbio anormal na vida do indiviacuteduo uma

inconveniecircncia de comportamento ou como definimos um desconforto

comportamental a ser examinado em cada caso Ao se analisar o dano moral o juiz

se volta para a sintomatologia do sofrimento [] (2003 p 34)

A partir da anaacutelise do conceito de dano moral parece claro que ao possibilitar

sua reparaccedilatildeo a intenccedilatildeo do legislador tanto constitucional quanto infraconstitucional

foi a de garantir o respeito ao princiacutepio fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil

qual seja a dignidade da pessoa humana insculpido no artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo

Federal Por tal princiacutepio o ser humano passa a ser entendido como o centro de todo o

ordenamento devendo ser protegido sob todas as formas pela garantia de seus

direitos e liberdades (FARIAS ROSENVALD 2010) A indenizaccedilatildeo por dano moral se

coaduna com essa ideia de proteccedilatildeo tendo em vista que permite ao ofendido a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

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reparaccedilatildeo por violaccedilatildeo de seus direitos personaliacutessimos caracterizadores de sua

essecircncia humana

Nessa ordem de ideias eacute preciso trazer agrave baila um dos pilares estruturadores de

nosso atual Coacutedigo Civil qual seja o princiacutepio da eticidade pelo qual as relaccedilotildees

juriacutedicas civis devem ser calcadas pela eacutetica e moralidade A reparabilidade do dano

moral estaacute em flagrante consonacircncia a tal princiacutepio vez que garante a boa-feacute agraves

interaccedilotildees humanas surgidas a partir de um ato iliacutecito

Cumpre salientar que a noccedilatildeo de dano moral eacute muito mais remota do que se

pode imaginar O Coacutedigo de Hamurabi uma das legislaccedilotildees mais antigas das quais se

tem conhecimento jaacute reconhecia tal instituto e previa a possibilidade de reparaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da Pena de Taliatildeo para a compensaccedilatildeo da viacutetima do dano moral A

civilizaccedilatildeo grega tambeacutem se preocupou em proteger o ofendido de dano

extrapatrimonial mas diferentemente do ordenamento anterior concedeu caraacuteter

pecuniaacuterio agrave indenizaccedilatildeo afastando a vinganccedila fiacutesica e pessoal da Pena de Taliatildeo

A ideia de reparabilidade do dano moral ganhou novos contornos no Direito

Romano tendo se consolidado nessa civilizaccedilatildeo a possibilidade de indenizaccedilatildeo

pecuniaacuteria pelo ato lesivo agrave honra e agrave integridade da pessoa humana Ademais natildeo se

pode olvidar do Direito Canocircnico o qual estabeleceu especiacutefica reparaccedilatildeo aos danos

morais causados

Voltando-se para o contexto brasileiro o Coacutedigo Civil de 1916 trouxe as

primeiras teses defensivas da reparabilidade do dano moral especificamente pela

interpretaccedilatildeo de seus artigos 76 79 e 159 cuja redaccedilatildeo deste uacuteltimo dispositivo muito

se assemelha agrave do atual artigo 186 do Coacutedigo Civil Cumpre anotar que em razatildeo do

antigo artigo 159 natildeo tratar expressamente do dano moral doutrina e Jurisprudecircncia

paacutetrias passaram a rejeitar enfaticamente a possibilidade de indenizaccedilatildeo de tais

danos inclusive pelo posicionamento do Supremo Tribunal Federal

A par do entendimento ateacute entatildeo adotado algumas leis especiais sobrevieram

tratando da reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial como eacute o caso do Coacutedigo Eleitoral da

Lei de Direitos Autorais do Coacutedigo de Defesa do Consumidor do Estatuto da Crianccedila

e do Adolescente e a mais importante alteraccedilatildeo da proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de

1988 A partir desse momento todas as discussotildees acerca da ressarcibilidade ou natildeo do

dano moral se tornaram inoacutecuas visto que a Lei Maior erigiu a indenizaccedilatildeo pelo dano

moral agrave mateacuteria constitucional especificamente como direito e garantia fundamental

Em consonacircncia agrave previsatildeo do legislador constituinte de 1988 o Coacutedigo Civil de

2002 reconhece expressamente em seu artigo 186 o instituto do dano moral e sua

possibilidade de indenizaccedilatildeo por forccedila do artigo 927 Portanto na atualidade se faz

totalmente possiacutevel a reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial

Tratando-se da natureza juriacutedica da reparaccedilatildeo pelo dano moral vislumbra-se

uma doutrina minoritaacuteria para quem a funccedilatildeo uacutenica da indenizaccedilatildeo nesse caso eacute

sancionadora Para esse entendimento a reparaccedilatildeo pelo dano moral seria entendida

como ldquopena civilrdquo a qual serviria para reprovar e reprimir a conduta levada a cabo

pelo ofensor Tal pensamento natildeo se sustenta justamente por considerar apenas o

causador do iliacutecito deixando de lado a viacutetima da lesatildeo

Noutro extremo encontra-se a doutrina que entende ser a natureza juriacutedica do

dano moral apenas compensatoacuteria Para essa corrente o valor arbitrado agrave indenizaccedilatildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

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pelo dano extrapatrimonial natildeo pode superar apenas o necessaacuterio a compensar o

prejuiacutezo sofrido pela viacutetima Aqui a noccedilatildeo de reparaccedilatildeo pecuniaacuteria natildeo se restringe agrave

funccedilatildeo de equivalecircncia visto ser essa finalidade atinente ao dano material mas agrave

funccedilatildeo compensatoacuteria satisfatoacuteria uma vez que a lesatildeo da viacutetima natildeo se deu pela

perda de parte de seu patrimocircnio mas da ofensa a um direito personaliacutessimo

Por fim encontra-se a teoria mista entre as duas anteriormente apresentadas

Para esses doutrinadores os quais totalizam a maioria a natureza juriacutedica da

reparaccedilatildeo do dano moral eacute duacuteplice primeiramente a indenizaccedilatildeo possui caraacuteter

compensatoacuterio e secundariamente possui caraacuteter sancionador Nesse sentido Carlos

Roberto Gonccedilalves salienta que ldquoao mesmo tempo que serve de lenitivo de consolo

de uma espeacutecie de compensaccedilatildeo para atenuaccedilatildeo do sofrimento havido atua como

sanccedilatildeo ao lesante como fator de desestiacutemulo []rdquo (2008 p 376)

Ainda pondera Maria Helena Diniz que

a reparaccedilatildeo pecuniaacuteria do dano moral eacute um misto de pena e de satisfaccedilatildeo

compensatoacuteria Natildeo se pode negar sua funccedilatildeo a) penal constituindo uma sanccedilatildeo

imposta ao ofensor visando a diminuiccedilatildeo de seu patrimocircnio pela indenizaccedilatildeo

paga ao ofendido visto que o bem juriacutedico da pessoa ndash integridade fiacutesica moral e

intelectual ndash natildeo poderaacute ser violado impunemente subtraindo-se o seu ofensor agraves

consequecircncias de seu ato [] (2010 p 109)

Dessa maneira para tal entendimento a indenizaccedilatildeo deve por um lado levar

em consideraccedilatildeo o prejuiacutezo da viacutetima materializado no aspecto compensatoacuterio e por

outro a conduta iliacutecita do ofensor materializado no aspecto sancionador Atendendo a

essa duplicidade de funccedilotildees da reparaccedilatildeo do dano moral tramita no Congresso

Nacional o Projeto de Lei n 69602002 (atual n 2762007) o qual altera o artigo 944 do

Coacutedigo Civil conferindo-lhe um segundo paraacutegrafo com a seguinte redaccedilatildeo ldquosect2ordm A

reparaccedilatildeo do dano moral deve constituir-se em compensaccedilatildeo ao lesado e adequado

desestiacutemulo ao lesanterdquo

O equiacutevoco existente ainda na doutrina que defende a natureza juriacutedica duacuteplice

da indenizaccedilatildeo em apreccedilo encontra-se na pouca relevacircncia que se daacute ao aspecto

punitivo levando-se em conta que muitas vezes apenas a compensaccedilatildeo ao ofendido eacute

analisada para a reparaccedilatildeo do dano moral esquecendo-se de sua funccedilatildeo sancionadora

Conforme brilhante ensinamento do professor Salomatildeo Resedaacute em dissertaccedilatildeo

sobre o tema

acredita-se que a grande falha desta teoria encontra-se exatamente na limitada

importacircncia que se concede ao aspecto restritivo do comportamento do sujeito

passivo [] A indenizaccedilatildeo deve possuir um respaldo maior no seu aspecto

sancionador ateacute mesmo para servir como desestiacutemulo convergindo a resposta do

ordenamento juriacutedico agrave conduta lesiva e injusta do autor (2008 p198-199)

Como forma de fortalecer o aspecto punitivo dando-lhe mais eficaacutecia surge na

Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages objeto central deste estudo

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

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4 Teoria dos Punitive Damages origem evoluccedilatildeo e principais aspectos

A expressatildeo Punitive Damages surgida em meados do seacuteculo XVIII no direito

inglecircs e posteriormente mais bem desenvolvida no direito norte-americano traduz a

ideia de ldquoindenizaccedilatildeo punitivardquo Tambeacutem chamados de exemplary damages os Punitive

Damages implicam a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo conferida ao ofendido para aleacutem de sua

compensaccedilatildeo tendo em vista a funccedilatildeo punitiva da reparaccedilatildeo especificamente quanto

ao dano moral causado

Nas palavras de Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

conhecidos tambeacutem por exemplary damages vindictive damages added damages ou

presumptive damages os Punitive Damages consistem no montante a ser conferido ao

autor de uma accedilatildeo indenizatoacuteria valor esse distinto ao da compensaccedilatildeo do dano

gerado ou seja distinguindo-se dos compensatory damages especialmente quando o

dano eacute decorrente de um comportamento lesivo marcado por grave negligecircncia

maliacutecia ou opressatildeo (2012 p 31)

Imperioso destacar que os Punitive Damages consubstanciam-se em duas

funccedilotildees a punitiva jaacute citada neste trabalho vez que ao acrescentar agrave indenizaccedilatildeo valor

superior agrave compensaccedilatildeo da viacutetima pretende-se punir sancionar o ofensor pela praacutetica

do ato iliacutecito inibindo-o a cometer novamente tal conduta danosa A segunda funccedilatildeo eacute

a desestimuladora razatildeo pela qual muitos doutrinadores denominam a Teoria ora em

apreccedilo de ldquoTeoria do Desestiacutemulordquo Dessa maneira ao arbitrar alto valor de

indenizaccedilatildeo pela conduta ofensiva pretende-se desestimular a praacutetica de novos

comportamentos similares mostrando agrave sociedade que atos como aquele natildeo satildeo

tolerados e por sua vez satildeo severamente punidos

Nessa ordem de ideias Salomatildeo Resedaacute ressalta que

sendo assim diante dessa estruturaccedilatildeo conceitua-se o punitive damage como sendo

um acreacutescimo econocircmico na condenaccedilatildeo imposta ao sujeito ativo do ato iliacutecito em

razatildeo da sua gravidade ou reiteraccedilatildeo que vai aleacutem do que se estipula como

necessaacuterio para compensar o ofendido no intuito de desestimulaacute-lo aleacutem de

mitigar a praacutetica de comportamentos semelhantes por parte de potenciais

ofensores no intuito de assegurar a paz social e consequente funccedilatildeo social da

responsabilidade civil (2008 p 230-231)

Uma vez delimitados os contornos da Teoria dos Punitive Damages e de sua

consequecircncia passa-se agrave apreciaccedilatildeo do surgimento e da evoluccedilatildeo histoacuterica do instituto

no direito comparado especialmente nos paiacuteses da common law

A expressatildeo Punitive Damages foi utilizada pela primeira vez em 1763 na

Inglaterra nos casos Huckle v Money e Wilkes v Wood Em ambos os casos o que se

vislumbrou foi a praacutetica de um ato iliacutecito violador do direito de ir e vir de forma

ultrajante maliciosa opressora e fraudulenta Dessa maneira percebe-se que a ideia de

indenizaccedilatildeo punitiva capaz de elevar o quantum indenizatoacuterio visando o desestiacutemulo

da conduta perpetrada surgiu no seacuteculo XVIII no continente europeu sendo aplicada

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

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pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

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out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

87

Este trabalho abordaraacute sucintamente as bases da responsabilidade civil

adentrando a uma das espeacutecies de dano previsto na Constituiccedilatildeo Federal qual seja o

dano moral A seguir sem qualquer pretensatildeo de esgotar o tema seraacute discutida a

Teoria dos Punitive Damages destacando seu conceito surgimento histoacuterico

desenvolvimento no direito comparado requisitos para sua aplicaccedilatildeo controveacutersia

existente na doutrina e Jurisprudecircncia paacutetrias quanto agrave sua adequaccedilatildeo ao ordenamento

juriacutedico e ao final demonstrando uma tendecircncia doutrinaacuteria moderna no sentido de

autorizar a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no direito brasileiro

O objetivo deste trabalho eacute analisar a possibilidade de aplicaccedilatildeo e adequaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro especificamente no

que diz respeito agrave fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo decorrente de dano moral

Por fim o presente trabalho foi desenvolvido utilizando-se do meacutetodo dedutivo

de pesquisa na modalidade de revisatildeo bibliograacutefica vez que foram utilizados textos

que de forma direita ou indireta abordaram a temaacutetica incluindo artigos perioacutedicos

inclusive aqueles disponiacuteveis na rede mundial de computadores

2 Noccedilotildees essenciais de responsabilidade civil

Pode-se definir responsabilidade civil como sendo o dever de reparar o dano

causado a outrem em virtude de uma conduta violadora de uma norma juriacutedica

preexistente assumindo o agente as consequecircncias de seu ato (GAGLIANO

PAMPLONA FILHO 2013) Em nosso atual Coacutedigo Civil estaacute prevista no artigo 927 o

qual institui ao causador do dano o dever de indenizar pela praacutetica de ato iliacutecito

(artigos 186 e 187 do mesmo diploma) O Codex ainda estabelece que a reparaccedilatildeo

poderaacute se dar em face de dano material ou ainda que exclusivamente de dano moral

A partir de tal conceito conclui-se que a responsabilidade civil encontra seus

fundamentos no princiacutepio do neminem laedere de Ulpiano pelo qual natildeo se deve lesar a

ningueacutem Nos dizeres de Yussef Said Cahali ldquoa regra neminem laedere insere-se no

acircmago da responsabilidade civilrdquo (1998 p 37) Assim uma vez desrespeitada tal

maacutexima surge o dever de indenizar ou seja de reparar o dano causado a outrem

A origem do instituto remonta agraves civilizaccedilotildees preacute-romanas em que a concepccedilatildeo

de responsabilidade estava calcada na noccedilatildeo de vinganccedila privada Jaacute na era do Direito

Romano natildeo se pode olvidar da Lei das XII Taacutebuas a qual ainda previa traccedilos da Pena

de Taliatildeo mas que inovou ao possibilitar a composiccedilatildeo entre a viacutetima e o ofensor

Aleacutem disso marco de grande importacircncia na evoluccedilatildeo histoacuterica da responsabilidade

civil foi a ediccedilatildeo da Lex Aquilia a qual previa a aplicaccedilatildeo de pena proporcional ao dano

causado levando-se em consideraccedilatildeo a culpa do agente Por fim haacute que se ressaltar o

Coacutedigo de Napoleatildeo o qual influenciou sobremaneira o Coacutedigo Civil brasileiro de

1916 em que a culpa foi alccedilada a elemento necessaacuterio ao reconhecimento da

responsabilidade civil

Cumpre nesse ponto elencar quais as funccedilotildees da reparaccedilatildeo civil ou seja quais

os objetivos a serem atingidos pela fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo A doutrina paacutetria estabelece

trecircs funccedilotildees principais compensatoacuteria punitiva e educativa (GAGLIANO

PAMPLONA FILHO 2013) Nessa linha de ideias a funccedilatildeo compensatoacuteria se traduz

no objetivo que a reparaccedilatildeo civil tem de retornar as coisas ao estado anterior voltando-

