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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012 Conceção e implementação do sistema de monitorização estrutural do Viaduto do Corgo Carlos Félix 1 Carlos Rodrigues 2 Rémy Faria 3 Joaquim Figueiras 4 Luís Afonso 5 Victor Barata 6 RESUMO O Viaduto do Corgo constitui a mais recente travessia do vale do Corgo, em Vila Real, integrado na expansão da Autoestrada A4/IP4, atualmente em curso. Dada a importância desta obra e o investimento que ela representa, foi decidido dotá-la de um sistema de monitorização estrutural. O sistema de monitorização concebido para esta obra tem por objetivo principal fornecer ao projetista, ao empreiteiro e ao dono da obra informação essencial acerca do comportamento da estrutura, durante a sua construção e ao longo dos anos subsequentes, com a estrutura em serviço. Pretende-se deste modo recolher informação que permita acompanhar e avaliar a segurança durante as várias fases de construção, validar as hipóteses de cálculo e o modelo adotado no projeto da estrutura, quer para a fase construtiva, quer para o final da construção e, finalmente, avaliar a conformidade da estrutura executada. No presente artigo apresenta-se o sistema de monitorização estrutural projetado para o Viaduto do Corgo. Em particular, descrevem-se as soluções inovadoras para medição das diferentes grandezas, as particularidades relativas à instalação do sistema e a integração que é feita das diferentes tipologias de sensores. São ainda descritas as potencialidades do sistema e é explanada a sua utilidade quer no apoio à construção, quer no que diz respeito à avaliação continuada do comportamento estrutural. Palavras-chave: Monitorização estrutural; Instrumentação; Redes de Sensores; Viaduto do Corgo. 1. INTRODUÇÃO A construção de novas infraestruturas, com aspetos estruturais cada vez mais arrojados, bem como a necessidade de políticas de manutenção com exigências crescentes ao nível da durabilidade e da segurança levam à emergente procura de medidas adicionais de aferição do comportamento e da segurança estrutural. No contexto exposto, a monitorização tem sido introduzida com sucesso no seio da engenharia estrutural. Os sistemas de monitorização, cada vez mais avançados e com maiores potencialidades, começam a ser vistos como soluções fidedignas, que permitem a obtenção de informação relevante para uma avaliação efetiva do desempenho das estruturas [1]. Os atuais meios informáticos e de comunicação permitem em tempo útil o acesso remoto ao diagnóstico estrutural [2]. 1 LABEST, Instituto Politécnico do Porto; NewMENSUS, Lda. Porto, Portugal. [email protected] 2 NewMENSUS, Lda.; LABEST. Porto, Portugal. [email protected] 3 NewMENSUS, Lda. Porto, Portugal. [email protected] 4 LABEST, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Porto, Portugal. [email protected] 5 Sociedade de Construções Soares da Costa, SA. Portugal. [email protected] 6 LCW Consult, SA. Portugal. [email protected]

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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012 FEUP, 24-26 de outubro de 2012

Conceção e implementação do sistema de monitorização estrutural do Viaduto do Corgo

