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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
1 Professora Pedagoga PDE 2099 da Rede Estadual de Ensino do Paraná, com graduação em Pedagogia e
especialização em Psicopedagogia,atuando na Escola Estadual Agostinho Stefanello-E.F.
2 Professora Assistente da FAFIPA, Curso de Pedagogia. Mestre em Educação pela UEM.
O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO PEDAGÓGICO ESCOLAR: interações e
possibilidades
Maria Luiza Rosini1
Rita de Cássia Pizoli2
RESUMO
O presente artigo objetiva apresentar os resultados da pesquisa-ação realizada numa escola pública do noroeste do Paraná durante o desenvolvimento do programa PDE. A partir da constatação de violência, indisciplina, conflitos, baixa frequência e principalmente ausência da família foram planejadas ações para buscar a interação entre as famílias e os alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem. Após o estudo sistemático das implicações históricas que perpassam a relação família-escola na sociedade contemporânea, buscou-se realizar encontros com as famílias, cujas reflexões foram compiladas em uma cartilha pedagógica para este fim. Os resultados sinalizaram que é necessário buscar formas de adesão da família para assim qualificar a aprendizagem e garantir a continuidade entre educação familiar e escolar. A forma como deve se dar este intercâmbio e como torná-lo viável no cotidiano escolar são as principais reflexões deste trabalho que visa criar, no processo pedagógico cotidiano, meios e estratégias junto aos pais e professores, para o desenvolvimento de uma melhor interação entre Família/Escola, disponibilizando instrumentos para melhorar o desempenho acadêmico dos alunos.
Palavras-chaves: Educação Básica. Interação família-escola. Processo de ensino-
aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
De todas as espécies existentes no Planeta Terra, o homem é o que possui o
período de infância maior e consequentemente é o mais dependente ao nascer. Por
isso exige cuidados como alimentação, higienização, proteção e abrigo, além de
afetividade e calor humano. O homem não nasce homem. Não basta apenas estar
vivo para se tornar humano. O homem para se tornar humano deve ser educado.
Isto é o que o diferencia dos outros seres. Um dos princípios de Vygotsky é que o
homem transforma-se de biológico em sócio-histórico, num processo em que a
cultura é parte essencial da constituição da natureza humana.
Nesse sentido, a Educação possui um papel imprescindível. Não há como
escapar dela. Ela está em toda parte. Na rua, na escola, em casa, na igreja, no
clube. Não há uma única forma, nem um único modelo de Educação (BRANDÃO,
1981). É através dela que a criança torna seu, aquilo que a humanidade
desenvolveu ao longo da História.
As duas maiores instituições responsáveis pela Educação na
contemporaneidade são “a Família e a Escola”. São nelas que passamos boa parte
de nossas vidas. Ambas são responsáveis pela formação das novas gerações.
A família é o primeiro grupo social a qual o ser humano pertence. Ela é a
responsável pelo desenvolvimento da individualidade, pela subjetividade, da
socialização, do sentimento de pertença, além dos fundamentos das funções
psicológicas rudimentares e superiores como o raciocínio, a memória lógica, a
abstração, a capacidade de análise e síntese. Funções estas que serão
desenvolvidas e aperfeiçoadas mais tarde pela Escola. Além disso, a Escola
também tem como função básica disponibilizar para o aluno o patrimônio científico e
cultural historicamente acumulado pela humanidade.
Entretanto para compreendermos mais profundamente essas duas
instituições, família e escola, e abarcarmos verdadeiramente quais seus respectivos
papéis na educação de nossas crianças, é necessário que se faça um resgate
histórico sobre as transformações ocorridas com ambas no decorrer do tempo e da
história.
2 GÊNESES DA FAMÍLIA
O Homem, desde sua origem sempre procurou organizar-se em grupos,
buscando a proteção da espécie, a sobrevivência e o domínio da natureza. Para isso
agrupou-se em clãs ou tribos e ao longo da história foi estabelecendo leis e regras
de convivência. Dessa necessidade de organizar-se em grupo surge a Família.
Família vem do latim FAMULUS e significa escravo. IA no latim é plural. Logo,
família pode ser traduzida como “conjunto de escravo”. No minidicionário Luft (p.321)
encontraremos Família com os seguintes significados:
1. Núcleo parental, formado por pai, mãe e filhos;
2. Pessoa do mesmo sangue, parentela;
3. Linhagem, estirpe;
4. Grupo de gêneros de animais ou plantas com caracteres comuns;
5. Conjunto de tipos com as mesmas características básicas.
Em seu livro, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado,
Engels (1884), a partir dos estudos de L. H. Morgan e de anotações feitas por Karl
Max, mostra-nos a evolução da humanidade e paralelamente o desenvolvimento da
Família. Baseados no pressuposto de que, a maneira como vivem e se organizam
os homens de uma determinada época ou determinado local está fundamentado em
dois aspectos importantes: o grau de desenvolvimento do trabalho e por outro lado
da família. De acordo com os estudos de Engels (1884, p.16), a sociedade primitiva
está divida em três estágios principais de desenvolvimento, que são: Estado
Selvagem, Barbárie e a Civilização.
O primeiro estágio do desenvolvimento humano é denominado Estado
Selvagem. É o período em que predomina a apropriação dos produtos da natureza,
prontos para serem utilizados. Ela se subdivide em três fases. A Fase Inferior é o
período em que surge o ser humano na face da Terra. É o período da infância do ser
humano. Vivem parcialmente nas árvores. Colhiam frutos, nozes e raízes para
servirem como alimento. O principal progresso dessa fase é formação da linguagem
articulada. A Fase Média começa com a utilização do peixe na alimentação e com o
uso do fogo. Com isso, os homens fizeram-se independentes do clima e da
localidade e puderam se espalhar por sobre a maior parte da superfície da Terra.
Começam a usar toscos instrumentos de pedras. É a chamada Idade da Pedra. A
Fase Superior inicia com a invenção do arco e da flecha. Com isso, a caça passa ser
uma atividade costumeira. Há indícios de residência fixa em algumas aldeias e
começa a produção de instrumentos de subsistência como vasos e utensílios de
madeira e instrumentos de pedra polida (Período Neolítico), como o machado.
Todas essas invenções pressupõem grande experiência acumulada e faculdades
mentais superiores desenvolvidas.
