o papel do coordenador pedagogico como articulador do processo ensino e aprendizagem reflexoes so

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  • O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGGICO COMO ARTICULADOR DO

    PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM: REFLEXES SOBRE O

    CONSELHO DE CLASSE

    Elisangela Mercado

    [email protected]

    Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

    RESUMO:

    A escola mantm uma relao dialtica com a sociedade. Desvelar e explicitar as

    contradies subjacentes a essas prticas so alguns dos objetivos do trabalho do

    coordenador pedaggico. Essa posio afirma que professores, coordenadores e alunos

    so os responsveis pelas transformaes no processos educativo. O Conselho de Classe

    torna-se um espao de adeso, reviso das concepes, dilogo, troca de experincias,

    respeito diversidade e melhoria do processo ensino e aprendizagem. A partir desse

    cenrio este estudo responde Como o coordenador pode atuar como articulador da

    melhoria do processo educativo? O Conselho de Classe, nesse sentido, um espao

    capaz de desencadear um processo de mudana?. Para refletir sobre as implicaes do

    trabalho do coordenador, por meio do Conselho de Classe no processo de melhoria do

    ensino e da aprendizagem buscou-se subsdios nos estudos de Dalben (1992, 2004 e

    2006), Placco e Almeida (2003), Libaneo (2004) e outros. A pesquisa baseou-se na

    prtica exercida em espaos de dilogos e discusses, Conselhos de Classes, realizados

    em uma escola pblica de Macei. A relevncia dessa pesquisa consiste em sensibilizar

    coordenadores, professores e alunos da importncia do Conselho de Classe voltado para

    a superao das dificuldades de aprendizagem e melhoria da pratica pedaggica torna-se

    uma desafio da gesto.

    Palavras-chave: Coordenao Pedaggica; Conselho de Classe, Prtica Pedaggica

    Introduo

    Atualmente, a escola encontra-se pressionada por novas demandas da sociedade.

    Sente-se obrigada a repensar e alterar suas prticas pedaggicas. Os elevados ndices de

    evaso e repetncia, fatores da excluso social, tornam-se entraves srios aos processos

    de escolarizao da populao brasileira.

  • Essa escola, espao de atuao dos coordenadores, mantm uma forte relao

    dialtica com a sociedade: ao mesmo tempo em que a reproduz, a transforma. As

    prticas pedaggicas-gestoras desenvolvidas nessa intuio tambm apresentam-se

    dialticas e complexas. Desvelar e explicitar as contradies subjacentes a essas prticas

    so alguns dos objetivos do trabalho de coordenao, que deve ser planejado na direo

    da transformao do processo ensino e aprendizagem.

    Tal posicionamento nos permite afirmar que professores, coordenadores e alunos

    so os responsveis pelos processos de mudana que ocorrem na escola. necessrio

    que haja espaos de adeso, reviso das concepes, desenvolvimento de novas prticas

    docentes e mudanas de atitudes dos envolvidos no processo educativo. O Conselho de

    Classe participativo torna-se, ento, o espao de dilogo, troca de experincias, respeito

    diversidade e melhoria do processo ensino e aprendizagem.

    As preocupaes acima levantadas e a crena de que o coordenador pode ser um

    agentes articulador do processo ensino e aprendizagem leva-nos ao seguinte

    questionamento: como o coordenador pode atuar como articulador da melhoria do

    processo educativo? O Conselho de Classe, nesse sentido, um espao capaz de

    desencadear um processo de mudana?

    O estudo foi realizado a partir de reflexes da minha prtica coordenadora nos

    espaos de dilogos e discusses oriundos dos conselhos de classes realizados com

    alunos das sries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Mdio, em uma escola

    pblica estadual de Macei.

    Sensibilizar coordenadores, professores e alunos da importncia do Conselho de

    Classe voltado para a superao das dificuldades de aprendizagem e melhoria da pratica

    pedaggica torna-se uma desafio nesse novo modelo de gesto. Faz-se necessrio a

    adoo de uma nova postura e crer que os espaos de dilogos so possibilidades de

    transformao, ruptura e inovao.

