coesão e coerência

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A leitura e a produção de textos em diferentes gêneros representam atividades muito importantes para qualquer cidadão dentro e fora do ambiente escolar. Todavia, é na escola que mais ouvimos comentários como: Essa redação não tem pé nem cabeça! O texto desse menino não faz sentido: é um samba do crioulo doido. Joãozinho, seu texto está todo truncado. Não junta tomé com bebé. Tais julgamentos são motivados pelo fato de os professores perceberem que, por algum motivo, escapa a alguns textos um encadeamento que permita entendê-los como uma unidade de sentido. Para não corrermos o risco de ouvir que nossos textos estão truncados, precisamos aprender a ler com criticidade o que escrevemos e analisar se, em nossos textos escritos, estamos estabelecendo os nexos necessários para a atribuição de sentido que desejamos que o leitor alcance. Exemplo 1 As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros estão almoçando. A água da piscina parece limpa; entretanto, foi tratada com cloro de boa qualidade. Percebemos que não há oposição que justifi que o uso do elemento coesivo “mas” entre as seguintes informações: a cor das janelas e o fato de os pedreiros estarem almoçando. Também não se confirma essa oposição no uso do “entretanto”, que, no exemplo 1, liga a informação de que a piscina parece estar limpa ao fato de ter sido tratada com cloro de boa qualidade. Nos dois casos, houve inadequação no uso de elementos coesivos. Como fi caria adequada essa relação? Vejamos.

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A leitura e a produo de textos em diferentes gneros representam atividades muito

A leitura e a produo de textos em diferentes gneros representam atividades muito

importantes para qualquer cidado dentro e fora do ambiente escolar. Todavia, na

escola que mais ouvimos comentrios como:Essa redao no tem p nem cabea!

O texto desse menino no faz sentido: um samba do crioulo doido.

Joozinho, seu texto est todo truncado. No junta tom com beb.

Tais julgamentos so motivados pelo fato de os professores perceberem que, por algum motivo, escapa a alguns textos um encadeamento que permita entend-los como uma unidade de sentido.

Para no corrermos o risco de ouvir que nossos textos esto truncados, precisamos

aprender a ler com criticidade o que escrevemos e analisar se, em nossos textos escritos, estamos estabelecendo os nexos necessrios para a atribuio de sentido

que desejamos que o leitor alcance.Exemplo 1As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros esto almoando. A gua da piscina parece limpa; entretanto, foi tratada com cloro de boa qualidade.

Percebemos que no h oposio que justifi que o uso do elemento coesivo mas entre as seguintes informaes: a cor das janelas e o fato de os pedreiros estarem almoando.

Tambm no se confirma essa oposio no uso do entretanto, que, no exemplo 1,

liga a informao de que a piscina parece estar limpa ao fato de ter sido tratada com

cloro de boa qualidade.

Nos dois casos, houve inadequao no uso de elementos coesivos. Como fi caria

adequada essa relao? Vejamos.

Exemplo 2

As janelas da casa foram pintadas de azul. Terminada essa etapa da pintura, os pedreiros foram almoar. Continuando minha vistoria, percebi que a gua da piscina parecia limpa. No poderia ser diferente. Ela havia sido tratada com cloro de boa qualidade.

Como voc pode observar, quando ns escrevemos ou falamos, precisamos usar determinados termos que estabeleam as conexes adequadas para o estabelecimento dos sentidos que queremos imprimir a nossos textos orais e/ou escritos. Esses termos so justamente os elos coesivos.

Coeso textualA coeso textual um recurso que diz respeito aos processos de sequencializao

entre os elementos da superfcie textual, ou seja, representa os elos que se estabelecem entre as palavras, os perodos, os pargrafos de um texto. Tais

elos se concretizam por meio dos mecanismos de substituio, repetio, associao de sentido entre as palavras, sequenciao e campo lexical.Segundo Koch (1989), a cada ocorrncia de um recurso coesivo, um lao vai associando um elemento do texto a outro at que o tecido textual tome uma forma de sentido.

Isso nos autoriza a afirmar que a coeso uma espcie de conexo que se estabelece entre os elementos lingusticos de um texto.

A finalidade da coeso , portanto, entrelaar as vrias partes do texto. Assim, afirmar

que um texto est coeso significa admitir que suas partes esto ligadas entre si.

Retomando um dito popular, texto coeso algo como tom e beb harmoniosamente

relacionados no tecido textual.

Embora o uso de elementos coesivos no seja condio sufi ciente para que enunciados se constituam em uma unidade de sentido, a coeso pode oferecer maior legibilidade ao texto, uma vez que evidencia as relaes entre seus diversos componentes.

