artigos de estudo do coordenador pedagogico

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O papel do coordenador pedagógico Educação de qualidade é uma busca constante das instituições de ensino, para que isso se torne realidades são necessárias ações que sustentem um trabalho em equipe e uma gestão que priorize a formação docente contribuido para um processo administrativo de qualidade conforme Chiavenato (1997, p.101), “não se trata mais de administrar pessoas, mas de administrar com as pessoas. As organizações cada vez mais precisam de pessoas proativas, responsáveis, dinâmicas, inteligentes, com habilidades para resolver problemas, tomar decisões”. Nessa perspectiva devemos identificar as necessidades dos professores e com eles encontrar soluções que priorizem um trabalho educacional de qualidade esse trabalho é desenvolvido pelo coordenador pedagógico. Esse profissional tem que ir além do conhecimento teórico, pois para acompanhar o trabalho pedagógico e estimular os professores é preciso percepção e sensibilidade para identificar as necessidades dos alunos e professores, tendo que se manter sempre atualizado, buscando fontes de informação e refletindo sobre sua prática como nos fala NOVOA (2001), “a experiência não é nem formadora nem produtora. É a reflexão sobre a experiência que pode provocar a produção do saber e a formação“ com esse pensamento ainda é necessário destacar que o trabalho deve acontecer com a colaboração de todos, assim o coordenador deve estar preparado para mudanças e sempre pronto a motivar sua equipe. Dentro das diversas atribuições está o ato de acompanhar o trabalho docente, sendo responsável pelo elo de ligação entre os envolvidos na comunidade educacional. A questão do relacionamento entre o coordenador e o professor é um fator crucial para uma gestão democrática, para que isso aconteça com estratégias bem formuladas o coordenador não pode perder seu foco. O coordenador precisa estar sempre atento ao cenário que se apresenta a sua volta valorizando os profissionais da sua equipe e acompanhando os resultados, essa caminhada nem sempre é feita com segurança, pois as diversas informações e responsabilidades o medo e a insegurança também fazem parte dessa trajetória, cabe ao coordenador refletir sobre sua própria prática para superar os obstáculos e aperfeiçoar o processo de ensino – aprendizagem. O trabalho em equipe é fonte inesgotável de superação e valorização do profissional. Por Vanessa dos Santos Nogueira Colunista Brasil Escola 10 dúvidas sobre o relacionamento entre coordenador pedagógico e professor

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Page 1: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

O papel do coordenador pedagógico

Educação de qualidade é uma busca constante das instituições de ensino, para que isso se torne realidades são

necessárias ações que sustentem um trabalho em equipe e uma gestão que priorize a formação docente

contribuido para um processo administrativo de qualidade conforme Chiavenato (1997, p.101), “não se trata mais

de administrar pessoas, mas de administrar com as pessoas. As organizações cada vez mais precisam de pessoas

proativas, responsáveis, dinâmicas, inteligentes, com habilidades para resolver problemas, tomar decisões”. Nessa

perspectiva devemos identificar as necessidades dos professores e com eles encontrar soluções que priorizem um

trabalho educacional de qualidade esse trabalho é desenvolvido pelo coordenador pedagógico. 

Esse profissional tem que ir além do conhecimento teórico, pois para acompanhar o trabalho pedagógico e

estimular os professores é preciso percepção e sensibilidade para identificar as necessidades dos alunos e

professores, tendo que se manter sempre atualizado, buscando fontes de informação e refletindo sobre sua prática

como nos fala NOVOA (2001), “a experiência não é nem formadora nem produtora. É a reflexão sobre a

experiência que pode provocar a produção do saber e a formação“ com esse pensamento ainda é necessário

destacar que o trabalho deve acontecer com a colaboração de todos, assim o coordenador deve estar preparado

para mudanças e sempre pronto a motivar sua equipe. Dentro das diversas atribuições está o ato de acompanhar

o trabalho docente, sendo responsável pelo elo de ligação entre os envolvidos na comunidade educacional. A

questão do relacionamento entre o coordenador e o professor é um fator crucial para uma gestão democrática,

para que isso aconteça com estratégias bem formuladas o coordenador não pode perder seu foco. 

O coordenador precisa estar sempre atento ao cenário que se apresenta a sua volta valorizando os profissionais

da sua equipe e acompanhando os resultados, essa caminhada nem sempre é feita com segurança, pois as

diversas informações e responsabilidades o medo e a insegurança também fazem parte dessa trajetória, cabe ao

coordenador refletir sobre sua própria prática para superar os obstáculos e aperfeiçoar o processo de ensino –

aprendizagem. O trabalho em equipe é fonte inesgotável de superação e valorização do profissional.

Por Vanessa dos Santos Nogueira

Colunista Brasil Escola

10 dúvidas sobre o relacionamento entre coordenador pedagógico e professorQuando o coordenador assume o posto, logo percebe que é difícil lidar com as pessoas, respeitar as diferentes opiniões e sugerir mudanças sem ser autoritário. Pedimos aos internautas que enviassem suas questões sobre a parceria de coordenadores e, para ajudar a resolvê-las, ouvimos consultores especialistas no assunto

Verônica Fraidenraich

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Page 2: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

1 Como posso legitimar meu papel de formador junto aos professores? Afinal, até há pouco tempo, eu estava em sala de aula como eles.

Durante anos, você cuidou somente da sua sala de aula, tentando resolver os problemas de aprendizagem da turma e procurando a melhor maneira de ensinar. Mas aí surgiram um concurso, uma seleção interna da Secretaria de Educação para o cargo de coordenador pedagógico ou você foi convidado para liderar a equipe docente. Você, claro, aceitou o convite ou se inscreveu no processo de seleção. 

Em uma posição hierarquicamente superior, logo percebe como é complicado lidar com a equipe, aprender a ouvir para compreender os problemas, respeitar os pontos de vista diferentes nas reuniões, usar as diversas opiniões para chegar a um consenso, mediar conflitos sem ferir suscetibilidades, liderar sem ser arrogante e sugerir mudanças sem ser autoritário. 

A pesquisa O Coordenador Pedagógico e A Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradições mostra que dúvidas sobre como lidar com a equipe são comuns e 20% dos entrevistados apontam questões de gestão como um dos principais problemas enfrentados no dia a dia. 

No entanto, são os seus conhecimentos didáticos que vão fazer com que a equipe o aceite como o parceiro mais experiente, do qual vai receber orientações e no qual pode confiar. Para isso, é urgente ir atrás desses saberes e se preparar para o cargo. É possível requisitar formação específica junto à Secretaria de Educação e procurar leituras que ampliem o seu universo nas didáticas de todas as áreas do conhecimento.

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2 Como fazer para receber bem o professor novato e integrá-lo ao grupo?

Antes de mais nada, é preciso apresentá-lo aos futuros colegas, demais membros da equipe gestora e funcionários. Certamente, no início ele vai demandar mais atenção de você, por ser recém-formado, por ter mudado de segmento ou, ainda, por ter vindo de outra unidade e precisar de um tempo para se entrosar. Vale marcar uma reunião individual para falar sobre a instituição e apresentar o perfil dos alunos com os quais vai trabalhar. Nesse encontro, mostre o projeto político-pedagógico (PPP) e os planos de trabalho e deixe

Page 3: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

explícitas as metas da escola. Você pode sugerir ao novato que, logo na primeira semana, faça um diagnóstico da turma e utilize essas informações como apoio para elaborar o planejamento. Coloque-se à disposição para ajudá-lo nessa tarefa.

Outra medida interessante, quando se tem um grupo heterogêneo de professores, é articular para que os mais experientes ajudem na adaptação dos recém-chegados por um tempo, como se fosse um tutor, para tirar as dúvidas pontuais.

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3 De que maneira posso ajudar o professor que tem dificuldade em comunicar um conteúdo?

Ele deve se sentir inseguro com o conhecimento que tem sobre os conteúdos ou a didática. Para um bom desempenho, ele vai precisar, além de dominar a disciplina, entender o aluno e o modo como ele aprende.Os momentos de formação continuada individuais na escola são o espaço ideal para trabalhar dificuldades específicas e buscar recursos para ampliar o quadro de referências e as estratégias de ensino.

Às vezes, porém, não é só um professor que tem de repensar a sua prática didática de forma a despertar o interesse da classe, mas todo o grupo. Aí vale levar o tema para os horários coletivos de formação.

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4 Como lidar com a resistência de alguns professores às mudanças propostas?

Primeiro, vamos procurar entender o outro lado: os professores se queixam de que se veem obrigados a aceitar rupturas metodológicas bruscas, tendo de deixar de lado tudo o que acreditam para adotar uma nova linha de trabalho. Você, por sua vez, sabe que é uma das peças-chave para a implantação das políticas públicas da rede, que costumam mudar à velocidade com que um novo secretário assume a pasta. Seja qual for a situação, nem sempre é fácil fazer com que um professor deixe de lado a maneira como sempre ensinou e aceite as mudanças imediatamente.

Page 4: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

Agora a sua parte: é fundamental não ter pressa. Implante, aos poucos, um processo de estudo permanente na escola, no qual se constroem coletivamente as respostas para os problemas que forem surgindo. Só assim as transformações farão sentido e não representarão uma mera imposição - ou mesmo ameaça - ao trabalho que já é realizado. ''Quando a equipe toda pensa e reflete em conjunto, é mais fácil assumir novos conhecimentos'', afirma Ecleide Cunico Furlanetto, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid).

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5 Um professor vive encaminhando os alunos indisciplinados para mim. O que devo fazer?

Na ausência de um orientador educacional na escola, é comum que o coordenador assuma essa função. Se é esse o seu caso, deixe claro ao docente que ele não pode simplesmente achar que não tem nada a ver com isso e que o papel dele é ajudar a identificar as causas dos comportamentos inadequados e como lidar com eles. ''Se o problema persistir, vale organizar uma reunião com as equipes gestora e docente para que, juntas, pensem na melhor forma de solucionar a questão'', afirma Sofia Lerche Vieira, da Universidade Estadual do Ceará (UEC).

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6 Como fazer para integrar um professor que não tem um bom relacionamento com os colegas?

Cada escola tem uma cultura, com regras que devem ser seguidas por todos, mas que nem sempre são suficientemente divulgadas. Se o grupo é coeso e se conhece há bastante tempo, será mais exigente para aceitar alguém, principalmente quando ele tem atitudes e comportamentos diferentes dos demais. Pode ocorrer ainda de os conflitos serem fruto da insegurança de um educador. O principal é que o coordenador desenvolva rapidamente uma relação de confiança entre os docentes para que todos se sintam à vontade para partilhar suas experiências e dúvidas.