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

88

se as partes agrave situaccedilatildeo por elas experimentada antes da ocorrecircncia do fato danoso Jaacute a

funccedilatildeo punitiva vista como secundaacuteria gera um efeito dissuasivo ao ofensor

compelindo-o a natildeo mais praticar tal conduta iliacutecita punindo-o pelo ato praticado Por

fim a funccedilatildeo educativa traduz-se na noccedilatildeo de mostrar agrave sociedade que condutas como

a adotada pelo ofensor natildeo satildeo toleradas e por isso natildeo devem ser tomadas pela

comunidade caso contraacuterio seratildeo passiacuteveis de reprovaccedilatildeo

Uma vez definidas as bases da responsabilidade civil passa-se agrave anaacutelise de uma

das possibilidades de incidecircncia do regramento indenizatoacuterio qual seja a reparaccedilatildeo do

dano moral objeto deste estudo

3 Dano moral conceito evoluccedilatildeo e indenizabilidade

Haacute muito no ordenamento juriacutedico brasileiro se discutia a possibilidade ou natildeo

de reparaccedilatildeo civil pelo dano exclusivamente moral Muitos defendiam a

impossibilidade de indenizaccedilatildeo nesses casos sob o argumento de que natildeo se pode

reparar pecuniariamente uma dor um sofrimento uma perda A par de tais

discussotildees a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 encerrou a querela uma vez que elevou a

status de direito fundamental a indenizaccedilatildeo pelo dano moral conforme artigo 5ordm

incisos V e X Em consonacircncia agrave Lei Maior o Coacutedigo Civil de 2002 em seu artigo 186

estabeleceu que aquele que por accedilatildeo ou omissatildeo viola direito de outrem e causa dano

ainda que exclusivamente moral comete ato iliacutecito ficando obrigado a reparaacute-lo (artigo

927 CC02)

Apresentadas as previsotildees legais garantidoras da indenizaccedilatildeo agrave viacutetima de dano

moral cumpre conceituaacute-lo Resumidamente o dano moral eacute aquele que viola direitos

da personalidade que natildeo invade o patrimocircnio econocircmico do ofendido mas sua

integridade fiacutesica sua vida seu bem-estar sendo tambeacutem denominado dano

extrapatrimonial Nas liccedilotildees de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona ldquoo dano moral

consiste na lesatildeo de direitos cujo conteuacutedo natildeo eacute pecuniaacuterio nem comercialmente

redutiacutevel a dinheirordquo (GAGLIANO PAMPLONA FILHO 2013 p 105)

Ainda nos dizeres de Siacutelvio Venosa

seraacute moral o dano que ocasiona um distuacuterbio anormal na vida do indiviacuteduo uma

inconveniecircncia de comportamento ou como definimos um desconforto

comportamental a ser examinado em cada caso Ao se analisar o dano moral o juiz

se volta para a sintomatologia do sofrimento [] (2003 p 34)

A partir da anaacutelise do conceito de dano moral parece claro que ao possibilitar

sua reparaccedilatildeo a intenccedilatildeo do legislador tanto constitucional quanto infraconstitucional

foi a de garantir o respeito ao princiacutepio fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil

qual seja a dignidade da pessoa humana insculpido no artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo

Federal Por tal princiacutepio o ser humano passa a ser entendido como o centro de todo o

ordenamento devendo ser protegido sob todas as formas pela garantia de seus

direitos e liberdades (FARIAS ROSENVALD 2010) A indenizaccedilatildeo por dano moral se

coaduna com essa ideia de proteccedilatildeo tendo em vista que permite ao ofendido a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

89

reparaccedilatildeo por violaccedilatildeo de seus direitos personaliacutessimos caracterizadores de sua

essecircncia humana

Nessa ordem de ideias eacute preciso trazer agrave baila um dos pilares estruturadores de

nosso atual Coacutedigo Civil qual seja o princiacutepio da eticidade pelo qual as relaccedilotildees

juriacutedicas civis devem ser calcadas pela eacutetica e moralidade A reparabilidade do dano

moral estaacute em flagrante consonacircncia a tal princiacutepio vez que garante a boa-feacute agraves

interaccedilotildees humanas surgidas a partir de um ato iliacutecito

Cumpre salientar que a noccedilatildeo de dano moral eacute muito mais remota do que se

pode imaginar O Coacutedigo de Hamurabi uma das legislaccedilotildees mais antigas das quais se

tem conhecimento jaacute reconhecia tal instituto e previa a possibilidade de reparaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da Pena de Taliatildeo para a compensaccedilatildeo da viacutetima do dano moral A

civilizaccedilatildeo grega tambeacutem se preocupou em proteger o ofendido de dano

extrapatrimonial mas diferentemente do ordenamento anterior concedeu caraacuteter

pecuniaacuterio agrave indenizaccedilatildeo afastando a vinganccedila fiacutesica e pessoal da Pena de Taliatildeo

A ideia de reparabilidade do dano moral ganhou novos contornos no Direito

Romano tendo se consolidado nessa civilizaccedilatildeo a possibilidade de indenizaccedilatildeo

pecuniaacuteria pelo ato lesivo agrave honra e agrave integridade da pessoa humana Ademais natildeo se

pode olvidar do Direito Canocircnico o qual estabeleceu especiacutefica reparaccedilatildeo aos danos

morais causados

Voltando-se para o contexto brasileiro o Coacutedigo Civil de 1916 trouxe as

primeiras teses defensivas da reparabilidade do dano moral especificamente pela

interpretaccedilatildeo de seus artigos 76 79 e 159 cuja redaccedilatildeo deste uacuteltimo dispositivo muito

se assemelha agrave do atual artigo 186 do Coacutedigo Civil Cumpre anotar que em razatildeo do

antigo artigo 159 natildeo tratar expressamente do dano moral doutrina e Jurisprudecircncia

paacutetrias passaram a rejeitar enfaticamente a possibilidade de indenizaccedilatildeo de tais

danos inclusive pelo posicionamento do Supremo Tribunal Federal

A par do entendimento ateacute entatildeo adotado algumas leis especiais sobrevieram

tratando da reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial como eacute o caso do Coacutedigo Eleitoral da

Lei de Direitos Autorais do Coacutedigo de Defesa do Consumidor do Estatuto da Crianccedila

e do Adolescente e a mais importante alteraccedilatildeo da proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de

1988 A partir desse momento todas as discussotildees acerca da ressarcibilidade ou natildeo do

dano moral se tornaram inoacutecuas visto que a Lei Maior erigiu a indenizaccedilatildeo pelo dano

moral agrave mateacuteria constitucional especificamente como direito e garantia fundamental

Em consonacircncia agrave previsatildeo do legislador constituinte de 1988 o Coacutedigo Civil de

2002 reconhece expressamente em seu artigo 186 o instituto do dano moral e sua

possibilidade de indenizaccedilatildeo por forccedila do artigo 927 Portanto na atualidade se faz

totalmente possiacutevel a reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial

Tratando-se da natureza juriacutedica da reparaccedilatildeo pelo dano moral vislumbra-se

uma doutrina minoritaacuteria para quem a funccedilatildeo uacutenica da indenizaccedilatildeo nesse caso eacute

sancionadora Para esse entendimento a reparaccedilatildeo pelo dano moral seria entendida

como ldquopena civilrdquo a qual serviria para reprovar e reprimir a conduta levada a cabo

pelo ofensor Tal pensamento natildeo se sustenta justamente por considerar apenas o

causador do iliacutecito deixando de lado a viacutetima da lesatildeo

Noutro extremo encontra-se a doutrina que entende ser a natureza juriacutedica do

dano moral apenas compensatoacuteria Para essa corrente o valor arbitrado agrave indenizaccedilatildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

90

pelo dano extrapatrimonial natildeo pode superar apenas o necessaacuterio a compensar o

prejuiacutezo sofrido pela viacutetima Aqui a noccedilatildeo de reparaccedilatildeo pecuniaacuteria natildeo se restringe agrave

funccedilatildeo de equivalecircncia visto ser essa finalidade atinente ao dano material mas agrave

funccedilatildeo compensatoacuteria satisfatoacuteria uma vez que a lesatildeo da viacutetima natildeo se deu pela

perda de parte de seu patrimocircnio mas da ofensa a um direito personaliacutessimo

Por fim encontra-se a teoria mista entre as duas anteriormente apresentadas

Para esses doutrinadores os quais totalizam a maioria a natureza juriacutedica da

reparaccedilatildeo do dano moral eacute duacuteplice primeiramente a indenizaccedilatildeo possui caraacuteter

compensatoacuterio e secundariamente possui caraacuteter sancionador Nesse sentido Carlos

Roberto Gonccedilalves salienta que ldquoao mesmo tempo que serve de lenitivo de consolo

de uma espeacutecie de compensaccedilatildeo para atenuaccedilatildeo do sofrimento havido atua como

sanccedilatildeo ao lesante como fator de desestiacutemulo []rdquo (2008 p 376)

Ainda pondera Maria Helena Diniz que

a reparaccedilatildeo pecuniaacuteria do dano moral eacute um misto de pena e de satisfaccedilatildeo

compensatoacuteria Natildeo se pode negar sua funccedilatildeo a) penal constituindo uma sanccedilatildeo

imposta ao ofensor visando a diminuiccedilatildeo de seu patrimocircnio pela indenizaccedilatildeo

paga ao ofendido visto que o bem juriacutedico da pessoa ndash integridade fiacutesica moral e

intelectual ndash natildeo poderaacute ser violado impunemente subtraindo-se o seu ofensor agraves

consequecircncias de seu ato [] (2010 p 109)

Dessa maneira para tal entendimento a indenizaccedilatildeo deve por um lado levar

em consideraccedilatildeo o prejuiacutezo da viacutetima materializado no aspecto compensatoacuterio e por

outro a conduta iliacutecita do ofensor materializado no aspecto sancionador Atendendo a

essa duplicidade de funccedilotildees da reparaccedilatildeo do dano moral tramita no Congresso

Nacional o Projeto de Lei n 69602002 (atual n 2762007) o qual altera o artigo 944 do

Coacutedigo Civil conferindo-lhe um segundo paraacutegrafo com a seguinte redaccedilatildeo ldquosect2ordm A

reparaccedilatildeo do dano moral deve constituir-se em compensaccedilatildeo ao lesado e adequado

desestiacutemulo ao lesanterdquo

O equiacutevoco existente ainda na doutrina que defende a natureza juriacutedica duacuteplice

da indenizaccedilatildeo em apreccedilo encontra-se na pouca relevacircncia que se daacute ao aspecto

punitivo levando-se em conta que muitas vezes apenas a compensaccedilatildeo ao ofendido eacute

analisada para a reparaccedilatildeo do dano moral esquecendo-se de sua funccedilatildeo sancionadora

Conforme brilhante ensinamento do professor Salomatildeo Resedaacute em dissertaccedilatildeo

sobre o tema

acredita-se que a grande falha desta teoria encontra-se exatamente na limitada

importacircncia que se concede ao aspecto restritivo do comportamento do sujeito

passivo [] A indenizaccedilatildeo deve possuir um respaldo maior no seu aspecto

sancionador ateacute mesmo para servir como desestiacutemulo convergindo a resposta do

ordenamento juriacutedico agrave conduta lesiva e injusta do autor (2008 p198-199)

Como forma de fortalecer o aspecto punitivo dando-lhe mais eficaacutecia surge na

Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages objeto central deste estudo

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

91

4 Teoria dos Punitive Damages origem evoluccedilatildeo e principais aspectos

A expressatildeo Punitive Damages surgida em meados do seacuteculo XVIII no direito

inglecircs e posteriormente mais bem desenvolvida no direito norte-americano traduz a

ideia de ldquoindenizaccedilatildeo punitivardquo Tambeacutem chamados de exemplary damages os Punitive

Damages implicam a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo conferida ao ofendido para aleacutem de sua

compensaccedilatildeo tendo em vista a funccedilatildeo punitiva da reparaccedilatildeo especificamente quanto

ao dano moral causado

Nas palavras de Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

conhecidos tambeacutem por exemplary damages vindictive damages added damages ou

presumptive damages os Punitive Damages consistem no montante a ser conferido ao

autor de uma accedilatildeo indenizatoacuteria valor esse distinto ao da compensaccedilatildeo do dano

gerado ou seja distinguindo-se dos compensatory damages especialmente quando o

dano eacute decorrente de um comportamento lesivo marcado por grave negligecircncia

maliacutecia ou opressatildeo (2012 p 31)

Imperioso destacar que os Punitive Damages consubstanciam-se em duas

funccedilotildees a punitiva jaacute citada neste trabalho vez que ao acrescentar agrave indenizaccedilatildeo valor

superior agrave compensaccedilatildeo da viacutetima pretende-se punir sancionar o ofensor pela praacutetica

do ato iliacutecito inibindo-o a cometer novamente tal conduta danosa A segunda funccedilatildeo eacute

a desestimuladora razatildeo pela qual muitos doutrinadores denominam a Teoria ora em

apreccedilo de ldquoTeoria do Desestiacutemulordquo Dessa maneira ao arbitrar alto valor de

indenizaccedilatildeo pela conduta ofensiva pretende-se desestimular a praacutetica de novos

comportamentos similares mostrando agrave sociedade que atos como aquele natildeo satildeo

tolerados e por sua vez satildeo severamente punidos

Nessa ordem de ideias Salomatildeo Resedaacute ressalta que

sendo assim diante dessa estruturaccedilatildeo conceitua-se o punitive damage como sendo

um acreacutescimo econocircmico na condenaccedilatildeo imposta ao sujeito ativo do ato iliacutecito em

razatildeo da sua gravidade ou reiteraccedilatildeo que vai aleacutem do que se estipula como

necessaacuterio para compensar o ofendido no intuito de desestimulaacute-lo aleacutem de

mitigar a praacutetica de comportamentos semelhantes por parte de potenciais

ofensores no intuito de assegurar a paz social e consequente funccedilatildeo social da

responsabilidade civil (2008 p 230-231)

Uma vez delimitados os contornos da Teoria dos Punitive Damages e de sua

consequecircncia passa-se agrave apreciaccedilatildeo do surgimento e da evoluccedilatildeo histoacuterica do instituto

no direito comparado especialmente nos paiacuteses da common law

A expressatildeo Punitive Damages foi utilizada pela primeira vez em 1763 na

Inglaterra nos casos Huckle v Money e Wilkes v Wood Em ambos os casos o que se

vislumbrou foi a praacutetica de um ato iliacutecito violador do direito de ir e vir de forma

ultrajante maliciosa opressora e fraudulenta Dessa maneira percebe-se que a ideia de

indenizaccedilatildeo punitiva capaz de elevar o quantum indenizatoacuterio visando o desestiacutemulo

da conduta perpetrada surgiu no seacuteculo XVIII no continente europeu sendo aplicada

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

92

pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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81pdfgt Acesso em 11 de set 2014

ROSENVALD Nelson As funccedilotildees da responsabilidade civil Satildeo Paulo Atlas 2013 231p

VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil 3 ed v 4 Satildeo Paulo Atlas 2003 245p

VIANNA Tauanna Gonccedilalves Indenizaccedilatildeo punitiva no Brasil Disponiacutevel em

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=31ampcontext=78ampstartChunk=1ampendChunk=1gt Acesso em 24 de out 2014

YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

indenizaccedilatildeo do dano moral com o direito positivo brasileiro (agrave luz do artigo 5ordm XXXIX da

CF1988 e do artigo 944 caput do CC2002) Disponiacutevel em

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=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

88

se as partes agrave situaccedilatildeo por elas experimentada antes da ocorrecircncia do fato danoso Jaacute a

funccedilatildeo punitiva vista como secundaacuteria gera um efeito dissuasivo ao ofensor

compelindo-o a natildeo mais praticar tal conduta iliacutecita punindo-o pelo ato praticado Por

fim a funccedilatildeo educativa traduz-se na noccedilatildeo de mostrar agrave sociedade que condutas como

a adotada pelo ofensor natildeo satildeo toleradas e por isso natildeo devem ser tomadas pela

comunidade caso contraacuterio seratildeo passiacuteveis de reprovaccedilatildeo

Uma vez definidas as bases da responsabilidade civil passa-se agrave anaacutelise de uma

das possibilidades de incidecircncia do regramento indenizatoacuterio qual seja a reparaccedilatildeo do

dano moral objeto deste estudo

3 Dano moral conceito evoluccedilatildeo e indenizabilidade

Haacute muito no ordenamento juriacutedico brasileiro se discutia a possibilidade ou natildeo

de reparaccedilatildeo civil pelo dano exclusivamente moral Muitos defendiam a

impossibilidade de indenizaccedilatildeo nesses casos sob o argumento de que natildeo se pode

reparar pecuniariamente uma dor um sofrimento uma perda A par de tais

discussotildees a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 encerrou a querela uma vez que elevou a

status de direito fundamental a indenizaccedilatildeo pelo dano moral conforme artigo 5ordm

incisos V e X Em consonacircncia agrave Lei Maior o Coacutedigo Civil de 2002 em seu artigo 186

estabeleceu que aquele que por accedilatildeo ou omissatildeo viola direito de outrem e causa dano

ainda que exclusivamente moral comete ato iliacutecito ficando obrigado a reparaacute-lo (artigo

