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ISSN 0103-9466 254 As reformas estruturais promovidas pelo PAEG e seus efeitos distributivos Fernando Augusto Mansor de Mattos Pedro Paulo Zaluth Bastos Ricardo Strazzacappa Barone Junho 2015

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O artigo é constituído de 4 seções, além da introdução e conclusões. Na primeira seção,discutem-se os fundamentos da estratégia gradualista de combate à inflação e as primeiras reformasrealizadas na regulação do mercado de trabalho pela ditadura civil-militar brasileira em 1964. Na segunda seção, discute-se o papel exercido pelareforma tributária sobre o padrão de acumulação capitalista definido pelo regime militar. Na terceira seção,a reforma financeira é inserida na análise do modelo econômico, destacando-se sua funcionalidade para adefinição do padrão de consumo e também sua atuação no financiamento da construção civil, em especiala política de moradias do regime instalado em 1964. Na quarta seção, outro aspecto da política social – apolítica educacional – é discutido, tendo como objetivo destacar o papel da mesma na ampliação daexclusão social na sociedade brasileira a partir de 1964.No bojo da discussão desenvolvida na quarta seção, formulam-se críticas à interpretação “oficial”a respeito da ampliação da desigualdade de renda pós-1964, que a explica a partir das desigualdadeseducacionais então existentes na sociedade brasileira. Em todas as seções, procura-se destacar os resultadosdas políticas econômicas e das reformas estruturais sobre o perfil distributivo brasileiro. As conclusõesbuscam contextualizar histórica e politicamente os principais aspectos das reformas estruturais promovidaspelo PAEG, relacionando-as às medidas de política econômica que a elas se seguiram no período que seinicia em 1964 e se estende até o início do chamado período do milagre econômico brasileiro, quando –conforme argumentamos - o “modelo econômico” do governo militar se consolida.

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  • ISSN 0103-9466

    254

    As reformas estruturais promovidas pelo PAEG e seus

    efeitos distributivos

    Fernando Augusto Mansor de Mattos Pedro Paulo Zaluth Bastos

    Ricardo Strazzacappa Barone

    Junho 2015

  • Texto para Discusso. IE/Unicamp, Campinas, n. 254, jun. 2015.

    As reformas estruturais promovidas pelo PAEG e seus efeitos distributivos Fernando Augusto Mansor de Mattos 1

    Pedro Paulo Zaluth Bastos 2 Ricardo Strazzacappa Barone 3

    Apresentao

    Logo que tomou posse como presidente da Repblica, o Marechal Castelo Branco convidou para sua equipe econmica o principal prcer do pensamento econmico conservador ento: Octvio Gouva de Bulhes, que assumiu o posto de Ministro da Fazenda. Alguns dias depois, o presidente chamou o economista Roberto Campos para ser o Ministro do Planejamento4.

    O problema mais imediato ao qual se dedicaria a nova equipe econmica era a inflao que, segundo Simonsen (1974a, p. 79), corria a uma taxa anualizada de 144% em abril de 1964.

    A opo da equipe econmica foi pela elaborao de uma estratgia gradualista de combate inflao, a qual, ao lado de um conjunto de reformas estruturais iniciado nos primeiros meses do regime militar, deveria no apenas iniciar o enfrentamento das altas de preos, mas tambm criar condies para que a economia retomasse seus patamares histricos de crescimento5.

    Este amplo conjunto de reformas estruturais pode ser classificado em pelo menos quatro grupos, a saber: (a) reforma trabalhista; (b) reforma do sistema financeiro e da gesto monetria; (c) reforma do sistema tributrio e (d) reforma na regulao da insero externa da economia brasileira.

    A interpretao das reformas deve levar em conta as bases sociais e a orientao ideolgica que animava seus formuladores. No que tange s bases sociais, os integrantes da equipe econmica faziam

    (1) Professor-pesquisador do Programa de Ps-Graduao em Economia da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre e Doutor em Economia pelo Instituto de Economia da Unicamp. E-mail: [email protected].

    (2) Professor Associado (Livre-Docente) do Instituto de Economia da Unicamp. E-mail: [email protected]. (3) Economista e mestrando pelo Instituto de Economia da Unicamp. E-mail: [email protected]. (4) Em seu livro de memrias, Campos (1994) descreve, no captulo XII, o convite que recebeu do presidente Castelo

    Branco para assumir o posto de Ministro do Planejamento, relatando que somente aceitou integrar a equipe presidencial quanto este lhe garantiu que apoiaria o plano de combate inflao, enfrentando a impopularidade que o mesmo lhe traria a curto prazo. Roberto Campos no era um neoliberal, sendo classificado como desenvolvimentista do setor privado por Bielschowsky (2000). Foi presidente do BNDES no governo JK e embaixador do Brasil nos EUA durante o governo Goulart.

    (5) Para uma explicao oficial acerca da opo por uma estratgia gradualista ao invs de um tratamento de choque, ver Simonsen (1974a) e, especialmente, Simonsen (1970). Lopreato (2013) resume os motivos utilizados pela viso oficial para explicar a opo pela estratgia gradualista, destacando a necessidade de retomar um patamar adequado para os preos pblicos, aps o desalinhamento de preos relativos ocorrido durante a inflao de 1963/1964.

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    parte de um governo cujo arco de alianas reunia diversos segmentos conservadores da burguesia nacional, ao lado de fraes de classe ligadas aos interesses do capital estrangeiro que ento se solidificara no pas, notadamente aps o Plano de Metas.

    Do ponto de vista da ideologia, a equipe liderada por Campos e Bulhes entendia que a ao estatal deveria ser moldada no sentido de induzir o desenvolvimento econmico abrindo espaos para a iniciativa privada, algo que alegavam ser bloqueado pelo populismo de Goulart. Isso envolvia aumentar os incentivos para o investimento privado, inclusive com polticas deliberadas de interveno sobre o conflito distributivo a favor dos empresrios. Mudava-se o sentido da ao estatal, mas no se previa uma reduo drstica do papel que o Estado assumira na industrializao brasileira.

    Este artigo constitudo de 4 sees, alm da introduo e concluses. Na primeira seo, discutem-se os fundamentos da estratgia gradualista de combate inflao e as primeiras reformas realizadas na regulao do mercado de trabalho. Na segunda seo, discute-se o papel exercido pela reforma tributria sobre o padro de acumulao capitalista definido pelo regime militar. Na terceira seo, a reforma financeira inserida na anlise do modelo econmico, destacando-se sua funcionalidade para a definio do padro de consumo e tambm sua atuao no financiamento da construo civil, em especial a poltica de moradias do regime instalado em 1964. Na quarta seo, outro aspecto da poltica social a poltica educacional discutido, tendo como objetivo destacar o papel da mesma na ampliao da excluso social na sociedade brasileira a partir de 1964.

    No bojo da discusso desenvolvida na quarta seo, formulam-se crticas interpretao oficial a respeito da ampliao da desigualdade de renda ps-1964, que a explica a partir das desigualdades educacionais ento existentes na sociedade brasileira. Em todas as sees, procura-se destacar os resultados das polticas econmicas e das reformas estruturais sobre o perfil distributivo brasileiro. As concluses buscam contextualizar histrica e politicamente os principais aspectos das reformas estruturais promovidas pelo PAEG, relacionando-as s medidas de poltica econmica que a elas se seguiram no perodo que se inicia em 1964 e se estende at o incio do chamado perodo do milagre econmico brasileiro, quando conforme argumentamos - o modelo econmico do governo militar se consolida.

    1 A estratgia gradualista e a reforma da regulao do trabalho

    O combate inflao foi o primeiro problema enfrentado por Campos e Bulhes. Preocupava-os o fato de que a inflao daquele momento, alm de acelerada e elevada, estava tambm reprimida (Simonsen, 1974a, p. 82, 83), dada a procrastinao nos aumentos de tarifas ou preos pblicos. Para recuperar a capacidade de financiamento das empresas pblicas e privadas sujeitas ao controle, props-se reajustes de preos e tarifas antes de iniciar o combate inflao, por mais contraditrio que possa parecer.

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    Dessa forma, os formuladores da poltica econmica adotaram o que se passaria a chamar de inflao corretiva6.

    Entre as medidas de realinhamento de preos, constava tambm o reajuste de salrios do funcionalismo pblico, feito imediatamente aps a mudana de governo (120% para os militares e 100% para os demais servidores). No obstante isso, estes trabalhadores (e logo em seguida os do setor privado) sofreram significativas perdas salariais reais antes mesmo da lei salarial de 1965. Afinal, os reajustes de preos tiveram imediato impacto sobre o poder de compra dos trabalhadores, dado o elevado peso dos aluguis e de servios pblicos como eletricidade, transportes pblicos e gua sobre a cesta de consumo das famlias mais pobres.