  • O papel do coordenador como agente de mudanas

    O cotidiano do coordenador pedaggico marcado por experincias e situaes

    que levam a uma atuao desordenada, ansiosa, imediatista e desfocada da sua real

    funo. Nesse contexto, praxe concebermos o coordenador como a pessoa designada

    para apagar incndios, fiscalizar o professor, ser garoto de recado do diretor, tapa

    buraco e quebra-galhos, caador de alunos pelos corredores da escola e outros. O

    coordenador aquele agente de transformao no cotidiano escolar, responsvel pela

    construo e reconstruo da ao pedaggica, com vistas a construo e articulao

    coletiva do Projeto Poltico Pedaggico.

    Na literatura atual a principal funo do coordenador pedaggico o de

    mobilizar os diferentes saberes dos profissionais que atuam na escola para levar os

    alunos ao aprendizado. Essa a viso que Freire (1982) defende ao descrever que o

    coordenador pedaggico , primeiramente, um educador e como tal deve estar atento ao

    carter pedaggico das relaes de aprendizagem no interior da escola. Ele leva os

    professores a ressignificarem suas prticas, resgatando a autonomia docente sem, se

    desconsiderar a importncia do trabalho coletivo.

    Dessa forma, agindo como um parceiro do professor o coordenador vai

    transformando a prtica pedaggica. Segundo Vasconcellos (2006) essa prxis

    composta das dimenses: reflexiva ao auxiliar na compreenso dos processos de

    aprendizagem; organizativa ao articular o trabalho dos diversos atores escolares;

    conectiva por possibilitar interrelao entre os professores, gestores, funcionrios, pais e

    alunos; interventiva quando modifica algumas prticas arraigadas que no traduzem

    mais o ideal de escola e por fim, avaliativa, ao estabelecer a necessidade de repensar o

    processo educativo em busca de melhorias.

    Para Libaneo (2004), o coordenador pedaggico aquele que responde pela

    viabilizao, integrao e articulao do trabalho pedaggico, estando diretamente

    relacionado com os professores, alunos e pais. Junto ao corpo docente o coordenador

    tem como principal atribuio a assistncia didtica pedaggica, refletindo sobre as

  • prticas de ensino, auxiliando e construindo novas situaes de aprendizagem, capazes

    de auxiliar os alunos ao longo da sua formao.

    Com o corpo discente, o coordenador apia diretamente os alunos com

    dificuldades de aprendizagem referentes a leitura, escrita e clculo, organizando

    atendimento diferenciado e em contra turno, a partir da identificao das reas de maior

    fragilidade e a articulao docente no apoio a superao ou minimizao das

    dificuldades detectadas. Junto aos demais alunos o coordenador deve criar condies

    necessrias a integrao desses vida escolar, estimulando a participao e a tomada de

    decises, mediante a realizao e a produo de atividades pedaggica, cientificas,

    sociais e culturais.

    Junto aos pais, o coordenador elabora e executa programas e atividades de

    integrao e estreitamento de relaes. Esta parceria pode ocorrer tanto de maneira

    informal acompanhamento do desempenho escolar dos filhos, quanto mais formal, pela

    participao nos conselhos. A escola deve aprender a partilhar sua responsabilidade com

    os pais, por isso de suma importncia a presena dos pais em todas as instancias de

    deciso as escola.

    Alm dessas atividades, o coordenador pedaggico prope estudos, discusses e

    reviso do Projeto Poltico Pedaggico da unidade escolar, estimula a interrelao entre

    projetos didticos e assegura a unidade da ao pedaggica, acompanha o processo

    avaliativo escolar e institucional e cuida dos aspectos organizacionais do ensino:

    coordenao de reunies pedaggicas; elaborao do horrio escolar; organizao das

    turmas; distribuio de professores; organizao e conservao de material e

    equipamentos didticos; planejamento e coordenao do Conselho de Classe. Tambm

    assegurado no mbito da coordenao pedaggica a articulao entre gesto e

    organizao da escola, mediante o exerccio de gesto democrtica (participativa,

    descentralizadora e autnoma).