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Page 5: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

7 O que fazer para evitar a alta rotatividade dos professores?

Vários são os motivos para um docente mudar de escola: o salário, a localização, os recursos disponíveis, o perfil da instituição etc. Essa movimentação - quando excessiva - causa mesmo desânimo nos coordenadores, que ficam com a sensação de começar do zero sempre. ''Até que a coordenação consiga se aproximar e estabelecer uma relação de confiança, muitos professores já se foram'', comenta Ecleide. Tornar a escola um espaço acolhedor e favorável à aprendizagem é uma boa maneira de atrair e fidelizar o educador. Se ele vê que a equipe gestora é engajada e que ali existe um projeto diferenciado, sentirá mais segurança e interesse em permanecer.

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8 O que fazer com os docentes que faltam muito?

É importante conhecer os motivos das faltas. Para isso, só há um jeito: conversar com o professor. Se ele estiver com problemas de saúde, aconselhe-o a procurar o atendimento médico. Mesmo assim, é bom ficar atento para detectar se as condições de ensino não têm relação com o mal-estar ou com a desmotivação.

Se a causa não for facilmente perceptível, vale lembrar o professor sobre a importância dele na sala de aula e o problema que causa quando não comparece à escola, pois mexe com toda a organização e a rotina. Além do mais, é bom recordá-lo de que, se ele não tem assiduidade, não chega no horário e não cumpre com suas obrigações, não poderá cobrar isso dos alunos. É, aliás, um momento oportuno para discutir com a equipe os direitos e deveres de cada um.

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Page 6: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

9 Gostaria de acompanhar o trabalho em sala de aula para ser um bom formador, mas não quero parecer um fiscal. Como agir?

É fundamental ter consciência de que você é o parceiro mais experiente e tem o dever de intervir quando necessário. Isso o faz corresponsável pelo trabalho do professor - que, por sua vez, precisa saber que você está ali para contribuir com o trabalho dele. Assim, fica mais fácil compreender que a sua intervenção é sempre para ajudar - e não para fiscalizar. "O compromisso de todos tem de ser com os alunos, que precisam aprender", diz Ecleide Furlanetto.

O principal é que o coordenador tenha clareza de sua obrigação com a escola, com o projeto político-pedagógico e com a aprendizagem, não se deixando se intimidar por cara feia ou resistência da equipe.

< Anterior Próxima >

10 O que fazer com os docentes que só reclamam do trabalho?

Sinais de carência, como queixas e desabafos constantes, revelam, muitas vezes, a falta de confiança no trabalho realizado. ''A expectativa de que o coordenador sirva como um ombro amigo, seja compreensivo e ajude a resolver todos problemas pode ser um indicador de que o docente está se sentindo sozinho'', diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Num primeiro momento, o melhor é se mostrar acolhedor e ouvir o que o outro tem a dizer.

Ao mesmo tempo, é importante fazer o acompanhamento do trabalho em sala de aula, sugerindo que o docente localize o que o deixa inseguro, se tem a ver com o conhecimento sobre conteúdo, com o planejamento - ou a falta dele - da aula ou se são dificuldades de relacionamento com os alunos, os pais ou mesmo os colegas.

Page 7: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

Outra medida válida é promover a troca de experiências entre os colegas para mostrar que todos enfrentam dificuldades, criando, assim, uma relação de proximidade. Também é preciso levar em conta que talvez a formação não esteja atendendo às necessidades da equipe. É hora então de rever o seu trabalho e até pedir ajuda a supervisores da Secretaria.

Leitores que enviaram perguntas para esta reportagem:

Pelo FacebookRonan Gomes, Inês Sagula, Nadja Almeida, Vera Boechat 

Pelo siteAline Camilla Batista de Assis, Aparecida Leal dos Santos, Benedita Jocilania Filha da Silva, Conceição de Maria Azevedo Silva, Janaína Chicoli, Janice Maria de Lima Martins, José Roberto da Silva, Luciana Angela Espíndola, Luciana de Oliveira Valeton, Mariana da Silva Albuquerque, Maria Euneide Ferreira de Lima, Maria Inez Rodrigues Pereira, Marizete de Souza Lima Basalia, Milena Rosa Senhorinha, Raquel de Oliveira, Rita de Cássia Horta de Lima, Rita de Cássia Santos Silva, Rubia Cristina Alcino Almeida, Viviane de Jesus Feitosa 

Por e-mailAna Cecília Tubiane, Cintia Pradines de Menezes

Quer saber mais?

CONTATOS 

Ecleide Cunico Furlanetto 

Laurinda Ramalho de Almeida 

Sofia Lerche Vieira 

BIBLIOGRAFIA

O Coordenador Pedagógico e o Atendimento à Diversidade, Laurinda Ramalho de Almeida e Vera Maria Nigro de

Souza Placco (orgs.), 168 págs., Ed. Loyola, tel. (11) 3385-8500, 26,40 reais

Diretor e coordenador: aliança pela qualidadeComo deve ser a relação entre esses gestores para garantir boas condições de trabalho ao formador

Noêmia Lopes ([email protected])

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Page 8: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

Marisa de Oliveira (à dir.), diretora, e Cláudia Rocha (à esq.), coordenadora pedagógica da EM Professora Nilda de Carvalho, em Iraquara, BA

Em todas as regiões do Brasil, diretores e coordenadores pedagógicos dizem cultivar uma relação harmoniosa

e propícia ao bom desenvolvimento das atividades escolares. Essa é uma das conclusões da pesquisa O

Coordenador Pedagógico e a Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradições, encomendada pela

Fundação Victor Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC). Contudo, uma das ações mais importantes

para que a escola cumpra seu papel de ensinar a todos com qualidade - a formação continuada de professores -

ainda necessita de mais atenção por parte da dupla gestora. "Apesar de cada um pensar a gestão sob

diferentes perspectivas, ambos têm de compreender que são responsáveis por um mesmo objetivo, que é a

aprendizagem", afirma Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR. 

Para afinar os ponteiros e avançar rumo a esse horizonte comum, é preciso que a direção garanta as condições

básicas para a formação continuada (confira no check-list se a escola oferece boa infraestrutura para o

coordenador realizar o seu trabalho). Uma delas é a reunião periódica que deve acontecer entre os gestores. O

ideal é que os encontros sejam semanais e que aconteçam em um ambiente tranquilo. "Conversar com pressa,

em pé, na porta da diretoria, não resolve nada. O ritual dos encontros deve ser encarado com profissionalismo,

do começo ao fim. Afinal, trata-se de um momento de tomada de decisões", alerta Maura. 

O primeiro passo é estabelecer o cronograma de trabalho e depois pensar nas pautas das reuniões. Não podem

ficar de fora temas como: aprendizagem, as demandas dos professores para que possam ensinar melhor, a

movimentação dos alunos, os assuntos que devem ser levados ao conselho escolar, o planejamento e o

acompanhamento dos projetos institucionais, a condução das reuniões de pais, os formatos escolhidos para

divulgar interna e externamente o trabalho da escola e prestar contas à comunidade e as semanas de

planejamento e avaliação. 

É natural que os aspectos abordados estejam mais ou menos relacionados à atuação de cada um. Torna-se

fundamental, portanto, que ambos levem para a discussão todos os elementos que estiverem sob sua alçada. O

diretor, por exemplo, pode tabular os números da movimentação escolar (matrículas, frequência, evasão,

repetência e distorção idade-série) e compartilhá-los com o coordenador. Já quem trabalha na coordenação

costuma estar mais por dentro das questões didáticas e é interessante compartilhar resultados, problemas e

dúvidas com a direção.

Parceria na EM Professora Nilda de Carvalho, em Iraquara, BA

"É comum que as pessoas enxerguem o diretor como chefe e fiquem receosas de se aproximar dele. Aqui,

temos um trabalho sério para incluir a todos - alunos, equipe e comunidade - nos processos." Marisa de

Oliveira, diretora.

"A diretora é a primeira pessoa com quem sento para conversar cada vez que termino um diagnóstico sobre a

formação dos professores ou a aprendizagem dos alunos." Cláudia  Rocha, coordenadora pedagógica.

O papel do coordenador é atuar na formação dos professores

Page 9: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

Claudeni Passos de Carvalho (à esq.), diretora, e Abenair Soares da Silva (à dir.), coordenadora pedagógica do 1º ao 5º ano da EMEF Carlos

Henrique II, em Parauapebas, PA

Um dos obstáculos comuns para o fortalecimento dessa parceria é a ocorrência de imprevistos. "Temos uma

agenda de encontros quinzenais que, de acordo com a demanda, se tornam semanais. Porém pode surgir uma

reunião na Secretaria de Educação e atrapalhar o cronograma. Quando isso acontece, reorganizamos o

calendário e o nosso planejamento para não deixar de fora os encontros da equipe gestora", conta Abenair

Soares da Silva, uma das coordenadoras pedagógicas da EMEF Carlos Henrique II, em Parauapebas, a 834

quilômetros de Belém. 

Segundo Abenair, ela e as outras coordenadoras redigem pareceres sobre o processo de aprendizagem das

turmas e as apresentam nas reuniões de gestores. "Assim, discutimos em grupo se as metas estabelecidas para

a rede e na própria escola estão sendo atingidas e, caso não estejam, quais ações devemos implementar para

reverter o cenário. Esse debate dá segurança a todos e mais liberdade para conversar sobre o que não vai

bem", diz a coordenadora. 

Outra conclusão da pesquisa realizada pela FCC é o fato de que os coordenadores tomam para si muitas

atribuições que não são de sua responsabilidade. Muitas vezes, isso acontece voluntariamente, por falta de

clareza, que eles próprios demonstram não ter sobre os objetivos e os limites de sua atuação. Em outras

ocasiões, a sobrecarga ocorre porque o diretor dá ao coordenador tarefas que o afastam da sua atuação de

formador, como atender telefonemas e cuidar da burocracia. Na EM Professora Nilda de Carvalho, em

Iraquara, a 462 quilômetros de Salvador, esses equívocos são evitados. "A gestão do tempo é um dos assuntos

que eu e a coordenadora tratamos em nossos encontros semanais. Fazemos ajustes de planejamento para que

ela possa estudar e também receber formação", afirma a diretora, Marisa Barbosa de Oliveira. "Esse processo

só é possível quando a direção entende e respeita a atuação do coordenador como formador", ressalta Cláudia

Fernandes Rocha, a coordenadora. A equipe gestora ganha em organização e foco; os professores, em apoio

para ensinar melhor; e os alunos, em mais condições para aprender.

