coordenador pedagogico caminhos desafios aprendizagens
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Artigos sobre coordenação pedagógicas, experiências compartilhadasTRANSCRIPT
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COORDENADOR
PEDAGGICO
Caminhos, desafios
e aprendizagens
para a prtica educativa
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COORDENADOR
PEDAGGICO
Caminhos, desafios e
aprendizagens para
a prtica educativa
Salvador, 2012
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SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAO,
CULTURA, ESPORTE E LAZER SECULT
JOO HENRIQUE DE BARRADAS CARNEIRO
Prefeito
JOO CARLOS BACELAR BATISTA
Secretrio Municipal de Educao, Cultura, Esporte e Lazer
MARLIA CASTILHO
Subsecretria Municipal de Educao, Cultura, Esporte e Lazer
ILNARA SAMPAIO MOURA MENEZES
Assessora Chefe
Kellyenne Jesus Fernandes
Gestora do Fundo Municipal de Educao FME
Evanilse Silva Alves
Coordenadora Administrativa CAD
Dilma e Silva Leal
Coordenadora de Apoio e Gerenciamento Escolar CAGE
Cinthia Karla Gonalves de Carvalho
Coordenadora de Aes Socioeducativas CAS
Gilmria Ribeiro da Cunha
Coordenadora de Ensino e Apoio Pedaggico CENAP
Fbio Pereira da Silva
Coordenador de Estruturao da Rede Fsica Escolar CERE
Edmilson Machado da Silva
Coordenador de Esporte, Lazer e Entretenimento COEL
Ana Paula Teles Pereira
Luciene Costa dos Santos
Elisa Maria de Jesus Santos
Equipe Tcnica responsvel pelo projeto na CENAP
AVANTE EDUCAO E MOBILIZAO SOCIAL
Conselho Tcnico
Maria Thereza Marclio
Gesto Institucional
Mnica Martins Samia
Linha de Formao de Educadores e
Tecnologias Educacionais
Snia Bandeira
Linha de Formao para Mobilizao e
Controle Social
Fabiane Brazileiro
Linha de Formao para o Trabalho
Rita Margarete Santos
Linha de Formao de Agentes Culturais
Andra Fernandes
Comunicao Institucional
Maria Clia Falco
Administrativo Financeiro
Material produzido no Projeto de Estruturao
de Modelo de Formao Continuada de
Coordenadores Pedaggicos da Rede Municipal
de Educao de Salvador
Mnica Martins Samia
Coordenao do projeto
Carla Coutinho Chaves Santos
Fabola Margeritha Bastos
Maria Aparecida Silveira
Mnica Martins Samia
Equipe de Formao
Mnica Martins Samia
Sistematizao e Texto - Parte I
Maria Thereza Marclio
Reviso Tcnica
Clarice Valadares
Reviso Ortogrfica
Mila Alves
Assistente de projeto
KDA Design
Projeto Grfico e diagramao
Salvador. Secretaria Municipal da Educao, Cultura,
Esporte e Lazer
Coordenador pedaggico: caminhos, desafios e
aprendizagens para a prtica educativa / Secretaria
Municipal da Educao, Cultura, Esporte e Lazer; Avante
Educao e Mobilizao Social. - Salvador, 2012.
92 p.: il.
1. Coordenadores educacionais. I. Avante Educao e
Mobilizao Social. II. Ttulo.
CDD 371.106
S466c
Jovenice Ferreira Santos Bibliotecria CRB-5/1280
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Promover uma educao de qualidade que garanta a aprendizagem de todos os
alunos como verdadeiro sentido da escola uma tarefa complexa que envolve
comprometimento e parceria. Neste contexto, o coordenador pedaggico da Rede
Municipal se constitui num profissional de extrema relevncia para garantir arti-
culao e efetividade nas aes educativas, uma vez que tem a responsabilidade,
junto gesto escolar, de promover, no cho da escola, um ambiente articulado e
favorvel para que os processos de ensino e aprendizagem sejam efetivos.
Para a SECULT o Coordenador Pedaggico o elo que afina as aes na escola. Seu
trabalho se assemelha ao ofcio de um grande maestro que rege sua orquestra a partir
das especificidades de cada instrumento, considera as peculiaridades de cada um e
realiza a mediao necessria para desafiar cada elemento a emitir seu melhor som, a
fim de garantir a construo da mais bela melodia. , portanto, a mola mestra que
trabalha em prol de um processo educativo interdisciplinar, da melhoria da qualidade
de ensino e efetividade da aprendizagem de todos os alunos.
Os Coordenadores Pedaggicos, portanto, so considerados peas chave do
processo educativo da Rede Municipal de Salvador e para fortalecer sua prtica, a
Secretaria Municipal da Educao, Cultura, Esporte e Lazer - SECULT, em parceria
com a AVANTE Educao e Mobilizao Social, promoveu um processo formativo
nos anos de 2011 e 2012, com o objetivo de construir a identidade profissional dos
coordenadores, por meio de um intenso dilogo entre teoria e prtica e a proble-
matizao da realidade; bem como fortalecer a cultura formativa nas escolas, com
vistas excelncia pretendida na misso institucional desta Secretaria.
Assim, para garantir a sistematizao e memria do processo formativo, este
documento, construdo a muitas mos, pretende registrar as principais aprendi-
zagens construdas, estabelecendo diretrizes para a concretizao de uma poltica
pblica de formao continuada em servio, que valoriza o dilogo e participao
coletiva como elementos balizadores da construo e elaborao do Projeto Poltico
Pedaggico na escola.
No no silncio que os
homens se fazem,
mas na palavra, no trabalho,
na ao-reflexo.
Paulo Freire
A P R E S E N T A O
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Esta produo contempla, alm do memorial descritivo da formao continuada dos
coordenadores pedaggicos, os aspectos gerais da organizao administrativo-
pedaggica da SECULT, bem como os marcos legais que embasam tal estrutura.
Por isso pretende ser um instrumento de apoio que contribua, efetivamente, para o
labor do Coordenador Pedaggico, possibilitando intervenes prticas que
concretizem a poltica de formao integral e incluso social do cidado estabelecida
por esta secretaria.
Joo Carlos Bacelar Batista
Secretrio Municipal da Educao,
Cultura, Esporte e Lazer
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PREFCIO7
PARTE I9
CAPTULO I
Bem vindo Rede Municipal de Salvador:
histrico do Coordenador Pedaggico na Rede
11
CAPTULO II
Modelo de Formao Continuada de Coordenadores 2011/2012
13
CAPTULO III
O Sentido da Escola e a Coordenao Pedaggica
23
CAPTULO IV
O Papel do Coordenador Pedaggico e suas Atribuies
28
CAPTULO V
Gesto do Tempo - desafio de uma atuao focada no pedaggico
36
CAPTULO VI
O Coordenador como Formador: fazer por ou fazer com?
40
CAPTULO VII
Estratgias Formativas: concretizando princpios na prtica
61
CAPTULO VIII
O Papel do Coordenador na construo de uma
cultura colaborativa na escola
71
CAPTULO IX
Parceria Coordenador e Gestor: elemento fundamental
na efetivao de um ambiente de aprendizagem na escola
78
1. A rede municipal de ensino85
2. A organizao administrativa da Secretaria Municipal da
Educao, Cultura, Esporte e Lazer
87
3. Pressupostos pedaggicos da educao municipal88
4. Bases legais da educao na rede municipal de Salvador91
PARTE II83
S U M R I O
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Formao in loco na EM. Engenho Velho da Federao
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Esta publicao visa sistematizar os saberes construdos pelo grupo de Coorde-
nadores Pedaggicos, em exerccio nos anos de 2011 e 2012, que participaram do
processo formativo oferecido pela SECULT, em parceria com a Avante Educao e
1
Mobilizao Social . Por intermdio da documentao desta histria formativa,
pretende-se instrumentalizar os coordenadores, a fim de que tenham maior clareza
de sua funo e se sintam apoiados no seu fazer.
De forma mais detalhada, o objetivo desta publicao oferecer subsdios aos
Coordenadores Pedaggicos na constituio da sua identidade e no desenvol-
vimento de uma prtica que contribua para o melhor desempenho da Rede. Isso
significa melhores indicadores relacionados aprendizagem, alunos mais vinculados
com a escola, famlias mais participativas, professores envolvidos e grupo gestor
fortalecido, focado no pedaggico. Mais alm, espera-se que esta publicao possa
inspirar a conduo de polticas pblicas e decises relativas ao papel e condies de
trabalho do coordenador na Rede.
Como fruto do processo formativo, a primeira parte desta publicao apresentar as
principais aprendizagens oriundas desse processo, bem como compartilhar vrios
momentos da trajetria de tantos coordenadores pedaggicos que trilharam esse
percurso. Ao contrrio de uma diviso segmentada, como aqui apresentada em
captulos, por uma necessidade didtica, na formao, a histria foi sendo cons-
truda ao longo do processo, atendendo ao ritmo e s necessidades do grupo.
Em relao aos captulos, para dar mais clareza aos contedos da formao, no se
buscou uma homogeneidade no formato, mas uma coerncia entre o modo como os
contedos foram apresentados e abordados na formao. Assim, alguns tm maior
nfase no arcabouo terico, dialogando com a prtica dos coordenadores; outros
A Avante Educao e Mobilizao Social uma organizao no governamental fundada em 1991 e sediada em
Salvador/BA, que tem como misso contribuir para a formao do cidado, pela educao e o desenvolvimento de
tecnologias de interveno social, visando garantia dos direitos sociais bsicos e ao fortalecimento da sociedade civil.
www.avante.org.br
1
P R E F C I O
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa7
Eu sei de muito pouco.
Mas tenho a meu favor
tudo o que no sei.
(Clarice Lispector)
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do destaque ao processo de elaborao do contedo em si, visto que muitos deles
foram construdos durante a formao, considerando-se a realidade da Rede e as
demandas que emergiam.
As referncias tericas utilizadas, em sua grande maioria, foram lidas nas formaes
para subsidiar o dilogo. Quanto aos depoimentos, foram produzidos ao longo da
formao, com o consentimento dos autores para publicao. Finalmente, o
material escrito passou pelo crivo dos nove grupos constitudos, que revisaram e
validaram seu contedo, bem como pelo Grupo Gestor, que acompanhou sua
elaborao e deu rgua e compasso produo.
