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2017 - 09 - 26 © desta edição [2017] Revista dos Tribunais Marisa Harms Diretora responsável Rua do Bosque, 820 – Barra Funda Tel.: 11 3613-8400 - Fax: 11 3613-8450 CEP 01136-000 - São Paulo Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal) com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). Visite nosso site: www.rt.com.br Central de Relacionamento RT (atendimento, em dias úteis, das 8 às 17 horas) Tel. 0800.702.2433 e-mail de atendimento ao consumidor: [email protected] Fechamento desta edição: [19.07.2017] ISBN 978-85-203-7412-2 © desta edição [2017] Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017 PRIMEIRAS PÁGINAS COMENTÁRIOS À REFORMA TRABALHISTA Autor HOMERO BATISTA MATEUS DA SILVA

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2017 - 09 - 26

© desta edição [2017]

Revista dos Tribunais

Marisa HarmsDiretora responsável

Rua do Bosque, 820 – BarraFunda

Tel.: 11 3613-8400 - Fax: 113613-8450

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Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ouparcial, por qualquer meio ouprocesso, especialmente porsistemas gráficos, microfílmicos,fotográficos, reprográficos,fonográficos, videográficos.Vedada a memorização e/ou arecuperação total ou parcial,bem como a inclusão dequalquer parte desta obra emqualquer sistema deprocessamento de dados. Essasproibições aplicam-se tambémàs características gráficas daobra e à sua editoração. Aviolação dos direitos autorais épunível como crime (art. 184 eparágrafos do Código Penal) compena de prisão e multa, busca eapreensão e indenizaçõesdiversas (arts. 101 a 110 da Lei9.610, de 19.02.1998, Lei dosDireitos Autorais).

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[19.07.2017]

ISBN 978-85-203-7412-2

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Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017PRIMEIRAS PÁGINAS

COMENTÁRIOS À REFORMA TRABALHISTAAutorHOMERO BATISTA MATEUS DA SILVA

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017PRÉ-TEXTUAIS

Comentários a Reforma Trabalhista - (1.ªEdição)

Pré-Textuais

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017NOTA DO AUTOR

Nota do Autor

Na terra das reformas sem fim: dissonâncias, ansiedades e incertezas

Às vezes tenho a impressão de que o Brasil está em eterna reforma e talvez nuncaconclua o edifício tão sonhado por nossos antepassados e por nossa geração.

Reforma-se de tudo, a todo instante, numa ansiedade que chega a oprimir a respiraçãode quem observa. Reformamos o velho e o novo, o errado e o certo. Reformamos o telhadosem terminar o alicerce, a fachada sem ter concluído as paredes, as vidraças sem queainda haja portas. Somos o país em que as benfeitorias voluptuosas são compradas antesdas úteis e das necessárias.

Também tenho tido pesadelos em que a gente passa a fazer a reforma só pela reforma,sem um projeto de longo prazo e sem a construção de um pensamento nacional capaz denos unir e de alavancar a ética e o respeito mútuo, valores que atualmente parecemconversa de lunáticos.

Tome-se, por exemplo, o Código de Processo Civil.

Não bastasse ter sido recriado do ponto zero em 1973, sofreu várias reformas anuaispequenas e médias, seguidas de grandes reformas em 1994 e 2006, para que, então, tudofosse demolido sem dó e recomeçado em 2015. Ledo engano achar que o processo civilencontraria a paz no renascimento: bateu talvez o recorde mundial de ser reformadodurante a vacatio legis em fevereiro de 2016 e, depois, já sofreu novas emendas, sem queainda tenha conhecido sua afirmação dogmática e jurisprudencial.

Ao que fui informado por colegas especializados nas demais áreas do direito, também alegislação tributária, civil e penal, para ficar apenas nas mais conhecidas, padecem doestado de reforma permanente – não somente pelo legislador, como também pelopensamento dos concretizadores do direito, representados pela magistratura, queraramente consegue sedimentar a jurisprudência de forma duradoura.

Postas essas premissas, ainda tentamos entender o que exatamente aconteceu nocampo das relações trabalhistas brasileiras, no outono e no inverno de 2017 – o anofadado a não ter fim, o ano da reforma trabalhista que não podia ser comentada, que nãopodia ser discutida, que não podia ser negociada.

Deixemos com os sociólogos e historiadores as considerações mais apropriadas sobre acorrupção endêmica, a vulnerabilidade das instituições e os dilemas do descolamentoentre a legimitação e a legitimidade de nossos mandatários.

Não é disso que trata este livro jurídico, com viés essencialmente trabalhista.

A perplexidade toda reside no fato de que a reforma trabalhista, num dado momento,foi vendida como urgente, avassaladora e inegociável, a ponto de o governo federal ter

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insistido num pacote de cerca de 100 dispositivos de lei que não puderam serminimamente ajustados ou estudados.

O Senado Federal aceitou se submeter a um acordo draconiano, pelo qual foramaprovados artigos que a maioria dos senadores reprovava, sob a alegação de que aPresidência da República os reformularia, num segundo momento, através de MedidaProvisória. O fenômeno da “reforma da reforma” serve para reforçar o desconforto acimamencionado do estado de mudança permanente. Ou seja, vamos imitar o processo civil eempreender reforma durante a vacatio legis, que deveria ser um tempo de difusão danova lei para sua aplicação mais segura por empregados, patrões, departamentos pessoais,sindicatos, entes federativos, órgãos de fiscalização e magistrados.

Para não deixar o leitor sem informação segura, o autor aceitou o desafio da editora decomentar, também, a “reforma da reforma”. A fim de localizar esses comentários,digamos, espirituais, procure a caixa a que eu dei o nome de “fique de olho”.

Se nem o tempo de descanso é concedido à lei, arrisca-se sua baixa eficácia, quer dizer,arrisca-se assistir ao estranho fenômeno de uma lei “não pegar”, que parece ser umamarca registrada do ordenamento brasileiro, conforme nos ensinam nas disciplinas deintrodução ao estudo do direito.

Aliás, o tempo de descanso para mudanças tão profundas na legislação brasileiracostuma ser de um ano – como ocorreu com as alterações do processo civil em 2015 e dodireito civil em 2002 –, mas a reforma trabalhista concedeu apenas 120 dias para asociedade se adequar.

E, afinal, procede a informação de que as relações de trabalho no Brasil de 2017 eramregidas por norma de 1943?

Não, não procede.

Esse argumento serviu de propaganda, num dado momento da campanha em prol dareforma urgente, avassaladora e inegociável, mas pouco se comentou que o regime dofundo de garantia é de 1967; a lei de férias é de 1977; o vale-transporte é de 1985;numerosos direitos são derivados da Constituição de 1988; o banco de horas e o trabalhoparcial surgiram na reforma de 1998, conhecida por reforma da Crise Russa; o ritosumaríssimo no processo do trabalho e a Comissão de Conciliação Prévia apareceram em2000, mesmo ano da Lei do Aprendiz; a desoneração dos encargos trabalhistas sobrebenefícios assistenciais ocorreu em 2001; muitas alterações foram empreendidas sobre aJustiça do Trabalho na alteração constitucional de 2004; relações sindicais foram alteradasem 2008; trabalho feminino teve novidades em 2012 e 2016; profissões específicasganharam várias regulamentações, inclusive amplas mudanças nos portuários emotoristas em 2012; alterações no trabalho doméstico ocorreram em 2013 e 2015; elegislação superveniente sobre gorjeta e sobre terceirização se verifica no começo de 2017.

São exemplos a esmo, que apenas reforçam a desconfiança sobre o argumento de que1943 não poderia se sobrepor a 2017.

Mas isso não é tudo.

A urgência e a inegociabilidade também ficam mitigadas quando se observa que váriosassuntos candentes ficaram de fora, como a regulamentação da penosidade, da proteçãodo trabalho contra a automação e da promoção do trabalho da mulher, para ficar apenasem alguns dos incisos do art. 7º da CF nunca concretizados.

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O capítulo da saúde e segurança do trabalho (arts. 154 a 200 da CLT) foi inteiramenteesquecido: reformado em 1978, nunca mereceu a atualização necessária e esperada,mesmo diante de tantos avanços científicos capazes de alterar os limites de tolerância e deredimensionar alguns graus de exposição a agentes físicos, químicos e biológicos. Osilêncio em torno do tema da saúde e segurança do trabalho, que clama por atualizações,nos leva a pôr em dúvida se o propósito da reforma de 2017 tinha mesmo o propósito demelhorar as condições de trabalho ou se camufla, apenas, a redução de custosoperacionais.

Nota-se, também, uma quantidade excessiva de dispositivos feitos com vetor oposto aopostulado das súmulas do TST, como se houvesse um propósito deliberado dedesmoralizar a jurisprudência do órgão de cúpula da Justiça do Trabalho. Não pode sercasual a ocorrência de tantas afrontas ao teor das súmulas.

Onde o TST enxergou tempo à disposição do empregador, a reforma diz que isso nãoexiste, pois, o trajeto, mesmo para locais ermos e desprovidos de transporte coletivo, nãopode ser considerado jornada itinerária.

Pelo regime de urgência desmesurado, pelo silêncio em torno de direitos fundamentaiscomo a saúde e a liberdade sindical e pela excessiva preocupação em desmoralizar o TST,a reforma de 2017 ficará indelevelmente marcada por seu viés autoritário.

E agora talvez a pior constatação: reformas desse gênero não têm a capacidade deproduzir renda, muito menos gerar empregos e menos ainda de gerar trabalho decente – otrabalho suficiente, digno e envolvido no diálogo social, como ensina a OrganizaçãoInternacional do Trabalho.

É possível que o país tenha de empreender nova rodada de reformas trabalhistas noespaço de 5 anos, porque precisamos de diálogo social, única forma de alavancagem daprodutividade e das condições dignas de trabalho, se quisermos chegar a algum lugar.

O nível de insegurança gerado pela reforma é muito alto e honestamente ninguém sabeaonde ela vai nos levar. São diversas suas contradições internas e são numerosos oscontrassensos. Há grande ênfase na negociação coletiva, mas ao mesmo tempo ossindicatos foram acuados, porque considerados os principais responsáveis pelo entrave dodesenvolvimento trabalhista, em afirmações genéricas e desprovidas de base científica.Há grande propaganda sobre o potencial de geração de empregos, mas a reforma teve aousadia de dizer que a dispensa em massa é igual à dispensa individual, em sua forma eem seu conteúdo, em claro desafio à Constituição Brasileira e a amplo consensointernacional em sentido contrário. Há grande desprezo à Justiça do Trabalho, mas aomesmo tempo o país não desenvolveu a contento o sistema de inspeção trabalhista, quepoderia lidar com a prevenção com muito mais eficácia do que com o remédio, e nãoencontra outros campos para a conversa e o entendimento.

Temos enorme curiosidade de saber como as novas gerações irão pensar sobre essemomento de tormenta que vivemos. E como irão nos julgar.

Os comentários que seguem objetivam, prioritariamente, lançar algumas luzes sobre opanorama que surgirá da reforma, depois de desanuviado o ambiente, mas tambémalmejam que as futuras gerações não pensem que em 2017 triunfava a indiferença.

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017ABREVIAÇÕES UTILIZADAS

Abreviações utilizadas

ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho

CF – Constituição Federal

CC – Código Civil

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

CTN – Código Tributário Nacional

TST – Tribunal Superior do Trabalho

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TRT – Tribunal Regional do Trabalho

CCP – Comissão de Conciliação Prévia

EC – Emenda Constitucional

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ADPF – Arguição de Descumprimento de preceito fundamental

ADI – Ação Direta de Constitucionalidade

ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade

RITST – Regulamento Interno do Tribunal Superior do Trabalho

IRDR – Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas

IAC – Incidente de Assunção de Competência

IN – Instrução Normativa

LINDB – Lei de Introdução às Normas de Direito brasileiro

EC – Emenda Constitucional

MPT – Ministério Público do Trabalho

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SESMET – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do

Trabalho

CPC – Código de Processo Civil

LEF – Lei de Execuções Fiscais

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

Altera a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de1º de maio de 1943, e as Leis 6.019, de 3 de janeiro de 1974; a Lei 8.036, de 11 de maio de1990, e a Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações detrabalho.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-lei nº5.452, de 1º de maio de 1943, passa a vigorar com as seguintes alterações:

.........................................................................

Art. 2º ...............................................................

§ 1º...................................................................

§ 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidadejurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou aindaquando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão

responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego.

§ 3º Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo necessárias, para aconfiguração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva comunhão de

interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrante.

1. Essa alteração pode ser considerada uma das mais profundas da nova legislação. Oconceito de grupo econômico praticamente acompanhou o desenvolvimento do direito dotrabalho e objetivava evitar que os lucros fossem distribuídos entre as empresassubsidiárias, mas as despesas não fossem compartilhadas. Havia doutrina relevante nosentido de que o grupo somente poderia ser configurado se houvesse demonstração deuma empresa-mãe (chamada de holding), que comandava empresas menores (grupo pordominação ou por subordinação ou, ainda, grupo vertical), mas aos poucos se notou apouca importância dessa distinção e a dificuldade de se afirmar qual grupo era maisverticalizado e qual era mais horizontalizado. Os grupos são dinâmicos.

2. Tanto isso é verdade que em 1973 a legislação do trabalho rural consagrou a tese dogrupo por coordenação. O exemplo mais citado à época dizia respeito às instituiçõesfinanceiras que faziam e fazem investimentos em agroindústria e em empresas dereflorestamento, que guardam sua autonomia e independência de atuação. Os bancos, noentanto, pertencem ao conglomerado financeiro que inclui a empresa rural, mesmo quesem linha vertical de dominação. Daí o acerto da legislação rural ao captar a existênciados grupos por coordenação.

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3. Aparentemente, o legislador quis criar duas situações bem demarcadas: o grupourbano necessita apontar qual é a holding e o grupo rural, não. Houve a cautela de seproibir a analogia, fechando sua porta pelo § 4º.

4. Tenho sérias dúvidas sobre como será feita a demonstração pelo leigo, que éhipossuficiente técnico, sobre qual empresa “detém o efetivo controle das demais”. A seimprimir interpretação gramatical ao dispositivo, teremos a prova impossível oudiabólica, que nos ensinam os processualistas. Talvez seja melhor lidar com o conceito daaptidão da prova por parte de quem detém a documentação e, ainda, pensarmos umpouco no conjunto de presunções que norteiam o processo em geral e o processo dotrabalho em particular.

5. Quem está de fora dos grupos nem ao menos tem acesso à documentação para sesaber como é o ajuste do comando: também a prova exigida pelo § 3º, sobre a coincidênciados sócios não ser coincidência de comando, é inviável para os credores e muito maiscomplexa para o trabalhador. Neste passo, prevejo que a jurisprudência se inclinaráfavoravelmente à aptidão da prova ser do próprio grupo econômico, ou seja, pode serdesenvolvida a tese de presunção relativa de existência do grupo, salvo se os sóciosidênticos provarem que houve mera coincidência de presença simultânea em dois ou maisempreendimentos, sem que um se comunicasse com o outro. Essa inversão do ônus daprova nem ao menos precisará ser fundamentada com apoio no NCPC ou no CDC: a novaredação do art. 818 da CLT insere na legislação trabalhista o vasto acervo conceitual daaptidão técnica e econômica para os encargos probatórios.

6. Curioso registrar que o argumento utilizado pelos congressistas para aprovaçãodesse modelo fatiado de grupo econômico foi o fato de a Justiça do Trabalho ter alargadodemais seu emprego ao longo dos anos, bem agora que o conceito foi exportado para ocampo penal e tem produzido resultados eficazes no âmbito da Lei Anticorrupção: o art.16, § 5º, da Lei 12.846/2013 (que embasa a operação Lava Jato) permite a extensão dosefeitos das delações para as empresas integrantes ao grupo econômico, “de fato e dedireito”. Ninguém propôs separar grupo econômico horizontal do grupo econômicovertical na investigação criminal, até porque não faria sentido absolver o criminosoporque não foi provada a posição hierárquica que ocupa na constelação de empresas. Naânsia de blindar empresas das dívidas trabalhistas, o legislador se arrisca a produzirjurisprudência que separe o grupo econômico de direito – assim entendido aquele com osatos assentados nas juntas comerciais ou aqueles elaborados à luz da legislação societária– do grupo econômico de fato, às margens da CLT.

Art. 4º.....................................................................

§ 1º Computar-se-ão, na contagem de tempo de serviço, para efeito de indenização eestabilidade, os períodos em que o empregado estiver afastado do trabalho prestando

serviço militar e por motivo de acidente do trabalho.

§ 2º Por não se considerar tempo à disposição do empregador, não será computado comoperíodo extraordinário o que exceder a jornada normal, ainda que ultrapasse o limite de

cinco minutos previsto no § 1º do art. 58 desta Consolidação, quando o empregado, porescolha própria, buscar proteção pessoal, em caso de insegurança nas vias públicas ou más

condições climáticas, bem como adentrar ou permanecer nas dependências da empresapara exercer atividades particulares, entre outras:

I – práticas religiosas;

II – descanso;

III – lazer;

IV – estudo;

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V – alimentação;

VI – atividades de relacionamento social;

VII – higiene pessoal;

VIII – troca de roupa ou uniforme, quando não houver obrigatoriedade de realizar a trocana empresa.

1. O § 1º – que era parágrafo único – recebeu apenas um ajuste de redação: quando elefoi inserido, pela Lei 4.072/1962, era permitido o veto parcial a um único parágrafo, demodo que redação ainda estava com reticências para representar a parte cortada. Reitera-se que o período em que o jovem está convocado para a prestação do serviço militarobrigatório e o período em que o trabalhador está em afastamento previdenciário poracidente de trabalho são tempo de serviço. Como não se pratica mais a estabilidadedecenal, o objetivo desse dispositivo é um só: determinar o depósito do fundo de garantiae, depois, a incidência da indenização de 40% também sobre esses afastamentos. Hádepósitos mesmo sem salário, portanto.

2. O § 2º parece ter a boa intenção de aclarar o conceito de tempo à disposição doempregador. O simples fato de estar dentro das dependências do empregador não deveproduzir a certeza de que o empregado está aguardando ou executando ordens. Muitaenergia foi empreendida na redação desse dispositivo, que está com oito incisos a títuloexemplificativo, mas o fato é que o TST já praticava essa noção pelo menos desde 1980,como pode ser conferido na Súmula 96: “A permanência do tripulante a bordo do navio,no período de repouso, além da jornada, não importa em presunção de que esteja àdisposição do empregador ou em regime de prorrogação de horário, circunstâncias quedevem resultar provadas, dada a natureza do serviço”. Houve debate análogo quando dapromulgação da Lei dos Domésticos (LC 150/2015).

3. Cautela especial deve ter a interpretação do inciso VIII desse § 2º, porque o tempogasto para a uniformização se insere no conceito de tempo à disposição do empregador, demaneira geral. Há casos em que o uniforme nada mais é do que um jaleco ou umdistintivo, com gasto de segundos ou de poucos minutos. No entanto, situações maiscomplexas, como o fardamento, o uso de objetos de primeiros socorros, a necessidade dehigiene para acesso a áreas restritas e demais indumentárias tornam o tempo deuniformização bem mais complexo e não se pode ignorar sua inserção na jornada detrabalho. O fato de o empregador autorizar a uniformização em casa não encerra a análisedo problema. Neste particular, o legislador teve o cuidado de fazer a ressalva quanto aouniforme liberado para ser arrumado em casa. Assim, pode-se argumentar que oempregado, por exemplo, quis fazer sua higiene pessoal no local de trabalho porque daliiria para sua escola ou faculdade, por exemplo.

Art. 8º .........................................................................

§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.

§ 2º Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal Superior doTrabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir direitos

legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei.

§ 3º No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalhoanalisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico,

respeitado o disposto no art. 104 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – (Código Civil), ebalizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade

coletiva.

1. O caput do art. 8º da CLT foi mantido. Ele contém as principais técnicas deinterpretação e integração da legislação trabalhista, com destaque para a analogia. Nunca

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é demais lembrar que a equidade – assim entendida a aplicação do valor do justo, aindaque momentaneamente afastada da rigidez da lei – encontra seu campo máximo nodireito do trabalho e independe de autorização superveniente do legislador. Esse conceitode aplicação direta da equidade no direito do trabalho não encontra ressonância, porexemplo, no processo civil, em que se exige expressa autorização do legislador para suaadoção. A equidade é novamente referida em outros dispositivos da CLT, como na fixaçãodos pisos salariais em sede de dissídio coletivo (art. 766) e nos julgamentos dos ritossumaríssimos (art. 852-I). Prevejo que a equidade voltará a ser destaque nos próximosanos, com a necessidade de revalorização dos princípios trabalhistas, talvez como formade adocicar a hostilidade de muitos dispositivos enxertados na reforma de 2017.

2. O legislador de 2017, enfim, manteve intacto o caput do art. 8º e investiu sua energiana elaboração de três parágrafos, voltados, sobretudo, para a censura ao papel que o TSTvinha exercendo:

• O primeiro parágrafo se aproxima muito do anterior, com a única ressalva deque, de certa forma, amplia a aplicação do direito comum: não se exige mais quea aplicação seja feita “naquilo que não for incompatível” com os princípiosfundamentais do direito do trabalho. A mudança é quase inócua, porque, de fato,não se pode partir para a aplicação subsidiária em substratos ou contextosdiferentes daqueles que norteiam o direito do trabalho, ramo jurídico que lidacom relações essencialmente assimétricas. As regras do contrato de compra evenda, por exemplo, jamais poderão balizar as regras do contrato de trabalhoporque não guardam nem a mais pálida semelhança.

• O parágrafo segundo diz mais ou menos o óbvio, no sentido de que súmulasnunca podem restringir direitos nem criar obrigações. Na verdade, súmulasrealmente não criam nem abafam direitos, apenas os interpretam. Ocorre que, namaioria das vezes, há espanto quando uma súmula é editada em torno de largosvazios legislativos, forçando o tribunal trabalhista a fazer uma construçãojurídica para tentar equacionar uma realidade cotidiana desprovida deregulamentação à vista. Tome-se o exemplo célebre da terceirização brasileira: aolongo de muitas décadas, somente leis esparsas e insuficientes dispuseram arespeito desse fenômeno, que, sem se preocupar se havia ou não lei específicasobre ele, galopou velozmente por todos os ramos da atividade econômica e daadministração pública. Premido por essa contingência, o TST editou a Súmula 331,em 1993, que, de certa forma, balizou os parâmetros mínimos de sobrevivência naselva da terceirização. No entanto, isso está longe de ter sido uma legislaçãoforçada pelo TST ou uma “criação de obrigações”: antes, era uma interpretação doart. 455 da CLT (sobre empreiteiro e subempreiteiro) combinada com a Lei6.019/1974 (trabalho temporário), para, a partir desse raciocínio, levar-seanalogamente a solução para os demais casos de aplicação do regime deterceirização. Poderíamos ficar aqui o livro inteiro falando de casos em quehouve acusação de legislação pelo TST (jornada itinerária na Súmula 90; modo deoperar descontos salariais na Súmula 342; regras da equiparação salarial naSúmula 6), mas em todos eles o ponto central é o caos do direito do trabalhobrasileiro. No particular, a acusação ao TST de fúria legislativa reveladesconhecimento ou má-fé.

• O legislador não cria princípios; às vezes, ele os encampa ou os enaltece.Vamos ver se o “princípio da intervenção mínima na autonomia da vontadecoletiva” poderá ser criado e emancipado pela força do Diário Oficial da União.Ironia à parte, o fato é que o § 3º também contém uma explicação óbvia, nosentido de que o Poder Judiciário deve se ater a analisar os requisitos formais de

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uma norma coletiva – entre sindicato e empresa ou entre dois sindicatos –,evitando tecer juízos de valor sobre o mérito. Ocorre que, neste domínio, é muitomais simples falar do que conviver com as normas coletivas formalmenteperfeitas e concretamente deturpadas; basta lembrar alguns exemplos contidosno capítulo Conteúdo possível da norma coletiva, em nosso Volume 7 – Direitocoletivo do trabalho: um sindicato autorizou a empresa a contratar mão de obrainfantil; o outro autorizou o uso de mão de obra juvenil noturna; outro aindaconcordou com cláusula que veda o direito de greve; e assim sucessivamente.Neste e noutros vários exemplos, o Poder Judiciário, ao analisar “os elementosessenciais do negócio jurídico” depara-se com situação de inconstitucionalidadede algumas cláusulas e de imoralidade de outras. Se a CLT pós-2017 quer proibirque o Judiciário se manifeste sobre cláusulas desvirtuadoras da legislação social,corremos o risco de a jurisprudência trabalhista passar a utilizar os conceitos daLei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, antigamente chamada de Leide Introdução ao Código Civil – LINDB (Decreto Lei 4.567/1942, atualizado pela Lei12.376/2010).

3. Apenas para refrescar nossa memória, evoco e grifo dois dispositivos da LINDB, quepodem ser necessários para desatar alguns nós que se apresentarão nas lides trabalhistasdoravante:

• Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e àsexigências do bem comum (art. 5º).

• As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações devontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, aordem pública e os bons costumes (art. 17).

4. Em suma, nosso sentimento é de que, apesar da agressividade da redação, o novoart. 8º da CLT não terá força suficiente nem para inibir a produção de súmulas eorientações jurisprudenciais, nem para arrefecer as ações anulatórias de cláusula denorma coletiva.

Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas dasociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações ajuizadas até

dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a seguinte ordem depreferência:

I – a empresa devedora;

II – os sócios atuais; e

III – os sócios retirantes.

Parágrafo único. O sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando ficarcomprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do contrato.

1. O enxerto do art. 10-A ao texto da CLT pode ter piorado a condição do sócio retirante:aplica-se, em geral, a regra do art. 1.003, parágrafo único, do CC, quanto ao prazo de doisanos de manutenção da responsabilidade do sócio retirante. Ocorre que a reformatrabalhista de 2017 adotou o entendimento de que os dois anos se calculam entre a saídado sócio e o ajuizamento da ação trabalhista. Ou seja, contanto que a ação esteja ajuizada,o sócio pode ser responsabilizado cinco, dez, quinze anos após, porque somente após afase de conhecimento e o acertamento dos cálculos é que se descobrirá se a pessoa jurídicae os sócios atuais têm patrimônio suficiente para arcar com o débito. Para o sócioretirante, era mais favorável o entendimento de que ele respondia por dois anos contadosentre sua saída e a fase de execução ou simplesmente entre sua saída e o mandado de

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citação, penhora e avaliação. Agora, ele ficará vinculado a um processo trabalhista cujaexistência ele pode até mesmo desconhecer.

2. A ideia de que o sócio retirante somente responde depois de esgotado o patrimônioda pessoa jurídica e dos sócios atuais nada tem de inovadora e já era praticada pelos juízostrabalhistas. Ninguém começa a execução pelo ex-sócio. Normalmente, a citação ao ex-sócio ocorre em casos de desespero, em que houve o completo desaparecimento do fundode comércio, do empreendimento e dos responsáveis.

3. Dada a resistência da Justiça do Trabalho ao incidente de desconsideração da pessoajurídica, de que cuidam os arts. 133 e seguintes do CPC/2015, o legislador de 2017 cuidoude inserir o art. 855-A ao corpo da CLT, a cujos comentários remetemos o leitor. Por ora, éimportante frisar que o ex-sócio poderá também ele reivindicar o direito de saber dadesconsideração societária preliminarmente.

4. O art. 10-A, parágrafo único, prevê a hipótese de responsabilidade direta do ex-sócio,sem passar pelo esgotamento do patrimônio societário ou dos sócios atuais, em caso deprova da fraude na alienação empresarial. A prova da fraude é muito complexa, pois osempregados, clientes e fornecedores apenas observam sinais da mudança societária, nãotendo acesso, evidentemente, às cláusulas contratuais. É importante, assim sendo, que odispositivo seja interpretado com cautela, para não se tornar inatingível. O magistradopoderá, por exemplo, considerar suficiente a prova indiciária – indícios eloquentes, comoa manutenção das visitas do ex-sócio ao local de trabalho, a insuficiência patrimonial doadquirente, a presença de membros da família do sócio retirante sem que ostentemrelação de emprego etc. Os indícios são pouco estudados no processo do trabalho, mas têmforte campo de aplicação no processo penal e no processo penal militar e algum campo noprocesso civil. Na magistratura, é comum se deparar com situações em que um ou doisgarçons mais antigos emprestam o nome para a alteração no contrato social, sem que osócio verdadeiro deixe de atuar no caixa, antes ou depois da mudança contratual.

5. Há um grande desalento nesse esforço todo empreendido para emprestar figuras doprocesso civil ao processo do trabalho – como o incidente de desconsideração depersonalidade jurídica e a discussão sobre o grau de corresponsabilidade da sociedade,dos sócios atuais e dos sócios retirantes. Essa discussão parece acadêmica e reveladesconhecimento do cotidiano forense: os estagiários, advogados, sindicalistas, prepostos,procuradores e magistrados, após pouco tempo de atuação autêntica nas lides trabalhistas,sabem muito bem que são as oficinas de fundo de quintal e os empreendimentosinformais que dominam as questões controvertidas nas audiências trabalhistas eentravam o processo de execução. Isso sem falar nas Comarcas que lidam diretamentecom a sazonalidade, como as cidades litorâneas, as zonas de predomínio rural ou as áreasem que a economia fica aquecida apenas em algumas semanas do ano, com festejospopulares ou religiosos. Chega a ser caricato falar em incidente de desconsideração depessoa jurídica para o empregado do quiosque de cachorro quente. Não vai nenhumaironia nessa frase: apenas uma injeção de realidade para que o debate saia um pouco dosgabinetes palacianos. O processo do trabalho leva a fama de irresponsável e subversivo,mas ele nada mais é do que o anteparo do direito material do trabalho brasileiro, queconvive com altos executivos e ampla atuação da economia informal. Querer que oprocesso do trabalho seja um apêndice do processo civil ignora completamente arealidade da nação desigual e complexa de que somos parte.

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Art. 11. A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve emcinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção

do contrato de trabalho.

 I – (Revogado);

II – (Revogado).

....................................................................................

§ 2º Tratando-se de pretensão que envolva pedido de prestações sucessivas decorrente dealteração ou descumprimento do pactuado, a prescrição é total, exceto quando o direito à

parcela esteja também assegurado por preceito de lei.

§ 3º A interrupção da prescrição somente ocorrerá pelo ajuizamento de reclamaçãotrabalhista, mesmo que em juízo incompetente, ainda que venha a ser extinta semresolução do mérito, produzindo efeitos apenas em relação aos pedidos idênticos.

1. Passam-se os anos e o legislador não aprende que a prescrição não afeta nem odireito nem a ação que o veicula, mas apenas a pretensão. Essa distinção não é acadêmicae gera diversas consequências. Por exemplo, o devedor pode pagar a dívida com pretensãoprescrita, por razões de ordem moral, por desinteresse ou por descuido, sem que, depois,possa reivindicar o estorno do pagamento: não haverá, no caso, repetição de indébitoporque nada era indevido, conquanto fosse inexigível. O direito de ação está assegurado atodos, até mesmo àqueles que pretendem veicular pretensão prescrita. Talvez pela pressacom que foi redigida e aprovada, a legislação de 2017 incorre novamente no mesmo erroconceitual de suas predecessoras.

2. O art. 11, caput, apresenta apenas alteração de redação e estilo, em relação à redaçãoanterior, que era de 1998. Desde a EC 28, o Brasil não separa mais a prescrição aplicávelaos trabalhadores urbanos e rurais, o que justifica o tratamento no mesmo dispositivolegal, tal como passara a fazer o art. 7º, XXIX, da CF.

3. A esse conjunto de elementos, a jurisprudência denomina de ato único doempregador, que atrai a prescrição total e não apenas a prescrição parcial. Dois exemplostirados do repertório de súmulas e orientações do TST ajudam a aclarar a distinção:

• a alteração da modalidade de pagamento de salário fixo para comissões, ouvice-versa, respeitando-se a média anual que a pessoa vinha auferindo; nestecaso, ninguém pode argumentar que gostaria de ser comissionado para poder seesforçar mais ou que gostaria de ser assalariado para poder se esforçar menos; amodalidade de pagamento se insere no domínio do poder diretivo do empregadore, contanto que não represente rebaixamento salarial por erro no cálculo damédia habitual do empregado, é lícita, instantânea, sem afronta a texto legal ecom viés neutro; eventuais reclamações contra essa alteração devem ser ajuizadasno espaço de cinco anos, sob pena de declaração de prescrição total da pretensãoalmejada; se o contrato de trabalho for encerrado antes do quinquênio, aplica-se aprescrição bienal decorrente da cessação da relação, evidentemente;

• a instituição de quadro de carreira, que observe alternância de antiguidade emerecimento, e ofereça publicidade adequada, nos termos do art. 461 da CLT,também se encontra na esfera do poder diretivo; sua implantação é um atoinstantâneo, neutro – ninguém pode afirmar de antemão se a promoção será maisrápida ou mais lenta do que o antigo sistema de meritocracia ou de bajulação queexistia no ambiente de trabalho – e sem colisão com direitos assegurados em lei;quem quiser se opor à adoção do quadro de carreira deve procurar o Judiciáriodentro de cinco anos, sob pena de prescrição total da pretensão dentro docontrato de trabalho.

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• advérbio de modo somente parece ter tido a intenção de restringir ainterrupção da prescrição ao ajuizamento de ações trabalhistas típicas, refutandooutros instrumentos como o protesto judicial para preservação e conservação dedireitos, o qual era aceito por majoritária jurisprudência; acreditamos que oprotesto venha a sofrer sério abalo como mecanismo interruptivo de prescrição,pelo argumento de que a legislação trabalhista podia escolher o mecanismopróprio para o corte no prazo, mas não acreditamos que essa singela redaçãopossa afastar a aplicação do art. 202 do CC, que contempla hipóteses deinterrupção de prescrição em geral; por exemplo, o art. 202, VI, aponta umahipótese não rara no direito do trabalho: “por qualquer ato inequívoco, ainda queextrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor”;

• a reforma manteve a possibilidade de interrupção tanto pela via individualquanto pela via coletiva, como ocorre nas ações plúrimas, coletivas sindicais oucivis públicas sindicais ou do MPT, pois afinal o trabalhador, de boa-fé, deixou deacionar individualmente o empregador, na expectativa de êxito da demandacoletiva;

• a reforma enalteceu a exigência de que o devedor esteja ciente da ação paraque a interrupção se aperfeiçoe, ou seja, é necessária a citação válida; embora aSúmula 268 do TST não fosse enfática a respeito, havia muitos julgados quedebatiam se a interrupção não estava mesmo ligada à publicidade do ato, pelacitação, e não apenas pelo ato administrativo, interno ao cartório trabalhista, deter recebido a petição inicial; neste passo, o legislador tomou partidocorretamente em prol da maior transparência da interrupção da prescrição,independentemente do argumento de que a citação, no processo do trabalho, éato não judicial, feito pelo serventuário sem pedido expresso da parte;

• o desfecho do processo é irrelevante para os fins da interrupção daprescrição; uma vez citado o réu, a prescrição está interrompida, ainda que oprocesso venha a ser arquivado pela ausência do autor em audiência, pelaextinção sem resolução de mérito ou por desistência;

• a interrupção se aplica apenas aos pedidos formulados naquela petiçãoinicial, como já constava da redação da Súmula 268, e não se estende a pedidosque possam ter sido esquecidos ou pedidos supervenientes; idêntico raciocínio seaplica aos réus que, por qualquer motivo, deixaram de figurar na demandaoriginal, como tomadores ou sucessores que o empregado omitiu da primeirademanda; neste passo, vale lembrar que eles tampouco foram citados e, portanto,nenhuma interrupção se lhes aplica;

• não se olvide de que a interrupção só vale uma vez (art. 202, parágrafo único,CC) e a recontagem do prazo passa a ser inexorável, ainda que outras ações sejamarquivadas;

• o legislador perdeu a chance de se posicionar sobre a tormentosa questão dainterrupção do quinquênio: de fato, se há interrupção, ela vale tanto para o biênio(mais evidente) quanto para o quinquênio (a que poucos prestam atenção); ambosos prazos têm a mesma natureza jurídica e a mesma raiz, não tendo sido aceitasteses antigas de que um fosse decadencial e outro prescricional; logo, otrabalhador tem direito de reivindicar, na segunda ação, que o juiz leve em contatodo o quinquênio alcançado pela primeira ação, pois ele foi zerado naquelaoportunidade; como o biênio vem antes do quinquênio, é impossível que otrabalhador ajuíze a segunda ação (em dois anos) sem que respeite o quinquêniorecomeçado; há forte resistência a esse entendimento, mas ele é apenas lógico e

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matemático – não jurídico.

Art. 11-A. Ocorre a prescrição intercorrente no processo do trabalho no prazo de dois anos.

§ 1º A fluência do prazo prescricional intercorrente inicia-se quando o exequente deixa decumprir determinação judicial no curso da execução.

§ 2º A declaração da prescrição intercorrente pode ser requerida ou declarada de ofício emqualquer grau de jurisdição.

1. O nome correto seria prescrição intracorrente ou, mais precisamente, prescrição dapretensão executiva. Os costumes consagraram a expressão prescrição intercorrente,sempre revestida de alta indagação. Em primeiro lugar, há divergências sobre aautonomia do processo de execução trabalhista. Se este for apenas uma fase ou uma etapade acertamento de cálculos e meios coercitivos de pagamento, então a prescrição somenteteria de ser aferida uma vez – quando do ajuizamento da fase de conhecimento – e tudo omais giraria em torno de preclusão ou de consumação de prazos, e não de nova pretensão.Assim prevaleceu o entendimento durante décadas. Diz-se até mesmo que o processo civilse influenciou pela noção trabalhista de processo sincrético ou unificado, como ficouconhecida a estratégia de fusão de todas as etapas – cognitiva e executiva, mais as tutelasde urgência e as tutelas mandamentais – numa única relação processual. Vista a questãopor este ângulo, a inserção do art. 11-A da CLT representa um movimento contraditório aoavanço do sincretismo nas reformas ocorridas no processo civil, que desaguaram noCPC/2015. Talvez o objetivo fosse aumentar o nível de exigência para os credorestrabalhistas em relação aos credores civis.

2. Resta saber o que o governo federal terá a dizer quando começarem a ser declaradasas prescrições intercorrentes perante o credor previdenciário, quer dizer, quando a Uniãonão conseguir movimentar o processo no espaço de dois anos, em meio à profusão decobranças de contribuição social que foram instituídas nos últimos anos, aproveitando-sea estrutura do processo do trabalho. O art. 11-A não diferencia o crédito e se atém a dizerque a prescrição intercorrente campeia também no processo do trabalho. A União terá, emseu favor, a redação mais sóbria do art. 40, caput e cinco parágrafos, da Lei 6.830/1980 (Leida Execução Fiscal), gerando uma situação de profunda discriminação entre o credortrabalhista – cujo prazo fatal é de dois anos – e o credor previdenciário – cujo prazodepende de prévia suspensão do processo e necessária comunicação antecipada.

3. Há bastante ousadia na redação do art. 11-A, § 1º, ao dizer que o prazo é deflagradotoda vez que o exequente deixar de cumprir determinação judicial no curso da execução.Isso pode acontecer em numerosas hipóteses, bem como pode haver alteração deadvogados, incidentes processuais, dificuldade de se encontrar o paradeiro do devedor eoutras esperas intermináveis em busca de bens e ativos societários. A afirmação, portanto,deve ser vista com cautela, sob pena de se premiar o caloteiro ou de se alimentar aconstrangedora estatística de 70% de congestionamento de execução – em poucaspalavras, sete em cada dez trabalhadores “ganham e não levam”. A única forma de seconciliar a ideia da prescrição intercorrente com o processo do trabalho é disparar oprazo apenas quando a incumbência foi exclusiva da parte, como o manejo dos artigos deliquidação. Assim sendo, não são incumbência exclusiva do exequente e não devem gerarprescrição intercorrente:

• o cálculo de liquidação, que pode ser desenvolvido pelo próprio devedor oupelo magistrado; nada obstante a alteração da redação do art. 878 da CLT –restringindo o impulso de ofício pelo magistrado – segue intacto o fato de queconta pode ser elaborada por qualquer pessoa;

• a indicação de bens à penhora, que pode ser obtida através do uso dos

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convênios legais, da expedição de ofícios, de indicação de terceiros – como otomador ou o corresponsável de qualquer natureza – e, ainda, pelo própriodevedor, que é, na verdade, obrigado a indicar os bens, ao contrário do que secostuma pensar (arts. 805, parágrafo único, e 847, § 2º, do CPC/2015);

• o cumprimento de despachos genéricos, que poderiam servir para qualqueretapa ou classe processual, como “requeira o quê de direito” ou “diga o autor”; ofato de esses despachos serem utilizados de maneira indiscriminada, talvezapenas para melhorar as estatísticas da Vara Trabalhista, não autoriza a puniçãoda parte com a prescrição intercorrente pelo descumprimento daquilo que nemao menos tinha clareza.

4. A pronúncia de ofício da prescrição pelo magistrado foi inserida em reforma noprocesso civil, confirmada pelo CPC de 2015 (arts. 332, § 1º, e 487, II), mas encontrouresistência à aplicação em sede trabalhista, por não estar claro se o ato do magistradoseria cabível em relações assimétricas, como a laboral, a consumerista ou a locatícia. Olegislador de 2017 tomou partido à pronúncia de ofício da prescrição na etapa executóriado processo, o que vai gerar dúvidas se isso representa a vedação à pronúncia de ofício emfase de conhecimento – ou seja, quando o legislador quis, ele o disse expressamente; e, nocaso, silenciou no tocante às demais formas de prescrição, quando poderiatranquilamente tê-lo feito na reforma ao art. 11.

5. Em resumo, a sociedade espera que o art. 11-A, § 2º, não seja utilizadoirrefletidamente, apenas para cumprimento de metas e apresentação de dados estatísticos,mas por força de uma análise detida sobre eventual comportamento negligente do credor– que, afinal, é a base que os pretores romanos utilizaram para desenvolver o conceito deperda da exigibilidade do direito por inércia injustificada do interessado.

Art. 47. O empregador que mantiver empregado não registrado nos termos do art. 41 destaConsolidação ficará sujeito a multa no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) por empregado

não registrado, acrescido de igual valor em cada reincidência.

§ 1º Especificamente quanto à infração a que se refere o caput deste artigo, o valor final damulta aplicada será de R$ 800,00 (oitocentos reais) por empregado não registrado, quando

se tratar de microempresa ou empresa de pequeno porte.

§ 2º A infração de que trata o caput deste artigo constitui exceção ao critério da dupla visita.

 

Art. 47-A. Na hipótese de não serem informados os dados a que se refere o parágrafo únicodo art. 41 desta Consolidação, o empregador ficará sujeito à multa de R$ 600,00 (seiscentos

reais) por empregado prejudicado.

1. A reforma de 2017 tem a virtude de tornar mais clara a autuação dos empregadoresdescuidados com o registro profissional dos empregados. Acresça-se que a autuação setornou um pouco mais severa porque não haverá o direito a nova chance, se oempregador for flagrado com empregados clandestinos: a chamada “dupla visita” (art. 627da CLT), que procura orientar o empregador num dia e vistoriar o cumprimento dasexigências noutro dia, não terá aplicação para os casos de falta de registro, pois o erro égrosseiro e em tese não necessitava de esclarecimentos prévios. Por fim, nota-se apreocupação de não apenar da mesma forma todos os estabelecimentos, tendo o legisladorseguido o comando constitucional de oferecer tratamento diferenciado para o pequenoempreendedor (art. 179 da CF, dentre outros). Agora, vamos aos problemas.

2. As multas foram fixadas em moeda de curso forçado, sem previsão de indexação oude reajuste. Em breve, elas serão irrisórias e se fará necessária a promulgação de nova leipara sua atualização, algo que raramente acontece. Veja, por exemplo, o que aconteceu

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com custas e emolumentos, os quais, reformulados em 2002, houve em dia não assustamnem o menor dos empregadores (arts. 789, 789-A e 789-B da CLT), pois os valores são deonze reais, em média. Melhor seria se os valores estivessem vinculados a algum reajusteou fossem delegados para a regulamentação presidencial ou portaria ministerial. Pelomenos, escapou-se da armadilha do uso do salário-mínimo, que o STF sistematicamentetem julgado incompatível com a diretriz do art. 7º, IV, da CF, que veda qualquervinculação de preços, salários e tarifas a este patamar básico de remuneração nacional.

3. O legislador também separou as multas de acordo com o alcance da negligência doempregador: ausência total de registro rende multa de 3.000 reais, ao passo que ausênciade dados de formação e desenvolvimento do contrato de trabalho, como férias e aumentosalarial, rende multa de 600 reais. O art. 47-A, que prevê essa multa menor, não fezdistinção entre empregadores grandes, médios e pequenos. Poderá haver dúvida sobre aextensão da multa do art. 47-A. Quais omissões seriam passíveis dessa multa? Odispositivo remete à redação do art. 41 da CLT, cujo parágrafo único determina registro de“admissão no emprego, duração e efetividade do trabalho, a férias, acidentes e demaiscircunstâncias que interessem à proteção do trabalhador”. Os modelos de carteira detrabalho aprovados pelas autoridades executivas normalmente agilizam a marcação,indicando os campos próprios para essas marcações. Também há campos para a marcaçãodos reajustes salariais e do recolhimento da contribuição sindical obrigatória. Umexemplo de multa do art. 47-A seria o esquecimento do empregador quanto à atualizaçãodas datas de descanso de férias ou do aumento salarial. Este esquecimento pode, em tese,prejudicar o empregado na busca do novo emprego, porque se apresenta com faixasalarial defasada.

Art. 58. ..................................................

................................................................

§ 2º O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até a efetiva ocupação doposto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por qualquer meio de transporte,

inclusive o fornecido pelo empregador, não será computado na jornada de trabalho, por nãoser tempo à disposição do empregador.

§ 3º (Revogado).

1. O art. 58, § 2º, enxertado pela reforma de 2017, é uma reação direta e sem rodeios àSúmula 90 do TST. Muito embora o entendimento do TST quanto à jornada itinerária datede 1969, sua aplicação maciça em tempos mais recentes, com sua extensão ao trabalhorural e às regiões urbanas servidas por transporte precário ou intermitente. Talvez o TSTvenha a cancelar ou a modular a Súmula 90, é verdade, mas o assunto não se esgota com arevanche do legislador. Muitas discussões ainda estão por vir.

2. A reforma se esqueceu de revogar o art. 294 da CLT, segundo o qual “o tempodespendido pelo empregado da boca da mina ao local do trabalho e vice-versa serácomputado para o efeito de pagamento do salário”. Esse era o dispositivo que embasava amaior parte das decisões, que, usando da analogia, estendiam o conceito de trajeto para osdemais empregados. O art. 294 foi concebido evidentemente para os trabalhos em minassubterrâneas, de modo a não prejudicar o empregado que precise gastar 20, 30, 40minentre a chegada à abertura da minha até o local de efetivo início dos trabalhos deescavação e prospecção mineral. Esse tempo é improdutivo, de ponto de vista doempregador, mas se insere dentro do conceito de riscos da atividade econômica, ou, vistaa questão por outro ângulo, o não trabalho vale tanto quanto o trabalho, neste particular,porque sem o deslocamento até os lugares, cada vez mais profundos, nem ao menoshaveria a extração mineral, por óbvio.

3. Como conviver com duas regras opostas? A primeira resposta será considerar que o

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art. 58, § 2º, corresponde a uma regra geral – trajetos não contam como horário detrabalho – e o art. 294 como regra especial – trajetos contam como horário de trabalho emcasos especiais, como o deslocamento dentro das instalações do empregador que explora amineração. Feita essa distinção, começam os problemas quanto ao uso da analogia.Vejamos dois exemplos. No primeiro, pensemos no lavrador que gasta meia hora entre aentrada da fazenda e o efetivo posto de trabalho – local de arar a terra, semear, carpir oucolher. No segundo, pensemos no médico que leva 20min entre a entrada no hospital e oefetivo posto de trabalho – o centro cirúrgico. Estarão eles na regra geral ou na exceção?Carregam como ponto comum ao minerador o fato de que todos percorrem trechos dentrodo local de trabalho, mas não dentro do posto de trabalho.

4. O caso da zona rural é particularmente inquietante. Suas extensões são imensas emnosso país e o transporte coletivo é uma raridade. Até a reforma de 2017 se consideravaque a ausência do transporte coletivo não podia ser oposta ao empregado, dado que oempregador, ao se instalar no local ermo ou de difícil acesso – expressões da Súmula 90 –tinha domínio desse fato e incorporava em seus custos essa peculiaridade. A intenção doart. 58, § 2º, é inverter esse encargo, atribuindo ao empregado os riscos da inexistência dotransporte público no local. Talvez a solução passe pela pressão para que as entidadessindicais negociem melhor essa diretriz do legislador, mas agora o empregador deterámaior poder de barganha.

5. Será interessante acompanhar a jurisprudência dos tribunais quanto a um detalhe: oconceito de jornada é ditado pela lógica e pela essência do direito do trabalho e não pelolegislador. Assim, se um operário está manejando uma máquina, não faz o menor sentidoque o legislador diga que ele não está à disposição do empregador ou que aquilo não étempo de jornada. Há grande controvérsia quanto ao tempo de espera dos motoristascarreteiros, quando parados por autoridades alfandegárias, tendo o legislador criado umafigura chamada de jornada a 30% (art. 235-C, § 9º). No âmbito ferroviário, o legisladortambém não ousou dizer que o tempo dispendido em casa, aguardando chamados, ou naplataforma, pronto para entrar em ação, pudessem ser desprezados como se nadahouvesse de diferente do tempo de lazer. Para os ferroviários, foram criadas duas soluçõesbastante conhecidas da população – o sobreaviso e a prontidão, respectivamente (art. 244da CLT, §§ 1º e 2º). Feitos esses comentários, veremos como a ousadia do legislador, demandar desprezar o tempo gasto “até a efetiva ocupação do posto de trabalho”, seráencarada pelos julgadores.

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Art. 58-A. Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração nãoexceda a trinta horas semanais, sem a possibilidade de horas suplementares semanais, ou,

ainda, aquele cuja duração não exceda a vinte e seis horas semanais, com a possibilidade deacréscimo de até seis horas suplementares semanais.

...................................................................

§ 3º As horas suplementares à duração do trabalho semanal normal serão pagas com oacréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o salário-hora normal.

§ 4º Na hipótese de o contrato de trabalho em regime de tempo parcial ser estabelecido emnúmero inferior a vinte e seis horas semanais, as horas suplementares a este quantitativo

serão consideradas horas extras para fins do pagamento estipulado no § 3º, estando tambémlimitadas a seis horas suplementares semanais.

§ 5º As horas suplementares da jornada de trabalho normal poderão ser compensadasdiretamente até a semana imediatamente posterior à da sua execução, devendo ser feita a

sua quitação na folha de pagamento do mês subsequente, caso não sejam compensadas.

§ 6º É facultado ao empregado contratado sob regime de tempo parcial converter um terçodo período de férias a que tiver direito em abono pecuniário.

§ 7º As férias do regime de tempo parcial são regidas pelo disposto no art. 130 destaConsolidação.

1. O regime de trabalho a tempo parcial foi introduzido na CLT no bojo das reformasdecorrentes da Crise Mexicana, de 1998, e desde logo situado como o padrão de, nomáximo, 25 horas semanais de trabalho. A reforma amplia o conceito de parcial para acarga de 30 horas. O principal objetivo do trabalho a tempo parcial é, de fato, o pagamentodo salário-mínimo ou do piso normativo de salário em bases menores, proporcionais aotempo de jornada contratada. Assim, se o piso da categoria é de 1.000 reais, é possívelcontratar uma pessoa para regime de 22h semanais ao custo de 500 reais mensais. Orespeito ao salário-mínimo deve ser feito pelo cotejo do salário-hora e não do saláriomensal, claro está (art. 58-A, § 1º, não afetado pela reforma).

2. Parece contraditório contratar uma pessoa para atividade parcial e, depois, exigirque ela faça horas extras. Fica parecendo que a pessoa estava à disposição do empregadorcomo mão de obra barata, aguardando as oscilações da sazonalidade. Daí por que o art.58, § 3º, da CLT, revogado pela reforma, vedava a realização de horas extras no regimeparcial. O novo conceito permite que as horas extras sejam exigidas, mas apenas para opessoal contratado para até 26 horas semanais, limitando-se as horas extras a seis porsemana. A reforma teve ao menos o bom senso de não liberar irrestritamente as horasextras, que desvirtuariam o regime, e admiti-las apenas para contratações mais baixas,com cargas inferiores a 26 horas por semana. Em resumo, um trabalhador a tempo parcialpoderá chegar a 32h semanais – 26 regulares e 6 suplementares.

3. Um duro golpe para o trabalhador a tempo parcial seria o rebaixamento do valor dabase de cálculo, caso alguém faça uma leitura muito apressada do art. 58-A, § 3º: refere-seque a hora extra seja calculada apenas sobre o salário-hora normal, ao passo que osdemais trabalhadores, a tempo integral, têm as horas extras calculadas sobre todas asparcelas de natureza salarial, também chamadas de globalidade salarial – salário,adicional de insalubridade, adicional de periculosidade, adicional por tempo de serviço eo mais. Para não gerarmos dois valores diferentes de horas extras para pessoas quetrabalham lado a lado, é possível sustentar que também o art. 64 da CLT, que embasou ajurisprudência da base de cálculo das horas extras com a globalidade salarial, vale-seigualmente da expressão “salário-hora normal” e nem por isso foi consideradoreducionista. A similitude das expressões dos arts. 64 e 58-A, § 3º, nos permite afirmar quea base de cálculo de todas as horas extras permanece inalterada, nos moldes da Súmula264 do TST.

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4. O § 4º é redundante e repete a afirmação dos dois parágrafos anteriores de que ashoras extras, remuneradas a 50%, somente são autorizadas para o pessoal de até 26hsemanais.

5. O adicional de horas extras é de, no mínimo, 50%. Expressões como “no mínimo”,“pelo menos” e “não inferior a” sempre fizeram parte da legislação trabalhista, a fim depermitir que negociações coletivas ampliassem o adicional, ou, ainda, a fim de que oPoder Normativo colmatasse referida lacuna (proposital). O fato de o art. 58-A, § 3º, teromitido essa locução e dito que o adicional é de 50% revela mais o desconhecimento dolegislador de 2017 do que propriamente uma vedação ao acordo coletivo. Consideramosque isso não afeta o espírito emancipatório das negociações coletivas, tal como se viu, porexemplo, no adicional das horas extras decorrentes da violação ao intervalo para refeição(art. 59, § 4º).

6. Admite-se a compensação das horas extras no regime parcial até a semana seguinte.O advérbio de modo “diretamente”, inserido no art. 58-A, § 5º, e a exigência de que acompensação seja na semana seguinte dão a entender de que não se faz necessário oacordo escrito de compensação de jornada. Essa desoneração faz algum sentido selembrarmos que, de fato, o contrato parcial não foi concebido para a realização de horasextras. Se estas forem banalizadas, era melhor que o empregado houvesse sido contratadoa tempo integral.

7. Horas extras feitas no mês devem ser pagas até o quinto dia útil do mês seguinte,como qualquer parcela salarial (art. 459 da CLT). O regime de banco de horas gerou umadeturpação corriqueira nos contratos de trabalho, pois muitas horas extras são pagasmeses depois – ou na rescisão – sob a alegação de que não houve tempo hábil para acompensação. Essa análise, portanto, deve ter cautela redobrada. Feito esse comentário, ébom que ninguém se anime com a redação ambígua do art. 58-A, § 5º, imaginando que eleautorize o pagamento das horas extras dois meses depois de sua realização: a quitaçãodeve ser feita na folha de pagamento do mês subsequente ao de sua realização e não domês subsequente àquele em que seria tentada sua compensação.

8. Os §§ 6º e 7º do art. 58-A unificam o regime de férias dos empregados a tempoparcial àquele dos empregados a tempo integral – e, por coerência, o legislador revogou oart. 130-A (que dispunha de tabela diferenciada de férias) e o art. 143, § 3º (que vedava oabono pecuniário das férias ao parcial). Assim, doravante eles passam a ter direito aosmesmos 30 dias de férias, se integrais, com direito à conversão em pecúnia de um terço doperíodo a que tiverem direito, e todos os demais parâmetros contidos nos arts. 129 eseguintes da CLT. Pensamos que a equalização se justifica com a ampliação da cargahorária semanal dos parciais, a autorização para algumas horas extras e, de toda forma, aremuneração proporcionalmente reduzida que auferem.

9. “Para os atuais empregados, a adoção do regime de tempo parcial será feitamediante opção manifestada perante a empresa, na forma prevista em instrumentodecorrente de negociação coletiva”, dispõe o art. 58-A, § 2º, mantido intacto pela reforma.

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Art. 59. A duração diária do trabalho poderá ser acrescida de horas extras, em número nãoexcedente de duas, por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de

trabalho.

§ 1º A remuneração da hora extra será, pelo menos, 50% (cinquenta por cento) superior à dahora normal.

..................................................................................

§ 3º Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensaçãointegral da jornada extraordinária, na forma dos §§ 2º e 5º deste artigo, o trabalhador terá

direito ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor daremuneração na data da rescisão.

§ 4º (Revogado).

§ 5º O banco de horas de que trata o § 2º deste artigo poderá ser pactuado por acordoindividual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de seis meses.

§ 6º É lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácitoou escrito, para a compensação no mesmo mês.

1. A reforma legislativa de 2017 não alterou a essência do art. 59, mantendo a cargabásica de oito horas, constitucionalmente assegurada, e o teto de duas horas extras pordia, cujo respeito se impõe. Houve ajuste na redação do dispositivo para expressar avontade do legislador de que o acordo de compensação pode ser individual ou coletivo,sendo que anteriormente constava a expressão original da CLT, mencionando acordoescrito e contrato coletivo, termo este que estava defasado desde as reformas da CLT de1967. Por fim, outro ajuste sem maior consequência foi a atualização para 50% doadicional de remuneração das horas extras, pois a CLT ainda mantinha o patamar de 20%,desautorizado pela CF. Até aí, a reforma sobre o art. 59 passaria despercebida.

2. Ocorre, no entanto, que a reforma liberou a realização das horas extras para oempregado contratado a tempo parcial, através da revogação do § 4º do art. 59, conformecomentários feitos ao art. 58, bem assim liberou a elaboração de banco de horasindividual, num gesto ousado e de consequências múltiplas:

• ao contrário da compensação regular de horas extras, que anteriormente erafeita dentro do espaço de uma semana e, a partir da reforma de 2017, pode serfeita no espaço de um mês (art. 59-A, infra), o banco de horas permite que acompensação se espalhe por um ano, na modalidade coletiva, e pelo espaço deseis meses, na nova modalidade individual.

• o objetivo do banco de horas, quando implantado no Brasil de 1998, eraatender aos picos de produção, sobretudo em atividades marcadas pelasazonalidade, de modo que a sobrecarga de um período, como o inverno ou overão, o Natal ou a Páscoa, fosse compensada com a ociosidade da mão de obra naentressafra; a se aplicar esse conceito original, o banco de horas de um sóindivíduo desafia a lógica e não cumpre seu papel de acompanhar as oscilaçõesda demanda; torna-se uma espécie de poupança de pagamento das horas extras;

• as horas extras, como quase todas as parcelas de natureza salarial, devem serpagas juntamente com o salário, até o quinto dia útil do mês subsequente (art. 459da CLT), mas, na modalidade do banco de horas individual, elas podem ser pagasapós um semestre, porque não se exige do empregador clareza sobre quais horasvão ser compensadas, quais vão ser pagas e até mesmo se vão ser compensadas;daí a crítica que se faz aos bancos de horas, que postergam muito o pagamentodaquilo que já era devido meses atrás;

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• o fato de o pagamento das horas extras acumuladas em banco ser feito combase no valor do salário-hora da data da quitação – e não o valor do salário antigo,da data de sua realização – não é nenhuma caridade, mas apenas uma razão delógica; deixou-se escapar a chance de prever alguma atualização monetária ouindenização em caso de perda desse prazo longínquo;

• muitos trabalhadores se queixam de que seus bancos de horas estão semprenegativos, nada obstante a profusão de horas extras que habitualmente prestam;a explicação mais comum para esse fenômeno é o fato de que, desde que essesistema especial de compensação da jornada foi adotado no país, as empresasdeixaram de lado os critérios de abono de ausências e atrasos – mesmo aquelespequenos, de 5 a 10min – e passaram a lançar tudo no banco; assim, quando oempregado se atrasa 5min, antigamente a empresa relevava ou aplicava algumaadvertência; com o banco, ela lança o tempo no rol dos débitos e, de grão em grão,as contas ficam sempre apertadas;

• a outra crítica, talvez a mais contundente, é a insistência do legislador deautorizar a compensação no regime de banco de horas à razão de uma hora dedescanso para cada uma hora extra: ora, se o pagamento da hora extra é à razãode 1,5 hora, também a compensação deveria ser de uma hora e meia para cadauma hora de sobretempo; isso é muito fácil de ser entendido e surpreende quenão se mexa neste ponto da legislação;

• essa explicação sobre o custo mais barato das horas extras a seremcompensadas em banco de horas justifica por que as empresas tendem a adotá-lo,mesmo sem sazonalidade, picos de produção ou atividades capazes de ensejaroscilação brusca de demanda: uma criança saberia diferenciar a proporção de umpra um da proporção de um pra um e meio;

• por todos esses ângulos, consideramos o banco de horas individual um lanceousado do legislador, a ser analisado com muita cautela, com a interpretaçãorestritiva que uma norma dessa excepcionalidade merece;

• talvez por prever reação da jurisprudência e da fiscalização do trabalho, olegislador se cercou de várias travas contra a anulação do banco individual, aserem comentadas nos dispositivos abaixo;

• saliente-se que o banco de horas, ajustado coletiva ou individualmente, nãopode abolir o descanso semanal remunerado – matéria abordada em outranorma, Lei 605/1949, mantida intacta pela reforma de 2017 –, nem exceder acarga de 10h diárias; logo, o máximo permitido é de 60h semanais.