Com isso, queremos dizer que o uso inadequado de determinados elos pode causar problemas. Para constatar isso, basta reler o exemplo 1. O autor usou elementos coesivos, mas no observou a inconsistncia desse uso.

Logo, se o que buscamos para nossos textos dar-lhes qualidade, recomendvel que faamos uso adequado dos elementos coesivos. Por essa razo, estudaremos, agora, alguns mecanismos que configuram esse processo.

Coeso por substituioA coeso por substituio consiste na troca de um termo por um pronome e/ou advrbio ou por outra palavra que seja semntica ou textualmente equivalente, evitando a repetio da palavra-chave para no deixar o texto redundante.

Exemplo 3

Durante o perodo da amamentao, a me ensina os segredos da sobrevivncia ao filhote e arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a cauda, ele tambm o faz.

(VEJA, n. 30, jul. 1997).Observe que a expresso perodo de amamentao combina muito bem com as palavras me e fi lhote. Todavia, s conseguimos entender a que espcie pertence

essa famlia quando lemos a palavra baleiona. essa palavra que nos autoriza a atribuir um sentido especfi co para as palavras me e fi lhote.

Essas palavras-chave aparecem ao longo do texto sem que haja repetio viciosa, porque

so substitudas pelos pronomes ele, ela, a.

Praticando ....1. Vamos testar a sua compreenso? Preencha as lacunas abaixo. Para tanto, retome

a leitura do exemplo 3.

Os pronomes ela e a retomam o substantivo ____________________, que, por sua

vez, substitui o termo inicial ____________________.

J o pronome ele, retoma o substantivo ____________________. Na sequncia,

o pronome o (na construo ele tambm o faz) retoma as aes de

____________________, que a ____________________ pratica.

Fonte: . Acesso em: 5 maio 2009.

Exemplo 4ELES TAMBM NO VO

A onda de ausncias na Copa Amrica chegou Globo. Depois de Kak, Z Roberto e Ronaldinho Gacho, que pediram dispensa da seleo, a vez do trio titular das transmisses da emissora: Galvo Bueno, Falco e Arnaldo Csar Coelho. A Globo preferiu no mand-los para Venezuela. Ostrs faro a transmisso da Copa a partir do Rio de Janeiro, vendo tudo pela

TV como telespectador.

(VEJA, jun. 2007).Eles tambm no vo. Percebeu que ttulo misterioso? Quem so eles? Eles no

vo para onde? Quem tambm no vai? Em geral, usa-se primeiro o substantivo e,

depois, esse termo substitudo por um pronome equivalente. No isso, porm, o que ocorre no exemplo 4. S a leitura do texto nos permite identifi car o sentido de eles

(Galvo Bueno, Falco e Arnaldo Csar Coelho), o local para onde no vo (Venezuela), as pessoas que tambm no vo para a Copa Amrica, na Venezuela (Kak, Z Roberto e Ronaldinho Gacho).Afora o caso do ttulo, outros elos coesivos tambm aparecem no exemplo 4. Os

substantivos Kak, Z Roberto e Ronaldinho Gacho so retomados pelo pronome

relativo que. Galvo Bueno, Falco e Arnaldo Csar Coelho, alm de preencherem

a lacuna do eles no ttulo, ainda so retomados pelo pronome los, na forma verbal

mand-los e na construo os trs.

Exemplo 5

Saia de bolinhas, colete preto e cabelos presos, Madonna estava mais para a santa Evita que para a demonaca material girl quando desembarcou em Buenos Aires, no sbado 20. A ttica usada pela pop star era para aplacar um pouco os nimos argentinos, mas no deu muito certo: escalada pelo diretor Alan Parker para viver no cinema o papel de Eva Pern (1919-1952), a estrela americana vem enfrentando a ira dos peronistas. Ela foi recebida com pichaes e bombardeada pela imprensa. Tentando contornar a situao, Madonna foi logo dizendo que estava em misso de paz.(ANTUNES, 2005, p. 97).O texto do exemplo 5 se refere a uma cantora famosa. Observe que o nome dela aparece logo na primeira linha; todavia, esse nome s repetido na ltima linha. De fato, uma importante funo da coeso justamente evitar repeties que deixariam a leitura cansativa. Assim sendo, vrias palavras e expresses substituem o nome da cantora.

Voc poderia relacion-las?2. Releia o exemplo 5 e preencha o quadro a seguir com as expresses que substituem a palavra-chave do texto.