Carlos Félix1 Carlos Rodrigues2 Rémy Faria3 Joaquim Figueiras4

Luís Afonso5 Victor Barata6 RESUMO O Viaduto do Corgo constitui a mais recente travessia do vale do Corgo, em Vila Real, integrado na expansão da Autoestrada A4/IP4, atualmente em curso. Dada a importância desta obra e o investimento que ela representa, foi decidido dotá-la de um sistema de monitorização estrutural. O sistema de monitorização concebido para esta obra tem por objetivo principal fornecer ao projetista, ao empreiteiro e ao dono da obra informação essencial acerca do comportamento da estrutura, durante a sua construção e ao longo dos anos subsequentes, com a estrutura em serviço. Pretende-se deste modo recolher informação que permita acompanhar e avaliar a segurança durante as várias fases de construção, validar as hipóteses de cálculo e o modelo adotado no projeto da estrutura, quer para a fase construtiva, quer para o final da construção e, finalmente, avaliar a conformidade da estrutura executada. No presente artigo apresenta-se o sistema de monitorização estrutural projetado para o Viaduto do Corgo. Em particular, descrevem-se as soluções inovadoras para medição das diferentes grandezas, as particularidades relativas à instalação do sistema e a integração que é feita das diferentes tipologias de sensores. São ainda descritas as potencialidades do sistema e é explanada a sua utilidade quer no apoio à construção, quer no que diz respeito à avaliação continuada do comportamento estrutural. Palavras-chave: Monitorização estrutural; Instrumentação; Redes de Sensores; Viaduto do Corgo. 1. INTRODUÇÃO A construção de novas infraestruturas, com aspetos estruturais cada vez mais arrojados, bem como a necessidade de políticas de manutenção com exigências crescentes ao nível da durabilidade e da segurança levam à emergente procura de medidas adicionais de aferição do comportamento e da segurança estrutural. No contexto exposto, a monitorização tem sido introduzida com sucesso no seio da engenharia estrutural. Os sistemas de monitorização, cada vez mais avançados e com maiores potencialidades, começam a ser vistos como soluções fidedignas, que permitem a obtenção de informação relevante para uma avaliação efetiva do desempenho das estruturas [1]. Os atuais meios informáticos e de comunicação permitem em tempo útil o acesso remoto ao diagnóstico estrutural [2]. 1 LABEST, Instituto Politécnico do Porto; NewMENSUS, Lda. Porto, Portugal. [email protected] 2 NewMENSUS, Lda.; LABEST. Porto, Portugal. [email protected] 3 NewMENSUS, Lda. Porto, Portugal. [email protected] 4 LABEST, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Porto, Portugal. [email protected] 5 Sociedade de Construções Soares da Costa, SA. Portugal. [email protected] 6 LCW Consult, SA. Portugal. [email protected]

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Conceção e implementação do sistema de monitorização estrutural do Viaduto do Corgo

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Nesta conjuntura, surge o plano de monitorização estrutural do Viaduto do Corgo. Trata-se de uma das obras mais significativas da expansão da Autoestrada A4/IP4, atualmente em construção, inserida na subconcessão Autoestrada Transmontana, que permitirá a ligação entre Vila-Real e Quintanilha. O projeto de monitorização estrutural concebido e implementado destina-se a acompanhar as fases mais críticas da vida da estrutura, nomeadamente cobrindo o processo construtivo e o ciclo de exploração em serviço. Durante as várias fases de construção, procura-se avaliar o comportamento da estrutura, de forma a validar quer o modelo de cálculo adotado no projeto da estrutura, quer o processo construtivo escolhido. O acompanhamento do faseamento construtivo permitirá ainda estabelecer um referencial de comportamento da estrutura, fundamental para interpretar posteriores campanhas de avaliação da condição estrutural da obra. No final da construção, o sistema de monitorização ficará então em pleno funcionamento de modo a avaliar a resposta da estrutura em serviço, ao longo dos anos subsequentes. Na fase de exploração da estrutura, procura-se a deteção oportuna e eficiente de alterações no seu comportamento associadas a danos ou deficiências nos elementos estruturais. Nessa fase serão definidos limites de alerta e vigilância relativamente a desvios admissíveis face ao comportamento de referência da estrutura. Promove-se, por esta via, a adoção de políticas de manutenção proactivas, mais realistas e intrinsecamente mais económicas e seguras.

2. DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA 2.1 Enquadramento geral A solução preconizada para atravessamento do Rio Corgo (ver Fig. 1) representa um viaduto em betão armado pré-esforçado com 2796 metros de extensão total, dividido em três sub-viadutos contínuos: o de poente, o central e o de nascente. Segundo o enquadramento presente na Fig. 2, estas três estruturas apresentam, respetivamente, 855m, 768m e 1167m de extensão entre eixos de apoios extremos [3].

Figura 1. Panorâmica do Viaduto do Corgo, em construção.