EMEF Carlos Henrique II, em Parauapebas, PA

"Nos encontros da nossa equipe, as três coordenadoras compartilham informações comigo e com as duas

vices-diretoras, como os registros sobre o planejamento dos professores." Claudeni Passos de Carvalho,

diretora.

"Sabemos que todo diretor escolar tem responsabilidade sobre os assuntos pedagógicos - afinal, o papel dele é

justamente zelar pela qualidade do ensino oferecido aos alunos." Abenair Soares da Silva, coordenadora

pedagógica do 1º ao 5º ano.

Quer saber mais?

CONTATOS EMEF Carlos Henrique II, tel. (94) 3346-7258Secretaria de Educação de Iraquara, tel. (75) 3364-2161

Page 10: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

Check-list das condições de trabalho do coordenador pedagógicoVocê, diretor, pode usar uma das reuniões com sua equipe gestora para analisar se o coordenador pedagógico tem boa estrutura para realizar os encontros de formação de professores. Alguns pontos a analisar são:

1. Gestão de materiais e suprimentos

O coordenador tem:

Computador. Com quantas pessoas ele compartilha. ___________ Acesso à internet. Livros de formação e obras literárias à disposição.  Exemplares dos livros didáticos e paradidáticos adotados na escola. Outros livros didáticos e paradidáticos.  Materiais de consumo (canetas e cartolinas, entre outros) e aparelhos audiovisuais (filmadora, 

DVD e televisor). 

2. Gestão do espaço

O coordenador tem sala própria?  Onde se localiza? _______________________________________ Como é mobiliada? _____________________________________ Onde guarda seu material? _______________________________ O espaço é compartilhado com quantas pessoas? ____________ Tem liberdade para interferir nos espaços comunicativos como murais, paredes, jornal interno 

e blog.  Pode sugerir alterações na configuração da sala de aula, em benefício da aprendizagem.

3. Gestão do tempo

O coordenador tem horários reservados para:

A formação própria. Participar de cursos externos de capacitação. Circular pelos espaços da escola. Visitar as classes e fazer observação de sala de aula. Planejar ações institucionais.  Planejar reuniões pedagógicas. Reunir-se coletiva e individualmente com os docentes.  Atender pais com dúvidas sobre a aprendizagem. 

Page 11: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

Reunir-se com o diretor com regularidade.  Esses horários são respeitados. 

4. Gestão da aprendizagem

O coordenador tem condições de acompanhar:

O planejamento dos professores. O desenvolvimento de algumas atividades nas classes. Os resultados de avaliações internas e externas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais e propostas curriculares locais. 

Tem acesso:

Ao projeto político-pedagógico.  Ao regimento interno. Às fichas de matrícula.  Tem apoio do Atendimento Educacional Especializado (AEE) para ajudar os professores na 

flexibilização das aulas? 

5. Gestão de equipe

O coordenador tem assegurado o horário para realizar as reuniões pedagógicas? Está legitimado pela equipe como o parceiro mais experiente? 

6. Gestão financeira e administrativa

O coordenador pode opinar sobre a compra dos materiais pedagógicos?  Tem apoio para organizar e realizar eventos e passeios relacionados com o PPP? 

7. Gestão da comunidade

O coordenador participa das reuniões de pais, do planejamento à realização? Pode sugerir e participar da organização de eventos que envolvam as famílias na vida 

escolar? 

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Publicado em NOVA ESCOLA GESTÃ �O ESCOLAR, Edição 014, Junho/Julho 2011

Coordenador pedagógico: um profissional em busca de identidadePesquisa da FVC conclui que a formação de professores começa a ser o foco da atuação do

coordenador, mas ele ainda sofre com a falta de apoio

Paola Gentile ([email protected])

Page 12: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

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Em algumas redes de ensino, ele é chamado de orientador, supervisor ou, simplesmente, pedagogo. Em outras, de coordenador pedagógico, que é como GESTÃO ESCOLAR sempre se refere ao profissional responsável pela formação da equipe docente nas escolas. Nas unidades que contam com sua presença, ele faz parte da equipe gestora e é o braço direito do diretor. Num passado não muito remoto, essa figura nem sequer existia. Começou a aparecer nos quadros das Secretarias de Educação quando os responsáveis pelas políticas públicas perceberam que a aprendizagem dos alunos depende diretamente da maneira como o professor ensina. 

Diante desse cenário, a Fundação Victor Civita (FVC) decidiu descobrir quem é e o que pensa esse personagem relativamente novo no cenário educacional brasileiro, escolhendo-o como tema de uma pesquisa intitulada O Coordenador Pedagógico e a Formação Continuada de Professores: Intenções, Tensões e Contradições. Realizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC), sob a supervisão de Cláudia Davis, o estudo teve a coordenação de Vera Maria Nigro de Souza Placco e de Laurinda Ramalho de Almeida, ambas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e de Vera Lúcia Trevisan de Souza, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Graças a ela, fizemos esta edição especial, com reportagens e seções tratando de temas relativos à coordenação pedagógica. 

Uma das principais conclusões da pesquisa é que, apesar de ser um educador com experiência, inclusive na função (saiba mais sobre o perfil desse profissional no quadro abaixo), ainda lhe faltam identidade e segurança para realizar um bom trabalho. Ele se sente muito importante no processo educacional, mas não sabe ao certo como agir na escola frente às demandas e mostra isso por meio de algumas contradições: ao mesmo tempo em que afirma que sua atuação pode contribuir para o aprendizado dos alunos e para a melhoria do trabalho dos professores, não percebe quanto isso faz diferença nos resultados finais da aprendizagem (veja mais no quadro da próxima página). "A identidade profissional se constrói nas relações de trabalho. Ela se constitui na soma da imagem que o profissional tem de si mesmo, das tarefas que toma para si no dia a dia e das expectativas que as outras pessoas com as quais se relaciona têm acerca de seu desempenho", afirma Vera Placco.

Quem são os coordenadores pedagógicos no BrasilUm resumo das características do profissional que atua nessa função 

90% são mulheres 

88% já deram aula na Educação Básica 

76% têm entre 36 e 55 anos 

A maioria tem mais de 5 anos de experiência na função

Page 13: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

 

Continue lendo a reportagem

Um profissional em busca de identidade

Dia a dia atribulado e legislação confusa contribuem para atuação sem foco

Problemas envolvem desde infraestrutura até falta de tempo

Supervisão é insuficiente da rede sobre o trabalho do formador

Página  1 2 3 4   

Dia a dia atribulado e legislação confusa contribuem para atuação sem foco 

Analisando cada um dos elementos dessa somatória, percebe-se que, no quesito tarefas, a rotina desse

educador é uma bagunça: 72% costumam acompanhar a entrada e a saída dos alunos diariamente, 55%

conferem se as classes estão organizadas e limpas, 50% atendem todos os dias telefonemas de pais e de outras

pessoas que procuram a escola (e 70% acreditam que isso é adequado) e 19% assumem alguma classe pelo

menos uma vez por semana quando falta um professor. No meio disso tudo, temos ainda 9% que admitem não

desempenhar nenhuma atividade regular relativa à formação de professores e 26% que se ressentem por não

dispor de tempo suficiente para se dedicar à elaboração ou à revisão periódica do projeto político-pedagógico

(PPP). 

Quando se analisa a expectativa que a direção, a equipe docente e a comunidade têm dele, percebe-se a

diversidade de posições: os diretores esperam que o coordenador pedagógico cumpra bem todas as

determinações vindas da Secretaria de Educação; os professores, que ela seja um apoio nas dificuldades em

sala de aula; e os pais, por sua vez, anseiam ser bem atendidos - ao mesmo tempo em que não sabem muito

bem quais são suas funções (na verdade, o atendimento aos pais deveria ser feito pelo orientador educacional,

quando há esse profissional na escola, ou pelo diretor, em horários previamente definidos). 

Há também as atribuições legais, que poderiam ajudar na definição do papel do coordenador. Contudo, pela

leitura atenta feita pelos pesquisadores das regulamentações de cinco Secretarias Estaduais, elas só

acrescentam mais confusão ao quadro: das 256 funções listadas para o cargo, apenas 20% são explicitamente

formativas.

Como os coordenadores pedagógicos se veemPorcentagem de profissionais que se se acham importantes para: 

A aprendizagem dos alunos: 95% 

O trabalho pedagógico dos professores: 100% 

Porém, quando se compara com outros agentes, ele se coloca na sexta posição em importância:

Page 14: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

 

Problemas envolvem desde infraestrutura até falta de tempo

Ao ser indagado sobre as questões que mais atrapalham sua rotina, o coordenador lista uma série delas. A

infraestrutura é a que mais incomoda e o excesso de atribuições é, muitas vezes, citado como justificativa para

não fazer o que deve - a formação de professores. 

Dificuldades com a equipe? Sim, elas existem para 31% dos entrevistados, que não sabem como fazer o

professor desmotivado trabalhar, não conseguem ajudá-lo a cumprir as metas e ainda afirmam não saber como

se firmar como líder dos docentes e exercer sua autoridade perante os colegas. 

É claro que todos esses dilemas poderiam ser resolvidos se o coordenador pedagógico tivesse uma boa

formação para exercer o cargo: 96% garantem que a graduação foi boa ou excelente e, em média, os

entrevistados já frequentaram 6,3 cursos específicos (21% em gestão escolar e 18% em outras áreas do

conhecimento). Fica a dúvida: se esse profissional, segundo a própria avaliação, teve ou está tendo orientação

para executar bem seu trabalho, por que não consegue focar a sua atuação na principal atribuição? A

conclusão da pesquisa é que a falta de identidade profissional, já citada no início, e o fato de ser tão solicitado,

por todos, para fazer de tudo na escola o levam a sentir-se importante, mas sem perceber o quanto isso o

afasta de ser um bom formador de professores.