Palavra-chave:

material girl

interessante ressaltar que o recurso da substituio ao nome da cantora oferece ao

leitor mais elementos acerca da pessoa em questo. Isso torna o texto mais informativo.A essa altura da aula, voc j deve ter percebido que a coeso textual se concretiza de diferentes formas. Vejamos algumas:

a) substituio de uma palavra de sentido mais geral por outra mais

especfi ca (me baleiona);

b) substituio de palavras por um pronome (Kak, Z Roberto e

Ronaldinho Gacho que; Galvo Bueno, Falco e Arnaldo Csar

Coelho eles, los);

c) substituio de uma palavra por uma expresso descritiva (Madonna

pop star).Essas so as formas mais comuns de estabelecer a coeso por substituio. H outras, porm. Voc j percebeu que at omitindo a palavra anteriormente explicitada possvel fazer a retomada dela? Vejamos como isso possvel.

Retomada por elipse

Trata-se de um mecanismo coesivo que consiste no apagamento de um termo da

frase que pode ser facilmente retomado pelo contexto. A elipse textual indicada pelo

smbolo #Exemplo 6DAS TRAVES PARA AS GALERIAS

O treinador de futebol e ex-goleiro Emerson Leo vem arrematando obras de arte em leiles internacionais h algum tempo. Mas fi ca na retranca quando lhe perguntam o que anda comprando. Duas semanas atrs, sem alarde, o tcnico abriu a carteira no leilo da Sotherbys, em Nova York: levou o quadro Carne la Taunay, pintado por Adriana Varejo. Pagou pela obra 108 mil dlares (o preo mnimo era 70 mil dlares). A artista carioca tem obra nos acervos da Tate Modern e do Guggenheim e agora tambm na coleo do ex-tcnico do Corinthians.

(VEJA, jun. 2007).Observe que o nome de Emerson Leo aparece na primeira linha e, em seguida,

omitido algumas vezes: Mas fica na retranca [...]; [...] levou o quadro [...];

Pagou [...]. A essa omisso dado o nome de elipse.

Para ser eficiente, esse recurso precisa ser recupervel pelo leitor por meio da articulao dos elementos do texto. Releia o exemplo 6 e constate que a elipse , ento, uma falta que no faz falta.

Coeso por repetio

Leia o perodo a seguir, escrito por Millr Fernandes.Nunca tantas pessoas, em tantos veculos, trafegaram em tantas vias e

tantas direes com tanta velocidade, indo a tantos lugares, pra voltar logo

to arrependidas.

Repetir palavras nem sempre problemtico. A repetio pode ser um recurso

signifi cativo. No caso do perodo escrito por Millr Fernandes, percebe-se a inteno de repetir o pronome indefi nido tantas (e suas variaes: tantos, tanta), associ-lo ao advrbio to e, assim, produzir dois efeitos: um sonoro (aliterao) e outro semntico (a nfase na intensidade). Esse recurso especialmente usado em alguns gneros, tais como anncios publicitrios, provrbios, poemasCoeso pela associao de sentido entre as palavras

Veja a chamada de capa da revista Veja, em 30 de maio de 2007.

NAVALHA NA CARNE

O fio das operaes

anticorrupo j cortou Zuleido

e Rondeau e agora chega perto do

pescoo de Renan Calheiros,

presidente do Senado.Observa-se que as palavras fio, cortou e pescoo mantm a unidade do texto,

uma vez que h uma aproximao de sentido entre essas palavras. Pode-se dizer que

elas esto enlaadas ao sentido principal do texto.

Claro que, nesse texto, elas adquirem um sentido figurado, pois o ttulo Navalha na carne o nome figurativo de uma das operaes realizadas pela Polcia Federal no Brasil.

Percebe-se, ento, que a escolha de palavras que faro parte de um texto no aleatria. Ela guiada pelo assunto (tema), e as palavras so unidas em torno de um

eixo condutor.3. Utilizando os recursos de coeso por substituio, modifique os elementos repetidos, quando necessrio:

a) O Brasil vive uma guerra diria sem trgua. No Brasil, que se orgulha da ndole

pacfi ca e hospitaleira do povo do Brasil, a sociedade organizada ou no para esse

fi m promove a matana impiedosa e fria de crianas e adolescentes. Pelo menos

sete milhes de crianas e adolescentes, segundo estudos do Fundo das Naes

Unidas para a Infncia (Unicef), vivem nas ruas das cidades do Brasil.

b) A poesia, s vezes, impe-se por sua prpria fora. Mesmo quem nunca leu Carlos

Drummond de Andrade sabe que Carlos Drummond de Andrade um grande poeta.