    Sintomaticamente, a primeira medida entre todas as reformas (trabalhistas ou no) definidas pelo regime militar foi a adoo da Lei de Greve, promulgada em 01 junho de 1964, e que, na prtica, tornava as greves virtualmente ilegais (Skidmore, 1988, p. 7). Proibia explicitamente greves de servidores pblicos das trs esferas de governo e de autarquias (ressalvando os ditos servios industriais) e tambm greves de uma ampla gama de servios definidos como fundamentais (quer seja no setor pblico ou no privado). Alm disso, definia regras draconianas para qurum em assembleias gerais de entidades sindicais trabalhistas e tambm para a formalidade das votaes nas mesmas, que deveriam ter necessariamente as apuraes feitas por membro do Ministrio Pblico do Trabalho ou pela Procuradoria Geral do Trabalho ou pelos Procuradores Regionais. Tambm estabelecia critrios subjetivos para a definio da ilegalidade dos movimentos grevistas (bem como da criminalizao das atividades de promoo e de organizao de greves por parte das entidades sindicais), o que, em um ambiente poltico-institucional de exceo, tornava virtualmente toda greve ilegal, sendo passveis os seus incitadores de responderem criminalmente por elas7.

    (6) A inflao corretiva envolveu reajustes de preos ou tarifas de servios pblicos e de matrias primas produzidas pelo setor produtivo estatal, alm de reajustes salariais dos servidores pblicos. Alm de reajustar os preos dos aluguis, dos transportes pblicos, da eletricidade, da telefonia, do abastecimento de gua, do ao etc., tambm os preos do petrleo (e derivados) e do trigo (e derivados) foram includos. Nos casos de petrleo e do trigo, o que ocorreu foi a retirada de subsdios que havia na taxa de cmbio que era usada para a importao dos mesmos; desta forma, o custo dos transportes privados (com impacto sobre os preos de todos os produtos, incluindo os alimentos) e dos derivados de trigo, em especial, foram significativamente majorados.

    (7) Skidmore (1988:80) descreve o nimo que inspirava os condutores do movimento de 1964, notadamente no que tange ao movimento sindical: Em nenhuma outra rea estava o novo governo mais ansioso para demonstrar seus poderes do que na da poltica trabalhista. Cabe lembrar que na literatura que descreve o ambiente poltico e a atuao da maior parte dos jornais que apoiaram a deposio de Goulart, o argumento de que ele instalaria no pas uma repblica sindicalista era um dos mais brandidos. Carvalho (2013) organiza uma detalhada e excelente resenha sobre a atuao da mdia impressa no perodo imediatamente anterior ao golpe, revelando o ambiente poltico que o tornou possvel e as foras sociais que o apoiaram.

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    Em junho de 1964, o governo passou a preparar sua poltica intervencionista de reajustamentos salariais (criando regra inicialmente restrita ao setor pblico), cuja concepo central era de que os salrios no fossem reajustados integralmente pelas taxas de inflao do perodo anterior8.

    A frmula salarial definia um nico reajuste a cada 12 meses. Este reajuste seria composto de trs fatores: a mdia de seus valores reais dos ltimos 24 meses, acrescida de uma percentagem que representaria um aumento de produtividade e uma terceira parte definida pela metade da projeo da inflao do ano seguinte (Simonsen, 1974a, p. 108). Ou seja, os salrios no seriam reajustados de acordo com o ltimo pico real como da ltima vez. O argumento era que, como a inflao seria declinante a partir de ento, o eventual restabelecimento do pico de salrio real anterior tornar-se-ia incompatvel com a prpria estratgia gradualista9.

    A nova poltica salarial implicou perda de salrio real porque a previso de inflao futura revelar-se-ia sistematicamente inferior inflao de fato verificada. A perda afetou especialmente os trabalhadores de menores salrios, por causa de seu menor poder de barganha diante dos empregadores (Bacha, 1975; Singer, 1975). Oliveira (1981, p. 40) mostra que a estimativa de inflao para 1965, 1966 e 1967 fora de, respectivamente, 25%, 10% e 5%; no obstante, a inflao efetivamente ocorrida foi de, respectivamente, 46%, 41% e 25% nesses anos. Nesse contexto, com a aplicao da regra de reajuste salarial, o valor real do salrio mnimo teve queda de 42,5% entre fevereiro de 1964 e fevereiro de 1968.

    A opo por produzir a inflao corretiva tambm era parte integrante da estratgia gradualista de combate inflao. A ideia era de que, uma vez realinhados os preos e tarifas pblicas, eles no mais seriam reajustados acima da mdia de preos do conjunto da economia. Alguns anos mais tarde, o prprio Simonsen reconheceria que a frmula de reajustes salariais concebida por ele em 1964, combinada inflao corretiva, havia promovido queda real dos salrios, algo que fazia parte da estratgia de controle gradualista da inflao10.

    Os salrios do setor privado inicialmente ficaram fora da regra de ajuste salarial, esperando o novo governo que as negociaes entre patres e empregados seguissem a regra geral, para o que os

    (8) Em 1963, tentando dar regramento espiral preos-salrios nominais, o Governo Goulart havia criado o Conselho Nacional de Poltica Salarial, que tinha a prerrogativa de fixar regras de reajustes salariais para o setor pblico e para as empresas de economia mista, sendo que, no caso das empresas privadas, restringir-se-ia apenas quelas que prestassem servios pblicos. Tal esforo no logrou xito. Sobre as dificuldades que a definio de uma poltica salarial estvel gerou para a formulao da poltica econmica durante o Governo Goulart, e para a sua prpria sustentao poltica, ver: Loureiro (2012) e Loureiro (2010). Sobre a concepo da poltica salarial da ditadura, sua execuo, desdobramentos e papel para a estabilizao inflacionria, ver: Simonsen (1970; 1974a) e Resende (1990).

    (9) Simonsen (1974a, p. 108) justificou o fato de os reajustes serem menores do que no perodo anterior, argumentando que: Como a inflao prevista seria inferior registrada no passado recente (j que se estava num processo de estabilizao), os reajustes normalmente seriam menos do que proporcionais ao aumento do custo de vida desde a ltima reviso.

    (10) As palavras de Simonsen (1974a, p. 132) so cristalinas: devido subestimativa do resduo inflacionrio, esse critrio parece ter provocado certo declnio dos salrios reais entre 1965 e 1967, o que afinal era a contrapartida da melhoria da posio que se pretendia garantir aos locadores de imveis, aos concessionrios de servios de utilidade pblica, aos portadores de ttulos de renda, e aos demais beneficirios da inflao corretiva.

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    formuladores da poltica econmica contavam com a atuao homogeneizadora dos tribunais trabalhistas. Mas os salrios do setor privado, em um primeiro momento, subiram mais do que os autores e os defensores da frmula oficial de reajuste salarial gostariam. Desta forma, conforme relata Skidmore (1988, p. 80, 81), Campos e Bulhes pressionaram o Congresso (j bastante dcil, em virtude das cassaes que haviam sido feitas de seus principais lderes trabalhistas) por uma lei para que a regra do ajuste salarial originalmente concebida para os definir os reajustes dos salrios do setor pblico fosse tambm estendida ao setor privado, tendo obtido a aprovao, apesar dos protestos dos sindicatos (de resto tambm bastante enfraquecidos pelas diversas modalidades de intervenes que foram sofridas). A lei seria ento tambm estendida no tempo e, no caso, por 3 anos, ou seja, at 1968; posteriormente, a equipe de Delfim, j no governo Costa e Silva, em 1968, solicitou ao Congresso que a lei se tornasse permanente e o Congresso tambm aceitaria sem dificultar (Skidmore, 1988, p. 146).

    Ao lado da reforma representada pela elaborao desta lei salarial, o governo lanou mo outras duas reformas importantes, no mbito da regulao das leis trabalhistas, a saber: (a) extino gradual do antigo sistema de estabilidade no emprego e a consequente criao do Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS (esta reforma estaria acoplada tambm com a reforma financeira, que veremos a seguir); (b) enfrentamento poltico e legal da atuao sindical.

    O enfrentamento do movimento sindical deu-se, em termos poltico/policiais, desde as primeiras horas de instalao do regime golpista, dada a evidente ligao que havia entre os sindicatos de trabalhadores de diversas reas dos setores pblico e privado com o deposto presidente Goulart. Mas as medidas no ficaram apenas nos expurgos, cassaes, assassinatos e perseguies polticas feitas a sindicalistas e seus representantes no parlamento ou mesmo fora dele. Um conjunto de outras medidas entrou em vigncia, como a j referida lei de greve11.