Por fim, ao sistematizar esta experincia, to rica e significativa, podemos afirmar a
necessidade de formar formadores em programas especficos de formao, no
caso, os Coordenadores Pedaggicos da Rede Municipal de Salvador. A importncia
desse aprendizado revelada ao longo da publicao.
Boa leitura!
Mnica Samia
Coord. Linha de Formao de Educadores e
Tecnologias Educacionais
Avante Educao e Mobilizao Social - ONG
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa8
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PARTE I
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Encontro de Formao de Coordenadores Pedaggicos
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C A P T U L O I
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa11
Bem Vindo Rede Municipal de Salvador :
Histrico do Coordenador Pedaggico na Rede
A reflexo sobre o coordenador pedaggico na Rede Municipal de ensino de
Salvador, assim como a importncia que este assume na construo de uma escola
com foco na aprendizagem, surge a partir de um contexto histrico, scio-poltico,
econmico e cultural marcado por diversas fases e mudanas.
Tudo comeou no municpio de Salvador, com a criao da Secretaria Municipal da
Educao e Cultura SMEC, atravs da lei n. 912, de 04 de maro de 1959. O
cenrio era frtil para a atuao do profissional, pedagogo, inicialmente chamado de
Inspetor de Ensino, contratado com o objetivo de fiscalizar os processos pedaggicos
na escola, com foco em questes disciplinares e voltado para monitorar o
aproveitamento dos alunos em relao ao desempenho nos processos avaliativos e a
atuao do professor como transmissor de conhecimentos.
Com o passar do tempo, mudanas tornaram-se necessrias. Para atender um
cenrio scio-poltico e cultural mais abrangente surge, ento, na Rede Municipal de
Salvador acompanhando uma tendncia nacional fundamentada na ideologia
capitalista, a figura dos especialistas em educao.
Estes profissionais eram denominados supervisores, orientadores e administradores
educacionais e atuavam atravs de funes especficas, fomentando a busca pela
qualidade da educao mediante aes individualizadas que, consequentemente,
promoviam a desarticulao pedaggica, uma vez que cada tcnico era responsvel
por um determinado setor; um cuidava do planejamento e acompanhamento do
trabalho docente, outro tratava do desempenho acadmico do aluno e o outro, da
gesto administrativa da escola. Isto dificultava consideravelmente a viso e atuao
integral dos processos pedaggicos.
A referida estrutura era pautada em pressupostos da pedagogia tecnicista, a qual
tinha como princpio a busca pela eficincia em educar, mediante a produtividade do
trabalho docente, assim como a garantia de uma assistncia tcnica que assegurasse
escola a reproduo e manuteno da sociedade capitalista.
P a incar
io
de oversa
..c n
.
-
Assim, os especialistas em educao adentraram o municpio de Salvador com
atribuies ligadas ao acompanhamento das aes pedaggicas, numa perspectiva
de controle da execuo do planejamento e interpretao das polticas educacionais,
assegurando o cumprimento dos princpios e finalidades da educao naquele
momento histrico.
Com o avano tecnolgico e as mudanas poltico-educacionais e econmicas, a
Rede Municipal, tambm seguindo a tendncia da poltica educacional de mbito
nacional, cria a funo do coordenador pedaggico como uma figura responsvel,
por excelncia, por agregar e articular as aes educativas na escola, de forma a
realizar um trabalho voltado tanto para o monitoramento das aes educativas e
apoio tcnico prtica docente, bem como para promover o acompanhamento do
processo de aprendizagem dos alunos.
Em 2002 a SMEC, hoje SECULT, concretiza tal tendncia atravs da instituio do
Coordenador Pedaggico, podendo, essa funo, ser exercida tanto pelo pedagogo
especialista, quanto pelo professor escolhido pela comunidade escolar com perfil
adequado para assumir a gesto do ensino nas unidades escolares. No entanto, os
professores selecionados, por questes institucionais legais, no puderam continuar
exercendo tal funo, uma vez que haviam prestado concurso pblico para o cargo
de professores. Desta forma, o referido rgo realizou, em 2004, o primeiro
concurso pblico para o cargo de Coordenador Pedaggico da Rede Municipal.
Hoje, a SECULT vivencia a satisfao de ter em seu quadro funcional o coordenador
pedaggico como mediador das aes educativas, articulador e formador de uma
cultura que entende a escola como um espao de promoo da aprendizagem e
cidadania de todos os alunos.
Referncias do Captulo:
KUENZER, A. Z. & MACHADO, L. R. S. A pedagogia tecnicista. In: MELLO, G. N. (org.).
Escola nova, tecnicismo e educao compensatria. So Paulo: Loyola, 1982, p. 29-52.
Segundo KUENZER e MACHADO, a pedagogia tecnicista tem sua origem na Teoria Geral
de Administrao (TGA), sistematizada por Frederick Taylor, que apregoa a
racionalizao do processo produtivo, por meio da fragmentao do trabalho
separao entre os que planejam e controlam e os que executam. A Teoria Geral dos
Sistemas configura-se como uma abordagem mais sofisticada da filosofia taylorista, ao
propor que a eficincia do sistema deve ser assegurada pela maximizao da utilizao
dos recursos de todos os tipos; (...) a produtividade mxima propiciada pela raciona-
lizao do trabalho e do controle sobre ele".
(1982, p. 39)
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa12
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A metodologia da formao oriunda da expertise desenvolvida pela instituio
2
formadora que tem como fundamento a epistemologia da prtica, ou o que
atualmente se denomina formao contnua centrada na escola, que considera as
dimenses pessoal e profissional dos educadores e a escola como um lcus privi-
legiado de aprendizagem, onde os professores aprendem a profisso a partir do
dilogo entre teoria e prtica. O objetivo destas aes formativas de instaurar ou
fortalecer a cultura reflexiva nas escolas e redes, com foco na prtica pedaggica.
Para tanto, so realizadas atividades que tm como metodologia bsica a problema-
tizao e a implicao dos sujeitos na sua resoluo. (Portflio Institucional, 2012)
No caso da formao dos Coordenadores Pedaggicos da Rede Municipal, estes
fundamentos tericos se aplicaram na medida em que o objeto central da formao
foi a prtica destes profissionais. Essa prtica foi problematizada e, a partir dela,
buscaram-se as teorias que ajudaram a melhor compreend-la e qualific-la.
Ou seja, os conhecimentos construdos e utilizados pelos coordenadores da Rede
desde 2005 foram refletidos, compartilhados, sistematizados e somados a
outros conhecimentos construdos na formao. Desta forma, pretendeu-se
valorizar os conhecimentos pr-existentes, alm de ampli-los e sistematiz-los.
As aes formativas desenvolvidas so consideradas complementares, pois
oportunizaram diferentes espaos e formas de aprendizagem. Assim, a metodologia
se adequou realidade da Rede, por meio de uma cuidadosa etapa de diagnstico,
em que foram considerados as demandas, os saberes produzidos e as especificidades
deste contexto.
A seguir so apresentadas as aes desenvolvidas e um panorama dos seus
resultados!
A Avante Educao e Mobilizao Social/ONG desenvolveu uma tecnologia de formao continuada
que referncia no pas, tendo em vista os resultados alcanados e o amplo reconhecimento de sua eficcia
no desenvolvimento profissional de educadores.
2
C A P T U L O I I
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa13
Modelo de Formao Continuada
de Coordenadores 2011/2012
Somos transformadores de ns mesmos
e dos lugares pequenos que, nesse mundo,
nos couberam.
(S-Chaves)
-
Para a formao em pauta, foi realizado um diagnstico entre os meses de novembro
e dezembro de 2010, que envolveu anlise dos documentos da Rede relativos aos
coordenadores; visita a 04 escolas, a fim de escutar coordenadores, gestores e pro-
fessores por meio de entrevistas; realizao de 03 grupos focais com a participao
de 23 coordenadores pedaggicos e representantes das Coordenadorias Regionais
de Educao CRE; e entrevista a membros da CENAP. As categorias usadas para a
realizao deste diagnstico foram: condies de trabalho, rotina, contedos e
metodologia sugeridas para a formao.
O diagnstico proporcionou uma ideia clara sobre a situao da Rede em relao aos
coordenadores pedaggicos, ratificando a relevncia de um processo formativo que
pudesse contribuir para o alinhamento, reflexo e fortalecimento da identidade
destes profissionais. Havia claramente uma necessidade de viabilizar espaos forma-
tivos para se pensar a prtica no mbito da Rede.
O diagnstico revelou ainda questes relevantes no que tange pouca clareza ou
mesmo distoro do papel do coordenador na Rede, conforme evidenciam os
trechos seguintes do relatrio (2011) e depoimento:
No foram identificadas falas significativas sobre o acompanhamento do coordenador
nos processos de aprendizagem; os discursos reforavam o foco no ensino, apesar de a
melhoria da qualidade da aprendizagem aparecer como um desafio.
(Relatrio Diagnstico sobre demandas dos Coordenadores Pedaggicos da Rede
Municipal de Salvador Avante - 2011)
Nesse documento, tanto os coordenadores das escolas quanto os das CRE destacam
a imagem presente na Rede da figura do coordenador como inspetor - fiscalizador.
" preciso ter clareza por parte de todos de quais so as atribuies do coordenador."
No basta dizer: No desta forma; preciso ajudar a descobrir.
A partir dos dados do diagnstico, foi possvel elaborar um grfico com as principais
demandas dos coordenadores e, a partir delas, montar o Plano de Formao,
constitudo pelas estratgias formativas e pelos contedos j analisados e
selecionados.
Dos contedos de formao indicados no diagnstico, trs tiveram destaque,
conforme grfico e mereceram especial ateno ao longo da formao:
Funo e atribuies do coordenador pedaggico da Rede
Atividade Complementar planejamento e desenvolvimento;
Estabelecimento de metas/Planos de Ao
AES DE
DIAGNSTICO
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa14
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As demais temticas tambm foram amplamente abordadas nos encontros
de formao:
Foco na aprendizagem
Gesto do tempo
Cultura colaborativa
Parceria entre coordenador e gestor
Coordenador como formador
Como possvel perceber, o foco da formao foi o fortalecimento da constituio da
identidade dos coordenadores pedaggicos, objetivo este considerado alcanado
pelos resultados e depoimentos que sero apresentados ao longo desta publicao.
Segundo Mnica Samia, coordenadora e formadora do projeto, esta experincia
to intensa e mobilizadora, proporcionou muitas aprendizagens relativas ao papel do
coordenador no mbito da Rede, e isto foi possvel porque, por meio dela, estes
profissionais se encontraram. Estes encontros, mediados pela equipe da Avante,
possibilitaram uma rica troca entre profissionais de uma mesma Rede que, at ento,
no tinham um espao regular de interlocuo, de escuta, de problematizao e de
crescimento. A ideia de Rede se fortaleceu de uma forma muito significativa, porque
se descobriu o quanto o outro pode ser parceiro e pode ajudar a construir caminhos.
Hoje possvel afirmar que h um grupo de coordenadores pedaggicos da Rede,
porque partilharam uma histria que vai ser contada e documentada!
0 5 10 15 20 25 30 35
AC- Planejamento e desenvolvimento
Avaliao
Condies de trabalho
Dirios de classe
Dificuldade de aprendizagem (como intervir)
Estabelecimento de Metas / Plano de Ao
Formao continuada para o professor
Funo e Atribuies
Gerenciamento do tempo
Incluso
Indisciplina
Metodologia de Ensino
Pedagogia por projetos
PPP
Relacionamento do Coordenador
(gestor x coordenador / professor x coordenador /
professor x aluno / gestor x professor)
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa15
GRFICO
Demandas dos
Coordenadores
Pedaggicos
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Antes de terem incio as aes formativas regulares, foi realizado um Seminrio de
Mobilizao para gestores e coordenadores, com vistas a apresentar a proposta de
formao, bem como mobilizar o grupo para a necessidade de se instaurar um
espao de reflexo sobre o papel do coordenador pedaggico e de suas
possibilidades de interveno para a melhoria na qualidade da educao no
municpio. Este processo de implicao se deu a partir de estratgias de mobilizao
e reflexo da realidade da Rede e das necessidades de interveno para a melhoria da
qualidade do atendimento.
Estes encontros ocorreram entre os meses de maro de 2011 e junho de 2012, com
regularidade mensal e 4 horas de durao por encontro. Os coordenadores foram
divididos em grupos e tiveram a oportunidade de participar de atividades formativas
com o intuito de:
Refletir sobre o papel do coordenador pedaggico e suas aes, alinhando
concepes e prticas;
Garantir um espao para anlise, troca e sistematizao da prtica de coorde-
nao pedaggica nas escolas;
Apoiar a equipe de coordenadores nas aes que realizam junto aos
professores;
Instrumentalizar os coordenadores com os aportes terico/prticos necessrios
para o exerccio da sua funo.
Os encontros ocorreram em forma de oficinas formativas. Neles foram abordadas
problemticas especficas da atuao dos coordenadores na Rede, bem como
aprofundamento dos aportes tericos. A reflexo sobre a prtica foi a tnica dos
encontros, proporcionando uma imerso nas questes especficas da Rede, bem
como uma possibilidade de dialogar com autores e fazeres diversos, que
promoveram a ampliao do repertrio dos coordenadores e de suas referncias,
tanto tericas quanto prticas. o que conta a coordenadora Karina:
As mudanas que aconteceram na minha prtica foram por conta da reflexo sobre ela,
tendo como foco a aprendizagem dos alunos e dos professores, e do meu papel como
coordenadora pedaggica, refletindo e retroalimentando a minha funo. O foco
na aprendizagem de fundamental relevncia para a construo de um perfil
profissional. para mim, um recomeo!
(Depoimento de Ana Karina Proencia Akkari, CMEI Eduardo Jos dos Santos)
AES
FORMATIVAS
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa16
Encontros de
Formao de
Coordenadores
-
As tematizaes de prticas de coordenao, que ocorreram ao longo do processo
formativo, possibilitaram que os coordenadores exercitassem a reflexo, o olhar
distanciado, o cuidado com o outro, e ampliassem suas possibilidades de atuao.
Alm disso, o compartilhamento das prticas da prpria Rede criou um novo nimo
nos coordenadores que, mesmo diante de tantos desafios, implicaram-se na busca
de caminhos para uma atuao mais coerente e eficaz.
O depoimento da coordenadora Maria das Graas A. Bastos, da Escola Municipal
Aristides Novis, nos ajuda a visualizar como foi esse processo:
As colegas e a professora validaram a minha prxis: foi um momento de muita alegria.
Eu tinha conscincia da minha proposta de formao continuada para os professores,
mas a formao sistematizou e contribuiu com mais conhecimentos, estratgias e
recursos para esse desempenho. O mais importante e ao mesmo tempo difcil foi fazer a
equipe pedaggica refletir a sua prtica e desejar sair da zona de conforto. No incio
pensei que no daria conta, mas j comeo a me apropriar desse movimento. Tem at
um sabor de quero mais, pelos desafios e desconstruo que enfrentaremos. Aprendi
com a formadora, lendo nas entrelinhas das suas intervenes para conosco, e comecei
a praticar na escola.
As demais temticas tambm foram amplamente abordadas nos encontros de
formao:
Foco na aprendizagem
Gesto do tempo
Cultura colaborativa
Parceria entre coordenador e gestor
Coordenador como formador
A cada ms foram realizadas visitas formativas em escolas da Rede. Juntamente com
a formadora, cerca de 4 a 7 coordenadores tambm participavam da visita, criando,
assim, um espao formativo em rede. Aps uma visita s dependncias da instituio
para conhecimento da realidade, eram realizados momentos de formao. No
primeiro momento, o coordenador da escola compartilhava experincias que, a seu
ver, eram consideradas bem-sucedidas, a fim de realizar uma troca com os demais
coordenadores. No segundo momento, compartilhava alguma situao-problema,
previamente definida por ele, no intuito de ser apoiado pelos colegas e a formadora.
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa17
Formao
in loco
SAIBA MAIS
ESTRATGIAS
FORMATIVAS:
concretizando
princpios na prtica
CAPTULO VII
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Objetivos:
Instaurar espaos de formao no lcus de trabalho dos coordenadores, a fim
de possibilitar uma reflexo sobre questes especficas de cada realidade;
Coletar subsdios para os encontros de formao, atravs de um contato direto
com a rotina dos coordenadores nas escolas;
Fomentar uma atitude cooperativa e articulada entre os coordenadores da Rede
e promover aprendizagens a partir da troca de experincias.
O trecho abaixo do relato da formadora Carla Chaves revelador de como ocorreu a
dinmica dos encontros:
"A coordenadora nos acolheu na Biblioteca da Escola, espao de tamanho reduzido,
contudo bem organizado para a sua finalidade. A princpio, quero destacar a qualidade
dos livros e materiais de literatura disponveis. Para fazer bom uso deste material, a
coordenadora comeou compartilhando uma experincia bem sucedida, o Projeto de
Leitura Toque de Ler inspirado na ideia toque de recolher. Segundo ela, se pode-
mos fazer um toque para recolher as pessoas, que se faa para o recolhimento para a
leitura. O Projeto bastante interessante em seu propsito: deixar que os alunos
tenham acesso aos mais diversos tipos de leitura, adequados para sua faixa etria,
estimulando a curiosidade, a expectativa, o mistrio e o desejo de ver o que existe nos
livros....Para isto, foi criada o que chamou de MALA PANDORA itinerante. Nesta
mala encontram-se desde os maravilhosos livros cedidos pela Prefeitura e outros
gneros como revistinhas, lbuns, revistas informativas, jornais, etc, tudo disposio
das crianas. Esta Mala Literria itinerante fica em cada sala de aula durante uma
semana e existe um acompanhamento dos professores sobre o que fazer durante este
espao de tempo. A discusso sobre esta proposta foi muito rica, inclusive porque a
coordenadora apaixonada pelo que faz , e isto fica declarado em sua fala!
No segundo momento do encontro refletimos sobre a demanda trazida pela
coordenadora sobre a aluna que no l e no escreve. Iniciamos por analisar o seu
material, produzido pela aluna na escola (caderno de atividades). Para a minha surpresa
esta aluna tem um caderno lindo!!!!! Totalmente organizado, letra impecvel, com as
correes feitas pela professora e por ela mesma, de maneira bem organizada e com
uma apresentao de caligrafia equivalente a uma aluna do 5 ano! Quando
discutamos sobre como esta aluna produziu este material, a coordenadora confirmou
que a aluna era uma excelente copista, mas que ao pedir que lesse o que escreveu a
aluna no sabia realizar nenhum nvel de leitura, tampouco de escrita. Partimos ento
para uma questo indispensvel, centrada em verificar em que nvel de escrita a aluna se
encontra, o que nunca tinha sido verificado por esta Escola. Dialogamos que este era o
primeiro ponto a ser cuidado para da em diante realizar intervenes com vistas a
apoi-la no processo de alfabetizao. A coordenadora informou que acataria as
sugestes. Sugeri a ela que fizesse parcerias com as professoras alfabetizadoras de sua
Escola e me coloquei disponvel para, atravs de e-mails, trocarmos ideias."
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa18
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Em outra visita, a formadora explicita:
Diante das etapas de reflexo que percorremos nesta formao in loco, pude observar
que conseguimos estruturar um bom caminho na direo ao tratamento diante do
problema levantado. Comeamos analisando o problema sob diversos pontos de vista,
em seguida nos alimentamos de aspectos conceituais que nos permitiram entender
melhor o que podemos fazer e conclumos com possibilidades sobre como fazer.
Acredito que foram plantadas boas sementes!
(Carla Chaves formadora da Avante em visita EM Clemilda Andrade)
Em termos de resultado, esta foi uma ao muito validada pelos coordenadores
participantes. Isto ocorreu principalmente porque este tipo de situao
proporcionou a troca de experincias e criou um ambiente colaborativo, onde todos
tiveram a oportunidade de contribuir para a resoluo dos desafios apresentados,
bem como aprender com a experincia dos colegas. Perceber as semelhanas dos
problemas enfrentados, as diferentes formas de resoluo e as alternativas
encontradas, foram meios potentes de ampliar o repertrio dos coordenadores,
fortalecendo os laos de grupo e a noo de pertencimento Rede.
Com a palavra, a coordenadora pedaggica:
O encontro foi bastante produtivo, oportunizando compartilhar experincias e expor
as inquietaes. Foram validadas as sugestes apresentadas pelo grupo no que se refere
aos encontros de formao, bem como os esclarecimentos prestados pela formadora
Fabola Bastos acerca de como poderamos concretizar as aes para as quais
necessitamos de apoio. Outro ponto bastante significativo foi poder ouvir o
depoimento de colegas sobre suas prticas, o que serve de termmetro e orientao
mesmo e possibilitou refletir sobre as aes desenvolvidas na escola e orientar um
possvel refazer das atividades.
(Joselice Bastos, Coord. Pedaggica, Escola Municipal Novo Marotinho)
Mas tem gestor querendo falar tambm:
(...) A princpio, fiquei inquieta com essa visita; logo aps fui buscar estratgias para
melhorar meu discurso com os professores, com embasamento terico e situaes
prticas que os levassem a refletir sobre o seu papel. J podemos sentir mudanas na
postura dos professores, estamos caminhando! O nvel das nossas discusses hoje
outro, temos liberdade de discutir sobre o trabalho com crianas de 0 a 3 anos, e o mais
importante que ns (gestora e coordenadora) estamos conseguindo contagiar o
nosso grupo, que hoje sente o desejo de buscar e fazer diferente; estamos promovendo
grupos de estudos em nossas reunies pedaggicas. Estamos vendo tambm
resultados dessas discusses na prtica. Entendemos que possvel desenvolver um
trabalho coerente com essa faixa etria, adequando espaos e utilizando de forma
correta os recursos que temos nossa disposio.
(Cludia Requio Santos Oliveira - Gestora do CMEI Yolanda Pires)
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa19
-
E a coordenadora pedaggica do CMEI complementa:
As mudanas que ocorrem em minha prtica so resultado dessa formao, que para
mim no deveria ser interrompida. Estamos conseguindo melhorar as relaes no CMEI
e isto est refletindo no trabalho em grupo, juntamente com a gesto, coordenao e
nossos professores. Esta formao transformou meu olhar sobre o ato de coordenar.
(Denise de Santana Rocha-Coordenadora pedaggica CMEI Yolanda Pires)
Como j consenso entre os estudiosos e pesquisadores da rea de formao, o
desenvolvimento profissional se d nos mbitos pessoal e profissional, mas tambm
no mbito institucional. Isto significa que, em qualquer processo formativo,
necessrio envolver as lideranas institucionais, a fim de que se crie um ambiente ou
uma cultura que acolha e oferea as condies para que as aprendizagens se
efetivem em aes. Assim, no contexto desse projeto, foi estratgico mobilizar e
envolver os gestores da Rede para que, a par do percurso formativo dos coordena-
dores, pudessem consolidar a parceria com esses profissionais, compreendendo
melhor suas atribuies, suas dificuldades e, principalmente, o foco do seu trabalho,
com vistas a apoi-los na consolidao de uma rotina voltada para as questes
pedaggicas. Isto se deu por meio de encontros sistemticos, com durao de 3
horas cada. Nesses encontros, foram partilhadas as principais aprendizagens cons-
trudas, bem como algumas prticas de coordenadores, que eram representativas do
dilogo entre teoria e prtica que, a todo tempo, era realizado na formao.
Alm disso, esse contato sistemtico com os gestores foi essencial como momento de
escuta e de compartilhamento de experincias. Questionados sobre qual seu papel
para o xito do projeto de formao dos coordenadores, a diretora Tatiana Botelho,
do CMEI Paroquial de Santana sintetizou a opinio de muitos dos seus colegas:
O gestor, enquanto lder e articulador do espao escolar tem um papel fundamental,
pois ele precisa dar apoio e agir conjuntamente para que este projeto siga e alcance seus
objetivos, permitindo o espao formador necessrio para seus coordenadores. Tambm
preciso saber o teor desse projeto para validar o trabalho de formao, melhorando o
processo de aprendizagem.
Essa iniciativa foi muito validada por ambas as partes e se mostrou estratgica no que
se refere execuo de aes articuladas. Mais do que quantidade de formao, os
depoimentos sugerem a importncia de qualidade e articulao entre elas, para que
haja uma organicidade e viso sistmica da escola e dos papis de cada um para a
promoo de um ambiente de aprendizagem para todos.
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa20
Encontros de
Mobilizao
de Gestores
-
O grupo gestor nasceu da necessidade de o processo formativo ser pensado e
planejado da forma mais democrtica e participativa possvel. O diagnstico
realizado j indicava caminhos muito claros a serem percorridos, mas era importante
monitor-los e, ainda mais, conhecer as nuances da Rede, sua histria, os
documentos norteadores e a trajetria j percorrida pelos coordenadores at ento.
Assim, uma vez por ms, um grupo de cerca de doze profissionais um represen-
tante de cada turma, somando 09 coordenadores e 03 representantes da CENAP - se
reuniam para refletir sobre a formao, monitorar o processo de escrita deste docu-
mento e atualizar a equipe de formadores sobre a trajetria da Rede, concernente a
cada tema abordado. Muitos alinhamentos foram realizados, muitas problemticas
foram tematizadas e, assim, o caminho foi cuidadosamente percorrido, com o
cuidado e o rigor necessrios a to complexa empreitada.
A equipe da CENAP nos ajuda a contar essa histria:
"A formao dos coordenadores pedaggicos da Rede municipal foi uma ao sonhada
e gestada pela CENAP com o objetivo de fortalecer a prtica dos profissionais que so
agentes de transformao da prtica educativa em nossas escolas, em articulao com
os demais membros da equipe pedaggica. A reflexo sobre a complexidade que
envolve a ao coordenadora, nos fez buscar parceria com uma Organizao que tem
como princpio institucional construir conhecimento mediante a tematizao da
prtica, do exerccio do dilogo e constante troca de experincias.
Hoje temos a satisfao de construir um processo formativo completamente
democrtico e pautado na realidade dos nossos educadores, constatando que isto foi o
grande diferencial deste projeto. As discusses realizadas no grupo de trabalho (GT)
foram momentos de crescimento pessoal e profissional que fortaleceram o
planejamento e os caminhos da formao, uma vez que se constituiu num espao de
reflexo e exerccio pleno de gesto democrtica e cidadania. Assim, percebemos que
esta ao formativa foi apenas o comeo de uma longa caminhada... "
(Equipe da CENAP)
E quanto aos resultados?
Certamente h muitas nuances quando se trata de resultados! Estes esto vinculados
a mltiplos fatores, desde a assiduidade nos encontros, passando pela abertura
reflexo e aprendizagem, disposio para a mudana, afinidade com as temticas e
crena nelas; enfim, fatores ligados a um processo de formao humana que,
mesmo coletivo, sempre ser singular.
Entretanto, possvel afirmar, pela anlise minuciosa das avaliaes realizadas ao
longo de todo o processo, que muitas aprendizagens foram construdas, que h
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa21
Grupo Gestor
Resultados
-
maior clareza sobre o papel do coordenador, que o sentimento de Rede foi
fortalecido, que a importncia da relao parceira entre coordenador gestor est
consolidada, que as condies de trabalho para o coordenador precisam avanar
muito, e, principalmente, que h na Rede uma experincia acumulada muito
significativa que deve ser reconhecida, valorizada e partilhada.
Ademais, o resultado mais importante a sensao clara que muito ainda h de se
caminhar, mas que cada passo importante. Certamente o grupo est mais maduro,
consciente e capaz de continuar o caminho, consolidando os espaos de interlocuo,
formao e cuidado, to necessrios efetividade do trabalho do coordenador.
A seguir, alguns depoimentos que ilustram o percurso e seus resultados:
Como uma atitude poltica , antes de tudo, a habilidade no trato das questes
humanas, vi na AVANTE esse respeitoso jeito de existir. Quando esta organizao iniciou
o planejamento da Formao para o Coordenador, fez questo de ouvir os implicados
na atividade, com objetivo de montar um trabalho que se torne o desejado pelos
profissionais e estes se sintam satisfeitos com as respostas ao final do programa.
Quando efetivamente iniciamos os encontros de formao, percebemos que o espao
aberto era muito bom. Instigante, reflexivo, repleto de responsabilidades e aberto ao
acolhimento. Ento, teorias, dialogicidade (para lembrar Freire), relatos de experincias
e anlise de casos, visitas s unidades abertas a colegas para conhecerem outras
realidades, ao/reflexo/ao em todo momento, como tambm a melhor das
atividades: o intercmbio entre os formadores e os gestores (diretores das escolas),
construindo, para eles, uma nova maneira de olhar o coordenador pedaggico.
Estratgia que mais beneficiou a todos, por possibilitar aos diretores entrarem em
contato com o que estava sendo trabalhado na formao do coordenador e dando-lhes
o conhecimento de quem esse novo profissional dentro da escola. Muitos resultados
so esperados com esse aprendizado. Muitos impasses ainda sero criados, pois, o
humano modifica-se e modificam-se as instituies. A isso chamamos avano!
(Maria Eneuma G. de Freitas Escola Municipal. Maria Constana)
Que pena que acabou... e acabou com gosto de quero mais! O melhor da formao foi
ter me sentido de fato acolhida pela Rede, pois quando entrei, no final de 2007, me
senti perdida num oceano imenso, cheio de peculiaridades e de cobranas; como se j
tivesse navegado por ele h muito tempo... Foi muito bom, pois me descobri, me
analisei e me exigi bastante, pois creio que a escola que trabalho deve (e trabalho para
isso), ser o ideal para que um filho meu estude.
(Adriana Normandia dos Santos, da EM Eng. Gilberto Pires Marinho)
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa22
-
Para saber que caminho seguir, preciso saber
aonde se quer chegar: qual o sentido da escola?
Alice perguntou:
- Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
- Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
- Preocupa-me pouco aonde ir. - disse Alice.
- Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas. - replicou o gato.
(Lewis Carrol - em Alice no Pas das Maravilhas)
C A P T U L O I I I
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa23
O Sentido da Escola e a Coordenao Pedaggica
Esta foi a afirmao que orientou a reflexo inicial, o processo formativo e a posterior
definio do papel dos coordenadores pedaggicos da Rede Municipal de Salvador.
No seria possvel definir esse papel sem antes pensar no contexto em que esse
profissional est inserido: a escola.
Assim, nos primeiros momentos do processo formativo foi necessrio pensar sobre o
ambiente e o sentido da escola, para depois, tendo maior clareza desta questo,
revisitar e definir as atribuies desse profissional na Rede. Afinal, a identidade
profissional dos coordenadores no esttica, como j vimos antes, mas est
condicionada a um tempo histrico, geogrfico e paradigmtico, que determinam o
que se espera desse profissional e da prpria escola.
Ento vamos conhecer o caminho trilhado pelo grupo, mediados pela seguinte
reflexo:
QUAL O SENTIDO DA ESCOLA?
Tendo como referncia algumas pesquisas recentes que indicam caminhos
para uma educao com bons resultados, o grupo de coordenadores
analisou que, das muitas funes que a escola exerce, como seu papel
socializador, de formao do sujeito crtico, dentre outras, um ponto se
destacou nessa etapa da formao:
O sentido da escola a aprendizagem!
O caminho que devemos
trilhar depende do lugar aonde
queremos chegar.
-
3Essas pesquisas, realizadas pelo UNICEF, em parceria com o MEC , INEP e UNDIME ,
revelam caminhos trilhados por escolas e Redes Municipais que tiveram bons
resultados em relao aprendizagem dos alunos. Muitos so esses caminhos, como
a crena no potencial dos alunos, a formao inicial e continuada dos professores,
as prticas inovadoras, o compromisso da gesto municipal e o sentido de Rede.
Entretanto, h um aspecto em comum entre elas que o compromisso com
a aprendizagem.
Todas as redes analisadas apresentaram uma gesto direcionada para a aprendi-zagem,
com um conjunto de prticas voltadas a essa finalidade. O discurso recorrente dessa
redes que o centro das atenes o aluno e existe uma clara compreenso de que o
sentido de todo o esforo a garantia do seu direito de aprender. A clareza sobre aonde
chegar e o compromisso com o aprender guiam a busca de solues e prticas que so
diversas. Existe sempre e previamente essa deciso poltica de valorizao da
aprendizagem como foco e meta da educao.
Em todas as redes, h uma declarao de princpio, dita de diferentes formas, mas com
um sentido comum: Tudo o que fazemos est direcionado para alcanar nosso
objetivo maior conseguir que os alunos e as alunas aprendam.
(Redes de Aprendizagem,2008, pag.18)
4 5
Ministrio da Educao e Cultura
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de Educao
3
4
5
PARA SABER MAIS:
http://www.unicef.org/brazil/pt/aprova_final.pdf
http://www.unicef.org/brazil/pt/Redes_de_aprendizagem.pdf
http://www.unicef.org/brazil/pt/br_caminhos_livro.pdf
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa24
-
Inspirados por essas referncias e a pergunta orientadora QUAL O SENTIDO DA
ESCOLA?, a reflexo apontou para algumas ideias convergentes. Muito se tem feito
para que a escola seja de fato um espao de aprendizagem, mas tambm preciso
reconhecer que ainda h muitos desafios, que indicam a necessidade de conti-
nuar trabalhando arduamente. o que nos aponta Rosa Maria Torres, especialista
em educao:
Aprender e ensinar so duas coisas diferentes. Parece bvio, mas no . [...] A prpria
expresso ensino-aprendizagem, to repetida e utilizada na pedagogia, tem contribu-
do, sem dvida, para favorecer e alimentar a confuso, criando a imagem (fontica e
visual) de que os dois termos constituem uma unidade inseparvel, dividida apenas por
um minsculo hfen. Mas a realidade nos indica que no existe essa unidade inseparvel
e que no meio h algo maior e mais grave que um hfen.
Ao olhar a realidade, necessrio reconhecer que ainda h escolas focadas no
ensino. Diretores, coordenadores e professores cuidando para que este seja
garantido, mas sem a clareza de que o ensino meio para se chegar aprendizagem,
e no a finalidade da escola, portanto, h de se cuidar dos processos de
aprendizagem, por meio de bons processos de ensino.
Ento, preciso esclarecer:
Ensinar e aprender so um nico processo?
Como a compreenso dessas concepes interfere na ao
dos profissionais que atuam nas escolas?
Vejamos a contribuio da profa. Telma Weiz (2000) em relao a esta temtica:
"No existe um processo nico de 'ensino-aprendizagem', como muitas vezes se diz,
mas dois processos distintos. [...] So dois processos que se comunicam, mas no se
confundem: o sujeito do processo de ensino o professor, enquanto o sujeito do
processo de aprendizagem o aluno. equivocada a expectativa de que o aluno poder
receber qualquer ensinamento que o professor lhe transmita exatamente como ele lhe
transmite. O professor que precisa compreender o caminho de aprendizagem que o
aluno est percorrendo naquele momento e, em funo disso, identificar as informa-
es e as atividades que permitam a ele avanar do patamar de conhecimento que j
conquistou para outro mais evoludo. Ou seja, no o processo de aprendizagem que
deve se adaptar ao processo de ensino, mas o processo de ensino que tem de se
adaptar ao de aprendizagem. Ou melhor: o processo de ensino deve dialogar com o
de aprendizagem". (p. 65)
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa25
-
Voc j havia pensado nisso antes?
Pare um pouco, pense na sua realidade e se pergunte:
Para a comunidade de educadores da minha escola, o que
realmente importa?
E em relao ao meu papel como coordenador pedaggico? De que
maneira essa reflexo reverbera na definio das minhas funes?
Vejamos o que alguns coordenadores pedaggicos da Rede responderam:
Por meio da formao, pude estabelecer uma nova tica na funo do coordenador
pedaggico: a importncia do coordenador como defensor dos processos de ensino e
aprendizagem; o coordenador como construtor ou organizador de mltiplas situaes
que acontecem em uma unidade escolar e, em especial, no processo de formao e refle-
xo junto ao professor. A real necessidade dos coordenadores nas escolas de centralizar
sua atuao no cunho formao e avaliao dos processos de aprendizagem.
(Welton Queirz da Fonseca Escola Municipal Casa da Amizade)
6
Este ano (2012) foi disponibilizado um vdeo pela CENAP que foi utilizado na Pr-
Jornada que ocorreu em dez/2011 e usamos na escola no primeiro dia da Jornada
Pedaggica. As abordagens colocadas sobre a diferena entre ensino e aprendizagem
foram relevantes na equipe pedaggica, que ressaltou exemplos prticos com alunos e
professores. O prprio tema da Rede Aprendizagem compromisso de todos, j
trouxe uma reflexo de como nas escolas ns pensamos mais em ensinar, sem nos
preocupar (tanto) se o aluno aprende. Enfim, todas as discusses foram enriquecedoras
e refletiram nos planejamentos semanais e bimestrais, que passam a ter o foco sempre
na aprendizagem do aluno e, em especial, na criao de vnculo para que isso acontea.
(Miraci C. Franco Escola Municipal Pedro Veloso Gordilho)
Pois bem, embora essa reflexo interfira de forma expressiva nas atribuies da
coordenao pedaggica, importante lembrar que historicamente a separao
entre ensino e aprendizagem ocasionou uma distoro na forma como se concebia a
diviso de trabalho dos especialistas, a saber, o supervisor - que cuidava dos pro-
cessos de ensino, ou do professor; e o orientador - que cuidava dos processos de
aprendizagem, ou seja, dos alunos. Esta dicotomizao das funes provocou
um distanciamento do chamado supervisor em relao aos alunos e, consequen-
temente, do acompanhamento, por sua parte, do processo de aprendizagem.
O sentido da
escola a
APRENDIZAGEM,
o ensino meio,
ferramenta para
se atingir essa
finalidade.
Vdeo O direito de Aprender CENPEC.
6
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa26
-
Nos ltimos anos, muitos desses profissionais (supervisores e orientadores),
formados com base nesta perspectiva, assumiram o papel de coordenadores,
ocasionando distores ou incompreenses em relao ao seu papel.
Na busca por fortalecer essa identidade que ainda est se delineando, muitos so os
desafios, e esses sero tratados ao longo da publicao. Assumir seu papel de
formador, acompanhar os processos de aprendizagem dos alunos, apoiar os
professores no desenvolvimento do seu trabalho, requer uma contnua busca pelo
reconhecimento do seu papel na instituio em que atua, melhores condies de
trabalho e consolidao das polticas de formao em servio. A prpria
complexidade da dinmica escolar exige desse profissional um alto grau de
competncia para gerenciar seu tempo, sua rotina, para no ser "engolido" pelas
emergncias do cotidiano.
Neste sentido, vale a pena lembrar que esta publicao uma iniciativa da SECULT
que visa documentar os saberes construdos pelo grupo de coordenadores
pedaggicos em exerccio nos anos de 2011 e 2012, a fim de narrar um processo
formativo e instrumentalizar novos coordenadores que cheguem Rede, a fim de
que possam se inteirar de caminhos j trilhados, vislumbrem caminhos a ser
percorridos e se sintam apoiados no seu fazer.
Pesquisa realizada
pela Fundao
Carlos Chagas em
13 capitais brasileiras
ouviu mais de
400 coordenadores
e concluiu que
eles se descuidam da
essncia do trabalho
e se ocupam com
tarefas secundrias
porque falta clareza
sobre qual
exatamente seu papel.
PARA SABER MAIS
Pesquisa O coordenador pedaggico e a formao de professores:
intenes, tenses e contradies. Fundao Victor Civita, 2011.
Acesse: www.fvc.org.br/pdf.
Referncias do Captulo:
TORRES, Rosa M. Ensinar e aprender: duas coisas diferentes.
Disponvel em: http://www.redemulher.org.br/espanhol/rosa.htm.
WEISZ, Telma. O dilogo entre o ensino e a aprendizagem. So Paulo: tica, 2000.
FERNNDEZ, Alcia. Os Idiomas do aprendente. Porto Alegre: Artmed.
GARDNER, Howard. Inteligncia: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa27
-
Como j vimos no captulo sobre o Histrico do Coordenador Pedaggico na Rede, essa
funo vem se reestruturando ao longo do tempo e se adequando no s s novas
diretrizes legais, mas tambm s demandas da escola em tempos contemporneos.
Na Rede Municipal de Salvador no diferente! Atualmente, os coordenadores
pedaggicos vivem um intenso movimento de constituio de sua identidade a partir
das referncias mais atuais que definem o papel do coordenador como um gestor
pedaggico da instituio; mas ainda se deparam com inquietaes e desafios,
muitos deles oriundos de uma viso, que ainda existe, de que so fiscalizadores ou
que tm um papel burocrtico na instituio; ou ainda, tm limites na gesto das
suas atribuies, tendo em vista o acmulo de tarefas e suas condies de trabalho.
Esse momento de tantas inquietaes e redefinies, contudo, no uma realidade
apenas da Rede Municipal de Salvador. No processo de elaborao deste material,
uma ampla pesquisa sobre esse profissional foi realizada no Brasil, envolvendo 400
entrevistados de 13 capitais. A pesquisa intitulada O coordenador pedaggico e a
7
formao de professores: intenes, tenses e contradies identificou que a crise
de identidade uma marca forte dos coordenadores brasileiros, devido exatamente
ao momento de redefinio de papeis, que exige muita clareza do que essencial na
sua funo, mas tambm exige apoio e compreenso dos demais profissionais sobre
isto, bem como condies institucionais e de trabalho para a efetivao de sua prtica.
A pesquisa tambm indica que ainda muito pouco o investimento na formao
especfica do Coordenador Pedaggico. Apenas 33% dos coordenadores pesquisados
afirmaram j ter tido algum curso de formao especfica.
C A P T U L O I V
O Papel do Coordenador Pedaggico
e suas Atribuies
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa28
TROCANDO EM MIDOS
Para realizar um bom trabalho, o coordenador precisa ter clareza do seu papel, ter
competncia para exerc-lo e estar em um ambiente de trabalho em que sua funo seja
reconhecida, ou seja, precisa de formao permanente.
Pesquisa realizada pela Fundao Carlos Chagas, a pedido da Fundao Victor Civita. 2011.
7
A vida humana consiste em habitar um mundo no qual
as coisas, alm de serem o que so, tambm significam;
o mais humano de tudo, porm, compreender que,
embora o que a realidade no dependa de ns, o que
a realidade significa , sim, competncia, problema
e, em certa medida, opo nossa.
(Fernando Savater)
-
Em entrevista Revista Gesto Escolar (junho/julho 2011) a pesquisadora Vera
Placco, que coordenou o estudo citado, d o seguinte depoimento, que corrobora
como a identidade do coordenador constituda:
A identidade profissional se constri nas relaes de trabalho. Ela se constitui na soma
da imagem que o profissional tem de si mesmo, das tarefas que toma para si no dia a dia
e das expectativas que as outras pessoas com as quais ele se relaciona tm acerca de seu
desempenho.
Com esse cenrio, tornou-se fundamental no s realizar um processo de formao
continuada para os coordenadores pedaggicos, mas tambm documentar o
percurso a fim de esclarecer, para toda a comunidade de educadores, qual o papel do
Coordenador Pedaggico da Rede Municipal de Salvador e quais as suas atribuies.
" (...) O curso de formao de coordenadores veio reforar e aperfeioar a nossa
caminhada, tecendo lastros tcnicos e prticos que so aplicados medida que vo
sendo vistos e trabalhados. Chegar concluso de que estamos trilhando caminhos por
onde os resultados aparecem, renovam a esperana e a certeza de que cumprimos a
nossa parte com responsabilidade e dedicao, incluindo as imperfeies do caminho
pertinentes nossa condio humana.
(Mnica Santos Coordenadora Pedaggica da Escola Municipal
Major Eloy Magalhes)
Tendo como ponto de partida o documento Coordenador Pedaggico: Traando
Caminhos para a sua prtica pedaggica, elaborado pela CENAP em 2008, revisamos
seu contedo ao longo do processo formativo, problematizando e contextualizando
as orientaes ali contidas. A sistematizao do percurso formativo, por meio dessa
publicao, tem como objetivo instrumentalizar e fortalecer a formulao de polticas
pblicas e a tomada de decises relativas ao papel do coordenador na Rede e suas
condies de trabalho.
Aps um processo intenso de debate e aprofundamento, o grupo validou que o
papel do coordenador pedaggico da Rede pode ser categorizado a partir de
8
trs dimenses , j anteriormente apresentadas no documento citado acima que,
por sua vez, foi inspirado na obra de ALMEIDA E PLACCO (2001). Ao longo do
processo formativo, essas dimenses, alm de validadas, foram aprofundadas e
refletidas no contexto especfico da Rede.
No captulo O Coordenador como formador, usaremos novamente essa palavra, mas para caracterizar
as dimenses da formao, segundo referncias de NVOA.
8
DIMENSES DA
ATUAO DOS
COORDENADORES
PEDAGGICOS
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa29
-
Ser um articulador implica estruturar um ambiente colaborativo, pautado
em relaes interpessoais ticas, promovendo espaos de dilogo e reflexo da
prtica pedaggica.
Assim, a ao educativa precisa ser planejada, articulada com os participantes da
unidade escolar, sendo o coordenador pedaggico um dos elementos de ligao
fundamental, por meio de estratgias interativas de trabalho, em momentos de
estudos, proposies, reflexes e aes.
Em seu livro O coordenador e o processo de mudana, as pesquisadoras Laurinda
Almeida e Vera Placco refletem sobre essa questo:
Nenhum educador vai conseguir dar conta de suas tarefas sozinho. Para realiz-las
importante contar com o apoio de um coletivo forte e solidrio. Mas para poder contar
com o apoio de um grupo desse tipo, preciso empenhar-se em constru-lo cotidiana-
mente: a fora de um coletivo vem do envolvimento de cada um, articulada, neste caso,
pelo coordenador pedaggico.
(ALMEIDA E PLACCO, 2011 )
Para a superao das necessidades cotidianas da escola, se exige um trabalho coletivo,
que, por sua vez, exige a presena e a atuao de um articulador dos processos educa-
tivos que ali se do. Esse articulador precisa agir nos espaos-tempos diferenciados, seja
para o desenvolvimento de propostas curriculares, seja para o atendimento a professores,
alunos e pais, nas variadas combinaes que cada escola comporta.
(ALMEIDA E PLACCO, 2011 )
Como um dos agentes de transformao da prtica pedaggica, o coordenador
pedaggico precisa estar aberto a transformar-se continuamente, reconhecendo a
sua prpria necessidade de formao. Transformao aqui entendida como atitude
de abertura para a mudana, para novas aprendizagens. Portanto, para ser um
agente transformador, o coordenador deve ter, em primeira instncia, disposio
pessoal para colaborar com a constituio de um ambiente escolar favorvel s
mudanas. Por outro lado, para que ocorram de modo significativo preciso que,
pelo menos, parte dos sujeitos da comunidade educativa esteja envolvida nestes
processos de transformao. Isso requer acolhimento e respeito s diferenas, aos
saberes, crenas e prticas dos professores para articular espaos de reflexo que
possam mobilizar as mudanas.
O Coordenador
como Articulador
O Coordenador
como Agente
Transformador
Articular o coletivo da escola, considerando as especificidades do contexto e as possibilidades
reais de desenvolvimento de seus processos.
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa30
SAIBA MAIS
O papel do
coordenador na
construo de uma
cultura colaborativa
na escola.
CAPTULO VIII
-
Segundo Orsolon (2001), o coordenador pode ser um dos agentes de mudana das
prticas dos professores mediante articulaes externas que realiza entre esses, num
movimento de interaes permeadas por valores, convices e atitudes; e por meio
de articulaes internas, que sua ao desencadeia nos professores, ao mobilizar
suas dimenses polticas, humano-relacionais e tcnicas, reveladas em sua prtica.
A responsabilidade formadora do coordenador pedaggico est pautada na forma-
o contnua dos professores, e, quando relevante e possvel, dos demais profissio-
nais da instituio, devendo estar aberta aos saberes adquiridos no cotidiano, que
precisam ser refletidos e incorporados na prtica pedaggica.
No CMEI Yolanda Pires iniciamos a formao continuada dos auxiliares de
desenvolvimento infantil ADI, que tem trazido resultados positivos nos processos de
ensino e aprendizagem, nas relaes interpessoais e na prpria valorizao destes
profissionais que participam diariamente da vivncia escolar. Elegemos em conjunto
alguns contedos e criamos um calendrio de encontros mensais para a formao.
(Denise de Santana Rocha)
Diante da complexidade dessa perspectiva, esta ser detalhada no captulo VI.
Com base nas reflexes realizadas durante o processo formativo sobre o sentido da
escola e cientes dessa realidade, a equipe de coordenadores pedaggicos da Rede
Municipal de Salvador elegeu dentre suas atribuies aquelas que esto especifica-
mente relacionadas ao acompanhamento dos processos de aprendizagem dos
alunos, visto que so referncias importantes para planejar e diversificar as estrat-
gias de ensino e tomar decises institucionais no intuito de intervir positivamente
nos resultados.
Transformar a realidade, por meio de um processo reflexivo que questiona as aes e suas
possibilidades de mudana, e do papel/compromisso de cada profissional com a melhoria da
educao escolar.
Formar os professores em conhecimentos da rea pedaggica, de modo que realizem
sua prtica em consonncia com os objetivos da escola e com as especificidades de cada rea
ou segmento.
O Coordenador
como Formador
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa31
Acompanhar os processos de ensino tem sentido quando eles reverberam em melhoria nos
processos de aprendizagem.
-
O processo formativo trouxe a certeza de que o primeiro passo para estruturar
uma rotina mais compatvel com o papel do coordenador conhecer quais so
essas atribuies. Para isso, os grupos revisaram as atribuies definidas pela
Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedaggico - CENAP, no documento: Coordenador
Pedaggico: Traando caminhos para a sua prtica educativa, chegando seguinte
listagem, que tambm foi revisada e validada pelo Grupo Gestor:
Coordenar, apoiar e acompanhar o planejamento e a execuo das aes pedaggicas
na escola, propiciando sua efetividade.
Organizar diferentes espaos e estratgias de formao continuada com vistas
instaurao de um ambiente reflexivo na escola.
Coordenar e acompanhar as Reunies Pedaggicas, promovendo oportunidades de
discusso e proposio de inovaes pedaggicas, assim como apoio produo de
materiais didtico-pedaggicos, na perspectiva de uma efetiva formao continuada.
Acompanhar e avaliar os processos de ensino e de aprendizagem e contribuir na busca
de solues para os problemas identificados.
Acompanhar as aprendizagens dos alunos, atravs de registros por bimestre, apoiando os
docentes na criao de propostas diferenciadas aos que tiveram desempenho insuficiente.
Gerenciar o tempo pedaggico, com vistas promoo da aprendizagem dos alunos.
Elaborar plano de ao do coordenador, estabelecendo metas a serem atingidas em
funo das demandas pedaggicas.
Coordenar, juntamente com a direo, a elaborao do Projeto Poltico Pedaggico da
escola, responsabilizando-se pela sua socializao e execuo na comunidade escolar,
articulando esse processo de forma participativa e cooperativa.
Contribuir para um ambiente favorvel aprendizagem e ao ensino que favorea a
criao de vnculos de respeito e de trocas no trabalho educativo, a partir do
entrosamento entre os membros da comunidade escolar.
Promover, juntamente com a direo, a articulao e estabelecimento de parcerias
entre escola, famlia e comunidade.
ATRIBUIES DOS COORDENADORES PEDAGGICOS DA REDE
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa32
-
De forma objetiva, a coordenadora Dalva Simone S. Conceio, da Escola Municipal
Senador Antnio Carlos Magalhes, resume o que aprendeu sobre o papel do coorde-
nador pedaggico:
Durante o processo de formao aprendi trs coisas importantes para o exerccio da
minha profisso:
Que o coordenador pedaggico deve ser essencialmente um formador
Que as intervenes devem ser sempre no sentido de fazer o professor refletir sobre
sua prtica (isso no estava muito claro para mim)
Que o foco do trabalho do coordenador deve ser sempre a aprendizagem e no s
o ensino.
Com essa viso, fica claro que para a Rede a atuao do coordenador pedaggico no
entendida como uma atividade meramente tcnica e burocrtica, mas que se constitui
em uma prtica intelectual, complexa, que demanda condies de tempo (para
viabilizar a efetivao de suas atribuies), espao (para encontro com professores,
alunos, gestores, pais), e clima institucional (cultura colaborativa e reconhecimento da
importncia da formao continuada).
Requer, ainda, validao desse papel e reconhecimento das atribuies a ele
inerentes pela comunidade escolar, e de espaos formativos regulares e especficos
para esse grupo de profissionais da Rede que demanda, assim como os demais, a
formao contnua.
Partindo do princpio que o Coordenador Pedaggico o gestor das aprendizagens, de
suma importncia que tenha clareza de suas atribuies e do caminho que ir trilhar.
Sendo assim, procuro organizar minha prtica, tendo em vista a compreenso do
processo na qual ela se d, que por, sua vez, perpassa pela gesto do tempo, pela cultura
colaborativa e pelo processo de formao dos sujeitos. Outro ponto muito forte na minha
prtica o comprometimento com aquilo que fao e do qual fao parte. Tenho que fazer
as coisas pulsarem, ganhar flego, fazer valer a pena, sensibilizar as pessoas da
importncia do seu papel e da sua contribuio e que resultados podemos alcanar.
Envolver o grupo na inteno do trabalho, alinhando os saberes do grupo no sentido de
planejar e fazer um trabalho com qualidade e pensando coletivamente. A vontade, o
querer, o dilogo, so elementos que trago sempre para a minha rotina de trabalho, ou
seja, o compromisso com a educao.
(Brbara Perla R. da Silva Escola Municipal Aristides Novis)
O depoimento da coordenadora Brbara referenda o que a prof. Teresinha Rios aponta
como a dimenso ou perspectiva tica do trabalho da coordenao. Segundo ela,
espera-se desse profissional o envolvimento com a construo coletiva do projeto
poltico pedaggico da escola e o compromisso com a formao continuada dos pro-
fessores e, nos processos de ensino e aprendizagem, a promoo da convivncia
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa33
-
solidria na instituio e a interveno na construo da humanidade e da sociedade
que queremos.
A questo tica est diretamente relacionada com o cuidado com o aspecto pessoal da
formao dos educadores. A escola um espao de convivncia de pessoas, que tm
saberes e experincias muito peculiares. Este aspecto tambm precisa ser considerado
para que a dimenso profissional possa fluir de forma produtiva.
Outro aspecto importante considerar os conhecimentos advindos dos professores,
valorizando-os sempre que possvel, e utilizando-os como pontos de referncia para a
formao. Estes tambm podem ser importantes indicadores para a compreenso das
causas de possveis resistncias. Segundo Sadalla (1998), os estudos sobre crenas
docentes apontam para a necessidade de conhecer as teorias implcitas formuladas
pelos professores, pois estas regem seu fazer.
Mas, nada disso suficiente se o prprio coordenador pedaggico no estiver em
atitude de abertura para a aprendizagem, reconhecendo a necessidade da formao
contnua como tambm uma gesto da sua autoformao.
Por fim, h muitas formas de compartilhar o que foi debatido sobre as atribuies dos
coordenadores pedaggicos da Rede. Com maestria, a coordenadora Cristiane Passos
produziu um belo cordel, inspirada nas reflexes dos grupos, conforme trecho abaixo:
Saiba mais sobre
estas dimenses
no captulo VI:
O Coordenador como
Formador: fazer por ou
fazer com?
Meus caros amigos coordenadores
Essas linhas que ora escrevo
Sobre um assunto importante
Das atribuies do coordenador
Nunca visto como antes
Se antes era visto como fiscalizador
Hoje se v como formador.
Aqui falo de uma luta
De mudana e transformao
De reconhecimento e de identificao.
Quem sou mesmo?
Neste espao to hostil que
A educao pblica no Brasil
Falo de novos valores que esto
Tomando o Brasil.
Apresento um movimento
Que mexe com a gente
De uma luta deste instante
Por isso no se espante
Foi preciso rever concepo
Pra entrar em ao
E abrir o olhar para ver...
Com lentes que se expandem.
O que quero mesmo fazer
Sou coordenadora de rede de ensino
Pblica da cidade de Salvador.
Voc vai ficar espantado
No to complicado!
Democratizou-se o ensino
Caiu a qualidade da aprendizagem.
E eu com isso?
O que tenho a ver?
Fao parte do contexto do aprender.
No mundo ps-moderno precisamos saber
Que ensinar somente
No faz o aluno aprender
Por isso mesmo bom saber
O C o rde l e a
C o o rde na do ra
Peda g g i c a
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa34
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Referncias do Captulo:
ALMEIDA, Laurinda R.; PLACCO, Vera M.N.S. (org.) O coordenador pedaggico e o espao de mudana.
So Paulo: Ed. Loyola, 2001.
FUNDAO VICTOR CIVITA. O Coordenador Pedaggico e a Formao de Professores: intenes,
tenses e contradies. Disponvel em: http://cenpec.org.br/biblioteca/educacao/estudos-e-pesquisas/
o-coordenador-pedagogico-e-a-formacao-de-professores-intencoes-tensoes-e-contradicoes.
LAMONICO, Circe F. Atribuies do Coordenador Pedaggico. Edicon, 2005.
ORSOLON, Luzia A. M. O coordenador/formador como um dos agentes de transformao da/na escola.
In: ALMEIDA, Laurinda R.; PLACCO, Vera M.N.S. (org.) O coordenador pedaggico e o espao de mudana.
So Paulo: Ed. Loyola, 2011. p. 17 - 26.
RIOS, Teresinha A. Coordenador Pedaggico: Co-organizador do ensino.
Disponvel em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar.
SADALLA, Ana Maria F.A. Com a palavra, a professora: suas crenas, suas aes. Campinas: Alnea, 1998.
SAMIA, Mnica M. Saberes, sabores e dissabores de professores em tempos de mudana.
Disponvel em: www.avante.org.br
No existe um processo nico
De ensino-aprendizagem
So dois processos distintos...
So dois processos que se comunicam
No devemos confundir
O ensino com o professor
O aluno com aprender.
Agora sim, no se pode embaraar
Sendo coordenador,
Preciso da ajuda do diretor
E sem esquecer
De voc PROFESSOR
O maior colaborador
Para poder avanar
E passo a passo alcanar
Onde precisamos chegar.
Meu caro coordenador
preciso ter conscincia
Do que se quer alcanar
Pra isso um plano de ao
Deve traar,
E tambm executar
Sempre avaliar
Pra assim recomear.
Que uma educao pra valer
Tambm precisa de mim e de voc.
O que temos que fazer?
Coordenador Pedaggico volto a dizer
Primeiro preciso
Ver e Rever
Tambm refletir o que o aluno tem que aprender
Um bom plano de trabalho devemos fazer
Isso faz um grande sentido pra mim
E tambm pra voc.
Se so tantas as atribuies
So tantas questes
Preciso focar um ponto
Quem busca pode encontrar
O que pode sustentar
Mas como j falei tanto
Vamos logo comear.
Pois eu trago nesses versos
Coordenador tambm formador
Est muito presente
Tambm um gestor
Pra valer essa mudana
Tem que prevalecer.
Assim diz Telma Weizs
No se esquea meu amigo,
Que aprendizagem pra valer
o aluno que tem que percorrer
E voc professor um mediador
Estudar preciso
E se manter bem informado.
No demais lembrar
Que o aluno do mundo ps-moderno
Aprende de modo diferente
Interage com o mundo virtual
Aprende no somente com a gente
sujeito inteligente.
E pra finalizar
Preciso felicitar
AVANTE
Que no arrogante
Mas plantou a semente
E deixou o fazer com a gente.
Autoria :
Coordenador (a) Pedaggico (a) da Rede
Municipal de Ensino de Salvador
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa35
-
Grande o desejo desse grupo de coordenadores pedaggicos de domar o tempo, de
forma inventiva, com ritmo e compasso, dando brilho a cada passo, como os trechos
da cano de Caetano!
Falar de gesto de tempo falar de um dos grandes desafios desses profissionais.
Entre a grande maioria dos coordenadores da Rede h um consenso, que tambm
um dos maiores dilemas desta funo:
Diante de tantas atribuies e da complexidade da escola, uma verdadeira
orquestrao conseguir reger o tempo, e no ser "engolido" por ele. Afinal, existe uma
diferena entre atuar em situaes de urgncias - e atuar como articulador - aquele que
administra as demandas que surgem e as aes que precisam ser realizadas,
identificando as prioridades que constam no seu plano de ao.
No texto A organizao da rotina e a gesto da aprendizagem, a formadora Maria 9
Aparecida Silveira enfatiza: Somente quando o coordenador pedaggico tem clareza
de sua funo que ele organiza o seu tempo de acordo com as suas obrigaes,
evitando assim ser engolido pelas demandas do cotidiano e por atividades que no lhe
competem. Reconhecer-se na funo de formador docente e articulador do trabalho
coletivo na escola de fundamental importncia para o coordenador pedaggico.
No processo formativo, a equipe de coordenadores pedaggicos refletiu sobre os
vrios tipos de atividades que caracterizam as atividades de trabalho. Segundo PLACCO
(2003), essas atividades tambm fazem parte da rotina do coordenador e podem ser 10
caracterizadas a partir das contribuies de MATUS (1991):
Gesto do Tempo - Desafio de uma Atuao
Focada no Pedaggico
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa36
C A P T U L O V
s um senhor to bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo...
(Caetano Veloso / Orao do Tempo)
H UMA BRECHA ENTRE O QUE SE DEVERIA FAZER
e o que SE FAZ! Entre A INTENO e o GESTO!
A autora participou como formadora do projeto e coordenadora pedaggica regional do Instituto Chapada de Educao e Pesquisa (ICEP).
MATUS, Carlos. Curso de Planificao e Governo. Guia de Anlise Terica. So Paulo: ILDES Editor, 1991.
9
10
IMPORTNCIA ROTINA URGNCIA PAUSA
-
Vamos analis-las no contexto da escola:
As atividades de Importncia visam atender as metas e finalidades, a longo, mdio e
curto prazos, para os projetos que visam mudar a situao presente.
Vejamos o que diz uma coordenadora pedaggica sobre este tipo de atividade:
Aes de importncia objetivam modificar a situao presente, sendo assim, o Conselho
de Classe Bimestral caracteriza-se como tal, pois se prope a analisar individualmente os
alunos em seu processo de aprendizagem, bem como as aes desenvolvidas pelos
professores para alcanar os objetivos de cada unidade didtica, traando caminhos que
se faam necessrios para a efetiva aprendizagem dos alunos.
(Jussara Ferreira dos Santos EM Adalgisa Souza Pinto)
A elaborao ou estudo do Projeto Poltico Pedaggico PPP um exemplo de
atividade de IMPORTNCIA que muitas vezes adiada ou no sistematizada porque as
atividades de URGNCIA atropelam ou at impedem sua realizao. A escola um
ambiente complexo, repleto de demandas que, se no geridas com critrio e
cooperao, inviabilizam as aes de IMPORTNCIA. Portanto, preciso priorizar a
elaborao do Plano de Ao da Escola para que as atividades que constam nele
possam ser realizadas, a partir de uma ao articulada da equipe gestora.
A principal funo do coordenador pedaggico se divide entre a formao continuada de
professores e a articulao do Projeto Poltico Pedaggico da escola. Isto no significa que
deva abandonar as demais atividades, mas preciso priorizar sua funo de formador e
articulador. No contexto dessa nova perspectiva profissional, a centralidade atribuda aos
coordenadores e as exigncias a eles apresentadas acarretam consequncias para a orga-
nizao e a gesto da escola, evidenciando a reestruturao do trabalho e a consequente
alterao na sua natureza e definio.
(AMADO E MONTEIRO, 2012, pag.5)
As atividades de Rotina esto direcionadas para o funcionamento do cotidiano, para as
normas reguladoras do processo de deciso/ao, para a manuteno de procedi-
mentos e de recursos de trabalho.
(...) Acreditando que a rotina estruturante para a construo e aprendizado dos
sujeitos; medida que estabelecia atividades rotineiras, construa a identidade do meu
papel de coordenadora daquele local. Hoje, muitas aes na instituio esto alinhadas
com esta rotina, a exemplo dos horrios de vdeo das turmas, ocasio em que as
professoras so atendidas semanalmente por 50 minutos e tratamos de questes
especificas dos grupos, tiramos dvidas e investigamos coisas que no so oportu-
nizadas nas Reunies Pedaggicas.
(Gleiciane Ramos coordenadora pedaggica, CMET Iacy Vaz)
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa37
Aes de
IMPORTNCIA
esto comprometidas
com as MUDANAS.
O compromisso
das atividades
de ROTINA com
a ESTABILIDADE.
-
As atividades de Urgncia esto direcionadas para atender aos problemas/situaes
que no so previstos pelo processo de deciso-ao e que exigem permanente
ateno. Comprometem-se com a ADEQUAO dos modos de trabalho s constantes
modificaes na realidade.
As atividades de Pausa destinam-se ao atendimento das necessidades individuais
do sujeito e incluem o descanso, as aes descomprometidas com resultados,
a ateno para fatos e circunstncias no vinculados funo social da instituio
e os elementos subjetivos das relaes interpessoais.
Vejamos o que a coordenadora pedaggica Cludia Barreto, da Escola Municipal
Roberto Correia acrescenta a esta definio:
(...) A unio do grupo necessria e devemos paut-la no dilogo, sem o qual as relaes
entre os sujeitos incidem em conflitos diversos. A dignidade do professor jamais deve ser
esquecida ou colocada em segundo plano. Necessitamos ter sempre um comportamento
tico, nos preocupando com o bem-estar pessoal e coletivo de todos os envolvidos no
contexto educacional. Toda relao deve estar atrelada conscientizao dos atos e aes
de cada um.
Ao longo do processo de formao continuada realizado junto aos coordenadores
pedaggicos da Rede, a gesto do tempo foi amplamente discutida. Foram assumidos
os muitos desafios diante desta tarefa e reconhecida a necessidade da conquista
progressiva de melhores condies de trabalho e da importncia da formao
continuada, no intuito de apoiar os coordenadores na realizao de um trabalho cada
vez mais prximo das suas reais funes. A seguir o relato de uma coordenadora que
reflete sobre esta questo:
Atravs desta formao, adquiri embasamento necessrio para mudar minha prtica,
deixando a multiplicidade dos afazeres importantes e emergncias que no fazem parte
das minhas atribuies para a gesto da escola, priorizando a formao dos professores
e realizando minha rotina, incluindo as situaes de urgncia que no esto previstas pelo
processo de deciso/ao.
(Josete Reimo S. Caldas coordenadora pedaggica da E.M. Amlia Rodrigues)
Assim, torna-se necessrio combinar todos os tipos de atividades relacionadas
gesto do tempo no Plano de Ao do Coordenador para que este desafio seja compar-
tilhado e assumido tambm por outros membros da instituio, como a gesto e
os professores.
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa38
As atividades
de Urgncia
referem-se s
ADEQUAES
necessrias a um
trabalho flexvel
Aes de pausa
esto comprometidas
com a HUMANIZAO
no trabalho
-
Este consiste no planejamento de todas as aes necessrias para atingir um resultado
desejado (em geral anual).
Com o Plano de Ao possvel estruturar um delineamento das principais aes e
metas que precisam ser realizadas ao longo de um perodo. Como em geral feito a
partir de um dilogo com o grupo gestor, este Plano importante para apoiar o
coordenador na estruturao de sua rotina e evitar distores em relao a funes que
no lhe so prprias.
Mas este no o nico instrumento de planejamento do coordenador. H tambm o
Plano de Formao, que o planejamento elaborado para estruturar o processo
formativo do semestre ou bimestre, a depender das demandas levantadas. Para isso,
essencial ouvir os professores e a gesto, uma vez que Planos precisam estar articulados
com o Projeto Poltico Pedaggico da instituio.
Referncias do Captulo:
AMADO, Cibele e MONTEIRO, Elizabete. Coordenao Pedaggica em foco. In: Salto para o Futuro.
Coordenao Pedaggica em foco. TV Escola. 2012 pag. 04 a 07.
Disponvel em: http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15122101-CoordenacaoPedagogica.pdf.
PLACCO, V. M. N. S.; ALMEIDA, L. R. (orgs.). O coordenador pedaggico e o cotidiano da escola.
So Paulo: Loyola, 2003.
SILVEIRA, Maria Aparecida. A organizao da rotina e a gesto da aprendizagem. In: Salto para o Futuro.
Coordenao Pedaggica em foco. TV Escola. 2012 pag. 13 a 18.
Disponvel em: http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15122101-CoordenacaoPedagogica.pdf.
E O QUE
O PLANO
DE AO?
PPP
Plano de
Ao da
ESCOLA
Plano de
Ao do
COORDENADOR
Plano de
Formao dos
PROFESSORES
Elaborados por
toda a equipe
Elaborados pela
coordenao
COORDENADOR PEDAGGICO:
Caminhos, desafios e aprendizagens para a prtica educativa39
SAIBA MAIS
O Coordenador
como formador:
fazer por ou
fazer com?
CAPTULO VI
-
Para tratar da perspectiva formadora do coordenador pedaggico, importante
destacar os referenciais que orientam o paradigma de formao adotado na Rede
Municipal de Salvador:
1. A formao continuada inerente profisso docente e no
uma ao compensatria.
O desenvolvimento profissional permanente uma condio para o exerccio da
docncia de qualquer pessoa que escolhe ser professor, independente de sua formao
inicial e de sua condio scio cultural. Segundo os Referenciais para Formao de Pro-
fessores, a formao :
um processo contnuo e permanente de desenvolvimento, o que pede do professor
disponibili