Art. 59-A. Em exceção ao disposto no art. 59 desta Consolidação, é facultado às partes,mediante acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho,

estabelecer horário de trabalho de doze horas seguidas por trinta e seis horas ininterruptasde descanso, observados ou indenizados os intervalos para repouso e alimentação.

Parágrafo único. A remuneração mensal pactuada pelo horário previsto no caput desteartigo abrange os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo descansoem feriados, e serão considerados compensados os feriados e as prorrogações de trabalho

noturno, quando houver, de que tratam o art. 70 e o § 5º do art. 73 desta Consolidação.

1. O art. 59-A oficializa, de modo amplo, a jornada 12x36. Em nosso Volume 2 –Jornadas e Pausas, relatamos longo histórico (e altas controvérsias) dessa escala detrabalho, fruto dos usos e costumes em atividades que, em geral, não podem sofrer soluçãode continuidade, como o atendimento à saúde, à vigilância e à hotelaria. Aqui não cabe

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renovar todos os argumentos favoráveis (como redução dos deslocamentos ao longo domês e concentração do trabalho em quinze dias mensais) e desfavoráveis (como oaumento dos acidentes de trabalho na 12ª hora e a fadiga acumulada em profissões queexigem elevado grau de atenção e acuidade visual). A jornada consta de parâmetrosbásicos na Súmula 444 do TST e tem assento na legislação especial dos domésticos (LC150/2015) e dos bombeiros (Lei 11.901/2009) – sendo que, neste caso, o padrão máximo éde três dias por semana ou 36h por semana.

2. Diferentemente do entendimento do TST, o art. 59-A considera que os feriados jáestão embutidos na compensação da jornada 12x36. Neste particular, o TST estava certo ea reforma de 2017 errou: embora para o leigo pareça que um dia de folga seguinte a umdia de trabalho já represente a folga compensatório do domingo ou do feriado, temos delembrar que, na verdade, a carga de 12h embute 4h a mais que necessitam de dia extrapara a folga; assim, o dia seguinte era destinado a compensar parte do dia anterior,havendo pouco espaço de manobra para a compensação do feriado. Basta o mês ter 6 diasde descansos – mesclando feriados e domingos – para a conta não fechar. Caso o cálculomatemático seja feito com esmero e a questão seja bem compreendida, este artigo podeser rechaçado por inconstitucional por oficializar módulo semanal superior a 44h. Pioraainda mais a situação deste artigo o fato de que ele considera embutidas as horasdestinadas à redução noturna, comprimindo mais 1h de trabalho por madrugada integrallaborada pelo empregado – ou 1h15 se ele se ativar, por exemplo, das 19h00 às 07h00, poisneste caso os direitos noturnos vão das 22h00 às 07h00.

3. O dispositivo quer ser o mais abrangente possível, prevendo a supressão da horanoturna reduzida e, ainda, a supressão do intervalo para refeição, tudo para que as 12hsejam mantidas intactas e o turno seguinte entre na sequência, sem a mínima oscilação.Neste particular, a pausa para a refeição e a redução ficta dos serviços noturnos“atrapalham” os cálculos. Dado que o art. 7º da CF determina remuneração da horanoturna superior à hora diurna e dado que o TST possui sólida jurisprudência no sentidode que a majoração noturna é feita simultaneamente e cumulativamente pelo adicionalnoturno e pela hora noturna reduzida, será inconstitucional a interpretação de que ajornada 12x36 noturna pode ser pactuada sem nenhuma compensação da reduçãonoturna.

4. Explicamos no Volume 2 – Jornadas e Pausas que, caso a negociação coletiva queira“fundir” adicional noturno e honra noturna reduzida, o índice mínimo passa a ser de37,14% de adicional noturno.

5. Consideramos bastante agressiva a redação do art. 60, parágrafo único, abaixoanalisado, no sentido de que a jornada 12x36 pode ser praticada livremente em ambienteinsalubre, sem licença prévia das autoridades trabalhistas e mesmo sem negociaçãocoletiva. Quem redigiu o dispositivo ou nele votou desconhece décadas de estudos sobresaúde e segurança do trabalho, cujas pesquisas são feitas sob o módulo de 8h de atividade– arts. 156 a 200 da CLT; Portaria 3214/1978 do Ministério do Trabalho. Assim, a exposiçãodo operário ao ruído de 85db deve se ater a 8h, sendo irrelevante, para os fins da surdezocupacional, que ele possa ter descanso no dia seguinte ou na semana seguinte; a pressãosonora exerce efeitos acumulativos e não conhece o mesmo conceito de descanso do corpoou da mente em dias de folga compensatória. Pior ainda se pensarmos em trabalhosexpostos a radiações ionizantes e não ionizantes, produtos químicos ou elementosbiológicos, para ficar nos exemplos mais conhecidos da Norma Regulamentadora (NR) 15.Neste particular, a reforma de 2017 é ainda mais contraditória porque inseriu o art. 611-B,XVII, para afirmar ser infenso à negociação coletiva afrontar os padrões das NormasRegulamentadoras do Ministério do Trabalho – enquanto ela própria tenta fazê-lo. Pelacolisão frontal com o art. 7º, XXII, da CF, opinamos pela inconstitucionalidade do art. 60,

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parágrafo único, com sua liberação irrestrita de horas extras em ambiente insalubre.

6. Outro dado intrigante é que o art. 59-A admite o acordo individual para supressão dointervalo para refeição e descanso. A admissão surge no momento em que, ao final docaput, usa-se a expressão “observados ou indenizados os intervalos para repouso ealimentação”. Ora, se os intervalos podem ser indenizados e se o dispositivo assevera quetudo pode ser ajustado em acordo individual escrito, a norma parece crer que sejapossível no mesmo ajuste individual combinar a prorrogação da jornada e a supressão darefeição. A situação ficou bastante confusa porque o art. 71, § 3º, não mexido na reformade 2017, segue afirmando que a redução do intervalo pode ser feita, desde que oempregado não esteja em regime de horas extras. A jornada 12x36 é um regime de horasextras, apenas desprovido de pagamento em dinheiro porque haverá compensação. Àsvezes, tem-se a impressão de que horas extras seja uma expressão sinônima depagamento, quando na verdade horas extras ocorrem toda vez em que for ultrapassada ajornada contratual, a jornada tácita ou a jornada legal. No caso, quando dizemos horasextras normalmente se quer dizer o excedente da oitava hora, à luz do art. 7º, XIII, da CF.Logo, 12x36 é um regime de horas extras e não deve admitir supressão da refeição, penosapara jornadas regulares, duplamente penosa para jornadas prorrogadas.

7. Para aproveitar o dispositivo mal escrito, dentro da tese de que devemos lheemprestar a interpretação mais condizente com a Constituição e maximizar seus efeitos, aúnica forma possível de o salvar da inconstitucionalidade, portanto, é dizer que a primeiraparte do caput – “facultado às partes, mediante acordo individual escrito, convençãocoletiva ou acordo coletivo de trabalho” – diz respeito apenas à pactuação da jornada12x36 e não à pactuação, no mesmo pacote, da supressão do intervalo para refeição,matéria que deveria ser reservada para a autorização do Ministério do Trabalho (art. 71, §3º, da CLT), ou, quando muito, para a negociação coletiva (a se admitir aconstitucionalidade do art. 611-B, parágrafo único).

FIQUE DE OLHO: Forçar a introdução do regime 12x36 mediante simples contrato individual detrabalho foi uma atitude temerária do governo federal, que não permitiu ao Senado rever esse

ponto. Conforme acima comentado, o regime não é tão simples como parece, pois pode alcançaratividades extenuantes, incompatíveis com a sequência de 12 horas e, segundo a própria Lei

13.467/2017, pode até mesmo envolver atividades insalubres, sem prévia autorização dasautoridades trabalhistas ou negociação sindical (art. 60, parágrafo único, inserido pela reforma).

Com receio de ser acusado de ter dado ensejo a uma explosão de casos de surdez ocupacional, porexemplo, o governo federal informa que pretende voltar atrás em sua insensatez e proibir o

acordo individual para a jornada 12x36. Na reforma da reforma, ele pretende limitar a jornada ànegociação coletiva.

 

Art. 59-B. O não atendimento das exigências legais para compensação de jornada, inclusivequando estabelecida mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das

horas excedentes à jornada normal diária se não ultrapassada a duração máxima semanal,sendo devido apenas o respectivo adicional.

Parágrafo único. A prestação de horas extras habituais não descaracteriza o acordo decompensação de jornada e o banco de horas.

1. O dispositivo claramente foi inserido na reforma de 2017 em reação à Súmula 85, IV,do TST.

2. O caput do art. 59-B está em plena sintonia com a Súmula 85, III, do TST: os debatessobre as consequências do acordo de compensação mal feito (por exemplo, acordos de setedias consecutivos, acordos que previam 11h de expediente diário, acordos verbais,acordos com data posterior) convergiram no sentido de que o empregador deveria arcar

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com os custos das horas extras porque não houve o descanso no sentido previsto pelanorma. Mas deve ser ressaltada a cautela do TST para aproveitar a maioria dos acordos:tratando-se de vícios de forma, era permitido ao empregador pagar as horas extras apenasno que excedesse do módulo de 44h semanais, ficando as primeiras 44h sujeitas apenas aoadicional de horas extras, caso houvesse excesso diário. Por exemplo, um acordo de 10hdiárias em 5 dias da semana, feito de modo irregular, gerava como consequência opagamento de 6 horas extras – pois a carga semanal chegou a 50h, ante a permissão de 44hda CF – e o pagamento do adicional de horas extras pelas duas excedentes de segunda aquinta. (As duas excedentes da sexta já estão no cálculo das seis excedentes na semana.)Esse meio termo proposto pela Súmula 85, III, é incorporado pela reforma.

3. Não se diga o mesmo quanto à Súmula 85, IV, desrespeitada pelo art. 59-B, parágrafoúnico: a legislação quer fazer crer que o empregador pode instituir banco de horas,digamos, com 10h diárias – que é o máximo permitido por lei – e exigir jornadas de 11 e12, sem que isso invalide o ajuste de compensação. Não poderia haver equívoco maior.Não se pode mesclar regime de compensação com regime de pagamento de horas extras,sob pena de o trabalhador ficar sem saber quais horas serão compensadas e quais serãopagas, quer dizer, sem que se possa saber quais horas ele terá de ficar em casa e quais teráde atuar mediante remuneração. Regime de sobreaviso e prontidão é lícito e previsto noart. 244 da CLT, aplicado analogamente para outras categorias além dos ferroviários.Difícil concordar, porém, com a ideia de que uma jornada possa ser embaralhada entrecompensação e prorrogação. Explica-se.

4. Suponha o regime de compensação mais comum, que é aquele de 9h de jornada desegunda a quinta e 8h de jornada às sextas, a totalizar 44h semanais, liberando oempregado do expediente aos sábados. Apesar desse ajuste, o empregado é chamadohabitualmente a trabalhar 10h ao dia ou a se ativar aos sábados. A empresa se senteautorizada a pagar as horas extras excedentes da 9ª hora diária, sob o singelo argumentode que a 9ª hora já está paga pelo descanso proporcionado aos sábados – mas aos sábadosele tem ido trabalhar. Ou seja, forma-se um círculo vicioso e, definitivamente, não secumpre a finalidade da norma. Das duas, uma: ou o empregado tem o descansocompensatório assegurado – dentro da semana, como estava na lei, ou dentro do mês,como autoriza a reforma de 2017 – ou o empregado deve ter as horas extras pagas emdinheiro. Os modelos que objetivam misturar prorrogações compensáveis comprorrogações indenizáveis desafiam sua constitucionalidade, porque criam semanassuperiores a 44h e não respeitam a literalidade da exigência do art. 7º, XIII, da CF. Logo, aredação muito ousada do art. 59-B, parágrafo único, representa uma promessa que talveznão venha a ser concretizada. Não se deve recomendar para um cliente o desrespeitocontumaz ao acordo de compensação antes de conferir o filtro da jurisprudência arespeito. Por ora, a dicção da Súmula 85, IV, me parece mantida.

Art. 60. ..................................................

Parágrafo único. Excetuam-se da exigência de licença prévia as jornadas de doze horas detrabalho por trinta e seis horas ininterruptas de descanso.

1. A inserção do parágrafo único ao art. 60 representou, para este autor, um dosprincipais espantos, dentre vários que a reforma de 2017 provocou entre os estudiosos dodireito do trabalho. Pelo singelo argumento de que a jornada 12x36 contempla cargamensal um pouco menor de trabalho (cerca de 180h, ante 191h, em média, da jornada de8h), é comum se dizer que a atividade se torna mais leve e que as vantagens para osempregados são ampliadas. Como explicamos no comentário ao art. 59-B, de modosintético, e no Volume 2 – Jornadas e Pausas, de modo mais abrangente, a jornada 12x36possui uma gama de vantagens ao lado de muitas desvantagens, de modo que não se deve,preliminarmente, considerá-la mais ou menos leve. Ela apenas é mais adequada para

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algumas atividades empresariais desenvolvidas sem solução de continuidade. Há que seaferir, todavia, se ela representa mais desgaste para um trabalho braçal, que pode setornar extenuante, ou para um trabalho intelectual, que pode ser exasperante.

2. Independentemente do conceito que se tenha da jornada 12x36, o legislador de 2017errou drasticamente no conceito que fez sobre saúde, higiene e segurança do trabalho:quem escreveu esse dispositivo e quem nele votou, em regime de urgência, acreditaramque fosse possível ao trabalhador recuperar as energias no dia seguinte, após 12h deexposição aos agentes físicos, químicos e biológicos. São dois assuntos completamentediferentes que devem ser aferidos no âmbito das prorrogações de jornada e dos ajustes decompensação: de um lado, existe o revigoramento físico e mental, proporcionado, demaneira básica, pelas folgas semanais e pelas folgas compensatórias de horas extras; deoutro lado, existem as pesquisas empreendidas no campo da saúde ocupacional, em que seanalisam os impactos das fontes agressivas sobre o corpo humano, normalmente à razãode 8h de expediente diário. Assim sendo, se a pesquisa indica que 85dB corresponde aolimite máximo de pressão sonora suportado por um ser humano exposto à base de 8hdiárias, ele não pode absolutamente ficar exposto por 10h ou 12h, ainda que tenha váriasfolgas na semana. A pressão sonora exerce efeitos acumulativos e, portanto, não se podeliberar genericamente a atividade insalubre com horas extras. Essa é a exegese do art. 60,caput, e esse é o motivo pelo qual tantas dúvidas pairam sobre a autorização para horasextras em ambiente insalubre ser dada pela entidade sindical, ao invés do órgão públicoespecializado na matéria.

3. A reforma de 2017 libera o empregador a imprimir jornada de 12 em ambienteinsalubre, sem autorização pública nem sindical (art. 60, parágrafo único) e, ainda, liberaos sindicatos a ajustarem essa exposição para qualquer outro tipo de jornada, horas extrasou compensação (art. 611-A, XIII, desmoralizando completamente o art. 60. É verdade quealguns casos podem ser considerados de menor impacto ao organismo, como algumasformas de exposição a umidade (anexo 10, NR 15) ou a oscilação de temperatura (anexo 9,NR 15), mas o dispositivo em questão representa uma autorização perigosa demais para ojurista concordar, quando lembramos do exemplo dos ruídos ocupacionais, dos ruídos deimpacto, vibrações, radiações de todas as modalidades, agentes químicos e agentesbiológicos. Porque em rota de colisão com o art. 7º, XXII, da CF, e por se tratar de umanorma que deliberadamente amplia os riscos de doença ocupacional inerentes aotrabalho, opinamos por sua inconstitucionalidade no plano jurídico e sua ineficácia noplano contratual.

Art. 61. ...........................................................................

§ 1º O excesso, nos casos deste artigo, pode ser exigido independentemente de convençãocoletiva ou acordo coletivo de trabalho.

...........................................................................

1. A alteração da redação do § 1º representa pouca mudança prática. A realização dehoras extras, em caso de força maior e motivo imperioso, já era permitida sem a prévianegociação coletiva, mesmo porque a urgência é um dos fundamentos básicos desta regraexcepcional. A novidade reside na dispensa de comunicação com 10 dias de antecedênciaao Ministério do Trabalho. Pensamos que essa desoneração nem deve facilitar aocorrência dessas horas extras nem deve afetar a interpretação de seu conteúdo.Importante ressaltar que essas horas extras têm necessariamente de ser excepcionais, sobpena de banalização do conceito de força maior. Isso não foi afetado pela reforma de 2017.

2. Para maior clareza e reflexão, transcrevemos o Precedente Administrativo 31 doMinistério do Trabalho, que busca delinear o conceito dessa necessidade imperiosa: “I – Osserviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar prejuízos manifestos autorizam a

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prorrogação da jornada apenas até 12 horas, caracterizando-se como tais aqueles que, porimpossibilidade decorrente de sua própria natureza, não podem ser paralisados num dia eretomados no seguinte, sem ocasionar prejuízos graves e imediatos. II – Se a paralisação éapenas inconveniente, por acarretar atrasos ou outros transtornos, a necessidade decontinuação do trabalho não se caracteriza como imperiosa e o excesso de jornada não sejustifica”. Os exemplos mais citados na literatura jurídica são o combate a enchentes eoutros efeitos climáticos, a recuperação de estoques perdidos, atos de vandalismo,desmoronamento e abalos na estrutura do estabelecimento.

Art. 62 ......................................................................

...............................................................................

III – os empregados em regime de teletrabalho.

.............................................................................

 

1. O inciso III, enxertado ao art. 62, objetivou criar terceira categoria de trabalhadoresdesprovidos do direito às horas extras, intervalos e adicional noturno: além dosexercentes de cargos de chefia e de funções externas, incompatíveis com o controle dejornada, a reforma trabalhista propõe que também os trabalhadores em domicílio –atividade que não nasceu com a internet e existe desde tempos imemoriais com os ofíciosde costura, alfaiataria, ourivesaria e tantos outros ramos braçais e intelectuais – fiquem àmargem do capítulo da duração do trabalho. A excepcionalidade está cercada de polêmica,dúvidas jurídicas e possível inconstitucionalidade. Para evitar a redundância, remetemoso leitor aos comentários aos arts. 75-A a 75-E, logo abaixo, em que o regime doteletrabalhado é esmiuçado.

 

Art. 71. ..................................................................................

.........................................................................................................

§ 4º A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repousoe alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza

indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento)sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.

1. As sutilezas na redação do art. 71, § 4º, feito pela reforma trabalhista de 2017, nãodeixam margem à dúvida: quem o escreveu estava muito incomodado com a Súmula 437do TST e se preocupou em cercar todas as possibilidades de pagamento de horas extras.

2. Antes de 1994, a supressão do horário de almoço ou jantar era considerada comomera irregularidade administrativa, ou seja, a empresa se expunha aos riscos da autuaçãodo auditor fiscal do trabalho, mas o empregado não tinha direito a nenhuma indenização.Surgiam situações estranhas, pois o empregado poderia trabalhar 8h consecutivamente ou9h com 1h de almoço que a situação jurídica era a mesma. Se o empregador notasse aexistência de fila de clientes na hora do almoço, podia pedir para o empregado pular ointervalo para dar vazão ao atendimento, e, depois, mandar que ele fosse embora paracasa uma hora mais cedo, que tudo estava resolvido. Ocorre que a atividade desenvolvidana hora destinada ao almoço é, por si só, uma hora extraordinária, uma hora fora docomum e fora do combinado. Foi por essa questão lógica – e não por uma insensatez doTST – que se desenvolveu o conceito de hora extra independente e autônoma, decorrenteda violação da pausa intrajornada. Assim sendo, passava a ser irrelevante saber se oempregado ia sair mais cedo ou mais tarde: a hora extra do almoço já estava assegurada, a

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partir do momento em que ele não almoçou, podendo até haver outras horas extras aolongo do dia, como o excedente da carga de 8h.

3. Diante dessa premissa – jornada de trabalho fora do combinado, fora dos padrões,fora do ordinário – ousamos afirmar que a supressão do almoço é e continuará a sermodalidade de hora extra, pelo simples fato de que não é o legislador – muito menos oordinário – que define as noções de tempo e espaço. Se a reforma trabalhista disser quenove é igual a oito, isso não transforma a jornada de nove horas em jornada de oito horas.Por semelhantes razões demonstramos ceticismo nos comentários ao art. 58, § 2º, quemanda desconsiderar o percurso ao local ermo ou de difícil acesso, bem comodemonstramos desconfiança de que irão prosperar os dispositivos que cuidam dacompensação mensal e semestral da jornada de trabalho.

4. Há outra anomalia escondida neste dispositivo, fruto da ignorância ou da pressa dequem o escreveu: embora o art. 7º da CLT admita que a norma estenda sua aplicação aostrabalhadores rurais, o art. 5º da Lei 5.889/1973 explica, corretamente, que nas relações docampo devem ser observados os usos e costumes, não havendo regra rígida nos moldes doart. 71. Para os rurais, não se aplica a regra da pausa mínima de 1h, mas o respeito àrealidade local, que pode incluir a necessidade de sesta, de revigoramento físico ousimplesmente a necessidade de esperar o sol baixar um pouco nas lides agrícolas. Aliás, omandamento da Lei 5.889/1973, no sentido de se respeitarem os usos e costumes, reforçaainda mais a ineficácia desse dispositivo. O fato de o art. 5º, § 1º, do D 73.626/1974 afirmarque a pausa mínima é de 1h não elide os efeitos da lei ordinária rural nem a importânciados usos e costumes. Não consideramos aplicável a nova redação do art. 71, § 4º, para otrabalhador rural, por incompatibilidade o art. 5º da lei específica (Lei 5.889/1973).

5. O dispositivo determina que o pagamento recaia apenas sobre o período suprimido.Há farta jurisprudência afirmando que a violação parcial deve se aproximar da violaçãototal porquanto a finalidade da norma – refeição e descanso – deixou de ser cumprida. Sãocomuns as hipóteses de alimentação em 10, 15 ou 20min, às vezes na copa ao lado, àsvezes na própria mesa de trabalho, mas não é disso que trata o art. 71 da CLT: odispositivo concebeu sistema de alimentação e descanso, para o revigoramento dasenergias. Como a matéria do intervalo não está constitucionalizada, poderia o legislador,diante do quadro de terra arrasada que permeou a reforma, retirar o art. 71 ou oficializara pausa de 30min. Talvez temendo ainda mais repercussão, utilizou-se da fórmulaengenhosa de manter os 60min de pausa mínima, mas com a autorização expressa para seudescumprimento, com pagamento dos minutos violados e, ainda, sem natureza de horaextra. A se adotar esse entendimento, teremos uma norma contraditória, com francacolisão entre o caput, que manda conceder 60min, e o § 4º, que autoriza a supressão dointervalo. Diante desse contrassenso, entendemos ser viável a manutenção doentendimento consolidado na Súmula 437 do TST, pois o objetivo era o atendimento dafinalidade da alimentação e do descanso: pausas de 10, 20 ou 30min se inserem noconceito de tempo à disposição do empregador e não autorizam a dedução da jornada detrabalho.

6. Por muito mais razão, não podemos concordar com a súbita imposição da naturezaindenizatória para essas horas. Toda hora trabalhada deve ser paga como contraprestaçãodos serviços. O conceito de salário está na essência desse dueto – serviços prestados,salário contraprestado. A natureza jurídica de uma parcela não depende da lei ou davontade das partes, mas da essência do instituto. A afirmação do legislador de que a horatrabalhada no almoço passa a ser considerada uma indenização equipara a jornada detrabalho a um ressarcimento de prejuízos causados, multa pecuniária (arts. 467 e 477) oupecúlio obrigatório (FGTS). Será muito difícil sustentar que a jornada de trabalhoempreendida na hora destinada às refeições não tenha natureza contraprestacional dos

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serviços. E as comissões do vendedor balconista na hora do almoço? Ficam desprovidas dereflexos também? O legislador foi de uma ousadia sem precedentes neste particular, poisse sentiu à vontade até mesmo para adulterar a natureza jurídica da parcela.

7. Não há similitude com o caso do vale transporte, que se aproxima mais do caráterressarcitório de gastos realizados pelo trabalho, ou do vale refeição, que teve legislaçãofavorável à desvinculação salarial por razões tributárias – a saber, o empregador podededuzir dos impostos os gastos com a refeição. Experiência bem sucedida dedesvinculação salarial está na reforma de 2001 empreendida sobre o art. 458 da CLT, emque se elaborou uma lista de benefícios assistenciais não salariais. Ainda assim, pairamcontrovérsias a respeito de alguns ganhos indiretos do trabalhador, mas, de maneira geral,o fornecimento de telefone celular, carro e outros insumos, assim como o reembolso dedespesas com educação e saúde afastam-se da órbita salarial – ao menos direta – e sãoconsiderados ressarcitórios de gastos realizados pelo exercício da profissão.

8. Prognóstico final deste livro: o cancelamento da Súmula 437 e a vitória dopagamento, em caráter indenizatório, sem reflexos, apenas dos minutos de almoçosuprimidos, somente ocorrerão se prevalecer a interpretação gramatical, seca e semanálise da nova redação do art. 71, § 4º, da CLT. Um pouco mais de atenção quanto àfinalidade da norma – refeição e repouso – e quanto ao choque entre a cabeça do artigo,que manda conceder a pausa, e o § 4º, que autoriza sua violação será suficiente para acompreensão da natureza salarial dessas horas extras. Desnecessário grande esforçohermenêutico para se entender que os rurais possuem realidade própria e norma própria,aduza-se.

 

Título II

Capítulo II-A

Do Teletrabalho

Art. 75-A. A prestação de serviços pelo empregado em regime de teletrabalho observará odisposto neste Capítulo.

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora dasdependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de

comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

Parágrafo único. O comparecimento às dependências do empregador para a realização deatividades específicas que exijam a presença do empregado no estabelecimento não

descaracteriza o regime de teletrabalho.

Art. 75-C. A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho deverá constarexpressamente do contrato individual de trabalho, que especificará as atividades que serão

realizadas pelo empregado.

§ 1º Poderá ser realizada a alteração entre regime presencial e de teletrabalho desde quehaja mútuo acordo entre as partes, registrado em aditivo contratual.

§ 2º Poderá ser realizada a alteração do regime de teletrabalho para o presencial pordeterminação do empregador, garantido prazo de transição mínimo de quinze dias, com

correspondente registro em aditivo contratual.

Art. 75-D. As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção oufornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à

prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas peloempregado, serão previstas em contrato escrito.

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Parágrafo único. As utilidades mencionadas no caput deste artigo não integram aremuneração do empregado.

Art. 75-E. O empregador deverá instruir os empregados, de maneira expressa e ostensiva,quanto às precauções a tomar a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho.

Parágrafo único. O empregado deverá assinar termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir as instruções fornecidas pelo empregador.

 

1. O enquadramento do contrato de trabalho no espectro do art. 62 da CLT assumenumerosas consequências: retira do trabalhador o direito a horas extras, adicionalnoturno, hora noturna, intervalo intrajornada, intervalo interjornada e suas integrações.Somente não retira o direito ao descanso semanal remunerado, pois este é regulado porlegislação separada (Lei 605/1949) e tem assento constitucional (art. 7º, XV), de modo queficou imune ao alcance do art. 62.

2. A retirada dos direitos previstos no capítulo da duração do trabalho representaconsequência tão agressiva que muitos autores propuseram a não recepção do dispositivopela CF. Dado que o art. 7º, XIII, da CF, afirma serem devidas as horas extras excedentesda 8ª diária e 44ª semanal, ressalvando-se apenas os acordos de compensação de jornada,houve entendimento no sentido de que a lei ordinária não poderia simplesmente ignorara carga máxima diária ou semanal, qualquer que fosse o pretexto. Todavia, como algumasprofissões não se adaptam facilmente às jornadas padronizadas, como os aeronautas e ospetroquímicos em situação de mergulho ou de isolamento, entendeu-se, ao fim e ao cabo,a previsão da CF era apenas para as jornadas do trabalho normal, podendo o legislador,sob certas circunstâncias, estabelecer parâmetros para os trabalhos atípicos. Foi assim queo art. 62 se beneficiou esse entendimento especial.

3. A reforma de 2017 pega carona na excepcionalidade e, afora os exercentes de cargode chefia e os exercentes de atividades externas, incompatíveis com o controle de jornada,manda inserir terceira hipótese, para retirar o direito às horas extras dos empregados emteletrabalho. O art. 62, III, deve ser lido em conjunto com os arts. 75-A a 75-E, queapresentam diretrizes básicas para o que se deve considerar teletrabalho.

4. O ponto central da discussão é saber, afinal, se o teletrabalho é ou não éincompatível com o controle de jornada, ou seja, se está ou não ao alcance do empregadormensurar a produção e a atividade do empregado. Por exemplo, pedido de costura debarra em 240 calças, à razão de, digamos, 20min cada barra, representa jornada de 10 diasem média – 3 calças por hora, 24 calças por dia de 8h, 10 dias úteis de atividade. Essamodulação está ao alcance do empregador, que detém os meio de produção e oconhecimento da atividade em todos seus contornos. Semelhantes exemplos podem serestendidos para diversas atividades manuais, mas também para atividades intelectuais.Apenas alguns casos de talento, cultura e criatividade é que tendem a dificultar o controledo fator tempo, sendo priorizadas outras formas de remuneração.

5. Havendo meios acessíveis de controle de jornada, por unidade de produção, porfiscalização direta, por meios eletrônicos, não se deve impressionar com o fato de otrabalho ser realizado à distância, em dependências estranhas ao empregados, naresidência do empregado, em cafeteria ou em espaço coletivo de trabalho. Tudo isso era econtinua a ser irrelevante para o direito do trabalho, assim como o serviço externosomente se enquadra no art. 62 se for efetivamente incompatível com o controle dejornada – o que não se aplica, portanto, para os instaladores de televisão e telefone, paraos entregadores, jornaleiros, motoristas e análogos.

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6. Feitas essas considerações, estamos à vontade para afirmar que o art. 62, III, merecea mesma interpretação restritiva, dada a excepcionalidade, dos demais incisos, quer dizer,o teletrabalho somente retira o direito às horas extras e congêneres se for incompatívelcom o controle de jornada. Mero deslocamento territorial não é suficiente para autorizarjornadas irrestritas. Seria mesmo incongruente dizer que para o serviço externo o quemanda é a incompatibilidade da jornada (art. 62, I), ao passo que para o teletrabalho o quemanda é o rótulo.

7. Rótulos nunca foram relevantes para o direito do trabalho. Simples nomenclaturautilizada representa aspecto secundário em quase todas as análises trabalhistas. O fato deo empregador inserir no contrato escrito a expressão “teletrabalho” e evocar a disciplinacanhestra dos arts. 75-A a 75-E não o autoriza a cassar as horas extras, o adicional noturnoe demais elementos componentes do capítulo da duração normal da jornada.

8. O intérprete não pode perder de vista a fragilidade do art. 62 perante a CF, jádestacada acima, tendo sua sobrevivência dependido da atipicidade do trabalho e daincompatibilidade do controle pelo empregador. Mas há ainda um outro grão de sal a seracrescido a esse raciocínio: o art. 6º da CLT. Por desconhecimento ou pela pressa com quea reforma foi engendrada em 2017, o legislador se esqueceu de reformar o art. 6º da CLT,que havia sido reescrito pela Lei 12.551/2011. E haverá dois aspectos relevantes paraextração do art. 6º, em franca rota de colisão com o art. 62, III.

9. Em primeiro lugar, o art. 6º joga pá de cal para qualquer interpretação queproponha a atipicidade do trabalho em domicílio ou à distância: “Não se distingue entre otrabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio doempregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos darelação de emprego”. O trabalho é igual a qualquer outro realizado dentro da fábrica. Sualocalidade não é fato suficiente para considerá-lo atípico ou extraordinário.

10. Em segundo lugar, “os meios telemáticos e informatizados de comando, controle esupervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretosde comando, controle e supervisão do trabalho alheio”, conforme afirma o parágrafoúnico do art. 6º. Em outras palavras, há, sim, formas eficazes e conhecidas de controle daprodutividade e da cadência do empregado, tal como se fosse um controle presencial dotrabalho alheio.

11. Na verdade, se fôssemos aplicar o art. 6º em todo seu alcance, o art. 62, III, e os arts.75-A a 75-E ficariam em xeque. Como não se pode promover interpretação que, dentrevárias existentes, seja aquela que mais reduza a eficácia da norma, entendemos que aúnica forma de salvação da reforma 2017, neste particular, é considerar que o teletrabalhosomente retira o direito às horas extras quando for incompatível com o controle dejornada – inacessível, inatingível, inexequível. Não serve como justificativa para cassar ashoras extras do empregado o simples desinteresse do empregador, os custos dosaplicativos e programas específicos para a mensuração ou a necessidade de prestação decontas.

12. Interpretação extensiva do art. 62, III, deságua na inconstitucionalidade pelacolisão com o art. 7º, XIII, na ilegalidade pela colisão com o art. 6º e, ainda, no tratamentodesigual com os trabalhadores em serviço externo, pois eles têm assegurada, desde 1992,as horas extras em caso de compatibilidade com o controle de jornada.

13. Dito isso, enfrentemos a redação dos arts. 75-A a 75-E:

a) o 75-A anuncia a criação do regime de teletrabalho;

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b) o 75-B, caput e parágrafo, explicam que o teletrabalho pode incluir algumasatividades eventuais nas dependências do empregador, como reuniões, treinamentos ouprestação de contas;

c) o art. 75-C requer cláusula contratual expressa, com descrição das atribuições,embora isso possa ser facilmente burlado com os formulários de contrato de adesão muitocomuns no direito do trabalho; os §§ 1º e 2º admitem a conversão do presencial para oteletrabalho e vice-versa, mediante “aditivo contratual”; no caso do deslocamento doserviços para a casa do trabalhador, um prazo de 15 dias deve ser assegurado para suaorganização – mas nada se fala quanto ao descumprimento dessa regra;

d) o art. 75-D toca num ponto bastante sensível do teletrabalho – de quem são os custosdos equipamentos e, sobretudo, da manutenção dos insumos, como a conta de energiaelétrica e da rede de dados – mas ficou longe de apresentar uma solução: apenas prevê anecessidade de ajuste escrito a respeito e, caso o empregador concorra com as despesas, osbens corpóreos e incorpóreos não assumem natureza salarial; essa solução já constava doart. 458, § 2º, I, da CLT, desde 2001;

e) o art. 75-E, utilizando linguagem patriarcal, já superada no âmbito da saúde esegurança do trabalho, determina que o empregado instrua os empregados “de maneiraexpressa e ostensiva”, quanto às precauções para evitar doenças e acidentes, ao passo queo empregado deve se comprometer a seguir todas as instruções; a tese de que todos osacidentes tivessem como causa “ato inseguro” do empregado está superada faz muitosanos, impondo-se análise multifatorial para a compreensão dos acidentes e doenças a eleequiparadas; por exemplo, em caso de sobrecarga muscular pelo trabalho de digitação emdomicílio – antigamente denominada tendinite – não é crível que se pense apenas emanalisar o descuido do empregado quanto à postura; elementos relevantes como prazospara entrega dos trabalhos, nível de complexidade, ritmo exigido, número de toquesnecessários para dar cobro à demanda, forma de remuneração, metas impostas e váriosoutros assuntos correlatos deverão ser levados em consideração.

14. O capítulo do teletrabalho tem a virtude de reconhecer a existência dessa atividadecomo uma forma de relação de emprego – não como trabalho autônomo, eventual ouimpessoal – e tem a virtude de admitir que acidentes de trabalho podem ocorrer, portanto,dentro da casa do empregado e não exclusivamente dentro das dependências doempregador. Mas, como visto acima, haverá muita discussão pela frente. O advogadodificilmente recomendará ao cliente que desloque os empregados para sua casa, a fim deburlar o regime de horas extras, pois o risco da interpretação do art. 62, III, ser restritiva éenorme. Por fim, resta saber se a fiscalização do trabalho avançará na tese de que ainviolabilidade do lar deve ser mitigada quando este deixa de ser ambiente de recato eintimidade e passa a ser a extensão da fábrica. Consideramos salutar a solução encontradapelo art. 44 da LC 150/2015, para a fiscalização do trabalho dos domésticos, cuja analogiarecomendamos.

Art. 134. ...................................................

§ 1º Desde que haja concordância do empregado, as férias poderão ser usufruídas em atétrês períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos e os

demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um.

§ 2º (Revogado).

§ 3º É vedado o início das férias no período de dois dias que antecede feriado ou dia derepouso semanal remunerado.

1. Apesar da ênfase dada para a mudança deste artigo, como um dos paradigmas dosuposto atraso da CLT, na essência houve mudança reduzida, porque o Brasil não poderia

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mais se afastar da Convenção 132 da OIT (1970), que tem natureza de tratadointernacional, pelo país ratificado em 1999 (D 3197). O tratado exige que o empregadotenha assegurado ao menos um período de 14 dias consecutivos, sob pena de não seatingir a finalidade das férias – repouso prolongado, alteração do ritmo de vida, do relógiobiológico e dos afazeres em geral. A reforma de 2017, ciente disso, manteve a parcelamínima de quatorze dias. Supondo que o empregado tenha 30 dias de férias, os 16 diasrestantes passam a ser divisíveis por 2; podem ser duas parcelas de oito dias ou umacombinação de resultados até o limite mínimo de cinco dias consecutivos – 5 mais 11, 6mais 10, 7 mais 9.

2. Ficamos com um preciosismo pois essas quatro possibilidades terão de ser muitobem estudadas no calendário, sobretudo pelo empregador, pois nenhuma das três etapasde férias do empregado poderá começar em véspera e antevéspera de domingo e deferiado. Logo, as férias nunca poderão começar às sextas-feiras nem no dia 23 dedezembro, por exemplo.

3. Trabalhadores com direito a 18 dias de férias, portanto, não podem mais fracioná-las, pois os 4 dias restantes não cabem nas demais exigências.

4. A revogação do § 2º derrubou a proibição de fracionamento de férias deadolescentes e de pessoas com mais de 50 anos, mas o legislador manteve o direito decoincidência de férias para estudantes e membros da mesma família, de que trata o art.136 da CLT.

TÍTULO II-A

DO DANO EXTRAPATRIMONIAL

Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrentes darelação de trabalho apenas os dispositivos deste Título.

Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esferamoral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do

direito à reparação.

Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, asexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados

inerentes à pessoa física.

Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o sigilo da correspondênciasão bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.

Art. 223-E. São responsáveis pelo dano extrapatrimonial todos os que tenham colaboradopara a ofensa ao bem jurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão.

Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais pode ser pedida cumulativamente coma indenização por danos materiais decorrentes do mesmo ato lesivo.

§ 1º Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferir a decisão, discriminará os valoresdas indenizações a título de danos patrimoniais e das reparações por danos de natureza

extrapatrimonial.

§ 2º A composição das perdas e danos, assim compreendidos os lucros cessantes e os danosemergentes, não interfere na avaliação dos danos extrapatrimoniais.

Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:

I – a natureza do bem jurídico tutelado;

II – a intensidade do sofrimento ou da humilhação;

III – a possibilidade de superação física ou psicológica;

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IV – os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão;

V – a extensão e a duração dos efeitos da ofensa;

VI – as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízo moral;

VII – o grau de dolo ou culpa;

VIII – a ocorrência de retratação espontânea;

IX – o esforço efetivo para minimizar a ofensa;

X – o perdão, tácito ou expresso;

XI – a situação social e econômica das partes envolvidas;

XII – o grau de publicidade da ofensa.

§ 1º Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dosofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:

I – ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;

II – ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;

III – ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido.

IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual doofendido.

§ 2º Se o ofendido for pessoa jurídica, a indenização será fixada com observância dosmesmos parâmetros estabelecidos no § 1º deste artigo, mas em relação ao salário contratual

do ofensor.

§ 3º Na reincidência entre partes idênticas, o juízo poderá elevar ao dobro o valor daindenização.

1. A reforma trabalhista entendeu necessária a fixação de parâmetros para a aferiçãoda indenização por danos morais na Justiça do Trabalho. São conhecidos os destaquesdados pela imprensa nacional às sentenças trabalhistas que fixaram valores consideradosexorbitantes pelo evento morte, por mutilações ou por humilhações sofridas, em geral porempregados no curso de seu contrato de trabalho. Para combater a proliferação dasindenizações e tentar estabelecer uma espécie de teto legal aos valores judicialmentefixados, o legislador partiu para o delicado campo da indenização tarifada.

2. Nunca é tranquila essa estratégia. Havia indenização tarifada na Lei de Imprensa(art. 51, Lei 5260/1967) e em outras normas esparsas no ordenamento brasileiro, assimcomo algumas indenizações no âmbito do processo civil e do direito civil são fixadas emmúltiplos de salários-mínimos. Mas há sempre o risco de o legislador ser acusado dequerer engarrafar nuvens, dada a multiplicidade de fatos, nuances e detalhes em cada umdos sinistros e dos eventos agressivos que permeiam as relações de trabalho. Asenfermidades são extremamente diversificadas e seu alcance, impossível de serdelimitado; as hostilidades podem variar desde xingamentos e brincadeiras de mau gostoaté atos orquestrados de ociosidade forçada, de execração pública e de exposição aovexame. Condutas antissindicais e atos de homofobia ou de desqualificação do trabalho damulher tampouco são fatos isolados no mundo do trabalho. Como catalogar toda essagama em apenas 3 ou 4 patamares? Para muitos, o esforço é válido, pois oferece ummínimo de previsibilidade, de parte a parte, e aumenta a responsabilidade de advogados emagistrados; para outros, o esforço é vão e somente alimentará a incerteza e a frustraçãodos que perderam seus entes queridos, suas chances de trabalho ou sua própria razão deser.

3. Postas estas premissas, façamos um prognóstico de como será o processo do trabalhona era das indenizações tarifadas:

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• observe-se, inicialmente, que os arts. 223-A a 223-G se atêm aos danos ditosextrapatrimoniais, também chamados de danos morais, de modo que asindenizações por prejuízos materiais quantificáveis, como remédios, próteses egastos com profissionais liberais, estão fora da tarifação – conforme, aliás, o art.223-F alerta expressamente;

• o art. 223-F, no entanto, não deixa claro onde estão os danos estéticos,terceiro gênero indenizável segundo sólida jurisprudência do TST e do STJ; comonós não podemos distinguir onde a lei não distingue nem podemos interpretar demodo expansivo a norma restritiva, o mais provável é que os danos estéticosestejam, também eles, fora da tarifação e sejam passíveis de indenização emseparado – ou seja, nada muda para eles; por óbvio, circularão teses de que osdanos morais e os danos estéticos são modalidades de danos extrapatrimoniais, e,como tal, devem ser indenizados em conjunto, dentro da mesma tabela tarifáriado art. 223-G, mas esse conceito não tem base científica;

• o art. 223-A não quer deixar que nada escape a sua tutela, nem que amagistratura trabalhista crie figuras adicionais ou subterfúgios para driblar atarifação: assim sendo, sua redação é enfática ao dizer que somente existemdanos extrapatrimoniais nas relações de trabalho dentro dos limites deste TítuloII-A; todavia, a promessa é dificílima de ser cumprida, mesmo pelos maiseufóricos defensores da reforma, haja vista a imprevisibilidade das condutassociais, a vastidão da criatividade humana, para não dizer da perversão humana;por exemplo, quem poderia imaginar que o abuso emocional feito nas redessociais seria ainda mais devastador do que o xingamento em praça pública ou nopátio do colégio?

• e por falar em abuso emocional, quem poderá afirmar que o rol do art. 223-Cé taxativo? Ele se esforçou ao compilar nove grandes temas da hostilidade ao serhumano, mas, de plano, se esqueceu de assuntos muito delicados e recorrentes noambiente de trabalho, como a dispensa de pessoas por idade avançada – aliás,nem tão avançada assim, pois há empresas com políticas de cortes aos 45 ou aos50 anos de idade –, a discriminação de gênero – assim entendida tanto a misoginiaquanto a preterição por orientação sexual – e os assuntos ligados à nacionalidadedo empregado – numa época em que o Brasil volta a ser ponto de convergência derotas migratórias significativas. Mas bastaria uma única palavra para demonstrara fraqueza do art. 223-C e sua completa falta de credibilidade para servir de nortepara a fixação das indenizações por danos morais: no país que foi o último aabolir a escravidão no Ocidente, o legislador se esqueceu do racismo como foco deconstantes tensões trabalhistas;

• logo, como este livro é jurídico e não sociológico, só nos resta concluir que orol é meramente exemplificativo, podendo ser acrescidos outros fundamentospara a lesão extrapatrimonial; é o recurso de que o jurista dispõe quando nota apouca seriedade no legislador;

• isso tudo para não dizer que a reforma se esqueceu de lidar com o eventomorte no ambiente de trabalho, que também desafia pretensão a indenização pordanos morais em ação ajuizada pelos entes familiares;

• o art. 223-B frisa que os danos morais podem ser experimentados por pessoasfísicas e por pessoas jurídicas; o objetivo claro foi permitir que as empresasacionem os empregados em casos de difamação da marca ou dos procedimentosinternos do empregador, o que já contava com jurisprudência favorável, porémclaudicante;

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• talvez pela pressa com que tenha sido concebida ou por desconhecimento daassessoria jurídica, a reforma se esqueceu de dizer que também podem sofrerdanos morais os entes despersonalizados, como os condomínios, as famílias e associedades de fato; não há óbice jurídico algum em haver semelhante pretensãoem juízo, o que apenas reforça o caráter exemplificativo desses dispositivos legais;

• o art. 223-B refere que a vítima é o titular exclusivo para o ajuizamento daação, de fato, mas isso se nós considerarmos que o evento morte está fora doalcance desses artigos;

• o art. 223-D arrolou cinco hipóteses de danos morais para a pessoa jurídica,mas, em consonância com o que expusemos sobre a pessoa física, acreditamos seruma lista exemplificativa; por exemplo, o tema da nacionalidade também podeafetar a pessoa jurídica, vítima de preconceito por sua origem;

• o art. 223-E frisa a solidariedade entre aqueles que concorreram para a lesão,o que já era facilmente extraído do acervo do direito civil – por exemplo, art. 942,parágrafo único, do CC; isso vale tanto para as empresas integrantes de grupoeconômico ou unidas por contrato de terceirização, quanto vale paratrabalhadores que se consorciaram para a difamação do empregador;

• indubitavelmente o art. 223-G é o mais controvertido deste bloco, aoapresentar os valores da tarifação; muito embora tenha havido o cuidado deapresentar nada menos do que doze ponderações que o juiz deve fazer antes daestipulação do valor, o fato é que as indenizações têm de caber em uma dasquatro faixas criadas pela reforma – leve, média, grave e gravíssima – semprejuízo da reincidência;

• houve crítica severa ao governo federal, por haver utilizado o salário-contratual do empregado como base de cálculo para a indenização, pois essepadrão, por qualquer ângulo que se observe, faz com que a dor do pobre sejamenor do que a dor do rico, independentemente da lesão; essa crítica éirrespondível;

• para piorar a situação, o legislador somente admite a reincidência se forentre as mesmas partes, o que praticamente jamais acontecerá; mesmo que agente deixe de lado o evento morte, dificilmente o mesmo empregador perseguiráo mesmo empregado por questões raciais, sexuais ou morais duas vezes seguidas;o contrato já estará rompido e enterrado; a reincidência, em qualquer livro que seconsulte, diz respeito à conduta do agressor de voltar à delinquência mesmodepois de punido; é grotesco alguém imaginar que a reincidência seja voltar adelinquência contra a mesma vítima; em outras palavras, é como se o legisladordissesse que o juiz não pode levar em consideração a repetição dos mesmos fatosna mesma fábrica, mas com vítimas diferentes; apesar de todos esses argumentoseloquentes, o Senado Federal concordou em aprovar o texto tal como proposto.

FIQUE DE OLHO: A perplexidade quanto às armadilhas escondidas nos arts. 223-A a 223-Gcresceu muito ao longo da tramitação de urgência do projeto de lei. Pelo menos três pontos podemsofrer alteração em curto espaço de tempo, todos mencionados acima: a) o esclarecimento de que

a tarifação não se aplica ao evento morte, deixando o juiz livre para a apreciação dos danosmorais aos familiares de acordo com as circunstâncias do caso, para além da modalidade

gravíssima; b) a confirmação de que a reincidência diz respeito à conduta do agressor em geral,contra qualquer um dos empregados ou dos empregadores, e não à reprise da agressão contra a

mesma vítima; e c) a desvinculação do salário-contratual do trabalhador, para se aplacar aindignação de que a dor do alto empregado valha mais do que a dor do empregado de salário-

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mínimo. Isso é o mínimo, não um favor legal.

 

 

Art. 394-A. Sem prejuízo de sua remuneração, nesta incluído o valor do adicional deinsalubridade, a empregada deverá ser afastada de:

I - atividades consideradas insalubres em grau máximo, enquanto durar a gestação;

II - atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, quando apresentaratestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o

afastamento durante a gestação;

III - atividades consideradas insalubres em qualquer grau, quando apresentar atestado desaúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o afastamento durante a

lactação.

§ 1º ..........................................................................................

§ 2º Cabe à empresa pagar o adicional de insalubridade à gestante ou à lactante, efetivando-se a compensação, observado o disposto no art. 248 da Constituição Federal, por ocasião dorecolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos

pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço.

§ 3º Quando não for possível que a gestante ou a lactante afastada nos termos do caput desteartigo exerça suas atividades em local salubre na empresa, a hipótese será considerada

como gravidez de risco e ensejará a percepção de salário-maternidade, nos termos da Lei nº8.213, de 24 de julho de 1991, durante todo o período de afastamento.

 

1. A redação original do projeto, à época da tramitação na Câmara, permitia o trabalhoda gestante em quase todas as hipóteses em ambiente insalubre, valendo lembrar que odispositivo não é da CLT de 1943, mas da Lei 13.287/2016, ou seja, uma norma de apenas 1ano de idade quando da promulgação da reforma trabalhista. Passou-se da restriçãosevera para a liberação total do trabalho da gestante em ambiente insalubre, o que geroupesadas críticas contra o açodamento do governo federal. Mesmo com as mudançasempreendidas durante a tramitação na Câmara Federal, o texto aprovado continua repletode nuances e brechas para a atividade insalubre da grávida.

2. O afastamento imediato ocorre nos casos de insalubridade em grau máximo durantea gestação (art. 394-A, I). Na verdade, existem poucas hipóteses de insalubridade em graumáximo. Alguém pode achar que a expressão “grau máximo” representa um gesto nobrepor parte da reforma de 2017, ao tentar proteger as mulheres grávidas dos maioresperigos. Mas no campo da higiene ocupacional, nada é o que parece. Ao longo dos 14anexos da NR 15, somente existe o grau máximo no contato com alguns agentes químicos ecom agentes biológicos em risco exacerbado, como centros cirúrgicos, limpeza de bueirose trabalho em necrotérios. Há, também, grau máximo no contato com radiação ionizante(cancerígena) e com as pressões elevadas para os trabalhadores submersos. No mais, amaioria dos anexos lida com o grau médio, a saber, os ruídos excessivos, os ruídos deimpacto, a exposição ao calor e ao frio elevados, radiações não ionizantes, vibrações,umidade e boa parte dos elementos químicos e dos agentes biológicos. Logo, vista aquestão do ponto de vista numérico, a maioria das gestantes empregadas se encontramem ambientes de grau médio de insalubridade e não no grau máximo. Talvez o caso maispreocupante seja o das gestantes empregadas em centros cirúrgicos, terapias intensivas esalas de radiografia – profissões com boa aceitação da mão de obra feminina.

3. E mesmo no grau máximo, o legislador determina o afastamento imediato apenas

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durante a gestação e não durante a lactação, como constava do art. 394 na redação de2016.

4. Para maior clareza, observo que o grau mínimo ocorre também em situações muitoreduzidas, apenas com alguns elementos químicos considerados de menor agressividade.E não se pense que esses índices são infalíveis ou que seguem padrões internacionaisconsagrados: conforme nós frisamos na introdução a este livro, o capítulo da saúde esegurança do trabalho na CLT data de 1978 e nenhum esforço foi feito para suamodernização, jogando por terra o argumento de que a reforma pretendia atualizar osdispositivos trabalhistas obsoletos. Após a reforma de 1978, empreendida sobre o blocodos artigos 154 a 200 da CLT, foi edificada a complexa Portaria 3214/1978, fruto do esforçohercúleo de técnicos das áreas afetas à saúde do trabalho, donde nasceram as chamadasNRs (Normas Regulamentadoras), numeradas originalmente de 1 a 28. Dentre elas,destaca-se a NR 15, sobre higiene ocupacional, que regula os graus de insalubridade. Ora,se fôssemos realmente atualizar os limites de tolerância de 1978 (calcados, por sua vez, empesquisas da década de 1960, diga-se de passagem), então várias profissões alçariam aopatamar do grau máximo. Mas parece que o tema não era prioritário na reforma de 2017.

5. Os casos de afastamento em grau médio e em grau mínimo, durante a gestação, e emqualquer grau, durante a lactação (art. 394-A, II e III), ficam na dependência de atestadomédico com tal recomendação. O médico pode ser da confiança da mulher, ou seja, podeser o responsável pelo acompanhamento do pré-natal, da rede pública ou particular, ou daprópria empresa.

6. A remuneração deve ser mantida, inclusive quanto ao adicional de insalubridade,adverte o caput do art. 394-A, mas a solução encontrada pela reforma trabalhista, paranão onerar em demasia o empregador, foi a transferência do encargo para os cofrespúblicos: o adicional de insalubridade é pago em folha para a empregada e, depois,compensado das contribuições sociais devidas. Em outras palavras, a Previdência Socialpagará o adicional de insalubridade da gestante (em certos casos, também da lactante),como já paga o salário-maternidade, competindo à empresa apenas o adiantamento dovalor em holerite. O pagamento foi socializado, portanto, não somente para evitarprejuízos financeiros à mulher, mas também para inibir qualquer pensamentodiscriminatório quando da contratação.

7. A ideia básica é de afastar a mulher do local insalubre, mas não do contrato detrabalho. Parte-se da premissa de que a empresa possua outros setores, não insalubres, ou,talvez, insalubres em grau médio e mínimo. No entanto, não se pode ignorar a ocorrênciade situações em que 100% da empresa seja insalubre em grau máximo ou em que atransferência para os graus menores não surta os efeitos desejados. Para essa hipótese, asolução prevista pela reforma trabalhista foi antecipar a licença-maternidade da gestante:afora os 120 dias previstos pela Constituição, a mulher pode dar entrada ao pedido delicença como se fosse gravidez de risco. Terá sido essa uma boa solução?

8. Claramente a ideia foi, como dito, socializar os custos da gestação em ambienteinsalubre – em grau máximo ou, sob parecer médico, em grau médio e mínimo – no que areforma merece elogios, pois não se pode onerar o empregador com um encargo que ésocial e não particular. Porém, resta saber de onde virá o custeio desse benefícioampliado, haja vista que a Previdência Social está estruturada para pagar 120 dias delicença-maternidade e não 9 meses de licença-maternidade para gestantes em empresasinsalubres. Analisando grosseiramente o panorama, há potencial de licença-maternidadede 9 meses para todas as auxiliares de limpeza que lidem com produtos químicos, paratodas as enfermeiras, auxiliares de enfermagem e demais mulheres que orbitam em tornodas atividades de atendimento à saúde pública – ou seja, um contingente nada

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desprezível.

9. O risco que se corre é não haver a mesma agilidade na regulamentação do custeiocomo houve para a aprovação da reforma trabalhista e, assim, a norma cair emdescrédito. Não será surpresa se uma gestante a comparecer ao balcão do INSS após otérmino da vacância da lei, em meados de novembro de 2017, e ver negado seu direito àlicença-maternidade de 9 meses. Mais remota ainda é a chance de uma lactante conseguiro prolongamento da licença-maternidade por seis meses.

10. Este livro referiu apenas 120 dias de licença-maternidade porque esse é o únicodireito assegurado pelo art. 7º, XVIII, da CF , e pelo art. 392 da CLT. A licença-maternidadede seis meses não é uma prestação previdenciária, mas uma espécie de renúncia fiscalpara empresas de grande porte – tributadas pelo lucro real – que queiram aderir aoprograma específico para tal finalidade (Lei 11.770/2008). Portanto, não se aplica àgeneralidade dos casos e não corresponde a um direito assegurado às gestantes.

11. O texto do projeto que tramitou no Senado Federal e o texto do art. 394-A aprovadopela Lei 13.467/2017 dão a entender que existe o § 1º do art. 394-A, que teria sido mantidopela reforma trabalhista. Ocorre que esse § 1º não existe. Talvez o legislador tenha sereferido ao parágrafo único do art. 394-A, que chegou a ser aprovado pelo CongressoNacional, mas que viria a ser vetado pela Presidência da República quando da sanção daLei 13.287/2016. Mas, ainda assim, teria de haver o capricho de mencionar que oparágrafo único virou § 1º. Da forma como a reforma foi aprovada, criou-se um limbojurídico, um parágrafo inexistente.

 

FIQUE DE OLHO: A repercussão negativa do art. 394-A foi muito grande. É um dos poucos artigossobre os quais a população parece ter informações mais detalhadas. A pressa na aprovação da

reforma – incluindo a submissão do Senado Federal a aprovar o texto sem ressalvas para evitar oretorno da matéria à Câmara – fez com que o próprio governo federal se manifestasse

favoravelmente à alteração desta norma, que ficou permissiva demais e sem garantia alguma dafonte de custeio, como explicamos. Por projeto de lei ou por medida provisória, o cenário mais

provável é que caia por terra essa distinção bizarra entre os graus máximo, médio e mínimo, osquais, como explicamos, têm sua aplicabilidade mais complexa do que parece à primeira vista.

Voltar-se-ia ao espírito da Lei 13.287/2016, ainda que com a redação afetada pela reforma, eseriam permitidas algumas exceções para a mulher atuar, mediante parecer médico, em

ambientes de insalubridade média e mínima, seja durante a gestação, seja durante a lactação.

 

Art. 396. ................................................................................

§ 1º ..........................................................................................

§ 2º Os horários dos descansos previstos no caput deste artigo deverão ser definidos emacordo individual entre a mulher e o empregador.

 

1. A reforma manteve as duas pausas de 30 min cada uma para a amamentação dobebê, mas inseriu a possibilidade de sua negociação entre empregada e empregador. Naverdade, assim já era possível e estava subentendido na redação do art. 396. O momentoexato das duas pausas somente podia ser definido pelas partes, a depender dascircunstâncias do trabalho. O risco que se corre é estimular uma espúria monetarizaçãodessas pausas ou seu agrupamento sob a forma de compensação de jornada, o que fogecompletamente à finalidade da norma. Como a norma deve ser destinada ao fim social

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para o qual foi concebida, não se deve deixar seduzir por teses que levem a qualquerforma de banco de horas de pausa de amamentação.

 

Art. 442-B. A contratação do autônomo, cumpridas por este todas as formalidades legais,com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não, afasta a qualidade de empregado

prevista no art. 3º desta Consolidação.