2.2 Viaduto Central

O Viaduto Central constitui a estrutura principal desta infraestrutura, apresentando um tabuleiro com um amplo vão de 300 metros sobre o vale do rio. Para vencer este vão, encontra-se uma solução atirantada com suspensão central (300 m), prolongada por vãos de continuidade (126 m) de cada um dos lados. É também esta a zona de maior desnível em relação ao solo, encontrando-se o tabuleiro a cerca de 230 metros do fundo do vale. Os mastros que suspendem o tramo central elevam-se 63 metros em relação ao tabuleiro e têm uma altura total de cerca de 196 metros acima da fundação. A sua fundação é mista, composta por micro-estacas solidarizadas superiormente por maciços de betão armado com capacidade estrutural, enquanto fundação direta, aproveitada.

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Félix, Rodrigues, Faria, Figueiras, Afonso e Barata

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O tabuleiro, de betão armado pré-esforçado, tem secção em caixão monocelular com 3.5 m de altura e 10 m de largura e é dotado de consolas que se prolongam para um e outro lado, perfazendo a largura total de 28.0 m. O conjunto de quatro painéis de 22 tirantes cada que constitui o atirantamento de suspensão do tabuleiro varia de 37 a 69 cordões de pré-esforço de 15.7 mm. Todo o tabuleiro foi executado com recurso ao sistema de avanços sucessivos em consola, tendo sido utilizados carros de avanço, em simultâneo, nas quatro frentes da obra (P18 e P19, vãos laterais e central). 2.3 Viadutos Laterais (Nascente e Poente) Os Viadutos Laterais apresentam vãos parciais de 36.0 + 51.0 + 12 x 60.0 + 48.0m e de 48.0 + 54.0 + 57.0 + 16 x 60.0 + 48.0m do lado poente (do E1 ao P15) e nascente (do P22 ao E2), respetivamente. Para vencer estes vãos, o tabuleiro dos respetivos viadutos apresenta contorno exterior idêntico ao da secção do Viaduto Principal. No entanto, e atendendo aos vãos em questão, estes foram executados com recurso a cimbres móveis auto-lançáveis. Estes viadutos têm pilares com alturas variáveis entre 18 e 113 m. Estes pilares têm dimensão constante em toda a altura, sendo que a sua dimensão transversal é de 10.5 m e a dimensão longitudinal varia, em geral, de 4.00m nos pilares mais baixos (P1 e P41) a 5.0 m nos pilares mais altos (P27 e P26). As fundações dos pilares são diretas, materializadas por sapatas de diferentes dimensões no maciço rochoso. 3. PLANO DE OBSERVAÇÃO 3.1 Enquadramento geral Dada a dimensão da estrutura e o carácter da avaliação pretendida, a caracterização experimental é feita por amostragem, tendo sido escolhidas duas zonas de intervenção: Zona I - o Viaduto Central (entre P15 e P22); Zona II - uma zona do Viaduto Nascente com pilares de maior altura (entre P26 e P28). O zonamento prescrito está representado na Fig. 2 [4].

Figura 2. Zonas instrumentadas no Viaduto do Corgo.

De forma mais detalhada, nas Figs 3 e 4 dá-se a conhecer a posição relativa das várias secções instrumentadas e as respetivas grandezas medidas em cada uma delas. Respondendo aos objetivos essenciais expostos na secção introdutória, o sistema de monitorização estrutural projetado e implementado no Viaduto do Corgo tem os seguintes alvos principais:

− avaliação da deformação de secções da estrutura (pilares e tabuleiro); − avaliação da rotação de secções de pilares, dos mastros e do tabuleiro; − estimativa dos deslocamentos horizontais do topo dos mastros; − determinação da tensão nas diagonais no interior do tabuleiro (zona atirantada); − avaliação da força instalada nos tirantes; − deteção de eventuais rotações de maciços de fundação; − avaliação das flechas (deslocamento vertical relativo) do tabuleiro; − avaliação dos movimentos das juntas de dilatação.