Nas leis, muitas tarefasNada menos do que 256 atribuições para o coordenador pedagógico foram encontradas nos regimentos de

cinco Secretarias Estaduais. Dessas:

 

Supervisão insuficiente da rede sobre o trabalho do formador 

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Outro estudo realizado pela FVC também no ano passado ajuda a entender melhor essa realidade do

coordenador. Exclusivamente qualitativo, ele procurou conhecer as práticas formativas das redes públicas de

ensino. A pesquisa, denominada A Formação Continuada de Professores no Brasil: Uma Análise das

Modalidades e Práticas, obteve respostas de 19 Secretarias de Educação - seis estaduais e 13 municipais - das

cinco regiões do país. Em todos os casos, foram feitas entrevistas com o secretário de Educação (ou seu

representante), com o coordenador da formação continuada na rede e com o responsável por um projeto em

andamento. Concluiu-se que, apesar de todos os esforços para que a formação em serviço ocorra com mais

frequência e seja focada na necessidade dos professores em sala de aula, há a carência de programas voltados

especificamente para aprimorar a prática do coordenador pedagógico. 

"Falta suporte adequado para que ele possa efetivamente exercer o papel de articulador das ações formativas

de caráter colaborativo na escola", afirma Cláudia Davis, que, com Marina Muniz Rossa Nunes e Patrícia

Cristina Albieri de Almeida, todas da FCC, também supervisionou essa pesquisa. Uma das secretarias que

empreendeu esforços - em termos de lei e de infraestrurura - para valorizar a função do coordenador foi a de

Governador Valadares, em Minas Gerais (como mostra a reportagem). 

Para completar esta edição especial sobre o coordenador pedagógico, encomendamos à educadora

uruguaiaDenise Vaillant um artigo, no qual ela discorre sobre a formação continuada de professores na

América Latina - que pode ajudar a traçar um panorama do que dá certo e do que deixa a desejar em termos

de políticas públicas nessa área. 

Esperamos que esse material contribua para a escola discutir internamente como aproveitar melhor a figura

do coordenador pedagógico a fim de melhorar a qualidade da prática dos professores. E ainda para que as

redes estaduais e municipais, com os dados colhidos na pesquisa, planejem maneiras de atender melhor esse

profissional, que cada vez mais se mostra peça-chave na aprendizagem dos alunos.

Metodologia da pesquisa

O estudo O Coordenador Pedagógico e a Formação dos Professores: Intenções, Tensões e Contradições, que contou

com o apoio do Itaú BBA, do Instituto Unibanco e da Fundação Itaú Social, foi feito em 2010 e 2011. Na fase quantitativa,

os pesquisadores entrevistaram por telefone 400 coordenadores de 13 capitais brasileiras. Já a qualitativa envolveu

entrevistas pessoais mais aprofundadas com 20 coordenadores das cinco regiões do país, os diretores das unidades de

ensino onde estão locados e 40 professores.

Como fazer uma reunião de feedback com os funcionáriosTodos os membros da equipe precisam saber se o trabalho deles está sendo bem feito. E você, gestor, é quem deve dar o retorno sobre o desempenho

Aurélio Amaral

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Quando um chefe chama um funcionário para falar sobre trabalho, é para passar mais tarefas ou para dar bronca, certo? Pois não é assim que deveria ser. Uma conversa desse tipo se torna mais produtiva quando o objetivo é avaliar o que está sendo feito e dar orientações sobre como as atividades podem ser mais bem realizadas. Você, diretor escolar, como gestor, deve reservar em sua rotina momentos para dar feedback - nome em inglês para a nossa conhecida devolutiva, ou retorno - a todos os seus

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colaboradores. Afinal, não se pode esperar até o fim do ano para dizer ao auxiliar de serviços gerais, por exemplo, que os alunos não estão recebendo o pátio em condições ideais de limpeza na hora do recreio. "O feedback não pode ser um procedimento eventual, muito menos ser usado apenas em momentos de insatisfação. Ele é um instrumento de acompanhamento que deve constar da agenda do gestor e ter objetivos bem definidos", explica Renata Kurth, professora do departamento de Administração da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). 

Isso significa que o diretor deve sempre chamar seus colaboradores da equipe gestora e os funcionários para elogiar um trabalho bem realizado ou alertar sobre as atitudes que não condizem com o projeto político-pedagógico da escola. Faz parte das virtudes de liderança avaliar quando as intervenções pontuais são necessárias. Contudo, estabelecer uma frequência para essas conversas - que podem ser mensais, bimestrais ou trimestrais, de acordo com as características da instituição - tem algumas vantagens. Em primeiro lugar, isso possibilita levantar com antecedência as informações necessárias sobre o trabalho da pessoa para embasar o encontro. Dessa forma, as observações terão consistência e não se basearão apenas em "achismos". Além disso, a pauta bem definida facilita o diálogo e dá uma característica formativa a esses momentos. "Não se trata de criticar atitudes pessoais. A devolutiva é uma maneira de refletir sobre o papel de educador", explica Alaísa Favaro, formadora de gestores da Secretaria de Educação de João Neiva, a 76 quilômetros de Vitória. 

Para que a conversa aconteça sem atropelos, é preciso tomar alguns cuidados, como escolher o local adequado e ter uma postura acolhedora a fim de que o avaliado se abra para ouvir observações e propostas e se sinta à vontade para dar opiniões (leia o passo a passo de um bom feedback na próxima página). Sim, saber ouvir também é uma etapa importante. Para preparar para essa etapa, é interessante o gestor fazer uma autoavaliação, perguntando-se sempre se está oferecendo as devidas condições de trabalho e dando o apoio necessário à equipe. 

Após avaliar o desempenho e ouvir as observações feitas pelo funcionário, o próximo passo é se focar na proposição de soluções. Afinal, só faz sentido pontuar os erros quando há um planejamento para corrigi-los e nortear as futuras ações. Por isso, a devolutiva pressupõe um pacto entre ambas as partes de como e quando serão implementadas as mudanças. O ideal é que as metas sejam estabelecidas em conjunto. "Quando o educador tem a oportunidade de opinar sobre o que ele pode fazer para melhorar dentro de suas possibilidades, o comprometimento acaba sendo maior", diz Alaísa. 

Avaliação de projetos coletivos requer mais cuidados 

Questões pontuais de comportamento ou de desempenho individual devem ser tratadas em conversas particulares. No entanto, o feedback também pode ser feito coletivamente. Esse recurso é bastante útil para avaliar projetos e atividades que envolveram mais de uma pessoa. Mas atenção: nesse caso, deve-se redobrar o cuidado a fim não expor ninguém publicamente. E a cautela não pode se limitar a não citar nomes, pois, pela simples descrição do ocorrido, é possível saber de quem se está falando - afinal, o trabalho foi realizado em grupo. Por isso, não é bom ilustrar o discurso com exemplos. "O recomendável é analisar as consequências dos problemas sobre os resultados do projeto e, da mesma forma que no retorno individual, discutir e selar objetivos para que os próximos sejam mais produtivos", recomenda Renata.

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Cinco passos para um bom feedback

A reunião de devolutiva com os funcionários deve sempre ser uma conversa franca entre o gestor e o profisional. Mas é preciso tomar alguns cuidados. Na hora de apontar as falhas, a objetividade é fundamental. Trazer à tona acontecimentos passados há muito tempo só faz sentido se eles tiverem conexão com o que vai ser discutido. Da mesma forma, as críticas e os elogios devem ser relacionados ao que acontece na escola. A seguir, as etapas de um bom feedback.

1 Escolha o lugar adequado

Ouvir críticas sobre o próprio trabalho é uma situação que pode gerar desconforto. Por isso, marque uma reunião explicando qual é o assunto e escolha um local onde se possa conversar com privacidade e sem interferências. 

Evite Abordar a pessoa de surpresa e em locais de movimento, como corredores e sala de professor.

2 Comece pelos pontos positivos

Reconheça o valor do profissional. Destaque as características que evidenciem a importância dele no grupo - a iniciativa de elaborar projetos didáticos, a capacidade de mobilizar os colegas etc. 

Evite Ceder ao impulso de ir direto ao assunto que lhe incomoda. Analisar primeiro as qualidades indica que sua postura crítica é construtiva.

3 Aponte o que precisa mudar

Procure apresentar justificativas para as críticas, tendo cuidado de se dirigir apenas às atitudes. A um professor pouco assíduo, por exemplo, diga que as faltas atrasam o cronograma e os alunos perdem com isso. 

Evite Afetar pessoalmente o interlocutor, por meio de frases como "você é uma pessoa irresponsável" ou "é difícil trabalhar com você".

4 Inverta os papéis

Pergunte se o funcionário está satisfeito com as condições de trabalho e o ambiente da escola. Peça sugestões de como melhorar os pontos em que ele julga haver falhas e sobre como você pode ajudar nesse processo. 

Evite Elaborar perguntas muito amplas, que dão abertura a repostas vagas.

5 Estabeleça metas

O feedback não tem sentido se não tiver como foco resolver os problemas. Guarde por escrito as ações que devem ser colocadas em prática e peça para que a pessoa avaliada também tome notas. Por fim, agende a próxima conversa. 

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Evite Desconsiderar os registros das resoluções decididas nas reuniões anteriores. Eles devem ser o ponto de partida das próximas devolutivas.

10 assuntos que não podem faltar na agenda da dupla gestoraPelo menos uma vez por semana, diretor e coordenador pedagógico precisam se encontrar para falar sobre o planejamento da escola. Veja quais são os temas mais importantes a tratar

Aurélio Amaral

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Reuniões de formação acompanhadas de perto Na EMEF Décio Martins Costa, em Porto Alegre, a diretora, Clarice Mezzomo (em pé), as

orientadoras pedagógicas e as supervisoras se reúnem toda segunda-feira, desde 1999, para discutir o acompanhamento das atividades,

avaliações e estratégias de ensino. É feita uma ata de registro e as informações são organizadas em fichas. Com base nelas, a equipe

replaneja o bimestre e define o foco do conselho de classe. "Como o trabalho de coordenação envolve muitas pessoas, nessas reuniões

afinamos o planejamento geral e o plano de formação dos professores", explica a diretora.

Nos corredores, no pátio ou na sala dos professores, diretor e coordenador pedagógico se encontram todos os dias. Nessas ocasiões, trocam comentários sobre o que está acontecendo no momento na escola, tratam de problemas pontuais e até decidem sobre alguma questão rapidamente, ali mesmo, em pé. Porém essas conversas breves não podem ser a tônica do contato entre os dois. Para assumirem definitivamente o papel de gestores que lhes cabe, os educadores que ocupam essas funções precisam se corresponsabilizar pelos rumos do ensino oferecido na unidade, discutirem os problemas e, juntos, encontrarem as soluções. 