No início desse período do desenvolvimento histórico da Humanidade não é
possível ainda falar de família, não há formado ainda um sentimento familiar. As
relações carnais eram reguladas por uma promiscuidade tolerante, isto é todas as
mulheres eram de todos os homens e todos os homens eram de todas as mulheres.
Pais e filhos, irmãos e irmãs, gerações diferentes, todos possuíam relações carnais
entre si, não havendo ainda regras ou barreiras impostas pela cultura, nem mesmo o
matrimônio ou sistema de parentesco culturalmente definidos. Com o
desenvolvimento da idéia do incesto, a relação entre pais e filhos é abolida. Surge
então, o primeiro tipo de organização familiar na História denominada de “Família
Consanguínea”.
Na fase superior deste período começa a se excluir da relação sexual irmãos
e irmãs entre si e com isso aparece a “Família Punaluana”, surgindo assim o
casamento por grupos, ou seja, os membros de um grupo casam com os de outro
grupo, mas não entre si. Nesta forma de família não se pode dizer com certeza
quem é o pai de uma criança, mas sabe-se quem é a mãe. Há a ausência do papel
paterno, pois além de não poder se estabelecer com clareza quem é o pai, os
homens saiam à procura de alimentos e as mulheres ficavam nos acampamentos
com os filhos. Com isso, só era possível estabelecer a linhagem da criança por parte
da mãe. Por causa disso, a mulher ganhou grande status e gozava de muita
liberdade.
No segundo estágio, que é denominado de Barbárie, surgem a criação do
gado e a agricultura, com o início do incremento da produção através do trabalho.
Também se subdivide em três fases. A Fase Inferior inicia com a descoberta e a
utilização da cerâmica. Na Fase Média principia-se a diferenciação de
desenvolvimento entre os diversos povos existentes devido principalmente a
domesticação e a criação de animais e o cultivo de plantas, que de acordo com as
condições naturais de cada localidade desenvolveu-se mais um ou outro. A Fase
Superior inicia com a fundição do ferro e onde há um avanço que supera todas as
outras fases juntas, com invenção de instrumentos elaborados de trabalho como
arado puxado por animais, barcos, foles de forja, do moinho a mão, da roda de
olaria, da preparação do azeite e do vinho, de carretas e carros de guerra, de
cidades amuralhadas com torres. São desse período os povos gregos da época
heroica, as tribos ítalas pouco antes da fundação de Roma, os Germanos e
Normandos.
A Família nesta fase passa por grandes evoluções. Aos poucos, o
relacionamento entre grupo se reduz a sua unidade mínima, isto é, ao par, um
homem e uma mulher, mas de maneira tal que a poligamia e a infidelidade
continuam a ser um direito dos homens. É a chamada “Família Sindiásmica”. O
homem possuía uma mulher principal, podendo ter outras mulheres. Por outro lado,
exige-se por parte das mulheres uma rigorosa fidelidade. Com isso, ao lado da
verdadeira mãe foi posto o verdadeiro pai. O vínculo conjugal, porém dissolvia-se
com facilidade tanto por uma ou por outra parte. Neste caso, os filhos pertenciam
exclusivamente à mãe.
No período de transição entre a fase média e a fase superior da barbárie
começa a surgir a “Família Monogâmica e Patriarcal”, alcançando sua plenitude na
fase da Civilização.
Enfim, no último estágio de desenvolvimento humano, chamado de
Civilização, inicia com a invenção da escrita alfabética, em que o homem amplia a
elaboração dos produtos naturais. Período da indústria e da arte.
Nessa fase do desenvolvimento, a família Monogâmica se fortalece e passa a
se basear no predomínio do homem. A finalidade da família é a procriação dos
filhos. Os laços conjugais já não podem ser rompidos. Só o homem pode fazê-lo. A
fidelidade conjugal, principalmente por parte da esposa é condição para o
reconhecimento de filhos legítimos, por isso, exige-se da mulher que guarde uma
castidade e fidelidade conjugal rigorosa. A paternidade deve ser indiscutível, pois os
filhos herdarão os bens do pai. A propriedade é passada de geração em geração.
Existe a necessidade de demarcação de território e a constituição da propriedade
privada. Como diz Engels:
A monogamia nasceu da concentração de grandes riquezas nas mesmas mãos - um homem- e do desejo de transmitir essas riquezas, por herança, aos filhos deste homem, excluídos os filhos de qualquer outro (1884, p.24).
Vale ressaltar também que de acordo com o referido autor (1884), a Monogamia
não surge como uma forma de amor entre o homem e a mulher, ou como uma forma
mais elevada do matrimônio. Pelo contrário, baseia-se em condições econômicas,
ou seja, uma forma de garantir o direito a propriedade privada. Também surge sob a
forma de escravidão, de um sexo pelo outro. A monogamia se constitui a primeira
divisão de classes, a primeira opressão de classes. A opressão do sexo masculino
em cima do sexo feminino. A monogamia foi, sem dúvida, um grande progresso
histórico, mas iniciou juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, o período
de nossa História que dura até hoje e que se constitui as bases do sistema
capitalista, onde o bem-estar de uns se dá à custa da exploração de outros. Porém a
Monogamia trouxe consigo o embrião do maior progresso moral que lhe devemos: “o
amor sexual individual moderno”, anteriormente desconhecido do mundo e que irá
se desenvolver a partir do final da Idade Média e no início da Idade Moderna.
Sintetizando as ideias colocadas até aqui, podemos afirmar que há três formas
principais de matrimônio, que correspondem aos três estágios da evolução humana.
Ao estado selvagem corresponde o matrimônio por grupo, ao período da barbárie
corresponde o casamento sindiásmico e monogamia corresponde à civilização.
Quanto à cultura greco-romana, podemos afirmar que vivenciaram o tipo de
família monogâmica e patriarcal, traduzindo-a para o cotidiano de forma bem rígida.
Entre os gregos encontramos, antes da Monogamia, mulheres que ocupavam uma
posição mais livre e de maior consideração. Nos tempos heroicos, onde predomina a
Monogamia, encontramos a mulher grega humilhada pelo predomínio dos homens e
pela concorrência das escravas. Os filhos nascidos das escravas recebiam pequena
parte da herança paterna e eram considerados homens livres. Quanto à mulher
legítima, exige-se dela que tolere a infidelidade do marido e por sua vez guarde uma
castidade e uma fidelidade conjugal rigorosa. Já o direito romano conferia ao pai o
direito de vida e morte sobre todos os que vivam sob suas ordens: esposa, filhos,
escravos. Porém a mulher era mais livre e mais considerada, além disso, ela podia
romper o vínculo matrimonial à sua vontade, tal como o homem. O maior progresso
da Monogamia se deu através dos povos germanos, onde as mulheres gozavam da
mais elevada consideração e exerciam grande influência até nos assuntos políticos
(ENGELS,1884).