    A introduo do FGTS promoveu a flexibilizao dos contratos individuais de trabalho; alm disso, a prpria eliminao do antigo estatuto da estabilidade no emprego favoreceu o esvaziamento dos sindicatos de trabalhadores, j que uma das principais clusulas do Estatuto de Estabilidade Decenal definia que caso o empregado pedisse demisso, seu pedido s seria vlido quando feito com a assistncia do Sindicato, ou do Ministrio do Trabalho ou ainda pela Justia do Trabalho. Essa prerrogativa dos sindicatos laborais foi eliminada com a nova regulamentao do Trabalho que passou a valer a partir de setembro de 1966.

    (11) Vrias obras relatam tais aes patrocinadas pelas foras golpistas, e entre outras podemos citar as seguintes: Fico (2012); Skidmore (1982) e (1988); Cardoso (2010); Affonso (2014); Gaspari (2002); Moraes (1989); Toledo (2004). Moraes (1989) reconstitui alguns fatos do momento do golpe e daquele perodo, a partir de vrios depoimentos de protagonistas das foras polticas que apoiaram Joo Goulart, fazendo parte ou no de seu governo; Fico (2012), alm de reproduzir os fatos mais marcantes do golpe em si, ainda revela documentos e transcreve discursos importantes pelo seu valor histrico, culminando com as diversas listas de cassaes de polticos, intelectuais e tambm de centenas de militares daquele perodo, o que denota a amplitude das perseguies polticas que caracterizaram aquele momento.

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    Sob essas circunstncias polticas, houve, naturalmente, esvaziamento do papel exercido pelo Ministrio do Trabalho na formulao da poltica econmica. O novo regime poltico procurou restringir a atuao poltica do Ministrio do Trabalho, depois do longo perodo em que a pasta esteve sob a influncia de lderes trabalhistas (anos 50 e incio dos anos 60), como o prprio Goulart. Para tanto, ocorreu tambm a eliminao do poder normativo da Justia do Trabalho, o que, em um ambiente de represso aos sindicatos e criminalizao das greves, determinou tambm o fim da influncia dos sindicatos de trabalhadores na discusso sobre regras de definio do salrio mnimo (as antigas comisses de salrio mnimo, dos tempos de Vargas e Goulart, foram extintas)12.

    Alm dos novos elementos (polticos e econmicos), deve-se sublinhar que a retrao do valor real do salrio mnimo e seu papel sobre a deteriorao do perfil distributivo foi ainda impulsionada pelo fato de que persistiam os problemas estruturais do mercado de trabalho brasileiro, que sempre foram extremamente desestruturado, com a presena de amplos contingentes de fora de trabalho excedente, desqualificada profissionalmente e sem poder contar com mnimas condies de organizao sindical ou social. No fosse aquele cenrio, conforme lembra Souza (1980), uma eventual recuperao do valor real do salrio mnimo teria podido promover uma reduo das desigualdades de renda do trabalho existentes em uma economia como a brasileira, na qual uma parcela expressiva dos rendimentos do trabalho gravita em torno ou mesmo determinada institucionalmente pelo valor do salrio mnimo13.

    A nova regulao do mercado de trabalho gerou condies objetivas para que as empresas pudessem recorrer a estratgias de promoo da rotatividade de mo de obra, em ambiente com excedente de oferta de trabalho, dada a ausncia de reforma agrria e sob um contexto de elevado e crescente xodo rural. O poder de barganha dos trabalhadores do setor privado, nesse cenrio, foi levado quase a zero, pois, dadas as mudanas legais, a represso e a recesso daqueles primeiros anos de adoo do PAEG14.

    Todo esse conjunto de situaes e circunstncias consolidou, ao longo dos 30 anos seguintes, diversas modalidades de precariedades no mercado de trabalho, reproduzindo as situaes que permitiram

    (12) O prprio Delfim Netto, no incio de 1967, reconheceria que a aplicao daquela frmula, naquele ambiente ainda dominado por elevada inflao, gerava perdas salariais importantes, tanto que ele mesmo alterou alguns parmetros da mesma, para evitar perdas to elevadas, que poderiam gerar no apenas inquietao social, como tambm ter efeitos sobre a demanda agregada.

    (13) Segundo Souza (1980), o salrio mnimo serve, em uma economia como a brasileira, como um farol a determinar os rendimentos assalariados e tambm dos rendimentos da maior parte dos trabalhadores autnomos dentro do espao ocupacional (ou do mercado de trabalho em seu sentido mais amplo, ou seja, no somente o que compreende o trabalho assalariado) brasileiro. Ver tambm Mattos (2005; 1994), sobre a influncia do salrio mnimo na determinao dos rendimentos de trabalhadores do setor informal do espao ocupacional (e do mercado de trabalho).

    (14) Um aspecto importante da poltica salarial que vigorou at 1979 que, segundo lembra Simonsen (1985, p. 63), do governo Castelo Branco ao governo Geisel, a frmula salarial no deixava qualquer margem de negociao nos dissdios e acordos coletivos. Esta caracterstica mencionada por Simonsen (1985) tambm reveladora da inflexibilidade da poltica salarial colocada em prtica pelo governo militar desde o seu incio e mostra tambm como esta caracterstica persistiu ao longo do tempo, tendo sido alterada apenas a partir da legislao de 1979, j sob o governo Figueiredo e sob um cenrio de inflao que j se tornava crescentemente incontrolvel.

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    ao setor privado praticar uma abertura do leque salarial que promoveu piora do perfil distributivo. Essa deteriorao do perfil distributivo pode ser analisada sob o ponto de vista da distribuio pessoal da renda, quanto tambm segundo o ponto de vista da distribuio funcional da renda15.

    Criavam-se, assim, as condies para que se consolidasse o regime de acumulao tpico do governo militar instalado em 1964, baseado na concentrao da renda e da riqueza e na excluso social. Tal regime de acumulao consubstanciar-se-ia de forma mais clara a partir dos anos do crescimento econmico inaugurados em 1968, com o advento do que a literatura chamaria de milagre econmico.

    2 Mudana de cenrio sob o milagre econmico e funcionalidade da reforma tributria para o padro de acumulao do regime militar

    As mudanas ocorridas na formulao da poltica econmica, por parte de Delfim Netto, derivam de sua viso diferente, em relao aos seus antecessores, a respeito da natureza da inflao em 1967. Basicamente, Delfim considerava que a inflao brasileira, naquele momento, tinha como causa a chamada inflao de custos (turbinada, bom lembrar, pela prpria inflao corretiva), particularmente custos financeiros e custos fixos unitrios elevados em razo da capacidade ociosa inerente ao contexto de baixo crescimento16.

    A partir deste diagnstico, ao colocar as polticas fiscal, creditcia e monetria (sem esquecer as mudanas que, especialmente a partir de 1968, ele tambm promoveria na poltica cambial) a servio da retomada do crescimento, Delfim Netto acabaria moldando o padro de acumulao tpico do regime de 196417.

    (15) Ver Bacha (1975) e de Singer (1975) que tratam das condies macroeconmicas e das caractersticas estruturais do setor produtivo que favoreceram a prtica de abertura do leque salarial posta em prtica pelas empresas, notadamente as que atuavam em setores produtivos altamente oligopolizados. Ver Mattos (2005), no qual, recuperando o aspecto histrico do processo de constituio do capitalismo brasileiro e, por conseguinte, avaliando como a estruturao do mercado de trabalho no pas moldou-se sob a perspectiva de uma crescente desigualdade da distribuio pessoal da renda. Mattos (2005) argumenta que a distribuio da renda pessoal proveniente do trabalho sempre esteve intimamente relacionada distribuio funcional da renda, ainda mais em uma economia, como a brasileira, que passou por um processo de desenvolvimento capitalista tardio e cuja industrializao no foi acompanhada por uma reforma agrria que pudesse dinamizar o capitalismo nacional e nem por uma reforma do uso e explorao do solo urbano que eram, diga-se de passagem, parte integrante das Reformas de Base propostas pelo Governo Goulart.

    (16) Em suas palavras: uma anlise mais cuidadosa mostra que a inflao brasileira recente no pode ser explicada em termos de esquemas puros de inflao de demanda ou de custos, mas que estas duas formas de tenses se alteram no tempo, sendo possvel localizar-se [sic] fases em que predominam os estmulos de demanda ou o crescimento dos custos. Na verdade, a inflao de custos estava latente na economia, porm oculta pelo crescimento da demanda, e somente emergiu quando foi feito o controle da demanda. Mais ainda, algumas tenses de custos foram criadas pela prpria forma de combate inflao posta em prtica no perodo 1964-66, o que acentuou a inflexibilidade para baixo das taxas de inflao, forando um ajustamento principalmente da produo, e no dos preos, em resposta ao controle da demanda (Brasil, 1967, p. 151 apud Lopreato, 2013, p. 87).

    (17) A partir de agosto de 1968, as desvalorizaes cambiais passaram a ocorrer em intervalos mais curtos do que ocorriam anteriormente. Os novos intervalos passaram a variar de dez dias e dois meses. O objetivo era estabilizar a renda real dos exportadores e evitar especulaes contra o cmbio, conforme ocorriam antes de agosto de 1968, o que tambm provocava descontinuidade nas divisas obtidas com as exportaes. Inibiam-se tambm, por este mecanismo, os movimentos especulativos

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    Ao analisar este padro de acumulao que Tavares e Serra (1972), na crtica tese estagnacionista de Furtado, mostrariam que era no s possvel, na economia brasileira daquele momento e com aquelas caractersticas estruturais, ocorrer crescimento econmico concomitantemente a uma deteriorao do perfil distributivo, como tambm argumentaram que o padro de consumo moldado pelas polticas macroeconmica do regime de 64 revelou-se funcional para o padro de acumulao que ali se sedimentava, marcado pela liderana do setor produtor de bens de consumo durveis de alto valor unitrio.

    Para que esse padro de acumulao se viabilizasse, foram decisivas tambm outras reformas levadas a cabo pelo PAEG, como a reforma tributria (que estava sendo implantada ao longo de 1966 e que seria consolidada pela Constituio de 1967) e a do sistema financeiro, sem contar as mudanas institucionais e as alteraes ocorridas nas relaes internacionais do Brasil. Para a modalidade de insero externa adotada teve papel decisivo no s a mudana doutrinria representada pelas foras polticas que deram sustentao ao golpe. Tambm atuaram as mudanas ocorridas na ordem econmica internacional, que, pela expanso do mercado de eurodlares, escapando das restries colocadas pela regulamentao do mercado financeiro americano no ps-segunda guerra (Helleiner, 1994), ampliou a liquidez internacional e viabilizou o endividamento externo de pases perifricos a partir do final dos anos 60 (Lopreato, 2013)18.

    A instituio da correo monetria teve papel importante nas reformas tributria e financeira. No caso da reforma tributria, a introduo da correo monetria demovia os contribuintes de postergar o pagamento dos impostos, prtica bastante comum nos anos anteriores, pois a institucionalidade tributria no previa multas que, naquele ambiente de alta inflao, penalizasse, de fato, os inadimplentes. Portanto, a introduo de mecanismos de correo monetria de impostos e de multas elevadas, alm da implementao de leis criminalizando a sonegao ou o atraso de pagamentos, representaram elementos que viabilizaram a ao arrecadatria do Estado, em um primeiro momento, e que potencializaram, em um segundo momento, o aumento da arrecadao ocorrida a partir das reformas estruturais do sistema tributrio que foram colocadas em prtica a partir de 196619.

    A reforma tributria teve como objetivo dotar o Estado de condies de intervir no processo de desenvolvimento econmico, atravs do aumento de sua capacidade de gastos e de uma ampliao de suas

    no mercado cambial, feito ou no por exportadores. Estes movimentos eram expressivos no sentido de sada de dlares s vsperas de momentos que o mercado considerava ser o da desvalorizao e o contrrio logo aps as mesmas.

    (18) Entre as mudanas institucionais que definiram a regulao da insero externa brasileira, destacam-se a criao da Resoluo 63 e a redefinio da Lei 4131, que j existia desde 1962. A Resoluo 63 definia critrios de repasses, atravs do sistema bancrio domstico, de recursos financeiros externos para empresas brasileiras; a Lei 4131, alm de regular remessas de lucros e dividendos para o exterior, tambm estabelecia mecanismos de tomada de recursos no sistema financeiro internacional. Para entender o papel dessas duas instituies dentro da reforma geral do sistema monetrio-creditcio elaborada em 1964 e do sistema financeiro posta em prtica integralmente a partir de 1965, ver: Tavares (1983). Para compreender o papel da Lei 4131 e da resoluo 63 no processo de endividamento externo brasileiro, ver: Davidoff Cruz (1983).

    (19) Medidas de criminalizao dos sonegadores foram criadas logo em 1964, e foram tambm favorecidas pelo clima de medo criado pelo movimento militar tambm entre os industriais e comerciantes brasileiros.

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    possibilidades de arbitrar regras e eventualmente isenes para favorecer o padro de acumulao capitalista que se desejava estabelecer. A primeira preocupao dos gestores da rea econmica era racionalizar o sistema tributrio, tornando-o adequado economia industrial que se consolidara nos anos 1950 e garantindo tambm a capacidade de o Estado fazer frente aos gastos de infraestrutura demandados pela urbanizao crescente. Desta forma, a eliminao de impostos em cascata20 ou de impostos destitudos de funcionalidade econmica21 representavam consenso entre a maior parte dos economistas e gestores pblicos. Alm disso, a equipe de Campos e Bulhes ocupava-se de redefinir uma repartio de impostos que pudesse dar sustentao poltica federao, dentro daqueles marcos autoritrios para os quais o fortalecimento do governo central seria essencial.

    Os efeitos da reforma sobre a arrecadao federal podem ser descritos pelos seguintes dados: a receita federal subiu de 7,8% do PIB, em 1963, para 8,3% em 1964, para 8,9% em 1965, para 11,1% em 1966. Esta ampliao da receita teve papel decisivo para a reduo do dficit pblico, que caiu de 4,2% do PIB em 1963, para 3,2% em 1964, para 1,6% em 1965 e para apenas 1,1% em 1966 (Oliveira, 1981). Em 1960, a carga tributria bruta brasileira representava 17,4% do PIB; em 1965, 19,0% do PIB e em 1970, quando j se haviam materializado os efeitos da reforma de 1966, a carga tributria j havia saltado para 26,0% do PIB, mantendo-se nesse patamar at s vsperas da promulgao da Constituio de 198822.

    A introduo dos impostos por valor adicionado, incidentes sobre uma ampla gama de atividades econmicas como o IPI, do ICM e do ISS, a ampliao do escopo do Imposto de Renda23 e o aumento de

    (20) Os impostos em cascata (e no sobre o valor adicionado) revelavam-se totalmente incompatveis com uma economia baseada no desenvolvimento industrial, com crescente presena de estruturas industriais integradas, provocando distores nos preos relativos (cadeias produtivas mais longas acabavam exibindo, ao final do processo que gerava os produtos finais de consumo, preos mais elevados do que produtos gerados por cadeias menos longas). Ademais, deve-se lembrar que a substituio do imposto em cascata pelo imposto pelo valor adicionado acabava criando um mecanismo de auto fiscalizao entre todos os componentes da cadeia produtiva, pois cada contribuinte deveria se creditar de valores pagos aos seus fornecedores, enquanto os seus compradores tambm exigiriam documentos caracterizando imposto pago naquela etapa da cadeia produtiva. Tal situao, ao combater, na prtica, boa parte da sonegao, tambm favorecia a arrecadao de impostos em estados e municpios, que recebiam pelo ICM e ISS, respectivamente.

    (21) Palavras de Simonsen (1974b, p. 122), mencionando especificamente o imposto de selo, que, segundo ele, no incidia sobre rendas, mercadorias ou servios, mas sobre contratos. Alm desse imposto cujo fato gerador era bastante impreciso, poderamos tambm citar imposto sobre indstrias e profisses ou o imposto sobre diverses pblicas, todos eles herdeiros de uma poca pr-industrial.

    (22) Cf., entre outros, Oliveira (2012); Varsano (1998) e Lopreato (2013). (23) Em estudo j considerado clssico, Oliveira (1981:41) afirma que as principais mudanas realizadas no sistema

    tributrio centraram-se especialmente no imposto de renda. No mesmo estudo, o autor mostra que expanso da base de incidncia (diminuio do valor salarial a partir do qual h iseno, ampliando, portanto, o nmero de trabalhadores assalariados que passaram a pagar o IR; e tambm, nos anos seguintes, de no correo desse valor por parte do Ministrio da Fazenda, o que, com a inflao e o consequente aumento dos salrios nominais, ampliava novamente o conjunto de assalariados que passariam a pagar IR), concomitantemente com as crescentes melhorias na sistemtica de arrecadao e controle do Imposto de renda, especialmente naquele que incidia sobre os trabalhadores assalariados dos setores pblico e privado, que vinham descontados na fonte, o que praticamente impedia a sonegao. A base de arrecadao cresceu expressivamente, pois o crescimento econmico ampliou o assalariamento e a massa salarial, notadamente porque o prprio crescimento econmico baseou-se na expanso do setor de bens de consumo durveis e de atividades a eles ligados (comrcio de veculos e eletrodomsticos; seguros e financiamentos dos bens; agncias de publicidade e um amplo segmento de servios de apoio atividade produtiva e/ou de comercializao, que pagavam

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    alquotas de diversos impostos, em seu conjunto, se somaram para promover uma significativa ampliao da base tributria e, por conseguinte, aumento da carga tributria bruta, alm de uma mudana do perfil da arrecadao, em favor da esfera federal e tambm em favor dos impostos indiretos, ao invs dos impostos diretos, que incidem sobre patrimnio e renda24.

    Mais do que descrever as medidas da reforma tributria, deve-se registrar que sua concepo releva carter fortemente concentrador de renda e de patrimnio, somando-se s reformas financeira e trabalhista para construir um regime de acumulao socialmente excludente. A articulao entre a reforma trabalhista, reforma tributria e reforma financeira, como veremos, mostrou-se funcional para o padro de acumulao baseado na demanda por bens de consumo e moradias para as classes mdias e altas da sociedade brasileira.

    O conceito doutrinrio geral que norteou a reforma tributria pode ser compreendido por estas palavras de Belluzzo (1981), elucidando-a a partir do reconhecimento de sua concepo terica neoclssica do investimento em uma sociedade capitalista: do ponto de vista substantivo, a reforma [tributria] foi guiada pelo critrio de se estimular a poupana, na suposio de que dela fundamentalmente dependia o crescimento econmico sadio. O resultado foi a complacncia para com as rendas do capital e a sobrecarga contra os rendimentos do trabalho, gerando uma das mais inquas sistemticas tributrias do mundo capitalista.

    Desta forma, ao impulsionar um padro de acumulao caracterizado justamente por ser excludente, o sistema tributrio criado pelas reformas do PAEG, mais ainda do que pela sua elaborao, como tambm pela sua conduo, acabaria mostrando seu carter regressivo, revelando a viso elitista dos formuladores da poltica econmica do perodo, distribuindo favores tributrios e/ou fiscais para parcelas do setor privado de maior poder econmico (ou poltico), em uma sociedade j originalmente marcada por elevada desigualdade25. Tudo isso em favor de um crescimento econmico a qualquer custo, e que ocorria em desfavor dos que necessitavam do poder pblico em um pas que, pela sua desigualdade estrutural, deveria priorizar gastos em reas sociais como educao e sade, por exemplo, mas cuja atuao se

    salrios acima da mdia nacional, ampliando, assim, a massa salarial e, portanto, a incidncia da arrecadao de impostos, pelo aumento do nmero de contribuintes).

    (24) Os impostos diretos so cobrados diretamente da renda ou do patrimnio de pessoas fsicas ou de pessoas jurdicas e podem, em tese, ser progressivos, ou seja, pode haver incidncia de alquotas mais altas para aqueles de maior renda ou de maior patrimnio. Os impostos indiretos so cobrados quando uma determinada renda gasta, e incide sobre a produo, circulao e o consumo de bens ou servios. No Brasil, ao contrrio do que ocorre em pases desenvolvidos, o peso relativo dos impostos indiretos muito alto no conjunto da arrecadao, o que revela o carter regressivo do sistema tributrio (cf. Oliveira, 2012, p. 226). Ademais, h questes tambm de carter social que geram e reproduzem desigualdades. Os impostos indiretos so, a rigor, apenas recolhidos (quando no sonegados), e no de fato pagos, pelas pessoas jurdicas (ou pelos chamados profissionais liberais), pois os mesmos esto embutidos nos preos finais cobrados junto aos consumidores finais de bens e servios ou fazem parte do valor adicionado no processo produtivo. Uma eventualmente elevada sonegao dos impostos indiretos, por parte das pessoas jurdicas, confere um grau adicional de injustia social ao sistema tributrio.

    (25) Oliveira (1981, p. 104) lembra que, no contexto dessas mudanas, a participao do capital no total da receita do Imposto de Renda declinou de 75% em 1960, para pouco menos de 50% em 1970 o que denota o carter regressivo do sistema tributrio criado e o efeito que a manipulao de suas regras de funcionamento teve para este resultado.

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    encontrava prejudicada pelas decises do Estado de abrir mo de receitas em prol de segmentos privilegiados do setor privado.

    Ademais, deve-se sublinhar que a regressividade do sistema no se constri apenas pelo lado da arrecadao, mas tambm dos gastos, e estes, conforme argumenta Oliveira (1981), tambm se mostraram fortemente antissociais: os gastos com a infraestrutura econmica e servios mantiveram-se elevados durante todo o perodo, tendo atingido a mdia de 24% dos Gastos Federais entre 64/66, 23,7% entre 67/69 e 18% entre 70/73. J os gastos com bem-estar social se apresentaram declinantes: 4,8% para 64/66, 4% para 67/69 e to somente 2% entre 70/73, enquanto Defesa e Segurana aumentaram de 17,9% para 24,1% e 22,8% nos mesmos perodos (Oliveira, 1981, p. 104).

    3 Reforma financeira e seu papel no financiamento do consumo sunturio e das moradias

    O padro de acumulao do regime militar analisado acima pode ser sucintamente descrito pelos setores que conduziram o crescimento naquele momento, especialmente durante o Milagre. Estes setores foram a construo civil (com papel destacado das grandes construtoras) e o setor de bens de consumo durveis, em especial os automveis produzidos pelas montadoras multinacionais.

    O amplo escopo das reformas do sistema financeiro no precisa aqui ser recuperado, mas apenas destacados os aspectos mais evidentes de seu carter excludente e, portanto, de seu papel para o padro de acumulao desenhado pelo modelo de 64. Os objetivos gerais da reforma monetrio-financeira eram: (a) recuperar a atratividade de ttulos pblicos e manter os valores reais dos ativos financeiros em geral; (b) criar mecanismos mais explcitos de controle monetrio (papel exercido pela Lei Bancria promulgada j em 1964, que criou o CMN e o BACEN); (c) segmentar o mercado financeiro, facilitando o financiamento de diversas modalidades de gastos pblicos e principalmente privados e (d) ampliar a vinculao do sistema financeiro brasileiro ao sistema financeiro internacional.

    Um aspecto importante para impulsionar o consumo de automveis e demais bens de consumo durveis foi o advento dos consrcios, permitindo a trabalhadores de classe mdia terem acesso a um bem cujo valor superava muito o de seu salrio mensal. Desta forma, mais um elemento do amplo conjunto das reformas colocadas em prtica pelo regime de 64 aproximava o perfil e a magnitude da demanda estrutura de oferta dos setores industrializados oligopolizados. As palavras de Simonsen (1974 a), so esclarecedoras a respeito das intenes que animavam os formuladores da reforma do sistema financeiro: novas indstrias que se haviam instalado no pas, como a automobilstica, a de mquinas e a de eletrodomsticos, ressentiam-se da falta de um mecanismo que pudesse assegurar o financiamento de suas vendas pelo sistema de crdito ao consumidor (Simonsen, 1974, p. 125).

    Alm do automvel zero quilmetro, o sonho da casa prpria animava a sociedade brasileira, mas o sonho seria realizado apenas para uma parcela da mesma. A expanso da construo civil foi viabilizada pela reforma do sistema financeiro, que, entre outras medidas, criou o Banco Nacional da Habitao (BNH), que seria encarregado de gerir os recursos do Sistema Financeiro da Habitao (SFH), captados

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    do recolhimento em folha de pagamentos, por parte das empresas, de 8% dos salrios mensais de cada empregado assalariado, conforme fora definido pela reforma trabalhista que substituiu o antigo estatuto da estabilidade no emprego.

    SFH e BNH foram criados em agosto de 1964, sendo parte integrante das primeiras reformas conduzidas pelo primeiro governo militar. Os objetivos declarados na lei de criao do sistema eram de fomentar o financiamento de imveis para as camadas menos favorecidas da populao. A criao da correo monetria oficial tambm representa uma mudana institucional que viabilizou o desenho do SFH. Os reformistas reconheciam no somente a reduo (que prometiam ser temporria) dos salrios reais, como tambm a recesso da economia, considerada por eles medida necessria e profiltica para o enfrentamento das causas da inflao. Desta forma, argumentaram que a criao da sistemtica do FGTS funcionaria como uma compensao s perdas salariais promovidas pela regra de reajustes salariais. Os reformistas ponderavam que seria possvel aos trabalhadores construrem um patrimnio social a partir do FGTS (que poderia levar consigo mesmo que mudassem de emprego), e terem acesso to sonhada casa prpria, o que representaria um salrio indireto, dentro de um conjunto de outras vantagens sociais de que poderiam desfrutar com o advento das reformas da Revoluo de 64 (Simonsen, 1974b).

    A criao do SFH e a atuao do BNH abriram espao para a ampliao da oferta de moradias, com evidente impacto sobre o emprego e a massa salarial. preciso, porm, investigar pelo menos de forma um pouco mais detida o perfil das moradias ento produzidas, notadamente no auge do perodo de crescimento econmico. Um estudo independente elaborado na poca (Bolaffi, 1977), mais exatamente entre setembro de 1971 e fevereiro de 1972 (no auge do chamado Milagre Brasileiro), pesquisou uma ampla amostragem de muturios de residncias financiadas atravs do BNH, buscando traar um perfil socioeconmico dos muturios, de seu padro de consumo e suas moradias.

    Analisando as regras de adeso aos financiamentos26, o volume dos recursos alocados no sistema e o perfil salarial da populao, o estudo chega a uma primeira concluso segundo a qual estes imveis foram construdos e destinados para atender a um mercado de faixas de renda bem superiores s de um a trs salrios mnimos, onde se encontra a maioria da populao (Bolaffi, 1977, p. 55). Alguns dados so apresentados, destacando-se que a renda mdia familiar dos moradores dos imveis financiados era de Cr$ 1.698 e a renda mediana de Cr$ 1.148, com elevado desvio padro27.

    Alm do perfil socioeconmico dos muturios, o estudo tambm investiga o perfil de localizao das residncias financiadas e suas caractersticas. No que se refere questo da localizao, o estudo tambm revelador do perfil de urbanizao que foi construdo pelos reformistas de 1964, para o qual o

    (26) O que inclui prazos de amortizao dos mesmos, valores dos imveis, bem como o percentual definido em lei para o mximo comprometimento do salrio com os valores pagos nas prestaes.

    (27) Uma pesquisa simples feita em bases de dados oficiais sobre indicadores econmicos do perodo revela que o salrio mnimo nominal naquele momento em que a pesquisa estava sendo elaborada era de Cr$ 225,60 em fevereiro de 1972, tendo aumentado para Cr$ 268,80 em maio de 1972 o que revela a distncia entre os valores mdios da renda (mesmo se for levada em conta a renda familiar) dos muturios e o valor ento vigente do salrio mnimo.

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    sistema SFH teve papel decisivo. Os dados mostram com clareza que, com o passar dos anos, rapidamente foi ocorrendo uma mudana no perfil locacional das residncias, ampliando-se a parcela daquelas localizadas nos bairros de mdia e alta renda, em detrimento das famlias e pessoas de rendimentos mais baixos ou seja, fugindo, cada vez de forma mais ntida, aos declarados princpios que animaram a criao do prprio SFH. Ademais, o estudo chamava ateno (em comentrios que, nas dcadas seguintes e ainda atualmente mostraram-se premonitrios) para problemas de mobilidade urbana que seriam gerados ou agravados pelo padro locacional da poltica habitacional que, na prtica (ou seja, diferentemente do que havia sido anunciado como o objetivo da criao do SFH), alm de aumentar o tempo mdio de deslocamento dos muturios, fazia-o de forma bastante diferente segundo a classe de renda dos respectivos muturios, introduzindo, portanto, mais um elemento de injustia social e de desigualdade na sociedade brasileira.

    Mais ainda do que discutir detalhadamente os dados deste pioneiro e importante trabalho, o que suas concluses nos revelam que a criao e, principalmente, o modo de conduo do sistema de financiamento de moradias no Brasil pelos governos militares reforavam o estilo de desenvolvimento econmico socialmente excludente. Obviamente que a constituio do sistema habitacional s pode ser interpretada dentro do contexto poltico e econmico em que surgiu, sendo, portanto, inescapvel que o mesmo se moldasse aos parmetros mais gerais que norteavam as mentes reformistas dos formuladores das polticas pblicas e da poltica econmica posta em prtica naquele perodo.

    claro que se a nfase tivesse sido dada construo de habitaes verdadeiramente populares, o efeito sobre o perfil de distribuio de renda e de riqueza constitudo no perodo teria sido diferente. Da mesma maneira, se, por exemplo, as fontes de financiamento no tivessem se restringido exclusivamente ao FGTS, ou se fosse outro perfil do gasto pblico28. A maioria mais necessitada foi colocada margem das oportunidades de financiamento. Migrantes recm-chegados cidade no tinham acesso moradia adequada e infraestrutura urbana passando, assim, a ocupar o solo disponvel de forma irregular. Inicia-se um processo de favelizao e periferizao nas cidades.

    A conjugao entre as polticas fiscal, tributria e creditcia deu ensejo ao padro de acumulao capitalista excludente e baseado no dinamismo do setor produtor de bens de consumo durveis e na construo civil apoiada em grandes obras e na habitao popular. Ao contrrio da infraestrutura de bens pblicos e gratuitos, tivemos uma expanso assentada no transporte individual, na cidade estendida horizontalmente para os subrbios e periferias e nos setores produtores de bens de consumo durveis de alto valor unitrio (o qual, por sua vez, se conjugava ao conhecido padro de uso do solo urbano e de mobilidade urbana que afeta o funcionamento das cidades brasileiras at hoje). Dessa maneira, o sistema de financiamento e o desenho do programa habitacional, bem como a concepo urbanstica apoiou um

    28 E no aquele como o denunciado por Oliveira (1981), por exemplo, destinado na expanso de obras virias para o transporte individual, ou, no caso das polticas de isenes tributrias, as vrias medidas destinadas a favorecer investidores privados. Ver Mello e Belluzzo (1977) sobre a diferena entre o estilo de desenvolvimento na poca do Plano de Metas e do Milagre Econmico.

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    estilo de desenvolvimento socialmente excludente que atendeu s bases polticas e sociais da ditadura. Os dados do quadro 1 revelam o carter regressivo do sistema habitacional criado.

    Quadro 1 Distribuio dos financ. Habitac. no mbito dos SFH por faixa de renda )1965/1984

    4 A poltica educacional como fator adicional de excluso social

    Como se no bastassem os diversos aspectos excludentes do modelo de 64 analisados nas sees anteriores, tambm a poltica educacional teve papel decisivo para reforar e tornar estruturais as caractersticas antissociais do regime militar.

    Tal tema merece ateno especial justamente por se constituir em um elemento central dos prprios argumentos oficiais (sustentados pela viso econmica ortodoxa dos executores da poltica econmica do regime e de seus defensores tericos na academia) acerca da ampliao da desigualdade de renda ocorrida no perodo em tela29.

    A teoria oficial postula existir uma relao de causalidade entre educao e nvel de remunerao fundada na teoria do capital humano e matematicamente provada por modelos economtricos que acusam uma correlao positiva entre essas variveis.

    Deve-se ponderar, antes de qualquer outro argumento, que incontestvel o fato de que pessoas com nveis educacionais mais elevados ocupem posies hierrquicas mais altas nas estruturas burocrticas das empresas e que, por conseguinte, recebam remuneraes mais elevadas. Contudo, a correlao no determina uma relao de causalidade entre as duas variveis e muito menos suficiente para explicar os

    29 Vide estudo de Langoni (1973).

    1,3 100,06,4 98,820,4 93,740,8 79,663,1 59,275,0 36,998,2 25,0100,0 1,8

    Fonte: Santos (1994)1) A estimativa da distribuicao por faixas de renda tomou por base os valores de prestacao e salario minimo do terceiro trimesntre de 1983 2) A distribuicao apresentada refere-se ao saldo dos financiamentos habitacionais do SFH (BNH e SBPE) em Dezembro de 19833) Renda familiar minima necessaria no terceiro trimestre de 1983 para aquisicao do V.U.F. maximo

    % Acum. do Saldode Financiamentos

    77122 250

    < 1,5

    23,2

    20,422,311,9

    1,35,114,1

    1,81> 16,5 1007

    879299

    12052 700

    3 5005 000

    5,0 a 7,07,0 a 9,09,0 a 11,011,0 a 16,5

    1 80013

    450900

    1 350

    % do Saldo de Financiamentos (2)

    1,5 a 3,52052

    2032

    65

    Faixas de Renda Familiar (SM) (1) (3)

    % do n de Beneficirios

    Valor UnitrioMximo do Financ.

    % Acum. do n deBeneficirios

    3,5 a 5,0

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    diferentes nveis de remunerao existentes no mercado de trabalho como um todo e nem mesmo no mbito empresarial. A correlao apenas faz um diagnstico de uma situao evidente.

    Na verdade, quando pensamos esta questo em sua amplitude social, notamos que, em um pas como o Brasil, e especialmente naquele perodo, no era o grau de escolaridade que determinava os futuros nveis de renda, mas os nveis prvios de renda que explicavam os futuros nveis de escolarizao. O acesso educao, na medida em que depende do status de renda familiar, um indutor das desigualdades sociais e de forma nenhuma pode ser usado para explic-la, apenas a descreve. No mais, quando pensamos educao em termos individuais, ser mais bem qualificado no significa, por via de regra, que este indivduo ter uma remunerao mais elevada. A educao apenas um ponto de partida e proporciona apenas a possibilidade (no uma garantia nem uma regra) de adquirir altas remuneraes no futuro.