927 CC02)

Apresentadas as previsotildees legais garantidoras da indenizaccedilatildeo agrave viacutetima de dano

moral cumpre conceituaacute-lo Resumidamente o dano moral eacute aquele que viola direitos

da personalidade que natildeo invade o patrimocircnio econocircmico do ofendido mas sua

integridade fiacutesica sua vida seu bem-estar sendo tambeacutem denominado dano

extrapatrimonial Nas liccedilotildees de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona ldquoo dano moral

consiste na lesatildeo de direitos cujo conteuacutedo natildeo eacute pecuniaacuterio nem comercialmente

redutiacutevel a dinheirordquo (GAGLIANO PAMPLONA FILHO 2013 p 105)

Ainda nos dizeres de Siacutelvio Venosa

seraacute moral o dano que ocasiona um distuacuterbio anormal na vida do indiviacuteduo uma

inconveniecircncia de comportamento ou como definimos um desconforto

comportamental a ser examinado em cada caso Ao se analisar o dano moral o juiz

se volta para a sintomatologia do sofrimento [] (2003 p 34)

A partir da anaacutelise do conceito de dano moral parece claro que ao possibilitar

sua reparaccedilatildeo a intenccedilatildeo do legislador tanto constitucional quanto infraconstitucional

foi a de garantir o respeito ao princiacutepio fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil

qual seja a dignidade da pessoa humana insculpido no artigo 1ordm III da Constituiccedilatildeo

Federal Por tal princiacutepio o ser humano passa a ser entendido como o centro de todo o

ordenamento devendo ser protegido sob todas as formas pela garantia de seus

direitos e liberdades (FARIAS ROSENVALD 2010) A indenizaccedilatildeo por dano moral se

coaduna com essa ideia de proteccedilatildeo tendo em vista que permite ao ofendido a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

89

reparaccedilatildeo por violaccedilatildeo de seus direitos personaliacutessimos caracterizadores de sua

essecircncia humana

Nessa ordem de ideias eacute preciso trazer agrave baila um dos pilares estruturadores de

nosso atual Coacutedigo Civil qual seja o princiacutepio da eticidade pelo qual as relaccedilotildees

juriacutedicas civis devem ser calcadas pela eacutetica e moralidade A reparabilidade do dano

moral estaacute em flagrante consonacircncia a tal princiacutepio vez que garante a boa-feacute agraves

interaccedilotildees humanas surgidas a partir de um ato iliacutecito

Cumpre salientar que a noccedilatildeo de dano moral eacute muito mais remota do que se

pode imaginar O Coacutedigo de Hamurabi uma das legislaccedilotildees mais antigas das quais se

tem conhecimento jaacute reconhecia tal instituto e previa a possibilidade de reparaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da Pena de Taliatildeo para a compensaccedilatildeo da viacutetima do dano moral A

civilizaccedilatildeo grega tambeacutem se preocupou em proteger o ofendido de dano

extrapatrimonial mas diferentemente do ordenamento anterior concedeu caraacuteter

pecuniaacuterio agrave indenizaccedilatildeo afastando a vinganccedila fiacutesica e pessoal da Pena de Taliatildeo

A ideia de reparabilidade do dano moral ganhou novos contornos no Direito

Romano tendo se consolidado nessa civilizaccedilatildeo a possibilidade de indenizaccedilatildeo

pecuniaacuteria pelo ato lesivo agrave honra e agrave integridade da pessoa humana Ademais natildeo se

pode olvidar do Direito Canocircnico o qual estabeleceu especiacutefica reparaccedilatildeo aos danos

morais causados

Voltando-se para o contexto brasileiro o Coacutedigo Civil de 1916 trouxe as

primeiras teses defensivas da reparabilidade do dano moral especificamente pela

interpretaccedilatildeo de seus artigos 76 79 e 159 cuja redaccedilatildeo deste uacuteltimo dispositivo muito

se assemelha agrave do atual artigo 186 do Coacutedigo Civil Cumpre anotar que em razatildeo do

antigo artigo 159 natildeo tratar expressamente do dano moral doutrina e Jurisprudecircncia

paacutetrias passaram a rejeitar enfaticamente a possibilidade de indenizaccedilatildeo de tais

danos inclusive pelo posicionamento do Supremo Tribunal Federal

A par do entendimento ateacute entatildeo adotado algumas leis especiais sobrevieram

tratando da reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial como eacute o caso do Coacutedigo Eleitoral da

Lei de Direitos Autorais do Coacutedigo de Defesa do Consumidor do Estatuto da Crianccedila

e do Adolescente e a mais importante alteraccedilatildeo da proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de

1988 A partir desse momento todas as discussotildees acerca da ressarcibilidade ou natildeo do

dano moral se tornaram inoacutecuas visto que a Lei Maior erigiu a indenizaccedilatildeo pelo dano

moral agrave mateacuteria constitucional especificamente como direito e garantia fundamental

Em consonacircncia agrave previsatildeo do legislador constituinte de 1988 o Coacutedigo Civil de

2002 reconhece expressamente em seu artigo 186 o instituto do dano moral e sua

possibilidade de indenizaccedilatildeo por forccedila do artigo 927 Portanto na atualidade se faz

totalmente possiacutevel a reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial

Tratando-se da natureza juriacutedica da reparaccedilatildeo pelo dano moral vislumbra-se

uma doutrina minoritaacuteria para quem a funccedilatildeo uacutenica da indenizaccedilatildeo nesse caso eacute

sancionadora Para esse entendimento a reparaccedilatildeo pelo dano moral seria entendida

como ldquopena civilrdquo a qual serviria para reprovar e reprimir a conduta levada a cabo

pelo ofensor Tal pensamento natildeo se sustenta justamente por considerar apenas o

causador do iliacutecito deixando de lado a viacutetima da lesatildeo

Noutro extremo encontra-se a doutrina que entende ser a natureza juriacutedica do

dano moral apenas compensatoacuteria Para essa corrente o valor arbitrado agrave indenizaccedilatildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

90

pelo dano extrapatrimonial natildeo pode superar apenas o necessaacuterio a compensar o

prejuiacutezo sofrido pela viacutetima Aqui a noccedilatildeo de reparaccedilatildeo pecuniaacuteria natildeo se restringe agrave

funccedilatildeo de equivalecircncia visto ser essa finalidade atinente ao dano material mas agrave

funccedilatildeo compensatoacuteria satisfatoacuteria uma vez que a lesatildeo da viacutetima natildeo se deu pela

perda de parte de seu patrimocircnio mas da ofensa a um direito personaliacutessimo

Por fim encontra-se a teoria mista entre as duas anteriormente apresentadas

Para esses doutrinadores os quais totalizam a maioria a natureza juriacutedica da

reparaccedilatildeo do dano moral eacute duacuteplice primeiramente a indenizaccedilatildeo possui caraacuteter

compensatoacuterio e secundariamente possui caraacuteter sancionador Nesse sentido Carlos

Roberto Gonccedilalves salienta que ldquoao mesmo tempo que serve de lenitivo de consolo

de uma espeacutecie de compensaccedilatildeo para atenuaccedilatildeo do sofrimento havido atua como

sanccedilatildeo ao lesante como fator de desestiacutemulo []rdquo (2008 p 376)

Ainda pondera Maria Helena Diniz que

a reparaccedilatildeo pecuniaacuteria do dano moral eacute um misto de pena e de satisfaccedilatildeo

compensatoacuteria Natildeo se pode negar sua funccedilatildeo a) penal constituindo uma sanccedilatildeo

imposta ao ofensor visando a diminuiccedilatildeo de seu patrimocircnio pela indenizaccedilatildeo

paga ao ofendido visto que o bem juriacutedico da pessoa ndash integridade fiacutesica moral e

intelectual ndash natildeo poderaacute ser violado impunemente subtraindo-se o seu ofensor agraves

consequecircncias de seu ato [] (2010 p 109)

Dessa maneira para tal entendimento a indenizaccedilatildeo deve por um lado levar

em consideraccedilatildeo o prejuiacutezo da viacutetima materializado no aspecto compensatoacuterio e por

outro a conduta iliacutecita do ofensor materializado no aspecto sancionador Atendendo a

essa duplicidade de funccedilotildees da reparaccedilatildeo do dano moral tramita no Congresso

Nacional o Projeto de Lei n 69602002 (atual n 2762007) o qual altera o artigo 944 do

Coacutedigo Civil conferindo-lhe um segundo paraacutegrafo com a seguinte redaccedilatildeo ldquosect2ordm A

reparaccedilatildeo do dano moral deve constituir-se em compensaccedilatildeo ao lesado e adequado

desestiacutemulo ao lesanterdquo

O equiacutevoco existente ainda na doutrina que defende a natureza juriacutedica duacuteplice

da indenizaccedilatildeo em apreccedilo encontra-se na pouca relevacircncia que se daacute ao aspecto

punitivo levando-se em conta que muitas vezes apenas a compensaccedilatildeo ao ofendido eacute

analisada para a reparaccedilatildeo do dano moral esquecendo-se de sua funccedilatildeo sancionadora

Conforme brilhante ensinamento do professor Salomatildeo Resedaacute em dissertaccedilatildeo

sobre o tema

acredita-se que a grande falha desta teoria encontra-se exatamente na limitada

importacircncia que se concede ao aspecto restritivo do comportamento do sujeito

passivo [] A indenizaccedilatildeo deve possuir um respaldo maior no seu aspecto

sancionador ateacute mesmo para servir como desestiacutemulo convergindo a resposta do

ordenamento juriacutedico agrave conduta lesiva e injusta do autor (2008 p198-199)

Como forma de fortalecer o aspecto punitivo dando-lhe mais eficaacutecia surge na

Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages objeto central deste estudo

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

91

4 Teoria dos Punitive Damages origem evoluccedilatildeo e principais aspectos

A expressatildeo Punitive Damages surgida em meados do seacuteculo XVIII no direito

inglecircs e posteriormente mais bem desenvolvida no direito norte-americano traduz a

ideia de ldquoindenizaccedilatildeo punitivardquo Tambeacutem chamados de exemplary damages os Punitive

Damages implicam a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo conferida ao ofendido para aleacutem de sua

compensaccedilatildeo tendo em vista a funccedilatildeo punitiva da reparaccedilatildeo especificamente quanto

ao dano moral causado

Nas palavras de Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

conhecidos tambeacutem por exemplary damages vindictive damages added damages ou

presumptive damages os Punitive Damages consistem no montante a ser conferido ao

autor de uma accedilatildeo indenizatoacuteria valor esse distinto ao da compensaccedilatildeo do dano

gerado ou seja distinguindo-se dos compensatory damages especialmente quando o

dano eacute decorrente de um comportamento lesivo marcado por grave negligecircncia

maliacutecia ou opressatildeo (2012 p 31)

Imperioso destacar que os Punitive Damages consubstanciam-se em duas

funccedilotildees a punitiva jaacute citada neste trabalho vez que ao acrescentar agrave indenizaccedilatildeo valor

superior agrave compensaccedilatildeo da viacutetima pretende-se punir sancionar o ofensor pela praacutetica

do ato iliacutecito inibindo-o a cometer novamente tal conduta danosa A segunda funccedilatildeo eacute

a desestimuladora razatildeo pela qual muitos doutrinadores denominam a Teoria ora em

apreccedilo de ldquoTeoria do Desestiacutemulordquo Dessa maneira ao arbitrar alto valor de

indenizaccedilatildeo pela conduta ofensiva pretende-se desestimular a praacutetica de novos

comportamentos similares mostrando agrave sociedade que atos como aquele natildeo satildeo

tolerados e por sua vez satildeo severamente punidos

Nessa ordem de ideias Salomatildeo Resedaacute ressalta que

sendo assim diante dessa estruturaccedilatildeo conceitua-se o punitive damage como sendo

um acreacutescimo econocircmico na condenaccedilatildeo imposta ao sujeito ativo do ato iliacutecito em

razatildeo da sua gravidade ou reiteraccedilatildeo que vai aleacutem do que se estipula como

necessaacuterio para compensar o ofendido no intuito de desestimulaacute-lo aleacutem de

mitigar a praacutetica de comportamentos semelhantes por parte de potenciais

ofensores no intuito de assegurar a paz social e consequente funccedilatildeo social da

responsabilidade civil (2008 p 230-231)

Uma vez delimitados os contornos da Teoria dos Punitive Damages e de sua

consequecircncia passa-se agrave apreciaccedilatildeo do surgimento e da evoluccedilatildeo histoacuterica do instituto

no direito comparado especialmente nos paiacuteses da common law

A expressatildeo Punitive Damages foi utilizada pela primeira vez em 1763 na

Inglaterra nos casos Huckle v Money e Wilkes v Wood Em ambos os casos o que se

vislumbrou foi a praacutetica de um ato iliacutecito violador do direito de ir e vir de forma

ultrajante maliciosa opressora e fraudulenta Dessa maneira percebe-se que a ideia de

indenizaccedilatildeo punitiva capaz de elevar o quantum indenizatoacuterio visando o desestiacutemulo

da conduta perpetrada surgiu no seacuteculo XVIII no continente europeu sendo aplicada

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

92

pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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Letiacutecia Alves Ferreira Souto

89

reparaccedilatildeo por violaccedilatildeo de seus direitos personaliacutessimos caracterizadores de sua

essecircncia humana

Nessa ordem de ideias eacute preciso trazer agrave baila um dos pilares estruturadores de

nosso atual Coacutedigo Civil qual seja o princiacutepio da eticidade pelo qual as relaccedilotildees

juriacutedicas civis devem ser calcadas pela eacutetica e moralidade A reparabilidade do dano

moral estaacute em flagrante consonacircncia a tal princiacutepio vez que garante a boa-feacute agraves

interaccedilotildees humanas surgidas a partir de um ato iliacutecito

Cumpre salientar que a noccedilatildeo de dano moral eacute muito mais remota do que se

pode imaginar O Coacutedigo de Hamurabi uma das legislaccedilotildees mais antigas das quais se

tem conhecimento jaacute reconhecia tal instituto e previa a possibilidade de reparaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da Pena de Taliatildeo para a compensaccedilatildeo da viacutetima do dano moral A

civilizaccedilatildeo grega tambeacutem se preocupou em proteger o ofendido de dano

extrapatrimonial mas diferentemente do ordenamento anterior concedeu caraacuteter

pecuniaacuterio agrave indenizaccedilatildeo afastando a vinganccedila fiacutesica e pessoal da Pena de Taliatildeo

A ideia de reparabilidade do dano moral ganhou novos contornos no Direito

Romano tendo se consolidado nessa civilizaccedilatildeo a possibilidade de indenizaccedilatildeo

pecuniaacuteria pelo ato lesivo agrave honra e agrave integridade da pessoa humana Ademais natildeo se

pode olvidar do Direito Canocircnico o qual estabeleceu especiacutefica reparaccedilatildeo aos danos

morais causados

Voltando-se para o contexto brasileiro o Coacutedigo Civil de 1916 trouxe as

primeiras teses defensivas da reparabilidade do dano moral especificamente pela

interpretaccedilatildeo de seus artigos 76 79 e 159 cuja redaccedilatildeo deste uacuteltimo dispositivo muito

se assemelha agrave do atual artigo 186 do Coacutedigo Civil Cumpre anotar que em razatildeo do

antigo artigo 159 natildeo tratar expressamente do dano moral doutrina e Jurisprudecircncia

paacutetrias passaram a rejeitar enfaticamente a possibilidade de indenizaccedilatildeo de tais

danos inclusive pelo posicionamento do Supremo Tribunal Federal

A par do entendimento ateacute entatildeo adotado algumas leis especiais sobrevieram

tratando da reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial como eacute o caso do Coacutedigo Eleitoral da

Lei de Direitos Autorais do Coacutedigo de Defesa do Consumidor do Estatuto da Crianccedila

e do Adolescente e a mais importante alteraccedilatildeo da proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de

1988 A partir desse momento todas as discussotildees acerca da ressarcibilidade ou natildeo do

dano moral se tornaram inoacutecuas visto que a Lei Maior erigiu a indenizaccedilatildeo pelo dano

moral agrave mateacuteria constitucional especificamente como direito e garantia fundamental

Em consonacircncia agrave previsatildeo do legislador constituinte de 1988 o Coacutedigo Civil de

2002 reconhece expressamente em seu artigo 186 o instituto do dano moral e sua

possibilidade de indenizaccedilatildeo por forccedila do artigo 927 Portanto na atualidade se faz

totalmente possiacutevel a reparaccedilatildeo do dano extrapatrimonial

Tratando-se da natureza juriacutedica da reparaccedilatildeo pelo dano moral vislumbra-se

uma doutrina minoritaacuteria para quem a funccedilatildeo uacutenica da indenizaccedilatildeo nesse caso eacute

sancionadora Para esse entendimento a reparaccedilatildeo pelo dano moral seria entendida

como ldquopena civilrdquo a qual serviria para reprovar e reprimir a conduta levada a cabo

pelo ofensor Tal pensamento natildeo se sustenta justamente por considerar apenas o

causador do iliacutecito deixando de lado a viacutetima da lesatildeo

Noutro extremo encontra-se a doutrina que entende ser a natureza juriacutedica do

dano moral apenas compensatoacuteria Para essa corrente o valor arbitrado agrave indenizaccedilatildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

