coesão e coerência textuais para provas discursivas

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1 COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS PARA PROVAS DISCURSIVAS Por: Edson Varrial A. Junior

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COESÃO E COERÊNCIA

TEXTUAIS PARA PROVAS

DISCURSIVAS

Por: Edson Varrial A. Junior

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SUMÁRIO

ºººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººººº

Apresentação do trabalho................................................................................. 3

Explicações necessárias....................................................................................4

1.0 Conceituações ..........................................................................................5

1.1 Que é Linguística Textual?...............................................................5

1.2 Que é texto? .....................................................................................5 1.3 Que é coesão?.................................................................................7 1.4 Que é coerência?.............................................................................10 1.5 Texto dissertativo, argumentativo ou dissertativo-argumentativo....13 1.6 Um modelo de resposta a uma pergunta de prova discursiva.........14

2.0 A elaboração do texto ..............................................................................16

2.1 Tópico discursivo..............................................................................16 2.2 Marcadores de introdução...............................................................17 2.3 Marcadores de desenvolvimento.....................................................18 2.4 Marcadores de conclusão................................................................19 2.5 Sinonímia.........................................................................................19 2.6 Paráfrase.........................................................................................21 2.7 Itens de um mesmo campo lexical...................................................22 2.8 A nominalização...............................................................................23 3.0 Os elementos coesivos ...........................................................................24 3.1 A referenciação endofórica: Anáfora/Catáfora.................................24 3.1.1 Anáfora.....................................................................................25 3.1.2 Catáfora....................................................................................26 3.2 A substituição..................................................................................27 3.3 A elipse............................................................................................28 3.4 A conexão por Conjunção................................................................29 3.4.1 Coordenação............................................................................30 3.4.2 Subordinação............................................................................30 3.5 Os conectivos..................................................................................32 3.6 A diferença entre adversidade e concessão: MAS/EMBORA.........33

3.7 A diferença entre explicação e causa: PORQUE/PORQUE – POIS/POIS....................................................................................35 Conclusão..........................................................................................................37

Bibliografia.........................................................................................................38

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APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

A elaboração deste trabalho visa a um esclarecimento sobre a produção textual: texto, coesão, coerência e muitos outros pormenores que englobam a construção de um bom texto. Voltado principalmente para as provas discursivas acadêmicas, este trabalho tem como objetivo ajudar muitos de meus colegas, não só de sala de aula, mas também todos aqueles que enfrentam dificuldades na hora de criar um texto com base num determinado assunto. Depois da primeira prova que tivemos num nível discursivo, algumas de minhas colegas queixaram-se sobre a falta da criação textual em seus conhecimentos de mundo, ou seja, estudaram bastante para a prova, principalmente de Literatura, no entanto na hora de elaborar um texto, elas não conseguiram colocar ao papel aquilo que haviam estudado. Algumas vezes, e isso acontece, você já deve ter-se deparado com uma situação como esta: em que uma pessoal tem conhecimento de certo assunto, mas na hora de falar e principalmente de escrever sobre aquilo, falta-lhe conhecimento necessário para expor as ideias. Com esmero, a pessoa vai tentando colocar sobre o papel seus argumentos a cerca do assunto, porém nada sai. O que acaba acontecendo são palavras soltas, em desconexo com a coesão e o pior: sem coerência. As nossas provas discursivas nos surpreenderam logo no primeiro semestre de 2014. Com não menos de 15 linhas, Estas continham questões, cujo conteúdo vinha desde a formação literária do Brasil, com a carta de Caminha, passava pelo Barroco com Vieira e pulava para o Romantismo no qual se abordavam diversas obras. Não menos foi o segundo semestre. O estudo à Literatura não foi difícil. Peguei dicas com minhas colegas, li o resumo das obras e assisti a muitos vídeos na internet. Não obstante, à hora da prova, assim como minhas colegas, eu também acabei a cair no erro de construção textual e tirei nota baixa. Depois disso, conforme meu intuito na faculdade, fiz um estudo por completo em Linguística Textual baseando-me nos diversos mestres da área, como MARCUSCHI, KOCH, TRAVAGLIA entre outros. O resultado deste curso foi indubitavelmente não só uma boa nota na segunda avaliação do semestre, como também a construção deste projeto, cuja finalidade é senão a elaboração para um bom texto. Para sair-se bem numa questão discursiva de prova acadêmica, principalmente de Literatura, você não pode achar que somente o conhecimento sobre determinada matéria ira ajudá-lo. Você, acima de tudo, precisará ter certos conhecimentos linguísticos textuais. Precisará saber que são elementos anafóricos, catafóricos, que é sinonímia, precisará saber que é um item lexical idêntico, precisará saber qual a

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diferença de concessão e adversidade e etc. E incontestavelmente, saber-se-á que sem coerência não há legitimamente clareza. Sem a coerência não haverá sentido em seu texto. Não adiantará em nada toda a comparação literária que você saiba fazer, se você não souber os mecanismos necessários para uma boa elaboração textual. E mesmo que você saiba bastante, a exuberância literária sem o prévio conhecimento textual, ao menos em redação, não funcionará como um texto. O que pode vir a acorrer serão enunciados desconexos sem os devidos elementos coesivos para ligá-los. Mas que é COESÃO textual? Que é COERÊNCIA textual? E principalmente, que é textualidade? Estas e outras perguntas hão de ser respondidas com o desenrolar deste trabalho.

Explicações necessárias

Este trabalho está construído em cima de um nível totalmente acadêmico, em obras de mestres já citados. Para uma apresentação da diversidade da gama estrutural acadêmica deste trabalho, consulte a bibliografia. Embora não tenha usado nenhum manual de redação de ensino médio para a elaboração deste trabalho, tentei ao máximo simplificá-lo com base em um projeto simples. Uma vez que este trabalho não visa somente à criação de textos para as respostas às perguntas de provas discursivas acadêmicas, pode ser pesquisado para um estudo de Linguística Textual. Ao final deste estudo, fica indubitavelmente visível que a análise ao estudo da Linguística Textual não está nem perto de ser encerrada por aqui. Mais uma vez citamos que para um estudo mais apurado, consulte-se a bibliografia deste trabalho. Fica evidente que há erros de digitação neste projeto. Portanto, desde já permanecem as desculpas.

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1.0 CONCEITUAÇÕES

1.1 Que é linguística Textual?

Segundo FÁVERO (2009: 5) Linguística Textual é o nome dado ao estudo que tem como objeto de análise o texto, ou seja, a avaliação do texto e suas características. Surgiu por volta dos anos 60 na Europa. Por falta de uma gramática que tratasse do âmbito textual e pelas falhas da gramática das frases, passou-se à Teoria do Texto que com o tempo foi-se definindo como Linguística do Texto.

1.2 Que é texto?

E o texto? Que é que vem à sua mente quando você pensa na palavra texto? Você se lembra de alguma coisa do seu ensino médio sobre isso? Geralmente associamos à palavra texto um aglomerado de frases postas em ordem linear. Quando tentamos descrever uma dada situação, seja ela oral ou escrita. Quando tentamos passar para o papel um determinado pensamento ou um grupo de ideias, estamos assim construindo um texto. GUIMARÃES (2006: 14) define a palavra texto como “um enunciado qualquer, oral ou escrito, longo ou breve, antigo ou moderno.” Podemos entender deste modo que texto pode significar até mesmo uma palavra-frase, ou seja, a chamada de frase de situação por GARCIA (2010: 37) termos como Socorro! Fogo! Silêncio! Vendem-se casas e etc. Alguns estudiosos veem o texto como um sistema conexo concluído. São atos de fala ou escrita ligados hierarquicamente pelo sentido, isto significa que se não houver sentido não haverá um texto. Por isso mesmo, como citado acima, pelas falhas da gramática das frases, o texto não pode ser uma concatenação de frases soltas analisadas unitariamente. O texto deve ser uma ligação de sentidos. Todo texto estará ligado a um contexto. Contexto é toda a situação extraverbal atada a uma determinada situação, a uma circunstância. Todo falante de uma determinada língua, falante este que esteja com suas faculdades mentais em estado normal, sabe que a nossa produção linguística se dá com textos e não com frases isoladas. Vejamos um exemplo em MARCUSCHI (2008: 107) que relata exatamente um não texto:

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João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da relatividade, o espaço é curvo.

