cultura literaria

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CULTURA LITERARIA Decadentismo É uma corrente literária com grande ligação ao Simbolismo e ao Impressionismo, conseqüências de igual clima sociocultural. A estética decadentista nasce de uma reacção contra o Naturalismo, numa época - o fim de século - de descrença no progresso, na felicidade humana, na inteligência, e em que se agudiza o sentimento de pessimismo, de spleen , de cepticismo, de agonismo. Caracteriza-se por um evidente cansaço da civilização, pelo tédio, pela busca de novas sensações mais fortes, conseguidas na extravagância, na morbidez, nos requintes formais. Inclina-se mais para um trabalho da imaginação, um culto da forma barroca com a criação abusiva de neologismos extravagantes. Paul Adam organiza Un petit Glossaire dos neologismos que empregavam, ao qual Eugénio de Castro vai buscar alguns termos, nomeadamente Oaristos , título da colectânea poética que implanta definitivamente o Simbolismo em Portugal. Este Simbolismo é fortemente decadentista. Reconhecendo em Baudelaire o seu precursor, o estilo decadente corresponde a um "estilo engenhoso, complicado, erudito, cheio de nuances e rebuscado, recuando sempre os limites da língua, tomando suas palavras a todos os vocabulários técnicos, tomando cores a todas as paletas, notas a todos os teclados, esforçando-se por exprimir o pensamento no que ele tem de mais inefável e a forma em seus mais vagos e mais fugidios contornos", tendendo para a observação do "homem pálido, crispado, retorcido e convulsionado pelas paixões fatídicas e o real tédio moderno", surpreendendo-o nos seus "mal-estares, as suas prostrações e suas excitações, suas neuroses e seus desesperos", e postulando a "absoluta autonomia da arte" (Théophile Gautier, prefácio a Fleurs du Mal , de Charles Baudelaire, Paris, 1868, in MORETTO, Fulvia M. L. - Caminhos do Decadentismo Francês , São Paulo, s/d, pp. 42- 45). Em Portugal, revelado depois de 1880 (atribuindo-se como marco da sua afirmação a publicação de revistas como Boémia Nova e Insubmissos ) e perdurando até aos anos vinte do novo século (em revistas como Centauro e Bizâncio ), esse sentido decadente sente-se em Antero de Quental, em Guerra Junqueiro, em Raul Brandão, no Naturalismo de Fialho de Almeida, em Alberto Osório de Castro ou António Nobre, e cruza-se com correntes como o neo- garrettismo, o simbolismo e até com as estéticas de vanguarda, como, por exemplo, o paulismo (conhecida como tentativa de aperfeiçoamento do simbolismo). Aos decadentes ligam-se os nefelibatas, os sonhadores que vogavam nas nuvens, daí resultando uma imagística e um vocabulário extravagante, mais rico e requintado, fechado, difícil, só para um escol. Max Nordau, com o seu livro Degenerescência , fomenta a adesão de Pessoa e de Luís de Montalvor ao Decadentismo, com os consequentes comentários negativos a um passado falhado e alguma euforia oferecida pela vida moderna na sua riqueza, variedade, actividade.