Para tanto, é interessante reservar um horário específico para que eles possam se sentar com calma, analisar os dados da escola e empreender as iniciativas necessárias. As reuniões periódicas entre a direção e a coordenação pedagógica são a maneira mais profissional de consolidar essa relação. 

Mas por que toda essa formalidade? Ela é necessária? Sim, pois os encontros marcados - o recomendado é que eles aconteçam, no mínimo, uma vez por semana, de preferência em dias fixos - dão importância à parceria entre os gestores, ajudam a otimizar o tempo e impedem que assuntos de menor importância se sobreponham aos mais relevantes - que devem estar na pauta das reuniões. "Sem essa rotina, os imprevistos acabariam preponderando e as interrupções no dia a dia seriam tantas que

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não sobraria tempo para cumprir as atividades planejadas. E, no improviso, a discussão não adquire profundidade", argumenta Débora Rana, selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10 na Categoria Gestor, e formadora de professores e coordenadores pedagógicos do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. 

Assuntos a tratar é que não faltam - como você vai ver nesta reportagem. Juntamente com consultores e duplas gestoras que já vivenciam uma rotina em comum, selecionamos os dez principais temas que devem estar sempre presentes na agenda conjunta desses líderes. Conheça também a história de algumas equipes que conseguiram planejar com mais clareza as ações pedagógicas para a escola depois de instituir o hábito de se reunir com frequência.

1 Organização do calendário escolar

Esse é um dos principais tópicos da pauta das reuniões, já que é preciso organizar a rotina interna, adequando as semanas de provas, as reuniões de pais, a entrega das notas e as finalizações dos projetos didáticos ao calendário fixado pela Secretaria de Educação. Vale lembrar que o planejamento dos professores para cada turma depende dessas definições. Durante as conversas semanais entre direção e coordenação, verifica-se se o cronograma está em ordem ou se é preciso revê-lo. Caso um feriado ou um programa de formação externo coincidam com um encontro pedagógico semanal, uma data alternativa será escolhida. Ela precisa se encaixar tanto no planejamento elaborado pelo coordenador como na organização do uso dos espaços - supervisionada pelo diretor.

2 2 Revisão do projeto político-pedagógico (PPP)

Esse documento - que traz os objetivos da instituição e os meios para alcançá-los - pressupõe uma revisão periódica. Uma ou duas vezes por ano, o assunto entra na pauta dos gestores para que eles identifiquem os passos seguintes para alcançar as metas e planejem as assembleias para debater as mudanças (como será a participação da equipe, como tornar o debate mais produtivo, o número de encontros etc.). E, depois de tudo isso, é preciso ainda definir quem vai formalizar e supervisionar as alterações no documento.

Equipe grande exige mais organização

Equipe grande exije mais organização Na EE Nidelse Martins Almeida, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, as decisões eram tomadas

à medida que as demandas surgiam. Até porque, com uma equipe pequena, não era difícil conciliar horários com pouca antecedência. Porém,

a partir de 2008, quando o grupo foi ampliado, isso ficou impossível. A diretora Maria Helena Guedes (em pé) percebeu que era preciso

instituir um dia fixo para as reuniões: "Hoje, preparamos as formações, fazemos um balanço da semana anterior e checamos se as atividades

previstas exigem ajustes".

3 Análise de resultados dos alunos

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O desempenho dos estudantes norteia as ações da escola, por isso o tema vai estar sempre presente nas reuniões. O coordenador deve sistematizar em tabelas os resultados de avaliações internas e externas, o aproveitamento dos alunos nas atividades em sala e o progresso das turmas em um período e, em seguida, analisá-los com a direção. "O diretor está mais atento a questões extraclasse e esse olhar pode indicar novas soluções para um problema", diz a coordenadora Mônica Guerra, da Associação Parceiros da Educação, em São Paulo.

4 Elaboração de projetos institucionais

A escolha dos temas e das abordagens dos projetos está diretamente vinculada ao item anterior e à análise criteriosa que os gestores devem fazer para que as iniciativas estejam em consonância com as orientações do PPP. Ideias vindas da equipe ou dos professores, que colaborem para que os objetivos da escola sejam atingidos, podem ser integradas ao cronograma pela coordenação e ao planejamento da direção, que deverá prever os materiais necessários para a concretização das propostas. Se uma delas, por exemplo, previr atividades no contraturno, a equipe gestora terá de checar se existe sala vaga ou um espaço adequado e se é preciso ter um professor presente ou se um monitor dá conta de acompanhar os estudantes. A finalização do projeto, igualmente, demanda decisões conjuntas sobre a exibição da produção dos alunos e a participação da comunidade.

5 Formação dos professores em serviço

Esse assunto também costuma figurar na maioria dos encontros. Como responsável pela formação de professores, o coordenador pedagógico detecta rapidamente as necessidades da equipe docente - o que pode ser percebido inclusive com a análise dos resultados dos alunos. "Os registros dos professores e dos próprios coordenadores, feitos durante as observações das aulas, dão uma base mais concreta à tomada de decisão da dupla", explica Silvana Tamassia, consultora educacional e formadora na Fundação Lemann, em São Paulo. Muitos diretores até participam de reuniões dos formadores com os professores, mas isso não é obrigatório. O importante é que os gestores estejam de acordo com o foco definido, decidam como atender às necessidades de trabalho do coordenador pedagógico, providenciem um espaço específico, disponibilizem projetores de vídeo e busquem apoio junto à equipe técnica da Secretaria da Educação.

Em sintonia com a rede de ensino

Em sintonia com a rede de ensino Até 2009, qualquer informação da Secretaria de Educação era repassada ao quadro docente da EMEI

Antônio Roberto Feitosa, em Venda Nova, a 110 quilômetros de Vitória, por intermédio da direção, sem a participação de coordenadores. Isso

fazia com que as orientações da rede nem sempre ficassem alinhadas ao PPP, prejudicando a compreensão por parte dos professores. A

dupla gestora decidiu, então, sistematizar reuniões semanais e passou a tratar dos assuntos da Secretaria nos encontros de formação. "Hoje,

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para apresentar um projeto didático, discutimos qual será o foco e procuramos referências de escolas que fizeram ações semelhantes", diz a

diretora, Teresa Margarida Hupp (de branco).

6 Diálogo constante com a Secretaria de Educação

As orientações da rede de ensino sobre as políticas públicas devem ser discutidas pelos gestores de cada unidade para que haja consenso sobre como elas serão apresentadas aos docentes e incluídas na pauta de formação. Da mesma forma, as necessidades dos professores que dependam de providências da Secretaria devem ser levadas pelo coordenador ao diretor para que faça a interlocução com a rede. Dessa maneira, ele terá informações mais detalhadas para fundamentar a requisição de, por exemplo, um profissional de Atendimento Educacional Especializado - cuja necessidade fica clara em registros de aulas da equipe docente - ou de cursos de atualização ou extensão, que se mostram importantes para o planejamento da formação elaborado pela coordenação.

7 Preparação do Conselho de Classe

Para essa reunião, que costuma estar na pauta da dupla gestora até quatro vezes por ano, é necessário retomar os registros dos diagnósticos e observar outros dados além das notas, como se os dias letivos do bimestre foram cumpridos. Para que o conselho se torne, de fato, um momento formativo, é essencial partilhar informações, observar as dificuldades institucionais e prever estratégias - quais serão as metas e a quem serão delegadas as missões.

8 Aquisição, uso e conservação de materiais

O que comprar, para que e como usar os materiais pedagógicos são questões que diretor e coordenador terão de responder juntos - e decidir também. Por isso, esse tema reaparece a cada nova demanda. O coordenador identifica as necessidades dos alunos e avalia o que precisa ser adquirido com mais urgência. Para evitar desperdício ou subutilização, os recursos - os adquiridos com verba própria e os recebidos pela rede - têm seus usos planejados nas reuniões da equipe gestora, garantindo que todos os alunos tenham acesso a eles. "Não se forma leitores com a biblioteca fechada", argumenta Neurilene Martins, coordenadora pedagógica do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep).

Decisões administrativas a favor da aprendizagem

Decisões administrativas a favor da aprendizagem Quando foi inaugurada, em 2009, a EMEF Conjunto Habitacional Sítio Conceição II, em

São Paulo, pedia alguns reparos. Era preciso pintar paredes, trocar o piso e adquirir materiais. Graças aos encontros semanais com a

coordenação pedagógica, o diretor, Anderson Adelmo, conseguiu identificar as prioridades de investimento para garantir o conforto na sala de

aula. "Assumimos um espaço antigo e, para mim, a troca das lousas parecia ser o mais urgente. Mas, nas reuniões com os docentes, a

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coordenação apurou que os alunos se desconcentravam muito pela luz forte da tarde que entrava pela janela. Decidimos, então, comprar

cortinas", conta Anderson.

9 Articulação com as famílias

Das reunião de pais às festas na escola, tudo passa pelo crivo da direção e da coordenação pedagógica - atentos sempre para saber se os eventos cumprem a finalidade de envolver a família na aprendizagem dos filhos e de divulgar o PPP. As reuniões de pais pedem uma atenção maior, pois é preciso decidir os assuntos a discutir e como abordá-los. Que pontos do currículo, e fora dele, devem ser debatidos? "Temas sem relação direta com o aprendizado, como drogas e violência, que são de interesse dos pais, podem influenciar o processo de ensino", relata Regina Giffoni Brito, professora da pós-graduação do departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

10 Mobilização dos segmentos escolares

Ao liderar os profissionais que trabalham na instituição, o diretor torna-se responsável por criar um fluxo de comunicação com cada segmento. O coordenador pedagógico, por acompanhar a prática docente, traz detalhes sobre a motivação e o desempenho dos professores, enriquecendo o repertório do gestor para dar devolutivas consistentes ao grupo. A pauta dos encontros com os funcionários, quando preparada pelo diretor e o coordenador, ganha um viés formativo. "Discutir as refeições com as merendeiras é também falar de alimentação saudável, um tema curricular. Daí a importância da articulação entre o administrativo e o pedagógico", diz Heloísa Lück, diretora do Centro de Desenvolvimento Humano Aplicado (Cedhap), em Curitiba.

Quer saber mais?