    Segundo Orsolon (2003) algumas atitudes do coordenador so capazes de

    desencadear mudanas no cotidiano da escola:

  • promover um trabalho de coordenao em conexo com a gesto escolar,

    discutindo que a integrao o caminho para a mudana, por isso o

    planejamento do trabalho pedaggico deve acontecer de forma participativa e

    democrtica;

    realizar o trabalho pedaggico de forma coletiva, defendendo que a mudana s

    acontece se todos se unirem em torno de um objetivo nico;

    mediar a competncia docente, considerando os diferentes saberes, experincias,

    interesses e o modo de trabalhar dos professores, criando condies para

    interveno e auxlio;

    desvelar a sincronicidade do professor e torn-lo reflexivo, criando condies

    que levem o professor a analisar criticamente os componentes polticos,

    interrelacionais, sociais, culturais e tcnicos de sua atuao;

    investir na formao continuada do professor, de forma reflexiva,

    problematizadora e investigativa, transformando-a sob a direo do Projeto

    Poltico Pedaggico da escola;

    incentivar prticas curriculares inovadoras, propondo aos professores a

    descoberta de novas prticas, que acompanham o processo de construo e

    vivncia do ato de ensinar e aprender;

    estabelecer parceria com o aluno, incluindo-o no processo de discusso e

    planejamento do trabalho pedaggico. Criando oportunidades/espaos para que

    os estudantes participem com opinies, sugestes e avaliaes do processo

    educativo;

    criar oportunidades para o professor compartilhe suas experincias, ao incentivar

    que o professor se posicione de forma integral e aprendiz em relao a dinmica

    da escola;

    procurar atender s necessidades e desejos de todos que compem a escola, o

    coordenador precisa estar sintonizado com os contextos social, cultural e

  • educacional da escola, captando as necessidade e anseios da comunidade

    escolar;

    estabelecer parcerias, possibilitando a tomada de decises, o comprometimento

    de todos no rumos de transformao do contexto educacional;

    propiciar situaes desafiadoras, novas propostas de trabalho ou as aes que

    provoquem a reflexo e o interesse pela mudana.

    As aes acima encontram-se relacionadas e entrelaadas ao apresentarem

    elementos comuns: o trabalho coletivo, a formao continuada do docente e a criao de

    um ambiente participativo e democrtico. Tais elementos so constitutivos do trabalho

    da coordenao pedaggica e devem, por sua vez, estar contemplado no Projeto Poltico

    Pedaggico e nas demais instncias colegiadas da escola.

    Cabe aos coordenador planejar, coordenar, gerir, acompanhar, intervir e avaliar

    todas as atividades pedaggicas e curriculares da escola. Ele agente responsvel pelo

    direcionamento de suas aes para a transformao da pratica pedaggica, isto , precisa

    estar consciente da importncia do trabalho coletivo, mediante a articulao dos

    diversos atores escolares. Essa uma forma de garantir aos professores, gestores, pais,

    funcionrios e alunos a participao e o envolvimento nos novos rumos da escola.

    Cabe a eles, tambm, estimular e criar situaes para que se realizem debates

    amplos e definies sobre a estrutura da escola, seu funcionamento e suas relaes com

    a sociedade. Orsolon (2003) destaca que as mudanas, provocada pelos coordenadores

    devem ser importantes para toda a comunidade escolar, de maneira que as

    concordncias e discordncias, as resistncias e as inovaes propostas se constituam

    num efetivo exerccio de democracia que possam transformar a escola. Portanto, a ao

    do coordenador ser a de um agente transformador na medida em que transformar a si

    mesmo e, por conseqncia, realidade de maneira dinmica, crtica e simultnea

    produzindo assim a compreenso do fenmeno educativo.

  • Aes do coordenador no Conselho de Classe

    Um dos espaos mais rico de reflexo/transformao da prtica pedaggica e o

    menos aproveitado nas escolas o Conselho de Classe. De modo geral, o Conselho de

    Classe se transformou num espao de julgamento da vida acadmica dos alunos, um

    lugar no qual a avaliao excludente domina e um ambiente de ascendncia s criticas

    improdutivas do sistema escolar. Esta prtica de Conselho de Classe tem revelado, ao

    longo dos anos, o carter excludente, seletista e onipotente da escola.