Zona I Zona II

Viaduto Poente Viaduto Central Viaduto Nascente

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Pretende-se ainda recolher informação de suporte, essencial à interpretação das medições efetuadas, nomeadamente acerca das condições meteorológicas que envolvem a estrutura e acerca da retração e da fluência do betão. Para medição das grandezas supracitadas, o plano de instrumentação baseia-se em instrumentação quer de natureza ótica, quer de natureza elétrica, procurando as soluções mais fiáveis e competitivas para medição de cada grandeza específica. Seguidamente faz-se uma apresentação sucinta dessa instrumentação.

Figura 3. Grandezas medidas e sua localização no Viaduto Central (Zona I).

Figura 4. Grandezas medidas e sua localização no Viaduto Nascente (Zona II). 3.2 Sistemas de medição 3.2.1 Deformação do betão

Para medição da deformação do betão, foram instrumentadas secções representativas dos pilares, na base e no topo, e secções do tabuleiro, a meio-vão e junto aos apoios (ver Figs 3 e 4). Cada secção contempla quatro pontos de medição, conforme se representa nas secções transversais caracterizadas nas Figs 5 e 6, visando a determinação de extensões médias e de curvaturas e, por essa via, permitindo a estimativa do esforço axial e do momento fletor aí instalado. Para medir a extensão do betão, adotaram-se transdutores de deformação em fibra ótica, baseados nas redes de Bragg. Trata-se de sensores específicos de embeber no betão, desenvolvidos no LABEST, para aplicação em pontes de betão armado, capazes de caracterizar a deformação média numa base de referência de aproximadamente um metro. Testes laboratoriais demonstram que a resolução alcançada com estes sensores é da ordem de ±1×10-6 m/m [5]. Todos os sensores foram instalados imediatamente antes da respetiva betonagem, alinhados longitudinalmente, junto da respetiva malha de armadura.

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Félix, Rodrigues, Faria, Figueiras, Afonso e Barata

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Figura 5. Posição esquemática dos sensores instalados numa secção transversal do pilar.

Figura 6. Posição esquemática dos sensores instalados numa secção transversal do tabuleiro.

A sensibilidade à temperatura dos sensores óticos, intrínseca às redes de Bragg, conduziu também à necessidade de adotar um número significativo de termómetros dedicados à compensação dos efeitos térmicos. Estes termómetros estão concentrados em secções consideradas representativas das restantes e em locais coincidentes com os dos extensómetros.

3.2.2 Extensão nas diagonais internas

Procede-se à medição de variações de extensão nas diagonais de suspensão no interior do caixão do Viaduto Central. As secções instrumentadas concentram-se sobretudo nos primeiros pares de diagonais, junto dos pilares P18 e P19. Para o efeito utilizam-se sensores de Bragg colados diretamente na superfície metálica dos perfis que as constituem (2x½HEB320). Em cada diagonal foram instalados quatro sensores, convenientemente dispostos, permitindo a estimativa da variação da tensão média instalada em cada fase de tensionamento dos tirantes. 3.2.3 Força em tirantes

Para medição da força de tração instalada nos tirantes de suspensão do Viaduto Central, combina-se um sistema de medição misto. Este sistema recorre à interposição de células de carga em três cabeças de ancoragem (medição direta) e à instalação de 10 acelerómetros, um em cada tirante (medição indireta recorrendo à teoria das cordas vibrantes). Consegue-se assim estimar a tração em 10 tirantes: 3 tirantes estão instrumentados com acelerómetros e células de carga, os restantes 7 apenas com acelerómetros. Um algoritmo de cálculo permite posteriormente estimar o valor da tensão de tração em cada tirante, recorrendo a um modelo que poderá ser gradualmente ajustado com as medições efetuadas com as células de carga. 3.2.4 Rotações

Procede-se à medição direta de rotações em duas zonas distintas da estrutura: nos maciços de fundação do Viaduto Central para medição de eventuais rotações de maciços de fundação dos pilares P18 e P19; e em quatro secções do tabuleiro do Viaduto Central para quantificação das rotações longitudinais do tabuleiro. Para medição das rotações dos elementos estruturais foram adotados inclinómetros uniaxiais baseados em tecnologia elétrica, com sinal em corrente. Estes inclinómetros, ligados ao sistema de aquisição em questão, revelam uma resolução de ±1×10-3 º e uma gama de medição de ±1 º.

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3.2.5 Flechas do tabuleiro

O acompanhamento da deformada da estrutura inclui a medição da flecha do tabuleiro do Viaduto Central. Atendendo à altura da estrutura, esta medição decorre sem qualquer referência física ao solo e apresenta um princípio de funcionamento baseado num nivelamento hidrostático e na aplicação do princípio dos vasos comunicantes a um circuito hidráulico interno, que percorre longitudinalmente todo o Viaduto Principal. Este circuito hidráulico permite assim acompanhar a deformada vertical da estrutura (e do próprio circuito solidário com esta) por via do acompanhamento de variações da altura aparente do nível de líquido nos pontos em causa, relativamente a pontos de referência imunes a deslocamentos verticais. Para medição dos níveis hidrostáticos e consequentemente para estimativas das flechas recorre-se a transdutores baseados em sensores em fibra ótica desenvolvidos para o efeito [6]. Preconizam-se então cinco transdutores nas secções de vão e mais dois em duas secções consideradas de referência (sobre os pilares P18 e P19). 3.2.6 Deslocamentos dos mastros

A estimativa dos deslocamentos do topo de cada um dos mastros (P18 e P19) é conduzida por via indireta a partir da medição da rotação e das curvaturas dos fustes e do próprio mastro. Para o efeito recorre-se a pares de inclinómetros uniaxiais e a pares de transdutores de deformação, distribuídos por três secções em cada torre, para medição de rotações e curvaturas, respetivamente. Um modelo de cálculo permite estabelecer a correlação entre as rotações e curvaturas observadas e os deslocamentos do topo [7]. 3.2.7 Deslocamentos de aparelhos de apoio

Realiza-se a medição do movimento das juntas de dilatação nas extremidades do tabuleiro do Viaduto Central e do Viaduto Nascente. Para o efeito, utilizam-se transdutores de deslocamento elétricos, do tipo LVDT, instalados junto dos aparelhos de apoio respetivos, após o fecho da obra. 3.2.8 Retração e fluência do betão

A verificação in situ da evolução da retração e da fluência do betão é conseguida a partir da instrumentação de prismas com transdutores de deformação idênticos aos que são utilizados nas secções do tabuleiro. Estes prismas foram betonados em simultâneo com fases bem identificadas da obra e mantidos livres de tensões mecânicas ou sob tensão constante consoante se trate da caracterização da retração ou da fluência, respetivamente. 3.2.9 Estação meteorológica

Uma estação meteorológica visa ainda o registo automático das principais grandezas caracterizadoras da exposição ambiental, nomeadamente temperatura, humidade relativa, velocidade e direção do vento, pluviosidade e radiação solar.

3.3 Integração da rede de sensores Para além dos sensores, implantados ao longo da estrutura, destacam-se as respetivas unidades de aquisição de sinal (UAS). Trata-se de um conjunto de equipamentos específicos, responsável por alimentar os sensores, condicionar o respetivo sinal em informação digital e armazenar o conjunto de dados localmente. Como atrás exposto, reúne-se nesta rede diferentes tecnologias, procurando-se a solução que melhor se adequa ao fim em vista. A gestão integrada da informação e a sua análise implica, no entanto, que todos os dados sejam centralizados e possam ser correlacionados. A estrutura deste sistema está esquematizada na Fig. 7. Integrando os diferentes sistemas de medição e respetivas UAS, na obra, corre uma aplicação responsável por recolher os dados dos diferentes equipamentos e guardar esses dados em ficheiros estruturados. Esses dados são transmitidos para um servidor exterior, onde corre uma aplicação que recebe esses dados, faz as conversões de unidades e organiza essa informação numa base de dados integrada. Finalmente, um software específico permite a consulta dos resultados [4].

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Figura 7. Arquitetura geral da integração dos diferentes sistemas de medição.

O elevado volume de dados que se prevê venha a ser recolhido durante a fase de exploração (cerca de 500 000 registos por ano) implica que seja necessário desenvolver rotinas de redução de dados que assegurem a operacionalidade do processo de consulta sem perda da informação essencial, como seja a relativa à tendência das grandezas em observação. 3.4 Interface de acesso e consulta de resultados Para consulta remota dos dados do sistema de monitorização foi desenvolvida uma aplicação web que permite, com elevado grau de interatividade, selecionar sensores e selecionar períodos de observação, possibilitando a visualização gráfica e tabular desses mesmos resultados, conforme se ilustra na Fig. 8. Esta mesma aplicação permite a exportação dos resultados para eventual tratamento posterior.

Figura 8. Ilustração do interface web de acesso aos resultados da monitorização: gráficos (esq.) e tabela (dir.). 4. RESULTADOS Embora o Viaduto do Corgo se encontre ainda em construção, o sistema de monitorização estrutural está quase integralmente instalado e tem permitido o acompanhamento das grandezas mais significativas durante o processo construtivo. Nesta fase, existe o registo de deformações no betão, extensões nas diagonais internas, forças nos tirantes e variações de temperatura. Espera-se que muito em breve os inclinómetros e acelerómetros entrem também em funcionamento. De forma a ilustrar o funcionamento deste sistema, apresentam-se alguns dos resultados da fase construtiva, onde se procura evidenciar as suas potencialidades no controlo da obra e na avaliação contínua do seu comportamento.

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4.1 Deformação do betão Focando os resultados obtidos na frente de obra centrada no P19, remete-se para a Fig. 9 a variação de extensão registada no betão junto das respetivas aduelas de arranque. Trata-se dos registos obtidos durante cerca de seis meses de construção da estrutura nos quatro transdutores presentes na secção transversal em causa (ver disposição relativa na Fig. 6).

Figura 9. Evolução da deformação do betão na secção T-P19b durante o processo construtivo.

Na figura são visíveis os principais efeitos do faseamento construtivo. Por um lado, em termos da variação relativa da deformação do betão, registam-se os efeitos do avanço da estrutura com a betonagem de novas aduelas. Nesta fase, com o peso de uma nova betonagem, funcionando eminentemente em consola, as fibras superiores tendem a tracionar e inversamente, as fibras inferiores comprimem. Por outro lado, observa-se a sua quase plena compensação desta variação com a aplicação do pré-esforço e com o tensionamento dos tirantes de suspensão. Para análise do comportamento estrutural, os respetivos esforços normais e de flexão puderam ser estimados a partir das extensões representadas. Concomitantemente, os efeitos da fluência e da retração estão também patentes na tendência da deformação média ao longo do tempo. 4.2 Extensão nas diagonais internas De forma análoga à apresentada anteriormente, mostra-se na Fig. 10, para o mesmo período, a variação da extensão nas diagonais internas que fazem a transferência das forças dos tirantes para as almas de betão. São mais uma vez nítidos os efeitos induzidos pelo faseamento construtivo.

Figura 10. Evolução da extensão nas diagonais internas da secção T-P19a durante o processo construtivo.

* estado de referência em 02-03-2012

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Atendendo à disposição dos extensómetros nos perfis metálicos que materializam estes elementos estruturais, torna-se possível determinar a extensão média aí instalada e consequentemente, conhecidas as propriedades mecânicas efetivas da secção, estimar a força transferida para cada diagonal. No contexto do controlo da obra, estes resultados, combinados com a deformação no betão apresentada na secção anterior, vieram a ser determinantes para o controlo do processo construtivo. 4.3 Força nos tirantes Na Fig. 11, mostra-se a evolução da força no sexto tirante de suspensão do vão lateral centrado no P18 (T18.L.6) desde o instante do seu tensionamento inicial. Para o efeito, isolam-se os resultados obtidos com a célula de carga instalada na ancoragem deste cabo.

Figura 11. Evolução da força no tirante T18.L.6 durante o processo construtivo.

Assinala-se mais uma vez a variação da força instalada no cabo associada às várias fases de construção. Esta quantificação permitiu, no contexto da obra, a retificação iterativa da força aplicada nos tirantes, possibilitando o seu ajuste relativamente ao prescrito pelo modelo numérico de projeto. 4.4 Temperatura na estrutura Apresenta-se, na Fig. 12, a evolução da temperatura no betão numa secção (P19c) do tabuleiro da estrutura. Representam-se quatro pontos de medição em cada um dos vértices do caixão (ver esquema na Fig. 6).