CONTATOS

Débora Rana 

EE Nidelse Martins Almeida, [email protected], tel. (11) 4186-7728 

EMEF Conjunto Habitacional Sítio Conceição II, [email protected], tel. (11) 2555-2667

EMEF Décio Martins Costa, emefdeciocosta@smed. prefpoa.com.br, tel. (51) 3347-2935 

EMEI Antônio Roberto Feitosa, tel. (28) 3546-3941 

Heloísa Lück 

Mônica Guerra 

Neurilene Martins 

Regina Giffoni Brito 

Silvana Tamassia 

BIBLIOGRAFIA

Educação para o Conviver e a Gestão da Aprendizagem, Regina Lúcia Giffoni Luz de Brito (org.), 289 págs, Ed.

Appris, tel. (41) 3053-5452, 45 reais

Formação cultural da equipe

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Ampliar o repertório de faxineiros, merendeiras e vigias valoriza esses profissionais e ajuda a integrá-los ao cotidiano da escola

Daniela Almeida

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NOVAS EXPERIÊNCIAS A diretora Terezinha(de preto e verde) visita museu com aequipe de apoio, em Florianópolis

Izolete Terezinha da Rosa é auxiliar de serviços gerais na EEB Pero Vaz de Caminha, em Florianópolis. Até o ano passado, ela nunca tinha pensado que entraria no Museu Histórico de Santa Catarina, um importante centro cultural da cidade. A chance surgiu quando ela e os demais funcionários da escola foram convidados pelos gestores para um passeio cultural. Alunos e professores já conheciam o museu e estava na hora de apresentá-lo também à equipe de apoio. A reação de todos foi de encantamento. Izolete se emocionou, em especial, ao conhecer detalhes sobre a vida e a obra do poeta catarinense João da Cruz e Sousa (1861-1898). "Quando eu iria imaginar que um afro-descendente como eu, aqui, da região, seria um homem tão importante para a cultura brasileira? Toda a história dele estava tão perto e eu não sabia", comentou durante a visita guiada. 

A intenção da equipe gestora da escola catarinense, comandada por Terezinha Lisabeth Coelho, é proporcionar mais do que um passeio aos funcionários. Na verdade, é uma maneira de valorizá-los e, ao mesmo tempo, investir concretamente no enriquecimento dos conhecimentos e das experiências de vida. Além disso, a iniciativa deixa claro que a escola os enxerga como educadores - que, como tal, precisam de formação, atualização e, por que não, entretenimento. "Quanto mais informações e bagagem cultural eles tiverem, mais confiantes da própria capacidade ficarão. Assim, todos passam a enxergar com outros olhos o alcance e a importância do trabalho deles para a Educação", afirma Ariana Rocha, formadora e pedagoga com especialização em gestão. 

Pensando nesses ganhos, a diretoria organiza visitas a exposições e saídas em grupo para assistir a shows, apresentações de dança e peças teatrais. Na maioria das vezes, uma parceria com as empresas promotoras dos eventos faz com que a escola consiga ingressos gratuitos. Quando preciso, a Associação de Pais e Professores (APP) arca com a verba para o transporte. Outra maneira de promover sessões culturais é levar eventos para a escola e convidar todos a participar: "Já tivemos sessões de cinema promovidas por um projeto da iniciativa privada, em que um grande caminhão se transforma em uma sala de exibição móvel. Até então, muitos funcionários só tinham visto filmes na televisão", conta Terezinha. 

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Para que todos se comprometam com o propósito de ações como essas, o melhor é prevê-las em detalhes no projeto político-pedagógico (PPP). O documento deve especificar as atividades culturais que mais interessam à formação dos funcionários e os objetivos de cada uma delas (divertir, ensinar conteúdos, ampliar o repertório, permitir novas experiências etc.).

Integração e envolvimento com a comunidade

MAIS INTEGRAÇÃO A assistente Lilian(sentada) com os funcionários naoficina de Arte, em São Paulo

Valorizados e se sentindo parte do grupo de educadores, os funcionários têm a oportunidade de se aproximar mais uns dos outros, bem como dos professores e gestores. "Um investimento igualitário na formação cultural da equipe fortalece a rede de relacionamentos porque reduz as diferenças de repertório e facilita a comunicação", afirma Ana Cristina Limongi-França, especialista em recursos humanos e qualidade de vida do trabalho da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Antes de passeios, cursos e oficinas, os colegas compartilham expectativas e informações sobre o evento. Durante e depois, trocam impressões e comentários sobre o que viram e aprenderam. Com o tempo, sentindo-se mais protagonistas, eles ganham confiança para conversar sobre outros assuntos tanto com os parceiros de trabalho como com os gestores. 

Na EMEF Professor Olavo Pezzotti, em São Paulo, o caminho para promover a integração é uma oficina de Arte - uma escolha nada aleatória. "Nosso PPP encara a Arte como uma linguagem e um instrumento de comunicação. Por isso, ela está presente no currículo de todas as turmas e nas reuniões de formação", conta Lilian Cristina Testa Fernandes, assistente de direção. Docentes, merendeiras, auxiliares de escritório, seguranças e faxineiros participam de encontros aos sábados com duas artistas plásticas do bairro. No princípio, eles sentiam vergonha de criar, mas aos poucos ficaram mais à vontade para realizar as atividades propostas. O grupo ainda faz algumas aulas no ateliê das oficineiras e, por fim, monta painéis com as produções nas paredes da escola. 

Além de favorecer o envolvimento entre os adultos, a participação em eventos fora da escola enriquece o relacionamento da equipe de apoio com os alunos. De um lado, os funcionários conhecem um pouco do universo com o qual os estudantes têm contato dentro da instituição e nos passeios que fazem com os professores. De outro, crianças e jovens conhecem outros pontos de vista e opiniões. 

Foi o que aconteceu na EMEI Chácara Sonho Azul, em São Paulo, desde que os gestores passaram a incluir os funcionários nos passeios que fazem com as turmas. Uma escala montada pela coordenadora pedagógica, Magna Felix Lima, garante que todos participem e, ao mesmo tempo, os serviços de cozinha, limpeza e segurança não parem. "O rodízio considera o horário das excursões, o turno em que

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os colaboradores trabalham e o interesse deles pelas visitas", conta Magna. O transporte acontece com ônibus cedidos pela prefeitura ou pelo espaço cultural em questão - muitos são patrocinados por empresas que incentivam a cultura e fornecem o deslocamento e os ingressos. O resultado compensa: "Eu me divirto com os alunos e vejo coisas que não teria a chance de ver se não fossem esses passeios. Na exposição do grafiteiro Keith Haring, adorei uma foto do artista trabalhando com crianças na Bahia, que é a minha terra", lembra Edinar Custódia de Araújo, auxiliar de limpeza. 

Para complementar as saídas com os estudantes, também há excursões exclusivas para professores, gestores e funcionários, ao menos uma vez por ano, nos fins de semana. Foi assim que toda a equipe visitou o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e uma editora de livros na companhia do diretor da EMEI, Antonio Norberto Martins.

Ampliação dos horizontes para além dos muros da escola

IMERSÃO CULTURAL Com colegas, o diretorAntonio Norberto (à frente) vai a editora delivros, em São Paulo

Quando a formação cultural ajuda um funcionário a se sentir valorizado, adquirir conhecimentos e ganhar confiança entre os colegas de equipe e com os estudantes, está dado o pontapé inicial para que ele próprio busque novos horizontes dali em diante. Paulo Dias de Menezes, diretor do CE Roma, no Rio de Janeiro, tem provas concretas disso: "Certo dia, uma merendeira me procurou dizendo que queria ir ao Teatro Municipal e levar os dois filhos". 

A declaração é fruto de uma cultura institucional que há tempos vem privilegiando a formação dos funcionários. Em conjunto, a equipe já conheceu a Ilha Fiscal, no centro da cidade, e colocou o pé na estrada para visitar o Museu Imperial, em Petrópolis, que fica a 65 quilômetros do Rio, e uma fazenda de café no município de Valença, região cafeicultora a 191 quilômetros da capital. 

Todas essas vivências não somente contribuem consideravelmente para a formação pessoal e a desenvoltura profissional de cada um como também abrem as portas para futuras experiências culturais.

Como organizarInvestir na formação cultural dos funcionários não é trabalhoso nem custa caro. Confira algumas dicas: 

- Entre em contato com os principais polos culturais de sua cidade (museus, cinemas, teatros e casa de shows) e

se informe sobre os dias em que a entrada é gratuita e se há preços promocionais. 

- Liste os eventos disponíveis e coloque no mural da escola. Vale até fazer uma votação para eleger o passeio. 

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- Se não for possível levar todos de uma só vez, organize um rodízio entre o grupo. 

- Consulte a Secretaria de Educação e outros órgãos da prefeitura para saber da disponibilidade de transporte.

Mesmo que o passeio seja destinado aos alunos, garanta algumas vagas também aos funcionários. 

- Procure parcerias com empresas que incentivam a cultura para solicitar ingressos e transporte.

Quer saber mais?

CONTATOS 

Ana Cristina Limongi-França 

Ariana Rocha 

CE Roma, tel. (21) 2541-6182 

EEB Pero Vaz de Caminha, tel. (48) 3248-1347 

EMEF Prof. Olavo Pezzotti, tel. (11) 3032-9908 

EMEI Chácara Sonho Azul, tel. (11) 5517-2833

Sala dos professores: vamos tomar um cafezinho?Um ambiente aconchegante garante o descanso e a troca de experiência entre a equipe

Aurélio Amaral

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Os momentos de pausa na rotina escolar são importantes, pois é neles que os docentes conversam com os colegas, leem, planejam atividades, lancham, se informam sobre os projetos da instituição e, é claro, descansam. E é na sala dos professores que a equipe passa a maior parte do tempo livre nos horários de entrada e saída, no recreio e nos intervalos de aula. Vale, então, criar um ambiente acolhedor, onde todos os professores tenham prazer em estar. "Na hora do cafezinho e do lanche, acontecem discussões sobre as notícias do dia, trocas de indicações literárias e o compartilhamento de experiências", explica Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR. 

Uma sala ideal tem de acomodar toda a equipe e contar com pelo menos dois ambientes: um de estudo e outro de descanso (veja o infográfico acima). O local ficará mais aconchegante se tiver a cara de quem o frequenta - e para isso a opinião do grupo conta muito. Milene Cristina Barbosa Silva, intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e outros professores da EE Augusto José Vieira, em Conselheiro Lafaiete, a 99 quilômetros de Belo Horizonte, sugeriram aos gestores que o espaço fosse reformado para acabar com o clima impessoal que havia. Os próprios colegas sugeriram personalizar uma das paredes com fotos e frases (leia depoimento abaixo). 