Com base nos estudos de Philippe Áries (1981), podemos verificar que da
Antiguidade até a Idade Média não ocorreram grandes mudanças no formato da
Família. No século X, a família ainda não existia como sentimento, a casa era quase
que, um local público, permanentemente aberta aos visitantes. Não havia
privacidade nos cômodos, se fazia várias coisas na sala: se comia, se dançava, se
trabalhava e se recebia visitas Também não havia significado de infância, as
crianças eram tratadas como adulto em miniaturas. Era costume das famílias
enviarem seus filhos depois dos sete anos para casa de outra família, para que
aprendessem a fazer os serviços domésticos. Era muito comum esse tipo de
Educação. A Igreja e o Estado passaram a disputar a quem caberia a prerrogativa
de estabelecer o contrato nupcial. Até o final da Idade Média, o casamento
continuou sendo o que tinha sido desde o início de sua origem; um contrato firmado
pelas partes interessadas.
De acordo com Àries (1981), é a partir do século XIV que começam ocorrer
mudanças significativas na família. Mudanças essas que vão até o século XVII.
Durante esse período, as famílias passam a modificar suas relações com a criança,
substituindo a aprendizagem doméstica pela escola. As atividades da casa passam
serem desenvolvidas em locais específicos, havendo assim maior espaço para a
intimidade da família. No entanto, as mudanças ocorridas da Família Medieval para
a Família Moderna a princípio se limitaram apenas às classes pobres. Somente após
o século XIX estas mudanças passam a se estender a todas as camadas sociais,
devido principalmente à industrialização.
Com isso, a família assume novas funções e se consolida como lugar da
afetividade, o casamento se dá por escolha dos parceiros, com base no amor
romântico, há novas formulações para os papéis do homem e da mulher. Mesmo
diante desses avanços ainda restaram resquícios da família patriarcal moderna até o
século XX. Podemos considerar que as bases da família e do casamento estão
fortemente ligadas com o capitalismo e essa instituição vai mudando e se adaptando
às demandas econômicas. Até mesmo o amor é um sentimento constantemente
formatado por meio da ideologia.
No Brasil, a história da Família inicia-se no período de Colonização, onde
predomina, como na Europa, o Sistema de Família Monogâmica e Patriarcal. Este
tipo de Família é encontrado tanto entre os grandes proprietários de terra como
também entre os profissionais liberais, comerciantes e militares. Segundo Gilberto
Freire (1993), neste modelo de Família cabia ao pai o papel principal e determinante
em todas as relações entre mãe, filhos, empregados e escravos. O pai é o grande
proprietário das terras, dos bens e das pessoas que moram em suas terras. A ele
cabem todas as decisões e o destino das pessoas. Tudo é voltado para a
manutenção da propriedade privada, por isso não há preocupação com a Sociedade
ou com o Estado, nem com a formação de cidadãos. As esposas e filhas tinham que
ser dóceis e submissas. Saem pouquíssimas vezes de casa, não aparecem para as
visitas, são proibidas de estudar e casam-se cedo. Tem vários filhos. Os maridos
para as filhas são escolhidos pelos pais, sendo o critério principal de escolha, aquele
que possuísse maiores posses. Os filhos homens tinham outra função: ao mais
velho cabia herdar e administrar os bens do pai, ao segundo era destinada à carreira
eclesiástica. O terceiro deveria estudar e se tornar doutor, provavelmente médico ou
advogado (LORENSETI, 2006).
Desse modo, a Família Patriarcal era composta por um extenso grupo, cujos
membros eram formados pelo casal, seus filhos legítimos, parentes, afilhados,
agregados, escravos e até mesmo concubinas e filhos bastardos, todos abrigados
sobre o mesmo teto (BRUSCHINI, 2002).
O modelo de Família Monogâmica e Patriarcal predominou durante muito
tempo, desde os tempos da Colônia até o nascimento da República, estendendo-se
até meados do século XX. Vale ressaltar aqui, que na época dos Senhores de
Engenho e dos Barões de Café, este modelo era só predominante nas classes
dominantes. Nas classes mais pobres era comum o concubinato, o qual isentava o
homem das responsabilidades para com os filhos. Enquanto isso, os escravos eram
impedidos de formar famílias regulares.
A Família Monogâmica e patriarcal foi responsável por fortes influências na
formação social e cultural da população brasileira. Podemos citar como exemplo
dessa influência atitudes como: o machismo, a submissão da mulher, a educação
diferenciada entre meninos e meninas, o preconceito e desrespeito para com os
empregados domésticos, mesmo quando não são mais escravos.
A partir da década de 1950, de acordo com Porreca (2009), intensifica-se o
processo de modernização do País, tanto na dimensão econômica como política.
Isto gerou grandes e profundas transformações sociais e culturais, como a
concentração de renda, a pauperização de grande parte da população e o aumento
da força de trabalho infanto-juvenil. O setor da indústria dá um grande salto e passa
a ofertar produtos até então inacessíveis para a maioria da população. Amplia-se o
uso de aparelhos de televisão, rádio, telefone. O país tem um grande avanço
econômico que acaba promovendo a concentração de renda e a centralização do
capital.
Com o processo de urbanização, as grandes cidades passam a possuir uma
densidade demográfica nunca vista antes. O fenômeno do êxodo rural se acentua,
provocando mudanças na ocupação do espaço urbano, como o surgimento de
favelas, o desaparecimento da vizinhança e o inchaço populacional nas grandes
cidades.
Frente ao acentuado empobrecimento de uma grande parte da população e a
necessidade de se adquirir novos bens de consumo, surge a necessidade da
contribuição do salário da mulher, que passa então a fazer parte do mercado de
trabalho.