Neste exemplo não temos um texto, já que a sequência não exerce uma situação comunicativa e sim é um enunciado com frases sequenciadas sem sentido. Segundo KOCH (2013b: 8) existem sete critérios para que haja a textualidade, estes são chamados de Princípios de Textualidade: a coesão e a coerência (centrados no texto) e a informatividade, a situacionalidade, a intertextualidade, a intencionalidade e a aceitabilidade (centros nos usuários). Também, segundo Schmidt in KOCH (2013b: 10) “Textualidade é o modo de toda e qualquer comunicação transmitida por sinais, inclusive os linguísticos.” Sendo assim, Entende-se por textura ou textualidade o que forma uma sequência, escrita ou falada, em um texto. Para Weinrich in KOCH (2013b: 9) o texto é, pois, “um andaime de determinações onde tudo se encontra interligado.” A palavra texto deve sua origem do Latim TEXTUM; significa “tecido”. Quando você fala ou escreve um texto está fazendo a TESSITURA ou tecendo o tecido. Mas para que haja a textualidade é preciso, como descrito acima, haver certos critérios. MARCUSCHI (2008: 96) realisa através de um esquema uma descrição, mesmo que vaga, dos principais critérios para a TEXTUALIZAÇÃO. Os dois grifados de vermelho são aqueles que damos destaque à nossa pesquisa. Observemos:

Vejamos, então, dois dos mais importantes destes, que são a coesão e a coerência.

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1.3 Que é coesão?

No início dos estudos da Linguística Textual, dava-se prioridade ao estudo da COESÃO. Mas então que é coesão textual? Também de procedência do Latim, COHERE; (hang together) significa: aderência, ligação, relação, literalmente estar junto. Coesão é, pois, o modo como se estabelecem as ligações superficiais linguísticas do texto. Porém, Para os estudiosos há conceitos muitos mais temáticos. MARCUSCHI, por exemplo, (2008: 99) define a coesão como “Os processos que dão conta da estruturação da sequência superficial do texto.” Para um entendimento mais amplo, ou seja, para que você entenda definitivamente o conceito de coesão, elaborei um conceito baseado nos meus estudos não acadêmicos, mas sim de “cursinho preparatório para concurso”. Coesão textual é a ligação que um conjunto faz com outro tanto no texto escrito como no texto oral. Este conjunto pode ser um período, uma frase, uma sentença, ligado com aquele que veio antes para que se estabeleça a relação de sentido textual. Portanto, a coesão textual é o resultado de um bom encadeamento por parte das expressões linguísticas que incorporam o texto. Para que haja um texto coesivo é preciso usar certos elementos que formarão uma estrutura clara e coerente. Esse ligamento ou concatenação que é criado pela coesão textual, podemos chamá-lo de “laço” ou “elo coesivo”. Não podemos afirmar que seria apenas um elo sintático, muito mais que sintático, a coesão seria um elo semântico referente às relações de sentido que se estabelecem entre os enunciados que compõem o texto. MARCUSCHI (2012) fala que não seriam apenas princípios meramente sintáticos mais sim uma espécie de “semântica da sintaxe textual”. Um conceito muito importante que precisamos saber sobre coesão é que ela não é necessária para que haja coerência e sua ausência não impede a textualidade. Isto significa que pode haver texto sem coesão, no entanto com coerência. Embora possa haver texto sem coesão e mesmo assim existir a coerência, temos que observar que o mau uso da coesão atrapalha e muito na coerência. De modo contrário, o uso correto da coesão dá mais legibilidade ao texto. Para alguns estudiosos, a mau uso dos elementos coesivos seria a única maneira de ter-se um texto incoerente, o que seria a chamada de incoerência no nível local. Sobre os elementos linguísticos chamados de coesivos, vê-los-emos no decorrer deste trabalho. Antes de esclarecermos o conceito de coerência, temos saber que existe uma relação entre coesão e coerência, entendê-la-emos como diz KOCH (20013a: 47):

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“... a coerência se relaciona com a coesão do texto, pois por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual. Ao contrário da coerência, que é subjacente, a coesão e explicitamente revelada através de marcas linguísticas.”

Na parte 1.2 você pôde observar o que seria um não texto, ou seja, frases soltas não exercendo uma comunicação. Agora, que seria um texto sem coesão? E principalmente, se existe texto sem coesão, mas podendo haver coerência, como seria este texto? Vejamos um exemplo em KOCH (2013a: 10)

O show O Cartaz O desejo O pai O dinheiro O ingresso O dia A preparação A ida O estádio A multidão A expectativa A música A vibração A participação O fim A volta O vazio

O que se vê é apenas um amontoado aleatório de palavras sem ligação sintática alguma. Porém, percebe-se que o texto quer passar uma mensagem comunicativa: A ida de uma pessoa a um Show. Segundo MARCUSCHI (2012), o leitor/ouvinte acessa em sua “memória semântica” os chamados modelos cognitivos, ou seja, os conhecimentos gerais para fazer uso do entendimento do que é uma ida a um Show. Quando o receptor da mensagem consegue acessar em sua memória semântica todo o conjunto lexical da informação, ele processa o conteúdo fazendo com que passe a existir em sua mente uma imagem da situacionalidade referente.

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Em contrapartida, temos os textos coesos, que seriam aqueles cujos enunciados são ligados por elementos linguísticos por ordem linear. Em 2.0 e 3.0 veremos quais são esses elementos que trabalham na superfície textual e que fazem com que os textos tenham maior entendimento da parte de receptor. Portanto, a partir do que já foi proposto sobre coesão textual, podemos afirmar que esta trata dos processos de sequêncialização que se faz entre os anunciados. Ligação linguística. Vejamos agora, uma resposta a uma pergunta de prova, onde os elementos linguísticos foram mal empregados e por isso cria-se uma dificuldade para o entendimento.

Pergunta:

A zoomorfização, a antromorfização e a reificação são utilizadas por autores de diversas estéticas literárias como parte integrante de suas estratégias de construção textual. Retomando aspectos relevantes do período Realista-naturalista e modernista do segundo ciclo (1930-1945), discuta a diferença na utilização dessas denominações apenas nos dois períodos literários citados.

Resposta:

Eles eram utilizados mais no período Realista-naturalista onde suas personagens eram tratadas como bichos. Um exemplo bastante interessante que trás isso é a obra de Aluízio de Azevedo, de 1890, chamada O Cortiço que faz uma reflexão de como o Realista-naturalista trabalhava.

ELES QUEM? O PRONOME “ELES” É UM ELEMENTO ANAFÓRICO QUE RETOMA O QUE FOI DITO. NESTE CASO VOCÊ PRECISA DE UM TÓPICO DISCURSIVO PARA RETOMÁ-LO MAIS À FRENTE, OU SIMPLESMENTE DENOMINAR AS TRÊS ESTÉTICAS APRESENTADAS COMO “CONCPÇÕES”. ONDE NÃO!!! NESTE CASO NÃO CABE O PRONOME RELATIVO “ONDE” . O PRONOME RELATIVO “ONDE” SÓ PODE RETOMAR UM LUGAR ESPECÍFICO. ELE FUNCIONA COMO ADJUNTO ADVERBIAL DE LUGAR. SE PERÍODOS LITERÁRIOS REPRESENTAM UMA NOÇÃO TEMPORAL, ENTÃO SÓ PODEM SER REPRESENTADOS PELO PRONOME RELATIVO “QUANDO” OU PELO SEU VARIANTE, “O QUAL”.

ISSO O QUE? O PRONOME “ISSO” NOVAMENTE É UM ELEMENTO ANAFÓRICO QUE RETOMA O QUE FOI DITO, NESTE CASO ESTÁ

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AMBÍGUO, POIS PODE REMETER AO PRONOME “ELES” OU A SITUAÇÃO DE AS PERSONAGENS SEREM TRATADAS COMO BICHOS.