1. Aqui estamos nós a comentar novamente um dispositivo legal que tenta dizer oóbvio e não tem o conteúdo que ostenta: numerosas são as leis e os artigos que buscamnegar a existência do vínculo de emprego em certas situações, como ocorreu com oscooperados, com os representantes comerciais autônomos e com os viajantes. O errofundamental na concepção dessas normas guarda semelhança com nossa crítica feita aoart. 71, § 4º, acerca da natureza jurídica das horas extras: tanto o vínculo de empregoquanto a natureza salarial de uma parcela não decorrem da boa vontade do legislador, damão pesada de um magistrado, da presença do fiscal do trabalho e nem mesmo dosdizeres constantes do contrato escrito. O vínculo de emprego e a parcela salarial nascemda percepção da realidade, da essência de um relacionamento, da lógica dos fatos.Reflitamos um pouco.

2. O direito do trabalho, no estágio de desenvolvimento verificado no ordenamentobrasileiro, dedica-se à busca do equilíbrio de um grupo específico, a saber, o trabalhosubordinado, a que chamamos de emprego. A CLT foi edificada em torno desta figura, demodo tão enfático que, após alguns anos, ser “celetista” passou a ser sinônimo de serempregado registrado, dentro das regras do mercado formal.

3. Uma crítica severa deve ser admitida pela CLT e pelo direito do trabalho: seu campode atuação é muito restrito, porque embora os celetistas sejam numerosos, ficam de forade sua proteção diversas atividades humanas desenvolvidas de maneira análoga, comenergia empreendida e contraprestação pecuniária, como ocorre com os servidorespúblicos estatutários, com os cooperados (lícitos), com diversos segmentos de autônomos,com os trabalhos ocasionais (bicos, free lancers, extras) e, até recentemente, com osavulsos (como os portuários), com os domésticos e até mesmo com os rurais. Alguns dessessegmentos ganharam o direito à “equiparação” com os celetistas e outros ganharam odireito de acessar a CLT em larga escala. Mas a crítica tem seu fundamento porque, defato, a construção de um ramo jurídico destinado ao estudo e à pesquisa sobre relaçõesassimétricas de trabalho não poderia ser tão reducionista a ponto de eleger apenas umgrupo de trabalhadores. E tudo isso sem mencionar a chaga nacional que é o mercadoinformal de trabalho, aquele vasto contingente de trabalhadores que se encontram àmargem da legislação, da fiscalização e da judicialização.

4. Feitas essas considerações, não se ignora que o direito do trabalho poderia serreestruturado para abarcar grupos mais expressivos e dedicar seus esforços para todos ostrabalhadores, independentemente da natureza de seu regime de contratação. Um passosignificativo foi dado com a redação dada ao art. 114, I, da CF, pela Emenda 45/2004: seique se trata de um tema de competência material da Justiça do Trabalho, mas ao utilizar aexpressão “relação de trabalho” e retirar a exigência de que um dos polos dessa relaçãofosse ocupado por “empregados”, a alteração constitucional liberou as energias para que oJudiciário Especializado passasse a se dedicar a outras modalidades de empreendimentolaboral, que, pelo menos, ganharam visibilidade. Ainda não há consenso nem permissãopara a tramitação dos processos dos estatutários ou dos pequenos empreendedores –constituídos sob a forma de pessoa jurídica – no âmbito da Justiça do Trabalho, mas sãoinegáveis as alterações verificadas no início do século XXI em relação à concepção puristaoriginal desse ramo jurídico.

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5. Esses comentários se fazem adequados para se sustentar que, em realidade, olegislador anda mal quando tenta adulterar natureza jurídica de uma parcela ou de umarelação. Ele poderia dizer que os direitos de tais e quais grupos são diferenciados – comofez, com erros e acertos, com os domésticos, na LC 150/2015, com os rurais, na Lei5.889/1973, e com os avulsos, pelo art. 7º, XXXIV, da CF, e normas complementares – oupoderia ter feito algumas exigências legais para o deslocamento da esfera trabalhista –como buscou fazer com salões de beleza, na Lei 13.352/2017, com a representaçãocomercial autônoma, na Lei 4.860/1965. A solução mais confusa é ele próprio vir afirmarque não existe relação de emprego onde há potencial para ocorrer relação de emprego,como ocorreu com as cooperativas de trabalho.

6. À época (1994), a inserção do parágrafo único ao art. 442 da CLT representouexemplo máximo de infelicidade do legislador, perda de tempo e de dinheiro,incompreensão e muitos prejuízos para ambos os lados – para o capital, que teve de arcarcom encargos previdenciários e trabalhistas retroativamente, e para o trabalho, que foitratado como um autônomo sem o ser. Sou forçado a repetir uma piada sem graça queaparece em algumas passagens do Volume 1 – Parte Geral e do Volume 6 – Contrato deTrabalho, de nosso Curso de Direito do Trabalho Aplicado: a única forma de interpretarsemelhante dispositivo – como agora renasce sob a forma do art. 442-B – é dizer que “nãohaverá relação de emprego, salvo se houver relação de emprego”. Ou seja, o art. 442-Bdispõe de mera presunção relativa. O legislador não consegue, nesta quadra dodesenvolvimento jurídico, criar uma presunção absoluta de inexistência de emprego.(Assim sendo, não faz diferença se o art. 442-B existe ou não existe, porque a presunçãorelativa já ocorreria sem ele.)

7. O legislador parece impressionado com o cumprimento das “formalidades legais”,ignorando que o direito do trabalho enaltece o princípio da primazia da realidade e, comotal, essas formalidades serão analisadas em conjunto com os elementos de fato quepermearam a relação. Em caso de colisão entre a forma e o conteúdo, este sempreprevalecerá sobre aquela. Em resumo, a nosso sentir, este dispositivo representa maisuma perda de tempo.

FIQUE DE OLHO: como há quem acredite que um artigo da CLT poderá gerar presunção absolutade que o empregado era trabalhador autônomo, pelo simples fato de ter assinado contrato a

respeito, surgiram dúvidas sobre a possibilidade de uma empresa exigir exclusividade de seu“autônomo”. Nada mais contraditório do que dizer que o trabalhador é livre para se organizar,

mas desde que siga aos comandos, regras e horários fixados pela empresa. De toda forma, ogoverno federal reconheceu que o art. 442-B trará mais problemas do que soluções e, assim,avisou aos senadores que pretende incluí-lo na reforma da reforma, vetando a cláusula de

exclusividade para os autônomos, sob pena de configuração da relação de emprego. O estrago jáestá feito. A lei foi aprovada num sentido e a reforma irá noutro sentido, ainda dentro do período

de vacância. Se eu fosse advogado de consultoria, jamais orientaria um cliente a contratar um“autônomo exclusivo na forma do art. 442-B da CLT”. Essa frase está cheia de armadilhas. O

vínculo de emprego é latente.

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente,verbalmente ou por escrito, por prazo determinado ou indeterminado, ou para prestação de

trabalho intermitente.

...................................................................................

§ 3º Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual a prestação de serviços,com subordinação, não é contínua, ocorrendo com alternância de períodos de prestação de

serviços e de inatividade, determinados em horas, dias ou meses, independentemente dotipo de atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas, regidos por

legislação própria.

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1. Remetemos o leitor aos comentários aos arts. 452-A, §§ 1º a 9º, por se tratar dadisciplina do contrato intermitente, também chamado de contrato-zero ou popularmentechamado de “bico oficial”. Aqui no art. 443 houve apenas sua inserção conceitual, a fim deque não se alegasse que a definição de contrato de trabalho fosse incompatível com umanegociação que pode representar zero hora de trabalho e zero real de salário. Conseguiu-se criar a figura do contrato de soma zero.

2. Os aeronautas conseguiram inserir uma exceção, a fim de que escapassem docontrato-zero, mas a mesma sorte não teve o pessoal de hotéis, bares e restaurantes, quetendem a ser o maior público-alvo do bico oficial.

 

Art. 444. .................................................................................

Parágrafo único. A livre estipulação a que se refere o caput deste artigo aplica-se àshipóteses previstas no art. 611-A desta Consolidação, com a mesma eficácia legal e

preponderância sobre os instrumentos coletivos, no caso de empregado portador dediploma de nível superior e que perceba salário mensal igual ou superior a duas vezes o

limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

1. O art. 444 da CLT é conhecido como o dispositivo da livre estipulação de cláusulas econdições de trabalho, mas sujeito às restrições da legislação social e das normas coletivas.Assim sendo, para muitos ele nem ao menos tem razão de ser, porque outorga às partesbaixo grau de liberdade contratual. É ele que embasa a fixação do turno de trabalho, dosalário, das funções a serem exercidas e de cláusulas acessórias, mas evidentemente compeso muito maior da opinião do empregador do que da vontade do empregado. Não vainenhum espanto nessa afirmação, porque a relação de emprego é sabidamenteassimétrica.

2. A grande novidade da reforma de 2017, no particular, reside na inserção doparágrafo único ao art. 444, que preconiza maior grau de liberdade para as partes, quandoo empregado tiver diploma de nível superior e salário superior ao dobro do tetoprevidenciário – no total, cerca de 11.000 reais à época da promulgação da Lei13.467/2017, apenas para se ter uma noção. Dada a natureza excepcional da regra, impõe-se a interpretação restritiva, a saber, o valor deve ser do salário-base do empregado e nãodo salário, digamos, de 6.000 reais, que, acrescidos de horas extras, adicional noturno ereflexos, chegue aos 11.000 reais. Essa interpretação se impõe também porque nãopoderia haver liberdade de estipulação diferente de acordo com o mês. Logo, o empregadodeve estar no patamar da remuneração mínima em qualquer hipótese do ano, com ou semsalários condicionais, com ou sem fatores aleatórios. Nem mesmo adicionais maisduradouros, como o de insalubridade e o de tempo de serviço, são úteis para a matéria,pois também eles podem desaparecer, se retirada a causa eficiente para seu pagamento.

3. Sincronicamente, o legislador acrescentou o art. 507-A ao texto da CLT para autorizara fixação de cláusula compromissória, para fins de procedimento arbitral, em caso deconflito trabalhista. Haverá grande controvérsia judicial a respeito, haja vista que, emcasos análogos, a Justiça do Trabalho não aceitou essa forma alternativa de solução deconflito por entender que os créditos trabalhistas se inserem no contexto dos direitosindisponíveis, matéria infensa à arbitragem conforme disposto na Lei 9.307/1996.

4. A proposta do art. 444, parágrafo único, é bem ambiciosa: objetiva autorizar que aspartes, em contrato individual, possam fazer a mesma negociação estabelecida entresindicatos ou sindicatos e empregadores. Daí por que o dispositivo refere expressamente o

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art. 611-A da CLT. Por exemplo, a prevalecer o art. 444, parágrafo único, o empregado podeassinar sozinho a cláusula de redução do intervalo para refeição, a alteração do grau deinsalubridade e a prorrogação de jornada em ambiente insalubre, para ficar em algunsdos incisos da longa lista do art. 611-A. Redução salarial, apesar de ser contemplada noart. 611-A, é matéria de uso restrito das negociações coletivas, segundo o art. 7º, VI, da CF,de modo que mesmo com a ênfase do legislador ordinário isso não será possível no âmbitodo contrato individual. Também é de duvidosa constitucionalidade a redução do grau deadicional de insalubridade, dentre outros pontos vulneráveis do art. 444, parágrafo único.

 

Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que

os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor.

Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quandoficar comprovada fraude na transferência.

1. A sucessão de empregadores segue prevista nos arts. 10 e 448 da CLT: o primeirodeles contempla a sucessão ampla, para todos os casos, envolvendo empregados e ex-empregados, débitos trabalhistas e encargos previdenciários; o segundo dispositivo seinsere no contexto do contrato de trabalho e foi feito para reforçar que a simplesalienação do empreendimento ou o simples trespasse do ponto comercial não são motivossuficientes para o rompimento do vínculo de emprego; os empregados são transferidos talcomo o são os bens corpóreos e incorpóreos.

2. As novidades da reforma de 2017 foram a inserção do art. 10-A, para tratar doassunto da retirada do sócio, e este art. 448-A, para reforçar que, configurada a sucessão,apenas a empresa sucessora responde pelos débitos trabalhistas. A sucedida somente podeser acionada em caso de fraude na transferência. Na verdade, a tese da responsabilidadeintegral da sucessora (ou seja, nem solidariedade com a sucedida nem subsidiariedade dasucedida) era reinante durante décadas, tendo sido abalada nos anos 1990 pelasprivatizações de ferrovias e telefonias: naquele cenário, houve muita controvérsia sobre aresponsabilidade integral da sucessora, porquanto a sucedida continuava a funcionar,retinha vários insumos e, ainda, recebia pagamentos parcelas sobre a alienação.Desenvolveu-se, assim, o conceito condensado na OJ 225 da SDI a respeito dacorresponsabilidade entre sucessora e sucedida. Conquanto criada para fins de entespúblicos e para tentar regular matéria de direito administrativo, não raro a OJ 225 eraaplicada a modalidades de sucessão parcial entre duas empresas privadas - o que talvezseja o alvo direto do novo art. 448-A, que é enfático na blindagem da sucedida.

 

Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve conterespecificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor horário do

salário mínimo ou àquele devido aos demais empregados do estabelecimento que exerçam amesma função em contrato intermitente ou não.

§ 1º O empregador convocará, por qualquer meio de comunicação eficaz, para a prestaçãode serviços, informando qual será a jornada, com, pelo menos, três dias corridos de

antecedência.

§ 2º Recebida a convocação, o empregado terá o prazo de um dia útil para responder aochamado, presumindo-se, no silêncio, a recusa.

§ 3º A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação para fins do contrato de trabalhointermitente.

§ 4º Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que descumprir, sem justomotivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50% (cinquenta por cento) da

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motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50% (cinquenta por cento) daremuneração que seria devida, permitida a compensação em igual prazo.

§ 5º O período de inatividade não será considerado tempo à disposição do empregador,podendo o trabalhador prestar serviços a outros contratantes.

§ 6º Ao final de cada período de prestação de serviço, o empregado receberá o pagamentoimediato das seguintes parcelas:

I - remuneração;

II - férias proporcionais com acréscimo de um terço;

III - décimo terceiro salário proporcional;

IV - repouso semanal remunerado; e

V - adicionais legais.

§ 7º O recibo de pagamento deverá conter a discriminação dos valores pagos relativos acada uma das parcelas referidas no § 6º deste artigo.

§ 8º O empregador efetuará o recolhimento da contribuição previdenciária e o depósito doFundo de Garantia do Tempo de Serviço, na forma da lei, com base nos valores pagos no

período mensal e fornecerá ao empregado comprovante do cumprimento dessas obrigações.

§ 9º A cada doze meses, o empregado adquire direito a usufruir, nos doze mesessubsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser convocado para prestar

serviços pelo mesmo empregador.

1. A inserção do art. 452-A ao corpo da CLT, prevendo uma modalidade de contrato detrabalho intermitente, representa uma das grandes inovações da reforma de 2017,certamente a ser inserida na lista das quatro ou cinco maiores quebras de paradigma. Porcautela, o legislador fez constar sua previsão no próprio conceito de contrato de trabalho(art. 443, caput) e, ainda, um esforço conceitual (art. 443, § 3º), antes de se lançar àregulamentação dessa novidade (art. 452-A, com nove parágrafos). A gênese e a disciplinadesse contrato de trabalho intermitente atearão fogo sobre a literatura juslaboral, pois separte do zero nesse segmento, sem paralelos na legislação nacional.

2. O aspecto mais intrigante dessa construção do legislador é o fato de que,normalmente, as atividades ocasionais ficam à margem do direito do trabalho e, porextensão, não são levadas a registro pelo empregador. Se acionado perante a Justiça doTrabalho, o tomador de serviços costuma argumentar que o trabalho era descontínuo obastante para mitigar o conceito de contrato de trabalho, por lhe faltar o requisito da nãoeventualidade – art. 3º da CLT. Ora, neste passo é o próprio legislador que altera a lógicada contestação do réu, para flexibilizar o conceito de habitualidade.

3. Embora a palavra habitualidade não conste expressamente do art. 3º da CLT, háconsenso de que esse requisito é a chave para a compreensão da essência da relação deemprego. Ao afirmar que o trabalho subordinado, pessoal e oneroso passa a ser umcontrato de trabalho se a atividade for “não eventual”, o art. 3º sedimentou as bases para oconteúdo da habitualidade – aquilo que se repete, de maneira razoavelmente esperada.

4. Com efeito, repetição esperada não significa repetição cotidiana. Neste sentido,merece elogio a reforma de 2017, que, por vias indiretas, pretende albergar no direito dotrabalho as atividades repetitivas não cotidianas. O conceito de habitual não sofrealteração, se o entendermos, desde logo, como um fato frequente e reiterado,independentemente da quantidade de “horas, dias ou meses”, tal como propõe o art. 443, §3º. Praticamente desaparece a linha de defesa concentrada no caráter espaçado ouepisódico da prestação dos serviços.

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5. Entretanto – e sempre há uma conjunção adversativa na reforma de 2017 – o art.452-A oficializa não somente o “bico”, mas também o contrato-zero. Causou furor ocontrato-zero quando alguns países, como a Inglaterra, o instituíram e, de fato, mal sepodia imaginar que a legislação brasileira fosse incorporar esse conceito extremamentecontrovertido de manter empregados registrados sem assegurar salário nem trabalho. Aideia do art. 452-B nada mais é do que a elaboração de um cadastro com os dados doempregado para, se houve trabalho, ele ser acionado, mas sem o compromisso de serchamado e sem o compromisso de atender ao chamado. O legislador se cercou de várioscuidados, afirmando que o chamado é opcional e que a recusa é lícita e não macula oconceito de subordinação. Mas o âmago do dispositivo está no § 5º, que afirmacategoricamente que o período desprovido de chamado não é tempo à disposição doempregador e, portanto, não assegura salário, benefícios ou encargos.

6. A figura é assustadora porque poderá resolver os índices de desemprego do Brasilsem que as pessoas tenham renda assegurada (nem vamos falar de dignidade assegurada,pois isso já seria ir longe demais). Suponha, por hipótese, que um buffet costuma ter vagapara 20 garçons extras em eventos de finais de semana, e, para sair da zona cinzenta emque se encontra no campo trabalhista, faça cadastro com 100 garçons e os contrate sob amodalidade do contrato-zero. Esses 100 garçons estarão no rol das pessoas empregadas –com registro em carteira – mas até as mesas do salão já sabem que não haverá espaço paraas cem pessoas de uma só vez. O propósito do registro é apenas blindar a empresa daalegação de mão de obra clandestina e facilitar a comunicação com os garçonscadastrados. Juridicamente, não há proibição à recusa dos chamados, diz o § 3º, mas naprática ninguém duvida dos prejuízos assumidos pelo empregado que reiteradamentedeclinar do convite porque já se encontra em outra atividade que o prestigia maisfrequentemente. Ele pode deixar de ser chamado ou pode ser tratado com mais rigor doque os parceiros. A lei propõe que a empresa possa lhe pagar zero ao final do dia, dasemana, do mês e do ano, pelo fato de que não houve aproveitamento de sua mão de obra.Claro que quem não trabalha nada deve receber, mas o espantoso nesta norma, repita-se,é autorizar a existência de um contrato de trabalho zerado, quando isso, na verdade, não éum contrato de trabalho. Parece que a norma foi construída para deixar juízes e fiscais dotrabalho reféns de uma situação construída no papel: basta que a empresa exiba ocontrato-zero, sob a forma escrita, que ele deixa de ser apenado. Não se consegue prever,neste momento, qual será a reação da jurisprudência sobre a constitucionalidade docontrato-zero, mas temos algumas pistas para seguir.

7. O conceito de salário-mínimo dificilmente se coaduna com o contrato-zero, porquesubmete ao trabalhador a um fator aleatório imponderável. Amarrado ao contrato-zero,ele não pode pleitear o seguro desemprego e ao mesmo tempo não sabe se terá renda oubenefício previdenciário.

8. Feitas essas considerações, vejamos algumas das exigências formais para acelebração e para o desenvolvimento do contrato de trabalho intermitente (art. 452-A, §§1º a 9º):

a) a forma escrita é obrigatória;

b) ajuste à base do salário-hora, para que possa ser aferida com mais clareza acomparação ao salário-mínimo e, sobretudo, ao salário pago pelos trabalhadores efetivos,com carga integral, que atuam no mesmo estabelecimento; cria-se aqui uma figura desalário análogo de grande relevância para discussões futuras e para evitar precarizaçãomaior do que a intermitência já denuncia;

c) o empregador deverá convocar o empregado para a prestação de serviços com 3 diasde antecedência (§ 1º) e este poderá recusar o convite em até 1 dia (§ 2º);

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d) entende-se que a recusa é válida e não macula a subordinação jurídica inerente aocontrato de trabalho (§ 3º), mas essa afirmação subverte décadas de entendimentodoutrinário, jurisprudencial e legal de que o empregado deve se submeter ao poderdiretivo do empregador e não escolher quantas e quais atividades desempenhará; essetalvez seja um dos dispositivos de maior estranhamento em toda a reforma trabalhista de2017 e não será surpresa se ele vier a ser contestado nos tribunais, sob a alegação de que afigura é apenas uma maquiagem de um contrato de trabalho, cuja essência não é umcontrato de trabalho e não deveria servir de escudo para práticas escusas, como arotatividade de mão de obra barata ou a custo zero;

e) há a criação de multa pecuniária para o empregado que faltar ao chamado, no valorde metade da diária a que teria direito se houvesse comparecido (§ 4º); por se tratar decontrato precário e com rendimentos baixos, a indenização de metade da diária a ser pagaao empregador parece também bastante ousada por parte do legislador e certamentehaverá embaraços quando ele pretender cobrá-la; por exemplo, não está claro se ele podereter da próxima diária o valor da multa pela ausência em dia anterior, porque, nestecaso, ele estará retendo nada menos do que 50% da paga o empregado;

f) se o empregado comparecer e não houver serviço no dia aprazado, ele terá direito ametade da diária, o que também se mostra injusto para quem, dentre opções derendimento extremamente baixo, deixou outra oferta por acreditar que o chamado dedeterminada empresa era verdadeiro;

g) embora a lei não diga expressamente, há direito ao vale-transporte para odeslocamento do empregado, inclusive para esse dia em que o chamado não seconcretizou, conforme se extrai da legislação aplicável (Lei 7.418/1985); por muito menosmotivo, assegurou-se o direito ao vale-transporte para os trabalhadores avulsos que sedeslocam para concorrer a uma vaga;

h) o legislador considera o período sem chamado como uma grande suspensãocontratual, sem salário e sem trabalho (§ 5º), fora do conceito de tempo à disposição doempregador, de modo que são possíveis cenários de dias, semanas, meses e anos semprestação de serviços e sem encargos; não ficou claro como a Previdência Social encaixaráesse contrato e como calculará benefícios previdenciários, porque ela possui o salário-mínimo como piso e para todos os efeitos essas pessoas são empregadas ativas;

i) a ideia do legislador é que a diária seja paga ao final do expediente, se os bicos foremesparsos, ou ao final da semana ou do mês, se forem mais regulares; a expressão utilizadaé pagamento “ao final de cada período de prestação de serviço” (§ 6º); não se pode admitirque essa expressão, contudo, represente final de bimestre ou de trimestre, porque a CLTveda pagamento em base superior ao módulo mensal e limita o pagamento ao quinto diaútil do mês subsequente ao da prestação dos serviços (art. 459, parágrafo único);

j) o pagamento da remuneração deve ser acrescido de um sexto para fazer frente aodescanso semanal remunerado, 1/12 para fazer frente ao décimo terceiro e 1/12 para fazerfrente às férias com um terço (§ 6º); mal comparando, é como se fosse uma antecipação do13º e das férias, porque não se sabe se aquele foi o último trabalho do ano, de toda sorte; osistema é realmente especial e contraria todos os ensinamentos desses benefíciostrabalhistas, que nunca puderam ser antecipados para se evitar a banalização e oembutimento dos valores no cálculo do salário-base;

k) o recibo deve discriminar cada um dos títulos pagos (§ 7º);

l) sobre os pagamentos efetuados incidem os encargos conhecidos, como o fundo degarantia e a contribuição social (§ 8º); sobre os meses sem pagamento, não há

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recolhimentos mínimos, de modo que o financiamento da Previdência fica comprometido;a novidade está, também, na obrigatoriedade de fornecimento ao trabalhador doscomprovantes de recolhimento desses dois encargos; em geral, o empregador não fornececópia da guia social aos empregados;

m) há previsão para gozo de férias anuais, pois esse direito está assegurado na CF (art.7º, XVII), mas o legislador, no particular, admite que as férias sejam desprovidas depagamento; o empregado entrará em descanso por um mês (o que pode ser superior ao 30dias previstos para os demais trabalhadores), mas não tem assegurada nenhumaremuneração, exceto a média dos dias trabalhados no ano anterior; é duvidosa aconstitucionalidade das férias gozadas não remuneradas, pois a norma constitucional éexpressa ao se referir a gozo de férias anuais remuneradas;

n) não há previsão para abatimento das férias em caso de faltas do empregado, ou serecusa ao chamado ou de não comparecimento nos dias de chamado confirmado; fala-seapenas em um mês de férias anuais (§ 9º); tampouco se fez menção a férias dobradas, masseu conceito pode ser aplicado analogamente (art. 137 da CLT); também nos posicionamosfavoravelmente à aplicação da conversão de um terço das férias em pecúnia (art. 143),caso haja valor a ser abonado, evidentemente.

FIQUE DE OLHO: O contrato de trabalho intermitente tem potenciais inesgotáveis deprecarização do trabalho e, ao lado da liberação da gestante para ambientes insalubres,

representou a pedra no sapato do governo que não queria nenhuma discussão no Senado Federal.Mas a grita fazia todo sentido, pelo quadro nebuloso que o art. 452-A enseja. O contrato

intermitente pode ter se expandido em países como a Inglaterra, mas em contextos sociaiscompletamente diferentes do brasileiro, em que o subemprego é tão ou mais significativo do queo emprego. Vários estudiosos enxergaram cenários terríveis, em que a taxa de desemprego podecair drasticamente, mas de maneira artificial, com várias pessoas tendo vários contratos zerados.E o empregado ainda pode sofrer penalidades em dinheiro, ficar atrelado a contrato sem futuro e

perder oportunidades de emprego duradouro.

Agrava ainda mais a situação o fato de sua disciplina ter sido imposta por projeto de leique não permitiu a negociação durante sua tramitação, como é natural.

Os riscos de pendência jurídica são enormes. Não sei qual advogado vai orientar ocliente a fechar uma centena de contratos intermitentes e, depois, ser acionado até pelosperíodos de ociosidade. A lei, tal como redigida, corre o risco de não pegar, como se diz noBrasil.

Por esses motivos, o próprio governo federal se manifestou publicamente, ele próprio,favorável à completa revisão do art. 452-A, antes mesmo de sua entrada em vigor. Nãoserá surpresa se parte dele for revogada e outros dispositivos forem inseridos,especialmente sobre os seguintes assuntos, que clamam por maior clareza:

• possibilidade de negociação coletiva para limitar ou inibir os intermitentes;

• direito ao adicional noturno;

• restrição à multa pecuniária para quem faltar ao trabalho (possívelrevogação do § 4º);

• melhor definição do conceito de inatividade (revogação ou aprimoramentodo § 5º);

• exigência do recolhimento da contribuição previdenciária patronal e doempregado ao mesmo tempo, pois não se trata de autônomo (revogação ou

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aprimoramento do § 8º);

• respeito à periodicidade mensal, como intervalo máximo para pagamento dasdiárias, dado que no Brasil não é permitido o salário bimestral ou trimestral, eesse art. 452-A deixou brechas para isso (necessidade de enxerto de parágrafoexplicativo);

• vedação total à exigência de exclusividade, que seria absurda num contratoem que não se garante nenhum real ao fim do mês; deve ser respeitado atémesmo o direito de trabalhar para a concorrência, o que é bastante razoável, porexemplo, para um garçon sujeito ao contrato-zero;

• o direito de calcular a média salarial apenas com base nos meses trabalhados,sob pena de a média chegar perto de zero ou a valores irrisórios; se, digamos, aolongo do ano o trabalhador foi acionado apenas 4 meses, por exemplo, a médiadeve ser a soma dos salários dividida por 4 e não dividida por 12;

• direito ao aviso-prévio necessariamente indenizado, porque seria inexequívelpedir que ele vá para casa duas horas mais cedo ou falte sete dias consecutivosnum contrato sem jornada de trabalho;

• fixação de algum teto máximo de permanência sem ser chamado; além de serzero, o contrato não pode ser eterno; o governo federal sinaliza favoravelmente aum ano de prazo máximo para o empregador manter o contrato-intermitente nagaveta;

• fixação de quarentena, para o empregado não ser contratado comointermitente por várias vezes seguidas; o governo promete quarentena de 18meses;

• é certo que pode haver rescisão por justa causa mesmo no sombrio universodo contrato de soma-zero, pois tanto o empregado quanto o empregador podemcometer faltas graves (arts. 482 e 483 da CLT); como o pedido de demissão e arescisão sem justa causa são muito nebulosas num ambiente em que não setrabalha e não se recebe, o governo federal promete estender para o trabalhadorintermitente a recém-criada figura da rescisão por comum acordo (art. 484-A), aqual, em suma, representa: direito às verbas rescisórias em geral, sendo metadedo aviso-prévio indenizado, metade da multa de 40% sobre o fundo de garantia,saque imediato de 80% do fundo de garantia e não acesso ao seguro-desemprego.

 

Art. 456-A. Cabe ao empregador definir o padrão de vestimenta no meio ambiente laboral,sendo lícita a inclusão no uniforme de logomarcas da própria empresa ou de empresas

parceiras e de outros itens de identificação relacionados à atividade desempenhada.

Parágrafo único. A higienização do uniforme é de responsabilidade do trabalhador, salvonas hipóteses em que forem necessários procedimentos ou produtos diferentes dos

utilizados para a higienização das vestimentas de uso comum.

1. No bojo da disciplina do contrato de trabalho, o legislador de 2017 traz matériainédita à CLT, que vem a ser a disciplina do uso do uniforme. Basicamente são três asdiretrizes novas: a) reafirmar-se a obrigatoriedade do uso do uniforme, caso haja essadeterminação por parte da empresa, como um elemento inserido no âmbito do poderdiretivo; já havia julgados favoráveis ao empregador a respeito, mas vez por outra secontestava o alcance dessa determinação; b) admite-se a presença de propaganda,logomarca e outros elementos associados ao empregador ou empresas parceiras; c) é do

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trabalhador o custo da lavagem e manutenção dos uniformes, ressalvados casosespecíficos que exijam produtos diferentes do uso comum (vestimentas em contato comelementos radiativos, agrotóxicos e o mais).

2. O uso do uniforme propriamente dito não deverá despertar debates porque assim jávinha sendo feito e julgado pela Justiça do Trabalho. O uniforme, porém, deve serutilizado como forma de padronização e de boa apresentação dos empregados peranteclientes e fornecedores, jamais para exposição ao ridículo ou para o constrangimento.Assim, não se inserem no conceito de uniforme a determinação para que os empregadosusem fantasias de super-heróis, como certa vez uma companhia aérea impôs aosempregados dentro de uma vasta campanha publicitária, nem para que os empregadostrabalhem em trajes sumários ou sem as vestes acima da cintura, como de vez em quandose anuncia em algumas redes de lanchonetes estrangeiras que tentam adotar esse modelono Brasil. A exposição ao constrangimento é vedada em diversos dispositivos da CF e doCC, não estando ao alcance da CLT dispor sobre a dignidade do ser humano.

3. Não confundir uso de uniforme com uso da imagem do empregado para finspublicitários. O uso da imagem do trabalhador, para fins comerciais, é bastante restrito,depende de sua autorização prévia e de indenização em dinheiro, segundo art. 20 do CC.

4. Não podemos ter certeza de que a Justiça do Trabalho manterá intacto o art. 456-A,parágrafo único, tal como aprovado pela Lei 13.467/2017, porque, de certa forma, ahigienização do uniforme por conta do empregado lhe transfere parte dos custos daprodução e dos riscos da atividade econômica. Também poderá haver atritos quanto aonível de limpeza que o empregador espera ver nos uniformes dos empregados. Algunsconjuntos de roupas padronizadas são bem simples, como um jaleco ou uma blusadistintiva da empresa, mas há vários outros conjuntos de difícil manutenção, que incluemmacacões, botas, lenços e adesivos. Por fim, vale lembrar que seguem intactas as normasde saúde do trabalho que determinam correr por conta do empregador a limpeza e amanutenção dos equipamentos de proteção individual (EPIs - NR 6). Colete a prova debalas, jaqueta térmica, capacetes e botas de borracha são EPIs e não uniformes.

Art. 457 ................................................................................

§ 1º Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as comissõespagas pelo empregador.

§ 2º As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prêmios e abonosnão integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e

não constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário.

..........................................................................................................

§ 4º Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens,serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de empregados, em razão dedesempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades.

1. A reforma trabalhista condensou a redação do art. 457, § 1º, e expandiu a redação doart. 457, § 2º. Havia uma razão de ser no § 1º, que, em suas palavras simplórias, procuravaexplicar que salário é todo pagamento feito pelo empregador, de maneira habitual,independentemente da nomenclatura utilizada. Para assumir a natureza salarial, ésuficiente que o pagamento seja feito com habitualidade e a fonte da renda seja oempregador. Assim, diferencia-se da gorjeta, por exemplo, que é pagamento feito porterceiros, e das indenizações e ressarcimentos, que são ocasionais ou que não servem paracontra-prestar serviços efetuados. A reforma propõe que salário seja apenas aimportância fixa estipulada (também chamada de salário-base ou de ordenado) e as

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comissões pagas em algumas categorias, como vendedores. Mas será indispensável que oart. 457, § 1º, continue a ser interpretado como um rol meramente exemplificativo, ouseja, além desses dois elementos (ordenado e comissões), há numerosas outras parcelas denatureza salarial, sejam elas fixas, sejam elas condicionais (como os adicionais deinsalubridade e de periculosidade). Neste sentido, não houve na Lei 13.467/2017 mudançaflagrante, mas apenas uma reforma na redação que pode gerar incompreensões.

2. A principal novidade está na nova redação do art. 457, § 2º, pois ele pretendeefetivamente retirar a natureza salarial de algumas parcelas que, de outra maneira,seriam salariais. A mais eloquente é o vale-refeição. Neste particular, será preciso,doravante, fazer duas leituras: o vale-refeição pago em dinheiro, segundo o § 2º, passa ater natureza indenizatória (antes, era salarial) e o vale-refeição pago em tíquetesconveniados com empresas do ramos continuam a ter a natureza indenizatória eproporcionam dedução dos gastos no imposto de renda da pessoa jurídica. Esse benefíciotributário fica sendo a única diferença entre os dois modelos da vale-refeição. O legisladorde 2017 foi extremamente ousado ao admitir o vale-refeição em dinheiro, algo combatidona reforma de 1976 e vetado pela Presidência da República na reforma de 2001 (ao art.458), porque é porta aberta para a fraude. Ao invés de o empregador admitir empregadocom salário de 2.000 reais, poderá contratar por 1.000 reais (em não havendo piso dacategoria acima desse valor, claro está) e dizer que os outros 1.000 reais são vale-refeição,desonerado dos encargos como FGTS, contribuição social e, ainda, sem incidência emférias e 13º. Ainda vamos ouvir falar muito em vale-refeição nos próximos anos, compessoas recebendo 20, 30, 50 ou 100 reais por dia para a alimentação, num súbitoencantamento com esse benefício, que caminhava para o ostracismo.

3. Havia uma forma simples para se tentar estabelecer um parâmetro para combate àsfraudes, que não tardarão a ocorrer: adotar o patamar de 50% do valor do salário-basecomo forma de presunção relativa de fraude, tal como se faz para diárias de viagem eajudas de custo de que cuidam o art. 457, § 3º, mantido incólume pela Lei 13.467/2017.Assim, o pagamento de R$ 5.000,00 de salário e R$ 1.000,00 de vale-refeição não gerapresunção de fraude, cabendo ao trabalhador demonstrar essa irregularidade, se houve,ao passo que um pagamento de R$ 1.000,00 de salário e, a seu lado, 1.000 ou 2.000 ou 5.000reais de vale-refeição já nasce com a presunção relativa da fraude, cabendo aoempregador, neste caso, demonstrar que a situação era regular devido ao elevado custo darefeição naquele local, por exemplo. Outras técnicas mais trabalhosas, como aferir o custode vida e o custo médio dos restaurantes populares da região, poderão ser utilizadas, maso fato é que essa novidade deixará muitos pontos vulneráveis e inseguros - de parte aparte.

4. Diárias de viagem e abonos também seguiam o mesmo raciocínio de presunçãorelativa de licitude, quando em valores abaixo de 50% do salário, e presunção relativa defraude, quando em valores acima de 50%, neste caso por ainda mais razão diante do queconsta do art. 457, § 3º. A doutrina clássica as chamava, respectivamente, de diáriaspróprias e diárias impróprias, o que, ao fim e ao cabo, é apenas uma questão de presunçãoprocessual, haja vista que não se poderia trabalhar com conceitos fechados de fraude oude licitude em qualquer hipótese. Basta imaginar um trabalhador de baixo salário comaltas necessidades de deslocamento e pernoites, bem assim um alto executivo commobilidade restrita e alimentação disponível na própria empresa.

5. Ocorre que a nova redação do art. 457, § 2º, além de ter oficializado o vale-refeiçãopago em dinheiro, eliminou a referência ao patamar de 50% para fins de aferição danatureza salarial ou indenizatória das ajudas de custo e das diárias de viagem,embaralhando os conceitos. Como as fraudes não são eliminadas apenas pelas boasintenções do legislador e como a nomenclatura da parcela ou rubrica nunca foram

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determinantes no direito do trabalho para o estabelecimento da natureza jurídica,entendemos que o debate continuará a ocorrer e que, talvez, o patamar de 50%,conquanto não mais previsto em lei, possa ser útil para dirimir controvérsias e paraseparar o joio – diárias fraudulentas, feitas apenas para escapar dos encargos – do trigo –diárias autênticas, pagas para fazer frente aos gastos com deslocamentos dos empregados.

6. Dispositivo da lei previdenciária, que mandava tributar toda a ajuda de custoexcedente de 50% do salário, foi revogado pela reforma trabalhista no mesmo contexto –art. 28, § 8º, “a”, da Lei 8.212/1991.

Art. 458..................................................................

.........................................................................

§ 5º O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio ounão, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos,

próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e outras similares, mesmo quandoconcedido em diferentes modalidades de planos e coberturas, não integram o salário do

empregado para qualquer efeito nem o salário de contribuição, para efeitos do previsto naalínea q do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.

1. A inserção do § 5º ao art. 458 tem efeitos moderados e poderá passar despercebidana maioria dos contratos de trabalho, porque, de certa forma, era o que já constava, desde2001, na redação do § 2º, IV, a saber, a desoneração dos valores pagos a título de"assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde". O que se pode dizer é que a redação do § 2º, IV, é sintética e a redação do § 5º éanalítica, contendo detalhes sobre o fornecimento de benefícios assistenciais voltadospara a área da saúde do trabalhador e de seus dependentes. Por certo, o § 5º objetivafechar alguns gargalos que ficaram abertos em processos trabalhistas ou em matériaprevidenciária.

2. No mesmo raciocínio, a reforma trabalhista imprimiu nova redação ao art. 28, § 9º,“q”, da Lei 8.212/1991, para que também os encargos previdenciários deixem de incidirsobre essas parcelas não salariais (art. 4º, Lei 13.467/2017).

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Art. 461 Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmoempregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem

distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade.

§ 1º Trabalho de igual valor, para os fins deste Capítulo, será o que for feito com igualprodutividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo deserviço para o mesmo empregador não seja superior a quatro anos e a diferença de tempo

na função não seja superior a dois anos.

§ 2º Os dispositivos deste artigo não prevalecerão quando o empregador tiver pessoalorganizado em quadro de carreira ou adotar, por meio de norma interna da empresa ou denegociação coletiva, plano de cargos e salários, dispensada qualquer forma de homologação

ou registro em órgão público.

§ 3º No caso do § 2º deste artigo, as promoções poderão ser feitas por merecimento e porantiguidade, ou por apenas um destes critérios, dentro de cada categoria profissional.

..........................................................................................................

§ 5º A equiparação salarial só será possível entre empregados contemporâneos no cargo ouna função, ficando vedada a indicação de paradigmas remotos, ainda que o paradigma

contemporâneo tenha obtido a vantagem em ação judicial própria.

§ 6º No caso de comprovada discriminação por motivo de sexo ou etnia, o juízo determinará,além do pagamento das diferenças salariais devidas, multa, em favor do empregado

discriminado, no valor de 50% (cinquenta por cento) do limite máximo dos benefícios doRegime Geral de Previdência Social.

1. A equiparação salarial não poderia ser suprimida da CLT pela reforma de 2017 poisisso desafiaria o conceito de isonomia oriundo do art. 5º da CF. Então, o legislador cuidoude fazer alguns ajustes que, no conjunto, tendem a restringir drasticamente a concessãodessa diferença salarial em sede de processo judicial trabalhista. Destacamos basicamentecinco mudanças.

2. O paradigma deve trabalhar no mesmo estabelecimento empresarial, dispõe o caput,o que representa uma nova etapa na concepção da equiparação salarial. Até então, anorma afirmava ser suficiente o trabalho na mesma localidade, expressão interpretadacomo mesmo município pela jurisprudência do TST (Súmula 6, X, que talvez tenha de sermodulada). Considerando-se que a palavra estabelecimento tem sua acepção ligada, nodireito comercial, ao ponto comercial ou aviamento, entendemos que o legislador quisdizer filial, sucursal ou agência. Certamente haverá pressão dos advogados e dosempregados para que a expressão não seja encarada de modo restritivo, sob pena deinviabilidade de toda e qualquer equiparação salarial. Bastaria que o empregadormantivesse um único empregado de cada função em cada filial; o TST já deu pistas de quelida com o conceito de presunção relativa, podendo o empregado fazer prova de que duasfiliais tinham realidades iguais ou, ao revés, o empregador pode tentar fazer prova de quena mesma filial havia setores com realidades bem diferentes. Assim sendo, a expressãoestabelecimento representaria apenas um parâmetro básico para o início da discussãosobre o local em que trabalhava o paradigma.

3. A partir da reforma, exige-se que o paradigma tenha menos de 4 anos de empregoem relação ao empregado queixoso. Sempre se levou em consideração o prazo de doisanos de diferença de tempo na função, como presunção absoluta – aquela que não admiteprova em sentido contrário – de que a antiguidade do paradigma tenha lhe proporcionadomelhor experiência e melhor habilidade na execução daquelas tarefas, ainda que eletenha parado no tempo ou não tenha buscado a prosperidade. Agora, a reforma introduzum novo elemento de presunção absoluta: afora o tempo na função, o paradigma tambémdesfruta de presunção absoluta de melhor destreza se tiver mais do que quatro anos decontrato de trabalho com o empregador. Não se trata de habilidade na função específica,

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mas da soma dos conhecimentos acumulados no convívio com a empresa, clientes,fornecedores e colegas de trabalho. Ele não serve mais como paradigma para todo equalquer colega contratado mais de quatro anos após sua admissão, pela nova regra desenioridade. A Súmula 6, II, do TST, terá de ser modulada.

4. Exige-se, também, que o paradigma seja contemporâneo ao empregado quereivindica o aumento salarial. Esse entendimento já era defendido em muitos julgadostrabalhistas, mas o TST, em meio a numerosos argumentos, passou a admitir parcialmenteo conceito de equiparação em cadeia ou em cascata, em que o salário de uma pessoamajora o salário de outra e assim sucessivamente, até que tempos depois tenha havido oaumento sequencial de tantas pessoas que a última não conhece a primeira, não conviveucom ela e não mantém o traço de dois anos de diferença na função. Neste sentido, aSúmula 6, VI, b, terá de ser revista. Todavia, segue intacto o entendimento da Súmula 6, IV,quanto à desnecessidade de paradigma e reclamante estarem em atividade à época doajuizamento da ação trabalhista. A Justiça do Trabalho é sabidamente a justiça dosdesempregados, não sendo crível que a expressão “paradigma contemporâneo” sejainterpretada como paradigma da época da distribuição da ação. O contemporâneo estádiretamente ligado ao contrato de trabalho do reclamante.

5. Algumas empresas estipulam quadro de carreira em seus domínios, a fim de tornarprevisíveis e transparentes os processos de ascensão funcional. Havia a exigência dehomologação do quadro perante o Ministério do Trabalho, sobretudo para fins depublicidade e de inibir recuos ou desvios por parte do empregador. A reforma prescindeda homologação do quadro (§ 2º). Desburocratiza, de fato, o procedimento deimplementação dos quadros, mas não deixa claro como deverá ser feita a publicidadeidônea nem a aferição dos requisitos mínimos do quadro. O tempo dirá como ajurisprudência irá enfrentar o tema dos quadros pouco divulgados, mantidos em sigilopelo empregador ou desvirtuados. Outrossim, a nova redação do art. 461 observa que aalternância de antiguidade e merecimento se faz dentro de cada categoria profissional, seassim o quadro estiver dimensionado, e não obrigatoriamente na soma total dosempregados da empresa (§ 3º).

6. As modalidades alternativas de planos de cargos e salários passam a ser válidascomo mecanismo de inibição dos pedidos de equiparação salarial, ou seja, basta que aempresa demonstre ter políticas internas de desenvolvimento pessoal para afastar asalegações de discriminação ou de desvalorização do empregado. O plano pode terfundamento em negociação coletiva ou simplesmente em regulamento interno daempresa (§ 2º), vinculando-a por prazo indeterminado.

7. Demais questões enfrentadas pela Súmula 6 do TST foram mantidas intactas, a saber,(a) a irrelevância da nomenclatura do cargo, (b) a possibilidade de equiparação salarialem caso de cessão de empregados no âmbito da administração pública, contanto quepreenchidos os demais requisitos, (c) possibilidade de equiparação salarial entre trabalhosintelectuais, (d) ônus probatório preferencialmente do empregador e (e) aplicação daprescrição quinquenal.

Art. 468.

§ 1º ..........................................................................................

§ 2º A alteração de que trata o § 1º deste artigo, com ou sem justo motivo, não assegura aoempregado o direito à manutenção do pagamento da gratificação correspondente, que não

será incorporada, independentemente do tempo de exercício da respectiva função.

1. Em realidade, a reversão do empregado ao cargo efetivo, após ter ocupado função dechefia, cargo comissionado ou postos de natureza equivalente, já estava prevista na CLT.

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Nem mesmo estabilidade o empregado conquistava, à época em que vigorava o regime dagarantia de emprego após dez anos de casa (art. 499, § 1º). Embora todos os empregadosmereçam a confiança do empregador, diz-se que os bancários estão num patamar maiselevado de fidúcia, por causa da redação do art. 224, § 2º, e que os exercentes de cargo dechefia se encontram no patamar máximo de ligação com o empregador (art. 62, II). Adoutrina clássica se referia aos empregados em chefia como o alter ego do empregador, ooutro lado da mesma personalidade, conforme discorremos no capítulo alusivo a esseregime de trabalho no Volume 2 – Jornadas e Pausas. Assim, não se poderia exigir, de todasorte, que o empregador mantivesse “seu outro eu” ou sua longa mão à revelia de suasconcepções e ao arrepio dos padrões básicos de confiança. Abalada a relação entre ambos,está encerrada aquela oportunidade. O empregado normalmente é dispensado.

2. Ocorre, porém, que em muitos empreendimentos de grande porte, especialmenteinstituições financeiras, a dispensa não é o único caminho nem o melhor. Essesempregados possuem larga experiência acumulada e podem ser aproveitados emnumerosos outros setores e tarefas. A perda da confiança pode, afinal, não ter decorridode atos de improbidade ou de perda da boa fama do empregado, mas de simplesinadequação para determinada posição, falta de espírito de liderança ou inabilidade paralidar com alguns segmentos do conglomerado. Daí por que surge a discussão se oempregado faz jus a algum ressarcimento ao retornar ao chamado cargo efetivo ou cargode origem.

3. A resposta é negativa. Assim já vinha entendendo parcela expressiva dajurisprudência. A dúvida maior surgia quando o período de permanência do empregadona função comissionada havia se estendido por prazos muito longos, como 10 ou 20 anos.Foi então que a Súmula 399 do TST desenvolveu o conceito de estabilidade financeira,capaz de proteger esse empregado. O problema não está tanto no conceito de cargo deconfiança quanto está no fator temporal. Na década de 1970, também as horas extrasprolongadas por longo espaço de tempo eram incorporadas ao salários, a fim de que fosserespeitado o equilíbrio financeiro do contrato (Súmula 76, ora cancelada), entendimentoesse que o TST flexibilizou para passar a prever apenas uma indenização pecuniária, pagade uma só vez, pela supressão das horas extras (Súmula 291).

4. A redação dada aos §§ 1º e 2º objetiva esvaziar a Súmula 399, que provavelmenteterá de ser modulada, deixando claro que (a) a reversão pode ocorrer a qualquermomento e (b) nenhum direito adquirido assistente ao empregado, nada obstante terpermanecido por 10 ou mais anos na posição de chefia.

5. A fim de facilitar a retirada da gratificação de função – a qual, diga-se de passagem,nem ao menos é obrigatória, mas apenas consagrada pela praxe – é comum as empresasnão incorporarem o valor ao salário, como se fora um reajuste salarial, porque depois ficadifícil distinguir o que era o salário-base daquilo que passou a ser o incrementoremuneratório pelo aumento de responsabilidade. Mais simples é o procedimento de criaruma rubrica ou parcela em separado e, quando da reversão, suprimi-la. Esta parcelacomparece, portanto, no rol das espécies de salário-condição, a saber, salários pagosapenas em enquanto perdurar a condição que o fundamenta. Retirada a fonte deinsalubridade, cai o direito ao adicional de insalubridade; retirada a posição de chefia, háperda do direito à gratificação pelo exercício do cargo de confiança.

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Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o empregador deverá proceder à anotação naCarteira de Trabalho e Previdência Social, comunicar a dispensa aos órgãos competentes e

realizar o pagamento das verbas rescisórias no prazo e na forma estabelecidos neste artigo.

§ 1º (Revogado).

..........................................................................................................

§ 3º (Revogado).

§ 4º O pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado:

I - em dinheiro, depósito bancário ou cheque visado, conforme acordem as partes; ou

II - em dinheiro ou depósito bancário quando o empregado for analfabeto.

..........................................................................................................

§ 6º A entrega ao empregado de documentos que comprovem a comunicação da extinçãocontratual aos órgãos competentes bem como o pagamento dos valores constantes do

instrumento de rescisão ou recibo de quitação deverão ser efetuados até dez dias contados apartir do término do contrato.

a) (revogada);

b) (revogada).

§ 7º (Revogado).

..........................................................................................................

§ 10. A anotação da extinção do contrato na Carteira de Trabalho e Previdência Social édocumento hábil para requerer o benefício do seguro-desemprego e a movimentação da

conta vinculada no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, nas hipóteses legais, desde quea comunicação prevista no caput deste artigo tenha sido realizada.

 

1. A redação do art. 477 foi bastante simplificada, com perdas e ganhos para ostrabalhadores. Parece bastante simples o novo procedimento de considerar suficiente aapresentação da carteira de trabalho, com a data da saída anotada pelo empregador(baixa na carteira), como documento hábil para saque do fundo de garantia e do seguro-desemprego (§ 10), mas de nada adiantará esse comando se os órgãos públicos nãoajustarem rapidamente seus procedimentos, protocolos e sistemas operacionais. Osprimeiros trabalhadores que reivindicarem esse direito certamente conhecerão algumasperplexidades.

2. O caput do art. 477 mudou radicalmente, mas em tempos de fundo de garantia talvezninguém note o desaparecimento da redação anterior. Até a reforma de 2017, a cabeça doartigo não era propriamente uma norma sobre rescisão contratual ou sobre homologaçãode verbas, mas uma determinação a que todos os empregados desligados por iniciativa doempregador fizessem jus a uma indenização. O cálculo desse valor aparecia em outrosdispositivos, como os arts. 478 e 492, mas ali estavam lançadas as bases. Havia até mesmoestranhamento pelo fato de que, ao longo dos anos, vários parágrafos foram enxertadosnesse artigo, sem correspondência com o tema por ele tratado. Doravante, o art. 477 dizrespeito unicamente à rescisão e procedimentos concernentes.

3. Importante frisar que, de uma vez por todas, o legislador consagra a palavra“rescisão” como representativa da terminação do contrato de trabalho. Nem sempre foiassim. A doutrina clássica sustentava, com veemência, que rescisão era apenas amodalidade de extinção contratual decorrente de força maior. Para as extinçõesdecorrentes de iniciativa do empregador, sem razões graves, usava-se a expressãoresilição – e, via de consequência, verbas resilitórias. Para as terminações decorrentes de

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justa causa do empregado, preferia-se o termo resolução – donde a expressão verbasresolutórias. São termos muito conhecidos do direito civil e do processo civil – “açãorescisória”, “resolver um contrato”, “resilir um negócio”. A CF, em passo mais acertado,preferiu usar somente o termo genérico “extinção” – por exemplo, art. 7º, XXIX. Com opassar do tempo, passou-se a usar a expressão rescisão para toda e qualquer modalidadede cessação contratual. O documento aprovado pelo Ministério do Trabalho se chama“termo de rescisão do contrato de trabalho”. A reforma empreendida no art. 467 da CLT noano 2001 referiu a expressão “verbas rescisórias” pela primeira vez no corpo da CLT. Em2017, o legislador começa a redação do art. 477 com a referência a verbas rescisórias, semcerimônia. Temos de admitir que no direito do trabalho, assim como em quase todos osramos jurídicos, a praxe pode se sobrepor à erudição.

4. Na esteira das reformas do art. 477, foram expressamente revogados os §§ 1º, 3º e 7º,que obrigavam a homologação sindical ou, na falta deste, por outros órgãos existentes nomunicípio, sempre a título gratuito. A homologação aos poucos perdeu sua importânciaporque podia ser contestada sob diversos enfoques. O TST tentou disciplinar ahomologação, com maior ou menor rigor (Súmula 41, ora cancelada, e Súmula 330, queterá de ser totalmente revista, modulada e talvez cancelada), mas não obteve o êxitodesejado. Não houve consenso sobre a natureza jurídica da homologação, nem mesmoentre as turmas do TST. Se a ideia do legislador era emprestar eficácia liberatória geral aoato de homologação sindical, a norma fracassou ao longo das sete décadas de vigência.Para a reforma trabalhista de 2017, o desaparecimento da homologação era necessárionão somente por razões de desburocratização, mas também para deixar abertas as portaspara a homologação do acordo extrajudicial rescisório na Justiça do Trabalho, sob a formade jurisdição voluntária.

5. A redação do § 4º foi alterada para incluir o meio de pagamento mais utilizadoatualmente, que é a transferência bancária para conta corrente ou conta salário. O textonão diz, mas se espera que o depósito seja feito através das modalidades chamadas TED(transferência eletrônica disponível) ou DOC (documento de transferência), porque, docontrário, o simples comprovante de depósito pode não ter a liquidez necessária, dada ademora para compensação de cheque, a possibilidade de cheque sem provisão e diversasoutras intercorrências que podem ocorrer com os envelopes do autoatendimento. Não serecomenda ao empregador, de toda forma, a utilizar depósitos em cheques ou máquinas,porque o trabalhador pode alegar, com chances de êxito, que foi extrapolado o prazo de 10dias para a quitação. O pagamento tem de ser iniciado e terminado dentro do prazo, nãosomente iniciado no 10º dia e concluído no 12º ou no 13º. Pagamento em dinheirocontinua válido. Há referência ao pagamento em cheque, desde que na modalidadecheque visado, que é garantia de solvência. Ressalvou-se o direito do analfabeto de nãoreceber o pagamento em cheque.

6. O prazo de 10 dias para a quitação das verbas rescisórias também se aplica para aentrega das guias para o fundo de garantia e do seguro-desemprego. Talvez haja umapequena contradição entre o prazo de 10 dias para as guias (§ 6º) e a desoneração daentrega das guias (§ 10), substituídas pela simples baixa na carteira de trabalho. Como alei não contém palavras inúteis, podemos conjugar os dois parágrafos para os extrair duasconclusões: o prazo para a baixa na carteira também passa a ser de 10 dias, pois este atoequivale à entrega de guias, e, alternativamente, as guias podem ser necessárias parapessoas que estão momentaneamente sem a carteira. Há essa possibilidade remotaescondida no art. 13, §§ 3º e 4º, da CLT.

7. O mais chamativo na nova redação do § 6º não é, todavia, a estipulação de prazopara entrega das guias, tema que era debatido pela jurisprudência no bojo do pagamentodas verbas rescisórias. O que deve ser retido pelo leitor é o desaparecimento do prazo de 1

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dia útil, que até então vigorava para os casos de aviso prévio cumprido. O prazo de 10 diasse aplicava aos casos de aviso prévio indenizado, término do contrato a prazodeterminado, pedidos de demissão e o mais. Para as hipóteses de aviso prévio laborado,entendia-se que o empregador tinha de fazer a provisão desde o princípio e, portanto,aplicava-se o prazo exíguo de 1 dia útil. Doravante, todos recebem as verbas rescisórias nomesmo prazo, de 10 dias após o término do contrato. Prefira interpretar esse dispositivocomo 10 dias após a cessação da prestação de serviços, não se projetando o aviso prévioindenizado para, ao depois, computar o prazo, sob pena de frustração do procedimentorescisório e do acesso ao trabalhador do dinheiro necessário para fazer frente ao períodode desemprego.

8. Observe que nada mudou quanto ao § 2º (necessidade de especificação da naturezadas parcelas e dos valores), § 5º (compensação limitada ao valor de um salário doempregado, vedados descontos excessivos no acerto rescisório) e § 8º (multa de um saláriopara o atraso na quitação – pagamento e baixa na carteira, como sustentamos acima).Deixa de ser relevante, portanto, a discussão renhida sobre a aplicação ou não da multaem caso de pagamento feito pelo empregador e demora do sindicato ou do órgãotrabalhista habilitado para promover a homologação das verbas rescisórias.

Art. 477-A. As dispensas imotivadas individuais, plúrimas ou coletivas equiparam-se paratodos os fins, não havendo necessidade de autorização prévia de entidade sindical ou de

celebração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho para sua efetivação.

1. Haverá enorme discussão sobre a constitucionalidade deste dispositivo. Medidasrestritivas às dispensas em massa surgiram a partir da interpretação do art. 7º, I, da CF,conquanto ainda não regulamentado por lei complementar, bem assim da constatação deque o corte coletivo impacta muito além dos contratos de trabalho individualmenteconsiderados, espalhando seus efeitos sobre a sociedade, a cadeira de fornecedores,clientes e prestadores de serviços e também a arrecadação dos impostos locais e nacionais,sobre a renda e o consumo dos trabalhadores afetados.

2. Afora isso, a jurisprudência que se formou na década de 2000 levou em consideraçãoo entendimento mundial no sentido de que, antes da decisão drástica da dispensa emmassa, devem ser envidados esforços para o uso de técnicas de preservação do emprego,muitas delas inseridas ao longo dos anos pela legislação trabalhista. (Embora haja outrosexemplos expressivos nos tribunais regionais, o caso mais emblemático se tornou o daempresa Embraer, cujo recurso extraordinário, aliás, foi admitido à apreciação do STF,ainda pendente; processo autuado sob nº 309/2009-000-15-00.4). Do contrário, não fariasentido que as normas houvessem se empenhado para trazer para o ordenamentobrasileiro:

• o uso do banco de horas para enfrentamento da sazonalidade (art. 59 e ss.);

• o uso de férias coletivas, sem necessidade de aviso com 30 dias deantecedência, como forma de redução de estoques (art. 139);

• a autorização para conversão de contrato de carga integral de jornada paracontrato a tempo parcial (art. 58-A);

• a suspensão temporária do contrato de trabalho, com a assunção pelos cofrespúblicos, do pagamento de parte do seguro-desemprego, mesmo sem a rescisãocontratual, na expectativa de que a empresa se recupere da crise aguda (art. 476-A, todos da CLT);

• a redução salarial (art. 7º, VI, da CF), coonestada pela própria reforma

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trabalhista (art. 611-A, § 3º, da CLT);

• a adoção calculada e negociada de planos de demissão voluntária para oenxugamento de filiais, setores, departamentos ou de toda a organização(referendado pelo STF e, agora, pelo art. 477-B da CLT); e, sobretudo,

• as diversas modalidades de programa de proteção ao emprego, delineadaspela legislação esparsa (Lei 13.189/2015 e suas alterações supervenientes).