Todas essas mudanças acarretaram transformações não só no perfil da
família brasileira, mas como também em todo mundo ocidental. A instituição familiar
assume novas formas e contornos. O movimento feminista, a entrada da mulher no
mercado de trabalho, a mudança de valores na criação dos filhos, a invenção da
pílula anticoncepcional que separa radicalmente a sexualidade da reprodução,
quebra de tabus como a virgindade, movimentos culturais e sociais, como hippie,
punk que pregam a liberdade sexual e individual, a instituição do divórcio são
exemplos de alguns fatores que contribuíram para a modificação do perfil da família
tradicional, fazendo surgir novos “arranjos familiares”, termo utilizado pela
pesquisadora Elza Berquó (1988).
A Família Nuclear, caracterizada pela presença do pai, da mãe e dos filhos,
ainda permanece e predomina nos dias atuais, apesar do número de filhos terem
sido reduzidos consideravelmente. A quantidade de divórcios e separações
aumentou muito nos últimos anos, fazendo com que subisse o número de famílias
dirigidas por mulheres. Este fato se deve também ao aumento do número de mães
solteiras nos últimos anos. O divórcio faz surgir também as Famílias Ampliadas,
com a formação de novos casais com os filhos do antigo casamento. Outro arranjo
familiar que tem crescido muito é o de Famílias Monoparentais que se constituem
quando um dos cônjuges vive com os filhos e com outros parentes na mesma casa.
Neste tipo de família também há um predomínio das mulheres chefes de família.
Enfim, não há mais na sociedade um modelo homogêneo de família, o modelo atual
baseia-se no ideal de família preconizado na Modernidade que enfatizava o amor
romântico, o matrimônio ideal e o afeto como base familiar. Na medida em que estes
aspectos foram se ampliando, as relações tornaram-se aberta as negociações e
formas de família nunca antes imaginadas passaram a ser aceitas, como por
exemplo, casais do mesmo sexo e mães e pais solteiros.
E assim, a Família segue seu percurso histórico, resistindo e adaptando-se às
mudanças ocorridas ao longo da História Humana, necessitando sempre de um
acompanhamento e cuidados especiais por parte do Estado e da Sociedade em
geral.
3 GÊNESE DA ESCOLA
Sabemos que o surgimento da Educação é praticamente simultâneo ao
aparecimento do ser humano no Planeta Terra. Porém, a Escola como a
concebemos hoje, não é inerente ao ser humano. Assim também como, o saber
científico e sistematizado não surge com a Escola. Ele é fruto da relação do homem
com a natureza, isto é, nossos ancestrais, começaram a produzir conhecimento
quando pela primeira vez utilizaram instrumentos para facilitar seu cotidiano e
mediar sua relação com a natureza, criando símbolos para representá-los. A partir
daí, o saber não parou mais de crescer.
Na época primitiva, a Educação possuía caráter espontâneo e era voltada
para transmissão das atividades da vida prática: como caçar um animal, como
plantar, como domesticar e tratar dos animais, como produzir determinada
ferramenta. Nessa etapa do desenvolvimento humano, a transmissão do saber era
comunitária, ocorria durante o trabalho no dia-a-dia. Os homens produziam sua
existência em comum e se educavam nesse processo. É o chamado “Comunismo
Primitivo” (SAVIANI, 2007).
Porém, à medida que o homem se torna sedentário, fixando-se na terra, surge
à propriedade privada, a divisão do trabalho, e a divisão de classes: classe dos
proprietários de terra e a dos não proprietários. Os que possuem terra passam a
viver do trabalho dos que não possuem terra e dedicam-se exclusivamente ao
exercício do poder (SAVIANI, 2007). Não necessitando trabalhar, a classe
proprietária, dispõe de tempo e passa a viver no ócio. A maneira como ocupam esse
tempo de ócio é que vai fazer com que a Escola surja, pois o tempo disponível é
dedicado à Educação. Aliás, o significado de Escola vem justamente desse fato
histórico, pois a palavra Escola, de origem grega, quer dizer “lugar do ócio”
(SAVIANI, 2007)
Surgem então, duas formas de saber: o saber erudito, dominante e privilégio
de alguns, que se dá num ambiente escolar e o saber comum a todos e que se dá
no próprio processo do trabalho. Inicialmente, esse saber escolar e erudito se dava
sob a orientação de um mestre e poderia ser individualizado ou em pequenos
grupos, independentes da idade ou seriação.
É na Idade Média que se inicia o processo de separação entre a vida
cotidiana e Educação Escolar. A atividade de ensinar tornou-se especializada,
desenvolvendo-se em espaços apropriados. Praticamente, nesta época, a Educação
Escolar é quase que exclusivamente da Igreja, que ligada ao Poder, privilegiava
somente à Classe Dominante, ou seja, o conhecimento erudito era prerrogativa do
Clero e dos Nobres. Nesse período é que surgem as primeiras Universidades,
privilégio de poucos. Em quanto isso, a grande maioria continuava se educando pelo
trabalho, no processo cotidiano de produção de sua existência
No Brasil, a partir de 1549, com a vinda dos padres Jesuítas trazidos pelo
primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, foram fundadas as primeiras
escolas. A economia baseada na monocultura, era implementada principalmente
pela mão de obra escrava, vinda da África. Os Jesuítas trataram logo de erguer
Escolas para atender aos filhos dos portugueses e aos próprios irmãos, além de
catequizar os nativos, ensinando-lhes os rudimentos da Língua Portuguesa e os
padrões culturais europeus. A Família Patriarcal, por reproduzir a sociedade
aristocrática europeia, recebeu de bom grado a educação jesuítica, que era
exclusividade dos proprietários de terra e dos senhores de engenho, excluindo-se as
mulheres e os filhos primogênitos. Estes recebiam educação escolar rudimentar,
pois seriam destinados a continuar os negócios da família. Havia escolas de ensinar
a ler e escrever e o colégio, onde se realizavam estudos humanísticos, filosóficos e
principalmente teológicos. Conforme Freitag (1984) o objetivo da Escola nesse
período era o de reproduzir as relações de poder e a transmissão das ideologias
dominantes de uma sociedade escravocrata. Sendo assim, a Educação fornecida
pelos Jesuítas preenchia perfeitamente estas funções, colaborando com o domínio
da população indígena e a submissão da população escrava.
Ficou a cargo dessa ordem religiosa, praticamente a responsabilidade da
Educação durante o todo Brasil Colonial e apesar de sua expulsão, a Igreja
permaneceu controlando as instituições de ensino ainda por um bom tempo, sendo a
principal responsável pela continuação da transmissão das ideologias dominantes
(FREITAG,1984).