    A fim de compreendermos melhor porque o Conselho de Classe tornou-se um

    mecanismo de eliminao e punio na escola, analisaremos de forma breve a origem

    dos conselhos de classe. Conforme Rocha (1984), o Conselho de Classe, instncia

    privilegiada na organizao do trabalho escolar, teve sua origem na Frana por volta de

    1945, com a funo de orientar o acesso dos alunos ao ensino clssico ou tcnico,

    conforme a aptido.

    Em 1958, esta concepo foi trazida para o Brasil e aplicada no Colgio de

    Aplicao da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAP). Dalben (2006) acredita

    que a insero dos conselhos de classe em escolas brasileiras aconteceu em decorrncia

    das ideias propagadas, desde a dcada de 30, pelos Pioneiros da Educao Nova. Eles se

    colocava contrrio centralizao do poder de deciso e sugeriam uma organizao,

    fundada na observao sistemtica e contnua dos alunos, visando oferecer um o ensino

    que correspondesse aos gostos e aptides de cada um.

    Com a implantao da Lei 5.692/71, o Conselho de Classe passa a se apresentar

    como colegiado formalmente institudo na escola e, a partir de ento, so traadas as

    diretrizes de sua operacionalizao. Essa lei deu abertura para que os Conselhos de

    Estaduais de Educao traassem pareceres e resolues orientadoras.

    A instituio do Conselho de Classe em Alagoas teve como referncia a

    Resoluo n 051/2002 CEB/CEE-AL que estabeleceu para a rede pblica estadual o

    Conselho de Classe como rgo Colegiado obrigatrio para todo o Sistema Estadual de

    Ensino. Ele tem natureza deliberativa e consultiva, que trata de assuntos de natureza

  • didtica e pedaggica de cada classe, com o objetivo de analisar o processo ensino-

    aprendizagem, o prprio relacionamento professor-aluno e as possibilidades de

    encaminhamento para cada situao. H a possibilidade de no s analisar o processo

    avaliativo, mas tambm, definir coletivamente pela aprovao ou reteno de alunos ao

    final do ano letivo.

    Conceber o Conselho de Classe como um rgo colegiado em que vrios

    professores das diversas disciplinas, juntamente com os coordenadores pedaggicos ou

    mesmo os supervisores e orientadores educacionais, renem-se para refletir e avaliar o

    desempenho pedaggico dos alunos das diversas turmas, sries ou ciclos. (DALBEN,

    2004, p. 31) entend-lo como mecanismo de participao direta de todos os

    profissionais que atuam no processo pedaggico; uma organizao interdisciplinar e

    apresenta como centro do trabalho a avaliao dos alunos.

    Em muitas vezes os processos de avaliao utilizados durante o Conselho de

    Classe desconsideram a riqueza do processo de aprendizagem presente nas reas de

    conhecimento, suas metodologias e os mecanismos de avaliao produzidos. O

    Conselho de Classe, como uma etapa inclusa na prtica da avaliao, teve e tem ainda

    suas bases aliceradas numa concepo terica de educao a servio de uma pedagogia

    excludente e punitiva. A cultura da avaliao se espalhou pelos corredores da escola

    saindo das salas de aula e perpassando todos os setores at chegar ao Conselho de

    Classe que, prestasse apenas a realizar um levantamento dos alunos que sero aprovados

    e os que sero reprovados. A avaliao escolar de uma forma simblica encontra-se

    calcada na cultura da mensurao, legitimada pelos regimentos escolares. No devemos

    esquecer que na escola no existe apenas a avaliao como forma de excluso, mas

    tambm, a organizao do currculo a dinmica de trabalho escolar e a relao professor

    e aluno.

    Atualmente, os Conselhos de Classes so vistos como uma reunio de todos os

    responsveis pelo sucesso no processo de ensino e aprendizagem, bem como na garantia

    do direito de aprender. Passam a ser visto como um espao capaz de intensificar a

  • construo de processo democrticos de gesto do Projeto Poltico Pedaggico da

    escola. (DALBEN, 2006, p. 37). Para a autora h algumas caractersticas bsicas que

    tornam o Conselho de Classe diferente dos demais rgos colegiados, no que refere-se

    ao desenvolvimento do projeto pedaggico da escola, entre elas: a forma de participao

    direta, efetiva e entrelaada dos profissionais que atuam no processo pedaggico; a

    organizao interdisciplinar e a importncia da avaliao como foco de trabalho do

    processo de aprendizagem.

    O Conselho de Classe o espao ideal para uma avaliao diagnstica da ao

    pedaggica, feito por professores, alunos, pais, gestores e demais membros da

    comunidade escolar. Desta forma, o levantamento de notas, as dificuldades em uma

    determinada matria e os comportamentos inadequados so temas que devem ser

    refletidos nos Conselhos de Classe, por serem determinantes no surgimento das

    dificuldades de aprendizagem. A avaliao diagnstica, o aconselhamento, o

    prognstico, o levantamento de solues e alternativas, a elaborao de programas de

    recuperao, apoio, incentivo, a reformulao de objetivos e a preocupao,

    envolvimento e coleta de evidncias de mudanas comportamentais dos alunos so os

    principais temas que devem ser refletidos e discutidos nas reunies de um Conselho de

    Classe.

    O Conselho de Classe, ento, torna-se um espao de reflexo pedaggica em que

    pais, alunos, professores e gestores, situam-se no processo educativo, reorientando a

    ao pedaggica, a partir das diretrizes esboadas no Projeto Poltico Pedaggico da

    instituio. Uma educao voltada para uma ao-reflexo-ao e para a garantia do

    direito de aprender entende o Conselho de Classe como participativo, ou seja, como

    estratgia para uma maior reflexo do processo educacional, abrindo espaos de dilogo

    entre todos que fazem a comunidade escolar.

    Nesse sentido, Lorenzoni (2010, p. 4) defende que os Conselhos de Classe so

    importantes estratgias na busca de alternativas para a superao dos problemas

    pedaggicos, comunitrios e administrativos da escola. A escola deve estar

  • comprometida com os reais interesses da populao, promovendo o reconhecimento, a

    valorizao e o conhecimento mtuo no compromisso com a aprendizagem, o respeito

    s diferenas e a igualdade de direitos e de condies, em sumo, democracia.

    A escola que tem um Conselho de Classe participativo representa o engajamento

    da comunidade na formao de sujeitos crticos e conscientes no enfrentamento dos

    desafios cotidianos. O ensino resultante da aplicao de Conselhos de Classes

    participativo contribui para a construo de novos saberes, a transformao da prtica

    pedaggica. com a participao de todos que a escola pode caminhar para uma

    melhoria na qualidade social.

    Entendendo que o Conselho de Classe permite-nos uma compreenso e uma

    anlise crtica da prtica pedaggica atravs de uma concepo participativa e

    transformadora faremos a seguir algumas reflexes oriundas da minha prtica como

    coordenadora de turmas de sries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Mdio,

    numa escola pblica de Macei. A escolha dessa escola ocorreu por ter, em sua maioria,

    alunos carentes, tanto social como poltica, cultural e economicamente e, por isso, foi

    importante ouvirmos os desejos e expectativas da comunidade escolar sobre o processo

    de ensino e aprendizagem.

    A escola deve no seu planejamento e nas aes desenvolvidas, trabalhar a partir

    e com a realidade do aluno, preparando-o para a vida, medida que proporciona

    condies para pensar, refletir, agir, questionar, sugerir e participar ativamente do

    processo de aprendizagem. Nessa perspectiva, a equipe gestora repensou o Conselho de

    Classe instituindo a presena de alunos, funcionrios, professores e gestores, para tal

    elaborou o seguinte planejamento:

    Proposta de Encaminhamento do Conselho de Classe

    ANTES DO CONSELHO

    eleio dos representantes de turmas e do professor orientador;

  • orientao s turmas quanto a forma de participao/funo no Conselho de Classe;

    planejamento das aes a serem desenvolvidas pela direo, coordenao

    pedaggica, professores e alunos representantes.

    ETAPAS DO CONSELHO DE CLASSE

    1.Sensibilizao feita pelos professores:

    textos para reflexo.

    2. Discusso sobre as decises do Conselho de Classe anterior: (exceto no 1 Conselho

    de Classe do ano ou da turma)

    Avaliao das deliberaes do Conselho anterior com a cobrana dos compromissos

    antes firmado

    3.Participao dos alunos representantes de cada turma:

    relato dos alunos contendo o levantamento das dificuldades de aprendizagem de cada

    turma, reivindicaes, sugestes e solues pertinentes;

    problemas de indisciplina, desinteresse, baixa freqncia e baixo

    rendimento, bem como dos casos particulares

    4. Discusso sobre o relato dos alunos:

    professores e funcionrio se manifestam emitindo parecer;

    direo e/ou coordenao pedaggica encaminha o debate para o levantamento das

    possveis solues;

    5. Deliberao acerca dos problemas apresentados:

    propostas e solues, apresentadas por todos, para os problemas especficos de cada

    turma e/ou de cada aluno. As solues so apontadas e apreciadas por todos e delas

    derivam-se os encaminhamentos a serem seguidos.

    6. Avaliao do Conselho de Classe:

    evidenciar os aspectos positivos e negativos;

    apresentar sugestes de melhoria.

  • Durante as etapas de consolidao e construo de um Conselho de Classe

    participativo a postura dos alunos nos impressionou, a responsabilidade e a maturidade

    na discusso dos caminhos e das dificuldades existentes no processo de ensino e

    aprendizagem. Antes de participar do conselho os alunos representantes das turmas

    fizeram uma reunio com todos os alunos e explicaram o papel e a responsabilidade que

    estavam assumindo. Em seguida, junto a estes realizaram um levantamento das

    dificuldades vivenciadas em cada disciplina: reivindicaes, sugestes para o processo

    educativo, possveis causas dos problemas de indisciplina, desinteresse, baixa

    freqncia e baixo rendimento.

    Os professores e funcionrios tiveram mais resistncia no comeo, pois no

    conseguiam compreender o porque do Conselho de Classe, que antes se preocupava em

    conhecer cada aluno, visualizando suas potencialidades e a verificao das

    aprendizagens realizadas, agora tinha que ser diferente, porque funcionrio e alunos

    precisariam estar presentes? Foi com esse questionamento que a equipe

    gestora/coordenadora comeou a traar os rumos da mudana. Ao destacar para os

    demais que o Conselho de Classe teria no s o objetivo de avaliar o rendimento escolar

    do aluno, mas tambm o processo ensino e aprendizagem como um todo, desde os

    contedos, a metodologia, a disciplina, a organizao e gesto escolar (equipe diretiva,

    professores, condies de trabalho, material didtica e outros). Acreditando que, estes

    aspectos interferem no processo de aprendizagem a escola precisaria ouvir todos que

    fazem parte dela.

    Nos dias que sucederam o primeiro encontro, cada grupo (alunos, professores,

    funcionrios) discutiu e estudou a importncia, a contribuio e a organizao de um

    Conselho de Classe Participativo. Aps esse breve estudo foi realizado o primeiro

    Conselho de Classe. A reunio foi aberta com a leitura de um texto reflexivo, feita pelo

    professor de Matemtica. Em seguida, o grupo comparou a mensagem do texto como

    inicio de um novo trabalho, a execuo de Conselho de Classe Participativo. A

    coordenao relatou o porque do Conselho torna-se participativo e democrtico,

  • estimulando a participao e o envolvimento de todos no processo educacional. Ao

    apontar que a escola constituda de elementos positivos e aspectos que precisam ser

    melhorados, destacou-se que todo o processo de ensino e aprendizagem precisa ser

    revisto e discutido. Nesse momento foi realizado um paralelo entre o processo de

    aprendizagem dos alunos e a metodologia de ensino utilizada.