3. A discussão reside precisamente em saber se esse microssistema de preservação dospostos de trabalho corresponde a uma mera liberalidade do empregador ou se, ao revés,ele detém a responsabilidade de adotar essas medidas, no todo ou em parte, ou, pelomenos, justificar seu desinteresse. Também será posto em questão se o empenho derecursos e energia das autoridades públicas e o sacrifício de parte da renda e do trabalhodos empregados são elementos consideráveis para a preservação dos empregos ou se sãoapenas movimentações secundárias, em caráter meramente persuasivo e não vinculanteda decisão tomada pelo empregador.

4. A melhor forma encontrada pela jurisprudência, até então, era exigir que a empresaexplicasse perante a entidade sindical por que razão não adotou nenhuma estratégiapreventiva ou paliativa antes de tomar a decisão da dispensa em massa, donde oentendimento de que esta modalidade agressiva de corte de postos de trabalho deveria serpreviamente submetida à negociação coletiva. A redação do art. 477-A, ciente desseentendimento, procura extirpar qualquer necessidade de entendimento sindical. Equiparaas dispensas isoladas àquelas feitas em pequenos blocos – a que chamou de plúrimas – e,ainda, àquelas feitas em larga escala – a que chamou de coletivas – com ou sem ofechamento da filial, do setor ou da empresa como um todo.

5. A reforma perdeu uma oportunidade preciosa de diferenciar a dispensa arbitrária –normalmente associada com atos de retaliação, caprichosas ou fruto de má administraçãoempresarial – das modalidades de dispensa sem justa causa – mundialmente admitidaspara os casos de crise financeira e econômica, bem como alteração de técnica ou detecnologia e inadequação do empregado ao posto de trabalho ou à habilidade esperada.Essa bifurcação aparece com ênfase no art. 7º, I, da CF, e poderia desatar vários nós noordenamento brasileiro, apenando de modo mais severo a arbitrariedade e suavizando oimpacto indenizatório para as dispensas socialmente justificadas – expressão utilizada emoutros países para representar a rescisão inevitável e imprevisível. Até mesmo a multa de40% do fundo de garantia poderia ser reestudada a partir dessa distinção. O mais perto aque chegamos desse tema é a autorização para a dispensa sem justa causa dosrepresentantes de fábrica eleitos pelos colegas (art. 510-D, § 3º), tal como já tivemos para aproteção dos membros eleitos da CIPA (art. 165 da CLT, este, no particular, superado peladicção mais abrangente do art. 10, II, a, do ADCT).

6. Apesar de sua validade ainda estar pendente de julgamento no plenário do STF, aConvenção 158 da OIT, se for aplicada ao ordenamento brasileiro, colide frontalmente coma redação dada ao art. 477-A da CLT, que cede diante do tratado internacional. Hácontrovérsia se a denúncia feita pela Presidência da República respeitou o procedimentodeterminado pela OIT e foi feita em prazo hábil, mas, de toda sorte, seu conteúdo éinequivocamente contrário à liberação da dispensa em massa – especialmente seu art. 13,cujo texto determina que o empregador “oferecerá aos representantes dos trabalhadoresinteressados, o mais breve que for possível, uma oportunidade para realizarem consultassobre as medidas que deverão ser adotadas para evitar ou limitar os términos e asmedidas para atenuar as consequências adversas de todos os términos para ostrabalhadores interessados”.

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Art. 477-B. Plano de Demissão Voluntária ou Incentivada, para dispensa individual, plúrimaou coletiva, previsto em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, enseja quitaçãoplena e irrevogável dos direitos decorrentes da relação empregatícia, salvo disposição em

contrário estipulada entre as partes.

1. A redação do art. 477-B está em sintonia com a decisão tomada, em abril de 2015,pelo Plenário do STF (processo 590415): o PDV, de fato, quita tudo. O fundamento centraldo voto condutor do julgamento constitucional diz respeito ao equilíbrio de armasexistente entre a entidade sindical, de um lado, e o empregador ou outra entidade sindical,de outro lado. Assim sendo, embora o Supremo tenha reiterado que o direito do trabalho émarcado profundamente pela assimetria entre as partes, ressalvou-se que essa máximanão se aplica ao universo sindical. Via de consequência, se a empresa institui umprograma de demissão voluntária internamente, sem maior visibilidade e discussão, pode-se argumentar que o empregado aderiu por temor de revide ou sem explicação sobre seusefeitos. No entanto, se a empresa parte para um PDV de larga escala, com chancelasindical, estampando-o em acordo coletivo, não faria sentido, diz o STF, que se adotassemos mesmos parâmetros de análise das relações individuais subordinadas.

2. Antevendo os efeitos de eficácia liberatória geral, caberia ao sindicato se opor a essanegociação ou exigir maiores contrapartidas para os cortes rescisórios. Que a empresaeliminará postos de trabalho não resta dúvida, porque, do contrário, não iria estudar umPDV em tempos de fartura. O que se propõe com essa figura é uma espécie de simbiose emque ela, de um lado, oferece vantagens rescisórias superiores àquelas previstas pelalegislação, enquanto que o sindicato e os trabalhadores, de outro lado, comprometem-se anão discutir mais os valores e as parcelas, pagos ou não pagos, decorrentes do contrato detrabalho como um todo. Para a empresa passa a ser altamente vantajoso negociar basesmelhores da rescisão – inclusive com prorrogação de benefícios assistenciais muitopreciosos na sociedade brasileira, como o plano de saúde e a cesta-básica – pois, na outraponta, obterá uma rara quitação do passivo trabalhista – ninguém melhor do que ela parasaber o tamanho dos esqueletos guardados.

3. Embora se tratasse de decisão plenária do STF, órgão de cúpula do Judiciáriobrasileiro, o legislador de 2017 se preocupou em positivar esse entendimento, talvez porreceio de alteração do entendimento judicial ou, ainda, como forma de aclarar e fomentaresse regime.

4. Talvez se possa falar em movimento contraditório entre o art. 477-A, que libera adispensa em massa sem prévia negociação, e o art. 477-B, que atrela a eficácia liberatóriageral do PDV à necessidade de prévia negociação coletiva, mas, se bem analisada aquestão, há uma sintonia entre eles: o empregador que optar pela via diplomática terácomo prêmio a quitação de todas as parcelas trabalhistas, postas e não postas à mesa denegociação, ao passo que o empregador que optar pela via mais hostil suportará, depois,os questionamentos jurídicos nesse tema espinhoso da dispensa coletiva.

Art. 482 ..................................................................

...............................................................................

m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício da profissão,em decorrência de conduta dolosa do empregado.

1. Como se sabe, a justa causa corresponde ao ato extremo de rescisão contratual, sob ofundamento de que a parte tornou insustentável o prosseguimento da relação bilateral econtínua que deveria prosperar. São normalmente atos de alta repercussão, como o desviode dinheiro, o xingamento, a hostilidade, o corpo mole, o desacato às ordens, para falarapenas alguns dos exemplos bastante conhecidos do art. 482 da CLT – e algumas

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referências esparsas na legislação, como a adulteração de endereço residencial paraacesso ao vale-transporte ou a recusa de utilização dos equipamentos de proteçãoindividual de segurança do trabalho.

2. Há, porém, uma antiga discussão sobre a possibilidade de atos praticados fora doambiente de trabalho poderem ostentar o patamar de justa causa. Embora a tendênciaseja responder negativamente à questão, o fato é que muitos atos de nossa vida privadaafetam diretamente o ambiente de trabalho. Um exemplo seria suficiente para encerrar odebate, que é a violação do sigilo profissional ou do segredo industrial. Evidentemente quea violação mais impactante é aquela praticada fora do local de trabalho, para aconcorrência ou para a sociedade, e não a fofoca praticada dentro do ambiente detrabalho. Também algumas formas de difamação do empregador, de concorrência desleale de agressão física podem naturalmente ser praticadas fora da empresa. Portanto, esse éo menor problema na análise do art. 482, m, da CLT.

3. A questão mais delicada passa a ser a oponibilidade ao empregado das multas detrânsito sofridas por força do contrato de trabalho, a saber, as infrações de trânsitoverificadas na condução de veículo da empresa, durante o horário de trabalho.Certamente se poderá argumentar que o motorista zeloso consegue evitar a maioria dasmultas, quer ele esteja a trabalho, quer esteja a passeio. Porém, ninguém ignora que alegislação de trânsito se torna cada vez mais complexa, repleta de interpretações dúbias,ao passo que as exigências de metas e cronogramas rígidos se tornam cada vez maisintensos na organização e nos métodos das empresas. Em outras palavras, o empregadoque jamais comete infração de trânsito corre o risco de, na outra ponta, ser acusado dedesidioso no exercício de suas funções de entregas, coletas e despachos motorizados, pornão ter sido ágil suficiente para dar conta de todas as ordens de serviço programadas paraaquele dia. A tensão entre a eficiência do empregado e o zelo no trânsito agressivo dasgrandes cidades e das rodovias não foi levada em consideração pelo legislador ao punir,com justa causa, o empregado que perder o direito de conduzir.

4. Diante do caráter punitivo da justa causa, impõe-se interpretação restritiva, emqualquer hipótese, de forma que a mera suspensão temporária da carteira de habilitação –por exemplo, quando o motorista atinge 20 pontos e necessita fazer curso e prova derequalificação – não deve ser interpretada como justa causa. Não existe o conceito de justacausa momentânea.

5. Outros exemplos de perda de habilitação da profissão tendem a ser mais flagrantes,como a cassação do registro no órgão de classe – Ordem dos Advogados, Conselho deFiscalização etc. –, a anulação de diploma de ensino superior por fraude no bachareladoou, ainda, a perda da autorização para condução de aeronaves e veículos náuticos. Noparticular, a polêmica tende a ser menor.

Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empregado eempregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:

I – por metade:

a ) o aviso prévio, se indenizado; e

b ) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, prevista no § 1ºdo art. 18 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990;

II – na integralidade, as demais verbas trabalhistas.

§ 1º A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimentação da contavinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço na forma do inciso I-A

do art. 20 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, limitada até 80% (oitenta por cento) do

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valor dos depósitos.

§ 2º A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza oingresso no Programa de Seguro-Desemprego.

1. O legislador oficializa prática encontrada no mercado de trabalho, de rescisão porcomum acordo. Não raro, o empregado precisa pedir demissão por motivos pessoaisrelevantes, como mudança repentina de cidade, doença na família ou prioridade aosestudos, e perde praticamente todos os benefícios a que faria jus pela rescisão contratual.Então, ele “pede para ser mandado embora”, o que é, no direito do trabalho, umcontrassenso. Afinal, a iniciativa da rescisão foi dele e não do empregador. Váriosembaraços surgem a partir dessa dinâmica, tais como a exigência da empresa para que oempregado “devolva” a multa de 40% ou, ainda, a exigência de cumprimento de avisoprévio para treinar outro empregado para o posto. A confusão está armada.

2. Para tentar equacionar esse cenário, até então vedado ou ignorado pelo legislador, areforma de 2017 reconhece a prática do comum acordo para os fins rescisórios à luz dodireito trabalhista brasileiro, e não apenas à margem do sistema. Inspirado nodesdobramento da culpa recíproca (art. 484 da CLT), foi concebido o pagamento pelametade do aviso-prévio indenizado e da multa de 40% do fundo de garantia. O art. 484-Anão diz expressamente, mas pensamos ser compatível abranger, também, o comumacordo para a rescisão antecipada do contrato de trabalho por prazo determinado,rachando-se ao meio a indenização o aviso-prévio – se havia a cláusula assecuratória derescisão antecipada, de que fala o art. 481 da CLT – e eliminando-se a indenização queseria devida de parte a parte – art. 479 da CLT.

3. A rescisão por mútuo consentimento assegura ao empregado o direito de sacar 80%dos depósitos do fundo de garantia – impondo-se a adaptação dos órgãos gestores a essanova modalidade, com a devida brevidade para não frustrar os trabalhadores ao exercíciodesse direito – mas não assegura o direito ao acesso ao seguro-desemprego, por seentender que, de uma forma ou de outra, não se trata de desemprego involuntário, comorequer o art. 7º, III, da CF.

4. Demais parcelas rescisórias, notadamente o 13º salário proporcional e as fériasproporcionais acrescidas de um terço, devem ser pagas na totalidade, como um acerto decontas de final de contrato. Saldo de salário nem se discute, pois ele sempre é devido, atémesmo na justa causa, assim como o acerto do resíduo de horas extras pendentes debanco de horas.

5. O art. 484-A não é explícito, mas a projeção do aviso-prévio rachado ao meio énecessária, pois segue a lógica de toda e qualquer modalidade dessa prévia comunicação,conforme art. 487 da CLT e demais disposições aplicáveis, inclusive para os fins docômputo da prescrição.

6. Será interessante observar o desenvolvimento dessa nova figura de rescisãocontratual, haja vista que, ao mesmo tempo em que ela foi criada, o legislador aboliu anecessidade da homologação sindical e até mesmo a necessidade de entrega do termo derescisão para a movimentação do fundo de garantia (art. 477, especialmente § 10, da CLT),tornando um pouco mais difícil enxergar, numa primeira leitura dos documentos, qual foia natureza da rescisão. Em princípio, não será possível entender que houve mútuoconsentimento da simples leitura da carteira de trabalho. Talvez neste particulartenhamos encontrado o exemplo que faltava, no comentário ao art. 477, de hipótese emque as guias farão diferença e não serão supridas por simples anotação da data de saídana carteira de trabalho.

7. A reforma trabalhista alcançou também, por coerência, o art. 20 da Lei 8.036/1990,

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que passou a prever autorização para o saque neste caso (inciso I-A).

Art. 507-A. Nos contratos individuais de trabalho cuja remuneração seja superior a duasvezes o limite máximo estabelecido para os benefícios do Regime Geral de Previdência

Social poderá ser pactuada cláusula compromissória de arbitragem, desde que poriniciativa do empregado ou mediante a sua concordância expressa, nos termos previstos na

Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996.

1. O art. 507-A se insere, sem sombra de dúvidas, na lista dos 3 ou 4 mais polêmicos detoda a reforma de 2017. Já era polêmica a redação do art. 444, parágrafo único, que passoua admitir a livre estipulação de cláusulas entre empregados e empregadores, se aquelestiverem diploma de ensino superior e salário superior ao dobro do teto previdenciário.Por livre estipulação, o legislador disse que se deve entender tudo aquilo que a entidadesindical poderia e poderá fazer na negociação coletiva, conforme extenso rol do art. 611-A.Logo, pelo próprio contrato individual de trabalho, sem necessidade de mediação ou dearbitragem, o empregado já teria um acervo de cláusulas impensáveis antes da reforma eassim tende a se submeter. Dentre essas cláusulas, o art. 507-A admite que seja lançadatambém a chamada cláusula compromissória de arbitragem, pela qual as partes secomprometem a se valer de árbitros particulares e não do Poder Judiciário em caso delitígio futuro. Problemas não tardarão a acontecer.

2. De plano, o legislador registra que a deflagração do procedimento arbitral deve serfeita por iniciativa do empregado, mas ninguém duvida da vulnerabilidade a que eleestará exposto durante e, sobretudo, após a vigência do contrato de trabalho. Dificuldadescom a recolocação no mercado, pressa para o recebimento de seus haveres ousimplesmente pressão exercida pelo empregador evidentemente serão gatilhos simplespara a ele pedir a instalação do procedimento de arbitragem. Processos trabalhistas comalegação de vício de consentimento na fixação da cláusula ou, depois, no acionamento doprocedimento, não causarão espanto.

3. Há uma sutil diferença entre o art. 444, parágrafo único, sobre a livre estipulação, e oart. 507-A, sobre a cláusula compromissória: ambos exigem a faixa salarial acima dodobro do teto da Previdência, mas somente o primeiro exige que o empregado tenha,também, o diploma de ensino superior. Talvez o legislador tenha entendido que a livreestipulação com patamar de negociação coletiva necessite maior discernimento doempregado, mas isso é uma presunção relativa e bastante frágil, mormente se a gente selembrar da queda livre em que se encontra a qualidade dos bacharelados brasileiros e aproliferação dos cursos vagos, à distância e sem compromisso com o conteúdo. Mas issopertence a outro âmbito de discussão. Por ora, é suficiente reter que a cláusulacompromissória de arbitragem pode ser firmada por empregado desprovido de ensinosuperior.

4. Pensamos que, na verdade, a discussão mais complexa residirá na definição do quesejam direitos indisponíveis. Como se sabe, esta classe de direitos não podem se submetera formas alternativas de solução de conflitos, por se entender que eles não são passíveis denegociação, renúncia ou transação. Essa ressalva não apenas é doutrinária como apareceexplícita no art. 1º da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996). O entendimento majoritário noâmbito trabalhista vai no sentido de que os créditos do empregado são irrenunciáveis – e,portanto, imunes a atos unilaterais dos empregados ou a acordos extrajudiciais nãorevestidos de formalidades – mas não chegam ao patamar do indisponível – pois, docontrário, nem ao menos poderia haver prescrição trabalhista ou acordo judicial, com ousem concessões recíprocas. É como se a irrenunciabilidade, tão estudada pelos tratadistasjuslaborais, estivesse num degrau abaixo ou numa dimensão de menor densidade daindisponibilidade, muito cara aos direitos da personalidade, por exemplo.

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5. A diferenciação entre o indisponível e o irrenunciável sempre foi feita sob grandetensão no direito do trabalho em geral e na legislação brasileira em particular, poisesconde algumas inconsistências e contradições. Por exemplo, não se admite que oempregado seja transferido de localidade, mas se admite ampla liberdade na rescisãocontratual – um enorme contrassenso. Não se admitem acordos extrajudiciais nodepartamento pessoal, mas se admitem acordos feitos na sala de espera dos fórunstrabalhistas, às vezes sem a presença do empregado, em nome de uma formalidade queaos poucos se esvaiu. E, por fim, não se admite a arbitragem, mas se impõem os efeitos daprescrição e da transação judicial sobre todas as parcelas trabalhistas.

6. O debate terá de ser retomado com urgência e as contradições terão de aflorar. Casoa jurisprudência se incline favoravelmente à inconstitucionalidade do art. 507-A, pelofundamento da indisponibilidade do crédito trabalhista, talvez tenha de ser revista adoutrina da prescrição, por exemplo. Como não se consegue imaginar a Justiça doTrabalho proibindo acordos judiciais ou liberando os empregados para ajuizar ação compretensões imprescritíveis, prognosticamos que, ao fim e ao cabo, a arbitragem iráprevalecer, muito menos por seus méritos e muito mais pela necessidade de coesão dosistema. Impõe-se, assim, que o jurista laboral entenda um pouco mais da Lei 9.307/1996.

7. Por ora, não haveria tantos espaços adequados para a comunicação e oentendimento entre as partes espalhados pelo país, diante da demanda elevada que seprojeta. A experiência traumática das Comissões de Conciliação Prévia deixa no ar adúvida se nossa sociedade realmente terá condições de desenvolver câmaras dearbitragem idôneas e imparciais. O que se viu, à época da Lei 9.958/2000 (arts. 625-A eseguintes da CLT), foi um descalabro: acusações de cobranças excessivas, imposição detaxas, uso de textos com frases de duplo sentido, pressão por acordos fora ou além dospedidos e assim por diante. O Ministério Público do Trabalho chegou a montar operaçõesespeciais de combate a fraudes de câmaras arbitrais, tendo obtido êxito no fechamento,via judicial, de várias delas. Até mesmo o uso do brasão com as armas da República eraflagrado em alguns espaços de arbitragem, além daqueles profissionais que se chamavamde juízes para tentar impressionar e se vestiam com trajes forenses. Aflige saber quepouca coisa mudou no país em termos de ética e de transparência nesses anos que sepassaram desde o malogro das CCPs - Comissões de Conciliação Prévia, de sorte que, aforaos temas da aplicação da arbitragem sobre o direito individual do trabalho, também seráimportante acompanhar o grau de maturidade e de profissionalismo dos espaços abertos –e certamente muitos serão inaugurados – para o desenvolvimento da arbitragemtrabalhista.

8. Chama-se de arbitragem de propostas finais aquela em que o árbitro se atém aescolher uma das duas soluções ofertadas – a pretensão do trabalhador ou a tese doempregador. Assim, quem especular demais e propuser um modelo muito divorciado darealidade faz aposta de alto risco e se expõe à perda total da reivindicação. Convém, nestamodalidade, não se afastar muito do ponto de equilíbrio, não postular demais nemcontestar demais. Na outra ponta, existe a arbitragem tradicional, em que o árbitro, apósouvir os argumentos e as provas de ambos os lados, propõe uma solução que lhe pareça amais adequada, podendo se aproximar mais de um lado ou de outro. Pensamos que ocontrato de trabalho deveria especificar, de plano, qual modalidade será adotada, a fim deevitar ainda mais esse conflito.

9. Há alguns pontos que afastam a solução arbitral da solução judicial: a) a publicidadedos atos judiciais é quase irrestrita, ao passo que na arbitragem pode ser convencionada acláusula de confidencialidade entre as partes; b) os custos judiciais são inexistentes, baixosou moderados, ao passo que a arbitragem, por ser um serviço particular que aufere lucros,costuma ter custos altos, não ficando claro na reforma trabalhista quem arcará com eles;

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c) o tempo de duração do processo judicial costuma ser longo, se esgotadas todas asinstâncias recursais, enquanto que da arbitragem se espera tempo muito breve, o que jogaa favor do empregado na maioria dos casos; d)  o juiz, via de regra, está adstrito à lei e aospedidos, ao passo que o árbitro pode se valer amplamente da equidade e propor soluçãofora ou além do postulado.

10. O princípio da inafastabilidade da apreciação judicial, consagrado pelo art. 5º,XXXV, da CF, tende a ser, também ele, um obstáculo severo ao incremento da arbitragemno direito do trabalho. Ele já foi utilizado para combater as CCPs - Comissões deConciliação Prévia e outros modelos extrajudiciais de solução de conflito. Mas o STF aospoucos o adaptou para dizer que comporta exceções, como no direito desportivo, e que, detoda sorte, também a arbitragem fica sujeita ao crivo judicial, apesar de limitada adiscussão a questões de forma e de consentimento, e não a questões de fundo.

Art. 507-B. É facultado a empregados e empregadores, na vigência ou não do contrato deemprego, firmar o termo de quitação anual de obrigações trabalhistas, perante o sindicato

dos empregados da categoria.

Parágrafo único. O termo discriminará as obrigações de dar e fazer cumpridas mensalmentee dele constará a quitação anual dada pelo empregado, com eficácia liberatória das parcelas

nele especificadas.

1. A estratégia da quitação gradual das parcelas trabalhistas não é inédita no direitobrasileiro. Houve semelhante experiência, restrita ao âmbito do trabalho rural, previstapelo art. 233 da CF. O artigo viria a ser revogado pela EC 28/2000 e não chegou a terdesenvolvimento teórico suficiente. Tampouco houve relatos de êxito da prestação decontas anual para fins de pacificação das relações trabalhistas e desafogamento doJudiciário, como parece ser o propósito desta nova empreitada do legislador através doart. 507-B enxertado na reforma de 2017.

2. Difícil é enquadrar a natureza jurídica exata desse mecanismo. A figura que mais seaproxima é justamente aquela do acordo extrajudicial, mas desta feita não se fala em levá-lo ao crivo do Judiciário, como constará dos arts. 855-B a 855-E. O sindicato faz aqui asvezes do órgão homologador. Uma vez lançada sua chancela, a prestação de contasoferece a quitação dotada da eficácia liberatória geral. Não se pode chegar ao extremo dedizer que a homologação sindical outorga efeitos de coisa julgada material, pois essemanto, como o próprio nome está a revelar, é atributo exclusivo de decisões do PoderJudiciário. Mas não tenha dúvidas de que o propósito do legislador, ao empregar aexpressão “eficácia liberatória geral”, objetiva alcançar efeitos equivalentes ao da coisajulgada, impondo ao magistrado que, caso seja demandado sobre a mesma matéria jáanalisada pelo sindicato, abstenha-se de julgar a matéria – e, portanto, declare a extinçãodo processo, sem resolução de mérito, por falta de necessidade da prestação jurisdicional.Mas nem tudo será assim tão simples.

3. A expressão eficácia liberatória geral aparece, por exemplo, na disciplina dasComissões de Conciliação Prévia (CCP – art. 625-D da CLT), mas nem por isso o Judiciário sefurtou à apreciação das matérias ventiladas pelos trabalhadores, antes, durante ou depoisda celebração dos acordos extrajudiciais. As pendências podiam abranger tanto assuntosde forma – como o consentimento do empregado, os vícios na instauração doprocedimento e a discriminação das parcelas avençadas – quanto assuntos de conteúdo –como o alcance da quitação, a inviabilidade de quitação de direitos indisponíveis e o mais.

4. Afora a expectativa em torno do comportamento do Judiciário diante dessa figuraanômala de prestação de contas, é certo que muitos sindicatos se oporão ao procedimento– por ignorância, por desconfiança ou simplesmente por mau aparelhamento – e, noparticular, nada resta ao empregador fazer. Se o sindicato não se dispuser a fazer a

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conferência e validação dos cálculos, está encerrado o procedimento do art. 507-A. O veto,aliás, pode ser até mesmo ideológico, tal como ocorreu à época da prestação de contasrurais.

5. O dispositivo explica que o empregado tem a faculdade de aceitar ou não o regimede prestação anual de contas, de modo que ele pode se opor tanto ao comparecimento aosindicato quanto à assinatura do termo, por divergir dos cálculos ou por não os terentendido. Todavia, embora assim conste da redação do art. 507-B, ninguém é ingênuo aponto de achar que este empregado terá autêntica autonomia da vontade: em muitoscasos, ele poderá ser forçado a assinar o termo para preservar o emprego ou seráinformado calorosamente que assim funciona naquele estabelecimento. Trata-se de armade elevada periculosidade, cujo desfecho poderá ser semelhante ao das CCPs - Comissõesde Conciliação Prévia: se começarem a chegar denúncias de carimbos batidos a esmo,contas mal conferidas, quitações dadas em massa ou cobranças de taxas abusivas para ahomologação, não será espantoso que a Justiça do Trabalho desvalorize a prestação decontas como elemento idôneo e muito menos como mecanismo de eficácia liberatóriageral.

6. Note-se que o art. 477 da CLT liberou os sindicatos das homologações das verbasrescisórias, de modo que eles bem poderiam aproveitar a estrutura pretérita ou odepartamento jurídico existente para assistir a prestação anual de contas. O art. 507-Bnada dispõe sobre a gratuidade ou onerosidade da prestação de contas, parecendo,portanto, ser lícita ao sindicato a fixação de um montante para esse serviço – mormentenuma época em que a contribuição sindical se tornou facultativa, por assim dizer. Porquese trata de uma nova fonte de renda, existe a possibilidade de a prestação de contasprosperar com mais seriedade do que nosso ceticismo nos permite supor.

Título IV-A

DA REPRESENTAÇÃO DOS EMPREGADOS

Art. 510-A. Nas empresas com mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de umacomissão para representá-los, com a finalidade de promover-lhes o entendimento direto

com os empregadores.

§ 1º A comissão será composta:

I – nas empresas com mais de duzentos e até três mil empregados, por três membros;

II – nas empresas com mais de três mil e até cinco mil empregados, por cinco membros;

III – nas empresas com mais de cinco mil empregados, por sete membros.

§ 2º No caso de a empresa possuir empregados em vários Estados da Federação e no DistritoFederal, será assegurada a eleição de uma comissão de representantes dos empregados por

Estado ou no Distrito Federal, na mesma forma estabelecida no § 1º deste artigo.

Art. 510-B. A comissão de representantes dos empregados terá as seguintes atribuições:

I – representar os empregados perante a administração da empresa;

II – aprimorar o relacionamento entre a empresa e seus empregados com base nosprincípios da boa-fé e do respeito mútuo;

III – promover o diálogo e o entendimento no ambiente de trabalho com o fim de prevenirconflitos;

IV – buscar soluções para os conflitos decorrentes da relação de trabalho, de forma rápida eeficaz, visando à efetiva aplicação das normas legais e contratuais;

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V – assegurar tratamento justo e imparcial aos empregados, impedindo qualquer forma dediscriminação por motivo de sexo, idade, religião, opinião política ou atuação sindical;

VI – encaminhar reivindicações específicas dos empregados de seu âmbito derepresentação;

VII – acompanhar o cumprimento das leis trabalhistas, previdenciárias e das convençõescoletivas e acordos coletivos de trabalho.

§ 1º As decisões da comissão de representantes dos empregados serão sempre colegiadas,observada a maioria simples.

§ 2º A comissão organizará sua atuação de forma independente.

Art. 510-C. A eleição será convocada, com antecedência mínima de trinta dias, contados dotérmino do mandato anterior, por meio de edital que deverá ser fixado na empresa, com

ampla publicidade, para inscrição de candidatura.

§ 1º Será formada Comissão Eleitoral, integrada por cinco empregados, não candidatos, paraa organização e o acompanhamento do processo eleitoral, vedada a interferência da

empresa e do sindicato da categoria.

§ 2º Os empregados da empresa poderão candidatar-se, exceto aqueles com contrato detrabalho por prazo determinado, contrato suspenso ou que estejam em período de aviso

prévio, ainda que indenizado.

§ 3º Serão eleitos membros da comissão de representantes dos empregados os candidatosmais votados, em votação secreta, vedado o voto por representação.

§ 4º A comissão tomará posse no primeiro dia útil seguinte à eleição ou ao término domandato anterior.

§ 5º Se não houver candidatos suficientes, a comissão de representantes dos empregadospoderá ser formada com número de membros inferior ao previsto no art. 510-A desta

Consolidação.

§ 6º Se não houver registro de candidatura, será lavrada ata e convocada nova eleição noprazo de um ano.

Art. 510-D. O mandato dos membros da comissão de representantes dos empregados será deum ano.

§ 1º O membro que houver exercido a função de representante dos empregados na comissãonão poderá ser candidato nos dois períodos subsequentes.

§ 2º O mandato de membro de comissão de representantes dos empregados não implicasuspensão ou interrupção do contrato de trabalho, devendo o empregado permanecer no

exercício de suas funções.

§ 3º Desde o registro da candidatura até um ano após o fim do mandato, o membro dacomissão de representantes dos empregados não poderá sofrer despedida arbitrária,

entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico oufinanceiro.

§ 4º Os documentos referentes ao processo eleitoral devem ser emitidos em duas vias, asquais permanecerão sob a guarda dos empregados e da empresa pelo prazo de cinco anos, à

disposição para consulta de qualquer trabalhador interessado, do Ministério Público doTrabalho e do Ministério do Trabalho.

...........................................................................

1. Longa e complexa é a regulamentação concebida pela reforma de 2017 para arepresentação dos empregados. Rememoremos a origem de todos esses dispositivos, asaber, o art. 11 da CF: “Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada aeleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes oentendimento direto com os empregadores”. O legislador demorou 29 anos para

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regulamentar esse comando constitucional, que nem era tão complexo assim.

2. Há grande relevância no sistema de representação não sindical dos trabalhadores,como forma de manter aberto um segundo canal de comunicação, diretamente ligado aocotidiano do ambiente de trabalho. Como explica a OIT, a representação não pode ser tãovalorizada a ponto de minar a autoridade do sindicato, ridicularizando-o, nem tãocomprimida a ponto de não ter qualquer significado para os trabalhadores. O Brasil ésignatário da Convenção 135 da OIT, sobre a proteção aos representantes eleitos, cujo art.5º dispõe: “Quando uma empresa contar ao mesmo tempo com representantes sindicais erepresentantes eleitos, medidas adequadas deverão ser tomadas, cada vez que fornecessário, para garantir que a presença de representantes eleitos não venha a serutilizada para o enfraquecimento da situação dos sindicatos interessados ou de seusrepresentantes e para incentivar a cooperação, relativa a todas as questões pertinentes,entre os representantes eleitos, por uma Parte, e os sindicatos interessados e seusrepresentantes, por outra Parte”.

3. As experiências brasileiras foram todas frustrantes ou incipientes. Há relatos decomissões de fábrica bem sucedidas, mas às custas dos esforços dos própriostrabalhadores localmente organizados e em quantidade irrisória perto da dimensão doparque fabril brasileiro. Se nós alargarmos o conceito de representação não sindical, oúnico exemplo idôneo que encontraremos na legislação brasileira será o da CIPA, queobjetiva ser um órgão voltado para a saúde e segurança do trabalho sem ingerênciasindical direta.

4. De toda forma, nem o passado sombrio, nem a desconfiança das entidades sindicais,nem o desconhecimento sobre a matéria deveriam inibir que se dê nova chance para aadoção de um sistema eficaz de representação de trabalhadores. Essa é a expectativa. Noentanto, conhecer de perto a disciplina proposta pelo legislador (arts. 510-A a 510-D)revela bastante descrença no êxito dessa experiência, por ter havido várias restrições aoexercício do mandato e vários desestímulos aos possíveis interessados à candidatura.Vejamos:

a) tanto a CF quanto o art. 510-A da CLT referem a obrigatoriedade do representantepara empresas com mais de 200 empregados; logo, a partir do 201º empregado; todos osempregados contam, inclusive os contratados a tempo parcial, a prazo determinado eaqueles em contrato intermitente; oscilação do número de empregados durante o ano nãoafeta a base de cálculo até que termine o mandato;

b) todos os empregados são eleitores, mas nem todos são elegíveis, pois foramexcepcionados os contratos suspensos, a prazo fixo e em regime de aviso-prévio (art. 510-C, § 2º);

c) o art. 510-A, § 1º, propõe escalonamento, de modo que a representação é compostapelo mínimo de 3 empregados e o máximo de 7 empregados, para empresas de mais de200 empregados até empresas de mais de 5.000 empregados;

d) o número, na verdade, é bem reduzido; por exemplo, 7 pessoas para 7.000empregados significa que cada empregado deverá captar reivindicações de 1.000 colegas;não se pode esperar que eles circulem por todos os setores, filiais e departamentos; trata-se realmente de uma representação genérica, com baixas expectativas, nada obstante alista minuciosa que o legislador apresenta no art. 510-B quanto aos propósitos de diálogosocial, entendimento e prevenção de conflitos;

e) a representação pode ser feita por Estado, em caso de empresas de atuação deâmbito nacional;

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f) antevendo a desmotivação dos trabalhadores quanto a uma representação de baixadensidade e em possível rota de colisão com a entidade sindical, há previsão para início domandato com menos pessoas do que o estipulado (art. 510-C, § 5º) e até mesmo a vacânciada representação por um ano, até que se realize novo certame (art. 510-C, § 6º);

g) o exercício da representação é feito sem prejuízo das funções do contrato detrabalho (art. 510-D, § 2º), não havendo previsão nem mesmo para a dispensa doempregado pelo tempo necessário para reuniões e diligência, como ocorre na disciplina daCIPA (item 5.17 – NR 5 – Portaria 3.214/1978 do Ministério do Trabalho); mais um motivopara o desalento;

i) o mandato é de um ano; admite-se recondução, mas não nos dois períodosconsecutivos (art. 510-D, § 1º);

j) não foi prevista a estabilidade ampla para o representante, mas apenas a garantiamomentânea do emprego, contra a dispensa arbitrária, durante o mandato e por mais umano; é autorizada a dispensa sem justa causa, que difere da arbitrária porque podeencontrar fundamento em crise financeira ou econômica, ou, ainda, em motivos técnicos,como a inovação tecnológica;

k) embora a norma não diga, é certo que também aqui se aplicará o entendimentojurisprudencial feito para a CIPA quanto à não subsistência da representação e da garantiade emprego para o caso de fechamento do estabelecimento ou da própria empresa, porqueterá desaparecido a razão de ser do encargo.

FIQUE DE OLHO: O governo federal foi acusado de oportunismo ao inserir a regulamentação doart. 11 da CF no bojo da reforma trabalhista. É verdade que a norma constitucional aguarda sua

concretização faz quase trinta anos, mas o fato de a reforma trabalhista ter se pautado pelo fim daobrigatoriedade da contribuição sindical fez com que muitos vissem na súbita preocupação com a

representação de empregados uma forma ainda maior de sabotar a autoridade dos sindicatos.Para acalmar as lideranças sindicais, o governo sinalizou que pretende editar norma em que

reafirma aquilo que o art. 8º da CF já o diz desde sempre: somente sindicatos são partes legítimaspara a negociação coletiva. O papel das representações locais de fábrica é a busca do

entendimento e do diálogo social, mas sem minar a autoridade do sindicato. Não será surpresa,portanto, se o governo passar o constrangimento de colocar em lei ordinária que ele reafirma o

respeito à Constituição.

Art. 545. Os empregadores ficam obrigados a descontar da folha de pagamento dos seusempregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao

sindicato, quando por este notificados.

...........................................................................

1. O governo federal sabia que não se pode eliminar a contribuição sindical por leiordinária, haja vista sua previsão expressa na Constituição Federal de 1988, tanto no art. 8º,

IV, in fine , quanto no art. 149. Não havia maioria parlamentar para Proposta de EmendaConstitucional. Assim, a solução criativa encontrada foi trocar a compulsoriedade pelafacultatividade. Pode haver questionamento sobre a constitucionalidade desse artifício,

mas, de fato, a Constituição não é expressa quanto ao alcance e à obrigatoriedade dorecolhimento.

2. Houve o cuidado de inserir a facultatividade em todos os dispositivos da CLT quemencionam a compulsoriedade, com destaque para os arts. 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602. 

Breves comentários serão feitos em cada um deles; comentários mais detalhados sobre osimpactos dessa mudança são feitos após o art. 602.

 

Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categorias

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econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidasentidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas

na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas. 

1. O art. 578 apenas apresenta a denominação do encargo, conhecido por imposto sindical. Afacultatividade foi inserida em sua parte final. Ver comentário ao art. 602.

 

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia eexpressa dos que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional,ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou

profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação.  

....................................................................................

1. O art. 579 é aquele que faz menção ao desconto sobre o salário do empregado, e, tal comoos outros seis artigos reformados, passou a contar com a locução “autorização prévia e

expressa” para que a dedução ocorra. Ver comentário ao art. 602.

 

Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seusempregados relativa ao mês de março de cada ano a contribuição sindical dos empregados

que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos respectivos sindicatos.

 

1. O mês de março é bastante conhecido dos empregados como sendo aquele em que odesconto é efetuado, conforme previsto pelo art. 582 desde a promulgação da CLT em 1943.Agora, a reforma, mantendo a mesma periodicidade, insere a necessidade de autorização

prévia e expressa para sua concretização. Ver comentário ao art. 602.

 

Art. 583. O recolhimento da contribuição sindical referente aos empregados e trabalhadoresavulsos será efetuado no mês de abril de cada ano, e o relativo aos agentes ou trabalhadoresautônomos e profissionais liberais realizar-se-á no mês de fevereiro, observada a exigência

de autorização prévia e expressa prevista no art. 579 desta Consolidação.

.......................................................................

 

1. Abril é o mês do desconto da contribuição sindical para os trabalhadores avulsos e paraos autônomos. Sem novidade na reforma quanto ao mês. A novidade reside na

facultatividade, doravante, para o trabalhador ter ou não o desconto para concorrer com ofomento à atividade sindical. Ver comentário ao art. 602.

 

Art. 587. Os empregadores que optarem pelo recolhimento da contribuição sindical deverãofazê-lo no mês de janeiro de cada ano, ou, para os que venham a se estabelecer após o

referido mês, na ocasião em que requererem às repartições o registro ou a licença para oexercício da respectiva atividade.

................................................................................

 

1. Janeiro é o mês do recolhimento da contribuição sindical patronal. A reforma não mexena data, mas frisa que o recolhimento é uma opção dos empregadores e não mais uma

compulsoriedade.

 

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Art. 602. Os empregados que não estiverem trabalhando no mês destinado ao desconto dacontribuição sindical e que venham a autorizar prévia e expressamente o recolhimento

serão descontados no primeiro mês subsequente ao do reinício do trabalho.

 

1. A natureza jurídica desse tributo é de contribuição e não de imposto, de modo que aexpressão contribuição sindical deve ser preferida a imposto sindical, que somente podeser dito em homenagem à história. Há assento constitucional para a contribuição sindical,no art. 149 da CF, o que justifica a impossibilidade de o projeto de lei do governo federalsimplesmente eliminá-la: “Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais,de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais oueconômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o dispostonos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente àscontribuições a que alude o dispositivo”.

2. O art. 149 da CF já deixa claro o significado da contribuição sindical, que deve serdestinada a “atuação nas respectivas áreas” das entidades sindicais. Há vasto repertóriona CLT sobre como deveria ser o gasto da contribuição como forma de apoiar ostrabalhadores e os empregadores, sobretudo em departamento jurídico (art. 592 da CLT),para assistência técnica e jurídica, além de formação de centros de estudos e pesquisa,capacitação profissional e escolas vocacionais. O assessoramento jurídico não é faculdade,mas dever do sindicato (art. 514). Isso explica inclusive por que razão a Justiça doTrabalho não recebe a atuação da Defensoria Pública da União, para assistir ohipossuficiente, como seria natural imaginar: dado que a contribuição sindical eracompulsória e que sua prioridade é a assessoria jurídica, o próprio legislador dispensou oapoio das procuradorias de assistência judiciária e se concentrou nos préstimos dosindicato, como claramente se observa no art. 14 da Lei 5.584/1970. O que ocorre, então,para que a contribuição passasse a ser tão odiada?

3. A explicação é muito simples e prescinde investir tempo e energia: houve deturpaçãoao longo dos anos, com o crescimento alarmante de entidades sindicais de fachada,criadas prioritariamente para a arrecadação da contribuição, sem que houvesse nem aomenos a necessidade de prestação de contas e muito menos a necessidade de manutençãode departamentos jurídicos idôneos. Com isso, empregados, empregadores e profissionaisliberais ficaram com o pior de cada cenário: tinham de pagar compulsoriamente acontribuição, mas, na hora da necessidade, tinham de arcar com os custos da advocaciapor lhes faltar a assistência judiciária. Para um empregado, isso significa, na prática, alémde doar um dia de seu trabalho por ano para os sindicatos, deixar com o advogado umamédia de 30% dos valores obtidos no processo trabalhista – que é o valor usual emcontratos de risco de honorários particulares. As empresas, por sua vez, entram com umpercentual do capital social (art. 580, III, da CLT) e concorrem com honorários contratuaiselevados, às vezes calculados por audiência, às vezes por peça processual, às vezes porcontratos mensais de contencioso trabalhista.

4. O governo federal soube usar essa maciça aversão ao “imposto sindical” para,atrelando-o à reforma trabalhista, deixar passar toda constelação de direitos e deveresque esse livro comenta. Os sindicatos idôneos e combativos ficaram reféns dessa situação,sendo muito difícil fazer a defesa pública dos outros 26.000 sindicatos semrepresentatividade, sem envolvimento com os trabalhadores e, em muitos casos, semendereço conhecido.

5. Como o governo talvez não tivesse maioria parlamentar para alterar a CF, deixou-sede apresentar uma proposta de emenda constitucional, que fosse diretamente ao art. 149ou ao art. 8º, IV, da CF, e se empregou uma forma engenhosa para solapar as bases da

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contribuição: ela passou a ser facultativa.

6. Com efeito, não há na CF uma única referência à compulsoriedade da contribuiçãosindical. Há, sim, a obrigação da unicidade sindical (art. 8º, II), que representa umparadoxo e um constrangimento para o Brasil, que é membro fundador da OIT e quedefende a pluralidade sindical. Nunca fomos capazes de ratificar a Convenção 87 da OIT,que afirma categoricamente a ligação entre o Estado Democrático de Direito e apluralidade sindical, sendo incompreensível que o país ainda discuta fórmulas rígidas desindicalização. A pluralidade, por exemplo, permitiria que o sindicato dos petroleiros seunisse ao sindicato dos terceirizados que atuam na empresa petroquímica, assim como osindicato dos engenheiros, dos metalúrgicos e dos motoristas atuassem de forma conjuntana multinacional montadora de veículos. O que ocorre com a unicidade é que uma únicafábrica de veículos tem de negociar acordos separados com uma dúzia de sindicatosidôneos e com alguns franco-atiradores.

7. Todos os sete artigos acima transcritos (545 – 578 – 579 – 582 – 583 – 587 – 602) têmum sólido ponto comum: passaram a utilizar a expressão “desde que prévia eexpressamente autorizado pelo empregado ou pelo empregador”, ou frases equivalentes.Alguém acredita que um empregado, que não tem conhecimento da entidade sindical, faráesse cheque em branco para os cofres da organização?

8. Provavelmente, campanhas de conscientização serão realizadas pelos sindicatosmais combativos, mas o mais provável é que novas fontes de renda sejam buscadas, comoa cobrança de taxas para a aferição das contas anuais do empregador – em troca daquitação do passivo trabalhista daquele ano, ao menos na expectativa do art. 507-B – e,quem sabe, assistiremos ao impensável cenário de arbitragem trabalhista dentro deentidades sindicais, para fazer frente a nova demanda para empregados com saláriosmédios e altos (art. 507-A).

9. A reforma não mexeu na fonte de custeio prevista no art. 8º, IV, da CF, chamada peladoutrina de contribuição confederativa: “a assembleia geral fixará a contribuição que,em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio dosistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente dacontribuição prevista em lei”. No entanto, esta já caminhava para o ostracismo desde queo STF entendeu que somente empregados filiados e ativos na entidade sindical poderiamser cobrados – e não toda a categoria, como sustentavam as entidades (Súmula 666 e,depois, Súmula Vinculante 40).

10. Tampouco se tocou no assunto da chamada contribuição assistencial, que muitossustentam ter apoio no art. 513, “e”, da CLT, mas que também afeta contingente menor,pois admite o direito de oposição e depende de previsão expressa em norma coletiva.

11. O sindicato pode cobrar mensalidade, como fonte de renda, mas neste caso como sefosse um clube ou associação recreativa, para fins de uso de colônia de férias,equipamentos de lazer e outros serviços complementares. Isso nos leva, inclusive, aotormentoso tema da natureza jurídica do sindicato – pessoa jurídica de direito privado,com aspectos de direito público – sobre a qual discorremos em nosso Volume 7 – Direitocoletivo do trabalho, da coleção Curso de Direito do Trabalho Aplicado.

12. A reforma cuidou de fechar ainda mais outra brecha pela qual poderiam passaralgumas exceções: a negociação coletiva fica impedida de fixar cláusulas contendo aobrigatoriedade do recolhimento da contribuição sindical, bem assim das demais fontesde custeio, sem a prévia e expressa autorização do empregado, segundo o art. 611-B, XXVI.

13. Feitas essas ponderações, vejamos algumas peculiaridades dos artigos acima

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destacados:

• a necessidade de concordância prévia e expressa aparece em todos osdispositivos, inclusive na contribuição sindical dos trabalhadores avulsos –normalmente os portuários – e trabalhadores autônomos (art. 583);

• não há clareza sobre como seria essa antecedência; dado que o desconto éfeito na folha de pagamento do mês de março, para os empregados em geral, e nomês de abril, para avulsos e autônomos (arts. 582 e 583), indispensável que aautorização chegue ao departamento pessoal antes do fechamento da folha, ouseja, até, no máximo, o final de fevereiro e de março respectivamente; mas até ascadeiras do departamento pessoal sabem que, neste caso, prevalecerá o silêncioeloquente, ou seja, ninguém vai apresentar autorização alguma;

• não há clareza tampouco sobre como seria essa autorização expressa; como alei não contém palavras inúteis, devemos entender que a autorização tem deconter especificamente o nome dessa contribuição sindical, não valendo osajustes genéricos, como aparecem em alguns formulários contratuais, com frasesdo tipo “autorizam-se descontos na forma da lei” ou “autorizam-se descontosdecorrentes de culpa ou dolo do empregado”; a forma escrita não está prevista,mas é praticamente inviável que se admita a autorização verbal, pois oempregador decerto terá necessidade de provar a manifestação da vontade doempregado;

• no caso da contribuição sindical da categoria econômica, como não há folhade pagamento do patrão para ser descontada, a norma foi redigida no sentido de“opção”: “os empregadores que optarem pelo recolhimento da contribuiçãosindical”, diz o art. 587;

• há perda de arrecadação do governo federal e das centrais sindicais, porque,é bom lembrar, apenas 60% da contribuição sindical ficam ou ficavam com ossindicatos; o restante era partilhado entre federação, confederação, União ecentral sindical, conforme art. 589 da CLT – com redação dada pela Lei11.648/2008, bastante polêmica e ainda hoje sub judice no STF.

Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a leiquando, entre outros, dispuserem sobre:

I – pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais;

II – banco de horas anual;

III – intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadassuperiores a seis horas;

IV – adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei nº 13.189, de 19 denovembro de 2015;

V – plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado,bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança;

VI – regulamento empresarial;

VII – representante dos trabalhadores no local de trabalho;

VIII – teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente;

IX – remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, eremuneração por desempenho individual;

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X – modalidade de registro de jornada de trabalho;

XI – troca do dia de feriado;

XII – enquadramento do grau de insalubridade;

XIII - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridadescompetentes do Ministério do Trabalho;

XIV – prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programasde incentivo;

XV – participação nos lucros ou resultados da empresa.

§ 1º No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça doTrabalho observará o disposto no § 3º do art. 8º desta Consolidação.

§ 2º A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convençãocoletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um

vício do negócio jurídico.

§ 3º Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou oacordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa

imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo.

§ 4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou deacordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser

igualmente anulada, sem repetição do indébito.

§ 5º Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalhodeverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou coletiva, que

tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos.

1. A sociedade brasileira se acostumou a ouvir a expressão “o negociado sobre olegislador” faz algum tempo. No governo Fernando Henrique chegou a avançar propostapara ajustar o art. 620 da CLT ao conceito de negociação coletiva ampla, o que enfrentouforte resistência, assim como o governo Lula patrocinou um programa de metas paracompleta reforma da negociação coletiva, que ficou conhecido como Projeto Berzoini(nome do Ministro do Trabalho à época), tudo devidamente engavetado por divergênciaspolíticas intransponíveis. O governo federal de 2017 conseguiu a maioria parlamentar deque precisava para reforma de lei ordinária – embora não para reforma da CF – e, assim,inseriu na CLT ao mesmo tempo o que pode (art. 611-A) e o que não pode (art. 611-B) sernegociado.

2. O assunto, porém, é inesgotável. As batalhas estão apenas começando. Em nossoVolume 7 – Direito Coletivo do Trabalho, há até mesmo um capítulo chamado “Conteúdopossível da norma coletiva”, em que compilamos decisões históricas do TST com matériaspróprias e matérias infensas à negociação coletiva. Buscamos incessantemente traçar umfio condutor das decisões, mas esse trabalho parece interminável e só tem a aumentarcom a aparente simplicidade das duas listas ora enxertadas na CLT.

3. Há dois fundamentos constitucionais normalmente utilizados pelos defensores do“negociado sobre o legislado”:

• O primeiro e mais evidente está no art. 7º, XXVI, da CF, que refere oreconhecimento das convenções e acordos coletivos, como parte integrante dosdireitos trabalhistas. Existe até mesmo quem discuta se a palavra“reconhecimento” seria uma espécie de favor do legislador, que simplesmentecapta aquilo que é feito dentre da autonomia dos particulares. Há razoávelconsenso no sentido de que a norma coletiva é também uma maneira depositivação de direitos – quer se entenda de origem autônoma, quer se entenda

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como uma forma delegada pelo legislador – de modo que o direito do trabalhopode ser considerado um ramo plurinormativo, ou seja, com variados centros depositivação da norma, não vinculados apenas ao Poder Legislativo.

·                O segundo fundamento está na leitura dos demais incisos do art. 7º da CF, emconjunto, que nos revelam ser possível (a) majoração de jornada – inciso XIV, (b)compensação de jornada – inciso XIII e, sobretudo, (c) redução salarial – inciso VI, atravésda negociação coletiva. Diz essa corrente doutrinária que, se o constituinte autoriza aossindicatos prover a redução salarial, que há de ser o exemplo mais dramático denegociação, por muito mais razão está a autorizar outras modalidades de flexibilizaçãodas normas. “Quem pode o mais pode o menos”, é a frase que vem à mente com ainterpretação conjugada do inciso VI.

4. Nesse contexto, avançaram os entendimentos sobre o alcance da negociação coletivae surgiram, ao longo dos anos pós-1988, cláusulas as mais variadas nos acordos coletivos econvenções coletivas, para espanto de estudiosos do direito do trabalho. Muitas dascláusulas já nascem fadadas à contestação ou à inconstitucionalidade, pois prejudicamterceiros, sabotam impostos e encargos, adulteram natureza jurídica de parcelasincontroversamente salariais e retiram direitos previstos na CF. Chega a ser inacreditávelque, no repertório de julgados do TST, constem discussões sobre cláusulas que admitem otrabalho noturno de adolescentes, vedam o direito de greve ou fixam taxas diferenciadaspara sindicalizados e não sindicalizados, mas essa é uma constante, como procuramosdemonstrar no livro.

5. Talvez premido por este festival gastronômico de cláusulas e obrigações criadaspelas normas coletivas mais ousadas, a jurisprudência do TST endureceu suapermissividade e passou a tratar com rigor, caso a caso, os abusos cometidos aqui e acolá.Foi assim que nasceu, por exemplo, o entendimento de que a redução do intervalo pararefeição e descanso, abaixo do mínimo de uma hora, era matéria infensa à negociaçãocoletiva, por violar posturas de saúde do trabalho. Sintomaticamente, esse entendimento,consagrado pela Súmula 437 do TST, é combatido com veemência pela reforma trabalhistade 2017, que a ele concedeu um parágrafo todo especial: “Regras sobre duração dotrabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança dotrabalho para os fins do disposto neste artigo”, assevera o p. único do art. 611-B.

6. O art. 611-A, § 1º, reitera a imperiosidade da aplicação do “princípio da intervençãomínima na autonomia da vontade coletiva”, enxertado no art. 8º, § 2º, no bojo da reformade 2017. Ocorre que princípios são regras que nascem da observação do comportamentosocial ou da lógica dos institutos ou dos ramos jurídicos. Não é comum que um princípio,não tendo sido detectado no âmbito social, seja criado à força por uma lei ordinária. Daípor que, se muito forçado pelo legislador, pode cair em descrédito ou provocar efeitoinverso. Será interessante assistir ao desdobramento desse cenário, verificando se aJustiça do Trabalho, subitamente, deixará de analisar as normas coletivas, ao fundamentode que está adstrita ao princípio da mínima intervenção.

7. Há entendimentos doutrinários no sentido de que um desfalque trabalhista devenecessariamente ser acompanhado por uma contrapartida. Por exemplo, o aumento dajornada de 6h para 8h em situação de regime ininterrupto de revezamento deveria seracompanhado pela concessão de algum benefício assistencial, garantia de emprego oureajuste. Não é esse o entendimento do TST, entretanto. Na dúvida, a reforma trabalhistafrisa que as cláusulas não precisam carregar justificativas ou contrapartidas, qualquerque seja o teor (art. 611-A, § 2º), isolando ainda mais essa corrente doutrinária. Mas háuma exceção que a própria reforma de 2017 não ousou ignorar: a redução salarial.

8. Muito embora o art. 7º, VI, da CF, contemple a redução salarial via negociação

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coletiva de maneira aparentemente irrestrita, o desconforto dessa situação é tão grandeque a reforma criou uma espécie de salvaguarda, a saber, toda redução salarial deve seracompanhada por garantia de emprego enquanto perdurar o rebaixamento (art. 611-A, §3º). De certa forma, esse binômio já era praticado, por usos e costumes, por se tratar demedida que exige envolvimento completo dos trabalhadores e grau máximo de sacrifício,muito além do corte das horas extras, da cesta básica ou do vale-refeição. Talvez o únicoalento, diante da notícia do rebaixamento de 10%, 20% ou 30% do salário, seja ocompromisso de que o empregado não será dispensado enquanto perdurar aexcepcionalidade. Não se pode criticar esse dispositivo, exceto pelo fato de que ele nãoprevê teto para a redução nem para o prazo de duração da cláusula de crise.

9. Há dificuldade de compreensão do art. 611-A, § 4º, sendo muito difícil prever seudesdobramento. Apesar de ter sido dito que uma cláusula não precisa ser justificada oubalanceada por outra (§ 2º), há previsão de que, se houver a contrapartida, esta deverá seranulada em conjunto com a cláusula benéfica (§ 4º). Por exemplo, se a redução salarialcair, então também a garantia de emprego deve ser invalidada. Mas nem sempre será fácilenxergar qual cláusula foi negociada em benefício da outra, salvo se os sindicatospassarem a indicá-las expressamente. Em geral, o advogado e o juiz leem a norma coletivasem a mínima noção da ordem com que foram pactuadas as cláusulas ou como se chegouao consenso sobre, digamos, o adicional de horas extras.

10. Por fim, o legislador, num lance ousado, criou uma espécie anômala delitisconsórcio necessário, obrigando o sindicato a figurar no polo passivo da demandajudicial em que se postula a nulidade da cláusula. Na verdade, a figura do litisconsórcionecessário não seria a mais adequada, pois o trabalhador, quando aciona a empresareivindicando pagamentos decorrentes de cláusulas normativas ilegais, não possui relaçãojurídica com o sindicato, direta ou indiretamente, que justifique a figura de intervenção deterceiro do processo civil. Pior ainda se a gente imaginar que também o sindicato patronalterá de vir ao processo, se se tratar de convenção coletiva. Quando muito, poderíamosimaginar a hipótese de assistência simples – que é aquela modalidade de intervenção emque o terceiro, como o sindicato, concorre com provas e argumentos em busca de umaprestação favorável ao assistido, como a empresa, a fim de não deixar que uma decisãojudicial possa acarretar prejuízos indiretos.

11. Obrigar o trabalhador a demanda contra seu sindicato evidentemente foi umaestratégia bem pensada para minar a resistência, demovendo-o da ideia, ou até mesmopara colocar seu sindicato contra ele próprio. Causa ainda mais espanto o fato de que oprocesso do trabalho, durante décadas, nem ao menos admitia a intervenção de terceiros,resistência ligeiramente abrandada após a EC 45/2004, que passou a admitir outras formasde relação de trabalho e algumas competências não afetas à relação de emprego sensoestrito. A obrigatoriedade do litisconsórcio passivo vale também para a ação civil pública eas ações coletivas que veicularem pedido de anulação de cláusula. Evidentemente o artigo611-A, § 5º, perde seu objeto se o autor da ação anulatória for a própria entidade sindical.