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Page 1: Cultura Literaria

CULTURA LITERARIA

Decadentismo

É uma corrente literária com grande ligação ao Simbolismo e ao Impressionismo, conseqüências de igual clima sociocultural.A estética decadentista nasce de uma reacção contra o Naturalismo, numa época - o fim de século - de descrença no progresso, na felicidade humana, na inteligência, e em que se agudiza o sentimento de pessimismo, de spleen , de cepticismo, de agonismo. Caracteriza-se por um evidente cansaço da civilização, pelo tédio, pela busca de novas sensações mais fortes, conseguidas na extravagância, na morbidez, nos requintes formais. Inclina-se mais para um trabalho da imaginação, um culto da forma barroca com a criação abusiva de neologismos extravagantes. Paul Adam organiza Un petit Glossaire dos neologismos que empregavam, ao qual Eugénio de Castro vai buscar alguns termos, nomeadamente Oaristos , título da colectânea poética que implanta definitivamente o Simbolismo em Portugal. Este Simbolismo é fortemente decadentista.Reconhecendo em Baudelaire o seu precursor, o estilo decadente corresponde a um "estilo engenhoso, complicado, erudito, cheio de nuances e rebuscado, recuando sempre os limites da língua, tomando suas palavras a todos os vocabulários técnicos, tomando cores a todas as paletas, notas a todos os teclados, esforçando-se por exprimir o pensamento no que ele tem de mais inefável e a forma em seus mais vagos e mais fugidios contornos", tendendo para a observação do "homem pálido, crispado, retorcido e convulsionado pelas paixões fatídicas e o real tédio moderno", surpreendendo-o nos seus "mal-estares, as suas prostrações e suas excitações, suas neuroses e seus desesperos", e postulando a "absoluta autonomia da arte" (Théophile Gautier, prefácio a Fleurs du Mal , de Charles Baudelaire, Paris, 1868, in MORETTO, Fulvia M. L. - Caminhos do Decadentismo Francês , São Paulo, s/d, pp. 42-45).Em Portugal, revelado depois de 1880 (atribuindo-se como marco da sua afirmação a publicação de revistas como Boémia Nova e Insubmissos ) e perdurando até aos anos vinte do novo século (em revistas como Centauro e Bizâncio ), esse sentido decadente sente-se em Antero de Quental, em Guerra Junqueiro, em Raul Brandão, no Naturalismo de Fialho de Almeida, em Alberto Osório de Castro ou António Nobre, e cruza-se com correntes como o neo-garrettismo, o simbolismo e até com as estéticas de vanguarda, como, por exemplo, o paulismo (conhecida como tentativa de aperfeiçoamento do simbolismo).Aos decadentes ligam-se os nefelibatas, os sonhadores que vogavam nas nuvens, daí resultando uma imagística e um vocabulário extravagante, mais rico e requintado, fechado, difícil, só para um escol. Max Nordau, com o seu livro Degenerescência , fomenta a adesão de Pessoa e de Luís de Montalvor ao Decadentismo, com os consequentes comentários negativos a um passado falhado e alguma euforia oferecida pela vida moderna na sua riqueza, variedade, actividade.

DecadentismoDecadentismo é uma corrente artística, filosófica e, principalmente, literária que teve sua origem na França nas duas últimas décadas do século XIX e se desenvolveu por quase toda Europa e alguns países da América. A denominação de decadentismo surgiu como um termo depreciativo e irônico empregado pela crítica acadêmica, mas terminou sendo adotada pelos próprios participantes do movimento.

Visão geral

Uma das melhores expressões do movimento decadentista é refletida pelo verso de Verlaine: "Eu sou o império ao fim da decadência". Precisamente Verlaine esteve durante algum tempo à frente do movimento, especialmente depois da publicação de Os poetas malditos (1884).

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O decadentismo foi a antítese do parnasianismo e de sua doutrina (inspirada no ideal clássico da "arte pela arte"), apesar de que Verlaine, um dos expoentes máximos do decadentismo, havia sido em suas origens parnasiano. A fórmula pictórica e escultórica dos parnasianos (ut pictura poesis, segundo a lição de Horácio), é substituída no decadentismo pelo ideal de uma poesia que "tende à forma de música".

O decadentismo arremete contra a moral e os costumes burgueses, pretende la evasão da realidade cotidiana, exalta o heroísmo individual e infeliz, e explora as regiões mais extremas da sensibilidade e do inconsciente.

Seu esteticismo foi acompanhado, em geral, de um exotismo e interesse por países distantes, especialmente os orientais, que exerceram grande fascinação em autores como o francés Pierre Louÿs, em sua novela "Afrodita" (1896) e em seus poemas "As canções de Bilitis" (1894). Assim como no também francês Pierre Loti ou no inglês Richard Francis Burton, explorador e tradutor de una polêmica versão de "As mil e uma noites".