No Período Monárquico, começa a se configurar um sistema educacional
popular e gratuito, mas que não teve muitos avanços, pois a grande maioria da
população era e continuou por muito tempo analfabeta. São poucas as mudanças
ocorridas na sociedade nesse período. A base econômica continua sendo a
monocultura que passa da produção açucareira para a cultura cafeeira. Porém, com
o surgimento da mineração, acentua-se a presença de uma classe social
intermediária, chamada de pequena burguesia, que tem participação política ativa e
que passa a reivindicar o acesso à escola, pois vê neste fato a oportunidade de
ascensão social (ROMANELLI, 1978). Isto promove o aparecimento de escolas
técnicas, academias, escolas militares e de nível superior, passando a educação
gradativamente para instituições não confessionais. Nesse ínterim, o ensino
elementar e secundário passa a ser de responsabilidade das Províncias e o Ensino
Superior do Governo Central, fincando os municípios neutros. A primeira
Constituição promulgada em 1824 trouxe o famoso artigo 179 que dizia assim: “A
instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Embora de fato não acontecesse,
pois era dada muita importância ao Ensino Superior e a básica foi deixada de lado.
No período Republicano, a Educação Escolar passa a ser o problema
fundamental da nacionalidade, e sua importância é dada devido ao fato dela ser
instrumento de preparação profissional e meio de aperfeiçoamento individual e da
sociedade. Com a decadência da produção cafeeira causada pela crise mundial de
1929, os investimentos se deslocaram para outros setores produtivos. Com isso a
pequena burguesia se fortalece cada vez mais e os cafeicultores se veem obrigados
a dividir o poder com a nova classe emergente.
Na era Vargas, começa surgir as primeiras Leis de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional que aos poucos vão trazendo transformações e reformas
consubstanciais ao quadro da educação nacional.
Apesar de todas essas mudanças e reformas, o sistema educativo nacional
desse período, passou longe de atender as demandas da população brasileira, tanto
no aspecto quantitativo, pois muitos continuavam sem acesso à Escola e dos que
entravam, a grande maioria era excluída logo nos primeiros anos, quanto no aspecto
qualitativo, representado pela disseminação de um tipo de ensino que já não
correspondia as novas exigências surgidas coma expansão econômica e
estratificação social mais diversificada.
No final dos anos 70 e início da década de 80, alguns educadores começam a
discutir a Educação como processo histórico que deveria ver o homem como ser
social e o conhecimento como produto da atividade humana. A educação passa a
ser vista como ferramenta que precisaria proporcionar ao cidadão o mínimo
necessário para tomar consciência da situação vigente e dar condições de agir para
transformar essa situação. Mas, essas ideias não avançaram. Ao contrário, com o
progresso do capitalismo, elas foram se tornando raras, principalmente nos últimos
anos da década de 80. Acontecimentos estruturais neste período marcaram para
sempre a História do povo brasileiro tanto no aspecto econômico, político e
educacional, tais como: esvaziamento do Estado, diminuição do trabalho devido aos
limites de produção, a globalização, a dívida crescente do Estado brasileiro, redução
crescente dos gastos públicos, desregulamentação da economia, defendida por
Figueiredo e depois por Sarney, o grande aumento da pobreza e da miséria. O país
recorre aos empréstimos do FMI e do Banco Mundial. Estes, em contrapartida,
exigem medidas para aliviar a pobreza vigente, incluindo reformas educacionais, que
são vistas pela maioria como estratégias modernas, entre elas podemos destacar,
de acordo com Nagel (2000):
Prioridade na Educação básica e secundarização do Ensino
Superior, isto devido ao grande número de analfabetos da época,
porém não é discutida qual a consequência disto em longo prazo e
nem estabelecida outra explicação para esta opção.
Descentralização e a desregulamentação da Educação é visto
como positivo, pois liberta a educação dos erros de administração
centralizada, e é encarada como garantia de autonomia e maior
eficiência;
A participação da Comunidade no interior da Escola, também é
vista como positivo sinal de modernização, não é vista ou discutida a
consequente desobrigação do Estado para com a Educação. Citamos
como exemplo aqui o Programa Amigos da Escola e outros de
Voluntariado;
Investimento no Ensino a Distância, que é visto como alargamento
das oportunidades e não como mera fonte de lucro das grandes
empresas de telecomunicações;
Diminuição da reprovação escolar, que é encarada somente como
produto do processo de professores mal qualificados;
Correção de fluxo para garantir a aceleração dos estudos para
aqueles, cuja aprendizagem o Estado e a Escola não deram conta de
garantir;
A década de 90 chega e as mudanças continuam, tanto no aspecto
econômico quanto político e social, no Brasil e no mundo. Ocorrem alterações tanto
no modelo produtivo da indústria, como na forma de atuação do Estado e
principalmente na Educação. Se desde o período pós-guerra até meados da década
de 70, predomina o Estado do bem estar social, onde o governo era o único
responsável pela educação, moradia, saúde, seguridade social, controlava a
economia e era um grande empregador possuindo inúmeras empresas estatais e de
infraestrutura, com a crise do capital nos meados da década de 70 e 80, há uma
grande mudança na forma de administrar, baseada nas ideologias do
neoliberalismo, que é de forma resumida a volta do liberalismo clássico, onde o
Estado é mínimo, o mercado livre, há privatizações de empresas estatais,
flexibilização das relações trabalhistas. Essas mudanças ocasionaram grande
influência na Educação. Com o governo Fernando Henrique de Melo, a política,
inclusive a educacional continuou subordinada aos organismos internacionais e
dentro da filosofia neoliberal. O governo FHC recusa a LDB construída pelos
educadores e as mais de trinta organizações políticas, científicas e sindicais, que
reunidas no Fórum Nacional pela Defesa da Escola Pública organizaram-na. Este
projeto de lei ficou anos em tramitação no Congresso, sofreu várias modificações,
mas acabou sendo substituída pela lei Darcy Ribeiro, lei nº9394/96, que
representando os interesses do Banco Mundial, foi aprovada pelo Congresso em
dezembro de 96. Ela manteve a antiga estrutura de Ensino, mudando apenas a
nomenclatura de 1º e 2º grau para Ensino Fundamental e Ensino Médio,
respectivamente (FRIGOTTO, 2003). Porém a Educação brasileira, com esta nova
lei, continuou marcada pelo dualismo: de um lado, uma educação voltada para elite
e do outro lado para a classe trabalhadora. Isto pode ser notada quando a nova lei
divide o ensino Médio em Educação Geral e Ensino Profissionalizante e também no
Ensino Superior quando instala centros de excelência destinada a elite, com o
propósito de unir ensino e pesquisa. Outro aspecto que mostra essa dualidade é
quando a lei, no Ensino Fundamental, propõe para a rede pública um ensino rápido,
com promoção automática e formação mínima para os professores (SAVIANI, 2005).
O projeto de Educação de FHC foi baseado, tanto no nível de organização
como no nível pedagógico, nas características de mercado. Por isso, foram
substituídos objetivos cognitivos por critérios de competências e habilidades, de
empregabilidade que estão no centro dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos
mecanismos de avaliação, isto é, as competências a serem valorizadas e avaliadas
são aquelas que os empresários consideram desejáveis. A escola é vista como
empresa, o aluno como cliente e o voluntariado como questão de cidadania. Há
ênfase na descentralização, na gestão democrática (participação e autonomia) e na
avaliação institucional.
A interferência do Banco Mundial e de outros organismos internacionais como
BIRD, BID, FMI na Educação se explica pelo fato de que a base do desenvolvimento
econômico do capitalismo e neoliberalismo exige uma sociedade integrada e a
Educação é o caminho para isso. Isto ficou definido na 24ª Cepal, a reunião dos
Ministros das Finanças e Economia, em 1992, convocados pela ONU. O governo
dos anos 90 garantiu o acesso da grande maioria à Escola, mas não sua efetiva
permanência e seu sucesso nela.
Na contemporaneidade, devido à grande resistência ao neoliberalismo, surge
o Estado social-liberal. Esta nova forma de governo combina os princípios da social
democracia e do liberalismo. Na prática isto significa que o Estado fica com o
planejamento dos serviços e a execução é repassada para outros setores como
Ongs, prefeituras, escolas, sociedade civil organizada. Esta realidade está presente
na escola hoje e um exemplo disso é o dinheiro que vem direto para as Escolas.
Outro exemplo é a obrigatoriedade da formação de conselhos em todas as esferas
do governo. A implementação de projetos como “Acorda Brasil, Comunidade
solidária, Amigos da Escola, Todos pela Educação” são outros modelos dessa nova
forma de governar, onde a sociedade civil também é considerada responsável pelos
serviços sociais.
Tudo isso trouxe grandes consequências para a Educação brasileira. Para
citar uma delas, podemos mencionar o grande número de analfabetos funcionais
existentes nos dias atuais. Uma grande parte dos nossos educandos conclui a 8ª
série e até mesmo o Ensino Médio sem se apropriarem efetivamente de saberes
fundamentais como leitura, escrita, interpretação, cálculos básicos, considerados
importantes para a continuação dos estudos e a possibilidade de se construir e lutar
por uma vida melhor. Este fato é apenas um dos grandes desafios posto à Escola
nos dias presentes.
4 FAMÍLIA E ESCOLA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÕES
Como vimos os modos de produção e de educação, tanto na Sociedade, na
Família e na Escola, variam ao longo da História. De acordo com Carvalho (2004),
educar, no decorrer da História, nunca foi atribuição exclusiva dos pais. A
transmissão da cultura e a preparação para a vida adulta eram tarefas educativas
assumidas por vários indivíduos, grupos ou instituições de acordo com o momento
histórico e com o modo de produção vigente. Antes da Escola, a Educação se dava
na Comunidade e na Família. Na modernidade, a Educação Escolar tornou-se o
modo de educação predominante. Sendo ela a responsável pela educação formal e
acadêmica, sua principal função é garantir a aprendizagem de todos seus alunos
através da aplicação de um currículo composto por conhecimentos acumulados e
sistematizados historicamente pela humanidade. Esta é, em linhas gerais, a tarefa
específica da Escola. Nenhuma outra instituição tem esse papel, nem mesmo a
família deve substituí-la nesse sentido. O Estado, por sua vez precisa garantir todas
as condições necessárias para que a Escola cumpra com eficiência seu papel. Mas
por outro lado, cabe a cada cidadão e a comunidade cobrar e exigir o efetivo
empenho do Governo neste sentido.
Por sua vez, a família continua sendo o local inicial da Educação. Segundo
Kaloustian (1988), a família deve ser o lugar onde a sobrevivência e a proteção
integral de seus membros é garantida, não importando sua configuração ou situação
atual. A família é o primeiro ambiente onde as necessidades fisiológicas, de
segurança, de pertença, de autorrealização, de estima do ser humano são
atendidas. Ela oferece as bases afetivas necessárias ao desenvolvimento e bem-
estar de seus membros, contribuindo de maneira significativa para a construção da
subjetividade e da identidade pessoal.
Evidenciando o papel importante da família em todos os aspectos da vida de
seus membros, principalmente no processo de escolaridade, a legislação brasileira
tratou de legalizá-lo através de diversas Leis e Estatutos, como:
Estatuto da Criança e do Adolescente, que nos artigos 4º estabelece como
dever da família, da comunidade e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, saúde, alimentação,
educação, cultura, esporte, lazer, convivência familiar e comunitária da
criança e do adolescente. E no seu artigo 55 diz que é obrigação dos pais ou
responsáveis matricular e acompanhar seus filhos na rede regular de ensino;
Lei de Diretrizes e bases da Educação (Lei nº 9394/96) nos artigos 1º, 2º, 6º e
12 que estabelecem a educação como dever da Família e do Estado;
Plano Nacional de Educação (Lei nº 10172/2007) que define como uma das
prioridades a implantação de Conselhos Escolares e outras formas de
participação familiar para enriquecimento das oportunidades educativas e dos
recursos pedagógicos;
Partindo do pressuposto que o homem é um ser social, produzido historicamente
e que é principalmente através da educação que ele se humaniza, a aprendizagem
escolar possui um papel decisivo no desenvolvimento do ser humano e é
determinada por fatores sociais e individuais. Na Dimensão Social, de acordo com
Carvalho (2004) a educação engloba a transmissão da cultura vigente e dos
conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade. Essa dimensão
depende de vários setores e é influenciado por eles como, por exemplo, o interesse
econômico vigente. A dimensão individual constitui o desenvolvimento das Funções
Psicológicas Superiores como: memória, análise, síntese, raciocínio, formação de
habilidades e valores. A dimensão individual é subordinada ao contexto social, mas
também ao contexto familiar em que se encontra a pessoa humana. A Escola e a
Família são fontes de recursos que ajudam a criança a construir seu processo de
desenvolvimento e aprendizagem. Portanto, Família e Escola, devem caminhar
juntas, mas com seus papéis bem definidos e para isso o primeiro passo é discutir,
no espaço da comunidade escolar, a função específica e inerente de cada uma.
5 ANALISANDO O COTIDIANO ESCOLAR
Buscando respostas para questão do fidedigno papel da Família e da Escola no
processo ensino-aprendizagem e concomitantemente analisar a realidade em que
está inserida a Escola Estadual Agostinho Stefanello – E.F, realizou-se uma
pesquisa junto aos pais e ao corpo docente da Escola, fazendo-se um levantamento
das ideias sobre este tema e levantando um diagnóstico sobre a atual realidade da
Instituição.
Com os pais, o trabalho da pesquisa foi realizado através da aplicação de um
questionário para perceber-se como se dá a participação da família na vida
acadêmica dos filhos, bem como o grau de importância que dão ao processo de
escolarização e que visão possuem da Escola. O questionário foi encaminhado aos
pais através dos alunos e foi aplicado por amostragem, onde uma turma de cada
série do período da manhã e uma turma de cada série do período da tarde
responderam ao mesmo. Os dados foram tabulados e transformados em tabelas e
serviram de subsídios para análise das questões colocadas acima.
A investigação com os professores foi realizada também através da aplicação de
um questionário e cujo objetivo foi o de analisar como o professor vê a questão da
participação da família no processo de escolarização dos alunos e como esta
participação deve ocorrer. Os dados também foram tabulados e transformados em
tabelas e serviram para análise das questões colocadas aqui.
Tanto no questionário para os pais como para os professores foram elaboradas
vinte questões, sendo dezoito objetivas e duas subjetivas, pois assim os
participantes poderiam expor de maneira livre suas opiniões e pensamentos sobre o
tema. Para o corpo docente, o questionário foi entregue pessoalmente e dado um
prazo para que o devolvessem respondidos. Para a família, foi enviada a pesquisa
através dos filhos com uma carta explicando o objetivo e orientações de como
responder as questões. Em ambos os casos, os questionários foram respondidos
anonimamente, para que assim as respostas pudessem ser dadas sem
constrangimento.
Quanto à investigação realizada junto aos pais, depois da tabulação e da análise
das repostas obtidas, pode-se verificar que a grande maioria das Famílias deseja e
quer participar da vida escolar dos filhos, porém quando isso não acontece o
principal motivo é falta de tempo. Os pais saem cedo de casa e só voltam à noite. E
quando acompanham, as formas mais comuns são através de orientações,
comparecendo a Escola e verificando as tarefas, conforme mostra o gráfico abaixo
(gráficos 1 e 2):
Gráfico 1
Gráfico 1
Gráfico 2
Quase a totalidade dos pais acredita ser de extrema importância a
participação da Família na Escola, porém poucos conhecem o colegiado da
Instituição e menos ainda querem participar e se envolver com isto, pois demanda
tempo, doação e trabalho voluntário. Isto é bem claro na análise do gráfico 3.
Gráfico 3
Setenta por cento das famílias tem procurado a escola para saber sobre o
desenvolvimento do filho, principalmente através da entrega do boletim.
Gráfico 4
O que ficou muito claro é que mesmo não podendo participar ativamente da vida
escolar de seus filhos, a Família confia na Escola e o que busca nela é encontrar
boa qualidade do ensino e veem em um maior número de reuniões a possibilidade
de melhorar a interação entre ambas.
Gráfico 5
Gráfico 5
Os educadores que participaram da pesquisa deixaram claro que para eles a
participação dos pais na Escola é boa e que o motivo da ausência de
acompanhamento dos pais em relação aos estudos dos filhos se deve a falta de
interesse e comodismo, sendo que a carência de tempo por motivo de trabalho
aparece em segundo lugar. Percebe-se que para a maioria dos professores, o
trabalho e a falta de tempo não podem ser usados como desculpa para não
acompanhar os estudos dos filhos.
Gráfico 6
Há, segundo os educadores participantes da pesquisa, uma diferença
perceptível e aguda nos alunos que tem esse acompanhamento e os que não têm.
As circunstâncias que mais os professores precisam dos pais é o incentivo ao
estudo e a melhoria no comportamento e na disciplina. Para os educadores, quando
o aluno vem de casa com conceitos de limites e regras, isto facilita em muito o
processo ensino-aprendizagem.
Gráfico 7
6 UMA PROPOSTA DE INTERAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA
Uma das formas de interação existentes entre Família e Escola que vem
ganhando força nos dias atuais é a Escola para Pais. Pensando nisto e baseando-se
na experiência vivida no ano de 2008, quando a Equipe Pedagógica da Escola
organizou um programa com vários encontros para os pais de alunos que estavam
apresentando sérios problemas de aprendizagem, evasão e falta de interesse nas
atividades acadêmicas e cujo sucesso foi grandioso, pois dos onze alunos, cujos
pais foram convidados a participar, dez alunos conseguiram por mérito ser
aprovados para série seguinte é que se organizou um ciclo de palestras para os pais
através de cinco encontros, ocorridos quinzenalmente.