12. Sob esse fino equilíbrio e total imprevisibilidade de como irão reagir os tribunaisdiante da onda do “negociado sobre o legislado”, vejamos as propostas do legislador paraliberar as negociações e alguns dos empecilhos que serão levantados:

a) o rol do art. 611-A é meramente exemplificativo, o que foi enfatizado pela expressão“entre outros”, prevista em seu caput;

b) o tema da duração da jornada é um exemplo recorrente, pois a própria CFcontempla a hipótese do acordo de compensação de horas via negociação coletiva; adiferença fica por conta do período destinado a essa compensação – semanal, mensal,semestral ou anual; para fins dos contratos individuais, o acordo de compensação deve ser

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mensal e o banco de horas, semestral; para os fins da negociação coletiva não há, em tese,limite máximo; a negociação coletiva não pode suprimir o descanso semanal remunerado,pois este tem assento constitucional, ainda que seja deslocado do domingo;

c) o inciso III admite a negociação do intervalo, desde que respeitado o mínimo de meiahora; ao fim e ao cabo, foi importante a fixação desse piso, sob pena de encontrarmosnegociações com almoço zero ou jantar de 10min; há chance de a jurisprudênciatrabalhista invalidar essa cláusula, nada obstante o disposto no art. 611-A, III, e 611-B, p.único, sob o fundamento de que a redução da refeição, se não proporcionadas condiçõesadequadas, possa colidir com o propósito de redução de acidentes de trabalho (art. 7º,XXII); reforçará o argumento dessa corrente o fato de ter sido mantida intocada aexigência de autorização prévia da autoridade trabalhista para a redução do intervalo(art. 71, § 3º);

d) aderir ou não aderir a planos de preservação de emprego (tema do inciso IV), comoaquele da Lei 13.189/2015, ou aos programas de suspensão temporária para requalificação(art. 476-A) já eram matérias próprias para a negociação coletiva;

e) a empresa pode fazer seu regulamento interno (de que fala o inciso VI) e seu planode cargos e salários (mencionado no inciso V) sem passar pelo crivo da norma coletiva,mas, caso o faça tendem a obter maior blindagem quanto ao questionamento de ser umdocumento unilateral, prejudicial ou desprovido de publicidade;

f) a razão de ser da definição dos cargos de confiança em norma coletiva (inciso V) sópode ser a proteção ao empregador em eventual ação trabalhista com pedido de horasextras por parte do empregado assim enquadrado; no entanto, dificilmente a Justiça doTrabalho encarará esse tipo de cláusula como uma forma de presunção absoluta deenquadramento do cargo na exceção do art. 62, II, da CLT; a nomenclatura utilizada paradefinir o cargo é irrelevante para o direito do trabalho, sendo prioritária a análise doconteúdo da função real e não meramente da função prescrita; logo, essa cláusuladesfrutará apenas de presunção relativa;

g) o inciso VII refere a eleição e o modo de operação do representante dos empregados,oriunda do art. 11 da CF; o tema foi tratado pelos arts. 510-A a 510-D, enxertados à CLTpela reforma trabalhista, de modo que sua pactuação coletiva não é mandatória; podem,no entanto, ser incrementados elementos sobre a quantidade de empregados eespecificadas algumas funções; dificilmente haverá desenvolvimento teórico ou práticodessa cláusula, haja vista que a representação é essencialmente não sindical e até mesmopode haver um conflito entre ela e os sindicalistas;

h) o teletrabalho (art. 62, III, e arts. 75-A e seguintes) e o trabalho intermitente (art. 452-A), também chamado de contrato-zero, foram inseridos na CLT na mesma reformatrabalhista e dispõem de diversas diretrizes; podem, da mesma forma que os incisosanteriores, ganharem alguns contornos adicionais via negociação coletiva, comorequisitos mínimos de validade, quantitativos e alguns benefícios assistenciais para essesdois grupos bastante vulneráveis de trabalhadores;

i) o inciso VIII se lembrou, também, de mencionar o regime de sobreaviso, assimchamado o tempo em que o empregado fica no aguardo de chamados do empregador, masem outros locais, como sua casa ou sua esfera de lazer; previsto inicialmente para osferroviários (art. 244, § 2º, CLT), o regime foi expandido por analogia para todas asprofissões que se valem de telefone celular ligado 24h por dia e outros mecanismos deacionamento remoto; inequivocamente, a presença desse inciso na lista do art. 611-Aobjetiva tornar menos vulneráveis as regras do sobreaviso na empresa, mas para tantodeve haver clareza e, sobretudo, escala de plantão, tal como consta do art. 244 da CLT, de

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forma a que ninguém seja obrigado a carregar o celular 30 dias por mês; do contrário, seráapenas uma regra de precarização;

j) o inciso IX menciona negociação coletiva sobre distribuição de gorjetas, o que estáem sintonia com o art. 457 da CLT, com a redação dada pela Lei 13.419/2017, bem assimimplantação de sistemas de remuneração por produtividade e desempenho, e, ainda,prêmios de incentivo (inciso XIV) e participação em lucros ou resultados (inciso XV);

k) o inciso X autoriza a negociação coletiva dispor sobre o regime de registro dejornada; haverá forte tensão neste particular, porque a jurisprudência do TST invalidoucláusulas que previam o não registro da jornada ou a marcação apenas das horas extras –o que ficou conhecido como marcação por exceção; o registro da jornada se insere nasnormas de direito tutelar pois alcança outros objetivos além de simples pagamento dashoras extras, como a verificação da assiduidade, da pontualidade, da conexão entre ajornada e o acidente de trabalho e assim por diante; afora isso, o TST mantém firme oentendimento da Súmula 338, no sentido de que o ônus da prova da jornada é doempregador que possua os registros de ponto, sendo temerário que este, em contestação,alegue que não juntará cartões de ponto por orientação da entidade sindical; portanto,esse inciso deve ser interpretado restritivamente, entendendo-se “modalidade” de registrode jornada a escolha entre o meio físico, o mecânico e o eletrônico, e não a dispensa doregistro;

l) o inciso XI, sobre troca do dia de feriado, pode resolver antiga pendência sobre comose compensar a jornada na “ponte” do feriado ou como deslocar o feriado para a semanaanterior ou seguinte e, assim, fazer “emendas” mais adequadas à produção; tecnicamenteo feriado não pode ser deslocado, porque a Lei 605/1949 manda que a compensação recaiasobre a mesma semana; ao inserir feriado na negociação coletiva, a empresa obtém umaespécie de banco de horas só de feriados, o que é lícito e adequado ao papel dessamodalidade estendida de compensação de jornada;

m) dificilmente obterá êxito o inciso XII: bastante ousado, ele prevê que a negociaçãocoletiva estipule livremente o grau do adicional de insalubridade, em evidentecontradição com o art. 611-B, XVII, que afirma ser matéria infensa à negociação coletiva odisposto nas normas regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho; como se sabe, asNRs são a espinha dorsal do modesto sistema brasileiro de saúde, higiene e segurança dotrabalho – tudo mantido intacto pela reforma, que deixou de escapar preciosaoportunidade para atualizar nossos indicadores datados dos anos 1970; a ilegalidade desseinciso é flagrante e será altamente perigoso que algum empregador avance nessanegociação para, ao depois, ver a cláusula invalidada e o pagamento da diferença doadicional determinado em decisão judicial; se ele não for derrubado pelo próprio governofederal na prometida “reforma da reforma”, certamente o será pela via judicial;

n) igualmente temerária é a fixação de horas extras – remuneradas ou compensadas –em ambientes insalubres, sem a aprovação das autoridades especializadas na matéria;justifica-se a celeuma em torno dessa prorrogação porque não se trata meramente decompensação ou de banco de horas, mas de superexposição do trabalhador a agentesfísicos, químicos e biológicos acima dos limites de tolerância; esses limites – que são elespróprios controvertidos, porque são volúveis e apanham apenas um espectro detrabalhadores, e não aquelas hipersuscetíveis – são calculados mundialmente parajornadas de 8h no máximo, donde a inviabilidade de o empregado ficar exposto a essesagentes em períodos superiores; por exemplo, a pressão sonora máxima que umtrabalhador pode receber é de 85dB, para 8h; sua permanência nesse ambiente por 10h ou12h é via expressa para a surdez ocupacional, sendo absolutamente irrelevante se ele vaidesfrutar folga no dia seguinte ou na outra semana; diante dessas premissas,

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consideramos inconstitucional a liberação irrestrita das horas extras em ambienteinsalubre, ainda que pela negociação coletiva, por ser matéria infensa a esta autonomia epor estar em colisão com os propósitos constitucionais de redução de acidentes detrabalho (art. 7º, XXII); em suma, o inciso XIII, tal como o inciso anterior, deve desaparecerna onda da reforma da reforma ou, se sobreviver, cairá pela via judicial.

FIQUE DE OLHO: O governo federal admitiu que, embora não tenha permitido ao Senado votaros dispositivos separadamente, houve grande ousadia na redação dos incisos XII e XIII do art. 611-A, ao deixar a critério das partes a fixação dos graus de insalubridade – contra texto expresso de

normas em geral e da própria Lei 13.467/2017 em particular – e ao liberar as horas extras emambiente insalubre. Promete empreender uma reforma da reforma em que a liberação será maiscomedida, exigindo-se o respeito às normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstasem lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Não fará nenhuma caridade,mas apenas o cumprimento da lei. Aparentemente, nem a reforma da reforma salvará o pessoal

da jornada 12x36, pois o art. 60, parágrafo único, deve manter a redação dada pela Lei13.467/2017, no sentido de liberar sua ocorrência em ambiente insalubre. Para essa jornada, a

única promessa do governo é voltar a exigir negociação coletiva para sua fixação, retirando-se aautorização de acordo individual que consta do art. 59-A, na redação dada pela reforma. A

pressão sobre as contas previdenciárias será colossal no espaço de 5 a 10 anos, com o aumentodos casos de doença ocupacional motiva pela exposição dos trabalhadores aos agentes insalubresacima dos limites legais, pois estes foram concebidos para o patamar máximo e inegociável de 8h.

Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo detrabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos:

I – normas de identificação profissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho ePrevidência Social;

II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

III – valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia doTempo de Serviço (FGTS);

IV – salário mínimo;

V – valor nominal do décimo terceiro salário;

VI – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

VII – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;

VIII – salário-família;

IX – repouso semanal remunerado;

X – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% (cinquenta porcento) à do normal;

XI – número de dias de férias devidas ao empregado;

XII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salárionormal;

XIII – licença-maternidade com a duração mínima de cento e vinte dias;

XIV – licença-paternidade nos termos fixados em lei;

XV – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nostermos da lei;

XVI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nostermos da lei;

XVII – normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normasregulamentadoras do Ministério do Trabalho;

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XVIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas;

XIX – aposentadoria;

XX – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador;

XXI – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazoprescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos

após a extinção do contrato de trabalho;

XXII – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão dotrabalhador com deficiência;

XXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e dequalquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de

quatorze anos;

XXIV – medidas de proteção legal de crianças e adolescentes;

XXV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e otrabalhador avulso;

XXVI – liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direitode não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial

estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho;

XXVII – direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade deexercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender;

XXVIII – definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobreo atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve;

XXIX – tributos e outros créditos de terceiros.

XXX – as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 destaConsolidação.

 

Parágrafo único. Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas comonormas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo.

1. Enquanto o art. 611-A enaltece o caráter meramente exemplificativo da lista dasmatérias liberadas para a negociação (“entre outros”), o art. 611-B principia afirmandoque o rol das matérias proibidas é taxativo (“exclusivamente”), mas essa afirmação éousada e desprovida de base cientifica. A redação do dispositivo parece ter sido feita àspressas, copiando o art. 7º da CF, sem refletir a existência de outros fundamentos jurídicose legais que inibem a negociação sindical. Há diversos assuntos que devem ser mantidosfora da órbita dos acordos coletivos e das convenções coletivas, servindo como exemplosos seguintes casos extraídos da jurisprudência do TST:

• concessão de reajuste salarial contrário a leis de política salarial (Súmula 375do TST, sem razão para ser alterada);

• fixação de taxas de homologação, contribuição sindical (diante do novoregramento dos arts. 545 e seguintes) e contribuição confederativa (para nãofiliados);

• dispensa de aviso-prévio para o caso de ter havido admissão pela novaempresa prestadora de serviços em regime de terceirização;

• cláusulas com efeitos retroativos;

• descontos salariais superiores a 70% do salário, ao arrepio do art. 82, p.

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único, da CLT (intocado pela reforma);

• cláusulas discriminatórias entre sindicalizados e não sindicalizados;

• discriminação salarial entre adolescentes e adultos, em detrimento do art.227, § 3º, II, da CF;

• restrições ou condicionantes à garantia de emprego da gestante;

• renúncia coletiva de direitos.

2. Com tantas exceções assim, fica difícil sustentar a tese de que o art. 611-B contenhaum rol taxativo de matérias vedadas à negociação coletiva. Impõe-se interpretar oadvérbio exclusivamente como sendo uma prioridade de vedação à negociação coletiva,para os fins daqueles artigos, capítulo ou título da CLT, admitindo-se outras restriçõesoriundas de diferentes passagens do texto constitucional.

3. Vejamos se o legislador andou bem na escolha dos 29 incisos que elegeu comoproibições prioritárias à negociação coletiva:

a) identificação profissional é necessariamente matéria de ordem pública; a falta deregistro afetaria até mesmo os recolhimentos previdenciários (inc. I); a elegibilidade aoseguro-desemprego e ao saque do fundo de garantia também estão fora do alcance daspartes, por se tratar de fundos públicos geridos por conselhos curadores, com receitasvinculadas e diretrizes constitucionais (inc. II e III);

b) salário-mínimo é inegociável, claro está, mas a reforma incentivou maismodalidades de contrato de trabalho com carga reduzida, passível de ser remunerado coma proporcionalidade dos dias e das horas trabalhadas, inclusive o contrato-zero (art. 452-A); assim sendo, o salário-mínimo em questão é o proporcional e não o integral cujo valoré divulgado pela imprensa;

c) o respeito ao décimo-terceiro é mandatório porque ele tem assento constitucional,mas o legislador foi bem ardiloso ao dizer que a observância é apenas do valor nominal,abrindo brecha para as partes negociarem a retirada dos reflexos e das integrações (inc.V);

d) salário-família (inc. VIII), licença-maternidade (inc. XIII), aposentadoria (inc. XIX) eproteção ao acidente de trabalho (inc. XX) são prestações previdenciárias e nada têm a vercom a negociação coletiva; nem deveriam ter perdido tempo com essas menções, queapenas evidenciam a ânsia de recortar o art. 7º e colar na CLT;

e) o repouso semanal é inegociável pois está na CF e dispõe de norma própria (Lei605/1949), mas o legislador permite a maleabilidade do dia, inclusive a alteração doferiado (art. 611-A, XI);

f) horas extras abaixo de 50% não podem ser pactuadas, pois o percentual foiconstitucionalizado; ocorre que a reforma de 2017 inseriu modalidades de horas extrasindenizatórias, o que significa que elas ficam prejudicadas na base de cálculo e nosreflexos (art. 71, § 4º); o adicional de remuneração não é a única forma de enriquecimentodas horas extras;

g) a quantidade de dias de férias não é matéria constitucional, porque a previsão éapenas que as férias sejam anuais, e remuneradas com o acréscimo de um terço, como sesabe; mas, por cautela, a reforma houve por bem determinar (inc. XI e XII) que sejarespeitada a tabela do art. 130 da CLT, que concede, em princípio, 30 dias de férias para

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todos os empregados;

h) licença-paternidade, de fato e de direito, até hoje não foi regulamentada no Brasil;usa-se o prazo de 5 dias previstos no art. 10, § 1º, do ADCT, mas isso deveria ter sidoapenas uma ponte para a legislação superveniente; a Lei 13.257/2016 não criou a licença-paternidade porque não instituiu benefício previdenciário, com custeio socializado nasociedade, mas apenas permitiu que algumas empresas, tributadas pelo lucro real,ofereçam 15 dias de folga para o empregado que for pai, em troca de dedução no impostode renda; logo, o Brasil ainda não oferece essa prestação previdenciária para todos oshomens que forem pais e, portanto, o inc. XIV é uma perda de tempo;

i) se e quando for promulgada a legislação sobre proteção do trabalho da mulher –outra lírica constitucional –, a negociação coletiva não poderá afrontá-la, conforme sedepreende do inc. XV do art. 611-B;

j) a negociação não pode colidir com normas de saúde e segurança do trabalho, reiterao inc. XVI, mas alguns assuntos relevantes, como a supressão parcial da refeição, foramconsideradas matérias não ligadas à saúde pelo mesmo art. 611-B, p. único – algo quereputamos inconstitucional e contraditório, conforme acima nos posicionamos; o maisimportante a ser frisado no inc. XVI foi a lembrança de que as normas regulamentadoras(NRs) do Ministério do Trabalho também tenham de ser respeitadas; elas prestam serviçosnotáveis para a sociedade brasileira, com parâmetros mínimos – conquanto superados –de convivência a ambientes agressivos;

k) prazo prescricional para o acionamento do empregador é matéria de ordem pública(inc. XXI);

l) combate à discriminação da pessoa com deficiência tem assento constitucional e emtratados internacionais (inc. XXII);

m) as normas de proteção à criança e ao adolescente, inclusive as idades mínimas paracontrato de trabalho, escapam à negociação coletiva (incs. XXIII e XXIV);

n) trabalhadores avulsos, que normalmente são os portuários, conquistaram na CFacesso aos mesmos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais (inc. XXV), não seadmitindo recuo nesse sentido;

o) a negociação coletiva não pode reavivar a contribuição sindical obrigatória nemalargar o conceito de contribuição confederativa ou assistencial; a autorização prévia eexpressa do empregado se faz necessária em qualquer hipótese (inc. XXVI);

p) o direito de greve, do art. 9º da CF, não pode ser restringido ou modificado pelanorma coletiva (inc. XXVII), nem mesmo para alterar o conceito de serviços essenciais (inc.XXVIII);

q) recolhimentos previdenciários e fiscais não podem ser adulterados (inc. XXIX), oque, a nosso sentir, implica responsabilidade dos sindicatos quanto à fixação da naturezajurídica das parcelas, ou seja, não podem chamar de indenização aquilo que é salário, como propósito de retirar-lhe da base de cálculo do INSS;

r) normas de proteção ao trabalho das mulheres, gestantes ou não, previstas pelosartigos mencionados no inciso XXX, a saber: proibição de atestado de esterilidade e outraspráticas discriminatórias (art. 373-A); limitação ao carregamento de peso pela mulher em20 ou 25kg, apesar de essa norma se achar totalmente obsoleta em face das diretrizesbásicas da ergonomia previstas na NR 17 (art. 390); direito à licença-maternidade de 120

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dias, tema já constitucionalizado (art. 392); direito à licença-maternidade em caso deadoção (art. 392-A); direito à rescisão indireta da gestante tratada com rigor excessivo (art.394); questões relacionadas com o trabalho da gestante em ambiente insalubre (art. 394-A); licença de duas semanas em caso de aborto (art. 395); direito à amamentação com duaspausas de 30min cada uma (art. 396), bem como instalações apropriadas para tanto (art.400).

Art. 614. ................................................. 

.................................................................

§ 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo detrabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.

1. A reforma de 2017 manteve intocados os prazos de vigência da norma coletivaautônoma (dois anos – art. 614) e do dissídio coletivo (quatro anos – art. 868, p. único), mastocou num vespeiro: saber se as cláusulas coletivas se incorporam ou não ao contratoindividual de trabalho, fenômeno conhecido pela expressão ultratividade.

2. Durante décadas se entendeu, na doutrina e na jurisprudência trabalhista, que avigência da norma coletiva era tão ou mais importante que seu conteúdo, compondo umacláusula distinta e importante. Assim, expirada a vigência, expiravam todos os efeitos danorma, sem que se cogitasse da ultratividade. Adicional de horas extras a 60%, adicionalnoturno a 40%, pagamento de cesta-básica e vale-refeição, dentre outras vantagens,caducavam no dia seguinte ao término da vigência da norma coletiva, voltando ostrabalhadores ao patamar básico da legislação – horas extras a 50%, adicional noturno a20% - ou retirando-se os direitos em caso de ausência de estipulação legal.

3. Havia algumas dúvidas, porém, sobre situações específicas, como o reajuste salariale o direito a uma garantia de emprego que perdurasse por mais tempo do que a vigênciada norma. O consenso encontrado foi no sentido de que reajustes não podem ser retiradosdepois de incorporados ao salário básico, de um lado, e garantias deveriam serrespeitadas, de outro lado, contanto que os requisitos houvessem sido todosimplementados pelo trabalhador dentro do prazo da vigência.

4. A discussão ganhou novo fôlego, todavia, com a redação dada pela EC 45/2004 ao art.114, § 3º, da CF. Na oportunidade, a norma constitucional assentou que o podernormativo, conquanto restringido para certas hipóteses, estava obrigado a aferir ascláusulas anteriormente convencionadas, não sendo possível suprimi-las sem novanegociação. Embora os assuntos sejam diferentes quanto à origem – negociação coletivaautônoma é a raiz da convenção coletiva e decisão heterônoma é a base do dissídiocoletivo – há muita semelhança no fato de que um instrumento substituiu o outro e podemse revezar ao longo dos anos, de acordo com o êxito da negociação dos sindicatos.

5. Foi assim que, após alguns anos de reflexões sobre o art. 114, § 2º, da CF, o TSTalterou seu entendimento histórico e passou a admitir, sim, a ultratividade para ascláusulas da norma coletiva autônoma. Houve alteração profunda na redação da Súmula277, em setembro de 2012. O peso do tempo passou a recair sobre os ombros doempregador: antes, quando a negociação fracassava ou quando houvesse vazio normativoentre uma data-base e a próxima, os trabalhadores ficavam privados das vantagensadquiridas e tinham pressa na nova rodada de negociações; a partir de setembro de 2012,os patrões passaram a ter pressa, porque se houvesse silêncio ou frustração dasnegociações, prevalecia o instrumento normativo anterior, mantido por simples inércia.

6. Passados mais quatro anos, quando o assunto parecia caminhar para umassentamento da poeira, surge decisão liminar do STF, na ADPF 323, em que a postura

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revisionista do TST é criticada, a insegurança das relações jurídicas é salientada e, enfim, aSúmula 277 tem sua eficácia suspensa. A liminar é de outubro de 2016, não levada aPlenário até a época da redação deste livro. É neste estágio que a reforma de 2017 apanhaa discussão sobre a ultratividade.

7. Mas, na verdade, a lei ordinária não é o local apropriado para esse debate. Ojulgamento do STF terá de prosseguir em qualquer hipótese, seja para alcançar assituações pretéritas, sobretudo aquelas de setembro de 2012 a outubro de 2016, seja paratraçar uma diretriz para o futuro. Ou seja, caso o STF acompanhe o entendimento do TST,no sentido de que o art. 114, § 3º, sinaliza favoravelmente à ultratividade das cláusulasnormativas, o art. 614, § 3º, terá de ser declarado inconstitucional, por desafiar norma dehierarquia superior. Caso, ao revés, seja considerado equívoco no entendimento daSúmula 277, o art. 614 ficará apenas como um símbolo refratário à ultratividade. Areforma, no particular, mostra-se de secundária importância e desempenha papel mais dechamariz do que de conteúdo histórico sobre o fenômeno da incorporação das cláusulas.

Art. 620. As condições estabelecidas em acordo coletivo de trabalho sempre prevalecerãosobre as estipuladas em convenção coletiva de trabalho.

1. Nosso livro Direito Coletivo do Trabalho, Volume 7 da coleção Curso de Direito doTrabalho Aplicado, sustenta, desde a primeira edição em 2007, que um bom critério deanálise do confronto entre convenção coletiva e acordo coletivo é realmente aespecificidade. Por esta palavra, queremos dizer que o acordo, por ser mais específico epor apanhar a realidade da empresa mais de perto, deveria sempre ter primazia sobre aconvenção coletiva. Entendemos conveniente o critério da especificidade, por considerarque a convenção coletiva entre duas entidades sindicais conteria o básico, ao passo queempresas com melhores condições de negociação ou empresas em situação de crisefinanceira aguda poderiam negociar separadamente algumas cláusulas com a entidadesindical, formando um acordo coletivo apartado. O princípio da especificidade apareceagora incorporado ao art. 620 da CLT.

2. Historicamente, a frase constante do art. 620 era no sentido de que a prevalência nãoestava num ou noutro instrumento normativo, mas naquilo que fosse mais benéfico parao trabalhador. Conquanto redigida da boa-fé, a norma sempre foi considerada muitoconfusa e objeto de incontáveis discussões. Por exemplo, o mais benéfico para umempregado com filhos pode não ser mais benéfico para o empregado sem filhos, emconvenções coletivas contendo cláusula de reembolso de material escolar ou gratuidadena mensalidade das crianças na escola; o benéfico para os empregados diurnos não ébenéfico para os noturnos, quando a norma estipula percentuais maiores de adicionalnoturno. Afora isso, a doutrina se esmerou para tentar separar o benéfico caso a caso dobenéfico englobadamente, fazendo um cálculo impossível. Mal comparando é como se anorma mais favorável variasse mês a mês, empregado a empregado.

3. Para piorar ainda mais a situação, o art. 7º, VI, da CF admite a redução salarial oupor acordo ou por convenção: vista a questão por outro ângulo, como se trata de umcomando constitucional, qualquer dos dois instrumentos poderia prevalecer com acláusula maléfica, ou seja, a norma mais benéfica do reajuste cederia diante da normamaléfica do rebaixamento salarial por força do disposto na CF. Daí por que alguns autoreschegaram mesmo a sustentar que o art. 620 teria deixado de ser recepcionado em 1988,porque o princípio da norma mais favorável sofreu abalo com o tema da redução salarialnegociada.

4. A solução da especificidade parece atender também a este conflito, porque umreajuste salarial convencionado para a categoria pode ser excepcionado para umadeterminada empresa em situação pré-falimentar, via acordo coletivo, ao mesmo tempo

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em que uma redução salarial negociada para toda a categoria pode ser deixada de ladopara uma empresa em especial momento de prosperidade, também via acordo coletivo.Há fundamento teórico e prático suficiente para sustentar a especificidade como critériode prevalência da norma coletiva, mas todos devem ficar atentos para a necessidade deredimensionamento do princípio da norma mais favorável, portanto.

 

Art. 634. ..........................................................

§ 1.º.............................................

§ 2º Os valores das multas administrativas expressos em moeda corrente serão reajustadosanualmente pela Taxa Referencial (TR), divulgada pelo Banco Central do Brasil, ou pelo

índice que vier a substituí-lo.

1. A nova redação do art. 634 apenas aclara o que já era entendido pela jurisprudência,quanto à cumulação das responsabilidades trabalhistas, civis e penais, sobretudo naquelescasos de mutilação e óbito em serviço. Há outros tipos penais correlatos ao direito dotrabalho, como a anotação de informações falsas em carteira de trabalho ou folha depagamento (art. 297, § 3º, do CP), que podem gerar punições trabalhistas e criminais.

2. Há grande celeuma em torno do uso da Taxa Referencial porquanto seus índices têmsido historicamente muito baixos e em alguns meses têm zerado. Em célebre julgamentono Plenário do TST – que rechaçou o uso da TR, mas que depois veio a ser desautorizadoem decisão liminar do STF – alguns Ministros chegaram a fundamentar seu votojustamente pelo fato de que correção monetária que nada corrige deveria ser consideradainconstitucional. A fim de não deixar portas abertas, a reforma de 2017 cravou a TR tantoaqui neste dispositivo de correção monetária das multas trabalhistas quanto no art. 879, §7º, para a atualização dos débitos trabalhistas em geral.

3. Ainda assim, a posição destes dois dispositivos (art. 634, § 2º, e art. 879, § 7º) não éconfortável porque eventual declaração de inconstitucionalidade do índice, a serenfrentada pelo STF, jogam por terra as leis ordinárias que dispunham em sentidocontrário.

Art. 652. Compete às Varas do Trabalho:

.............................................................................................

f) decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência daJustiça do Trabalho.

.................................................................

1. O art. 652 sofreu breve alteração para incluir no rol de competências das VarasTrabalhistas a homologação dos acordos extrajudiciais. Talvez a manifestação dolegislador fosse desnecessária, porque o procedimento para apresentação e chancela dessenovo tipo de acordo consta expressamente dos arts. 855-B a 855-E. O fato de se tratar deum procedimento de jurisdição voluntária e a sensação de que a magistratura de primeirograu poderá ser refratária à homologação em série de acordos extrajudiciais – para aquitação do objeto do processo e do extinto contrato de trabalho, formando coisa julgadamaterial sem que tenha sido analisado o contexto – pesaram favoravelmente à inserção daalínea ao rol de competências, antes que alguém se escusasse por este viés. Não hágarantia alguma de que os juízes irão abraçar a oficialização das antigas lides simuladas,chamadas “casadinha” em alguns Estados, mas, pelo menos, o legislador se esforçou.

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Art. 702. ...........................................................

I – .................................

..........................................................................

f) estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de jurisprudência uniforme, pelovoto de pelo menos dois terços de seus membros, caso a mesma matéria já tenha sido

decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, dois terços das turmas em pelomenos dez sessões diferentes em cada uma delas, podendo, ainda, por maioria de dois

terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenhaeficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial;

...................................................................

§ 3º As sessões de julgamento sobre estabelecimento ou alteração de súmulas e outrosenunciados de jurisprudência deverão ser públicas, divulgadas com, no mínimo, trinta dias

de antecedência, e deverão possibilitar a sustentação oral pelo Procurador-Geral doTrabalho, pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Advogado-Geral da

União e por confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.

§ 4º O estabelecimento ou a alteração de súmulas e outros enunciados de jurisprudênciapelos Tribunais Regionais do Trabalho deverão observar o disposto na alínea f do inciso I eno § 3º deste artigo, com rol equivalente de legitimados para sustentação oral, observada a

abrangência de sua circunscrição judiciária.

 

1. Uma das tônicas da reforma trabalhista foi enquadrar o TST, cujas súmulas devemter causado muito desconforto para alguns setores da sociedade. Ao longo deste livro,citamos numerosos entendimentos da instância máxima da Justiça do Trabalho que foramcontrariados ou suavizados pelo legislador, em inequívoco esforço de esvaziar o acervoconceitual elaborado ao longo de décadas. Digo décadas porque foram encontradosdispositivos contrariando súmulas dos anos 1960, como aquela da jornada itinerária, atétemas dos anos 2010, como a ultratividade. Ao mesmo tempo em que as súmulas recebemo dardo envenenado disparado pelo legislador, o art. 702 é reescrito para tentar fechar ocerco e inibir a formação de novos entendimentos sumulados. Por extensão, tambémforam enquadrados os TRTs. Se nós lembrarmos que os recursos de revista praticamentedesaparecem no oceano da transcendência (nova redação ao art. 896-A), não está errada aafirmação de que a edição de súmulas no TST está com os dias contados. Será issorealmente desejável?

2. O TST, com seus erros e acertos, é um tribunal de âmbito nacional que tenta impedirque o direito do trabalho seja concretizado de formas diferentes entre as 27 unidades dafederação. Há expressa promessa constitucional no sentido de que o direito do trabalhoseja monopólio da União e seja uno (art. 22, I), evitando lutas fraticidas e tratamentodiscriminatório entre os cidadãos pelo singelo fato de atuarem em Estados e regiõesdistintas do país. Como o direito não é formado apenas pela produção das normas, mas,sobretudo, pela aplicação delas no tempo e no espaço, a promessa somente poderá sercumprida se, além da produção ficar concentrada apenas em leis federais, suaconcretização ser supervisionada por um órgão central. Bater forte no TST, como fez areforma de 2017, tende a debilitar a legislação trabalhista e abre a perspectiva daproliferação de entendimentos pulverizados, disformes e regionalizados, aumentando ainsegurança jurídica. Empresa de atuação de âmbito nacional deverá sofrer muito comessa inibição jurisprudencial do TST, ao passo que os trabalhadores provavelmentereceberão valores distintos por trabalho igual, dentro da mesma nação. Demonstramos,assim, nossa preocupação com a obsessão do legislador em restringir a atuação do TST.

3. Exemplificativamente, podemos elencar as seguintes súmulas do TST que terão de

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ser revistas, moduladas ou canceladas, pela pressão contrária exercida pelo legislador de2017:

• Súmula 6: equiparação salarial sofre restrições na nova redação do art. 461.

• Súmula 85: houve afrouxamento no controle dos acordos de compensação dejornada;

• Súmula 85, VI: o art. 611-A, XIV, libera a negociação para horas extras emtrabalho insalubre, o que tem duvidosa constitucionalidade;

• Súmula 90: o conceito de jornada itinerária, criado em 1969, sofre abalo coma dicção do art. 58, § 2º;

• Súmula 114: a reforma abre espaço para a prescrição intercorrente;

• Súmula 241: reputa salarial o vale-refeição pago em dinheiro, em colisão como art. 457, § 2º;

• Súmula 277: a ultratividade foi obstada pela lei ordinária, mas pode serreavivada pelo art. 114, § 2º, in fine, da CF.

• Súmula 399: reforma elimina o conceito de estabilidade financeira após 10 ou20 anos de exercício do cargo de confiança.

• Súmula 437: há grande pressão para liberar a redução do intervalo, inclusivedizendo expressamente que ele não é questão de saúde, ao contrário do quedispõe o TST;

• Súmula 444: a jornada 12x36 já embute os feriados, a hora noturna reduzidae a refeição, segundo a reforma legislativa, desautorizando a construção feita peloTST.

4. Também há impactos da reforma sobre o repertório das OrientaçõesJurisprudenciais (OJs):

• OJ 133: TST terá de deliberar se o vale-refeição em dinheiro equivale aotíquete conveniado pelo PAT (art. 457, § 2º);

• OJ 225: empresa sucedida pode ter sido dispensada da responsabilidadesubsidiária, a prevalecer a redação do art. 448-A;

• OJ 270: PDV coletivo tem eficácia liberatória geral, dispõe o art. 477-B.

5. Postas essas premissas, aprendemos pelo art. 702, I, f, que o legislador aumentou ograu de exigência para a formação de súmulas, retirando do TST o poder de regulamentarseu modo de operação por regimento interno, como constava da redação anterior, efixando as seguintes diretrizes:

• aprovação por maioria qualificada (2/3) e não por maioria simples;

• proposta embasada por julgados unânimes em 2/3 das turmas em 10 sessõesdiferentes; há 8 turmas no TST; 2/3 de 8="5,33;" se a proposta for embasada emjulgados de 5 turmas, alguém dirá que isso ficou abaixo de 2/3; assim sendo, anorma induz à afirmação de que são necessários acórdãos unânimes de 6 turmasdiferentes; na prática, a nova regra exige, portanto, ¾ das turmas ou 75% e não

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apenas 2/3 ou 66% como a redação dá a entender;

• não bastasse a necessidade de decisões unânimes de 6 turmas, a norma aindaexige reiteração em dez sessões diferentes, o que dificulta ainda mais selembrarmos que todas as sessões terão de ter processos da mesma matéria;

• a norma eliminou acórdãos por maioria para fins de elaboração de súmulas,mas nós sabemos que a unanimidade é realmente muito rara em órgãoscolegiados;

• a norma ignora a existência das seções especializadas, que são tão caras àestrutura do TST; há evidente contrassenso neste particular, porque as decisõesdas turmas, utilizadas com suporte para as súmulas pelo art. 702, podem ter sidorevistas pelo órgão de hierarquia superior, que é a SDI 1 do TST, em julgamento derecurso de embargos; a pressa com que a reforma trabalhista foi aprovada nãopermitiu ao legislador observar que este será um raro caso de formação desúmula com julgados de hierarquia inferior;

• modulação dos efeitos das súmulas no tempo e no espaço pode ser deliberadaigualmente pela maioria qualificada de 2/3;

• os procedimentos parecem aplicáveis também para as orientaçõesjurisprudenciais (OJs) porque a norma refere “outros enunciados dejurisprudência uniforme”; só posso imaginar, portanto, o desaparecimento dasOJs porque sua ideia original era justamente se afastar dos rigores da elaboraçãodas súmulas e permitir maior agilidade em sua aprovação, revisão ecancelamento, com menores quantidades de acórdãos; os arts. 165 e 171 do RITSTestão em xeque;

• todas as propostas devem passar pelo conhecimento prévio da OAB, da AGU,do MPT e, ainda, das Confederações Sindicais, que passam a ter direito asseguradoà sustentação oral; ou seja, o dia da votação terá sessões intermináveis, que talveztenham de se desdobrar para dar conta de todos os pedidos de sustentação oral;fosse essa regra aplicada no STF, teria de ser cancelado dispositivo de seuregimento interno que proporciona a aprovação de súmulas por plenário virtual,sem sustentação oral;

6. Almeja o art. 702, § 4º, que esses procedimentos draconianos se apliquem tambémaos Tribunais Regionais do Trabalho. Como a pressa é inimiga da perfeição, o desesperona aprovação da reforma de 2017 não permitiu que quem a redigiu fosse alertado que CLTacabara de ser reformada, pela Lei 13.015/2014, para exigir a uniformização dajurisprudência regional, tão logo se detecte o entendimento conflitante dentro do mesmoregional, sob pena de não ser processado o recurso de revista (art. 896, §§ 3º e 4º). Não hátempo nem espaço para esperar que cada Regional tenha consenso para a formação dassúmulas. Assim sendo, inviável que se esperem 10 acórdãos unânimes de 2/3 das turmas –por exemplo, no TRT da 2ª Região, com 18 turmas, isso equivaleria esperar que 12 turmasalcançassem a unanimidade em 10 sessões diferentes –, para que, somente depois, sejamelaboradas as súmulas ou “outros enunciados”.

7. O legislador coloca os TRTs numa situação dificílima. Se forem seguir à risca omanual de elaboração das súmulas e enunciados, nunca mais vão processar recursos derevista, que ficarão todos à espera da formação do caldo de cultura para o embasamentodos novos verbetes. Processos serão sobrestados à razão das dezenas de milhares. Se nãoforem seguir à risca o procedimento, poderão ser acusados de usurpação de poderes e deprodução de súmulas ao arrepio da lei. Como a lei não contém palavras inúteis e não

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podemos trabalhar com a percepção de que quem escreveu o art. 702 ignorava o trâmitedo recurso de revista, impõe-se propor uma solução de equilíbrio. Assim, entendemos queas diretrizes do art. 702 servem apenas para a formação de súmulas de jurisprudênciauniforme, ao passo que o art. 896, §§ 3º e 4º, é e continua a ser fonte de julgamento deincidente de uniformização de jurisprudência (IUJ) para os fins da tramitação do recursode revista, com toda sua disciplina e complexidade (arts. 896-B e 896-C inclusive). Comoafirmam alguns doutrinadores, as súmulas são mais perenes e vinculativas, sendo forçosoadmitir que os incidentes passam a ser mais vulneráveis e meramente persuasivos. Tudoisso era realmente dispensável, ficando difícil esconder o caráter retaliativo da reforma.

8. E ainda há mais um grão de sal: o art. 702 não poderá ser aplicado tampouco àsnovas figuras processuais de padronização de jurisprudência previstas pelo NCPC, a saber,o incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 976) e o incidente de assunção decompetência (art. 947). Ambas figuras possuem regramento próprio no NCPC, que colidemcom o engessamento da nova redação do art. 702 da CLT. Se for esperar os 120 acórdãosunânimes, por exemplo, o TRT da 2ª Região julgará o incidente depois que a matériadeixou de ter demandas repetitivas. O caso do IAC é ainda mais flagrante, haja vista queseu propósito é justamente antecipar o dissenso, proferindo-se decisão célere, “avocando”a competência se preciso for. O que se pode argumentar, por amor ao equilíbrio entre doisconjuntos antagônicos de normas, é que o art. 702 diz respeito às súmulas senso estrito, aopasso que o IUJ (art. 896, § 3º, CLT), o IAC e o IRDR dizem respeito a normas especiais depadronização de decisões para destravar o andamento de outros recursos eprocedimentos judiciais. Como a norma especial prefere à norma geral, o art. 702, § 4º, daCLT, cede diante das normas específicas.

Art. 775. Os prazos estabelecidos neste Título serão contados em dias úteis, com exclusão dodia do começo e inclusão do dia do vencimento.

§ 1º Os prazos podem ser prorrogados, pelo tempo estritamente necessário, nas seguinteshipóteses:

I – quando o juízo entender necessário;

II – em virtude de força maior, devidamente comprovada.

§ 2º Ao juízo incumbe dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meiosde prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à

tutela do direito.

1. A reforma trabalhista pegou carona na alteração empreendida pelo art. 219 do NCPC,de 2015, e passa a estipular a contagem dos prazos processuais em dias úteis. Para muitosescritórios, essa alteração representa um bálsamo, para melhor gestão dos prazos e dasprioridades, mas o processo do trabalho como um todo se afasta cada vez mais de seusideais de celeridade e de afirmação dogmática. Aos poucos, sua identidade desaparece. Anova redação do art. 775 faz lembrar, corretamente, que a contagem em dias úteis dizrespeito unicamente aos prazos processuais, “neste título”, de modo que continuam a sercontados em dias corridos os prazos do direito material do trabalho, como o gozo dasférias (art. 130), o aviso-prévio (art. 487) ou a data limite para pagamento das verbasrescisórias (art. 477).

2. Já havia previsão, na redação anterior, para flexibilização dos prazos, mas o fato éque o processo do trabalho quase nunca se vale dessa excepcionalidade. Talvez com aredação mais clara e menos exigente, as Varas Trabalhistas passem a adequar mais prazosa peculiaridades locais. A expressão “quando o juízo entender necessário” representa tipoaberto sujeito a múltiplas interpretações – mas o risco, no particular, é sua banalização,gerando insegurança jurídica e tratamento discriminatório entre as partes e entreprocessos em situações análogas. Isso precisa ser vigiado para que não haja abuso na

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dilação de prazos. Admito que o juiz do trabalho deva sofrer questionamento em correiçãoparcial se, em dois casos idênticos, dilatar o prazo para uma parte e não para a outra, ouse dilatar prazo para uma parte num processo e não para outra parte noutro processo,cuja contingência seja de mesma origem, porque, nesses exemplos abstratos, o magistradoprovocará tumulto na boa ordem processual, sem razão objetiva de ser.

3. A nós nos parece que o comando do art. 775, § 2º, diz respeito apenas aos prazos quenascem e morrem no âmbito da mesma unidade judiciária, como o prazo de 10 dias para ocálculo de liquidação (art. 879 da CLT) ou o prazo de 5 dias para a contraminuta aosembargos à execução (art. 884). Não pode o magistrado alterar prazos de recursos a seremanalisados pela instância superior, que detém a palavra final sobre aquele procedimento.Assim, se a parte perder o prazo de 8 dias (agora, úteis) para o recurso ordinário, não é aVara Trabalhista que decidirá a respeito de sua plausibilidade, mas a Turma do TRTcompetente. Quando muito, o juiz poderá despachar no sentido de dar processamento aorecurso, por cautela, submetendo a postulação ao tribunal recursal. Da mesma forma, nãopoderá o desembargador exercer juízo de valor sobre a perda do prazo do recurso derevista.

4. Outra observação importante diz respeito à natureza dos prazos em geral: os prazosrecursais são preclusivos e peremptórios, somente podendo ser alterados por força maior– o que, na hipótese, representa enquadramento no art. 775, § 1º, II. A maleabilidadeampla de prazos de que trata o inciso I diz respeito apenas aos prazos não fatais, quepodem ser fixados e alterados pelo magistrado, como a apresentação de quesitos emperícias, a manifestação sobre documentos novos e assim por diante. A alteração deprazos expressamente previstos em lei deve se pautar pelo critério da excepcionalidade,tal como já constava da redação anterior e como permeia o processo civil. A redaçãoanterior do art. 775, só pra lembrar, terminava dizendo que a ampliação do prazo era feita“pelo tempo estritamente necessário pelo juiz ou tribunal, ou em virtude de força maior,devidamente comprovada”.

5. Os prazos podem ser prorrogados nas hipóteses dos incisos I e II do § 1º do novo art.775. Prorrogar significa postergar, ampliar. Logo, não há espaço para encurtamento deprazos, o que somente pode ocorrer, sob certas circunstâncias, para prazos nãopreclusivos, com a concordância expressa das partes, apoiando-se da previsão do art. 191do NCPC.

Art. 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações eprocedimentos de competência da Justiça do Trabalho, bem como nas demandas propostas

perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição trabalhista, as custas relativas aoprocesso de conhecimento incidirão à base de 2% (dois por cento), observado o mínimo de

R$ 10,64 (dez reais e sessenta e quatro centavos) e o máximo de quatro vezes o limitemáximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, e serão calculadas.

1. Não houve mudança nos parâmetros de fixação das custas processuais trabalhistas,que seguem o padrão de 2% sobre o valor da condenação arbitrada pelo juiz ou sobre ovalor da causa ou do acordo, conforme o caso. A novidade oriunda da reforma de 2017reside na fixação de teto para as custas. Já havia o piso, de R$ 10,64, que está relacionadoao valor mínimo que consegue ser recolhido na rede bancária a título de encargosfederais. Não havia qualquer previsão para teto de custas, embora houvesse previsão deteto para depósito recursal.

2. O teto para as custas processuais – fixado em quatro vezes o valor máximo dosbenefícios previdenciários, ou seja, cerca de 22.000 reais quando da promulgação dareforma – tem razão de ser porque valores muito elevados podem inibir o acesso aosistema recursal. Explica-se. Julgados reiterados do STJ, do TST e do STF convergiram no

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sentido de que os depósitos recursais administrativos, como aqueles para recorreradministrativamente das multas da fiscalização trabalhista, não podiam ser ilimitados,sob pena de inviabilizar a própria essência da recorribilidade. Depósitos ilimitados foramassim, um a um, julgados inconstitucionais. Aplicando-se o raciocínio para as custas,também elas devem ter algum parâmetro.

3. Tome-se como exemplo uma ação civil pública com sentença condenatória, digamos,de 10.000.000 de reais: neste caso, o depósito recursal é feito com o teto legal – de 9.000reais à época da promulgação da reforma, em julho de 2017 – mas as custas, calculadas àrazão de 2%, montavam a 200.000 reais. Uma desproporcionalidade. E se a ação civilpública for estipulada em 1 bilhão de reais, o depósito recursal continua em 9.000 reais eas custas subiam para 20.000.000 de reais. Claro que não é todo dia que uma VaraTrabalhista profere sentenças de oito ou nove dígitos, mas os exemplos são válidos parailustrar a incongruência das custas ilimitadas. Doravante, todos esses exemplos teriamcustas de 22.000 reais (quatro tetos previdenciários).

4. Vale lembrar que as custas, ao contrário do depósito recursal, não se destinam agarantia o juízo nem a exibir lastro financeiro do recorrente: ao revés, elas se destinam aremunerar minimamente o erário elos gastos com o processo, não sendo crível que umprocesso custe vinte milhões de reais aos cofres públicos. Quem deveria ser ilimitado, sefosse essa a questão, era justamente o depósito recursal (garantidor da execução futura eincerta) e não as custas processuais. Por isso, a mudança, no particular, encontrafundamento jurídico e doutrinário. O único depósito sem teto, hoje, é aquele para garantiada execução (art. 882 da CLT), local em que a reforma atuou não para impor um teto, maspara permitir meios alternativos (e criativos), como o seguro-fiança.

Art. 790. ......................................................

...................................................................

§ 3º É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho dequalquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita,

inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ouinferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de

Previdência Social.

§ 4º O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência derecursos para o pagamento das custas do processo.

1. Foi mantida a regra da concessão da justiça gratuita pelas duas vias – de ofício ou arequerimento da parte – bem assim o alcance mais amplo dos benefícios – para custas epara emolumentos, que são as despesas extraprocessuais do art. 789-B. As mudanças maisexpressivas ocorreram quanto (a) aos honorários do perito (art. 790-B), (b) aos honoráriosde advogado (art. 791) e (c) quanto a inserção no corpo da CLT dos arts. 793-A a 793-Dsobre o tema da responsabilidade por abuso processual, tudo a ser analisado abaixo.

2. Há presunção de pobreza para pessoas que recebem 30% do teto da Previdência.Arredondando o teto para 6.000 reais, à época da promulgação da reforma, o valorrepresenta 2.000 reais. Não é muito diferente, em realidade, do significado da expressão“dobro do salário-mínimo”, muito comum nas normas que cuidam de justiça gratuita. Masa fórmula apresenta a vantagem de tirar a indexação do salário-mínimo, expressamentevetada pelo art. 7º, IV, da CF, e que, vez por outra, encontra forte oposição nos julgados doSTF – como ocorreu com o adicional de insalubridade na controvertida Súmula Vinculante4.

3. No entanto, a reforma deixou escapar entre os dedos a grande oportunidade dedefinir se a justiça gratuita (a) leva em consideração o salário presente ou o salário à

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época do contrato de trabalho questionado e (b) deve analisar o patrimônio imobilizadodo requerente. São assuntos controvertidos bastante conhecidos dos órgãos julgadores.Uma pessoa pode ter salário de 10.000 reais à época do contrato e estar desempregada àépoca do processo – aliás, o cenário mais provável, dado que a Justiça do Trabalho é aJustiça dos Desempregados – de modo que o julgador deveria se abster de confrontar opedido com um salário que não existe mais. Ao revés, uma pessoa podia ganhar 2.000reais à época do contrato e atualmente se encontrar recolocado em outra empresa comsalário, digamos, de 6.000 reais. Há chances de essa pessoa perder os benefícios da justiçagratuita, mas, para tanto, alguém terá de delatar a existência do novo salário, pois ele éinformação estranha aos autos. Por fim, situação bastante desconfortável é o pedido dejustiça gratuita de quem ganhava 20.000 reais por mês, acha-se atualmente sem registroem carteira – portanto, desempregado para fins estáticos – mas é donatário de bensexpressivos, possui elevado padrão de vida, circula com carros de alto valor e assim pordiante. Muitas empresas fazem a impugnação ao pedido de isenção formulado peloreclamante e não obtêm êxito, sob o argumento de que o único critério válido para essaaferição é o salário, senso estrito, provado por registro em carteira. Há praticamentepresunção absoluta, nos julgados trabalhistas, quanto à pobreza declarada pelotrabalhador desempregado, quando, na verdade, deveríamos lidar com o conceito depresunção relativa, admitindo provas contrárias à alegação de pobreza jurídica. Andou-me muito para ficar no mesmo ponto. Mera troca de salários-mínimos por percentual deteto previdenciário pouco importa para o debate.

4. Alguns dos exemplos acima apresentados são resolvidos com a aplicação do art. 790,§ 4º, que abre a possibilidade de a pessoa menos pobre demonstrar a insuficiência derecursos disponíveis para as custas processuais. Trata-se de um complemento aodispositivo anterior, agora sem critério objetivo e com ampla possibilidade decomprovação. Embora na Justiça do Trabalho esse histórico seja mais raro, é comum nasoutras esferas judiciais a juntada de documentos comprobatórios de valor de aluguel,planos de saúde, notas de remédios, mensalidades escolares e demais elementos do custode vida do homem médio.

Art. 790-B. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais é da partesucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita.

§ 1º Ao fixar o valor dos honorários periciais, o juízo deverá respeitar o limite máximoestabelecido pelo Conselho Superior da Justiça do Trabalho.

§ 2º O juízo poderá deferir parcelamento dos honorários periciais.

§ 3º O juízo não poderá exigir adiantamento de valores para realização de perícias.

§ 4º Somente no caso em que o beneficiário da justiça gratuita não tenha obtido em juízocréditos capazes de suportar a despesa referida no caput , ainda que em outro processo, a

União responderá pelo encargo.

1. Sejamos francos: em muitas Comarcas houve abuso postulatório quanto aos pedidosde adicional de insalubridade, adicional de periculosidade e pedidos derivados de doençasocupacionais. Casos gravíssimos, lesões infames e ambientes de trabalho agressivos foramtodos misturados com pedidos inconsequentes de insalubridade por contato com sabão decoco ou com produtos altamente diluídos, comprados em supermercado e não nofabricante das essências, bem assim muitos levam doenças hereditárias, degenerativas ouepidemias para discussão na esfera trabalhista. O tema é preocupante, especialmente paraos que dedicam a vida ao estudo e à pesquisa da saúde, da higiene e da segurança dotrabalho, porque, como tudo na vida, o mau uso ou o uso em excesso provocam reaçãocontrária. A banalização deveria preocupar.

2. Consequência flagrante numa reforma aprovada às pressas: retirada dos honorários

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periciais do âmbito da justiça gratuita e fechamento do certo às isenções em série queeram e são concedidas. Neste particular, o assunto ganha ainda mais complexidadeporque, ao contrário das custas e emolumentos, que remuneram serviços estatais, oshonorários periciais são destinados a particulares, que organizam seus escritórios econtratam seus auxiliares, para, ao depois, verem seus serviços não remunerados. AJustiça do Trabalho, que já conhecia essa situação em bases menores e que viu explodir ospedidos de perícias com a EC 45/2004, definitivamente não conseguiu desatar esse nó. Nãoavançaram as soluções alternativas, como a formação de corpo próprio de peritos fixos,preferencialmente concursados, ou a formação de espaços próprios para a realização dasperícias. Há experiências bem sucedidas no âmbito da Justiça Federal e de algunsTribunais de Justiça Estadual, não se devendo descartar liminarmente essa via.

3. Feitas essas ponderações, observamos que, agora, o legislador espera que (a) o órgãode cúpula da Justiça do Trabalho apresente parâmetros de fixação dos honorários,possivelmente para conter abusos de arbitramento (art. 790-B, § 1º), (b) os honoráriossejam levados a sério e pagos a qualquer custo, mesmo que parceladamente, tal como separcela uma dívida ou se pede a divisão em seis meses de valor exequendo de que trata oart. 916 do NCPC (art. 790-B, § 2º), (c) os magistrados abandonem a tática dos honoráriosprévios, possivelmente para não onerar as empresas e, o que vai gerar mais polêmica, (d)retenha os honorários periciais de qualquer proveito econômico que o trabalhador houverauferido no processo, como horas extras e verbas rescisórias, podendo também a retençãoser determinada noutro processo, a fim de evitar malícia de distribuir o pedido deinsalubridade num processo e as demais verbas em outro (art. 790-B, § 4º). A Uniãocontinua a ser a garantidora mor dos honorários periciais trabalhistas, mas apenas depoisde esgotada a pesquisa processual sobre créditos trabalhistas do mesmo reclamante.

4. A OJ 387 da SDI do TST terá de ser modulada ou cancelada.

 

Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários desucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinzepor cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico

obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa.

§ 1º Os honorários são devidos também nas ações contra a Fazenda Pública e nas ações emque a parte estiver assistida ou substituída pelo sindicato de sua categoria.

§ 2º Ao fixar os honorários, o juízo observará:

I – o grau de zelo do profissional;

II – o lugar de prestação do serviço;

III – a natureza e a importância da causa;

IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

§ 3º Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbênciarecíproca, vedada a compensação entre os honorários.

§ 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, aindaque em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes

de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão serexecutadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as

certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursosque justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais

obrigações do beneficiário.

§ 5º São devidos honorários de sucumbência na reconvenção.

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1. A inauguração dos honorários de sucumbência no processo do trabalho é um divisorde águas, uma quebra de paradigma, um momento decisivo em sua história – e, paramuitos, o início do fim do processo do trabalho como um ramo autônomo, que procuravasua afirmação dogmática. Como dissemos em outras passagens neste livro, aos poucos aidentidade do processo do trabalho foi perdida. Se serve de consolo, ele emprestoualgumas soluções criativas para o processo civil, influenciando decisivamente as reformasprocessuais de 1994 e 2006, sobre o CPC de 1973, bem assim a elaboração do CPC de 2015.São exemplos variados, como o sincretismo processual que funde conhecimento eexecução, a maior ênfase à oralidade e à conciliação, a simplificação das formas, oenxugamento recursal e maior alcance da gratuidade dos atos para a facilitação do acessoà justiça. Quais seriam as causas da perda da identidade do processo do trabalho?Múltiplas. O enorme aumento da complexidade das matérias, sobretudo após a CF, e aampliação da competência da Justiça do Trabalho, através da EC 45, dizem muito sobre osataques intensificados contra a estrutura do processo do trabalho. Em rigor, ele nãopoderá desaparecer jamais porque somente ele poderia ou poderá buscar o equilíbrioentre partes sabidamente desiguais: sua razão de ser é precisamente atuar em relaçãoassimétrica, como a relação de emprego. Sustentar a assimilação do processo do trabalhoao processo civil equivale a sustentar a assimilação do direito do trabalho ao direito civil,recuando ao Século XIX.  Assustador, mas nem por isso impossível de estarmos vivos paraassistir a esse movimento.

2. Era preciso fazer esse comentário para frisar o quanto os honorários sucumbenciaisrepresentam em termos de novidade e de impactos para a essência do processo dotrabalho. Afastou-se um degrau a mais do princípio da gratuidade e da facilitação doacesso à justiça, mas temos de encarar a realidade de uma época em que o exercício dacapacidade postulatória se tornou uma caricatura de si mesma. Não sei se falo apenas pormim, se não pelos advogados e magistrados militantes ao longo desses anos todos, masserá bem chocante quando chegarem as primeiras notícias de empregados condenados nopagamento dos honorários do advogado da empresa. Decisão justa para uns, injusta paraoutros – o fato é que o processo do trabalho não foi estruturado dessa forma. Teremos derever, também, os conceitos de honorários assistenciais e dos honorários contratuais.Talvez já não se justifique mais o art. 16 da Lei 5.584/1970, que se apoiava no fato dehonorários assistenciais serem devidos ao sindicato, no exercício da assistência jurídicaque lhe é inerente, no âmbito de um processo refratário ao conceito de sucumbência. Etalvez os trabalhadores já não tenham mais, por outro lado, de deixar 20%, 25% ou 30% deseus créditos retidos pelos escritórios para os fins da cobrança dos honorários contratuais,matéria estranha ao juiz do trabalho, claro, mas corriqueira nos corredores forenses. Seriamesmo uma prática abusiva, a ser analisada pelos órgãos da ética da profissão, se oadvogado auferisse, simultaneamente, os honorários sucumbenciais, os assistenciais e oscontratuais. A conferir.

3. Enquanto aguardamos abaixarem as águas desse maremoto, conheçamos um poucomais da mecânica proposta pelo legislador para implementar os honoráriossucumbenciais no processo do trabalho:

a) tal como no modelo do processo civil, os honorários são devidos a advogados e não àpessoa jurídica da sociedade de advocacia, e se aplicam também aos advogados em causaprópria;

b) a norma trabalhista apresenta tabela própria de fixação dos honorários pelomagistrado, a quem foi dada margem de 5% a 15%, apenas; de certa forma, foi mantida abaliza da época dos honorários assistenciais, dado que a Lei 5.584/1970 fazia remissão àantiga Lei 1.060/1950, cujo art. 11 fixava teto de 15% para os honorários da assistênciajudiciária;

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c) a base de cálculo será preferencialmente o valor da liquidação da sentença, de modoque os honorários somente serão conhecidos ao final do processo e não à época daprolação da sentença da fase de conhecimento; como se sabe, valor lançado pelo juiz aofinal da sentença é meramente estimativo e não vincula, em nada, o cálculo de liquidação;

d) apesar de elaborada à época dos honorários assistenciais, pensamos ser aplicável aeste raciocínio o disposto na OJ 348 da SDI do TST, ou seja, a base de cálculo é o valor brutoda liquidação, sem o abatimento dos descontos previdenciários ou fiscais; trata-se do valorliquidado e não do valor líquido; transcrevemos a OJ 348: “Os honorários advocatícios,arbitrados nos termos do art. 11, § 1º, da Lei nº 1.060, de 05.02.1950, devem incidir sobre ovalor líquido da condenação, apurado na fase de liquidação de sentença, sem a deduçãodos descontos fiscais e previdenciários”;

e) a base de cálculo passará a ser o valor atualizado da causa nas hipóteses de valornão mensurável em proveito econômico direto, como ocorre nas obrigações de fazer –baixa na carteira, entrega de documentos como carta de referência ou dadosprevidenciários, reintegrações, retomadas de planos de saúde e assim por diante, no planodas ações individuais, mas também decisões em ações metaindividuais, como as decisõespara realização de concurso público, instalação de equipamentos de proteção individual,cumprimento de cotas de empregados, combate a medidas antissindicais e numerososoutros exemplos;

f) valor da causa, a propósito, passa a constar, pela primeira vez de modo expresso, norol das exigências da petição inicial trabalhista (art. 840), pois antes havia apenasindicativos dessa necessidade, para aferição do rito sumaríssimo ou para recolhimento decustas;

g) a noção de que os honorários são devidos também nas ações coletivas consta do § 1º;

h) ações de cobrança de penalidades administrativas, ações anulatórias de auto deinfração trabalhista e outras ações não afetas a relação de emprego senso estrito já erampassíveis de cobrança de honorários sucumbenciais, porque foram tratadas, desde a EC 45,como “novas competências”, e, como tais, assimiladas como oriundas do processo civil;esse entendimento foi consagrado na Instrução Normativa 27 do TST e consta da Súmula219, II e IV;

i) assim sendo, o TST terá de se posicionar se os honorários advocatícios das “novascompetências” continuam regidos pelas regras do processo civil ou se, agora, podem seratraídos para os novos ventos do processo do trabalho; como este foi mimetizado poraquele, não vemos óbice ontológico ou axiológico para que todos os honorários sejamuniformizados e o art. 791-A passe a dominar todas as causas em curso perante a Justiçado Trabalho, as típicas e as atípicas;

j) a OJ 421, que refere honorários advocatícios nas ações ajuizadas perante a JustiçaComum e posteriormente remetidas para a Justiça do Trabalho, por força de alteração dacompetência, provavelmente se mantém intacta pois lida com um assunto específico deregras de regência temporal;

k) o texto do art. 791-A é um pouco confuso sobre a cobrança dos honoráriosadvocatícios do empregado para pagar o advogado da empresa; quando a norma refereque os honorários são calculados “sobre o valor que resultar da liquidação da sentença”,tem-se a impressão que apenas condenações pecuniárias são passíveis de honorários;sentenças de rejeição completa do pedido não gerariam essa despesa processual; mas nãohá dúvidas de que o legislador desejou cobrar os honorários também dos empregados:

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I) no § 3º há expressa referência à hipótese de “procedência parcial”, com honoráriosrecíprocos;

(II) no § 4º há a autorização para a retenção dos honorários sobre os créditos auferidospelo reclamante, na mesma lide ou em outro processo; e

(III) no § 5º foi realçado que os honorários correm também na reconvenção;

l) assim sendo, somos forçados a concluir que, na improcedência, o empregado devehonorários para o advogado do patrão, de 5% a 15% sobre o valor atualizado da causa;pode pedir os benefícios da justiça gratuita (§ 4º), mas pode também sofrer a retenção deseus créditos;

m) ao contrário do que já foi decidido anteriormente pelos tribunais trabalhistas,aplicam-se honorários advocatícios em todas as causas trabalhistas, inclusive aquelas ementes públicos e de âmbito coletivo, com substituição processual sindical;

n) alguns parâmetros genéricos, extraídos do CPC, constam do § 2º para auxiliar omagistrado a fundamentar a fixação do percentual mais baixo ou mais alto, no espectro de5% a 15%.