“DE” NÃO PODE!! POIS O INADEQUADO USO DA PROPOSIÇÃO “DE” PODE CAUSAR UM MAU ENTENDIMENTO DA PARTE DE RECEPTOR CONFUNDINDO-O PORQUE PODE DAR A IDEIA DE ALGO CONCRETO EM VEZ DE ALGO ABSTRATO. Esses são alguns dos erros inaceitáveis que podem gerar a incoerência. Erros esses, que são causados pelo mau uso dos elementos linguísticos que ao invés de fazerem uma conexão linear dos sentidos, acabaram por atrapalhar o entendimento.

1.4 Que é coerência?

A coerência textual é o resultado da boa articulação das ideias do autor do texto, tanto escrito como falado. KOCH e TRAVAGLIA (2011: 7) dizem que enquanto houver a comunicação à base de textos, sempre haverá COERÊNCIA, uma vez que ela seja a responsável pela textualidade. Ainda em KOCH e TRAVAGLIA (2011) há sete citações ao decorrer do livro em que a coerência é o princípio da interpretabilidade do texto. É a coerência que faz com que o texto faça sentido para os usuários. A coerência teria a ver com a boa formação do texto. Mas não no sentido de gramaticalidade usada no nível frasal e sim no nível semântico da comunicação. Para Beaugrande e Dresller in FÁVERO (2009: 61) “o texto coerente é aquele em que há uma continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados pelas expressões do texto, e é incoerente aquele em que o leitor/ouvinte não consegue descobrir nenhuma continuidade”. Talvez o melhor conceito de coerência seja, sobretudo, o de MARCUSCHI (2008: 121) vejamos:

“A coerência é uma relação de sentido que se manifesta entre os enunciados, em geral de maneira global e não localizada. Na verdade, a coerência providencia a continuidade de sentido no texto e a ligação dos próprios tópicos discursivos”.

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Ainda em MARCUSCHI (op. cit.) a coerência é analisada como não sendo uma propriedade empírica do texto, não se pode apontar para a coerência. A coerência não pode ser reconhecida assim como a coesão na superfície textual. A coerência é um trabalho perceptível do leitor/ouvinte que faz de tudo para encontrá-la no texto, onde também deve existir o acesso à interpretação, pois, do contrário, não haverá a possibilidade de entendimento da parte de ambos, o autor e receptor da mensagem. É importante ainda que tomemos nota de que sendo a coerência o princípio da interpretabilidade, como frisa bem TRAVAGLIA (2011) então ela seria não um resultado da textualidade, mas sim um aspecto desta. Para MARCUSCHI (2012) “há textos sem coesão, mas cuja textualidade ocorre a nível da coerência”, assim como no exemplo apresentado acima do texto O Show. Existiria então o texto coeso, mas sem coerência? Sim. Segundo KOCH e TRAVAGLIA (2011: 25) “Pode haver sequências linguísticas coesas, mas para as quais o leitos não consegue estabelecer ou dificilmente estabelece um sentido que lhe dê coerência. Vejamos um exemplo:

Ele estudou muito, porém foi aprovado no concurso.

No exemplo acima, nota-se deveras que a coerência foi prejudicada pelo mau uso da coesão. A respeito do uso correto desses elementos de conexão, vê-los-emos em 3.0 Ainda segundo KOCH (2013a: 9,10) é descrita uma incoerência causada a nível de conhecimento geral; ressalta-se que desde que seja no mundo real e não no mundo imaginário teremos o seguinte exemplo segundo a autora:

A galinha estava grávida.

Aqui há a incoerência, pois cabe somente ao ser humano do sexo feminino o processo de gravidez. Observamos, portanto, que a coerência é a segmentação dos sentidos no texto. Se não houver uma ordem para os sentidos dados, não haverá coerência. Assim sendo, com os conceitos apresentados podemos falar que é a coerência que dá origem à textualidade. Não obstante, frisamos que se a coerência textual resulta da relação afável entre as ideias apresentadas em um determinado texto, podemos dizer que a coerência é indubitavelmente a fundamentação do entendimento textual.

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Agora, vamos fazer uma análise de uma resposta a uma pergunta de prova em termos coerentes, quer dizer, como seria uma resposta a nível de incoerência textual.

Pergunta:

O que para a história significou uma autêntica certidão de nascimento, a Carta de Caminha a D. Manuel, dando notícia da terra achada, insere-se em um gênero copiosamente representado no século XV, em Portugal e Espanha: a literatura de viagens. (BOSI), Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Ática, Cultix, 2006: 14) O trecho abaixo, extraído da Carta se relaciona ao que foi dito acima, utilize-o para fazer um comentário sobre as peculiaridades da Carta de Caminha, sobre sua importância para a literatura propriamente dita e para a história brasileira. Em relação a tal importância, você concorda com a afirmativa de que esse texto de Caminha é efetivamente uma obra de ficção? A feição deles é serem pardos maneiras d’avermelhados de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar sua vergonha e estão acerca disso com tanta inocência como têm a mostrar o rosto. (Idem. P 15)

Resposta:

A carta de Caminha a D. Manuel representa uma intrínseca essência do que seria o Índio naquela época. Caminha via, em sua visão de Mundo, o Índio como um ser adâmico, não menos o que corrobora a isso seria o pedido a D. Manuel que enviasse Padres para a catequização dos Índios. FUNDAMENTALMENTE, PERCEBE-SE QUE TODO O TEXTO DA RESPOSTA ESTÁ INCOERENTE COM O QUE FOI PEDIDO NA PERGUNTA DA PROVA. PRIMEIRAMENTE, QUE É QUE SERIA ESSA IDEIA DE INTRÍNSECA ESSÊNCIA? ALÉM DO MAIS, DEPOIS DO VERBO “ENXERGAR”, NO PRESENTE DO INDICATIVO, HÁ UMA IDEIA TOTALMENTE AMBÍGUA COM A NATUREZA DO VERBO. O QUE SERIA VISÃO DE MUNDO ? OUTRO PONTO IMPORTANTE SERIA O ADJETIVO “ADÂMICO” QUE COMPLETA O SENTIDO DO SUBSTANTIVO “SER”. ESSE ADJETIVO PRECISA SER EXPLICADO POR UM APOSTO EXPLICATIVO OU MESMO POR UMA PARÁFRASE, POIS NINGUEM É OBRIGADO A CONHECER A HISTÓRIA BIBLICA, EMBORA ELA SEJA IMANENTEMENTE CONHECIDA.

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E, FINALMENTE, A GROSSERIRA REGÊNCIA DO VERBO “CORROBORAR” SENDO ESTE TRANSITIVO DIRETO NÃO HAVENDO NECESSIDADE DE UMA PREPOSIÇÃO PARA COMPLETÁ-LO. Conforme afirmam os estudiosos da Linguística Textual, a proposta de que os elementos de conexão não são nem necessários para que haja coerência, por outro lado, o mau uso desses componentes de ligação acarreta e muito numa dificuldade de interpretabilidade.

1.5 Texto dissertativo, argumentativo ou

dissertativo-argumentativo

Antes de partimos para concepção sobre o uso da argumentação ou dissertação na estrutura textual, devemos apreender uma noção do que seria argumentar ou dissertar acerca de um assunto e principalmente saber a diferença desses dois aspectos da Linguística Textual. Segundo Van Dijk in GUIMARÃES (2006: 64) no âmbito da Linguística Textual, o texto (ou discurso) dissertativo e argumentativo são conhecidos como superestruturas ou hiperestruturas globais, ou seja, quando falamos do ponto de vista da estrutura textual, estamos nos referindo a todo o texto quando dizemos que este é dissertativo, argumentativo ou descritivo. Explicando melhor: as superestruturas textuais são noções de como você desenvolverá todo o seu texto. A partir dessas noções dependerá todo o processo de criação textual. Podemos dizer que estas noções são um tipo de caráter textual, ou seja, é você que escolherá do que o seu texto vai falar. O autor de um texto, antes de criá-lo denominá-lo-á se será um texto dissertativo, argumentativo ou descritivo ou mesmo dissertativo-argumentativo. Ainda assim, esses aspectos textuais divergem quanto à sua concepção. Qual seria, então, a diferença de dissertação para argumentação? E principalmente, que é dissertar e argumentar? A dissertação consiste, segundo GARCIA (2010: 376,380), em expor ideias. Um texto dissertativo tem como propósito informar o receptor sobre algo. Na dissertação expressamos algo, expressamos o que sabemos sobre um determinado assunto. Já o criador de um texto argumentativo visa, sobretudo, a convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte sobre algo. Segundo Ducrot in GUIMARÃES (2006: 69) a argumentação é “um instrumento capaz de mudar os pontos de vista do receptor da mensagem”.