Carlos Drummond de Andrade marcou no s a literatura brasileira, mas tambm a

vida cotidiana de muitas pessoas com suas crnicas publicadas no Jornal do Brasil.

A poesia de Carlos Drummond de Andrade tambm se preocupou com nossa vida

cotidiana. Nesses momentos, a poesia de Carlos Drummond de Andrade nos faz

refl etir sobre sentimentos advindos de certos fatos que, ditos de outra forma, no

nos teriam tocado tanto.Coeso seqencial

A coeso sequencial responsvel pela sequenciao entre as partes do texto,

utilizando palavras que se interrelacionem. Ela se subdivide em coeso por conexo e por sequenciao. Vejamos cada uma.

Coeso por conexo

A conexo se d por meio de conjunes, preposies e locues conjuntivas e preposicionais, bem como por meio de alguns advrbios e locues adverbiais. Em outras palavras, podemos afi rmar que esses conectores so palavras ou expresses responsveis pela criao de relaes de sentido entre as partes do texto.

Voc percebeu a existncia de conectivos entre as informaes do texto que acabamos de ler? So exemplos deles: por isso, embora, que, mas, porm, e.

Alm de ligar as partes do texto, esses conectivos estabelecem certa relao de sentido

(causa, concesso, fi nalidade, concluso, contradio, condio) entre elas.

No texto lido, temos o conector por isso estabelecendo uma relao de explicao; o

termo embora introduzindo uma ideia de concesso; a conjuno e adicionando o

termo (livros) de referncia ao anteriormente explicitado livros didticos; o conector

mas estabelecendo uma relao de oposio... H outros elementos coesivos

e, portanto, outras relaes no texto do exemplo 7. Juntos, eles ajudam a garantir a

esse texto a unidade de sentido desejada.

Vejamos, agora, uma lista dos principais conectores e das principais relaes semnticas estabelecidas por eles.Adio: e, nem, no s... mas tambm, tanto como, alm de, alm disso...

Adversidade: mas, porm, todavia, entretanto, no entanto, contudo...

Alternncia: ou, ou...ou, quer...quer...

Causa: porque, como, desde que, contanto que, a menos que, sem que, a

no ser que...

Condio: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, sem que, a

no ser que...

Concesso: embora, mesmo que, ainda que, posto que, apesar (de) que,

por mais que, conquanto...

Concluso: portanto, logo, por conseguinte...

Comparao: como, tanto...como, tanto...quanto, mais...(do)que, to...

quanto...

Consecuo: to que, tanto...que...

Conformidade: conforme, segundo, como...

Explicao: porque, porquanto, pois, que...

Finalidade: para, a fi m de, para que, a fi m de que...

Proporo: proporo que, medida que, quanto mais...tanto mais...

Tempo: quando, enquanto, mal, assim que, logo que....

4. Relacione as informaes das colunas da direita e da esquerda de forma a construir

um perodo. A seguir, explicite a relao semntica estabelecida. Observe o exemplo.

(A) No confi o em Mariazinha. No sei... ( ) ...porm no se deixou abater.

(B) O combustvel est no fi m... ( ) ...embora tenha tentado muito.

(C) Tire a roupa do varal... (A) ...nem quero saber da vida dela.

(D) Pedro no venceu... ( ) ...se pudesse ter outra vida.

(E) No consegui guardar segredo... ( ) ...que a chuva est chegando.

(F) Ela seria feliz... ( ) ...portanto, temos de abastecer

Coeso por sequenciaoEsse mecanismo revela-se pelo uso de partculas que estabelecem uma seqncia entre as partes do texto. Vamos ver se isso compreensvel por meio da leitura do exemplo a seguir.Exemplo 8

A dita Era da Televiso , relativamente, nova. Embora os princpios tcnicos de base sobre os quais repousa a transmisso televisual j estivessem em experimentao entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplifi cao eletrnica, somente na dcada de vinte chegou-se ao tubo catdico, principal pea do aparelho de tev. Aps vrias experincias por sociedades eletrnicas, tiveram incio, em 1939, as transmisses regulares entre Nova Iorque e Chicago, mas quaseno havia aparelhos particulares. A guerra imps um hiato s experincias.

A ascenso vertiginosa do novo veculo deu-se aps 1945.

No Brasil, a despeito de algumas experincias pioneiras de laboratrio

(Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmisso da imagem), a tev

s foi mesmo implantada em setembro de 1950, com a inaugurao do

Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand.

Exemplo adaptado de: .