TÍTULO X

CAPÍTULO II

Seção IV-A

Da Responsabilidade por Dano Processual

Art. 793-A. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como reclamante,reclamado ou interveniente.

Art. 793-B. Considera-se litigante de má-fé aquele que:

I – deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;

II – alterar a verdade dos fatos;

III – usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

IV – opuser resistência injustificada ao andamento do processo;

V – proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

VI – provocar incidente manifestamente infundado;

VII – interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Art. 793-C. De ofício ou a requerimento, o juízo condenará o litigante de má-fé a pagarmulta, que deverá ser superior a 1% (um por cento) e inferior a 10% (dez por cento) do valor

corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcarcom os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.

§ 1º Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juízo condenará cada um naproporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram

para lesar a parte contrária.

§ 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em atéduas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

§ 3º O valor da indenização será fixado pelo juízo ou, caso não seja possível mensurá-lo,liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.

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Art. 793-D. Aplica-se a multa prevista no art. 793-C desta Consolidação à testemunha queintencionalmente alterar a verdade dos fatos ou omitir fatos essenciais ao julgamento da

causa.

Parágrafo único. A execução da multa prevista neste artigo dar-se-á nos mesmos autos.

.................................................................................

1. Houve resistências iniciais à aplicação do conceito de litigância de má-fé ao processodo trabalho, dado o silêncio da CLT e o caráter excepcional das normas regentes dessamatéria, com caráter restritivo de direitos. Mas essas dificuldades foram superadas longotempo atrás, com o aumento da complexidade das lides trabalhistas, a assimilação denumerosos institutos do processo civil e, sobretudo, com a hipertrofia asseletiva dascompetências trabalhistas pela EC 45. Tanto isso é verdade que os tribunais aplicamamplamente a multa por embargos de declaração protelatórios, embora omisso o art. 897-A. Aos poucos, as diretrizes da punição à má-fé contidas no CPC de 1973 e, depois, no CPCde 2015, foram transpostas para o processo do trabalho. Mas evidentemente que, comotodo processo de aplicação subsidiária, a transposição foi moderada e raramente aplicadaao trabalhador.

2. O trabalhador normalmente invoca sua hipossuficiência técnica para justificareventual postulação mal feita ou mal calculada. É verdade que aquele estereótipo dotrabalhador iletrado e desprovido de conhecimentos mínimos sobre a legislaçãotrabalhista tende ao desaparecimento. No entanto, qualquer que seja o grau de instrução,o trabalhador possui menos acesso à documentação, que fica na guarda do empregador, eàs vezes recebe depósito bancário sem ter recebido a discriminação das parcelas pagas, nocurso do contrato de trabalho ou nos momentos do acerto rescisório. Justifica-se, assim,maior resistência na aplicação das penas da litigância de má-fé, bem como nas penasprevistas na legislação civil para a devolução em dobro da dívida sabidamente quitada,que venha a ser postulada indevidamente (art. 940 do CC).

3. Será interessante assistir, assim sendo, ao desenrolar da interpretação dos arts. 793-A a 793-D quanto a regras próprias do processo do trabalho para as condutas desleais etemerárias – conjunto de regras a que o legislador de 2017 chamou de “dano processual”.

4. O conteúdo dessas condutas não difere muito das previsões do CPC: afronta direta àlegislação ou aos fatos incontroversos, adulteração da verdade dos fatos, uso do processopara fins escusos, resistência injustificada à marcha processual, atos temerários e recursosprotelatórios. O risco que os trabalhadores passam a correr sobejamente está na máredação da petição inicial: escritórios que, por descuido ou malícia, recortam e colampeças iniciais indiscriminadamente tendem a formular pretensões a esmo de vale-transporte e vale-refeição, por exemplo, sem que esses assuntos constassem da entrevistacom o cliente. Isso é fato. Na medida em que o trabalhador confessar, em depoimentopessoal, o recebimento dessas parcelas, ou que recibos idôneos forem juntados, teremospretensão contra fato incontroverso ou mesmo a alteração da verdade dos fatos. Eleassume o risco de indenizações expressivas em favor do empregador, conforme abaixo seanalisa (art. 793-C).

5. Outro exemplo corriqueiro de alteração da verdade dos fatos reside na má descriçãoda jornada de trabalho, nos constantes pedidos de diferenças de horas extras. Iniciais malfeitas costumam acrescentar, digamos, sábados, domingos e feriados, embora a entrevistado cliente os tenha omitido ou relatado apenas alguns desses dias. Ausência de intervalopara refeição e descanso também é veiculada sem que necessariamente tenha havido essareivindicação. A alteração da verdade dos fatos será, certamente, denunciada pela defesa.

6. Alcance de objetivo ilegal pode ocorrer na postulação de seguro-desemprego mesmo

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com a pessoa trabalhando, normalmente sem registro em carteira ou com outramodalidade de contratação.

7. Resistência injustificada ao andamento do processo pode ocorrer na fase deconhecimento, quando a parte se esquiva das intimações, mas encontra amplo repertóriona fase de execução, com os mais diversos embaraços, fuga de oficiais de justiça, indicaçãode endereço falso em contrato social e em procuração, arrolamento de bens já alienadosou avariados, tumultos criados em hasta pública, para afugentar os arrematantes, recusa àentrega do bem arrematado e numerosos outros exemplos.

8. Procedimentos temerários, que também são diversificados, abrangem violação alacres de embargos e interdição de máquinas, equipamentos e obras, bem comoadulteração do local para a realização da perícia, hostilidade no trato com peritos, oficiaisde justiça e demais auxiliares. Incluam-se também os atos de tumulto em audiênciastrabalhistas, com falta de urbanidade à parte contrária, às testemunhas, aos advogadosque assistem à sessão, ao magistrado e aos servidores.

9. Recursos protelatórios possuem igualmente um amplo acervo conceitual. Sãoaqueles contra texto expresso de lei, contra súmulas dos tribunais superiores e súmulasvinculantes do STF e mesmo aqueles incabíveis, como o recurso de revista em agravo deinstrumento e o agravo de instrumento para destrancar recurso com erro grosseiro – porexemplo, um recurso ordinário interposto no prazo de 15 dias da apelação civil e não noprazo de 8 dias da norma trabalhista.

10. O art. 793-C objetiva a tarifação do dano processual. Essa é uma das tônicas dareforma, que priorizou tipos fechados em detrimento dos tipos abertos, talvez porinsegurança quanto ao uso que poderia ser feito pelo Poder Judiciário. Há tarifaçãotambém na indenização por danos morais (art. 223-A e segs.). No âmbito do danoprocessual, o legislador fixou várias penalidades, as quais podem ser combinadas entre sie são cumulativas. A redação do dispositivo utiliza o verbo no futuro do indicativo, o que,na linguagem jurídica, é um comando para o magistrado e não uma faculdade, como seriana expressão “poderá condenar”, “facultado ao juiz condenar”. “Condenará” significa que,uma vez circunstanciada a deslealdade processual da parte, os efeitos seguem em cascata.Daí a seriedade do assunto e a alta responsabilidade do juiz do trabalho quandovislumbrar semelhante conduta. São nada menos do que quatro grandes indenizações aserem suportadas pelo litigante de má-fé:

a) multa (que normalmente é entendida como sendo revertida a favor dos cofrespúblicos e não à parte contrária) de 1% a 10% do valor da causa atualizado (lembrandoque o valor da causa saiu das sombras e passou a figurar como elemento obrigatório dapetição inicial – art. 840, § 1º, da CLT – sob pena de não processamento da demanda);

b) indenização para a parte contrária quanto aos prejuízos sofridos; são valoresindeterminados, de difícil mensuração, porquanto não se confundem com as despesasefetuadas para o processo; pode-se invocar prejuízo à reputação, perdas de contratos e deoportunidades de mercado, quebra contratual de prestadoras de serviço ou de tomadorasde serviço, cancelamento de abertura de capital nos órgãos reguladores, cancelamento deempréstimos em bancos oficiais, inabilitação em licitação e assim por diante;

c) honorários do advogado da parte contrária; se a declaração da má-fé ocorrer naprolação de sentença em que o litigante desleal sucumbiu por inteiro, parece-nos que oshonorários seriam unificados, pois já se atenderia à exigência do art. 791-A da CLT; nestecaso, o juiz pode fixar no percentual máximo, por exemplo;

d) indenização das despesas efetuadas para o processo (valores indeterminados, mas

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que podem ser mensurados com critérios objetivos, tais como o número de horas de perdade trabalho do preposto e das testemunhas, cópias reprográficas, gastos com autenticaçãode documentos e similares).

11. O art. 793-C, § 1º, prevê a corresponsabilidade, quando houve mais de um litiganteem torno do mesmo desvirtuamento processual. Isso pode acontecer no polo ativo, noscasos de ações plúrimas (grupo de trabalhadores que ajuizaram a mesma açãotrabalhista), no caso das ações coletivas e mesmo no caso de ações civis públicas, emboraseja muito difícil a individualização da conduta ou a afirmação de que o substitutoprocessual (via de regra, a entidade sindical) agiu em conluio com os empregadossubstituídos. E também pode acontecer no polo passivo, cujos exemplos clássicos noprocesso laboral são (a) o grupo econômico, (b) as pessoas envolvidas em sucessão deempregadores e (c) o regime de terceirização, em que são acionados o prestador e otomador de serviços. Como terceiro eixo temático podemos citar, ainda, o caso dasintervenções de terceiros cabíveis no processo do trabalho – das quais a mais frequente éa assistência simples e a assistência litisconsorcial. Ainda é cedo para tirar conclusõesdefinitivas sobre como o dispositivo será apreciado pela jurisprudência, mas convémfrisar que o NCPC considera como terceiros intervenientes também o ex-sócio, que debatao incidente de desconsideração da pessoa jurídica, e o amicus curiae, que pretende opinarsobre área de sua excelência (arts. 133 a 138 do CPC/2015). Logo, não se pode descartar,em hipóteses mais complexas, que também esses atores sejam chamados àresponsabilidade em caso de deturpação dos fins a que o processo se destina.

12. O § 2º diz respeito ao valor da causa irrisório ou inestimável, caso em que a multaserá balizada pelo juiz até o máximo de dois tetos previdenciários – cerca de 11.000 reaisquando da promulgação da lei. Não são raros os processos com valor muito baixo, atéporque o valor da causa não era mandatório para a elaboração da petição inicial, antes dareforma trabalhista de 2017, assim como há várias situações processuais de valorinestimável, pois muitas obrigações de fazer são veiculadas nas lides trabalhistas – como aobrigatoriedade de elaborar concurso público em entes administrativos, a implementaçãode normas de saúde e segurança do trabalho, o combate a medidas antissindicais e assimsucessivamente. Observe-se, de qualquer forma, que esse dispositivo sobre a multa emdois tetos previdenciários não se confunde com as outras implicações do caput do art. 793-C, ou seja, a parte poderá ser obrigada a pagar os dois tetos, mais os honorários deadvogado, as despesas efetuadas e os prejuízos causados.

13. Tal como no processo civil, a técnica do arbitramento socorre o processo em casosextremos, em que as vias normais falharam. Com relação à multa, o legislador adotou oprocedimento de fixar percentual do valor da causa e, à falta de clareza quanto a este, umvalor atrelado ao teto da Previdência Social. Quanto aos honorários de advogado e àsdespesas objetivas, como deslocamento de preposto e testemunhas, raciocínio aritméticoserá suficiente para dar vazão às exigências legais. Mas quanto aos prejuízos sofridos pelaparte, muita controvérsia certamente será instalada, desde a impossibilidade demensuração da imagem e da boa fama até a dificuldade de saber o que era prejuízosazonal ou profissional daquilo que foi agravado pelo abuso processual. Assim, espera-seque o juiz tenha a temperança necessária para fazer sua fixação razoável e, diante departicular complexidade, fazer estimativas arbitradas de acordo com o senso comum.

14. Por fim, um comentário específico sobre o comportamento da testemunha noprocesso do trabalho. Ainda está em vigor o art. 730, que determina punição para atestemunha recalcitrante, aquela que falta sem justificativa, assim entendida a que foiintimada judicialmente e não apenas convidada de maneira verbal pela parte, semcomprovação. A novidade do art. 793-D diz respeito à testemunha que for flagradaalterando a verdade dos fatos ou omitindo pontos essenciais para o julgamento da causa.

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Isso ocorre particularmente nos casos em que a mesma testemunha presta depoimentosconflitantes em dois processos distintos, sendo que na outra demanda ela pode ter sidoarrolada como testemunha ou ter sido parte. Esse dispositivo tornará muito difícil a vidada testemunha do empregador, que vai depor na constância do contrato de trabalho, e,por temor de revide ou assustada com os acontecimentos, silencia sobre fatos expressivosou altera a verdade para agradar ao empregador, em detrimento de seu colega detrabalho. Se ela um dia se tornar reclamante, muitos questionamentos poderão surgir. Amulta – 1% a 10% do valor da causa – não se confunde com o tipo penal do falsotestemunho, podendo ser aplicada independentemente da extração de peças para apersecução penal e independentemente de absolvição na esfera criminal. São âmbitosdiferentes e conceitos diferentes: de fato, a omissão da testemunha pode representar suadeslealdade processual e não representar o crime do falso testemunho.

Art. 800. Apresentada exceção de incompetência territorial no prazo de cinco dias a contarda notificação, antes da audiência e em peça que sinalize a existência desta exceção, seguir-

se-á o procedimento estabelecido neste artigo.

§ 1º Protocolada a petição, será suspenso o processo e não se realizará a audiência a que serefere o art. 843 desta Consolidação até que se decida a exceção.

§ 2º Os autos serão imediatamente conclusos ao juiz, que intimará o reclamante e, seexistentes, os litisconsortes, para manifestação no prazo comum de cinco dias.

§ 3º Se entender necessária a produção de prova oral, o juízo designará audiência,garantindo o direito de o excipiente e de suas testemunhas serem ouvidos, por carta

precatória, no juízo que este houver indicado como competente.

§ 4º Decidida a exceção de incompetência territorial, o processo retomará seu curso, com adesignação de audiência, a apresentação de defesa e a instrução processual perante o juízo

competente.

1. O processo do trabalho foi edificado com grande ênfase no princípio da oralidade,concentrando-se muitos atos na audiência, na busca do entendimento, da conciliação e desoluções ágeis, mais simples do que seria a formalidade das petições. Acreditamos que aoralidade prestou bons serviços para o desenvolvimento da Justiça do Trabalho, conhecidanacionalmente pela enorme quantidade de audiências e depoimentos. Embora o tema fujaao alcance deste livro, na realidade o princípio da oralidade não foi cravado no processodo trabalho como um favor ou como um atributo artificial: mesmo que a lei não quisesse,ainda assim as audiências teriam mesmo de representar o ponto alto da concentração dosatos processuais, porquanto a prova testemunhal é normalmente a única que resta aoempregado. No país conhecido pela informalidade no trabalho, jamais se poderia exigirque o empregado apresentasse protocolos, recibos e documentações alusivas a seu salário,jornada de trabalho e demais reivindicações. O simples fato de o empregado exigirprotocolo de entrega de documentos no departamento pessoal da empresa já seria motivode atrito. Como fazer para ouvir partes e testemunhas, a não ser através das audiênciaspúblicas? Como envolver as partes na negociação dos acordos, exceto frente a frente? Foiassim que a oralidade se desenvolveu e permeou todos os cânones do processo dotrabalho.

2. No entanto, houve aumento da complexidade processual, aumento das demandas eforte expansão das competências trabalhistas, tornando difícil sustentar que a audiênciaera obrigatória e condição de validade para todo e qualquer processo. Basta lembrar que aEC 45 incorporou a execução fiscal ao processo trabalhista, sendo irrelevante a provatestemunhal na quase totalidade das cobranças de penalidades impostas aosempregadores. A mesma EC 45 alterou a expressão "conciliar e julgar" para "processar ejulgar", no caput do art. 114, deixando claro que a conciliação obrigatória começava a sairdo DNA do processo laboral.

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3. É neste contexto que a reforma trabalhista importa do processo civil, pela primeiravez, a permissão para a apresentação de exceção de incompetência territorial sem que oréu precise se deslocar até o local do ajuizamento da ação para, somente ali, indicar que aprestação dos serviços ocorrera em outra Comarca. O ônus desse deslocamento é muitoalto em alguns casos, em nosso país continental, e, de fato, inviabiliza o direito de defesa.

4. A solução encontrada não prejudica o empregado, que pode distribuir a ação no foroque entende competente – via de regra, o local da prestação de serviços, com algumaspoucas exceções nos §§ 1º e 3º do art. 651 da CLT.

5. O réu, doravante chamado de excipiente, terá o prazo de 5 dias, a contar da citação,para sinalizar a exceção territorial. A exceção terá de ser apresentada nos autos doprocesso - portanto, algum gasto o reclamado terá de qualquer jeito, ainda que seja acontratação de advogado, sem prejuízo da agilidade que o processo judicial eletrônicopossa trazer, no particular -, o qual será imediatamente suspenso, barrada até mesmo arealização da audiência já aprazada.

6. A impugnação à exceção será feita também no prazo de 5 dias, pelo reclamante,agora excepto. Desaparece, então, o prazo de 24h que constava da redação anterior desteartigo e que era um dos menores prazos processuais conhecidos.

7. Destaca-se, também, a novidade da expedição de carta precatória inquiritória para aoitiva do preposto da reclamada (preposto da excipiente) bem assim das testemunhas, sehouver.

8. A jurisprudência do TST admite a interposição do recurso ordinário contra a decisãoque acolher a exceção de incompetência, apenas na hipótese de a remessa dos autos serfeita para Vara vinculada a outro tribunal, seja tribunal de outro ramo do Judiciário, sejatribunal do trabalho de outra região (Súmula 214). Rejeição da exceção de incompetêncianão desafia recurso; tem natureza interlocutória e deve ser atacada em sede de recursoordinário, ainda que seja para pedir a nulidade do julgado. Idem quanto ao acolhimentoda exceção territorial para Comarca vinculada ao mesmo tribunal.

9. A Comarca de São Paulo é a única, no âmbito da Justiça do Trabalho brasileira,dividida em foros regionais (Central, Zona Sul e Zona Leste). Neste caso, não se trata decompetência territorial (pois a Comarca é uma só), mas de competência funcional, a qual éindeclinável e admite conhecimento de ofício pelo juiz.

Art. 818. O ônus da prova incumbe:

I – ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II – ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo dodireito do reclamante.

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas àimpossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos deste artigo ouà maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juízo atribuir o ônus da

prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverádar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

§ 2º A decisão referida no § 1º deste artigo deverá ser proferida antes da abertura dainstrução e, a requerimento da parte, implicará o adiamento da audiência e possibilitará

provar os fatos por qualquer meio em direito admitido.

§ 3º A decisão referida no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que adesincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

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1. Acabou a história de 74 anos do art. 818 da CLT, que procurava, em sua redaçãosintética, apartar-se do ônus da prova do processo civil e lançar luzes sobre uma espéciede aptidão da prova mais afeta ao empregador do que aos trabalhadores. A expressãoclássica do art. 818 original, no sentido de que a prova incumbe a quem fizer as alegações,foi objeto de profundas reflexões pela doutrina trabalhista, que invariavelmenteatribuíam ao empregador o encargo de demonstrar os fatos, muitos deles negados, comdocumentação, perícias e testemunhos que ele supostamente estava mais propenso afazer.

2. Mas desde sempre houve a influência do processo civil, com sua bem amarradafórmula dos fatos constitutivos da pretensão, de um lado, e dos fatos modificativos,extintivos ou impeditivos, de outro lado, consagrada nos três CPCs pelos quais a CLTpassou (1939, 1973 e 2015). Havia mesmo quem sustentasse que a redação muitoabreviada do art. 818 da CLT representava uma espécie de lacuna, o que estava a exigir aaplicação subsidiária do processo civil - para desespero dos puristas, que reputam asimplicidade da CLT proposital, deliberada e diretamente ligada à vontade do legislador deum processo apartado de seu primo próximo.

3. Os puristas perderam a batalha na reforma de 2017. Os subsidiaristas venceram e,de alguma maneira, no meio de ampla revisão dos dispositivos da CLT, alguém se lembroude cravar a solução do processo civil no corpo do art. 818, o qual nada mais tem a ver coma origem da CLT.

4. Aproveitando o ensejo, o legislador também avança sobre as águas mais revoltas dachamada inversão do ônus da prova - expressão que alguns refutam, dizendo que se trataapenas de ajustes de acordo com a capacidade e com a aptidão para a produção desta oudaquela prova. O assunto ganhou força com o art. 6 º, VIII, do CDC, e foi devidamenteabsorvido pelo CPC de 2015. Aporta, agora, ao processo do trabalho.

5. A inversão possui algumas regras básicas, para não apanhar ninguém de surpresanem tornar excessivamente difícil o encargo probatório:

a) depende de previsão em lei ou da constatação de impossibilidade ou de excessivadificuldade; servem como exemplos casos em que o trabalhador faleceu e os dependentesnão conseguem acessar documentos; atas de eleição e de funcionamento da CIPA ou doSESMET, bem assim o cronograma de metas do PPRA, que eventualmente podem serobtidos junto à entidade sindical, mas que são mais facilmente encontradas nodepartamento pessoal da empresa, porque têm guarda obrigatória; documentosrelacionados com quadro de carreira e planos de cargos e salários, que, embora possamter sido depositados na Superintendência Regional do Trabalho ou na entidade sindical,acham-se em poder da direção da empresa; comprovante de salário do paradigma, pois oempregado detém toda documentação funcional do colega, ao passo que o reclamantepossui apenas informações verbais ou tem de contar com a boa vontade do colega deemprestar-lhe a carteira de trabalho para fotocópia;

b) depende de decisão prévia do juiz (o § 1º menciona decisão fundamentada, mas todadecisão há de ser fundamentada);

c) caso se trate de decisão tomada em audiência, una ou inicial, provocará o adiamentoda sessão, para o aparelhamento da parte;

d) a excessiva dificuldade de uma parte deve preferencialmente representar a "maiorfacilidade" da outra parte, o que parece se encaixar em todos os exemplos acima

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apresentados; no entanto, uma excessiva dificuldade não pode ser suprida por outraexcessiva dificuldade (§ 3º), caso em que o juiz deverá ou se abster da inversão do ônus daprova ou julgar por outros meios cabíveis, inclusive por indícios e pelo uso da equidade(ambos assuntos esquecidos por muitos estudos de processo do trabalho).

6. A doutrina habitualmente menciona temas de saúde e segurança do trabalho,inclusive as alegações de danos morais, materiais e estéticos, como os mais recorrentes emmatéria de inversão do ônus da prova, dado o melhor aparelhamento da empresa deprovar a salubridade e o equilíbrio do ambiente de trabalho - competindo ao empregado,se for o caso, provar que aquela harmonia era apenas aparente.

7. Atente-se para o fato, ainda menos estudado, de que o ônus da prova não émonolítico, podendo ser fatiado de acordo com a nuance da pretensão. Por exemplo: deque é o ônus da prova do vale-transporte? Se o assunto é a necessidade do transporte, apóshesitar, o TST concluiu que o empregador tem mais aparelhamento e que há presunçãorelativa de que os trabalhadores dele necessitam. O empregador pode provar a desistênciado benefício, sua quitação ou mesmo sua desnecessidade (trajeto a pé, carona, bicicletaetc.). Mas há vários processos de vale-transporte em que a discussão é a mudança deendereço do reclamante, acarretando outro tipo de condução, ou a inadequação doitinerário (o empregado precisava tomar trem e ônibus, tendo recebido apenas o valor doônibus) e assim por diante. Em alguns desses casos, o ônus é do empregado por se tratardo fato constitutivo de sua pretensão e, também, porque ele tem, sim, aptidão para provarendereços e trajetos. Logo, recomenda-se não usar frases fechadas sobre ônus da prova eparcelas do direito do trabalho, priorizando o conceito de ônus da prova e pretensãodeduzida.

Art. 840. ..........................................................

§ 1º Sendo escrita, a reclamação deverá conter a designação do juízo, a qualificação daspartes, a breve exposição dos fatos de que resulte o dissídio, o pedido, que deverá ser certo,

determinado e com indicação de seu valor, a data e a assinatura do reclamante ou de seurepresentante.

§ 2º Se verbal, a reclamação será reduzida a termo, em duas vias datadas e assinadas peloescrivão ou secretário, observado, no que couber, o disposto no § 1º deste artigo.

§ 3º Os pedidos que não atendam ao disposto no § 1º deste artigo serão julgados extintos semresolução do mérito.

1. O art. 840 sempre esteve ligado às raízes da legislação trabalhista e os princípiosfundamentais do processo do trabalho. Ele representa o símbolo da facilitação do acessoao Judiciário, sendo normalmente identificado como a concretização do princípio dasimplicidade. O fato de ter sido reformado em conjunto com vários outros artigos dalegislação trabalhista confunde um pouco seu estudo, pois ele aparece misturado comdebates tão diversificados quanto a contribuição sindical e a execução trabalhista.

2. Não se pode negar que seu papel histórico já fechou o ciclo. Longe vai o tempo emque o trabalhador se apresentava sozinho ao Poder Judiciário e pedia para fazer umareclamação verbal, que era reduzida a termo por algum servidor. Longe vai o tempo,também, que Brasil tinha poucas faculdades de direito, poucos advogados na áreatrabalhista e quase nenhum membro do Ministério Público do Trabalho ao alcance dascidades médias e pequenas. Assim sendo, no meio de tantos espantos que a reformatrabalhista provocou, no particular a mudança do art. 840 não deveria causar espécieporque nada tem de intempestiva.

3. Pode-se discutir se a redação deveria ter sido mais erudita ou mais pragmática.Também se pode discutir se o legislador deveria ter se inspirado tão profundamente no

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processo civil ou se deveria ter criado categorias próprias para enriquecer o processo dotrabalho. Mas não se pode se discutir a obsolescência da redação original do artigo. Tomese como exemplo o valor da causa.

4. O art. 840 permaneceu 74 anos sem mencionar o valor da causa, mas a situação foise tornando insustentável porque esse elemento é utilizado como base de cálculo paravários valores, tais como aplicação da litigância de má-fé, depósito prévio em açãorescisória, custas e outras despesas processuais. A partir do ano 2000, a situação ficouainda mais complexa, com a criação do rito sumaríssimo (arts. 852-A e segs.), cujo critériode distinção no processo do trabalho é justamente o valor da pretensão econômica até olimite de 40 salários mínimos. Ora, como se separar a pretensão maior ou menor de 40salários mínimos, numa relação processual que desconhece o valor da causa? A soluçãoencontrada foi constrangedora: diz-se que o rito sumaríssimo exige apenas o valor dopedido, expressão que aparece no art. 852-B da CLT, como uma espécie de soma dasparcelas líquidas postuladas. Os processos não enquadrados no sumaríssimo, à falta demelhor nome, passaram a ser chamados de processos ordinários ou processos em ritoordinário, os quais, supostamente, não precisavam de valor da causa, mas apenas algumindicativo de que a pretensão econômica superava os 40 salários.

5. Com introdução dos processos digitais e, no segundo momento, do processo judicialeletrônico, nenhuma causa podia ser distribuída sem a indicação do valor da causa, ouseja, a informática se antecipou à lei ordinária. Com a reforma trabalhista, o valor dacausa passa a ter assento no art. 840.

6. Poderá sua ausência acarretar a extinção do processo, sem resolução do mérito?Trata-se de uma exceção à regra: como a reforma trabalhista se esqueceu da existência doart. 2º, § 2º, da Lei 5.584/1970, o juiz deve, ele próprio, suprir a lacuna e fixar o valor dacausa se estiver indeterminado. É provável que alguém argumente a revogação tácitadesse dispositivo, diante da imperiosidade do art. 840, § 3º, mas é muito cedo paraconcluir que a nova CLT apanhou as leis extravagantes e as eliminou. Tomar essa decisãocontra a Lei 5.584/1970 atrairá várias implicações quanto a possíveis derrogações tácitasdo acervo trabalhista que orbita em torno da CLT, como a norma das prerrogativas dosentes públicos (DL 779/1969), as questões periciais e sindicais na mencionada norma dovalor da causa (Lei 5.584/1970), a especialização de turmas e seções e o procedimento daação de cumprimento (Lei 7.701/1988) e assim sucessivamente. Entendemos que a reformadeve coexistir com as disposições trabalhistas complementares e não as sufocar pelosingelo argumento da cronologia dos fatos.

7. Outrossim, a reforma trabalhista não eliminou a possibilidade de apresentação dereclamação verbal, assim entendida aquela em que o trabalhador pede o servidor públicotrabalhista para reduzir a termo suas reivindicações. A novidade que reside no fato de quetambém o servidor está obrigado seguir os requisitos mínimos da petição inicial,constantes do art. 840. Os atributos da certeza e liquidez do pedido alcançam também areclamação verbal.

8. Pela primeira vez no processo do trabalho surge uma referência direta àpossibilidade de inépcia da petição inicial: o parágrafo terceiro do art. 840 refereexpressamente a extinção dos pedidos, sem resolução de mérito, em caso dedesatendimento das exigências de clareza e fundamentação do pleito inicial. A inépciatinha larga aceitação no processo do trabalho, mas vez por outra esbarrava eminterpretações subjetivas, de magistrados de todos os graus, sobre o maior ou menor rigorcom que a petição inicial deveria ser tratada. Se os problemas da petição inicial forem ovalor da causa e a precisão dos pedidos, a tendência é que a inépcia seja declarada, porquepassaram a constar formalmente do art. 840. No entanto, uma das polêmicas mais antigas

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foi ignorada pela reforma de 2017 e, assim, os problemas persistirão: a CLT não fazmenção ao conceito de causa de pedir, mantendo a fórmula de “breve exposição dosfatos”. Historicamente essa expressão é interpretada como simples narração,preferencialmente sintética, dos fatos verificados no cotidiano da relação de trabalho,como a jornada para o pedido de horas extras ou as circunstâncias do encerramento doserviço, para os pedidos de verbas rescisórias. Não há necessidade de fundamentaçãolegal ou jurídica nem de subsunção do fato à norma. É suficiente dizer: “trabalhava das08h00 às 19h00, com 30min de almoço”, para, depois, formular o pedido de horas extras.Essa dicotomia entre “breve resumo dos fatos” e causa de pedir parece perfumaria, masgera vários problemas nos casos de difícil compreensão dos pedidos ou de crença dotrabalhador de que pediu corretamente as horas extras, mas, na verdade, pediu apenasparte delas. No exemplo dado, se o trabalhador pedir “horas extras”, haverá grandedebate se essa pretensão inclui as horas extras do módulo diário, do módulo semanal e,ainda, aquelas decorrentes do intervalo para refeição. Se houvesse causa de pedir, asdúvidas quanto ao pedido poderiam ser sanadas, observando-se a dedução lógica e apretensão formulada pela parte.

9. Em suma, na pressa com que foi redigida e na super pressa com que foi aprovada, areforma trabalhista não cuidou de lapidar a redação do art. 840 da CLT a ponto deaprimorar os mecanismos de dedução e postulação dos pedidos. Ou talvez tenhasilenciado propositalmente. Por ora, o que nos cabe reter é que causa de pedir não é umelemento exigido para as petições iniciais trabalhistas e continua a valer a máxima da“breve exposição dos fatos”.

Art. 841. ........................................................

......................................................................

§ 3º Oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante não poderá, sem oconsentimento do reclamado, desistir da ação.

1. A desistência da ação, com possibilidade de sua reabertura num segundo momento,depende da opinião da parte contrária, porque a reclamada, depois de citada, já seaparelhou, já elaborou sua defesa e já conta com o direito à prestação jurisdicional.Portanto, não é um ato tão simples quanto pode parecer à primeira vista. No processo dotrabalho, existe a possibilidade de arquivamento, mesmo sob protestos da reclamada, coma ausência do trabalhador à audiência inicial. Trata-se de uma forma de extinção do feitosem resolução do mérito, com as mesmas características da desistência do empregado,conforme se extrai do art. 844 da CLT. Assim sendo, ainda que empresa pretenda se opor àdesistência, pode ser pega de surpresa pelo sumiço do empregado, cuja ausência àaudiência permite que ele alcance o objetivo da extinção do processo. Ainda mais irritadafica empresa quando recebe notícia de que o empregado chegou a comparecer ao átrio dofórum e, depois, foi orientado a ir embora, por problemas relacionados com astestemunhas ou por alguma outra estratégia utilizada. Esse comportamento pode serenquadrado em fraude processual e não deve ser estimulado. Algumas reclamadasconseguem se munir de testemunhas, incluindo servidores do Judiciário que viram amovimentação do empregado, e podem pedir para constar da ata do arquivamento aconduta maliciosa da parte contrária.

2. A novidade da reforma trabalhista fica por conta da previsão de direto da empresa àprestação jurisdicional depois de apresentar a defesa, pelo meio eletrônico: considerandoque o processo judicial eletrônico permite a apresentação da defesa na véspera oualgumas horas antes do início da audiência, muitas reclamadas sustentavam a tese de quea desistência não podia mais acontecer, ao passo que os empregados alegavam que nãotinham tido acesso à contestação, e, portanto, ainda era possível desistir.  A reformatrabalhista resolveu o impasse a favor do empregador: a desistência não pode mais ser

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homologada sem a concordância do reclamado, uma vez oferecida a contestação, aindaque eletronicamente, mesmo sem acesso ao empregado.

Art. 843 .....................................................................

....................................................................................

§ 3º O preposto a que se refere o § 1º deste artigo não precisa ser empregado da partereclamada.

1. Da redação original desse dispositivo, de 1943 a 2017, jamais constou aobrigatoriedade de vínculo de emprego entre o preposto e a empresa reclamada que elerepresenta. Trata-se de construção da jurisprudência, em grande parte decorrente dosabusos cometidos pelo envio de prepostos totalmente alheios ao ambiente de trabalho. Éverdade que suas palavras vinculam o empregador, de modo que, em tese, a escolha ruimfeita pela reclamada prejudicaria a ela mesma, que teria que arcar com as consequênciasda confissão, presumida ou expressa, do preposto inocente ou irreverente. Ocorre que osabusos, no particular, não dizem respeito a prepostos inocentes, mas a prepostoprofissionais, treinados para respostas genéricas, dos quais não se conseguem retirar aconfissão ou o esclarecimento dos fatos. Consta que, na década de 1980, havia anúnciosclassificados em jornais, pelos quais pessoas se ofereciam para ser prepostos de “altaeficiência”, imunes à sabatina do magistrado.

2. Naturalmente, a Justiça do Trabalho não podia ficar impávida diante dessas notíciase passou a exigir a qualidade de empregar dos prepostos. Várias empresas sofreramrevelia pelo descuido de terem mandado como preposto pessoas idôneas, comconhecimento dos fatos, mas sem relação de emprego, como contadores, trabalhadoresautônomos ou eventuais e parentes do empregador. Aos poucos, foram abertas algumasexceções para permitir prepostos não empregados nas relações de trabalho doméstico e,por força da LC 123/2016, nas reclamações perante pequenas empresas e microempresas.Agora, a reforma trabalhista generaliza a exceção: o preposto não precisa ser empregadoda parte reclamada, mantendo-se apenas a diretriz de que suas palavras vinculam opreponente.

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Art. 844. ....................................................................

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§ 1º Ocorrendo motivo relevante, poderá o juiz suspender o julgamento, designando novaaudiência.

§ 2º Na hipótese de ausência do reclamante, este será condenado ao pagamento das custascalculadas na forma do art. 789 desta Consolidação, ainda que beneficiário da justiça

gratuita, salvo se comprovar, no prazo de quinze dias, que a ausência ocorreu por motivolegalmente justificável.

§ 3º O pagamento das custas a que se refere o § 2º é condição para a propositura de novademanda.

§ 4º A revelia não produz o efeito mencionado no caput deste artigo se:

I – havendo pluralidade de reclamados, algum deles contestar a ação;

II – o litígio versar sobre direitos indisponíveis;

III – a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considereindispensável à prova do ato;

IV – as alegações de fato formuladas pelo reclamante forem inverossímeis ou estiverem emcontradição com prova constante dos autos.

§ 5º Ainda que ausente o reclamado, presente o advogado na audiência, serão aceitos acontestação e os documentos eventualmente apresentados.

1. Esse dispositivo regula o arquivamento da ação pela falta do trabalhador e os efeitosda revelia pela falta do empregador. A reforma trabalhista de 2017 afeta profundamenteos entendimentos existentes sobre essa norma, impondo mais rigor sobre osarquivamentos e alguma suavidade sobre a falta do empregador. Vejamos.

2. O parágrafo primeiro amplia os poderes do juiz para determinar o adiamento daaudiência, que a legislação chama de audiência de julgamento ou simplesmente dejulgamento, mesmo quando não haja prolação de sentença: é suficiente que o juízomencione motivo relevante, conceito aberto que certamente despertará dúvidas ecuriosidades.

3. Por sua vez, o parágrafo segundo passa a exigir o recolhimento das custasprocessuais decorrentes do arquivamento, ainda que o trabalhador seja beneficiário dajustiça gratuita. Essa é realmente uma grande novidade na legislação processual,trabalhista ou civil, porque em geral a justiça gratuita abrange as custas processuais.Claramente a reforma entendeu que as custas assumem um caráter indenizatório oupunitivo, afastando-se do campo das despesas processuais. Houve tratamento maisrigoroso. Eventual isenção das custas processuais do arquivamento do processo passa aser analisada não mais do ponto de vista da pobreza do trabalhador (como ocorre najustiça gratuita), mas do ponto de vista das causas de sua ausência à sessão: o parágrafosegundo requer comprovação do motivo legalmente justificável para desoneração dascustas.

4. Entendemos que o prazo de 15 dias flui automaticamente, sem necessidade deintimação para a parte, que é a principal interessada em se livrar da despesa e abrirespaço para o ajuizamento de nova ação. A principal dúvida residirá em torno danatureza jurídica deste prazo: se nós considerarmos o prazo preclusivo, seu escoamentoem branco - ou com uma justificativa deficiente - acarretará a imediata execução dascustas do arquivamento, sem possibilidade de isenção superveniente, porque, como jádito, esta despesa foi aproximada ao conceito de uma indenização e não foi alcançadapelos benefícios da justiça gratuita. Mal comparando, é como se as custas do

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arquivamento fossem equiparadas à multa por litigância de má fé ou à indenização pelodano processual (conceito introduzido pelos arts. 793-A e segs.). Não há isenção para aspenalidades. Piora ainda mais a situação do trabalhador o fato de que o parágrafo terceiropassa a considerar o pagamento das custas como pressuposto processual para oajuizamento da nova demanda.

5. Então, quais seriam os motivos legalmente justificáveis para a ausência dotrabalhador? Diante da falta de definição na lei processual, sugerimos, sem rodeios, o usodos critérios de abono de faltas dos trabalhadores nos contratos de trabalho,representados precipuamente pela lista do art. 473 da CLT (enfermidades, nojo, gala etc.),mas sabemos que o cenário é de profunda insegurança jurídica para os próximos anos,sobretudo se cada juiz atirar para um lado. Lembro que nos comentários ao art. 473,contidos no Volume 6 de nossa coleção, explicamos que o rol do art. 473 é meramenteexemplificativo e deve ser complementado por diversas ausências espalhadas pelalegislação, como convocação para o tribunal do júri, faltas decorrentes da legislaçãoeleitoral, militar e o mais.

6. Na sequência, o art. 843, §§ 4º e 5º, cuidam do tema da ausência do empregador àaudiência, a que se chama de revelia. Entende-se por revelia a ausência de defesa porparte do réu, mas nem sempre se trata de desprezo pelo processo judicial ou de desleixoda parte. Há numerosos exemplos de revelia decorrente de atrasos de poucos minutos, dedesencontros e até mesmo de questões jurídicas, como a já mencionada exigência derelação de emprego entre o preposto e o empregador. Para atenuar os efeitos dessas e deoutras situações, o legislador atuou em duas frentes, na reforma trabalhista do art. 843:delimitou o campo de aplicação da revelia (§ 4º) e ampliou os poderes de atuação doadvogado que ficar sozinho, sem o preposto a seu lado (§ 5º).

7. No primeiro caso, o art. 843, § 4º, contempla quatro hipóteses que já eram admitidaspela jurisprudência e que agora ostentam natureza de lei. São elas, seguindo-se a ordemdos quatro incisos do art. 843, § 4º:

a) o aproveitamento das alegações de defesa de uma empresa para beneficiar a outraempresa, que estiver ausente, naquilo que couber, como é o caso da prescrição trabalhista,apresentação de documentos idôneos de quitação ou de recolhimento de encargos e assimpor diante;

b) blindagem dos direitos indisponíveis, como ocorre na execução fiscal e nas questõesde recolhimento de encargos previdenciários e fiscais, em que eventual confissão da parteem nada influencia o prosseguimento do julgado e a apreciação dos documentos;

c) falta de documento indispensável para a comprovação do pedido, como ocorre com aausência da demonstração do direito municipal e estadual ou, ainda, do direitoconsuetudiário e, no caso específico do processo do trabalho, da norma coletiva sobre aqual se funda a pretensão - acordo coletivo, convenção coletiva e dissídio coletivo - nãopodendo a ausência do empregador representar confirmação de data base, vigência, baseterritorial, direito à cesta básica, ao reajuste normativo e assim por diante; aplica-se esseentendimento, por muito mais motivo, para a ação rescisória, o mandado de segurança e odissídio coletivo, procedimentos especiais que são essencialmente jurídicos e apenaslateralmente fáticos;

d) abusos postulatórios, representados pelos casos em que a narração dos fatos dapetição inicial está em colisão com as provas dos autos - muitas delas produzidas pelopróprio reclamante - ou pelas máximas da experiência humana, como trajetos eitinerários de transportes inexistentes na cidade, jornadas de trabalho de 24h ematividades braçais, manuseio de produtos químicos inexistentes, dentre outros.

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8. No segundo caso, o art. 843, § 5º, enfrenta a tormentosa questão do posicionamentodo magistrado diante de advogado, munido de procuração e defesa, que se vê sozinho àaudiência, por atraso ou ausência de preposto. Vários tratadistas do processo do trabalhosustentavam que a presença do advogado com esses atributos certamente denotava ânimode defesa, e, portanto, não deveria ser encarada como se revelia fosse. Assim fazendo, ojuiz estaria a trata de forma igual situações desiguais, ou seja, impondo o advogadopresente os mesmos efeitos da empresa que, digamos assim, rasgou a citação. Ao menospoderia ser recebida a defesa, com documentos, e, na sequência, declarada apenas aconfissão ficta quanto aos fatos que o preposto não estava presente para responder. Háuma grande diferença entre a revelia ampla (que inibe juntada de documentos esolicitação de produção de provas) e a confissão ficta da matéria de fato (que apenasoutorga presunção favorável para o fato alegado para a parte contrária). A jurisprudência,no entanto, mostrou-se bastante severa quanto à hipótese do advogado sozinho,culminando com a edição da Súmula 122. A redação desse dispositivo imporá revisão dasúmula.

9. Embora o art. 843, § 5º, não o diga, entendemos ser inevitável que se declare aconfissão ficta do preposto, de um lado, e que seja admitida a produção de provasrequerida pelo advogado, de outro lado, tais como o depoimento pessoal do reclamante, aoitiva de testemunhas presentes e outros mecanismos legais como a perícia e a inspeçãojudicial. Note-se, todavia, que persistirão as controvérsias sobre o exato alcance da Súmula74, II e III, do TST, que veda o direito à produção da prova "superveniente" à confissãoficta, remetendo-se o leitor para nossos comentários a respeito feitos no Volume 9 -Processo do Trabalho, dentro do Curso de Direito do Trabalho Aplicado. Ou seja, seentendermos que a oitiva da testemunha da reclamada seria prova "superveniente" àetapa dos depoimentos pessoais, o juiz teria de indeferir o testemunho, mas, ao revés,poderia ter de colher o depoimento pessoal do reclamante, que antecede o depoimentopessoal do preposto ausente.

Art. 847. .............................................................

Parágrafo único. A parte poderá apresentar defesa escrita pelo sistema de processo judicialeletrônico até a audiência. 

1. O dispositivo apenas aclara que a defesa eletrônica pode ser encaminhada até omomento exato da audiência. Dada a escassez de disposições a respeito do momentoexato, convencionou-se exigir a apresentação na véspera ou horas antes da audiência,para maior segurança eletrônica e praticidade para o acesso. As empresas argumentavamque isso tirava o ineditismo da linha de defesa, contrariando o espírito do próprioprocesso trabalhista, que tanto preza as audiências unas, de tentativa de conciliação,apresentação de defesa, instrução e julgamento. Para contornar essa exigência de envioprévio da defesa, muitos advogados usavam e usam a ferramenta do sigilo jurídico – comose tudo corresse sob segredo de justiça – inibindo seu acesso pelo adversário. O juiz,naturalmente, derrubará o segredo de justiça onde não houver pertinência, mas duranteas 24 horas (ou menos) em que ele durou, cumpriu seu papel. Com a redação do art. 847,p. único, a solução de contorno pode se tornar desnecessária.

TÍTULO X

CAPÍTULO III

..........................................................................

Seção IV

Do Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica

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Art. 855-A. Aplica-se ao Processo do Trabalho o incidente de desconsideração dapersonalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 –

Código de Processo Civil.

§ 1º Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente:

I – na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do § 1º do art. 893 destaConsolidação;

II – na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de garantia do juízo;

III – cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado originariamenteno tribunal.

§ 2º A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da tutelade urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 da Lei nº 13.105, de 16 de março de

2015 (Código de Processo Civil).

 

1. Permanecemos convictos de que o incidente de desconsideração da personalidadejurídica é incompatível com o processo do trabalho, havendo grande dificuldade decompreensão sobre as diferentes premissas que norteiam a cobrança do créditotrabalhista da cobrança dos créditos comerciais e oriundos das relações civis em geral.

2. Conforme expusemos amplamente em nossos livros do Curso de Direito do TrabalhoAplicado, entendemos que o trabalhador não possui chance alguma de exigir garantias derecebimento de seus salários e demais haveres, dada a posição de sujeição em que seencontra na contratação e ao longo da prestação de serviços. Ao revés, numerososcredores, como bancos, instituições de fomento, escolas, redes varejistas, locadores, dentreoutros, podem utilizar as ferramentas disponíveis na legislação brasileira, como o aval, afiança, a caução e o mais. Razoável, portanto, que a legislação processual civil não permitaque se desconsidere a personalidade jurídica da empresa sem antes serem esgotados todosos demais mecanismos e, às vezes, sem que se comprove a má gestão. Nada disso sucedeno direito do trabalho.

3. A única garantia do trabalhador é o patrimônio do sócio. Eis aí um exemplofundamental do credor não negocial, assim entendido o credor que não tem acesso ànegociação prévia. Também podemos considerar credores não negociais o Estado, doponto de vista do direito tributário, e os credores de alimentos, decorrentes do direito defamília ou do direito penal. Some-se a isso o fato de que, queiramos ou não, as pessoasjurídicas em nossa sociedade são de baixa densidade, ou seja, são corriqueiros ospagamentos das despesas pessoais dos sócios e familiares pela pessoa jurídica, semdistinção patrimonial qualquer. Toleramos amplamente essa promiscuidade patrimonial,mas na hora do pagamento das dívidas também deveria ser aceita tal junção. Equiparartodos os credores como se tivessem as mesmas armas e as mesmas exigências édesconhecer a realidade social e a segmentação dos ramos jurídicos.

4. Quando o CPC entrou em vigor, em março de 2016, houve grande pressão para que aJustiça do Trabalho cedesse aos apelos da nova forma de intervenção de terceiros que foiinserida no diploma. O próprio TST admite a compatibilidade do incidente, como afirmouno art. 6º da IN 39/2015, embora ressalvando a autonomia do magistrado para o impulsode ofício da execução. Aliás, esse impulso, que era um dos pilares do processo do trabalho,sofre abalo com a reforma do art. 878 da CLT, abaixo analisado. Mas não parece que houveum clamor em prol do incidente de desconsideração da personalidade jurídica no âmbitotrabalhista.

5. Feitas essas considerações, cumpre observar a existência de outras

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incompatibilidades entre o incidente proposto pelo art. 855-A da CLT reformada e oprocesso do trabalho. Conforme desenvolvemos no Capítulo 3 - Legitimidade, de Volume10 - Execução trabalhista, do Curso de Direito do Trabalho Aplicado, a aplicação doincidente de desconsideração da personalidade jurídica ao processo do trabalho deveriater mais cautela do que simplesmente dizer que se aplica a regra do art. 133 do NCPC. Emsíntese, os argumentos ali expostos foram os seguintes:

a) incongruência com o conceito de empregador como a atividade exercida,independentemente da natureza jurídica, tal como se faz com a sucessão de empregadorese com o grupo econômico;

b) o processo do trabalho determina que os incidentes sejam dirimidos por despachos edecisões interlocutórias, com brevidade, e não se compatibiliza com a autuação emapartado e com o recurso imediato, seja ele o agravo de instrumento previsto pelo NCPC,seja o agravo de petição "sem garantia do juízo", proposto pela reforma;

c) não raro a execução trabalhista alcança bens dos sócios sem que se faça necessária adesconsideração da personalidade jurídica, porque esta foi utilizada como obstáculo parao pagamento dos credores ou em desvio de finalidade; assim consta claramente do art. 50do CC, que não represente uma hipótese de desconsideração mas de confusão patrimonial,que é uma das notas características das pessoas jurídicas brasileiras; assim, mesmo com oadvento do art. 855-A da CLT, o art. 50 do CC continua a admitir a penhora de bens desócios sem a deflagração do incidente de desconsideração;

d) o processo do trabalho admite, apesar das críticas, a exceção de pré-executividade,como consta da Súmula 397, que seria suficiente para o sócio ou ex-sócio impugnar seuacionamento, sem garantia do juízo, sendo redundante a solenidade da desconsideração,no particular;

e) o contraditório diferido era e continua a ser uma das características do processo dotrabalho, em que os requerimentos são apreciados liminarmente pelos juízes e sãoencaminhados para as fases recursais cabíveis, sem autuações em apartado ousobrestamento do feito a cada novo pedido das partes.

6. Por fim, chamamos a atenção para o fato de que, no âmbito da execução fiscal (queafeta processos na justiça comum, mas também na Justiça do Trabalho), vige a regra doart. 135 do Código Tributário Nacional, segundo o qual são corresponsáveis os dirigentes emandatários das pessoas jurídicas que houverem agido com excesso de poder ou cominfração da lei, dos estatutos e dos contratos. Ora, deixar de recolher encargosprevidenciários e fiscais ou o fundo de garantia, atrasar salários, exigir horas extras semas pagar e tantos outros atos comuns nas relações de trabalho, em detrimento dalegislação social, são exemplos frisantes de infração legal. A corresponsabilidade se impõee, no caso, o art. 135 do CTN prescinde de desconsideração da personalidade jurídica. Esseentendimento corresponde, aliás, ao Enunciado 6 do Fórum de Execuções Fiscais da Escolada Magistratura Federal da 2ª Região e serve para evidenciar que nada é tão simples assimno campo da desconsideração. Se o art. 135 do CTN é aplicado para as execuções fiscais ese o art. 186 do CTN menciona que o crédito trabalhista tem prioridade sobre o créditotributário, não é difícil chegar à conclusão de que a execução trabalhista não se submeteao incidente previsto no art. 133 do CPC. Para piorar a situação do art. 855-A da CLT, o CTNtem natureza de lei complementar e prefere sobre as leis ordinárias que dispuserem emsentido contrário sobre a mesma matéria. Caso não se concorde com a extensão do art.135 do CTN para os créditos trabalhistas, necessário atentar para sua aplicação para asexecuções fiscais em curso na Justiça do Trabalho, tanto aquelas destinadas à arrecadaçãoprevidenciária quanto aquelas decorrentes das penalidades trabalhistas aplicadas (art.114, VII, da CF).

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CAPÍTULO III-A

DO PROCESSO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA PARA HOMOLOGAÇÃO DE ACORDOEXTRAJUDICIAL

Art. 855-B. O processo de homologação de acordo extrajudicial terá início por petiçãoconjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado.

§ 1º As partes não poderão ser representadas por advogado comum.

§ 2º Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo advogado do sindicato de sua categoria.

 

Art. 855-C. O disposto neste Capítulo não prejudica o prazo estabelecido no § 6º do art. 477desta Consolidação e não afasta a aplicação da multa prevista no § 8º art. 477 desta

Consolidação.

 

Art. 855-D. No prazo de quinze dias a contar da distribuição da petição, o juiz analisará oacordo, designará audiência se entender necessário e proferirá sentença.

 

Art. 855-E. A petição de homologação de acordo extrajudicial suspende o prazo prescricionalda ação quanto aos direitos nela especificados.

Parágrafo único. O prazo prescricional voltará a fluir no dia útil seguinte ao do trânsito emjulgado da decisão que negar a homologação do acordo.

1. Os arts. 855-B a 855-E são bastante ambiciosos em sua proposta, a tal ponto que esteautor tem dúvidas se, como se diz na sociedade brasileira, a norma "vai pegar". Explica-se.Os juízes do trabalho desenvolveram grande preocupação com o crescimento alarmantedas lides simuladas, assim entendidos os falsos processos trabalhistas, feitosexclusivamente para se obter a homologação de um acordo capaz de quitar todo ocontrato de trabalho. Dado que o Brasil não oferece canais adequados para o diálogosocial e dada a estrutura confusa sindical com que convivemos ao longo dessas décadas,involuntariamente a Justiça do Trabalho se tornou um raro espaço para a apresentaçãodas queixas, críticas e anseios do direito do trabalho. E, para complementar, ela ofereceum mínimo de segurança às relações jurídicas ao atribuir o selo da coisa julgada - atravésdos julgados de mérito ou através dos acordos homologados judicialmente. Foi assim quemuitos perceberam a enorme vantagem de "forçar" um acordo trabalhista como maneiraeficaz de pôr fim ao litígio mas também à expectativa de litígios futuros. Para viabilizar osacordos, muitas empresas simplesmente diziam aos empregados: "vá procurar seusdireitos", porque era preferível pagar os valores perante o juiz do trabalho do que pagarno departamento pessoal, e, depois, ter de recalculá-los. Outras empresas mais afoitas, aoinvés de esperar o empregado procurar seus direitos, contratavam advogado para opróprio empregado, forjavam uma petição inicial qualquer e, surpresa, apareciam àaudiência judicial com o acordo pronto. Alguns indícios irritavam muito os magistradosde primeiro grau, como a celebração do acordo antes da audiência e antes da citação doréu, ou, ainda, a manifestação do reclamante de que desconhecia seu próprio advogado.Isso sem contar casos mais graves em que o advogado da empresa se sentava ao lado doreclamante ou o preposto e o reclamante chegavam abraçados e saíam abraçados.

2. Aos poucos se desenvolveram algumas teses jurídicas sobre as lides simuladas, taiscomo a necessidade de sua extinção sem resolução de mérito, por lhe faltar o conflito deinteresses e a pretensão resistida, ou a necessidade da homologação do acordo se aterexclusivamente ao objeto do processo. Assim, o trabalhador poderia abrir novo processo,com advogado de sua confiança, postulando vários outros títulos, não inseridos na

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primeira demanda. Na verdade, o advogado de uma parte que assessora a outratransgride várias normas da ética de sua profissão, sem prejuízo da tipificação penal emalguns casos, mas mesmo assim não parece causar constrangimento em uns e outros aoincentivar essa prática. Tanto isso é verdade que as pessoas falavam com naturalidadeque a lide simulada era uma "casadinha", ou seja, era uma forma de o processo serajuizado simultaneamente por ambas as partes. Os efeitos nefastos para o direito dotrabalho em geral e para o trabalhador em particular levaram à ampliação da resistênciajudicial a essa modalidade de ação sem lide.

3. Por essas razões, não deixa de ser surpreendente que o legislador de 2017 tenhainserido, nos arts. 855-B e seguintes da CLT, uma figura muito similar à casadinha,oficializando a possibilidade de acordo extrajudicial, firmado por ambas as partes, paraser levado à homologação judicial. Muito embora revistada de algum verniz jurídico,como o fato de chamar o procedimento de jurisdição voluntária (aquela administraçãopública de interesses privados que aprendíamos na faculdade), o fato é que o acordoextrajudicial, se alargado ou se deturpado, pode acabar com 100% dos processostrabalhistas. Ninguém duvide do poder de persuasão que o empregador exercerá, duranteo contrato de trabalho ou ao seu término, por ocasião do pagamento das verbasrescisórias, para influenciar o empregado a aceitar que a homologação rescisória ocorravia "acordo extrajudicial" e não via sindicato ou Ministério do Trabalho.

4. Por via das dúvidas, a reforma fez inserir a obrigatoriedade da presença deadvogado. Se a casadinha já é temerária, que dirá se fosse feita diretamente peloempregado e pelo preposto do empregador, sem nenhuma ressalva? Cada qual deve terseu advogado e, aparentemente, para o acordo extrajudicial não se aplica a capacidadepostulatória preservada pela reforma no art. 791 da CLT. O art. 855-B, caput e § 1º, éenfático quanto à indispensabilidade do advogado.

5. A homologação do acordo extrajudicial pode e deve ser feita em paralelo àhomologação sindical das verbas rescisórias (art. 855-C), mas é possível, por exemplo, queo empregador faça o depósito das verbas no prazo de 10 dias (art. 477, § 6º, da CLT) eaguarde, no mais, o comparecimento em juízo.

6. Espera o legislador que o juiz priorize os acordos extrajudiciais, resolvendo todas asquestões no prazo de 15 dias (art. 855-D). Trata-se de mais uma bravata do legislador, talcomo já feito no rito sumaríssimo, que também promete respostas em 15 dias (art. 852-B),mas quem manda nesses prazos é, sobretudo, a realidade. De nada adianta o legisladorprometer 15 dias se a pauta da Vara está para 6 ou 12 meses, se a distribuição anual é de3000 ou 4000 processos novos por ano e se não há fixação de juiz auxiliar por Vara. Enfim,a questão é complexa demais para se achar que, doravante, tudo se resolverá em 15 dias.

7. Há previsão de suspensão de prazo prescricional durante a tramitação dessamodalidade de jurisdição voluntária (art. 855-E). A ideia é correta e racional, mas depequena consequência prática. Poderia ter algum sentido se o acordo fosse encaminhado1 ano e 11 meses depois da rescisão, de modo a proteger o empregado contra a fluência dobiênio prescricional, mas, a rigor, esse acordo será sacado logo nos primeiros dias após arescisão. Alguns advogados mais habilidosos vão se lembrar de pedir a suspensão tambémdo quinquênio prescricional, ou seja, se e quando for ajuizada a ação trabalhista típica, oprazo de 5 anos deverá ser computado com a exclusão do período da tramitação do pedidode acordo extrajudicial. Confusão à vista.

8. Mas de tudo o que acima se expôs e de tudo o que o acordo extrajudicial poderárepresentar para o futuro do processo do trabalho, o mais importante é saber como o juizdo trabalho operará a homologação. O art. 855-D apresenta algumas pistas ao dizer que ojuiz "analisará o acordo", poderá designar audiência para tirar dúvidas e proferirá

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sentença. Sentença, como se sabe, envolve juízo de valor, apreciação dos elementos dosautos e, sobretudo, exposição da livre convicção motivada do magistrado. Logo, ele pode,sim, recusar a homologação ou a fazer parcialmente ou, ainda, com efeitos restritos (porexemplo, a homologação apenas do objeto do processo, tal como acima se apontou para aépoca das lides simuladas). Com efeito, o juiz pode não se sentir à vontade para quitar 5,10, 15 ou 20 anos de contrato de trabalho diante de um acordo de R$ 2.000,00 calculadossobre o valor das verbas rescisórias. Ou, ainda, pode homologar as verbas rescisórias masnão as pendências que foram acrescidas.

9. Esperando não ferir nenhuma sensibilidade, o fato é que assistimos, candidamente, àoficialização da Justiça do Trabalho como órgão homologador das verbas rescisórias,capitis diminutio que parece agradar a vastos segmentos da sociedade.

Art. 876. .............................................................

Parágrafo único. A Justiça do Trabalho executará, de ofício, as contribuições sociaisprevistas na alínea a do inciso I e no inciso II do caput do art. 195 da Constituição Federal, e

seus acréscimos legais, relativas ao objeto da condenação constante das sentenças queproferir e dos acordos que homologar.