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Existe, porém, uma junção desses dois aspectos da superestrutura textual que é o texto dissertativo-argumentativo. De um texto dissertativo-argumentativo entende-se uma mistura que gera uma tese e terá de haver a comprovação desta através de argumentos. Todo texto dissertativo depende de uma tese e todo argumento apresentado tem como objetivo tentar convencer alguém sobre alguma coisa, portanto, o texto dissertativo-argumentativo tem como base apresentar uma tese e defendê-la ao mesmo tempo. Como diz o mestre GARCIA (2010: 380) “Na dissertação podemos expor, sem combater, ideias de que discordamos ou que nos são indiferentes”. Dou aqui um exemplo mais simplificado, embora o seja mais didático do que o autor usa em sua obra. Por exemplo: um professor de Teologia pode dissertar com seus alunos sobre o dogma trinitarista (a santíssima Trindade) apenas dando-lhes detalhes do seu conhecimento acerca do assunto, com absoluta isenção, dando uma ideia exata sem tentar formar a opinião dos seus alunos, deixando-os à vontade para escolherem se Deus realmente é três, mas esses três não são três; porém apenas um. Mas se esse professor for Monoteísta, ele, ao apresentar a tese, terá como propósito influenciar seus ouvintes de que Deus não é três, mas apenas um, formando-lhes uma opinião, convencendo-os do seu ponto de vista, ou seja, se fizer isso, assim ele estará argumentando. Para a elaboração de um texto para responder a uma pergunta de prova discursiva, fica claro que o que estará explícito será seu conhecimento em determinada matéria, senão o texto não fluirá. Sendo assim, a escolha de uma superestrutura textual fará a diferença. Se seu propósito é apenas mostrar, apresentar, explicar os fatos; você poderá dissertar. Mas se você tem como objetivo convencer o professor de algo sobre a pergunta, então você poderá argumentar.

1.6 Um modelo de resposta a uma pergunta de

prova discursiva

Este modelo apresentado é de uma resposta a uma pergunta da segunda avaliação que corresponde ao primeiro semestre de 2014 em que a nota obtida foi 2.0. Lembrando que o conhecimento sobre literatura brasileira é um conhecimento de mundo peculiar e este conhecimento não será avaliado aqui e sim a competência textual de coesão e coerência.

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Pergunta: A rememoração da vida, reflexão sobre as atitudes das protagonistas de obras importantes da literatura brasileira tornou autores como Graciliano Ramos e Machado de Assis referência no que diz respeito ao trato de aspectos relativos ao pensamento, à psicologia das personagens. Faça um comentário sobre esse assunto, lembrando o que entenda ser importante para ratificar as afirmativas, em termos de obras e questões relativas a esses autores.

Resposta:

No que tange à marca significativa entre Graciliano Ramos e Machado de Assis referente à incursão que estes dois autores fazem na mente de suas personagens, destacam-se os exemplos de Dom Casmurro – Bento Santiago – e São Bernardo – Paulo Honório –. Segundo MASSAUD MOISÊS (A Literatura Brasileira através dos textos) pode-se fazer uma comparação entre essas personagens, nas quais eram trabalhadas as questões psicológicas. Em primeiro lugar, em Dom Casmurro, Bentinho, no final do romance, tem medo de assumir suas consequências por jogar a culpa de traição em cima de Capitu. Em segundo plano, na obra São Bernardo, há Paulo Honório que, em contrapartida, assume suas consequências pela morte de sua mulher. Sendo assim, torna-se claro que Graciliano Ramos trabalhou com questões psicológicas na mente de suas personagens assim como fizera Machado de Assis.

1- Em relação a esses organizadores textuais como: no que tange a, em primeiro lugar, em segundo plano, sendo assim, vê-los-emos em 2.0

2- Não falaremos neste trabalho sobre a impessoalidade referente ao uso das primeiras pessoas gramaticais num texto dissertativo-argumentativo. Sobre isso, existem inúmeras discussões, mas nota-se a impessoalidade no uso das passivas pronominais como: destacam-se, pode-se fazer etc., em vez de destacamos, podemos fazer etc. Esses efeitos dão à dissertação mais impessoalidade fazendo-se a marca da apresentação dos fatos sem se colocar no tempo verbal.

3- Quanto aos elementos de conexão, estes serão vistos em 3.0

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2.0 A ELABORAÇÃO DO TEXTO

2.1 Tópico discursivo

Dá-se o nome de tópico discursivo à ideia-núcleo que gerará aquilo de que se fala no parágrafo. Tópico Frasal foi o conceito usado por GARCIA (1965) na primeira edição de sua obra, onde se expressa de maneira clara e sucinta a ideia-núcleo que decorrerá de um parágrafo bem-estruturado. Usaremos aqui o conceito da Linguística Textual que denomina a ideia-núcleo do parágrafo como Tópico Discursivo. Entende-se por Tópico Discursivo: um princípio organizador do texto. Para KOCH (2013a: 26) quando vamos determinar sobre aquilo que vamos falar ou escrever, ativamos por meio de expressões linguísticas o que chamamos de tópico discursivo, ou seja, aquilo sobre o que se fala num texto. Vamos a um exemplo:

O assunto da sexualidade entre os adolescentes tem sido uma discussão nova nas escolas. Entre as tendências do século XXI estão as aulas de educação sexual tanto nas escolas públicas como nas escolas privadas, aulas estas em que são tratados assuntos, entre professor e os jovens, pertinentes à sexualidade. Os adolescentes expõem as suas opiniões, compartilham seus pensamentos que tendem a ficar cada vez mais complexos devido à influência da mídia e os controversos da Igreja.

Nota-se claramente que todo o parágrafo vai falar sobre o assunto da orientação sexual entre os adolescentes nas escolas. Isso por causa da ideia-núcleo que esse enunciado gera. Não se espera que com uma frase destas vai-se falar de Futebol, Copa do Mundo ou uso de drogas nas escolas. Espera-se é claro que o assunto de todo o parágrafo seja pertinente à ideia núcleo que nasce a partir do que foi dito no tópico discursivo. É cabível que a frase-núcleo siga a ideia geral do texto, se então estamos a discutir sobre Iracema de José de Alencar no período romântico, é lógico que, em cada parágrafo, criemos tópicos discursivos ligados ao assunto de que se trata todo o conteúdo textual. Eis a pergunta; como ficaria desenvolvido um tópico discursivo para uma questão discursiva de prova? Vejamos alguns exemplos:

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Pergunta:

O romance urbano do romantismo brasileiro trás inúmeras questões que possibilitam um bom entendimento do cotidiano a da vida no século XIX. Utilize o que conhece sobre tais romances para mostrar quais são as principais questões levantadas nos romances Senhora, de José de Alencar e A moreninha de Macedo, apontando para as principais diferenças em relação aos romances Inocência, de Visconde de Taunay e A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães...

Respostas:

1- Observa-se, no que se refere ao romance urbano no romantismo em relação às obras citadas, que estas se passam no período romântico quando suas personagens eram tratadas de maneira idealizada e a ideologia romântica imperializava. Primeiramente, no romance Senhora de Alencar...

2- A respeito da questão sobre o romance urbano no romantismo, destaca-se o movimento Burguês devido à ascensão da Classe Média e do Proletário no início do século XIX. Em primeiro lugar, o romance Senhora de Alencar trás...

2.2 Marcadores de introdução

Segundo KOCH (2009: 129) os chamados marcadores discursivos operam em diferentes níveis. Também conhecidos como articuladores textuais, estes atuam na função de relacionar as ideias numa ordem em que gera a coerência. Em outro grande trabalho da mesma autora, KOCH (2010: 29), ela cita que em cada gramática de uma determinada língua, há mecanismos que permitem indicar a orientação argumentativa dos enunciados, ligando-os a cada ideia nova dada ajudando, portanto, a criar a fundamentação do entendimento textual. Os tópicos discursivos vêm geralmente marcados pelos chamados Articuladores Metadiscursivos, podemos citar alguns:

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� Quanto a � Em relação a � No que diz respeito a � A respeito de � No que tange a � Com referência a � Observa-se � Nota-se Em ralação à problemática que é o evento da Copa do Mundo no Brasil, hão de se destacar dois aspectos elementares...

2.3 Marcadores de desenvolvimento

Conforme apresenta KOCH (2009: 133) esses marcadores têm por função realizar a segmentação ordenada do texto. São esses marcadores que fazem a ligação das ideias de cada parágrafo. Estas ideias podem ser opostas ou próximas, porém o sentido de ligação que esses marcadores dão à ideia geral do texto será o mesmo. Lembrando que são estes marcadores textuais que fazem a ligação dos desenvolvimentos no texto. � Em primeiro lugar � Devemos analisar primeiramente que � É fundamental observarmos que �Não podemos esquecer que � Além disso � Cabe ressaltar Devemos analisar primeiramente a questão de decrépitos professores que entram em suas respectivas salas de aulas e ao invés de ministrarem suas aulas de Morfologia ficam a falar de Copa do Mundo.

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2.4 Marcadores de conclusão

Os marcadores que introduzem uma conclusão são segundo KOCH (2010: 34) uma ideia relativa a argumentos apresentados, fazendo-se a terminação destes argumentos, tem-se uma nova ideia a ser apresentada. � Portanto � Logo � Pois (posposto) � Por conseguinte � Sendo assim � Assim sendo � Então Cabe, portanto, aos alunos de Letras que sejam representantes máximos da norma culta no Brasil.

2.5 SINONÍMIA

CÂMARA JR (2011: 140), ao abordar a sinonímia, diz que uma palavra não tem um sentido obrigatoriamente uno assim como um símbolo matemático. Para ele, a escolha de uma palavra é muito tênue, sendo, portanto, “uma complexidade imanente, que se apresenta sob diversos aspectos”. A sinonímia consiste numa equivalência de sentidos, tanto de uma palavra como até de um enunciado. O mendigo devolveu o dinheiro ao esnobe homem, pois o mísero trocado não lhe valia de nada.

Aquele ladrão matou muitas pessoas Aquele bandido assassinou muita gente

Como diz FÁVERO (2009: 23) que a tese de sinônimos perfeitos já foi batida há muito tempo, ou seja, nos estudos atuais não existe sinonímia verdadeira. O autor acrescenta que a língua não é um espelho do mundo, dando os exemplos de cão e cachorro, dizendo que podem surgir conotações diversas.

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Já para GUIMARÃES (2006: 30) para apontar a falha da sinonímia, a autora usa o seguinte exemplo: O casal comprou uma casa O casal formou um lar Seria, como se nota, que a troca lançaria mão do valor semântico Ainda em CÂMARA JR (2011: 144), o autor frisa que não pode servir-se de certos sinônimos sem saber o real significado que os engloba. Segundo ele, sem um enriquecimento significativo a permuta de um termo a outro ainda sim seria uma repetição desnecessária do termo, que acabaria sendo uma roupagem disfarçada, ou seja, repetir de maneira viciosa a mesma ideia. Se para os estudiosos a sinonímia é considerada falha em certos aspectos, então como a usaremos de maneira clara e conspícua sem gerar desconexo à continuidade dos sentidos? O segredo, segundo GUIMARÃES (2006: 31), está no texto e não em palavras soltas. Para ela, a sinonímia existe apenas no campo textual e não no lexical. Isto significa que, somente no texto, a referência aos objetos e às pessoas que possa ser feita estará segura ao entendimento. Como então a sinonímia poderia ajudar-nos numa questão discursiva de prova acadêmica? O esquema principal para enquadrar-se à correta maneira de usar a sinonímia, em uma resposta a uma pergunta de prova discursiva, seria fundamentalmente transformar o tema da pergunta, isto é, a ideia principal da pergunta num tópico discursivo (sobre Tópico Discursivo, veja 2.1). Vejamos:

Pergunta:

Clarice Lispector trouxe para a Literatura reflexões que a tornaram uma das escritoras mais importantes do país, de todos os tempos. A escolha de suas temáticas e a...

Resposta:

Em relação às reflexões, cuja autora marcou a Literatura Brasileira, estas fizeram de Clarice Lispector uma grande escritora para o país. Observa-se primeiramente, sobre a escolha de suas temáticas, que...

Nota-se que as reflexões de Clarice Lispector são o assunto principal e não a própria autora, tanto que podemos desenvolver a partir das escolhas de suas temáticas.

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2.6 PARÁFRASE

Em se tratando de paráfrase, podemos observar o seu constante uso em livros de campos de estudo de pesquisa. Em KOCH (2009: 82) a paráfrase consiste num mesmo conteúdo semântico, mas apresentado em formas da estrutura textual diferente. A autora salienta ainda que a paráfrase é um recurso que permite ao receptor de texto adaptar-se simultaneamente a duas ideias distintas, embora com o mesmo conteúdo semântico. Podemos dizer também que a paráfrase é um mecanismo que, usado pelo criador do texto, contribui para a coesão. Vejamos:

A estética de Dom Casmurro é descrita como Impressionista por ser fluida, sem muitas definições dos limites, ou seja, de longe parece um jardim, mas de perto vê-se apenas a pincelada.

No romance São Bernardo, o personagem Paulo Honório acaba sofrendo o processo de reificação, isto é, transforma-se numa coisa, sem forma e vazio.

As expressões linguísticas introdutoras de paráfrases são as seguintes: � isto é � ou seja � quer dizer � ou melhor � em outras palavras � em síntese A paráfrase consiste também numa explicação enfática da parte do criador para o receptor do texto, uma vez que nem todo ser humano é capaz de ter todos os conhecimentos de Mundo, como por exemplo:

Em princípio, no que tange ao novo conceito de sexualidade na visão dos adolescentes, devemos analisar a concepção da homoparentabilidade, ou seja, filhos criados por pais do mesmo sexo.

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2.7 Itens de um mesmo campo lexical

A noção de léxico conforme considera AZEREDO (2012: 134) é toda a forma, na língua, que gera uma imagem na mente humana. As classes gramaticais pertencentes a esse grupo são: os substantivos, os adjetivos, os verbos e alguns advérbios. Em oposição aos itens gramaticais que pertencem só à estruturação ou organização da língua, como: os pronomes, os artigos, as preposições e alguns advérbios. Não cabe aqui, entrarmos neste campo da gramática gerativa. Que é que seriam então os itens de um mesmo campo lexical? KOCH (2009: 84) salienta que esses itens são uma das formas de haver a continuidade de sentidos no texto. A autora ainda resalta que cada item que vai sendo trocado por um mesmo termo com o mesmo valor lexical, garante assim a referência textual, sendo usado, portanto, o que a autora chama de manutenção do tópico discursivo. Podemos dar nome também a esses elementos novos, que vão construindo o texto, a fim de não deixarem a ideia central ser apagada, de instrutores coesivos, pois são eles que garantem, conforme já foi dito, a continuidade de sentido. Vejamos um exemplo visto em FÁVERO (2009: 12):

Comemora-se este ano o sesquicentenário de Machado de Assis. As comemorações devem ser discretas para que dignas de nosso maior escritor. Seria ofensa à memória do Mestre qualquer comemoração que destoasse da sobriedade e do recato que ele imprimiu a sua vida, já que o bruxo do Cosme Velho continua vivo entre nós.

Nota-se que o nome Machado de Assis foi substituído quatro vezes por elementos de conhecimento de Mundo que fazem referência à primeira ideia do tópico discursivo, ou seja, o nome usado no tópico discursivo. Sobre o pronome na terceira pessoa, este seria um elemento anafórico sobre o qual falaremos a seguir em 3.1. E sobre o epíteto Bruxo do Cosme Velho, trata-se, é claro, a uma referência a Machado de Assis. Esse conhecimento seria um conhecimento de Mundo, pertencente ao campo da Literatura Brasileira, donde se sabe que Machado de Assis era conhecido desta forma por queimar suas cartas em um grande alguidar.

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2.8 A nominalização

A nominalização consiste num caprichoso subterfúgio ao mundo dos verbos que circulam os nossos textos. Para fugirmos do âmbito deverbal que nos rodeia, há o sistema de nominalização da Língua Portuguesa que seria muito rico à hora de uma questão discursiva de prova. A nominalização trata de formas nominalizadas dos mesmos verbos referentes da oração anterior. Segundo GUIMARÃES (2006: 32) entende-se por nominalização, quando o verbo expressa sua noção e mais tarde usamos esta mesma noção sendo substituída por um substantivo. Vejamos um exemplo de prova. Os escritores no período romântico, principalmente Alencar, idealizavam os seus heróis a fim de criarem, assim, um ideário romântico. Eles buscavam nesta idealização uma Idade Média...

A marcação que o nome deverbal faz nos seus referentes é notória. Seria uma representação da predicação feita antes, muito mais cabível sem a impugnação da repetição verbal.

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3.0 OS ELEMENTOS COESIVOS

MARCUSCHI (2008: 118) observa que os mecanismos de coesão dão conta da estruturação interna do texto. Ele ainda diz que estes não são apenas elementos sintáticos, mas uma espécie de semântica da sintaxe estrutural. Os elementos coesivos são diversos, veremos somente alguns, cuja noção pode-se basear num texto construído sob o que entendemos ser uma questão discursiva de prova. Isso nos ajudará a entender a concepção da coesão textual que, como muitos afirmam, não é necessária para se obter a coerência, porém o uso daquela ajuda, e muito, na assimilação desta. Como já disse FÁVERO (2009: 14,15) “Para obter a coesão, é importante a escolha do conectivo adequado que expresse as diversas relações semânticas; o mesmo conectivo pode expressar relações semânticas diferentes, é, pois, preciso saber reconhecê-las”.

3.1 A referenciação endofórica:

Anáfora/Catáfora

Por referenciação ou coesão referencial, entende-se o que denomina KOCH (2013b: 31) a forma como um componente que está no texto faz remissão, isto é, referência a outro elemento do mesmo texto, ou até de outro texto (este outro conceito propriamente não veremos). A referenciação endofórica, conforme cita MARCUSCHI (2008: 110) “é um tipo de pronominalização textual e faz referência a entidades recobráveis dentro do texto”. Isto significa que a concepção endofórica sempre vai referir-se ao que está no interior do texto e não fora dele. Portanto, a referenciação endofórica sempre será textual. Somente para que entendamos melhor todo esse conceito, da relação endofórica com a continuidade de sentidos, vejamos um esquema parecido com o de MARCUSCHI (op. cit.).

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Ainda em KOCK (op. cit.) a referenciação pode ser feita tanto para frente, como para trás. Podendo ocorrer o que chamamos de catáfora e anáfora.

3.1.1 Anáfora

Quando um signo, já expresso no texto, precisa ser retomado para que haja a continuidade de sentido, este signo será gerado novamente, no entanto para evitar a repetição, ele vira de outra forma, poderá vir na forma pronominal, adverbial ou até mesmo na forma de um sintagma. Vejamos alguns exemplos:

1- Perto do curso havia um boteco, costumávamos ir lá depois das

aulas.

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2- Obama tem evitado a imprensa. O presidente norte-americano

prefere não fazer declarações no momento.

3- Neimar diz que não está muito satisfeito com os resultados. Já o pai dele não acredita que isso seja verdade.

Um belo exemplo, tirado do FACEBOOK é este: perguntei a uma pessoa duas coisas diferentes. E ela simplesmente me respondeu: “na quinta-feira eu vejo isso para você”. Está aí um exemplo de como o mau uso da anáfora pode quebrar a estrutura conversacional. Vejamos uma resposta a uma pergunta da prova em que os elementos anafóricos foram usados corretamente.

Pergunta:

A zoomorfização, a antromorfização e a reificação são utilizadas por autores de diversas estéticas literárias como parte integrante de suas estratégias de construção textual. Retomando aspectos relevantes do período Realista-naturalista e modernista do segundo ciclo (1930-1945), discuta a diferença na utilização dessas denominações apenas nos dois períodos literários citados.

Resposta:

Em relação à zoomorfização, à antromorfização e à reificação, nota-se, quanto a estas características, que elas eram assim utilizadas no período Realista-naturalista. Um célebre exemplo disso seria um romance que marca este período literário “O Cortiço”. Na obra “O Cortiço” há um exemplo notório sendo o próprio Cortiço o personagem principal da história. No que tange a essa afirmação...

Não vamos entrar no âmbito das significações, mas percebe-se que todos os termos marcados acima em negrito são elementos anafóricos que remetem a outros termos já descritos no texto. OBS: o pronome demonstrativo “este”, em este período literário, pode remeter tanto à ideia primogênita que seria período Realista-naturalista ou se referir apenas a período literário, que é o que foi feito, sendo, portanto, um elemento catafórico.

3.1.2 Catáfora

A catáfora é uma referenciação feita para frente, isso significa que a ideia fundamental ainda vira à tona por meio de uma expressão pronominal.

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Vejamos MARCUSCHI (2008: 114) “A catáfora é uma forma pronominal com característica essencial de evocar uma entidade antes de introduzi-la. É um elemento pronominal que depois será recuperado no discurso por um referente”. Com base nesta informação, podemos dizer que a catáfora e a anáfora trabalham juntos para que existam assim os elementos coesivos textuais.

1- O homenzinho subiu correndo a escada. Lá em cima, ele parou diante de uma porta e bateu furiosamente. (anáfora)

2- Ele era tão bom, o meu marido! (catáfora)

Exemplos de KOCH (2013b: 31)

Vejamos um exemplo de prova discursiva. No que se refere ao período romântico, nota-se o seguinte: que a idealização do mito heroico imperializava e a natureza era tão idealizada que se torna uma divindade.

3.2 A substituição

A substituição consiste, para Halliday e Hasan in KOCH (2013b: 20), na troca de um termo por outro no espaço textual. Não necessariamente um termo, pode ser até uma oração inteira. Vejamos:

1- Pedro comprou uma camisa vermelha e José também.

2- O padre ajoelhou-se. Todos fizeram o mesmo.

3- Mariana e Luiz estudam Inglês. Ambos são irmãos.

Vejamos um exemplo de prova discursiva: Pergunta:

Faça um comentário, justificando a afirmativa de que o sentimento de brasilidade não surgiu exatamente no momento da Independência política do Brasil. Diga qual...

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Resposta:

Em relação ao não surgimento do sentimento de brasilidade, que não veio a nascer à época da Independência política brasileira, pode-se corroborar isso pelo sentimento que se havia sentido antes, no período Barroco, no qual enxergava o “eu” como superior.

Observa-se que todo o tópico discursivo é substituído pelo pronome isso, que é ao mesmo tempo anafórico. Observamos que a substituição é um grande campo da Linguística Textual, cujo estudo não pode ser encerrado por aqui. Para mais considerações veja-se KOCH (2013b) e FÁVERO (2009).

3.3 A elipse

A elipse é um recorso muito usado no campo textual. A elipse consiste, propriamente dizendo, numa substituição, mas esta substituição será por zero Ø, sendo denominada por substituição especial por GUIMARÃES (2006: 33). A elipse é um recurso que torna o texto mais rápido, sendo desnecessária a utilização de certos termos que ficam explícitos pelas desinências verbais. Como:

1- Mil deles não causam o incômodo de dez cearenses. Ø não gritam, Ø não empurram, Ø não impõem suas opiniões.

Omite-se então um termo lexical, um sintagma, uma oração ou até mesmo um enunciado inteiro, que será recuperado pelo receptor da mensagem através do contexto. Como explica nos exemplos de KOCH (2013b: 21)

2- Paulo vai conosco à aula? Ø Vai Ø

Deve-se ter muito cuidado com o uso da elipse, principalmente na linguagem escrita, pois pode haver uma quebra à continuidade de sentidos no texto. Como:

3- Em memórias Ø, Luizinha não é a personagem principal, mas é retratada também

como vingativa, uma vez que decide não se casar após ver seu namorado, Leonardo, se engraçando com outra.

Que memórias são essas? Pode ser qualquer memória, até chagarmos ao título da obra “Memórias de um Sargento de Milícias”, já se perdeu o sentido do texto.

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3.4 A conexão por Conjunção

Em se tratando de Linguística Textual (rever 1.0), podemos dizer que o conceito de conjunção seria como diz KOCH (2013b: 20) que as conjunções permitem que se estabeleça uma ligação entre os enunciados no espaço textual. Estas conjunções são elos coesivos, que correlacionam uma ideia a outra. Quando se usam as conjunções no texto, pode-se dizer que é o mesmo que se estar fazendo a TESSITURA; tecendo um tecido. Conjunção é o mesmo que conexão; o texto é, como diz Weinrich in KOCH (2013b: 53), uma estrutura determinativa, sendo suas partes dependentes umas das outras. À medida que vamos construindo um texto, vamos criando ideias que precisam ser ligadas a outras ideias por elementos coesivos que são assim chamados de conjunções. As conjunções causam relações semânticas que são expressas de varias formas por elementos sintáticos, como por exemplo:

1- O dia está tão frio, que resolvemos ficar em casa.

2- Resolvemos ficar em casa, para que pudéssemos descansar.

Uma mesma ideia pode nascer por expressões sintáticas distintas, porém por valores semânticos semelhantes. Como:

3- À medida que crescia, ele ficava mais magro.

4- Ele crescia e ficava mais magro.

Embora uma mesma ideia possa ser expressa por elementos sintáticos desenvolvidos, verificamos que a omissão de tais elementos não atrapalha na relação semântica.

5- Ela é tão feia que dói.

6- Ela é feia que dói.

Existem, no mundo textual, dois processamentos sintáticos, chamados SUBORDINAÇÃO e COORDENAÇÃO. O texto vai se formando através de períodos compostos ou não, que fazem a ligação linear dos sentidos, isto é, a ligação direta que remete ao começo, ao desenvolvimento e ao final de um texto. Esses encadeamentos são realizados por expressões linguísticas responsáveis por determinar o valor semântico.

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3.4.1 Coordenação

Como diz GARCIA (2010: 42) a coordenação é um paralelismo sintático. Coordenar é o mesmo “relacionar”, colocar junto, do lado sem diferenças. As ideias ficam paralelas umas às outras com o mesmo valor semântico. Na coordenação não existe hierarquia entre as ideias, elas estão interjuntas, há, portanto, um paralelismo sintático. Como:

7- O aluno estudava e o professor lhe atribuía uma boa nota.

8- O aluno estudava / O professor lhe atribuía uma boa nota.

3.4.2 Subordinação

Já na subordinação não há o paralelismo sintático, mas sim uma dependência de funções em que o enlace é feito através de uma submissão sintática, ou seja, para que se crie o período; a ideia subordinada dependerá da principal ou não haverá uma lógica textual. Na subordinação, as orações sempre vão depender uma das outras, não haverá valores sintáticos correlatos, mas sim hierarquicamente dependentes. Nenhuma oração subordinada existe sem a ajuda de outra. CARONE (1991: 50) Diz que as conjunções subordinativas são instrumentos de inserção, isto é, fazem a ligação entre as ideias. Sem esta ligação não há valor semântico.

9- É preciso que digamos a verdade

10- Peço-te que / ????

Sem esta dependência não haveria uma mensagem contextual. Segundo GARCIA (op. cit.) na semântica de coordenar ideias, isso leva ao nivelamento sintático. Já na Subordinação, o valor semântico se sobressai. Então, numa questão discursiva de prova, que processos sintáticos escolheremos? Tudo dependerá de como você ira construir seu texto. Vejamos duas estruturas construídas de formas distintas.

11- Embora o romance O Cortiço trate essencialmente das características de

zoomorfização e reificação, ver-se intrinsecamente que nessa Obra, há uma notória relação com a reificação. Para que seja corroborado isso, nota-se a seguinte passagem: “Eram cinco horas da manha e O Cortiço acordava”. Deste modo, conforme Aluísio Azevedo descreve suas personagens, descreve o próprio Cortiço como personagem físico, que faz parte da história. Além disso, A tendência

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naturalista é tão forte que o enfoque narrativo apresenta características de um relatório científico, pois observamos que as personagens carregam taras patológicas.

OBS: E agora? Essa conjunção “pois” grafada em vermelho é explicativa ou causal? Veremos tal diferença em 3.7

12- Peri era um vassalo a Ceci. Ele era o cavaleiro desta dama, incumbido de proteger Ceci. A relação de trabalho ainda não era capitalista, mas feudalista. O pai de Ceci era proprietário de terras e da fortaleza e é neste âmbito que se passa a história. Peri segue o mito do bom selvagem, inocente e bom.

Vê-se que um parágrafo é distinto do outro, pois ambos são de estruturas sintáticas diferentes. Uma é direta naquilo que vai dizer, já a outra se sobressai. Nota-se também que um processo sintático depende do outro, em que nestes vai-se construindo a coerência. Ainda em GARCIA (2010: 67) enfatiza-se que o processo de coordenação não permite estabelecer uma verdadeira relação entre os verdadeiros fatos apresentados. Só na subordinação que haverá a possibilidade de realçar os pontos de vista dos enunciados. Na subordinação há a possibilidade de inversões, onde a oração subordinada pode passar a ser a principal, dependendo da ênfase que você queira dar a mensagem. Já na coordenação os recursos são mais limitados, por isso mesmo, são diretos. Por exemplo:

COORDENAÇÃO SUBORDINAÇÃO

O Naturalismo observa À medida que observa a a realidade de forma objetiva realidade de forma objetiva, e também trás a questão da o Naturalismo também trás a ciência, da patologia e portanto questão da ciência, da pato- tem-se uma tese a provar. logia e portanto tem-se uma tese a provar.

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3.5 Os conectivos

Vejamos com um esquema, uma breve consideração das principais conjunções e suas relações que se mantêm no texto.

RELAÇÃO CONJUNÇÃO / LOCUÇÃO CONJUNTIVA

Adição e, nem (negativa), bem como, não só… mas também, além disso, mais ainda, igualmente, ainda

Causa porque, pois que, uma vez que, visto que, visto como, já que, porquanto, como

Oposição mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, contrariamente, pelo contrário, não obstante

Concessão embora, ainda que, mesmo que, conquanto, apesar de, malgrado, mesmo assim, ainda assim

Tempo quando, mal, assim que, logo que, enquanto, depois que, desde que, antes de, mais tarde, ao mesmo tempo

Finalidade para (que), a fim de, a fim de que, de modo / forma a, com o objetivo de

Comparação como, tal como, assim como, bem como, também, mais / menos do que

Conformidade Conforme, como, segundo, consoante

Condição se, caso, desde que, a não ser que, contanto que, exceto, salvo, a menos que

Consequência por isso, daí que, de tal forma… que, tanto… que, tal… que, tão… que

Conclusão portanto, assim, logo, por conseguinte, concluindo, para concluir, em conclusão, em consequência, daí, então, deste modo, por isso, por este motivo

Proporção à proporção que, à medida que, ao passo que, (quanto mais) ... mais, (quanto menos) ... menos

Explicação pois (colocada antes do verbo), porque, que, visto que

Os conectores – ou como se diz na gramática normativa as conjunções – têm por função ligar, conectar, articular as palavras, unir as orações e os períodos. Eles têm por função formar uma relação semântica com cada ideia apresentada no texto. Como:

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1- Com certeza a crise irá se aprofundar muito, a menos que providências sejam tomadas. (relação de condição)

2- Ao entrar em casa, o susto foi tamanho que a pobre menina desmaiou. (relação de consequência)

3- Procurava falar o mais alto possível, para que todos pudessem ouvi-lo. (relação de finalidade)

3.6 A diferença entre Adversidade e

Concessão: MAS/EMBORA

Este é um assunto de muita análise nos âmbitos escolares. Então, qual é a diferença de ADVERSIDADE e CONCESSÃO? Quando se quer criar uma relação de adversidade no texto, ou seja, opor ideias, têm-se os conectores adversativos como: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante, etc.

1- Eu queria cursar Jornalismo, mas só posso pagar o curso de Letras.

Da mesma sorte que temos um sentido adversativo, para opor ideias no sistema textual, temos também um sentido concessivo, isto é, uma relação de concessão, na qual há também a ideia de oposição como afirma GARCIA (2010: 50). Quando queremos criar uma relação de concessão, têm-se os seguintes conectores: embora, ainda que, posto que, por mais que, mesmo que, etc.

2- Embora eu quisesse cursar Jornalismo, só posso pagar o curso de Letras.

Se existem, portanto, duas relações de oposição para opor argumentos, qual a diferença entre as duas? No âmbito da Linguística Textual, existe uma diferença cabal entre essas duas relações de oposição. KOCH (2010: 37) explica da seguinte maneira: que a diferença não está no aspecto semântico, pois o valor semântico é o mesmo. A diferença diz respeito à estratégia argumentativa. Concessão significa liberação, isto significa que o enunciado que não se iniciar pelo conector concessivo, ira prevalecer. Já o conector adversativo cria um suspense. O enunciado que se inicia por esse conectivo prevalecerá. Vejamos um esquema:

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Percebe-se que os enunciados que não se iniciarem com seus respectivos conectores, serão estes que conterão a estratégia argumentativa. Na mensagem A, a arrogância prevalece acima da inteligência do sujeito. Já na mensagem B a arrogância perde efeito para a inteligência do indivíduo. Como diz KOCH (2013b: 73) se não é preciso preocupar-se com a relação semântica, uma vez que esta é a mesma nas duas ideias de oposição, então por que uma diz-se subordinada e a outra coordenada? Conforme foi dito, sobre subordinação e coordenação em 3.4, vê-se que a distinção é puramente sintática. Na subordinação uma oração depende da outra, não haveria sentido se somente disséssemos:

3- Embora seja arrogante / ???

Fica claro, por conseguinte, que a diferença entre adversidade e concessão é tão somente a estratégia argumentativa. Na concessão, a oração que se iniciar pela conjunção embora, será esta que conterá o argumento que será destruído, em vista do que prevalecerá. O argumento apresentado na oração principal será a ideia permanente.

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3.7 A diferença entre explicação e causa:

PORQUE/PORQUE – POIS/POIS

Por que diferenciar as relações de causa e explicação no mundo textual? Esta questão tem sido um verdadeiro transtorno no Mundo de provas de concursos públicos e este assunto tem sido explorado cada vez mais. Por ser uma distinção muito tênue, fica difícil de chagar-se a um resultado sobre se é uma oração causal ou explicativa. Acerca desse assunto, geram-se várias vertentes. Por exemplo, para BECHARA (2009: 322) as conjunções ditas explicativas são, na verdade, verdadeiros “advérbios de oração”. Já para GARCIA (2010: 48) no seguinte exemplo, o mestre diz ser tanto uma explicação como uma relação de causa e consequência:

1- Não fui à festa do seu aniversário porque (ou pois) não me convidaram.

Para o âmbito dos estudos textuais é fundamental diferenciar uma relação de causa e consequência de uma relação de justificativa ou explicação. Principalmente na hora de uma prova discursiva para que não se use o conector errado. As orações, ditas pela Gramática Descritiva, que expressam uma relação de justificação, também podem expressar uma relação de explicação, pois estão no mesmo campo semântico. Estas orações podem ser iniciadas pelos conectores pois e porque.

2- Vá estudar, pois estou mandando.

(Tanto pode ser uma Justificação como uma explicação)

Por outro lado, as orações causais podem ser expressas de formas diferentes. Os conectores que ligam a oração causal com a principal são: porque, visto que, uma vez que, já que e etc.

3- Uma vez que gritou demais, o professor ficou rouco.

Já percebemos que alguns conectores são específicos para a relação de causa. Portanto numa situação formal, usá-los poderá acarretar uma incoerência como já citado em 1.4. Como explica SACCONI (2012: 260) numa ilustração de um pai tentando responder de forma explicativa a seguinte pergunta:

4- – Papai, por que todo homem morre?

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O pai então responde: – Todo homem morre, porque ninguém é mortal.

Ora, se a oração dita explicativa se iniciasse pelo conector uma vez que, o sentido, numa situação acadêmica de prova discursiva, seria perdido, pois não existe uma relação de causa e consequência na resposta do pai e sim uma explicação. Não obstante, como diferenciar os conectores que podem indicar uma relação de justificação (explicação), ou podem indicar uma relação de causa e consequência. Como diz MACEDO (2012: 109) que a semelhança está apenas na forma, no entanto há uma distinção no valor semântico, pois causa e consequência difere e muito de Justificação (explicação) como, por exemplo:

5- Estude que vai aprender.

Depois de uma ordem, pedido ou súplica, a oração com os conectores que ou porque não poderá indicar causa, mas sim uma explicação. No exemplo citado acima de MACEDO (op. cit.) aprender não poderia ser a causa de estudar. Trata-se de uma explicação. Outra dica ainda com MACEDO (op. cit. : 85) o verbo que estiver na oração com o conectivo que ou porque sempre terá de estar no futuro ou dar uma ideia aproximada de futuro, como:

6- Não vou ficar chateado, porque haverá outras oportunidades.

Para compreender semanticamente a causa, temos de saber que existe um significado por trás dessa relação de causa e consequência. Este significado diz respeito ao fenômeno da anterioridade. Como a causa se refere a algo que já deve ter ocorrido, isto significa que a causa sempre será anterior à consequência. Primeiro teremos a causa e depois a consequência, como mostra o exemplo:

7- Chorou, porque perdeu o namorado.

(Chorar é a consequência de ter perdido o namorado. Perder o namorado é, pois, a causa.)

8- Chorou, porque vai perder o namorado.

(Aqui, a oração já é explicativa, pois não se trata de causa e sim de um motivo aparente, como explica GARCIA (2010: 237). Lembre-se de que só pode haver a causa se houver a anterioridade)

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CONCLUSÃO

Vimos, acerca deste trabalho, o que se deve entender sobre a produção textual. Observamos na primeira parte as conceituações de estudiosos sobre o estudo do texto que passamos a entender por Linguística Textual e seus fundamentos. Entendemos o que é texto e textualização e suas doutrinas para que se elabore um bom texto. Consideramos também os princípios elementares dos principais aspectos para a formação de um bom texto. Estes são a coesão e a coerência textuais. E vimos como o mau uso dessas características textuais atrapalha no princípio da interpretabilidade. Puderam-se observar também as particularidades no que tange à legitimidade das dúvidas referente ao que é texto dissertativo e argumentativo e a junção destes dois para a defesa de tese e como usá-los numa pergunta dissertativa de prova. Vimos, mesmo que superficialmente elaborado, um modelo de uma resposta a uma pergunta discursiva de prova acadêmica. Na segunda parte, viram-se os principais fundamentos para a boa elaboração textual, como: tópico discursivo, marcadores de introdução, desenvolvimento e conclusão entre outros elementos que podem ajudar-nos na desenvoltura textual. Na terceira parte, falou-se sobre os elementos coesivos e suas características com o texto. Também foram vistas as implicações do uso da anáfora e catáfora, estas que fazem parte do acervo endofórico. Vimos as distinções entre as relações de concessão e adversidade; causa e explicação.

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MATERIAL DE USO AUTORIZADO: – Luciana Silva. Anotações em sala de aula. – Literatura Brasileira. Provas do primeiro e do segundo semestres.

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