    Ou seja, a relao de causalidade aparece de forma invertida quando apresentada pelos defensores da teoria convencional. Como o acesso educao monopolizado por aqueles j ricos, a educao aparece como um fator de (re)produo das desigualdades sociais e no como um fator redutor, ainda mais quando a expanso do sistema de ensino superior pblico do regime militar no acompanhava o ritmo de crescimento da populao.

    Tabela 1 Origem social e mobilidade intergeracional (1973)

    Status do PAI Status do indivduo em 1973

    Alto Mdio-Superior Meio-mdio

    Mdio-Inferior

    Baixo-Superior

    Baixo-Inferior Total

    Total Pas

    Alto 29,8 22,5 27,1 12,5 5,0 3,1 100,0 2,0 Mdio-Superior 15,2 28,7 28,7 15,5 6,1 5,8 100,0 3,1 Meio-mdio 8,6 14,3 36,2 18,9 10,5 11,5 100,0 13,8 Mdio-Inferior 3,8 8,7 21,6 46,3 14,9 4,7 100,0 9,3 Baixo-Superior 3,2 7,4 20,7 35,4 23,8 9,5 100,0 6,9 Baixo-Inferior 1,0 2,5 13,1 21,1 17,4 44,9 100,0 64,9 Total 3,5 6,3 18,4 23,8 16,0 32,0 100,0 100,0

    Fonte: Pastore (1979).

    Tabela 2 Origem social e realizao educacional (1973)

    Status do PAI Realizao educacional

    Univer. Colgio Ginsio Prim. comp.

    Prim. Inc.

    Sem Escola Total

    Alto 40,0 18,7 18,3 11,5 10,2 1,3 100,0 Mdio-Superior 23,7 17,2 19,4 21,2 15,2 3,3 100,0 Meio-mdio 13,3 12,5 17,4 21,9 26,7 8,2 100,0

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    Mdio-Inferior 4,2 7,5 20,1 34,9 27,6 5,7 100,0 Baixo-Superior 3,5 5,3 14,4 33,3 31,3 11,2 100,0 Baixo-Inferior 0,6 1,0 3,7 15,8 47,1 31,8 100,0 Total 4,5 4,4 8,7 19,8 39,5 23,1 100,0

    Fonte: Pastore (1979). Para que esta questo seja tratada em mais detalhes, importante relacionar a poltica educacional

    com a prpria natureza poltica do governo militar e dos segmentos sociais que lhe davam sustentao. Para tanto, necessrio pensar a poltica educacional dentro do rol das polticas sociais estabelecidas neste perodo.

    Uma questo importante que deve ser destacada refere-se lgica da poltica social no perodo, a qual se caracterizou, justamente, pelos objetivos de resolver tenses e conflitos e no de efetivamente atender s necessidades das classes que mais precisam. Neste sentido, as polticas sociais e, consequentemente, em particular, a poltica educacional, acabavam por privilegiar a manuteno das desigualdades sociais sem contar que foram postas a servio da acumulao de capital. A poltica educacional, na medida em que acentuava as desigualdades pr-existentes, piorando o acesso escola, privilegiava o topo da pirmide social e um conjunto de interesses contrrios s classes populares.

    A anlise de algumas medidas adotadas pelo regime militar permite clarificar o sentido da poltica educacional adotada: o descomprometimento com o financiamento da educao pblica e gratuita incentivando a privatizao do ensino e sua transformao em negcio rendoso e atrativo para a iniciativa privada; o controle poltico e ideolgico da educao em todos os nveis; e a implementao de cursos tcnicos de profissionalizao para o segundo grau. Para ilustrar, a dispndio em educao e cultura como proporo da receita de impostos caiu mais do que a metade entre o binio de 1964-1965 e 1973-1974, no ajuste do Milagre Econmico.

    Sinteticamente, essas medidas tiveram os seguintes resultados prticos: aumento do monoplio, em favor das classes de rendas mais elevadas, do acesso ao ensino em todos os seus nveis e, em especial, superior de qualidade; subordinao da educao s necessidades de mercado, determinando o tipo e a quantidade do capital humano a ser produzida e - por fim e mais importante, em essncia - o gradual desaparecimento da educao pblica de boa qualidade, sobretudo nos nveis primrio e mdio. Desse modo, a poltica educacional ps-64 caracterizou-se realmente por se constituir num mecanismo de excluso social na medida em que se torna uma mercadoria de alto custo (Germano, 1993, p. 266). Esta foi a obra produzida pelo regime militar e mais uma contribuio do mesmo decisiva e de difcil desmontagem, nos anos seguintes - para a elitizao da sociedade.

    Portanto, a crtica aqui apresentada tese oficial, mais especificamente sobre o argumento que relaciona educao e remunerao, pode ser resumida da seguinte maneira: a excluso da escola resulta antes de tudo da excluso social e econmica de significativas parcelas da populao brasileira, em virtude da brutal concentrao de renda (Germano, 1993, p. 267). A aludida concentrao de renda j existia previamente na sociedade brasileira e no foi obra do governo militar, mas o mesmo, com sua poltica

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    educacional e dentro do contexto das demais reformas que foram conduzidas, acabou reforando o perfil distributivo concentrado herdado de dcadas anteriores. A orientao doutrinria que animou essas medidas mostrou-se equivocada (ou teria sido deliberada?) por supor que a educao, por si s, teria condies de mudar a estrutura produtiva do pas e de gerar empregos e corrigir a pobreza. Tal interpretao terica se encontrava, desde logo, desligada da realidade do funcionamento de um sistema capitalista, ainda mais em uma sociedade como a brasileira dos anos 60.

    Concluses

    O artigo procurou mostrar que os mecanismos de reproduo de desigualdades na economia brasileira desde 1964 foram bem mais complexos do que os analisados por pesquisadores que interpretam a desigualdade apenas pelas caractersticas da oferta de mo de obra dos integrantes do mercado de trabalho.

    As reformas estruturais promovidas pelo PAEG e as medidas relacionadas conduo da poltica econmica que a ele se seguiu foram decisivas na conformao do perfil distributivo ps-1964. Aqui devemos mais uma vez ressaltar o papel exercido pela poltica salarial, que, conforme vimos, passou por mudanas de abrangncia ao longo do mandato de Castelo Branco, tendo sido inicialmente estendida at 1967 e ampliada para abarcar os salrios do setor privado. Delfim, logo que assume o Ministrio da Fazenda, envia ao congresso uma solicitao (prontamente atendida) para que a poltica salarial anterior fosse tornada permanente. Estas mudanas, porm, podem ser consideradas pontuais, pois, conforme lembra Carvalho (1982), a poltica salarial posta em ao desde os primeiros momentos do regime militar no foi modificada, em sua concepo original, at 197930.

    Esta talvez seja a maior marca do modelo econmico do regime militar, que alterou, por diversas vezes (e por diversos objetivos), os parmetros da conduo da poltica macroeconmica, mas manteve, em seus aspectos mais gerais, a sua poltica salarial original. Ademais, o peso do ajuste promovido pela inflao corretiva que antecedeu a aplicao da lei de reajustes salariais claramente recaiu em maior proporo sobre os trabalhadores rurais e urbanos, no apenas pelo seu menor poder de barganha para participar da disputa pelos ganhos sociais de produtividade, mas tambm porque a poltica econmica tratou de aliviar segmentos do setor privado dos custos maiores incorridos com o aumento de preos de servios e bens pblicos, incluindo matrias primas industriais quando fosse o caso31.

    (30) A partir de 1979, com novo recrudescimento da inflao, a poltica salarial sofre importantes modificaes, destacando-se, em primeiro lugar, que os reajustes salariais passariam a ser semestrais. Alm disso, os reajustes seriam calculados tomando por base o INPC dos seis meses anteriores ao reajuste, os reajustes seriam diferenciados por nveis salariais (sendo maiores para os nveis inferiores) e o resduo a ttulo de produtividade seria negociado entre patres e empregados e (supostamente) no poderiam ser repassados aos preos. No obstante isso, o recrudescimento da inflao e o aumento do desemprego a partir de 1979 tornou cada vez mais difcil a reposio das perdas salariais, mantendo a trajetria de ampliao da concentrao da renda.

    (31) Oliveira (1981, p. 104), citando dados calculados em Resende (1975), afirma que a participao do capital no total da receita do Imposto de Renda declinou de 75% em 1960, para pouco menos de 50% em 1970, enquanto a participao do Imposto de Renda na Receita Tributria declinou de 34% em 1965 para 27% em 1974.