Para mantê-lo sempre agradável, é preciso evitar que o lugar se transforme em depósito. Materiais pedagógicos - como jogos, livros e brinquedos - ficam na sala da coordenação ou na biblioteca. Já equipamentos, papéis e outros materiais podem ir para um almoxarifado. A sala do CEEFM Mahatma Gandhi, em Guarapuava, a 255 quilômetros de Curitiba, vivia cheia de caixas. Após uma reforma, passou a guardar apenas materiais de apoio - giz, apagador e dicionário -, liberando espaço para uma

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mesa maior, um sofá e uma televisão. O destaque ficou para o mural de recados, muito usado pelos professores, como Cristina Iubel (leia o depoimento abaixo). 

Melhor evitar que reuniões coletivas aconteçam nesse local. "Comunicados rápidos da diretoria podem ser feitos ali mesmo, sem tomar muito tempo dos docentes. Porém os encontros de formação demandam um ambiente silencioso, de preferência sem o entra e sai de pessoas", explica Roberta Panico, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo. Apesar do nome, a sala dos professores também deve ser frequentada pela direção e a coordenação pedagógica. Afinal, os gestores são parte da equipe e eles devem se sentir à vontade para tomar um café e conversar com seus pares.

Reportagem | Entre. A sala do diretor também é sua    Reportagem | Ambiente saudável   

Identidade do grupo

"As fotos de eventos da escola aproximam os professores que não se encontram com tanta frequência. E as frases

dos pensadores, pesquisadas e escolhidas por nós, são referências para o trabalho e um estímulo à leitura." 

Milene Cristina Barbosa Silva, intérprete de Língua Brasileira de Sinais da EE Augusto José Vieira, em Belo

Horizonte

Formação cultural

"Os próprios docentes têm a responsabilidade de atualizar o mural. Trocamos indicações de filmes, de livros e de

programas de TV e compartilhamos as notícias mais relevantes da semana." 

Cristina Iubel, professora de Língua Portuguesa da CEEFM Mahatma Gandhi, em Guarapuava (PR)

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Como organizar a agenda de reuniõesEncontros marcados com antecedência ajudam a criar uma rotina com a equipe e realizar conversas mais produtivas

Aurélio Amaral

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A sua rotina, diretor - aposto -, é recheada de reuniões. Como líder da escola, você tem sempre o que discutir com a coordenação pedagógica, a equipe docente, os funcionários, os pais, o Conselho de Escola e a Secretaria de Educação, certo? Quem não faz um cronograma, estabelecendo de antemão a regularidade dos encontros, vez ou outra se perde em meio a tantos compromissos. De fato, sem esse planejamento, o gestor acaba dispersando a atenção que precisa dedicar a cada segmento da escola e fica refém de conversas marcadas em cima da hora e sem pauta definida. "Há a falsa ideia de que a reunião não é um tempo bem aproveitado. Ao contrário: se bem conduzida, reforça o espírito de equipe, coloca o grupo no centro das decisões e contribui para a formação dos profissionais", defende Mauro Augusto del Pino, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas. 

A organização do cronograma da equipe gestora geralmente começa com o calendário enviado pela rede de ensino, responsável por marcar as datas do início e do fim do ano letivo, os compromissos com a própria Secretaria de Educação, os momentos de formação coletiva e dos períodos de avaliação. A rede também pode sugerir datas para a realização dos conselhos de classe e de escola e reuniões de pais ou solicitar que as unidades encaminhem essa programação para que ela seja submetida a aprovação. 

No entanto, os encontros envolvendo as pessoas que trabalham na escola são sempre de responsabilidade do gestor. Cabe a ele agendá-los com antecedência e decidir com que periodicidade serão realizados. Se a instituição tiver muitos alunos - e, proporcionalmente, muitos funcionários -, provavelmente será preciso diálogos mais frequentes. Não há regras estabelecidas para a organização desse cronograma, porém existem referências, com base em boas experiências, que podem orientar o diretor (leia o quadro abaixo). O acompanhamento da coordenação pedagógica e dos professores, por exemplo, é semanal nas redes que investem em formação continuada. O ideal é instituir um dia fixo para isso e definir com antecedência datas alternativas, para o caso de um ou outro evento coincidir com feriados ou agendamentos feitos pela Secretaria de última hora.

Sugestão de cronograma

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 Grupos/Períodos Semanal Mensal Bimestral Semestral

Coordenação pedagógica

Toda segunda-feira9h às 11h

ProfessoresPrimeira terça-feira do mês10h às 12h

MerendeirasPrimeira sexta-feira do mês9h às 10h30

Secretariada escola

Primeira quinta-feira do mês 11h às 12h30

Vigias

Primeira segunda-feira do mês14h às 15h30

Auxiliares de serviços gerais

Última sexta-feira do mês15h às 16h30

Conselho de classe

Última quarta-feira do bimestre8h às 10h

PaisÚltima sexta-feira do bimestre19h às 21h

Conselho de escola

Primeiro sábado do ano letivo, último sábado antes do fim do semestre, e penúltimo sábado do ano letivo11h às 13h

Secretaria de Educação*

* De acordo com o calendário escolar previamente estabelecido

Planejamento e divulgação da pauta melhoram a participação 

Fixar datas fáceis de lembrar - toda terça-feira ou todo dia 10 - ajuda os envolvidos a se habituarem aos compromissos. Ainda assim, vale a pena distribuir a programação anual impressa para que todos tenham tempo de se organizar. Memorandos também são úteis para quando se aproxima a data marcada. Com essa estratégia, Sonia Abreu, diretora da EM Professora Hilda Weiss Trench, em Itapetininga, a 168 quilômetros de São Paulo, conseguiu que a adesão à reunião de pais superasse os

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90%. "Decidimos as datas no início do ano e fazemos de tudo para que ela não seja alterada, pois o calendário é distribuído aos responsáveis no ato da matrícula. Por saber dos eventos com antecedência, até as famílias que vivem na zona rural comparecem." 

Ausências também são raras nos encontros com os funcionários da EE Doutor Luiz Pinto de Almeida, em Santa Rita do Sapucaí, a 401 quilômetros de Belo Horizonte. A diretora, Mônica Flores Ribeiro, tem o hábito de expor nos murais o cronograma para que todos o acompanhem. Além de assiduidade, as reuniões passaram a ter mais produtividade. No quadro, a pauta já é antecipada, de tal forma que todos se preparam para levar ideias e debater o assunto. "Assim, não pegamos ninguém de surpresa nem nos perdemos em temas que não dizem respeito aos nossos objetivos naquele momento", explica Mônica. 

Uma pesquisa realizada pela Triad, consultoria em produtividade, em parceria com a revista Você S/A, da Editora Abril, concluiu que apenas um terço das reuniões em ambientes de trabalho é bem conduzida. A falta de planejamento é a grande causa disso. "Além de implementar uma agenda, o gestor deve ter objetivos claros e compartilhá-los com a equipe, de preferência por escrito, para que o tempo seja bem utilizado", avalia Christian Barbosa, especialista em gestão do tempo. A fim de respeitar a rotina dos envolvidos, é recomendável que conste do cronograma o tempo previsto de duração - o ideal é que a reunião tenha entre uma hora e uma hora e meia. Caso ultrapassem duas horas, melhor rever a pauta, fragmentá-la e marcar encontros mais frequentes.

Os pais sempre presentes

"Quando a escola foi fundada, há oito anos, as famílias se envolviam pouco na aprendizagem dos filhos.

Apostamos na reunião de pais para divulgar nosso projeto político-pedagógico. Mas como fazer para que eles

participassem? Decidimos distribuir, no ato da matrícula, um calendário com todos os encontros do ano e reforçar

o convite por meio de memorandos, já adiantando os temas que seriam tratados. O respeito às datas marcadas fez

com que a adesão aumentasse a cada ano. As famílias começaram, então, a frequentar cada vez mais as

atividades realizadas pela escola." 

Sonia Abreu, diretora da EM Professora Hilda Weiss Trench, em Itapetininga, a 168 quilômetros de São Paulo

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Atrasos nunca mais

"Todos os funcionários sabem quando é dia de reunião. O cronograma fica exposto no mural e cada segmento

envolvido é destacado com uma cor diferente. Os encontros com a equipe pedagógica são semanais, e com os

demais funcionários, mensais. Durante o dia, observo e anoto as ações e atitudes que merecem ser tratadas

nessas conversas. Alguns dias antes, adianto a pauta para a equipe, assim todos têm tempo de se preparar e

trazer ideias, tornando o debate mais produtivo. Esse processo virou rotina e as reuniões são levadas tão a sério

que nunca começam com atraso."

Mônica Flores Ribeiro, diretora da EE Doutor Luiz Pinto de Almeida, em Santa Rita do Sapucaí, a 401

quilômetros de Belo Horizonte

Reuniões regulares colaboram para a formação profissional

O gestor que ainda não desenvolveu o hábito de se reunir separadamente com cada segmento pode ter a falsa impressão de que não há muito o que ser debatido e, portanto, os compromissos podem ser esporádicos ou resolvidos em poucos minutos, em pé, no corredor. No entanto, as conversas não devem tratar unicamente de questões restritas às atividades daquele grupo. "Ao contemplar assuntos de outras áreas e envolver a todos nas tomadas de decisão, o diretor implementa a verdadeira gestão democrática. Ou seja, além de falar sobre a comida, o diálogo com as merendeiras deve também contemplar formas de envolvê-las no projeto político-pedagógico da escola, pois também são educadoras e devem atuar como tal", explica Mauro Augusto del Pino. 

Foi o que fez Maria de Nazaré dos Santos Dias, diretora da EM Paroquial São Vicente de Paulo, em Itapecuru Mirim, a 117 quilômetros de São Luís. Antes de ela valorizar a rotina de reuniões na escola, os funcionários da limpeza, os vigias e as merendeiras participavam de algumas apenas como ouvintes. À medida que Nazaré pontuava de que forma poderiam participar mais ativamente da aprendizagem dos estudantes, eles passaram a opinar e dar sugestões. Com mais assuntos, os encontros tiveram de passar a ser mais frequentes. "Mais do que organizar de forma prática a rotina do gestor, estabelecer um planejamento a longo prazo é uma maneira de garantir que a comunidade e todos que trabalham na escola tenham a oportunidade de discutir o significado da sua atuação diante dos alunos", diz Clécio Sousa, formador de gestores da Secretaria Municipal de Educação de Pindaré Mirim, a 256 quilômetros de São Luís.