1. Discute-se o alcance do art. 114, VIII, da CF. Com redação dada pela EC 45/2004, essedispositivo aclarou a competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar asdemandas sobre recolhimentos previdenciários, mas, passados tantos anos, ainda pairamdúvidas sobre o processo do trabalho pode servir para a cobrança de qualquer encargoprevidenciário ou, ao revés, se ele deve se ater às contribuições sociais incidentes sobre ashoras extras, adicional noturno e demais parcelas salariais deferidas pela sentençatrabalhista. Ou seja, é preciso saber se os recolhimentos previdenciários do processo dotrabalho são autônomos ou se dependem de condenação trabalhista.

2. A ideia de acoplar a execução fiscal ao processo do trabalho não é nova. Houvealteração na legislação ordinária em 1993 para fixar essa possibilidade, mas muitasdúvidas surgiram sobre sua constitucionalidade, haja vista que a competência da Justiçado Trabalho é aquela fixada pela Constituição, ficando as demais questões a cargo daJustiça Comum, tanto a Federal quanto as Estaduais. Assim, para atenuar a onda decríticas surgidas em 1993, a EC 20/1998 inseriu previsão dos recolhimentosprevidenciários no art. 114, através do então § 3º, cuja redação foi aprimorada na EC45/2004.

3. No entanto, as expressões utilizadas continuaram pouco claras sobre o alcance dessaexecução. Há julgados do STF e do TST que restringem a competência apenas aos encargosdecorrentes das sentenças condenatórias pecuniárias – ou seja, apenas sobre as parcelasde natureza salarial decorrentes das sentenças trabalhistas. Ficam de fora, portanto,eventuais encargos previdenciários decorrentes de vínculos de emprego declarados pelaJustiça do Trabalho – quando os salários já estava pagos e não compõem a lide – bem comoas incidências sobre salários “por fora” reconhecidos pelo Juiz do Trabalho. Neste casoparticular, a Previdência incidirá apenas sobre eventuais reflexos que ostentem tambémeles a natureza salarial. Também ficam de fora os encargos do chamado Sistema S (art.240 da CF), os quais, apesar de arrecadados pela rede previdenciária, não apresentamnatureza de recolhimentos previdenciários.

4. A nova redação do art. 876, parágrafo único, está em consonância com ajurisprudência do STF e do TST, tendo cuidado de eliminar as referências aos salários jápagos e não reivindicados no processo.

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Art. 878. A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juizou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem

representadas por advogado.

Parágrafo único. (Revogado).

 

1. O impulso do processo do trabalho pelo magistrado compõe uma das singularidadeshistóricas do processo do trabalho. A severa restrição determinada pela nova redação doart. 878 produzirá diversos impactos, muito além de simples questões cotidianas:

2. Se o juiz não pode impulsionar de ofício, a tendência é que renasça o debate antigosobre a autonomia ou não dos atos de execução em relação aos atos da fase deconhecimento. Havia consenso de que a execução trabalhista é apenas uma etapa,composta pelos atos de acertamento de valores e de expropriação de bens em caso deresistência ao cumprimento das determinações, e não um processo autônomo, distinto doprocesso de execução. Boa parte dos argumentos favoráveis à tese da etapa processual(atualmente chamada de sincretismo processual, no sentido de processo uno, congregandoconhecimento e execução) estava diretamente ligada ao fato de que o próprio juiz poderiae deveria dar andamento aos atos de execução, independentemente de maior diligência doexequente-trabalhador.

3. Isso explicava, também, por que razão a prescrição intercorrente era mal vista noprocesso do trabalho, porque a inércia, em última análise, era do Judiciário e não doexequente ou, pelo menos, não do exequente sozinho. Com o desaparecimento do impulsode ofício para a maioria das hipóteses, certamente haverá quem proponha a autonomia doprocesso de execução, inclusive com a possibilidade de prescrição da pretensão executiva,embasada no novo art. 11-A da CLT. Convém lembrar que prescrição intercorrente não ésinônimo de prescrição da pretensão executiva, embora sejam estudadas em conjunto; aprimeira poderia ocorrer em qualquer paralisação processual por mais de dois anos, aopasso que a segunda somente se aperfeiçoaria se a parte ficar inerte para promover a"abertura" do processo de execução".

4. Há, também, enorme dificuldade na compreensão da própria palavra execução, querdizer, quando o art. 878 afirma "permitida a execução de ofício pelo juiz", precisamosentender se ele quis dizer "permitida a execução forçada" ou se ele quis dizer "permitidosos atos posteriores à fase de conhecimento". A diferença se justifica porque os cálculos deliquidação, que, no processo do trabalho, são de simples acertamento, via de regra sãoenquadrados como um complemento à fase cognitiva e não propriamente como parteintegrante da execução forçada. Tanto isso é verdade que o cálculo pode ser feito semimpugnações e, citado, o executado apresenta o pagamento. Este exemplo é suficientepara ilustrar que nem toda etapa posterior ao processo de conhecimento deve serconsiderada execução forçada. A prevalecer esse entendimento "fracionado" das etapas deexecução, o juiz poderá, mesmo depois da reforma trabalhista, promover o cálculo deliquidação por conta da secretaria do juízo ou de perito nomeado, sem violar o art. 878.Apenas deverá o juiz se abster de promover os atos de expropriação propriamente ditos.

5. Da mesma forma, a expedição de ofícios legais (ou o uso dos convênios eletrônicos)para localização do paradeiro do devedor desaparecido, para que seja citado ou intimadoem fase de execução, não configura impulso de ofício de atos expropriatórios, masmeramente impulso de ofício dos atos complementares à fase de conhecimento.

6. Pode ser que a reforma legislativa realmente desejou inibir a desenvoltura dosmagistrados no andamento processual. No entanto, não se pode ignorar a realidade doprocesso do trabalho, marcado pela assimetria entre a capacitação das partes. Mesmo a

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presença de advogados não é suficiente para reequilibrar as forças dos dois polos em fasede execução, pois o devedor pode desaparecer sem deixar rastros e sem informar oendereço atualizado no processo do trabalho ou nos órgãos públicos, como era seu dever,tornando muito difícil saber quantos e quais ofícios legais deverão ser expedidos para orastreamento desse paradeiro.

7. Se formos levar a interpretação gramatical do art. 878 e do art. 11-A da CLT(prescrição intercorrente), corremos o risco de premiar o caloteiro e de incentivar as rotasde fuga: basta que o devedor consiga se esquivar por dois anos que obterá, comorecompensa, o perdão da dívida. Nenhuma interpretação jurídica deveria ser levadaadiante sem a noção da realidade e sem noção das bases teóricas sobre as quais se assentao arcabouço processual. Até para eliminar os feitos do acervo jurídico é preciso muitocuidado, pois nunca se sabe sobre qual dos defeitos se assentam suas virtudes,parafraseando Clarice Lispector.

Art. 879. ............................................................................

..........................................................................................

§ 2º Elaborada a conta e tornada líquida, o juízo deverá abrir às partes prazo comum de oitodias para impugnação fundamentada com a indicação dos itens e valores objeto da

discordância, sob pena de preclusão.

....................................................................................

§ 7º A atualização dos créditos decorrentes de condenação judicial será feita pela TaxaReferencial (TR), divulgada pelo Banco Central do Brasil, conforme a Lei nº 8.177, de 1º de

março de 1991.

1. Reforma legislativa de 1992 aclarou que a abertura de prazo para manifestaçãosobre a conta de liquidação era simples faculdade do juiz. O contraditório diferido (ouseja, postergado para outros momentos processuais) sempre foi marca característica doprocesso do trabalho, assentado na premissa da irrecorribilidade das decisõesinterlocutórias e da unirrecorribilidade. Assim é na fase de conhecimento, em que seremetem para o recurso ordinário todas as queixas quanto à condução do magistradosobre as perícias, documentos, oitivas de testemunhas e o mais. Assim era na fase deexecução, em que se reserva um momento especial - os embargos à execução, art. 884 -para todos os temas afetos àquela etapa, desde o acertamento dos cálculos até a condutado oficial de justiça e a decisão sobre os atos expropriatórios.

2. De fato, não faz muito sentido obrigar o juiz a abrir vistas para as partes falaremsobre todos os cálculos de liquidação, pois muitos são de simples ajustes de atualizaçãomonetária e outros são de verbas rescisórias, por exemplo. Muitos são feitos pelo próprioservidor da secretaria do juízo, sem necessidade de guarnição do contraditório imediato.Há vários tribunais regionais que estimulam a formação de quadros de calculistas, comoforma eficaz de agilizar o andamento da execução. Todo esse esforço pode se perder se ainterpretação à nova redação do art. 879, § 2º, for no sentido de indispensabilidade demanifestação das partes sobre todos os cálculos. Aquilo que deveria ser reservado paravalores mais elevados ou para questões mais complexas, como diferenças de comissões,integração de parcelas pagas por fora dos recibos ou cláusulas penais expressivas em açãocivil pública, para ficar em alguns exemplos.

3. O art. 879, § 2º, tem, ainda, a dissonância de criar uma fase de impugnaçãodesprovida de garantia do juízo ou de depósito recursal. Para alguns juízos, que abriamprazo indiscriminadamente como forma de dar vazão ao excesso de processos em atraso,nada muda com a nova redação. Para outros juízos, que primavam pela homologaçãocélere da conta de liquidação e postergava o debate para o art. 884 da CLT, a nova redação

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atravancará o processo, evidenciando que a reforma trabalhista não levou emconsideração o art. 5º, LXXVIII, da CF, acerca da necessidade de conjugação dos esforçospara a duração razoável do processo e "os meios que garantam a celeridade de suatramitação". É provável que tenham sensibilizado o legislador os exemplos de errosgrosseiros, valores vultosos homologados sem critérios e dificuldades excessivas doempregador de garantir o juízo para os embargos à execução, quando a razão estava a seulado. A lamentar que esses casos tenham sido considerados como paradigma para areforma de dispositivo da CLT que poderiam ser usados de modo mais eficiente e criativoem prol da celeridade processual.

4. A pena de preclusão já constava da redação anterior: uma vez aberto o prazo, aparte que ficar em silêncio não poderá reavivar a discussão em sede de embargos àexecução do art. 884 da CLT. Na oportunidade, ela poderá deduzir alegações sobre apenhora do bem e outros atos supervenientes à homologação do cálculo, mas não sobre oscritérios de cálculo propriamente ditos. Conforme explicamos no Volume 10 - Execuçãotrabalhista, de nosso Curso de Direito do Trabalho Aplicado, isso não significa, todavia,que a coisa julgada possa ser desrespeitada por simples perda de prazo do art. 879, § 2º,nem que títulos estranhos à sentença possam ser inseridos pelo reclamante oportunista.Semelhantes exemplos autorizam solução mais severa para os embargos à execução,independentemente de abertura de prazo para manifestação sobre cálculos.

5. No tocante à correção monetária, o legislador foi bastante ousado ao inserir no corpoda CLT um índice utilizado pela autoridade monetária que pode ser retirado a qualquermomento do ordenamento jurídico. Na verdade, o § 7º é um ato de desespero da reformatrabalhista de 2017, pois sua presença na CLT em nada altera a discussão sobre suaconstitucionalidade e tampouco se fazia necessária, haja vista que o art. 39 da Lei8.177/1991, ora citada pelo art. 879, é expresso quanto ao cabimento da taxa referencial aoprocesso do trabalho. A discussão nunca foi a posição topográfica da taxa referencial - sedentro da CLT ou no bojo da legislação extravagante: a discussão acalorada diz respeito aoconteúdo da taxa referencial, primeiramente para saber se ela incentivava a usura, poradmitir juros sobre juros (o que foi tolerado, conforme se aprende na OJ 300 da SDI), e,depois, para saber se o processo do trabalho poderia conviver com um índice de correçãomonetária zerado, quer dizer, se o índice podia ser zero, como ocorreu em vários meses evários anos. Foi isso que gerou reação jurisprudencial, que desaguou em conhecidadecisão de inconstitucionalidade do Plenário do TST (processo 479-60.2011.5.04.0231),parcialmente suspensa por decisão liminar em Reclamação Constitucional (Reclamação22.012, agosto de 2015). Ora, o debate prosseguirá independentemente da vontade dolegislador de 2017.

...................................................................................

Art. 882. O executado que não pagar a importância reclamada poderá garantir a execuçãomediante depósito da quantia correspondente, atualizada e acrescida das despesas

processuais, apresentação de seguro-garantia judicial ou nomeação de bens à penhora,observada a ordem preferencial estabelecida no art. 835 da Lei nº 13.105, de 16 de março de

2015 – Código de Processo Civil.

1. A expressão garantia do juízo representa exibir dinheiro ou bens suficientes paracobrir toda a dívida, inclusive seus acréscimos legais e despesas processuais, para quepossa ser dado andamento ao processo, para fins de recursos e demais remédios jurídicoscabíveis - sobretudo os embargos à execução de que trata o art. 884 da CLT. Ao contráriodo depósito recursal na fase de conhecimento, a garantia do juízo em fase de execução nãopossui valor-teto, ou seja, não possui limite. É necessário garantir 100% da dívida, seja elade quatro dígitos ou de oito dígitos. O bem de maior liquidez evidentemente é o dinheiro,de preferência aquele depositado em instituição financeira, mas sempre se admitiram

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bens de menor liquidez, como móveis, imóveis e semoventes.

2. Em caso de omissão da lei processual trabalhista, a aplicação subsidiária na fase deexecução é feita com base na Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/1980), como determina oart. 889 da CLT, mas, excepcionalmente, para os fins da indicação de bens à penhora, aaplicação subsidiária é feita diretamente para o CPC (art. 655 na norma de 1973 e art. 835na norma de 2015). Não havia necessidade de alteração legislativa do art. 882 para aclararo número exato do artigo do CPC, até porque o próprio código prevê que a referência aodispositivo da norma anterior deve ser compreendida à luz do dispositivo da normasuperveniente (art. 1.046, § 4º, CPC 2015).

3. De toda forma, a aplicação do art. 835 do NCPC contém algumas novidades, paraalém de simples gradação legal de bens aptos à penhora. Destacamos duas novidades. Aprimeira é a flexibilidade da ordem dos bens à penhora, pois o juiz pode passar à frenteum móvel, por exemplo, se este despertar maior potencial no praceamento. Numa regiãorural, as máquinas agrícolas e o gado leiteiro podem ser priorizados em detrimento deimóveis ou de títulos públicos, e assim sucessivamente. A segunda novidade é que odinheiro, que o juiz não pode rejeitar, passa a ter múltiplos significados, podendo incluirnão apenas a moeda em espécie e o depósito bancário, mas também a carta de fiança e oseguro garantia.

4. Logo, a referência ao art. 835 já era suficiente para a aplicação do seguro garantia aoprocesso do trabalho, assim como essa modalidade de penhora consta também da Lei deExecução Fiscal (art. 9º, II, da Lei 6.830/1980). Por cautela, o legislador explicita essaaplicação ao processo trabalhista com receio de que houvesse alguma interpretação desua incompatibilidade. E por que haveria essa resistência trabalhista? É fácil notar odesconforto que o seguro garantia prova como forma de depósito recursal ou deguarnição da dívida no processo judicial, sobretudo no trabalhista: através dessamodalidade, o devedor, em realidade, não está a exibir a integralidade do dinheiro nemafetou seu patrimônio. É suficiente que tenha bom relacionamento com as instituiçõesbancárias e conseguia crédito. Com valores moderados para pagar as taxas e as comissõesde permanência da rede bancária, o devedor será capaz de garantir valores elevados, emum ou mais processos, e, assim, perde-se a essência da glosa dos valores para fins deexecução. Daí por que o seguro garantia e produtos similares sempre enfrentaramresistência no processo judicial. Há debate mais detalhado em nossos escritos a respeitono Volume 10 – Execução trabalhista.

5. A SDI 2 do TST admite também o uso da carta de fiança, muito tempo antes dareforma legislativa (OJ 59).

6. Há consenso de que esses produtos precisam ser calculados não somente com basenos valores devidos (dívida, atualização monetária, encargos previdenciários e fiscais,despesas processuais), mas também com adição de um valor capaz de fazer frente àdepreciação da moeda e ao incremento de outras despesas supervenientes, decorrentesdos próprios remédios jurídicos que se objetiva guarnecer. Assim sendo, o CPC estipula amajoração em 30% e o TST seguiu esse diretriz, alterando a redação da OJ 59 em 2016 parageneralizar esse acréscimo. Não há razão para ser diferente com a nova redação do art.882 da CLT. O devedor deve ter a cautela de fazer, espontaneamente, o cálculo dos 30% amais, quando da elaboração do documento pelo banco credor, para não entrar emdiscussão sobre a clareza do art. 882 da CLT - que é omisso a respeito mas que faz mençãoexpressa ao art. 835 do CPC.

7. O art. 899, § 11, também oriundo da reforma trabalhista, estende a permissão do usodo seguro garantia e da carta de fiança para a fase de conhecimento, quer dizer, tambémpara o depósito recursal dos demais remédios jurídicos cabíveis, muito além dos casos de

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penhora.

Art. 883-A. A decisão judicial transitada em julgado somente poderá ser levada a protesto,gerar inscrição do nome do executado em órgãos de proteção ao crédito ou no Banco

Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), nos termos da lei, depois de transcorrido oprazo de quarenta e cinco dias a contar da citação do executado, se não houver garantia do

juízo.

1. O uso de meios indiretos de constrangimento para o executado quitar sua dívidasempre foi utilizado, mesmo antes da clareza do NCPC. As modalidades mais citadas são ainserção do nome do executado no cadastro de devedores mantido pelo comércio ou porinstituições financeiras e, também, o sistema de protesto extrajudicial. A essas duasmodalidades poderíamos também acrescer o próprio pedido de falência, que talvez sejaum exemplo mais sofisticado, mas contra o qual não pende nenhuma vedação legal, e,desde a 2011, o chamado Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), de que trata oart. 642-A da CLT. A principal diferença prática está no fato de que o BNDT constrangeempresas que participam de licitação e contratos com o Poder Público, por ser exigida acertidão negativa, ao passo que os demais meios acima citados constrangem todos osempresários, pois abala seu crédito no comércio e nos serviços.

2. Embora o uso dos meios indiretos seja antigo, eles certamente foram alavancadospelo NCPC, por haver ao menos dois dispositivos com referência direta e incentivadora desua utilização: art. 517 para o protesto extrajudicial e art. 782, § 3º, para o serviço deproteção ao crédito. Não há incompatibilidade para sua aplicação ao processo do trabalho,sendo medidas complementares aos meios diretos de execução e ao próprio BNDT. Daí apreocupação manifestada pela reforma de 2017 a tentar frear o ímpeto do juiz do trabalhoa aplicação subsidiariamente a medida constante do CPC: ao contrário do processo civil, oprocesso do trabalho terá de contar 45 dias para negativar o nome do devedor, a contar dadata da citação (que muitos associam com a data da deflagração do processo de execução,o início da fase aguda em que o devedor é colocado em mora e se sujeita aos atos deexpropriação).

3. A existência de garantia do juízo - em dinheiro, bens ou produtos bancários, como oseguro, conforme se analisou na nova redação do art. 882 da CLT - inibe o uso dos meiosindiretos de coerção. Mas essa ressalva nem precisava constar do art. 883-A pois é daessência dos institutos e já consta dos dispositivos do NCPC.

4. Embora o art. 878 tenha se esforçado para dizer que o juiz não está autorizado aimpulsionar de ofício a execução, observe-se que o art. 517 não exige iniciativa da partepara o protesto extrajudicial, ao contrário do art. 782, § 3º, que espera requerimento dointeressado para o pedido de negativação do nome do devedor.

5. A reforma trabalhista deixou escapar a oportunidade de enfrentar tema ainda maistormentoso sobre o uso dos meios indiretos: a aplicação trabalhista do art. 139, IV, doNCPC, que tem sido interpretado como autorizador do bloqueio de passaporte, carteira dehabilitação e de outros instrumentos capazes de inibir a desenvoltura do devedor ou deincentivar a procrastinação. A aplicação subsidiária é normalmente aceita, pois o art. 139contempla medidas mandamentais genéricas, e, no caso, o juiz não está obrigado aesperar a contagem dos 45 dias criados pela redação do art. 883-A.

Art. 884. ......................................................

.......................................................................

§ 6º A exigência da garantia ou penhora não se aplica às entidades filantrópicas e/ou àquelesque compõem ou compuseram a diretoria dessas instituições.

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1. A inserção do § 6º ao art. 884 da CLT não constava do projeto original e foi inseridadurante os debates na Câmara dos Deputados. Está diretamente ligada ao tema do acesso àjustiça, que inclui a gratuidade e a facilitação dos meios de defesa. Há, no entanto, umacontradição evidente na reforma trabalhista neste particular: ao mesmo tempo em que foidificultado o acesso ao trabalhador (por exemplo, não permitindo o alcance da justiçagratuita em caso de arquivamento do processo - art. 844, §§ 2º e 3º) foram criadosmecanismos de facilitação da defesa dos réus (por exemplo, o uso do seguro garantia parafins de depósito recursal - art. 899, § 11 - e para fins de substituição de penhora oudepósito em execução - art. 882). Neste contexto, as chamadas entidades filantrópicas eseus dirigentes e ex-dirigentes receberam benefícios legais sem precedentes na legislaçãotrabalhista.

2. O benefício consiste em liberar a necessidade de depósito recursal na fase deconhecimento (art. 899, § 10) e, também, a necessidade de penhora ou garantiaequivalente para a fase de execução (art. 884, § 6º). Não há dúvidas sobre a relevânciasocial das entidades filantrópicas, ainda mais no Brasil, em que tantos serviços públicosurgentes, como a saúde e a educação, são supridos por organizações não governamentais,diante da precariedade das entidades públicas. Não é esse o cerne da questão, pois aessencialidade desses préstimos é incontestável. O fato é que a completa gratuidade para oempregador pode gerar deturpações, como incentivar a recorribilidade contra assentenças da fase de conhecimento ou, ainda, protelar o cumprimento da decisão emexecução, com a apresentação de embargos à execução desprovidos de fundamento. Se forapenas para dizer que a entidade filantrópica atravessa dificuldades financeiras, então orecurso ordinário (fase de conhecimento) ou os embargos à execução (fase de execução)devem ser denegados, acrescendo-se, se for o caso, considerações sobre os danosprocessuais que a reforma trabalhista inseriu no corpo da CLT (art. 793-B, particularmenteincisos VI e VII, sobre incidentes infundados e recursos protelatórios).

3. A gratuidade do depósito recursal e do depósito garantidor da execução certamentefoi criada pelo legislador para impedir que entidades filantrópicas fossem privadas deexercer suas razões pela falta de recursos financeiros, como naqueles casos em que háuma súmula de tribunal superior a seu favor, mas que deixou de ser aplicada pelasinstâncias inferiores, por exemplo. A separação das hipóteses deve ser feita com atençãopelos tribunais, a fim de não banalizar o uso dos remédios jurídicos apenas por suafacilitação. Mal comparando, a entidade filantrópica foi equiparada à massa falida,exemplo mais acabado de entidade que pode recorrer ou impugnar atos sem necessidadede exibir dinheiro ou bens garantidores.

4. Por fim, é importante observar que o conceito de entidade filantrópica não deve seralargado para alcançar toda e qualquer iniciativa em prol dos menos favorecidos. Sãobastante conhecidos os casos de entidades que auferem lucros ou que exploram atividadeeconômica e, nada obstante, apresentam-se como adeptas da filantropia. Neste sentido, aapresentação de estatutos e de documentos idôneos de reconhecimento da filantropiapelos órgãos públicos se torna parte indispensável dessa recorribilidade gratuita. Meraexortação da parte está longe de servir para liberar o depósito recursal. Há diversosdocumentos capazes de fazer essa comprovação, especialmente aqueles emitidos pelosconselhos de assistência social (Lei 8.742/1993) - âmbito municipal, estadual ou federal,pouco importa - e pelos conselhos de saúde (Lei 8.080/1990).

 

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Art. 896. ................................................

§ 1º-A ....................................................

...............................................................

IV – transcrever na peça recursal, no caso de suscitar preliminar de nulidade de julgado pornegativa de prestação jurisdicional, o trecho dos embargos declaratórios em que foi pedidoo pronunciamento do tribunal sobre questão veiculada no recurso ordinário e o trecho dadecisão regional que rejeitou os embargos quanto ao pedido, para cotejo e verificação, de

plano, da ocorrência da omissão.

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§ 3º (Revogado).

§ 4º (Revogado).

§ 5º (Revogado).

§ 6º (Revogado).

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§ 14. O relator do recurso de revista poderá denegar-lhe seguimento, em decisãomonocrática, nas hipóteses de intempestividade, deserção, irregularidade de representaçãoou de ausência de qualquer outro pressuposto extrínseco ou intrínseco de admissibilidade.

1. O recurso de revista não consegue descansar. Houve grande reforma em 1998 e umamaior ainda em 2014 (Lei 13.015/2014), cujo alcance exato ainda está por ser delineado,dada sua complexidade - tudo isso sem contar as diversas interpretações dadas pelo TSTsob a forma de instrução normativa ou de súmulas e orientações jurisprudenciais, sobre omodo de operação desse remédio jurídico.

2. Uma das explicações para tantas minúcias e tantas restrições está no fato de que orecurso de revista não se presta à reapreciação da justiça da decisão e o TST nãorepresenta um terceiro grau de jurisdição ou uma terceira instância, como se diz: a revistase destina apenas à padronização nacional da jurisprudência trabalhista, esforço esse quese torna obrigatório a partir do momento que o Brasil se comprometeu a ter umalegislação trabalhista nacionalizada, evitando conflitos entre Estados e regiões num temadiretamente ligado aos direitos fundamentais do ser humano. Se o at. 22, I, da CF/88promete monopólio da União para os fins do direito do trabalho, então também aaplicação do direito do trabalho tem de ser unificada, porque direito não é apenas afabricação da lei, mas a fabricação e a concretização juntas. Não podemos, portanto, viversem o recurso de unificação da interpretação, mas também não podemos nos dar ao luxode processar 100% dos recursos de revista para o TST se manifestar sobre assuntos locaisou sobre erros e acertos dos magistrados das instâncias inferiores. É nesta tensão queresidem todos os debates sobre maior ou menos abertura do recurso de revista - agorarevigorados pela transcendência de que cuida o art. 896-A, abaixo analisado.

3. Antes de enfrentarmos o tema vulcânico da transcendência, conheçamos as duasnovidades moderadas do art. 896 propriamente dito: a necessidade de transcrição dotrecho dos embargos de declaração em alguns casos e a possibilidade de trancamentoliminar do recurso em outros casos.

4. A transcrição dos embargos de declaração no corpo do recurso de revista já vinhasendo exigida pela jurisprudência do TST, para aqueles casos em que a parte requer anulidade do julgado por negativa de prestação jurisdicional. Trata-se de uma questão delógica, por assim dizer: se o advogado está obrigado a transcrever no recurso de revista otrecho do acórdão que ele pretende atacar, cotejando-o com a jurisprudência dissonantede outro acórdão de outro tribunal, como resolver a questão da transcrição do trecho

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quando ele não possui nada para transcrever? Em outras palavras, se o objetivo doadvogado é justamente se queixar da omissão do desembargador, afirmando que ele nãoentregou a prestação jurisdicional inteira, como exigir que ele transcreva o trechoatacado? A única solução possível - já que alguma transcrição tem de existir, diante dadisciplina contemporânea do recurso de revista e diante da premissa de que os Ministrossão devem analisar o processo por inteiro mas apenas o núcleo da divergência a seruniformizada - é precisamente exigir que o advogado demonstre que já havia levantadoaquele tópico em sede de embargos de declaração. Pode parecer estranho que uma partetenha de refazer seu próprio recurso, ou seja, tenha de repetir no corpo do recurso derevista as razões já manifestadas no corpo dos embargos de declaração. Mas essesestranhamento decai quando se entende que o recurso de revista deve ser uma peçaindependente, capaz, por si só, de demonstrar a vulnerabilidade do acórdão e adivergência jurisprudencial. Diferente é o caso do recurso ordinário, por exemplo, em quea parte pode manifestar seu inconformismo e pedir que o desembargador reveja, item poritem, a colheita das provas, a valoração dos testemunhos e o enquadramento legalefetuado, o que tornaria inviável repetir 100% dos autos nas folhas recursais. Vista aquestão por esse ângulo e conhecida a jurisprudência prévia sobre a matéria, a inovaçãodo art. 896, § 1º-A, IV, não representa grande espanto. Vai dificultar ainda mais oprocessamento das revistas, cuja taxa de êxito já está perto de 1% apenas, é verdade, masestá dentro do contexto restritivo desse remédio jurídico.

5. Com relação à novidade do § 14, também não podemos dizer que houve grandealteração processual: o trancamento liminar do recurso, por decisão monocrática, é umaprática constante no âmbito do processo civil, incrementada pelas reformas de 1994 e2006, antes mesmo do CPC de 2015, e tinha assento no próprio art. 896, § 5º, com redaçãoque vigorou de 1988 a 2014. O fato de não ter tido aceitação ampla no processo dotrabalho não lhe retira a importância teórica. Agora, a ideia do trancamento monocráticoparece revigorada pela reforma trabalhista.

6. Em situação análoga, o TST já teve a oportunidade de rejeitar alegações de que otrancamento monocrático ferisse a publicidade dos atos ou a colegialidade dos tribunais,tal como era feito com o uso do art. 557 do CPC de 1973, correspondente ao art. 932 do CPCde 2015 - cuja compatibilidade com o processo do trabalho foi realçada pela Súmula 435do TST. A publicidade está na divulgação da decisão e não propriamente na realização daaudiência ou sessão de julgamento e a colegialidade está assegurada pelo cabimento doagravo interno e demais remédios jurídicos de acesso às instâncias superiores. Há,inclusive, possibilidade de o relator converter embargos de declaração em agravo interno,se perceber seu alcance modificativo (Súmula 421 do TST). Reforça-se, assim, a afirmaçãode que o indeferimento liminar de recursos por ausência flagrante de pressupostosextrínsecos ou intrínsecos já encontrava aplicabilidade no processo do trabalho.

7. Acima se afirmou que as duas novidades do art. 896 da CLT foram a inserção do § 14(trancamento liminar) e do inciso IV ao § 1º-A (transcrição dos embargos de declaração),mas, na verdade, o choque maior está na revogação de quatro parágrafos e não nainserção desses dois dispositivos. Ou seja, o não dito grita mais do que o dito, neste caso. Arevogação dos §§ 3º, 4º, 5º e 6º simplesmente elimina a uniformização da jurisprudênciaregional. Aparentemente, o legislador de 2017 entendeu que a experiência, conquantoainda em desenvolvimento, não deu certo. Falemos um pouco sobre a jurisprudênciaregional.

8. Obrigatoriedade de elaboração de súmula regional já existia desde a reforma de1998 (art. 896, § 3º), mas, apesar do advérbio de modo "obrigatoriamente", não houvemaior desenvolvimento teórico ou prático sobre essa cristalização local talvez pela falta deconsequências, talvez pela complexidade do serviço. Há, também, críticas eloquentes ao

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fato de engessamento excessivo dos temas e dificuldades de detecção do que seriaexatamente a divergência regional - dado que, ao contrário do TST, os TRTs lidamenormemente com a matéria de fato e não apenas com a matéria jurídica ou com asgrandes teses jurídicas. Difícil poder comparar a quebra do intervalo para refeição edescanso, por exemplo, em meio a uma gama enorme de substratos, como os domésticos,os rurais, os motoristas, os empregados com refeitório interno, os empregados em serviçosintermitentes e assim por diante.

9. Em meio a tantas discussões, a Lei 13.015/2014 foi concebida precipuamente paracompelir os tribunais a elaborarem o repertório da jurisprudência estável. Sem a préviauniformização local, o recurso de revista não deve subir ao TST. E se subir, o Ministro estáautorizado a deixar de julgar e devolver os autos para forçar a padronização regional. Aideia era que, no longo prazo, o TST se transformasse numa corte de apreciação desúmulas e precedentes, a saber, analisaria as teses - ou melhor, a divergência de tesesentre dois regionais - e não mais os autos ou as matérias versadas nos acórdãosindividualmente considerados. Isso levaria, no mínimo, dez anos a contar de 2014, poisainda houve questões de alta indagação sobre o modo de sobrestar processos, os prazos aserem observados e a necessidade ou não de rejulgamento por parte das turmas recursais.A revogação dos dispositivos em 2017 enterrou a experiência ainda imberbe e talvez deixemais questões do que segurança.

10. Recursos se medem pela norma vigente na data de sua interposição - melhor: pelanorma vigente na data da publicação da decisão que foi desfavorável à parte, gerandosucumbência, gerando interesse em recorrer nos próximos dias. Logo, as inovações dareforma de 2017 não apanham os recursos de revista que estavam em andamento, nãoretroagem e não criam obrigações pretéritas. Isso vale, também, para os processos queestavam sobrestados à época da entrada em vigor da reforma e para os incidentes deuniformização de jurisprudência que estavam prontos para julgamento: pensamos quetodo o acervo pré-reforma deve ser concluído, à luz do direito vigente à época, sob penade grande balbúrdia e agravamento da insegurança - sobrestamos mal feitos,uniformizações atomizadas, tarefas inacabadas.

11. A súmula regional desaparece como uma obrigação e ainda mais como umaconsequência dos recursos de revista. Isso é fato, dada a revogação, de uma só vez, dosquatro parágrafos mencionados. Não se pense que o recurso de revista passará a ter fácilprocessamento, pois ele será devidamente ceifado pela via da transcendência (art. 896-A,abaixo). Há a possibilidade de súmulas regionais prosseguirem, mas com as severasrestrições impostas pelo art. 702, § 4º, da CLT, reformado na mesma ocasião. As exigênciasali contidas são tamanhas que muitos acreditam ter sido eliminada a chance de qualquernova súmula.

12. Se a CLT foi reformada e as súmulas foram amarradas com nós górdios, o mesmonão se pode dizer do CPC, que manteve acesa a chama da uniformização dejurisprudência, como uma necessidade e uma conveniência para a segurança das relaçõesjurídicas, com destaque para o incidente de resolução de demanda repetitiva (arts 986 eseguintes) e o incidente de assunção de competência (art. 986 e seguintes). Dada suaaplicabilidade subsidiária ao processo do trabalho (art. 10 da IN 39 do TST), não serásurpresa se os tribunais passarem a se valer mais dos expedientes do processo civil do queda camisa de forças do processo do trabalho, se o propósito for a uniformização.

13. Observe-se, ainda, que a possibilidade de trancamento monocrático do recurso derevista não se atém apenas às hipóteses de falha nos pressupostos extrínsecos eintrínsecos tradicionais (art. 896, § 14), alcançando, também, a hipótese de recurso nãorevelador da chamada transcendência (art. 896-A, § 2º), ou seja, a decisão individual foi

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alavancada pela reforma trabalhista com vigor nunca antes visto.

Art. 896-A. ............................................................

§ 1º São indicadores de transcendência, entre outros:

I – econômica, o elevado valor da causa;

II – política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do TribunalSuperior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;

III – social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmenteassegurado;

IV – jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da legislaçãotrabalhista.

§ 2º Poderá o relator, monocraticamente, denegar seguimento ao recurso de revista que nãodemonstrar transcendência, cabendo agravo desta decisão para o colegiado.

§ 3º Em relação ao recurso que o relator considerou não ter transcendência, o recorrentepoderá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência, durante cinco minutos

em sessão.

§ 4º Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será lavradoacórdão com fundamentação sucinta, que constituirá decisão irrecorrível no âmbito do

tribunal.

§ 5º É irrecorrível a decisão monocrática do Relator que, em agravo de instrumento emrecurso de revista, considerar ausente a transcendência da matéria.

§ 6º O juízo de admissibilidade do recurso de revista exercido pela Presidência dosTribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise dos pressupostos intrínsecos e

extrínsecos do apelo, não abrangendo o critério da transcendência das questões neleveiculadas.

1. Conforme destacado nos comentários ao art. 896, o recurso de revista, como todos osrecursos de natureza extraordinária, não se prestam ao reexame de fatos e provas nemobjetivam rever a justiça de uma decisão. As partes não têm assegurada uma terceiraapreciação do mesmo processo, nem há referências ao direito a dois tribunais, na CF/88 ounos tratados internacionais de direitos humanos a respeito do acesso à ordem jurídicajusta. O reexame por um tribunal, preferencialmente colegiado e formado por membrosdiferentes dos que por primeiro analisaram o processo, é consensualmente o modelo maisadequado para a garantia do processo legal. Logo, não há direito adquirido ao recurso derevista nem há obrigatoriedade de sua manutenção pelo legislador ordinário. Em tese, elepoderia ser abolido pela reforma trabalhista - como talvez tenha sido feito, nasentrelinhas. No entanto, como já expusemos, uma federação complexa como a brasileiranão pode se dar ao luxo de manter teses trabalhistas regionalizadas, donde a razão de serdo Tribunal Superior do Trabalho e dos meios inerentes a seu acesso. Aí entra o papelsocial relevante do recurso de revista e aí reside a principal inquietação sobre o acerto ouo mau passo dado pelo legislador ao forçar a regra da transcendência como filtro para orecurso de revista. Vejamos.

2. A regra foi sugerida inicialmente pela Medida Provisória 2.226, de 04.09.2001 (orarevogada no texto da reforma trabalhista), com a inserção do art. 896-A ao corpo de CLT.Não houve sua concretização ao longo desses quase vinte anos, todavia, por falta deconsenso no âmbito do TST, cujo regulamento interno havia sido mencionado pela MedidaProvisória como responsável pela operacionalização. Assim, a norma ficou no limbo doscomandos não autoaplicáveis. Rezava o art. 2º da Medida Provisória 2226/2001: “OTribunal Superior do Trabalho regulamentará, em seu regimento interno, oprocessamento da transcendência do recurso de revista, assegurada a apreciação da

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transcendência em sessão pública, com direito a sustentação oral e fundamentação dadecisão”. Nada disso aconteceu. Escaldado pela resistência do TST e sabendo da altacontrovérsia que o filtro da transcendência causaria, o legislador de 2017 optou pela viadrástica da regulamentação global no corpo da própria CLT. Daí a reelaboração do art.896-A, que deixa de ter apenas o caput e passa a contar com seis parágrafos.

3. A palavra transcendência, difícil de escrever, de pronunciar e de entender,representa a necessidade de aquele recurso de revista transbordar os estreitos limites doprocesso e repercutir de maneira geral em toda a sociedade. São casos célebres, como alegalidade da assinatura de linha telefônica, o direito adquirido ao reajuste salarialexpurgado no meio do mês por planos econômicos ou o cálculo do fundo de garantia. Ouseja, uma vez implementada a transcendência como filtro de apreciação do recurso derevista, somente poderão ou deverão ser julgados aqueles que excederem o alcance doprocesso e influenciarem o entendimento de tantos quantos. Irradiar efeitos na sociedadeé a marca característica dos recursos transcendentais. Mas como se mensura essairradiação?

4. O legislador, sabendo da polêmica e da dificuldade de delimitação desse conceito,fixou quatro ângulos possíveis para a transcendentalidade.

Do ponto de vista econômico - talvez o mais polêmico -, a transcendência érepresentada pelas causas de alto valor econômico, embora também a percepção de altose baixos seja variável. O TST, se perder a mão nesse conceito, corre o risco de receber apecha de tribunal acessado apenas por grandes fortunas. Há algumas pistas espalhadaspela legislação para se ter parâmetro do que poderia ser chamado de alto valoreconômico. 1.000 salários-mínimos é o patamar acima do qual se garante o reexameobrigatório nas causas de sucumbência da Fazenda Pública (art. 496, § 3º, CPC), bem comopara dispensa de inventário (art. 664) e, ainda, valor-teto para o depósito preparatório dasações rescisórias (art. 968, § 2º). 1.000 salários mínimos era o valor a partir do qual oimóvel passava a ser considerado de grande valor e a penhora poderia ser realizadamesmo se fosse bem de família, à luz do art. 650, p. único, do CPC de 1973, em redaçãoaprovada pelo Congresso Nacional e vetada pela Presidência da República na reforma de2006. O valor pode, todavia, ser demasiado para os processos individuais trabalhistas, querecebem a limitação do prazo prescricional de 5 anos. 100 salários-mínimos é o patamaracima do qual se assegura o reexame necessário para as decisões judiciais em que osMunicípios sucumbiram (art. 496, § 3º), mas, neste caso, o risco do TST será não tertranscendência alguma, pois muitos processos atingem esse patamar. A definição feitapelo TST dirá muito sobre o alcance que a Casa pretende dar a essa inovação legislativa.

Do ponto de vista político - embora tudo na vida seja político -, o legislador concebeua transcendência como forma de liberar os casos de afronta às súmulas do TST ou do STF.Interessante notar que, no afã de restringir a uniformização de jurisprudência trabalhista(basta ver a severa restrição feita pelo art. 702 da CLT), a reforma não contempla mais oprocessamento do recurso em caso de descumprimento de orientação jurisprudencial(mecanismo amplamente utilizado pelo TST para divulgar seu repertório estável dedecisões) e tampouco a afronta à jurisprudência reiterada não sumulada, como aquelaconstante dos boletins informativos ou aqueles julgadas em composição plenária pelasseções especializadas. Por este fundamento, somos forçados a concluir pela obsolescênciado art. 896, § 7º, quando refere a necessidade de indicação de jurisprudência iterativa,notória e atual: de que adianta esse esforço para o advogado, se a transcendência"política" permite a apreciação apenas dos recursos que versarem sobre violação desúmula?

Do ponto de vista social - embora não haja direito fora da sociedade -, o legislador

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indica hipótese de transcendência apenas para os "reclamantes", provavelmente querendodizer trabalhadores ou empregados. Há empresas que são reclamantes também, mas nãoparece ser esse o conceito utilizado pelo art. 896-A. A ideia foi inserir no campo datranscendência os direitos sociais constitucionalmente assegurados. Aqui igualmente podeestar a chave para a desconstrução da transcendência: caso o TST não receba comconforto a reforma legislativa que lhe obrigou a adotar um procedimento sobre o qualfaltou consenso nos últimos anos, é possível que ele alargue o conceito de direitos sociaisconstitucionalizados e aceite apreciar todos os processos versando sobre horas extras,adicional noturno, aviso prévio, 13º salário e o mais: todos esses exemplos, por maiscorriqueiros que pareçam, têm assento constitucional e, de uma maneira ou de outra,preenchem o requisito da transcendência social. Ao revés, se o tribunal se dispuser aabraçar o requisito com vigor e filtrar ao máximo os recursos, somente poderiam serapreciados aqueles em que houver alegação de violação à letra da Constituição, como umjulgado que, digamos, negue o adicional de 50% para as horas extras, afronte o direito aoaviso-prévio ou admita o trabalho da criança. Essas sentenças são raras e, portanto, orecurso de revista seria raríssimo. Tal como acima frisado, observar o conceito detranscendência social nos primeiros julgados emanados das turmas do TST dirá muitosobre a visão que o órgão imprimirá sobre essa parte peculiar da reforma trabalhista.

Do ponto de vista jurídico, "a existência de questão nova em torno da interpretaçãoda legislação trabalhista" dará a medida para a apreciação ou não dos recursos de revista.Questão nova de interpretação jurídica pode assustar alguém pouco envolvido com ocotidiano forense, mas, como se sabe, é o que mais se encontra na Justiça do Trabalho.Todo dia surge uma tese nova e um ângulo novo de apreciação de uma mesma questãooriunda de 20, 30 ou 50 anos passados. Basta ver as impressionantes oscilações najurisprudência sobre jornada itinerária (Súmula 90 e seus incisos acrescidos ao longo dosanos) ou do intervalo para refeição e descanso (Súmula 437 e suas ramificações). E o quedizer, por exemplo, da legislação dos bancários? Três artigos da CLT (224, 225 e 226) commais de 50 incisos de súmulas e orientações jurisprudenciais desenvolvidos e aprimoradosao longo dos anos.

5. Feitas essas considerações, nota-se que, embora a medida seja restritiva e a reformatenha imposto ao tribunal um requisito intrínseco que a própria Corte havia rejeitado, épossível que a norma seja completamente esvaziada, caso sejam interpretados seuscontornos com alguma maleabilidade. Observe: o valor econômico pode ser rebaixado, asorientações jurisprudenciais podem ser "promovidas" a súmulas, que dobrariam dequantidade, os direitos socialmente constitucionalizados podem ter sua interpretaçãoexpandida e, ainda, o tema das questões novas pode ser considerado com potencialinesgotável. Se tudo isso acontecer, no todo ou em parte, a transcendência será natimorta.E talvez poucos chorem essas lágrimas.

6. Tal como inserido no art. 896, § 14, há previsão para o trancamento liminar dorecurso de revista não transcendental, pelo art. 896-A, § 2º. O remédio jurídico cabível é oagravo interno ou agravo regimental, para que o órgão fracionário - a turma do TST, que éa destinará dos recursos de revista - possa reapreciar a decisão. Para sustentar a tese deque o recurso preenche o requisito da transcendência, o advogado disporá de sustentaçãooral de 5min. O art. 896-A, § 3º, foi enfático ao referir que a sustentação oral, exígua queseja, se destina apenas a justificar a transcendências - de novo: econômica, política, socialou jurídica - e não gastar o tempo falando sobre o conteúdo da revista e muito menossobre o desacerto da decisão. A decisão da turma, que julgar o agravo interno, éirrecorrível, dispõe o art. 896-A, § 4º, sem previsão para levar o tema para a seção dedissídios individuais, que normalmente padroniza a jurisprudência das turmas em sedede recurso de embargos (art. 894 da CLT). Ora, o art. 896-A criou uma hipótese cerebrinade recurso de revista desprovido de uniformização, a saber, recurso de revista desprovido

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de recurso de embargos para sua harmonização no órgão fracionário hierarquicamentesuperior. Trata-se de estratégia bastante arriscada, porque se assume o risco de haver, porexemplo, conceitos diferentes de valor econômico elevado, em cada uma das oito turmasrecursais do TST, sem que a SDI possa se manifestar a respeito.

7. A sutil expressão "decisão irrecorrível no âmbito do tribunal" significa que oadvogado pode, em tese, sacar o recurso extraordinário para o STF. Ele terá esgotado todasas vias recursais disponíveis antes do órgão máximo do Judiciário brasileiro, porque, emrealidade, ele não possui acesso à SDI.

8. Situação ainda mais aflitiva ocorrerá com o advogado que sofrer o trancamentoliminar pelo Ministro Relator em agravo de instrumento em recurso de revista: neste caso,ele não terá nem mesmo o agravo interno, com os 5 min de sustentação oral, segundoconsta do art. 896-A, § 5º. O indeferimento dos recursos em geral desafia agravo interno,como tantas vezes se repete, como no art. 897 e no art. 896, § 12, mas, neste caso, areforma criou uma situação de irrecorribilidade quando se tratar de indeferimentoliminar de agravo de instrumento quando o fundamento utilizado pelo Ministro for atranscendência.

9. Para alívio dos tribunais regionais, ninguém precisa aferir a transcendência excetoos Ministros do TST: o juízo de admissibilidade inicialmente feito pelos tribunais regionaiscontinua intacto - apenas com as alterações na redação do art. 896, § 1º-A, IV - sem que ospresidentes ou vice-presidentes locais precisem se debruçar sobre o alcance datranscendentalidade. Recebidos os autos pelo TST, a este cabe acrescentar a análise donovo filtro. Do contrário, a balbúrdia completa estaria instalada, com um conceito detranscendência para cada Regional.

10. Por fim, uma nota de incoerência legislativa pode ser lançada: a transcendência,como medida extrema destinada à “escolha” do processo que o tribunal superior poderárealizar, jamais poderia ser concebida para um tribunal que não seja de instância final.Em outras palavras, conviveremos com a tensão permanente de o TST poder escolher osprocessos pelo fluxo da transcendência, mas o STF, não.

Art. 899. .............................................................

............................................................................

§ 4º O depósito recursal será feito em conta vinculada ao juízo e corrigido com os mesmosíndices da poupança.

§ 5º (Revogado).

...........................................................................

§ 9º O valor do depósito recursal será reduzido pela metade para entidades sem finslucrativos, empregadores domésticos, microempreendedores individuais, microempresas e

empresas de pequeno porte.

§ 10 São isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidadesfilantrópicas e as empresas em recuperação judicial.

§ 11 O depósito recursal poderá ser substituído por fiança bancária ou seguro garantiajudicial.

1. O depósito recursal tem vários propósitos, dentre os quais a imposição de maiorseriedade aos recursos, que não devem ser levados a efeitos apenas pelo espírito deprocrastinação, bem como a apresentação de garantia mínima de solvência do devedor-recorrente. Não pode ter um valor baixo demais, a ponto de malbaratar o sistemarecursal, nem alto demais, a ponto de inviabilizar o acesso aos tribunais superiores.

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© desta edição [2017]

Julgados reiterados dos tribunais superiores firmaram posição no sentido de que osdepósitos devem ter valor-teto, para não deixar ilimitada a fixação pelos magistrados. Edentro dessa tensão que se insere o debate sobre o depósito recursal, que a reformatrabalhista cuidou de aplacar, por assim dizer.

2. Houve melhoria na redação do § 4º para aclarar que a atualização monetária dosdepósitos recursais deve ser feita como se fossem depósitos da caderneta de poupança.Hoje o assunto está quase superado, mas houve um tempo em que os bancos se recusavama creditar qualquer atualização monetária nos valores dos depósitos, sob o singeloargumento de que não foram obrigados a isso e não havia determinação judicialindividual em cada processo. Foi preciso que a jurisprudência endurecesse a relação comos bancos oficiais para dizer que o contrato de depósito, tal como previsto na legislaçãocivil, pressupõe que o depositário cuide da coisa como se sua fosse. E certamente o banconão iria deixar expressivas somas em dinheiro escondidas sob o colchão: se sua fosse, acoisa seria aplicada em investimentos inteligentes, sendo, no mínimo do mínimo, acaderneta de poupança – índice ora abraçado pela reforma de 2017.

3. A reforma revogou o § 5º, que fazia menção a casos de empregados desprovidos decontas vinculadas de fundo de garantia, o que aos poucos desapareceu com auniversalização do regime após a CF/88.

4. A reforma propõe a redução à metade do depósito recursal para quatro tipos deempregadores e a isenção total para três modalidades de partes:

isenção completa – filantropia, empregados beneficiários da justiça gratuita, empresaem recuperação judicial; faltou citar a massa falida, mas esta continuará a ter a isençãopelo próprio sistema falimentar brasileiro; e também faltou mencionar a isençãodestinada aos entes públicos, referidos, no âmbito trabalhista, no DL 779/1969.

50% de desconto – empregadores domésticos, microempreendedores individuais,microempresas e empresas de pequeno porte e entidades sem fins lucrativos, as quais têmum larguíssimo espectro, alcançando condomínios residenciais, clubes recreativos,associações religiosas, entidades sindicais e assim por diante.

5. Convém lembrar que isenção de depósito recursal não alcança outros momentos doprocesso do trabalho, como o depósito prévio da ação rescisória – art. 836 da CLT – e odepósito garantidor para os embargos à execução – art. 884 da CLT, cujo § 6º inserido pelareforma concedeu a isenção apenas para as entidades filantrópicas, dentre todos os entesacima mencionados, o que, aliás, evidencia ainda mais que, se o legislador excepcionouapenas um, não excepcionou os outros.

6. Conforme comentados a propósito do art. 882, o seguro garantia e a fiança bancáriaentraram definitivamente na órbita do processo do trabalho, após entendimentopacificado pela OJ 59 da SDI 2 e referências efetuadas pela Lei de Execução Fiscal e peloNCPC. Não se trata de exibição de dinheiro ou de constrição de valor, mas tem o mesmopatamar jurídico.

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

ART. 2º - LEI 6.019/1974. ART. 2º A LEI Nº 6.019, DE 3 DE JANEIRO DE 1974, PASSA AVIGORAR COM AS SEGUINTES ALTERAÇÕES:

 

1. Houve alteração de parte da Lei do Trabalho Temporário, quanto ao tema daterceirização, ou seja, toda celeuma em torno da aprovação, em março de 2017, daterceirização da atividade-fim ou da atividade-meio caiu por terra, porque apenas quatromeses mais tarde a Lei 13.467/2017 trouxe tintas ainda mais pesadas na liberação doregime de terceirização no Brasil. Passamos a comentar a terceirização em bloco,enfeixando os cinco artigos seguintes (4-A, 4-C, 5-A, 5-C e 5-D, todos inseridos no corpo daLei 6019/1974, que criou uma mini CLT para os terceirizados).

 

Art. 4º-A. Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pelacontratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal,

à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidadeeconômica compatível com a sua execução.

...............................................................................

Art. 4º-C. São asseguradas aos empregados da empresa prestadora de serviços a que serefere o art. 4º-A desta Lei, quando e enquanto os serviços, que podem ser de qualquer umadas atividades da contratante, forem executados nas dependências da tomadora, as mesmas

condições:

I – relativas a:

a) alimentação garantida aos empregados da contratante, quando oferecida em refeitórios;

b) direito de utilizar os serviços de transporte;

c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da contratante ou localpor ela designado;

d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando a atividade o exigir.

II – sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de instalaçõesadequadas à prestação do serviço.

§ 1º Contratante e contratada poderão estabelecer, se assim entenderem, que osempregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos empregados da

contratante, além de outros direitos não previstos neste artigo.

§ 2º Nos contratos que impliquem mobilização de empregados da contratada em númeroigual ou superior a 20% (vinte por cento) dos empregados da contratante, esta poderá

disponibilizar aos empregados da contratada os serviços de alimentação e atendimentoambulatorial em outros locais apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a

manter o pleno funcionamento dos serviços existentes.

.............................................................................

 

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Art. 5º-A. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa deprestação de serviços relacionados a quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade

principal.

...............................................................................................

Art. 5º-C. Não pode figurar como contratada, nos termos do art. 4º-A desta Lei, a pessoajurídica cujos titulares ou sócios tenham, nos últimos dezoito meses, prestado serviços à

contratante na qualidade de empregado ou trabalhador sem vínculo empregatício, exceto seos referidos titulares ou sócios forem aposentados.

Art. 5º-D. O empregado que for demitido não poderá prestar serviços para esta mesmaempresa na qualidade de empregado de empresa prestadora de serviços antes do decurso

de prazo de dezoito meses, contados a partir da demissão do empregado.

1. O regime de terceirização mantém sua fama de profunda insegurança e descontrolelegislativo no Brasil. Após décadas de anomia, em que o regime ficou alicerçado apenassobre uma súmula de jurisprudência trabalhista (Súmula 331 do TST), o ano de 2017conheceu duas leis logo na sequência: mal terminaram os estudos da Lei 13.429, de 31 demarço de 2017, logo na sequência os dispositivos por ela implementados foramreformados, no curto espaço de três meses. Ampliar a terceirização passou a ser uma fomeque não se sacia, embora os resultados de proliferação de postos de trabalho não tenhamcrescido na mesma voracidade.

2. A redação reformada de março de 2017 não contemplava a terceirização daatividade-fim, para o regime de terceirização em geral, mas apenas para o trabalhotemporário. Então, a reforma da reforma usou a expressão “atividade principal”. Aindaassim, não recomendo nenhum cântico de vitória, pois não se sabe como a jurisprudênciaencarará exatamente esta proposta de uma empresa não empreender seu próprio objetosocial, delegando-o integralmente a terceiros – donde a expressão terceirização irrestrita.Aliás, até mesmo o enquadramento tributário me parece que ficará em xeque, porque seuma metalúrgica não desenvolve a metalurgia, mas delega todo o processo produtivo parauma empresa prestadora de serviços de metalurgia, então talvez ela não seja umametalúrgica, mas uma empresa de gerenciamento de contratos de terceirização.Desnecessário dizer da confusão que haverá no enquadramento sindical e na negociaçãocoletiva, pois a empresa suscitada talvez não tenha nenhum empregado metalúrgico, aopasso que a empresa terceirizada dirá que ela não é metalúrgica mas empreendimentoespecializado em prestação de serviços terceirizados.

3. Importante lembrar que, em casos análogos, a jurisprudência do TST não cedeu àsevidências de terceirização irrestrita proposta pela legislação de privatização dasferrovias e da telecomunicação. Na oportunidade, a autorização para terceirização de“atividades inerentes” foi interpretada de maneira restritiva.

4. Há uma virtude a ser enaltecida na redação apressada da reforma da Lei 6.019/1974:o art. 4º-A admite que a prestadora de serviços somente pode ser considerada aquela quetenha idoneidade financeira ou “capacidade econômica compatível com sua execução”.Logo, aquela pletora de empresas de fachada que atravancam o fluxo das audiênciastrabalhistas, bem como todos os numerosos aliciadores de mão de obra, popularmentechamados de “gatos”, e, ainda, aqueles esquemas de colocar o maître como prestador deserviços terceirizados de garçons ou o motoboy mais antigo como fornecedor dos serviçosde entregas motorizadas feitas pelos colegas, nada disso poderá ser consideradomodalidade válida de terceirização – agora por força da própria lei. Terceirizar serviçospara empresas sem capacidade financeiras compatível com sua execução já desafiava alógica e, agora, desafia o texto legal. Será considerada terceirização ilegal.

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5. O novo art. 4º-C se sobrepõe ao art. 5º-A, de março de 2017. A redundância éirritante, obrigando o leitor a se debruçar sobre duas formas parecidas de dizer a mesmacoisa: a tomadora deve deixar os terceirizados usarem o refeitório, os banheiros e oambulatório dos empregados efetivos. Talvez a redação do art. 4º-C esteja um pouco maiscaprichada e abrangente do que a do 5º-A, mas se a ideia era rever a Lei 6.019/1974 – oumelhor, a Lei 13.429/2017 – melhor seria ter tido a clareza de revogar o jovem art. 5º-A.

6. Afora essa linguagem rebuscada, a reforma trouxe um ponto interessante, mas cujaeficácia somente poderá ser compreendida ao longo dos anos: uma cláusula de barreirapara a pejotização. Empregados efetivos ou trabalhadores terceirizados somente poderãoser pejotizados depois de 18 meses de quarentena. Pejotizado significa, em rápidaspalavras, contratado para prestar serviços sob a forma de pessoa jurídica, quer dizer, oempregado constitui uma empresa prestadora de serviços e se torna ele próprio oterceirizado da empresa tomadora. Isso é bastante comum em diversos segmentos.Embora o discurso mais ouvido seja no sentido de o empregado ter optado por ganhosmaiores, como um pequeno empreendedor, é corriqueira a denúncia de que essa era aúnica forma de contratação da tomadora e de que às vezes a empresa já está montada,atendo-se o empregado a assinar os documentos societários, a serem cuidados pelo mesmocontador da empresa tomadora e às expensas dessa. O crescimento alarmante dapejotização, como uma técnica habitual de planejamento tributário e trabalhista,banalizou a terceirização a níveis irreversíveis, varrendo do mapa do emprego categoriasinteiras na área da saúde, da informática ou da consultoria.

7. A proposta do legislador é que eventualmente pejotização somente seja deflagradaapós 18 meses de extinção do contrato de trabalho do ex-empregado ou saída doterceirizado que serviu em regime de prestação de serviços – ainda que a empresaprestadora de serviços tenha mantido o contrato com outros terceirizados. Criou-se aquiuma espécie de presunção absoluta de fraude à legislação trabalhista: se o trabalhador forrecontratado com pessoa jurídica em menos de 18 meses, a solução mais adequada para ainterpretação desse dispositivo não é outra senão a declaração da relação de empregoentre ele e a suposta tomadora de serviços. Mas isso não significa que toda pejotizaçãopós-18 meses seja lícita ou genuína. Poderá também envolver fraude e desaguar emdeclaração de vínculo de emprego, se preenchidos os requisitos da pessoalidade,subordinação, onerosidade e habitualidade, que compõem a essência do direito dotrabalho.

8. Na última linha, o art. 5º-C cria uma exceção que já nasce polêmica: a figura doaposentado-pejotizado. A exceção contraria o discurso da necessidade de reforma daprevidência por insuficiência de arrecadação, porque os aposentados que retornam aomercado de trabalho devem contribuir, mesmo que eles próprios não venham a auferiroutro benefício previdenciário. Um dos argumentos utilizados pelo STF para barrar adesaposentação e o pedido de recontagem para nova aposentadoria em bases maiores(tema 503 de repercussão geral – recursos extraordinários 381.367, 661.256 e 827.833) foijustamente a solidariedade que os aposentados devem ter uns com os outros. Assim sendo,incentivar a contratação dos aposentados sob a forma de pessoa jurídica pode atender aodiscurso da geração de postos de trabalho – conquanto pejotizados –, mas tambémalimenta a fuga de recolhimentos previdenciários.

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2017 - 09 - 26

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Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

ART. 3º - LEI 8.0361990. ART. 3º O ART. 20 DA LEI Nº 8.036, DE 11 DE MAIO DE 1990,PASSA A VIGORAR ACRESCIDO DO SEGUINTE INCISO I-A:

Art. 20. ......................................................

...................................................................

I-A – extinção do contrato de trabalho prevista no art. 484-A da Consolidação das Leis doTrabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943;

 

1. Dada a criação de nova modalidade de rescisão contratual, por mútuo acordo,conforme art. 484-A, foi necessária a inserção dessa previsão de saque no rol taxativocontido na Lei 8.036/1990.

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2017 - 09 - 26

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Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

ART. 4º - LEI 8.212/1991. ART. 4º. O ART. 28 DA LEI Nº 8.212, DE 24 DE JULHO DE 1991,PASSA A VIGORAR COM AS SEGUINTES ALTERAÇÕES:

Art. 28. ...........................................................

........................................................................

§ 8º. (Revogado).

a) (revogada);

..........................................................................

§ 9º ....................................................................

...........................................................................

h) as diárias para viagens;

...........................................................................

q) o valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio daempresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos,óculos, aparelhos ortopédicos, próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e outras

similares;

..........................................................................

z) os prêmios e os abonos.

..........................................................................

 

1. Por coerência à nova redação dada ao art. 458, § 5º, a reforma trabalhista tambémalterou o rol do art. 28 da Lei Orgânica da Previdência Social, para não deixar dúvidas danatureza não salarial das diárias para viagem, dos benefícios de saúde do trabalhador edos prêmios e abonos, todos constantes da redação ampliada daquele dispositivo da CLT.

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

ART. 5º - DISPOSITIVOS REVOGADOS. ART. 5º REVOGAM-SE:

 

I – os seguintes dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovadapelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943:

a) § 3º do art. 58;

Tratava-se da norma sobre jornada itinerária (horas in itinere) a ser negociadacoletivamente no âmbito das empresas de pequeno porte e microempresas, o que se tornaobsoleto com o desprezo do tempo gasto no trajeto como consta da nova redação do art.58, § 2º, de duvidosa constitucionalidade.

b) § 4º do art. 59;

Dispositivo relacionado com o trabalho a tempo parcial, que agora admitem horasextras.

c) art. 84;

Dispositivo obsoleto sobre mecanismos de fixação do salário mínimo.

d) art. 86;

Dispositivo obsoleto sobre mecanismos de fixação do salário mínimo.

e) art. 130-A;

Outra norma que se torna irrelevante com as reformas empreendidas sobre o trabalhoparcial.

f) § 2º do art. 134;

A reforma trabalhista libera o fracionamento das férias, inclusive para adolescentes emaiores de 50 anos, tornando inócuo esse dispositivo.

g) § 3º do art. 143;

A conversão de um terço das férias, também chamada de abono ou de venda de férias,deixou de ser proibida para o trabalho parcial.

h) parágrafo único do art. 372;

Dispositivo perdido no tempo sobre oficinas comandadas por homens em que não seaplicariam os direitos das mulheres. Não deixa saudades.

i) art. 384;

Embora considerado recepcionado pela CF por decisões importantes, masinconclusivas, do TST e do STF, esse comando previa intervalo de 15min antes da

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realização das horas extras pelas mulheres e gerava uma série de distorções, talvez não sejustificando mais sua permanência.

j) §§ 1º, 3º e 7º do art. 477;

Dada a mudança completa no sistema de acerto das verbas rescisórias, caíram porterra a obrigatoriedade da homologação do pedido de demissão e a possibilidade deautoridades públicas fazerem a assistência preferencialmente destinada aos sindicatos.

k) art. 601;

Com a desobrigação da contribuição sindical, ninguém precisa mais exibir a prova dequitação ao procurar novo emprego.

l) art. 604;

Tampouco se necessita exibir prova de quitação de contribuição sindical doprofissional liberal.

m) art. 792;

Não se discute mais a capacidade de acionamento judicial pelo jovem de 18 a 21 anos epelas mulheres casadas.

n) parágrafo único do art. 878;

Dentro do espírito reformista de proibir que o juiz impulsione livremente o processo,caiu por terra a autorização para as procuradorias do trabalho promoverem a execuçãode decisões dos tribunais.

o) §§ 3º, 4º, 5º e 6º do art. 896;

Decisão ousada do legislador, o cerne da Lei 13.015/2014 foi derrubado, jogando fora aexperiência da uniformização da jurisprudência regional. Nasce um novo recurso derevista, bem mais restrito e sofisticado, conforme expusemos nos comentários aos arts.896 e 896-A.

p) § 5º do art. 899;

Cuida-se de parágrafo que referia depósito recursal em casos de empregados semacesso ao regime do fundo de garantia, assunto historicamente superado.

II – a alínea “a” do § 8º do art. 28 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.

A norma previdenciária considerava salarial o total das diárias pagas, quandoexcedentes de metade do salário, mas a reforma trabalhista liberou a natureza nãosalarial para as ajudas de custo e as diárias de viagem, independentemente de seupercentual (nova redação do art. 457, § 2º).

III – o art. 2º da Medida Provisória nº 2.226, de 4 de setembro de 2001.

Era este o artigo que previa o efeito da transcendência sobre o recurso de revista, masque nunca chegou a ser concretizado, como explicamos no comentário ao art. 896-A.

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

ART. 6º - VACACIO LEGIS. ART. 6º ESTA LEI ENTRA EM VIGOR APÓS DECORRIDOS CENTOE VINTE DIAS DE SUA PUBLICAÇÃO OFICIAL.

1. A vacatio legis foi fixada em bases bastante reduzidas, dificultando muito aadaptação dos trabalhadores, sindicatos, departamentos pessoais, juízes, procuradores edemais atores do mundo do trabalho e do processo do trabalho. 1 ano foi o prazo padrãode aguardo para a entrada em vigor nas grandes alterações do Código Civil e do Código deProcesso Civil. A pressa, novamente, será inimiga da perfeição.

2. Afora isso, a reforma da reforma que o governo federal prometeu para as entidadessindicais e para os senadores, que não puderam votar o texto separadamente, tende atumultuar ainda mais o período de vacância. Não será surpresa se a reforma da reformapropuser uma postergação da entrada em vigor.

3. A publicação da Lei 13.467/2017 ocorreu na sexta-feira 14 de julho de 2017. Aplica-seao caso o disposto no art. 8º, § 1º, da LC 95/1998, com redação dada pela LC 107/2001: “Acontagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacânciafar-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigorno dia subseqüente à sua consumação integral”. Assim sendo, considerando, ainda, que osmeses de julho, agosto e outubro têm 31 dias, o prazo de 120 dias expira em 10 denovembro de 2017 e a vigência da reforma trabalhista começa em 11 de novembro de2017. O fato de ser esse o dia em que a Europa reverencia o término de 1ª Grande GuerraMundial, cujas atrocidades desencadearam a formação da Organização Internacional doTrabalho, é mera ironia do destino.

4. No entanto, muito mais complexo do que saber o dia em que a Lei 13.467/2017 entraem vigor será enfrentar os temas do direito intertemporal ou direito transitório, a saber,entender se a lei apanha todos os contratos de trabalho em vigor e todos os processos dotrabalho em andamento. Para o bem ou para o mal, gostemos ou não da nova legislaçãotrabalhista, a resposta é afirmativa: de maneira geral, a lei trabalhista se aplica aoscontratos de trabalho em vigor e aos processos em andamento, porque normalmente nãoexiste direito adquirido contra a lei e não existe direito adquirido a recursos eprocedimentos no âmbito do direito processual antes que a parte tivesse o interesseàquela ferramenta jurídica. Explica-se.

5. Em primeiro lugar, é bom lembrar que esse tipo de maremoto, em que um grandeconjunto de leis e procedimento é alterado de uma só vez, já aconteceu em algumasocasiões importantes na seara trabalhista, como foi a própria introdução da CLT em 1943,a inovação no âmbito do trabalho rural em 1973, a promulgação da Constituição de 1988 ea reforma da legislação do trabalho doméstico em 2013 e 2015, sem contar a chegada dosnovos Códigos de direito civil em 2003 e de processo civil em 2015. Logo, os temas estãolonge de ser inéditos e podemos aproveitar as experiências pretéritas para saber lidar commais segurança para as aflições presentes. Autores de repercussão internacional, como obrasileiro Pontes de Miranda e o francês Paul Roubier, legaram expressivas obras sobre atransitoriedade do direito e nos permitem antever boa parte dos conflitos. Sempre haverázona cinzenta, é claro, mas nada melhor do que caminhar sobre o ombro desses gigantes.

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6. Feitas essas considerações, podemos afirmar que praticamente todas as normas dedireito material do trabalho poderão ser aplicadas a partir de 11.11.2017, tanto paracontratos de trabalho antigos quanto para os novos. Não há direito adquirido à aplicaçãoda legislação vigente à data de admissão do empregado, ressalvadas poucas exceçõesabaixo indicadas e ressalvadas as hipóteses de dispositivos serem declaradosinconstitucionais, conforme este livro preconiza para alguns casos em que a reformaextrapolou os limites admitidos ao legislador ordinário. Assim sendo, são autoaplicáveis:

a) o conceito de tempo à disposição do empregador (art. 4º);

b) as multas pela ausência de registro profissional (art. 47);

c) o combate à jornada itinerária (art. 58, § 2º);

d) a regulamentação do trabalho a tempo parcial (art. 58-A);

e) o banco de horas (art. 59);

f) o regime 12x36 (art. 59-A e art. 60, parágrafo único – ambos com manchas deinconstitucionalidade levantadas neste livro);

g) os parâmetros para compensação de jornada (art. 59-B e 61, § 1º);

h) o intervalo para refeição (art. 71, § 4º);

i) o teletrabalho (arts. 75-A e seguintes);

j) o fracionamento das férias (art. 134);

k) as restrições aos danos morais (arts. 223-A e seguintes – ressalvadas as colisõesconstitucionais);

l) o delineamento do trabalho da gestante e da lactante (art. 394-A e 396);

m) uso de logomarca e manutenção do uniforme (art. 456-A);

n) requisitos da equiparação salarial (art. 461);

o) procedimentos para a rescisão contratual (art. 477, 477-A e 477-B, sem prejuízo dalatente inconstitucionalidade desses dois), bem como a nova modalidade de rescisão porcomum acordo (art. 484-A) e a nova figura de justa causa por perda de habilitação para aprofissão (art. 482, m);

p) prestação de contas anual (art. 507-B);

q) eleição de representantes não sindicais dos empregados (art. 510-A e seguintes);

r) facultatividade da contribuição sindical, inobstante a inconstitucionalidade aventadapor este livro (arts. 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602), lembrando-se que, neste caso, aparcela é anual e a de 2017 já foi ou já deveria ter sido recolhida; a auto aplicabilidade, noparticular, vale para 2018, por conseguinte;

s) a tese do negociado sobre o legislado (arts. 611-A e 611-B), devendo-se respeitar, noentanto, a vigência das normas coletivas; melhor seria dizer, portanto, que esse teorema éautoaplicável para as negociações a serem firmadas a partir de 11.11.2017 e não de modoa retroagir para salvar cláusulas ilegais.

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7. O contrato de trabalho intermitente ou bico oficial não se aplica ao contrato detrabalho em vigor, porque teria de haver conversão do regime de contratação e há váriasincompatibilidades. Logo, o regime previsto pelo art. 452-A tem necessariamente de serfeito mediante contrato novo. Dispensar o empregado veterano e o readmitir comointermitente é uma possibilidade jurídica, mas com enorme barreira fática, ou seja, aaplicação do princípio da continuidade da relação de emprego poderá levar aentendimento judicial ou administrativo de que a readmissão foi fraudulenta, comoocorre em várias outras figuras jurídicas – empregado para cooperado, empregado paraautônomo e assim por diante.

8. A possibilidade do contrato individual de trabalho derrogar a norma coletiva e alegislação trabalhista simultaneamente, para trabalhadores com curso superior e salárioacima do dobro do teto previdenciário, a par de sua possível inconstitucionalidade,dificilmente poderá ser posta em marcha retroativamente. O art. 444, parágrafo único,pode até parecer autoaplicável, mas ele, caso seja mantido pelos tribunais trabalhistas,coaduna-se mais com fixação de parâmetros da contratação do emprego, quer dizer, ascláusulas contratuais podem ser fixadas fora e acima da lei e da negociação coletiva, masnão a ponto de retroagir. Este caso está mais para o campo da irretroativa da lei do quepara sua auto aplicabilidade. Neste sentido, este livro opina contra a aplicação de planopara todos os contratos de trabalho em vigor, por se tratar de estipulação contratual. Estaopinião pode ser acusada de fomentar o desemprego – pois muitos empregadores podemter a propensão de mandar o empregado embora e o recontratar com a nova roupagemjurídica – mas esse é um risco a se correr de ambos os lados: nem todos os empregadorestêm condições de dispor de seus melhores empregados – graduados e com salários acimada média brasileira – e, de toda sorte, a estratégia da recontratação estará envolta aenorme suspeita de fraude contra as relações de trabalho. Cumpre frisar que o art. 9º daCLT não sofreu alteração na reforma e ainda paira a nulidade de pleno direito sobre asmanobras tendentes ao desvirtuamento das normas trabalhistas.

9. Idêntico raciocínio se aplica à cláusula compromissória de arbitragem (art. 507-A):como o próprio nome já diz e como explica a Lei 9.307/1996, cláusulas compromissóriassão firmadas na celebração dos contratos, deixando previamente estipulada a arbitragemcomo forma alternativa de soluções de conflitos. Não cabe fazer aditivo para cláusulacompromissória retroativa à admissão do empregado. A lei não menciona a possibilidadede ser firmado o compromisso arbitral, que é a figura utilizada para o uso da arbitragemquando o conflito já está instalado. Logo, o art. 507-A não retroage à admissão doempregado e somente terá eficácia para a celebração de novos contratos.

10. Um obstáculo à auto aplicabilidade reside na redução salarial. Neste passo, talvezseja mais adequado priorizar o conceito geral da irredutibilidade salarial – amparo peloart. 7º, VI, da CF, e também parte integrante do princípio protetor que norteia o direito dotrabalho – a se aplicar atabalhoadamente a nova legislação ordinária. Essa colisão serásentida particularmente na alteração dos arts. 457 e 458, pois ali houve alteração denatureza jurídica das parcelas denominadas ajuda de custo, diária de viagem, prêmios eabonos. Conforme sustentamos em nosso Direito do Trabalho Aplicado – Volume 5 – Livroda Remuneração, a nomenclatura utilizada no direito do trabalho não é tão importantequanto o conteúdo, de modo que essas quatros expressões têm conceitos bastanteconfusos e podem remunerar algo diverso do que o vernáculo supõe. Não é esse oproblema. A questão é que, em determinados contratos de trabalho e determinadoscontextos, o empregador pode ter considerado como salarial algum tipo de prêmio, porexemplo, por força de contrato individual, norma coletiva ou decisão judicial, e, assim, oempregado aufere o principal e os acessórios – incidência em férias, 13º, fundo degarantia, recolhimentos previdenciários, base de cálculo para as horas extras e, se for ocaso, descansos semanais remunerados. Quando o legislador determina que o prêmio

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perdeu sua natureza salarial, há um rebaixamento de 30% a 40% nos ganhos diretos eindiretos do empregado, com a perda dessa cadeia de reflexos. Isso, sim, impacta noconceito de redução salarial. Pode-se argumentar cinicamente que não houve reduçãosalarial nominal na parcela ou rubrica – isso é fato, pois o prêmio seguirá sendo pago –mas a proposta da irredutibilidade salarial está ligada aos ganhos ou à renda dotrabalhador e não ao nome da parcela. Daí por que este livro sustenta que a alteração danatureza jurídica das parcelas não apanha os contratos de trabalho em vigor, mas apenasos empregados contratados a partir de 11.11.2017. 

11. Os mesmos dilemas de auto aplicabilidade e irretroatividade serão vivenciados peloprocesso do trabalho, mas neste caso já existe forte acervo conceitual e doutrinário quenos permite antever algumas soluções. De plano, deve ficar claro que, ao ajuizar umaação, a parte não recebe o direito adquirido à tramitação de todo o périplo processual talcomo ela queria ou tal como ela conhecia quando da redação da petição inicial. O processoé feito por fases e nem todas ocorrerão em todos os processos. Tome-se como exemplo afase recursal. De um lado, a parte somente tem interesse no recurso se e quandosucumbir; logo, como ninguém entra no processo para perder, não se pode dizer que sesoubesse que o recurso seria endurecido não teria aforado a ação. De outro lado, o recursosomente existe no momento em que houve a sucumbência. Neste caso, sim, a parte tem odireito de ver mantidos os trâmites recursais, quando já tomou ciência do julgadodesfavorável, ou seja, a lei não pode retroagir para criar novos obstáculos ou restrições.Isso é bastante conhecido dos tribunais trabalhistas, que vivenciaram grandes mudançasno recurso de revista em 1998 e 2014, bem como no recurso ordinário em 2000, além dasmudanças anuais do depósito recursal.

12. Diante dessas premissas, são autoaplicáveis no processo do trabalho:

a) as alterações ao conceito de solidariedade de grupo econômico (art. 2º);

b) as restrições à elaboração de súmulas, orientações e precedentes normativos (arts. 8ºe 702, que este livro reputa inconstitucional);

c) os procedimentos de responsabilidade do sócio retirante (art. 10-A);

d) os contornos da sucessão de empregadores (art. 448-A);

e) os prazos em dias úteis (art. 775), assim entendidos aqueles cuja contagem começardia 11.11.2017; concluem sua contagem na forma antiga aqueles que haviam começadoantes; não há miscelânea de contagem;

f) o sistema de despesas processuais e de sucumbência recíproca (arts. 789, 790, 790-B,791-A e 844, § 2º); este item certamente será o mais debatido e, para muitos, o maisamargo; embora o trabalhador possa argumentar que não teria ajuizado a ação sesoubesse que a lei aumentaria o rigor das despesas processuais e se soubesse do abalosofrido pelo princípio da gratuidade do processo do trabalho, estes argumentos não sãojurídicos; a parte não dá início ao processo para ser sucumbente, de modo que o vastocampo das despesas processuais somente tangencia o direito adquirido no momento daderrota; se o empregado faltar à audiência em 11.11.2017 terá, sim, de dar as explicaçõesexigidas pelo art. 844, § 2º, sob pena de ter de pagar as custas e não ter acesso aosbenefícios da justiça gratuita, por ser norma processual autoaplicável, com ou semisolamento de atos processuais, sendo imprestável o argumento de que, meses antes, noajuizamento da ação, o arquivamento da audiência tinha outra disciplina; por muito maismotivo, a sentença de improcedência ou de procedência parcial disparará as custas e oshonorários proporcionais, à luz da legislação vigente à data da prolação do julgado;

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g) o sistema de indenização por danos processuais (arts. 793-A e seguintes), aplicando-se aqui o entendimento da alínea anterior quanto ao respeito à coisa julgada e supondo-seque a decisão condenatória seja proferida a partir de 11.11.2017;

h) exceção de incompetência territorial apresentada remotamente (art. 800);

i) a distribuição do ônus da prova (art. 818), supondo-se que o processo esteja na faseinstrutória; provas já colhidas ou cuja colheita já tenha sido iniciada, como nas audiênciasbipartidas ou nos adiamentos, seguem sua tramitação pela lei anterior; o processo tem avirtude de permitir a separação por atos processuais, mas o maior desatino que pode sercometido neste campo é a retroação da norma, para determinar reabertura de instrução,nova tomada de depoimentos ou reinterpretação de fatos e provas; o julgador deve tomarespecial cuidado naqueles casos em que a prolação da sentença ou do acórdão ocorre emdata muito distante da época da instrução, a fim de não apanhar as partes de surpresa ouatribuir encargos a quem não os tinha na ocasião;

j) novas exigências à petição inicial, para aquelas aforadas a partir de 11.11.2017 (art.840);

k) autorização para preposto não empregado, para as audiências realizadas a partir de11.11.2017 (art. 843, § 3º), não valendo aplicar o artigo retroativamente para salvarrevelias já declaradas;

l) realização do incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 855-A),apesar de este dispositivo ser considerado incompatível com o processo do trabalho poreste livro e apesar de muitos magistrados já o aplicarem com apoio no CPC;

m) homologação de acordo extrajudicial (arts. 855-B a 855-E), a serem apresentados apartir de 11.11.2017; não vale, todavia, chamar de jurisdição voluntária processosanteriormente ajuizados pelo trabalhador, sob a forma de lides simuladas, vulgarmentechamadas de “casadinha”, cujo objetivo era apenas obter a coisa julgada;

n) paralisia do impulso de ofício do magistrado, a partir de 11.11.2017 (art. 878);

o) uso dos meios alternativos de garantia do juízo, como seguro e fiança (art. 882);

p) flexibilização do depósito recursal e do depósito para garantia do juízo paradeterminados empregadores (arts. 884, § 6º e 899).

13. A coisa julgada deve ser respeitada em qualquer hipótese. Assim sendo, se algumaquestão controvertida sobre o sócio retirante ou o grupo econômico já teve decisõesproferidas, não cabe mais ao juiz reavivar a matéria a pretexto de que lei supervenienteredefiniu os conceitos. Isso seria retroatividade indevida da legislação. Nem o trabalhadornem o empregador poderão pedir novo julgamento da mesma matéria à luz da novalegislação. E o tribunal do trabalho, ao apreciar, digamos, agravo de petição ou recurso derevista, para aferir o acerto da decisão de primeiro grau sobre redirecionamento daexecução trabalhista, deverá ter o discernimento de proferir decisão à luz da legislaçãovigente à época da decisão originária – ou seja, à luz da legislação revogada.

14. Uma palavra de destaque deve ser dedicada ao instituto da prescrição, sempre omais desafiador de toda a biblioteca jurídica. No caso da prescrição intercorrente (art. 11-A), parece claro que ela somente disparará a partir da entrada em vigor da nova lei. Nãopoderá o magistrado, a pretexto de aplicar a reforma trabalhista, procurar processosparados há dois anos e cravar a prescrição intercorrente retroativa. Isso aparece comdestaque na obra de Pontes de Miranda, acima citada: no Volume 6 do célebre Tratado de

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Direito Privado, o mestre alagoano enfatiza que esse tipo de situação equivale à criação deuma nova modalidade de prescrição sobre a pretensão deduzida pela parte. Logo, elasomente tem valor a partir de sua criação. É verdade que muitas vozes se levantavam afavor da prescrição intercorrente trabalhista antes da reforma, mas por fundamentos epremissas diversas, tais como a aplicação subsidiária da Lei de Execução Fiscal ou ainterpretação expansiva do art. 884, § 1º, da CLT. Nunca houve um dispositivo na CLTexplícito sobre a fluência e o peso da prescrição intercorrente na execução trabalhista.Cuida-se a toda evidência de lei nova com instituto novo. Retroação aqui seriateratológica.

15. No caso da prescrição parcial por parcelas de trato sucessivo (art. 11, § 2º) einterrupção de prescrição por ajuizamento de ação que vem a ser arquivada (art. 11, § 3º),entendemos não haver grande celeuma, por se tratar de dois dispositivos bastanteconhecidos e aplicados no processo do trabalho, por longos anos, ainda que fruto dejurisprudência sumulada do TST. A norma apanha as pretensões em curso e pode seraplicada aos processos em andamento, sem que se possa falar de desassossego social ouviolência à boa-fé objetiva. Neste caso, o principal impacto se verificará nos julgados queeram refratários à jurisprudência majoritária e, por qualquer motivo, não aplicam asSúmulas 268 e 294, dentre outras. A aplicação doravante será mandatória.

16. As novidades do recurso de revista – maior rigor na transcrição dos embargos dedeclaração e requisito da transcendência – evidentemente somente se aplicam para osrecursos interpostos à luz da nova legislação. Não existe retroação em matéria recursal.Isso é bem sedimentado no TST, que conviveu por muitos anos com recursos de revistajulgados de modo diferente e sob requisitos diferentes, diante das alterações de 1998 e de2014. O que talvez gere dúvidas é a data exata a partir da qual a parte deve observar asexigências da Lei 13.467/2017: o direito ao recurso nasce no dia da ciência dasucumbência: assim sendo, acórdão de TRT publicado até 10.11.2017 assegura à parte odireito à tramitação do recurso de revista da lei antiga (Lei 13.015/2014); acórdãospublicados a partir de 11.11.2017 exigem o respeito à nova lei. Logo, não é a data doprotocolo do recurso de revista que importa, mas a data da ciência do julgado em que aparte sucumbiu. Tomada a ciência, ela começa a preparar o recurso, redigir a peça erecolher as despesas cabíveis, não podendo ser apanhada pela lei nova no curso do prazo,mesmo que este seja reduzido, ampliado ou dificultado. Se, no entanto, a parte optar pelosembargos de declaração daquele acórdão de 10.11.2017, ela atrairá a lei nova, porquetecnicamente o recurso de revista vindouro será disparado contra o acórdão original econtra o acórdão dos embargos de declaração, portanto já sob a égide da Lei 13.467/2017.Este é um cálculo que o advogado deve fazer com astúcia, pesando as vantagens edesvantagens do sistema recursal novo em relação ao anterior, caso ele esteja tão nocentro da transição que pode vir a alcançar uma ou outra. No particular, o sistema novo ésabidamente mais rigoroso – para muitos, é o fim do recurso de revista, caso o TST adoteentendimentos restritos do conceito de transcendência e elabore um filtro impermeáveldemais. Vários prognósticos foram feitos por este livro, nos comentários ao art. 896-A,mas, em 2017 ou 2018, mente quem disser que sabe o rumo que a transcendência irátomar. Assim sendo, a toda evidência a lei antiga é mais favorável para a parte que precisesacar do recurso de revista em época de transição.

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

TABELAS

Tabelas

Súmulas do TST impactadas diretamente pela reforma (rol exemplificativo extraído doscomentários desta obra).

Súmula 6: restrições impostas aos pedidos de equiparação salarial pela reforma;

Súmula 85: houve afrouxamento no controle dos acordos de compensação de jornada;

Súmula 85, VI: o art. 611-A, XIII, libera a negociação para horas extras em trabalho insalubre, oque tem duvidosa constitucionalidade;

Súmula 90: o conceito de jornada itinerária, criado em 1969, sofre abalo com a dicção do art. 58,§ 2º;

Súmula 114: a reforma abre espaço para a prescrição intercorrente (art. 11-A).

Súmula 122 - art. 843, § 3º - qualidade de empregado do preposto;

Súmula 241: natureza jurídica do vale-refeição pago em dinheiro (art. 457, § 2º);

Súmula 277: ultratividade obstada pela lei ordinária, mas pode ser reavivada pelo art. 114, § 2º,in fine, da CF;

Súmulas 219, 220, 319 e 329 – embaralhadas com o novo conceito de honorários advocatícios(art. 791-A);

Súmula 399: reforma rechaçou o conceito de estabilidade financeira, mesmo que após 10 ou 20anos de exercício de cargo de confiança (art. 468, § 2º);

Súmula 437: há grande pressão para liberar a redução do intervalo, inclusive dizendoexpressamente que ele não é questão de saúde, ao contrário do que dispõe o TST (art. 611-A, III e §2º);

Súmula 444: a jornada 12x36 já embute os feriados, a hora noturna reduzida e a refeição,segundo a reforma legislativa, desautorizando a construção feita pelo TST;

Súmula 457; responsabilidade por honorário pericial; União assume apenas em casos específicos(art. 790-B, § 4º);

 

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Orientações jurisprudenciais sob pressão da reforma trabalhista (rol exemplificativoextraído dos comentários desta obra).

OJ 133: necessidade de análise se o vale-refeição fornecido em dinheiro será equiparado aotíquete conveniado pelo PAT (art. 457, § 2º);

OJ 225: possível responsabilidade integral da sucessora e absolvição da sucedida, na redação doart. 448-A;

OJ 270: PDV coletivo quita tudo, dispõe o art. 477-B;

 

Matéria não sumuladas impactadas pela reforma (rol exemplificativo extraído doscomentários desta obra).

Restrições às dispensas em massa: novo art. 477-A colide com o julgado do Caso Embraer, queserviu de base para outras rescisões coletivas (Processo 30900-12.2009.5.15.0000).

IN 27/2005 – terá de ser revista a aplicabilidade dos honorários de sucumbência do CPC para asnovas competências trabalhistas, agora que o art. 791-A da CLT expande honorários para todos oscasos.

 

 

FIQUE DE OLHO:

Art. 59-A

Art. 223-A a 223-G

Art. 394-A, § 3º

Art. 442-B

Art. 452-A

Art. 510-A

Art. 611-A

 

Possíveis inconstitucionalidades da Lei 13.467/ 2017 (rol exemplificativo extraído doscomentários feitos ao longo desta obra)

Art. 58, § 2º: manda descontar o tempo gasto até a efetiva ocupação do posto de trabalho, mesmoque seja em local desprovido de transporte público ou na zona rural, o que colide com o conceito de

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jornada como atividade à disposição do empregador (art. 7º, XIII da CF).

Art. 59-A: libera jornada de 12 horas mediante simples acordo individual, afrontando os incisosXIII e XVI do art. 7º.

Art. 60, parágrafo único: libera trabalho insalubre em jornada de 12 horas por acordo individua(colisão com o art. 7º, XIII e XXII).

Art. 223-A a 223-G: cria a tarifação dos danos morais trabalhistas vinculados ao valor do salário-contratual do empregado, gerando distinção entre a dor do rico e a dor do pobre, sem nenhumabase científica ou lógica (art. 5º, caput) e, ainda, ignora o evento morte e a discriminação racial,dentre outros.

Art. 394-A, § 3º: cria benefício previdenciário (licença-maternidade de 9 meses para a gestanteem atividade insalubre e por prazo indeterminado para a lactante em ambiente insalubre) sem terprevisto de onde virá o custeio para essa expansão, malferindo o princípio da contrapartida (art.195, § 5º).

Art. 444, § único: a autorização para o contrato individual se sobrepor à lei, ao acordo coletivo eà convenção coletiva subverte o princípio da norma mais favorável, em afronta ao art. 7º, caput,mas também ignora o reconhecimento das normas coletivas como fonte de direito, expressado peloart. 7º, XXVI.

Art. 452-A: permite a contratação de trabalhadores em caráter intermitente, sem o respeito aoadicional noturno (art. 7º, XI, da CF), com proteção de seguridade social baixa ou inexistente (art.195 da CF) e com possibilidade de pagamento mensal inferior a zero – quer dizer, o empregado ficadevendo ao empregador caso falte ao trabalho e sofra a multa pecuniária (art. 7º, IV). Há previsãode gozo de férias anuais, mas com possibilidade de pagamento zerado, contrariando aobrigatoriedade de remuneração para o descanso (art. 7º, XVIII).

Art. 457, § 2º: libera o recolhimento previdenciário de parcelas de natureza salarial contra textoexpresso do art. 195, I, “a”, da CF.

Art. 468, § 2º: ignora o princípio da irredutibilidade salarial, mesmo após 10 anos de percepçãode gratificação de função, atropelando o art. 7º, VI, da CF 88, com a consequente aniquilação daSúmula 372 do TST.

Art. 477-A: libera a dispensa em massa, sem considerar a interpretação dada pelos tribunais aoalcance do art. 7º, I, da CF, e sem esperar o desfecho da análise da vigência da Convenção 158 daOIT, cujo art. 13 determina prévia consulta. Matérias pendentes de julgamento no STF.

Art. 507-A: inibe acesso ao Judiciário estipulando arbitragem para empregados com rendimentosuperior a cerca de 11.000 reais mensais, em afronta ao art. 5º, XXXV;

Art. 507-B: inibe acesso ao Judiciário outorgando eficácia liberatória geral para simplesprestação de contas anuais perante entidade sindical, em afronta ao art. 5º, XXXV.

Arts. 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602: torna facultativa a contribuição sindical, que éreferenciada na parte final do art. 8º, IV (criador da contribuição confederativa) e no art. 149 da CF.

Art. 611-A, XIII: admite que as empresas negociem livremente a alteração do grau do adicional

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de insalubridade, em colisão com o art. 7º, XXII, da CF, e com o próprio art. 611-B, XVII, oriundo damesma reforma trabalhista, que determina o respeito integral às NRs do Ministério do Trabalho.

Art. 611-A, XIV: libera horas extras em ambiente insalubre, ignorando que os limites detolerância foram fixados para jornadas máximas de 8h e seus efeitos são acumulativos; colisãofrontal com o art. 7º, XXII, da CF.

Art. 614, § 3º: a ultratividade das cláusulas de norma coletiva será julgada pelo STF no âmbito daADPF 323, sobre a correta interpretação do art. 114, § 2º, da CF, e da Súmula 277 do TST, sendoirrelevante, no particular, a disposição da lei ordinária.

Art. 634, § 2º: o uso da Taxa Referencial de juros (TR) está sub judice no STF (Reclamação 22.012)e o julgamento independe da posição da lei ordinária.

Art. 702, I, f, e §§ 3º e 4º – criação de exigências severas e, em alguns casos, inatingíveis para aformação de súmulas e orientações jurisprudenciais, inibindo a estabilização da jurisprudênciatrabalhista, ao contrário dos demais ramos do Judiciário, que poderão manejar sua jurisprudênciana forma dos regimentos internos. Essas barreiras intransponíveis não constam das diretrizes dosarts. 93 a 101 da CF sobre o funcionamento dos tribunais e, ao mesmo tempo, o direito do trabalhoé nacionalmente unificado por mandamento constitucional (art. 22, I). O direito não se exaure naelaboração da lei, carecendo de sua concretização. A eliminação prática das súmulas do TSTrepresenta em última análise a pulverização regional dos entendimentos.

Art. 879, § 7º: o uso da Taxa Referencial de juros (TR) está sub judice no STF (Reclamação 22.012)e o julgamento independe da posição da lei ordinária.

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2017 - 09 - 26

© desta edição [2017]

Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017LEI 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017

FIQUE DE OLHO

Fique de Olho

Conforme expusemos ao longo deste livro, o governo federal promete reformar a Lei 13.467/2017antes mesmo de sua entrada em vigor. Algumas mudanças serão redundantes, como citar artigosda Constituição para dizer que somente os sindicatos podem assinar norma coletiva, mas outrasserão complexas e revogarão trechos inteiros da lei recém-nascida, evidenciando sua tramitaçãoatabalhoada. Procuramos deixar o leitor atento a essa “reforma da reforma”, criando uma caixade diálogo chamada “fique de olho”, que podem ser localizadas ao término dos comentários dos

seguintes artigos:

• Art. 59-A: promessa de proibir a jornada 12x36 por acordo individual.

• Arts. 223-C a 223-G: promessa de ampliar as hipóteses de danos morais (por exemplo, para casosde racismo, que haviam sido esquecidos), melhoria na qualidade da tarifação da indenização e

ressalva do evento morte como fato excepcional à norma.

• Art. 394-A: promessa de reduzir a liberação ampla do trabalho da gestante e da lactante emambiente insalubre, voltando mais ou menos ao patamar em que se encontrava a questão pela Lei

13.287/2016.

• Art. 442-B: promessa de proibir o contrato de “autônomo exclusivo”.

• Art. 452-A: promessa de melhorar a redação do contrato-intermitente, o “bico oficial”, talvez omaior imbroglio para ser resolvido; as primeiras minutas de medida provisória apontam nada

menos do que 15 alterações a este regime, com a expansão do tema para mais sete artigos de lei esem a garantia de que haverá segurança jurídica a respeito do contrato-zero; a confusão é tão

grande, que surgiram dúvidas até mesmo se o trabalhador poderá contar o contrato-zero comotempo de serviço e de contribuição perante a Previdência Social, já que se conseguiu criar uma

modalidade em que não se trabalha, não se recebe e, portanto, não se contribui. Para tentarequacionar a figura, o governo propõe que o empregado recolha, a suas expensas, a contribuiçãoprevidenciária sobre a diferença entre o salário-mínimo e o salário que auferir naquele mês do

contrato intermitente, com a alíquota de empregado. Assim, o leitor deve ficar atento não apenasnas questões trabalhistas sobre o contrato-intermitente (arts. 452-A e o que mais for inserido),

mas também no tratamento previdenciário a ser conferido a esta nova modalidade(possivelmente, art. 911-A, mais por falta de espaço do que por lógica jurídica).

• Art. 510-E: reafirmação de que o representante dos empregados não pode se sobrepor àautoridade do sindicato, o que já consta da CF.

• Art. 611-A, XII e XIII: esclarecimentos sobre como as partes podem alterar o grau deinsalubridade e liberar as horas extras em ambientes insalubres que pressupõem jornada

máxima de 8h, sem afrontar as normas de saúde, higiene e segurança do trabalho, cujo respeitoconsta do próprio art. 611-B, XVIII, com redação dada pela mesma Lei 13.467/2017.

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2017 - 09 - 26 Comentários à Reforma Trabalhista - Edição 2017ÍNDICE ALFABÉICO REMISSIVO. ÍNDICE ALFABÉTICO REMISSIVO

A

ACORDO COLETIVO

- ação anulatória procedente, art. 611-A, § 4º

- cumulação de responsabilidades trabalhistas, art. 634

- dispensas imotivadas individuais, plúrimas ou coletivas, art. 477-A

- excluídas da base de cálculo do percentual da cota, art. 93, §§ 5º, 6º e 7º

- falta de indicação de contrapartidas recíprocas, art. 611-A, § 2º

- horas extras em força maior, art. 61, § 1º

- horas extras compensação, art. 59-A

- jornada 12X36, art. 59-B

- plano de demissão voluntária, art. 477-B

- prevalência sobre a lei, art. 611-A

- prevalência sobre a convenção coletiva de trabalho, art. 620

- princípios do direito do trabalho, art. 8º, § 3º

- sindicatos  litisconsortes necessários, art. 611-A, § 5º

- supressão do intervalo para refeição e descanso, art. 59-B

- rol exemplificativo, art. 611-A

- rol taxativo, art. 611-B

- vedação ao acordo coletivo: art. 58-A, § 3º

- vedado estipular prazo de duração, art. 614, § 3º

ALTERAÇÃO DO PACTUADO

- nem prejuízo nem benefício ao menos de imediato, art. 11, § 4º

- a alteração da modalidade de pagamento de salário fixo para comissões, art. 11, § 2º

- ato único do empregador, art. 11

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- instituição do quadro de carreiras, art. 11

- vedação do art. 468 da CLT

APLICAÇÃO DO DIREITO COMUM

- aplicação ampliada, art. 8º

- subsidiária, art. 8º

ARBITRAGEM

- cláusula compromissória de arbitragem, art. 507-A

- contratos individuais de trabalho, art. 507-A

- livre estipulação, art. 444

- restrições da legislação social e das normas coletivas, art. 444

- princípio da inafastabilidade da apreciação judicial, art. 5º, XXXV, da CF 88

ASSUNTOS URGENTES EXCLUÍDOS DA REFORMA DE 2017,

- promoção do trabalho da mulher, Comentários à Lei X

- proteção do trabalho contra a automação, Comentários à Lei X

- regulamentação da penosidade, Comentários à Lei X

- saúde e segurança do trabalho, Comentários à Lei X

AUTÔNOMOS. VÍNCULOS DE EMPREGO

- contratação não afasta a qualidade de empregado prevista no art. 3º, art. 442-B

- natureza jurídica, art. 442-B

B

BANCO DE HORAS

- ajustado coletiva ou individualmente, prever o descanso semanal remunerado, Lei605/1949

- pactuado por acordo individual escrito, ar. 59, § 2º

BENEFÍCIOS ASSISTENCIAIS

- assistência médica, art. 458

- partes não integrantes do salário, art. 458, § 5º

C

CÁLCULO DE LIQUIDAÇÃO

- elaborado por qualquer pessoa, art. 879, § 2º

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CARGO DE CONFIANÇA

- alteração sem justo motivo, art. 468, § 1º

- alteração unilateral não assegura direito gratificação correspondente, art. 468, § 2º

- reversão e estabilidade, art. 468

CARTEIRA DE TRABALHO

- duração e efetividade do contrato de trabalho, art. 41

- férias, acidentes e demais circunstâncias que interessam à proteção do trabalhador,art. 41

- registro de admissão de emprego, art. 41

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

- desconto autorizado, art. 545

- desconto primeiro mês subsequente, art. 602

- empregados e trabalhador avulso, art. 583

- fonte de custeio prevista no art. 8º, IV, da CF

- mês de março de cada ano, art. 582

- opção, art. 587

- prévia e expressamente autorizadas, art. 579

CONVENÇÃO COLETIVA

-  fixação de taxas de homologação, arts. 545 e ss da CLT

- ações coletivas pedido de anulação de cláusula negociada, art. 611-A, § 5º

- anotação de informações falsas em carteira de trabalho ou folha de pagamento, art.297, § 3º, do CP

- aplicação da multa, art. 634, § 1º

- cláusula negociada em bebefício de outra, art. 611-A, § 4º

- cláusulas não precisam carregar justificativas ou contrapartidas, art. 611-A, § 2º

- concessão de reajuste salarial contrário a leis de política salarial, Súmula 375 do TST

- cumulação das responsabilidades trabalhistas, civis e penais, art. 634

- descontos salariais superiores a 70% do salário, art. 82, § único, da CLT

- direito de greve não pode sofrer restrição por norma coletiva, do art. 9º da CF,

- discriminação salarial entre adolescentes e adultos, em detrimento do art. 227, § 3º, II,da CF 88

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- duração, vedada ultratividade, art. 614

- prevalência das condições estabelecidas no acordo coletivo de trabalho, art. 620

- prevalência sobre a lei, art. 611-A

- princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva, 611-A, § 1º

- rol exemplificativo matérias liberadas para a negociação, art. 611-A

- rol taxativo matérias proibidas, art. 611-B

D

DANO EXTRAPATRIMONIAL

- apreciação do pedido pelo juiz, art. 223-G

- bens juridicamente tutelados pessoa física, art. 223-C

- bens juridicamente tutelados pessoa jurídica, art. 223-D

- causa do dano, art. 223-B

- decorrente da relação de trabalho, art. 223

- sujeitos responsáveis, art. 223-E

-cumulação de pedidos, art. 223-F

DANOS MORAIS

- ofendido pessoa jurídica, art. 223-G, § 2º

DISPENSA COLETIVA

- a redução salarial, art. 7º, VI, da CF

- banco de horas enfrentamento da sazonalidade, art. 59 e segs

- conversão de contrato de carga integral de jornada para contrato a tempo parcial, art.58-A

- desnecessidade de autorização prévia de entidade sindical, art. 477-A

- esforços para preservação do emprego,

(processo nº 309/2009-000-15-00.4)

- férias coletivas, art. 139

- interpretação do art. 7º, I, da CF 88

- planos de demissão voluntária referendado pelo STF e art  477-B

- programa de proteção ao emprego, legislação esparsa (Lei 13.189/2015)

- suspensão temporária do contrato de trabalho, 476-A

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DUPLA VISITA

- art. 627 da CLT, não se aplica aos casos de falta de registro

E

EMPREGADA GESTANTE. AMBIENTE INSALUBRE

- apresentação de atestado médico, art. 394-A

EMPRESA RURAL

- conglomerado bancário, art. 2º, § 1º

EQUIDADE

- princípios do direito do trabalho, art. 8º, caput

EQUIPARAÇÃO SALARIAL

- adoção de plano de cargos e salário, art. 461, § 2º

- função idêntica, art. 461

- merecimento e antiguidade, art. 461, § 3º

- plano de cargos e carreira, art. 461

- trabalho de igual valor, art. 461 § 1º

EXCEÇÃO AO CRITÉRIO DA DUPLA VISITA

- infração do art. 47

EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL

- procedimento, art. 800

F

FÉRIAS. FRACIONAMENTO

- fruição em 3 períodos , art. 134, § 1º

- início, art. 134, § 3º

- vedado início, art. 134 § 3º

G

GRUPO ECONÔMICO

- conceito, art. 2º

- direção controle e administração, art. 2º, § 2º

- identidade de sócios administradores, art. 2º, § 3º

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- inaplicável § 2º do art. º da Lei 5.889

- resultados eficazes no âmbito da Lei Anticorrupção, o art. 16, § 5º, da Lei 12.846/2013

GRUPO RURAL

- não precisa indicar Holding, art. 2º, § 4º

H

HOLDING

- empresa mãe, art. 2º, § 2º

HORAS EXTRAS EM AMBIENTE INSALUBRE

- libera os sindicatos ajustarem exposição  qualquer jornada, horas extras oucompensação, Art. 611-A, XIV

- exceção da exigência de licença prévia, art. 60, pár. único

- libera o empregador a imprimir jornada de 12 horas em ambiente insalubre, semautorização pública nem sindical (art. 60, § único)

- libera os sindicatos a ajustarem essa exposição para qualquer outro tipo de jornada,horas extras ou compensação (art. 611-A, XIV)

- menor impacto: exposição a umidade (anexo 10, NR 15) oscilação de temperatura(anexo 9, NR 15)

HORAS EXTRAS EM FORÇA MAIOR

- excesso independente de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, art. 61

- necessidade imperiosa: Precedente Administrativo 31 do Ministério do Trabalho

HORAS EXTRAS. COMPENSAÇÃO MENSAL

- determinação constitucional – art. 7º, XV

- formas de ajuste, art. 59-A, caput

- limite diário, art. 59-A, caput

- não descaracteriza o acordo de compensação de jornada e o banco de horas, art. 59-C

- regime de compensação desvirtuado, art. 59-C

- Súmula 85, IV do TST

HORAS EXTRAS. COMPENSAÇÃO. BANCO DE HORAS

- banco de horas, art. 58,§ 2º

- celebrado em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, art. 59, caput

- duração, art. 59, caput

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- remuneração, art. 59, § 1º

- rescisão do contrato de trabalho sem compensação integral da jornadaextraordinária, art. 59, § 3º

I

INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

- a exceção de pré-executividade, Súmula 397

- aplica-se os arts. 133 a 137 do CPC ao processo do Trabalho

- decisão interlocutória, art. 855-A, § 1º

- instauração do incidente suspende o processo, art. 855-A, § 2º

INDICAÇÃO DE BENS À PENHORA

- uso dos convênios legais

arts. 805, § único, e 847, § 2º, do NCPC

INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO

- arquivada, produzindo efeitos apenas em relação aos pedidos idênticos, art.11

- citação, art. 11,§ 5º

J

JORNADA 12X36

- o acordo individual para supressão do intervalo para refeição e descanso, art. 59-B -bombeiros (Lei 11.901/2009)

- estudos sobre saúde e segurança do trabalho

módulo de 8h de atividade – arts. 156 a 200 da CLT

- faculdade das partes de estabelecer a jornada, art. 59-B, caput,

- feriados embutidos, art. 59-B

- legislação especial dos domésticos (LC 150/2015)

- liberdade de prática em ambiente insalubre, art. 60, § único

- redução do intervalo de empregado não estiver em regime de horas extras, art. 71, §3º

- parâmetros básicos na Súmula 444 do TST

- prevendo a supressão da hora noturna reduzida, art. 59-B

JORNADA ITINERÁRIA

- manutenção do art. 294 da CLT

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- o sobreaviso e a prontidão, arts. 244, §§1º e 2º da CLT

- qualquer meio de transporte, art. 58, § 2º

- tempo despendido até efetiva ocupação do posto de trabalho, art. 58

- trajetos não contam como hora de trabalho, art. 58, § 2º

- extensão ao trabalho rural e às regiões urbanas servidas por transporte precário ouintermitente, art. 58, § 2º

JUSTA CAUSA

- perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício daprofissão, art. 482, "m"

- rescisão contratual, art. 482

JUSTIÇA DO TRABALHO

- adiantamento de valores para realização de perícias, art. 790-B, § 3º

- advogado em causa própria honorários de sucumbência, art. 791-A

- autorização para a retenção dos honorários sobre os créditos do reclamante, namesma lide ou em outro processo, art. 791-A, § 4º

- competência, art. 652

- contagem de prazos em dias úteis, art. 775

- devidos honorários advocatícios na reconvenção, art. 791-A, § 5º, 81

- dilação dos prazos adequando às necessidades de conflito, art. 775, § 2º

- estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de jurisprudência uniforme, art.702

- faculdade do juiz de conceder o benefício da justiça gratuita, art. 790, § 3º

- hipótese procedência parcial, art. 791-A, § 3º

- homologação de acordos extrajudiciais, arts. 855-B a 855-E

- honorários de sucumbência, art. 791-A

- natureza prazos em geral, art. 775, § 1º, II

- observar na fixação, art. 791-A, § 2º

- parcelamento dos honorários periciais, art. 790-B, § 1º

- parte que comprovar insuficiência de recursos, art. 790, § 4º

- prazo de 10 dias para o cálculo de liquidação (art. 879 da CLT)

- prazo de 5 dias para a contra-minuta aos embargos à execução (art. 884)

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- prazos do direito material do trabalho, o gozo das férias (art. 130), o aviso-prévio (art.487) data limite pagamento verbas rescisórias (art. 477)

- prazos podem ser prorrogados nas hipóteses dos incisos I e II do § 1º do novo art. 775

- prazos que nascem e morrem no âmbito da mesma unidade judiciária, art. 775, § 2º

- responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais, art. 790-B

- sessões de julgamento, art. 702, § 3º

- União garantidora dos honorários periciais trabalhistas, art. 790-B, § 4º

L

LIDES SIMULADAS

- arts. 855-A a 855-E

LIVRE ESTIPULAÇÃO

- aplica-se às hipóteses previstas no art. 611-A

- cláusula compromissória, para fins de procedimento arbitral, art. 507

- matéria de uso restrito das negociações coletivas segundo art. 7º, VI da CF, reguladano art. 444,§ único

- maior grau de liberdade cláusulas contratuais, art. 444 parágrafo único

M

MICROEMPRESA

- infração, art. 47

- reclamações perante, art. 843

- redução do depósito recursal, art. 899, § 9º

- valor final da multa, art. 47

O

ÔNUS DA PROVA

-  do reclamado, art. 818, II

- distribuição do ônus da prova, art. 818, § 3º

- do reclamante, art. 818, I

- juízo atribuir o ônus da prova de modo diverso, art. 818, § 1º

P

PLANO DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA

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- dispensa individual, plúrima ou coletiva, art. 477-B

PRESCRIÇÃO

-  distinção entre a prescrição total e a prescrição parcial, art. 11, § 4º

- art. 7º, XXIX, da CF,

- interrupção só vale uma vez (art. 202, § único, CCB

- prazo de 2 anos, art. 11-A, caput

PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA

- imprescritibilidade das pretensões declaratórias

§ 1º do art. 11

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

- declaração da prescrição intercorrente, art. 11-A, § 2º

- início de contagem do prazo, art. 11-A, § 1º

- prazo de 2 anos, art. 11-A3

PRESCRIÇÃO INTRACORRENTE

- art. 11-A, § 1º, prazo deflagrado quando exequente deixar de cumprir determinaçãojudicial

- credor previdenciário, art. 11-A

- nome correto, art. 11-A

pronúncia de ofício da prescrição prevista no CPC, resistência no Direito do trabalho,art. 11

PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS

- faculdade de firmar termo, art. 507-B

- termo discriminado de quitação, art. 507-B, parágrafo único

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS A TERCEIROS

- atividade principal, Lei 13429/2017

- conceito, art. 4º-A da Lei 6.019/74

- idoneidade financeira ou “capacidade econômica compatível com sua execução, arts.4º C ao art. 5º A

PRINCÍPIOS DA INTERVENÇÃO MÍNIMA NA AUTONOMIA DA VONTADE COLETIVA

- art. 8º da CLT

- arts. 5º e 17 da LINDB

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PRINCÍPIOS DE DIREITO DO TRABALHO

- análise dos elementos essenciais do negócio jurídico, art. 8º, caput

- analogia, art. 8º

- direito comum, fonte subsidiária, art. 8º, § 1º

- equidade, art. 8º, caput

- respeito ao art. 104 do CC,

PROCESSO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

- acordo extrajudicial, firmado por ambas as partes, para ser levado à homologaçãojudicial, art. 855-B

- atualização dos créditos decorrentes de condenação judicial, art. 879, § 7º

- Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), de que trata o art. 642-A da CLT

- decisão judicial transitada em julgado levada a protesto, art. 833-A

- depósito das verbas no prazo de 10 dias (art. 477, § 6º, da CLT)

- depósito recursal na fase de conhecimento, art. 899, §10

- depósito recursal, art. 899, § 4º

- execução de ofício, art. 876

- execução promovida de ofício, art. 878

- fase de impugnação sem garantia do juízo ou de depósito recursal, art. 879, § 2º

- garantia ou penhora não se aplica às entidades filantrópicas, art. 884, § 6º

- homologação de acordo extrajudicial, art. 855-B

- homologação sindical das verbas rescisórias (art. 855-C)

- isentos do depósito recursal, art. 899, § 10

- lides simuladas, arts. 855-B a 855-E

- necessidade de penhora ou garantia equivalente para a fase de execução, art. 884, § 6º

- pena de preclusão em embargos de execução, art. 884

- petição de homologação de acordo suspensão prazo prescricional, art. 855-E

- prazo comum para impugnação fundamentada, art. 879

- recurso de revista desprovido de uniformização, art. 896

- redução à metade do depósito recursal, § 9º

- seguro garantia e carta de fiança, art. 899, § 11

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- trancamento liminar, art. 896, § 14

- transcendência para liberar casos de afronta às súmulas do TST ou do STF, art. 896, §7º

- transcrição dos embargos de declaração, art. 896, inciso IV ao § 1º-A

PROVA DE GRUPO ECONÔMICO

- art. 818 da CLT

R

RECLAMAÇÃO

- ausência do reclamado, art. 844, § 2º

- ausente o reclamado, presente o advogado, art. 844, § 5º

- condição para propositura de nova demanda, art. 844, § 3º

- defesa escrita pelo sistema de processo judicial, art. 847, pár. ún.

- formas, art. 840, §§ 1º ao 3º

- oferecida contestação, art. 841, § 3º

- preposto, art. 843, § 1º

- revelia, art. 844, § 4º

- rito sumaríssimo, art. 852-B da CLT

- suspensão do julgamento, art. 844, § 1º

- valor da causa, art. 840

REGISTRO PROFISSIONAL

- autuação empregadores descuidados, art. 47

- multa empregado não registrado, art. 41

- moedas de curso forçado, art. 47

- multas de acordo com a negligência do empregador, art. 47-A

- valor final da multa, art. 47, § 1º

REGISTRO PROFISSIONAL.

- art. 47 CLT

REPRESENTAÇÃO DOS EMPREGADOS. ELEIÇÕES

- atribuições da comissão dos representantes, art. 510-B

- audência de registro de candidatura, art. 510-C, § 6º

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- composição das comissões, art. 510-A, § 1º, I-III,

- convocação da eleição, art. 510-C

- documentos referentes ao processo eleitoral, art. 510-D, § 4º

- empresa com empregadosvários Estados da Federação e Distrito Federal, art. 510-A, §2º

- empresas com mais de 200 empregados, art. 510-A

- formação dos membros, art. 510-C, § 5º, 57

- inelegibilidade, art. 510-D, § 1º

- mandato membros da comissão, art. 510-D

- mandato, art. 510-D

- não imlica em suspensão ou interrupção do contrato de trabalho, art. 510, § 2º

- negociação coletiva acompanhada pelos representantes, art. 510-B, VIII

- nem todos os empregados são elegíveis, art. 510-C, § 2º

- posse, art. 510-C, § 4º

- voto por representação, art. 510-C, § 3º

RESCISÃO

- acordo, art. 484-A

- documento hábil ao seguro desemprego, art. 477, § 10

- forma do pagamento

art. 477, § 4º, I, II

- homologação da rescisão do contrato de trabalho, art. 477

- movimentação da conta do FGTS, art. 484-A, II, § 1º

- prazo para liberação das guias, art. 477, § 6º

- verbas trabalhistas devidas, art. 484-A, I e II

RESPONSABILIDADE POR DANO PROCESSUAL

- conceito, art. 793-B

- condutas desleais e temerárias, arts. 793-A a 793-D

- corresponsabilidade, art. 793-C, § 1º

- litigância de má-fé, art. 793-A

- multa: valor da causa irrisório ou inestimável, art. 793-C, § 2º

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- tarifação do dano processual, art. 793-C

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO GRUPO ECONÔMICO, 2

- art. 2º

- uma ou mais empresas com personalidade jurídica própria, art. 2º

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA

- beneficiários da cadeia produtiva, art. 3º

- princípios básicos de corresponsabilidade, art. 3º, § 1º

- teoria do domínio do fato e a responsabilidade, art. 3º, § 2º

S

SALÁRIOS

- importâncias habituais ajuda de custo, art. 457, § 2º

- parcelas salariais, vale-refeição, prêmios e abonos, art. 457

- parte integrante, art. 457, § 1º

SÓCIO

- desconsideração societária preliminarmente, art.10-A

- ordem de preferência art. 10-A

- prova da fraude na alienação empresarial, Cap. 1;, 9

- resistência da Justiça do Trabalho ao incidente de desconsideração da pessoa jurídica,arts. 133 e seguintes do NCPC

- responsabilidade direta do ex-sócio, Cap. 1;, 9

- responsabilidade esgotada o patrimônio da pessoa jurídica, Cap. 1;, 9

- responsabilidade subsidiária do sócio retirante pelas obrigações trabalhistas, O art.10-A, § único

SUCESSÃO DE EMPREGADORES. CORRESPONSABILIDADE

- foram a inserção do art. 10-A, para tratar do assunto da retirada do sócio e art. 448, 40

- responsabilidade das obrigações trabalhistas, art. 448-B

SÚMULAS

- alteração, estabelecimento, art. 702 alínea “f” do inciso I e o § 3º

- restringir direitos e criar obrigações, art. 8º, § 2º

T

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TELETRABALHO

- alteração do regime de teletrabalho para o presencial por determinação doempregador, art. 75-C, § 2º

- conceito, art. 75-B

- constar do contrato de trabalho, art. 75-C

- diretrizes: leitura conjunta dos arts. 62, III, com os arts. 75-A a 75-E

- empregados em regime de teletrabalho, art. 62

- infraestrutura, art. 75-D

- observância do art. 75-A

- termo de responsabilidade, art. 75-E

- treinamento, art. 75-E

TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR

- cômputo do tempo, art. 4º

- descanso, art. 4º, § 2º

- efeitos de indenização e estabilidade, art. 4º, § 1º

- estudo, alimentação, higiêne pessoal, troca de roupa ou uniforme, art. 4º, IV a VIII

- exercício de atividade particular pelo empregado, art. 4º, § 2º

- insegurança de vias públicas, condições climáticas, art. 4º, § 2º

- lazer, art. 4º, III

- não computado como extra busca de proteção pessoal, art. 4º, § 2º

- práticas religiosas, art. 4º, I

TEMPO DE SERVIÇO

- para efeito de indenização e estabilidade, Súmula 96

TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO

- art. 942 do CC

TERCEIRIZAÇÃO

- interpretação do art. 455 da CLT

- jornada itinerária na Súmula 90

- Lei 6019/1974

- modo de operar descontos salariais na Súmula 342

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- Súmula 331

TRABALHO A TEMPO PARCIAL

- §§ 6º e 7º do art. 58-A unificam o regime de férias dos empregados a tempo parcia

- adicional de horas extras decorrente de violação ao intervalo, art. 59, § 4º

- art. 58-A, § 3º, horas suplementares normal

- compensação das horas extras art. 58-A, § 5º

- compensação das horas suplementares, art. 58-A, § 5º

- converteção de um terço do período de férias em abono pecuniário, art. 58-A, § 6º

- estabelecido em tempo inferior a 26 horas, art. 58-A, § 4º

- férias regulamentada pelo art. 130 da CLT

- não exceda a 30 horas semanais, art. 58-A da CLT

- pagamento das horas etras, art. 459 da CLT

TRABALHO INTERMITENTE. CONTRATO-ZERO

- convocação, art. 452-A, § 1º

- forma de celebração, art. 452-A

- forma de contratação, art. 443

- forma do pagamento

art. 452-A, § 6º

- fruição das férias, art. 452-A, § 9º

- multa pelo descumprimento, art. 452-A, § 4º

- natureza jurídica, art. 443, § 3º

- período de inatividade , art. 452-A, § 5º

- prazo de resposta do empregado convocado, art. 452-A, § 2º

- recibo deve discriminar cada um dos títulos pagos (§ 7º)

- recibo do pagamento discriminado, art. 452-A, § 7º

- recolhimento da contribuição previdenciária e o depósito do Fundo de Garantia doTempo de Serviço, art. 452-A, § 8º

U

UNIFORMES. HIGIENIZAÇÃO

- definição do padrão pelo empregador, art. 456-A

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© desta edição [2017]

- responsabilidade do trabalhador, art. 456-A, parágrafo único

V

VÍNCULO DE EMPREGO

- a caracterização da responsabilidade solidária ou subsidiária, art. 3º

- declaração em processo trabalhista, ART. 3º, § 2º