Em cada encontro foi discutido um tema, sendo que no primeiro, foi abordado o
tema da adolescência, suas características, seu desenvolvimento histórico, origem e
as transformações que ocorrem com a criança nessa fase. A dinâmica utilizada foi a
apresentação das ideias principais a serem discutidas, a leitura de um texto sobre o
tema abordado e a divisão em pequenos grupos para análise de questões sobre o
tema, e para finalizar uma plenária no grande grupo. No segundo encontro foi
abordado o tema “O fenômeno do adolescentrismo” que tratou de discutir os
problemas da dominação dos filhos adolescentes em relação aos pais. Na
atualidade, há um endeusamento da infância e da adolescência. Todos querem ser
jovens. Ninguém quer envelhecer. Com isso há uma decadência da autoridade
paterna e materna. Por isso há uma carência de adultos que educam e formam as
novas gerações. O trabalho deste encontro organizou-se da seguinte forma: leitura
dirigida do texto, discussão coletiva das principais ideias abordadas no texto,
aplicação de uma dinâmica onde os pais puderam responder a várias questões
ligadas ao tema. No terceiro encontro, o assunto discutido com os pais foi sobre o
sentimento de pertença que a criança e o adolescente devem experimentar, pois
este é subsídio importante para a formação de pessoas felizes e equilibradas. A
estrutura utilizada no trabalho foi a mesma dos encontros anteriores, com dinâmica
para facilitar a participação dos pais. Nesse ponto, os pais começaram a trazer
questões do cotidiano familiar para discussão, como por exemplo: É correto deixar
uma adolescente de doze anos namorar firme? O que fazer quando isto acontece?
Outros questionamentos foram surgindo naturalmente das discussões e percebeu-se
o empenho dos pais em responder as situações colocadas pelos colegas. Na quarta
etapa de trabalho com os pais, foi discutido sobre a importância de se assumir
responsabilidades, não deixando para as instituições o que é tarefa dos pais. Para
isso utilizou-se o filme “O problema não é meu”. Depois de assistir ao vídeo, os pais
comentaram o que mais lhes chamou a atenção e em seguida debateu-se vários
pontos sobre o assunto. Para finalizar as reuniões, na quinta etapa discutiu-se o
tema “Como participar da vida escolar dos filhos” e ainda a possibilidade de
continuação dos encontros no próximo ano letivo. A estrutura do encontro foi de
apresentar as principais ideias do tema em forma de slides (Power Point), depois
distribuir uma cópia para cada participante de dicas práticas de como participar da
vida escolar dos filhos e para finalizar, discussão das várias questões colocadas
sobre o tema. No final deste último encontro, fez-se uma grande confraternização,
com a participação da Direção da Escola e de toda Equipe Pedagógica da Escola.
Esta ideia partiu dos próprios participantes, demonstrando assim o estabelecimento
de um vínculo afetivo entre os mesmos.
A princípio pensou-se em convidar para participar dos encontros, os pais dos
alunos que estavam encontrando dificuldades para adaptar-se as regras da Escola,
que não possuem boa participação nas aulas e que correm o risco de abandono e
evasão escolar. Mas depois de análise da realidade, verificou-se que seria melhor
abrir também para outros pais. Então foram convidados também os pais dos alunos
de 5ª e 6ª séries, do período da manhã e da tarde. Foi enviado convite através dos
alunos e também uma ficha de inscrição. Houve cinquenta e duas inscrições. A
média de número de participantes de cada encontro girou em torno de vinte cinco.
Muitos pais que se inscreveram, nunca apareceram nas reuniões. Mas o grupo de
vinte cinco pais que iniciou, permaneceu firme até o último encontro, tendo apenas
duas desistências, sendo que uma porque o aluno transferiu-se de município. Houve
o predomínio do número de mães participantes, mas destaca-se também a
participação de vários casais, ou seja, o pai e a mãe do aluno.
A dinâmica utilizada para os encontros foi praticamente a mesma durante o
curso, o que mudou foi os temas abordados e a maneira de se discutir: os pais
foram posicionados em círculos, inicialmente foi oferecido ao grupo a ideia geral do
assunto a ser explorado, fazer a leitura geral do texto, comentar os aspectos
relevantes do texto e por fim as discussões das questões, em grupos menores,
sempre com uma dinâmica diferente,com o objetivo de fazer os pais participarem.
Depois de algum tempo de conversa, fazia-se a plenária, onde cada grupo expunha
as discussões e conclusões.
A participação dos pais foi surpreendente. Todos tiveram oportunidade de falar,
dar sua opinião e observou-se que estavam muito a vontade para colocar suas
ideias e o mais importante é que no decorrer dos encontros começaram a trazer
situações do cotidiano relacionado a educação dos filhos para o grupo discutir e
pedir a apreciação dos outros pais.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da relação família/escola ter se modificado muito nos últimos anos,
pois se antes, a família acreditava de todo na Escola, agora passa a criticar e a
cobrar mais dela, ao mesmo tempo transfere para a Escola funções que lhe são
inerentes. Por sua vez, a Escola culpa a Família pelo fracasso escolar vigente. A
interação família e escola se faz urgente e necessária. De acordo com Vasconcelos
(1994) não podemos cair nesse jogo de empurra-empurra. O que podemos fazer é
assumir com responsabilidade o nosso compromisso, buscando articulação com os
demais setores da Comunidade Escolar. Para isso, a Escola deve buscar a
participação dos pais no processo pedagógico. Mas o que se entende por
participação dos pais? Será apenas tomar parte das reuniões formais para entrega
de resultados de avaliações e ouvir informações sobre o mau comportamento dos
filhos, ajudar a organizar festas e eventos na Escola, atuar no Conselho Escolar?
Verificar e acompanhar a realização do dever de casa? Muitos podem ser os
significados da palavra participar. Destacando a importância da família no processo
pedagógico PARO (2007) evidencia:
Grande parte do trabalho do professor seria facilitado se o estudante já viesse para a Escola predisposto para o estudo e se, em casa, ele tivesse quem, convencido da importância da escolaridade, o estimulasse a esforçar-se ao máximo para aprender (2007, p.16).
Dentre todos esses significados, propomos um modelo onde os pais,
professores, direção e equipe pedagógica podem reunir-se para discutir os
problemas comuns que envolvem Família e Escola. A realidade nos mostra que a
maioria das Famílias está passando por situações difíceis, massacradas por uma
sociedade capitalista, consumista e hedonista, os pais muitas vezes se encontram
estressados e cansados pela carga de trabalho, com falta de tempo e de recursos
para acompanhar as atividades escolares dos filhos, a maioria não tem domínio dos
conteúdos científicos. Mas podemos perceber em nosso cotidiano que a maioria das
Famílias, independentes de seu arranjo, está sedenta e aberta a novas
possibilidades e novos caminhos que os ajudem a ajudar seus filhos. Com diz Paro
(2007), que se busque sempre não a participação maciça dos pais, mas que o
envolvimento dos pais que existe seja o resultado de uma afetiva abertura para a
participação e que essa participação seja favorável a um processo escolar de maior
qualidade.
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