    Aps a apresentao da coordenao, os alunos, personagens principais desse

    momento nico e histrico, apresentaram as dificuldades de aprendizagem existentes

    em cada disciplina e as reivindicaes e sugestes que podem melhorar o processo de

    ensino e aprendizagem. Em seguida, os professores refletiram acerca do processo de

    aprendizagem, fazendo uma auto avaliao das condutas e prticas docentes assumidas

    na escola. Foi discutido o perfil da turma, sugerindo melhorias e ressaltando seus

    aspectos positivos, fornecendo as informaes necessrias e ressaltando os aspectos em

    que cada aluno precisa melhorar, referentes aprendizagem, disciplina e estudo, sempre

    salientando os aspectos positivos de cada educando. E nesse momento, funcionrios,

    gestores, professores e alunos discutiram o papel de cada um, no processo educativo e

    na superao dos entraves expostos, compreendendo que todos so responsveis pela

    definio de novos rumos e na implantao de uma gesto participativa.

    A fim de que no houvesse constrangimentos para nenhum dos segmentos da

    comunidade escolar, os alunos que apresentavam algum tipo de problema de

    aprendizagem, de relacionamento com professores e colegas, de hbitos e atitudes anti

    sociais, seriam ouvidos no final ou posteriormente, oportunizando com isso um dilogo

    mais individualizado.

    Aps a efetivao do primeiro Conselho de Classe participativo foi feito uma

    coleta de depoimentos com alguns membros participantes do processo:

    Considero esse Conselho de Classe timo, pois um momento de

    interao entre professores, alunos, coordenao e funcionrios. Agora

    sinto que todos esto envolvidos com a escola. Espero que isso

    melhore os nossos ndices. (Diretor)

    Esse conselho bom promove a participao, envolvendo os alunos,

    busca melhorar o que no est bem e evidenciar o que est sendo bom.

  • Para os alunos importante porque agora eles se sentem mais

    interessados. (Professor)

    Eu achei muito bom, porque me senti parte da escola e agora sei que

    posso ajudar os alunos. (Funcionrio)

    Achamos legal. Todos puderam participar. Pode-se falar sobre o que

    est bom e ruim na escola. A gente falou das nossas dificuldades e os

    professores vo nos ajudar, pois estamos aqui para aprender. (Aluno)

    Aps o primeiro Conselho de Classe, outros encontros foram marcados. No

    segundo Conselho de Classe ser apresentado, no inicio, os depoimentos citados, para

    que a comunidade escolar tenham a certeza de que o caminho proposto, pela

    coordenao, traz mudanas significativas na escola. O coordenador um grande agente

    de transformao e formao de espaos participativos e democrticos, que respeitem o

    direito de aprender e busquem a melhoria da qualidade social.

    Consideraes finais

    Ao longo deste estudo, foi destacado a importncia da atuao dos

    coordenadores pedaggicos na articulao do processo ensino e aprendizagem,

    rompendo uma viso excludente e seletiva do Conselho de Classe.

    A discusso sobre a origem dos Conselhos de Classe permitiu-nos compreender

    que sua implantao se deu a partir de uma necessidade sentida pela sociedade e por

    uma reivindicao pedaggica dos professores. Previa-se para os conselhos uma funo

    de cunho pedaggico e auxilio no processo avaliativo, mas ao longo do estudo foi

    percebido que os Conselhos de Classe so fundantes para a instituio de uma postura

    participativa e democrtica.

    O desafio seguinte da escola pesquisada incluir no Conselho de Classe a

    participao dos pais, uma vez que estes passam a entender melhor o processo educativo

    e sentem-se participes dele. papel do coordenador, buscar entre suas aes, integrar e

    articular os membros da comunidade escolar. Experincias como estas tem mostrado

  • que o caminho para a mudana passa pela coordenao pedaggica, que trabalha em

    prol da melhoria no processo ensino e aprendizagem.

    Referncias

    CEE/AL. Resoluo n 51 de 17 de dezembro de 2002. Disponvel em:

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