Mas a máxima expressão do decadentismo é constituída pela novela "A rebours" ("Contra a corrente"), escrita em 1884 pelo francês Joris-Karl Huysmans, que é considerado um dos escritores mais rebeldes e significativos do fim de século. A novela narra o estilo de vida esquisito do duque Jean Floressas des Esseintes, que se tranca em uma casa de campo para satisfazer o propósito de "substituir a realidade pelo sonho da realidade". Este personagem se converteu em um modelo exemplar dos decadentes, de tal maneira que se consideram descendentes diretos de Des Esseintes, entre otros, personagenes como Dorian Gray, de Oscar Wilde, y Andrea Sperelli, de Gabriele D'Annunzio. "A rebours" foi definida pelo poeta inglês Arthur Symons como "o breviário do decadentismo".

Também são considerados decadentes os pós-simbolistas franceses Jean Lorrain, Madame Rachilde, Octave Mirbeau e, de certa maneira, também Auguste Villiers de L'Isle-Adam, Stéphane Mallarmé e Tristan Corbière.

A revista "Le Décadent", fundada en 1886 por Anatole Baju, serviu como veículo de expressão deste movimento.

O decadentismo na Europa

Na Inglaterra, aparecem como representantes do decadentismo as figuras de Oscar Wilde, especialmente em sua novela O retrato de Dorian Gray (1891), e seu mestre Walter Pater, que publicou uma novela considerada seminal para a sua geração, "Marius the Epicurean" (1885), além de nomes como Arthur Symons, Ernest Dowson e Lionel Johnson.

O italiano Gabriele d'Annunzio cultivou o elemento aristocrático típico do decadentismo, em sua obra "Il piacere", com seus poemas cheios de sentimento e com uma escrita rica e sugestiva.

O decadentismo na Espanha e na América Latina

Espanha e América Latina também se deixaram influenciar por esta atitude estético-literária, e toda a poesia do fim de século responde aos ideais artísticos da "arte pela arte". Assim pode ser considerado o modernismo do nicaraguense Rubén Darío e do mexicano José Juan Tablada. O decadentismo artístico foi muito mais persistente na América: Amado Nervo, Leopoldo Lugones, Mariano Azuela, César Vallejo, Horacio Quiroga e outros llenaron muchos años de la vida literaria suramericana y en ellos la nota francesa nunca estuvo ausente.

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Esta renovação estética adquiriu na Espanha matizes peculiares, e assim aparece nas obras decadentistas de Manuel Machado e da primeira fase de Juan Ramón Jiménez (en algunas obras como "Ninfeas", 1900), Francisco Villaespesa e Valle-Inclán, em especial em suas primeira obras, como seu livro de versos "Aromas de leyenda" (1907). São decadentistas ainda mal estudados os poetas Emilio Carrere e Alejandro Sawa, os novelistas Álvaro Retana, Antonio de Hoyos y Vinent e Joaquín Belda, assim como o contista peruano Clemente Palma.

Fim do decadentismo e influência posterior

Em 1890, a revista Mercure de France publicou um manifesto em defesa do simbolismo. A partir de então, a trajetória do decadentismo, entendido como movimiento, pode-se considerar terminada. Anteriormente, em setembro de 1866, um artigo publicado por Jean Moréas em Le Figaro, mencionou pela primeira vez o simbolismo, referindo-se ao "bosque dos símbolos".

As teorias do simbolismo apareceram publicadas na revista "Le symboliste", enquanto que os decadentes continuaram usando "Le décadent" como veículo para difundir suas teses. Formou-se assim a divergência entre os decadentes, complacentes experimentadores no campo dos sentidos e da linguagem, e os simbolistas, que buscam os valores absolutos da palavra e aspiram a expressar uma harmonia universal.

O decadentismo como ponto de encontro

Mais tarde, alguns críticos ampliaram o significado do termo decadente como oposto aos convencionalismos. Desta manera, o decadentismo seria, em suas origens, antiacadêmico em pintura, antipositivista em filosofia, antinaturalista em literatura. Assim, várias tendências, escolas e orientações, diversas e distantes, acabaram por confluir e encontrar-se compreendidas sob a mesma etiqueta.

Genericamente se definem como decadentes aquelas formas de arte que superam ou alteram a realidad na evocação, na analogia, na evasão, no símbolo. A lista de nomes pode incluir a Rainer Maria Rilke, Constantino Cavafis, Paul Valéry, Marcel Proust, Franz Kafka, James Joyce,Oscar Wilde, Thomas Stearns Eliot, ou mesmo movimentos de vanguarda como o surrealismo, o imagismo russo, o cubismo, ou o realismo crítico de Thomas Mann.

LiteraturaLiteratura é a arte de compor escritos artísticos, em prosa ou em verso, de acordo com princípios teóricos e práticos, o execício dessa arte ou da eloquência e poesia.[1]

A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". Em latim, literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética. Por extensão, se refere especificamente à arte ou ofício de escrever de forma artística. O termo Literatura também é usado como referência a um corpo ou um conjunto escolhido de textos como, por exemplo, a literatura médica, a literatura inglesa, literatura portuguesa, literatura japonesa etc.

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A Metamorfose

A Metamorfose (Die Verwandlung em alemão), é uma novela escrita por Franz Kafka, publicada pela primeira vez em 1915. Embora não seja sua magnum opus, veio a ser o texto mais conhecido, estudado e citado da obra de Kafka. Apesar de ter sido publicada em 1915, foi escrita em novembro de 1912, e concluída em vinte dias. Em 7 de dezembro de 1912, Kafka escrevia à sua noiva, Felice Bauer: "Minha pequena história está terminada".

Sinopse

"Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de inseto."

É deste modo que Kafka inicia a história de Gregor Samsa, um sujeito que se viu "obrigado a se tornar umcaixeiro-viajante ,que deixou de ter vida própria para suportar financeiramente todas as despesas de casa.

Numa manhã, ao acordar para o trabalho, Gregor vê que se transformou num inseto horrível com um "dorso duro e inúmeras patas". A princípio, as suas preocupações passam por pensamentos práticos relacionados com a sua metamorfose.

Depois, as preocupações passam para um estado mais psicológico e até mesmo sentimental. Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais perante a sua metamorfose. Apenas a irmã se digna a levar-lhe a alimentação, mas mesmo assim a repulsa e o medo também começam a se manifestar. A metamorfose de Gregor vai além da modificação física. É sobretudo uma alteração de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões.

Gregor passa a analisar as coisas que o rodeiam com muito mais atenção. Outra metamorfose ocorre no seio familiar: o pai volta a trabalhar, a irmã (Grete) também arranja um emprego e passam a alugar quartos na própria casa onde habitam. As atitudes dos pais perante o filho retratam ao leitor a ideia que este era apenas o "sustento" da casa. A metamorfose de Kafka não conta apenas a história de um homem que se transformou num inseto. É sobretudo uma história de alerta à sociedade e aos comportamentos humanos. Nesta história, Kafka presenteia-nos com a sua escrita sui generis, retratando o desespero do homem perante o absurdo do mundo.

Interessante perceber que em nenhum momento da obra Gregor se dá conta realmente que se transformou num inseto. Apenas observa seus novos membros, órgãos e hábitos, mas com o tempo se acomoda na nova condição sem realmente entender no que se tornara.

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A Metamorfose

por Franz Kafka

uma crítica de Alexandre Beluco

publicada em 11.06.2002

republicada em 17.08.2003

A metamorfose, de Franz Kafka, foi escrito em 1912, quando o autor contava vinte e nove anos. É um de seus poucos romances que foram finalizados e publicados, e é marcado pela sua forma peculiar de compor literatura.

A fórmula é bastante simples: Gregor Samsa acorda certa manhã, após "sonhos intranqüilos", e se encontra metamorfoseado em um inseto monstruoso. A partir daí passa a viver uma nova rotina, na qual deve permanecer em casa e à distância de qualquer visita. O trabalho, obviamente, é abandonado e seu quarto se transforma em todo o seu mundo.

Aos poucos todos se acostumam com a nova forma de Gregor, e todos convivem com ela, cada um ao seu jeito. Ao final, com a morte do grande inseto, todos se aliviam. O livro termina com a família, aliviada, reservando um dia para descanso e para passeio. Algo como um prêmio depois do calvário que foi conviver com situação tão inusitada.

O final da estória, a certa altura, é completamente previsível. Mas a leitura, parágrafo por parágrafo, página por página, é saborosa e gratificante. É como se o final fosse já conhecido, porém cada passo contivesse algo de potencialmente novo ou surpreendente.