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    A deteriorao do perfil distributivo foi resultado no apenas da prpria aplicao da frmula salarial concebida nos primeiros meses do governo militar, mas tambm do contexto poltico de controle exercido pelo Estado sobre a atuao do movimento sindical e de toda sorte de arbitrariedades cometidas contra a sociedade. Da mesma maneira, as demais reformas estruturais, que vieram aps a reforma trabalhista, impulsionaram o amplo leque de desigualdades geradas pelo regime de 6432.

    nesse contexto que a reforma tributria de 1966 deve ser interpretada como resultado de um certo momento histrico e avaliada segundo o papel que representou para aquele modelo de acumulao capitalista posto em prtica pelo governo militar, cuja caracterstica principal foi o seu carter socialmente excludente e concentrador de renda. A reforma tributria se insere em um contexto mais amplo de reformas estruturais que representaram uma criao original e politicamente determinada, em funo do arco das alianas de classe que compuseram o regime de 1964 (Mello; Belluzzo, 1977). A definio da poltica econmica utilizou-se desse arcabouo institucional para consolidar o modelo de acumulao analisado neste artigo.

    A reforma tributria de 1966 recomps a capacidade do Estado de realizar amplos investimentos pblicos que pudessem viabilizar o padro de consumo baseado nos bens de consumo durveis de alto valor unitrio em um pas ento ainda marcado por baixos nveis de renda per capita e precariedade na oferta de moradias para a grande maioria da populao.

    Ao contrrio dos presidentes que haviam antecedido Castelo Branco, os golpistas de 1964 conseguiram criar, na lei e na marra, as condies polticas para fazer a reforma tributria acima mencionada. Desde a elaborao do Plano Trienal (Bastos, 2013) , estava claro que a estagnao pela qual havia passado a economia brasileira no incio dos anos 1960 clamava pela criao de um sistema tributrio mais racional, ao lado tambm de um sistema financeiro mais afeito s necessidades de uma sociedade industrial moderna. Curioso que muitos dos diagnsticos que estavam presentes no Plano Trienal (inclusive a ideia de se enfrentar a inflao de uma forma gradualista e ao mesmo tempo colocar em prtica diversas reformas estruturais) tambm fizeram parte das preocupaes dos condutores do PAEG, embora obviamente sob uma conjuntura poltica e uma orientao doutrinria distinta da que vigorara desde os tempos de Vargas33.

    (32) A forma mais habitual de medir a concentrao de renda por meio da desigualdade de renda do trabalho, mas houve tambm uma piora na concentrao da riqueza (capital industrial; capital financeiro; propriedade rural e urbana etc.) e no perfil da origem da arrecadao tributria, crescentemente apoiada na taxao do consumo ou da renda do trabalho e menos das rendas da propriedade e do capital em geral. Ademais, a forma pela qual foi conduzida a urbanizao e o uso do solo urbano nas cidades brasileiras sugere ter havido uma concentrao maior, para as camadas populares, dos nus da ampliao do tempo dispendido nos transportes pblicos no trajeto residncia-trabalho-residncia no cotidiano do meio urbano e tambm do meio rural (para citarmos uma forma de manifestao da desigualdade normalmente pouco estudada ou sequer mencionada pelos economistas).

    (33) Boa parte das mesmas estava includa nas chamadas Reformas de Base que defendiam os apoiadores de Goulart, que incluam tambm a reforma poltica, com a adoo do voto dos praas e sargentos das Foras Armadas e tambm o voto dos analfabetos, algo que obviamente o regime militar que se instala em 1964 nem sequer cogitou colocar em discusso. Para se ter uma ideia da dimenso do analfabetismo e das mudanas polticas e do processo eleitoral que a eventual aprovao do voto dos analfabetos provocaria na sociedade brasileira, basta lembrar que, pelos dados do Censo de 1950, a taxa de analfabetismo no Brasil (tomando-se como referncia pessoas de 10 anos ou mais) era de 51,5% (medida pelo critrio de declarao de incapacidade de

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    No incio dos anos 60, o acirramento dos embates polticos significava a luta pela definio de regras que delineassem o perfil distributivo da economia brasileira. Estiveram em disputa, na sociedade brasileira, diferentes caminhos que o desenvolvimento econmico poderia trilhar. Esta contenda se acirrou, naturalmente, medida que se materializava a desacelerao econmica no incio da dcada de 1960. Do ponto de vista poltico/partidrio, a progressiva ruptura entre os partidos que, no final do Estado Novo, haviam dado sustentao (embora sempre de forma precria) ao varguismo, ou seja, PSD e PTB, simbolizava o acirramento provocado pela crescente demanda por participao popular na diviso dos frutos do progresso econmico que inegavelmente resultou das transformaes estruturais do sistema produtivo brasileiro materializadas pela industrializao. O passo adiante representado pela defesa de uma reforma agrria que pudesse impulsionar o capitalismo brasileiro consolidou a ruptura poltica e partidria que havia dado sustentao ao varguismo, abrindo caminho para o golpe militar que se materializaria em abril de 196434.

    A soluo para estes conflitos sociais e polticos veio pelo movimento de 1964, que, na verdade, representou uma das possveis solues para os impasses da acumulao capitalista no Brasil. Atravs do movimento de 64, definiu-se um padro de consumo e um padro de interveno do Estado na economia (viabilizado e moldado pela magnitude e pelo perfil do gasto pblico), para os quais as reformas estruturais tiveram papel decisivo. Muitas vezes, os alegados objetivos dessas medidas eram de reduzir desigualdades regionais ou sociais, mas os resultados de fato obtidos no foram os apregoados. Na prtica, tais medidas acabavam servindo, sim, para impulsionar os setores que, nos anos do Milagre, especialmente, promoviam o dinamismo da economia.

    Nesse ambiente, o desenho das polticas sociais tinha o objetivo apenas de tentar aplacar as tenses sociais que inevitavelmente se manifestariam. Na prtica, porm, as polticas sociais - com destaque para a poltica educacional e para a poltica habitacional foram elaboradas e colocadas em prtica segundo uma lgica privatista, de tal forma que tambm elas representaram elementos constitutivos do padro de acumulao de capital inaugurado em 1964.

    De tudo o que se conclui que a mudana no perfil distributivo esteve no cerne da estratgia de estabilizao adotada pelo governo Castelo Branco que foi viabilizada pelas reformas estruturais promovidas pelo PAEG. bvio que o contexto poltico criado pelo golpe civil-militar teve papel decisivo

    ler e escrever um bilhete simples critrio que passou a valer a partir do prprio Censo de 1950), passando para 39,7% no Censo de 1960, embora o nmero total de analfabetos (pelos critrios acima definidos) tenha crescido de cerca de 18,8 milhes de pessoas para 19,3 milhes entre 1950 e 1960, cf. Ferraro (2002). Ainda a ttulo ilustrativo, pode-se registrar tambm que, em 1970, ainda havia 21,6 milhes de analfabetos no Brasil e em 1980 (sempre segundo os Censos) 22,3 milhes. Estes dados entre 1960 e 1980, passando pelo de 1970 fornecem, de resto, uma ideia do insucesso do Mobral, movimento criado pelo governo militar para combater o analfabetismo. Para maiores detalhes sobre o tema, ver: Ferraro (2002).

    (34) Este um dos aspectos que explicam o amadurecimento das condies para a ocorrncia do golpe de 64, conforme bem retratou Affonso (2014).

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    para esta modalidade de estabilizao adotada, notadamente no que se refere prpria poltica salarial posta em prtica e, da mesma maneira, piora evidente e imediata do perfil distributivo.

    O carter regressivo dos marcos mais gerais da poltica macroeconmica do regime de 64, porm, foram mantidos mesmo quando j se tornavam claros os xitos iniciais do enfrentamento da inflao35. O que se deve sublinhar que, mesmo com a mudana da composio da equipe econmica, ocorrida com a ascenso do Ministro Delfim Netto ao posto mximo na Fazenda, e a consequente alterao na avaliao sobre a natureza das causas da inflao que esta mudana de nomes representava, os parmetros gerais da poltica salarial foram mantidos. Ficava claro, portanto, que, se, em um primeiro momento (a partir de 1964) a retrao do salrio real teve papel decisivo para a estratgia gradualista de combate inflao, a partir de 1967 (j sob o governo Costa e Silva e, depois, sob Mdici) essa mesma poltica salarial teve uma importante funcionalidade para consolidar uma concepo de poltica econmica que buscava o crescimento a qualquer custo, com base em um padro de consumo que, por sua vez, reforava o padro de acumulao capitalista regressivo e excludente socialmente.

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    (35) xitos relativos, pois os formuladores do PAEG planejaram que a inflao, em 1966, atingiria o patamar de 10% ao ano, mas ainda permanecia em 41% (ao ano). Conforme vimos, a inflao somente continuaria a se reduzir de forma mais consistente a partir de 1967, j sob a batuta do Ministro Delfim Netto.

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