Todos são educadores

Page 33: Artigos de Estudo Do Coordenador Pedagogico

"Nossa escola tinha cerca de 200 alunos e 15 funcionários, números que praticamente triplicaram com a

municipalização, há três anos. Não era mais possível tratar de assuntos pontuais com a equipe apenas quando eu

sentia necessidade. Tornou-se prioritário na minha gestão realizar encontros periódicos com todos que

trabalhavam aqui. Merendeiras e vigias passaram a ter uma importante função pedagógica e precisavam se

conscientizar disso. Nas nossas reuniões, mostramos a eles que as conversas que têm informalmente com os

alunos podem ajudar a conhecê-los melhor, e isso também é importante para o trabalho pedagógico. Hoje, todos

na escola se percebem muito mais como educadores."

Maria de Nazaré dos Santos Dias, diretora da diretora da EM Paroquial São Vicente de Paulo, em Itapecuru

Mirim, a 117 quilômetros de São Luís

Calendário 2012

Para ajudar você a organizar os compromissos ao longo do ano letivo, esta edição de GESTÃO ESCOLAR traz como presente um calendário de 2012. Você recebe também 280 adesivos que indicam os encontros que deverão ser agendados - horários de formação, Conselho de Escola, reuniões na Secretaria de Educação etc. - e compromissos administrativos, como a revisão do projeto político-pedagógico (PPP). Dessa forma, será possível planejar melhor o tempo e atender às demandas de todos os segmentos da escola sem recorrer a reuniões de emergência.

Quer saber mais?

CONTATOS 

- Christian Barbosa 

- Clécio Sousa 

- EE Doutor Luiz Pinto de Almeida, tel. (35) 3471-2846 

- EM Paroquial São Vicente de Paulo, tel. (98) 3463-6910 

- EM Professora Hilda Weiss Trench, tel. (15) 3272-9585 

- Mauro Augusto del Pino

Organizar a rotina da alfabetização

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Antes de receber a turma de alfabetização, o professor deve planejar que atividades vão proporcionar o contato sistemático e significativo com práticas de leitura e de escrita

Tatiana Pinheiro

PROPONHA A LEITURA   O planejamento precisa contemplar tarefas que favoreçam o confronto com o texto desde os primeiros dias de aula

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Aos 5 ou 6 anos de idade, as crianças percebem mais claramente que existem outras formas de representar o mundo sem ser por meio de desenhos cheios de traços e cor. Descobrem, enfim, a presença e a importância da escrita, que permite a todos comunicar ideias e opiniões por meio, por exemplo, de cartas, bilhetes, notícias e poemas. Mas, para que cada um dos pequenos dê esse grande salto no aprendizado, é preciso que a atuação do professor no Ensino Fundamental de nove anos esteja ajustada a esse propósito. 

O passo inicial é definir com antecedência as atividades que vão fazer do ano letivo um encadeamento de descobertas, cada uma delas mais desafiante que a outra. "O educador precisa ter uma visão geral do trabalho para prever em que ritmo as propostas de leitura e escrita vão se aprofundar ao longo do período", explica a professora argentina Mirta Torres, especialista em didática da leitura e da escrita. 

Segundo Mirta, nesse planejamento é importante considerar que cada criança já está em processo de alfabetização. "Antes de irem para a escola, os pequenos tiveram contato com práticas de leitura e de escrita, com maior ou menor grau de espontaneidade, ao escutar os pais lerem histórias, ao folhearem livros ou ao verem adultos e outras crianças escreverem", pontua. O que muda é que na escola esse

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processo passa a ser intencional e sistemático, ganhando sentido e contando com a participação ativa de cada estudante.

Para chegar ao detalhamento da rotina semanal de uma classe de 1º ano, o educador precisa ter clareza de que itens devem ser combinados e com que regularidade devem ser praticados para permitir às crianças entender em que situações se lê e se escreve, para que se lê e se escreve e quem lê e escreve. "E não é necessário ter sempre novidades programadas. A continuidade dá segurança aos alunos e, associada à diversidade de assuntos, amplia o repertório deles", explica Debora Samori, pedagoga e formadora de professores do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac). Um planejamento acertado contempla três tipos de atividade. 

1. Atividades permanentes 

São essenciais para o processo de alfabetização. Por isso, devem ser praticadas diariamente ou com periodicidade definida e em horário destinado exclusivamente a elas. Incluem: 

1. A leitura pelo professor, feita diariamente, em voz alta, caprichando na entonação para aumentar o interesse e tomando cuidado para variar os gêneros durante o ano: contos, cartas, notícias, poemas etc. 

2. A leitura pelos alunos, feita em dias alternados com atividades de escrita, sempre tendo como objeto textos que eles conheçam de cor, como cantigas, parlendas, trava-línguas, textos informativos etc. 

3. A escrita pelas crianças, feita em dias alternados com atividades de leitura, tendo como objeto a produção de listas de nomes de colegas, de frutas, de brinquedos etc., que podem ser escritas pelos estudantes com lápis e papel ou com letras móveis. 

4. A produção de texto oral com destino escrito, feita em dias alternados com atividades de leitura, quando os alunos criam oralmente um texto e o ditam para o professor, trabalhando o comportamento escritor. 

2. Sequências de atividades São organizadas para atingir diversos objetivos didáticos relacionados ao ensino e à aprendizagem da leitura e da escrita. Necessariamente apresentam um nível progressivo de desafios. A duração varia de acordo com o conteúdo eleito. Pode levar dois meses ou chegar a quatro, sendo praticada duas ou três vezes por semana. Visam levar as crianças a construir comportamentos leitores associados a propósitos como ler para aprender, ler para comparar diferentes versões de uma mesma obra e ler para conhecer diversas obras de um mesmo gênero. Em um bimestre, pode ter como objetivo trabalhar a leitura de contos de autores variados. Em outro, pode eleger a leitura de seções de jornal para que a turma se habitue a outro tipo de texto. 

3. Projetos didáticos São formas de organização dos conteúdos escolares que contribuem para a aprendizagem da leitura e da escrita ao articular objetivos didáticos e objetivos comunicativos. A sequência de ações de um projeto culmina na elaboração de um produto final (um livro de receitas saudáveis para as merendeiras da escola, uma gravação em CD ou fita cassete com a leitura de poesias para alunos de Educação de Jovens e Adultos, um jornal de bairro a ser distribuído para a comunidade etc.). Pode durar todo um semestre e ter ou não conexão com o projeto didático proposto para o segundo semestre. No primeiro,

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por exemplo, os alunos ouvem a leitura de poesias e decidem quais farão parte de um livro escrito pelo professor (que atua como escriba) e ilustrado por eles. A destinação da obra deve ficar clara. Pode ser o acervo de livros da professora, a biblioteca da escola, a família das crianças ou colegas de outra turma. No segundo semestre, uma proposta poderia ser a leitura pelos alunos de poesias que sabem de memória para depois serem declamadas em público em um sarau organizado por eles, reunindo os pais, os estudantes e a comunidade.

Avaliar sempre  

PEÇA QUE ESCREVAM Redigir textos, como listas ou cantigas memorizadas, é uma das quatro situações didáticas que devem estar sempre na agenda. Foto: Marcos Rosa

Com base nas atividades essenciais e a frequência com que devem ser realizadas, o professor pode fazer uma programação detalhada do que vai trabalhar durante o ano (veja um exemplo no quadro abaixo). Após essa distribuição, é possível fazer agendas de 15 ou até 30 dias de aulas, dia após dia, de segunda a sexta-feira. Essa é uma etapa de grande importância no planejamento. Nela, os projetos didáticos e as sequências de atividades também são elaborados em detalhes, definindo-se justificativas, tempos de duração, materiais necessários, aprendizagens desejáveis e desenvolvimento passo a passo. 

Colocar tudo no papel faz pensar na forma de realização das atividades, além de antecipar a necessidade de separação ou de compra de materiais: que livros devo ter à mão para ler aos alunos? Quais voltarei a ler ao longo do ano? Quais devo ter em maior quantidade para permitir que todos acompanhem a leitura? Como escreveremos a lista de nomes dos alunos? Como eles vão se apresentar à turma? 

Outro cuidado importante é, logo nas primeiras atividades, identificar que habilidades, conhecimentos e dificuldades cada aluno traz de suas experiências de vida, seja em casa, seja na escola. "Esse é o momento de observar, tomar nota e refletir sobre a atuação de cada um em tarefas coletivas, em atividades realizadas em duplas ou trios e em momentos de trabalhos individuais, o que permitirá acompanhar a evolução dela no ano", orienta a pedagoga Debora Samori. 

A classe pode ter crianças em diferentes níveis de conhecimento em relação à escrita. O professor não deve encarar isso como um problema. Cada aluno é importante e traz características que devem ser identificadas e aproveitadas. A orientação é ajustar o foco, pensar nas possibilidades de interação e

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troca e seguir em frente com o trabalho. 

Há uma infinidade de descobertas a serem feitas por seus futuros leitores e escritores, e eles vão precisar de muitos desafios para dizer o que pensam e compreender o que leem.

Proposta Primeiro semestre Segundo semestre

Projetos - Livro de reescrita de contos de fadas ditado para o professor. - Livro de brincadeiras preferidas do grupo ditado para o professor

- Livro de reescrita de histórias do mesmo autor ou do mesmo personagem já trabalhados na sequência didática de leitura do primeiro semestre. - Produção de uma agenda telefônica do grupo.

Atividades permanentes

- Escrita e leitura diárias do próprio nome e dos colegas. - Escrita e leitura de listas de palavras de um mesmo campo semântico. - Leitura diária de textos literários pelo professor. - Roda de leitura e empréstimo de livros.

- Leitura de nomes próprios para a análise da ordem alfabética. - Escrita e leitura de títulos de histórias conhecidas. - Leitura pelo professor de textos informativos e literários. - Roda de leitura e empréstimo de livros. - Indicação literária dos livros apreciados pelo grupo.

Sequências didáticas

- Escrita e leitura de parlendas e cantigas (ordenação, ajuste do falado ao escrito, análise e discussão com base na localização de palavras no texto). - Leitura de várias versões do mesmo livro ou de várias obras do mesmo autor ou ainda de livros diferentes que apresentem o mesmo personagem principal (lobo, bruxa, princesa etc.).

- Escrita e leitura de adivinhas e charadas. - Ler para estudar características de animais, regiões, culturas, costumes etc.

Fonte Clélia Cortez, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo