coordenador pedagogico caminhos desafios aprendizagens

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COORDENADOR PEDAGÓGICO Caminhos, desafios e aprendizagens para a prática educativa

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Artigos sobre coordenação pedagógicas, experiências compartilhadas

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  • COORDENADOR

    PEDAGGICO

    Caminhos, desafios

    e aprendizagens

    para a prtica educativa

  • COORDENADOR

    PEDAGGICO

    Caminhos, desafios e

    aprendizagens para

    a prtica educativa

    Salvador, 2012

  • SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAO,

    CULTURA, ESPORTE E LAZER SECULT

    JOO HENRIQUE DE BARRADAS CARNEIRO

    Prefeito

    JOO CARLOS BACELAR BATISTA

    Secretrio Municipal de Educao, Cultura, Esporte e Lazer

    MARLIA CASTILHO

    Subsecretria Municipal de Educao, Cultura, Esporte e Lazer

    ILNARA SAMPAIO MOURA MENEZES

    Assessora Chefe

    Kellyenne Jesus Fernandes

    Gestora do Fundo Municipal de Educao FME

    Evanilse Silva Alves

    Coordenadora Administrativa CAD

    Dilma e Silva Leal

    Coordenadora de Apoio e Gerenciamento Escolar CAGE

    Cinthia Karla Gonalves de Carvalho

    Coordenadora de Aes Socioeducativas CAS

    Gilmria Ribeiro da Cunha

    Coordenadora de Ensino e Apoio Pedaggico CENAP

    Fbio Pereira da Silva

    Coordenador de Estruturao da Rede Fsica Escolar CERE

    Edmilson Machado da Silva

    Coordenador de Esporte, Lazer e Entretenimento COEL

    Ana Paula Teles Pereira

    Luciene Costa dos Santos

    Elisa Maria de Jesus Santos

    Equipe Tcnica responsvel pelo projeto na CENAP

    AVANTE EDUCAO E MOBILIZAO SOCIAL

    Conselho Tcnico

    Maria Thereza Marclio

    Gesto Institucional

    Mnica Martins Samia

    Linha de Formao de Educadores e

    Tecnologias Educacionais

    Snia Bandeira

    Linha de Formao para Mobilizao e

    Controle Social

    Fabiane Brazileiro

    Linha de Formao para o Trabalho

    Rita Margarete Santos

    Linha de Formao de Agentes Culturais

    Andra Fernandes

    Comunicao Institucional

    Maria Clia Falco

    Administrativo Financeiro

    Material produzido no Projeto de Estruturao

    de Modelo de Formao Continuada de

    Coordenadores Pedaggicos da Rede Municipal

    de Educao de Salvador

    Mnica Martins Samia

    Coordenao do projeto

    Carla Coutinho Chaves Santos

    Fabola Margeritha Bastos

    Maria Aparecida Silveira

    Mnica Martins Samia

    Equipe de Formao

    Mnica Martins Samia

    Sistematizao e Texto - Parte I

    Maria Thereza Marclio

    Reviso Tcnica

    Clarice Valadares

    Reviso Ortogrfica

    Mila Alves

    Assistente de projeto

    KDA Design

    Projeto Grfico e diagramao

    Salvador. Secretaria Municipal da Educao, Cultura,

    Esporte e Lazer

    Coordenador pedaggico: caminhos, desafios e

    aprendizagens para a prtica educativa / Secretaria

    Municipal da Educao, Cultura, Esporte e Lazer; Avante

    Educao e Mobilizao Social. - Salvador, 2012.

    92 p.: il.

    1. Coordenadores educacionais. I. Avante Educao e

    Mobilizao Social. II. Ttulo.

    CDD 371.106

    S466c

    Jovenice Ferreira Santos Bibliotecria CRB-5/1280

  • Promover uma educao de qualidade que garanta a aprendizagem de todos os

    alunos como verdadeiro sentido da escola uma tarefa complexa que envolve

    comprometimento e parceria. Neste contexto, o coordenador pedaggico da Rede

    Municipal se constitui num profissional de extrema relevncia para garantir arti-

    culao e efetividade nas aes educativas, uma vez que tem a responsabilidade,

    junto gesto escolar, de promover, no cho da escola, um ambiente articulado e

    favorvel para que os processos de ensino e aprendizagem sejam efetivos.

    Para a SECULT o Coordenador Pedaggico o elo que afina as aes na escola. Seu

    trabalho se assemelha ao ofcio de um grande maestro que rege sua orquestra a partir

    das especificidades de cada instrumento, considera as peculiaridades de cada um e

    realiza a mediao necessria para desafiar cada elemento a emitir seu melhor som, a

    fim de garantir a construo da mais bela melodia. , portanto, a mola mestra que

    trabalha em prol de um processo educativo interdisciplinar, da melhoria da qualidade

    de ensino e efetividade da aprendizagem de todos os alunos.

    Os Coordenadores Pedaggicos, portanto, so considerados peas chave do

    processo educativo da Rede Municipal de Salvador e para fortalecer sua prtica, a

    Secretaria Municipal da Educao, Cultura, Esporte e Lazer - SECULT, em parceria

    com a AVANTE Educao e Mobilizao Social, promoveu um processo formativo

    nos anos de 2011 e 2012, com o objetivo de construir a identidade profissional dos

    coordenadores, por meio de um intenso dilogo entre teoria e prtica e a proble-

    matizao da realidade; bem como fortalecer a cultura formativa nas escolas, com

    vistas excelncia pretendida na misso institucional desta Secretaria.

    Assim, para garantir a sistematizao e memria do processo formativo, este

    documento, construdo a muitas mos, pretende registrar as principais aprendi-

    zagens construdas, estabelecendo diretrizes para a concretizao de uma poltica

    pblica de formao continuada em servio, que valoriza o dilogo e participao

    coletiva como elementos balizadores da construo e elaborao do Projeto Poltico

    Pedaggico na escola.

    No no silncio que os

    homens se fazem,

    mas na palavra, no trabalho,

    na ao-reflexo.

    Paulo Freire

    A P R E S E N T A O

  • Esta produo contempla, alm do memorial descritivo da formao continuada dos

    coordenadores pedaggicos, os aspectos gerais da organizao administrativo-

    pedaggica da SECULT, bem como os marcos legais que embasam tal estrutura.

    Por isso pretende ser um instrumento de apoio que contribua, efetivamente, para o

    labor do Coordenador Pedaggico, possibilitando intervenes prticas que

    concretizem a poltica de formao integral e incluso social do cidado estabelecida

    por esta secretaria.

    Joo Carlos Bacelar Batista

    Secretrio Municipal da Educao,

    Cultura, Esporte e Lazer

  • PREFCIO7

    PARTE I9

    CAPTULO I

    Bem vindo Rede Municipal de Salvador:

    histrico do Coordenador Pedaggico na Rede

    11

    CAPTULO II

    Modelo de Formao Continuada de Coordenadores 2011/2012

    13

    CAPTULO III

    O Sentido da Escola e a Coordenao Pedaggica

    23

    CAPTULO IV

    O Papel do Coordenador Pedaggico e suas Atribuies

    28

    CAPTULO V

    Gesto do Tempo - desafio de uma atuao focada no pedaggico

    36

    CAPTULO VI

    O Coordenador como Formador: fazer por ou fazer com?

    40

    CAPTULO VII

    Estratgias Formativas: concretizando princpios na prtica

    61

    CAPTULO VIII

    O Papel do Coordenador na construo de uma

    cultura colaborativa na escola

    71

    CAPTULO IX

    Parceria Coordenador e Gestor: elemento fundamental

    na efetivao de um ambiente de aprendizagem na escola

    78

    1. A rede municipal de ensino85

    2. A organizao administrativa da Secretaria Municipal da

    Educao, Cultura, Esporte e Lazer

    87

    3. Pressupostos pedaggicos da educao municipal88

    4. Bases legais da educao na rede municipal de Salvador91

    PARTE II83

    S U M R I O

  • Formao in loco na EM. Engenho Velho da Federao

  • Esta publicao visa sistematizar os saberes construdos pelo grupo de Coorde-

    nadores Pedaggicos, em exerccio nos anos de 2011 e 2012, que participaram do

    processo formativo oferecido pela SECULT, em parceria com a Avante Educao e

    1

    Mobilizao Social . Por intermdio da documentao desta histria formativa,

    pretende-se instrumentalizar os coordenadores, a fim de que tenham maior clareza

    de sua funo e se sintam apoiados no seu fazer.

    De forma mais detalhada, o objetivo desta publicao oferecer subsdios aos

    Coordenadores Pedaggicos na constituio da sua identidade e no desenvol-

    vimento de uma prtica que contribua para o melhor desempenho da Rede. Isso

    significa melhores indicadores relacionados aprendizagem, alunos mais vinculados

    com a escola, famlias mais participativas, professores envolvidos e grupo gestor

    fortalecido, focado no pedaggico. Mais alm, espera-se que esta publicao possa

    inspirar a conduo de polticas pblicas e decises relativas ao papel e condies de

    trabalho do coordenador na Rede.

    Como fruto do processo formativo, a primeira parte desta publicao apresentar as

    principais aprendizagens oriundas desse processo, bem como compartilhar vrios

    momentos da trajetria de tantos coordenadores pedaggicos que trilharam esse

    percurso. Ao contrrio de uma diviso segmentada, como aqui apresentada em

    captulos, por uma necessidade didtica, na formao, a histria foi sendo cons-

    truda ao longo do processo, atendendo ao ritmo e s necessidades do grupo.

    Em relao aos captulos, para dar mais clareza aos contedos da formao, no se

    buscou uma homogeneidade no formato, mas uma coerncia entre o modo como os

    contedos foram apresentados e abordados na formao. Assim, alguns tm maior

    nfase no arcabouo terico, dialogando com a prtica dos coordenadores; outros

    A Avante Educao e Mobilizao Social uma organizao no governamental fundada em 1991 e sediada em

    Salvador/BA, que tem como misso contribuir para a formao do cidado, pela educao e o desenvolvimento de

    tecnologias de interveno social, visando garantia dos direitos sociais bsicos e ao fortalecimento da sociedade civil.

    www.avante.org.br

    1

    P R E F C I O

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa7

    Eu sei de muito pouco.

    Mas tenho a meu favor

    tudo o que no sei.

    (Clarice Lispector)

  • do destaque ao processo de elaborao do contedo em si, visto que muitos deles

    foram construdos durante a formao, considerando-se a realidade da Rede e as

    demandas que emergiam.

    As referncias tericas utilizadas, em sua grande maioria, foram lidas nas formaes

    para subsidiar o dilogo. Quanto aos depoimentos, foram produzidos ao longo da

    formao, com o consentimento dos autores para publicao. Finalmente, o

    material escrito passou pelo crivo dos nove grupos constitudos, que revisaram e

    validaram seu contedo, bem como pelo Grupo Gestor, que acompanhou sua

    elaborao e deu rgua e compasso produo.

    Por fim, ao sistematizar esta experincia, to rica e significativa, podemos afirmar a

    necessidade de formar formadores em programas especficos de formao, no

    caso, os Coordenadores Pedaggicos da Rede Municipal de Salvador. A importncia

    desse aprendizado revelada ao longo da publicao.

    Boa leitura!

    Mnica Samia

    Coord. Linha de Formao de Educadores e

    Tecnologias Educacionais

    Avante Educao e Mobilizao Social - ONG

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa8

  • PARTE I

  • Encontro de Formao de Coordenadores Pedaggicos

  • C A P T U L O I

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa11

    Bem Vindo Rede Municipal de Salvador :

    Histrico do Coordenador Pedaggico na Rede

    A reflexo sobre o coordenador pedaggico na Rede Municipal de ensino de

    Salvador, assim como a importncia que este assume na construo de uma escola

    com foco na aprendizagem, surge a partir de um contexto histrico, scio-poltico,

    econmico e cultural marcado por diversas fases e mudanas.

    Tudo comeou no municpio de Salvador, com a criao da Secretaria Municipal da

    Educao e Cultura SMEC, atravs da lei n. 912, de 04 de maro de 1959. O

    cenrio era frtil para a atuao do profissional, pedagogo, inicialmente chamado de

    Inspetor de Ensino, contratado com o objetivo de fiscalizar os processos pedaggicos

    na escola, com foco em questes disciplinares e voltado para monitorar o

    aproveitamento dos alunos em relao ao desempenho nos processos avaliativos e a

    atuao do professor como transmissor de conhecimentos.

    Com o passar do tempo, mudanas tornaram-se necessrias. Para atender um

    cenrio scio-poltico e cultural mais abrangente surge, ento, na Rede Municipal de

    Salvador acompanhando uma tendncia nacional fundamentada na ideologia

    capitalista, a figura dos especialistas em educao.

    Estes profissionais eram denominados supervisores, orientadores e administradores

    educacionais e atuavam atravs de funes especficas, fomentando a busca pela

    qualidade da educao mediante aes individualizadas que, consequentemente,

    promoviam a desarticulao pedaggica, uma vez que cada tcnico era responsvel

    por um determinado setor; um cuidava do planejamento e acompanhamento do

    trabalho docente, outro tratava do desempenho acadmico do aluno e o outro, da

    gesto administrativa da escola. Isto dificultava consideravelmente a viso e atuao

    integral dos processos pedaggicos.

    A referida estrutura era pautada em pressupostos da pedagogia tecnicista, a qual

    tinha como princpio a busca pela eficincia em educar, mediante a produtividade do

    trabalho docente, assim como a garantia de uma assistncia tcnica que assegurasse

    escola a reproduo e manuteno da sociedade capitalista.

    P a incar

    io

    de oversa

    ..c n

    .

  • Assim, os especialistas em educao adentraram o municpio de Salvador com

    atribuies ligadas ao acompanhamento das aes pedaggicas, numa perspectiva

    de controle da execuo do planejamento e interpretao das polticas educacionais,

    assegurando o cumprimento dos princpios e finalidades da educao naquele

    momento histrico.

    Com o avano tecnolgico e as mudanas poltico-educacionais e econmicas, a

    Rede Municipal, tambm seguindo a tendncia da poltica educacional de mbito

    nacional, cria a funo do coordenador pedaggico como uma figura responsvel,

    por excelncia, por agregar e articular as aes educativas na escola, de forma a

    realizar um trabalho voltado tanto para o monitoramento das aes educativas e

    apoio tcnico prtica docente, bem como para promover o acompanhamento do

    processo de aprendizagem dos alunos.

    Em 2002 a SMEC, hoje SECULT, concretiza tal tendncia atravs da instituio do

    Coordenador Pedaggico, podendo, essa funo, ser exercida tanto pelo pedagogo

    especialista, quanto pelo professor escolhido pela comunidade escolar com perfil

    adequado para assumir a gesto do ensino nas unidades escolares. No entanto, os

    professores selecionados, por questes institucionais legais, no puderam continuar

    exercendo tal funo, uma vez que haviam prestado concurso pblico para o cargo

    de professores. Desta forma, o referido rgo realizou, em 2004, o primeiro

    concurso pblico para o cargo de Coordenador Pedaggico da Rede Municipal.

    Hoje, a SECULT vivencia a satisfao de ter em seu quadro funcional o coordenador

    pedaggico como mediador das aes educativas, articulador e formador de uma

    cultura que entende a escola como um espao de promoo da aprendizagem e

    cidadania de todos os alunos.

    Referncias do Captulo:

    KUENZER, A. Z. & MACHADO, L. R. S. A pedagogia tecnicista. In: MELLO, G. N. (org.).

    Escola nova, tecnicismo e educao compensatria. So Paulo: Loyola, 1982, p. 29-52.

    Segundo KUENZER e MACHADO, a pedagogia tecnicista tem sua origem na Teoria Geral

    de Administrao (TGA), sistematizada por Frederick Taylor, que apregoa a

    racionalizao do processo produtivo, por meio da fragmentao do trabalho

    separao entre os que planejam e controlam e os que executam. A Teoria Geral dos

    Sistemas configura-se como uma abordagem mais sofisticada da filosofia taylorista, ao

    propor que a eficincia do sistema deve ser assegurada pela maximizao da utilizao

    dos recursos de todos os tipos; (...) a produtividade mxima propiciada pela raciona-

    lizao do trabalho e do controle sobre ele".

    (1982, p. 39)

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa12

  • A metodologia da formao oriunda da expertise desenvolvida pela instituio

    2

    formadora que tem como fundamento a epistemologia da prtica, ou o que

    atualmente se denomina formao contnua centrada na escola, que considera as

    dimenses pessoal e profissional dos educadores e a escola como um lcus privi-

    legiado de aprendizagem, onde os professores aprendem a profisso a partir do

    dilogo entre teoria e prtica. O objetivo destas aes formativas de instaurar ou

    fortalecer a cultura reflexiva nas escolas e redes, com foco na prtica pedaggica.

    Para tanto, so realizadas atividades que tm como metodologia bsica a problema-

    tizao e a implicao dos sujeitos na sua resoluo. (Portflio Institucional, 2012)

    No caso da formao dos Coordenadores Pedaggicos da Rede Municipal, estes

    fundamentos tericos se aplicaram na medida em que o objeto central da formao

    foi a prtica destes profissionais. Essa prtica foi problematizada e, a partir dela,

    buscaram-se as teorias que ajudaram a melhor compreend-la e qualific-la.

    Ou seja, os conhecimentos construdos e utilizados pelos coordenadores da Rede

    desde 2005 foram refletidos, compartilhados, sistematizados e somados a

    outros conhecimentos construdos na formao. Desta forma, pretendeu-se

    valorizar os conhecimentos pr-existentes, alm de ampli-los e sistematiz-los.

    As aes formativas desenvolvidas so consideradas complementares, pois

    oportunizaram diferentes espaos e formas de aprendizagem. Assim, a metodologia

    se adequou realidade da Rede, por meio de uma cuidadosa etapa de diagnstico,

    em que foram considerados as demandas, os saberes produzidos e as especificidades

    deste contexto.

    A seguir so apresentadas as aes desenvolvidas e um panorama dos seus

    resultados!

    A Avante Educao e Mobilizao Social/ONG desenvolveu uma tecnologia de formao continuada

    que referncia no pas, tendo em vista os resultados alcanados e o amplo reconhecimento de sua eficcia

    no desenvolvimento profissional de educadores.

    2

    C A P T U L O I I

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa13

    Modelo de Formao Continuada

    de Coordenadores 2011/2012

    Somos transformadores de ns mesmos

    e dos lugares pequenos que, nesse mundo,

    nos couberam.

    (S-Chaves)

  • Para a formao em pauta, foi realizado um diagnstico entre os meses de novembro

    e dezembro de 2010, que envolveu anlise dos documentos da Rede relativos aos

    coordenadores; visita a 04 escolas, a fim de escutar coordenadores, gestores e pro-

    fessores por meio de entrevistas; realizao de 03 grupos focais com a participao

    de 23 coordenadores pedaggicos e representantes das Coordenadorias Regionais

    de Educao CRE; e entrevista a membros da CENAP. As categorias usadas para a

    realizao deste diagnstico foram: condies de trabalho, rotina, contedos e

    metodologia sugeridas para a formao.

    O diagnstico proporcionou uma ideia clara sobre a situao da Rede em relao aos

    coordenadores pedaggicos, ratificando a relevncia de um processo formativo que

    pudesse contribuir para o alinhamento, reflexo e fortalecimento da identidade

    destes profissionais. Havia claramente uma necessidade de viabilizar espaos forma-

    tivos para se pensar a prtica no mbito da Rede.

    O diagnstico revelou ainda questes relevantes no que tange pouca clareza ou

    mesmo distoro do papel do coordenador na Rede, conforme evidenciam os

    trechos seguintes do relatrio (2011) e depoimento:

    No foram identificadas falas significativas sobre o acompanhamento do coordenador

    nos processos de aprendizagem; os discursos reforavam o foco no ensino, apesar de a

    melhoria da qualidade da aprendizagem aparecer como um desafio.

    (Relatrio Diagnstico sobre demandas dos Coordenadores Pedaggicos da Rede

    Municipal de Salvador Avante - 2011)

    Nesse documento, tanto os coordenadores das escolas quanto os das CRE destacam

    a imagem presente na Rede da figura do coordenador como inspetor - fiscalizador.

    " preciso ter clareza por parte de todos de quais so as atribuies do coordenador."

    No basta dizer: No desta forma; preciso ajudar a descobrir.

    A partir dos dados do diagnstico, foi possvel elaborar um grfico com as principais

    demandas dos coordenadores e, a partir delas, montar o Plano de Formao,

    constitudo pelas estratgias formativas e pelos contedos j analisados e

    selecionados.

    Dos contedos de formao indicados no diagnstico, trs tiveram destaque,

    conforme grfico e mereceram especial ateno ao longo da formao:

    Funo e atribuies do coordenador pedaggico da Rede

    Atividade Complementar planejamento e desenvolvimento;

    Estabelecimento de metas/Planos de Ao

    AES DE

    DIAGNSTICO

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa14

  • As demais temticas tambm foram amplamente abordadas nos encontros

    de formao:

    Foco na aprendizagem

    Gesto do tempo

    Cultura colaborativa

    Parceria entre coordenador e gestor

    Coordenador como formador

    Como possvel perceber, o foco da formao foi o fortalecimento da constituio da

    identidade dos coordenadores pedaggicos, objetivo este considerado alcanado

    pelos resultados e depoimentos que sero apresentados ao longo desta publicao.

    Segundo Mnica Samia, coordenadora e formadora do projeto, esta experincia

    to intensa e mobilizadora, proporcionou muitas aprendizagens relativas ao papel do

    coordenador no mbito da Rede, e isto foi possvel porque, por meio dela, estes

    profissionais se encontraram. Estes encontros, mediados pela equipe da Avante,

    possibilitaram uma rica troca entre profissionais de uma mesma Rede que, at ento,

    no tinham um espao regular de interlocuo, de escuta, de problematizao e de

    crescimento. A ideia de Rede se fortaleceu de uma forma muito significativa, porque

    se descobriu o quanto o outro pode ser parceiro e pode ajudar a construir caminhos.

    Hoje possvel afirmar que h um grupo de coordenadores pedaggicos da Rede,

    porque partilharam uma histria que vai ser contada e documentada!

    0 5 10 15 20 25 30 35

    AC- Planejamento e desenvolvimento

    Avaliao

    Condies de trabalho

    Dirios de classe

    Dificuldade de aprendizagem (como intervir)

    Estabelecimento de Metas / Plano de Ao

    Formao continuada para o professor

    Funo e Atribuies

    Gerenciamento do tempo

    Incluso

    Indisciplina

    Metodologia de Ensino

    Pedagogia por projetos

    PPP

    Relacionamento do Coordenador

    (gestor x coordenador / professor x coordenador /

    professor x aluno / gestor x professor)

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa15

    GRFICO

    Demandas dos

    Coordenadores

    Pedaggicos

  • Antes de terem incio as aes formativas regulares, foi realizado um Seminrio de

    Mobilizao para gestores e coordenadores, com vistas a apresentar a proposta de

    formao, bem como mobilizar o grupo para a necessidade de se instaurar um

    espao de reflexo sobre o papel do coordenador pedaggico e de suas

    possibilidades de interveno para a melhoria na qualidade da educao no

    municpio. Este processo de implicao se deu a partir de estratgias de mobilizao

    e reflexo da realidade da Rede e das necessidades de interveno para a melhoria da

    qualidade do atendimento.

    Estes encontros ocorreram entre os meses de maro de 2011 e junho de 2012, com

    regularidade mensal e 4 horas de durao por encontro. Os coordenadores foram

    divididos em grupos e tiveram a oportunidade de participar de atividades formativas

    com o intuito de:

    Refletir sobre o papel do coordenador pedaggico e suas aes, alinhando

    concepes e prticas;

    Garantir um espao para anlise, troca e sistematizao da prtica de coorde-

    nao pedaggica nas escolas;

    Apoiar a equipe de coordenadores nas aes que realizam junto aos

    professores;

    Instrumentalizar os coordenadores com os aportes terico/prticos necessrios

    para o exerccio da sua funo.

    Os encontros ocorreram em forma de oficinas formativas. Neles foram abordadas

    problemticas especficas da atuao dos coordenadores na Rede, bem como

    aprofundamento dos aportes tericos. A reflexo sobre a prtica foi a tnica dos

    encontros, proporcionando uma imerso nas questes especficas da Rede, bem

    como uma possibilidade de dialogar com autores e fazeres diversos, que

    promoveram a ampliao do repertrio dos coordenadores e de suas referncias,

    tanto tericas quanto prticas. o que conta a coordenadora Karina:

    As mudanas que aconteceram na minha prtica foram por conta da reflexo sobre ela,

    tendo como foco a aprendizagem dos alunos e dos professores, e do meu papel como

    coordenadora pedaggica, refletindo e retroalimentando a minha funo. O foco

    na aprendizagem de fundamental relevncia para a construo de um perfil

    profissional. para mim, um recomeo!

    (Depoimento de Ana Karina Proencia Akkari, CMEI Eduardo Jos dos Santos)

    AES

    FORMATIVAS

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa16

    Encontros de

    Formao de

    Coordenadores

  • As tematizaes de prticas de coordenao, que ocorreram ao longo do processo

    formativo, possibilitaram que os coordenadores exercitassem a reflexo, o olhar

    distanciado, o cuidado com o outro, e ampliassem suas possibilidades de atuao.

    Alm disso, o compartilhamento das prticas da prpria Rede criou um novo nimo

    nos coordenadores que, mesmo diante de tantos desafios, implicaram-se na busca

    de caminhos para uma atuao mais coerente e eficaz.

    O depoimento da coordenadora Maria das Graas A. Bastos, da Escola Municipal

    Aristides Novis, nos ajuda a visualizar como foi esse processo:

    As colegas e a professora validaram a minha prxis: foi um momento de muita alegria.

    Eu tinha conscincia da minha proposta de formao continuada para os professores,

    mas a formao sistematizou e contribuiu com mais conhecimentos, estratgias e

    recursos para esse desempenho. O mais importante e ao mesmo tempo difcil foi fazer a

    equipe pedaggica refletir a sua prtica e desejar sair da zona de conforto. No incio

    pensei que no daria conta, mas j comeo a me apropriar desse movimento. Tem at

    um sabor de quero mais, pelos desafios e desconstruo que enfrentaremos. Aprendi

    com a formadora, lendo nas entrelinhas das suas intervenes para conosco, e comecei

    a praticar na escola.

    As demais temticas tambm foram amplamente abordadas nos encontros de

    formao:

    Foco na aprendizagem

    Gesto do tempo

    Cultura colaborativa

    Parceria entre coordenador e gestor

    Coordenador como formador

    A cada ms foram realizadas visitas formativas em escolas da Rede. Juntamente com

    a formadora, cerca de 4 a 7 coordenadores tambm participavam da visita, criando,

    assim, um espao formativo em rede. Aps uma visita s dependncias da instituio

    para conhecimento da realidade, eram realizados momentos de formao. No

    primeiro momento, o coordenador da escola compartilhava experincias que, a seu

    ver, eram consideradas bem-sucedidas, a fim de realizar uma troca com os demais

    coordenadores. No segundo momento, compartilhava alguma situao-problema,

    previamente definida por ele, no intuito de ser apoiado pelos colegas e a formadora.

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa17

    Formao

    in loco

    SAIBA MAIS

    ESTRATGIAS

    FORMATIVAS:

    concretizando

    princpios na prtica

    CAPTULO VII

  • Objetivos:

    Instaurar espaos de formao no lcus de trabalho dos coordenadores, a fim

    de possibilitar uma reflexo sobre questes especficas de cada realidade;

    Coletar subsdios para os encontros de formao, atravs de um contato direto

    com a rotina dos coordenadores nas escolas;

    Fomentar uma atitude cooperativa e articulada entre os coordenadores da Rede

    e promover aprendizagens a partir da troca de experincias.

    O trecho abaixo do relato da formadora Carla Chaves revelador de como ocorreu a

    dinmica dos encontros:

    "A coordenadora nos acolheu na Biblioteca da Escola, espao de tamanho reduzido,

    contudo bem organizado para a sua finalidade. A princpio, quero destacar a qualidade

    dos livros e materiais de literatura disponveis. Para fazer bom uso deste material, a

    coordenadora comeou compartilhando uma experincia bem sucedida, o Projeto de

    Leitura Toque de Ler inspirado na ideia toque de recolher. Segundo ela, se pode-

    mos fazer um toque para recolher as pessoas, que se faa para o recolhimento para a

    leitura. O Projeto bastante interessante em seu propsito: deixar que os alunos

    tenham acesso aos mais diversos tipos de leitura, adequados para sua faixa etria,

    estimulando a curiosidade, a expectativa, o mistrio e o desejo de ver o que existe nos

    livros....Para isto, foi criada o que chamou de MALA PANDORA itinerante. Nesta

    mala encontram-se desde os maravilhosos livros cedidos pela Prefeitura e outros

    gneros como revistinhas, lbuns, revistas informativas, jornais, etc, tudo disposio

    das crianas. Esta Mala Literria itinerante fica em cada sala de aula durante uma

    semana e existe um acompanhamento dos professores sobre o que fazer durante este

    espao de tempo. A discusso sobre esta proposta foi muito rica, inclusive porque a

    coordenadora apaixonada pelo que faz , e isto fica declarado em sua fala!

    No segundo momento do encontro refletimos sobre a demanda trazida pela

    coordenadora sobre a aluna que no l e no escreve. Iniciamos por analisar o seu

    material, produzido pela aluna na escola (caderno de atividades). Para a minha surpresa

    esta aluna tem um caderno lindo!!!!! Totalmente organizado, letra impecvel, com as

    correes feitas pela professora e por ela mesma, de maneira bem organizada e com

    uma apresentao de caligrafia equivalente a uma aluna do 5 ano! Quando

    discutamos sobre como esta aluna produziu este material, a coordenadora confirmou

    que a aluna era uma excelente copista, mas que ao pedir que lesse o que escreveu a

    aluna no sabia realizar nenhum nvel de leitura, tampouco de escrita. Partimos ento

    para uma questo indispensvel, centrada em verificar em que nvel de escrita a aluna se

    encontra, o que nunca tinha sido verificado por esta Escola. Dialogamos que este era o

    primeiro ponto a ser cuidado para da em diante realizar intervenes com vistas a

    apoi-la no processo de alfabetizao. A coordenadora informou que acataria as

    sugestes. Sugeri a ela que fizesse parcerias com as professoras alfabetizadoras de sua

    Escola e me coloquei disponvel para, atravs de e-mails, trocarmos ideias."

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa18

  • Em outra visita, a formadora explicita:

    Diante das etapas de reflexo que percorremos nesta formao in loco, pude observar

    que conseguimos estruturar um bom caminho na direo ao tratamento diante do

    problema levantado. Comeamos analisando o problema sob diversos pontos de vista,

    em seguida nos alimentamos de aspectos conceituais que nos permitiram entender

    melhor o que podemos fazer e conclumos com possibilidades sobre como fazer.

    Acredito que foram plantadas boas sementes!

    (Carla Chaves formadora da Avante em visita EM Clemilda Andrade)

    Em termos de resultado, esta foi uma ao muito validada pelos coordenadores

    participantes. Isto ocorreu principalmente porque este tipo de situao

    proporcionou a troca de experincias e criou um ambiente colaborativo, onde todos

    tiveram a oportunidade de contribuir para a resoluo dos desafios apresentados,

    bem como aprender com a experincia dos colegas. Perceber as semelhanas dos

    problemas enfrentados, as diferentes formas de resoluo e as alternativas

    encontradas, foram meios potentes de ampliar o repertrio dos coordenadores,

    fortalecendo os laos de grupo e a noo de pertencimento Rede.

    Com a palavra, a coordenadora pedaggica:

    O encontro foi bastante produtivo, oportunizando compartilhar experincias e expor

    as inquietaes. Foram validadas as sugestes apresentadas pelo grupo no que se refere

    aos encontros de formao, bem como os esclarecimentos prestados pela formadora

    Fabola Bastos acerca de como poderamos concretizar as aes para as quais

    necessitamos de apoio. Outro ponto bastante significativo foi poder ouvir o

    depoimento de colegas sobre suas prticas, o que serve de termmetro e orientao

    mesmo e possibilitou refletir sobre as aes desenvolvidas na escola e orientar um

    possvel refazer das atividades.

    (Joselice Bastos, Coord. Pedaggica, Escola Municipal Novo Marotinho)

    Mas tem gestor querendo falar tambm:

    (...) A princpio, fiquei inquieta com essa visita; logo aps fui buscar estratgias para

    melhorar meu discurso com os professores, com embasamento terico e situaes

    prticas que os levassem a refletir sobre o seu papel. J podemos sentir mudanas na

    postura dos professores, estamos caminhando! O nvel das nossas discusses hoje

    outro, temos liberdade de discutir sobre o trabalho com crianas de 0 a 3 anos, e o mais

    importante que ns (gestora e coordenadora) estamos conseguindo contagiar o

    nosso grupo, que hoje sente o desejo de buscar e fazer diferente; estamos promovendo

    grupos de estudos em nossas reunies pedaggicas. Estamos vendo tambm

    resultados dessas discusses na prtica. Entendemos que possvel desenvolver um

    trabalho coerente com essa faixa etria, adequando espaos e utilizando de forma

    correta os recursos que temos nossa disposio.

    (Cludia Requio Santos Oliveira - Gestora do CMEI Yolanda Pires)

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa19

  • E a coordenadora pedaggica do CMEI complementa:

    As mudanas que ocorrem em minha prtica so resultado dessa formao, que para

    mim no deveria ser interrompida. Estamos conseguindo melhorar as relaes no CMEI

    e isto est refletindo no trabalho em grupo, juntamente com a gesto, coordenao e

    nossos professores. Esta formao transformou meu olhar sobre o ato de coordenar.

    (Denise de Santana Rocha-Coordenadora pedaggica CMEI Yolanda Pires)

    Como j consenso entre os estudiosos e pesquisadores da rea de formao, o

    desenvolvimento profissional se d nos mbitos pessoal e profissional, mas tambm

    no mbito institucional. Isto significa que, em qualquer processo formativo,

    necessrio envolver as lideranas institucionais, a fim de que se crie um ambiente ou

    uma cultura que acolha e oferea as condies para que as aprendizagens se

    efetivem em aes. Assim, no contexto desse projeto, foi estratgico mobilizar e

    envolver os gestores da Rede para que, a par do percurso formativo dos coordena-

    dores, pudessem consolidar a parceria com esses profissionais, compreendendo

    melhor suas atribuies, suas dificuldades e, principalmente, o foco do seu trabalho,

    com vistas a apoi-los na consolidao de uma rotina voltada para as questes

    pedaggicas. Isto se deu por meio de encontros sistemticos, com durao de 3

    horas cada. Nesses encontros, foram partilhadas as principais aprendizagens cons-

    trudas, bem como algumas prticas de coordenadores, que eram representativas do

    dilogo entre teoria e prtica que, a todo tempo, era realizado na formao.

    Alm disso, esse contato sistemtico com os gestores foi essencial como momento de

    escuta e de compartilhamento de experincias. Questionados sobre qual seu papel

    para o xito do projeto de formao dos coordenadores, a diretora Tatiana Botelho,

    do CMEI Paroquial de Santana sintetizou a opinio de muitos dos seus colegas:

    O gestor, enquanto lder e articulador do espao escolar tem um papel fundamental,

    pois ele precisa dar apoio e agir conjuntamente para que este projeto siga e alcance seus

    objetivos, permitindo o espao formador necessrio para seus coordenadores. Tambm

    preciso saber o teor desse projeto para validar o trabalho de formao, melhorando o

    processo de aprendizagem.

    Essa iniciativa foi muito validada por ambas as partes e se mostrou estratgica no que

    se refere execuo de aes articuladas. Mais do que quantidade de formao, os

    depoimentos sugerem a importncia de qualidade e articulao entre elas, para que

    haja uma organicidade e viso sistmica da escola e dos papis de cada um para a

    promoo de um ambiente de aprendizagem para todos.

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa20

    Encontros de

    Mobilizao

    de Gestores

  • O grupo gestor nasceu da necessidade de o processo formativo ser pensado e

    planejado da forma mais democrtica e participativa possvel. O diagnstico

    realizado j indicava caminhos muito claros a serem percorridos, mas era importante

    monitor-los e, ainda mais, conhecer as nuances da Rede, sua histria, os

    documentos norteadores e a trajetria j percorrida pelos coordenadores at ento.

    Assim, uma vez por ms, um grupo de cerca de doze profissionais um represen-

    tante de cada turma, somando 09 coordenadores e 03 representantes da CENAP - se

    reuniam para refletir sobre a formao, monitorar o processo de escrita deste docu-

    mento e atualizar a equipe de formadores sobre a trajetria da Rede, concernente a

    cada tema abordado. Muitos alinhamentos foram realizados, muitas problemticas

    foram tematizadas e, assim, o caminho foi cuidadosamente percorrido, com o

    cuidado e o rigor necessrios a to complexa empreitada.

    A equipe da CENAP nos ajuda a contar essa histria:

    "A formao dos coordenadores pedaggicos da Rede municipal foi uma ao sonhada

    e gestada pela CENAP com o objetivo de fortalecer a prtica dos profissionais que so

    agentes de transformao da prtica educativa em nossas escolas, em articulao com

    os demais membros da equipe pedaggica. A reflexo sobre a complexidade que

    envolve a ao coordenadora, nos fez buscar parceria com uma Organizao que tem

    como princpio institucional construir conhecimento mediante a tematizao da

    prtica, do exerccio do dilogo e constante troca de experincias.

    Hoje temos a satisfao de construir um processo formativo completamente

    democrtico e pautado na realidade dos nossos educadores, constatando que isto foi o

    grande diferencial deste projeto. As discusses realizadas no grupo de trabalho (GT)

    foram momentos de crescimento pessoal e profissional que fortaleceram o

    planejamento e os caminhos da formao, uma vez que se constituiu num espao de

    reflexo e exerccio pleno de gesto democrtica e cidadania. Assim, percebemos que

    esta ao formativa foi apenas o comeo de uma longa caminhada... "

    (Equipe da CENAP)

    E quanto aos resultados?

    Certamente h muitas nuances quando se trata de resultados! Estes esto vinculados

    a mltiplos fatores, desde a assiduidade nos encontros, passando pela abertura

    reflexo e aprendizagem, disposio para a mudana, afinidade com as temticas e

    crena nelas; enfim, fatores ligados a um processo de formao humana que,

    mesmo coletivo, sempre ser singular.

    Entretanto, possvel afirmar, pela anlise minuciosa das avaliaes realizadas ao

    longo de todo o processo, que muitas aprendizagens foram construdas, que h

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa21

    Grupo Gestor

    Resultados

  • maior clareza sobre o papel do coordenador, que o sentimento de Rede foi

    fortalecido, que a importncia da relao parceira entre coordenador gestor est

    consolidada, que as condies de trabalho para o coordenador precisam avanar

    muito, e, principalmente, que h na Rede uma experincia acumulada muito

    significativa que deve ser reconhecida, valorizada e partilhada.

    Ademais, o resultado mais importante a sensao clara que muito ainda h de se

    caminhar, mas que cada passo importante. Certamente o grupo est mais maduro,

    consciente e capaz de continuar o caminho, consolidando os espaos de interlocuo,

    formao e cuidado, to necessrios efetividade do trabalho do coordenador.

    A seguir, alguns depoimentos que ilustram o percurso e seus resultados:

    Como uma atitude poltica , antes de tudo, a habilidade no trato das questes

    humanas, vi na AVANTE esse respeitoso jeito de existir. Quando esta organizao iniciou

    o planejamento da Formao para o Coordenador, fez questo de ouvir os implicados

    na atividade, com objetivo de montar um trabalho que se torne o desejado pelos

    profissionais e estes se sintam satisfeitos com as respostas ao final do programa.

    Quando efetivamente iniciamos os encontros de formao, percebemos que o espao

    aberto era muito bom. Instigante, reflexivo, repleto de responsabilidades e aberto ao

    acolhimento. Ento, teorias, dialogicidade (para lembrar Freire), relatos de experincias

    e anlise de casos, visitas s unidades abertas a colegas para conhecerem outras

    realidades, ao/reflexo/ao em todo momento, como tambm a melhor das

    atividades: o intercmbio entre os formadores e os gestores (diretores das escolas),

    construindo, para eles, uma nova maneira de olhar o coordenador pedaggico.

    Estratgia que mais beneficiou a todos, por possibilitar aos diretores entrarem em

    contato com o que estava sendo trabalhado na formao do coordenador e dando-lhes

    o conhecimento de quem esse novo profissional dentro da escola. Muitos resultados

    so esperados com esse aprendizado. Muitos impasses ainda sero criados, pois, o

    humano modifica-se e modificam-se as instituies. A isso chamamos avano!

    (Maria Eneuma G. de Freitas Escola Municipal. Maria Constana)

    Que pena que acabou... e acabou com gosto de quero mais! O melhor da formao foi

    ter me sentido de fato acolhida pela Rede, pois quando entrei, no final de 2007, me

    senti perdida num oceano imenso, cheio de peculiaridades e de cobranas; como se j

    tivesse navegado por ele h muito tempo... Foi muito bom, pois me descobri, me

    analisei e me exigi bastante, pois creio que a escola que trabalho deve (e trabalho para

    isso), ser o ideal para que um filho meu estude.

    (Adriana Normandia dos Santos, da EM Eng. Gilberto Pires Marinho)

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa22

  • Para saber que caminho seguir, preciso saber

    aonde se quer chegar: qual o sentido da escola?

    Alice perguntou:

    - Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?

    - Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.

    - Preocupa-me pouco aonde ir. - disse Alice.

    - Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas. - replicou o gato.

    (Lewis Carrol - em Alice no Pas das Maravilhas)

    C A P T U L O I I I

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa23

    O Sentido da Escola e a Coordenao Pedaggica

    Esta foi a afirmao que orientou a reflexo inicial, o processo formativo e a posterior

    definio do papel dos coordenadores pedaggicos da Rede Municipal de Salvador.

    No seria possvel definir esse papel sem antes pensar no contexto em que esse

    profissional est inserido: a escola.

    Assim, nos primeiros momentos do processo formativo foi necessrio pensar sobre o

    ambiente e o sentido da escola, para depois, tendo maior clareza desta questo,

    revisitar e definir as atribuies desse profissional na Rede. Afinal, a identidade

    profissional dos coordenadores no esttica, como j vimos antes, mas est

    condicionada a um tempo histrico, geogrfico e paradigmtico, que determinam o

    que se espera desse profissional e da prpria escola.

    Ento vamos conhecer o caminho trilhado pelo grupo, mediados pela seguinte

    reflexo:

    QUAL O SENTIDO DA ESCOLA?

    Tendo como referncia algumas pesquisas recentes que indicam caminhos

    para uma educao com bons resultados, o grupo de coordenadores

    analisou que, das muitas funes que a escola exerce, como seu papel

    socializador, de formao do sujeito crtico, dentre outras, um ponto se

    destacou nessa etapa da formao:

    O sentido da escola a aprendizagem!

    O caminho que devemos

    trilhar depende do lugar aonde

    queremos chegar.

  • 3Essas pesquisas, realizadas pelo UNICEF, em parceria com o MEC , INEP e UNDIME ,

    revelam caminhos trilhados por escolas e Redes Municipais que tiveram bons

    resultados em relao aprendizagem dos alunos. Muitos so esses caminhos, como

    a crena no potencial dos alunos, a formao inicial e continuada dos professores,

    as prticas inovadoras, o compromisso da gesto municipal e o sentido de Rede.

    Entretanto, h um aspecto em comum entre elas que o compromisso com

    a aprendizagem.

    Todas as redes analisadas apresentaram uma gesto direcionada para a aprendi-zagem,

    com um conjunto de prticas voltadas a essa finalidade. O discurso recorrente dessa

    redes que o centro das atenes o aluno e existe uma clara compreenso de que o

    sentido de todo o esforo a garantia do seu direito de aprender. A clareza sobre aonde

    chegar e o compromisso com o aprender guiam a busca de solues e prticas que so

    diversas. Existe sempre e previamente essa deciso poltica de valorizao da

    aprendizagem como foco e meta da educao.

    Em todas as redes, h uma declarao de princpio, dita de diferentes formas, mas com

    um sentido comum: Tudo o que fazemos est direcionado para alcanar nosso

    objetivo maior conseguir que os alunos e as alunas aprendam.

    (Redes de Aprendizagem,2008, pag.18)

    4 5

    Ministrio da Educao e Cultura

    Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao

    3

    4

    5

    PARA SABER MAIS:

    http://www.unicef.org/brazil/pt/aprova_final.pdf

    http://www.unicef.org/brazil/pt/Redes_de_aprendizagem.pdf

    http://www.unicef.org/brazil/pt/br_caminhos_livro.pdf

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa24

  • Inspirados por essas referncias e a pergunta orientadora QUAL O SENTIDO DA

    ESCOLA?, a reflexo apontou para algumas ideias convergentes. Muito se tem feito

    para que a escola seja de fato um espao de aprendizagem, mas tambm preciso

    reconhecer que ainda h muitos desafios, que indicam a necessidade de conti-

    nuar trabalhando arduamente. o que nos aponta Rosa Maria Torres, especialista

    em educao:

    Aprender e ensinar so duas coisas diferentes. Parece bvio, mas no . [...] A prpria

    expresso ensino-aprendizagem, to repetida e utilizada na pedagogia, tem contribu-

    do, sem dvida, para favorecer e alimentar a confuso, criando a imagem (fontica e

    visual) de que os dois termos constituem uma unidade inseparvel, dividida apenas por

    um minsculo hfen. Mas a realidade nos indica que no existe essa unidade inseparvel

    e que no meio h algo maior e mais grave que um hfen.

    Ao olhar a realidade, necessrio reconhecer que ainda h escolas focadas no

    ensino. Diretores, coordenadores e professores cuidando para que este seja

    garantido, mas sem a clareza de que o ensino meio para se chegar aprendizagem,

    e no a finalidade da escola, portanto, h de se cuidar dos processos de

    aprendizagem, por meio de bons processos de ensino.

    Ento, preciso esclarecer:

    Ensinar e aprender so um nico processo?

    Como a compreenso dessas concepes interfere na ao

    dos profissionais que atuam nas escolas?

    Vejamos a contribuio da profa. Telma Weiz (2000) em relao a esta temtica:

    "No existe um processo nico de 'ensino-aprendizagem', como muitas vezes se diz,

    mas dois processos distintos. [...] So dois processos que se comunicam, mas no se

    confundem: o sujeito do processo de ensino o professor, enquanto o sujeito do

    processo de aprendizagem o aluno. equivocada a expectativa de que o aluno poder

    receber qualquer ensinamento que o professor lhe transmita exatamente como ele lhe

    transmite. O professor que precisa compreender o caminho de aprendizagem que o

    aluno est percorrendo naquele momento e, em funo disso, identificar as informa-

    es e as atividades que permitam a ele avanar do patamar de conhecimento que j

    conquistou para outro mais evoludo. Ou seja, no o processo de aprendizagem que

    deve se adaptar ao processo de ensino, mas o processo de ensino que tem de se

    adaptar ao de aprendizagem. Ou melhor: o processo de ensino deve dialogar com o

    de aprendizagem". (p. 65)

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa25

  • Voc j havia pensado nisso antes?

    Pare um pouco, pense na sua realidade e se pergunte:

    Para a comunidade de educadores da minha escola, o que

    realmente importa?

    E em relao ao meu papel como coordenador pedaggico? De que

    maneira essa reflexo reverbera na definio das minhas funes?

    Vejamos o que alguns coordenadores pedaggicos da Rede responderam:

    Por meio da formao, pude estabelecer uma nova tica na funo do coordenador

    pedaggico: a importncia do coordenador como defensor dos processos de ensino e

    aprendizagem; o coordenador como construtor ou organizador de mltiplas situaes

    que acontecem em uma unidade escolar e, em especial, no processo de formao e refle-

    xo junto ao professor. A real necessidade dos coordenadores nas escolas de centralizar

    sua atuao no cunho formao e avaliao dos processos de aprendizagem.

    (Welton Queirz da Fonseca Escola Municipal Casa da Amizade)

    6

    Este ano (2012) foi disponibilizado um vdeo pela CENAP que foi utilizado na Pr-

    Jornada que ocorreu em dez/2011 e usamos na escola no primeiro dia da Jornada

    Pedaggica. As abordagens colocadas sobre a diferena entre ensino e aprendizagem

    foram relevantes na equipe pedaggica, que ressaltou exemplos prticos com alunos e

    professores. O prprio tema da Rede Aprendizagem compromisso de todos, j

    trouxe uma reflexo de como nas escolas ns pensamos mais em ensinar, sem nos

    preocupar (tanto) se o aluno aprende. Enfim, todas as discusses foram enriquecedoras

    e refletiram nos planejamentos semanais e bimestrais, que passam a ter o foco sempre

    na aprendizagem do aluno e, em especial, na criao de vnculo para que isso acontea.

    (Miraci C. Franco Escola Municipal Pedro Veloso Gordilho)

    Pois bem, embora essa reflexo interfira de forma expressiva nas atribuies da

    coordenao pedaggica, importante lembrar que historicamente a separao

    entre ensino e aprendizagem ocasionou uma distoro na forma como se concebia a

    diviso de trabalho dos especialistas, a saber, o supervisor - que cuidava dos pro-

    cessos de ensino, ou do professor; e o orientador - que cuidava dos processos de

    aprendizagem, ou seja, dos alunos. Esta dicotomizao das funes provocou

    um distanciamento do chamado supervisor em relao aos alunos e, consequen-

    temente, do acompanhamento, por sua parte, do processo de aprendizagem.

    O sentido da

    escola a

    APRENDIZAGEM,

    o ensino meio,

    ferramenta para

    se atingir essa

    finalidade.

    Vdeo O direito de Aprender CENPEC.

    6

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa26

  • Nos ltimos anos, muitos desses profissionais (supervisores e orientadores),

    formados com base nesta perspectiva, assumiram o papel de coordenadores,

    ocasionando distores ou incompreenses em relao ao seu papel.

    Na busca por fortalecer essa identidade que ainda est se delineando, muitos so os

    desafios, e esses sero tratados ao longo da publicao. Assumir seu papel de

    formador, acompanhar os processos de aprendizagem dos alunos, apoiar os

    professores no desenvolvimento do seu trabalho, requer uma contnua busca pelo

    reconhecimento do seu papel na instituio em que atua, melhores condies de

    trabalho e consolidao das polticas de formao em servio. A prpria

    complexidade da dinmica escolar exige desse profissional um alto grau de

    competncia para gerenciar seu tempo, sua rotina, para no ser "engolido" pelas

    emergncias do cotidiano.

    Neste sentido, vale a pena lembrar que esta publicao uma iniciativa da SECULT

    que visa documentar os saberes construdos pelo grupo de coordenadores

    pedaggicos em exerccio nos anos de 2011 e 2012, a fim de narrar um processo

    formativo e instrumentalizar novos coordenadores que cheguem Rede, a fim de

    que possam se inteirar de caminhos j trilhados, vislumbrem caminhos a ser

    percorridos e se sintam apoiados no seu fazer.

    Pesquisa realizada

    pela Fundao

    Carlos Chagas em

    13 capitais brasileiras

    ouviu mais de

    400 coordenadores

    e concluiu que

    eles se descuidam da

    essncia do trabalho

    e se ocupam com

    tarefas secundrias

    porque falta clareza

    sobre qual

    exatamente seu papel.

    PARA SABER MAIS

    Pesquisa O coordenador pedaggico e a formao de professores:

    intenes, tenses e contradies. Fundao Victor Civita, 2011.

    Acesse: www.fvc.org.br/pdf.

    Referncias do Captulo:

    TORRES, Rosa M. Ensinar e aprender: duas coisas diferentes.

    Disponvel em: http://www.redemulher.org.br/espanhol/rosa.htm.

    WEISZ, Telma. O dilogo entre o ensino e a aprendizagem. So Paulo: tica, 2000.

    FERNNDEZ, Alcia. Os Idiomas do aprendente. Porto Alegre: Artmed.

    GARDNER, Howard. Inteligncia: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa27

  • Como j vimos no captulo sobre o Histrico do Coordenador Pedaggico na Rede, essa

    funo vem se reestruturando ao longo do tempo e se adequando no s s novas

    diretrizes legais, mas tambm s demandas da escola em tempos contemporneos.

    Na Rede Municipal de Salvador no diferente! Atualmente, os coordenadores

    pedaggicos vivem um intenso movimento de constituio de sua identidade a partir

    das referncias mais atuais que definem o papel do coordenador como um gestor

    pedaggico da instituio; mas ainda se deparam com inquietaes e desafios,

    muitos deles oriundos de uma viso, que ainda existe, de que so fiscalizadores ou

    que tm um papel burocrtico na instituio; ou ainda, tm limites na gesto das

    suas atribuies, tendo em vista o acmulo de tarefas e suas condies de trabalho.

    Esse momento de tantas inquietaes e redefinies, contudo, no uma realidade

    apenas da Rede Municipal de Salvador. No processo de elaborao deste material,

    uma ampla pesquisa sobre esse profissional foi realizada no Brasil, envolvendo 400

    entrevistados de 13 capitais. A pesquisa intitulada O coordenador pedaggico e a

    7

    formao de professores: intenes, tenses e contradies identificou que a crise

    de identidade uma marca forte dos coordenadores brasileiros, devido exatamente

    ao momento de redefinio de papeis, que exige muita clareza do que essencial na

    sua funo, mas tambm exige apoio e compreenso dos demais profissionais sobre

    isto, bem como condies institucionais e de trabalho para a efetivao de sua prtica.

    A pesquisa tambm indica que ainda muito pouco o investimento na formao

    especfica do Coordenador Pedaggico. Apenas 33% dos coordenadores pesquisados

    afirmaram j ter tido algum curso de formao especfica.

    C A P T U L O I V

    O Papel do Coordenador Pedaggico

    e suas Atribuies

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa28

    TROCANDO EM MIDOS

    Para realizar um bom trabalho, o coordenador precisa ter clareza do seu papel, ter

    competncia para exerc-lo e estar em um ambiente de trabalho em que sua funo seja

    reconhecida, ou seja, precisa de formao permanente.

    Pesquisa realizada pela Fundao Carlos Chagas, a pedido da Fundao Victor Civita. 2011.

    7

    A vida humana consiste em habitar um mundo no qual

    as coisas, alm de serem o que so, tambm significam;

    o mais humano de tudo, porm, compreender que,

    embora o que a realidade no dependa de ns, o que

    a realidade significa , sim, competncia, problema

    e, em certa medida, opo nossa.

    (Fernando Savater)

  • Em entrevista Revista Gesto Escolar (junho/julho 2011) a pesquisadora Vera

    Placco, que coordenou o estudo citado, d o seguinte depoimento, que corrobora

    como a identidade do coordenador constituda:

    A identidade profissional se constri nas relaes de trabalho. Ela se constitui na soma

    da imagem que o profissional tem de si mesmo, das tarefas que toma para si no dia a dia

    e das expectativas que as outras pessoas com as quais ele se relaciona tm acerca de seu

    desempenho.

    Com esse cenrio, tornou-se fundamental no s realizar um processo de formao

    continuada para os coordenadores pedaggicos, mas tambm documentar o

    percurso a fim de esclarecer, para toda a comunidade de educadores, qual o papel do

    Coordenador Pedaggico da Rede Municipal de Salvador e quais as suas atribuies.

    " (...) O curso de formao de coordenadores veio reforar e aperfeioar a nossa

    caminhada, tecendo lastros tcnicos e prticos que so aplicados medida que vo

    sendo vistos e trabalhados. Chegar concluso de que estamos trilhando caminhos por

    onde os resultados aparecem, renovam a esperana e a certeza de que cumprimos a

    nossa parte com responsabilidade e dedicao, incluindo as imperfeies do caminho

    pertinentes nossa condio humana.

    (Mnica Santos Coordenadora Pedaggica da Escola Municipal

    Major Eloy Magalhes)

    Tendo como ponto de partida o documento Coordenador Pedaggico: Traando

    Caminhos para a sua prtica pedaggica, elaborado pela CENAP em 2008, revisamos

    seu contedo ao longo do processo formativo, problematizando e contextualizando

    as orientaes ali contidas. A sistematizao do percurso formativo, por meio dessa

    publicao, tem como objetivo instrumentalizar e fortalecer a formulao de polticas

    pblicas e a tomada de decises relativas ao papel do coordenador na Rede e suas

    condies de trabalho.

    Aps um processo intenso de debate e aprofundamento, o grupo validou que o

    papel do coordenador pedaggico da Rede pode ser categorizado a partir de

    8

    trs dimenses , j anteriormente apresentadas no documento citado acima que,

    por sua vez, foi inspirado na obra de ALMEIDA E PLACCO (2001). Ao longo do

    processo formativo, essas dimenses, alm de validadas, foram aprofundadas e

    refletidas no contexto especfico da Rede.

    No captulo O Coordenador como formador, usaremos novamente essa palavra, mas para caracterizar

    as dimenses da formao, segundo referncias de NVOA.

    8

    DIMENSES DA

    ATUAO DOS

    COORDENADORES

    PEDAGGICOS

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa29

  • Ser um articulador implica estruturar um ambiente colaborativo, pautado

    em relaes interpessoais ticas, promovendo espaos de dilogo e reflexo da

    prtica pedaggica.

    Assim, a ao educativa precisa ser planejada, articulada com os participantes da

    unidade escolar, sendo o coordenador pedaggico um dos elementos de ligao

    fundamental, por meio de estratgias interativas de trabalho, em momentos de

    estudos, proposies, reflexes e aes.

    Em seu livro O coordenador e o processo de mudana, as pesquisadoras Laurinda

    Almeida e Vera Placco refletem sobre essa questo:

    Nenhum educador vai conseguir dar conta de suas tarefas sozinho. Para realiz-las

    importante contar com o apoio de um coletivo forte e solidrio. Mas para poder contar

    com o apoio de um grupo desse tipo, preciso empenhar-se em constru-lo cotidiana-

    mente: a fora de um coletivo vem do envolvimento de cada um, articulada, neste caso,

    pelo coordenador pedaggico.

    (ALMEIDA E PLACCO, 2011 )

    Para a superao das necessidades cotidianas da escola, se exige um trabalho coletivo,

    que, por sua vez, exige a presena e a atuao de um articulador dos processos educa-

    tivos que ali se do. Esse articulador precisa agir nos espaos-tempos diferenciados, seja

    para o desenvolvimento de propostas curriculares, seja para o atendimento a professores,

    alunos e pais, nas variadas combinaes que cada escola comporta.

    (ALMEIDA E PLACCO, 2011 )

    Como um dos agentes de transformao da prtica pedaggica, o coordenador

    pedaggico precisa estar aberto a transformar-se continuamente, reconhecendo a

    sua prpria necessidade de formao. Transformao aqui entendida como atitude

    de abertura para a mudana, para novas aprendizagens. Portanto, para ser um

    agente transformador, o coordenador deve ter, em primeira instncia, disposio

    pessoal para colaborar com a constituio de um ambiente escolar favorvel s

    mudanas. Por outro lado, para que ocorram de modo significativo preciso que,

    pelo menos, parte dos sujeitos da comunidade educativa esteja envolvida nestes

    processos de transformao. Isso requer acolhimento e respeito s diferenas, aos

    saberes, crenas e prticas dos professores para articular espaos de reflexo que

    possam mobilizar as mudanas.

    O Coordenador

    como Articulador

    O Coordenador

    como Agente

    Transformador

    Articular o coletivo da escola, considerando as especificidades do contexto e as possibilidades

    reais de desenvolvimento de seus processos.

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa30

    SAIBA MAIS

    O papel do

    coordenador na

    construo de uma

    cultura colaborativa

    na escola.

    CAPTULO VIII

  • Segundo Orsolon (2001), o coordenador pode ser um dos agentes de mudana das

    prticas dos professores mediante articulaes externas que realiza entre esses, num

    movimento de interaes permeadas por valores, convices e atitudes; e por meio

    de articulaes internas, que sua ao desencadeia nos professores, ao mobilizar

    suas dimenses polticas, humano-relacionais e tcnicas, reveladas em sua prtica.

    A responsabilidade formadora do coordenador pedaggico est pautada na forma-

    o contnua dos professores, e, quando relevante e possvel, dos demais profissio-

    nais da instituio, devendo estar aberta aos saberes adquiridos no cotidiano, que

    precisam ser refletidos e incorporados na prtica pedaggica.

    No CMEI Yolanda Pires iniciamos a formao continuada dos auxiliares de

    desenvolvimento infantil ADI, que tem trazido resultados positivos nos processos de

    ensino e aprendizagem, nas relaes interpessoais e na prpria valorizao destes

    profissionais que participam diariamente da vivncia escolar. Elegemos em conjunto

    alguns contedos e criamos um calendrio de encontros mensais para a formao.

    (Denise de Santana Rocha)

    Diante da complexidade dessa perspectiva, esta ser detalhada no captulo VI.

    Com base nas reflexes realizadas durante o processo formativo sobre o sentido da

    escola e cientes dessa realidade, a equipe de coordenadores pedaggicos da Rede

    Municipal de Salvador elegeu dentre suas atribuies aquelas que esto especifica-

    mente relacionadas ao acompanhamento dos processos de aprendizagem dos

    alunos, visto que so referncias importantes para planejar e diversificar as estrat-

    gias de ensino e tomar decises institucionais no intuito de intervir positivamente

    nos resultados.

    Transformar a realidade, por meio de um processo reflexivo que questiona as aes e suas

    possibilidades de mudana, e do papel/compromisso de cada profissional com a melhoria da

    educao escolar.

    Formar os professores em conhecimentos da rea pedaggica, de modo que realizem

    sua prtica em consonncia com os objetivos da escola e com as especificidades de cada rea

    ou segmento.

    O Coordenador

    como Formador

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa31

    Acompanhar os processos de ensino tem sentido quando eles reverberam em melhoria nos

    processos de aprendizagem.

  • O processo formativo trouxe a certeza de que o primeiro passo para estruturar

    uma rotina mais compatvel com o papel do coordenador conhecer quais so

    essas atribuies. Para isso, os grupos revisaram as atribuies definidas pela

    Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedaggico - CENAP, no documento: Coordenador

    Pedaggico: Traando caminhos para a sua prtica educativa, chegando seguinte

    listagem, que tambm foi revisada e validada pelo Grupo Gestor:

    Coordenar, apoiar e acompanhar o planejamento e a execuo das aes pedaggicas

    na escola, propiciando sua efetividade.

    Organizar diferentes espaos e estratgias de formao continuada com vistas

    instaurao de um ambiente reflexivo na escola.

    Coordenar e acompanhar as Reunies Pedaggicas, promovendo oportunidades de

    discusso e proposio de inovaes pedaggicas, assim como apoio produo de

    materiais didtico-pedaggicos, na perspectiva de uma efetiva formao continuada.

    Acompanhar e avaliar os processos de ensino e de aprendizagem e contribuir na busca

    de solues para os problemas identificados.

    Acompanhar as aprendizagens dos alunos, atravs de registros por bimestre, apoiando os

    docentes na criao de propostas diferenciadas aos que tiveram desempenho insuficiente.

    Gerenciar o tempo pedaggico, com vistas promoo da aprendizagem dos alunos.

    Elaborar plano de ao do coordenador, estabelecendo metas a serem atingidas em

    funo das demandas pedaggicas.

    Coordenar, juntamente com a direo, a elaborao do Projeto Poltico Pedaggico da

    escola, responsabilizando-se pela sua socializao e execuo na comunidade escolar,

    articulando esse processo de forma participativa e cooperativa.

    Contribuir para um ambiente favorvel aprendizagem e ao ensino que favorea a

    criao de vnculos de respeito e de trocas no trabalho educativo, a partir do

    entrosamento entre os membros da comunidade escolar.

    Promover, juntamente com a direo, a articulao e estabelecimento de parcerias

    entre escola, famlia e comunidade.

    ATRIBUIES DOS COORDENADORES PEDAGGICOS DA REDE

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa32

  • De forma objetiva, a coordenadora Dalva Simone S. Conceio, da Escola Municipal

    Senador Antnio Carlos Magalhes, resume o que aprendeu sobre o papel do coorde-

    nador pedaggico:

    Durante o processo de formao aprendi trs coisas importantes para o exerccio da

    minha profisso:

    Que o coordenador pedaggico deve ser essencialmente um formador

    Que as intervenes devem ser sempre no sentido de fazer o professor refletir sobre

    sua prtica (isso no estava muito claro para mim)

    Que o foco do trabalho do coordenador deve ser sempre a aprendizagem e no s

    o ensino.

    Com essa viso, fica claro que para a Rede a atuao do coordenador pedaggico no

    entendida como uma atividade meramente tcnica e burocrtica, mas que se constitui

    em uma prtica intelectual, complexa, que demanda condies de tempo (para

    viabilizar a efetivao de suas atribuies), espao (para encontro com professores,

    alunos, gestores, pais), e clima institucional (cultura colaborativa e reconhecimento da

    importncia da formao continuada).

    Requer, ainda, validao desse papel e reconhecimento das atribuies a ele

    inerentes pela comunidade escolar, e de espaos formativos regulares e especficos

    para esse grupo de profissionais da Rede que demanda, assim como os demais, a

    formao contnua.

    Partindo do princpio que o Coordenador Pedaggico o gestor das aprendizagens, de

    suma importncia que tenha clareza de suas atribuies e do caminho que ir trilhar.

    Sendo assim, procuro organizar minha prtica, tendo em vista a compreenso do

    processo na qual ela se d, que por, sua vez, perpassa pela gesto do tempo, pela cultura

    colaborativa e pelo processo de formao dos sujeitos. Outro ponto muito forte na minha

    prtica o comprometimento com aquilo que fao e do qual fao parte. Tenho que fazer

    as coisas pulsarem, ganhar flego, fazer valer a pena, sensibilizar as pessoas da

    importncia do seu papel e da sua contribuio e que resultados podemos alcanar.

    Envolver o grupo na inteno do trabalho, alinhando os saberes do grupo no sentido de

    planejar e fazer um trabalho com qualidade e pensando coletivamente. A vontade, o

    querer, o dilogo, so elementos que trago sempre para a minha rotina de trabalho, ou

    seja, o compromisso com a educao.

    (Brbara Perla R. da Silva Escola Municipal Aristides Novis)

    O depoimento da coordenadora Brbara referenda o que a prof. Teresinha Rios aponta

    como a dimenso ou perspectiva tica do trabalho da coordenao. Segundo ela,

    espera-se desse profissional o envolvimento com a construo coletiva do projeto

    poltico pedaggico da escola e o compromisso com a formao continuada dos pro-

    fessores e, nos processos de ensino e aprendizagem, a promoo da convivncia

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa33

  • solidria na instituio e a interveno na construo da humanidade e da sociedade

    que queremos.

    A questo tica est diretamente relacionada com o cuidado com o aspecto pessoal da

    formao dos educadores. A escola um espao de convivncia de pessoas, que tm

    saberes e experincias muito peculiares. Este aspecto tambm precisa ser considerado

    para que a dimenso profissional possa fluir de forma produtiva.

    Outro aspecto importante considerar os conhecimentos advindos dos professores,

    valorizando-os sempre que possvel, e utilizando-os como pontos de referncia para a

    formao. Estes tambm podem ser importantes indicadores para a compreenso das

    causas de possveis resistncias. Segundo Sadalla (1998), os estudos sobre crenas

    docentes apontam para a necessidade de conhecer as teorias implcitas formuladas

    pelos professores, pois estas regem seu fazer.

    Mas, nada disso suficiente se o prprio coordenador pedaggico no estiver em

    atitude de abertura para a aprendizagem, reconhecendo a necessidade da formao

    contnua como tambm uma gesto da sua autoformao.

    Por fim, h muitas formas de compartilhar o que foi debatido sobre as atribuies dos

    coordenadores pedaggicos da Rede. Com maestria, a coordenadora Cristiane Passos

    produziu um belo cordel, inspirada nas reflexes dos grupos, conforme trecho abaixo:

    Saiba mais sobre

    estas dimenses

    no captulo VI:

    O Coordenador como

    Formador: fazer por ou

    fazer com?

    Meus caros amigos coordenadores

    Essas linhas que ora escrevo

    Sobre um assunto importante

    Das atribuies do coordenador

    Nunca visto como antes

    Se antes era visto como fiscalizador

    Hoje se v como formador.

    Aqui falo de uma luta

    De mudana e transformao

    De reconhecimento e de identificao.

    Quem sou mesmo?

    Neste espao to hostil que

    A educao pblica no Brasil

    Falo de novos valores que esto

    Tomando o Brasil.

    Apresento um movimento

    Que mexe com a gente

    De uma luta deste instante

    Por isso no se espante

    Foi preciso rever concepo

    Pra entrar em ao

    E abrir o olhar para ver...

    Com lentes que se expandem.

    O que quero mesmo fazer

    Sou coordenadora de rede de ensino

    Pblica da cidade de Salvador.

    Voc vai ficar espantado

    No to complicado!

    Democratizou-se o ensino

    Caiu a qualidade da aprendizagem.

    E eu com isso?

    O que tenho a ver?

    Fao parte do contexto do aprender.

    No mundo ps-moderno precisamos saber

    Que ensinar somente

    No faz o aluno aprender

    Por isso mesmo bom saber

    O C o rde l e a

    C o o rde na do ra

    Peda g g i c a

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa34

  • Referncias do Captulo:

    ALMEIDA, Laurinda R.; PLACCO, Vera M.N.S. (org.) O coordenador pedaggico e o espao de mudana.

    So Paulo: Ed. Loyola, 2001.

    FUNDAO VICTOR CIVITA. O Coordenador Pedaggico e a Formao de Professores: intenes,

    tenses e contradies. Disponvel em: http://cenpec.org.br/biblioteca/educacao/estudos-e-pesquisas/

    o-coordenador-pedagogico-e-a-formacao-de-professores-intencoes-tensoes-e-contradicoes.

    LAMONICO, Circe F. Atribuies do Coordenador Pedaggico. Edicon, 2005.

    ORSOLON, Luzia A. M. O coordenador/formador como um dos agentes de transformao da/na escola.

    In: ALMEIDA, Laurinda R.; PLACCO, Vera M.N.S. (org.) O coordenador pedaggico e o espao de mudana.

    So Paulo: Ed. Loyola, 2011. p. 17 - 26.

    RIOS, Teresinha A. Coordenador Pedaggico: Co-organizador do ensino.

    Disponvel em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar.

    SADALLA, Ana Maria F.A. Com a palavra, a professora: suas crenas, suas aes. Campinas: Alnea, 1998.

    SAMIA, Mnica M. Saberes, sabores e dissabores de professores em tempos de mudana.

    Disponvel em: www.avante.org.br

    No existe um processo nico

    De ensino-aprendizagem

    So dois processos distintos...

    So dois processos que se comunicam

    No devemos confundir

    O ensino com o professor

    O aluno com aprender.

    Agora sim, no se pode embaraar

    Sendo coordenador,

    Preciso da ajuda do diretor

    E sem esquecer

    De voc PROFESSOR

    O maior colaborador

    Para poder avanar

    E passo a passo alcanar

    Onde precisamos chegar.

    Meu caro coordenador

    preciso ter conscincia

    Do que se quer alcanar

    Pra isso um plano de ao

    Deve traar,

    E tambm executar

    Sempre avaliar

    Pra assim recomear.

    Que uma educao pra valer

    Tambm precisa de mim e de voc.

    O que temos que fazer?

    Coordenador Pedaggico volto a dizer

    Primeiro preciso

    Ver e Rever

    Tambm refletir o que o aluno tem que aprender

    Um bom plano de trabalho devemos fazer

    Isso faz um grande sentido pra mim

    E tambm pra voc.

    Se so tantas as atribuies

    So tantas questes

    Preciso focar um ponto

    Quem busca pode encontrar

    O que pode sustentar

    Mas como j falei tanto

    Vamos logo comear.

    Pois eu trago nesses versos

    Coordenador tambm formador

    Est muito presente

    Tambm um gestor

    Pra valer essa mudana

    Tem que prevalecer.

    Assim diz Telma Weizs

    No se esquea meu amigo,

    Que aprendizagem pra valer

    o aluno que tem que percorrer

    E voc professor um mediador

    Estudar preciso

    E se manter bem informado.

    No demais lembrar

    Que o aluno do mundo ps-moderno

    Aprende de modo diferente

    Interage com o mundo virtual

    Aprende no somente com a gente

    sujeito inteligente.

    E pra finalizar

    Preciso felicitar

    AVANTE

    Que no arrogante

    Mas plantou a semente

    E deixou o fazer com a gente.

    Autoria :

    Coordenador (a) Pedaggico (a) da Rede

    Municipal de Ensino de Salvador

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa35

  • Grande o desejo desse grupo de coordenadores pedaggicos de domar o tempo, de

    forma inventiva, com ritmo e compasso, dando brilho a cada passo, como os trechos

    da cano de Caetano!

    Falar de gesto de tempo falar de um dos grandes desafios desses profissionais.

    Entre a grande maioria dos coordenadores da Rede h um consenso, que tambm

    um dos maiores dilemas desta funo:

    Diante de tantas atribuies e da complexidade da escola, uma verdadeira

    orquestrao conseguir reger o tempo, e no ser "engolido" por ele. Afinal, existe uma

    diferena entre atuar em situaes de urgncias - e atuar como articulador - aquele que

    administra as demandas que surgem e as aes que precisam ser realizadas,

    identificando as prioridades que constam no seu plano de ao.

    No texto A organizao da rotina e a gesto da aprendizagem, a formadora Maria 9

    Aparecida Silveira enfatiza: Somente quando o coordenador pedaggico tem clareza

    de sua funo que ele organiza o seu tempo de acordo com as suas obrigaes,

    evitando assim ser engolido pelas demandas do cotidiano e por atividades que no lhe

    competem. Reconhecer-se na funo de formador docente e articulador do trabalho

    coletivo na escola de fundamental importncia para o coordenador pedaggico.

    No processo formativo, a equipe de coordenadores pedaggicos refletiu sobre os

    vrios tipos de atividades que caracterizam as atividades de trabalho. Segundo PLACCO

    (2003), essas atividades tambm fazem parte da rotina do coordenador e podem ser 10

    caracterizadas a partir das contribuies de MATUS (1991):

    Gesto do Tempo - Desafio de uma Atuao

    Focada no Pedaggico

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa36

    C A P T U L O V

    s um senhor to bonito

    Quanto a cara do meu filho

    Tempo, tempo, tempo, tempo

    Vou te fazer um pedido

    Tempo, tempo, tempo, tempo...

    (Caetano Veloso / Orao do Tempo)

    H UMA BRECHA ENTRE O QUE SE DEVERIA FAZER

    e o que SE FAZ! Entre A INTENO e o GESTO!

    A autora participou como formadora do projeto e coordenadora pedaggica regional do Instituto Chapada de Educao e Pesquisa (ICEP).

    MATUS, Carlos. Curso de Planificao e Governo. Guia de Anlise Terica. So Paulo: ILDES Editor, 1991.

    9

    10

    IMPORTNCIA ROTINA URGNCIA PAUSA

  • Vamos analis-las no contexto da escola:

    As atividades de Importncia visam atender as metas e finalidades, a longo, mdio e

    curto prazos, para os projetos que visam mudar a situao presente.

    Vejamos o que diz uma coordenadora pedaggica sobre este tipo de atividade:

    Aes de importncia objetivam modificar a situao presente, sendo assim, o Conselho

    de Classe Bimestral caracteriza-se como tal, pois se prope a analisar individualmente os

    alunos em seu processo de aprendizagem, bem como as aes desenvolvidas pelos

    professores para alcanar os objetivos de cada unidade didtica, traando caminhos que

    se faam necessrios para a efetiva aprendizagem dos alunos.

    (Jussara Ferreira dos Santos EM Adalgisa Souza Pinto)

    A elaborao ou estudo do Projeto Poltico Pedaggico PPP um exemplo de

    atividade de IMPORTNCIA que muitas vezes adiada ou no sistematizada porque as

    atividades de URGNCIA atropelam ou at impedem sua realizao. A escola um

    ambiente complexo, repleto de demandas que, se no geridas com critrio e

    cooperao, inviabilizam as aes de IMPORTNCIA. Portanto, preciso priorizar a

    elaborao do Plano de Ao da Escola para que as atividades que constam nele

    possam ser realizadas, a partir de uma ao articulada da equipe gestora.

    A principal funo do coordenador pedaggico se divide entre a formao continuada de

    professores e a articulao do Projeto Poltico Pedaggico da escola. Isto no significa que

    deva abandonar as demais atividades, mas preciso priorizar sua funo de formador e

    articulador. No contexto dessa nova perspectiva profissional, a centralidade atribuda aos

    coordenadores e as exigncias a eles apresentadas acarretam consequncias para a orga-

    nizao e a gesto da escola, evidenciando a reestruturao do trabalho e a consequente

    alterao na sua natureza e definio.

    (AMADO E MONTEIRO, 2012, pag.5)

    As atividades de Rotina esto direcionadas para o funcionamento do cotidiano, para as

    normas reguladoras do processo de deciso/ao, para a manuteno de procedi-

    mentos e de recursos de trabalho.

    (...) Acreditando que a rotina estruturante para a construo e aprendizado dos

    sujeitos; medida que estabelecia atividades rotineiras, construa a identidade do meu

    papel de coordenadora daquele local. Hoje, muitas aes na instituio esto alinhadas

    com esta rotina, a exemplo dos horrios de vdeo das turmas, ocasio em que as

    professoras so atendidas semanalmente por 50 minutos e tratamos de questes

    especificas dos grupos, tiramos dvidas e investigamos coisas que no so oportu-

    nizadas nas Reunies Pedaggicas.

    (Gleiciane Ramos coordenadora pedaggica, CMET Iacy Vaz)

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa37

    Aes de

    IMPORTNCIA

    esto comprometidas

    com as MUDANAS.

    O compromisso

    das atividades

    de ROTINA com

    a ESTABILIDADE.

  • As atividades de Urgncia esto direcionadas para atender aos problemas/situaes

    que no so previstos pelo processo de deciso-ao e que exigem permanente

    ateno. Comprometem-se com a ADEQUAO dos modos de trabalho s constantes

    modificaes na realidade.

    As atividades de Pausa destinam-se ao atendimento das necessidades individuais

    do sujeito e incluem o descanso, as aes descomprometidas com resultados,

    a ateno para fatos e circunstncias no vinculados funo social da instituio

    e os elementos subjetivos das relaes interpessoais.

    Vejamos o que a coordenadora pedaggica Cludia Barreto, da Escola Municipal

    Roberto Correia acrescenta a esta definio:

    (...) A unio do grupo necessria e devemos paut-la no dilogo, sem o qual as relaes

    entre os sujeitos incidem em conflitos diversos. A dignidade do professor jamais deve ser

    esquecida ou colocada em segundo plano. Necessitamos ter sempre um comportamento

    tico, nos preocupando com o bem-estar pessoal e coletivo de todos os envolvidos no

    contexto educacional. Toda relao deve estar atrelada conscientizao dos atos e aes

    de cada um.

    Ao longo do processo de formao continuada realizado junto aos coordenadores

    pedaggicos da Rede, a gesto do tempo foi amplamente discutida. Foram assumidos

    os muitos desafios diante desta tarefa e reconhecida a necessidade da conquista

    progressiva de melhores condies de trabalho e da importncia da formao

    continuada, no intuito de apoiar os coordenadores na realizao de um trabalho cada

    vez mais prximo das suas reais funes. A seguir o relato de uma coordenadora que

    reflete sobre esta questo:

    Atravs desta formao, adquiri embasamento necessrio para mudar minha prtica,

    deixando a multiplicidade dos afazeres importantes e emergncias que no fazem parte

    das minhas atribuies para a gesto da escola, priorizando a formao dos professores

    e realizando minha rotina, incluindo as situaes de urgncia que no esto previstas pelo

    processo de deciso/ao.

    (Josete Reimo S. Caldas coordenadora pedaggica da E.M. Amlia Rodrigues)

    Assim, torna-se necessrio combinar todos os tipos de atividades relacionadas

    gesto do tempo no Plano de Ao do Coordenador para que este desafio seja compar-

    tilhado e assumido tambm por outros membros da instituio, como a gesto e

    os professores.

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa38

    As atividades

    de Urgncia

    referem-se s

    ADEQUAES

    necessrias a um

    trabalho flexvel

    Aes de pausa

    esto comprometidas

    com a HUMANIZAO

    no trabalho

  • Este consiste no planejamento de todas as aes necessrias para atingir um resultado

    desejado (em geral anual).

    Com o Plano de Ao possvel estruturar um delineamento das principais aes e

    metas que precisam ser realizadas ao longo de um perodo. Como em geral feito a

    partir de um dilogo com o grupo gestor, este Plano importante para apoiar o

    coordenador na estruturao de sua rotina e evitar distores em relao a funes que

    no lhe so prprias.

    Mas este no o nico instrumento de planejamento do coordenador. H tambm o

    Plano de Formao, que o planejamento elaborado para estruturar o processo

    formativo do semestre ou bimestre, a depender das demandas levantadas. Para isso,

    essencial ouvir os professores e a gesto, uma vez que Planos precisam estar articulados

    com o Projeto Poltico Pedaggico da instituio.

    Referncias do Captulo:

    AMADO, Cibele e MONTEIRO, Elizabete. Coordenao Pedaggica em foco. In: Salto para o Futuro.

    Coordenao Pedaggica em foco. TV Escola. 2012 pag. 04 a 07.

    Disponvel em: http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15122101-CoordenacaoPedagogica.pdf.

    PLACCO, V. M. N. S.; ALMEIDA, L. R. (orgs.). O coordenador pedaggico e o cotidiano da escola.

    So Paulo: Loyola, 2003.

    SILVEIRA, Maria Aparecida. A organizao da rotina e a gesto da aprendizagem. In: Salto para o Futuro.

    Coordenao Pedaggica em foco. TV Escola. 2012 pag. 13 a 18.

    Disponvel em: http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15122101-CoordenacaoPedagogica.pdf.

    E O QUE

    O PLANO

    DE AO?

    PPP

    Plano de

    Ao da

    ESCOLA

    Plano de

    Ao do

    COORDENADOR

    Plano de

    Formao dos

    PROFESSORES

    Elaborados por

    toda a equipe

    Elaborados pela

    coordenao

    COORDENADOR PEDAGGICO:

    Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa39

    SAIBA MAIS

    O Coordenador

    como formador:

    fazer por ou

    fazer com?

    CAPTULO VI

  • Para tratar da perspectiva formadora do coordenador pedaggico, importante

    destacar os referenciais que orientam o paradigma de formao adotado na Rede

    Municipal de Salvador:

    1. A formao continuada inerente profisso docente e no

    uma ao compensatria.

    O desenvolvimento profissional permanente uma condio para o exerccio da

    docncia de qualquer pessoa que escolhe ser professor, independente de sua formao

    inicial e de sua condio scio cultural. Segundo os Referenciais para Formao de Pro-

    fessores, a formao :

    um processo contnuo e permanente de desenvolvimento, o que pede do professor

    disponibili