o quebra-nozes', uma tradição natalina
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Marcelo Gomes será a grandeatração da Cisne Negro neste ano
‘O Quebra-Nozes’, umatradiçãonatalina
O gaúcho GabrielFigueredo vive naAlemanha, onde seprepara para se tornarum grande bailarino
Juliana RavelliESPECIAL PARA O ESTADO
A pergunta surge quase que au-tomaticamente no Google:“Quantas vezes O Quebra-Nozesjá foi apresentado?” Milhares,provavelmente. A resposta exa-ta, porém, difícil saber, não apa-receno site. Dasmaiores compa-nhias de dança a escolas de bair-ro, todos os anos, sempre pertodo Natal, o balé mais popular domundo revive. E há 32 anos, SãoPaulo tem um Quebra-Nozes pa-ra chamar de seu. Entre hoje edo dia 20, o Teatro Alfa recebe atradicional montagem da CisneNegro Cia. de Dança.
O renascimento anual do ba-lé parece estar envolto na mes-ma mágica que cerca a históriaque ele narra, inspirada no con-to de E. T. Hoffmann. E esseencanto pode bem ser a respos-ta para por que a obra – queestreou pela primeira vez em18 de dezembro de 1892 emSão Petersburgo, na Rússia –não para de ser remontada. “Éuma série de acertos. A música(de Tchaikovski) é um deles. Acoreografia tem de tudo, des-de o clássico puro até o folclo-re da dança russa, espanhola.O divertissement do segundoato é uma diversão mesmo”,diz Hulda Bittencourt, direto-ra artística e fundadora dacompanhia. “É época de Natal.As pessoas vão, se emocio-nam, choram, curtem.”
O Quebra-Nozes da Cisne Ne-gro nasceu como um espetácu-lo da escola, para os alunos.Mas ele acabou rendendo a Hul-da o Prêmio da Associação Pau-lista de Críticos de Arte (AP-
CA) de 1983. “Quando comecei,não fazia a menor ideia que iriadar continuidade por tantosanos nem que seria esse suces-so”, afirma. Filha de Hulda,Dany Bittencourt foi a primeiraClara da remontagem, a meni-na que ganha um boneco que-bra-nozes no Natal e sonhacom uma viagem pelo Reinodos Doces. Hoje, Dany é quemdirige os ensaios com cerca de80 bailarinos. Doze deles inte-gram a companhia durante to-do o ano. O restante é contrata-do para a temporada, após pas-sar por uma audição. “Tenhogente de Manaus ao Rio Grandedo Sul. Tenho até um médicodançando no corpo de baile”,conta Hulda.
Estrela. A cada ano, a CisneNegro se preocupa em incorpo-rar novos elementos à obra e tra-zer para os papéis de destaquegrandes nomes da dança. Destavez, Marcelo Gomes é o maiordeles. O bailarino principal doAmerican Ballet Theatre(ABT), que já havia dançado OQuebra-Nozes com a Cisne Ne-gro em 2009, estará em trêsapresentações (dias 16, 18 e 19),acompanhado por Márcia Ja-queline, primeira-bailarina doTheatro Municipal do Rio de Ja-neiro. Karen Mesquita e CíceroGomes, primeiros-solistas dacompanhia carioca, revezarãocom o casal.
Além de Marcelo, Dany men-ciona outra novidade. Para ela,o momento mais emocionantedos espetáculos será a participa-ção de 12 crianças do ProjetoCultural Revoada dos Cisnes,que atende aproximadamente
4 mil jovens do interior paulis-ta. “Elas nunca entraram emuma lanchonete. Nunca vierampara a capital. São de três cida-dezinhas, Orlândia, Miguelópo-lis e Ipuã. Imagina quando en-trarem no teatro.” As criançasserão os Anjos, que encerram oprimeiro ato.
Marcelo Gomes conta teruma relação especial com o ba-lé. Com a variação masculina, oamazonense foi premiado noPrix de Lausanne (um dos con-cursos mais importantes domundo), na Suíça, em 1996. Noano seguinte, entrou para o cor-po de baile do ABT.
“Foi o primeiro balé que vique o (Rudolf) Nureyev tinha co-reografado. A versão dele, quenão é tão tradicional, é maisdark, ficou muito na minhamente. Quando cresci mais umpouco, vi a versão da Dalal Ach-car. Foi nela que fiz Fritz (irmãode Clara) pela primeira vez noTheatro Municipal do Rio de Ja-neiro”, diz. “Para mim, foi umarevelação estar no palco com osbailarinos profissionais naque-la época. Eu deveria ter 9 ou 10anos. Eu tinha de estar ali na-quele momento, fazendo O Que-bra-Nozes. Não tinha outro lu-gar para estar.”
Para Gomes, a obra pode serdançada ao longo de toda a car-
reira de um bailarino. Hoje, eleinterpreta o Príncipe, que ence-na o ponto alto do balé – o pas-de-deux com a Fada Açucaradano segundo ato. Mas conta quejá foi de tudo: rato, boneco, oQuebra-Nozes, russo, espa-nhol, árabe.
O Quebra-Nozes é uma das ra-ras oportunidades de o públicobrasileiro conferir Gomes emcena. Ao ser questionado sobrecomo é dançar no Brasil, o baila-rino olha para cima, sorri, respi-
ra fundo e responde como quealudindo àquela mágica que fazuma obra renascer a cada ano, amágica que 12 crianças vão sen-tir quando pisarem pela primei-ra vez no palco de um grandeteatro, a mesma que a plateiaexperimenta por algumas horasao assistir a um conto de Natal.“É a melhor coisa que existe. Pa-ra mim, é como passar o ano-no-vo com a minha família. É tãoemocionante. Começo a chorare não sei por que estou choran-
do. Acho que o brasileiro seidentifica muito com essa sensa-ção de trabalhar o ano inteiro esaber que conseguiu viver maisum ano batalhando. Essa sensa-ção é o que sinto no palco.”
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Gabriel Figueredo tem talento ecarismaparaumdiasetornarpri-meiro-bailarino de uma grandecompanhia. Natural de Taquara,no Rio Grande do Sul, o bailarinode 15 anos chegaria ao Brasil trêsdiasantesda estreiada produçãoda Cisne Negro Cia. de Dança, naqual interpretará Fritz (irmão damenina Clara) e o Quebra-No-zes. É a terceira vez que participada montagem. Desde janeiro de2014, Gabriel está em Stuttgart,na Alemanha. Filho de uma arte-sã e um caminhoneiro, ganhoubolsa integral para estudar naJohn Cranko Schule.
Ele descobriu a arte ao ver asprimas dançando. Começou obalé aos 10 anos. A partir daí, omenino “elástico” destacou-serapidamente. Mudou-se com amãe para São Paulo para estudarem uma escola maior. E, em2013, ganhou o Youth AmericaGrand Prix, em Nova York. Ape-sar de tantas conquistas, em tãopouco tempo, Gabriel sabe queprecisa trabalhar duro se quiserser uma estrela. “Sinto saudade
da minha família, da minha casa,de tudo”, diz. “Eu sabia que nãoiria ser fácil, mas é o que quero.”
O bailarino se divide entre a
escola regular e as aulas e en-saios na John Cranko, entre se-gunda e sábado. Gabriel devepermanecer lá até, pelo menos,completar 18 anos, quando seforma.Depois, esperasercontra-tado pelo Stuttgart Ballet ou poroutra grande companhia. “Te-nho determinação. Quero mui-to ser um grande bailarino.” /J.R.
DançaHELOISA BORTZ/DIVULGAÇÃO
Espetáculo. Há 32 anos, o ‘Quebra-Nozes’ é montado em São Paulo, com coreografia que vai do clássico ao popular
O QUEBRA-NOZESTeatro Alfa. R. Bento Branco deAndrade Filho, 722, 5693-4000.4ª e 5ª, 21h; 6ª, 21h30; sáb., 17h,20h; dom., 15h, 19h. R$ 50/ R$110. Até 20/12.
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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 11 DE DEZEMBRO DE 2015 Caderno 2 C9