A estória de Samsa impressiona pela alegoria associada à vida de um homem comum que exerce atividades burocráticas. O termo "kafkiano", associado a tudo que é inusitado, surgiu das situações em que Gregor aparece contemplativo, em sua nova situação, observando desde seu novo ponto de vista as pessoas e o mundo que o rodeia.

Conta-se que o autor, quando chegava em casa depois do trabalho, em sua essência um conjunto de rotinas burocráticas e burocratizantes, deitava-se no sofá da sala e comentava que se sentia como um grande inseto, referindo-se às limitações impostas ao uso de sua criatividade.

O grande inseto, deitado em sua cama, esperneava e remexia-se tentando voltar à posição natural, com as asas para cima e as pernas para baixo, na qual teria domínio de seus movimentos. O autor, em sua literatura, tentava rebelar-se contra as imposições da sociedade.

O clima mantido por Kafka antecipa as situações de outras de suas obras, em grande parte inacabadas, em que é caracterizado um ambiente de angústia e de desconcerto, atribuído por muitos ao início da era que culminaria com a ascensão de Hitler e com a Segunda Guerra Mundial.A metamorfose é uma obra de literatura fantástica na medida em que explora uma situação inusitada e que foge ao que é aceitável ou palatável. Bem que poderia ser classificada como ficção científica, mas não há explicações mais detalhadas sobre a transformação do homem em inseto. O certo é que a estória de Gregor Samsa transcende essas classificações e denuncia os mecanismos de dominação e de subjugação da mente humana.

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A Metamorfose – Franz Kafka

O texto metafórico, escrito por Kafka, faz uma crítica rigorosa à instituição familiar.

Apesar de não ser autobiográfico, muito do que se ler remete à Carta ao Pai, também escrita pelo autor, no qual

retrata o seu relacionamento com o pai.

Os conflitos, levados pela falta de aceitação da figura paterna, permeiam a obra do autor e possibilita inúmeras

reflexões. Isto ocorre, também, nos livros O Castelo, e O Processo.

Kafka surpreende e encanta pela complexidade existencial. Transforma o cotidiano em um estado surrealista, e

imprime perplexidade na reflexão do tema.

Considerada uma das obras literárias mais importantes do século vinte, o livro A Metamorfose, convida o leitor a

acompanhar os sentimentos de Gregor Samsa, caixeiro viajante, surpreendido, ao acordar, com o corpo na

forma de um inseto. Gregor, já inseto, pensava e sentia como humano, e, a sua família demonstrava

sentimentos de repulsa e desconforto com a situação.

O surrealismo escolhido por Kafka para discutir o tema, alcança objetividade clara e direta, no momento que o

leitor embarca no conceito filosófico da obra. O autor manipula o personagem, e surpreende o leitor logo na

primeira frase do texto: “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua

cama metamofoseado num inseto monstruoso”.

Kafka mostra as transformações ocorridas em função de mudanças provocadas pela orígem do dinheiro que

promovia a manutenção da família, pela imposição moral e alienação intelectual, ausência de liberdade,

sentimento de culpa, além de outros temas relacionados à humanidade.

Isolado, em seu quarto, excluído pela empresa e ignorado pela família, Gregor, sentiu, no corpo de um inseto,

os reflexo das atitudes humanas e percebeu o incômodo da submissão social.

O surrealismo, escolhido por Kafka para transgredir a sociedade, valendo-se da situação para excluir-se da

família e dos valores sociais impostos, é algo inimaginável para a época, já que o livro foi escrito em 1912. Além

dos conflitos familiares, Kafka, escolhe a forma para questionar as imposições do regime capitalista, negando-se

a trabalhar.

O leitor que enfocar o personagem como vilão em vez de vítima pode perceber a tendência da obra, na qual,

Kafka, travestido de Gregor, mostra a imposição de mudança comportamental na família, cuja sobrevivência

dependia financeiramente dele. Metamorfoseado, Gregor, liberta-se da pressão político-social e o que parece

castigo transforma-se em liberdade.

Eleger A Metamorfose como um das obras literárias mais importantes do século vinte, sem dúvida não é

exagero.