Figura 12. Evolução da temperatura do betão na secção T-P19c durante o processo construtivo.

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Chama-se particular atenção para a temperatura observada no betão das fibras superior e inferior da secção do tabuleiro. O ligeiro desfasamento observado, bem como a diferente amplitude das variações diárias conduzem a uma variação diferencial da temperatura nesta parte da estrutura, contribuindo para a sua deformada. Auxiliados por medições topográficas de precisão, também estes resultados foram ponderados no controlo da geometria da estrutura ao longo da sua construção. 5. CONCLUSÕES Neste artigo, apresentou-se o sistema de monitorização estrutural concebido e que está a ser implementado no Viaduto do Corgo. Destaca-se um sistema avançado de monitorização para acompanhamento do comportamento da estrutura quer durante o processo construtivo, quer ao longo da vida útil subsequente da infraestrutura. Este sistema apresenta alguma complexidade face à dimensão da estrutura, ao número de diferentes grandezas em observação, ao facto de ser instalado durante a fase de construção com muitas soluções embebidas no betão. Procuraram-se as mais avançadas tecnologias e as melhores soluções para monitorização estrutural, tendo-se projetado um sistema misto que combina subsistemas baseados na tecnologia da fibra ótica com subsistemas elétricos mais convencionais. Uma rede integrada e centralizada permite a comunhão dos resultados dos diferentes subsistemas, disponibilizando, de forma integrada, toda a informação remotamente. Entende-se que este sistema tem contribuído para o acompanhamento e controlo das várias fases de construção, validando várias hipóteses de cálculo e técnicas construtivas. No final da construção, espera-se avaliar a conformidade da estrutura executada. A permanência em funcionamento ao longo dos próximos anos será, sem dúvida, uma ferramenta importante no controlo da segurança e da durabilidade da estrutura, contribuindo de modo eficiente para a sua manutenção.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao consórcio AE XXI e ao construtor, CAET XXI Construções A.C.E., todo o apoio prestado na implementação do sistema de monitorização no Viaduto do Corgo. Expressam igualmente o seu agradecimento à equipa projetista, SENER/LCW. Agradece-se ainda à ADI, ao QREN e ao FEDER pelo financiamento do Projeto de I&D nº 013675 – NaÓpticaDaNewMENSUS, no âmbito do qual se realizaram alguns dos desenvolvimentos referidos na presente comunicação.

REFERÊNCIAS

[1] Ansari, F. (2005). Sensing issues in civil structural health monitoring. Dordrecht: Springer. 528 p. ISBN 978-1-4020-3660-6.

[2] Tan, GH; Poh, YK; Brownjohn. (2005). Evolution of remote structural health monitoring systems with M2M technologies. In: 23rd International Modal Analysis Conference (IMAC XXIII).

[3] SENER, LCW. (2010). Subconcessão Auto-estrada Transmontana. A4/IP4 – Vila Real (Parada de Cunhos) / Quintanilha. Lote 1. Projecto de Execução. Obras de Arte Especiais. Viaduto do Corgo. Memória Descritiva e Justificativa.

[4] NewMENSUS. (2011). Plano de monitorização estrutural e da durabilidade do Viaduto do Corgo, Memória Descritiva e Justificativa.

[5] Rodrigues, Carlos (2012). Monitorização de estruturas de engenharia civil apoiada em soluções de fibra óptica. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Tese de doutoramento.

[6] Rodrigues, C; Félix, C; Figueiras, J. (2011). Fiber-optic-based displacement transducer to measure bridge deflections. Structural Health Monitoring, Vol. 10, N. 2, pp. 147-156.

[7] Matos, J; Rodrigues, C; Henriques, AA. (2012). Previsão da deformada dos mastros do Viaduto do Corgo com base nos dados da instrumentação. In: Encontro Nacional Betão Estrutural 2012.