90

pelo dano extrapatrimonial natildeo pode superar apenas o necessaacuterio a compensar o

prejuiacutezo sofrido pela viacutetima Aqui a noccedilatildeo de reparaccedilatildeo pecuniaacuteria natildeo se restringe agrave

funccedilatildeo de equivalecircncia visto ser essa finalidade atinente ao dano material mas agrave

funccedilatildeo compensatoacuteria satisfatoacuteria uma vez que a lesatildeo da viacutetima natildeo se deu pela

perda de parte de seu patrimocircnio mas da ofensa a um direito personaliacutessimo

Por fim encontra-se a teoria mista entre as duas anteriormente apresentadas

Para esses doutrinadores os quais totalizam a maioria a natureza juriacutedica da

reparaccedilatildeo do dano moral eacute duacuteplice primeiramente a indenizaccedilatildeo possui caraacuteter

compensatoacuterio e secundariamente possui caraacuteter sancionador Nesse sentido Carlos

Roberto Gonccedilalves salienta que ldquoao mesmo tempo que serve de lenitivo de consolo

de uma espeacutecie de compensaccedilatildeo para atenuaccedilatildeo do sofrimento havido atua como

sanccedilatildeo ao lesante como fator de desestiacutemulo []rdquo (2008 p 376)

Ainda pondera Maria Helena Diniz que

a reparaccedilatildeo pecuniaacuteria do dano moral eacute um misto de pena e de satisfaccedilatildeo

compensatoacuteria Natildeo se pode negar sua funccedilatildeo a) penal constituindo uma sanccedilatildeo

imposta ao ofensor visando a diminuiccedilatildeo de seu patrimocircnio pela indenizaccedilatildeo

paga ao ofendido visto que o bem juriacutedico da pessoa ndash integridade fiacutesica moral e

intelectual ndash natildeo poderaacute ser violado impunemente subtraindo-se o seu ofensor agraves

consequecircncias de seu ato [] (2010 p 109)

Dessa maneira para tal entendimento a indenizaccedilatildeo deve por um lado levar

em consideraccedilatildeo o prejuiacutezo da viacutetima materializado no aspecto compensatoacuterio e por

outro a conduta iliacutecita do ofensor materializado no aspecto sancionador Atendendo a

essa duplicidade de funccedilotildees da reparaccedilatildeo do dano moral tramita no Congresso

Nacional o Projeto de Lei n 69602002 (atual n 2762007) o qual altera o artigo 944 do

Coacutedigo Civil conferindo-lhe um segundo paraacutegrafo com a seguinte redaccedilatildeo ldquosect2ordm A

reparaccedilatildeo do dano moral deve constituir-se em compensaccedilatildeo ao lesado e adequado

desestiacutemulo ao lesanterdquo

O equiacutevoco existente ainda na doutrina que defende a natureza juriacutedica duacuteplice

da indenizaccedilatildeo em apreccedilo encontra-se na pouca relevacircncia que se daacute ao aspecto

punitivo levando-se em conta que muitas vezes apenas a compensaccedilatildeo ao ofendido eacute

analisada para a reparaccedilatildeo do dano moral esquecendo-se de sua funccedilatildeo sancionadora

Conforme brilhante ensinamento do professor Salomatildeo Resedaacute em dissertaccedilatildeo

sobre o tema

acredita-se que a grande falha desta teoria encontra-se exatamente na limitada

importacircncia que se concede ao aspecto restritivo do comportamento do sujeito

passivo [] A indenizaccedilatildeo deve possuir um respaldo maior no seu aspecto

sancionador ateacute mesmo para servir como desestiacutemulo convergindo a resposta do

ordenamento juriacutedico agrave conduta lesiva e injusta do autor (2008 p198-199)

Como forma de fortalecer o aspecto punitivo dando-lhe mais eficaacutecia surge na

Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages objeto central deste estudo

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

91

4 Teoria dos Punitive Damages origem evoluccedilatildeo e principais aspectos

A expressatildeo Punitive Damages surgida em meados do seacuteculo XVIII no direito

inglecircs e posteriormente mais bem desenvolvida no direito norte-americano traduz a

ideia de ldquoindenizaccedilatildeo punitivardquo Tambeacutem chamados de exemplary damages os Punitive

Damages implicam a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo conferida ao ofendido para aleacutem de sua

compensaccedilatildeo tendo em vista a funccedilatildeo punitiva da reparaccedilatildeo especificamente quanto

ao dano moral causado

Nas palavras de Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

conhecidos tambeacutem por exemplary damages vindictive damages added damages ou

presumptive damages os Punitive Damages consistem no montante a ser conferido ao

autor de uma accedilatildeo indenizatoacuteria valor esse distinto ao da compensaccedilatildeo do dano

gerado ou seja distinguindo-se dos compensatory damages especialmente quando o

dano eacute decorrente de um comportamento lesivo marcado por grave negligecircncia

maliacutecia ou opressatildeo (2012 p 31)

Imperioso destacar que os Punitive Damages consubstanciam-se em duas

funccedilotildees a punitiva jaacute citada neste trabalho vez que ao acrescentar agrave indenizaccedilatildeo valor

superior agrave compensaccedilatildeo da viacutetima pretende-se punir sancionar o ofensor pela praacutetica

do ato iliacutecito inibindo-o a cometer novamente tal conduta danosa A segunda funccedilatildeo eacute

a desestimuladora razatildeo pela qual muitos doutrinadores denominam a Teoria ora em

apreccedilo de ldquoTeoria do Desestiacutemulordquo Dessa maneira ao arbitrar alto valor de

indenizaccedilatildeo pela conduta ofensiva pretende-se desestimular a praacutetica de novos

comportamentos similares mostrando agrave sociedade que atos como aquele natildeo satildeo

tolerados e por sua vez satildeo severamente punidos

Nessa ordem de ideias Salomatildeo Resedaacute ressalta que

sendo assim diante dessa estruturaccedilatildeo conceitua-se o punitive damage como sendo

um acreacutescimo econocircmico na condenaccedilatildeo imposta ao sujeito ativo do ato iliacutecito em

razatildeo da sua gravidade ou reiteraccedilatildeo que vai aleacutem do que se estipula como

necessaacuterio para compensar o ofendido no intuito de desestimulaacute-lo aleacutem de

mitigar a praacutetica de comportamentos semelhantes por parte de potenciais

ofensores no intuito de assegurar a paz social e consequente funccedilatildeo social da

responsabilidade civil (2008 p 230-231)

Uma vez delimitados os contornos da Teoria dos Punitive Damages e de sua

consequecircncia passa-se agrave apreciaccedilatildeo do surgimento e da evoluccedilatildeo histoacuterica do instituto

no direito comparado especialmente nos paiacuteses da common law

A expressatildeo Punitive Damages foi utilizada pela primeira vez em 1763 na

Inglaterra nos casos Huckle v Money e Wilkes v Wood Em ambos os casos o que se

vislumbrou foi a praacutetica de um ato iliacutecito violador do direito de ir e vir de forma

ultrajante maliciosa opressora e fraudulenta Dessa maneira percebe-se que a ideia de

indenizaccedilatildeo punitiva capaz de elevar o quantum indenizatoacuterio visando o desestiacutemulo

da conduta perpetrada surgiu no seacuteculo XVIII no continente europeu sendo aplicada

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

92

pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

90

pelo dano extrapatrimonial natildeo pode superar apenas o necessaacuterio a compensar o

prejuiacutezo sofrido pela viacutetima Aqui a noccedilatildeo de reparaccedilatildeo pecuniaacuteria natildeo se restringe agrave

funccedilatildeo de equivalecircncia visto ser essa finalidade atinente ao dano material mas agrave

funccedilatildeo compensatoacuteria satisfatoacuteria uma vez que a lesatildeo da viacutetima natildeo se deu pela

perda de parte de seu patrimocircnio mas da ofensa a um direito personaliacutessimo

Por fim encontra-se a teoria mista entre as duas anteriormente apresentadas

Para esses doutrinadores os quais totalizam a maioria a natureza juriacutedica da

reparaccedilatildeo do dano moral eacute duacuteplice primeiramente a indenizaccedilatildeo possui caraacuteter

compensatoacuterio e secundariamente possui caraacuteter sancionador Nesse sentido Carlos

Roberto Gonccedilalves salienta que ldquoao mesmo tempo que serve de lenitivo de consolo

de uma espeacutecie de compensaccedilatildeo para atenuaccedilatildeo do sofrimento havido atua como

sanccedilatildeo ao lesante como fator de desestiacutemulo []rdquo (2008 p 376)

Ainda pondera Maria Helena Diniz que

a reparaccedilatildeo pecuniaacuteria do dano moral eacute um misto de pena e de satisfaccedilatildeo

compensatoacuteria Natildeo se pode negar sua funccedilatildeo a) penal constituindo uma sanccedilatildeo

imposta ao ofensor visando a diminuiccedilatildeo de seu patrimocircnio pela indenizaccedilatildeo

paga ao ofendido visto que o bem juriacutedico da pessoa ndash integridade fiacutesica moral e

intelectual ndash natildeo poderaacute ser violado impunemente subtraindo-se o seu ofensor agraves

consequecircncias de seu ato [] (2010 p 109)

Dessa maneira para tal entendimento a indenizaccedilatildeo deve por um lado levar

em consideraccedilatildeo o prejuiacutezo da viacutetima materializado no aspecto compensatoacuterio e por

outro a conduta iliacutecita do ofensor materializado no aspecto sancionador Atendendo a

essa duplicidade de funccedilotildees da reparaccedilatildeo do dano moral tramita no Congresso

Nacional o Projeto de Lei n 69602002 (atual n 2762007) o qual altera o artigo 944 do

Coacutedigo Civil conferindo-lhe um segundo paraacutegrafo com a seguinte redaccedilatildeo ldquosect2ordm A

reparaccedilatildeo do dano moral deve constituir-se em compensaccedilatildeo ao lesado e adequado

desestiacutemulo ao lesanterdquo

O equiacutevoco existente ainda na doutrina que defende a natureza juriacutedica duacuteplice

da indenizaccedilatildeo em apreccedilo encontra-se na pouca relevacircncia que se daacute ao aspecto

punitivo levando-se em conta que muitas vezes apenas a compensaccedilatildeo ao ofendido eacute

analisada para a reparaccedilatildeo do dano moral esquecendo-se de sua funccedilatildeo sancionadora

Conforme brilhante ensinamento do professor Salomatildeo Resedaacute em dissertaccedilatildeo

sobre o tema

acredita-se que a grande falha desta teoria encontra-se exatamente na limitada

importacircncia que se concede ao aspecto restritivo do comportamento do sujeito

passivo [] A indenizaccedilatildeo deve possuir um respaldo maior no seu aspecto

sancionador ateacute mesmo para servir como desestiacutemulo convergindo a resposta do

ordenamento juriacutedico agrave conduta lesiva e injusta do autor (2008 p198-199)

Como forma de fortalecer o aspecto punitivo dando-lhe mais eficaacutecia surge na

Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages objeto central deste estudo

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

91

4 Teoria dos Punitive Damages origem evoluccedilatildeo e principais aspectos

A expressatildeo Punitive Damages surgida em meados do seacuteculo XVIII no direito

inglecircs e posteriormente mais bem desenvolvida no direito norte-americano traduz a

ideia de ldquoindenizaccedilatildeo punitivardquo Tambeacutem chamados de exemplary damages os Punitive

Damages implicam a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo conferida ao ofendido para aleacutem de sua

compensaccedilatildeo tendo em vista a funccedilatildeo punitiva da reparaccedilatildeo especificamente quanto

ao dano moral causado

Nas palavras de Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

conhecidos tambeacutem por exemplary damages vindictive damages added damages ou

presumptive damages os Punitive Damages consistem no montante a ser conferido ao

autor de uma accedilatildeo indenizatoacuteria valor esse distinto ao da compensaccedilatildeo do dano

gerado ou seja distinguindo-se dos compensatory damages especialmente quando o

dano eacute decorrente de um comportamento lesivo marcado por grave negligecircncia

maliacutecia ou opressatildeo (2012 p 31)

Imperioso destacar que os Punitive Damages consubstanciam-se em duas

funccedilotildees a punitiva jaacute citada neste trabalho vez que ao acrescentar agrave indenizaccedilatildeo valor

superior agrave compensaccedilatildeo da viacutetima pretende-se punir sancionar o ofensor pela praacutetica

do ato iliacutecito inibindo-o a cometer novamente tal conduta danosa A segunda funccedilatildeo eacute

a desestimuladora razatildeo pela qual muitos doutrinadores denominam a Teoria ora em

apreccedilo de ldquoTeoria do Desestiacutemulordquo Dessa maneira ao arbitrar alto valor de

indenizaccedilatildeo pela conduta ofensiva pretende-se desestimular a praacutetica de novos

comportamentos similares mostrando agrave sociedade que atos como aquele natildeo satildeo

tolerados e por sua vez satildeo severamente punidos

Nessa ordem de ideias Salomatildeo Resedaacute ressalta que

sendo assim diante dessa estruturaccedilatildeo conceitua-se o punitive damage como sendo

um acreacutescimo econocircmico na condenaccedilatildeo imposta ao sujeito ativo do ato iliacutecito em

razatildeo da sua gravidade ou reiteraccedilatildeo que vai aleacutem do que se estipula como

necessaacuterio para compensar o ofendido no intuito de desestimulaacute-lo aleacutem de

mitigar a praacutetica de comportamentos semelhantes por parte de potenciais

ofensores no intuito de assegurar a paz social e consequente funccedilatildeo social da

responsabilidade civil (2008 p 230-231)

Uma vez delimitados os contornos da Teoria dos Punitive Damages e de sua

consequecircncia passa-se agrave apreciaccedilatildeo do surgimento e da evoluccedilatildeo histoacuterica do instituto

no direito comparado especialmente nos paiacuteses da common law

A expressatildeo Punitive Damages foi utilizada pela primeira vez em 1763 na

Inglaterra nos casos Huckle v Money e Wilkes v Wood Em ambos os casos o que se

vislumbrou foi a praacutetica de um ato iliacutecito violador do direito de ir e vir de forma

ultrajante maliciosa opressora e fraudulenta Dessa maneira percebe-se que a ideia de

indenizaccedilatildeo punitiva capaz de elevar o quantum indenizatoacuterio visando o desestiacutemulo

da conduta perpetrada surgiu no seacuteculo XVIII no continente europeu sendo aplicada

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

92

pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

91

4 Teoria dos Punitive Damages origem evoluccedilatildeo e principais aspectos

A expressatildeo Punitive Damages surgida em meados do seacuteculo XVIII no direito

inglecircs e posteriormente mais bem desenvolvida no direito norte-americano traduz a

ideia de ldquoindenizaccedilatildeo punitivardquo Tambeacutem chamados de exemplary damages os Punitive

Damages implicam a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo conferida ao ofendido para aleacutem de sua

compensaccedilatildeo tendo em vista a funccedilatildeo punitiva da reparaccedilatildeo especificamente quanto

ao dano moral causado

Nas palavras de Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

conhecidos tambeacutem por exemplary damages vindictive damages added damages ou

presumptive damages os Punitive Damages consistem no montante a ser conferido ao

autor de uma accedilatildeo indenizatoacuteria valor esse distinto ao da compensaccedilatildeo do dano

gerado ou seja distinguindo-se dos compensatory damages especialmente quando o

dano eacute decorrente de um comportamento lesivo marcado por grave negligecircncia

maliacutecia ou opressatildeo (2012 p 31)

Imperioso destacar que os Punitive Damages consubstanciam-se em duas

funccedilotildees a punitiva jaacute citada neste trabalho vez que ao acrescentar agrave indenizaccedilatildeo valor

superior agrave compensaccedilatildeo da viacutetima pretende-se punir sancionar o ofensor pela praacutetica

do ato iliacutecito inibindo-o a cometer novamente tal conduta danosa A segunda funccedilatildeo eacute

a desestimuladora razatildeo pela qual muitos doutrinadores denominam a Teoria ora em

apreccedilo de ldquoTeoria do Desestiacutemulordquo Dessa maneira ao arbitrar alto valor de

indenizaccedilatildeo pela conduta ofensiva pretende-se desestimular a praacutetica de novos

comportamentos similares mostrando agrave sociedade que atos como aquele natildeo satildeo

tolerados e por sua vez satildeo severamente punidos

Nessa ordem de ideias Salomatildeo Resedaacute ressalta que

sendo assim diante dessa estruturaccedilatildeo conceitua-se o punitive damage como sendo

um acreacutescimo econocircmico na condenaccedilatildeo imposta ao sujeito ativo do ato iliacutecito em

razatildeo da sua gravidade ou reiteraccedilatildeo que vai aleacutem do que se estipula como

necessaacuterio para compensar o ofendido no intuito de desestimulaacute-lo aleacutem de

mitigar a praacutetica de comportamentos semelhantes por parte de potenciais

ofensores no intuito de assegurar a paz social e consequente funccedilatildeo social da

responsabilidade civil (2008 p 230-231)

Uma vez delimitados os contornos da Teoria dos Punitive Damages e de sua

consequecircncia passa-se agrave apreciaccedilatildeo do surgimento e da evoluccedilatildeo histoacuterica do instituto

no direito comparado especialmente nos paiacuteses da common law

A expressatildeo Punitive Damages foi utilizada pela primeira vez em 1763 na

Inglaterra nos casos Huckle v Money e Wilkes v Wood Em ambos os casos o que se

vislumbrou foi a praacutetica de um ato iliacutecito violador do direito de ir e vir de forma

ultrajante maliciosa opressora e fraudulenta Dessa maneira percebe-se que a ideia de

indenizaccedilatildeo punitiva capaz de elevar o quantum indenizatoacuterio visando o desestiacutemulo

da conduta perpetrada surgiu no seacuteculo XVIII no continente europeu sendo aplicada

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

92

pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

92

pelo Tribunal do Juacuteri naqueles casos de grave violaccedilatildeo a um direito fundamental do

ofendido (RESEDAacute 2008)

Atualmente ainda existe no direito inglecircs grande deferecircncia agrave aplicaccedilatildeo da

Teoria dos Punitive Damages pelo Juacuteri Poreacutem como nos esclarece Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira o paiacutes passou a assegurar ldquoum maior poder agrave Corte de Apelaccedilatildeo

para revisar e alterar os montantes concedidos pelo juacuteri em resposta ao crescente

nuacutemero de casos envolvendo Punitive Damages de valores excessivamente

desproporcionaisrdquo (2012 p 37)

Apesar de surgida na Inglaterra a Teoria dos Punitive Damages foi consolidada

e amplamente aplicada no direito norte-americano O primeiro caso que se tem

conhecimento de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva nos Estados Unidos data do ano de

1791 no leading case Coryell v Colbough o qual discutia o natildeo cumprimento de

promessa de casamento (RESEDAacute 2008) Natildeo obstante foi na deacutecada de 60 que a

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages pelos Tribunais sofreu enorme crescimento As trecircs

deacutecadas que se seguiram foram marcadas por inuacutemeras demandas coletivas as quais

visavam agrave reparaccedilatildeo dos denominados torts (danos) causados em detrimento da

sociedade e as quais pugnavam pela aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva de alto valor

Inspirados no direito inglecircs os norte-americanos tambeacutem mantiveram a

competecircncia do Tribunal do Juacuteri formado por cidadatildeos leigos para anaacutelise do

cabimento e quantificaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo nos ditames dos Punitive Damages Poreacutem

diferentemente do ocorrido na Inglaterra os estadunidenses ampliaram a aplicaccedilatildeo

dos Punitive Damages para abranger natildeo apenas as relaccedilotildees em que envolviam maliacutecia

ou negligecircncia grosseira mas tambeacutem nos casos de responsabilidade objetiva

atingindo sobremaneira as relaccedilotildees das grandes empresas fornecedoras com seus

consumidores aleacutem da incidecircncia sobre algumas relaccedilotildees contratuais (RESEDAacute 2008)

Atualmente a maioria dos estados norte-americanos admite a aplicaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo punitiva alguns inclusive por expressa previsatildeo legal como eacute o caso da

Califoacuternia Apesar disso como bem nos mostra Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

ldquocinco natildeo admitem tal sistema quais sejam Louisiana Nebraska New Hampshire

Massachusetts e Washingtonrdquo (2012 p 34) Por tal nuacutemero percebe-se que a aplicaccedilatildeo

da Teoria dos Punitive Damages nos Estados Unidos eacute indiscutiacutevel

Nessa ordem de ideias curioso citar os casos de indenizaccedilotildees milionaacuterias

decorrentes da aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages Ao longo da histoacuteria do

direito privado norte-americano eacute possiacutevel vislumbrar inuacutemeros casos em que pela

aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages as indenizaccedilotildees chegaram a patamares de milhotildees de

doacutelares Dentre eles destaca-se o conhecido caso Mc Donaldrsquos Coffee Case datado de

1992 no qual foi arbitrado a tiacutetulo de punitive damages indenizaccedilatildeo na ordem de

US$54000000 (RESEDAacute 2008 p 248 e 249) em decorrecircncia de grave queimadura de

cafeacute sofrida por cliente da rede de fast food

Assim pela aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages o que se vislumbrou nos

Estados Unidos foi a fixaccedilatildeo de enormes valores indenizatoacuterios tendo por

consequecircncia o surgimento de inuacutemeras demandas pautadas na referida Teoria sendo

que em muitas delas o que se percebia era o abuso dos demandantes uma vez que

inventavam situaccedilotildees ensejadoras de indenizaccedilatildeo milionaacuteria transformando as Cortes

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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Letiacutecia Alves Ferreira Souto

93

Judiciais em verdadeiras loterias Tal comportamento vem sendo alterado pelos

Tribunais norte-americanos ante aos absurdos indenizatoacuterios ocorridos

Analisando-se a literatura civilista norte-americana datada da deacutecada de 90

encontram-se inuacutemeros casos de indenizaccedilotildees extremamente volumosas justificadas

pelos Punitive Damages o que provocou em alguns juristas americanos seacuterias

preocupaccedilotildees quanto agraves estrondosas indenizaccedilotildees fazendo com que muito se

repensasse sobre os paracircmetros adotados para tal puniccedilatildeo Decorrecircncia dessa nova

postura eacute o fato que se passa a relatar conhecido mundialmente como caso Gore v

BMW (OLIVEIRA 2012)

Em 1992 no estado do Alabama o Sr Ira Gore comprou um automoacutevel BMW

sports sedan pagando o valor de US$4000000 Cerca de nove meses apoacutes a realizaccedilatildeo

da compra levou seu carro a uma oficina especializada para que fosse feito o

polimento de seu veiacuteculo e obteve a informaccedilatildeo de que seu carro havido sido repintado

antes mesmo de sair da faacutebrica Inconformado com o fato e convencido de que havia

sido enganado Gore ajuizou accedilatildeo contra a empresa BMW of North America alegando

fraude por parte da distribuidora de automoacuteveis

No transcorrer do processo a empresa reacute confirmou que desde 1983 adotava a

seguinte poliacutetica em relaccedilatildeo aos danos causados nos veiacuteculos novos durante a

montagem ou transporte se o dano causado representasse valor superior a 3 do

preccedilo sugerido para a venda o carro era vendido como usado por outro lado se os

danos ocorridos fossem inferiores a 3 o carro era repintado e vendido como novo

sem advertir que qualquer reparo fora realizado No caso especiacutefico do autor

comprovou-se que o dano que seu carro sofreu no processo de montagem e transporte

foi de 15 alegando a empresa que natildeo estaria entatildeo obrigada a revelar a repintura

realizada

Aleacutem disso tambeacutem restou provado nos autos que o valor de um BMW usado eacute

10 menor que o valor de um novo o qual foi pago pelo demandante observando

claro prejuiacutezo Ademais o autor conseguiu provar que desde 1983 a empresa reacute

vendeu 983 veiacuteculos repintados como se novos fossem sem revelar tal situaccedilatildeo aos

revendedores

Considerando todo o exposto no processo o Juacuteri condenou a empresa reacute ao

pagamento de US$400000 a tiacutetulo de compensatory damages valor correspondente agrave

depreciaccedilatildeo de 10 do valor do veiacuteculo em razatildeo do reparo realizado e

US$400000000 em punitive damages por entenderem os jurados que a postura da

empresa de natildeo revelar os reparos realizados configurou conduta maliciosa e

fraudulenta Apesar do altiacutessimo valor de Punitive Damages arbitrado pelos jurados a

Suprema Corte americana reduziu tal valor a US$200000000 por entender ter sido o

primeiro valor extremamente abusivo e desproporcional Ao final a Suprema Corte do

Alabama reduziu ainda mais o quantum indenizatoacuterio ao patamar de US$5000000 a

tiacutetulo de Punitive Damages seguindo o novo entendimento dos Tribunais jaacute aventado

anteriormente neste trabalho de aplicaccedilatildeo da proporcionalidade aos valores de

reparaccedilatildeo por aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva

Atualmente mesmo sendo amplamente aplicada e consolidada nos Estados

Unidos muitos juristas norte-americanos tecircm questionado a validade da Teoria dos

Punitive Damages em seu ordenamento juriacutedico principalmente sob o argumento de

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

94

que a falta de padrotildees ao estabelecimento das indenizaccedilotildees e do que efetivamente se

considera punitivo gera inseguranccedila juriacutedica ocasionada pelo subjetivismo

caracteriacutestico das decisotildees do Tribunal do Juacuteri Ademais questionam a validade de tal

instituto ante as Emendas Oitava e Deacutecima da Constituiccedilatildeo que tratam

respectivamente da proibiccedilatildeo de sanccedilotildees excessivas aos condenados e do princiacutepio do

in dubio pro reo

Natildeo se pode olvidar do argumento do enriquecimento sem causa da viacutetima

ante as inuacutemeras indenizaccedilotildees absurdamente altas como vislumbrado no caso Gore

Apesar de tais vozes dissonantes ainda nos Estados Unidos se mostra totalmente

possiacutevel a aplicaccedilatildeo da referida Teoria vez que o que tem sido buscado pelos juristas

mesmo pelos que levantam tais argumentos eacute a pacificaccedilatildeo e uniformizaccedilatildeo dos

paracircmetros utilizados para a fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva mas natildeo sua extinccedilatildeo Eacute

nesse contexto que surgem os requisitos para a aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva a

serem analisados em momento oportuno Dessa forma a Teoria dos Punitive Damages

ainda tem forccedila no direito norte-americano sob o argumento de maior proteccedilatildeo agrave

viacutetima puniccedilatildeo exemplar ao ofensor e desestiacutemulo agrave sociedade

Por fim cabe acrescentar que paiacuteses da civil law como Itaacutelia Alemanha Franccedila

e Portugal tambeacutem aceitam a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages em seu

ordenamento juriacutedico ressaltando que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

restringe aos paiacuteses do sistema da common law como no caso da Inglaterra e dos

Estados Unidos

5 Aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages agrave realidade brasileira

51 As divergecircncias doutrinaacuterias e jurisprudenciais sobre o tema

A partir da anaacutelise dos posicionamentos doutrinaacuterios e jurisprudenciais paacutetrios

constata-se que a maioria dos juristas brasileiros entende pela dupla natureza da

reparaccedilatildeo advinda do dano moral ou seja a indenizaccedilatildeo presta-se agrave compensaccedilatildeo da

viacutetima e agrave puniccedilatildeo do ofensor Poreacutem em que pese tal aceitaccedilatildeo os Tribunais

brasileiros ainda continuam resistentes agrave fixaccedilatildeo de alto valor indenizatoacuterio

especificamente em relaccedilatildeo ao caraacuteter sancionador principalmente sob o argumento do

enriquecimento sem causa da viacutetima e do estiacutemulo agrave conhecida ldquoinduacutestria do dano

moralrdquo

Nesse ponto cumpre destacar a doutrina contraacuteria agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos

Punitive Damages no direito brasileiro Como teses principais essa corrente traz agrave baila

as seguintes questotildees o primeiro argumento restringe-se agrave ideia de que a indenizaccedilatildeo

pela aplicaccedilatildeo da referida Teoria revestir-se-ia de um caraacuteter penal posto que

funcionaria como uma hipoacutetese de ldquopena civilrdquo Nesse contexto haveria a quebra da

dicotomia direito puacuteblico e direito privado jaacute que o Direito Civil eacute eminentemente

ramo do direito privado e o Direito Penal parte do direito puacuteblico Aleacutem disso para

tais doutrinadores a funccedilatildeo de aplicaccedilatildeo de pena eacute destinada ao Direito Penal e natildeo agrave

seara Civil que deveraacute se preocupar apenas com a compensaccedilatildeo dos danos morais

causados natildeo se adentrando ao fato de que a funccedilatildeo de puniccedilatildeo afeta a legislaccedilatildeo

criminal

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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9d90010000000000amphitguid=I10e4d510bfa811e39d90010000000000ampspos=8ampepos=8amptd

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YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

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fab6f010000000000amphitguid=I1bd8e1d0f25311dfab6f010000000000ampspos=3ampepos=3amptd

=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

95

Como segundo argumento contraacuterio agrave Teoria dos Punitive Damages posiciona-

se parte da doutrina no sentido de que a indenizaccedilatildeo punitiva por assemelhar-se agrave

penalidade do Direito Penal violaria o Princiacutepio da Legalidade conhecido como nulla

poena sine lege inserto no artigo 5ordm XXXIX da Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido natildeo

poderia o julgador arbitrar alto valor indenizatoacuterio com fins agrave puniccedilatildeo do ofensor

uma vez que tal penalidade natildeo estaacute previamente prevista em lei Posiciona-se dessa

maneira Humberto Theodoro Juacutenior

se natildeo existe lei alguma que tenha previsto pena civil ou criminal para o dano

moral em si mesmo ofende a Constituiccedilatildeo a sentenccedila que exacerbar a indenizaccedilatildeo

aleacutem dos limites usuais sob o falso e injuriacutedico argumento de que eacute preciso punir o

agente exemplarmente para desestimulaacute-lo de reiterar em semelhante praacutetica

(apud OLIVEIRA 2012 p 60)

No mesmo sentido entendendo serem os Punitive Damages afronta ao Princiacutepio

da Reserva Legal garantido pela Constituiccedilatildeo Federal Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo

Oliveira Milagres

a admissatildeo da pena civil nesse cenaacuterio sem qualquer paracircmetro para sua

incidecircncia e estipulaccedilatildeo pela atual redaccedilatildeo do Coacutedigo Civil ensejaria violaccedilatildeo ao

princiacutepio da reserva legal consagrado no art 5ordm XXXIX da CF1988 Para que fosse

possiacutevel a indenizaccedilatildeo punitiva seria necessaacuterio respaldo legal (MILAGRES

VIDAL 2014 [sp])

Seguindo o mesmo entendimento posicionando-se pela impossibilidade de

aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva no Direito brasileiro Pedro Henrique C Fonseca

no Brasil a jurisprudecircncia em massa tem justificado e fundamentado

condenaccedilotildees em responsabilidade civil levando em consideraccedilatildeo a funccedilatildeo

punitiva e preventiva Trata-se de uma anaacutelise sem observaccedilatildeo teacutecnica do instituto

da responsabilidade civil em vista da impossibilidade de adequaccedilatildeo do sistema de

aplicaccedilatildeo da teoria dos punitive damages agrave ausecircncia de permissatildeo legal para

aplicaccedilatildeo da funccedilatildeo punitiva A civil law natildeo absorveu de forma teacutecnica os danos

punitivos no Brasil Mesmo levando em consideraccedilatildeo a conduta do ofensor como

fator de identificaccedilatildeo de danos principalmente o dano moral haacute impossibilidade

teacutecnica para aplicar a teoria (FONSECA 2014 p 129 - 130)

Ademais argumenta a referida doutrina contraacuteria que a aceitaccedilatildeo dos Punitive

Damages no ordenamento juriacutedico brasileiro natildeo seria afronta apenas ao estabelecido

constitucionalmente mas tambeacutem ofensa agrave legislaccedilatildeo infraconstitucional

especificamente o artigo 944 do Coacutedigo Civil o qual estabelece as bases para fixaccedilatildeo do

quantum indenizatoacuterio sem mencionar a funccedilatildeo punitiva como forma de mensurar a

reparaccedilatildeo do dano Assim se posiciona Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa

a soluccedilatildeo portanto natildeo eacute prefixar o valor do dano moral (ou tarifaacute-lo) mas

simplesmente afastar o seu caraacuteter supostamente punitivo com o que jaacute se estaraacute

cumprindo o disposto no art 5ordm XXXIX da CF1988 Poucos parecem ter se dado

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

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=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

96

conta no entanto de que o caraacuteter punitivo da indenizaccedilatildeo do dano moral (ou

melhor de qualquer indenizaccedilatildeo) tambeacutem se revela incompatiacutevel com o direito

infraconstitucional brasileiro uma vez que foi expressamente proscrito pelo art

944 caput do CC2002 A indenizaccedilatildeo mede-se pela extensatildeo do dano

(YOSHIKAWA 2008)

Trazendo tambeacutem o argumento ora em comento para negar aplicaccedilatildeo da

Teoria no ordenamento juriacutedico brasileiro Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo Oliveira

Milagres

[] entendemos que o art 944 do CC2002 natildeo permite que o valor das

indenizaccedilotildees supere a extensatildeo do dano sofrido Assim por maior que seja o

montante da indenizaccedilatildeo variaacutevel conforme a amplitude do dano ela deve

guardar funccedilatildeo apenas reparatoacuteriacompensatoacuteria como resposta agrave coletividade

viacutetima do iliacutecito A cobranccedila de parcela punitiva do ofensor aleacutem da compensaccedilatildeo

do dano configuraria grave afronta ao art 944 esse sim indiscutivelmente

taxativo quanto agrave mensuraccedilatildeo das indenizaccedilotildees no acircmbito da responsabilidade

civil (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Nessa ordem de ideias Wesley de Oliveira Louzada Bernardo se posiciona

contra a aplicaccedilatildeo da Teoria argumentando que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se

coaduna com a noccedilatildeo de responsabilidade civil por ato de terceiro jaacute que a ldquopenardquo natildeo

pode passar da pessoa do condenado (apud RESEDAacute 2008 p 281) Aleacutem disso alguns

doutrinadores destacam a possibilidade de em certos casos haver puniccedilatildeo civil e

criminal como na hipoacutetese da praacutetica de iliacutecitos penais sendo que a indenizaccedilatildeo

punitiva provocaria bis in idem vedado pelo ordenamento juriacutedico brasileiro

Ainda existem os que se posicionam contrariamente agrave aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages por entender que a fixaccedilatildeo de altos valores indenizatoacuterios provocaria o

fomento agrave ldquoinduacutestria do dano moralrdquo e consequente enriquecimento sem causa do

ofendido transformando o Poder Judiciaacuterio em verdadeira loteria e confrontando

claramente o que dispotildee o Coacutedigo Civil acerca da boa-feacute Assim entende Maria Celina

Bodin de Moraes

o nosso sistema natildeo deve adotaacute-lo [funccedilatildeo punitiva] entre outras razotildees para

evitar a chamada loteria forense impedir ou diminuir a inseguranccedila e

imprevisibilidade das decisotildees judiciais inibir a tendecircncia hoje alastrada da

mercantilizaccedilatildeo das relaccedilotildees existenciais (apud OLIVEIRA 2012 p 61)

Seguindo o entendimento esposado pela Ilustre doutrinadora o Egreacutegio

Superior Tribunal de Justiccedila jaacute decidiu pela impossibilidade de aplicaccedilatildeo dos Punitive

Damages no Brasil tendo em vista o que dispotildee o artigo 884 do Coacutedigo Civil o qual

veda expressamente o enriquecimento sem causa Dessa maneira para o Superior

Tribunal

[] a aplicaccedilatildeo irrestrita das punitive damages encontra oacutebice regulador no

ordenamento juriacutedico paacutetrio que anteriormente agrave entrada do Coacutedigo Civil de 2002

vedava o enriquecimento sem causa como princiacutepio informador do direito e apoacutes a

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

97

novel codificaccedilatildeo civilista passou a prescrevecirc-la expressamente mais

especificamente no art 884 do Coacutedigo Civil de 2002 (AgRg no Ag 850273BA Rel

Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJAP) QUARTA TURMA julgado em 03082010 DJe

24082010)

No mesmo sentido jaacute decidiu o Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais em

Apelaccedilatildeo Ciacutevel de relatoria do Exmo Des Barros Levenhagen o qual em seu voto

deixou claro o entendimento de que o Direito brasileiro natildeo adotou a teacutecnica dos

Punitive Damages considerando-a proacutepria do sistema anglo-saxatildeo da common law Ao

final restou adotada a corrente que entende ser o caraacuteter da indenizaccedilatildeo apenas

pedagoacutegica e compensatoacuteria (TJMG ndash Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1059610006346-7001 Rel Des

Barros Levenhagen 5ordm Turma Ciacutevel)

Por outro lado destaca-se a maioria da doutrina que entende ser possiacutevel a

aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages quando se trata da indenizaccedilatildeo decorrente de

dano moral Para tais doutrinadores a funccedilatildeo punitiva eacute de extrema importacircncia no

momento da fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo tendo-se em vista a necessidade de sancionar o

autor do dano por seu ato iliacutecito para que natildeo volte a praticaacute-lo e o desestiacutemulo

provocado na sociedade para que entenda que atos como o praticado natildeo satildeo tolerados

pelo ordenamento Na liccedilatildeo do ilustre Salomatildeo Resedaacute ldquoao imputar um valor aleacutem

daquele voltado a compensar a viacutetima natildeo significa simplesmente punir o ofensor

Muito mais do que isso ele eacute o caminho adotado pelo ordenamento para desestimular

novas praacuteticas desta condutardquo (2008 p 283 - 284)

Rebatendo as teses apresentadas pela corrente que rejeita os Punitive Damages a

doutrina que a aceita entende que natildeo haacute que se falar em ldquopena civilrdquo e muito menos

em quebra da dicotomia puacuteblico e privado Mais uma vez o posicionamento do jurista

baiano mostra que

assim por afastar-se do acircmbito penal ainda que num grau menor do que em

outras aacutereas do direito civil o punitive damages natildeo pode ser considerado como

uma pena Ela natildeo eacute uma pena civil mas sim um acreacutescimo concedido agrave

indenizaccedilatildeo em razatildeo dos danos morais para apresentar ao ofensor a

reprovabilidade social (RESEDAacute 2008 p 284)

Uma vez defendida a ideia de que a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se reveste do

caraacuteter de pena mas de acreacutescimo concedido em razatildeo da reprovabilidade da conduta

para os que entendem pela possibilidade dos Punitive Damages no direito brasileiro os

argumentos de que tal Teoria fere a legalidade exigida pelo Direito Penal prevista na

Constituiccedilatildeo e de que se trata de bis in idem natildeo se sustentam tendo em vista se tratar

de instituto civil natildeo se aplicando as regras quanto agrave sanccedilatildeo penal

A doutrina defensora dos Punitive Damages ainda elenca inuacutemeras hipoacuteteses

previstas pelo legislador de 2002 que possuem niacutetido caraacuteter sancionador dentre elas a

claacuteusula penal os juros de mora o pagamento em dobro a restituiccedilatildeo em dobro e as

astreintes (OLIVEIRA 2008) natildeo havendo razatildeo portanto agravequeles que rechaccedilam a

ideia de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva por argumentarem ser esta de natureza

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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Letiacutecia Alves Ferreira Souto

98

penal A proacutepria Lei Civil prevecirc casos em que semelhante puniccedilatildeo ocorreraacute natildeo

havendo justificativa para a natildeo aplicaccedilatildeo da referida Teoria

Especificamente em relaccedilatildeo agrave ideia de bis in idem nas hipoacuteteses em que houver

sanccedilatildeo penal e civil Nelson Rosenvald obtempera que

este dado [funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo] natildeo suprime a sua

constitucionalidade pois as instacircncias ciacutevel e penal natildeo satildeo

excludentes mas acarreta ao magistrado o dever de reduzir o seu

quantum ou do juiz criminal reduzir a pena (2013 p 217)

Ademais a doutrina que sustenta a aplicaccedilatildeo da referida Teoria rebate o

argumento do enriquecimento sem causa propondo a possibilidade de destinar a

indenizaccedilatildeo a tiacutetulo punitivo a fundos criados especificamente para tanto ou mesmo

destinar-se a instituiccedilotildees beneficentes Dessa maneira o dinheiro natildeo iria para as matildeos

do ofendido natildeo se falando em enriquecimento sem causa e o ofensor seria

devidamente punido Sobre o enriquecimento sem causa frisa Salomatildeo Resedaacute que ldquoo

seu objetivo [do punitive damages] natildeo eacute enriquecer a viacutetima mas sim desestimular o

agressor a reiterar em condutas semelhantes e tambeacutem apresentar aos demais

(potenciais ofensores) a rejeiccedilatildeo social agravequele comportamentordquo (2008 p 283)

Da mesma maneira Nelson Rosenvald posiciona-se contraacuterio agrave tese de que os

Punitive Damages provocariam enriquecimento sem causa do ofendido vez que para

ele ldquonatildeo se pode cogitar de locupletamento iliacutecito quando o montante destinado agrave

viacutetima eacute proveniente de uma decisatildeo judicial Esta eacute a justa causa de atribuiccedilatildeo

patrimonialrdquo (2013 p 196)

Aleacutem disso o Ilustre doutrinador apresenta soluccedilatildeo equacircnime a fim de elidir

questionamentos quanto ao que a viacutetima deve ou natildeo receber a tiacutetulo de Punitive

Damages Nesse sentido entende que ldquoquando constatada a natureza imediatamente

difusa de danos em accedilotildees individuais 75 do valor deva ser destinado a Fundos

especificamente destinados agrave proteccedilatildeo de interesses difusos e 25 ao particularrdquo

(ROSENVALD 2013 p 199) Assim natildeo haveria que se falar em enriquecimento sem

causa da viacutetima

Por conseguinte pugna referida doutrina pela liberdade do julgador em

analisar no caso concreto os elementos necessaacuterios agrave caracterizaccedilatildeo de situaccedilatildeo

justificadora dos Punitive Damages agindo de maneira justa e imparcial a partir de

criteacuterios de razoabilidade e proporcionalidade aleacutem da fundamentaccedilatildeo da decisatildeo

conforme determina o artigo 93 IX da Magna Carta Dessa maneira tentar-se-ia evitar

a maacute-feacute de determinadas pessoas que se valem do Poder Judiciaacuterio para se enriquecer agrave

custa dos outros

Rebatendo os argumentos colecionados pela doutrina contraacuteria aos Punitive

Damages no Direito brasileiro a corrente favoraacutevel entende que a sua aplicaccedilatildeo natildeo

ofende os dispositivos previstos nem na Constituiccedilatildeo Federal nem no Coacutedigo Civil Por

outro lado defende a referida teoria que o proacuteprio artigo 944 da Lei Civil em seu

paraacutegrafo uacutenico justifica o emprego da indenizaccedilatildeo punitiva no ordenamento juriacutedico

brasileiro Para tanto se eacute possiacutevel analisar o comportamento do ofensor a fim de

reduzir a indenizaccedilatildeo arbitrada natildeo haveria oacutebice para tal anaacutelise com o fito de

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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Letiacutecia Alves Ferreira Souto

99

aumentar o valor da reparaccedilatildeo ante a alta reprovabilidade de sua conduta Na liccedilatildeo de

Nelson Rosenvald

em simetria este mesmo cuidado com a avaliaccedilatildeo do comportamento do ofensor

no cotejo com modelos de comportamento ideais esperados pelo ordenamento

poderaacute resultar em uma afericcedilatildeo concreta quanto ao intencional proceder do

agente ndash ou o seu absoluto desprezo pelas regras de cautela - no exerciacutecio da

atividade que desencadeou danos Eacute legiacutetimo do ponto de vista constitucional que

a medida da condenaccedilatildeo supere o dano concretamente sofrido pela viacutetima (2013 p

170)

Na mesma linha de ideias Tauanna Gonccedilalves Vianna diz que

[] a indenizaccedilatildeo punitiva encontra suporte no proacuteprio art 944 do Coacutedigo Civil

uma vez que este ao tratar da extensatildeo do dano tambeacutem abrange o chamado dano

social que eacute aquele que extrapola a esfera individual da viacutetima e repercute

negativamente sobre toda a sociedade posiccedilatildeo com a qual concordamos [] Ante

o exposto constata-se que a indenizaccedilatildeo punitiva se adequadamente utilizada

consiste num importante instrumento social (2014 [sp])

Adotando o mesmo posicionamento o Enunciado 379 do Conselho de Justiccedila

Federal aprovado na IV Jornada de Direito Civil preleciona que o art 944 caput do

Coacutedigo Civil natildeo afasta a possibilidade de se reconhecer a funccedilatildeo punitiva ou

pedagoacutegica da responsabilidade civil (AGUIAR JUacuteNIOR 2006)

Eacute por essa razatildeo que para a corrente favoraacutevel agrave Teoria natildeo se sustenta a tese

que justifica a natildeo aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages no Direito brasileiro por seu modelo

adotado qual seja o da civil law Entende a referida doutrina que na atual dinacircmica

por que passa o Direito ou seja o do neoconstitucionalismo e o da aplicaccedilatildeo imediata

dos princiacutepios constitucionais natildeo eacute razoaacutevel que se negue aplicaccedilatildeo agrave Teoria em

estudo sob o argumento de que a majoraccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com base na puniccedilatildeo natildeo

estaacute prevista em lei

Nesses termos a indenizaccedilatildeo punitiva eacute instituto da seara civil a qual natildeo se

submete agraves regras de estrita legalidade pertinentes ao Direito Penal Dessa maneira

por tal posicionamento natildeo se pode argumentar que o que natildeo estaacute previsto em lei natildeo

merece aplicaccedilatildeo jaacute que os princiacutepios constitucionais e infraconstitucionais justificam

seu acolhimento Natildeo se pode olvidar que no proacuteprio Direito brasileiro tem-se

adotado teorias natildeo previstas pelo legislador como eacute o caso da Teoria da Perda de uma

Chance (FARIAS ROSENVALD 2012) que foi construiacuteda pela doutrina e que tem

ganhado forccedila nos Tribunais Superiores

Aleacutem disso como mencionado alhures alguns paiacuteses da civil law tecircm adotado o

instituto dos Punitive Damages o que mais uma vez natildeo sustenta o argumento de que

a indenizaccedilatildeo punitiva natildeo se coaduna agrave noccedilatildeo do direito romaniacutestico vez que cada

vez mais o que se busca eacute a proteccedilatildeo da dignidade da pessoa humana e o alcance agrave

ideia de justiccedila social Ensina-nos Nelson Rosenvald que

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

100

as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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as naccedilotildees da common law recorrem agrave legislaccedilatildeo assim como os Estados filiados ao

civil law concedem paulatina importacircncia agrave construccedilatildeo do direito pelos tribunais e

pelos costumes Instrumentos e modelos juriacutedicos podem ser cambiados ndash

obviamente com as devidas cautelas de adequaccedilatildeo aos ordenamentos ndash como

forma de contribuiccedilatildeo para a edificaccedilatildeo de um direito privado capaz de aliar a

justiccedila e a eficiecircncia (2013 p 139 - 140)

Defendendo a funccedilatildeo punitiva da indenizaccedilatildeo por dano moral Caio Maacuterio da

Silva Pereira afirma que

o fulcro do conceito ressarcitoacuterio acha-se deslocado para a convergecircncia de duas

forccedilas lsquocaraacuteter punitivorsquo para que o causador do dano pelo fato da condenaccedilatildeo se

veja castigado pela ofensa que praticou e o lsquocaraacuteter ressarcitoacuteriorsquo para a viacutetima

que receberaacute uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal

sofrido (apud OLIVEIRA 2012 p 56 - 57)

O Ilustre doutrinador Orlando Gomes tambeacutem se posiciona pela dupla funccedilatildeo

do ressarcimento pelo dano moral a de puniccedilatildeoexpiaccedilatildeo do culpado e de satisfaccedilatildeo

da viacutetima (2002)

Nesse sentido Carlos Alberto Bittar acrescenta que

[] a indenizaccedilatildeo por danos morais deve traduzir-se em montante que represente

advertecircncia ao lesante e agrave sociedade de que natildeo se aceita o comportamento

assumido ou o evento lesivo advindo Consubstancia-se portanto em importacircncia

compatiacutevel com o vulto dos interesses em conflito refletindo-se de modo

expressivo no patrimocircnio do lesante a fim de que sinta efetivamente a resposta

da ordem juriacutedica aos efeitos do resultado lesivo produzido (1994 p 220)

Ainda Yussef Said Cahali salienta que ldquoa indenizabilidade do dano moral

desempenha uma funccedilatildeo triacuteplice reparar punir admoestar ou prevenirrdquo (1998 p 175)

Para Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira ldquoa adoccedilatildeo do valor do desestiacutemulo

sobre a indenizaccedilatildeo imposta possibilita a conscientizaccedilatildeo do ofensor de que aquela

conduta perpetrada eacute reprovada pelo ordenamento juriacutedico de tal sorte que natildeo volte

a reincidir no iliacutecitordquo (2012 p 91)

No mesmo sentido Salomatildeo Resedaacute entende que

diante destas prerrogativas indiscutivelmente chancela-se o posicionamento

segundo o qual o punitive damage deve ser impresso com incontestaacutevel destaque no

universo juriacutedico brasileiro A realidade cotidiana natildeo pode ser ignorada inuacutemeros

satildeo os pleitos que versam sobre comportamentos ofensivos a direitos da

personalidade Ao Poder Judiciaacuterio por sua vez cumpre o dever de conferir uma

resposta plausiacutevel a estes anseios efetivando-se com isso a determinaccedilatildeo

Constitucional constante em seu art 1ordm o que somente poderia ser concretizado a

partir da inserccedilatildeo da prevenccedilatildeo e do caraacuteter exemplificativo decorrente do

exemplary damage (2008 p 304)

Por fim Nelson Rosenvald conclui que

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

Referecircncias

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107

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9d90010000000000amphitguid=I10e4d510bfa811e39d90010000000000ampspos=8ampepos=8amptd

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lthttpwwwrevistadostribunaiscombrmafappwidgetshomepageresultListdocum

entampsrc=rlampsrguid=i0ad818160000014941f242515dbeb166ampdocguid=I1bd8e1d0f25311d

fab6f010000000000amphitguid=I1bd8e1d0f25311dfab6f010000000000ampspos=3ampepos=3amptd

=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

101

o tecido social brasileiro se esgarccedila As relaccedilotildees interprivadas se amesquinham

com a proliferaccedilatildeo de condutas maliciosas Por qual motivo devemos negar a

adequaccedilatildeo da responsabilidade civil agrave sociedade em que estamos inseridos A

diretriz da eticidade que norteia o Coacutedigo Civil natildeo pode se transformar em letra

morta no universo dos atos iliacutecitos (2013 p 224)

Seguindo a doutrina favoraacutevel aos Punitive Damages o Excelso Supremo

Tribunal Federal jaacute reconheceu o caraacuteter punitivo do dano moral elevando o quantum

indenizatoacuterio arbitrado pelo dano moral sofrido para que se atendesse agraves finalidades

punitiva pedagoacutegica e compensatoacuteria (ARE 641487 ED Relator(a) Min Luiz Fux

Primeira Turma julgado em 26022013 DJe divulgado em 20-03-2013 publicado em

21-03-2013)

No mesmo sentido o Egreacutegio Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais decidiu em

sede de Apelaccedilatildeo Ciacutevel em Accedilatildeo de Indenizaccedilatildeo por Danos Morais que no momento

de quantificaccedilatildeo do dano moral deve-se levar em consideraccedilatildeo a noccedilatildeo de sanccedilatildeo ao

lesado nos seguintes termos

para a fixaccedilatildeo dos danos morais levam-se em conta basicamente as circunstacircncias

do caso a gravidade do dano a situaccedilatildeo do lesante a condiccedilatildeo do lesado

preponderando a niacutevel de orientaccedilatildeo central a ideia de sancionamento ao lesado

(ou punitive damages como no direito norte-americano) Recurso natildeo provido

(TJMG - Apelaccedilatildeo Ciacutevel 1053409014071-4001 Relator (a) Des(a) Domingos

Coelho 12ordf CAcircMARA CIacuteVEL julgamento em 06072011 publicaccedilatildeo da suacutemula

em 12072011)

Por todo o exposto forccediloso reconhecer que a maioria da doutrina e

Jurisprudecircncia posiciona-se favoraacutevel agrave aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages

bastando que se ajustem as previsotildees do direito alieniacutegena agrave realidade brasileira

ajustes esses propostos pela proacutepria corrente que defende a indenizaccedilatildeo punitiva

52 Requisitos para a correta aplicaccedilatildeo dos Punitive Damages

Justamente para tentar evitar indenizaccedilotildees desproporcionais e para que se

atinja o real objetivo do instituto qual seja a puniccedilatildeo do ofensor eacute que a doutrina

estabelece alguns paracircmetros para a mais tranquila aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages concluindo por sua viabilidade de incidecircncia ou natildeo Passa-se agrave apreciaccedilatildeo de

cada um deles elencados por Salomatildeo Resedaacute em trabalho sobre o tema

O primeiro requisito para anaacutelise e aplicaccedilatildeo da Teoria eacute a conduta reprovaacutevel

Eacute preciso que o comportamento do ofensor seja grave e reprovaacutevel Nas palavras do

mestre baiano ldquoa conduta deve ser particularmente reprovaacutevel na medida em que eacute

exatamente este grau de rejeiccedilatildeo que iraacute funcionar como a mola propulsora para a

imposiccedilatildeo de uma indenizaccedilatildeo punitivardquo (2008 p 262)

Entatildeo condutas dolosas maliciosas fraudulentas opressoras e moralmente

culpaacuteveis satildeo facilmente identificaacuteveis como passiacuteveis de puniccedilatildeo pelos Punitive

Damages Natildeo se quer dizer poreacutem que a responsabilidade objetiva ou seja a que natildeo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

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Paulo Atlas 2009 577p

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 24 ed v 7 Satildeo Paulo Saraiva

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FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Curso de Direito Civil 6 ed v 2

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FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direito Civil teoria geral 8 ed

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11 ed rev atual e ampl v 3 Satildeo Paulo Saraiva 2013 453p

GOMES Orlando Obrigaccedilotildees 15 ed rev e atual Rio de Janeiro Forense 2002 357p

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

107

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9d90010000000000amphitguid=I10e4d510bfa811e39d90010000000000ampspos=8ampepos=8amptd

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fab6f010000000000amphitguid=I1bd8e1d0f25311dfab6f010000000000ampspos=3ampepos=3amptd

=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

102

depende da prova de culpa natildeo pode ser abarcada pelos Punitive Damages haja vista

que embora inexista prova da culpa a conduta do agente pode se revestir da

reprovabilidade necessaacuteria (RESEDAacute 2008) Ademais eacute preciso destacar que o

comportamento gravoso realizado de maneira reiterada eacute mais um motivo para

aplicaccedilatildeo do referido instituto vez que carregado de maacute-feacute e reprovabilidade

Dessa maneira conclui Seacutergio Cavalieri Filho que

a indenizaccedilatildeo punitiva do dano moral deve ser tambeacutem adotada quando o

comportamento do ofensor se revelar particularmente reprovaacutevel ndash dolo ou culpa

grave ndash e ainda nos casos em que independentemente de culpa o agente obtiver

lucro com o ato iliacutecito ou incorrer em reiteraccedilatildeo da conduta iliacutecita (2009 p 95)

Cumpre salientar que a condutas consideradas de pequena monta ou de pouca

gravidade como nos casos de culpa miacutenima por exemplo natildeo caberaacute aplicaccedilatildeo da

referida Teoria tendo em vista a ausecircncia do requisito da reprovabilidade e reiteraccedilatildeo

do comportamento Caberaacute ao magistrado analisar de forma fundamentada baseado

na razoabilidade e proporcionalidade se determinada conduta levada agrave sua apreciaccedilatildeo

cumpre ou natildeo o requisito ora em discussatildeo

O segundo requisito que deve se levar em consideraccedilatildeo eacute a funccedilatildeo pedagoacutegico-

desestimuladora dos Punitive Damages No momento de sua incidecircncia natildeo se

analisaraacute apenas o dano sofrido pela viacutetima e a sua necessaacuteria compensaccedilatildeo mas

tambeacutem o comportamento do ofensor e a puniccedilatildeo de sua conduta a fim de

desestimulaacute-lo a novas praacuteticas iliacutecitas Conclui Salomatildeo Resedaacute que ldquoem assim sendo

o Punitive Damages estaria apto a desenvolver a funccedilatildeo de desestiacutemulo aliado ao caraacuteter

pedagoacutegico de evitar que sejam reiterados atos considerados nocivos agrave sociedade ou

gravosos a elardquo (2008 p 265)

O terceiro paracircmetro a ser analisado diz respeito agraves proacuteprias caracteriacutesticas do

ofensor Assim sua repercussatildeo social e condiccedilatildeo financeira influenciaratildeo diretamente

no momento da anaacutelise de fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva O que se vislumbra eacute a

maior atenccedilatildeo que se daacute agrave figura do ofensor do que do proacuteprio ofendido jaacute que o

objetivo principal aqui eacute a puniccedilatildeo de sua conduta Nesse diapasatildeo nos esclarecem

Luiacutesa Ferreira Vidal e Marcelo de Oliveira Milagres que

a pena civil guardaraacute caraacuteter repressivo e pedagoacutegico e deveraacute ser cominada

conforme as especificidades do ofensor Para que esse seja punido e desestimulado

agrave realizaccedilatildeo de novos iliacutecitos o direito deve lhe atingir na medida da sua condiccedilatildeo

patrimonial Assim quanto mais ou menos abastado for o autor do iliacutecito maior ou

menor seraacute o valor da pena respectivamente (MILAGRES VIDAL 2014 [sp])

Por fim o uacuteltimo requisito que urge analisar eacute o proacuteprio ofendido Poreacutem

diferentemente da noccedilatildeo de compensaccedilatildeo da viacutetima em que se olha primordialmente

para sua condiccedilatildeo na indenizaccedilatildeo punitiva o ofendido natildeo deve ser avaliado em

primeiro plano uma vez que a funccedilatildeo aqui perpetrada eacute de puniccedilatildeo do ofensor Nos

ensinamentos de Salomatildeo Resedaacute

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

Referecircncias

AGUIAR JUacuteNIOR Ruy Rosado de (Org) IV Jornada de Direito Civil Brasiacutelia CJF 2006

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Acesso em 24 de out 2014

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Paulo Atlas 2009 577p

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GOMES Orlando Obrigaccedilotildees 15 ed rev e atual Rio de Janeiro Forense 2002 357p

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

107

GONCcedilALVES Carlos Roberto Direito Civil Brasileiro 3 ed rev e atual v 4 Satildeo Paulo

Saraiva 2008 535p

MILAGRES Marcelo de Oliveira VIDAL Luiacutesa Ferreira Funccedilatildeo punitiva da

responsabilidade civil da (in) admissibilidade da Pena Civil pelo Direito Brasileiro

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0568911e49aa4010000000000 Acesso em 24 de out 2014

OLIVEIRA Rodrigo Pereira Ribeiro de A Responsabilidade Civil por Dano Moral e seu

Caraacuteter Desestimulador Belo Horizonte Arraes 2012 124p

RESEDAacute Salomatildeo A aplicabilidade do punitive damages nas accedilotildees de indenizaccedilatildeo por dano

moral no ordenamento juriacutedico brasileiro Disponiacutevel em

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VIANNA Tauanna Gonccedilalves Indenizaccedilatildeo punitiva no Brasil Disponiacutevel em

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entampsrc=rlampsrguid=i0ad818150000014941f97617051ef600ampdocguid=I10e4d510bfa811e3

9d90010000000000amphitguid=I10e4d510bfa811e39d90010000000000ampspos=8ampepos=8amptd

=31ampcontext=78ampstartChunk=1ampendChunk=1gt Acesso em 24 de out 2014

YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

indenizaccedilatildeo do dano moral com o direito positivo brasileiro (agrave luz do artigo 5ordm XXXIX da

CF1988 e do artigo 944 caput do CC2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwrevistadostribunaiscombrmafappwidgetshomepageresultListdocum

entampsrc=rlampsrguid=i0ad818160000014941f242515dbeb166ampdocguid=I1bd8e1d0f25311d

fab6f010000000000amphitguid=I1bd8e1d0f25311dfab6f010000000000ampspos=3ampepos=3amptd

=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

103

em assim sendo o individual deve merecer atenccedilatildeo necessaacuteria poreacutem natildeo figurar

como a mola mestra para justificar a aplicaccedilatildeo do exemplary damage Muito mais do

que isso o coletivo eacute a pedra de toque para a sua chancela na medida em que a

proteccedilatildeo singular conferida pela responsabilidade civil deve estar configurada no

seu caraacuteter compensatoacuterio e natildeo no instituto em questatildeo (2008 p 268)

Cumpre ressaltar que a viacutetima natildeo seraacute esquecida pela aplicaccedilatildeo da Teoria em

apreccedilo poreacutem natildeo seraacute entendida como o centro da anaacutelise para fixaccedilatildeo da

indenizaccedilatildeo

Estabelecidos os pressupostos de anaacutelise para aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive

Damages passa-se agrave apreciaccedilatildeo da adequaccedilatildeo de tal instituto ao ordenamento juriacutedico

brasileiro ante o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e o Coacutedigo Civil

53 Adequaccedilatildeo agrave realidade brasileira agrave luz da Constituiccedilatildeo Federal e do Coacutedigo Civil

A doutrina que defende a aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages elenca

algumas adequaccedilotildees a serem realizadas a fim de compatibilizaacute-la ao ordenamento

juriacutedico brasileiro ante o que dispotildee a legislaccedilatildeo paacutetria Aleacutem disso a proacutepria doutrina

que reconhece a impossibilidade de aplicaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva entende ser a

mesma cabiacutevel desde que se proceda a algumas alteraccedilotildees em nosso ordenamento

para que se adeacuteque ao direito paacutetrio Assim se posicionam Luiacutesa Ferreira Vidal e

Marcelo de Oliveira Milgares (2014)

Bem observa Tauanna Gonccedilalves Vianna ao concluir que

a importaccedilatildeo disforme dos punitive damages resultou na criaccedilatildeo de uma espeacutecie

bizarra de indenizaccedilatildeo (SCHREIBER 2009 p 205) do que decorrem duas seacuterias

consequecircncias A uma gera-se inseguranccedila agraves partes litigantes pois natildeo haacute uma

identificaccedilatildeo clara da medida em que o dano moral estaacute sendo compensado e da

medida em que se estaacute punindo o ofensor o que afeta natildeo soacute a destinaccedilatildeo da

parcela punitiva [] mas o proacuteprio caraacuteter didaacutetico da condenaccedilatildeo A duas tem-se

que ao inserir a indenizaccedilatildeo punitiva dentro de uma modalidade de reparaccedilatildeo

essencialmente compensatoacuteria a parcela adicional recebida pela viacutetima a tiacutetulo de

puniccedilatildeo do ofensor pode ser encarada como enriquecimento sem causa entendido

como vantagem indevidamente auferida passiacutevel de restituiccedilatildeo nos termos dos

arts 884 e ss do Coacutedigo Civil (VIANNA 2014 [sp])

Eacute nesse sentido e para evitar que tais consequecircncias ocorram que a doutrina

elenca as alteraccedilotildees necessaacuterias a serem realizadas na Teoria para que possa ser

aplicada pelo Direito brasileiro A primeira adequaccedilatildeo a ser feita eacute quanto agrave

competecircncia para fixaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo punitiva Como visto alhures nos paiacuteses da

common law principalmente nos Estados Unidos a valoraccedilatildeo e quantificaccedilatildeo dos

Punitive Damages satildeo feitas pelo Tribunal do Juacuteri composto por jurados leigos Ocorre

que no Brasil por expressa disposiccedilatildeo constitucional (artigo 5ordm XXXVIII CRFB88) a

competecircncia do Juacuteri restringe-se agrave anaacutelise e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida Dessa maneira a atribuiccedilatildeo de fixaccedilatildeo de indenizaccedilatildeo natildeo eacute do Juacuteri devendo

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

Referecircncias

AGUIAR JUacuteNIOR Ruy Rosado de (Org) IV Jornada de Direito Civil Brasiacutelia CJF 2006

Disponiacutevel em

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Acesso em 24 de out 2014

BITTAR Carlos Alberto Reparaccedilatildeo civil por danos morais 2 ed Satildeo Paulo Revista dos

Tribunais 1994 254p

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Agravo Regimental no Recurso Especial nordm

850273BA Dje Brasiacutelia 24 ago 2010 Disponiacutevel em ltwwwstjjusbrgt Acesso em 10

out 2014

BRASIL Supremo Tribunal Federal Agravo Regimental nordm 641487 ED Dje Brasiacutelia 21

mar 2013 Disponiacutevel em ltwwwstfjusbrgt Acesso em 10 out 2014

BRASIL Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais Apelaccedilatildeo Ciacutevel nordm 1053409014071-4001

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Paulo Atlas 2009 577p

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 24 ed v 7 Satildeo Paulo Saraiva

2010 706p

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Salvador JusPodivm 2012 652p

FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direito Civil teoria geral 8 ed

Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 776p

FONSECA Pedro H C Manual da responsabilidade do meacutedico Belo Horizonte DrsquoPlaacutecido

2014 359p

GAGLIANO Pablo Stolze PAMPLONA FILHO Rodolfo Novo Curso de Direito Civil

11 ed rev atual e ampl v 3 Satildeo Paulo Saraiva 2013 453p

GOMES Orlando Obrigaccedilotildees 15 ed rev e atual Rio de Janeiro Forense 2002 357p

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

107

GONCcedilALVES Carlos Roberto Direito Civil Brasileiro 3 ed rev e atual v 4 Satildeo Paulo

Saraiva 2008 535p

MILAGRES Marcelo de Oliveira VIDAL Luiacutesa Ferreira Funccedilatildeo punitiva da

responsabilidade civil da (in) admissibilidade da Pena Civil pelo Direito Brasileiro

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0568911e49aa4010000000000 Acesso em 24 de out 2014

OLIVEIRA Rodrigo Pereira Ribeiro de A Responsabilidade Civil por Dano Moral e seu

Caraacuteter Desestimulador Belo Horizonte Arraes 2012 124p

RESEDAacute Salomatildeo A aplicabilidade do punitive damages nas accedilotildees de indenizaccedilatildeo por dano

moral no ordenamento juriacutedico brasileiro Disponiacutevel em

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81pdfgt Acesso em 11 de set 2014

ROSENVALD Nelson As funccedilotildees da responsabilidade civil Satildeo Paulo Atlas 2013 231p

VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil 3 ed v 4 Satildeo Paulo Atlas 2003 245p

VIANNA Tauanna Gonccedilalves Indenizaccedilatildeo punitiva no Brasil Disponiacutevel em

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entampsrc=rlampsrguid=i0ad818150000014941f97617051ef600ampdocguid=I10e4d510bfa811e3

9d90010000000000amphitguid=I10e4d510bfa811e39d90010000000000ampspos=8ampepos=8amptd

=31ampcontext=78ampstartChunk=1ampendChunk=1gt Acesso em 24 de out 2014

YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

indenizaccedilatildeo do dano moral com o direito positivo brasileiro (agrave luz do artigo 5ordm XXXIX da

CF1988 e do artigo 944 caput do CC2002) Disponiacutevel em

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entampsrc=rlampsrguid=i0ad818160000014941f242515dbeb166ampdocguid=I1bd8e1d0f25311d

fab6f010000000000amphitguid=I1bd8e1d0f25311dfab6f010000000000ampspos=3ampepos=3amptd

=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

104

ficar a cargo do juiz togado o estabelecimento do quantum indenizatoacuterio a tiacutetulo de

Punitive Damages

Nesse contexto caberaacute ao juiz valer-se dos meios de razoabilidade e

proporcionalidade para que possa decidir da maneira mais acertada possiacutevel evitando

situaccedilotildees teratoloacutegicas como jaacute aventadas no presente trabalho devendo sempre

fundamentar suas decisotildees Nessa linha de ideias Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

afirma que ldquoportanto natildeo haacute que se falar em vinganccedila mas apenas obediecircncia agraves

normas e princiacutepios basilares do sistema juriacutedico que indicam a necessidade de

compensaccedilatildeo e desestiacutemulo tudo mediante elaboraccedilatildeo condenatoacuteria fundamentada e

motivada []rdquo (2012 p 71)

No mesmo sentido para Carlos Alberto Bittar

[] cabe sempre ao juiz sopesar no caso concreto os fatores e as circunstacircncias que

podem influenciar no julgamento e firmada a convicccedilatildeo quanto agrave responsabilidade

do agente definir o quantum da indenizaccedilatildeo em niacutevel que atenda aos fins expostos

[compensaccedilatildeo e puniccedilatildeo] (1994 p 222)

A segunda alteraccedilatildeo necessaacuteria para que se faccedila a correta aplicaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages eacute a separaccedilatildeo no momento da prolaccedilatildeo da sentenccedila do que eacute

dano compensatoacuterio daquilo que efetivamente eacute dano punitivo nos moldes do

desenvolvido nos Estados Unidos Nesse ponto se encontra o atual equiacutevoco dos

Tribunais paacutetrios que apesar de concederem caraacuteter punitivo agrave indenizaccedilatildeo natildeo

separam de forma clara e precisa o quantum destinado ao ressarcimento da viacutetima e o

valor da indenizaccedilatildeo punitiva ficando esta sem utilidade praacutetica vez que a puniccedilatildeo

muitas vezes natildeo eacute perceptiacutevel

Concluindo Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira afirma que

diante disso importante que o juiz quando do arbitramento da indenizaccedilatildeo do

dano moral proceda com razoabilidade e clareza mencionando de forma

fundamentada as razotildees para a imputaccedilatildeo da indenizaccedilatildeo com caraacuteter

desestimulador devendo tal montante ser feito separadamente do valor da

indenizaccedilatildeo compensatoacuteria possibilitando uma maior transparecircncia e controle dos

criteacuterios utilizados pelo magistrado (2012 p 93)

Por fim a terceira e uacuteltima adequaccedilatildeo proposta pela doutrina defensora da

referida Teoria eacute quanto agrave destinaccedilatildeo do montante indenizatoacuterio a tiacutetulo de Punitive

Damages Para essa doutrina a indenizaccedilatildeo punitiva deveria ser destinada a um fundo

criado especificamente para tanto ou a uma entidade beneficente Nesses termos para

Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira

outro ponto de destaque eacute que se entende ser prudente que esse adicional advindo

da condenaccedilatildeo natildeo seja destinado agrave viacutetima mas sim em favor de estabelecimento

de beneficecircncia fazendo-se um paralelo com o jaacute disposto no paraacutegrafo uacutenico do

artigo 883 do Coacutedigo Civil e no artigo13 da Lei da Accedilatildeo Civil Puacuteblica evitando-se

inclusive a alegaccedilatildeo de enriquecimento indevido da viacutetima bem como um

possiacutevel surgimento da lsquoinduacutestria do dano moralrsquo (2012 p 93)

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

105

Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

Referecircncias

AGUIAR JUacuteNIOR Ruy Rosado de (Org) IV Jornada de Direito Civil Brasiacutelia CJF 2006

Disponiacutevel em

lthttpcolumbo2cjfjusbrportalpublicacaodownloadwsptmparquivo=1296gt

Acesso em 24 de out 2014

BITTAR Carlos Alberto Reparaccedilatildeo civil por danos morais 2 ed Satildeo Paulo Revista dos

Tribunais 1994 254p

BRASIL Superior Tribunal de Justiccedila Agravo Regimental no Recurso Especial nordm

850273BA Dje Brasiacutelia 24 ago 2010 Disponiacutevel em ltwwwstjjusbrgt Acesso em 10

out 2014

BRASIL Supremo Tribunal Federal Agravo Regimental nordm 641487 ED Dje Brasiacutelia 21

mar 2013 Disponiacutevel em ltwwwstfjusbrgt Acesso em 10 out 2014

BRASIL Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais Apelaccedilatildeo Ciacutevel nordm 1053409014071-4001

Dje Belo Horizonte 12 jul 2011 Disponiacutevel em ltwwwtjmgjusbrgt Acesso em 10 out

2014

CAHALI Yussef Said Dano Moral 2 ed rev atual e ampl Satildeo Paulo Revista dos

Tribunais 1998 720p

CAVALIERI FILHO Seacutergio Programa de responsabilidade civil 8 ed rev e ampl Satildeo

Paulo Atlas 2009 577p

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 24 ed v 7 Satildeo Paulo Saraiva

2010 706p

FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Curso de Direito Civil 6 ed v 2

Salvador JusPodivm 2012 652p

FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direito Civil teoria geral 8 ed

Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 776p

FONSECA Pedro H C Manual da responsabilidade do meacutedico Belo Horizonte DrsquoPlaacutecido

2014 359p

GAGLIANO Pablo Stolze PAMPLONA FILHO Rodolfo Novo Curso de Direito Civil

11 ed rev atual e ampl v 3 Satildeo Paulo Saraiva 2013 453p

GOMES Orlando Obrigaccedilotildees 15 ed rev e atual Rio de Janeiro Forense 2002 357p

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

107

GONCcedilALVES Carlos Roberto Direito Civil Brasileiro 3 ed rev e atual v 4 Satildeo Paulo

Saraiva 2008 535p

MILAGRES Marcelo de Oliveira VIDAL Luiacutesa Ferreira Funccedilatildeo punitiva da

responsabilidade civil da (in) admissibilidade da Pena Civil pelo Direito Brasileiro

Disponiacutevel em

lthttpwwwrevistadostribunaiscombrmafappwidgetdocumentdocguid=Iff96d1e

0568911e49aa4010000000000 Acesso em 24 de out 2014

OLIVEIRA Rodrigo Pereira Ribeiro de A Responsabilidade Civil por Dano Moral e seu

Caraacuteter Desestimulador Belo Horizonte Arraes 2012 124p

RESEDAacute Salomatildeo A aplicabilidade do punitive damages nas accedilotildees de indenizaccedilatildeo por dano

moral no ordenamento juriacutedico brasileiro Disponiacutevel em

lthttpsrepositorioufbabrribitstreamri123031SALOMC383O20RESEDC3

81pdfgt Acesso em 11 de set 2014

ROSENVALD Nelson As funccedilotildees da responsabilidade civil Satildeo Paulo Atlas 2013 231p

VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil 3 ed v 4 Satildeo Paulo Atlas 2003 245p

VIANNA Tauanna Gonccedilalves Indenizaccedilatildeo punitiva no Brasil Disponiacutevel em

lthttpwwwrevistadostribunaiscombrmafappwidgetshomepageresultListdocum

entampsrc=rlampsrguid=i0ad818150000014941f97617051ef600ampdocguid=I10e4d510bfa811e3

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=31ampcontext=78ampstartChunk=1ampendChunk=1gt Acesso em 24 de out 2014

YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

indenizaccedilatildeo do dano moral com o direito positivo brasileiro (agrave luz do artigo 5ordm XXXIX da

CF1988 e do artigo 944 caput do CC2002) Disponiacutevel em

lthttpwwwrevistadostribunaiscombrmafappwidgetshomepageresultListdocum

entampsrc=rlampsrguid=i0ad818160000014941f242515dbeb166ampdocguid=I1bd8e1d0f25311d

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=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

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Interessante trazer agrave colaccedilatildeo oportuna observaccedilatildeo realizada por Rodrigo Pereira

Ribeiro de Oliveira Diz o referido autor que a Teoria dos Punitive Damages teria mais

eficaacutecia se aplicada no Brasil do que comparativamente aos Estados Unidos local onde

mais bem se desenvolveu Assim entende tendo em vista que nos Estados Unidos

utiliza-se da cultura do seguro e do resseguro em que na praacutetica o quantum

indenizatoacuterio seraacute arcado pela seguradora No Brasil como tal mecanismo natildeo eacute

utilizado com frequecircncia o valor da condenaccedilatildeo seria efetivamente pago pelo ofensor

dando-se maior eficaacutecia agrave funccedilatildeo punitiva da Teoria Assim nos esclarece que

no direito norte-americano verifica-se a existecircncia de uma cultura do seguro e do

resseguro possibilitando que em grande parte dos casos de aplicaccedilatildeo dos punitive

damages o peso da condenaccedilatildeo na praacutetica e em uacuteltima instacircncia recaia sobre as

corporaccedilotildees seguradoras [] de modo que a rigor o caraacuteter punitivo perde seu

objetivo [] Noutro norte pelo fato de natildeo termos em nossa conduta tal praacutetica

securitaacuteria as indenizaccedilotildees por danos morais em regra satildeo efetivamente

suportadas pelo proacuteprio ofensor possibilitando assim que o caraacuteter

desestimulador possa funcionar com muito mais eficaacutecia no Brasil atingindo

diretamente o bolso dos agentes lesionadores (OLIVEIRA 2012 p 71 - 72)

Portanto essas seriam as medidas necessaacuterias a serem tomadas para que o

instituto dos Punitive Damages pudesse ser verdadeiramente aplicado no ordenamento

juriacutedico brasileiro

6 Conclusatildeo

Por todo o exposto imperioso adotar a posiccedilatildeo que mais se coaduna agrave ideia de

proteccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana esposada na Constituiccedilatildeo Federal qual seja a

que entende pela possibilidade de aplicaccedilatildeo da Teoria dos Punitive Damages no

ordenamento juriacutedico brasileiro quando do arbitramento para reparaccedilatildeo do dano

moral

Analisando-se o instituto e procedendo-se agraves necessaacuterias adequaccedilotildees resta

reconhecer que a noccedilatildeo de indenizaccedilatildeo punitiva estaacute em total consonacircncia ao que

dispotildee o Coacutedigo Civil e a nossa Carta Maior devendo portanto ser aplicada pelo

Direito brasileiro tendo-se sempre em mira a ampla proteccedilatildeo agrave viacutetima e a eficiente

puniccedilatildeo ao ofensor desestimulando comportamentos danosos e violadores de direitos

alheios

Por fim natildeo se pode olvidar que o Direito cada vez mais tem evoluiacutedo no

sentido de proteger os direitos da personalidade especialmente a dignidade da pessoa

humana e de atingir ao maacuteximo os paracircmetros de justiccedila social A aceitaccedilatildeo da Teoria

dos Punitive Damages notadamente quanto ao dano moral mostra-se como uma

importante forma de proteccedilatildeo de tais atributos resguardando-se o ofendido e toda a

sociedade vez que esta em uacuteltima anaacutelise seraacute igualmente beneficiada com a devida

puniccedilatildeo do ofensor

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

Referecircncias

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2010 706p

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Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 776p

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GAGLIANO Pablo Stolze PAMPLONA FILHO Rodolfo Novo Curso de Direito Civil

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O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

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Saraiva 2008 535p

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responsabilidade civil da (in) admissibilidade da Pena Civil pelo Direito Brasileiro

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0568911e49aa4010000000000 Acesso em 24 de out 2014

OLIVEIRA Rodrigo Pereira Ribeiro de A Responsabilidade Civil por Dano Moral e seu

Caraacuteter Desestimulador Belo Horizonte Arraes 2012 124p

RESEDAacute Salomatildeo A aplicabilidade do punitive damages nas accedilotildees de indenizaccedilatildeo por dano

moral no ordenamento juriacutedico brasileiro Disponiacutevel em

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=31ampcontext=78ampstartChunk=1ampendChunk=1gt Acesso em 24 de out 2014

YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

indenizaccedilatildeo do dano moral com o direito positivo brasileiro (agrave luz do artigo 5ordm XXXIX da

CF1988 e do artigo 944 caput do CC2002) Disponiacutevel em

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=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto

106

Referecircncias

AGUIAR JUacuteNIOR Ruy Rosado de (Org) IV Jornada de Direito Civil Brasiacutelia CJF 2006

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out 2014

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CAVALIERI FILHO Seacutergio Programa de responsabilidade civil 8 ed rev e ampl Satildeo

Paulo Atlas 2009 577p

DINIZ Maria Helena Curso de Direito Civil Brasileiro 24 ed v 7 Satildeo Paulo Saraiva

2010 706p

FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Curso de Direito Civil 6 ed v 2

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FARIAS Cristiano Chaves de ROSENVALD Nelson Direito Civil teoria geral 8 ed

Rio de Janeiro Lumen Juris 2010 776p

FONSECA Pedro H C Manual da responsabilidade do meacutedico Belo Horizonte DrsquoPlaacutecido

2014 359p

GAGLIANO Pablo Stolze PAMPLONA FILHO Rodolfo Novo Curso de Direito Civil

11 ed rev atual e ampl v 3 Satildeo Paulo Saraiva 2013 453p

GOMES Orlando Obrigaccedilotildees 15 ed rev e atual Rio de Janeiro Forense 2002 357p

O dano moral e a teoria dos Punitive Damages

107

GONCcedilALVES Carlos Roberto Direito Civil Brasileiro 3 ed rev e atual v 4 Satildeo Paulo

Saraiva 2008 535p

MILAGRES Marcelo de Oliveira VIDAL Luiacutesa Ferreira Funccedilatildeo punitiva da

responsabilidade civil da (in) admissibilidade da Pena Civil pelo Direito Brasileiro

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0568911e49aa4010000000000 Acesso em 24 de out 2014

OLIVEIRA Rodrigo Pereira Ribeiro de A Responsabilidade Civil por Dano Moral e seu

Caraacuteter Desestimulador Belo Horizonte Arraes 2012 124p

RESEDAacute Salomatildeo A aplicabilidade do punitive damages nas accedilotildees de indenizaccedilatildeo por dano

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9d90010000000000amphitguid=I10e4d510bfa811e39d90010000000000ampspos=8ampepos=8amptd

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fab6f010000000000amphitguid=I1bd8e1d0f25311dfab6f010000000000ampspos=3ampepos=3amptd

=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

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Letiacutecia Alves Ferreira Souto

107

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OLIVEIRA Rodrigo Pereira Ribeiro de A Responsabilidade Civil por Dano Moral e seu

Caraacuteter Desestimulador Belo Horizonte Arraes 2012 124p

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YOSHIKAWA Eduardo Henrique de Oliveira A Incompatibilidade do caraacuteter punitivo da

indenizaccedilatildeo do dano moral com o direito positivo brasileiro (agrave luz do artigo 5ordm XXXIX da

CF1988 e do artigo 944 caput do CC2002) Disponiacutevel em

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=31ampcontext=60ampstartChunk=1ampendChunk=1DTR2008436-n61gt Acesso em 24 de

out 2014

Letiacutecia Alves Ferreira Souto